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Planejamento Didático

Aula 04
Planejamento e o Projeto Político-Pedagógico

Objetivos Específicos
• Reconhecer a relação existente entre Planejamento e o Projeto Político-
Pedagógico

Temas
Introdução
1 Conceituando Projeto Político-Pedagógico
2 Construíndo o Projeto Político-Pedagógico
Considerações finais
Referências

Professoras
Claudia Valeria Nobre e Keite Melo
Planejamento Didático

Introdução
Nos dias atuais, um termo faz parte do contexto educacional, especialmente quando
tratamos de planejamento: Projeto Político-Pedagógico. Esse documento faz parte do debate
pedagógico cotidiano, além de ser uma exigência legal para as instituições educacionais.
Neste texto, veremos com maior profundidade o conceito para entendermos o quanto ele é
importante para as instituições educacionais.

Para compreendermos melhor os elementos contidos no Projeto Político-


Pedagógico, é necessário que realizem a leitura do artigo disponível no ambiente virtual.

1 Conceituando Projeto Político-Pedagógico


Para iniciar o estudo sobre o tema desta aula, é necessário compreender que a elaboração
do Projeto Político-Pedagógico (PPP) é uma exigência legal e que todas as unidades educacionais
públicas e privadas do território brasileiro precisam construir coletivamente o seu próprio
Projeto. Essa exigência está presente no artigo 12º da LDBEN, que é expresso da seguinte
forma: “Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema
de ensino, terão a incumbência de: I – elaborar e executar sua proposta pedagógica”. (LDBEN,
nº 9394/96, no Art. 12). Entretanto, o que é exatamente o Projeto Político-Pedagógico?

Para compreender melhor esse conceito, o diálogo com alguns autores é indispensável.
Inicialmente, podemos dizer que o Projeto Político-Pedagógico é conceituado pelos autores
de maneira bastante semelhante. Ilma Passos da Veiga, por exemplo, afirma que o Projeto
Político-Pedagógico pode ser definido como:

Uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso definido


coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto
político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os
interesses reais e coletivos da população majoritária. É político no sentido de
compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade [...] Pedagógico,
no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de
cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade. (VEIGA, 1995, p. 13)

Ainda de acordo com Veiga (1995, p.13), o Projeto Político-Pedagógico, construído


coletivamente por toda comunidade escolar, se transfigura numa “ação intencional, com sentido
explícito que busca um rumo, uma direção e que deve ser vivenciado em todos os momentos e por
todos da escola”. Ela ressalta também que o Projeto Político-Pedagógico, por ser uma construção

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do grupo, possui compromissos que devem ser definidos coletivamente, além de contemplar
um processo constante de reflexão e discussão dos problemas do contexto educacional,
proporcionando, portanto, uma vivência mais democrática e o exercício pleno da cidadania.

Para essa autora, o Projeto Político-Pedagógico não deve ser visto como mais um
instrumento burocrático, ao contrário é um valioso instrumento que é vivo e reflete o que
aquela comunidade escolar espera da educação ali ofertada.

O projeto político-pedagógico vai além de um simples agrupamento de planos de


ensino e de atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em seguida
arquivado ou encaminhado às autoridades educacionais como prova do cumprimento
de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os momentos, por
todos os envolvidos com o processo educativo da escola. (VEIGA, 1995, p. 14)

Na concepção de Ima Passos da Veiga (1995) o Projeto Político-Pedagógico:

• É político porque possui compromisso com a formação do cidadão participativo,


responsável, compromissado crítico e criativo;

• É pedagógico porque define ações educativas para a escola cumprir seu propósito;

Já para Gadotti (1994, p.579), a construção de qualquer projeto, pedagógico ou não,


pressupõe a ideia de se lançar para adiante, ou seja, “um projeto supõe rupturas com o
presente e promessas para o futuro. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível,
comprometendo seus atores e autores”.

Segundo Gadotti e Romão (1995) uma construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico


certamente influencia positivamente na gestão democrática da educação:

todos os segmentos da comunidade podem compreender melhor o funcionamento


da escola, conhecer com mais profundidade os que nela estudam e trabalham,
intensificam seu desenvolvimento com ela e, assim, acompanham melhor a educação
ali oferecida. (1997, p.16, apud VEIGA, 1995, p. 12)

Para Vasconcelos (2008), é intrínseca a relação entre democracia e a construção do


projeto político pedagógico. Segundo ele, “o projeto é um instrumento para a construção
de uma educação de qualidade democrática, um ponto de apoio para todos aqueles que se
comprometem com esta causa” (VASCONCELLOS, 2008, p. 54).

Diogo (2008) considera que o Projeto Político-Pedagógico, ao ser construído pelo grupo:

é, claramente, um documento de planificação escolar que poderíamos caracterizar do


seguinte modo: de longo prazo quanto à sua duração; integral quanto à sua amplitude,
na medida em que abarco todos os aspectos da realidade escolar, flexível e aberto;
democrático porque elaborado de forma participativa e resultado de consensos.
(DIOGO, 1998, p. 17 apud VASCONCELLOS, 2002, p. 169)

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Salienta-se que o Projeto Político-Pedagógico, segundo Ilma Passos (1995), entendido


como um processo democrático de tomada de decisões, que tem por finalidade melhorar
a qualidade da educação oferecida nas instituições educacionais, além de aperfeiçoar o
processo de gestão democrática tem, em síntese, as seguintes intenções:

• superar os diversos conflitos existentes;

• eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias presentes no interior


das instituições; e

• reduzir os efeitos da divisão do trabalho, da fragmentação e do controle hierárquico.

Assim, com base nas referências dos diversos autores do campo da educação, construímos
o conceito de Projeto Político-Pedagógico.

2 Construíndo o Projeto Político-Pedagógico


Na elaboração do PPP, é fundamental pensar nas partes que o compõem e nas formas
existentes para garantir a participação de toda comunidade escolar em sua construção.
Pensando nisso, Danilo Gandin (1998) traz proposições teórico-metodológicas relevantes e
coerentes para uma construção coletiva do PPP. Para o autor, o o PPP possui três partes
essenciais: Marco Referencial, Diagnóstico e Programação.

Segundo Gandin (1998) é no Marco Referencial:

que é expressa a posição da instituição. O que planeja em relação à sua identidade,


visão de mundo, utopia, valores, objetivos, compromissos. Indica o “rumo”, o
horizonte, a direção que a instituição escolheu, fundamentado em elementos teóricos
da filosofia, das ciências, apoia-se em crenças, na cultura da coletividade envolvida.
Implica, portanto, opção e fundamentação. (GANDIN, p. 48, 1998)

Segundo o autor é a partir do Marco Referencial que se imprime sentido ao trabalho


pedagógico e criam-se as grandes perspectivas para a caminhada rumo à concretização
daquilo que se almeja alcançar. De acordo com Gandin (1998, p. 45), “a função maior do
Marco Referencial é a de tensionar a realidade no sentido da sua superação/transformação e,
em termos metodológicos, fornecer parâmetros, critérios para a realização do Diagnóstico”.

De acordo com Gandin (1998), o Marco Referencial está organizado da seguinte forma:

• Marco Situacional (onde estamos, como vemos a realidade);

• Marco Conceitual (para onde queremos ir);

• Marco Operacional (que horizonte queremos para nossa ação).

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O Marco Situacional (GANDIN, 1998) é o entendimento da comunidade escolar sobre a


realidade em que a instituição está inserida, de forma mais geral, ou seja, como os sujeitos
a vê, quais suas características mais marcantes, qual a relação do quadro socioeconômico,
político e cultural mais amplo e o cotidiano da instituição educacional. Para Gandin (1998) é
nesse Marco o que se delineia uma visão mais geral da realidade macro e não somente uma
análise da instituição na perspectiva micro, pois isto será feito na fase do Diagnóstico.

Já no Marco Conceitual há a preocupação com os princípios que deverão nortear o ideal


geral da instituição escolar. Neste Marco é que é explicitada a concepção de sociedade, de
homem e de educação que é assumida pelos sujeitos envolvidos na construção do Projeto
Político-Pedagógico. Embora saibamos que explícita ou implicitamente toda educação se
baseia numa visão de mundo, de homem e de sociedade, são raras as vezes que as instituições
escolares debatem intencionalmente as concepções subjacentes às suas práticas. Portanto,
o processo de construção do Marco Conceitual instiga esse debate e move às instituições
educacionais a sair da zona de conforto.

No Marco Operacional é evidenciado o ideal da instituição educacional, levando-se


em consideração aquilo que queremos ou devemos ser, lembrando que deve ser sempre
compatível com o Marco Situacional e o Marco Conceitual, para que não haja um desajuste entre
a realidade geral e os objetivos pretendidos. Segundo Gandin (1998) esse Marco relaciona-se
à organização das ações da coletividade educacional nas três principais dimensões da práxis
educativa: a dimensão pedagógica, a dimensão comunitária e a dimensão administrativa.

Depois do detalhamento do Marco Referencial, vamos seguir adiante e conhecer


dois outros itens que devem fazer parte da construção do Projeto Político-Pedagógico,
o Diagnóstico e a Programação. No Diagnóstico (GANDIN, 1998) são trazidas à tona as
características atuais da instituição educacional, suas limitações e possibilidades, os seus
elementos identificadores, a imagem que se quer construir quanto a seu papel na comunidade
em que está inserida. Esse levantamento das características da instituição educacional é o
que se denomina “diagnóstico” e que servirá de referência para a definição dos objetivos
que se quer alcançar, do modelo de gestão a ser implementado, dos conteúdos curriculares
que devem ser trabalhados, das formas de organização e funcionamento da instituição
educacional, bem como a sua função social nos contextos macro e micro.

Para finalizar, a Programação é entendida como a definição do que vai ser realizado e dos
meios que serão utilizados para a superar os problemas detectados, em busca da qualidade
da educação pretendida pela instituição educacional.

A Programação é o conjunto de ações concretas definidas pela instituição, no espaço


de tempo disponível, que tem por objetivo superar as necessidades identificadas.
Dito de outra forma, é a proposta de ação para sanar (satisfazer) as necessidades
apresentadas pelo Diagnóstico. (GANDIN, 1998, p. 45)

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Podemos então dizer que a Programação é a proposta de ação, ou seja, é o detalhamento


do que é necessário e possível se feito para diminuir a distância entre o que a instituição
educacional é e o que deveria/deseja ser. Segundo Gandin (1998) no que diz respeito a
periodicidade, a programação tem abrangência de três anos, com revisão anual.

Tabela 1: Partes constituintes do Projeto Político-Pedagógico

Marco Referencial Diagnóstico Programação


O que nos falta para sermos o O que faremos concretamente
O que queremos alcançar?
que desejamos? para suprir tal falta?
É a busca de um
É a busca das necessidades,
posicionamento: • Político: É a proposta de ação. O que
a partir da análise da
visão do ideal de sociedade é necessário e possível para
realidade e/ou do juízo sobre
e de homem. • Pedagógico: diminuir a distância entre o
a realidade da instituição
definição sobre as que vem sendo a instituição e
(comparação com aquilo que
características que deve ter a o deveria ser.
desejamos que seja).
instituição que planeja.

Fonte: Gandin (1998, p. 170).

Vimos até agora o quanto é relevante a construção do Projeto Político Pedagógico e


de como isso pode mobilizar a comunidade educacional, dando novos rumos aos contextos
pedagógicos que atuamos.

Considerações finais
Nesta aula vimos o significado do termo Projeto Político-Pedagógico e pudemos perceber
que não há grandes divergências conceituais nessa definição. Ficou claro o quanto o PPP é um
importante instrumento para as instituições educacionais traçarem os rumos que desejam seguir.

Vimos também que no processo de elaboração do PPP devemos considerar onde estamos
atualmente e aonde pretendemos chegar. Por isso, é fundamental que na construção do
Projeto Político-Pedagógico as instituições se vejam de forma mais ampla e não apenas no
contexto micro.

Referências
GANDIN, D. A prática do planejamento participativo. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

_________. Planejamento como prática educativa. 7.ed. São Paulo: Loyola, 1994.

VASCONCELLOS, C. S. Coordenação do Trabalho Pedagógico: do trabalho político-pedagógico


ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertard, 2002.

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_________. Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico. 10.


ed. São Paulo: Libertard, 2002.

_________. Projeto Educativo: Elementos metodológicos para a elaboração do projeto


educativo. São Paulo: Libertad, 1991.

VEIGA, I. P. A. (Org.). As Dimensões do Projeto Político-Pedagógico. Campinas, 4. ed. SP:


Papirus, 2001.

_________. Escola: Espaço do Projeto Político-Pedagógico. 7. ed. Campinas, SP: Papirus.1998.

_________. Projeto Político-Pedagógico da Escola: Uma Construção Possível. Campinas, SP:


Papirus, 1995.

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