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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

GOVERNO MUNICIPAL DE JUAZEIRO DO NORTE


SECRETARIA MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO
COORDENADORIA PEDAGÓGICA
FUNDAMENTAL II

9º ANO

Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível


(PAULO FREIRE)

2016

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

COODENADORIAPEDAGÓGICA
ENSINO FUNDAMENTAL-ANOS FINAIS
ESTUDOS REGIONAIS

COLABORADORES:

 Professor (a):
Edson Xavier Ferreira

Eduardo Fernandes de Araújo Almeida

Flaviano Batista Vieira

Francisca Helena de S. Landim

Francisco Alves Torquarto

Maria Aparecida S. Cavalcante

Maria do Carmo Gomes Farias

Secretário Municipal de Educação: Antônio Ferreira dos Santos

Coordenadora Pedagógica: Arlete Silva Xavier

Coordenadora da Disciplina: Maria do Carmo Gomes

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APRESENTAÇÃO

Sabendo da importância da disciplina de Estudos Regionais na grade curricular das Escolas


do Município de Juazeiro do Norte, assim como, do cumprimento da Lei Orgânica do
Município - Primeira Constituição Municipal de 1990 Capítulo-V da Cultura da Educação e
Desporto, Art.175- A História de Juazeiro do Padre Cícero Romão Batista, será disciplina
obrigatória nos currículos das Escolas Municipais de 5º ao 9º ano, na parte Pública e
garante o direito do ensino da disciplina no ensino fundamental anos finais. A Secretaria
Municipal de Educação – SME e Coordenadoria Pedagógica juntamente com alguns
professores da Rede Municipal de Ensino tem como objetivo oferecer ao professor insumos
que estimule a compreensão da realidade do nosso estado e da região a qual vivemos.
Lembrando que este material é apenas um instrumento de orientação pedagógica para que
a partir do seu conhecimento e pesquisa possa nortear o estudo da história local.

Maria do Carmo Gomes Farias


Coordenadora da Disciplina Estudos Regionais - SME

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SUMÁRIO

NOSSO ESTADO: BANDEIRA, SÍMBOLO E LOCALIZAÇÃO ............................................ 5

HISTÓRIA DO CEARÁ.......................................................................................................... 6

O CEARÁ PRÉ-COLONIAL .................................................................................................. 7

O CEARÁ COLONIAL........................................................................................................... 8

CAPITANIA DO SIARÁ GRANDE ...................................................................................... 10

MODO DE PRODUÇÃO ...................................................................................................... 17

FATORES QUE DETERMINARAM O FIM DO MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO...........19

O CAPITALISMO COMPREENDE QUATRO ETAPAS ...................................................... 20

MODO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA ............................................................................... 21

OUTRAS ATIVIDADES ECONÔMICAS NA METADE DO SÉCULO XIX NO CEARA ...... 21

POPULAÇÃO E URBANIZAÇÃO NO CEARÁ ................................................................... 22

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DO CEARÁ .................................................................... 24

MEIO AMBIENTE E NO CEARÁ E NA REGIÃO DO CARIRI ............................................ 28

FLORESTA NACIONAL DO ARARIPE - FLONA ............................................................... 42

HISTÓRIA............................................................................................................................ 44

A BACIA SEDIMENTAR DO ARARIPE .............................................................................. 50

EMBLEMAS DA RELIGIOSIDADE POPULAR NO BRASIL .............................................. 52

AS ROMARIAS EM JUAZEIRO .......................................................................................... 55

EVENTOS RELIGIOSOS EM JUAZEIRO ........................................................................... 56

O CEARÁ CONTEMPORÂNEO .......................................................................................... 56

A GERAÇÃO CAMBEBA.................................................................................................... 56

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................59

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NOSSO ESTADO: BANDEIRA, SÍMBOLO E LOCALIZAÇÃO.

Bandeira do Estado do Ceará Brasão (Símbolo do nosso estado) Localização do Estado do Ceará a nível
nacional

LEMA Terra da Luz


GENTÍLICO Cearense
REGIÃO Nordeste
Piauí (oeste), Rio Grande do Norte (leste),
LIMITES Paraíba (leste), Pernambuco (sul) e
Oceano Atlântico (norte)
CAPITAL Fortaleza
CLIMA Tropical, semi-árido e litorâneo
Juazeiro do Norte, Sobral, Crato, Iguatu,
Principais
Crateús, Caucaia, Maracanaú,
cidades
Maranguape e Limoeiro do Norte, Quixadá.
População 8.448.055 habitantes (senso-2010)
Rio Jaguaribe, Rio Banabuiu, Rio
Quixeramobim, Rio Acaraú, Rio Salgado,
Principais rios
Rio Ceará.

Regiões Região Metropolitana de Fortaleza - RMF


metropolitanas Região Metropolitana do Cariri - RMC

O CEARÁ

O Ceará é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Situado na região Nordeste,


tem por limites o Oceano Atlântico a norte e nordeste, Rio Grande do Norte e Paraíba a
leste, Pernambuco a sul e Piauí a oeste.
A capital e maior cidade é Fortaleza, sede da Região Metropolitana de Fortaleza -
RMF. Outras cidades importantes fora da RMF são: Juazeiro do Norte e Crato, na Região
Metropolitana do Cariri - RMC, Sobral na região Noroeste, Itapipoca na região Norte, Iguatu
na região Centro-Sul, Crateús na região Sertão dos Inhamuns e Quixadá no Sertão Central.
Na RMF, cidades importantes como Eusébio, Caucaia, Horizonte, Maranguape, Maracanaú,

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Itaitinga e São Gonçalo do Amarante, sede do porto do Pecém, incrementam o Produto


Interno Bruto-PIB cearense. Ao todo são 184 municípios.
É atualmente o décimo segundo estado mais rico do país, sendo o terceiro mais rico
do Nordeste. A capital Fortaleza é o município com o maior PIB cearense, ao todo, é o 9ª
maior do país.
O Ceará detém o terceiro melhor serviço de coleta de esgoto do Norte e Nordeste
brasileiro, apresenta a melhor qualidade de vida do Norte-Nordeste segundo a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro - FIRJAN.
O Estado é conhecido nacionalmente pela beleza de seu litoral, pela religiosidade
popular e pela imagem de berço de talentos humorísticos. A jangada ainda comum ao longo
da costa é considerada um dos maiores símbolos do povo e da cultura cearense. O Ceará
concentra 85% da caatinga do Brasil, é conhecido como "Terra da Luz¨, numa referência à
grande quantidade de dias ensolarados, mas que também remonta ao fato de o Estado ter
sido o primeiro da federação a abolir a escravidão em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea.
Por isso o jornalista José do Patrocínio considerou o estado como a “Terra da Luz”.

HISTÓRIA DO CEARÁ

Os fatos históricos sobre o território cearense, provavelmente começaram a ser


registrados na história moderna a partir do século XVI. Os primeiros registros descrevem
essa região do Brasil, já habitada por diversas etnias indígenas, que viviam da extração de
recursos naturais tais como: pesca, extrativismo, agricultura e comércio com povos
europeus.
A formação histórica do atual Ceará é o resultado de diversos fatores sociais,
econômicos e de adaptação ao solo e natureza tais como: interação entre povos nativos, os
europeus e os africanos; a interação desses povos envolvidos com o fenômeno da seca.
O desenvolvimento independente do Ceará aconteceu apenas depois de sua
separação da capitania de Pernambuco em 1799, e sua história foi marcada por lutas e
movimentos armados como também com o cultivo do algodão que despontou como uma
importante atividade econômica na região.
Os movimentos de lutas se prolongaram por todo o império e a Primeira República,
normalizando-se depois da reconstitucionalização do país em 1945.

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Mapa do Ceará colonial


Imagem do Forte da Schoonenborch

O CEARÁ PRÉ-COLONIAL

O Ceará era habitado por povos indígenas dos trancos Tupi (Tabajara, Potiguara,
Tabeba, entre outros) e Jê ( Kariri, Inhamum, Jucá, Kanindé, Tremembé, Karatius entre
outros ), cujas tribos ainda hoje denominam vários topônimos no Ceará. Estes povos já
negociavam tatajuba, âmbar, algodão bravo e outros produtos com os estrangeiros que
apontavam nas costas cearenses, antes que os portugueses chegassem em 1603 através
do litoral. Os portugueses tentaram, já a partir de 1603, se estabelecer nas terras cearenses,
mas sem sucesso devido à intensa resistência dos nativos e à sua falta de conhecimento
sobre como sobreviver à interveniência de secas. Só a partir de 1654, com a saída dos
holandeses e o enfraquecimento político dos povos indígenas locais, é que os portugueses
começaram a ter sucesso na colonização do território. Os esforços de povoamento pelos
portugueses visavam principalmente a vencer a resistência indígena e garantir o domínio
luso contra estrangeiros.
Os navegadores espanhóis Vicente Yánez Pizon e Diego de Lopes desembarcaram
na Costa cearense antes da viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, Pizon chegou a um
cabo identificado como "Porto Formoso", que se acredita ser o mucuripe, e Lepe da barra do
rio Ceará, em Fortaleza. Essas descobertas não puderam ser oficializadas devido ao
Tratado de Tordesilhas de 1494.
As terras equivalentes à Capitania do Ceará foram doadas a Antônio Cardoso de
Barros na segunda metade do século XVI, porém ele não se interessou em colonizá-las. Os
franceses, que já negociavam âmbar-gris, as tatajubas, a pimenta e o algodão nativo, com
os povos indígenas, foram os primeiros europeus a se estabelecerem no Ceará em 1590

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eles fundaram a Feitoria da Ibiapaba. Os holandeses também já negociavam com os nativos


cearenses. Ex: o capitão Jean Baptista Sijens, que esteve no Mucuripe em 1600.

O CEARÁ COLONIAL

Graças aos contatos mantidos entre os índios potyguara e portugueses estes últimos
planejaram chegar ao Ceará e estabelecer um ponto de apoio na jornada para o Maranhão.
Desta forma, a primeira tentativa efetiva de colonização portuguesa ocorreu com Pero
Coelho de Sousa em 1603, que na sua viagem fundou o Forte de São Tiago na barra do
Ceará. Em 1605, porém, sobreveio a primeira seca registrada na história cearense, fazendo
que Pero Coelho e sua família abandonassem o Ceará.
Depois da partida de Pero Coelho, os padres jesuítas Francisco Pinto e Pereira
Figueira chegaram ao Ceará com o intuito de evangelizar os silvícolas. Avançaram até a
chapada da Ibiapaba, onde ficou até a morte do padre Francisco Pinto. O padre Pereira
Figueira retornou a Pernambuco em 1608, sem grande sucesso.
Em 1612, nova expedição portuguesa foi enviada como parte dos esforços de
conquista do Maranhão, então dominado pelos franceses. Fazia parte dessa jornada Martim
Soares Moreno, que funda o Fortim de São Sebastião, também na Barra do Ceará. Ao
retornar, em 1621, encontrou o forte destruído, mas lançou as bases para o início da
exploração econômica pelos portugueses e a convivência com os nativos.
Os holandeses, já estabelecidos em Pernambuco desde 1630, tentaram invadir o
Ceará já em 1631, atentando ao pedido das nações indígenas cearenses. sendo que a
primeira tentativa de conquista holandesa fracassou.
Na época de ocupação holandesa (1637-1644), o forte da barra do Ceará foi
reformado, foi construído um forte em Camocim, as pesquisas para a exploração das salinas
foram feiras e em1639. Os holandeses ficaram no Ceará até 1644, quando Gedeon Morrise
sua tropa, que retornavam das batalhas no Maranhão, foram mortos numa emboscada
organizada pelos índios. Com a emboscada de 1644, o Fortim de São Sebastião foi também
destruído.
Entre 1644 até 1649, o Ceará ficou sendo administrado pelas etnias então existentes.
A presença europeia só retorna em 1649, depois de contatos e negociações feitas entre os
nativos e Antônio Paraopeba em 1648. Com a chegada de Matias Beck, em 1649,o Siará
Grande entrou em um novo período histórico: na embocadura do Riacho Pajéu, o forte

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Schoonenborch foi construído, os trabalhos de busca das suposta minas foram iniciadas e
os holandeses procuraram mais uma vez se estabelecer na região, sob forte hostilidade dos
indígenas.
Após a derrota dos holandeses em Pernambuco, o forte foi entregue aos portugueses,
restabelecendo-se o poderio português, rebatizando-o de Fortaleza de Nossa Senhora de
Assunção. Neste período muitas das nações indígenas que apoiaram os holandeses, que
não estavam protegidas pelo tratado de Taborda, fugiram para o Ceará, procurando refúgio
das retaliações lusas. Desta forma, o Ceará, acabou sendo o centro de batalhas na guerra
dos Bárbaros.
Na continuação da colonização pelos portugueses a influência dos jesuítas foi
determinante, resultando na criação de aldeamento, muitos deles fortemente militarizados,
onde os indígenas eram concentrados para serem catequizados e assimilados à cultura
lusitana. Tribos tupis aliados aos portugueses também vieram se instalar em vilas
militarizadas na capitania. Dessas reduções surgiram às primeiras cidades da capitania
como Aquiraz e Crato. O processo de aculturação, no entanto ,não se deu sem grandes
influências de crenças e produtos nativos. A intensa resistência levou a episódios
sangrentos, destacando-se a guerra dos bárbaros, ao longo de várias décadas do século
XVIII que resultou na fuga dos habitantes da capital Aquiraz, em 1726, para Fortaleza que
passou a ser a Capital.

Primeiro mapa de Fortaleza de 1730.

Outras frentes colonizadoras surgiram com a instalação da pecuária na capitania


através dos “sertões de dentro” e “sertões de fora”, com levas oriundas respectivamente da
Bahia e de Pernambuco. Vilas como Íco, e sobral e outras surgiram do encontro de rotas do
gado que era levado até as feiras. Mais tarde, o custoso transporte do gado perdeu
importância para a produção de carne de charque, que no final do século XVIII, se
disseminou para a Região Sul do Brasil. Nas regiões serranas, houve e grande afluxo de
pessoas que se dedicaram à agricultura de policulturas, o que veio caracterizá-las pela
maior diversificação da produção e pela estrutura menos latifundiária que a do sertão. O vale

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do Cariri assentou-se menos na pecuária e mais na cultura da cana-de-açúcar, propiciando


a entrada de maiores levas de escravos africanos. O litoral, refúgio de muitos indígenas
livres ou fugitivos, povoou-se de vários vilarejos de pescadores.
As primeiras vilas da capitania da época charqueana eram Aracati, Crato, Icó e
Sobral. A que mais ganhou destaque foi Aracati, devido ao comércio de couro e carne de
charque. Entre os anos de 1750 a 1800, Aracati viveu seu apogeu, mas uma grande seca na
região entre os anos de 1790 até 1973, os rebanhos bovinos morreram e a produção de
charque transferiu-se para o Rio Grande do Sul, que assumiu a posição de abastecedor
principal das outras regiões.

CAPITANIA DO SIARÁ GRANDE

Em 1799, o Ceará adquiriu independência em relação à Pernambuco e Bernardo


Manuel de Vasconcelos foi nomeado seu primeiro governador, sendo o responsável pelo
início da urbanização de Fortaleza. No final do século XVIII, o algodão foi tomando relevante
papel na pauta de exportações do Ceará. Com o declínio do charque, cuja distribuição era
centrada em Aracati, Fortaleza se tornou a principal cidade cearense devido à sua condição
de destino dos produtos agrícolas cultivados nas diversas serras que elevam nas
vizinhanças do município.
Em 1912 foi nomeado governador do Ceará o português Manuel Inácio e Pina Freire,
o qual reuniu os literários no palácio do governo e deu incentivo as artes e a urbanização da
capital por meio dos projetos de Silva Paulet. No começo do século XIX o Ceará passou por
movimentos rebeldes como a República do Crato em 1813,e também influência da
Revolução pernambucana de 1817, movimentos de cunho republicano-liberal liderados pela
família cratense dos Alencar. Tais movimentos foram reprimidos com dureza pelo
governador provincial do Ceará, Inácio Sampaio.
Em 1825 o Ceará tomou parte na Confederação do Equador, com o liberal Tristão
Gonçalves aplicando um golpe e tornando-se chefe do governo. A Confederação foi
frustrada pelas forças imperiais e Tristão Gonçalves morreu durante os combates contra as
forças legalistas do Império. O ciclo de conflitos terminou com a Insurreição de Pinto
Madeira “coronel de Jardim”, que visava ao retorno da monarquia absolutista e representava
interesses regionais opostos da cidade de Crato de inspiração liberal.
Em meados de 1860, devido à guerra de Secessão norte- americana, houve um surto
de crescimento da produção do algodão, tal florescimento não durou muito tempo, mas deu

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grande impulso à modernização da infraestrutura da Província como exemplo a estrada de


ferro de Baturité, inaugurada em 1873, em 1877, tem início à chamada "Grande Seca" de
1877-1879, um dos mais severos períodos de seca prolongada da história cearense,
levando à morte milhares de pessoas e acarretando emigração maciça de retirantes.
Fortaleza recebeu uma população de fugitivos da seca quatro vezes maior que a sua
própria.
A gravidade dessa estiagem chamou a atenção do governo central e mesmo de
cientistas, havendo então a produção de textos científicos e propostas de melhoramento da
situação da população cearense, cuja maior parte não foi posta em prática ou se revelou
ineficaz. Por outro lado, houve um aceleramento nas obras do açude do cedro, em Quixadá,
o primeiro do Nordeste, que só ficou pronto em 1906, a grande seca e as estiagens
seguintes impulsionaram o surgimento da indústria da seca e geraram uma tradição
migratória no Estado.
Anos antes da Proclamação da República notabilizou-se a campanha abolicionista no
Ceará, que logrou abolir a escravidão no Estado em 25 de março de 1884, quatro anos
antes da Lei Áurea. O movimento contou com a participação de várias sociedades liberais,
inclusive a maçonaria, mas o maior destaque ficou com Francisco José do nascimento, o
Dragão do Mar, jangadeiro que impulsionou o abolicionismo ao comandar seus
companheiros em 1881, numa total recusa a transportar escravos para dentro ou fora da
província. A primeira cidade brasileira a abolir a escravatura foi Acarape, atual Redenção,
em 1º de Janeiro de 1883. E em 25 de março de 1884 a escravidão foi abolida em toda a
província do Ceará devido a isso, o Ceará recebeu a alcunha de terra da luz ,de início por
José do Patrocínio. A escravidão, que jamais fora dominante no Estado, estava
praticamente extinta nos anos de 1880, de forma que não houve resistência à abolição
mesmo por parte da elite agrícola.
No início da Primeira República, apesar das estiagens que assolaram o Ceará,
Fortaleza continuou a desenvolver-se econômica e politicamente, ao contrário do resto do
Estado. Ocorre nas primeiras décadas do século XX um afluxo de imigrantes, embora
pequeno em relação ao de outras regiões, consistindo principalmente de portugueses e
sírio-libaneses. Os descendentes destes em particular ganharam destaque no comércio,
como mascates e futuramente na política cearense.
Começou a ganhar destaque a atividade dos cangaceiros que, agindo em grupos
organizados e promovendo saques em cidades e propriedades rurais, desestabilizaram o
interior do Nordeste por décadas. A forte religiosidade popular e a grande miséria

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estimulavam uma profusão de líderes messiânicos e formas de fanatismo religioso. O


cearense Antônio Conselheiro dos líderes conselheiro, de Quixeramobim, chegou a formar
na Bahia, o arraial de Canudos, cuja forte atração populacional e ideológica, contrária aos
interesses da elite fundiária, deflagrou a Guerra de Canudos. Isso, porém não atingiu a
influência dos líderes religiosos.
Entre 1896 e 1912 a hegemonia política foi concentrada nas mãos do comendador
Nogueira Accioly e de sua família, que estabeleceram uma poderosa oligarquia que
comandava a maior parte dos escalões do poder estadual, Em 1912, Accioly apontara como
seu candidato Domingos Carneiro, contra Franco Rabelo. Representante da política do
salvacionismo do presidente Hermes da Fonseca, gerando uma conturbada campanha
eleitoral. A dura repressão policial a uma passeata de crianças em favor de Rabelo, que
causou a morte de algumas delas e feriram outras. Desencadeou uma revolta de três dias
da população fortalezense, forçando o governador Accioly a renunciar, evento conhecido
como Sedição de Fortaleza Franco Rabelo passou a governar o Ceará.
No fim do século XIX o padre Cícero passou a atrair milhares de sertanejos para um
pequeno distrito do Crato, que se tornaria Juazeiro do norte. Em 1911, persuadidos pela
fama de milagreiro, atribuída à suposta transformação em sangue da hóstia recebida do
padre pela beata Maria de Araújo. Mesmo após a perda de sua ordenação, em virtude de
controvérsias sobre o milagre, o padre Cícero tornou-se cada vez mais conhecido e, apesar
de seu caráter messiânico, foi hábil em evitar grandes conflitos com a elite local, tornando-se
ele próprio um poderoso chefe político. Em 1914 irrompeu Sedição de Juazeiro, opondo o
governador interventor Franco Rabelo e o padre Cícero, que havia conquistado os postos de
prefeito vice-governador. Rabelo iniciou uma perseguição ao líder político. Com isso,
liderados por Floro Bartolomeu, os sertanejos fiéis ao padre Cícero reuniu-se para lutar
contra as tropas estaduais, conseguindo derrotá-las em sua cidade e fazê-la recuar até
Fortaleza, onde vencendo, destituíram o governador. Estabeleceu-se um equilíbrio entre as
oligarquias cearenses, que durou até a Revolução de 1930.
Em 1915 o Ceará sofreu com uma gravíssima seca levando a novo êxodo da
população para a Amazônia, região que devido à intermitente mais significativa emigração
recebeu grande influência de cearenses. A gravidade da seca inspirou a escritora Raquel de
Queiroz em sua famosa obra O QUINZE. O sertão sofreu mais uma estiagem em 1932, e
governo estadual não pôde dispor mais da Amazônia como refúgio para os flagelados.
Diante disso, os campos de concentração no Ceará que já foram usados na estiagem de
1915, foram recriados. Conhecidos como currais do governo, tinham como objetivo, impedir

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que retirantes que fugiam da seca e da fome, chegassem às grandes cidades. A


instabilidade política e social foi crescendo no Estado. Nos anos de 1930, surgiu no Crato o
movimento messiânico do Caldeirão de Santa cruz do Deserto, liderado pelo beato José
Lourenço. Igualitária e agrária, a comunidade do Caldeirão perseguia a auto-suficiência,
passando a ser vista pelo governo e pelos fazendeiros poderosos da região como uma má
influência, no qual ameaçava toda a aristocracia rural da época. Em 1937 o Caldeirão foi
invadido e alvo de bombardeio aéreo o, resultando no massacre de aproximadamente 400
indivíduos.
Observe as figuras que retrata a seca de 1915.

Imagem mostrando o êxodo rural provocado Um dos quadros da seção “Retirantes”, de


pela seca de 1915. Cândido Portinari, 1944 (Seca de 1915)

Após a Revolução de 1930, o Ceará passou a ser governado por interventores do


Governo Federal. Ascenderam duas organizações políticas que dominaram o cenário
estadual: a Legião Cearense do Trabalho, com nítida influência fascista, e a Liga Eleitoral
Católica fortemente religiosa, representante da elite tradicional e de grande apelo popular.
Nos ano de 1940 mais uma seca assolou o Ceará e, com a Segunda Guerra Mundial e os
acordos norte americanos o governo de Getúlio Vargas incluiu o Ceará no seu projeto
político. A instalação de uma base americana em Fortaleza trouxe ideais democráticos e
antifascistas que passaram a ser defendidos em várias manifestações. Sob uma forte
propaganda governamental de migração, cerca de 30 mil cearenses tornaram-se soldados
da borracha produzindo esse produto na Amazônia para abastecer os exércitos aliados.

A CULTURA

Como quase todo o Brasil, o Ceará tem uma cultura mestiça, formada a partir de
etnias oriundas de três continentes, branco - europeia, afro-negra e ameríndia. Se

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comparado aos demais Estados brasileiros e nordestinos chama a atenção uma maior
contribuição ameríndia, ao lado da sempre hegemônica presença branca de origem europeia
e de uma relativamente menor participação negra, na formação étnica de sua gente e de sua
cultura.
Entre outros fatores temos: a colonização retardada de seu território, acentuado a
persistência de traços indígenas. Em seguida a ocupação pela civilização branco - europeia,
sendo feita a partir do interior em direção ao litoral. Com relação à economia, há os diversos
ciclos, pelos quais passou sua história, notadamente o da pecuária e o algodão, mas
também a carnaúba, o do caju etc. Temos também a presença marcante do vaqueiro nos
primeiros séculos da colonização determinando muitas das peculiaridades do cearense,
além da presença de outros tipos como o jangadeiro, o roceiro, a rendeira etc. Em relação
ao clima, aparecem as estações que dividem o em período chuvoso e outro sem chuvas.
Além disso, há o fenômeno da seca que com o adensamento da população transformou-se
em catástrofe social, desorganizando periodicamente a sociedade com intensificação do
êxodo rural. Ainda
Do ponto de vista geográfico, surgem as diversidades sub-regionais, incluindo sertão,
litoral, serra e vales úmidos também a existência do Cariri dentro do semi-árido, verdadeiro
caldeirão de cultura. No que diz respeito à atividade produtiva, nota-se a ausência de uma
tradição agroindustrial marcante compensada por uma vocação comercial e artesanal
notável. Quanto à vida social, tem-se a urbanização recente e o crescimento agigantado de
Fortaleza, a modernização acelerada da sociedade coexistindo com formas arcaicas de
cultura e o aguçamento das desigualdades e dos contrastes sociais. Vale acrescentar a
presença dos santuários de Juazeiro do Norte e de Canindé, os dois maiores centros do
catolicismo popular do Nordeste.
O mapa a seguir mostra a distribuição da atividade artesanal no Ceará, privilegiando
alguns artesanatos tradicionais e onde aparecem com maior incidência. Na verdade, o
artesanato é atividade que domina todo o território do Estado, sendo inseparável de sua vida
econômica e social.

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Mapa turistico do Ceará

A CULTURA DO CARIRI

O grande Cariri compreende territórios não só do Ceará, como também de


Pernambuco e da Paraíba, incluindo a região de serras (Araripe, Caririaçu e Borborema),
sertões e vales. No Ceará, ele se localiza no extremo sul do Estado, abrangendo 27
municípios e uma área razoavelmente povoada, que tem como centro político e econômico
chamado Vale do Cariri, formado por terrenos especialmente férteis, considerado uma
espécie de oásis em meio ao semiárido, a região do Cariri sempre foi vista como um
território especial dentro do Nordeste brasileiro, tanto por sua localização quanto pela
excelência de seu solo e de seu clima, entre outros fatores. Em épocas pré - cabralinas foi
domínio da nação dos cariris, espécie de reduto sagrado dos indígenas, que combateram
em defesa do seu território, por mais de 30 anos, o invasor branco. No Brasil colônia, o
Brasil atraiu exploradores vindos dos mais diferentes centros colonizadores.
Esta capacidade particular de atração sobre a população dos Estados próximos fez
do Cariri não apenas uma região privilegiada, em termos de cultura, mas o transformou
numa espécie de caldeirão cultural do Nordeste. Nele se cruzam e se cruzaram correntes
migratórias provenientes tanto das zonas canavieiras da Bahia e de Pernambuco, onde a
presença do negro é marcante, como dos sertões profundos da Bahia e do Piauí sem falar
na Paraíba, no Rio Grande do Norte e nas Alagoas, Estado que, no século atual parece ter

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dado maior contribuição para o enriquecimento cultural da região. Desta maneira, as várias
regiões do Nordeste com suas diferentes culturas, estão reunidas no Cariri.

A CULTURA DA SERRA

Encravadas no sertão semiárido, as serras não se constituem de todo uma região


cultural a parte, no Ceará. Suas vegetações de mata, seus climas temperados, suas divisões
em pequenas propriedades, entretanto, junto com outros fatores, fazem decorrer variações
culturais, não de todo insignificantes, a começar pelo temperamento do homem serrano,
bem mais tranquilo e pacífico que o do sertanejo. A ele não são exigidos nem a economia de
energia, nem os grandes rasgos de coragem que caracterizam o homem do sertão
Talvez o traço que mais diferencie a cultura das serras seja a maior presença do
negro, assim como do trabalho coletivo, decorrente da incidência mais numerosa de
engenhos de rapadura e alambiques de aguardente. Isto é notável principalmente na serra
do Araripe, mas também, na Ibiapaba e nas serras de Aratanhas e Baturité. Ao mesmo
tempo, observa-se, em algumas delas, a permanência marcante de traços indígenas,
notadamente na arquitetura popular, no mobiliário e acervo de utensílios domésticos da
Ibiapaba, mas também na serra da Meruoca, próxima a Sobral. Chama a atenção à
qualidade da louça de barro da Ibiapaba, onde se destacam as feiras de são Benedito e Ipu,
bem como do artesanato de trançado especialmente o de fibras vegetais. A culinária é
enriquecida com derivados da cana-de-açúcar, o açúcar mascavo, o mel com farinha, queijo
ou batata doce, o alfenin, a batida, a rapadura, a aguardente, o caldo de cana etc. Entre os
folguedos encontram-se vários tipos de reisados como Reisado de Bailes, O Reisado do
coco de roda. E ainda a dança do coco de roda, a dança de são Gonçalo etc.
Todo este imenso acervo cultural, herdado de nossos antepassados, é legado dos
mais preciosos, cuja guarda e proveito cabem ás novas gerações. Deve ser renovado e
enriquecido frente aos desafios que o presente nos coloca , seja no diálogo com outras
culturas, seja como soma de novas invenções.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

MODO DE PRODUÇÃO

O modo de produção é a maneira pela qual a sociedade produz seus bens e serviços,
como os utiliza e os distribui. O modo de produção de uma sociedade é formado por suas
forças produtivas e pelas relações de produção existentes nessa sociedade.
Modo de produção = forças produtivas + relações de produção
Portanto, o conceito de modo de produção resume claramente o fato de as relações
de produção ser o centro organizador de todos os aspectos da sociedade.

Modo de Produção Primitivo

O modo de produção primitivo designa uma formação econômica e social que


abrange um período muito longo, desde o aparecimento da sociedade humana. A
comunidade primitiva existiu durante centenas de milhares de anos, enquanto o período
compreendido pelo escravismo, pelo feudalismo e pelo capitalismo mal ultrapassa cinco
milênios.
Na comunidade primitiva os homens trabalhavam em conjunto. Os meios de produção
e os frutos do trabalho eram propriedade coletiva, ou seja, de todos. Não existia ainda a
ideia da propriedade privada dos meios de produção, nem havia a oposição proprietários x
não proprietários.
As relações de produção eram relações de amizade e ajuda entre todos; elas eram
baseadas na propriedade coletiva dos meios de produção, a terra em primeiro lugar.
Também não existia o estado. Este só passou a existir quando alguns homens
começaram a dominar outros. O estado surgiu como instrumento de organização social e de
dominação.

Modo de produção primitivo

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

Modo de Produção Escravista

Na sociedade escravista os meios de produção (terras e instrumentos de produção) e


os escravos eram propriedade do senhor. O escravo era considerado um instrumento, um
objeto, assim como um animal ou uma ferramenta.
Assim, no modo de produção escravista, as relações de produção eram relações de
domínio e de sujeição: senhores x escravos. Um pequeno número de senhores explorava a
massa de escravos, que não tinham nenhum direito.
Os senhores eram proprietários da força de trabalho (os escravos), dos meios de
produção (terras, gado, minas, instrumentos de produção) e do produto de trabalho.

Modo de produção escravista asiático

Modo de Produção Asiático

O modo de produção asiático predominou no Egito, na China, na Índia e também na


África do século passado.
Tomando como exemplo o Egito, no tempo dos faraós, vamos notar que a parte
produtiva da sociedade era composta pelos escravos, que era forçados, e pelos
camponeses, que também eram forçados a entregar ao Estado o que produziam. A
parcela maior prejudicando cada vez mais o meio de produção asiático.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

FATORES QUE DETERMINARAM O FIM DO MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO

• A propriedade de terra pelos nobres;


• O alto custo de manutenção dos setores improdutivos;
• A rebelião dos escravos.

Modo de Produção asiático

Modo de Produção Feudal

A sociedade feudal era constituída pelos senhores x servos. Os servos não eram
escravos de seus senhores, pois não eram propriedade deles. Eles apenas os serviam em
troca de casa e comida. Trabalhavam um pouco para o seu senhor e outro pouco para eles
mesmos.
Num determinado momento, as relações feudais começaram a dificultar o
desenvolvimento das forças produtivas. Como a exploração sobre os servos no campo
aumentava, o rendimento da agricultura era cada vez mais baixo. Na cidade, o crescimento
da produtividade dos artesãos era freado pelos regulamentos existentes e o próprio
crescimento das cidades era impedido pela ordem feudal. Já começava a aparecer às
relações capitalistas de produção.

Modo de produção feudal

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

O que caracteriza o modo de produção capitalista são as relações assalariadas de


produção (trabalho assalariado). As relações de produção capitalistas baseiam-se na
propriedade privada dos meios de produção pela burguesia, que substituiu a propriedade
feudal, e no trabalho assalariado, que substituiu o trabalho servil do feudalismo. O
capitalismo é movido por lucros, portanto temos duas classes sociais: a burguesia e os
trabalhadores assalariados.

O CAPITALISMO COMPREENDE QUATRO ETAPAS

Pré-capitalismo: o modo de produção feudal ainda predomina, mas já se desenvolvem


relações capitalistas.

Capitalismo comercial: a maior parte dos lucros concentra-se nas mãos dos comerciantes,
que constituem a camada hegemônica da sociedade; o trabalho assalariado torna-se mais
comum.

Capitalismo industrial: com a revolução industrial, o capital passa a ser investido


basicamente nas indústrias, que se tornam à atividade econômica mais importante; o
trabalho assalariado firma-se definitivamente.

Capitalismo financeiro: os bancos e outras instituições financeiras passam a controlar as


demais atividades econômicas, através de financiamentos à agricultura, a indústria, à
pecuária, e ao comercio.

Modo de produção capitalista

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

MODO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA

A base econômica do socialismo é a propriedade social dos meios de produção, isto


é, os meios de produção são públicos ou coletivos, não existindo empresas privadas. A
finalidade da sociedade socialista é a satisfação completa das necessidades humanas.

Modo de produção socialista

OUTRAS ATIVIDADES ECONÔMICAS NA METADE DO SÉCULO XIX NO CEARA:

No início do século XIX, começaram a se formar as vilas junto ás fazendas e


encruzilhadas no interior. Uma das regiões que se tornou mais prósperas foi o Cariri, tendo
como centro a vila do Crato, fundada por uma missão franciscana. Icó prosperou como
entreposto comercial, entre o Cariri e o litoral. Aracati era porto de mar, onde se exportava o
couro e o charque.
Na segunda metade do século XIX, o Ceará reproduziu, em escala menor, a
expansão da economia brasileira.·.
O algodão cearense, cultivado comercialmente desde o final do século XVIII,
conheceu o apogeu na segunda metade do século XIX na década de 1860 precisamente –
isso porque os preços da fibra atingiram um alto patamar, em virtude da desorganização da
produção dos Estados Unidos (principais fornecedores das fábricas inglesas), mergulhados
na brutal Guerra de Secessão (1861-65). Essa vultosa produção algodoeira tinha em
Fortaleza seu grande centro coletor e exportador.
Houve igualmente a ampliação das atividades tradicionais (como a pecuária) e a
diversificação da pauta de exportação, a exemplo das borrachas, açúcar e, como destaque,
o café, produto que chegou algumas vezas a superar as exportações de algodão, sendo

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

cultivados em serras como Baturité, Maranguape, Meruoca, Aritana, Grande, Uruburetama e


Araripe.
Ampliam-se os serviços urbanos e de transportes (em 1870, inicia-se a construção da
EFB) e o comercio (com a instalação, inclusive de negocistas estrangeiros). Apesar dessa
„modernização, não se alterou a estrutura socioeconômica do Ceara, que terminou o século
XIX em grave crise desse modelo agroexportador e comercial.

POPULAÇÃO E URBANIZAÇÃO NO CEARÁ

A capital cearense assume, na segunda metade do século XIX, a condição de


principal núcleo econômico, político e social da província, superando Aracati. Para tanto
contribuíram:
a) Os capitais acumulados com o comercio algodoeiro e de outros produtos;
b) A centralização política da monarquia brasileira, que concorria para concentração nas
capitais das províncias todo o poder decisório, beneficiando-as com obras – assim, a
condição de capital de Fortaleza transformou-a em ponto destacado na recepção de
obras e recursos;
c) A construção e melhorias de estradas e ferrovias, como a Estrada de Ferro Fortaleza-
Baturité (EFB) inaugurada em 1873;
d) E a intensa migração rural-urbana, principalmente na época das secas.

Fortaleza: fim do século XIX

O crescimento de Fortaleza se evidenciou em seu “aformoseamento”, oferta de


serviços urbanos e adoção de uma infraestrutura razoável. Passa a ter transporte coletivo
por bonde de tração animal, calçamento nas ruas centrais, linhas de telégrafos e de vapor

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

para a Europa e Rio de Janeiro iluminação de gás carbônio, telefonia, biblioteca públicas,
bons educandários (como o Liceu e o colégio Imaculada Conceição), (seminário da
prainha), jornais etc.
É a chamada Belle Époque. A elite inspira-se nos valores civilizados da Europa –
luvas, chapéus, casacos, nomes franceses, ideias do velho mundo. O Passeio Público era
lugar de encontro e paqueras. Os intelectuais se reuniram nos famosos “cafés”, o Java, em
1892, formar-se-ia a mais irônica e crítica associação de letrados cearenses, a Padaria
Espiritual. Em sua publicação, o Pão, homens como Adolfo Caminhas criticavam os valores
da época e, de certo modo, antecipavam a preocupação nacionalista da Semana de Arte
Moderna paulista de 1922.
Em 1875 o engenheiro pernambucano Adolfo Herbster elabora um plano urbanístico,
objetivando disciplinar a expansão de cidade através do alinhamento de suas ruas e da
abertura de novas avenidas.
Os lucros do algodão, no entanto, reduzir-se-iam com a recuperação da cotonicultura
norte-americana na década de 1870. Com isso, o Ceara entrou no século XX em difícil
situação econômica. Curiosamente, foi o algodão encalhado e os capitais acumulados do
comercio que possibilitaram a instalação das pequenas primeiras fabricas têxteis
cearenses.
Mas se Fortaleza conhecia algum progresso material, o mesmo não se podia dizer
dos sertões, onde imperava ainda a violência, a arbitrariedade e, a exploração de massa
pelos coronéis latifundiários. Os camponeses sofriam os males da concentração da terra.
Grupos de jagunços a serviços de coronéis lutavam por terra e influência política,
massacrados inocentes. Imperava a impunidade.
As secas, como a de 1877-80, dizimavam de fome e sede milhares de cearenses,
outros muitos morriam nos surtos de varíola. O povo migrava sobretudo para a Amazônia,
onde ia explorar os seringais. Mas os oprimidos reagiram. Um dos meios foi através dos
movimentos messiânicos, em que o povo seguia um líder religioso em busca de dignidade,
condições de vida melhores e assistência espiritual. Foram lideres Messiânicos
nordestinos: padre Ibiapina, padre Cicero, beato Zé Lourenço e o líder de Canudos(BA),
Antônio Conselheiro.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

Estátua de Antônio Conselheiro em Canudos

Outros nordestinos, no entanto, partiram para a violência como meio de escapa da


miséria. Formavam grupos de cangaceiros, saqueando, assaltando, e amedrontando todos.
O mais famoso líder do cangaço dos sertões foi Virgulino Ferreira, o lampião, morto apenas
em 1938, em Sergipe.

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DO CEARÁ

ARTE POPULAR

Com a colonização, diversas técnicas europeias se somaram a cultura cearense que


é basicamente europeia, ameríndia e afro-brasileira, formando uma arte popular que viria a
ser renomada nacional e internacionalmente.
Com origem, portuguesa e relevante influência indígena tem destaque à produção de
redes com os mais diversos bordados e formas e intrincadas rendas feitas em bilros, com
maior destaque da produção artesanal cearense, sendo uma arte tradicional no Ceará desde
o século XVIII. As rendas e os labirintos possuem maior destaque nas imediações do litoral,
enquanto o interior se destaca mais pelos bordados. As pedras semipreciosas também são
exploradas, transformadas em joias criativas, sobretudo em Juazeiro do Norte, Quixadá e
Quixeramobim.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

Poeta popular: Patativa do Assaré

Ademais, o artesanato feito em madeira e barro se destaca bastante, com a produção


de esculturas humanas, representando tipos da região; quadros talhados em madeiras e
vasos adornados. Outros importantes itens do artesanato cearense são as garrafas de
areias coloridas, onde são reproduzidas manualmente, paisagens e temáticas diversas. São
ainda encontrados, em diversas cidades como Massapê, Russas, Aracati, Sobral e
Camocim, outras artes como as cestarias, chapéus e traçados com variadas formas e
desenhos feitos da palha da carnaúba, do bambu e do cipó. Por fim, como consequência
natural de uma economia que, durante séculos, foi essencialmente pecuarista, o couro é
trabalhado artesanalmente, em especial, para a produção de chapéus e outras peças da
roupa de vaqueiros, assim com móveis e esculturas. As principais cidades no artesanato
coureiro são Morada Nova, Juazeiro do Norte, Crato, Jaguaribe e Assaré.
Em diversas áreas do interior cearense, os cordéis, assim como os repentistas e
poetas populares, especialistas no improviso de rimas, ainda estão presentes e ativos,
seguindo uma tradição que remota a idade média lusitana. Outra forte influência portuguesa
se encontra na grande importância das festas religiosas nas cidades de todo interior,
particularmente as festas de padroeiras, que estão entre as principais festividades da cultura
cearense, abarcando não só cerimônias religiosas, mas também danças, músicas e outras
formas de entretenimentos.

ARTES PLÁSTICAS

O movimento de maior destaque na história da pintura cearense foi o modernismo


com o surgimento da sociedade cearense de Artes Plásticas em 1944 que reuniu vários
pintores como Antônio Bandeira, Otacilío de Azevedo, Aldemir Martins, Inimá de Paula e

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

outros. Bandeira é considerado um dos maiores pintores abstracionista do Brasil. Antes


desse movimento alguns importantes pintores cearenses foram Raimundo Cela e Vicente
Leite que no começo do século XX retrataram várias paisagens do sertão e litoral do estado.

HUMOR

O Ceará se tornou conhecido como o berço de talentos humorísticos como Chico


Anysio, Renato Aragão entre tantos. A história do Ceará é repleta de casos verídicos e
curiosos como o bode Ioiô que era famoso em Fortaleza e inclusive foi eleito vereador da
cidade, e seu Lunga, de Juazeiro do Norte, famoso pela sua intolerância.

LITERATURA

O Ceará é terra de muitos poetas escritores importante, podendo-se citar, entre


dentre muitos: José de Alencar, Domingos Olímpio, Raquel de Queiros, Adolfo Caminha,
Antônio Sales, Jáder Carvalho, Juvenal Galeno, Gustavo Barroso e Patativa do Assaré.
A literatura cearense foi sempre caracterizada por florescer em torno de grupos
literários. O primeiro desses grupos de desenvolvimento literário foi Os Oiteiros, que, embora
mantendo os padrões típicos do Arcadismo, soube encontrar uma cor local para descrever o
“fugereurbem e o carpe diem” típicos daquela escola.
No final do século XIX, surgiu a padaria espiritual, uma agremiação cultural formada
por jovens escritores, pintores e músicos. Vários autores dessa agremiação criticavam as
instituições e valores então vigentes com discurso irônico, irreverência, espírito crítico e
sincretismo literário. Para alguns movimento pré-modernista pois já apresentava alguns
aspectos do modernismo, que só surgiria com força em São Paulo em 1922.Contemporânea
à Padaria espiritual, a Academia Cearense de Letras foi fundada em 1894, sendo uma das
principais instituições similares em todo o Ceará.
O Modernismo se consolidou no Ceará por meio do movimento Clã, fundado nos
anos 1940, que congregou diversos escritores renomados cearenses como: Moreira
Campos, João Clímaco Bezerra, Antônio Girão Barroso, Aluísio Medeiros, Otacílio Collares,
Artur Eduardo Benevides Antônio Martins Filho, Braga Montenegro, Manuel Eduardo

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

Pinheiro Campos, Fran Martins, José camelo ponte, José Sténio Lopes, Milton Dias, Lúcia
Fernandes Martins e Mozart Soriano Aderaldo.
Na década de 1970, surgiram outros dois importantes grupos literários no Ceará que
foram: O Saco, uma revista artística inusitada, pois era distribuída com folhas soltas
guardadas dentro de um saco; e O Grupo Siriará, que reuniu diversos jovens escritores,
propondo uma literatura cearense autêntica e desvinculada dos estereótipos que se
estabeleceram na retração literária cearense.
A literatura de cordel tem destaque nas letras cearenses desenvolvendo-se
expressivamente em Juazeiro do Norte, desde as primeiras décadas do século passado. Em
fortaleza, a literatura de cordel surgiu no período da oligarquia de Nogueira Accioly, em um
período que circularam alguns folhetos destratando a figura do governador.

MÚSICA

O gênero musical mais identificado com o Ceará é o forró, em suas variadas formas,
notadamente o tradicional forró pé-de-serra. Nos anos de 1940, o cearense Humberto
Teixeira formou uma famosa parceria com o pernambucano Luiz Gonzaga, criando o baião,
que se tornou muito apreciado. Uma das principais tradições da música cearense e
principalmente, do Cariri são também as bandas cabaçais, que utilizavam pífanos,
zabumbas e pratos e frequentemente fazem acompanhar sua música com movimentos e
acrobacias com facões, com destaque para a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto. Outros
representantes tradicionais da música cearense são os seresteiros e repentistas.

RELIGIÃO

A religião é muito importante na cultura da maior parte dos cearenses. A Igreja


Católica é a religião hegemônica e deixou várias marcas na cultura cearense. Foi a única
reconhecida pelo governo até 1883 quando, na capital do estado, foi fundada a igreja
presbiteriana de Fortaleza. A religiosidade católica cearense adota vários elementos de
origem popular e apresenta influências de crenças indígenas.
Durante o século XX, várias igrejas se instalaram no estado e no final desse, houve
um aumento considerável de pessoas de outras religiões. Mas o Ceará é ainda o segundo

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

estado brasileiro com maior proporção de católicos. O catolicismo tem uma extensa rede de
igrejas e organizações religiosas em todo o Ceará.
Todos os municípios cearenses possuem padroeiros. O Padroeiro do Ceará é São
José, daí porque o seu dia no calendário religioso, 19 de março, é feriado estadual.
A fé sertaneja, muitas vezes associada ao messianismo e marcada por profunda
relação com os santos, rituais e datas religiosas, foi e continua sendo bastante influente na
história cearense e nos costumes e festejos cearenses. A cidade de Juazeiro do Norte
surgiu de um assentamento que, sob orientação do Padre Cícero, considerado pela fé
popular um santo, tornou-se um local de peregrinação religiosa e, nos últimos anos, atrai
milhares de crentes e vários locais do Nordeste. Outro local de grande peregrinação
religiosa é a cidade de Canindé que abriga um santuário importante em devoção a São
Francisco, considerado o maior das Américas. O Santuário de Nossa Senhora Imaculada
Rainha do Sertão, em Quixadá, tem se tornado outro centro de peregrinação católica.

Estátua do Padre Cícero na colina do Horto em Juazeiro do Norte

MEIO AMBIENTE E NO CEARÁ E NA REGIÃO DO CARIRI

ASPECTOS FÍSICOS DO CEARÁ

1-Extensão territorial – O estado do Ceará apresenta 149.345, km², incluindo a área em


litígio com o Estado Piauí ( 2.997,4km²), o que corresponde 1,74% do território nacional,
constituindo-se no 4º maior Estado da região nordeste e no 17º do país em extensão
territorial.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

2. Geologia- Uma característica marcante da estrutura geológica cearense é o domínio das


bacias sedimentares.
As formações paleozóicas do domínio das Bacias Sedimentares campeiam o extenso
planalto da Ibiapaba/Serra Grande ao longo de toda porção ocidental do Estado , na
fronteira do Piauí. A disposição dos sedimentos em camadas com inclinação para o Oeste
confere a feição cuneiforme que caracteriza o planalto.
A formação mesozóica é integrada pelos grupos Araripe e Apodi, que constituem
respectivamente as chapadas dos mesmos nomes. O grupo Araripe é composto pelas
formações: Missão Velha, Santana e Exu, ocorrendo na porção meridional do Estado. O
grupo Apodi é integrado pelas formações Açu e Jandira, compostas de arenito e bancos de
calcário localizados na porção leste/ nordeste do Estado.
Na zona litorânea, predomina o terreno tércio-quatenário esculpido na formação
barreiras, embora também apresente afloramentos pré- cambriano e do cretáceo em alguns
dos seus trecho. No final do terciárioe início do quaternário foi transportados sedimentos do
interior e depositados na linha costeira, originando terrenos denominados geologicamente
por formações barreiras, que, por muitas vezes, exposta à ação marinha, originam as
falésias comuns ao litoral de Beberibe (Morro Branco, Praia das Fontes) e litoral do Aracati
(Canoa Quebrada e Quixaba). Ao longo do quartanário, as ações marinhas dos ventos e dos
rios depositaram sedimentos e paisagens como praias, dunas e manguezais.
O embasamento cristalino predomina na depressão sertaneja representada por
rochas magmáticas e metamórficas muito antigas, datadas da era Pré- cambriana. Entre as
rochas mais comuns, encontram-se o granito, o gnaisse, o quartzito e o magmático.
Os terrenos cristalinos ocupam quase a totalidade da área central do Ceará fazendo
parte do Planalto Nordestino, constituído uma superfície de erosão bastante dissecada pelas
condições intemperas e pelo regime de chuvas torrenciais.
A baixa permeabilidade do embasamento cristalino dificulta a infiltração e favorece um
grande escoamento superficial que acaba esculpindo a depressão Inter planáltica do
semiárido cearense. Os terrenos cristalinos ainda favorecem o armazenamento de água em
superfície (açudagem) que, em consequência do relevo suave, acaba formando um grande
espelho de água, intensificando a taxa de evaporação.
Formando o relevo do sertão, também aparecem com grande destaque os maciços
residuais do Baturité, Meruoca e Uruburetama e os inselbergues ou monólitos, sendo os
mais comuns encontrados em Quixadá, Quixeramobim e Itapajé

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

3 Geomorfologia - O relevo do Estado do Ceará comporta características que dependem da


influência de um conjunto de fatores em condições geológico-estruturais , paleoclimática e a
dinâmica geomorfogenética atual são as mais destacáveis .
As unidades morfoestruturais representam setores de macroestruturas, definidas ao
nível de estudo e das bacias sedimentares.
Os fatores estruturais têm relação direta com as macroestrutura são níveis de
escudos e de Bacias Sedimentares. A diferenciação petrografias, a evolução
paleogeográfica, bem como a diversificação local de clima e de vegetação diferencia da
evolução morfogênica.

AS PLANÍCIES LITORÂNEAS OU COSTEIRAS

O ambiente litorâneo é geologicamente muito recente, com terrenos do cenozóico


quaternário, ecologicamente diversificado, no qual encontramos faixas de praia; campos de
dunas móveis e fixas; e planícies flúvio-marinhas bastante vulneráveis à ação marinha,
eólica e da chuva.
O litoral cearense na faixa praial apresenta-se bastante retilíneo chegando a ser
interrompido por algumas pontas que se projetam para o mar, como as de Mucuripe, Pecém,
Itapagé, Presídio, Jericoacoara e por pequenas reentrâncias correspondentes aos estuários
dos rios, correspondentes aos estuários dos rios, tais como Jaguaribe, Acaraú, Curu, Coreaú
e Choro. Nas praias do Morro Branco e das Fontes, no município de Beberibe, Canoa
Quebrada em Aracati e Pontal do Maceió em Fortim, a planície costeira torna-se
descontínua pela ocorrência de falésias vivas, as quais foram elaboradas em sedimentos
das formações barreiras.

FALÉSIAS

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

Termo usado para designar as formas de relevo litorâneas abruptas ou escarpadas,


ou ainda, desnivelamento de igual aspecto no interior do continente. A falésia representa o
resultadodos tipos de erosão na topografia costeira.
Uma característica da planície litorânea cearense é a presença de campo de dunas
quase contínuos que acompanham paralelamente a linha da costa, sendo interrompidos, vez
a outra por planícies fluviais e flúvio-marinhas e por sedimentos mais antigos que são
pertencentes à formação barreiras.
A área de campos de dunas móveis desenvolve-se a partir da alta praia possuindo
sedimentos arenoso, caracterizando-se pela ausência de vegetação onde a ação eólica é
mais intensa e por uma vegetação rasteira quando se atenua a ação dos ventos.
Posicionando-se por trás das dunas móveis, observam-se dunas mais antigas
podendo ser fixas ou semifixas, onde se confunde com os tabuleiros. As características
geológicas contribuem na formação de um elevado potencial em águas subterrâneas
chegando a formar lagoas interdunares. A disposição das dunas fixas paralelas à costa
chega a obstruir pequenos riachos originando a formação de numerosas lagoas.
Originada da ação combinada de processos de sedimentação fluvial e oceânica,
surge a planície flúvio-marinha recoberta por uma vegetação de mangue.

AS PLANÍCIESFLUVIAIS

Constituídas por sedimentos areno-argiloso e datadas do quaternário, estas planícies,


comumente conhecidas por várzeas, são depósitos formados pela sedimentação fluvial, cujo
poder de deposição está na dependência de competência dos rios em baixo curso. O
pequeno gradiente é a maior capacidade erosiva, a montante do mesmo é responsável pela
formação destas planícies, também chamadas de planícies de inundação, porque, por
ocasião das cheias, a elevação do nível das águas provoca o transbordamento sobre as
margens , inundando as áreas baixas marginais.
As planícies fluviais ou aluvionais são ambientes de exceção, no domínio espacial da
depressão sertaneja, por abrigarem melhores condições de solos e de disponibilidade
hídrica superficial e sub superficial. As principais limitações ao uso derivam de problemas de
salinização e de inundações periódicas, além da drenagem imperfeita que é peculiar aos
solos.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

A largura e a extensão das planícies aluvionais aparecem como as mais importantes


várzeas dos rios Jaguaribe, Acaraú, Banabuiú, Salgado, Curl, Coreaú. Choro e Pacoti.
\revestindo essas planícies, aparecem às matas galerias ou ciliares de mamona, oiticica e
carnaúbas.

O TABULEIRO LITORÂNEO OU GLACISPRÉ-LITORÂNEA

“Os tabuleiros litorâneos são relevos predominantemente planos, com trechos


suavemente ondulados, distribuídos ao longo da região do litoral em faixa praticamente
continua. Apresenta larguras variáveis de até 60 quilômetros, sendo amplos no sentido das
desembocaduras dos rios Jaguaribe e Acaraú, são bastante estreitos próximos a Fortaleza.
As atitudes desses relevos variam em média entre 30 e 80 quilômetros, diminuindo
gradativamente do interior em direção ao mar. São constituídos por sedimentos areno-
argilosos e arenosos da formação barreiras.”
Os tabuleiros pré-litorâneos ficam situados à retaguarda do cordão de dunas, sem
ruptura topográfica, com as depressões sertanejas. São constituídos por sedimentos da
formação barreiras. A rede de drenagem consequente entalha o glacis de modo pouco
incisivo, isolado interflúvios tubuliforme.
A razoável condição de clima e de topografia plana potencializa a unidade, que tem
na baixa fertilidade natural dos solos, a principal limitação ao desempenho das atividades
agropecuárias. É pouco e moderadamente vulnerável à erosão dos solos, exceto pela
lixiviação que tende a ser intensificada nos solos de textura mais arenosa.

OS PLANOS SEDIMENTARES

Destacam-se como unidades: o planalto da Ibiapina e as chapadas do Araripe e do


Apodi.

O PLANALTO DA IBIAPINA

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

Compreende um dos mais significativos compartimentos do relevo do território


cearense cujo escapamento compreende o rebordo oriental da bacia do Maranhão-Piauí, de
cuja base se estende a depressão periférica ocidental do Ceará. Abrange toda porção
ocidental do Ceará nos limites com o Estado do Piauí.
A fisionomia morfológica da Ibiapaba assemelha-se a uma cuesta. Trata-se de um
relevo dissimétrico constituído por uma sucessão alternada das camadas com diferentes
resistências ao desgaste e que se inclinam numa direção formando um declive suave no
reverso e um corte abrupto ou íngreme na frente da cuesta. No caso da Ibiapaba, a escarpa
mergulha suavemente para o oeste. À frente ou Front tem declives variáveis entre 25° a 30°.
De oriente para ocidente, a morfologia é caracterizada por uma contínua sucessão de
vales e de interflúvios tabulares, nos quais as diferenciações edáficas trazem mudanças nos
tipos de ocupações agrícolas. Dado a adoção de técnicas rudimentares, há uma tendência
generalizada para a degradação dos recursos naturais renováveis, com a diminuição
progressiva da produtividade agrícola.
A incidência de chuvas mais abundantes justifica a dispersão de uma mata de
encosta, com grande frequência de espécies arbóreas, especialmente o babaçu.
Como área de potencial turístico, destaca-se a gruta de Ubajara e a bica do Ipu.

A CHAPADA DO APODI

Abrange a porção norte - oriental do Ceará, limitando-se com o estado do Rio Grande
do Norte. Apresenta superfície rebaixada de planaltos sedimentares em rocha da bacia
Potiguar, com altitudes entre 100-120m. É o mais rebaixado dos planaltos sedimentares do
Ceará. Com a encosta cearense situada a sotavento, nessa região não há condições para a
ocorrência de “brejos” a exemplo do que foi observado nos planaltos da Ibiapina e do
Araripe. Clima semiárido com precipitações médias anuais entre 600-750 mm e baixa
frequência de drenagem superficial.
O recobrimento vegetal é de caatinga de porte arbustivo-arbóreo denso e o sistema
de produção tem base na pecuária extensiva e na agricultura tradicional. É destaque no
perímetro irrigado do Apodi, o crescimento da fruticultura nas áreas de solos com maior
fertilidade.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

A DEPRESSÃO SERTANEJA E OS MACIÇOS RESIDUAIS

Compreende o domínio de maior abrangência espacial, ocupando mais de 2/3 do


território cearense. A maior parte da área é composta de litologias datadas do Pré-
Cambriano. Na depressão sertaneja, predomina o embasamento cristalino que exibe uma
acentuada diversificação litológica com as rochas indistintamente pela superfície de erosão.
Subordinada a condições climáticas marcadas por forte ação do intemperismo físico e o
regime torrencial das chuvas, a depressão sertaneja apresenta um relevo bastante
dissecado.
Encontra-se embutida entre os maciços residuais cristalinos e os planaltos
sedimentares. Esse fato implica em mudanças profundas dos condicionantes do potencial
ecológico quando comparadas às áreas litorâneas ou de brejos. A semiaridez é, então, mais
aguda e as caatingas têm uma distribuição extensiva. As depressões sertanejas apresentam
rochas pertencentes a pequenas bacias sedimentares de datação variadas, como a de
Jaibaras, Iguatu, icó etc.
As depressões sertanejas colocam-se como vastas superfícies de aplainamento, nas
quais o trabalho erosivo truncou, indistintamente, estas rochas. Surgem assim os
inselbergues ou campos de inselbergues dos quais os de Quixadá e Irauçuba são mais
representativos.
O processo evolutivo dos pediplanos está intimamente ligado às características
climáticas e de vegetação das depressões sertanejas semiáridas.
As rochas intrusivas encontram-se dispersas ao longo das depressões sertanejas e
são responsáveis pela ocorrência de campos de inselbergues como os de Quixadá.
Constituindo áreas de exceção do domínio especial do sertão semiárido, encontramos
as planícies fluviais com extensões bastante restritas que são aproveitadas, geralmente,
para a prática de uma agricultura de subsistência ou então, coberta por matas galerias dos
carnaubais e os maciços residuais formando ilhas de maior verdor por vezes envolvidas pela
Floresta Tropical de Encostas.

OS MACIÇOS RESIDUAIS

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

Compreendem as serras cristalinas que apresentam extensões e altitudes variadas. O


surgimento dessas formas quebra a monotonia das superfícies rebaixadas e embutidas do
sertão, destacando-se os seguintes compartimentos:
 Serra do Baturité
 Maciços Centrais e Ocidentais
 Serra da Meruoca-Rosário
 Serra das Matas
 Maciços pré-litorâneos
 Pequenos maciços sertanejos.
Alguns destes planaltos, mormente os de maiores extensões e altitudes, chegam a
constituir verdadeiras “ilhas” de umidade em meio ao contexto geral, isto é, no semiárido do
interior cearense. Os maciços são verdadeiros enclaves úmidos nos quais a disposição do
relevo forma chuvas orográficas na zona de Barlavento, apresentando condições que
chegam a originar os brejos, esses, por sua vez, proporcionam a prática de uma policultura
de subsistência ou até mesmo culturas comerciais como a cana-de-açúcar.

SOLO

Quando discutimos sobre o semiárido nordestino, sempre procuramos dar ênfase à


problemática da água. Pouco discutimos sobre as limitações do solo dos sertões dessa
região, sobretudo a área do Polígono das secas, no qual inclui o Estado do Ceará.
O solo é a segunda limitação ao desenvolvimento do Programa de combate à seca.
Mesmo nas áreas de maior potencialidade para a prática da agricultura, os solos
apresentam, muitas vezes, sérias limitações de ordem topográfica, agronômica e até de
viabilidade econômica, quando são pesados fatores como altitude, inundações, drenagem,
fertilidade, salinização, textura etc.
A diversidade de clima, de rocha e de relevo confere a Ceará uma grande variedade
de solo.
Na depressão sertaneja, a unidade geoambiental predominante no semiárido
cearense, as condições de pouca nebulosidade e a forte insolação são fatores que
favorecem a desagregação mecânica das rochas do embasamento cristalino originando,

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

assim, solos litólicos, delgados, pouco desenvolvidos, desprovidos de horizonte C, pobres


em matéria orgânica, impermeáveis, sujeitos à salinização e, em muitos casos, erguidos
com o embasamento rochoso praticamente aflorante. Nos planaltos sedimentares (Araripe,
Apodi e Ibiapaba), predominam latossolos vermelho-amarelos muito profundo bem
drenados, textura arenosa ou areno-argilosa, fertilidade natural média e alta.
Nos maciços residuais (Baturité, Uruburetama e Meruoca) encontramos solos rasos e
profundos de textura média ou argilosa com fertilidade média e alta.
Nos enclaves úmidos (planaltos sedimentares e maciços residuais), a disposição do
relevo, as condições termo pluviométricas e a cobertura vegetal os individualizam na
paisagem do semiárido cearense. Nesse ambiente se registra os maiores índices
pluviométricos na zona de Barlavento, além disso nele se desenvolvem os brejos de pé de
serra e de Cimeira, o que acarreta o predomínio de solos argilosos, lamacentos de bom
potencial para a prática agrícola.
Nas planícies fluviais há predominância de solos aluvionais que são dotados de
fertilidade natural média e alta. Esses solos normalmente são profundos, com grande
variação textual e de drenagem, a qual de apresenta, em geral, imperfeita. Nas planícies de
inundação, as condições naturais favorecem a formação de solos halomórficos.
Nos ambientes fluviomarinhos, encontra-se o ecossistema de mangues, apresentando
detritos finos misturados a materiais orgânicos, os quais são oriundos da decomposição dos
mangues e de intensa atividade biológica. Os solos são argilosos, lodosos, lamacentos,
halomórficos, pouco desenvolvidos e pouco oxigenados.
No tabuleiro litorâneo, os solos são arenosos, muito profundos, excessivamente
drenados, dotados de acidez e de fertilidade natural baixa.

CLIMA

As condições climáticas do Estado estão influenciadas pela conjunção de diferentes


sistemas de circulação atmosférica, que associados aos fatores geográficos, tornam
bastante complexa sua climatologia. Salienta-se ainda a existência de fatores que atuam
sobre as condições climatológicas em interação com os sistemas zonais e regionais de
circulação atmosférica.
De um modo geral, a circulação atmosférica encontra-se regida pelos deslocamentos
das massas de ar, destacando-se no Estado a Massa Equatorial Norte (mEn), a Massa

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

Equatorial Atlântica (mEa) e a Massa Equatorial Continental (mEc). São também de


representativa influência as penetrações das massas frias provenientes do Sul, bem como a
penetração da convergência intertropical (CTI). Salienta-se ainda a influência dos ventos
alísios de NE (quentes e úmidos) e os SE (quentes e secos), provocando, nas áreas de
convergência, as descontinuidades climáticas com grandes variações no Estado.
A combinação destes elementos com os fatores geográficos, tais como latitude,
orientação do litoral em relação à corrente de alísios, o relevo, a orientação das serras, as
baixas altitudes e o posicionamento do Estado com relação ao Hemisfério Sul,
caracterizaram as condições climáticas vigentes do Estado.
O semiárido equatorial nordestino é uma exceção na zona equatorial da Terra, sendo
a única região semiárida na faixa equatorial da Terra, ficando circunscrita entre os paralelos
11°43´19´´, respectivamente, de latitude Norte/Sul. Essa posição confere ao Ceará uma das
mais altas taxas de evaporação do mundo, cerca de 2.000 a 2.500 milímetros, isto é, mais
de três vezes a média geral de chuva do Estado, cerca de 750 milímetros.
A paisagem do semiárido muda radicalmente, formando ilhas úmidas, ou ilhas de
maior verdor, na Ibiapaba, Araripe, Apodi e nos e nos Maciços Residuais, apresentando
queda nas médias térmicas diárias e anuais, diminuição na taxa de evaporação e maiores
índices pluviométricos.
A irregularidade termopluviométrica, as chuvas torrenciais concentradas no espaço-
tempo, a taxa de evaporação superando a precipitação são as principais características
climáticas do semiárido cearense.
O elemento climático essencial do Estado é o regime de chuvas que, além de
reduzidos, distribuem-se irregularmente: concentra-se na estação chuvosa (inverno) que é
curta, enquanto a estação seca (verão) dura, geralmente, mais de sete meses. Em alguns
anos as chuvas não ocorrem, acarretando o fenômeno da seca.

1. PLUVIOSIDADE E DISTRIBUIÇÃO

As precipitações pluviométricas do Estado do Ceará ditam, basicamente, as


condições climáticas e, devido à sua irregularidade e má distribuição das chuvas, podemos
dividir o Estado em 3 (três) zonas distintas: o sertão, onde a pluviosidade varia entre 550 e
850mm anuais, ficando com as mais baixas precipitações o município de Irauçuba e a região
dos Inhamuns; as serras, onde estão encravadas as áreas mais pluviosas, com

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

precipitações superiores a 1.000mm (Ibiapaba e Baturité) e o litoral, onde a média vai de


1.000 a 1.350mm anuais.

VEGETAÇÃO

A cobertura vegetal é o espelho vivo que reflete a natureza geológica e


geomorfológica, as condições de solo e clima de uma região, individualizando o território
cearense como representante da semiaridez.
Embora a caatinga seja a vegetação predominante na superfície do Ceará, outros
tipos de cobertura vegetal, como o cerrado, as matas secas dos serrotes, as matas úmidas
das serras, estas com menor ocupação de território, apresentam aspectos próprios e bem
diferenciados da caatinga. Alguns mais exóticos são as vegetações de dunas, mangues e o
carnaubal das várzeas aluviais.
A caatinga apresenta rica biodiversidade, fisionomia complexa, arbustos com troncos
e galhos tortuosos intercalados por cactáceas (mandacaru, faxeiro e xique-xique)
desenvolve estômatos com fechamento rápido embaixo das folhas ou até mesmo espinhos
para reduzir a taxa de evapotranspiração. A caatinga é xerófita e se encontra revestindo os
aplainamentos sertanejos, os serrotes, as serras secas e as vertentes ocidentais das serras
úmidas.
As matas úmidas (floresta subperenifólia tropical) localizam-se sobre os setores mais
elevados das serras cristalinas e nas vertentes superiores, no norte do planalto da Ibiapina e
da chapada do Araripe. As espécies mais comuns são: jatobá, maçaranduba, murici etc.
A mata seca (floresta subcaducifólia tropical pluvial) se faz presente em áreas de
menor cota altimétrica, de solos menos desenvolvidos, de temperatura mais elevada e de
menor índice pluviométrico nas serras de Baturité, Pereiro, Meruoca e Uruburetama, na
chapada de Araripe e no planalto da Ibiapaba. As espécies encontradas são: angico-
vermelho, gonçalo-alves, aroeira, mulungu, sipauba, catolé etc.
A mata ciliar ou galeria desenvolve-se nas planícies aluviais, sendo mais comuns no
médio e baixo custo dos rios Jaguaribe, Curu e Acaraú. A natureza do solo aliada às altas
temperaturas favorece o desenvolvimento dos carnaubais.
O cerradão encontra-se sobre a chapada do Araripe no nível de 800 a 900 metros.
Entre as espécies vegetais encontram-se o piovi, o visgueiro, o angelim, o murici etc.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

O carrasco encontra-se sobre o reverso do planalto da Ibiapaba e sul da chapada do


Araripe. È uma formação xerófila encontrada nas proximidades dos municípios de Viçosa e
São Benedito.
O mangue é uma formação vegetal encontrada em planícies fluviomarinhas de solos
halófilos. Restrito às regiões tropicais, o manguezal revela um profundo poder de adaptação
às duas condições, essencialmente adversas, nas quais têm-se estabelecido. Além da
importância econômica pelo teor em tanino existente nas plantas de mangue, o ambiente
favorece a alta proliferação de crustáceos.
A vegetação litorânea apresenta-se bastante complexa refletindo a diversidade
geoambiental. No ambiente de dunas, as espécies mais comuns são a salsa-da-praia, o
cipó-da-praia e o bredoba-praia. No tabuleiro litorâneo, podem ser encontradas matas secas
e úmidas, caatinga e cerrado. A carnaúba, o coqueiro e o cajueiro são as formações de
maior destaque no litoral cearense.

HIDROGRAFIA NO CEARÁ

O regime hidrológico dos cursos d‟agua dos Estado é condicionado, e principalmente


afetado, dentre outros fatores, pela má regularidade das chuvas e pelas condições
geológicas das áreas onde se situam as diversas bacias hidrográficas.
O Nordeste semiárido (sertão) e o Ceará só aproveitam 8% das chuvas caídas para
alimentar nossos rios, lagos, açudes, sistemas de drenagem etc., em face à elevada
insolação, evaporação e evapotranspiração que levam 92% das águas caídas.
Os cursos naturais são de regime sazonal (intermitente) sendo que os rios Jaguaribe,
Acaraú e Curu são perenizados.
A rede hidrográfica é aqui considerada através das seguintes bacias:
 Bacia do Jaguaribe
 Bacia do Acaraú
 Bacia do Curu
 Bacia do Coreaú
 Bacia do Parnaíba
 Bacia Litorânea
 Bacia Metropolitana

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

1. BACIA DO JAGUARIBE

Com uma extensão de 610km aproximadamente, a bacia do Jaguaribe drena o sul, o


centro e o leste do Ceará. Está limitada ao Sul pela Chapada do Araripe e serra dos
Bastiões a Nordeste, enquanto a serra do Padre e do Braga limitam a Sudeste. Tem sua
nascente a serra do Calogi – Pipocas – Guaribas – Joaninha, no centro norte do Estado,
numa altitude que varia de 600-700m.
Seus principais afluentes, pela margem direita, são: o Salgado (com 300km) e Puiú
(com 100km), o Jucás (com 80km), o Conceição (com 180km), o Cariús (com 130km) e o
Figueiredo (com 110km); pela margem esquerda recebe: o Banabuiú (com 295km),
considerado o maior tributário do Jaguaribe, o Trussu (com 120km); o do Sangue (com
105km), Manoel Lopes (com 65km) e o Riacho Gundadu (com 65km).
O aproveitamento dos recursos hídricos é principalmente realizado através do
barramento dos seus principais cursos d´agua, podendo ser citados como principais obras
os açudes Castanhão (Jaguaribara), Orós (Orós), Banabuiu (Quixadá), Cedro (Quixadá),
Fogareiro (Quixeramobim) e Trussu (Iguatu).

2. BACIA DO ACARAÚ

A bacia do Acaraú ocupa uma área de aproximadamente 14.000km² que perfaz cerca
de 10% da área do Estado, sendo mais amplo no seu alto curso e estreitando-se próximo à
costa. Apresenta um padrão de drenagem predominantemente angular. São evidentes as
feições estruturais tipo riacho fenda.

3. BACIA DO PARNAÍBA

A bacia do Parnaíba banha a porção oeste do Estado. Tem como principal rio o Poti,
com 220km de extensão e uma área de 11.072km². O rio Poti tem, em sua nascente, o
resultado da junção dos riachos, seco, corrente e olho d´agua. É a única bacia não contida
integralmente no Estado, uma vez que se prolonga pelo Estado do Piauí.

4. BACIA LITORÂNEA

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

A bacia litorânea é constituída por pequenos rios, como o Aracatimirim, o Aracatiaçu,


o Mundaú e o Trairi.
O Aracatiaçu, com cerca de 200km de extensão e área de 10.504km², nasce na serra
Verde, ao norte da serra do Machado, e recebe pela direita os riachos Gabriel e Missi, pela
esquerda o riacho do Bom Jesus, o Pajeú e o Mendes.
Os açudes do Mundaú e São Pedro Timbaúba são os de maior destaque da bacia
litorânea.

5. BACIA METROPOLITANA

Bacia formada por pequenos rios que tem suas nascentes na própria zona litorânea
ou sublitorânea, de grande importância para o abastecimento de Fortaleza e Região
Metropolitana – os de maior importância são: Choró, Pacoti, Pirangi e São Gonçalo. Os
açudes de maior importância são o sistema Pacoti-Gavião-Riachão e o Acarape do Meio.
O seu principal rio, o Acaraú, tem sua origem na serra das Matas, no município de
Monsenhor Tabosa, em altitudes maiores que 500m, seguindo do norte para o sul a sua
nascente, tomando a seguir os sentidos oeste, noroeste e norte até a costa. Tem como
principais afluentes o riacho dos Macacos e os rios Groiaíras, Jucurutu e Jaibaras.
Os principais açudes são: as Araras, o Edson Queiroz, o Ayres de Souza, o Acaraú-
mirim e o Forquinha.

6- BACIA DO CURU

Com 160km de extensão e uma área de cerca de 9.128km2, o rio Curu origina-se na parte
setentrional da serra do Machado e tem pela direita o rio Canindé e os riachos Salão,
Sirema, Capitão-mor e o Batoque e pela esquerda recebe o Caxitoré.

7- BACIA DO COREAÚ

Com 115km de extensão e uma área de 10.500km2, o rio Coreaú nasce na serra da
Ibiapaba, orientado de quase norte a sul. Recebe à esquerda o rio Itacolomi e, à direita
Parazinho.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

FLORESTA NACIONAL DO ARARIPE - FLONA

A localização desta Floresta Nacional é restrita à Chapada do Araripe, marco natural


que lhe empresta o nome e é situado na divisa dos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.
O termo Apodi se refere à Chapada do Apodi, cuja relação com esta Unidade de
Conservação reside apenas no nome original, sendo localizada em outra parte do Ceará, na
divisa com o Rio Grande do Norte. Por este motivo, o nome prático adotado por seus
gestores é Flona Araripe.
O perímetro atual da Flona Araripe abrange principalmente parte dos municípios
cearenses de Crato e Barbalha, incluindo pequenas porções de Missão Velha, Santana do
Cariri e Jardim. Sua primeira delimitação, de 34.790 ha, foi perdida e depois redefinida,
sendo publicada tardiamente. Em 6 de junho de 2012 foi ampliada em 706,77 ha através de
um decreto presidencial , passando a somar 38.969,096 ha, conforme Certidão de Registro
em cartório (Certidão de Registro Nº 7.433 do livro 02 – Registro Geral do Cartório G. Lobo
da Comarca de Crato, Estado do Ceará).

Imagem de satélite com limites da Flona Araripe e as maiores cidades próximas.


A maior parte de sua extensão é situada acima dos 900 m de altitude (Figura 3), de
modo que a cobertura florestal ajuda a captar a umidade plúvio nébula, que infiltra-se
profusamente no solo quanto mais densa e íntegra seja a vegetação , não existindo riachos
e corpos d'água superficiais permanentes em seus limites, exceto os artificiais, denominados
barreiros da Malhada Bonita (7º21'55”S, 39º26'26”W) e das Flores (7º25'27”S, 39º17'46”W).
Por estar localizada quase totalmente sobre o planalto da Chapada do Araripe,
abrange poucos trechos de Mata Úmida que ascendem do sopé. Esta vegetação é
legalmente considerada Mata Atlântica, classificável como Floresta Estacional Semidecidual

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

ou Floresta Tropical Subcaducifólia (IBGE 2008). Desde perto do rebordo da chapada,


seguindo em direção ao sudoeste, apresenta formações fitofisionômicasde Cerradão,
Cerrado e Caatinga. Esta diversidade de ambientes (Figura 4) propicia avifaunas algo
respectiva, ainda que diferenciadas mais pela proporção de espécies (equitabilidade) do que
por suas composições (riquezas).

Floresta Araripe e suas idades fitoecológicas.

Com o Unidade de Conservação de Uso Direto, a Flona – Araripe admite: pesquisa


cientifica, recreação e lazer, educação ambiental, manejo florestal sustentável e turismo
.Apresenta diferentes fisionomias, classificadas em:
Floresta ÚmidaSemi-Perinnifólia: Principais espécies: jatobá
(Hymenaeaspp.) Pau d‟arco (Tabebuia spp.), Murici (Byrsonima spp.), Pau d‟ óleo
(CopaiferalangsdorfilDesf.) etc.
Transição Floresta Úmida / Cerrado: Espécies: Pequizeiro, Visgueiro, Faveira ,
Janaguba, Lacre ,etc. Cerrado: Pequizeiro, cajuí amarelo, etc. Carrasco: Catuaba, Jiquiri,
Mucunã , Cidreira brava, Jurubeba, etc.
Floresta Úmida degradada pelo fogo: Constitui uma formação atípica, ideal para
estudo de impacto do fogo sobre a floresta. Representa bem o efeito dos incêndios que
anualmente preocupam os servidores da flona–Araripe. O comprometimento da matéria
orgânica, e do sub-bosque, levam ao empobrecimento da floresta, provocando um
retrocesso na sucessão vegetal.
Cinco tipos de aves ameaçadas de extinção são encontrados em seu interior:
1. A jacucaca Penelope jacucaca (nome local, jacu-verdadeiro), antes listada como
localmente comum atualmente ocorre em pequeno contingente;

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

2. Ovira-folhaSclerurusscansorcearensis (nome local, folhaeiro e ciscador), cuja


ocorrência foi confirmada por coleta em julho de 1988 , teve população amostrada em
estudo genético , sendo a Flona Araripe um importante reduto do táxon;
3. O soldadinho-do-araripeAntilophiabokermanni, que avança das fontes situadas nas
encostas por grotas até o planalto, de modo que menos de 5% de sua população
global habita a Flona Araripe;
4. A araponga-do-nordesteProcnias a. averano, gravada em janeiro de 2004com
raríssimos indivíduos restantes;
5. E o pintassilgo-do-nordesteSporagrayarrellii, antes presente na região, hoje quase
extinto por traficantes.
Outras aves praticamente endêmicas do bioma Caatinga são procuradas por
observadores de aves desde a década de 1980, principalmente:
 pica-pau-anão-pintadoPicumnuspygmaeus;
 pica-pau-anão-canelaPicumnusfulvescens;
 torom-do-nordesteHylopezusochroleucus (nome local, pompeu e dançarino-da-mata);
 joão-xique-xiqueGyalophylaxhellmayri (nome local, peteca));
 bico-virado-da-caatingaMegaxenopsparnaguae;
 choca-do-nordesteSakesphoruscristatus.
Outras aves notáveis são o piu-piuMyrmorchilusstrigilatus (nome local, farinheiro),
além do chorozinho-da-caatingaHerpsilochmussellowi.

HISTÓRIA

É a primeira Floresta Nacional do Brasil, criada no ano de 1946. Inaugurou o que


posteriormente veio a ser compreendido como categoria de Uso Sustentável entre as
Unidades de Conservação nacional, sendo antecedida apenas por duas unidades de
Proteção Integral, os Parques Nacionais de Itatiaia (1937) e do Iguaçu (1939). Suas florestas
protegem as áreas de recarga dos aquíferos que abastecem o vale do Cariri cearense, uma
região profícua encravada no semiárido nordestino, análoga a um oásis (Figura 5).
Justamente nestas surgências d'água, meio século depois foi descoberto o soldadinho-do-
araripeAntilophiabokermanni, encontrado no interior da unidade somente em abril de 2012,
ocupando grotas de vegetação úmida.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

A Flora Nacional do Araripe constitui ainda importante refúgio para a fauna regional,
inclusive para espécies ameaçadas de extinção.

Área do Brasil na América do Sul e sua vegetação perenifólia (mais verde) e


caducifólia (menos verde), com destaque para a área de exceção do Cariri cearense (seta
vermelha), onde a permanência das folhas indica a umidade na Flona Araripe.
Naturalistas do Século XVIII e XIX que também estudaram aves chegaram a atuar na
região muito antes da criação da Flona Araripe, contudo, sem que algum legado
representativo tenha perdurado. Entre estes se encontram, por exemplo, Manuel Arruda da
Câmara, Louis Jacques Brunet e Manoel Ferreira Lagos. No Século XX, o zoólogo Werner
Panzer, a serviço da Universidade de Freiburg, estudou aves coletadas na Chapada do
Araripe em 1930 (Mello Leitão 1941). Após a publicação do decreto de criação, na década
de 1970 foram iniciados alinhamentos e coletas de aves por pesquisadores da Universidade
Federal de Pernambuco. Outros estudos com coletas foram conduzidos na década de 1980
por uma equipe do Museu Nacional através do projeto “Aves ameaçadas de extinção na
mata atlântica do nordeste brasileiro”, apoiado pelo World WildlifeFund - US e Fundação
Brasileira para a Conservação da Natureza, quando foram enumeradas 88 espécies.
Iniciativas posteriores com alinhamentos apontaram uma listagem de 155 espécies .
A lista remissiva triada, com referência dos primeiros a indicar cada espécie na Flona
Araripe, é apresentada abaixo:
 Crypturellusnoctivagusjaó-do-sul
 Crypturellusparvirostrisinhambu-chororó
 Crypturellustataupainhambu-chintã
 Nothura maculosacodorna-amarela
 Penelopesuperciliarisjacupemba
 Penelopejacucacajacucaca

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

 Cathartes auraurubu-de-cabeça-vermelha
 Cathartesburrovianusurubu-de-cabeça-amarela
 Coragypsatratusurubu-de-cabeça-preta
 Accipiterbicolorgavião-bombachinha-grande
 Rupornismagnirostrisgavião-carijó
 Geranoaetusalbicaudatusgavião-de-rabo-branco
 Buteonitidusgavião-pedrês
 Buteobrachyurusgavião-de-cauda-curta
 Columbina minutarolinha-de-asa-canela
 Columbina talpacotirolinha-roxa
 Columbina squammatafogo-apagou
 Claravispretiosapararu-azul
 Leptotilaverreauxijuriti-pupu
 Piayacayanaalma-de-gato
 Crotophagaanianu-preto
 Guiraguiraanu-branco
 Tapera naeviasaci
 Tytofurcatacoruja-da-igreja
 Megascopscholibacorujinha-do-mato
 Aegoliusharrisiicaburé-acanelado
 Asioclamatorcoruja-orelhuda
 Nyctibiusgriseusmãe-da-lua
 Antrostomusrufusoão-corta-pau
 Hydropsalisalbicollisbacurau
 Hydropsalisparvulbacurau-chintã
 Chordeilesminorbacurau-norte-americano
 Tachornissquamataandorinhão-do-buriti
 Anopetiagounelleirabo-branco-de-cauda-larga
 Phaethornispretreirabo-branco-acanelado
 Eupetomenamacrourabeija-flor-tesoura
 Chlorostilbonlucidusbesourinho-de-bico-vermelho
 Amaziliafimbriatabeija-flor-de-garganta-verde
 Trogoncurucuisurucuá-de-barriga-vermelha
 Galbularuficaudaariramba-de-cauda-ruiva

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 Picumnuspygmaeuspica-pau-anão-pintado
 Picumnusfulvescenspica-pau-anão-canela
 Veniliornispasserinus - picapauzinho-anão
 Piculuschrysochloros - pica-pau-dourado-escuro
 Celeusochraceus - pica-pau-ocráceo
 Cariamacristata - seriema
 Caracaraplancus - caracará
 Milvagochimachima - carrapateiro
 Herpetotherescachinnans - acauã
 Micrasturruficollis - falcão-caburé
 Micrastursemitorquatus - falcão-relógio
 Falcosparverius - quiriquiri
 Falcofemoralis - falcão-de-coleira
 Aratingacactorum - periquito-da-caatinga
 Forpusxanthopterygius - tuim
 Myrmorchilusstrigilatus - piu-piu
 Formicivoragrisea – papa formiga pardo
 Formicivoramelanogaster – formigueiro de barriga preta
 Herpsilochmussellowi - chorozinho-da-caatinga
 Herpsilochmusatricapillus - chorozinho-de-chapéu-preto
 Sakesphoruscristatus - choca-do-nordeste
 Thamnophiluscapistratus - choca-barrada-do-nordeste
 Thamnophilustorquatus - choca-de-asa-vermelha
 Thamnophiluspelzelnichoca-do-planalto
 Taraba major - choró-boi
 Hylopezusochroleucus - torom-do-nordeste
 Scleruruscearensis - vira-folha
 Sittasomusgriseicapillus - arapaçu-verde
 Campylorhamphustrochilirostris - arapaçu-beija-flor
 Lepidocolaptesangustirostris - arapaçu-de-cerrado
 Xenopsrutilans - bico-virado-carijó
 Furnariusfigulus - casaca-de-couro-da-lama
 Megaxenopsparnaguae - bico-virado-da-caatinga
 Phacellodomusrufifrons - joão-de-pau

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

 Synallaxishellmayri - joão chique-chique


 Synallaxisfrontalis - petrim
 Synallaxisscutata - estrelinha-preta
 Cranioleucasemicinerea - joão-de-cabeça-cinza
 Neopelmapallescens - fruxu-do-cerradão
 Antilophiabokermanni - soldadinho-do-araripe
 Myiobiusatricaudus - assanhadinho-de-cauda-preta
 Pachyramphuspolychopteruscaneleiro-preto
 Procniasaverano – araponga do nordeste
 Platyrinchusmystaceus - patinho
 Leptopogonamaurocephalus - cabeçudo
 Tolmomyiasflaviventris - bico-chato-amarelo
 Todirostrumcinereum – ferreirinho relógio sebinho rajado-amarelo
 Hemitriccusmargaritaceiventer – sebinho de olho de ouro
 Stigmaturanapensis - papa-moscas-do-sertão
 Euscarthmusmeloryphus - barulhento
 Camptostomaobsoletum - risadinha
 Elaeniaflavogaster - guaracava-de-barriga-amarela
 Elaeniachilensis - guaracava-de-crista-branca
 Elaeniacristata - guaracava-de-topete-uniforme
 Myiopagiscanicepsguaracava-cinzenta
 Myiopagisviridicata - guaracava-de-crista-alaranjada
 Phaeomyiasmurina - bagageiro
 Phyllomyiasfasciatus - piolhinho
 Legatusleucophaius - bem-te-vi-pirata
 Myiarchusswainsoni - irré
 Myiarchusferox - maria-cavaleira
 Myiarchustyrannulus - maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado
 Pitangussulphuratus - bem-te-vi
 MyiodynastesmaculatusMegarynchuspitangua - neinei
 Myiozetetessimilis - bentevizinho-de-penacho-vermelho
 Tyrannusmelancholicus - suiriri
 Empidonomusvarius - peitica
 Myiophobusfasciatus - filipe

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

 Sublegatusmodestus - guaracava-modesta
 Fluvicolanengeta - lavadeira-mascarada
 Cnemotriccusfuscatus - guaracavuçu
 Lathrotriccuseuleri - enferrujado
 Contopusvirens - piui-verdadeiro
 Cyclarhisgujanensis - pitiguari
 Vireochivi - juruviara
 Hylophilusamaurocephalus - vite-vite-de-olho-cinza
 Cyanocoraxcyanopogon - gralha-cancã
 Stelgidopteryxruficollis - andorinha-serradora
 Prognechalybea - andorinha-doméstica-grande
 Hirundo rústica -andorinha-de-bando
 Troglodytesmusculus - corruíra
 Pheugopediusgenibarbis - garrinchão-pai-avô
 Cantorchiluslongirostris - garrinchão-de-bico-grande
 Polioptilaplumbea - balança-rabo-de-chapéu-preto
 Turdusleucomelas - sabiá-barranco
 Turdusrufiventris - sabiá-laranjeira
 Turdusamaurochalinus - sabiá-poca
 Mimussaturninus - sabiá-do-campo
 Anthuslutescens - caminheiro-zumbidor
 Zonotrichiacapensis - tico-tico
 Arremontaciturnus - tico-tico-de-bico-preto
 Setophaga fusca - mariquita-papo-de-fogo
 Basileuterusculicivorus - pula-pula
 Myiothlypisflaveola - canário-do-mato
 Icteruspyrrhopterus - encontro
 Coerebaflaveola - cambacica
 Nemosiapileata - saíra-de-chapéu-preto
 Tachyphonusrufus - pipira-preta
 Laniopileatus - tico-tico-rei-cinza
 Tangara sayaca - sanhaçu-cinzento
 Tangara palmarum - sanhaçu-do-coqueiro
 Tangara cayana - saíra-amarela

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

 Schistochlamysruficapillus - bico-de-veludo
 Paroaria dominicana - cardeal-do-nordeste
 Dacniscayana - saí-azul
 Hemithraupisguira - saíra-de-papo-preto
 Sicalisflaveola - canário-da-terra-verdadeiro
 Sporophilalineola - bigodinho
 Sporophilanigricollis - baiano
 Sporophilaalbogularis - golinho
 Cyanoloxiabrissonii - azulão
 Euphoniachlorotica - fim-fim
 Passerdomesticus - pardal

AVES PASSERIFORMES DA FLONA – AO MEIO O SALDADINHO DO


ARARIPE

Fonte: www.wikiaves.com.br

A BACIA SEDIMENTAR DO ARARIPE

A bacia sedimentar do Araripe é uma sequência predominantemente mesozóica,


localizada no extremo sul do Estado do Ceará , compreendendo ainda porções dos Estados
de Pernambuco e Piauí, possuindo uma área próxima de 10.000km2 .É limitada pelas
coordenadas geográficas: 38°30‟ a 40°55‟ de longitude oeste de Greenwich e 7°07‟ a 55‟ de
latitude sul, sendo regionalmente inserida no conjunto geotectônico informalmente referido
como, “ bacias interiores do Nordeste “.
A origem da bacia do Araripe está diretamente ligada ao evento da abertura do
Oceano Atlântico Sul, que envolve toda a porção leste da Plataforma Sul-Americana,

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

chamado Reativação Wealdiana, responsável pela fragmentação do paleocontinente


Gondwana e pela formação dos rifles mesozóicos do Nordeste .
Os aspectos geomorfológicos da área estão diretamente relacionados ás unidades
estratigráficas, que refletem de maneira peculiar as suas diferentes características
geomorfológicos de maior expressão é a zona da Chapada, que forma uma extensa “mês”
constituída pelos sedimentos da Formação Exu, de cota em torno de 900m, o interesse pela
Bacia Sedimentar do Araripe despontou a partir da década de 60, com valiosas
contribuições da Universidade Federal de Pernambuco, seguidos com trabalhos
acadêmicos de diversas universidades brasileiras e estrangeiras ,a partir dos trabalhos do
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNMP), Companhia de Pesquisa e Recursos
Minerais (DNMP), Companhia de Pesquisa e Recurso Minerais(CPRM), Petrobras e
empresas empenhadas na pesquisa de petróleo nas bacias do Nordeste.

A formação Santana

DEPÓSITO
CRETÁCEO FÓSSEIS
FOSSILÍFERO E LOCAL
Formação Santana, Fósseis de peixes, pterossauro,
120-150 Nordeste do Brasil, Estado répteis, aranha, escorpiões,
do Ceará insetos, moluscos e plantas.

Historicamenteo berço da paleontologia do Brasil é a região da Bacia sedimentar do


Araripe com a primeira publicação com relato e desenho de um fóssil brasileiro com a
primeira publicação do livro “viagem pelo Brasil “, publicado entre 1823 e 1831, referiu-se a
um peixe “Rhacolepis” em um concreção carbonática , da região de Barra do Jardim atual
Jardim, na porção sudeste da bacia.
Paleontologicamente os fósseisda Formação Santana destacam-se por possuírem os
primeiros registros de tecidos moles (não ósseos) de pterossauros e tiranossauros do
mundo, as primeiras fanerógamas fósseis da América do Sul e abundância de peixes.
Os insetostêm sidoe continuam sendo organismos terrestres de maior sucesso ao
longo da evolução do planeta terra, com registro fósseis que remonta 370 milhões de anos
passados. Uma diversificada assembléia de insetos fósseisforam encontradas em lajes de
pedra calcária, de Membro Crato, da formação Santana.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

As libélulas, inclusive com impressões de nervuras de asas. A grande variedade de


tipos enfatiza a mistura heterogênea nessas rochas.
Os locais mais visitados e com expressiva ocorrência de Fósseis são relacionados
principalmente aos municípios de Nova Olinda, Crato, Santana do Cariri, Abaiara ,Jardim e
Porteiras, na porção cearense da bacia. Exu, Ipubi, Trindade e Araripina, na porção
pernambucana e na porção piauiense, Simões e Marcolândia. Em todos os sítios
fossílíferos, têm-se ocorrências de plantas, vertebrados e invertebrados.
Após estudos ecológicos sobre a sobre a formação de Santana, diferenciou-se em
três membros, denominados:
-Crato (inferior), constituído de calcários de cor amarelada a creme com estratificações
fossilíferas e siltitos laminados, suas ocorrências contemplam as regiões dos municípios
de Santana do Cariri, Nova Olinda, Crato Barbalha , Missão Velha, Porteiras e Jardim.
Ipubí: (intermediário), os evaporitos apresentam-se em camadas de gipsita de até 20
metros de espessuras, de cores brancas a cinza, maciças e fibrosas. Atualmente as
melhores exposições encontram-se, na região do polo gesseiro, no Estado de Pernambuco
e no Estado do Ceará , nos municípios de Nova Olinda e Santana do Cariri constituído de
gipsita.
Romualdo: (superior) Abrangendo folhelhos e margas com concreções calcárias
fossilificas, além de siltitos com conchostráceos e calcarenitos com coquinhas de
moluscos e equinoides ,sendo a nomenclatura adotada , desde então. As margas e
folhelhos têm cor cinza a verde e negra, com concreções carbonáticas, com forma esféricas,
discoides, esféricas e irregulares, endurecidas. Essas exibem uma grande diversidade de
exemplares fósseis.

EMBLEMAS DA RELIGIOSIDADE POPULAR NO BRASIL

O nascimento do Brasil como nós conhecemos foi através da “descoberta” por


exploradores europeus profundamente imbuídos em levar a fé e o culto católico por terras
“virgens” e “incultas”. Antes da atual denominação, a colônia portuguesa foi batizada de
“Terra de Vera Cruz”, revelando o expressivo caráter religioso no colonizador. Novos
costumes, valores, hábitos, deveres e obrigações foram se impondo e se estabelecendo na
colônia luso americana.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

O próprio catolicismo português já era delineado como sincrético. Ele era


caracterizado como um catolicismo de forte apego aos santos e a eles nomeando forças da
natureza. Práticas já observadas desde o século XV com forte ênfase nas procissões
religiosas e missas, um catolicismo mais afeito às imagens e às figuras do que ao espiritual.
O catolicismo medieval europeu era impregnado de heresias e paganismos.
Em Portugal símbolos como as cruzes eram constantes em praças, igrejas, ruas,
sepulturas, ao longo de caminhos, nos cordões, peitorais e escapulários, nas exclamações
invocatórias e protetoras, no velame das caravelas. Por toda parte imagens de santos
povoavam as vilas, cantos de ruas, altares, oratórios e capelas, interior de casas, cultos à
Virgem Maria, festas, romarias e procissões nas ruas que se repetiram no Novo Mundo.
Um delicado equilíbrio era, então, buscado entre a religiosidade popular e o
catolicismo de Roma na Idade Média. Uma relação de tensão perpétua, “tentando integrar o
que recebe de aceitável e esforçando-se por eliminar o que desfigura ou ameaça as forças
que o estruturam” Essas dualidades sobre a religiosidade faziam presença na Europa
medieval, e no Brasil colonial não poderia ter sido diferente.
Dualidades que se desdobram em três no Brasil, classificadas por Hoornaert (1974) como o
Guerreiro, o Patriarcal e o Popular. O primeiro se refere ao espírito de organização presente
no Estado português e entre os jesuítas no confronto com o empreendimento colonizador,
isto é, catequizar e desbravar o selvagem. Imagens de santos guerreiros como São
Sebastião no Rio de Janeiro ou Santo Antônio em Pernambuco atestam o uso deles a fim de
aflorar e legitimar o sentimento de pertencerem ao Império Português e ao catolicismo frente
ao infiel francês ou holandês.
O aspecto patriarcal do catolicismo brasileiro se enquadra no estabelecimento da
religião nos engenhos de açúcar nos séculos XVI e XVII. Estudado por Gilberto Freyre
(1992), o patriarcalismo nos remete ao catolicismo localizado dentro da propriedade do
senhor de engenho, a ele obedecendo e procurando integrar escravos e outros dentro da
estrutura de poder e produção da cana de açúcar. Um poder de caráter mais privativo, visto
que se limitou às capelas e aos capelães próximos à casa-grande açucareira.
O catolicismo pressupõe valores e costumes que, quando confrontados com etnias de
origens diversas, acaba se mesclando com novas culturas. Apesar de hegemônico na
colônia, o catolicismo não conseguiu se impor plenamente. Houve espaço para o sincretismo
na medida em que não se conservou a religiosidade como nos locais de origem, mas
ganhou novas características ao se defrontar uma com as outras. Espíritos africanos foram
identificados com santos católicos, mas o culto destes não significava a simples preservação

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

de cultos vindos da África. O culto aqui se distinguiu do continente africano pelas condições
geográficas e culturais diferentes. Orixás guerreiros, como Ogum, ganharam destaque aqui,
diferente dos de cunho agrícolas mais cultuados na África, como Onilé.
A vertente popular do catolicismo brasileiro, enfim, apresenta-se como mais dinâmica.
Na vertente popular constatamos a adaptabilidade e renovação que o catolicismo, com toda
a sua gama de influências populares medievais europeias adquire com contornos tropicais
peculiares.
Dentre os inúmeros aspectos peculiares da colônia Entre as heranças culturais
portuguesas na religiosidade brasileira está o forte apego aos santos, criando vínculos
íntimos e até carnais com alguns deles nos insistentes pedidos de velhas e viúvas para se
casarem e de mulheres estéreis a se esfregarem nas imagens santas.
Outro legado cultural do catolicismo popular português foi o messianismo, que
resultou de crenças sebastianistas do povo português - exemplificado no Brasil pelo
movimento do Contestado e Canudos - que teve a convicção de que um herói, um salvador,
acabará por regenerar o país, extirpando de vez a miséria, a fome e outras desgraças.
A religiosidade indígena encontrava por vezes resistência à evangelização pelos
jesuítas, uma “inconstância na alma”, ora a aceitar entusiasticamente a nova religião, ora a
rejeitá-la. Não existia entre eles uma doutrina inimiga, mas exibiam “maus costumes” aos
olhos inacianos que deveriam ser combatidos, descritos por Antônio Vieira: “canibalismo e
guerra de vingança, bebedeiras, poligamia, nudez, ausência de autoridade centralizada e de
implantação territorial estável” . Era então necessário um longo e árduo processo de
adaptação e reinterpretação de hábitos e costumes cristãos com as culturas indígenas. A
missa dominical, a prática de sacramentos do qual o batismo seria o primeiro passo, tudo
isso conflitava com os sentimentos de tradições indígenas Os padres da Companhia de
Jesus começaram a aprender a língua tupi-guarani e a propagar a fé através dela: “para
atrair crianças indígenas buscaram trazer meninos órfãos de Lisboa para fazerem a ligação
com os curumins, faziam-no representar autos, mistérios, de fundo e sabor medieval, para
depois chamá-los às missões, às escolas, aos colégios, onde o ensino doutrinário e
programático, na linha da RatioStudiorum, assentada na teologia do Concílio de Trento,
apontava para uma religião universal e salvífica.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

AS ROMARIAS EM JUAZEIRO

No princípio as romarias em Juazeiro do Norte eram, na maior parte, organizadas


padres que depositavam fé no milagre. Também outros padres dirigiam-se a Juazeiro, a fim
de atender a demanda de peregrinos. Em 1894, com a proibição de D. Joaquim de culto aos
panos e de que qualquer padre realizasse algum sacramento em Juazeiro, a não ser nas
casas, mas nunca na Igreja, a configuração da romaria mudou.

Os rituais próprios já existiam, mas ganharam mais força depois deste “afastamento”
dos padres e da suspensão de ordem do Pe. Cícero. Entraram em cena os beatos e beatas
como. mediadores espirituais do povo Sem o auxílio dos sacramentos, os romeiros
buscavam novos rituais, que substituíssem as práticas de fé anteriores. Um exemplo destes
é a confissão. O Juazeiro era visto com a terra da redenção, onde se deixavam os pecados
para receber a graça. Na impossibilidade de receber a absolvição, o peregrino fazia
penitências físicas, para purificar-se dos seus pecados. Com a Igreja Matriz fechada,
também por ordem do bispo, a rua do Pe. Cícero passa ser o “templo”. Ali os romeiros
aglomeram-se a sua espera. No principio ele os atendia, um a um, ao passo do aumento das
romarias, este contato particular ficou impossibilitado. A ritual comum era a récita do rosário,
um sermão do Padre, a sua benção, algumas oferendas lhes eram feitas e, por fim,
distribuía alguns conselhos particulares.
Sobre a romaria de Juazeiro Existem posições variadas que podem nos ajudar a
entender o fenômeno de Juazeiro. Segundo Pe. Hemrique Groenen, as principais
motivações que levam os devotos ao Juazeiro são duas: gratidão e necessidade. O
agradecimento é geralmente por uma situação de alivio, após algum sufoco, não precisa ser
necessariamente por uma graça sobrenatural. Assim como no passado, o Juazeiro continua
sendo lugar de esperança, onde as preces podem ser ouvidas mais facilmente. Isto vem
transmitido desde o inicio, quando os “náufragos da vida” iam esperançosos, em busca de
melhoras para vida.. A figura do Pe. Cícero atravessou as gerações do seu tempo através
do significado social e religioso adquirido no imaginário popular, passada para gerações
sucessivas.. Não há explicação que esgote o sentido da romaria, pois nela é forte a
dimensão da fé. Podemos afirmar, num olhar objetivo, que este sair da própria terra para ir a
Juazeiro serve para reforçar a identidade da pessoa, fazendo sentirem-se verdadeiros
devotos e afilhados do Pe. Cicero.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

EVENTOS RELIGIOSOS EM JUAZEIRO

Em pelo menos quatro ocasiões no ano, Juazeiro do Norte transforma-se no centro


religiosidade popular no Estado , com realização de romarias no início de fevereiro que é a
festa de Nossa Senhora das Candeias , 24 de março e 20 de julho, datas de nascimento e
morte do Padre Cícero respectivamente; na primeira quinzena de setembro, quando
acontece a festa da padroeira Nossa Senhora das Dores ; e no dia de finados , em 2 de
novembro. Os festejos concentram mais de dois milhões de romeiros no ano, sendo o
terceiro polo de peregrinação do país. O principal ponto de visitação da cidade é a Serra do
Horto, onde estão a estátua Padre Cícero, medindo 25 metros de altura , o Museu Vivo da
Cultura Popular Nordestina , o Santo Sepulcro , a muralha da Guerra de 1914 , além das
igrejas temos os pontos turísticos Memorial Pe. Cícero e o Centro Popular Mestre Noza
ainda temos como manifestações populares voltados para a religiosidade lapinha, o reisado
e outros como o mineiro-pau, banda-cabalais, bumba- meu-boi e diversas danças são
exemplo de manifestações populares na cidade.

O CEARÁ CONTEMPORÂNEO

A insatisfação com a política praticada durante a ditadura militar e o movimento de


redemocratização impulsiona as transformações no poder político, com a decadência da
hegemonia tradicional do coronelismo.
Gonzaga Mota deixa o governo com pagamentos atrasados ao funcionalismo e descontrole
nas contas públicas, mas seu candidato, o empresário Tasso Jereissati, consegue se eleger
com a promessa de modernizar a administração pública, afastando-se do clientelismo dos
governos anteriores; promover a austeridade fiscal; e desenvolver a economia estadual. A
nova gestão passa a se autodenominar "Governo das Mudanças".

A GERAÇÃO CAMBEBA

Em 1986, Tasso Jereissati era eleito governador do Ceará, derrotando os três famosos
coronéis do Ceará, Adauto Virgílio e César, e inaugurando uma nova etapa política no
Estado.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

Mas tal fato não foi ocasional. Até aquela data, a chefia do CIC (Confederação da
Indústria do Ceará), era ocupada pelo presidente da Federação do Estado do Ceará (FIEC).
Embora tenha o CIC de início mantido boas relações com os coronéis, criticavam duramente
os excessivos intervencionismos do Estado na economia, corrupção, o clientelismo e outros
problemas da máquina pública, pregando uma gestão “moderna” no Ceará e empresarial
para acabar com a miséria.
A oportunidade para os jovens empresários assumirem o governo dar-se em 1986, Tasso
Jereissati. Este, valendo-se do sucesso nacional do Plano Cruzado, da crise e decadência
das “velhas” elites chefiadas pelos coronéis e contando com o apoio e simpatia de amplos
segmentos sociais derrota o candidato do PFL, coronel Adauto Bezerra.
Encontrando o Estado em lastimável situação financeira Tasso, sob o lema “Governo
das Mudanças”, busca moralizar a máquina pública, diminuindo o nepotismo e o
empreguismo, embora achate o salário dos servidores público e tenha com estes uma
relação de atritos. O governo das mudanças usa o Estado como principal instrumento do
desenvolvimento capitalista local, seja por incentivo fiscal para atrair indústrias, seja por
investimento em infra-estruturar
Utilizando também muita “marketing”, a geração cambeba ganhou a hegemonia política
do Estado e projeção nacional, O domínio cambebista garantiu a eleição em 1990 de Ciro
Gomes ao governo pelo PSDB. Depois Ciro iria para o PSDB mantendo-se fiel a Tasso. Em
1994, há o retorno Jereissati ao executivo cearense, e reeleito ainda em 1998. Apesar das
“mudanças” realizadas pelo Cambeba economia do Estado, o PIB cearense cresceu nos
últimos anos em média mais do que o restante do Brasil, não houve empenho suficiente
para acabar com a pobreza absoluta que impera no Ceará. Ao contrário do “governo das
mudanças” aprofundou a concentração de renda no Estado, também uma das maiores do
país. O modelo capitalista neoliberal e industrialista abandonou quase por completo a
agricultura interiorana, salvo as grandes agroindústrias incrementando miséria e o êxodo
rural.
O Ceará recebe os primeiros carros importada da marca russa Lada. Os "Governos
das Mudanças" priorizam o aumento dos investimentos públicos e privados em infra-
estrutura e nos setores industrial e de serviços, enquanto o agropecuário permanece à
margem. Politicamente, há uma relativa diminuição de poder dos "coronéis", com ampliação
do poder do grande empresariado.
O saneamento das contas estaduais, atingido, em parte, pela diminuição das
despesas com o funcionalismo público através de demissões e achatamentos salariais -

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

garante superávits entre 1988 e 1994, mas com a consolidação do Plano Real volta-se a
uma predominância de déficits.
O Estado se beneficia também da guerra fiscal que então se iniciava o que, somado à
mão-de-obra barata, atrai várias indústrias, as quais se concentram em algumas poucas
cidades. O crescimento médio do PIB, de 4,6%, é superior à média nacional e nordestina
nos anos 1990, continuando a tendência iniciada na década de 1970. As ações do governo,
aliado aos esforços do empresariado local, e os incentivos de instituições de grande
importância na história econômica recente do Ceará.
O forró eletrônico se populariza na década de 1990, e o Ceará começa a despontar,
seguindo a tendência do litoral nordestino, como um grande polo de turismo no Brasil. Ao
longo dos anos 1990, com ações como o Programa de Saúde da Família (PSF), o Estado
também realiza grandes avanços na redução da mortalidade infantil. A migração em direção
a Fortaleza segue forte, tendo em vista o persistente atraso do interior em comparação com
o forte crescimento da capital. A segurança pública torna-se muito mais problemática entre
1990 e 2003, com a taxa de homicídios subindo de 8,86 para 20,15 por 100 mil habitantes,
um aumento de 127%.
O estado do Ceará mesmo com todas as promessas políticas, mais de 90% de seus
municípios continua sem infra-estrutura, como rede de esgoto e até mesmo água encanada,
apenas as cidades praianas tiveram poucas mudanças, mas o saneamento básico deixa
muito a desejar. O crime e a corrupção política tomaram conta do estado do Ceará.

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APOSTILA DE ESTUDOS REGIONAIS - 9º ANO – “O CEARÁ”

REFERÊNCIAS

SILVA, R. M.da.C.Cultura Popular e Educação. Brasília: Seed MEC, 2008. [TV Escola-
Salto para o futuro].

FARIAS, A. de. História do Ceará: Colonial. Fortaleza: Tropical, 1997.

FIGUEIREDO, Antônio Pereira de. Surgimento dos bairros de Juazeiro. Escola João
Alencar de Figueiredo. Juazeiro do Norte- CE, 2000. [apostila].

FLORESTA NACIONAL DO ARARIPE. Disponível


em:<http://www.wikiaves.com.br/areas:fn_do_araripe-apodi:inicio>. Acesso em: 25 fev. 2016.

FREIRE, Paulo (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática docente.


33 ed. São Paulo: Paz e Terra.

IBGE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/. Acesso em: 06 abr. 2016.


Informações adicionais: Disponível em: <www.portaljuazeiro.com/p/edicoesdo-
juaonline.html>. Acesso em 16 abr. 2016.

O TABULEIRO LITORÂNEO OU GLACIS PRÉ-LITORÂNEA: Disponível


em:<http://docslide.com.br/documents/diagnostico-geoambiental-do-municipio-de-
fortaleza.html>. Acesso em: 25 fev.2016.

PAULA, S. G. de; BENJAMIM, C.Q.E o sertão de todo se inspirou a vida: Um estudo


sobre a seca e a fome no Nordeste. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986. 182p.

WALKER, Daniel. A história de Juazeiro do Norte. Disponível em:


<www.portaljuazeiro.com/p/edicoesdo-juaonline.html>.Acesso em:20 abr.2016.

WALKER, Daniel. História da Independência política de Juazeiro do Norte. Disponível


em: <www.portaljuazeiro.com/p/edicoesdo-juaonline.html>. Acesso em 20 mar. 2016.

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