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História do Amazonas

A História do Amazonas é o domínio da História concentrado na evolução do estado do Amazonas, na região norte do Brasil. A
rigor, a História amazonense começa antes do descobrimento do Brasil, quando o atual território do estado era povoado por índios das
nações jê e aruaque, entre outros.

Etimologia e história

Icamiabas [1] é uma palavra tupi que designa o nome dado às mulheres sem homens, ou ainda mulheres que ignoram a lei. Antes de ser
chamado de ser batizado de rio Amazonas, o mesmo era chamado de rio das Icamiabas [2]. As icamiabas eram as índias que
dominavam aquela região, riquíssima em ouro. Quando Orellana [3] desceu o rio em busca de ouro, descendo os Andes (em 1541) ele
era chamado de rio Grande, Mar Dulce ou rio da Canela, por causa das grandes árvores de canela que existiam ali [4]. A belicosa
vitória das icamiabas contra os invasores espanhóis foi tamanha que o fato foi narrado ao rei Carlos V, o qual, inspirado nas guerreiras
hititas [5] ou amazonas, batizou o rio de Amazonas. Amazonas é o nome dado pelos gregos às mulheres guerreiras.

No livro Matriarchat in Südchina: Eine Forschungsreise zu den Mosuo (Taschenbuch), a autora, Heide Göttner-Abendroth, revela a
raiz comum da palavra Ama para a sociedade matriarcal ainda existente na China, no povoado de Moso, cujo significado é mãe, na
língua local dos mosos; a palavra ainda encontra a mesma raiz no norte da África, aonde também o matriarcado existiu e os quais se
auto denominavam amazigh. Por esta razão, a antiga palavra Ama tem o significado de Mãe no sentido mais estrito; no sentido
figurativo denomina cultura matriarcal [6].

Primeiras explorações

Originalmente, a área do atual Estado do Amazonas não integrava as terras portuguesas, conforme os termos do Tratado de
Tordesilhas, ficando sob domínio espanhol. O primeiro europeu a percorrer todo o curso do rio Amazonas teria sido o espanhol
Francisco de Orellana, entre 1539 e 1541, desde a cordilheira dos Andes até ao Oceano Atlântico. Iniciava-se, à época, a lenda de que
a mítica cidade de El Dorado ficaria em algum ponto entre o Amazonas e as Guianas. Orellana afirmou ter encontrado e combatido
uma tribo de mulheres guerreiras e por isso batizou aquele curso de "rio das Amazonas", em referência às personagens da mitologia
grega. Um companheiro de Orellana, Gonzalo Hernández de Oviedo y Valdés, divulgou relatos da expedição, com descrição das
riquezas e dos habitantes da região, que foram publicados em Veneza em 1556. Uma nova expedição em 1561 tentou repetir a façanha
de Orellana, mas quase não conseguiu: o comandante, Pedro de Ursua, foi assassinado pelo seu sucessor, Lope de Aguirre, que
enlouqueceu vítima de delírio tropical. Cruel em todos aspectos Aguirre também matou sua filha de quinze anos e vários índios.

A primazia da ocupação da foz do grande rio (atuais estados do Amapá e do Pará), em função da sua exploração econômica, coube a
ingleses e holandeses, que instalaram feitorias nas margens dos maiores rios da região, para extrair madeira e especiarias, como o
cravo, o urucum, o guaraná, resinas e outros (as chamadas drogas do sertão), desde 1596.

Assim, desde cedo a economia da região amazônica se baseou no extrativismo e não na agromanufatura açucareira, como em outras
regiões coloniais.

A Dinastia Filipina

As expedições de Orellana e Pedro Teixeira percorreram todo o rio Amazonas, desde a foz (à direita) até o Equador (à esquerda).

Com a Dinastia Filipina, em 1580, a linha de Tordesilhas perdeu, na prática, o seu efeito. Ao mesmo tempo, os inimigos da Espanha
passaram a sentir-se livres para incursionar sobre os domínios ultramarinos portugueses.

Em 1612, o rei Jaime I da Inglaterra comissionou Robert Harcourt para explorar a região. No mesmo ano, os franceses fundaram a
França Equinocial na ilha de São Luís, na costa do Maranhão, conquistada em fins de 1615 por tropas luso-espanholas. Após essa
conquista, Francisco Caldeira de Castelo Branco foi designado para avançar rumo à foz do grande rio, fundando em dezembro desse
mesmo ano o Forte do Presépio, núcleo da atual cidade de Belém do Pará. O território foi incorporado ao Estado do Maranhão criado
em 1621 por Filipe III de Espanha. Recorde-se que Marañón era o nome dado pelos espanhóis ao rio Amazonas, e continua a sê-lo até
hoje, no Peru.

Entre 1637 e 1639, uma expedição comandada por Pedro Teixeira subiu e desceu o curso do rio Amazonas, chegando até Quito, no
Equador, fundando a atual cidade de Franciscana, já em território peruano.

Com a Restauração Portuguesa, em 1640, o Estado do Maranhão voltou à soberania de Lisboa, agora expandido, uma vez que por essa
época, os portugueses, a partir de Belém do Pará, já promoviam expedições regulares no Amazonas e no baixo rio Madeira.

Os bandeirantes
Entre 1648 e 1652, o bandeirante paulista Antônio Raposo Tavares saiu em seu périplo e, subindo a bacia do rio Paraguai, atingiu o
Guaporé (atual Rondônia), percorreu o Altiplano, e de lá alcançou e desceu o Amazonas até Gurupá, no Pará, junto à foz. Foi a
primeira expedição luso-brasileira de amplo reconhecimento.

Ocupação portuguesa

Em 1669, foi fundado o Forte de São José da Barra do Rio Negro, na área onde hoje fica Manaus, pelo capitão português Francisco da
Mota Falcão. A fortificação serviu como base para o (esparso) povoamento da bacia amazônica, permitindo a subida dos rios Negro e
Branco, no atual Roraima, de onde se chegava ao Orinoco. Também começou a ocupação dos rios Solimões (Alto Amazonas) e
Madeira. Os primeiros colonos enfrentaram hostilidade dos nativos, como as tribos dos torás e manaós (que deram origem ao nome da
capital) do cacique Ajuricaba, que investiam contra os povoamentos e destruíam casas e instalações.

Para catequizar (e pacificar) os índios, os jesuítas (principalmente espanhóis) construíram missões, principalmente nas bacias do
Solimões e do Juruá, liderados pelo padre Samuel Fritz. No entanto, a atividade missionária foi vista como ocupação estrangeira e a
Coroa portuguesa determinou a expulsão dos jesuítas da região. As campanhas militares contra as missões ocorreram entre 1691 e
1697, comandadas por Inácio Correia de Oliveira, Antônio de Miranda e José Antunes da Fonseca no Solimões e Francisco de Melo
Palheta no Alto Madeira. Belchior Mendes de Morais garantiu a posse portuguesa sobre a bacia do Napo. Os missionários espanhóis
foram substituídos por outros, portugueses, principalmente carmelitas e mercedários. Nasceram nessa época as povoações que dariam
origem às atuais Barcelos (então chamada Mariuá), Tefé, São Paulo de Olivença, Coari, Borba, Airão e Carvoeiro.

Os franceses e espanhóis voltaram a fazer incursões na região, e os portugueses decidiram fechar o rio Madeira à navegação
estrangeira em 1732. Mesmo assim, os bandeirantes José Leme do Prado e Manuel Félix de Lima exploraram a área, descendo até
Cuiabá no Mato Grosso, e criando um eixo de comércio amazônico, entre Cuiabá, Manaus e Belém. Foram erguidas fortificações
portuguesas em Tabatinga, São Gabriel da Cachoeira, Maribatanas e São Joaquim, dando início a novos povoados.

Capitania junto com Grão-Pará

A ocupação do Amazonas se deu em povoamento esparso, por causa da floresta densa.

O Estado do Maranhão virou "Grão-Pará e Maranhão" em 1737 e sua sede foi transferida de São Luís para Belém do Pará. O tratado
de Madri de 1750 confirmou a posse portuguesa sobre a área. Para estudar e demarcar os limites, o governador do Estado, Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, instituiu uma comissão com base em Mariuá em 1754. Em 1755 foi criada a Capitania de São José do
Rio Negro, no atual Amazonas, subordinada ao Grão-Pará. As fronteiras, então, eram bem diferentes das linhas retas atuais: o
Amazonas incluía Roraima, parte do Acre e se expandia para sul com parte do que hoje é o Mato Grosso. O governo colonial
concedeu privilégios e liberdades para quem se dispusesse a emigrar para a região, como isenção de impostos por 16 anos seguidos.
No mesmo ano, foi criada a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão para estimular a economia local. Em 1757
tomou posse o primeiro governador da capitania, Joaquim de Melo e Póvoas, e recebeu do Marquês de Pombal a determinação de
expulsar à força todos os jesuítas (acusados de voltar os índios contra a metrópole e não lhes ensinar a língua portuguesa).

Em 1772, a capitania passou a se chamar Grão-Pará e Rio Negro e o Maranhão foi desmembrado. Com a mudança da Família Real
para o Brasil, foi permitida a instalação de manufaturas e o Amazonas começou a produzir algodão, cordoalhas, manteiga de tartaruga,
cerâmica e velas. Os governadores que mais trabalharam pelo desenvolvimento até então foram Manuel da Gama Lobo d'Almada e
João Pereira Caldas. Em 1821, Grão Pará e Rio Negro viraram a província unificada do Grão-Pará. No ano seguinte, o Brasil
proclamou a Independência.

Em meados do século XIX foram fundados os primeiros núcleos que deram origem às atuais cidades de Itacoatiara, Parintins,
Manacapuru e Careiro e Moura. A capital foi situada em Mariuá (entre 1755-1791 e 1799-1808), e em São José da Barra do Rio
Negro (1791-1799 e 1808-1821). Uma revolta em 1832 exigiu a autonomia do Amazonas como província separada do Pará. A
rebelião foi sufocada, mas os amazonenses conseguiram enviar um representante à Corte Imperial, Frei José dos Santos Inocentes, que
obteve no máximo a criação da Comarca do Alto Amazonas. Com a Cabanagem, em 1835-1840, o Amazonas manteve-se fiel ao
governo imperial e não aderiu à revolta. Como espécie de recompensa, o Amazonas se tornou uma província autônoma em 1850,
separando-se definitivamente do Pará. Com a autonomia, a capital voltou para esta última, renomeada como "Manaus" em 1856.

Autonomia e Ciclo da Borracha

O primeiro presidente (governador) da nova província foi Tenreiro Aranha. Para enfrentar as dificuldades financeiras da
administração, ele conseguiu que o governo redirecionasse parte das verbas do Pará e do Maranhão durante alguns anos, para suprir o
orçamento amazonense no início. Com este dinheiro, Aranha fundou uma tipografia e fez circular o primeiro jornal do Amazonas, o
Cinco de Setembro. O progresso introduziu o comércio fluvial e o "regatão".

O Teatro Amazonas foi construído com dinheiro do ciclo da borracha.

Os coletores de drogas do sertão se expandiram para o rio Juruá, o Purus e o Juari, abrindo caminho para a instalação de seringais
(estações de extração de látex, seiva extraída das árvores seringueiras que serve como matéria-prima para fabricar borracha). A nova
atividade sustentou a economia do Amazonas a partir da década de 1850. Em 1853 foi fundada a Companhia de Navegação e
Comércio da Amazônia, com investimento do Barão de Mauá. Em 1866, o rio Amazonas foi aberto à navegação internacional.
Empresas estrangeiras, principalmente inglesas, investiam capital na região. A lucratividade da borracha criou fortunas, financiou o
crescimento de Manaus (que de vila passou a cidade numa rápida urbanização) e atraiu imigrantes. A província começou a receber
imigração de várias partes do Brasil (principalmente nordestinos, fugindo da seca de 1872) e também de países vizinhos, como Bolívia
e Peru. A população se estendia cada vez mais para o oeste, levando ao povoamento do Acre, já em território boliviano (o que causou
o conflito que levou à Revolução Acreana). No auge, quase 100% da produção mundial de borracha saía da Amazônia.

A capital, Manaus, foi expandida e urbanizada, para ganhar ares de metrópole européia. Igarapés foram aterrados e abriram-se largas
avenidas e boulevards. Datam dessa época as construções do Teatro Amazonas, do Palácio Rio Negro, da Alfândega do Porto e do
Mercado Municipal Adolpho Lisboa, entre outros prédios exemplares. A população amazonense quintuplicou entre 1870 e 1900,
passando de 50 mil para 250 mil.

O corrida da borracha também estimulou expedições científicas para catalogar a biodiversidade amazonense. Em 1883, o professor
Barbosa Rodrigues funda o Museu Botânico de Manaus. Cientistas brasileiros e estrangeiros como Carl von Martius, William
Chandless, Henry Walter Bates e Louis Agassiz exploram a floresta, quase sempre guiados pelo caboclo Manuel Urbano da
Encarnação.

A província do Amazonas se antecipou em quatro anos à Abolição, decretando o fim da escravidão em 10 de julho de 1884 (embora
houvesse poucos escravos). A província do Amazonas tornou-se estado com a proclamação da República, em 15 de novembro de
1889. O tenente Ximeno Villerroy foi nomeado interventor do governo federal. A política sofreu sucessivas crises, com disputas
patrocinadas pelos empresários da borracha, e surgiram caudilhos locais, como Eduardo Ribeiro (modernizador de Manaus) e
Guerreiro Antoni. Em 1910, foi deposto o governador Clemente Ribeiro Bittencourt.

O ciclo da borracha durou até 1913, quando o preço do produto no mercado internacional sofreu forte baixa por
causa da concorrência da Malásia (para onde foram contrabandeadas sementes de seringueiras anos antes). A
empresa Hevea, grande exploradora do setor, transferiu-se para o Sudeste Asiático. Em 1920, praticamente já não
havia mais extração de látex e o Brasil contribuía com apenas 2% da produção mundial. No mesmo ano, o Acre
foi desmembrado do Amazonas, tornando-se território e depois estado (em 1962).

Decadência e Retomada

Com o fim do ciclo da borracha, a economia amazonense voltou a decair. O estado entrou em crise, o erário perdeu arrecadação e
praticamente zerou, inclusive chegando a não pagar os funcionários estaduais durante quatro anos seguidos. O Amazonas se juntou a
São Paulo na revolta de 1924. Um movimento cívico-regionalista, o glebarismo, reivindicou a retomada da liderança política e cultural
pelos nativos da região (até então, a elite local fora formada por imigrantes chegados na corrida da borracha).

Em 1943, como parte da estratégia de defesa na Segunda Guerra Mundial, os territórios fronteiriços do Rio Branco (atual Roraima) e
Guaporé (atual Rondônia) também foram desmembrados do Amazonas, provocando protestos em Manaus.

Como forma de tentar retomar o crescimento da região, em 1953 o governo federal criou a Superintendência do Plano de Valorização
Econômica da Amazônia (SPVEA). Ela servia para liberar verbas de investimento em infraestrutura, como a construção das rodovias
Manaus-Porto Velho e Manaus-Boa Vista. Em 1966, o órgão foi substituído pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
(SUDAM), que foi extinta por Fernando Henrique Cardoso em 2001 e recriada por Lula em 2003. O regime militar (1964-1985)
também decidiu construir a rodovia Transamazônica, que no entanto acabou abandonada. O principal impulso ao crescimento veio em
1967, quando foi criada a Zona Franca de Manaus, um pólo para indústrias de alta tecnologia com isenção fiscal. O pólo começa a
crescer cinco anos depois, em 1972, já no final do Milagre Econômico.

Gilberto Mestrinho foi a principal liderança política desde os anos 1960 aos 1990, ocupando três vezes o cargo de governador, até ser
acusado de corrupção nos anos 1990.

Em 1987, foi anunciada a descoberta de petróleo na região de Coari. Na década seguinte, a Petrobrás instalou o campo de Urucu.
Também foi construída a Refinaria Isaac Sabbá, em Manaus. Atualmente, a estatal é responsável por grande parte dos investimentos
no estado, inclusive nos projetos PIATAM (de pesquisa ambiental) e na construção do gasoduto Coari-Manaus.

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