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Representações da

negritude na literatura e
na música brasileiras

Prof. Dr. Cristiano Reis - Polo UniCEU Feitiço da Vila - DRE-CL


Representações
Toda representação de elementos que circulam no mundo é
marcada por determinações ideológicas.

O campo das artes é onde esse estatuto fica mais evidente para
nós.
LITERATURA - MÚSICA -ARTES PLÁSTICAS - ARQUITETURA -
DANÇA - CINEMA - TEATRO
Gregório de matos - SÉCULO xVII
TORNA A DEFINIR O POETA OS MAOS MODOS DE OBRAR NA GOVERNANÇA DA
BAHIA, PRINCIPALMENTE NAQUELA UNIVERSAL FOME, QUE PADECIA A CIDADE.
Que falta nesta cidade?…………………Verdade
Que mais por sua desonra……………..Honra
Falta mais que se lhe ponha…………..Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.
[…]
Gregório de matos - SÉCULO xVII
Quais são os seus doces objetos?…………..Pretos
Tem outros bens mais maciços?…………….Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos?…………..Mulatos.
Dou ao demo os insensatos,
Dou ao demo a gente asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.
[…]
Gregório de matos - SÉCULO xVII
INDO O POETA PASSEAR PELA ILHA DA CAJAIBA,
ENCONTROU LAVANDO ROUPA A MULATA ANNICA E LHE
FEZ ESTE ROMANCE.
Achei Anica na fonte
lavando sobre uma pedra
mais corrente, que a mesma água,
mais limpa, que a fonte mesma.
[…]
Gregório de matos - SÉCULO xVII
Conchavamos, que eu voltasse
na segunda quarta-feira,
que fosse à costa da Ilha,
e não pusesse o pé em terra,
Que ela viria buscar-me
com segredo, e diligência,
para na primeira noite
lhe dar a sacudidela.
Gregório de matos - SÉCULO xVII
Depois de feito o conchavo
passei o dia com ela,
eu deitado a uma sombra,
ela batendo na pedra.
Tanto deu, tanto bateu
co’a barriga, e co’as cadeiras,
que me deu a anca fendida
mil tentações de fodê-la.
[…]
José de alencar - SÉCULO XIX
Eis um dos resultados benéficos do tráfico. Cumpre não esquecer, quando se
trata dessa questão importante, que a raça branca, embora reduzisse o africano
à condição de uma mercadoria, nobilitou-o não só pelo contato, como pela
transfusão do homem civilizado. A futura civilização da áfrica está aí, nesse fato
em embrião. Cada movimento coesivo das forças contrárias é um passo mais para
o nivelamento das castas e um impulso em bem da emancipação. Chegado o termo
fatal, produzido o amálgama, a
escravidão cai decrépita e exame de si mesma, sem arranco nem
convulsão, como o ancião consumido pela longevidade que se despede da existência
adormecendo (ALENCAR. Cartas a favor da escravidão, 2008, p. 78)
Adolfo caminha - a demonização do
corpo negro

Bom Crioulo - 1895


Machado de assis

Relatos da escravidão no Brasil


Maria firmina dos reis
Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e sempre será um
grande mal. Dela a decadência do comércio; porque o comércio, e a lavoura
caminham de mãos dadas, e o escravo não pode fazer florescer a lavoura;
porque o seu trabalho é forçado. Ele não tem futuro; o seu trabalho não é
indenizado; ainda dela nos vem o opróbrio, a vergonha; porque de fronte altiva
e desassombrada não podemos encarar as nações livres; por isso que o estigma
da escravidão, pelo cruzamento das raças, estampa-se na fronte de todos nós.
Embalde procurará um dentro nós convencer ao estrangeiro que em suas veias
não gira uma só gota de sangue escravo... (A Escrava)
Luís Gama

" (...) E, aí, a virtude exaspera-se, a piedade contrai-se, a liberdade confrange-


se, a indignação referve, o patriotismo arma-se, trezentos concidadãos
congregam-se, ajustam-se, marcham direitos ao cárcere e aí (oh! é preciso que
o mundo inteiro aplauda), à faca, a pau, à enxada, a machado, matam
valentemente a quatro homens; menos ainda, a quatro negros; ou, ainda menos,
a quatro escravos manietados em uma prisão!"
Como era linda, meu Deus !
Não tinha da neve a cor,
Mas no moreno semblante Seus ingênuos pensamentos
Brilhavam raios de amor. São de amor juras constantes ;
Entre as nuvens das pestanas
Ledo o rosto, o mais formoso, Tinha dois astros brilhantes.
De trigueira coralina,
De Anjo a boca, os lábios breves As madeixas crespas negras
Cor de pálida cravina. Sobre o seio lhe pendiam,
Onde os castos pomos de ouro
Em carmim rubro engastados Amorosos se escondiam.
Tinha os dentes cristalinos ;
Doce a voz, qual nunca ouviram
Dúlios bardos matutinos.
Cruz e Sousa

Dor negra

E como os Areais eternos


sentissem fome e sentissem sede
de flagelar, devorando com as
suas mil bocas tórridas todas
as rosas da Maldição e do Esquecimento
infinito, lembraram-se, então, simbolicamente
da África!
Cruz e Sousa
Sanguinolento e negro, de lavas e de trevas, de torturas e de lágrimas, como
o estandarte mítico do Inferno, de signo de brasão de fogo e de signo de
abutre de ferro, que existir é esse, que as pedras rejeitam e pelo qual até
mesmo as próprias estrelas choram em vão milenariamente?!

Que as estrelas e as pedras, horrivelmente mudas, impassíveis, já sem dúvida


que por milênios se sensibilizaram diante da tua Dor inconcebível, Dor que de
tanto ser Dor perdeu já a visão, o entendimento de o ser, tomou de certo outra
ignota sensação da Dor, como um cego ingênito que de tanto e tanto abismo
ter de cego sente e vê na Dor uma outra compreensão da Dor e olha e palpa,
tateia um outro mundo de outra mais original, mais nova Dor.
Cruz e Sousa
O que canta Réquiem eterno e soluça e ulula, grita e ri risadas bufas e
mortais no teu sangue, cálice sinistro dos calvários do teu corpo, é a
Miséria humana, acorrentando-te a grilhões e metendo-te ferro em
brasa pelo ventre, esmagando-te com o duro coturno egoístico das
Civilizações, em nome, no nome falso e mascarado de uma ridícula e
rota liberdade, e metendo-te ferro em brasa pela boca e metendo-te
ferros em brasa pelos olhos e dançando e saltando macabramente
sobre o lodo argiloso dos cemitérios do teu Sonho.
Cruz e Sousa
Três vezes sepultada, enterrada três vezes, na espécie, na barbaria e no
deserto, devorada pelo incêndio solar como por ardente lepra sidérea, és a
alma negra dos supremos gemidos, o nirvana negro, o rio grosso e torvo de
todos os desesperados suspiros, o fantasma gigantesco e noturno da
Desolação, a cordilheira monstruosa dos ais, múmia das múmias mortas,
cristalização de esfinges, agrilhetada na Raça e no Mundo para sofrer sem
piedade a agonia de uma Dor sobre-humana, tão venenosa e formidável, que
só ela bastaria para fazer enegrecer o sol, fundido convulsamente e
espasmodicamente à lua na cópula tremenda dos eclipses da Morte, à hora
em que os estranhos corcéis colossais da Devastação, pelo Infinito galopam,
galopam, colossais, colossais...
carolina maria de jesus
“O Brasil precisa ser dirido por uma pessoa que já passou
fome. A fome também é professora.” (Quarto de Despejo)

“O negro só é livre quando morre” (O Diário de Bitita)

“Ah, comigo o mundo vai modificar-se. Não gosto do


mundo como ele é”. (O Diário de Bitita)
carolina maria de jesus
“O homem não deve acatar o dominio. E sim a justiça”
(Caderno inédito)

“O que dita o que escrevo é a tristeza” (Caderno inédito)

“Eu sempre fui alegre. Depois que sai da favela fui


ficando triste”. (Caderno inédito)
carolina maria de jesus
“O homem não deve acatar o dominio. E sim a justiça”
(Caderno inédito)

“O que dita o que escrevo é a tristeza” (Caderno inédito)

“Eu sempre fui alegre. Depois que sai da favela fui


ficando triste”. (Caderno inédito)

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