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Ética Profissional

A reflexão sobre as acções realizadas no exercício de uma profissão, ou seja, sobre a


ética profissional, deve iniciar bem antes da prática profissional.

Segundo Glock e Goldim (2003) a fase da escolha profissional, ainda durante a


adolescência muitas vezes, já deve ser permeada por esta reflexão. A escolha por uma
profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto de deveres profissionais passa a ser
obrigatório. Geralmente, quando você é jovem escolhe sua carreira sem conhecer o
conjunto de deveres que está preste ao assumir, tornando-se parte daquela categoria que
escolheu.

Toda a fase de formação profissional, isto é, o aprendizado das habilidades e


competências referentes à prática específica numa determinada área, deve incluir a
reflexão antes mesmo do início de qualquer actividade que irá realizar. Ao completar a
formação em nível superior, a pessoa faz um juramento que significa sua adesão e
comprometimento com a categoria profissional onde formalmente ingressa. Isto
caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional, esta adesão voluntária a um
conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais adequadas para o seu exercício.

Mas pode ser que você precise começar a trabalhar antes de estudar ou paralelamente
aos estudos e inicia uma actividade profissional sem completar os estudos ou em área
que nunca estudou, aprendendo na prática. Isto não exime você da responsabilidade
assumida ao iniciar esta actividade! O fato de uma pessoa trabalhar numa área que não
escolheu livremente, o fato de “pegar o que apareceu” como emprego por precisar
trabalhar, o fato de exercer actividade remunerada onde não pretende seguir carreira,
não isenta da responsabilidade de pertencer, mesmo que temporariamente, a uma classe,
e há deveres a cumprir.

Um jovem que, por exemplo, exerce a actividade de auxiliar de limpeza durante o dia e,
à noite, faz curso de Contabilidade e Auditoria, certamente estará pensando sobre seu
futuro em outra profissão, mas deve sempre reflectir sobre sua prática actual.

Você deve estar se questionando como deve ser esta reflexão. Algumas perguntas
podem guiar a reflexão, até ela tornar-se um hábito incorporado ao dia-a-dia.
Tomando-se o exemplo anterior, esta pessoa pode se perguntar sobre os deveres
assumidos ao aceitar o trabalho como auxiliar de limpeza, como está cumprindo suas
responsabilidades, o que esperam dela na actividade, o que ela deve fazer e como deve
fazer, mesmo quando não há outra pessoa olhando ou conferindo.

Pode perguntar a si mesmo: estou sendo bom profissional? Estou agindo


adequadamente? Realizo correctamente minha actividade?

É fundamental ter sempre em mente que há uma série de atitudes que não estão
descritas nos códigos de todas as profissões, mas que são comuns a todas as actividades
que uma pessoa pode exercer.

Atitudes de generosidade e cooperação no trabalho em equipe, mesmo quando a


actividade é exercida solitariamente em uma sala, fazem parte de um conjunto maior de
actividades que dependem do bom desempenho destas. Uma postura pró-activa, ou seja,
não ficar restrito apenas às tarefas que foram dadas a você, mas contribuir para o
engrandecimento do trabalho, mesmo que ele seja temporário.

O auxiliar de limpeza que verifica se não há unidade no local, o médico cirurgião que
confere as suturas nos tecidos internos antes de completar a cirurgia, o contador que
impede uma fraude ou desfalque, ou que não mascara o balanço de uma empresa, o
engenheiro que utiliza o material mais indicado para a construção de uma obra, todos
estão agindo de forma eticamente correcta em suas profissões, ao fazerem o que não é
visto, ao fazerem aquilo que, alguém descobrindo, não saberá quem fez, mas que estão
preocupados, mais do que com os deveres profissionais, com as pessoas.

As leis de cada profissão são elaboradas com o objectivo de proteger os profissionais, a


categoria como um todo e as pessoas que dependem daquele profissional, mas há muitos
aspectos não previstos especificamente e que fazem parte do comprometimento do
profissional em ser eticamente correcto, aquele que, independente de receber elogios,
faz a coisa certa.

É imprescindível estar sempre bem informado, acompanhando não apenas as mudanças


nos conhecimentos técnicos da sua área profissional, mas também nos aspectos legais e
normativos.
Se você se encontra em um dilema moral relacionado com sua profissão, procure obter
ajuda. Converse com as pessoas nas quais você confia. Certifique-se de que você tem
todos os fatos. Pense em caminhos alternativos para a sua acção com base em princípios
diferentes. Encontre uma solução da qual você possa ficar orgulhoso.

Síntese da Aula

Moral é o conjunto de normas, princípios e costumes que orientam o comportamento


humano tendo como base os valores próprios a uma dada comunidade ou grupo social.

A Moral é tanto um conjunto de normas que determinam como deve ser o


comportamento quanto acções realizadas de acordo ou não com tais normas. Para que
haja conduta moral é preciso que exista uma pessoa (sujeito, agente) consciente, isto é,
que conhece a diferença entre o bem e o mal, certo e errado, permitido e proibido,
virtude e vício.

Ética é uma reflexão sistemática sobre o comportamento moral. Ela investiga, analisa e
explica a moral de uma determinada sociedade. O termo “Ética Profissional” significa o
conjunto de princípios a serem observados pelos indivíduos no exercício de sua
profissão.

As normas morais e as normas jurídicas são estabelecidas pelos membros da sociedade


e ambas se destinam a regulamentar as relações humanas.

Exercícios de aprendizagem

Nas questões a seguir assinale “V” para afirmativas verdadeiras e “F” para falsas:

1. ( ) Moral é o conjunto de normas, princípios e costumes que orientam o


comportamento humano. Ela está directamente relacionada com as práticas culturais,
portanto, muda conforme a época histórica e o lugar.
2. ( ) O sujeito moral é a uma pessoa consciente de seus interesses em detrimento aos
outros, demonstra ter vontade para realizar seus próprios objectivos e é responsável por
seus actos, não se importando com as consequências.
3. ( ) À medida que o indivíduo desenvolve a reflexão crítica, os valores herdados
passam a ser colocados em questão. Assim, ele reflecte sobre as normas e decide aceitá-
las ou negá-las.
4. ( ) A ética investiga, analisa e explica a moral de uma determinada sociedade.
Portanto, a ética define-se como o conhecimento, a teoria ou a ciência do
comportamento moral.
5. ( ) Na empresa, fazer uso do cargo para benefício próprio, comentar com outros os
problemas que acontecem dentro de sua equipe e não assumir os seus erros são
exemplos de um sujeito moral.
6. ( ) Faltar com o compromisso para com o cliente, vender produtos falsificados, não
cumprir com as obrigações fiscais e trabalhistas e prejudicar o meio ambiente são
atitudes que não correspondem a um sujeito moral.
7. ( ) Um pai de família desempregado, com filhos pequenos e a esposa doente, recebe
uma oferta de emprego para o qual deverá ser desonesto e beneficiar seu patrão. A
decisão dele em recusar demonstra o seu comportamento moral.
8. ( ) A maneira como a consciência individual vai reagir diante das situações não
depende da formação e carácter da pessoa nem de influências externas como, por
exemplo, a televisão.
9. ( ) As normas morais são cumpridas a partir de uma convicção íntima de cada
indivíduo, enquanto as normas jurídicas devem ser cumpridas, havendo ou não adesão
do indivíduo a elas, sob pena de punição do Estado em casos de desobediência.
10. ( ) Na ética profissional existe uma adesão voluntária das pessoas a um conjunto de
regras estabelecidas como sendo as mais adequadas para o exercício da profissão.
Portanto, pessoas que ainda não concluíram a formação não precisam seguir nenhum
princípio de ética profissional.

11. O que há em comum entre a ética e sua relação com a moral?

Referências
GLOCK, Rosana Soibelmann, GOLDIM, José Roberto. Ética profissional é
compromisso social. Mundo Jovem. Porto Alegre: PUCRS, 2003.
CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.
CORDI, Cassiano. Para filosofar. 4. ed. São Paulo: Scipione, 2003. COTRIM,
Gilberto. Fundamentos de filosofia: história e grandes temas. 15. ed. São Paulo, 2002.
O Conceito de Valor

Segundo da Costa, de Lima e da Silva (2015), o termo valor é investigado é conceituado


em diferentes áreas do conhecimento, sendo objeto de estudo da filosofia, sociologia,
economia, psicologia, antropologia e política, possuindo nas ciências econômicas uma
interpretação predominantemente material e em contrapartida a sociologia reconhece os
valores como fatos sociais. Dentre essas áreas do conhecimento, o valor como conceito
teve seu estudo aprofundado em diferentes épocas, sendo nas épocas antigas uma
investigação mais voltada à filosofia e em tempo atuais voltadas à economia (p. 1326-
1327).

Além disso, dentro de um mesmo campo de estudo, o conceito de valor tem diferentes
interpretações, sofrendo também mudanças evolutivas de percepção e/ou
recaracterização, influenciadas muitas vezes pelo ambiente externo e cultural, além do
aumento da complexidade e instabilidade da sociedade moderna.

O último e mais recente tema para discussão que tem sido abordado, influenciado pelas
demandas externas, é a questão da sustentabilidade, na qual já existe uma pressão para
que a sociedade contribua para um desenvolvimento sustentável e suas organizações
adicionem valor aos seus produtos e serviços de forma sustentável, contribuindo nas
perspectivas financeira, ambiental e social.

Porém, como abordado por Freese (1997), manter a sustentabilidade cria um dilema
entre os valores coletivos da sociedade e os valores dos indivíduos. Portanto, para
resolver este problema, mais atenção deve ser dada para os mecanismos de criação de
valor, pois é aparentemente impossível de alcançar uma solução a partir de pontos de
vista independentes, como a tecnologia, economia ou psicologia.

Em vez disso é importante estudar os problemas por meio da integração de alguns


aspectos de valor em relação à criação de valor sustentável na sociedade, sendo
necessário repensar o conceito de valor das relações entre os seres humanos, produtos e
também da sociedade como problemas de tomada de decisão.
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE VALOR

Acredita-se que a primeira investigação acadêmica sobre o conceito de valor foi


realizada por sábios da Grécia antiga. Axiologia, do grego ‘axios’ (valor) e ’logia’
(estudo) é a disciplina que estuda os valores de uma maneira sistemática (da Costa, de
Lima & da Silva 2015, p. 1328).

Ueda et al. (2009) citam que duas origens importantes da teoria de valores
prevaleceram: a “Teoria de formas (ou Teoria das Ideias)'', formulada por Platão e o
“hedonismo”, que teve origem no pensamento de Epicuro. A Teoria das Formas de
Platão afirma que os valores existem como realidades absolutas que são independentes
do mundo material e das limitações da sensação humana.

Em contrapartida, Epicuro enfatizou o prazer como o objetivo mais importante dos


seres humanos. As pessoas devem se esforçar para maximizar o prazer e minimizar a
dor. Em um sentido limitado, valor reside na natural busca humana de prazer
(STAINTON, 2001; SCHMIDT-PETRI, 2005).

Apesar de duas atitudes diferentes relacionados aos valores existentes, a principal


questão abordada pelos filósofos da Grécia antiga era como as pessoas poderiam viver
bem. Por conta disso, é necessário considerar o que são valores corretos para as pessoas.
Por isso, é importante examinar por que as pessoas começaram a estudar os problemas
de valor em diferentes períodos da história (UEDA et al., 2009).

No século 17, a retomada da noção de valor começou com o ressurgimento da noção


subjetiva de bem, proposto por Hobbes (WATKINS, 1965). O autor explicou
cientificamente as conexões lógicas entre os fenômenos da vida social e suas causas.
Em uma época de frequentes guerras, o autor descreve a ordem como sendo totalmente
útil e valiosa para a vida das pessoas, pois é um instrumento necessário contra as
brutalidades da guerra. Segurança, proteção e paz, desejada por todos como valores
extremos, são alcançados por meio de um “contrato social” onde todos os homens
renunciam seu egoísmo natural, ambição e desejo de poder em favor de uma autoridade
política superior (monarquia absoluta) que todos devem obedecer.

No século 18, por outro lado, os filósofos começaram a estudar a subjetividade dos
valores. Segundo Hacking (1979), epistemologia, ou Teoria do Conhecimento, é um
ramo da filosofia preocupado com a natureza do conhecimento, tais como verdade,
crença e justificação.

Lotze (1864), por sua vez, em seu livro Mikrokosmos, defende uma distinção entre
“ser” e “valor”. O “mundo dos valores” é distinto do “mundo dos entes”. Os entes
devem ser estudados pelas ciências da natureza, já os valores são assunto das ciências
do espírito ou da cultura.

Se o “ser” dos entes é algo que se apreende ao intelecto, o “valor” é algo que se aprende
pelo “sentimento de estima”, uma realidade psicossocial e cultural. O “sentimento
espiritual de estima”, sugere Lotze, é o instrumento da razão para a organização
valorativa ou axiológica da realidade (TEIXEIRA, 2008).

Valor subjetivo, por sua vez, ganhou destaque como uma das principais preocupações
para a psicologia no final do século 19. Contudo, seria um problema difícil para
psicólogos definir valores como faziam os filósofos na mesma época. Freud, que fundou
a escola psicanalítica da psicologia, analisou valores humanos naturais do ponto de vista
da inconsciência (VALENSTEIN,1989).

Piaget estudou problemas de valor do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo da


criança, particularmente abordando esquema de mudanças em vários estágios de
desenvolvimento (FELDMAN, 1997). Em Behaviorismo, do início do século 20, os
valores foram estudados do ponto de vista da aprendizagem (ZURIFF, 2002).

Problemas de valor também são descritos na literatura da psicologia humanista de


meados do século 20. Maslow (1943) desenvolveu a teoria da motivação humana,
baseada em uma hierarquia de necessidades, e vê os valores desde um ponto de vista de
necessidades fundamentais.

No topo desta hierarquia ele aponta as necessidades de autorrealização, tais como valor,
criatividade e moralidade, que são evitados em outras áreas de pesquisa psicológicas. A
partir da década de 1960 até hoje, muitos psicólogos têm sido fortemente afetados pelas
ciências cognitivas e atualmente a abordagem cognitiva tornou-se uma das correntes
principais em muitas áreas de pesquisas psicológicas (BEST, 1998).

Infelizmente, em psicologia cognitiva, os valores não são explorados ativamente porque


são difíceis de investigar de um ponto de vista de processamento de informação. Isso
pode ser verdade, não só na psicologia, mas também em outras ciências cognitivas. É
difícil definir conceitos abstratos como valores mantidos por seres humanos usando
manipulação simbólica. Por essa razão, os estudos de valor em muitas áreas acadêmicas
apresentam períodos em branco nas últimas décadas (UEDA et al., 2009).

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