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A evolução

Trágica de
OS MAIAS
Evolução trágica da intriga SECUNDÁRIA

Aparecimento de Maria Monforte :


“testa curta e clá ssica”; “carnaçã o de má rmore”; “perfil
grave de está tua”; “alguma coisa de imortal e superior à
terra”; “Juno tinha sangue assassino”; “carnaçã o
ebú rnea”; “formas de está tua”.
O facto de Maria Monforte ser insistentemente
caracterizada como uma deusa faz com que a relacione
com Vénus Citereia que se encontra no jardim do
Ramalhete e que simboliza a tragédia da família, cuja
existência está representada pelo fio de á gua que corre
lentamente, a representar o lento evoluir dos Maias para
o desaparecimento.
Indícios de fatalidade (e adultério)

• “sombrinha escarlate”
• “sombrinha... que agora se inclinava sobre Pedro... parecia
envolve-lo todo – como uma larga mancha de sangue”
• “a admiraçã o de Maria pelos novos uniformes... fazia
Pedro nervoso”
• “roupagens clá ssicas de Helena”
• “Pedro todavia começava a ter horas sombrias”

Confirmação da tragédia
• Bilhete de Maria – “é uma fatalidade”
• Reaçõ es (anormais) de Pedro – riso
• “numa poça de sangue... Afonso encontrou o seu
filho”
Características fatalistas

Estas características fatalistas sugerem a


existência de um destino trá gico que se abate
sobre os Maias e constituem uma fuga ao
Naturalismo. Se o insucesso (do matrimó nio)
se explica pelo fatalismo, tal facto nã o se deve
nem à hereditariedade, nem ao meio, nem à
educaçã o. No entanto há aspetos naturalistas
que reforçam o fracasso originado pelo
fatalismo:
• a educaçã o de Pedro processou-se fora do
contacto com os problemas da vida, deixando-
-o impreparado;
Características fatalistas

• o meio em que em Pedro se desenvolveu


(“romantismo torpe”) fez dele também um
româ ntico com “crises de melancolia”, o que explica
a soluçã o tomada por ele – o suicídio, ditado pelo
sentimentalismo;
• o ambiente de Arroios, de “orgia distinguée”, onde a
figura literá ria dominante era Alencar, que fornecia
as leituras româ nticas a Maria Monforte. É
compreensível que ela tivesse visto no príncipe
Napolitano a realidade do heró i româ ntico: desde o
nome Tancredo, ao aspeto de “um condenado à
morte” com “uma melancolia na face, tudo lembrava
a altivez de heró i româ ntico”.
Evolução trágica da intriga
principal
Temática fatalista:
O assunto desta intriga é ainda mais fatal do que o da intriga
secundá ria. Trata-se de incesto, o que só por si impossibilita
qualquer soluçã o pacífica do conflito. Além disso, as
personagens envolvidas estã o marcadas como seres
superiores, bafejados pela felicidade, suscitando a inveja dos
deuses:
• Maria Eduarda, na sua primeira apariçã o, apresenta-se a Carlos
“maravilhosamente bem feita” e com “um aspeto de deusa”;
• a superioridade da beleza de Carlos: “um formoso e magnífico
moço, alto, bem feito...”;
• a felicidade suprema de Carlos: “ser verdadeiramente ditoso”.
Presença do Destino na trama romanesca

Para além do Gouvarinho, que funciona como


mensageiro do destino trá gico, outras personagens têm
um significado especial, conduzindo-o para a catá strofe
final:
• O nome de Carlos: “ú ltimo Stuart”; “aventuras e
desgraças”; “amores e façanhas”

Afirmaçã o de Ega:
• Ega atribui a Carlos um fim tã o desgraçado e infernal
como o de D. Juan (“e há s de vir a acabar desgraçadamente como
ele numa tragédia infernal!”). Diz ainda que a mulher de Carlos
está “insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente” a
caminhar para ele e que Carlos “necessariamente tem de
a encontrar”.
Presença do Destino na trama romanesca

• Pensamento de Carlos sobre a semelhança do seu nome com o de Maria


Eduarda (“Quem sabe se nã o pressagiava a concordâ ncia dos seus destinos!”).
• Ega chega à conclusã o de que aquele amor de Carlos se tornou para sempre “o
seu irrepará vel destino”.
• A sorte de Carlos nas apostas das corridas é interpretada pela ministra da
Baviera como infelicidade aos amores
• Semelhanças fisioló gicas (e temperamentais) de Carlos com Maria Monforte
constatadas por Maria Eduarda quando ela vai ao Ramalhete (“É
extraordiná rio, mas é verdade. Pareces-te com minha mã e!”).
• Semelhanças temperamentais de Maria Eduarda com o avô Afonso. Estas
semelhanças de ideias políticas e humanitá rias aparecem simbolizadas na
obra quando Ega vai ao Ramalhete e encontra um chinelo de Afonso entre as
coisas de Maria Eduarda.
• A intuiçã o de Maria Eduarda ao descobrir tragicidade na escuridã o que a
envolve “como recebendo dela o pressá gio de um futuro onde tudo seria
confuso e escuro também”.
Os símbolos fatalistas na alcova de
Carlos e Maria Eduarda
• “trama de lã ”
• alcova – “taberná culo profanado”/”retiro lascivo de serralho”
• “deusa amorosa”
• “paixã o trá gica”
• “painel”/”cabeça degolada”
• “coruja empalhada”
• “meditaçã o sinistra”
• “os seus olhos redondos e agourentos”

 Aparecimento de Maria Eduarda


A identidade entre a Vénus Citereia e as duas mulheres da
família ( Maria Monforte e Maria Eduarda) leva a concluir
que a está tua simboliza a fatalidade da família:
 
Simbologia da estátua

- a existência de uma está tua no Ramalhete, desde tempos remotos,


marca o início da tragédia na família;
- Maria Monforte aparece com o seu perfil de está tua, encarnando a
tragicidade;
- depois de ter destruído Pedro, Mª Monforte foge para o estrangeiro e,
fechado o Ramalhete, a está tua fica enegrecida;
- ao restaurar-se a Vénus Citereia, instaura-se a possibilidade de surgir
uma mulher – deusa fatal para os Maias;
- aparece, entã o, Maria Eduarda, vinda de Paris, assim como a está tua
restaurada parecia ter chegado de Versalhes;
- quando Carlos se envolve sexualmente, pela ú ltima vez, com Maria
Eduarda, nota o seu corpo “musculoso, de grossos membros de
amazona bá rbara”;
- Maria Eduarda parte para o estrangeiro e, depois de dez anos, em que o
Ramalhete ficou abandonado, a está tua enegrece no jardim e Carlos,
de visita a casa, nota-lhe os “grossos membros cobertos de ferrugem
verde”.
Outras marcas de tragicidade

Em conclusã o: se a está tua marca o início da tragédia,


presentificada no aparecimento da Monforte, vai marcar
também o final.
Contudo, uma leitura atenta mostra que no decorrer do
enamoramento de Carlos com Maria Eduarda, identificada a
está tua, esta parecia simbolicamente apostada na sua
destruiçã o.

Há ainda outras marcas de tragédia na intriga principal:


- peripécias trágicas – mutaçã o sú bita dos sucessos no seu
contrá rio:
– encontro de Guimarã es e Maria Eduarda
– encontro de Guimarã es e Ega
agnórise: revelaçã o de Guimarã es ao Ega, deste a Carlos e de Carlos
ao avô
catástrofe: morte de Afonso; separaçã o dos dois amantes

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