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DOSSIÊ

MULHERES NEGRAS
E JUSTIÇA REPRODUTIVA
2020 - 2021
O dossiê Mulheres Negras e Justiça Reprodutiva é uma iniciativa de Criola vol-
tada ao levantamento e organização de dados quantitativos nacionais e estaduais
sobre Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCAs)
e Direitos Sexuais e Reprodutivos (DSDR) e também à produção popular de dados
qualitativos sobre esses cenários por cerca de 100 mulheres, em sua maioria negras,
em três localidades do estado do Rio de Janeiro: Belford Roxo; Duque de Caxias;
Zona Oeste do Rio.

Agradecemos a todas as mulheres de luta que contribuíram com essas infor-


mações e aos grupos mobilizadores Coletiva Popular de Mulheres da Zona Oeste/
Teia de Solidariedade Zona Oeste, Programa Social Sim! Eu sou do Meio e Roda
de Mulheres do Apadrinhe um Sorriso.

Boa leitura!
DOSSIÊ: Mulheres Negras e Justiça Reprodutiva

Coordenação de pesquisa: Lia Maria Manso Siqueira (Criola)

Pesquisa e redação: Nathália Diórgenes Ferreira Lima

Parceiras no levantamento dos dados, pesquisa e redação:

Ana Gabriela Ribeiro (Coletiva Zona Oeste/Teia de Solidariedade Zona Oeste);


Débora do Espírito Santo da Silva (Programa social Sim! Eu Sou do Meio);
Fabiana da Silva (Roda de Mulheres Apadrinhe um Sorriso);
Monique Lima (Coletiva Zona Oeste/Teia de Solidariedade Zona Oeste).

Revisão de texto: Júlia Tavares

Equipe de Criola:

Lúcia Maria Xavier de Castro (Coordenação geral)


Cristina Carvalho (Coordenação de Gestão)
Júlia Tavares (Coordenação de Comunicação)
Lia Maria Manso Siqueira (Coordenação de Projetos)
Marina Ribeiro (Coordenação de Projetos)
Mônica Sacramento (Coordenação de Projetos)

Projeto gráfico: Agência Malacacheta

Disponibilizado por meio não impresso


Rio de Janeiro, Setembro de 2021

Realização: Parceiras:

Avenida Presidente Vargas, 482 - sobreloja, 203 - Centro


CEP 20071-000 - Rio de Janeiro - RJ.

Telefones • 55 (21) 2518-7964 • 984781627


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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.............................................................6 Mortalidade.............................................................. 40
Violências e agravos em saúde.................................. 41
CRIOLA...................................................................................... 7
Aborto..................................................................... 42
METODOLOGIA........................................................................... 9
Saúde mental........................................................... 43
PROPOSTA PARA UTILIZAR ESTE MATERIAL.............................13
Violência obstétrica.................................................. 44
DIMENSÕES DE (IN)JUSTIÇA REPRODUTIVA NO BRASIL Violências contra população LGBTQIAP+.................... 45
E NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: DADOS QUANTITATIVOS Análise dos dados.................................................... 46
EM PERSPECTIVA................................................................. 17 DIMENSÃO 2: SITUAÇÃO DE SAÚDE E DIREITOS HUMANOS
DIMENSÃO 1: SITUAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS ECONÔMICOS, SEXUAIS E REPRODUTIVOS – RIO DE JANEIRO.......................... 50
SOCIAIS, CULTURAIS E AMBIENTAIS (DHESCAS) – BRASIL.........18 Mortalidade............................................................... 51
Vulnerabilidade social................................................ 19 Violência e agravos em saúde................................... 52
Programa Bolsa Família............................................. 20 Aborto..................................................................... 53
Segurança alimentar e nutricional............................... 21 Saúde mental........................................................... 54
Saneamento básico.................................................. 22 Análise dos dados.................................................... 55
Acesso à tecnologia................................................. 23 DIMENSÃO 3: SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIAS E VIOLAÇÕES
Trabalho................................................................... 24 PROMOVIDAS PELO ESTADO – BRASIL...................................... 57
Trabalho infantil.........................................................25 Homicídios e encarceramento................................... 58
Educação..................................................................26 Segurança pública.....................................................59
Análise dos dados.....................................................27 Violência contra a mulher.......................................... 60
DIMENSÃO 1: SITUAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS ECONÔMICOS, Violência sexual......................................................... 61
SOCIAIS, CULTURAIS E AMBIENTAIS (DHESCAS) – RIO DE JANEIRO Violação de direitos humanos.................................... 62
31 Racismo religioso..................................................... 63
Vulnerabilidade social ...............................................32 Análise dos dados.................................................... 64
Segurança alimentar..................................................33
DIMENSÃO 3: SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIAS E VIOLAÇÕES
Saneamento............................................................. 34 PROMOVIDAS PELO ESTADO – RIO DE JANEIRO......................... 67
Trabalho....................................................................35
Homicídios e encarceramento................................... 68
Trabalho infantil.........................................................36
Segurança pública.................................................... 69
Análise dos dados.....................................................37
Vítimas de crimes raciais............................................70
DIMENSÃO 2: SITUAÇÃO DE SAÚDE E DIREITOS HUMANOS Análise dos dados..................................................... 71
SEXUAIS E REPRODUTIVOS – BRASIL....................................... 39

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SUMÁRIO
DIMENSÕES DE (IN)JUSTIÇA REPRODUTIVA NO RJ Violência obstétrica vivenciada por mulheres
gestantes ou em situação de abortamento.................87
(BELFORD ROXO - DUQUE DE CAXIAS - ZONA OESTE):
Esterelização de mulheres nos territórios................... 88
DADOS QUALITATIVOS EM PERSPECTIVA .............................73
Acesso à saúde........................................................ 89
Introdução aos dados qualitativos..............................74
Saúde mental das mulheres...................................... 90
DIMENSÃO 1: SITUAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS ECONÔMICOS, Trajetórias reprodutivas.............................................. 91
SOCIAIS, CULTURAIS E AMBIENTAIS......................................... 75
DIMENSÃO 3: SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIAS E VIOLAÇÕES
Análise dos dados.....................................................76 PROMOVIDAS PELO ESTADO..................................................... 92
Direito à moradia........................................................77
Análise dos dados.....................................................93
Saneamento básico e coleta de lixo............................78
Violências promovidas pelo Estado
Acesso à água...........................................................79
e grupos armados.................................................... 94
Segurança alimentar................................................. 80
Ação das mulheres negras como resistência
Trabalho e renda........................................................ 81
ao cenário de violência..............................................95
Uso do tempo de lazer e o trabalho de cuidado......... 82
Encarceramento........................................................96
DIMENSÃO 2: SITUAÇÃO DE SAÚDE E DIREITOS HUMANOS Violência em razão da política de remoção
SEXUAIS E REPRODUTIVOS...................................................... 83 e violação ao direito de moradia.................................97
Análise dos dados.................................................... 84 Intolerância religiosa e racismo religioso.....................98
Aborto e violência.....................................................85
REFERÊNCIAS.............................................................. 99
Acesso ao aborto legal............................................. 86

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APRESENTAÇÃO
CRIOLA

Criola é uma organização da sociedade civil fundada e conduzida por mulheres


negras trans e cis desde 1992. A organização foi criada para enfrentar o racismo pa-
triarcal cisheteronormativo, que ainda gera desigualdades e graves violações dos
direitos das mulheres negras, em especial relacionadas à saúde sexual e reprodutiva.

Acreditamos que mulheres negras trans e cis são agentes de transformação


para uma sociedade fundada em valores de justiça, equidade e solidariedade, em
que suas presenças e contribuições sejam acolhidas como bens da humanidade.
Entre os objetivos que motivam a consolidação deste material, destacamos: pro-
duzir conhecimento qualificado por dados específicos sobre o contexto atual das
questões de direitos; formar lideranças negras aptas a elaborar suas agendas de
demanda por políticas públicas e a conduzir processos de interlocução com ges-
tores públicos; incrementar a pressão política sobre governos e demais instâncias
públicas pela efetivação de direitos, particularmente o direito à saúde, o acesso à
justiça e à equidade de gênero, raça, identidade de gênero e orientação sexual.

O presente Dossiê se insere na necessidade de fazer frente à ampliação de


injustiças, opressões e hierarquias reprodutivas, estruturadas em racismo, sexis-
mo, LGBTQIAP+fobia e opressões correlatas, aliadas à negação aos direitos das

7
mulheres, agravado pela pandemia. Através dos dados apresentados e produzidos
pretendemos consolidar informações e reflexões críticas para fortalecimento dos
trabalhos de Criola, de outras mulheres negras e demais sujeitos, embasadas na
leitura e estratégia da Justiça Reprodutiva, que nos permite olhar as iniquidades
em saúde sexual e reprodutiva com cenário amplo e aliado aos Direitos Humanos,
Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCAs), à cidadania e à democracia.

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METODOLOGIA

O dossiê Mulheres Negras e Justiça Reprodutiva é constituído de pesquisa


composta por duas partes.

A primeira se refere ao levantamento de dados realizado, principalmente, nos


sites oficiais do Governo Federal, do estado e do município do Rio de Janeiro. O
objetivo foi mapear as desigualdades raciais e a produção de dados desagregados
por raça/cor e por sexo para evidenciarmos as condições de vida das mulheres ne-
gras. Neste caminho as lacunas foram inúmeras, tendo em vista que grande parte
dos dados não realizam o cruzamento entre raça e sexo. Ademais, outro desafio
enfrentado foi que muitos dados relacionados aos direitos sociais não possuíam
desagregador raça/cor, tais como os dados relativos a saneamento, acesso à água
e à moradia.

Desta maneira, como estratégia associada ao levantamento e organização de


dados quantitativos a fim de concretizar a estratégia e olhar proposto pelo concei-
to-potência da Justiça Reprodutiva, utilizamos a estratégia de produção coletiva e
análise de dados e informações pelos territórios por meio de ação conjunta com
três grupos de mulheres: Coletiva Popular de Mulheres da Zona Oeste/Teia de
Solidariedade Zona Oeste, Programa Social Sim! Eu sou do Meio, Roda de Mulheres
do Apadrinhe um Sorriso.

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A Coletiva Popular de Mulheres da Zona Oeste é uma coletiva que organiza mu-
lheres e distintas organizações locais da cidade do Rio de Janeiro em torno da luta
radical anticapitalista, antirracista e antipatriarcal. Faz parte da Teia de Solidariedade
Zona Oeste, que constrói coletivamente a resistência das mulheres negras e perifé-
ricas. O grupo é composto por 18 mulheres, algumas da Teia de Solidariedade Zona
Oeste e outras indicadas por elas, majoritariamente moradoras do território da Zona
Oeste do Rio de Janeiro.

O programa social Sim! Eu Sou do Meio existe no município de Belford Roxo


desde 2018 com atividades educacionais, culturais e esportivas, além da roda de
conversa com mulheres que busca trazer autonomia, liberdade e emancipação,
com apoio psicossocial e qualificação profissional para jovens. A iniciativa apoia a
comunidade com atendimento de psicólogo, psicopedagoga, nutricionista e acesso
à justiça gratuita com a Defensoria Pública.

A Roda das Mulheres surge da necessidade de mover uma mudança dentro do


território que antes sempre havia sido retratado como um lugar do “não ter”: não ter
futuro, não ter saneamento básico, não ter bibliotecas, não ter praças, não ter cul-
tura. A partir da iniciativa do Apadrinhe um Sorriso, houve uma mudança de chave
no território, onde se articulam a partir do grupo atividades como teatro, capoeira,
rodas de poesia, encontros de mulheres, saraus de poesias e parcerias que tiraram
a favela do mapa da invisibilidade por meio do desenvolvimento comunitário. O gru-
po atende 300 crianças e jovens e 64 mulheres.

A escuta para a produção de dados qualitativos coletivos ocorreu a partir de


três dimensões. O primeira bloco foi referente aos Direitos Humanos, Econômicos,
Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCAs), destacando questões como moradia,
saneamento, acesso à água, mobilidade, segurança alimentar, trabalho, renda e
educação. A segunda dimensão tratou sobre saúde sexual e saúde reprodutiva, em
especial violência contra mulher, aborto, mortalidade materna, saúde da população
LGBTQIAP+ e atenção primária à saúde. Por fim, a terceira dimensão versou sobre
violências e violações, ressaltando as questões referentes à violência do Estado

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nos territórios, violências institucionais, interpessoais e a ação das forças conser-
vadoras na vida das mulheres.

Devido à pandemia, a escuta das mulheres foi realizada de forma coletiva e on-
-line, por consultoras parceiras nos territórios. Cerca de 100 mulheres participaram
desta etapa. As mulheres tinham entre 18 a 55 anos de idade, muitas tinham filhos/
as, estavam em um relacionamento, grande parte relatou que perdeu o trabalho na
pandemia, estudavam ou já haviam estudado pelo menos o Ensino Fundamental e a
maioria se declarou negra. Em um dos territórios um número significativo de mulhe-
res se declarou branca, mas sendo lidas socialmente como pardas, evidenciando
os desafios da autoidentificação racial no nosso país.

Conjuntura política e a estratégia da Justiça Reprodutiva

O Brasil enfrenta uma crise sanitária, econômica e política sem precedentes, em


que um dos resultados é o aprofundamento das desigualdades raciais, de classe e
gênero já existentes. A ineficiência do Estado brasileiro em colocar as necessida-
des sociais da população no centro das decisões políticas levou o Brasil ao cenário
desolador de mais de 500 mil mortes por COVID-19. As políticas de ajustes fiscais,
adotadas com mais intensidade a partir de 2016, demonstram o fracasso das suas
medidas, como por exemplo a Lei do Teto de Gastos, em produzir desenvolvimento
social e bem-estar coletivo.

Os desdobramentos dessa crise não se expressam da mesma forma na vida da


população. As mulheres negras vivenciam um tipo de discriminação específico,
conformado por raça, gênero e classe, combinadas com opressões correlatas,
dentro de uma matriz de subordinação estrutural. Isso significa que o projeto
político em curso precariza a vida das mulheres negras com mais intensidade. Os
índices apresentam que essas mulheres têm a vida atravessada pela fome e inse-
gurança alimentar, falta de saneamento, trabalho e renda. Além disso, têm acesso

11
precário à saúde e educação e estão mais expostas às violências e à violação de
direitos por parte do Estado.

É nesse contexto que as mulheres exercem suas escolhas no campo da repro-


dução. Assim, Justiça Reprodutiva traduz uma estratégia importante para pensarmos
os direitos reprodutivos das mulheres negras relacionados à justiça social.

Neste dossiê, a Justiça Reprodutiva é pensada a partir de três dimensões. A


primeira diz respeito aos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambien-
tais; a segunda se refere a saúde reprodutiva e sexual das mulheres e da população
de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis, queers, intersexos, assexuais,
panssexuais - LGBTQIAP+; e a terceira dimensão versa sobre as violências e as vio-
lações por parte do Estado.

As demandas por Justiça Reprodutiva emergem dessas três dimensões funda-


mentais na construção da democracia e no enfrentamento ao racismo e às desi-
gualdades criadas pelo racismo patriarcal cisheteronormativo. O acesso precário à
políticas básicas como educação, segurança alimentar e trabalho, por exemplo,
impede que as mulheres façam as suas escolhas reprodutivas com liberdade e
autonomia. No contexto da pandemia as desigualdades sociais e iniquidades se
agravaram, expondo ainda mais a saúde reprodutiva das mulheres negras trans e cis,
bem como violando o direito à saúde. Justiça Reprodutiva é, portanto, uma estratégia
para ampliarmos o olhar para os direitos reprodutivos das mulheres, evidenciando
que sem justiça e redistribuição o exercício pleno desses direitos não é possível.

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PROPOSTA PARA
UTILIZAR ESTE MATERIAL

O dossiê Mulheres Negras e Justiça Reprodutiva, para além de ser resultado


de levantamento e geração popular de dados, se propõe a ser uma ferramenta in-
terativa para maior contato e interação com os dados qualitativos e quantitativos.

Ao início de cada seção, há apresentação de dados quantitativos em sequências


de páginas que compõem os quadros de cada dimensão.

Abaixo apresentamos a sugestão de uso deste material para trabalho com gru-
pos de mulheres para a avaliação de cenários e conjunturas.

Veja a seguir o nosso “como fazer” de Criola:

Dimensão 1 - Situação de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais


e Ambientais (DHESCAs)

• Imprima as páginas 19 a 26 deste dossiê e as cole (sugestão: papel kraft) dis-


postas lado a lado formando retângulo sob o título desta seção apontada acima
com o indicativo “dados nacionais”.

13
• Imprima as páginas 32 a 36 deste dossiê e as cole também em retângulo no
mesmo papel, dispostas lado a lado, logo abaixo das páginas 19 a 26. Anote ao
lado da colagem das páginas 32 a 36 o indicativo “dados do estado - RJ”.

• Imprima as páginas dos dados qualitativos, localizadas das páginas 77 a 82, e


as cole no mesmo papel em terceira linha e anote ao lado “dados qualitativos
das RJ - localidades Belford Roxo, Duque de Caxias e Zona Oeste”.

Comece propondo o debate e reflexões a partir desses dados apresentados


no papel kraft e guiadas pelas análises críticas expressas nesta mesma seção do
dossiê. Abra perguntas relacionadas a como este cenário da dimensão 1, a partir
dos dados expostos, se expressa no contexto das mulheres presentes no grupo
em debate. Tome nota das sínteses do grupo também no mesmo papel ou painel
articulado ao quadro da dimensão.

Dimensão 1 - Situação de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (Dhescas)


dados nacionais

dados do estado - RJ

dados qualitativos das


RJ - localidades Bel-
ford Roxo, Duque de
Caxias e Zona Oeste

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Dimensão 2 - Situação de Saúde e Direitos Humanos Sexuais e Reprodutivos

• Imprima as páginas 40 a 45 deste dossiê e as cole (sugestão: papel kraft) dis-


postas lado a lado formando retângulo sob o título desta seção apontada acima
com o indicativo “dados nacionais”.

• Imprima as páginas 51 a 54 deste dossiê e as cole também em retângulo no


mesmo papel, dispostas lado a lado, logo abaixo das páginas 40 a 45. Anote ao
lado da colagem das páginas 51 a 54 o indicativo “dados do estado - RJ”.

• Imprima as páginas dos dados qualitativos, localizadas das páginas 85 a 91, e


as cole no mesmo papel em terceira linha e anote ao lado “dados qualitativos
das RJ - localidades Belford Roxo, Duque de Caxias e Zona Oeste”.

Comece propondo o debate e reflexões a partir desses dados apresentados


no papel kraft e guiadas pelas análises críticas expressas nesta mesma seção do
dossiê. Abra perguntas relacionadas a como este cenário da dimensão 2, a partir
dos dados expostos, se expressa no contexto das mulheres presentes no grupo
em debate. Tome nota das sínteses do grupo também no mesmo papel ou painel
articulado ao quadro da dimensão.

Dimensão 2 - Situação de Saúde e Direitos Humanos Sexuais e Reprodutivos

dados nacionais

dados do estado - RJ

dados qualitativos das RJ - locali-


dades Belford Roxo, Duque de
Caxias e Zona Oeste

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Dimensão 3 - Situação de Violências e Violações promovidas pelo Estado:

• Imprima as páginas 58 a 63 deste dossiê e as cole (sugestão: papel kraft) dis-


postas lado a lado formando retângulo sob o título desta seção apontada acima
com o indicativo “dados nacionais”

• Imprima as páginas 68 a 70 deste dossiê e as cole também em retângulo no


mesmo papel, dispostas lado a lado, logo abaixo das páginas A a B. Anote ao
lado da colagem das páginas 58 a 63 o indicativo “dados do estado - RJ”.

• Imprima as páginas dos dados qualitativos, localizadas das páginas 94 a 98, e


as cole no mesmo papel em terceira linha e anote ao lado “dados qualitativos
das RJ - localidades Belford Roxo, Duque de Caxias e Zona Oeste”.

Comece propondo o debate e reflexões a partir destes dados apresentados


no papel Kraft e guiadas pelas análises críticas expressas nesta mesma seção do
dossiê. Abra perguntas relacionadas a como esse cenário da dimensão 3, a partir
dos dados expostos, se expressa no contexto das mulheres presentes no grupo
em debate. Tome nota das sínteses do grupo também no mesmo papel ou painel
articulado ao quadro da dimensão.

Dimensão 3 - Situação de Violências e Violações promovidas pelo Estado

dados nacionais

dados do estado - RJ

dados qualitativos das RJ - localidades Belford


Roxo, Duque de Caxias e Zona Oeste

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DIMENSÕES DE (IN)JUSTIÇA
REPRODUTIVA NO BRASIL E NO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO:
DADOS QUANTITATIVOS
EM PERSPECTIVA
DIMENSÃO 1:
SITUAÇÃO DE DIREITOS
HUMANOS ECONÔMICOS,
SOCIAIS, CULTURAIS E
AMBIENTAIS (DHESCAS)
– BRASIL

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VULNERABILIDADE SOCIAL
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2020/ IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais.
EXTREMA POBREZA
MENOS DE US$ 1,90 POR DIA
Homens
brancos:
10,4%
Total: 13.689.000
Porcentagem em Mulheres
negros/as: 76,7% negras:
39,8%

Homens
negros:
36,9%

Mulheres
brancas:
11,9%

POBREZA
MENOS DE US$ 5,50 POR DIA
Homens
brancos:
12,2%
Total: 51.742.000
Porcentagem em Mulheres
negros/as: 73,6% negras:
38,1%

Homens
negros:
35,5%

Mulheres
brancas:
13,3%

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PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

PESSOAS BENEFICIÁRIAS*
43.832.200

32.964.667

57,21%

42,79%

10.132.895

Total Brancos/as Negros/as Homens Mulheres

OS 10% COM MAIORES OS 10% COM MENORES


RENDIMENTOS** RENDIMENTOS**

**Desigualdade Sociais por Raça e Cor no Brasil – IBGE. 2019.


76,6% 75,2%

*Programa Bolsa Família- Dados do CadÚnico fev/2021.

27,7%
23,7%

Brancos/as Negros/as Brancos/as Negros/as

20
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SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

SEGURANÇA ALIMENTAR INSEGURANÇA ALIMENTAR LEVE

Negros/as: Negros/as:
46,9% 64,95%

Brancos/as: Homens: Brancos/as: Homens:


51,5% 61,4% 34,20% 54,40%

POF 2017-2018 IBGE. Os dados têm como referência a raça/cor e sexo das pessoas de referência no domicílio.
Mulheres: Mulheres:
38,6% 45,60%

Total: 122.239 Total: 56.004

INSEGURANÇA ALIMENTAR INSEGURANÇA ALIMENTAR GRAVE


MODERADA
Negros/as: Negros/as:
72,3% 73,9%

Brancos/as: Homens: Brancos/as: Homens:


26,5% 50,1% 24,7% 48,1%

Mulheres: Mulheres:
49,9% 51,9%

Total: 18.577 Total: 10.284

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SANEAMENTO BÁSICO
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL
Pessoas residindo em domicílios sem acesso a serviços de saneamento,
com inadequações domiciliares e posse de bens.

PERCENTUAL DA PERCENTUAL DA
POPULAÇÃO BRANCA POPULAÇÃO NEGRA
Sem coleta direita ou indireta de lixo

6,0% 12,5%

Sem abastecimento de água por rede geral

* Adensamento domiciliar excessivo diz respeito a situação que há mais de três moradores por dormitório.
11,5% 17,9%

Sem esgotamento sanitário por rede coletora ou pluvial

26,5% 42,8%

Sem ao menos um serviço de saneamento

Desigualdade Sociais por Raça e Cor no Brasil – IBGE. 2019.


27,9% 44,5%

Adensamento excessivo*

3,6% 7,0%

Não possui máquina de lavar

21,0% 44,8%

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ACESSO À TECNOLOGIA
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

PESSOAS COM 10 ANOS PESSOAS COM 10 ANOS OU MAIS


OU MAIS COM ACESSO À QUE POSSUEM TELEFONE MÓVEL
INTERNET BANDA LARGA CELULAR DE USO PESSOAL
Percentual da população branca Percentual da população branca

75,5% 82,9%

Percentual da população negra Percentual da população negra

Desigualdade Sociais por Raça e Cor no Brasil – IBGE. 2019.

65,4% 74,6%
Dados de 2017.

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TRABALHO
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

TAXA DE DESEMPREGO TAXA DE SUBUTILIZAÇÃO*

Homens não Homens não


negros: 9,5% negros: 19,1%

* A taxa composta inclui a de desocupação, a de subocupação por insuficiência de horas e a da força de trabalho potencial,
Mulheres Homens Mulheres Homens

Boletim Especial Dieese – Desigualdade entre brancos e negros se aprofunda na pandemia, de novembro de 2020.
negras: negros: negras: negros:
18,2% 14,0% 40,5% 29,4%

Mulheres não Mulheres não


negras: 11,3% negras: 26,4%

pessoas que não estão em busca de emprego, mas que estariam disponíveis para trabalhar.
Total: 13,3% Total: 29,1%
Porcentagem de pessoas negras: 32,2% Porcentagem de pessoas negras: 69,9%

RENDIMENTO MÉDIO

3.484 reais

2.660 reais
2.426 reais

1.950 reais
1.573 reais

Total Homens Homens Mulheres Mulheres


não negros negros não negras negras

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TRABALHO INFANTIL
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL
CRIANÇAS DE CINCO A 17 ANOS EM EXPLORAÇÃO DE TRABALHO INFANTIL
TOTAL: 1.8 MILHÃO

Negros/as: Brancos/as:
64,1% 35,9%

Mulheres: Homens:
34,7% 65,3%
PNAD Contínua 2016.

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EDUCAÇÃO
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL
TAXA DE ANALFABETISMO ABANDONO ESCOLAR
(PESSOAS COM 15 ANOS OU MAIS) (PESSOAS DE 14 A 29 ANOS)
Negros/as: Negros/as:
8,9% 71,7%

Brancos/as: Homens: Brancos/as: Homens:


3,6% 6,9% 27,3% 58,3%

Mulheres: Mulheres:
6,3% 41,7%
Total: 6,6% Total: 10,1 milhões

TAXA DE FREQUÊNCIA ESCOLAR TAXA DE FREQUÊNCIA ESCOLAR


AJUSTADA (11 A 14 ANOS) AJUSTADA (15 A 17 ANOS)
Negros/as: Negros/as:
85,8% 66,7%

Brancos/as: Homens: Brancos/as: Homens:


90,4% 85,8% 79,6% 66,7%

Mulheres: Mulheres:
89,3% 76,4%
Total: 87,5% desse grupo Total: 71,4% desse grupo
frequentando escola sem atraso frequentando escola sem atraso

NÚMERO MÉDIO DE ANOS DE ESTUDOS


PNAD Contínua 2019.

9,4 anos 10,4 anos 8,6 anos 9,2 anos 9,6 anos

Total Brancos Negros Homens Mulheres

26
ANÁLISE DOS DADOS

Os gráficos representam a situação de vulnerabilidade social da população negra


no Brasil, que diz respeito à forma como as pessoas acessam recursos e oportuni-
dades. Essa condição, no entanto, não é um processo individual: precisa levar em
conta aspectos coletivos e programáticos no acesso aos recursos e como estão
expostas a determinadas situações. Vulnerabilidade social diz respeito a como re-
partirmos a riqueza socialmente produzida, com parte significativa da população
em situação de pobreza e miséria, sem acesso à renda, mas também se refere ao
acesso aos direitos sociais, políticos, culturais e ambientais. Ou seja, estar em
situação de vulnerabilidade é viver sem saneamento, segurança alimentar, saú-
de, educação, trabalho decente. Em um país com tradição escravocrata e racista
como o Brasil, não é possível pensar vulnerabilidade social dissociada de racismo
(WERNECK, 2016).

A população negra corresponde a maior população em vulnerabilidade social no


país, sendo as mulheres negras as mais afetadas, representando 39,8% da extrema
pobreza e 38,1% entre as pessoas em situação de pobreza, segundo dados do IBGE
de 2018. Os índices em relação ao trabalho e renda apontam que esse cenário foi
agravado na pandemia de Covid-19, pois o desemprego neste período foi maior en-
tre a população negra. De acordo com o Boletim Especial Dieese (2020), entre o 4°
trimestre de 2019 e o 2° trimestre de 2020 os homens negros perderam 1.4 milhão
de vínculos trabalhistas com carteira assinada. Ainda segundo o mesmo Boletim,
887 mil trabalhadoras negras com carteira assinada, 620 mil sem carteira assina-
da e 886 mil trabalhadoras domésticas negras perderam seus postos de trabalho.
Entre as pessoas negras que trabalhavam por conta própria, 1.2 milhão de homens

27
negros e 887 mil mulheres negras perderam suas ocupações. As mulheres negras
apresentaram a maior taxa de desemprego (18,2%) e de subutilização (40,5%) na
pandemia (DIEESE, 2020), bem como o menor rendimento médio: as mulheres ne-
gras recebem menos que a metade do rendimento médio dos homens não negros.
A taxa de subutilização significa quem está desempregado, trabalha menos do que
poderia trabalhar ou mesmo que não esteja procurando emprego porém está dis-
ponível para o trabalho. Trata-se de uma taxa complementar à taxa de desemprego,
que ajuda a compreender melhor as desigualdades no mundo do trabalho.

O inquérito VigiSAN (2020) apontou a relação direta entre desemprego e situa-


ção de ocupação com a insegurança alimentar grave. Esse estudo revela que entre
2018 e 2020 nove milhões de pessoas ingressaram no quadro de fome no país,
totalizando 19,1 milhões de pessoas nessa situação. Pela primeira vez, desde 2004,
menos da metade da população brasileira está em segurança alimentar. A POF de
2018 havia demonstrado a cor da fome: 73,9% da população em situação de fome
é negra. A VigiSAN (2020) confirma esse quadro: ser mulher, ou pessoa negra, ou
com baixa escolaridade significa estar em menor medida em segurança alimentar.
O auxílio emergencial se mostrou insuficiente para superar o avanço da fome, haja
vista que o índice de insegurança alimentar grave foi maior entre os domicílios
que solicitaram e receberam o auxílio. É importante ressaltar que a POF (2018) e
o inquérito VigiSAN (2020) não desagregam os dados por sexo e raça/cor, o que
dificulta a análise mais próxima da situação de segurança alimentar das mulheres
negras trans e cis. Porém, a partir dos gráficos acima podemos estimar que essas
mulheres negras são as mais vitimadas pela insegurança alimentar e nutricional no
contexto de pandemia.

No contexto em que as condições sanitárias dos domicílios são fundamentais


para conter a contaminação, é possível perceber que esta não é uma possibilidade
para a população negra. Domicílios sem abastecimento de água por rede geral e sem
ao menos um serviço de saneamento são mais frequentes entre pessoas negras,
17,9% e 44,5% respectivamente (IBGE, 2018). Apesar dos dados se referirem ao

28
ano de 2018, podemos estimar que essa realidade não sofreu mudanças positivas
bruscas, se agravando de forma considerável na pandemia de Covid-19.

Às graves desigualdades raciais e de gênero em relação a trabalho e renda,


segurança alimentar e nutricional e saneamento básico, soma-se a condição da in-
fância negra. As mulheres negras trans e cis são responsáveis pelo sustento e sub-
sistência de suas famílias. Assim, relegar às mulheres negras trans e cis a situação
de empobrecimento significa expor toda a família. A PNAD Contínua de 2016 nos
mostra um percentual de 64,1% de crianças e adolescentes negros em situação de
trabalho infantil. Entre as crianças de 5 a 13 anos, este percentual chega a 71,8%.
Essa é uma das múltiplas expressões do racismo na vida de crianças negras.

Como já exposto anteriormente, a VigiSAN (2020) apontou que gênero, raça


e escolaridade eram fatores importantes na situação de fome no Brasil. Os dados
referentes à educação da população negra indicam que a vulnerabilidade desta é
ainda mais grave. Ainda que o Brasil apresente uma alta taxa de escolarização no
ensino básico e de pessoas alfabetizadas, é possível perceber que a população
negra apresenta quase dois pontos percentuais acima da média brasileira em
relação ao analfabetismo, chegando a 27, 1% entre o grupo de pessoas negras
com 60 anos ou mais de idade. A taxa de escolarização do grupo etário de 6 a 16
anos (IBGE, 2019) é de 99,7%. Entretanto, essa taxa diminui nos anos escolares não
obrigatórios. Além disso, a taxa de frequência escolar ajustada indica a quantidade
de alunos que estão nos anos escolares corretos para a sua idade. Nas duas faixas
etárias apresentadas nos gráficos, essa população apresenta maior defasagem. O
abandono escolar é um dos pontos mais críticos: 71,7% das pessoas nessa situação
eram negras. Destacamos também que entre o grupo de etário de 18 a 29 anos, 6%
dos jovens brancos já tinham diplomas, enquanto entre os negros esse percentual
era apenas de 2,8. Mais uma vez, a ausência dos dados desagregados por sexo e
raça/cor não nos permite uma análise mais próxima da vida das mulheres negras trans
e cis, mas é interessante ressaltar que entre as mulheres que precisaram abandonar

29
a trajetória escolar, um dos motivos mais frequente foi a gravidez. A necessidade
de trabalhar e realizar tarefas domésticas também foram motivos expressivos.

Araújo e Caldwell (2020) argumentam que a Covid-19 é mais mortal para a popu-
lação negra justamente pelo cenário de violação dos direitos humanos. Condições
inadequadas de saneamento e moradia; profissões majoritariamente negras que
estão na linha de frente, mas não foram incorporadas nos planos de vacinação,
como transporte e serviços gerais; racismo institucional nos serviços de saúde;
pobreza e alimentação inadequada são fatores que relegam a população negra
em geral e as mulheres negras trans e cis em particular aos riscos de morte por
Covid-19. Nesse contexto, a pandemia atinge essas mulheres de forma direta, ex-
pressa nas mortes pelo vírus, como também no agravamento das condições de vida.

O caso de Mirtes Renata, mãe de Miguel Otávio, retrata a violência e o descaso


que atravessa suas vidas. Empregada doméstica residente em Recife, Mirtes não
pôde cumprir isolamento social, pois não foi liberada pela patroa, e precisou levar
seu filho para o trabalho devido à suspensão de aulas na pandemia. Quando se
ausentou por um momento, seu filho de cinco anos ficou aos cuidados da patroa;
foi colocado sozinho dentro de um elevador e caiu do nono andar. Mirtes perdeu
seu filho porque o racismo estrutural nega proteção social e trabalho digno para as
mulheres negras.

30
DIMENSÃO 1:
SITUAÇÃO DE DIREITOS
HUMANOS ECONÔMICOS,
SOCIAIS, CULTURAIS E
AMBIENTAIS (DHESCAS)
– RIO DE JANEIRO

31
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

VULNERABILIDADE SOCIAL
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RENDA FAMILIAR DE ATÉ RENDA FAMILIAR ENTRE 1 E 2


1 SALÁRIO MÍNIMO SALÁRIOS MÍNIMOS
Negros/as: Negros/as:
2.874.360 278.841

Brancos/as: Homens: Brancos/as: Homens:


1.245.063 1.634.500 171.224 202.094

CedCad – julho/2021. Cecad: consulta, seleção e extração de informações do CadÚnico / MC.


Mulheres: Mulheres:
2.511.377 250.776

* Esses números se referem ao total de pessoas beneficiárias do Programa Bolsa Família.


Total: 4.145.837 Total: 452.870
Porcentagem de negros/as**: 69,30% Porcentagem de negros/as**: 61,55%

BENEFICIÁRIOS DO PBF*
Negros/as:
1.931.839

Brancos/as: Homens:
752.391 1.055.155
** Dados calculados pela consultora.

Mulheres:
1.645.845

Total: 2.701.000
Porcentagem de negros/as**: 71,50%

32
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SEGURANÇA ALIMENTAR
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

SUDESTE

POF 2017-2018 IBGE. Os dados têm como referência a raça/cor e sexo das pessoas de referência no domicílio, mas os dados por região do país não estão
Insegurança moderada:
5,8%

Insegurança grave:
2,9%

Insegurança leve:
22,5%

Segurança alimentar:
68,8%

segregados por raça/cor.

33
IMPRIMA ESTA
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SANEAMENTO
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

SUDESTE*
96,50% 97,00%

66,90%

Esgotamento Domicílios Tratamento


sanitário por atendidos com convencional
rede coletora abastecimento de água
de água

***Mapa da desigualdade – Região Metropolitana do Recife. Casa Fluminense, 2020.


ESTADO DO RIO DE JANEIRO
90,50%
86,28%

65,62%

44,70%
**Síntese de Indicadores Sociais – IBGE, 2019.
*IBGE – 2019 saneamento básico.

Atendimento Esgoto Domicílios Coletada


de coleta de não tratado** atendidos com seletiva –
esgoto** abastecimento cidade do
de água*** RJ***

34
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

TRABALHO
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

TAXA DE DESOCUPAÇÃO*

Homens brancos:
10,4%

Mulheres Homens
negras: negros:
19,8% 14,4%

Mulheres brancas:
13,3%

MÉDIA SALARIAL**
3.375 reais
2.873 reais

**PNAD Contínua – IBGE, 1° trimestre de 2019.


*PNAD Contínua – IBGE, 3° trimestre de 2018.

2.283 reais
2.030 reais

1.763 reais

Homens Mulheres Brancos/as Pardos/as Pretos/as

35
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

TRABALHO INFANTIL
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

SUDESTE

Meninas: Meninos:
36,9% 63,1%

Brancos/as: Negros/as:
41,6% 58,4%

PNAD Contínua – IBGE, 2016.

36
ANÁLISE DOS DADOS

O Brasil não apresenta, em grande parte, os dados por Estado segregados por
raça/cor e menos ainda por sexo-raça/cor. A estratégia utilizada para disposição das
informações é com mais frequência por grandes regiões. Apesar do Sudeste ser
uma região com melhores índices sociais do que Norte e Nordeste, por exemplo,
um olhar mais próximo aos territórios nos permite analisar que o padrão de segre-
gação racial se mantém. O percentual de pessoas vivendo na extrema pobreza e
na pobreza no estado do Rio de Janeiro é de 3% a 8% e 16,2% a 37,9%, respecti-
vamente. No Brasil esses índices correspondem a 6,5% e 24,7% e, no Sudeste, a
3,1% e 15,8%, o que mostra o Rio de Janeiro em uma situação intermediária.

No que tange ao trabalho, a taxa de desocupação acompanha a média nacional,


sendo as mulheres negras as mais afetadas pelo desemprego. No contexto da pan-
demia o desemprego entre as mulheres saltou para 21,3% no 3° trimestre de 2020.
O rendimento de mulheres negras por hora de trabalho foi de R$ 12,58, enquanto
para as mulheres não negras foi de R$ 25,39, expressando uma diferença de ren-
dimento significativa. Assim, ser uma mulher negra no estado do Rio de Janeiro
também significa ter os seus direitos básicos violados. Esse cenário é agravado na
pandemia também devido às desigualdades de acesso à internet, já que o auxílio
emergencial deveria ser solicitado de forma on-line via aplicativo. No estado do
Rio de Janeiro apenas 56,3% dos domicílios acessam a internet por banda larga.
Municípios como Belford Roxo, Duque de Caxias e Maricá apresentam índices ainda
menores, correspondendo a 24,2%, 41,8% e 19,1% respectivamente.

No que se refere ao saneamento e acesso à água, é importante destacar que


apesar do estado apresentar índices maiores que a média nacional (90,5%), os

37
territórios apresentam desigualdades nesta questão. De acordo com o Mapa da
Desigualdade (2020), os municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias e Maricá
demonstram um percentual de habitantes atendidos com abastecimento de água
bem abaixo da média do Estado, correspondendo a 76,5%, 84,5% e 41,1% respec-
tivamente. Com relação ao tratamento de esgoto, apenas 16%, 1,1% e 22,4% são
tratados nos respectivos territórios.

Assim, o cenário do Rio de Janeiro é similar e não apresenta diferenças significa-


tivas para a vida das mulheres negras em relação aos índices nacionais. Problemas
em relação ao transporte insuficiente e deslocamento exaustivo para o trabalho são
recorrentes entre as mulheres. Além disso, no estado do Rio de Janeiro a violência
sexual no transporte público atinge 65,9 casos registrados por grupo de 100 mil
mulheres (MAPA DA DESIGUALDADE, 2020), evidenciando as diversas interdições
de acesso ao trabalho digno para as mulheres.

Educação e creche, ainda de acordo com o Mapa da Desigualdade (2020),


não são direitos garantidos no estado. A Região Metropolitana do Rio de Janeiro
apresenta 15,1% das turmas em escolas públicas lotadas (com mais de 35 alunos/
as), demonstrando que há déficit de vagas, ou seja, o número de vagas ofertadas
nas escolas não é suficiente para o número de crianças e adolescentes em idade
escolar, o que pode ocasionar abandono escolar. O acesso à creche é ainda mais
crítico. O percentual de crianças de 0 a 3 anos matriculadas em creches em relação
ao total de crianças de 0 a 3 anos no estado do Rio de Janeiro é de 26,9%. Na ci-
dade do Rio de Janeiro esse índice é de 36%. Em Belford Roxo e Duque de Caxias
apenas cerca de 9% das crianças de 0 a 3 anos estão matriculadas em creches.

Apesar das poucas informações disponíveis em relação aos direitos sociais


que devem ser garantidos à população do Rio de Janeiro, é possível perceber com
os dados acima que, embora a Região Sudeste apresente índices melhores que
outras regiões, ser uma mulher negra nesse estado é viver sem proteção social
básica, sem saneamento, segurança alimentar, trabalho decente, educação e rede
de apoio social.

38
DIMENSÃO 2:
SITUAÇÃO DE
SAÚDE E DIREITOS
HUMANOS SEXUAIS E
REPRODUTIVOS – BRASIL

39
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MORTALIDADE
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL
MORTALIDADE MULHERES EM IDADE FÉRTIL
64.258

36.255
(56,42%**)
25.946
(40,38%**)

1.481

Total Mulheres Mulheres Não


brancas negras informado

MORTALIDADE MATERNA*
1.576

1.039
(65,93%**)

**Dados calculados pela consultora.

475
(30,14%**)
*Dados do SINAN (2019)

36

Total Mulheres Mulheres Não


brancas negras informado

40
IMPRIMA ESTA
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VIOLÊNCIAS E AGRAVOS EM SAÚDE


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

ESTUPRO VIOLÊNCIA REPETIÇÃO


Mulheres brancas: Mulheres brancas:
10.683 (34,90%*) 52.633 (43,73%*)

Mulheres negras: Não informado Mulheres negras: Não informado


17.537 (57,28%*) 1.768 59.955 (49,56%*) 5.782

Total: 30.614 Total: 120.372

VIOLÊNCIA FÍSICA VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA/MORAL


Mulheres brancas: Mulheres brancas:
63.573 (38,90%*) 26.887 (38,90%*)

Mulheres negras: Não informado Mulheres negras: Não informado


84.035 (51,42%*) 13.051 37.594 (54,39%*) 3.486

Total: 163.438 Total: 69.113

VIOLÊNCIA SEXUAL LESÃO AUTOPROVOCADA


Mulheres brancas: Mulheres brancas:
14.427 (35,67%*) 42.989 (47,60%*) *Dados calculados pela consultora.
Dados do SINAN (2019)

Mulheres negras: Não informado Mulheres negras: Não informado


22.739 (56,21%*) 2.469 38.208 (42,31%*) 8.002

Total: 40.451 Total: 90.313

41
IMPRIMA ESTA
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ABORTO
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL
INTERNAÇÕES POR ABORTO
209.520

100.520

Dados SINAN (jan/2020-fev/2021): aborto espontâneo, por razões médicas e outras gravidezes que terminam em aborto.
(47,98%*)

52.142
(24,89%*) 50.593

Total Mulheres Mulheres Não


brancas negras informado

ÓBITOS POR ABORTO


73

33
(45,21%*)
*Dados calculados pela consultora.

20
13
(17,81%*)

Total Mulheres Mulheres Não


brancas negras informado

42
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

SAÚDE MENTAL
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

INTERNAÇÕES POR OUTROS TRANSTORNOS


MENTAIS E COMPORTAMENTAIS
Mulheres brancas:
3.618 (44,47%*)

Mulheres negras: Não informado


2.682 (32,97%*) 1.631

Total: 8.135

INTERNAÇÕES POR ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS


Mulheres brancas:
6.342 (46,12%*)

*Dados calculados pela consultora.


Dados SINAN (jan/2020-fev/2021).

Mulheres negras: Não informado


4.964 (36,10%*) 2.235

Total: 13.752

43
IMPRIMA ESTA
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VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

**A Manobra de Kristeller é uma pressão feita na parte superior do útero para acelerar o trabalho de parto. É uma técnica desnecessária que causa dor e
ALIMENTAÇÃO NO ANALGESIA MANOBRA DE
TRABALHO DE PARTO EPIDURAL* KRISTELLER**
29,7% 37,3% 34,0%
Mulheres brancas Mulheres brancas Mulheres brancas

23,7% 29,2% 38,5%


Mulheres pardas Mulheres pardas Mulheres pardas

26,0% 27,0% 38,4%


Mulheres pretas Mulheres pretas Mulheres pretas

*Analgesia epidural é um tipo de anestesia que bloqueia a dor é um determinado lugar do corpo.

desconforto para as mulheres. Apesar de não mais recomendada, ainda é muito utilizada.
USO DE PROCEDIMENTOS
NÃO FARMACOLÓGICOS MOVIMENTAÇÃO NO
PARA ALIVIAR A DOR TRABALHO DE PARTO
31,5% 48,5%
Mulheres brancas Mulheres brancas

26,3% 45,6%
Mulheres pardas Mulheres pardas

27,5% 46,0%
Pesquisa Nascer (LEAL et al., 2014)

Mulheres pretas Mulheres pretas

44
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

VIOLÊNCIAS CONTRA POPULAÇÃO


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

LGBTQIAP+
BRASIL

Perfil das notificações de violências em lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação,
VIOLÊNCIAS INTERPESSOAIS OU AUTOPROVOCADAS

Não informado:
6,8%

Outros:
1,8%

Brancos: Negros:
41,4% 50,0%

Brasil, 2015 a 2017 (PINTO et al., 2020).

45
ANÁLISE DOS DADOS

O quadro acima reflete o cenário da saúde sexual e reprodutiva das mulheres


negras. Ressalta-se a violência e os desdobramentos na saúde mental das mulhe-
res. Em todos os eixos de violência notificados pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
as mulheres negras aparecem como alvo prioritário, exceto no eixo de lesões auto-
provocadas. Os índices de violência sexual e estupro nos chama a atenção devi-
do ao impacto na saúde física, mas também emocional e moral dessas mulheres.
Sabemos que historicamente o racismo, através de imagens de controle, construiu
para as mulheres negras estereótipos como hipersexualização e objetificação de
seus corpos que buscam legitimar a violência perpetrada sobre seus corpos.

Ainda em relação ao cenário de violência, ressaltamos que a intersecção entre


orientação sexual e o quesito raça/cor resulta em um cenário em que a raça aparece
como um marcador importante. Cerca de 50% das notificações contra a população
LGBTQIAP+ nos serviços de saúde são contra pessoas negras. Mulheres lésbicas,
transexuais e travestis representam também maioria das notificações, desvelando
como cisheteronormatividade e racismo se articulam na produção de violências na
vida da população LGBTQIAP+.

No que tange à saúde mental, as mulheres representam maioria nas internações


de transtornos mentais e comportamentais designado como outros (apartados do
uso de álcool e outras drogas): homens 47,03% e mulheres 52,97%. No uso de álcool
e outras, os homens representam 81,54% das internações. É importante ressaltar
que o Brasil carece de um levantamento do perfil de pessoas usuárias da Rede de
Atenção Psicossocial. Isso é reafirmado por Barros et al. (2014) e Naiara Gajo Silva
et al. (2017), que apontam para o racismo institucional que atravessa a produção de

46
dados no Brasil. Essas duas pesquisas indicam que a população negra representa
grande parte dos/as usuários de Caps e hospitais psiquiátricos. As condições de
vida às quais a população negra é submetida no Brasil – fome, desemprego, ausên-
cia de moradia e saneamento adequado, violências -, precisam estar relacionadas
à saúde mental dessa população.

De acordo com Leal et al. (2014) a incidência de boas práticas durante o par-
to não atinge 50% das mulheres. São consideradas boas práticas a alimentação
e movimentação durante o trabalho de parto, bem como o uso de procedimentos
não farmacológicos para aliviar as dores e o monitoramento de parto. Apesar da
pesquisa não apontar para a prevalência de raça/cor nos dados, o que é discutido
por Leal et al. (2017) ao lembrar que o estudo não objetivou analisar as expressões
do racismo nos serviços de saúde, é possível identificar expressões do racismo
na atenção ao parto. As mulheres pretas recebem menos analgesia para controle
da dor, o que também é apontado pela autora. Essas também estão mais sub-
metidas a um pré-natal inadequado, recebem menos orientações sobre início do
trabalho de parto e complicações e menos anestesia local quando a episiotomia
(corte cirúrgico entre a vagina e o ânus) é realizada (LEAL et al., 2017). Ainda de
acordo com a pesquisa, as puérperas pretas apresentam menor vinculação com
a maternidade, maior ausência de acompanhante e sofrem menos intervenções
obstétricas. Esse último dado precisa ser analisado à luz do modelo de atenção à
saúde materno-infantil. De fato, o debate da humanização do parto argumenta que
este precisa ser um momento de autonomia das mulheres com menor intervenção
possível. Entretanto, a partir da lógica intervencionista predominante na saúde, pro-
fissionais compreendem as intervenções como bom cuidado em saúde.

Esse cenário de violência obstétrica tem como resultado o alto índice de morte
materna no Brasil. As mulheres negras são maioria na mortalidade, nas violências
e nas situações de aborto. A mortalidade materna e o número de internações por
abortamento são os índices mais expressivos: 65,9% das mortes maternas ocorrem
entre mulheres negras. De acordo com o Boletim Epidemiológico n° 2 do Ministérios

47
da Saúde, em 2020 a razão de mortalidade materna foi de 59,1 óbitos por mil nasci-
dos vivos, destacando que as mulheres negras estão expostas a duas vezes mais
riscos de óbitos maternos. Na pandemia do novo coronavírus essa situação se agra-
vou. O Brasil chegou a liderar mortes maternas por Covid-19 no mundo (SOUZA;
AMORIM, 2021) e as mulheres negras apresentam um risco de morte duas vezes
maior comparadas às mulheres brancas (SANTOS et al., 2020). As dificuldades
de acesso ao pré-natal de qualidade se agravaram, tendo em vista que diversos
serviços foram suspensos e maternidades se transformaram em atendimento
para Covid-19. A desastrosa condução da crise sanitária que atravessamos é res-
ponsável por milhares de mortes evitáveis. De acordo com os dados produzidos
pelo Observatório Obstétrico Brasileiro de Covid-19, até maio de 2021, as mortes
maternas entre mulheres negras foi 77% superior às das brancas. O Brasil representa
75% das mortes maternas pela doença no mundo todo. Além do sucateamento ao
qual os serviços públicos foram submetidos com mais intensidade nesse período, o
agravamento da precariedade das condições de vida, incluindo o aprofundamento
da fome e do desemprego e a insuficiência do auxílio emergencial, compromete a
saúde materna dessas mulheres.

Dentre as principais causas de morte materna está o aborto criminalizado. As


mulheres negras também estão mais expostas ao aborto clandestino, corresponden-
do a 47,9% das internações e 45,2% dos óbitos por aborto, contra 24% e 17% das
mulheres brancas, respectivamente. A Política Nacional do Aborto (2017) também
apontou maior frequência de aborto entre mulheres negras. Porém, as desigualdades
raciais não se expressam apenas no número de abortos provocados. Em pesquisa
realizada por Emanuelle Góes (2018), é possível identificar que mulheres pretas em
situação de abortamento interromperam a gravidez mais tardiamente; declaram ter
enfrentado mais barreiras institucionais, especialmente, o tempo de espera por uma
vaga ou leito (três vezes maior que o relatado por mulheres brancas); e apresenta-
ram proporções duas vezes maiores de condições regulares, graves e muito graves
comparativamente às brancas.

48
A vida reprodutiva das mulheres negras é marcada por interdições que ceifam
o direito de escolha e de uma vivência digna dos direitos reprodutivos. O pano de
fundo no qual as mulheres realizam suas escolhas reprodutivas é marcado por vio-
lências, precariedades e interdições de direitos básicos como segurança alimentar,
trabalho e moradia, revelando a complexidade das injustiças reprodutivas às quais
estão submetidas.

49
DIMENSÃO 2:
SITUAÇÃO DE
SAÚDE E DIREITOS
HUMANOS SEXUAIS E
REPRODUTIVOS – RIO
DE JANEIRO

50
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

MORTALIDADE
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

ESTADO DO RIO DE JANEIRO


MORTALIDADE MULHERES EM IDADE FÉRTIL
6.567

3.969
(60,44%)

2.532
(38,56%)

58

Total Mulheres Mulheres Não


brancas negras informado

MORTALIDADE MATERNA
155

115
(74,19%**)

39
(25,16%)
Dados do SINAN (2019)

Total Mulheres Mulheres


brancas negras

51
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

VIOLÊNCIA E AGRAVOS EM SAÚDE


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ESTUPRO VIOLÊNCIA REPETIÇÃO


Mulheres brancas: Mulheres brancas:
851 (30,04%) 3.041 (31,31%)

Mulheres negras: Não informado Mulheres negras: Não informado


1.609 (56,79%) 353 5.347 (55,58%) 1.122

Total: 2.833 Total: 9.620

VIOLÊNCIA FÍSICA VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA/MORAL


Mulheres brancas: Mulheres brancas:
4.567 (25,84%) 1.924 (28,48%)

Mulheres negras: Não informado Mulheres negras: Não informado


9.503 (53,76%) 3.444 3.766 (55,74%) 1.000

Total: 17.676 Total: 6.756

VIOLÊNCIA SEXUAL LESÃO AUTOPROVOCADA


Mulheres brancas: Mulheres brancas:
1.010 (29,86%) 1.520 (31,57%) Dados do SINAN (2019)

Mulheres negras: Não informado Mulheres negras: Não informado


1.914 (56,59%) 434 2.229 (46,30%) 1.036

Total: 3.382 Total: 4.814

52
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

ABORTO
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

ESTADO DO RIO DE JANEIRO


INTERNAÇÕES POR ABORTO
15.085

7.061

Dados SINAN (jan/2020-fev/2021): aborto espontâneo, por razões médicas e outras gravidezes que terminam em aborto.
(46,81%)

5.087
2.617
(17,35%)

Total Mulheres Mulheres Não


brancas negras informado

ÓBITOS POR ABORTO

*Apenas é identificado três mulheres como pardas e uma como amarela.


7

3 3

Total Mulheres Não informado


negras*

53
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

SAÚDE MENTAL
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INTERNAÇÕES POR OUTROS TRANSTORNOS


MENTAIS E COMPORTAMENTAIS
Mulheres brancas:
107 (23,67%)

Mulheres negras: Não informado


127 (28,10%) 212

Total: 452

INTERNAÇÕES POR ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS


Mulheres brancas:
47 (18,36%)

Dados SINAN (jan/2020-fev/2021).

Mulheres negras: Não informado


85 (33,20%) 119

Total: 256

54
ANÁLISE DOS DADOS

O cenário do Rio de Janeiro é ainda mais crítico do que o nacional. Ser uma mu-
lher negra no Rio de Janeiro representou estar exposta cerca de duas vezes mais à
violência de diversos tipos comparado às mulheres brancas. Podemos argumentar
que no Rio de Janeiro a violência contra as mulheres é racial, haja vista que es-
tas representam 56,7% das vítimas de estupro. Na contramão da média nacional,
entre as lesões autoprovocadas – como tentativa de suicídio -, as mulheres negras
representam 46,3%.

No que tange à saúde mental, o padrão de internação por outros transtornos


mentais e comportamentais segue o nacional: as mulheres são maioria, represen-
tando 55,87% das internações. Mas, no estado, a internação entre mulheres negras
está acima da média nacional: 28,1% enquanto as mulheres brancas representam
23,67%. Chama atenção que em 46% dos casos as informações raciais não cons-
tam. Em relação ao uso de álcool e outras drogas, os homens representam 77,35%.
No Rio de Janeiro, entre as mulheres, ser negra representou o dobro das interna-
ções: 33,20%.

As mulheres negras representam 74% das mortes maternas no ano de 2019,


sendo as mulheres pretas com expressão considerável. Entretanto, no que tange a
pandemia de Covid-19 e a mortalidade materna, dados da cidade do Rio de Janeiro
(SINAC – SMS/RJ, 2019) não apresentaram diferenças entre mulheres brancas e ne-
gras, mas apontaram uma prevalência de óbitos maternos pela doença nos bairros
da Zona Oeste. Em 2020, a Síndrome Respiratória Aguda Grave atingiu 43% mulhe-
res negras e 34% mulheres brancas.

55
A cidade do Rio de Janeiro apresenta um quadro grave de saúde para a popu-
lação negra e para as pessoas autodeclaradas pretas em particular. Em 2020, a
taxa de mortalidade por doença pelo HIV foi de 16,9 para as pessoas pretas (bran-
cos: 5,6; pardos: 8,8: indígenas: 16,7); a taxa de mortalidade de tuberculose foi de
9,9 para as pessoas pretas (branca: 2,2; parda: 3,9); e a taxa de mortalidade por
Covid-19 foi de 225,1 (brancos: 188,3; pardos: 142,2). Apesar de os dados não esta-
rem segregados por raça/cor e sexo, é possível mensurar o nível de vulnerabilidade
em saúde que as mulheres pretas estão submetidas.

Dados da cidade do Rio de Janeiro (SMS/RJ, 2020) ainda revelam a desigualda-


de racial de acesso ao pré-natal. As mulheres pretas são as que apresentam maior
déficit: cerca de 73% acessam o pré-natal enquanto entre mulheres brancas esse
número sobe para 84,2%. É considerado pré-natal insuficiente quando a gestante
realiza menos que sete consultas. No estado do Rio de Janeiro, 26,2% das ges-
tantes realizaram menos de sete consultas de pré-natal. Na Região Metropolitana
esse percentual se apresenta de forma muito desigual: a cidade do Rio de Janeiro
apresenta um índice mais baixo de pré-natal insuficiente, cerca de 18%. Entretanto,
em cidades como Belford Roxo e Duque de Caxias quase metade das mulheres não
tiveram pré-natal adequado: 45,6% e 43,2% respectivamente (CASA FLUMINENSE,
2020).

56
DIMENSÃO 3:
SITUAÇÃO DE
VIOLÊNCIAS E
VIOLAÇÕES PROMOVIDAS
PELO ESTADO – BRASIL

57
IMPRIMA ESTA
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HOMICÍDIOS E ENCARCERAMENTO
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

POPULAÇÃO ENCARCERADA* VÍTIMAS DE HOMICÍDIOS***


Negros/as: Negros/as:
377.899 40.820

Brancos/as: Mulheres Brancos/as: Mulheres


185.781 brancas: 11.368 brancas:
9.304 1.358

Mulheres negras: Mulheres negras:


19.917 3.070
Total: 759.518** Total: 57.956
Porcentagem de negros/as: 66,31% Porcentagem de negros/as: 75,70%

TAXA DE HOMICÍDIOS POR 100 MIL HAB***.


82,03****

**Nas unidades prisionais e monitorados eletronicamente no sistema penitenciário.


27,8 30,13****

3,2 5,2

Total Brancos/as Negros/as Mulheres Mulheres


brancas negras
* Informações de janeiro a junho de 2020 do DEPEN.

HOMICÍDIOS PESSOAS TRANS*****


178
****Taxa referente ao ano de 2017.

78%
***** Dossiê ANTRA (2020).
*** Atlas da Violência 2020.

19%

Total Brancos/as Negros/as

58
IMPRIMA ESTA
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SEGURANÇA PÚBLICA
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

MORTES DECORRENTES DE INTERVENÇÕES POLICIAIS


6.357 99,2%

79,1%
74,3%

20,8%

0,8%

Total Homens Mulheres Negros/as Brancos/as Jovens até


29 anos

Anuário de Segurança Pública 2020.

59
IMPRIMA ESTA
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VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

FEMINICÍDIO
1.326
89,9%

66,6%
58,9%

33,1% 37,1%

Total Brancas Negras Mulheres Agressor: Local:


jovens até Parceiro ou residência
29 anos ex-parceiro

LESÃO CORPORAL DOLOSA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

266.310

AMEAÇAS

498.597
Anuário de Segurança Pública 2020.

ASSÉDIO E IMPORTUNAÇÃO SEXUAL

12.604

60
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VIOLÊNCIA SEXUAL
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

ESTUPRO
Homens:
14,3%

Mulheres: Negros/as:
85,7% 44,6%

Brancos/as:
54,9%

Total: 66.123

TENTATIVA DE ESTUPRO

5.676

Anuário de Segurança Pública 2020.

61
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VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL
GRUPOS ESPECÍFICOS

NÚMERO DE DENÚNCIAS TIPOS DE VIOLAÇÃO:


NO DISQUE 100 NEGLIGÊNCIA
Igualdade racial: LGBT: Outros grupos não
Outros grupos não
17 73 classificados*: 366
classificados*: 2.376

População em
LGBT: situação de rua:

* Não apresentado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Permanece como grupo genérico.
846 672

Balanço anual (2019) do Disque 100 Direitos Humanos – Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Igualdade racial:
225

População em
População carcerária:
situação de rua: 899
4.378

População carcerária: Total: 10.912 Total: 5.506


6.566

TIPOS DE VIOLAÇÃO: TIPOS DE VIOLAÇÃO:


VIOLÊNCIA FÍSICA VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL
Outros grupos não Igualdade racial: LGBT: Outros grupos não
classificados*: 567 48 126 classificados*: 932
LGBT: População em
199 situação de rua:
192
Igualdade racial:
16
População
carcerária:
População em 5.662
situação de rua: 110

População carcerária: Total: 3.497 Total: 6.960


2.605

62
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RACISMO RELIGIOSO
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

BRASIL

N° DENÚNCIAS INTOLERÂNCIA RELIGOSA

233

Balanço anual (2019) do Disque 100 Direitos Humanos – Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
61
18 12 12 11

Matriz Espírita Católica Testemunha Evangélica Não


africana de Jeová informado

Dados referentes ao 1° semestre de 2019).

63
ANÁLISE DOS DADOS

A Justiça Reprodutiva é uma estratégia para pensarmos os exercícios do direito


no campo da sexualidade e reprodução de forma mais ampla. Assim, a autonomia
sobre os corpos só é possível quando as mulheres têm acesso aos recursos sociais,
econômicos e políticos básicos, bem como suas famílias e comunidades. Não é
possível falarmos sobre exercício de direitos reprodutivos dentro de um cenário de
graves injustiças raciais e sociais. No quadro acima percebemos como a violência
e as violações de direitos por parte do Estado afeta famílias e comunidades negras
e, portanto, as mulheres. Nesse quadro a população negra está de forma massiva
como representativa dos índices negativos e na mira das violências institucionais.
Apenas os dados de encarceramento e homicídios apresentaram informações de-
sagregadas tanto por sexo quanto por raça/cor, o que invisibiliza a situação das
mulheres negras e aponta para também para violência institucional, haja vista que
o diagnóstico econômico e social é fundamental para elaboração e planejamento
de políticas públicas que tenham como objetivo corrigir desigualdades históricas
e promover justiça social, racial e de gênero. Os dados em relação ao encarcera-
mento são emblemáticos nesse sentido. Há um déficit de dados referentes a raça/
cor. Apenas 79,6% da população encarcerada tem seus dados raciais informados.
Em alguns estados a situação é mais grave: o Rio de Janeiro apresenta apenas as
informações raciais de 16% da população carcerária.

Ser uma mulher negra significou estar duas vezes mais exposta à vitimização
por homicídio. Em 2019, de acordo com o Atlas da Violência, a taxa de homicídio
para as mulheres negras era de 2 pontos a mais que as mulheres brancas. Entre as
pessoas trans, ser negra significou 78% dos assassinatos cometidos no país em

64
2020. Segundo o Anuário de Segurança Pública (2020), 35,5% dos homicídios de
mulheres são feminicídios. Ainda segundo o Anuário, o 1° trimestre de 2020 apre-
sentou uma diminuição de 9,9% dos registros nas delegacias referentes à violência
doméstica. Entretanto, as chamadas do 190 subiram 3,8%. Apesar desses dados
não estarem desagregados por raça/cor, os dados apresentados pelo Sinan nos
possibilitam estimar que o aprofundamento da violência doméstica na pandemia de
Covid-19 atingiu com mais intensidade as mulheres negras.

O tratamento desigual destinado às mulheres negras resulta em um cenário


de vulnerabilidade e de violação dos direitos humanos por parte do Estado e da
sociedade. O encarceramento desproporcional mostra não apenas os altos números
de mulheres negras encarceradas, como também a racialização da punição (ALVES,
2017), haja vista que a justiça penal no Brasil é um mecanismo de reprodução de
desigualdades sociais e raciais. Em cárcere, as mulheres negras trans e cis têm seus
direitos violados das mais diversas formas: torturas, violência física e emocional,
ausência de assistência legal e assistência à saúde, inclusive quando estão grávidas
ou puérperas. A situação de cárcere não afeta as mulheres individualmente, mas
se estende para as suas famílias (WERNECK; SILVA, 2016), sendo uma vivência do
cárcere compartilhada.

Cerca de 68% das mulheres que estão em situação de cárcere são negras, se-
gundo dados do Depen de junho de 2020, e o aprisionamento das mulheres está
seguindo uma curva ascendente. Entre 2000 e 2014, de acordo com o Depen, houve
um aumento de 567,4% da população feminina encarcerada. Nesse mesmo período,
a taxa de aumento do encarceramento masculino foi de 220,2%. Esse quadro de
tendência crescente do encarceramento das mulheres atinge seu cume em 2016.
Se em 2014 havia 33.8 mil mulheres encarceradas, esse número saltou para 41 mil
em 2016. Entre janeiro e junho de 2020, o Depen informou um total de cerca de
37 mil mulheres encarceradas, sendo 1.850 com filhas/os no estabelecimento, 106
lactantes e 176 gestantes/parturientes. Conforme o Levantamento de Informações
Penitenciárias (Infopen) de 2017, apenas 14,2% dos estabelecimentos penais têm

65
celas ou dormitórios adequados para gestantes e apenas 3,2% apresentam berçário
ou centro de referência materno-infantil. Os direitos reprodutivos das mulheres em
cárcere são cotidianamente violados, situação que faz parte de um quadro mais
amplo de injustiças e violações de direitos humanos.

As informações em relação aos direitos humanos podem ser aferidas a partir do


Balanço anual do Disque 100, canal de denúncias de crimes contra grupos especí-
ficos. Em diferentes grupos analisadas, a maior parte das vítimas eram negras. No
que se refere às vítimas do grupo específico da igualdade racial e nas situações de
intolerância religiosa, estas eram em sua maioria mulheres, e o conjunto de pretos
e pardos representavam 90% dos registros das violações de direitos humanos. É
importante ressaltar que em 57% das denúncias de violação de direitos humanos no
ano de 2019 os suspeitos eram brancos, evidenciando que os estereótipos criados
em torno de homens e mulheres negras são estratégias produzidas para justificar a
violência perpetrada contra a população negra.

O racismo patriarcal brasileiro constrói para as mulheres negras trans e cis


uma vida de precariedade. São as principais vítimas de maus tratos, negligências
e violências de diversos níveis. Os lugares sociais dessas mulheres na sociedade
escravocrata são cotidianamente reatualizados e materializados na pobreza, de-
semprego, morte materna, barreiras de acesso à saúde, insegurança alimentar,
hipersexualização, marginalização nas esferas políticas e controle da sexualida-
de. A violência institucional contra as mulheres negras trans e cis se revela na ine-
ficiência do Estado no enfretamento ao racismo e na naturalização da impunidade
dos crimes cometidos. Nesse cenário de violação sistemática de direitos humanos
das mulheres as injustiças reprodutivas são legitimadas. A defesa do exercício dos
direitos reprodutivos das mulheres negras precisa estar atrelado ao enfrentamento
do racismo institucional perpetrado pelo estado.

66
DIMENSÃO 3:
SITUAÇÃO DE
VIOLÊNCIAS E
VIOLAÇÕES PROMOVIDAS
PELO ESTADO – RIO
DE JANEIRO

67
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

HOMICÍDIOS E ENCARCERAMENTO
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

POPULAÇÃO ENCARCERADA* VÍTIMAS DE HOMICÍDIOS***


Homens negros: Homens negros:
4.807 4.463

Homens Mulheres Homens Mulheres


brancos: brancas: brancos: brancas:
2.336 225 1.489 130

Mulheres negras: Mulheres negras:


475 242
Total: 48.910** Total: 6.455
Porcentagem de negros/as: 67,29% Porcentagem de negros/as: 72,89%****

TAXA DE HOMICÍDIOS POR 100 MIL HAB***.


138,41*****

**Nas unidades prisionais e monitorados eletronicamente no sistema penitenciário.

****Cálculo feito pela consultora com base nos dados brutos.


56,39***** *Informações de janeiro a junho de 2020 do DEPEN.

37,60

3,00 5,40
*****Taxa referente ao ano de 2017.

Total Homens Homens Mulheres Mulheres


brancos negros brancas negras
***Atlas da Violência 2020

68
Total
6.357
99,2%

Homens
LETALIDADE VIOLENTA*
ESTADO DO RIO DE JANEIRO

0,8%

Mulheres
SEGURANÇA PÚBLICA

MORTES POR INTERVENÇÃO POLICIAL

1.245
79,1%

Negros/as
20,8%

Brancos/as
74,3%

29 anos
Jovens até

Segurança em Números 2020 elaborado pelo Instituto de Segurança Pública - ISP e o Governo do Estado do Rio de Janeiro.
*O Indicador de Letalidade Violenta se refere a vítimas homicídio doloso, morte por intervenção de agente do Estado, roubo seguido de morte e lesão
corporal seguida de morte, de acordo com o documento Segurança em Números 2020 elaborado pelo Instituto de Segurança Pública - ISP e o Governo

69
do Estado do Rio de Janeiro.
IMPRIMA ESTA

PÁGINAS 13 A 16!
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINA E SIGA AS
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

VÍTIMAS DE CRIMES RACIAIS


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PERFIL DA VÍTIMA
Homens:
39,7%

Mulheres: Negros/as:

Dossiê Crimes Raciais 2020 elaborado pelo Instituto de Segurança Pública - ISP e o Governo do Estado do Rio de Janeiro.
58,7% 90,8%

*Balanço anual (2019) do Disque 100 Direitos Humanos – Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Brancos/as:
9,2%

Total: 844
Idade: 40 a 59 anos

VÍTIMAS DE INTOLERÂNCIA RELIGIOSA*

35

24

**Não foram apresentados à raça cor de sete vítimas.


16
14
10

Total Homens Mulheres Brancos/as Negros/as***

70
ANÁLISE DOS DADOS

O Rio de Janeiro é um estado marcado pela violência policial, tráfico de dro-


gas e narcomilícias. A violência é a forma como o Estado brasileiro ocupa diversos
territórios dessa região. Esse cenário causa diversos desdobramentos na vida das
mulheres negras trans e cis: rede de proteção social insuficiente ou precária; viola-
ção dos direitos sociais básicos; maior exposição à morte e violência; interdição do
exercício dos direitos no campo da reprodução; e maior exposição a crimes raciais.

No ano de 2017, as mulheres negras corresponderam a 56,3% das vítimas de


estupro no estado do Rio de Janeiro, enquanto para as mulheres brancas o índice
foi de 37% (ISP/RJ, 2018). O Atlas da Violência de 2020 indicou um aumento de
26,3% de homicídios no estado. Enquanto a taxa de homicídio para as mulheres
negras é de 5.4 por 100 mil habitantes, maior que a médica nacional, para as mu-
lheres brancas a taxa é de 3 por 100 mil, menor que a média nacional. Ser mulher
negra significa estar mais exposta à violência interpessoal e institucional (também
na forma policial). Em 2014, Claudia Ferreira da Silva foi assassinada pela polícia
enquanto comprava pão para alimentar a família e seu corpo foi retirado da cena
do crime e arrastado por cerca de 350 metros. Essa cena foi filmada e divulgada
em diversos meios de comunicação, expressando a naturalização e tentativa de
legitimação da violência contra as mulheres negras.

A violência racial de gênero também se expressa na interdição do direito à ma-


ternidade das mulheres negras. Essa interdição acontece tanto pela mortalidade
materna, que afeta com mais intensidade as mulheres negras, quanto pelo assassi-
nato sistemático de seus filhos e filhas. Em 2020, quando a pandemia do Covid-19
assolou o Brasil e o isolamento social foi a estratégia mais eficaz de contenção da

71
contaminação, 22 crianças foram baleadas e 12 crianças negras assassinadas em
intervenções policiais no Rio de Janeiro. Isso significa dizer que a estratégia de iso-
lamento social não é uma alternativa para a população negra no contexto de pan-
demia. Além dos números, a violência racista se expressa também na impunidade
em relação ao crime. Grande parte dos casos ainda não teve desfecho e nenhum
agente foi responsabilizado. A polícia do Rio de Janeiro está em segundo lugar no
ranking de letalidade no Brasil com uma taxa de 10.5 homicídios por 100 mil ha-
bitantes. Apesar dos dados do estado não apresentarem raça/cor das vítimas da
violência policial, os dados nacionais indicam que os jovens negros são os alvos
preferenciais.

A letargia da justiça na apuração dos crimes cometidos contra a população


negra também expõe o desrespeito do Estado brasileiro com as vidas negras e
com a garantia do direito à segurança e Justiça para essa população. O desapa-
recimento das três crianças negras em 27 de dezembro de 2020 no município de
Belford Roxo enquanto brincavam é um exemplo dessa negligência. Mais de seis
meses depois as famílias e as mães dessas crianças seguem sem respostas e à
mercê de um Estado que não é apenas omisso, mas o agente violador do direito
à segurança pública cidadã.

72
DIMENSÕES DE (IN)JUSTIÇA
REPRODUTIVA NO RJ
(BELFORD ROXO - DUQUE DE
CAXIAS - ZONA OESTE): DADOS
QUALITATIVOS EM PERSPECTIVA
INTRODUÇÃO AOS DADOS QUALITATIVOS

Os dados qualitativos levantados por este dossiê revelam um quadro persis-


tente de desassistência, ausência de serviços e de políticas públicas, de direitos
e ocorrência de violências diversas ocorridas nos territórios referidos permeadas
e decorrentes do racismo patriarcal cisheteronomativo causando cenários em que
operam injustiças reprodutivas.
A pandemia de Covid-19 foi marcada por enorme descaso por parte do gover-
no em assegurar condições de salvaguardar a vida da população, principalmente
a população negra, que está mais vulnerável ao adoecimento e morte decorrentes
do vírus. O isolamento social não foi uma realidade para grande parte das mulhe-
res que precisaram sair de casa para trabalhar, bem como pela falta de estrutura
das moradias que não favorecem as condições para que as pessoas passem o dia
todo dentro de casa juntas. Além disso, a falta de atenção por parte do Estado
em propor estratégias de prevenção, juntamente com as próprias condições de
vida – dificuldades de acesso à água, saneamento precário, violência policial --,
favoreceu a continuação das atividades com aglomeração. As dificuldades de se
adaptar ao distanciamento social foi acompanhada por uma sensação de impo-
tência por parte das mulheres.
A contaminação nos territórios foi expressiva, com muitos relatos de familiares
e entes queridos que faleceram. A dor de não poder enterrar as pessoas próximas
e familiares também esteve presente. Muitas relataram angústia diante do cenário
discrepante em que o Brasil está vivendo e pela falta de estratégia coletiva em lidar
com a pandemia. O sofrimento e a morte decorrentes da Covid-19 passaram a fa-
zer parte da vida das mulheres, já marcada por negligência e descaso por parte do
Estado decorrentes do racismo patriarcal cisheteronormativo.

74
DIMENSÃO 1:
SITUAÇÃO DE DIREITOS
HUMANOS ECONÔMICOS,
SOCIAIS, CULTURAIS
E AMBIENTAIS

75
ANÁLISE DOS DADOS

Os Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais compõem


parte essencial para a promoção do Bem Viver na vida das mulheres negras trans e
cis e de suas comunidades de existência. Seus conteúdos são patamares históricos
de luta de diversas ativistas que incidem e mobilizam por trabalho, saúde, educação,
ambientes salubres e íntegros e exigem o enfrentamento ao racismo.

Tais direitos se contrapõem às políticas de austeridade que historicamente são


implementadas pelos governos sob um discurso de contenção de investimentos
públicos para melhoria da economia, mas que na verdade são políticas de amplia-
ção de desigualdades e iniquidades raciais, sociais e reprodutivas. Os DHESCAs se
referem aos direitos mais básicos para garantia de uma vida digna, como moradia,
saneamento, educação, saúde, acesso à tecnologia, etc. Nos territórios, esses di-
reitos são sistematicamente desrespeitados, impactando na sobrecarga do traba-
lho reprodutivo das mulheres e nas condições precárias de vida. É a partir desse
cenário que as mulheres precisam realizar suas escolhas reprodutivas.

76
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

DIREITO À MORADIA
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

O QUE ELAS RELATARAM:


Rovena Rosa/Agência Brasil

Maioria mora em casas de alvenaria, porém


precariedade de habitações é marcante nas
comunidades vizinhas.

Bairros mais afastados são repletos de casas de


madeira na beira do rio, construções de tábuas,
cobertas por plástico e /ou telhas e algumas de
tijolo sem acabamento.

Sumaia Vilela/Agência Brasil

77
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

SANEAMENTO BÁSICO E COLETA DE LIXO


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

O QUE ELAS RELATARAM:


Carolina Gonçalves/Agência Brasil

O esgoto faz parte da moradia e não há


saneamento básico. Há esgoto à céu aberto,
ausência de tratamento e de estrutura
para vazão.

Agência Brasil

Em períodos de chuva, a dificuldade de


escoamento faz com que o esgoto retorne para
as casas, mesmo naquelas de alvenaria.
Muitas moscas e larvas se espalham pela rua.

Fernando Frazão/Agência Brasil

Muitas mulheres e crianças apresentam graves


problemas de pele.
A coleta de lixo não é regular e o lixo se acumula,
o que atrai insetos e produz mau cheiro.

O lixo não é descartado de forma correta pela


comunidade. É preciso conviver com o mau
cheiro e com doenças. Fernando Frazão/Agência Brasil

ANÁLISE CRIOLA

Há grande negligência e descaso do Estado no tratamento dispensado ao saneamento básico.


A situação expõe a saúde da população a doenças e agrava epidemias como as de dengue
e Zika.

78
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

ACESSO À ÁGUA
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

O QUE ELAS RELATARAM:

Tânia Rego/Agência Brasil


Água com mau cheiro e gosto horrível.
Necessário coar água devido à cor escura e por
ser barrenta.

Necessário comprar água para consumo.

Fernando Frazão/Agência Brasil

Há desabastecimento de água nas partes mais


altas dos territórios, o que exige organização da
comunidade para juntar dinheiro e comprar carro
pipa ou instalar uma bomba coletiva para encher
a caixa das casas.

Rovena Rosa/Agência Brasil

ANÁLISE CRIOLA

Maior risco de contágio: as dificuldades acima mencionadas são vivenciadas pelas mulheres
no contexto da pandemia, no qual a água é um recurso essencial para conter a contaminação
de Covid-19 no processo de higienização e para que pessoas, mulheres e meninas trans e cis,
bem como homens trans e pessoas não binárias, pratiquem cuidados ligados à saúde sexual e
reprodutiva. O Rio de Janeiro apresenta o dado oficial de 90,5% de abastecimento por rede de
água (MAPA DA DESIGUALDADE, 2020).

79
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

SEGURANÇA ALIMENTAR
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

O QUE ELAS RELATARAM:

Verduras, legumes e frutas são artigos de luxo.


Conseguem no máximo garantir o feijão, arroz
e, com sorte, alguma carne ou frango para
as suas famílias.

Agência Brasil

Não comem o que desejam e precisam com


frequência reavaliar o que será comprado na feira
devido à alta do preço dos alimentos.
Algumas deixaram de se alimentar, dormiram com
fome ou pularam uma refeição para conseguir
alimentar seus/suas filhos/as.
Agência Brasil

Muitas vezes, a garantia do direito à alimentação


dependeu de ações de solidariedade.

Fernando Bizerra/Agência Brasil

ANÁLISE CRIOLA

O cenário de crise econômica e política tem produzido efeitos severos na população, em


destaque às mulheres negras trans e cis. A ausência e insuficiência de alimentação para as
famílias significa grave violação dos direitos humanos, expressando um dos tentáculos da
necropolítica adotada pelo Estado brasileiro. A VigiSAN (2020) comprovou o agravamento do
quadro de insegurança alimentar e o aumento da fome no Brasil.

80
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

TRABALHO E RENDA
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

O QUE ELAS RELATARAM:


Agência Brasil

Várias mulheres estão sem renda. As autônomas


precisaram paralisar atividades e as assalariadas
tiveram suas remunerações reduzidas.
Não sobra tempo para dedicar ao estudo,
atividade política ou lazer.
Agência Brasil

O acesso ao transporte foi precarizado. Os


deslocamentos são longos, o tempo de espera
aumentou e o preço do bilhete não é acessível.
Foi preciso acionar o Conselho Tutelar para ter o
direito à creche garantido.

Trabalhadoras domésticas, mensalistas e/ou


diaristas foram liberadas do trabalho, mas sem
apoio algum dos/as empregadores/as.
Muitas precisaram sair de casa por não ter
dinheiro para pagar o aluguel.
Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Com o fim, redução e/ou corte do auxílio


emergencial, sentem insegurança, medo e falta
de perspectiva. Muitas vezes é preciso recorrer
a familiares e outras pessoas para conseguir
sustento e moradia básica para si e para filhos/as.
O cuidado com as crianças precisou ser
redobrado. Com creches e escolas insuficientes,
recorrem à rede de vizinhas.
Antônio Cruz/Agência Brasil

ANÁLISE CRIOLA

A pandemia agravou as dinâmicas da vida doméstica para as mulheres. O isolamento social


intensificou o trabalho reprodutivo não remunerado e o tempo das mulheres ficou ainda mais
comprometido com o cuidado. A maioria das mulheres afirmou já ter problema no trabalho
por falta ou fragilidade da rede de apoio, além de ser obrigada a produzir em um contexto de
saúde mental prejudicada. O assédio e discriminação racial também fazem parte da rotina das
mulheres em suas ocupações.

81
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

USO DO TEMPO DE LAZER E O TRABALHO


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

DE CUIDADO
O QUE ELAS RELATARAM:
Agência Brasil

Praticamente não há tempo de atividades de


lazer (leitura, teatro, praia).
Caminhadas foram interrompidas devido ao
aumento da violência na comunidade.

Sumaia Vilela/Agência Brasil

Tempo é completamente dedicado às


necessidades da família, de subsistência e
cuidado.
“Entre o pão e a festa, prevalece o pão.”

ANÁLISE CRIOLA

Perda de renda, desemprego e a situação de insegurança alimentar acaba por secundarizar o


direito ao lazer. A pesquisa Sem Parar (2020) aponta que 52% das mulheres negras passaram
a se responsabilizar pelo cuidado de alguém durante a pandemia, evidenciando a sobrecarga
de trabalho que impacta a vida das mulheres negras trans e cis. A falta de acesso ou acesso
precário aos recursos sociais, econômicos e políticos é a tônica da vida dessas mulheres.
Essas questões desenham o cenário pelo qual as mulheres precisam fazer suas escolhas
reprodutivas e exercer direitos nesse campo.

82
DIMENSÃO 2:
SITUAÇÃO DE
SAÚDE E DIREITOS
HUMANOS SEXUAIS E
REPRODUTIVOS

83
ANÁLISE DOS DADOS

Os Direitos Sexuais e os Direitos Reprodutivos são direitos humanos inaliená-


veis, garantidos em âmbito internacional pela Conferência do Cairo de 1994 e pela
Conferência de Beijing, em 1995. Tais direitos abarcam lutas históricas das mulheres
como, por exemplo, a legalização do aborto, a liberdade sexual, política de distribui-
ção de contraceptivos, planejamento familiar e reprodutivo, direito à maternidade
livre e saúde sexual e reprodutiva. É direito das mulheres decidirem quando, como,
quantos e com quem querem ter filhas/os, livre de violência e coerção.

No atual cenário os DSDR estão sendo sistematicamente atacados, deslocan-


do a autonomia reprodutiva das mulheres para o controle reprodutivo e negação
dos direitos. O desmonte do Sistema Único de Saúde e das demais políticas que
compõem a rede socioassistencial agravam as injustiças reprodutivas que afetam
as mulheres negras de modo particular. O cenário é de violação de direitos, omis-
sões, negligências e falhas dos serviços sociais que relegam as mulheres negras
à mortalidade materna, aborto inseguro, violência contra as mulheres, violência
obstétrica e impedimento ao acesso à saúde.

84
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PÁGINA E SIGA AS

ABORTO E VIOLÊNCIA
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

O QUE ELAS RELATARAM:

Casos de aborto espontâneo em que houve


descaso e indiferença nos serviços de saúde.

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Procedimentos dolorosos nos casos de abortos,


tais como curetagem sem anestesia.

Tânia Rêgo/Agência Brasil

Fernando Frazão/Agência Brasil

Situação de violência também atinge mulheres


e pessoas grávidas. Houve relatos de aborto
provocado por terceiro em razão de violência
física/espancamento.

ANÁLISE CRIOLA

O aborto se apresentou como uma realidade entre as mulheres. Percebe-se uma diferença em
relação à situação financeira para a realidade do risco gerado pelo aborto clandestino, que é
mais grave para as parcelas mais pobres. O processo é violento de maneira significativa sobre
como o julgamento é direcionado para as mulheres no território.

85
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

ACESSO AO ABORTO LEGAL


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

O QUE ELAS RELATARAM:

Não conheciam o direito ao aborto legal.

Agência Brasil

Profissionais de saúde dos territórios não


oferecem informação.

Agência Brasil

Agência Brasil

Há julgamento por parte do


conservadorismo religioso.

Rovena Rosa/Agência Brasil

Falta de conhecimento sobre os serviços,


ausência de iniciativa do governo e o próprio
preconceito com a prática do aborto.

86
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA VIVENCIADA POR


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

MULHERES GESTANTES OU EM SITUAÇÃO


DE ABORTAMENTO
O QUE ELAS RELATARAM:
Marcello Casal /Agência Brasil

Maus tratos, discriminação e medo relacionados


à gravidez e parto.

Uma das participantes fez apenas 4 consultas no


pré-natal, sendo que o indicado são oito, porque
o médico que atuava na comunidade foi afastado
por Covid-19 e não foi substituído; sem dinheiro
para a passagem, ela precisou fazer consultas em
outro lugar e se deslocar de moto.
André Borges/Agência Brasília

Agência Brasil

Algumas sofreram práticas como episiotomia e


manobra de Kristeller ou ainda peregrinaram atrás
de atendimento mesmo em trabalho de parto.

Uma das mulheres teve sangramento, passou Carla Cleto/Agência Alagoas


o dia internada e depois foi liberada para
retornar para casa. Voltando na manhã seguinte,
passando mal e já em trabalho de parto, foi
encaminhada para uma unidade de alto risco
e, esperando 1h para ser atendida, ouviu das
enfermeiras e médicos que ela não estava
sentindo nada e que não havia leito disponível.

Humilhações e agressões verbais que partiram


de profissionais de saúde, tais como “Na hora de
fazer não gritou!”; “Se continuar gritando não vou
te atender!”; “Não chora, não, que ano que vem
tá aqui de novo!”.
Agência Brasil

87
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

ESTERELIZAÇÃO DE MULHERES
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

NOS TERRITÓRIOS
O QUE ELAS RELATARAM:

Muitas foram incentivadas a realizar laqueadura


na hora do parto, sendo que a Lei de
Planejamento Familiar só permite o procedimento
Marcello Casal Jr/Agência Brasil com no mínimo 45 dias após o parto.

Agência Brasil

Esse incentivo é mais direto e comum entre


mulheres mais velhas de suas famílias.

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Há percepção de julgamento em relação aos


casais que optaram pela esterilização masculina.

ANÁLISE CRIOLA

A violência é parte da experiência vivida por gestantes, seja pela ausência de equipamentos
sociais nos territórios ou pelo racismo institucional. A insuficiência de serviços tanto no pré-
natal quanto no parto expõe as mulheres a maiores complicações, sendo os maus tratos e a
discriminação mais intensas contra as mulheres pretas. As atitudes violentas por parte dos
profissionais funcionam como uma barreira de acesso aos serviços, desencorajando o retorno
das pacientes para acompanhamento. O processo de violência obstétrica também é marcado
pela dissimulação e justificativa da violência, muitas vezes apresentada como boas práticas.
Frases como “Mãezinha, quer que seu filho/a morra? e “Vamos subir em cima de você, mas
é para o seu bem” expressam a naturalização da violência no cotidiano dos serviços e o
desrespeito à autonomia das mulheres nesse momento.

88
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

ACESSO À SAÚDE
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

O QUE ELAS RELATARAM:

Faltam equipamentos de saúde e sucateamento


dos que existem.

Marcello Casal Jr/Agência Brasil


Agência Brasil

Atendimentos em relação à pressão e diabetes


são mais comuns, mas é difícil ter acesso
aos medicamentos.

Agência Brasil

O acesso aos serviços de ginecologia acontece


em meio a maus tratos e discriminação racial.

Não há atendimento dermatológico, apesar da


alta ocorrência de doenças de pele decorrentes
da insuficiência de saneamento básico.

SMS de Mesquita/Agência Brasil

ANÁLISE CRIOLA

Identificamos a tendência de a saúde destinada às mulheres ser centrada na saúde


materno-infantil. A integralidade da atenção à saúde é comprometida pelos diversos motivos
acima relatados.

89
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

SAÚDE MENTAL DAS MULHERES


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

O QUE ELAS RELATARAM:

Medo, angústia e ansiedade, tais como o medo


de morrer devido à Covid-19 e inseguranças em
relação às condições de vida.

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Solidão, crises de pânico, desgaste emocional.


Falta de apoio social.

Fábio Pozzebom/Agência Brasil

Nenhum acesso a serviços de psicologia


ou psiquiatria.

Agência Brasil

ANÁLISE CRIOLA

O contexto de medo, mortes e incertezas no Brasil devido à pandemia afeta a saúde mental da
população e das mulheres negras trans e cis em particular. A crise sanitária é proveniente também
de uma profunda crise econômica e política fundada pelo racismo patriarcal cisheteronormativo. A
pandemia agravou desigualdades e acelerou o processo de retirada de direitos, sobretudo em um
governo negacionista que não prestou nenhum apoio para amenizar o sofrimento da população.
Não houve investimento na política de saúde mental do Brasil para acolher essas pessoas. Ao
contrário, a Emenda Constitucional do Teto dos Gastos Públicos impede a expansão dos serviços
e programas.

90
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

TRAJETÓRIAS REPRODUTIVAS
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

O QUE ELAS RELATARAM:


Agência Brasil

Algumas acessam o método contraceptivo


escolhido (tal como o DIU) pelo SUS e avaliam
o atendimento como adequado. Outras relatam
não fazer uso do método que desejam e falta de
orientação profissional.

Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Dificuldades de negociação com os parceiros


em relação à camisinha. População LGBTQIAP+
não recebe informação e tampouco tem acesso
à recursos adequados para acolhimento,
especialmente no que se refere às Infecções
Sexualmente Transmissíveis (ISTs).

Há desrespeito sistemático ao nome social das


pessoas trans e travestis. Assim, elas demoram a
recorrer a serviços e se tornam mais vulneráveis
a adoecimentos.

Agência Brasil

ANÁLISE CRIOLA

O Brasil apresenta diversas desigualdades em relação à oferta de políticas contraceptivas.


O direito a uma vida sexual prazerosa e livre de violência, com dignidade, informação sobre
métodos de prevenção, educação sexual e acolhimento é um direito de todas as pessoas.
As mulheres, em destaque as mulheres negras e a população LGBTQIAP+, têm esse direito
sistematicamente violado, como mencionado anteriormente.
Porém tais dificuldades estão imersas em uma rede mais ampla de práticas discriminatórias que
vão desde a invisibilidade da discussão sobre gênero e sexualidade até o constrangimento
por parte da igreja, familiares e profissionais de saúde ao associarem a forma de se relacionar
dessa população com práticas “sujas”. O abandono escolar é uma das consequências dessa
situação, uma vez que, ao invés de propiciar acolhimento, o espaço repercute a violência e
a falta de amparo familiar. Muitas pessoas precisaram se mudar do seu território para viver
com mais liberdade. Essas violências se materializam no cotidiano dos serviços de saúde
funcionando como uma verdadeira barreira de acesso para essas pessoas.

91
DIMENSÃO 3:
SITUAÇÃO DE
VIOLÊNCIAS E
VIOLAÇÕES PROMOVIDAS
PELO ESTADO

92
ANÁLISE DOS DADOS

“A violência policial é o racismo institucional que mais atinge o território. Além da


negação dos serviços enquanto direitos e a precariedade nos serviços compara-
dos a territórios mais brancos e ricos”. As mulheres compreendem esse cenário de
violação a partir do racismo institucional. Muitas relataram maus tratos e discrimina-
ção no atendimento, que são expressões da forma como a cultura das instituições
como hospitais, escolas, justiça, política se organiza para produzir discriminação
cotidiana com base na raça/cor. O racismo institucional se materializa também na
forma como o Estado distribui recursos materiais, econômicos e políticos. Oferta
de serviços socioassistenciais é substituída por violência policial nos territórios em
que o Estado deveria atuar garantido os direitos e a vida da população. O racismo
institucional também se materializa na naturalização e negligência da situação de
violência contra as mulheres, tanto institucional quanto doméstica e intrafamiliar.
As mulheres relataram que se sentem violadas quando não conseguem realizar os
exames importantes para a sua saúde ou precisam trabalhar e não haver creches
ou vagas disponíveis para seus/suas filhos/as, precisando recorrer a redes de
apoio precárias. A violência contra a mulher se apresenta através dos julgamentos
e desvalorização. É algo cotidiano na comunidade, a violência física é comum”. As
mulheres relatam o abandono diante da gravidez ou dificuldade financeira ou de
saúde recorrentes e como uma forma de violência. Além da violência física, violência
patrimonial e psicológica também são frequentes. A violência patrimonial se refere à
destruição ou subtração do dinheiro ou objetos pessoais; já a violência psicológica
são xingamentos, humilhações e maus-tratos. Todo esse cenário é marcado pela
ausência do cuidado por parte do Estado, pois não há expansão dos serviços de
atendimento a mulheres em situação de violência e divulgação desses serviços.
Muitas mulheres relataram a falta de conhecimento sobre como denunciar a violên-
cia ou acessar equipamentos que garantam a proteção das suas vidas.

93
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

VIOLÊNCIAS PROMOVIDAS PELO ESTADO E


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

GRUPOS ARMADOS
O QUE ELAS RELATARAM:

É um desafio diário sobreviver com medo de


perder um filho. É difícil criar filho/as atualmente.
Tiroteios são constantes, assim como
perseguições indevidas contra adolescentes e
jovens. Não há liberdade de ir e vir.
Wilson DiasAgência Brasil
Rovena Rosa/Agência Brasil

Mães não conseguem descansar, pois não


sabem o que pode acontecer com suas vidas.
Creches municipais não dispõem de vagas
necessárias para atender as comunidades; nos
postos de saúde faltam remédios e profissionais;
professores precisam “fazer milagre”.

Marcello Casal JrAgência Brasil


Tráfico e milícia avançaram com seu poder de
atuação, a ponto de comerciantes precisarem
pagar taxas para trabalhar e não serem
importunados. Muito presente em alguns
territórios, a milícia inclusive intimida a população
em momentos de eleição.

As igrejas são responsáveis por projetos que


atendem de forma pontual alguns territórios com
atividades de assistência e lazer. Em um dos
territórios, a maior parte desses serviços são
ofertados por vereadores que causam ingerência
nas dinâmicas políticas da comunidade.
Tomaz Silva/Agência Brasil

ANÁLISE CRIOLA
O cenário de injustiças reprodutivas das mulheres negras trans e cis, atravessado por diversas
violações de direitos expressas nos relatos, se materializam na interdição do direito de
maternidade, haja vista que o Estado brasileiro é responsável pelo extermínio dos jovens e
crianças negras. A ausência de equipamentos sociais de educação, saúde, esporte e lazer é
combinada com uma presença militarizada e violenta do Estado nesses territórios, em expressão
de um projeto político que determina quem pode viver e quem deve morrer e como morrer na
sociedade.

94
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

AÇÃO DAS MULHERES NEGRAS COMO


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

RESISTÊNCIA AO CENÁRIO DE VIOLÊNCIA

O QUE ELAS RELATARAM:

A auto-organização política nas comunidades


promove mudanças significativas por meio de
ações de assistência, educação, cultura
e lazer, tendo como público-alvo mulheres,
jovens e crianças.
Valter Campanato/Agência Brasil

Edgard Matsuki/Agência Brasil

Coletivos e organizações realizam um trabalho


tanto de enfrentamento à insegurança alimentar
e reivindicação dos direitos básicos quanto
promoção de discussões fundamentais para
enfrentamento das desigualdades e injustiças,
construindo possibilidades de transformações.

95
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

ENCARCERAMENTO
INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

O QUE ELAS RELATARAM:

Muitos familiares vivem situação de cárcere,


em uma experiência marcada por dor,
violência e estigma.

Tânia Rêgo/Agência Brasil


Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Uma das mulheres relatou a vergonha e


humilhação que passava ao visitar o pai de seu
filho que estava em cárcere: estigma, falta de
dinheiro para prover o que ele necessitava e
dificuldades em relação ao transporte para visita.

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Após a saída do cárcere, as pessoas negras


ainda precisam enfrentar as dificuldades de
reinserção no mercado de trabalho e
a perseguição por parte da polícia
quando há operação.

ANÁLISE CRIOLA

Apesar de nenhuma das mulheres ter relatado pessoalmente a experiência do encarceramento,


elas convivem com os impactos dessa experiência de forma próxima, uma vez que são as
encarregadas pelo cuidado. A falta de perspectiva e o estigma que acompanham pessoas em
cárcere faz com que a situação de encarceramento seja continuada.

96
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

VIOLÊNCIA EM RAZÃO DA POLÍTICA DE


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

REMOÇÃO E VIOLAÇÃO AO DIREITO DE


MORADIA
O QUE ELAS RELATARAM:

A remoção é uma marca triste e dolorosa para


suas vítimas, pois simboliza um rompimento não
apenas com a moradia, mas também com
as relações sociais e o habitar em um
determinado lugar.

Akemi Nitahara/Agência Brasil


Agência Brasil

A remoção é um “arrancamento” de uma vida


afetiva por inteiro.

ANÁLISE CRIOLA

As remoções fazem parte de uma longa história de marginalização territorial da população negra
no Brasil. Com a valorização de determinados territórios, a população é afastada das regiões
em processo de desenvolvimento. Isso implica no afastamento, muitas vezes, dos locais de
trabalho e ocupação, aumentando o deslocamento das pessoas. As remoções impactam
também promovendo apagamento da memória da comunidade. Os territórios são espaços que
as pessoas constroem uma forma de vida, com história, dinâmica social interna
e redes de integração. Nesses espaços, a comunidade constrói uma memória coletiva de
luta e resistência.

97
IMPRIMA ESTA
PÁGINA E SIGA AS

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E RACISMO


INSTRUÇÕES DAS
PÁGINAS 13 A 16!

RELIGIOSO
O QUE ELAS RELATARAM:

Grupos religiosos atuam com evangelização,


batendo de porta em porta para entregar
panfletos. Esses grupos têm forte presença
em ações de doação de roupas, alimentos, e
inclusive um acompanhamento nutricional das
crianças da comunidade, prestando serviços de
assistência, e por isso são bem-vistos no bairro.
Marcelo Camargo/Agência Brasil

A intolerância religiosa das práticas de matrizes


africanas é comum na demonização dentro da
própria igreja, ou com comentários ofensivos e
denúncias seletivas em relação ao barulho,
que não costumam ser direcionadas a igrejas mais
barulhentas.
Agência Brasil

Agência Brasil

Uma das mulheres, que professa religião de


matriz africana, relatou que foi quase agredida no
transporte público por estar portando símbolos
religiosos, precisando descer do transporte para
não ser mais agredida verbalmente.

ANÁLISE CRIOLA

Na atual conjuntura, ações fundamentalistas têm se intensificado em diversos territórios. As


igrejas cristãs usufruem de reconhecimento nas comunidades e são vistas como responsáveis
por moralizar a vida da população. A tendência atual de “refilantropização” da pobreza,
deslocando da esfera da assistência para a esfera moral, proporciona a proliferação dessas
entidades e intensificação das pautas morais. Esse processo se desdobra na intolerância
religiosa, pois o racismo estrutural também é responsável pela reorganização dessas forças
políticas. O desrespeito à pluralidade e diversidade resulta em violência e perseguição.
Sabemos ainda que essas forças operam também contra os direitos reprodutivos e os direitos
sexuais das mulheres e pessoas LGBTQIAP+, interditando o direito à saúde física e emocional,
bem como promovendo violência e intolerância. Representam um entrave à Justiça Reprodutiva
das mulheres e à laicidade do Estado. As práticas fundamentalistas exercidas por pessoas ou
grupos também têm agido e se organizado para barrarem o avanço dos direitos das mulheres.

98
REFERÊNCIAS
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na produção da punição em uma prisão paulistana. Revista CS, 21, pp.97-120. Cali, Colombia:
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WERNECK, J.; SILVA, N. I. Dossiê A situação dos direitos humanos das mulheres negras no Brasil:
violências e violações. Geledés: São Paulo, Criola: Rio de Janeiro, 2016.

101
Criola é uma organização da sociedade civil com 29 anos de trajetória na defesa
e promoção dos diretos das mulheres negras e na construção de uma sociedade
onde os valores de justiça, equidade e solidariedade são fundamentais. Nesse per-
curso, Criola reafirma que a ação transformadora das mulheres negras cis e trans é
essencial para o Bem Viver de toda a sociedade brasileira.

VISÃO

Mulheres negras como agentes de transformação, vivendo em uma sociedade


fundada em valores de justiça, equidade e solidariedade, em que a presença e con-
tribuição da mulher negra sejam acolhidas como um bem da humanidade.

MISSÃO

Instrumentalizar as mulheres negras – jovens e adultas, cis e trans – para o en-


frentamento ao racismo, sexismo, lesbofobia e transfobia. E ainda para atuar nos
espaços públicos, na defesa e ampliação dos seus direitos, da democracia, da jus-
tiça e pelo Bem Viver.

OBJETIVOS ESTRATÉGICOS

1. Criar e difundir novas tecnologias (técnicas, habilidades, métodos, processos)


para a luta política de grupos de mulheres negras

2. Produzir e difundir conhecimento voltado para a erradicação do racismo patriar-


cal cisheteronormativo, para a garantia de direitos, a ampliação da democracia
e da justiça e pelo Bem Viver.

3. Formar lideranças negras aptas a elaborar suas agendas de demanda por polí-
ticas públicas e a conduzir processos de interlocução com gestores públicos

4. Incrementar a pressão política sobre governos e demais instâncias públicas para


a garantia dos direitos humanos, a ampliação da democracia e da justiça e pelo
Bem Viver.

5. Implementar uma gestão de excelência, baseada nas boas práticas de gover-


nança, na sustentabilidade nos pilares administrativo-financeiro, programático
e político.
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CEP 20071-000 - Rio de Janeiro - RJ.

Telefones • 55 (21) 2518-7964 • 984781627


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