Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
O presente trabalho visa mostrar a ligação entre Educação e Hermenêutica, buscando a relação entre os
conceitos, de forma a contribuir para a compreensão da Educação voltada para a realidade. Busca-se a
compreensão da Hermenêutica como paradigma filosófico, que mostra como a arte da interpretação pode
oferecer uma nova forma de organização da educação, ou seja, uma educação voltada ao diálogo e à
análise da realidade. Ao longo do texto, o conceito hermenêutica é tematizado em sua importância para a
compreensão da educação enquanto formação humana e como possibilidade da retomada do diálogo e da
reflexão no meio educacional.
1 INTRODUÇÃO
A Educação enquanto conceito vem sendo discutido ao longo dos séculos pela sociedade, uma vez
que o homem, sempre buscou uma melhor forma para poder se relacionar com os outros. Pode-se fazer
uma analise hermenêutica que desde o período da Grécia antiga, os poetas é que eram os educadores da
cidade, e por meio das declamações dos poemas, se reproduzia a historia dos seus ancestrais, e os
filósofos queriam ter essa influencia na educação da cidade, pois a filosofia tinha uma forte ligação com a
política, e era a melhor maneira de formar os cidadãos bons comprometido com a polis. Falar em
educação remete ao pensamento hermenêutico exige pensar a hermenêutica como uma forma de provar
que as verdades não são absolutas e que são inúmeras as formas de se chegar até elas. Sendo assim a
hermenêutica foge dos métodos científicos para se chegar a verdade, ela é o modo filosófico de pensar o
mundo. No que tange à Educação, a Hermenêutica como método serve como base relevante pelo fato de
que o ponto fundamental da hermenêutica filosófica é o diálogo, pois somos seres inacabados e a
compreensão sobre nós mesmos, sobre o outro e o mundo deve acontecer através da linguagem. Sendo
assim, é através do contato com o outro e com o mundo que ampliamos nossa capacidade de interpretação
e compreensão. De acordo com Hermann,
A Hermenêutica tem uma origem mitológica na figura do deus Hermes, deus mensageiro, aquele que
lida com o significado. Ao longo dos séculos, foram se desenvolvendo “várias hermenêuticas” e entre elas
podemos citar a Hermenêutica jurídica, a Hermenêutica teológica e a Hermenêutica filosófica, esta última
a mais conectada à Educação e à capacidade dos educadores de compreender a realidade na qual precisam
atuar. HERMANN (2002) nos fala da importância da hermenêutica na educação, como possibilidade de
reflexão sobre o campo educacional e de fazer novas interpretações sobre o sentido e formação do seu
modo do ser, por um debate a respeito da racionalidade que atua na ação pedagógica. Utilizando-se da
hermenêutica gadameriana, Hermann (2002) afirma que a educação é o lugar do diálogo, o lugar onde a
palavra e a reflexão ultrapassam o domínio do conhecimento e a formação do ser do educador como
profissional da educação passa por desvendar a si mesmo como ser humano, em primeiro lugar. A
Educação e a Hermenêutica, sem dúvida, têm grande importância para a transformação da realidade, pois
abrem caminhos para o aperfeiçoamento do ser humano e suas possibilidades de poder conviver melhor
consigo mesmo e com o outro. Hermenêutica e Educação acentuam a importância do diálogo na
construção de uma nova educação, conduzem a um pensar mais elaborado sobre a compreensão da
realidade social e da educação.
Falar em hermenêutica filosófica voltada para a educação e para a formação dos indivíduos,
significa dizer que dela lançamos mão para embasar o fato de que não há tempo certo para a compreensão
dos fatos, dos “conteúdos”, ou seja, a compreensão do sentido dos atos educativos depende, em primeiro
lugar, da interpretação que cada um fará do fato. Cada ser age e compreende um fato de uma forma,
baseado na realidade da qual faz parte e, conforme Hermann (2002) “,a partir de uma relação que vincula
os indivíduos.” (p.52-53) A compreensão não acontece, então, de forma isolada, desde um sujeito apenas.
Por isso, não se pode estabelecer um tempo para a construção de um conhecimento, ou somente pensar
em construí-lo através de métodos científicos, pois no processo de construção e desconstrução do
conhecimento existem diversas formas de se inserir e de conhecer a realidade na qual se insere.
A Hermenêutica se opõe ao “Mito do Objetivismo” (Hermann, 2002), ou seja, para ela não existe
uma verdade objetiva, existe, sim, o fenômeno de compreensão. Há, sim, as experiências, que possuem
dimensão altamente positiva e educativa. Gadamer nos lembra a possibilidade educativa da experiência,
que desobscurece expectativas, trazendo a dor do crescimento. “A autêntica experiência implica acumular
compreensões que não são objetiváveis” (Hermann, p. 55).
A hermenêutica é um modo de filosofar típico dos séculos XX e XXI e seu problema central é a
interpretação, ligada à construção do sujeito e do seu saber. Em outras palavras, a hermenêutica adquire
destaque no cenário filosófico hodierno, sobretudo devido a seu alinhamento com uma nova maneira de
filosofar que indica uma orientação para a linguagem e também uma revitalização da filosofia prática.
Desde a mitologia, a hermenêutica possui a função de explicitar o que está escondido, de descobrir
mensagens, envolvendo a linguagem no processo de descobrir e mostrar, encobrir e revelar. A
hermenêutica foge dos métodos de chegar à verdade (científicos), sem deixar de ser, entretanto,,a forma
de desvendar e compreender o mundo. Traduz, explica, como modo filosófico de compreender o mundo,
o próprio mundo...
Sendo a Hermenêutica o modo de compreender o mundo, e paradigma filosófico que oferece bases
para uma educação aberta a descobertas, que ocorre por meio da experiência e da compreensão do
mundo, oferece alternativas inclusive explicativas para uma educação estanque...A educação, tendo como
base a Hermenêutica como interpretação da vida e do mundo na construção do conhecimento, acaba por
ser uma crítica ao tipo de educação bancária criticada pelo autor Paulo Freire.
A tarefa da Hermenêutica não é fazer com que as verdades sejam dadas e baseadas em simples
métodos e como impenetráveis pela realidade, pois a verdade encontra-se imersa na dinâmica do tempo.
Por ser a arte de interpretar, a hermenêutica possui como horizonte provar que a verdade não pode ser
absoluta. O alcance da verdade é propiciado pelo caráter de abertura que o método hermenêutico oferece,
o que faz com que existam inúmeras formas de se chegar até ela. DEMO (1996), afirma que a educação
não é somente uma ação de treinar o estudante, a exercer uma atividade e defende a ideia que o educando
vai construindo a sua autonomia por meio da pesquisa. Paulo Freire (1996) assevera que a educação não
deve ser uma mera transmissão de conhecimentos, mas deve criar uma possibilidade para o educando
construir o seu próprio conhecimento, baseado no conhecimento que traz, desde seu dia-a-dia familiar.
Sendo assim, interpretar a realidade à luz da Hermenêutica significa estarmos atentos à realidade social
do educando e tem a ver com valorizarmos seu conhecimento e sua bagagem cultural. Uma formação
cultural abrangente que não desvaloriza o conhecimento do educando é tarefa da hermenêutica filosófico-
educacional.
A Hermenêutica, enquanto paradigma e também considerada neste momento como “base” para
uma educação fundada no diálogo, na compreensão da vida e na produção significativa do conhecimento,
oferece fundamentação para uma vivência democrática e um auto-esclarecimento do agir pedagógico.
Numa proposta democrática, a hermenêutica filosófica pode oferecer à educação e a todo seu
processo formativo a possibilidade de um exercício dialógico, contextualizado e interpretativo, ou seja,
um modo de compreensão da vivência educativa. Isto quer dizer, também, que a hermenêutica é uma
outra racionalidade, uma racionalidade que conduz à verdade, é, portanto, formativa, porque conduz à
verdade pelas condições humanas do discurso e da linguagem. Através da hermenêutica, “a educação
pode interpretar seu próprio modo de ser, em suas múltiplas diferenças.” (Hermann, 2002, p. 83) Produz
diálogo, portanto, numa dimensão criadora da compreensão e extrapola o visível imediato e vai em busca
do que não está plenamente demonstrado, mas que pode ser desvelado pelo diálogo.
O caráter considerado dialógico do ensino torna-se possível somente a partir do que consideramos
um pressuposto hermenêutico de todo conhecimento e de toda verdade. Um método específico para
chegar ao conhecimento deixa de existir, pois a compreensão da realidade e a construção do
conhecimento passam a acontecer a partir da interpretação, numa relação dialógica entre professor e
aluno. Uma perspectiva hermenêutica na educação, portanto, exige um processo aberto, onde é preciso
ressaltar os envolvidos: educador e educando.
Gadamer é quem afirma que, ao entrarmos numa conversação, num diálogo, sem saber como será o
resultado, deixamo-nos levar pela imprevisibilidade, o que, hermeneuticamente, é muito produtivo, uma
vez que acreditar na linearidade do conhecimento é acreditar que a própria linguagem é estável e segura,
suposição que não faz sentido na perspectiva hermenêutica A hermenêutica nos aconselha que é pelo
processo que vão se constituindo o conhecimento e a aprendizagem. Desta forma, o que denominamos
ação pedagógica não é algo isolado e que se encontra fora de todo o processo como algo neutro. A ação
dialógica é, portanto, parte do processo de construção de todo e qualquer conhecimento.
Pensar a educação a partir da perspectiva hermenêutica significa que é necessário deixar de lado
explicações e conclusões fáceis, pois o trabalho se dá de forma complexa, por meio das ações diárias.
Pela via da hermenêutica, nega-se uma verdade estanque e exige-se a análise de um processo complexo,
onde as percepções e interpretações mudam e com elas mudam-se as verdades. Podemos dizer que a
Hermenêutica é a ligação entre o ser e a linguagem. Segundo Jürgen Habermas, o fundamento para o
saber não se baseia mais num sujeito solitário e na sua relação com o mundo objetivado, e sim, num saber
estruturado numa esfera comunicativa.
“A hermenêutica sempre se propôs como tarefa estabelecer o entendimento onde não há
entendimento ou onde foi distorcido” (GADAMER, 2007a, p.387). A educação, na atualidade, precisa ser
vista como a educação da diversidade, precisa ser plural, uma vez que representa uma realidade formada
por muitas realidades. Todo o processo educativo precisa ser bem pensado, ou seja, precisa ser
compreendido, através de uma interpretação cuidadosa, onde a educação possa ser de fato o lugar onde o
sujeito pode compreender a sua formação, não mais limitada a um saber objetivado e tecnicista, mas
fundamentada num movimento comunicativo e dialógico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inclusão de uma proposta metodológica de cunho hermenêutico no campo da educação não tem
como objetivo transpor tudo aquilo que já está instalado, mas traz uma proposta autocrítica da prática
pedagógica dentro das nossas instituições de ensino, sendo que este processo deve ser baseado nos
princípios da dialética, onde se abre o espaço para que seja repensado o papel do docente e do aluno nas
práticas pedagógicas diárias e de comunicação. E do reflexo dessa ação frente aos contingentes do
cotidiano e a partir desta análise de prática, de ações e caminhos percorridos se possa na tirar uma
contribuição para propostas futuras.
Podemos afirmar que é fundamental repensar as bases da educação, analisar os resultados que estamos
obtendo com o modelo educativo hoje implantado. É preciso analisar o ensino, os métodos, os conteúdos
e qual tipo de realização humana estamos tendo através destes, pois em educação não podemos lidar com
caminhos e resultados prontos e acabados.
Concluímos, então, que a filosofia hermenêutica no que tange à Educação vem oportunizar uma
retomada do diálogo e da reflexão, onde o processo de interpretação e compreensão exige uma abertura
aos pensamentos e visões de mundo e do outro. Na perspectiva hermenêutica, a escola deixa de ser um
espaço de reprodução de conhecimento para se tornar um espaço de apropriação crítica deste
conhecimento.
Referencia Bibliográficas
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 34°ed. São Paulo.
Ed. Paz e Terra, 1996