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Historia de MS

SUMÁRIO

Parte I: Colônia ........................................................................................................ 2


Capitulo 1: As bandeiras e o início da colonização de Mato Grosso .................... 2
Capitulo 2: Administração das Minas ................................................................... 8
Capítulo 3: O abastecimento das Minas............................................................. 12
Capítulo 4: Fronteira no Século XVIII ................................................................. 14
Capítulo 5: Sociedade da Mineração ................................................................. 19
Capítulo 6: Transferência da Capital de Vila Bela para Cuiabá ......................... 28
Atividades .............................................................................................................. 32
Parte II: Império ..................................................................................................... 44
Capitulo 7: Rusga ............................................................................................... 44
Capitulo 8: Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) ........................................... 49
Capítulo 9: A cidade de Cuiabá na segunda metade do século XIX ................. 55
Capitulo 10: Quadro econômico de Mato Grosso (1870/1930) .......................... 58
Capitulo 11: Transição do Trabalho Escravo para o Trabalho Livre em Mato Grosso 70
Atividades .............................................................................................................. 76
Parte III: República ................................................................................................ 86
Capitulo 12: A República em Mato Grosso ........................................................ 86
Capítulo 13: Movimentos sociais que marcaram o período republicano em Mato Grosso
........................................................................................................................... 93
Capítulo 14: A Coluna Prestes em Mato Grosso .............................................. 101
Capítulo 15:Nos trilhos da Modernidade .......................................................... 103
A Construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil ................................. 103
Estrada de Ferro Madeira – Mamoré ............................................................ 105
Trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré................................ 110
Capítulo 16: Comissão Rondon: Construção das Linhas Telegráficas............. 111
Serviço de Proteção ao índio ........................................................................ 114
A Política do Índio na República ................................................................... 115
1
Expedição Roosevelt- Rondon ..................................................................... 117
Capitulo 17: Era Vargas em Mato Grosso ........................................................ 118
Governo Provisório de Vargas (1930-1934) ................................................. 120
Tanque Novo ................................................................................................ 122
Estado Novo (1937-1945) ............................................................................. 124
A Administração de Julio Müller em Mato Grosso ........................................ 126
Marcha para o Oeste .................................................................................... 127
Expedição Roncador-Xingu .......................................................................... 129
Capítulo 18: República Populista em Mato Grosso .......................................... 131
Capitulo 19: Mato Grosso durante a Ditadura Militar (1964-1985) ................... 134
Colonização do Norte de Mato Grosso ......................................................... 135
A Divisão de Mato Grosso ............................................................................ 140
Capítulo 20: A Nova República em Mato Grosso ............................................. 143
Atividades ............................................................................................................ 150
Referências Bibliográficas ................................................................................... 162

Parte I: Colônia

Capitulo 1: As bandeiras e o início da colonização de Mato Grosso

Para abordamos a fase inicial da colonização do Mato Grosso, é preciso mencionar o


processo de colonização do Brasil.
A colonização do Brasil foi um empreendimento da Coroa Portuguesa e se deu no
início do século XVI e esteve inserida nos moldes do mercantilismo.
A política mercantilista caracterizou o Estado Moderno e teve como objetivo o
fortalecimento do Estado e o enriquecimento da burguesia. Para alcançar os seus objetivos,
a política mercantilista seguiu alguns princípios básicos:
a base da riqueza de um país era medida pelo acúmulo de metais preciosos.
cabia ao Estado manter uma balança comercial favorável, isto é, as exportações
deveriam ser maior que as importações.

2
o protecionismo aos produtos nacionais evitando desta maneira que mercadorias
semelhantes ou iguais entrassem no país.
o estabelecimento de colônias para a produção de matérias-primas baratas, assim como
a exploração das riquezas minerais ajudariam a suprir as necessidades básicas das
metrópoles.
o pacto colonial que estabeleceu que as colônias somente podiam comercializar com as
suas metrópoles e a criação de Companhias de Comércio que garantiam o monopólio do
sistema colonial.

Assim os estados europeus, que adotaram o mercantilismo tinha como preocupação


resguardar às suas colônias dos demais países, e por isso se empenharam em cuidar
diretamente da administração, impondo a colônia uma pesada cobrança de impostos.
Entretanto a medula do sistema colonial, residia no pacto colonial. È no pacto colonial que
está a exploração mercantil, que a colonização incorporou da expansão comercial, da
qual foi um desdobramento.1

Nos primeiros trinta anos do “descobrimento”, Portugal não se empenhou em


implantar um sistema administrativo no Brasil, uma vez que o seu interesse maior era o
comércio das especiarias no Oriente. Nos primeiros anos da “descoberta”, o governo
português preocupava-se somente em enviar expedições de reconhecimento e explorar o
pau-brasil existente na Mata Atlântica.
A política portuguesa com relação ao Brasil mudou somente a partir de 1530, quando
inicia-se de forma efetiva a colonização. Essa mudança de postura ocorreu devido aos
ataques de contrabandistas franceses no litoral brasileiro e pelo enfraquecimento do
comércio de especiarias.
Assim seguindo as determinações de Dom João III, rei de Portugal, a expedição de
Martim Afonso de Sousa chegou ao Brasil em 1530. Essa expedição visava expulsar os
franceses do litoral, observar as características geográficas da nova terra e fundar
povoamentos.
Para iniciar a colonização foi implantando na colônia o sistema de Capitanias
Hereditárias, isto é, o governo português dividiu as terras e resolveu doá-las para

1
Novaes, Fernando. O Brasil nos moldes do Antigo sistema colonial. In:Brasil em Perspectiva, p19.

3
elementos da nobreza. Desta forma, o governo português estava transferindo o custo da
colonização aos particulares.
Concomitantemente a implantação das Capitanias Hereditárias, a metrópole decidiu
escolher a cana-de-açúcar como produto econômico para promover o projeto colonizador.
A opção pela cana-de-açúcar explica-se pela experiência de Portugal no cultivo deste
produto, nas suas colônias africanas, isto é, Açores, Cabo Verde e Madeira. Outro fator
importante foi a vastidão de terras, as condições climáticas e geográficas (solo massapé),
assim como a existência de um mercado consumidor na Europa.
O plantio da cana-de-açúcar e a produção de seus derivados se deu inicialmente em
São Vicente, e posteriormente na região nordeste, porém a Capitania do Pernambuco foi
a principal produtora.
A produção do açúcar ocorreu através do sistema de plantation: produção agrícola
baseada no latifúndio (grande propriedade de terra), monocultura ( somente produção de
açúcar), com mão-de-obra escrava e voltada para atender o mercado externo.
O sucesso deste empreendimento econômico se deu também pela participação dos
holandeses, que financiavam a produção. A maquinaria para os engenhos, instrumentos
de trabalho e aquisição de escravos africanos eram financiados pelos holandeses, que
em troca receberam o monopólio do refino e da distribuição do açúcar no mercado
europeu.
Enquanto o açúcar representava a riqueza das capitanias do nordeste, a Capitania de
São Vicente não obteve com este produto o mesmo sucesso, pois a sua produção não
podia concorrer com a capitania do Pernambuco e da Bahia, pois a capitania de São
Vicente era distante dos mercados europeus e o solo dessa região era imprópria para a
agricultura. Portanto, esses fatores acarretaram na decadência do açúcar em São
Vicente.
Com a decadência açucareira, São Vicente tentou ainda desenvolver uma agricultura
de subsistência cultivando arroz, feijão e milho.
A população de São Vicente diante da pobreza resolveu investir em outros
empreendimentos para superar a crise econômica, entretanto, tudo foi em vão. Assim
diante destas circunstâncias, o homem do planalto vicentino buscou nas bandeiras a
saída para a sua crise.
Na tentativa de superar a crise econômica que abatia a capitania, as bandeirantes
enfrentaram os perigos, as incertezas do sertão para aprisionar índios, que eram
4
conduzidos para o planalto paulista para serem usados como mão-de-obra. Assim muitos
jovens da Capitania partiam para o interior da colônia em busca de cativos e para montar
as suas expedições recebiam ajuda financeira dos pais ou do sogro, que financiam as
expedições pensando em aumentar os seus lucros. Essas expedições contavam com a
presença de sertanistas, que conduziam os jovens na viagem. Portanto, nem todos os
paulistas eram bandeirantes por vocação.2
As bandeiras consistiam em grupos de homens que saiam organizados em
expedições particulares com o objetivo de penetrar pelos sertões a procura de, índios
para o cativeiro, de negros foragidos da escravidão e posteriormente à procura de metais
preciosos.
As bandeiras eram organizadas militarmente, sendo compostas de centenas de
homens. Além dos paulistas, muitas bandeiras eram compostas de estrangeiros,
desertores e fugitivos da justiça.
Para adentrarem no sertão, os bandeirantes usavam principalmente os caminhos
fluviais. Ao atravessarem os rios, enfrentavam vários obstáculos como cachoeiras,
corredeiras e saltos. Para sanar essas dificuldades, optavam muitas vezes em continuar a
viagem à pé. Por isso era comum, os bandeirantes transportar barcos e canoas por terra.3
Os bandeirantes, logo perceberam que para superar as dificuldades precisavam
domar a natureza, e para isso buscaram o saber indígena. Aliás, a presença de índios
nas expedições foi fundamental, pois eram utilizados como guias, batedores, coletores de
alimentos ou guarda-costa da expedição.4
Cabia aos índios guiarem os paulistas pelos rios, carregar as mercadorias, procurar
nas matas os frutos silvestres, as raízes, lagartos e cobras para saciar a fome dos
bandeirantes. Nas viagens mais longas, os bandeirantes estabeleciam pequenos arraias
e roças para abastecer os sertanistas. Nestas expedições, “as vezes, alguns índios eram
despachados com antecedência para plantar os alimentos que serviriam para sustentar o
corpo principal da expedição e os cativos na viagem de regresso.5 Muitas destas roças
acabaram dando origem a povoações no interior do Brasil, a exemplo disso temos em
Mato Grosso; o Arraial de São Gonçalo.

2
Monteiro, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, p.86-87.
3
Chiavenato, Julio. Bandeirismo: Dominação e Violência, p.76.
4
Priore, Mary. O Livro de Ouro da Historia do Brasil, p.87.
5
Monteiro, John Manuel, Negros da Terra: índios e bandeirantes na origem de São Paulo, p.90

5
No decorrer da viagem ao ficarem doentes, os bandeirantes buscavam principalmente
na medicina indígena o tratamento adequado para curar os seus males. Não estamos
afirmando com isso que desprezavam a sua medicina, pois traziam também em sua
bagagens maletas com poções e bisturis para a prática da sangria.
Para o confronto com os índios que resistiam a sua dominação, os paulistas utilizavam
arcos e as flechas, lanças, facões, machados, mas não dispensavam o uso das armas de
fogo como a espingarda e a carabina.
Desta maneira, podemos verificar que para alcançar os seus objetivos e enfrentar as
dificuldades impostas pelo cotidiano, os bandeirantes dominaram os índios, destruíram
aldeias inteiras e ainda se apropriaram do seu conhecimento.

As bandeiras e a conquista do sertão mato-grossense

Em 1674, a bandeira de Fernão Dias Falcão encontrou em Minas Gerais uma


pequena quantidade de ouro, e em 1694, Bartolomeu Bueno da Silva descobriu jazidas
de auríferas na Serra de Itaberaba. A descobertas destas minas correram pela colônia,
chegou a Portugal, atraindo muitos aventureiros a região.
A chegada desses aventureiros causou um descontentamento nos paulistas, que
passaram a chamar pejorativamente os forasteiros de “emboabas”. Tal atitude e a
ganância pelo ouro acabou provocando um conflito entre os paulistas e os portugueses
que vieram em busca do ouro em Minas Gerais; a Guerra dos Emboabas.
Nesse embate, os portugueses foram vitoriosos e após o conflito, o governo
português passou a controlar as minas. Os paulistas diante da derrota resolveram
continuar as suas incursões pelo interior.
Foi nesse contexto histórico que se deu a chegada dos paulistas ao atual Estado de
Mato Grosso.
Inicialmente, os paulistas chegaram a essa região com a intenção de buscar índios
para a escravidão. Apesar da legislação portuguesa combater à escravização do índio, o
comércio de negros da terra (índios) era bastante freqüente.
Os paulistas ao entrarem em Mato Grosso, logo perceberam que na região habitavam
muitas tribos índigenas, como os Coxiponé, Beripoconé, Bororo, Paresi , Caiapó, Guicuru,
Paiaguá e muito outros grupos.

6
Assim muitos paulistas penetraram por estes sertões interessados na captura destes
índios. No entanto, foi com a bandeira de Pascoal Moreira Cabral, que os interesses dos
paulistas e de Portugal cresceriam por esse território.
Em 1718, o bandeirante Antônio Pires de Campos chegou a região do Coxipó-Mirim
para aprisionar o índio Coxiponé para levá-lo para São Paulo. No ano seguinte, a
bandeira de Pascoal Moreira Cabral avançou pó essa região à procura do índio coxiponé,
e acabou encontrando ouro. Segundo o cronista Barbosa de Sá, os homens da bandeira
ao lavarem os seus pratos no rio Coxipó acabaram encontrando o ouro por acaso.
A presença da bandeira de Pascoal Moreira Cabral naquele local incomodou os indios
aripoconé, que acabaram atacando os paulistas. A sorte destes bandeirantes foi que
neste instante, a bandeira dos Irmãos Antunes chegou e prestou socorro a Pascoal
Moreira Cabral e os seus homens..
Após o combate com os índigenas, os bandeirantes fundaram o Arraial da Forquilha,
que recebeu esse nome por estar localizado na confluência dos rios Coxipó, Peixe e
Mutuca. Assim a expedição de Pascoal Moreira Cabral deu início a colonização da região.
Em 1722, o paulista Miguel Sutil chegou a região com o propósito de fazer uma visita
a sua roça. O bandeirante pediu aos dois índios que estavam em sua companhia que
fossem buscar mel. Aliás, como já mencionamos anteriormente, o mel, as frutas silvestres
e as raízes eram usados na alimentação dos bandeirantes, e encontrá-las era uma das
tarefas dos sílvicolas.
Os índios de Miguel Sutil retornaram somente ao anoitecer e ao serem admoestados
pelo bandeirante, “o mais ladino respondeu-lhe: vos viestes buscar ouro ou a buscar
mel”.6 A seguir, os índios colocaram na mão de Miguel Sutil o ouro encontrado.
Na madrugada, o paulista colocou os gentios para mostrar o lugar no qual haviam
encontrado o ouro. Este achado estava nas proximidades do córrego da Prainha, e
passou a ser denominado de “Lavras do Sutil”. Havia tanto ouro nessas minas, que as
Lavras do Sutil foram consideradas como “a maior mancha que teria se encontrado no
Brasil”.7
A notícia da descoberta chegou ao Arraial da Forquilha, levando muitas pessoas a
migrarem para as “Lavras do Sutil”. Assim teria início o povoamento às margens do
córrego da Prainha dando origem a atual cidade de Cuiabá.

6
Correa Filho, Virgílio.História de Mato Grosso, p.206.
7
Idem, p.207.

7
Capitulo 2: Administração das Minas

Nas narrativas dos primeiros portugueses que aportaram no Brasil é bastante evidente
o sonho de encontrar metais preciosos.
Assim a notícia do descobrimento de ouro e prata pelos espanhóis no Potosí, aguçou
mais ainda o desejo do governo metropolitano em descobrir ouro e prata na sua colônia.
Com isso, Portugal preparou expedições para penetrar em direção ao interior.
Essas expedições deveriam reconhecer as potencialidades econômicas da terra
brasileira, e ainda verificar se havia no interior a existência de minerais.
Naquele período o desejo pelas riquezas minerais povoou o imaginário dos europeus,
que acreditavam na existência no interior da América de “uma montanha de Prata” de um
“reino branco” em um país mítico denominado de Paitati. Ainda acreditavam na existência
de uma serra resplandecente de prata e esmeraldas que ficava nas cabeceiras do rio São
Francisco.8
Apesar de todo o interesse na busca dos metais preciosos, as expedições oficiais
fracassaram e foi somente ao final do século XVII, que apareceram as primeiras notícias
de um descobrimento de ouro significativo na região das Gerais.
A descoberta destas minas acarretou em um intenso fluxo migratório para aquela
região. Segundo as estimativas do período, “em 1776, a população de Minas Gerais,
excluindo os índios, superava a 300 mil almas  o que representava 20% da população
total da América Portuguesa e o maior aglomerado da colônia.” 9
Além desse processo migratório para o interior da colônia, o governo português criou
um aparato administrativo que visava fiscalizar as minas evitando o contrabando.
Em 1707, para garantir o recolhimento dos impostos, o governo metropolitano
promulgou o Regimento das Minas. Esse regimento foi responsável pela criação de uma
instituição fiscalizadora, a Intendência das Minas.
A Intendência das Minas deveria julgar todas as questões surgidas entre os
mineradores, assim como fazer a distribuição das datas (lotes para o minerador explorar).
A legislação portuguesa estabeleceu também que a quinta parte (20%) do ouro
extraído nas minas pertencia a Portugal. Entretanto a sede pelo ouro e a ganância de

8
Vilela, Jovam.. O Antemural de todo o interior do Brasil:a fronteira possível. In: Territórios e Fronteiras. P.79.
9
Maxwell, Kenneth, Silva, Maria Beatriz. O Império luso-brasileiro, p.16.

8
Portugal levou a metrópole a implantar nas minas outros impostos, como por exemplo, a
capitação e a derrama.
Em Mato Grosso, veremos que a história não seria diferente...
Com a descoberta do ouro no rio Coxipó-Mirim formou-se neste local um núcleo
populacional; o Arraial da Forquilha.
A população do arraial era composta pelos integrantes da bandeira dos irmãos
Antunes e da bandeira de Pascoal Moreira Cabral, que após vencerem a resistência dos
índios fundaram o arraial celebrando uma missa em oferenda a Nossa Senhora da Penha
de França e lavraram a Ata de Fundação,

Aos oito dias do mês de abril da era de mil setecentos e dezenove anos, neste arraial
de Cuiabá, fez junta o Capitão-Mor Pascoal Moreira Cabral com seus companheiros e ele
requereu a eles este termo de certidão para a notícia do descobrimento novo que
achamos no ribeirão do Coxipó, invocação de Nossa Senhora da Penha de França,
depois que foi enviado, o Capitão Antônio Antunes com as amostras do ouro que levou do
ouro aos Senhor General. Com a petição do dito Capitão-Mor, fez a primeira entrada
aonde assistiu um dia e achou pinta de vintém e de dois e de quatro vinténs a meia
pataca, e a mesma pinta fez na segunda entrada em que assistiu, sete dias, ele e todos
os seus companheiros às suas custas com grandes perdas e riscos em serviço de Sua
Real Majestade. E como de feito tem perdido oito homens brancos, negros e que para
que a todo tempo vá isto a notícia de sua Real Majestade e seus governos para não
perderem seus direitos e, por assim, por ser verdade, nós assinamos todos neste termo o
qual eu passei e fielmente a fé do meu ofício como escrivão deste arraial. Pascoal
Moreira Cabral, Simão Rodrigues Moreira, Manoel dos Santos Coimbra, Manoel Garcia
Velho, Baltazar Ribeiro Navarro, Manoel Pedroso Louzano, João de Anhaia Lemos,
Francisco de Sequeira, Asenço Fernandes, Diogo Domingues, Manoel Ferreira, Antonio
Ribeiro, Alberto Velho Moreira, João Moreira, Manoel Ferreira Mendonça, Antonio Garcia
10
Velho, Pedro de Godois, José Fernandes,Antônio Moreira, José Paes Silva.

Coube aos irmãos Antunes levar a notícia da descoberta do ouro à Capitania de São
Paulo informando ao governador, Pedro de Almeida Portugal sobre o ocorrido.

10
Sá, Barboza, p.18

9
Nesse ínterim, a população do arraial da Forquilha elegeu Pascoal Moreira Cabral
como Guarda-Mor Regente. Um dos atributos de Pascoal Moreira Cabral seria a de
defender o arraial de invasões. Entretanto a eleição deste bandeirante contrariava o pacto
colonial, uma vez que este estabelecia que a colônia estava subordinada a metrópole.
Assim competia a metrópole tomar as decisões administrativas.
Desta forma, o governo português não confirmou a nomeação de Pascoal Moreira
Cabral, e em 1724, nomeou como Capitão-Mor Fernão Dias Falcão e para o cargo de
Superintendente Geral das Minas, João Antunes Maciel.
Pascoal Moreira Cabral ficou extremamente insatisfeito com a decisão do governo
metropolitano, e por isso solicitou novamente ao rei a confirmação da sua função
administrativa. Em correspondência enviada a Portugal, o bandeirante alegou “por seis
anos nestes sertões, ocupado no serviço real serviço de Vossa Majestade, trazendo em
minha companhia 56 homens brancos, fora escravos e servos, sustentando-os a minha
custa” e ainda acrescentou que “perdera um filho e quinze homens brancos e alguns
escravos e achava-se destituídos de cabedais e com família de mulher e duas filhas e
filho, peço a Vossa Majestade ponha os olhos os neste seu leal vassalo como for
11
servido”. Apesar de todas as considerações tecidas pelo bandeirante paulista, o
governo metropolitano confirmou a nomeação de Fernão Dias Falcão.
A nomeação de Fernão Dias Falcão e de João Antunes Maciel diminuiu o poder local,
criando condições para que o governador de São Paulo, Rodrigo César de Menezes,
desenvolvesse nas minas de Cuiabá, uma rígida tributação e fiscalização evitando o
contrabando do ouro.
Entretanto, Rodrigo César de Menezes sabia da forte influência dos Irmãos Lemes nas
minas. Assim com o propósito de combater o poder dos Lemes, Rodrigo César de
Menezes ofereceu a estes um importante cargo administrativo. Os Lemes rejeitaram o
cargo e o governador de São Paulo encontrou como saída, o confronto armado.
As tropas do governador preparam uma emboscada para os Lemes, e estes foram
executados. Concomitantemente a morte dos Lemes, falecia em Cuiabá Pascoal Moreira
Cabral. Desta forma, Rodrigo César de Menezes aniquilou definitivamente o poder local e
tomou a decisão mudar para Cuiabá (1726).

11
Correa Filho, Virgilio, Historia de Mato Grosso, p.208.

10
A mudança de Rodrigo César de Menezes consistia na verdade em uma das suas
estratégias proceder a fiscalização e a tributação das minas.
Em 1727, o Governador elevou o arraial de Cuiabá a categoria de Vila Real do Senhor
Bom Jesus de Cuiabá. Com essa decisão, o governador anunciou:

(...) se faça uma povoação grande na melhor parte que houver (...) aonde haja água e
lenha (...): e o melhor meio de se adiantar na dita povoação o numero de moradores é
estes que fazem as suas casas (...). E como (...) nas ditas Minas há telha e barro capaz
para ela, deve animar e persuadir aos mineiros e mais pessoas que fizerem as suas
casas, as façam logo de telha, porque al~em de serem mais graves, são também mais
limpas e tem melhor duração (...).12

Assim a pequena vila começou a crescer, seguindo às margens do córrego da


Prainha, subindo e descendo morros e encostas. Seguindo as jazidas, principalmente à
margem esquerda do córrego, iniciava-se as construções de moradias e também nas
proximidades desta margem, localizava-se uma esplanada na qual foi edificada a Igreja
da Matriz. Em 1730, o Ouvidor Geral e Corregedor deu início as obras da cadeia. 13

Inserir imagem da Igreja da Matriz

Com a elevação de Cuiabá a categoria de “vila” foi criado o Senado da Câmara (


Câmara Municipal). Foram eleitos os primeiros vereadores, escolhidos entre os
elementos da elite local, isto é, proprietários de terras de minas e de escravos.
Também foi implantado um sistema rigoroso de cobrança dos impostos, destacando
dentre eles o quinto.
A taxação exagerada de impostos associada as técnicas rudimentares da extração do
ouro levaram a exaustão das minas, e conseqüentemente a migração da população para
outras regiões, e a descoberta de novas minas. Foi neste período, que em 1734, os
Irmãos Paes de Barros descobriram ouro na região do Guaporé.

12
Registro do Regimento que levou para as novas minas do Cuiabá o Mestre de Campo Regente, São Paulo, 26-10-1723.
Apud:Rosa, Carlos, Jesus, Nauk, A Terra da Conquista, p.15.
13
Freire, Julio Delamônica. Por uma poética popular da arquitetura, p. 39-40.

11
Com a decadência aurífera muitos prefeririam retornar a São Paulo, outros partiram
para Goiás, pois em 1725, Bartolomeu Bueno (Anhanguera), descobriu ouro às margens
do rio Vermelho em Goiás.

Capítulo 3: O abastecimento das Minas

O interesse pelo ouro atraiu muitas pessoas as minas de Cuiabá e também levou o
governo metropolitano a criar mecanismo de controle e exploração das minas.
O abastecimento das Minas se deu principalmente através das Monções.
As monções eram expedições que partiam da Capitania de São Paulo trazendo as
Minas de Cuiabá vários produtos como, alimentos, remédios, produtos de luxo, ferramentas
de trabalho, escravos, dentre outros. Traziam também as autoridades governamentais,
aventureiros e elementos do clero.
As monções para chegar a Cuiabá seguiam os caminhos fluviais, partiam do rio Tietê
até chegar ao Porto Geral (Cuiabá). A viagem durava aproximadamente seis meses e ao
atingir a região do Pantanal podiam enfrentar sérios problemas, isto é, o ataque dos
espanhóis ou dos índios que habitavam aquela região. As canoas utilizadas para o trajeto
eram esculpidas no interior de um tronco de árvore e eram guiadas por pilotos que possuíam
muita prática.
Inicialmente as primeiras monções adotaram como itinerário a seguinte rota: rio Tietê,
rio Grande, rio Anhanduí, rio Pardo, travessia por terra nos campos das vacarias, e
continuavam a viagem pelos rios, seguindo pelo rio Meteteu, rio Paraguai e o rio Cuiabá. 14
Esse trajeto posteriormente foi abandonado devido as suas dificuldades, pois ao atravessar o
campo das vacarias, os homens da expedição tinham que carregar as mercadorias, as
canoas e ainda corriam o risco de enfrentar os espanhóis, que estavam nas proximidades
explorando a prata da região.
Logo os monçoeiros adotaram uma nova rota, então a viagem tornou-se totalmente
fluvial, entretanto novas dificuldades surgiram como o ataque dos índios caiapós, guaicurus e
paiaguás.

14
Siqueira, Elizabeth Madureira. O Processo Histórico de Mato Grosso, p. 13.

12
Os caiápos nas proximidades de Camaquã atacavam as expedições “com seus
temidos porretes, atacavam mortalmente os passageiros das monções”. 15 Por outro lado, os
indios paiaguás e os guaicurus chegaram a se aliar para atacar as monções que vinham para
Cuiabá. Entretanto, os mais temíveis eram os paiaguás.
O medo de um ataque dos índios paiaguá não era infundado, pois em 1730, estes
índios atacaram a “expedição do ouvidor Antônio Alves Lanhas, na qual morreu cento e oito
pessoas entre elas o ouvidor.”16 Segundo Rolim de Moura, ao relatar a sua viagem à Mato
Grosso, os índios paiaguás tinham como armas arco, flecha e também lanças pequenas com
pontas de ferro. Seus ataques aconteciam nos rios, em canoas e eram muitos cautelosos
para atacar. Primeiramente observavam as vítimas e somente depois efetuavam o ataque.17
Em decorrência a todas essas dificuldades, os produtos comercializados pelos
monçoeiros eram vendidos em Cuiabá a um preço exorbitante, o que acabou gerando um
processo inflacionário nas minas.
Além das monções fluviais havia as monções terrestres, que abasteciam a região de
gado. Desde os meados do 1730, os caminhos terrestres que ligavam Cuiabá as minas de
Goiás já eram usados. Era através deste caminho, que Mato Grosso recebia o gado.
Embora Cuiabá fosse margeado pelos rios Cuiabá e Coxipó, abundantes em peixes,
cronistas como Barbosa de Sá, narraram que os habitantes da vila tinham muito apreço pela
carne.
Assim durante o período colonial tivemos em Mato Grosso o desenvolvimento de uma
pecuária voltada para o abastecimento interno, de baixa produtividade, na qual o gado era
criado solto pelo pasto. No século XVIII, a fazenda que mais se destacou na criação do gado
foi a Fazenda Jacobina, em Cáceres.
Além das monções, o abastecimento das minas se deu também através do
desenvolvimento de uma agricultura de subsistência.
O cultivo da terra não foi uma tarefa fácil para o colonizador, pois teve que enfrentar
muitas dificuldades como o aparecimento de uma terrível praga de ratos que devoraram as
plantações e os paios aonde havia grãos armazenados.18

15
Costa, Maria de Fátima, História de um país inexistente, p.182.
16
Idem, p.184.
17
Ibidem, p.195.
18
Correa Filho, Históoria de Mato Grosso, p.210.

13
A agricultura de subsistência visava abastecer as minas e se desenvolveu em núcleos
populacionais situados nas proximidades de Cuiabá, como por exemplo, Serra Acima
(Chapada) e Rio Abaixo (Santo Antônio do Leverger ).
Nessas localidades eram produzidos arroz, feijão, milho, mandioca, entretanto, a
cana- de- açúcar foi o produto mais significativo para a população.
O governo metropolitano tinha como atrativo somente o ouro, e por isso proibiu a
instalação de engenhos na região. Porém a determinação não foi obedecida, pois a cana-de-
açúcar dava aos habitantes o açúcar, que produz energia para o trabalho, o melado que
combate a anemia, que vitimava a população, e a cachaça que era usada como uma
maneira de mitigar o sofrimento da vida dura no sertão. Assim às margens do rio Cuiabá e
em Serra Acima surgiram os nossos primeiros engenhos.

Capítulo 4: Fronteira no Século XVIII

A partir do século XVII, o governo português teve o seu território ampliado na América.
Portugal tinha a pretensão de estender os seus domínios até a Cordilheira dos Andes.19
A conquista do território se deu através da pecuária, das missões jesuíticas e das
bandeiras.
A pecuária impulsionou a ocupação do sertão nordestino, pois muitas fazendas
voltadas para a criação do gado surgiram ao longo do rio São Francisco.
No tocante aos jesuítas, estes chegaram a colônia com o objetivo de expandir a fé
católica e para isso assumiram a missão de cuidar da catequese do índio e da educação.
Interessados na conversão do índio adentraram para o interior instalando as suas
missões ou reduções no Vale Amazônico e na região sul.
No vale amazônico, os jesuítas através do trabalho do índio coletavam drogas do
sertão, isto é, cravo, canela, cacau, guaraná e as ervas medicinais. Esses produtos eram
comercializados no mercado europeu por preços elevadíssimos, pois eram considerados
como especiarias.
As missões ao sul da colônia foram idealizadas por Anchieta, que encaminhou aquela
região vários inacianos com a intenção de encontrar nativos e território para instalar as

19
Vilela, Jovam da Silva, O Antemural de todo o interior do Brasil:- A fronteira possivel, p.//??

14
aldeias. Mais ao sul, perto da foz do Piquiri, no Paraná, e na margem do rio Ivai com Villa-
Rica-del-Guairá, os jesuítas espanhóis também fundaram as suas missões em 1544. 20
Além da pecuária e das missões, as bandeiras foram fundamentais para ampliação do
território português.
As razias dos bandeirantes se deram principalmente no período da União
Ibérica(1580-1640). Os bandeirantes penetraram para o interior a procura dos gentios, para a
escravidão.
Em 1632, uma bandeira paulista invadiu as missões espanholas em São José,
Angeles, São Pedro e São Paulo. Assim a escravidão indígena era o motivo do atrito entre os
bandeirantes e os jesuítas. Os bandeirantes a procura do silvícola ultrapassarem a linha
demarcatória estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, adentrando no território espanhol..

Como já mencionamos anteriormente, os bandeirantes ao entrarem pelos “sertões”


acabaram encontrando o ouro. O ouro acabou atraiu ao interior da colônia muitas pessoas
que sonhavam em enriquecer. Essa onda migratória acabou provocando o surgimento de
arraias e vilas no interior do país.
Foi nesse quadro, que se deu a ocupação de Mato Grosso. Entretanto, apesar da
descoberta de ricas jazidas auríferas, as minas de Cuiabá entraram em decadência na
primeira metade do século XVIII.
Com a exaustão das minas de Cuiabá, a população começou a migrar para outras
regiões da colônia. A noticia desta migração preocupou o governo português, pois a fixação
da população era fundamental para garantir a posse do território, que de acordo com as
disposições do Tratado de Tordesilhas pertencia aos espanhóis. Assim pensando em
garantir a posse do interior da Colônia, Portugal passou a desenvolver uma política voltada
para a proteção da fronteira.
Uma das primeiras decisões do governo português para assegurar a posse deste
vasto território foi o desmembramento de Mato Grosso da Capitania de São Paulo. Desta
maneira, em 1748, D.João V decidiu criar a Capitania de Mato Grosso e para governá-la, o
rei nomeou como seu primeiro Capitão-General Antônio Rolim de Moura.
Em 1750, as disputas territoriais entre os portugueses e espanhóis, foram decididas
pelo Tratado de Madri.

20
Idem, p.82.

15
A defesa dos interesses portugueses ficou a cargo de Alexandre de Gusmão, que
através do “uti possedetis” garantiu a Portugal o domínio da Bacia Amazônica e da região
oeste do Brasil. O princípio do“uti possedetis” afirmava que a terra pertencia a quem a
coloniza.
Portanto, Alexandre de Gusmão usando deste aparato jurídico, argumentou que o
território em disputa pertencia a Coroa portuguesa, pois foram os portugueses que fundaram
as vilas e arraiais, e conseqüentemente povoaram o interior do Brasil.
Ainda segundo o Tratado de Madri, os portugueses concordaram, em troca do
reconhecimento pela Espanha das fronteiras fluviais ocidentais do Brasil, em renunciar ao
controle da Colônia de Sacramento e das terras imediatamente ao norte, no estuário do
Prata, um objetivo que os espanhóis havia muito aspiravam alcançar pela força. (...) O
tratado determinava a evacuação dos jesuítas e dos índios convertidos das missões
uruguaias e exigia uma inspeção apurada no local da linha de demarcação entre as
Américas espanhola e portuguesa por duas comissões associadas.” 21
Com o Tratado de Madri, Gusmão garantiu a posse do território para Portugal e deu
ao Brasil praticamente a sua configuração atual.

Após as decisões tomadas pelo Tratado de Madri, o governo metropolitano se


empenhou em efetivar o uti possedetis, e resolveu construir na região do Guaporé, a primeira
capital de Mato Grosso  Vila Bela da Santíssima Trindade.
Através da construção e povoamento da capital, Portugal visava assegurar a posse de
todo o interior de sua colônia. Esses medida relacionava-se aos imperativos da política
colonial espanhola, que pretendia estender os seus domínios a leste e se possível dominar
Cuiabá e Mato Grosso.22

Vila Bela da Santíssima Trindade

Antonio Rolim de Moura, capitão-general da Capitania de Mato Grosso, recebeu a


instrução do governo português de edificar a capital de Mato Grosso. Segundo a
determinação real, a capital seria construída na região oeste, ás margens do Guaporé e em
um lugar saudável.

21
Maxwell, Kenneth, Marques de Pombal: Paradoxo do Iluminismo, p.53.
22
Volpato, Luiza Rios Ricci, A Conquista da Terra no universo da pobreza, p.38.

16
Lembremos que região do Guaporé foi ocupada desde 1732, quando os irmãos Paes
de Barros trilharam a região a procura de índios para o aprisionamento. E foi em busca dos
índios pareci, que esses bandeirantes descobriram as minas de Mato Grosso. 23
A descoberta do ouro promoveu o surgimento na região de povoações como São
Francisco Xavier e Santana, mas havia também moradores ás margens do rio Jauru, do rio
Galera e do Guaporé.
Logo, construir a capital nesta região era extremamente interessante para Portugal,
uma vez que, Vila Bela da Santíssima Trindade seria a base do domínio português e além
disso consistia em uma nova jazida aurífera.24
Rolim de Moura procurou seguir as diretrizes do governo metropolitano, entretanto,
cometeu um erro  construiu a capital em terras baixas e paludosas, sujeitas a freqüentes
imundações; uma região marcada pela insalubridade.
A população de Vila Bela seria constantemente acometida por várias enfermidades.
Essa característica acabou influenciando o imaginário do colonizador, que passou a ter a
visão de Mato Grosso como um grande hospital. Desta maneira, Mato Grosso passou a ser
apontado pelas autoridades médicas, pelos viajantes e cronistas como um lugar nocivo a
saúde.25
Para a construção da capital vieram da Capitania de São Paulo artífices, ferreiros e
oficiais, contudo foram os negros os maiores responsáveis pela sua edificação.
Ainda com relação a construção da capital, o médico-viajante Alexandre Rodrigues
Ferreira, à serviço da metrópole, em viagem científica, visitou Vila Bela entre 1789-1791. Na
sua narrativa, o viajante afirmou que a capital possuía um traçado irregular, tinha ruas retas e
estreitas, sem calçamento, onde podia se ver os porcos prazerosamente chafurdarem na
lama. Com relação, as casas mencionou que térreas, as paredes de adobe, aterradas ou
com ladrilhos de tijolo, que eram escuras e tristes. 26
Rolim de Moura se empenhou também em desenvolver uma política de povoamento e
militarização da região. Para alcançar os seus objetivos, o capitão-general estabeleceu:
 isenção de imposto e perdão temporários das dívidas.

23
Esse região recebeu esse nome, pois os irmãos Paes de Barros encontraram dificuldade para penetrá-la, devido a presença
de densas florestas, com arvores corpulentas e galhos muito altos. Tal fato levou a região ser denominada de Mato Grosso.
24
Bandeira, Maria de Lourdes, Território Negro em espaço Branco, p. 82.
25
Cavalcante, Else, O quadro saniáario da Província de Mato Grosso, p.49.
26
Oliveira,Edevamilton, A Povoação Regular de Casalvasco e a Fronteira Oeste do Brasil Colonial: 1783-1802, p.116.

17
criou a Companhia dos Dragões visando a militarização da fronteira e a
disciplinarização da população.
 fixou um marco divisor na barra do rio Jauru. ( Marco do Jauru)
 fundou a Aldeia jesuítica de Santa Anna (1751).

Abastecimento de Vila Bela da Santíssima Trindade

Com a finalidade de abastecer a capital, o governo português criou em 1755, a


Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão. Essa companhia tinha o monopólio do
comércio em Vila Bela. A Companhia de Comercio foi criada pelo Marques de Pombal,
ministro do rei D.José I. De acordo com o ministro, a Companhia de Comércio do Grão Pará
e Maranhão “era o único modo de retirar o comércio de toda a América portuguesa das mãos
dos estrangeiros27”.
Para atingir vila Bela da Santíssima Trindade,, as embarcações da Companhia de
Comercio do Grão- Pará e Maranhão usavam o Porto de Belém. Ao partirem de Belém, as
embarcações da companhia navegavam pelas águas dos rios amazonas, Madeira e
Mamoré. Traziam produtos de luxo, ferramentas de trabalho e alimentos. A empresa era
importadora de produtos oriundos do mar do Norte, do Báltico e do Mediterrâneo.28 Porém a
principal mercadoria comercializada pela empresa eram os escravos. Ao regressarem ao
porto de Belém, a empresa levava o ouro produzido em Vila Bela.
Com a decadência das minas de ouro do Guaporé, a Companhia de Comércio do
Grão- Pará e Maranhão parou de abastecer o Mato Grosso.
Além das mercadorias comercializadas pela Companhia de Comércio, o
abastecimento de Vila Bela da Santíssima Trindade se dava também através de uma
agricultura de subsistência, na qual eram cultivados como produtos agrícolas o milho e o
feijão. Porém, as atividades agrícolas não foram capazes de atendem as necessidades
básicas da população.
A escassez de alimentos era provocada pelas pragas, insetos ou mesmo pelo excesso
das chuvas ou das cheias dos rios que acabaram provocando a fome e a subnutrição,
tornando o corpo da população suscetível às moléstias.

27
Maxwell, Kenneth, Marquês de Pombal: O Paradoxo do iluminismo, p.61.
28
Volpato, Luiza Rios Ricci, A conquista da Terra no universo da pobreza, p. 59.

18
Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres: “O consolidador das fronteiras”

Ao final do século XVIII, o governo português interessado em fortificar e povoar as


fronteiras das colônia, como também povoar o território, tomou novas medidas.
Pensando em solucionar as disputas territoriais, Portugal e a Espanha assinaram o
Tratado de Santo Ildefonso (1777), que reafirmou a hegemonia de Portugal sobre a bacia
Amazônica, bem como das vias de comunicação entre Mato Grosso e outras regiões da
América.29.

Nesse período, governava a Capitania de Mato Grosso, Luiz de Albuquerque de Melo


Pereira e Cáceres (1772- 1789).
Para garantir a posse de Portugal, o referido capitão-general criou importantes
povoados em posições estratégicas, como por exemplo, Albuquerque ( Corumbá), Vila Maria
de Cáceres (Cáceres), Casalvasco, São Pedro D‟El Rey (Poconé) e Cocais (Livramento).
Em Casalvasco, o governador seguiu os princípios de construção adotados em
Portugal, isto é, ruas direitas, retas, praças e edifícios que expressavam a imagem de uma
povoação “civilizada”. Para povoar a vila, foi enviado muitos índios, oriundos da Província de
Moxos. Aliás a mesma tática de povoamento foi utilizada em Vila Maria de Cáceres, ou seja,
o capitão-general para povoá-la enviou índios da Província de Chiquitos. Ainda o governo
ofereceu sementes e ferramentas da fazenda real às pessoas, para que pudessem iniciar as
sua plantações.30 Na verdade, o governo português para garantir a posse do território,
recrutou índios e chegou a conferir indulto aos criminosos.
Além disso, Luiz de Albuquerque construiu o Forte de Coimbra (Sul) às margens do rio
Paraguai e na margem direita do rio Guaporé, o Forte Príncipe da Beira.

Capítulo 5: Sociedade da Mineração

No século XVIII, a descoberta de ricas jazidas auríferas no interior da colônia atraiu


milhares de pessoas, que vinham com o intuito de enriquecer. O ouro promoveu o

29
Cavalcante, Else. A sífilis em Cuiabá, p. 49.
30
Oliveira, Edevamilton de Lima, A Povoação Regular de Casalvasco e a Fronteira Oeste do Brasil Colonial: 1783-1802,
p.33

19
surgimento de vilas e povoações em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, dando origem a
uma sociedade marcada pela instabilidade.
A sociedade da Minas era bastante diversificada, pois além de ser constituída de
mineradores, era composta também pelos negociantes, advogados, padres, proprietários de
terras, artesãos, burocratas, militares, índios aculturados, e escravos negros.
Na base da sociedade estavam os escravos, que trabalhavam duramente na extração
do ouro. Muitas vezes, devido as péssimas condições de trabalho, os escravos acabavam
padecendo vítimas de enfermidades como a desinteria, a malária, ou até mesmo em
acidentes de trabalho. A curta estimativa de vida levava os brancos a adquirirem com
freqüência novos escravos.
Assim as estimativas apontam que nas Minas havia uma concentração de negros e
mulatos. A presença maciça dos mulatos está relacionada a uma característica da sociedade
colonial brasileira, isto é, a mestiçagem.
Será que a sociedade da mineração era rica???
Muitos pesquisadores tem demonstrado em seus trabalhos acadêmicos, que a riqueza
ficou nas mãos de poucas pessoas, e que parcela significativa da população livre tinha um
baixo poder aquisitivo. Logo, a sociedade da mineração em seu conjunto foi extremamente
pobre.
Embora a sociedade mato-grossense apresentasse as características relatadas acima,
ela possuía as suas especificidades.
Por exemplo, a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, contava com uma
população pequena, mas bastante diversificada.
A sua composição social era formada por brancos, provenientes de Portugal e de
outras capitanias, de índios como o guató, o guaná, o bororo e o pareci, de africanos e seus
descendentes, de negros forros.31

As sociedades Indígenas no processo de colonização

No início do século XVI, os portugueses ao chegarem ao Brasil, logo descobriram que


grande parte do litoral brasileiro era habitado por nativos. Desde o primeiro contato, os
portugueses avaliaram os costumes indígenas através de uma visão eurocêntrica. A

31
Rosa, Carlos Alberto, O Urbano colonial na terra da conquista, In: A Terra da Conquista, p.23-25.

20
exemplo, Gabriel Soares de Souza em sua obra “Tratado descritivo do Brasil” afirmou que os
índios eram atrasados e que “é gente de pouco trabalho, muito molar, não usam entre si a
lavoura, vivem da caça que matam e peixe que tomam a dos rios.” 32 Uma leitura mais
acurada da citação deixa evidente, que para o narrador a caça e a pesca prática pelos índios
não era encarada como um trabalho.
Inicialmente, os índios foram usados na extração do pau-brasil e em troca recebiam
dos brancos europeus pelo seu trabalho bugigangas como espelho, bota, canivete, dentre
outros.
A partir de 1530, com a implantação da colonização, as relações entre brancos e
índios começam a se alterar, pois os portugueses interessados no cultivo da cana-de-açúcar
passam a levar os gentios à escravidão.
Entretanto com a colonização, os jesuítas chegaram a Colônia com o objetivo de
propagar o catolicismo e conseqüentemente estavam imbuídos em cuidar da catequese dos
nativos e da educação dos brancos. Através da catequese e da educação, a Igreja estava
assegurando o catolicismo nas terras “descobertas” por Portugal . Para executar os seus
objetivos, os inacianos esbarraram no interesse dos colonos que defendiam que o
desenvolvimento da colônia somente se daria com a dominação do índio.
O governo portugues diante destas circunstâncias resolveu criar a lei de 20 de março
de 1570, na qual estabeleceu a regulamentação do cativeiro indígena. Com a aprovação
dessa lei, o governo metropolitano deu início a uma política indígena na Colônia. Através
desta legislação ficou determinada a “guerra justa”, isto é, os silvícolas que resistissem a
dominação seriam reduzidos ao cativeiro.
Os jesuítas formaram então missões ou reduções na colônia. Utilizando da catequese,
os jesuítas proibiram, a poligamia, combateram os ritos religiosos dos nativos, introduziram
rituais cristãos e inculcaram uma nova concepção de tempo e de trabalho, isto é, os índios
foram aculturados.
Paralelamente, os paulistas devido a necessidade crônica de mão-de-obra
organizaram expedições de apresamento para o interior. Em 1637, um padre jesuíta afirmou
que os paulistas haviam nos dez anos anteriores capturado de 70 a 80 mil índios. Muitos
destes índios não resistiam as longas viagens, morrendo a caminho da Capitania de são
Paulo.33.

32
Sousa,Gabriel Soares. Tratado discritivo, p.115.
33
Monteiro, John Manuel, Negros da Terra:Índios e bandeirantes na origem de São Paulo, p. 68.

21
Além do cativeiro, os povos indígenas foram exterminados através de doenças
epidêmicas como a varíola, o sarampo e a sífilis. Desta forma, muitas sociedades indígenas
foram sucumbidas em conseqüência da guerra de dominação, da escravidão e das
enfermidades.
No século XVIII, as bandeiras paulistas penetraram no território mato-grossense à
procura de índios para a escravidão, e a medida que avançavam pelo território, constataram
que a região era repleta de povos indígenas.
As sociedades indígenas que aqui viviam a semelhança dos índios do litoral, não eram
um grupo homogêneo, mas caracterizados pela diversidade cultural. Viviam da caça, da
pesca, da coleta de raízes, furtas silvestres e do mel. Praticavam a agricultura, criavam
animais, teciam os fios das suas vestimentas e faziam cerâmica.
Nas sociedades indígenas não existia a propriedade privada da terra, pois a terra era
um bem coletivo. A produção era voltada para subsistência e quando ocorria a produção de
excedente, este era dividido.
Desde o primeiro contato com os paulistas, os gentios mostraram resistência a
dominação, no entanto, muitos foram aprisionados e levados para o cativeiro no planalto
paulista.
Com a descoberta das minas de ouro, os índios foram usados como mão-de-obra
escrava na mineração.
Em 1748, com a criação da Capitania de Mato Grosso, novas Instruções Régias foram
estabelecidas no tocante ao índio. A preocupação com os silvícolas relacionava-se aos
interesses geopolíticos de Portugal, que tinham como meta desenvolver uma política de
expansão e posse do território.
Desde a fase inicial da colonização, a metrópole através dos relatos de cronistas,
como Barbosa de Sá, tinha informações a respeito da variedade da população nativa. Assim
tornou-se fundamental para Portugal na ocupação da Bacia amazônica e do Oeste do Brasil,
que o índio fosse inserido na colonização. Cabia aos índios serem “as muralhas do sertão”. 34
Em 1772, Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres recebeu nas Instruções
Régias, que os índios Bororos deveriam compor um terço das milícias, pois eram
considerados pelo governo metropolitano como fundamentais na defesa da Capitania.
Observa-se, portanto, que a política indígenista portuguesa no Brasil procurou usar os

34
Em 20 de dezembro de 1695, o Conselho Ultramarino mencionou os índios como os “guardiões da fronteira”, as
“muralhas do sertão”.

22
nativos convertidos na proteção do território contra os ataques estrangeiros e como mão-de-
obra na lavoura dos brancos.35
Desta maneira, seguindo as diretrizes do governo metropolitano, Luiz de Albuquerque
visando garantir a posse do território formou aldeias e vilas, nas quais a população era
predominantemente composta por nativos.
Para cooptar os índios para o projeto colonizador, o governo luso-brsileiro através do
Diretório dos Índios estabeleceu casamentos interétnicos, a obrigatoriedade do estudo da
língua portuguesa e determinou que os colonos deviam garantir aos nativos igualdade de
condições.36 Portanto, a política indígenista portuguesa no século XVIII visava transformar o
índio em súdito de Portugal.

Escravidão

A colonização da América Portuguesa foi baseada na escravidão negra. Os negros


eram adquiridos na África, nos entrepostos comerciais ou feitorias estabelecidas no litoral.
Os chefes políticos e religiosos negociavam com os europeus os seus prisioneiros de
guerra, recebendo em troca tabaco, aguardente e outras mercadorias.
Os africanos eram levados pelos traficantes em embarcações com péssimas
condições higiênicas, muitos não resistiam a viagem e por isso esses navios, eram
chamados de navios tumbeiros. Os traficantes para amenizar o sofrimentos dos negros
distribuíam maconha. Assim privados da liberdade, separados da sua família, da sua terra
natal, os africanos foram obrigados a conviver com a escravidão.
Os principais grupos de africanos que aportaram no Brasil foram os bantos 
provenientes de Angola, Moçambique, Congo e Guiné, e os sudaneses  originários da
Nigéria e da Costa do Marfim.
Os escravos recém chegados da África eram denominados de “boçais” e os
aculturados, que já falavam a língua portuguesa eram denominados de “ladinos”. Os
escravos nascidos na colônia eram chamados de “crioulos”. Geralmente aos crioulos e aos
mestiços eram reservados os trabalhos mais amenos como as tarefas domésticas, enquanto
aos africanos cabia o trabalho pesado.37

35
Vilela, Jovam. O antemural de todo o interior do Brasil: A fronteira possível, p. 95.
36
Idem, p.97-101.
37
Priore, Mary, O Liviro de Ouro da História do Brasil, p.63.

23
Os escravos eram vistos como mercadoria, o seu trabalho e corpo pertencia ao seu
proprietário. Como mercadoria eram vendidos, alugados ou mesmo emprestados. Além
disso, quando tomavam atitudes que desagradavam o seu proprietário eram punidos com
castigos físicos. Um Alvará de 1741 estabeleceu que o negro que fugisse do cativeiro teria o
seu corpo marcado à brasa e se ato repetisse a sua orelha deveria ser cortada. 38
Diante de tanto desprezo e sofrimento, os negros resistiram, lutaram contra a
escravidão. Resistiram desde que partiram da África fazendo rebeliões a bordo dos navios,
cometiam suicídio, infanticídio, aborto, assassinavam os feitores e proprietários. Entretanto, a
resistência mais praticada era as fugas. Ao abandonarem os engenhos, as minas, as casas
dos senhores, os negros se refugiaram nas matas formando comunidades denominadas de
quilombos.
Desta maneira, os quilombos eram comunidades formadas principalmente pelos
negros que fugiam da escravidão. Nos quilombos, os negros plantavam e criavam animais
para a sua subsistência.
Os quilombolas viviam em constantes guerra com os senhores e as autoridades, pois
representavam uma ameaça a ordem colonial. O quilombo mais importante do período
colonial foi o de Palmares, localizado na Serra da Barriga, no atual Estado do Alagoas.
Em Mato Grosso tivemos também muitos quilombos, entretanto, alguns ganharam
destaque devido ao seu tamanho, as características da sua população ou mesmo pela sua
prolongada existência.

Quilombo do Piolho ou Quariterê- século XVIII

O quilombo do Piolho localizava-se na região do Guaporé, nas imediações de Vila


Bela da Santíssima Trindade. A sua população era composta por negros, índios cabixis e
pelos caburés (mestiços).
A formação deste quilombo estava relacionada a Companhia de Comércio do Grão-
Pará e Maranhão, que abastecia a capital de escravos. Desde o inicio da ocupação de Vila
Bela, os negros resistiam a dominação dos seus proprietários, fugiram e acabaram formando
o quilombo.

38
Carril, Lourdes, De escravos a quilombolas, p.37.

24
O quilombo do Piolho era governado pela rainha Teresa de Benguela, que era
assessorada por um gabinete formado por homens. Produziam a sua sobrevivência, através
de uma agricultura e pecuária de subsistência. No tocante ao religioso, havia um sincretismo,
isto é, a religiosidade apresentava elementos do catolicismo e da religião afro.
Em 1778, com a falência da Companhia de Comércio do Grão- Pará e Maranhão, os
proprietários de terras se viram sem mão-de-obra, e com isso empreenderam esforços para
a captura e a destruição do quilombo.
Apoiados pelo capitão-general, Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, os
proprietários de terras em Vila Bela se organizaram para a invasão ao Piolho. O quilombo foi
destruído, a rainha Teresa ao presenciar o ataque da bandeira cometeu o suicídio negando a
voltar à escravidão, e os negros que sobreviveram ao embate foram conduzidos à Vila Bela,
aonde foram identificados pelos seus antigos donos e aqueles que não foram reconhecidos
foram enviados a Cadeia Pública.
Em 1791, João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres recebeu dos proprietários
de escravos uma solicitação, que forças legais fossem conduzidas novamente a região do
Guaporé para a destruição e captura de escravos fugitivos. Sob ordem do capitão-general, o
quilombo do Piolho desta vez foi totalmente abatido.

Aldeia da Carlota

A Aldeia da Carlota foi fundada pelo Capitão-General João de Albuquerque de Melo


Pereira e Cáceres. A comunidade localizava-se no território do antigo quilombo do Piolho,
portanto na região do Guaporé.
O capitão-general para formar essa comunidade resolveu alforriar os negros idosos da
Capitania. O interesse de João de Albuquerque era povoar e vigiar a fronteira contra um
possível ataque dos espanhóis.
Assim os negros que receberam a sua carta de alforria deveriam em troca proteger a
fronteira para Portugal.
O governador tomou importantes medidas para concretizar os seus objetivos, como
por exemplo, foram entregues sementes, ferramentas e animais de criação para os
moradores da Aldeia da Carlota. A atitude do capitão-general mostra que ainda ao final do
século XVIII, o governo português continuava interessado em efetivar o uti possedetis.

25
Quilombo do Rio do Manso ou Cansanção:-século XIX

O quilombo do Rio do Manso representou uma ameaça aos proprietários de terras e


de escravos de Mato Grosso, na segunda metade do século XIX, mais precisamente, no
contexto da Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870).
Esse quilombo localizava-se em Chapada dos Guimarães, e a sua população era
formada por negros, desertores da Guerra do Paraguai e por criminosos que buscavam
segurança e refúgio. A população masculina era predominante, o que levava os negros a
investirem em ataques a sítios e fazendas para capturarem mulheres.
A notícia deste quilombo trouxe a população da província muita insegurança, pois
apesar das reclamações, atitudes mais efetivas não podiam ser tomadas, pois faltavam
forças policiais. Nesse período, a guerra exigia constantemente que milícias fossem
conduzidas para a guerra, portanto, não havia na Província, soldados suficientes para
destruir o quilombo do Rio do Manso.
Foi somente ao término da guerra, que o governo provincial conduziu forças policiais
para aniquilar o quilombo.
O documento abaixo deixa evidente os problemas causados pela população do
quilombo, bem como, a preocupação das autoridades provinciais em combatê-lo.
Em 1867, o chefe de Polícia de Cuiabá, Firmo José de Matos, enviou ao Presidente
da Província de Mato Grosso, Couto de Magalhães, o seguinte ofício
“Sendo reconhecido que nas cabeceiras do Rio do Manso existe um grande quilombo,
para onde continuadamente vão os escravos fugidos desta capital (Cuiabá) e dos mais
distritos vizinhos e bem mais desertores do Exército e criminosos, e, segundo comunicação
que acabo de receber do Subdelegado de Polícia do Rosário, constatando que os mesmos
negros e desertores tem de costume irem a essa vila, de onde conduzem mulheres para o
quilombo; julgo de necessidade tomar-se providências no sentido de combatê-lo a fim de que
não se tenha de lamentar fato de maior gravidade. Entretanto, sendo inconveniente na
presente situação distrair-se forças do serviço de guerra, proponho a V.Exª o aumento do
destacamento do Rosário.(Ofício do chefe de Polícia Firmo José de Matos, Cuiabá, 1867.)

Além desses quilombos a historiografia regional tem destacado a existência de


outros, a saber, o Mutuca em Chapada dos Guimarães e do Pindaituba, nas proximidades de
Chapada dos Guimarães, e o quilombo de Mata Cavalos, localizado em Livramento.
26
Atualmente os remanescentes dos quilombolas de Mata Cavalo, no município de
Nossa Senhora do Livramento reivindicaram na Justiça a posse definitiva das terras dos seus
antepassados. Em 2002, a INTERMAT (Instituto de Terras de Mato Grosso) outorgou o título
definitivo da área à Fundação Cultural Palmares, do governo Federal. A seguir, o presidente
Lula assinou um decreto, no qual reconheceu que o INCRA teria a função de identificar,
reconhecer, delimitar, demarcar e titular as terras dos descendentes dos quilombolas. Apesar
dessas iniciativas do governo federal, os conflitos entre os remanescentes dos quilombolas,
os fazendeiros e grileiros persistem.
No quadro abaixo, a reportagem do jornal Diário de Cuiabá aborda a importância da
posse do território para a população de Mata Cavalo.

O reconhecimento de propriedade que tarda há 110 para os remanescentes


de escravos das comunidades de Mata Cavalos - localizadas no município de
Nossa Senhora do Livramento, a 50 quilômetros de Cuiabá - chegou para netos,
bisnetos e tataranetos daqueles que conheceram o castigo do tronco. No mês
passado a Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério da Cultura que há
cinco anos mapea, registra histórias e concede título a quilombolas no Brasil,
emitiu um documento de posse único, aos negros do local
Foram oficialmente reconhecidos como pertencentes aos remanescentes
de escravos de Livramento, 11,7 mil hectares de terra às margens da MT-060,
onde hoje vivem acampadas mais de 300 famílias disputando a terra com cerca de
42 pequenos e grandes fazendeiros.
A mesma publicação, no Diário Oficial da União do dia 18 de julho, emitiu a
titulação de terras a outras 17 comunidades de remanescentes em todo país. São
descendentes de famílias que iniciaram a luta há mais de século, para permanecer
nas terras onde enraizaram seus costumes, tiveram seus filhos, enterraram seus
mortos, mas da qual foram expulsos sucessivamente a partir de1930.(sic)
Acampadas há cinco anos na área, as famílias se organizaram em seis
comunidades com lideranças próprias cada uma. Mas para que um único título
fosse concedido, uma associação mãe foi criada, e quem responde hoje por ela
são os netos de ex-escravos, Tereza Conceição de Arruda, de 63 anos, que se
orgulha em contar que sua família foi uma das seis que resistiram e

27
permaneceram no lugar por gerações. E Germano Ferreira de Jesus, 46 anos,
também descendente de uma dessas seis famílias.
Ambos explicam que o reconhecimento da posse da terra à comunidade será o fim
da alcunha de grileiros, da incerteza quanto à possibilidade de produzir no local e
a abertura para criação e implantação de projetos. “Já sofremos muito aqui com
ameaças de fazendeiros, pistoleiros e a própria polícia que sempre tentaram nos
tirar da terra. Com o título, poderemos conseguir escolas, luz, água e as
comodidades que a cidade oferece”, diz Tereza.
Fonte:Diário de Cuiabá,13/08/2000

Capítulo 6: Transferência da Capital de Vila Bela para Cuiabá

No início do século XIX, as guerras napoleônicas alteraram significativamente as


relações entre a colônia e a metrópole (Portugal). A origem dessas guerras estava
relacionada a expansão do capitalismo francês, que em busca de mercado consumidor
entrou em confronto com a Inglaterra, que naquele período era a grande potência econômica
da Europa. Foi neste contexto que Napoleão Bonaparte decretou o Bloqueio Continental,
estabelecendo que os países europeus estavam proibidos de comercializar com a Inglaterra.
Portugal não aderiu ao Bloqueio Continental, e por isso o seu Príncipe-regente D.
João VI, temendo a invasão napoleônica, fugiu para a colônia.
Em 1808, protegido por uma escolta inglesa, a família real aportou no Brasil e D João
decretou como uma de suas primeiras medidas a Abertura dos Portos às Nações Amigas,
rompendo com isso o pacto colonial, e conseqüentemente dando início ao processo de
independência do Brasil.
Foi durante o processo de independência do Brasil, que se deu a transferência da
capital de Vila Bela para Cuiabá. Entretanto, a idéia de transferir a capital não era nova, pois
já tinha sido apregoada pelo Capitão-general Manuel Carlos de Abreu em 1804.
Para abordarmos este assunto é preciso analisar primeiramente o governo dos últimos
capitães- generais de Mato Grosso.
Em 1808, governava Mato Grosso, João Carlos Oeynhausen de Gravenberg, que ao
assumir o governo se deparou com uma forte crise econômica, originada da decadência
28
aurífera. Com o intuito de escamotear os problemas sociais decorrentes da miséria da
população, este governante promoveu inúmeras festas. Essas festas contavam com a
presença de ricos e os pobres, favorecendo com isso para que a população tivesse a
sensação que havia na Província, uma democracia social.
Paralelamente, João Carlos Oeynhausen desenvolveu uma política voltada para a
saúde. A preocupação em combater as doenças estava relacionada a chegada da Corte
portuguesa ao Brasil, pois D.João VI tomou muitas medidas para erradicar as enfermidades
que assolavam principalmente o Rio de Janeiro. Além de fundar a Faculdade de Medicina da
Bahia e do Rio de Janeiro, o príncipe-regente com o intuito de institucionalizar a pratica da
medicina criou a Sociedade Real de Medicina.
Para valorizar a medicina cientifica, o governo joanino combateu as práticas de cura
popular e para a concretização deste projeto. Governo se associou aos médicos para
combater as moléstias, uma vez que elas representavam uma ameaça ao desenvolvimento
do capitalismo.
Foi nesse contexto, que em Mato Grosso, João Carlos Oeynhausen também com o
objetivo de combater as doenças promoveu em Vila Bela uma aula de anatomia. Entretanto,
o grande destaque do seu governo foi a criação do Hospital Militar de Cuiabá, da Santa Casa
de Misericórdia e do hospital São João dos Lázaros, que foi construído para abrigar as
vítimas da lepra.
No tocante a economia, pensando em superar a debilidade econômica, este
governante estimulou a produção do algodão e a produção aurífera. Entretanto, as sua
medidas não foram capazes de superar a crise financeira. Posteriormente, João Carlos
Oeynhausen foi agraciado pelo governo pelas suas realizações políticas, com o título de
Marquês de Aracati.
Em seu lugar tomou posse o militar de carreira, Franscisco de Paula Magessi, ultimo
capitão-general de Mato Grosso. Ao assumir o governo, Francisco Magessi temendo a
insalubridade de Vila Bela, solicitou a D. João VI a transferência de órgãos públicos para
Cuiabá, como por exemplo, a Junta da Fazenda e a Casa de Fundição.
O governo de Francisco Magessi foi marcado pela impopularidade, pois adotou uma
política de austeridade e de corrupção. Eliminou as festas e atrasou os salários até mesmo
dos soldados.

29
Foi neste período, que a elite cuiabana almejando a superação da crise econômica
que abalava os cofres públicos da Província, deu início a luta pela transferência da capital
para Cuiabá.
Para atingir os seus propósitos, a elite cuiabana apresentou como argumentos, que
Cuiabá possuía uma população superior a de Vila Bela, tinha uma melhor localização
geográfica, pois era banhada pela bacia Platina, e através da navegação fluvial podia ter
contato com as demais províncias brasileiras e até mesmo com os paises platinos. Alegou
ainda que a cidade era saudável e que a sua população podia contar com hospitais ao ficar
doente.
Retornando a Magessi, foi nesse momento, que o capitão-general depois de dezoito
meses de governo, resolveu partir para Vila Bela atendendo aos desejos da população local,
que reivindicava a presença do capitão-general.
Com a partida de Francisco Magessi para Vila Bela, a elite cuiabana se organizou,
buscando o apoio de segmentos do clero e dos militares, para depor o capitão-general. A
seguir instalaram uma Junta de Governo em Cuiabá e enviaram a Magessi a seguinte
comunicação:

Ilmo, Senhor.
Havendo concorrido aos Paços do Conselho, no dia 20 do corrente a Tropa da
Primeira e Segunda Linha, o clero, a nobreza e povo desta cidade de Cuiabá, deliberaram e
resolveram a ereção de uma Junta Governada Provisório e efetivamente elegeram nove
deputados para comporem a dita justa, que se acha instalada, em conseqüentemente de tais
acontecimento, V.Exa, se suspenderá do exercício de suas funções que antes competiam a
V. Exa, em razão do lugar que ocupava. Assim o participar a V.Exa, os deputados da junta
Governativa Provisória. Deus guarde a V.Exa. Cuiabá, 21 de agosto de1821.39

A Junta de Governo instalada em Cuiabá contava com a participação de elementos


do clero como D. Luís de Castro Pereira, bispo de Cuiabá, de militares, como o capitão Luís
D‟Allincourt e da elite local, como André Gaudie Ley, proprietário de terras e de escravos.

39
Apud, Póvoas, Lenine. História Geral de Mato Grosso, p.176.

30
Em Vila Bela, a população ao receber a notícia da deposição de Magesssi e da
formação de uma Junta de governo em Cuiabá, se sentiu bastante ameaçada, e resistindo a
possibilidade de perder o status de capital resolveu proceder da mesma maneira.
Assim também em Vila Bela, Magessi foi deposto e uma Junta de Governo foi
instalada com a participação dos membros da elite, do clero e dos militares. Porém, a Junta
de Governo de Vila Bela pensado em ter o apoio as camadas populares e ao mesmo tempo
ameaçar os interesses elite cuiabana, e talvez afetar os seus padrões morais tomou as
seguintes medidas:
 Abolição da escravidão
 Estabeleceu o fim fidelidade conjugal
 Decretou o fim da castidade para as mulheres solteiras.

O fim da escravidão com certeza agradava ao povo, pois muitos eram descendentes
de escravos ou mesmo amigos, com os quais freqüentavam batuques, bebiam cachaça,
rezavam e trabalhavam para os grandes proprietários.
Apesar de buscar a adesão do população, a Junta de Governo de Vila bela não
conseguiu se manter no poder, pois a elite cuiabana com o apoio de D.Pedro I saiu vitoriosa,
tendo a sua Junta de Governo reconhecida.
No entanto, foi somente em 1835, que Cuiabá recebeu oficialmente o reconhecimento
de capital da Província de Mato Grosso, conforme a seguinte lei:

1835  Nº19  Antônio Pedro de Alencastro, Presidente da Província de Mato


Grosso.
Faço saber a todos os habitantes, que a Assembléia Legislativa Provincial decretou, e
eu sanciono a seguinte lei.
Artigo 1  fica declarada capital da Província de Mato Grosso a cidade de Cuiabá.40

Capitães- Generais que governaram a Capitania de Mato Grosso

1748-1751:Gomes Freire de Andrade

40
Mendonça, Estevão, Datas Mato-Grossenses, p.115.

31
1751-1765: Antonio Rolim de Moura (Conde de Azambuja)
1765-1769: João Pedro da Câmara
1769-1772: Luiz Pinto de Souza Coutinho.
1772-1789: Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.
1789-1796: João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.
1796: Junta Governativa:Antonio da Silva do Amaral, Ricardo Franco de Almeida,
Marcelino Ribeiro.
1796-1803: Caetano Pinto de Miranda Montenegro.
1803-1804: 2ªJunta Governativa: Manoel Joaquim Ribeiro Freire, Antonio Felipe
da Cunha Ponte, José da Costa Lima. Este ultimo foi substituído por Manuel Leite
de Moraes.
1804-1805: Manoel Carlos de Abreu e Menezes.
1805-1807: 3ª Junta Governativa: Sebastião Pita de Castro, substituído por
Gaspar Pereira da Silva, Antonio Felipe da Cunha Ponte , substituído por Antonio
Felipe da Cunha Ponte, substituído por Ricardo Franco de Almeida Serra, José da
Costa Lima, substituído por Marcelino Ribeiro e Francisco Sales Brito.
1807-1819: João Carlos Augusto D‟Oeynhausen e Gravemberg (Marquês de
Aracati)
1819-1821:Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho. (Barão de vila Bela.)
1821-1822: 1ªJunta governativa Provisória de Cuiabá: Dom Luis de castro
Pereira-Presidente da Junta e posteriormente foi substituído por Jerônimo
Joaquim Nunes.
1821-1822: 1ª Junta Governativa de vila Bela: Jose Antonio Assunção Batista,
presidente da Junta.
1822-1823: 2ª Junta Governativa Provisória de Cuiabá: Antonio José de Carvalho
Chaves
1822-1823: 2ª Junta Governativa Provisória de Vila Bela: Manoel Alves da Cunha.
1823-1825: Governo Provisório: Manoel Alves da Cunha.

Atividades

1-(Concurso da Secretaria de Justiça) O que são as monções?

32
a)um movimento armado, organizado pelos comerciantes com o objetivo de proclamar
a Independência de Mato Grosso, pois tinham interesses em controlar o comercio das
minas de Cuiabá.
b) São expedições que partiam de São Paulo com destino a Mato Grosso, com o
objetivo de abastecer as minas da região de mantimentos e víveres, especialmente as
minas de Cuiabá.
c)um movimento popular pró construções de mansões, que ficou conhecido como
“monções” porque os portugueses não sabiam pronunciar corretamente a palavra
“mansões”.
d) São expedições que tem como escopo manter a correspondência em dias, entre os
brasileiros e os moradores do Império Espanhol.
e) São expedições que trazem ouro em pó para as fundições de Cuiabá, e levam de
volta ouro em barra para São Paulo.

2) (UEMS) A respeito da nova realidade criada pela exploração aurífera em Minas


Gerais, Goiás e Cuiabá, a partir de fins do século XVII, assinale a alternativa correta.
I-Embora fosse altamente lucrativa, atividade mineira não chegou a atrair grande
numero grande numero de pessoas, de modo que a população da colônia não
apresentou crescimento significativo durante o século XVIII.
II- Por ser uma atividade altamente especializada, a mineração estimulou o
desenvolvimento de outras ramos da economia colonial, como a produção de gêneros
alimentícios.
III- Nessa economia mineradora era pouco utilizado o trabalho escravo, sendo mais
importante a utilização de trabalhadores assalariados livres.

a)Apenas a I está correta.


b)Apenas a II está correta.
c)Estão corretas a I e II.
d)Estão corretas a II e III.
e) Estão corretas a I e III.

3) (UFMS) A historiadora Luiza Volpato, no livro “Entradas e Bandeiras”ao referir-se à


imagem produzida pelos livros didáticos sobre o bandeirante, assim se expressa:” Nos
33
capítulos referentes a expansão territorial, o bandeirante é apresentado na grande
maioria das vezes como o herói responsável pelas dimensões territoriais do país. (...)
No texto é passada a visão heróica do bravo que, vencendo dificuldades sem fim ,
conquistou áreas imensas para a colônia e descobriu riquezas no interior do Brasil.
A partir do texto, julgue as assertivas, verdadeiras ou falsas.
( ) Essa é uma visão mítica elaborada pela historiografia que permeia praticamente
toda a produção a respeito, dificultando uma interpretação crítica sobre o fenômeno
bandeirantista.
( ) A capitania de São Vicente, desde o inicio da colonização, despontou como uma
região privilegiada para o plantio da cana-de-açúcar, portanto de exportação de açúcar
e importação de mão-de-obra escrava.
( )A expansão territorial e o sacrifício de centenas de milhares de índios são resultado
da transformação da luta cotidiana dos bandeirantes pela sobrevivência em
campanhas de conquista.
( ) A ação bandeirante sobre as áreas espanholas foi despovoadora pois causou a
destruição de agrupamentos indígenas e espanhóis.
( ) Contrariando a imagem do texto citado é possível visualizar o fenômeno
bandeirantista como gerado pelas condições sociais de vida do Planalto de Piratininga
e o bandeirante como um homem do seu tempo.

4) (UEMS) A política econômica mercantilista se caracterizou por três elemento


essenciais:
a)balança comercial favorável, protecionismo e monopólio.
b)sistema colonial, liberalismo e monopólio.
c)Manufatura, metalismo e liberalismo.
d)Monopólio, liberalismo e bullionismo.
e)Liberalismo, monopólio e protecionismo.

5) (UFMS) A historia de Mato Grosso do Sul não pode ser apreendida na sua riqueza
temática e, sobretudo, na sua diversidade étnica e cultural, se a ela não incorporarmos
a historia dos povos indígenas. Sobre a presença constante dos povos indígenas na
história do Mato Grosso do Sul, é correto afirmar que:

34
01.a presença indígena no território do atual Mato Grosso do Sul data de até três mil
anos; para o Pantanal essa presença é de até mil anos.
02.mesmo depois da chegada de elementos europeus na região, foram intensas as
relações dos povos indígenas entre si. Às vezes conflituosas, ás vezes
complementares, são conhecidas, dentre outras, as relações entre os grupos guaná,
guaicuru e Guarani.
04.nas disputas entre os portugueses e espanhóis pela fixação dos limites territoriais
de suas colônias americanas, foram visíveis as preocupações de ambos em atrair
para si o apoio dos povos indígenas que ocupavam a região;
08.apesar da brutalidade do processo de conquista e da conseqüente ocupação de
seus territórios, a existência atual de vários povos indígenas em Mato Grosso do Sul
indica que suas diferentes formas de resistência garantiram pelo menos a sua
sobrevivência;
16.co mais de cinqüenta mil índios, Mato Grosso do Sul é atualmente o segundo
estado do Brasil em população indígena.
Dê a soma das corretas.

6) (UFMT) Em Mato Grosso, a relação entre os índios e colonizadores foi geralmente


conflituosa e marcada pela violência. A respeito, julgue as afirmativas, colocando V ou
F:
( ) Os índios Paiaguá foram os primeiros a atacar as monções e o faziam quando as
embarcações estavam transitando nos rios.
( ) Governos da Capitania de Mato Grosso utilizaram índios, capturados na defesa da
fronteira, na construção de fortes, fortalezas e em outras atividades militares.
( ) Algumas nações indígenas, como Guaicuru e caiapó, habitavam a periferia da
capitania e estabeleceram relações de escambo com o colonizador português.
( )Por meio de Cartas régias, a Coroa Portuguesa permitia, em casos específicos, a
“guerra justa” ao índio.

7) (UFMT) Ao referir-se ao abastecimento da região mineira de Cuiabá, nos primeiros


tempos da colonização, a historiadora Elizabeth M. Siqueira assim se expressa:
As duas regiões mais próximas das Lavras do Sutil e responsáveis pelo
abastecimento mais imediato foram: Rio Abaixo ( hoje Santo Antonio do Leverger) e
35
Serra Acima (hoje chapada dos Guimarães) (...) Dessa forma nem só de alimentos
vivia a população...Revivendo Mato Grosso. Cuiabá, SEDUC, 1977, p.14-16.
A respeito desse contexto histórico, julgue as características, colocando V ou F:
( ) O primeiro trajeto fluvial percorrido pelos sertanistas para abastecer Cuiabá
transformou o Rio Abaixo em importante entreposto comercial.
( ) De Rio Abaixo, a produção açucareira era trazida pelo rio Cuiabá até a região
aurífera.
( ) Vestimentas, instrumentos de trabalho e escravos vinham de outras províncias por
meio de tropas ou das monções.
( )Os primeiros engenhos surgidos na região foram responsáveis pelo fabrico não
somente do açúcar, mas também da rapadura e da aguardente.

8) c

9) (Simulado- CSSG) “O Pantanal mato-grossense estende-se pelos estados do Mato


Grosso do Sul e pelo Mato Grosso, num total de aproximadamente 220 mil quilômetros
quadrados. Sendo uma planície, as altitudes são baixas, mas as terras ao redor são mais
altas, razão pela qual uma grande quantidade de rios corre para a região.”(Moreira, Igor.
Espaço Geográfico, p.418)
A respeito do Pantanal mato-grossense, assinale a alternativa incorreta:
(a) No século XVIII, os paiaguás e guaicurus habitavam o Pantanal e representaram um
empecilho à colonização portuguesa, pois esses silvícolas atacavam com freqüência as
monções de abastecimento.
(b) No período colonial. o Pantanal era denominado de Lago dos Xarayés.
(c) O Pantanal mato-grossense é uma planície, ou seja, uma área onde o processo de
sedimentação se sobrepõe ao processo de erosão.
(d) O ecossistema do Pantanal é bastante complexo, possuindo áreas de florestas, cerrados
e campos, além da grande quantidade de plantas aquáticas, principalmente aguapés.
(e) A maior parte das terras do Pantanal encontra-se nos limites territoriais do Estado do
Mato Grosso.

10) (Simulado-CSSG) “A maior Mina da região estava plantada na colina do Rosário e deu
início à formação da cidade. A colina onde se localizou a igreja do Rosário, ergue-se à
36
margem esquerda do rio Prainha. Em torno das jazidas, principalmente à margem direita do
córrego, inicia-se o povoamento. Próximo também a essa margem localiza-se uma
esplanada, escolhida para construção da Igreja da Matriz. Ruas e ruelas serpenteiam pelo
terreno, ajustando-se a ele, ao longo do curso d‟agua. O pelourinho, a igreja do Rosário
assentam os primeiros pontos de tensão em torno dos quais a vila se estrutura e se
organiza.”(Freire, Julio De Lamônica. Pior uma poética popular da arquitetura, p.40-42.)
O texto acima descreve o espaço urbano de Cuiabá no período colonial. A partir da leitura
do texto acima e de seus conhecimentos, assinale a alternativa correta.
I- A área central da Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá era composta pela
Câmara Municipal, cadeia e a Igreja da Matriz.
II- Se fôssemos desenhar uma carta geográfica da área central da Vila Real do Senhor
Bom Jesus de Cuiabá, usaríamos como melhor escala 1: 1000. 000.
III- Foi Rodrigo César de Menezes, governador de São Paulo, que elevou Cuiabá à
categoria de vila. Durante a sua administração, Rodrigo César de Menezes deu atenção
especial à fiscalização das minas e à tributação.
(a) I, II e III são corretas.
(b) I e II são corretas.
(c) II e III são corretas.
(d) I e III são corretas
(e) Somente a II é correta

11) ( Simulado-CSSG)“..a produção de ouro na Capitania de Mato Grosso, em meio século


de atividade estonteante, de 1719 a 1770, teria montado a 4.000 arrobas ou 60.000
quilogramas, a razão de oitenta arrobas por ano.”( Correa Filho, Virgilio. Historia de Mato
Grosso, p.49).
Sobre a mineração em Mato Grosso é valido afirmar que:
(a)Provocou o surgimento de vários núcleos populacionais, que se dedicavam
exclusivamente à mineração como por exemplo, Rio Abaixo, Serra Acima e Vila Maria de
Cáceres.
(b) Ao final do século XVIII, as minas de Cuiabá começaram a entrar em decadência, devido
às técnicas rudimentares de extração e à cobrança exagerada de impostos.
(c) A ocorrência de minerais metálicos em Mato Grosso está associada a sua estrutura
geológica, isto é, a presença de escudos cristalinos.
37
(d) A produção de ouro contribuiu para a prosperidade de Mato Grosso e também de
Portugal, pois através de uma rígida fiscalização o governo metropolitano foi capaz de conter
o contrabando.
(e) A produção exorbitante do ouro provocou ao longo do século XVIII o surgimento de
conflitos na fronteira oeste entre os portugueses e espanhóis.

12) ( Simulado CSSG) “Vila Bela da Santíssima Trindade é, atualmente, a cidade mato-
grossense que possui a maior concentração de negros do Estado. Os negros de Vila Bela da
Santíssima Trindade preservam traços fisionômicos semelhantes aos seus ascendentes
africanos (Angola e Guiné) e sua tradição cultural é manifestada através do folclore
representado pela Dança do Congo e do chorado. (Piaia, Ivane. Geografia de Mato Grosso,
p.16.)
A partir da leitura acima e dos seus conhecimentos, é correto afirmar que:
I- A presença dos negros em Vila Bela mostra um dos traços do sistema colonial brasileiro, a
escravidão. A adoção da escravidão durante a colonização proporcionou a Portugal uma
acumulação de capital.
II-Os negros em Vila Bela como também em outras regiões da colônia eram utilizados como
mão-de-obra na agricultura de subsistência e na mineração.
III-A escravidão no Brasil colonial se assemelha a escravidão na Grécia e em Roma, pois os
escravos no sistema colonial brasileiro eram também provenientes das conquistas territoriais
empreendidas por Portugal.
IV-A existência de uma maior concentração de negros em Vila Bela se justifica pela
insalubridade da região. No início do século XIX, com o fim das disputas territoriais na
fronteira e com a decadência do ouro, os brancos começaram a partir de Vila Bela.
(a) Todas são corretas.
(b) I,II e III são corretas.
(c) II e IV são corretas.
(d) I, II e IV são corretas.
(e) I e II são corretas.

13) (Concurso da Secretaria de Segurança) Como resultado do movimento de resistência à


escravidão, às constantes humilhações e aos maltratos praticados pelos senhores de
escravos, os africanos de Mato Grosso se utilizaram de vários recursos para sobreviverem,
38
dentre estes, assassinatos de feitores, as constantes fugas e constituição de quilombos, que
se espalham pelo vasto território mato-grossense. Assinale a opção que corresponde aos
dois mais importantes e maiores quilombos de Mato Grosso.
a)Mundéu e Cansanção.
b)Piolho ou Quariterê e Cansanção.
c)Piolho ou Quariterê e kundiru.
d)Kalunga e Cansanção.
e) Mkulelê e Cansanção.

14) Em 1748, o governo metropolitano criou a Capitania de Mato Grosso. A respeito deste
contexto histórico, assinale as alternativas abaixo com V ou F:
( ) Criada através de uma carta régia, a Capitania de Mato Grosso surgiu da necessidade
de povoamento de uma região que de acordo com o tratado vigente ainda pertencia aos
espanhóis.
( ) tratava-se de povoar uma região que pudesse servir como escudo protetor a possíveis
invasões espanholas.
( ) Foi criada por determinação do rei D. José I.
( ) A Capitania de Mato Grosso foi criada após o desmembramento da administração da
Capitania de Goiás.

15) Sobre a administração de Rodrigo César de Menezes, avalie os itens abaixo:


( ) Os impostos cobrados, nos períodos de 1723 até 1727 eram cobrados pelos sistema de
capitação, a partir de 1728, foi implantado o quinto.
( ) Para facilitar a fiscalização das minas e conseqüentemente evitar o contrabando, Rodrigo
César de Menezes criou em Cuiabá a Casa de Fundição.
( ) Apesar do aparato fiscalizador estabelecido nas minas, neste período Cuiabá passou por
um considerável crescimento populacional e pelo enriquecimento da maioria da população.
( ) Rodrigo César de Menezes, governador de São Paulo, elevou o arraial de Cuiabá, a
categoria de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.

16) Sobre a criação e povoamento de Vila Bela da Santíssima Trindade, assinale os itens
corretos:

39
( ) D.Rolim de Moura, Conde de Azambuja, recebeu instruções reais para governar a
Capitania de Mato Grosso e fundar a sua primeira capital às margens do rio Guaporé.
( ) O governo português almejava com Vila Bela evitar o avanço dos espanhóis, uma vez
que estes estavam muito próximo, ou seja na região do Potosí.
( ) Os comerciantes de Vila Bela obtiveram muitos lucros devido ao preço exorbitantes dos
produtos alimentícios.
( ) Com o propósito de conter o avanço dos espanhóis, o governo português construiu
fortes, aliciou índios e atraiu a região até mesmo criminosos.

17) Em 1821, Francisco de Paula Magessi foi deposto do governo. A respeito deste contexto
histórico, assinale a alternativa correta.
a) a deposição Francisco Magessi foi articulada pelas camadas populares, que estavam
extremamente insatisfeitas em conseqüência da debilidade econômica de Mato Grosso.
b)a derrocada do capitão-general se deu devido a união do clero, dos militares e da elite
cuiabana.
c) foi neste momento que Vila Bela da Santíssima Trindade se reafirmou como capital da
Província de Mato Grosso.
d) a Junta de Governo de Vila Bela contava com mais prestígio junto a Corte que a Câmara
Municipal de Cuiabá.
e)o governo de Magessi se deu durante o Primeiro Reinado.

18) A bandeira de Pascoal Moreira de Cabral descobriu ouro ás margens do rio Coxipó
dando origem ao povoamento da região. Neste período, o governador da Capitania da São
Paulo era:
a)Pedro de Almeida Portugal.
b) Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.
c) Rodrigo César de Menezes.
d) Antonio Rolim de Moura.
e) Augusto Leverger.

19) Assinale a alternativa correta a respeito do trabalho escravo em Mato Grosso durante o
período colonial:

40
a)A Aldeia da Carlota representou a maior resistência dos negro a escravidão em Mato
Grosso.
b)O escravo trabalhava exclusivamente na mineração.
c) O quilombo do Piolho foi governado pela rainha Teresa de Benguela.
d) Tanto a população da Aldeia da Carlota como a do Piolho era composta principalmente
pelos desertores.

20) (UNIC) “E preciso não ter sentimento do justo e do honesto, para não parar, cheio de
respeito, diante de um velho marco, solitário na vastidão dos campos, ou à beira da estrada
publica ou no velho ermo do mato virgem, guarda fiel da propriedade, testemunha sincera de
um direito...”. A frase de Macedo Soares corresponde a um símbolo, concebido a 231 anos,
denominado Marco do Jauru, hoje localizado na cidade de Cáceres, na praça publica ( Barão
do Rio Branco). Assinale a alternativa correta que corresponde a esse momento histórico.
a)Serviu como marco definidor do limite extremo sul do país.
b)Serviu como marco de fixação definitiva dos limites entre a Capitania do Cabo do Norte e a
Guiana Francesa.
c)Representação simbólica do poder imperial português.
d)Serviu como demarcador das fronteiras entre Brasil e Espanha por ocasião do Tratado de
Madri.
e)Serviu como marco da fundação da capital de Mato Grosso, vila Bela da Santíssima
Trindade.

21) A respeito dos Capitães- generais que governaram a Capitania de Mato Grosso, julgue
os itens abaixo:
( ) Luís de Albuquerque de Melo e Cáceres fundou cidades em posições estratégicas, como
Vila Maria de Cáceres e Albuquerque.
( ) Manoel de Carlos Abreu Menezes foi oprimeiro a sugerir que a capital de Mato Grosso
deveria ser Cuiabá.
( )João Carlos Oeyuhausen criou as primeiras instituições hospitalares da Capitania; a
Santa Casa de Misericórdia e o São João dos Lázaros.
( )Francisco Magessi transformou Cuiabá em Capital da Província no ano de 1821.

41
22) O arraial de Cuiabá foi transformado em vila, em 1 de janeiro de 1727, recebendo o
nome de:
a)Arraial de São Gonçalo.
b)Vila de Santa Cruz
c) Lavras do Sutil.
d) São Pedro D‟El Rey.
e) Vila Real do Senhor bom Jesus de Cuiabá.

23) Tratado assinado em 1750, que dividiu entre Portugal e a Espanha as terras a oeste de
Tordesilhas:
a)Madri
b)Santo Ildefonso
c)Portugal
d) Badajós.
e)Roma.

24) Em 1778, foi fundado por Luis de Albuquerque ás margens do rio Paraguai; Vila Maria.
Atualmente este vila é conhecida pelo nome de:
a)Cáceres.
b)Dourados.
c) Nioac.
d) Poconé.
e) Livramento.

25). Relacione:
(A)S.Pedro D‟El Rey
(B) Cocais
(C) Serra Acima.
(D) Rio Acima
(E) Rio Abaixo

( ) Livramento
( ) Poconé
42
( ) Chapada dos Guimarães.
( )Rosário Oeste
( ) Santo Antonio do Leverger.

A seqüência correta é:
a)B,A,C,D, E.
b)B,A,D,E,C.
c)A,B,D,E,C.
d)A,D,B,C,E.
e)D,A,C,E,B.

Gabarito:

1-B
2-B
3-V,F,V,V,V.
4-A
5- 30 (F,V,V,V, V).
6- V, V,F,V.
7-F,V,V,V.
8-V,V,F,V.
9- E
10-A
11-B
12-D
13-A
14-V,V,F,F.
15- V,V,F,V.
16-V,V,F,V.
17-B
18-A
43
19- C
20-D
21-V,V,V,F.
22- E
23-A
24-A
25-A

Parte II: Império

Capitulo 7: Rusga

No início do século XIX, a Corte Portuguesa chegou ao Brasil fugindo das tropas de
Napoleão Bonaparte. Ao aportar na colônia, D. João decretou a Abertura dos Portos às
Nações Amigas. Com essa medida, o Príncipe Regente, rompeu o pacto colonial
favorecendo o processo de independência do Brasil.
A independência se deu através de um arranjo político entre a elite brasileira e
D.Pedro I, e foi fortemente influenciada pelas idéias liberais. Contudo, o liberalismo da elite
brasileira era bastante limitado, uma vez que as camadas populares foram marginalizadas do
processo de independência. Após a independência, o Brasil continuou a manter as estruturas
sociais e econômicas existentes no período colonial. Na verdade, o interesse da elite
brasileira era promover a independência, mas tendo sob o seu controle o poder político, e a
manutenção dos seus interesses, ou seja, o latifúndio e a escravidão.
Assim em 1822, D.Pedro I foi aclamado imperador do Brasil.
No entanto, o Primeiro Reinado seria muito breve breve, pois o governo de D.Pedro I
foi marcado por uma profunda crise política, que culminou na sua abdicação.
A crise do Primeiro Reinado estava relacionada a alguns fatores, como por exemplo, a
dissolução da Assembléia Constituinte em 1823. Os constituintes brasileiros tinham como
objetivo limitar o poder do imperador. Porém, D. Pedro I contrariado com atitude da elite
brasileira resolveu fechar a Assembléia.
A crise aumentou gerando mais insatisfações com relação a D.Pedro I, quando o
imperador outorgou a Constituição de 1824. A Constituição do Império estabeleceu o voto
censitário, isto é, para votar era necessário comprovar uma renda mínima anual. Desta
44
forma, o voto censitário acabou marginalizando as camadas populares do processo político.
Tal decisão provocando muito descontentamento entre os segmentos populares.
A constituição de 1824 estabeleceu também que a monarquia era hereditária e a
existência de quatro poderes, sendo o poder moderador de uso exclusivo do imperador.
Através do poder moderador, o imperador tinha o direito de dissolver a Câmara dos
Deputados,bem como o de nomear e demitir o Conselho de Ministros. Na realidade, o poder
moderador agia nos momentos de desentendimento político entre o Legislativo e o
Executivo. Assim devido ao poder moderador, o Império brasileiro foi caracterizado por uma
excessiva centralização do poder nas mãos do imperador.
Outro fator que desgastou o governo de D.Pedro I foi a crise econômica que assolava
o país. A crise em parte era resultante da dívida externa, contraída com a Inglaterra no
momento do rompimento dos laços coloniais com Portugal. A divida externa contribuiu para
que o Brasil se tornasse dependente da Inglaterra. Em virtude da dependência econômica,
D. Pedro I renovou com este país os Tratados de 1810, por mais quinze anos. Os Tratados
de 1810 concedeu privilégios alfandegários aos produtos ingleses e acabou impedindo a
industrialização do país.
Para agravar mais ainda a situação, o imperador recorria a empréstimos para
aparelhar o Exército e contratar mercenários ingleses, para sufocar revoltas, como a
Confederação do Equador, e a Guerra da Cisplatina.
Diante da crise que abatia o governo imperial, D. Pedro I pressionado pela elite e pelo
povo brasileiro resolveu abdicarem 7 de abril de 1831. Logo depois, o imperador regressou a
Portugal.
A Constituição de 1824 previa em seu texto, que seu filho Pedro de Alcântara seria o
seu sucessor de D.Pedro, porém como herdeiro do trono tinha somente cinco anos em 1831,
a legislação determinava que o país seria governado pelos regentes até que príncipe-
herdeiro atingisse a maioridade. Desta forma, o período regencial consistiu em um momento
de transição entre o Primeiro e Segundo Reinado.
Com a implantação das regências, a elite brasileira subiu ao poder, representando de
fato a concretização independência.
O período regencial foi caracterizado pelo surgimento dos partidos políticos,
destacando-se os restauradores, que pregavam a volta de D.Pedro I, os moderados, que
defendiam a centralização e os exaltados, encarados como os mais radicais, pois
apregoavam a descentralização.
45
Em 1834, esses partidos entram em uma nova fase. A partir deste período, a política
brasileira seria articulada pelo Partido Liberal ou Progressista (descentralização) e o Partido
Conservador ou Regressista (Centralização).
A seguir apresentamos um gráfico referente a evolução dos partidos políticos durante
o Império:

Primeiro Período Regencial Período Regencial Segundo Reinado


Reinado(1822- (1831-1834) (1834-1840) (1840-1889)
1831)
Partido Português Restauradores Conservador ou Conservador
Regressista
Partido Brasileiro Moderados Liberal ou Liberal: moderados
Progressista e radicais
Exaltados 1870: fundação do
Partido
Republicano.

Esses partidos políticos eram compostos principalmente pelos membros da elite


brasileira, uma vez que a constituição em exercício era a mesma, e lembremos que esta
determinou que o voto era censitário. Assim apesar das alterações políticas advindas com o
período regencial, as camadas populares continuaram marginalizadas do poder político.
A crise econômica não foi superada durante as regências, o latifúndio continuou a
dominar a estrutura fundiária do país, e a elite continuou a defender a manutenção da
escravidão. Esses fatores contribuíram para a eclosão de rebeliões, pois estas eram
sintomas do desajustamento social e político que o país passava desde o início do século
XIX. Assim, o período regencial foi caracterizado pela intranqüilidade política, uma vez que
as rebeliões ameaçavam os interesses da elite.
Durante a década de 30, havia uma guerra civil no país. Muitas províncias brasileiras
foram palco de levantes armados, nas quais fazendeiros, tropas, pequenos proprietários,
índios, homens livres pobres e escravos lutaram contra a centralização do poder ou contra à
pobreza e a escravidão. A exemplo temos a Cabanagem , no Pará, a Balaiada, no

46
Maranhão, a Sabinada, a Revolta dos Malês e a Cemiterada, na Bahia, a Farroupilha no Rio
Grande do Sul e a Rusga, em Mato Grosso.
Assustados com as rebeliões, o governo regencial criou a Guarda Nacional. A Guarda
Nacional era uma milícia composta por cidadãos em armas, isto é, os senhores de escravos
auxiliados pelos seus capangas, teriam a responsabilidade de conter as revoltas, cabia a
eles a manutenção da ordem.41
Foi neste contexto histórico, que aconteceu a Rusga.
Esse movimento social ocorrido em Mato Grosso, em 1834 , teve a sua origem na
disputa pelo poder entre os liberais e os conservadores. Os conservadores possuíam entre
os seus membros muitos portugueses, defendiam a centralização e se reuniam na
Sociedade Filantrópica. No inicio do ano de 1834, a província de Mato Grosso tinha na sua
presidência, o conservador, Antônio Maria Correa.
Os liberais por sua vez, pregavam a descentralização e participavam da Sociedade
dos Zelosos da Independência. Havia no partido duas facções; os moderados que
desejavam afastar os portugueses dos cargos públicos e os exaltados, que apoiavam os
moderados no tocante aos portugueses, mas as suas reivindicações iam mais além, ou seja,
não aceitavam que os Presidentes de Província fossem nomeados pela Regência, e em
diversas ocasiões chegaram a contestar a figura de D.Pedro e o sistema monárquico.
Os liberais almejavam o poder e sabiam que a população estava bastante insatisfeita,
pois viviam em extrema miséria e além disso, culpavam os conservadores pela sua péssima
condição social. As camadas populares tinham também muita aversão aos portugueses, pois
estes eram proprietários de estabelecimentos comerciais e vendiam os seus produtos a
preços exorbitantes à população.
Na verdade, segundo o Visconde de Taunay em sua obra “A cidade do ouro e das
ruínas”, a aversão aos portugueses já existia em Mato Grosso desde o período da
independência. Na Província havia muitos portugueses, e estes tornaram-se alvos da
malquerença, pois dominavam o comércio local, e de acordo com a Constituição de 1824
possuíam direito a cidadania, e muitos tinham influência política.42
Assim os liberais, tendo a frente João Poupino Caldas inflamaram mais ainda o povo
contra os portugueses, que eram chamados pela população de “brasileiros adotivos” ou de

41
Priore, Mary Del., O Livro de Ouro da História do Brasil, p. 235.
42
Povoas, Lenine, História Geral de Mato Grosso, p. 202.

47
“bicudos” . Habitualmente se ouvia pelas ruas de Cuiabá, a população gritando “embarca
bicudo, embarca, embarca, canalha vil, que os brasileiros não querem bicudos no seu Brasil.”
Entretanto esse sentimento não era específico aos portugueses, na verdade havia na
Província uma aversão aos estrangeiros.
Com o objetivo de derrubar os conservadores do poder e usando esse sentimento de
xenofobia, o liberal João Poupino Caldas buscou a apoio das camadas populares para a
causa do Partido Liberal. Para o povo, os liberais representavam a solução para a crise
econômica e social.
Diante da forte crise política, Antonio Correa da Costa foi afastado das suas funções
pelo Conselho da Província, que indicou em 28 de maio de 1834, João Poupino Caldas,
como Presidente da Província de Mato Grosso.
A posse de João Poupino Caldas não trouxe as mudanças esperadas ocorrendo com
isso uma cisão no partido liberal. O povo por sua vez ficou extremamente descontente e via
em Poupino Caldas um traidor. Assim os liberais exaltados contando com o apoio das
camadas populares saíram às ruas na noite do dia 30 de maio de 1834. Os liberais
exaltados, o povo e até mesmo alguns soldados da Guarda Nacional se reuniu no Campo do
Ourique (antiga Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso) iniciando a Rusga.
João Poupino Caldas ao receber a notícia da revolta pediu ao bispo de Cuiabá, D.
José Reis, que tentasse conter a fúria popular. O bispo atendendo ao pedido do governante
foi ao Campo do Ourique portando um crucifixo com a intenção de exorcizar o povo. Tal
atitude mostrou que o religioso não via que a revolta da população tinha as suas raízes nas
estruturas sociais e econômicas existentes na Província. Apesar de todos os esforços, e do
seu prestígio social e religioso, D. José não foi capaz de conter a fúria popular.
A população então partiu sobre o comando do liberal Antonio Patrício da Silva Manso,
tomaram o Quartel dos Municipais, apoderando-se das armas e munições, e por volta meia
noite gritavam pelas ruas de Cuiabá, “morte aos bicudos”.
A medida que os rebeldes avançavam, muitos portugueses e brasileiros abastados
foram assassinados. Depois de tomar Cuiabá, os rebeldes avançam em direção a Chapada
dos Guimarães, Poconé e Santo Antonio do Rio Abaixo.
O movimento durou de maio a setembro de 1834, e somente foi controlado com a
posse de Antonio Pedro de Alencastro, na presidência da Província..
Em 1837, Poupino Caldas foi assassinado, entretanto, o seu processo crime foi
arquivado, pois o chefe de policia não encontrou os responsáveis pelo crime.
48
Segundo Madureira Siqueira, a repressão ao movimento demorou e a justiça somente
veio tomar conhecimento depois de três meses. Essa omissão se deu porque João Poupino
Caldas, um dos revoltosos e insufladores do povo assumiu a direção da Província e
pertencia ao partido liberal. Para a justiça, a rusga foi motivada por um grupo de subversivos,
de inimigos da Pátria e da ordem pública.43

Capitulo 8: Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870)

Durante o Segundo Reinado, a política externa brasileira esteve direcionada para


garantir a paz interna nos países do Prata, onde tínhamos interesses econômicos a
defender, e em assegurar a livre navegação da bacia Platina, o acesso mais rápido e seguro
para chegar a Província de Mato Grosso.
Buscando atender os seus objetivos, o governo brasileiro promoveu intervenções
armadas na Argentina e no Uruguai, e ainda levou o Brasil a uma guerra contra a República
do Paraguai.
A Guerra do Paraguai provocou a morte aproximadamente de 130 mil pessoas,
aumentou consideravelmente a dívida externa brasileira, pois o Brasil gastou nos campos de
batalha 614 mil réis, o equivalente a onze vezes o orçamento do governo imperial.
Os historiadores até hoje não chegaram a um consenso sobre a Guerra do Paraguai.
Há aqueles que defendem que a guerra foi motivada pelos interesses do capitalismo inglês,
que usou o Brasil, a Argentina e o Uruguai para destruir o Paraguai.
Na década de 80, do século XX, os trabalhos acadêmicos revelavam que a guerra
estava associada ao processo de construção e consolidação dos Estados Nacionais do Rio
do Prata, e descartavam a participação da Inglaterra no aniquilamento do Paraguai.
Entretanto, ao analisarmos os últimos vestibulares e provas de concursos públicos
constatamos, que as questões são formuladas baseadas na primeira vertente historiográfica,
isto é, aquela que relaciona o conflito bélico ao imperialismo inglês. Desta forma,
abordaremos a Guerra do Paraguai seguindo este modelo historiográfico.

43
Siqueira, Elizabeth Madureira. A Rusga em Mato Grosso:edição critica de documentos históricos, v.1, p.15.

49
Paraguai: Desenvolvimento Autônomo.

Em 1814, o Paraguai ficou independente e ao contrário do Brasil que adotou a


monarquia, fez a sua opção pela República.
O governo republicano no Paraguai foi consolidado através de ditaduras, que
trouxeram desenvolvimento e modernização ao país. Inicialmente, o Paraguai foi governado
por José Gaspar de Francia, que extinguiu a escravidão, conferiu liberdade religiosa e
diversificou a agricultura. Durante o seu governo, as terras improdutivas da elite e do clero
foram confiscadas para a reforma agrária.
Carlos Lopes, deu continuidade a política de desenvolvimento empreendida na gestão
anterior, com isso construiu estradas de ferro, linhas telegráficas e estaleiros. Aboliu as
restrições à navegação internacional nos rios que cruzavam o território paraguaio. Desta
maneira, em 1857, o governo paraguaio permitiu que navios brasileiros chegassem a
Província de Mato Grosso através da navegação do rio Paraguai (livre navegação da Bacia
Platina).
Após Carlos Lopes, o seu filho, Francisco Solano Lopes assumiu o governo do
Paraguai. Solano Lopes deu continuidade a uma política econômica voltada para o
desenvolvimento autônomo do país. Para isso dinamizou a lavoura de algodão, concedeu
isenção de impostos alfandegários para máquinas e equipamentos importados. Logo
podemos assegurar que o Paraguai se despontava como uma nação auto- suficiente.
Esse modelo de desenvolvimento entrava em choque com os interesses econômicos
da Inglaterra. Assim tornou-se estratégico para o capitalismo inglês, a destruição do
Paraguai.

A Guerra

Em 1850, Brasil e Paraguai afirmaram um tratado, no qual estabeleceram o


compromisso de defender a independência do Uruguai. Porém, em agosto de 1864, o Brasil
ameaçou de invadir o Uruguai para derrubar o governo de Aguirre.
Ao saber da intenção do governo brasileiro, Solano Lopes, presidente do Paraguai,
informou ao governo imperial, que a invasão colocava em risco o equilíbrio político do Prata.
50
O governo brasileiro ignorou o posicionamento de Solano Lopes, e em setembro de
1864, o Brasil invadiu o Uruguai.
Diante desta situação, o Paraguai reagiu, e em novembro deste mesmo ano, Solano
Lopes aprisionou a navio brasileiro “Marquês de Olinda”, que trazia a bordo o novo
presidente da Província de Mato Grosso, Frederico Carneiro de Campos. A seguir, o governo
paraguaio declarou guerra ao Brasil.
No mês seguinte ao aprisionamento do navio brasileiro em Assunção, Solano Lopes
ordenou a invasão da Província de Mato Grosso. O ditador paraguaio tinha informações que
a província militarmente estava indefesa e que as forças militares brasileiras eram precárias.
Contando com a participação de 9.000 soldados, as forças paraguaias tomaram
Corumbá, o Forte de Coimbra, Dourados. Miranda e Nioaque.

Repercussões da Guerra na Província de Mato Grosso

Segundo a historiadora, Luiza Volpato em sua obra Cativos do Sertão, a Guerra da


Tríplice Aliança alterou substancialmente o cotidiano da Província ao provocar na população
o medo, a fome e uma violenta epidemia de Varíola.
Ao tomar conhecimento da tomada de Corumbá pelas tropas de Solano Lopes, a
população da província teve muito medo, pois os paraguaios eram vistos pelos mato-
grossenses como bárbaros.
Assim acreditando na possibilidade de uma invasão paraguaia a Cuiabá, Augusto
Leverger, o Barão de Melgaço, organizou uma expedição de homens denominada de
“Voluntários Cuiabanos”. Essa expedição se dirigiu a Colina de Melgaço para aguardar os
paraguaios, entretanto, estes não vieram. Ao retornar a Cuiabá, os voluntários foram
recebidos como heróis pela população.
A guerra trouxe também muita insegurança com relação aos escravos, pois em
conseqüência da falta de soldados, os brancos temiam uma rebelião. Além disso, as
autoridades policiais eram alertadas sobre os ataques dos negros do quilombo do Rio do
Manso, em Chapada dos Guimarães. Os negros deste quilombo habitualmente assaltavam
sítios e fazendas nas imediações de Cuiabá e de Chapada para roubar mulheres.

51
O quilombo do Rio do Manso tornou-se também bastante temido devido a presença de
desertores da guerra. Esses desertores eram soldados que fugiam do acampamento militar,
eram procurados pela justiça e por segurança refugiavam-se no quilombo do Rio do Manso.
Outra situação difícil para a população foi o aumento exorbitante do preço dos
alimentos. Com a tomada de Corumbá e conseqüentemente com o bloqueio da Bacia
Platina, a província ficou isolada não recebendo mais mercadorias. A população se viu então
privada de muitos produtos, como por exemplo, o sal.
Em conseqüência do seu alto preço, os comerciantes agindo com esperteza
passaram a vender salitre no lugar do sal, com a intenção de esperar que o produto
encarecesse mais para obter mais lucro. O governo provincial ao tomar conhecimento deste
fato, resolveu confiscar o sal que estava em posse dos negociantes.
Para agravar mais ainda a fome da população, em janeiro de 1865, as águas do rio
Cuiabá transbordaram destruindo as roças de subsistência localizadas nas proximidades das
margens do rio. A situação somente foi contornada, quando a Bolívia assumiu junto ao
governo brasileiro a responsabilidade de abastecer de alimentos a Província. Essa notícia foi
muito bem recebida, pois a população mato-grossense temia que a Bolívia apoiasse o
governo paraguaio.
Em 1867, as forças brasileiras retomaram Corumbá, entretanto, foi durante este
acontecimento que soldados do Exército brasileiro foram conduzidos a Cuiabá por estarem
demasiadamente doentes.
Ao chegar a Cuiabá, os soldados foram enviados à Santa Casa de Misericórdia. O
médico atendente não conseguiu pelos sintomas diagnosticar a moléstia, e somente após o
falecimento dos doentes, que os médicos constaram que tratava-se da varíola. Porém era
tarde demais, a enfermidade se propagou pela cidade afetando os seus moradores.
Infelizmente, o poder público não teve tempo de organizar cordões sanitários, e uma
das alternativas encontradas para conter o surto epidêmico foi construir um cemitério para
abrigar as vítimas da bexiga, o Cemitério de Nossa Senhora do Carmo, chamado pelos
populares de Cae-Cae. A seguir, o texto abaixo nos demonstra os efeitos que a doença
provocou no comportamento dos cuiabanos.

Com a propagação rápida da doença, a população teve o seu cotidiano alterado de


maneira trágica e violenta, justificou todo o seu sofrimento e tanta desgraça como castigo de
Deus. O bispo de Cuiabá, D. José Reis preparou os fiéis para uma procissão que percorreu
52
todas as casas onde havia um doente. A doença não escolhia sexo, a condição social do
individuo e quanto menos a idade, afetando portanto crianças, jovens e idosos. Famílias
inteiras faleceram vitimas da bexiga, fazendo com que a policia arrombasse as portas de
diversas casas e encontrassem no seu interior todos os seus membros mortos e os corpos
em estado adiantado de putrefação. 44

A varíola dizimou uma parcela significativa da população mato-grossense, contudo a


documentação do período não revela com exatidão o número de vitimas. De Acordo com
Joaquim Moutinho, cronista que viveu e sentiu na pele a dor provocada pela doença45, o
quadro estatístico apresentado pela polícia não era preciso, pois era fundamental para as
autoridades governamentais da Província esconder do governo central a realidade, pois a
revelação do número exato dos mortos denunciava a inoperância destas autoridades.

O desfecho e as conseqüências do pós-guerra

Em 1867, o comando das forças aliadas estava com Caxias. Foi neste momento, que
um surto de cólera, impediu o avanço das forças aliadas sobre o Paraguai. Um pequeno
destacamento de soldados tentou invadir o Paraguai através do Mato Grosso, atingindo
Laguna. Porém as dificuldades encontradas como a falta de abastecimento e o medo da
cólera fizeram a tropa recuar. Perseguida pelos paraguaios, a coluna em fuga perdeu muitos
homens vítimas da cólera.
A partir de 1868, os ataques do exército brasileiro e da marinha se intensificaram, e
em 1869 já era evidente a perda do Paraguai. No ano seguinte, Caxias pediu afastamento do
conflito e foi substituído pelo Conde D‟Eu, que conduziu os soldados brasileiros até ao final
do combate.
Em 1870, as tropas brasileiras tomaram a acampamento de Solano Lopes em Cerro
Cora. Esse embate ocasionou na morte do ditador paraguaio e conseqüentemente encerrou
o conflito bélico.
Como resultado do fim da guerra, a Província de Mato Grosso passou por muitas
transformações, pois a reabertura da bacia Platina permitiu que a Província participasse do
capitalismo internacional através da exportação de produtos do extrativismo vegetal e da

44
Cavalcante, Else Dias de Araújo, Imagens de uma epidemia, p.38
45
Moutinho perdeu uma filha durante a epidemia.

53
pecuária, e da importação de produtos industrializados. Segundo a historiadora Edil Pedro so
em sua obra “O cotidiano dos viajantes nos caminhos fluviais de Mato Grosso (1870-1930),
nesse período o trânsito de embarcações brasileiras e estrangeiras pelo rio Paraguai
tornaram-se corriqueiras, pois a navegação da bacia Platina passou a ser o principal
caminho por todos aqueles que queriam chegar e sair da Província de Mato Grosso.
A rota fluvial que atendia Mato Grosso tinha nos rios Cuiabá e Paraguai, os seus
principais percursos. Os navios ao saírem de Cuiabá, atingiam o São Lourenço e a seguir o
Paraguai, o Paraná, e daí o Oceano Atlântico. Ao sair de Cáceres, a viagem era feita pelo rio
Paraguai e a seguir o Paraná, e depois através do Oceano chegavam a Corte. As
embarcações que seguiam esses caminhos eram grandes, enquanto as que navegavam do
Prata a Corumbá eram médias, contudo confortáveis, e as embarcações que iam para o
interior da Província de Mato Grosso eram vapores menores.46

A navegação do Prata promoveu o surgimento de uma burguesia comercial,


proprietária de Casas de Comércio, que surgiram principalmente nas cidades portuárias
como Cuiabá, Cáceres, Corumbá, Porto Murtinho, Bela vista e Ponta Porã.

As casas de comércio negociavam diversos artigos importados como tecidos, móveis


e brinquedos, e ao mesmo tempo comercializavam os produtos mato-grossenses.
Assim a livre navegação da bacia Platina representou para a Mato Grosso uma
alternativa de superar a debilidade econômica. Além disso juntamente com as mercadorias,
idéias vindas de outros centros eram consumidas. Por exemplo, os cuiabanos passaram a
confeccionar os seus trajes e a decorar as suas residências seguindo os padrões de Buenos
Aires e Montividéo.47
Outra mudança provocada pela guerra foi o aumento territorial da Província, pois ao
término da guerra, a Argentina e o Brasil tomaram posse de áreas territoriais do Paraguai,
para ser mais preciso, o Paraguai perdeu 150 000 Km² de seu território.
A guerra exterminou a população guarani, ao iniciar o conflito armado o país contava
aproximadamente com 800 000 habitantes, quando terminou, restavam 200 000.
A sua economia que anteriormente era próspera estava agora totalmente debilitada, o
seu parque industrial foi totalmente destruído, as riquezas do extrativismo vegetal foram

46
Silva, Edil Pedroso, O Cotdiano dos viajantes nos caminhos fluviais de Mato Grosso (1870-1950)
47
Volpato, Luiza.,Cativos do Sertão, p.44.

54
cedidas a empresas estrangeiras, as terras públicas usadas pelos camponeses foram
vendidas a ingleses, holandeses e aos norte-americanos. Diante da terrível conjuntura,
muitos paraguaios migraram para a Província de Mato Grosso em busca de esperança, de
uma vida melhor.
Em Mato Grosso, muitos desses paraguaios foram tratados pela população e até
mesmo pelas autoridades governamentais como a escória da sociedade. Para os agentes da
imigração, as paraguaias eram mulheres perdidas, de baixa espécie, consideradas as fezes
da sociedade mato-grossense.48
Apesar da reabertura da bacia Platina, a modernização da Província aconteceu
lentamente, pois além da resistência ao novo, não podemos esquecer das precariedades
econômicas de uma província pobre e dependente do governo imperial. Na verdade, “o que
se pode assistir foi um processo onde as desigualdades sociais iam ficando cada vez mais
explícitos, mais contrastantes  senhores que podiam ostentar sobrados bem decorados em
contraposição a uma maioria de livres pobres, libertos e escravos que habitavam casas
rústicas, de paredes de adobe e destituídos dos mais elementares princípios de civilidade.”49

Capítulo 9: A cidade de Cuiabá na segunda metade do século XIX

Cuiabá, por volta de 1870, crescia de forma desordenada. Esse crescimento era
resultado das migrações internas e de paraguaios, que entravam na Província a procura de
emprego, de uma nova oportunidade.
A população pobre da cidade construía as suas casas á margem direita do Córrego da
Prainha. Já a esquerda, no alto da Colina do Rosário, as residências eram mais espaçadas.
Mais tarde surgiram novas ruas e caminhos ligando Cuiabá ao Coxipó da Ponte e a freguesia
de Santo Antonio do Leverger.
Na área central da cidade, surgiram sobrados de ricos senhores e prédios públicos
onde funcionava a Câmara Municipal, a Tesouraria Provincial, o Correio, o Comando das
Armas, a Repartição da Polícia e o Palácio Presidencial.

48
Siqueira, Elizabeth, Luzes e Sombras, p.66.
49
Machado, Oswaldo, Ilegalismos e Jogo de Poder, p. 36-37.

55
As ruas centrais possuíam nomes ligados aos heróis, as datas comemorativas, porém
os moradores da cidade continuavam a denominá-las, como no período colonial, isto é, rua
de Cima. Rua de Baixo, rua do Meio, dentre outros.
As residências mais elegantes estavam localizadas na rua Bela do Juiz (hoje, 13 de
Junho). Essa rua começava no largo da Matriz e se prolongava em direção ao distrito de São
Gonçalo de D. Pedro II.
Com a expansão populacional, novos bairros surgiram nas imediações da área central
da cidade, como por exemplo, a Mandioca, o Baú, o Lavapés e o Mundéu.
Na década de 70, Cuiabá já possuía distritos afastados, mas que faziam parte de sua
jurisdição judiciária e policial, como o Barbado, o Coxipó e o São Gonçalo Velho. As vilas ou
freguesias rurais também faziam parte do Termo de Cuiabá  Nossa Senhora do Rosário,
Nossa Senhora de Brotas, Nossa Senhora da Guia, Santo Antonio do Rio Abaixo, Santana
da Chapada dos Guimarães e Nossas Senhora do Livramento.
Paralelamente ao crescimento populacional, os relatórios da autoridades
governamentais e dos chefes de Polícia apontavam o crescimento da violência e da
criminalidade. O aumento da criminalidade relacionava-se a falta de empregos, a crise do
sistema escravista, ao retorno de batalhões inteiros com o fim da guerra, e a entrada de
imigrantes pobres, principalmente do Paraguai.50
Com relação a sua organização social, a elite local era composta de comerciantes que
se dedicavam ao comércio da importação e exportação, como também, de grandes
proprietários de terras e de escravos. Os altos funcionários públicos civis e as altas patentes
militares também pertenciam a este segmento social.
No estrato intermediário da sociedade, havia os oficiais militares em inicio de carreira,
os médicos, que aliás eram poucos, os dentistas, os advogados, os magistrados, os chefes
de Policia, promotores e membros do clero.
Mais abaixo, tínhamos os pequenos comerciantes, os taverneiros e os pequenos
sitiantes. No entanto, havia aqueles que estavam mais abaixo ainda, como os livres pobres e
os escravos.
A livre navegação beneficiou as camadas sociais mais favorecidas, pois passaram
com freqüência a viajar para o Rio de Janeiro, de onde voltavam trazendo inúmeras

50
Idem, op.cit, p.12.

56
novidades, modificando a sua maneira de vestir e seus hábitos. Assim a elite cuiabana
passou a nortear a sua vida segundo os valores difundidos na Corte.
A influência da Corte podia ser sentida até mesmo nos momentos de lazer, pois para
se divertir a elite cuiabana passou a organizar saraus, nos quais se tocavam piano, recitavam
poesias, de preferência as de poetas francesas e dançavam valsas.
Outra forma de diversão encontrada foi o teatro. Em 1877 foi inaugurada em Cuiabá, a
sociedade Dramática “Amor e Arte”. Era uma sociedade particular que contava com 62
sócios de camarotes e 98 sócios de platéia. As peças eram encenadas com a participação
de integrantes da elite.
Mesmo com todas as mudanças ocorridas após a Guerra do Paraguai, “as autoridades
governamentais e os viajantes estrangeiros que chegavam a Província, mostravam-se
bastante perplexos com Cuiabá ao constatarem que a cidade ainda não dispunha de uma
infra-estrutura digna das metrópoles mais civilizadas, como o calçamento de ruas e passeios,
matadouro público, saneamento e limpeza de ruas e córregos, iluminação nos bairros pobres
e distritos mais afastados,água potável encanada e uma moderna cadeia publica”51
Ainda no tocante a população cuiabana, vale ressaltar, que segundo Moutinho,
cronista português que viveu em Cuiabá nesse período, as mulheres da elite ao saírem de
casa trajavam vestidos de seda, adquiridos a preços exorbitantes nas Casas de Comércio.
Essas mulheres tinham o seu cotidiano dividido entre as tarefas domesticas, o cuidado com o
marido e a educação das crianças. Iam a bailes, as festas de casamento e a Igreja.
Já as mulheres livres pobres e as escravas freqüentavam as tavernas, envolviam-se
em brigas pelas ruas e becos sendo muitas vezes detidas pelo chefe de Polícia. Eram presas
também por estarem embriagadas ou por dançarem o batuque, que era visto pelas
autoridades e pela elite local, como uma dança imoral. As mulheres livres circulavam
livremente pelas ruas e ocupavam as mais variadas atividades para manter a sua
sobrevivência.52
Concluindo esse capitulo, apresentaremos as principais características da população
da Província de Mato Grosso após a guerra e com a reabertura da bacia Platina: 1.
Predomínio da população mestiça e negra sobre a população cabocla e branca; 2. Presença
mínima de estrangeiros; 3. Predomínio da população de solteiros sobre os casados; 4.

51
Ibidem, p.17.
52
Cavalcante, A sífilis em Cuiabá, p.133.

57
Equilíbrio entre a população masculina e a feminina, embora em 1890, essa situação tenha
se alterado, a população feminina tornou-se mais numerosa.53

Capitulo 10: Quadro econômico de Mato Grosso (1870/1930)

A reabertura da bacia Platina possibilitou a integração do Mato Grosso ao capitalismo


internacional. Através da navegação fluvial, a Província exportava produtos da pecuária e do
extrativismo vegetal, e também recebia produtos industrializados. Na visão da elite mato-
grossense, a navegação da bacia Platina representava a oportunidade para a Província
superar a crise econômica.
Além da liberdade da navegação, havia outros fatores que favoreciam o
desenvolvimento econômico da Província, como por exemplo, o crescimento populacional
ocorrido a partir de 1870, a riqueza do extrativismo vegetal e a existência de terras férteis.
Assim o território de Mato Grosso se tornava um atrativo para muitos investidores.
No entanto, para estes empresários e para segmentos da elite local, o atraso da
província era justificado em função da falta de iniciativa da sua população. 54Portanto, na
visão destes segmentos sociais a solução era a importação de mão-de-obra.
A elite mato-grossense não estava solitária diante deste posicionamento, pois estas
idéias circularam também nas províncias da região sudeste. Essa postura relacionava-se a
crise do escravismo, uma vez que em conseqüência da expansão do capitalismo, o governo
imperial era cada vez mais pressionado para acabar com a escravidão.
Na segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira se dividiu com relação a
escravidão. Havia três correntes que se destacavam: os emancipacionistas, defensores de
uma extinção lenta e gradual da escravidão; os abolicionistas que propunham uma libertação
imediata e os escravistas, que defendiam o sistema escravista. Os abolicionistas pregavam a
baixa produtividade do trabalho escravo, e ainda utilizavam argumentos baseados nos
direitos naturais, isto é, de que toda pessoas tem direito à liberdade
Desta maneira, podemos assegurar que no decorrer da segunda metade do século
XIX, a escravidão centralizou os debates políticos,. e a partir de 1850, que a idéia de que o
trabalho escravo era a única forma de trabalho possível, começou a entrar em declínio.

53
Peraro, Maria Adenir, Bastardos do Império, p.94.
54
Volpato, Luiza, Cativos do Sertão, p.24.

58
Para muitos fazendeiros da região sudeste, a saída para a superação desta crise era a
importação de mão-de-obra. Essa experiência foi feita inicialmente, na década de 40, pelo
senador Vergueiro, que introduziu trabalhadores europeus em suas fazendas de café. Mas
foi somente em 1884, que o governo imperial aprovou a “imigração subsidiada”, isto e´, o
governo passou a financiar a vinda de imigrantes europeus. Anteriormente, as passagens, o
gastos de viagem eram pagas pelos fazendeiros, portanto, tornavam os imigrantes
dependentes dos proprietários de terras, o que favorecia o surgimento de conflitos.
Em Mato Grosso, a imigração foi defendida primeiramente pelo presidente da
Província, Francisco José Cardoso Junior, que em correspondência ao Ministério do Império,
argumentou que a debilidade econômica da província era resultante do desânimo da
população de Mato Grosso, e opinou que a melhor saída era a vinda de colonos.55
Entretanto, a organização da imigração em Mato Grosso, se deu de forma mais ativa,
a partir da aprovação da Lei do Ventre Livre em 1871. Assim, na década de 80, período em
que se aprofunda a crise da escravidão, se acentuou a transição do trabalho escravo para o
trabalho livre.
Em Mato Grosso a intensificação da imigração ocorreu ao final da década de 80, com
“a penetração de empresas colonizadoras privadas. Esforços imigratórios, rumo ao Mato
Grosso, tinham como alvo as populações que habitavam as repúblicas vizinhas à província,
especialmente os paraguaios.” 56
Logo, foi durante esse processo de transição do trabalho escravo para o trabalho livre,
que a província passou a exportar produtos do extrativismo vegetal e da pecuária. A seguir,
abordaremos os principais produtos da economia mato-grossense.

1. Cana -de- Açúcar

Desde o início da colonização de Mato Grosso, a cana-de-açúcar já se despontava


como um dos produtos mais importantes para a sobrevivência da população, que se
dedicava a extração do ouro. Cultivada em engenhos às margens do rio Cuiabá, em Serra
Acima e em Rio Abaixo, a produção dos engenhos visava o abastecimento de um mercado
interno.

55
APMT-Oficio do Presidente da Província de Mato Grosso, Francisco José Cardoso Júnior ao Ministro e Secretario de
Estado dos Negócios do Império. Cuiabá, 12 de Agosto de 1871.
56
Siqueira, Elizabeth Madureira, Luzes e Sombras, p.65.

59
Contudo, a partir da segunda metade do século XIX, a cana-de-açúcar se tornou um
dos principais produtos da economia mato-grossense. A importância da produção açucareira
estava associada a abertura da bacia Platina, uma vez que com a livre navegação, os
proprietários de terras passaram a importar máquinas e equipamentos para a instalação de
usinas.
As usinas estavam localizadas nas margens dos rio Cuiabá e do rio Paraguai.
Entretanto foi principalmente às margens do rio Cuiabá que se encontrava as mais
importantes. Tal fato estava relacionado, a facilidade do transporte do produto, bem como, as
vantagens ofertadas pela natureza, pois as inundações provocadas pelas águas do rio, no
período das chuvas, contribuíam para a fertilidade do solo na região ribeirinha.
O plantio da cana-de-açúcar acontecia no mês de outubro, em terras baixas e úmidas,
pois as chuvas eram ainda escassas. Em janeiro e março, período em que as chuvas eram
abundantes, o cultivo era feito nas terras mais altas.
As principais usinas de Mato Grosso(1870-1930) foram a de São Gonçalo, da
Conceição, Aricá, Flexas, Itaici, Maravilha, São Miguel, São Sebastião, Tamandaré,
localizadas às margens do rio Cuiabá, e da Ressaca, às margens do rio Paraguai. Essas
usinas contavam com modernos equipamentos para o fabrico do açúcar, alambiques
aperfeiçoados para a destilação do álcool e da aguardente.
A produção média diária destas usinas era de 2000 a 5000 KG de açúcar. Com essa
produção, as usinas produziam para atender a demanda interna e o mercado externo,
comercializando com as demais províncias brasileiras e com os países platinos.
Para manter o produtividade, além dos técnicos para o fabrico do açúcar, era
necessário a contração de trabalhadores para o cultivo da cana. Assim a alternativa
encontrada pelos usineiros foi adotar o trabalho assalariado baseado na produção. A seguir,
abordaremos as principais usinas.

A Usina da Ressaca

A usina era de propriedade de Joaquim Augusto Costa Marques, governador de Mato


Grosso, no período da república oligárquica. Estava situada em Cáceres, e a 3 Km do rio
Paraguai.
Em 1912, a sua produção chegou a 180.000 Kl de açúcar e de 90. 000 de aguardente.
Para atingir essa produção, a usina contava com um gerador de vapor composto por duas
60
caldeiras. Neste período, tanto a usina como as suas dependências eram iluminadas com luz
elétrica.57
Nas margens do rio Paraguai, a usina possuía um porto de embarque e desembarque,
com deposito para produtos e mercadorias.
Havia na propriedade uma boa casa, que hospedava o seu proprietário e convidados,
grandes depósitos, casas para os trabalhadores, oficinas de carpinteiro, de ferreiro e uma
pequena fundição de bronze.
Além da cana-de-açúcar, o proprietário plantava milho, feijão, arroz, mandioca,
banana e legumes. Criava também gado e fabricava farinha de milho e de mandioca.

Usina de Itaici

Fundada em 1897, a usina estava localizada a margem direita do rio Cuiabá, em


Santo Antonio do Leverger, e pertencia a Antonio Paes de Barros. No início do século XX, a
propriedade foi adquirida pela Almeida & Comp, cujos sócios eram o Coronel João Batista de
Almeida Filho, Amarilio de Almeida, dr. Alberto Novis, Antonio Augusto de Azambuja e João
Botocudo de Almeida.
A usina possuía maquinas modernas e poderosas, que chegavam a produzir 225
toneladas de açúcar.58 A semelhança das demais usinas, Itaici produzia aguardente e tinha a
sua produção enviada pela via fluvial ate Cuiabá e Corumbá, de onde eram enviadas para o
mercado externo.
Havia na propriedade 45 habitações para os trabalhadores, uma serraria e até uma
farmácia, que atendia os seus moradores. Possuía uma escola, que oferecia educação
primaria. Também cultivavam cereais para atender o consumo interno.

Usina da Conceição

Fundada por Joaquim Paes de Barros, ao final do século XIX, foi a primeira usina de
açúcar e de aguardente instalada em Mato Grosso. Situada a margem direita do rio Cuiabá,
um pouco acima de Santo Antonio do Leverger, a propriedade contava com matas ricas em
madeira de lei, cortada por córregos e baias.

57
Álbum Gráfico, p.273.
58
idem,p.280

61
As máquinas da usina eram originarias da Inglaterra, tinha a capacidade de produzir
até 2400 litros de álcool e 200 arrobas de açúcar em 12 horas.
Cultivavam o arroz, milho e feijão e criavam eqüinos e gado bovino.
A propriedade contava com uma serraria, com depósitos para armazenar a produção,
com casa para os trabalhadores e uma casa grande que abrigava os seus moradores.
Para transportar a cana-de-açúcar, havia carroças e embarcações.
A produção era enviada para Cuiabá e Corumbá, e através da navegação fluvial
abastecia o mercado externo.

O trabalho nas Usinas

As usinas foram instaladas ao longo do rio Cuiabá, ao final do século XIX, no


momento em que a escravidão chegava ao fim. Assim havia na região, mão-de-obra
disponível para as usinas. Entretanto, os usineiros reclamavam da disponibilidade de
trabalhadores, alegando que a escassez de mão-de-obra causava danos a produção.
Essa falta de braços para o trabalho estava relacionada a vastidão de terras e a
possibilidade da caça e da pesca para sobrevivência. No entanto, a partir da segunda
metade do século XX, os homens pobres foram compelidos ao trabalho assalariado, pois a
ocupação das terras para o cultivo do açúcar e para a pecuária, expulsou a população mais
pobre das áreas próximas aos centros urbanos, e além disso, surgiram proibições legais
sobre a pesca no rio Cuiabá, nas proximidades da cidade.59
As usinas dispunham de mão-de-obra fixa, mas no período de safra, o usineiro
contratava mais trabalhadores temporários.
Os camaradas (trabalhadores das usinas) residiam nas usinas e cuidavam desde do
cultivo da cana-de-açúcar até a produção do açúcar. Estes trabalhadores eram
demasiadamente explorados, tinha uma jornada de trabalho extenuante, que se iniciava à
meia noite e ia até as seis da tarde.
Além disso, o trabalhador era espoliado pelo usineiro através do “sistema de
caderneta”. Os empregados eram obrigados a consumir os produtos comercializados na
venda da usina, que eram vendidos a preços exorbitantes. Os produtos comprados eram

59
Aleixo, Lucia Helena Gaeta, Vozes no silêncio, p. 181.

62
anotados na caderneta, porém o empregado não conseguia saldar as dívidas e desta
maneira, estava endividado e preso ao usineiro.
Os trabalhadores eram tratados como escravos, e quando resistiam a dominação,
desobedeciam os capatazes ou tentavam fugir eram severamente castigados no tronco e a
seguir trancados em solitárias.
O depoimento abaixo de um camarada da Usina de Aricá, demonstra a dor, o
sofrimento e a impotência dos trabalhadores com relação aos mal-tratos dos patrões;

“A usina deu trabalho, deu vida pro pobre que não tinha comida.
Aí o homem virava bicho, só fazia geme e chora, para come tinha que inté suá
sangue. Tinha coroné que ajudava a gente, aguns era mardito, ruim, mandava bate e mata
tudo aqueles que não queria fica na usina pra trabalha. Nós pobre, sem nada pra vive, calava
com as morte, trabalhava, não tinha voz naquele silenço que defendesse nós. Delegado de
policia nem pensa, era afilhado ou coroné e nós trabalhava quieto, comia quieto, morria
quieto.”60

Desta foram, para controlar e disciplinar os trabalhadores, os usineiros contavam com


tropas de homens armados. Durante o período republicano, a autoridade e o poder do
usineiro ia além da sua propriedade. Os usineiros eram detentores de força política,
chegando inclusive a nomear os delegados de polícia, que contribuíam para a preservação
do poder destes coronéis. Desta forma, os trabalhadores sentiam vigiados e submetidos as
ordens e aos desmandos dos usineiros.
O poder dos usineiros (coronéis) começou a dar sinais de declínio a partir de 1930,
com a ascensão de Vargas à presidência da República. Getulio Vargas deu inicio a uma
política de combate ao coronelismo, através da ação dos interventores federais. Para Mato
Grosso, o governo Vargas nomeou Mena Gonçalves, que combateu o regime de escravidão
existente nas usinas.
No entanto em Mato Grosso, esse poder iria se estender pelas décadas seguintes e
daria evidências de sua decadência somente quando os segmentos sociais conseguiram se
organizar em sindicatos, associações ou federações, lutando pelos seus direitos e contra o
jugo dos coronéis.61

60
Apud, Aleixo, Lucia, Vozes do Silencio, p164, 165.
61
Madureira, Elizabeth Siqueira, O Processo Histórico de Mato Grosso, p.38.

63
2. Poaia, Ipeca ou Ipecacuanha

A poaia, conhecida cientificamente como Cephaeles Ipecacuanha, é um arvoredo


encontrado no oeste de Mato Grosso, mais precisamente nas bacias do rio Paraguai e
Guaporé, cuja raiz é utilizada para fins medicinais.
A raiz da poaia é rica em emetina, uma substância capaz de tratar de algumas
enfermidades do aparelho digestivo e do aparelho respiratório.
Desde o século XVIII, os europeus já demonstravam o seu interesse pela poaia,
entretanto, foi somente a partir da segunda metade do século XIX, devido a expansão
industrial na Europa e conseqüentemente o aparecimento da industria farmacêutica, que a
poaia passou a ser extraída em larga escala.
No século XX, na década de 40, período em que o governo Vargas patrocinou o
desenvolvimento industrial do país, a poaia passou também a atender a demanda interna.
A exploração da poaia era feita em matas fechadas, que eram arrendadas a empresas
de capital nacional e até mesmo a empresas de capital estrangeiro.
No meio da área arrendada, era construída barracões para serem guardados os
mantimentos, como as ferramentas de trabalho. Havia também ranchos, edificados para
abrigar os trabalhadores.
Os trabalhadores eram contratados para fazerem a extração da poaia. O contrato de
trabalho era temporário, e ganhavam o seu salário baseado na produtividade.
Trabalhavam somente no período das chuvas, e quando chegava a seca, o
trabalhador tinha que buscar outra alternativa de subsistência. A saída de muitos deles era ir
para Cáceres se empregar nas fazendas de gado.
A labuta era muito cansativa, pois o ritmo de trabalho era de 10 a 12 horas diárias.
Acordavam bem cedo, antes dos primeiros raios de sol, faziam a primeira refeição e
entravam na mata. Voltavam ao rancho somente ao final da tarde carregando em uma
mochila de couro, a poaia extraída durante o dia.
Ao regressar secavam a poaia, e preparavam o seu alimento para o jantar e a refeição
para o dia seguinte.
Depois de extraída e em sacada, a poaia era transportada, em lombos de animais até
os rios, e através da navegação pela bacia Platina, a ipeca ia abastecer o mercado externo,
e posteriormente (século XX), o mercado interno.
64
3. Erva- Mate

A erva mate (Ilex Paraguaiensis) tornou-se em um dos produtos mais importante para
a economia de Mato Grosso, ao final do século XIX.
Os ervais eram encontrados ao sul de Mato Grosso, nas áreas limitadas pelos rios
Sete Voltas, Onças, Brilhante, Ivinhena, Paraná, Serras do Maracaju e Amambahy.
Em 1878, Thomas Laranjeira arrendou terras ricas em ervais para extrair a erva-mate.
O interesse e a procura pela erva-mate cresceu neste período, uma vez que os médicos em
seus congressos defendiam que a erva-mate era um excelente digestivo e poderoso como
afrodisíaco. Assim Thomas Laranjeira ao ganhar a concessão das terras ao sul do Estado,
fundou a Companhia Mate Laranjeira.
Thomas Laranjeira para fundar essa empresa contou com a participação do Banco Rio
e Mato Grosso. Além disso, Thomas Laranjeira tinha como acionista, Joaquim Murtinho.
Joaquim Murtinho era um médico renomado, político de grande expressão nacional, e
durante a republica oligárquica chegou a ocupar o ministério da Fazenda, do Governo de
Campos Sales. Durante a sua gestão, Joaquim Murtinho tomou medidas para desenvolver
um rigoroso programa deflacionário. Essas medidas tornaram a balança comercial positiva, o
câmbio elevou-se e a balança de pagamentos alcançou o seu superávit, entretanto, as
conseqüências sociais e econômicas internas foram negativas, pois a quantidade de dinheiro
em circulação foi drasticamente reduzida, gerando a carestia, o desemprego e a elevação
dos produtos de primeira necessidade. A deflação arrasou o comércio e o credito bancário e
as falências sucederam. Foi neste momento que ocorreu a falência do Banco Rio e Mato
Grosso, a maior acionista da Mate Laranjeira.
Com a falência em 1902, o Banco Rio e Mato Grosso colocou a venda as suas ações,
que foram adquiridas por Thomas Laranjeira e pelo empresário argentino Francisco Mendes.
Desta maneira, a empresa mudou a sua razão social passando a se denominar, Laranjeira,
Mendes& Companhia.
Thomas Laranjeira ficou encarregado de cuidar da extração do mate no sul de Mato
Grosso, enquanto Francisco Mendes da sua industrialização em Buenos Aires. Na Argentina
o mate era beneficiado, isto é, as folhas e galhos eram reduzidos a pó e a seguir enviadas
para o mercado consumidor.

65
A Laranjeira e Mendes tornou-se uma grande empresa chegando a ter uma renda seis
vezes mais que o Estado de Mato Grosso.62 A empresa tinha a seu serviço em media três mil
trabalhadores, sendo a maioria deles de paraguaios. Contava com o patrimônio de 500
carretas, 30 chatas, lanchas a vapor, muares, estradas de rodagem, pontes, 2 linhas
Decauville com mais de 70 quilômetros de extensão.63
A empresa controlava a extração e a produção do mate, monopolizando as terras no
sul de Mato Grosso. No entanto, na década de 30, do século XX, ocorreu a falência da
Laranjeira, Mendes & Companhia..
A sua derrocada estava relacionada às diretrizes tomadas pelo governo de Vargas. O
governo federal estimulou a industrialização da erva-mate, em Santa Catarina e no Paraná, e
para isso beneficiou a extração feita pelos pequenos produtores. E para estimular mais ainda
a produção do mate na região sul, o governo federal criou em 1938, o Instituto Nacional do
Mate.
Para piorar mais ainda a situação da Laranjeira e Mendes, o seu maior comprador, a
Argentina, passou a produzir o mate nas províncias de Missiones e Corrientes.

O Trabalho e a produção do Mate

Como já foi mencionado, para a extração do mate, Thomas Laranjeira preferia para
trabalhar nos ervais da empresa os paraguaios. Essa preferência estava associada, ao fim
da Guerra do Paraguai, pois uma das seqüelas deste conflito armado foi à migração dos
paraguaios para o Mato Grosso. Com a economia debilitada, muitos paraguaios vinham
buscar a sua sobrevivência em Mato Grosso, sujeitando-se a trabalhar por um mísero
salário.
Esses paraguaios empregados na extração do mate eram chamados de mineros.
Recebiam seus salários de acordo com a sua produção. Entretanto ao receber os seus
salários viam-se em dívida com a empresa, pois os seus alimentos, vestimentas eram
compradas no armazém da empresa. Esse situação provocava descontentamentos e para
evitar a resistência dos trabalhadores, a empresa contava como uma força paramilitar
denominada de comitiveros.

62
Siqueira, Elizabeth Madureira, O Processo Histórico, p.48.
63
Álbum Gráfico, p 255.

66
O trabalho consistia na poda de um pequeno arvoredo que raramente excede a 1,50
metros de altura. Os galhos eram cortados e transportados pelos trabalhadores aos ranchos
do acampamento, aonde eram torrados em fogo brando. A seguir eram ensacados e
transportados em navios a vapor até Buenos Aires. Anteriormente o transporte era feito em
chalanas (pequenas embarcações), em carretas puxadas por bois através de uma via férrea
de 25 km de extensão ligando Porto Murtinho à Serra de São Roque.
A extração do mate acontecia nos meses de janeiro a agosto, no restante do ano
eram para a florescência das árvores.

4. Borracha

A borracha é o produto extraído de árvores como a mangabeira, a maniçoba, a


castilloa, a funtumia, a fícus e a Hevea.
Os espanhóis foram os primeiros europeus a entrar em contato com a borracha. Ao
chegarem na América, constaram que os nativos das Antilhas e do México a utilizavam.
Porém o primeiro registro deste produto do extrativismo vegetal foi feito por Gonzalo
Fernandes d‟Oviedo y Valdas, em sua obra Historia Geral das Indias . Nesta obra, o
espanhol registrou que os índios utilizavam a borracha para fazer uma bola para jogar um
jogo chamado por eles de Batey.64
Em 1731, a Academia de Paris organizou duas expedições comandadas pó
Lacondamine e Bougier, que se seguiu para o Equador. Ao chegar em Quito, os viajantes
colheram algumas mostras do látex e enviaram para a França. Informaram também a
existência da borracha no rio Amazonas, e que os índios Mainas a usavam para confeccionar
as suas botas.
O interesse pela borracha, contudo, se daria a partir de 1840, quando Goodyear
descobriu como fazer a vulcanização da borracha. Assim deu inicio a corrida pelo látex,
encontrado nos rios da bacia Amazônica e em Mato Grosso, nos rios que compõem a bacia
Platina.
Em Mato Grosso, a extração da borracha aconteceu após a Guerra do Paraguai, era
extraído principalmente das mangabeiras, e foi iniciada pelo Major José Vieira Coqueiro.

64
Álbum Gráfico, p. 248.

67
A industria extrativista trabalhava na sua extração nos municípios de Santo Antonio do
Rio Madeira, nos rios Machado, Jamary, Jacy-Paraná, Mutum-Paraná, Paca Nova e Guaporé
e seus afluentes, no rio Madeira, até quase todo o município de Diamantino. 65
A borracha extraída de Mato Grosso abastecia o mercado interno e o mercado
externo, e para isso o escoamento era realizado através da bacia Platina.. No início do
século XX, o governo brasileiro investiu na construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré,
para escoar a borracha até o porto de Manaus, entretanto, devido as dificuldades
encontradas para a construção da ferrovia, o projeto não foi finalizado.
O interesse pela borracha ao final do século XIX, provocou uma intensa migração para
Mato Grosso e Amazônia. Os migrantes vinham em busca de trabalho, eram provenientes
principalmente do nordeste, que naquele período era assolado por uma terrível seca.
Esses migrantes geralmente saíam do nordeste contratados pelos seringueiros.
Tinham a sua passagem financiada pelos produtores de borracha, com isso chegavam
devendo e subordinados ao seringueiro.
Ao chegarem ao local de trabalho recebiam do seringalista dinheiro para a aquisição
de ferramentas de trabalho e de alimentos, aumentando mais ainda a sua dependência ao
patrão.
Ao chegarem a zona de extração do látex, os trabalhadores abriam caminhos dentro
da mata, recebiam as árvores, dando a seguir início a extração. Para obter o látex faziam um
corte no tronco da árvore, colocavam uma caneca amarrada a árvore. Depois de executar
essa atividade, o trabalhador retornava recolhendo todo o látex. A próxima etapa da
produção era a coagulação do látex. Para realizá-la, era usado o alumen, um produto
químico que provoca o aquecimento do produto permitindo a confecção de bolas. Essas
bolas eram enviadas para o mercado externo.
A extração do látex acontecia somente no período das secas, pois as chuvas
tornavam difícil o processo de coagulação. No período das chuvas, o trabalhador não podia
sair das áreas de extração, ficando aguardando a seca, consumindo os produtos do
armazém do patrão e se endividando mais ainda.
O trabalhador recebia de acordo com a sua produção, assim ao final do dia ao
regressar ao acampamento, a sua produção era anotada em uma caderneta, e ao final do
mês recebia o seu salário. Ao acertar o salário, o trabalhador praticamente nada tinha a

65
Idem, p. 248.

68
receber, pois tinha que pagar ao patrão as despesas feitas em seu armazém. Muitos destes
trabalhadores inconformados com essa exploração fugiam, porém eram perseguidos pelos
capangas dos seringalistas.

5. Pecuária

A pecuária contribuiu para o processo de colonização de Mato Grosso. Inicialmente


essa atividade econômica se desenvolveu como uma economia complementar à mineração.
As primeiras fazendas de criação de gado surgiram em Chapada dos Guimarães
(Serra Acima) e abasteciam as minas de Cuiabá. Posteriormente a criação de gado se
estendeu a outras regiões da Capitania de Mato Grosso, como o Pantanal, a São Pedro d‟El
Rey (Poconé) e a Vila Maria de Cáceres (Cáceres).
A criação do gado era extensiva, isto é, solto nos pastos e destinados para o corte.
Nas fazendas, o gado era cuidado por homens livres pobres, que recebiam salário. Os
escravos ficavam incumbidos de cuidar das tarefas domésticas na casa grande e nas roças
de subsistência.
Na segunda metade do século XIX, com a abertura da Bacia Platina, a pecuária foi
beneficiada, pois através da navegação fluvial, a Província exportava para os países platinos
e para as demais províncias brasileiras o charque, o caldo de carne, o couro, a crina e o
sebo.
A produção do charque atendia também ao mercado interno, pois a carne consistia em
um dos produtos mais apreciados pela população de Mato Grosso. Contudo, os médicos e
as autoridades governamentais viam com desconfiança essa preferência, pois a inexistência
de um matadouro ameaçava a saúde da população, pois o gado era abatido em péssimas
condições de higiene. As autoridades alertavam para a prática de trancar o gado nos currais,
pois sem água e sem pasto, eram enviados ao abate sem nenhuma inspeção sanitária. 66
Assim alertados sobre o perigo do consumo da carne, a saída da população era o consumo
da charque.
No entanto foi somente no início do século XX, com a construção da Estrada de Ferro
Noroeste do Brasil, que a atividade da pecuária passou a ser significativa para a economia
mato-grossense. A estrada de ferro ligava o sul de Mato Grosso a cidade de Bauru, no

66
Cavalcante, Else Dias de Araújo, A sífilis em Cuiabá, p.70.

69
Estado de São Paulo. Através dela, o gado era transportado para engorda em São Paulo,
aonde era abatido e beneficiado. A estrada de ferro acabou ainda estimulando a pecuária no
sul do Estado.
A criação do gado favoreceu o desenvolvimento da indústria do charque. Umas das
mais significativas foi Descalvado instalada as margens do rio Paraguai, em Cáceres. A
charqueada foi construída com capital estrangeiro, e pertencia ao argentino Rafael Del Sar,
que mais tarde a vendeu para uma companhia belga. Posteriormente, Descalvado foi
comprada pela Brazil Land& Castle Packing Co, associada ao Sindicato Facquhr, da
Alemanha.
Além deste saleiro, Mato Grosso contou com o Saladeiro Miranda, de propriedade da
empresa de Montevidéu Deambrosio, Legrand & Cia, do Saladeiro Tereré, nas proximidades
de Porto Murtinho e o Saladeiro do Barranco Branco, também perto de Porto Murtinho. 67

O quadro abaixo apresenta os principais saladeiros de Mato Grosso:


Bagoari, Corumbá e Rebojo Corumbá
Barranco Branco, Mato Grosso Porto Murtinho
Alegre Coxim
São João Poconé
Cuiabá Cuiabá
Pedra Branca Miranda
Aquidauna Aquidauana
Campo Grande, Rio Pardo e Esperança Campo Grande
Serrinha Três Lagoas
Fonte: Borges(2001) Apud: Siqueira, Elizabeth, Historia de Mato Grosso, p. 119.

Capitulo 11: Transição do Trabalho Escravo para o Trabalho Livre em Mato Grosso

67
Álbum Gráfico, p.293.

70
Na segunda metade do século XIX, a economia cafeeira estava em franca expansão,
favorecendo a industrialização, que acarretou o crescimento desorganizado de cidades como
São Paulo e o Rio de Janeiro.
Neste período, muitos imigrantes europeus chegaram ao Brasil atraídos pelo sonho de
enriquecimento, de fazer a América. Vieram trabalhar nas fazendas de café, aonde eram
extremamente explorados e logo perceberam que o sonho de enriquecimento estava
bastante distante, pois o acesso a terra tornou-se mais difícil com a promulgação da Lei de
Terras(1850), que estabeleceu que as terras devolutas deviam ir a leilão. Assim a
propriedade da terra tornou-se inacessível ao homem pobre do campo.
Cansados da exploração dos fazendeiros, muitos imigrantes foram para São Paulo
trabalhar nas fábricas engrossando as fileiras dos moradores dos cortiços. Essas moradias
abrigavam os setores sociais marginalizados, que viviam amontoados em péssimas
condições de higiene.
As transformações econômicas e sociais exigiam mudanças nas relações de
produção, provocando uma crise do sistema escravista. Desta maneira, o governo imperial
preocupou-se em atender os diferentes posicionamentos sobre a extinção da escravidão.
Havia aqueles que eram partidários de um fim de escravidão lenta e gradual, outros
advogavam a libertação imediata e ainda havia aqueles que defendiam a sua manutenção.
Além disso, a Inglaterra interessada na expansão do mercado consumidor, pressionava o
governo imperial para finalizar o tráfico de escravos intercontinental.
Diante destas pressões, o governo imperial interessado em atender aos diferentes
interesses, iniciou a promulgação das leis abolicionistas. Em 1850, foi aprovada a Lei
Eusébio de Queiroz, que estabeleceu o fim do tráfico de escravos, contudo foi somente em
1888, com a assinatura da Lei Áúrea que a escravidão chegou ao fim. Essas alterações
ocorridas na região sudeste acabaram repercutindo na Província de Mato Grosso.
Em Mato Grosso, a aprovação da lei Eusébio de Queiroz não trouxe transformações
sensíveis, uma vez que o número de escravos existente na província era suficiente. Além
disso, a economia extrativista da poaia, da erva-mate e da borracha, devido as suas
particularidades, optou pelo trabalho do homem livre. Assim os escravos existentes eram
absorvidos na economia açucareira.
Para garantir o suprimento de mão-de-obra para os produtores de açúcar foi
necessário apelar para o trafico interprovincial de escravos. O surgimento do tráfico interno
71
de escravos estava relacionado a proibição do tráfico intercontinental, pois com o fim do
abastecimento de escravos, as províncias do nordeste passaram a abastecer as demais
províncias brasileiras, solucionado o problema da falta de mão-de-obra.
Em Mato Grosso, o governo para assegurar a mão-de-obra escrava aos produtores de
açucar chegou a estabelecer uma taxa de 30% sobre cada escravo que fosse vendido a
outra província.68
A Lei Eusébio de Queiroz favoreceu para que muitos escravos utilizados no serviço
doméstico em Cuiabá fosse transferido para a lavoura canavieira. Desta forma, em 1868-
1869, ocorreu a diminuição do número de escravos urbanos em Cuiabá. A diminuição da
quantidade de escravos na capital da Província foi ocasionada pela epidemia de varíola (
1867), que dizimou muitos escravos, pela Guerra do Paraguai, uma vez que muitos escravos
foram enviados aos campos de batalha, pelo deslocamento de escravos domésticos para a
economia açucareiro em expansão, pela abolição do trafico negreiro e posteriormente as
demais leis abolicionistas acabaram dificultando mais ainda a aquisição de escravos. 69
No tocante as atividades urbanas, os escravos além de trabalharem nos serviços
domésticos, eram encontrados trabalhando como carpinteiros, oleiros, sapateiros, dentre
outras funções. Pelas ruas de Cuiabá, os escravos podiam ser vistos no comércio
ambulante, negociando mercadorias que eram vendidas para manter a sua sobrevivência ou
adquirir a sua carta de alforria.
Com a abolição do trafico, o preço do escravo aumentou e as fugas tornaram-se mais
freqüentes. Os jornais que circulavam na província noticiavam as fugas, dando detalhes
físicos do escravo fujão e prometendo recompensa e prêmios. A exemplo, temos o anúncio
abaixo:

Gritada-se com a quantia de 150 $ 000 a quem capturar os escravos Modesto e


70
Zeferino, pertencentes ao senhor Urbano José de Arruda...

Em 1871 com a aprovação da Lei do Ventre Livre, o governo imperial determinou a


liberdade para as crianças nascidas na escravidão. Porém essa lei foi pouco cumprida, pois

68
ALEIXO, Lúcia Helena, Mato Grosso-Trabalho escravo e trablho livre, p.48.
69
Idem, p.50.
70
APMT-Provincia de Mato Grosso, 18/09/1881.

72
os proprietários de escravos alteravam as datas de nascimento e evitavam batizar as
crianças, para impedir a execução da lei.
Em 1885, a Lei Saraiva Cotegipe ou dos Sexagenários, que concedeu a liberdade aos
negros idosos, não promoveu também muitas alterações, uma vez que muitos escravos
faleciam antes de conseguir usufruir dos seus direitos. De acordo com o Relatório da
Agricultura, em 1888, na Província de Mato Grosso havia somente 20 sexagenários
libertos.71
Entretanto, é importante salientar, que os idosos alforriados preferiam continuar a viver
nas fazendas dos seus antigos donos, pois não possuíam terra no campo e nem uma
profissão qualificada para irem para a cidade.
Paralelamente as leis abolicionistas, ocorreu em Mato Grosso, o surgimento de
Sociedades de Emancipação. Essas sociedades sobreviviam com muitas dificuldades
financeiras, pouco podendo fazer pelo fim da escravidão. Porém, os escravos libertados
pelas sociedades de emancipação continuavam sob a tutela de seus antigos proprietários.
Durante a crise do escravismo, as cartas de alforria tornaram-se bastante corriqueiras,
entretanto favoreciam principalmente as mulheres e as crianças, pois os escravos do sexo
masculino eram imprescindíveis nas atividades econômicas. A seguir apresentamos abaixo
um exemplo de carta de alforria

Por esta que vai por mim feita e assinada concebo liberdade a minha escrava Isabel
pelos bons serviços que prestou-me durante pouco tempo que esta em meu poder, pois
quando a comprei foi mesmo para fazer-lhe este ato caritativo. Espero que como prometo
não seria desconhecida a este beneficio e continuara a morarem minha casa e servir-me
sito que não tenho quem me sirva sem constrangimento. Cuiabá, 19 de marco de 1880.72

Concluindo podemos afirmar que o abolicionismo atingiu a Província de Mato Grosso,


entretanto, nesse período a economia da Província já estava sustentada na mão-de-obra
livre, logo a crise do escravismo não abalou a economia mato-grossense.

Presidentes da Província de Mato Grosso

71
ALEIXO, Lucia Helena, p.85.
72
Ministerio da Cultura- Como se de ventre livre nascido fosse, p.33.

73
Período Nome

1825-1828: José Saturnino da Costa Pereira.


1828-1830:Jerônimo Joaquim Nunes.
1830-1831: André Gaudie Ley.
1831-1833: Antonio Correa da Costa.
1833: André Gaudie Ley
1833:1834: Antonio Correa da Costa.
1834:José de Melo Vasconcelos
1834: Joao Poupino Caldas
1834-1836: Antonio Pedro de Alencastro
1836: Antonio Correa da Costa.
1836:Antonio José da Silva
1836-1838: José Antonio Pimenta Bueno.
1838:José da Silva Guimarães.
1838-1840: Estevão Ribeiro de Resende.
1840: Antonio Correa da Costa.
1840-1842: José da Silva Guimarães.
1842-1843: Antonio Correa da Costa.
1843: José da Silva Guimarães.
1843: Manuel Alves Ribeiro.
1843: José Mariano de Campos.
1843-1844: Zeferino Pimentel Moreira Freire.
1844-1847: Ricardo José Gomes Jardim
1847-1848:João Crispiano Soares.
1848: Manuel Alves Ribeiro
1848: Antonio Nunes da Cunha.
1848-1849: Joaquim José de Oliveira.
1849-1851: João José da Costa Pimentel.
1851-1857: Augusto Leverger.
1857-1858: Albano de Souza Osório.

74
1858-1859: Joaquim Raimundo Delamare.
1859-1862: Antonio Pedro de Alencastro.
1862-1863:Herculano Ferreira Pena.
1863: Augusto Leverger.
1863-1865: Alexandre Manuel Albino de Carvalho.
1865-1866: Augusto Leverger.
1866-1867: Albano de Souza Osório.
1867-1868: José Vieira Couto de Magalhães.
1868: João Batista de Olivieria.
1868: Albano de Souza Osório.
1868-1869: José Antonio Murtinho.
1869-1870: Augusto Leverger.
1870: Luís da Silva Prado.
1870: Antonio de Cerqueira Caldas.
1870-1871: Francisco Antonio Raposo.
1871: Antonio de Cerqueira Caldas.
1871-1872: Francisco José Cardoso Júnior.
1872-1874: José de Miranda Reis.
1874-1875: Antonio de Cerqueira Caldas.
1875-1878: Hermes Ernesto da Fonseca.
1878: João Batista de Oliveira.
1878-1879: João José Pedrosa.
1879-1881: Rufino Enéas Gustavo Falcão.
1881: José Leite Galvão.
1881-1883: José Maria de Alencastro.
1883: José Leite Falcão.
1883-1884:Manuel de Almeida Gama Lobo D‟Eça.
1884-1885: Floriano Peixoto.
1885: José Joaquim Ramos Ferreira.
1885-1886: Joaquim Galdino Pimentel.
1886: Antonio Augusto Ramiro de Carvalho.

75
1886-1887: Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis.
1887: Antonio augusto Ramiro de Carvalho.
1887: José Joaquim Ramos Ferreira.
1887-1889: Francisco Rafael de Melo Rego.
1889: Antonio Herculano de Souza Bandeira.
1889: Manuel José Murtinho.
1889: Ernesto Augusto Cunha Matos.

Atividades

1)(UFMT) Em relação a Mato Grosso, no contexto da independência do Brasil, julgue os


itens:
( ) Ocorria mudança do eixo econômico, Vila Bela para Cuiabá, em função da decadência
da mineração e da incrementação das atividades agropecuárias e comerciais.
( ) A população distribuia-se de forma heterogênea com maior concentração na região
central, onde se localizava Cuiabá, principal centro urbano, embora em 1822, não fosse a
capital.
( ) A disputa pela localização da capital, envolvendo Cuiabá e Vila Bela da Santíssima
Trindade, na realidade colocava em campos opostos a oligarquia do norte cujo poder
centrava-se em mãos doas altos funcionários, burocratas, e a oligarquia do sul com base nos
latifundiários pantaneiros.
( ) As dificuldades financeiras vivenciadas na Capitania que, além de periférica, passava
pela diminuição da produção aurífera, foram agravadas pelos gastos excessivos de
Capitães-generais com festas e ostentações que lhes garantiam popularidade entre a elite.

2)(UFMT) Em relação à extinção do trafico negreiro, aprovada pelo império Brasileiro em


1850, julgue os ítens:
( ) O fim do trafico não comprometeu o sistema compulsório de mão-de-obra porque a taxa
positiva de crescimento vegetativo da população escrava satisfez em grande parte a
demanda.

76
( ) A utilização da mão-de-obra livre nacional e a aquisição de escravos do Centro-Oeste
decadente foram soluções adotadas pela política imperial para a falta de braços na lavoura
cafeeira.
( ) A lei de Terras, aprovada em 1850, determinou que as terras públicas passassem a ser
vendidas e foi um mecanismo para dificultar o acesso `a propriedade de terras por parte de
futuros imigrantes.
( ) A reorientação de capitais antes utilizados na importação de escravos dinamizou a
economia brasileira, dando origem a bancos, industrias e empresas de navegação.

3) (UFMT) Considerando o contexto de euforia vivido na Província de Mato Grosso após o


termino da guerra contra o Paraguai em 1870, julgue os itens:

( ) A abertura da navegação pelo rio Paraguai estimulou as atividades produtivas e as


Casas Comerciais passaram a acumular lucros com a importação e a exportação de
mercadorias.
( ) A existência de inúmeros engenhos em Mato Grosso, especialmente ao longo do rio
Cuiabá e em Chapada dos Guimarães, propiciou a montagem de usinas de açúcar,
evidenciando o desejo de modernização da produção.
( ) A extração da erva mate, que tinha por base a mão-de-obra escrava representou uma
exceção nesse contexto, pois entrou em decadência devido à concorrência européia que,
graças à produtividade da mão-de-obra assalariada oferecia melhores preços no mercado
internacional.
( ) A poaia ou ipecacuanha, planta nativa das matas localizadas entre Cáceres e Chapada
dos Guimarães, era utilizada pelos índios para cura de várias doenças e teve um significativo
papel nas exportações para a Europa, onde foi pesquisada e utilizada na fabricação de
remédios.

4) (UFMT) A rusga foi um movimento social ocorrido em Mato Grosso no ano de 1834, que
contou com a participação de diferentes camadas da sociedade mato-grossense.( Elizabeth
Madureira Siqueira. O processo histórico de Mato Grosso. Cuiabá, 1990, p. 107)
Os itens desta questão têm relação com o contexto citado. Julgue-os colocando V ou F.
( ) A luta entre os dois grupos dominantes, um liberal e outro conservador, tinha como razão
a disputa pelo poder político.
77
( ) A decadência da produção do ouro e o sistema de cobrança do quinto, devido à Coroa,
contribui para a eclosão do movimento.
( ) A exigência de maior autonomia regional, em relação ao governo central, foi uma das
características desta revolta.
( ) A expulsão dos portugueses e outros estrangeiros, fazia parte dos programas dos
revoltosos.

5)( UFMT) Em Mato Grosso, no final do século XIX, as usinas de açúcar proliferaram
principalmente ao lado do rio Cuiabá, na região de Santo Antonio do Leverger. A este
respeito julgue os itens abaixo:
( ) A mais famosa usina foi do Itaici, de propriedade do político mato-grossense Antonio
Paes de Barros, vulgo Totó Paes.
( ) A importância das usinas estava ligada ao fato de que os proprietários, intitulados
“coronéis” controlavam o voto dos trabalhadores e formavam redutos eleitorais.
( ) A produção açucareira das usinas de Mato Grosso alcançou índices elevados e teve um
papel significativo na exportação regional.
( ) Na importação das usinas açucareiras as relações de trabalho modernizaram-se ao
ponto de antecipar os direitos trabalhistas que no restante do Brasil somente seriam
oficializados com a Consolidação das Leis Trabalhistas( CLT).

6) Em meados do século XIX, finalmente se abriu a navegação pelo rio Paraguai, fato que
facilitou sobremaneira os transportes e a comunicação para a Província de Mato Grosso. O
novo trajeto tinha o Cuiabá e o Paraguai como os principais rios” (Silva, Edil Pedroso. O
cotidiano dos viajantes nos caminhos fluviais de Mato Grosso, p.23 ).
Em 1865 com o inicio da Guerra da Tríplice Aliança, a bacia Platina se tornou o palco da
Guerra. Sobre a Guerra do Paraguai, assinale a alternativa incorreta.
a)Com a invasão de Corumbá, a população da Província de Mato Grosso se sentiu bastante
insegura.
b)O conflito provocou o aumento exorbitante dos gêneros alimentícios, e dentre estes o
maior aumento recaiu sobre o sal.
c)Essa guerra interessava ao capitalismo inglês, pois o desenvolvimento independente do
Paraguai preocupava a Inglaterra.
d)Há muitas divergências na historiografia brasileira com relação as reais causas da Guerra.
78
e)Uma das seqüelas trazidas pela guerra para a Província de Mato Grosso foi a Cólera, que
acabou exterminado parte significativa da sua população e apesar do cordão sanitário
organizado pelo governo imperial o mal se propagou por Cuiabá.

7) Os conflitos envolvendo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai no século XIX, tinham como
causa principal:
a) disputas pelo controle da bacia do Rio da Prata;
b) a disputa pela indústria paraguaia;
c) as disputas entre liberais e conservadores;
d) a abolição da escravidão;
e)estabelecer os limites territoriais, respeitando o Tratado de Madri.

8) Sobre a Rusga, julgue os itens abaixo:


( ) Ocorrida no 1º reinado, representou uma disputa política local entre os Conservadores e
Liberais.
( ) Os Conservadores eram representados nesse período pela Sociedade dos Zelosos da
independência.
( ) Ocasionou apenas a transferência do poder político das mãos dos liberais para
conservadores que mantiveram a mesma ordem sócio-econômica na região.
( ) Esteve inserido no contexto dessa revolta social um forte sentimento de aversão aos
estrangeiros (xenofobia), representado pelas perseguições aos comerciantes portugueses
(bicudos).
(...) A Rusga contou com a participação dos soldados da Guarda Nacional.

9) Em 1834, no momento que eclodiu a Rusga, o presidente da província de Mato Grosso


era:
a)José Jacinto de Carvalho.
b)Pascoal Moreira Cabral.
c)João Poupino Caldas.
d)) Bento Xavier.
e)Caetano Montenegro.

79
10) O Tratado de Aliança, Comércio, Navegação assinado em 1856, entre o Brasil e o
Paraguai, permitia;
a)o livre comercio entre os paises.
b)a tomada da área parcial do Paraguai.
c)a prisão de Solono Lopez.
d) a navegação pelo rio Paraguai.
e) a navegação pelo rio Uruguai.

11) “Em 1 de julho de 1867 chegou a Cuiabá um vapor proveniente de Corumbá que trazia a
bordo um soldado contaminado pela varíola. As pessoas que estiveram em contato com ele
logo caíram doentes. O mal se espalhou rapidamente pela cidade atingindo do Porto Geral
ao Mundéu”. (Cavalcante, Else. Imagens de uma epidemia, p.11).
A citação acima faz alusão a epidemia de varíola que atingiu a cidade de Cuiabá, na
segunda metade do século XIX. A respeito deste contexto histórico, é incorreto afirmar que:
a)A epidemia aconteceu no período da Guerra do Paraguai.
b) Para conter o surto epidêmico, o governo provincial construiu o cemitério de Nossa
Senhora do Carmo.
c) A solução mais efetiva tomada pelas autoridades governamentais foi a aprovação da Lei
da Vacinação Obrigatória.
d) A epidemia não ficou restrita a Cuiabá, mas se alastrou por outras localidades.
e) No decorrer do século XIX, o país foi assolado por diversas epidemias. Estas se
proliferaram em conseqüência da falta de higiene da população assim como da falta de um
saneamento básico nas cidades brasileiras.

12) Durante o período regencial, Cuiabá e suas imediações foi palco de um movimento social
denominado de Rusga. A respeito deste movimento social é incorreto afirmar que:
a)Teve como uma de suas causas a luta política entre os liberais e os conservadores.
b) Havia no partido liberal duas facções: os liberais moderados e os liberais exaltados.
c) Os conservadores ou caramurus eram os representantes da elite nativa, e tinham uma
profunda aversão aos portugueses e aos demais estrangeiros.
d) Os liberais faziam as suas reuniões na Sociedade Zelosos da Independência.
e) Um dos lideres do movimento foi João Poupino Caldas e Patrício Manso.

80
13) no inicio do ano de 1834, o Partido Conservador estava no poder, e garantiam os
privilégios dos portugueses, principalmente dos ricos comerciantes. A importância dada a
esse grupo social acabou provocando descontentamentos, que por sua vez acabaram
provocando a Rusga. Em 1834, o Presidente da Província de Mato Grosso afastado em
conseqüência da crise política que se anunciava era o conservador:
a)Antonio Correa da Costa.
b) Antonio Maria Correa.
c) João Poupino Caldas.
d) Antonio Pedro Alencastro.
e)Pascoal Domingues de Miranda.

14) Na segunda metade do século XIX, Mato Grosso se enquadrou no órbita do capitalismo
através da navegação da bacia Platina. Sobre esse contexto histórico, é válido afirmar que:
a)A navegação da bacia Platina somente foi possível com a assinatura do Tratado de
Aliança, Comércio, Navegação e Extradição entre Brasil e Bolívia.
b) Através da navegação fluvial, Mato Grosso exportava matéria-prima para os países
platinos e importava produtos manufaturados das potências européias.
c) Com a navegação fluvial, a Província conseguiu superar a sua debilidade econômica.
d) A navegação do Prata somente foi rompida no inicio do século XX, com a construção da
E. F. Noroeste do Brasil.
e) A navegação do Prata atendia aos interesses da elite regional, assim como da Inglaterra,
que em conseqüência da sua produção industrial precisava da abertura de novos mercados.

15) A respeito da Guerra da Tríplice Aliança, assinale a alternativa correta:


a)O estopim da guerra foi motivada pelo aprisionamento do navio brasileiro “ Marques de
Olinda”, que trazia a bordo o novo presidente da Província, Augusto Leverger.
b) A guerra foi marcada pela formação de uma aliança entre o Brasil, Argentina, Uruguai e
Chile, em combate com o Paraguai.
c) Francisco Solano Lopes, presidente do Paraguai atingiu o Império Brasileiro pelo atual
Estado do Mato Grosso do Sul.
d) O primeiro ataque das tropas paraguaias ocorreu em Corumbá.
e) Durante o conflito armado, Corumbá se manteve intacta e a sua população em segurança.

81
16) Em 1867, com a retomada de Corumbá, a Província de Mato Grosso viveu um dos
momentos mais desastrosos da sua história, a epidemia de varíola. Sobre esse período
histórico é correto afirmar que:

I-A doença dizimou quase a metade da população cuiabana e foi capaz de alterar até mesmo
as relações afetivas.

II- Segundo o cronista Joaquim Ferreira Moutinho, corpos eram colocados na rua e
devorados por cães e corvos. Por toda a cidade sentia-se o odor dos cadáveres em estado
de putrefação.

III-Durante o surto epidêmico da varíola, o Presidente da Província era Couto de Magalhães.

a)I,II e III são corretas.


b) I e II são corretas.
c) I e III são corretas.
d) II e III são corretas.
e) Não há alternativa correta.

17) A guerra da Tríplice Aliança trouxe muitas transformações para Mato Grosso. Com
relação a essas mudanças, assinale a alternativa incorreta.

a)Em 1870, com o fim da guerra ocorreu a reabertura da bacia Platina.


b) Os portos de Corumbá, Cáceres e Cuiabá passaram a exportar produtos do extrativismo
vegetal e produtos da pecuária aos países platinos e as províncias brasileiras.
c) Com a reabertura da bacia Platina, Casas de Comercio surgiram nas cidades portuárias
como Corumbá, Cuiabá e Cáceres.
d) Mato Grosso perdeu parte do seu território ao final do conflito armado.
e) Ocorreu uma migração dos paraguaios para Mato Grosso à procura de uma vida melhor.

18) Com a reabertura da bacia Platina, Mato Grosso tornou-se um importante produtor e
exportador de erva mate. A respeito dessa economia extrativista, assinale a alternativa
correta.
82
a)A erva mate era nativo da região oeste de Mato Grosso.
b)A mão-de-obra utilizada na extração do mate foi a do africano.
c)O principal comprador de mate era a Bolívia.
d) A Companhia Mate Laranjeira praticamente detinha o monopólio na extração do mate em
Mato Grosso.
e) Aqueles que trabalhavam na extração do mate eram chamados de “camaradas”.

19) A poaia conhecida cientificamente como Cephalis ipecacuanha foi um dos principais
produtos da economia mato-grossense a partir de 1860. Sobre a poaia é correto afirmar que:
a)O produto atendia a demanda do mercado interno e externo.
b) O produto era extraído no oeste da Província somente no período das secas.
c)A ipeca era nativa da região de Cáceres, Barra dos Bugres, Vila Bela e Cuiabá.
d) A poaia era encontrada somente em Mato Grosso.
e) O produto era escoado em chatas, botes, batelões ou lanchas ás províncias do sudeste
visando atender a indústria de remédios.

20) Com a abertura da bacia Platina pelo rio Paraguai, muitas proprietários de terras importar
máquinas para a instalação de usinas. A esse respeito é válido afirmar que:
a)As usinas surgiram principalmente as margens do rio Cuiabá e em Chapada dos
Guimarães.
b) Os trabalhadores das usinas no século XIX era desempenhado pelos escravos, já no
início do século XX por homens livres pobres que eram denominados de “mineros”
c) Umas das principais usinas foi a da Ressaca construída em Santo Antônio do Leverger.
d) Na década de 30, do século 20, Vargas conferiu uma série de benefícios aos usineiros
para incentivar a produção açucareira no Estado.
e) A produção das usinas era escoada principalmente pela bacia Platina.

21) A respeito da pecuária em Mato Grosso, assinale a alternativa incorreta:


a)Desde o período colonial, a pecuária consistiu em uma atividade econômica importante no
abastecimento do mercado interno.
b) A E.F. Noroeste da Brasil provocou o desenvolvimento desta atividade econômica,
principalmente na região sul do Estado.
83
c) A mão-de-obra empregada na criação de gado exigia muitos trabalhadores, por isso até o
final do século XIX, a principal mão-de-obra utilizada pelos fazendeiros era os escravos.
d) Os produtos da pecuária como a crina, charque, couro e sebo eram escoados pela bacia
Platina.
e) Descalvados localizado ás margens do rio Paraguai se destacou como um dos principais
saladeiros da região.

22)Durante a Guerra da Tríplice Aliança, a população da Província sentiu bastante insegura


em conseqüência do ataque paraguaio e devido ao ataque de quilombolas. Um dos
quilombos mais temidos no período da guerra foi:
a)Piolho.
b) Aldeia da Carlota.
c) Rio do Manso.
d) Rio Sepotuba.
e) Quariterê.

23) A borracha ganhou importância econômica a partir de 1870. A seu respeito, assinale a
alternativa correta:

I-Este produto era extraído somente no período das chuvas.


II- O látex era extraído da seringueira e da mangabeira e eram encontrados no vale
amazônico e as margens dos rios da bacia Platina.
III-O produto abastecia o mercado externo e na década de 40, do século XX passou a
atender o mercado interno.

a)Todas estão corretas.


b)Somente a I e II são corretas.
c) Somente a I e III são corretas.
d) Somente a II e III são corretas.
e) Somente a III é correta.

24) O movimento social denominado de Rusga somente foi combatido com a nomeação do
Presidente da Província:
84
a)Antônio Alencastro.
b) João Poupino Caldas.
c) Manoel de Abreu Menezes.
d) Patrício Manso.
e) Barbosa de Sá.

25) Viajante que percorreu ao final do século XIX, o território mato-grossense em viagem
científica registrando as potencialidades de Mato Grosso:
a)Franz Van Dionant.
b) Joaquim Moutinho.
c) João Severiano da Fonseca.
d) Sabino Rocha Vieira.
e) D. José Reis.

Gabarito:
1-V,V,F,V.
2-F,F,V,V.
3-V,F,F,V.
4-V,F,V,V.
5-V,V,F,F.
6-E
7-A
8- F,F,F, V,V.
9-C
10-D
11-C
12-C
13-A
14-E
15-C
16-A
17-D
85
18-D
19-C
20-E
21-C
22-C
23-D
24-A
25-C

Parte III: República

Capitulo 12: A República em Mato Grosso

Em 15 de novembro de 1889, os militares do Exército brasileiro proclamaram a


República. Entretanto o ideal republicano não era novo no Brasil, pois desde o século XVIII,
movimentos em prol da independência, como a Inconfidência Mineira e a Conjuração dos
Alfaiates, já idealizavam o regime republicano.
Porém foi somente ao final do século XIX, que a República foi instaurada. Quais foram
então os fatores que favoreceram o advento da Republica?
Com certeza um fator determinante foi a adesão dos fazendeiros de café. Os
cafeicultores do oeste paulista interessados em defender os seus interesses econômicos,
advogavam a favor do regime, uma vez que a República daria uma maior autonomia aos
Estados.
Os fazendeiros do Vale do Paraíba, defensores da Monarquia, em 1888 com a
assinatura da Lei Áurea perderam seus escravos e não receberam do Estado nenhuma
indenização. Contrariados, esses fazendeiros passaram a apoiar a oposição. Desta maneira,
a decretação do fim da escravidão foi um dos fatores que provocaram a queda do Império.
Outro fator foi o descontentamento dos militares com o governo imperial. Com o
término da Guerra do Paraguai, os militares foram fortemente influenciados pelo positivismo
de Augusto Comte. Sonhavam com uma república centralizada, uma ditadura republicana.
Desejavam participar ativamente da vida política do país, contudo, apesar das vitórias na
Guerra do Paraguai, o sistema político era monopolizado pela aristocracia tradicional. Tal
situação gerou um profundo descontentamento entre os militares.
86
Além da crise com os militares, o governo imperial também teve que enfrentar uma
crise com a Igreja Católica. Essa crise foi motivada pela prisão dos bispos de Belém e
Olinda. A prisão dos religiosos estava relacionada a Encíclica “Syllabus”, que condenava a
participação de católicos na maçonaria. Entretanto, D.Pedro II desautorizou a bula papal e
permitiu que fieis católicos pudessem freqüentar a maçonaria. O bispo de Belém e de Olinda
desobedeceu as determinações do imperador, e por isso foram condenados a prisão.
Assim em 15 de novembro, apoiados pelos cafeicultores e pelas classes médias
urbanas, o Marechal Deodoro da Fonseca conduziu as tropas militares na proclamação da
República.
A notícia da proclamação da Republica chegou tardiamente em Mato Grosso, mas foi
bem aceita pela população. Os jornais que circulavam em Mato Grosso noticiaram com
entusiasmo a novidade declarando que a República daria a população “a liberdade plena, a
igualdade civil, a fraternidade, chama ao Serviço da Pátria todos os que na pátria habitem; e
acreditamos que podemos em tempo dizer que jamais tão bela cooperação no Brasil se
efetuou. Viva a confederação Brasileira!” 73
As idéias republicanas circulavam em Mato Grosso desde o final do século XIX. Os
seus partidários chegaram a fundar em 1888, o Partido Republicano Mato-Grossense e para
defender os seus princípios chegaram a fundar o jornal “A República”. A seguir vejamos o
desenrolar dos primeiros anos da Republica.

Republica da Espada (1889-1894)

Esse período foi marcado pelo governo dos marechais: Deodoro e Floriano Peixoto.
Deodoro ao proclamar a República se tornou presidente do Governo Provisório. Nessa
fase política foi elaborada a primeira constituição republicana que estabeleceu:
 Presidencialismo
 Federalismo
 Sistema Representativo, que foi dominado por São Paulo, Minas Gerais e o Rio de
Janeiro.
 Voto Aberto

73
APEMT: Jornal “A Província”,31 de dezembro de 1889.

87
 Voto: 21 anos, sexo masculino e alfabetizados, exceto aos padres, soldados e
mendigos.
Deodoro ainda nomeou governadores para os estados brasileiros. Para governar Mato
Grosso foi escolhido o General Antonio Maria Coelho, que foi muito bem aceito pela
população. O jornal Mato –Grosso, em 31 de dezembro de 1889 publicou a seguinte
saudação ao Presidente do Estado de Mato Grosso
“Acha-se como governador de Mato Grosso, o Exmo. Senhor General Antonio Maria
Coelho.
Com a nova forma de governo que operou-se em todo o Brasil, no dia 15 de novembro
ultimo, o governo Provisório não podia fazer melhor escolha, porquanto, a nomeação justa do
Exmo. Sr. para governador de Mato Grosso, nos colocou em posição segura de ajudar o Sr.
Exmo,... porque é filho de Mato Grosso, simpático, e ainda mais tendo sido o herói da
retomada de Corumbá.
O general Antonio Maria Coelho há de fazer um bonito governo, por enquanto, todos
os mato-grossenses acham-se satisfeitos com a distinta nomeação.”

Antônio Maria Coelho criou durante a sua gestão, o Partido Republicano Nacional,
reunindo políticos do Partido Republicano e do Partido Conservador. Porém, Antônio Maria
viria surgir contra o seu governo forças de oposição.
Manuel Jose Murtinho e Generoso Paes de Leme Souza Ponce, forças opositoras ao
governador, pressionam Antônio Maria, que diante da crise política acabou renunciando.
Com a sua renúncia, tomou posse no governo do Estado, Frederico Sólon Sampaio.
No Rio de Janeiro, depois de promulgada a Constituição de 1891, Deodoro foi eleito
indiretamente como previa o texto constitucional como presidente, e como vice-presidente foi
eleito Floriano Peixoto. Em Mato Grosso, Sólon Sampaio organizou a Assembléia
Constituinte Estadual que elegeu como governador de Mato Grosso, Manuel Jose Murtinho
(Presidente do Estado) e Generoso Paes Leme de Souza Ponce ( Vice- Presidente do
Estado).

Governo Constitucional de Deodoro (1891)

88
O governo de Deodoro foi caracterizado por uma crise política. O Presidente
governava desrespeitando a constituição, demitiu os governadores dos Estados de Minas
Gerais e de São Paulo e ainda fechou o Congresso Nacional.
As atitudes de Deodoro desagradaram a oligarquia e provocaram fortes reações. No
Rio de Janeiro eclodiu a 1ª Revolta da Armada, que tinha como líder Custodio de Melo. Os
rebeldes reivindicavam a renúncia de Deodoro. Pressionado pelas forças oposicionistas,
Deodoro renunciou.
Em Mato Grosso, Manuel Jose Murtinho e Generoso Paes Leme de Souza Ponce,
com a renúncia de Deodoro tiveram o seu poder ameaçado, crescendo contra esse grupo
oligárquico uma forte oposição no sul de Mato Grosso.

Governo de Floriano Peixoto (1891-1894)

Com a renúncia de Deodoro tomou posse Floriano Peixoto. Entretanto, a constituição


de 1891 previa em seu artigo 42, que se o presidente renunciasse antes de completar dois
anos de governo, o vice não podia subir ao poder, e as eleições deveriam ser convocadas.
Assim a posse de Floriano Peixoto contrariava a constituição, porém o marechal de ferro
tinha o apoio da oligarquia.
Ao tomar posse viu surgir contra o seu governo, oposicionistas que afirmavam que o
governo de Floriano era inconstitucional, ilegal.
Em Mato Grosso, essa oposição estava no sul, que promoveu um movimento para
derrubar do governo Manuel José´Murtinho. A oligarquia do sul não reconhecia o governo do
Estado, instalaram com isso uma Junta Governativa que tinha no comando João da Silva
Barbosa, que inclusive tentou instituir no sul o Estado Livre de Mato Grosso ou a República
Transatlântica. Os sulistas chegaram a cogitar em pedir ajuda a República do Prata ou até
mesmo hipotecar o Estado a Inglaterra para atingir os seus objetivos. Partindo de Corumbá,
os opositores vieram para Cuiabá com a intenção de depôr o governo do Estado.
Para aniquilar a oposição e se manterem no poder, Generoso Ponce, a frente de uma
força paramilitar denominada “Divisão Floriano Peixoto” conseguiu vencer os opositores e
Manuel Jose Murtinho foi novamente recolocado na presidência do Estado. A seguir
Generoso Ponce comandando a “Divisão Floriano Peixoto” dirigiu-se ao sul para aniquilar os
últimos focos de oposição.

89
Essa luta pela poder promovidas pelas oligarquias mato-grossense marcou o início da
república em Mato Grosso. As camadas populares estiveram à margem destas intrigas
políticas, e não puderam participar efetivamente das decisões políticas, portanto, não podiam
de fato exercer o direito a cidadania. Tal situação nos reporta a Lima Barreto, que em sua
obra “Policarpo Quaresma” demonstrou o comportamento político vigente no período
republicano ao afirmar que o “Brasil não tem povo, tem público”. Assim o povo mato-
grossense assistiu o desenrolar dos fatos impotentes e perplexos com as lutas políticas
travadas pelas oligarquias em disputa pelo poder.

Republica Oligárquica (1894-1930)

Depois de vencidas as primeiras dificuldades que caracterizaram os primeiros anos


da República, os republicanos históricos (civis) passaram a exigir o poder que até aquele
momento esteve com os militares. Com a consolidação da república, as eleições diretas são
realizadas tomando posse na presidência em 1894, Prudente de Morais. O presidente eleito
era civil, paulista e fazendeiro de café, portanto, o seu governo assinala a subida ao poder da
oligarquia cafeeira.
Contudo a força política da oligarquia cafeeira ocorreu principalmente na gestão do
presidente Campos Sales, que para sustentar o poder da oligarquia cafeeira construiu
importantes estratégias políticas. Dentre os mecanismos políticos construídos por Campos
Sales, destacou-se a “política dos Estados”, assim denominado pelos seu idealizador, ou a
“política dos governadores”.
A política dos governadores consistia em um acordo entre o presidente da república e
os governadores dos Estados, que durante as eleições deveriam apoiar a candidato da
oligarquia cafeeira à presidência recebendo em troca favores políticos. Os governadores
também apoiavam os candidatos da oligarquia paulista e mineira nas eleições para a
formação da bancada dos deputados e senadores, que iriam compor o Congresso Nacional.
Esse mecanismo político acabou fortalecendo em todo o país os coronéis, que através
das fraudes, da manipulação dos votos controlavam os votos da sua região. A expressão
“coronel‟ é originaria da Guarda nacional criada no período regencial para conter as rebeliões
que ocorriam pelo país, e que ameaçavam os interesses das elites regionais. Com este titulo,
concedido pelo governo imperial, o poder central autorizava os chefes locais para possuir

90
“gente armada” a seus serviços. O título era entregue ao chefe municipal de prestígio e a ele
cabia todo o poder decisório ao nível do município:econômico, político, judicial e policial. 74
No período republicano, os coronéis eram geralmente grandes proprietários de terra,
detentores de poder econômico, possuíam prestigio social e poder político nas suas
localidades. Controlavam os votos da população mais pobre, que viviam sob a sua influência.
Exigiam dos seus agregados, da população fidelidade total. Assim nas eleições, os coronéis
controlavam currais eleitorais, isto é, um depósito de votos. Muitas vezes para obter os votos,
os coronéis recorriam a violência para obrigar a população a votar em seus candidatos. Esse
voto dirigido e obtido através da violência ficou conhecido como “voto de cabresto”.
Em Mato Grosso, como já foi mencionado anteriormente, as lutas políticas entre a
oligarquia do norte e a oligarquia do sul eram freqüentes. Na verdade, o regime republicano
veio consolidar uma situação já existente, ou seja, conflitos pelo poder em nível local e
regional. A violência se intensificou com o regime republicano, e com o coronelismo, o
banditismo local aumentou consideravelmente. Assim a região mato-grossense passou a ser
conhecida como “terra sem lei” aonde a única lei obedecida era o calibre 44. 75
A seguir a leitura do quadro abaixo nos dá uma dimensão dos conflitos armados
ocorridos em Mato Grosso nos primeiros anos do governo republicano:

Data /Período Local/ Região Causa/Objetivo Observações


1891 Poconé Eleições: Adeptos do Sob o comando do
PRN Cel. Antonio Nunes
Cunha, Tem.
Salomão ª Ribeiro e
Diógenes Benites,
um grupo armado
tendo à frente uma
bandeira vermelha.,
ocupa a cidade.
1891 Campo Grande Reação Monarquista Grupos armados
dispostos a atacar a
cidade.
1891 Vila de Levergeria: Contra o governo de Bando civil e militar
comarca de Miranda Murtinho sob o comando dos
coronéis João de
Moraes ribeiro e
João Rufino.
1892 Corumbá/Outras Contra o governo São depostos os
regiões estadual elementos ligados à
administração

74
Treveisan, Leonardo, A republica Velha, p.24.
75
Correa, Valmir, Coronéis e Bandidos em Mato Grosso,p.31.

91
estadual, inclusive o
presidente do
Estado.
1892 Cuiabá A favor do governo O coronel Generoso
estadual Ponce comanda o
batalhão “Floriano
Peixoto” com mais
de mil homens
1892 Miranda A favor do governo Os coronéis Augusto
estadual Mascarenhas,
Manuel Antonio de
Barros, José Alves
Ribeiro, Estevão
Alves Correa e
Francisco Alves C
armam mais de 200
homens para
combater os
revolucionários.
1892 Nioaque A favor do governo Bando de mais de 60
estadual paraguaios sob o
comando dos irmãos
Lopes(armados por
coronéis)
1895 Nioaque Crise no PR Invasão da cidade
pelo coronel João
Mascarenhas.
1896 Nioaque O coronel João
Caetano Muzzi, João
Rodrigues de
Sampaio e Vicente
Anastácio invadem a
cidade com mais de
150 homens.
1896 Nioaque Conflito armado
entre os coronéis
Muzzi e
Mascarenhas.
1896 Nioaque PR Coronel Jango
Mascarenhas invade
a cidade.
1896 Ponta Porã PR Ataque às fazendas
sob o comando do
cel. João Cláudio
Gomes da Silva
Fonte:Correa, Valmir Batista, Coronéis e Bandidos em Mato Grosso, p.33.

Portanto, os oligarcas com seus bandos armados disputavam a condução política do


Estado. Em Mato Grosso, duas grandes oligarquias disputavam o poder; a do norte
composta principalmente pelos usineiros, e a do sul formadas pelos grandes pecuaristas,
pelos comerciantes, e pelos ervateiros.

92
Capítulo 13: Movimentos sociais que marcaram o período republicano em Mato Grosso

Desde o início do regime republicano muitos movimentos sociais empreendidos pelas


camadas populares denunciavam a insatisfação da população citadina e urbana com o
governo republicano.
Em Mato Grosso, os movimentos sociais que aconteceram durante a vigência da
república foram desencadeadas por grupos políticos regionais em disputa pelo poder. A
seguir abordaremos os principais movimentos sociais que marcaram a história de Mato
Grosso.

O Massacre da Baía do Garcez. (1901)

Esse movimento social ocorreu ao final do governo do presidente Campos Sales


(1898-1902), e caracterizou a política dos governadores em Mato Grosso. Além disso
garantiu a ascensão no governo do Estado, do usineiro Antônio Paes de Barros, conhecido
em Mato Grosso por Totó Paes de Barros.
Entretanto, a origem deste conflito foi caracterizado pela violência e teve as suas
raízes nas eleições governamentais de 1898. Nessas eleições, o coronel Generoso Ponce,
pertencente ao Partido Republicano indicou como candidato ao governo do Estado, João
Félix Peixoto de Azevedo. A indicação acabou suscitando a rivalidade entre Ponce e os
Murtinho, uma vez que Manuel José Murtinho apoiava como candidato José Maria Metelo.
Vale ressaltar, que neste momento, os Murtinho possuíam projeção nacional, pois
Manuel José Murtinho era ministro do Supremo Tribunal Federal, enquanto que seu irmão,
Joaquim Murtinho era ministro da Fazenda de Campos Sales. Lembremos ainda, que os
Murtinho eram acionistas da Companhia Mate Laranjeira, que detinha o monopólio da
extração da erva-mate no sul de Mato Grosso e com certeza, a grande potência econômica
do Estado.
Depois dessas importantes reflexões, voltemos ao Massacre da Baía do Garcez.
Após o rompimento de Ponce e dos Murtinho, as eleições aconteceram e a vitória
coube a João Felix Peixoto de Azevedo.
Manuel José Murtinho inconformado com a vitória do candidato de Ponce, reagiu a
situação, recorrendo ao governo federal e com o apoio do presidente da República formou
uma força paramilitar denominada “Legião Campos Sales” , que tinha no comando o coronel
93
Totó Paes de Barros. A “Legião Campos Sales” cercou a Assembléia Legislativa Estadual,
em Cuiabá, para anular as eleições que deram vitória a Peixoto de Azevedo.
Com a anulação, novas eleições foram realizadas, vencendo Antônio Pedro Alves de
Barros, que tinha o apoio dos Murtinho, logo da oligarquia cafeeira.
O governo de Antônio Pedro Alves de Barros foi bastante intranqüilo, pois esse
governante logo recebeu a notícia da existência de forças oposicionistas. Para conter os
focos de oposição, Totó Paes de Barros comandou uma tropa de homens armados; a
“Divisão Patriótica”. Logo, Totó Paes de Barros descobriu que a oposição estava escondida
em Santo Antônio do Leverger, na Usina da Conceição, que aliás era de propriedade de
João Paes de Barros, irmão de Totó Paes.
Em posse desta importante informação, Totó Paes de Barros cercou a propriedade
prendendo os suspeitos. A seguir conduziu os prisioneiros a Baía do Garcez, localizada entre
Santo Antonio do Leverger e Cuiabá. Neste local, os prisioneiros foram barbaramente
assassinados e seus corpos lançados nas águas da Baía.
No ano seguinte aconteceu o inesperado, as chuvas não vieram no período previsto,
as águas da Baía secaram revelando o crime hediondo cometido por Totó Paes de Barros.
Apesar da revelação, o crime ficou impune e Totó Paes de Barros, líder do Partido
Republicano Constitucional, venceu as eleições ao governo do Estado tomando posse em
1902.

2- Revolta de 1906

Totó Paes de Barros ao assumir a presidência do Estado em 1902 manteve-se fiel ao


Presidente da República, Rodrigues Alves, representante da oligarquia cafeeira. Entretanto,
Totó Paes de Barros parecia não compreender que para se manter no poder não bastava
estabelecer uma aliança política somente com o governo federal, mais ampliar o pacto
político á nível regional. Desta maneira, Totó Paes de Barros acabou contando apenas com o
apoio do seu grupo político, o que favoreceu o crescimento de um movimento oposicionista
ao governador.
Embora Totó Paes tenha sido eleito com o apoio dos Murtinho, ao tomar o poder se
distanciou destes oligarcas, que conseqüentemente passaram a fazer oposição ao
governador.

94
O rompimento entre Totó Paes de Barros e os Murtinho levaram esses oligarcas a se
aproximarem do grupo de Generoso Ponce, do qual anteriormente eram inimigos políticos. A
união de Ponce e dos Murtinho tinha como principal objetivo derrubar do poder Totó Paes de
Barros.
Com relação a Generoso Ponce, este oligarca era oposição a Totó Paes de Barros
desde o período da sua eleição, e contrariado com a vitória de Totó Paes de Barros nas
urnas, Ponce mudou de Mato Grosso estabelecendo residência no Paraguai.
Neste país, Generoso Ponce fundou o jornal “A Reação”, especializado em tecer
críticas ao governador e a sua administração. O jornal “A Reação” era feito no Paraguai e
circulava clandestinamente no Estado de Mato Grosso.
O documento abaixo refere-se a uma matéria publicada no jornal “A Reação”, e emite
um visão de uma pessoa que preferiu o anonimato para expressar a sua posição sobre o
comportamento e as atitudes do governador Antônio Paes de Barros.

Senhores Redatores da “Reação”


Completamente alheio às lutas políticas e aos interesses partidários, mas não
indiferente à sorte desgraçada que está reservada a nossa terra, se nela persistir, como
norma, o regime de ódio aí inaugurado pela polícia do Sr. Totó Paes – que como verdadeiro
possesso é hoje a própria encarnação do demônio – pelos males que tem implantado,
perseguindo sem tréguas os seus desafetos, mandando matá-los e confiscando em seu
proveito e no de seus irmãos Henrique e José os bens e a fortuna, tenho longamente
refletido nos males que nos assoberbam, ameaçando o nosso futuro.
Vejo na obsessão do malvado Regulo de Itaicy um caso patológico interessante e
digno de estudo da psiquiatria; não é possível que tal homem, com essa perversão dos
sentimentos morais tantas vezes revelada tenha um cérebro são, funcionando de modo
regular.
(sic) O homem está louco e deve ir ao Hospício.
Vosso patrício, am° cr° ob°

N. N.76

76
NDHIR: Jornal A Reacção , 10 de outubro de1902

95
O excessivo poder de Totó Paes de Barros, as perseguições e as mortes dos seus
opositores acabaram provocando o medo e o descontentamento das camadas populares a
sua administração.
Além disso, como já mencionamos anteriormente, provocou a união de dois inimigos
implacáveis, Generoso Ponce e os Murtinho, que se aliaram a oligarcas da oposição em
Corumbá dando origem a Coligação, que começou a construir estratégias para aniquilar o
poder de Totó Paes de Barros
A Coligação, em 16 de maio de 1906, deu início aos seus planos, destruiu o comando
da polícia, e cortou a comunicação de Cuiabá, Cáceres e Corumbá com a capital Federal. A
seguir, a Coligação partiu em direção a Cuiabá.
Anteriormente ao rompimento das comunicações com o Rio de Janeiro, o governador
pediu ao presidente Rodrigues Alves, que enviasse em seu socorro uma expedição militar,
uma vez que o número de soldados a serviço do Estado não era suficiente para conter a
Coligação. Atendendo ao pedido do governador, Rodrigues Alves enviou a Mato Grosso, a
“Expedição Dantas Barreto”, composta de dois mil soldados.
A Coligação chegou a Cuiabá pelo rio Coxipó, e entrou na cidade facilmente. Ao
receber a notícia da chegada do grupo oposicionista, as forças do governo, que eram
lideradas por Totó Paes de Barros tentaram contê-la, no morro do Bom Despacho e na
Prainha. Porém a tentativa foi em vão, pois a Coligação dominou a rua Barão de Melgaço,
atingiu o largo da Mandioca e São Benedito.
Ao perceber o avanço vitorioso da Coligação, Totó Paes resolveu fugir para as
proximidades da Fábrica de Pólvora, no Coxipó.
Porém a Coligação acabou descobrindo o esconderijo de Totó Paes de Barros, e
seguindo para o local, o grupo oposicionista sob o comando de Generoso Ponce entrou em
confronto com o governador, que acabou atingido por uma bala e faleceu no local.
Logo depois deste episódio, a expedição “Dantas Barreto” chegou a Cuiabá, mais
nada podia fazer, e imediatamente retornou ao Rio de Janeiro levando a informação ao
presidente Rodrigues Alves do falecimento de Totó Paes de Barros.
Com a morte de Totó Paes de Barros, assumiu o governo de Mato Grosso, o vice-
governador. Pedro Leite Osório.

3. Caetanada (1916)

96
Depois de eliminar Totó Paes de Barros, a antiga força de oposição; a Coligação se
transformou no Partido Republicano Conservador (PRC), liderado por Generoso Ponce e
Pedro Celestino.
Entretanto, a discórdia entre Pedro Celestino e os membros do seu partido logo se
iniciaram, quando a Companhia Mate Laranjeira, a grande potência econômica do sul, pediu
ao governo do Estado um novo arrendamento de terras.
Pedro Celestino mostrou-se contrário a aprovação deste arrendamento, pois defendia
que essas terras deveriam ser usadas para promover a colonização de Mato Grosso, que na
opinião do oligarca, era a melhor alternativa para promover o progresso do Estado de Mato
Grosso.
Apesar de todos os argumentos defendidos por Pedro Celestino, a Companhia mate
Laranjeira obteve um novo arrendamento. Não esqueçamos, que a Companhia Mate
Laranjeira tinha como um dos seus principais acionistas os Murtinho, que possuíam enorme
projeção na política nacional. Assim derrotado no seu posicionamento e contrariado, Pedro
Celestino rompeu com o partido e fundou o Partido Republicano Mato-Grossense. (PRMG).
Em 1915, a disputa pela condução política do Estado contou com a participação dos
seguintes partidos políticos: Partido Republicano Conservador, o Partido Liberal e o Partido
Republicano Mato–Grossense. A vitória dessas eleições coube a Caetano de Faria
Albuquerque, do Partido Republicano Conservador.
Ao assumir o governo, Caetano de Albuquerque indicou para o seu secretariado
membros do seu partido, porém resolveu nomear um secretário do Partido Republicano
Mato-Grossense. Tal nomeação gerou duras críticas entre os seus partidários, porém
agradou o PRMG que conferiu o apoio ao governador. Caetano de Albuquerque tomou então
a decisão de romper com o PRC e acabou se filiando no PRMG. Essa situação provocou
uma guerra entre grupos armados do PRC e do PRMG.
Para agravar mais ainda a crise política, Caetano de Albuquerque foi acusado pelo
PRC de favorecer os produtores de borracha, no tocante, a cobrança dos impostos.
Desgostoso com o rumo dos acontecimentos, Caetano de Albuquerque pediu a Assembléia
Legislativa Estadual o seu afastamento da Presidência do Estado tomando posse o vice-
governador Manuel Escolástico do PRC.
Decorridos alguns dias, Caetano de Albuquerque pediu ao Supremo Tribunal Federal
a sua volta ao governo do Estado. Porém, Manuel Escolástico não aceitou deixar o governo.

97
Esse confronto entre Pedro Celestino e Manuel Escolástico provocou a formação de um
governo paralelo em Mato Grosso.
Em Cuiabá ficou na direção do governo, Caetano de Albuquerque e em Corumbá,
Manuel Escolástico. Essa atitude acarretou em lutas armadas entre as oligarquias e tal
situação era totalmente inconstitucional. O governo federal ao tomar conhecimento do
ocorrido resolveu decretar intervenção federal em Mato Grosso em 1917.
O presidente da república em exercício naquele período, Venceslau Brás indicou
como interventou federal Camilo Soares, que governou o Estado durante três meses, no
entanto, no entanto, este governante não foi capaz de conter as brigas entre as oligarquias e
os seus bandos armados. Desta forma, Venceslau Brás resolveu nomear outro interventor,
escolhendo o bispo de Cuiabá, D. Aquino Correa. D. Aquino Correa era respeitado no norte e
no sul e foi somente com a sua posse, que os conflitos entre os coronéis e o banditismo
diminuíram.
Resumidamente podemos considerar que a Caetanada expressou a luta política entre
as oligarquias nortistas e sulistas na condução política do Estado de Mato Grosso.
No tocante ao Governo de D.Aquino Correa, a sua gestão foi caracterizada por um
período de tranqüilidade, uma vez que as disputas entre os coronéis foram combatidos.
Durante o seu governo foi comemorado com festividades o bicentenário da fundação de
Cuiabá, ocorreu a inauguração da luz elétrica, foi introduzido o primeiro automóvel em
Cuiabá, foram edificadas edifícios públicos, pontes em Três lagoas e Cuiabá, foi criado o
Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, a Academia Mato-grossense de Letras,
instalação do Observatório Meteorológico e Sismográfico, e D.Aquino ainda conferiu a
Cuiabá, a alcunha de “cidade verde”, devido a presença de árvores frutíferas como
mangueiras, laranjeiras, cajueiros, dentre outras, nos quintais cuiabanos. 77

4. Morbeck e Carvalhinho

Ao iniciar a século XX, a região leste de Mato Grosso recebeu uma onda migratória de
nordestinos que foram atraídos pelas jazidas de diamantes existentes principalmente nas
proximidades dos rios Cassununga e Garças. A intensa migração deu origem a muitos

77
Correa, Virgilio Filho, Historia de Mato Grosso, p.612..

98
núcleos de povoamento, como Alto Araguaia, Guiratinga, Poxoreo, Barra do Garças, Itiquira,
Tesouro, dentre outras.
Foi neste contexto que chegou ao leste do Estado, José Morbeck, oriundo da Bahia,
que logo se tornou o chefe político local, e que durante os pleitos eleitorais conquistava os
votos dos moradores daquela região.
Morbeck impunha o seu poder através da violência, para isso contava com bandos
armados e homens de sua total confiança, como por exemplo, Manuel Balbino de Carvalho,
conhecido intimamente pelo apelido de Carvalhinho.
Em 1926, Pedro Celestino, presidente do Estado de Mato Grosso, almejando dominar
politicamente o leste começou a agir para aniquilar o poder de Morbeck. A estratégia
arquitetada pelo governador para derrubar Morbeck era aliciar o seu fiel companheiro
Carvalhinho.
Em 1925, Pedro Celestino por coincidência do destino, viu a possibilidades dos seus
planos serem atingidos. Neste ano, um grupo de garimpeiros pediu a José Morbeck
permissão para a realização de um baile na região. Essa região, rica em produção de
diamantes era extremamente violenta. Assim Morbeck, na condição de chefe político local,
apreensivo com a insegurança que reinava na zona de garimpo, permitiu a realização do
Baile “Fecha Nunca”, mas para evitar problemas durante a festança, Morbeck mandou
Carvalhinho cuidar do baile. Entretanto, Carvalhinho passou essa responsabilidade para
Reginaldo, que possuía um bando armado a serviço de Morbeck. A festa foi um verdadeiro
fracasso ocorrendo muitas mortes. e Reginaldo foi responsabilizado e delatado pelo
moradores do leste como o responsável pelo ocorrido naquela noite.
Morbeck mandou prender Carvalhinho conduzindo-o a Cuiabá. Porém ao chegar a
capital de Mato Grosso foi libertado, mas acabou falecendo vitima de um atentado, no Coxipó
da Ponte.
A notícia da sua morte foi recebida no leste, e Carvalhinho acreditava piamente que
Morbeck encomendou a morte do seu amigo. Neste momento aconteceu o que Pedro
Celestino desejava, o assassinato de Reginaldo provocou uma fragilidade na amizade de
Morbeck e Carvalhinho.
Depois deste incidente, Morbeck e Carvalhinho viajaram ao Rio de Janeiro.
Carvalhinho marcou um encontrou em segredo com Pedro Celestino, que naquele momento
estava também na capital federal.

99
Neste encontro, Carvalhinho recebeu a informação da sua nomeação como Delegado
de Polícia da região do Araguaia e Garças e para agente arrecadador dos tributos das Minas
de Garimpo. Ao retornar ao hotel onde estava hospedado com Morbeck revelou ao amigo o
seu encontro com o governador, bem como, a sua nova função. Inconformado com a traição
do amigo, Morbeck retornou imediatamente para Mato Grosso, com o objetivo de preparar
uma emboscada para receber Carvalhinho.
Carvalhinho, orgulhoso da sua nomeação, ficou no Rio de Janeiro dando entrevistas
aos jornalistas cariocas sobre a sua atuação como delegado do leste, de como combateria o
banditismo e conseqüentemente a violência nos garimpos.
Ao retornar a Santa Rita do Araguaia, local de sua moradia,, Carvalhinho foi
surpreendido durante a madrugada por Morbeck e seu bando. Para fugir ao cerco de
Morbeck, Carvalhinho se atirou nas águas do rio Araguaia. Mas a sua fuga, tinha como
destino final, a Bahia, aonde foi arregimentar homens para voltar a Mato Grosso e acertar as
contas com Morbeck. Em Salvador, Carvalhinho entrou em contato com o governador Pedro
Celestino pedindo proteção para o seu retorno a Mato Grosso.
Carvalhinho retornou ao leste, e com seu bando conquistou Lageado, Cassunungsa e
Santa Rita do Araguaia. Morbeck diante do avanço das tropas de Carvalhinho, foi ao Rio de
Janeiro pedir ao governo federal ajuda financeira para a contratação de homens e para a
compra de armas e munições. Para obter o financiamento, Morbeck alegou ao governo
federal, que essa contribuição financeira era fundamental para combater a Coluna Prestes,
que naquele instante passava por Mato Grosso.
Ao voltar do Rio de Janeiro, Morbeck e Carvalhinho fizeram da região leste um palco
de guerras. A rivalidade entre os seus bandos somente foi amenizada com a posse do novo
governador do Estado, Mario Correa da Costa.
Para combater os conflitos armados no leste, o governador recentemente empossado
tomou a decisão de nomear como novo delegado do Araguaia e do Garças, Valdomiro
Correa.
Carvalhinho inconformado com essa indicação, cobrou do governo do Estado uma
pesada indenização. Como o governo não deu resposta a sua exigência, Carvalhinho e seu
bando resolveram atacar o quartel. Logo depois dessa façanha, Carvalhinho fugiu para
Goiás. Porém, Mario Correa da Costa ao ter noticias do paradeiro de Carvalhinho e de seu
bando, enviou um destacamento de soldados para Goiás para prendê-los. Depois de preso,

100
o governo do Estado obrigou Carvalhinho a desfilar pelas principais ruas de Cuiabá, numa
demonstração de que o “terror” do leste foi definitivamente combatido.
Em 1930 com a ascensão ao poder de Vargas, Carvalhinho foi libertado.

Capítulo 14: A Coluna Prestes em Mato Grosso

A Coluna Prestes se enquadra em uma das fases do movimento tenentista, que


marcaram os anos de 1922 a 1927. O tenentismo contou com a adesão de oficiais do
Exército brasileiro, principalmente os tenentes e alguns capitães. Logo, a alta cúpula militar
se manteve alheia ao movimento..
O tenentismo foi um movimento de rebeldia, no qual jovens oficiais se colocaram
contra o governo oligárquico, portanto representou o descontentamento de facções das
forças armadas, que tinham como objetivo conquistar o poder e reformar a República.
Dentre as suas reivindicações, os tenentes propunham a moralização da
administração, o fim da corrupção eleitoral, o voto secreto, defendiam o desenvolvimento de
uma economia pautada no nacionalismo e a reforma da educação pública defendendo o
ensino gratuito e obrigatório a todos os brasileiros
O movimento contou com a simpatia das camadas médias urbanas, de alguns
industrias e de fazendeiros que não apoiavam a oligarquia cafeeira.
Em 1922, no Rio de Janeiro , os tenentes iniciaram o movimento com a revolta do
Forte de Copacabana. As ofensas feitas ao Exercito e a repressão contra o Clube Militar
levaram os tenentes a se rebelar, com a intenção de “salvar a honra do Exército. 78.
Entretanto o movimento fracassou. Entretanto, dois anos mais tarde, os tenentes tentaram
novamente derrubar o governo oligárquico, representado por Artur Bernardes; era a
Revolução Paulista de 1924.
O movimento que eclodiu em São Paulo deveria ter tido um caráter nacional, mas
ficou limitado ao Rio grande do Sul, Amazonas e a cidade de São Paulo. No comando do
movimento paulista estava Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa.
Os revoltosos deixaram a capital paulista e se deslocaram pelo interior do Estado de
São Paulo, com objetivo de atingir o Paraná, pois estavam a espera de tropas vindas do Rio
Grande do Sul.

78
Fausto, Boris, historia do Brasil, p.307

101
O movimento tenentista no Rio Grande do Sul estourou em outubro de 1924, estando
no seu comando o tenente João Alberto e o Capitão Luís Carlos Prestes. As tropas gaúchas
deixaram o sul em direção ao Paraná para encontrar as tropas paulistas. Assim em abril
de1925, surgia a Coluna Miguel Costa-Luis Carlos Prestes, que posteriormente ficou
conhecida como Coluna Prestes.
A Coluna Prestes percorreu todo o país propagando a idéia da necessidade de uma
revolução popular para derrubar as oligarquias. Em 1926, Miguel Costa, Siqueira Campos e
Luis Carlos Prestes lançaram um manifesto explicando os motivos da luta contra a oligarquia.
Em seu manifesto afirmaram que “eram contra os impostos exorbitantes, a desonestidade
administrativa, a falta de justiça, a mentira do voto, amordaçamento da imprensa,
perseguições políticas, desrespeito a autonomia dos estados, a falta de legislação social e
reforma da constituição.” 79
Percorrendo os lugares mais ermos do Brasil, a Coluna iniciou uma longa marcha e ao
serem encurralados pelas tropas do governo, o comando do movimento com a permissão
das autoridades se refugiaram provisoriamente no Paraguai.
A seguir retornaram ao Brasil penetrando por Porto Lindo, nas proximidades do rio
Iguatemi em Mato Grosso. Ao ingressar no Estado, o general João Nepomuceno Costa deu
inicio as perseguições, prendendo em Campo Grande até mesmo aqueles que se mostravam
simpáticos ao ideário da Coluna. Novamente pressionados pelas tropas legalistas, os
homens da Coluna se retiram para Goiás, daí partiram para o nordeste e ingressam mais
uma vez pelo Mato Grosso.
O Jornal A Razão noticiou a chegada da Coluna Prestes em Cáceres. Segundo a
imprensa, as autoridades policiais de Cáceres prepararam um plano de ação para conter a
Coluna composta naquele momento por 800 homens, que ameaçavam invadir a cidade.
Para evitar a invasão a Cáceres, os oficiais se reuniu imediatamente no Quartel
General. Acreditavam que podiam conter as forças rebeldes no Porto do Barranco Alto
evitando que atravessassem o rio Paraguai.
Por outro lado, havia aqueles que duvidam que os soldados seriam capazes de
impedir a invasão. Apesar das incertezas, a oficialidade de Cáceres conseguiu reprimir o
ataque da Coluna. E segundo o artigo publicado no jornal local, os soldados lutaram
bravamente para manter “a ordem”.80

79
Povoas, Lenine. Historia Geral de Mato Grosso, p.311.
80
APMT: Jornal A Razão, 30 de julho de 1927.

102
Perseguidos pelas tropas legalistas e jagunços dos coronéis, A Coluna Prestes
acabou se exilando na Bolívia.
Esse retorno a Mato Grosso ocorreu durante o governo de Mario Correa da Costa, que
representava no Estado os interesses da oligarquia cafeeira. Segundo o discurso oficial, os
homens da Coluna eram perigosos, sanguinários , e vieram trazer a dor, a intranqüilidade e o
sofrimento a tantos lares, destruindo as nossas propriedades.”81
É importante frisar que essa visão sobre a Coluna Prestes não foi compartilhada por
todos. Em muitos lugares, os homens da Coluna foram muito bem recebidos, e
especialmente Luis Carlos Prestes que ficou conhecimento como Cavaleiro da Esperança.
Em luta pelos seus objetivos, os homens da Coluna Prestes enfrentaram durante a
sua marcha pelo país inúmeras dificuldades, que foram relatadas por Jorge Amado, em sua
obra literária O Cavaleiro da Esperança  Vida de Luis Carlos Prestes. A seguir, o trecho do
livro de Jorge Amado aborda alguns desses obstáculos

Prestes se encontrou com o impaludismo. Antes, fora a praga das sarnas que batera
sobre a Coluna, os homens barbados e peludos parecendo imenso bando de macacos que
se coçavam. Mas, na travessia do rio Piauí, quando das grandes chuvas, o impaludismo
derrubou quatrocentos homens da Coluna. Prestes marchava com febre. Quase nenhum
oficial escapou. Mas esses homens sentiam a febre. A maleita não os jogavam no chão.

Na Bolívia, Luis Carlos Prestes deixou seus companheiros de luta e partiu para a
Argentina, aderindo ao marxismo, voltando ao Brasil somente no Governo Vargas.

Capítulo 15:Nos trilhos da Modernidade

A Construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil

81
APMT: Mensagem de Mario Correa da Costa a Assembléia Legislativa de Mato Grosso em13 de maio de 1927.

103
A proclamação da República promoveu no país um conjunto de transformações que
visavam desenvolver as potencialidades econômicas do Brasil com o objetivo de tornar o
país uma fronteira aberta ao capitalismo internacional. Dentro deste contexto, Rodrigues
Alves, presidente da Republica em 1906, através do prefeito Capital federal Pereira Passos
remodelou o Rio de Janeiro, construiu avenidas largas, demoliu os cortiços existentes no
centro da capital e iniciou uma política sanitária, que tinha a frente o médico sanitarista
Osvaldo Cruz, que combateu ás doenças que mais vitimavam a população carioca, como a
varíola, a peste bubônica e a febre amarela. A urbanização e o saneamento do Rio de
Janeiro tinha como um dos seus principais objetivos atrair investimentos estrangeiros a
capital federal.
Paralelamente a modernização da capital do Brasil, a elite brasileira adotou novas
condutas de comportamento, de lazer e de vestir, que se inspiravam principalmente na
França, essa mudança de hábitos e de comportamentos foi denominada de Belle Époque.
Assim o governo brasileiro pautado nos princípios do positivismo defendiam a
necessidade de promover a modernização do país adequando-o ao capitalismo internacional.
Para que esse projeto de modernidade fosse realmente concretizado, as autoridades
governamentais deviam patrocinar a integração do território brasileiro. Foi neste contexto,
que em 1904, se iniciou a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.(NOB)
Deste o fim da guerra do Paraguai (1870), a integração de Mato Grosso as demais
províncias brasileiras se dava através da navegação pela bacia do Prata. A principal via de
comunicação entre São Paulo,.Rio de Janeiro e Corumbá ou Corumbá- Cuiabá ocorria
através do rio do Prata e do rio Paraguai.
Na segunda metade do século XIX, os conflitos bélicos entre os paises platinos
mostraram as autoridades governamentais como era vulnerável a navegação fluvial pelo
Prata e não havia uma via interna rápida que ligasse Mato Grosso ao restante do país.
Foi nesta perspectiva, que o governo republicando idealizou a construção de uma
estrada de ferro para Mato Grosso, uma vez que através dos seus trilhos teríamos uma
comunicação e um transporte de pessoas, matérias-primas, e produtos industrializados de
forma mais eficiente, e além disso a ferrovia vinha ao encontro dos interesse do governo
federal em integrar as regiões do país, em modernizá-lo.
A construção da ferrovia também era interessante ao governo federal, pois iria
permitir o escoamento da produção boliviana até o Porto de Santos. Nesse período, o
governo federal estava interessado em estreitar as suas relações diplomáticas com a Bolívia.
104
Assim partindo de Bauru (São Paulo) em 1905, a construção da estrada de ferro
seguiu em direção ao noroeste, e chegou ao rio Paraná em 1910, atingiu Porto Esperança,
as margens do rio Paraguai, em 1914, e chegou a Corumbá divisa com a Bolívia somente
em 1952, finalizando assim a sua construção.
Em 1919, o governo federal acampou a Estrada de Ferro de Bauru a Porto Esperança,
passando a ser denominada de “Estrada de Ferro Noroeste do Brasil”
Para a sua construção, o governo federal teve que disponibilizar vultosos
investimentos. Para isso, o governo federal recorreu ao capital internacional, que produzia
todo o equipamento ferroviário como as pontes e os trilhos. Assim esse empreendimento
interessou o capital inglês e francês. As grandes empreiteiras do país também se
beneficiaram com a construção da Estrada de Ferro, pois davam suporte as obras, através
de empréstimos. Desta maneira, a Noroeste do Brasil atendeu aos interesses dos setores
privados nacionais e internacionais e permitiu que o Estado como agenciador deste projeto
promovesse o desenvolvimento econômico nacional, e especialmente de Mato Grosso.
A estrada de ferro provocou mudanças para o Estado, como por exemplo, o
crescimento dos índices de migração, pois durante a sua construção muitas pessoas
migraram para o sul de Mato Grosso para trabalhar na sua edificação e ao final das obras
prefeririam continuar a residir no Estado. Assim surgiram no sul de Mato Grosso muitas vilas
e cidades.
Por outro lado a estrada de ferro acarretou na decadência econômica de Corumbá,
que perdeu a importância econômica que obtivera no século XIX, sendo substituída por
novos pólos econômicos com o Campo Grande, Porto Esperança e Ponta Porá..

Estrada de Ferro Madeira – Mamoré

Acima de Santo Antonio existe a Cachoeira caldeirão do Inferno. Neville Craig, que
descreveu a tragédia da empresa Collins, conta-nos que os seus homens, ao chegarem a
Santo Antônio a 19 de fevereiro de 1878, um dos poucos habitantes que ali se achavam
dissera-lhes que naquele local o diabo perdera as botas. Aquele mesmo autor, descrevendo
as alucinações do irlandês Manning, nas selvas do Madeira, conta que este dizia que o diabo
estava o lambendo.

105
A ferrovia passou desde então a ser conhecida popularmente com o nome de “ferrovia
do diabo”. Não só popularmente, mas também em artigos, reportagens, noticias, rádios e
televisões, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré passou a ser mencionada como “a ferrovia
do diabo”. A denominação “ferrovia do diabo”fora dada pelos trabalhadores da construção,
entre 1878 e 191282.

A citação acima ilustra o imaginário dos trabalhadores, que vieram a selva amazônica
entre 1878-1912 para a construção de um fabuloso empreendimento  A Estrada de Ferro
Madeira- Mamoré.
A construção da Estrada de Ferro Madeira- Mamoré foi uma verdadeira epopéia, pois
para a sua edificação engenheiros e trabalhadores tiveram que enfrentar as vicissitudes da
natureza e a insalubridades da região.
A idéia de construir uma estrada de ferro ao longo dos rios Mamoré e Madeira nasceu
em 1848, com o engenheiro boliviano José Augustin Palácios, que assegurou ao governo
boliviano, que a construção de uma estrada de ferro naquela localidade era a melhor
alternativa para o escoamento dos produtos econômicos produzidos pela Bolívia, uma vez
escoá-los através Cordilheira dos Andes era extremamente difícil.
Em 1851, o engenheiro americano Larcher Gilbbon realizou um estudo para indicar ao
governo americano a alternativa mais viável para a importação de matérias-primas que eram
imprescindíveis a economia dos Estados Unidos. Para o engenheiro, a saída ideal era pelo
Amazonas. Assim para dar o seu laudo técnico, Larcher desceu o rio Chaporé, Mamoré,
Madeira e o Amazonas. Ao finalizar o trajeto, concluiu que a construção de uma estrada de
ferro margeando as cachoeiras do rio Madeira podiam ser edificadas aproximadamente em
dois meses. Foi assim que o governo boliviano resolveu adotar o trajeto de Gilbbon.
No Brasil, uma expedição tendo a frente o engenheiro João Martins da Silva Coutinho
foi organizada para navegar pelo rio Madeira, e dar ao governo imperial um posicionamento.
De acordo com o engenheiro brasileiro, a construção de uma estrada de ferro no rio madeira
era viável e além disso promoveria o nascimento de núcleos de povoamento e o aumento do
fluxo comercial na região.
Assim, o governo boliviano empolgado com a construção da estrada de ferro enviou o
General Quevedo ao México e aos Estados Unidos em busca de engenheiros para canalizar

82
Hardman, Francisco Foot, Trem Fantasma: A modernidade na selva, p.120-121.

106
os trechos encachoeirados do rio Madeira e construir a ferrovia. O engenheiro escolhido para
esse empreendimento foi George Earl Church, do Exército americano.
Segundo Hardman, o coronel Church tinha um espírito aventureiro, era oportunista, e
possuía uma atração pelas viagens distantes e pelo enriquecimento. Possuía também uma
capacidade ímpar na construção de ferrovias somada a capacidade militar de expandir as
fronteiras e de domesticar índios.83
Church aceitou o desafio de construir a estrada de ferro, porém impôs uma condição,
isto é, que o governo boliviano lhe concedesse a exploração da navegação dos rios Madeira
e Mamoré. Com esse objetivo foi criado em 1868, a Bolivian Navigation c Company
Para construir a ferrovia, já que muitos dos seus trechos estavam em território
brasileiro, o coronel americano pediu a D. Pedro II, a concessão de 50 anos, e se preciso a
sua prorrogação para conclusão das obras. Assim o governo brasileiro tornou-se parceiro de
Church, enquanto o governo boliviano era o fiador da obra.
D. Pedro II, porém exigiu a Church, a mudança do nome da empreendimento, em vez
de Bolivian Navigation Company, que se adotasse The Madeira and Mamoré Railway
Company. Depois de concretizados os acordos entre o governo brasileiro e o coronel
americano, Church viajou a Londres na tentativa de buscar recursos financeiros e
tecnológicos para iniciar as obras.
Em Londres, Church conseguiu obter os empréstimos entretanto, foi exigido que a
construtora encarregada pela obra deveria ser inglesa, assim como os materiais empregados
na construção, ou seja, os trilhos e as locomotivas.
Desta forma, a empresa inglesa Public Works assumiu a construção da ferrovia. Em
julho de 1872, a empresa chegou a Santo Antonio do Rio Madeira (MT) para começar as
obras. Logo no início da construção, os ingleses perceberam que foram ludibriados. Vitimas
das doenças tropicais que grassavam na região, trabalhadores e engenheiros da empresa
faleceram. Assustados com a insalubridade que reinava no local, os ingleses abandonaram o
projeto sem implantar um único trecho da ferrovia.
A seguir, a Public Works processou o coronel Church pelas suas perdas. Porém, o
coronel recorreu alegando que a empresa desistiu do projeto, pois ficou atemorizada com a
imensidão e os perigos da floresta.

83
Idem, p.120.

107
Em 1873, o coronel Church encarregou a empreiteira americana Dorsay & Caldwell de
continuar a construção da ferrovia Madeira-Mamoré. No entanto, ao entrarem em contato
com a região, a empreiteira assustada com as mortes causadas pelas doenças tropicais
abandonaram a construção e voltaram para os Estados Unidos.
Church não desistiu dos seus objetivos, desta vez, buscou a empreiteira inglesa Reed
Bros & Co. para a construção. Porém a empresa não mostrou o mínimo interesse em
assumir o empreendimento.
Desgatado pelas inúmeras tentativas, Church viu a sorte mudar, quando a empresa P
& T Collins aceitou construir a estrada de ferro. Fecharam o contrato em 1877 e orçamento
da obra foi estimado em 1.200.000 libras. Apesar do seu altíssimo custo, Church apostava no
seu sucesso, e acreditava que a ferrovia proporcionaria muitos lucros, uma vez que a região
era riquíssima em seringais. A confiança do coronel americano estava relacionada ao fato de
que neste período, o látex era um produto bem cotado no mercado internacional.
Para iniciar as obras, a Collins formou uma expedição de 200 homens composta por
engenheiros, médicos, operários, pessoal administrativo e de navegação.
Ao iniciar o mês de fevereiro de 1878, a construtora alcançou a primeira cachoeira do
rio Madeira, no Porto de Santo Antonio. Assim ao longo deste ano, navios, equipamentos,
trabalhadores e uma locomotiva chegaram a Santo Antônio.
A semelhança das outras empreiteiras que tentaram construir a estrada de ferro, a
Collins também se deparou com o problema da insalubridade, com as doenças tropicais, mas
mesmo enfrentando muitas dificuldades, a empresa conseguiu inaugurar simbolicamente a
ferrovia em 4 de julho de 1878.
Muitos trabalhadores da P.& T. Collins assustados com as doenças e com os ataques
dos índios fugiam das obras, se emprenhando pela floresta. Até mesmo, um dos
proprietários da empresa, Thomas Collins teve o seu pulmão perfurado por uma flecha.
Assim diante de tantas intempéries, a empresa Collins acabou falindo.
Por sua vez, Church, idealizador da construção da estrada de ferro, estava também
totalmente falido, e para piorar a sua situação, o governo brasileiro cancelou a concessão
para a construção da estrada de ferro.
No início do século XX, através do Tratado de Petrópolis, o governo republicano
comprou o Acre pelo valor de dois milhões de libras esterlinas, e assumiu o compromisso de
construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré.

108
A compra do Acre estava relacionada a exploração da borracha e devido a presença
de trabalhadores brasileiros, em especial os nordestinos, que se dedicavam a extração do
látex.
A retomada da construção da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré tinha como objetivo
ligar a Bolívia ao Oceano Atlântico, escoar do Amazonas as riquezas do extrativismo vegetal
que interessava ao comercio internacional.
Para a sua construção, um edital de concorrência restrito a empresários brasileiros foi
publicado. O vencedor da concorrência foi o engenheiro Joaquim Catrambi, que juntamente
com o engenheiro Percival Farquhar teriam a concessão da ferrovia.
Farquhar foi aos Estados Unidos contratar engenheiros para conduzir as obras da
ferrovia. Desta maneira, em janeiro de 1907, engenheiros, trabalhadores de varias
nacionalidades e técnicos americanos chegaram a Santo Antonio do Rio Madeira.
Em agosto de 1907, Farquhar comprou a concessão de Catrambi fundando a Madeira-
Mamoré Railway Company.
Com o intuito de controlar as doenças que imperavam na região, Farquhar contratou
uma equipe médica, enfermeiros, farmacêuticos e construiu o hospital Candelária, em Santo
Antonio. Mesmo com essas medidas, as mortes eram inevitáveis, e por isso o empresário
tinha que constantemente contratar mais mão-de-obra, no exterior.
Na tentativa de diminuir a incidência das doenças e conseqüentemente das mortes, o
empresário contratou o médico sanitarista Oswaldo Cruz para estudar o quadro sanitário da
região. Ao chegar em Santo Antonio, o médico instalou-se no hospital Candelária, e
percorreu a linha da ferrovia até o rio Jaci-Paraná.
Ao finalizar o seu estudo sobre a região, Oswaldo Cruz apontou Santo Antonio como
um foco de doenças e listou as enfermidades que mais afetavam a região: pneumonia,
sarampo, ancilostomose, beribéri, disenteria, hemoglobinúria. Febre-amarela, calazar
(leishmaniose visceral) e a mais temida de todas, a malária.84
Em 1912, apesar das inúmeras dificuldades, a ferrovia foi finalmente inaugurada,
porém, o preço da borracha caiu no mercado internacional devido a concorrência com o
sudeste asiático. Além disso, o canal do Panamá foi concluído em 1915, tornando os fretes
mais baratos na região. Assim a Estrada de Ferro Madeira - Mamoré não deu os lucros
esperados.

84
Ibidem, p.150

109
Atualmente a Estrada de Ferro Madeira - Mamoré não pertence mais ao território de
Mato Grosso, pois em 1943, Getulio Vargas fundou o Território Federal do Guaporé, e com
isso anexou Santo Antonio do Rio Madeira e Guajará-Mirim ao novo território. Posteriormente
este território seria o atual Estado de Rondônia.
Atualmente a Estrada de Ferro Madeira- Mamoré não possui importância econômica
para o Estado de Rondônia, e segundo Hardman, a memória atual dos habitantes de Porto
Velho e demais localidades atravessadas pela linha da Madeira- Mamoré é evidentemente
bastante fragmentária. A exceção de um núcleo restrito de velhos ferroviários e seus
descendentes, que preservam ainda certa tradição oral em torno dos acontecimentos, a
grande maioria dos povoadores de Rondônia.(sic) desconhece quase tudo sobre aquela
estranha estrada de ferro desativada desde 1972.85

Trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré

O recrutamento de mão-de-obra para a construção da ferrovia foi extremamente difícil


desde o início de sua construção, pois muitos trabalhadores que chegavam ao vale
amazônico vinham contratados para trabalhar nos seringais. Por isso que a solução
encontrada pelas construtoras que acamparam o projeto de construir a ferrovia foi contratar
mão- de - obra do exterior.
Os trabalhadores contratados para a construção da ferrovia recebiam um
adiantamento para a sua passagem e ao chegarem ao local de trabalho recebiam mais um
adiantamento para a aquisição de gêneros alimentícios, que eram vendidos pela empresa
construtora. Recebiam também diariamente uma refeição de baixa qualidade nutricional.
Para receber esses trabalhadores a construtora edificou acampamentos, porém estes
acabaram preferindo construir cabanas cobertas de palhas.
O quadro abaixo revela o número trabalhadores contratados para a construção da
ferrovia pela Brazil Railway Co, no período de 1907 a 1912. :

Ano Homens
1907 446
1908 2450

85
Ibidem, p.180.

110
1909 4500
1910 6024
1911 5664
1912 2733
Total 21817
Fonte: Hardmam, Francisco Foot, Trem Fantasma, p. 140.

Capítulo 16: Comissão Rondon: Construção das Linhas Telegráficas

Na segunda metade do século XIX, os paises europeus passavam por um acelerado


processo de industrialização, e com isso investiam cada vez mais em descobertas cientificas,
com o intuito de promover a expansão capitalista.
Dentre essas inovações cientificas, é importante ressaltar a ferrovia e o telégrafo, pois
essas descobertas foram capazes de facilitar as comunicações entre os continentes,
integrando as populações das regiões “atrasadas” na órbita do capitalismo.
Paralelamente um discurso fundamentado no saber cientifico foi construído nos países
capitalistas ricos para justificar a dominação econômica e cultural sobre as regiões não
exploradas pelo capital.
Os ingleses e franceses interessados em investir o seu capital financiaram várias
expedições cientificas, que em viagens exploratórias na África e na América buscavam
conhecer as suas potencialidades. Para justificar a exploração econômica destes continentes
e da sua população, os europeus baseados nas teorias de Darwin alegaram que o branco
europeu era superior, e que tinham como missão propagar a civilização a esses povos, que
ainda viviam no estagio da barbárie. Assim cabia aos europeus civilizá-los.
Neste período, o capitalismo europeu avançava a todo vapor, as suas exportações
quadruplicaram, a navegação mercantil passou de 10 a 16 milhões de toneladas, a rede
ferroviária em 1870 contava, com pouco mais de 200 mil quilômetros, mas as vésperas da
Primeira Guerra mundial (1914-1918) chegou a 1 milhão de quilômetros.86
Foi nesse contexto, que o telégrafo tornou-se fundamental para o desenvolvimento do
capital, pois permitia a circulação das idéias, os contatos comerciais entre as regiões mais

86
Hobsbawn, Eric, A Era dos impérios; 1875-1914), p. 95

111
distantes do Planeta, derrubando as fronteiras geográficas e políticas, e através da adoção
de um único código de linguagem, o Código Morse, os homens conseguiram superar as
barreiras lingüísticas.
No Brasil, a construção da linha telegráfica esteve sob a responsabilidade da
Repartição Geral do Telégrafo. Em 1852, a primeira linha foi construída ligando a Quinta
imperial ao Quartel General do Exército. Na visão do governo imperial, o telégrafo seria
responsável pela integração entre as províncias brasileiras. De acordo com as autoridades
governamentais e os parlamentares do Império, a falta de informação, de comunicação entre
as províncias representava um entrave ao desenvolvimento econômico do país.
Em 15 de novembro de 1889, a república foi proclamada acarretando mudanças nas
instituições políticas brasileiras. Contudo, o governo republicano inspirado nos princípios do
positivismo considerou vital a retomada da construção das linhas telegráficas.
Para o governo republicano, a instalação do telégrafo não representava somente
facilitar as comunicações entre as regiões brasileiras. Para os republicanos, construir as
linhas telegráficas significava penetrar, conquistar o território brasileiro, definir as fronteiras,
conhecer os povos que habitavam as regiões mais longínquas.
Os governantes da Republica e os intelectuais brasileiros, no inicio do século XX, viam
o sertão brasileiro, como a antítese da civilização. O sertão representava um lugar dominado
pela barbárie, pois era ocupado por povos que viviam em estado “primitivo”, marcado por
uma intensa diversidade cultural. Assim seguindo os pressupostos do positivismo, os
governantes e intelectuais do período almejavam a „ pacificação dos índios” e
conseqüentemente a homogeneização da sociedade brasileira, que segundo eles seria
obtida com a construção das linhas telegráficas.
De acordo com a historiadora Laura Antunes em sua obra A nação por um fio.87, a
instalação das linhas telegráficas tinha como missão, como ideal retirar os povos que
habitavam o sertão, do estágio de “selvageria‟ e levá-los a civilização. Na verdade, civilizar
possuía um significado bem mais amplo, isto é, torná-los produtivos contribuindo para o
desenvolvimento da nação.
Para atingir as suas metas, o governo republicano indicou o mato-grossense, Candido
Mariano Rondon para dirigir os trabalhos pelo sertão. Rondon daria continuidade ao trabalho
iniciado no governo imperial, contudo o objetivo desta etapa era atingir os estados de Mato

87
Antunes, Laura, A Nação por um fio, p.69 a 135. Ver também: Hardman, Francisco Foot, Trem Fantasma.

112
Grosso, do Amazonas, do Pará, como também o Acre, o Purus e o Juruá, vistos naquele
momento histórico como uma região extremamente isolada, perigosa e de difícil penetração.
A Comissão Rondon era composta de oficiais do Exército, engenheiros militares,
funcionários civis, soldados, especialistas em botânica, zoologia e geologia. Contou também
com a participação de presos civis e políticos. A Comissão estava subordinada ao Ministério
da Viação e Obras Publicas e ao Ministério da Guerra.
Nos trabalhos empreendidos pela expedição, os oficiais eram encarregados das
tarefas estratégicas, enquanto cabia aos engenheiros estudar a topografia da região. Os
funcionários civis eram compostos pelos inspetores, telegrafistas, guarda-fios, fotografo e
enfermeiros, que pertenciam a Repartição Geral dos Telégrafos.
Já os soldados, os presos civis e políticos eram encarregados das tarefas mais
pesadas, como por exemplo, a abertura de estradas, a colocação dos postes e dos fios. Os
soldados eram oriundos das camadas populares e muitas vezes foram enviados aos
cuidados de Rondon, por serem considerados nos quartéis pelos seus superiores como
“desordeiros”. Geralmente os presos enviados para a Comissão Rondon, eram indivíduos
que participaram de rebeliões que afrontaram os interesses e o poder das oligarquias.
Como exemplo destas rebeliões, podemos citar o movimento ocorrido em 1910,
durante o governo de Hermes da Fonseca. Na capital federal, os marinheiros se rebelaram
exigindo do governo oligárquico o fim dos castigos corporais. O governo reprimiu
violentamente o movimento, e para punir os presos optou pela deportação a bordo do navio
Satélite. O destino dos 491 presos era a Estrada de Ferro Madeira -Mamoré e a Comissão
Rondon.
O trabalho na Comissão era exaustivo, os trabalhadores enfrentavam uma jornada
diária de 12 horas, e tinham direito ao descanso somente nos feriados e nas comemorações
oficiais. Recebiam uma precária alimentação, e eram acometidos pelas doenças que
grassavam na região. Na opinião do médico sanitarista, Oswaldo Cruz, a região amazônica
era a mais insalubre do país.
As moléstias provocavam muitas mortes impedindo o avanço da construção da linha
telegráfica. Para erradicar as doenças, e conseqüentemente diminuir a incidência da
mortalidade, os médicos e enfermeiros nos acampamentos chegaram a oferecer aguardente
quinada como prêmio para os trabalhadores que seguissem a risco o tratamento. O prêmio
agradou os trabalhadores, uma vez que era proibido nos acampamentos o uso de bebidas
alcoólicas.
113
Assim condenados pelo governo republicano a tarefas exaustivas, a enfrentar os
perigos do “sertão inóspito”e as doenças tropicais, os trabalhadores resistiam provocando
rebeliões. Para enfrentar a fúria, a resistência e disciplinar esses homens para o trabalho,
Rondon criou estratégias de estratégias de dominação. Para evitar as revoltas, os
trabalhadores eram constantemente vigiados e ameaçados com castigos físicos.
Em 1909, após o falecimento do presidente Afonso Pena, surgiu no governo federal
uma forte oposição a construção da linha telegráfica Mato Grosso – Amazonas. O ministro J.
J. Seara defendeu a sua extinção alegando que a Comissão desviava as verbas públicas e
utilizava de castigos corporais. Além disso, muitos parlamentares e religiosos se mostravam
contrários a “civilização do índio brasileiro”.
Apesar das duras críticas, a Comissão Rondon deu continuidade a sua tarefa,
entretanto, não conseguiu chegar ao seu destino final  a cidade de Manaus.
No quadro abaixo apresentamos resumidamente as etapas da construção das linhas
telegráficas:
Império:
Direção da Comissão de construção das linhas Telegráficas: general Cunha
Matos.
Nesse período, as linhas telegráficas, saindo de Franca (São Paulo), passaram
por Uberaba atingindo Goiás e Mato Grosso, até a Cuiabá.
República:
Direção da Comissão da Construção da Linha Telegráfica: Candido Mariano
Rondon.
Foram instaladas 17 estações, uma linha chegou até a fronteira do Paraguai,
ligando Porto Murtinho a Bela Vista e outra atingiu a fronteira com a Bolívia,
atendendo Cáceres, Coimbra e Corumbá.(1900-1906).
1907- 1915: Foram construídas três sessões, uma saindo de Cáceres a Vila bela,
a segunda ligando Cuiabá a Santo Antonio do Rio Madeira e a terceira teve um
caráter exploratório e de reconhecimento da região
Fonte: Cavalcante, Else, Rodrigues, Maurim, Mato Grosso e sua História, p. 107

Serviço de Proteção ao índio

114
Em 1910, o governo federal pautado pelo pensamento positivista tomou a decisão de
iniciar uma ação governamental que tinha como objetivo civilizar o índio brasileiro. Para
realizar esse projeto civilizatório, o presidente da Republica, Nilo Peçanha criou o Serviço de
Proteção ao Índio.
O Estado, em seus discursos oficiais, afirmava que a função do SPI seria proteger o
índio, demarcar as terras indígenas. Para conduzir a política de proteção ao índio, protegê-
los do extermínio, Nilo Peçanha encarregou Candido Rondon, que ficou conhecido em todo o
pais pelo lema “morrer se preciso for, matar nunca.”
O Serviço de Proteção ao Índio (SPI) foi extinto com a ditadura militar e os seus
arquivos demonstraram que seus objetivos não foram alcançados, uma vez que os índios
que participaram da Comissão Rondon perderam as suas terras, os suas referencias
culturais, e ao final da construção da linha telegráfica foram para as cidades, aonde foram
marginalizados e explorados. De acordo com a OPAN/CIMI, o Serviço de Proteção ao Índio
entrou para a historia como um símbolo de genocídio. Desde a sua criação, a população
indígena do país decresceu em cerca de 1 milhão para menos de 200 mil, sem esquecer que
muitas nações indígenas foram extintas. 88

A Política do Índio na República

Apesar do governo republicano desenvolver uma política voltada para o índio, os


interesses capitalistas falaram e continuam a falar mais alto acarretando no massacre de
aldeias indígenas ou na fome e miséria dos índios brasileiros.
Em 1850, com a Lei de Terras, a situação do índio se agravou, pois a lei impedia a
existência da pequena propriedade e afirmou o predomínio do latifúndio na estrutura
fundiária brasileira.
Nesse período, a economia brasileira se adequava as exigências do capitalismo.
Assim a produção agrícola era sustentada no latifúndio e na exigência do mercado externo.
Essas características econômicas acabou favorecendo a extinção dos povos indígenas e na
dilapidação dos seus territórios, pois a medida que o capitalismo acelerava, os fazendeiros
queriam mais terras.

8888
Apud: Cavalcante, Else, Rodrigues, Maurim, Mato Grosso e sua História, p.109.

115
Na segunda metade do século XX, os índios passaram a ser exterminados através de
armas biológicas. Os capitalistas interessados nas terras indígenas chegaram a doar
presentes, como por exemplo, cobertores contaminados com o vírus de doenças como o
sarampo, a tuberculose e a sífilis. Desta forma, aldeias inteiras foram eliminadas.
Durante o Estado Novo, o governo através do projeto “A Marcha para o Oeste”, com a
intenção de os “espaços vazios”, no sul de Mato Grosso, acabou também expropriando
territórios indígenas.
E em 1963, a imprensa denunciou o massacre dos índios Cinta Larga. A chacina foi
denominada pela imprensa de Chacina do Paralelo 11. Esta chacina ocorreu no município de
Aripuanã, quando dois fazendeiros interessados em ampliar os seus domínios enviaram a
Aldeia Cinta Larga, dois empregados portando uma metralhadora. Os empregados
dispararam impiedosamente contra os índios.89
Na década de 70, com a colonização do Norte de Mato Grosso e da Amazônia mais
uma vez os índios perderam o seu território e aqueles que resistiram foram eliminados. O
estímulo dado ao governo federal à produção econômica exportadora, aniquilou as pequenas
propriedades, promoveu o desmatamento que conseqüentemente tornou difícil a caça e a
pesca nos rios.
Ao perderem os seus territórios muitos índios vieram morar nas cidades, contudo
enfrentam muitas dificuldades como a falta de moradia, de emprego e o preconceito, uma
vez que, desde o início da colonização vários estereótipos foram criados pelo branco
denegrindo a imagem dos índios.
Os interesses capitalistas persistem e continuam a provocar uma série de conflitos
entre posseiros, fazendeiros e índios. A reportagem do “jornal Diário de Cuiabá” no quadro
abaixo revela a problemática do índio brasileiro.

Brasil abandonou índios, diz Anistia Internacional

Em comunicado emitido ontem à imprensa mundial, a Anistia Internacional afirmou


que o governo e o Judiciário brasileiros fracassaram na proteção ao direito dos
índios à terra.

89
Fernandes, Joana, Índio: Esse Desconhecido, p. 36.

116
A manifestação foi motivada episódios envolvendo indígenas guaranis-caiuás em
Mato Grosso do Sul, na região da fronteira com o Paraguai. Em 15 de dezembro,
cerca de 700 índios foram retirados, pela Polícia Federal, de uma terra em disputa
na cidade de Antônio João e está acampado à beira da rodovia MS-384. Nove
dias depois, o índio Dorvalino Rocha, 39, foi morto com um tiro no peito. O autor
do crime foi, segundo a Anistia e membros da Fundação Nacional do Índio, um
segurança contratado por fazendeiros.
"No Brasil, a população indígena continua a sofrer violência e severa situação de
pobreza como resultado do fracasso do governo e do Judiciário em proteger seu
direito constitucional à terra", afirma a nota, intitulada "Brasil: Governo e Judiciário
abandonam povos indígenas mais uma vez".
A Anistia diz que a PF, apoiada por fazendeiros, usou violência na retirada dos
índios de sua "terra ancestral" (uma mulher teria sofrido aborto) e que os guaranis-
caiuás acampados estão sem comida nem abrigo. Os guaranis-caiuás são uma
das etnias mais afetadas pela miséria no Brasil. Em 2005, ao menos 15 crianças
morreram de desnutrição
Fonte:Diário de Cuiabá, 25/01/2006

Expedição Roosevelt- Rondon

Em 1913, o coronel Theodoro Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos chegou a


Mato Grosso através da navegação pela foz do rio Apa. Rooselvelt comandava uma
expedição que tinha como objetivo atravessar o sertão até atingir o rio Madeira.
Candido Rondon recebeu a tarefa de conduzir a expedição pelo “sertão” mato-
grossense. Partindo do Rio de Janeiro, Rondon teve o seu primeiro contato com Roosevelt
em Corumbá surgindo assim a Expedição Roosevelt - Rondon.
Os expedicionários seguiram em direção a Cáceres, e posteriormente ao porto de
Campo, no rio Sepotuba. Assim a expedição se dirigia em direção aos sertões dos índios
Parecis e dos Nhambiquaras.
Para percorrer essa marcha, Rondon reuniu uma tropa de 110 muares, 70 bois
cargueiros e dividiu a expedição em duas colunas; uma ficou sob o comando do capitão
Amílcar Magalhães, que seguiu para Juruena, o outro grupo foi composto por Roosevelt e
117
Rondon, que desceu o rio Papagaio, explorando e fazendo o levantamento da região. Mais
tarde, as duas colunas se encontraram e rumaram em direção a Manaus. Ao chegar em
Manaus, a expedição foi para Belém do Pará, e finalmente a expedição Roosevelt voltou
para os Estados Unidos.90
A medida que a expedição avançava sobre o território mato-grossense amostras de
vegetais e minerais eram coletados, animais caçados e empalhados. Todo este material foi
enviando para os Estados Unidos para ser estudado, pois os americanos queriam conhecer
as potencialidades de Mato Grosso, descobrir o que havia nesse imenso território para ser
explorado.

Capitulo 17: Era Vargas em Mato Grosso

Na década de 20 e 30, a industrialização e a urbanização passaram a compor o


cenário econômico e social do país, que anteriormente era predominante agrário. Embora, o
café continuasse a ser o principal de exportação, o surto industrial de 1914/1918 trouxe
transformações a sociedade brasileira. Essas mudanças provocaram também alterações
políticas, uma vez que novos setores sociais como as classes medias urbanas, a burguesia
industrial e o operariado questionavam as estruturas políticas que sustentavam a oligarquia
cafeeira.
Apesar dos governos oligárquicos terem enfrentado vários movimentos sociais, que
expressavam o descontentamento das camadas populares, a oligarquia cafeeira se manteve
inabalável. Porém, uma crise política interna se deu durante o pleito eleitoral de 1909,
quando Rui Barbosa e Hermes da Fonseca disputaram a presidência da República. Hermes
da Fonseca foi eleito, e a oligarquia cafeeira foi capaz de superar essa fase.
Em 1929, a oligarquia cafeeira foi novamente abalada, com a crise dos Estados
Unidos, que debilitou os países capitalistas. Com a queda dos preços do café no mercado
internacional, o setor cafeeiro se viu em franca decadência. Paralelamente, na década de 20,
a oligarquia cafeeira enfrentou o movimento tenentista, que tinha como objetivo derrubá-la do
poder.

90
Mendonça, Estevão, Datas Mato-Grossenses, p.310.

118
O Tenentismo ameaçou principalmente o governo de Artur Bernardes (1922-1926),
entretanto, as forças legalistas controlaram o movimento, e os rebeldes se exilaram na
Bolívia. Apesar do insucesso dos tenentes, o governo oligárquico entrou em decadência, pois
o tenentismo mostrou a insatisfação de setores do Exército ao governo oligárquico.
Outro desgaste que promoveu a falência da oligarquia foi a sucessão presidencial. Em
1929, a crise econômica, provocada pela desvalorização do café levou o presidente
Washington Luís a romper com a Política Café com Leite, isto é, a sucessão presidencial
entre Minas Gerais e São Paulo. Para essas eleições o candidato indicado pelo presidente
foi o paulista Julio Prestes, no entanto, deveria ser Antonio Carlos de Andrade, chefe do
Partido Republicano de Minas Gerias.
O rompimento deste acordo acarretou em insatisfações, e dentro do Partido
Republicano Paulista aconteceu uma cisão, nascendo assim o Partido Republicano
Democrático. Os tenentes reanimaram-se na tentativa de combater o domínio político dos
paulistas, as oligarquias dissidentes do Rio Grande do Sul e da Paraíba apoiaram o
rompimento de Minas Gerais com São Paulo.
Com o intuito de derrubar a oligarquia paulista, as oligarquias dissidentes formaram a
Aliança Liberal, formada por Minas Gerais, Paraíba e o Rio Grande do Sul. As oligarquias
dissidentes não apresentavam propostas revolucionárias, porém propunham mudanças que
atendiam o anseio das camadas populares, como o voto secreto e o voto feminino, o
estabelecimento de uma jornada de trabalho de oito horas. A Aliança Liberal lançou como
candidato a presidência Getulio Vargas, representante da oligarquia gaúcha e como vice-
presidente, João Pessoa representante da Paraíba.
As eleições aconteceram em 1930, a máquina da corrupção política paulista funcionou
(voto de cabresto, fraudes, violência, dentre outras) novamente e Julio Prestes, candidato
paulista venceu as eleições. Vargas obteve aproximadamente oitocentos mil votos, e o
candidato oficial foi eleito com um milhão de votos.91
Diante destes resultados, a oligarquia dissidente com o apoio dos tenentes iniciaram o
preparativos para um movimento armado. O estopim usado para começar uma luta para
derrubar a oligarquia paulista foi o assassinato de João Pessoa, que fora candidato a vice –
presidente pela Aliança Liberal.

91
Tota, Antonio, O Estado Novo, p.11.

119
Assim em 3 de outubro de 1930 iniciou-se a “revolução”, e já no dia 24 de outubro
Washington Luis foi deposto. Com a derrubada da oligarquia, os rebeldes apoiaram a subida
de Vargas ao poder., em 3 de novembro de 1930. Terminava desta forma a dominação da
oligarquia cafeeira, mas as relações sociais continuavam as mesmas. Podemos considerar
que a Revolução de 30 foi feita pelas oligarquias dissidentes para acabar com a política café
com leite.

Governo Provisório de Vargas (1930-1934)

Ao subir ao poder, Getulio Vargas procurou combater as estruturas de sustentação


criadas pela política-café-com leite, e para isso desenvolveu uma série de mecanismos que
visavam reorganizar o Estado. Nessa fase política, foi fechado o Congresso Nacional, as
Assembléias Legislativas Estaduais e as Câmaras Municipais.
Para governar os estados, Getulio interveio derrubando do poder os antigos
governadores (oligarcas), exceto em Minas Gerais, e nomeou para governar os estados, os
interventores federais, que geralmente eram tenentes.
Aos interventores federais cabia exercer o poder Executivo e o Legislativo, podiam
deliberar posturas e atos municipais, e teriam nos estados governados por eles, os mesmos
poderes que cabiam ao governo Provisório.92
Em Mato Grosso, Getulio destituiu do cargo de governador Aníbal de Toledo e indicou
como interventor federal Antônio Mena Gonçalves, que tomou medidas que visavam minar o
poder dos oligarcas, que anteriormente tinham o seu poder e interesses sustentados pela
oligarquia cafeeira. Em Mato Grosso, a política de Mena Gonçalves afetou principalmente os
usineiros, que eram coronéis que detinham o poder na região, pois apoiavam a oligarquia
paulista.
Mena Gonçalves não foi o único interventor federal em Mato Grosso, posteriormente o
presidente indicou como interventores federais para Mato Grosso, Artur Antunes Maciel e
Leônidas de Matos. A troca de interventores cabia ao Presidente da Republica e a lei
estabelecia que o interventor seria exonerado a critério do Governo Provisório. 93

92
Carone, Edgar, Segunda Republica, p.18
93
Idem, p.20.

120
A mudança dos interventores demonstrava o interesse do governo Provisório pelo
Estado de Mato Grosso. Esse cuidado estava relacionado as insatisfações dos oligarcas com
as decisões do governo Vargas. Mena Gonçalves enfrentou uma forte reação das
oligarquias, que não aceitaram as mediadas impostas pelo interventor, e este por sua vez
chegou a decretar a prisão de alguns coronéis. Assim, os coronéis em protesto, reclamaram
ao governo federal e Mena Gonçalves foi destituído.94
Em 1932, Getulio nomeou como interventor federal Artur Antunes Maciel, que recebeu
a incumbência de conquistar a população mato-grossense ao governo getulista. Este ano foi
bastante intranqüilo para o governo getulista, pois as elites gaúchas e mineira romperam com
o presidente, acusando-o de ditador. A situação se agravou mais ainda, quando em 9 de
julho de 1932, os paulistas iniciaram a Revolução Constitucionalista.
Os rebeldes paulistas desejavam na verdade recuperar o poder perdido com a
“Revolução de 1930”, embora afirmassem à população paulista, que o movimento era
necessário, pois Vargas governava o país inconstitucionalmente. Assim a bandeira levantada
pela elite paulista, para conseguir a adesão do setores populares era que a revolução tinha
como objetivo dar ao Brasil uma constituição.
São Paulo rompeu o movimento esperando a adesão das elites mineiras e gaúchas,
mas estas acabaram se reconciliando com o presidente. Na realidade, São Paulo somente
contou com a participação de um pequeno destacamento, proveniente do sul de Mato
Grosso e comandado pelo general Bertoldo Klinger.
O apoio do sul de Mato Grosso a causa paulista estava associado ao anseio do sul de
Mato Grosso pela divisão do Estado. No decorrer da Revolução Constitucionalista, o sul de
Mato grosso se separou criando o Estado do Maracaju, que foi governado pelo médico,
Vespasiano Martins.
A Revolução Constitucionalista durou três meses, Getúlio levantou a suspeita do
separatismo paulista e com isso conseguiu manter os outros estados a seu lado. Sem armas,
e isolados, os paulistas não resistiram muito tempo. Após ter controlado o movimento em
São Paulo, Vargas combateu o movimento separatista no sul de Mato Grosso e convocou
eleições para formação de uma assembléia constituinte para elaborar uma constituição para
o Brasil.

94
Madureira, Elizabeth, historia de Mato Grosso, p.198.

121
Vargas pretendia garantir o domínio política na assembléia constituinte, pois essa
instituição seria a responsável pela eleição do presidente, e lógico Vargas pretendia se
candidatar. Assim a participação de Mato Grosso no movimento constitucionalista levou
Vargas a dar mais atenção aos acontecimentos políticos que ocorriam em Mato Grosso. Foi
neste momento, que aconteceu a repressão ao Tanque Novo, em Poconé.

Tanque Novo

O Tanque Novo localiza-se nas imediações de Poconé e na década de 30, durante o


governo provisório de Vargas, os moradores deste vilarejo foram alvos de uma intensa
repressão política promovida pelo governo. Esse movimento social ocorreu, em 1933, no
momento em que Getulio Vargas convocava as eleições para a formação de uma
Assembléia Constituinte para elaborar uma Constituição para o país.
Foi nesse reduto próximo a Poconé, que residia Laurinda Lacerda Cintra, uma dona
de casa, que vivia modestamente cercada pelos seus filhos. Em Poconé, essa mulher era
conhecida pelos moradores da região como Doninha.
Doninha ficou conhecida, pois segundo os habitantes de Poconé, era sensitiva. Tinha
visões da santa “Jesus Maria José”, curava as enfermidades e fazia previsões sobre o futuro.
A notícia das curas de Doninha acabou conduzindo a essa localidade inúmeras
pessoas, que vinham em busca de uma solução para os seus males. Depois de curados
muitos preferiram se estabelecer naquele lugar, surgindo assim uma comunidade fortemente
influenciada pela Doninha, e que tinha o seu cotidiano voltado para as práticas religiosas.
Aos seus moradores era proibido o uso de bebidas alcoólicas e jogos de azar.
Os coronéis de Poconé durante a república oligarquia, logo enxergaram que poderiam
obter votos na região através do apoio político de Doninha. Para isso, os coronéis ajudavam
a Doninha e a sua gente com donativos.
Foi usando desta artimanha, que os coronéis nas eleições de 1930, conseguiram que
a população de Poconé votasse no candidato da oligarquia paulista, Júlio Prestes. Assim, a
vitória de Julio Prestes demonstrou que os coronéis e a população da região era oposição a
Aliança Liberal.
Após a sua derrota nas urnas, a Aliança Liberal articulou um levante armado  a
Revolução de 1930. Através deste golpe, as oligarquias dissidentes contaram com a

122
colaboração dos tenentes, aniquilando definitivamente a oligarquia paulista. A seguir, Getulio
Vargas apoiado pelos rebeldes tomou posse na Presidência.
Ao subir ao poder, Vargas empreendeu uma política administrativa voltada para
combater em cada estado da Federação, as forças políticas que sustentaram o governo
oligárquico. Desta forma, destituiu os antigos governadores, e nomeou para governar os
estados, os interventores federais.
Como mencionamos anteriormente, Mena Gonçalves foi indicado como o primeiro
interventor federal do governo Vargas em Mato Grosso. Este interventor federal empreendeu
medidas que visavam combater o poder dos coronéis, em especial dos usineiros da região
de Santo Antônio do Leverger. Contudo, essas medidas provocaram insatisfações e como
Vargas não pretendiam hostilizar a população mato-grossense e as forças políticas regionais,
mais sim conquistar a sua simpatia e apoio, o presidente resolveu nomear para Mato Grosso
outro interventor federal; Artur Antunes Maciel.
Ao iniciar a sua gestão, Artur Antunes seguindo a legislação que conferia aos
interventores o direito de escolher os prefeitos do município, nomeou para a Prefeitura de
Poconé, Manuel Nunes Rondon.
Para conquistar a população de Poconé e do Tanque Novo, Artur Antunes e o prefeito
auxiliavam financeiramente a população carente da região e para abrigar os doentes que
chegavam a procura uma benção de Doninha, edificaram um barracão. Essa prática política,
assim como a relação entre a população do Tanque Novo e as autoridades governamentais
revelam que a comunidade de Doninha ainda não representava uma ameaça política mais
efetiva ao governo getulista.
Porém, os rumos dessa relação começaram a se alterar a partir de 1932. Neste ano
ocorreu em São Paulo a Revolução Constitucionalista, através da qual a oligarquia paulista
queria retomar o poder, mas alegava para a população que o movimento lutava por uma
constituição.
Os paulistas contaram somente com o apoio do sul de Mato Grosso, que enviou
tropas lideradas por Bertoldo klinger.
Depois de três meses de luta armada, o governo Vargas combateu as forças
oposicionistas e abriu as eleições para a escolha dos representantes que iriam compor a
Assembléia Constituinte. Para a realização dessas eleições, o governo permitiu a formação
de partidos políticos.

123
Em Mato Grosso surgiu o Partido Liberal Matogrossense, que representava as forças
situacionistas; o Partido Constitucionalista de Mato Grosso, formada pela oposição e o
Partido da Liga Eleitoral Católica.
O domínio de Vargas na Assembléia Constituinte era crucial para o seu continuísmo
político, pois além de elaborar a constituição, os constituintes iriam eleger o presidente da
republica. Desta maneira, o governo Vargas deu início a perseguições para garantir a vitória
dos candidatos da situação.
Com relação a Mato Grosso, o governo nomeou outro interventor federal para Mato
Grosso; Leônidas Antero de Matos. Observa-se nesse instante uma mudança de conduta
governamental para o Estado.
Leônidas de Matos recebeu a incumbência de afastar a oposição a Vargas, e para
isso indicou como novo prefeito para Poconé, Antonio Correa da Costa. O novo prefeito
começou a sua perseguição aos opositores de Getulio enviando para o Tanque Novo uma
força policial para prender Doninha e os seus seguidores. Foram presos sob a acusação de
serem baderneiros e de assaltarem fazendas nas proximidades de Poconé.
Não havia nenhuma veracidade nas acusações, na verdade as perseguições estavam
relacionadas às eleições para a composição da Assembléia Constituinte, pois Doninha e a
população da região declararam que apoiavam para essas eleições, a oposição, isto é, o
Partido Constitucionalista.
Assim para escapar da prisão, muitos dos seus seguidores fugiram do cerco da polícia
adentrando pelo Pantanal. Porém, Doninha foi detida e somente foi liberada, quando Vargas
garantiu a vitória do seu candidato nas eleições.
Ao sair da prisão, Doninha preferiu mudar com a sua família para Cáceres, e viveu
nesta cidade tendo visões e fazendo curas até o fim dos seus dias.

Estado Novo (1937-1945)

Em 1934, a Assembléia Constituinte elegeu Getulio Vargas à Presidência da


República. Nessa fase política, o governo Vargas enfrentou conflitos entre os grupos políticos
que disputavam o poder e eram fortemente influenciados pelas ideologias radicais que
cresciam nos países europeus, e culminariam na Segunda Guerra Mundial.
Em 1934, Luis Carlos Prestes que participou do movimento tenentista na década de
20 retornou do exílio em Moscou como membro do PCB. Outros líderes do movimento
124
tenentista, também filiaram-se ao partido. Verifica-se portanto, o surgimento no interior do
PCB, de uma esquerda de origem militar.95
Os comunistas brasileiros fundaram uma agremiação política  a Aliança Libertadora
Nacional (ANL), que além dos comunistas congregava socialistas. A ANL reunia operários,
parcelas da classe média e a setores da baixa oficialidade do Exército brasileiro. Pregavam o
nacionalismo, o antiimperialismo e a reforma agrária.
Em oposição aos ideais da Aliança Nacional Libertadora, havia a Ação Integralista
Brasileira (AIB) fundada por Plínio Salgado, que atraiu segmentos da burguesia brasileira, da
Igreja e do Exército. Inspirados no fascismo europeu, os integralistas ou camisas verdes,
combatiam os princípios democráticos, defendiam a propriedade privada e a instalação de
um governo autoritário no país. Os princípios políticos pregados pelos integralistas atraíram a
simpatia de Vargas a AIB, mas o crescimento da ANL, que chegou a ter 1.600 sedes,
preocupava Getulio Vargas e os setores conservadores do Exército.96
Em 1935, o presidente conseguiu do Congresso a aprovação da Lei de Segurança
Nacional. A lei visava conter o movimento operário e o comunismo, e baseando-se nela o
Congresso determinou o fechamento da Aliança Nacional Libertadora.
Os comunistas em represália, liderados por Luís Carlos Prestes, organizaram uma
tentativa frustrada de uma revolução social. O levante fracassado dos partidários da ANL
ficou conhecido como Intentona Comunista. Logo após a derrota do movimento, Vargas e os
aliados começaram a preparar a instalação de um Estado Autoritário. Em seus discurso a
população, o presidente argumentava que o país estava ameaçado pelo avanço do
comunismo.
Em 22 de setembro de 1937, a imprensa noticiou a descoberta de um plano comunista
para a tomada do poder. Era o Plano Cohen, na verdade um plano forjado pelo capitão
Olimpio Mourão Filho, membro da AIB.
O Congresso Nacional e a população brasileira aterrorizados pela possibilidade de
uma nova rebelião comunista apoiaram a implantação de uma ditadura  o Estado Novo.
O Estado Novo foi um período marcado pela suspensão dos direitos e das liberdades
democráticas. Os opositores ao regime eram presos pela Polícia Secreta, que era dirigida em
todo o território nacional pelo mato-grossense Filinto Müller.

95
Priore, Mary Del. O Livro de Ouro da Historia do Brasil, p.314.
96
Tota, Antônio, O Estado Novo, p.15

125
Para construir a população uma imagem positiva da ditadura, o governo criou o
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), através do qual incentivou a música popular
brasileira, impôs a censura e estimulou o culto à personalidade de Vargas.
Paralelamente interferiu na economia, com a intenção de modernizar a economia
brasileira. Vargas acreditava em um desenvolvimento autônomo e independente do capital
estrangeiro. Na sua visão era preciso investir na industrialização cabendo ao Estado garantir
a infra-estrutura necessária ao desenvolvimento do país.
No tocante, a administração Getúlio Vargas indicou para governar os estados
brasileiros, os interventores federais. Os interventores eram oligarcas que defendiam os
interesses do presidente em sua região. Para Mato Grosso, o presidente nomeou como
interventor federal Julio Muller, irmão de Filinto Muller, que como mencionamos
anteriormente era o chefe da Policia Política da ditadura getulista.

A Administração de Julio Müller em Mato Grosso

Julio Muller foi interventor federal de Vargas em Mato Grosso durante o governo
ditatorial. O seu governo foi caracterizado pela construção de obras, que visavam modernizar
a capital de Mato Grosso. Era importante modernizar Cuiabá, uma vez que o sul reivindicava
junto ao governo federal a transferência da capital para a cidade de Campo Grande.
Para concretizar os seus objetivos, o interventor buscou recursos financeiros junto ao
governo federal. Ainda para atingir os seus propósitos, escolheu para dirigir as obras a
construtora Coimbra Bueno, e o engenheiro Cássio Veiga de Sá era o engenheiro
responsável pelas obras em Cuiabá. A escolha de Julio Muller não foi aleatória, pois a
empresa construtora escolhida para modernizar Cuiabá foi a responsável pela construção de
Goiânia.
Dentre as principais obras construídas na gestão de Julio Muller apontamos:
A residência dos governadores.
Grande Hotel, construído na Avenida Getulio Vargas, e que atualmente é a sede da
Secretaria de Cultura do governo de Mato Grosso.
A ponte “Julio Müller sobre o rio Cuiabá.
A abertura da Avenida Getulio Vargas.
A instalação da Estação de Tratamento de Água, na rua Presidente Marques.

126
A fundação do Liceu Cuiabano na Avenida Getulio Vargas.
A fundação do Cine-Teatro localizado na Avenida Getulio Vargas.
Em 1941, chegou a Cuiabá as 10 horas da manhã, um bimotor “Locked” conduzindo o
presidente Getulio Vargas, que veio para participar das festividades de inauguração das
obras edificadas pelo seu interventor federal. 97

Marcha para o Oeste

Ao final do ano de 1937, Getúlio Vargas anunciou à nação o projeto de colonização e


interiorização do país denominado de “Marcha para o Oeste”. Segundo o discurso do
presidente, a ocupação da região Amazônica e do oeste brasileiro era uma necessidade
urgente e necessária. Na fala proferida por Vargas, este afirmou

Temos de enfrentar corajosamente, sérios problemas de melhoria das nossas


populações, para que o conforto, a educação e a higiene não sejam privilégios de regiões ou
de zonas. Os benefícios que conquistastes devem ser ampliados aos operários rurais, aos
que insulados nos sertões, vivem distantes das vantagens da civilização. Mesmo porque, se
não o fizermos, corremos o risco de assistir ao êxodo dos campos e superpovoamento das
cidades – desequilíbrio de conseqüências imprevisíveis, capaz de enfraquecer ou anular os
efeitos da campanha de valorização integral do homem brasileiro, para dotá-lo de vigor
econômico, saúde física e energia produtiva.
Não é possível mantermos a anomalia tão perigosa como a de existirem camponeses
sem gleba própria, num país onde os vales férteis como a Amazônia permanecem incultos e
despovoados de rebanhos, extensas pastagens, como as de Goiás e as de Mato Grosso 98.

O discurso acima deixa evidente as propostas e as preocupações do governo


estadonovista.
Em um momento marcado por uma intensa repressão, a propaganda da “Marcha para
o Oeste” divulgada pelos meios de comunicação consistia em uma estratégia que visava
sensibilizar a sociedade brasileira, criar um estado de comoção social. Por isso, o discurso
oficial se referiu a esse projeto de colonização como o verdadeiro sentido de brasilidade, isto

97
Mendonça, Estevão, Datas Mato-grossenses, p.80.
98
A Nova Política do Brasil, p. 261.

127
é, os brasileiros marchando juntos, conduzidos por um único chefe (Vargas) para que se
consumasse a conquista e exploração de novos territórios.99
A colonização proposta na “Marcha para o Oeste” aconteceria baseada na pequena
propriedade. Para Vargas e mesmo para intelectuais como Cassiano Ricardo, a pequena
propriedade amenizaria os conflitos sociais no sudeste, no campo e promoveria o
desenvolvimento industrial do país.
Deste 1933, Vargas já defendia o retorno do homem ao campo como solução para
superar as crises sociais que se agravavam em decorrência da intensificação da urbanização
na região sudeste. Por isso, no programa da “Marcha para o Oeste”, defendeu que a
aquisição de terras deveria ser facilitada e os pagamentos parcelados.
Vargas ainda argumentou sobre a necessidade de obter capitais nacionais para serem
empregados na conquistas das regiões “atrasadas”.
Para atingir as suas metas, o governo anunciou a desapropriação de latifúndios
improdutivos. Essa medida contrariou os interesses dos latifundiários, que afirmaram que a
Igreja através da Encíclica Rerum Novarum, do papa Leão XIII, condenava a erradicação
completa da propriedade privada, mas não a sua divisão e indenização feita pelo Estado.
Outros alegavam que somente a produção agrícola em larga escala era capaz de atender a
demanda da industrialização.100
Apesar de todo esse combate, o Estado Novo continuou a defender a necessidade de
efetivar a colonização do oeste do Brasil. Assim o governo, deixou de arrendar terras
devolutas, pois segundo o projeto cabia ao Estado adquirir terras, lotear e ceder aos
trabalhadores rurais. Foi dentro desta conjuntura que o governo se negou a fazer um novo
arrendamento de terras no sul de Mato Grosso para a Companhia Mate-Laranjeira.
Desta maneira, o Estado deveria criar uma infra-estrutura necessária para atender a
colonização e combater a especulação da terra.
Ainda no contexto da “Marcha para o Oeste”, o governo estimulou a criação de
Colônias Agrícolas. Essas colônias agrícolas estavam subordinadas ao Ministério da
Agricultura, eram formadas em pequenas propriedades, e deviam cultivar produtos agrícolas
de largo consumo. A exemplo, o governo federal criou em Mato Grosso, a colônia de
Dourados.

99
Lenharo. Alcir, colonização e Trabalho no Brasil: Amazônia, Nordeste e Centro-Oeste, p.14.
100
Idem, p. 25

128
O governo Vargas fundou também as colônias militares e de fronteiras, pois não
esqueçamos, que na Europa ocorria a Segunda Guerra mundial, suscitando no governo
brasileiro a preocupação em defender os territórios de fronteira. Para criar essas colônias, o
governo expropriou as terras da Brasil Railway, que estavam concentradas nas fronteiras de
Mato Grosso e Santa Catarina com a Bolívia, Paraguai e Argentina. Além dessa empresa, a
política de Vargas atingiu a “Brasil Land”, que possuía terras em Corumbá e Cáceres,
Fomento Argentino que acumulava terras em Porto Murtinho.101
Apesar de todos os esforços em defesa de uma colonização pautada na pequena
propriedade, as propostas não avançaram em conseqüência das dificuldades materiais e do
preparo dos colonos. Com o fim da ditadura de Vargas (1945), as terras destinadas a
colonização foram redistribuídas ficando em posse de poucas pessoas.

Expedição Roncador-Xingu

Em 1943, com a Segunda Guerra Mundial, o governo brasileiro acreditava na


possibilidade de uma imigração européia em direção ao interior do Brasil. Além disso, as
autoridades governamentais viam a região do Araguaia, entre Goiás e o Mato Grosso, como
o Brasil desconhecido, pronto a ser explorado, e conseqüentemente integrado ao território
nacional.
Porém essa região desconhecida pelo homem branco era habitado por dezenas de
nações indígenas, que possuíam uma atividade econômica voltada para suprir as
necessidades do cotidiano.
Esse imenso território, cercado pelas florestas, pelos rios abundantes, era rico em
produtos do extrativismo vegetal e mineral, e por isso acabou despertando o interesse de
garimpeiros, capitalistas, do governo federal e dos militares.
Assim motivado pela defesa do território e pelos interesses do capital, Getulio Vargas
em 1943, depois de sobrevoar a região do Araguaia e constatar a sua imensidão e o seu
potencial econômico anunciou a nação a criação da Expedição Roncador- Xingu.
A expedição estava sob a coordenação do ministro da Coordenação de Mobilização
Econômica, João Alberto, que declarou a imprensa carioca que,

101
Ibidem, p.49

129
A expedição tem objetivos não apenas desbravadores, mas principalmente
colonizadores. Não pode ter a marcha rápida de um meteoro, colhendo aqui e ali
informações geográficas e cientificas. Nem tem simplesmente o desígnio de chegar a um
determinado lugar sem deixar pelo trajeto nenhum marco de sua passagem. Os lugares
102
atingidos serão lugares conquistados para a civilização, integrados na economia nacional.

Para o Getulio Vargas e o ministro João Alberto, a Expedição Roncador -Xingu seria
responsável pela integração da região oeste ao país.
A expedição inicialmente foi comandada pelo Coronel Flaviano Vanique, e era
composta por sertanejos recrutados na região Centro-Oeste. Em 1943, os expedicionários
começam uma longa marcha para a região do Araguaia. Adentraram pelo território
considerado como desconhecido, enfrentando os animais ferozes, e mantiveram o primeiro
contato com os povos indígenas. Logo, o governo federal certificou que precisava
arregimentar mais homens.
Essa viagem fantástica foi noticiada pela imprensa brasileira e acabou atraindo a
expedição os irmãos Villas Boas (Orlando, Cláudio e Leonardo), que embora não fossem
sertanejos, acabaram sendo aceitos pelo governo.
Ao entrarem no Araguaia, a expedição se deparou com os índios Xavantes. Este foi o
primeiro contato do povo xavante com o homem branco. Os xavantes se dedicavam
principalmente a caça, e nesse primeiro contato ficaram bastante assustados fugindo para as
matas.
Com a posse na presidência da Republica de Eurico Garpar Dutra, os irmãos Villas
Boas assumiram a chefia da Expedição Roncador –Xingu. Sob a liderando dos Villas- Boas,
a expedição entrou em contato com os diversos povos indígenas que habitavam aquela
região.
A expedição percorreu aproximadamente 1.500 quilômetros, e em decorrência dos
seus trabalhos vilas e cidades foram surgindo, campos de aviação foram construídos e
mantiveram contato com 5 mil índios, das mais variadas etnias.
Para atingir os seus objetivos de forma mais efetiva, a expedição se dividiu em dois
grupos; um avançava pela selva, e o outro montava os acampamentos que posteriormente

102
O Estado de São Paulo, 19 de agosto de 1943.

130
deram origem as primeiras vilas da região. A exemplo, podemos citar, Aragarças em Goiás e
Barra do Garças em Mato Grosso.O governo federal para promover o povoamento dessas
cidades estimou a imigração.
Os irmãos Villas Boas a medida que mantinham contatos com os povos indígenas,
conhecendo a sua diversidade cultural passaram a idealizar a criação do Parque Indígena do
Xingu. A criação dessa reserva indígena somente foi criada oficialmente em 19 de abril de
1961, durante a presidência de Jânio Quadros quando o Congresso Nacional aprovou o
Decreto nº 50.455, que estabeleceu as suas fronteiras legais.
Os irmãos acreditavam que a criação de reservas e parques indígenas seriam uma
proteção para os índios. Defendiam que a integração do índio a sociedade brasileiro deveria
ser lenta, para a garantir a sobrevivência do índio, as identidades étnicas e culturais desses
povos.
Os irmãos Villas Boas estiveram a frente na direção do Parque e durante a sua
administração organizaram programa medico de assistência aos índios, promovendo
vacinações para combater as epidemias que grassavam entre os índios, especialmente o
sarampo.
Entretanto, o contato com os brancos provocou mudanças no interior das sociedades
indígenas, como o decréscimo da produção artesanal.. Outra mudança significativa foi a
perda da autoridade dos chefes indígenas, pois o poder dos funcionários do Parque eram
bem maiores. Apesar desses pontos negativos a política de Saúde Publica desenvolvida na
administração dos irmãos Villas Boas garantiram a vida de muitos índios.

Capítulo 18: República Populista em Mato Grosso

A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos aliados acarretou na


crise política do Estado Novo, pois as forças brasileiras combatiam na Itália a ditadura
fascista de Benito Mussolini, no entanto, Getulio Vargas mantinha no Brasil um regime
ditatorial de feições fascista.
Em 1943, manifestações contra a ditadura estadonovista começaram a surgir no país,
como o Manifesto dos Mineiros, documento redigido por intelectuais brasileiros pedindo o fim
da ditadura e a redemocratização do país.

131
Pressionado pelo crescimento da oposição à ditadura, Getulio Vargas resolveu então
conduzir o processo democrático. Concedeu anistia aos presos políticos e decretou uma
emenda constitucional regulamentando a criação de partidos políticos e estabeleceu a
realização das eleições para o final de 1945.
Na verdade, Getulio Vargas ao perceber que não havia mais como manter a ditadura
preferiu conduzir o processo democrático e com certeza almejava continuar no poder.
Assim como resultado da democratização, Vargas organizou dois partidos políticos; o
PSD, Partido Social Democrata, composto por interventores federais nos estados e pela
burocracia estatal do Estado Novo; e o PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, criado a partir dos
sindicatos controlados por Vargas.
Paralelamente surgiram os partidos de oposição: UDN, União Democrática Nacional,
de caráter liberal, e voltou a legalidade o PCB, Partido Comunista Brasileiro, liderado por
Luís Carlos Prestes.
Com a redemocratização, o povo manipulado pelo PTB, saiu às ruas em comícios
pedindo “Queremos Getulio”. Este movimento ficou por isso conhecido como “queremismo”.
Contudo a adesão ao “Queremismo” acabou contando com a participação do Partido
Comunista, que ao lado do PTB defendia o continuísmo de Vargas. E importante frisar, que o
apoio do PCB à candidatura de Vargas seguia as orientações de Moscou no combate ao
regime fascista.
A aliança entre Vargas e o PCB gerou uma desconfiança entre os militares do Exército
brasileiro, que acreditavam que Vargas estava armando mais um golpe para continuar no
poder. Com isso, em outubro de 1945, os comandantes do Exército, Góis Monteiro e Dutra
derrubaram o presidente e garantiram às eleições. Era o fim do Estado Novo e o inicio de
uma nova fase política no país.
Essa novo período da república brasileira foi caracterizado pelo “populismo”. O
populismo foi um fenômeno político presente nos paises latino americanos a partir da década
de 30, e era típico de uma sociedade em transição do rural para o urbano, o industrial.
Através do populismo, os governantes e as elites burguesas manipulavam as massas
operárias e os setores mais pobres da classe média. 103
No Brasil, a industrialização promovida por Vargas acarretou em uma intensa
urbanização principalmente na região sudeste, e também medidas como o voto feminino

103
Ianni, Otavio. A formação do Estado Populista no Brasil, p. 8-12.

132
acabaram aumentando o colégio eleitoral nos grandes centros. Desta maneira, os candidatos
a cargos eletivos tinham consciência que para vencer as eleições era preciso cativar as
massas populares urbanas.
Embora a economia de Mato Grosso continuasse a ser essencialmente agrária, a
estrutura política do estado foi fortemente influenciada pela conjuntura nacional que marcou
o país após 1945.
Neste período, Cuiabá como capital do estado congregava todo o funcionalismo
público estadual e atraía migrantes das áreas rurais. Estes fatores acabaram contribuindo
para o crescimento urbano da capital.
No entanto, apesar das mudanças, observava-se ainda a manutenção de formas
arcaicas políticas. Logo, a estrutura política estadual era caracterizada pela coexistência do
coronelismo e clientelismo, como também pela ascensão urbana na composição dos grupos
dirigentes e uma maior participação do sul no poder.
Percebe-se que mesmo com as alterações ocorridas com o fim do Estado Novo, em
Mato Grosso, as oligarquias tradicionais continuavam a ocupar os espaços políticos. e
através do clientelismo, os caciques políticos regionais continuavam a ser a base dos
partidos políticos durante a vigência da republica populista.
A semelhança de outras regiões do país, os partidos que mais se destacaram na
política estadual foram o PSD, o PTB e a UDN.
Segundo Novis Neves em sua obra “Leões e Raposas na Política de Mato Grosso”, o
PSD, como partido do governo foi beneficiado pela estrutura do poder estadonovista. A
criação do partido tinha como meta garantir para Vargas as suas bases eleitorais nos
estados. Seus aliados em Mato Grosso eram os representantes do Estado Novo, como os
“Müller”. Portanto, o partido garantia assim a sobrevivência da máquina burocrática do
Estado Novo em um regime democrático.
O PTB, partido criado por Vargas para conquistar a massa operária teve em Mato
Grosso as suas especificidades. Foi formado por Julio Muller e acabou absorvendo parte das
oligarquias rurais.
O partido se destacou pela sua aliança com o PSD e teve como reduto as cidades de
Corumbá, Campo Grande e as zonas de migração gaúcha.
A UDN, representou a oposição a Vargas e ao Estado Novo. Era composta por
oligarcas que tiveram seu poder aniquilado por Vargas e por aqueles que foram
marginalizados pelo Estado Novo e conseqüentemente pelos “Müller”. O partido teve como
133
principais expoentes Vespasiano Martins, que possuía forte influência política no sul devido a
sua participação no movimento separatista e pelo o Dr. Agrícola Paes de Barros, médico
idolatrada pela população cuiabana.
O PCB, não encontrou espaço político para atuar em Mato Grosso. O Estado
praticamente não contava como uma massa operária a exemplo da região sudeste. Na
verdade, o foco do partido ficou restrito a Campo Grande com a adesão dos ferroviários e em
Corumbá.
Ainda vale ressaltar, que apesar das disputas partidárias, os adversários políticos
mantinham relações de compadrio, de amizade e muitas vezes se relacionavam devido aos
laços familiares.
Durante a republica populista, os governantes que estiveram à frente da administração
do Estado preocuparam-se principalmente em criar uma infra-estrutura visando o
desenvolvimento de Mato Grosso. Aliás, essa política foi empregada no governo de Dutra
através do Plano SALTE, como também no governo de JK.
Assim durante essa fase republicana, o governo do estado mais precisamente durante
a gestão de Arnaldo de Figueiredo (1947-1950) estimulou a construção de estradas, e para
atingir as suas metas criou a Comissão Estadual de Estradas de Rodagem, que mais tarde
se transformou no Departamento de Estradas de Rodagem ─ DERMAT..
No período de 1951 a 1956, governou Mato Grosso, Fernando Correa da Costa. Em
seu governo foi criado a Secretaria de Educação e Saúde de Mato Grosso, e continuou a
promover o desenvolvimento rodoviário do Estado. Iniciou também a construção da Usina de
Casca II e a de Mimoso.
Em 1951 a 1961, governou o estado, João Ponce de Arruda, que abriu novas estradas
como São Vicente- Jaciara e Rondonópolis e estimou a colonização do Vale do São
Lourenço. Concluiu a construção da Usina de Casca e do Mimoso, e investiu na edificação
de obras públicas, como por exemplo, o Palácio Alencastro em Cuiabá.

Capitulo 19: Mato Grosso durante a Ditadura Militar (1964-1985)

Em 1964, o presidente João Goulart foi deposto do poder através de um golpe militar.
Os militares contaram com o apoio de segmentos civis da sociedade brasileira, pois se viam
ameaçados pelas propostas da Reforma de Base. Estes grupos sociais conservadores
134
alegavam que o comunismo tomava o país, colocando em risco à propriedade privada, a
religião, a liberdade e a família brasileira. Além disso, os militares contaram também com o
apoio do capital estrangeiro que viam na política nacionalista do governo Goulart um entrave
aos seus interesses econômicos.
O novo regime instalado estendeu-se por vinte e um anos e teve como presidentes os
seguintes militares: Humberto Castello Branco, Artur Costa e Silva, Emilio Garrastazu Médici,
Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo.
Foi um período de intensa repressão, no qual o governo ditatorial criou medidas para
frear os opositores, como a censura e os Atos Institucionais. Líderes de esquerda,
sindicalistas, intelectuais e muitos políticos oposicionistas foram banidos do país.
Economicamente, pregavam a retomada do desenvolvimento, e para isso favoreceram
a entrada do capital estrangeiro e promoveram uma política salarial baseada no arrocho. Na
década de 70, mais precisamente durante o governo de Médici, a econômica brasileira
atingiu altos índices de crescimento, e por isso foi denominado de “milagre”brasileiro.
O “milagre” brasileiro se deu devido ao ingresso maciço do capital estrangeiro. O
Brasil era bastante interessante aos investidores estrangeiros, pois possuía um amplo
mercado consumidor favorecendo a obtenção de lucros. O combate às esquerdas e a
estabilidade econômica do governo de Castelo Branco contribuíram para tornar o país
atrativo ao capital estrangeiro.
No entanto, a política econômica adotada pelo governo provocou a dependência do
país ao capital estrangeiro gerando um crescimento alarmante da dívida externa brasileira.
Foi nesse contexto, que o governo Médici lançou o Programa de Integração Nacional
(PIN), que visava integrar a região amazônica ao capitalismo, promovendo com isso a
“ocupação” de regiões rotuladas pelo discurso oficial como “distantes”, “espaços vazios”. A
colonização do norte de Mato Grosso está inserido neste período histórico.

Colonização do Norte de Mato Grosso

A intenção de promover a colonização de Mato Grosso não era uma novidade. Desde
o século XIX, as elites regionais e os viajantes ao percorreram este vasto território
defenderam que o progresso da Província somente seria alcançado através da colonização
particular.
135
Segundo, os viajantes, Mato Grosso era “o limite entre a barbárie e a civilização, área
geográfica vista como reservatório de recursos econômicos e vazio populacional, sendo
imperativo conquistar, povoar, explorar, colonizar.” 104
Embora a colonização particular não tenha se concretizado até o final do século XIX,
observamos que o imaginário de Mato Grosso, como um território repleto de riquezas a
serem exploradas pelo capital, isolado, de baixa densidade demográfica continuou presente
nos discursos do governo republicano durante o século XX
Nos anos 70 e 80, o governo ditatorial retomou o discurso de integrar a região
Amazônica, ou seja, o Mato Grosso, Rondônia, o Acre ao capitalismo.
Para isso, o governo federal através de uma ação interventora criou empresas
estatais, facilitou financiamentos nos Bancos federais como o BASA (Banco da Amazônia),
importou tecnologias e investiu em obras de infra-estrutura para patrocinar a colonização
dessas regiões, que ainda não tinham sido atingidas freneticamente pelo capitalismo. 105
A colonização também visava resolver os problemas sociais existentes na região
nordeste motivada pela estagnação econômica e da região sul, uma vez que a modernização
da agricultura acarretou em uma supervalorização da terra, que gerou a concentração de
terras. Desta forma, muitas pessoas desprovidas da propriedade de terras e sem trabalho
foram expulsas do campo e partiram em direção a região Amazônica.
Para atingir os seus objetivos, o governo federal através dos meios de comunicação
de massa, apresentaram a Amazônia como uma nova Canaã, a terra da promessa, a terra
fértil, rica, onde todos podiam ter acesso. Entretanto, esse projeto de colonização pretendia
atender aos interesses da elite nacional e do capital estrangeiro. Assim caberia a eles
conduzir a colonização. Nesta perspectiva, a colonização empreendida pelos militares teria
como parceiro a iniciativa privada, que através das colonizadoras particulares levariam o
106
desenvolvimento econômico a região e controlariam as tensões sociais no campo.
Assim o governo federal em 1972, fundou o Incra, através do qual vendeu terras
devolutas da Amazônia para as colonizadoras particulares, que pretendiam instalar projetos
voltados para a agropecuária, agroindustriais e de exploração mineral. Criou também a
SUDAM e a SUDECO. E para ter acesso a região, o governo federal construiu rodovias
como Cuiabá-Santarém e a Cuiabá- Porto Velho.

104
Galetti, Lylia. O Poder das Imagens: O lugar de Mato Grosso no Mapa da Civilização, p.22.
105
Neto, Wenceslau Gonçalves, Mudança no Estado e na Política Agrícola Brasileira, p.224.
106
Neto, Regina Beatriz. A Lenda do ouro Verde, p.84 e 85

136
Paralelamente, o governo de Mato Grosso seguindo as diretrizes do governo federal,
permitiu a licitação de terras devolutas no Estado para as colonizadoras particulares. E para
estimular os projetos de colonização, o governo estadual criou a CODEMAT(Companhia de
Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso), que tinha a função de criar infra-estrutura em
áreas de fronteiras e promover o desenvolvimento da economia e a integração do territorial
do Estado.
A política de colonização empreendida pelo governo federal atraiu para o norte Estado
de Mato Grosso, muitos colonizadores e colonos, que vieram principalmente da região sul,
sonhando com vida melhor, mais próspera.
Os colonizadores confiando na ação governamental, venderam as suas terras no
Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, e com a venda puderam adquirir terras
bem mais baratas em Mato Grosso. Muitos destes desbravadores em poucos anos
ampliaram a suas posses, a sua propriedade, entretanto, para muitos o sonho virou
pesadelo, pois se endividaram e tiveram que vender a preço baixo a sua propriedade.
Muitos empresários, ao adquirem terras ao norte investiram na construção de cidades.
Desta maneira, observamos na década de 70 e 80, o surgimento de uma rede urbana que se
desenvolveu principalmente ao longo das rodovias.
As cidades construídas pelas colonizadoras particulares, ao Norte de Mato Grosso,
foram edificadas no meio das matas, apresentam um traçado moderno, com vias largas,
quarteirões definidos, bairros planejados e hierarquizados.
Com o objetivo de atrair moradores para às cidades, essas cidades eram
apresentadas pela mídia a sociedade brasileira, como lugares de ascensão social e de
enriquecimento. As novas cidades possuíam campo de aviação, cinemas, mercados,
escolas, hospitais, dentre outros.

Anexar o mapa do livro da Ivane Piaia, p. 33

De acordo com as estimativas do IBGE, no período de 1960 a 1985, em decorrência


da política colonizadora promovida pelo governo federal, a população do Norte de Mato
Grosso aumentou em 6,7 vezes, e em 1985 contava com o total de 423.528 habitantes. 107

107
Piaia, Ivane, Geografia de Mato Grosso, p.30.

137
Apesar da colonização patrocinada pelo governo federal e pelas colonizadoras
particulares terem atraídos muitas pessoas a Mato Grosso, e do discurso oficial apresentar a
“ocupação “ do território como solução para o desenvolvimento econômico do Estado, os
projetos de colonização trouxeram seqüelas, como conflitos com os índios, a depredação da
natureza e a expulsão da terra dos seringueiros e dos pequenos agricultores. Na realidade,
ocorreu a concentração da terra, o predomínio do latifúndio, agravando mais ainda os
conflitos sociais no campo.
Em decorrência da política de colonização, a cidade de Cuiabá passou também por
inúmeras transformações, pois no mesmo período, muitas pessoas chegaram a Cuiabá.
Houve inicialmente um choque cultural, os cuiabanos rotularam os migrantes de “pau-
rodados”, e estes por sua vez, ao virem de regiões nas quais o capitalismo estava em um
estagio avançado, consideraram os hábitos da gente dessa terra muito estranho, como fazer
a sesta depois do almoço ou colocar as cadeiras nas calçadas em noites de calor para
conversar com os vizinhos.
Cuiabá teve o seu espaço urbano alterado, a cidade colonial ganhou novas feições,
casarões antigos que marcavam a memória coletiva foram derrubados na área central para o
surgimento de prédios com traçados modernos, foram construídas avenidas largas e
arborizadas.
A cidade passou a contar com novos bairros, e hoje ao transitarmos pelas principais
vias da cidade, praças e becos se estivermos atentos podemos perceber o quanto este
espaço geográfico está repleto de história.
No tocante, a conjuntura política, Mato Grosso foi governado durante esse período
político pelos seguintes governantes:
1966-1971: Pedro Pedrossian. Durante a sua gestão criou o Instituto de Ciências e
Letras de Cuiabá e o Instituto de Ciências Biológicas de Campo Grande. Em 1970, sobre a
presidência de Médici, foi criado a Universidade Feral de Mato Grosso.
Inserir imagem da UFMT

1971-1975; José Fontanilha Fragelli. A sua administração foi marcada pela criação de
rodovias vicinais, como a Cuiabá- Santo Antonio do Leverger, Paranaíba-Cassilândia e a
Itaporã- Dourados. Ocorreu também a construção da linha de transmissão de Cachoeira
Dourada a Cuiabá. No setor educacional patrocinou a construção da Escola Presidente

138
Médici em Cuiabá e iniciou a edificação do Centro Político Administrativo (CPA) e do Estádio
Verdão.

1976-1979: José Garcia Neto. Promoveu a fundação da Promoção Social (PROSOL),


asfaltou a estrada Cuiabá- Chapada dos Guimarães, Nossa Senhora do Livramento- Poconé,
iniciou o Terminal Rodoviário de Cuiabá, e criou a Fundação Cultural de Mato Grosso. Foi
durante a sua administração, que o Presidente Geisel aprovou a Lei Complementar Nº 31,
dividindo o Estado de Mato Grosso.
José Garcia Neto não terminou o seu mandato, pois renunciou para se candidatar ao
senado. Com a sua renuncia foi substituído pelo vice-governador, Cássio Leite de Barros. E
foi na gestão de Cássio Leite de Barros que se efetivou a divisão do estado.

1979-1983: Frederico Carlos Soares de Campos. Durante a sua administração foram


criados novos municípios em Mato Grosso; Araputanga, Jauru, Rio Branco, Pontes e
Lacerda, dentre outros. Para estimular a colonização de Mato Grosso, o governador
patrocinou a construção de estradas, a extensão da rede elétrica, a expansão do sistema de
abastecimento de água, construiu moradias populares, ampliou o números de escolas, uma
vez que a população mato-grossense estava em expansão em conseqüência da migração.
Os migrantes ao chegarem eram conduzidos ao Centro de Triagem e
Encaminhamento de Migrantes (CETREMIs), aonde eram cadastrados e encaminhados as
áreas de migração.108

1983-1987: Julio José de Campos. Foi o primeiro governador eleito pelo voto direto
vencendo o candidato Pe. Pombo (PMDB). No seu governo deu prioridade a construção de
estradas e ao setor energético implantando usinas termoelétricas em Sinop, Sorriso e Alta
Floresta e de Usinas hidrelétricas em Apiacás, Primavera, Juína e Aripuanã. Além disso,
Julio Campos deu continuidade a política de colonização do norte de Mato Grosso.
Em 1986, o governador deixou o governo para se candidatar a deputado federal,
tomando posse então o vice-governdor, Wilmar Peres.

108
Siqueira, Madureira, Historia de Mato Grosso; Da ancestralidade aos dias atuais, p.213.

139
A Divisão de Mato Grosso

Em 31 de outubro de 1977, durante a gestão do presidente Ernesto Geisel foi


promulgada a Lei Complementar nº31, que estabeleceu a divisão do Estado de Mato Grosso.
Foi criado então o Estado do Mato Grosso do Sul e se manteve o Estado do Mato Grosso. O
movimento separatista teve a frente os sulistas, que em luta pela divisão do Estado
argumentaram que a cisão era fundamental, pois
1.O poder político era exercido principalmente pelos cuiabanos.
2.A receita pública estadual era maior no sul, no entanto, os benefícios ficavam
principalmente em Cuiabá.
3.Os empregos públicos eram ocupados pelos cuiabanos.
4. Havia diferenças históricas e culturais entre o norte e o sul.
Assim sustentados por esses argumentos e devido aos interesses econômicos e
políticos do governo ditatorial, os sulistas viram os seus anseios concretizados em 1977.
Contudo para abordarmos a divisão do Estado, é importante lembrar que essa
aspiração se deu desde o final do século XIX.
Na década de 70, do século XIX, com o término da Guerra da Tríplice Aliança, o
Paraguai perdeu parte do seu território para a Província de Mato Grosso. O aumento
territorial da Província trouxe muitas preocupações às autoridades governamentais, pois
apontavam que a dimensão do território representava um entrave para o desenvolvimento da
Província. Assim nascia a discussão sobre a divisão de Mato Grosso.
No entanto, os primeiros sintomas do separatismo ocorreu em 1892, durante crise
política que abateu o governo republicano com a renuncia de Deodoro. Como já foi
mencionado anteriormente, a crise também se abateu sobre o Mato Grosso com a deposição
do governador Manoel Murtinho e a subida ao poder de Benedito Pereira Leite. Foi neste
momento que em Corumbá, no sul de Mato Grosso, o coronel João da Silva Barbosa,
instituiu o Estado Livre de Mato Grosso ou República Transatlântica. Apesar de todos os
esforços, Murtinho buscando o apoio do governo federal conseguiu combater esse
movimento separatista.
Ao retornar a presidência do Estado, Manoel Murtinho anulou as decisões políticas
tomadas pelo coronel Barbosa e decretou o fim da Republica Transatlântica.
Apesar do combate as idéias separatistas empreendida pela oligarquia do norte, em
1900, o coronel João (Jango) Mascarenhas e o coronel João Barros Cassal lideraram um
140
movimento no sul em prol da divisão do Estado. As forças separatistas chegaram até Coxim,
mas foram combatidas por Generoso Ponce que tinha sobre o seu comando três mil homens.
Em 1907, Generoso Ponce tomou posse no governo do Estado e de imediato teve que
enfrentar novamente uma onda de movimentos separatistas no sul de Mato Grosso. Desta
vez estava no comando o coronel Bento Xavier. Esses movimentos separatistas contavam
agora com o apoio da Mate Laranjeira.
A empresa ervamateira teve o seu pedido de arrendamento de ervais no sul negado
pelo governo estadual, e em represália a decisão governamental passou a apoiar os
movimentos oposicionistas no sul. Apesar do apoio recebido pela Mate Laranjeira, a luta foi
em vão, pois a oligarquia do norte conseguiu abafar os movimentos separatistas.
Em 1932, o presidente Getulio Vargas enfrentou os paulistas na Revolução
Constitucionalista. Os rebeldes paulistas alegavam que lutavam pela constitucionalização do
país. A notícia da revolução dividiu a opinião pública em todo o país.
Em Mato Grosso, o norte se manteve fiel ao governo getulista, enquanto que o sul
preferiu apoiar os paulistas na luta contra Vargas. Para isso, o sul enviou a São Paulo um
pequeno destacamento militar liderado por Bertholdo Klinger. Além disso decretaram no sul a
criação do Estado do Maracaju.
O Estado do Maracaju tinha como sede do governo Campo Grande, e como
governador, o médico Vespasiano Barbosa Martins. Teve uma curta duração, somente três
meses, pois assim que Vargas aniquilou a Revolução Constitucionalista, tropas foram
enviadas ao sul de Mato Grosso para conter os movimentos separatistas.
O movimento de 1932 foi abafado, porém deixou mais evidente as diferenças entre o
norte e o sul e mesmo derrotados, os sulistas continuaram a sonhar com o separatismo.
Em 1934, Vespasiano Martins retomou a luta pelo divisão fundando a Liga Sul-Mato-
grossense, e através de manifestos ao Congresso Nacional Constituinte, os sulistas pediam
ao governo federal a criação “de um território federal ou Estado Autônomo, na região sul de
Mato Grosso abrangendo os municípios de Sant’Ana, três Lagoas, Coxim, Campo Grande,
Aquidauna, Miranda, Porto Murtinho, Bela Vista, Nioac, Entre-Rios, Maracaju e Ponta
Porá.”109
Mesmo com todos os argumentos apresentados pela Liga Sul Mato-grossense, o
governo federal não mostrou interesse em dividir o Mato Grosso.

109
Silva, Jovam Vilela. A Divisão do Estado de Mato Grosso: Uma visão Histórica, p.155.

141
Ao final da ditadura de Vargas, o movimento no sul favorável a divisão se reacendeu.
Vespasiano Martins foi eleito em 1945 pelo sul ao senado. Desta forma, os sulistas
retomavam a luta pela divisão. Observava-se no Congresso Nacional uma cisão no tocante a
essa problemática; os políticos sulistas defendiam a separação enquanto que os políticos
que representavam Cuiabá tentavam abafar o separatismo.
Ao final dos anos 50, no sul de Mato Grosso, uma caravana percorreu toda região
buscando a apoio de mais pessoas a causa separatista. Este movimento tinha como sigla
MDM ( Movimento Divisionista de Mato Grosso) e possuía como lema “Dividir para
multiplicar”. Este movimento foi revelado a todo o país através dos meios de comunicação
ganhando repercussão nacional, mas mesmo assim a divisão não aconteceu.110
No início da década de 60, Jânio Quadros tomou posse na presidência da República.
O novo presidente era natural de Corumbá e com isso os sulistas tentaram mais uma vez a
divisão do Estado, contudo viram o seu pedido negado. Entretanto não desistiram, e em
1963, na cidade de Corumbá reuniram-se no III Congresso dos Municípios de Mato Grosso.
Durante a realização do Congresso, os sulistas elaboraram um documento pedindo a criação
do Estado do Mato Grosso do Sul, mas novamente o pedido foi recusado.
Em 1964, com a implantação da Ditadura Militar, os separatistas tiveram as suas
vozes silenciadas. Porém, no inicio da década de 70, com o interesse dos militares em
integrar a região Amazônica ao capitalismo, os sulistas encontraram espaço político para
defender a divisão.
Em 1977, o governo Geisel interessado na integração nacional e no crescimento
econômico do país, determinou a divisão do Mato Grosso. Ficou estabelecido que o novo
Estado criado ao sul receberia o nome de Campo Grande. Essa decisão, no entanto acabou
provocando protestos no sul do Estado. Assim o governo federal decidiu então denominá-lo
de Mato Grosso do Sul, e escolheu como capital a cidade de Campo Grande.
Em 1977, governava o Mato Grosso, José Garcia Neto (PDS). Após a divisão o
governo do Estado foi exercido por Cássio Leite de Barros. No entanto é importante frisar
que a divisão do Estado somente foi efetivada em 1979, sendo eleito como governador
Frederico Carlos Soares Campos.

110
Idem, p.179.

142
Capítulo 20: A Nova República em Mato Grosso

Em 1985 com a posse de José Sarney na Presidência da República, chegava ao fim


os “anos de chumbo”. A economia brasileira enfrentava uma profunda crise, na qual a
inflação chegou a atingir 223% em 1984. No entanto, a população brasileira acreditava que a
existência de um governo civil e democrático seria capaz de superar as mazelas deixadas
pelo governo ditatorial.
O governo de Sarney não conseguiu solucionar os problemas brasileiros, a crise se
agravou mais ainda, pois teve que enfrentar os desafios de uma economia globalizada.
A economia brasileira dos anos 60 a 80 recebeu investimos estrangeiros e muitas
empresas internacionais instalaram seus negócios no Brasil. Porém, o governo brasileiro
reservava algumas áreas, ditas como estratégicas, as empresas nacionais ou estatais. Na
década de 80 e 90, a economia brasileira tomou novos rumos com o projeto neoliberal.
Essa etapa do capitalismo exigia uma crescente ampliação de mercados e das
barreiras protecionistas, como também, estimulou as associações de livre comércio e a
formação de blocos econômicos como o NAFTA, a União Européia (EU) e o Mercosul.
No neoliberalismo, o Estado deveria deixar de ser intervencionista e protecionista
subordinando-se a economia de mercado e atraindo ao país investimentos estrangeiros.
Assim a era da globalização exigia a integração da produção nacional ao modelo
internacional, ao projeto neoliberal.
Os pontos elementares do projeto neoliberal foram sistematizados no Consenso de
Washington, através do qual representantes do governo dos Estados Unidos e dos paises
latino-americano se reuniram para estabelecer uma série de medidas que tinham como
objetivo controlar a inflação e modernizar o Estado. Dentre essas medidas foi determinado:
·Ajuste Fiscal: Cabe ao Estado eliminar o déficit público.
·A limitação do Estado na economia, enxugamento da máquina pública
·Privatização das estatais.
·Redução de alíquotas de importação e estimulo ao intercâmbio comercial entre as
regiões, países para favorecer a globalização.
·Fim das restrições ao capital estrangeiro e permissão para a instalação de instituições
financeiras internacionais.
·Redução das regras do governo, no tocante a economia.
· Reforma no Sistema Previdenciário.
143
·Fiscalização dos gastos públicos.

Essas medidas não mudaram a realidade social. A sociedade brasileira continuou


caracterizada pelo apartheid social, na qual milhares de brasileiros continuaram a viver em
extrema pobreza, sem direito a um prato de comida, a moradia e sem emprego.
Com a redemocratização e a entrada do país em uma nova fase política, governaram
Mato Grosso:

1987-1990: Carlos Gomes Bezerra (PMDB). Concedeu terra a pequenos produtores,


investiu na construção de estradas e de casas populares, e no saneamento de bairros
populares. Com a expansão do capitalismo, e conseqüentemente a derrubada da mata, bem
como a destruição do cerrado, o governador desenvolveu uma política voltada para o meio
ambiente criando em sua gestão, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente.
Visando estimular o setor industrial foi criado o PRODEI (Programa de
Desenvolvimento Industrial), através do qual o governo estadual concedeu incentivo fiscal
aos empresários interessados em investir no Estado.
Para dinamizar a economia criou a ZPE (Zona de Processamento de Exportação) em
Cáceres e propôs a construção da hidrovia Paraná- Paraguai. A hidrovia era fundamental
para a inserção de Mato Grosso no Mercosul, pois através da navegação fluvial o estado
manteria um intercâmbio comercial com os países que compunham o Mercosul. Embora, o a
construção da hidrovia representasse para Mato Grosso uma alternativa de circulação de
mercadorias, a construção da hidrovia provocou muitos embates e a obra acabou. No quadro
abaixo, a reportagem apresenta os motivos da paralisação da construção da hidrovia
Paraná-Paraguai.

Hidrovia depende do Congresso

144
Nenhuma obra ou estudo referente à implantação da hidrovia Paraguai-Paraná
poderá ser feito sem a aprovação do Congresso Nacional. A decisão partiu dos
desembargadores do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, em Brasília,
e foi uma resposta à apelação interposta pelo Ministério Público Federal (MPF) em
uma ação civil pública que tratava do assunto. Conforme a decisão, em questões
que afetam diretamente comunidades indígenas e o meio-ambiente, é preciso
haver aprovação legal.
A obra é alvo de uma discussão que se arrasta há cinco anos. Trata-se do
escoamento de grãos por meio de barcaças que atravessariam 3,4 mil quilômetros
dos rios Paraguai e Paraná entre Cáceres (oeste do Estado) e Nueva Palmira, no
Uruguai.
O MPF alega que estão sendo realizadas pequenas obras nos rios Paraguai e
Paraná e em portos da região. Isto caracterizaria, no entendimento dos
procuradores, a lenta implantação de um projeto maior para dar suporte à
construção da hidrovia Paraguai-Paraná sem, contudo, a autorização legal.
Em defesa, a União afirmou que estudos de impacto ambiental estão sendo
realizados. As pequenas intervenções seriam obras que não envolvem mudanças
no curso dos rios ou drenagens profundas. A respeito da questão indígena, a
União alega que os dois rios não estão dentro de terra indígena e os índios seriam
chamados a se manifestar a respeito da hidrovia, depois de concluído o estudo de
impacto ambiental, e se houvesse necessidade.
O projeto para construção da hidrovia Paraguai-Paraná surgiu de um acordo
assinado em 1992 entre os cinco países que compõem a Bacia do Prata: Brasil,
Paraguai, Uruguai, Bolívia e Argentina. Para implantação do projeto, foi criado um
comitê que atuaria em três frentes: operação da hidrovia, melhoramento da infra-
estrutura física e melhoramento da infra-estrutura portuária.
Em setembro do ano passado, uma decisão judicial suspendeu o licenciamento
ambiental para novos empreendimentos na hidrovia entre Cáceres e a Foz do Rio
Apa (MS), na divisa do Brasil com o Paraguai. Ambientalistas cobram a realização
de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) para toda a área, ao contrário do
que começou a ser feito no início, com estudos pontuais.

Fonte: Diário de Cuiabá, 12/ 07/2003.


145
Retornando as realizações do governador Carlos Gomes Bezerra, foi durante a sua
gestão que ocorreu a proposta da construção da Ferronorte. A Ferronorte foi inicialmente
defendida por Vicente Vuolo, que argumentava em seus discursos e em entrevistas aos
meios de comunicação, que a construção da estrada de ferro facilitaria o escoamento da
produção agrícola do Estado.

Inserir imagem da ferrovia

Carlos Bezerra não chegou a cumprir o seu mandato, e em 1990 foi substituído pelo
vice-governador Edison de Freitas (1990-1992).

1991-1995: Jayme Veríssimo de Campos ( PFL). Para promover a integração entre


os municípios do Estado, o governo deu prioridade a construção de estradas e pontes.
Preocupou-se também com o escoamento dos produtos mato-grossenses defendendo a
circulação de mercadorias pelo Oceano Pacífico.

1995-2002: Dante Martins de Oliveira (PSDB) . Foi eleito através da coligação


política formada pelo PDT, PMDB, PSDB, PC do B, PT, PV, PSC, PMN, PSB e PPS. A sua
administração foi marcada pelo Plano Metas. Este plano tinha como objetivo a integração do
estado de Mato Grosso na conjuntura nacional e internacional. Para efetivá-lo, o governo
estadual deu prioridade a construção de rodovias, hidrovias e ao setor de comunicação.
Durante a sua gestão muitos empresários nacionais e estrangeiros investiram em
Mato Grosso favorecendo o crescimento da produção na agropecuária e agroindustrial.
Seguindo as diretrizes do projeto neoliberal, o governo estadual extinguiu empresas
estatais como a CEMAT, CODEMAT, CASEMAT, BEMAT e COHAB.
Pensando em superar a crise energética e acelerar o desenvolvimento econômico de
Mato Grosso, o governo estadual concedeu mais atenção ao setor energético. Foi construída
a Usina do Manso e um ramal de gasoduto Brasil- Bolívia.

Imagem da Usina do Manso

146
2002-2003: José Rogério Salles. Era vice-governador do Estado e tomou posse, pois
Dante de Oliveira se afastou antes de completar o seu mandato para concorrer ao Senado
Federal.
Na sua gestão ocorreu as eleições para o governo do Estado. Nessas eleições, os
candidatos que se destacaram foram Antero Paes de Barros (PSDB) e Blairo Maggi (PPS),
sendo vitorioso nas urnas Maggi.

Governadores do Estado de Mato Grosso

1889-1891: Antonio Maria Coelho.


1891: Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro.
1891: José Da silva Rondon.
1891:João Nepomuceno de Medeiros Mallet.
1891-1892: Manoel José Murtinho.
1892: Junta Governativa
1892: Luiz Benedito Pereira Leite.
1892: Junta Governativa.

147
1892:Luiz Benedito Pereira Leite.
1892: André Virgilio Pereira de Albuqueruqe.
1892: José marques Fontes.
1892: Generoso Ponce Leme de Souza Ponce.
1892-1895: Manoel José Murtinho.
1895-1897: Antonio Correa da Costa.
1897: Antonio Cesário de Figueiredo
1897-1898: Antonio Correa da Costa.
1898-1899: Antonio Cesário de Figueiredo.
1899: Antonio Leite de Figueiredo.
1899-1900: Antonio Pedro Alves de Barros.
1900:João Paes de Barros.
1900-1903: Antonio Pedro Alves de Barros.
1903-1906: Antonio Paes de Barros.
1906-1907: Pedro Leite Osório.
1907-1908: Generoso Paes leme de Souza Ponce.
1908-1911: Pedro Celestino Correa da Costa.
1911-1915:Joaquim Augusto da Costa Marques.
1915-1917: Caetano Manoel de Faria Albuquerque.
1917: Camilo Soares de Moura.
1917: Cipriano da Costa Ferreira.
1917-1918: Camilo Soares de Moura.
1918-1922: Dom Francisco de Aquino Correa.
1922-1924: Pedro Celestino Correa da Costa.
1924-1926: Estevão Alves Correa.
1926-1930: Mario Correa da Costa.
1930: Aníbal de Toledo.
1930: Sebastião Rabelo Leite.
1930-1931: Antonio Mena Gonçalves.
1931-1932: Artur Antunes Maciel.
1932-1934: Leônidas Antero de Mattos.

148
1934-1935: César de Mesquita Serva.
1935: Fenelon Muller.
1935: Newton Cavalcanti.
1935-1937: Mario Correa da Costa.
1937: Manuel Ari da Silva Pires.
1937-1945: Julio Strubing Müller.
1945-1946: Olegário Moreira de Barros
1946: Wladislau Garcia Gomes.
1946-1947: José Marcelo Moreira.
1947-1950: Arnaldo Estevão de Figueiredo.
1950-1951: Jary Gomes.
1951-1956:Fernando Correa da Costa.
1956-1961: João Ponce de Arruda.
1961-1966: Fernando Correa da Costa.
1966- 1971: Pedro Pedrossian.
1971-1975: José Manoel Fontonilhas Fragelli.
1975-1978: José Garcia Neto.
1978-1979: Cássio Leite de Barros
1979-1983: Frederico Sólon Sampaio.
1983-1986: Julio José de Campos.
1986-1987: Wilmar Peres de Faria.
1987-1990: Carlos Gomes Bezerra.
1990-1991: Edison de Freitas.
1991:Móises Feltrin.
1991- 1995: Jayme Veríssimo de Campos.
1995-1999: Dante de Oliveira
1999-2002:Dante de Oliveira.
2002-2003: José Rogério Salles.
2003: Blairo Maggi

149
Atividades

1)(UNIC) A História de Mato Grosso registra movimentos sociais e disputas políticas


de grande relevância. Analise as afirmações:
I-Tanque Novo- movimento ocorrido em 1933 no município de que resultou em
perseguições por questões políticas e no julgamento de Doninha.
II-Rusga- rebelião ocorrida em Cuiabá durante a Regência, objetivando a retirada do
poder político das mãos dos conservadores para cede-los aos liberais.
III-Caetanada- luta política travada por dois chefes políticos locais das zonas de
garimpo no oeste mato-grossense.

a)se somente a I estiver correta.


b)se somente a II estiver correta.
c)se somente a III estiver correta.
d)se somente a I e II estiverem corretas.
150
e)se somente a II e a III estiverem corretas.

2)(UFMT)Em Mato Grosso, a partir de 1970, o governo federal coordenou projetos


oficiais ao lado de outros da iniciativa privada estimulando um fluxo migratório aberto pelas
possibilidades daquele momento. Sobre o assunto, assinale a afirmativa incorreta.
a)Foi construída a rodovia BR-364 (Cuiabá- Porto Velho), ao longo da qual surgiram
vários núcleos populacionais.
b)POLOCENTRO e POLONOROESTE são exemplos de programas federais de
colonização implementados à época.
c)A ocupação da nova fronteira agrícola no estado de Mato Grosso foi
predominantemente feita por migrantes das regiões sul e sudeste.
d)A lógica geopolítica do regime militar respaldou a decisão federal de promover a
ocupação da região norte de Mato Grosso.
e)Para a exportação da produção agrícola, foi propiciada a abertura da navegação do
rio Paraguai.

3)(UFMT) A respeito do regime republicano implantado no Brasil em 1889, julgue os


itens:
( )Do ponto de vista político, o novo regime não significou uma profunda
transformação, especial mente na perspectiva da população rural.
( )A primeira constituição republicana (1891), ao garantir o federalismo, liberou as
elites regionais das limitações impostas pela centralização monárquica, nesse sentido a
“política dos governadores” de Campos Sales consagrou o princípio da independência das
oligarquias frente ao poder central.
( )Os mato-grossenses, a exemplo do que aconteceu com a maioria dos brasileiros,
ficaram surpresos com a proclamação da Republica, embora as idéias republicanas já
fossem veiculadas, no mínimo, desde a Rusga, em 1834.

4)(UFMT) Entre os projetos propostos por Getulio Vargas durante a sua


administração, de 1930 a 1945, encontra-se a Marcha para o Oeste. Em relação a este
projeto, julgue os itens.

151
( ) A ocupação e a colonização da Amazônia Legal por meio da reforma agrária eram
propostas desse projeto.
( ) Um importante objetivo era transformar o território brasileiro em um bloco
homogêneo.
( ) Pretendia garantir a modernização do país com um agressivo plano de estímulo à
industrialização nos estados mais distantes da capital federal.
( ) A expedição Roosevelt, financiada com capital multinacional, demonstrou a
ambigüidade do projeto.

5)(UFMT) Ao ocorrer o movimento de março de 1964, o governo de Mato Grosso era


exercido por:
a)Fernando Correa da Costa.
b)José Manuel Fragelli.
c)José Pedrossian.
d)João Ponce de Arruda.
e)José Marcelo Moreira.

6)(UFMT) Em relação ao predomínio político das oligarquias no Brasil durante a


Primeira Republica (1889-1930) e à ação dos chamados coronéis, julgue os itens :
( ) Em Mato Grosso a disputa política ocorria entre a oligarquia do norte composta
pelos senhores de engenho, depois usineiros e a oligarquia do sul composta por grandes
pecuaristas e comerciantes.
( ) O coronelismo entendido enquanto um sistema de troca eleitoral, proteção e
favores de um lado, e voto de outro, possuí um caráter sempre pacífico.
( ) O coronelismo tinha base familiar e rural; o coronel era ao mesmo tempo um
grande latifundiário e chefe patriarcal.

7)(UNIC) São representadas citações que caracterizam determinadas lutas políticas


armadas em Mato Grosso. Analise-as:
I-“Em 1916, Caetano de Albuquerque, governador do Estado, eleito pelo Partido
Republicano Conservador, recusou-se a submeter as injunções da política dos chefes dos
partidos. A partir de então, passou a sofrer ferrenha oposição dos partidários do coronel
Azevedo (chefe maior da agremiação). Isso levou o governador a ingressar no Partido
152
Republicano Mato –Grosssense. Iniciou-se assim a luta armada.” (Alves, Louremberg.
Qualquer semelhança não é mera coincidência. Diário de Cuiabá, 7 de janeiro, 1977, A5)

II- “Paralelamente á luta armada, ocorreu o embate jurídico. È que os deputados


estaduais oposicionista...decretaram a cassação do mandato de Caetano de Albuquerque e
ao mesmo tempo, empossaram Manuel Escolástico Virgínio no cargo de governador. A partir
de então, Mato Grosso passou a contar com dois governadores.”(Alves, Louremberg.
Qualquer semelhança é mera coincidência. Diário de Cuiabá, 7 de janeiro, 1977, A5.)

III-“Frente a este clima de convulsão a que passava o Estado, vítima da fortíssima


oposição desencadeada pelos membros do Partido Republicano, o governador Antonio
Pedro criou a “Divisão Patriótica” com a finalidade de que a mesma pudesse garantir a
tranqüilidade de Mato Grosso, e conseqüentemente, o sucesso das medidas previstas no
novo programa do governo de Campos Sales. Coube a Totó Paes comandar essa divisão
que principiou seus trabalhos com a perseguição às forças oposicionistas.”(Madureira,
Elizabeth, Processo Histórico de Mato Grosso).
Assinale a alternativa que faz referencia a Caetanada:

a)Somente a I
b)somente a III.
c)Somente as citações I e II.
d)somente as citações I e III.
e)Todas as citações se referem a Caetanada.

8)(UFMT) Na década de 70, o norte de Mato Grosso se constituía no “paraíso privado”


das empresas colonizadoras do país. Avalie os itens abaixo:
a)O processo de ocupação do norte de Mato Grosso foi dirigido pela colonização
particular e acentuou milhares de colonos conhecidos como “sem terra”.
b) A construção da Rodovia Cuiabá-Santarém estimulou a ocupação do norte de Mato
Grosso, e recebeu um enorme contingente de colonos vindos do sul do país.
c)A colonização dirigida, sob o controle do INCRA, recebeu o total apoio político e
econômico do governo militar, sendo por isso considerada como bem sucedida.

153
d)A ocupação da Amazônia, e em especial a do norte do Mato Grosso, foi estimulada
por discussões governamentais que privilegiaram os interesses dos pequenos proprietários
rurais.
e)Os incentivos fiscais e créditos oficiais para os projetos agropecuários da Amazônia
não beneficiaram os empresários que investiram na região norte de Mato Grosso.

9)(UFMT) Os itens referem-se ao Mato Grosso republicano,julgue-os:


( )A política de colonização empreendida por Getulio Vargas, conhecida como
“Marcha para o Oeste”promoveu, inclusive, a montagem de Colônias Agrícolas, entre elas a
de Dourados, hoje no Mato Grosso do Sul.
( ) Desde o final do século XIX, o conceito de modernidade assimilado pela elite
brasileira incorporava a idéia de que entre as nações não deveria existir diferenças nem
barreiras. Com esse objetivo, Candido Rondon Assumiu a tarefa da construção das linhas
telegráficas.

10) (UFMT) Sobre a colonização de Mato Grosso no século XX, assinale a alternativa
incorreta:
a)Getulio Vargas implantou a “Marcha para o Oeste”, que visava instalar em Mato
Grosso os sulistas.
b)A Colônia De Dourados foi um projeto de colonização que instalou os sulistas em
Mato Grosso.
c)Na década de sessenta ocorreu um crescimento populacional em Mato Grosso, em
função da colonização particular.
d)SUDAM e SUDECO foram projetos governamentais que instalaram o pequeno
produtor em Mato Grosso.
e) Em Mato Grosso, a colonização dirigida pelas empresas particulares fez surgir
várias cidades no Estado.

11)(Concurso da Secretaria de Segurança Pública) O governo federal não resistindo


ao secular anseio divisionista da população e das lideranças políticas do sul, através da Lei
Complementar Nº31 de 11 de outubro de 1977, divide o território mato-grossense e criou o
Estado de Mato Grosso do sul. Assinale a opção que apresenta o presidente da Republica

154
que assinou a lei e o governador de Mato Grosso no momento da divisão e o primeiro
governador de Mato Grosso após a divisão.
a)General João Batista Figueiredo, José Garcia Neto e José Fontanilhas Fragelli.
b)General Ernesto Geisel, José Garcia Neto, José Fontanilhas Fragelli.
c)General João Batista Figueiredo, Frederico Carlos soares de Campos e José Garcia
Neto.
d)General João Batista Figueiredo, José Garcia Neto e Frederico Soares de Campos.
e)General Ernesto Geisel, José Garcia Neto e Frederico Carlos Soares de Campos.

12) (Simulado Gazeta) Em 1937, através de um golpe de Estado, Getúlio Vargas


implantou uma ditadura no país. Com a intenção de reforçar o poder de Vargas, a
ditadura estadonovista investiu na propaganda propiciando para que o mito Vargas
chegasse ao seu apogeu.
Em 1954, o suicídio de Vargas parou o país, imobilizou os seus inimigos e reforçou
mais ainda Getulio como um grande mito político.
Decorridos cinqüenta anos de sua morte, observamos que esse acontecimento
continua a ser relembrado e reforçado pelos inúmeros mecanismos da memória.
Baseado em seus conhecimentos sobre o período getulista, assinale a alternativa
correta.
I- Getulio Vargas inaugurou no Brasil um novo tipo de dominação política, isto é, o
populismo, que consistiu no aliciamento e manipulação das massas populares.
II- O Estado Novo para se legitimar perante a opinião publica criou o DIP, que
ficou encarregado de cuidar da propaganda do governo, da censura e de
organizar comemorações oficiais.
III- Durante a ditadura, Vargas nomeou para governar os Estados, os interventores
federais. Para Mato Grosso indicou Julio Muller, que promoveu na sua
administração transformações no espaço urbano de Cuiabá criando a Casa dos
Governadores, o Liceu Cuiabano, a Academia Mato Grossense de Letras e a
Avenida Getulio Vargas.
IV- Na década de 50, demonstrando uma de suas principais características, o
nacionalismo, Vargas criou a Petrobrás garantindo ao governo brasileiro a
pesquisa e exploração do petróleo.
a) I,II,III,IV são corretas.
155
b) I,II e III são corretas.
c) I, II e IV são corretas.
d) I e II são corretas.
e) II e IV são corretas.

13) (Simulado- Gazeta) “Quem vive ao longo da linha Rondon facilmente se julgaria na
Lua. Imagine-se um território do tamanho da França, três quartos inexplorados;
percorrido somente por pequenos bandos de nômades e atravessado de ponta a
ponta por uma linha de telegráfica.”(Lévi-Strauss, Claude. Tristes Trópicos.)
A citação acima faz alusão as linhas telegráficas construídas durante a Primeira
República e que teve a frente de sua direção Candido Mariano Rondon. Sobre a
Comissão Rondon e as linhas telegráficas, podemos considerar como incorreta a
alternativa:
a)No inicio do século XX, o Mato Grosso e o Amazonas ainda eram vistos como
regiões atrasadas e vazias.
b)Para o governo republicano, a construção das linhas telegráficas representava a
ocupação e integração do oeste brasileiro.
c) As idéias positivistas marcaram a ação da Comissão Rondon.
d)Foi nesse contexto, que o governo republicano deu inicio a uma política voltada para
o índio, criando o Serviço de Proteção ao Índio(SPI).
e)O trabalho na Comissão Rondon foi desempenhado exclusivamente pelos índios,
sob o comando de Rondon.

14) ) (UNIVAG) Na década de 70 e 80, o governo ditatorial iniciou uma política de


expansão agrícola, que tinham como um dos seus objetivos a retomada do
desenvolvimento da região Centro-Oeste e Norte. A respeito deste contexto histórico é
incorreto afirmar que:
a)os projetos de colonização estavam inseridos no Plano de Integração Nacional.
b)Para a expansão da fronteira agrícola, o governo federal criou linhas de credito nas
instituições financeiras federais.
c)Os colonizados eram provenientes principalmente da região sul do país.
d)A construção de rodovias na região centro-oeste e norte eram vitais para o sucesso
dos projetos de colonização.
156
e)A colonização do norte de Mato Grosso amenizou os conflitos sociais no campo,
uma vez que esses projetos favoreciam a distribuição de pequenos lotes de terra.

15) (UNIVAG) Ao final do século XIX, a dimensão territorial de Mato Grosso já


representava um empecilho aos seus administradores. Ao entrarmos no século XX, o
anseio pela divisão do Estado cresceu no sul de Mato Grosso. No período Vargas,
durante a Revolução Constitucionalista, o sul de Mato Grosso chegou a se separar
adotando o nome de Estado do Maracaju, entretanto a vitória das forças getulistas
abafou os ideais de separação, que voltariam intensamente no governo ditatorial.
Assim a divisão do Estado de Mato Grosso foi concretizada pelo presidente:
a)Figueiredo
b)Castelo Branco.
c)Médici.
d) José Sarney.
e)Ernesto Geisel.

16) A respeito do período republicano em mato Grosso, é valido afirmar que:


I- O Partido Republicano foi fundado oficialmente em Mato Grosso em agosto de
1888. Seus partidários chegaram a fundar o jornal A República que teve uma
curta duração.
II- Antonio Maria Coelho foi nomeado como o primeiro governador do Estado de
Mato Grosso.
III- Os primeiros anos da republica em Mato Grosso foi marcado pela tranqüilidade
política. Na verdade, a oposição política iria surgir somente a partir da década
de 20.

a)Somente a I está correta.


b)Somente a I e II estão corretas.
c)Somente a II e III estão corretas.
d)Somente a I e III estão corretas.
e)Somente a II é correta.
157
17) Em 1891 foi promulgada a primeira Constituição de Mato Grosso. A seguir, a
Assembléia Constituinte elegeu para conduzir o governo do Estado:
a)Antonio Correa da Costa.
b)Generoso Paes Leme de Souza.
c)Manuel José Murtinho.
d)Pedro Celestino.
e)Delfino Augusto de Figueiredo.

18) No inicio do governo oligárquico ocorreu um movimento social que expressa


claramente a disputa política entre os coronéis da região e que representou a “política
dos governadores” em Mato Grosso. Estamos nos referindo a que movimento social?
a)Massacre da Baía do Garcez.
b)Caetanada.
c)Morbeck e Carvalhino.
d)Tanque Novo.
e)revolta de 1892.

19) Assinale a alternativa incorreta a respeito do governo de Totó Paes de Barros:


a)Foi responsável por levar os produtos mato-grossenses a Exposição Internacional
de Saint-Louis.
b) Tinha como base de sustentação política Joaquim Murtinho.
c) Editou a revista O Archivo na qual há a reconstituição histórica de Mato Grosso.
d) Estimulou o comercio dos produtos do extrativismo vegetal produzidos no Estado,
como a erva-mate, a poaia e a borracha.
e)A sua decadência política aconteceu na Revolta de 1906.

20) A respeito da Comissão Rondon, assinale al alternativa correta:


I-A Comissão Rondon tinha como objetivo interligar o território brasileiro através da
construção das linhas telegráficas.
II- O Sistema adotado pela Comissão era do telegrafo a fio, transmitido através do
Código Morse.

158
III-Para realizar a construção do telegrafo, a expedição Rondon contou com a
participação de botânicos, médicos, engenheiros, sanitaristas, fotógrafos, presos civis
e índios.

a)Todas as afirmações são corretas.


b) Somente a II está correta.
c)Somente a I e III estão corretas.
d)Somente a II e a III estão corretas.
e)Somente a III está correta.

21) Nos primeiros anos da década de 30 aconteceu em Poconé, o movimento social


chamado de Tanque Novo. A respeito deste movimento social, é errado afirmar que:
a)Teve a frente Laurinda Lacerda Cintra que era conhecida em toda a região por
Doninha.
b) Doninha e sua gente foi perseguida pelo interventor federal Antonio Mena
Gonçalves.
c) Foi um movimento político e estava relacionado as eleições para a Assembléia
Constituinte em 1933.
d) Esteve intimamente associado a Vargas.
e)Doninha fazia oposição a Vargas em Poconé.

22) Em 1945 com a deposição de Vargas chegava ao fim o Estado Novo. Ao mesmo
tempo, a democracia retornava ao país. Sobre esse contexto histórico, assinale a
alternativa correta:
a)A UDN representação os anseios da burocracia estadonovista e tinha no Dr.
Agrícola Paes de Barros um dos seus principais representantes.
b)O PTB foi fundado em Mato Grosso por Vespasiano Martins e contou com a adesão
maciça da massa operaria.
c) O PCB se destacou em Cuiabá ao receber o apoio dos grêmios estudantis.
d) Nesse período observa-se o crescimento político do sul do Estado.
e)A entrada em um regime democrático foi favorecido pelo fim do poder das
oligarquias.
159
23) Com o fim da ditadura tomou posse no governo do Estado o desembargador
Olegário Moreira de Barros que conduziu as eleições. Para o governo do Estado foi
eleito Arnaldo Estevão de Figueiredo. A respeito da sua administração, todas as
afirmações estão corretas, exceto:
a)Foi eleito pela coligação partidária PSD/PTB.
b)No seu governo foi estimulada a colonização de Mato Grosso.
c)Patrocinou a construção de varias estradas criando a Comissão Estadual de
Estradas de Rodagem (CER).
d) Estimulou a construção no sul do estado da Ferrovia Noroeste do Brasil.

24) O primeiro governador de Mato Grosso eleito pelo voto direto ao final do governo
militar foi:
a)Frederico Campos.
b)Julio José de Campos.
c)José Garcia Neto.
d) Dante de Oliveira.
e)Fernando Correa da Costa.

25)Avalie os itens abaixo:


( )O rasqueado é uma dança de origem africana e é dançada com freqüência nas
regiões de cultivo de cana-de-açúcar como Santo Antonio do rio Abaixo.
( ) Em Vila Bela, a Dança do Congo ou Dança do Chorado é uma oferenda aos
santos negros.
( )As touradas eram realizadas no Campo do Ourique, na cidade de Cuiabá e
consistia em uma homenagem ao Divino Espírito Santo.
( )Nas Cavalhadas seus participantes representam a luta travada entre os cristãos e
os mouros na Península Ibérica. São apresentadas em Cáceres e Poconé.

Gabarito:
1-D
2-E
160
3-V,F,V.
4-F,V,F,V.
5-A
6-V,F,V.
7-C
8-B
9-V,V.
10-D
11-E
12-C
13-E
14-E
15-E
16-B
17-C
18-A
19-B
20-A
21-B
22-D
23-D
24-B
25-V,V,V,V.

161
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