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“Planejando Aulas de Arte

com Base na BNCC”

“São as linguagens da arte que nos fazem vivenciar na vida e na sala de aula a
emoção, a sensibilidade, o pensamento, a criação, seja ela através de nossa própria
produção, seja através das obras dos mais diversos autores e artistas...”
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Frase retirada do livro “Teoria e Prática do Ensino da Arte” – A língua do Mundo de Mírian Celeste Martins, Gisa Picosque, M. Terezinha Telles Gerra, ED.
FTD

PARA REFLETIR:

(...) antes de ser preparado para explicar a importância da Arte na educação, o professor
deverá estar preparado para entender e explicar a função da arte para o indivíduo e a
sociedade.

O papel da Arte na educação é grandemente afetado pelo modo como o professor e


o aluno vêem o papel da Arte fora da escola. (...)

A Arte não tem importância para o homem somente como instrumento para
desenvolver sua criatividade, sua percepção, etc., mas tem importância em si mesma, como
assunto e objeto de estudos (Barbosa, 1975, pp 90 e 113).
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Fragmento retirado do livro “Metodologia do Ensino da Arte” de Maria Heloísa C. de T. Ferraz e Maria F. de Rezende e Fusari ED. CORTEZ

Em nosso primeiro encontro faremos uma introdução ao Ensino de Arte no Brasil e a


importância da BNCC. Esse assunto é de extrema importância, pois para nós que trabalhamos
com o curso da história, é fundamental sabermos como chegamos até aqui.

Será uma pequena viagem no tempo que nos proporcionará um melhor entendimento sobre
quem éramos, o que somos e quem queremos ser como educadores.

Utilizaremos alguns fragmentos das melhores publicações sobre arte-educação, experiências


pessoais e muita história. Prontos para essa viagem?

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UM “PAPINHO” BREVE

A Arte passeia pelo TEMPO, MEMÓRIA e HISTÓRIA. Esse passeio nos permite
compreender porque a Arte é uma importante disciplina escolar nos dias de hoje, mesmo
sofrendo o estigma de que é apenas um momento de relaxamento entre as “disciplinas mais
importantes”, as que te colocarão na faculdade um dia. Um momento para pintar desenhos
xerocados e fazer bagunça.

Se voltarmos no tempo, mas precisamente em 1816 encontraremos a primeira referência


importante do estudo da Arte no Brasil: A Academia Imperial de Belas Artes que após a
Proclamação da República, passou a se chamar “Escola Nacional de Belas Artes”, onde o
aluno aprendia exclusivamente desenho. Pessoas, objetos, animais, paisagens, deviam ser
retratados da forma mais realista possível. Uma cópia fiel! Como uma máquina de xerox!
Culminando em vários desenhos iguais. Criação? Essa palavra passava longe. Perfeição era a
ordem do dia. A mesma perfeição dos artistas europeus, afinal, o que vinha da Europa era
chique, clássico, valioso, etc. .

O aluno precisava dominar o desenho, para depois seguir com a pintura, escultura,
gravura e afins.

O Neoclassicismo era a onda do momento! Esse movimento propunha um retorno aos


ideais da Arte Clássica (Greco Romana) da antiguidade. Resumindo... retratar as coisas como
elas realmente são. Isso também aconteceu no Renascimento, cerca de 4 séculos antes.

PARA ESCLARECER:

 Arte Greco Romana = Clássico Antigo

 Renascimento = Clássico Moderno

 Neoclassicismo = Novo Clássico

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UMA ESPIADINHA PARA ENTENDER MELHOR:

 ARTE GRECO ROMANA – CLÁSSICO ANTIGO

FOLIÕES DIONISÍACOS - Pintura em Vaso Grego ESCULTURA DISCÓBULO


“O lançador de discos” Miron

 ARTE RENASCENTISTA – CLÁSSICO MODERNO

MADONA DAS ROCHAS – Leonardo da Vinci DAVI - Michelangelo

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 ARTE NEOCLÁSSICA – NOVO CLÁSSICO

O JURAMENTO DOS HORÁCIOS – Jacques Louis David HEBE – Antonio Canova

Esses 3 movimentos têm em comum a representação do Belo.


Belo = Saber representar realisticamente

Na Arte Greco Romana, a escultura era mais realista que a pintura.

A grande sacada do Renascimento foi interpretar esse realismo também através do


desenho e da pintura. Foi aí que a perspectiva foi dominada.

Mas voltando ao Neoclassicismo; por ser uma estética trazida pelos franceses – e o Brasil
valorizava demais o que vinha da Europa – a Arte passou a ser considerada algo de elite, de
“luxo”, pois para adquirir técnica era preciso estudo. Para estudar em determinadas
academias precisava de dinheiro. Quem pintava, com o intuito de se tornar um artista, de
certo modo, tinha uma boa condição financeira. Alguns alunos até estagiaram com famosos
artistas europeus.

O Ensino de arte era bem tradicional. O professor detém todo o saber e o aluno só
reproduz.

“... O objetivo do professor era que o aluno tivesse boa coordenação motora, precisão,
que aprendessem técnicas e adquirissem hábitos de limpeza e ordem nos trabalhos e que
estes, de alguma forma, fossem úteis na preparação para a vida profissional, já que eram, na
sua maioria, desenhos técnicos ou geométricos. O desenho deveria servir à ciência e à
produção industrial, utilitária. ...”
Frase retirada do livro “Teoria e Prática do Ensino da Arte” – A língua do Mundo de Mírian Celeste Martins, Gisa Picosque, M. Terezinha Telles Gerra, ED.

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Nas aulas da Escola Tradicional, abrangiam noções de proporção, perspectiva,
construções geométricas, composição e esquemas de luz e sombra. Parece familiar, não é?

Do ponto de vista metodológico os professores trabalhavam os conteúdos através de


atividades que seriam fixadas pelos alunos através da repetição, com a finalidade de
exercitar a vista, a mão, a inteligência, a memorização, o senso estético, o “bom gosto” e o
senso moral. Fico imaginando uma exposição de trabalho dos alunos, com atividades
extremante iguais. Viu um, viu todos! O ensino e aprendizagem se baseava na reprodução.

Pouco tempo depois foram inseridas as artes domésticas e os trabalhos manuais, ditas
“artes femininas”. As meninas permaneciam em casa, onde eram preparadas com aulas de
música e bordado. Era comum as famílias se reunirem para verem apresentações de piano,
violino e canto das mulheres da casa. A mulher era treinada para cuidar do lar e o homem
para trabalhar em fábricas.

O MODERNISMO, A “PEDAGOGIA NOVA” E AS AULAS DE ARTE NO BRASIL

Entre o final do século lXX e início do século XX, muitos artistas brasileiros estavam
vivendo na Europa para estudar e aprimorar seus conhecimentos. Eles acompanhavam as
novas mudanças que buscavam novos caminhos para a Arte, e alguns deles chegaram
mesmo a ter contato com alguns dos novos artistas que causariam grande sensação no
Ocidente, como Pablo Picasso por exemplo. Era o início da Arte Moderna. Quando esses
jovens artistas brasileiros - como Anita Malfatti e Tarsila do Amaral - voltaram para o Brasil,
acabaram trazendo essas novas ideias para a Arte que acabaram influenciando diversos
intelectuais, não apenas artistas, mas também escritores, sociólogos, antropólogos e
claro...educadores.
Trazer essas novas ideias para o Brasil, não significava esquecer tudo aquilo que tinha
sido aprendido e vivenciado do modelo europeu, e sim aproveitar aquilo que era bom que
vinha de fora e mesclar com as novas bagagens modernas. Nasce aí o termo ANTROPOFAGIA.

No dicionário, uma das definições de ANTROPOFAGIA é canibalismo.

O termo ANTROPOFAGIA foi utilizado como associação ao ato de mastigar, assimilar e


deglutir. A ideia, portanto, era o de transformar a cultura, principalmente a europeia,
conferindo assim, o caráter nacional.

A proposta dos modernistas era a de assimilar outras culturas, mas não copiar. A marca
símbolo do Movimento Antropofágico é o quadro Abaporu (1928) de Tarsila do Amaral, o qual

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foi dado de presente ao marido, Oswald de Andrade.

Tarsila do Amaral Oswald de Andrade

Abaporu

O nome da obra é de origem tupi-guarani e significa "homem que come gente"


(canibal ou antropófago). O título da tela é resultado de uma junção dos
termos aba(homem), pora (gente) e ú (comer).

Na pintura vemos um homem com grandes pés e mãos, e ainda o sol e um cacto. Estes
elementos podem representar o trabalho físico que era o ofício da maior parte da população
brasileira naquele período.

Por outro lado, a cabeça pequena pode significar a falta de pensamento crítico, de quem se
limita a trabalhar com a força braçal, sem pensar muito, sendo então uma possível crítica
à sociedade daquela época.

O homem em Abaporu representado transmite uma certa melancolia, pois o posicionamento


da cabeça e expressão denotam alguma tristeza ou depressão. Além disso, o pé grande
também pode revelar uma forte conexão do ser humano com a terra.

Há um tempo atrás, nós do Paleta Pedagógica, criamos uma HQ (história em quadrinhos) para
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explicar melhor esse termo que ainda causa estranheza em muitas pessoas. Vamos relembrar?

No mesmo período, paralelamente, conectados a esses acontecimentos, surge o


movimento da “Escola Nova”, ou simplesmente, “Pedagogia Nova”, surgido na Europa e nos

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Estados Unidos.

A “Pedagogia Nova” chega ao Brasil a partir de 1930, mas só começa a ganhar força
realmente nas décadas de 1950/60 com as chamadas ESCOLAS EXPERIMENTAIS.

Além dos novos caminhos para a Arte propostos pelos modernistas – a busca por uma
maior liberdade de expressão e valorização de nossa própria cultura, algo mais voltado para
a realidade brasileira – houve também a preocupação em transmitir e compartilhar essas
ideias a partir de um novo modelo de ensino de Arte nas escolas com destaque para a
“expressão”, valorizando aspectos subjetivos e individuais em todas as atividades artísticas ,
enfatizando mais as características afetivas do que as intelectuais.

Diversos autores influenciaram o trabalho de educadores no Brasil durante o século XX,


com base na “Pedagogia Nova”. Entre eles: John Dewey, Viktor Lowenfeld e Herbert Read.
Esse último publicou o livro “Educação pela Arte”, obra que contribuiu muito para o
desenvolvimento de importantes movimentos relacionados à arte-educação em nosso país.

Com base nesses movimentos, surge a “Escolinha de Arte do Brasil”, criada e liderada
por Augusto Rodrigues, no Rio de Janeiro, em 1948, tendo como base os princípios da
“Educação pela Arte”.

Depoimento de Augusto Rodrigues 1980

Estava muito preocupado em liberar a criança através do desenho, da pintura. Comecei a ver que
o problema não era esse, era um problema muito maior, era ver a criança no seu aspecto global,
a criança e a relação professor-aluno, a observação do comportamento delas, o estímulo e os
meios para que elas pudessem, através das atividades, terem um comportamento mais criativo,
mais harmonioso.
As crianças vinham cada vez mais, e as idades eram as mais diferentes. Felizmente, tínhamos 2
coisas muito positivas para um começo de experiência no campo de educação, através de uma
escola. A experiência era feita em campo aberto, e a diferença de idades também foi outra coisa
fundamental para que eu pudesse entender, um pouco, o problema da criança e o da educação
através da Arte. Deveríamos ter um comportamento aberto, livre com a criança; uma relação em
que a comunicação existisse através do fazer e não pelo que pudéssemos dar como tarefa ou
como ensinamento, mas através do fazer e do reconhecimento da importância do que era feito
pela criança e da observação do que ela produzia. De estimulá-la a trabalhar sobre ela mesma,
sobre o resultado último, desviando-a, portanto, da competição e desmontando a ideia de que ali
estavam para ser artistas...
“Metodologia do Ensino da Arte” de Maria Heloísa C. de T. Ferraz e Maria F. de Rezende e Fusari, p. 31 e 32 - ED. CORTEZ

No depoimento de Augusto Rodrigues, podemos perceber claramente as ideias de

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Escola Nova, que buscava ver o aluno como um ser criativo, que precisava ter todas as
condições possíveis para a expressão artística, acreditando-se, que com isso, ao “aprender
fazendo”, também saberiam fazê-lo cooperativamente na sociedade.

A “PEDAGOGIA TECNICISTA” E AS AULAS DE ARTES

Presente ainda hoje, com origem a partir da segunda metade do século XX, no mundo
e em 1960/1970 no Brasil, a “Pedagogia Tecnicista” parte do princípio que o aluno e o
professor ocupam uma posição secundária. O elemento principal é a organização técnica da
aula e do curso. Tudo deveria se mover como uma engrenagem de forma metódica. Os
professores deveriam entender o planejamento e seus planos de aulas (centrados apenas nos
objetivos) e deviam apresentá-las de forma minuciosa. Como recurso didático a tecnologia
era essencial, simbolizando uma “modernização” do ensino. Nas aulas de Arte, os alunos
deviam aprender a construir com materiais simples como sucata e outros materiais
diversificados e se expressar de forma totalmente espontânea, o que na maioria dos casos
parecia haver pouco compromisso com o conhecimento das linguagens artísticas. Por conta
da falta de bases teóricas mais fundamentadas muitos professores valorizavam as atividades
dos livros didáticos, apesar da qualidade dos mesmos serem duvidosas enquanto recurso de
conceitos de Arte. O “BUM” do mercado de livros didáticos foi nos anos 70 e 80.

Uma importante consideração: A tendência tecnicista está presente na Lei nº 5.692,


de 1971, que introduziu o componente curricular Educação Artística. A lei, determinando que
nessa disciplina fossem abordados conteúdos de música, teatro e artes plásticas nos cursos de
1º e 2º graus, acabou criando a figura de um professor único que devia dominar todas essas
linguagens de forma competente.
Como já foi falado no início, de fato, uma série de desvios vem comprometendo o ensino da arte.
Ainda é comum essas aulas serem confundidas com lazer, terapia, descanso das “aulas sérias”, o
momento para fazer a decoração da escola, das festas, comemorações de datas cívicas, pintar
folhas impressas, fazer o presente do Dias dos Pais, pintar o coelho da páscoa e a árvore de Natal.
Memorizar algumas “musiquinhas” para fixar conteúdos de outras matérias, fazer teatrinho para
entender os conteúdos de História e “desenhinhos” para aprender a contar.

Ao lado de todas essas tendências, surge no Brasil entre 1961/1964 um importante


trabalho desenvolvido por Paulo Freire, que repercutiu politicamente por seu método
revolucionário de alfabetização de adultos. Agora o professor e o aluno se voltam para a
importância de um diálogo voltado pra à consciência crítica. Todos têm algo a dizer. Em 1971
é considerada uma “Pedagogia Libertadora” que resiste até hoje, com uma perspectiva de
consciência crítica da sociedade, dando ferramentas para o povo pensar.

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Acreditando que a escola tem um papel específico com relação as mudanças nas
ações culturais, nos anos 80 educadores e pesquisadores brasileiros se esforçaram
em criar e discutir práticas e teorias de educação baseadas na realidade do aluno. Um
convite a discutir ações e as ideias que queremos modificar na educação em Arte como um
desafio e compromisso com as transformações da sociedade desde os tempos mais remotos.
É como se a Antropofagia se fizesse presente também na arte-educação, incorporando as
qualidades de todas as tendências pedagógicas (tradicional, nova, tecnicista, libertadora),
acrescentando a elas a realidade e a crítica.

(...) AGIR NO INTERIOR DA ESCOLA É CONTRIBUIR PARA TRANSFORMAR A PRÓPRIA SOCIEDADE. CABE A ESCOLA
DIFUNDIR OS CONTEÚDOS VIVOS, CONCRETOS, INDISSOLUVELMENTE LIGADOS ÀS REALIDADES SOCIAIS. OS MÉTODOS
DE ENSINO NÃO PARTEM DE UM SABER ESPONTÂNEO, MAS COM UMA LIGAÇÃO DIRETA COM A EXPERIÊNCIA DO
ALUNO CONFRONTADA COM O SABER TRAZIDO DE FORA. O PROFESSOR É MEDIADOR DA RELAÇÃO PEDAGÓGICA –
UM ELEMENTO INSUBSTITUÍVEL. É PELA PRESENÇA DO PROFESSOR QUE SE TORNA POSSÍVEL UMA “RUPTURA” ENTRE A
EXPERIÊNCIA POUCO ELABORADA E DISPERSA DOS ALUNOS, RUMO AOS CONTEÚDOS CULTURAIS UNIVERSAIS,
PERMANENTEMENTE REAVALIADOS FACE ÀS REALIDADES SOCIAIS (Cenaform 1983, p. 30)

No que diz respeito ao papel da educação escolar durante o processo ensino-


aprendizagem de todo o conhecimento conquistado pela humanidade, sua maior
responsabilidade é a de oferecer ao educando os instrumentos necessários para que ele
possa desenvolver sua cidadania, seu senso crítico, estimular sua participação na sociedade.
Para tanto sempre houve uma grande necessidade em buscar a elaboração e a discussão de
uma “Pedagogia Histórico-Crítica”, isto é, uma teoria e prática educacional escolar mais
voltada para a nossa realidade, mais “crítico-social dos conteúdos”. Naturalmente, não
devemos nos esquecer das contribuições relacionadas às outras perspectivas pedagógicas.

Tal pedagogia tem como objetivo possibilitar que todo o estudante tenha o “acesso e
contato com os conhecimentos culturais básicos” e necessários para uma prática social viva e
transformadora.

Segundo Demerval Saviani, a valorização da escola se dá pela pedagogia que busque


esses objetivos.

Através da contribuição de Libâneo (1985), esse novo caminho pedagógico mostra a


importância do trabalho docente nos dias atuais, onde “um saber, um saber ser e um saber
fazer pedagógico” precisam fazer parte das características formais e materiais do ensino e
claro, com objetivos de transformação da sociedade.

Sendo assim, Ana Mae Barbosa, nos mostra a importância de se conhecer a História da

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Arte e nela saber intervir sempre de forma consciente.

Em seus livros, é possível conhecer e perceber importantes análises e sínteses: “Arte-


Educação no Brasil” (1978), “Recorte e Colagem: Influências de John Dewey no Ensino da Arte
no Brasil” (1982), “Arte-Educação: Conflitos e Acertos” (1984), “História da Arte-Educação”
(1986), “O Ensino da Arte e sua História” (1990).

Ana Mae Barbosa, sempre deixou bem claro sua preocupação com a democratização
do conhecimento da Arte, de sua grande responsabilidade em buscar uma educação de
qualidade e aproximarmos ainda mais a população do universo artístico e estético (acesso
aos museus, centros culturais e meios de comunicação).

Através de suas obras, fica ainda mais claro o papel do professore de Arte e a
importância de seu trabalho durante o processo ensino-aprendizagem. O ensino da Arte
precisa ser recuperado e valorizado através de seu processo histórico para que sejam
percebidas “as realidades pessoais e sociais”, aqui e agora e possamos aprender a lidar de
forma crítica com essas realidades.

Sem dúvida uma das propostas pedagógicas mais importantes na área de Arte-
Educação é a conhecida “METODOLOGIA TRIANGULAR” do ensino da Arte, que tem como
base três importantes elementos do conhecimento em Arte: A PRODUÇÃO, O “FAZER
ARTÍSTICO”; A REFLEXÃO, “A ANÁLISE DAS OBRAS DE ARTE”; E A CONTEXTUALIZAÇÃO, “A
HISTÓRIA DA ARTE”. Essa Metodologia foi desenvolvida e pesquisada no Museu de Arte
Contemporânea da USP (MAC/USP). No início da década de 1990, é difundida em todo Brasil.

É fundamental refletirmos sobre a importância da Arte no processo educativo, não


apenas para a formação de professores e alunos, mas também para todos aqueles que estão
envolvidos com uma educação que pretende ser transformadora. Só aprenderemos a
construir práticas e teorias da educação escolar em Arte se tivermos consciência histórica e
reflexão crítica sobre os conceitos, as ideias e as ações educativas de nossa própria época.

É muito importante que possamos criar um ensino através da Arte que possa atender as
necessidades individuais e sociais dos alunos, suas áreas de interesse e, ao mesmo tempo, dar
a eles o domínio e os conhecimentos básicos da Arte. O professor precisa sempre se atualizar
com práticas e ações educativas principalmente com as crianças: É PRECISO SABER ARTE E
SABER SER PROFESSOR DE ARTE.

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ARTE É CONHECIMENTO

A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394), aprovada em 20


de dezembro de 1996, estabelece em seu artigo 26, parágrafo 2º: “O ensino da arte constituirá
componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a
promover o desenvolvimento cultural dos alunos”.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Arte: “São características desse


novo marco curricular as reinvindicações de identificar a área por Arte (e não mais Educação
Artística) e de incluí-la na estrutura curricular como área com conteúdos próprios ligados à
cultura artística, e não apenas como atividade”.

Assim, a Arte é importante na escola, principalmente porque é importante fora dela. Por
ser um conhecimento construído pelo homem através dos tempos, a Arte é um patrimônio
cultural da humanidade, e todo ser humano tem direito ao acesso a esse saber.

Tratar a Arte como conhecimento é o ponto fundamental e condição indispensável para


esse enfoque do ensino de Arte, que vem sendo trabalhado há anos por muitos arte-
educadores. Ensinar Arte significa articular 3 campos conceituais: a criação/produção, a
percepção/análise e o conhecimento da produção artístico-estética da humanidade,
compreendendo-a histórica e culturalmente. Esses 3 campos conceituais estão presentes nos
PCN-Arte e, respectivamente, denominados produção, fruição e reflexão. Nisso consiste a
Metodologia Triangular de Ana Mae Barbosa como vimos anteriormente.

ATENÇÃO!
Desde a época em que habitava as cavernas, o ser humano vem manipulando cores,
formas, gestos, espaços, sons, silêncios, superfícies, movimentos, luzes, etc., com a intenção de
dar sentido a algo, de comunicar-se com o outro.

A comunicação entre as pessoas e as leituras de mundo não se dá apenas por meio da


palavra. Muito do que sabemos sobre o pensamento e o sentimento das mais diversas
pessoas, povos, países, épocas são conhecimentos que obtivemos única e exclusivamente
por meio de suas músicas, teatro, poesia, pintura, dança, cinema, etc. Como entender tais
linguagens?

Não é raro que alguém, frente a uma tela ou numa sala de concerto, teatro ou cinema,
diga: “Isto é pintura?”; “Essa confusão de borrões até eu faço!”; “Isto é música? Uma
barulheira infernal!”; “Ópera? Me dá sono!”; “Não entendi nada!”

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Na verdade, na maioria das vezes não entendemos nada mesmo! Algo semelhante
ocorre quando cai em nossas mãos um livro com textos em árabe, chinês, grego ou qualquer
outro idioma que não compreendemos. Nossa reação é idêntica: “Não entendi nada, não sei
ler essa língua!”

Para nos apropriarmos de uma linguagem, entendermos, interpretarmos e darmos


sentido a ela, é preciso que aprendamos a operar os seus códigos. Do mesmo modo que
existe na escola um espaço destinado à alfabetização na linguagem das palavras e dos
textos orais e escritos, é preciso haver cuidado com a alfabetização nas linguagens da Arte.

É por meio delas que poderemos compreender o mundo das culturas e o nosso eu
particular. Assim, mais fronteiras poderão ser ultrapassadas pela compreensão e interpretação
das formas sensíveis e subjetivas que compõe a humanidade e sua multiculturalidade.
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“Teoria e Prática do Ensino da Arte” – A língua do Mundo de Mírian Celeste Martins, Gisa Picosque, M. Terezinha Telles Gerra, ED. FTD

“A disciplina escolar Arte é uma área de conhecimento humano, como também o são as
disciplinas de Matemática, Geografia, Inglês, etc. Isso ocorre porque a arte é uma forma
específica de conhecer o mundo, vivenciá-lo e reinventá-lo; de conhecer as diferentes formas
com as quais as pessoas se relacionam. Os artistas, assim como os outros profissionais,
contribuem para o desenvolvimento da cultura, da identidade de um povo e de um país.”
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Frase retirada do livro ARTE DE PERTo, Volume único – Ed. Leya (PNLD2018) p.11

O QUE É A BNCC?

“A BNCC é um documento plural, contemporâneo, e estabelece com clareza o


conjunto de aprendizagens essenciais e indispensáveis a que todos os estudantes, crianças,
jovens e adultos, têm direito. Com ela, redes de ensino e instituições escolares públicas e
particulares passam a ter uma referência nacional obrigatória para a elaboração ou
adequação de seus currículos e propostas pedagógicas. Essa referência é o ponto ao qual se
quer chegar em cada etapa da Educação Básica, enquanto os currículos traçam o caminho
até lá. Trata-se, portanto, da implantação de uma política educacional articulada e
integrada. Para isso, o MEC será parceiro permanente dos Estados, do Distrito Federal e dos
municípios, trabalhando em conjunto para garantir que as mudanças cheguem às salas de
aula. As instituições escolares, as redes de ensino e os professores serão os grandes
protagonistas dessa transformação. A BNCC expressa o compromisso do Estado Brasileiro com

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a promoção de uma educação integral voltada ao acolhimento, reconhecimento e
desenvolvimento pleno de todos os estudantes, com respeito às diferenças e enfrentamento à
discriminação e ao preconceito. Assim, para cada uma das redes de ensino e das instituições
escolares, este será um documento valioso tanto para adequar ou construir seus currículos
como para reafirmar o compromisso de todos com a redução das desigualdades
educacionais no Brasil e a promoção da equidade e da qualidade das aprendizagens dos
estudantes brasileiros.”
Mendonça Filho
Ministro da Educação

 Introdução:
Desde a Constituição de 1988, já havia uma discussão sobre a necessidade de adequar
os currículos educacionais a realidade brasileira. Respeitando a diversidade sócio cultural de
nosso país, afim de assegurar uma base comum.
Em 1996, com a nova LDB (PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais, DCN -Diretrizes do
Currículo Nacional) surge a ideia de desenvolver projetos nas escolas. A partir de 2015 é que,
de fato, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) começou a ser construída. E finalmente
em 2017, o documento oficialmente se tornou público, pronto para ser colocado em prática.
Atenção: A BNCC não é currículo! Ela indica, o ponto onde se quer chegar, o objetivo
final. É uma base de orientação. Assim como competência não é o mesmo que habilidade.
Competência = objetivo a ser chegado. Habilidade= o caminho que você vai levar para
chegar aos objetivos.

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