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INSTITUTO DE FILOSOFIA SANTO TOMÁS DE AQUINO – INFISTA

HERMENÊUTICA

José Augusto Scudilio Junior

SÃO CARLOS
Maio/2023
José Augusto Scudilio Junior

Trabalho apresentado ao curso do


Instituto de Filosofia Santo Tomás de
Aquino em disciplina Hermenêutica.

Professor: Padre Marcos Eduardo Coró.

SÃO CARLOS
Maio/2023

HERMENEUTICA CLASSICA E HERMENEUTICA FILOSÓFICA (1968)


No capítulo segundo do livro Gadamer apresenta o conceito de Hermenêutica,
discorrendo que primeiramente ele se apresenta como uma práxis artística, ou seja, arte
no sentido de anúncio, de interpretação, tradução e explicitação daquilo que está sendo
objeto de estudo, como um texto de uma obra. Aponta que a tarefa do hermeneuta se
consiste em traduzir o conteúdo para que seja possível ser apresentado de um modo
acessível a todos, aquilo que previamente se encontra obscurecido, no entanto, essa
tarefa propõe e se fundamenta em uma certa liberdade.
Também, a apresenta com uma certa semelhança a mântica de Platão, no sentido
de arte que vai além no sentido de compreender o seu sentido daquilo que se apresenta,
mas, também, e por ela, consegue prever os caminhos a trilhar no seu futuro, naquilo
que se refere ao seu desenvolvimento e o aperfeiçoamento da linguagem.
Ao longo de seu desenvolvimento o processo Hermenêutico se apresentou por
diversos significados, também como arte de significar; explicar; comentar; traduzir;
esfera do sagrado; modo de compreender e explicitar o que está oculto; aptidão prática
do que é propriamente ciência, etc. Passando pro diversas teorias, filósofos e pensadores
diferentes que se opunham muitas vezes em debates a cerca de técnicas ou modos de
proceder.
Gadamer aponta que a hermenêutica hoje se apropria do conceito moderno de
ciência, a partir de uma busca por uma consciência metodológica, onde não fica apenas
como um modo de interpretação, de extração do conhecimento das coisas, mas, de tal, é
também capaz de justificar tais coisas teoricamente. Mesmo quando se refere a sua
própria fundamentação teórica, no que se refere as relações comunicativas do homem,
na visão de sua esfera cultural e linguagem específica, costumes, etc. Neste sentido, ela
avança para diversas áreas de atuação, como a teológico-filosófica, hermenêutica
jurídica, entre outras.
Em primeiro momento, no seu surgimento, muito se discutia sobre o processo
hermenêutico alegórico, ou seja, do modo como as coisas se apresentam como tal, em
exemplo, como eram feitas as primeiras interpretações dos textos sagrados na alta idade
média, e aos poucos, foram identificando e acrescendo novas necessidades a serem
consideradas em uma análise, tradução e extração do que está ali descrito, como
aspectos de linguagem, cultura, gêneros textuais, figuras de linguagem etc. Com o
tempo, pensadores refutaram o método alegórico, muito utilizado neste período e
trouxeram a Hermenêutica um novo impulso de reforma, buscando uma nova
objetividade para o método, se ligando ao objeto e livre de todo arbítrio subjetivo, ou
seja, de concepções externas. Mas, buscava olhar adequadamente para suas próprias
normas, buscando uma nova forma de compreensão.
Com essa nova busca objetiva, fugindo do objetivismo, a hermenêutica começa a
se renovar no sentido de buscar as questões originárias, desvelar aquilo que estava
encoberto ou mesmo desvirtuado, no campo da análise e interpretação.
Passando por vários momentos, inclusive que marcaram a reforma protestante, a
hermenêutica em Schleirmacher se desvincula da teoria universal da compreensão e do
interpretar, ou seja, defendia a cientificidade da teologia, e colocava em questão a
verificabilidade metodológica da compreensão especialmente da Sagrada Escritura, com
recursos da exegese textual, da teologia histórica, da filosofia etc., passa a ser uma
motivação filosófica.
Assim, a hermenêutica se torna base de todas as ciências históricas do espírito,
não somente da teologia, saindo de caráter dogmático e buscando funções originárias na
mediação. Tal como, consolidando que compreender é a repetição da produção
originária do pensamento, com base na congenialidade dos espíritos.
Com Dilthey, na expressão de sua psicologia compreensiva, toma como base a
hermenêutica para o desenvolvimento dos seus saberes a respeito da experiencia
humana, ancorada nas dimensões do historicismo, buscando bases de concepções de
mundo, e como essas manifestações se expressavam na vida, em favor de uma
consciência histórica.
Posteriormente a filosofia existencial em Heidegger, em Ser e Tempo, trás que a
autocompreensão pode encontrar além de fundamentação ontológica, pois está no
caráter do devir da existência, Dasein, ou seja, alcançar a compreensão a partir da
própria existência, como um projetar-se de possibilidades de si próprio. Neste sentido,
refletindo se o sentido de um texto, esgota-se apenas no sentido em que o autor teria em
mente, ou seja, se serviria apenas para se expressar naquele intuito, ou se pelo proceder
hermenêutico pode ir além daquilo que se acreditava ser.
Na hermenêutica filosófica, diferentemente da hermenêutica clássica, pode-se
entender que o compreender só é possível quando aquele que compreende coloca em
jogo os próprios preconceitos. A Contribuição produtiva do intérprete pertence de
modo inalienável ao próprio sentido de compreender. Assim, ela desloca-se ao sentido
de uma compreensão objetiva, mais esclarecida e distanciada de princípios e
características metafísicas presentes em sua visão clássica.
Sendo assim, entendemos a hermenêutica hoje, como uma prática que implica
em compreensão de algo do outro, e que para isso seja possível, é necessário uma auto
crítica, e que toda a sua centralidade, depende de sua integração com a ciência prática,
juntamente com o saber filosófico e histórico. Especialmente utilizando da dialética, o
diálogo, a conversa, isso permite que preconceitos sejam deixados de lado e se alcance a
natureza real daquilo que puramente está sendo refletido pelo autor.

REFERENCIA
GADAMER, H. G. Hermenêutica clássica e hermenêutica filosófica. 1968.

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