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Sumário
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ϱ
ϲ
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos trinta anos, a expansão de comunidades de baixa renda em
Petrópolis se tem mostrado crescente e continua. Algumas escolas foram e
têm sido construídas para atender as crianças oriundas dessas comunidades.
Entretanto, há que se preocupar em como se tem processado a inserção
dessas crianças no ambiente escolar e como os professores têm lidado com
as variações linguísticas processadas por essas crianças.
ϳ
sujeito e a sociedade. A língua está presente na convivência entre as pessoas
e colabora para marcar/identificar as diferentes funções sociais ocupadas por
essas pessoas em seus meios, assim como a variação da língua que
incorporamos é a que faz parte do nosso grupo social. Assim, para que haja a
interação (sujeito-sociedade) é preciso fazer a junção entre língua e
sociedade, porque se o homem se comunica por meio da língua e vive em
sociedade é necessário que essa união se complete, uma vez que a língua,
como sistema, segue cada passo da evolução da sociedade desvelando as
diversas formas do comportamento humano e as variações que ocorrem em
função da temporal idade espacial que a permeia. Como afirma Labov
(MONTEIRO, 2000):
Diante do exposto, pensar uma nova concepção de prática de língua é ter que
ϴ
pensar também a linguagem como um conjunto de recursos expressivos,
não-fechados e em constante transformação. Neste texto, propomos reflexões
que possam subsidiar as práticas pedagógicas linguísticas que respeitem a
diversidade a que estão expostos o falante e sua língua, tendo como mote as
variadas situações comunicativas as quais esse falante vive.
Os objetivos deste trabalho são discutir a possível distância entre o uso efetivo
pelos alunos e a prescrição gramatical; estabelecer, com base nos corpora
analisados, as diferenças entre as noções de L 1 e L2; propor a adoção de
uma postura pedagógica prática e coerente para tratamento de tais variantes.
e que foram ampliando as possibilidades de se fazer ciência linguística.
Apontaremos algumas proposições encontradas no CLG que foram pontos de
reflexões para muitos autores e que levaram, de um modo ou de outro, a
essas novas propostas teórico-metodológicas de estudo linguístico.
ϭϬ
A fala seria, então, o uso individual dos falantes e não poderia ser analisada,
nesse recorte de estudo, por ser, principalmente, heterogênea e
assistemática. Apesar de ter sido excluída do estudo linguístico, não é negada
a interdependência das duas e que as mudanças na língua são motivadas
SHOD IRUPD RUDO SRLV ³p D IDOD TXH ID] HYROXLU D língua: são as impressões
recebidas ao ouvir os outros que modificam nossos hábitos linguísticos´
[1916]), mas reafirma que as duas são distintas, cabendo também estudos
distintos.
ϭϭ
estruturalista para ser percorrido o caminho que as ciências linguísticas
tomaram e, então, chegar à proposta da teoria aqui enfocada.
Bakhtin (1929) foi um dos autores que apresentou reflexões divergentes sobre
a proposta saussureana no livro Marxismo e Filosofia da linguagem. Para
esse autor, a língua não poderia ser concebida como homogênea, nem como
um sistema imutável transmitido por gerações e adquirida pelos indivíduos,
sem que estes pudessem modificá-la.
o discurso, trabalhando de forma imbricada a Linguística (Saussure), a
Psicologia (Freud) e o Materialismo Histórico (Marx).
ϭϯ
naturais, bem como as diferenças entre elas que são previsíveis segundo o
OHTXHGHRSo}HVGLVSRQtYHLVQDSUySULD*8´.(1('<, 2008).
Iremos nos deter nas duas últimas áreas e que são de grande interesse da
Sociolinguística Quantitativa de William Labov. Labov, já em meados do
século XX, reafirma uma nova perspectiva, mostrando que o ponto de vista
QmRVHULDPDLVRGRHVWUXWXUDOLVPRTXHQRVHQWLGRHXURSHX³pXP termo que
se refere à visão de que existe uma estrutura relacional abstrata que é
subjacente e deve ser distinguida dos enunciados reais e de que ela é o objeto
primordial de estudo do linguista´ :((':22' Qem seria a de
Chomsky, que não considera as questões sociais como elemento necessário
à sua proposta de estudo, mas um que considera a língua em seu contexto
ϭϰ
social, como defendiam alguns autores da escola de Praga como Mathesius e
Neustupný.
Ao afirmar que existe variação na língua, Labov mostra que existem variantes,
ou seja, formas diferentes com mesmo significado e que pelo fato de haver
julgamento de valor, determinado socialmente, uma forma é tida como
prestigiada e a(s) outra(s) acaba(m) sendo estigmatizada(s). Essa foi uma
relevante constatação que vem contribuindo para o não preconceito linguístico
± determinado, como vimos, socialmente ± e para a área da educação no
sentido de compreender o porquê de alguns usos linguísticos dos alunos que
divergem do considerado padrão ± que também é determinado socialmente.
ϭϱ
Tais questões foram excluídas dos estudos saussureanos e gerativistas que,
como já foi dito, veem a possibilidade de estudo sistemático apenas tendo a
língua como abstração, não sendo necessária para o estudo a coleta de dados
por meio da fala de vários indivíduos.
ϭϲ
1. Os fatores condicionantes trazem a importância de se fazer um
levantamento dos fatores que estariam dando condições para a mudança,
sempre combinando os fatores linguísticos com os sociais.
ϭϳ
FRPR³PDU´³EDU´RXHPYHUERVQRLQILQLWLYRFRPR³IDODU´³EHEHU´³FDLU´HWF
(CALLOU; LEITE; MORAES, 1998).
2.2 A SOCIOLINGUÍSTICA NO BRASIL: INFLUÊNCIAS E PARÂMETROS.
A Linguística de Labov chegou-nos indiretamente pela construção de modelos
de pesquisa de campo destinados ao levantamento dos fatos linguísticos à luz
de variáveis sociais. Desses modelos, puderam-se estabelecer parâmetros de
uso do português brasileiro em face de características pessoais do falante, tais
como sexo, nível de escolaridade, idade, origem geográfica etc., de que
decorreu, posteriormente, uma ampla construção de corpora de pesquisa em
língua oral que até hoje vêm sendo usados em trabalhos de descrição
linguística 2 . Coube a Fernando Tarallo (1951 ± 1992), no hoje clássico A
pesquisa sociolinguística (1985), trazer para os leitores brasileiros os
fundamentos do variacionismo laboviano em obra de caráter didático e bem
objetivo, sem descurar da exposição conceitual aprofundada acerca do objeto
de pesquisa e da metodologia com que se busca analisá-lo.
pelo número de projetos, grupos de pesquisa, teses e dissertações que se
vêm produzindo nesse campo nas últimas três décadas.
ϯ
Entrevista à Revista Icarahy. Niterói: Universidade Federal Fluminense, n. 5, 2011.
ϮϬ
conexos, tais como norma gramatical e ensino, preconceito linguístico,
intervenção estatal em questões de linguagem, entre outros.
2.3.1 Fala
Atividade linguística concreta, movimento dialético entre criação e repetição,
inclui todas as variações que o falante pode acrescentar às inúmeras
estruturações linguísticas já formuladas e aceitas socialmente. Representa
sempre um ato individual. Mensagem codificada, nível de observação
objetivamente comprovável, indica como se diz num determinado ato de fala.
Caracteriza-se ainda por ser não convencional e opcional, mas opção
individual de cada falante. Enfim, a fala é como funciona concretamente.
Ϯϭ
Nos processos de ensino/aprendizagem de língua materna a desconsideração
dos fatos linguísticos que compõem a fala significa uma atitude perversa. Eles
aparecem, por exemplo, nas manifestações espontâneas dos alunos, sobre as
quais deve se desenvolver todo o trabalho docente com vistas a um
aperfeiçoamento da competência linguística e, obviamente, comunicativa. O
aprendizado refere-se sempre a um não saber, mas deve tomar como base
essencial e como ponto de partida o saber que uma pessoa (o aprendiz) possa
ter sobre o objeto de ensino. Já se tornou indiscutível o fato de o aluno chegar
à escola, mesmo os mais novinhos, com um saber linguístico altamente
significativo. Como desprezá-lo? Além disso, são manifestações espontâneas
dos alunos, em qualquer nível de escolaridade, seus comentários e suas
perguntas a respeito do tema tratado em aula.
2.3.2 Norma
Os fatos de norma são modelos abstratos e não manifestações concretas.
Representam obrigações impostas numa dada comunidade
sócio-linguístico-cultural. Inclui elementos não relevantes, mas normais na fala
dessa comunidade. A norma se constitui como realização coletiva, tradição,
repetição de modelos anteriores. É convencional e opcional, mas opção do
grupo a que pertence o falante. Preserva apenas os aspectos comuns,
eliminando tudo o que, na fala, é inédito, individual. A norma é modelo
de como funciona.
ϮϮ
Nos processos de ensino/aprendizagem de língua materna, cumpre propiciar
ao aluno o conhecimento das diversas normas coexistentes na sua
comunidade sócio-linguístico-cultural. Pode-se falar em normas de: espaço
geográfico (acentos, falares, etc...); classes sociais; faixa etária; grupos
sociais (jargões, gírias. etc...); discurso (os universos do discurso, tais como o
jurídico, o pedagógico, etc...); sexo; modalidade (oral/escrito); registro
(formal/informal), etc.
'HVVD IRUPD D LPSRVLomR GD FKDPDGD ³QRUPD FXOWD´ RX ³SDGUmR´ HP
detrimento de outras normas, configura a perda da identidade de um
determinado segmento social. Com isso, não se consegue uma compreensão
mais completa dos fatos linguísticos permitidos pelo sistema da língua. Ao
mesmo tempo, deixar de ministrar a norma padrão impede o acesso do aluno
a um estrato social considerado superior e impede, também, seu acesso à
tradição cultural escrita. Num caso e no outro, há prejuízo no desenvolvimento
da competência comunicativa.
2.3.3 Sistema
Os fatos de sistema são modelos abstratos, constituídos de oposições
funcionais. Representa um código para toda a sociedade. Coseriu considera o
sistema como um indicador de caminhos abertos e fechados, ou seja, de todas
as possibilidades. Mais que um conjunto de imposições, é um conjunto de
liberdades, a técnica linguística propriamente dita. Elimina da norma tudo o
que é simples hábito, simples tradição. É formado exclusivamente de
invariantes. Sistema é o que funciona. Para Coseriu (1978)
linguística.
2.3.4 Variação
A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis.
Ela sempre existiu e sempre existirá. Assim, quando se fala em Língua
Portuguesa, está se falando de uma unidade que se constitui de muitas
variedades. Embora no Brasil haja relativa unidade linguística e apenas uma
língua nacional, notam-se diferenças de pronúncia, de emprego de palavras,
de morfologia e de construções sintáticas, as quais não somente identificam
os falantes de comunidades linguísticas em diferentes regiões, como ainda se
multiplicam em uma mesma comunidade de fala.
Ϯϰ
A sociolinguística procura estabelecer as fronteiras entre os diferentes falares
de uma língua. O pesquisador verifica se os falantes apresentam diferenças
nos seus modos de falar de acordo com o lugar em que estão (variação
diatópica), com grupos etários ou com a situação (variação diafásica ou
estilística), com a fala ou a escrita (variação diamésica) ou de acordo com o
nível socioeconômico do falante (variação diastrática).
Assim, temos:
Variações diatópicas
São as variações ocorridas em razão das diferenças regionais, como, por
H[HPSOR D SDODYUD ³DEyERUD´ TXH SRGH DGTXLULU DFHSo}HV VHPkQWLFDV
(relacionadas ao significado) em algumas regiões que se divergem umas das
outras, como é o casRGH³MHULPXP´SRUH[HPSOR
Variações diafásicas
Tais variações estão relacionadas ao contexto comunicativo de forma geral,
ou seja, a situação exigirá o uso de um modo de falar distinto. Como exemplo
disso, citamos um bate-papo informal e um discurso proferido em um evento
solene, por exemplo. Outro exemplo é a redação de um texto escrito e uma
conversa proferida no dia a dia. É importante ressaltar o que significa, aqui,
informal. A formalidade e a informalidade estão relacionadas com a escolha do
vocabulário, dos pronomes pessoais, dos pronomes de tratamento, da
Ϯϱ
HVWUXWXUD VLQWiWLFD PDLV RX PHQRV GLUHWD H QmR FRP ³WXGR p SHUPLWLGR´ QD
informalidade.
Variação Diamésica
Uma das confusões que as pessoas mais cometem no campo da variação
linguística é acreditar que fala é sempre sinônimo de informalidade. Nada mais
enganoso. Existem várias situações em que necessitamos nos expressar
oralmente de maneira formal. Veja alguns exemplos: uma entrevista de
emprego, um seminário, uma palestra, uma arguição oral em um concurso
público, uma reunião de negócios.
Por outro lado, é preciso reconhecer que a fala possui certas características
que a distinguem sensivelmente da expressão escrita. A principal delas diz
respeito aos momentos de produção e recepção do texto: na comunicação
oral, eles são simultâneos ʊjPHGLGDTXHYRFrIDODVHXLQWHUORFXWRURXYHMi
na comunicação escrita, existe uma defasagem entre o momento de produção
e o de recepção.
Se notamos que o interlocutor não está nos entendendo bem, a correção pode
implicar uma verdadeira paráfrase: Esses mecanismos não são acionados
apenas por palavras, mas também por gestos, expressões faciais, olhares.
Ϯϲ
%DVWDQRVVRLQWHUORFXWRUQRVROKDUFRP³FDUDGHSRQWRGHLQWHUURJDomR´SDUD
sabermos que não estamos sendo bem compreendidos. A linguagem não
verbal nos permite, também, complementar o sentido da verbal: entonação,
JHVWRV UHIHUrQFLDV D HOHPHQWRV GR HQWRUQR ʊ WXGR LVVR DMXGD D WRUQDU D
comunicação oral mais clara.
Essa falta de sincronia tem, contudo, suas vantagens. Poderíamos dizer que,
se o texto oral é como uma transmissão ao vivo, o texto escrito é como um
programa gravado e editado: podemos revisá-lo quantas vezes for necessário,
³DSDJDQGR´RVHUURVTXHFRPHWHPRVHDSUHVHQWDQGRDRLQWHUORFXWRUDSHQDVR
resultado final, perfeitamente polido e retocado. Outra vantagem da
comunicação escrita é que ela nos permite fazer pesquisas e consultas
GXUDQWH D SURGXomR ʊ VH YRFr HVWi SUHSDUDQGR XPD PRQRJUDILD SRU
exemplo, pode buscar informações em livros e textos na Internet; mas, se está
apresentando um seminário, só pode contar com suas anotações e a própria
memória.
Ϯϳ
isso não significa que não haja eventos comunicativos orais formais, como
dissemos antes.
Variações diastráticas
De acordo com Ronald Beline (2006), por variação diastrátLFD³entendem-se
as variações que a língua apresenta no nível socioeconômico do falante´Ru
seja, são as variações que ocorrem de um grupo social para o outro. Assim,
fatores tais como sexo, faixa etária, condição socioeconômica, profissão,
religião e até mesmo convicções político-partidárias e esportivas, entre outros
condicionam mudanças no uso efetivo da língua.
a) Idade
Ϯϴ
³2s avós falam diferentes dos filhos e dos netos etc. (..´
(BORTONI-RICARDO, 2004) Isso acontece devido à constante mudança que
a sociedade sofre com o tempo, e é também influenciado pelas tendências da
³PRGD´
b) Sexo
Existe uma cobrança e receptividade diferenciada do modo como certas
colocações são realizadas dependendo de quem as fala se é um homem ou
uma mulher. Essas variações entre repertórios feminino e masculino são
relacionadas aos papéis sociais que, conforma já prendemos, são
culturalmente condicionados. (BORTONI-RICARDO, 2004)
c) Mercado de trabalho
Dependendo do lugar (empresa, comércio) que o indivíduo trabalha, ambiente
mais ou menos formal, interfere em como o indivíduo fará uso da língua,
PRQLWRUDQGRPDLV RXPHQRV DVXDIDOD³$V DWLYLGDGHVSURfissionais que um
indivíduo desempenha também são um fator condicionador de seu repertório
VRFLROLQJXtVWLFR´%25721,-RICARDO, 2004)
d) Status socioeconômico
A distribuição de renda e a realidade de algumas regiões, mais carentes e
necessitadas, influenciam no modo como essas pessoas fazem uso da língua,
DWHQGHQGRDVXDVQHFHVVLGDGHV³GHVLJXDOGDGHVQDGLVWULEXLomRGHEHQV
materiais e de bens culturais, o que se reflete em diferenças sociolinguísticas.
´%25721,-RICARDO, 2004)
Ϯϵ
¾ Presença de [r], em lugar de [l], em grupos consonantais, como em
³EUXVD´EOXVDH³JURER´ (globo), também sugere que os falantes estão
situados abaixo na escala social ou possuem baixo grau de
alfabetização;
¾ O XVRGROp[LFRSDUWLFXODUFRPRSUHVHQWHHPFHUWDVJtULDV³PDQHLUR´
³HVSHUWR´ FRP R VHQWLGR GH DYDOLDomR SRVLWLYD DFHUFD GDV FRLVDV,
pessoas e situações), denota faixa etária jovem;
¾ O XVRGRSURQRPH³WX´HPVLWXDo}HVGHLQWHUDomRHQWUHLJXDLVQR5LRGH
-DQHLUR FRPR HP ³7X YLX Vy"´ WDPEpP VXJHUH TXH RV IDODQWHV VmR
jovens.
ϯϬ
FpUHEURQmRWUDEDOKDFRPYDULDo}HVWmRGLVWLQWDVFRPRSRUH[HPSOR³EUXVD´H
³EOXVD´1DKRUDHP TXHXPDpDSUHQGLGDDRXWUDp³HVTXHFLGD´
Para que possa haver uma interação social e comunicação interna entre os
indivíduos em uma determinada nação, é necessário que este país adote uma
língua nacional. Esta servirá de parâmetro e meio oficial de comunicação para
a sociedade, e suas variações linguística que surgem na diversidade das
classes sociais. Entretanto, será que língua nacional é capaz de manter a
coesão interna diante da pluridiversidade cultural que existe intrinsecamente
nas variadas regiões, cidades, municípios etc. de um país como o nosso
Brasil? De acordo com Borba (2008):
Ela garante a unidade nacional porque facilita a
compreensão mútua, mas principalmente porque propicia a
comunhão de pensamento. Além disso, a sorte da língua
nacional serve para medir o verdadeiro conceito de nação.
ϯϭ
individuo pode pertencer a mais de uma comunidade
linguística ou aprender a falar e a entender mais de uma
língua, então também pode dominar vários registros,
mesmo que não os utilize. Aliás, todos nós temos uma
espécie de norma individual.
Como já dito, é preciso entender por essa variação. Ela inclui o mercado de
trabalho, as situações comunicativas (mais ou menos formal), a região
(variação diatópica, considerando-se aqui fonética e o vocabulário ± ver o
próximo subitem). A nosso ver, como já explicitado, isso não inclui variações
abismais, as quais serão tratadas neste trabalho.
ϯϮ
clássico tinha em relação à fala tanto das camadas populares quanto dos
estrangeiros (não-atenienses, inclusive gregos de cidades vizinhas).
As línguas nacionais são dialetos que conquistaram prestígio em relação aos
demais porque produziram importante literatura ou eram os dialetos falados
pela classe dominante. O napolitano não é dialeto do italiano (isto é, toscano):
na verdade, os dois são versões atuais de dialetos do latim vulgar falado no
primeiro milênio da nossa era. Como alguns dialetos se distanciam mais do
que outros em relação à língua de origem, muitos deles representam estados
mais antigos de uma língua que ainda conservam traços já desaparecidos na
língua-padrão. Quando uma nação se forma, isto é, cria consciência nacional,
desenvolve uma língua nacional. Ela é baseada no dialeto de maior prestígio,
mas recebe contribuições de outros dialetos e vira uma espécie de koiné,
compreensível em maior ou menor grau por todos os cidadãos.
Esse critério não é muito bom, porque se apoia num dado subjetivo: o grau de
intercompreensão entre falantes. Falantes do português e do espanhol podem
entender-se relativamente, portanto seriam dialetos, segundo Coseriu. Já o
português e o francês seriam línguas distintas, de acordo com o mesmo
critério. Mas e o italiano em relação ao português?
ϯϱ
Para finalização, podemos dizer que um italiano fala o toscano e seu dialeto
(se este não o for), mas dificilmente compreenderá o milanês. No caso do
Brasil, isso não ocorre (a não ser em regiões onde ainda se preserva o idioma
do povo imigrado). Se formos para outra região ou estado, compreenderemos
o que se comunicando, às vezes com um pouco de dificuldade, é fato, mas
ainda é o Português.
sociedade o percebe como um pecado no domínio das etiquetas sociais. A
teoria sociolinguística substituiu a noção de erro pela noção de diferenças
entre variedades ou entre estilos. Um erro, como fato social, ocorre quando o
falante não encaixa uma determinada variante no contexto que é o seu habitat
natural na ecologia sociolinguística de uma comunidade de fala.
são avaliados muito negativamente. Entretanto, podemos considerá-lo uma
transgressão porque a ortografia é um código que não prevê variação. A
ortografia de cada palavra é fixada ao longo de anos e até séculos no
processo de codificação linguística. (Scliar-Cabral, 2003). Com raras
exceções cada palavra tem apenas uma grafia.
O erro gráfico é muito elucidativo porque permite ao professor perceber a
interferência dos traços orais da fala do aluno na sua escrita. Analisando os
erros de grafia, juntamente com o aluno, o professor poderá planejar uma
agenda de atividades pedagógicas que visem a ajudá-lo a superar os
problemas apresentados.
Na língua oral, o professor não pode também intervir para fornecer ao aluno
uma norma (não variante, pois aqui referimo-nos à norma culta) diferente
daquela que ele está usando? É claro que pode, mas sem perder de vista o
fato de que a língua oral é muito mais flexível e permite variações (observar o
que se disse acima acerca de ³YLU´ e ³YLHU´ ³encontrar HOH´ e ³HQFRQWUD-OR´).
Esopo e La Fontaine; as histórias de Monteiro Lobato no Sítio do Picapau
Amarelo; os livros da Condessa de Ségur e da Srª. Leandro Dupré, entre
outros.
ϰϬ
Constituição de 1946, continua inatingível. Nasce, então, como mais uma
tentativa de aperfeiçoamento do ensino, a Lei de Diretrizes e Bases da
(GXFDomR 1DFLRQDO VRE R Q~PHUR (VWD OHL GHWHUPLQD TXH ³D
educação é direito de todos e será dada no lar e na escROD´$UWHQWUHWDQWR
em parágrafo único, admite a insuficiência de escolas e a possibilidade de
encerramento de matrícula em caso de falta de vagas.
eram a fina flor do Magistério Público. A nova lei acaba com o privilégio de o
Município e o Estado formarem seus professores. O prestígio do Magistério
começa a se desfazer com a nova política salarial. As classes média e alta,
que, antes, optavam pelo Magistério, por vocação ou interesse profissional,
passam a interessar-se por outras profissões mais rendosas. Começa a
evasão no Magistério e a mudança de perfil do professor. Antes, uma
profissão que conferia status às moças de classe média e alta; agora, a
ascensão social para os que pertencem à classe mais pobre da sociedade.
ϰϮ
professor, no 2º grau, perguntava-se como ensinar análise literária a um aluno
que nem reconhecia um substantivo. Opta-se, pois, por um ensino utilitário
com a língua voltada para a oralidade e, dessa forma, adequada à nova
clientela que assola as escolas. Cada vez mais, o ensino torna-se menos
normativo e, portanto, menos rigoroso, em relação aos padrões cultos da
língua. Ensinar gramática passou a ser coisa ultrapassada. Em decorrência,
esse ensino passa a configurar-se pela Teoria da Comunicação: o aluno deve
VHU FDSD] GH ³IXQFLRQDU´ FRPR HPLVVRU H UHFHSWRU GH PHQVDJHQV SHOD
utilização de códigos verbais e não verbais.
não verbais, charges e histórias em quadrinhos. Não são um mal, certamente,
mas não devem ser a exclusividade.
Desde o final dos anos 70, cientes já do caos que se estabelecera no ensino,
decidiu-se pela inclusão de redações em provas e exames vestibulares,
acreditando-se em que se teria nessa atitude uma solução para a crise.
Esqueceu-se, todavia, de que, para a melhoria da expressão de nossos
alunos, não basta o domínio da técnica de redação. Fazer uma boa
dissertação não consiste em estar ciente de que se devem utilizar quatro a
cinco parágrafos, sendo um de introdução, dois ou três de desenvolvimento,
um de conclusão, num espaço de vinte e cinco a trinta linhas. Urge,
tão-somente, uma mudança de atitude do professor quanto às atividades de
produção textual de seus alunos e como avaliar essa produção.
A partir de 1985, os exames vestibulares constatam a permanência do
despreparo dos vestibulandos, que, apesar de todos os esforços, ainda
redigem mal e não entendem o que leem. Matérias jornalísticas apresentam
os erros ortográficos dos candidatos a uma vaga nas universidades.
Percebe-se que a preocupação maior é com a ortografia, esquecendo-se da
expressão como ponto nevrálgico da produção escrita. Em busca de uma
solução, leitura e redação passam a ser exigidas em provas nas escolas de 1º
e 2º graus. Os alunos leem livros impostos pelos professores e, na maioria das
vezes, inadequados à sua faixa etária e grau de cultura. É assim que se viam
alunos de 6ª e 7ª séries sendo obrigados a ler, por exemplo, romances de José
de Alencar e de Machado de Assis, sem que tivessem maturidade para tal
leitura. Uma cobrança inadequada também forçava os alunos a decorarem a
KLVWyULDQDUUDGDSDUDORJRDSyVHVVD³OHLWXUD´VHUDYDOLDGDHPSURYDV
Neste trabalho, após um levantamento histórico do comportamento
pedagógico, em relação ao ensino de gramática normativa, nas décadas de 70
HRDXWRUFRQFOXLTXHD³SHUVHJXLomR´jJUDPiWLFDQRUPDWLYDpWmRHUUDGD
quanto o privilégio dedicado ao código oral, coloquial, em detrimento à norma
FXOWD 6HJXQGR HVWH DPEDV DV DWLWXGHV ³VmR GH QDWXUH]D monolíngue´ H
GHVSUH]DP R IDWR GH TXH ³FDGD IDODQWH p XP SROLJORWD QD VXD SUySULD
OtQJXD´%(&+$5$
Faltava, todavia, uma posição metodológica, que chega até nós, sob o
enfoque linguístico-descritivo de autores, como Franchi, Travaglia, Possenti e
Geraldi, que defendem a gramática reflexiva como a melhor opção de ensino.
ϰϲ
contribuem para o desenvolvimento da criatividade. A solução seria um
trabalho reflexivo sobre a linguagem, de forma a se descobrir a riqueza das
diferentes formas de expressão.
ϰϳ
conhecimentos por meio de um processo contínuo de interação com outros
receptores e com a própria língua, que funciona como código.
4. A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
Começo este capítulo com algumas citações para reflexão:
³$FKRTXHHVWRXILFDQGRYHOKR$LQGDXVRDVFRQMXQo}HVDGPLWRDH[LVWrQFLD
do á-bê-FrHREHGHoRjJUDPiWLFD´ (Carlos Drummond de Andrade).
³Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido,
XPDOWRVHQWLPHQWRSDWULyWLFR0LQKDSiWULDpDOtQJXDSRUWXJXHVD´ (Bernardo
Soares ± Fernando Pessoa).
ϰϴ
(ibid) nos aponta que o saber cientificamente constituído e trabalhado pela
escola passa por transformações no exterior e no interior desta instituição em
diferentes esferas. Uma dessas esferas é o que chamamos de currículo
implícito, ou seja, a transformação dos conhecimentos didáticos formulados
por especialistas que se encontram nos livros didáticos e nas propostas
curriculares são selecionados pelo professor dentro da escola. Esta seleção
não se dá de maneira "pura", mas sendo determinada por vários fatores que
estão permeando o processo de transformação do saber cientifico em saber
escolar. Este espaço de transformação sofre influencias conceituais e
metodológicas é o que Chevallard denomina de noosfera. Todo esse processo
ocorre de maneira inconsciente pelo professor.
uma vez que buscamos investigar as relações existentes dentro da sala de
aula e compreender como fatores externos são geridos pelos docentes. Esta
abordagem considera a prática cotidiana tão importante quanto a teoria e
assume a relevância da "arte de fazer", dá às práticas cotidianas a mesma
importância da teoria. Neste caso, "os saberes" não seriam fruto de uma
transmissão, mas de uma apropriação", considerando-se o contexto próprio
da escola, que é construído por diversos fatores.
especialmente se forem lideranças populares), chegando até a escola. Desde
a Direção, passando pelos professores que deploram a qualidade da leitura e
da escrita dos alunos sem nada terem feito a favor dessa qualidade, que
cometem erros de grafia nos quadros de suas salas de aula e reclamam da
ortografia dos alunos.
alunos a ler (e a nós mesmos também, a partir dessa atitude que acabamos de
adotar) e a escrever de modo a poderem apropriar-se dessa norma linguística.
É nosso dever como educadores, e uma opção deles a de usá-la ou não.
Escutar o que o aluno tem a dizer não significa o paternalismo que se contenta
com qualquer coisa que o aluno tenha escrito, chegando à conclusão de que
dá pra entender o que ele quis dizer na sua fala ou no seu texto, avaliado como
o máximo que ele pode produzir dada a sua deficiente circunstância. Significa
levar o aluno a fazer-se entender, inclusive por ele mesmo, fazer-lhe as
perguntas que o levem a preencher as lacunas que no seu texto representam
as lacunas de seu entendimento; cobrar-lhe as informações necessárias para
torná-lo inteligível, a clareza na expressão da opinião que quer apresentar, os
argumentos que vão dar-lhe respeitabilidade, o encadeamento que vai
capturar o leitor. É cobrar dele o esforço de garimpar os recursos expressivos
necessários para dizer o que tem a dizer.
ϱϮ
escrever melhor o que escreveu, pois a noção de melhor, de qualidade, só
pode ser construída por quem dispõe de termos de comparação.
A aula de Português só faz sentido se for dada por um leitor para leitores, que
só para leitores o estudo da língua escrita não se apresenta como um
problema, mas como a solução de um problema. Por isso, ao encontrar-se, no
sexto ano, um aluno ³alfabetizado´ que, via de regra, além de não se ter
tornado leitor, desenvolveu uma atitude negativa com relação à leitura, não
cabe ao professor de Português apenas lamentar essa constatação, mas
empreender a tarefa de desenvolver o gosto, o hábito e a necessidade da
leitura. O mesmo vale para o professor de Português que se encontra com
esse aluno em todos os outros anos.
Não é apenas a aula de Português que só faz sentido se for dada por um leitor
para leitores; qualquer disciplina pressupõe a leitura como forma de
processamento pessoal e metódico, no ritmo individual da cada um, das
informações e das relações com que construir o saber e com que constituir a
percepção crítica, que só se forma num contato pessoal refletido com
posições confrontantes. Por isso, o professor de Português não vai de forma
genérica ensinar a ler, não será o professor de interpretação de texto. A
tentativa de atribuir-lhe a tarefa de fornecer os instrumentos para que os
alunos consigam compreender textos de História, de Ciências, do que seja,
baseia-se no equívoco de que ler é apenas uma técnica de decodificação do
texto, na errônea presunção de que todo o sentido do texto está contido nas
palavras e frases que o compõem, negligenciando o conjunto de informações
prévias, os sentidos paroquiais das expressões no contexto de cada disciplina
e desconsiderando que as palavras não têm sempre os mesmos sentidos, que
eles variam de acordo com o tema geral a que está vinculado o texto que elas
compõem.
ϱϯ
Além disso, "Cabe à escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral nas
diversas situações comunicativas, especialmente nas mais formais", afirmou o
psicólogo suíço Bernard Schneuwly em entrevista à NOVA ESCOLA em 2002.
Uma primeira medida para resgatar a importância do tema é investir na
abordagem sistemática. A estratégia que deve permear todas as fases da
escolarização é iniciar o trabalho pelas situações comunicativas praticadas
naturalmente em sala de aula. Note-se que não estamos aqui falando apenas
da oralidade (prática sistemática da abordagem dos gêneros orais, como, por
exemplo, palestra, seminário, exposições orais), mas da prática da fala do dia
a dia. Recontar uma história, uma situação acontecida, saber transmitir um
recado, falar sobre o que foi estudo, tudo isso requer do professor práticas de
intervenção.
ϱϰ
questionamento das gramáticas mais tradicionais, por estarem muito presas à
descrição da língua culta.
Para aqueles que querem conhecer bem sua língua e desenvolver a escrita, é
importante conhecer as normas gramaticais e, ao mesmo tempo, acompanhar
as mudanças ocorridas no uso que se faz delas. Esse duplo exercício pode ser
feito cotidianamente, por meio de leitura de livros, jornais e revistas.
Não podemos extinguir o estudo gramatical, pois se estaria deixando para trás
séculos de história e de estudos sobre a linguagem, faculdade exclusiva do
ser humano. Mas se deveria, urgentemente, repensar o estudo da gramática
em sala de aula de maneira que professores possam "ensiná-la" e alunos
compreendê-la e utilizá-la a seu favor.
para o desenvolvimento da fala e escrita. A partir dessas descobertas
conclui-se que todas as matérias básicas são estimuladas pelo psicológico ao
longo de um processo ensino-aprendizagem. Isso ocorre de forma lenta,
interativa, coletiva e contextualizada.
contribuem para que não confundamos os sujeitos dentro das orações.
Não há pesquisas, mas nas grandes agências há casos em que, numa mesma
seleção, sete em cada dez candidatos não passaram no teste porque
cometeram algum erro de português. Estão entre os erros mais comuns:
- FRQFRUGkQFLDYHUEDOGRWLSR³ID]HPFLQFRDQRV´
- gerundismo ± ³YDPRVHVWDUID]HQGR´
- gírias como ± ³GDUXQVWRTXHV´
- OXJDUHVFRPXQVGRWLSR³IHFKDUFRPFKDYHGHRXUR´
- isso sem falar na pontuação e acentuação na hora de escrever.
estrutura e regularidade que é a base da língua e nos possibilita falar sobre o
sistema linguístico.
ϱϴ
conteúdos programáticos verificados, posteriormente, na compreensão e
produção de textos. Deve-se procurar, sempre que possível, contextualizá-los.
ϱϵ
da língua escrita e falada.
ϲϬ
Mas hoje se sabe como ensinar a estrutura da língua, de forma prática, para
que os alunos escrevam melhor.
Essa parte da língua foi relegada porque se acreditava que ela não dava
competência para redigir bem. Nos anos 1990, essa ideia começou a ser
questionada. Tudo o que se vê nos programas de leitura mostrou que esse é
mais um dos componentes a ser abordado quando se fala em reflexão sobre a
língua.
Não há dúvida de que deve ensinar a gramática normativa nas aulas de língua
portuguesa, embora se saiba perfeitamente que ela em si não ensina ninguém
a falar, ler e escrever com precisão. O dever da escola é ensiná-la oferecendo
condições ao aluno de adquirir competência para usá-la de acordo com a
situação vivenciada.
algo que serve de uso em nossas vidas, certamente ficará guardado dentro de
nós, de maneira tal que não esqueceremos. Acredita-se que há possibilidade
da gramática condizer com a nossa realidade, utilizando a própria fala dos
alunos para por isso em prática, por exemplo, quando um aluno expressa algo
comum na fala de sua comunidade como os regionalismos e os neologismos,
pode- se aproveitar a oportunidade e intervir nessa fala, mostrando que,
muitas vezes, há várias formas de dizer a mesma palavra, que a Linguística
explica todas essas variações e posteriormente demonstrar como a gramática
normativa usa essa palavra. Outro ponto que falta no ensino de gramática é
acabar com certas "decorebas", muitas vezes, aprende na escola que os
verbos: ser, estar, continuar, parecer, permanecer, dentro outros, sempre
serão verbos de ligação, e ao avançar nos estudos, leva-se um choque ao se
deparar que depende do contexto do texto ou da frase para esse verbo ser
realmente de ligação.
ϲϮ
É essencial que o aluno aprenda a importância de falar e escrever de acordo
com a norma culta, que é esperada em determinadas situações sociais. Se o
aprendiz a domina, poderá compreender mais o que é dito ou escrito pelas
pessoas mais letradas. Ele vai entender o que foi escrito num tom mais formal,
desfrutar de obras literárias, compreender melhor publicações científicas.
Boa parte dos equívocos que se cometem em classe poderia ser evitada ao
fazer a distinção entre o que são e o que não são regras gramaticais. Estas
são as regularidades, as normas que ajudam a entender como usar e
combinar as unidades da língua para produzir determinado efeito
comunicativo. Nesse grupo estão: a descrição de como empregar pronomes
ou de como expressar exatamente o que se quer pelo uso da palavra
adequada, no lugar certo, na posição certa ou como usar flexões verbais para
indicar determinadas intenções, entre outras
e estratégias linguísticas envolvidas na construção do texto enquanto unidade
de sentido, bem como compreendam e dominem a língua padrão requeri da
em contextos de uso formais. A partir dessa diferenciação é possível planejar
estratégias adequadas e que realmente desenvolvam a competência
comunicativa de nossos alunos.
texto lido. Por trás de atividades dessa natureza, há uma concepção de que a
língua é um código, que está pronta e independe das condições em que é
produzida.
A principal crítica que tem sido feita aos Livros Didáticos reside justamente na
concepção de língua e linguagem adotada explícita ou implicitamente por
esses manuais. Por ser ignorado o caráter multifacetado, dinâmico e interativo
da linguagem, muitas atividades, propostas nos livros como de compreensão,
focalizam apenas a localização de informações e atividades de extrapolação
do texto. Em vez disso deveriam, no entanto, ser privilegiadas as atividades
que levam o aluno a tecer um raciocínio, a elaborar inferências, a construir a
coerência global do texto, a descobrir os efeitos de sentido gerados pelas
escolhas lexicais e sintáticas intencionadas de alguém com objetivos muito
bem definidos dentro de uma situação comunicativa muito particular. Nos
livros didáticos, as questões gramaticais normalmente recebem mais ênfase
do que aquelas que exploram níveis de compreensão, ou o desenvolvimento
de estratégias de leitura e a produção de sentidos. Elementos não verbais
como imagens, diferentes estilos e cores das fontes não costumam ser objeto
de análise. O que importa são os discursos produzidos na e pela linguagem,
as ações que se realizam entre sujeitos situados em um contexto histórico e
social, dentro de uma situação concreta de comunicação.
socioculturais, interacionais, é preciso ensinar aos alunos estratégias para que
consigam mobilizar eficientemente os recursos propiciados pela língua.
5. PESQUISA/METODOLOGIA
ϲϲ
Neste capítulo apresentamos a metodologia desenvolvida na parte prática
deste trabalho e que possibilitou concluir quanto ao questionamento levantado
na Introdução, considerando-se, então os seguintes objetivos:
a) Geral:
A pesquisa se fundamentou na análise sociolinguística de alunos de 8 a
12 anos de comunidades de baixa renda do município de Petrópolis, no
estado do Rio de Janeiro, com vistas a estabelecer um panorama atual da
realidade linguística destas, bem como verificar como isso é trabalhado
nas escolas que atendem a essas comunidades.
b) Específicos
¾ discutir a possível distância entre o uso efetivo pelos alunos e a
prescrição gramatical;
¾ estabelecer, com base nos corpora analisados, as diferenças entre
as noções de L 1 e L2;
¾ conhecer o que os professores do ensino fundamental entendem por
variação linguística e a repercussão deste conhecimento na prática
docente;
¾ propor a adoção de uma postura pedagógica prática e coerente para
tratamento de tais variantes.
5.1 AMOSTRA
ϲϳ
Coletamos na Prefeitura de Petrópolis os elementos disponíveis e proveitosos
para o trabalho, que serviram como paradigma para a avaliação e a análise
dos dados coletados, elementos esses indicados a seguir.
Escolhemos a escola pública, porque é a que mais absorve uma clientela cuja
linguagem pode se afastar mais da norma culta dadas as condições
sócioculturais que implicam diferenças também no publico escolar. Em vista
disso, a pesquisa foi realizada em cinco escolas públicas de Petrópolis, sendo
três localizadas na área urbana e duas na área rural.
dezesseis) docentes, como mostra a Tabela 2, constituindo o universo de
professores.
UNIDADE DE ENSINO 1º 2º 3º 4º 5º
E.M. Monsenhor Cirillo Calaon 1 1 1 1 1
ESCOLA Santa Maria Goretti 1 1 2 3 1
E.M. mons. João de Deus 1 1 3 2 2
Rodrigues
E.M. Avelino de Carvalho 1 1 1 1 1
E.M. Taquaril 1 1 1
Escola Santa Maria Goretti ± Localizada na Rua Dr. Paulo Hervê, 1539 ±
Bingen ± 1º distrito de Petrópolis, com 502 alunos. (135 alunos do
ϲϵ
Fundamental I, 339 alunos do Fundamental II e 28 alunos da Educação
Infantil, com um total de 502 alunos).
PESQUISADA
1º 24 2
2º 14 2
3º 22 2
4º 22 2
5º 22 2
TOTAL 104 10
TABELA 5 ESCOLA SANTA MARIA GORETTI
ANO TOTAL POR ANO QUANTIDADE
PESQUISADA
1º 14 2
2º 21 2
3º 33 2
4º 38 2
5º 29 2
TOTAL 135 10
TABELA 6: ESCOLA MUNICIPAL MONSENHOR JOÃO DE DEUS
RODRIGUES
PESQUISADA
1º/2º 14 2
3/4ºº 17 2
4º/5º 19 2
TOTAL 50 10
ruídos. Depois foram transcritas ortograficamente de acordo com os critérios
definidos no Projeto. As transcrições foram revistas utilizando-se os meios
informáticos de tratamento de áudio, em ambiente Windows. O conjunto de
entrevistas armazenadas em meio digital e suas transcrições constituirão a
base empírica para as análises de aspectos da fonética, fonologia e
morfossintaxe da fala dessas comunidades e do tratamento pedagógico dado
nas escolas da Rede Pública Municipal.
ϳϯ
produzido espontaneamente na fala ou na escrita das pessoas, e portanto
podemos fazer observações precisas sobre o real comportamento linguístico
de gente real. Portanto os corpora podem nos proporcionar informações
altamente confiáveis e isentas de opiniões e de julgamentos prévios, sobre os
fatos de uma língua. O uso de corpora está associado à linguística de corpus.
Para além dos corpora escritos existem também corpora orais, que contêm
gravações de fala. Em geral, corpora orais são apenas utilizáveis quando
transcritos: fornecidos de um arquivo que contém a transcrição da fala. A
transcrição mais comum é a transcrição ortográfica, mas pode também ser
fonética, indicando a pronúncia das palavras do corpus em símbolos
fonéticos.
Trata-se, portanto, dos momentos em que o mínimo de atenção é prestado à
língua, ao como da enunciação. Essa!" partes do discurso falado,
caracterizadas aqui como o vernáculo, constituem o material básico para a
análise sociolinguística''.
O contato inicial foi feito com os diretores das escolas municipais. Nesse
primeiro contato, o pesquisador devia buscar criar um clima de cumplicidade,
ϳϱ
podendo revelar inclusive o real propósito da pesquisa, pois esse contato,
apesar de não ser feito com um informante potencial é fundamental na medida
em que constitui um verdadeiro salvo-conduto para o trabalho junto aos
informantes da pesquisa.
Aos informantes potenciais nunca foi revelado que o pesquisador estava ali
para estudar a sua fala; pois isso vedaria qualquer possibilidade de se
obterem amostras de sua fala espontânea. O pesquisador devia se apresentar
como alguém que pretendia conhecer "a vida do lugar", a história da
comunidade, as experiências de vida de seus membros, os seus principais
problemas, os seus hábitos, as suas festas etc. Ainda assim, a presença do
gravador se constitui em um elemento inibidor da fala espontânea a ser
superado no processo de interação.
ϳϲ
analisá-las.
5.3.1 Professores
Alguns dados foram tabulados e estão apresentados nas tabelas a seguir.
Tais dados, lançados no programa Excel, geraram dois gráficos
(representação, na superfície plana, de um raciocínio esquematizado para
facilitar a transmissão precisa de uma mensagem), indubitavelmente a melhor
forma de comunicação direta, a saber:
¾ histograma, construído pela justaposição de retângulos que
ϳϳ
representam as classes de frequência, isto é, as frequências são
representadas pelas áreas e a frequência total pela área de toda a
figura;
¾ diagrama radial/circular (popularmente conhecido por pizza), no qual as
frequências são indicadas por setores circulares (fatias de pizza),
representando percentuais do todo. Trata-se de um gráfico estético,
muito agradável à vista, de fácil leitura.
ϳϴ
5.3.2 Alunos
instrumento efetivo para a análise, ou seja, ela é feita no sentido de que possa
para uma reprodução mais fiel das características linguísticas do texto oral.
feito primeiramente um destaque para os fatos que não devem ser registrados.
ϴϭ
Esse procedimento visa a facilitar o trabalho de transcrição, pois ao
inquéritos. Obviamente que esta última listagem não contempla toda a gama
de fatos que ocorrerão nos inquéritos. Assim, os fatos novos deverão ser
Chave de transcrição
Indicações preliminares
1. Os intervenientes no inquérito devem ser indicados da seguinte maneira:
DOC: (documentador)
INF: (informante)
CIRC: (interveniente circunstancial)
2.Indicação de trecho ininteligível: ININT
3.Indicação de interrupção do inquérito: INTERRUP
4.O texto deve ser pontuado com moderação
5.Indicação de correção e/ou hesitação com o uso das reticências. Ex: INF: Eu
fui na ró. .. eu fui na feira
Critérios Gerais
1. Deverão ser registrados, com o máximo de rigor atenção, TODOS os fatos
no nível da morfossintaxe, tais como:
a) concordância nominal variável:
Ex.: as coisa tá caro.
estava no roça.
Ex.: [põtSi] > ponte
Obs.: palatalizaçõHV FRPR HP >
PXW6X@ >QRW6H@ H >µdodZyo] devem ser
registradas: muntcho, notche, dôdio;
c) nasalização.
Ex.: ingual por igual; ingnorância por ignorância.
ϴϯ
g) ditongação.
Ex.: saudia por sadia.
Em relação às consoantes
a) o "ieísmo".
Ex.: muié por mulher; véizim por velhozinho; trabaio por trabalho.
b) o rotacismo.
Ex.: pranta por planta; prantação por plantação.
Inserção e supressão de segmentos fônicos
a) inserção de segmento no início do vocábulo.
Ex.: ieu por eu ; amonté por montar; evém por vem.
h) aglutinação.
Ex.: nestante; vumbora.
i) elisão.
Ex.: qu'eu; déx'eu; pr'ecuié; sistrompõ; mand'ele vim m'imbora; qu'é por que é;
e comprende por compreende.
ϴϰ
j) redução de terminações verbais.
Ex.: cantaro ou cantarum por cantaram; brincano por brincando.
5.5 Procedimentos
Nesta seção apresenta-se um breve comentário sobre o detalhamento das
principais atividades desenvolvidas e algumas já apresentadas ao longo deste
Capítulo, além de se indicar o caminho percorrido para a elaboração do
trabalho, que se traduz sequencialmente nas ações apresentadas nos itens a
seguir.
5.5.1 Objetivo
Para evitar repetições, deixa-se de transcrever neste item os objetivos já
ϴϱ
indicados na Introdução deste trabalho. Este, limitado ao Município de
Petrópolis - RJ, pretende estabelecer um panorama atual da realidade
linguística destas, bem como verificar como isso é trabalhado nas escolas
que atendem a essas comunidades.
5.5.3 Pesquisa
A aplicação dos questionários foi realizada nas três semanas finais do mês de
março e primeira semana do mês de abril.
ϴϲ
5.5.4 Coleta de dados
Paralelamente à pesquisa, atuamos junto aos órgãos da Prefeitura de
Petrópolis para compilação dos dados existentes ou em desenvolvimento que
fossem de interesse para o trabalho a serem utilizados como referência.
ϴϳ
d) nasalização.
Ex.: ³ingual´ (igual); ingnorância (ignorância³muinto".
h) aglutinação.
Ex.: ³nestante´; ³vumbora´.
j) o rotacismo.
([³SUREUHPD´³SUDQWD´
ϴϴ
6. Os alunos apresentam dificuldade quando isso é feito? De que forma?
4XHVWmR 2 TXH p SDUD YRFr D ³OLQJXDJHP RUDO´" GLVWLQJXLU GH
oralidade)
Um grupo de respostas revela uma visão do oral reduzido ao conceito de fala.
Assumimos, aqui, a distinção apontada por Marcuschi (2004) entre oralidade e
fala: a primeira, considerada como prática social de uso da linguagem oral; a
segunda, correspondendo ao contraponto formal de tal prática. Nesse sentido,
um primeiro grupo de respostas deixa ver uma concepção do oral que o limita
meramente a aspectos formais, descaracterizando-o enquanto prática social.
Seguem-se alguns trechos transcritos de algumas dessas respostas:
, ³/LQJXDJHP RUDO SDUD PLP p FRPR DV SHVVRDV XWLOL]DP D IDOD VHQGR
considerada como XPFyGLJRDTXDOVLFFDGDOXJDUWHPRVHX´
,,³$OLQJXDJHPRUDOHVWiUHODFLRQDGDjTXHVWmRGHH[SUHVVDU-se oralmente,
ou seja, através (sic) GDIDOD´
,,,³3Dra mim a linguagem oral é a expressão oral de ideias, ou seja, a forma
de expressar SHQVDPHQWRV´
IV³$OLQJXDJHPRUDOpDWUDQVPLVVmRGHLQIRUPDo}HVDWUDYpVGDIDOD´
V³/tQJXDRUDOpDOtQJXDGHFDGDSRYR2UDOLGDGHpDIRUPDGHH[SUHVVmRGH
cada líQJXDRUDO´
9,³/tQJXDRUDOpDOtQJXDIDODGDMiDRUDOLGDGHpDIRUPDFRPRHVVDOtQJXD
RUDOpIDODGD´
9,,³/tQJXDRUDOpDIRUPDTXHXVDPRVSDUDQRVFRPXQLFDUSRUH[HPSORVLF
DOtQJXDTXHIDODPRVRVYRFiEXORVTXHSURQXQFLDPRV´
ϴϵ
Nesse conjunto de respostas, o que se evidencia é que a representação do
oral está calcada numa concepção tradicional de língua como expressão do
SHQVDPHQWRRXDLQGDQXPDFRQFHSomRHVWUXWXUDOLVWDGHOtQJXDFRPRµFyGLJR¶
ou sistema linguístico, mero instrumento de comunicação. Nessa perspectiva
extremamente redutora, a oralidade corresponde à versão oral desse sistema
de comunicação, capaz de transmitir ao receptor uma mensagem, através da
fala.
XII ³/tQJXD RUDO YHMR FRPR D OtQJXD IDODGD VHP QHFHVVDULDPHQWH WHU TXH
obedecer à norma culta. Oralidade considero como a forma em que o aluno
organiza suas ideias para expressar-VHGHQWURGHXPFRQWH[WRVLWXDomR´
ϵϭ
aluno saiba adequar essa linguagem às diferentes situações, porém a escola
não pode desconsiderar que esse sujeito já utiliza a língua oral desde seus
SULPHLURVSDVVRV´
XIV ³6mR DV PDQLIHVWDo}HV GH IDOD VHMD XPD FRQYHUVD HQWUH DPLJRV XP
debate, um VHPLQiULRHQWUHRXWURV´
XV. ³eDOLQJXDJHPRUDOpRIDODGR(VWmRSUHVHQWHVQDOLQJXDJHPRUDOYiULRV
gêneros, como: bate-papo, argumentação, pergunta e resposta, aula
H[SRVLWLYDHWF´
XVII³(QVLQDUDOLQJXDJHPRUDOQDHVFRODGHYHHVWDUOLJDGRFRPVLWXDo}HVQmR
corriqueiras como ³EDWH-SDSR´RXIDODUFRPXPFRQKHFLGRDRWHOHIRQHPDVVH
cabe à escola preparar o aluno para uma futura formação, então temos que
buscar gêneros que o preparem SDUDRPHUFDGRGHWUDEDOKR´
XVII³$OLQJXDJHPRUDOGHYHVHUHQVLQDGDQDHVFRODDWUDYpV(sic) da
utilização de alguns gêneros como o debate, seminário etc, que colocam o
DOXQRHPFRQWDWRFRPWDOOLQJXDJHP´
ϵϮ
,³6LP6HIRUQRVHQWLGRGHOtQJXDFXOWDSDGUmRVLFWRGRVDFDEDPWUD]HQGR´
II. Os alunos geralmente não falam obedecendo a (sic) norma culta e sim
utilizando uma linguagem mais coloquial.
,,,³6LP'DIRUPDFXOWXUDOGRFRQWH[WRHPTXHYLYHP´
,9³7RGRVRVDOXQRVDSUHVHQWDPHVVDIRUPDFRORTXLDOGHIDODU´
9³6LP2VDOXQRVFKHJDPjHVFRODIDODQGR³FKXYHQR´H³DFDPSDQR´
9,³7RGRVRVPHXVDOXQRVFKHJDPIDODQGRDVVLP´
9,,³7RGRVHOHVXVDPDOtQJXDGHVXDFRPXQLGDGH1yVRXYLPRVRWHPSRWRGR
³DFKDPX´H³ROJXpP´SRUH[HPSOR´
9,,, ³&RP H[FHomR GH XP RX RXWURFKHJDP VLP(OHVGL]HPSRU H[HPSOR
³WpQLFD´WpFQLFD³EXHFD´ERQHFD´
,;³6LPWRGRVHOHV³ROXJi´³YRXSDUi´
; ³6LP 7URFD GH IRQHPDV IDOD LQIDQWLOL]DGD JtULDV YRFDEXOiULR DEDL[R GD
IDL[DHWiULDHSRXFDDUWLFXODomRGHSDODYUDV´
;,³6LP0XLWRVIDODPGHDFRUGRFRPDIRUPDIDODGDHPVXDVFDVDV&Rmo
muitos vivem em um meio simples, onde pais e avós tiveram pouco acesso à
(sic) estudo, estudo e cultura, acabam assimilando a maneira falada em
IDPSLOLD´
Verifica-VHTXHDOJXQVSURIHVVRUHVSHQVDPTXH³OLQJXDJHPPDLVFRORTXLDO´p
a em que se utilizam fRUPDFRPR³DJHQWHYDPX´H³ELQFDQR´
IV. ³$WUDYpV(sic) da análise dos textos apresentados na escolha de livros para
a leitura em voz alta e também no estudo da gramática dentro da proposta
FXUULFXODU´
V. ³+RMHHPGLDQmRSRGHFRUULJLUHQWmRHXVyWUDEDOKRFRPWH[WR´
VI. ³(XQmRFRUULMRLPHGLDWDPHQWHPDVYRXVHOHcionando textos que com os
TXDLVSRVVRWUDEDOKDUHVVDTXHVWmR´
VII. ³Eu vou apresentando aos alunos a outra variedade (sic), a outra forma à
PHGLGDTXHHOHYDLVHVLFH[SUHVVDQGR´
VIII. ³(XQmRFRUULMR9RXSURSRQGRDWLYLGDGHVGHIDODSDUDPRVWUDUDRXtra
IRUPD´
IX. ³(XQmRFRUULMRLPHGLDWDPHQWH)DoRDWLYLGDGHVGLYHUVDVFRPRSURGXomR
WH[WXDO´
X. ³+RMHHPGLDILFDDWpGLItFLOGL]HUSRLV³FRUULJLU´pDOJRTXHHVWiGHVXVR0DV
(sic) acho que com leitura de textos variados em gêneros e diálogos constante
VLFLVVRVLFSRVVDIDYRUHFHURWUDEDOKR´
;,³)DoROHLWXUDGHWH[WRVGHJrQHURVYDULDGRVHDWHQWRSDUDDQRUPD´
;,,³(XQmRFRUULMRVHPSUH9RXDQRWDQGRRVHUURVSDUDGHSRLVWUDEDOKDUFRP
eles a YDULDQWHFXOWDVLF´
;,,,³$WUDYpVVLFGRH[HPplo, procurando falar e apresentar no meu falar
FRPHOHVDQRUPDFXOWD$WUDYpVVLFGHOHLWXUDFRQVWDQWHGHWH[WRVGLYHUVRV´
;,9³3URFXURIDODUFRUUHWDPHQWHHDSUHVHQWDUDIRUPDFXOWDVHPLPSRVLomR´
Podemos perceber que a maior parte dos professores opta por situações
FRPXQLFDWLYDVTXHWUDEDOKDPFRPDRUDOLGDGH*UDQGHSDUWHQmR³FRUULJH´RV
alunos e usa o trabalho com gêneros variados para solucionar o problema.
1yV QRV SHUJXQWDPRV VH R SURIHVVRU TXHU ³FRUULJLU´ R DOXQRV TXDO JrQHUR
escolher para o trabalho? Ainda assim, será que o resultado que o professor
TXHUDWLQJLU"2XWURIDWRH[LVWHQWHGRSRQWRGHYLVWDQHXUROyJLFRpRGR³HUUR´
Se o aluno fala de determinada forma (ver o que se disse anteriormente na
ϵϰ
seção 2.4, ele acha que isso está certo. Quanto mais se demora para mostrar
a forma culta, maior dificuldade terá o alunos em condicioná-la. Levamos um
PLQXWR SDUD DSUHQGHU ³HUUDGR´ H XP DQR SDUD ³GHVDSUHQGr-OR´ $WLYLGDGHV
como as apresentadas pela fala IV são extremamente válidas (ver seção 4.2).
;,,, ³(OHV acham essa forma de falar estranha e alguns levam tempo para
SURQXQFLDUDRXWUDIRUPD´
;,9 ³$FKR TXH PXLWRV GHOHV QXQFD RXYLUDP IDODU Dssim e acham muito
estranho. Às vezes, o trabalho é estressando, pois leva tempo para ver o
UHVXOWDGR´
;9³1mR´
XVI. Alguns demoram a modificar sua forma de falar mesmo com as inúmeras
intervenções, já que os hábitos em família prevalecem. Já os que tem (sic)
maior acesso à norma culta em casa, (sic) conseguem reter melhor as
LQWHUYHQo}HVIHLWDVHSDVVDPDIDODUDGHTXDGDPHQWHFRPPDLVIDFLOLGDGH´
6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
ressaltando sua importância na formação de crianças e jovens.
uma estrutura cognitiva - uma forma de pensar sobre si ou sobre o real -
mais sofisticada e complexa.
¾ Aprender é mais motivador quando o aluno já tem alguma ideia do que
está sendo ensinado e foi informado de como os novos conhecimentos
podem fazer sentido em sua vida.
¾ A aprendizagem vivenciada é duradoura. Se os alunos têm
oportunidade de exercitar seus conhecimentos, aplicando-os em
atividades práticas, a aprendizagem é sólida.
¾ As aprendizagens precisam ser repetidas para serem dominadas. Se a
repetição for feita de forma inteligente e variada, usando estratégias
estimulantes e diversificadas, o aluno não se aborrecerá, permanecendo
interessado em aprender. A aprendizagem é mais sólida quando se
conhecem os erros cometidos. Continuar a aprender depende da
consciência que se tem da natureza dos erros que se fez. Por isso o
professor deve fornecer ao aluno indicações claras acerca do que errou
e por que errou. Quando o estilo cognitivo do aluno é entendido, ele
pode aprender melhor. Os alunos apropriam-se do conhecimento de
forma impulsiva ou reflexiva, flexível ou rígida, considerando poucas ou
muitas variáveis. Diferentes abordagens no desenvolvimento dos
conteúdos contribuem para atender melhor a todos.
¾ "Aprender a aprender" é fundamental para que o aluno conquiste
autonomia. Para isso, é preciso que ele adquira consciência do que
sabe e perceba que é capaz de prender, preparando-se para continuar
aprendendo. Assim ele estará apto a buscar sozinho a informação,
assimilá-la, organizá-la e empregá-la.
Este estudo corrobora e ao mesmo tempo afirma que a língua concebida como
meio de integração social, requer a defesa de suas variações, sem ignorar a
importância do domínio da norma linguística (sempre referir-se ao que foi dito
ϵϴ
em relação à variação diastrática). Não se pode fechar os olhos à realidade
linguística: a variedade. Toda variedade tem uma regularidade, não é um
caos. A sociedade deve respeitar as variações linguísticas que o falante usa
para interagir, mas também deve preocupa-se com a norma culta, já que a
maioria dos usuários não têm acesso a este tipo de linguagem.
ϵϵ
Por isso, é nossa tarefa na escola ajudar os alunos a refletir sobre sua língua
materna. Essa reflexão torna mais fácil para eles desenvolver sua
competência e ampliar o número e a natureza das tarefas comunicativas que
já são capazes de realizar, primeiramente na língua oral e, depois, também,
por meio da língua escrita. A reflexão sobre a língua que usam torna-se
especialmente crucial quando nossos alunos começam a conviver com a
modalidade escrita da língua.
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ϭϬϱ
ANEXO A: TEXTOS COMPLEMENTARES
TEXTO 1: O NOME É IMPORTANTE NA COMUNICAÇÃO
Nome antigo de Constantinopla: BIZÂNCIO
Nome antigo do Tietê: ANHEMBI
Nome coletivo de camelos: CÁFILA
Nome coletivo de chaves: MOLHO
Nome coletivo de estrelas: CONSTELAÇÃO
Nome coletivo de macacos: CAPELA
Nome coletivo de cães: MATILHA
Nome coletivo de artistas: ELENCO
Nome coletivo de lobos: ALCATEIA
Nome coletivo de ciganos: PANDILHA
Nome coletivo de desordeiros: CORJA
Nome coletivo de cônegos: CABIDO
Nome coletivo de maltrapilhos: FARÂNDOLA
Nome coletivo de jornais: HEMEROTECA
Nome coletivo de quadros: PINACOTECA
Nome do mau ladrão: GESTAS
Nome disfarçado: PSEUDÔNIMO
Nome do primeiro homem bíblico: ADÃO
Nome genérico das doenças mentais: PSICOPATIA
Nome do anfiteatro romano: COLISEU
Nome indígena de Diogo Álvares Correia: CARAMURU
Nome que os índios davam ao tabaco: PETEMA
Nome vulgar da varicela: CATAPORA
Nome da maior ave dos Andes: FALCÃO
Nome grego das três graças: CÁRITES
Nome dos jogos olímpicos: OLIMPÍADA
Nome popular de Antônio Francisco Lisboa: ALEIJADINHO
Nome de um Orixá: XANGÔ
Nome de um dos reis magos: BALTAZAR
Nome de Simão Pedro dado por Cristo: CEFAS
Enfim, assinalou Napoleão Mendes de Almeida:
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(Fontes: vários dicionários, especialmente de Maria L.J. Rivellino)
irrecusável. Com R$ 4 no bolso, ele entrou na loja localizada no centro de
Guarabira, agreste da Paraíba, e pediu chips -- com os quatro aparelhos
celulares correspondentes. Ele havia registrado a oferta com uma foto antes
de ir ao trabalho e decidiu fazer a compra no final do expediente.
"Passei na loja e pedi: me veja (sic) quatro aparelhos de R$ 1 da
promoção", contou Damião.
O atendente da loja "explicou" o anúncio. Na verdade, disseram, o
redator queria dizer que os chips da operadora em questão sairiam por R$ 1
no caso da compra de qualquer celular adquirido pelo preço normal de tabela.
A confusão começou. O professor acionou a polícia, que levou todo
mundo para o 4º DP (Distrito Policial). Isso aconteceu no dia 22 de janeiro.
"Eles [os funcionários da loja] tentaram me humilhar, ameaçar, iludir,
mas não arredei o pé e esperei a presença da PM", conta o professor. "A
polícia orientou que deveríamos ir à delegacia já que a loja se negava a
cumprir o anunciado", contou Damião, destacando que sempre observa erros
gramaticais em anúncios.
Na delegacia, as partes chegaram a um acordo. Damião recebeu a
doação de um vale de R$ 100 para aquisição de um aparelho. Com chip.
"Caso não chegassem a um acordo, teria de se usar a Justiça e as partes
resolveram se entender logo", disse um agente do 4º DP.
Damião voltou à loja e escolheu um aparelho com dois chips mais
câmera. A nota fiscal veio no valor de R$ 98,70. O caixa da loja tentou
devolver o troco de R$ 1,30, relata o cliente. "Deixei de caixinha", conta.
"Fiz isso para que eles aprendam a escrever de forma correta e nos
respeitem como consumidor", afirmou o professor que leciona história, filosofia
e sociologia.
Disponível em:
http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/01/27/saiba-como-um-erro-de-portu
gues-virou-caso-de-policia-na-paraiba.htm. Acesso em: 16/02/2015.
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empenham em estudar mais a fundo. E, para piorar, serve de acusação contra
os linguistas por parte de pessoas que pretendem, com isso, desqualificar o
trabalho dos pesquisadores e tentar preservar a ferro e fogo uma concepção
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acusações injustas que não correspondem a nada que linguistas sérios já
escreveram ou disseram em público. Para se opor, então, ao que os linguistas
jamais disseram, os defensores de uma concepção de língua (e de sociedade)
arcaica e pré-FLHQWtILFDDSUHJRDPR³HQVLQRGDJUDPiWLFD´HDLQFXOFDomRGH
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educacionais brasileiros.
A língua é muito, muito, muito e muito mais do que um simples
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cognitiva, ela é palco de conflitos sociais, de disputas políticas, de propaganda
ideológica, de manipulação de consciências, entre muitas e muitas outras
coisas. A manipulação social da língua nos leva a votar nessa ou naquela
pessoa, a comprar tal ou qual produto, a admitir que determinado evento
ocorreu de determinada maneira e não de outra, a aderir a uma ideia, a
acreditar nessa ou naquela religião, e por aí vai, e vai longe...
No mercado financeiro, por exemplo, tudo se faz por meio das palavras.
Os títulos negociados na Bolsa de Valores não têm existência concreta, são
mera abstração, dependem exclusivamente do que se diz ou do que se deixa
de dizer: basta lançar um boato sobre uma empresa, dizendo que ela está
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(de terras, por exemplo) outrRV FKDPDP GH ³RFXSDomR´ GH iUHDV
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enquanto para os de outra são perfeitamente justificados e bem-vindos. O que
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contra os Estados Unidos.
A língua é nossa faculdade mais poderosa, é nosso principal modo de
apreensão da realidade e de intervenção nessa mesma realidade. Vivemos
mergulhados na linguagem, não conseguimos nos imaginar fora dela ²
estamos mais imersos na língua do que os peixes na água. Não existe um
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Além disso, a língua é um fator importantíssimo na construção da
identidade de cada indivíduo e de cada coletividade. Ela tem um valor
simbólico inegável, é moeda de troca, é arame farpado capaz de incluir alguns
e excluir muitos outros. É pretexto para exploração, espoliação, discriminação
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e até mesmo massacres e genocídios, como já vem expresso num conhecido
episódio bíblico.
Numa guerra entre duas das tribos de Israel, os galaaditas e os
efraimitas, os primeiros se apoderaram dos vaus do Jordão, trechos rasos que
podiam ser atravessados a pé. Quando alguém atravessava o rio, os
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variedade linguística dos efraimitas, a palavra era pronunciada sibboleth, sem
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matavam nos vaus do Jordão. Caíram naquele tempo quarenta e dois mil
KRPHQVGH(IUDLP´-Xt]HV-6). Por isso o termo shibboleth é usado para
designar qualquer elemento social empregado para discriminar ou mesmo
exterminar uma pessoa ou um grupo de pessoas. No dicionário Houaiss ele
vem registrado como xibolete.
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julgamentos sociais, positivos e negativos, que configuram a nossa cultura.
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ingenuamente se pensa: é comunicar quem somos, de onde viemos, a que
comunidade pertencemos, o quanto estamos (ou não) inseridos nos modos de
ver, pensar e agir do nosso interlocutor.
Assim, numa sociedade, como a brasileira, tradicionalmente excludente
e discriminadora, é fundamental que a escola possibilite a seus aprendizes o
acesso ao espectro mais amplo possível de modos de expressão, a começar
pelo domínio da escrita e da leitura, direito inalienável de qualquer pessoa que
viva num país republicano e democrático. A leitura e a escrita, o letramento
enfim, abrem as portas de incontáveis mundos discursivos, aos quais os
aprendizes só vão ter acesso por meio da escolarização institucionalizada.
Por conseguinte, não basta ter o que dizer. É preciso saber dizer o que
se tem a dizer: saber usar os múltiplos recursos que a língua oferece para a
interação social. E isso é função imprescindível da escola: ensinar a dizer. E,
evidente, é preciso também conquistar o direito de poder dizer.
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