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ARTES VISUAIS, HISTÓRIA E

SOCIEDADE
AULA 3

Prof.ª Danielly Dias Sandy


CONVERSA INICIAL

Este texto que lhe é apresentado aborda cinco tópicos da história da arte,
mas com algumas subdivisões, evidenciando os artistas escolhidos. O objetivo
é tratar do período Barroco, seguido da Arte Rococó, do Neoclassicismo, do
Romantismo, para, por fim, tratar do Realismo. Esta seleção busca
instrumentalizar, de forma geral, o leitor a respeito da análise de artistas e obras
da história da arte, pois permitirá que o olhar se desenvolva a partir das
discussões aqui propostas para que possa, ainda, se voltar para outras obras e
artistas, a depender dos interesses de pesquisa do leitor. Desta forma,
especificamos a sequência dos assuntos tratados abaixo:

• O período barroco

• A arte rococó

• O neoclassicismo

• O romantismo na arte

• O realismo

DO BARROCO AO REALISMO

Do período Barroco ao período Realista na arte temos vários movimentos


artísticos e tendências estéticas. No entanto, o foco é tratarmos sobre o Barroco,
Rococó, Neoclassicismo, Romantismo e do Realismo na arte. Assim, é
importante nos atermos às principais características de cada um dos movimentos
supracitados com o objetivo de as compreendermos e sermos capazes de as
identificá-las nas obras dos diferentes artistas.
Esse exercício contribui, e muito, com o aperfeiçoamento de nosso olhar
para que possamos nos desenvolver na crítica e história da arte. Além disso,
vale destacar que identificar essas mesmas características nas sociedades as
relacionando ao pensamento filosófico e científico da época, contribuirá com a
nossa compreensão do todo e da contemporaneidade em diferentes aspectos.
Assim, ao estudarmos do Barroco ao Realismo podemos identificar várias
transformações nas artes e sociedades, na história e modo de viver e assimilar
o mundo. Não obstante a isso, vamos manter viva a nossa chama da curiosidade

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para que, mesmo após a leitura desse texto, possamos dar continuidade às
nossas leituras e pesquisas.

TEMA 1 – O PERÍODO BARROCO

Podemos considerar o período barroco como ocorrido entre os anos de


1600 e 1750. E, “embora o termo ‘barroco’ seja às vezes usado no sentido
negativo de superelaboração e ostentação, o século XVII não só produziu gênios
artísticos excepcionais, como Rembrandt e Velázquez, mas também expandiu o
papel da arte para a vida cotidiana.” (Strickland, 1999, p. 46). Com isso,
observamos também que:

A era barroca começou em Roma por volta de 1600, quando os papas


se dispuseram a financiar magníficas catedrais e grandes trabalhos,
para manifestar o triunfo da fé católica depois da Contrarreforma, e
para atrais novos fiéis com a dramaticidade das “imperdíveis” obras de
arquitetura. O movimento de expandiu para a França, onde os
monarcas absolutistas reinavam por direito divino e gastavam somas
faraônicas para se glorificar. (Strickland, 1999, p. 46)

Isso nos explica muitas coisas, inclusive sobre os temas mais usados
pelos artistas no barroco - sendo a temática religiosa mais usada nos países
católicos e outros temas, incluindo cenas de gênero, naturezas mortas e retratos,
em países protestantes, mas sobretudo onde a burguesia começava a se formar
e demonstrava a intenção de decorar as suas casas.
Vale destacar que o período Barroco veio após o Renascimento, no
entanto, houve ainda um movimento artístico entre ambos, conhecido como
Maneirismo, o que significava “pintar à maneira de”. Esse termo era utilizado
porque acreditavam que os artistas ainda não haviam conseguido se distanciar
das produções dos grandes gênios renascentistas, passando a seguir a sua
maneira de pintar. De todo modo, esse movimento pode ser considerado como
um exemplo de ruptura com os ideais racionais, humanistas e antropocêntricos
da Renascença antes de se adentrar ao barroco, com toda a sua dramaticidade
e tendência para temas religiosos.
O Barroco teve origem na Itália, mas foi difundido para outros países
católicos europeus e da América. Embora para cada região ele tivesse adotado
características específicas, seu caráter dramático permaneceu o mesmo e é fácil
identificá-lo nas diferentes obras. A palavra “barroco” significava “pérola
irregular” e foi usada para definir esse período da história da arte, devido ao

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distanciamento que as produções dos artistas tomavam dos ideais de harmonia
e equilíbrio do Renascimento.
No Renascimento, além das características específicas das composições,
percebemos as linhas que separam as figuras do fundo, enquanto no Barroco as
pinturas se tornam mais pictóricas, deixando a atmosfera muitas vezes com
aspecto de “brumas esfumaçadas", devido aos jogos de luz e sombra para se
obter maior dramaticidade (Wölfflin, 2000). Ainda, de acordo com Wölfflin:

Uma figura clássica pode ser recortada: ela terá, sem dúvida, uma
aparência menos favorável do que em seu meio anterior, mas nunca
perderá a identidade. A figura barroca, ao contrário, tem a sua
existência totalmente associada aos demais motivos do quadro; já uma
simples cabeça mescla-se indissoluvelmente ao movimento do fundo,
mesmo que seja apenas através do jogo de tons claros e escuros.
(Wölfflin, 2000, p. 232)

Como características da arte barroca podemos salientar o exagero nas


formas, os temas dramáticos, riqueza de detalhes e figuras mais “pictóricas”,
antagonismos nas composições, dualismo e fortes contrastes de luz e sombra,
domínio da emoção sobre a razão, a fé como elemento de destaque e mais.
Dentre os diversos artistas barrocos, destacamos primeiramente Annibale
Carracci (1560 - 1609) o qual fez escola e acabou influenciando muitos artistas
desse período e, de acordo com Janson e Janson (1996, p. 253), “[...] ele sentia
que a arte deveria voltar à natureza, mas a sua abordagem era menos decidida,
alternando estudos da vida com uma retomada dos clássicos.” (Janson e Janson,
1996, p. 253).

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Figura 1: “A Assunção da Virgem Maria”, 1590, 1,3 m x 97 cm, Annibale
Carracci, Museu do Prado

Créditos: Renata Sedmakova/Shutterstock

Da Itália também temos Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610)


o qual, conforme aponta Gombrich (1999, p. 433), “[...] consegue a completa e
laboriosa precisão na reprodução de texturas, cores e formas, sem que o quadro
tenha jamais o aspecto de elaborado ou rude.”

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Figura 2: “A Vocação de São Mateus”, concluída em 1599-1600 para a Capela
Contarelli, em Roma, Caravaggio

Créditos: Photofires/Shutterstock

Além desses, devemos evidenciar a artista barroca Artemisia Gentileschi


(1593-1653) que teve reconhecimento ainda em vida e foi filha do pintor Orazio
Gentileschi. Essa artista foi a primeira mulher a integrar a Academia de Belas
Artes de Florença. A obra de Artemisia nos chama a atenção para o domínio
técnico e ao mesmo tempo o aspecto dramático presente em suas pinturas que
evidenciam algumas de suas experiências mais dolorosas. De acordo com
Janson e Janson (1996), passamos a ter mais referências de mulheres na arte
a partir de 1550, sobretudo na Itália, porém, se destaca que essas mulheres
geralmente tinham familiares artistas e isso facilitava o envolvimento delas com
a arte.
Um dos escultores mais conhecidos do barroco foi o italiano Gian Lorenzo
Bernini (1598-1680) que produziu diversas obras de grande impacto e
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considerável dramaticidade. “Essas exibições, que têm por objetivo dominar
emocionalmente o espectador, bem podem ser chamadas de “teatrais”, tanto por
seu espírito quanto pelos artifícios empregados.” (Janson e Janson, 1996, p.
257)

Figura 3: “O Êxtase de Santa Teresa”, Capela do Cornaro, Santa Maria della


Vittoria, Roma, Itália. Foi completado por Gian Lorenzo Bernini em 1652.

Créditos: Filipe.Lopes/Shutterstock

Outro artista bastante importante e que traz as suas peculiaridades em


suas criações pictóricas foi o grego Doménikos Theotokópoulos – conhecido na
Espanha como El Greco (1541-1614). “Pois também ele, ao que parece, era um
homem apaixonado e devoto que sentia imperiosa necessidade de contar
histórias sagradas de um modo novo e mais emocionante.” (Gombrich, 1999, p.
371)

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Figura 4: “São Martin e o mendigo”, 1597-1599

Créditos: Everett Colection/Shutterstock

Ainda na Espanha, temos o pintor Diego Velázquez (1599-1660) que


pintava especialmente para a corte do Rei. “Para o ideal de beleza do estilo
clássico é essencial que todas as partes se apresentem igualmente claras; o
Barroco pode dispensar esse preceito, conforme demonstra o exemplo de
Velázquez.” (Wölfflin, 2000, p. 232)

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Figura 5: Retrato do Papa Inocêncio X, 1640-1650

Créditos: Everett Collection/Shutterstock

Figura 6: A rendição de Breda” ou “As lanças”, 1634-1635, Museu do Prado

Créditos: Oleg Golovnev/Shutterstock

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Sobre o artista holandês Rembrandt Van Rijn (1606-1669), esse
“dificilmente precisa de gestos ou movimentos para expressar o significado
íntimo de uma cena.” (Gombrich, 1999, p. 424)

Figura 7: “A ronda noturna”, 1642, 3,63 m x 4,37 m

Créditos: Everett Collection/Shutterstock

Enquanto Johannes Vermeer (1632-1675) “[...] consegue a completa e


laboriosa precisão na reprodução de texturas, cores e formas, sem que o quadro
tenha jamais o aspecto de elaborado ou rude.” (Gombrich, 1999, p. 433)

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Figura 8: A leiteira”, 1660, pintura holandesa, óleo sobre tela

Créditos: Everett Collection/Shutterstock

Na América Latina também temos a presença do estilo barroco, presente


tanto na arquitetura como também nas esculturas, pinturas, objetos e mobiliários.
Da mesma forma como na Europa, a arte barroca na América Latina é
contemplada pelo uso dos artifícios das cores no alcance do chiaroscuro no
intuito de aumentar o caráter dramático da representação. Vale destacar o
caráter sócio-político e econômico por trás das produções desse estilo que
contava com o financiamento da Igreja Católica e nobres da época.
No Brasil, o estilo barroco é reconhecido como colonial e está presente
em diversas regiões e cidades como Ouro preto, Tiradentes, Diamantina,
Salvador, Rio de Janeiro e mais. No entanto, evidenciamos o “colorismo” do
barroco brasileiro, que ainda apresenta temas mais festivos e menos dramáticos
do que geralmente nos oferece o barroco europeu. Há muitos artistas do barroco
brasileiro de grande representatividade, como Mestre Valentim (1745-1713),
Mestre Ataíde (1762-1830), Antônio Francisco Lisboa, também conhecido como
Aleijadinho (1738-1814) e outros.
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TEMA 2 – A ARTE ROCOCÓ E SUAS CARACTERÍSTICAS

A palavra rococó tem origem a partir da palavra francesa rocaille cujo


sentido tem relação com as conchas, seixos e outros ornamentos que
decoravam as fontes e outros elementos e objetos da época. Ou seja, esse estilo
surgiu em Paris sobretudo para a decoração mais elevada de interiores não
apenas dos palácios, mas também das casas ou hôtels da nova burguesia. “O
rococó nasceu em Paris, coincidindo com o reinado de Luís XV (1723-24). Por
volta de 1760 já era considerado ultrapassado na França, mas continuou em
moda em outros países.” (Strickland, 1999, p. 64). Isso aconteceu porque a arte
acabou se tornando uma forma bastante comum de se pensar a decoração de
uma maneira mais leve e agradável. Trata-se, primeiramente, de uma arte que
foi produzida para a ornamentação e poderia ser considerada “tão decorativa e
não-funcional quanto a aristocracia que a adotou.” (Strickland, 1999, p. 64).
Tal crítica evidencia o quanto a arte rococó foi utilizada pelas classes
sociais mais abastadas, como a aristocracia (e agora, a alta burguesia), para
satisfazerem seus luxos e expressarem seus desejos e frivolidades sem grandes
preocupações, ou profundidade. Com isso, já percebemos que temas dramáticos
e de profunda reflexão não integram o bojo de possibilidades de criação dos
artistas do rococó. Conforme aponta Hauser (1998, p. 526), “o rococó não era
uma arte régia, como era o barroco, mas a arte de uma aristocracia e de uma
alta burguesia.”
Assim, esse período, embora dissonante do período anterior e
subsequente – barroco e neoclássico –, se parece como uma passagem que
regala a oposição entre ambos. O romantismo também se difere bastante do
rococó, sendo muito mais dramático e imaginativo. Sendo assim, a arte rococó
possui características que se opõem ao estilo barroco, de certa forma abrindo
espaço para a posterior chegada do Neoclassicismo e romantismo com seus
ideais estéticos. A partir de Hauser, podemos compreender que “o rococó situa-
se, com seu sensualismo e esteticismo, entre o estilo cerimonial do barroco e o
emocionalismo do movimento pré-romântico. (Hauser, 1998, p. 528). Ainda, de
acordo com Hauser:

o rococó ganha em preciosismo e brilho, charme travesso e


caprichoso, mas também em ternura e espiritualidade; por um lado,
converte-se na arte da sociedade por excelência, mas, por outro,
aproxima-se do gosto burguês pelas formas diminutivas. É uma arte
decorativa altamente especializada, provocante, delicada, nervosa,

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que veio substituir o maciço, estatuesco e realisticamente espaçoso
barroco [...]. (Hauser, 1998, p. 526-27)

Os temas mais trabalhados são os temas bucólicos e festejos da corte,


além de outras cenas de caráter intimista, que permeavam a vida das famílias
mais abastadas. Não obstante, podemos observar a representação de temas
mundanos das altas sociedades destacando as superficialidades e frivolidades
com linhas curvas e delicadas, além da aplicação de cores pastéis com suaves
passagens tonais. Há vários artistas do rococó, sendo alguns com suas
características próprias, dos quais destacamos Jean Chardin (1699-1779), Jean-
Honor Fragonard (1732-1806), Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun (1755-1842),
Jean-Antoine Watteau (1684-1721).
Para o historiador da arte Ernst Gombrich, “há um toque de melancolia
nessas visões de beleza que é difícil descrever ou definir, mas que eleva a arte
de Watteau acima da esfera da simples habilidade e graça.” (1999, p. 455).
Tomamos isso como exemplo para compreendermos que, mesmo que os
artistas do rococó tenham as características de seu tempo fortemente atreladas
à sua arte, há produções que nos revelam algo de muito especial, que extrapola
o caráter frívolo proposto pelo rococó.
Em termos de arquitetura, destaca-se o suntuoso Palácio de Versailles,
na cidade de Paris, na França. Esse Palácio teve o início de sua construção no
ano de 1661 e foi inaugurado em 1789.

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Figura 9 – Palácio de Versalhes

Créditos: Vivvi Smak/Shutterstock

TEMA 3 – A ARTE NEOCLÁSSICA

O Neoclassicismo surgiu no século XVIII, após a Revolução Francesa em


1789, e permaneceu até meados do século XIX. O nome “neoclássico” é dado
devido ao retorno dos padrões estéticos greco romanos, ou seja, do classicismo,
como sua maior característica. Considera-se que foi uma arte direcionada ao
caminho da razão, harmonia, equilíbrio e beleza tendo como maior expressão os
temas históricos e patrióticos. Conforme aponta Argan (1992, p. 23):

O Neoclassicismo não é uma estilística, mas uma poética; prescreve


uma determinada postura, também moral, em relação à arte e, mesmo
estabelecendo certas categorias ou tipologias, permite aos artistas
certa liberdade de interpretação e caracterização.

Durante esse momento, o pensamento filosófico foi influenciado pelos


ideais Iluministas e, logo, por pensadores como Voltaire, David Hume, Rousseau
e outros “que proclamavam que todas as atividades humanas deveriam ser
dirigidas pela razão e pelo bem comum, mais que pela tradição e pela autoridade
estabelecida.” (Janson e Janson, 1996, p. 302)
O Neoclassicismo nos oferece um retorno à cultura da antiguidade
clássica, permeado às ideias da Idade da Razão, tal como ficou conhecido o
Iluminismo. Assim, a arte neoclássica buscou se opor aos exageros do barroco
e trivialidades do rococó, demonstrando simplicidade e pragmatismo nas

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representações, desde suas linhas até a composição das obras. Não obstante,
o mesmo ocorreu em relação a outras áreas e até mesmo ciências da época que
passaram a buscar maior objetividade e racionalismo. Tudo isso pode ser
identificado na arte, economia, cultura e sociedade da época.
Na pintura, temos como o maior expoente – o artista Jacques-Louis David
(1748-1825) que, com “o sentimento sublime e patriótico alcançara uma
concentração formal que satisfazia às exigências da teoria do classicismo.”
(Friedlaender, 2001, p. 34). David tem no leque de sua produção obras históricas
como “O Juramento dos Horácios”, produzida a partir da técnica de óleo sobre
tela, em 1784, na qual “se inspira na moral da Roma republicana sem se remeter,
a não ser pela imaginação, à arte romana daquele período.” (Argan, 1992, p. 22).
Isso nos permite observar que a imaginação para a arte neoclássica se
torna item indispensável aos artistas no que se refere à reprodução de temas
históricos a partir de relações temporais; todavia, para os artistas do
Neoclassicismo, a imaginação ainda deveria ser conduzida de maneira racional
e pragmática.

Figura 10: “A morte de Sócrates”, 1787, Jacques-Louis David

Créditos: Everett Collection/Shutterstock

David pintava em favor da República, foi um artista partidário da


Revolução, se tornou amigo de Robespierre e se manifestou a favor da guilhotina
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para o então rei Luís XVI. Em suas obras podemos sentir um forte patriotismo
em meio a atmosfera política, econômica e social desse período. (Strickland,
1999).
Outro importante artista neoclássico é Jean Auguste Dominique Ingres
(1780-1867), discípulo de David, tendo frequentado o seu ateliê desde os onze
anos de idade. Assim, destacamos que a arte neoclássica influenciou as
academias de artes, repercutindo seus padrões e cânones estéticos, também
para além da Europa. As academias de Belas Artes tomaram uma proporção
ainda mais fortificada após o período neoclássico.
Na escultura, podemos evidenciar Antônio Canova (1757-1822), um dos
favoritos de Napoleão Bonaparte, sendo que “sua escultura é tensa busca do
belo ideal a partir do antigo, que, no entanto, não é um frio modelo acadêmico,
mas uma realidade bela e perdida que se quer reanimar com seu calor.” (Argan,
1992, p. 25).

Figura 11: Escultura de Pauline Bonaparte como Venus Victrix, 1808, Antonio
Canova

Créditos: Vasilii L/Shutterstock

O Brasil também contou com a presença do estilo da arte neoclássica na


produção dos artistas da primeira geração da Academia Imperial de Belas Artes
do Rio de Janeiro, fundada pelos artistas neoclássicos franceses que chegaram
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ao país em 1816. O convite aos artistas da Missão Artística Francesa foi
realizado por Dom João VI, que reconhecia na época a necessidade de trazer
artistas europeus ao Brasil, com o intuito de criarem a primeira Academia de
Belas Artes, para formar as posteriores gerações de artistas.

TEMA 4 – O ROMANTISMO NA ARTE

Em meio à Revolução Industrial, o romantismo na arte tem seu início em


meados do século XIX, sendo essa uma época de forte ebulição, com muitos
fatos históricos e sociais, que resultaram em transformações na política e nas
sociedades. Concomitantemente, a França sofria em meio à uma forte crise, que
influenciaria as pessoas a se rebelarem contra o absolutismo do sistema liderado
pelas classes dominantes. Como apontam Janson e Janson (1996, p. 309):

O Iluminismo, paradoxalmente, libertou não só a razão, mas também o


seu oposto: ajudou a criar uma nova onda de sentimentalismo que iria
durar quase um século e que se chamaria Romantismo. Aqueles que,
na metade do século XVIII, partilharam a reação contra a ordem social
estabelecida e a religião – contra os valores estabelecidos de toda
espécie – poderiam também tentar encontrar uma nova ordem
baseada em sua fé no poder da razão, ou poderiam procurar liberação
em uma ânsia de experiência emocional.

O contexto era propício ao drama e essa influência se expandiu para além


da Europa, e, embora tenha surgido no século anterior, esteve fortemente
presente entre 1820 e 1850. Essa corrente romântica influenciou não apenas as
artes visuais, mas também o universo de outras linguagens como a música, a
poesia, a literatura e mais (Hauser, 2003).
Basicamente, os artistas românticos queriam se opor ao rigor e
paradigmas da arte neoclássica, que havia sido a arte oficial da Revolução
Francesa e tinha como meta a liberdade de expressão e criação. Aqui, a
imaginação com sua força e seus rompantes pictóricos se torna item valoroso e
aclamado, em detrimento da razão, com suas linhas representativas da cultura
greco romana (Wölfflin, 2000).

4.1 As características do romantismo na arte

Ao tratarmos sobre as características do romantismo na arte,


imediatamente devemos destacar sua dramaticidade, além de tantas outras,
oponentes às características racionalistas da arte neoclássica. Dessa forma, a
razão é deixada de lado para que a emoção, com elevada carga de imaginação
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e intuição, seja evidenciada nos temas, nas composições, nas cores, nas formas.
Um dos resultados é a valoração dos sentimentos e sentimentalismo gerados
pela fantasia e, na maioria das vezes, pelo exagero.
Ou seja, o Romantismo volta-se a um mundo ideal permeado por
elementos de nossas paixões, imaginação, emoções, sonhos e fantasias. “O
romântico acreditava que se o homem se comportasse apenas de “modo
natural”, dando livre vazão aos seus impulsos, o mal desapareceria.” (Janson e
Janson, 1996, p. 309)
Ao mesmo tempo, há um retorno dos temas religiosos e personificações
de ideais e estados de espírito que muitas vezes se transformam em belas
mulheres, sendo, inclusive, a idealização da beleza feminina uma outra
característica muito forte desse movimento estético. A exaltação da natureza e
defesa vigorosa de ideais nacionalistas são outros elementos presentes,
juntamente com simbolismos e subjetividade temática.
Ainda, de acordo com Janson e Janson, “foi a paisagem, mais que na
pintura narrativa, que o Romantismo atingiu sua expressão mais completa,
sobretudo na Inglaterra.” (1996, p. 322). Dentre todos, podemos destacar os
ingleses William Turner (1775-1851) e John Constable (1776-1837) como
grandes expoentes dessa temática. Para Gombrich (1999, p. 492), “Turner
também teve visões de um mundo fantástico, banhado de luz e resplendente
beleza: mas, em vez de calmo, o seu era um mundo cheio de movimento, em
vez de harmonias singelas, exibia aparatoso deslumbramento.” Janson e Janson
(1996, p. 323), afirmam que podemos considerar que “o céu para Constable, era
a “tônica, a escala padrão e o principal órgão do sentimento” [...].”

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Figura 12: “O Lago de Zug”, 1843, Turner.

Créditos: Everett Collection/Shutterstock

Figura 13: Catedral de Salisbury em Lower Marsh, 1820, Constable.

Créditos: Everett Collection/Shutterstock


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Há vários artistas no bojo do romantismo como Eugene Delacroix (1798-
1863), Francisco Goya (1746-1828), Théodoro Géricault (1791-1824) e Honoré
Daumier (1808-1879) entre outros. A pintura “A Liberdade guiando o povo”, de
Delacroix, é um dos maiores ícones do romantismo. Sobre ela, Friedlaender
analisa:

“O efeito da pintura está em seu extraordinário brilho de cor e


chiaroscuro, com a cidade incendiada e as torres da Notre Dame ao
fundo, e a radiosa mulher sob os tons da bandeira tricolor francesa.
Nenhuma outra pintura revolucionária combina um élan tão impetuoso
e irresistível com tão grande contenção trágica.” (Friedlaender, 2001,
p. 173)

Figura 14: Impressão em selo da NICARAGUA, 1989, da pintura “Liberdade


guiando o povo” de Eugene Delacroix

Créditos: Charlesimage/Shutterstock

TEMA 5 – O REALISMO

Após o forte embate entre razão e emoção, na primeira metade do século


XIX, fomentado pelo Neoclassicismo e o Romantismo, surgiu o Realismo, na
segunda metade do século, como uma nova proposta estética. Frente aos
acontecimentos sociais e econômicos decorrentes da Revolução Industrial, os

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artistas passavam a se preocupar mais com a realidade das coisas, das cenas,
das figuras e tudo o mais.
A Revolução Industrial ocorreu entre 1760 e 1840, insuflando mudanças
consideráveis nas sociedades da época com fortes efeitos nas ciências, política,
economia, cultura e na arte. Além disso, havia outros fatores e acontecimentos
que fomentavam mudanças, deixando a Europa em um clima de forte ebulição,
sem contar outras consequências e desdobramentos.
Vale destacar que a arte ocidental sempre esteve, em momentos distintos,
envolta em aspectos do “realismo” em determinados temas; todavia, foi nesse
momento histórico e científico do século XIX que os ideais realistas se tornaram
um estilo mais fortificado. Isso foi praticamente como uma forma engajada dos
artistas manifestarem suas críticas e opiniões políticas, confrontando todo o
idealismo sensacional dos movimentos estéticos anteriores.
A partir disso, percebemos uma sobriedade e até mesmo uma austeridade
em muitas obras, que não buscavam mais elementos formais na imaginação do
artista e sim na própria realidade vivenciada por ele.

5.1 As características da arte realista

Na arte realista, não apenas o tema, mas também as cores e as formas


buscavam representar a realidade visual das cenas e todas as coisas. Assim, o
realismo apresenta características oponentes às características racionalistas da
arte neoclássica e idealista do romantismo. Para Argan (2006, p. 75):

Para além da ruptura com as poéticas opostas e complementares do


“clássico” e do “romântico”, o problema eu se colocava era o de
enfrentar a realidade sem o suporte de ambos, libertar a sensação
visual de qualquer experiência ou noção adquirida e de qualquer
postura previamente ordenada que pudesse prejudicar sua
imediaticidade, e a operação pictórica de qualquer regra ou costume
técnico que pudesse comprometer sua representação através das
cores.

Contudo, é compreendido que a busca por um naturalismo também está


presente, sendo a arte realista uma expressão que se opõe a um mundo ideal
permeado por elementos de nossas paixões, imaginação, emoções, sonhos e
fantasias. Isso era proposto porque a intenção era dar luz às cenas cotidianas,
buscando, ainda, exaltar a natureza e defender vigorosamente certos ideais
nacionalistas que representavam, além do mais, uma forma de luta de classes.
Logo, características como a simplicidade, objetividade, lealdade na

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representação, rejeição a temas religiosos, mitológicos e metafísicos, se
tornaram comuns à arte realista.
Além da representação de cenas, vale destacar a influência do realismo
também na representação de paisagens tendo a Escola de Barbizon, na França,
como a mais conhecida. Os artistas desse grupo se reuniam próximo à aldeia de
Barbizon para pintar o que entendiam como a personalidade das árvores, sendo
influenciados pela pintura de John Constable. Dentre os envolvidos podemos
citar Baptiste-Camille Corot (1796-1875) e Jean-François Millet (1814-1875).

5.2 O pai do realismo – Gustave Courbet (1819-1877)

O artista francês Gustave Courbet é considerado o pai do realismo com


sua proposta pictórica, que chamou a atenção de muitos críticos de sua época.
Assim, ele desafiou as academias propondo uma arte que fosse essencialmente
concreta e voltada à simples existência das coisas. De acordo com Argan (2006,
p. 75):

Courbet anunciara seu programa desde 1847: realismo integral,


abordagem direta da realidade, independentemente de qualquer
poética previamente construída. Era a superação simultânea do
“clássico” e do “romântico” enquanto poéticas destinadas a mediar,
condicionar e orientar a relação do artista com a realidade.

Conforme aponta Gombrich (1999), Courbet queria ser discípulo da


natureza e suas obras podem ser consideradas “sinceras” pois renunciavam à
teatralidade, buscando uma representação que pudesse melhor seguir a sua
consciência artística. Ainda, Carol Strickland (1999) evidencia o quão forte foi a
sua intenção política de defender as classes trabalhadoras em suas temáticas.
Courbet também questionou a estrutura dos museus, além das academias
e seus padrões considerados “monótonos” por ele. Em 1855, Courbet teve sua
obra recusada pelos críticos no Salão Universal de Paris, mas não se deu por
satisfeito e abriu sua própria exposição, para mostrar ao todo quarenta pinturas.
O local escolhido para a exposição, conforme Gombrich (1999), foi um barraco,
sendo a mostra intitulada “O Realismo”.

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Figura 15: “Jovens senhoras da aldeia”, óleo sobre tela, por Gustave Courbet,
1851-52.

Créditos: Everett Collection/Shutterstock

NA PRÁTICA

A partir do que foi abordado nesta aula:

• Escolha o estilo da história da arte que mais te chamou a atenção e


procure, a partir das características destacadas, produzir um desenho,
pintura ou escultura;

• Lembre-se de voltar a sua atenção à técnica e detalhes que poderão ser


trabalhados;

• Depois disso, elabore um texto tratando da obra criada por você a partir
do estilo escolhido.

FINALIZANDO

Nesta aula, falamos sobre vários períodos e estilos da história da arte,


iniciando pelo período barroco, com suas principais características, destacando

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seu sentido original: “irregular, contorcido, grotesco”. Para tanto, apresentamos
artistas do barroco italiano, espanhol e dos Países Baixos. Depois, tratamos da
arte rococó, com sua leveza e trivialidade, para, então, avançarmos rumo ao
neoclassicismo com seu resgate à cultura e valores greco-romanos.
Em oposição à arte neoclássica, mostramos a arte romântica, com
características resgatadas do período barroco, como a dramaticidade e
composições antagônicas. Por fim, tratamos da a arte realista que busca
representar cenas da realidade imediata evitando, dessa forma, figuras
exageradas, distorcidas, dramáticas ou outras, oriundas da imaginação dos
artistas.

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REFERÊNCIAS

ARGAN, G. C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

FRIEDLAENDER, W. De David a Delacroix. São Paulo: Cosac Naify, 2001.

GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1999.

HAUSER, A. História social da arte e literatura. São Paulo: Martins Fontes,


2003.

JANSON, H. W; JANSON, A. F. Iniciação à história da arte. São Paulo, Martins


Fontes, 1996.

WÖLFFLIN, H. Conceitos fundamentais da história da arte. São Paulo:


Martins Fontes, 2000.

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