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Resumo da Obra Camponeses e Economia Rural em Moçambique. Maputo: INLD.

Marc Wuyts

Na parte introdutória desta obra o autor faz uma analise quantitativa da estrutura social da
produção Agrícola de Moçambique tomando em linha de conta o aspecto histórico a partir da era
da implantação do colonialismo ate a transição para era criação da burguesia colonial sem entrar
em pormenores da produção agrícola moçambicana.

Considera que a economia colonial nunca foi consistente sendo exclusivamente virada a
satisfação das necessidades da burguesia na acumulação de capitais. O que de certo modo
proporcionou uma economia não consistente e desenvolvida para satisfazer as necessidades de
acumulação de capital da burguesia portuguesa. Salienta que duas grandes regiões que marcam a
estrutura da economia de Moçambique, uma dela identificada por um tipo de reserva de mão-de-
obra e outra por arrendamento de territórios.

Na região Sul a pequena Agricultura comercial transformando se em uma reserva de mão-de-


obra para satisfazer o capital mineiro da África do sul e desenvolvimento dos portos e caminho-
de-ferro, em quanto que em quanto que na região centro e norte a economia estava virada a
plantações no vale do Zambeze, encarregue a companhias estrangeiras que também
administravam as regiões politicamente.

O que marcou o primeiro período da colonização, foi a imigração de colonos portugueses para
zonas rurais o que de certo modo proporcionou a criação de latifundiários que se expropriaram
de grandes parcelas de terras para a produção e arrendamento.

Seguiu esta fase a criação do estado fascista do regime de Salazar nos fins dos anos 20 o que
catapultou politicas previas para a burguesia portuguesa fraca.

Por volta do ano 40 a burguesia portuguesa conseguiu atingir um nível de desenvolvimento


independente, aliado ao facto da Guerra Mundial. Cita como exemplo a economia rural a
introdução de culturas obrigatórias como algodão, tabaco e arroz pelo campesinato para

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alimentar a indústria portuguesa, embora estas reformas não tenham superado o capital
estrangeiro.

No que tange a burguesia e pequena burguesia comercial no campo desdobrava se no sentido de


criar infra estruturas como armazéns, lojas, facilidade de transporte com vista a facilitar a
colocação do produto do campesinato.

“ Esta rede de comércio no campo era controlada principalmente pelos colonos imigrantes, mas
isto não implica que esta burguesia comercial colonial possuísse inteiramente uma base
independente para a acumulação. As suas actividades dependiam, em grande medida, do avanço
de crédito bancário e, assim, uma considerável parte do excedente extraído da produção para
mercado dos camponeses terminou - através do pagamento de juros - nas caixas fortes dos
bancos controladas pelo capital estrangeiro e português. Finalmente é interessante notar que no
caso do algodão era o próprio Estado colonial que organizava marketing (abastecimento de
sementes, compra do produto, etc.) assim como conduzia os serviços de extensão (os únicos que
existiam eram para algodão)"1

O que demonstra claramente que o crescimento das indústrias têxteis portuguesas estava aquém
do mercado internacional sem contar com as suas colónias.

Por sua vez o campesinato em harmonia com a burguesia, fornecia a mão-de-obra para alimentar
as plantações e outras actividades, alem de abastecer o mercado interno em produtos como
milho, amendoim e outros com vista a satisfazer a camada africana dos assalariados.

O autor apresenta um quadro ilustrativo da estrutura da produção agrícola a nível nacional,


focalizando as 14 principais culturas e a respectiva percentagem do campesinato quer para a
venda assim para consumo, agrupando os produtos em três categorias.

Para Marc Wuyts os dados apresentados de que o campesinato produziu mais de dois terços da
produção nacional, mostra uma subestimação da proporção real da pequena produção dos
camponeses em relação à produção agrícola total.

O autor salienta que “ Como sabemos, parte da produção realizada pelo campesinato consiste
em produção para o seu consumo (chamada produção de subsistência), em quanto o restante
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Marc Wuyts, Camponeses e economia rural em Moçambique. Maputo, INLD,- 12
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constitui o excedente comercializado. Infelizmente, não existe um conjunto de dados
consistentes para o mesmo ano que permita distinguir, no conjunto da produção dos camponeses,
o excedente comercializado da produção de subsistência. Não obstante, é possível fazer um
cálculo destas percentagens relativas com base nos dados de comercialização referentes a 1967,
que indicam que cerca de um terço da população agrícola comercializada é proveniente da
pequena produção dos camponeses, em quanto os restantes dois terços são fornecidos pelas
plantações e machambas dos colonos” 2

O autor assevera que as plantações e machambas dos colonos foram responsáveis por cerca de 30
porcento da produção e forneceram cerca de dois terços da produção comercializada, deste modo
concluindo que 55 por cento da produção agrícola, tem origem da produção de subsistência.

No quadro apresentado sobre a importância relativa da produção das plantações das machambas
dos colonos e dos camponeses pode se constatar o seguinte:

i. Nas culturas predominantemente dos camponeses 91 porcento provem da produção dos


camponeses;

ii. Nas culturas predominantemente das plantações 8 porcento provém da produção dos
camponeses; e

iii. Nas culturas predominantemente das machambas dos colonos 32 porcento provem da
produção dos camponeses.

Completando na produção agrícola total na ordem de 70 porcento provenientes da produção dos


camponeses. Destaca que a produção de castanha de caju e algodão estava virada para
exportação para o mercado externo embora existisses um certo processamento no país antes de
exportação.

Por sua vez as machambas dos colonos se encarregavam de fornecer produtos alimentares a
comunidade dos colonos nas cidades. Da uma significante importância a produção dos
camponeses na agricultura, como se pode notar na distribuição das actividade e respectiva
produção por cerca de 70 porcento da produção total.
2
Idem, 15,16

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Toma em consideração que os dados acima mencionados se referem a dados nacionais médios e
não toma em linha de conta as variações da região da estrutura de produção agricultura.

No que diz respeito a diferença entre o campesinato e a classe camponesa pouco foi feito de vido
a visão sustentada pelos colonos de que os camponeses são todos iguais. A formação de classes
no campesinato era outro factor constituía um factor de diferenciação económica de certo modo
não se deve confundir com a divisão política criada através do sistema de régulos ou chefes
nomeados pelo governo com finalidade de cobrar impostos, recrutar trabalhadores para o
trabalho forcado (chibalo), para interferir na distribuição e atribuição de terras.

Na abordagem sobre os padrões regionais na estrutura de produção agrária, o autor procura


expor rapidamente as variações na estrutura da produção agrícola das três grandes regiões a
saber:

a) Norte: Cabo Delegado, Niassa e Nampula;

b) Centro: Zambézia, Manica, Sofala e Tete; e

c) Sul: Inhambane, Gaza e Maputo.

Através de um quadro resumo o autor mostra as variações das três regiões na estrutura social na
produção agrícola, onde pode se notar que a região do sul participa com 17 porcento na produção
total, a pecuária não esta incluída nesta avaliação, as régios norte e centro partilham a mesma
percentagem se deferindo na produção comercializada onde a zona centro supera a todos com
uma margem de 46 porcentos contra 36 porcentos da zona norte e 19 para sul.

Os camponeses do norte não só tem a maior parte da produção agrícola desta região 86 porcentos
mas também se nota uma maior integração na produção de culturas para a região do que as
restantes regiões. Esta diferenças resultam do factor de que na zona norte a o campesinato
produtor de culturas para mercado e aspecto dominante contrariamente do centro que esta virado
a economia de plantações e sul a machambas de colonos.

Na caracterização da zona sul como a reserva da mão-de-obra para a indústria mineira sul-
africana o autor refere que “ Como já afloramos em secções anteriores, no sul as médias e
pequenas machambas dos colonos dirigidas para satisfazer as necessidades de alimentação das

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cidades em rápida expansão, constituem o elemento dominante na estrutura da produção
agrícola. Centrado no mercado interno, a sua produção reflecte o padrão de consumo da
comunidade de colonos: isto é, géneros alimentícios de alta qualidade. Assim para além de
produzirem produtos alimentares da primeira necessidade como arroz, trigo e batata, estas
machambas também se especializaram numa variedade de vegetais e frutas, assim como
produtos de origem animal como carne, ovos e galinhas.”3

Razoes que apontam a incoerência dos dados estatísticos apresentadas anteriormente, no papel
do sul pela ausência da criação animal.

Assevera que o capital estrangeiro na agricultura estava reservado a região sul no plantio de
cana-de-açúcar no vale do Imcomati, os camponeses se limitavam a produção para sobrevivência
e os produtos destinados ao mercado eram o caju, o excedente do milho, amendoim e outros.

Considera que as três formas de produção não estavam divididas de forma uniformizada, os
colonos com as machambas em volta de Maputo nas zonas mais férteis como a zona de Moamba
no Vale do Imcomati, Vale de Limpopo, na Província de Gaza.

Os latifundiários na província de Inhambane se desdobraram na criação de latifúndios na ordem


30 porcento de terras e a principal fonte de produtos vendidos como castanha de caju, copra e
amendoim vinham dos camponeses. Uma produção de açúcar na ordem de 25 porcento vinha de
Maputo e uma variedade de produtos para mercado interno como trigo, batatas, legumes e frutas,
em quanto a província de Gaza constituía o celeiro do pais como maior produtora da cultura de
arroz (cerca de metade da produção nacional) no vale do Limpopo, assim como trigo e legumes.
A província de Inhambane que era fraca na produção contribuía com castanha de caju e
amendoim.

Wuyts apresenta um quinto quadro ilustrativo sobre a produção para a subsistência como em
termo do excedente comercializado na região sul onde se pode notar que o excedente
comercializado é bastante baixo como indicam os números, 49 e 10 porcento contra 55 e 15
porcento a nível nacional. O que nos remete a uma conclusão de que maior força de trabalho era
reservada para actuar como mão-de-obra nas minas da África do Sul.

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Ibdem, 25
5
As implicações que resultam desta atitude são ilustradas no sexto quadro onde se pode
depreender que o montante anual de salários e montante anual de pagamentos deferidos para as
três províncias do Sul do país, tem uma certa tendência ora vejamos que “12 porcento do
montante anual de salários pagos aos mineiros moçambicanos, e cerca de 32 porcento do
montante anual de pagamentos deferidos, (isto é, a parte do salário que é pago de uma só vez, no
fim do contrato quando regressam a Moçambique)”4

Este modelo de administração colonial na zona sul proporcionou a restrição de outras forma de
capital localizadas na área o autor avançou com algumas hipóteses das limitações impostas pelo
governo colonial a zona sul:

 A reserva imposta na mão-de-obra para as minas da África do Sul e no capital de


plantação interna influenciou negativamente no desenvolvimento da agricultura nos
vales do Limpopo e Imcomati;

 Luís de Brito, Citado por Wuyts, na sua obra Algumas Notas a propósito da Historia
Contemporânea de Moçambique, CEA, 1978, sustenta que os colonos não estavam
preparados para concorrer com a industria mineira Sul Africana pelas dificuldades que se
impunham em pagar salários competitivos com os mineiros, por outro lado os
agricultores não foram politicamente fortes para monopolizarem a mão-de-obra, esta
contradição foi resolvida com a introdução nos campos de produção do trabalho forcado
para o pagamento do chibalo, um imposto obrigatório para os camponeses, o que justifica
a existência do trabalho forccado ate os anos 60;

 A imergência de uma classe os koulaks, em primeiro lugar não podiam opor se a


competição por trabalho das minas e em segundo lugar das machambas por se
considerarem de uma classe privilegiada, por outro lado começa a surgir um tipo de
camponês de classe media com uma capacidade de praticar uma agricultura mecanizada,
e de maior rendimento resultado da acumulação do capital no trabalho migratório das
minas da África do Sul.

O autor conclui que “A maior desvantagem da dominação do capital mineiro sobre o sul de
Moçambique, e o consequente sistema de trabalho migratório é que criou um proletariado
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Ibdem, 27
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que não foi acompanhado pelo desenvolvimento das forcas produtivas domesticas, isto é, um
proletariado sem as condições materiais da sua existência dentro de do País: uma situação
que, na presente fase de transição para o socialismo e reconstrução nacional, pode bem
construir um dos piores tipos de herança do passado colonial. Uma herança que impôs, e
continua a impor, severas limitações ao desenvolvimento interno das forcas produtivas.”5

Caracterizando a economia da plantação na região centro, Wuyts considera que era a maior, de
produção agrícola quer em produção comercializada. No sétimo quadro de resumo esta claro
que a região a actividade básica era a economia de plantações de cana-de-açúcar, copra e chã
situada no vale do Zambeze, incluindo Sofala que também era um potencial na produção da
cana-de-açúcar. A semelhança da zona sul esta região também foi transformado numa reserva da
mão-de-obra, com a diferença de ser transformado num semiproletariado rural para o sector de
plantações caracterizou a economia rural do vale do Zambeze, o grau de produção que
notabilizou na produção para o mercado do campesinato, forneceu cerca de 24 porcento da
produção nacional de algodão e 26 porcento do arroz. campesinato da província de Manica e
Sofala produziu 16 porcento da produção nacional de algodão.

A burguesia portuguesa nunca conseguiu explorar as colónias exclusivamente para o seu


benefício próprio devido ao nível de investimento que era alocado para a burguesia portuguesa
pelo governo do Salazar. A capacidade económica do capital estrangeiro que sempre mostrou
uma robustez económica.

Na sequencia da caracterização das regioes seguiu se o campisinato produtor de mercadoria


pertecente a zona norte, onde o autor assevera que esta região produz cerca de 40 porcento da
produção nacional agrícola e cerca de 35 porcento da produção nacional mercantil, e a
semelhancas de outras regioes elaborou um oitovo quadro ilucidadativo, onde se vislumbra 86
porcento da produção agrícola regional virada a agricultura e 65 porcento do excedente da
produção. Se destacam as principais culturas desta região a mandioca 67 porcento da produção
nacional, amendoim 56 porcentos da produção nacional cujo os excedentes deste produto são
vendidos, 54 porcento da produção nacional, se destacando no topo das produções em relação a
Cabo Delegado e Niassa. Elevando a importância do campeonato da província de Nampula.

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Ibdem, 30
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No que tange a acumulação primitiva de capital e o campeonato, segundo os dados avançados
nas três regiões o Campesinato sempre foi colocado em segundo plano da economia monetária,
Wuyts aponta as seguintes razoe para sustentar o legado:

 Deu se outra atenção a produção de subsistência em detrimento à força de trabalho e as


plantações, o campesinato no período pôs guerra foi obrigado a produzir culturas como o
arroz com a finalidade de servir de excedente mercantil;

 Para além de ser produtor de subsistência o campesinato serviu de igual modo como
motor da produção mercantil para o País. Como também ofereceu a sua mão-de-obra para
as plantações, minas da África do Sul alem de outras actividades não expressas. A titulo
de exemplo com a introdução da cultura de algodão o campesinato tinha que se refugiar
para o interior ou para as minas para escaparem esta cultura que era do carácter
obrigatório.

 O sistema colonial actuou no campo já com um objectivo bem definido que era por um
lado o de institualização de um sistema de trabalho migratório interno ou externo, e por
outro lado um processo de campesinatização que implicou a transformação dos que o
autor chamou de cultivadores africano sem produtores de mercadoria.

O autor cita Lenine como mostrou que o desenvolvimento de produção capitalista no campo
conduzia ao empobrecimento progressivo da maioria do campeonato ate serem expulsos da terra
para se constituírem em proletariado.

No que tange a independência e a crise da economia rural colonial, o autor assevera que depois
da queda do regime fascista do Salazar em 25 de Abril de 1974, devido as contradições no seio
da sociedade portuguesa agudizadas pelos agravamentos das despesas das guerras coloniais e do
avanço vitorioso dos movimentos de libertação nas ex colónias a burguesia colonial e a pequena
burguesia de Moçambique tentaram organizar se politicamente com finalidade de protegerem os
interesses económicos na colónia.

Como o exemplo de forjarem micos na colónia. Como o exemplo de declaração unilateral de


independencia a semelhança da Rodésia. Mas os acordos de Lusaka e a 7 de Setembro puseram
ao fim aquele tipo de manifestação.

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Em considerações finais o III congresso da Frelimo formulou as políticas para de controlo de
sectores vitais da economia nacional pôs o colonialismo português.

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