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Geografia de

Mato Grosso

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Geografia de Mato Grosso

1. Mato Grosso e a região Centro-Oeste


2. Geopolítica de Mato Grosso
3. Ocupação do território
4. Aspectos físicos e domínios naturais do espaço mato-grossense
5. Aspectos político-administrativos
6. Aspectos socioeconômicos de Mato Grosso
7. Formação étnica
8. Programas governamentais e fronteira agrícola mato-grossense
9. A economia do Estado no contexto nacional
10. A urbanização do Estado

1. MATO GROSSO E A REGIÃO CENTRO-OESTE

Região Centro-Oeste 2

O meio natural e os impactos ambientais:

A Região Centro-oeste é formada pelos estados de Mato Grosso, Mato Grosso


do Sul e Goiás e pelo Distrito Federal, ocupando cerca de 18% do território e
abrigando pouco mais que 7% da população do país.
O clima tropical é predominante na Região Centro-oeste, caracterizado por
estação bem seca no inverno e outra chuvosa no verão. O norte da região está’ sob
influência do clima equatorial úmido e da massa equatorial continental.
No extremo sul da região as frentes frias da massa polar atlântica causam
instabilidades no inverno e queda da temperatura, ocasionando as friagens, quando a
temperatura pode cair bastante. No verão, as temperaturas são mais elevadas, com
máximas oscilando entre 30ºC e 40ºC.
O Cerrado predomina na Região Centro-Oeste. Em seu limite oeste, localiza-
se o Pantanal, enquanto o limite norte caracteriza-se pela presença da Floresta
Amazônica; ao sul ocorrem remanescentes da Mata Atlântica.
O Cerrado apresenta grande biodiversidade. Na vegetação, encontram-se
formações florestais (mata ciliar, mata seca e cerradão), formações savânicas
(cerrado no sentido restrito, arque de cerrado, palmeiral e vereda) e campestres
(campo sujo, campo limpo e campo rupestre).
Variações do tipo de solo e nas formas de relevo explicam essas diferenças: a
mata galeria, por exemplo, formada por espécies arbóreas, ocorre nas margens de
rios, em vales úmidos.
Nas últimas décadas, a expansão rápida e intensiva da agropecuária tem
provocado a destruição de matas ciliares e de reservas permanentes do Cerrado. Na
região das nascentes do Rio Araguaia, por exemplo, a erosão provoca voçorocas
(erosões profundas que atingem o lençol freático). O assoreamento dos rios e a
poluição dos aquíferos também são problemas comuns no Cerrado.
Iniciativas importantes do Governo Federal, como o Programa Nacional de
Conservação e Uso Sustentável do Bioma Cerrado e o Programa Cerrado Sustentável
buscam promover a conservação, a recuperação e o manejo sustentável desse bioma,
além de incentivar a valorização e o reconhecimento das populações tradicionais.
Entretanto, isso não tem sido suficientes para conter a devastação. Quatro bacias
hidrográficas drenam a Região Centro-oeste: Amazônica (Rio Xingu e afluentes do
Amazonas), do Paraguai, do Tocantins-Araguaia e Platina (rios Paraná e Uruguai). O
relevo do Centro-Oeste é predominantemente planáltico. Nele, destacam-se os
Planaltos e Serras de Goiás-Minas, os Planaltos e Chapadas dos Parecis, os
Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná e as Serras Residuais do Alto Paraguai.
Entre os Planaltos, estão encaixadas depressões como a Marginal sul-amazônica, e
do Alto Paraguai-Guaporé e a do Araguaia.

O Pantanal:

A planície do Pantanal Mato-Grossense e a do Rio Guaporé localizam-se a


oeste da região. O Pantanal é uma planície sujeita a inundações sazonais, em
decorrência da pequena declividade de seu relevo e do padrão de drenagem da bacia
do Rio Paraguai. A vegetação é mista (cerrados, florestas, campos, charcos
inundáveis e ambientes aquáticos), e mais de mil espécies animais, incluindo cerca
de 650 tipos de aves aquáticas, vivem na região.
No Pantanal, a expansão da agropecuária e as queimadas acarretaram a
supressão de parte da vegetação e a contaminação dos corpos d’água por
agrotóxicos. Além disso, o pantanal recebe os rejeitos da atividade mineradora de
exploração de diamantes e de ouro, especialmente o mercúrio, altamente poluente.
Diversos programas e políticas ambientais têm sido desenvolvidos pelo governo
federal para proteger o bioma, prevendo o manejo correto de bacias hidrográficas,
saneamento e apoio ao produtor. A Floresta Amazônica se estende pela metade norte
do estado do Mato Grosso, e se encontra bastante ameaçada por desmatamentos e
queimadas. A expansão da fronteira agropecuária nessa área, para plantio ou criação
de gado, atinge áreas de conservação ambiental e provoca erosão e assoreamento
nos rios.

Ocupação territorial e dinâmicas econômicas:

Originalmente, os territórios que hoje compõem a Região Centro-Oeste eram


habitados por diversos agrupamentos indígenas, especialmente os bororos. Nos
termos do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, essas terras pertenceriam à
América espanhola. Entretanto, a partir do século XVI, sucessivas ondas de
bandeirantes paulistas se dirigiram para a região com a finalidade de aprisionar e
escravizar indígenas, desbravando o interior do Brasil.
No final do século XVII, estimulados pela descoberta de ouro em Minas Gerais,
os bandeirantes passaram a se aventurar em terras cada vez mais distantes. Subindo
o Rio Cuiabá e alcançando o território bororo, os bandeirantes encontraram ouro e
iniciaram a conquista do território que atualmente corresponde ao Mato Grosso.
Enquanto isso, expedições pelo sertão descobriam minas de ouro no território que
hoje compreende o estado de Goiás, onde foi fundada a Vila Boa, embrião da atual
cidade de Goiás.
Em 1726, Rodrigo César de Meneses, capitão-geral de São Paulo, chegou às
minas chamadas de Cuiabá, fundando, no ano seguinte, a Vila Real do Bom Jesus,
que já contava com dois portos fluviais. Deles, partiam as expedições que visavam ao
apresamento de indígenas no Pantanal. A cidade de Goiás, conhecida como Goiás
Velho, foi fundada em 1726 pelo filho do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o
Anhanguera. Em 2001 foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio

Cultural da Humanidade.

Em 1748, preocupada com a posse dessas terras, a Coroa portuguesa criou a


capitania de Mato Grosso, com sede em Vila Bela da Santíssima Trindade, fundada
pelo mineradores às margens do Rio Guaporé. Posteriormente, a sede da capitania
foi transferida para a Vila de Cuiabá. A Capitania de Goiás, com sede em Vila Bela,
também foi criada em 1748.
Em 1750, a assinatura do Tratado de Madri entre Portugal e Espanha legalizou
a posse efetiva da região pelos portugueses. Porém, com a anulação desse tratado,
ocorrida em 1761, a Coroa portuguesa passou a implantar uma rede de fortificações
para garantir a posse da margem direta do Rio Guaporé: o Forte de Conceição foi
erguido em 1762 e o Forte de Príncipe da Beira, em 1776. O Tratado de Santo
Idelfonso, firmado pelas coroas ibéricas em 1777, finalmente ratificou a soberania
portuguesa sobre o território das duas capitanias ocidentais.
A partir de então, o povoamento luso-brasileiro passou a avançar na direção do
Rio Tocantins, dizimando os índios caiapó de Goiás, os xavante do Araguaia e, mais
tarde, os canoeiro do Tocantins. Do século XIX em diante, com o declínio da
mineração, as províncias de Mato Grosso e de Goiás conheceram um longo período
de decadência econômica e de isolamento. Apenas as atividades agrícolas de
subsistência, como a extração da borracha, a criação de gado e a exploração de erva-
mate, sobreviveram na região.

A ocupação moderna do Centro-Oeste:

Ao longo do século XX, porém, o isolamento da região foi sendo vencido


gradativamente com a transformação dos estados do Centro-Oeste em área de
atração populacional.
A inauguração de Goiânia, em 1936, a Marcha para o Oeste, iniciada por
Getúlio Vargas na década de 1940, a construção de Brasília, assim como as políticas
de integração nacional consolidadas pela ditadura militar na década de 1970,
incentivaram a migração para o Centro-Oeste, contribuindo para acelerar o
povoamento da região.
No início do século XX, a abertura da Estrada de Ferro Noroeste Brasil (Bauru-
Corumbá) ajudou a intensificar os fluxos entre o Sudeste e o Centro-Oeste. A ferrovia
abriu a fronteira para a pecuária do Mato Grosso, permitindo o transporte do gado vivo
até os frigoríficos de São Paulo e do Rio de Janeiro.
A partir da década de 1960, rodovias como a Belém-Brasília, a Cuiabá-Porto
Velho e a Brasília-Acre transformaram-se em plataforma para a conquista da
Amazônia.
Em 1977 o estado de Mato Grosso foi desmembrado, e dois anos depois
oficializou-se a criação do estado de Mato Grosso do Sul. Goiás, por sua vez, foi
desmembrado em 1988, quando se criou o estado de Tocantins, que atualmente
pertence à Região Norte. Em ambos os casos, as justificativas utilizadas para o
desmembramento foram a grande extensão desses estados, as dificuldades de
planejamento e de administração.
Cenário econômico recente:
Na década de 1970, teve início um período de intenso desenvolvimento
econômico nos estados do Centro-Oeste, motivado principalmente pela modernização
da agricultura. A mecanização, a introdução de novas culturas e o desenvolvimento
de tecnologias e técnicas como a adubação e correção dos solos de cerrados
impulsionaram a produtividade da agricultura regional, que se tornou altamente
competitiva nos mercados internacionais.
No entanto, essa modernização tem sido responsável por diferentes impactos
ambientais, em especial o desmatamento. Desde a década de 1980, o incremento da
produção agropecuária e os incentivos fiscais atraem para o Centro-Oeste indústrias
ligadas à transformação de matérias-primas de origem animal ou vegetal.
É o caso dos frigoríficos, das empresas de avicultura, do setor sucroalcooleiro
e das indústrias que processam os grãos de soja. Instaladas próximos aos polos
produtores, essas indústrias lucraram com a redução de despesas com fretes.
Sendo assim, o panorama industrial da região é pouco diversificado. A exceção
fica por conta de alguns polos produtivos instalados no eixo Brasília-Goiânia, em
especial em Anápolis, que concentra empresas do setor farmoquímico e farmacêutico.
Nas últimas décadas, o Mato Grosso do Sul foi o estado da região que
apresentou maior crescimento econômico. A agricultura, praticada principalmente na
porção leste do estado, beneficiou-se da proximidade com os grandes mercados
consumidores do Sul e do Sudeste. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística indicam que somente no estado de Mato Grosso, o crescimento da área
plantada de soja foi de 28,7% entre os anos de 2008 e 2011.
A expansão dos canaviais para o Centro-Oeste também é fato recente. Os
maiores índices de crescimento da produção de cana-de-açúcar são encontrados em
Goiás e Mato Grosso do Sul.
Além do aumento da área cultivada, destaca-se a instalação de usinas na
região, o que fortalece a cadeia agroindustrial sucroalcooleira. A indústria do turismo
também tem apresentado rápido crescimento na Região Centro-Oeste. O pantanal é
a área mais visitada, embora os parques nacionais da Chapada dos Guimarães, em
Mato Grosso, da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e das Esmas, no sudeste goiano,
também contribuam para o aumento do número de turistas, atraídos pelas chapadas,
cânions, quedas-d’água, cavernas e diversos sítios arqueológicos. No Rio Araguaia,
na época da estiagem (junho a setembro), o nível das águas cai formando praias,
tornando a região uma atração turística.
Cidades históricas como Pirenópolis e Goiás, antiga capital goiana, atraem
visitantes pelos sobrados coloniais preservados e pelas igrejas de arquitetura barroca.
Em direção ao sul do estado, a cidade de Caldas Novas recebe em média um milhão
de turistas por ano, em busca de suas fontes de água quente. Brasília apresenta
arquitetura moderna e é considerada Patrimônio da Humanidade.

Os centros urbanos:
A rede urbana do Centro-Oeste desenvolveu-se de maneira linear, seguindo as
rodovias de integração e as ferrovias que ligam à Região Sudeste. Brasília, metrópole
nacional, Goiânia, metrópole, assim como Campo Grande e Cuiabá, capitais
regionais, situam-se sobre os grandes eixos viários. As cidades que exibem forte
crescimento – como Dourados (MS), Rondonópolis (MT) e Anápolis (GO) – estão
também situadas nesses eixos.
A cidade-capital:
Brasília representa um caso especial, entre as grandes cidades brasileiras. Não
simplesmente por ser uma cidade planejada: Belo Horizonte, fundada em 1897, e
Goiânia, fundada em 1933, constituem outros exemplos de cidades planejadas no
Brasil. A singularidade de Brasília reside na finalidade específica que orientou seu
planejamento urbano – a criação de uma cidade-capital, condição que determinou a
expansão demográfica e econômica da região.
O Plano Piloto constitui o cerne da nova capital. É ele que está submetido ao
plano urbanístico, com seu rígido sistema de aprovação de plantas destinado a
conservar as características originais da cidade. Ideologicamente, esse plano, de
autoria de Lúcio Costa, vinculava-se à tradição de pensamento urbanístico do francês
Le Corbusier e da escola arquitetônica da Carta de Atenas, cujos princípios remontam
ao IV Congresso de Arquitetura Moderna, realizado em 1933. A cidade deveria ser, a
um só tempo, funcional e harmônica: uma engrenagem de residências, consumo e
trabalho. Para isso, os planejadores deveriam dispor da capacidade de organizar o
espaço de forma absoluta, excluindo as incertezas e os conflitos inerentes ao
desenvolvimento espontâneo das aglomerações urbanas. A ordem seria um produto
da autoridade e do saber urbanístico
A base espacial do plano urbanístico reside na segregação funcional. No
interior do Plano Piloto, definiram-se as áreas reservadas às diferentes funções
urbanas – administração pública, residências, comércio local e central, etc.
Um eixo viário retilíneo, chamado Eixo Monumental, foi implantado e reservado
aos palácios e edifícios destinados aos órgãos de poder político, à administração e às
embaixadas. Esse eixo é cortado por um outro, arqueado, chamado Eixo Rodoviário,
destinado à circulação expressa. Com 13 quilômetros de extensão e cinco pistas sem
cruzamentos, ele separa a circulação municipal da circulação local. Juntos, os dois
eixos têm o formato de asas de avião.
Ao longo do Eixo Rodoviário alinham-se as superquadras, destinadas à
moradia. Nessas áreas encontram-se escolas, igrejas e espaços de comércio local.
Esses serviços localizam-se no interior dos conjuntos de superquadras, direcionado a
circulação de pessoas para dentro e não para as ruas. O comércio de grande porte foi
alocado em uma zona separada, no cruzamento entre os dois grandes eixos da
cidade. Todo o sistema de zoneamento e circulação da cidade prioriza o automóvel,
a circulação expressa.
Concebida por Oscar Niemeyer, a arquitetura da capital é coerente com o plano
urbanístico, visando reforçar simbolicamente a função de sede dos órgãos de poder
político, que constitui a razão de ser de Brasília.

A cidade polinucleada:

O plano urbanístico não eliminou a clássica estruturação espacial das grandes


cidades brasileiras: o contraste entre as áreas centrais reservada às classes médias
e às elites, de um lado, e as periferias populares, de outro. No entanto, operou uma
transformação radical nesse esquema, abrindo um espaço vazio entre a área central
(o Plano Piloto) e a periferia (as cidades-satélite). O elevado preço dos terrenos no
Plano Piloto empurrou os mais pobres para os núcleos urbanos satélites, que
cresceram como verdadeiras cidades-dormitório.
Embora não estivessem formalmente previstas no plano, as cidades-satélite
desenvolveram-se para, de certa forma, protege-lo, evitando a concentração da
pobreza. Dessa maneira, a capital cresceu como cidade polinucleada: uma única
aglomeração urbana dispersa territorialmente em diversos núcleos separados. Esses
núcleos são chamados de regiões administrativas, já que a Constituição impede a
formação de municípios autônomos no Distrito Federal. A maioria da população ativa
que reside nas cidades-satélite trabalha no Plano Piloto e consome horas diárias em
deslocamentos entre o local de moradia e o local de emprego.
A concentração de recursos financeiros no Plano Piloto – que abriga uma elite
de políticos, burocratas da administração pública e diplomatas estrangeiros –
dinamiza a economia do Distrito Federal, atraindo migrantes para as cidades-satélites.
Assim, o crescimento demográfico dos núcleos urbanos ao redor é muito superior ao
da área central: em 1960, o Plano Piloto concentrava cerca de metade da população
do Distrito Federal; atualmente essa proporção é inferior a 15%

Referências Bibliográficas:
TERRA, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil – Lygia Terra; Regina
Araújo; Raul Borges Guimarães. 2ª edição. São Paulo: Moderna.

2. GEOPOLÍTICA DE MATO GROSSO

Mato Grosso tem 903.357,908 km2 de extensão. É o terceiro maior estado do


país, ficando atrás somente do Amazonas e do Pará. A área urbana de Mato Grosso
é de 519,7 km2, o que coloca o estado em 11º lugar no ranking de estados com maior
mancha urbana.
Localizado no Centro-Oeste brasileiro, fica no centro geodésico da América
Latina. Cuiabá, a capital, está localizada exatamente no meio do caminho entre o
Atlântico e o Pacifico, ou seja, em linha reta é o ponto mais central do continente. O
local exato foi calculado por Marechal Rondon durante suas expedições pelo estado
e é marcado com um monumento, o obelisco da Câmara dos Vereadores.
Mato Grosso é um estado com altitudes modestas, o relevo apresenta grandes
superfícies aplainadas, talhadas em rochas sedimentares e abrange três regiões
distintas: na porção centro-norte do estado, a dos chapadões sedimentares e
planaltos cristalinos (com altitudes entre 400 e 800m), que integram o planalto central
brasileiro. A do planalto arenito-basáltico, localizada no Sul, simples parcela do
planalto meridional. A parte do Pantanal Mato-Grossense, baixada da porção centro-
ocidental.
Devido à grande extensão Leste-Oeste, o território brasileiro abrange quatro
fusos horários situados a Oeste de Greenwich. O Estado de Mato Grosso abrange o
fuso horário quatro negativo (-4). Apresenta, portanto, 4 horas a menos, tendo como
referência Londres, o horário GMT (Greenwich Meridian Time). 2

3. OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO

O que hoje conhecemos como Mato Grosso já foi território espanhol. As


primeiras excursões feitas no território de Mato Grosso datam de 1525, quando Pedro
Aleixo Garcia vai em direção à Bolívia, seguindo as águas dos rios Paraná e Paraguai.
Posteriormente portugueses e espanhóis são atraídos à região graças aos rumores
de que havia muita riqueza naquelas terras ainda não exploradas devidamente.
Também vieram jesuítas espanhóis que construíram missões entre os rios
Paraná e Paraguai.
A história de Mato Grosso, no período "colonial" é importantíssima, porque
durante esses 9 governos o Brasil defendeu o seu perfil territorial e consolidou a sua
propriedade e posse até os limites do rio Guaporé e Mamoré. Foram assim contidas
as aspirações espanholas de domínio desse imenso território.
Proclamada a nossa independência, os governos imperiais de D. Pedro I e das
Regências (1º Império) nomearam para Mato Grosso cinco governantes e os fatos
mais importantes ocorridos nesses anos (7/9/1822 a 23/7/1840) foram a oficialização
da Capital da Província para Cuiabá (lei nº 19 de 28/8/1835) e a "Rusga" (movimento
nativista de matança de portugueses, a 30/05/1834). Proclamada a 23 de julho de
1840 a maioridade de Dom Pedro II, Mato Grosso foi governado por 28 presidentes
nomeados pelo Imperador, até à Proclamação de República, ocorrida a 15/11/1889.
Durante o Segundo Império (governo de Dom Pedro II), o fato mais importante que
ocorreu foi a Guerra da Tríplice Aliança, movida pela República do Paraguai contra o
Brasil, Argentina e Uruguai, iniciada a 27/12/1864 e terminada a 01/03/0870 com a
morte do Presidente do Paraguai, Marechal Francisco Solano Lopez, em Cerro-Corá.
Os episódios mais notáveis ocorridos em terras mato-grossenses durante os 5
anos dessa guerra foram: a) o início da invasão de Mato Grosso pelas tropas
paraguaias, pelas vias fluvial e terrestre; b) a heroica defesa do Forte de Coimbra. c)
o sacrifício de Antônio João Ribeiro e seus comandados no posto militar de Dourados.
d) a evacuação de Corumbá; e) os preparativos para a defesa de Cuiabá e a ação do
Barão de Melgaço; f) a expulsão dos inimigos do sul de Mato Grosso e a retirada da
Laguna; g) a retomada de Corumbá; h) o combate do Alegre; Pela via fluvial vieram
4.200 homens sob o comando do Coronel Vicente Barrios, que encontrou a heroica
resistência de Coimbra ocupado por uma guarnição de apenas 115 homens, sob o
comando do Tte. Cel. Hermenegildo de Albuquerque Portocarrero. Pela via terrestre
vieram 2.500 homens sob o comando do Cel. Isidoro Rasquin, que no posto militar de
Dourados encontrou a bravura do Tte. Antônio João Ribeiro e mais 15 brasileiros que
se recusaram a rendição, respondendo com uma descarga de fuzilaria à ordem para
que se entregassem.
Foi ai que o Tte. Antônio João enviou ao Comandante Dias da Silva, de
Nioaque, o seu famoso bilhete dizendo: "Ser que morro mas o meu sangue e de meus
companheiros será de protesto solene contra a invasão do solo da minha Pátria" A
evacuação de Corumbá, desprovida de recursos para a defesa, foi outro episódio
notável, saindo a população, através do Pantanal, em direção a Cuiabá, onde chegou,
a pé, a 30 de abril de 1865.
Na expectativa dos inimigos chegarem a Cuiabá, autoridades e povo
começaram preparativos para a resistência. Nesses preparativos sobressaia a figura
do Barão de Melgaço que foi nomeado pelo Governo para comandar a defesa da
Capital, organizando as fortificações de Melgaço. Se os invasores tinham intenção de
chegar a Cuiabá dela desistiram quando souberam que o Comandante da defesa da
cidade era o Almirante Augusto Leverger - o futuro Barão de Melgaço -, que eles já
conheciam de longa data. Com isso não subiram além da foz do rio São Lourenço.
Expulsão dos invasores do sul de Mato Grosso- O Governo Imperial determinou a
organização, no triângulo Mineiro, de uma "Coluna Expedicionária ao sul de Mato
Grosso", composta de soldados da Guarda Nacional e voluntários procedentes de São
Paulo e Minas Gerais para repelir os invasores daquela região. Partindo do Triângulo
em direção a Cuiabá, em Coxim receberam ordens para seguirem para a fronteira do
Paraguai, reprimindo os inimigos para dentro do seu território.
A missão dos brasileiros tornava-se cada vez mais difícil, pela escassez de
alimentos e de munições. Para cúmulo dos males, as doenças oriundas das alagações
do Pantanal mato-grossense, devastou a tropa. Ao aproximar-se a coluna da fronteira
paraguaia, os problemas de alimentos e munições se agravava cada vez mais e
quando se efeito a destruição do forte paraguaio Bela Vista, já em território inimigo,
as dificuldades chegaram ao máximo. Decidiu então o Comando brasileiro que a tropa
seguisse até a fazenda Laguna, em território paraguaio, que era propriedade de
Solano Lopez e onde havia, segundo se propalava, grande quantidade de gado, o que
não era exato. Desse ponto, após repelir violento ataque paraguaio, decidiu o
Comando empreender a retirada, pois a situação era insustentável. Iniciou-se aí a
famosa "Retirada da Laguna", o mais extraordinário feito da tropa brasileira nesse
conflito. Iniciada a retirada, a cavalaria e a artilharia paraguaia não davam tréguas à
tropa brasileira, atacando-as diariamente.
Para maior desgraça dos nacionais veio o cólera devastar a tropa. Dessa
doença morreram Guia Lopes, fazendeiro da região, que se ofereceu para conduzir a
tropa pelos cerrados sul mato-grossenses, e o Coronel Camisão, Comandante das
forças brasileiras. No dia da entrada em território inimigo (abril de 1867), a tropa
brasileira contava com 1.680 soldados. A 11 de junho foi atingido o Porto do Canuto,
às margens do rio Aquidauana, onde foi considerada encerrada a trágica retirada. Ali
chegaram apenas 700 combatentes, sob o comando do Cel. José Thomás Gonçalves,
substituído de Camisão, que baixou uma "Ordem do dia", concluída com as seguintes
palavras: "Soldados! Honra à vossa constância, que conservou ao Império os nossos
canhões e as nossas bandeiras".

A Retirada da Laguna

A retirada da Laguna foi, sem dúvida, a página mais brilhante escrita pelo
Exército Brasileiro em toda a Guerra da Tríplice Aliança. O Visconde de Taunay, que
dela participou, imortalizou-a num dos mais famosos livros da literatura brasileira. A
retomada de Corumbá foi outra página brilhante escrita pelas nossas armas nas lutas
da Guerra da Tríplice Aliança. O presidente da Província, então o Dr. Couto de
Magalhães, decidiu organizar três corpos de tropa para recuperar a nossa cidade que
há quase dois anos se encontrava em mãos do inimigo. O 1º corpo partiu de Cuiabá
a 15.05/1867, sob as ordens do Tte. Cel. Antônio Maria Coelho. Foi essa tropa levada
pelos vapores "Antônio João", "Alfa", "Jaurú" e "Corumbá" até o lugar denominado
Alegre. Dali em diante seguiria sozinha, através dos Pantanais, em canoas, utilizando
o Paraguai -Mirim, braço do rio Paraguai que sai abaixo de Corumbá e que era
confundido com uma "boca de baía".
Desconfiado de que os inimigos poderiam pressentir a presença dos brasileiros
na área, Antônio Maria resolveu, com seus Oficiais, desfechar o golpe com o uso
exclusivo do 1º Corpo, de apenas 400 homens e lançou a ofensiva de surpresa. E
com esse estratagema e muita luta corpo a corpo, consegui o Comandante a
recuperação da praça, com o auxílio, inclusive, de duas mulheres que o
acompanhavam desde Cuiabá e que atravessaram trincheiras paraguaias a golpes de
baionetas.
Quando o 2º Corpo dos Voluntário da Pátria chegou a Corumbá, já encontrou
em mãos dos brasileiros. Isso foi a 13/06/1867. No entanto, com cerca de 800 homens
às suas ordens o Presidente Couto de Magalhães, que participava do 2º Corpo, teve
de mandar evacuar a cidade, pois a varíola nela grassava, fazendo muitas vítimas. O
combate do Alegre foi outro episódio notável da guerra. Quando os retirantes de
Corumbá, após a retomada, subiam o rio no rumo de Cuiabá, encontravam-se nesse
porto "carneando" ou seja, abastecendo-se de carne para a alimentação da tropa eis
que surgem, de surpresa, navios paraguaios tentando uma abordagem sobre os
nossos.
A soldadesca brasileira, da barranca, iniciou uma viva fuzilaria e após vários
confrontos, venceram as tropas comandadas pela coragem e sangue frio do
Comandante José Antônio da Costa. Com essa vitória chegaram os da retomada de
Corumbá à Capital da Província (Cuiabá), transmitindo a varíola ao povo cuiabano,
perdendo a cidade quase a metade de sua população. Terminada a guerra, com a
derrota e morte de Solano Lopez nas "Cordilheiras" (Cerro Corá), a 1º de março de
1870, a notícia do fim do conflito só chegou a Cuiabá no dia 23 de março, pelo vapor
"Corumbá", que chegou ao porto embandeirado e dando salvas de tiros de canhão.
Dezenove anos após o término da guerra, foi o Brasil sacudido pela Proclamação da
República, cuja notícia só chegou a Cuiabá na madrugada de 9 de dezembro de 1889

Origem do nome

As Minas de Mato Grosso, descobertas e batizadas ainda em 1734 pelos


irmãos Paes de Barros, impressionados com a exuberância das 7 léguas de mato
espesso, dois séculos depois, mantendo ainda a denominação original, se
transformaram no continental Estado de Mato Grosso. O nome colonial setecentista,
por bem posto, perdurou até nossos dias. Assim, em 1718, um bandeirante chamado
Pascoal Moreira Cabral Leme subiu pelo rio Coxipó e descobriu enormes jazidas de
ouro, dando início à corrida do ouro, fato que ajudou a povoar a região. No ano
seguinte foi fundado o Arraial de Cuiabá.
Em 1726, o Arraial de Cuiabá recebeu novo nome: Vila Real do Senhor Bom
Jesus de Cuiabá. Em 1748, foi criada a capitania de Cuiabá, lugar que concedia
isenções e privilégios a quem ali quisesse se instalar.
As conquistas dos bandeirantes, na região do Mato Grosso, foram
reconhecidas pelo Tratado de Madrid, em 1750. No ano seguinte, o então capitão-
general do Mato Grosso, Antônio Rolim de Moura Tavares, fundou, à margem do rio
Guaporé, a Vila Bela da Santíssima Trindade. Entre 1761 e 1766, ocorreram disputas
territoriais entre portugueses e espanhóis, depois daquele período as missões
espanholas e os espanhóis se retiraram daquela região, mas o Mato Grosso somente
passou a ser definitivamente território brasileiro depois que os conflitos por fronteira
com os espanhóis deixaram de acontecer, em 1802. Na busca de índios e ouro,
Pascoal Moreira Cabral e seus bandeirantes paulistas fundaram Cuiabá a 8 de abril
de 1719, num primeiro arraial, São Gonçalo Velho, situado nas margens do rio Coxipó
em sua confluência com o rio Cuiabá.
Em 1º de janeiro de 1727, o arraial foi elevado à categoria de vila por ato do
Capitão General de São Paulo, Dom Rodrigo César de Menezes. A presença do
governante paulista nas Minas do Cuiabá ensejou uma verdadeira extorsão fiscal
sobre os mineiros, numa obsessão institucional pela arrecadação dos quintos de ouro.
Esse fato somado à gradual diminuição da produção das lavras auríferas, fizeram com
que os bandeirantes pioneiros fossem buscar o seu ouro cada vez mais longe das
autoridades cuiabanas.
Em 1734, estando já quase despovoada a Vila Real do Senhor Bom Jesus do
Cuiabá, os irmãos Fernando e Artur Paes de Barros, atrás dos índios Parecis,
descobriram veio aurífero, o qual resolveram denominar de Minas do Mato Grosso,
situadas nas margens do rio Galera, no vale do Guaporé.
Os Anais de Vila Bela da Santíssima Trindade, escritos em 1754 pelo escrivão
da Câmara dessa vila, Francisco Caetano Borges, citando o nome Mato Grosso, assim
nos explicam: Saiu da Vila do Cuiabá Fernando Paes de Barros com seu irmão Artur
Paes, naturais de Sorocaba, e sendo o gentio Pareci naquele tempo o mais procurado,
[...] cursaram mais ao Poente delas com o mesmo intento, arranchando-se em um
ribeirão que deságua no rio da Galera, o qual corre do Nascente a buscar o rio
Guaporé, e aquele nasce nas fraldas da Serra chamada hoje a Chapada de São
Francisco Xavier do Mato Grosso, da parte Oriental, fazendo experiência de ouro,
tiraram nele três quartos de uma oitava na era de 1734.
Dessa forma, ainda em 1754, vinte anos após descobertas as Minas do Mato
Grosso, pela primeira vez o histórico dessas minas foi relatado num documento oficial,
onde foi alocado o termo Mato Grosso, e identificado o local onde as mesmas se
achavam. Todavia, o histórico da Câmara de Vila Bela não menciona porque os irmãos
Paes de Barros batizaram aquelas minas com o nome de Mato Grosso.
Quem nos dá tal resposta é José Gonçalves da Fonseca, em seu trabalho
escrito por volta de 1780, Notícia da Situação de Mato Grosso e Cuiabá, publicado na
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de 1866, que assim nos explica
a denominação Mato Grosso: [...] se determinaram atravessar a cordilheira das Gerais
de oriente para poente; e como estas montanhas são escalvadas, logo que baixaram
a planície da parte oposta aos campos dos Parecis (que só tem algumas ilhas de
arbustos agrestes), toparam com matos virgens de arvoredo muito elevado e
corpulento, que entrando a penetrá-lo, o foram apelidando Mato Grosso; e este é o
nome que ainda hoje conserva todo aquele distrito. Caminharam sempre ao poente,
e depois de vencerem sete léguas de espessura, toparam com o agregado de serras
[...].
Pelo que desse registro se depreende, o nome Mato Grosso é originário de
uma grande extensão de sete léguas de mato alto, espesso, quase impenetrável,
localizado nas margens do rio Galera, percorrido pela primeira vez em 1734 pelos
irmãos Paes de Barros. Acostumados a andar pelos cerrados do chapadão dos
Parecis, onde apenas havia algumas ilhas de arbustos agrestes, os irmãos
aventureiros, impressionados com a altura e porte das árvores, o emaranhado da
vegetação secundária que dificultava a penetração, com a exuberância da floresta, a
denominaram de Mato Grosso. Perto desse mato fundaram as Minas de São
Francisco Xavier e toda a região adjacente, pontilhada de arraiais de mineradores,
ficou conhecida na história como as Minas do Mato Grosso.
Posteriormente, ao se criar a Capitania por Carta Régia de 9 de maio de 1748,
o governo português assim se manifestou: Dom João, por Graça de Deus, Rei de
Portugal e dos Algarves, [...] Faço saber a vós, Gomes Freire de Andrade, Governador
e Capitão General do Rio de Janeiro, que por resoluto se criem de novo dois governos,
um nas Minas de Goiás, outro nas de Cuiabá [...].
Dessa forma, ao se criar a Capitania, como meio de consolidação e
institucionalização da posse portuguesa na fronteira com o reino de Espanha, Lisboa
resolveu denominá-las tão somente de Cuiabá.
Mas no fim do texto da referida Carta Régia, assim se ex-prime o Rei de
Portugal [...] por onde parte o mesmo governo de São Paulo com os de Pernambuco
e Maranhão e os confins do Governo de Mato Grosso e Cuiabá [...].
Apesar de não denominar a Capitania expressamente com o nome de Mato
Grosso, somente referindo-se às minas de Cuiabá, no fim do texto da Carta Régia, é
denominado plenamente o novo governo como sendo de ambas as minas, Mato
Grosso e Cuiabá. Isso ressalva, na realidade, a intenção portuguesa de dar à
Capitania o mesmo nome posto anos antes pelos irmãos Paes de Barros. Entende-se
perfeitamente essa intenção.
Todavia, a consolidação do nome Mato Grosso veio rápido. A Rainha D.
Mariana de Áustria, ao nomear Dom Antonio Rolim de Moura como Capitão General,
na Carta Patente de 25 de setembro de 1748, assim se expressa:
[...]; Hei por bem de o nomear como pela presente o nomeio no cargo de
Governador e Capitão General da Capitania de Mato Grosso, por tempo de três anos
[...]. A mesma Rainha, no ano seguinte, a 19 de janeiro, entrega a Dom Rolim a suas
famosas Instruções, que determinariam as orientações para a administração da
Capitania, em especial os tratos com a fronteira do reino espanhol. Assim nos diz o
documento: [...] fui servido criar uma Capitania Geral com o nome de Mato Grosso [...]
§ 1º - [...] atendendo que no Mato Grosso se requer maior vigilância por causa da
vizinhança que tem, houve por bem determinar que a cabeça do governo se pusesse
no mesmo distrito do Mato Grosso [...]; § 2º - Por se ter entendido que Mato Grosso é
a chave e o propugnáculo do sertão do Brasil [...].
E a partir daí, da Carta Patente e das Instruções da Rainha, o governo colonial
mais longínquo, mais ao oriente em terras portuguesas na América, passou a se
chamar de Capitania de Mato Grosso, tanto nos documentos oficiais como no trato
diário por sua própria população. Logo se assimilou o nome institucional Mato Grosso
em desfavor do nome Cuiabá. A vigilância e proteção da fronteira oeste era mais
importante que as combalidas minas cuiabanas. A prioridade era Mato Grosso e não
Cuiabá.
Com a independência do Brasil em 1822, passou a ser a Província de Mato
Grosso, e com a República em 1899, a denominação passou a Estado de Mato
Grosso.
A partir do início do século XIX, a extração de ouro diminui bastante, dessa
maneira, a economia começa um período de decadência e a população daquele
estado para de crescer. Militares e civis dão início a um movimento separatista, em
1892, contra o governo do então presidente Mal. Floriano Peixoto.
O movimento separatista é sufocado por intervenção do governo federal. A
economia do estado começa a melhorar com a implantação de estradas de ferro e
telégrafos, época em que começam a chegar seringueiros, pessoas que cultivaram
erva-mate e criadores de gado. Em 1977, Mato Grosso é desmembrado em dois
estados: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Referências:

Governo do Mato Grosso. Disponível em:


http://www.mt.gov.br/historia.

4. ASPECTOS FÍSICOS E DOMÍNIOS NATURAIS DO ESPAÇO MATO-


GROSSENSE

Mato Grosso possui um grande território, nesse existe uma grande variedade
de recursos e paisagens naturais. Diante da imensa biodiversidade, serão abordadas
as principais características do relevo, clima, vegetação, hidrografia, além das
reservas ecológicas que se faz presente na região.
Relevo
O Relevo apresenta as irregularidades da superfície terrestre. O território de
Mato Grosso é composto por um relevo de baixas altitudes, dessa forma, grande parte
do espaço estadual é plano.
No entanto, esse tipo de relevo se divide em três tipos de compostos, chamados
de unidade, sendo todos distintos. São eles: - Planalto mato-grossense: formação a
partir de planaltos cristalinos e chapadões sedimentares, nesse as altitudes podem
variar entre 400 a 800 metros em relação ao nível do mar. Esse planalto tem a função
de divisor de águas de importantes bacias, tais como Paraguai e alguns rios da bacia
do Amazonas. - Planalto Arenítico-basáltico: formado pelos dois últimos elementos,
podem ser encontrados no sul de Mato Grosso. - Planalto mato-grossense: se
estabelece em uma área rebaixada, já no sul do planalto brasileiro se encontra o
divisor entre as duas bacias, Paraguai e Amazonas.
A partir dessas considerações, as principais elevações (serras) do relevo
contido no Estado do Mato Grosso:
- Serra dos Parecis
- Serra Formosa
- Serra do Norte
- Serra dos Caiabis
- Serra dos Apiacás
- Serra do Roncador
Além das serras citadas, existe outra variação do relevo que são as
depressões, desse modo as duas principais são:
- Depressão do Alto Xingu
- Depressão do Médio Araguaia

Clima
O clima do estado sofre variações de acordo com a localização geográfica.
Com base nessa afirmativa o clima que predomina é o tropical Equatorial na porção
norte do estado, característica do clima amazônico, no qual há elevadas temperaturas,
algo em torno de 26ºC em relação à média anual e uma grande incidência de
precipitações que chegam a 2.000 mm ao ano.
Outro tipo de clima de grande influência no Estado é o tropical Típico, que
possui duas estações bem definidas, sendo uma seca e outra chuvosa, chuvas que
variam entre 1.200 a 1.800 mm/ ano. Em algumas áreas, existe o clima tropical de
Altitude, que possui temperaturas amenas.

Vegetação
Uma grande parcela do território mato-grossense é composta por cobertura vegetal
de floresta equatorial, que corresponde ao tipo de vegetação da floresta amazônica.
Já ao sul da capital, Cuiabá, o tipo de vegetação que predomina é o cerrado, esse
bioma é composto por árvores baixas com troncos retorcidos, folhas e cascas grossas,
além de uma vasta vegetação rasteira formada por capins nativos e arbustos. Na área
que está localizado o Pantanal o tipo de vegetação é variado, chamada pelos
estudiosos de área de transição entre cerrado, campos, floresta seca, floresta
equatorial, floresta tropical, desse modo, não há um tipo homogêneo de vegetação.

Hidrografia/Bacias Hidrográficas

Mato Grosso é um dos lugares com maior volume de água doce no mundo.
Considerado a caixa-d'água do Brasil por conta dos seus inúmeros rios, aquíferos e
nascentes. O planalto dos Parecis, que ocupa toda porção centro-norte do território, é
o principal divisor de águas do estado. Ele reparte as águas das três bacias
hidrográficas mais importantes do Brasil: Bacia Amazônica, Bacia Platina e Bacia do
Tocantins.
Os rios de Mato Grosso estão divididos nessas três grandes bacias
hidrográficas que integram o sistema nacional, no entanto, devido à enorme riqueza
hídrica do estado, muito rios possuem características específicas e ligações tão
estreitas com os locais que atravessam que representam, por si só, uma unidade
geográfica, recebendo o nome de sub-bacias.
As principais sub-bacias do estado são: Sub-bacia do Guaporé, Sub-bacia do
Aripuanã, Sub-bacia do Juruena-Arinos, Sub-bacia do Teles Pires e Sub-Bacia do
Xingu. Os rios pertencentes a Bacia Amazônica drenam 2/3 do território mato-
grossense.

Fonte:
Governo de Mato Grosso.
Disponível em:
http://www.mt.gov.br/geografia.

5. ASPECTOS POLÍTICO-ADMINISTRATIVOS

O estado do Mato Grosso, assim como em uma república, é governado por


três poderes, o executivo, representado pelo governador, o legislativo, representado
pela Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, e o judiciário, representado
pelo Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso e outros tribunais e juízes. Além
dos três poderes, o estado também permite a participação popular nas decisões do
governo através de referendos e plebiscitos. A atual constituição do estado foi
promulgada em 1989, acrescida das alterações resultantes de posteriores Emendas
Constitucionais.
O poder executivo mato-grossense está centralizado no governador do
estado, que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto pela população para
mandatos de até quatro anos de duração, podendo ser reeleito para mais um
mandato. Sua sede é o Palácio Paiaguás, que desde 1975 é sede do poder executivo
e residência oficial do governador.
Nas eleições estaduais em Mato Grosso em 2014, Pedro Taques candidatou-
se pelo PDT a governador e foi eleito em 1º turno com 57,25% dos votos válidos.
O poder legislativo estadual é unicameral, constituído pela Assembleia
Legislativa do Estado de Mato Grosso, localizada no Centro Político Administrativo.
Ela é constituída por 24 deputados, que são eleitos a cada quatro anos. No Congresso
Nacional, a representação mato-grossense é de três senadores e oito deputados
federais.
O poder judiciário tem a função de julgar, conforme leis criadas pelo legislativo
e regras constitucionais brasileiras, sendo composto por desembargadores, juízes e
ministros. Atualmente, a maior corte do Poder Judiciário mato-grossense é o Tribunal
de Justiça de Mato Grosso

6. ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DE MATO GROSSO

As bases da economia do estado mato-grossense


O estado de Mato Grosso é conhecido como o celeiro do país, campeão na
produção de soja, milho, algodão e de rebanho bovino, e agora quer alcançar novos
títulos do lado de fora da porteira das fazendas. Com crescimento “chinês” de seu
Produto Interno Bruto, o estado iniciou um planejamento para atacar diversas frentes
com potencialidades até então adormecidas. A estratégia vai permitir que sua
produção seja diversificada para agregar valor a tudo aquilo que é produzido em terras
mato-grossenses e que acaba abastecendo o Brasil e o mundo.
O governado do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento
Econômico (Sedec), está planejando um conjunto de ações para atrair investidores
para Mato Grosso. Cinco eixos prioritários para esta transformação foram definidos
pela secretaria. A partir de agora serão realizados estudos para reformular as políticas
tributária, de atração de investimentos, logística e mão de obra.
Os cinco setores com grande potencial de crescimento na região e que terão
atenção especial do estado são agroindústria, turismo, piscicultura, economia criativa
e pólo joalheiro. Para isso, o estado pretende reformular o Programa de
Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso (Prodeic) e o sistema
tributário estadual.

Agronegócio

Em pouco mais de uma década, o PIB estadual passou de R$ 12,3 bilhões


(1999) para R$ 80,8 bilhões (2012), representando um crescimento de 554%. Neste
mesmo período, o PIB brasileiro aumentou 312%, segundo dados do IBGE. Grande
parte deste desempenho positivo veio do campo. Atualmente, o estado Mato Grosso
lidera a produção de soja no país, com estimativa de 28,14 milhões de toneladas para
a safra 2014/2015.
Também está à frente na produção de algodão em pluma – 856.184 toneladas
para 2014/2015 – e rebanho bovino, com 28,41 milhões de cabeças. De acordo com
o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), o agronegócio
representa 50,5% do PIB do estado. Com o agronegócio consolidado, Mato Grosso é
terreno fértil para as indústrias que atuam antes e depois da porteira. Até 2013,
segundo a Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt), o estado
tinha 11.398 unidades industriais em operação, com 166 mil empregos gerados.
Ainda assim, é preciso agregar mais valor ao produto que sai de Mato Grosso.
Da porteira para dentro há potencial para as empresas que abastecem os produtores
com adubo, defensivo e maquinário, entre outros produtos. Da porteira para fora, as
empresas de beneficiamento, como a têxtil e de etanol.

Plantação de soja
A Produção de grãos em Mato Grosso está associada à atividade pecuária. O
mapeamento mostra que a atividade pecuária predomina em pelo menos 40% de
Mato Grosso, com animais de grande porte e rebanho de corte. A atividade predomina
no sul do estado, no nordeste, na região do Rio Araguaia e no norte, entre Alta Floresta
e Nova Bandeirantes.
A área para a produção de grãos e fibras apresenta maior concentração na
região centro-norte do estado, especialmente nos municípios de Sinop, Sorriso e
Lucas do Rio Verde, e no centro-sul, sobretudo nos municípios de Campo Verde e
Primavera do Leste.
A atividade associa-se à pecuária de animais de grande porte, dispersa por
todas as regiões do estado. O Mapa da Cobertura e Uso da Terra de Mato Grosso é
resultado da interpretação de imagens de satélite que são comparadas à análise de
informações obtidas em trabalhos de campo, análises de tipologia agrícola e de
documentação acessória disponível, como estatísticas e textos.
O IBGE também publica o manual Geoestatísticas de Recursos Naturais da
Amazônia Legal, que apresenta avaliações qualitativas e quantitativas de dados sobre
a organização e a distribuição dos recursos naturais e da cobertura da terra
disponíveis para a Amazônia Legal, com base em estatísticas do Banco de Dados e
Informações Ambientais, também do instituto, obtidos por aplicativos computacionais
de análise espacial.
O mapa é disponibilizado nos formatos shape – arquivo que contém dados
geoespaciais em forma de vetor – e PDF, que auxilia no processo de gestão
ambiental, além de servir de apoio para a avaliação de impactos ambientais e
elaboração de zoneamentos ecológico e econômico e de processos de
transformação¹.

Fonte:
Governo de Mato Grosso.
Disponível em: http://www.mt.gov.br/geografia.
1
Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2015-06/ibge-disponibiliza-mapa-da-cobertura-e-uso-da-terra-de-mato-grosso.

Pesquisa e tecnologia

O que poucos sabem é que Mato Grosso, além de grãos, é o maior produtor de
pescado de água doce do país, responsável por 20% da produção do Brasil, com
75,629 mil toneladas (IBGE 2013). E esse mercado tem muito a crescer. O potencial
está na abundância de rios e lagos em território mato-grossense.
Atualmente, 72% do pescado produzido no estado são destinados ao consumo
interno, de acordo com dados de 2014 do Imea (Instituto Mato-grossense de
Economia Agropecuária). O segundo maior consumidor do peixe produzido no estado
é o Pará (9,71%), seguido do Tocantins (2,35%). O plano do Governo do Estado é
estimular o aumento da produção e atrair empresas de beneficiamento do peixe para
exportá-lo para outros estados.
A Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural
(Empaer) é uma das que investe no setor, tanto em pesquisa quanto na produção. A
instituição mantém no município de Nossa Senhora do Livramento uma estação de
piscicultura onde são produzidos e comercializados alevinos de espécies como pacu,
tambacu e tambatinga. A meta da instituição é fechar o primeiro quadrimestre de
2015 com uma produção de 800 mil alevinos. Para isso a Empaer conta com
39 tanques de reprodução com capacidade para produzir um milhão de alevinos –
sendo 12 tanques de pesquisa e 27 para recria. A instituição também oferece cursos
para produtores rurais e técnicos agrícolas sobre noções básicas de piscicultura.
A borracha natural é outro foco da política de incentivos desenvolvida pelo
Governo de Mato Grosso, que quer agregar valor à borracha produzida no estado,
com beneficiamento e industrialização. O estado é o segundo maior produtor de
borracha natural do país, com 40 mil hectares de área plantada e 25 mil famílias
envolvidas na atividade, conforme dados da Empaer.
Pioneira no estado em produção e pesquisa da seringueira, a empresa possui
um campo experimental no município de Rosário Oeste (128 km ao Norte de Cuiabá)
com jardim clonal e viveiro para atender a agricultura familiar. Os produtores contam
com o apoio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf
Eco), que disponibiliza uma linha de crédito com prazo de 20 anos para pagamento e
oito de carência. Paralelamente, a Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secitec)
investe em inovação e qualificação de mão de obra com a criação do primeiro parque
tecnológico de Mato Grosso, além de negociação com centros europeus para
cooperações na área de tecnologia.
Energia também não falta para mover esta máquina. Superavitário no setor
energético, Mato Grosso alcançou em 2014 a produção de 14 milhões/MWh. Desse
montante, consumiu 9 milhões/MWh e exportou 5 milhões/MWh via o Sistema
Interligado Nacional (SIN).

Do ouro às pedras coradas

Se durante a colonização Mato Grosso foi reconhecido pelo ouro, hoje é um


mercado potencial para a fabricação de joias e semi joias a partir de pedras preciosas.
Além de ser o maior produtor de diamante do Brasil – com 87,2% do total da produção
brasileira, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) –, o
estado também se destaca pelas pedras coradas, como a ametista, o quartzo rosa, a
ágata e a turmalina.
A atividade mineral no Estado é histórica. Não há como falar da povoação de
Mato Grosso sem falar da extração do ouro e diamante. Era 1719, quando o ouro foi
descoberto por bandeirantes às margens do Rio Coxipó. Já o diamante começou a
ser explorado no fim do século XVIII nas regiões de Coité, Poxoréu e Diamantino.
Atualmente, conforme dados da Companhia Mato-grossense de Mineração
(Metamat), as pedras coradas se concentram nas regiões noroeste, centro sul e leste
de Mato Grosso. A granada, o zircão e o diopsídio em geral são encontrados
associados ao diamante, nas regiões de Paranatinga e de Juína.
Nas proximidades de Rondolândia existe um depósito de quartzo rosa e as
turmalinas são encontradas próximas a Cotriguaçu, enquanto as ametistas estão
concentradas próximas aos municípios de Aripuanã (noroeste) e Pontes e Lacerda
(oeste).

Economia criativa

A política de incentivo do Governo do Estado para o setor inclui o estímulo a


pequenos empresários do ramo joalheiro, dentro do programa de Economia Criativa
que vem sendo desenvolvido pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Econômico (Sedec), que abrange setores como moda, design, artes e gastronomia.
Há 30 anos no mercado de joias em Cuiabá, Carmem D’Lamonica vê Mato
Grosso como um futuro polo joalheiro pela abundância de pedras coradas existentes
no solo mato-grossense e até então pouco exploradas. Para estruturar o mercado,
avalia, é necessário criar uma política voltada para o ramo, desde a extração até o
produto final. “Temos condições de montar uma cadeia produtiva e nos tornar
referência no setor”, garante a designer, lembrando que matéria-prima atrai não
apenas joalheiros, mas também indústrias de semi joias e bijuterias.

Paraíso do ecoturismo
Cachoeiras, safaris, trilhas ecológicas, observação de pássaros, mergulho em
aquários naturais. Seja no Pantanal, no Cerrado ou no Araguaia, Mato Grosso é o
destino certo para quem gosta de ecoturismo e para quem planeja investir no
segmento que mais cresce no setor de turismo.
Dados da Organização Mundial de Turismo (OMT) apontam que o ecoturismo
cresce em média 20% ao ano, enquanto o turismo convencional apresenta uma taxa
de aumento anual de 7,5%, conforme divulgado pelo Ministério do Turismo em 2014.
A organização estima ainda que pelo menos 10% dos turistas em todo o mundo sejam
adeptos do turismo ecológico.
Como belezas naturais não faltam em Mato Grosso, os governos Federal e
Estadual têm investido em infraestrutura de acesso a paraísos naturais mato-
grossenses, como o Pantanal. Exemplo disso é o projeto de substituição de pontes de
madeira ao longo da rodovia Transpantaneira – que liga a cidade de Poconé até a
localidade de Porto Jofre, cortando a planície alagável. Ao todo serão construídas 31
pontes de concreto.
Chapada dos Guimarães é outro ponto prioritário para a Sedec quando o
assunto é infraestrutura. No município, que atrai visitantes adeptos do turismo de
contemplação e de esporte de aventura, será executada a conclusão do Complexo
Turístico da Salgadeira e a pavimentação da MT-060 e MT-020. O Governo do Estado
também retomou o diálogo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) para o andamento das obras do Portão do Inferno e da
entrada da Cachoeira Véu de Noiva, os dois principais pontos de contemplação do
Parque Nacional de Chapada.

Fonte:
Governo de Mato Grosso. Disponível em:
http://www.mt.gov.br/economia.

7. FORMAÇÃO ÉTNICA

População²

Mato Grosso é um estado de povos diversos, uma mistura de índios, negros,


espanhóis e portugueses que se miscigenaram nos primeiros anos do período
colonial. Foi essa gente miscigenada que recebeu migrantes vindo de outras partes
do país. Hoje, 41% dos moradores do estado nasceram em outras partes do país ou
no exterior.

Geografia e dinâmica da população em Mato Grosso


O Mato Grosso é um estado brasileiro localizado na região Centro-Oeste. Sua
extensão territorial é de 903.329,700 quilômetros quadrados, sendo o maior estado
da região e o terceiro maior do Brasil.
Conforme contagem populacional realizada em 2010 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), o Mato Grosso possuía na época 3.035.122
habitantes, o que representava 1,59% da população brasileira. Atualmente, a
população é de cerca de 3,306 milhões de pessoas.É o segundo Estado mais
populoso da região Centro-Oeste, apenas o estado de Goiás possui população
superior (6.003.788 habitantes).
No entanto, o território mato-grossense possui grandes vazios demográficos,
fato que interfere diretamente na densidade demográfica estadual, que, atualmente, é
de 3,3 habitantes por quilômetro quadrado, portanto, o estado é pouco povoado. A
taxa de crescimento demográfico é de 1,9% ao ano.
A maioria dos mato-grossenses reside em áreas urbanas (82%), a população
rural compreende 18%. O estado possui 141 municípios, a maioria é habitada por
menos de 20 mil pessoas. Cuiabá, capital do Estado, é a cidade mais populosa –
551.098 habitantes. Outros municípios com grande concentração populacional são:
Várzea Grande (252.596), Rondonópolis (195.476), Sinop (113.099), Cáceres
(87.942), Tangará da Serra (83.431). Nos últimos anos o Mato Grosso tem recebido
consideráveis fluxos migratórios, consequência da expansão da fronteira agrícola. A
população do estado é formada por pessoas de diferentes composições étnicas.
De acordo com dados do IBGE, a distribuição é a seguinte:

Pardos – 55,2%.
Brancos – 36,7%.
Negros – 7%.
Indígenas – 1,1%.

Portanto, os habitantes que se declaram como pardos é maioria. A população


indígena de Mato Grosso se concentra no Parque Nacional do Xingu, ali vivem tribos
indígenas que preservam a tradição do Kuarup, ritual realizado em homenagem aos
mortos. O estado apresenta grande pluralidade cultural, entre os elementos da cultura
mato-grossense estão: o Cururu, o Siriri, o Rasqueado Cuiabano, o Boi, a Dança de
São Gonçalo, a Dança dos Mascarados e o Congo.
O Mato Grosso ocupa a 11° posição no ranking nacional de Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), com média de 0,796. A taxa estadual de mortalidade
infantil é de 19,2 a cada mil crianças nascidas vivas, essa média é a maior do Centro-
Oeste.
A taxa de assassinatos por 100 mil habitantes é de 25,2, sendo uma das
maiores médias do país.
A maioria dos habitantes é alfabetizada – 89,8%, e 48,7% possuem oito anos
ou mais de estudo.
Referências Bibliográficas:
FRANCISCO, Wagner de Cerqueria e. "Aspectos da população de Mato Grosso"; Brasil Escola.
Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/brasil/aspectos-populacao-mato-grosso.htm>.
² Governo de Mato Grosso. Disponível em: http://www.mt.gov.br/geografia.
³ Governo de Mato Grosso. Disponível em: http://www.mt.gov.br/geografia.
Composição étnica

Religião:
Semelhante ao que ocorre em todo território nacional o Mato Grosso é
predominantemente povoado por pessoas cristãs, sendo na sua maioria católicos e
uma fração menor dividida em inúmeras denominações evangélicas, contando ainda
com a presença de religiões afrodescendentes.

Cultura:

Dança e música

A dança e a música de Cuiabá têm influências de origem africana, portuguesa,


espanhola, índigenas e chiquitana. É um conjunto muito rico de combinações que
resultou no rasqueado, siriri, cururu e outros ritmos. Os instrumentos principais que
dão ritmo às músicas e danças são: a viola de cocho, ganzá e mocho.

• Cururu
Música e dança típica de Mato Grosso. Do modo como é apresentado hoje é
uma das mais importantes expressões culturais do estado. Teve origem à época dos
jesuítas, quando era executado dentro das igrejas. Mais tarde, após a vinda de outras
ordens religiosas, caiu na marginalidade e ruralizou-se. É executada por dois ou mais
cururueiros com viola de cocho, ganzás (kere-kechê), trovos e carreiras.

• Congo
Esta dança é um ato de devoção a São Benedito. No reinado do Congo os
personagens representados são: o Rei, o Secretário de Guerra e o Príncipe. Já no
reino adversário, Bamba, fica o Embaixador do Rei e doze pares de soldados. Os
músicos ficam no reino de Bamba e utilizam: ganzá, viola caipiria, cavaquinho,
chocalho e bumbo.

• Chorado
Dança surgida na primeira capital de Mato Grosso, Vila Bela de Santíssima
Trindade, no período colonial. A dança leva esse nome, pois representa o choro dos
negros escravos para seus senhores para que os perdoassem dos castigos imposto
aos transgressores. O ritmo da música é afro, com marcações em palmas, mesa,
banco ou tambor.

• Siriri
Dança com elementos africanos, portugueses e espanhóis. O nome indígena é
referência aos cupins com asa, que voavam num ritmo parecido com a dança nas
luminárias. A música é uma variação do cururu, só que com ritmo bem mais rápido.
Os instrumentos utilizados são: viola de cocho, o ganzá, o adufe e o mocho. Os versos
são cantigas populares, do cotidiano da região.

• Dança dos Mascarados


Dança executada durante a Cavalhada em Poconé. E uma apresentação
composta apenas por homens - adultos e crianças. Tem esse nome por executarem
a dança com mascaras de arame e massa. O ritmo é instrumental com o uso de
saxofone, tuba, pistões pratos e tambores. O município de Poconé é o único do Brasil
a realizar esse espetáculo.
• Rasqueado
Tem origem no siriri e na polca paraguaia. O nome do ritmo é referência ao
rasqueado que as unhas fazem no instrumento de corda, uma forma tradicional de
tocar instrumentos. Na sua essência utiliza os mesmos instrumentos que o siriri: viola
de cocho, mocho, adufe e ganzá. Mas evoluiu para o uso de violões, percussão,
sanfona e rabeca.

Fonte: LOUREIRO, Antônio. Cultura mato-grossense. Cuiabá, 2006

Linguajar

Mato Grosso é uma terra de vários sotaques. Com influência de Gaúchos,


mineiros, paulistas, portugueses, negros, índios e espanhóis, o estado não tem uma
fala própria. Em lugares como Sorriso,
Lucas do Rio Verde e Sinop o acento do sul fica mais evidente. É claro que o
língua é porosa e a influência se faz presente, até mesmo nas comunidades mais
fechadas. No entanto, em Mato Grosso, temos o falar cuiabano, talvez o sotaque mais
marcados da língua portuguesa.
Com expressões próprias como “vôte” e “sem-graceira” esse falar se mistura
com uma entonação diferente, como a desnasalização no final de algumas palavras.
Infelizmente ele é um dos menos retratados na cultura nacional, nunca apareceu em
uma novela ou filme de sucesso nacional e não possui uma identificação imediata.
Devido ao seu enorme isolamento por conta da distância e acontecimentos
históricos, o linguajar guardou resquícios do português arcaico, misturou-se com o
falar dos chiquitanos da bolívia e dos índios das diversas tribos do estado.
Antônio de Arruda descreveu algumas expressões idiomáticas que são
verificadas num glossário do
Linguajar Cuiabano:
• É mato - abundante.
• Embromador - tapeador.
• Fuxico - mexerico.
• Fuzuê - confusão, bagunça.
• Gandaia - cair na farra, adotar atitude suspeita.
• Ladino - esperto, inteligente.
• Molóide - fraco.
• Muxirum - mutirão.
• Pau-rodado - pessoa de fora que passa a residir na cidade.
• Perrengue - molóide, fraco.
• Pinchar - jogar fora.
• Quebra torto - desjejum reforçado.
• Ressabiado - desconfiado.
• Sapear - assistir do lado de fora.
• Taludo - crescido desenvolvido fisicamente.
• Trens - objetos, coisas.
• Vote! - Deus me livre
Fonte
ARRUDA, Antônio. O Linguajar Cuiabano E Outros Escritos. Cuiabá, 1998.

Imaginário Popular (Mitos e Lendas)

• Currupira
Este personagem faz parte do folclore nacional, mas tem bastante espaço no
meio rural de Mato Grosso. Um garoto com os pés virados, que vaga pela mata
aprontando estripulias. Em Mato grosso diz -se que ele protege os animais selvagens
da caça e chama garotos que caçam passarinhos para dentro da mata – esta parte é
usada pelos adultos para manter as crianças longe da mata fechada.

• O Minhocão
Este ser mítico é o Monstro do Lago Ness de Cuiabá. Relatos dos mais antigos
atestam que um ser em forma de uma cobra gigante, com cerca de 20 metros de
cumprimento e dois de diâmetro, morava nas profundezas do rio e atacava
pescadores e banhistas. A lenda percorre toda extensão do rio e foi passada de boca
a boca pelos mais velhos.

• Boitatá
O nome quer dizer “cobra de fogo” (boia = cobra / atatá = fogo). É uma cobra
transparente que pega fogo como se queimasse por dentro. É um fogo azulado. Sua
aparição é maior em locais como o Pantanal, onde o fenômeno de fogo fátuo é mais
comum. Esse fenômeno se dá por conta da combustão espontânea de gases
emanados de cadáveres e pântanos.

• Cabeça de Pacu
Se você estiver de passagem por Mato Grosso é bom ficar atento ao Pacu. De
acordo com a lenda local, quem come cabeça de Pacu nunca mais saí de Mato
Grosso. Se o viajante for solteiro não tardará a casar com uma moça da terra, caso
for casado, vai fincar raízes e permanecer no estado.

Fonte: LOUREIRO, Antônio. Cultura mato-grossense. Cuiabá, 2006

Gastronomia

Apesar de ser conhecido como o celeiro do mundo, Mato Grosso tem um


enorme potencial também para servir comidas de excelente qualidade. A culinária do
estado tem influências da África, Portugal, Síria, Espanha e dos antigos indígenas.
Com a migração dos últimos anos a culinária também agregou alguns pratos típicos
de outras regiões brasileiras.
Pratos considerados bem mato-grossenses são: Maria Isabel (carne seca com
arroz ) o Pacu assado com farofa de couve, a carne seca com banana-da-terra verde,
farofa de banana-da-terra madura além do tradicional churrasco pantaneiro que se
desenvolveu pelas longas comitivas de gado no pantanal.
O peixe é um alimento farto. Ele é comido frito, assado ou ensopado, recheado
com farinha de mandioca ou servido com pedaços de mandioca. Os peixes de mais
prestígio nas mesas locais são: o pacu, a piraputanga, o bagre, o dourado, o pacupeva
e o pintado. Os peixes dos rios do estado, carnudos e saborosos, são uma atração
turística para quem visita o estado.
Outro elemento bastante presente é o guaraná de ralar, usado principalmente
pelos mais velhos que o tomam sempre pela manhã antes de começar o dia.
Podemos destacar a variedade de doces e licores apreciados pelos mato-
grossenses. Temos como os mais famosos o Furrundu (doce feito de mamão e
rapadura de cana), o doce de mangaba, o doce de goiaba, o doce de caju em calda,
o doce de figo, o doce de abóbora, e outros. Como aperitivo temos o licor de pequi,
licor de caju, licor de mangaba, e outros.

Fonte: LOUREIRO, Antônio. Cultura mato-grossense. Cuiabá, 2006


Patrimônio Histórico

O Patrimônio Histórico de Mato Grosso vem sendo revitalizado através de


várias ações em âmbito estadual. Imóveis que contam a história coletiva dos povos
mato-grossenses, como igrejas e museus, são alvos de projetos de recuperação em
várias cidades como Vila Bela de Santíssima Trindade, Diamantino, Rosário Oeste,
Cáceres e Poxoréu.

Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho

A igreja dedicada à Nossa Senhora foi uma das primeiras a serem levantadas
em Cuiabá, ainda no século XVIII. A construção atual, entretanto, data de 1918,
iniciada durante a presidência de Dom Francisco de Aquino Correia, que também era
arcebispo de Cuiabá na época. Tombada estadualmente em 1977, a Igreja foi
reinaugurada em 2004 após passar por um amplo processo de recuperação feito em
parceria pelos governos estadual e federal.

Palácio da Instrução

Belíssima construção em pedra canga, localizada na região central de Cuiabá,


ao lado da Catedral Metropolitana. Inaugurado em 1914, é hoje a sede da Secretaria
Estadual de Cultura, do Museu de História Natural e Antropologia e da Biblioteca
Pública.
O Palácio da Instrução foi reinaugurado no dia 06 de dezembro de 2004. O
projeto foi considerado a maior obra de recuperação feita até hoje no Estado.

Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito

A igreja é um dos marcos de fundação da cidade de Cuiabá, tendo sido


construída em arquitetura de terra em torno de 1730, próximo às águas do córrego da
Prainha, em cujas águas Miguel Sutil descobriu as minas de ouro que impulsionariam
a colonização da região.

Igreja Senhor dos Passos


Instalada há 214 anos num cantinho discreto do Centro Histórico – no
movimentado cruzamento das ruas 7 de setembro e Voluntários da Pátria -, a Igreja
do Nosso Senhor dos Passos guarda muitas histórias e lendas, que se confundem, e
revelam aspectos do folclore, das crendices e do espírito religioso da Cuiabá antiga.

Museu Histórico de Mato Grosso

O prédio do antigo Thesouro do Estado foi recuperado e entregue em novembro


de 2006. Atualmente, abriga o Museu Histórico de Mato Grosso. O acervo do Museu
contém documentos, maquetes e registros que vão desde os tempos pré-históricos
de ocupação do território, passando pelos períodos colonial e imperial do Estado até
chegar à Política Contemporânea.

Antiga Residência Oficial dos Governadores de Mato Grosso

A Residência Oficial dos Governadores de Mato Grosso foi construída entre os


anos de 1939 e 1941, no Governo do Interventor Júlio Müller. Getúlio Vargas, que
ocupava o Palácio do Catete no Rio de Janeiro à época, foi o primeiro presidente
brasileiro a visitar o Estado e, também, o primeiro hóspede ilustre da casa.

Durante 45 anos a residência abrigou 14 dirigentes do Estado de Mato Grosso


e seus familiares. Foi palco de grandes decisões políticas e governamentais, sendo
desativada como residência oficial em
1986. A última reforma/restauro, em 2000, devolveu a residência suas características
do projeto original.

Fonte: Secretaria de Cultura de Mato Grosso

Artesanato

O artesanato mato-grossense reflete o modo de vida do artesão. Em cada obra,


vemos representado o dia-a-dia e os costumes da sociedade. Verdadeiras obras de
arte enriquecem a cultura mato-grossense e transformam o cotidiano num encanto de
belezas. São objetos de barro, madeira, fibra vegetal, linhas de algodão e sementes.
Dentro do artesanato mato-grossense a cerâmica é a que mais se destaca pelas suas
formas e perfeições.
Feita de barro cozido em forno próprio, ela é muito utilizada para a fabricação
de utensílios domésticos e objetos de ornamentação. Na divulgação da arte, cultura e
tradição mato-grossense, a tecelagem também detém grande representatividade,
principalmente pela beleza das cores refletidas nas redes tingidas e bordadas, uma a
uma, pelas mãos das redeiras. A mistura de cores forma lindas imagens, que vão
desde araras e onças até belas flores nativas.

Indígena

A cultura mato-grossense sofre forte influência dos indígenas, através de seus


costumes e tradições. O artesanato é forte e expressivo, representando o modo de
vida de cada tribo. Eles preservam a arte de confeccionar cocar, colares, brincos e
pulseiras, utilizando-se das matérias-primas oriundas da natureza, como sementes,
penas e pigmentos.

Fonte: Mato Grosso e seus Municípios

FOLCLORE

Cavalhada

A Cavalhada é uma das mais ricas manifestações da cultura popular da cidade


de Poconé, que rende homenagem a São Benedito. Uma festa organizada por famílias
tradicionais da região, carrega o Pantanal para uma longínqua Idade Média.
Trata-se de uma disputa entre mouros e cristãos. Nesta luta são utilizados
dezenas de cavalos e cavaleiros que têm por objetivo salvar uma princesa presa em
uma torre permanentemente vigiada. Em dia de Cavalhada, a cidade de Poconé
amanhece azul e vermelha, as cores que representam os cristãos e os mouros, um
exemplo puro de cultura e paixão por suas raízes.

Festa de São Benedito

Geralmente realizada entre a última semana de junho e a primeira de julho,


movimenta milhares de fiéis, em procissão com bandeiras e mastros tão criativos
quanto singelos. Ao final da procissão é levantado o mastro em homenagem ao santo.
Dias antes do festejo há um ritual no qual os festeiros percorrem as ruas da cidade
levando a bandeira do santo de casa em casa e recebendo donativos.
Durante os dias de festa há fartura de comida e diversas iguarias, com distribuição de
alimentos.
Dança dos Mascarados
Típica do município de Poconé, é uma mistura de contradança europeia,
danças indígenas e ritmos negros. A maior peculiaridade desta dança é o fato de
participarem apenas homens, aos pares, metade dos quais vestidos de mulher, com
máscaras e roupas coloridas onde predominam o vermelho e o amarelo.
A Dança dos Mascarados não encontra semelhanças com nenhuma outra
manifestação no Brasil e sua origem ainda é um mistério, porém a origem pode estar
ligada aos índios que habitavam a região.

Dança Do Chorado

Dança afro, da região de Vila Bela da Santíssima Trindade, surgiu no período


colonial, quando escravos fugitivos e transgressores eram aprisionados e castigados
pelos Senhores e seus entes solicitavam o perdão dançando o Chorado. Com o
passar do tempo a dança foi introduzida nos últimos dias da Festa de São Benedito,
pelas mulheres que trabalhavam na cozinha. Com coreografia bem diferente da
demais danças típicas, são equilibradas garrafas na cabeça das dançarinas que
cantam e dançam um tema próprio.
8. PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS E FRONTEIRA AGRÍCOLA MATO-
GROSSENSE

O espaço no centro da compreensão da realidade4

O ritmo de transformação da realidade brasileira propõe à análise novos


desafios, exigindo o estudo da produção do espaço em sua complexidade. A
urbanização ocorrida nos últimos 30 anos no Mato Grosso pode nos revelar ao mesmo
tempo a reprodução das contradições da história do Brasil, não enfrentadas na
expansão econômica para o oeste e norte, assim como pode revelar os novos
conteúdos da urbanização contemporânea.
Esse processo apresenta uma especificidade, que é o imbricamento da questão
agrária (permanência de relações sociais atrasadas – entre elas a concentração
fundiária - que se reproduzem no presente), com o processo de industrialização da
agricultura (processo de modernização econômica que reproduz as relações arcaicas
que vem da história) e com a urbanização (produção do espaço que reproduz as
contradições do passado, mas que traz novas problemáticas para a análise). Assim,
a reflexão sobre a urbanização no Mato Grosso implica a consideração dos processos
históricos de apropriação-dominação da terra, assim como as relações sociais que
produzem o espaço contemporâneo.
A configuração do espaço, que se realiza como a materialização das relações
sociais, nos indica a aceleração da velocidade das mudanças, o que parece ser uma
característica da contemporaneidade e aponta para novas complexidades no
entendimento do mundo moderno. Estamos diante, portanto, do desafio de interpretar
o sentido desse movimento da realidade.
O Mato Grosso hoje representa uma das fronteiras da produção do espaço
brasileiro, e podemos dizer, por isso mesmo, que se revela como uma das fronteiras
do conhecimento desse processo de produção e reprodução do espaço brasileiro.
Como fragmento de estudo, o Mato Grosso se apresenta, hipoteticamente, como uma
síntese do momento atual da urbanização brasileira na sua forma mais “moderna”,
carregando e reproduzindo as contradições que vem da história da formação territorial
do Brasil.
4
PADUA, Rafael Faleiros de. QUESTÃO AGRÁRIA, MODERNIZAÇÃO DA AGROPECUÁRIA
E URBANIZAÇÃO EM MATO GROSSO. Revista Mato-Grossense de Geografia - Cuiabá - v.
17, n. 1 - p. 33 - 63 - jan/jun 2014. Disponível em:
http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/geografia/article/download/770/2845.

Trata-se de um processo produzido no bojo da reprodução das contradições


históricas da formação do espaço brasileiro (MARTINS, 1999), mas cujo produto é
também um espaço característico do momento atual de reprodução do capitalismo. O
espaço produzido (o espaço da produção do agronegócio), que é produto da
reprodução de contradições históricas, é também produzido sem a espessura da
história, trazendo a espacialidade para o primeiro plano da análise, dado que são
materialidades de projetos estatais e econômicos, cuja paisagem reflete o
desenraizamento e a efemeridade (estradas, cidades parecidas, constituídas pelo
deslocamento de grande quantidade de pessoas de outras regiões do país).
Esse processo tem a mediação central do Estado para sua realização, sob o
discurso da integração das regiões centro-oeste e norte ao restante do Brasil, num
esforço continuado que tem como um de seus pontos altos (e representativos) na
inauguração de Brasília em 1960. É o Estado que produz as possibilidades de
deslocamentos massivos de pessoas e de novos empreendimentos privados (no caso
do norte de Mato Grosso representados pelos projetos privados de colonização,
implementados por companhias de colonização privadas) e públicos para as regiões
a serem “integradas” ao restante do país. É uma realidade que carrega as abstrações
da modernidade, uma vez que é concebida na prancheta e nos escritórios do poder
político e econômico.
O planejamento estatal da ditadura militar na década de 1970, sobretudo
através do Plano de Integração Nacional e do II PND (Plano Nacional de
Desenvolvimento) propiciou as condições de avanço dessa fronteira econômica em
direção ao cerrado e à Amazônia no norte de Mato Grosso. Uma das infraestruturas
fundamentais para isso foi a construção de inúmeras rodovias, entre elas a BR-163
(Cuiabá-Santarém), que se constituiu em um eixo de expansão da agricultura
modernizada e de produção de novas cidades (TORRES, 2005).
A noção de fronteira (MARTINS, 2009; MONBEIG, 1998) é fundamental para a
compreensão desse processo, dado que um dos fundamentos dessa integração é a
integração de novos espaços ao processo do capital, é a expansão (acumulação)
capitalista na sua dimensão espacial em larga escala que se realiza. A fronteira é o
mundo do contato violento entre visões de mundo distantes, que se realiza como
negação do outro e mesmo o extermínio de povos que ocupavam (e produziam)
anteriormente o espaço (MARTINS, 2009).
Para José de Souza Martins, o conteúdo da fronteira está no conflito, visto a
partir de quem perde, de quem tem destituída a sua terra de vida e de trabalho: os
índios e os posseiros (MARTINS, 2009). O “vazio” territorial se revela assim como
justificativa ideológica estatal para “integrar” parcelas do território nacional à economia
nacional. É preciso pensar essa noção de “vazio territorial”, o que ela significa e
significou na formação territorial do Brasil, na retórica da ocupação dos “vazios”, ou
seja, trata-se de uma criação discursiva dos vazios, sob uma ótica “geopolítica”, assim
como de estratégias de ocupação desses vazios criados discursivamente.
Pensando a partir do presente, observamos que nesse mundo da fronteira
produziu-se um espaço, fruto da agricultura modernizada, cuja prosperidade
(ideologia do progresso) visa apagar a história e as contradições que a história
carrega. Em nossa perspectiva, a história da produção desse espaço sem história (a
urbanização que é produto da expansão da agricultura modernizada) revela as
contradições presentes nessa produção espacial, que é a particularidade que dá
sentido e conteúdo a esses lugares.
Assim o moderno (que se apresenta como progresso) presente na produção
agrícola, indicado na paisagem rural ou urbana, é produzido pelo atraso, pelas
relações arcaicas que dominam a reprodução da história brasileira, que se revela
como uma história lenta (MARTINS, 1999).
É evidente a dominação política e econômica (e cultural) da grande propriedade
da terra, seja no nível federal, estadual ou municipal. Em Mato Grosso percebe-se
uma dominação política (os grandes proprietários são majoritariamente os
representantes políticos), econômica (também dominam as atividades econômicas
principais) e cultural (construção da opinião pública) da grande propriedade da terra,
o que é necessário decifrar no relativo consenso social de que o agronegócio
representa necessariamente a prosperidade e o progresso. Nesse contexto de
expansão para o oeste e para o norte, respaldado pelas iniciativas estatais, o chamado
agronegócio vem se expandindo rapidamente nos últimos 30 anos no território mato-
grossense.
É uma atividade que demanda espaço, seja para a produção rural em si, seja
para as atividades que dão suporte e processam a produção, que se realizam nas
cidades. Procuraremos desenvolver no texto caminhos possíveis de interpretação
desse crescimento da produção econômica, articulada ao âmbito do político em Mato
Grosso, procurando apontar conteúdos desse processo no nível do social.
A expansão da agricultura modernizada induzirá o crescimento quantitativo de
inúmeros elementos em Mato Grosso nos últimos 30 anos, entre eles podemos
ressaltar o crescimento demográfico acelerado, assim como o crescimento da
produção agropecuária, seja em termos absolutos de área e produção como em
rendimento médio dessa produção. Esse processo, encarado de modo mais amplo,
produz uma transformação qualitativa, no âmbito das relações sociais, revelando a
urbanização como produto e condição de realização desses inúmeros crescimentos.
No entanto, a urbanização não é somente um processo quantitativo de aumento da
população urbana em relação à população rural, mas um processo de produção de
novas condições e necessidades sociais, que vai além das questões quantitativas que
os dados secundários podem mostrar. A urbanização é do âmbito do qualitativo, na
transformação do modo de apropriação do mundo em que vivemos.
Do ponto de vista quantitativo, o crescimento das cidades é expressivo. Mesmo
da capital Cuiabá, que cresceu relativamente menos que as cidades das regiões de
expansão do agronegócio, se observarmos que em 1970 a cidade tinha
aproximadamente 100 mil habitantes, constatamos que ela também acompanha esse
crescimento do estado. No entanto, alguns dados da produção econômica nos
indicam que o dinamismo do crescimento econômico de Mato Grosso reside na
produção agropecuária, e pela criação e crescimento acelerado de novas cidades em
áreas do cerrado e da Amazônia.
É interessante observarmos que o crescimento das cidades acompanha o
crescimento da produção (em quantidade e em área produzida) e da produtividade.
Isso indica que uma série de novos produtos e serviços são necessários para a
realização desse processo de produção (implementos, insumos, serviços de
assistência técnica, serviços financeiros, etc.), o que se realiza nas cidades, como
ressaltam GOODMAN, SORJ e WILKINSON, “a produção capitalista no caso da
agricultura localiza-se na cidade, não no campo” (GOODMAN et al., 1990, p.6). Com
isso, as cidades evidenciam na paisagem essa articulação com as atividades
agrícolas, lojas de máquinas agrícolas e de insumos, bancos, cooperativas, empresas
de armazenagem, consultorias, construtoras, imobiliárias, indústrias, empresas de
aviação agrícola, etc.
Os dados sobre a produção agrícola (do milho, algodão e soja, que são os
principais produtos agrícolas do estado) permitem vislumbrarmos a dimensão desse
crescimento quantitativo do ponto de vista da economia predominante em Mato
Grosso, a agropecuária o volume de produção tem um crescimento acelerado nos
últimos 30 anos. Esse aumento no volume da produção demanda necessariamente
espaço e técnicas de manejo.
Com isso, a produção agropecuária se mostra ao mesmo tempo como
conquistadora de espaço para a produção econômica de larga escala (avanço da
frente pioneira), assim como cada vez mais produtiva ao longo do tempo, com
pequenas variações segundo os anos no período dos últimos 30 anos. Tendo em vista
que a área total do município de Sorriso (maior produtor de soja do estado de Mato
Grosso) é 9.345,76 km², e que a área colhida em 2009 foi de 5.900 km², isso significa
que nesse ano 63% da área do município esteve ocupada por esta lavoura em
determinados períodos do ano, o que indica a dimensão da homogeneização da
produção.
Há uma intensificação do uso do solo, que se realiza num processo de
modernização da agricultura e da pecuária. Isso nos indica a industrialização da
agropecuária, transformando continuamente a temporalidade e a espacialidade do
contexto dessa produção, revelando como realidade um campo urbanizado, usuário
de intensa tecnologia, compreendendo sementes modificadas, agrotóxicos,
maquinário de última geração, cuja finalidade é a rentabilidade máxima da produção,
seja no campo, seja nas atividades propriamente industriais. Nesse contexto, se
concretiza a dominação de setores que são externos à produção agrícola (um setor
importante desse processo é o capital financeiro, que domina a produção de longe,
revelando a agropecuária como mediação de sua própria reprodução), como as
grandes empresas fornecedoras de insumos e implementos agrícolas (multinacionais
e nacionais), cujas sedes se localizam nas grandes metrópoles, onde os negócios se
realizam com mais fluidez.
Em Mato Grosso e na região Centro-Oeste, o processo de ocupação do
território e a implantação de novos sistemas de produção gerou, além dos conflitos
fundiários, problemas ambientais como a degradação dos solos, perdas de fauna e
flora, de biodiversidade, diminuição dos estoques pesqueiros por assoreamento e
poluição dos rios, com forte reflexo no Índice de Desenvolvimento Humano no Estado.
• A localização das áreas de produção agrícola no Estado do Mato Grosso,
destaca três polos principais:
1- A região de Primavera do Leste, Campo Verde e Rondonópolis, onde o
algodão e o milho têm uma posição predominante.
2- A região de Sorriso que se estende até Nova Mutum (sul) e Sinop (norte) ao
longo da BR-163 (Cuiabá-Santarém). A Soja e o milho constituem aqui o essencial
das atividades agrícolas, mas supõe-se que a área esteja aumentando em virtude do
plantio de arroz.
3- A região da Chapada dos Parecis, enfim, que corresponde aos municípios
de Tangará da Serra, Diamantino, Campo Novo do Parecis e Sapezal. Esta região, se
associada aos municípios vizinhos de Nova Olímpia e Barra do Bugres, aparece mais
diversificada com uma percentagem importante da produção nacional de cana-de-
açúcar, soja e de sorgo.

9. A ECONOMIA DO ESTADO NO CONTEXTO NACIONAL

A questão agrária e a privatização do território em Mato Grosso 5

A questão agrária se impõe na história do Brasil como elemento fundamental


da reprodução de nossa realidade social e como atualidade nesse processo de
reprodução.
A economia dessa grande unidade federativa brasileira está em constante
ascensão e, em 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) mato-grossense atingiu a marca de
42,7 bilhões de reais, correspondendo a 1,6% do PIB nacional; no âmbito regional, sua
participação foi de 18,1%.
A participação das atividades econômicas para o PIB de Mato Grosso é a
seguinte: Agropecuária:28,1%. Indústria: 16,4%.Serviços: 55,5%.

A agropecuária, apesar de corresponder a 28,1% das riquezas do estado, é a principal


atividade econômica, pois o setor de serviços, que contribui com 55,5%, está
diretamente ligado a ela. A comercialização de produtos e a instalação de hotéis e
restaurantes, entre outros segmentos do setor de serviços, são alavancadas pelo
desenvolvimento agropecuário, que também deu origem a novos municípios no estado.

Nesse sentido, a questão agrária aparece no presente como um dos


fundamentos de nosso processo de formação territorial e da produção do espaço
brasileiro. O objetivo central que apresentamos aqui se constitui na busca por
investigar a questão agrária no processo de reprodução das relações de produção
contemporâneo, revelado pelos conflitos e contradições postos mesmo no interior das
atividades compreendidas como modernas. Mais especificamente, buscaremos esses
elementos pensando a realidade da expansão da agropecuária modernizada no Mato
Grosso, propondo uma reflexão sobre os novos conteúdos da produção do espaço,
assim como sobre o redimensionamento da relação cidade-campo nesse processo.
O debate sobre a questão agrária é fundamental à reflexão sobre o moderno
no Brasil, se revelando como fundamento da história da nossa formação territorial,
produzindo e reproduzindo contradições que perpassam o processo histórico,
determinando a produção social do presente. Se por um lado a questão agrária exige
que busquemos na história os fundamentos da produção do mundo, não
permanecemos na reflexão sobre o passado, pois o objetivo é o entendimento do
presente, mesmo porque essa questão se reproduz sob novas formas no presente.
A formação territorial do Brasil se revela então como um processo de expansão
espacial do capitalismo, cuja forma de reprodução é necessariamente expropriatória,
necessita expropriar os meios de vida de grande parcela da população para se
realizar. A questão agrária se coloca aí como uma mediação fundamental dessa
expansão capitalista, cujo resultado é a expropriação de camponeses e o extermínio
de grupos indígenas (a questão indígena faz parte da questão agrária), produzindo as
particularidades do processo capitalista no Brasil.
A questão agrária, surgida da institucionalização da propriedade privada da
terra (Lei de Terras de 18503), quando o acesso à terra passava a se realizar
exclusivamente pela mediação do dinheiro, se reproduz ao longo da história, se
colocando, em diferentes momentos, como o principal entrave para a modernização
efetiva do país. Ela se revela, nesse movimento, como a característica arcaica da
permanência da concentração fundiária, e determina em grande parte nosso processo
de modernização (MARTINS, 1999), e cujo debate é fundamental mesmo para
entendermos as nossas contradições sociais, inclusive as que se realizam nas
cidades. Dessa forma, é preciso que encaminhemos a nossa reflexão de modo a
entender de que maneira essa questão se impõe hoje como determinação de nossa
realidade social atual.
Assim, a questão agrária não se define como uma questão central para o
entendimento dos processos do mundo rural somente, mas também para o
entendimento do próprio processo de urbanização brasileiro, e a realidade
contemporânea do Mato Grosso nos aponta isso. O urbano vai além da cidade, assim
com a questão agrária e suas implicações vão além do campo. Em nosso processo
histórico as contradições se complexificam nas realidades da cidade e do campo,
redimensionando a relação cidade campo, que agora se realiza em novas bases,
totalizada pelo urbano.
5PADUA, Rafael Faleiros de. QUESTÃO AGRÁRIA, MODERNIZAÇÃO DA AGROPECUÁRIA E URBANIZAÇÃO
EM MATO GROSSO. Revista Mato-Grossense de Geografia - Cuiabá - v. 17, n. 1 - p. 33 - 63 - jan/jun 2014.
Disponível em:
http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/geografia/article/download/770/2845.

Problematizar a questão agrária hoje significa, portanto, pensar como ela se


reproduz diante da modernização da agropecuária, e que espaço é produzido nesse
processo, assim como desvendar as formas nas quais a propriedade privada da terra
se põe como dominação política e econômica (e cultural), produzindo novas
contradições no âmbito do social. Tomando o caso específico do Mato Grosso, é
preciso desvendar a produção do espaço sob a dominação da grande propriedade,
agora não mais aquela que já na aparência se mostrava arcaica (o grande latifúndio),
mas a grande propriedade unida ao capital (o agronegócio).
Essa modernização da agricultura produz um espaço-tempo característico do
processo de produção do que hoje se denomina o “agronegócio” revelado nas formas
das cidades novas (sem história, pois produzidas segundo a lógica da produção
econômica), das lavouras (imensas plantações homogêneas), dos equipamentos
(máquinas, aviões, etc.), das relações sociais determinadas pelo ritmo da reprodução
econômica (a esfera do financeiro mundializado se imiscuindo nas relações de
proximidade). Ao mesmo tempo, refletir sobre a questão agrária implica em pensar a
luta pela terra, que traz à tona os conflitos e contradições da posse da terra no Brasil.
A luta histórica dos movimentos sociais do campo nos escancara a dimensão
cotidiana de enfrentamento da mediação abstrata da propriedade privada da terra
como condição fundamental da posse, com a transformação do sentido da terra de
terra de vida e de trabalho (caso dos camponeses e indígenas) para a terra como meio
de reprodução do capital (caso do agronegócio). A reflexão sobre a questão agrária
no Brasil nos coloca diante de contradições centrais da nossa história, aquela do
acesso à terra, que tem como consequência a dominação dos meios de vida.
O entendimento do presente, no caso da Geografia através da dimensão
espacial da vida social (buscando sempre superar a condição de ciência parcelar),
passa por construirmos um conhecimento que leve em conta o movimento da
realidade como processo histórico concreto, buscando as mediações que nos
expliquem a produção desse processo.
Nesse sentido, a reflexão envolve dois momentos, um se refere ao movimento
da realidade, e outro ao movimento do pensamento sobre essa realidade. Tanto a
realidade quanto o pensamento sobre a realidade são produtos sociais historicamente
determinados, nos colocando a questão de pensar o movimento do real construindo
necessariamente um conhecimento novo sobre esse real que se transforma, como
condição necessária do movimento do pensamento do real. Dessa maneira, o debate
que propomos para a reflexão sobre a questão agrária no Brasil vai na direção do
enfrentamento da questão a partir dos elementos do presente, para entendermos a
realidade social atual, buscando na história os fundamentos necessários para o
entendimento desse presente.
Nos últimos 40 anos, o processo de expansão da agropecuária capitalista no
Centro-Oeste e na Amazônia foi determinado pelas ações estatais elaboradas e
implementadas durante o período do regime militar (1964-1985). “Assim, a
implantação dos projetos agropecuários na Amazônia tem também que ser entendida
como uma das estratégias dos governos militares no sentido de patrocinarem o
acesso à terra na região pelos grandes grupos econômicos” (OLIVEIRA, 1997, p.67).
Essas estratégias do Estado brasileiro de ocupação dos “vazios” da Amazônia se
realizaram através dos incentivos fiscais, buscando atrair grupos capitalistas do
centro-sul do país para o norte. Com isso, grandes grupos econômicos passam a
investir na área da Amazônia Legal, que compreende toda a região amazônica e parte
do cerrado do Centro-Oeste e do Norte.
Esses investimentos se deram inicialmente sobretudo na pecuária, com a
derrubada da vegetação natural para a constituição de grandes pastagens. Esses
empresários investiram nesta empreitada da ocupação da Amazônia pela pata do boi,
sendo que o resultado, hoje, passados quase 20 anos [o texto é da segunda metade
da década de 1980, observação minha], é no mínimo melancólico. Pois o rastro
deixado por este processo foi quase sempre marcado pelo sangue. Sangue
derramado das nações indígenas e dos posseiros. Sangue derramado dos peões no
trabalho de “abertura da mata” (OLIVEIRA, 1997, p.68) O professor Ariovaldo
Umbelino de Oliveira, estudioso da questão agrária no Brasil, evidencia em seus
trabalhos o resultado desse processo patrocinado pelo Estado durante a ditadura
militar e mesmo depois, quando observamos que a violência no campo ainda é uma
mediação importante para a reprodução das desigualdades de acesso à terra, mesmo
nos dias de hoje.
A violência, assim como o trabalho escravo, ainda fazem parte do cenário do
processo contraditório de ocupação-dominação da terra no Brasil, sobretudo nas
regiões de fronteira, onde a frente pioneira (avanço da grande propriedade capitalista)
se encontra com a frente de expansão (posseiros e camponeses que ocupam a terra)
(Martins, 2009), processo que o documentário “Nas terras do bem-virá” (Alexandre
Rampazzo, 2007) mostra muito bem.
Neste documentário podemos ver que nos dias de hoje a violência ainda reina
com o aval do Estado (vide o massacre de Eldorado dos Carajás (1996), o assassinato
de Irmã Dorothy Stang (2005), retratados no filme, assim como o assassinato do casal
de extrativistas José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo (2011), entre tantos
outros atos de violência sobre quem luta pela terra e que a Comissão Pastoral da
Terra não cansa de denunciar.
A omissão e/ou morosidade e mesmo a participação do Estado na violência
sobre as pessoas e movimentos que lutam pela terra faz parte da questão agrária no
Brasil. O Estado é, dessa forma, um agente fundamental da reprodução da
concentração fundiária no país, não somente por essa violência e omissão, mas
também como o mediador que garante que essa reprodução aconteça até os dias de
hoje.
Nesse processo, a grande propriedade privada da terra é produzida e garantida
pela violência, através da grilagem de terras, com a produção de títulos falsos de
propriedade, expropriando a terra de nações indígenas e posseiros, que
legitimamente lutam pela terra de vida e de trabalho. Alia-se a esse estado de coisas
a peonagem, que podemos definir como a “escravidão branca” (OLIVEIRA, 1997,
p.85), onde os peões são aliciados por “gatos” em regiões com alto índice de
desemprego, principalmente no Nordeste brasileiro, com propostas enganosas de
trabalho, e são levados para o trabalho de desmatamento e formação de pastagens,
em condições extremamente degradadas de trabalho, onde tudo o que o peão
consome ou usa é debitado em sua conta, algo que nunca conseguirá quitar com o
fazendeiro, o que produz um processo de escravidão por dívida (OLIVEIRA, 1997;
MARTINS, 2009).
A partir da década de 1970, a Amazônia passa a concentrar os conflitos e as
mortes (sobretudo de trabalhadores rurais, posseiros, peões) no campo e os
genocídios das nações indígenas com o avanço dos projetos de “ocupação” da terra.
Devemos entender esse processo no contexto do avanço da produção capitalista no
Brasil. É uma história de expropriação e da reprodução de uma estrutura fundiária
concentrada (a questão agrária).
Historicamente no Brasil, os camponeses migram para onde podem ser
proprietários de seu próprio trabalho, e nesse sentido, há um movimento migratório
de camponeses empobrecidos das regiões onde a concentração fundiária se
aprofunda (através inclusive de uma modernização agrícola que elimina trabalho no
campo), ou seja, onde a terra se torna raridade, para as regiões onde há uma
abundância de terras a serem ocupadas.
A região amazônica e parcelas do cerrado do Centro-Oeste e Norte do país
são assim o destino dessas populações empobrecidas expropriadas de suas terras
em suas regiões de origem, embora a terra de chegada não fosse de todo
desocupada, tendo em vista a presença de populações indígenas, elas próprias
acuadas (e também migrantes) pela expansão espacial do capitalismo no Brasil.
Segundo OLIVEIRA, a presença de posseiros na Amazônia “passou de mais
de 213 mil em 1960, para 360 mil em 1970, 452 mil em 1975, e baixando para 404 mil
em 1980” (OLIVEIRA, 2007, p.91). Segundo esse autor, a queda do número de
posseiros em 1980 se deu pela violência dos grileiros, uma vez que os projetos
estatais e o consequente avanço das mega-propriedades já se estabeleciam como
uma realidade em direção ao norte do país. Os grandes projetos agropecuários da
SUDAM, que até o final da década de 1980 somavam 9 milhões de hectares, se
concentraram no Pará e no Mato Grosso, com áreas médias por projeto agropecuário
de “16.300 há no Pará e 31.400 há no Mato Grosso” (OLIVEIRA, 1997, p.83), voltados
principalmente para a pecuária. A partir desses números podemos construir uma ideia
da concentração fundiária que se produz a partir desses projetos de “ocupação”.
Se inicialmente os projetos de colonização públicos, através do INCRA,
apontavam para uma redistribuição da terra, pretendendo resolver a pressão exercida
pela concentração fundiária, posteriormente se vê que as estratégias se direcionam
para o incentivo da “ocupação” do território pelas grandes propriedades. As margens
da Transamazônica (10 km de cada lado) foram inicialmente voltadas para a
constituição de assentamentos de reforma agrária, no entanto os projetos foram
realizados sem levar em conta nem mesmo a realidade regional e assim foram logo
abandonados pelo Poder Público (OLIVEIRA, 1997). Cabe salientar aqui que as
rodovias que o Estado brasileiro construiu, cortando grande parte da região
amazônica, se revelaram como os eixos de ocupação-dominação do espaço, no
processo de avanço da fronteira agrícola, com destaque para as BR-163 (Cuiabá-
Santarém), BR-364 (Brasília- Acre) e a própria Transamazônica (BR-230).
Nesse processo induzido pelas políticas de espaço implantadas pelos governos
da ditadura militar sobretudo a partir da década de 1970 há um abandono dos projetos
públicos de colonização e um incentivo aos projetos particulares de colonização,
quando se concede a empresas colonizadoras grandes parcelas do território, e são
essas empresas que irão vender os lotes, sejam estes rurais ou urbanos, já que aí
nascem novos municípios cuja posse e propriedade da terra, assim como a própria
produção do espaço são totalmente controladas por essas empresas. Trata-se de um
processo de privatização da terra, que permite o que Martins chama de aliança da
grande propriedade da terra ao capital (MARTINS, 1999).
O Estado de Mato Grosso concentrou os projetos de colonização privados, que
se revelaram como estratégias espaciais de longo alcance, seja espacialmente como
temporalmente, já que ao mesmo tempo dominaram grandes parcelas de terras em
regiões onde a qualidade do solo é particularmente superior (CABRAL, 2007), e onde
se materializaram lógicas de produção do espaço estritamente mediadas pela redução
da terra à “qualidade” de mercadoria, ou seja, o espaço é produzido a partir de projetos
privados visando o lucro, a terra e a produção do espaço aí se realizam estritamente
como um grande negócio. Como reprodução desse processo em um contexto de
expansão da agricultura modernizada a partir da década de 1990 são produzidas
realidades regionais características do agronegócio, num processo que produz
concomitantemente e complementarmente, o campo e a cidade, como elementos de
uma mesma realidade. São os casos de cidades como Sinop, Sorriso, Nova Mutum,
para citar apenas alguns municípios que se formaram no eixo da BR-163 (Cuiabá-
Santarém). Ainda segundo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Isso reflete a estratégia da
geopolítica militar, expressa nos escritos do General Golbery, onde a ocupação da
Amazônia deveria avançar em cunha a partir do planalto central mato-grossense,
através da Cuiabá- Santarém, e as fronteiras deveriam receber assentamentos de
modo a “garanti-las” sob domínio brasileiro (OLIVEIRA, 1997, p.95).
O projeto estatal de dominação do espaço, que se materializa nas inúmeras
estratégias de “colonização”, impõe uma lógica ao território, a lógica capitalista. Se
por um lado se incentiva o estabelecimento de grandes empreendimentos
agropecuários que se revelam como a necessária expansão espacial da produção
capitalista (produção de capital, através de uma acumulação primitiva,
necessariamente expropriatória), por outro lado os parques indígenas também se
revelam como o estabelecimento dessa lógica no espaço, já que ao se transformar a
terra em mercadoria, se mostra a necessidade de restrição do uso da terra às nações
indígenas, que são reduzidas às reservas indígenas (OLIVEIRA, 1997). Se a terra
como lugar da vida das nações indígenas não tem limites, os limites são impostos pelo
avanço do capitalismo no território, e mesmo os limites onde se fecharam as nações
indígenas são usurpados pela necessidade devoradora do capital por espaço, para
tornar o espaço produtivo economicamente.

A modernização da agricultura e seu impacto em Mato Grosso

A modernização da agricultura se apresenta como uma condição fundamental


do processo de expansão espacial da fronteira econômica no Brasil. Essa
modernização se realiza como uma intensificação da inserção dos processos naturais
ao processo do capital. Trata-se, sempre, de uma
apropriação parcial da natureza, mas que se concretiza como uma subordinação cresc
ente de setoresda
agricultura ao processo do capital. Essa incorporação da agricultura ao processo do c
apital se coloca no
contexto da necessidade de expansão espacial e setorial da acumulação capital
ista, mas encontra
barreiras nos elementos irredutíveis do processo: a terra e as condições naturais a
inda tem um papel relevante na produção agrícola (GOODMAN et al., 1990).
Esses autores demonstram que em um primeiro momento, que se inicia no século
XIX, sobretudo nos EUA, a industrialização da produção agrícola se dá no processo de
trabalho e nos processos físicos de manejo do solo e não nas questões químicas e
biológicas, que serão desenvolvidas em um segundo momento, já no século XX.
Sobretudo na segunda metade do século XIX há uma intensificação do desenvolvimento
dos equipamentos agrícolas, assim como uma diminuição acentuada dos fabricantes
destes equipamentos. Isso revela uma concentração do capital nesse setor, com a
constituição de grandes corporações. Entretanto, se a mecanização dos processos de
trabalho na agricultura transformou as relações sociais de produção, com a diminuição
drástica de trabalho braçal, alavancando um aumento da produtividade, a barreira para
o processo de acumulação na agricultura é o tempo natural das plantas.
Os fertilizantes industrializados começam a ser produzidos também no século XIX,
na Inglaterra, promovendo uma transformação na fertilidade natural e na recuperação
dos solos. Essa indústria se torna também um importante setor industrial e demanda
grandes investimentos para seu desenvolvimento, o que restringe a sua produção às
grandes corporações, o que passa a ocorrer já no começo do século XX (GOODMAN et
al., 1990).
A intensificação das inovações genéticas se dão somente no século XX, com
pesquisas realizadas sobretudo por órgãos públicos, dado os riscos em termos de
negócios que essas pesquisas envolviam. As técnicas de hibridização de sementes
(sobretudo do milho nos EUA) permitiram a entrada das grandes empresas na pesquisa
e produção de sementes, esmagando a pesquisa dos órgãos públicos (no caso dos
EUA) e os pequenos produtores de sementes. É nesse contexto que se expande o que
ficou
conhecido como “Revolução Agrícola” ou “Revolução Verde”, que para esses autores
se trata da difusão de sementes e técnicas agrícolas dos países temperados para os
países tropicais e subtropicais (GOODMAN et al., 1990), promovendo uma
homogeneização cada vez maior da agricultura.
Posteriormente, com o aprimoramento das pesquisas em biotecnologias, assim
como com o avanço no setor químico (insumos), a difusão das inovações industriais
trouxe ganhos espetaculares no crescimento da produtividade total, transformando a
economia política da agricultura e do sistema agroalimentício. Por exemplo, a produção
total das safras aumentou 97% nos Estados Unidos entre 1950 e 1981, com um aumento
de apenas 3% nas terras cultivadas e apesar de um declínio de 63% no emprego de
mão de obra (GOODMAN et al., 1990, p.10). Com isso, ainda segundo esses autores, o
setor agrícola passa a ter que lidar com o problema da superprodução, que vai incentivar,
no caso dos grãos, o direcionamento da produção para a fabricação de ração animal.

Nesta exposição, fica evidente que, mesmo se os setores mecânico, químico e


biológico/genético se desenvolvem de maneira não concomitante e desigual no tempo,
eles cada vez mais passam a se articular, levando a indústria de mecanização a se
adaptar às necessidades dos demais setores. Nesse processo, a produção agrícola
passa a cada vez mais depender de um pacote industrial: implementos- sementes-
insumos (fertilizantes e agrotóxicos).
Ou seja, o grande capital representado por esses setores (a grande maioria das
empresas produtoras de sementes, implementos e insumos são grandes corporações
multinacionais) exerce um controle cada vez maior sobre a produção agrícola,
restringindo a autonomia dos produtores, já que são necessárias práticas de cultivo mais
precisas, mais cuidadosamente reguladas e cronologicamente determinadas, mas isto
devido às consequências diretas e imediatas da maior intromissão nos processos
naturais por parte do capital (GOODMAN et al., 1990, p.36).
Esse maior controle externo à produção agrícola irá provocar uma transformação
radical nas relações sociais, impactando sobremaneira a agricultura camponesa. Nesse
sentido, o “pacote” que passa a dominar a produção agrícola se define como uma série
de imposições, começando com as sementes, as chamadas “variedades de alto
rendimento”, que vão exigir novas técnicas de manejo mecanizado do solo, assim como
a aplicação de pesticidas e fungicidas. O avanço contínuo que essas inovações
biológicas da produção de sementes impõem passa a ditar o ritmo das inovações
relativas à produção agrícola como um todo, exigindo que os setores mecânico e
químico acompanhem as novas temporalidades impostas à produção agrícola
(GOODMAN et al., 1990), produzindo uma transformação na relação espaço- temporal
das populações envolvidas nesta produção. Do ponto de vista da criação de animais, as
principais inovações se referem às técnicas de confinamento (com a industrialização da
alimentação animal), promovendo uma diminuição do espaço necessário para as
criações. A partir da década de 1950, a engenharia genética, com as técnicas de
inseminação artificial vão, por sua vez, promover um significativo aumento de
produtividade e também um crescente aumento do controle da produção (GOODMAN
et al., 1990). Uma questão que se nos apresenta diante desse quadro de aumento de
uma agropecuária modernizada de alta produtividade, altamente tecnificada, são quais
as necessidades sociais estão sendo contempladas nesse processo, a da sociedade
como um todo, que necessita de alimentos para sua sobrevivência ou a reprodução
econômica dos agentes envolvidos nas cadeias produtivas?
Muitas pesquisas, inclusive aquelas que se dedicam a pensar o impacto da
atividade do agronegócio sobre a saúde dos trabalhadores e da população nos apontam
claramente que a finalidade desse processo é a acumulação ampliada do capital, que
se utiliza da produção agropecuária da forma mais rentável (e necessariamente mais
produtiva economicamente) para sua reprodução. As condições de trabalho e a
qualidade (e acesso) da sociedade em geral aos alimentos produzidos estão
subordinados à acumulação ampliada, ou seja, o âmbito do social está subordinado às
necessidades da reprodução do econômico e às normas do político, mediação
fundamental para a realização desse processo.
Dessa maneira, o processo de modernização da agricultura e da pecuária se
substancia em um processo de industrialização da produção que as submetem a um
movimento crescente de dependência de um pacote mecânico/químico/biológico
genético, dominado por grandes corporações, que muitas vezes controlam todo o
processo de produção, processamento e comercialização dos produtos. A produção de
alimentos se revela aí como um grande negócio, mediação da realização de interesses
externos, alheios aos agentes imediatamente ligados à produção, ou seja, nesse
processo de industrialização da agricultura e pecuária, há também um processo de
alienação do trabalho. É em um contexto de crescente mundialização do capital, assim
como de acentuação das crises do capitalismo, que esse processo de modernização
como força produtiva econômica, que se realiza em escala mundial, permite o avanço
da agricultura de grande escala para o Cerrado e para a Amazônia.
Nesse cenário, a partir do final do decênio de setenta, acompanhando a tendência
do agro nacional, o contínuo avanço do capital industrial no ambiente agropecuário
implicou acentuada transformação e diferenciação das características básicas do agro
mato-grossense. Além do surgimento de número elevado de latifúndios capitalizados,
grande parte dos estabelecimentos então existentes se transformou em modernas
empresas capitalistas, diferenciando-se cada vez mais dos antigos latifúndios
tradicionais. Essas empresas produzem bens dotados de alto valor
comercial, como a soja, o algodão, o arroz e outros produtos de origem agropecuária
(PEREIRA, 2007,p.50).
É esse processo de modernização da agropecuária, que aproxima cada vez mais
essa produção da produção industrial, que vai dar um aspecto ideológico de legitimidade
na aliança entre a grande propriedade da terra e o capital, processo que contribuirá
também para uma desmobilização das lutas dos camponeses pela terra em Mato Grosso
e uma desvalorização, também ideológica, da agricultura camponesa.

Produção do espaço regional mato-grossense

A formação e ocupação do território mato-grossense6


O território mato-grossense compreende, aproximadamente, 10% do território
nacional e abriga, em
contrapartida, aproximadamente 1,53% da população do país,
(3.033.991habitantes- IBGE/SEPLAN 2010, hoje aproximadamente 3.306.000).
Constitui exemplo de região que caminha rumo à consolidação de uma área de moderna
produção agroindustrial, após a transformação de sua base produtiva, impulsionada por
forte ação estatal.

6
ABUTAKKA, Antonio. A formação e ocupação do território mato-grossense. Artigos da Secretaria de
Estado de Planejamento – SEPLAN. Governo do Mato Grosso. Disponível em:
http://www.seplan.mt.gov.br/documents/363424/3935270/A+forma%C3%A7%C3%A3o+e+ocupa%C3%
A7%C3%A3o+do+territ%C3%B3rio+mato-grossense.pdf/dd149e42-ce2e-4eb0-8ad7-fffa31ce3d43.
Como característica preliminar, pode-se dizer que essa área vem-se afirmando,
nas últimas décadas, como uma economia baseada predominantemente na pecuária
extensiva de corte e de leite, e, principalmente, na produção intensiva de milho, algodão
e soja, afora experiência isolada de indústrias madeireiras.
Esses sistemas produtivos têm sido responsáveis pela produção de matérias
primas para a agroindústria e algumas mercadorias processadas, em geral destinadas
à exportação como: grãos, carnes e algodão e, portanto, desencadeadores do próprio
processo de agroindustrialização regional. Esses produtos são exportados
principalmente para os estados das regiões Sul e Sudeste do Brasil e para os países da
comunidade europeia, Estados Unidos, China, Rússia, etc.
Deve-se ainda considerar que o território mato-grossense partilha vasta área de
fronteira interna com vários estados brasileiros e externa com a Bolívia. Embora só tenha
recebido atenção há pouco tempo, essa área de fronteira internacional ocupa lugar
potencialmente estratégico no espaço econômico latino-americano e sua integração,
seja nas articulações com o Mercosul, seja em possíveis vias de escoamento pelo
pacífico. Partindo-se de uma visão geral sobre o território mato-grossense, pode-se,
identificar seus desdobramentos particulares nas distintas frações do seu espaço, em
seus tempos respectivos, os principais vetores da expansão recente e as implicações
no redesenho de sua estrutura espacial. Efetivamente no século XVIII, inicia-se a
ocupação do Estado de Mato Grosso, através das incursões dos bandeirantes à região,
em busca de ouro e na captura e aprisionamento de mão-de-obra indígena, mercadoria
que viabilizou, durante longo tempo, a economia da colônia de povoamento de São
Vicente, (atualmente estado de São Paulo). Durante todo o século XVIII, mesmo após a
descoberta de ouro na região de Cuiabá, o espaço mato- grossense permaneceu “vazio”
dado que as atividades econômicas implementadas na região de Cuiabá, basicamente
mineração do ouro e de diamantes, fundavam-se num sistema comumente designado
como o de pilhagem do período colonial e num povoamento temporário e itinerante.
(DSEE/ZSEE – Relatório sobre o Processo de Ocupação do Estado de Mato Grosso.
Cuiabá: SEPLAN, 1997).
Sob a lógica da expansão capitalista, de concentração-centralização do capital e
da dominação- subordinação, no que diz respeito às suas relações sociais e de
produção, o desenvolvimento econômico brasileiro, em termos espaciais, pode ser visto
como um processo de articulação e integração nacional que se desenvolveu, de forma
desigual e combinada, segundo três fases distintas: a do isolamento das regiões; a da
articulação comercial e a de integração produtiva.
Diante disso, contextualiza-se também a formação histórica de Mato Grosso,
caracterizando-se:
1) o período da ocupação do território e da constituição da região, ainda sob uma longa
fase de isolamento, que perdura até às primeiras décadas do século XX;
2) o da diversificação da base produtiva incipiente e sua articulação comercial com
centros produtores- consumidores nacionais e internacionais; e,
3) o da criação das condições materiais e não-materiais (década de 1970) para a efetiva
integração produtiva da região (década de 1980) ao movimento de produção/reprodução
do capital hegemônico nacional quando este, concretamente, apropria-se do espaço, via
instrumento jurídico da propriedade da terra, subordinando à sua lógica de
desenvolvimento os processos de trabalho e de produção existentes em quase todos os
segmentos da economia regional.
Assim, para melhor compreensão sobre o processo de ocupação do estado de
Mato Grosso, uma vez que ele será apresentado de uma forma sintética, achou-se
melhor dividir essa abordagem em sete fases, ou seja:
A primeira fase de ocupação do território mato-grossense tem seu início nos
séculos XVII-XVIII, com a penetração portuguesa em terras de Mato Grosso promovida
pelas incursões de bandeirantes paulistas. A partir de então, o avanço bandeirante em
direção ao oeste intensificou-se cada vez mais, na medida em que o aprisionamento de
índios para o trabalho escravo na Província de São Paulo constituía-se numa atividade
bastante lucrativa. O final dessa fase encerra-se quando o ouro de Mato Grosso, que
tinha proporcionado grande riqueza ao final do século XVIII, à Coroa Portuguesa,
começa a dar sinais de esgotamento, disso resultando o esvaziamento dos principais
núcleos populacionais ligados à mineração.
A segunda fase de ocupação do território mato-grossense acontece nos séculos
XIX-XX. Ela mostra que os núcleos portuários mais antigos, como Cuiabá, Corumbá e
Cáceres, convivem com uma intensa atividade econômico comercial. Cáceres firma-se
como centro exportador da poaia, cuja extração e comercialização geraram grande
movimento agrícola e comercial nas cidades de Barra do Bugres, Vila Bela da
Santíssima Trindade e Cuiabá, e também através da exportação da seringa (látex),
extraída na Bacia Amazônica.
A terceira fase de ocupação é marcada pela “Marcha para o Oeste” (1930- 1950),
cujo fator principal foi uma política de interiorização da economia e de incorporação das
regiões, em especial, Centro-Oeste e Norte ao processo de reprodução do capital
hegemônico nacional. Enquanto área de fronteira, a necessidade de legitimar os limites
estabelecidos, através de uma ocupação efetiva do território, foi uma constante em toda
a formação histórica de Mato Grosso.
A quarta fase de ocupação do território mato-grossense é marcada com a
construção de Brasília. (Final da década de 1950 a 1960).
A quinta fase (final da década de 1960 a 1970) foi intitulada como sendo a da
implementação dos primeiros programas de desenvolvimento da região Centro Oeste,
corporificados, em grande parte, no I e II PND (Programa Nacional de Desenvolvimento),
e com a intensificação do fluxo migratório dirigido a essa região.
A sexta fase de ocupação compreendeu os programas de desenvolvimento, pós
década de 1970, como o POLOCENTRO, o POLONOROESTE e o PRODEAGRO.
Somente a partir dessa década e fruto de uma intervenção do Estado Nacional,
planejada e dirigida à ocupação do Centro-Oeste e Amazônia, é que se criam, na região,
as condições efetivas para a apropriação do espaço pelo capital e, além disso, para sua
transformação em espaço econômico integrado ao movimento dominante da
produção/reprodução do capital tanto nacional como internacional. (SIQUEIRA, 1990).
A sétima fase é a atual, ou seja, os avanços recentes da fronteira agrícola do
território rumo a “consolidação”. Dessa forma, as frentes de expansão fizeram surgir um
conjunto variado de formas de apropriação do espaço agrário, tornando-se estas
também responsáveis pela transformação da paisagem natural do Estado. Essa
transformação implicou não somente na organização de um setor primário dinâmico,
baseado numa gama variada de produtos (extrativos vegetais, agrícolas, pecuários,
etc.), mas também num leque de impactos sócio-econômicos e ambientais de natureza
e intensidade diversas.
De maneira geral, a agricultura empresarial localizou-se nas áreas planas dos
cerrados, cujos solos são potencialmente de boa qualidade. A pecuária, além de estar
também nesse tipo de ambiente, tende a ocupar áreas mais antigas, anteriormente
exploradas pela agricultura tradicional, ou expande-se para a região de fronteira de
ocupação, em áreas onde as condições ecológicas e/ou o fator distância (fretes) são
desfavoráveis à grande empresa de exploração agrícola. (DSEE/ZSEE - Relatório sobre
o Processo de Ocupação do Estado de Mato Grosso. Cuiabá: SEPLAN, 1997). Em
linhas gerais, o modelo de ocupação pautado na agricultura “moderna” mantém-se
ancorado no modelo agroexportador de contexto “maior” (nacional/internacional) e nas
políticas agrícolas nacionais (crédito e financiamento).
Esse modelo de ocupação, na medida em que privilegia a agropecuária de caráter
empresarial e as cadeias agro-industriais associadas aos produtos de mercado externo
(soja, cana-de-açúcar, carnes, milho, madeira) tende a adequar-se às normas e padrões
determinados pelos mercados nacionais e internacionais, inclusive quanto à mitigação
dos impactos ambientais derivados.

10. A URBANIZAÇÃO DO ESTADO

Apontamentos para a reflexão sobre a urbanização nas cidades das regiões de


expansão do
agronegócio7
As cidades concebidas no contexto de expansão da agricultura modernizada são
desde o seu início
produtos e se reproduzem desde então como negócio, sem passado, reproduzindo a
temporalidade da produção da agricultura modernizada (MARTINS e SEABRA, 1993).
A história social (a história das migrações, carregadas de esperanças; das resistências
de posseiros e índios; das expropriações e conflitos no embate da terra como lugar da
vida e como lugar da acumulação do capital) permanecem no subterrâneo, não
reveladas, diante desse processo que se realiza na produção simultânea da cidade e do
campo (do campo modernizado), em uma unidade dialética totalizada pelo urbano como
modo de vida (LEFEBVRE, 2009; ARRUDA, 2007). O urbano aí se revela como
mediação com a mundialidade, assim como sociabilidade fundamental, mesmo que
contraditoriamente revelando a privação de relações sociais qualitativas e concretas.
7PADUA, Rafael Faleiros de. QUESTÃO AGRÁRIA, MODERNIZAÇÃO DA AGROPECUÁRIA E URBANIZAÇÃO EM
MATO GROSSO. Revista Mato-Grossense de Geografia - Cuiabá - v. 17, n. 1 - p. 33 - 63 - jan/jun 2014. Disponível
em:
http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/geografia/article/download/770/2845.
O momento atual do modo capitalista de produção aponta a esfera do financeiro
se reproduzindo através da cidade e do campo, induzindo outra temporalidade à
produção concreta de mercadorias e sua circulação (ARRUDA, 2007). Essa
temporalidade, ligada ao ritmo da reprodução do capital financeiroinduz uma
determinada produção do espaço, que a nosso ver impõe, no contexto da urbanização
recente do Mato Grosso, uma escala de análise que supera a escala intra-urbana,
embora não a elimine, encaminhando a análise para uma escala de abrangência
regional. Assim, a própria escala se revela como um conteúdo da análise, dado o
imbricamento do local ao regional e deste ao mundial, indicado pelo fato de a produção
agrícola, que se constitui como a principal fonte de riquezas, estar intimamente ligada a
um contexto mundial de produção de matérias-primas.
A ligação do excedente econômico produzido no agronegócio à urbanização,
realizando esse excedente no mercado imobiliário das cidades (em muitas cidades se
aceita quantidade de produção de soja como pagamento de imóveis, por exemplo),
demonstra que a produção do campo está articulada de maneira fundamental à
reprodução do espaço urbano, seja em Cuiabá, seja nas cidades ligadas mais
diretamente ao agronegócio (Sinop, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Campo
Verde, Primavera do Leste e outras) e porque não dizer, provavelmente em outras
cidades do país e mesmo de outras regiões do mundo.
É uma realidade voltada para a produção agropecuária, e cria uma espacialidade
e temporalidade específicas. Pode-se ver a cidade como uma concentração de
elementos necessários à produção (mão- de-obra, estabelecimentos comerciais,
serviços bancários, etc.). Mas a concentração urbana aponta para novas questões
qualitativas: a vida urbana e a centralidade como necessidades da realização do humano
(CARLOS, 2008).
Estamos construindo a hipótese de que a urbanização recente do Mato Grosso
revela uma nova dimensão da relação campo-cidade, pois produz (ou reproduz) o
campo e a cidade como elementos do urbano (concentração de inúmeros elementos,
simultaneidade, fluidez). A agricultura modernizada nos dá argumentos para pensar a
urbanização do campo. Ou seja, nos colocamos diante da questão: que campo e que
urbano são produzidos nesse processo? Para pensarmos um caminho de resposta a
essa questão é preciso refletir teoricamente sobre essa realidade nova, a partir de sua
materialidade concreta, colhendo aí as indicações de seu conteúdo. Temos ainda que
deixar claro que é um processo que usa o espaço e produz o espaço como se fosse uma
página em branco a ser preenchida, e ao mesmo tempo é um processo que nega uma
história concreta, aquela das terras indígenas e dos posseiros que se reproduziam, não
através de relações abstratas, mas concretamente a sua vida no espaço hoje ocupado
pela homogeneidade das grandes plantações e das cidades planejadas.
As resistências e os conflitos escancaram as contradições do processo de avanço
da agricultura moderna no Brasil. Assim, a história da expansão econômica para oeste
e norte promovida pelo Estado se concretiza não como uma história de ocupação de
espaços vazios, mas como a história violenta de extermínio dos índios, expulsão de
camponeses pobres (os posseiros), pela violência da propriedade privada da terra
(mesmo sendo esta ilegal) e pela produção monopolista do espaço, regida
hegemonicamente pelo Estado e por grupos econômicos que dominam
economicamente e politicamente grandes parcelas do território.
A questão que importa para nós é: quais os conteúdos sociais desse crescimento
quantitativo queapresentamos no início do texto? Ou seja, é preciso passarmos do
âmbito do quantitativo para aquele do qualitativo para entendermos o sentido do
movimento da realidade urbana (GEORGE, 1966). Deparamo-nos aqui com a limitação
de uma ciência parcelar (em nosso caso a Geografia) a partir da qual vamos nos inserir
no movimento do conhecimento dessa realidade; por outro lado, estamos diante de outra
limitação inerente à pesquisa que é a de, a partir de um fragmento da realidade,
refletirmos sobre todo o conjunto da sociedade. Nesse sentido, sem resolvermos as
contradições e limitações da pesquisa científica, devemos sempre ter como horizonte a
noção de totalidade, articulando o objeto específico da pesquisa ao movimento do real,
ou seja, à totalidade na qual está inserido (LEFEBVRE, 1955).
Outra questão com a qual nos deparamos neste encaminhamento é como
podemos pensar teoricamente a urbanização (recente) de Mato Grosso? Até o momento
atual, se privilegiou o estudo da técnica, fundamental para se pensar a produção do
espaço (BERNARDES e FREIRE FILHO (orgs.), 2005; BERNARDES, 2008;
BERNARDES, 2010; SANTOS, 2008; SANTOS e SILVEIRA, 2011). No entanto é
preciso ir além da técnica, buscando refletir sobre a vida cotidiana (finalidade última e
conteúdo da produção do espaço), uma vez que o urbano e a urbanização dizem
respeito à vida e não somente à reprodução de coisas no espaço (LEFEBVRE, 2009,
2000, 1999; CARLOS, 2008, 2001).
No limite poderíamos definir o processo de urbanização como o processo de
concentração permanente de pessoas em um determinado lugar ou região, e que se
revela como um lugar de possibilidades, reunião, encontro das diferenças, criação,
mesmo em função de uma concentração quantitativa de população. Ou seja, a partir do
quantitativo se revela o qualitativo enquanto possibilidade. Mesmo que resultado de
projetos de colonização privados, onde a finalidade reside na produção e realização de
um negócio mercantil, a urbanização carrega em si novos conteúdos, ainda que como
possibilidades, virtualidades presentes no real. Dessa maneira, é preciso pensar as
relações sociais que envolvem a urbanização nesse contexto de expansão do
agronegócio: os agentes sociais que produzem essa realidade de fronteira (realidade de
migração e de extermínio).
Estamos diante, portanto, de uma persistência do passado (a questão agrária
como permanência e conteúdo da nossa modernidade (MARTINS, 1999)) mas que
aparece como uma paisagem nova, “moderna” (as cidades novas criadas a partir de
estratégias estatais e privadas) que sugere o futuro, realizando o repetitivo da produção
de mercadorias (aqui o espaço e a cidade também são as mercadorias), com o
esvaziamento do tempo como duração enquanto condição de realização desse mundo
do instantâneo, ligado ao tempo da reprodução do econômico (o imobiliário, os ramos
do agronegócio, o financeiro), que entra em contradição com as necessidades próprias
da reprodução da vida, revelando as contradições como o conteúdo do processo.
Valores se consolidam, carregando o moderno na concepção da propriedade
privada, revelada no “sucesso” do empreendedorismo individual. Qual o conteúdo desse
progresso? Produziu-se um espaço característico da atividade agrícola modernizada e
criaram-se cidades intrinsecamente ligadas a essa atividade. Qual o conteúdo dessa
urbanização no nível da prática socioespacial? Estamos diante de uma realidade urbana
que é nova (mesmo sendo produzida por relações sociais arcaicas) que carrega também
o conteúdo da migração (que traz também a sua complexidade). O que essas cidades
revelam enquanto conteúdos do urbano? Dessa maneira, é preciso pensar a prática
socioespacial que é produzida nesse processo, com todas as dificuldades de alcançá-
la.
A realidade da urbanização recente do Mato Grosso nos coloca diante de novas
questões para pensarmos uma problemática urbana. O urbano está posto nesta
expansão para o oeste, pois, como estamos afirmando, é uma realidade urbana a que é
produzida, inserida no próprio movimento de transformação da realidade brasileira. Já a
partir da década de 1950-60, quando o Brasil se industrializava efetivamente e passava
a ser um país de população majoritariamente urbana, a urbanização como realidade
trazia novas questões do âmbito do social: moradia, transporte, saneamento, etc.,
passava a demandar uma vida urbana concreta, que não se restringe ao provimento de
serviços urbanos básicos, mas se refere ao uso da cidade pelos cidadãos, o direito à
centralidade, enfim, o direito à cidade (CARLOS, 2011).
As cidades do agronegócio foram criadas por projetos de colonização públicos ou
privados, há poucas décadas, se revelando como uma produção do espaço
hegemonizada por determinados interesses, criando novas espacialidades. Nesse
contexto, é o espaço e a produção do espaço que determinam a produção de novas
relações sociais (LEFEBVRE, 2000), que produzem novas sociabilidades urbanas.
Nessa produção do espaço dessa nova realidade social ligada à produção do
agronegócio, a técnica tem um papel importante (BERNARDES, 1996; GOLDMAN et
al., 1990). Com isso, podemos dizer que a industrialização define essa realidade e é
determinante na produção dessa urbanização. A agroindústria, a integração lavoura-
indústria (que podemos definir como a relação lavoura-indústria- cidade), é uma
realidade que nasce urbanizada, tendo o urbano como conteúdo e perspectiva. A história
desse processo de urbanização nos aponta para o fato de que é a produção do espaço
que explica os conteúdos sociais no momento atual, ou seja, a produção de novas
espacialidades produz novas relações sociais. O espaço é produto de determinadas
relações sociais da contemporaneidade, mas também é produtor de novas relações
sociais (LEFEBVRE, 2009, 2000). As estratégias públicas e privadas (a ocupação dos
“vazios territoriais”, os projetos de colonização, a produção de um espaço agrícola
modernizado), que se revelam como estratégias espaciais, produziram e produzem uma
realidade específica, com um espaço característico. Trata-se um espaço que é
produzido, já no início do processo de colonização, de maneira fragmentada, com
funções específicas, se realizando aos pedaços como negócio.
Henri Lefebvre nos ajuda a pensar esses espaços produzidos segundo as
estratégias dos agentes hegemônicos da produção do espaço em Mato Grosso, quando
escreve sobre Mourenx, uma cidade nova construída para dar suporte a um complexo
petroquímico, próxima a sua cidade natal, nos Pireneus franceses: Mourenx ensinou-me
muita coisa. Aqui os objetos têm o título de sua existência social: sua função. Cada objeto
serve e o diz. Sua função é bem distinta e bem própria. No melhor caso, quando a cidade
nova for acabada e bem sucedida, tudo nela será funcional, e cada objeto terá uma
função própria: a sua. Esta função, cada objeto a indica, significa, grita-a a sua volta. Ele
se repete infinitamente. O objeto reduzido a sua função e também a sua significação;
aproxima-se indefinidamente do sinal e o conjunto desses objetos de um sistema de
sinais. Em Mourenx, não há ainda muitos sinais verdes ou vermelhos.
Tudo é apenas sinais verdes ou vermelhos: isto exigido, isto proibido. O objeto
reduzido à uma simples significação confunde-se com a coisa nua, despojada,
desprovida de sentido (LEFEBVRE,1969, p.140-141).
Nas cidades produzidas nas regiões de expansão do agronegócio, observamos
que ordens estritas comandam o ritmo da vida. Nessas cidades há pouca tolerância para
o diferente, para aquilo que foge à lógica da produção econômica. Muitos são os relatos
de que pessoas com pouco ou nenhum dinheiro são coagidas a sair ou mesmo são
expulsas dessas cidades.
Constitui-se aí, contraditoriamente, uma realidade urbana, cujos conteúdos é
preciso investigar, de um lado através da pesquisa sobre a reprodução dessas
estratégias espaciais dos agentes hegemônicos da produção do espaço (prefeituras,
companhias de colonização, imobiliárias, empresas do agronegócio, bancos, etc.); por
outro lado, é preciso investigar a prática socioespacial que se produz nesse processo,
trazendo para o debate a noção de vida cotidiana (LEFEBVRE, 1992), fundamental para
refletirmos sobre o nível do social no lugar, onde se concretizam as contradições, no
embate desigual com os níveis do político e do econômico.
Podemos a princípio indicar que se trata de uma realidade onde o campo e a
cidade não estão separados de maneira estritamente definida, pois formam uma única
realidade, um se realizando no outro, inseridos em uma realidade que como conteúdo
se revela urbana. A vida urbana é preenchida por inúmeras informações (concretas),
com inúmeros significados, que no momento atual são reduzidas a ordens nas
estratégias espaciais, impondo o mundo do consumo dirigido (LEFEBVRE, 1992). São
espaços produzidos com uma única finalidade que nas cidades do agronegócio são
representados pelas agroindústrias, os armazéns, a área residencial, as áreas de lazer
(clubes), etc., espaços que se realizam por ordens estritas de uso: o lugar do morar
(habitat), o lugar de comprar, o lugar da burocracia, o lugar do trabalho, o lugar do lazer.
A particularidade desses lugares novos (as cidades das regiões de expansão
agronegócio) se apresenta como generalidade do modo de vida urbano, baseado em
atividades que podemos chamar de atividades “modernas”. Mas, mesmo não deixando
notar a princípio, dada a “modernidade” aparente revelada na paisagem, o espaço
carrega as contradições de nossa formação social. Assim, relações sociais arcaicas,
atrasadas e reprodutoras de um atraso social fazem parte do conteúdo da nossa
“modernidade” (MARTINS, 1999). O monopólio da terra, mesmo em sua versão atual (o
agronegócio) aponta nessa direção, pois se converte em mediação central da produção
das relações sociais (inclusive através do espaço produzido), baseadas em relações de
poder e de domínio político, se revelando também enquanto dominação cultural e
simbólica.
Os “significados” do processo no que podemos chamar da construção da “opinião
pública”, são produzidos e difundidos pelos detentores das esferas de domínio, ou seja,
pela grande propriedade da terra. Nesse sentido, a questão agrária se revela como a
base da reprodução das relações sociais, definindo inclusive as particularidades do
urbano nas cidades do agronegócio, complexificada pela união do capital com a
propriedade da terra promovida pelos governos militares (1964-1985) (MARTINS, 1999).
O urbano e a produção do espaço aparecem aí como resultado do aprimoramento da
terra como mercadoria, através dos projetos de colonização, num processo histórico e
estratégico de privatização da terra em Mato Grosso. A partir das centralidades
produzidas com a criação das cidades, sobretudo ao longo da BR-163, com o processo
de modernização da agricultura, a indústria e o urbano passam a ser determinantes na
produção da sociabilidade, propondo novos conteúdos sociais.
Assim, devemos considerar que a industrialização (propiciada pela
industrialização da agricultura e pelo processamento dos produtos agrícolas) e o urbano
se revelam na prática socioespacial, descolada da história, pois produzida em um
espaço-tempo ligado ao processo de realização do capital de forma ampliada. No
entanto, os conteúdos do processo de industrialização-urbanização apontam para novas
questões de ordem qualitativas: a vida urbana, o urbano como realização concreta da
vida está como perspectiva mesmo nesse espaço produzido segundo a lógica da
reprodução econômica.

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