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História de

Mato Grosso

CONCURSO SEDUC 2017

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SUMÁRIO
História de Mato Grosso Introdução.......................................................................................... 03
A conquista da terra................................................................................................................... 06
A fundação de Cuiabá................................................................................................................ 08
A Origem do Nome.................................................................................................................... 11
Período Colonial........................................................................................................................ 12
Período Imperial........................................................................................................................ 13
A Rusga..................................................................................................................................... 14
A Guerra do Paraguai................................................................................................................ 16
Causas........................................................................................................................................ 16
Retirada de Laguna.................................................................................................................... 18
De vila a Estado......................................................................................................................... 20
Cuiabá – Capital........................................................................................................................ 22
Cultura e Folclore...................................................................................................................... 23
Dança e Música.................................................................................................................. 23
Mitos e Lendas................................................................................................................... 25
Festas Típicas..................................................................................................................... 26
Artesanato.......................................................................................................................... 27
Linguajar............................................................................................................................ 28
Símbolos Oficiais...................................................................................................................... 29
Brasão................................................................................................................................ 29
Bandeira............................................................................................................................. 30
Hino.................................................................................................................................... 30
Patrimônio Histórico.................................................................................................................. 31
Marechal Cândido Rondon........................................................................................................ 35
Irmãos Villas Boas..................................................................................................................... 39
Marcha para Oeste..................................................................................................................... 41
Referencial Bibliográfico........................................................................................................... 44
HISTÓRIA DE MATO GROSSO - INTRODUÇÃO
O que hoje conhecemos como Mato Grosso já foi território espanhol. As primeiras
excursões feitas no território de Mato Grosso datam de 1525, quando Pedro Aleixo Garcia vai
em direção à Bolívia, seguindo as águas dos rios Paraná e Paraguai. Posteriormente portugueses
e espanhóis são atraídos à região graças aos rumores de que havia muita riqueza naquelas terras
ainda não exploradas devidamente. Também vieram jesuítas espanhóis que construíram
missões entre os rios Paraná e Paraguai.

A história de Mato Grosso, no período "colonial" é importantíssima, porque durante


esses 9 governos o Brasil defendeu o seu perfil territorial e consolidou a sua propriedade e posse
até os limites do rio Guaporé e Mamoré. Foram assim contidas as aspirações espanholas de
domínio desse imenso território. Proclamada a nossa independência, os governos imperiais de
D. Pedro I e das Regências (1º Império) nomearam para Mato Grosso cinco governantes e os
fatos mais importantes ocorridos nesses anos (7/9/1822 a 23/7/1840) foram a oficialização da
Capital da Província para Cuiabá (lei nº 19 de 28/8/1835) e a "Rusga" (movimento nativista de
matança de portugueses, a 30/05/1834).

Durante o Segundo Império o fato mais


importante foi a Guerra da Tríplice Aliança,
movida pela República do Paraguai contra o
Brasil, Argentina e Uruguai
Proclamada a 23 de julho de 1840 a maioridade de Dom Pedro II, Mato Grosso foi
governado por 28 presidentes nomeados pelo Imperador, até à Proclamação de República,
ocorrida a 15/11/1889. Durante o Segundo Império (governo de Dom Pedro II), o fato mais
importante que ocorreu foi a Guerra da Tríplice Aliança, movida pela República do Paraguai
contra o Brasil, Argentina e Uruguai, iniciada a 27/12/1864 e terminada a 01/03/0870 com a
morte do Presidente do Paraguai, Marechal Francisco Solano Lopez, em Cerro-Corá.
Os episódios mais notáveis ocorridos em terras mato-grossenses durante os 5 anos dessa
guerra foram:
a) o início da invasão de Mato Grosso por tropas paraguaias, pelas vias fluvial e terrestre;
b) a heroica defesa do Forte de Coimbra;
c) o sacrifício de Antônio João Ribeiro e seus comandados no posto militar de Dourados.
d) a evacuação de Corumbá;
e) os preparativos para a defesa de Cuiabá e a ação do Barão de Melgaço;
f) a expulsão dos inimigos do sul de Mato Grosso e a retirada da Laguna;
g) a retomada de Corumbá;
h) o combate do Alegre.

Pela via fluvial vieram 4.200 homens sob o comando do Coronel Vicente Barrios, que
encontrou a heroica resistência de Coimbra ocupado por uma guarnição de apenas 115 homens,
sob o comando do Tte. Cel. Hermenegildo de Albuquerque Portocarrero. Pela via terrestre
vieram 2.500 homens sob o comando do Cel. Isidoro Rasquin, que no posto militar de Dourados
encontrou a bravura do Tte. Antônio João Ribeiro e mais 15 brasileiros que se recusaram a
rendição, respondendo com uma descarga de fuzilaria à ordem para que se entregassem.
Foi ai que o Tte. Antônio João enviou ao Comandante Dias da Silva, de Nioaque, o seu famoso
bilhete dizendo: "Ser que morro mas o meu sangue e de meus companheiros será de protesto
solene contra a invasão do solo da minha Pátria" A evacuação de Corumbá, desprovida de
recursos para a defesa, foi outro episódio notável, saindo a população, através do Pantanal, em
direção a Cuiabá, onde chegou, a pé, a 30 de abril de 1865.
Na expectativa dos inimigos chegarem a Cuiabá, autoridades e
povo começaram preparativos para a resistência. Nesses preparativos
sobressaia a figura de Augusto Leverger que foi nomeado pelo Governo
para comandar a defesa da Capital, organizando as fortificações de
Melgaço. Se os invasores tinham intenção de chegar a Cuiabá, dela
desistiram quando souberam que o Comandante da defesa da cidade era o Almirante Augusto
Leverger - o futuro Barão de Melgaço -, que eles já conheciam de longa data. Com isso não
subiram além da foz do rio São Lourenço. Expulsão dos invasores do sul de Mato Grosso- O
Governo Imperial determinou a organização, no triângulo Mineiro, de uma "Coluna
Expedicionária ao sul de Mato Grosso", composta de soldados da Guarda Nacional e
voluntários procedentes de São Paulo e Minas Gerais para repelir os invasores daquela região.
Partindo do Triângulo em direção a Cuiabá, em Coxim receberam ordens para seguirem para a
fronteira do Paraguai, reprimindo os inimigos para dentro do seu território.
A missão dos brasileiros tornava-se cada vez mais difícil, pela escassez de alimentos e
de munições. Para cúmulo dos males, as doenças oriundas das alagações do Pantanal mato-
grossense, devastou a tropa. Ao aproximar-se a coluna da fronteira paraguaia, os problemas de
alimentos e munições se agravava cada vez mais e quando se efeito a destruição do forte
paraguaio Bela Vista, já em território inimigo, as dificuldades chegaram ao máximo. Decidiu
então o Comando brasileiro que a tropa seguisse até a fazenda Laguna, em território paraguaio,
que era propriedade de Solano Lopez e onde havia, segundo se propalava, grande quantidade
de gado, o que não era exato. Desse ponto, após repelir violento ataque paraguaio, decidiu o
Comando empreender a retirada, pois a situação era insustentável.

A Retirada da Laguna, foi o


mais extraordinário feito
da tropa brasileira nesse
conflito.
Iniciou-se aí a famosa "Retirada da Laguna", o mais extraordinário feito da tropa
brasileira nesse conflito. Iniciada a retirada, a cavalaria e a artilharia paraguaia não davam
tréguas à tropa brasileira, atacando-as diariamente. Para maior desgraça dos nacionais veio o
cólera devastar a tropa. Dessa doença morreram Guia Lopes, fazendeiro da região, que se
ofereceu para conduzir a tropa pelos cerrados sul mato-grossenses, e o Coronel Camisão,
Comandante das forças brasileiras. No dia da entrada em território inimigo (abril de 1867), a
tropa brasileira contava com 1.680 soldados. A 11 de junho foi atingido o Porto do Canuto, às
margens do rio Aquidauana, onde foi considerada encerrada a trágica retirada. Ali chegaram
apenas 700 combatentes, sob o comando do Cel. José Thomás Gonçalves, substituído de
Camisão, que baixou uma "Ordem do dia", concluída com as seguintes palavras: "Soldados!
Honra à vossa constância, que conservou ao Império os nossos canhões e as nossas
bandeiras".
A CONQUISTA DA TERRA

"Entre 1673 e 1682, os bandeirantes paulistas Manoel de Campos Bicudo e Bartolomeu


Bueno da Silva subiram o rio Cuiabá até a sua confluência com o rio Coxipó-Mirim, onde
acamparam, denominando o local de São Gonçalo. No final de 1717, seguindo o mesmo
caminho do seu pai, António Pires de Campos chegou ao mesmo local, rebatizando-o de São
Gonçalo Velho. Nessa região, onde hoje vivem ribeirinhos e ceramistas, encontraram uma
aldeia de índios Bororó. Muitos foram aprisionados em combate e levados para São Paulo como
escravos."

Paralelamente à extração do ouro, os bandeirantes paulistas continuaram a buscar uma


mercadoria que, segundo eles, abundava nos sertões brasileiros: os índios. Foi em seu encalço
que as expedições de Antônio Pires de Campos, seguida da
de Pascoal Moreira Cabral, atingiram terras que
pertenceriam, mais tarde, a Mato Grosso. Pires de Campos,
em 1718, localizou os índios nativos das margens do rio
Coxipó-Mirim, chamados, pelos bandeirantes, de
Coxiponés. A bandeira de Pascoal Moreira Cabral seguiu
ao encalço desses índios, dando-lhes violenta guerra, na
qual foram perdidos muitos homens, de lado a lado. Depois
de serem socorridos por outra bandeira capitaneada pelos
irmãos Antunes Maciel, resolveram seguir para o Arraial
de São Gonçalo Velho, ou Aldeia Velha, onde haviam
deixado alguns homens acampados.
Logo após uma das refeições, alguns integrantes dessa bandeira, lavando os pratos nesse
rio, encontraram, casualmente, pepitas de ouro. Estavam descobertas as minas em território
mato-grossense (1719). Para organizar o primeiro arraial, cobrar os impostos em nome da Coroa
portuguesa e estabelecer a justiça, os mineiros aclamaram, como Guarda-mor, Pascoal Moreira
Cabral, que, inicialmente, ficou à frente dos trabalhos administrativos e fiscais. Sua nomeação
oficial, dada pelo Capitão General da Capitania de São Paulo – da qual essas novas minas
faziam parte – só ocorreu a 26 de abril de 1723.

A bandeira de Pascoal
Moreira Cabral seguiu ao
encalço desses índios, dando-
lhes violenta guerra, na qual
foram perdidos muitos
homens, de lado a lado.

Monumento aos bandeirantes – Cuiabá

A FUNDAÇÃO DE CUIABÁ
O arraial da Forquilha localizava-se na confluência de dois ribeirões, que, ao juntar-se,
davam continuidade ao rio Coxipó. Daí a origem do nome. Supõe-se que o fundador do arraial
tenha sido o bandeirante António de Almeida Lara, que, em 1720, estava explorando o rio
Coxipó. Forquilha teve vida efêmera. Manteve-se como principal arraial das minas cuiabanas
por apenas um ano e meio, até a descoberta das Lavras do Sutil, quando entrou em plena
decadência."
Pascoal Moreira Cabral enviou, até a vila de São Paulo, Fernão Dias Falcão, a fim de
levar a boa nova da descoberta. A notícia do novo achado aurífero fez acorrer, para as minas
do Coxipó, grande quantidade de pessoas das mais variadas partes da Colônia. Exauridas
rapidamente, deram nascimento a uma outra, também no rio Coxipó, porém às margens do
córrego Mutuca, onde foram encontradas jazidas de ouro. Essa mina ensejou o nascimento de
mais um arraial, a que deram o nome de Forquilha. Colocaram-no sob a proteção de Nossa
Senhora da Penha de França, padroeira desse segundo achado aurífero e, como era de costume,
ali ergueram uma capela em homenagem à santa.

Designação oficial de Pascoal Moreira Cabral como Guarda-mor das Minas "Atendendo
a que Pascoal Moreira Cabral tem feito entradas nos sertões à diligência de descobrir ouro, em
que gastou alguns anos, com muita despesa de sua fazenda, morte de escravos e com grande
risco da própria vida, pelo dilatado e agreste sertão, e multidão do gentio bárbaro, conseguindo
com a sua diligência o descobrimento de ouro, que hoje se acha com grande estabelecimento
no sertão do Cuiabá, e ter sido eleito pelo povo, que se achava naquelas minas, e ter sido
confirmado pelo meu antecessor, o Conde D. Pedro de Almeida, hei por bem fazer-lhe mercê
do cargo de Guarda-mor das ditas minas [...]. Rodrigo Moreira César de Menezes (Fonte: Leite
-1982). O primeiro bandeirante em Cuiabá Manoel de Campos Bicudo foi um bandeirante
pioneiro na penetração do Oeste brasileiro, no início do século XVII.

A notícia do novo achado aurífero fez acorrer, para


as minas do Coxipó, grande quantidade de pessoas
das mais variadas partes da Colônia.

Com o seu filho António Pires de Campos, foi o primeiro bandeirante a atingir a região
da atual cidade de Cuiabá, entre 1673 a 1682. Antônio Pires de Campos, ainda criança,
acompanhou a expedição de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, até a mitológica Serra
dos Martírios, que nunca foi localizada novamente. Quem foi Pascoal Moreira Cabral? Filho
do Coronel Pascoal Moreira Cabral e de Mariana Leme, nasceu em Sorocaba (SP), no ano de
1654. Seu pai dedicara-se aos trabalhos mineralógicos junto às Minas de Araçoiaba, mais tarde
Fábrica de Ferro de S. João de Ipanema, também em Sorocaba. Desde muito jovem, Pascoal
Moreira Cabral dedicou-se ao sertanismo predador de índio.
Em 1682, já era cabo da bandeira capitaneada por André Zunega, seu parente. Foi nessa
expedição que Pascoal adentrou, pela primeira vez, em território mato-grossense, na região de
Miranda, atual Mato Grosso do Sul. Durante três anos, essa bandeira permaneceu nos sertões
caçando índios, erguendo trincheiras para defesa dos componentes e plantando roças para
acudir à subsistência. Foi durante esse período que ganhou dois filhos, provavelmente,
descendentes de uma índia, aos quais, mais tarde, reconheceu-os como filhos naturais.
Oficialmente, casou-se em 1692, na cidade de Itu, com Isabel Siqueira Cortes, natural da
Capitania da Paraíba. Com ela teve 4 filhos, sendo que o primogênito, que herdou-lhe o nome,
acabou morrendo, em pleno sertão, no ano de 1722, quando foi vítima de um ataque de índios.

Em 1699, capitaneou uma bandeira na região de Curitiba e, em 1716, seguiu novamente


para a região de Miranda, onde passou dois anos em incursões de aprisionamento de índios.
Dois anos depois, terminou subindo o rio Paraguai, atingindo o Cuiabá e, deste, seu afluente, o
Coxipó, onde travou violento combate com os índios Coxiponés. Eleito Guarda-mor das novas
minas descobertas, Moreira Cabral ali viveu por muitos anos. Já velho, retirou-se para a
primeira localidade onde ocorrera o primitivo achado aurífero, o Arraial Velho, às margens do
rio Coxipó. Faleceu em 1730, aos 76 anos de idade, e seu corpo foi sepultado na Igreja Matriz
do Senhor Bom Jesus, em Cuiabá."
No ano de 1721, outro sorocabano, Miguel Sutil de Oliveira, tendo descido o rio Coxipó
para o rio Cuiabá, onde havia plantado roça, enviou dois índios - a que José Barbosa de Sá,
primeiro cronista de Cuiabá, denominou de escravos, "negros da terra" - buscar mel. No retorno,
ao invés do doce alimento, trouxeram pepitas de ouro. Estava descoberta a terceira jazida
aurífera mato-grossense, desta vez situada no leito do córrego da Prainha, tributário do rio
Cuiabá.
A notícia do novo aurífero fez com que grande parte dos habitantes da Forquilha e até
mesmo do Arraial de São Gonçalo Velho passassem a minerar no córrego da Prainha, fato que
deu pontapé inicial ao povoamento de um pequeno vilarejo, sob a proteção do senhor bom
Jesus. Para efeito de registro histórico desse primeiro período, o governador da Capitania de
São Paulo solicitou que fosse confeccionada uma Ata de Fundação do descobrimento dessas
novas minas que, mesmo tendo sido redigida em 1719, ainda sequer existia, valeu como
documento fundador das minas mato-grossenses. Mediante a garantia de que as minas
cuiabanas já eram uma notória realidade, o capitão-general e governador de São Paulo nomeou,
para o cargo de Superintendente Geral das Minas, João Antunes Maciel, e para o cargo de
Capitão-mor regente, Fernão Dias Falcão, pessoas de sua mais absoluta confiança.
A ORIGEM DO NOME
As Minas de Mato Grosso, descobertas e batizadas ainda em 1734 pelos irmãos Paes de
Barros, impressionados com a exuberância das 7 léguas de mato espesso, dois séculos depois,
mantendo ainda a denominação original, se transformaram no continental Estado de Mato
Grosso. O nome colonial setecentista, por bem posto, perdurou até nossos dias.

Em 1726, o Arraial de Cuiabá recebeu novo nome:


Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.
Em 1748, foi criada a capitania de Cuiabá

Assim, em 1718, um bandeirante chamado Pascoal Moreira Cabral Leme subiu pelo rio
Coxipó e descobriu enormes jazidas de ouro, dando início à corrida do ouro, fato que ajudou a
povoar a região. No ano seguinte foi fundado o Arraial de Cuiabá. Em 1726, o Arraial de Cuiabá
recebeu novo nome: Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Em 1748, foi criada a capitania
de Cuiabá, lugar que concedia isenções e privilégios a quem ali quisesse se instalar.
As conquistas dos bandeirantes, na região do Mato Grosso, foram reconhecidas pelo
Tratado de Madrid, em 1750. No ano seguinte, o então capitão-general do Mato Grosso,
Antonio Rolim de Moura Tavares, fundou, à margem do rio Guaporé, a Vila Bela da Santíssima
Trindade. Entre 1761 e 1766, ocorreram disputas territoriais entre portugueses e espanhóis,
depois daquele período as missões espanholas e os espanhóis se retiraram daquela região, mas
o Mato Grosso somente passou a ser definitivamente território brasileiro depois que os conflitos
por fronteira com os espanhóis deixaram de acontecer, em 1802.
Na busca de índios e ouro, Pascoal Moreira Cabral e seus bandeirantes paulistas
fundaram Cuiabá a 8 de abril de 1719, num primeiro arraial, São Gonçalo Velho, situado nas
margens do rio Coxipó em sua confluência com o rio Cuiabá.
PERÍODO COLONIAL
Ocupações indígenas existiam no alto do rio Xingu desde o século IX. A primeira vez
que o “homem branco” pisou em solo mato-grossense foi por volta de 1525, quando o navegante
Pedro Aleixo Garcia percorreu as águas dos rios Paraná e Paraguai em direção à Bolívia.
Já no início do século XVIII, em 1718, o bandeirante Antônio Pires de Campos informou
os colonizadores que a região era boa para escravizar índios. Tempos depois, foi descoberto o
potencial aurífero da região, este é considerado o início da história do Mato Grosso.
Diversos garimpeiros portugueses e espanhóis migraram em busca de ouro e diamante.
No período, os jesuítas realizaram missões entre os rios Paraguai e Paraná, com o intuíto de
assegurar os limites das terras portuguesas, que, após o Tratado de Tordesilhas, faziam limite
com o lado espanhol.

Em 1748 foi fundada a capitania de Mato Grosso. Portugal ofereceu isenções e


privilégios para quem desejasse povoar o local e ainda financiou expedições que partiam de
qualquer lugar do Brasil, respeitando os limites de Tordesilhas. Anos mais tarde, as bandeiras,
como ficaram conhecidas as expedições, passaram a ser financiadas pelos paulistas, que
ultrapassaram os limites espanhóis.
As expedições paulistas visavam interesses econômicos. Serviam para captação de mão
de obra indígena, ouro e pedras preciosas. Para fiscalizar a exploração de recursos naturais, a
capitania de Mato Grosso era subordinada à de São Paulo, comandada por Rodrigo César de
Menezes. O governador Menezes mudou-se para lá e elevou a capitania à categoria de vila, que
passou-se a chamar Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá.
O termo “Mato Grosso” foi utilizado pelo primeira vez pelos irmãos Fernando e Artur
Paes de Barros, em 1734, quando buscavam índios Parecis e descobriram uma mina de ouro no
rio Galera, no no vale do Guaporé. Chamaram o local de Minas do Mato Grosso.

PERÍODO IMPERIAL
Em 1824, quando entrou em vigor a Constituição Imperial do Brasil, as capitanias
tornaram-se províncias. Mato Grosso foi regido por governo provisório constitucional até o ano
seguinte, quando José Saturnino da Costa Pereira assumiu o governo. Nesse período ocorreu
uma expedição russa, chefiada pelo Barão de Langsdorff, que realizou o primeiros registro de
fatos e imagens da época. No mesmo ano Costa Pereira, através de negociações, ainda paralisou
o avanço de 600 soldados chiquiteanos que iam para a região do Rio Guaporé.
O governante também foi responsável pelo Arsenal da Marinha no porto de Cuiabá e o
Jardim Botânico da cidade.
No governo do tenente coronel tenente coronel João Poupino Caldas, em 1934, a
província enfrenta a Rusga, uma revolta de nativos que invadiram casas e comércios
portugueses.

A RUSGA
Após o processo de independência, o cenário político nacional se viu fragmentado em
dois setores maiores que disputavam o poder entre si. De um lado, os políticos de tendência
liberal defendiam a autonomia política das províncias e a reforma das antigas práticas
instauradas durante a colonização. Do outro, os portugueses defendiam uma estrutura política
centralizada e a manutenção dos privilégios que desfrutavam antes da independência.
Com a saída de Dom Pedro I do governo e a instalação dos governos regenciais, a
disputa entre esses dois grupos políticos se acirrou a ponto de deflagrar diversas rebeliões pelo
Brasil. Na região do Mato Grosso, a contenda entre liberais e conservadores era representada,
respectivamente, pela “Sociedade dos Zelosos da Independência” e a “Sociedade Filantrópica”.
No ano de 1834, as disputas naquela província culminaram em um violento confronto que
ganhou o nome de Rusga.
Segundo pesquisas, os liberais mato-grossenses organizaram um enorme levante que
pretendia retirar os portugueses do poder com a força das armas. No entanto, antes do ocorrido,
as autoridades locais souberam do levante combinado. Com isso, tentando desarticular o
movimento, decidiram colocar o tenente-coronel João Poupino Caldas – aliado dos liberais –
como novo governador da província. Apesar da mudança, o furor dos revoltosos não foi
contido.

Na região do Mato Grosso, a contenda entre liberais e


conservadores era representada, respectivamente, pela
“Sociedade dos Zelosos da Independência” e a
“Sociedade Filantrópica”. No ano de 1834, as disputas
naquela província culminaram em um violento confronto
que ganhou o nome de Rusga.

Na madrugada de 30 de maio de 1834, ao som de tiros e palavras de repúdio contra os


portugueses, cerca de oitenta revoltosos partiram do Campo do Ourique e tomaram o Quartel
dos Guardas Municipais. Dessa forma, conseguiram conter a reação dos soldados oficias e
tomaram as ruas da capital em busca dos “bicudos”. “Bicudo” era um termo depreciativo
dirigido aos portugueses que foi inspirado pelo nome do bandeirante Manuel de Campos
Bicudo, primeiro homem branco que se fixou na região.
A ordem dos “rusguentos” era de saquear a casa dos portugueses e matar cada um que
se colocasse em seu caminho, levando como troféu a orelha de cada inimigo morto. Segundo
alguns relatos, centenas de pessoas foram mortas pela violenta ação que aterrorizou as ruas de
Cuiabá. Logo após o incidente, foram tomadas as devidas providências para que os líderes e
participantes da Rusga fossem presos e julgados pelas autoridades.
Em um primeiro momento, Poupino Caldas quis contornar a situação sem denunciar o
ocorrido para os órgãos do governo regencial. Contudo, não suportando o estado caótico que se
instalou na cidade, pediu socorro do governo central, que – de imediato – nomeou Antônio
Pedro de Alencastro como novo governador da província. Contando com o auxílio da antiga
liderança liberal, os cabeças do movimento foram presos e mandados para o Rio de Janeiro.
Apesar de nenhum dos envolvidos sofrer algum tipo de punição das autoridades, o clima
de disputa política continuava a se desenvolver em Cuiabá. O último capítulo dessa revolta
aconteceu em 1836, quando João Poupino Caldas – politicamente desprestigiado – resolveu
deixar a província. No exato dia de sua partida, um misterioso conspirador o alvejou pelas
costas com uma bala de prata. Na época, esse tipo de projétil era especialmente utilizado para
matar alguém que fosse considerado traidor.

GUERRA DO PARAGUAI
A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América
do Sul no século 19. Rivalidades platinas e a formação de Estados nacionais deflagraram o
confronto, que destruiu a economia e a população paraguaias. É também chamada Guerra da
Tríplice Aliança (Guerra de la Triple Alianza) na Argentina e Uruguai e de Guerra Grande, no
Paraguai.
A Guerra do Paraguai durou seis anos. Teve seu início em dezembro de 1864 e só
chegou ao fim no ano de 1870, com a morte de Francisco Solano Lopes em Cerro Cora.

A Batalha do Riachuelo, um dos mais sangrentos episódios da Guerra do Paraguai. - óleo de Vítor Meireles
CAUSAS
Desde sua independência, os governantes paraguaios afastaram o país dos conflitos
armados na região Platina. A política isolacionista paraguaia, porém, chegou ao fim com o
governo do ditador Francisco Solano López.
Em 1864, o Brasil estava envolvido num conflito armado com o Uruguai. Havia
organizado tropas, invadido e deposto o governo uruguaio do ditador Aguirre, que era líder do
Partido Blanco e aliado de Solano López. O ditador paraguaio se opôs à invasão brasileira do
Uruguai, porque contrariava seus interesses.
Como retaliação, o governo paraguaio aprisionou no porto de Assunção o navio
brasileiro Marquês de Olinda, e em seguida atacou a cidade de Dourados, em Mato Grosso. Foi
o estopim da guerra. Em maio de 1865, o Paraguai também fez várias incursões armadas em
território argentino, com objetivo de conquistar o Rio Grande do Sul. Contra as pretensões do
governo paraguaio, o Brasil, a Argentina e o Uruguai reagiram, firmando o acordo militar
chamado de Tríplice Aliança.

Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado


internacional ocorrido na América do Sul. Foi travada
entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta pelo
Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra estendeu-se de
dezembro de 1864 a março de 1870.
Antes da guerra, o Paraguai era uma potência
econômica na América do Sul. Além disso, era um
país independente das nações europeias. Para a
Inglaterra, um exemplo que não deveria ser seguido
pelos demais países latino-americanos, que eram
totalmente dependentes do império inglês. Foi por
isso, que os ingleses ficaram ao lado dos países da
tríplice aliança, emprestando dinheiro e oferecendo
apoio militar. Era interessante para a Inglaterra
enfraquecer e eliminar um exemplo de sucesso e
independência na América Latina. Após este conflito,
o Paraguai nunca mais voltou a ser um país com um
bom índice de desenvolvimento econômico, pelo
contrário, passa atualmente por dificuldades políticas
e econômicas. Francisco Solano López, ditador do Paraguai

RETIRADA DE LAGUNA
A retirada da Laguna foi, sem dúvida, a página mais brilhante escrita pelo Exército
Brasileiro em toda a Guerra da Tríplice Aliança. O Visconde de Taunay, que dela participou,
imortalizou-a num dos mais famosos livros da literatura brasileira. A retomada de Corumbá foi
outra página brilhante escrita pelas nossas armas nas lutas da Guerra da Tríplice Aliança. O
presidente da Província, então o Dr. Couto de Magalhães, decidiu organizar três corpos de tropa
para recuperar a nossa cidade que há quase dois anos se encontrava em mãos do inimigo. O 1º
corpo partiu de Cuiabá a 15.05/1867, sob as ordens do Tte. Cel. Antônio Maria Coelho. Foi
essa tropa levada pelos vapores "Antônio João", "Alfa", "Jaurú" e "Corumbá" até o lugar
denominado Alegre. Dali em diante seguiria sozinha, através dos Pantanais, em canoas,
utilizando o Paraguai -Mirim, braço do rio Paraguai que sai abaixo de Corumbá e que era
confundido com uma "boca de baía".
Desconfiado de que os inimigos poderiam pressentir a presença dos brasileiros na área,
Antônio Maria resolveu, com seus Oficiais, desfechar o golpe com o uso exclusivo do 1º Corpo,
de apenas 400 homens e lançou a ofensiva de surpresa. E com esse estratagema e muita luta
corpo a corpo, consegui o Comandante a recuperação da praça, com o auxílio, inclusive, de
duas mulheres que o acompanhavam desde Cuiabá e que atravessaram trincheiras paraguaias a
golpes de baionetas. Quando o 2º Corpo dos Voluntário da Pátria chegou a Corumbá, já
encontrou em mãos dos brasileiros. Isso foi a 13/06/1867. No entanto, com cerca de 800 homens
às suas ordens o Presidente Couto de Magalhães, que participava do 2º Corpo, teve de mandar
evacuar a cidade, pois a varíola nela grassava, fazendo muitas vítimas. O combate do Alegre
foi outro episódio notável da guerra. Quando os retirantes de Corumbá, após a retomada, subiam
o rio no rumo de Cuiabá, encontravam-se nesse porto "carneando" ou seja, abastecendo-se de
carne para a alimentação da tropa eis que surgem, de surpresa, navios paraguaios tentando uma
abordagem sobre os nossos.
A soldadesca brasileira, da barranca, iniciou uma viva fuzilaria e após vários confrontos,
venceram as tropas comandadas pela coragem e sangue frio do Comandante José Antônio da
Costa. Com essa vitória chegaram os da retomada de Corumbá à Capital da Província (Cuiabá),
transmitindo a varíola ao povo cuiabano, perdendo a cidade quase a metade de sua população.
Terminada a guerra, com a derrota e morte de Solano Lopez nas "Cordilheiras" (Cerro Corá), a
1º de março de 1870, a notícia do fim do conflito só chegou a Cuiabá no dia 23 de março, pelo
vapor "Corumbá", que chegou ao porto embandeirado e dando salvas de tiros de canhão.
Dezenove anos após o término da guerra, foi o Brasil sacudido pela Proclamação da República,
cuja notícia só chegou a Cuiabá na madrugada de 9 de dezembro de 1889.
DE VILA A ESTADO
Em 1o. de janeiro de 1727, o arraial foi elevado à categoria de vila por ato do Capitão
General de São Paulo, Dom Rodrigo César de Menezes. A presença do governante paulista nas
Minas do Cuiabá ensejou uma verdadeira extorsão fiscal sobre os mineiros, numa obsessão
institucional pela arrecadação dos quintos de ouro. Esse fato somado à gradual diminuição da
produção das lavras auríferas, fizeram com que os bandeirantes pioneiros fossem buscar o seu
ouro cada vez mais longe das autoridades cuiabanas.
Em 1734, estando já quase despovoada a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, os
irmãos Fernando e Artur Paes de Barros, atrás dos índios Parecis, descobriram veio aurífero, o
qual resolveram denominar de Minas do Mato Grosso, situadas nas margens do rio Galera, no
vale do Guaporé.
Os Anais de Vila Bela da Santíssima Trindade, escritos em 1754 pelo escrivão da
Câmara dessa vila, Francisco Caetano Borges, citando o nome Mato Grosso, assim nos
explicam:
Saiu da Vila do Cuiabá Fernando Paes de Barros com seu irmão Artur Paes, naturais de
Sorocaba, e sendo o gentio Pareci naquele tempo o mais procurado, [...] cursaram mais ao
Poente delas com o mesmo intento, arranchando-se em um ribeirão que deságua no rio da
Galera, o qual corre do Nascente a buscar o rio Guaporé, e aquele nasce nas fraldas da Serra
chamada hoje a Chapada de São Francisco Xavier do Mato Grosso, da parte Oriental, fazendo
experiência de ouro, tiraram nele três quartos de uma oitava na era de 1734.
Dessa forma, ainda em 1754, vinte anos após descobertas as Minas do Mato Grosso,
pela primeira vez o histórico dessas minas foi relatado num documento oficial, onde foi alocado
o termo Mato Grosso, e identificado o local onde as mesmas se achavam. Todavia, o histórico
da Câmara de Vila Bela não menciona porque os irmãos Paes de Barros batizaram aquelas
minas com o nome de Mato Grosso.
Quem nos dá tal resposta é José Gonçalves da Fonseca, em seu trabalho escrito por volta
de 1780, Notícia da Situação de Mato Grosso e Cuiabá, publicado na Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro de 1866, que assim nos explica a denominação Mato Grosso:
[...] se determinaram atravessar a cordilheira das Gerais de oriente para poente; e como estas
montanhas são escalvadas, logo que baixaram a planície da parte oposta aos campos dos Parecis
(que só tem algumas ilhas de arbustos agrestes), toparam com matos virgens de arvoredo muito
elevado e corpulento, que entrando a penetrá-lo, o foram apelidando Mato Grosso; e este é o
nome que ainda hoje conserva todo aquele distrito. Caminharam sempre ao poente, e depois de
vencerem sete léguas de espessura, toparam com o agregado de serras [...].
Pelo que desse registro se depreende, o nome Mato Grosso é originário de uma grande
extensão de sete léguas de mato alto, espesso, quase impenetrável, localizado nas margens do
rio Galera, percorrido pela primeira vez em 1734 pelos irmãos Paes de Barros. Acostumados a
andar pelos cerrados do chapadão dos Parecis, onde apenas havia algumas ilhas de arbustos
agrestes, os irmãos aventureiros, impressionados com a altura e porte das árvores, o emaranhado
da vegetação secundária que dificultava a penetração, com a exuberância da floresta, a
denominaram de Mato Grosso. Perto desse mato fundaram as Minas de São Francisco Xavier
e toda a região adjacente, pontilhada de arraiais de mineradores, ficou conhecida na história
como as Minas do Mato Grosso. Posteriormente, ao se criar a Capitania por Carta Régia de 9
de maio de 1748, o governo português assim se manifestou:
Dom João, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, [...] Faço saber a vós,
Gomes Freire de Andrade, Governador e Capitão General do Rio de Janeiro, que por resoluto
se criem de novo dois governos, um nas Minas de Goiás, outro nas de Cuiabá [...].
Dessa forma, ao se criar a Capitania, como meio de consolidação e institucionalização
da posse portuguesa na fronteira com o reino de Espanha, Lisboa resolveu denominá-las tão
somente de Cuiabá. Mas no fim do texto da referida Carta Régia, assim se exprime o Rei de
Portugal [...] por onde parte o mesmo governo de São Paulo com os de Pernambuco e Maranhão
e os confins do Governo de Mato Grosso e Cuiabá [...].
Apesar de não denominar a Capitania expressamente com o nome de Mato Grosso,
somente referindo-se às minas de Cuiabá, no fim do texto da Carta Régia, é denominado
plenamente o novo governo como sendo de ambas as minas, Mato Grosso e Cuiabá. Isso
ressalva, na realidade, a intenção portuguesa de dar à Capitania o mesmo nome posto anos antes
pelos irmãos Paes de Barros. Entende-se perfeitamente essa intenção.
Todavia, a consolidação do nome Mato Grosso veio rápido. A Rainha D. Mariana de Áustria,
ao nomear Dom Antônio Rolim de Moura como Capitão General, na Carta Patente de 25 de
setembro de 1748, assim se expressa: [...]; Hei por bem de o nomear como pela presente o
nomeio no cargo de Governador e Capitão General da Capitania de Mato Grosso, por tempo de
três anos [...].
A mesma Rainha, no ano seguinte, a 19 de janeiro, entrega a Dom Rolim a suas famosas
Instruções, que determinariam as orientações para a administração da Capitania, em especial os
tratos com a fronteira do reino espanhol. Assim nos diz o documento: [...] fui servido criar uma
Capitania Geral com o nome de Mato Grosso [...] § 1o - [...] atendendo que no Mato Grosso se
requer maior vigilância por causa da vizinhança que tem, houve por bem determinar que a
cabeça do governo se pusesse no mesmo distrito do Mato Grosso [...]; § 2o - Por se ter entendido
que Mato Grosso é a chave e o propugnáculo do sertão do Brasil [...].
E a partir daí, da Carta Patente e das Instruções da Rainha, o governo colonial mais
longínquo, mais ao oriente em terras portuguesas na América, passou a se chamar de Capitania
de Mato Grosso, tanto nos documentos oficiais como no trato diário por sua própria população.
Logo se assimilou o nome institucional Mato Grosso em desfavor do nome Cuiabá. A vigilância
e proteção da fronteira oeste era mais importante que as combalidas minas cuiabanas. A
prioridade era Mato Grosso e não Cuiabá.
Com a independência do Brasil em 1822, passou a ser a Província de Mato Grosso, e
com a República em 1899, a denominação passou a Estado de Mato Grosso.
A partir do início do século XIX, a extração de ouro diminui bastante, dessa maneira, a
economia começa um período de decadência e a população daquele estado para de crescer.
Militares e civis dão início a um movimento separatista, em 1892, contra o governo do então
presidente Mal. Floriano Peixoto. O movimento separatista é sufocado por intervenção do
governo federal.
A economia do estado começa a melhorar com a implantação de estradas de ferro e
telégrafos, época em que começam a chegar seringueiros, pessoas que cultivaram erva-mate e
criadores de gado.
Em 1977, Mato Grosso é desmembrado em dois estados: Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul. Depois da divisão, o Pará passou a ser o 2º maior estado brasileiro. Mato Grosso ainda
ocupa a terceira posição. O decreto que estabeleceu a divisão foi realizado em 11 de outubro de
1977, mas a criação do novo estado só ocorreu efetivamente em 1º de janeiro de 1979, quando
o presidente Ernesto Geisel assinou a Lei Complementar nº 31.

CUIABÁ - CAPITAL
No final do mesmo ano, Antônio Pedro de Alencastro assumiu o governo da província.
Nesse período, a Assembleia Provincial, mediante a lei nº 19, transfere a capital de Mato Grosso
de Vila Bela da Santíssima Trindade para Cuiabá. Esta mudança ocorreu em virtude de
dificuldades de comunicação e distância. Porém, por dificuldades administrativas, a capital
retornou para Vila Bela. Apenas em 1825, por decreto de Dom Pedro I, a capital estabeleceu-
se definitivamente em Cuiabá.
O Mato Grosso era o segundo maior estado do país até que, na década de 1970, foi
desmembrado, dando origem ao Mato Grosso do Sul. A decisão foi tomada por conta das
dificuldades governamentais para desenvolver a região devido à extensão e diversidade.

CULTURA E FOLCLORE
DANÇA E MÚSICA

A dança e a música de Cuiabá tem influências de origem africana, portuguesa,


espanhola, indígenas e chiquitana. É um conjunto muito rico de combinações que resultou no
rasqueado, siriri, cururu e outros ritmos. Os instrumentos principais que dão ritmo às músicas
e danças são: a viola de cocho, ganzá e mocho.
• Cururu: Música e dança típica de Mato Grosso. Do modo como é apresentado hoje é uma
das mais importante expressões culturais do estado. Teve origem à época dos jesuítas, quando
era executado dentro das igrejas. Mais tarde, após a vinda de outras ordens religiosas, caiu na
marginalidade e ruralizou-se. É executada por dois ou mais cururueiros com viola de cocho,
ganzás (kere-kechê), trovos e carreiras.
• Siriri: Dança com elementos africanos, portugueses e espanhóis. O nome indígena é
referência aos cupins com asa, que voavam num ritmo parecido com a dança nas luminárias. A
música é uma variação do cururu, só que com ritmo bem mais rápido. Os instrumentos
utilizados são: viola de cocho, o ganzá, o adufe e o mocho. Os versos são cantigas populares,
do cotidiano da região.
• Congo: Esta dança é um ato de devoção a São Benedito. No reinado do Congo os personagens
representados são: o Rei, o Secretário de Guerra e o Príncipe. Já no reino adversário, Bamba,
fica o Embaixador do Rei e doze pares de soldados. Os músicos ficam no reino de Bamba e
utilizam: ganzá, viola caipira, cavaquinho, chocalho e bumbo.

• Rasqueado: Tem origem no siriri e na polca paraguaia. O nome do ritmo é referência ao


rasqueado que as unhas fazem no instrumento de corda, uma forma tradicional de tocar
instrumentos. Na sua essência utiliza os mesmos instrumentos que o siriri: viola de cocho,
mocho, adufe e ganzá. Mas evoluiu para o uso de violões, percussão, sanfona e rabeca.
• Chorado: Dança surgida na primeira capital de Mato Grosso, Vila Bela de Santíssima
Trindade, no período colonial. A dança leva esse nome, pois representa o choro dos negros
escravos para seus senhores para que os perdoassem dos castigos imposto aos transgressores.
O ritmo da música é afro, com marcações em palmas, mesa, banco ou tambor.
• Dança dos Mascarados: Dança executada durante a Cavalhada em Poconé. E uma
apresentação composta apenas por homens - adultos e crianças. Tem esse nome por executarem
a dança com máscaras de arame e massa. O ritmo é instrumental com o uso de saxofone, tuba,
pistões pratos e tambores. O município de Poconé é o único do Brasil a realizar esse espetáculo.

MITOS E LENDAS
• Currupira
Este personagem faz parte do folclore nacional, mas tem bastante espaço no meio rural de Mato
Grosso. Um garoto com os pés virados, que vaga pela mata aprontando estripulias. Em Mato
grosso diz-se que ele protege os animais selvagens da caça e chama garotos que caçam
passarinhos para dentro da mata – esta parte é usada pelos adultos para manter as crianças longe
da mata fechada.
• O Minhocão
Este ser mítico é o Monstro do Lago Ness de Cuiabá. Relatos dos mais antigos atestam que um
ser em forma de uma cobra gigante, com cerca de 20 metros de cumprimento e dois de diâmetro,
morava nas profundezas do rio e atacava pescadores e banhistas. A lenda percorre toda extensão
do rio e foi passada de boca a boca pelos mais velhos.

• Boitatá
O nome quer dizer “cobra de fogo” (boia = cobra / atatá = fogo). É uma cobra transparente que
pega fogo como se queimasse por dentro. É um fogo azulado. Sua aparição é maior em locais
como o Pantanal, onde o fenômeno de fogo fátuo é mais comum. Esse fenômeno se dá por conta
da combustão espontânea de gases emanados de cadáveres e pântanos.
• Cabeça de Pacu
Se você estiver de passagem por Mato Grosso é bom ficar atento ao Pacu. De acordo com a
lenda local, quem come cabeça de Pacu nunca mais saí de Mato Grosso. Se o viajante for
solteiro não tardará a casar com uma moça da terra, caso for casado, vai fincar raízes e
permanecer no estado.

FESTAS TÍPICAS
• CAVALHADA
A Cavalhada é uma das mais ricas manifestações da cultura popular da cidade de Poconé, que
rende homenagem a São Benedito. Uma festa organizada por famílias tradicionais da região,
carrega o Pantanal para uma longínqua Idade Média. Trata-se de uma disputa entre mouros e
cristãos. Nesta luta são utilizados dezenas de cavalos e cavaleiros que têm por objetivo salvar
uma princesa presa em uma torre permanentemente vigiada. Em dia de Cavalhada, a cidade de
Poconé amanhece azul e vermelha, as cores que representam os cristãos e os mouros, um
exemplo puro de cultura e paixão por suas raízes.

• FESTA DE SÃO BENEDITO


Geralmente realizada entre a última semana de junho e a primeira de julho, movimenta milhares
de fiéis, em procissão com bandeiras e mastros tão criativos quanto singelos. Ao final da
procissão é levantado o mastro em homenagem ao santo. Dias antes do festejo há um ritual no
qual os festeiros percorrem as ruas da cidade levando a bandeira do santo de casa em casa e
recebendo donativos. Durante os dias de festa há fartura de comida e diversas iguarias, com
distribuição de alimentos.
ARTESANATO
O artesanato mato-grossense reflete o modo de vida do artesão. Em cada obra, vemos
representado o dia-a-dia e os costumes da sociedade. Verdadeiras obras de arte enriquecem a
cultura mato-grossense e transformam o cotidiano num encanto de belezas. São objetos de
barro, madeira, fibra vegetal, linhas de algodão e sementes.
Dentro do artesanato mato-grossense a cerâmica é a que mais se destaca pelas suas
formas e perfeições. Feita de barro cozido em forno próprio, ela é muito utilizada para a
fabricação de utensílios domésticos e objetos de ornamentação. Na divulgação da arte, cultura
e tradição mato-grossense, a tecelagem também detém grande representatividade,
principalmente pela beleza das cores refletidas nas redes tingidas e bordadas, uma a uma, pelas
mãos das rendeiras. A mistura de cores forma lindas imagens, que vão desde araras e onças até
belas flores nativas.
Indígena
A cultura mato-grossense sofre forte influência dos indígenas, através de seus costumes
e tradições. O artesanato é forte e expressivo, representando o modo de vida de cada tribo. Eles
preservam a arte de confeccionar cocar, colares, brincos e pulseiras, utilizando-se das matérias-
primas oriundas da natureza, como sementes, penas e pigmentos.

LINGUAJAR
Mato Grosso é uma terra de vários sotaques. Com influência de Gaúchos, mineiros,
paulistas, portugueses, negros, índios e espanhóis, o estado não tem uma fala própria. Em
lugares como Sorriso, Lucas do Rio Verde e Sinop o acento do sul fica mais evidente. É claro
que o língua é porosa e a influência se faz presente, até mesmo nas comunidades mais fechadas.
No entanto, em Mato Grosso, temos o falar cuiabano, talvez o sotaque mais marcados da língua
portuguesa. Com expressões próprias como “vôte” e “sem-graceira” esse falar se mistura com
uma entonação diferente, como a desnasalização no final de algumas palavras. Infelizmente ele
é um dos menos retratados na cultura nacional, nunca apareceu em uma novela ou filme de
sucesso nacional e não possui uma identificação imediata.
Devido ao seu enorme isolamento por conta da distância e acontecimentos históricos, o
linguajar guardou resquícios do português arcaico, misturou-se com o falar dos chiquitanos da
Bolívia e dos índios das diversas tribos do estado.Antônio de Arruda descreveu algumas
expressões idiomáticas que são verificadas num glossário do Linguajar Cuiabano:

• É mato - abundante. • Pau-rodado - pessoa de fora que passa a


• Embromador - tapeador. residir na cidade.
• Fuxico - mexerico. • Perrengue - molóide, fraco.
• Fuzuê - confusão, bagunça. • Pinchar - jogar fora.
• Gandaia - farrear, adotar atitude suspeita. • Quebra torto - desjejum reforçado.
• Ladino - esperto, inteligente. • Ressabiado - desconfiado.
• Molóide - fraco. • Sapear - assistir do lado de fora.
• Muxirum - mutirão. • Taludo - crescido forte.
• Vote! - Deus me livre

SÍMBOLOS OFICIAIS
BRASÃO
O brasão do estado de Mato Grosso foi instituído inicialmente em 14 de agosto de 1918,
por iniciativa do governador Dom Aquino Correia. No Brasão de Armas do Estado de Mato
Grosso destaca-se uma frase em latim: "Virtute Plusquam Auro", uma mensagem de honra e
dignidade. A sua tradução corresponde a "Pela virtude mais do que pelo ouro".
BANDEIRA
Das 27 estrelas que representam as unidades federativas na bandeira do Brasil, Mato
Grosso ficou com a Sirius, considerada pelos astrônomos como a mais brilhante do céu noturno.
É por isso que a bandeira do estado tem uma grande estrela amarela no centro.
Historiadores também atribuem a ela a representação do ideal republicano e as riquezas
minerais do estado, que tanto atraiam os primeiros colonizadores.
O azul, branco, verde e amarelo são as mesmas cores da bandeira do Brasil, o que
demonstrava interesse na integração do estado com o Brasil. Separadamente as cores
representam o céu (azul), a paz (branco), a extensão territorial e natural (verde) e as riquezas
minerais como o ouro abundante (amarelo).
A bandeira de Mato Grosso é uma das mais antigas do Brasil. Foi oficializada no dia 31
de janeiro de 1890 por meio do decreto nº 2, de autoria do Brigadeiro Antônio Maria Coelho,
barão de Amambaí, primeiro governador do Estado após a proclamação da República. Após a
divisão, Mato Grosso manteve sua bandeira.

HINO MATO GROSSO


Apesar de ser bastante antigo, o hino de Mato Grosso só foi oficializado no dia 05 de
setembro de 1983 pelo então governador Júlio José de Campos. O decreto oficializou o antigo
poema “Canção Mato-grossense”, de autoria de Dom Francisco de Aquino Corrêa (ao lado), e
a música do maestro e tenente da Polícia Militar Emílio Heine.
Registros históricos apontam que o hino foi cantado em público pela primeira vez
durante a cerimônia das comemorações do bicentenário de fundação de Cuiabá, em 08 de abril
de 1919.

29
Letra do Hino de Mato Grosso
Limitando, qual novo colosso, Hévea fina, erva-mate preciosa,
O Ocidente do imenso Brasil, Palmas mil são teus ricos florões;
Eis aqui, sempre em flor, Mato Grosso, E da fauna e da flora o índio goza
Nosso berço glorioso e gentil! A opulência em teus virgens sertões!

Eis a terra das minas faiscantes, O diamante sorri nas grupiaras


Eldorado como outros não há, Dos teus rios que jorram, a flux.
Que o valor de imortais bandeirantes A hulha branca das águas tão claras,
Conquistou ao feroz Paiaguá! Em cascatas de força e de luz!

Salve, terra de amor, Salve, terra de amor,


Terra de ouro, Terra de ouro,
Que sonhara Moreira Cabral! Que sonhara Moreira Cabral!
Chova o céu Chova o céu
Dos seus dons o tesouro
Sobre ti, bela terra natal! Dos seus dons o tesouro
Sobre ti, bela terra natal!
Terra noiva do Sol, linda terra Dos teus bravos a glória se expande
A quem lá, do teu céu todo azul, De Dourados até Corumbá;
Beija, ardente, o astro louro na serra, O ouro deu-te renome tão grande,
E abençoa o Cruzeiros do Sul! Porém mais nosso amor te dará!

No teu verde planalto escampado, Ouve, pois, nossas juras solenes


E nos teus pantanais como o mar, De fazermos, em paz e união,
Vive, solto, aos milhões, o teu gado, Teu progresso imortal como a fênix
Em mimosas pastagens sem par! Que ainda timbra o teu nobre brasão!

Salve, terra de amor, Salve, terra de amor,


Terra de ouro, Terra de ouro,
Que sonhara Moreira Cabral! Que sonhara Moreira Cabral!
Chova o céu Chova o céu
Dos seus dons o tesouro Dos seus dons o tesouro
Sobre ti, bela terra natal! Sobre ti, bela terra natal!

PATRIMÔNIO HISTÓRICO
O Patrimônio Histórico de Mato Grosso vem sendo revitalizado através de várias ações
em âmbito estadual. Imóveis que contam a história coletiva dos povos mato-grossenses, como
igrejas e museus, são alvos de projetos de recuperação em várias cidades como Vila Bela de
Santíssima Trindade, Diamantino, Rosário Oeste, Cáceres e Poxoréo.

30
Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho
A igreja dedicada à Nossa Senhora foi uma das primeiras a serem levantadas em Cuiabá,
ainda no século XVIII. A construção atual, entretanto, data de 1918, iniciada durante a
presidência de Dom Francisco de Aquino Correia, que também era arcebispo de Cuiabá na
época. Tombada estadualmente em 1977, a Igreja foi reinaugurada em 2004 após passar por um
amplo processo de recuperação feito em parceria pelos governos estadual e federal.

Palácio da Instrução
Belíssima construção em pedra canga, localizada na região central de Cuiabá, ao lado
da Catedral Metropolitana. Inaugurado em 1914, é hoje a sede da Secretaria Estadual de
Cultura, do Museu de História Natural e Antropologia e da Biblioteca Pública.
O Palácio da Instrução foi reinaugurado no dia 06 de dezembro de 2004. O projeto foi
considerado a maior obra de recuperação feita até hoje no Estado.

31
Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito
A igreja é um dos marcos de fundação da cidade de Cuiabá, tendo sido construída em
arquitetura de terra em torno de 1730, próximo às águas do córrego da Prainha, em cujas águas
Miguel Sutil descobriu as minas de ouro que impulsionariam a colonização da região.

Igreja Senhor dos Passos


Instalada há 214 anos num cantinho discreto do Centro Histórico – no movimentado
cruzamento das ruas 7 de setembro e Voluntários da Pátria -, a Igreja do Nosso Senhor dos
Passos guarda muitas histórias e lendas, que se confundem, e revelam aspectos do folclore, das
crendices e do espírito religioso da Cuiabá antiga.

32
Museu Histórico de Mato Grosso
O prédio do antigo Thesouro do Estado foi recuperado e entregue em novembro de 2006.
Atualmente, abriga o Museu Histórico de Mato Grosso. O acervo do Museu contém
documentos, maquetes e registros que vão desde os tempos pré-históricos de ocupação do
território, passando pelos períodos colonial e imperial do Estado até chegar à Política
Contemporânea.

Antiga Residência Oficial dos Governadores de Mato Grosso


A Residência Oficial dos Governadores de Mato Grosso foi construída entre os anos de
1939 e 1941, no Governo do Interventor Júlio Müller. Getúlio Vargas, que ocupava o Palácio
do Catete no Rio de Janeiro à época, foi o primeiro presidente brasileiro a visitar o Estado e,
também, o primeiro hóspede ilustre da casa.
Durante 45 anos a residência abrigou 14 dirigentes do Estado de Mato Grosso e seus
familiares. Foi palco de grandes decisões políticas e governamentais, sendo desativada como
residência oficial em 1986. A última reforma/restauro, em 2000, devolveu a residência suas
características do projeto original.

33
MARECHAL CÂNDIDO RONDON
Cândido Mariano da Silva Rondon, o Marechal da Paz e Patrono das Comunicações,
nasceu em 5 de maio de 1865, na cidade de Mimoso, estado de Mato Grosso, e faleceu em 19
de janeiro de 1958, no Rio de Janeiro.
Engenheiro, formado pela Escola Militar, na Praia Vermelha, Rondon foi professor de
Matemática, Ciências Físicas e Naturais, além de ter sido um dos nossos primeiros e mais
importantes indigenistas, etnólogos, antropólogos, geógrafos, cartógrafos, botânicos e
ecologistas.
Durante 40 anos, percorreu, a pé, em lombos de mulas ou em frágeis canoas, cerca de
77 000km (quase duas voltas em torno da Terra), desbravando o sertão brasileiro. Nessas
expedições, implantou o telégrafo, nosso primeiro sistema de telecomunicações, nas
completamente isoladas regiões Centro-Oeste e Norte e, assim, conseguiu integrar dois “brasis”
que não se falavam: o “Brasil do litoral” com o “Brasil do interior”. E as estações telegráficas
que construiu no Pantanal e na Floresta Amazônica se tornaram importantes cidades.
Rondon, em companhia de Theodore Roosevelt, ex-presidente norte-americano, e das
comitivas brasileira e americana, durante a Expedição Roosevelt-Rondon (1913-1914),
enfrentou todos os tipos de adversidades – fome,
sede, calor escaldante, frio, doenças tropicais,
animais selvagens, nuvens de mosquitos,
formigas gigantes, insetos e animais
peçonhentos, emboscadas de índios, naufrágios
de canoas, mortes por afogamentos e até por
assassinato – para explorar o enigmático rio da
Dúvida, um rio que se sabia onde nascia, mas se
desconhecia o seu curso e onde desaguava. E, ao
final de tanto sacrifício, colocou no mapa do
Brasil um importante rio, com cerca de 1 500 km
de extensão, batizado de rio Roosevelt.
Entre 1927 e 1930, Rondon percorreu as
nossas fronteiras de Norte a Sul, demarcando-as
e estudando as condições de povoamento
daquelas regiões isoladas da civilização.

34
Como verdadeiro predecessor das atuais missões de paz da ONU em regiões
conflagradas, entre 1934 e 1938, ainda sob a Liga das Nações, Rondon, presidindo a Comissão
Mista, com a assinatura do Pacto de Amizade e Cooperação, restabeleceu a paz entre Peru e
Colômbia, que estavam em estado de beligerância pela posse da cidade de Letícia.
Porém, a causa por que Rondon mais se bateu foi a luta pelos direitos dos povos da
floresta. Além de criar, em 1910, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), nas expedições que
avançavam por territórios indígenas, ele alertava aos seus comandados que:

“Somente pela paz e jamais


pela guerra deveremos penetrar
pelos sertões!”
Quando atacado por índios que, na verdade, só estavam defendendo os seus territórios,
a ordem era:
“MORRER, SE PRECISO FOR; MATAR, NUNCA!”
Em reconhecimento ao seu trabalho pacificador, Rondon foi, por duas vezes, indicado
ao Prêmio Nobel da Paz, sendo uma delas pelo eminente físico Prof. Albert Einstein. O
Congresso Internacional de História das Ciências (Lisboa, 1938) tornou Rondon o único
homem a dar nome a um meridiano terrestre, o de número 52 se chama Meridiano Rondon. A
Sociedade de Geografia de Nova York lhe concedeu o Prêmio Livingstone e gravou o seu nome
em placa de ouro entre os cinco maiores exploradores do planeta, sendo Rondon o que mais se
aventurou por terras tropicais. Sobre ele, assim falou o ex-presidente norte-americano Theodore
Roosevelt:
“A AMÉRICA PODE APRESENTAR AO MUNDO DUAS REALIZAÇÕES
CICLÓPICAS: AO NORTE, O CANAL DO PANAMÁ; AO SUL, O TRABALHO DE
RONDON – CIENTÍFICO, PRÁTICO, HUMANITÁRIO”.

35
Um exemplo é uma declaração do marechal em 1910, em carta ao ministro da
Agricultura: “Que lhes seja respeitada a posse da terra onde vivem, em todos os tempos
violentamente invadidas pela civilização”. Rondon seguia algumas leis, que demonstram tanto
sua busca da defesa dos índios quanto sua tentativa de “civilizá-los”. Em conferência realizada
em 1940, ele as enumera:
1. Não afastar o índio do seu habitat, pois conhecemos o efeito desastroso desse
afastamento.
2. Não forçá-lo a trabalhos e respeitar sua organização tribal.
3. Criar-lhe, pelo exemplo, e pelo fornecimento de coisas úteis, novas necessidades.
4. Induzi-los, por meios suasórios, aos trabalhos do seu agrado e que lhes forneçam
recursos para a compra dos artigos correspondentes às suas novas necessidades.
5. Revelar-lhe, pelo ensino livre e adequado, novos horizontes de vida, selecionando os
mais capazes para guias do seu povo.
6. Ter em vista, quanto aos trabalhos, o regime gregário de atividade indígena, não só
na execução, mas, sobretudo, na distribuição dos produtos, o que impedirá toda tentativa de
loteamento.
A função primeira de Rondon era garantir a presença do Estado em regiões ainda
pouquíssimo conhecidas, desbravando a Floresta Amazônica e implantando linhas de telégrafo.
Entre 1907 e 1915, ele instalou cerca de 1.600 km de linhas telegráficas ligando Cuiabá, no
Mato Grosso, a Santo Antônio, Rondônia. Contudo, bisneto de índios (bororó e terena, por parte
da mãe, e guará, por parte de pai), Rondon esteve sempre em busca de contato com as tribos
dos locais por onde passava. Também buscava mapear cada recanto, analisando sua flora e
fauna. Foi um dos grandes exploradores do início do século passado. E ficou mundialmente
famoso por conta de sua missão conjunta como ex-presidente americano Theodore Roosevelt.

O ex-presidente americano Rondon (à esquerda) e Roosevelt (à direita), entre outros componentes


Theodore Roosevelt e o da expedição Roosevelt-Rondon, em 1914: ex-presidente esteve à beira da morte
marechal Rondon, na numa região além do alcance dos mapas da época
célebre expedição ao rio das
Dúvidas

36
Em seu caminho pelas florestas inexploradas, tribos hostis foram o menor dos percalços.
Doenças como malária sugaram as forças das tropas que o acompanharam e mataram muitos
de seus homens. O próprio Rondon esteve à beira da morte. A caminhada pela floresta era dura.
A fome rondava, já que não havia, inicialmente, postos de reabastecimento. Muitas vezes, os
soldados precisavam caçar o alimento do dia. O resultado era uma enorme quantidade de
deserções entre os praças designados para trabalhar com o marechal. “A nossa resistência física
se dobrava sob o peso da fome e das privações de toda sorte que nos atormentaram durante a
travessia”, declarou Rondon sobre a segunda expedição ao rio Madeira.
Ainda assim, o militar e seus comandados foram abrindo caminho por entre as árvores
e rios, levantando postes e construindo postos de telégrafo em meio à selva. No entanto, como
conta Todd Diacon, os números mostram que a obra não significou uma revolução em termos
de comunicação para a região. Uma das estações, por exemplo, a Presidente Hermes, só mandou
38 telegramas em 1924, e só recebeu 15 ao longo daquele ano.
“Quando o último prego da linha telegráfica ligando Cuiabá a Rondônia foi pregado, a
tecnologia das transmissões por rádio se estabeleceu e criou-se o telégrafo sem fio. O
importante não foi a linha em si, e sim a exploração de uma região inexplorada e o contato
cordial com os indígenas. Rondon era um excelente geógrafo e naturalista, trouxe as primeiras
informações sobre muitos lugares do Brasil. Trouxe conhecimento de território, de plantas,
animais, além da descrição de tribos e seus costumes. Além disso, foi ele quem convenceu a
população brasileira de que valia a pena defender os índios. Nesse sentido, pode-se dizer que o
legado que Rondon deixou foi de humanismo”.
No entanto, havia uma contradição entre a política de proteção aos índios e a política
desenvolvimentista. A Comissão Rondon acabou abrindo caminho para o estabelecimento de
seringueiros ao longo da linha de telégrafo, o que foi comemorado como uma demonstração de
ocupação das terras do interior do Brasil. Com isso, aumentou-se, e muito, o número de ataques
a índios por seringueiros e por companhias em busca de territórios para exploração da borracha.
“A política de integração também foi muito problemática. Primeiro, pelas epidemias de
gripe e sarampo, vírus com os quais os índios nunca tinham tido contato e, portanto, não haviam
desenvolvido nenhuma resistência. Os homens da Comissão Rondon inadvertidamente levaram
esse vírus para as tribos, e eles dizimaram populações inteiras. Segundo, era simplista demais.
Preocupava-se em garantir pequenas extensões de terra às comunidades. Mas tribos caçadoras
precisavam de terras amplas e não se tornariam agricultores de um dia para o outro. Por fim,
havia o aspecto da ‘religião’ de Rondon, o positivismo: colocava-se os índios para adorar a
bandeira brasileira”.

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Já nos anos 1940, os irmãos Leonardo, Orlando e Cláudio Villas-Boas, que em 1948
chefiaram a Expedição Roncador-Xingu, foram seguidores de Rondon e mantiveram com ele
extensa troca de correspondência. Mas levaram suas ideias a um patamar mais próximo ao atual,
buscando a proteção não só de suas vidas, mas de sua cultura. “Ainda assim, quem inventou o
apoio do Estado à sobrevivência indígena foi Rondon. Ele foi, sim, um herói cultural. E, no fim
da vida, admitiu em carta aos irmãos Villas-Boas que eles estavam certos, que a melhor política
era interagir, mas mantendo a identidade e a cultura de cada povo”.

IRMÃOS VILLAS BOAS


Deixar a zona de conforto e se arriscar em um empreendimento que tem 50% de chances
de não dar certo, movido pelos 50% de chances que existem de ser algo capaz de mudar o
mundo. Essa bem que poderia ser simplesmente uma das milhares de definições prontas sobre
o que é empreendedorismo que existem por aí. E, de certa forma, não deixa de ser. Mas é,
principalmente, um resumo do resumo do que foi a vida e o trabalho dos irmãos Orlando,
Cláudio e Leonardo Villas-Boas.

No final dos anos 1930, o presidente Getúlio Vargas lançou a Marcha para o Oeste, com
o intuito de estender a presença do Estado ao Centro-Oeste e Norte do país. Em 1943, os irmãos
Villas-Boas se alistaram na primeira expedição do projeto, a Roncador-Xingu, deixando tudo
para trás, inclusive as carreiras profissionais que tinham até então. A viagem para aquele mundo
desconhecido mudou para sempre suas vidas e se transformou em um capítulo importante da
História do Brasil.

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Instruídos, os Villas-Boas precisaram se passar por analfabetos para serem aceitos no
grupo, já que o intuito do governo naquele momento era recrutar, majoritariamente,
trabalhadores braçais, para abrir caminhos e ocupar terras. No entanto, graças aos
conhecimentos que tinham sobre a região alvo da expedição e os métodos de organização que
dominavam, os irmãos logo assumiram postos de comando. Orlando, o mais velho dos três,
acabou se tornando o grande líder.

Irmãos Villas-Boas:
os sertanistas
empreendedores do
Brasil
Grande negociador, Orlando foi o responsável por mediar a maioria dos contatos feitos
na região e intermediar a maior parte dos conflitos. Com uma visão sistêmica que poucos
tinham, foi capaz de garantir o andamento da expedição e, ao mesmo tempo, garantir a
preservação do espaço e cultura das comunidades indígenas encontradas no caminho.
Sem soberba pela posição de liderança conquistada, os três colocaram a mão na massa
tal qual todos os outros sertanistas integrados na expedição. Abriram estradas, construíram
pontos de apoio, carregaram suprimentos e fizeram vários outros trabalhos braçais, como
qualquer outro integrante da expedição. No fim das contas, tomaram parte em todas as etapas
o processo que lideraram.
Ao longo de quase 30 anos dedicados ao trabalho entre o Centro-Oeste e o Norte, os
irmãos Villas-Boas foram responsáveis por conduzir a fundação de quase 40 cidades e vilas, a
abertura de 1.500 km de estradas, a criação do Parque Nacional do Xingu e, principalmente, a
desconstrução da imagem histórica que o país tinha de que os índios eram simplesmente
selvagens, sem cultura nem organização social.
A jornada dos três irmãos foi contada nos livros de História, no cinema e na TV pela
ótica da aventura, mas poderia, muito bem, ser um grande case em livros de Administração. No
fim das contas, ela é um exemplo do que é empreender e, principalmente, da diferença que uma

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boa administração - conduzida por líderes capazes de enxergar todos os fatores que envolvem
o empreendimento - faz para o sucesso de uma iniciativa. Afinal, os sertanistas puseram em
prática, como poucos, habilidades que o mercado espera do profissional ideal: iniciativa,
"acabativa", liderança, capacidade de negociação, visão sistêmica e paixão.

LINHA DO TEMPO
1943 – Os irmãos ingressam na Expedição Roncador Xingu
1947 – Grupo ergue o posto Jacaré, o mais importante da região na época
1954 – Irmãos Villas-Bôas usam influência na imprensa para pressionar o governo federal a
barrar ocupação do Xingu incentivada pelo governo do Mato Grosso
1960 – Orlando e Cláudio recebem a missão de marcar o centro geográfico do Brasil
1961 – O Parque Indígena do Xingu é criado
1967 – Governo cria a Funai e oferece a presidência a Orlando, que rejeita
1976 – Cláudio e Orlando são indicados ao prêmio Nobel da Paz pelo resgate das tribos
xinguanas, levadas para o Parque do Xingu.

MARCHA PARA O OESTE


A denominada "Marcha para o Oeste" foi um projeto dirigido pelo governo Getúlio
Vargas no período do Estado Novo, para ocupar e desenvolver o interior do Brasil. Tal projeto
foi lançado na véspera de 1938, e nas palavras de Vargas, a Marcha incorporou "o verdadeiro
sentido de brasilidade", uma solução para os infortúnios da nação.

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Apesar do extenso território, o Brasil havia prosperado quase que exclusivamente na
região litoral, enquanto o vasto interior mantinha-se estagnado, vítima da política mercantilista
colonial, da falta de estradas viáveis e de rios navegáveis, do liberalismo econômico e do
sistema federalista que caracterizaram a República Velha (1889-1930).

O começo de uma jornada épica que redescobriu o Brasil.


A Marcha para o Oeste, projeto iniciado em 1938 pelo
governo Getúlio Vargas, ligou o litoral ao interior ainda
desbravado e resultou na formação da maior colônia
agrícola do país, além de impulsionar a expedição
Roncador-Xingu dos irmãos Villas-Boas que mergulhou
em uma Amazônia ainda virgem de contatos com o
homem branco.

Mais de 90% da população brasileira ocupava cerca de um terço do território nacional.


O vasto interior, principalmente as regiões Norte e Centro-oeste, permanecia esparsamente
povoado. Muitos índios fugiram para o interior justamente por estas razões. Mas os seus dias
de isolamento, anunciava o governo então, estavam contados.
Até a segunda metade do século XX, o Brasil Central continuava a ser uma área
desconhecida para a maior parte dos brasileiros, carregando ares mitológicos devido a seu
território pouco desbravado e hostil. No censo de 1940, por exemplo, o sul mato-grossense
contava com somente 238.640 habitantes. Esse que era considerado um vazio populacional no
Mato Grosso do Sul passou, a partir de então, a servir de atrativo para empresas colonizadoras
entusiasmadas com o sucesso de suas similares empreitadas nos estados de São Paulo e Paraná
– neste último, por exemplo, a Companhia de Terras Norte do Paraná foi responsável, nas
décadas de 1920 e 1930, por toda a colonização de sua região oeste, compreendendo hoje
municípios como Londrina e Maringá, através de um sistema de pequenos loteamentos rurais
para imigrantes que escapavam das dificuldades econômicas e conflitos da Primeira e Segunda
guerras mundiais.

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A ocupação do centro-oeste visava também a ser uma etapa preliminar à ocupação da
Amazônia. Em Goiás foi instalada a primeira colônia agrícola, em 1941, na cidade de Ceres, a
Colónia Agrícola Nacional de Goiás (CANG).

Os Objetivos da Macha Para o Oeste eram basicamente:


• Política demográfica de incentivo à migração;
• Criação de colônias agrícolas;
• Construção de estradas;
• Reforma Agrária;
• Incentivo à produção agropecuária de sustentação.
Em boa parte, tal sonho progressista se concretizou. Transcorrida por cerca de quarenta
anos, a Marcha Para o Oeste fundou cerca de 43 vilas e cidades, construiu 19 campos de pouso,
contatou mais de cinco mil índios e percorreu 1,5 mil quilômetros de picadas abertas e rios.

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REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
Fonte: Decreto N° 38, de 03 de maio de 1983.
http://www.mt.gov.br/historia
https://www.resumoescolar.com.br/historia-do-brasil/historia-do-mato-grosso/
http://www.portalmatogrosso.com.br
Fonte: Secretaria de Cultura de Mato Grosso
Fonte: LOUREIRO, Antônio. Cultura mato-grossense. Cuiabá, 2006
Fonte: ARRUDA, Antônio. O Linguajar Cuiabano E Outros Escritos. Cuiabá, 1998.
Fonte: Secretaria de Cultura de Mato Grosso
Fonte: Mato Grosso e seus Municípios
Fonte: Decreto 5.003, de 29 de agosto de 1994.
Fonte: Decreto 2/1890 e SIQUEIRA, Elizabeth Madureira, História de Mato Grosso, Mato
Grosso, 2002.
Fonte: Embrapa e IBGE
SOUSA Rainer Graduado em História Equipe Brasil Escola
Fonte: Silva & Freitas (2000).
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: Da ancestralidade aos dias atuais.
Cuiabá: Entrelinhas, 2002. p. 30-33
Fonte: Silva (1997).

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