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PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Osmar Nascimento de Oliveira / UEM


osmarnascimento@hotmail.com

RESENHA

Esta é uma resenha crítica do texto de Celso Vasconcelos Projeto Político


Pedagógico de 2002. Nele, o autor versa sobre o Projeto Político-Pedagógico (PPP),
e trata de aspectos importantes de sua elaboração. O capítulo é divido em quatro
partes. A primeira aborda o conceito e a metodologia de elaboração do PPP. As
partes seguintes são divididas de acordo com as partes que compõem o Projeto
Político-Pedagógico. São elas: o Marco Referencial, o Diagnóstico e a Programação.

O autor inicia o capítulo com a conceituação do PPP, destacando as partes


que o compõem (Marco Referencial, Diagnóstico e Programação), assim como sua
relevância e a visão geral do processo, além de aspectos importantes sobre a
metodologia de trabalho para a elaboração do projeto.

Segundo Vasconcelos, o Projeto Político-Pedagógico é:

[...] o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização,


nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que se
aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de
ação educativa que se quer realizar. É um instrumento teórico-metodológico
para a intervenção e mudança da realidade. É um elemento de organização
e integração da atividade prática da instituição neste processo de
transformação. (VASCONCELOS, 2002, p. 1)

Diogo, 1998, dá outro conceito para o PPP:

O Projeto Educativo é, claramente, um documento de planificação escolar


que poderíamos caracterizar do seguinte modo: de longo prazo quanto à
sua duração; integral quanto à sua amplitude, na medida em que abarca
todos os aspectos da realidade escolar; flexível e aberto; democrático
porque é elaborado de forma participada e resultado de consensos.
(DIOGO, 1998, p. 17 apud VASCONCELOS, 2002, p. 1)

Assim, o Projeto Político-Pedagógico procura sistematizar as ações


pedagógicas de forma participativa com o objetivo de intervenção e mudança da
realidade, resgatando o sentido humano, científico e libertador do planejamento. É
dividido em três partes: o Marco Referencial, o Diagnóstico e a Programação.
Segundo o autor, o Marco Referencial corresponde à dimensão da Finalidade; o
Diagnóstico, à Realidade e a Programação à Mediação.

Dando prosseguimento o autor trabalha em subtítulos separados cada uma


das partes do Projeto, iniciando pelo Marco Referencial.

O autor trabalha com o seguinte conceito de Marco Referencial:

O Marco Referencial é a tomada de posição da instituição que planeja em


relação à sua identidade, visão de mundo, utopia, valores, objetivos,
compromissos. Expressa o ‘rumo’, o horizonte, a direção que a instituição
escolheu, fundamentado em elemento teóricos da filosofia, das ciências, da
fé, portanto é uma fundamentação. (VASCONCELOS, 2002, p. 8)

Vasconcelos divide o Marco Referencial em três grandes partes:

 Marco Situacional (onde estamos e como vemos a realidade);

 Marco Filosófico ou Doutrinal (para onde queremos ir); e

 Marco Operativo (que horizonte queremos para nossa ação).

Para o autor, o Marco Situacional é a visão que o grupo tem sobre a


realidade, seus traços mais marcantes. A análise da realidade na qual a escola está
inserida.

Marco Filosófico é a direção que a escola deseja tomar, o seu ideal. É a


concepção de sociedade, pessoa e educação que o grupo assume.

O Marco Operativo trata sobre os critérios de ação (pedagógica, comunitária e


administrativa) para se conseguir chegar ao ponto definido no Marco Filosófico, a
partir da situação atual da escola (Marco Situacional).

Na elaboração do Marco Referencial é importante a participação de toda


comunidade escolar e envolve três dinâmicas: individual, grupo e plenário. Assim
cada um dá a sua contribuição individual, que serão sistematizadas em grupo e
depois partilhadas através de debates e explicações, e a sua análise é feita baseada
em três aspectos básicos: Fidelidade, Técnico e no Conteúdo.

A segunda etapa na elaboração do PPP é o Diagnóstico. Para Vasconcelos, o


Diagnóstico tem o seguinte entendimento:

Diagnóstico aqui está sendo entendido não num sentido difundido no senso
comum educacional como levantamento de dificuldades ou de dados da
realidade, mas no sentido mais preciso de localização das necessidades da
instituição, a partir da análise da realidade e/ou do confronto com um
parâmetro aceito como válido. (VASCONCELOS, 2002, p. 11)

Eis outra definição para o Diagnóstico:

O Diagnóstico é a parte de um plano que profere um juízo sobre a


instituição planejada em todos ou em alguns aspectos tratados no Marco
Operacional (que descreveu o modo ideal de ser, de se organizar, de agir
da instituição), juízo este realizado com critérios retirados do mesmo Marco
Operativo e, sobretudo, do Marco Doutrinal. (...) O Diagnóstico é o resultado
da comparação entre o que se traçou como ponto de chegada (Marco
Referencial) e a descrição da realidade da instituição como ela se
apresenta. (GANDIN, 1983, p. 29 apud VASCONCELOS, 2002, p. 11)

Para a elaboração do Diagnóstico é necessário: conhecer a realidade através


do levantamento e do estudo de dados sobre a instituição; confrontar a situação
atual da escola com aquilo que a escola pretende ser; localizar as necessidades, ou
seja, aquilo que falta para a escola ser aquilo que deseja. Diagnosticar a realidade
significa ir além da percepção imediata, da simples opinião ou descrição, é
necessário problematizar a realidade, procurar compreender suas contradições, seu
movimento interno, de forma a superá-la por uma nova prática.

A etapa final do capítulo e da elaboração do Projeto Político-Pedagógico


compreende a Programação. Vasconcelos define esta etapa da seguinte forma: “A
Programação é o conjunto de ações concretas assumido pela instituição, naquele
espaço de tempo previsto no plano, que tem por objetivo superar as necessidades
identificadas”.

É na Programação que serão definidas as ações necessárias para se


alcançar os objetivos definidos no Marco Referencial, superando-se as dificuldades
identificadas no Diagnóstico. Assim:

A Programação, dentro de um plano, é uma proposta de ação para diminuir


a distância entre a realidade da instituição que planeja e o que estabelece o
Marco Operativo. Dito de outra forma, é a proposta de ação para somar
(satisfazer) as necessidades apresentadas pelo Diagnóstico. (GANDIN,
1991, p. 45, apud VASCONCELOS, 2002, p. 14)

Para a eficiência da Programação é necessário a observação de alguns


aspectos fundamentais. Toda a programação da escola deve estar pautada na
necessidade e na possibilidade da ação. A programação deve estar marcada pelo
compromisso de se atender as reais necessidades das pessoas (no sentido coletivo)
e da escola, articulando o projeto como um todo, e não como três partes
independentes e justapostas. O autor faz a seguinte advertência quanto à falta de
articulação:

Corremos o risco de simplesmente justapor as três partes do Projeto


Político-Pedagógico: fazemos uma bela filosofia, colocamos ao lado uma
leitura de realidade e ao lado uma proposta de ação (M.R., D. e
Programação), sem que haja interação entre elas. Precisamos de um bom
Marco Referencial que dê o pano de fundo, o horizonte para o qual se
encaminha, para poder fornecer critérios para a análise da realidade ou a
comparação entre ideal e real, possibilitando fazer um bom Diagnóstico, ou
seja, que nos traga bem presente as necessidades que precisam ser
satisfeitas, a fim de guiar a Programação, resposta prática às necessidades,
na perspectiva de se atingir o fim buscado. Enfatizamos que cada passo
depende da consolidação do anterior. (VASCONCELOS, 2002, p. 14-15)

O autor conclui o texto esperando ter deixado com clareza as noções de


complexidade e importância do Planejamento Político-Pedagógico no âmbito da
educação, e que, além de sistematizar e disponibilizar ferramentas. Acredita poder
estar colaborando para superar bloqueios e apontar caminhos, com o objetivo de
fazer do Planejamento um método de trabalho do educador, que o ajude na tarefa
tão urgente e essencial de transformar a prática, na direção de um ensino mais
significativo, crítico, criativo e duradouro, como mediação para a construção da
cidadania, na perspectiva da autonomia e da solidariedade. Que finalmente deixe de
ser visto como função burocrática, formalista e autoritária, e seja assumido como
forma de resgate do trabalho, de superação da alienação, de reapropriação da
existência.

Escrito de forma clara e objetiva, o capítulo estudado consegue fazer-se


entender. O seu vocabulário é simples, não se encontra dificuldades de
compreensão e não se encontrou a necessidade de recorrer ao dicionário para
entender qualquer termo empregado. Dessa forma, o autor consegue transmitir ao
leitor o conceito do Projeto Político-Pedagógico, assim como aspectos importantes
de sua elaboração e de seus componentes.

Com vários exemplos em cada uma das fases de sua elaboração, fica
evidente como deve ser elaborado o PPP, de forma democrática e participativa,
assim como a sua importância para dar a escola um rumo a seguir, deixando claro o
tipo de cidadão que se pretende formar naquela instituição.

Em comparação com outras obras que tratam sobre o mesmo tema,


Vasconcelos tem a vantagem de abordar de forma prática a efetiva elaboração do
PPP, entretanto, obras como as organizadas por Veiga (1995 e 2001) e Padilha
(2007) refletem melhor aspectos teóricos importantes que devem ser analisados
quando do momento da elaboração do projeto político-pedagógico, tais como “Os
princípios norteadores do PPP” (Igualdade, Qualidade, Gestão Democrática,
Liberdade, Valorização do Magistério. Sobre estes princípios, para Veiga (1995): “A
abordagem do projeto político-pedagógico, como organização do trabalho da escola
como um todo, está fundada nos princípios que deverão nortear a escola
democrática, pública e gratuita.” Outros elementos tratados por esta autora são as
relações de poder e as dimensões indissociáveis do fazer educativo, o imaginário
social e intencionalidade política, entre outros, além de ilustrar sua obra com um
exemplo real de construção do PPP em uma escola de periferia em São Paulo.
Nessa experiência a autora relata como chamou a atenção da comunidade sobre a
necessidade de participação efetiva para o sucesso do planejamento e,
conseqüentemente, da escola.

Na obra “As dimensões do Projeto Político-Pedagógico”, Veiga trabalha as


idéias do relacionamento do PPP com o contexto das políticas educacionais; os
territórios da intervenção da comunidade, da família e da escola; os desafios dos
paradigmas curriculares e avaliativos; e a construção das identidades dos sujeitos
do processo educativo.

Padilha (2007), por sua vez, trabalha a construção do projeto político-


pedagógico apresentando vários exemplos não apenas de como elaborar o projeto,
mas de exemplos de planejamentos efetivamente construídos pelas escolas em sua
formatação final, de forma a familiarizar a escola com as diversas formas de
apresentação do projeto.
Essas discussões de Veiga e Padilha complementam a elaboração do Projeto
Político-Pedagógico proposto por Vasconcelos. Acreditamos que, apenas com uma
ampla discussão sobre os aspectos que fundamentam e influenciam a elaboração
do PPP é que o texto de Vasconcelos pode ser aproveitado na sua totalidade.

Como um dos elementos essenciais para a educação, acreditamos ser válida


e proveitosa a leitura do texto de Celso dos Santos Vasconcelos. Tanto o assunto
como o texto despertam o interesse no aluno, e sua utilização nos cursos de
formação de docentes é indispensável para a apropriação deste conteúdo tão
importante para a prática pedagógica. Mas salientamos a necessidade de outras
leituras para que o aluno tenha condições de compreender todos os aspectos que
perfazem as estruturas do Projeto Político-Pedagógico da escola.

REFERÊNCIAS

PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento Dialógico: Como construir o Projeto


Político-Pedagógico da escola. 7ª ed. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire,
2007.

VASCONCELOS, Celso dos Santos. Projeto Político-Pedagógico. In: _____


Planejamento: Projeto de ensino, aprendizagens e Projeto Político-Pedagógico. 10
ed. São Paulo: Liberdad, 2002. Cap. 4.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org.). Projeto Político-Pedagógico: Uma


construção possível. 24ª ed. Campinas: Papirus, 1995.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro e FONSECA, Marília (orgs.). As dimensões do


Projeto Político-Pedagógico. 5ª ed. Campinas: Papirus, 2001.

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