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UNIVERSIDADE PAULISTA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


CURSO DE DIREITO
CAMPUS PARAISO

TRABALHO PARA AVALIAÇÃO SEMESTRAL


Atividades Práticas Supervisionadas - APS
Prof.ª: Andréia Wild

Alunos RA Assinatura

São Paulo
2015/1
Sumário
Introdução..................................................................................................................................................... 3

1- Entendendo o que é Hermenêutica................................................................................................... 4

2- Conceitos de Hermenêutica............................................................................................................... 6
2.1 Hermenêutica Bíblica.................................................................................................................... 6
2.2 Hermenêutica Filológica............................................................................................................... 6
2.3 Hermenêutica Científica............................................................................................................... 6
2.4 Hermenêutica Aplicada................................................................................................................. 6
2.5 Hermenêutica Fenomenológica................................................................................................... 7
2.6 Hermenêutica Cultural.................................................................................................................. 7

3- Hermenêutica Jurídica........................................................................................................................ 8
4- Métodos de interpretação............................................................................................................ 10

5- O Artigo 5º e Sua Função................................................................................................................. 12

6- Considerações Finais....................................................................................................................... 14

Referências:................................................................................................................................................... 15
Introdução
Neste trabalho, sobre Hermenêutica Jurídica, faremos um levantamento
bibliográfico dos entendimentos doutrinários e artigos acadêmicos que versam sobre
o tema citado acima, bem como proceder algumas analises do artigo 5º da LINDB (Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), onde o Juiz atenderá aos fins sociais a
que ela se dirige e as exigências do bem comum.

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1- Entendendo o que é Hermenêutica

A Hermenêutica é a arte ou o método interpretativo que procura compreender


um determinado texto, ou seja, esta expressão – provinda do grego hermeneuein -,
tem o sentido de ‘interpretar’, ‘explicar’ de uma forma geral a passagem textual em
questão, tentando nela encontrar a alegoria presente. Ela inicialmente consistia em
uma metodologia específica para desvendar a Escritura Sagrada, aparecendo esta
palavra textualmente na Bíblia pelo menos quatro vezes – em João 1:42; 9:7; Hebreus
7:2 e Lucas 24:27.
Esta linha de reflexão, também conhecida como filosofia prática, foi
desenvolvida principalmente por Hans-Georg Gadamer. Ele percebia a prática como
uma esfera desvinculada da teoria, mera arte desencadeada por um processo
extraído do conhecimento teórico. Ela se diferencia da metafísica ao assumir como
qualidade essencial a phronesis, conexão entre o universo racional e a práxis moral,
entre o que se passa na consciência e a realidade fora do espírito, baseada na
experiência. Seguindo este caminho, Gadamer destaca que a verdade está acima da
metodologia.

Para se alcançar a compreensão de um texto, seu significado mais profundo, é


necessário investigar os diversos elementos que compõem o processo hermenêutico
– o autor, o texto e o leitor. A prática mais convencional para se pesquisar o sentido
bíblico, e por extensão o significado de qualquer outro texto pesquisado, é partir do
autor, do que este desejou transmitir, em plena consciência, ao elaborar seus
escritos. Assim, é importante comparar as várias obras produzidas pelo escritor, para
se verificar o que ele disse em diferentes momentos, considerando-se sempre as
línguas em que os textos foram criados.

No que diz respeito ao texto, alguns estudiosos defendem que o sentido do


discurso tem liberdade significativa, liberando-se do domínio de seu criador assim que
é escrito. Assim, quando ele é levado a público, não se aplicam mais a ele as normas
da informação, pois ele agora se tornou uma obra literária. Do ponto de vista do leitor,
o conteúdo textual é por ele determinado, é este agente que explicita o que foi escrito.
Assim, como há as mais variadas espécies de leitor, há também distintas
interpretações de um texto.
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Platão considerava hermenêuticos os próprios poetas, hermenes ou intérpretes
das divindades, enquanto vários pensadores compreenderam a obra de Homero
alegoricamente. Santo Agostinho via o Antigo Testamento também desta forma,
compreendendo-o simbolicamente, através de conceitos herdados dos filósofos
neoplatônicos. Esta linha de pensamento se manteve durante toda a Era Medieval.
Este método foi adotado mais claramente depois da Reforma. Este termo,
‘hermenêutica’, foi criado em 1654 por J.C. Dannhauer, exposto em sua obra
Hermeneutica sacra sive methodus exponendarum sacrarum litterarum.

Os Protestantes se valeram desta metodologia para melhor combaterem o


Catolicismo, apegando-se para isso ao sentido literal das Escrituras, alegando
retomar assim o significado original dos ensinamentos de Jesus, deformado pelo clero
romano e pela escola filosófica conhecida como Escolástica. O filósofo Espinosa
considerava que o modelo interpretativo da Bíblia podia ser estendido racionalmente
para a compreensão de tudo, associando em um esforço comum a crítica bíblica e a
História.

Wilhelm Dilthey foi o responsável pela amplificação da hermenêutica, pois ele a


estendeu dos textos sagrados para a análise de todas as elaborações e ações
humanas, inclusive da própria existência humana. Heidegger, por sua vez, na obra
Ser e Tempo, de 1927, tentou realizar uma análise interpretativa do Homem, ou seja,
daquele mesmo que investiga e procura compreender tudo à sua volta. Através de
seus trabalhos, a hermenêutica ganhou vasto espaço na filosofia ocidental.

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2- Conceitos de Hermenêutica

A hermenêutica  pode ser compreendida como o processo de decifração de um


conteúdo e de um significado manifestos para um significado latente ou
escondido (PALMER, 1986). O termo hermenêutico (hermeneutikem
alemão; herméneutique em francês; hermeneutica em latim), no entanto, remetia-se
originalmente aos campos humanísticos, cujo significado, âmbito e clarificação
fundamental em seu desenvolvimento adquiriram novas perspectivas a partir do
Século XVII (DOMINGUES, 2004).
A hermenêutica moderna surgiu inicialmente como reflexão sobre os
fundamentos e a metodologia referente à interpretação dos textos religiosos, literários
e legais. Hoje são possíveis algumas subdivisões, mencionadas abaixo:

2.1 Hermenêutica Bíblica

Teoria da exegese da Bíblia, sendo justificada historicamente


pela necessidade do estabelecimento de regras específicas para a análise e
compreensão dos textos das Escrituras (Antigo e Novo Testamento).

2.2 Hermenêutica Filológica

Metodologia geral surgiu do advento e desenvolvimento do racionalismo


iluminista, estabelecendo um conjunto de regras gerais de exegese filológica a ser
aplicada aos textos literários diversos, inclusive às Escrituras Bíblicas;

2.3 Hermenêutica Científica

Ciência da compreensão linguística, desenvolvida por Friedrich Daniel Ernst


Schleiermacher, dando uma base sistemática universal; ultrapassando a concepção
das regras hermenêuticas e descrevendo as condições da própria compreensão em
qualquer diálogo.

2.4 Hermenêutica Aplicada

Base metodológica para as geisteswissenchaftliche, isto é, de todas as


disciplinas centradas na compreensão da arte, comportamento e escrita do homem
tendo o projeto de Wilhelm Dilthey como base metodológica verdadeiramente

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humanística; defendia que a interpretação das expressões essenciais da vida humana
implica em um ato de compreensão histórica, numa operação fundamentalmente
diferente da quantificação e do domínio científico do mundo natural; acreditava que no
ato de compreensão histórica está em causa um conhecimento pessoal do que
significa ser humano.

2.5 Hermenêutica Fenomenológica

Fenomenologia do existente humano (Dasein, ser-aí) e da compreensão


existencial, a partir das concepções de MartinxHeidegger  e Hans-GeorgxGadamer; a
hermenêutica do  existente humano (ser-aí) transforma-se de fato em hermenêutica,
na medida em que apresenta a ontologia da compreensão, sendo tal investigação de
caráter hermenêutico, tanto no conteúdo como no método; compreensão e
interpretação são modos fundantes da existência humana.

2.6 Hermenêutica Cultural

Sistema de interpretação e da recuperação do sentido, sendo decorrente das


aplicações que Paul Ricoeur  faz da hermenêutica na procura de uma filosofia mais
adequada e centrada na interpretação dos mitos e símbolos para alcançar o
significado subjacente. Tal hermenêutica remonta a uma centração na exegese
interpretativa de textos ou do conjunto de sinais susceptíveis de serem considerados
como textos, usando elementos da psicanálise; os textos, no sentido lato, podem ser
constituídos pelos símbolos de um sonho, ou por mitos e símbolos sociais ou
literários.

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3- Hermenêutica Jurídica

Uma das acepções sobre a hermenêutica jurídica refere-se à interpretação do


"espírito da lei", ou seja, de suas finalidades quando foi criada. É entendida no âmbito
do Direito como um conjunto de métodos de interpretação consagrados. O objeto de
interpretação privilegiado do Direito é a norma, mas não se limita a ela (pode-se
interpretar o ordenamento jurídico, a lei positiva, princípios).

Outra acepção, defendida por Paulo de Barros Carvalho, entende que a


hermenêutica fornece tão somente os instrumentos de interpretação dos enunciados
jurídicos com fins de construção do sentido da norma jurídica, ou seja, a norma
jurídica não está na lei, mas na cabeça do intérprete, que a constrói (a norma)
baseado nos textos jurídicos enunciados na vasta legislação existente, mediante a
utilização de determinados métodos previamente selecionados pelo intérprete. Não
existe "vontade" ou "espírito" na lei, mas sim a vontade do legislador na época da
criação da lei, da qual se pode construir uma norma jurídica baseada na realidade
contemporânea de cada intérprete da lei ao criar a norma jurídica aplicável a cada
caso.

A demanda por compreensão do conteúdo de uma norma gerou muitas


discussões sobre como interpretar. De acordo com Tércio Sampaio F. Junior, "a
hermenêutica jurídica é uma forma de pensar dogmaticamente o direito que permite
um controle das consequências possíveis de sua incidência sobre a realidade antes
que elas ocorram." O sentido das normas, para o autor, é "domesticado." Essa é uma
concepção pragmática de interpretação, e suficientemente abstrata para dar conta
das variadas regras de interpretação que compõem a hermenêutica.

Por exemplo, a interpretação pela letra da lei é eminentemente gramatical. Dirá


Tércio Sampaio, presume-se que "a ordem das palavras e o modo como elas estão
conectadas são importantes para obter-se o correto significado da norma." Essa
forma de interpretação explora as equivocidades da lei, no entanto, há uma limitação
para essa concepção: ela não discute o objetivo de uma norma (outra forma de
interpretar). Portanto, e ainda para o autor, a interpretação pela letra da norma pode
ser um ponto de partida, mas não esgota a hermenêutica.

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À pressuposição lógica de unidade do sistema jurídico, fundamentada
principalmente pela Escola Positivista do Direito, deriva outra forma de interpretação:
a interpretação sistemática. A doutrina jurídica compartilha que qualquer preceito
normativo deve ser interpretado em harmonia com os princípios gerais de um
ordenamento jurídico. Tércio Sampaio explica a questão por um exemplo
representativo, se buscássemos no todo do ordenamento jurídico um conceito de
'empresa nacional', ele mudaria dependendo do contexto normativo analisado? Sim,
portanto, há de se cuidar às especificidades de cada conteúdo expresso numa ou
noutra norma, além do cuidado com o âmbito de aplicabilidade da lei específica.

Por fim, outra forma de interpretação consagrada é a interpretação histórica,


que busca o sentido inicial do conceito jurídico ou da norma. Ela o faz através de
precedentes normativos, justificativas de elaboração de leis, jurisprudência. Cabe
enfatizar, concluindo, que uma tendência atual do direito é distanciar-se do
entendimento da letra da lei e aproximar-se do propósito da norma. Por isso as
proliferações de interpretações principiam lógicas que apareceram no contexto
normativo pós Constituição de 88.

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4- Métodos de interpretação
Autêntico: é aquela que provém do legislador que redigiu a regra a ser
aplicada, de modo que demonstra no texto legal qual a mens legis que inspirou o
dispositivo legal.

Doutrinário: é dada pela doutrina, ou seja, pelos cientistas jurídicos, estudiosos


do Direito que inserem os dispositivos legais em contextos variados, tal como relação
com outras normas, escopo histórico, entendimentos jurisprudenciais incidentes e
demais complementos exaustivos de conhecimento das regras.

Jurisprudencial: produzida pelo conjunto de sentenças, acórdãos, súmulas e


enunciados proferidos tendo por base discussão legal ou litígio em que incidam a
regra da qual se busca exaurir o processo hermenêutico.

Literal: busca o sentido do texto normativo, com base nas regras comuns da
língua, de modo a se extrair dos sentidos oferecidos pela linguagem ordinária os
sentidos imediatos das palavras empregadas pelo legislador.

Histórico: busca o contexto fático da norma, recorrendo aos métodos da


historiografia para retomar o meio em que a norma foi editada, os significados e
aspirações daquele período passado, de modo a se poderem compreender de
maneira mais aperfeiçoada os significados da regra no passado e como isto se
comunica com os dias de hoje.

Sistemático: considera em qual sistema se insere a norma, relacionando-a às


outras normas pertinentes ao mesmo objeto, bem como aos princípios orientadores
da matéria e demais elementos que venham a fortalecer a interpretação de modo
integrado, e não isolado.

Teleológico: busca os fins sociais e bens comuns da norma, dando-lhe certa


autonomia em relação ao tempo que ela foi feita.

Tratando-se de hermenêutica jurídica, o termo significa a interpretação do


Direito (seu objeto), que pode - e deve - passar por uma leitura constitucional e
política.

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Vale ressaltar a interpretação sociológica - Que é a interpretação na visão do
homem moderno, ou seja, aquela decorrente do aprimoramento das ciências sociais,
de modo que a regra pode ser compreendida nos contextos de sua aplicação, quais
sejam o das relações sociais, de modo que o jurista terá um elemento necessário a
mais para considerar quando da apreciação dos casos concretos ante a norma.

E ainda, a Holística, que abarcaria o texto a luz de um mundo transdiciplinar


(filosofia, história, sociologia...) interligado e abrangente. Inclusive, dando margem a
desconsiderar certo texto em detrimento de uma justiça maior no caso concreto e não
representada na norma entendida exclusivamente e desligada dos outros elementos
da realidade que lhe dão sentido.

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5- O Artigo 5º e Sua Função

Articulada no modelo teórico hermenêutico a ciência do direito deve relacionar


a hipótese de conflito e a hipótese de decisão, tendo em vista o seu sentido,
assumindo, assim, uma atividade interpretativa, tendo uma função primordialmente
avaliativa, por propiciar o encontro de indicadores para uma compreensão parcial ou
total das relações, surgindo então uma teoria hermenêutica tendo, dentre outras, a
tarefa de: interpretar as normas, verificar a existência de lacuna e afastar contradições
normativas.

Vê-se assim que a ciência jurídica exerce funções relevantes não só para o
estudo do direito, mas também para a aplicação jurídica, viabilizando-o como
elemento de controle do comportamento humano ao permitir a flexibilidade
interpretativa das normas, autorizada pelo artigo 5º da Lei de Introdução ao Código
Civil, e ao propiciar, por suas criações teóricas, a adequação das normas no momento
de sua aplicação, ou seja, a sua atualização.

A dogmática jurídica possui uma função social, podendo ser vista como uma
agência de socialização, por permitir a integração do homem e da sociedade num
universo coerente, destacando ainda que o ideal dos juristas é descobrir o que está
implícito no ordenamento jurídico, descobrindo-o, reformulando-o e apresentando-o
como um todo coerente e adequado às valorações sociais vigentes.

LARENZ sustenta que:

"É missão dos tribunais decidir de modo ‘justo’ os conflitos trazidos perante si
e, se a ‘aplicação’ das leis, por via do procedimento de subsunção, não oferecer
garantias de tal decisão, é natural que se busque um processo que permita a solução
de problemas jurídicos a partir dos ‘dados materiais’ desses mesmos problemas,
mesmo sem apoio numa norma legal. Esse processo apresentar-se-á como um
‘tratamento circular’, que aborde o problema a partir dos mais diversos ângulos e que
traga à colação todos os pontos de vista – tanto os obtidos a partir da lei como os de
natureza extrajurídica – que possam ter algum relevo para a solução ordenada à
justiça, com o objetivo de estabelecer um consenso entre os intervenientes."

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Para cumprir tão árdua tarefa deverá o aplicador do direito basear-se no artigo
5º da Lei de Introdução ao Código Civil, vez que contém um parâmetro à atividade
jurisdicional, fornecendo as várias trilhas possíveis para uma decisão, que, ao aplicar
a norma ao caso concreto, atenda à sua finalidade social e ao bem comum.

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6- Considerações Finais

Vimos aqui, diante de tal exposto, que as regras de hermenêuticas nem


sempre são as chaves para a resolução de problemas e sim ferramentas utilizadas no
auxilio da interpretação que auxilia no trabalho em si.

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Referências:

15
http://jus.com.br/artigos/3762/os-fins-sociais-da-norma-e-os-principios-gerais-
de-direito/2

http://www.viajus.com.br/viajus.php?
pagina=artigos&id=2761&idAreaSel=1&seeArt=yes

http://jus.com.br/artigos/14418/hermeneutica-juridica-e-a-efetividade-dos-
direitos-fundamentais

PALMER, Richard E. Hermenêutica. Lisboa: Edições 70, 1986

DOMINGUES, Ivan. Epistemologia das Ciências Humanas. Tomo 1:


Positivismo e Hermenêutica. São Paulo: Loyola, 2004

WACHTERHAUSER, Brice R (ed).Hermeneutics and Truth. Evanston, IL:


Northwestern University Press, 1994.

http://www.infoescola.com/filosofia/conceitos-de-hermeneutica/

Wikipédia

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