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ANÁLISE DAS OBRAS LITERÁRIAS VESTIBULAR UEMA 2022

VESTIBULAR UEMA/UEMASUL 2022


ANÁLISE DE OBRAS LITERÁRIAS RESOLUÇÃO DE QUESTÕES

CANAÃ DE GRAÇA ARANHA E A ESCRAVA DE MARIA FIRMAINA DOS REIS

1°) “- Para que se deu em sacrifício o Homem Deus, que ali sombra desapareceu” – pode-se afirmar a presença da
exalou seu derradeiro alento? Ah! Então não é verdade que seguinte figura de linguagem:
seu sangue era o resgate do homem! É então uma mentira a) Sinédoque
abominável ter esse sangue comprado a liberdade!? E depois, b) Oxímoro
olhai a sociedade… não vedes o abutre que a corrói c) Lítote
constantemente!… Não sentis a desmoralização que a enerva, d) Paronomásia
o cancro que a destrói? Por qualquer modo que encaremos a e) Personificação
escravidão, ela é, e será sempre um grande mal. Dela a (O litote é caracterizado por se dizer algo por meio da
decadência do comércio; porque o comércio e a lavoura negação de seu contrário. Quando se diz “ela não é feia”, na
caminham de mãos dadas, e o escravo não pode fazer verdade estamos dizendo que “ela é bonita”.)
florescer a lavoura; porque o seu trabalho é forçado. Ele não
tem futuro; o seu trabalho não é indenizado; ainda dela nos Observe o excerto abaixo retirado do conto “A Escrava” e
vem o opróbrio, a vergonha; porque de fronte altiva e responda ao que se pede: “E dizendo isto, indiquei-lhe com um
desassombrada não podemos encarar as nações livres; por aceno a senda que ficava a mais de cem passos de distância,
isso que o estigma da escravidão, pelo cruzamento das raças, aquém do morro em que me achava. Minhas palavras
estampa-se na fronte de todos nós. Embalde procurará um inexatas, o ardil de que me servi, visavam a fazê-lo retroceder:
dentre nós, convencer ao estrangeiro que em suas veias não logrei o meu intento. Franziu o sobrolho, e sua fisionomia traiu
gira uma só gota de sangue escravo…”. a cólera que o assaltou. Mordeu os beiços e rugiu: — Maldita
negra! Esbaforido, consumido, a meter-me por estes
Não obstante por muito tempo desconhecida, a obra “A caminhos, pelos matos em procura da preguiçosa…ora! Hei de
Escrava” de Maria Firmina dos Reis pode ser considerada, sob encontrar-te; mas, deixa estar, eu te juro, será esta a
vários aspectos, inovadora e revolucionária. No fragmento derradeira vez que me incomodas. No tronco… no tronco: e de
acima, a fala da personagem “A Senhora” confirma isso, uma lá foge!”
vez que:
a) Focaliza o debate da escravidão preta a partir de uma lógica 3°) No que diz respeito ao processo de formação da palavra
estritamente religiosa, evidenciando um aspecto do debate “sobrolho”, podese afirmar que se trata de:
até então restrito à esfera jurídica. a) Derivação Imprópria
b) Expande o debate acerca da escravidão preta, b) Deverbação
considerando-o não apenas de ordem política e econômica c) Composição por Aglutinação
como era tratado, mas também sob a ótica ética e moral, d) Parassintestismo
refletidos aqui a partir dos valores cristãos tão celebrados pela e) Neologismo
sociedade brasileira do século XIX.
c) Ignora a discussão sob a ótica política e econômica para “— Quem é vossemecê, minha senhora, que tão boa é para
posicioná-la de forma transcendental, emocional e religiosa, o mim, e para meu filho? Nunca encontrei em vida um branco
que o faz evocando a Jesus e seus ensinamentos, os quais que se compadecesse de mim; creio que Deus me perdoa os
regiam a lógica ideológica da sociedade do século XIX. meus pecados, e que já começo a ver seus anjos. — E quem é
d) Expõe as contradições morais da sociedade brasileira do esse senhor tão mau, esse senhor que te mata? — Então,
século XIX, a qual era predominantemente cristã, mas apoiava minha senhora, não conhece o senhor Tavares, do Cajuí? —
a escravidão, tão cruel e devastadora. Desse modo, a Não, – tornei-lhe com convicção, – estou aqui apenas há dois
personagem minimiza a importância econômica e política dias, tudo me é estranho; não o conheço. É bom que colha
acerca do debate. algumas informações dele: Gabriel mas dará. — Gabriel! –
e) Delimita o debate à condição da humanidade retirada das disse ela – não. Eu mesma. Ainda posso falar. E começou: —
pessoas pretas escravizadas, alegando que apoiar a escravidão Minha mãe era africana, meu pai de raça índia; mas de cor
ou não nada tinha a ver com economia ou política, mas com fusca. Era livre, minha mãe era escrava...”
um dever moral e cívico de cada sujeito. A partir do trecho acima de “A Escrava”, responda ao que se
pede.
2°) Na seguinte passagem de “A Escrava”
- “De repente uns gritos lastimosos, uns soluços angustiados 4°) A intervenção de Joana junto a Gabriel é feita a partir:
feriram-me os ouvidos, e uma mulher correndo, e em
completo desalinho, passou por diante de mim, e como uma

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a) Do uso do discurso indireto-livre, uma vez que Joana Reis, o termo “vindita”, sem prejuízo de seu sentido, pode ser
compreende a importância de falar em nome de todas as substituído por:
pessoas escravizadas. a) odiosa
b) Do uso do discurso indireto, haja vista a compreensão de b) vingança
Joana de que, embora tivesse encontrado uma mulher branca c) arbítrio
acolhedora, aquele tratamento não haveria de perdurar tão d) punição
logo fosse encontrada pelo feitor, o que exigia cautela no e) incoerência
discurso.
c) Do uso do discurso indireto livre, o que expressava ao 7°) Na passagem da obra “A Escrava” de Maria Firmina dos Reis
mesmo tempo o desabafo de Joana diante da possibilidade de “— É doida, minha senhora; fala de meus irmãos Carlos e
narrar todo o sofrimento do qual era vítima, mas também dar Urbano, crianças de oito anos, que meu senhor vendeu para o
voz a seus irmãos pretos e pretas. Rio de Janeiro. Desde esse dia ela endoideceu”, o termo em
d) Do uso do discurso direto, o qual é instrumento do destaque tem a função sintática de:
protagonismo conferido por Maria Firmina dos Reis à a) Sujeito
personagem, a fim de que não apenas fossem denunciados os b) Objeto direto
absurdos da escravidão, mas que fosse feito a partir de quem c) Aposto
possuía lugar de fala. d) Vocativo
e) Do uso do discurso direto, uma vez que a personagem Joana e) Adjunto Adnominal
tinha compreensão não só da importância daquele momento,
mas porque sabia que deveria fazê-lo em nome de todas as 8°) “— Ah! Se pudesse, nesta hora extrema ver meus pobres
pessoas escravizadas e o quanto isso poderia ajudar para que filhos, Carlos e Urbano!… Nunca mais os verei! Tinham oito
a escravidão acabasse. anos. Um homem apeou-se à porta do Engenho, onde juntos
trabalhavam meus pobres filhos – era um traficante de carne
humana. Ente abjeto, e sem coração! Homem a quem as
5°) “Nunca a meu pai passou pela ideia que aquela suposta lágrimas de uma mãe não podem comover, nem comovem os
carta de liberdade era uma fraude; nunca deu a ler a ninguém; soluços do inocente. Esse homem trocou ligeiras palavras com
mas minha mãe, à vista do rigor de semelhante ordem, tomou meu senhor, e saiu. Eu tinha o coração opresso, pressentia
o papel, e deu-o a ler àquele que me dava as lições. Ah! Eram uma nova desgraça. À hora permitida ao descanso, concheguei
umas quatro palavras sem nexo, sem assinatura, sem data! Eu a mim meus pobres filhos, extenuados de cansaço, que logo
também a li, quando caiu das mãos do mulato. Minha pobre adormeceram. Ouvi ao longe rumor, como de homens que
mãe deu um grito, e caiu estrebuchando”. Neste trecho do conversavam. Alonguei os ouvidos; as vozes se aproximavam.
conto “A Escrava”, revela-se metaforicamente: Em breve reconheci a voz do senhor. Senti palpitar
a) O quanto a ignorância, aqui simbolizada pelo analfabetismo desordenadamente meu coração; lembrei-me do traficante…
do pai de Joana, pode ser tão escravizadora quanto à própria corri para meus filhos, que dormiam, apertei-os ao coração.
supressão da liberdade. Então senti um zumbido nos ouvidos, fugiu-me a luz dos olhos
b) Que as leis e as normas, por si só, são incapazes de devolver e creio que perdi os sentidos”. Na passagem acima de “A
a liberdade, especialmente se a sociedade em que está Escrava” em que a personagem Joana relata à personagem “A
inserida é capaz de forjar suas próprias percepções da Senhora” os horrores de sua trajetória, aqui em especial o
realidade. momento em que fora apartada de seus filhos Carlos e
c) A ingenuidade das pessoas pretas escravizadas àquela Urbano, resta evidenciado que:
época, uma vez que, mesmo diante de tantos maus tratos, a)Os fatos narrados por Joana não eram reais, mas fruto dos
ainda assim acreditavam nos homens brancos. delírios decorrentes dos maus tratos e castigos que acabara de
d) A incredulidade da protagonista nas ações das pessoas não- sofrer do feitor Antônio.
pretas, uma vez que experenciou a morte da própria mãe após ) O conto “A escrava” trata-se, exclusivamente, de um conto
as falácias que foram engendradas pelos homens brancos. psicológico, uma vez que a narrativa se desenrola a partir do
e) A corrupção desenfreada e incontrolável que existia por trás ponto de vista da protagonista Joana e dos sofrimentos a que
do mercado de cartas de alforria, fruto de uma sociedade fora submetida.
escravocrata que não respeitava as leis e não cumpria as c) A autora Maria Firmina dos Reis buscou com este relato
determinações socialmente acordadas. demarcar a crueldade do tráfico de escravos e a forma como
ele torturava as pessoas, o que se dava no plano físico, mas
6°) No trecho “Eu bem conhecia a gravidade do meu ato: também por meio do descumprimento da lei. Em verdade,
recebia em meu lar dois escravos foragidos, e escravos talvez neste momento da narrativa há uma aproximação entre a
de algum poderoso senhor; era expor1me à vindita da lei; mas autora e a personagem Joana.
em primeiro lugar o meu dever, e o meu dever era socorrer d) A autora fez questão de evidenciar a alienação
aqueles infelizes” da obra “A Escrava” de Maria Firmina dos característica das pessoas escravizadas, uma vez que, a partir
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da enganação sofrida pelo pai de Joana, que era analfabeto, d) Trata-se do clímax do conto, uma vez que é o momento em
demonstra que as pessoas pretas eram dominadas tanto pela que confirma o grande objetivo das tensões produzidas pela
força quanto por serem ignorantes, o que justificava a visão narrativa, ou seja, o momento em que o escravizado Gabriel
das elites escravocratas da época. adquire sua tão sonhada liberdade, ainda que sua mãe Joana
e) Se trata, também, de um conto psicológico, à medida que é não tenha tido a mesma sorte.
uma narrativa que, neste momento, fica subordinada às e) Trata-se do clímax da obra e, simbólica e metaforicamente,
lembranças e emoções da protagonista Joana, cujo lapso representa uma sucessão de vitórias empreendidas a partir
temporal flui no verter das emoções. das tensões presentes na narrativa, como a liberdade
chegando às pessoas escravizadas – ainda que não alcance a
9°) “— Sei que esta negra está morta, – exclamou ele, – e o todos -, a desalienação das pessoas que defendiam a
filho acha-se aqui; tudo isto teve a bondade de comunicar-me escravidão, inclusive do próprio escravizado e o sentimento de
ontem. Esta negra, continuou, olhando fixamente para o dever cumprido para a personagem “A Senhora”, que
cadáver – esta negra era alguma coisa monomaníaca, de tudo finalmente conseguiu o que desejava, provar que a escravidão
tinha medo, andava sempre foragida, nisto consumiu a deveria acabar.
existência. Morreu, não lamento esta perda; já para nada
prestava. O Antônio, o meu feitor, que é um excelente e zeloso 11°) A obra Canaã, do escritor maranhense Graça Aranha:
servidor, é que se cansava em procurá-la. Porém, minha a) É um registo polifônico de ideias, organizadas e
senhora, este negro! – designava o pobre Gabriel, – com este contrapostas dialeticamente. A partir de contextos
negro a coisa muda de figura; minha querida senhora, este socioeconômicos distintos, o autor constrói um painel do
negro está fugido; espero, mo entregará, pois sou o seu Brasil do início do século XX, especialmente dedicado a pensar
legítimo senhor, e quero corrigi-lo”. No fragmento acima do a identidade do país em sua perspectiva futura.
conto “A Escrava” de Maria Firmina dos reis é empregada a b) Estrutura-se a partir da tese de que a identidade brasileira
forma não usual, embora adequada, “mo”. é construída por meio de uma visão determinista em que o
No contexto em que está empregada, o termo desempenha a povo, tão corrupto e frágil, facilmente poderia ser dominado
função sintática de: a) Objeto direto e objeto indireto. por outras culturas e identidades mais consolidadas e
No fragmento acima do conto “A Escrava” de Maria Firmina representativas.
dos reis é empregada a forma não usual, embora adequada, c) Suscita reflexões sobre a identidade nacional ao traçar um
“mo”. No contexto em que está empregada, o termo verdadeiro painel das múltiplas faces do povo brasileiro, tudo
desempenha a função sintática de: construído a partir do olhar do estrangeiro imigrante que,
a) Objeto direto e objeto indireto. embora emocionalmente envolvido com o Brasil, o concebe
b) Objeto direto como um lugar fadado ao fracasso.
c) Sujeito d) É reflexo de uma produção cultural – denominada pré-
d) Objeto indireto Modernismo – que se mostra confusa e inquieta quanto aos
e) Adjunto Adnominal destinos do Brasil. Desse modo, revela a fragilidade não
apenas cultural, mas política e identitária, o que fica
10°) No tocante ao trecho “Em conclusão, apresento-lhe um demarcado por uma visão do imigrante dominador e crente da
cadáver, e um homem livre. Gabriel ergue a fronte, Gabriel és subalternidade nacional.
livre!” fala da personagem “A Senhora” da obra “A Escrava”, e) É reflexo de uma produção cultural confusa e desarticulada,
pode-se depreender que: a qual está inserida em um momento literário denominado
a) Trata-se do clímax do conto e prenuncia o fim da escravidão pré-Modernismo. Entretanto, é a partir dessa convicção que a
e da alienação a que foram submetidas as pessoas narrativa se desenvolve, mostrando-se as múltiplas faces de
escravizadas no século XIX. um país que busca encontrar a si mesmo.
b) Corresponde ao desfecho do conto, momento em que se
evidencia o resultado dos conflitos de enredo contido na 12°) No que diz respeito à caracterização do gênero a qual
narrativa, aqui simbolizados pela personalização na liberdade pertence a obra Canaã de Graça Aranha, pode-se inferir que:
do personagem Gabriel, mas um desejo da autora extensivo a a) Trata-se de um romance de tese, uma vez que o aturo
todas as pessoas pretas escravizadas. assume um ponto de vista e o defende ao longo de toda a
c) Corresponde ao desfecho do conto, o qual evidencia o narrativa. Para tanto, expõe ideias acerca da constituição do
posicionamento da autora contrário à escravidão, não apenas povo brasileiro, seu futuro e sua identidade.
para o personagem Gabriel, mas para todas as pessoas pretas b) Trata-se de um romance de tese, pois sustenta, baseado nas
escravizadas. Denota também a libertação definitiva de teorias evolucionistas da época, a ideia de que o povo
Gabriel da alienação a que era submetido e o iguala brasileiro seria formado por uma sub-raça, a qual, por si só,
narrativamente à personagem “A Senhora”, razão pela qual seria suficiente para condenar o futuro do Brasil à dominação
ela pede que ele erga a cabeça. a outros povos, cuja identidade e cultura racial fosse
historicamente superior.
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c) Ainda que externalize pontos de vista, não pode ser as iguais e desenhar a linha de uma ordem ideal (...)”. A obra
considerado propriamente um romance de tese, haja vista Canaã, quanto a linguagem, pode ser caracterizada como:
faltam às ideias narradas sustentação em teorias que possuam a) Predominantemente informal, rica em adjetivações e
algum caráter científico. descritivismos, especialmente ao caracterizar a população.
d) Não é propriamente um romance de tese, pois não fica b) Exclusivamente informal, rica em adjetivações e
evidenciado na narrativa a doção de um único ponto de vista descritivismos, especialmente ao caracterizar a população.
pelo autor, o qual defenda e sustente, pelo contrário, sua Também usa constantemente figuras de linguagem,
narrativa abre espaços para múltiplas visões e, em certa especialmente metonímias e hipérbatos.
medida, não apresenta uma conclusão definitiva para o que é c) Culta e formal, rica em adjetivações, especialmente
discutido. empregados para descrever a natureza e a população que
e) Sustentado pelas ideias evolucionista e deterministas do compunham o espaço narrativo.
início do século XX, insere-se como um romance de tese, o d) Formal, embora simples. Apresenta como marca principal
primeiro romance ideológico do Brasil e, tal qual também o uso de adjetivações e descritivismos, especialmente ao
fizera Euclides da Cunha em “Os Sertões”, evidencia o futuro caracterizar a natureza.
que estava destinado ao país, corroborando a tese de que e) Alterna momentos de formalidade e informalidade,
nossa mistura racial inferiorizava nosso povo. expressão da multiplicidade de espaços, povos e ideais
retratados na obra.
13°) “... seria sempre um misterioso artifício, todos os minutos
rotos pelo sensualismo, pela bestialidade e pelo servilismo 16°) A obra Canaã do escritor maranhense Graça Aranha
inato do negro...”. Neste trecho da obra Canaã, revela-se: caracteriza-se pela presença de múltiplas discussões
a) O racismo velado expresso na fala de Milkau. temáticas, temas pertinentes ao século XX, bem como muitos
b) O racismo velado expresso na fala de Lentz. dos quais historicamente construídos.
c) O racismo velado expresso na fala de Paulo Maciel. Abaixo, todos correspondem a temas tratados na obra,
d) O racismo agressivo expresso na fala de Lentz. exceto:
e) O racismo agressivo expresso na fala de Milkau. a) Pessimismo e falta de fé no futuro do Brasil.
b) O despreparo das autoridades.
14°) Observe os fragmentos abaixo. c) As desigualdades sociais.
I“A história de Maria Perutz era simples como a miséria. d) A busca pelo progresso e pela felicidade.
Nascera na colônia, na mesma casa aonde ainda vivia. Filha de e) A imigração como um entrave para o futuro do Brasil.
imigrantes, não conhecera o pai, morto ao chegar ao Brasil, no
barracão da Vitória; a mãe viúva e quase mendiga empregara-
se como criada na casa do velho Augusto Kraus, antigo colono 17°) “– Pronto, senhor doutor! Maciel espantou-se com a voz
estabelecido no Jequitibá, longe do porto do Cachoeiro”. do subalterno, que curvado sobre ele sorria, fitando-o com os
II- “Maria não podia esquecer os fugitivos momentos do seu olhos endiabrados e sinistros. – Ah! o senhor? Já acabou? –
encontro com Mikau. Muito das palavras do desconhecido se Tudo. Havendo milho, meu doutor, vai depressa que é um
impregnara no seu espírito, e ela guardava recordação desse gosto. E aqui há bastante... Tenho prontos alguns mandados
dia do baile de uma festa tranquila para sua alma, de um para intimar uns colonos desta vizinhança que não fazem
pequeno clarão da amargura da sua vida”. Os fragmentos inventário há muito tempo, comendo os espólios à tripa forra,
deflagram: sem nos dar satisfação. Venha vossa senhoria assinar os
a) A presença de um narrador em 1ª pessoa, que participa e mandados para se fazerem amanhã esses inventários aqui
interfere na narrativa. mesmo. É coisa pouca, mas... – Ora, seu Pantoja, é melhor
b) A presença de um narrador em 3ª pessoa, onisciente. deixar essa pobre gente em paz. Não sendo coisa grande, não
c) A presença de um narrador ora em 1ª pessoa ora em 3ª nos adianta. – Não, meu doutor, tudo o que cai na rede é
pessoa, flutuando de acordo com os acontecimentos da peixe, e quando se sabe espremer a mandioca, pode-se ver o
narrativa. que rende no fim da festa”.
d) A presença de um narrador em 3ª pessoa, cujos relatos se
dão a partir das emoções das personagens. A passagem acima da obra Canaã do escritor Graça Aranha é
e) A presença de um narrador-personagem, que constrói a estratégica dentro da narrativa construída pelo autor, uma
narrativa a partir das emoções das personagens, bem como vez que:
daquelas da qual faz parte. a) Representa uma virada brusca narrativa, à medida que
expõe o caráter excessivamente conservador das pessoas de
15°) “A floresta tropical é o esplendor da força na desordem. Porto Cachoeiro, bem como deflagra a corrupção presente no
Árvores de todos os tamanhos e de todas as feições; árvores local.
que se alteiam umas eretas, procurando emparelhar-se com b) Expõe o fatalismo a que estaria condenado, por extensão,
o futuro do povo brasileiro, mediado pela corrupção e pela
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ganância. O autor se vale de uma metáfora para comparar d) Uma indicação de que o tempo da obra é psicológico e,
Porto Cachoeiro e o Brasil do século XX, bem como do futuro. portanto, demarcado pelo estado emocional das
c) Naturaliza a corrupção e os arbítrios dos poderosos como personagens, bem como pelos conflitos a que estavam
um traço decorrente da formação étnica do povo brasileiro, expostas.
fruto da mistura das raças, o que a tornava inferior em relação e) Uma marca dos autores pré-modernistas e influência do
aos alemães. movimento vanguardista expressionismo, o qual enfatizava o
d) Representa uma extensão da visão de Lentz em destaque às emoções como forma de dar vazão á narrativa e
contraposição ao ufanismo de Milkau, problemática central exposição dos conflitos.
da obra e aqui expressa pelo duelo de forças entre poderosos
puristas e subservientes mestiços. 20°) Quanto aos personagens da obra Canaã de Graça Aranha,
e) Tem forte caráter naturalista ao posicionar a corrupção pode-se depreender que, exceto:
como traço determinista e resultado do evolucionismo a) Milkau é o grande herói romântico da obra e exprime em
inferiorizante dos brasileiros e decorrente da mistura étnica suas visões de mundo uma espécie de socialismo utópico e,
aqui presente. longe de ser uma voz solitária, expressa as ideias de seu
tempo.
b) Lentz é um personagem que faz apologia da força, do
18°) A metáfora contida no título dado à obra (Canaã) por desprezo pelos fracos e pela ideologia cristã da redenção
Graça Aranha revela: através do sofrimento. Para ele, o homem brasileiro, híbrido,
a) O Brasil concebido como a terra prometida, o lugar da era o grande obstáculo para o progresso.
felicidade, a terra do futuro, especialmente em razão da sua c) Paulo Maciel critica o republicanismo de seu tempo, a qual
pluralidade étnica. Desse modo, conclui-se que a visão de considera ameaçado pela perversão dos governantes e de
Milkau sobre o país mostrou-se a mais correta. todo o sistema de poder, para quem o Brasil é um país em
b) O Brasil como uma realidade distópica que, embora declínio e marcado pelo esgotamento das raças.
tomado por muitos problemas, era, dentro os demais países, d) Pantoja, tipo malandro, corrupto e escorregadio, trata-se
aquele que mais se aproximaria de uma terra prometida, uma de uma metáfora do malandro brasileiro, sujeito dolente e
vez que expressão mais fiel da realidade. sagaz, por isso recebe a alcunha de “maracajá”.
c) O Brasil é considerado a nova Canaã, terra da fertilidade, de e) Preto Velho é um nostálgico, especialmente da escravidão,
natureza exuberante, terra de fartura, sem que poupe quem o que permite com que seja denunciada na narrativa a falta
nela vive da necessidade de superar desafios para que seja de perspectivas dos ex-escravizados, uma espécie de
efetivamente construída. “resignação dos esmagados.
d) O Brasil, embora tenha tudo para ser a terra prometida, Texto II
ainda é um país com muitos problemas no início do século XX, Na sua imaginação perturbada sentia a natureza toda
problemas retratados como o racismo científico, as agitando-se para sufocá-la. Aumentavam as sombras. No céu,
desigualdades sociais e a ausência de uma identidade própria. nuvens colossais e túmidas rolavam para o abismo do
e) O Brasil é visto como possível terra prometida, assim como horizonte... Na várzea, ao clarão indeciso do crepúsculo, os
a cidade bíblica de Canaã, entretanto, para que isso se torne seres tomavam ares de monstros... As montanhas, subindo
realidade, problemas como a corrupção, a desigualdade social ameaçadoras da terra, perfilavam-se tenebrosas... Os
e a mestiçagem precisam ser superadas, a fim de que uma caminhos, espreguiçando-se sobre os campos, animavam-se
verdadeira identidade própria seja construída. quais serpentes infinitas... As árvores soltas choravam ao
vento, como carpideiras fantásticas da natureza morta... Os
19°) O emprego de iniciais maiúsculas ao longo da obra Canaã, aflitivos pássaros noturnos gemiam agouros com pios
por Graça Aranha, em palavras como Morte, Força, Amor e fúnebres. Maria quis fugir, mas os membros cansados não
Liberdade denota: acudiam aos ímpetos do medo e deixavam-na prostrada em
a) A intenção do autor em enfatizar esses valores e demarcar uma angústia desesperada. ARANHA, J. P. G. Canaã. São
o estado emocional do narrador onisciente. Paulo: Ática, 1997.
b) Técnica de linguagem empregada para conferir
personalismo a essas palavras/valores. 21
c) Metaforização das críticas impostas pelo narrador- No trecho, o narrador mobiliza recursos de linguagem que
personagem aos desvalores encontrados em Porto Cachoeiro geram uma expressividade centrada na percepção da
e, portanto, em certa medida, uma ironia. a) relação entre a natureza opressiva e o desejo de libertação
d) Humor ácido empregado pelo autor para criticar as da personagem.
contradições presentes na sociedade brasileira do início do b) confluência entre o estado emocional da personagem e a
século XX, a qual, embora não tivesse uma identidade própria, configuração da paisagem.
tinha comportamentos e valores claramente demarcados c) prevalência do mundo natural em relação à fragilidade
socialmente. humana.
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d) depreciação do sentido da vida diante da consciência da c) Canaã / Monteiro Lobato / Luzia-Homem / Mario de
morte iminente. Andrade / Manuel Bandeira / Broquéis.
e) instabilidade psicológica da personagem face à realidade d) Urupês / Monteiro Lobato / Macunaíma / Mario de
hostil. Andrade / Manuel Bandeira / Cinza das horas.
e) Os sertões / Euclides da Cunha / Triste fim de Policarpo
Texto VI Quaresma / Lima Barreto / Augusto dos Anjos / Eu e outras
– Adiante... Adiante... Não pares... Eu vejo. Canaã! Canaã! poesias.
Mas o horizonte da planície se estendia pelo seio da noite e se
confundia com os céus. ´24
Milkau não sabia para onde o impulso os levava: era o “Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou
desconhecido que os atraía com a poderosa e magnética força movimento de retorno a si mesmo. A reflexão é o movimento
da Ilusão. Começava a sentir a angustiada sensação de uma pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando
corrida no Infinito... a si mesmo.”
– Canaã! Canaã!... suplicava ele em pensamento, pedindo à Fonte:<https://www.algosobre.com.br/filosofia/a-
noite que lhe revelasse a estrada da Promissão. reflexao-filosofica.html>.
E tudo era silêncio, e mistério... Corriam... corriam. E o mundo É perceptível que os diálogos entre Milkau e Lentz são de
parecia sem fim, e a terra do Amor mergulhada, sumida na cunho
névoa incomensurável... E Milkau, num sofrimento a) sociólogo / simbólico.
devorador, ia vendo que tudo era o mesmo; horas e horas, b) histórico / físico.
fatigados de voar, e nada variava, e nada lhe aparecia... c) literário / psicanalítico.
Corriam... d) filosófico / existencial.
corriam... ARANHA, G. Canaã. São Paulo: Ática, 1998 e) medieval/ religioso .
(fragmento).
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22 “O processo interpretativo envolve sempre um diálogo entre
O sonho da terra prometida revela-se como valor humano que a obra e o leitor. A inteligibilidade de uma obra – os sentidos
faz parte do imaginário literário brasileiro desde a chegada que nela se fazem possíveis – é dada por essa imbricação
dos portugueses. Ao descrever a situação final das entre a objetividade do texto e a subjetividade
personagens Milkau e Maria, Graça Aranha resgata esse do leitor. A tríade “real-fictício-imaginário” conduz a
desejo por meio de uma perspectiva produção literária.”
a) subjetiva, pois valoriza a visão exótica da pátria brasileira. Fonte:https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/30303/1/Ca
b) simbólica, pois descreve o amor de um estrangeiro pelo na%c3%a3%20vers%c3%a3o%20fi nal.pdf
Brasil. Embora Canaã seja uma obra ficcional – narrativa arbitrária –
c) idealizada, pois relata o sonho de uma pátria acolhedora de nela o diálogo com o real é particularmente evidente. Trata-
todos. se de um romance que lida com questões ideológicas sobre
d) realista, pois traz dados de uma terra geograficamente a) o “ser religioso”.
situada. b) o “ser brasileiro”.
e) crítica, pois retrata o desespero de quem não alcançou sua c) o “ser escravo”.
terra. d) o “ser político”.
e) o “ser imigrante”.
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Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas 26
do texto a seguir. Marque a assertiva que contém uma fi gura de linguagem
O início do chamado Pré-modernismo na literatura brasileira denominada personificação.
data de 1902, com a publicação de __________. Além dessa a) “Os cavalos arfavam, dando à marcha fatigada uma
obra relevante, de autoria de __________, merece destaque sensação de movimentos irregulares, como se descessem
o romance com medo montanhas pedregosas”.
__________, publicado por __________ em 1915. Já na b) “A cidadezinha era naquele delicioso e rápido instante a
poesia, o principal nome deste período foi __________, autor filha do sol e das águas”.
de __________. c) “A colônia é um engano; noutro tempo ganhava-se algum
a) Urupês / Graça Aranha / Macunaíma / Domingos Olímpio / dinheiro, porém agora os negócios não marcham”.
Mario de Andrade / Cinza das horas. d) “Milkau recolhia o eco daquele queixume de eterno
b) Canaã / Euclides da Cunha / Triste fim de Policarpo escravo, daquela maldefinida resignação dos esmagados”.
Quaresma / Monteiro Lobato / Manuel Bandeira / Eu e outras
poesias.
6
ANÁLISE DAS OBRAS LITERÁRIAS VESTIBULAR UEMA 2022
e) “O rio descia em direção contrária à marcha dos viajantes, O conto A Escrava, da autora maranhense Maria Firmina dos
e esses movimentos opostos davam a impressão de que toda Reis, expõe uma perspectiva inovadora da questão da
a paisagem se animava e docemente”. escravidão, rompendo o estigma vitimista do escravizado.
Essa mudança é marcada pelo
27 a) olhar do escravizado, que passa a narrar as suas histórias.
Quem sabe, continuava quase em sonho; quem sabe não b) olhar do escravizado, que passa a ser secundário às suas
foram um dia dois espíritos que se encontraram disparatados histórias.
em um mesmo corpo, um servil à matéria, ambicioso, cúpido, c) olhar do feitor, que passa a narrar as histórias dos
procurando absorver o outro que voava docemente, e escravizados.
pairava sempre no alto, zombando de tudo, de homens e d) olhar do aristocrata, que passa a ser primário às histórias
deuses, gerando puramente, sem conjunções torpes, nas dos escravizados.
regiões plácidas do ideal, as fi guras da poesia e do sonho. E e) olhar do aristocrata, que passa a ser secundário às histórias
quem sabe como foi longo e pertinaz o combate entre dos escravizados
as duas forças!...
A repetição da expressão “Quem sabe”, denota ao texto um 31
tom Em um salão onde estavam reunidas muitas pessoas distintas
a) metafórico. e bem colocadas na sociedade, depois de conversarem sobre
b) conotativo. diversos assuntos mais ou menos interessantes, a conversa
c) coercitivo. recaiu-se sobre o elemento servil.
d) irônico. O assunto era sem dúvida de alta importância. A conversação
e) anafórico. era geral; as opiniões, porém, divergiam. Começou a
discussão.
28 O fragmento inaugural de A Escrava, de Maria Firmina,
A cidade ainda falava a outras tradições do velho Brasil. Sobre demonstra para o leitor a maneira como a narradora denota
o seu terreno acidentado, sulcos abertos e profundos a escravidão, não somente sob viés econômico e político, mas
indicavam a passagem do homem terrível que por ali a) moral e ético.
desentranhou o ouro. A paisagem está toda marcada de b) moral e sagrado.
cicatrizes das feridas da terra, que assim maltratada e c) moral e filosófico.
hedionda clama às gerações de hoje contra a devastação do d) político e moral.
passado. O homem moderno, limpo de coração, não deixará e) político e ético.
de sentir um frêmito de terror, reconstruindo no espetáculo
daquela paragem morta todo o quadro de uma época feita de 32
escravidão, de ouro e de sangue... Em um salão onde estavam reunidas muitas pessoas distintas
Quando Milkau narra sua ida a Minas Gerais para Lentz, é e bem colocadas na sociedade, depois de conversarem sobre
perceptível na fala do personagem e ao contexto trata-se uma diversos assuntos mais ou menos interessantes, a conversa
crítica recaiu-se sobre o elemento servil.
a) à inconfidência mineira. Sem prejuízo de sentido desse trecho do conto, os termos
b) à atividade mineradora. “distintas e bem colocadas” e “elemento servil”, baseados na
c) ao patriotismo exacerbado. sociedade colonial, poderiam ser substituídos,
d) à conjuração baiana. respectivamente, por
e) ao movimento farroupilha. a) da nobreza e servo.
b) da nobreza e escravo.
29 c) dos servos e feitor.
E essa mistura de fé religiosa e patriótica dá um caráter d) da aristocracia e servo.
distinto àquela antiga cidade, purificando-a e) da aristocracia e escravo.
momentaneamente dos vícios em que se vão dissolvendo as
outras... 33
Essa purificação a que Milkau se refere possui conotação Rasgou o subscrito, e leu-os. Nunca em sua vida tinha sofrido
a) religiosa. tão extraordinária contrariedade.
b) bíblica. Sim, minha cara senhora, — redarguiu, terminando a leitura;
c) hedionda. — o direito de propriedade, conferido outrora por lei a nossos
d) verdadeira. avós, hoje nada mais é que uma burla...
e) irônica. A lei retrocedeu, hoje protege-se escandalosamente o
escravo, contra seu senhor; hoje qualquer indivíduo diz a um
30 juiz de órfãos.
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ANÁLISE DAS OBRAS LITERÁRIAS VESTIBULAR UEMA 2022
O propósito comunicativo do trecho é nidade deles; mas este basta, para provar o que acabo de
a) aderir o leitor ao salto dos direitos dos negros à época. dizer sobre o algoz e a vítima.
b) aderir todos os personagens ao salto dos direitos dos E ela começou:
negros à época. – Era uma tarde de agosto, bela com um ideal de mulher,
c) reincidir ao leitor o salto dos deveres dos negros à época. poética como um suspiro de virgem, melancólica, e suave
d) reiterar aos personagens o salto os deveres dos negros à como sons longínquos de um alaúde misterioso.
época.
e) negar o salto dos direitos dos negros à época. Eu cismava embevecida na beleza natural das alterosas
palmeiras, que se curvavam gemebundas, ao sopro do vento,
INSTRUÇÃO: que gemia na costa.
Leia este trecho do livro A escrava, da escritora maranhense E o sol, dardejando seus raios multicores, pendia para o ocaso
Maria Firmina dos Reis, para responder às questões seguintes em rápida carreira.
Em um salão onde se achavam reunidas muitas pessoas Não sei que sensações desconhecidas me agitavam, não sei!...
distintas, e bem colocadas na sociedade e depois de versar a mas sentia-me com disposições para o pranto.
conversação sobre diversos assuntos mais ou menos De repente uns gritos lastimosos, uns soluços angustiados
interessantes, recaiu sobre o elemento servil. feriram-me os ouvidos, e uma mulher correndo, e em
O assunto era por sem dúvida de alta importância. A completo desalinho passou por diante de mim, e como uma
conversação era geral; as opiniões, porém, divergiam. sombra desapareceu.
Começou a discussão. Segui-a com a vista. Ela espavorida, e trêmula, deu volta em
– Admira-me, disse uma senhora, de sentimentos torno de uma grande moita de murta, e colando1se no chão
sinceramente abolicionistas; faz-me até pasmar como se nela se ocultou.
possa sentir, e expressar sentimentos escravocratas, no Surpresa com a aparição daquela mulher, que parecida
presente século, no século dezenove! A moral religiosa, e a foragida, daquela mulher que um minuto antes quebrara a
moral cívica aí se erguem, e falam bem alto esmagando a hidra solidão com seus ais lamentosos, com gemidos magoados,
que envenena a família no mais sagrado santuário seu, e com gritos de suprema angústia, permaneci
desmoraliza, e avilta a nação inteira! com a vista alongada e olhar fixo no lugar que a vi ocultar-se.
Levantai os olhos ao Gólgota, ou percorrei-os em torno da Ela muda, e imóvel, ali quedou-se.
sociedade, e dizei-me: Eu então a mim mesma, interroguei: Quem será a desditosa?
Para que se deu em sacrifício, o Homem Deus, que ali exalou Ia procurá-la – coitada! Uma palavra de animação, um
seu derradeiro atento? Ah! socorro, algum serviço, lembrei-me, poderia prestar1lhe.
Então não era verdade que seu sangue era o resgate do Ergui-me.
homem! É então uma mentira abominável ter esse sangue Mas no momento mesmo em que este pensamento, que
comprado a liberdade!? E depois, olhai a sociedade... Não acode a todo homem em idênticas circunstâncias, se me
verdes que a corrói constantemente!... Não sentis despertava, um homem apareceu no extremo oposto do
a desmoralização que a enerva, o cancro que a destrói? caminho.
Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e Era ele de cor parda, de estatura elevada, largas espáduas,
sempre será um grande mal. Dela a decadência do comércio; cabelos negros, e anelados.
porque o comércio, e a lavoura caminham de mãos dadas, e o Fisionomia sinistra era a desse homem, que brandia,
escravo não pode fazer florescer a brutalmente, na mão direita um azorrague repugnante;
lavoura; porque o seu trabalho é forçado. Ele não tem futuro; e da esquerda deixava pender uma delgada corda de linho.
o seu trabalho não é indenizado; ainda dela nos vem o [...].
opróbrio, a vergonha; porque de fronte altiva e
desassombrada não podemos encarar as nações livres; por 34
isso No trecho A moral religiosa, e a moral cívica aí se erguem, e
que o estigma da escravidão, pelo cruzamento das raças, falam bem alto esmagando a hidra que envenena a família no
estampa-se na fronte de todos nós. Embalde procurará um mais sagrado santuário seu, e desmoraliza, e avilta a nação
dentro nós convencer ao estrangeiro que em suas veias não inteira! O uso das vírgulas
gira uma só gota de sangue escravo... a) Separa termos que exercem a mesma função sintática.
E depois, o caráter que nos imprime, e nos envergonha! b) Isola orações coordenadas aditivas.
O escravo é olhado por todos como vítima – e o é. c) Separa casos de polissíndetos.
O senhor, que papel representa na opinião social? d) Isola orações que apresentam o mesmo sujeito.
O senhor é o verdugo – e esta qualificação é hedionda. e) Separa orações coordenadas adversativas.
Eu vou narrar-vos, se me quiserdes prestar atenção, um fato
que ultimamente se me deu. Poderia citar-vos uma infi- 35

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ANÁLISE DAS OBRAS LITERÁRIAS VESTIBULAR UEMA 2022
A mesma função sintática do termo destacado no trecho O Leia o trecho a seguir para responder às questões seguintes.
escravo é olhado por todos como vítima é observada em: – Era uma tarde de agosto, bela com um ideal de mulher,
a) Estou ansioso pela prova da UEMA. poética como um suspiro de virgem, melancólica, e suave
b) O Objetivo é movido à criatividade. como sons longínquos de um alaúde misterioso.
c) Minha casa fi ca paralela à igreja. REIS, Maria Firmina dos. A Escrava.
d) Há necessidade de estudar gramática.
e) Fiquei contente por todos. 39
As figuras de linguagem estão presentes em textos poéticos e
36 produzem expressividade no discurso, criando efeitos de
Marque a alternativa em que são classificadas sentidos variados. Assinale a alternativa que nomeia a figura
respectivamente as orações destacadas no trecho “Não sei usada para criar uma atmosfera de sensações.
que sensações desconhecidas me agitavam, não sei!... mas a) Símile.
sentia-me com disposições para o pranto.” b) Metáfora.
a) Oração substantiva subjetiva e oração coordenada c) Metonímia.
adversativa. d) Catacrese.
b) Oração substantiva objetiva direta e oração coordenada e) Sinestesia.
aditiva.
c) Oração adjetiva restritiva e oração adverbial concessiva. 40
d) Oração substantiva predicativa e oração coordenada No trecho a personagem ao referir-se ao conjunto de
adversativa. sensações geradas pela tarde de agosto acaba fazendo alusão
e) Oração substantiva objetiva direta e oração coordenada a uma determinada escola literária. Trata-se do(a)
adversativa. a) Trovadorismo.
b) Classicismo.
37 c) Romantismo.
“Surpresa com a aparição daquela mulher, que parecida d) Parnasianismo.
foragida, daquela mulher que um minuto antes quebrara a e) Modernismo.
solidão com seus ais lamentosos, com gemidos magoados,
com gritos de suprema angústia, permaneci com a vista 41
alongada e olhar fixo no lugar que a vi ocultar-se.” O
equivalente composto do verbo sublinhado é: No trecho: “Cheguei-lhe aos lábios o calmante que a ia
a) Era quebrado sustendo, e ordenei a Gabriel fosse tomar algum alimento. Era
b) Foi quebrado preciso separá-los.”, o pronome oblíquo átono cumpre a
c) Tenha quebrado função
d) Havia quebrado a) completiva verbal, uma vez que está posposta ao chegar.
e) Tem quebrado b) completiva nominal, pois se refere ao nome calmante.
c) acessória, porém delimita a possuidora dos lábios.
Leia o trecho a seguir e responda à questão 38. d) essencial, já que representa o termo subjetivo.
Observe o fragmento textual abaixo, retirado do romance e) apositiva, pois visa explicar o termo anteposto.
Canaã, de Graça Aranha.
“Todas as formas estão diluídas. Cinco horas da manhã. A Leia o trecho a seguir para responder à questão 42
carroça do padeiro passa estrondando, fazendo a quietude da Atravessaram o armazém, depois um pequeno corredor que
cidade afundada, mas um instante depois o seu vulto e o seu dava para um pátio calçado, chegaram finalmente à cozinha.
ruído se dissolvem de novo na cerração. O silêncio torna a Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros,
cair”. estava de cócoras no chão, escamando peixe, para a ceia do
seu homem, quando viu parar defronte dela aquele grupo
38 sinistro.
Nesse texto o observador não pode descrever perfeitamente Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e
as formas; nesse caso, o que provoca essa limitação do um calafrio percorreu - lhe o corpo.
observador é o(a) Num relance de grande perigo compreendeu a situação;
a) falta de conhecimento do assunto. adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê perdido para
b) existência de problemas psicológicos. sempre: adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta
c) posicionamento distante da cena. de alforria era uma mentira, e que o seu amante, não tendo
d) impossibilidade física de ver as formas. coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.
e) deficiência visual e auditiva.

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ANÁLISE DAS OBRAS LITERÁRIAS VESTIBULAR UEMA 2022
Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os
olhos em torno de si, procurando escapula, o senhor 45
adiantou-se dela e segurou-lhe o ombro. No fragmento, em consonância com o conhecimento geral do
- É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a enredo da obra, é colocado em primeiro plano o(a)
desgraçada a segui-los. - Prendam-na! a) pragmática aplicação da lei.
É escrava minha! b) retórica aprimorada do senhor de escravos.
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com c) operacionalização e hierarquia do modelo escravista.
uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando d) discurso polifônico que evidencia a dialética tão cara à
a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar. escravidão.
Os policiais, vendo que ela se não despachava, e) fala destituída de empatia e especialmente dissimulada de
desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se Tavares do Cajuí.
com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que
alguém conseguisse alcança-la, já de um só golpe certeiro e 46
fundo rasgara o ventre de lado a lado. “Aquele rio que corta a cidade, você precisa ter cuidado com
E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando ele, porque ele é fundo”.
moribunda numa lameira de sangue. Na frase acima, há um período iniciado por uma expressão,
João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, seguida de pausa, a qual não se integra sintaticamente com o
tapando o rosto com as mãos. restante, embora haja uma integração pelo sentido. A essa
Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era figura, temos:
uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer- a) silepse.
lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito. b) anáfora.
Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas. c) hipérbato.
Disponível em: http://objdigital.bn.br. Acesso em: 20 dez. d) anacoluto.
2021. e) polissíndeto

43 47
O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, a personagem Bertoleza, Milkau cavalgava molemente o cansado cavalo que alugara
diante da certeza de que fora enganada por João Romão, para ir do Queimado à cidade do Porto do Cachoeiro, no
quanto ao documento que havia sido entregue como carta de Espírito Santo. Os seus olhos de imigrante pasciam na doce
alforria, à pobre miserável, tira a própria vida. No conto A redondeza do panorama.
Escrava (1887), de Maria Firmina dos Reis, a escolha pelo Nessa região a terra exprime uma harmonia perfeita no
sacrifício diante da possibilidade de retorno ao cativeiro é conjunto das coisas: nem o rio é largo e monstruoso
anunciada pela precipitando-se como espantosa torrente, nem a serra se
personagem compõe de grandes montanhas, dessas que enterram a
a) Carlos. cabeça nas nuvens e fascinam e atraem como inspiradoras de
b) Joana. cultos tenebrosos, convidando à morte como um tentador
c) Gabriel. abrigo... O Santa Maria é um pequeno filho das alturas, ligeiro
d) Urbano. em seu começo, depois embaraçado longo trecho por pedras
e) Antônio que o encachoeiram, e das quais se livra num terrível esforço,
mugindo de dor, para alcançar afinal a sua velocidade ardente
Leia o trecho a seguir para responder à questão 44 e alegre. Escapa-se então por entre uma floresta sem
– Sei que esta negra está morta, exclamou ele, e o filho acha- grandeza, insinua-se vivaz no seio de colinas torneadas e
se aqui: tudo isto teve a bondade de comunicar-me ontem. brandas, que parece entregarem-se complacentes àquela
Esta negra, continuou, olhando fixamente para o cadáver – risonha e úmida loucura... Elas por sua vez se alteiam
esta negra era alguma coisa monomaníaca, de tudo tinha graciosas, vestidas de uma relva curva que suave lhes desce
medo, andava sempre foragida, nisto consumiu a existência. pelos flancos, como túnica fulva, envolvendo-as numa carícia
Morreu, não lamento esta perda; já para nada prestava. O quente e infinita. A solidão formada pelo rio e pelos morros
Antônio, meu feitor, que é um excelente e zeloso servidor, é era naquele glorioso momento luminosa e calma. Sobre ela
que se cansava em procurá-la. Porém, minha senhora, este não pairava a menor angústia de terror.
negro! – designava o pobre Gabriel, com este negro a coisa ARANHA, G. Canaã. São Paulo: Ática, 1998 (fragmento).
muda de figura: minha querida senhora, este negro está
fugido: espero, mo entregará, pois sou o seu legítimo senhor, A descrição presente no trecho remete ao projeto literário
e quero corrigi-lo. dosa) trovadores que personificavam a natureza
REIS, Maria Firmina dos. A Escrava. apresentando-a como confidente da voz poética.

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ANÁLISE DAS OBRAS LITERÁRIAS VESTIBULAR UEMA 2022
b) cronistas quinhentistas que de forma pragmática projetavam desordenadas da cumeeira. O pequeno guia
evidenciavam o potencial de exploração do espaço natural. adiantou-se para a casa, instintivamente, como movido por
c) poetas barrocos que usavam a natureza como símbolo do longo hábito. À porta do rancho um velho cafuzo com os olhos
caráter fugaz da existência humana sobre a terra. nevoados fitava vagamente o espaço, encostado ao moirão:
d) prosadores românticos que descreviam de forma poética a apenas trajava uma usada calça, o tronco estava nu, e sob a
exuberância das paisagens naturais da recente nação pele ressequida desenhava-se a envergadura de um esqueleto
brasileira. de atleta; sobre o dorso, como em moribundo cepo de árvore,
e) poetas parnasianos que procuravam representar de forma crescia uma penugem branca encaracolada, que subia até ao
impessoal, impassível e minuciosamente imagens naturais queixo e formava uma rasteira barba. A sua postura era de
dotadas de plasticidade. adoração rudimentar, de um nunca terminado pasmo diante
do esplendor e da glória do mundo. No batente da porta
Leia o trecho a seguir para responder à questão 48. sentava-se uma mulata moça. Toda ela era a própria
– Adiante... Adiante... Não pares... Eu vejo. Canaã! Canaã! indolência. Os cabelos não penteados faziam pontas como
Mas o horizonte da planície se estendia pelo seio da noite e se chifres, a camisa suja caía à toa no colo descarnado, e os
confundia com os céus. peitos de muxiba pendiam moles sobre o ventre; em pé, ao
Milkau não sabia para onde o impulso os levava: era o seu lado, um negrinho vestido apenas de um cordão ao
desconhecido que os atraía com a poderosa e magnética força pescoço, donde se dependuravam uma figa de pau e um signo
da Ilusão. Começava a sentir a angustiada sensação de uma de salomão, mirava embasbacado os cavaleiros que se
corrida no Infinito... achegavam ao tijupá. Milkau cumprimentou o grupo, que sem
– Canaã! Canaã!... suplicava ele em pensamento, pedindo à o menor alvoroço o deixava aproximar-se.
noite que lhe revelasse a estrada da Promissão. ARANHA, G. Canaã. São Paulo: Ática, 1998 (fragmento).
E tudo era silêncio, e mistério... Corriam... corriam. E o mundo
parecia sem fim, e a terra do Amor mergulhada, sumida na 49
névoa incomensurável... E Milkau, num sofrimento Ao relacionar o trecho com o título da obra o que fica evidente
devorador, ia vendo que tudo é o(a)
era o mesmo; horas e horas, fatigados de voar, e nada variava, a) filiação do autor ao Realismo.
e nada lhe aparecia... Corriam... corriam... b) manutenção do espírito idealista dos românticos.
ARANHA, G. Canaã. São Paulo: Ática, 1998 (fragmento). c) predileção pela descrição de ambiente marginal típico do
Naturalismo.
48 d) inclinação do autor para adoção de viés místico e
A leitura do fragmento, no conjunto geral da obra, revela um transcendental tipicamente simbolista.
componente formal singular que é o(a) e) antecipação de postura moderna ao contrapor o
a) ironia em relação ao ideal do protagonista. nacionalismo ufanista que cria uma utopia com o
b) linguagem construída a partir de insinuações constantes. nacionalismo crítico que é uma distopia.
c) final aberto que permite ao leitor um grande envolvimento
com o drama central.
d) análise psicológica ou introspecção usada como PARTE II
possibilidade de dissecar a personalidade dos indivíduos.
e) predomínio do discurso indireto-livre que cria um 01.
embaraço no discernimento das vozes narrativas. ─ Desculpe-me, senhor Tavares, disse-lhe: Em conclusão,
apresento-lhe um cadáver e um homem livre. Gabriel, ergue a
Leia o trecho a seguir para responder à questão 49 fronte. Gabriel, és livre! O senhor Tavares, cumprimentou, e
Milkau prosseguia pela estrada, abrangendo ainda com os retrocedeu no seu fogoso alazão, sem dúvida alguma mais
olhos o quadro dessa triste fazenda. O vulto do coronel ficava furioso que um tigre. (REIS, 2004, p. 262).
imóvel na soleira da escada, presidindo com o olhar pasmado
ao desmoronar silencioso daqueles restos de cultura, No trecho acima pertencente ao conto “A escrava”, de Maria
esperando na lúgubre atitude do inconsciente a lenta invasão Firmina dos Reis, a ideia de figura de linguagem que
do mato, que numa desforra triunfante vinha vindo, predomina no texto é:
circunscrevendo, apertando o homem e as coisas humanas... a) metáfora pois diz sobre a condição de Gabriel, subalterno,
Os viajantes continuavam a mover-se dentro daquela olhar o mundo de cabeça baixa, submisso ao sistema
paisagem onde as forças da vida parecia estarem paralisadas escravista, e ao erguer a fronte, a personagem desfruta de
e onde tudo tinha a fixidez e a perfeição da imobilidade, liberdade.
quando, quebrando o caminho à direita, eles enfrentaram b) metonímia, pois é o efeito pela causa, Gabriel, agora é livre,
quase subitamente com um rancho de moradores. Era um mesmo que tenha perdido sua mãe pela escravidão.
pardieiro armado em cruz, coberto de palha cujas línguas se
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ANÁLISE DAS OBRAS LITERÁRIAS VESTIBULAR UEMA 2022
c) hipérbole, o conto é Romântico apesar suas ideias volta à casa, dizendo que Maria tinha matado o bebê e dado a
abolicionistas, a autora carrega tintas dramáticas em sua criança aos porcos. Dois dias depois, Perutz estava presa na
narrativa. cadeia de Cachoeiro. ( Aranha, Graça, Canaã)
d) metáfora, senhor Tavares representa esse tigre que protege Com relação aos textos 1 e 2, pertencentes ao conto A escrava
e acalanta os oprimidos. e Canaã, de Maria Firmina dos Reis e Graça Aranha,
e) antítese os afrodescendentes ainda lutam para o respectivamente, os fragmentos dialogam com o mesmo tema
reconhecimento de igualdade entre os homens. em paralelo. Levando em consideração a abordagem do
assunto, percebe-se que
02 a) as obras abordam o racismo e o branco salvador como
Esta negra, continuou, olhando fixamente para o cadáver – temas principais
esta negra era alguma coisa monomaníaca, de tudo tinha b) opressão feminina são temas que conseguem dialogar com
medo, andava sempre foragida, nisto consumiu a existência. os textos
Morreu, não lamento esta perda; já para nada prestava. O c) o militarismo e a escravidão é a maior pauta nos fragmentos
Antônio, meu feitor, que é um excelente e zeloso servidor, é citados
que se cansava em procurá-la. (REIS, 2004, p. 260). d) opressão feminina e o conflito de adaptação à nova terra
Em relação ao texto “ A escrava”, pode-se entender que: são tratados nos respectivos textos.
a) denuncia as injustiças oriundas do sistema escravagista e) opressão feminina e o imperialismo germânico , mais
brasileiro e chama a atenção para as condições subumanas especificamente por causa do personagem Tavares de A
de negros e índios do Brasil do século XVI escrava dialoga com o texto 2 de Canaã.
b) A protagonista Joana é uma escrava assim como sua mãe
Ursula, juntas vão buscar vencer os preconceitos de uma 04
sociedade escravocrata e machista. Levantai os olhos ao Gólgota, ou percorrei-os em torno da
c) denuncia as injustiças oriundas do sistema escravagista sociedade, e dizei-me:
brasileiro e chama a atenção para as condições subumanas as ─ Para que se deu em sacrifício, o Homem Deus, que ali exalou
quais os cativos haviam sido relegados, do mesmo modo em seu derradeiro atento?
que aponta para o lugar obscuro que cercava as mulheres O fragmento acima, extraído do conto “ A escrava”, de Maria
naquele contexto político-cultural de final de século. Firmina dos Reis, explicita
d) A publicação de “A Escrava”, obra que representa o auge da a) a contextualização da época, as vésperas da inconfidência
maturidade intelectual de Maria Firmina dos Reis, ocorreu em mineira
1887, poucos meses antes da promulgação da Lei Áurea, b) a intertextualização quando a narradora cita uma passagem
sendo um grande sucesso comercial na época e considerado bíblica aos convivas
um dos grandes textos do Naturalismo no Brasil. c) o hipertexto, extraído do livro Os escravos de Castro Alves,
e) Diferentemente da tessitura social em que a autora estava pois o contexto do conto é o abolicionismo
inserida quando escreveu seu romance Úrsula, de 1859, a essa d) contextualização quando a narradora cita o gólgota,
altura dos acontecimentos, os ventos já sopravam com maior extraído do poema Navio negreiro de Castro Alves.
intensidade a favor da libertação dos africanos e dos e) Intertextualização ao citar uma passagem do romance “ A
afrodescendentes escravizados, o que influenciaria escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães.
significativamente os rumos de sua literatura moderna.
05
03 No discurso indireto livre, há fusão dos discursos direto e
TEXTO 1 indireto e a supressão de marcas que indiquem a
Não sei quanto tempo durou este estado de torpor; acordei mudança das falas no discurso. Seria marca do discurso
aos gritos de meus pobres filhos que me arrastavam pela indireto livre, no fragmento acima, o seguinte trecho:
saia, chamando-me: Mamãe! Mamãe! Ah! Minha senhora! [...] a) “Quem não esteve em repouso absoluto não viveu em si
Tinham metido adentro à porta da minha pobre casinha, e mesmo;”
nela penetrado meu senhor, o feitor, e o infame traficante. Ele, b) “Milkau caía em longa cisma, funda e consoladora.”
e o feitor arrastavam sem coração, os filhos que se abraçavam c) “no turbilhão a sua boca proferiu acentos que não
à sua mãe. (REIS, 2004, p. 257). percebia;”
TEXTO 2 d) “todas geradas nas forças misteriosas e fecundas do
Um dia, trabalhando, solitariamente, no cafezal, começa a silêncio...”
sentir as dores do parto. Temendo retornar à casa e ser e) “sereno, ele mesmo se espanta do fluido perturbador que
maltratada, resiste até cair e, esvaindo-se em sangue, dá luz emanava dos seus nervos”
ao bebê. Alguns porcos, que estavam nas proximidades,
correm para lambê-los, mordendo o bebê que falece. A filha 06
dos patrões chega nesse instante e, sem nada perguntar,
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ANÁLISE DAS OBRAS LITERÁRIAS VESTIBULAR UEMA 2022
Lá no alto da colina um casarão pardacento misturava-se à a) De modernidade.
bruma azul-acinzentada do longe, e, à medida que Milkau b) De velocidade.
prosseguia, o horizonte se ia estreitando, o morro na frente c) De subsequência.
tapava a estrada, e parecia que esta, estirando-se num d) De retrocesso.
esforço, ia morrer sobre ele. e) De adiantamento
O termo “esta” retoma
a) colina.
b) bruma.
c) horizonte.
d) morro.
e) estrada.

07
[...] A terra era cansada e a plantação, medíocre; ao cafezal
faltava o matiz verde-chumbo, tradução da força da seiva,
e coloria-se de um verde-claro, brilhando aos tons dourados
da luz; os pés de mandioca finos, delgados, oscilavam, como
se lhes faltassem raízes e pudessem ser levados pelo vento,
enquanto o sol esclarecia docemente o grande céu e o ar era
cheio dos cantos do rio e das vozes dos pássaros, que
prolongavam a ilusão da madrugada. Sentia-se, ao contemplar
aquela terra sem forças, exausta e risonha, uma turva mistura
de desfalecimento e de prazer mofino. A terra morria ali como
uma bela mulher ainda moça, com o sorriso gentil no rosto
violáceo, mas extenuada para a vida, infecunda para o amor.
O fragmento denota uma característica do naturalismo,
nomeada como
a) determinismo científico.
b) marcas de oralidade.
c) crítica aos valores sociais.
d) nacionalismo crítico.
e) detalhismo descritivo

08
O casarão, à vista agora, era grande e acachapado, com uma
imensa varanda em volta, sem janelas, e para onde se
abriam as desbotadas portas do interior. Fora branco, mas
estava enegrecido, com uma cor parda e desigual;
O termo “enegrecido”, dentro do contexto, denota um modo
a) preconceituoso.
b) depreciativo.
c) convencional.
d) eloquente.
e) formal.

09
Milkau notou, além disso, no grande desleixo da casa
abandonada, restos de maquinismos espalhados pelo chão,
tubos, caldeiras, rodas dentadas, atestando ter havido ali uma
instalação melhor, que o homem, caindo de prostração em
prostração, perdendo todo o polido de uma civilização
artificial, abandonara agora em sua decadência, para se servir
dos aparelhos primitivos que se harmonizavam com a feição
embrutecida do seu espírito.
Qual a perspectiva abordada no fragmento?
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