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Os Maias

Dimensão trágica
I. O tema do incesto

• Tal como na tragédia Édipo Rei, de


Sófocles, o incesto é o tema fulcral da
intriga e, pela sua natureza, torna a
catástrofe inevitável, impossibilitando
qualquer solução pacífica.
II. A grandeza das
personagens
Afonso / Carlos / Maria
• «O Eduarda
herói é um indivíduo de elevada linhagem,
dotado de fortuna, de beleza, de segurança, de
cultura.» (A. Campos Matos)

•À semelhança dos heróis trágicos


(personagens de caráter elevado), Afonso da
Maia, Carlos e Maria Eduarda destacam-se dos
que os rodeiam pela grandeza do seu caráter
excecional e superior.
Esta superioridade é várias vezes sublinhada e
confirmada pelas atitudes nobres que têm ao
Afonso da Maia
• Homem dotado de grandes
qualidades, cuja vida foi gerida por
altos valores morais – Dever, Justiça,
Sociedade, Família – apesar de
marcada pela tragédia da morte de
seu filho.

«Homem de outras eras, austero e puro,


como uma dessas fortes almas que nunca
desfaleceram […]» (p. 460)
Carlos e Maria Eduarda
• Pertencem a uma família de origem
nobre, abastada e com lugar de
destaque na sociedade.
• Carlos é um homem requintado, culto,
com uma educação de exceção, um ser
superior, parece um «belo cavaleiro da
Renascença».
• Maria Eduarda é apresentada como uma
deusa, rodeada de algum mistério (nada
revela sobre o seu passado), elegante,
III. História de amor com
dimensão trágica

• A história de amor, vivida em pouco mais


de um ano, vai sendo construída desde o
capítulo VI (primeira visão) até ao
momento em que Maria Eduarda, no
capítulo XVII, abandona Portugal.

• Essa construção progressiva passa pelas


etapas fundamentais da tragédia clássica.
Reconheci
Desafio mento
Peripécia Catástrofe
(Hybris) (Anagnóris
e)
Morte de
Amores Chegada Carlos sabe Afonso
proibidos de a verdadeira Morte
de Carlos Guimarãe identidade psicológica
e Maria s com o de Maria de Carlos e
Eduarda cofre Eduarda Maria
Nota: Eduarda
Inicialmente, o desafio, ou erro trágico, é cometido
inconscientemente pelos dois amantes o que, se não
basta para impedir a inevitabilidade da catástrofe, atrai
para eles a compaixão do leitor. Depois do
reconhecimento, a gravidade do erro de Carlos agiganta-
se , enquanto ele prolonga a relação com a mulher que
Outros elementos da tragédia clássica são evidentes:

• Agón (conflito): Carlos mostra-se dividido


entre ser feliz com Maria Eduarda e não
provocar desgostos no avô;

• Pathos (sofrimento): o sofrimento atinge


todos os protagonistas, sobretudo depois da
revelação do parentesco entre Carlos e Maria
Eduarda;

• Clímax (auge): consumação consciente do incesto


por parte de Carlos.
IV. A Força do destino / os indícios
• A inevitabilidade da tragédia é causada pelo
destino. É este que afasta Carlos e Maria
Eduarda na infância, os aproxima em adultos
e os faz apaixonar um pelo outro.

• Na obra, a referência expressa ao destino é


feita por mais do que uma personagem. A
este se associam inúmeros indícios trágicos:

a. Vilaça - «[…] eram sempre fatais aos Maias


as paredes do Ramalhete.» (Cap. I, pág. 9);
b. Maria Monforte - «Um tal nome parecia-lhe
conter todo um destino de amores e
façanhas.» (Cap. II, pág. 41);

c. Ega - «Cada um tem a “sua mulher”, e


necessàriamente tem de a encontrar […] estais
ambos insensìvelmente, irresistìvelmente,
fatalmente, marchando um para o outro!» (Cap.
VI, pág. 156);

d. Carlos - «Maria Eduarda, Carlos Eduardo…


Havia uma similitude nos seus nomes. Quem
sabe se não pressagiava a concordância dos
seus destinos!» (Cap. XI, pág. 352)
e. Após saber da identidade de Maria Eduarda,
Afonso sentiu-se «[…] vencido enfim por aquele
implacável destino que, depois de o ter ferido na
idade da força com a desgraça do filho – o
esmagava ao fim da velhice com a desgraça do
neto.» (Cap. XVII, pág. 655)

f. A primeira visão de Maria Monforte por Afonso: a


sombrinha vermelha que envolvia Pedro «[…]
como uma larga mancha de sangue […]» (Cap. I,
pág. 31);

g. A réplica da ministra da Baviera na corrida de


cavalos «Vous connaissez le proverbe: hereux au
jeu…» (Cap. X, pág. 341);
h. Na noite do jantar no Hotel Central, Carlos
sonha com a mulher que vira à entrada e vê-
a como uma deusa flutuando no céu. Mas
logo a sua luz é obscurecida pela sombra
negra da casaca do Alencar (o passado) (Cap.
VI, pág. 189);

i. Na primeira visita a Maria Eduarda, Carlos


observa três lírios brancos que murcham,
representando a desgraça que se abaterá
sobre os três Maias devido à relação
amorosa que, nesse dia, irá começar a
desenrolar-se (Cap. XI, pág. 352);
j. As semelhanças físicas de Carlos com
Maria Monforte: «Pareces-te com minha
mãe!» (Cap. XIV, pág. 478)

k. Semelhanças de caráter de Maria


Eduarda e Afonso da Maia: «E nestas
piedades achava-lhe semelhanças com
o avô.» (Cap. XI, pág. 374);

l. Referência a uma irmã de Maria Eduarda


que morrera: «- Sim, tive uma
irmãzinha, que morreu em pequena… »
l. O nome Toca / a descrição do quarto e elementos
simbólicos mais marcantes: «luxo estridente e
sensual», tapeçaria de Vénus e Marte, o «tabernáculo
profanado», «retiro lascivo de serralho», painel com a
cabeça de S. João Batista «degolada e gelada no seu
sangue» e a coruja empalhada com os seus olhos
«redondos e agoirentos» (Cap. XIII, pp. 440-441);

m. Na primeira noite de amor: «os olhos de Maria


perdiam-se outra vez na escuridão – como recebendo
dela o presságio de um futuro onde tudo seria
confuso e escuro também»;
«- Não sei porquê, queria morrer…»; «Um largo brilho
de relâmpago alumiou o rio.» (Cap. XIV, pp. 466-467).

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