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Nietzsche e os dois viajantes: o filósofo arcaico (intuitivo, destemido) e o

filósofo socrático (racional, precavido)

Nietzsche – um filólogo, filósofo, escritor, músico, compositor e poeta - sempre gostou


de criar personagens, metáforas e alegorias para dizer o que pensa. Em seus escritos de
juventude, podemos identificar – nas entrelinhas – duas figuras distintas, dois tipos de
filósofo grego que se contrapõem: o filósofo arcaico e o filósofo socrático. O filósofo
arcaico é uma mistura de traços: racionais, místicos e poéticos. Já o filósofo socrático é
exclusivamente e desmesuradamente racional, é constituído apenas por um impulso
lógico desenfreado. Que tal darmos um breve passeio com esses dois pensadores que,
como nós, viajam por trajetos belos e perigosos?

Palavras-chave: Intuição. Razão. Arte. Vida.

Segundo o jovem Nietzsche – brilhante professor de filologia clássica da


Universidade de Basiléia, conhecedor e admirador da civilização helênica e iniciante na
carreira de filósofo1 –, a Filosofia quando surgiu na Grécia Antiga, no período por ele
denominado de “época trágica dos gregos”, se revelou “na sua forma mais pura e mais
grandiosa”2. Por isso, se alguém quiser saber o que é a filosofia e quem é o filósofo não
deve buscar respostas na antiga Ásia ou no Egito nem na modernidade, diz Nietzsche. É
preciso voltar-se para os gregos, que “souberam começar na altura própria, e ensinam
mais claramente do que qualquer povo a altura em que se deve começar a filosofar”3.
Entre eles, a filosofia apareceu num período de “plena maturidade viril, na alegria ardente
de uma idade adulta, corajosa e vitoriosa”4.
Nietzsche aponta o caráter crítico e revolucionário dos primeiros filósofos gregos
e considera que é possível “apresentar os filósofos arcaicos como aqueles para quem a
atmosfera e os costumes gregos são uma cadeia e uma prisão: por isso eles se emancipam
[...], todos contra o mito”5. Os filósofos “arcaicos”, isto é, os pré-socráticos, de Tales
(624-558 a.C.) a Demócrito (460-370 a. C.), são vistos como homens excepcionais, de
uma ousadia sem precedentes: contestaram os mitos, questionaram os profetas e os

1
Nietzsche (1844-1900), aos vinte e quatro anos, em 1869, ganhou o título de doutor honoris causa e foi
convidado a assumir a cátedra de Filologia Clássica (ciência que faz um estudo crítico e sistemático dos
textos clássicos, gregos e romanos) na Universidade de Basiléia, onde permaneceu até 1879. Durante os
dez anos em que exerceu a docência, Nietzsche ministrou cursos e conferências assim como escreveu uma
série de textos – publicados postumamente – sobre os antigos poetas e filósofos gregos.
2
NIETZSCHE, 1994, p. 83.
3
NIETZSCHE, 1987 p. 18.
4
NIETZSCHE, 1987, p. 18.
5
NIETZSCHE, FP, 1875, 6 [18].
poetas, discordaram do saber mágico-religioso e dos valores que por séculos foram o
parâmetro ético, religioso e político da civilização helênica. Além de críticos, todos
apresentaram uma nova e original visão de mundo6.
Mas, nos diz o jovem professor, o vigor próprio da filosofia arcaica acaba quando,
na virada do século V para o IV a. C., um “duvidoso iluminismo”7 se expande e surge um
novo tipo de homem: o “homem teórico”8, que, por ser excessivamente racional, não-
místico por excelência e não-artístico por consequência, passa a desqualificar qualquer
tipo de saber que não seja demonstrado através de raciocínios lógicos. Desse modo, os
dois séculos de júbilo da filosofia grega terminam bruscamente e começa um novo
período da História da Filosofia no qual a racionalidade lógica passa a imperar sozinha,
como uma tirana. Sócrates (469-399 a.C.) é o responsável por essa profunda cisão, afirma
Nietzsche, que o escolhe para ser o símbolo do novo homem teórico que então surgia,
cuja característica inusitada é considerar o “mecanismo dos conceitos, juízos e deduções
[...] como a atividade suprema e o admirável dom da natureza, superior a todas as outras
aptidões”9.
Vamos agora lançar um pouco, um pouquinho, de luz sobre essas duas figuras que
aparecem traçadas nas entrelinhas dos escritos de juventude de Nietzsche.

O filósofo arcaico: uma mistura de traços


Diferente dos antigos gregos do período homérico, para os quais a natureza era
uma manifestação disfarçada dos deuses e a vida humana um bem supremo a ser
celebrado continuamente, o filósofo arcaico vê o mundo como um enigma a ser por ele
decifrado. Ele vê a realidade cotidiana à sua volta sem nenhum juízo preconcebido. Por
isso seu sentimento é de espanto, de admiração (taumatzein). Surpreso diante do Cosmo,
o filósofo arcaico emerge desafiando o antigo e o novo, duvidando de tudo e de todos.
Pulsando vitalidade e coragem, ele teve a audácia de pensar a Natureza, o divino e o
humano a partir de si próprio, teve a ousadia de olhar o mundo como se fosse pela primeira
vez, levando em consideração apenas o que lhe dizia a sua própria percepção.

6
“De Tales aos sofistas e a Sócrates, nós temos sete categorias independentes, quer dizer, sete vezes o
aparecimento de filósofos originais e independentes: 1- Anaximandro, 2- Heráclito, 3- os Eleatas, 4-
Pitágoras, 5- Anaxágoras, 6- Empédocles, 7- Atomismo (Demócrito). Eles representam sete visões de
mundo radicalmente diferentes”. NIETZSCHE, 1994. p. 128.
7
NIETZSCHE, 1992, p. 84.
8
NIETZSCHE, 1992, p. 92.
9
NIETZSCHE, 1992, p. 95.
Nietzsche considera que Tales de Mileto, com sua célebre frase “a água é o
princípio de todas as coisas”, merece ser reconhecido como o primeiro filósofo grego por
três razões: “[...] primeiro, porque a proposição assere algo acerca da origem das coisas;
em segundo lugar, porque faz isso sem imagens e fábulas; e, finalmente, porque, contém,
embora em estado de crisálida, a ideia de que ´tudo é um’”10.
O fato de o enunciado de Tales se referir sobre a origem das coisas não é uma
característica original da filosofia, já que o pensamento mítico já o fazia. Mas a segunda
característica do enunciado, não utilizar imagem ou fábula, mostra que Tales, “como
matemático e astrônomo, tinha se tornado indiferente a toda a concepção mítica ou
alegórica”11. Imbuído por seu espírito científico, ele viu a natureza como natureza e não
mais como emanação ou uma máscara dos deuses. O que significa dizer que Nietzsche
reconhece a presença e o valor do traço racional-científico no filósofo pré-socrático, pois,
sem este, o pensamento mítico não teria sido questionado e a filosofia não teria surgido:
“A filosofia grega arcaica, contra o mito e pela ciência”12; “não há filosofia separada da
ciência: naquela como nesta, pensa-se da mesma maneira”13.
A filosofia tem um parentesco com a ciência, porém dela se distingue – continua
Nietzsche, que aponta a terceira razão que tornou Tales o primeiro filósofo grego: a
afirmação de que Tudo é Um. Embora em “estado de crisálida”, isto é, apesar de não ter
dito explicitamente “Tudo é Um”, a frase de Tales mostra que seu olhar foi muito além
de suas observações empíricas e por isso foi capaz de vislumbrar a totalidade do real e
não apenas um aspecto da realidade. Diferente do cientista, que delimita um objeto a ser
investigado, o filósofo não elege um objeto específico a ser conhecido: “Se (Tales) tivesse
dito: ’A água transforma-se em terra’, teríamos apenas uma hipótese científica falsa, mas
difícil de refutar. Mas ele vai além da ciência propriamente dita”14. “Se usou a ciência e
o que é demonstrável e se, logo em seguida, os transcendeu, isso constitui igualmente um
traço típico de uma cabeça filosófica”15. Tales tem um mérito inigualável, aponta
Nietzsche: “Conceber pela primeira vez o universo inteiro, tão heterogêneo, como a
evolução de uma única matéria original revela uma liberdade e ousadia incríveis. É um
mérito que ninguém pode ter outra vez”16.

10
NIETZSCHE, 1987, p. 27.
11
NIETZSCHE, 1987, p. 30.
12
NIETZSCHE, FP, 1872, 23 [9].
13
NIETZSCHE, FP,1872, 19 [76].
14
NIETZSCHE, 1987, p. 27.
15
NIETZSCHE, 1987, p. 30.
16
NIETZSCHE, 1992, p. 110.
O filósofo é semelhante ao cientista por contestar as explicações míticas do mundo
e utilizar o raciocínio lógico para construir suas teorias, porém, como nos alerta
Nietzsche, diferente do cientista, o filósofo não se limita ao que lhe diz o seu
“entendimento calculador” e se arrisca a pensar sem qualquer cálculo lógico que lhe sirva
de esteio. O filósofo não caminha sobre um chão firme e seguro, ao contrário, saltando
sobre o insólito, ele sente e se surpreende com o universo em toda a sua magnitude. Dando
razão a Aristóteles, Nietzsche considera que as teorias filosóficas se diferem das
científicas porque tratam do que é “insólito, assombroso, difícil, divino e inútil”:

Aristóteles diz com razão: “O que Tales e Anaxágoras


sabem denomina-se raro, espantoso, difícil, divino, mas
inútil, porque eles não se preocupavam minimamente com
os bens terrenos”. Mediante esta escolha e segregação do
que é raro, espantoso, difícil e divino, a filosofia separa-
se da ciência, como também ao salientar o inútil se separa
da prudência”17.

Ou seja, enquanto o cientista tece com prudência teorias a partir do que percebe
pelos sentidos, o filósofo de modo imprudente se arrisca em lançar hipóteses sobre o que
ele não vê, ele “não se limita a uma filosofia esporádica, por sentenças isoladas; não se
limita a uma grande descoberta científica [...], ele quer a totalidade”18. Num salto
misterioso e arriscado, o filósofo arcaico vislumbra o Todo, vê justamente o que os
sentidos não mostram, vê que Tudo é Um.
Em seus escritos, o jovem professor deixa claro que a visão de mundo apresentada
por cada um dos filósofos arcaicos é fruto de uma experiência extraordinária, misteriosa,
não-racional. Enquanto os cientistas são guiados pela luz da racionalidade lógica, que
identifica causas e efeitos, os filósofos arcaicos são, antes de tudo, tocados pela obscura
e misteriosa intuição. O enunciado de Tales, aponta Nietzsche, brotou de uma “intuição
mística” (mystischen Intuition)19, assim como todas as teorias pré-socráticas surgiram de
uma “intuição filosófica profunda”20. Cada um dos filósofos arcaicos estava
absolutamente convicto de ter vislumbrado a verdade do universo e essa certeza, diz
Nietzsche, “nada tem a ver com a lógica”21. Essa certeza vem de um sentimento, vem de

17
NIETZSCHE, 1987, p. 30.
18
NIETZSCHE, 1994, p. 88.
19
NIETZSCHE, 1987, p. 28.
20
NIETZCHE, 1987, p. 31.
21
NIETZSCHE, FP, 1872, 19 [216].
um páthos, o “imenso páthos da verdade” (Wahrheitspathos)22 – um forte sentimento que
invade o pensador.
O que significa dizer que o filósofo arcaico não vai conduzindo seu pensamento
lógico, de modo lúcido e consciente, até descobrir a verdade. Ao contrário, a verdade é
que vem ao seu encontro, ela chega num daqueles raros momentos, os “momentos das
iluminações súbitas, quando o homem estica seu braço imperiosamente, como que para
criar um mundo, produzindo luz de si mesmo e espelhando-a em torno”23. Antes de tudo,
o filósofo arcaico é tomado pelo “páthos da verdade”, e só depois ele racionaliza,
verbaliza e comunica o que sentiu: “o imenso páthos da verdade [...] constrange-o à
comunicação e esta, por sua vez, à lógica”24.
Ou seja, a visão de mundo que cada um dos filósofos arcaicos apresenta – através
de um texto racional, lógico e conceitual – é fruto de uma experiência ilógica, súbita e
involuntária. O filósofo arcaico utiliza a racionalidade lógica para transformar em
palavras o que “viu”, mas não tem a menor preocupação em demonstrar através de
argumentos lógicos a sua verdade – mesmo porque sabe que esta não se fundamenta na
razão lógica. Ele escreve para comunicar a sua verdade que, a rigor, é incomunicável, já
que é indissociável da sua vivência concreta, fisiológica, singular e intuitiva. Ele enuncia
a (sua) verdade através de seu texto como um artista que cria algo belo e nada precisa
justificar. Bem diferente do cientista, que necessita provar sua teoria, ele é como um
músico que, depois de escutar a música das esferas, toca um instrumento: “o filósofo
busca ressoar em si mesmo a sinfonia do mundo e destacá-la em conceitos para fora de
si” 25. Eis aqui o traço artístico, poético, do filósofo arcaico que é celebrado por Nietzsche,
pois nele “o filosofar está ainda presente como obra de arte, mesmo que não se possa
demonstrá-lo como construção filosófica [...], o que decide não é o puro instinto de
conhecimento, mas o instinto estético”26.
Isto é, no filósofo pré-socrático, a luz da razão estava presente, mas não era
excessiva; nele, a escuridão dos mistérios e o colorido poético conviviam em harmonia
com a claridade da racionalidade lógica. O filósofo arcaico questionou o pensamento

22
NIETZSCHE, FP, 1872, 19 [76]. A expressão “páthos da verdade” aparece em vários fragmentos
póstumos dos anos de 1872 e 1873. Páthos é um termo grego que significa: paixão (por oposição à ação),
sentimento, sensação, impressão, experiência, afecção. “Sobre o páthos da verdade” é o título de um dos
vários livros que Nietzsche em sua juventude pensou em escrever, mas não o fez. Escreveu apenas o
prefácio.
23
NIETZSCHE, 1996, p. 25.
24
NIETZSCHE, FP,1872, 19 [103].
25
NIETZSCHE, 1987, p. 31.
26
NIETZSCHE, FP,1872, 19 [76].
mítico, mas não contestou a experiência mística, misteriosa, que lhe fez intuir-ver-sentir-
ouvir a (sua) verdade. Ele discordou dos poetas inspirados, mas não desqualificou o valor
da poesia. Ao contrário, o valor do seu texto é estético, é poético27.

O filósofo socrático: movido apenas pelo impulso lógico desenfreado

Conforme Nietzsche, os filósofos arcaicos devem ser compreendidos como


“precursores de uma reforma dos gregos, mas não como precursores de Sócrates”28. Mas,
quem é Sócrates para Nietzsche? É importante esclarecer que não há uma única resposta
a esta questão29, já que vários são os prismas através dos quais Nietzsche procura
desvendar esse ateniense tão enigmático. Neste breve artigo, vamos nos deter em O
nascimento da tragédia, onde Nietzsche se apropria de Sócrates e cria o conceito de
“socratismo”, que aponta para um fenômeno histórico que de fato acontecia: o enorme
desenvolvimento da racionalidade lógica na segunda metade do século V a. C. Sócrates
é escolhido como o símbolo da expansão desse impulso lógico, que passou a ter uma força
descomunal:

[...] a palavra mais incisiva em favor dessa nova e inaudita


estimação do saber e da inteligência foi proferida por Sócrates,
quando verificou que era o único a confessar a si mesmo que não
sabia nada; enquanto, em suas andanças críticas através de
Atenas, conversando com os maiores estadistas, oradores, poetas
e artistas, deparava com a presunção do saber. 30.

27
Cf: BULHÕES, F. “Pergunta Nietzsche: o que há de poético no discurso da filosofia?” In Revista de
Filosofia Princípios. Natal, v. 23, n. 42, Set.-Dez. 2016, p. 9-29.
28
NIETZSCHE, FP, 1875, 6[18].
29
Encontramos nos escritos de juventude de Nietzsche dois modos distintos de agrupar os primeiros
filósofos gregos: numa sequência que vai de Tales a Demócrito e numa outra que vai de Tales a Sócrates.
No primeiro caso, o termo utilizado para designar os primeiros filósofos gregos é “pré-socráticos” ou
“filósofos arcaicos” e, no segundo, é “pré-platônicos”. Aliás, “Os filósofos pré-platônicos” é o título de um
denso e profundo manuscrito redigido por Nietzsche, de 1869 a 1872, que é a base de seu texto (por ele
chamado de “versão simplificada”) A filosofia na época trágica dos gregos, redigido em 1873. Nestes
escritos, Sócrates é visto em continuidade com os filósofos arcaicos, é tão admirado e celebrado quanto
estes. Aqui, Sócrates é visto como o último de uma sequência de gênios e Platão o primeiro de uma nova
era. Nesse caso, diferente de sua interpretação de O nascimento da tragédia, Nietzsche diferencia os
filósofos gregos como sendo puros (semelhantes às figuras unilaterais) ou filósofos mistos (seriam
semelhantes às figuras poligonais), e afirma que Sócrates é o último filósofo puro, tanto no caráter quanto
na filosofia, e Platão, o primeiro filósofo misto: “Depois dessas considerações, ninguém ficará chocado por
eu falar dos filósofos pré-platônicos como se formassem uma sociedade coerente e por pensar em dedicar
só a eles este escrito. [...] falta aos filósofos, desde Platão, algo de essencial”. NIETZSCHE, 1987, p. 23.
Cf: BULHÕES, F. Pré-platônicos ou pré-socráticos? In Revista Trágica: estudos sobre Nietzsche. Rio de
Janeiro, Vol. 6 – nº 1, 2013. Críticas e elogios de Nietzsche a Sócrates. In O que é metafísica? Atas do III
Colóquio Internacional de Metafísica. Jaimir Conte (Org.). Natal, EDUFRN, 2011.
30
NIETZSCHE, 1992, p.84.
Dotado de uma “natureza inteiramente anormal”31, diz Nietzsche, Sócrates
buscava o verdadeiro conhecimento nos grandes homens de seu tempo, “os grandes
estadistas, oradores, poetas e artistas”. Porém, em vez de encontrar um saber estruturado
sobre bases sólidas e coerentes, só se deparou com a “presunção do saber”, já que seus
interlocutores facilmente entravam em contradição, não conseguiam explicar e
fundamentar o saber que supostamente possuíam. Eles sabiam “apenas por instinto”, o
que não teria, como não tinha na época, problema algum se não fosse ele, Sócrates, a
desconfiar e rejeitar qualquer tipo de sabedoria instintiva. “’Apenas por instinto’, por essa
expressão tocamos no coração e no ponto central da tendência socrática. Com ela, o
socratismo condena tanto a arte quanto a ética vigentes”32 – afirma Nietzsche.
Sócrates não só dedicou sua vida à busca incessante de uma verdade inteiramente
racional como também foi o primeiro a morrer por isso. Provavelmente, suspeita
Nietzsche, ele não se esforçou para escapar das acusações que lhe foram feitas no tribunal,
não usou sua destreza dialética para se defender, pois, se tivesse utilizado sua invicta
habilidade argumentativa para convencer os juízes de sua inocência, pelo menos teria
conseguido evitar a condenação à morte. Aos setenta anos, Sócrates fez do ato de morrer
um tipo de ritual filosófico, a partir do qual ele, um plebeu feio, porém sedutor, entrou
para a história universal como o grande herói da Filosofia. Tornou-se o novo modelo de
homem e de filósofo que encantou a juventude grega, a começar pelo belo e nobre Platão,
“[...] mais do que todos, o típico jovem heleno, Platão, prostrou-se diante dessa imagem
com toda a fervorosa entrega de sua alma apaixonada”33.
Ou seja, esse Sócrates, aí apresentado por Nietzsche, não é o homem histórico
Sócrates, é, sim, o homem-símbolo-Sócrates34! É uma espécie de “força demoníaca”, um
“semideus”, cuja força era tão avassaladora que foi capaz de desmoronar, sozinho, com
seu poderoso punho, o antigo belo mundo grego – tanto o mundo homérico quanto o da
época trágica35.O homem-símbolo-Sócrates é o responsável pelo fim da época trágica dos

31
NIETZSCHE, 1992, p. 86.
32
NIETZSCHE, 1992, p. 85.
33
NIETZSCHE, 1992, p. 87.
34
Levando em conta que Nietzsche se vê como um guerreiro por natureza, cujo pressuposto para um duelo
honesto é “igualdade frente ao inimigo”, quando ele escolhe Sócrates como o representante do novo homem
teórico que deve ser combatido, é porque o considera um adversário à sua altura. Nesse sentido, a sua
declaração de guerra a Sócrates é prova da sua enorme admiração e respeito.
35
“Quem é esse que pode ousar, sozinho, negar a essência grega, essa essência que – está presente - em
Homero, Píndaro e Ésquilo, em Fídias, em Péricles, em Pítia e Dioniso? Que força demoníaca é essa que
se atreve a despejar essa poção mágica no pó? Que semideus é esse, ao qual o coro espiritual dos mais
nobres da humanidade tem de clamar: ‘Ai! Ai! Tu o destruíste, o belo mundo, com teu punho poderoso; ele
desmorona, ele se desfaz!’?”. NIETZSCHE, 1992, p. 85.
gregos e pelo início de uma nova era fundada numa racionalidade lógica desmesurada,
diz Nietzsche: “Enquanto, em todas as pessoas, o instinto é justamente a força afirmativa
e a consciência se conduz de maneira crítica e dissuasiva, em Sócrates é o instinto que se
converte em crítico, a consciência em criador – uma verdadeira monstruosidade per
defectum!” 36.
Este Sócrates de Nietzsche é o herói invencível dos combates dialéticos, que, com
suas exigências argumentativas, suas facadas silogísticas, inaugura um novo tipo de
homem e, por consequência, um novo tipo de filósofo que é tomado por uma fé totalmente
inédita: “a inabalável fé de que o pensar, pelo fio condutor da causalidade, atinge até os
abismos mais profundos do ser”37. Imbuído por esta “sublime ilusão metafísica”38, o novo
filósofo socrático é otimista, acredita piamente que através do raciocínio lógico é possível
alcançar o âmago do real e, assim, encontrar a tão desejada verdade. Ele é um inveterado
“otimista teórico”, que “[...] celebra em cada conclusão a sua festa de júbilo e só consegue
respirar na fria claridade da consciência”39.
É importante salientar que o alvo das severas críticas de Nietzsche à nova
“tendência socrática” é o seu caráter tirânico. Movido por um impulso lógico
desmesurado, o filósofo otimista se fecha às intuições, sentimentos e pressentimentos
inexplicáveis; ele pretende abarcar o mundo inteiro com a sua rede lógica e para isso cala
e deprecia todas as vozes musicais e poéticas. É um crítico feroz tanto da magia
dionisíaca, que leva ao êxtase místico, quanto da bela aparência apolínea, que encobre
com seu véu de Maya os terríveis aspectos da existência. Nem embriaguez nem sonho,
nem música nem poesia. Visando construir, passa a passo, um conhecimento certo e
seguro, sustentado por sólidos pilares lógicos, a nova mentalidade socrática renega os
mistérios e a arte. Nem Dioniso, nem Apolo, o novo daimon socrático só aceita a razão
lógica que tudo quer iluminar – o que é apontado por Nietzsche como um sinal de
envelhecimento, de perda de vitalidade: “O instinto de conhecimento sem medida e sem
discernimento [...] é um indício que a vida envelheceu”40.
O novo filósofo socrático é movido por uma “avidez insaciável”41, um desejo
ardente e incontrolável de encontrar a verdade a qualquer custo. Eis aqui uma mudança

36
NIETZSCHE, 1992, p. 86.
37
NIETZSCHE, 1992, p. 93.
38
NIETZSCHE, 1992, p. 93.
39
NIETZSCHE, 1992, p. 89.
40
NIETZSCHE, FP, 1872, 19 [27].
41
NIETZSCHE, 1992, p. 96.
radical na figura do filósofo grego: enquanto o filósofo arcaico é exuberante, vive e
propaga sua verdade intuída, o filósofo socrático é extremamente carente, vive sentindo
a falta de sua verdade almejada, por isso é obstinado a cumprir sua meta, que é suprir o
vazio que sente. Agora “a filosofia deixa escapar de suas mãos as rédeas da ciência”42.
Nietzsche nos fala: “Assim devem ser entendidos os filósofos gregos mais antigos:
dominam o instinto de conhecimento. O que aconteceu que, a partir de Sócrates, ele (o
domínio) lhes escapou das mãos?”43.
Enquanto que na filosofia arcaica as “verdades” são personalizadas, isto é,
inseparáveis de cada um dos pensadores, no reino onde impera os parâmetros socráticos,
as (supostas) verdades devem ter validade universal, devem ser acessíveis a todos, visto
que o raciocínio lógico é (supostamente) neutro, imparcial, e, por isso mesmo, independe
do sujeito que pensa e, sobretudo, independe de seus sentimentos. Isto é, a noção de
verdade nesse contexto socrático nada tem a ver com o páthos da verdade. Diferente do
filósofo socrático, sempre obstinado a encontrar uma verdade fora de si, o filósofo arcaico
sente, em si mesmo, a sua verdade ecoar. A (sua) verdade é o seu ponto de partida e não
um alvo a ser alcançado. Ele sente a Natureza e procura seguir escutando todos os ritmos
do universo. A escuta, e não a fala, é própria do seu caráter.
Segundo Nietzsche, “o helenismo arcaico manifestou sua força através da série de
seus filósofos. Com Sócrates essa manifestação se interrompe”44. Com ele “Dá-se então
o corte de tesoura. É preciso permanecer na época trágica dos gregos”45. É preciso
resgatar a figura do filósofo arcaico que nos ensina que o autêntico filósofo grego é
movido pelo páthos da verdade e não por uma verdade sem páthos.
O iluminismo socrático pode ter sido duvidoso, porém foi vitorioso. Semelhante
ao herói das tragédias de Eurípides, “que precisa defender as suas ações por meio da razão
e contra-razão”46, o novo filósofo socrático inaugurou um novo paradigma de quem é o
filósofo e o que é a filosofia, paradigma este que, aos olhos de Nietzsche, pode e deve ser
revisto. O império socrático deu fim à época áurea da filosofia grega, por isso é preciso

42
NIETZSCHE, 2001b, p. 89.
43
NIETZSCHE, FP, 1872, 19 [27].
44
NIETZSCHE, FP, 1872, 19 [27].
45
NIETZSCHE, FP, 1872, 21 [6].
46
NIETZSCHE, 1992, p. 89. Em O nascimento da tragédia, Nietzsche apresenta os efeitos devastadores
do socratismo em relação à arte trágica. Eurípides, o poeta sóbrio que veio condenar e combater os “poetas
bêbados”, se opôs aos poetas trágicos que o antecederam, Ésquilo e Sófocles, pois tomou para si o princípio
socrático que não admite a criação inconsciente. Para Eurípedes, a consciência deve presidir o processo
criativo e é condição do prazer estético, pois só há prazer quando a racionalidade está no comando.
resgatar o filósofo arcaico e com ele aprender e reaprender a sentir-escutar-pensar e pulsar
em harmonia com a Natureza!

Os dois viajantes

Em A filosofia na época trágica dos gregos, Nietzsche nos oferece uma bela
imagem de dois viajantes, que, diante de uma forte torrente d`água, buscam igualmente
ultrapassá-la. O primeiro, diz ele, é o “pensamento filosófico”, o segundo é o
“pensamento calculador”. O primeiro salta rapidamente sobre apoios frágeis e o segundo,
temeroso, não salta. Para sair do lugar precisa, antes, ter a certeza de que seus passos
encontrarão um chão estável e sólido para pisar. Vamos chamar o primeiro de filósofo e
o segundo de cientista. Eis a imagem:

Julga-se ver dois viajantes à beira de uma torrente agitada que arrasta
pedras consigo: um deles salta com leveza por cima dela, servindo-se
das pedras para se lançar à frente, mesmo que estas se afundem
bruscamente atrás dele. O outro se encontra desamparado a cada
momento, deve primeiro construir fundamentos que possam sustentar
seu passo pesado e prudente; às vezes, não consegue, e então nenhum
deus o ajuda a transpor a torrente47.

O filósofo é tão leve que parece voar, sente-se forte e confiante. O cientista sente-
se pesado e desamparado, procura, antes de tudo, encontrar uma base firme, segura, capaz
de o sustentar. Enquanto o filósofo é ágil e passa rápido, o cientista, cauteloso, talvez não
passe. Embora Nietzsche não diga que esta figura do filósofo remete ao filósofo arcaico,
não temos dúvida de que ele está se referindo exclusivamente ao filósofo pré-socrático,
que, levado por seus pressentimentos, salta rapidamente sobre pedras que logo depois
serão arrastadas pelas águas agitadas. Bem diferente é o outro viajante, o cientista, que,
tal como o filósofo socrático, antes de afirmar algo precisa ter a certeza de que seus
raciocínios, “pesados e prudentes”, estão construídos sobre bases firmes e sólidas.
A diferença entre os dois viajantes, que desejam atravessar a torrente, diz
Nietzsche, não está apenas na velocidade com que tentam ultrapassá-la. O que também
os diferencia é o modo de pensar. O filósofo pensa movido pela imaginação e o cientista
pensa conduzido pela razão. O filósofo pensa de modo livre, leve e solto, não tem medo
da altura, adora “certezas provisórias”. Seu pensamento “percorre rapidamente grandes

47
NIETZSCHE, 1987, p. 28.
espaços”, tem uma enorme liberdade de movimento, pois é impelido pelo “poder estranho
e ilógico” da imaginação.

O que leva, pois, seu pensamento filosófico tão rapidamente ao


seu fim? Distingue-se ele do pensamento calculador só por
percorrer mais rapidamente grandes espaços? Não, porque lhe dá
asas um poder estranho e ilógico, a imaginação. Impelida por esta
força, salta de possibilidade em possibilidade, que se aceitam
como certezas provisórias: aqui e ali, chega mesmo a apanhar
certezas em voo48.

Em contraposição ao pensamento leve e rápido do filósofo (arcaico), pois a


imaginação dá asas ao seu pensamento, que “salta de possibilidade em possibilidade”, o
raciocínio do cientista (o filósofo socrático) é pesado e vagaroso, pois não aceita meras
possibilidades, quer somente certezas, e que não sejam provisórias. Seu entendimento
calculador procura substituir as analogias por igualdades, as justaposições por
causalidades, e, acima de tudo, pretende encontrar certezas perenes, logicamente
demonstráveis.
Semelhantes a estes dois viajantes são os dois tipos de homens sobre os quais
Nietzsche nos fala em seu pequeno e instigante ensaio Verdade e mentira no sentido
extra-moral: um é intuitivo, o outro é racional. O homem intuitivo desfruta de um
esplendor que se irradia continuamente, vive num estado de “sublime felicidade e numa
olímpica ausência de nuvens”49, mas quando sofre, o que acontece com certa frequência,
já que não aprende com a experiência, “é tão irracional quanto na felicidade, grita alto e
nada o consola”50. Ele vive seu dia a dia como um viajante aventureiro, “com prazer
criador, ele entrecruza as metáforas e desloca as pedras-limites das abstrações”51.

Constantemente ele embaralha as rubricas e compartimentos dos


conceitos, propondo novas transposições, metáforas, metonímias,
constantemente ele mostra o desejo de dar ao mundo de que dispõe o
homem acordado uma forma tão acromaticamente irregular,
inconsequentemente incoerente, estimulante e eternamente nova como
a do mundo do sonho52.

48
NIETZSCHE, 1987, p. 28.
49
NIETZSCHE, 1983, p. 52.
50
NIETZSCHE, 1983, p. 52.
51
NIETZSCHE, 1983, p. 51.
52
NIETZSCHE, 1983, p. 51.
Já o homem racional procura nunca se abalar: “ao ser arrebatado por impressões
súbitas, por intuições; ele generaliza todas estas impressões em conceitos descoloridos e
mais frios a fim de submeter-lhes a condução de sua vida e de sua ação”53. Não brinca de
embaralhar as rubricas que definem o que são e o que devem ser as coisas. E, para ele,
esse tipo de brincadeira, de trocar os rótulos dos objetos, não é próprio de uma pessoa
séria e adulta, que, como ele, deve agir de acordo com as leis e os códigos morais, sociais
e jurídicos vigentes. Ele é um homem precavido, responsável, estratégico, odeia fatos não
planejados. Tem orgulho de sua tendência moral à verdade, tendência que o distancia de
sonhos e fantasias inconsequentes. Sua maior preocupação é evitar a infelicidade,
permanecer calmo e frio, imune a ilusões e tentações. E quando não consegue escapar de
um grande sofrimento, procura manter-se inabalável, equilibrado, sem alterar a voz e a
expressão fisionômica.
Nietzsche considera que a ciência e a vigília estão para o homem racional como a
arte e o sonho estão para o homem intuitivo. Este é criativo, vive como um artista que
sempre encontra novidades e adora sacudir, como dizia Foucault, “todas as familiaridades
do pensamento, abalando todas as superfícies ordenadas e todos os planos”54. Ele recria
seu ambiente, tornando-o mais colorido e fascinante. Suas necessidades básicas nem
parecem necessárias. Sente o maior prazer em brincar, em transformar, em se movimentar
e espalhar imagens poéticas. Já o homem racional, em constante estado de alerta, como
um soldado em plena guerra, está constantemente concentrado em construir um mundo
bem edificado, procura sempre erguer grandes prédios nos quais pode se proteger e
escapar das intempéries da vida.

Enfim...
Entendemos que tanto a descrição dos dois viajantes assim como a diferença entre
o homem intuitivo e o homem racional ilustram bem o contraste que existe entre o filósofo
arcaico e o filósofo socrático. Cada um com o seu modo de ser e de construir seu
pensamento: o primeiro é intuitivo e destemido, tomado por suas impressões súbitas,
movido pelas asas da imaginação, salta sobre pedras escorregadias e sente-se plenamente
seguro da sua ilógica e indemonstrável verdade. O segundo é racional e precavido, não
voa, não salta, caminha bem devagar e, antes de sair do lugar, pensa bem, analisa, calcula
os riscos e tenta, ao máximo, se preservar e não ser surpreendido pelo inesperado. Suas

53
NIETZSCHE, 1983, p. 49.
54
FOUCAULT, 1999, Prefácio.
intuições nada lhe dizem, seus sentimentos não o dominam, seus ouvidos não escutam a
sinfonia do mundo. Ou melhor, ele não se abre para ouvir-sentir a música das esferas e
tem a ilusão de que sua razão o governa. Seus olhos se esforçam para ver e, assim,
controlar todas as coisas, mas ele se esquece de que a Natureza em sua totalidade não é
visível, muito menos pode ser dominada. Como não traz consigo nenhuma certeza, busca,
o tempo todo, alguma firmeza, algum apoio capaz de sustentar seus grandiosos e pesados
raciocínios. Guiado pelo fio da causalidade lógica, ele segue seu caminho, com bastante
cautela, sempre buscando uma luz que possa tudo iluminar, custe o que custar!
Finalizamos este artigo chamando a atenção de que, apesar das diferenças, esses
dois viajantes são companheiros da mesma viajem. No fundo, querem a mesma coisa:
firmar-se por um instante na existência:

Há épocas em que o homem racional e o homem intuitivo ficam


lado a lado, um com medo da intuição, o outro escarnecendo da
abstração; este último é tão irracional quanto o primeiro é
inartístico. Ambos desejam ter domínio sobre a vida; este,
sabendo, através de cuidado prévio, prudência, regularidade,
enfrentar as principais necessidades, aquele, como “herói
eufórico”, não vendo aquelas necessidades e tomando somente a
vida disfarçada em aparência e em beleza55.

Eu, Fernanda, diria que:


a vida é uma viagem.
Viver é viajar,
é caminhar, correr, saltar,
é cair, machucar, chorar,
é levantar, sorrir, cantar,
é dormir, acordar e continuar a sonhar...
Cada um de nós tem a sua história,
cada um de nós faz a sua própria e singular trajetória.
cada um de nós tem seu modo de ser, de pensar, de sentir, de agir...
Cada um de nós é único, diferenciado,
e, ao mesmo tempo, somos todos iguais,
seres mortais,
seres paradoxais...

55
NIETZSCHE, 1983, p. 51-52.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1999.


NIETZSCHE, Friedrich. [Digital critical edition of the complete works and letters, based
on the critical text by G. Colli and M. Montinari, Berlin/New York, de Gruyter 1967-,
edited by Paolo D’Iorio].
______________. O nascimento da tragédia. Trad. J. Guinsburg. São Paulo, Companhia
das Letras, 1992.
______________. A filosofia na época trágica dos gregos. Trad. Maria Inês Madeira de
Andrade. Lisboa, Edições 70, 1987.
______________. Les philosophes préplatoniciens. Apresentação e notas: Paolo D’Iorio;
trad. Nathalie Fernand. Paris, Editions de Léclat, 1994.
_______________. Le livre du philosophe/ Das philosophenbuch. Paris, Aubier-
Flammarion, 1969.
_______________. Verdade e mentira no sentido extra-moral. Trad. de Rubens Torres
Filho. In Os Pensadores, volume Nietzsche. São Paulo, Abril Cultural, 1983.
_______________. Sobre o pathos da verdade. Trad. Pedro Süssekind. In Cinco prefácios
para cinco livros não escritos. Rio de Janeiro, 7 Letras, 1996.

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