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Tipologia e Gêneros
Textuais
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BIANCA DELLA NINA

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2012

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AGRADECIMENTOS

A meus pais, Adhemar e Edna, sem os quais nada teria sido possível
em minha vida;

Às minhas irmãs, Andrea e Paula, pelo apoio incondicional;

A meus tios, Eduardo e Hilda, pelo interesse em meu trabalho e


palavras de incentivo;

À professora Juliana Maria Costa Fecher, pela oportunidade dada de


troca de experiências com os professores da Rede Municipal de
Petrópolis;

À professora Fabiana Esteves, pelas valiosas contribuições dadas para


o aprimoramento deste livro;

Aos professores da Rede Municipal de Petrópolis, pelas sugestões


dadas durante as oficinas de ―Tipologia e Gêneros Textuais‖ e pelo
incentivo para a publicação desta obra.

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Sumário
AGRADECIMENTOS ................................................................................................... 2

UNIDADE 1 - TEXTO E DISCURSO ........................................................................... 5

1.2 CONTEXTO ........................................................................................................... 6

1.3 Texto como Unidade de Sentido ......................................................................... 6

1.4 CONDIÇÕES DE TEXTUALIDADE..................................................................... 7

1.4.1 INSERÇÃO HISTÓRICA ............................................................................. 7

1.4.2 INFORMATIVIDADE .................................................................................... 8

1.4.3 SITUACIONALIDADE................................................................................... 9

1.4.4 INTENCIONALIDADE E ACEITABILIDADE ................................................ 10

1.5.5 CONECTIVIDADE ...................................................................................... 11

O bigode de Bandeira ......................................................................................... 26

1.4.6 INTERTEXTUALIDADE ............................................................................ 28

UNIDADE 2 - GÊNEROS TEXTUAIS E TIPOS DE TEXTO ....................................... 43

2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE ALGUNS GÊNEROS TEXTUAIS.......................... 48

2.1.1 POESIA E POEMA..................................................................................... 48

2.1.2 CONTOS E CRÔNICAS ............................................................................. 51

2.1.3 Conto, novela, romance ............................................................................. 54

2.2 DISTINGUINDO ―REDAÇÃO‖ DE ―PRODUÇÃO DE TEXTO‖............................ 55

2.3 GÊNEROS E TIPOS NA SALA DE AULA ......................................................... 59

2.4 Textos orais e textos escritos ........................................................................... 60

2.5 ENSINO DE GÊNEROS ORAIS ....................................................................... 65

UNIDADE 3 - A ESCRITA .......................................................................................... 67

3.1 AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DE TEXTOS ESCRITOS ............................ 68

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3.2 COMO REDIGIR CORRETAMENTE ............................................................... 75

3.2.1 QUALIDADES DO TEXTO ......................................................................... 77

3.2.2 DESVIOS DE LINGUAGEM ...................................................................... 77

3.2.3 ETAPAS NA ATIVIDADE REDACIONAL ....................................................... 78

3.2.4 TEXTOS DE PREDOMINÂNCIA ARGUMENTATIVA E EXPOSITIVA ............ 78

3.3.4 DICAS PARA BEM ESCREVER ................................................................. 83

REDUNDÂNCIAS ( ―A coisa mais difícil do mundo é dizer pensando o que todos dizem
sem pensar‖. Émile Auguste Chartier Alain) ............................................................... 89

UNIDADE 4 - A LEITURA ........................................................................................ 111

4.2 CONCEPÇÃO DE LEITURA ........................................................................... 111

4.3 TIPOS DE LEITURA ....................................................................................... 113

4.4 NÍVEIS DE LEITURA ...................................................................................... 115

4.4.1 DECODIFICAÇÃO ................................................................................... 116

4.4.2 COMPREENSÃO ..................................................................................... 116

4.4.3 INTERPRETAÇÃO ................................................................................... 116

Esquerda Romanée Conti ................................................................................ 122

4.5 ESTRATÉGIAS DE LEITURA ......................................................................... 125

4.6 A PRÁTICA DO PROFESSOR ....................................................................... 126

UNIDADE 5 - SUGESTÕES DE TRABALHO ........................................................... 139

II. A REPETIÇÃO, A REDUNDÂNCIA, A AMBIGUIDADE ........................................ 148

III. COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL ................................................................... 155

......................................................................................................................... 169

UNIDADE 6 - TRABALHO COM TEXTOS ................................................................ 177

Referências ............................................................................................................. 247

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UNIDADE 1 - TEXTO E DISCURSO

1.1 TEXTO E DISCURSO


A palavra texto provém do latim textum, que significa ―tecido‖, entrelaçamento.
Fica evidente, assim, que já na origem da palavra encontramos a ideia de que
o texto resulta de um trabalho de tecer, de entrelaçar várias partes menores a
fim de se obter um todo inter-relacionado. Daí podemos falar em textura ou
tessitura de um texto: é a rede de relações que garantem sua coesão, sua
unidade. (Infante, 1991)

A conceituação de texto e de discurso, conforme nos mostra Koch (1996),


pode abranger duas acepções: em sentido lato e em sentido estrito:

(...) em sentido lato, para designar toda e qualquer


manifestação da capacidade textual do ser humano, quer se
trate de um romance ou de um poema, quer de uma música,
uma pintura, um filme, uma escultura, etc., isto é, de qualquer
tipo de comunicação realizada através de um sistema de
signos. Em se tratando da linguagem verbal, tem-se o discurso
atividade comunicativa de um locutor, numa situação de
comunicação determinada, englobando não só o conjunto de
enunciados por ele produzidos em tal situação ou os seus e os
de seu interlocutor, no caso do diálogo como também o evento
de sua enunciação.

O discurso manifesta-se linguisticamente por meio de textos - em sentido


estrito – que consistem em qualquer passagem falada ou escrita, capaz de
formar um todo significativo, independentemente de sua extensão. Trata-se,
assim, de uma unidade semântico-pragmática, de um contínuo comunicativo
textual que se caracteriza, entre outros fatores, pela coerência e pela coesão,
conjunto de relações responsáveis pela tessitura do texto.

Todo discurso é uma construção social, não individual, e que só pode ser
analisado considerando seu contexto histórico-social, suas condições de
produção; significa ainda que o discurso reflete uma visão de mundo
determinada, necessariamente vinculada à do(s) seu(s) autor(es) e à
sociedade em que vive(m). Texto, por sua vez, é o produto da atividade
discursiva, o objeto empírico (conhecimento de mundo) de análise do discurso.

Um texto é um evento discursivo, é um complexo objeto histórico produzido em


determinadas condições. A materialidade e linearidade do texto escrito não
podem desconsiderar a sua natureza extraverbal e pragmática, assim, o texto
não é definido por sua extensão ou pelo conjunto de elementos linguísticos. Ao

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produzir um discurso (conjunto de princípios, valores e significados que o
sujeito articula de acordo com o seu ponto de vista sobre o mundo), que é
materializado no texto por meio de instrumentos linguísticos, ―o locutor se
constitui como sujeito que diz o que diz para quem diz‖ (Geraldi, 95), não só
com o fim de veicular mensagens, mas principalmente com o objetivo de atuar,
de interagir socialmente por meio da linguagem.

Para Guimarães (2000), num sentido amplo, a palavra texto designa um


enunciado qualquer, oral ou escrito, longo ou breve, antigo ou moderno, tudo é
texto. Portanto, uma frase, um fragmento de um diálogo, um provérbio, um
verso, uma estrofe, um poema, um romance, e até mesmo uma palavra-frase,
bastando para tanto delimitar a forma e o sentido a ser trabalhado. Essa
delimitação denomina-se contexto, que constituirá as unidades ou
sequenciamento dos segmentos a serem desenvolvidos no texto.

1.2 CONTEXTO
São informações que acompanham o texto. O contexto deve ser visto em suas
duas dimensões: estrutura de superfície e estrutura de profundidade. A
estrutura de superfície considera os elementos do enunciado, enquanto a
estrutura de profundidade considera a semântica das relações sintáticas. Num
caso, o leitor busca o primeiro sentido pelo produzido pelas orações; no outro,
vasculha a visão do mundo que enforma o texto. O contexto pode ser imediato
ou situacional.
 O contexto imediato relaciona-se com os elementos que seguem ou
precedem o texto imediatamente. São os chamados referentes textuais.
O contexto textual imediato de um capítulo de um livro, por exemplo,
são os capítulos que o precedem e o seguem; o de um fragmento de
um capítulo, imediatamente, o anterior e o posterior ao mesmo capítulo;
e assim por diante.
 O contexto situacional é formado por elementos exteriores ao texto.
Esse contexto acrescenta informações, quer históricas, quer
geográficas, quer sociológicas, quer literárias, para maior eficácia da
leitura que se imprime ao texto.

1.3 Texto como Unidade de Sentido


1. O significado de uma parte não é autônomo, mas depende das outras partes
com que se relaciona;
2. O significado global do texto não é o resultado de uma mera soma de suas
partes, mas de uma certa combinação geradora de sentidos.

Ao se trabalhar um texto, deve-se:

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 Estabelecer as relações lógico-discursivas presentes em textos, marcadas
por elementos de coesão e coerência.
 Reconhecer a importância da sintaxe para a análise lógico-semântica de um
texto.
 Compreender a estrutura, o funcionamento e os mecanismos característicos
das marcas gramaticais dos diferentes gêneros.
 Perceber a diferença de estruturação sintática de textos orais e escritos.

1.4 CONDIÇÕES DE TEXTUALIDADE


Textualidade é o conjunto de propriedades que uma manifestação de
linguagem humana deve ter para ser um texto.

Observe no esquema seguinte:

Texto

Conectivi- Inserção Intertextua- Informativi- Situaciona- Intenciona-


dade Histórica lidade dade lidade lidade e
Aceitabili-
dade

Coesão Coerência

Todas as partes de um texto devem estar interligadas e manifestar um


direcionamento único. Assim, um fragmento que trata de diversos assuntos
não pode ser considerado texto. Da mesma forma, se lhe falta coerência, se as
ideias são contraditórias, também não constituirá um texto. Se os elementos da
frase que possibilitam a transição de uma ideia para outra não estabelecem
coesão entre as partes expostas, o fragmento não se configura texto.

Um texto é mais ou menos eficaz dependendo da competência de quem o


produz, ou da interação de autor-leitor, ou emissor-receptor. O texto exige

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determinadas habilidades do produtor, como conhecimento do código, das
normas gramaticais que regem a combinação dos signos. A competência na
utilização dos signos possibilita melhor desempenho.

1.4.1 INSERÇÃO HISTÓRICA

Todo texto é produzido por um sujeito, num determinado tempo e espaço.


Tem, portanto, um caráter histórico, expressando o momento em que é
produzido e os ideais e concepções de um determinado grupo social. Um texto
retrata as ideias do tempo e da sociedade em que vive o seu autor, ou seja, é
um depoimento sobre uma realidade. Assim, por exemplo, os editoriais e as
manchetes de jornais trazem matérias sobre os temas que estão em evidência
naquele preciso momento.

Não se deve depreender dessa afirmativa que a relação do texto com a história
signifique dizer que ele narra, obrigatoriamente, fatos históricos. Não se trata
disso. Significa dizer que nos textos são reproduzidos os ideais, as
concepções, os anseios e os temores de um povo numa certa época.
Entretanto, como nas sociedades existem diversas formas de ver a realidade,
os textos também vão mostrar pontos de vista favoráveis ou contrários a um
determinado assunto.

1.4.2 INFORMATIVIDADE

Beaugrande & Dressler (1981) usam o termo informatividade para designar o


quanto uma configuração linguística é considerada nova ou inesperada pelos
receptores. Em outras palavras, um texto será menos informativo se trouxer
apenas informações previsíveis, esperadas ou redundantes, já que um texto
com ocorrências triviais chama pouca atenção do leitor por ser considerado
desinteressante. Ao contrário, será mais informativo se as informações
apresentadas forem menos previsíveis, ou seja, se além das ocorrências
esperadas ou previsíveis, trouxerem ocorrências que exijam reflexão para
calcular-lhes o sentido, sendo, assim, um texto mais interessante para o leitor.

Entretanto, se um texto trouxer apenas informações inesperadas, inusitadas ou


imprevisíveis, que exigem do leitor um alto grau de meditação para tentar
processá-lo, poderá apresentar tendência de ser incoerente. O receptor, nesse
caso, precisa realizar uma busca motivada para descobrir o significado dessas
ocorrências e o porquê de sua seleção. Além disso, ele tem que resolver o
problema de como integrá-las na continuidade que fundamenta o processo
comunicativo. O ideal, portanto é o texto apresentar ocorrências previsíveis e

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imprevisíveis, informações que falam do conhecido alternando-se com
informações que trazem novidades.

Textos científicos, por exemplo, têm como objetivo primeiro produzir


informação teórica com a finalidade de transmitir conhecimentos acerca de seu
objeto de estudo. Os jornalísticos têm, igualmente, como função primordial
veicular uma informação. É preciso, também, lembrar que, nos noticiários de
TV e rádio, existem outros componentes: imagem e voz somam-se à
referencialidade.

O texto nem sempre fornece todas as informações possíveis. Há elementos


implícitos que precisam ser recuperados pelo ouvinte/leitor para a produção do
sentido. A partir de elementos presentes no texto, estabelecemos relações
com as informações implícitas. Por isso, o leitor/ouvinte precisa estabelecer
relações dos mais diversos tipos entre os elementos do texto e o contexto, de
forma a interpretá-lo adequadamente. Algumas atividades são realizadas com
esse objetivo. Entre elas está a produção de pressuposições, inferências,
implicaturas, como veremos no subitem COERÊNCIA.

1.4.3 SITUACIONALIDADE

A situacionalidade, outro fator de textualidade, designa os fatores que fazem


com que um texto seja relevante a uma situação de ocorrência, atual ou
recuperável.

Costa Val (1994), ao discorrer sobre este fator, diz que ―é a situacionalidade
que diz respeito aos elementos responsáveis pela pertinência e relevância do
texto quanto ao contexto em ocorre. É a adequação do texto à situação
sociocomunicativa.‖ Segundo ela, o contexto pode precisar o sentido do
discurso, além de orientar a sua produção e recepção.

Koch & Travaglia (1997) consideram que a situacionalidade atua em duas


direções: a) da situação para o texto; b) do texto para a situação. Entendendo
a situação, em seu sentido estrito, como a situação comunicativa propriamente
dita, isto é, o contexto imediato da situação, ou em sentido amplo, como sendo
o contexto sócio-político-cultural em que a interação está inserida, explicam
que, no primeiro caso, a situação comunicativa interfere diretamente na
maneira como o texto é construído, exercendo influência, então, no uso das
variações linguísticas. Evidencia-se, então, na produção de um texto, a
consideração do que é adequado à situação comunicativa. Segundo os
autores:

É preciso, ao construir um texto, verificar o que é adequado


àquela situação específica: grau de formalidade, variedade

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dialetal, tratamento a ser dado ao tema, etc. O lugar e o
momento da comunicação, bem como as imagens recíprocas
que os interlocutores fazem uns dos outros, os papéis que
desempenham, seus pontos de vista, objetivo da
comunicação, enfim, todos os dados situacionais vão influir
tanto na produção do texto, como na sua compreensão.

Quanto ao segundo caso, do texto para a situação, mencionam que ―o texto


tem reflexos importantes sobre a situação comunicativa‖, assim como a
situação interfere na construção do texto. Assim, se expressam:

Ao construir um texto, o produtor recria o mundo de acordo


com seus objetivos, propósitos, interesses, convicções,
crenças, etc. O mundo criado pelo texto não é, portanto, uma
cópia fiel do mundo real, mas o mundo tal como é visto pelo
produtor a partir de determinada perspectiva, de acordo com
determinadas intenções. (...) Os referentes textuais não são
idênticos aos do mundo real, mas são reconstruídos no
interior do texto. O receptor, por sua vez, interpreta o texto de
acordo com a sua ótica, os seus propósitos, as suas
convicções...

1.4.4 INTENCIONALIDADE E ACEITABILIDADE

A intencionalidade diz respeito às formas pelas quais os produtores de textos


os utilizam para manifestar suas intenções. Esse fator, segundo Costa Val
(1994):

concerne ao empenho do produtor em construir um discurso


coerente, coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em
mente numa determinada situação comunicativa. A meta pode ser
informar, ou impressionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, ou
ofender, etc., e é ela que vai orientar a confecção do texto.

O conceito de intenção é fundamental para uma concepção de linguagem


como atividade convencional: toda atividade de interpretação presente no
cotidiano da linguagem fundamenta-se na suposição de quem fala tem certas
intenções, ao comunicar-se. Compreender uma enunciação é, nesse sentido,
apreender essas intenções.

As intenções do produtor do texto podem ser dadas através de pistas


presentes no texto, que permitem ao receptor construir o efeito desejado por
aquele e essas pistas podem ser mobilizadas por mecanismos coesivos. Em
algumas situações, no entanto, como é o caso de conversações diárias, é
possível deixar de empregá-los, pois esses mecanismos coesivos são

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suprimidos pela situação, como, por exemplo, presença do locutor e do
receptor, emprego de mímica.

Já a aceitabilidade diz respeito à atitude do receptor no processo de


comunicação. Costa Val (1994) diz que a aceitabilidade ―é o outro lado da
moeda‖ em relação à intencionalidade, já que ―concerne à expectativa do
recebedor de que o conjunto de ocorrências com que se defronta seja um texto
coerente, coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimentos ou
a cooperar com os objetivos do produtor.‖

Beaugrande & Dressler (1981) salientam a contribuição de Grice,


apresentando o conjunto de ―máximas‖ por ele proposto, observando que elas
devem ser consideradas não como regras, mas como preceitos e estratégias.
Grice (1982)

afirma que os falantes usam as orações de uma língua em


função de algo que querem comunicar e que nem sempre
está presente na interpretação semântica das expressões
linguísticas utilizadas. É preciso que exista uma base
contratual entre os interlocutores que preveja princípios
reguladores da transmissão de informação.

Para ele, nossos diálogos são esforços cooperativos, e cada participante


reconhece neles, em alguma medida, um propósito comum ou um conjunto de
propósitos, ou, no mínimo, uma direção mutuamente aceita. Isso pode ser
marcado desde o início, ou pode variar, ao longo da conversação. Ele formula,
então, um princípio bastante geral, que deve ser observado pelos participantes.
É o princípio de cooperação:

(...) segundo o Princípio Cooperativo de Grice, o postulado


básico que rege a comunicação humana é o da cooperação,
isto é, quando duas pessoas interagem por meio da
linguagem, elas se esforçam por fazer-se compreender e
procuram calcular o sentido do texto do(s) interlocutore(s),
partindo das pistas que ele contém e ativando seu
conhecimento de mundo, da situação, etc.

Assim, mesmo que um texto não se apresente, à primeira vista, como


perfeitamente coerente e não tenha explícitos os elementos de coesão, o
receptor vai tentar estabelecer a sua coerência, dando-lhe a interpretação que
lhe pareça cabível, tendo em vista os demais fatores de textualidade.

1.5.5 CONECTIVIDADE

1. COERÊNCIA OU CONECTIVIDADE CONCEITUAL

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No nosso dia a dia, são comuns comentários do tipo:
Isso não tem coerência.
Essa frase não tem coerência.

O que leva as pessoas a fazerem tais observações, provavelmente, é o fato de


perceberem que, por algum motivo, escapa a elas o entendimento de uma
frase ou de todo o texto. Coerência está, pois, ligada à compreensão, à
possibilidade de interpretação daquilo que se diz ou escreve. Assim, a
coerência é decorrente do sentido contido no texto, para quem ouve ou lê.
Uma simples frase, um texto de jornal, uma obra literária (romance, novela,
poema...), uma conversa animada, o discurso de um político ou do operário,
um livro, uma canção..., enfim, qualquer comunicação, independentemente de
sua extensão, precisa ter sentido, isto é, precisa ter coerência.

Assim, a coerência ou conectividade conceitual é a relação que se


estabelece entre as partes de um texto, criando uma unidade de sentido. Ela é
o resultado da solidariedade, da continuidade do sentido, do compromisso das
partes que formam esse todo. Está, pois, ligada à compreensão, à
possibilidade de interpretação daquilo que se diz, escreve, ouve, vê, desenha,
canta, etc.

A coerência depende de uma série de fatores, entre os quais vale ressaltar:


 o conhecimento do mundo e o grau em que esse conhecimento deve
ser ou é compartilhado pelos interlocutores;
 o domínio das regras que norteiam a língua - isso vai possibilitar as
várias combinações dos elementos linguísticos;
 os próprios interlocutores, considerando a situação em que se
encontram, as suas intenções de comunicação, suas crenças, a função
comunicativa do texto.

Portanto, a coerência se estabelece numa situação comunicativa; ela é a


responsável pelo sentido que um texto deve ter quando partilhado por esses
usuários, entre os quais existe um acordo pré-estabelecido, que pressupõe
limites partilhados por eles e um domínio comum da língua.

Quando dizemos que um texto é incoerente, precisamos esclarecer que


motivos nos levaram a afirmar isto. Ele pode ser incoerente em uma
determinada situação, porque quem o produziu não soube adequá-lo ao
receptor, não valorizou suficientemente a questão da comunicabilidade, não
obedeceu ao código linguístico, enfim, não levou em conta o fato de que a
coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido
para o texto. Observando o grupo de frases abaixo, consideradas do ponto de
vista estritamente referencial,

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O homem construiu uma casa na floresta.
O pássaro fez o ninho.
A árvore está grávida.

podemos notar que as duas primeiras não oferecem qualquer problema de


compreensão. Dizemos, então, que elas têm coerência. Já não ocorre o
mesmo em relação à última. Em A árvore está grávida, há uma restrição na
combinatória ser vegetal + grávida, o que não ocorre em A mulher está
grávida, em que temos a combinatória possível ser racional + grávida.

Veja mais exemplos de incoerência:


―O verdadeiro amigo não comenta sobre o próprio sucesso quando o outro está
deprimido. Para distraí-lo, conta-lhe sobre seu prestígio profissional, conquistas
amorosas e capacidade de sair-se bem das situações. Isso, com certeza, vai
melhorar o estado de espírito do infeliz‖.

―O quarto espelha as características de seu dono: um esportista, que adorava


a vida ao ar livre e não tinha o menor gosto pelas atividades intelectuais. Por
toda a parte, havia sinais disso: raquetes de tênis, prancha de surf,
equipamento de alpinismo, skate, um tabuleiro de xadrez com as peças
arrumadas sobre uma mesinha, as obras completas de Shakespeare‖.

A coerência pode ser de quatro tipos: semântica, sintática, estilística e


pragmática.

A. Coerência Semântica
Refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em
sequência; a incoerência aparece quando esses sentidos não combinam, ou
quando são contraditórios. Exemplos:
1) ... ouvem-se vozes exaltadas para onde acorreram muitos fotógrafos e
telegrafistas para registrarem o fato.

O uso do vocábulo ―elegrafista‖ é inadequado nesse contexto, pois o fato que


causa espanto será documentado por fotógrafos e, talvez, por cronistas, que,
depois, poderão escrever uma crônica sobre ele, mas certamente telegrafistas
não são espectadores comuns nessas circunstâncias.

Ao lado deste, há outro problema, de ordem sintática: trata-se do emprego de


―para onde‖, que teria ―vozes exaltadas‖ como referente, o que não é possível,
porque esse referente não contém ideia de lugar, implícita no pronome relativo
―onde‖. Cabe ainda uma observação quanto ao tempo verbal de ―ouvem-se‖ e
―acorreram‖, presente e pretérito perfeito, respectivamente. Seria mais
adequado os dois verbos estarem no mesmo tempo.

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2) O governo principalmente não corresponde de uma maneira correta em
relação ao nível de condições que para muitos seriam uma decisão óbvia.

Nessa frase, há duas incoerências semânticas. A primeira decorre do uso


inadequado de ―corresponder‖ - corresponder em relação ao nível - que
poderia ser substituído por ―responder‖, mas, mesmo assim, o complemento
teria que ser modificado para resolver o problema da incoerência sintática -
corresponder a (alguma coisa). A segunda está na expressão ―nível de
condições‖. O vocábulo ―nível‖ é desnecessário, podendo-se dizer
simplesmente ―em relação às condições‖.

B. Coerência Sintática
Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência semântica:
conectivos, pronomes, etc. Exemplos:
Então as pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino particular.
Onde há métodos, equipamentos e até professores melhores.

A coerência desse período poderia ser recuperada se duas alterações fossem


feitas. A primeira seria a troca do relativo ―onde‖, específico de lugar, para ―no
qual‖ ou ―em que‖ (ensino particular, no qual/ em que há métodos ...), e a
segunda seria a substituição do ponto por vírgula, de maneira que a oração
relativa não ocorresse como uma oração completa e independente da anterior.
Teríamos a seguinte oração, sem problemas de compreensão: Então as
pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino particular, no qual há
equipamentos e até professores melhores.

c. Coerência Estilística
Percebemos, pelos exemplos citados abaixo, que este tipo de coerência não
chega, na verdade, a perturbar a interpretabilidade de um texto; é uma noção
relacionada à mistura de registros linguísticos. É desejável que quem escreve
ou lê se mantenha num estilo relativamente uniforme. Entretanto, a alternância
de registros pode ser, por outro lado, um recurso estilístico.

Leia este poema de Manuel Bandeira:

Teresa, se algum sujeito bancar o


sentimental em cima de você
e te jurar uma paixão do tamanho de um
bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredita não Teresa
É lágrima de cinema

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É tapeação
Mentira
CAI FORA

O autor procede como se estivesse falando, aconselhando alguém, advertindo


sobre uma possível "cantada". Há mistura de tratamento (tu/você), mistura de
registros, pois o autor utiliza várias expressões da língua oral, como "do
tamanho de um bonde", "se ele se rasgar todo", "cai fora" , ao mesmo tempo
em que emprega o futuro do subjuntivo, tempo mais comum num registro mais
cuidado.

D. Coerência Pragmática ou Contexto Situacional


O texto nem sempre fornece todas as informações possíveis. Há elementos
implícitos que precisam ser recuperados pelo ouvinte/leitor para a produção do
sentido. A partir de elementos presentes no texto, estabelecemos relações com
as informações implícitas. Por isso, o leitor/ouvinte precisa estabelecer
relações dos mais diversos tipos entre os elementos do texto e o contexto, de
forma a interpretá-lo adequadamente. Algumas atividades são realizadas com
esse objetivo. Entre elas está a produção de pressuposições, inferências,
implicaturas.

Pressuposição
É o conteúdo que fica à margem da discussão, é o conteúdo implícito. Assim, a
frase "Pedro parou de fumar" veicula a pressuposição de que Pedro fumava
antes; "Pedro passou a trabalhar à noite" contém a pressuposição de que
antes ele trabalhava de dia, mas contém também a pressuposição de que ele
não trabalhava antes, dependendo da ênfase colocada em passar a ou em à
noite.

Vale lembrar que, nesses exemplos, a pressuposição é marcada


linguisticamente pela presença dos verbos parar de, passar a.

Existem também pressuposições que não apresentam marca linguística; estes


tipos de pressuposição denominam-se inferências.

Inferências
São informações normais que não precisam ser explicitadas no momento da
produção do texto; são também chamadas de subentendidos. O exemplo
seguinte ajuda a entender esta noção: "Maria foi ao cinema, assistiu ao filme
sobre dinossauros e voltou para casa." Lendo essa frase, o ouvinte/leitor
recupera os conhecimentos relativos ao ato de ir ao cinema: no cinema
existem cadeiras, tela, bilheteria; há uma pessoa que vende bilhetes, outra que
os recolhe na entrada; a sala fica escura durante a projeção, etc. Enfim, isto
não precisa ser dito explicitamente. Se assim não fosse, que extensão teriam

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nossos textos para fornecer, sempre que necessário, todas estas informações?
Daí a importância das inferências na interação verbal. Se quiséssemos dizer
que Maria não conseguiu ver o filme até o final, isso teria que ser explicitado,
porque, normalmente, a pessoa vê o filme inteiro.

Implicatura
É um sentido derivado, que atribuímos a um enunciado depois de constatar
que seu sentido literal é irrelevante para a situação. Se perguntamos: "Qual é a
função de Pedro no jornal?" e ouvimos "Pedro é o filho do chefe", podemos
depreender dessa resposta que Pedro não tem nenhuma função, que Pedro
não faz nada ou que Pedro não precisa fazer nada. Esse sentido é dado pelo
fator cultural, considerando-se que, em geral, no Brasil, os filhos dos chefes
não trabalham. Entretanto, se fosse, por exemplo, no Japão, a leitura seria
outra, uma vez que lá eles trabalham muito.

Há ainda incoerências geradas a partir da desobediência a articulações de


conteúdo. Se você ouvir a frase Meu irmão é filho único pode pensar que
quem a pronunciou desconhece o sentido dos vocábulos usados, pois a
sequência contém uma contradição. O sentido de irmão inclui o fato de que
esse indivíduo tem, pelo menos, uma irmã ou irmão.

Piadas podem ser elaboradas a partir de incoerências:

No balcão da companhia aérea, o viajante perguntou à atendente:


A - A senhorita pode me dizer quanto tempo dura o voo do Rio a Lisboa?
B - Um momentinho.
A - Muito obrigado.

Para quem fez a pergunta, não pareceu nem um pouco incoerente a resposta
obtida. Entretanto, a frase de B não é a resposta, é simplesmente um pedido
de tempo para depois dar atenção ao interlocutor A. Nós é que percebemos a
incoerência da sequência e tomamos o conjunto como uma piada.

Nem as implicaturas nem as pressuposições fazem parte do conteúdo


explicitado. A diferença entre elas está no fato de que, com respeito às
pressuposições, a estrutura linguística nos oferece os elementos que permitem
depreendê-las; já com as implicaturas isto não acontece - o suporte linguístico
é menos óbvio e, portanto, elas dependem principalmente do conhecimento da
situação, compartilhado pelo falante e pelo ouvinte. As pressuposições fazem
parte do sentido literal das frases, enquanto as implicaturas são estranhas a
ele.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 16


2. COESÃO

Apresentamos alguns conceitos:


Koch (1997) conceitua a coesão como "o fenômeno que diz respeito ao modo
como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se encontram
interligados, por meio de recursos também linguísticos, formando sequências
veiculadoras de sentido."
Para Fiorin e Savioli(1996), a coesão textual "é a ligação, a relação, a conexão
entre as palavras, expressões ou frases do texto."

A coesão é, segundo Abreu (1990), "o encadeamento semântico que produz a


textualidade; trata-se de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, um
termo presente em uma sentença A." Daí a necessidade de haver
concordância entre o termo da sentença A e o termo que o retoma na sentença
B.

Finalmente, Marcuschi (1983) assim define os fatores de coesão: "são aqueles


que dão conta da sequenciação superficial do texto, isto é, os mecanismos
formais de uma língua que permitem estabelecer, entre os elementos
linguísticos do texto, relações de sentido."

Vejamos os exemplos:
1) Mulheres de três gerações enfrentam o preconceito e revelam suas
experiências.

2) Elas resolveram falar. Quebrando o muro de silêncio, oito dezenas de


mulheres decidiram contar como aconteceu o fato que marcou sua vida.
Nesses exemplos, temos os pronomes suas e que retomando mulheres de três
gerações e o fato, respectivamente; o pronomes elas antecipa oito dezenas de
mulheres Estes são apenas alguns mecanismos de coesão, mas existem
muitos outros, como veremos mais adiante.

Mecanismos de Coesão
São variadas as maneiras como os diversos autores descrevem e classificam
os mecanismos de coesão. Consideramos que é necessário perceber como
esses mecanismos estão presentes no texto (quando estão) e de que maneira
contribuem para sua tecitura, sua organização.

Para Mira Mateus (1983), "todos os processos de sequencialização que


asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação linguística significativa entre
os elementos que ocorrem na superfície textual podem ser encarados como
instrumentos de coesão." Esses instrumentos se organizam da seguinte forma:

Tipologia e Gêneros Textuais Página 17


A. Coesão Gramatical
Faz-se por meio das concordâncias nominais e verbais, da ordem dos
vocábulos, dos conectores, dos pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e
oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos,
relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos
definidos, de expressões de valor temporal. De acordo com o quadro antes
apresentado, passamos a ver separadamente cada um dos tipos de conexão
gramatical, a saber, frásica, interfrásica, temporal e referencial.

A.1 Coesão Frásica – este tipo de coesão estabelece uma ligação significativa
entre os componentes da frase, com base na concordância entre o nome e
seus determinantes, entre o sujeito e o verbo, entre o sujeito e seus
predicadores, na ordem dos vocábulos na oração, na regência nominal e
verbal. Exemplos:

1)Florianópolis tem praias para todos os gostos, desertas, agitadas, com


ondas, sem ondas, rústicas, sofisticadas.
a) concordância nominal - praias (substantivo) desertas, agitadas, rústicas,
sofisticadas (adjetivos).
b) concordância verbal – Florianópolis (sujeito) tem (verbo)

Também em relação à regência verbal, a coesão pode ficar prejudicada se


não forem tomados alguns cuidados. Há verbos que mudam de sentido

Tipologia e Gêneros Textuais Página 18


conforme a regência, isto é, conforme a relação que estabelecem com o seu
complemento.

Por exemplo, o verbo assistir é usado com a preposição a quando significa ser
espectador, estar presente, presenciar. Exemplo: A cidade inteira assistiu ao
desfile das escolas de samba. Entretanto, na linguagem coloquial, este verbo é
usado sem a preposição. Por isso, com frequência, temos frases como: Ainda
não assisti o filme que foi premiado no festival. Ou A peça que assisti ontem foi
muito bem montada (em vez de ―a que assisti‖).

No sentido de acompanhar, ajudar, prestar assistência, socorrer, usa-se


com proposição ou não. Observe: O médico assistiu ao doente durante toda a
noite.Os Anjos do Asfalto assistiram as vítimas do acidente.

A.2 Coesão Interfrásica - designa os variados tipos de interdependência


semântica existente entre as frases na superfície textual. Essas relações são
expressas pelos conectores ou operadores discursivos. É necessário, portanto,
usar o conector adequado à relação que queremos expressar. Seguem
exemplos dos diferentes tipos de conectores que podemos empregar:

a) As baleias que acabam de chegar ao Brasil saíram da Antártida há pouco


mais de um mês. No banco de Abrolhos, uma faixa com cerca de 500
quilômetros de água rasa e cálida, entre o Espírito Santo e a Bahia, as baleias
encontram as condições ideais para acasalar, parir e amamentar. As primeiras
a chegar são as mães, que ainda amamentam os filhotes nascidos há um ano.
Elas têm pressa, porque é difícil conciliar amamentação e viagem, já que um
filhote tem necessidade de mamar cerca de 100 litros de leite por dia para
atingir a média ideal de aumento de peso: 35 quilos por semana. Depois, vêm
os machos, as fêmeas sem filhote e, por último, as grávidas. Ao todo, são
cerca de 1000 baleias que chegam a Abrolhos todos os anos. Já foram
dezenas de milhares na época do descobrimento, quando estacionavam em
vários pontos da costa brasileira. Em 1576, Pero de Magalhães Gândavo
registrou ter visto centenas delas na baía de Guanabara. (Revista VEJA, no 30,
julho/97)

b) Como suas glândulas mamárias são internas, ela espirra o leite na água.
(idem)

c) Ao longo dos meses, porém, a música vai sofrendo pequenas mudanças,


até que, depois de cinco anos, é completamente diferente da original. (idem)

d) A baleia vem devagar, afunda a cabeça, ergue o corpanzil em forma de arco


e desaparece um instante. Sua cauda, então, ressurge gloriosa sobre a água

Tipologia e Gêneros Textuais Página 19


como se fosse uma enorme borboleta molhada. A coreografia dura segundos,
porém tão grande é a baleia que parece um balé em câmara lenta. (idem)

e) Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nunca um ser humano


presenciou uma cópula de jubartes, mas sabe-se que seu intercurso é muito
rápido, dura apenas alguns segundos. (idem)

f) A jubarte é engenhosa na hora de se alimentar. Como sua comida costuma


ficar na superfície, ela mergulha e nada em volta dos peixes, soltando bolhas
de água. Ao subir, as bolhas concentram o alimento num círculo. Em seguida,
a baleia abocanha tudo, elimina a água pelo canto da boca e usa a língua
como uma canaleta a fim de jogar o que interessa goela adentro. (idem)

Uso dos Operadores Discursivos


Observa-se na coesão a propriedade de unir termos e orações por meio de
conectivos, que são representados, na gramática, por inúmeras palavras e
expressões. A escolha errada desses conectivos pode ocasionar a deturpação
do sentido do texto. Abaixo, uma lista dos principais elementos conectivos,
agrupados pelo sentido. Baseamo-nos no autor Othon Moacyr Garcia(1973):

Prioridade, relevância: em primeiro lugar, antes de mais nada, antes de tudo,


em princípio, primeiramente, acima de tudo, precipuamente, principalmente,
primordialmente, sobretudo, a priori, a posteriori.
Tempo (frequência, duração, ordem, sucessão, anterioridade,
posterioridade): então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após, a
princípio, no momento em que, pouco antes, pouco depois, anteriormente,
posteriormente, em seguida, afinal, por fim, finalmente agora atualmente, hoje,
frequentemente, constantemente às vezes, eventualmente, por vezes,
ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo,
simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, nesse hiato, enquanto,
quando, antes que, depois que, logo que, sempre que, assim que, desde que,
todas as vezes que, cada vez que, apenas, já, mal, nem bem.
Semelhança, comparação, conformidade: igualmente, da mesma forma,
assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente,
analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de
acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista, tal qual, tanto
quanto, como, assim como, como se, bem como.
Condição, hipótese: se, caso, eventualmente.
Adição, continuação: além disso, demais, ademais, outrossim, ainda mais,
ainda cima, por outro lado, também, e, nem, não só ... mas também, não só...
como também, não apenas ... como também, não só ... bem como, com, ou
(quando não for excludente).
Dúvida: talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe, é provável,
não é certo, se é que.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 20


Certeza, ênfase: decerto, por certo, certamente, indubitavelmente,
inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda a certeza.
Surpresa, imprevisto: inesperadamente, inopinadamente, de súbito,
subitamente, de repente, imprevistamente, surpreendentemente.
Ilustração, esclarecimento: por exemplo, só para ilustrar, só para
exemplificar, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra, a saber, ou
seja, aliás.
Propósito, intenção, finalidade: com o fim de, a fim de, com o propósito de,
com a finalidade de, com o intuito de, para que, a fim de que, para.
Lugar, proximidade, distância: perto de, próximo a ou de, junto a ou de,
dentro, fora, mais adiante, aqui, além, acolá, lá, ali, este, esta, isto, esse, essa,
isso, aquele, aquela, aquilo, ante, a.
Resumo, recapitulação, conclusão: em suma, em síntese, em conclusão,
enfim, em resumo, portanto, assim, dessa forma, dessa maneira, desse modo,
logo, pois (entre vírgulas), dessarte, destarte, assim sendo
Causa e consequência. Explicação: por consequência, por conseguinte,
como resultado, por isso, por causa de, em virtude de, assim, de fato, com
efeito, tão (tanto, tamanho) ... que, porque, porquanto, pois, já que, uma vez
que, visto que, como (= porque), portanto, logo, que (= porque), de tal sorte
que, de tal forma que, haja vista.
Contraste, oposição, restrição, ressalva: pelo contrário, em contraste com,
salvo, exceto, menos, mas, contudo, todavia, entretanto, no entanto, embora,
apesar de, ainda que, mesmo que, posto que, posto, conquanto, se bem que,
por mais que, por menos que, só que, ao passo que.
Ideias alternativas: Ou, ou... ou, quer... quer, ora... ora.

Observação: É possível estabelecer uma articulação sintática sem usar


especificamente os articuladores, bastando para tanto deixar o verbo da
oração subordinada no gerúndio, no infinitivo ou no particípio.
Articulação sintática de causa.
Estando com pressa de regressar ao Brasil, não fui até Roma.
Quebradas as pernas, não pôde correr.
Não compareceu por se encontrar doente.
Articulação sintática de condição.
Viajando hoje, você poderá viajar amanhã.
Reconhecido seu direito, teriam tido outro comportamento.
Não poderá voltar ao trabalho sem me avisar com antecedência.
Articulação sintática de fim.
Ricardo promoveu Carlos objetivando angariar mais votos.
Chegou para poder colaborar.
Articulação sintática de tempo.
Terminada a aula, os alunos retiraram-se da classe.
Alegraram-se ao receberem os campeões.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 21


Ainda dentro da coesão interfrásica, existe o processo de justaposição, em que
a coesão se dá em função da sequência do texto, da ordem em que as
informações, as proposições, os argumentos vão sendo apresentados. Quando
isto acontece, ainda que os operadores não tenham sido explicitados, eles são
depreendidos da relação que está implícita entre as partes da frase. O trecho
abaixo é um exemplo de justaposição.

―Foi em cabarés e mesas de bar que Di Cavalcanti fez amigos, conquistou


mulheres, foi apresentado a medalhões das artes e da política. Nos anos 20,
trocou o Rio por longas temporadas em São Paulo; em seguida foi para Paris.
Acabou conhecendo Picasso, Matisse e Braque nos cafés de Montparnasse. Di
Cavalcanti era irreverente demais e calculista de menos em relação aos
famosos e poderosos. Quando se irritava com alguém, não media palavras.
Teve um inimigo na vida. O também pintor Cândido Portinari. A briga entre
ambos começou nos anos 40. Jamais se reconciliaram. Portinari não tocava
publicamente no nome de Di.‖ (Revista VEJA, no 37,setembro/97)

Há, nesse trecho, apenas uma coesão interfrásica explicitada: trata-se da


oração "Quando se irritava com alguém, não media palavras". Os demais
possíveis conectores são indicados por ponto e ponto-e-vírgula.

A.3 Coesão Temporal - uma sequência só se apresenta coesa e coerente


quando a ordem dos enunciados estiver de acordo com aquilo que sabemos
ser possível de ocorrer no universo a que o texto se refere, ou no qual o texto
se insere. Se essa ordenação temporal não satisfizer essas condições, o texto
apresentará problemas no seu sentido. A coesão temporal é assegurada pelo
emprego adequado dos tempos verbais, obedecendo a uma sequência
plausível, ao uso de advérbios que ajudam a situar o leitor no tempo (são, de
certa forma, os conectores temporais). Exemplo:

―A dita Era da Televisão é, relativamente, nova. Embora os princípios técnicos


de base sobre os quais repousa a transmissão televisual já estivessem em
experimentação entre 1908 e 1914, nos Estados Unidos, no decorrer de
pesquisas sobre a amplificação eletrônica, somente na década de vinte
chegou-se ao tubo catódico, principal peça do aparelho de tevê. Após várias
experiências por sociedades eletrônicas, tiveram início, em 1939, as
transmissões regulares entre Nova Iorque e Chicago - mas quase não havia
aparelhos particulares. A guerra impôs um hiato às experiências. A ascensão
vertiginosa do novo veículo deu-se após 1945. No Brasil, a despeito de
algumas experiências pioneiras de laboratório (Roquete Pinto chegou a

Tipologia e Gêneros Textuais Página 22


interessar-se pela transmissão da imagem), a tevê só foi mesmo implantada
em setembro de 1950, com a inauguração do Canal 3 (TV Tupi), por Assis
Chateaubriand. Nesse mesmo ano, nos Estados Unidos, já havia cerca de
cem estações, servindo a doze milhões de aparelhos. Existem hoje mais de 50
canais em funcionamento, em todo o território brasileiro, e perto de 4 milhões
de aparelhos receptores. [dados de 1971] (Muniz Sodré, A comunicação do
grotesco)‖

Temos, nesse parágrafo, apresentação da trajetória da televisão no Brasil, e o


que contribui para a clareza desta trajetória é a sequência coerente das datas:
entre 1908 e 1914, na década de vinte, em 1939, Após várias experiências
por sociedades eletrônicas, (época da) guerra, após 1945, em setembro de
1950, nesse mesmo ano, hoje.

A.4 Coesão Referencial - neste tipo de coesão, um componente da superfície


textual faz referência a outro componente, que, é claro, já ocorreu antes. Para
esta referência são largamente empregados os pronomes pessoais de terceira
pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos,
interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí),
artigos. Exemplos:

a) Durante o período da amamentação, a mãe ensina os segredos da


sobrevivência ao filhote e é arremedada por ele. A baleiona salta, o filhote a
imita. Ela bate a cauda, ele também o faz.(Revista VEJA, no 30,julho/97)

ela, a - retomam o termo baleiona, que, por sua vez, substitui o vocábulo mãe.
ele - retoma o termo filhote
ele também o faz - o retoma as ações de saltar, bater, que a mãe pratica.

b) Madre Teresa de Calcutá, que em 1979 ganhou o Prêmio Nobel da Paz por
seu trabalho com os destituídos do mundo, estava triste na semana passada.
Perdera uma amiga, a princesa Diana. Além disso, seus problemas de saúde
agravaram-se. Instalada em uma cadeira de rodas, ela mantinha-se, como
sempre, na ativa. Já que não podia ir a Londres, pretendia participar, no
sábado, de um ato em memória da princesa, em Calcutá, onde morava há
quase setenta anos. Na noite de sexta-feira, seu médico foi chamado às
pressas. Não adiantou. Aos 87 anos, Madre Teresa perdeu a batalha entre seu
organismo debilitado e frágil e sua vontade de ferro e morreu vítima de ataque
cardíaco. O Papa João Paulo II declarou-se "sentido e entristecido". Madre
Teresa e o papa tinham grande afinidade. (Revista VEJA, nº 36, setembro/97)

que, seu, seus, ela, sua referem-se a Madre Teresa.


princesa retoma a expressão princesa Diana.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 23


papa retoma a expressão Papa João Paulo II.
onde refere-se à cidade de Calcutá.

Há ainda outros elementos de coesão, como Além disso, já que, que


introduzem, respectivamente, um acréscimo ao que já fora dito e uma
justificativa.

Existe ainda a possibilidade de uma ideia inteira ser retomada por um


pronome, como acontece nas frases a seguir:

a) Todos os detalhes sobre a vida das jubartes são resultado de anos de


observação de pesquisadores apaixonados pelo objeto de estudo. Trabalhos
como esse vêm alcançando bons resultados. (Revista VEJA, no 30, julho/97) -
O pronome esse retoma toda a sequência anterior.

b) Se ninguém tomar uma providência, haverá um desastre sem precedentes


na Amazônia brasileira. Ainda há tempo de evitá-lo. (Revista VEJA, junho/97) -
O pronome lo se refere ao desastre sem precedentes citado antes.

B. Coesão Lexical

Neste tipo de coesão, usamos termos que retomam vocábulos ou expressões


que já ocorreram, porque existem entre eles traços semânticos semelhantes,
até mesmo opostos. Dentro da coesão lexical, podemos distinguir a reiteração
e a substituição.

B.1 Coesão Lexical por Reiteração

Por reiteração entendemos a repetição de expressões linguísticas; neste caso,


existe identidade de traços semânticos. Este recurso é, em geral, bastante
usado nas propagandas, com o objetivo de fazer o ouvinte/leitor reter o nome e
as qualidades do que é anunciado. Observe, nesta propaganda da Ipiranga,
quantas vezes é repetido o nome da refinaria.

― Em 1937, quando a Ipiranga foi fundada, muitos afirmavam que seria difícil
uma refinaria brasileira dar certo. Quando a Ipiranga começou a produzir
querosene de padrão internacional, muitos afirmavam, também, que
dificilmente isso seria possível. Quando a Ipiranga comprou as multinacionais
Gulf Oil e Atlantic, muitos disseram que isso era incomum. E, a cada passo que
a Ipiranga deu nesses anos todos, nunca faltaram previsões que indicavam
outra direção. Quem poderia imaginar que a partir de uma refinaria como
aquela a Ipiranga se transformaria numa das principais empresas do país,
com 5600 postos de abastecimento anual de 5,4 bilhões de dólares? E, que
além de tudo, está preparada para o futuro? É que, além de ousadia, a

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Ipiranga teve sorte: a gente estava tão ocupado trabalhando que nunca
sobrou muito tempo para prestar atenção em profecias. (Revista VEJA, nº 37,
setembro/97)‖

B.2 Coesão Lexical por Substituição

Substituição Sinonímica - É a seleção de expressões linguísticas com traços


semânticos semelhantes. Exemplo:
Pelo jeito, só Clinton insiste no isolamento de Cuba. João Paulo II decidiu
visitar em janeiro a ilha da Fantasia. (Revista VEJA, nº 39, outubro/97)
Os termos assinalados têm o mesmo referente. Entretanto, é preciso
esclarecer que, neste caso, há um julgamento de valor na substituição de Cuba
por ilha da Fantasia, numa alusão a lugar onde não há seriedade.

Rui Barbosa, na sua magistral conferência sobre Oswaldo Cruz, em 1917, nos
dá lições acabadas da arte da sinonímia.
Para dizer febre amarela, por exemplo, empregou todas estas expressões
sinônimas: vômito negro, a praga amarela, estigma desastroso, contágio
brasileiro, o mesmo flagelo, germe amarílico, a tenaz endemia, a prega, a
terrível doença, o contágio homicida, calamidade exterminada, a
devoradora calamidade, a maligna enfermidade, essa desgraça, a terrível
coveira, infecção xantogênica, esse contagio fatal ... nada menos que
dezessete formas e recursos para evitar a repetição enfadonha.

Referindo-se aos ratos, eis a série por ele excogitada: rataria, rasteira e
abjeta família, esses vilíssimos roedores, essa espécie roaz, ralé
inumerável, raça insaciável dos murídeos.

Mencionando o fato da morte assim resolve Rui o problema da não repetição


de termos: a cólera-mórbus deu morte ... a peste negra roubou 25 milhões
de indivíduos à Europa ... dessa calamidade apenas escaparam um terço dos
habitantes ... o número dos sepultados excede o dos sobreviventes ... de
vinte mal se salvam duas pessoas ... no Hotel-Dieu expiram quinhentos ...
para servirem de sepulcrário aos corpos que nos cemitérios já cabem ...
Paris registra cinquenta, Londres cem mil óbitos ... A Itália perde a metade de
sua população ... vinte cinco milhões, pelo menos, desaparecem ... se diz
haver arrebatado ao gênero humano cem milhões de vidas. Onze recursos
de sinonímia num trecho de 34 linhas apenas!
(LEITE, Ulhoa Cintra Marques. "Novo Manual de Redação e Estilo", Rio de

Tipologia e Gêneros Textuais Página 25


Janeiro, 1953)

A substituição de um nome próprio por um nome comum se processa muitas


vezes mediante a antonomásia. É uma variante da metonímia, ou seja, uma
substituição de um nome por outro que com ele tenha relação, isto é,
designamos uma pessoa pelos seus atributos ou por uma qualidade, ou ainda
por uma característica (ou fato) que a distingue. Veja os exemplos.
Castro Alves - O Poeta dos Escravos
Gonçalves Dias - O Cantor dos Índios
José Bonifácio - O Patriarca da Independência
Simon Bolívar - O Libertador
Rui Barbosa - O Águia de Haia
Édipo - O Vencedor da Esfinge
Átila - O Flagelo de Deus
Aquiles - O Herói de Troia
D. Quixote - O Cavaleiro de Triste Figura
Leônidas - O Herói das Termópilas
Sólon - O Legislador de Atenas
Moisés - O Legislador dos Judeus
Hipócrates - O Pai da Medicina
Heródoto - O Pai da História
Jesus Cristo - O Salvador, o Nazareno, o Redentor, O Divino Mestre
 Na linguagem popular, o apelido, a alcunha é uma forma de
antonomásia.

Outro recurso a ser utilizao é a perífrase (do grego perifrasis (= em torno da


frase), também conhecida por circunlóquio, rodeio), que consiste em substituir
uma palavra por uma série de outras, de modo que estas se refiram àquela
indiretamente:
 A dama do teatro brasileiro foi indicada para um Oscar.
► Em lugar de nos referirmos diretamente a Fernanda Montenegro, criamos a
perífrase "A dama do teatro brasileiro".
Outros exemplos:
 Visitamos a Cidade Eterna (= Roma).
 Ultima flor do Lácio (= língua portuguesa), inculta e bela. (Bilac)
 O astro rei (= sol) brilha intensamente.
 Aquele que tudo pode (= Deus) nos protege.
 O país do futebol (Brasil) é adorado por seus filhos.
 As pessoas que tudo querem (= os gananciosos) nada conseguem.

Outros exemplos:
Cuba - A Pérola das Antilhas
Veneza - A rainha do Adriático
Egito - O Berço dos Faraós

Tipologia e Gêneros Textuais Página 26


Tendo em vista os exemplos dados, é de se notar que a perífrase é muito
parecida com a antonomásia; tanto é que muitos autores não fazem distinção
entre essas duas figuras, ou mesmo confundem uma com a outra. Em termos
práticos, a antonomásia refere-se somente a nomes próprios; e a perífrase
serve para substituir qualquer palavra, seja ela um nome próprio ou não.

Veja como a perífrase funciona no texto abaixo:


O BIGODE DE BANDEIRA

O plebiscito para decidir se o poeta deveria ou não continuar com o adereço


que escondia a marca eloquente de uma barbeiragem

Em 1960, com a mudança da capital federal para Brasília, a cidade do Rio de


Janeiro foi agraciada com um prêmio de consolação. Tornou-se o estado da
Guanabara, caso único de cidade-estado no Brasil. Três anos depois,
constatado o exagero, um plebiscito foi convocado para decidir se o município
continuava com o acúmulo de cargos. Agendou-se a votação para 21 de abril
de 1963.

Coincidência - ou não -, pouco antes o poeta Manuel Bandeira fora vítima do


mal que, cedo ou tarde, acomete todo homem que cruza a barreira da
puberdade. Cortou-se fazendo a barba. Bandeira somava então umas seis
décadas de cancha no melindroso ofício de se escanhoar matinalmente. A
experiência não o impediu de talhar à navalha a terra de ninguém que separa o
lábio superior do nariz. Um corte feio. Ao sangrar diante do espelho, o poeta
pernambucano perguntou-se o que fazer. Maquiagem era para mulheres.
Curativo lhe daria um ar infantilóide. E a ferida, nua e crua, era francamente
repulsiva.

Optou, então, pelo bigode. Coisa de poeta.

Na juventude, arriscara um adereço facial, mas logo constatou, horrorizado,


que o arranjo de pêlos era ralo e falho: um bigodinho mal-ajambrado, mais
ridículo que o de Cantinflas. Desistira do enfeite piloso para todo sempre até o
dia cortante em que a necessidade se impôs. Para sua própria surpresa, dessa
vez gostou: mais basto que antes, o bigode lhe dava um aspecto simpático.
Mantê-lo-ia, mas uma pessoa amiga e galante, a quem tinha receio de
desagradar, preferia o Bandeira de antes, o sans moustache. Por isso, à luz
do plebiscito que tomava conta do noticiário carioca - e provavelmente para
satirizá-lo - lançou uma segunda votação: pela continuidade, ou não, do

Tipologia e Gêneros Textuais Página 27


peludo adorno.

Para a imprensa, a broma caiu como uma luva. A Tribuna, o Jornal do


Brasil, O Jornal, o Correio da Manhã e O Globo esbaldaram-se. Até Carlos
Drummond de Andrade entrou na brincadeira.

http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-34/questoes-litero-pilosas/o-bigode-
de-bandeira.

Substituição Antonímica - É a seleção de expressões linguísticas com traços


semânticos opostos. Exemplo:
Gelada no inverno, a praia de Garopaba oferece no verão uma das mais
belas paisagens catarinenses. (JB, Caderno Viagem, 25/08/93)

Substituições Hiperonímicas e Hiponímicas - Por hiperonímia temos o


caso em que a primeira expressão mantém com a segunda uma relação de
todo-parte ou classe-elemento. Por hiponímia designamos o caso inverso: a
primeira expressão mantém com a segunda uma relação de parte-todo ou
elemento-classe. Em outras palavras, essas substituições ocorrem quando um
termo mais geral - o hiperônimo - é substituído por um termo menos geral - o
hipônimo, ou vice-versa. Os exemplo ajudam a entender melhor.

a) Tão grande quanto as baleias (hiperônimo) é a sua discrição. Nunca um


ser humano presenciou uma cópula de jubartes (hpônimo) , mas sabe-se que
seu intercurso é muito rápido, dura apenas alguns segundos. (Revista VEJA,
no 30, julho/97)

b) Em Abrolhos, as jubartes (hipônimo) fazem a maior esbórnia. Elas se


reúnem em grupos de três a oito animais (hiperônimo) , sempre com uma
única fêmea no comando. É ela, por exemplo, que determina a velocidade e a
direção a seguir. (Idem)

c) Dentre as 79 espécies de cetáceos (hiperônimo) , as jubartes (hipônimo)


são as únicas que cantam - tanto que são conhecidas também por "baleias
cantoras". (Idem)

Hiperônimos Hipônimos
(termos mais gerais) (termos mais específicos)
baleias jubartes
animais jubartes
cetáceos baleias

Tipologia e Gêneros Textuais Página 28


1.4.6 INTERTEXTUALIDADE
INTERTEXTO é a citação de um texto por outro, é um diálogo entre textos.
Com frequência, um texto retoma passagens de outro, seja de maneira
explícita - por meio de citações diretas - ou de modo mais sutil, implícito,
realizando uma paráfrase ou uma paródia. O uso de citações diretas e de
paráfrases ocorre substancialmente em textos dissertativos ou de caráter
científico. Por sua vez, nos textos literários, a intertextualidade faz-se por meio
de paráfrases, quando busca confirmar o sentido do texto original, ou por meio
da paródia, quando pretende contestar, modificar ou polemizar o texto a que se
refere.

CITAÇÃO
A citação é uma referência direta a outros textos, em que se respeita
integralmente o texto de origem, ou seja, transcreve-se ipsis litteris o que está
escrito no texto original. É imprescindível, portanto, indicar o autor do referido
texto, assim como de qual obra foi retirado. A música Cinema Novo, de
Caetano Veloso, faz citações:
O filme quis dizer ‗Eu sou o samba‘
A voz do morro rasgou a tela do cinema
E começaram a se configurar
Visões das coisas grandes pequenas
Que nos formaram e estão a nos formar
Todos e muitos: Deus e o Diabo, Vidas Secas, os Fuzis,
Os Cafajestes, o Padre e a Moça, a Grande Feira, o Desafio
Outras conversas, outras conversas sobre os jeitos do Brasil.

REFERÊNCIA E ALUSÃO
Machado de Assis é mestre nesse tipo de intertextualidade. Ele foi um escritor
que visualizou o valor desse artifício no romance bem antes do Modernismo.
No romance Dom Casmurro, ele cita Otelo, personagem de Shakespeare, para
que o leitor analise o drama de Bentinho.

PARÁFRASE
A paráfrase (do grego para-phrasis, continuidade ou repetição de uma
sentença) é a reafirmação em palavras diferentes, do mesmo sentido de um
texto. Consiste no desenvolvimento explicativo de um dado texto, não em seu
resumo, em que se comunica a mesma mensagem, sem nada acrescentar ou
omitir do texto original. Ocorre, portanto, uma referência indireta ao texto de
origem.
Convém logo distinguir a paráfrase do plágio, em que o texto é transcrito
fielmente ou sem quase nenhuma alteração, o que configura uma cópia sem

Tipologia e Gêneros Textuais Página 29


aspas, depreciativa e até mesmo proibida. Exemplo de paráfrase é o poema
Oração, de Jorge de Lima:
―- Ave Maria cheia de graças...‖
A tarde era tão bela, a vida era tão pura,
as mãos de minha mãe eram tão doces,
havia, lá no azul, um crepúsculo de ouro... lá longe...
―- Cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita!‖
Bendita!
Os outros meninos, minha irmã, meus irmãos
menores, meus brinquedos, a casaria branca de
minha terra, a burrinha do vigário
pastando junto à capela... lá longe...
Ave cheia de graça
- ...‖bendita sois entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre...‖
E as mãos do sono sobre os meus olhos,
e as mãos de minha mãe sobre o meu sonho, e as estampas de meu
catecismo
para o meu sonho de ave!
E isto tudo tão longe... tão longe... ―

A paráfrase pode ser:


 Ideológica - O desvio é mínimo: varia a sintaxe, mas as ideias são as
mesmas. Há apenas uma recriação das ideias. Pode-se entender a
paráfrase ideológica como simples tradução de vocábulos, ou
substituição de palavras por outras de significado equivalente.
 Estrutural. - Há uma recriação do texto e do contexto. O comentário
crítico, avaliativo, apreciativo, o resumo, a resenha, a recensão 1 são
formas parafrásticas estruturais de um texto.

1
Uma recensão é um trabalho de apresentação de uma obra literária,
concentrando-se no seu conteúdo e no contexto em que a obra surge a público. Uma
recensão crítica de um texto literário não pode perder de vista a origem do acto crítico
(crítica vem do grego krínein, que significa isolar, separar, destacar o particular), mas
deve distanciar-se do registo meramente subjectivo de uma opinião arbitrária sobre o
texto lido. A recensão literária é também um texto de carácter científico, cujo rigor deve
ser procurado na defesa de todos os argumentos de leitura. O texto de recensão
obedece a algumas regras formais específicas:
1. Não deve exceder as 1500 palavras, em casos de pequeno espaço de divulgação
editorial; deve ter cerca de 5000 palavras, no caso de destaque editorial.
2. Não pode conter notas de pé de página.
3. Identifica, na entrada, 1) o título do livro, 2) o autor, 3) a editora, 4) a cidade de
edição, 5) o ano de edição. Caso se trate de uma tradução é necessário também incluir
o nome do tradutor.
Do ponto de vista da descrição do conteúdo da obra recenseada, inclui-se:
1. Uma explicitação objetiva do assunto.
2. A posição crítica do autor.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 30


INTERTEXTUALIDADE IMPLÍCITA
Quando uma articulista de jornal escreve sobre a importância dos direitos
humanos na atualidade, suas ideias fazem parte de um discurso ideológico,
portanto, com certeza, seu texto mantém diálogo implícito (ou explícito) com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU e outros documentos.

EPÍGRAFE
Epígrafe (do grego epi = em posição su-perior + graphé = escrita) constitui uma
escrita introdutória de outra.
A Canção de Exílio, de Gonçalves Dias, apresenta versos introdutórios de
Goethe, com a seguinte tradução: ―Conheces o país onde florescem as
laranjeiras? Ardem na escura fronde os frutos de ouro... Conhecê-lo? Para lá,
para lá quisera eu ir!‖
A epígrafe e o poema mantêm um diálogo, pois os dois têm características
românticas, pertencem ao gênero lírico e possuem caráter nacionalista.

PASTICHE
O pastiche pode ser plágio, por isso tem sentido pejorativo, ou é uma
recorrência a um gênero. A estética clássica, por exemplo, promovia o pastiche
e não era desdouro fazer isso. O pastiche insiste na norma a ponto de esvaziá-
la, como acontece com o dramalhão, que leva o gênero drama às últimas
consequências. É bom esclarecer que a questão da originalidade e da
autenticidade nas artes nasceu com o Romantismo, cuja concepção artística
era que a obra expressasse a subjetividade do autor.

PARÓDIA
A paródia é mais comum em criações artísticas, seja nos textos literários,
publicitários ou nos de humor e sátira. Enquanto a paráfrase busca reiterar o
sentido do texto original, a paródia pretende modificar, polemizar ou até
mesmo contestar o texto a que se refere. Como exemplo, vejamos os dois
textos a seguir, que possuem intertextualidade bastante marcada com um texto
largamente reconhecido, o conto de fadas Chapeuzinho Vermelho, cuja autoria
é atribuída a Charles Perrault.
CHAPEUZINHO VERMELHO DE RAIVA - ADAPTADO POR MÁRIO PRATA
Vovozinha está deitada, debaixo de umas cobertas, quando entra a
chapeuzinho:
VOVOZINHA - Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica mais pertinho da
vovó, fica.

3. O contributo da obra para o conhecimento (dentro da área científica ou literária em


que se enquadra).

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CHAPEUZINHO ( aproximando-se da vovó ) - Mas, vovó, que olho vermelho...
e grandão. Que que houve ?
VOVOZINHA - Ah, minha netinha, meus olhos estão assim de tanto olhar para
você. Aliás, está queimada, hein ?
CHAPEUZINHO - Guarujá, vovó. Fui pra lá no fim de semana. Vovó, a
senhora está com um nariz tão grande, mas tão grande. Tá tão esquisito, vovó.
VOVOZINHA - Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a
industrialização no bosque, está um horror. Fico respirando o dia todo este ar
poluído. Chegue mais perto, minha netinha.
CHAPEUZINHO - É, vovó, mas em compensação, antes eu levava duas horas
para vir de casa até aqui e agora, com a estrada asfaltada, eu venho com
minha moto e levo só quinze minutos.
VOVOZINHA - Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme ?
CHAPEUZINHO - Puxa, já ia me esquecendo. A mamãe mandou margarina,
Hellmans, Danone de frutas e umas sopas Knorr.
VOVOZINHA ( lambendo os lábios ) - Hum...
CHAPEUZINHO - ( meio sem jeito ) - Vovó, não querendo ser chata...
VOVOZINHA - Ora, diga.
CHAPEUZINHO - As orelhas. A orelha da senhora está tão grande e ainda por
cima peluda. Credo, vovó !
VOVOZINHA - Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você
me deu. Onde já se viu fazer música desse tipo ? Você me desculpe, porque
foi você que me deu, mas é só barulheira. Não há ouvido que aguente.
CHAPEUZINHO - Ah, vovó... Bem, mas o seu cabelo está um barato, hein ?
Todo desfiado para cima, encaracolado. Que que é isso ?
VOVOZINHA- Ora, também tenho que entrar na moda, né, minha netinha ? ou
você queria que eu fosse domingo ao programa do Silvio Santos de coque e
com vestido preto de bolinhas brancas ?
CHAPEUZINHO ( assustada, dá um pulo para trás ) - E esta boca imensa?
VOVOZINHA - ( brava, salta da cama, com as mãos na cintura ) Escuta aqui,
queridinha: você veio aqui hoje para me criticar, é?!
É bastante comum as pessoas dizerem ―Fulano fez uma releitura do trabalho
de Ciclano‖, mas, o que é uma releitura? Não é um conceito difícil de entender,
mas, com certeza ainda sofre devido a linha tênue que há entre releitura e
cópia

RELEITURA
Fazer uma releitura não significa fazer uma cópia, mas fazer um trabalho com
uma visão diferente daquela que o artista que a criou utilizou. Releitura é ler
novamente, é reinterpretar, é criar novos significados com base num
referencial, num texto visual que pode estar explícito ou implícito na obra final.
Assim, deve-se ler a obra e extrair dela o tema. Com este em mão, escrever
um texto. Este texto não precisa ser necessariamente o mesmo da obra
original. Desse modo, pode-se fazer, por exemplo, a releitura de um poema
em forma de peça teatral ou crônica, como no exemplo 11.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 32


EXEMPLOS DE INTERTEXTUALIDADE
1. A DIVINA COMÉDIA - DANTE ALIGHIERE
Tradução de Augusto de Campos (fragmentos)
Nel mezzo del cammin di nostra vita
No meio do caminho desta vida
mi ritrovai per una selva oscura,
me vi perdido numa selva escura,
ché la diritta via era smarrita.
solitário, sem sol e sem saída. (…)

NEL MEZO DEL CAMIN – OLAVO BILAC


Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada


Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida


Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,


Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

NO MEIO DO CAMINHO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento


na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

POEMA DE GONDÍM DA FONSECA

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Eu tropecei agora numa casca de banana.
Numa casca de banana!
Numa casca de banana eu tropecei agora.
Cai para trás desamparadamente,
E rasguei os fundilhos das calças!
Numa casca
de banana eu tropecei agora.
Numa casca de banana!
Eu tropecei agora numa casca de banana!

2. POEMA DE SETE FACES - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens


que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos. (...)

Meu Deus, por que me abandonaste


se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo, mundo, vasto mundo,


se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo, mundo, vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

ATÉ O FIM - CHICO B. DE HOLANDA


Quando eu nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim
Inda garoto deixei de ir à escola
Cassaram meu boletim
Não sou ladrão, eu não sou bom de bola
Nem posso ouvir clarim
Um bom futuro é o que jamais me esperou
Mas vou até o fim
Eu bem que tenho ensaiado um progresso
Virei cantor de festim

Tipologia e Gêneros Textuais Página 34


Mamãe contou que eu faço um bruto sucesso
Em Quixeramobim
Não sei como o maracatu começou
Mas vou até o fim
Por causa de umas questões paralelas
Quebraram meu bandolim
Não querem mais ouvir as minhas mazelas
E a minha voz chinfrim (...)
Não tem cigarro, acabou minha renda
Deu praga no meu capim
Minha mulher fugiu com o dono da venda
O que será de mim?
Eu já nem lembro pronde mesmo eu vou
Mas vou até o fim (...)

3. CANÇÃO DO EXÍLIO - GONÇALVES DIAS


―Kennst du das Land, wo die Citronen bluhn,
Im dunkeln Laub die Gold-Orangen gluhn,
Kennst du es woh? – Dahin, dahin!
Möcht‘ich... Ziehn.‖ Goethe

Minha terra tem palmeiras


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossas vidas mais amores.

Em cismar, sozinho à noite,


Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,


Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;

Minha tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá.

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Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores


Que não encontro por cá;
Sem qu‘inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

CANTO DE REGRESSO À PÁTRIA - OSWALD DE ANDRADE


Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os pássaros daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas


E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas


Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra


Sem que volte para São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo

SABIÁ - TOM JOBIM E CHICO BUARQUE


Vou voltar, sei que ainda
Vou voltar para o meu lugar
Foi lá e ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá, cantar uma sabiá.
Carlos Drummond de Andrade:
Um sabiá
Na palmeira, longe.
Estas aves cantam
Um outro canto (...)
Só, na noite,
Seria feliz:
Um sabiá
Na palmeira, longe.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 36


CANÇÃO DO EXÍLIO FACILITADA - JOSÉ PAULO PAES
Lá?
Ah!
sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...

cá?
bah

4. MAR PORTUGUÊS - FERNANDO PESSOA


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador


Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

DOIS E DOIS: QUATRO -FERREIRA GULLAR


Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro

e a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro

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sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.

5. QUADRILHA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que
amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

FLOR DA IDADE - CHICO B. DE HOLANDA


Carlos amava Dora que amava Lia que amava
Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava
Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava
Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha.

6. POEMA DE JOAQUIM M. DE MACEDO


"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,
Quando a teus pés um homem terno e curvo
jurar amor, chorar pranto de sangue,
Não creias, não, mulher: ele te engana!
As lágrimas são gotas da mentira
E o juramento manto da perfídia."

TRADUÇÃO DE MANUEL BANDEIRA


Teresa, se algum sujeito bancar o
sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um
bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredite não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA

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7. O "ADEUS" DE TERESA - CASTRO ALVES
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala
E ela, corando, murmurou-me: "adeus."

Uma noite entreabriu-se um reposteiro...


E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"

Passaram tempos sec'los de delírio


Prazeres divinais gozos do Empíreo
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!... "
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"

Quando voltei era o palácio em festa!


E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"

TERESA - MANUEL BANDEIRA


A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna.

Quando vi Teresa de novo


Achei que os olhos eram muito mais velhos que
o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos
esperando que o resto do corpo nascesse).

Da terceira vez não vi mais nada


Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a
face das águas.

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8. CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA
Texto l: Dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, cerca de sete
ou oito, segundo os navios pequenos disseram, porque chegaram
primeiro. Ali lançamos os batéis e esquifes à água e vieram logo todos
os capitães das naves a esta nau do Capitão-mor e ali conversaram.
(...) quando o batel chegou à foz do rio estavam ali dezoito ou vinte
homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse
suas vergonhas.

Texto II: Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, com
uma alcatifa aos pés, por estrado, e bem vestido com um colar de ouro muito
grande ao pescoço [...] Mas um deles viu o colar do Capitão e começou a
acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como a dizer-nos que
havia ouro em terra; e também viu um castiçal de prata e da mesma forma
acenava para terra e para o castiçal como que havia, também, prata.

AS MENINAS DA GARE - OSWALD DE ANDRADE


Eram três ou quatro moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha

BRAZIL - OSWALD DE ANDRADE


O Zé Pereira chegou de caravela
E perguntou pro guarani da mata virgem
- Sois cristão?
- Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da
[Morte.
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! Ua! Uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
- Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval

10. ANTIGAMENTE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas
mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em
geral, dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-

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alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se
levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra
freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da
forca, e não caiam de cavalo magro. Algumas Jogavam verde para colher
maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia
que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada.
Encontravam alguém que lhes passava a manta e azulava, dando às de vila-
diogo. Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a
fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens,
esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de
alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se
metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que
dessem com os burros n'água.
Havia os que tomavam chá em criança, e, ao visitarem família da maior
consideração, sabiam cuspir dentro da escarradeira. Se mandavam seus
respeitos a alguém, o portador garantia-lhes: "Farei presente". Outros, ao
cruzarem com um sacerdote, tiravam o chapéu, exclamando: "Louvado seja.
Nosso Senhor Jesus Cristo", ao que o Reverendíssimo correspondia: "Para
sempre seja. louvado". E os eruditos, se alguém espirrava - sinal de defluxo -
eram impelidos a exortar: "Dominus tecum". Embora sem saber da missa a
metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso
metiam a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a
tramontana. (...)
Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios;
outros eram pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim por tintim e
iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde Judas perdeu as botas. Uns
raros amarravam cachorro com linguiça. E alguns ouviam cantar o galo, mas
não sabiam onde. As famílias faziam sortimento na venda, tinham conta no
carniceiro e arrematavam qualquer quitanda que passasse à porta, desde que
o moleque no tabuleiro, quase sempre um cabrito, não tivesse catinga. (...)
Acontecia o indivíduo apanhar constipação; ficando perrengue,
mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita,
de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era a phrysica, feia era o
gálico. Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos
lombrigas, asthma os gatos, os homens portavam ceroulas, botinas e capa-de-
goma, a casimira tinha de ser superior e mesmo X.P.T.O. London, não havia
fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam.

TEMPO DE DONDOM - NEI LOPES


No tempo que Dondom jogava no Andaraí
Nossa vida era mais simples de viver
Não tinha tanto miserê, nem tinha tanto tititi
No tempo que Dondom jogava no Andaraí

Propaganda era reclame

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Ambulância era dona assistência
Mancada era um baita vexame
E pornografia era só saliência
Sutiã chamava porta-seio
Revista pequena gibi...
No tempo que Dondom jogava no Andaraí

Rock se chamava fox


E tiete era moça fanática
O que hoje se diz que é xerox
Chamava-se então de cópia fotostática
Motorista era sempre chofer
Cachaça era parati...
No tempo que Dondom jogava no Andaraí

Vinte e dois era demente


Minha casa era o meu bangalô
Patamo era socorro urgente
E todo cana dura era investigador
Malandro esticava o cabelo
Mulher fazia misampli...
No tempo que Dondom jogava no Andaraí

11. A TAPEÇARIA DE ARACNE – MITO GREGO


Há muito, muito tempo, na Grécia Antiga, contavam que Palas, a deusa
da sabedoria (que mais tarde os romanos chamariam de Minerva), ensinava
todos os segredos de fiação e tecelagem a uma moça chamada Aracne.
Aracne era de origem humilde, mas se tornou tão habilidosa com fios e
tramas que até as ninfas dos bosques e dos rios vinham vê-la trabalhar. Não
só porque os tecidos que fazia eram incomparáveis, mas até porque a graça
de seus movimentos tinha a beleza de uma arte, desde que puxava os
chumaços de lá ou cânhamo até quando fazia novelos e meadas. E,
principalmente, depois, quando a linha macia e longa se convertia em belos
panos num tear ou era ricamente bordada em desenhos divinos. Divinos, sim.
Pois todos os que viam o trabalho de Aracne logo concluíam que ela
aprendera seu ofício com Palas, e cobriam a deusa de louvores.
Ora, quanto mais atenção atraía, mais Aracne se ofendia com os elogios
a Palas e negava qualquer mérito à deusa. Até que certo dia acabou
exclamando:
— Sou muito melhor tecelã que Palas! Se ela viesse competir comigo,
todos iam ver isso. E, se me vencesse, poderia fazer comigo o que quisesse.
Antes de aceitar o desafio, a deusa se disfarçou e veio visitar Aracne sob
a forma de uma velha, aconselhando-a a respeitar a experiência e a sabedoria
dos anciãos e a reconhecer a superioridade dos deuses.

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— Se você se arrepender de suas palavras e pedir perdão, tenho certeza
de que Palas lhe perdoará — disse.
— Você está é de miolo mole, sua velha. Quer dar conselho? Vá procurar
suas netas... Eu me defendo sozinha. Palas tem medo de mim. Se não tivesse,
já teria vindo me enterrar.
A velha deixou cair o disfarce e se revelou em todo o seu esplendor:
— Pois Palas veio, sua tonta!
As ninfas e todas as mulheres se prostraram diante da deusa, mas
Aracne manteve o seu desafio.
Sem perder tempo, cada uma das duas foi para um canto do enorme
salão, com seus novelos, meadas, fios e seu tear. Durante muito tempo, uma
belíssima tapeçaria foi surgindo em cada tear. Palas fez questão de ilustrar em
seu bordado todas as histórias de mortais que tinham desafiado os deuses e
os terríveis preços que tiveram de pagar por isso. Aracne, por outro lado,
mostrou em sua tapeçaria os inúmeros crimes que os deuses já tinham
cometido, recriados com exatidão e minúcia de detalhes. Cada uma, ao final,
rematou seu trabalho com uma preciosa moldura tecida.
Ninguém se surpreendeu com a perfeição da obra de Palas. Mas quem
ficou surpresa foi a deusa, pois, por mais que procurasse o mínimo defeito na
obra de Aracne, não conseguiu encontrar uma único falha. Com raiva, bateu
várias vezes com seu bastão na testa da tecelã.
Não suportando a dor, Aracne passou um fio no pescoço para se
enforcar. Mas Palas teve pena e a segurou, suspensa no ar, dizendo:
— Você tem ma índole e é vaidosa, mas tenho que respeitar sua arte.
Não admito que morra. Porém, você e seus descendentes viverão sempre
assim, suspensos o tempo todo.
E, ao partir, borrifou-lhe uma poção que fez o cabelo da moça cair, a
cabeça e o corpo encolherem, os dedos crescerem, e a transformou para
sempre numa aranha, condenada a fabricar fio e teia até o final dos tempos.
Sempre com perfeição incomparável.

A ARANHA – MANUEL BANDEIRA


Não te afastes de mim, fazendo a minha sanha
E o meu veneno
Escuta a minha triste história
Arachne foi meu nome e na trama ilusória
Das rendas florescia a minha graça estranha

Um dia desafiei Minerva


De tamanha ousadia
Hoje expio a incomparável glória...
Venci a deusa.
Então, ciumenta da vitória,
Ela não me perdoou
Vingou-se e fez-me aranha!

Tipologia e Gêneros Textuais Página 43


Eu que era branca e linda,
Eis-me medonha e escura
Inspiro horror...
Oh! Tu que me inspiras a urdidura
Da minha teia, atenta ao que
O meu palpo fia:

Pensar que fui mulher e tive dedos ágeis


Sob os quais incessantes e frágeis
Vária a fantasia
Criava a pala sutil e para os teus ombros.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 44


UNIDADE 2 - GÊNEROS TEXTUAIS E
TIPOS DE TEXTO

Na Idade Média, a diversidade de textos era pequena devido à organização


social e à pouca tecnologia. Hoje, passados mais de dez séculos, com tantas
transformações sociais, culturais e tecnológicas, a diversidade de textos é
enorme. Atualmente, são inúmeros os gêneros textuais existentes, cada um
deles apropriado a uma das inúmeras atividades comunicativas do dia a dia.

Sempre que nos comunicamos por meio de palavras, empregamos um gênero.


Os textos (orais ou escritos) constituem gêneros cuja especificidade depende
da situação de interação verbal, do momento em que ela ocorre, das relações
que a envolvem. Pensar na comunicação por gêneros textuais é entender o
uso social da língua.

Uma simples observação histórica do surgimento dos gêneros revela que,


numa primeira fase, povos de cultura essencialmente oral desenvolveram um
conjunto limitado de gêneros. Após a invenção da escrita alfabética, por volta
do século VII a.C., multiplicaram-se os gêneros, surgindo os típicos da escrita.
Numa terceira fase, a partir do século XV, os gêneros expandem-se com o
florescimento da cultura impressa para, na fase intermediária de
industrialização iniciada no século XVIII, dar início a uma grande ampliação.
Hoje, em plena fase da denominada cultura eletrônica, como o telefone, o
gravador, o rádio, a TV, o computador pessoal e sua aplicação, a internet,
presenciamos uma explosão de novos gêneros e novas formas de
comunicação, tanto na oralidade como na escrita.

Pode-se dizer que os gêneros novos são ampliações ou transformações de


gêneros antigos. Por exemplo: a comunicação entre amigos, que se fazia
frente a frente, passou a ocorrer por meio de cartas, telefonemas e correio
eletrônico, recursos evidentemente com características próprias, já que
apresentam aspectos sociocomunicativos e funcionais diversos.

Gênero e Tipo textual são dois conceitos diferentes, mas indissociáveis na


prática. Gêneros textuais referem-se diretamente às práticas sociais, ou seja,
são os textos materializados que encontramos no dia a dia (um bilhete, um
telefonema, um cardápio, uma receita, uma carta, etc). Eles têm a função de
ordenar as atividades comunicativas. Bakhtin já dizia que um gênero textual é
composto de três elementos: do conteúdo temático, do estilo e da construção
composicional.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 45


O conteúdo temático pode ser compreendido como o assunto/objeto de que o
enunciado vai tratar; conteúdo ideologicamente afetado que se torna dizível
por meio dos gêneros. Já a construção composicional se refere aos elementos
das estruturas textuais/discursivas/semióticas que compõem um texto
pertencente a um gênero. Por fim, o estilo remete a questões individuais e
genéricas de seleção: vocabulário, estruturas frasais, preferências gramaticais,
etc. Embora se perceba individualmente esses elementos, eles não funcionam
de forma autônoma, um está intrinsecamente ligado ao outro, dependente do
outro, num processo dialógico-discursivo.

Os tipos textuais são sequências teóricas identificadas por sua natureza


linguística, ou seja, as diferentes possibilidades de escolhas linguísticas de um
texto, escolhas essas lexicais, sintáticas, de tempos verbais, de relações
lógicas. Assim, os tipos textuais, são, segundo a categorização de Werlich: a
descrição, a narração, a argumentação, a exposição e a injunção. Quando se
nomeia certo texto como "narrativo", "descritivo" ou "argumentativo", não se
está nomeando o gênero, mas o predomínio de um tipo de sequência de base.

TIPOS TEXTUAIS GÊNEROS TEXTUAIS


constructos teóricos realizações linguísticas concretas definidas por
definidos por sequência propriedades sócio-comunicativas;
apropriada;
constituem sequências constituem textos empiricamente realizados cumprindo
linguísticas ou sequências funções em situações comunicativas;
de enunciados e não são
textos empíricos;
sua nomeação abrange um sua nomeação abrange um conjunto aberto e
conjunto limitado de praticamente ilimitado de designações concretas
categorias teóricas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e
determinadas por aspectos função.
lexicais, sintáticas, relações
lógicas, tempo verbal;
designações teóricas dos exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta
tipos: narração, comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula
argumentação, descrição, expositiva, horóscopo, receita culinária, bula de remedia,
injunção e exposição. lista de compras, cardápio, resenha, edital de concurso,
inquérito policial, instruções de uso, piada, conversação
espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo
virtual, etc.

O texto argumentativo corresponde ao que é chamado de discurso da


transformação, em que o locutor tenta influenciar, persuadir, convencer o
interlocutor, fazendo-o crer em algo, realizar algo ou agir de certo modo,
procura levar o interlocutor a aderir ao seu discurso. Embora, normalmente, o
texto de intenção argumentativa se realize sob a forma de texto dissertativo,
podem ocorrer intercalados trechos descritivos ou narrativos, funcionando

Tipologia e Gêneros Textuais Página 46


como exemplificações das teses defendidas. Textos puramente descritivos ou
narrativos podem ter também um forte caráter argumentativo, de discurso de
transformação, como as parábolas, as fábulas e os apólogos.

No artigo ―Gêneros e progressão em expressão oral e escrita: elementos para


reflexões para uma experiência suíça‖, escrito por Joaquim Dolz e Bernard
Schneuwly, em 1996, os autores propõem agrupamentos de gêneros em tipos
– Narrar, Expor, Argumentar, Instruir e Relatar.

Tipos Situação de Produção Gêneros


Predomi-
nantes
Narrar A situação de produção desses Contos, lendas, romances,
gêneros sempre envolve a ficção e a fábulas, crônicas
criação.
Expor A situação de produção desses Artigos científicos de todas as
gêneros sempre envolve a áreas do conhecimento, relatos
necessidade de divulgar um de experiências científicas,
conhecimento resultante de pesquisa conferências, seminários, textos
científica. explicativos dos livros didáticos,
verbetes de enciclopédia, notícias
e outros afins.
Instruir ou A situação de produção desses Manuais de instrução, bulas de
Prescrever gêneros sempre envolve a remédio, receitas culinárias,
necessidade de informar como deve regras de jogo, regimentos e
ser o comportamento daqueles que estatutos e todos os demais
vão usar um equipamento ou gêneros cuja função é
medicamento ou realizar um estabelecer formas corretas de
procedimento. proceder.

Relatar Nas situações de produção desses No agrupamento estão os


gêneros está a necessidade de gêneros relacionados com a
contar alguma coisa que realmente memória e as experiências de
ocorreu, o que torna os relatos vida, como memórias literárias,
diferentes das narrativas, que são diários íntimos, diários de bordo,
ficcionais. depoimentos, reportagens, relatos
históricos, biografias e outros
semelhantes.
Argumentar Gêneros que têm origem nas Estão nesse agrupamento cartas
discussões sociais de assuntos de solicitação, cartas de leitor,
polêmicos, que provocam cartas de reclamação, debates
controvérsias. Nas situações de políticos, artigos de opinião
produção desses gêneros existem jornalísticos, editoriais, textos
questões polêmicas que estão sendo publicitários, e outros
discutidas em sociedade, e que semelhantes.
exigem dos autores um

Tipologia e Gêneros Textuais Página 47


posicionamento e a defesa deste.
Gêneros literários, como o poema e o romance, também são gêneros
discursivos. Tradicionaimente, organizamos alguns dos gêneros literários em
―famílias‖, por isso nos referimos, de modo mais abrangente, a textos épicos,
líricos e dramáticos.

Um gênero pode ser identificado pela sua função e por sua estrutura. Um
poema deixa de ser um poema quando muda de função. O poema deixa de ter
uma função lírica, literária, e passa a ter uma função publicitária. Deixa de ser
poema para ser uma peça publicitária (aliás, este é um dos outros muitos
sentidos que a palavra peça assume), dependendo do gênero em que é usada.
Já os poemas de cordel são poemas mesmo, porque são elementos da cultura
popular com sentido lírico e literário.

Em todos os gêneros os tipos se realizam, ocorrendo, muitas das vezes, o


mesmo gênero sendo realizado em dois ou mais tipos. Marcuschi (1983)
chama essa miscelânea de tipos presentes em um gênero de
heterogeneidade tipológica.

Travaglia (2002) fala em conjugação tipológica. Para ele, dificilmente são


encontrados tipos puros. Realmente é raro um tipo puro. Num texto como a
bula de remédio, por exemplo, que para Fávero & Koch (1985) é um texto
injuntivo, tem-se a presença de várias tipologias, como a descrição e a
injunção. Travaglia afirma que um texto se define como de um tipo por uma
questão de dominância, em função do tipo de interlocução que se pretende
estabelecer e que se estabelece, e não em função do espaço ocupado por um
tipo na constituição desse texto.

Quando acontece o fenômeno de um texto ter aspecto de um gênero mas ter


sido construído em outro, Marcuschi dá o nome de intertextualidade
intergêneros. Ele explica dizendo que isso acontece porque ocorreu no texto a
configuração de uma estrutura intergêneros de natureza altamente híbrida,
sendo que um gênero assume a função de outro.

Travaglia não fala de intertextualidade intergêneros, mas fala de um


intercâmbio de tipos. Explicando, ele afirma que um tipo pode ser usado no
lugar de outro tipo, criando determinados efeitos de sentido impossíveis, na
opinião do autor, com outro dado tipo. Para exemplificar, ele fala de descrições
e comentários dissertativos feitos por meio da narração.

Resumindo esse ponto, Marcuschi traz a seguinte configuração teórica:


a) intertextualidade intergêneros = um gênero com a função de outro
b) heterogeneidade tipológica = um gênero com a presença de vários
tipos

Tipologia e Gêneros Textuais Página 48


Travaglia mostra o seguinte:
a) conjugação tipológica = um texto apresenta vários tipos
b) intercâmbio de tipos = um tipo usado no lugar de outro

Para melhor exemplificação, apresentamos uma carta pessoal. Pedimos a


você que insira cada parte da carta em um tipo textual: narrativo, descritivo,
injuntivo, argumentativo e expositivo.

Sequências Gênero textual: carta pessoal


tipológicas
Rio,11/08/2011
Amiga A.P. Oi!
Para ser mais preciso estou no meu quarto, escreve no na escrivaninha,
com um som ligado na minha frente.
Está ligado na Jovem Pan FM – eu adoro rock moderno e house.
E você gosta? Gosto também de house e dance music. Sou fascinado
por discotecas.
Ontem mesmo (sexta-feira) eu fui e cheguei quase quatro horas da
madrugada.
Dançar é muito bom, principalmente em uma discoteca legal. Aqui no
condomínio onde moro têm muitos jovens, somos todos muito amigos e
sempre vamos todos juntos.
C. foi três vezes à K.I.,
pergunte só a ele como é!
Demorei um tempão pra responder, espero sinceramente que você não
esteja chateada comigo. Eu me amarrei de verdade em vocês aí, do
Recife, principalmente a galera do ET, vocês são muito maneiros!
Agora, a minha rotina: às segundas, quartas e sextas-feiras trabalho de
8h às 17h em Botafogo. De lá vou para o T., minha aula vai das 18h30
às 22h40. Chego aqui em casa quinze para meia-noite. Às terças e
quintas fico no trabalho só das 8h00 às 12h30. Vou para o T, às 13h30
começa o meu curso de Francês (vou me formar ano que vem) e vai até
15h30. Das 17h40 às 18h30 faço natação (no T. também) e até 22h40
tenho aula. Ontem eu e Simone fizemos sete meses de namoro.
Você sabia que seu estava namorando?
Ela mora aqui no condomínio. A gente se gosta muito, às vezes eu acho
que nunca vamos terminar, depois eu acho que o namoro não vai durar
muito, entende?
O problema é que ela é muito ciumenta, principalmente porque eu já fui
afim da B., que mora aqui também, Nem posso falar com a garota que S.
já fica com raiva.
É acho que vou terminando...
Escreva! Faz um favor? Diga para M., A. P. e C. que esperem, não
demoro a escrever.
Adoro vocês! Um beijão!

Tipologia e Gêneros Textuais Página 49


Do amigo, P.P. 15h16

2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE ALGUNS GÊNEROS


TEXTUAIS
2.1.1 POESIA E POEMA
Poema, do Grego, poiema, significando "o que se faz".
Poesia também do Grego, poíesis, que quer dizer, "ação de criar alguma
coisa".

Segundo o Miniaurélio Século XXI, poesia é a "arte de criar imagens, de


sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons,
ritmos e significados".

Assim, quando falamos em poema, estamos nos referindo a textos que têm
ritmo e sonoridade e contêm poesia; e quando falamos em poesia, nos
referimos àquilo que torna um texto poético. O que torna um texto poético é o
sentido artístico que seu autor consegue imprimir ao que escreve.

Pode-se dizer que a poesia, além de estar presente no poema, também figura
em outros gêneros, por exemplo: em certas cenas de filmes de cinema ou de
peças teatrais, em certos quadros e desenhos, em determinadas obras
arquitetônicas. Na linguagem musical, existe a expressão ―poema sinfônico‖,
nome de uma composição que sugere a relação entre o elemento poético e o
musical.

Veja como no texto abaixo ―A arte de ser feliz‖, de Cecília Meireles , há poesia:

HOUVE um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do


chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um
pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do
ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa
ilusão maravilhosa e sentia-me completamente feliz.

HOUVE um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal


oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas
flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem
brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que
pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém a
minha alma ficava completamente feliz.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 50


No dicionário acima citado, poema é definido como: "obra, em verso ou não,
em que há poesia".

O que é um poema não escrito em verso? É uma PROSA POÉTICA, também


chamada poesia em prosa. É a poesia escrita em prosa, isto é, sem as
características do poema: métrica, ritmo, rima e outros elementos sonoros. Um
texto escrito em forma de prosa pode ser considerado ―poesia", se sua função
for poética, ou seja, se exprimir emoções e sentimentos. Como exemplo,
podemos citar as obras de Cruz e Sousa: Tropos e Fantasias (1893); Missal
(1893); Evocações (1898); Outras Evocações (obra póstuma) e Dispersos
(obra póstuma), além do romance Iracema, de José de Alencar.

Assim como há poemas não escritos em verso, pode haver romances, novelas
e outros gêneros escritos em verso. Um exemplo disso é a ―xácara‖, uma
narrativa popular em verso. Podemos destacar duas. A primeira é ―Nau
Catarineta‖. O "Romance da Nau Catarineta" é uma canção de 19 estrofes que
narra as peripécias de uma longa travessia marítima de Brasil para Portugal,
as calmarias que esgotaram os mantimentos, a sorte para sacrificar um dos
tripulantes, a presença de tentação diabólica e a intervenção divina, levando a
nau a um bom porto. "O comandante dessa viagem verídica foi o navegador
Jorge de Albuquerque Coelho, filho de Duarte Coelho, fundador de Olinda e
donatário da capitania hereditária de Pernambuco de 1534 a 1554; a Nau
Catarineta, inclusive, partiu do porto de Olinda para Portugal", segundo narra
Ariano Suassuna.

A segunda está em ―O Guarani‖, de José de Alencar, e faz parte do capítulo


XIV: ―A Xácara‖. ―De repente cortou o silêncio da noite voz argentina, que
cantava uma antiga xácara portuguesa, com sentimento e expressão
arrebatadora.‖ Transcrevemos aqui um trecho:

―A xácara dizia assim:


Foi um dia. — Infanção mouro
Deixou
Alcáçar de prata e ouro.
Montado no seu corcel.
Partiu
Sem pajem, sem anadel.
Do castelo à barbacã
Chegou;
Viu formosa castelã.
Aos pés daquela a quem ama
Jurou
Ser fiel à sua dama.
A gentil dona e senhora

Tipologia e Gêneros Textuais Página 51


Sorriu;
Ai! que isenta ela não fora!
Tu és mouro; eu sou cristã:
Falou
A formosa castelã.
Mouro, tens o meu amor;
Cristão,
Serás meu nobre senhor.
Sua voz era um encanto,
O olhar
Quebrado, pedia tanto!
- Antes de ver-te, senhora,
Fui rei;
Serei teu escravo agora.
Por ti deixo meu alcáçar
Fiel;
Meus paços d‘ouro e de nácar.
Por ti deixo o paraíso,
Meu céu
É teu mimoso sorriso.
A dona em um doce enleio
Tirou
Seu lindo colar do seio.
As duas almas cristãs,
Na cruz
Um beijo tornou irmãs.‖

Como distinguir um poema de outros textos? Uma indicação segura é a


sonoridade, o "tom" que eles apresentam. Os poetas, ao escreverem, buscam
que o poema tenha uma cadência, como um tambor batendo em intervalos ora
regulares, ora irregulars, o que faz que o leitor perceba o texto poético pelo
ouvido. É por isso que tão gostoso quanto ler poemas é ouvi-los sendo
declamados. Além de apoiar-se no ritmo, para dar ao que escreve o "tom" de
poema, o poeta usa outros recursos: joga com a sonoridade das palavras,
busca sons similares rimando o final dos versos; ou repete sons parecidos, ou
iguais, em várias palavras, fazendo que elas ecoem ao longo do texto.

Muitas vezes, o poeta recria a impressão que algo lhe causou, sugerindo
imagens. Pode usar, para isso, o recurso das figuras, como a metáfora ou a
comparação. Esse é outro processo que cria associações entre as palavras do
texto, ampliando as possibilidades de sua interpretação. É como se, dentro do
poema, as palavras ganhassem um sentido mais rico, como se elas quisessem
dizer mais de uma coisa ao mesmo tempo, propondo mais de uma

Tipologia e Gêneros Textuais Página 52


interpretação possível. É importante observar que as diferentes interpretações
se complementam e enriquecem a compreensão do poema.

Além de ser percebido pelo ouvido, um poema pode ser identificado pelo olhar,
pelo modo como o texto é disposto na folha de papel. Alguns poetas dispõem
os versos nas páginas de forma tão especial que criam uma espécie de
imagem ou de desenho, pista visual para o leitor completar o sentido das
palavras.

Todos esses recursos utilizados na escrita de poemas motivam o leitor a


compreender o poema não só pela inteligência, mas também, pela intuição e
pela habilidade em perceber a sua composição. O leitor é motivado a observar
a forma, a sonoridade, o ritmo e a buscar elos entre as palavras que compõem
o texto.

Assim, diferentemente do que se costuma pensar, poema não é só aquilo que


rima, que tem sílabas contadas, musicalidade ou um esquema definido de
composição. Não são só a forma e o ritmo que o definem. É preciso considerar
como todos os elementos do texto se combinam para perceber o modo como o
poeta vê as coisas de uma maneira única, inaugural.

Para comporem seus poemas, os poetas, mesmo aqueles já consagrados,


passam muito tempo arrumando o que escreveram, organizando, mexendo
com as palavras, experimentando vários modos de compor, de fugir do lugar-
comum, romper clichês e encantar o leitor com sua maneira própria de ver o
mundo. Portanto, não é só de inspiração que são feitos os poemas: ao
contrário do que parece à primeira vista, o ofício de poeta exige muito trabalho.

2.1.2 CONTOS E CRÔNICAS

A CRÔNICA

Crônica – Oswald de Andrade


Era uma vez
O mundo.

Crônica, vem do Grego, krónos, que significa "tempo" e do Latim, annum, ano,
ou ânua, significando, "anais".

CRÔNICA - A crônica se vale um pouco do conto e um pouco da poesia. Isso,


porque ela começa narrando brevemente um acontecimento e depois passa a
expressar um sentimento em relação àquele fato ocorrido. Vamos
exemplificar: O cronista narra que viu na TV uma mãe jogando seu bebê numa
caçamba de lixo. Em seguida, o cronista passa a expressar sua revolta ante o

Tipologia e Gêneros Textuais Página 53


fato, falando da miséria social, da dificuldade de se adotar uma criança no
Brasil, da omissão dos políticos em nosso país. Essa segunda parte
(expressão da emoção) é a mais longa.

Pode aparecer na forma de comentário sobre a cena política, ou como um


recorte da infância. Ontem, disfarçou-se em digressões sobre o cotidiano.
Amanhã, será poema em prosa. Às vezes exibe-se como trecho de algum
romance que vai consumindo o autor ao longo de muitas madrugadas. Assume
ainda características de ensaio, ou de experimentação estilística. Pode ser
brincalhona, amarga, profunda, superficial, atrevida.

Catalogar a crônica como gênero menor esbarra na evidência de que não


existem gêneros menores. Há grandes e pequenos romancistas, grandes e
pequenos poetas, grandes e pequenos contistas. Também há bons e maus
cronistas. Contrapô-la ao conto é imaginar, equivocadamente, que crônicas
seriam apenas histórias breves, inferiores ao conto em qualidade, densidade
ou qualquer outro substantivo invocado para comparações dessa espécie.

Raul Pompéia e Olavo Bilac assinavam textos curtos. Euclides da Cunha,


Monteiro Lobato - obcecado com a questão da dicotomia atraso-progresso –
publicavam, sem limitação de espaço, textos à altura das obras que lhes
asseguraram uma vaga entre os grandes autores da língua portuguesa.

A crônica se destina à publicação em jornal ou revista. Por isso mesmo, já se


pode deduzir que deve estar relacionada com acontecimentos diários.
Diferencia-se evidentemente da notícia, pois não é feita por um jornalista, mas
por um escritor, mas se aproxima de sua forma. É o acontecimento diário sob a
visão criativa do escritor. Seus personagens podem ser reais ou imaginários.
Não é mera transcrição da realidade, mas uma visão recriada dessa realidade
por parte da capacidade lírica e ficcional do autor. Normalmente, por se basear
em fatos do cotidiano, ela tende a se desatualizar com o passar do tempo.
Nem por isso deixa de perder seu sabor literário quando agrupamos um
conjunto delas em um livro. O cronista é essencialmente um observador, um
espectador que narra literariamente a visão da sociedade em que vive através
dos fatos do dia a dia.

Quase sempre explora o humor, mas às vezes diz coisas sérias por meio de
uma aparente conversa-fiada. Noutras, despretensiosamente, faz poesia da
coisa mais banal e insignificante. É o relato de um flash, de um breve momento
do cotidiano de uma ou mais personagens.

O CONTO

Tipologia e Gêneros Textuais Página 54


Conto, do Latim computum, ou seja, "cálculo, conta", ou do Grego kóntos,
"extremidade da lança", ou commentum, "invenção, ficção".

CONTO - Narração breve, oral ou escrita. Tem um número reduzido de


personagens que participam de uma só ação, em um foco temático. Sua
finalidade é provocar no leitor uma única resposta emocional. Originariamente,
o conto é uma das formas mais antigas de literatura popular de transmissão
oral. É o relato de um acontecimento, de um episódio ocorrido na vida da
personagem.

O conto, universalmente admirado, versa sobre os mais variados assuntos, de


tal forma que, tecnicamente, os contos são classificados por tipo: "Contos
Policiais", "Contos de Fadas", "Contos Eróticos", "Ficção", "Contos Infantis" etc.

Possui os mesmos componentes do romance, mas evita análises,


complicações do enredo, e o tempo e o espaço são muito bem delimitados. O
conto é um só drama, um só conflito, uma única ação. Tudo gira em torno do
conflito dramático. A montagem do conto está em volta de uma só ideia, uma
imagem ou vida, desprezando-se os acessórios. O conto é uma narrativa
linear, que não se aprofunda no estudo da psicologia das personagens nem
nas motivações de suas ações. Ao contrário, procura explicar aquela psicologia
e essas motivações pela conduta das próprias personagens. O conto é uma
narrativa breve; desenrolando um só incidente predominante e um só
personagem principal, contém um só assunto cujos detalhes são tão
comprimidos e o conjunto do tratamento tão organizado, que produzem uma só
impressão.

Nenhum outro gênero, realmente, é tão discutido e mal definido, até hoje, na
história literária. Afinal, o que é exatamente um conto? Mário de Andrade, num
assomo de enfado, definiu-o: ―Conto é tudo o que o autor chama de conto.‖ O
crítico inglês H. E. Bates, citado por Aurélio e Rónai, confessava-se, em obra
de 1942, desanimado de definir o gênero : ―O conto veio a tornar-se toda
espécie de coisas....um veículo na realidade, para o talento de cada um‖, e
concluía: ―O conto tem algo da natureza indefinida e infinitamente variável de
uma nuvem‖. Convergem os estudiosos num ponto, bem expresso pelo
professor Massaud Moisés: ―Pelo que se pode saber, é desconhecida a origem
do conto. É-nos vedado pensar o momento em que surgiu, pois teríamos de
remontar a uma era da História ensombrada pelo denso mistério e incerteza de
contornos‖.

Os contistas costumam optar basicamente por duas formas de organização do


conto. Na primeira, mais tradicional, a história tem um desfecho surpreendente:
a narrativa se condensa toda em torno de seu final, que deve causar impacto

Tipologia e Gêneros Textuais Página 55


sobre o leitor pelo imprevisto da solução. Na segunda, cria-se na história uma
atmosfera carregada de sutis aspectos psicológicos que se tornam mais
importantes que a conclusão inesperada. O francês Guy de Maupassant é um
mestre do primeiro modelo, enquanto o nosso Machado de Assis consegue
imprimir à segunda forma uma rara qualidade estética.

O tom realista predomina nas várias formas desta narrativa breve. Isso
significa que o autores costumam dar a suas histórias bastante
verossimilhança. Abordando quase sempre temas muito próximos da vida do
leitor, esse realismo está presente até mesmo nos contos de temática mais
exótica ou incomum. Exceção a isso são os contos marcadamente alegóricos,
nos quais os acontecimentos evocam simbolicamente a realidade, provocando
no leitor a sensação de mergulhar num universo fantástico ou surreal. É o caso
de muitas narrativas de Jorge Luís Borges, Julio Cortázar, Murilo Rubião,
Moacyr Scliar e José J. Veiga.

O QUE DIFERENCIA UM CONTO DE UMA CRÔNICA?

Uma vez, nos anos 80, Analdino Paulino coordenou uma edição de crônicas de
amor para um livro que seria brinde da Credicard. Convidou dez autores, eu
entre eles. Escrevi a minha. Foi devolvida pelo então diretor de marketing do
cartão de crédito. "Estava ruim?" Não, disse o coordenador. Estava boa, ele
até gostou. "E por que recusou?" Porque ele pediu crônica e você mandou um
conto. "Ah, e o que é conto e o que é crônica para ele?" A resposta serviu para
os milhares de teóricos que queimam cabeça. Porque, disse o marketeiro culto,
uma crônica não tem diálogos. E como a sua tem, é conto. (Ignácio de Loyola
Brandão, em crônica publicada no jornal "O Estado de São Paulo")

No conto, as ações transcorrem num tempo maior: dias, meses, até anos, o
que não se dá na crônica, que procura captar um lance curioso, um momento
interessante, triste ou alegre. No conto, a personagem é analisada e/ou
caracterizada, há maior densidade dramática e frequentemente um conflito,
resolvido em desfecho. Na crônica, geralmente não há desfecho, esse fica
para o leitor imaginar e, depois, tirar suas conclusões. Uma das finalidades da
crônica é justamente apresentar o fato, nu, seco e rápido, mas não concluí-lo.
A possível tese fica a meio caminho, sugerida, insinuada, para que o leitor
reflita e chegue a ela por seus próprios meios.

2.1.3 Conto, novela, romance


Romance, do Latim romanice, que quer dizer, "em língua românica".
Novela, do Latim, novellam, ou seja:, "nova‖. Para alguns autores, a origem
da palavra se refere ao novelo, aquela bola de fio enrolado que a pessoa
começando puxando uma ponta e leva muito tempo para chegar ao fim.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 56


A primeira coisa que devemos tirar da cabeça é aquela história de que a
diferença entre esses três gêneros é a quantidade, ou seja, o conto é curto, a
novela, mais ou menos, e o romance é longo. Nada disso é verdadeiro.
Existem novelas maiores que romances e contos maiores que novelas.

Onde está a diferença?


"Célula Dramática". O conto contém apenas um único drama, um só conflito.
Esse drama único pode ser chamado de "célula dramática". Uma célula
dramática contém uma só ação, uma só história. Um conto é um relâmpago na
vida dos personagens. Não importa muito seu passado, nem seu futuro, pois
isso é irrelevante para o contexto do drama objeto do conto. O espaço da ação
é restrito. A ação não muda de lugar e quando eventualmente muda, perde
dramaticidade.

O objetivo do conto é proporcionar uma impressão única no leitor.


Tempo: o conto normalmente se concentra em alguns instantes decisivos,
algumas horas impactantes.
Espaço: o conto transcorre, no mais das vezes, num único espaço ou
ambiente.
Tom: se é leve, solto, alegre, coerente, ou circunspecto, conciso, etc.
Ação: enredo

Em outras palavras, um conto contém uma única Célula Dramática.

Assim, conto e crônica possuem apenas uma célula dramática. A novela,


de duas a quatro e, acima disso, teremos um romance.

2.2 DISTINGUINDO “REDAÇÃO” DE “PRODUÇÃO DE


TEXTO”
A quantidade de manuais de redação disponíveis no mercado e adotados nas
escolas de ensino médio é evidência de que o trabalho de produção escrita
vem sendo alicerçado na palavra redação. Esses manuais propõem-se a
mostrar alguns mecanismos de que o leitor dispõe para redigir bem, a ajudar a

Tipologia e Gêneros Textuais Página 57


organizar as ideias de modo a fazer redações lógicas, claras, objetivas e bem
elaboradas. Para isso trabalham de forma bastante técnica e com uma divisão
tipológica um tanto artificial. O ensino de redação propõe ao aluno escrever
uma narração, uma descrição ou uma dissertação sobre determinado tema.

Tal procedimento justifica-se pela preocupação latente no sistema educacional


com o concurso vestibular. Nos moldes em que se apresenta, manifesta o
interesse direto em atender, principalmente, a esse objetivo.

Buscando, no dicionário, o conceito desse termo tem-se:


Redação. [do lat. Redactione.] S.f. 1. Ato ou efeito de redigir. 2. p. ext. trabalho
ou exercício escolar que versa sobre um assunto dado ou de livre escolha e se
destina a ensinar o aluno a redigir corretamente com segmento lógico de
ideias; composição.

Observa-se que, na citação acima, o conceito de redação está em


conformidade com o significado que assumiu o termo no meio escolar,
reforçando, assim, o que foi dito anteriormente sobre o trabalho de produção
escrita estar sendo alicerçado pelo termo redação.

Consultando-se um dicionário etimológico temos que:


Redação – s.f. Maneira própria de cada um escrever seus pensamentos, estilo;
sede de um jornal; o conjunto de redatores. Fr. Rédaction, do lat. Redactio,
onis. Nota: A palavra latina tinha outro significado: era a ação de reduzir, de
comprimir, fazer voltar o rebanho, fazê-lo entrar no curral, reunir num só grupo,
recolher uma determinada soma de dinheiro, etc. Desta significação de reunir,
agrupar, foi que tirou o francês rédaction: quer no sentido de maneira própria
de reunir, ideias, pensamentos, quer no agrupar escritores para redigir um
jornal. Assim, não é correto afirmar que redação vem do lat. Redactio, onis,
pois semanticamente, é outra cousa. Vem diretamente do francês que deu à
palavra latina outra simbolização intelectual.

Assim, a palavra redação está etimologicamente ligada à ideia de reunião,


agrupamento, organização, evidenciando-se aí a diferença existente entre
redação e texto. Agrupar e organizar as ideias de forma lógica é, portanto, uma
redação, porém, não é um texto.

Os temas ou títulos propostos, quase sempre, se repetem ano após ano e,


normalmente, associam-se às datas cívicas e comemorativas como, por
exemplo, ―Dia das Mães‖, ―Dia dos Pais‖, ―A Primavera‖, ―A Páscoa‖, ―O Natal‖,
―A Independência do Brasil‖, etc., além das redações a partir de gravuras. É
uma atividade isolada em que se privilegia a forma em detrimento do conteúdo.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 58


O aluno deve mostrar que sabe escrever e, por isso, preenche a folha em
branco com palavras bonitas, agradáveis aos olhos do professor. Aparecem,
então, os chavões, as frases feitas, os lugares comuns, os clichês e as
expressões metafóricas consagradas.

Abrangem a redação escolar algumas categorias textuais, tais como: a


reprodução, a paráfrase e a redação criativa. Os conceitos que a seguir serão
descritos seguem a orientação de Meserani (1995).

a) A reprodução: um texto reprodutivo é aquele que mantém igualdade com o


original. É um texto cuja produção é a mesma, idêntica ou muito semelhante a
um outro texto que lhe serve de original. É o sinônimo de ―registro‖, ―cópia‖,
―transcrição‖. Na escola, geralmente, a reprodução alia-se aos textos
narrativos, descritivos ou dissertativos.

A literalidade das informações são assimiladas pelo aluno em forma de:


a) decoração ou simples memorização, mesmo sem compreensão (...)
b) compreensão real, entendimento amplo que pode implicar memorização,
sobretudo quando há necessidade de manter informações sem modificações.

É interessante notar, contudo, que há situações na vida em que a literalidade


das informações presentes num texto ou a sua reprodução se faz necessária.
Sendo assim, muitas vezes, a reprodução como recurso para a redação é uma
prática pedagógica viável, visto que é preciso ensinar ao aluno a reproduzir
alguns conceitos precisos, sem que as informações veiculadas no texto original
sejam modificadas.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001), as ―atividades que


envolvem reproduções, paráfrases, resumos permitem que o aluno fique, em
parte, liberado da tarefa de pensar sobre o que escrever, pois o plano do
conteúdo já está definido pelo texto modelo. Dessa forma, explicam que a
atividade reprodutiva ―oferece possibilidades de tratar de aspectos coesivos da
língua, de aspectos do plano de expressão – como dizer.‖

Nessa perspectiva, a atividade de reprodução pode ser produtiva e significativa


se se levar em consideração não só o tratamento dos conteúdos que se quer
aprendido pelos alunos no plano de expressão, mas, também, a finalidade da
proposta de reprodução, mostrando o seu uso positivo na vida social. Isso para
que se desenvolva no aluno a noção de que há uma intenção do produtor do
texto em reproduzir o texto alheio, prevendo-se, logicamente, a presença de
um interlocutor e as circunstâncias da produção.

Em outras palavras, uma vez que a atividade reprodutiva não implica a criação
de ideias e se ela incide sobre a forma do texto, ou seja, no modo de organizar

Tipologia e Gêneros Textuais Página 59


a mensagem por escrito, faz-se necessário que a escola trabalhe sobre as
intervenções de autocorreção, de codificação, de reestruturação e reescrita do
texto para que o aluno realize as modificações cabíveis em função tanto do seu
portador (revista, jornal mural, livro, etc.) como do seu destinatário.

b)A paráfrase: é um gênero de texto situado ao lado da reprodução. Meserani


divide esta categoria em dois tipos de discursos, no contexto escolar:
paráfrases reprodutivas e paráfrases criativas.

 paráfrase reprodutiva escolar: é aquela que traduz em outras


palavras um outro texto, de modo quase literal. Como exemplo de
atividades que levam à paráfrase reprodutiva, pode-se citar a exibição
de uma gravura para ser descrita ou reproduzida fielmente por escrito;
a passagem de um texto oral (ou escrito, lido em voz alta) para a
escrita, em que o aluno deve recontar o texto; a paráfrase em prosa, de
poemas.
 paráfrase criativa: entende-se o texto que ultrapassa os limites da
simples reafirmação ou resumo do texto original, da repetição do
significado dentro do eixo sinonímico, da simples tradução literal. O
texto original é usado como ―patamar ou pretexto‖, como apoio para a
elaboração da paráfrase criativa.

Acredita que as propostas didáticas objetivando a paráfrase criativa, servindo-


se de textos dados como apoio, e que permitem ao aluno soltar a imaginação,
têm se mostrado excelentes no ensino fundamental. Aqui, frente à cópia,
transcrição e paráfrase reprodutiva, o aprendiz é convidado a um salto maior
em direção aos voos da imaginação. Mais do que um tema, recebe um texto
como suporte para a sua produção.

c) A redação escolar criativa: redação escolar criativa, já chamada


―composição‖, é o texto escolar produzido pelo aluno, com um desvio radical
em relação aos modelos escolares. Da palavra ―criação‖ depreende-se o
sentido de originalidade, de diferente, porém, no contexto escolar expressões
como ―criatividade‖, ―criador‖, estão intimamente ligadas à palavra ―inspiração‖,
acreditando-se no dom criador do aluno para escrever. A noção que a escola
passa ao aluno de que escrever é um dom coloca-o em má situação perante a
tarefa de escrever, pois se escrever é um dom, se ele não tem o dom, e não
deve ter porque não baixa nenhuma inspiração na hora ―h‖, ele pode acreditar
que, então, ele, além de desinspirado e sem dom, é burro. Logo, não tem
mesmo jeito, o negócio é se conformar e enganar, escrevendo as frases do
mestre em qualquer ordem para ver se o dito cujo ―cai nessa‖.

As redações criativas escolares, afastando-se de seu sentido verdadeiro,


baseiam-se no discurso do professor, nos textos veiculados nos livros didáticos

Tipologia e Gêneros Textuais Página 60


e nos livros não didáticos adotados pelo professor que, por sua vez, é
orientado pelas editoras. Geralmente, o aluno segue a linha modelar da escola,
os esquemas dos manuais, não sendo, portanto, uma composição livre em que
o aluno possa soltar o seu pensamento e produzir o diferente. Além disso, há a
crença do ―espontaneísmo‖, que aposta na imaginação do criador para que ele
faça uma redação criativa.

A produção textual, por outro lado, configura-se numa hierarquia contextual,


de modo que os articuladores relacionais sejam fundamentais para a
construção do sentido.

No ensino de redação percebe-se que a estruturação começo, meio, fim ou


introdução, desenvolvimento e conclusão é enfatizada como aspecto principal
de organização lógica.

Na produção textual, porém, a organização lógica vai além disso, porque está
ligada também aos níveis da significação e ao contexto. No romance, no
cinema e na poesia, por exemplo, a falta de coerência e coesão é
transformada em valor estético. A falta de lógica dos estados interiores dos
sentimentos mais profundos, o absurdo da existência, o vazio do convívio
humano são motivos para que um autor invista na falta de coesão e coerência
para, propositadamente, conseguir efeitos estéticos e até produzir
determinadas mensagens ou reações, garantidas pelas relações de
significação e contexto presentes em um texto.

Assim, uma vez solicitado ao aluno que faça uma redação, não se poderia
jamais exigir um texto. Bastaria que ele organizasse, de maneira lógica, as
ideias e já estaria atendendo por completo à solicitação. A tomada de um
termo por outro tem prejudicado o ensino e o desenvolvimento da prática de
escrever, pois a ênfase está sendo dada às técnicas de redação, e o estudo do
texto como unidade de significação apresenta-se insuficiente. É necessário
estudar os processos que constituem a linguagem, analisando as diferentes
formas de manifestação do sentido presentes no texto, entender o
funcionamento da linguagem, a partir de como as unidades significativas são
articuladas na superfície do texto, observar, enfim, aspectos sociais –
históricos e culturais – e os processos sintático-semânticos.

A produção de textos é uma atividade em que os sujeitos produzem discursos


que se concretizam nos textos. Poderíamos dizer que, nesta atividade, quando
um tema é proposto, há um levantamento de ideias relacionadas ao assunto,
com discussões que possibilitem argumentações a favor ou contra as ideias
enfocadas, sem controle diretividade que dosam o desenvolvimento da
reflexão do aluno em torno da escrita, levando-o a uma só interpretação dos
fatos que são valorizados socialmente. Nos textos, aparece a heterogeneidade

Tipologia e Gêneros Textuais Página 61


de vozes que não reproduzem simplesmente a palavra dita pela escola ou as
palavras alheias, mas a palavra do próprio aluno.

O trabalho pedagógico não se realiza em função de um programa


preestabelecido; mas se presentifica no cotidiano escolar, atendendo as reais
necessidades dos alunos na produção de conhecimentos. Por outro lado, o
texto não é visto como produto, mas como um processo, como um trabalho
que deve ser explorado, exposto, valorizado e vinculado aos usos sociais.

Quanto ao professor, não se impõe como avaliador e juiz dos textos dos
alunos, mas como um representante do leitor a que o texto se destina. Ele age
como um interlocutor, encarando o aluno como sujeito de seu discurso. Com
esse procedimento o professor questiona, sugere, provoca reações, exige
explicações sobre as informações ausentes no texto, contrapõe à palavra do
aluno uma contrapalavra, refutando, polemizando, concordando e negociando
sentidos mediante as pistas deixadas no texto.

2.3 GÊNEROS E TIPOS NA SALA DE AULA


Como esta discussão sobre gêneros e tipos é um tanto "nova", o que mais
existe é uma confusão conceitual não só nas práticas em sala de aula como
também nas propostas de diversos livros didáticos. Um ensino e aprendizagem
da língua a partir da perspectiva dos gêneros não está em se trabalhar
"narração" (pedindo ao aluno "faça uma narração"), ou uma dissertação, mas
em fazer com que o aluno perceba a dinâmica existente numa relação
sóciocomunicativa, i.e., as diferentes possibilidades com que ele pode interagir
com o mundo ao seu redor por meio da linguagem. Essa interação é
direcionada sempre por um propósito comunicativo: se deseja sair e não há
ninguém em casa, ele pode utilizar o GÊNERO BILHETE; se compra um
celular e não sabe usar, provavelmente vai precisar ler o manual, ou seja, ler o
GÊNERO INSTRUÇÕES DE USO; se sua mãe pede para ir ao mercado,
poderá utilizar o GÊNERO LISTA DE COMPRAS, e assim por diante.

É fundamental definir as capacidades linguísticas discursivas que se pretende


desenvolver com os gêneros. Devemos trazer para a sala de aula a
diversidade e até trabalhar com gêneros considerados pouco elegantes, mas
sempre com olhos postos sobre o desenrolar da linguagem e da língua
portuguesa. A partir de uma visão interacionista, de um conhecimento mais
consistente do gênero, pode-se trabalhar melhor a partir da troca de
correspondência, por exemplo. Se se escreve uma carta-convite e recebe as
respostas dos convidados, ou se se escreve uma carta de opinião em resposta
a um editorial de jornal, o uso da escrita é outra coisa. É preciso apresentar
situações de comunicação focalizando as capacidades linguísticas, linguístico-
discursivas e as necessidades dos alunos, que precisam aprender a escrever
em português textos importantes para a vida.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 62


Tomando o agrupamento Argumentar como exemplo, podemos afirmar que,
até pouco tempo, qualquer pessoa diria que não se deve trabalhar
argumentação nas séries iniciais. Hoje, porém, é outra a resposta. Ensinar a
argumentar é um trabalho que pode ser feito com diferentes gêneros textuais,
e é possível começar bem cedo, já nos primeiros anos do Fundamental, com
os debates orais, cartas de leitor e cartas de solicitação, por exemplo.

Todos os outros agrupamentos possibilitam reflexão semelhante. É possível


um trabalho com gêneros expositivos nas séries do primeiro segmento se
iniciarmos sua exploração por verbetes de enciclopédia; com gêneros
narrativos, podemos começar com pequenos contos, como os contos
acumulativos, aqueles em que há uma espécie de refrão que se repete, ótimos
para o período de alfabetização; com gêneros do agrupamento instruir,
podemos começar com as receitas culinárias; com gêneros do relatar,
podemos trabalhar com as crianças menores lendo e escrevendo pequenas
biografias, por exemplo.

Se trabalharmos com muitos gêneros narrativos ao longo da Educação Básica,


nos anos finais poderemos trabalhar com a leitura de romances, por exemplo,
e obter ótimo aproveitamento. Se começarmos a trabalhar com gêneros
expositivos a partir de pequenos verbetes de enciclopédia infantil, lá no início
do Fundamental, e formos ampliando o estudo desses gêneros ao longo dos
demais anos, poderemos trabalhar textos de informação científica nos anos
finais com tranquilidade.

2.4 TEXTOS ORAIS E TEXTOS ESCRITOS


A interação pela linguagem materializa-se por meio de textos, sejam eles orais
ou escritos. É relevante, no entanto, reconhecer que fala e escrita são duas
modalidades de uso da língua que, embora se utilizem do mesmo sistema
linguístico, possuem características próprias. As duas não têm as mesmas
formas, a mesma gramática, nem os mesmos recursos expressivos. Para a
compreensão dos problemas da expressão e da comunicação verbais, é
necessário evidenciar essa distinção.

A vaguidão específica
"As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica."
Richard Gehman
— Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
— Junto com as outras?
— Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer
coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
— Sim senhora. Olha, o homem está aí.
— Aquele de quando choveu?
— Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.

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— Que é que você disse a ele?
— Eu disse pra ele continuar.
— Ele já começou?
— Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
— É bom?
— Mais ou menos. O outro parece mais capaz.
— Você trouxe tudo pra cima?
— Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora
recomendou para deixar até a véspera.
— Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão
atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.
— Está bem, vou ver como.
FERNANDES, Millôr.

No texto, o autor revela ironia ao atribuir às mulheres o falar de modo vago e


por meio de elipses. No entanto, tais características são próprias do texto oral,
em que a interação face a face permite que os interlocutores, situados no
mesmo tempo e espaço, preencham as lacunas ali existentes, já que ambos,
ancorados em dados do contexto e no conhecimento partilhado que possuem,
são capazes de compreender e produzir sentido ao que se diz.

Em nossa sociedade, fundamentalmente oral, convivemos muito mais com


textos orais do que com textos escritos. Todos os povos, indistintamente, têm
ou tiveram uma tradição oral e relativamente poucos tiveram ou têm uma
tradição escrita. No entanto, isso não torna a oralidade mais importante que a
escrita. Mesmo que a oralidade tenha uma primazia cronológica sobre a
escrita, esta, por sua vez, adquire um valor social superior à oralidade.

A escrita não pode ser tida como representação da fala. Ela apresenta
elementos significativos próprios, ausentes na fala, como o tamanho e o tipo de
letras, cores e formatos, sinais de pontuação e elementos pictóricos, que
operam como gestos, mímica e prosódia graficamente representados.

Observe a transcrição de um texto falado, retirado de uma aula de História


Contemporânea, ministrada no Rio de Janeiro, no final de década de 70.
Procure ler o texto como se você estivesse ―ouvindo‖ a aula.
... nós vimos que ela assinala... como disse o colega aí,,, a elevação da
sociedade burguesa... e capitalista... ora... pode-se já ver nisso... o que é
uma revolução... uma revolução significa o quê? Uma mudança... de
classe... em assumindo o poder... você vê por exemplo... a Revolução
Francesa... o que ela significa? Nós vimos... você tem uma classe que
sobe... e outra classe que desce... não é isso? A burguesia cresceu... ela
ti/a burguesia possuía... o poder... econômico... mas ela não tem prestígio
social... nem poder político... então... através desse poder econômico da
burguesia... que controlava o comércio... que tinha nas mãos a economia

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da França... tava nas mãos da classe burguesa... que crescera... desde o
século quinze... com a Revolução Comercial... nós temos o crescimento
da classe burguesa... essa burguesia quer... quer... o poder...ela quer o
poder político... ela quer o prestígio social... ela quer entrar em
Versalhes... então nós vamos ver que através... de uma Revolução...ela
vai... de forma violenta... ela vai conseguir o poder... isso é uma revolução
porque significa a ascensão de uma classe e a queda de outra... mas qual
é a classe que cai? É a aristocracia... tanto que... o Rei teve a cabeça
cortada... não é isso?
Dinah Callou

É possível notar que o texto é bastante entrecortado e repetitivo, apresenta


expressivas marcas de oralidade e progride apoiando-se em questões
lançadas aos interlocutores, no caso, aos alunos. Isso não significa que o texto
falado é, por sua natureza, absolutamente caótico e desestruturado. Ao
contrário, ele tem uma estruturação que lhe é própria, ditada pelas
circunstâncias sociocognitivas de sua produção.

No entanto, tais características, próprias do texto oral, são consideradas


inapropriadas para o texto escrito. Por quê?

Para entender essa questão, inicialmente, faz-se necessário observar a


distinção entre essas duas modalidades de uso da língua, proposta por
Marcuschi (1983):

A fala seria uma forma de produção textual-discursiva para


fins comunicativos na modalidade oral. Caracteriza-se pelo
uso da língua na sua forma de sons sistematicamente
articulados e significativos, bem como os aspectos
prosódicos e recursos expressivos como a gestualidade, os
movimentos do corpo e a mímica.

A escrita, por sua vez, seria um modo de produção textual-discursiva para fins
comunicativos com certas especificidades materiais e se caracterizaria por sua
constituição gráfica, embora envolva também recursos de ordem pictórica e
outros. Pode manifestar-se, do ponto de vista de sua tecnologia, por unidades
alfabéticas (escrita alfabética), ideogramas (escrita ideográfica) ou unidades
iconográficas. Trata-se de uma modalidade de uso da língua complementar à
fala.

De modo geral, discute-se que ambas apresentam distinções porque diferem


nos seus modos de aquisição, nas suas condições de produção, na
transmissão e recepção, nos meios através dos quais os elementos de
estrutura são organizados.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 65


Para Koch (1997), dentre as características distintivas mais frequentemente
apontadas entre as modalidades, podemos citar:

Fala Escrita
1. Contextualizada. 1. Descontextualizada.
2. Não-planejada. 2. Planejada.
3. Redundante. 3. Condensada.
4. Fragmentada. 4. Não-fragmentada.
5. Incompleta. 5. Completa.
6. Pouco elaborada. 6. Elaborada.
7. Predominância de frases curtas, 7. Predominância de frases complexas,
simples ou coordenadas. com subordinação abundante.
8. Pouco uso de passivas. 8. Emprego frequente de passivas.
9. Pouca densidade informacional. 9. Densidade informacional.
10. Poucas nominalizações. 10. Abundância de nominalizações.
11. Menor densidade lexical. 11. Maior densidade lexical.

As condições de produção da linguagem escrita, ao contrário das condições


de produção da linguagem oral, permitem àquele que escreve mais tempo para
refletir sobre sua produção linguística. No processo de escrever entram
elementos de elaboração, redação, revisão, reescrita.

As modificações sofridas no nível do oral são mais rápidas que as sofridas no


nível da escrita. Esta, portanto, tende a ser mais conservadora. A língua escrita
e a língua oral apresentam, cada uma, um conjunto próprio de características,
distanciando-se em certos pontos ou aproximando-se em outros. É importante
salientar, nessa perspectiva, que a língua escrita, assim como a oral, possui
graus de ―formalismos‖, ou seja, é possível, como diz Travaglia (1997), ―ter
textos altamente formais na língua falada e textos totalmente informais na
língua escrita.

Decorre daí que não é verdadeira a distinção de que a língua falada seria
informal e a escrita formal.

A língua escrita, conforme Pécora, (1983) não apresenta as mesmas


alternativas de uso da língua falada: ―... não existe, por exemplo, uma ―escrita
caipira‖ desenvolvida e utilizada por uma coletividade linguística ampla‖. Isso
implica entender que há regras específicas ou convenções que governam o
uso e a correta manipulação da escrita. Ou seja, há de se aprender sobre as
suas regras ou convenções para que a expressão por escrito se efetive de
forma satisfatória. Segundo o autor: ―... não se desenvolveram várias escritas
do português, mas apenas uma, cujas normas, de um lado, dizem respeito

Tipologia e Gêneros Textuais Página 66


exclusivamente aos seus recursos gráficos específicos e, de outro, referem-se
exatamente ao padrão culto.‖

Ocorre, porém, que essas diferenças nem sempre distinguem as duas


modalidades. Isso porque se verifica, por exemplo, que há textos escritos muito
próximos ao da fala conversacional (bilhetes, recados, cartas familiares, por
exemplo), e textos falados que mais se aproximam da escrita formal
(conferências, entrevistas profissionais, entre outros). Além disso, atualmente,
pode-se conceber o texto oral e o escrito como atividades interativas e
complementares no contexto das práticas culturais e sociais.

Oralidade e escrita, assim, são práticas e usos da língua com características


próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas
linguísticos distintos. Ambas permitem a construção de textos coesos e
coerentes, ambas permitem a elaboração de raciocínios abstratos e
exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais e dialetais.

Faz-se lícito o conhecimento das especificidades dessas modalidades pelos


professores de língua materna, em especial, ao ensino/aprendizagem da
língua escrita, pois, conforme Silva et al. (1986):

A escrita não pode ser perpetuada para a humanidade


apenas como um conhecimento, cuja aquisição tem servido
para dividir e rotular as pessoas em alfabetizadas e
analfabetas. Não é uma técnica, cujos sinais se aprendem
para fazer a transcrição do que se fala ou se vê. Os homens
construíram a escrita buscando e modificando o seu
conhecimento, para que pudessem registrar a sua história e
retomá-la sempre, reconstituindo junto com outros homens os
significados de suas lutas, a sua vida.

Fica claro que, para o domínio da expressão escrita, a escola tem o importante
papel de explicitar as competências requeridas por uma modalidade e outra
(oral e escrita), levando o aluno a perceber as suas diferenças, especialmente
quando da produção de textos. Essa atitude é válida para que a influência da
manifestação do oral na linguagem escrita não prejudique a aprendizagem da
produção escolar de textos escritos.

2.5 ENSINO DE GÊNEROS ORAIS

Quais gêneros orais ensinar? Aqueles que, embora apresentados oralmente,


dependam da escrita para existir: peças de teatro, palestras, exposições em
seminários, peças de argumentação em júri simulado, entrevistas, reportagens
de TV simuladas, sarau de poemas etc.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 67


Os seminários, entre os gêneros apontados, são um ótimo exemplo de gênero
oral que precisa ser ensinado. Como não é ensinado, o costume é dizer aos
alunos: ―Sobre este assunto, organizem um seminário. Dividam-se em grupos
e apresentem no dia tal.‖ Essas orientações, insuficientes, costumam resultar
numa sensação de perda de tempo para todos os envolvidos. Com isso, esse
gênero - instrumento importante para o desenvolvimento de apresentações
orais organizadas, necessárias para atividades escolares e não escolares -
muitas vezes é deixado de lado.

Para que gêneros orais mais formais se tornem instrumento do domínio


consciente de atividades de linguagem, eles precisam ser apoiados em
pesquisa bibliográfica, ou seja, em gêneros escritos. Além disso, é necessária
a organização prévia, por escrito, do que se vai dizer oralmente. Sem essa
dupla relação com os gêneros escritos, os seminários não terão sucesso. É
claro que os alunos também precisam ser orientados sobre entoação,
interação ativa com os demais alunos durante a exposição do tema do
seminário, uso de material de apoio apropriado (como cartazes, gráficos...) etc.
Mas sem a leitura prévia de textos de pesquisa e de anotações escritas, o
seminário não resultará em aprendizagem para quem o apresenta ou ouve.

É preciso perguntar, por exemplo: Quais os elementos da situação de


comunicação de uma peça de teatro? Quais os elementos da situação de
comunicação de um sarau de poemas? E de um júri? Como no caso da aula
expositiva, verificar-se-á que a situação de comunicação própria do gênero
está socialmente ligada a várias outras situações das quais ele depende.

Ao levantar esses elementos com os alunos, reforçando os aspectos de


oralidade sem esquecer o apoio na escrita, eles tomarão consciência da
situação em que se envolverão e terão melhores resultados no uso dos
gêneros orais como valiosos instrumentos para o domínio da língua.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 68


UNIDADE 3 - A ESCRITA
Leia o texto:
Ouço muito: um bom texto deve ser claro e conciso. Não há dúvida de
que a clareza é a principal qualidade do texto. Ser conciso, entretanto, é uma
luta muito árdua. Ser conciso é dizer o necessário com o mínimo de palavras,
sem prejudicar a clareza da frase. É ser objetivo e direto.
E aqui está a nossa dificuldade. Nós, brasileiros, estamos habituados a
falar muito e dizer pouco, a escrever mais que o necessário, a discursar mais
para impressionar do que comunicar.
Para muitos, esse hábito começa na escola. É só fazer uma ―sessão
nostalgia‖ e voltarmos aos bons tempos de colégio, às gloriosas aulas em que
o professor anunciava: ―Hoje é dia de redação.‖ Você se lembra da ―alegria‖
que contagiava a turma? Você se lembra de algum coleguinha que dizia estar
―inspirado‖? Você se lembra de algum tema para a redação que tenha deixado
toda a turma satisfeita? A verdade é que não aceitávamos tema algum.
Pedíamos outro tema. Se o professor apresentasse vários temas,
pedíamos ―tema livre‖. E se fosse tema livre, exigíamos um. Era uma
insatisfação total. Depois de muita briga, o tema era ―democraticamente
imposto‖. E aí vinha aquela tradicional pergunta: ―Quantas linhas?‖ A resposta
era original: ―No mínimo 25 linhas.‖ Eu costumo dizer que 25 é um número
traumático na vida do aluno. A partir daquele instante, começava um
verdadeiro drama na sua vida: ―Meu reino pela 25a linha.‖ Valia tudo para se
chegar lá. Desde as ridículas letras que ―engordavam‖ repentinamente até a
famosa ―encheção de linguiça‖.
E aqui pode estar a origem de tudo. Nós nos habituamos a ―encher
linguiça‖. Pelo visto, há políticos que fizeram ―pós-graduação‖ no assunto. São
os mestres da prolixidade. Falam, falam e não dizem nada. Em algumas
situações não têm o que dizer, às vezes não sabem explicar e muitas vezes
precisam ―enrolar‖. O problema maior, entretanto, é que a doença atinge
também outras categorias profissionais.
Vejamos três exemplos retirados de bons jornais:
1. ―A largada será no Leme. A chegada acontecerá no mesmo local da
partida.‖Cá entre nós, bastava ter escrito: ―A largada e a chegada serão no
Leme.‖
2. ―O procurador encaminhou ofício à área criminal da Procuradoria
determinando que seja investigado…‖Sendo direto: ―O procurador mandou
investigar.‖
3. ―A posição do Governo brasileiro é de que esgotem todas as possibilidades
de negociação para que se alcance uma solução pacífica.‖
Enxugando a frase: ―O Brasil é a favor de uma solução pacífica.‖
Exemplos não faltam, mas espaço sim. Por hoje é só. Prometo voltar ao
assunto.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 69


DUARTE, Sérgio Nogueira. O Caso. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16
jan. 2000. cad. BRASIL, p. 14. [coluna LÍNGUA VIVA]

A comunicação é um dos fatores básicos da existência humana. Sem a


comunicação, o homem perde a sua função enquanto ser racional e social,
diferenciado dos outros seres vivos. Ao homem foi dado o dom de comunicar-
se, de expressar pensamentos, emoções, opiniões através da palavra. Falada
ou escrita.

É importante saber articular adequadamente o pensamento, mas também


saber expressá-la bem numa discussão, numa exposição oral e,
principalmente, numa redação. É preciso estruturar de modo apropriado as
ideias, e expressá-las de forma a obter a melhor comunicação possível com o
leitor. A expressão escrita bem desenvolvida e aprimorada não é um dom de
uma minoria. Por isso mesmo é tão necessária a prática da escrita, para o
domínio, a utilização natural dos elementos básicos da língua, das estruturas
linguísticas, dos recursos expressivos.

Tudo isso deve ser fruto de um trabalho constante e, até certo ponto, moroso,
pois as ideias não surgem "prontas", elas precisam ser trabalhadas, buriladas,
aperfeiçoadas.

3.1 AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DE TEXTOS


ESCRITOS
Buscaremos, neste item, demonstrar os aspectos necessários para a produção
de textos escritos. Preliminarmente, faz-se relevante examinar o que se
entende por ―condições de produção‖.

Normalmente são chamadas de condições de produção aquilo que o


produtor do texto faz, como ele constitui e constrói o seu texto (que elementos
linguísticos escolhe, as informações que seleciona e como os organiza no
texto) uma série de elementos presentes na situação de interação.

Geraldi (1995) aponta algumas condições para se produzir um texto:


a) se tenha o que dizer;
b) se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer;
c) se tenha para quem dizer o que se tem a dizer;
d) o locutor se constitua como tal, como sujeito que diz para quem diz;
e) se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d).

Para produzir um texto na modalidade escrita, portanto, é preciso observar as


condições acima, reveladoras da funcionalidade da escrita. Para isso, os
alunos, colocando-se como sujeitos de suas palavras, de seus discursos,

Tipologia e Gêneros Textuais Página 70


precisam ter algo para dizer a alguém. Para dizer esse algo a alguém por
escrito o sujeito deve buscar os recursos mais adequados para a consecução
de seu objetivo: que palavras e construções, que tipo de texto, que
informações etc., devem ser escolhidos e qual a organização desses
elementos dentro do texto, ou seja, como ele será constituído para atingir os
seus fins. Evidenciam-se, neste enfoque, as funções da escrita, as variedades
da língua, a intenção comunicativa, a imagem que se tem do interlocutor e a
percepção de que esse interlocutor não é um mero receptor, mas um
verdadeiro coelaborador do texto, as regras sócio-culturais, os elementos da
situação, entre outros.

Um levantamento mais detalhado dos aspectos que condicionam a produção


textual será descrito a seguir.

a) Ter o que dizer


Para se produzir um texto pertinente em uma situação real de comunicação, o
produtor deve ter em mente um assunto a expor, ou seja, deve ter um objeto
exato de comunicação, com base em referenciais sólidos. Isso implica
entender que não escrevemos a partir do nada, que não é possível dizer algo a
alguém sem ter o que dizer.

A partir do contexto ou situação em que nos encontramos podemos nos


apropriar da linguagem escrita para dizer algo que julgamos importante colocar
em forma de texto escrito. No âmbito escolar, várias são as situações que
podem desencadear um texto escrito. Cabe ao professor detectá-las para levar
o aluno a sentir necessidade de se expressar por escrito e relacionar-se
socialmente. Feito isso, o conteúdo dos textos deve ser tal que possibilite a
troca e a interação entre o grupo social a que o aluno pertence, na época a
que ele pertence.

Ter o que dizer deve ser sinônimo de dizer o singular, o individual, o pessoal,
enquanto interpretado mediante a leitura de textos, a troca de informações e
experiências com os outros. A relação interlocutiva entre os sujeitos faz com
que novas ideias se construam, se reafirmem ou sejam descobertas. Nesse
sentido, na produção do texto, o aluno deve se sentir o autor, pois o que diz
provém da interiorização de sua interpretação da realidade.

É importante entender, então, que para que o aluno possa ter o que dizer, as
propostas de produção, desencadeadas pelo professor em sala de aula,
devem fugir das chamadas atividades redacionais do ensino tradicional, que ao
longo dessa dissertação tentamos definir. Diferentemente delas, os discursos
produzidos são necessariamente significativos, sendo inseparáveis dos vários
elementos da situação em que se realizam.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 71


Geraldi (1995) ressalta:

... os discursos aproximam os sujeitos pelo significado e este


significado remete a um sistema de referências. Se, por um
lado, é no interior destes sistemas de referências que os
recursos expressivos se tornam significativos, por outro lado,
no embate das relações interlocutivas, a construção dos
modos de ver o mundo não é sempre harmônica. Ainda que os
interlocutores possam compartilhar algumas de suas crenças,
sempre se está reorganizando, pelos discursos, as
representações que se fazem do mundo dos objetos, de suas
relações e das relações dos homens com o mundo e entre si.

No trabalho com a produção de textos na escola, o aluno não deve conduzir o


seu discurso pela adesão constrangida do que ele supõe ser o gosto do
professor, imitando-lhe os aspectos formais, conceituais e ideológicos, com
vistas a tirar boa nota. Pelo contrário, é o seu conhecimento de mundo,
fundamental para a produção textual, que deverá conduzir o seu discurso. É
importante, nesse sentido, que o professor amplie o conhecimento de mundo
do aluno, possibilitando-lhe o contato com textos diversos. Ao analisar e
explorar esses textos o aluno desenvolverá, a cada dia, saberes mais
elaborados para a eficiência na construção de textos relevantes.

Vemos assim que, para que se produza um texto, é preciso conhecer sobre o
tema, fato ou assunto que se irá escrever, pois ninguém cria do nada. O papel
do professor, pois, é fundamental para mediar os conhecimentos já construídos
e aqueles que se fazem necessários desenvolver. A interação professor-aluno
ou texto-aluno, no entanto, jamais deve apagar as individualidades, a
subjetividade e as reflexões resultantes de cada

discussão sobre um assunto ou de cada leitura de textos. O trabalho


pedagógico deve instaurar um clima, em sala de aula, caracterizado pela
cooperação, reflexão e ampliação de conhecimentos. A palavra do aluno, o
seu dizer, a sua voz não são calados, nesse enfoque, por propostas de
produção que negligenciam o que o aluno tem a dizer.

b) Ter uma razão para dizer o que se tem a dizer


Para que o aluno produza um texto é necessário que haja motivação, ou seja,
são necessárias razões que o levem a encontrar sentido para o seu dizer. Isso
nos leva a indagar sobre o objetivo, sobre o motivo real a que se presta o texto
do aluno.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 72


A questão que se põe aqui é estimular o aluno a expressar seus sentimentos,
seus pensamentos, suas expectativas, seus valores, suas experiências
pessoais, suas opiniões, suas intenções, suas ideias, etc. para que gerem
interações sociais. As razões que levam o aluno a escrever devem, pois, se
relacionar às situações reais de comunicação, ao uso funcional da linguagem
escrita. A resposta à questão que, na prática pedagógica, devemos sempre
formular ―Para que serve o texto que o aluno produz?‖ deve se associar ao uso
prático e à função social da linguagem escrita. Isso se faz, então, através de
propostas concretas e significativas de produção.

Os alunos devem encontrar motivação interna para o trabalho proposto, caso


contrário não realizarão um trabalho, mas uma tarefa a ser cumprida.
Pensamos que essa motivação é despertada quando o aluno pretende
envolver o leitor com o conteúdo de seu texto.

O envolvimento do leitor pode-se dar de várias formas, dependendo da


intenção do autor. Assim, o autor pode ter a intenção de influenciar, informar,
divertir, persuadir, denunciar, desabafar mágoas, exteriorizar emoções,
sentimentos, ideias, exprimir opiniões, participar de uma discussão, intervir
num debate social, registrar suas vivências e experiências concretas, fazer o
leitor agir ou, entre outras possibilidades, simplesmente evocar nele reflexões.

Diante das inúmeras razões possíveis que levam o aluno a dizer o que julga
importante, a prática escolar, calcada nesses moldes, se distancia das
atividades redacionais em que o aluno, obediente à tarefa imposta pelo
professor, procura mostrar que sabe escrever. A situação artificial de se pedir
ao aluno que escreva sobre o que lhe foi ensinado, visando apenas medir o
seu desempenho escrito mediante a busca dos inúmeros erros de grafia,
pontuação, sintaxe, etc., ou pelas inadequações de conteúdos frente ao que
lhe foi transmitido como a única interpretação possível, não oportuniza ao
aluno o domínio das habilidades de uso da língua em situações concretas de
interação, já que o seu texto serve apenas ao propósito da escola e do
professor.

Quando isso se dá, acontece o negligenciamento das características básicas


de emprego da língua escrita, entre elas, o seu papel de mediador das
interações sociais e culturais e a sua finalidade de se dar na interlocução.
Revertendo esse quadro, então, o professor tenciona que o aluno escreva pelo
fato de ele sentir necessidade de querer contar algo vivenciado, de ele
compreender que o seu escrito é uma forma de ação social, pois o seu texto
tem uma finalidade concretamente definida pelo contexto situacional em que
ele se encontra. Quando se busca o texto escrito, preferencialmente a outros
modos de expressão, é preciso que ele se justifique e tenha uma função social.
Só assim ele terá um sentido para o escritor.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 73


c) Ter para quem dizer o que se tem a dizer
Quando discorremos sobre as especificidades da fala em contraposição à
escrita (ver item 2.4), salientamos que as estratégias discursivas utilizadas
numa e noutra sofrem distinções pela questão da interlocução.

Se é sabido que o processo de comunicação pressupõe um interlocutor, tanto


na modalidade oral como na modalidade escrita, a escola deve levar em conta,
no ensino da produção textual, o para quem o aluno escreve seu discurso.

O texto escrito é um mediador de relações que permite a troca e a interação, e


a consciência de sua natureza dialógica é crucial para o seu desenvolvimento.
Uma produção de texto é motivada, caracterizada e condicionada pela imagem
que o locutor tem de seu interlocutor, pois é pensando nele que o aluno adapta
o seu discurso, optando pela melhor maneira de atingir o seu objetivo junto a
ele.

A influência do interlocutor na produção de textos é um fato inquestionável.


Essa assertiva é comprovada por pesquisas. Menegassi (1997), investigando
se a determinação do interlocutor influencia na produção de textos de
professores, atesta a proposição acima. Segundo ele, a determinação de
interlocutores foi refletida nos textos produzidos por três características:
―determinação de uma estrutura textual adequada ao interlocutor delimitado,
emprego de linguagem adequada ao interlocutor e ao órgão de divulgação do
texto e definição das informações a serem apresentadas.‖ Para o autor,
quando não se considera, explicitamente, um interlocutor para o texto
produzido, este apresenta ―muitas informações sobre o tema, generaliza o
interlocutor, tornando-se um texto menos atrativo‖.

É preciso, então, oferecer aos alunos oportunidades de aprenderem a escrever


em condições semelhantes às que caracterizam a escrita fora da escola. Os
usos da escrita fora da escola se associam à questão dos destinatários, que
podem ser pessoas estranhas, definidas, colegas, amigos, familiares, e, até
mesmo o próprio escritor. Neste último, a escrita é instituída como necessidade
própria do escritor. É o caso, por exemplo dos diários, poesias, anotações,
registros de ideias e autoexpressão, etc.

d) Constituir-se como locutor, como sujeito que diz o que diz para
quem diz
Só é possível assumir-se como locutor numa relação interlocutiva. Isso implica
entender que só através dos processos interacionais o aluno conseguirá

Tipologia e Gêneros Textuais Página 74


constituir-se como locutor efetivo, responsabilizando-se e comprometendo-se
com a palavra que dirige ao outro. Por isso, o professor deve envolver o aluno
em situações específicas de interlocução, deixando-o atuar, interagir,
comunicar algo que sente vontade de dizer a alguém por meio da linguagem
escrita.

Posta a questão nesses termos, a produção de textos é vista como uma


possibilidade de fazer com que o aluno construa o seu discurso, em um
contexto social, para interagir com os outros.

Não se trata de preencher as linhas de uma folha em branco com palavras,


ideias e concepções que descaracterizam o aluno como o sujeito de seu dizer,
impossibilitando-lhe o uso da linguagem pelo receio de realmente expor algo
subjetivo e experencial, julgando que a sua história não merece ou não pode
ser contada, já que a situação artificial em que se encontra não lhe permite que
o seu dizer se processe. Ao contrário, quando o aluno produz um texto não
ocorre a simulação da linguagem escrita objetivando prepará-lo para usá-la
depois, em situações reais, que ocorrem fora da escola. Ele produz o seu texto
refletindo sobre o que tem a dizer, expondo a sua subjetividade, mediante
relações de sentido que possui com seu interlocutor, e encarando o seu escrito
como um produto de interação, que julga valoroso e pessoal, em uma situação
significativa que acontece no momento, no agora, e que possui, portanto,
caráter social.

O ensino de produção de textos deve privilegiar a relação interlocutiva como


fator determinante de orientação para o desenvolvimento dos tópicos que a ele
se agrupam e que aqui, estão sendo elucidados. Os saberes e os
conhecimentos do aluno, desta feita, são levados em consideração e se
misturam ao saber do professor. Este, não é visto apenas como o transmissor
do conhecimento e o detentor do saber, mas como o sujeito, assim como o
aluno, participante da interação verbal. Os pontos de vista do professor e do
aluno são confrontados para daí emergir as compreensões dos conceitos, que
estão em permanente elaboração.

O processo de construção de conhecimento, nesses moldes nada tem de


mecânico; o aluno se envolve como sujeito e não como objeto em que se
despejam conhecimentos. A singularidade do sujeito e a história de vida desse
sujeito são postas em relevo para que não se esbarrem no discurso já
formulado, pronto, acabado e aceito como verdadeiro. Nessa perspectiva, o
aluno é considerado um sujeito que pensa, elabora, critica, constrói, cria,
produz e modifica.

e) Escolha das stratégias de escrita

Tipologia e Gêneros Textuais Página 75


A escolha das estratégias para o desenvolvimento do texto não se dá em
abstrato. Elas são selecionadas ou construídas em função tanto do que se tem
a dizer quanto das razões para dizer a quem se diz. As escolhas feitas ao
dizer, ao produzir um discurso, são decorrentes das condições em que o
discurso é realizado.

Isso significa que quando interagimos com alguém por meio da linguagem
escrita, organizamos o nosso discurso a partir dos conhecimentos que
acreditamos nosso interlocutor possuir sobre o assunto tratado, do que
supomos serem suas simpatias e antipatias, suas convicções. Além disso,
levamos em conta a relação de afinidade e o grau de familiaridade que temos
com o interlocutor, e, também, a sua e a nossa posição social.

Na condução do trabalho com a produção de textos, então, privilegia-se a


funcionalidade da escrita no que tange a ter assunto para expor, a ter razões
para expor esse assunto, a ter um interlocutor definido e interessado em ouvir
o locutor e a ter a participação do aluno no processo como locutor efetivo de
seu discurso.

A organização da expressão verbal do aluno, no que se refere à ordem


estrutural, sintática, morfológica, bem como o encaminhamento dos recursos
expressivos e argumentativos que constituem o seu discurso devem atentar
para o uso apropriado e significativo das condições reais da enunciação em
questão. Sendo assim, o professor deve levar o aluno a adquirir presteza no
uso das variadas formas de expressão e fazê-lo conhecer o tipo de texto mais
adequado à situação social em que se encontra. No entanto, não há de
relativizar e impor uma única realidade padronizada, uma única interpretação
estrutural para os fatos linguísticos ressaltados.

Quando o aluno escolhe a sua forma de dizer, acontece a busca, entre as


inúmeras possibilidades oferecidas pela língua, de palavras ou expressões que
anulam as demais. O estoque de signos disponíveis no seu universo linguístico
pode e deve ser explorado e, ainda, aumentado para que ele alcance um
melhor desempenho em sua intenção comunicativa.

Halliday & Hasan (1980), para explicar quais os problemas e resoluções do


redator no ato de escrever, aponta três níveis: interpessoal, ideacional e
textual,

 No nível interpessoal, o redator deverá se decidir sobre quem será o


seu leitor virtual e o que pretende alterar nele através do texto, além de
se decidir sobre o seu papel e o do leitor e sobre qual a sua intenção

Tipologia e Gêneros Textuais Página 76


ilocucionária e qual o efeito perlocucionário2 que se pretende atingir.
Após a eleição desse leitor, o conteúdo e a forma sofrerão restrições,
impostas por essa decisão.

 No nível ideacional, os problemas a serem resolvidos referem-se à


decisão sobre o aproveitamento das ideias e informações extraídas da
mente, passando, em seguida, para a decisão sobre o como organizar
essas ideias formalmente.
 Com relação ao nível textual, as decisões devem levar em conta não
só a estrutura global do texto, mas também do parágrafo, da sentença
e do constituinte. A paragrafação, ainda, é determinada também pelo
cuidado do redator em tornar o texto legível para o seu leitor, além das
decisões quanto aos elementos linguísticos de coesão entre os
parágrafos.

Um escritor competente é alguém que, ao produzir um discurso, conhecendo


possibilidades que estão postas culturalmente, sabe selecionar o gênero no
qual o seu discurso se realizará escolhendo aquele que for apropriado a seus
objetivos e à circunstância enunciativa em questão. Por exemplo: se o que
deseja é convencer o leitor, o escritor competente selecionará um gênero que
lhe possibilite a produção de um texto predominantemente argumentativo; se é
fazer uma solicitação a determinada autoridade, provavelmente redigirá um
ofício; se é enviar notícias a familiares, escreverá uma carta.

Um escritor competente é alguém que planeja o discurso e consequentemente


o texto em função do seu objetivo e do leitor a que se destina, sem
desconsiderar as características específicas do gênero. É alguém que sabe
expressar por escrito seus sentimentos, experiências ou opiniões. É, também,
capaz de olhar para o próprio texto como um objeto e verificar se está confuso,
ambíguo, redundante, obscuro ou incompleto. É capaz de revisá-lo e
reescrevê-lo até considerá-lo satisfatório para o momento.

2
Austin e Searle chamam de ato de fala a toda ação que é realizada através do
dizer. Na frase: "o senhor está pisando no meu pé", realizo ao mesmo tempo três atos
de fala. O primeiro deles é o ato locucionário, ou seja, o ato de dizer a frase. O
segundo ato é o que Austin chama de ilocucionário, o ato executado na fala, ou seja,
ao proferir um ato locucionário. Nesse caso, ao dizer "o senhor está pisando no meu
pé" não tive a simples intenção de constatar uma situação, mas a de protestar ou
advertir para que a outra pessoa parasse de pisar no meu pé. Por fim, há ainda um
terceiro ato, chamado de perlocucionário, que é o de provocar um efeito em outra
pessoa através da minha locução, influenciando em seus sentimentos ou
pensamentos. Na situação descrita, para que o outro tire o pé de cima do meu. Temos
assim o ato locucionário de dizer algo, o ato ilocucionário que realiza uma ação ao ser
dito e o perlocucionário quando há a intenção de provocar nos ouvintes certos efeitos
(convencer, levar a uma decisão etc.).

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Nessa perspectiva, para que os alunos se tornem escritores competentes, o
professor deve colocar as questões centrais da produção desde o início,
mostrando-lhes ―como escrever‖, em função do que ―pretendem dizer e a quem
o texto se destina, já que ―a eficácia da escrita se caracteriza pela aproximação
máxima entre a intenção de dizer, o que efetivamente se escreve e a
interpretação de quem lê.

Mais uma vez, então, faz-se lícito observar que as funções, o funcionamento
da escrita e as condições nas quais os textos escritos são produzidos (para
que, para quem, onde e como se escreve), além da valorização do dizer do
aluno, devem ser considerados na prática de produção de textos escritos e,
consequentemente, na atividade de reescrita desses textos.

3.2 COMO REDIGIR CORRETAMENTE

Enrolar, enfeitar a jogada, enfeitar a noite do meu bem, encher linguiça, são
expressões populares usadas para referir-se ao hábito do uso da retórica na
linguagem. Esta tendência, frequentemente observada em português, é um
vício remanescente de séculos passados, quando a linguagem escrita era uma
arte dominada por poucos e a sua função era predominantemente literária.
Retórica era sinal de erudição, e por vezes a forma chegava a se impor sobre o
conteúdo.

Nos tempos modernos, entretanto, com a internacionalização do mundo e com


o crescente desenvolvimento da tecnologia de comunicação, a funcionalidade
dos idiomas como meios de comunicação clara e objetiva se impõe a tudo
mais, fato este reconhecido também pelos mais respeitados representantes da
língua portuguesa: "A diferença entre o escritor e o escrevedor está sobretudo
na economia vocabular. Conseguir o máximo com o mínimo - eis um sábio
programa." (Celso Luft). No comércio internacional, na imprensa escrita, e nos
meios acadêmicos exige-se cada vez mais clareza. Frases longas, adjetivação
excessiva, tom vago, textos que exigem maior esforço para serem
compreendidos, falta de concisão, todas estas características facilmente são
consideradas pobreza de estilo.

O texto deve ser sempre criado a partir de uma ideia. Em qualquer língua, texto
escrito deve ser sempre o reflexo de uma ideia, que por sua vez origina-se em
fatos do universo. A ideia é sempre anterior ao texto. Se a ideia não for clara, o
texto também não o será.

Há quem diga que esta tendência no português de se ser vago, de se valorizar


uma linguagem afastada dos fatos e maquiada pelas formas, é um hábito
originado nos anos de regime militar, quando jornalistas tinham que informar,

Tipologia e Gêneros Textuais Página 78


mas tinham receio de se comprometer. A "liberdade vigiada" daqueles anos de
regime de exceção exigia um subterfúgio, uma linguagem não-explícita, cuja
mensagem ficasse por conta da capacidade de imaginação do leitor.

Já outros acreditam serem as raízes mais profundas. Evocam o período


colonial do Brasil, quando o trabalho era responsabilidade da mão de obra
escrava, e a classe letrada dedicava muito tempo burilando textos que
valorizavam a estética e o subjetivismo, num mundo que ainda se comunicava
muito através da literatura.

Outros vão mais longe ainda. Afirmam que, há mais de 20 séculos, diferenças
sociais e culturais já marcavam contrastes. Enquanto o Império Romano da
língua latina mantinha seu apogeu pela força militar, permitindo a existência de
classes eruditas que podiam se dedicar às artes e às letras, quando meio
século antes de Cristo o orador Cícero já se dedicava à crítica literária e ao
estudo de retórica e o poeta Virgílio destilava seu lirismo profetizando com
eloquência o destino de Roma no mundo, os povos bárbaros de línguas
germânicas encontravam-se ou guerreando ou trabalhando para sobreviver e
pagar impostos ao Império, sem tempo para as artes, e usando uma linguagem
de comunicação clara e objetiva, sintonizada em fatos concretos e nos
afazeres do dia a dia.

Seja qual for a origem, o fato é que hoje, em plena era da informação, num
mundo que se transforma numa comunidade cada vez mais interdependente e
que se comunica cada vez mais, tendências idiomáticas contrastantes
representam um empecilho para ambos os lados. Nunca o mundo se
comunicou tanto, nunca o tempo foi tão curto para tanta informação, e portanto
nunca a objetividade na linguagem foi tão necessária.

3.2.1 QUALIDADES DO TEXTO


É importante ressaltar que a palavra qualidade não contém, aqui, nenhum juízo
de valor preso à produção artística do texto. Entende-se por qualidades do
texto as características que ele deve apresentar para cumprir seu objetivo
primordial - a comunicação:
Coesão: ligação lógica entre as palavras, orações, períodos, parágrafos; todas
as suas partes devem articular-se para formar uma unidade, onde tudo gira em
torno de uma ideia principal.
Clareza: o texto deve também ser claro, para que o pensamento expresso
possa ser captado sem problemas pelo leitor.
Concisão: é a qualidade que o texto apresenta quando comunica o essencial,
sem se perder em palavras supérfluas, adjetivação excessiva e períodos
extensos,
Adequação ao tema: em que medida o texto produzido corresponde ao tema
proposto; deve existir, entre tema e texto, uma "unidade de sentido";

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Adequação à técnica de composição solicitada: o texto deverá apresentar
as principais características de uma narrativa, descrição ou dissertação,
dependendo do caso;
Adequação à linguagem escrita: o texto deverá estar de acordo com o ''estilo
escrito e formai'' e respeitar as regras gramaticais, o sistema ortográfico, assim
como o uso adequado da pontuação;
Senso crítico: até que ponto o produtor do texto expressa ideias próprias,
fruto da reflexão sobre o assunto e de sua postura diante da realidade.

O texto não nasce "pronto". Ele é resultado de um trabalho quase exaustivo,


um trabalho não só mental, mas, principalmente, físico, no sentido de que o
texto é feito, refeito, emendado, na procura da melhor forma para expressar a
mensagem que se quer transmitir.

3.2.2 DESVIOS DE LINGUAGEM


Grafia - tome cuidado com a grafia de palavras que não conheça. Em caso de
dúvidas, consulte o dicionário. Se não for possível, substitua a palavra por
outra cuja grafia você conheça. Não se esqueça de verificar a acentuação das
palavras.
Flexão das palavras - cuidado com a formação do plural de algumas palavras,
sobretudo as compostas (primeiro-ministro, abaixo-assinado, luso-brasileiro,
etc.)
Concordância - lembre-se de que o verbo sempre concordará com o sujeito e
os nomes devem estar concordando entre si.
Regência - fique atento à regência de verbos e nomes, sobretudo daqueles
que exigem a preposição a, a fim de não cometer erro no emprego da crase.
Colocação dos pronomes - observe a colocação dos pronomes oblíquos
átonos (me, te, se, nos, lhe, o, a, os, as).

3.2.3 ETAPAS NA ATIVIDADE REDACIONAL


 reflita muito sobre o assunto;
 registre as ideias à medida que forem surgindo;
 selecione e ordene as ideias;
 desenvolva o tema no rascunho, preocupando-se, especialmente, com
o conteúdo;
 melhore a redação, eliminando tudo o que é supérfluo e corrigindo os
"senões" gramaticais;
 refaça o rascunho tantas vezes quantas necessárias na busca de uma
forma adequada ao conteúdo;
 ao fazer a redação definitiva, observe os cuidados enumerados no item
estética.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 80


3.2.4 TEXTOS DE PREDOMINÂNCIA ARGUMENTATIVA E
EXPOSITIVA
Para estes tipos de textos, que exigem maior formalidade e objetividade,
alguns fatores devem ser examinados:

1. O PARÁGRAFO
O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apresentar: uma frase
contendo a ideia principal (frase nuclear) e uma ou mais frases que explicitem
tal ideia. Exemplo: "A televisão mostra uma realidade idealizada (ideia central)
porque oculta os problemas sociais realmente graves.‖ (ideia secundária)
O parágrafo pode processar-se de diferentes maneiras:
I – Enumeração - Caracteriza-se pela exposição de um série de coisas, uma a
uma. Presta-se bem à indicação de características, funções, processos,
situações, sempre oferecendo o complemente necessário à afirmação
estabelecida na frase nuclear. Pode-se enumerar, seguindo-se os critérios de
importância, preferência, classificação ou aleatoriamente.
Exemplo - O adolescente moderno está se tornando obeso por várias causas:
alimentação inadequada, falta de exercícios sistemáticos e demasiada
permanência diante de computadores e aparelhos de TV.

II - Comparação - A frase nuclear pode-se desenvolver através da


comparação, que confronta ideias, fatos, fenômenos e apresenta-lhes as
semelhanças ou dessemelhanças. Exemplo: "A juventude é uma infatigável
aspiração de felicidade; a velhice, pelo contrário, é dominada por um vago e
persistente sentimento de dor, porque já estamos nos convencendo de que a
felicidade é uma ilusão, que só o sofrimento é real." (Arthur Schopenhauer)

III - Causa e consequência - A frase nuclear, muitas vezes, encontra no seu


desenvolvimento um segmento causal (fato motivador) e, em outras situações,
um segmento indicando consequências (fatos decorrentes) . Exemplo: O
homem, dia a dia, perde a dimensão de humanidade que abriga em si, porque
os seus olhos teimam apenas em ver as coisas imediatistas e lucrativas que o
rodeiam. O espírito competitivo foi excessivamente exercido entre nós, de
modo que hoje somos obrigados a viver numa sociedade fria e inamistosa.

IV - Tempo e espaço - Muitos parágrafos dissertativos marcam temporal e


espacialmente a evolução de ideias, processos.
Exemplo: Tempo - A comunicação de massas é resultado de uma lenta
evolução . Primeiro, o homem aprendeu a grunhir. Depois deu um significado a
cada grunhido. Muito depois, inventou a escrita e só muitos séculos mais tarde
é que passou à comunicação de massa.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 81


Espaço - O solo é influenciado pelo clima. Nos climas úmidos, os solos são
profundos. Existe nessas regiões uma forte decomposição de rochas, isto é,
uma forte transformação da rocha em terra pela umidade e calor. Nas região
temperadas e ainda nas mais frias, a camada do solo é pouco
profunda.(Melhem Adas)

V - Explicitação - Num parágrafo dissertativo, pode-se conceituar, exemplificar


e aclarar as ideias para torná-las mais compreensíveis. Exemplo : "Artéria é
um vaso que leva sangue proveniente do coração para irrigar os tecidos.
Exceto no cordão umbilical e na ligação entre os pulmões e o coração, todas
as artérias contém sangue vermelho-vivo, recém oxigenado. Na artéria
pulmonar, porém, corre sangue venoso, mais escuro e desoxigenado, que o
coração remete para os pulmões para receber oxigênio e liberar gás
carbônico."

2. DIFERENÇA ENTRE TEMA E TÍTULO


O tema e o título são, com muita frequência, empregados como sinônimos.
Contudo, apesar de serem partes de um mesmo tipo de composição, são
elementos bem diferentes. O tema é o assunto, já delimitado, a ser abordado,
a ideia que será por você defendida e que deverá aparecer logo no primeiro
parágrafo. Já o título é uma expressão, ou até uma só palavra, centrada no
início do trabalho; ele é uma vaga referência ao assunto (tema). Veja a
diferença entre os dois nos exemplos abaixo:
Título: A cidade e seus problemas
Tema: A cidade de São Paulo enfrenta atualmente grandes problemas.

Título: A importância da Península Arábica


Tema: Entendemos que a comunidade internacional deva preocupar-se com os
acontecimentos que envolvam a Península Arábica, já que grande parte do
petróleo que o mundo consome sai desta região.

Título: A criança e a televisão


Tema: Psicólogos do mundo todo têm se preocupado com a influência que
determinados programas de televisão exercem sobre as crianças.

Note que o tema, na verdade, como já mencionamos acima, é a delimitação de


determinado assunto. Isso é necessário, pois um assunto pode ser muito
extenso e, nesse caso, ao abordá-lo, você poderá se perder em sua extensão.
Peguemos o assunto "ensino" como exemplo. Há muito o que escrever sobre
ele, por isso convém delimitá-lo. Desse modo, obtém-se o tema. Logo, para
cada assunto, há inúmeros temas.

3. O TEOR

Tipologia e Gêneros Textuais Página 82


Abaixo seguem algumas dicas para melhorar os textos de predominância
argumentativa e expositiva.

Não utilize sua dissertação para propagar doutrinas religiosas. A religião,


qualquer que seja ela, é uma questão de fé; argumentação, por sua vez, deve
basear-se na lógica. São, portanto, duas áreas situadas em planos diferentes.
Não há como argumentar de modo convincente com base em dogmas
religiosos; os preceitos da fé independem de provas ou evidências
constatáveis. Torna-se, assim, complemente descabido fundamentar qualquer
tema dissertativo em ideias que se situem em um plano que transcende a
razão.

Jamais analise os temas propostos movido por emoções exageradas.


Existem, sem dúvida, alguns temas dque envolvem a análise de assuntos
dramáticos, os quais comumente causam revolta e indignação pela própria
gravidade de sua natureza. Porém, por mais revoltante que se mostre o
assunto tratado, ele deve ser abordado de modo, se não imparcial, pelo
menos comedido. Em outras palavras, não devemos deixar nossas emoções
interferirem demasiadamente na análise equilibrada e objetiva que precisa
transparecer nestes textos, mesmo porque elas impedem que ponderemos
outros ângulos da questão. Só assim, com a predominância da argumentação
lógica, ela se mostrará convincente.

Não use expressões populares e cristalizadas pela população.


Estes textos são característicos de trabalho técnico, portanto não se admitem
expressões populares. Expressões cristalizadas são frases comuns a qualquer
cidadão, de qualquer nível cultural.

Evite clichês (lugares comuns) e frases feitas.


Exemplos: ―subir os degraus da glória‖, "fazer das tripas coração", "encerrar
com chave de ouro", ―silêncio mortal", "calorosos aplausos", "mais alta estima".

Não utilize exemplos contando fatos ocorridos com terceiros, que não
sejam de domínio público.
É um procedimento perfeitamente normal lançarmos mão de exemplos que
reforcem os fatos arrolados neste tipo de texto. Entretanto, estes exemplos
devem ser de conhecimento público, ou seja, fatos que todos conheçam por
terem sido divulgados pelos meios de comunicação (jornais, rádios, televisão,
etc.)

Não faça afirmações incoerentes.


Exemplo: Os jovens estão totalmente sem informações hoje...; Ninguém gosta
de ler...; Não há escritores bons hoje em dia....
A incoerência também demonstra falta de conhecimento.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 83


Não use a palavra eu nem a palavra você.
Prefira nós (plural majestático) ou verbo+se.

Tente não analisar os assuntos propostos sob apenas um dos ângulos da


questão.
Uma boa análise global do problema ajuda a desenvolver melhor o tema.

Não fuja ao tema proposto.


Quando você receber um tema para desenvolver, leia-o com atenção sobre o
que se pede. Jamais fuja do assunto solicitado, mesmo que seus
conhecimentos sobre ele sejam mínimos. Não é difícil entendermos o quanto
seria absurdo alguém falar sobre os acidentes ocorridos em usinas nucleares
em várias partes do mundo quando o tema pedido fosse o problema dos
menores abandonados no Brasil.

Distribua em parágrafos diferentes ideias igualmente relevantes


O Brasil de hoje empenha-se, com intenso esforço, na tarefa de vencer o seu
subdesenvolvimento crônico. Muitos obstáculos, contudo, se opõem a esse
propósito. Problemas inadiáveis, de importância fundamental, impedem o
progresso do país. O crescimento industrial e a exploração de novas fontes de
riqueza estão a exigir uma elite de técnicos capazes de realmente acionar o
aproveitamento de novas potencialidades econômicas em benefício do
progresso nacional. As universidades vêm falhando lamentavelmente em
virtude de sua incapacidade de prover a formação de técnicos de alto nível.
Seus currículos desatualizados, a precariedade dos laboratórios, a ausência do
espírito de pesquisa, o desamparo das autoridades, que se viciaram na rotina
burocrática, e outros fatores constituem óbices ao preparo de profissionais
capazes.
(Revisão) O Brasil de hoje empenha-se, com intenso esforço, na tarefa de
vencer o seu subdesenvolvimento crônico. Muitos obstáculos, contudo, se
opõem a esse propósito. Problemas inadiáveis, de importância fundamental,
impedem o progresso do país.
O crescimento industrial e a exploração de novas fontes de riqueza estão a
exigir uma elite de técnicos capazes de realmente acionar o aproveitamento de
novas potencialidades econômicas em benefício do progresso nacional.
As universidades vêm falhando lamentavelmente em virtude de sua
incapacidade de prover a formação de técnicos de alto nível. Seus currículos
desatualizados, a precariedade dos laboratórios, a ausência do espírito de
pesquisa, o desamparo das autoridades, que se viciaram na rotina burocrática,
e outros fatores constituem óbices ao preparo de profissionais capazes.

Não fragmente uma ideia núcleo em vários parágrafos

Tipologia e Gêneros Textuais Página 84


Diversos fatores têm sido responsáveis pelas transformações que se estão
verificando na região de colonização estrangeira.
O rádio é um deles; o cinema, outro; a facilidade de transportes, com estradas
e veículos, igualmente.
(Revisão) Diversos fatores têm sido responsáveis pelas transformações que se
estão verificando na região de colonização estrangeira. O rádio é um deles; o
cinema, outro; a facilidade de transportes, com estradas e veículos,
igualmente.

Não generalize; seja específico


Utilize argumentos concretos, fatos importantes. Um texto cheio de
generalizações demonstra a falta de cultura de seu autor, a falta de
conhecimentos gerais, a falta de contato com a realidade atual. Para evitar
esse problema, leia bastante; leia jornais, revistas, livros; assista a programas
de reportagens, a filmes; interesse-se pela cultura; alimente sua inteligência.

Não faça parágrafos muito curtos nem muito longos


O ideal seria que os parágrafos contivessem, no mínimo, 4 linhas e, no
máximo, 7 linhas.

Evite frases entrecortadas


Saí de casa hoje de manhã muito cedo. Estava chovendo. Eu tinha perdido o
guarda-chuva. O ônibus custou a chegar. Eu fiquei todo molhado. Apanhei um
bruto resfriado.
(Revisão) Quando saí de casa hoje de manhã muito cedo, estava chovendo.
Como tinha pedido o guarda-chuva e o ônibus custasse a chegar, fiquei todo
molhado e apanhei um bruto resfriado.

3.3.4 DICAS PARA BEM ESCREVER


1. PALAVRAS ―RARAS‖, PALAVRAS ―DIFÍCEIS‖
Às vezes, basta apenas uma palavra desconhecida ou pouco conhecida para
transformar alguns leitores em ignorantes. Observe
1. O agravo interceptou a questão e a parte foi absoluta.
2. Os elementos dêiticos são seminais para a coesão textual.
3. O daguerreótipo esmaeceu e findou subtraído de seu brilho argênteo.
4. Nós, os nefelibatas, adoramos a maneira alambicada do ínclito presidente
usar a língua.
Palavras raras são aquelas de uma área específica de conhecimento usadas
sem maiores explicações. Esse é o caso de termos jurídicos (agravo e parte),
termos da linguística, (elementos dêiticos, coesão textual), palavras em
desuso (daguerreótipo, ínclito), palavras com radicais gregos e latinos
(argênteo, nefelibatas)
Veja suas reescritas:

Tipologia e Gêneros Textuais Página 85


1. O recurso contra a decisão judicial foi aceito e o réu, absolvido.
2. Os pronomes demonstrativos e os advérbios de tempo e lugar são
importantes para a unidade de um texto.
3. A antiga imagem fotográfica sobre película de metal desbotou e foi perdendo
seu brilho prateado.
4. Nós, os literatos que desprezamos as coisas simples, gostamos da maneira
pretensiosa com que o presidente usa a língua portuguesa.

Outro exemplo:
Sobre a iluminação de Palmeira dos Índios, Graciliano Ramos escreveu assim,
em seu famoso relatório: A iluminação da cidade custou oito contos de réis. Se
é muito, a culpa não é minha: é de quem fez o contrato com a empresa
fornecedora.

Se quisesse amolar o leitor, ele poderia ter escrito: A conjuminação de fótons e


elétrons exigiu do executivo desta municipalidade e de seus munícipes
dispêndios vultosos, não por incúria do alcaide, ora escriba desta exposição de
atividades administrativas, mas por conduta negligente daquele que celebrou
contrato sinalagmático com o conglomerado empresarial propiciador do
supracitado benefício de âmbito público.

Com um dicionário na mão, é fácil construir textos ilegíveis, como:


O arcediago proibiu o circunvagar das hetairas pelo transepto da catedral.
O geófago atirou-se vorazmente à poiquilítica rocha.
Esse poetastro é abléptico.

―Tradução‖ possível das frases:


O padre proibiu a circulação de prostitutas pela nave da igreja.
O comedor de terra atirou-se vorazmente à rocha colorida.
Esse falso poeta é cego.

Observe o que pode ser feito com um versinho popular:


Na eventualidade da ocorrência de um processo energético de brotamento
vegetativo, caracteriza-se por movimentos aleatórios de expansão horizontal
de suas ramificações, sobre solo, nas mais diversas direções, a espécie
Sotanum tuberosum‖.

Esse período de 32 palavras é uma versão empolada de um singelo versinho


de seis palavras: ―Batatinha, quando nasce, esparrama pelo chão.‖

2. COMO SUBSTITUIR PALAVRAS

A maioria de nós tem apego às palavras que costuma usar. Na verdade, quase
ninguém gosta de abandonar suas palavras preferidas. No entanto, para que

Tipologia e Gêneros Textuais Página 86


um texto informativo seja lido com facilidade, é preciso que o redator coloque o
interesse do leitor acima de seu apego por certas palavras.

O uso de palavras difíceis é bem visto em certos círculos sociais e pode até ser
confundido com marca de boa cultura. No entanto, na hora de escolher
palavras, todo cuidado é pouco, porque é muito fina a linha que separa o
exibicionismo do uso preciso. O uso exibicionista de palavras difíceis costuma
indicar que a pessoa é ingênua ou quer excluir leitores.

Dispostos a abrir mão de nossas preferências, em favor do leitor, podemos


começar a procurar no texto as palavras e expressões que serão substituídas
por outras mais simples e mais curtas.

Algumas palavras são modismos na política, na imprensa, na universidade e


em outros ambientes. Quase todas são longas ou carecem de exatidão. Veja
exemplos que podem servir de alerta e de inspiração
articular — fazer, preparar, organizar
transparência — honestidade
contabilizar — calcular, somar
enfoque — ponto de vista
finalizar — acabar, terminar
implementar — fazer, realizar, pôr em prática
implementação — execução, realização
agudizar — complicar, piorar
alavancar — apoiar, sustentar, impelir, impulsionar
desvincular — separar
embasamento — base, fundamentação
equacionar — apresentar
viabilizar — realizar, fazer, tornar possível
inviabiIizar — impedir, dificultar
otimizar — aumentar, melhorar
posicionamento — tomada de posição
sucateamento — destruição, desmonte
mapeamento — lista
problematizar — indagar, debater
veicular — transmitir

Substituir expressões longas por outras mais curtas e equivalentes:


a fim de — para
com relação a — sobre
travar uma discussão — discutir
alcançar uma vitória eleitoral — ganhar as eleições
não rejeitar — aceitar
não discordar — concordar

Tipologia e Gêneros Textuais Página 87


não impedir — permitir
no sentido de — para

Palavras estrangeiras são conhecidas por poucos. Elas só serão reconhecidas


instantaneamente por quem conhece bem a língua original. Não pense que
todo mundo sabe inglês, francês e latim. Nem sempre se encontra uma palavra
mais simples e mais curta para substituir tais palavras. Opte pelo mais simples
e conhecido, mesmo que seja mais longo. O simples e conhecido facilita uma
leitura mais rápida. Exemplos de palavras a substituir: a priori, follow-up,
downsízing, status quo, sine die, input, en passant, fastfood, online, sine qua
non, per capita, delivery.

3. NÃO ESCREVER PERÍODOS MUITO CURTOS NEM MUITO


LONGOS

Evite mais de dois períodos por linha, ou seja, não coloque mais do que dois
pontos finais em uma mesma linha. Evite escrever mais de duas linhas sem um
ponto final sequer. Quanto mais comprida for a frase, menor a possibilidade
de ser retida inteira na memória, menor sua legibilidade. A memória também
grava melhor o que vem no início da frase e por isso convém colocar as
informações mais importantes no começo, usar ordem direta. As frases
organizadas da maneira mais familiar também são mais fáceis de ler. Por isso,
dê preferência a frases afirmativas e na voz ativa. Os períodos difíceis de ler
são os longos, cheios de palavras raras e inúteis, construídos em ordem
inversa, recheados de intercalações. ara obter frases mais curtas e mais
fáceis de ler, podemos mexer nas palavras e na própria estrutura da oração.

Estratégias da frase fácil de ler


 Colocar as informações mais importantes no início da frase.
 Evitar intercalações.
 Preferir frases afirmativas e na voz ativa.
 Anunciar as enumerações.
 Eliminar fileirinhas de ―de‖

 Colocar as informações mais importantes no início da frase


Coloque as informações mais importantes no início da frase porque a memória
retém com mais facilidade o que vem no começo da frase. Isso quer dizer: use
ordem direta. Ou seja, coloque o sujeito antes do predicado, a oração principal
antes da oração subordinada, o principal antes do acessório, a causa antes do
efeito.

 Usar ordem direta


O período abaixo, publicado em um grande jornal, tem 46 palavras, mais do
dobro do que seria aceitável, e está em ordem inversa:

Tipologia e Gêneros Textuais Página 88


Apesar dos riscos dos impactos negativos que, certamente, a economia
poderia sofrer por causa de eventuais e imprevisíveis problemas na conjuntura
externa, que retardariam o processo de desenvolvimento, a sociedade não
pode deixar escapar a oportunidade de levar o País a retomar o rumo de
crescimento.

Veja a seguir, os elementos que julgamos desnecessários. Se eles forem


retirados, o período fica com 27 palavras:
Apesar dos riscos por problemas na situação econômica externa, que
retardariam o desenvolvimento, a sociedade deve aproveitar a oportunidade de
levar o País a retomar o crescimento.

Compare: O termo conjuntura foi substituído por situação. A expressão


negativa não pode deixar escapar ficou positiva e mais curta: deve aproveitar.

Outro exemplo - O sujeito está no fim do período


Apesar dos riscos por problemas na situação econômica externa, que
retardariam o desenvolvimento, a sociedade deva aproveitar a oportunidade de
levar o País a retomar o crescimento.

Em seguida, podemos ler o mesmo período em ordem direta:


A sociedade deve aproveitar a oportunidade de levar o País a retomar o
crescimento, apesar dos riscos por problemas na situação econômica externa,
que retardariam o desenvolvimento.

 Evitar intercalações
No versinho ―Batatinha, quando nasce, esparrama pelo chão‖, existe uma
intercalação curta (quando nasce) entre o sujeito (batatinha) e o predicado
(esparrama pelo chão).

Uma intercalação curta, como a do exemplo, não atrapalha a leitura. Convém


evitar intercalações de mais de oito palavras, porque elas encompridar as
frases e separam pares que devem vir juntos para serem lidos com facilidade.

O sujeito deve vir junto do verbo, o objeto deve ser colocado logo depois do
verbo. Quando esses elementos são separados por intercalações longas, o
leitor demora para completar o sentido e se aborrece, porque precisa reler a
frase.

Intercalações aceitáveis são sempre curtas. Veja alguns exemplos:


a) O Ministério da Saúde decidiu criar uma comissão para estudar a DCJ,
Doença de Creutzfeldt-Jakob, e melhorar as condições de diagnóstico
dessa doença no Brasil.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 89


b) Na empresa britânica St. Luke‘s, os funcionários — 127 atualmente —
trabalham num espaço coletivo e a cada ano recebem um número fixo
de ações.

Agora, veja o efeito da intercalação de dezesseis palavras que está separando


sujeito ―A Globo‖ do predicado ―pode disputar etc‖.:
A Globo — mesmo sendo usuária dos satélites da Embratel para a transmissão
dos programas de sua rede nacional para televisão — pode disputar a compra
de ações dessa empresa.

Período reconstruído: A Globo pode disputar a compra de ações da Embratel


mesmo sendo grande usuária dos satélites dessa empresa para transmissão
dos programas de sua rede nacional de televisão.

Outro exemplo:
Em 1999, a Instrução Normativa 40 da Receita Federal — fruto do diálogo
entre autoridades alfandegárias e museus, produtores culturais e empresas
especializadas em despacho aduaneiro de bens culturais — aperfeiçoou
sensivelmente o processo de intercâmbio cultural do Brasil com o exterior.

Período reconstruído: Em 1999, a Instrução Normativa 40 da Receita Federal


aperfeiçoou sensível mente o processo de intercâmbio cultural do Brasil com o
exterior. O teor da instrução foi fruto do diálogo entre autoridades alfandegárias
e museus, produtores culturais e empresas especializadas em despacho
aduaneiro de bens culturais.

A seguir, o período mais curto traz uma intercalação e o outro traz duas, uma
dentro da outra:
Coisas aparentemente complicadas, como a noção exata do que são as
potências de dez — medidas para entender a vastidão do espaço cósmico ou a
pequenez do mundo subatômico —, viram brincadeira de criança na mão de
Martin Rees.

Período reconstruído: Coisas aparentemente complicadas viram brincadeira de


criança na mão de Martin Rees. É o caso, por exemplo, das potências de dez,
medidas para entender a vastidão do espaço cósmico ou a pequenez do
mundo subatômico.

Outro exemplo:
O assassínio do presidente Kennedy, naquela triste tarde de novembro,
quando percorria a cidade de Dallas, aclamado por numerosa multidão,
cercado pela simpatia do grande Estado do Texas, terra natal, aliás de
seu sucessor, o Presidente Johnson, chocou a humanidade inteira não só
pelo impacto emocional provocado pelo sacrifício do jovem estadista

Tipologia e Gêneros Textuais Página 90


americano, tão cedo roubado à vida, mas também por uma espécie de
sentimento de culpa coletiva, que nos fazia, por assim dizer, como que
responsáveis por esse crime estúpido, que a História, sem dúvida, gravará
como o mais abominável do século. [93 palavras]

Período reconstruído: O assassínio do presidente Kennedy chocou a


humanidade inteira não só pelo impacto emocional, mas também por uma
espécie de sentimento de culpa coletiva pelo crime que a História, sem dúvida,
gravará como o mais abominável do século. [38 palavras]

 Anunciar a enumeração
Para ajudar o leitor a predizer o sentido de uma enumeração, o melhor é
anunciar o que unifica a lista e somente depois apresentar os elementos.
Helena escreveu cinco palavras que não contêm a vogal i: ovelha, régua,
alface, beterraba e asfalto.

Quando se quer enumerar muitos elementos isolados, fazer uma lista é uma
boa solução: Alguns signos do horóscopo chinês são: dragão, gato, cabra,
serpente, boi, rato.

Os elementos de enumeração podem ser apresentados entre vírgulas, se


forem poucos e compostos por expressão ou frase curta. Nesse caso, convém
adiantar ao leitor o número de elementos da enumeração e procurar não
ultrapassar o limite de 22 palavras.
Ex: Três sinais frequentes de hiperatividade em crianças são: dificuldade de
concentração, inquietação constante e esquecimento de tarefas cotidianas.

 Eliminar as fileirinhas de ―de‖


A fileirinha de ―de‖ costuma ser usada para construir sujeitos intermináveis que
dificultam a leitura. Hoje em dia é muito comum encontrar períodos que
começam com fileirinhas de ―de‖:
O funcionamento da grande maioria das instituições de amparo aos menores
do Brasil é precário.

Olhando esse período, você vê um enorme sujeito de treze palavras, redigido


com uma fileirinha de ―de‖.

Agora compare: A grande maioria das instituições de amparo aos menores


funciona precariamente no Brasil.

Transformar substantivos e adjetivos em verbos é o segredo para desmontar


fileirinhas de ―de‖, bem ou mal-intencionadas. Escrever duas frases em vez de
uma também ajuda. Observe o exemplo, em que se passa de seis ―de‖ para
apenas três:

Tipologia e Gêneros Textuais Página 91


A obesidade é um distúrbio do estado nutricional que se refere a um aumento
do tecido adiposo, reflexo do excesso de gordura resultante do balanço
positivo de energia na relação ingestão-gasto calórico.

Veja: A obesidade é um distúrbio nutricional que se refere a um aumento do


tecido adiposo. Esse aumento reflete o excesso de gordura produzido por
ingestão de calorias maior que o gasto.

REDUNDÂNCIAS ( ―A coisa mais difícil do mundo é dizer pensando o


que todos dizem sem pensar‖. Émile Auguste Chartier Alain)

Quantas vezes já ouvimos alguém dizer que houve um "consenso geral"? Ora,
consenso é a opinião geral. É o mesmo problema que ocorre com a "opinião
individual de cada um" e com a "unanimidade de todos". "Encarar cara a cara",
"repetir de novo", "enfrentar de frente". Não é raro ouvirmos que alguém "subiu
lá em cima" ou "saiu lá fora". Certamente, reconhecemos tais formas como
viciosas, e, muitas vezes, elas se transformam em motivo de riso. Ao nível
culto da língua, são inadmissíveis. Que pensar de alguém que tenha sofrido
uma "hemorragia de sangue" ou participado de um "plebiscito popular"?

Acabamento final, agora já, ainda ... mais (ainda deverá demorar mais dez
dias), alocução breve (é breve por definição), conclusão final (a menos que
tenham existido outras, parciais), continuar ainda, conviver junto, entrar dentro
ou para dentro, erário público, estrelas do céu, ganhar grátis, há ... atrás (use
há tantos anos ou tantos anos atrás), hábitat natural, inaugurar novo, já ... mais
(use já não há e nunca "já não há mais"), labaredas de fogo, manter o mesmo
(pode-se manter outro?), países do mundo, relações bilaterais entre os dois
países, sair fora ou para fora, sua autobiografia, surpresa inesperada,
experiência anterior, manter o mesmo, ganhar grátis. Ainda continua? As duas
palavras falam de continuidade. Melhor ficar com uma ou outra (ele continua
gripado, ele ainda está gripado).

Todo general é do Exército. Todo brigadeiro, da Aeronáutica. Todo almirante,


da Marinha. Todo país, do mundo. Toda viúva, do falecido. Só há labaredas de
fogo. Só existem goteiras no teto. Monopólio, exclusivo. Planos ou projetos,
para o futuro. Criar? Só pode ser algo novo. Encarar? Só de frente. Exultar? Só
de alegria. Todos são unânimes? Todos são todos. Unânimes são todos.
Escolha um ou outro: Todos concordaram. A decisão foi unânime.Além de
fazer frio, também chove? Nem pensar. Decida-se. Fique com o além. Ou com
o também. Além de fazer frio, chove. Faz frio e também chove.

4. PARALELISMO

Tipologia e Gêneros Textuais Página 92


―Não se podem coordenar duas ou mais orações, ou termos delas, que não
comportem constituintes do mesmo tipo, que não tenham a mesma
estrutura interna e a mesma função gramatical‖.
Otto M. Garcia in Comunicação em Prosa Moderna

O que se denomina paralelismo sintático é um encadeamento de funções


sintáticas idênticas ou um encadeamento de orações de valores sintáticos
iguais. Orações que se apresentam com a mesma estrutura sintática externa,
ao ligarem-se umas às outras em processo no qual não se permite estabelecer
maior relevância de uma sobre a outra, criam um processo de ligação por
coordenação. Diz-se que estão formando um paralelismo sintático.
Em suas ultimas edições, vestibulares importantes têm abordado a
necessidade de manutenção do ―paralelismo sintático‖. Vejamos como
exemplo uma questão da Fuvest, baseada neste fragmento de texto
jornalístico:
―Amantes dos antigos bolachões penam não só para encontrar os discos, que
ficam a cada dia mais raros. A dificuldade aparece também na hora de trocar a
agulha ou levar o toca- discos para o conserto.‖

A questão foi dividida em dois itens. No primeiro, pedia-se o seguinte: ―Tendo


em vista que no texto acima falta paralelismo sintático, reescreva-o em um só
período, mantendo o mesmo sentido e fazendo alterações necessárias para
que o paralelismo se estabeleça‖. No segundo item, a banca pedia aos
candidatos que justificassem as alterações efetuadas.

Quando se diz que alguém ―pena não só para…‖, espera-se que a sequência
seja ―mas também para… (ou ―como também para…‖). No trecho em questão,
afirma-se que os amantes dos antigos bolachões ―penam não só para
encontrar os discos‖, mas não se fecha com ―mas também‖ ou ―como também‖
o que se iniciou com ―não só‖. O primeiro período é encerrado abruptamente
em ―raros‖, e a adição iniciada em ―não só‖ é concluída no segundo período.
Trocando em miúdos: quando se diz que determinada pessoa ―não só
trabalha‖, espera-se que se diga em seguida outra(s) atividade(s) ela exerce
(―Fulano não só trabalha , mas/como também estuda‖, por exemplo).

Convém notar a grande ―dica‖ que a banca dá aos candidatos (―… reescreva-o
em um só período…‖). Justamente por encerrar um período que não poderia
ser encerrado ali, o ponto final empregado depois de ―raros‖ é o primeiro dos
vilões do fragmento jornalístico em que se baseia a questão.

Amantes dos antigos bolachões penam não só para encontrar discos, que
ficam a cada dia mais raros, mas/como também …, E agora? Qual a
sequência? Não se esqueça que se os amantes dos bolachões penam não só
para isto, penam não só para isto, mas/como também para aquilo. Para manter

Tipologia e Gêneros Textuais Página 93


o paralelismo, é fundamental que se empregue novamente a preposição
―para‖. Assim:
―Amantes dos antigos bolachões penam não só para encontrar os discos, que
ficam a cada dia mais raros, mas/como também para trocar a agulha ou levar o
toca-discos par o conserto.‖

Em outra de suas provas, a Fuvest voltou a abordar o assunto. Na questão,


uma das frases (também tirada de um texto jornalístico) era esta: ―Funcionários
cogitam uma nova greve e isolar o governador‖. Onde está o nó? Está no que
cogitam os funcionários: greve e isolar.

―Greve‖ é substantivo; ―isolar‖ é verbo. Para que se estabeleça o paralelismo,


basta dar a ―cogitam‖ dois complementos simétricos, paralelos (dois
substantivos ou dois verbos): ―Funcionários cogitam fazer nova greve e isolar o
governador‖; ―Funcionários cogitam nova greve e isolamento do governador‖.

É obvio que a manutenção do paralelismo sintático faz todo o sentido do


mundo quando se trata de linguagem escrita formal. Em textos literários, o
assunto é absolutamente impertinente. Muitas vezes, é justamente na ausência
de paralelismo ou simetria que reside o encanto de certos textos. Um ótimo
exemplo disso se vê em ―Perdi o bonde e a esperança‖, em que Drummond
emprega um concreto (―bonde‖) e um abstrato (―esperança‖) como
complementos de ―perdi‖.

Veja outros exemplos:


Ela vende balas e biscoitos.
Os termos coordenados são: ―balas‖ e ―biscoitos‖. Esses termos estão unidos
pela conjunção ―e‖ e apresentam a mesma função sintática na sentença:
ambos são objetos do verbo ―vender‖. O paralelismo sintático encontra-se na
semelhança dos termos coordenados: veja que tanto a palavra ―balas‖ quanto
a palavra ―biscoitos‖ são expressões nominais simples, ou seja, elas se
apresentam, na sentença, em uma estrutura sintática idêntica.

Ela pensou na carreira, isto é, no futuro.


Os termos coordenados são: ―na carreira‖ e ―no futuro‖. Esses termos estão
separados pela expressão ―isto é‖ e apresentam a mesma função sintática:
ambos são complemento do verbo ―pensar‖, que rege a preposição
―em‖(―pensar em algo‖). O paralelismo sintático encontra-se na semelhança
dos termos coordenados: tanto a expressão ―na carreira‖ quanto a expressão
―no futuro‖ são formadas pela preposição ―em‖ mais um substantivo, ou seja,
elas se apresentam, na sentença, em uma estrutura sintática idêntica.

Eu li todos os livros, mas não entendi tudo.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 94


Os termos coordenados são: ―Eu li todos os livros‖ e ―não entendi tudo‖. Veja
que esses termos são duas orações unidas pela conjunção ―mas‖. O
paralelismo sintático encontra-se na semelhança das orações coordenadas:
ambas apresentam estruturas sintáticas equivalentes, e os verbos estão
flexionados adequadamente.

Prefiro um grupo de estudos pequeno a uma turma de cursinho lotada.


Os termos coordenados são: ―um grupo de estudos pequeno‖ e ―uma turma de
cursinho lotada‖. Esses termos são separados pela preposição ―a‖ e
apresentam a mesma função sintática: são complementos do verbo ―preferir‖
(―preferir isso a aquilo‖). O paralelismo sintático encontra-se na semelhança
dos termos coordenados: tanto a expressão ―um grupo de estudos pequeno‖
quanto a expressão ―uma turma de cursinho lotada‖ são estruturas que têm
como núcleo uma substantivo, ou seja, apresentam uma estrutura sintática
idêntica.

Agora veja:
Prefiro estudar em casa a aulas particulares.
Da mesma forma como na frase anterior, temos dois termos coordenados entre
si: ―estudar em casa‖ e ―aulas particulares‖. Esses termos também são
separados pela preposição ―a‖ e desempenham a mesma função sintática de
complementos do verbo ―preferir‖. Nessa frase, porém, temos um problema de
paralelismo sintático: a primeira expressão estrutura-se em forma de oração
reduzida ―estudar‖, já a segunda expressão é um termo nominal, isto é, tem
como núcleo um nome: ―aulas particulares‖ = núcleo: ―aulas‖. Essa diferença
de estrutura sintática determina o problema de paralelismo.
Reestruturada, ficaria: ―Prefiro estudar em casa a ter aulas particulares‖.

Ele hesitava entre ir ao cinema ou ir ao teatro


Falta simetria no plano sintático. O uso da preposição "entre" pressupõe a
existência de dois elementos de mesmo valor sintático ligados pela conjunção
"e". Como a conjunção "ou" indica alternativa, é possível ocorrer confusão num
contexto como esse. É preciso lembrar que a preposição "entre" delimita um
intervalo entre dois pontos definidos. Daí o motivo de reger dois elementos
ligados por "e".
Reestruturada, ficaria: ―Ele hesitava entre ir ao cinema e ir ao teatro‖.
‖.
Ele comprou e gostou do filme.
O problema que agora surge é o da regência verbal. O verbo ―comprar‖ não
pede preposição, enquanto o verbo ―gostar‖ pede a preposição ―de‖. Do modo
como a frase está escrita, a preposição está regendo os dois verbos.
Reestruturada, ficaria: ―Ele comprou o filme e gostou dele.‖

PARALELISMO SEMÂNTICO: consiste em uma sequência de expressões


simétricas no plano das ideias. É a coerência entre as informações.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 95


Vejamos os exemplos:
João gosta de uva e de maçã verde.
Sem dificuldade podemos entender a relação semântica entre as expressões
―uva‖ e ―maçã verde‖: são frutas de que João gosta.

Agora veja:
Ele gosta de livros de ficção e de ovo mexido.
Nesse exemplo, os termos ―livros de ficção‖ e ―ovo mexido‖ não constituem
uma sequência lógica e esperada na frase. Temos dificuldade de relacionar a
presença de ambos os termos na forma como foram apresentados. Esse é um
exemplo de falta de paralelismo semântico.

A diferença entre os alunos e as carteiras disponíveis na sala é muito


grande.
Alunos e carteiras não são elementos comparáveis entre si. A diferença a que
se refere a sentença é numérica. Então, o ideal é dizer: "A diferença entre o
número de alunos e o de carteiras é muito grande". Agora, sim, a informação
ganhou precisão. Faltava na frase o que chamamos paralelismo semântico, ou
seja, a simetria no plano das ideias.

O time brasileiro vai enfrentar a França nas quartas-de-final


Um time não pode enfrentar um país. Então, entre outras possibilidades: "O
time brasileiro vai enfrentar a seleção da França" ou "O Brasil vai enfrentar a
França".

Preservar o paralelismo semântico é tão importante quanto preservar o


paralelismo sintático. Mas, na pena de um bom escritor, a quebra da simetria
semântica pode resultar em curiosos efeitos de estilo. Não foi outra coisa o que
fez Machado de Assis no conhecido trecho de "Memórias Póstumas de Brás
Cubas", em que, irônica e amargamente, o narrador diz: "Marcela amou-me
durante 15 meses e 11 contos de réis". No mesmo livro: "antes cair das nuvens
que de um terceiro andar". O uso desse artifício parece ser uma das marcas
estilísticas do autor. Na abertura de "Dom Casmurro", o narrador diz: "(...)
encontrei (...) um rapaz (...), que eu conheço de vista e de chapéu".

No conto "O Enfermeiro", ao anunciar que vai relatar um episódio, o narrador


adverte que poderia contar sua vida inteira, "mas para isso era preciso tempo,
ânimo e papel". O elemento "papel", disposto nessa sequência, surpreende o
leitor e instala o discurso irônico.Ter ou não papel para escrever é algo
prosaico. A falta de ânimo, um problema pessoal, está em outro patamar
semântico.

Essa interpenetração de planos é um dos articuladores do tom irônico do


discurso machadiano.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 96


5. PONTUAÇÃO
Com o surgimento da imprensa, os editores impuseram uma padronização,
mas a maioria dos autores não se preocupava com esses "sinais pequenos
que parecem vermes", como teria dito o filósofo Voltaire no século 17. Em
contrapartida, Victor Hugo, no século 19, travou brigas ferrenhas com seu
editor belga, que teimava em acrescentar vírgulas a suas poesias. O francês
Hervé Bazin, em meados do século passado, afirmou que os símbolos usados
até então eram muito pobres para expressar os sentimentos e inventou uma
série de sinais para cumprir essa função. Além do ensaio em que os lançou,
ninguém jamais publicou um texto com tais marcações.

A pontuação é um tipo de segmentação. Há três tipos de pontuação:


a) Pontuação linguística
b) Pontuação retórica ou estilística
c) Pontuação sintática
No discurso oral, a pontuação se caracteriza pelo uso da pausa. No discurso
escrito, há vários grafemas que caracterizam a pontuação. Vamos trabalhar,
aqui,de mode geral, com o uso da vírgula.

Pontuação linguística
 Nas enumerações: ―João, Pedro, Paulo e José se apresentem‖.
 Nos apostos: ―Aristóteles, o grande filósofo grego, é autor dos Tópicos‖.

Pontuação retórica ou estilística


 Separar provérbios em hemistíquios3: ―Quem usa a cabeça, não usa os
pés‖. A segmentação é usada meramente por respeito a uma tradição.
 Talvez, eu tenha esclarecido a dúvida da atriz.
Hoje, escreverei sobre outro assunto!

Separar pela vírgula esses advérbios TALVEZ e HOJE é uma questão de


estilo individual e não obrigatória. As orações ficariam tão perfeitas com ou
sem essa vírgula.

Pontuação sintática
Repare na diferença do uso com ou sem a vírgula:
―O candidato falou naturalmente‖ – e –
―O candidato falou, naturalmente‖.

Veja como o emprego da vírgula faz com que as mensagens sejam diferentes.
No primeiro caso exprime-se que o candidato falou com naturalidade; no
3
O verso alexandrino francês possui, na sua composição dois hemistíquios, ou
seja, dois meio-versos de seis sílabas poéticas cada.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 97


segundo, ao se colocar a vírgula, passa-se a mensagem afirmativa de que é
óbvio que o candidato falou. É tão forte a diferença de mensagem que, no
primeiro caso, naturalmente é advérbio de modo; no segundo, advérbio de
afirmação. Não usar a vírgula aqui corresponde a deixar de transmitir o que se
quer.

A vírgula não tem a ver com o tamanho da frase, mas com a colocação
sintática de seus termos. Veja a frase abaixo:
A bela filha do comerciante italiano disse ao seu vizinho do terceiro andar que
iria passar as férias de verão no mais lindo recanto das cidades do estado
catarinense.

A frase se encontra em ordem direta: Sujeito + Verbo + Objeto +


Complementos (S+V+O+C)
Sujeito = A bela filha do comerciante italiano
Verbo =disse
Objeto Indireto = ao seu vizinho do terceiro andar
Objeto Direto = que iria passar as férias de verão
Complemento (no caso, adjunto adverbial) = no mais lindo recanto das cidades
do estado catarinense.

Sendo assim, não há vírgula.

Compare com a frase abaixo.


Ontem, na mesa, havia copos; no chão, garrafas.

Ontem = complemento (está descolado)


Na mesa = complemento (está deslocado)
No chão, garrafas = a vírgula é obrigatória. Serve para indicar que há a elipse
(omissão) de um termo.
Como há uma regra que diz que um termo entre vírgulas pode ser omitido,
para que essa interpretação não ocorra com o termo ―no chão‖, coloca-se,
antes dele um ponto e vírgula em vez de uma vírgula, que serve para separar
as orações coordenadas.

Alguns mitos do uso da vírgula

 Não se usa vírgula antes do "e" nas sequências de palavras ou


expressões.
Incorreto. Com a separação por vírgula, o termo posterior ao e abrange todos
os itens.
a) João comeu brócolis, comeu jiló, comeu beterraba, comeu chuchu, e gostou.
(gostou de todos os itens)
b) João comeu brócolis, comeu jiló, comeu beterraba, comeu chuchu e gostou.
(gostou somente do chuchu)

Tipologia e Gêneros Textuais Página 98


c) João ficou irritado, possesso, indignado, e saiu. (correto)
d) João ficou indignado e saiu. (correto)
e) Ler é passar por experiências trágicas ou alegres, é ter a sensação de estar
no meio de uma batalha medieval, num barco que afunda, num avião que cai,
num vilarejo na Cochinchina, sem sair da poltrona de casa. (aqui é nítido: se
tirarmos a vírgula antes do e, a conclusão só é válida para o último item -
...num vilarejo da Cochinchina sem sair de casa).
f) Os comerciários, vendedores, operários, e outros sacrificados, que me
perdoem. (nessa última frase, com a eliminação da vírgula, os sacrificados
serão apenas os operários).
Isso é um detalhe sutil. Num texto remetido para jornal, certamente o revisor
vai tirar as vírgulas.

OBS: A vírgula é usada quando o sujeito da segunda oração é diferente do da


primeira:
Ele entrou, e ela saiu. (os sujeitos são diferentes)
Compare: Ele entrou e saiu. (o sujeito é o mesmo)

 Não se usa vírgula antes de etc.


Incorreto. O significado latino ―e outras coisas‖ perdeu-se no tempo. ETC virou
um termo autônomo. Como no caso anterior, depois de vírgula o etc. abrange
todos os itens.
a) Frutas, doces, pães, geleias, etc. (a vírgula antes do etc. significa que essa
expressão abarca todos os itens citados.

Pode-se eliminar a vírgula nos raros casos em que a expressão se refira


somente ao último item. Pesquisa citada no livro de Celso Luft (A vírgula, Edit.
Ática, 2002) concluiu que a maioria dos escritores utiliza a vírgula, mas há os
que não a utilizam.

 A conjunção MAS é sempre seguida de vírgula.


Incorreto. A conjunção mas liga-se diretamente ao termo que ela rege,
portanto não requer vírgula, a não ser quando há intercalações entre eles.
Não escreva: Mas, agora eu vou... nem: Mas agora, eu vou para casa. (o mas
rege eu vou...)
Soluções: Mas, agora, eu vou... ou Mas agora eu vou... (por ser agora termo
de curta extensão, a virgulação é opcional, dependendo do fluxo que se quer
dar à frase)

Fui lá, mas, ele não estava em casa. (errado)


Fui lá, mas ele não estava em casa. (correto)
Fui lá, mas, naquele momento, ele não estava em casa. (correto)
(vírgula após o mas, somente quando há intercalação de termos).
Obs.: no caso acima, o mas não está como conjunção, mas como substantivo.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 99


Obs.: Estilisticamente, quando se deseja marcar uma pausa, admite-se vírgula
após o mas: Mas, você ainda mora em Joinville?

Outro caso semelhante (pois):


Não saí de casa, pois, estava chovendo. (errado)
Não saí de casa, pois estava chovendo (correto)
Não saí de casa, pois, naquele momento, estava chovendo (correto)
Obs.: pode-se eliminar ambas as vírgulas que circundam ―naquele momento;
incorreto seria deixar uma delas.
Usa-se entre vírgulas: Não sabia, pois, onde encontrar os amigos (pois =
portanto)..

Uso de todavia
Fui lá, todavia, ele não estava em casa. (errado - o termo fica boiando entre as
duas orações)
Fui lá; todavia, ele não estava em casa. (correto - aqui há uma separação
nítida, para isso serve o ponto e vírgula)
Fui lá, todavia ele não estava em casa. (correto)
Fui, todavia, encaminhado ao salão. (correto, o sentido aqui é diferente)
Obs.: o mesmo acontece com porém, portanto e assemelhados.

 Vírgula e orações relativas (introduzidas por que, o qual,etc.)


O dinheiro ficava com os associados do clube que não abriam mão disso. (=
alguns associados, sem vírgula)
O dinheiro ficava com os associados do clube, que não abriam mão disso.
(= todos os associados, com vírgula)

 Vírgula e aposto
a) O escritor brasileiro Jorge Amado nasceu na Bahia. (correto)
b) O escritor brasileiro, Jorge Amado, nasceu na Bahia. (errado)
c) O criador de Gabriela, Jorge Amado, nasceu na Bahia. (correto)
Obs.: o aposto, que vai entre vírgulas, é de certo modo uma repetição do termo
anterior. Como o nome já diz, é apenas um aposto, uma reiteração. Pode ser
eliminado sem prejuízo do sentido.
Veja: criador de Gabriela = Jorge Amado.
No primeiro caso: escritor brasileiro = não necessariamente Jorge Amado.

 Uso de talvez
Talvez eu vá ao cinema. (anteposto ao verbo, talvez rege o modo subjuntivo)
Eu vou, talvez, ao cinema. (aqui dá impressão que a pessoa não se resolveu
se vai ao cinema ou a outro local)

 Desfazer ambiguidade

Tipologia e Gêneros Textuais Página 100


Vou falar, brevemente, com o Presidente. (em breve)
Vou falar brevemente com o Presidente. (poucos minutos)

 Advérbios ou locuções intercaladas ou ficam entre vírgulas ou


sem vírgula nenhuma:
Tudo, naquele instante, ficou escuro. (correto)
Tudo naquele instante ficou escuro. (correto)
Tudo, naquele instante ficou escuro. (errado)
Tudo naquele instante, ficou escuro. (errado)

Todos, agora, querem escrever. (correto)


Todos agora querem escrever. (correto)
Todos, agora querem escrever. (errado)
Todos agora, querem escrever. (errado)

 Uso de sim (confirmação)


a) A Academia defende não a vaidade e, sim, o trabalho. (errado)
b) A Academia defende não a vaidade e sim o trabalho. (correto - e sim
equivale às adversativas mas, porém).
Os termos colocados entre vírgulas significam intercalações, adendos, podem
ser eliminados sem prejuízo do sentido. Isso não acontece com a frase acima,
pois, se eliminarmos o sim, perde seu sentido.

Confronte com:
As crianças vão, sim, ao cinema hoje. (esse sim é um reforço, uma
intercalação, podendo ser eliminado sem alterar o sentido, e aí, sim, pode ser
virgulado).

Veja as possibilidades de pontuação da frase abaixo:


Meu relógio sumiu não está na gaveta
Meu relógio sumiu. Não está na gaveta!
Afirmação e constatação indignada de quem fala

— Meu relógio sumiu?


— Não está na gaveta?
Diálogo com questão em dúvida e resposta em réplica

— Meu relógio sumiu não, está na gaveta.


Negação do sumiço do objeto e afirmação do local onde o objeto se encontra

— Meu relógio sumiu?


Não está na gaveta?
Dúvida do narrador e um princípio de desespero pela situação

— Meu relógio sumiu?

Tipologia e Gêneros Textuais Página 101


— Não, está na gaveta!
Dúvida na questão e certeza na resposta

Meu relógio sumiu...


Não está na gaveta...
Reflexão do personagem, pode ser que ele esteja pensando em outra
possibilidade...

— Meu relógio sumiu, não?


— Está na gaveta!
Dúvida na pergunta e certa rispidez na resposta

6. MODOS DE ORDENAR O TEMPO

Em um texto, há dois modos básicos de ordenar os tempos: em relação ao


momento da fala e em relação a um marco temporal localizado no texto.

 em relação ao momento da fala


Com relação ao momento da fala, o acontecimento pode ser concomitante,
anterior ou posterior. A cada uma dessas possibilidades corresponde, em
princípio, um tempo verbal, respectivamente, presente, pretérito perfeito e
futuro do presente (modo indicativo). A expressão da posterioridade pode se
realizar, também, pela forma do presente, para dar maior expressividade à
narração.

Tipo de relação Exemplo

concomitância "Mas hoje você está aí com seus amigos, não quero
tempo: presente incomodar. Volto outra hora" (Fernando Sabino, conto
Jimmy Jones, em O Homem Nu)

anterioridade "Não tive coragem de voltar. Telefonei um dia, ele


tempo: pretérito estava de viagem ... E nunca mais em minha vida
perfeito tornei a ver Jimmy Jones" (idem)
posterioridade
tempo: futuro do Dentro em breve darei esta missão por encerrada.
presente

Advérbios e expressões de valor adverbial que se empregam na


ordenação em relação ao momento da fala:

Anterior Concomitante Posterior

Tipologia e Gêneros Textuais Página 102


há pouco agora daqui a pouco
logo
ontem hoje amanhã
anteontem depois de amanhã
há duas semanas/dois neste momento dentro ou em dois
meses, dois anos, etc. nesta altura meses/dois anos/duas
semanas, etc.
no mês/ano, etc. no próximo dia
passado 30/mês/ano,etc.
no último mês/dia/ano,
etc.

Exemplo: Nos próximos três meses estarei viajando.


Nesse caso, emprega-se ―próximos‖ e não ―seguintes‖, porque a frase se
refere aos três meses posteriores em relação ao momento da fala.

 Com relação a um marco temporal instaurado no texto, a ordenação


dos tempos e modos é mais detalhada:

marco temporal no passado - os fatos podem ser concomitantes, anteriores,


ou posteriores a ele.

Tipo de relação Exemplo


concomitância "Quando regressou, tarde da noite,
tempo pretérito perfeito - para encontrou como por encanto o
narrar um fato acabado dentro apartamento restituído à arrumação
de um limite temporal original ..." (F.Sabino, conto Dona
tempo pretérito imperfeito - para Custódia, O Homem Nu)
narrar um fato em sua duração, "Só então reconheceu entre elas Dona
não limitado no tempo Custódia, que antes proseava muito à
vontade mas ao vê-lo se calou,
estatelada." (idem) [a ação de prosear é
concomitante ao marco temporal antes e
é vista em sua duração com relação a
ele]
anterioridade "Que ela mesma fizera ele sabia - não
tempo: pretérito haveria também de pretender que ele é
mais-que-perfeito que cozinhava. Que diabo ela fizera do
seu quadro? " (idem)
posterioridade "De tanta categoria que no dia do
tempo: futuro do pretérito aniversário do pai, em que almoçaria
fora, ele aproveitou-se para dispensar
também o jantar, só para lhe
proporcionar o dia inteiro de folga."

Tipologia e Gêneros Textuais Página 103


(idem)

marco temporal no futuro - os fatos podem ser concomitantes, anteriores ou


posteriores a esse marco.
Tipo de relação Exemplo
concomitantes Quando você voltar, estarei saindo
tempo: presente concomitante para o trabalho. [você voltar e eu
(estar + gerúndio) estar saindo são fatos concomitantes]
Anteriores Quando você chegar, já terei saído
tempo: futuro anterior para o trabalho.
(verbo ter + particípio)
posteriores Depois que receber meu salário,
tempo: futuro do presente pagarei o aluguel e a o plano de
saúde.
Portanto, fica claro que cada tempo verbal utilizado em um texto de base
narrativa tem uma função, uma finalidade coesiva, sendo responsável pela
progressão da ação.
http://acd.ufrj.br/~pead/tema06/temposemodos.html

Advérbios e expressões de valor adverbial que se empregam na


ordenação em relação a um marco temporal instalado no texto:

Anterior Concomitante Posterior


na véspera/antevéspera então
no dia/mês/ano anterior no mesmo dia no dia/mês seguinte
um(a) semana/mês/ano um(a) semana/mês/ano
antes depois
daí um(a)
semana/mês/ano

Exemplo: Em setembro começou a chover e nos três meses seguintes o sol


quase não apareceu.

Usa-se ―seguintes‖, porque a frase faz referência aos três meses posteriores
em relação a um marco temporal inscrito no texto, setembro.

O que é preciso ter bem presente é que no texto não se pode misturar
advérbios que se relacionam com o momento da fala e advérbios que se
relacionam com o marco temporal. Assim, não se pode ligar:

Partimos de férias para Campinas no dia 2 de julho.Ontem arrumamos as


malas.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 104


No momento em que inscreveu o dia 2 de julho como marco temporal, é ele
quem ordena o uso de advérbios e expressões temporais. Por isso, não se
emprega‖ontem‖ (dia anterior ao momento da fala), mas ―na véspera‖ ou ―no
dia anterior‖ (dia anterior ao marco temporal). Da mesma forma, não se diz:

No dia 3 de julho estávamos já na praia. Na semana passada ainda


estávamos em prova.

―Na semana passada‖ é a semana anterior ao momento da fala. Em relação ao


marco temporal 3 de julho, usa-se ―na semana anterior‖ ou ―uma semana
antes‖.

7. OUTRAS SUGESTÕES

Evite repetições de sons, de palavras e de ideias.


Palavras terminadas em ção, são, ssão, dade, mente provocam eco na sua
redação. Em vez de substituir as repetições por sinônimos, reestruture o
período, pois a ideia continuará sendo repetida.

Evite o exagero de conectivos (conjunções e pronomes relativos).


Por dois motivos: para evitar a repetição e para não elaborar períodos muito
longos.

Se for usar título, faça-o por meio de expressão curta.


Use poucas palavras e só coloque ponto final, se usar verbo.

Cuidado com usos de conjunções: mas, porém, contudo são adversativas,


indicam fatores contrários; portanto, logo são conclusivas; pois é explicativa,
e não causal

Não deixe os parágrafos soltos.


Há de haver ligação entre eles. A ausência de elementos coesivos entre
orações, períodos e parágrafos é erro grave.

Tente fazer com que os diálogos escritos pareçam uma conversa.


Uso do gerúndio empobrece o texto. Exemplo: Entendendo dessa maneira, o
problema vai-se pondo numa perspectiva melhor, ficando mais claro...

Nas citações, use aspas, coloque a vírgula e um verbo seguido do nome


de quem disse ou escreveu aquilo.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 105


Exemplo: ―O que é escrito sem esforço é geralmente lido sem prazer.‖, disse
Samuel Johnson

Nunca repita várias vezes a mesma palavra.


Um dos erros que mais prejudica a expressão adequada de suas ideias é a
insistente repetição de uma mesma palavra. Isso causa uma impressão
desagradável a quem lê sua redação, além de sugerir pobreza de vocabulário.
Quando você constatar que repetiu várias vezes o mesmo vocábulo, procure
imediatamente encontrar sinônimos que possam ser usados em substituição a
ele.

Procure não inovar, por sua conta, o alfabeto da língua portuguesa.


Evidentemente, certas caligrafias apresentam variações no modo de escrever
determinadas letras do nosso alfabeto. No entanto, essa possível variação não
deve ser exagerada a ponto de tornar a letra praticamente irreconhecível.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
O trabalho com a produção de textos escritos traz consigo um problema: como
avaliar seu resultado de modo objetivo? O propósito da correção de textos
deve ser, sempre, orientar o aluno sobre o que fazer para melhorar sua
produção escrita, em função do(s) leitor(es) dos seus textos.

Vamos, agora, sugerir alguns procedimentos de avaliação de redações que, se


adotados sistematicamente, podem tornar mais tranquilo, para professor e
aluno, o momento da correção. Trata-se, na verdade, do estabelecimento de
alguns critérios a serem utilizados durante o processo de avaliação dos textos
e, muito importante, no momento de atribuição de notas às redações.

Critérios de correção são, no contexto específico da avaliação de textos, os


parâmetros que o professor estabelece para ―corrigir‖ as redações escritas por
seus alunos.

Sem parâmetros, ou critérios, estaremos fazendo uma correção holística; em


outras palavras, estaremos realizando uma avaliação que terá por base a
impressão geral causada pelo texto no professor. A utilização de critérios
predefinidos, ao avaliar um texto, contribui para garantir que, no momento da
leitura, observemos diferentes aspectos da sua estrutura.

Uma consequência necessária — e muito desejável — da utilização de critérios


para a avaliação de redações é a maior objetividade garantida ao processo de
leitura e correção. Resta pouco espaço para a impressão e, portanto, para a
correção subjetiva.

Podemos iniciar nossos trabalhos estabelecendo, juntamente com nossos


alunos, os critérios que serão utilizados na correção dos textos que eles

Tipologia e Gêneros Textuais Página 106


produzirão durante as aulas. Essa é outra característica muito importante, e
benéfica, da adoção de critérios de correção: os alunos sabem como seus
textos serão corrigidos. Assim, professores e alunos dispõem de um conjunto
de parâmetros comuns, referentes à estrutura do texto, com o qual trabalharão
durante as aulas.

Muitas vezes experimentamos, em nossa vida escolar, a frustração de receber,


como observação do professor em uma redação, algo como ―desenvolva mais
o conteúdo‖, ―melhore seu texto‖, ―pouco claro‖ ou ―seu texto está truncado‖...
Entretanto, desenvolver o quê? Não parece óbvio que, se soubéssemos como
fazê-lo, o teríamos feito no momento de escrever a redação? Ninguém erra
voluntariamente, ainda mais quando o resultado do ―erro‖ é traduzido em uma
nota baixa. O segundo tipo de observação é extraordinariamente vago.
Devemos ser capazes de dizer algo mais especifico do que ―desenvolva mais o
conteúdo‖, ao comentar um texto. Como podemos esperar que os alunos
escrevam com clareza se nós, seus mestres, não conseguimos fazê-lo nas
poucas linhas que dirigimos a eles?

É evidente que existem textos cujo conteúdo precisa mesmo ser mais bem
desenvolvido, e o objetivo do professor e conseguir que seu aluno, em uma
próxima oportunidade, resolva o problema. A inadequação está, porém, na
maneira como a observação é feita, porque não oferece nenhuma referência
mais concreta dos aspectos de forma e/ou conteúdo que precisam ser
modificados para que o texto melhore, ou de como o aluno poderia
desenvolver ―mais‖ o conteúdo.

Caso dispuséssemos de criterios de correção, no entanto, teríamos como fazer


referência direta aos problemas identificados no texto, porque nossos alunos
conheceriam previamente os parâmetros a serem utilizados durante a
avaliação. Em lugar de dizer ―melhore sua redação‖, o professor dirá algo a
respeito da organização de argumentos ou indicará problemas nas estruturas
sintáticas ou coesivas que possam estar perturbando a compreensão do texto.
O aluno lerá o comentário e saberá, por exemplo, que os problemas de coesão
comprometem as estruturas de referência e as unidades de ligação do texto,
podendo identificar com maior exatidão o que precisa ser modificado em seu
texto.

Ao resultado da adoção de critérios será não só uma avaliação mais objetiva


por parte do professor; será, principalmente, uma possibilidade de trabalhar
melhor os problemas identificados com os alunos durante as aulas de
produção de texto.

Faremos, agora, a apresentação de uma proposta concreta de critérios a


serem adotados no momento de corrigir e avaliar os textos dos alunos. Eles
não são os únicos possíveis.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 107


Esses critérios resumem as indagações que se devem fazer a um texto com
relação aos modos de estruturação e articulação dos elementos formais e de
conteúdo.

 Adequação ao tema proposto.


Uma redação escrita em resposta a um tema proposto pelo professor deve
necessariamente considerar alguns elementos básicos que definem tal tema:
orientação geral apresentada, delimitação da questão a ser analisada,
presença de informações que motivem a reflexão solicitada, etc.

Frequentemente, ao prepararmos uma proposta de produção de texto, temos


uma certa expectativa e somos surpreendidos por um desenvolvimento
diferente do esperado, por parte dos alunos. Quando tal fato ocorre, suas
consequências podem ser muito produtivas para uma aula de produção de
texto. Se a inadequação ao tema for geral, devemos nos perguntar, por
exemplo, se aquilo que esperávamos estava claro na proposta feita. Caso o
problema não esteja na definição do tema, podemos detectar uma dificuldade
na compreensão de algum aspecto trabalhado em sala e estaremos diante de
uma boa oportunidade de retomá-lo a partir dos exemplos de inadequação
identificados nas redações.

Critérios

PONTOS DESCRIÇÃO
1 Ausência de um projeto de texto; ideias dispersas, desconexas.
2 Identificação de um projeto de texto cujo desenvolvimento
apresenta problemas, truncamentos, desarticulações localizadas.
3 Identificação de um projeto de texto claro, ainda que ingênuo e
próximo do senso comum.
4 Identificação de um projeto de texto mais amadurecido: indícios
de autoria.
5 Identificação de um projeto de texto amadurecido: autoria plena.

 A estrutura característica do gênero discursivo a ser desenvolvido.


É imperativo que a avaliação dos textos produzidos em resposta aos temas
propostos leve em consideração a maneira como os elementos estruturais
foram trabalhados pelo aluno. Na avaliação deste item, estaremos
preocupados com as características estruturais que devem ter gêneros de
acordo com sua predominância: narrativos, descritivos, expositivos,
argumentativos e injuntivos, verificando em que medida o aluno se vale da
estrutura característica do gênero a ser produzido para organizar seu raciocínio
e apresentá-lo ao leitor de forma convincente (ou verossímil, no caso dos
gêneros de predominância narrativa). Os critérios aqui apresentados disem
respeitos aos gêneros de predominância argumentativa.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 108


Critérios

PONTOS DESCRIÇÃO
1 Texto constituído de uma lista de comentários desarticulados
2 Texto constituído de uma lista de comentários articulados em
torno de uma ideia-central.
3 Texto correto: associa uma perspectiva analítica à apresentação
de argumentos que a defendam/suportem.
4 Texto acima da media:domínio da esrutura permite reconhecer,
além de seu caráter analítico, uma estratégia argumentativa,
ainda que incipiente.
5 Texto muito bom: o uso de informações/argumentos está
subordinado à perspectiva analítica e à estratégia argumentativa
adotadas.

* No caso de textos de outros gêneros com outras predominâncias tipológicas,


basta adaptar os princípios estabelecidos para avaliar os principais aspectos
estruturais que definem tais gêneros.

 Adequação gramatical (o uso que o aluno faz da língua escrita).


A correção gramatical e sem dúvida um elemento importante do texto escrito,
mas precisamos tomar cuidado para não valorizá-la excessivamente.

Para tanto, achamos aconselhável que o professor crie uma espécie de


hierarquia gramatical. Explicando melhor, deve-se procurar determinar quais
são as inadequações que realmente comprometem a compreensão do texto,
por um lado, e, por outro, que evidenciam a pouca fam liaridade do aluno com
as estruturas próprias do texto escrito.

Poderíamos pensar, só para lembrarmos alguns desses problemas, nos


seguintes aspectos:
utilização dos tempos e modos verbais (com o cuidado de diferenciar o aluno
que tem apenas um problema de acentuação gráfica, confundindo, digamos,
fa/ara e falará, por usar o acento de forma equivocada, daquele que realmente
optou por uma flexão de tempo inadequada); concordâncias verbal e nominal;
escolha lexical (por exemplo, a substituição sistemática de terpor possuir, ou
porque por pois, como se houvesse palavras ―melhores‖ e ―piores‖...);
interferência excessiva de estruturas da linguagem oral no texto escrito.

Avaliar o uso da modalidade escrita da língua portuguesa não deve significar,


no entanto, uma mera contagem de ―erros‖. O professor precisa reconhecer os
casos em que o aluno optou por uma estrutura sintática, ou mesmo por uma
determinada palavra, e que essa opção contribuiu significativamente para o
texto resultante. Estamos tão acostumados a corrigir ―erros‖, que

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abandonamos por completo a observação dos acertos e essa é uma atitude a
ser evitada. Cabe ao professor identificar tanto os erros quanto os acertos e
ponderá-los ao fazer sua avaliação.

Critérios

PONTOS DESCRIÇÃO
1 Presença de erros variados e em grande quantidade; uso
excessivo de estruturas da oralidade.
2 Presença de alguns erros; marcas de oralidade.
3 Presença de poucos erros (não-marcados); não há marcas de
oralidade.
4 Ausência de erros. O uso de estruturas típicas da escrita
beneficia o texto.
5 Uso de estruturas sofisticadas (inversões sintáticas, paralelismos,
etc) evidencia o controle da forma em função do conteúdo.

 Coerência no desenvolvimento do tema.


Todo texto escrito deve apresentar uma unidade lógica, algo a que nos
referiremos, a partir dessa definição bastante simplificada, como coerência. A
avaliação da coerência de um texto está muito relacionada ao domínio que o
aluno tem da estrutura característica do gênero do discurso a ser produzido e
da qualidade da leitura que é capaz de fazer do tema e da coletânea.

No caso de textos de predominância argumentativa, observar a construção da


coerência do texto significa estar atento à maneira como o aluno desenvolve
sua redação. Muitas vezes, em lugar de relacionar fatos, argumentos, dados,
ele apenas limita-se a comentá-los. No caso de temas acompanhados de
coletâneas, esse procedimento prejudica a articulação textual, o que,
consequentemente, compromete a coerência. É comum, também, o aluno
utilizar (sem perceber) dois elementos da coletânea que são contraditórios,
como se fossem complementares... situações como essas são avaliadas no
item coerência.

Falar em coerência implica discutir o conceito de verossimilhança, ou, em


outras palavras, a possibilidade de criação de um mundo ficcional em que
acontecimentos irreais pareçam possíveis. O leitor de narrativas é bastante
tolerante nesse sentido, estando disposto a aceitar as premissas criadas por
um narado para o comportamento de personagens no interior de um mundo
ficcional (podemos pe‘mar nos contos de fadas como exemplo óbvio), mas
costuma exigir que tais premissas sejam respeitadas ao longo do texto.
Soluções apresentadas abruptamente, no final da narrativa, que não foram
sendo preparadas ao longo do desenvolvimento do enredo, não costumam

Tipologia e Gêneros Textuais Página 110


contribuir muito para a construção da coerêncía desse tipo de texto, e o
professor precisa estar atento para isso ao avaliar textos narrativos escritos por
seus alunos.

Critérios

PONTOS DESCRIÇÃO
1 Texto desarticulado, da perspectiva argumentativa e/ou presença
de contradições graves, que afetem o sentido geral.
2 Desarticulação entre os parágrafos e/ ou presença de
contradições leves, que afetem um sentido localizado.
3 Articulação correta dos argumentos. Ausência de contradições.
4 Boa articulação dos argumentos: indícios de extrapolação da
análise para outros contextos. Ausência de contradições.
5 Articulação muito boa dos argumentos em função da
extrapolação que se pretende faze da análise apresentada.
Ausência de contradições.

* No caso de textos de outros gêneros com outras predominâncias tipológicas,


basta adaptar os princípios estabelecidos para avaliar os principais aspectos
estruturais que definem tais gêneros.

 Coesão
Ainda com relação a organização gramatical e semântica do texto, podemos
considerar um último critério: a coesão. Um texto coeso pode ser definido, de
forma bastante simplificada, como aquele que apresenta unidade e uma
perfeita relação entre todas as suas partes. Para que isso ocorra, o aluno
precisará valer-se de algumas estruturas que, na língua, cumprem exatamente
a função de garantir a coesão dos textos. São elementos coesivos, por
exemplo, os pronomes, as conjunções, a pontuação, apenas para lembrarmos
alguns.

Certamente poderíamos verificar a utilização de tais recursos no momento em


que estivéssemos avaliando a correção gramatical, mas acreditamos ser mais
interessante ―separar‖ os aspectos puramente gramaticais da análise dos
recursos coesivos. Explicamos por quê.

Em primeiro lugar, essa opção justifica-se pela maior importância, na


construção do texto escrito, dos recursos coesivos. Sempre seremos capazes
de entender o que um aluno quis dizer ao escrever ―assucar‖, mesmo que ele
tenha usado dois esses em lugar do cê cedilha, e tenha esquecido a regra de
acentuação das paroxítonas terminadas em r. Mas nem sempre seremos
capazes de recuperar, por exemplo, o referente de um pronome mal
empregado. O caso mais dramático talvez seja o dos possessivos de 3ª

Tipologia e Gêneros Textuais Página 111


pessoa (seu e sua), que provocam muitos casos de ambiguidade quando
utilizados de forma inadequada.

Um segundo motivo, ainda mais forte do que o primeiro, é a íntima relação


entre alguns problemas de coesão e o que podemos chamar de problemas de
coerência. São frequentes os casos em que a escolha inadequada de uma
conjunção (recurso coesivo) prejudica a compreensão de uma relação entre
duas estruturas sintáticas. Podemos dizer: O ladrão foi preso porque assaltou o
banco, ou O ladrão foi preso uma vez que assaltou o banco, mas certamente
não estamos autorizados, em termos lógicos, a dizer O ladrão foi preso apesar
ter assaltado o banco. Trata-se de escolher entre diferentes conjunções
(respectivamente causal, temporal e concessiva), para, através dessa escolha,
explicitarmos como deve ser entendida a relação semântica entre diferentes
estruturas sintáticas; por vezes, algumas relações não são aceitáveis em
termos de coerência, como é o caso da relação de concessão entre o assalto
ao banco e a prisão do ladrão. Em ocorrências como essas, diz-se que um
problema de coesão afetou dramaticamente a coerência do que está sendo
dito. Por outro lado, um problema de concordância, acentuação ou ortografia
muito dificilmente provocaria o mesmo tipo de conseqüência para o texto
escrito. Por esses motivos, achamos melhor analisar a coesão separadamente
da correção gramatical nas redações dos alunos.
Critérios

PONTOS DESCRIÇÃO
1 Muitos problemas de coesão sequencial e lexical. Desarticulação
no interior do parágrafo e entre os parágrafos do texto.
2 Alguns problemas de coesão sequencial e lexical. Desarticulação
localizada.
3 Ocorrência mínima de problemas coesivos. Correta articulação
dos parágrafos.
4 Bom uso dos recursos coesivos em função da construção de
sentido que se pretende alcançar.
5 Uso sofisticado dos recursos coesivos que beneficia a construção
argumentativa.

OBS:
1) No caso da avaliação de cada um dos seis critérios, a nota zero só deverá
ser atribuída quando houver uma inadequação total com relação ao aspecto
analisado.
2) Note-se que não sou a favor de se pontuar a questão da criatividade. A
função primeira da escola é a formação de alunos escritores e não de
escritores alunos (se Machado me permite o trocadilho). A criatividade não
pode ser ensinado, e o que não pode ser ensinado não deve ser cobrado.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 112


PRECIOSIDADES RETIRADAS DE JORNAIS
Só para diversão:
―Parece que ela foi morta pelo seu assassino."
"Os antigos prisioneiros terão a alegria de se reencontrar para lembrar os anos
de sofrimento."
"A polícia e a justiça serão as duas mãos de um mesmo braço."
"O acidente fez um total de um morto e três desaparecidos. Teme-se que não
haja vítimas."
"O acidente foi no tristemente célebre Retângulo das Bermudas."
"Este ano, as festas do 4 de Setembro coincidem exatamente com a data de 4
de Setembro, que é a data exata, pois o 4 de Setembro é um domingo."
"Quatro hectares de trigo foram queimados. A princípio, trata-se de um
incêndio."
"O velho reformado, antes de apertar o pescoço da sua mulher até a morte,
suicidou-se."
"Ela contraiu a doença na época em que ainda estava viva.―
"Um surdo-mudo foi morto por um mal-entendido."
"Há muitos redatores que, para quem veio do nada, são muito fiéis às suas
origens."
"O acidente provocou uma forte comoção em toda a região onde o veículo era
bem conhecido."
"O aumento do desemprego foi de 0% em Novembro."
"O cabrito montês ficou morto na estrada durante alguns instantes."
"Na chegada da polícia, o cadáver encontrava-se rigorosamente imóvel."
"O presidente de honra é um septuagenário de 81 anos."
"É uma bela obra, de onde parecia exalar toda a fria tristeza da estepe gelada.
Foi executada com um calor magistral."
"Depois de algum tempo, a água corrente foi instalada no cemitério, para
satisfação dos habitantes."
"Esta nova terapia traz esperanças a todos aqueles que morrem de cancro a
cada ano."
"Apesar de a meteorologia estar em greve, o tempo esfriou ontem
intensamente."
"Os sete artistas compõem um trio de talento."
"Os nossos leitores nos desculparão por este erro indesculpável."
―A vítima foi estrangulada a golpes de facão.‖

Tipologia e Gêneros Textuais Página 113


UNIDADE 4 - A LEITURA

Saber ler, já entre gregos e romanos, significava possuir uma educação


adequada para a vida, educação essa que visava não só ao desenvolvimento
das capacidades intelectuais e espirituais, como das aptidões físicas,
possibilitando ao cidadão integrar-se efetivamente à sociedade, no caso a
classe dos senhores, dos homens livres.

No entanto, parece haver um paradoxo entre a importância que se reconhece


para a atividade de leitura e o nível de leitura dos brasileiros. Em pesquisa
realizada entre estudantes universitários (Fecchio, 2001) 100% dos
entrevistados dizem achar a leitura uma atividade importante para o seu dia a
dia, apesar de que apenas 39% dizer ler até quatro livros por ano.

4.2 CONCEPÇÃO DE LEITURA


Foucambert (1994) define a leitura como a formulação de um juízo sobre a
escrita no ato de questionar e explorar o texto na busca de respostas - textuais
e contextuais - que geram uma ação crítica do sujeito no mundo:
Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo,
significa que certas respostas podem ser encontradas na
escrita, significa poder ter acesso a essa escrita, significa
construir uma resposta que integra parte das novas
informações ao que já se é.

Resende (1993) concebe a leitura como possibilidade de abertura ao mundo e


caminho para um conhecimento mais aprofundado do leitor sobre si mesmo:
A leitura é um ato de abertura para o mundo. A cada
mergulho nas camadas simbólicas dos livros, emerge-se
vendo o universo interior e exterior com mais claridade.
Entra-se no território da palavra com tudo o que se é e se
leu até então, e a volta se faz com novas dimensões, que
levam a re-inaugurar o que já se sabia antes.

Entretanto, ainda hoje se faz presente a concepção da leitura como única e


objetiva, isto é, a leitura como produto, aquela que se limita apenas ao já
sabido pelo aluno em relação ao texto. Nessa perspectiva, interessa apenas o
resultado final, sem se levar em consideração o percurso mental seguido pelo
leitor. Em outras palavras, pode-se afirmar que neste caso prevalece a visão
do professor ou a resposta do manual didático.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 114


Essa postura diante do ensino da leitura tem-se revelado ineficiente porque
não leva em conta a formação do leitor proficiente. Percebe-se então, a
importância da leitura, pois quanto mais se lê, mais se amplia a competência
para apreender o diálogo que os textos travam entre si (intertextualidade) por
meio de referências, citações, alusões. Por isso, a cada livro que se lê torna-se
maior a capacidade de apreender de maneira completa o sentido do texto.

Sendo assim, para que seja realizada uma leitura plena é importante que o
professor seja capaz de entender a leitura como um processo, no qual estão
inclusos os tipos e os níveis de leitura, dos quais o professor deve ter um total
domínio e, do ponto de vista pragmático, saiba desenvolver o trabalho em sala
de aula apresentando atividades nas diferentes fases do processo de
condução da prática da leitura.

Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por
palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção,
antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência.
É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido,
permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na
busca de esclarecimentos e validar no texto suposições feitas.

O leitor ativo é aquele que desenvolve leitura de forma dinâmica, na qual


participa ativamente da construção de seu significado. A partir do
conhecimento de mundo e conhecimentos anteriores o leitor pode dialogar com
o texto exprimindo sua opinião crítica, não se limitando a simples condição de
receptor de um texto pronto e acabado.

A leitura é um processo, e como processo faz-se necessário a interação do


leitor com o texto. Isto significa que exigirá do leitor o ato de mergulhar no texto
atribuindo-lhe sentidos voluntariamente, conforme afirma Foucambert (1994) a
leitura como atribuição voluntária de um significado à escrita. Voluntária nesse
sentido significa a vontade do leitor sobre o que lê, o leitor age
espontaneamente sobre o texto, na qual o leitor busca satisfazer suas
expectativas. O processo de interação se dá pelas inferências e incursões
feitas ao texto pelo leitor de acordo com a capacidade de crítica e formulação
de juízo em relação à temática proposta.

Importância da leitura
Existem vários porquês da importância da leitura. Com o intuito de despertar
seu interesse pela leitura, vejamos alguns motivos pelos quais você deva
começar ou continuar a ler:
1. Entendimento: uma boa leitura leva a pessoa ao entendimento de assuntos
distintos. Afinal, o que é entender senão compreender, perceber. Como você
saberá conversar sobre determinado tema se não tem percepção ou se não o

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compreende?
2. Cultura: através da leitura temos possibilidade de ter contato com várias
culturas diferentes. Sabemos como determinado povo se comporta, os motivos
pelos quais agem de forma distinta da nossa. Além disso, compreendemos
melhor o outro quando passamos a saber a história de vida que o cerca.
Consequentemente, lidamos melhor com quem é diferente de nós e não temos
uma opinião pobre e geral das circunstâncias.
3. Reflexivos: lendo, nos tornamos reflexivos, ou seja, formamos uma ideia
própria e madura dos fatos. Quando temos entendimento dos vários lados de
uma mesma história, somos capazes de refletir e chegar a um consenso, que
nos traz crescimento pessoal.
4. Conhecimento: através da leitura falamos e escrevemos melhor, sabemos
o que aconteceu na nossa história, o porquê de nosso clima e do idioma que
falamos, dentre muitas outras possibilidades.
5. Leitura dinâmica: quem lê muito, começa a refletir mais rápido. Logo,
adquire mais agilidade na leitura. Passa os olhos e já entende sobre o que o
texto está falando, a opinião do escritor e a conclusão alcançada.
6. Vocabulário: esse item é fato, pois quem lê tem um repertório de vocábulos
muito mais avançado do que aquele que não possui essa prática.
7. Diversão: a leitura promove diversão, pois quem lê é levado a lugares que
não poderia ir ―com as próprias pernas‖.
8. Informação: através da leitura ficamos informados sobre o que acontece no
mundo e na nossa região. A leitura informativa mais usual é o jornal impresso.

4.3 TIPOS DE LEITURA


Para a realização da prática de leitura, o professor poderá dispor de diversos
tipos de leitura. Assim sendo, temos:
 A leitura autônoma - envolve a oportunidade de o aluno poder ler, de
preferência silenciosamente, textos para os quais já tenha desenvolvido
certa proficiência.
 A leitura colaborativa - é uma atividade em que o professor lê um
texto com a classe e, durante a leitura, questiona os alunos sobre os
índices linguísticos que dão sustentação aos sentidos atribuídos. Esse
tipo de leitura é particularmente importante porque possibilita aos
alunos envolvidos na atividade explicitar os procedimentos que utilizam
para atribuir sentido ao texto.

Observando os diferentes tipos de leitura, podemos enquadrá-los em dois


grupos:
1) quanto à modalidade:
 Silenciosa - é a base da educação individual, uma vez que esta é a
maneira habitual de leitura na vida cotidiana, pois ela se propõe antes
mesmo da leitura oral do texto. Este tipo de leitura possibilita a
adaptação da pessoa as suas características individuais de ritmo,

Tipologia e Gêneros Textuais Página 116


pontuação, compreensão e interpretação. Cabe lembrar os casos em
que o aluno após a leitura silenciosa esclarece possíveis dúvidas de
vocabulário e compreensão e assim este consegue analisar as
ilustrações, identificando suas relações com o texto. No caso das
histórias em quadrinhos, tiras e outras leituras ilustradas, antes que os
alunos leiam o texto, é importante levá-los a analisar o desenho: o
mesmo personagem dos quadrinhos anteriores, agora acompanhado
de diálogo. Isso facilitará o estabelecimento de um debate sobre as
ideias e aspectos do texto ilustrado para que alguns detalhes, antes
não percebidos, possam nesse momento ser esclarecidos e melhor
compreendidos. Fazendo isso, o aluno perceberá que um mesmo texto
pode possibilitar várias leituras e, dependendo da abordagem, o
professor poderá explorar o tema/conteúdo respeitando as
características peculiares de cada texto.
 Em voz alta - Esse tipo de leitura tem sido empregado com muito êxito,
principalmente ao se tratar da leitura de textos narrativos. Ler em voz
alta uma história até chegar a um trecho emocionante pode fazer com
que as expectativas dos alunos sejam de tal forma despertadas, que
eles queiram continuar lendo por conta própria. Deve-se ressaltar que
apesar deste tipo de leitura ser aplicado com sucesso em alguns casos,
em outros, quando se refere à leitura feita pelo aluno com caráter
avaliativo, vemos o quanto pode ser desastroso para aquele que ainda
não tem o domínio desse tipo de leitura, o que acaba causando inibição
e retrocesso na aprendizagem, enfim, uma atividade prejudicial ao
desenvolvimento leitoral do aluno. A leitura oral é necessária e
adequada quando o texto apresenta dificuldades de leitura ou por sua
disposição gráfica (por exemplo, texto em colunas, nos primeiros anos,
texto teatral, em que o nome dos personagens introduz suas falas,
indicações de cenas são apresentadas entre parênteses, etc).

2) quanto à finalidade:
 Inspecional - é a leitura rápida, horizontal que se faz para tomar
conhecimento do conteúdo geral do texto através de títulos, subtítulos e
da fixação de alguns parágrafos. O ato de recorrer à leitura inspecional
quase sempre denuncia falta de hábito de leitura, mesmo que se
admitam ritmos de leitura diferentes entre os indivíduos. Uma das
consequências de uma leitura apressada, de caráter inspecional, é a
falha de compreensão e conclusão impertinente. Partindo desse
pressuposto, faz-se importante a prática do somatório de
conhecimentos prévios já acumulados pelo leitor. Na leitura dos
elementos textuais devem-se sublinhar as palavras-chave que
traduzem as ideias fundamentais do texto, bem como observar as
palavras relacionais que asseguram a estrutura lógica dos raciocínios,
tais como: "porque", "em consequência", "embora", etc.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 117


 Analítica - é uma leitura atenta, reflexiva, vertical, pausada, com
possíveis releituras, que visa a apreender e criticar toda a montagem
orgânica do texto.

Sempre que nos deparamos com um texto qualquer, por mais simples que ele
possa parecer, geralmente o leitor se defronta com a dificuldade de encontrar
unidade por trás de tantos significados que ocorrem na sua superfície. Numa
crônica ou numa pequena fábula, por exemplo, surgem personagens
diferentes, lugares e tempos desencontrados e ações das mais diversas.

No caso de textos literários, é preciso conhecer a sua ligação com outras


formas de cultura e também com outros textos e manifestações de arte da
época em que o autor viveu. Se não houver esta visão global dos momentos
literários e dos escritores, a interpretação pode ficar comprometida. Assim não
se podem dispensar as dicas que aparecem na referência bibliográfica da fonte
e na identificação do autor.

Em suma, ao conduzir a leitura observando os diferentes níveis, é importante


que o professor aja de maneira cautelosa, principalmente quando este for o
primeiro contato do aluno com dado texto, porque desta primeira leitura
extraem-se informações mais superficiais sobre o conteúdo abordado e
prepara-se o próximo nível de leitura. Durante a interpretação propriamente
dita, é cabível destacar palavras-chave, passagens importantes, bem como
usar uma palavra para resumir a ideia central de cada parágrafo. Este tipo de
procedimento aguça a memória visual, favorecendo o entendimento.

4.4 NÍVEIS DE LEITURA


As relações intertextuais mostram que a visão de mundo, no sentido
semiótico4, depende de uma leitura preliminar, formativa, relacionada a vários
conhecimentos e nos ajudam a analisar e compreender os fatos e seus
conteúdos. O professor, por ser um conhecedor dos fundamentos da leitura,
deve ter em mente que ela possui diferentes níveis, que podem ser explorados
durante as atividades de acordo com os objetivos da leitura. O primeiro nível, o
mais superficial, corresponde à estrutura discursiva, à decodificação das ações
concretas. O segundo nível refere-se à estrutura intermediária correspondente
à compreensão. O terceiro nível é a estrutura profunda, que corresponde à
interpretação. Esses níveis estão intimamente relacionados entre si, mesmo
sendo um ou outro privilegiado.

4
Semiótica é o estudo dos signos, ou seja, as representações das coisas do
mundo que estão em nossa mente. A semiótica ajuda a entender como as pessoas
interpretam mensagens, interagem como objetos, pensam e se emocionam.

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Os três níveis de leitura, como se pode notar, distinguem-se um do outro pelo
grau de abstração: o primeiro nível depreende os significados mais complexos
e mais concretos; o terceiro nível depreende os significados mais abstratos. As
diversidades se manifestam no nível da superfície do texto e a unidade se
encontra no nível mais profundo.

4.4.1 DECODIFICAÇÃO
É a primeira etapa do processo, porém não menos importante, pois ela é
resultante do reconhecimento dos símbolos escritos, e de sua ligação com os
significados. É a leitura literal do texto. ―A decodificação, para ser considerada
como uma etapa no processo de leitura, deve ser aliada à compreensão,
iniciando o processo de apreensão de significados. Decodificação mal feita
implica compreensão mal sucedida‖. (Menegassi,1997)

4.4.2 COMPREENSÃO
Capacidade de o aluno entender e captar a estrutura e temática do texto,
reconhecer e captar os tópicos principais, conhecer as regras textuais e
depreender as significações de palavras novas, fazendo inferências sobre o
sentido do texto. Por meio das inferências o leitor amplia seus conhecimentos
É o ato ou a faculdade de entender a ideia proposta, permitindo-lhe apreender
seu sentido ou significado.

4.4.3 INTERPRETAÇÃO
A interpretação é a capacidade de o leitor utilizar o julgamento crítico no
momento da leitura. Esta capacidade pode ser ampliada mediante os
conhecimentos de mundo, e através deles o leitor pode reformular seus
conceitos sobre o tema abordado. Ele expande sua leitura, faz ligações com os
conhecimentos que possui e, ao fazê-lo, estabelece a interpretação, extraindo
o sentido, retira conclusões, faz considerações, julga, avalia e faz uma nova
leitura a partir das inferências realizadas. Deve abranger:
 Conhecimento de mundo: É o conhecimento que o leitor traz para o
texto, constituído por suas vivências e suas outras leituras. Aqui se
encontram os pressupostos, as inferências e as implicaturas. (veja
subitem 1.5.5)
 Conhecimento linguístico: É o conhecimento da gramática em si e
sua aplicação dentro do texto para que possa ser estabelecida a
coerência. Ex.: Uso de artigos, ordem das palavras, conjunções,
tempos verbais, uso dos conectores de modo geral.

Dessa forma, a atividade de leitura é um processo de construção de


significados que envolve a habilidade de processar as informações registradas
no papel ou em uma tela (processo bottom-up) e o conhecimento de mundo
que o leitor aciona para interpretar um texto (processo top-down). No
processamento bottom-up, o leitor lança mão de seu conhecimento linguístico

Tipologia e Gêneros Textuais Página 119


– vocabulário, prefixos e sufixos, marcadores discursivos, organização textual,
conjunções etc. São elementos como os sufixos e prefixos, por exemplo, que
permitem que o leitor atribua significado a uma palavra. Esse processamento é
feito simultaneamente com o processamento top-down, que consiste em um
jogo de adivinhações em que o leitor utiliza seu conhecimento de mundo
(background knowledge) para testar hipóteses e fazer previsões sobre o que
vai encontrar em um texto. Assim, a leitura é vista como construção de
significados e não como transmissão de informação, visto que leitores
diferentes atribuem significados diferentes ao mesmo texto.Vejamos um
exemplo concreto desse processamento. Leia o texto abaixo:

Deixando Shimla a uma altutide de 2130 metros, nós nos dirigimos para
Narkanda a 3143 metros através de uma estrada sinuosa na montanha, abaixo
da qual a constante chuva de monção estava se tornando mais e mais
encharcante. Nós tivemos uma viagem relativamente tranquila até Rampur,
mas nosso progresso através da estrada lamacenta e encharcada era lento e
nós decidimos ficar em Rampur durante a noite.

Ao ler o texto acima, o leitor vai perceber que se trata de uma descrição de
uma viagem em um lugar montanhoso. O leitor vai usar seu conhecimento de
mundo (processo top-down) para produzir sentido e vai buscar no texto
(processo bottom-up) informações linguísticas para dar suporte às suas
hipóteses. Através do processo bottom-up, o leitor leva ao cérebro a
informação de que se trata de uma estrada montanhosa e que sinuosa
encharcado estão funcionando como adjetivos, ou seja, são outros atributos de
estrada. Através do processamento top-down, esse mesmo leitor ativa seu
conhecimento de mundo e levanta hipóteses sobre o que podem significar os
outros termos. Quais são as características de uma estrada montanhosa?
Provavelmente, a ideia de ser sinuosa, cheia de curvas, será uma das
primeiras coisas a lhe vir à mente.

No outro sintagma ―estrada lamacenta e encharcada‖, seu conhecimento de


mundo é suficiente para ele inferir que a estrada apresentava características
que dificultavam a viagem, motivo pelo qual o progresso era lento e os fez
parar. Como sabemos que, no texto, havia mais de uma pessoa? Pelas pistas
linguísticas, os pronomes nós e nosso (processamento bottom-up).

O processo descrito acima é uma hipótese do que pode acontecer com um


leitor. Com outra pessoa, poderia acontecer de forma diferente: outras
estratégias poderiam ser usadas, como, por exemplo, a consulta ao professor,
ao colega, ao dicionário etc.

Veja nos textos abaixo como o conhecimento do mundo age numa


interpretação.

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Texto 1
Desta Águas não Beberás - Carlos Drummond de Andrade
- Por que Demétrio não se casa? Era a indagação geral! Demétrio
namorava, noivava, não casava. Sete dias antes do casamento, olha aí
Demétrio fugindo. As versões eram múltiplas. A noiva é que o despedira.
Tiveram uma briga feia. Gênios incompatíveis. Mal secreto. Intrigas.
Demétrio continuava a namorar, noivar e não casar. Não lhe faltavam
noivas, pois era agradável, tinha status. Quanto mais se desmanchavam seus
projetos de casamento, mais apareciam mulheres dispostas ao desafio,
exclamando:
- A mim ele não deixa na porta do Mosteiro de São Bento.
Deixava. E quanto mais deixava, mais seu prestígio crescia. Concluiu-
se que era sua maneira de afirmar-se.
Então Livaniuska decidiu enfrentá-lo. Noivou com ele e, uma semana
antes do casamento, deu-lhe o fora solene. Demétrio quis reagir, explicou à
repórter social que ele é que tomara a ìniciativa, mas a mentira foi patente.
Livaniuska foi contratada como atriz por uma emissora de TV e ficou célebre.
Daí por diante ela repetiu a carreira de Demétrio, noivando e
desmanchando com inúmeros cavalheiros. No fim de cinco anos, Livaniuska e
Demétrio casaram-se .para sempre, como era fácil de prever mas ninguém
previu.
In: Carlos Drummond de Andrade. Prosa e Poesia, Volume único. 6 ed. Rio de
Janeiro, Nova Aguilar, 1988. p. 1258.

Para dar conta da construção de sentidos, percebemos que esse texto


narrativo pode começar a ser explorado pelo próprio título que nos remete a
um tom de desafio, valendo-se do mundo dos ditos populares. Que tipo de
desafio seria esse? Que "água" é essa? O "dom Juan" criado por Drummond,
que deixava as mocinhas casadoiras na mão, tornava-se vítima daquilo que ele
próprio inspirava.

O texto é construído sem a necessidade de uma alusão direta ao item lexical


igreja, mas a menção a outros itens lexicais ligados ao assunto - namorar;
casar; casamento; noiva etc. - conduz o leitor a inferir que se trata de
casamento na igreja. Isso é reiterado com a voz de uma das desafiantes: "A
mim ele não deixa na porta do Mosteiro de São Bento." (Mosteiro de São
Bento recobre, em todo o texto, "igreja").

O autor recria uma expressão dos contos de fadas (final feliz) - "casaram-se
para sempre" - para contrariar a voz geral do título, mostrando que o dom Juan
carioca acabou bebendo daquela água.

Percebemos, então, que ler não significa simplesmente saber o que está dito
no texto, mas também o que não está dito literalmente. Isso não quer dizer que

Tipologia e Gêneros Textuais Página 121


se possa encarar a leitura como um jogo de adivinhações que vise a decifrar o
sentido de um texto, mas atribuir a esse texto significações, conseguir instaurar
relações desse mesmo texto com outros textos.

Texto 2
Como gemas para financiá-lo, nosso herói desafiou valentemente todos os
risos desdenhosos que tentaram dissuadi-lo de seu plano. "Os olhos enganam"
disse ele, "um ovo e não uma mesa tipificam corretamente esse planeta
inexplorado". Então as três irmãs fortes e resolutas saíram à procura de
provas, abrindo caminho, às vezes através de imensidões tranquilas, mas
amiúde através de picos e vales turbulentos. Os dias se tornaram semanas,
enquanto os indecisos espalhavam rumores apavorantes a respeito da beira.
Finalmente, sem saber de onde, criaturas aladas e bem vindas apareceram
anunciando um sucesso prodigioso.
(In: "Effects of comprehension on retention of prose" Journal of Experimental
Psychology, Apud Kleiman, A. Texto e Leitor. Aspectos cognitivos da leitura.
Campinas: Pontes, 1992, p. 21)

Como podemos ver, é este conhecimento que nos permite identificar que o
texto trata da viagem de Colombo e sua chegada à América.

Texto 3
Ocupando uma área de 28 alqueires entre vegetação, lagos, pântanos
artificiais e edifícios, a instituição tem a finalidade científica de estudar a vida
dos animais. Contudo, seus portões se abrem para visitas de adultos e
principalmente crianças, curiosos de conhecer os habitantes-bicho: 130
espécies de mamíferos, 400 espécies de aves e 40 espécies de répteis. Os
animais aqui chegam por meio de trocas ou doações. Assim que o animal
chega, recebe uma ficha de entrada com um número, nome e dados referentes
ao tipo e quantidade de alimentação diária.

Sobre esse texto, retirado de uma revista semanal, podemos dizer que os
conhecimentos prévios armazenados em nossa memória tornam não só muito
fácil a leitura, como previsível. Nem é preciso haver a presença do item lexical
"zoológico" para que o leitor, com alguma experiência anterior em relação a
zoológico, tenha sucesso nessa leitura.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 122


Texto 4

A
situação representada na tira é conhecida dos fãs de senados ou filmes
policiais: várias pessoas são colocadas em pé, diante de uma parede, em uma
sala fechada. Cada uma delas é identificada por um número. Em outra sala,
uma testemunha de um crime observa, sem ser vista, as pessoas, e tenta
reconhecer entre elas o ‗suspeito‖ de ter cometido um crime.

O texto da tira pode parecer, à primeira vista, incompreensível. A primeira


parte (―Já não sei dizer quem foi ..‖) corresponde a uma fala possível de
alguém que, diante de suspeitos, não seja capaz de reconhecer nenhum deles.
O problema, porém, está na segunda parte da fala: ―Aliás, já nem sei quem
sou, de onde vim ou para onde vou‖. Que sentido pode ter uma fala como essa
no contexto criado pelo autor da tira (reconhecimento de um suspeito de
cometer um crime)?

Para responder a essa questão, precisamos analisar o texto e as imagens que


compõem a tira. Quem são os ―suspeitos‖ ali apresentados? Para identificá-los,
temos de recorrer a informações gerais sobre a história da filosofia ocidental,
porque todos eles são caricaturas de grandes filósofos. Veja.

―Suspeito‖ n° 1: René Descartes


(1596-1650). Filósofo, físico e
matemático francês, considerado o
fundador da filosofia moderna. Ao pôr
em duvida todo o conhecimento que,
então, julgava ter, concluiu que
apenas poderia ter certeza de que
duvidava. Se duvidava, então,
necessariamente, também pensava; e
se pensava, necessariamente existia.
Nasceu assim o famoso postulado
―Cogito ergo sum‖ (―Penso, logo

Tipologia e Gêneros Textuais Página 123


existo‖).

―Suspeito‖ n° 2: Sácrates (470 aC.-399


aC.), Filósofo ateniense, conhecido como
o pai da filosofia ocidental. A introspecção
e a caractenistica definidora da filosofia
socrática. Traduz-se no famoso lema
―Conhece-te a ti mesmo‖.

―Suspeito‖ nº 3: Karl Heinrich Marx


(1818- 1883). Filosofo alemão, famoso
pela análise que fez das relacões de
trabalho e produção ao longo da historia
humana. Propôs, no Manifesto
Comunista, obra escrita em conjunto com
Fnedrich Engeis, a criação de uma
sociedade mais justa, que diminuisse as
diferenças entre a burguesia e o
proletariado.

Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-


1900). Filosofo alemão. No livro Assim
Falou Zaratustra
(AlsosprachZarathustra), explica os
passos através dos quais o Homem
pode se tornar um ―Super- Homem‖.

―Suspeito‖ n 5: Jean-Paul Charles


Aymard Sartre (1905-1980). Filósofo
francês fundador do existencialismo,
corrente filosófica que defende a ideia
de que o ser humano deve se sustentar
pela especificidade da experiencia e por
sua natureza essencialmente individual
Só assim perceberemos nossa
verdadeira liberdade.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 124


Saber quem são as personagens da tira e conhecer suas teses filosóficas nos
ajuda a retomar o texto da última fala e reinterpretá-lo a partir das relações
existentes entre o pensamento de cada um desses filósofos e o que ali se diz.

Descartes, Sócrates, Marx, Nietzsche e Sartre, cada um deles no interior do


quadro filosófico que construiu, acabou enfrentando essa questão essencial:
quem somos?

Assim, a fala final ganha sentido, no contexto da. relações estabelecidas entre
os vários ―textos‖ evocados pela imagem dos filósofos, intencionalmente
escolhidos pelo autor da tira. Ao apresentar essas cinco personagens como
suspeitos do crime de confundir o indivíduo quanto à sua identidade, Laerte
estabeleceu uma série de relações intertextuais, que só podem ser inferidas a
partir do conhecimento do mundo, e garantiu o humor da tira.

Texto 5

E SQUERDA ROMANÉE CONTI


«(...) Ele ergueu um pouco o chapéu, descobrindo a fronte estreita,
enfeitada de uma gaforinha crespa e negrejante como a do
fabuloso Alcides, e respondeu, palavra a palavra: - Aqui está o seu
caso, estimável Teodoro. Vinte mil réis mensais são uma vergonha
social! Por outro lado, há sobre este globo coisas prodigiosas: há
vinhos de Borgonha, como por exemplo o Romanée -Conti de 58 e o
Chambertin, de 61, que custam, cada garrafa, de dez a onze mil réis; e
quem bebe o primeiro cálice, não hesitará, para beber o segundo,
em assassinar seu pai... (...)»O Mandarim, Eça de Queiroz, 1880.

Lula da Silva acabara de ganhar a primeira volta das eleições de 2002 quando,
amigo generoso pensando que futuro Presidente não precisava de matar pai,
lhe põe à frente um cálice de Romanée Conti. Lula bebeu e um Maracanã de
críticas caiu-lhe em cima.

A AUDÁCIA
Luís Fernando Veríssimo

Quem o Lula pensa que é, tomando Romanée-Conti? Gente! O que é isso?


Onde é que estamos? Romanée- Conti não é pro teu bico não, ó retirante. Vê
se te enxerga, ó pau-de-arara. O teu negócio é cachaça. O teu negócio é
prato-feito, cerveja e olhe lá. A audácia do Lula!
Hoje tomam Romanée-Conti, amanhã vão querer o quê? No mínimo se
achar iguais a nós. Pedir os mesmos direitos. Viver como a gente, que tem
berço, que tem classe, que tem bom gosto e portanto merece o melhor. E nós

Tipologia e Gêneros Textuais Página 125


sabemos como isso acaba. Logo, logo vão estar querendo subir pelo elevador
social.
O Lula tomando Romanée-Conti... Ora faça-me o favor. Que coisa
grotesca. Que coisa ridícula. Que acinte. Que escândalo. E que desperdício.
Vai ver ele não sabe nem pronunciar o nome, quanto mais apreciar o sabor.
Vai ver derramou um pouco pro santo, na toalha. Romanée-Conti não é pra
gentinha, não, Lula. As coisas boas da vida são para as pessoas finas do
mundo, não pra pé-rapado que bota gravata e acha que é doutor. Muito menos
pra pé-rapado brasileiro.
Está bom, foi só um gole. Mas é assim que começa. Hoje tomam um
gole de Romanée-Conti, amanhã estão com delírio de grandeza, pedindo
saneamento básico, habitação decente, oportunidade de trabalho e até —
gentinha metida a grande coisa não sabe quando parar — mais saúde pública,
mais igualdade e caviar. Enfim, essas coisas que intelectual comunista põe na
cabeça deles. Sim, porque a índole natural da nossa gentinha, em geral, é boa.
Se pudessem escolher, escolheriam angu aguado e vinho Boca Negra, coisas
autênticas, às vezes mortais, mas pitorescas. Como eles, que até hoje nunca
tinham incomodado ninguém, que até hoje conheciam o seu lugar. Agora,
depois da gentinha provar Romanée-Conti, ninguém sabe o que pode
acontecer neste país. Deram álcool para os índios! Nenhum branco está mais
seguro.
O Lula tomando Romanée-Conti... É o cúmulo. É uma inversão
completa dos valores sob os quais nos criamos, segundo os quais se Deus
quisesse que os pobres tomassem vinho de rico daria uma ajuda de custo. É o
fim de qualquer hierarquia social, portanto o caos. Ainda bem que ainda
existem patriotas alertas para denunciar o ridículo, o acinte, o escândalo, e
chamar o Lula de volta à humildade. Para mandar o Lula se enxergar.
Sim, porque hoje é Romanée-Conti e amanhã pode ser até a
Presidência da República. Gentinha que não conhece o seu lugar é capaz de
tudo.
A crônica foi publicada no GLOBO em 15/10/2002

Surpreendente não foi, apenas, a quantidade de pessoas que levaram a sério


as palavras de Veríssimo. Mais surpreendente foi o apoio que Veríssimo
recebeu de alguns, concordando com o que foi escrito.
"A coluna de Veríssimo de 15/10 é um amontoado de besteiras
preconceituosas contra o candidato do PT. Luiz Inácio Lula da Silva foi
chamado de retirante, pau-de-arara, gentinha, pé-rapado brasileiro. Tudo
porque ganhou uma garrafa de vinho Romanée-Conti. Veríssimo cometeu
discriminação quando o chamou de pau-de-arara e falou em "subir pelo
elevador social".
"A coluna de Veríssimo é um amontoado de besteiras preconceituosas contra
o candidato do PT. Luiz Inácio Lula da Silva foi chamado de retirante, pau-de-
arara, gentinha, pé-rapado brasileiro (...)", escreveu um leitor.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 126


"Ao ler a coluna de Veríssimo `A audácia!´ fiquei indignada com o tamanho do
preconceito desse intelectual (...)", escreveu outro.
"Eu e minha família estamos indignados com a opinião do Veríssimo em sua
coluna, por ele ter demonstrado claramente que não gosta de pobre decente,
capaz de ser alguém na vida e na sociedade. Ele não só humilhou o Lula como
toda uma nação que luta para um país melhor", detonou outro.
"Como pode um escritor do quilate, do berço, da inteligência e da elite de
Veríssimo escrever um texto racista e elitista como esse? A humildade tem que
fazer parte desse escritor, que exclui uma enorme parcela da sociedade das
coisas mais finas que ele julga ser só para os ricos e para ele", exagerou outro.
"Veríssimo foi infeliz, sobretudo, ao chamar-nos de gentinha. Posso não ser
dotado de uma situação que me permita tomar Romanèe-Conti, mas vale
lembrar que a maior parte desse país também não (...)", reclamou mais um
leitor.

Veríssimo foi obrigado a se "retratar" no jornal. No caso de uma ironia tão


evidente, isso deve ter sido frustrante para o autor. Mesmo assim, ele ainda
brincou com a situação: "Quando o leitor não entende o que o jornalista
escreveu, a culpa é sempre do jornalista. Peço desculpa a quem não entendeu
a intenção da coluna. O alvo era o preconceito social implícito na reação
desmedida ao fato do Lula ter tomado um bom vinho. Talvez tenha faltado o
aviso "Atenção: ironia". De qualquer jeito, culpa minha."

EXISTE DIFERENÇA ENTRE AS ETAPAS DE COMPREENSÃO E


INTERPRETAÇÃO?
Conforme Menegassi (1995), as etapas são diferentes entre si, porém
interligadas. A compreensão implica identificação da temática, dos tópicos
principais. Implica também o reconhecimento das estruturas textuais e
significação dos sentidos, e pode ser compreendida em níveis:
 Literal - quando o leitor de se detém exclusivamente ao que está posto
no texto.
 Inferencial - quando o leitor faz incursões no texto e dele retira as
informações que nem sempre estão explícitos, cabendo ao leitor ler nas
entre linhas.
 Interpretativo - quando o leitor deixa o texto e expande sua leitura
além do que está posto, pelas inferências, esse nível permite que o
leitor faça ligações entre o texto lido e os seus conhecimentos
anteriores.

Entretanto, a interpretação também pode ocorrer em dois aspectos:


 Dirigido - quando o autor induz a interpretação do leitor, deixando claro
suas intenções.
 Não dirigido - quando não as deixa demarcada, o que possibilita ao
leitor fazer várias interpretações.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 127


De acordo com Menegassi (1995) em seu artigo publicado na revista UNIMAR
em 17/01/1995, muitos professores não têm bem definidas as diferenças entre
as etapas, o que pode ser verificado através da pesquisa que ele realizou.

Para alguns professores não há diferenças, ou são termos equivalentes –


ambas exprimem mesmo conceito; outros afirmaram que a diferença se
restringe a uma questão de sequencialidade de atos. Acreditam que a
compreensão deve ocorrer antes da interpretação; outros ainda acreditam que
a interpretação deve preceder a compreensão. Para eles a interpretação é
base da leitura e sua compreensão; e outros professores disseram que a
interpretação é um elemento fundamental. Afirmam que a compreensão e
interpretação se resumem unicamente em interpretação.

Nesta pesquisa realizada por Menegassi, concluiu-se que a interpretação está


ligada ao conhecimento que o individuo possui e que a união destes fatos
amplia o conhecimento do aluno. Desta forma a compreensão deve preceder
a interpretação para que ocorra o processo de leitura. Para que a leitura se
desenvolva de forma satisfatória, necessitamos entender as etapas de leitura e
deixá-la clara aos alunos, pois o bom nível de leitura redundará em produções
eficientes. Quanto maior o nível de compreensão e interpretação, melhor será
o desempenho nas construções de textos claros e coerentes.

Assim como esses professores, a maioria dos alunos enfrenta a mesma


dificuldade, ou seja, o desconhecimento dessas etapas e de seu papel
importante na efetivação da leitura. Os alunos leem o texto, mas não
conseguem fazer inferências ou construções, uma análise crítica sobre o que
foi lido. Em geral ficam no que foi exposto pelo autor.

4.5 ESTRATÉGIAS DE LEITURA


As duas estratégias de leitura mais citadas pelos estudiosos da habilidade de
leitura são: scanning e skimming. A utilização dessas estratégias depende do
propósito da leitura e elas devem ser ensinadas em situações em que sejam
realmente relevantes.

SKIMMING - consiste numa técnica de leitura rápida em busca da ideia geral.


Permite, por exemplo, perceber se determinado texto nos interessa e se vale
a pena ou não continuar a lê-lo.
Indicam-se algumas sugestões de trabalho:
 Ler o título, antetítulo, subtítulo, para descobrir o assunto tratado
notexto.
 Olhar para outras pistas de leitura, como imagens, disposição dos
espaços, etc.
 Ler as primeiras e últimas palavras da frase.
 Deixar os olhos passarem pelo texto, retendo palavras-chave.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 128


 Pensar sobre o sentido do texto.

Geralmente expressa-se por questões que pedem para inferir a ideia geral do
texto, dos parágrafos, dos períodos.

SCANNING – técnica de leitura rápida utilizada quando se lê em busca de


informação específica no texto, como procurar uma palavra no dicionário,
ver um artigo num catálogo, procurar um n.º de telefone na agenda, etc. Para
isso, devem procurar-se ideias-chave, dando especial atenção aos
organizadorestextuais, como números, cores, sublinhados, etc.

Assim, skimming envolve a exploração, pelo estudante, dos aspectos afetivos


da interação entre o escritor e o leitor e as de scanning têm por objetivo a
organização e estruturação do processamento cognitivo do texto. Ambas são
estratégias associadas a leituras rápidas e são muito semelhantes. O que
diferencia uma da outra é que, ao usar a estratégia de scanning, o leitor sabe o
que está procurando, ou seja, ele está procurando uma informação específica,
ao passo que, com a de skimming, o leitor está em busca do sentido geral do
texto, muitas vezes para decidir se vai ler todo o texto de forma mais
detalhada.

Uma estratégia não exclui a outra. Muitas vezes você usa a estratégia de
skimming para ler em um jornal, por exemplo, a seção de cinema. Você
escolhe o filme pelo título e, em seguida, usa a técnica de scanning para
localizar o horário. Se o horário for conveniente, você pode usar uma terceira
estratégia, ler detalhadamente.

4.6 A PRÁTICA DO PROFESSOR


O comentário corrente entre os professores é de que o aluno não gosta de ler.
Porém, pesquisas feitas Fecchio (2001) comprovam que essa atividade é bem
aceita pelos alunos e eles até têm um bom gosto por ela. Essa contradição de
informações levou-nos à reflexão sobre o que pode estar havendo entre o
gostar de leitura no entender dos professores e no entender dos alunos.

A falta de uma boa estratégia para o desenvolvimento de uma aula de leitura


pode ser motivo relevante para a falta de interesse dos alunos. Seria
interessante que, antes da leitura, o professor comentasse um pouco, alguma
parte interessante da obra a fim de preparar os alunos e despertar (naqueles
não muito motivados) o interesse pelo enredo.

Depois da leitura, sempre deveria ser permitidos espaços para possíveis


interpretações, como forma de enriquecimento, e também como forma de o
professor conduzir o aluno a níveis mais profundos de compreensão.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 129


Iniciando com atividades motivadoras desse tipo, o educador estaria
começando desde o inicio da vida escolar da criança a exercitá-la para que
diante de qualquer fato obscuro ou lacuna de compreensão, a criança pudesse
preencher esses espaços e construir sua interpretação, vindo assim a não se
acostumar com uma só leitura de qualquer texto.

Na maioria das vezes essa etapa é queimada. A escola, desde aí, prepara a
criança para habituar-se a não compreender, ou melhor, a acomodar-se ao fato
de que a escola não cria espaço de discussão, onde as dificuldades apareçam
e possam ser sanadas.

É importante que o professor abra espaço para várias interpretações, pois o


aluno deve saber que há um espaço reservado para a sua leitura. ―E o papel
do professor não é o de instrutor nem o de examinador, mas o de uma pessoa
para a qual os livros são importantes.‖ (Bamberger, 2004)

Cabe ao professor criar um ambiente favorável à divergência, que não se


buscam respostas corretas, mas possíveis, sendo salutar e rica a diferença de
opiniões e que só o respeito à divergência pode enriquecer a visão de cada um
acerca da leitura.

Nesse momento de discussão, outra atitude importante por parte do professor,


é que ele traga a problemática do texto para que o aluno internalize que ler é
aprender coisas que sirvam para sua vida, que possam fazê-lo viver melhor e
cabe ao aluno verificar de que modo é possível aproveitar o que aprendeu nos
livros, trazendo aquela experiência para a vida real.

O professor deve também, na medida do possível, dar liberdade ao aluno de


escolher o livro ou a leitura que mais lhe convenha ou que vá ao encontro com
seus anseios e necessidades. No ensino médio, quando os alunos estão em
fase de preparação para o vestibular, cabe ao professor apresentar aos alunos
as obras exigidas nos vestibulares das universidades mais próximas e deixá-
los livres para escolher dentre os apresentados, pois isto para eles é fator
importante de motivação. De acordo com Bamberger (2004) ―Para jovens
leitores, os bons livros correspondem às suas necessidades internos de
modelos e ideais, de amor, segurança e convicção.‖

O professor não deve confundir leitura qualitativa com leitura quantitativa. Por
isso, em vez de exigir um número exagerado de obras durante o ano, é melhor
ler menos, mas que seja alcançada a compreensão total da leitura. Segundo
Freire (2001): ―Muito de nossa insistência enquanto professores e professoras,
em que os estudantes ‗leiam‘, num semestre um sem número de capítulos de
livros, reside na compreensão errônea que as vezes temos do ato de ler‖.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 130


O que fazer para que esses alunos, na escola e após saírem dela não percam
esse hábito pela leitura? Sem dúvida, é preciso antes de tudo que o professor
seja ele também um leitor crítico e habitual para que se torne espelho e
referencia a seus educandos. Essa orientação é sugerida por Bamberger
(2004): ―[...] Têm geralmente um relacionamento muito bom com o professor, o
qual, por sua vez, leitor entusiasta, procura fazer com que os alunos
experimentem na leitura um prazer idêntico ao seu.‖

Por isso: ―O professor de leitura, antes de mais nada, deve ser um apaixonado
pela leitura‖ (Fecchio, 2003). O professor deve fazer com que as aulas de
leitura sejam horas prazerosas para os alunos, de muita criatividade e
envolvimento. Deve mostrar o livro como companheiro, não como trabalho
escolar. O professor não deve querer somente que os alunos lhe falem sobre
suas experiências com livros, mas ele também deve relatar as emoções, as
experiências que os livros lhe deram. Silva (2001) afirma: ―Para que a leitura
‗encante‘ os alunos, é preciso que o professor ‗deleite-se‘ com ela‖.

O grande questionamento é: como desenvolver o gosto pela leitura em alunos


que não foram incentivados a ler desde as séries iniciais? Talvez o melhor
caminho seja começar pelo professor, ou seja, o professor é um leitor? O que o
professor lê? Que acesso tem o professor aos livros de sua área de
conhecimento? Que tempo sobra, afinal, para a busca e leitura de textos?

Os professores que em sua prática educativa fazem da leitura um processo de


formação, tendo como suporte um planejamento eficiente com seus objetivos
detalhados e precisos, conseguirão realizar com mais sucesso o seu trabalho
em sala de aula. Do contrário, de nada adianta dispor de oportunidades para
ler e ter livros se não há tempo para essa atividade. O professor deve dispor de
um momento de sua aula para que o aluno possa manter um contato com
algum tipo de texto e fazer uma leitura, "Somente o professor que encara a
leitura do aluno como um todo é realmente capaz de formar leitores".
Bamberger (2004).

Decerto nenhuma técnica ou metodologia nova e/ou reformulada ensinará ou


incentivará mais o aluno a desenvolver o gosto pela leitura do que o exemplo
do professor, da família. Além do mais, a leitura deve também fazer sentido
para o leitor; ler por um motivo, um objetivo. É pensando numa transformação
da prática de leitura que um dos múltiplos desafios a ser enfrentado pela
escola é o de fazer os alunos ler e interpretar o que leram.

Sabemos que o papel do professor de português é propiciar as condições para


que o aluno descubra o valor do ato de ler e compreender, pois acreditamos
que se o aluno não lê porque acha a leitura muito difícil, ela se tornará mais
difícil quanto menos se lê. Para que as ações planejadas pelo professor sejam

Tipologia e Gêneros Textuais Página 131


executadas eficazmente, é fundamental o conhecimento da realidade escolar
que pode ser adquirida entre outros meios através de pesquisas e a própria
vivência de sala de aula.

PROPOSTA DE CONDUÇÃO DA PRÁTICA DE LEITURA

O professor sendo um pesquisador busca através da coleta de dados o norte


do seu trabalho, e a partir de então dá início às suas ações a fim de atingir os
objetivos almejados em relação à aprendizagem de seus alunos. Para isso,
são necessários tempo, disponibilidade e vontade própria. Geralmente é
recomendado que um trabalho de sondagem seja realizado nas primeiras
semanas de aula, visto que este período é destinado à diagnose, que, por sua
vez, quase sempre foge do foco da leitura, tornando-se um instrumento a
serviço da constatação do quanto o aluno domina a gramática e a ortografia e
como ele veio da série anterior.

O educador deve ter conhecimento de que a formação do leitor, na escola, tem


duas facetas. Uma delas é o desenvolvimento sistemático e progressivo das
habilidades de leitura – compreensão, interpretação, avaliação, etc., o que se
faz com textos curtos sobre os quais se propõem questões, formulam-se
exercícios e atividades. A outra faceta é o incentivo à leitura como prazer e
lazer, o que se faz promovendo o convívio dos alunos com os livros de
diferentes gêneros – narrativas, poemas, histórias em quadrinhos, reportagens,
relatos, etc., possibilitando a leitura de livros inteiros, sugerindo atividades que
possam levar o aluno a descobrir o prazer de ler.

Ao tratar-se de procedimentos de leitura, devem ser abordadas também as


competências básicas que serão demonstradas por meio das habilidades
cognitivas como, por exemplo, localizar informações explícitas e inferir as
implícitas em um texto. Sabemos que as informações implícitas exigem maior
habilidade para que possam ser inferidas, visto exigirem do leitor a ampliação
do reconhecimento do que não está na superfície do texto.

Nesse contexto, considerando as discussões já feitas anteriormente sobre


concepção de leitura, seus tipos e níveis, apresentar-se-ão as três fases de
atividades de leitura, de modo que estas possam orientar o professor na
condução da prática da leitura, isto é, sugestões que podem ser acrescidas de
criatividade na hora de serem desenvolvidas em sala de aula e adaptadas de
acordo com a clientela vigente.

1ª FASE: ATIVIDADE DE LEITURA DE RECONHECIMENTO

A leitura de reconhecimento visa tanto ao entendimento da linguagem do texto


como também à busca de conhecimentos não compartilhados, os intertextos,

Tipologia e Gêneros Textuais Página 132


por exemplo, o que permite verificar o grau de conhecimento do aluno acerca
dessas questões para receber orientação do professor, a fim de realizar uma
leitura eficiente. Quando o texto vem escrito numa linguagem considerada de
nível padrão culto da língua, ele requer certo domínio desse registro e
amplitude vocabular, o que exigirá o uso de dicionário pelo aluno. Por isso,
nesta fase de reconhecimento inicia-se a leitura propriamente dita, em que a
leitura silenciosa é prática essencial e elementar para que haja familiarização
com o texto.

Para a leitura de reconhecimento é muito importante fazer uso do dicionário a


fim de que o aluno possa esclarecer possíveis dúvidas com relação às
palavras encontradas no texto lido, as quais ainda não fazem parte do seu
repertório vocabular.

Retomando o tema sobre leitura silenciosa, sugere-se que o professor,


juntamente com os alunos, prepare um espaço para a leitura. Dependendo do
propósito previamente estabelecido, a leitura poderá ser para obter informação,
para diversão e/ou para estudo. De qualquer forma, o professor deve estar
atento para auxiliar o aluno quando for necessário.

Se o propósito refere-se a uma socialização do texto lido, após a leitura, o


professor discute com os alunos a estrutura do gênero trabalhado, esclarece o
vocabulário e os assuntos gramaticais presentes no texto. Vale ressaltar que
nesse intercâmbio o estudo do texto realizado com os alunos se torna mais
produtivo, pois acontecerá dentro de um ambiente discursivo e as respostas
ocorrerão a partir das dúvidas e perguntas dos alunos.

Ao assumir o seu papel, o professor tem uma séria responsabilidade e o


privilégio de incentivar o gosto pela leitura que pode ser desenvolvido também
através da leitura em voz alta, seja para crianças ou adolescentes. De fato,
ninguém resiste a uma história bem contada ou mesmo a um texto informativo
que seja estimulante e bem selecionado. Ao ouvir textos lidos em voz alta, os
alunos poderão diminuir a relutância para se expressarem em voz alta. Para
isso é importante também motivar a escuta de textos com mudança no tom de
voz, enfatizar as expressões, enfim, dar vida ao texto. Uma rica interação
dialogal na sala de aula, dos alunos entre si e entre o professor e os alunos, é
uma excelente estratégia de construção de conhecimento.

O professor deve planejar atividades regulares de leitura, assegurando que


tenham a mesma importância dada às demais. É fundamental mostrar que
você, professor, também lê e aprecia o texto lido, conversando sobre o tema,
escritor, ilustrações, trechos instigantes, a origem do autor, os porquês da
história, etc... Isso será de grande importância para a contextualização da
leitura e tem especial relevância para o aluno. Depois de várias sessões de

Tipologia e Gêneros Textuais Página 133


leitura em voz alta, o educador pode solicitar que os educandos dramatizem
histórias que eles mesmos selecionaram ou escreveram. Assim, os educandos
poderão recontar o que leram, como se estivessem fazendo resumo do que
presenciaram no texto, e ao final, podem enfatizar os elementos que
dificultaram a leitura (vocabulários, termos desconhecidos, estruturas etc.).

De certa forma, é importante ressaltar que a leitura em voz alta seja ela feita
pelo professor ou pelo estudante, deve ser preparada (ensaiada) previamente,
na medida em que seus mecanismos são diferentes dos da leitura silenciosa.

2ª FASE: ATIVIDADE DE LEITURA GLOBAL

Após a fase de discussão e explicação do texto lido, inicia-se a fase da leitura


global que visa à compreensão do texto como um todo, ou seja, início, meio e
fim e não somente de partes como acontece quando se usa questionário para
o aluno responder com base no texto. Durante este processo de leitura deve-
se garantir que o aluno (leitor) compreenda o texto e que possa ir construindo
uma ideia sobre o conteúdo, extraindo dele o que lhe interessa, em função dos
seus objetivos. Isso só pode ser feito mediante uma leitura individual e precisa,
que permita avançar, parar, pensar, recapitular, relacionar a informação com o
conhecimento prévio, formular perguntas, decidir o que é importante e o que é
secundário.

É importante que os alunos discutam e assumam os propósitos para diferentes


tipos de leitura, e que todos eles tenham como base a compreensão (maior ou
menor) do texto. Assim sendo, pode-se propor uma "triagem de textos", ou
seja, a leitura analítica de um leque de textos de grande diversidade formal e
funcional remetentes a um mesmo tema, por exemplo, amor, amizade,
juventude, namoro etc. Essa prática permite aos alunos experienciarem a
formulação de critérios, levando-os a se questionarem sobre suas referências
mais estáveis de leitura, como os tipos de texto e os diversos gêneros em que
eles se manifestam.

3ª FASE: ATIVIDADE DE LEITURA LOCAL

Na atividade local, realizada através de questionário feito à turma, visa-se à


interpretação de pontos não aprofundados e até mesmo não compreendidos
pelos alunos, revelados durante a atividade global. Após todas as fases e
atividades supracitadas a aula segue em sua finalidade: o ato da escritura que
antes apenas orientava a discussão, posicionando-se quando necessário,
passa agora a atuar diretamente na leitura, o que corresponde à interação
professor/aluno. Nesse momento, o professor deve paulatinamente investigar
todos os passos que os alunos deram no ato da socialização.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 134


Nessa perspectiva, o professor poderá pedir ao final do processo de condução
da leitura que cada aluno individualmente produza um texto oral sobre o
conteúdo, ou ainda realizar uma leitura, agora mais aprofundada, mais densa,
aumentando desta forma o grau de dificuldade e ampliando a visão do aluno
em relação ao conteúdo trabalhado. Além disso, deve-se remeter pequenas
mensagens pessoais para a turma, solicitando a pesquisa ou a leitura de um
texto de aprofundamento, pedindo um resumo ou outro. Sorteará em classe
outras leituras que estejam dentro do tema trabalhado e depois socializá-las
retomando o assunto anterior.

Enfim, o professor deve planejar passo a passo a condução da leitura,


pesquisar textos preocupando-se em ter um objetivo bem definido para
desenvolver com os estudantes. Os textos devem estar à altura do repertório
dos alunos para que o diálogo com a leitura seja produtivo, mas sem
desconsiderar a diversidade de outros gêneros, os quais podem também ser
inseridos e assim aumentar o repertório de leitura dos alunos.

Dependendo do número de alunos da turma, selecione um número maior de


obras literárias para serem levadas para a sala de aula. Cada aluno escolherá
o livro que quer ler. Determine um tempo para a leitura. Decorrido o prazo,
passe para a parte de socialização dos conteúdos lidos. Em síntese,
estabelecer um processo de condução de leitura que leve o aluno a uma
produção consiste em:
 Pensar na atual concepção de leitura, a leitura de mundo e levar em
conta a dimensão formadora da leitura;
 Ler um texto e colocar em ação o conhecimento de mundo, o conjunto
de vivências, de experiências que possui.
 Trabalhar diferentes gêneros textuais com variadas linguagens,
desenvolvendo a competência linguística e a competência crítica;
 Ativar o conhecimento prévio dos alunos, ensinando a fazer perguntas
sobre o texto para aumentar as inferências necessárias a fim de atingir
seu objetivo.
 Fazer hipóteses e previsões sobre o texto a ser lido. Ensinar a
estabelecer previsões, baseando-se no gênero, no título, no subtítulo,
nas ilustrações.
 Favorecer a participação do aluno por meio de perguntas e situações
em que ele tenha de fazer uso de estratégias que lhes facilitem a
compreensão do texto.
 Articular diferentes situações de leitura silenciosa, coletiva, oral,
individual e compartilhada e selecionar os textos mais adequados para
alcançar os objetivos.
 Estimular a turma a sempre trocar ideias e discutir o que foi lido.
 Propor trabalhos em que os alunos precisem ler para seguir instruções,
revisar a própria escrita, praticar a leitura em voz alta e memorizar.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 135


Através de discussões, composições e observações é que se descobrem os
interesses de cada aluno e a necessidade de aumentar os conhecimentos
acerca de determinado assunto. De posse dos conhecimentos do tema em
questão, o educador descobrirá como ajudar os alunos a enfrentar as
dificuldades que eles apresentam. (BAMBERGER, 2004).

Por conta da proficiência da leitura, o professor, de maneira sutil e eficaz,


poderá fazer com que elementos da escrita: livros, autores ilustradores,
poetas... sejam transformados no tema central das conversas em sala de aula
"mesmo que esporadicamente" sem burocratizar ou forçar essas conversas.
Para alunos que estão em plena adolescência, é interessante que lhes sejam
oportunizadas leituras que venham ao encontro dos anseios juvenis, tendo a
ver com a sua realidade que certamente difere uma das outras.

Uma boa medida para avaliar se o texto foi bem compreendido é a resposta a
três questões básicas:

I - Qual é a questão de que o texto está tratando? Ao tentar responder a essa


pergunta, o leitor será obrigado a distinguir as questões secundárias da
principal, isto é, aquela em torno da qual gira o texto inteiro. Quando o leitor
não sabe dizer do que o texto está tratando, ou sabe apenas de maneira
genérica e confusa, é sinal de que ele precisa ser lido com mais atenção ou de
que o leitor não tem repertório suficiente para compreender o que está diante
de seus olhos.

II - Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão?


Disseminados pelo texto, aparecem vários indicadores da opinião de quem
escreve. Por isso, uma leitura competente não terá dificuldade em identificá-la.
Não saber dar resposta a essa questão é um sintoma de leitura desatenta e
dispersiva.

III - Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião
dada? Deve-se entender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor
para convencer o leitor de que ele está falando a verdade. Saber reconhecer
os argumentos do autor é também um sintoma de leitura bem feita, um sinal
claro de que o leitor acompanhou o desenvolvimento das ideias. Na verdade,
entender um texto significa acompanhar com atenção o seu percurso
argumentatório.

ANÁLISE DE TEXTO
Analisar significa estudar, decompor, dividir, interpretar. Analisar um texto é
separar os elementos e partes que o compõe até alcançar a "chave" do autor.
é descobrir seu plano e estruturar suas ideias, separando as mais importantes

Tipologia e Gêneros Textuais Página 136


(primárias), que dão significado ao texto, das secundárias, que complementam
o sentido do que está escrito.

A finalidade principal da análise de um texto é conhecê-lo por dentro, pondo


em evidência as ideias principais, as afirmações mais importantes, sem fazer
julgamento (crítica).

A seguir indicamos uma sequência de passos que podem auxiliar na análise de


um texto.

i) Verificar a natureza do texto (o que é?), visando esclarecer se o texto que


está sendo lido é trecho de obra, carta, artigo de jornal ou revista, artigo de lei
ou decreto, parágrafo de uma encíclica, termos de um contrato, ... de um
acordo, ... de um tratado.

ii) Criticar a autenticidade do texto, verificando autoria (quem escreveu?),


época (quando foi escrito?), local (onde?), se é um documento original ou
cópia, por que vias chegou até nós?

iii) Discutir possíveis circunstâncias que levaram à redação (por quê?), visando
obter explicação objetiva, lógica para o aparecimento do texto. Relacioná-lo
com os efeitos, correntes de ideias, opiniões, comportamentos, pensamentos,
cultura da época em que foi redigido.

iv) Definir, numa frase, a ideia geral (plano) do texto. Prestar atenção nas
palavras chaves, que indicam a ideia principal contida no texto.

v) Fazer uma análise interna. Explicar detalhes contidos no texto, procurando


interpretar os significados das palavras, a utilidade e a importância dos termos
empregados e dos conceitos usados pelo autor. Buscar através de pesquisas
documentais os esclarecimentos necessários para a compreensão do texto.

vi) Fazer uma síntese. Evidenciar o valor e a importância do texto. Destacar,


ordenar e hierarquizar os conceitos emitidos pelo autor. Refletir sobre os
elementos fornecidos pela análise interna.

vii) Extrapolar a análise do texto para considerar possíveis consequências do


texto, no tempo, na posteridade. Examinar possíveis influências do texto na
evolução dos acontecimentos a ele relacionados.

Durante a leitura é preciso conferir as interpretações, fazendo perguntas ao


texto. Para isso fazemos perguntas elementares:
 Quem escreve? Autor.
 Que tipo de texto é? Gênero.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 137


 A quem se destina? Público.
 Onde é veiculado? Suporte editorial.
 Qual o objetivo? Intenções.
 Com que autoridade? Papel social do autor.
 O que eu já sei sobre o tema? Conhecimentos prévios do leitor.
 Quais são os outros textos que estão sendo citados? Intertextualidade.
 Quais são as ideias principais? Informações.
 Quais são as partes do texto que apresentam objetivos, conceitos,
definições, conclusões?
 Quais são as relações entre essas partes? Estrutura textual.
 Com que argumentos as ideias são defendidas? Provas.
 Onde e de que maneira a subjetividade está evidente?Posicionamento
explicitado.
 Quais são as outras vozes que perpassam o texto? Distribuição da
responsabilidade pelas ideias.
 Quais são os testemunhos utilizados? Depoimentos.
 Quais são os exemplos citados? Fatos, dados.
 Como são tratadas as ideias contrárias? Rebatimento ou antecipação de
oposições.

Para finalizar, é preciso ficar claro que a aula de leitura não precisa repetir o
modelo tradicional de um texto acompanhado de perguntas que, muitas vezes,
não envolvem nenhum esforço cognitivo e fazem com que os alunos achem a
aula monótona e artificial. Veja, abaixo, alguns tipos de atividades que podem
tornar sua aula mais interessante.
 Classificar elementos de um texto
 Colocar eventos em ordem
 Colocar parágrafos/frases em ordem
 Combinar um conjunto de títulos com um grupo de pequenos textos
 Comparar textos sobre um mesmo assunto
 Comparar textos e gravuras
 Completar um diagrama após a leitura de um texto
 Completar um texto
 Completar ou construir um mapa semântico após a leitura de um texto.
 Dar título a um texto
 Escrever carta ao editor após ler um texto de jornal ou revista
 Fazer anotação das ideias principais
 Fazer inferências
 Fazer previsões
 Fazer resumos
 Fazer um diagrama indicando relações entre personagens, eventos,
itens de um texto etc.
 Identificar a ideia principal ou ideias principais
 Identificar o que é fato e o que é opinião
 Localizar e sublinhar partes do texto

Tipologia e Gêneros Textuais Página 138


 Mudar o final de um texto
 Ordenar uma sequência de gravuras
 Procurar informações específicas
 Realizar exercícios diversos de retextualização (ex. versão moderna de
um conto de fadas)
 Responder a questões de múltipla escolha
 Segmentar o texto em unidades de significado

DESFAZENDO UM MITO

Quando o assunto é leitura e escrita, é comum ouvirmos que ―é preciso ler


muito para escrever bem‖. Essa ideia pressupõe que hábitos de leitura e
domínio da escrita estão diretamente relacionados, sendo que ―ler muito‖ é
considerado condição necessária para ―escrever bem‖. Um exemplo de quem
defende essa tese é Dad Squarisi, autora do Manual de Redação e Estilo dos
Diários Associados. Segundo ela, escreve bem quem escreve muito. E, para
escrever muito e bem, tem de ler muito. Mas afinal, será que realmente é
preciso ler muito para escrever bem? Ou, em outras palavras: será que ―ler
muito‖ é condição necessária e suficiente para ―escrever bem‖? Ou, para
―escrever bem‖, é preciso haver algo além da leitura?

Só se aprende a ler, lendo


Apesar de leitura e escrita serem processadas no mesmo hemisfério do
cérebro, o esquerdo, essas habilidades se desenvolvem em áreas diferentes.

Por isso, é comum pessoas que leem muito cometerem erros gráficos. No
processo de aquisição da escrita esses erros não foram apropriadamente
corrigidos e/ou foram a grafia foi erradamente aprendida. A partir do momento
em que o cérebro processa determinada escrita, isso se solidifica. Quando a
pessoa lê, as palavras não são processadas letras por letra.

Nosso cérebro tem curiosas formas de contornar situações que embaraçariam


muitos sistemas computadorizados, mesmo alguns dos mais sofisticados. Uma
das mais conhecidas é o fenômeno do cinema. Vemos uma série de quadros
fixos projetados numa tela, em rápida sucessão. Se eles passassem numa
velocidade constante, veríamos apenas um borrão. Porém, um dispositivo
chamado "cruz de malta" faz com que cada quadro projetado pare por alguns
décimos de segundo, antes de ser projetada na tela a imagem seguinte, de
forma a vermos algo como 24 quadros diferentes por segundo. O resultado
disso engana nosso cérebro, e temos a sensação de que as figuras mostradas
na tela estão se movimentando.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 139


Também, quando lemos um texto, o cérebro consegue processar palavras
incompletas, e nem nos damos conta, por exemplo, de que no parágrafo
anterior as palavras "sofisticados" e "seguinte" estão com uma letra a menos.

Tais fenômenos foram estudados por especialistas, que desenvolveram testes


como estes, demonstrando essas curiosidades.

35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554


C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3
N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4
M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M
PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O
D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5!

Dessa forma, a leitura não vai nos fazer automaticamente ser um bom escritor.
É claro que nos dará conhecimento de mundo, de outras leituras, tão
importante para a decodificação de um texto. A leitura nos dará bagagem para
nossas próximas leituras, e isso é muito importante.

Ler estende-se desde a habilidade de simplesmente traduzir em sons sílabas


isoladas, até habilidades de pensamento cognitivo e metacognitivo; inclui, entre
outras habilidades: a habilidade de decodificar símbolos escritos; a habilidade
de captar o sentido de um texto escrito; a capacidade de interpretar sequências
de ideias ou acontecimentos, analogias, comparações, linguagem figurada,
relações complexas, anáfora; e ainda habilidades de fazer predições iniciais
sobre o significado do texto, de construir o significado combinando
conhecimentos prévios com as informações do texto, de controlar a
compreensão e modificar as predições iniciais, quando necessário, de refletir
sobre a importância do que foi lido, tirando conclusões e fazendo avaliações.

Além dessa grande variedade de habilidades e conhecimentos de leitura, há


ainda o fato de que essas habilidades se aplicam de forma diferenciada a uma
enorme diversidade de materiais escritos: literatura, manuais didáticos, textos
técnicos, dicionários, enciclopédias, tabelas, horários, catálogos, jornais,
revistas, anúncios, cartas formais e informais, cardápios, avisos, receitas...

Assim como a leitura, também a escrita, na sua dimensão individual, é um


conjunto de habilidades e conhecimentos linguísticos e psicológicos, não só
numerosos e variados, mas ainda radicalmente diferentes das habilidades e
conhecimentos que constituem a leitura. Enquanto as habilidades e
conhecimentos de leitura se estendem desde a habilidade de decodificar
palavras escritas até à capacidade de integrar informação obtida de diferentes
textos, as habilidades e conhecimentos de escrita estendem-se desde a
habilidade de simplesmente transcrever sons até à capacidade de comunicar-

Tipologia e Gêneros Textuais Página 140


se adequadamente com um leitor potencial. Tal como foi afirmado com relação
à leitura, também aqui não são categorias polares, mas complementares:
escrever é um processo de relacionamento entre unidades sonoras e símbolos
escritos, e é também um processo de expressão de ideias e de organização do
pensamento sob forma escrita.

Dessa maneira, escrever engloba desde a habilidade de traduzir fonemas em


grafemas, até habilidades cognitivas e metacognitivas; inclui habilidades
motoras, ortografia, uso adequado da pontuação, a habilidade de selecionar
informações relevantes sobre o tema do texto e de identificar os leitores
pretendidos, a habilidade de fixar os objetivos do texto e de decidir como
desenvolvê-lo, a habilidade de organizar as ideias no texto, de estabelecer
relações entre elas, de expressá-las adequadamente.

Assim, podemos constatar que leitura e escrita dependem de habilidades


diferentes. Por isso, podemos afirmar que SÓ SE APRENDER A ESCREVER
ESCREVENDO, E SÓ SE APRENDE A LER LENDO.

CONSIDERAÇÃO COMPLEMENTAR

Em entrevista a revista Época o autor pedagogo francês, Jean Foucambert fez


importantes considerações a respeito da leitura. Para ele não há sentido em
apegar-se ao enredo do livro uma vez que a leitura vale mais pela visão do
autor sobre o tema do que propriamente o assunto abordado. Assim, a leitura é
leitura de uma escrita, não de uma historinha, que é, quase sempre,
extremamente banal.

Como exemplo, ele cita o clássico Madame Bovary, de Flaubert cujo enredo é
a história de uma mulher que se casa com um farmacêutico, se entedia,
engana o marido e morre.

Se o leitor pensar no enredo, não lê o livro, pois histórias assim são tão
corriqueiras que podem ser vistas até mesmo nos jornais. Só o próprio texto
incentiva a leitura.

O teórico Jean Ricardou acrescenta que os leitores são pessoas que sabem
que estão diante da aventura da escrita, e não da escrita de uma aventura.

Para Foucambert os maus leitores se interessam somente pelo enredo e, por


isso mesmo, são maus leitores. O objetivo do livro não é contar nada e sim
dividir o ponto de vista do autor a partir da linguagem escrita. Declara: ‖Se
quisermos que as pessoas leiam, é preciso fazê-las descobrir o trabalho
escrito‖. Não podemos, por exemplo, criar em alguém o gosto pela pintura
descrevendo o rosto de Mona Lisa. Não vai funcionar, conclui ele.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 141


UNIDADE 5 - SUGESTÕES DE
TRABALHO

Para que o professor chegue ao produto final, TEXTO, é necessário


seguir determinadas etapas em sua construção. Lembre-se de que a
produção de um texto é a última etapa de um processo de escrita que
deve ser construído. Aqui vão algumas sugestões de exercícios.

I. ESTRUTURAÇÃO TEXTUAL E ADEQUAÇÃO GRAMATICAL


1. O trecho abaixo, extraído da seção de Esportes, apresenta problemas de
estruturação. Reescreva-o de modo a eliminar tais problemas.
O técnico Carlinhos admira Fábio Baiano, a quem conhece-o desde garoto que
o treinou nas categorias de base. (31/08/99)

2. O trecho apresenta problemas de estruturação. Reescreva-o de modo a


eliminar tais problemas.
Se eu não tivesse atento e olhado o rótulo, o paciente teria morrido‖, declarou
o médico.

3. Em qual das frases abaixo ―graças a‖ está incorretamente empregado?


I – A globalização pode ser negativa se a internacionalização econômica
beneficiar uns graças à exploração de outros.
II – Educação, saúde, saneamento básico, rede elétrica, telecomunicações e
transporte são bens que, graças à globalização, atingem um número maior de
indivíduos.

4. O pequeno texto abaixo foi publicado no jornal O Estado de São Paulo, de


24/02/ 2001.
Para Cléber, é inadmissível perder outro jogo. "Não existe mais desculpas,
fizemos um pacto e vamos conquistar os três pontos.". Lúcio, artilheiro do time
com três gols, acredita que se a Lusa se impor em campo, a vitória virá mais
facilmente. "Temos de marcar o inimigo forte, sem espaços. Não podemos
deixá-los pensar".
Há, na reportagem, duas transgressões à norma culta da língua portuguesa.

5. Nas frases abaixo, há falta de paralelismo sintático. Reescreva-as,


mantendo seu sentido e fazendo apenas as alterações necessárias para que
se estabeleça o paralelismo.
a) A Comissão encarregada da pré-qualificação e de preparar o edital da
concorrência é formada por brasileiros e paraguaios.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 142


b) Com perícia, rapidez e obedecendo a rígidas normas de segurança,
técnicos usam helicóptero para fazer o trabalho de manutenção dos
cabos pára-raios, poucos metros acima das linhas de transmissão de
500KV.
c) Essa reforma agrária, por um lado, fixa o homem no campo, mas não
lhe fornece os meios de subsistência e de produzir.
d) Estamos confiantes no sucesso do empreendimento e que outros
eventos venham a se realizar.
e) Íamos todos a São Paulo e, em virtude do mau tempo, desistiu-se da
viagem.
f) Nosso sucesso depende em parte da boa aplicação do dinheiro e em
parte organizando melhor o Setor Administrativo.
g) O diretor mandou o repórter fazer uma entrevista e que tirasse o maior
proveito possível disso.
h) O Governador negou estar a polícia de sobreaviso e que a visita da
oficialidade tivesse qualquer sentido político.
i) Os técnicos estão sendo orientados sobre como identificar os níveis de
ruídos, a necessidade do protetor auricular, conforme o local ou
atividade, e até o planejamento das frentes de trabalho.
j) Seu projeto foi aprovado não só por ser eficiente, como também porque
contou com parecer favorável do Departamento de Projetos.
k) Sua atitude foi aplaudida não só pelos superiores, mas seus colegas de
seção lhe hipotecaram inteira solidariedade.
l) Esta Norma foi criada para apoiar a Gerência de Compras e para a
manutenção do cadastro das empresas Contratantes.
m) Não nos foi possível suspender a compra nem a contratação de outros
serviços.
n) Ficamos preocupados com os resultados da empresa e quando o
Gerente afirmou que haveria demissões.

6. "Chama-me a atenção os desdobramentos do resultado da votação pelo


Senado, da antecipação do plebiscito".
a) Transcreva a passagem em que ocorre o erro denunciado pelo jornalista.
b) Efetue a correção.

7. Na seguinte frase, há uma crase obrigatória e outra, dependendo do sentido


que se quer dar, facultativa. Justifique.
Carlos enviou os documentos à Juliana, que os encaminhou à supervisão.

8. Na coluna Língua Viva (22/08/1999), o professor Sérgio Duarte chama a


nossa atenção para a possibilidade de variação interpretativa de enunciados
em função do acento grave. Explique como isso ocorre nos enunciados a
seguir:
a) Veio à noite de mansinho e encontrou-o dormindo.
b) Veio a noite de mansinho e encontrou-o dormindo.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 143


9. Leia o seguinte texto:
―Antes de começar a aula – matéria e exercícios no quadro, como muita gente
entende -, o mestre sempre declamava um poema e fazia vibrar sua alma de
tanta empolgação e os alunos ficavam admirados. Com a sutileza de um sábio
foi nos ensinando a linguagem poética mesclada ao ritmo, à melodia e a
própria sensibilidade artística. Um verdadeiro deleite para o espírito, uma
sensação de paz, harmonia‖
OSÓRIO, T. Meu querido professor. Jornal Vale Paraibano, 15 out. 1999.
a) Qual a interpretação que pode ser dada à ausência do acento grave no
trecho ―a própria sensibilidade artística‖?
b) Qual seria a interpretação caso houvesse o acento grave?

10. Nas questões abaixo, ocorrem espaços vazios. Para preenchê-los, escolha
um dos seguintes verbos: fazer, transpor, deter, ir. Utilize a forma verbal mais
adequada.
a) Se (__________) dias frios no inverno, talvez as coisas fossem diferentes.
b) Quando o cavalo (__________) todos os obstáculos, a corrida terminará.
c) Se o cavalo (___________) mais facilmente os obstáculos, alcançaria com
mais folga a linha de chegada.
d) Se a equipe econômica não se (__________) nos aspectos regionais e
considerar os aspectos globais, a possibilidade de solução será maior.
e) Caso ela (__________) ao jogo amanhã, deverá pagar antecipadamente o
ingresso.

11. Preencha as lacunas com os verbos indicados em parênteses, na sua


forma mais adequada:
a) Por mais que este filme ________interessante, não concordo com a sua
proposta, (ser)
b) Quando você _____uma estrela cadente, faça rapidamente em pedido. (ver)

12. Preencha as lacunas. Se o verbo não apresentar a forma solicitada,


procure um sinônimo.
a) É provável que se _________________________aquele muro (colorir)
b) É possível que as fontes de energia se ________antes do tempo. (exaurir)
c) É preciso que nós nos ______________ (precaver)
d) d. É desejável que os novos funcionários se ______às necessidades da
empresa. (adequar)
e) Eu sempre me __________________contra riscos. (precaver)
f) Muitas pessoas não ________sua linguagem à situação em que se
encontram. (adequar)
g) Ela ____________________o dinheiro que tinha perdido? (reaver)
h) Eu não me_______________ e tive prejuízos com a enchente. (precaver)
i) Nós ______________________tudo o que nos pertencia. (reaver)

Tipologia e Gêneros Textuais Página 144


j) Ela se ___________________e evitou o pior. (precaver)

13. Preencha as lacunas com as formas verbais adequadas, conforme a


indicação nos parênteses.
a) Por que você não _______________(intervir) para pôr ordem na reunião?
(pret. perf. do ind.)
b) Poucos ________________(intervir) durante a reunião. (pret. per do ind.)
c) Criticaram-me porque não ______ (intervir) no conflito. (pret. perf. do ind.)
d) De onde________ (provir) esse material suspeitíssimo? (pret. perf do ind.)
e) Os congressistas ____________ (convir) que aquela não era a melhor
forma de redigir a lei. (pret. do ind.)
f) Não__________ (intervir) porque não nos convocaram. (pret. perf. do ind.)
g) Mesmo que nós _________ (intervir), ele não conseguiria a autorização.
(pret. imp. do subj.)
h) Quando ela ______(vir) de São Paulo e_____ (ver) você aqui, vai gostar
muito. (fut. do subj.)
i) Quando vocês o________________ (ver), digam-lhe que já partimos. (fut.
do subj.)
j) Quando nós_______ (vir) novamente, traremos os convites. (fut. do subj.)
k) Ainda que vários fatores _______________ (intervir) a seu favor, ele não
conseguiria cumprir o prazo. (pret. imp. do subj.)
l) Se não nos______________ (ver) mais, desde já lhe desejo boas férias.
(fut. do subj.)

14. Reescreva, eliminando a longa intercalação:


a) A Globaistar — que antes tinha o grupo do Jornal do Brasil como um dos
sócios brasileiros e hoje está apenas sob o controle da Loral e da Dasa, a
companhia aeroespacial da DaimlerChrysler - já investiu 170 milhões de
dólares para montar sua infra-estrutura e setor de operações.
b) Os Estados Unidos e o México, sócios do Canadá no Nafta, Acordo de Livre
Comércio da América do Norte, boicotaram a carne brasileira, alegando
proteção à saúde pública.

15. Dê outra redação ao texto, procurando resolver o problema das


enumerações:
A redução do corpo docente; a evasão escolar, especialmente nas classes de
licenciatura; os baixos salários dos professores e funcionários; a questão da
qualidade do ensino de graduação e pós-graduação; a estagnação de recursos
para pesquisa; a precária democratização de suas estruturas de poder e a
interação com outras instituições constituem apenas uma relação parcial dos
problemas que a universidade pública deve enfrentar, na avaliação do
sindicato dos professores.

16. Reescreva os períodos abaixo atentando para as frases longas.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 145


a) Em que pese o papel de destaque desempenhado pelo Movimento Sem
Terra nas lutas sociais e a catalização do descontentamento eleitoral contra o
presidente pelo Partido dos Trabalhadores nas eleições de 1998, foi só com a
crise do real, em janeiro de 1999, que a legitimidade de Fernando Henrique
passou a sofrer um desgaste mais intenso.
b) Encurralado pela oposição democrata no Congresso e pela constatação de
que a sociedade norte-americana está mais dividida do que se imaginava
sobre a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), Bush desistiu de
pressionar pela antecipação do término das negociações, originalmente
previsto para 2005.

17. O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apresentar: uma frase


contendo a ideia principal (frase nuclear) e uma ou mais frases que explicitem
tal ideia. Exemplo: "A televisão mostra uma realidade idealizada ( ideia central)
porque oculta os problemas sociais realmente graves.‖ (ideia secundária).
Desenvolva as ideias apresentadas, construindo frases adequadas:
a) Muitas pessoas que vivem em grandes cidades sonham com a vida no
campo porque...
b) O jornal pode ser um excelente meio de conscientização das pessoas,
a não ser que ..
c) As mulheres vêm conquistando um espaço cada vez maior na vida
social e política de muitos países, no entanto...
d) Muita gente acha que arte é dispensável, mas ...
e) A prática do esporte deve ser incentivada e amparada pelos órgãos
públicos.
f) O trabalho dignifica o homem, mas o homem não deve viver só para o
trabalho.
g) A propaganda de cigarros e de bebidas deve ser proibida.
h) O direito à cultura é fundamental a qualquer ser humano.

18. Desenvolva os seguintes tópicos frasais, de acordo com o estabelecido.


a) Tópico frasal desenvolvido por enumeração.
Exemplo: A televisão, apesar das críticas que recebe, tem trazido muitos
benefícios às pessoas, tais como: informação, por meio de noticiários que
mostram o que acontece de importante em qualquer parte do mundo; diversão,
através de programas de entretenimento (shows, competições esportivas);
cultura, por meio de filmes, debates, cursos.
Faça o mesmo:
a. Na escolha de uma carreira profissional, precisamos considerar muitos
aspectos, dentre os quais podemos citar:
b. O desrespeito aos direitos humanos manifesta-se de várias formas:
c. O bom relacionamento entre os membros de uma família depende de vários
fatores, como:
d. A vida nas grandes cidades oferece vantagens e desvantagens. Dentre as
vantagens, podemos lembrar e, dentre as desvantagens,

Tipologia e Gêneros Textuais Página 146


19. Reúna as informações abaixo em um único período. Atenção ao
paralelismo. Comece com: A auditoria constatou:
a) a suspensão não autorizada da linha de crédito;
b) que alguns financiamentos foram concedidos irregularmente;
c) a necessidade de se estabelecerem normas que regulem a concessão de
financiamentos.

20. Na coluna O que eles estão lendo (Caderno Ideias, 21/08/01), entrevistam-
se profissonais de diversas áreas, pedindo-se que indiquem suas últimas
leituras. Ao ser entrevistada recentemente, a coreógrafa Regina Miranda
forneceu informações que podem ser resumidas nos seguintes itens:
 Está preparando um novo trabalho com a sua companhia
 Em função do novo trabalho, está lendo poemas de Jalaleddin Rumi.
 Jalaleddin Rumi é um poeta persa que viveu no século XIII.
 Jalaleddin Rumi é considerado o maior poeta místico de toda a tradição
muçulmana.
 Jalaleddin Rumi pode ser comparado com Shakespeare e Dante.
Articule todas essas informações em um texto de um período.

21. Reescreva cada grupo de informações abaixo numa única sentença


complexa. Faça duas versões de cada item.
Exemplo: Texto 1: ―O primeiro foguete espacial brasileiro teve que ser
destruído no ar, ontem, 2 minutos e 15 segundos após o lançamento da base
de Alcântara, no Maranhão. O motivo, segundo técnicos da Agência Espacial
Brasileira, foi uma falha em um dos motores de propulsão que o fez sair da
trajetória. O foguete foi projetado para pôr em órbita um satélite meteorológico
de fabricação nacional a um custo de R$ 16 milhões.‖
Texto 2: "O primeiro foguete espacial brasileiro, projetado para pôr em órbita
um satélite meteorológico de fabricação nacional a um custo de R$ 16 milhões,
teve que ser destruído no ar, ontem, 2 minutos e quinze segundos após o
lançamento da base de Alcântara, no Maranhão, devido, segundo técnicos da
Agência Espacial Brasileira, a uma falha em um dos motores de propulsão que
o fez sair da trajetória.‖
a) Um antiquário do Rio de Janeiro vendeu uma imagem de Nossa Senhora da
Glória. O nome dele é José da Silva. A venda ocorreu na semana passada. A
imagem foi esculpida em Minas Gerais. A imagem foi esculpida no século XIX.
O antiquário vendeu a imagem por R$ 2.200 reais.
b) O russo Garry Kasparov mostrou por que é o campeão mundial de xadrez.
Ele venceu a última partida da série de seis contra o poderoso computador
Deep Blue. Esse computador é da IBM. Deep Blue é capaz de processar 100
milhões de lances por minuto. A última partida realizou-se no dia 17. O dia 17
foi um sábado.
c) Os conquistadores espanhóis estavam cegos pela cobiça. Os
conquistadores espanhóis enxergaram apenas o brilho do ouro. Os

Tipologia e Gêneros Textuais Página 147


conquistadores espanhóis menosprezaram as cidades, os templos e as obras
de arte que encontraram na América.
d) Os maias dispunham de um símbolo para identificar o algarismo zero. O
algarismo zero é um conceito matemático complexo e valioso. O zero só foi
conhecido pela Europa através dos hindus. Os hindus o desenvolveram
independentemente no século IX.
e) Na Terra, não existem mais lugares como a Antártica. A Antártica é um
continente selvagem. A Antártica proporciona aos cientistas vislumbres
incomparáveis do funcionamento do planeta. Na Antártica há vulcões ativos,
geleiras impetuosas, instáveis placas de gelo. As placas de gelo deslizam
inexoravelmente para a costa.

22. Dê continuidade aos excertos abaixo:


a) "Aí o soldado abriu a túnica, tirou debaixo um bentinho sujo de baeta
vermelha, beijou, fez o pelo-sinal." (Bernardo Élis)
b) "Ao longo dos cais, guiava lentamente parou, um instante, ficou olhando os
guindastes recortados contra o céu aveludado." (Moacyr Scliar)
c) "Franco era um rapazola de quatorze anos, raquítico, de olhos pasmados,
face lívida, pálpebras pisadas." (Raul Pompéia)
d) "O pato perdia altura, as asas lerdas. (E poucos metros do chão, quase
sobre o rio, o gavião veio como a flecha, cortando o ar, veloz e bruto. O pato o
viu, moveu as asas como querendo fugir; era tarde" (Adonias Filho)

23. Leia o trecho abaixo e faça o que se pede:


―Eu imaginei que ele iria me escolher e realmente me escolheu, o que eu
podia fazer, tinha que ir, chegando na fazenda, fui para a senzala lá, fui mal
tratada, nem ganhava comida, um certo dia não aguentei, passei tanto mal que
não conseguia trabalhar, eles ficaram furiosos e me levaram para o tronco,
fiquei dois dias apanhando de chicote. Não aguentei só fui piorando, e acabei
morrendo.‖
a) Substitua ―eu‖ por ―Irene‖ e reescreva o texto fazendo as adaptações
necessárias.
b) Experimente trocar as vírgulas por outros sinais de pontuação (! ... ? :;) e
veja qual o efeito de sentido alcançado com essas alterações.

24. Linguagem escrita X linguagem oral


Vamos analisar um aspecto importante que distingue o texto escrito da nossa
linguagem de todos os dias: a sentença. Imagine um bate papo sobre o texto
que você acabou de ler: Reescreva em um parágrafo.
- O que é que você tá lendo aí?
- Ah, uma reportagem sobre uns cientistas. São lá da Holanda e da Indonésia.
- E o que é que tem?
- Eles descobriram que o primeiro cara que fabricou um barco foi o Homo
erectus.
- Homo erectus?

Tipologia e Gêneros Textuais Página 148


- É. Aquele sujeito peludo. Foi dele que nós viemos.
- Ah. Isso eu sabia.
- Quer dizer, não é certo ainda.
- Que nós viemos dele? Mas tá na enciclopédia!
- Não. Que foi ele que inventou o barco. Por enquanto é só teoria.
- Quando que descobriram?
- Na semana passada.
- Agora? E os cientistas são donde mesmo?

25. Escreva um texto com as seguintes informações: Internet, o virtual vira


realidade.
a) Internet – Estados Unidos - 1969
b) Comunicação entre laboratórios de pesquisa do Departamento de Defesa
norte-americano
c) Guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética
d) Desenvolver um meio de comunicação – continuar funcionando –
bombardeio inimigo
e) Internet – universidades e centros de pesquisa
f) Liberada – uso comercial – 1987
g) Rápida – barata – prática
h) Um em cada 20 habitantes – internet
i) Estados Unidos – 55%
j) África – restrito
k) Brasil – 10 milhões – 1 em cada 16 habitantes

26. As ideias expostas abaixo foram retiradas de Firewire: o fio quente (O


Globo Informática de 28/7/03, p. 19). Integre-as em um texto coeso e coerente.
Pode acrescentar elementos de coesão e outras palavras desde que você
apresente em seu texto todas as informações contidas abaixo. Não se esqueça
dos parágrafos!
a) O IEEE 1394 é pouco conhecido.
b) O IEEE 1394 não é novo.
c) O IEEE 1394 é mais antigo que o USB.
d) O IEEE 1394 foi concebido no final dos anos 80 pela Apple.
e) O objetivo do IEEE 1394 é estabelecer uma ligação rápida entre câmaras e
computadores.
f) A Apple patenteou a interface com o nome de ―Firewire‖.
g) O ―Firewire‖ recebeu o nº 1394.
h) A interface é rápida.
i) A facilidade de uso tornou o ―Firewire‖ extremamente popular entre os
fabricantes de câmeras de vídeo.
j) Os fabricantes de câmaras de vídeo avidamente adotaram o ―Firewire‖.
k) Os fabricantes de câmaras de vídeo não queriam pagar direitos à Apple.
l) Os fabricantes de câmaras de vídeo referiam-se à interface ―Firewire‖ com
outro nome.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 149


m) Os fabricantes de câmaras de vídeo chamavam a interface de IEEE 1394.
n) A Sony piorou a situação do não pagamento dos direitos à Apple.
o) A Sony chamou a interface ―Firewire‖ de ―iLink‖.
p) A Apple resolveu pôr ordem no caos.
q) A Apple incentivou a criação da ―1394 Trade Association‖.
r) A Apple repassou os direitos da interface para a ―1394 Trade Association‖.
s) A Apple permite licenciar o ―Firewire‖ para qualquer empresa que use a
tecnologia.
t) A Apple exige que a empresa siga o padrão.
u) ―Firewire‖, ―IEEE 1394‖ e ―iLink‖ são rigorosamente a mesma coisa.

27. Mude o foco narrativo do texto abaixo:


Era sua primeira viagem internacional. Tirou o passaporte, juntou dólar por
dólar, estudou roteiros , pesquisou agências e decidiu: Bariloche .Não parava
de pensar como seria bom viajar num grande Boeing bebericando um
uisquinho e desembarcar em outro país, com alguém lhe esperando com
seu nome numa tabuleta. Era demais para um simples mortal como ele. Mas,
e a língua? Ele conhecia meia dúzia de palavras em castelhano, como iria se
virar? Segundo já ouvira diversas vezes, não haveria problema, pois afinal
português e castelhano são tão parecidos... Ele era muito esperto e com um
pouco de paciência seria fácil se fazer entender.
A viagem foi maravilhosa, tudo saiu como ele havia sonhado. O voo valeu
mais que várias aulas de Geografia e ele achou Bariloche era muito mais
bonito do que as fotos das revistas; as paisagens, a cidade, as confeitarias... A
noite se arrumou, colocou o seu bleizer de lã, suas luvas de antílope e foi
exatamente aí que aconteceu o inesperado.
Como ele não estava com muita fome, resolveu entrar numa das confeitarias
que achou simpática e pediu um lanche. O garçom, solícito lhe deu o
cardápio. Ele, sem olhá-lo - afinal não ia entender nada mesmo - disse
pausadamente :
- Amigo, eu só quero um lanche ! Quero apenas um " perro caliente" .
- Como, señor?
- Eu quero um ―perro caliente".
O garçom balançou a cabeça negativamente; não entendera nada do que ele
tentava dizer. Mas ele insistiu:
- Um " perro caliente"!
E encolhendo seus braços, dobrou suas mãos para baixo em posição de
cachorrinho equilibrista e começou a latir:
- Au, au ! "Um perro caliente"! Au, au! Perro, perro!
-Um brasileiro da mesa ao lado, observando-o e rindo de sua frase e de seus
gestos, disse:
- Garçom, ele quer um "pancho" , um"pancho".
-E ele, meio sem graça , tentando esconder a sua vergonha, falou:
- Como é que eu ia adivinhar que cachorro-quente em castelhano é
"pancho"? Não tem nada a ver...

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II. A REPETIÇÃO, A REDUNDÂNCIA, A AMBIGUIDADE
1. Reescreva os parágrafos que seguem, eliminando os acúmulos e
redundâncias desnecessários, levando em conta o preceito de que o texto
deve ser apresentado de maneira clara, concisa e original.
a) Entrou pela terceira vez num hospital, lugar de muita dor, lágrimas, tristeza e
sofrimento, para onde vão os corpos e espíritos doentes, enfermos, saudosos
da vida que se movimenta sã, sadia lá fora. Sentiu com pessimismo a solidão e
o silêncio que ali predominam e os hospitais parecem túmulos vivos, onde
nada pulsa com alegria porque a sombra da morte, a eterna ceifeira, é uma
ameaça perene, constante, duradoura e infindável.
b) Pedro Álvares Cabral, o destemido e valente comandante português, cujas
naus, enfrentando perigos e tempestades; tocaram as costas brasileiras,
revelando ao mundo, quatro séculos atrás, um país de futuro glorioso e gente
hospitaleira, deve ao brasileiro Varnhagem, Visconde de Porto Seguro, a
descoberta de sua sepultura na capela do Senhor da Vida, em Santarém.
c) Jorge sentou-se numa cadeira, clara, bem perto da janela, acomodando-se
em posição muito confortável, quase com sossego. Um automóvel, fazendo
muito ruído com o motor, causando uma sensação desagradável aos ouvidos,
que melhor se sentem longe dessas máquinas, inumeráveis nas ruas das
cidades grandes, estacou em frente ao hotel, e o irritou.
d) Os lábios vermelhos e úmidos pareciam uma flor de gardênia dos nossos
jardins, orvalhada pelo sereno da noite; o hálito, doce e ligeiro, exalava-se
formando um sorriso. Sua tez alva e pura como flocos de algodão, tingia-se
nas faces de uns longes cor-de-rosa que iam, desmaiando, morrer no colo em
linhas suaves e delicadas.

2. Corrija a notícia abaixo, eliminando as redundâncias.


O DRAMA TRÁGICO DO TREM
Vinte pessoas morreram ontem, às 20h, tragicamente, em um sensacional,
espetacular e belíssimo desastre, ocorrido em limites dentro da cidade de São
Paulo, quando dois trens se chocaram fantasmagoricamente, na estação
ferroviária local, em virtude de lamentável falha do descuidado guarda-chaves.
Um dos passageiros foi completamente decapitado e sua cabeça, ao separar-
se do corpo, provocou-lhe morte instantânea. Várias das infelizes vítimas foram
transportadas para nosocômios. A primeira de todas a ser submetida a uma
melindrosa intervenção cirúrgica foi a Ex.ma Sr.a D. Felisberta Silva,
digníssima e virtuosa dama da nossa sociedade, a quem, nesta hora, das mais
trágicas e horripilantes, rendemos os tributos de nosso maior respeito. O
distintíssimo e delicado, além de eficiente, diretor da Fepasa, o Ex.mo Sr. Dr.
Engenheiro M. A. Pedroso, disse que nos planos futuros da eficiente empresa
está a adoção de equipamento automático, para que desastres assim não se
repitam outras vezes.

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3. Siga o modelo e reescreva as mensagens, usando o pronome relativo para
evitar as repetições.
Modelo: Comprei um tênis. O tênis é ótimo. Comprei um tênis que é ótimo.
a) Eu recebi o presente. Você mandou o presente.
b) A moça trouxe o livro. Você se referiu ao livro.
c) Aquela menina trouxe a matéria. Nós lhe pedimos a matéria.
d) Estamos chegando àquele lugar. Nós moramos neste lugar.
e) A lua brilha no céu. A lua é linda.

4. Todos os trechos a seguir apresentam, em maior ou menor grau, problemas


na articulação dos elementos textuais, principalmente no que diz respeito à
utilização dos recursos coesivos. Reescreva-os de modo a torná-los mais
claros e coesos. No momento de reescrevê-los, você pode, além de substituir
elementos coesivos, introduzir ou explicitar ideias de modo a garantir que o
sentido desejado pelo autor possa ser recuperado.
a) Agora o caso mais surpreendente onde o ser humano pode chegar foi o
caso do índio, onde jovens ou animais tocaram fogo nele, pensando que fosse
um mendigo; e daí, e se fosse um mendigo? temos que avisá-los que o mesmo
também é gente como nós, e qual o sentido de tocar fogo em uma pessoa que
não está fazendo mal a ninguém, uma pessoa que por natureza já é sofrido e
pobre. Estes animais qual será a punição?
b) A televisão não é perfeita, mas pode se extrair muita coisa boa dela. E o
caso da TV Cultura, onde há vários programas educativos excelentes, onde a
criança aprende muito. Sendo assim, a televisão não é um estímulo à
ignorância e sim um estímulo à sabedoria, só se toma ignorante uma pessoa
que teve uma má educação, onde aprendeu desde criança as coisas ruins da
vida.
c) No Brasil, sempre que se descobre uma corrupção é feito um
sensacionalismo em cima e, de repente, surge outro escândalo para abafar o
anterior, ou seja, não se tem leis severas onde pessoas que estão envolvidas
sejam punidos exemplarmente para que os mesmos não continuem a cometê-
los.

5. Na elaboração dos períodos abaixo, a mesma palavra foi utilizada várias


vezes. Reescreva os períodos utilizando-se de outros mecanismos coesivos
que não a repetição.
a) Eu disse a ele que você não queria que os pintores ficassem trabalhando o
dia todo porque eles não sabem que o silêncio é indispensável para que você
possa se concentrar e trabalhar.
b) Muitos alunos confessaram que não haviam estudado a matéria que caiu na
prova de Matemática que foi marcada para aquele dia pelo professor que a
elaborou.
c) Pediram que eu devolvesse o filme que me foi emprestado pela biblioteca da
escola no fim do bimestre que passou para que ele pudesse ser
emprestado a outro aluno.

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6. Reescreva os trechos abaixo, eliminando os casos de redundância
(repetições desnecessárias de palavras, expressões ou informações).
Na festa junina, os meninos e as meninas dançam quadrilha e dançam forró.
Na festa junina, não pode soltar balão, porque balão é muito perigoso.
A onça é pintada. A onça saiu para caçar na mata, mas encontrou o caçador.
Daí o caçador correu atrás da onça, mas não conseguiu pegar a onça.
Quando o homem estava passando viu a menina, correu e jogou a menina
para longe do perigo. A menina se salvou, mas o homem não.

7. "As demissões também poderão ser revistas em parte. Só não será aceita
nas negociações a reversão total de todas as demissões, como queriam os
líderes grevistas. Aumento salarial também não poderá entrar em pauta, pelo
menos não antes da próxima data-base em setembro."
No texto que lhe apresentamos, recortado de uma notícia publicada em jornal,
o revisor "cochilou" naquilo que os gramáticos denominam "pleonasmo
vicioso", ou seja, o emprego de mais de uma palavra, desnecessariamente,
para expressar o mesmo sentido.
Leia-o atentamente e, a seguir:
a) Explique onde e como ocorre o acidente de texto na notícia.
b) Escreva uma versão nova da frase, sem a redundância.

8. Sem alterar o sentido do período, reescreva-o, eliminando as palavras


destacadas e fazendo as adaptações necessárias.
O que é indispensável é que se conheça o princípio que se adotou para que se
avaliasse a experiência que se realizou ontem, a fim de que se compreenda a
atitude que tomou o grupo que foi encarregado do trabalho.

9. Torne o texto abaixo mais enxuto, mais conciso: elimine palavras


desnecessárias.
"A árvore, oca por dentro, era muito elevada, tinha vinte metros de altura total,
do chão ao topo: estava, por esta razão, prestes a cair, daí a instantes, para
baixo."

10. Nas questões abaixo, cada um dos períodos foi redigido de cinco formas
diferentes. Leia-os com atenção e assinale a letra correspondente ao período
que tem a melhor redação, considerando correção, clareza, concisão e
elegância.
a) As grandes cidades poluíram muito o ar, razão pela qual todos hoje
discutem para combatê-la eficazmente.
b) As grandes cidades têm atualmente muitas discussões sobre a eficácia do
combate ao ar por causa da poluição.
c) São muito eficazes as discussões que se travam hoje nas grandes cidades
para combater sua poluição do ar.
d) Pretende-se combater eficazmente a poluição do ar nas grandes cidades

Tipologia e Gêneros Textuais Página 153


discutindo muito a respeito.

a) As observações que o autor faz sobre ela, diz ele ajustar-se a quase todas
professoras particulares.
b) As observações que o autor faz sobre ela, diz ajustaram-se a quase todas
as professoras particulares.
c) Segundo o autor, suas observações sobre essa professora ajustam-se a
quase todas as professoras particulares.
d) Ajustam-se a quase todas as professoras particulares, diz o autor as
observações que faz sobre ela.
e) As observações que o autor faz sobre essa professora, ajustam-se diz ele, a
quase todas professoras particulares.

a) Depois do auge da minha carreira, nada mais poderia ter acontecido de


importante do que usar o número do Rei Pelé.
b) Depois do auge da minha carreira, nada poderia ter acontecido de
importante do que usar o número do Rei Pelé.
c) Nada mais de importante poderia ter acontecido que usar o número do Rei
Pelé, depois do auge da minha carreira.
d) Nada de importante poderia ter acontecido, mais do que usar o número do
Rei Pelé, depois do auge da minha carreira.
e) Depois do auge da minha carreira, nada poderia ter acontecido de mais
importante que usar o número do Rei Pelé.

11. Corte o que é desnecessário e coloque o mais importante no começo.


Em 1990, embora contasse com um contexto internacional amplamente
favorável e com uma importante unidade da burguesia brasileira, a aplicação
das políticas neoliberais no país, iniciada por Collor, ainda se dava de forma
algo truncada.

12. Desmonte a fileirinha de ‗de:


Apesar da diminuição da taxa básica de juros e da geração compulsória de
excedentes primários, a dívida interna do Brasil aumentou 22% no biênio
1999/2000. Do mesmo modo, a diminuição do déficit comercial e das
transações correntes não alterou a dependência de capitais externos.

13. Reescreva os períodos abaixo de modo a torná-los mais objetivos.


a) No que se refere às questões das boas condições de limpeza pública desta
cidade, posso afirmar com toda a sinceridade que, na medida do possível,
conseguimos, com nossos melhores esforços, resultados que podem ser
considerados positivos.
b) No campo santo, onde repousam aqueles que vieram do pó e ao pó
retornaram, despendi a módica quantia equivalente a 189 contos de réis, como
justo e necessário estipêndio ao sepultador dos restos mortais de nossos entes

Tipologia e Gêneros Textuais Página 154


queridos e para intervenções técnicas e científicas que visam a conter a
deterioração do sagrado e venerável local.

14. Qual será o ditado popular de oito palavras escondido sob tanto
palavreado?
a) Aquele que se constituir em agente, no período presente, de um processo
de produção, em outrem, de ferimentos ou lesões inequivocamente
decorrentes de instrumento constituído de material produzido com a
concorrência de minério ferrífero, com idêntico tipo de substância virá a vítima,
em algum momento do futuro, de machucaduras em tudo e por tudo
semelhantes àquelas proporcionadas por sua própria ação anteriormente
descrita.

15. Só por brincadeira, exercite seu potencial para a verborragia e o


esnobismo, reescrevendo os ditados:
a) Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
b) Quem não tem cão, caça com gato.

16. Todas as frases a seguir há ambiguidades intencionais. Identifique os


possíveis sentidos de cada uma, levando em conta as empresas responsáveis
por elas.
a) (Agencia de viagens) Valorize o seu cruzeiro!
b) (Companhia de aviação) Viaje com quem gosta!
c) (Companhia de seguros) Na velocidade dos carros de hoje,
segurem-se!
d) (Indústria de carnes em conserva) Qualidade que se prova!
e) (Jornal) Notícia e cafezinho têm que ser quentes!
f) (Indústria de sapatos) Entre de sola na escola!
g) (Restaurante) Aqui damos importância à massa!
h) (Companhia de aviação) Varig, a pioneira!
i) (Indústria de biscoitos) Encha seu filho de bolachas!

17. Indique os sentidos possíveis das palavras em destaque nas frases a


seguir.
a) Havia uma lima sobre a mesa.
b) A caixa caiu no pátio do estacionamento.
c) No dia de São Cosme e São Damião deu bolo.
d) Fez a cama logo depois de acordar.
e) Meteu a mão na massa para fazer a comida.
f) O artista pintou o sete no comício da independência
g) O homem levou tempo para tirar a mesa.
h) Sempre gostei do preto no branco.
i) Não conseguiu a linha que desejava.
j) Vi o jogo na televisão.
k) Suas ações lhe trouxeram riqueza.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 155


l) A empregada botou as mãos nas cadeiras.
m) A saída era difícil.
n) A entrada custou uma fortuna.
o) Comprou balas perto de sua casa.
p) Depois de dois meses, perdeu os óculos.

18. Uma forma de evitar a ambiguidade semântica é criar uma expectativa de


sentido que reduza a possibilidade de dupla significação. Assim, por exemplo,
na frase ―O rapaz esqueceu a lima na mesa‖, se, em lugar de rapaz,
colocarmos feirante, nenhum leitor entenderá aí o sentido de ferramenta. Em
todas as frases a seguir há ambiguidades. Reduza essa possibilidade,
substituindo a palavra em destaque por outra.
a) O freguês esqueceu a carta sobre a mesa.
b) O carregador trouxe a máquina.
c) O homem levou tempo para tirar a mesa.
d) A cliente não conseguiu a linha que desejava.
e) O desconhecido comprou balas perto de sua casa.

19. Outro modo de evitar a ambiguidade semântica é a substituição do


vocábulo causador da ambiguidade por outro de sentido equivalente e não-
polissêmico: sinônimos ou hiperônimos. Substitua a palavra em destaque nas
frases a seguir pelo hiperônimo de um dos seus sentidos.
a) Estava certo de que suas ações iam trazer-lhe benefícios.
b) Discutiam sobre o banco de sua propriedade.
c) Aquilo não era a cadeira da universidade que mais lhe agradava.
d) Encontrou o corredor preparado para a festa.
e) O gráfico veio da rua com a capa na mão.

20. Em muitos casos a ambiguidade provém de problemas de construção,


quando fica impossível distinguir agente e paciente. Identifique os dois
sentidos possíveis das frases a seguir.
a) A demissão do ministro foi surpreendente.
b) A criação do ministério parece ter resolvido problemas.
c) Ninguém esperava minha indicação para o cargo.
d) A preparação da empregada foi lenta.
e) A invasão do Iraque foi comunicada.
f) A descrição de Pero Vaz de Caminha foi bem-feita.
g) Para aquelas mulheres que têm filhos e não sabem o berçário fica no
segundo andar.
h) Teremos sorvetada na reunião do próximo sábado, as irmãs que forem doar
leite cheguem mais cedo.
i) Os adolescentes apresentarão uma peça de Shakespeare. Venha assistir a
esta tragédia.

21. Leia o texto e responda:

Tipologia e Gêneros Textuais Página 156


Crime hediondo: Promotor usa informática para reproduzir homicídio, anunciou
o jornal da cidade.
a) Qual é a interpretação que pode ser considerada absurda devido à
ambiguidade do trecho?
b) Qual é a interpretação adequada para o período em análise?

22. Leia o texto e responda:


O homem das bexigas
O britânico Ian Ashpole bateu no domingo 28 o recorde de altitude em voo com
bexigas: subiu 3.350 metros amarrado a 600 balões, superando a sua própria
marca de 3 mil metros. Ian subiu de bexiga e voltou de pára-quedas. ―Quando
eu era criança, assisti a um filme chamado Balão vermelho. Desde então me
apaixonei por esse esporte‖, disse ele
a) O título poderia ser considerado ambíguo, dado que a palavra ―bexiga‖ tem
vários sentidos em português. Cite pelo menos dois desses sentidos.
b) Em que passagem do texto se desfaz a ambiguidade do título?
c) Dada a modalidade esportiva que Ian pratica, qual poderia ser o tema do
filme mencionado?

23. Leia o texto e responda:


Dinheiro encontrado no lixo
Organizados numa cooperativa em Curitiba, catadores de lixo livraram-se dos
intermediários e conseguem ganhar por mês, em média, R$ 600,00 – o salário
inicial de uma professora de escola pública em São Paulo. O negócio
prosperou porque está em Curitiba, cidade conhecida dentro e fora do país
pelo sucesso na reciclagem do lixo. (Folha de S. Paulo, 22/09/00)
Quando se lê esta notícia, nota-se que seu título tem duplo sentido.
a) Quais são os dois sentidos do título?
b) Crie para a notícia um título que lhe seja adequado e não apresente duplo
sentido.

24. Leia o texto e responda:


Ao saber que um sobrinho havia levado uma mordida, minha mulher
perguntou: "Afinal, quem mordeu o Pedro?" A resposta foi imediata: "Foi a
cachorra da namorada do João neurótica."
Quem mordeu o Pedro foi:
a) a cachorra, que é neurótica e pertence à namorada do João?
b) a cachorra, que pertence à namorada neurótica do João?
c) a namorada do João, que, além de ser uma "cachorra", é uma neurótica?

25. Anúncio visto em uma danceteria: ―Mulher acompanhada até 24 horas não
paga‖. Aponte duas interpretações possíveis para esse trecho, considerando o
contexto.

26. Corrija a notícia abaixo, eliminando as redundâncias e os absurdos.

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O drama trágico do trem
Vinte pessoas morreram ontem, às 20h, tragicamente, em um sensacional,
espetacular e belíssimo desastre, ocorrido em limites dentro da cidade de São
Paulo, quando dois trens se chocaram fantasmagoricamente, na estação
ferroviária local, em virtude de lamentável falha do descuidado guarda-chaves.
Um dos passageiros foi completamente decapitado e sua cabeça, ao separar-
se do corpo, provocou-lhe morte instantânea. Várias das infelizes vítimas foram
transportadas para nosocômios. A primeira de todas a ser submetida a uma
melindrosa intervenção cirúrgica foi a Ex.ma Sr.a D. Felisberta Silva,
digníssima e virtuosa dama da nossa sociedade, a quem, nesta hora, das mais
trágicas e horripilantes, rendemos os tributos de nosso maior respeito. O
distintíssimo e delicado, além de eficiente, diretor da Fepasa, o Ex.mo Sr. Dr.
Engenheiro M. A. Pedroso, disse que nos planos futuros da eficiente empresa
está a adoção de equipamento automático, para que desastres assim não se
repitam outras vezes.

III. COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL


1. Respeitando a sequência em que estão apresentadas as três frases abaixo,
articule-as num único período. Empregue os verbos e os nexos oracionais
necessários à clareza, à coesão e à coerência desse período.
a) I. Desespero meu: leitura obrigatória de livro indicado...
II. Uma surpresa: tão bom, aquele livro!
III. Nenhum aborrecimento na leitura.
b) Uma forte massa de ar polar veio junto com a frente fria e causou acentuada
queda da temperatura. As lavouras de trigo da Região Sul foram danificadas.
Isso, associado ao longo período com registro de pouca chuva, deve reduzir o
potencial produtivo da cultura.

2 Relacione as três ideias do grupo de sentenças abaixo em um só período,


articulando as sentenças da maneira que julgar mais adequada (articulação de
causa, de oposição, de fim etc.).
a)Muitas empresas multinacionais estão decepcionadas com alguns aspectos
da nova Constituição.
Muitas empresas multinacionais continuarão a investir no Brasil.
Muitas empresas multinacionais acreditam no futuro do Brasil.
b)O Rio de Janeiro é o paraíso das confecções.
Nem todas as confecções do Rio de Janeiro são importantes.
Algumas confecções do Rio de Janeiro são clandestinas.
c) Os países latinos compraram 192 milhões de dólares em armamento.
O Chile e o Brasil cobrem a metade dos 192 milhões de dólares.
Não há evidência de qualquer sinal de uma corrida armamentista.
d) A porta fabricada pela Matsushita é à prova de arrombamento.
A porta fabricada pela Matsushita não tem chave.
A porta fabricada pela Matsushita funciona por computador.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 158


3. Reúna as frases num só período por meio de conjunções e pronomes
relativos. Faça as alterações que forem necessárias.
a) João Paulo era estudante de biologia. Ele era auxiliado em suas
pesquisas por uma professora. João se casaria mais tarde com essa
professora.
b) As moscas conseguem detectar tudo o que acontece à sua volta. Têm
olhos compostos. Seus olhos lhes dão uma visão de praticamente 360
graus.
c) Encontramos a filha do engenheiro. Ela estava perdida na Amazônia.
d) Pedro ganha um salário mínimo. Ele pode ficar tranquilo. Ele vai
receber no final do mês, o salário mínimo sem nenhum reajuste.

4. Reúna as diversas orações do conjunto abaixo em um só período,


empregando conjunções ou pronomes relativos e fazendo as adaptações
necessárias.
1. O Ministro da Educação esforça-se. 2. O ministro da Educação quer
convencer o povo. 3. Para o Ministro da Educação o provão do ENEM é
fundamental. 4. O provão é fundamental, para ele, para a melhoria da
qualidade do ensino médio. 5. Para convencer o povo disso, o Ministro vem
ocupando generosos espaços na mídia. 6. O ministro vem fazendo uma
milionária campanha publicitária. 7. O Ministro vem ensinando como gastar mal
o dinheiro. 8. O dinheiro deveria ser gasto na educação.

5. Reescreva as frases a seguir, a fim de lhes conferir clareza e coerência.


a) Um médico abriu um consultório no bairro, que atende todas as tardes.
b) Viajou para o Rio de Janeiro Joana de França, onde ficará hospedada no
Palácio do Governo.
c) Está fazendo sucesso com sua nova escolinha o jogador Artur, que fica no
bairro da Lapa.
d) ―Adesivos para políticos em promoção."
e) Até a primeira quinzena de dezembro, a ideia é distribuir cem mil cestas de
Natal.
f) O livro que o professor recomendou já está esgotado, visto que foi publicado
há menos de um mês.
g) Desde os três anos, meu pai já me ensinava a ler.
h) Durante o namoro, Carlos pediu que Maria se casasse com ele várias vezes.
i) Ele mora em São Paulo há mais de dez anos, ao passo que ainda não
conhece o Masp.
j) Trouxe de Teresópolis uma caixa de pêssegos para seu pai, que está na
geladeira.

6. A maneira como certos textos são escritos pode produzir efeitos de


incoerência, como no exemplo: ―Zélia Cardoso de Mello decidiu amanhã
oficializar sua união com Chico Anysio‖ (A Tarde, Salvador, 16 set. 1994). É o
que ocorre no trecho a seguir.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 159


As Forças Armadas brasileiras já estão treinando 3 mil soldados para atuar no
Haiti depois da retirada das tropas americanas. A Organização das Nações
Unidas (ONU) solicitou o envio de tropas ao Brasil e mais quatro países, disse
ontem o presidente da Guatemala, Ramiro de León. (O Estado de S. Paulo, 24
set. 1994.)
 Qual o efeito de incoerência presente nesse texto?
 Do ponto de vista sintático, o que provoca esse efeito?
 Reescreva o trecho, introduzindo apenas as modificações necessárias para
resolver o problema.

7. Complete as lacunas do texto com os conectivos adequados que seguem


abaixo:
...________ precisava encontrá-lo, saí de casa debaixo de uma chuva terrível.
Atravessei rapidamente a rua, entrei na lanchonete, procurei-o por todos os
cantos, ________ ele não estava lá, __________ era de costume. Certamente,
por causa da chuva, ele ficara em casa, _________ alguém o avisara _____
_______ eu estava a sua procura, _________ sua ausência ali, àquela hora,
era bem estranha.
Sentei-me ____, __________ qualquer pessoa apaixonada faria, esperei
durante alguns minutos, _______ pareceram-me uma eternidade. ______
esperava, uma ideia passou pela minha cabeça: _____ ele estivesse com
outra, eu o mataria. Chovia tanto _______ a água já começava a cobrir os
primeiros degraus da escada _____ dava acesso ao lugar ________ eu
estava. _________ o desânimo já estar tomando conta de mim, o desejo de
vê-lo ainda era muito ____, __________ , continuei a espera.
Mais tarde, cansada de esperar, fui até o telefone, liguei, _______ ninguém
atendeu. ________ a chuva abrandou um pouco, voltei para casa _______ fui
dormir.
mas – então – que – onde – e – mesmo – assim – ou – como – se – apesar
– de – enquanto

8. Complete as lacunas do texto com os conectivos adequados que seguem


abaixo:
__________ escrevemos um texto, uma das maiores preocupações é
________ unir a frase seguinte à anterior, ________ isso só é possível _____
dominarmos os princípios básicos da coesão. A cada frase enunciada,
devemos observar ____ ela mantém vínculo com a anterior (___ anteriores)
______ não perdermos o fio do pensamento. ______ _________, teremos uma
sequência de frases sem sentido, sucedendo-se umas às outras sem muita
lógica, sem nenhuma coerência. A coesão não é, ________, só esse processo
de ―olhar‖ constantemente para trás, ________ de ―olhar‖ para adiante,
_______ um termo pode esclarecer-se apenas na frase seguinte. _______
nossa frase inicial for: ―Paulo tinha um grande sonho‖, estaremos criando um
movimento para adiante. ________, só se vai saber ______ desejo se trata na
próxima frase: ―Ele queria ser médico‖. O importante é ______ cada enunciado

Tipologia e Gêneros Textuais Página 160


estabeleça relações estreitas com os outros, _______ tornar sólida a estrutura
do texto, ______ não basta costurar uma frase a outra para se dizer ______
estamos escrevendo bem. ______ da coesão, é preciso ______ haja um elo
conceitual entre seus diversos segmentos. Os substantivos e os verbos, devem
estar interligados __________ para acrescentar informações, ________ para
alicerçar o sentido do texto. Cada palavra faz, _________, parte de um todo
que lhe dá sentido, _______ forme uma cadeia com as outras que a
antecedem _____ sucedem.
mas – também – para – que – quando – porém – como – de – contrário –
ou – não – portanto – só – caso – além – desde – assim – pois – se –
entretanto – e – a medida – ainda – seja – tanto – qual

9. Leia o texto a seguir e complete as lacunas com as palavras abaixo:


O papa João Paulo II disse ontem, dia de seu 77º aniversário, que seu desejo
é "ser melhor". ______reuniu-se na igreja romana de Ant'Attanasio com um
grupo de crianças, uma das quais disse: "No dia do meu aniversário minha
mãe sempre pergunta o que eu quero.E você, o que quer? ______respondeu:
"Ser melhor". Outro menino perguntou a ______que presente gostaria de
ganhar neste dia especial. "A presença das crianças me basta", respondeu
______ . Em seus aniversários, ______costuma compartilhar um grande bolo,
preparado por irmã Germana, sua cozinheira polonesa, com seus maiores
amigos, mas não sopra as velinhas, pois este gesto não faz parte das
tradições de seu país, a Polônia. Os convidados mais frequentes a
compartilhar nesse dia a mesa com ______no Vaticano são o cardeal polonês
André Marie Deskur e o engenheiro Jerzy Kluger, um amigo judeu polonês de
colégio. Com a chegada da primavera, ______parece mais disposto. ______
deve visitar o Brasil na primeira quinzena de outubro. o aniversariante - O
Pontífice - João Paulo II - O Sumo Pontífice - O Santo Padre - o Papa

10. Leia o texto a seguir completando mentalmente as lacunas.


Uma cocheira para dois - David Coimbra - (Zero Hora, 28/3/1996)
Algumas pessoas têm a sensibilidade de um cavalo. São poucas, porém. Nem
todas demonstram tanta ternura quanto ______ que se equilibram sobre
quatro ferraduras. E às vésperas de um grande acontecimento do mundo
______, como o GP Bento Gonçalves do próximo domingo, eles se tornam
ainda mais dados a melindres, tais são os mimos que lhes dispensam
cavalariços, proprietários, jóqueis e treinadores. ______são carentes. Nada
pior para eles do que a solidão. Precisam de uma companhia. Qualquer uma.
Outros ______ , se possível. Não sendo, se contentam com uma ovelha, um
galo-de-briga, até um radinho de pilha. Em último caso, serve um espelho para
lhes dar a ilusão de que não estão sós no escuro da cocheira. O ______ inglês
Dani Angeli, três anos de idade, se afeiçoou especialmente a uma . ______que
vive no Grupo de Cocheiras Clóvis Dutra, na Vila Hípica do Cristal.
Quando ______não está por perto, ______ fica inquieto. Não dorme sem ela.
Uma noite longe da ______significa uma noite de insônia, de ranger nostálgico

Tipologia e Gêneros Textuais Página 161


de dentes e patadas nervosas na forragem que lhe serve como leito. Ao raiar
da manhã, o cavalariço o encontra irreconhecível, estressado, incapaz de
enfrentar um dia de trabalho ______ e a ovelhinha dormem juntos, passeiam
diariamente lado a lado e até quando ele viaja para disputar alguma prova fora
do Estado ela precisa ir junto. Sem ______Dani Angeli não é ninguém.

Coesão lexical por sinônimos


Complete as lacunas com
- a companheira encaracolada - a amiga lanuda - ovelhinha
que substituem a palavra "ovelha".
 Complete as lacunas com
- puro sangue - esses espíritos suscetíveis - equino
que substituem a palavra "cavalo(s)".

Coesão lexical por repetição do mesmo item


Complete as lacunas com
- cavalos - cavalos - Dani Angeli

 Que efeito estilístico decorre da substituição de "ovelha" por


"ovelhinha", "a companheira encaracolada" e "a amiga lanuda"? Em
outras palavras, que atitude o autor do texto expressa mediante tais
substituições?

11. Complete as lacunas do texto a seguir com


- o primeiro - o segundo - ambos- um e outro - Tanto o rei do crime em
Chicago - o ex-presidente – Capone - Collor- legendário Scarface-
gângster
Duas trajetórias nada edificantes
Augusto Nunes - (Zero Hora, 11/04/1996)
Não são poucas as semelhanças entre Alphonse Capone e Fernando Collor de
Mello - a começar pelo prenome inspirado no mesmo antropônimo originário do
Latim. . ______ nasceram em famílias de imigrantes ______ teve ascendência
italiana, o ______ descende de alemães, ______ sempre apreciaram
charutos, noitadas alegres, uísque, verões em Miami, ternos bem cortados,
companhias suspeitas e largos espaços na imprensa.
______ quanto ______ chegaram ao poder muito jovens. E dele acabaram
apeados por excesso de confiança: certos de que as asas da impunidade
estariam eternamente abertas sobre seus crimes, não trataram com o devido
zelo da remoção de todas as pistas.
Mais de 60 anos depois da prisão de Al Capone, Fernando Collor acaba de
tropeçar na mesma armadilha que destruiria a carreira e a fortuna do ______ .
Dono de um prontuário escurecido por assassinatos, sequestros, roubos e
outras violências, ______ foi trancafiado num catre pela prática de um delito
bisonho para um ______ do seu calibre: sonegação de impostos. Dono de
uma folha corrida pontilhada de proezas nada edificantes, ______ enredou-se

Tipologia e Gêneros Textuais Página 162


nesta semana na malha fina da Receita Federal. Depois de ter driblado
acusações bem mais pesadas, ______ irá para a cadeia se não pagar R$ 8
milhões de impostos atrasados. Caso consiga o dinheiro, seguirá em liberdade.
Mas terá fornecido outra evidência de que saiu do Palácio do Planalto muito
mais rico do que era quando ali chegou.

12. Complete as lacunas com: Ribamar - O autor de "Marimbondos de


Fogo" - ex-presidente da República - as beldades
Erva e marimbondos (Zero Hora, 18/04/1996)
A rainha e princesas da Feira Nacional do Chimarrão, de Venâncio Aires,
animaram a manhã do presidente do Senado, José Sarney, ontem ______ é
convidado especial da Fenachim, que se realiza de 3 a 12 de maio.
Ciceroneadas pelo governador Antônio Britto, . ______ entregaram um pacote
de boa erva ao ______ . Não será de grande proveito. Natural do Maranhão e
eleito pelo Amapá, ______ está mais acostumado com água de coco.

13. O texto a seguir narra uma história de um rapaz e seu cachorro. Sendo
assim, esses dois personagens são apresentados logo no começo e
retomados durante todo o texto. Sublinhe todos os elementos que retomem o
rapaz e envolva todos os elementos que retomem o cachorro.
A disciplina do amor
Foi na França, durante a segunda grande guerra: um jovem tinha um cachorro
que todos os dias, pontualmente, ia esperá-lo voltar do trabalho. Postava-se na
esquina, um pouco antes das seis da tarde. Assim que via o dono, ia correndo
ao seu encontro e, na maior alegria, acompanhava-o com seu passinho
saltitante de volta a casa. A vila inteira já conhecia o cachorro e as pessoas
que passavam faziam-lhe festinhas e ele correspondia, chegava a correr todo
animado atrás dos mais íntimos. Para logo voltar atento ao seu posto e ali ficar
sentado até o momento em que seu dono apontava lá longe. Mas eu avisei
que o tempo era de guerra, o jovem foi convocado. Pensa que o cachorro
desistiu de esperá-Io? Continuou a ir diariamente até a esquina, fixo o olhar
ansioso naquele único ponto, a orelha em pé, atenta ao menor ruído que
pudesse indicar a presença do dono bem-amado. Assim que anoitecia, ele
voltava para casa e levava sua vida normal de cachorro até chegar o dia
seguinte. Então, disciplinadamente, como se tivesse um relógio preso à pata,
voltava ao seu ponto de espera. O jovem morreu num bombardeio, mas no
pequeno coração do cachorro não morreu a esperança. Quiseram prendê-lo,
distraí-lo. Tudo em vão. Quando ia chegando aquela hora ele disparava para o
compromisso assumido, todos os dias. Com o passar dos anos (a memória dos
homens!) as pessoas foram esquecendo do jovem soldado que não voltou.
Casou-se a noiva com um primo. Os familiares voltaram-se para outros
familiares. Os amigos, para outros amigos. Só o cachorro já velhíssimo (era
jovem quando o jovem partiu) continuou a esperá na sua esquina. As pessoas
estranhavam, mas quem esse cachorro está esperando?... Uma tarde (era

Tipologia e Gêneros Textuais Página 163


inverno) ele lá ficou, o focinho voltado para aquela direção.(Lygia Fagundes
Telles)

14. Os seguintes parágrafos são incoerentes, ou porque os conectivos de


transição são incoerentes, ou porque os conectivos de transição (conjunções,
locuções adverbiais ou propositivas) são inadequados às relações que se
pretendia estabelecer, ou porque o que se diz no desenvolvimento não se
concilia com o que está expresso no tópico frasal. Procure reestruturar os
parágrafos de maneira mais satisfatória:
a) Imenso tem sido o progresso no século XX. A técnica posta a serviço do
homem, fornece-lhe meios eficazes para enfrentar a vida e amenizar-lhe as
asperezas. Somos forçados a reconhecer que uma série de males passaram a
afligir a humanidade.
b) Os problemas decorrentes do desquite ou do divórcio vêm suscitando
polêmicas entre os que se interessam por essas questões. A instabilidade
econômica e social dos nossos dias muito tem contribuído para agravar a
situação das famílias de classe média.

15. No texto abaixo, Millôr Fernandes repete intencionalmente várias vezes a


palavra tartaruga. Preencha as lacunas onde havia a palavra tartaruga,
retomando-a através do processo que julgar mais conveniente.
A morte da tartaruga
O menininho foi ao quintal e voltou chorando: a tartaruga tinha morrido. A mãe
foi ao quintal com ele, mexeu __________com um pau (tinha nojo _________)
e constatou que__________ tinha morrido mesmo. Diante da confirmação da
mãe, o garoto pôs-se a chorar ainda com mais força. A mãe a princípio ficou
penalizada, mas logo começou a ficar aborrecida com o choro do menino.
"Cuidado, senão você acorda o seu pai." Mas o menino não se conformava.
Pegou _______no colo e pôs-se a acariciar-lhe o casco duro. A mãe disse que
comprava _________, mas ele respondeu que não queria, queria
___________, viva! A mãe lhe prometeu um carrinho, um velocípede, lhe
prometeu uma surra, mas o pobrezinho parecia estar mesmo profundamente
abalado com a morte ___________.
Afinal, com tanto choro, o pai acordou lá dentro, e veio, estremunhado, ver de
que se tratava. O menino mostrou-lhe _________. A mãe disse: "Está aí
assim há meia hora., chorando que nem maluco. Não sei o que faço. Já lhe
prometi tudo, mas ele continua berrando desse jeito." O pai examinou a
situação e propôs: "Olha, Henriquinho. Se ________está morta não adianta
mesmo você chorar. Deixa ___________aí e vem cá com o pai." O garoto
depôs cuidadosamente junto do tanque e seguiu o pai, pela mão.
O pai sentou-se na poltrona, botou o garoto no colo e disse: "Eu sei que você
sente muito a morte _________. Eu também gostava muito _______. Mas nós
vamos fazer pra __________um grande funeral." (Empregou de propósito a
palavra difícil.) O menininho parou imediatamente de chorar. "Que é funeral?"
O pai lhe explicou que era um enterro. "Olha, nós vamos à rua, compramos

Tipologia e Gêneros Textuais Página 164


uma caixa bem bonita, bastantes balas, bombons, doces e voltamos pra casa.
Depois, colocamos ___________ na caixa em cima da mesa da cozinha e
rodeamos de velinhas de aniversário. Aí convidamos os meninos da
vizinhança, acendemos as velinhas, cantamos o ―Parabéns pra você‖ pra
_______. e você as sopra as velas. Depois pegamos a caixa, abrimos um
buraco no fundo do quintal, enterramos _______e botamos uma pedra em
cima com o nome ________e o dia em que morreu. Isso é que é funeral!
Vamos fazer isso?"
O garotinho estava com outra cara. "Vamos, papai, vamos! ___________vai
ficar contente lá no céu, não vai? Olha, eu vou apanhar _________." Saiu
correndo. Enquanto o pai se vestia, ouviu um grito no quintal. "Papai, papai,
vem cá, _________está viva!" O pai correu pro quintal e constatou que era
verdade. ____________estava andando de novo, normalmente. "Que bom,
hein?" - disse -" ____________está viva! Não vamos ter que fazer o funeral!"
"Vamos sim, papai" - disse o menino ansioso, pegando uma pedra bem grande
- "Eu mato____________ "
Moral: O importante não é a morte, é o que ela nos tira.
(Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro, Nórdica, 1979.)

16. Reescreva os período abaixo, utilizando as conjunções indicadas. Faça as


modificações necessárias.
Se Pedrinho trouxer os convites, todos iremos ao show.
a) caso b) desde que c) contanto que

Não haverá festa, porque está chovendo.


a) já que b) uma vez que c) como d) visto que

Eles venceram o campeonato, mas não fizeram bons treinos.


a) embora b) ainda que c) se bem que

17. Leia o poema e reescreva três vezes os versos "Entanto lutamos mal
rompe a manhã.", substituindo as conjunções por outras do mesmo tipo.
O lutador
Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manha.
São muitas, eu pouco.
Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de Janeiro, Aguilar, 1967.

18. Escreva as orações, unindo-as com conjunções com o valor semântico


indicado e colocando os verbos nos tempos e modos adequados. (procure não
repetir as conjunções)
a) oposição: Sair (vocês) depressa / já ser tarde.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 165


b) oposição: Precisar trabalhar / (ela) sentir-se cansada.
d) concessão: Os rapazes entrar em acordo / ser inimigos
e) tempo: Todos se calar / o espetáculo começar

19. Copie e complete as frases com uma das conjunções abaixo.


Por isso – a fim de que – entretanto – uma vez que – porque – porém – no
entanto – contudo – para que
a) Rompeu o dia, / tudo estava cinzento.
b) Ela saiu, / preferia ter ficado.
c) A menina estudou, / sabe toda a lição.
d) Eu não os visito todos os dias, / não tenho tempo.
e) Tudo estava calmo. / eu estava nervoso.
f) A jovem sorria, / queria chorar.
g) Ela continuava a sorrir, / ninguém percebesse sua tristeza.
h) Gritou, / todos o ouvissem.
i) Todos já saíram, / a festa terminou.

20. Reescreva as frases, completando-as com uma conjunção que estabeleça


a relação pedida entre parênteses. Para isso, conjugue o verbo no tempo
adequado.
a) Ela contará a verdade, / não haver pressão (relação de condição).
b) Nós queremos sorvete, / estar muito frio (relação de concessão).
c) Ela reclinava a cabeça / abrir a boca de sono (relação de adição).
d) O ator tinha talento, / não conseguir agradar à plateia (relação de
adversidade).
e) Nós iremos à casa de Paulo, / almoçar (relação de tempo).
f) Ela não pôde sair / ter de estudar (relação de causa).

21. Reescreva os períodos abaixo em um só período, na mesma ordem das


orações, com a ajuda de sinais de pontuação e/ou conectivos (exceto a
conjunção aditiva e, e coloque os verbos no infinitivo em formas flexionadas
adequadas.
―Chover muito. Nós ir ao cinema. Não gostar do filme. O filme era monótono.
Decidir sair antes do término do filme. Comer uma pizza. O preço da pizza ser
muito alto.‖

IV. PONTUAÇÃO
1. Pontue os períodos abaixo adequadamente:
a) ―Levar uma pedra do Rio à Europa uma andorinha não faz verão‖
b) ―Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe do fazendeiro era também o
pai do bezerro.‖
c) Já imaginaram interveio o velho general um exército vegetariano os
exércitos inimigos que se alimentem de frutas verduras e pães o meu
só de carne.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 166


2. Vírgula pode matar
a) Um cidadão foi condenado à forca e apelou ao juiz. Este, depois de
examinar o caso, colocou no processo o seguinte despacho: ―Perdoar
impossível mandar para a forca se o tribunal condena eu não apelo‖. Afinal,
qual o destino do condenado?
b) Um pichador escreveu na parede do castelo real: ―Matar o rei não é
pecado‖. Descoberto, foi condenado à morte, mas seu último desejo foi
concedido: voltar ao local da pichação, para completar a frase. Será que ele sai
dessa?

3. Pontue as frases abaixo.


a) Em suma o concurso foi fraco e as vagas poucas.
b) Ganhamos pouco devemos portanto economizar.
c) O dinheiro nós o trazíamos preso ao corpo.
d) A noite não acabava e a insônia a encompridou mais ainda.
e) Uns diziam que se matou outros que fora para Goiás.
f) Precisando de mim procure-me ou melhor telefone que eu venho.
g) Falei ao chefe que se o plano corresse bem estaríamos salvos
h) Pedra que rola não cria limo.
i) Muitas pessoas observavam com interesse o eclipse solar.
j) Não nego que ao avistar a cidade natal tive uma boa sensação.
k) Um jornal é lido por muita gente em muitos lugares; o que ele diz precisa
interessar, se não a todos, pelo menos a certo número de pessoas.
l) A Volkswgen do Brasil está concedendo férias coletivas de vinte dias a
funcionários de suas fábricas.
m) A obrigação de ler um livro como toda obrigação indispõe-nos contra a
tarefa imposta mas pode ocorrer se encontrarmos prazer nessa leitura que
o peso da obrigação desapareça.
n) A entidade internacional promove a cada dois anos um congresso.

4. Em cada um dos espaços abaixo, você poderá colocar ou não um sinal de


pontuação. Sua decisão não deverá contrariar as regras de pontuação
vigentes:
Quem ensina ou orienta [] precisa desenvolver [] a habilidade de ser empático
[] a empatia [] consiste [] na capacidade de colocar-se [] no lugar do outro [] de
ver as coisas da perspectiva dele [] por exemplo [] uma professora [] ao avaliar
um novo jogo de palavras cruzadas destinado a ampliar [] o vocabulário de
suas crianças [] pode achá-lo fascinante [] mas deve perguntar-se [] se as
crianças lidarão bem com o novo jogo [] será que elas vão gostar [] será que
vão entender as regras de funcionamento [] será que o vocabulário vai
realmente ser ampliado []

5. Explique a diferença:
a) Os latifúndios que são improdutivos estarão sujeitos à desapropriação.
Os latifúndios, que são improdutivos, estarão sujeitos à desapropriação.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 167


b) O piloto adoentado não pôde sair de casa.
O piloto, adoentado, não pôde sair de casa.
c) Nossa fábrica tem duzentos funcionários, que moram em Niterói.
Nossa fábrica tem duzentos funcionários que moram em Niterói.
d) Os homens, que têm seu preço, são facilmente corrompidos.
Os homens que têm seu preço são facilmente corrompidos.

6. Faça a pontuação necessária:


a) ―Num sobrado da rua de São Bento em Olinda Pernambuco seis homens
vivem juntos trabalham juntos rezam juntos São quatro pastores protestantes
e dois frades católicos Eles realizam uma experiência religiosa única no
mundo Fundaram uma comunidade chamada Fraternidade da Reconciliação
que segundo Dom Hélder Câmara Arcebispo de Olinda e Recife é uma
antevisão do amanhã da Igreja.‖ (Manchete — 30-12-67)
b) ―A partir das 11 horas da manhã quando caía uma garoa na Cidade uma
chuva de papel picado começou a inundar as ruas do Centro a exemplo do que
ocorreu no Natal enquanto muitas pessoas confraternizavam nas ruas e nos
restaurantes antecipando no último dia útil do ano os votos de feliz ano
novo.‖(Correio da Manhã — 30-12-67)
c) Partindo da unidade básica de funcionamento do cérebro que é uma célula
conhecida como neurônio e comparando-a com a memória de um computador
percebe-se que as diferenças entre este e aquele são muitas isso porque o
computador é um processador determinístico operando sempre de acordo com
as entradas já o cérebro humano é uma espécie de computador probabilístico
que funciona através de associações.

7. Observe o seguinte texto:


―Conforme entendimento telefônico o acordo sobre as partes deverá ser
firmado hoje não amanhã.
Pontue a frase de modo que o acordo aludido se faça hoje ou amanhã.

8. Com os quatro elementos a seguir, redija todas as frases possíveis, usando


a pontuação adequada:
A- João; B- comprou; C- um carro; D – ontem à tarde.

9. Um homem rico, à beira da morte, deixa o seu testamento assim: ― Deixo


meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do
alfaiate nada aos pobres. ‘‘ Observando atentamente os textos abaixo, numere-
os, usando o seguinte código:
(1) O sobrinho reescreve o testamento em seu benefício;
(2) A irmã reescreve o testamento em seu benefício;
(3) O alfaiate reescreve o testamento em seu benefício;
(4) O juiz decide doar os bens aos pobres e reescreve o testamento.
( ) ― Deixo meus bens: a minha irmã, não; a meu sobrinho, jamais. Será paga a
conta do alfaiate. Nada aos pobres. ‘‘

Tipologia e Gêneros Textuais Página 168


( ) ― Deixo meus bens a minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a
conta do alfaiate. Nada aos pobres. ‘‘
( ) ― Deixo meus bens: a minha irmã, não; a meu sobrinho. Jamais será paga a
conta do alfaiate. Nada aos pobres. ‖
( ) ― Deixo meus bens: a minha irmã, não; a meu sobrinho, jamais; será paga a
conta do alfaiate ? nada; aos pobres ! ‖

10. Assinale a alternativa em que a pontuação do período é incorreta:


a) Só te peço isto: que não demores.
b) A raposa, que é matreira, enganou o corvo.
c) Mal ele entrou, todos se retiraram.
d) A cartomante fez uma só previsão; que ele ainda seria feliz.
e) Pensei que não mais virias.

11. Conforme a pontuação, o poeta estará apaixonado por Soledade, Lia, Iria,
ou indeciso entre as três. Experimente:
Três belas que belas são
Querem que por minha fé
Eu diga qual delas é
Que adora o meu coração
Se consultar a razão
Digo que amo Soledade
Não Lia cuja bondade
Ser humano não teria
Não aspiro à mão de Iria
Que não tem pouca beldade

12. Leia o texto:


O MAS E A VÍRGULA - Josué Machado
Alguns escribas não conseguem escrever o mas sem grudar a ele uma
vírgula; é como se a vírgula fizesse parte da conjunção adversativa. Abundam
exemplos nos jornais [...].
―Mas, Itamar optou por um jogo miúdo e vaidoso‖.
―Mas, Fiúza e João Alves têm cara de inocente‖.
―Mas, Collor se preparava para candidatar-se‖.
Essas vírgulas pegariam mal até em composições escolares juvenis.
[...] O fato é que, apesar de a vírgula indicar pausa, nem sempre a pausa pode
ser representada por vírgula.
A virguleta só vai bem depois de mas quando antecede uma palavra ou
grupo de palavras a que se quer ou se deve dar destaque. Ou pôr em
evidência, como preferem os puristas que rejeitam destaque por galicismo.‖
a) Por que as vírgulas colocadas os exemplos apresentados no texto
―pegariam mal‖, segundo o autor?
b) Reescreva as frases inadequadas apresentadas no texto.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 169


13. Leia o texto:
MANUAL DA FALTA DE ESTILO - Josué Machado
A lição simplificada de alguns gramáticos de que a vírgula serve para
marcar pausas é singela e incompleta. Há pessoas que sofrem de bronquite e
fazem pausas fora de compasso. Outras soluçam e gaguejam. O fato é que a
pausa oral nem sempre corresponde à pontuação.
Para exemplificar, nos tempos do grande marajá cassado, a emissora
quase oficial da tevê punha repórteres para acompanhá-lo em suas galopadas
de fim de semana cheias de camisetas com dizeres estimulantes. Às vezes,
enquanto galopava, dava entrevistas cheias de fé e orgulho sobre a terra em
que nasceu e se deu tão bem.
Se fossem marcar as pausas ofegantes do quase imperador e do
repórter por vírgulas, o papo reduzido a trote, pó-co-tó, pó-co-tó, por escrito,
seria mais ou menos assim:
— Como, está, a, coisa, Vossa, Majestade? pó-co-tó, pó-co-tó.
— A, coisa, vai, pó-co-tó, pó-co-tó.
— Para, onde, Majestade? Pó-co-tó, pó-co-tó.
Para, aí... Depois, eu, conto, po-co-tó, pó-co-tó.
Boa noite do locutor, com sorrisão.
Como se vê, não fica bem; a vírgula merece respeito."
Josué Machado, no texto transcrito, faz uma crítica ao fato de alguns
professores apresentarem uma explicação equivocada para o uso da vírgula.
a) Qual é a crítica feita pelo autor?
b) Qual é o recurso utilizado por ele para fazer a crítica?

V. PRESSUPOSIÇÃO, IMPLICATURA, INFERÊNCIA, VOCABULÁRIO


1. Quando observamos um fato, tiramos algumas conclusões (inferências), a
partir de dados que se encontravam implícitos, ou seja, contidos nele.
Imaginemos, por exemplo, que você leia no jornal a seguinte manchete: ―Brasil
importa automóveis‖. Indique três inferências que você poderá fazer dessa
leitura.

2. Indique uma inferência para cada manchete a seguir.


a) Mulheres já podem trabalhar na Bolsa de Valores.
b) Carros brasileiros são recusados pelo fraque.
c) Corinthians vende seu principal jogador.
d) Aulas recomeçam na próxima segunda-feira.
e) Tribo inteira morre de sarampo.
f) Carnaval menos violento este ano.
g) Só agora sai a lista dos convocados para a Seleção.
h) Governo vai intervir nos laboratórios.
i) Escoteiros dirigem o trânsito na Zona Sul do Rio.
j) Indústria demite dois mil funcionários só este mês.

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3. No exercício a seguir fornecemos uma manchete de jornal e uma inferência.
Indique outra inferência.
a) Jorge Amado premiado na Europa.
Jorge Amado é magnífico escritor.
b) Inflação chega a trinta e cinco por cento este mês.
O Brasil não tem mais jeito.
c) O Vasco da Gama ganhou torneio em Madri.
O Vasco da Gama tem um time magnífico.
d) Calor no Rio chega a quarenta e dois graus.
É necessário trabalhar com ar condicionado.
e) Uma multidão saqueou o supermercado.
A miséria está se alastrando.

4. Leia o texto:
Em julho de 1998, a sociedade brasileira tomou conhecimento pela imprensa
de que as pílulas anticoncepcionais comercializadas por um determinado
laboratório durante um certo período haviam sido fabricadas à base de farinha
de trigo e não continham as substâncias que deveriam constituir seu princípio
ativo.
a) Segundo o noticiário, qual era a relação entre farinha e pílulas
anticoncepcionais? Como esta relação aparece na charge?
b) O que sugere a expressão ―depois que virar pizza‖, no segundo balão?
c) Para responder a b), o leitor deve considerar uma expressão idiomática que
não está no texto e que inclui a palavra ―pizza‖. Qual é a expressão e o que ela
significa?

5. O classificado através da história


SÍTIO – Vendo. Barbada. Ótima localização. Água à vontade. Árvores
frutíferas. Caça abundante. Um paraíso. Antigos ocupantes despejados por
questões morais. Ideal para casal de mais idade. Negócio de Pai para filhos.
Tratar com Deus.
CRUZEIRO – Procuram-se casais para um cruzeiro de 40 dias e 40 noites.
Ótima oportunidade para fazer novas amizades, compartilhar alegre vida de
bordo e preservar a espécie. Trazer guarda-chuva. Tratar com Noé.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2001.
a) A compreensão dos anúncios transcritos e do humor contido neles depende
de conhecimentos prévios sobre os fatos aos quais se referem, ou seja, o
conteúdo evocado pelos classificados. Que fatos são esses?
b) Que elementos dos anúncios indicam o contexto a que se referem cada um
deles?

6. Interprete o poema a seguir levando em conta o uso do acento grave:


NADA ALÉM - Cinéas Santos
O amor bate à porta

Tipologia e Gêneros Textuais Página 171


e tudo é festa.
O amor bate a porta
e nada resta.
7. Interprete a tira a seguir levando em conta o uso do acento grave:

8. a) A igreja do bairro foi destruída para dar lugar a uma avenida.


b) Uma igreja do bairro foi destruída para dar lugar a uma avenida.
A escolha do artigo definido (o igreja) ou do indefinido [uma igreja)
estabelecem pressupostos diferentes para cada enunciado. Quais são esses
pressupostos?

9. Reduit é leite puro e saboroso.Reduit é saudável, pois nele quase toda a


gordura é retirada, permanecendo todas as outras qualidades nutricionais.
Reduit é bom para os jovens, adultos e dietas de baixas calorias.(Texto em
uma embalagem de leite em pó.)
a) No texto acima, a gordura pode ser entendida também como uma
qualidade nutricional? Justifique sua resposta, transcrevendo do texto a
expressão mais pertinente.
b) As qualidades nutricionais de um produto, segundo o texto, sempre
fazem bem à saúde? Justifique sua resposta.

10. O Ministério da Fazenda descobriu uma nova esperteza no Instituto de


Resseguros do Brasil. O Instituto alardeou um lucro no primeiro semestre de
3,1 bilhões de cruzeiros, que esconde na verdade um prejuízo de dois bi.
Brasil, Cuba e Costa Rica são os três únicos países cujas empresas de
resseguros são estatais.O adjetivo novo instaura no texto um pressuposto.
De que pressuposto se trata? A instauração de tal pressuposto concorre para
prestigiar ou para desmoralizar o Instituto de Resseguros do Brasil?
a) Ao dizer que o Instituto alardeou um lucro de 3,1 bilhões de cruzeiros, a
escolha do verbo (alardeou) cria mais um pressuposto. Qual é esse
pressuposto?
b) Esse segundo pressuposto também é desmoralizante para o Instituto?
c) Ao colocar o Brasil ao lado de Cuba e da Costa Rica, o texto deixa no ar um
subentendido. Qual é ele? Pelo que se conhece da imagem de Cuba e Costa
Rica, a comparação feita enaltece ou deprecia o Brasil?

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11. Preencha as lacunas a seguir com equivalentes para as palavras em
destaque.
a) É melhor morrer segundo as regras da medicina do que sobreviver por
desprezo a essas ________________.
b) As explicações portuguesas para os acontecimentos no aeroporto de
Lisboa parecem ter satisfeito a imprensa brasileira, que passa de novo a tratar
os _______________ com simpatia.
c) O hábito de usar um anel no dedo simbolizando um compromisso é
bastante antigo. Sabe-se que os egípcios já usavam um(a) _________no
dedo.
d) Toda a imprensa italiana parou ontem, em uma greve sem precedentes no
país. A _______________ está sendo promovida pelo sindicato da categoria.
e) O prefeito de Itaguaí demitiu ontem 52% dos funcionários do município: de
2.297 _______________ ficaram apenas 1.197.
f) Entre os adolescentes, as mortes ligadas a causas externas aumentaram de
42% para 50% do total de _______________ nessa faixa etária.

12. Você escreve bem quando encontra a palavra mais adequada para cada
situação e contexto. Muitas vezes – por comodidade – usamos termos de
sentido genérico, que não são capazes de passar ao cliente a noção exata do
que desejamos transmitir. No exercício a seguir, você deverá reescrever as
frases utilizando palavras de sentido mais específico:
a) As funcionárias da empresa parecem ter boa saúde.
b) A filial tem hoje 200 colaboradores.
c) Deu R$30,00 por um cafezinho.
d) A companhia sempre dá assistência aos funcionários acidentados.
e) Concorde fazia o percurso Rio-Paris em menos tempo.
f) Os artistas fizeram doação da renda do espetáculo à Fome Zero.
g) diretor fez censuras ao departamento de aviação civil.
h) Fez uma carta em poucos minutos.

13. Preencha as lacunas com a palavra ou expressão mais adequada,


escolhida entre:
abaixo — a baixo — baixo — debaixo — de baixo — embaixo
a) A temperatura no Sul estava ________________de zero.
b) Examinaram o suspeito de alto ________________.
c) A namorada o esperava ________________, na portaria.
d) Pendurou a gravura ________________do quadro a óleo.
e) Carregava o pão________________ do braço.
f) Entrou no buraco de cabeça para __________________.
g) O livro estava ________________da pilha de cadernos.
h) Na lista, meu nome estava ________________ do dele.
i) Resolveu descer rua ________________.
j) Examinava os produtos ________________para cima.
k) O soldado está________________ do cabo.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 173


l) O viaduto veio ________________.
m) Eles ainda não chegaram lá ________________.
n) O meu irmão vive no andar ________________do meu.
14. Preencha as lacunas com a palavra adequada, entre as seguintes.
abaixar — rebaixar — baixar
a) O novo governo não conseguiu ________________a inflação.
b) Decidiu ________________o teto da sala.
c) O general devia ________________militares acusados.
d) Tinha que ________________a cabeça para passar pela porta.
e) Com a medida, o dólar devia ________________no câmbio negro.
f) Os feirantes resolveram ________________o preço.
g) O governo quis ________________um decreto no final de semana.
h) O gerente pretendia ________________os funcionários.
i) O empregado teve que ________________os produtos da
prateleira.
j) Ordenou ao menino ________________a voz.
k) Por timidez, viu a menina ________________o olhar.

15. Preencha as lacunas com uma das seguintes palavras:


comunicar — informar — declarar — avisar — participar
a) O diretor decidiu ________________a resolução a todos.
b) A enfermeira achou melhor _______________sobre os riscos da
operação.
c) Queremos ________________a todos o nosso casamento.
d) A testemunha resolveu ________________o que havia ouvido.
e) Desejamos ________________aos empregados que o salário
deste será pago com atraso.
f) É bom ________________que há risco de incêndio.
g) Ninguém deve ____________a vítima sobre as consequências
do desastre.
h) O presidente foi à televisão para _________a população sobre
suas últimas decisões.
i) Nada tinham a ________________os jogadores da Seleção.

16. Preencha as lacunas com a palavra mais adequada, escolhida na seguinte


relação:
observar — contemplar — avistar — enxergar — distinguir —ver — olhar
— fitar — espionar
a) Tentava na escuridão alguma forma, mas nada conseguia
_____________.
b) Cabral chegou a ________________ alguns montes de terra.
c) O artista quis ________________ por mais alguns minutos a
bela estatueta.
d) Nada conseguia ________________na escuridão.

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e) Pretendia seguir o criminoso, tentaria ________ a distância os
seus passos.
f) O namorado queria ________________ os olhos da namorada,
mergulhar naquele azul que o atraía tanto.
g) O oculista mandou-o _______________ para o quadro de letras
na parede.
h) Apesar das dificuldades, procurava _______________ as fotos
do acidente.
i) Do avião tentou ________________ sua casa na praia.
j) No microscópio pôde ________________ as asas do inseto.

17. Preencha as lacunas com a expressão adequada.


ao pé — a pé — de pé — em pé
a) A cabana ficava ________________da serra.
b) Os soldados puseram-se ________________à entrada do
superior.
c) Em lugar de vir ________________de ônibus, preferiu caminhar
d) Ajoelhou-se ________________da imagem.
e) A enfermeira colocou ________________o doente

18. Preencha as lacunas com uma das seguintes palavras:


trocar — mudar — alterar
a) Você pretende ________________os móveis de lugar?
b) Devemos ________________de casa no mês que vem.
c) Não pudemos ________________mais que duas palavras.
d) As cobras devem ________________de pele todos os anos.
e) Vou ________________o CD e colocar um tango!
f) Quando casam, as mulheres podem escolher entre ________ o
sobrenome ou não.
g) O diretor pretende ________________as regras do concurso.
h) O químico queria ________________ a fórmula do perfuma.

19. Preencha as lacunas com uma das seguintes palavras:


solo — terra — chão — terreno
a) As crianças gostam de atirar as coisas no(na) ________________ .
b) Compramos um novo pano para esfregar no(na) ________________
c) Quando o avião tocou o(a) ________________todos se acalmaram.
d) Meu avô arrastava os pés pelo(a) ________________das ala.
e) O(A) ________________media vinte por trinta metros, mas era barato.
f) Dormimos no(na) ________________por falta de camas.
g) Comprei parte do(da) ________________ de meu vizinho.
h) O paraquedista desmaiou antes de chegar ao(à) ________________
i) O (A) ________________estava cercado de arame farpado.

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20. Faça uma frase com os verbos de cada conjunto a seguir, de modo que
seja o mais adequado ao contexto.
Grupo 1: abandonar - deixar — largar
Grupo 2: abreviar – diminuir – encurtar
Grupo 3: falecer – parecer - sucumbir

21. Quanto à paronímia, assinale a alternativa correta:


a) O meu pai sempre foi um pião de fábrica, um líder no lar, um homem justo.
b) Diante de minha sólida argumentação, só restou ao tenente diferir meu
requerimento.
c) Tive gana de provocar um prejuízo vultuoso na firma. Afinal, era um bom
tesoureiro.
d) Não o cria tão insensível quanto parecia. A discrição impunha-lhe tenaz
responsabilidade.
22. A palavra sublinhada está empregada inadequadamente em:
a) Os moradores sempre o consideram, pelas suas atitudes, um homem sério
e descente.
b) Sempre foi muito místico, por isso não se cansava de lhe chamar de
ascético.
c) Comentava-se que o príncipe só poderia ascender ao trono após a
maioridade.
d) Na última publicação do jornalista, a seção de esportes estava ótima.
e) Sabe apreciar uma pintura. Não há dúvida de que possui senso artístico.

23. Assinale a opção em que houve troca de uma palavra por seu parônimo:
a) A publicidade faz com que o governo não passe desapercebido.
b) Da administração direta emerge parte da publicidade governamental.
c) O cumprimento das promessa eleitoras é a melhor publicidade.
d) Os gastos com publicidade estavam discriminados na prestação de contas.
e) A verba de publicidade provém dos impostos pagos pela população.

24. Observe as palavras sublinhadas nas orações abaixo:


I – ― ... mas na hora que ia ficar pelada, o vento ...‖
II – ―... Na pelada de Domingo houve três pênaltis.
A alternativa que representa o par de orações em que ocorre o mesmo caso de
homonímia é:
a) O alfaiate coseu bem o terno. / O marido cozeu o feijão.
b) Cerraram todas as portas durante a greve. / Serraram as madeiras.
c) A aluna foi descriminada pela sua falta. / Os colegas a discriminaram.
d) Ele passou-lhe um cheque sem fundo. / Deu-lhe um xeque no jogo de
xadrez.
e) Tudo ocorreu antes, como havíamos previsto. / Quando estou com fome,
como qualquer coisa.

25. Assinale a alternativa que apresenta incorreção quanto ao significado da

Tipologia e Gêneros Textuais Página 176


palavra:
a) acender = pôr fogo / ascender = subir, elevar-se
b) arriar = abaixar / arrear = por arreio
c) acento = sinal gráfico / assento = lugar onde se assenta
d) apóstrofe = sinal gráfico em forma de vírgula, com o qual se indica
supressão de letra ou sílaba em uma palavra / apóstrofo = figura de
linguagem que consiste em interpelar violentamente pessoas ou coisas
presentes ou ausentes, reais ou fantásticas.
e) apressar = tornar rápido / apreçar = ver preço

26. Substitua o verbo fazer nas frases a seguir por outros de significado mais
específico:
a) Á árvore faz sombra na parede.
b) Ontem meu irmão fez dez anos.
c) O governo vai fazer as escolas prometidas.
d) Faz frio em Friburgo.
e) O ministro fez a carta em pedacinhos.
f) Ele se fez de bobo.
g) Maria fez o jantar.
h) Fez a barba de manhã.
i) Ele fez fama entre os pintores.
j) O policial fez o assaltante recuar.

27. Substitua o verbo pôr nas frases a seguir por outros de significado mais
específico:
a) Deve-se pôr um pouco mais de sal na comida.
b) O sacerdote pôs a batina.
c) Temos que pôr um anúncio no jornal.
d) Sobre esse tema, puseram um aviso no quadro.
e) Vamos pôr os quadros na parede.
f) O assaltante se pôs atrás da porta,
g) Pôs os livros no armário.
h) Os amigos sempre lhe põem a culpa.
i) O governante põe a economia em primeiro lugar.
j) Maria pôs a panela no fogo.

28. Escolha a palavra mais adequada à frase:


a) Consumidor reage diante do preço (CARO ou ALTO) das mercadorias
nos supermercados.
b) Com as prateleiras vazias, está comprovada a (ESCASSEZ ou FALTA)
do produto na cidade.
c) Os quatro primeiros da fila acompanhem, por favor, a secretária, (O
RESTO ou OS DEMAIS) permaneça (m) nesta sala.
d) Betinho confessou ter recebido 4o mil dólares da contravenção,
alegando que o dinheiro seria para ajudar as vítimas da AIDS. Isso

Tipologia e Gêneros Textuais Página 177


(EXPLICA ou JUSTIFICA) o envolvimento de seu nome no escândalo
do jogo do bicho.
e) Após o Jogo, torcedores revoltados incendiaram toda a composição. O
trem ficou completamente (DANIFICADO ou DEPREDADO ou
DESTRUÍDO).
f) Como não existe saneamento básico, as águas da lagoa ficaram
(SUJAS ou CONTAMINADAS ou POLUÍDAS) pelo vibrião do cólera.
g) É, porém, pouco (PROVÁVEL ou POSSÍVEL) que o Olaria vença o
campeonato.
h) Por não atingir os objetivos propostos, os organizadores consideraram
a campanha (DEFICIENTE ou INEFICIENTE ou DEFICITÁRIA).
i) É preciso que a Prefeitura (TAMPE ou TAPE) os buracos da Avenida
Rio Branco.
j) O contrabando foi apreendido na (FRONTEIRA ou DIVISA ou LIMITE)
entre São Paulo e Rio de Janeiro.
k) Para (MAIORES ou MAIS) informações, estamos à sua disposição no
ramal13.
l) (A PARTIR DO ou CONSIDERANDO O) que ficou acertado, o
pagamento só será efetuado 30 dias após o término do serviço.
m) Contraiu dívidas (COM ou JUNTO A) vários bancos.
n) O soco do lutador foi tão violento que causou (DESCOLAMENTO ou
DESLOCAMENTO) da retina no adversário.
o) Os auditores exigiram que o assunto fosse tratado com a maior
(DESCRIÇÃO ou DISCREÇÂO ou DISCRIÇÃO) possível.
p) As reivindicações dos sem-teto não podem passar
(DESAPERCEBIDAS ou DESPERCEBIDAS) ao Governo. Caso
contrário, a situação tende a ficar incontrolável.
q) O Juiz da 4a. Vara de Execuções de Brasília expediu (MANDATO ou
MANDADO) de Apreensão contra os comerciantes fraudadores de
notas fiscais.

2. Complete com a palavra mais adequada à frase:


a) A decisão de (TAXAR ou TACHAR) em 15% os medicamentos usados
no combate ao câncer foi (TAXADA ou TACHADA) de absurda pela
Associação Brasileira de Medicina.
b) Sugerimos, portanto, que se tomem as medidas abaixo
(DISCRIMINADAS ou DESCRIMINADAS).
c) Vários parlamentares foram (CASSADOS ou CAÇADOS) por seu
envolvimento na "máfia" do orçamento.
d) A Justiça (INFRINGE ou INFLIGE) penas a quem (INFRINGE ou
INFLIGE) a lei.
e) Na última (CESSÃO ou SESSÃO ou SEÇÁO) do Congresso, decidiu-se
pela (CESSÃO ou SESSÃO ou SEÇÁO) de terras aos trabalhadores
rurais.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 178


f) Infelizmente, o Diretor não (RATIFICOU ou RETIFICOU) a decisão de
promover dois funcionários.
g) As denúncias de (TRÁFEGO ou TRÁFICO) de crianças serão
investigadas pela polícia.
h) O médico (PRESCREVEU ou PROSCREVEU) outros remédios.
i) Os assuntos (POR ORA ou POR HORA) pendentes serão resolvidos na
próxima reunião.
j) Os empregados farão greve, uma vez que o acordo não vem (DE
ENCONTRO ÀS ou AO ENCONTRO DAS) suas reivindicações,
k) (HÁ CERCA DE ou ACERCA DE ou A CERCA DE) dois meses, a
Auditoria recebeu relatório denunciando o fato.
l) (EM PRINCÍPIO ou A PRINCÍPIO) tudo correu bem. Depois, foi aquela
tragédia.
m) Já o governo, (AO INVÉS DE ou EM VEZ DE) atender aos anseios da
população, resolveu pagar os juros da dívida.
n) Nas últimas eleições, (AO INVÉS DE ou EM VEZ DE) votar na direita,
preferiu a esquerda.
o) As decisões tomadas (A NÍVEL ou EM NÍVEL) federal poderão gerar o
consenso necessário às mudanças econômicas.
p) Ela não pagou a dívida (TAMPOUCO ou TÃO POUCO) deu satisfação.
q) O problema tem que ser resolvido (INDEPENDENTE ou
INDEPENDENTEMENTE) da opinião dos funcionários.

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UNIDADE 6 - TRABALHO COM
TEXTOS

Quando escrevemos palavras, frases soltas, sem elementos de ligação, sem


preocupação com o encadeamento de ideias, comprometemos a coesão do
texto, porque o texto não é feito de palavras ou frases isoladas, desarticuladas!
Se o aluno autor constrói uma infinidade de frases que não se relacionam,
estas são apenas fragmentos descontextualizados, embora não haja erros de
ortografia e nem problemas de pontuação! A preocupação do autor deve ser
compartilhar suas ideias com os outros, envolvendo-os no texto! Se o autor do
texto estiver preocupado com ―para quem‖, ―sobre o quê‖, ―por que‖, ―como‖ e
―para quê‖, é porque ele já entendeu que escrevemos para alguém ler o que
temos a dizer! Ele já se apropriou da importância de se conhecer as condições
da produção textual.

Leve diferentes textos para a aula. Peça aos alunos que se reúnam em grupo
para analisarem esses textos, observando sua unidade temática, sua estrutura
textual, sua organização das ideias, onde esses textos estão publicados, a que
público se destina, quais os objetivos do seu autor, o modo como são escritos
(frases curtas e/ou longas, palavras grafadas e acentuadas de acordo com a
norma padrão), pois eles variam conforme as condições em que a produção
acontece.

Peça aos alunos temas e depois que escolham apenas um com o objetivo de
pesquisarem-no, e em seguida, debaterem-no. Assim, depois de apropriarem-
se desse conhecimento, vocês produzirão um texto. Não se esqueça de pensar
quem vai escrever o quê, para quem, pois o interlocutor é quem determina o
gênero do texto.

Damos a seguir alguns exemplos já estruturados de trabalho e depois algumas


sugestões para que o professor estruture, ele mesmo, as atividades. É
possível adaptar várias destas atividades de acordo com a faixa etária do
alunado.

A sugestão entre parênteses representa o tipo de gênero a ser desenvolvido


pelo aluno.

SUGESTÃO 1( GÊNERO – EDITORIAL)


As duas faces da inclusão - Revista AREDE
Objetivo comunicativo predominante - Texto de caráter opinativo, de
intenção persuasiva, escrito de forma impessoal, em que os editores

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expressam a opinião da revista sobre a comunicação mediada pelo
computador e outros veículos.
Contexto de produção - Produzido em 2005, o texto é direcionado ao público
jovem, ao público adulto e à sociedade informatizada; tem a intenção de
manter o leitor atualizado em tecnologia de informatização para a inclusão
social.
Modo de organização discursiva predominante - Texto dissertativo-
argumentativo que apresenta a opinião do veículo com clareza e
objetividade, para que o leitor acompanhe o raciocínio do autor, que
procura convencê-lo por meio de argumentos a dominar o conhecimento
pretendido.

Recursos linguísticos utilizados pelo autor


 Retomada de elementos anteriores por substituição e por repetição.
 Emprego de operadores argumentativos que estabelecem relação de
contraste e de causa e efeito.
 Frequência do verbo no presente do indicativo que indica a certeza do
autor.

Editorial - As duas Faces da Inclusão


A importância do programa Computador paro Todos para o inclusão das
famílias de baixa renda na Sociedade do Informação, e seus efeitos sobre as
políticas industrial e de desenvolvimento de software em plataformas abertas,
no país, foi o que motivou AREDE a promover um painel sobre o tema. Pela
primeira vez, o programo foi apresentado a uma plateia mais ampla, em
todos os seus aspectos. Para o programa - resultado de uma parceria entre
governo, indústria e sociedade civil - ser implementado com todos os seus
componentes, faltavam, no final de julho, dois atos do Executivo: uma nota
técnica definindo as configurações que podem ser financiadas com recursos
do FAT, a juros de até 2% ao mês; e o decreto que cria um serviço especial
para permitir que as operadoras possam cobrar RS 7,50 mensais, por quinze
horas, por acesso discado à Internet de famílias que não têm conexão
doméstica.
Mesmo sem essas medidas, fundamentais para o programa, os reflexos do
Computador poro Todos já são sentidos no mercado. Com a isenção do
PIS/Confins, os preços dos micros caíram, a indústria já está conseguindo
competir com o mercado cinza, há cadeias varejistas comercializando
máquinas com os 26 aplicativos do computador a menos de R$ 1,4 mil
(preço máximo admitido no programa).
O Computador para Todos compõe as iniciativas do governo federal para a
inclusão digital. Enquanto ele é voltado para o acesso individual, ou da
família, o Casa Brasil, ainda em licitação, contempla pontos de acesso
coletivo para comunidades de baixa renda. Na opinião do sociólogo Sérgio
Amadeu da Silveira, o Casa Brasil é o programa de acesso coletivo mais

Tipologia e Gêneros Textuais Página 181


consistente do governo federal, porque articula diferentes áreas do governo, a
comunidade, por meio do treinamento de monitores, e a sociedade civil.
Amadeu defende que a inclusão digital seja institucionalizada como política
pública. "Na Sociedade da Informação, a comunicação mediada pelo
computador tem que ser um direito do cidadão. Os que não tiverem acesso
à rede e, por meio dela, ò apropriação do conhecimento, vão perder uma
oportunidade que tem que ser de todos", afirma.
A apropriação do conhecimento se dá através da comunicação mediada pelo
computador, e também de todas as formas de comunicação, como rádio,
TV, produção multimídia etc. O caminho da comunicação popular, no
entanto, enfrenta muitos obstáculos. No caso particular das TVs
comunitárias, as dificuldades começam na sua regulamentação - limitada às
TVs a cabo, com cobertura limitada e acesso pago - e terminam na falta de
uma estrutura de financiamento. Mesmo assim, há algumas iniciativas
vitoriosas.

Leitura
1. No enunciado inicial, o editorial destaca as informações principais. Com base
nelas:
• identifique o tema proposto;
• justifique o título do texto através da relação que estabelece com o tema.
2. No 2° parágrafo, que relação de sentido esse argumento "mesmo sem essas
medidas" tem com o anterior?
3. Que ideias estão contidas nessas expressões do autor: "Amadeu
defende que a inclusão seja institucionalizada como política pública"?
4. No início da conclusão, com que intenção o autor retoma o argumento
explorado pelo sociólogo "a apropriação do conhecimento"?
5. No último parágrafo, identifique os elementos do texto que limitam a
socialização do conhecimento através de emissoras comunitárias.
6. O pronome pessoal em destaque substitui que termos da sentença
inicial: "Enquanto ele é voltado para o acesso individual"?
7. Em "a indústria já está conseguindo competir com o mercado cinza",
qual o sentido da expressão em destaque?
8. Que relações as sequências argumentativas estabelecem com as anteriores?

Agora, a partir do texto abaixo, escreva um editorial a ser publicado numa


revista especializada:
Numa sociedade em que ninguém quer engordar, o crescimento dos
supermercados é um tanto contraditório. A febre de emagrecimento deveria
beneficiar o desenvolvimento dos pequenos armazéns e não desses
monstruosos templos de consumo.
O homem atual vive imprensado entre os dietéticos e os supermercados. Mais
um pouco e será impossível reviver a dupla do Gordo e o Magro. Quando
muito, conseguiremos uma dupla formada pelo Gordo e o Menos Gordo.

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É difícil, entretanto, fugir ao irresistível apelo desses locais. É neles que o
homem satisfaz todas as necessidades de consumidor. A primeira intenção de
quem entra num supermercado é comprar tudo. Um conhecido meu,
consumidor consagrado, já confessou que seu maior desejo é poder atirar-se
sobre as prateleiras, abrir pacotes, latas e caixas de biscoitos, queijos, doces e
compotas e ficar ali esparramado, comendo até sair pelos ouvidos.
Curiosamente, a alimentação deixou de ser uma simples necessidade para
tornar-se um complicado sistema de "marketing" e pesquisas. Hoje a gente
nem sempre compra o que quer. Compra o que eles querem vender.
Os proprietários têm consciência dessa compulsão dos clientes e arrumam as
mercadorias de maneira matematicamente calculada. As que têm saída certa
ficam embaixo. As de venda difícil são colocadas à altura dos olhos; dos
olhos e, principalmente, das mãos. E há, ainda, as embalagens, feitas de
forma a atrair o consumidor. Tem muita gente que só compra pela embalagem.
E tem alguns que ainda fazem pior: só comem a embalagem.
Carlos Eduardo Novaes,O caos nosso de cada dia.

SUGESTÃO 2 (GÊNERO – POEMA, CONTO)


Inicie a atividade comentando com seus alunos que a fábula é uma narrativa
alegórica, em forma de prosa ou verso, cujos personagens são geralmente
animais com características humanas. Nessas histórias, o diálogo e as ações
dos personagens criam uma tensão entre eles, geralmente provocada por
comportamentos e valores diferentes, por exemplo: a vitória da fraqueza sobre
a força, da bondade sobre a astúcia e a derrota de presunçosos sobre os
humildes. É uma narrativa ficcional, com fundo didático, pois o desenlace
reflete uma lição de moral. Quando os personagens são seres inanimados,
objetos, a fábula recebe o nome de apólogo.

Foi o grego Esopo quem consagrou o gênero. La Fontaine foi outro grande
fabulista, imprimindo à fábula grande refinamento. As literaturas portuguesa e
brasileira também cultivaram o gênero com Sá de Miranda, Diogo Bernardes,
Manoel de Melo, Bocage, Monteiro Lobato, Ruth Rocha.

Após essa breve explanação, proponha a leitura de duas versões da fábula A


lebre e a tartaruga. Além de terem sido produzidas em épocas diferentes e por
autores diferentes, uma versão foi criada em prosa e a outra em verso.
Explique aos alunos que o primeiro texto é de Esopo e o segundo de Ferreira
Gullar. Este criou sua versão inspirado na fábula daquele.

A LEBRE E A TARTARUGA
A lebre vivia dizendo para todo mundo que ninguém, entre todos os
animais, era mais veloz do que ela. Uma tartaruga que passava calmamente
não pôde deixar de escutar o que a lebre espalhava aos quatro ventos. A
tartaruga foi falar com a lebre:
— Aposto que, numa corrida, serei a vencedora — desafiou a tartaruga.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 183


A lebre, depois de passada a sua surpresa, riu-se da tartaruga.
— Você deve estar maluca, tartaruga!
A tartaruga fez-se de ofendida e respondeu:
— Por acaso não está com medo de perder, está?
A lebre riu-se ainda mais alto.
— Aviso-lhe, é mais fácil um tubarão voar do que uma tartaruga ganhar
uma corrida de mim!
Os animais, que estavam muito interessados na disputa, começaram a
fazer os preparativos para a corrida. No dia seguinte, já havia uma faixa de
largada e a raposa, que dizia ser o mais inteligente dos animais, aceitou ser o
juiz.
Então, a raposa deu a largada com uma bandeira e a lebre disparou na
frente, antes mesmo que a tartaruga desse o primeiro passo, mas a tartaruga
prosseguiu na sua pouquíssima velocidade, não se importanto com a lebre.
A lebre, certa da vitória, resolveu descansar um pouco à sombra de
uma linda árvore. A lebre ainda pensou antes de fechar os olhos: ―se a
tartaruga conseguir chegar até aqui, eu dou dois passos e fico à frente dela‖,
mas a soneca que a lebre tirou durou tempo demais e ela nem percebeu que a
tartaruga passou, vagarosamente e silenciosamente.
Quando a lebre acordou, nem percebeu que a tartaruga ia bem à sua
frente. Qual não foi a sua surpresa ao ver a tartaruga cruzar a linha de
chegada antes dela. Desse dia em diante, a lebre nunca mais se gabou de sua
velocidade.
Moral: Quem segue devagar e com constância sai sempre vencedor.

A LEBRE E A TARTARUGA
A tartaruga certo dia
Desafiou a lebre
Para uma porfia

— Chego antes de você


— Disse à lebre,
Que reagiu sorridente.
— Antes de mim?! estás demente!

— Então é pagar para ver


— Insistiu a tartaruga.
— Aposto que vou vencer!
Acertou-se enfim a aposta.
A corrida começou.
A tartaruga partiu, disposta.
A lebre riu, nem ligou.

Antes foi comer um nabo,


Puxar um ronco e coisa e tal...

Tipologia e Gêneros Textuais Página 184


E quando ao fim e ao cabo,
Deu por si, a tartaruga
Chegava ao ponto final.

Disparou feito uma flecha


Mas não deu,
Chegou depois.
Assim foi que a tartaruga
Venceu a lebre veloz.

Correr muito não é suficiente:


Mais vale ser atento e persistente.

Com base na leitura comparada, converse com os alunos sobre as


semelhanças e diferenças entre os dois textos. Peça que respondam às
seguintes perguntas:
 Os dois textos contam a mesma história?
 A estrutura dos dois textos é a mesma? Que diferenças você observa?
 Que texto foi organizado em parágrafos? Quantos parágrafos há?
 Estrofe é um conjunto de versos separados por um espaço em branco.
Quantas estrofes o texto 2 possui?
 Os personagens são os mesmos? Eles possuem as mesmas
características?
 Em qual estrofe os personagens conversam entre si?
 Qual o recurso usado para indicar a fala dos personagens nos dois
textos?
 Qual a diferença entre a fala dos personagens do primeiro texto com a
fala dos do segundo?
 O tema — a vitória da persistência — é o mesmo nos dois textos?
 Qual dos dois textos, na sua opinião, é mais fácil de memorizar?
Explique.
 Qual das duas formas de contar essa história você prefere?

Sugestão: Apresente à turma uma fábula e peça que façam uma releitura em
forma de poema ou em forma de conto. Outra atividade interessante seria
apresentar à turma o apólogo de Machado de Assis e também propor uma
releitura.

SUGESTÃO 3 (GÊNEROS – REPORTAGEM E NOTÍCIA)


A Reportagem é um gênero jornalístico. Embora ela geralmente se inicie como
a notícia - com um lead -, ela amplia o fato principal, acrescentando opiniões e
diferentes versões. A reportagem não tem uma estrutura rígida. De modo geral,
depois do lead, desenvolve-se a narrativa do fato principal, ampliando-a e
compondo-a por meio de entrevistas, depoimentos, boxes com estatísticas,
pequenos resumos, textos de opinião. Como todo texto jornalístico, a

Tipologia e Gêneros Textuais Página 185


reportagem é sempre encabeçada por um título, que anuncia o fato em si;
pode ou não apresentar subtítulo.
Na reportagem, emprega-se uma linguagem clara, dinâmica e objetiva, de
acordo com o padrão culto da língua. Embora a linguagem seja impessoal,
quase sempre é possível perceber a opinião do repórter sobre os fatos ou sua
interpretação. Às vezes, o jornal ou a revista emprega uma linguagem mais
informal, dependendo do público a que se destina.

Características da reportagem
1. informa de modo mais aprofundado sobre fatos que interessam ao público a
que se destina o jornal ou revista, acrescentando opiniões e diferentes
versões, de preferência comprovadas;
2. costuma estabelecer conexões entre o fato central, normalmente enunciado
no lead, e fatos paralelos, por meio de citações, trechos de entrevistas, boxes
informativos, dados estatísticos, fotografias, etc.;
3. pode ter um caráter opinativo, questionando as causas e os efeitos dos
fatos, interpretando-os, orientando os leitores;
4. predomínio da função referencial da linguagem;
5. linguagem impessoal, objetiva, direta, de acordo com o padrão culto da
língua.

Diferenças entre reportagem e notícia


Enquanto a notícia nos diz no mesmo dia ou no seguinte se o acontecimento
entrou para a história, a reportagem nos mostra como é que isso se deu.
Tomada como método de registro, a notícia se esgota no anúncio; a
reportagem, porém, só se esgota no desdobramento, na pormenorização, no
amplo relato dos fatos.
O salto da notícia para a reportagem se dá no momento em que é preciso ir
além da notificação - em que a notícia deixa de ser sinônimo de nota - e se
situa no detalhamento, no questionamento de causa e efeito, na interpretação
e no impacto, adquirindo uma nova dimensão narrativa e ética. Porque com
essa ampliação de âmbito a reportagem atribui à notícia um conteúdo que
privilegia a versão. Se a nota é geralmente a história de uma só versão, a
reportagem é por dever e método a soma das diferentes versões de um
mesmo acontecimento.

Tragédia Brasileira – Manuel Bandeira (ver observação no fim do livro)


Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa, – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos,
uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou
médico, dentista, manicura...Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo Podia dar uma surra,um tiro, uma facada. Não fez
nada disso: mudou de casa.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 186


Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria,
Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado,
Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do
Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, provado de sentidos e de
inteligência,matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la em decúbito
dorsal, vestida de organdi azul.

A que gênero pertence o texto acima? Por quê? A partir de sua leitura, escreva
uma reportagem relatando o ocorrido e depois, transforme-a em uma notícia.

SUGESTÃO 4 (GÊNERO – CRÔNICA)


O Exercício da Crônica - Vinícius de Moraes
Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um
cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas
pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um
prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua
máquina, acende um cigarro, olha através da janela e busca fundo em sua
imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou
da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um
sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar
que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica,
provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela
concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de
assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o
inesperado.
Alguns fazem-no de maneira simples e direta, sem caprichar demais no
estilo, mas enfeitando-o aqui e ali desses pequenos achados que são a sua
marca registrada e constituem um tópico infalível nas conversas do alheio
naquela noite. Outros, de modo lento e elaborado, que o leitor deixa para mais
tarde como um convite ao sono: a estes se lê como quem mastiga com prazer
grandes bolas de chicletes. Outros, ainda, e constituem a maioria, ―tacam
peito‖ na máquina e cumprem o dever cotidiano da crônica com uma espécie
de desespero, numa atitude ou-vai-ou-racha. Há os eufóricos, cuja prosa
procura sempre infundir vida e alegria em seus leitores e há os tristes, que
escrevem com o fito exclusivo de desanimar o gentio não só quanto à vida,
como quanto à condição humana e às razões de viver. Há também os
modestos, que ocultam cuidadosamente a própria personalidade atrás do que
dizem e, em contrapartida, os vaidosos, que castigam no pronome na primeira
pessoa e colocam-se geralmente como a personagem principal de todas as
situações. Como se diz que é preciso um pouco de tudo para fazer um mundo,
todos estes ―marginais da imprensa‖, por assim dizer, têm o seu papel a
cumprir.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 187


Uns afagam vaidades, outros, as espicaçam; este é lido por puro
deleite,aquele por puro vício. Mas uma coisa é certa: o público não dispensa a
crônica, e o cronista afirma-se cada vez mais como o cafezinho quente seguido
de um bom cigarro, que tanto prazer dão depois que se come.
Coloque-se porém o leitor, o ingrato leitor, no papel do cronista. Dias há
em que, positivamente, a crônica ―não baixa‖. O cronista levanta-se, senta-se,
lava as mãos, levanta-se de novo, chega à janela, dá uma telefonada a um
amigo, põe um disco na vitrola, relê crônicas passadas em busca de inspiração
–– e nada. Ele sabe que o tempo está correndo, que a sua página tem uma
hora certa para fechar, que os linotipistas o estão esperando com impaciência,
que o diretor do jornal está provavelmente coçando a cabeça e dizendo a seus
auxiliares: ―É... não há nada a fazer com Fulano...‖ Aí então é que, se ele é
cronista mesmo, ele se pega pela gola e diz: ―Vamos, escreve, ó
mascarado!escreve uma crônica sobre esta cadeira que está aí em tua frente!
E que ela seja bem-feita e divirta os leitores!‖ E o negócio sai de qualquer
maneira.
O ideal para um cronista é ter sempre uma os duas crônicas adiantadas. Mas
eu conheço muito poucos que o façam. Alguns tentam, quando começam, no
afã de dar uma boa impressão ao diretor e ao secretário do jornal. Mas se ele é
um verdadeiro cronista, um cronista que se preza, ao fim de duas semanas
estará gastando a metade do seu ordenado em mandar sua crônica de táxi ––
e a verdade é que, em sua inocente maldade, tem um certo prazer em
imaginar o suspiro de alívio e a correria que ela causa, quando, tal uma filha
desaparecida, chega de volta à casa paterna.
in Vinícius de Moraes. Poesia completa e prosa Ed. Nova Agreilar.

Faça sua crônica


Ao ler crônicas, você conhece a visão de mundo daquela pessoa que escreveu
o texto. Tão interessante quanto isso é você mesmo tentar encontrar a sua
forma de ver e questionar o mundo ao seu redor. Como? Escrevendo sua
própria crônica. Além de observar mais atentamente as pessoas e situações
que fazem parte do seu dia-a-dia, você estará exercitado sua redação ao tentar
construir textos claros e, ao mesmo tempo, criativos.
As etapas abaixo podem servir como um guia caso você esteja começando a
se aventurar pelo mundo da crônica. Com o tempo, você desenvolverá seu
próprio processo criativo e o texto surgirá de forma natural, sem que seja
necessário seguir etapas definidas.

Etapas para escrever sua crônica:


1. Escolha algum acontecimento atual que lhe chame a atenção. Você pode
procurá-lo em meios como jornais, revistas e noticiários. Outra boa forma de
encontrar um tema é andar, abrir a janela, conversar com as pessoas, ou seja,
entrar em contato com a infinidade de coisas que acontecem ao seu redor.
Tudo pode ser assunto para uma crônica.
É importante que o tema escolhido desperte o seu interesse, cause em você

Tipologia e Gêneros Textuais Página 188


alguma sensação interessante: entusiasmo, horror, desânimo, indignação,
felicidade... Isso pode ajudá-lo a escrever uma crônica com maior facilidade.
2. Agora que você já selecionou um acontecimento interessante, tente formular
algumas opiniões sobre esse fato. Você pode fazer uma lista com essas ideias
antes de começar a crônica propriamente dita. Frases como as que seguem
abaixo podem ser um bom começo para você fazer a sua lista:
"Quando penso nesse fato, a primeira ideia que me vem à mente..."
"Na minha opinião esse fato é..."
"Se eu estivesse nessa situação, eu..."
"Ao saber desse fato eu me senti..."
"Sobre esse fato, as pessoas estão dizendo que..."
"A solução para isso..."
"Esse fato está relacionado com a minha realidade, pois..."
Como você deve ter notado, é muito importante que o seu ponto de vista, a
sua forma de ver aquele fato fique evidente. Esse é um dos elementos que
caracterizam a crônica: uma visão pessoal de um evento.
3. Agora que você já formou opiniões sobre o acontecimento escolhido, é hora
de escrever sua crônica. Seu ponto de partida pode ser o próprio fato, mas
esse também pode ser mencionado ao longo do texto. Escreva! Pratique! E
procure usar a criatividade para criar seu próprio estilo, pois é isso que faz de
um escritor um bom cronista.
O conto brasileiro contemporâneo de Ricardo Ramos, abaixo, nos possibilita,
também, perceber as diferentes formas de organização de um texto. Leia-o
com atenção.

SUGESTÃO 5 (GÊNERO – CRÔNICA)


Moacyr Scliar escrevia suas crônicas a partir das manchetes de jornais.
Lançamos a você um desafio: escrever uma crônica a partir de manchete de
em um jornal, descobrindo a ―história que está pedindo para ser contada‖. Para
isso, apresentamos abaixo algumas noticias selecionadas por Moacyr Scliar,
para produzir os seus textos. Escolha uma delas e redija sua narrativa.
―Linha [telefônica] some e aparece em casa vizinha.‖
Cotidiano, 19 jul. 1999. In: SCLIAR, Moacyr. O imaginário cotidiano.

―Erro faz aposentado receber R$ 6 milhões; homem devolveu o dinheiro.‖


Cotidiano, 30 jul. 1999. In: SCLIAR, Moacyr. O imaginário cotidiano.

―Jogador quer direito autoral sobre seus gols.‖


Esporte, 20 jan. 200. In: SCLIAR, Moacyr. O imaginario cotidiano

SUGESTÃO 6 (GÊNERO – CRÔNICA)


CIRCUITO FECHADO (1)
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água,
espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete,
água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa,

Tipologia e Gêneros Textuais Página 189


abotoaduras, calça, meias, sapatos, telefone, agenda, copo com lápis, caneta,
blocos de notas, espátula, pastas, caixa de entrada, de saída, vaso com
plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e
fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,
memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros,
cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta,
projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz,
papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres,
garrafa, guardanapo. Xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de
dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel,
cigarro, fósforo, telefone interno, gravata, paletó. Carteira, níqueis,
documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de
fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres,
guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona,
cadeira, cinzeiro, papéis, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel,
relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel,
telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro.
Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista.
Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras,
cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro
e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma,
água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
Ricardo Ramos, Circuito Fechado (1), In: Contos brasileiros contemporâneos.
Org.: Julieta de G. Ladeira. São Paulo: Moderna, 1991

Você deve ter estranhado esse texto, não é mesmo? Frases curtas. Um texto
construído apenas com substantivos, num único parágrafo. Esse texto, apesar
do estranhamento causado pelo uso e ―abuso‖ dos substantivos, contém uma
sequência com início, meio, progressão, fim e não há contradição. Por trás
desse ―amontoado‖ de palavras, podemos perceber a intenção do autor:
reproduzir a rotina da vida do personagem. E sabe por que conseguimos
construir o sentido desse texto? Simplesmente porque pudemos reconstruir o
dia-a-dia de uma pessoa, utilizando o nosso conhecimento prévio: como o
conhecimento de mundo, o conhecimento linguístico e o textual. Esse texto,
portanto, possui unidade temática.

1. Agora é a sua vez de brincar com as palavras, (re)criando um texto nesse


estilo de Ricardo Ramos. Pense em um tema que você domina para fazer essa
brincadeira. Que tal falar de sua infância? Da sua adolescência? Da rotina de
uma dona de casa? Do trânsito? De uma pescaria? De uma viagem à praia?
Da sua rotina? É só você escolher um e começar!
2. Você reescreveu um texto com problemas textuais, lembra? Desta vez, vou
sugerir que você escolha outro colega para reescrever o texto Circuito fechado
(1), de Ricardo Ramos, utilizando adjetivos, advérbios, verbos, enfim

Tipologia e Gêneros Textuais Página 190


desenvolvendo as palavras em frases e dividindo o texto em mais parágrafos.
Dê um nome para o personagem e se quiser, cite a profissão dele.

SUGESTÃO 7 - MUNDO DOS OBJETOS (GÊNERO - NOVELA)


1- Reunir os alunos em grupos de 3 ou 4 participantes.
2- Por escolha particular ou por sorteio, cada aluno do grupo escolherá
um objeto
3- Cada aluno, em seu caderno de Português, desenhará o seu objeto.
4- Numa folha de papel sulfite, o aluno desenhará o seu objeto ,
transformando-o em personagem, dando-lhe características humanas. Se
desejar, poderá dar-lhe alguma característica "maluca" .
5- Depois de todos os desenhos do grupo já prontos, os alunos os colocarão
sobre as suas carteiras, para que o restante do grupo analise-os e observe
bem as características.
6- Baseando-se nas características dos personagens, os elementos do
grupo juntarão todos numa aventura. O texto deverá iniciar-se por uma
descrição dos personagens e depois passará para a narrativa de uma
aventura envolvendo todos. Durante a narrativa, os personagens deverão usar
alguma de suas características , talvez para resolver algum problema na
aventura.
7- Desenhar uma capa para o trabalho, de acordo com as características dos
personagens e se possível, ilustrá-la com alguma cena da aventura.
8- Se algum aluno faltar durante a elaboração do texto, ou não participar
ativamente disso, ele deverá fazer um texto sozinho.

SUGESTÃO 8 - TAPETE MÁGICO (GÊNERO – NOVELA)


Esta atividade pode ser aplicada pelo professor de Português, aproveitando
conteúdos desenvolvidos nas aulas de Geografia. Se, por exemplo, a classe
estiver estudando a região Sul, o texto produzido abrangerá essa região. Se o
professor de Português desejar, poderá aplicar a atividade desvinculado dos
conteúdos desenvolvidos nas aulas de Geografia, dando ampla liberdade ao
aluno de escolher por onde ele vai voar com seu tapete mágico. Se quiser,
fazer um livrinho com o texto e as ilustrações.
Dar para a classe o texto abaixo:

TAPETE MÁGICO - Caetano Veloso


Mas nada é mais lindo
Que o sonho dos homens fazer um tapete voar
Sobre um tapete mágico eu vou cantando
Sempre um chão sob os pés, mas longe do chão
Maravilha sem medo, eu vou onde e quando
Me conduz meu desejo e minha paixão
Sobrevoo a Baía da Guanabara

Tipologia e Gêneros Textuais Página 191


Roço as mangueiras de Belém do Pará
Paro sobre a Paulista de madrugada
Volto pra casa quando quero voltar
Vejo o todo da festa dos navegantes
Pairo sobre a cidade do Salvador
Quero de novo estar onde estava antes
Passo pela janela do meu amor
Costa Brava, Saara, todo o planeta
Luzes, cometas, mil estrelas no céu
Pontos de luz vibrando na noite preta
Tudo quanto é bonito, o tapete e eu
A bordo do tapete você também pode viajar, amor
Basta cantar comigo e vir como eu vou

Os alunos deverão se preparar para fazer um texto, seguindo os seguintes


passos:
 Cada aluno deverá escolher um lugar ou vários por onde queira
passear com seu tapete mágico. Se a atividades for desenvolvida com
os conteúdos aprendidos nas aulas de Geografia, o professor deverá
delimitar os locais. Por exemplo: região Sul.
 No caderno, cada aluno fará um levantamento do que há no lugar por
onde vai passear: estradas, cidades, praias, vegetação, comidas
típicas, folclore, divertimentos e tudo o mais que achar interessante. No
caso de aproveitar conteúdos de Geografia, o professor poderá colocar
na lousa os tópicos, que serão utilizados por todos.
 O professor pedirá para cada aluno se imaginar voando num tapete e
sobrevoando o local escolhido. Pedirá, então, que comecem a escrever
o texto em primeira pessoa.
 No primeiro parágrafo, a introdução, ele deverá contar como conseguiu
o tapete mágico: por obra de algum gênio que encontrou, por presente
de alguma fada, ou outro meio qualquer. O parágrafo deverá terminar
contando o destino que escolheu para viajar.
 Do segundo parágrafo em diante, o aluno deverá narrar a sua viagem
passando por todos os lugares que escolheu, utilizando trechos
descritivos.
 O aluno poderá descer do tapete, visitar atrações turísticas, conversar
com pessoas do local e participar de situações quotidianas do lugar.
 No último parágrafo, deverá concluir o seu texto, colocando um fecho
interessante.
 No caso de se fazer um livrinho com o texto, o professor deverá corrigi-
lo para que o aluno passe-o a limpo;
 Em tantas folhas de sulfite quantos forem os parágrafos do texto, fazer
uma margem de 2 cm e desenhar uma figura referente ao texto que
será colocado na página, observando a distribuição;

Tipologia e Gêneros Textuais Página 192


 Passar cada parágrafo do texto a limpo na folha de sulfite, junto a
figura correspondente;
 Fazer uma capa em que haja uma cena do texto;
 Criar uma dedicatória, fazer um breve resumo e uma rápida biografia
do autor.

SUGESTÃO 9 (GÊNERO- PUBLICIDADE)

A Persuasão no discurso publicitário


Nas diversas formas de relacionamento encontramos a persuasão. O discurso
autoritário, por exemplo, não admite contestação - ele se caracteriza pela
tentativa de dominação pela palavra.
Há casos em que o discurso de convencimento se reveste de certos disfarces,
mas por trás está sempre em jogo a "submissão" do outro. Na família, por
exemplo, os clássicos conselhos dos pais para os filhos nos remetem à própria
origem da palavra: per+suadere = aconselhar.
Isso ocorre também em formas de relacionamento ligadas à autoridade:
- escola
- quartel
- assembleias religiosas
- comunicação de massa ...

Convencer, aconselhar, ... são palavras que têm como objetivo comum levar o
outro à aceitação de uma ideia, isto é, persuadir.
Estamos cercados o tempo todo de verdadeiros "apelos" que ocorrem nas
mais variadas situações e muitas vezes nem nos damos conta disto.
Ligamos geralmente a noção de persuasão, de convencimento à figura de um
"vendedor" - alguém que tem como profissão nos convencer a comprar, a
conduzir nossas escolhas.
É claro que, neste sentido, a época em que vivemos explora ao máximo
técnicas de convencimento cada vez mais sofisticadas - entram em nossa casa
por meios variados e nos apontam vantagens e maravilhas não imaginadas por
nós.
É bastante divulgada a crença de que "a propaganda é a alma do negócio", e
nem nos damos ao trabalho de duvidar de tal ideia; contestar ou questionar o
conteúdo de determinadas propagandas exige de nós um posicionamento
firme, que, de certa forma, corresponde a um "ir contra a corrente".
Persuasão não é novidade. Este jeito de convencer o outro é muito antigo.
Está ligado à própria história do homem. Cada época tem os seus valores
próprios e estes são divulgados através das técnicas de convencimento
pertinentes a seu tempo. Mas sempre há aquele objetivo - "influenciar no modo

Tipologia e Gêneros Textuais Página 193


de agir de outro". Isto é legítimo em uma vida comunitária, depende de como e
para que se usa a persuasão.

A) Interior de um bonde. Um passageiro observa anúncios do tipo:


Veja o ilustre passageiro
o belo tipo faceiro
que o senhor tem a seu lado
quase morreu de bronquite
salvou-o o Rum Creosotado

B) (anúncio tirado da Manchete Rural)


"Agora onde um galo canta, um telefone toca".
Nos lugares mais distantes, bem cedinho, tem sempre um galo
cantando. E anunciando um novo dia. Mas agora este homem
também tem Ruratel. O telefone útil que a Telesp leva até a fazenda
(...)

Na propaganda, na arte de persuadir, é necessário considerar outro dado:


quem se deseja convencer. Alguns anúncios, por exemplo, são muito
abrangentes, pois se destinam a um público mais aberto; outros, como no caso
do exemplo B, se destinam a um público mais restrito. De toda forma, a
propaganda é sempre elaborada em função dos interesses do público alvo.
A publicidade também conta com esquemas básicos para alcançar o
convencimento dos receptores:
A) fórmulas linguísticas
 líder de audiência
 um jornal de verdade
 ouvinte amigo
 a fórmula da economia ...

B) uso de eufemismos
 descansou em paz
 o cão (diabo)
 doença ruim (câncer)

C) criação de inimigos (mais ou menos imaginários)


 sabão X, o único que combate a sujeira
 contra pulgas e baratas, use X
 creme dental X, para combater a cárie

D) apelo à autoridade (no assunto)


 O doutor X recomenda o analgésico Y para dor de cabeça.
 O dentista X recomenda escova dental Y.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 194


E) repetição
 Venha, venha fazer parte do nosso grupo.
 Você precisa , você deve, você verá...

F) afirmação (certeza imperativa)


 Temos certeza da sua satisfação.
 Asseguramos seu bem-estar.

Tais recursos são também usados por nós sempre que temos necessidade de
persuadir e ser persuadidos, de provocar reações emocionais.

Um dos recursos linguísticos muito empregados para o convencimento do


outro é a escolha das palavras. Essa seleção implica o uso de vocábulos mais
neutros ou mais marcados (cheirar/feder; lábio/beiço; peito/seio), o uso de
sinônimos (feio, horrível, medonho), o emprego de processos que ressaltem o
sentido da palavra (branco/branquinho/muito branco/super branco).
É importante salientar que esta disposição de convencer, aconselhar, persuadir
enfim, não é um mal em si. Podemos, por exemplo, querer convencer pessoas
a respeitar as leis de trânsito; o feirante a ser honesto no troco, no peso, na
qualidade de seus produtos; os pais a vacinarem os filhos ... e nada disto é um
mal, pelo contrário, são medidas que só visam à melhoria das pessoas, no
plano pessoal e social.

O texto publicitário pode realizar-se buscando maior originalidade, quebrando


certas normas preestabelecidas, causando impacto no receptor através de
mecanismos de "estranhamento", situações "incômodas" que levam, muitas
vezes, à indagação ou à pura indignação.

É o que se vê, por exemplo, em campanhas da Benetton, em trabalhos que se


tornaram clássicos na publicidade brasileira como os do Primeiro Soutien, da
Valisère. Há, também, movimento oposto, com peças esquemáticas,
estereotipadas, cheias de lugares comuns, banalidades que consistem em
colocar atletas para vender vitamina, simulacros de dentistas para falar de
pasta dental, modelos com pouca roupa e cheias de calor para divulgar marcas
de cerveja. Considere-se, porém, que em qualquer dos casos acima os
componentes persuasivos da mensagem publicitária se fazem presentes.

O texto publicitário resulta da conjunção de múltiplos fatores. Alguns estão


ancorados nas ordenações sociais, culturais, econômicas e psicológicas dos
grupos humanos para os quais as eças estão voltadas. Outros dizem respeito
a componentes estéticos e de uso do enorme conjunto de efeitos retóricos
necessários para se alcançar o convencimento e aos quais não faltam as
figuras de linguagem, as técnicas argumentativas, os raciocínios.
"Nove entre dez estrelas do cinema usam Lux."

Tipologia e Gêneros Textuais Página 195


O slogan está formado de seis palavras gramaticais (deixam-se de lado
preposições ou conectivos). Um bom slogan tem entre quatro e sete palavras
gramaticais; logo, o nosso exemplo seria, tecnicamente, de "bom tamanho".

O raciocínio é o mais formal possível. Trata-se de um silogismo (forma de


raciocínio que passa por três fases: premissa maior, premissa menor e
conclusão):
Premissa maior: As mais belas mulheres (do cinema) usam Lux.
Premissa menor: Você é (ou quer ser) uma bela mulher.
Conclusão: Você deve usar Lux (assim será tão bela como as atrizes célebres
que emprestam seu rosto para acompanhar o slogan).

Uso de figuras de retórica. Existem duas figuras prioritárias: comparação e a


hipérbole. Através da primeira se relaciona inatingível estrela à mulher comum:
com a segunda se comete um exagero respeitável (nove entre dez usam Lux).

O slogan se abre para duas realidades de forte pressão psicossocial:


• Exclusão. Ninguém deseja ser socialmente excluído. Estar em companhia da
possível única feia (a que não usa Lux) é uma situação bastante desagradável
e desconfortável.
• Símbolo. Vivemos em um mundo que não gosta do feio. Ainda que não
saibamos muito bem o que vem a ser tal categoria estética, a simples palavra
já provoca temores. Ser belo é o mesmo que estar determinado para o
sucesso e para o triunfo. O convite à beleza soa como obrigação.
(Texto extraído do livro Linguagem e Persuasão de Adílson Citelli, São Paulo:
Ática, 2005)

A Linguagem da Publicidade
Bananas de Pijamas
Tomemos a propaganda dos bonecos Bananas de Pijamas da Maritel. A
campanha apresenta duas crianças de aparentemente 8 anos/ um menino e
uma menina. A montagem articula-se a partir de 15 planos-sequência. As
primeiras imagens mostram as duas crianças sentadas num sofá assistindo ao
programa Bananas de Pijama. A trilha sonora é a música-tema: "Bananas de
Pijamas descendo as escadas. Bananas de Pijamas uma dupla bem levada.
Bananas de Pijamas aprontando pra valer/ brincando com os ursinhos". Em
seguida temos novamente a imagem das crianças. Nesse momento o menino
cochicha algo no ouvido da menina, depois se levanta e retira de dentro do
aparelho de TV um boneco Banana de Pijama/ e é seguido pela menina. As
próximas imagens são das crianças, muito felizes, brincando com os bonecos;
o último quadro traz o aparelho de TV com imagens dos Bananas, tendo ao
lado o boneco. Ao longo dessas imagens ouvimos:
Chegaram os Bananas de Pijamas da Maritel. Divertidos como os da TV.
Bananas de Pijamas da TV para você

Tipologia e Gêneros Textuais Página 196


Peça à turma para analisar alguns anúncios publicitários e identificar os
esquemas básicos para alcançar o convencimento dos receptores:
Identifique como o publicitário chegou ao slogan.

Peça aos alunos para elaborarem um anúncio publicitário atendendo aos


esquemas básicos e seguindo a concepção de elaboração de slogan.

Se estiver trabalhando a partir do 8º ano, apresente aos alunos ―O


Enfermeiro‖, de Machado de Assis e sermões do Pe. Antônio Vieira para
trabalhar os esquemas argumentativos: 1. INTRODUÇÃO (Exórdio) - 2.
DESENVOLVIMENTO (Exposição e Confirmação) e 3. CONCLUSÃO
(Peroração).

Para ampliar, o professor pode aproveitar para trabalhar o discurso político (O


discurso político é um texto argumentativo, fortemente persuasivo, em nome do
bem comum, alicerçado por pontos de vista do emissor ou de enunciadores
que representa, e por informações compartilhadas que traduzem valores
sociais, políticos, religiosos e outros. Frequentemente, apresenta-se como
uma fala coletiva que procura sobrepor-se em nome de interesses da
comunidade e constituir norma de futuro. Está inserido numa dinâmica social
que constantemente o altera e ajusta a novas circunstâncias. Em períodos
eleitorais, a sua maleabilidade permite sempre uma resposta que oscila entre a
satisfação individual e os grandes objetivos sociais da resolução das
necessidades elementares dos outros. O discurso político tem por finalidade a
persuasão do outro, quer para que a sua opinião se imponha, quer para que os
outros o admirem. Para isso, necessita da argumentação, que envolve o
raciocínio, e da eloquência da oratória, que procura seduzir recorrendo a afetos
e sentimentos. Implica um espaço de visibilidade para o cidadão, que procura
impor as suas ideias, os seus valores e projetos, recorrendo à força persuasiva
da palavra, instaurando um processo de sedução, através de recursos
estéticos como certas construções, metáforas, imagens e jogos linguísticos.
Valendo-se da persuasão e da eloquência, fundamenta-se em decisões sobre
o futuro, prometendo o que pode ser feito.) Para ilustrar, o professor pode levar
alguns discursos e relevar os esquemas argumentativos. Antes, para animar a
aula, o professor pode apresentar a crônica ―Eloquência Singular‖, de
Fernando Sabino.
Propor à turma elaborar um discurso político para candidatura ao grêmio
estudantil, por exemplo.

SUGESTÃO 10 (GÊNERO- CONTO DESCRITIVO)


COMUNICAÇÃO - Luís Fernando Veríssimo
É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber
comunicar o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um...
um... como é mesmo o nome?
- Posso ajudá-lo, cavalheiro?

Tipologia e Gêneros Textuais Página 197


- Pode. Eu quero um daqueles, daqueles...
- Pois não?
- Um... como é mesmo o nome?- Sim?
- Pomba! Um... um... Que cabeça a minha. A palavra me escapou por
completo. É uma coisa simples, conhecidíssima.
- Sim senhor.
- O senhor vai dar risada quando souber.
- Sim senhor.
- Olha, é pontuda, certo?
- O quê, cavalheiro?
- Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem
assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma
espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais
fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um
sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negócio,
entende, fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?
- Infelizmente, cavalheiro...
- Ora, você sabe do que eu estou falando.
- Estou me esforçando, mas...
- Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta,
certo?
- Se o senhor diz, cavalheiro.
- Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa
ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei
exatamente o que eu quero.
- Sim senhor. Pontudo numa ponta.
- Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?
- Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la
outra vez. Quem sabe o senhor desenha para nós?
- Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da
chaminé. Sou uma negação em desenho.
- Sinto muito.
- Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de
vida. Não sou um débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso,
me esqueci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. O desenho não me
faz falta. Lido com números. Tenho algum problema com os números mais
complicados, claro. O oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes.
Mas não sou um débil mental, como você está pensando.
- Eu não estou pensando nada, cavalheiro.
- Chame o gerente.
- Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um
acordo. Essa coisa que o senhor quer, é feito do quê?
- É de, sei lá. De metal.
- Muito bem. De metal. Ela se move?

Tipologia e Gêneros Textuais Página 198


- Bem... É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É
assim, assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim.
- Tem mais de uma peça? Já vem montado?
- É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço.
- Francamente...
- Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta
aqui, vem vindo, vem vindo, outra volta e clique, encaixa.
- Ah, tem clique. É elétrico.
- Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar.
- Já sei!
- Ótimo!
- O senhor quer uma antena externa de televisão.
- Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo...
- Tentemos por outro lado. Para o que serve?
- Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende.
Você enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as
duas partes de uma coisa.
- Certo. Esse instrumentos que o senhor procura funciona mais ou
menos como um gigantesco alfinete de segurança e...
- Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança!
- Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme,
cavalheiro!
- É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um... um... Como é mesmo o
nome?

Depois da apresentação do texto, peça aos alunos para criarem um conto em


que ocorra uma situação inusitada porque um dos personagens se esqueceu
do nome de alguma pessoa ou de algum objeto.

SUGESTÃO 11 (GÊNERO – FOLHETO)


Leve para a sala vários folhetos e discuta o gênero com os alunos. Dê suas
características:
Panfleto é um livreto sem capa ou encadernação, pode se consistir em uma
única folha de papel que em impressa em ambos os lados e dobrada ao meio,
em três ou quatro partes. Ou em algumas páginas que são dobradas ao meio e
grampeadas no vinco para fazer um livro simples.
Panfletos podem conter qualquer informação, desde receitas culinárias até
informações médicas. Os panfletos são muito utilizados pelo marketing, devido
ao seu custo reduzido para impressão e por ser de fácil distribuição. Os
panfletos têm sido utilizados por muito tempo como ferramenta importante de
protesto político e campanhas similares. Folhetos podem conter textos mais
extensos e de maior riqueza de detalhes.
Divida a sala em grupos. Cada um irá elaborar um folheto. Eles deverão
decidir passar pelas fases de elaboração de um folheto de marketing, como:

Tipologia e Gêneros Textuais Página 199


produto, público-alvo, ilustrações, texto. Irão pesquisar sobre o produto e
apresentar ao professor o folheto e um relatório com as etapas de elaboração.
Se o professor, quiser, peça à turma que o apresente oralmente também.

SUGESTÃO 12 (GÊNERO – ARTIGO DE OPINIÃO)


O artigo, como a crônica e o editorial, aprofundam aspectos relativos a fatos de
maior repercussão no momento. No jornalismo diário, a opinião refere-se a um
fato do dia. O artigo contém comentários ou teses fundados em visão pessoal.
Assim, há uma diferença entre o editorial e o artigo e a crônica: os dois últimos
―escapam aos limites restritos do editor, dos princípios gerais e das teses
orgânicas da empresa, dos compromissos e diretrizes que esta mantém e
busca traçar para o comportamento público. O artigo, como a crônica, é um
ensaio curto e de natureza contemporânea.
O artigo e a crônica são produzidos por colaboradores do jornal ou revista, que
―são pensadores, escritores e especialistas em diversos campos, e cujos
pontos de vista interessam ao conhecimento e divulgação do editor e seu
público típico‖. Portanto, na maioria dos casos, o ponto de vista dos articulistas
coincide com a linha editorial do veículo, embora este sempre traga estampada
a ressalva típica: ―Os artigos publicados com assinatura dos autores não
traduzem necessariamente a opinião do jornal‖.
Os fatos jornalísticos se caracterizam pela sua plasticidade, por se nutrir do
efêmero, do circunstancial, do acidental, fatos que se desdobram, que variam.
Portanto, a base do artigo deve ser a ―irracionalidade dos fatos‖; o perturbador
e constante cambiar da atualidade.‖ Os jornais têm como propósito, na
veiculação de tais mensagens: orientar o leitor; ―estimular o debate dos
problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do
pensamento contemporâneo.

Parábola: Sabe-se que uma parábola não quer dizer apenas o que está
explícito, mas traz em si outras possibilidades de leitura, segundo o contexto
em que é inserida. De acordo com esse posicionamento, produza um artigo
que explicite uma das possibilidades de leitura do texto transcrito a seguir. Se
você quiser, passe o filme ―A Revolução dos Bichos‖ de George Orwell.

NÃO! NÃO! (Luís Fernando Veríssimo)


Parábola. Um dia, os bichos começam a falar. O primeiro caso é num
abatedouro, onde um boi, na fila para ser abatido, subitamente começa a gritar:
―Não! Não!‖ Grande consternação. A fila pára. O abate é interrompido. O que
fazer? Decidem que foi uma ilusão. Que um boi fez ―mu" e soou como ―não‖.
Mas assim que a fila recomeça a andar, ouve-se novamente, com toda a
clareza, o grito: ―Não! Não!‖. Nova interrupção. O caso é levado à direção do
abatedouro. Depois de alguma deliberação, decidem que nada, realmente,
mudou. O fato de falar não significa que o boi deixou de ser boi, ou que o
negócio do abatedouro deixou de ser o de abatê-lo. E, mesmo, é só um boi,

Tipologia e Gêneros Textuais Página 200


que sabe só uma palavra. E não há, afinal, muita diferença entre ―Não‖ e ―Mu".
O abate deve continuar.
No dia seguinte, outro boi grita não apenas ―Não! Não!‖, mas ―Socorro!‖
e ―Me tirem aqui!‖. O abate continua. Mas no dia seguinte, mais dois bois se
manifestam, e um deles, além de ―Não!‖ e de ―Socorro!‖, grita ―Vocês não
podem fazer isto!‖. É demais. O abate é interrompido por tempo indefinido.
A notícia dos bois falantes se espalha, e logo surge a informação de
fenômenos parecidos em várias partes do mundo. Porcos se rebelando contra
o seu sacrifício, com gritos de ―Parem!‖ e ―Injustiça!‖. Ovelhas queixando-se
ruidosamente do frio depois da tosquia, e também tentando dissuadir seus
abatedores com protestos e imprecações. Galinha fugindo dos seus
executores e insistindo, freneticamente, para serem ouvidas. E o pior é que
bois, porcos, ovinos e galinhas são persuasivos. Se apenas falassem, seriam
apenas curiosidades. Mas não: são articulados. E, surpresa, têm uma noção
muito precisa da sua condição e dos seus direitos. Só lhes faltava a voz. E,
claro, a retórica. Um filósofo, lendo a respeito da rebelião, especula em voz alta
que o ser humano terá que mudar sua dieta, diante da nova realidade de
bichos com argumentos. E ouve uma voz aos seus pés que diz: ―Não apenas a
dieta, não é, professor?‖ O filósofo descobre que quem falou foi seu cachorro,
que passa a discorrer sobre todas as mudanças de comportamento, de
presunções e velhas certezas a que a espécie humana se obrigara, ao
descobrir que não tem o monopólio da linguagem, e, portanto, da razão e do
poder. Ao que o filósofo tem que concordar.
E a rebelião não pára. Vem a notícia de que um repolho, ao ser
arrancado da terra, gritou ―Ai!‖ e pediu para falar com um advogado.

SUGESTÃO 13 (GÊNERO – ARTIGO DE OPINIÃO)

Observe o quadro a seguir. Em seguida, produza um artigo de opinião no qual


você aborde o tema dos valores da sociedade brasileira.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 201


Escreva um artigo de opinião a partir do tema da charge abaixo:

Dê atenção ao texto expresso no quadro seguinte. Após, produza um artigo de


opinião que trate da importância da palavra no convívio social.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 202


SUGESTÃO 14 (GÊNERO - PEÇA TEATRAL OU CRÔNICA)
Poema tirado de uma notícia de jornal – Manuel Bandeira (ver observação
no fim do livro)
João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro
[da Babilônia num Barracão sem número
Uma noite ele chegou no Bar vinte de novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

Reflita com os alunos: Poema ou reportagem? Seria crônica? O primeiro


poema tinha sido tirado mesmo de uma notícia de jornal? Será que o poeta
podia estar inventando? Pedir aos alunos que comparem com as reportagens
de um jornal . Há diferenças? Semelhanças? Uma poderia ser transformada na
outra? Se o poema de Bandeira estivesse no jornal sem o título ―poema‖,
poderia ser confundido com reportagem?
A partir da leitura do texto, escreva uma peça teatral OU uma crônica.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 203


SUGESTÃO 15 (GÊNERO – CONTO)
Escreva um conto contando a vida e a morte de Irene. Lembre-se de
caracterizar o cenário e os personagens.

Texto-mote
IRENE NO CÉU
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
_ Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
_ Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.(Manuel Bandeira)
Os textos resultantes da atividade proposta foram fielmente transcritos abaixo.

SUGESTÃO 16 (GÊNERO – ANEDOTA)


Chama o Aurélio
Certos casos da política, de tão inacreditáveis, acabam virando parte do
anedotário. Ou vice-versa: algumas piadas traduzem tão bem determinadas
características da cultura política que assumem ares de verdade.
Em uma das hipóteses se encaixa a correspondência trocada, cerca de 20
anos atrás, entre o prefeito de Bom Sucesso (MG) e o então secretário
estadual do Interior, Ovídeo de Abreu.

Conta o deputado Elias Murad (PSDB-MG) que Abreu sempre gostou de falar
difícil. Numa certa ocasião, o secretário recebeu a informação de que Bom
Sucesso (MG) sofreria um tremor de terra capaz de quebrar copos e trincar
pratos. Preocupado, expediu rapidamente um telegrama ao prefeito:
"Movimento sísmico previsto essa região. Provável epicentro movimento
telúrico sua cidade. Obséquio tomar providências logísticas cabíveis.‖
O secretário esperou ansioso pela resposta. Quatro dias depois chegava o
telegrama do prefeito: "Movimento sísmico debelado. Epicentro preso,
incomunicável, cadeia local. Desculpe demora. Houve terremoto na
cidade".(Folha de S. Paulo, 24/11/92. p. 1-4.)

Responda:
1. Em que pessoa é narrado o texto?
2. Há quanto tempo ocorreu o fato relatado?
3. O narrador conta a história baseado no relato de quem?
4. Baseando-se exclusivamente no texto, responda se o fato narrado ocorreu,
ou se trata de uma anedota.
5. Falar difícil não significa falar bem. Que fato narrado no texto comprova
essa afirmação?

Tipologia e Gêneros Textuais Página 204


6. Por que o fato narrado pode ser considerado uma anedota?
7. Pode-se afirmar que houve comunicação entre o secretário e o perfeito?
8. Por que razão o telegrama do secretário não foi entendido pelo prefeito?
Agora, escreva uma anedota em que a graça esteja numa falha de
comunicação.

SUGESTÃO 17 (GÊNERO – CRÔNICA)

A ÚLTIMA CHARGE DE GLAUCO PUBLICADA NA FOLHA

Fonte: Folha de São Paulo- dia


9-3-2010.
Glauco, um dos maiores nomes do humor gráfico no Brasil, foi brutalmente
assassinado na noite do dia 10 de abril de 2010.
Escreva uma crônica que tenha como título: Os assaltantes dos cofres
públicos.

SUGESTÃO 18 (GÊNERO – CRÔNICA)


Leia a notícia abaixo e transforme-a em uma crônica. Use elementos
descritivos para caracterizar os personagens.
Ontem, por volta das 23 horas, num bar defronte à Rodoviária, Janete de Tal,
25 anos, atacou João Trabuco, 29 anos, desferindo-lhe sombrinhadas na
cabeça.

SUGESTÃO 19 (GÊNERO – CONTO)


Escreva um conto utilizando os elementos seguintes: um homem/ uma mulher/
barulho de pancadas/ sala sem luz / noite chuvosa. Use elementos descritivos.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 205


SUGESTÃO 20 (GÊNERO – CONTO)
Amplie a seguinte ideia, criando um pequeno conto. Você poderá colocar
elementos descritivos, nomes para os personagens, especificar o local e data.
Fique à vontade.
―Um homem foi a sua fazenda e dando comida para as galinhas, perdeu a sua
aliança. Com medo da mulher, dirigiu-se à cidade e pediu para um joalheiro
amigo fazer-lhe uma nova aliança. Ao chegar em casa, disse à mulher que a
sua aliança havia entortado por causa de uma pancada na porteira da fazenda
e que e havia mandado arrumar. Passada uma semana, a mulher mandou-lhe
trazer um frango da fazenda e qual não foi sua surpresa ao abrir sua moela,
encontrou a aliança lá dentro.‖

SUGESTÃO 21 (GÊNERO – CRÔNICA)


Escreva uma crônica que termine com a frase seguinte:
- Este não é o seu carro, meu senhor. Este é o meu carro. E ponha-se para
fora !

SUGESTÃO 22 (GÊNERO – CONTO)


Cada pessoa do grupo toma uma folha de papel e escreve o seguinte
parágrafo:
―Peguei os meus cadernos e fui para a Biblioteca fazer a pesquisa de História.
Selecionei alguns livros, dentre eles um muito velho, amarelado. Qual não foi
minha surpresa ao abri-lo , pois encontrei dentro um mapa que deveria ser de
um tesouro escondido. Resolvi ...‖

Cada um escreve mais um trecho, continuando o conto. Ao sinal do professor,


as pessoas trocam a folha entre si no sentido horário, leem o que o colega
escreveu e continuam o conto por mais um parágrafo.
Ao sinal do professor, trocam-se novamente as folhas e assim por diante até
que a folha chegue a quem escreveu o primeiro parágrafo. O conto tem que ter
sequência. Dar um final.

SUGESTÃO 23 (GÊNERO – CONTO)


Observe a seguinte sequência:
a- uma viagem
b- naufrágio
c- a vida na ilha
d- a lâmpada mágica
e- o atendimento aos desejos
Crie um conto baseado na sequência acima. O texto pode ser narrado em 1ª
ou 3ª pessoa e deve ter elementos descritivos.

SUGESTÃO 24 (GÊNERO – MANUAL DE INSTRUÇÃO)

Tipologia e Gêneros Textuais Página 206


Divida a sala em grupos e peça para que cada um crie um objeto. Este deve
ser inédito. Se eles quiserem, podem construir um protótipo. Peça a eles para
escrevem um manual de instrução. Atente para o uso do imperativo. Se houver
oportunidade, converse com o professor de inglês e faça um manual bilíngue.

SUGESTÃO 25 (GÊNEROS – CARTA DO LEITOR, CARTA INFORMAL,


CARTA FORMAL)
Costureira receberá indenização de ex-noivo
Casamento adiado por 17 anos vale 20 salários para mulher "enganada"
Belo Horizonte - Abandonada pelo noivo depois de 17 anos de namoro, a
costureira Nair Francisca de Oliveira está comemorando um ganho inusitado: o
Tribunal de Alçada de Minas Gerais condenou o motorista aposentado Otacílio
Garcia dos Reis, de 54 anos, a pagar à ex-noiva uma indenização de 20
salários mínimos por danos morais. Ela receberá ainda 30% do valor da casa
que os dois estavam construindo juntos, em Passos, sudoeste de Minas.
"Estou cobrando pelo tempo que fui enganada", diz ela.
Nair não revela a idade, diz apenas que tem mais de 40 anos. Ela
lembra que, mais do que o término do namoro, o que a fez decidir pela ação de
danos morais foram as falsas palavras de Otacílio. Ao romper com a noiva, ele
disse que, além de não gostar dela, sabia que não tinha sido o primeiro homem
de sua vida. "Me caluniou e humilhou minha família", lamenta Nair, que não
consegue explicar como pôde ficar tantos anos ao lado de uma pessoa que ela
diz, agora, não conhecer.
Otacílio foi longe ao explicar o motivo do fim do relacionamento. Disse à
ex-noiva que tinha por ela apenas um "vício carnal" e que nenhum homem
seria capaz de resistir aos encantos de seu corpo bem feito. "Ele daria um bom
ator", analisa Nair, lembrando que, a cada ano, a desculpa para não oficializar
a união mudava. A costureira confessa que nunca teve vontade de terminar o
namoro, mesmo tendo-o iniciado sem gostar muito de Otacílio. Ele teria
insistido no relacionamento. "Eu dei tempo ao tempo e acabei gostando dele",
afirma, frustrada com o tempo perdido, especialmente pelo fato de não ter tido
filhos. "Engraçado, eu nunca evitei. Não sei por que não aconteceu."
Papéis - A história de Nair e Otacílio começou em 1975. Após quatro anos de
namoro, ficaram noivos e deram entrada nos papéis para o casamento
religioso. Na ocasião, já haviam comprado um terreno, onde construíram a
casa, que, segundo Nair, foi erguida com o dinheiro de seu trabalho de
costureira, com a ajuda dos pais e também com dinheiro de Otacílio. Hoje, o
que seria o lar dos dois é uma casa alugada. O advogado de Nair, José Cirilo
de Oliveira, pretende requerer uma indenização também pelo tempo de
aluguel.
Fiquei satisfeito com a vitória de Nair, não tanto pelo valor da
indenização, mas porque houve realmente a má intenção por parte do ex-
noivo", afirma Oliveira. Os juízes da 3a Câmara Cível do Tribunal de Alçada
também ficaram sensibilizados com o caso da noiva abandonada. O relator do
processo, juiz Dorival Guimarães Pereira, justificou sua decisão destacando

Tipologia e Gêneros Textuais Página 207


que "o casamento é o sonho dourado de toda mulher, objetivando com ele, a
par da felicidade pessoal de constituir um lar, também atingir o seu bem-estar
social, a subsistência e o seu futuro econômico".
A costureira, entretanto, afirma que não estava preocupada com os
ganhos financeiros do casamento. (Roselena Nicolau - Jornal do Brasil,
11/08/1996)

Para cada situação escreva o que se pede:


a) Imagine que você leu essa reportagem no jornal e escreva uma carta do
leitor.
b) Imagine que você é Otacílio e escreva uma carta a um amigo relatando o
acontecido.
c) Imagine que você é Nair e escreva uma carta a um advogado relatando o
acontecido e peça a ele para representá-la.

SUGESTÃO 26 (GÊNERO – DIÁRIO PESSOAL)


A Peste Negra (Texto criado pela autora)
Hungria, 30 de agosto de 1349.
A Peste Negra! A aldeia estava esperando por ela. Os ratos já andavam por lá.
Aldeias distantes já contavam seus mortos. Um dia morreram dois. Depois
mais três. Afinal haviam morrido 110 dos 300 moradores. O senhor Tite pegou
uma trouxa com alguns pertences e saiu para fugir no rumo das montanhas.
Assim começa o diário de meu tatataravô, com o qual me deparei, ao buscar
lembranças de minha família no sótão da casa de minha avó. Era dia de seu
enterro e aproveitei para vasculhar a casa em busca dessas memórias.
Os judeus estão sendo expulsos de suas casas, acusados de causarem a
peste. Eles não entendem que não comemos carne de porco, por isso a
incidência é menor entre nós.
Os cidadãos acusados de terem a doença são obrigados a sair das cidades
por 40 dias para provar que não estão doentes. Algumas ordens religiosas
recolhem estas pessoas e as tratam enquanto estão isoladas e não podem se
aproximar de pessoas que não têm a doença.
Estou com muito medo de que nos expulsem daqui.

A partir dessa leitura, trabalhar com os alunos o gênero ―diário pessoal‖.


Os alunos devem escolher um período histórico e uma personagem a ser
incorporada por eles e escrever um diário de, pelo menos, uma semana,
relatando os acontecimentos diários,sempre com conteúdo histórico.

SUGESTÃO 27 (GÊNERO – CONTO)


Apresente à turma o filme ―Osmose Jones‖ (Osmose Jones]Frank Pepperidge
(Bill Murray) é um construtor que repentinamente pega um resfriado. Este
pequeno fato deflagra uma guerra dentro do seu corpo, que é conhecido por
"Cidade de Frank", e faz com que a célula branca policial Osmosis Jones
(Chris Rock) e a pílula Drixorial (David Hyde Pierce) juntem suas forças a fim

Tipologia e Gêneros Textuais Página 208


de eliminar os vírus que estão dentro do corpo de Frank e ameaçam toda a
"cidade" onde vivem.)
Peça aos alunos que imaginem uma situação que possa ocorrer dentro do
corpo humano, como uma infecção, uma alergia, ou até mesmo os processos
circulatório, digestivo.
A partir disso, escrever um conto que retrate essa situação, com a presença de
diálogos. Se for necessário, pedir ajuda ao professor de Ciências ou Biologia.

SUGESTÃO 28 (GÊNERO – CONTO)


PAUSA – MOACYR SCLIAR
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para
o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava
na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
- Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as
sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém feita, deixava ainda no
rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
- Todos os domingos tu sais cedo - observou a mulher com azedume na
voz.
- Temos muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
Ela olhou os sanduíches:
- Por que não vens almoçar?
- Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse a carga, Samuel
pegou o chapéu:
- Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da
garagem. Guiava vagarosamente, ao longo do cais, olhando os guindastes, as
barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches
debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras.
Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou
furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um
homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente.
Esfregando os olhos, pôs-se de pé.
- Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é?
A gente...
- Estou com pressa, seu Raul! – atalhou Samuel.
- Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. – estendeu a chave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao
último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com
curiosidade.
- Aqui, meu bem! - uma gritou e riu: um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um
aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um

Tipologia e Gêneros Textuais Página 209


canto, uma bacia cheia d‘água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas
esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o
na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um
suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama
comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de
embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco dormia. Lá embaixo a cidade começava a mover-se: os
automóveis buzinando, as jornaleiras gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no
chão carcomido.
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa,
perseguido por um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o
galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas,
corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma
dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio
acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de
suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois,
silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para
a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
- Já vai, seu Isidoro?
- Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em
silêncio.
- Até domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente.
- Não sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
- O senhor diz isto, mas volta sempre – observou o homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo do cais guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando
os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para
casa.

Responda:
1. Temos, em Pausa, ação, tempo e espaço exterior observáveis. Quanto ao
narrador, é alguém que está contando o fato para o leitor. Como é esse
narrador?
2. Saber trabalhar a personagem, pô-la de pé, é uma das tarefas que mostram
a competência do escritor, porque é nas personagens que o leitor haverá de
identificar as pessoas que povoam o mundo real

O Samuel, de Pausa, é metódico, pratica sempre as mesmas coisas, pêlos


seus gestos, pelo comentário do gerente: ―— O senhor diz isto, mas volta
sempre.. .‗. Ou seja, ele é sempre o mesmo. Redija um pequeno texto em que

Tipologia e Gêneros Textuais Página 210


você crie novas atitudes para Samuel. Coloque-o em alguma situação diferente
dessa que ele pratica todos os domingos. Esse pequeno texto deve ter início,
meio e fim bem definidos.

a) Redija um conto em que você contará uma história dando continuidade ao


texto abaixo.
Morador de uma cidade grande, João Brasileiro engole diariamente a fumaça
lançada no ar por automóveis e fábricas. Tossindo de raiva, acende o último
cigarro e joga o maço pela janela do carro. No domingo de sol, leva os filhos a
passear no parque e compra sorvetes para o garoto.

SUGESTÃO 29 (GÊNERO – CARTAZ)


Você já reparou em cartazes que ficam expostos nas iqrejas, nos postos de
saúde, nos ônibus, nos muros e em outros lugares por onde você passa?
Para que servem os cartazes?
Os cartazes são anúncios ou avisos e trazem informações sobre diferentes
temas. São adequados para pregar em lugares públicos e feitos para ser
usados a distância. Podem ser usados para dar avisos, fazer propagandas de
produtos, de candidatos a cargos públicos, fazer campanhas para
conscientizar

Leia os cartazes abaixo e observe os tamanhos e formatos das letras, as


imagens (desenhos ou fotografias), as chamadas (texto que chama a atenção
do leitor para o cartaz) e as informações que eles trazem.

Agora, discuta com seus coleqas:

Tipologia e Gêneros Textuais Página 211


Esses cartazes servem para anunciar, avisar ou conscientizar os leitores?
Como chegou a essa conclusão? As imagens ajudam a comunicar a
informação que os cartazes trazem?

a) Elaborar, em grupos de até quatro pessoas, um cartaz que conscientize as


pessoas sobre um dos assuntos abaixo:
 Fumo
 Álcool
 Drogas
 DST
 Gravidez na adolescência
 Reciclagem
 AIDS
 Consumo de energia
 Uso da água

Para uma melhor elaboração, sugerimos o seguinte roteiro:


 Qual será o assunto que vocês vão tratar? O que é preciso pesquisar
sobre o assunto?
 O que é importante todos saberem sobre o assunto que vocês
escolheram?
 Quais imagens irão usar no cartaz?
 Qual será a mensagem principal? Que outras informações vão fazer
parte do cartaz? Façam um rascunho e revisem-no.
 Que tamanho de letra vão usar?
Depois de tomadas essas decisões, mãos à obra
b) Elaborar, em grupos de até quatro pessoas, um cartaz que servirá para
convidar seus colegas e pessoas da comunidade onde moram para uma festa,
uma reunião ou apresentação dos alunos da escola onde estudam. Para tanto,
é preciso pensar:
 Qual será o convite que irão fazer às pessoas.
 A data e o local do evento.
 As imagens que irão compor o cartaz e ajudá-los a comunicar o convite.
 A mensagem escrita e o tamanho do cartaz e das letras.

SUGESTÃO 30 (GÊNERO – POEMA)


Crie estrofes seguindo o mesmo raciocínio:
Havia um surfista em Recife
que usava só pranchas de grife.
Tubarões, todavia,
devoraram-no um dia
pensando tratar-se de um bife.

Havia uma moça paulista

Tipologia e Gêneros Textuais Página 212


que, como queria ser vista,
desfilava sem nada
mas jamais, pois gripada,
foi capa em nenhuma revista.

Havia um monarca na Grécia


que a todos fez uma promessa:
ser-lhe-ia bem-vinda
qualquer crítica ainda
que o autor não prezasse a cabeça.

Havia um rapaz tão abjeto


que, em Praga, deitara-se e, inquieto,
acordou de manhã
do seu sono pensando:
―Eu sinto-me pior que um inseto‖.
Limericks

SUGESTÃO 31 (GÊNERO – ANÚNCIO)


ANÚNCIO
Precisa-se de um engraxate
para lustrar a face da lua.
Eu vou abrir uma agência
pra testar os interessados.
É necessário trazer uma fotografia 3/4.
Preciso analisar a cara de cada um.
-Preciso ver se elas são tristes. ( Gonçalves, Antenor A. Poesias)

Esse anúncio foi retirado das páginas de Classificados de algum jornal? Por
quê? Ele é um anúncio real? Por quê? O que ele está procurando? Para que
ele queria abrir uma agência? Existem outras formas de procurar emprego?
Cite quais você conhece.

Traga para sala o caderno de anúncios de um jornal. Escolha um anúncio e


identifique:
- O tipo de emprego que está sendo oferecido.
- O endereço onde o interessado deve se apresentar.
- As exigências para conseguir esse emprego.

Os anúncios são muito úteis, pois, através deles, as pessoas vendem,


compram, trocam objetos, procuram empregos, oferecem serviços. Contêm
uma mensagem escrita com poucas palavras. Alguns elementos de um
anúncio classificado:
 O que é oferecido.
 Descrição das qualidades do produto.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 213


 Preços e condições de pagamento.
 Endereço e telefone.
 Pessoa que deve ser procurada.
 Nome da empresa, se for o caso.

CRIANDO ANÚNCIOS
Pense nas seguintes profissões e crie um anúncio de emprego para cada uma.
Procura-se:
COSTUREIRA JARDINEIRO JORNALISTA CARTEIRO
Agora crie anúncios oferecendo serviços como:
MÉDICO MOTORISTA PROFESSOR FAXINEIRO
Lembre-se de colocar o número de telefone e/ou endereço para contato.
Professor/a faça uma exposição dos anúncios no mural da sala, no corredor,
ou no espaço que for destinado para divulgação dos trabalhos dos/as
alunos/as. Isto valoriza a produção deles/as e reforça a função social da escrita
enquanto meio de comunicação.

SUGESTÃO 32 (GÊNERO – ANÚNCIO)


O classificado através da história
SÍTIO – Vendo. Barbada. Ótima localização. Água à vontade. Árvores
frutíferas. Caça abundante. Um paraíso. Antigos ocupantes despejados por
questões morais. Ideal para casal de mais idade. Negócio de Pai para filhos.
Tratar com Deus.
CRUZEIRO – Procuram-se casais para um cruzeiro de 40 dias e 40 noites.
Ótima oportunidade para fazer novas amizades, compartilhar alegre vida de
bordo e preservar a espécie. Trazer guarda-chuva. Tratar com Noé.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2001.

Tendo como mote os exemplos dos classificados acima, crie anúncios levando
em conta contextos históricos.

SUGESTÃO 33 (GÊNERO – TEXTO JORNALÍSTICO)


Leve para a turma o conto: Venha ver o pôr-do-sol, de Lygia Fagundes Telles e
o ―O Barril de Amontillado‖, de Edgard Allan Poe. Peça aos alunos para
compararem os dois textos quanto ao tema. Peça a eles que elaborem um
texto jornalístico baseado no conto Venha ver o pôr-do-sol. Abaixo, um
exemplo de notícias elaboradas pela autora baseando-se no texto em questão.

Padarana, 04 de abril de 2008.


Encontra-se desaparecida Raquel Abdala, esposa do eminente empresário
Jacó Abdala. O registro foi feito ontem à tarde pelo marido, que a viu pela
última vez às 15h do dia 01º de abril. A polícia trabalha com a hipótese de
sequestro.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 214


Padarana, 01 de abril de 2009.
Hoje completa um ano do desaparecimento de Raquel Abdala sem que a
polícia tenha encontrado nenhum indício de sequestro, uma vez que não
houve pedido de resgate. A polícia trabalha com a hipótese de homicídio. O
marido torna-se o principal suspeito dadas as declarações da irmã de Raquel,
Lia, sobre o ciúme doentio do marido.

Padarana, 01 de abril de 2010.


Hoje completa dois anos do desaparecimento de Raquel Abdala. A polícia que,
no último ano, trabalhou com a hipótese de homicídio cometido pelo marido,
hoje, devido a novos indícios, mudou o rumo das investigações. Considerando-
se a vida pregressa de Raquel, a polícia suspeita de que ela tenha fugido com
um ex-namorado.

Padarana, 01 de abril de 2011


Hoje completa mais um ano do desaparecimento de Raquel Abdala sem que a
polícia tenha chegado a uma conclusão sobre o caso. A hipótese de fuga foi
afastada, uma vez que não houve movimentação em sua conta bancária e nem
tentativa de contato com sua irmã, Lia, a quem era muito chegada. A polícia
não sabe ainda que rumo dar às investigações.

Padarana, 02 de abril de 2015


Encontrada a ossada, ao pôr-do-sol de ontem, provavelmente de uma mulher,
em um mausoléu do cemitério ―Já vai tarde‖, abandonado já há quase um
século. A ossada foi encontrada por crianças residentes das redondezas, que
confirmaram brincar no terreno do cemitério. Suspeita-se que seja Raquel
Abdala, desaparecida há exatamente sete anos. A polícia aguarda os
resultados dos exames de arcada dentária e de DNA para a elucidação do
―Crime do Pôr-do-Sol‖.

Padarana, 22 de abril de 2015


O delegado Cabral, encarregado do caso de desaparecimento de Raquel
Abdala, confirmou que a ossada encontrada no dia 01 de abril é mesmo de
Raquel. O inspetor Vaz, que trabalha no caso desde a época do
desaparecimento, declarou que as investigações levam à suspeita de
homicídio. Suspeita-se que Raquel tenha sido levada até o local, trancada e
abandonada para morrer, visto que a fechadura do portão do mausoléu era
moderna compara à idade do cemitério.

Padarana, 23 de abril de 2015.


Uma luz no fim do túnel. A partir do depoimento de Lia, irmã de Raquel, a
polícia começa a tomar o depoimento de antigos amigos e começa a trabalhar
com a hipótese de que o assassino seja um ex-namorado da vítima.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 215


Padarana, 26 de abril de 2015.
A polícia localiza Ricardo Montesor, ex-namorado de Raquel Abdala, agora
considerado o principal suspeito do crime.
Em depoimento à polícia, Ricardo declara que, desde o término de seu
relacionamento, que durara um ano, nunca mais vira Raquel.
Entretanto, durante as novas investigações, a polícia encontrou registro de um
telefonema de Ricardo para Raquel no dia de seu desaparecimento.
A polícia acha que o caso está no caminho para a elucidação do caso.

Padarana, 30 de abril de 2015.


A polícia encerra o caso Raquel Abdala. Ricardo é indiciado por homicídio
doloso. O promotor Camões pretende pedir pena máxima, posto que o
homicídio foi premeditado, executado com requintes de crueldade e que a
vítima confiava em seu algoz.
Ricardo confessou que matara Raquel imbuído de desejo de vingança. Disse
que, desde o término do relacionamento, começou a arquitetar seu plano
baseado no conto ―O Barril de Amontillado‖, de Edgard Allan Poe, de quem é fã
e cujas leituras os dois compartilhavam nos tempos de namoro. Ricardo
encerra seu depoimento com as seguintes palavras: ―Nemo me impune
lacessit‖! (Ninguém me fere impunemente). Depois disso, ajoelhou-se e
bradou: ―Raquel, in pace requiescat‖ (Descanse em paz).

Raquel Abdala
1ª Missa
Marido, irmã e demais parentes convidam para a 1ª missa
em intenção da alma de sua querida Raquel,
a ser celebrada dia 01 de maio de 2015,
na Igreja São Judas Tadeu, às 17h.

SUGESTÃO 34 (GÊNERO – POEMA, CONTO, CRÔNICA, PEÇA DE


TEATRO)
Leia a notícia de jornal reproduzida abaixo: ela é autêntica, só os nomes
verdadeiros foram substituídos. Foi publicada pelo Jornal da Tarde, de São
Paulo.

Dois tiros e D. Maria quase perde a vida


Maria não queria viver sozinha no barraco acanhado. Abandonada pelo
companheiro, dois filhos a criar, a faxineira desempregada conseguiu um
revólver e partiu para a tentativa de suicídio. A história, segundo a polícia, é
que o companheiro de Maria, homem branco, motorista, já era casado. E

Tipologia e Gêneros Textuais Página 216


Maria, mulher negra, no momento sem emprego, vivia amasiada há cinco
anos. No último fim de semana, o casal se desentendeu e o homem resolveu
voltar para a esposa legítima. Maria não tolerou o abandono. Agora, está
hospitalizada, em estado grave. Os filhos estão com parentes.

Agora lei a música de Luís Reis e Haroldo Barbosa – LP A Arte de Elizete


Cardoso
Notícia de Jornal
Tentou contra a existência
Num humilde barracão
Joana de Tal
Por causa de um tal João

Depois de medicada
Retirou-se pro lar
Aí a notícia
Carece de exatidão

O lar não mais existe


Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste
Que errou

Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de João
Ninguém notou

Ninguém morou
Na dor que era o seu mal
A dor da gente
Não sai no jornal

Responda:
O conteúdo dos dois textos é diferente? De que trata cada história?
Os textos são literários ou não literários? Por que eles
classificam assim os textos?
Professor, anote no quadro as contribuições dos alunos para definir os
textos literários dos não literários.
Quais são os elementos literários que se encontram no texto ―Notícia de
Jornal‖ e que não estão presentes em ―Dois tiros e D. Maria
quase perde a vida‖?
Professor, anote os elementos apresentados pelos alunos no quadro.
Retome o que foi escrito anteriormente e compare as

Tipologia e Gêneros Textuais Página 217


informações dadas nos dois momentos. Avalie o que mais é
necessário informar os alunos sobre essa classificação.

Peça aos alunos que, de uma notícia de jornal, escrevam sobre o tema em
outro gênero, ou use o texto acima e peça aos alunos que o reescrevam em
poema ou conto ou crônica em forma de peça de teatro.

Ainda de acordo com o dicionário etimológico, liter –al, -ário, -ato, -atura, vem
de letra, ― ‗cada um dos caracteres do abecedário‘, ‗sentido claramente
expresso pela escrita‘, ‗os versos das canções‘, ‗carta‘ ...‖. Já a palavra literário
vem do latim, litterarius, séc. XVI.
Atualmente, um texto literário pode abordar qualquer tema. Não há conteúdos
exclusivos da literatura nem avessos a seu domínio. Dizer que é ficcional,
coloca em evidência aspectos importantes da obra literária, porém de difícil
solução: como diferençar o real do fictício em situações concretas?
Um texto literário tem função estética, enquanto que o não-literário tem função
utilitária (informar, convencer, explicar, responder, ordenar etc). Um texto
literário não quer apenas dizer o mundo, mas recriá-lo nas palavras; importa
não só o que se diz, mas também como se diz.

SUGESTÃO 35 (GÊNERO – CRÔNICA)


O trecho abaixo foi extraído de uma crônica de Luis Fernando Veríssimo. Leia-
o com atenção e, a seguir, faça o que se pede.

―Um dia as duas fizeram um pacto. Se reuniram dali a 20 anos naquele mesmo
lugar. Acontecesse o que acontecesse, nenhuma podia faltar ao encontro.
Mesmo que tivesse que vir de longe. Mesmo que estivesse morta! E selaram o
pacto não com sangue, mas com chantili na testa, já que estavam numa
sorveteria. Para não esquecer. Tinham 15 anos.
Vinte anos depois, uma mulher entrou numa locadora de vídeo e perguntou:
- Aqui não era uma sorveteria?
O funcionário não sabia, o dono disse que, quando comprara, a loja era um
deposito. Sorveteria? Só se fosse há muito tempo. A mulher agradeceu e ficou
olhando as fitas enquanto esperava. Era melhor que a outra não aparecesse,
mesmo. Tinham se separado. Nunca mais tinham se visto. Que tipo de
conversa poderiam ter?
- Eu? Não fiz nada. Não me formei, não namorei, não me casei, não viajei,
nada. Estou com 35 anos e ainda não tive uma vida.
Já estava quase desistindo indo embora, convencida de que a outra não
apareceria, quando viu entrar na loja[...].‖
VERISSIMO, Luis Fernando. Chantili. In: Historias brasileiras de verão. Rio de
Janeiro: Objetiva, 1999.

Sua tarefa é desenvolver a história do encontro dessas duas amigas, passados

Tipologia e Gêneros Textuais Página 218


vinte anos que se viram pela ultima vez. A narradora deve ser a personagem
apresentada no trecho. Procure desenvolver seu texto a partir de uma
perspectiva compatível com as características da personagem.
SUGESTÃO 36 (GÊNEROS – POEMA, SLOGAN, CRÔNICA)
O objetivo desta sugestão é levar os alunos a refletirem sobre a crônica na sua
condição de contexto com o real, a dominarem a técnica de produção de
slogans e a criarem poemas dentro de um contexto crítico.

O professor deverá selecionar os seguintes textos


 Crônica: Brasileiro Cem Milhões, de Carlos Drummond de Andrade.
Disponível em: http://fiume18.blogspot.com/2008/10/brasileiro-cem-milhes.html
 Poemas: A Bomba Suja e Poema Brasileiro, de Ferreira Gullar.
Disponíveis em http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/repofegu.htm
 Músicas: Brasil, de Cazuza/Nilo Romero/George Israel e Meu País, de
Ivan Lins/Vitor Martins.

Material de Apoio
 Considerações sobre crônica e suas principais características (ver
subitem 2.1.2)
 A persuasão no discurso publicitário (ver sugestão 9)

Etapas
1. Ler conjunto a crônica Cem Brasileiro Cem Milhões, de Carlos Drummond
de Andrade e questionar o título para que os leitores tentem localizar o texto no
tempo;
2. Pedir aos alunos para encontrarem na crônicas as características citadas no
material de apoio;
3. Fornecer aos alunos dados do IBGE sobre o Brasil;
4. Ler os poemas com os alunos, apresentado Ferreira Gullar e sua temática;
5. Apresentar as músicas e discutir sobre qual das músicas se aproxima mais
da posição revelada pelo autor da crônica;
6. Garantir que os alunos se posicionem frente ao tema da crônica, dos
poemas e das músicas, com apoio das informações sobre o Brasil.

Realização dos trabalhos


a) Elaborar um poema sobre o tema proposto.
b) Selecionar do jornal uma imagem que tenha relação com o tema e criar um
slogan sobre este.
c) Crônica sobre o tema.

SUGESTÃO 37 (GÊNERO – ARTIGO DE OPINIÃO, CANÇÃO)

Tipologia e Gêneros Textuais Página 219


Esta atividade apresenta uma oportunidade para se discutir a questão dos
estrangeirismos em português. O professor pode introduzir a atividade
levantando a polêmica e apresentando as explicações que se seguem:

O problema dos estrangeirismos é um assunto amplo e polêmico,


extremamente interessante, não somente sob o aspecto linguístico, como
também sob o ângulo histórico-cultural. Tal situação revela as relações e
permutas entre diversos povos, não só de caráter comercial, mas ainda de
natureza literária, artística e cultural.

Além do dever natural de respeito às tradições, a Constituição Federal


estabelece: ―Art. 13 - A língua portuguesa é o idioma oficial da República
Federativa do Brasil‖. Esse dispositivo está exatamente no capítulo ―Da
Nacionalidade‖ (Nova Constituição do Brasil, Capítulo III, p. 20). Isso porque a
língua de um povo constitui a expressão de sua origem, soberania e
desenvolvimento. Deteriorando-se a língua, é sinal de que a nação não vai
bem. Neste sentido escatológico são muitas as dicções: ―Quando uma
sociedade se corrompe, a primeira coisa que se decompõe é a linguagem‖
(Octávio Paz, poeta mexicano); ―A corrupção da política começa na corrupção
da linguagem‖ (George Orwell).

―A decadência de um povo começa pela decadência de sua língua‖, disse


também Olavo Bilac, o poeta da ―inculta e bela‖. Não foi assim com o Império
Romano?

Em decorrência do projeto de lei nº 1676/1999, de autoria do ex-deputado


federal Aldo Rebelo, a questão dos estrangeirismos foi objeto de muita
atenção no Brasil, nos últimos anos. Esse fato motivou-nos a refletir com mais
vagar sobre a questão. Moveu-nos, principalmente, a constatação de que,
embora muitos bons textos tenham sido publicados sobre o tema, ainda há
uma carência de dados, a partir dos quais refletir.

Estrangeirismos são os empréstimos vocabulares não integrados na língua


nacional, revelando-se estrangeiros nos fonemas, na flexão e até na grafia, ou
os vocábulos nacionais empregados com a significação dos vocábulos
estrangeiros de forma semelhante. Na língua portuguesa, os estrangeirismos
mais frequentes são hoje galicismos e anglicismos.‖ O vocábulo estrangeiro,
quando é sentido como necessário, ou pelo menos útil, tende a adaptar-se à
fonologia e à morfologia da língua nacional, o que para a nossa língua vem a
ser o aportuguesamento.

Para os ―puristas‖, os estrangeirismos que entram na língua por um processo


natural de assimilação de cultura ou por uma questão geográfica, assumem um
aspecto de sentimento político-patriótico que, aos olhos dos ―puristas‖
extremados, contribuem para a degradação do país. Para os linguistas, os

Tipologia e Gêneros Textuais Página 220


―puristas‖ se esquecem de que a língua, como produto social, registra, em tais
estrangeirismos, os contatos de povos.

Os que apoiam o projeto consideram o influxo de palavras de origem


estrangeira uma ameaça às instituições culturais brasileiras como o cinema, o
teatro e a música. O medo de ser engolido e apagado por uma cultura alheia
dominante assusta os que têm uma postura nacionalista.

Para os linguistas, a presença de palavras estrangeiras por parte de alguns


falantes não conduz necessariamente ao menosprezo por parte de outros
brasileiros pela cultura erudita e popular brasileiras. Tal discussão está longe
de acabar e será difícil chegar a um consenso.

Não há problema no empréstimo de uma palavra se a língua mãe não tiver o


termo. A nova palavra pode ser introduzida na forma de aportuguesamento,
como ocorre com xampu (do inglês ―shampoo‖), chalé (do francês ―chalet‖) ou
vermute (do alemão ―wermuth‖ ). Outras acabam se cristalizando na forma
original, como é caso de ―pizza‖, do italiano. Entretanto, este estrangeirismo se
torna um problema se a língua já possui o termo, como é o caso de ―shoppping
center‖ para centro comercial.

O professor apresenta, então o texto ―Quero a minha língua de volta‖, de José


Henrique Barreiro, e o ―Samba do Approach‖, de Zeca Baleiro. Depois da
discussão em torno dos dois textos, o professor pode pedir aos alunos que
escrevam um artigo de opinião sobre o assunto ou uma canção.

QUERO A MINHA LÍNGUA DE VOLTA - JOSÉ HENRIQUE BARREIRO


Bem disposto, cheguei ao escritório na manhã de segunda-feira para
mais cinco dias de trabalho. Bom-dia!, cumprimentei a todos, enfatizando a
minha disposição para a semana.
— Chefe, disse a minha secretária, tenho uma notícia que não é das
melhores: o dr. Pedroso ligou cobrando a sua presença no seminário sobre
Non Stop e Business, hoje à tarde, em São Paulo.Belo programa, comentei
com os meus botões. Eu sou mesmo um predestinado.
— E o que mais? Alguma notícia boa?
— O Fernando, controller da holding, enviou email solicitando uma
conference call para quarta-feira ao meio-dia. Ele precisa do feedback da
equipe para os contatos com o pessoal do buy side e do sell side.
— Meio-dia! Que hora de marcar reunião! E o que mais?
— Verifiquei o seu laptop. Está com problemas. Às vezes o Windows
não entra. O problema pode ser no hard disk. Se for preciso um upgrade, você
autoriza?
— Bom, é melhor chamar um técnico, em vez de ficar dando palpites.
Além do Pedroso, algum outro cliente ligou?

Tipologia e Gêneros Textuais Página 221


— O Hermínio, da cadeia de self-service, quer lançar um franchise e
precisa que você escreva um paper sobre isso. A Cíntia, da Brainstorming,
quer lhe falar sobre o recall da campanha. Disse que adorou o approach e o
design, mas acha que tem um problema de timing.
— Okey, okey, diga ao Lucas que vamos para o aeroporto daqui a uma
hora.
No avião, comentei com Lucas que precisávamos fazer alguma coisa
para reduzir o uso excessivo de palavras em inglês na empresa. A conversa
com a Cris (minha secretária) me deixara assustado. Ele concordou. Ficamos
de pensar no que fazer.
Às duas e meia entramos no Counterville Hotel e fomos direto para o
salão Green Viliage, local do seminário. O primeiro orador já começara a sua
exposição. Presentation, como ele a chamava. Falava em e-Marketing, nova
ferramenta que suplantaria os sistemas de call center, database e business-to-
business. Céus! Parecia uma continuação da conversa com a Cris! Comentei
com o Lucas que a praga era geral, e já começava a me irritar.
A certa altura, o sujeito — um engomadinho com cara de tomate —
falou em ―startar‖ um processo de endomarketing eletrônico. Eu já estava a fim
de criar um caso. Endomarketing eu detesto, mas ―startar‖ foi a gota d'água.
Pedi a palavra, que ele me concedeu, supondo que eu iria fazer alguma
pergunta sobre o mix de serviços que oferecia.
— Gostaria de saber o que significa ―startar‖, porque não conheço essa
palavra.
Ele percebeu que havia encrenca e foi logo contra-atacando: "O sr. não
fala inglês?"
— Neste país, até onde eu sei, se fala português, língua que dispõe dos
verbos começar e iniciar. Por que, então, essa babaquice de ―startar‖?
Lucas puxou o meu paletó, pediu para eu não pegar pesado. O cara de
tomate respondeu que usava as palavras que achava mais convenientes. Eu
disse que pelo menos fizesse isso em português. Ele deu o caso por encerrado
e continuou na sua presentation.
— Não deixo passar essas coisas sem me posicionar — rosnei para o
Lucas, ainda sob o efeito da rápida discussão. Ele concordava com a tese,
mas achava que intervenções como a minha não eram apropriadas.
— Mas o que é apropriado, afinal? Se a gente não reage, eles vão
falando e impondo essas aberrações.
Lucas ponderou que era preciso refletir mais sobre o assunto. Afinal, há
palavras estrangeiras que não têm similar na língua portuguesa. Como fazer
nesses casos? Fiz ver a ele que não me importava de usar palavras como
jeans, mas considerava grave o caso da Cris: de dez palavras que falava, três
eram em inglês. "É assim que começam besteiras como esse negócio de
startar. O sujeito pega o verbo em inglês, coloca a terminação em português e
acha que pode ficar por isso mesmo. Ora, ―vá se catar", esbravejei.
Nesse momento, o coordenador do seminário anunciou o início do
coffee-break, durante o qual poderíamos conhecer, no show room do evento,

Tipologia e Gêneros Textuais Página 222


os trabalhos vencedores do Top Master Executive 1998. Aproveitei para ligar
para a Cris e saber se havia mensagens para mim.
— Ivan, da Paradise, quer saber se dá para antecipar a apresentação
do layout da newsletter. Não pude mandar o zip para a Apple Training porque
o boy não veio trabalhar hoje. Gabriel, seu filho, está precisando fazer um
download de arquivo na Web e pediu para você bipá-lo quando chegar.

SUGESTÃO 38 (GÊNERO – PEÇA DE TEATRO)


Apresentar à turma o poema de Gonçalves Dias ―Marabá‖. Falar sobre o autor
e as condições de elaboração do poema (dependendo da turma, o professor
pode se aprofundar nas questões do Romantismo, se não, dar uma visão uma
visão mais geral). Comentar com a turma que a etimologia da palavra
"Marabá" é de um vocábulo indígena "mayr- abá", que significa filho do
estrangeiro com a índia ou ainda, fruto da índia com o branco. O poema versa
sobre uma mestiça rejeitada pelos homens de sua tribo, porque tem um padrão
de beleza mais europeizado.

Pedir aos alunos que transformem o poema em uma peça de teatro e fazer a
dramatização.

Outra possibilidade é o poema ―I-Juca Pirama‖, também de Gonçalves Dias. O


título do poema é tirado da língua tupi e significa, conforme explica o próprio
autor, ―o que há de ser morto, e que é digno de ser morto.‖ Embora tenha
nome próprio, ―Juca Pirama‖ não tem nada a ver com o nome do índio
aprisionado pelos Timbiras. Apesar de ter uma trama narrativa que configura o
gênero épico predomina no poema o gênero lírico – um lirismo fácil e
espontâneo, perpassado das emoções e subjetividade do poeta. Possui, assim
um conteúdo dramatizável,

SUGESTÃO 39 (GÊNEROS –TODOS DE UM JORNAL)


Pedir à turma que se se divida em dez grupos e que cada grupo escolha uma
década do século XX.
Cada grupo deve produzir um jornal sobre a década escolhida. O jornal deve
conter todos os gêneros do jornal; artigo, reportagem, editorial, carta do leitor,
crônicas (social, esportiva, política, econômica), anúncio, horóscopo, obituário.
Os assuntos abordados: Moda – Política – Economia – Social – Nacional –
Internacional – Esporte.

SUGESTÃO 40 (GÊNERO – PARÓDIA)


Explique à turma que paródia é um tipo de intertextualidade, explicitando o
significado dos dois termos. Apresente à turma o poema ―Poema de sete
faces‖, de Carlos Drummond de Andrade, e a música ―Até o fim‖, de Chico
Buarque. (ambos se encontram nosubitem 1.5.6)

Tipologia e Gêneros Textuais Página 223


Após a leitura do poema e acompanhar a letra da música com os alunos, o
professor os estimula a responder às seguintes questões:
 Onde estão na letra as marcas da intertextualidade com o poema de
Drummond?
 Qual efeito de sentido é provocado pela paródia?
 Que grau de deslocamento Chico Buarque provoca quando insere
elementos do texto de Drummond em sua canção?

Após as considerações dos alunos, envolva-os num debate para que fiquem
claras as intenções críticas e visões de cada um sobre a relação entre as
obras. Peça-os que durante o debate vão anotando à parte as considerações
alheias para que possam esquematizar juntamente com o professor um quadro
com pontos-chave para a compreensão e conceituação da relação entre os
textos. O que deverá ficar claro para a turma, após essa primeira atividade, é
que a função do texto parodístico é deformar o texto original, modificando
profundamente sua estrutura ou sentido, provocando uma descontinuidade do
discurso ―fonte‖.

Como atividade, leve para a sala uma série de poemas conhecidos da turma e
deixe-os escolher qual será o texto "fonte", de onde nascerá a paródia. Peça
que os alunos façam uma leitura oral bem elaborada para a turma, treinando
anteriormente a expressão oral para, depois, escolherem qual será o texto
―fonte‖ para ser objeto de sua paródia.

OBS: As indicações a seguir podem ser seguidas para todos os exemplos de


paródia que se encontram no subitem 1.5.6.

SUGESTÃO 41 (GÊNERO – POEMA, CONTO)


Siga as etapas da sugestão anterior, explicando aos alunos outro tipo de
intertextualidade que é a releitura. Apresente aos alunos ―O ‗Adeus‘ de
Teresa‖, de Castro Alves e a releitura feita por Manuel Bandeira. Depois de
extrair o tema o poema de Castro Alves, paca que os alunos elaborem um
outro poema ou um conto.

SUGESTÃO 42 (GÊNERO – ENTREVISTA)


O gênero textual entrevista é visto como ―uma constelação de eventos
possíveis que se realizam como gêneros (ou subgêneros) diversos. Assim,
teríamos, por exemplo, entrevista jornalística, entrevista médica, entrevista
científica, entrevista de emprego, etc.‖

Vamos pontuar as diferenças existentes entre os diversos tipos de entrevistas:


há eventos que parecem entrevistas por sua estrutura geral de pergunta e
resposta, mas distinguem-se muito disso. É o caso da ‗tomada de depoimento‘
na Justiça ou do inquérito policial. Ou então um ‗exame oral‘ em que o
professor pergunta e o aluno responde. Todos esses eventos distinguem-se

Tipologia e Gêneros Textuais Página 224


em alguns pontos (em especial quanto aos objetivos e a natureza dos atos
praticados) e assemelham-se em outros.

Esse gênero possui itens gerais comuns a todos os subgêneros, a saber: 1)


sua estrutura será sempre caracterizada por perguntas e respostas,
envolvendo pelo menos dois indivíduos – o entrevistador e o entrevistado; 2) o
papel desempenhado pelo entrevistador caracteriza-se por abrir e fechar a
entrevista, fazer perguntas, suscitar a palavra ao outro, incitar a transmissão de
informações, introduzir novos assuntos, orientar e reorientar a interação; 3) já o
entrevistado responde e fornece as informações pedidas; 4) gênero
primordialmente oral, podendo ser transcrito para ser publicado em revistas,
jornais, sites da Internet . Entretanto, os itens que diferenciam um subgênero
de outro estão relacionados, por exemplo, com o objetivo, a natureza, o
público-alvo, a apresentação, o fechamento, a abertura, o tom de formalidade.

Apresente ao aluno a entrevista criada abaixo. Peça aos alunos que escolham
um autor e que estudem sua biografia, reescrevendo-a em forma de entrevista.

CASTRO ALVES PEDE PASSAGEM – Gianfrancesco Guarnieri


O fragmento que vem a seguir foi extraído da peça Castro Alves pede
passagem, de Gianfrancesco Guarnieri, levada ao palco no inicio da década de
70. A passagem aqui transcrita simula uma entrevista num desses conhecidos
programas de variedades da televisão brasileira, realizados na presença do
auditório. O entrevistado é o poeta Castro Alves, e os entrevistadores, uma
cantora jovem, um jornalista, um cantor jovem, um dos telespectadores, todos
mediados pelo apresentador do programa.
Apresentador: Sua perguntinha, minha querida.
Cantora: Castro Alves, onde e quando você nasceu?
Castro Alves: Sou baiano. Nasci às 10 horas da manhã, de um domingo, dia 14
de março de 1847, na fazenda Cabaceiras, à margem do Rio
Paraguaçu, sete léguas distante de Curralinhos, hoje cidade que
tem meu nome.
Apresentador: O representante dos jornalistas (Palmas). Rápido, por favor.
Jornalista: Castro Alves, você se considera mais um poeta lírico do que um
poeta engajado, ou vice-versa?
Castro Alves: Considero-me um poeta. Integrado no meu tempo. Cantei a
natureza, a mulher, o amor e vivi a causa do meu século:
entreguei-me inteiro à causa dos escravos.
Apresentador: Muito bem... O representante dos cantores da juventude
(Palmas, gritos).
Cantor Jovem: Bicho. Você continua curtindo essa de sentir o borbulhar do
gênio?
Castro Alves: Não, bicho. A chama se apagou. Com ela a vida e a minha
poesia... Há outros, muitos outros, com suas histórias, sua arte,
seu amor. O meu foi feito, ficou.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 225


Cantor Jovem: Você acha, então, bicho, que sua poesia já era?
Castro Alves: Minha poesia é. Morre o poeta, não morre a poesia. Esta
continua, no canto feito, no canto sendo feito, no canto
futuro...Na tua guitarra, quem sabe?
Apresentador: O representante dos telespectadores.
Telespectador: Pois não... Senhor Castro Alves, eu conhecia o senhor muito
de nome, mas prá falar a verdade não conhecia muita coisa sua
não... Sabia do "Navio dos Negreiros" e a.... como é... a... a...
"Canção da África" ...
Jornalista: ''Vozes d'África".
Telespectador: Pois é, essa daí... Gostei viu? Gostei muito...Cheio de
dramaticidade, muita verdade também...A verdadeira poesia
realista...
Jornalista: Não diz bobagem.
Telespectador: Bobagem, não, péra ai. Eu me explico como eu sei...(Palmas)
Apresentador: Vamos com ordem, meus amigos. Cada qual tem sua vez.
Continue, rapidinho, sim...
Telespectador:Admiro um jornalista falar dessa maneira... Não tenho cultura,
mas tenho educação, eu... Olha aí... fez até eu perdê o fio da meada... Ah,
sim...Pois é... Só conhecia essas. Mas pra vim pro programa, peguei uns livros
aí e li. E fiquei espantado, com toda a sinceridade. Espantado com as poesias
pras mulheres. Eu queria perguntá pro senhor, com todo o respeito, afinal de
contas eu não sou nenhum letrado, o senhor é, é até poeta... Mas eu pergunto:
é possível amar tanta mulher assim numa noite só?

SUGESTÃO 43 (GÊNERO – ARTIGO DE OPINIÃO, POEMA, PEÇA DE


TEATRO)
O tema a ser trabalhado nesta sugestão é a passividade do brasileiro. O
professor pode fazer menção ao texto abaixo e depois apresentar o poema de
Eduardo Alves da Costa. (Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky (1893-1930)
foi um poeta, dramaturgo e teórico russo, frequentemente citado como um dos
maiores poetas do século XX. Foi homem de grandes paixões, arrebatado e
lírico, épico e satírico ao mesmo tempo. Oficialmente, suicidou-se com um tiro
em 1930, sem que isso tivesse relação alguma com sua atividade literárira e
social. Mas o fato é que o poeta estava sendo pressionado pelos programas
oficiais que desejavam instaurar uma literatura simplista e dita realista,
dirigidos por Molotov e perseguindo antigos poetas revolucionários como o
próprio Maiakovski. Em vista disso, aponta-se a possibilidade real de um
suicídio forjado por motivos políticos. Sua obra, profundamente revolucionária
na forma e nas ideias que defendeu, apresenta-se coerente, original,
veemente, una. A linguagem que emprega é a do dia a dia, sem nenhuma
consideração pela divisão em temas e vocábulos ―poéticos‖ e ―não-poéticos‖, a
par de uma constante elaboração, que vai desde a invenção vocabular até o
inusitado arrojo das rimas.)

Tipologia e Gêneros Textuais Página 226


Pedir aos alunos que elaborem um poema, um artigo de opinião ou uma peça
de teatro sobre o tema.

Texto:
Na minissérie ―Anos Rebeldes‖ jovens lutavam por um Brasil melhor na década
de 60. Iam às ruas, protestavam, enfrentavam até a polícia em função de um
ideal político. Muitos morreram, outros foram torturados e vários banidos do
Brasil em função do AI-5.

No final da década de 70, em plena ditadura, os protestos eram constantes.


Naquela época um grupo reunido com mais de três pessoas nas ruas era
rapidamente dissolvido pela polícia. Ela era presente. Os policiais fardados ou
à paisana estavam em todos os locais, fazendo a vigilância seguindo as ordens
do temido Secretário da Segurança Pública da época, Coronel Antonio Erasmo
Dias. As universidades tinham alunos ―disfarçados‖ que acompanhavam toda
e qualquer movimentação estudantil. Moradores de prédios não se poupavam
em jogar pratos pelas janelas contra os policiais, em sinais de protesto no
centro da cidade de São Paulo. O hino estudantil da época era ―Pra não dizer
que não falei das flores‖ de Geraldo Vandré, cujo refrão amplamente cantado
por nós estudantes era:
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Todos lutavam, alguns com armas, outros sem. Brasileiros não tinham nada de
passivos. Os jornais não continham notícias de celebridades. Os jornalistas e
artistas estavam engajados ao movimento. ―O povo, unido, jamais será
vencido‖ não era apenas uma frase sem sentido. O tempo passou, o Brasil
deixou de ser uma ditadura e, por algum motivo, o povo perdeu sua
capacidade de lutar e principalmente de se unir por um ideal maior.

Nos livros de História do Brasil que foram usados por meu filho não li sequer
uma linha mencionado a capacidade revolucionária do povo brasileiro. Há
apenas citações técnicas sobre este período. O principal, a característica deste
povo lutador, não é mencionada em nenhum lugar.

1968, mundialmente, foi a época da juventude, e é ela que sempre foi a


responsável pelas transformações mundiais. São os jovens que sempre
pensaram no seu futuro e no dos demais. Porém, a dúvida que paira sobre
minha cabeça é: O que aconteceu com a potência brasileira?

O brasileiro, que tem como frase preferida o ―Deixa pra lá‖, ao menos no Rio
de Janeiro fez um movimento diferente. Parece que o prato principal do
brasileiro é a passividade. Crianças são alimentadas com este prato desde

Tipologia e Gêneros Textuais Página 227


pequenas, e aprendem desde cedo a se conformar. Conformam-se com filas
absurdas e com o desatendimento de supermercados, como o que tive que
enfrentar, no último feriado, no supermercado Extra que fica próxima à minha
casa. Neste dia apenas eu e uma moça com sotaque do sul reclamamos. Os
demais clientes riram de nossa cara, e usaram aquelas velhas palavras:
- Não adianta reclamar. Não vai adiantar nada. Ninguém tem culpa!

Brasileiro tem uma péssima mania de ―tudo aceitar‖ e valorizar em demasia o


sofrimento. E, algo incrível, tem medo de qualquer pessoa que represente
autoridade. Não admitem que os outros briguem pelos seus direitos e se
indignem quando destratados.

O mais notável no comportamento dos brasileiros é, porém, a sua mania de


desqualificar o seu próximo: nada vi, nada falo e não escutei. Muitos bras ileiros
não assumem o que fazem. Basta observar o trânsito: muita gente se julga
acima de tudo e todos. Estaciona em fila dupla, entra sem sinalizar... etc...
etc...

No supermercado passa na frente dos outros, furando a fila na maior ―cara-


dura‖. Ou seja, é especializado em ferrar o outro, dando uma de ―esperto‖, e ao
mesmo tempo morre de medo das figuras de ―otoridade‖. Agindo assim, nunca
conseguiremos aquilo que só a força da união é capaz de trazer. Como grupo
de cidadãos, ainda estamos comendo um prato insosso, relaxante demais e
que nos tira da realidade, que é a passividade à brasileira. Quem não gosta de
comer este prato ganha somente um ingrediente dos outros: o desprezo.
Texto adaptado de Suely Pavan, disponível em
http://batepapodemulher.blogspot.com

NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI - Eduardo Alves da Costa


Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor

Tipologia e Gêneros Textuais Página 228


do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.

Até que um dia,


o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.(...)

SUGESTÃO 44 (GÊNERO – ARTIGO INFORMATIVO-EXPOSITIVO)


O artigo informativo-expositivo tem por finalidade a transmissão clara,
ordenada e objetiva de informações e indicações que digam respeito a factos
concretos e referências reais. É bastante objetivo e é capaz de apresentar e
explicar assuntos, situações e ideias. No tratamento de um texto informativo-
expositivo merecem atenção os factos e os elementos referenciais, a
sequência lógica ou cronológica, a explicação e a sua justificação documental.

O artigo deve ser estruturado nos três momentos essenciais de introdução,


desenvolvimento e conclusão. Na introdução, deve ser feita a apresentação do
assunto e estabelecido o propósito da sua realização, captando a atenção do
recetor, com uma definição, descrição, ou com outros dados ou questões de
interesse. No desenvolvimento, faz-se a explicação do tema, mediante
definições, análises, classificações, comparações e contrastes. Na conclusão,
resume-se o assunto, focando os pontos mais importantes, e procura-se
envolver o recetor numa chamada de atenção para o assunto.

Etapas:
1. Definir um tema e os objetivos
2. Ler tudo o que puder sobre o assunto.
3. Começar a escrever na seguinte ordem:desenvolvimento, introdução e
conclusão.
4. Fazer a revisão.

Exemplos de artigos:
GLADIADORES (Revista Superinteressante)
Quando a banda de música entoava os primeiros acordes, era sinal de
que ia começar o desfile dos gladiadores no anfiteatro da Roma imperial.
Desarmados, eles davam a volta na arena e depois, perfilados, paravam diante

Tipologia e Gêneros Textuais Página 229


do imperador e exclamavam: "Ave, Imperador, os que vão morrer te saúdam".
Então principiavam os combates, que provocavam excitação nos romanos e
cujo final era, quase sempre, a morte. Na arena, pares de gladiadores davam
um verdadeiro show de destreza, agilidade e coragem.
Os gladiadores eram, na maioria, escravos, prisioneiros de guerra ou
alugados por seus senhores, homens condenados a trabalhos forçados ou
jovens livres, de famílias empobrecidas, que abraçavam a profissão em busca
de dinheiro e recompensas generosamente distribuídas aos vitoriosos.
Havia também os condenados à morte, mas estes não podiam se
defender - entravam na arena desarmados. Alguns gladiadores escravos até
se aposentavam quando, após determinado número de combates, recebiam a
liberdade, simbolizada por uma espada de madeira, além de ouro e joias.

ALIANÇA DE CASAMENTO NA MÃO ESQUERDA. POR QUÊ? (Revista


Superinteressante)
Os egípcios, por volta de 2800 a.C., já usavam um anel para simbolizar
o casamento. Para eles, um círculo, não tendo começo nem fim, significava a
eternidade para a qual o casamento era destinado.
Dois mil anos depois, os gregos descobriram os mistérios do
magnetismo. Daí surgiu a crença de que um imã também podia atrair o
coração. Os gregos acreditavam também que o dedo anular esquerdo possuía
uma veia que levava diretamente ao coração.
Por isso, começaram a usar um anel de ferro imantado nesse dedo,
para que os corações dos amantes ficassem atraídos para sempre. O costume
passou aos romanos e a Igreja manteve a tradição.

RITUAIS ANTROPOFÁGICOS - Jorge Caldeira


A antropofagia foi o ritual indígena que mais atraiu a atenção dos
europeus. Provavelmente surgido na época de guerras, esse ritual estava
muito longe da selvageria. Era antes uma homenagem à coragem do
adversário batido em combate. Nos guerreiros que caíam prisioneiros era
posto um colar de algodão - em casos especiais suas mãos eram atadas ao
colar. Antes de entrar na aldeia, recebiam tratamento especial: tinham o
cabelo cortado e ganhavam vistosos cocares. Na entrada, eram saudados por
todos com gritos.
A vida do prisioneiro não era difícil. Ofereciam-lhe uma mulher, que lhe
garantia alimentação e com quem dividia a rede. Embora proibido de deixar a
aldeia, podia andar por onde quisesse e conversar com todos. Muitas vezes,
nascia um filho de seu relacionamento com a mulher que lhe fora destinada. A
esta, na hora do sacrifício, cabiam várias providências, como preparar as
vasilhas e as bebidas do evento. Enquanto isso, os homens tratavam de
espalhar a notícia, convidando membros de outras tribos.
A cerimônia podia durar vários dias. No primeiro, o prisioneiro recebia
uma corda de algodão especial e era conduzido ao terreiro, onde lhe pintavam
todo o corpo. No segundo e no terceiro dias realizavam-se danças em torno da

Tipologia e Gêneros Textuais Página 230


grande figura. No quarto, ele era levado logo cedo para um banho, e só então
começava o sacrifício propriamente dito. Sua coragem era testada durante
todo o tempo, e esperava-se que demonstrasse altivez para merecer morrer
tão importante.
No quinto dia consumava-se o sacrifício. Pela manhã a mulher se
despedia e ia chorar em sua oca. Toda a preparação ritual, as danças e os
cantos chegavam ao fim. Armado de borduna, um guerreiro valente o abatia;
se caía de costas, era sinal de que o matador iria morrer; de bruços, que a tribo
teria grande futuro. Então seus restos eram levados para o lado de uma
fogueira. Algumas partes do corpo eram comidas cruas; outras, mais nobres,
eram moqueadas ou assadas.

SUGESTÃO 45 (GÊNERO – ARTIGO INFORMATIVO-EXPOSITIVO)


Você sabia que...
... a girafa é um animal natural da África e vive só em grupos?
... seu período de gestação pode durar de 400 a 450 dias?
... ela se alimenta de folhas e ramos que se encontram no alto de uma árvore
chamada acácia?
... para ela beber ou se alimentar do chão, precisa abrir bem as pernas
dianteiras e abaixar o seu longo pescoço?
... essa posição deixa-a muito indefesa contra o leão que aproveita a situação
para caçá-la?
... é o mamífero mais alto, podendo atingir até seis metros de altura e pesar
1200 kg?
... ela tem o maior pescoço do mundo e que ele tem apenas sete vértebras
como muitos mamíferos?
... elas dormem em pé e só deitam quando se sentem inseguras?
... a fêmea esconde seus filhotes num esconderijo para protegê-los dos
inimigos e só os vê nas horas da mamada?
... as suas manchas amareladas são para confundir seus predadores?
... seu coice pode matar um leão?
... esse animal exótico está correndo o risco de extinção?

Você percebeu como o termo girafa foi substituído por outras palavras
(mamífero, fêmea, ela,)? E que o pronome relativo que no trecho ―contra o leão
que aproveita a situação‖ retoma o termo anterior leão? Essas substituições
evitam a repetição da mesma palavra. Observe ainda, que na primeira frase
existem duas informações sobre a girafa: seu habitat e como vive. Essas
informações estão conectadas pela conjunção e que ao acrescentar um dado
novo, estabeleceu entre elas, uma relação de adição. Já a conjunção quando
em ―elas dormem em pé e só deitam quando se sentem inseguras‖ estabelece
uma relação de tempo entre os dois enunciados. Através desses exemplos,
você notou como a referência feita a elementos empregados no texto ou a
frases já mencionadas ou antecipando-as e a conexão entre as diversas partes
que formam o texto são responsáveis para que o sentido dos enunciados fique

Tipologia e Gêneros Textuais Página 231


claro e também pela construção de um texto bem escrito? Desse modo,
podemos afirmar que nesse texto, além da unidade temática, há uma boa
organização, em outras palavras diremos: unidade estrutural. Assim, um bom
texto não é um agrupamento caótico de palavras e frases. Ele precisa ter
principalmente unidade temática e unidade estrutural.

Vamos analisar o texto ―Você sabia que...‖ para verificarmos se há unidade


estrutural?
1. Começaremos colocando as informações nos itens abaixo para perceber se
há sequência:
1.1. Nome e hábitat do animal;
1.2. hábitos alimentares;
1.3. reprodução;
1. 4. particularidades.
2. Escolha o nome de um animal para fazer uma pesquisa e, em seguida,
elabore um texto de informação com a mesma estrutura ―Você sabia que...‖.
Mas, antes de iniciar sua pesquisa, dê o nome do animal a ser pesquisado ao
seu professor, pois cada aluno deve pesquisar um animal diferente. Essa
produção sobre animais será exposta no mural da sala, portanto, você não
está escrevendo somente para seu professor ler e dar uma nota, mas para
outros lerem e terem acesso ao conhecimento que você elaborou por meio de
sua pesquisa.

SUGESTÃO 46 (GÊNERO – ARTIGO INFORMATIVO-EXPOSITIVO)

OS DIFERENTES ESTILOS - Paulo Mendes Campos


Parodiando Raymond Queneau, que toma um livro inteiro para
descrever de todos os modos possíveis um episódio corriqueiro, acontecido em
um ônibus de Paris, narra-se aqui, em diversas modalidades de estilo, um fato
comum da vida carioca, a saber: o corpo de um homem de quarenta anos
presumíveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construção, à
margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta.
Estilo interjetivo — Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno
bairro de Ipanema! Um homem desconhecido! Coitado! Menos de quarenta
anos! Um que morreu quando a cidade acordava! Que pena!
Estilo colorido — Na hora cor-de-rosa da aurora, à margem da cinzenta Lagoa
Rodrigo de Freitas, um vigia de cor preta encontrou o cadáver de um homem
branco, cabelos louros, olhos azuis, trajando calça amarela, casaco pardo,
sapato marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para este o destino foi
negro.
Estilo antimunicipalista — Quando mais um dia de sofrimentos e desmandos
nasceu para esta cidade tão mal governada, nas margens imundas,
esburacadas e fétidas da Lagoa Rodrigo de Freitas, e em cujos arredores falta
água há vários meses, sem falar nas frequentes mortandades de peixes já
famosas, o vigia de uma construção (já permitiram, por debaixo do pano, a

Tipologia e Gêneros Textuais Página 232


ignominiosa elevação de gabarito em Ipanema) encontrou o cadáver de um
desgraçado morador desta cidade sem policiamento. Como não podia deixar
de ser, o corpo ficou ali entregue às moscas que pululam naquele perigoso
foco de epidemias. Até quando?
Estilo reacionário — Os moradores da Lagoa Rodrigo de Freitas tiveram na
manhã de hoje o profundo desagrado de deparar com o cadáver de um
vagabundo que foi logo escolher para morrer (de bêbedo) um dos bairros mais
elegantes desta cidade, como se já não bastasse para enfear aquele local uma
sórdida favela que nos envergonha aos olhos dos americanos que nos visitam
ou que nos dão a honra de residir no Rio.
Estilo então — Então o vigia de uma construção em Ipanema, não tendo sono,
saiu então para passeio de madrugada. Encontrou então o cadáver de um
homem. Resolveu então procurar um guarda. Então o guarda veio e tomou
então as providências necessárias. Aí então eu resolvi te contar isto.
Estilo áulico — À sobremesa, alguém falou ao Presidente, que na manhã de
hoje o cadáver de um homem havia sido encontrado na Lagoa Rodrigo de
Freitas. O Presidente exigiu imediatamente que um de seus auxiliares
telegrafasse em seu nome à família enlutada. Como lhe informassem que a
vítima ainda não fora identificada, S. Ex.ª, com o seu estimulante bom humor,
alegrou os presentes com uma das suas apreciadas blagues.
Estilo schmidtiano — Coisa terrível é o encontro com um cadáver
desconhecido à margem de um lago triste à luz fria da aurora! Trajava-se com
alguma humildade mas seus olhos eram azuis, olhos para a festa alegre
colorida deste mundo. Era trágico vê-lo morto. Mas ele não estava ali,
ingressara para sempre no reino inviolável e escuro da morte, este rio um
pouco profundo caluniado de morte.
Estilo complexo de Édipo — Onde andará a mãezinha do homem encontrado
morto na Lagoa Rodrigo de Freitas? Ela que o amamentou, ela que o embalou
em seus braços carinhosos?
Estilo preciosista — No crepúsculo matutino de hoje, quando fulgia solitária e
longínqua a Estrela-d'Alva, o atalaia de uma construção civil, que perambulava
insone pela orla sinuosa e murmurante de uma lagoa serena, deparou com a
atra e lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já eternamente sem o
hausto que vivifica.
Estilo Nelson Rodrigues — Usava gravata de bolinhas azuis e morreu!
Estilo sem jeito — Eu queria ter o dom da palavra, o gênio de um Rui ou o
estro de um Castro Alves, para descrever o que se passou na manhã de hoje.
Mas não sei escrever, porque nem todas as pessoas que têm sentimento são
capazes de expressar esse sentimento. Mas eu gostaria de deixar, ainda que
sem brilho literário, tudo aquilo que senti. Não sei se cabe aqui a palavra
sensibilidade. Talvez não caiba. Talvez seja uma tragédia. Não sei escrever
mas o leitor poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste.
Ah. se eu soubesse escrever.
Estilo feminino — Imagine você, Tutsi, que ontem eu fui ao Sacha's,
legalíssimo, e dormi tarde. Com o Tony. Pois logo hoje, minha filha, que eu

Tipologia e Gêneros Textuais Página 233


estava exausta e tinha hora marcada no cabeleireiro, e estava também
querendo dar uma passada na costureira, acho mesmo que vou fazer aquele
plissadinho, como o da Teresa, o Roberto resolveu me telefonar quando eu
estava no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria te contar? Ah,
menina, quando eu olhei da janela, vi uma coisa horrível, um homem morto lá
na beira da Lagoa. Estou tão nervosa! Logo eu que tenho horror de gente
morta!
Estilo lúdico ou infantil — Na madrugada de hoje por cima, o corpo de um
homem por baixo foi encontrado por cima pelo vigia de uma construção por
baixo. A vítima por baixo não trazia identificação por cima. Tinha
aparentemente por cima a idade de quarenta anos por baixo.
Estilo concretista — Dead dead man man mexe mexe Mensch Mensch
MENSCHEIT.
Estilo didático — Podemos encarar a morte do desconhecido encontrado morto
à margem da Lagoa em três aspectos: a) policial; b) humano; c) teológico.
Policial: o homem em sociedade; humano: o homem em si mesmo; teológico: o
homem em Deus. Polícia e homem: fenômeno; alma e Deus: epifenômeno.
Muito simples, como os senhores veem.

Paulo Mendes Campos escreveu o conto acima baseado no lvro Exercícios de


estilo, de Raymond Queneau. Publicado pela primeira vez em 1947, este livro
de Raymond Queneau conta um microconto que parece banal: um homem que
vê um estranho duas vezes no mesmo dia. O genial da obra é que essa
mesma história é contada 99 vezes com um estilo diferente e o resultado não
pode ser chamado de menos que incrível. Seguem abaixo dois estilos
diferentes do conto único do livro:
Anotação - No ônibus S, em hora de aperto. Um cara de uns 26 anos, chapéu
mole com cordão em vez de fita, pescoço comprido demais, como se tivesse
sido estiado. Sobe e desce gente. O cara discute com o vizinho. Acha que é
espremido quando passam. Tom choramingas, jeito de pirraça. Mal vê um
lugar vago, corre pra se aboletar.Duas horas depois, vejo o mesmo cara pelo
Paço de Roma, defronte à estação São Lázaro. Lá vai com outro que diz:
"Você devia pôr mais um botão no sobretudo". Mostra onde (no decote) e
como (para fechar).

Animismo - Era uma vez um chapéu marrom, de feltro mole e abas caídas,
com uma trancinha em volta para enfeitar, um chapéu entre outros, cujo
destaque aleatório era mais devido às desigualdades do solo e à sua
repercussão pelas rodas do veículo automóvel que o trasportava, a ele o
chapéu. A cada parada, as idas e vindas dos circustantes causavam nele, o
chapéu, movimentos laterais ocasionalmente assaz pronunciados, o que
terminou por irritá-lo, ele o chapéu. Exprimiu então sua ira lá dele chapéu por
intermédio de uma voz nem um pouco de feltro, e que se lhe articulava a ele, o
chapéu, numa disposição estrutural cuja ovoide de ressonância, óssea,
irregularmente perfurada e recoberta com uma camada qualquer de matéria

Tipologia e Gêneros Textuais Página 234


animal situava-se sob si, si o chapéu. Depois foi sentar-se, se o chapéu, se pôr
nem tirar. Uma duas horas mais tarde, a pouco mais de metro e meio do nível
do solo, em deslocamento contínuo defronte à estação São Lázaro, lá estava
ele, o chapéu. Um desmiolado dizia que devia pôr outro botão no sobretudo...
Outro botão... e sobretudo... dizer isto a ele!... É de se comer o chapéu!...

OuLiPo (Ouvroir de Littérature Potentiel, algo como oficina de literatura em


potencial) é uma corrente literária formada por escritores e matemáticos que
propõe a libertação da literatura, aparentemente de maneira paradoxal, através
de constrangimentos literários.

ATIVIDADES:
a) Peça aos alunos para criarem outros estilos para o conto de Paulo Mendes
Campos.
b) Reescreva a notícia abaixo de várias maneiras, em vários estilos. Sugerimos
os estilos: estilo tipo assim, estilo sabe, estilo futebolístico, estilo materno,
estilo etc., estilo meus caríssimos irmãos, estilo senhoras e senhores, estilo
telegrama, estilo brasileiros e brasileiras.
Recife – O padre norte-americano Lawrence Rosebaugh foi detido por
soldados de uma radiopatrulha, na sexta-feira à noite, quando tentava impedir
que dois policiais espancassem, com socos, pontapés e um cano de borracha,
o menor de 11 anos, Edésio da Silva. O menino, acusado de assalto, se
encontrava com cerca de 40 pessoas, se preparando para dormir, no armazém
18 do porto. ( Jornal do Brasil, 29 de abril de 1980).

SUGESTÃO 47 (GÊNERO – CONTO COM DIÁLOGOS)


Observe os dados:
João toma café na cantina
Ana o avisa da prova de Matemática.
João diz que não tem pressa.
Ana diz que faltam só cinco minutos.
Ana diz que vai cair álgebra.
João diz que só sabe geometria.

Agora, escreva um conto com diálogos. Reescreva o mesmo texto agora num
discurso indireto, com narrador em primeira pessoa. (Ana ou João).

SUGESTÃO 48 (GÊNERO – MANIFESTO OU CARTA-POEMA)


Observe a Carta-poema abaixo:
Carta-Poema - Manuel Bandeira

Excelentíssimo Prefeito
Senhor Hildebrando de Góis,

Tipologia e Gêneros Textuais Página 235


Permiti que, rendido o preito
A que fazeis jus por quem sois,

Um poeta já sexagenário,
Que não tem outra aspiração
Senão viver de seu salário
Na sua limpa solidão,

Peça vistoria e visita


A este pátio para onde dá
O apartamento que ele habita
No Castelo há dois anos já.

É um pátio, mas é via pública,


E estando ainda por calçar,
Faz a vergonha da República
Junto à Avenida Beira-Mar!

Indiferentes ao capricho
Das posturas municipais,
A ele jogam todo o seu lixo
Os moradores sem quintais.

Que imundície! Tripas de peixe,


Cascas de fruta e ovo, papéis...
Não é natural que me queixe?
Meu Prefeito, vinde e vereis!

Quando chove, o chão vira lama:


São atoleiros, lodaçais,
Que disputam a palma à fama
Das velhas maremas letais!

A um distinto amigo europeu


Disse eu: — Não é no Paraguai
Que fica o Grande Chaco, este é o
Grande Chaco! Senão, olhai!

Excelentíssimo Prefeito
Hildebrando Araújo de Góis
A quem humilde rendo preito,
Por serdes vós, senhor, quem sois!

Mandai calçar a via pública


Que, sendo um vasto lagamar,

Tipologia e Gêneros Textuais Página 236


Faz a vergonha da República
Junto à Avenida Beira-Mar!
Poema extraído do livro "Manuel Bandeira - Antologia Poética", Editora Nova
Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 221.

a) Peça aos alunos para, a partir da carta-poema, escreverem um manifesto -


Define-se manifesto como um texto de natureza dissertativa e persuasiva,
uma declaração pública de princípios e intenções, que objetiva alertar um
problema ou fazer a denúncia pública de um problema que está ocorrendo,
normalmente de cunho político. O manifesto destina-se a declarar um ponto de
vista, denunciar um problema ou convocar uma comunidade para uma
determinada ação.
Embora a estrutura de um manifesto seja bastante livre, existem algumas
características muito frequentes que o identificam:
 Estrutura de predominância dissertativa;
 Tom de conclamação, convocação;
 Presença de vocativos;
 A linguagem pode variar, dependendo de alguns fatores: a quem o
manifesto é dirigido? onde será divulgado? em jornal, rádio, televisão?
 Costuma-se preferir a linguagem formal, com verbos no presente do
indicativo ou no imperativo;
 Corpo do texto: o problema é identificado e analisado, apresentando-se
argumentos que validem o que se diz. Como o texto é de caráter
argumentativo (pretende convencer o leitor de algo), deve-se recorrer a
argumentos sólidos;
 Local, data e assinaturas: tanto assinaturas das pessoas que participam
na elaboração do texto como das que apoiam o que está sendo
afirmado;
 Título: indica o conteúdo do manifesto;
 É diferente do abaixo assinado, pois não é uma reivindicação, mas uma
declaração de intenções.

b) Peça aos alunos para identificarem os problemas o município ou do bairro


em que vivem. Peçam para escolher um deles e escrever um manifesto ou
uma carta-poema ao prefeito.

SUGESTÃO 49 (GÊNERO – INFORMATIVO)


Um texto informativo como o próprio nome já diz, a principal função dele é
informar, ou seja passar uma informação. As características deste texto é
linguagem culta, direta, deve conter as informações, citando fonte e exemplos.
Jamais deve conter opiniões pessoas.

Os alunos devem escrever um informativo sobre um colega. O aluno deve ser


orientado a dar respostas completas, ampliando assim seu vocabulário e seu

Tipologia e Gêneros Textuais Página 237


texto. É uma atividade que exige concentração, reflexão e uma autoavaliação.
Na reescrita, o professor deve orientar o aluno para utilizar conectores, de
forma a tornar o texto coerente e coeso.

Sugestões de questões:
 Qual é o seu nome completo?
 Você tem apelido? Qual é?
 Em qual cidade você nasceu?
 Qual o dia, mês e ano em que você nasceu?
 Qual é a sua idade?
 Qual é o seu lugar favorito?
 Você gosta de estudar? Por quê?
 Qual é a disciplina que você mais gosta?
 E a professora que você mais gosta? Por quê?
 Quem é o seu melhor amigo? O que vocês costumam fazer juntos?
 Você tem um ídolo? Quem?
 Qual é o seu programa de TV favorito?
 Gosta de ler? O quê?
 Qual é a sua cor preferida? Que sensação ela te traz?
 Qual é o seu esporte predileto?
 E o time do coração?
 Tem animal de estimação? Qual?
 O que você mais gosta de fazer nas horas vagas?
 Gosta de ouvir música? Qual é a sua preferida?

SUGESTÃO 50 (GÊNERO – BIOGRAFIA)


Uma biografia é o relato dos feitos mais relevantes da vida de uma
pessoa. Elaborar uma biografia é um trabalho de pesquisa, uma forma de
construir o conhecimento, um método ativo de conquistar o saber,
desenvolvendo a capacidade de observação e análise, e, em muitos casos de
enriquecer o gosto pela leitura.

Etapas para a construção de uma biografia:


1. Escolher alguém que se tenha distinguido (escritor, político, artista plástico,
cientista, desportista...)
2. Recolher informação sobre a(s) pessoa(s) sobre quem se quer fazer a
biografia:
2.1 Enciclopédias, publicações da especialidade, biografias já produzidas,
livros, revistas
2.2 Consulta de jornais, revistas ou outras publicações
2.3 Entrevistas concedidas pela(s) própria(s) ou por quem a(s) conheça
2.4 Na Internet
3. Registar a informação:
3.1Data e local de nascimento

Tipologia e Gêneros Textuais Página 238


3.2Percurso acadêmico//Profissional
3.3 Obra
4. Escolher uma ordem de apresentação. Sugerimos que seja por data.
5. Incluir documentos resumidos ou totais e fotografias
6. Criar um título adequado ao trabalho
7. Organizar a narrativa, registando as conclusões e dando-lhe uma sequência
lógica
8. Utilizar um discurso com clareza e correção linguística
9. Registar a bibliografia consultada.

OBS: Se o professor quiser, pode também elaborar uma biografia dos alunos.
Cada um seleciona um colega e o entrevista depois de elaborar um
questionário.

SUGESTÃO 51 (GÊNERO – POEMA OU CONTO)


A HORA DO TERROR
Claro que eles não existem, mas é só ouvir um barulho estranho no quarto
escuro que a gente fica morrendo de medo. Será que é um monstro? Esse
pavor é muito antigo e existe no mundo inteiro. Só de pensar em encontrar um
desses seres medonhos, as pessoas ficam de cabelo em pé. Por isso mesmo
os livros, filmes e desenhos de terror são tão empolgantes. Todos nós
sentimos medo de algo ou de alguém. O sentimento do medo é normal nos
seres humanos assim como nos animais. O importante é enfrentar o seu medo
e descobrir uma forma de acabar com ele ou diminuí-lo. Quem sente medo não
é um covarde; ser corajoso é admitir os seus medos.
a) Peça ao aluno para pensar em algo que provoca medo nele e para criar um
poema sobre esse tema.
b) Peça ao aluno para pensar em histórias que ele já tenha ouvido, lido ou
vivenciado, envolvendo o tema ―medo‖, aquelas que fazem com que seus
cabelos fiquem em pé, que dão aquele friozinho na barriga. Escolher algumas
das palavras abaixo e escrever um conto.
SEXTA-FEIRA 13 - CEMITÉRIO - MEIA-NOITE - CAVEIRA - LOBISOMEM -
ESCURIDÃO - UIVOS - BARULHOS ESTRANHOS - RELÂMPAGOS – CASA
ABANDONADA - FANTASMAS - ASSOMBRAÇÕES - VENTO – MORTE -
CAIXÃO - ZUMBIS - BRUXAS - FEITIÇO - POÇÕES MÁGICAS – MALDIÇÃO

SUGESTÃO 52 (GÊNERO – TEXTO INSTRUCIONAL)


Leia as quadrinhas e depois escreva-as em prosa, transformando o texto
poético em texto instrucional:
Ao lidar com inflamáveis,
Cuidado, muita atenção!
Pois, se houver fogo por perto,
é quase certa a explosão!

Você pode muito bem

Tipologia e Gêneros Textuais Página 239


Evitar os acidentes;
Somente brincam com fogos
As pessoas imprudentes.

Bicos de gás, ferro elétrico,


Merecem nossos cuidados;
Se você sair de casa,
Veja se estão desligados.

Nunca faça em sua casa


Instalações de emergência:
A parte elétrica exige
Técnicos de competência.

Guarde longe da criança,


Onde ela não possa achar:
Éter, cera, gasolina,
Corpos fáceis de inflamar.

Cigarros e paus de fósforos,


Depois de serem usados,
Olhe bem onde os atirar:
Veja se estão apagados!

Para proteger as fábricas,


As cidades e os sertões,
Vou travar luta sem tréguas
Contra os fogos e os balões.

SUGESTÃO 53 (GÊNERO – CHARGE OU CONTO)

Tipologia e Gêneros Textuais Página 240


Algumas pessoas acham que, quanto mais a tecnologia avança, mais os
idosos têm dificuldades no dia a dia. Seja para 'simplesmente' operar um
controle remoto ou sacar dinheiro no caixa eletrônico... Tudo bem que até
existem aqueles mais avançadinhos que se atualizam sempre.
Analise a charge:
1. A charge revela de forma bem humorada uma dificuldade do cotidiano do
idoso. Qual é essa dificuldade?
2. Na expressão ―AGORA A BICHA TÁ MANDANDO LER...‖, a que se refere o
termo sublinhado?

Atividades:
a) Elaborar uma charge que mostre uma situação de dificuldade encontrada
por idosos diante da tecnologia atual (por exemplo, computador).
b) Elaborar um conto sobre a mesma situação.

SUGESTÃO 54 (GÊNERO – CHARGE OU CONTO)


Uma história em quadrinhos conta, conforme seu nome diz, uma história. É,
portanto, uma narrativa que envolve fatos, personagens, tempo e espaço. Os
fatos se organizam em sequência, numa relação de causa e efeito.

Roteiro para a aula:


 Distribuir aos alunos histórias em quadrinhos variadas para que façam
leitura despreocupada;

Tipologia e Gêneros Textuais Página 241


 Expirado o tempo da leitura, explorar aspectos estruturais desse gênero
como: balões, cores, letras, onomatopeias, expressões fisionômicas;
 Distribuir aos alunos quadrinhos iniciais como os subscritos para que os
alunos deem sequência à história; orientá-los para questões
relacionadas à estrutura do quadrinho e à coerência.
 Organizar as produções para encadernação.

Roteiro para o aluno:


 Pensar na história inteira. Qualquer situação real ou imaginária.
Imaginar um "filminho" na sua cabeça. Não complicar demais com
detalhes desnecessários.
 Numa folha de papel, apenas descrever cada quadrinho, já pensando
nas falas dos personagens, cenas, etc: uma espécie de roteiro da sua
história. Assim, por exemplo:
Primeiro quadrinho: Dia de sol, menino andando na rua.
Segundo quadrinho: Ele encontra um homem e diz "Por favor, o senhor
pode me dizer as horas?"
 Se achar difícil diagramar a página, recortar quadrados de papel e
produzir um por um: desenho com balões. Depois é só colocar na
página ou páginas, vendo como ficam melhor.
 Antes de colar os quadrinhos, lembrar-se de deixar um espaço para o
título, na primeira página.
Dica: Fazer os quadrinhos em um papel de uma cor diferente do papel
onde você irá colá-los.
Deixar espaço entre eles para que a cor de baixo apareça.

SUGESTÃO 55 (GÊNERO – CHARGE OU CONTO)


Encaminhamentos para aula:
1º O professor mostra as cenas e pergunta aos alunos se já conhecem uma
história parecida com a situação apresentada, um príncipe ou princesa que vira
sapo;
2º Após a discussão o professor explica como se faz um texto jornalístico
(discurso direto/discurso indireto/tipos de narrador);
3º Ler o texto ―Noiva desencantada, cerimônia frustrada‖ e refletir com os
alunos os nomes dos personagens e da Catedral, se necessário, recorrer ao
dicionário;
4º Individualmente fazer a escrita da história.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 242


Maurício Veneza. A princesa e o sapo do jeito que o Príncipe contou.Belo Horizonte.

Imagine que você é repórter do jornal Diário do Bosque e estava presente a


esse casamento. Continue a reportagem abaixo. Ela já tem título e introdução.
Noiva desencantada, cerimônia frustrada
Familiares e convidados para o matrimônio do príncipe Fernando Ludy Briado
e da princesa Catarina Lambis Goia, ocorrido, ontem, na Catedral Santa
Misericórdia, não esperavam presenciar uma cena tão insólita como a que
aconteceu após o beijo nupcial.
A igreja estava ricamente ornamentada à espera dos convidados que
começaram a chegar por volta das 19h30min.

SUGESTÃO 56 (GÊNERO – CHARGE OU CONTO)


Leia o começo das histórias abaixo e imagine um fato inesperado que pode
acontecer. Depois complete escrevendo um conto.
a) Uma minhoca botou a cabeça de fora para tomar um ar e deixou o rabo
aparecendo do outro lado do buraco. De repente...

Tipologia e Gêneros Textuais Página 243


b) O menino dormia tranquilo em sua cama. Pela janela entreaberta, entrava
um ar bem fresquinho. De repente...
c)Babi estava sentada no tapete do seu quarto, lendo um livro de histórias. Ao
seu lado Belinha, sua gata, tirava uma soneca. De repente...
d) Todos os alunos da nossa sala estavam na quadra de esportes. Alguns
meninos estavam jogando futsal. Os outros estavam torcendo, o jogo estava
empolgante. De repente ...

SUGESTÃO 57 (GÊNERO – CHARGE OU CONTO)


Leia com atenção os quadrinhos abaixo, observando a sequência dos fatos:

1º quadrinho:
2º quadrinho:
3º quadrinho:
Reconte a história em quadrinha em um conto. Antes, escreva um parágrafo
situando as personagens no tempo e no espaço. Reescreva as falas das
personagens e invente argumentos que poderiam ser usados pelo Menino
Maluquinho, no último quadrinho, para tentar convencer a garotinha a
emprestar as roupas da mãe. Ao reproduzir as falas das personagens, lembre-
se de usar o travessão.

SUGESTÃO 58 (GÊNERO – CONTO)


Texto 1: Quando nada mais importa. descobrimos o valor que damos a cada
coisa, o sentido exato daquela caixa de música ou da lembrança mais remota
da infância, que teima em voltar cada ez mais nítida. (REVILLION, Monique.
Teresa, que esperava as uvas e outros contos. São Paulo: Geração Editorial,
2006. p. 22. (Fragmento)).

Texto 2: Meu nome é... Sou um advogado criminalista. O caso que vou relatar
comprova, como disse alguém cujo nome não recordo, que a verdade é mais
estranha que a ficção porque não é obrigada a obedecer ao possível.
(FONSECA, Rubem. Mandrake, a Bíblia e a bengala. São Paulo: Companhia
das Letras, 2005. p- 7. (Fragmento)).

Tipologia e Gêneros Textuais Página 244


 Como um conto deve apresentar, desenvolver e solucionar um conflito,
comece por definir que tipo de conflito pode ser vivido pela personagem
principal.
 Lembre-se de que um narrador em 1ª pessoa impõe o seu ponto de
vista aos acontecimentos narrados. Como você conhece bem a
personagem que irá narrar, determine qual será o seu ponto de vista
acerca da questão central dessa narrativa.
 Lembre-se de que os comportamentos (ações e reações) das
personagens precisam ser motivados para garantir a verossimilhança
do texto.
 Quais são os motivos para os principais acontecimentos que você irá
incluir no seu texto?
 A caracterização da(s) personagem(ns) torna esses motivos
verossímeis?
 O que o leitor precisa conhecer sobre ela(s) para aceitar o que está
sendo contado?
 A linguagem faz parte da caracterização da(s) personagem(ns)? Por
quê?
 Lembre-se de que toda ação deve transcorrer em algum lugar e durante
algum tempo. Você tomou o cuidado de apresentar, para o leitor,
elementos de cenário? Há referências temporais para que ele possa
organizar os fatos narrados?

SUGESTÃO 59 (GÊNERO – TEXTO DIDÁTICO)


Sua tarefa será redigir, em equipe de quatro pessoas, um capítulo de um livro
didático apresentando os conceitos referentes a algumas manifestações
extremas da natureza: terremotos, furacões e tsunamis. Cada equipe deve,
em primeiro lugar, realizar uma pesquisa detalhada (em livros e sites da
internet) sobre cada um dos fenômenos naturais a serem abordos.
Informações sobre causas, consequências, locais mais sujeitos à sua
ocorrência, história das principais ocorrências passadas, possibilidade de
serem previstos (com medidas para evitar consequências mais graves), etc.
Também devem ser selecionados/elaborados textos não verbais (fotografias,
diagramas, esquemas, etc.) para utilização no texto didático. De posse das
informações e das imagens, escrevam o texto, lembrando-se de que o capítulo
deve ter um título.

1) Organize as informações coletadas.


 Como cada um dos fenômenos naturais pode ser definido?
 Elabore uma explicação para o processo envolvido em cada um deles.
 Quais são os fatores que prenunciam a ocorrência desses fenômenos?
 Que regiões são mais afetadas? Por quê?
 Que tipo de orientação costuma ser dada às populações ameaçadas
por tais fenômenos?

Tipologia e Gêneros Textuais Página 245


2) Crie a hierarquia de títulos do capítulo.
 Decida quais serão as seções e como cada uma delas será subdividida
de acordo com a organização das informações.
3) Selecione os textos não verbais a serem utilizados de modo a complementar
o texto prmcipai. Faça as legendas para cada um deles.
4) Decida que tipo de nformação deve ser apresentado em boxes
complementares ao texto.
5) Lembre-se de adequar a linguagem ao perfil de interlocutor definido.

Para obter informações sobre os fenomenos naturais a serem apresentados no


capítulo, alguns sites de busca podem ser consultados. Também é
interessante verificar de que modo as enciclopédias virtuais tratam desses
fenômenos.
http://pt.wikipedia.org/
hitp://encarta.msn.com/
http://wwvv.google.com.br/
e http://edition.cnn.com/SPE C IALS/2006/hurricanes/
http://edition.cnn.com/SPE CIALS/2005/tornadoes/
http://edition.cnn.com/SPE C IALS/2004/tsunami.disaster/
http:/!pubs.usgs.gov/gip/ear thq 1/

SUGESTÃO 60 (GÊNERO – TEXTO INSTRUCIONAL)


Como instalar um novo aparelho eletrodoméstico? Que passos seguir para
criar uma planilha eletrônica? O que fazer em caso de incêndio em um hotel no
qual se estã hospedado? Essas perguntas fazem referência a situações
completamente diferentes, mas a resposta para cada uma delas será
encontrada em textos instrucionais.

Os textos instrucionais se caracterizam pela apresentação de uma série de


procedimentos a serem seguidos em uma determinada circunstância. Por esse
motivo, estabelecem sempre uma interlocução direta com o leitor. Diferentes
gêneros discursivos exemplificam essa estrutura: receitas, manuais, regras de
jogo, guias de uso, etc.

A principal característica dos textos instrucionais é, portanto, nos levar a agir


de uma certa maneira, seguindo passos previamente estabelecidos, para
resolver situações específicas.

Os gêneros discursivos que levam à ação e circulam em contextos específicos


são considerados injuntivos.

A injunção é o ato de ordenar expressamente, de mandar executar alguma


coisa. Textos injuntvos, portanto, são aqueles cujo objetivo é levar as pessoas
a agirem de determinada maneira, como forma de alcançarem um resultado

Tipologia e Gêneros Textuais Página 246


específico: instalar ou configurar um aparelho, preparar uma refeição, curar
uma doença, etc.

Todos os textos instrucionais são injuntivos, porque apresentam procedimentos


a serem seguidos. Os textos instrucionais circulam em contextos diferentes, a
depende r do gênero discursivo que for considerado. Um manual que ensine
um consumidor a instalar um novo aparelho, por exemplo, terá uma circulação
muito restrita, porque estará disponível somente às pessoas que adquirirem tal
aparelho. Um ivro de receitas culinárias, por outro lado, pode ter urna grande
circulação, porque muitas pessoas procuram obras como essas para orientá-
las no preparo de refeicões.

A variedade de gêneros discursivos que exemplificam os textos instrucionais


dificulta a definição de uma estrutura precisa. É possível, porém, identificar
alguns elementos estruturais comuns à maioria deles.

Um exemplo interessante são os textos que exploram, de modo humorístico,


as sequências de instruções características de alguns desses gêneros (no
caso a seguir, o guia de viagem).

Observe, abaixo, as divertidas instruções para quem deseja dar um mergulho


no mar:

Texto 1: Modo correto de entrar n’água (mulheres)


1. Caminhe devagar até a água, ajustando continuamente a parte de trás de
sua tanga.
2. Teste a temperatura da água com a ponta dos pés.
3. Entre uma onda e outra, caminhe até os joelhos e se agache, molhando-se
até a bundinha.
4. Reajuste a sua tanga.
5. Quando a próxima onda chegar, prenda o nariz com os dedos e mergulhe,
voltando correndo para a beira antes da nova onda.
6. Reajuste sua tanga.
7. Incline o tronco e balance a cabeca para frente e para trás três vezes para
tirar o excesso de água.
8. Reajuste sua tanga ao voltar lentamente para seu lugar.

Texto 2: Modo correto de entrar n’água (homens)


1. Corra para a água e mergulhe (ou dê uma cambalhota), entrando no mar
sem parar para considerar a temperatura ou ligar para as ondas.
2. Nade ou pegue jacaré por vinte minutos.
3. Saia da água e ajuste sua sunga. Balance a cabeça para secar os cabelos.
(Evitando assim a semelhanca com uma foca)
4. Corra de volta para o seu lugar.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 247


5. Apesar de estar molhado, resista à tentação de sentar na cadeira de praia.
Um carioca verdadeiro fica em pé observando o movimento.
(GOSLYN, Priscilla. Rau tchu bi a carioca (How to be a carioca); o guia
alternativo para o turista no Rio. Trad. de Carlos Araujo. 7. ed. Rio de Janeiro:
TwoCan, 2000. p. 85. (Fragmento)).

Agora que você conhece a estrutura característica dos textos instrucionais,


pode, inspirado pelo exemplo da escritora, criar regras bem-humoradas para
orientar o comportamento de alguém que acaba de chegar à adolescência e
deseja ―aprender a agir como um adolescente típico‖.

Apresentamos, a seguir, alguns dos aspectos que podem ser orientados por
meio de textos instrucionais
 Como se vestir como um adolescente
 Como comer como um adolescente
 Como falar como um adolescente
 Como ―teclar‖ como um adolescente
 Como ir ao shopping como um adolescente
 Como dançar como um adolescente
 Como ouvir música como um adolescente

Converse com seus colegas e identifique outros comportamentos típicos dos


adolescentes que poderiam fazer parte dessa lista.

Escolha um dos comportamentos identificados e redija o texto instrucional para


orientar os leitores que desejem aprender a agir de acordo com o
comportamento escolhido.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Tragédia Brasileira
O texto foi publicado a primeira vez no Boletim de Ariel em 1933, sofrendo
alterações até chegar ao poema conhecido. É importante marcar aqui algumas
das transformações feitas por Bandeira para lapidar a matéria poética. Lê-se
na primeira versão:
Leolino, funccionario da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa, - prostituida, com syphilis, dermite
nos dedos, uma alliança empenhada e os dentes em petição de miseria.
Leolino tirou Maria Elvira da vida, installou-a num sobrado no
Estacio, pagou medico, dentista, manicura, dava tudo quanto ella queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de bocca bonita arranjou logo um namorado.
Leolino não queria escandalo. Podia dar uma surra mãe, um tiro, uma facada,
não fez nada disso, só que mudou de casa.
Viveram tres annos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Leolino mudava de casa.
Os amantes moraram no Estacio, Rocha, Cattete, rua General Pedra,

Tipologia e Gêneros Textuais Página 248


Olaria, Ramos, Bom Successo, Villa Isabel, Rua Marquez de Sapucahy,
Nietheroy, Encantado, rua Clapp, outra vez no Estacio, Todos os Santos,
Catumby, Lavradio, Bocca do Matto, Inválidos.
Por fim na Rua da Constituição, onde Leolino, privado de sentidos e
de intelligencia, matou-a com seis tiros e a policia foi encontral-a cahida em
decubito dorsal, vestida de organdi azul.

As correções são de caráter gráfico, de pontuação, de ortografia e de


supressão de palavras. É possível que uma das mudanças mais importantes
no poema fique por conta do nome de um dos personagens, que passa de
Leolino Misael. É fácil perceber, ao se ler o texto, o porquê de tal mudança.
Com a primeira denominação a sonoridade fica travada, tornando o texto um
pouco mais duro e, dessa forma, perde o efeito da cotidianidade colhida na
rua, na sua simpleza.

Poema Tirado de uma Notícia de Jornal - Tragédia Brasileira


O título faz questão de mostrar a origem do poema: o cotidiano lido nas
páginas do jornal e transformado em notícia. Porém, quando tirada de seu
espaço de origem a informação perde seu tom efêmero. Quando sai do jornal e
ganha a forma de poema, passa a falar de uma existência complexa e, ainda
assim, comum a muitos Joões. Enquanto parte de uma página da seção
policial, João Gostoso não passa de estatística sem valor para aumentar a
venda do jornal. Todavia, quando João passa a representar a consciência de
muitas existências, ganha a proteção dos versos contra o tempo e o
esquecimento. Embora os versos o conduzam à morte. O poema aponta para a
condição de inexistência dada a João Gostoso que atende por codinome, não
tem sobrenome, tem um subemprego e mora no morro num barraco sem
número. Quem é João? João é qualquer um. È fragmento da impossibilidade,
da impotência coletiva diante da vida e do tempo. Essa observação, da
condição dos sujeitos no dia a dia, aparece também no poema Tragédia
Brasileira, no qual o cotidiano carioca se faz presente não só pelas ruas
citadas, mas, principalmente, pelas ações das pessoas/personagens. Assim
como no texto anterior, esse poema em prosa também nasceu de uma notícia
de jornal. Longe de o texto contar histórias como as de Ésquilo ou Sófocles, a
tragédia lida no jornal e transformada em poema envereda para o campo da
comédia, não marcada pelo vício da prostituição de Maria Elvira, mas pelo
desejo de riso que alimenta no leitor. Reação contrária a do leitor da notícia.
Essa tragédia diferente, marcada pelo sofrimento do personagem masculino e
pelo riso que este causa ao leitor ( pelas tentativas frustradas de salvar Maria
Elvira) e assim salvar a si mesmo, tem sua razão de ser na denominação
brasileira. Não poderia ser diferente, pois, era da Lapa, do beco das prostitutas,
que as personagens surgiram. De um ambiente tão conhecido do poeta,
observado pela janela do quarto, e ainda assim lido no jornal, é que se faz a
Tragédia Brasileira.

Tipologia e Gêneros Textuais Página 249


REFERÊNCIAS
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