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A acção central d’Os Maias apresenta uma típica estrutura de tragédia que, no sentido
clássico, se caracteriza por aspectos como a presença de um destino insondável que se
abate sobre as personagens, envolvendo toda a família Maia.
A acção central apresenta aspectos que lhe conferem tragicidade, tais como a temática
do incesto, a fatalidade do Destino e a existência de presságios e a presença de
diversos elementos da tragédia clássica.
Por vezes, o papel da fatalidade e dos presságios numa obra são confundidos. É, por
isso, importante salientar as diferenças entre estes dois conceitos. A presença do
destino é admitida pelas personagens e está explicitamente referida ao longo da
narrativa. A existência de presságios não é assumida pelas personagens e estes são
mencionados de forma indirecta, remetendo o leitor para a catástrofe final.
A temática do incesto.
O incesto, pelo seu carácter de ocorrência excepcional, serve uma acção que reúne
dois requisitos importantes no contexto da estética trágica: a impossibilidade de
solução pacífica do conflito e a destruição de seres superiores, que vivem numa
situação de felicidade.
A fatalidade, como força motriz.
Nesta obra, a catástrofe consuma-se por meio de um agente tão eficaz como
dissimulado: o destino. De facto, desde o início da obra, subtil mas frequentemente,
são feitas várias referências as destino. Para além disso, são feitas constantes
referências a palavras da família de fado (destino), tais como fatalidade, fatal e
fatalmente.
Cap 2 7p
Ficamos a saber que o nome de Carlos está associado a um herói, um
príncipe, protagonista de uma novela que Maria Monforte leu
“Para abrandar desde já o papá, Pedro quis dar ao pequeno o nome de
Afonso. Mas nisso Maria não consentiu. Andava lendo uma novela de que o
herói era o último Stuart, o romanesco príncipe Carlos Eduardo; e,
namorada dele, das suas aventuras e desgraças, queria dar esse nome a seu
filho… Carlos Eduardo da Maia! Um tal nome parecia-lhe conter todo um
destino de amores e façanhas.”
Cap 6 8p
A fala de João da Ega está pautada pela inevitabilidade do destino – nada
acontece por acaso, tudo está determinado.
“Tu és extraordinário menino!… Mas o teu caso é simples, é o caso de Don
Juan.” (… mais à frente no mesmo parágrafo …) “Tu és simplesmente, como
ele, um devasso; e hás-de vir a acabar desgraçadamente como ele, numa
tragédia infernal!” (… a meio do parágrafo seguinte …) ”(…) estais ambos
insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente, marchando um para o
outro.”
Cap 11 2p
Carlos relaciona a concordância dos nomes com a concordância do destino.
“Maria Eduarda! Era a primeira vez que Carlos ouvia o nome dela; e
pareceu-lhe perfeito, condizendo bem com a sua beleza serena. Maria
Eduarda, Carlos Eduardo… Havia uma similitude nos seus nomes. Quem
sabe se não pressagiava a concordância dos seus destinos!”
Cap 12 3p do fim
Na perspetiva de Ega acerca da intensidade do amor de Carlos e Mª
Eduarda, está mais uma vez presente o destino. Demonstra-se assim a
impossibilidade da vivência de um amor de tal magnitude.
“Ega escutava-o, sem uma palavra, enterrado no fundo do sofá. Supusera
um romancezinho, desses que nascem e morrem entre um beijo e um
bocejo: e agora, só pelo modo como Carlos falava daquele grande amor, ele
sentia-o profundo, absorvente, eterno e para bem ou para mal tornando-se
daí por diante, e para sempre, o seu irreparável destino.”
Os indícios e presságios;
(Cap 1 3p – Vilaça faz alusão a uma lenda que assombra a família Maia)
Cap 17 7p do fim
Temos conhecimento que este presságio se verificou.
“Há três anos, quando o sr. Afonso me encomendou aqui as primeiras obras,
lembrei-lhe eu que, segundo uma antiga lenda, eram sempre fatais aos
Maias as paredes do Ramalhete. O sr. Afonso da Maia riu de tais agouros e
lendas… Pois fatais foram!”
Cap 14 12p
“Os olhos de Maria perdiam-se outra vez na escuridão – como recebendo
dela o pressagio de um futuro onde tudo seria confuso e escuro também.”
Hybris
Peripécia
Consiste numa súbita mutação dos sucessos, verifica-se aquando das revelações de
Guimarães a Ega, preparadas pelo encontro de Maria Eduarda com Guimarães. Estas
acções só constituem a peripécia visto que são aparentemente devidas ao acaso. Sem
estes acontecimentos, a catástrofe não se abateria sobre as personagens, uma vez
que, nestes episódios, esta concentrada a força de um destino que insiste em impor os
seus desígnios as personagens.
Reconhecimento
Catástrofe
Nos Maias, a catástrofe ocorre da forma mais violenta, se tivermos em conta a tensão
que marca o ultimo encontro de Carlos com o avô e sobretudo a morte deste e a
irreversível separação dos dois amantes, definitivamente consumada pela partida de
Maria Eduarda.
O caracter trágico numa obra realista e naturalista