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O PROCESSO DE

OCUPAÇÃO DAS
TERRAS ACREANAS
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O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DAS TERRAS ACREANAS


UMA EXPLICAÇÃO HISTÓRICA, POLÍTICA E GEOGRÁFICA
HISTÓRIA
O Acre compõe hoje um dos 26 estados brasileiros além do Distrito Federal, mas, nem sempre
a história pode consolidar esse fato. O Acre, desde a segunda metade do século XIX, passou por
definidos quatro estágios de especificidades que seriam eles: o Acre estrangeiro (já foi pertencente
à Bolívia – então ambiente “hostil” aos moldes civilizatórios ocidentais, pois, já havia a habitação
de diversas populações indígenas autóctones na região), o Acre brasileiro, o Acre emancipado e o
Acre constituído por uma viabilidade institucional.
Ainda sobre as civilizações autóctones do Acre, estima-se que os primeiros habitantes da
Amazônia chegaram por volta de 1.500 a.C. (alguns pesquisadores defendem a hipótese de que
a presença indígena na Amazônia remonta os anos de 31.500 a.C). Cerca de 6 milhões de índios
habitavam à Amazônia antes da chegada dos Portugueses em 1616. Hoje em dia, ao todo, o Acre
tem 209 aldeias com uma população indígena de 19.962 pessoas.
A região do Acre começa de fato a ser habitada representando um aumento demográfico, ou
seja, um aumento populacional além das etnias indígenas, através do advento da produção da bor-
racha, que se desenvolveu entre os anos de 1879 e 1912, tendo ainda, uma boa sobrevida entre os
anos de 1942 e 1945, estruturado no contexto do cenário internacional da Segunda Guerra Mundial,
que se desenvolve de 1939 até 1945. Mas, como uma região quase “inabitada” na interpretação
ocidental, veio a atrair pessoas de outras regiões do Brasil e do mundo?

O CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O PROCESSO DE OCUPAÇÃO


VINCULADO À EXPLORAÇÃO DO LÁTEX
A Revolução Industrial e o desenvolvimento tecnológico foram principais motivações que
fizeram com que a borracha natural que até então era um produto exclusivo da região amazônica,
se tornasse algo muito procurado e valorizado, capaz de gerar lucros e se tornar uma intensa ati-
vidade industrial na região. Por volta da segunda metade do século XIX, a borracha passou a ter
uma significativa demanda e notoriedade que abrangia os empreendedores mais visionários. A
operação extrativista da matéria-prima látex, na Amazônia, se mostrou lucrativa devido o cenário
internacional e, logo, a temática capitalista de lucratividade passou a ser introduzida.
A borracha extraída no Brasil, passou a ser uma matéria prima estimada para indústrias de
países da Europa e o mesmo nos Estados Unidos. Como todo produto difícil de ser extraído e com
forte multiplicidade de produções, o látex passou a ter um valor elevado no mercado nacional e
internacional. Todo esse movimento em torno do ciclo da borracha, fez com que muitas pessoas
viessem ao Brasil, com o objetivo de conhecer a seringueira e, todos os métodos e processos de
extração da matéria-prima. O intuito dessa visita, era na verdade, obter o lucro de alguma maneira
como essa riqueza local.

CRONOLOGIA DA OCUPAÇÃO DO ACRE


ͫ 1867: o atual Estado do Acre era uma possessão da América espanhola de acordo com
os Tratados Hispano-Portugueses de 1750 (Tratado de Madrid), 1777 (Santo-Ildefonso) e
o processo de ocupação das terras acreanas 3

1801 (Badajoz). Após as independências da América Latina, o Brasil reconheceu aquela


zona como boliviana através do tratado de limites de 1867.
ͫ 1852: Apesar de ser território boliviano, não havia qualquer ocupação por parte da Bolívia,
em parte por ser uma região de difícil acesso por outro caminho que não a Bacia do Rio
Amazonas. Em virtude da abundância da seringueira e do ciclo da borracha - que estava
se iniciando - colonos brasileiros iniciaram a ocupação do Acre.
ͫ 1867: é firmado o tratado internacional de Ayacucho, pelo qual o Brasil considerava o
Acre como território boliviano.
ͫ 1877: com a revolução dos transportes nos países europeus e nos Estados Unidos, a bor-
racha passou a ter um papel fundamental. Quase toda a borracha consumida no mundo
saía da Amazônia, sendo que 60% era extraída do território acreano. A “imigração” de
brasileiros atingiu grandes proporções, fugindo da seca histórica de 1877/1879, que dev-
astou o Ceará, milhares de cearenses partiram para a região atrás de uma alternativa de
sobrevivência. Nessa época, o presidente da Bolívia, Aniceto Arce, foi alvo de um golpe
de estado comandado pelo coronel José Manuel Pando que, derrotado, se refugiou no
Acre. Foi só aí que os bolivianos e o governo de La Paz se deram conta de que a ocupação
brasileira já era de grandes proporções.
ͫ 1882 - Os cearenses fundaram o Seringal Empresa, que mais tarde veio a ser a capital do
Acre. O governo de La Paz começou a organizar uma reação, já que, para os bolivianos,
a situação praticamente repetia o que ocorrera na década de 1870 com a penetração
de trabalhadores chilenos na área do Atacama atrás do salitre. A chamada Guerra do
Pacífico (1879-1883) fez com que a Bolívia, derrotada, perdesse a sua única saída para o
mar, tendo que aceitar ficar isolada dos oceanos do mundo.
ͫ 1898 - A Bolívia enviou uma missão de ocupação para o Acre causando, em 1º de maio
de 1899, uma revolta armada dos colonos brasileiros, que receberam o apoio do governo
do Estado do Amazonas. Derrotados, os bolivianos foram forçados a abandonar a região.
ͫ 1899: apesar da oposição do governo central brasileiro, que com base no tratado de Aya-
cucho ainda considerava o Acre território boliviano, o governador do Amazonas, Ramalho
Júnior, mandou para o Acre uma unidade de mercenários comandados pelo espanhol Luis
Galvez Rodrigues de Arias. Objetivo: evitar a volta dos bolivianos ao território. Galvez,
que veio a ser chamado “Imperador do Acre” partiu de Manaus em 4 de junho de 1899 e
chegou à localidade boliviana de Puerto Alonso, que teve seu nome mudado para Porto
Acre, onde proclamou a República do Acre em 14 de julho de 1899.
ͫ 1882: Os cearenses fundaram o Seringal Empresa, que mais tarde veio a ser a capital do
Acre. O governo de La Paz começou a organizar uma reação, já que, para os bolivianos,
a situação praticamente repetia o que ocorrera na década de 1870 com a penetração
de trabalhadores chilenos na área do Atacama atrás do salitre. A chamada Guerra do
Pacífico (1879-1883) fez com que a Bolívia, derrotada, perdesse a sua única saída para o
mar, tendo que aceitar ficar isolada dos oceanos do mundo.
ͫ 1898: a Bolívia enviou uma missão de ocupação para o Acre causando, em 1º de maio de
1899, uma revolta armada dos colonos brasileiros, que receberam o apoio do governo
do Estado do Amazonas. Derrotados, os bolivianos foram forçados a abandonar a região.
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ͫ 1903 e 1904: os governos do Brasil e da Bolívia assinaram em 21 de março de 1903 um


tratado preliminar, ratificado pelo Tratado de Petrópolis em 17 de novembro de 1903.
Neste, a Bolívia abria mão de todo o Acre em troca de territórios brasileiros do Estado de
Mato Grosso mais a importância de 2 milhões de libras esterlinas. O principio sustentado
pelo Brasil na sua demanda para com a Bolívia foi o mesmo utilizado pelos portugueses
nos tempos dos tratados de 1750 e 1777, assinados entre o Reino de Portugal e o Reino
da Espanha para acertarem suas diferenças fronteiriças na América Ibérica: o do uti
possidetis solis. Quer dizer, tem direito ao território quem o possui, quem toma a terra
contestada é o seu dono de fato. O Tratado de Petrópolis foi aprovado por lei federal de
25 de fevereiro de 1904, regulamentada por decreto presidencial de 7 de abril de 1904,
incorporando o Acre como território brasileiro. O território do Rio Branco foi elevado à
condição de Estado do Acre em 15 de junho de 1962.
Com o Tratado de Petrópolis, inicia-se na região a criação do Acre brasileiro, institucional, per-
tencente ao território brasileiro. Dessa forma, a Constituição brasileira toma para si o projeto
do ideário de construção da ordem e progresso no Acre.
Fonte: ALMEIDA, Fernando H Mendes, Constituições do Brasil, São Paulo, Saraiva, 1954, p. 109.

www. oglobo.globo.com/economia/historiadoacre

http://cpiacre.org.br/culturasindigenasnoacre
A OCUPAÇÃO
INDÍGENA NO ACRE
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A OCUPAÇÃO INDÍGENA NO ACRE


CIVILIZAÇÕES ÉTNICAS INDÍGENAS NO BRASIL
INTRODUÇÃO
A presença e o desenvolvimento das populações indígenas no território brasileiro são anteriores
ao início do século XVI, com a chegada dos colonizadores portugueses no Brasil. As populações autóc-
tones variavam entre três e cinco milhões de habitantes. As diversas civilizações eram heterogêneas
e tinham suas particularidades culturais, religiosas e étnicas apesar de terem suas similaridades.
Ianomâmis, charruas, guaranis, tupinambás, tupiniquins, xavantes, pataxós, pancararus, tukano,
aruák, matsés, Nukini, Nawa, Noke Koi, são algumas das populações que habitavam o Brasil e que
deixaram seus remanescentes.
O estado do Acre está situado na Região Norte, no extremo oeste do Brasil, sua capital é Rio
Branco e quem nasce no estado é chamado acriano ou acreano. Sua área compreende 164.123,738
km² e ocupa, entre os demais estados da federação, o 16º lugar em área territorial. O estado faz
fronteira com o estado do Amazonas ao norte e em seu extremo ocidental, em uma estreita faixa da
fronteira, limita-se com Rondônia. Em sua porção noroeste, faz também fronteiras internacionais com
o Peru e a Bolívia. É no Acre que se encontra o ponto mais ocidental do Brasil, a nascente do rio Moa.
Ainda hoje, existe uma grande falta de informações contundentes acerca dos troncos étnicos
indígenas que remontam aos tempos exploratórios coloniais. Historiadores como Darcy Ribeiro e
Sérgio Buarque de Holanda, se destacam em meio às pesquisas. Esse abismo se resulta bastante
pela falta de fontes escritas e pelo processo de dizimação dessas culturas acabaram limitando as
possibilidades de estudo. Em geral, o maior contato desenvolvido entre índios e europeus aconte-
ceu nas faixas litorâneas do nosso território, onde predominam os povos indígenas pertencentes
ao grupo tupi-guarani. Apesar das várias generalizações, relatos do século XVI esclarecem alguns
hábitos desse povo.
A confluência de tantas e tão variadas matrizes formadoras poderia ter resultado numa
sociedade multiétnica, dilacerada pela oposição de componentes diferenciados e imiscíveis.
Ocorreu justamente o contrário, uma vez que, apesar de sobreviverem na fisionomia somática
e no espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ancestralidade, não se diferenciaram
em antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas
próprias e disputantes de autonomia frente à nação.
As únicas exceções são algumas microetnias tribais que sobreviveram como ilhas, cercadas
pela população brasileira. Ou que, vivendo para além das fronteiras da civilização, conservam
sua identidade étnica. São tão pequenas, porém, que qualquer que seja seu destino, já não
podem afetar à macroetnia em que estão contidas.
O que tenham os brasileiros de singular em relação aos portugueses decorre das qualidades
diferenciadoras oriundas de suas matrizes indígenas e africanas; da proporção particular
em que elas se congregaram no Brasil; das condições ambientais que enfrentaram aqui e,
ainda, da natureza dos objetivos de produção que as engajou e reuniu.
RIBEIRO, Darcy, O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
a ocupação indígena no acre 3

OS PRINCIPAIS TRONCOS ÉTNICOS DO ACRE SÃO:


ͫ Huni Kwi.
ͫ Ashaninka.
ͫ Yawanawa.
ͫ Puyanawa.
ͫ Noke Koi.
ͫ Jaminawa Arara.
ͫ Nukini.
ͫ Manxineru.
ͫ Jaminawa.
ͫ Kuntanawa.
ͫ Apolima Arara.
ͫ Madija (Kulina).
Os povos indígenas que habitam o Acre, possuem uma história comum entre relações políti-
cas, comerciais, matrimoniais e culturais que remonta pelo menos três séculos. Essas relações até
hoje não deixaram de existir nem se deixaram restringir aos limites das fronteiras nacionais. Essa
amplitude das redes de relações regionais faz da história desses povos uma história rica em ganhos
e não em perdas culturais, como muitas vezes divulgam os livros didáticos que retratam a história
dos indígenas no Brasil. No caso específico desta região, são séculos de acúmulo de experiências
de contato entre si que redundaram em inúmeros processos, ora de separação, ora de fusão gru-
pal, ora de substituição, ora de aquisição de novos itens culturais. Processos estes que se somam
às diferentes experiências de contato vividas pelos distintos grupos indígenas com cada um dos
agentes e agências que entre eles.

CARACTERÍSTICAS E PROBLEMÁTICAS ÉTNICAS DOS POVOS


ISOLADOS
As questões e discussões sobre a gestão territorial dos povos indígenas ganharam força nos
últimos anos. Entretanto, as comunidades se sentem cada vez mais ameaçadas pela exploração
extrativista e ilícita em seus territórios. Além das políticas econômicas e desenvolvimento binacional
que afetam os seus modos de vida. Os governos do Brasil e do Peru, necessitam efetivar políticas
públicas que garantam a autodeterminação dos povos indígenas, grupos isolados e de recente con-
tato, para que estes sobrevivam física e culturalmente. O indígena necessita ser enxergado como
sujeito que protege e desenvolve os seus territórios e que esteja em consonância com os marcos
legais nacionais e convenções internacionais para a garantia dos direitos dessas civilizações.
A Comissão Pró-Índio do Acre, desenvolve planos de gestão ambiental e territorial para o
manejo e preservação dos recursos naturais. Mapear áreas e identificar os problemas são algumas
de suas funções. Povos isolados e povos indígenas mais ligados à convivência com outros grupos
étnicos também possuem seus conflitos. A etnia Aruak é um desses povos.
As propostas para o reconhecimento e autonomia desses povos, visa a o fortalecimento da
articulação e proteção em diferentes níveis de governo (local, estadual e nacional) desses povos,
tanto pelo Brasil quanto pelo Peru. A antropóloga peruana Beatriz Huertas, que realizou estudos que
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fundamentam as propostas de proteção desses povos, endossa a execução e proteção de políticas,


estratégias e ações transfronteiriças para garantir a integridade física dos povos isolados. Em maio
de 2015, no Peru, foi lançada a plataforma ORPIO, Organización Regional de Pueblos Indígenas
del Oriente. A FUNAI também contribui com a vigilância para a proteção desses povos e faz uma
interlocução com os grupos políticos pró-povos isolados.
Fontes:

ALMEIDA, Fernando H Mendes. Constituições do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1954, p. 109.

CPI-ACRE. Comissão Pró-Índio do Acre. Culturas indígenas no Acre. Publicado em 24 abr. 2016. Disponível em: https://cpiacre.
org.br/abril-no-acre-indigena-2016-culturas-indigenas-no-acre/. Acesso em: 4 fev. 2022.

DINIZ, Eduardo. Saiba mais sobre a história do Acre, que já foi da Bolívia. GLOBO on-line. Publicado em: 12 maio 2006. Dispo-
nível em: https://oglobo.globo.com/economia/saiba-mais-sobre-historia-do-acre-que-ja-foi-da-bolivia-4584707. Acesso em: 4
fev. 2022.
A MIGRAÇÃO
NORDESTINA E A
PRODUÇÃO DA
BORRACHA
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A MIGRAÇÃO NORDESTINA E A PRODUÇÃO DA


BORRACHA
O SONHO DA RIQUEZA PELA BORRACHA
O INÍCIO DE UMA UTOPIA
Amazônia e Acre são regiões onde a seringueira, matéria-prima para a fabricação da borracha,
foi o carro-chefe para a entrada de milhares de pessoas que vieram principalmente do Nordeste
brasileiro em plena expansão extrativa da borracha. Configuraram-se no final do sec. XIX e meados
do sec. XX, período da Segunda Guerra Mundial. Nas propagandas do Governo Federal, a região
era caracterizada como a “terra da prosperidade”, um atrativo para o recrutamento de milhares
de pessoas como soldados, os “soldados da borracha”. A esperança em “subir na vida” e ganhar
dinheiro fácil, foi o convite inócuo que essas pessoas receberam.
O contexto da ocupação da Amazônia brasileira por grupos não autóctones, ou seja, por popu-
lações não indígenas, se transfigura por diversos tipos de movimentos migratórios. O recorte tem-
poral das migrações nordestinas, ocorre no final do século XIX, e em meados do século XX, mais
especificamente na década de 1940. Neste último período, auge da exploração da borracha, os
aventureiros nordestinos adentravam nas matas amazônicas, em busca do “ouro branco”, como
era conhecido o látex extraído das seringueiras.

PRODUÇÃO DO LÁTEX, OBJETO DE EXPLORAÇÃO E ESPERANÇA DE


ENRIQUECIMENTO NOS FINS DO SÉCULO XIX
Foram 140 anos de migração nordestina para a Amazônia, a partir de 1877. A região era bem
diferente, e os dias foram mais que difíceis. Praticamente ninguém teve a vida transformada pela
riqueza da borracha. Essas migrações foram cruciais para a formação social, econômica e cultural
da região que se tornaria o Acre. Neste período, ocorria nos Estados Unidos o advento da Segunda
Revolução Industrial, cujo ramo automobilístico crescia em um ritmo fugaz. Em consequência da
produção dessa indústria, a busca pela matéria-prima para a fabricação de pneus se tornou uma
necessidade. O ramo mercantil da borracha portanto, ficou em alta. A Amazônia, região abundante
dessa matéria-prima, se tornou um atrativo para milhares de pessoas. Calcula-se que de 1850 a
1900 a população do vale Amazônico aumentou dez vezes. Só os nordestinos somavam 158.125
pessoas, cerca de 20% da população amazônica da época.
Os migrantes vinham de regiões ribeirinhas do Ceará, de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande
do Norte e se direcionaram para o Acre. A partir de 1912, ocorreu o primeiro período de auge da
exploração do látex na região. Porém, nessa mesma época, essa atividade enfrentou uma concor-
rência severa com a produção de borracha na Ásia. Por conseguinte, os lucros caíram abruptamente
no Acre, e os seringueiros passaram a viver sob péssimas condições de vida.
Na década de 1940, devido à Segunda Guerra Mundial, a exploração do látex voltou a ressur-
gir, o que incentivou outra migração para a Amazônia, novamente encabeçada por nordestinos.
Eles foram aos milhares, seduzidos pelas propagandas nos programas de rádio, que enfatizavam a
oportunidade de enriquecer, porém há pouca produção literária e fontes sobre esses trabalhado-
res. Por isso, não é possível saber com exatidão quantas pessoas foram enviadas para a floresta e
quantas morreram neste processo. No livro Amazônia – Um Pouco Antes e Além Depois de (1977),
a migração nordestina e a produção da borracha 3

o amazonense Samuel Benchimol contabiliza a chegada de 50.500 homens entre 1943 e 1944, no
auge do recrutamento, e na bagagem, cerca de mais de 19.760 mulheres, de quem não se sabe
quase nada.
Fonte: MARTINELLO, Pedro. A Batalha da Borracha na Segunda Guerra Mundial. Rio Branco: EDUFAC, 2004

BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: Um Pouco-Antes e Além-Depois. Manaus: Umberto Calderaro, 1977.


A REVOLUÇÃO
ACREANA
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A REVOLUÇÃO ACREANA
O CONTEXTO HISTÓRICO DA REVOLUÇÃO
A RECÉM-REPÚBLICA BRASILEIRA
O final do século XIX, mais especificamente em 1899, faz referência ao período de grande
instabilidade na conjuntura da história política brasileira. A recém-instaurada república ainda ali-
cerceava seus moldes no federalismo (uma forma de organização do Estado em que existe um
governo que exerce funções de Estado centralizador. No federalismo, a divisão de poder acontece
através da delegação, isto é, o poder político central é compartilhado pelas unidades federativas). A
república brasileira só existia há dez anos, e era conhecida como a “república da espada”, uma vez
que foi governada por militares até 1930. Os conflitos dessa época estavam vinculados às questões
territoriais limítrofes ainda em destaque. É nesse contexto que o território acreano é formado.

CONTEXTO POLÍTICO E GEOGRÁFICO DO ACRE


No final do século XIX, o território do Acre era disputado por duas outras regiões limítrofes:
Bolívia e Peru, além do Brasil. O conflito entre essas três potências durou cerca de quatro anos.
Havia centenas de bolivianos que ocupavam a região e que foram expulsos pelas tropas federalistas
do governador do Amazonas, Ramalho Júnior, com o apoio bélico do espanhol Luiz Gálvez de Arias.
Em 1899, o Acre tornou-se uma República independente. Todavia, as forças centralizadoras
brasileiras lideradas pelo presidente Campos Sales (1898–1902), o quarto presidente da república,
não aceitaram essa independência e enviaram tropas para dissolver a república recém-criada. Cam-
pos Sales instituiu em seu mandato a busca pelo apoio dos governadores dos Estados ao Governo
Federal, portanto, unificar o país em suas questões territoriais era um de seus lemas. Assim, a
“política dos governadores” ganhou um atributo de “conciliação” entre os estados brasileiros.
A Bolívia, porém, não aceitou essa perda e decidiu reagir, organizando uma expedição militar
para reconquistar o território. Os seringueiros da região, então, se prontificaram a lutar contra as
tropas bolivianas, e o governador do Amazonas, Silvério Néri, decidiu entrar em cena e enviou
mais uma tropa de soldados para o Acre para ratificar o território como república independente
em 1900. Campos Sales não aprovou a decisão de Néri, destituindo-o e empossando em seu lugar
Rodrigo Carvalho.

O IDEÁRIO REPUBLICANO NO ACRE


A segunda república acreana não teve sucesso, durou apenas um mês e, foram os brasileiros
trabalhadores e bolivianos que se desenvolveram no plano de guerra. Porém, os bolivianos se
mantinham na precisão de dissolver a então república acreana.
Em 1902, o ex-senador e ex-governador do estado do Amazonas, Silvério Néri, formou um novo
contingente militar liderado pelo seu conterrâneo gaúcho José Plácido de Castro visando reconquistar
o território acreano. A investida das tropas lideradas por Castro constituiu a denominada Revolução
Acreana. Essa nova expedição obteve grande sucesso e conquistou rapidamente toda a região.
Embora as aspirações emancipacionistas tivessem sido sufocadas, os movimentos autono-
mistas continuaram crescendo por todo o território acreano, o que ficou evidenciado na formação
de grupos políticos: Partido Autonomista do Alto Acre, Partido Autonomista do Alto Juruá e Clube
Político 24 de janeiro de Xapuri, que difundiam alguns dos ideais de autonomia. O hino e a bandeira
acreanos foram criados dentro desse contexto do desejo de autonomia.
a revolução acreana 3

Em 1903, foi declarada pela terceira vez a República do Acre, mas dessa vez dois importantes
indivíduos declararam apoio à independência, o presidente Rodrigues Alves e o Ministro do Exterior
Barão do Rio Branco. O Acre foi ocupado, então, por um governo militar sob o comando do general
Olímpio da Silveira. Os bolivianos mais uma vez tentaram insurgir, entretanto, outras tropas foram
enviadas para a região. A diplomacia brasileira não permitiu que combates significativos aconteces-
sem novamente. Em 21 de março de 1903, antes das batalhas, os representantes dos governos do
Brasil e da Bolívia decidiram assinar um tratado de paz inicial. Em 17 de novembro daquele mesmo
ano, o tratado definitivo foi assinado.

FIM DOS CONFRONTOS E O TRATADO DE PETRÓPOLIS


O Tratado de Petrópolis estabeleceu o fim do confronto entre brasileiros e bolivianos pelo ter-
ritório do Acre. A negociação de paz foi muito bem conduzida pelo Ministro Barão do Rio Branco e
resultou na concessão, por parte da Bolívia, da região acreana. Em troca, o Brasil cedeu parcela do
território do Mato Grosso e ainda pagou dois milhões de libras esterlinas. A Bolívia ainda requisitou
a construção da ferrovia Madeira-Mamoré para permitir o escoamento da produção, especialmente
marcada pela borracha. No ano de 1904, o Tratado de Petrópolis foi regulamentado por lei federal,
e o Acre passou a fazer parte oficialmente do território brasileiro, todavia somente em 1962 se
tornou um estado brasileiro.
Fonte: DAMIANI, Amélia. População e Geografia. 10. Ed. São Paulo: Contexto. 2002

CALMON, Pedro. O regime definido (Síntese e Crítica). In: História social do Brasil, volume 3: a época republicana. São Paulo:
Martins Fontes, 2002. p.67-87.
ESTRUTURAS
DE PODER NA
SOCIEDADE
COLONIAL
SERGIPANA
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ESTRUTURAS DE PODER NA SOCIEDADE COLONIAL


SERGIPANA
UM CONTEXTO HISTÓRICO SOBRE LIMITES GEOGRÁFICOS BRA-
SILEIROS
CONJUNTURA
Se analisarmos a geo-política brasileira em sua conjuntura de limites geográficos desde o Brasil
colônia, ao período Joanino, (a partir de 1808, quando a Corte portuguesa se transmigra para o
Brasil), ao Império brasileiro e, se estendendo pela Jovem República brasileira, conseguiremos
compreender que se trata de um país com dimensões continentais. Portanto, devido a tais
dimensões, conflitos separatistas e autônomos ocorreram contra o poder central vigente. O
Acre não ficou de fora desse histórico brasileiro. O Tratado de Petrópolis, documento firmado
entre a Bolívia e o Brasil, no dia 17 de novembro de 1903, tratou de forma oficial sobrea
anexação do território acreano para o Brasil. A seguir, iremos entender os caminhos que esse
tratado levou para a sua efetivação.
A consolidação da posse do território a partir desse princípio – utis possidetis, possibilitou
a Portugal ampliar bastante a sua colônia americana, deixando um imenso território como
legado para o Brasil após a independência, em 1822. Contudo, os contornos desse imenso
território (limites e fronteiras) não foram gestados no período colonial. Nesse período, ape-
nas uma pequena extensão dos nossos contornos territoriais foram definidos e demarcados,
nossos limites e fronteiras atuais são produtos, principalmente, do desenrolar de eventos
diplomáticos que perpassaram o período Imperial e chegaram até a Primeira República.”
Fonte: ALBUQUERQUE DA COSTA, Antônio e CUNHA FARIAS, Paulo César. A Primeira República
e a consolidação das fronteiras, UEPB, 2009. Acesso em: untitled (uepb.edu.br)
A história do Acre sempre esteve associada a disputas territoriais externas e internas. O Tra-
tado de Petrópolis, este é tido como sua certidão de nascimento, e à Reclamação Constitucional
em tramitação no Supremo Tribunal Federal. Pode-se afirmar, então, que esses dois documentos
constituem faces distintas de uma só moeda: tanto o primeiro, firmado entre o Brasil e a Bolívia,
quanto o segundo, de autoria do Estado do Amazonas, versam sobre os limites territoriais do Acre.

ÁREAS LIMÍTROFES
Desde os idos de 1850, muitos nordestinos acometidos por sucessivas crises de seca em suas
regiões, migram para o Acre e instalam-se nos limites geográficos acreanos com o objetivo para se
dedicar à atividade extrativista, ou seja, a extração do látex, matéria-prima da borracha, obtido das
seringueiras, árvores nativas do lugar. A posse da terra, de forma incial, não era uma grande preo-
cupação dessas pessoas, estes começam a ocupar as terras, cuja maior parte, na época, pertencia
à Bolívia. As fronteiras permaneciam quase que inexatas, ou seja, não havia um recorte de separa-
ção exato, apesar de teoricamente estarem estabelecidas e reiteradas por tratados internacionais.
ESTRUTURAS DE PODER NA SOCIEDADE COLONIAL SERGIPANA 3

Mesmo através de tratados, a Bolívia, na prática, não conseguiu exercer nessas áreas sua
completa soberania geo-política. Principalmente as áreas entre os rios Javari e Madeira constava
nos mapas locais como “tierras non descubiertas”. Habitando em sua grande parte os altiplanos, os
bolivianos não se mostravam aptos ou mesmo interessados em tomar posse daquela isolada região
de planície. Como a própria História do Brasil comprova, quando um território não é efetivamente
ocupado, uma das consequências são as tentativas e incursões de outros povos nessas áreas. Este era
o cenário na região enquanto a borracha era apenas um item exótico das exportações amazônicas.

O TRATADO DE PETRÓPOLIS
Em 1903, o presidente boliviano General Pando, concordou com a ocupação e a administração
brasileira na região. Percebendo que não poderia manter nenhum controle sobre o Acre, viu-se
compelido a concordar com o entendimento diplomático. Afinal, era melhor aceitar as compensa-
ções oferecidas pelo Brasil em troca da área litigiosa do que enfrentar uma batalha diplomática com
o Peru, outro a reclamar propriedade sobre aquelas terras. O Tratado de Petrópolis praticamente
selou o destino do Acre, que até hoje permanece como integrante da federação brasileira de modo
praticamente incontroverso. O Peru seguiria mais alguns anos manifestando-se diplomaticamente
por direitos na região, mas acabaria chegando a um acordo com as autoridades brasileiras.
TRATADO DE PETRÓPOLIS Brasil e Bolívia
(17 de novembro de 1903)
A Republica dos Estados Unidos do Brasil e a Republica da Bolívia, animadas do desejo de
consolidar para sempre a sua antiga amisade, removendo motivos de ulterior desavença,
e querendo ao mesmo tempo facilitar o desenvolvimento das suas relações de commercio
e boa visinhança, convieram em celebrar um Tratado de Permuta de Territorios e outras
compensações, de conformidade com a estipulação contida no art. 5º do Tratado de Ami-
sade, Limites, Navegação e Commercio de 27 de março de 1867. E, para esse fim, nomea-
ram plenipotenciarios, a saber: O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil, os
Senhores JOSÉ MARIA DA SILVA PARANHOS DO RIO BRANCO, Ministro de Estado das Rela-
ções Exteriores, e JOAQUIM FRANCISCO DE ASSIS BRASIL, Enviado Extraordinario e Ministro
Plenipotenciario nos Estados Unidos da America; e O Presidente da Republica da Bolivia, os
Senhores FERNANDO E. GUACHALLA, Enviado Extraordinario e Ministro Plenipotenciario em
missão especial no Brasil e Senador da Republica, e CLAUDIO PINILLA, Enviado Extraordinario
e Ministro plenipotenciario no Brasil, nomeado Ministro das Relações Exteriores da Bolivia.”
Por esse tratado, ficou acordado que a Bolívia receberia compensações territoriais em vários
pontos da fronteira com o Brasil; que o Governo brasileiro se comprometeria a construir a Estrada
de ferro Madeira-Mamoré; e que seria garantida a liberdade de trânsito pela ferrovia e pelos rios
até o oceano Atlântico, o que facilitaria o escoamento das exportações bolivianas pelo sistema
fluvial do Amazonas.
Como não havia equivalência entre as áreas dos territórios permutados, estabeleceu-se, ainda,
uma indenização pecuniária no montante de dois milhões de libras esterlinas, a ser paga pelo Brasil
em duas parcelas. Em contrapartida, a Bolívia cederia a parte meridional do Acre, reconhecidamente
boliviana, mas povoada por brasileiros, e desistiria de seu alegado direito à outra parte do território
mais ao norte, igualmente ocupada só por brasileiros.
4

O ACORDO COM O PERU


AQUILO QUE FALTOU AO TRATADO DE PETRÓPOLIS
A questão do Acre, porém, não estava encerrada. O Peru, que já perdera para o Chile, há
pouco menos de três décadas, as províncias de Tarapacá, Tacna e Arica na Guerra do Pacífico (1879-
1883), não se conformava com a redução de seu território. Reivindicando também aquela porção
amazônica, ele pretendia participar das negociações com a Bolívia, no intuito de que houvesse
uma solução. A verdade é que o Governo peruano começou em fins de 1902 e meados de 1903 a
apoderar-se, dos territórios em litígio, quase que exclusivamente habitados por brasileiros, procu-
rando modificar o estado em que se achavam as coisas, e acreditando que tais invasões e tomada de
posse. Em 12 de julho de 1904, no Palácio do Itamaraty, Brasil e Peru firmaram um modus vivendi
entre os dois países.
O Brasil, antes de 1851, data de sua convenção com o Peru, ocupava efetivavamente a
margem meridional do Amazonas e as margens dos baixos cursos de seus afluentes a leste
do Javari. As nascentes desses rios, entre os quais se incluem o Juruá e o Purus, e todos os
seus tributários, nem o Peru nem a Bolívia as ocuparam em quaisquer pontos. (...) O Brasil,
em 1867, estava em posição de manter o seu título sobre as bacias do Juruá e do Purus.
Porém, quis ceder à Bolívia o território ao sul da linha Beni-Javari, o que fez pelo Tratado de
Ayacucho, naquele ano, território readquirido em 1903 pelo Tratado de Petrópolis”
(Tocantins: 2001, v. 2, p. 497).

A BIOPIRATARIA DO LÁTEX
Devido à crescente demanda internacional por borracha, a partir da segunda metade do século
XIX, em 1877, os seringalistas com a ajuda financeira das Casas Aviadoras de Manaus e Belém. De
1877 até 1911, houve um aumento considerável na produção da borracha que devido às primitivas
técnicas de extração empregada, estava associado ao aumento d emprego e de mão-de-obra. O
Acre chegou a ser o 3° maior contribuinte tributário da União.
A borracha chegou a representar 25% da exportação do Brasil. Como o emprego da mão-de-
-obra foi direcionado à extração do látex, houve escassez de gêneros agrícolas, que passaram a ser
fornecidos pelas Casas Aviadoras. Em 1876, sementes de seringa foram colhidas da Amazônia e
levadas a Inglaterra por Henry Wichham. As sementes foram tratadas e plantadas na Malásia, colônia
inglesa. A produção na Malásia foi organizada de forma racional, empregando modernas técnicas,
possibilitando um aumento produtivo com custos baixos. A borracha inglesa chegava ao mercado
internacional a um preço mais baixo do que a produzida no Acre. A empresa brasileira não resistiu
à concorrência Inglesa. Em 1913, a borracha cultivada no Oriente (48.000 toneladas) superava a
produção amazônica (39.560t). Era o fim do monopólio brasileiro da borracha.
Era madrugada quando um homem chegou ao Jardim Botânico de Kew, em Londres, à
procura de seu diretor. Ele trazia uma carga roubada: 70 mil sementes de seringueira. Foi
graças a essa encomenda surrupiada do Brasil que as colônias inglesas na Ásia tornaram-se
as maiores produtoras de látex do mundo no início do século passado, enterrando o milio-
nário ciclo da borracha na Amazônia. O ladrão se chamava Henry Wickham (1846-1926),
um aventureiro inglês que morou em Santarém, Pará. Autor de um dos primeiros casos de
biopirataria da história, sua trajetória de homem visionário, destemido e bastante teimoso
é narrada com neutralidade – mas não sem paixão.”
ESTRUTURAS DE PODER NA SOCIEDADE COLONIAL SERGIPANA 5

Fonte: JACKSON, Joe. O ladrão do fim do mundo. Editora: Objetiva, 2011, SP.
Fonte: BECKER, Bertha; EGLER, Claudio. Brasil: uma potência regional na economia-mundo. 4.
Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003 (Coleção Geografia);
TOCANTIS, Leandro. Formação histórica do Acre. Editora Conquista, 1973.
Fonte: ALMEIDA, Fernando H Mendes, Constituições do Brasil, São Paulo, Saraiva, 1954, p. 109.
www. oglobo.globo.com/economia/historiadoacre
http://cpiacre.org.br/culturasindigenasnoacre
A CHEGADA DOS
PAULISTAS NO ACRE
2

A CHEGADA DOS PAULISTAS NO ACRE


AS QUESTÕES DA AGROPECUÁRIA
PAULISTAS E SULISTAS NA DÉCADA DE 1970
Nos anos 70 do século XX, o território do Acre fez parte dos programas de desenvolvimento e
integração iniciados e desenvolvidos pelo governo federal com o apoio das autoridades do Estado.
As construções das rodovias BR -364: Brasília, Cuiabá, Porto Velho, prolongada, em 1968, para Rio
Branco e atingiram o Acre e suas populações através da frente de expansão da economia agrope-
cuária. É importante ressaltar que, com a efetiva ligação dessas ferrovias, o Acre passou a ser mais
integrado. Objetivo amplamente demonstrado pelo governo federal.
Além das iniciativas dos paulistas com investimentos no Acre, outros importantes grupos
industriais e financeiros do sul do país compraram a preços irrisórios terras dos seringais em falência
para transformá-las em polos da agropecuária destinados à criação de gado, recuperando também
parte da mão de obra seringueira e indígena, que trabalhava na economia extrativista decadente.
O carro chefe, a partir dos anos 1970, seriam os investimentos neste setor. Grandes empresários
se beneficiam até hoje com os pequenos investimentos que fizeram nesta época.

Instalação dos imigrantes sulistas.

Fonte: REZENDE MACHADO, Tânia Mara. Migrantes sulistas. A caminhada e aprendizados na região acreana. Acre: Editora
Edufac, 2016.

Com essas compras, diversos migrantes paulistas e sulistas foram para o Acre em busca de
melhores possibilidades de trabalho. Entende-se como “paulistas”, o termo pelo qual esses novos
colonos originários do sul e sudeste do Brasil e seus representantes passaram a ser definidos pelos
regionais. Os mais abastados, que compraram essas terras, apresentam-se como os novos “civiliza-
dores” do Acre, vindos para desenvolver e integrar a região ao resto do país, trazendo o progresso
e a prosperidade a essas terras ainda consideradas “selvagens”.
Uma das consequências da execução de atividades dos “paulistas” abastados: muitos serin-
gueiros foram expulsos para seringais bolivianos, para as periferias das cidades ou simplesmente
incorporaram o trabalho de desmatamento e as atividades agrícolas nas fazendas dos novos patrões.
a CHEGADA DOS PAULISTAS NO ACRE 3

A luta dos “Povos da Floresta”: em contrapartida, os movimentos do indigenismo e ambientalismo


no Acre, as primeiras organizações indígenas, assim como os primeiros sindicados de trabalhadores
rurais, cresceram neste período. A partir de 1985, deram origem ao Conselho Nacional dos Serin-
gueiros (CNS), apareceram em decorrência das violências dessa segunda fase de colonização do
Acre. O vale do rio Acre foi a primeira zona afetada pelos conflitos e os desmatamentos em grande
escala que se intensificaram com a construção, entre 1971 e 1973, da BR-317.
Em um ônibus comum, sem o menor conforto, repleto de crianças e dos sonhos se seus pais,
se percorria por dias as estradas enlameadas da Amazônia, rumo ao Acre, para que, enfim,
se pudesse usufruir um pedaço de chão no Norte, uma vez que o Sul já não comportava.
Chegando aqui, o que a princípio encontraram foi muita floresta, malária e descaso por parte
do poder público. Quanto às cartas escritas pelos migrantes, soube, através de funcionários
do Incra, da existência de muitas que haviam sido enviadas a familiares que ficaram nos
estados do Centro-Sul, as quais retornaram para a sede do Incra, pelo fato dos Correios
não terem localizado o endereço dos destinatários e as devolverem para serem entregues
aos remetentes. Ocorre que, em muitos casos, os remetentes não sabiam que as cartas não
haviam chegado aos destinatários, ou por estarem com endereços incompletos, ou pelo fato
dos destinatários terem mudado de endereço. O Incra, por seu turno, nem sempre encon-
trava o assentado que remetera a carta ora devolvida, de forma que um grande número
de cartas ia sendo acumulado nos Correios ou nas sedes dos Projetos de Assentamento.”
Fonte: REZENDE MACHADO, Tânia Mara. Migrantes sulistas. A caminhada e aprendizados na região acreana. Acre: Editora
Edufac, 2016.

AS QUESTÕES FLORESTAIS
Os desmatamentos da economia pecuária ainda eram presentes (como são até os dias de
hoje). Esses forasteiros, que em sua maioria, buscavam tentar uma nova vida no Acre, não fugiram
das questões de violência e exploração da natureza. Além da figura marcante de Chico Mendes,
muitos outros seringueiros e sindicalistas foram assassinados durante essas lutas pela terra. Diga-se,
luta em prol da vida na floresta. Os povos indígenas acreanos também se mobilizaram, em grande
e iniciaram novas formas de luta no campo político regional. A emergência e a consolidação do
movimento indígena acreano devem ser situadas no contexto político mais amplo da afirmação
étnico-política da indianidade que caracterizou as Américas a partir da década de 1970.
Através da regional Amazônia Ocidental, os missionários do CIMI, influenciados pela teologia
da libertação (a teologia da Libertação é um movimento apartidário que engloba várias correntes
de pensamento interpretando os ensinamentos de Jesus Cristo como libertadores de injustas condi-
ções sociais, políticas e econômicas.), começaram a atuar no rio Purus, no Acre e sul do Amazonas,
a partir de 1975, promovendo encontros entre grupos indígenas e desenvolvendo um trabalho
de conscientização política junto às lideranças das comunidades. Um dos principais fundadores
da CPI-Acre foi o antropólogo Terri Valle de Aquino. As relações entre a CPI -Acre e o CIMI foram
regularmente pautadas por conflitos e rivalidades, mas, nos momentos importantes de luta, as duas
identidades souberam atuar em conjunto em favor dos direitos dos índios acreanos.
4

Chico Mendes.

A ATUAÇÃO DE CHICO MENDES


Filho de migrantes cearenses, Francisco Alves Mendes Filho nasceu em 1944 num lugar pobre
e esquecido pelo poder público: Xapuri, uma região de seringal, no interior do Acre. Aprendeu a
ler só por volta dos 19 anos de idade. E teve uma vida curta: morreu assassinado, aos 44 anos de
idade. Mesmo assim, tornou-se conhecido internacionalmente, a uma semana de se completarem
25 anos de sua morte, foi lembrado com honras pelo Senado. O que o fez singular? Chico Mendes
foi capaz de, com todas as limitações que o cercavam, fazer conhecida sua voz, arriscando a vida
pela defesa dos trabalhadores extrativistas e da preservação da floresta amazônica.
Sua coragem e capacidade de articulação chamou a atenção do país e do mundo para a dura
realidade de seu povo e para a grande ameaça de destruição, já naquela época, da Amazônia.
Chico Mendes pagou com a vida para que o olhar do mundo se voltasse àquela região do país, alvo
constante de interesses poderosos, para os quais a vida tradicional e a própria existência da floresta
amazônica são apenas entraves ao lucro sem medida. Sua morte havia muito anunciada, por fim,
deu ainda mais notoriedade a uma luta cuja importância vai muito além das fronteiras do Acre.
Em 22 de dezembro de 1988, uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi assassinado
com tiros de escopeta no peito, ao sair pela porta dos fundos de sua casa, em Xapuri. Passados 25
anos do crime que comoveu o país, o nome do seringalista e ativista ambiental permanece como
símbolo da luta pela preservação das florestas e em alternativas sustentáveis de aproveitamento
de seus recursos em favor dos povos nativos.
Sob sua liderança, a luta dos seringueiros pela preservação do seu modo de vida adquiriu grande
repercussão mundial. Ele atuou na organização de sindicatos e na fundação do Conselho Nacional
dos Seringueiros (CNS). Entendeu, no entanto, que a defesa da Floresta Amazônica dependia de
união mais ampla dos povos cuja sobrevivência está associada às florestas. Por isso, já em 1985,
participou da proposta da União dos Povos da Floresta. O objetivo da aliança era unir os interesses
de indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores e populações ribeirinhas, entre
outros povos tradicionais. Buscou convencer o governo federal e as administrações estaduais a
criar reservas para a colheita não predatória de produtos como látex, a castanha do Pará e o coco
do babaçu. Além de contribuir para a preservação das áreas indígenas e da floresta, essas reservas
extrativistas seriam também um instrumento de reforma agrária.
Morto em dezembro de 1988, o líder ambientalista dá nome, hoje, ao Instituto Chico Mendes
de Preservação de Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. O órgão
a CHEGADA DOS PAULISTAS NO ACRE 5

foi criado durante o primeiro mandato de Luís Inácio Lula da Silva, na gestão de Marina Silva à
frente do Ministério do Meio Ambiente. Enquanto, nos anos 80, Lula deu apoio a Chico Mendes
na articulação de seu movimento sindical, Marina, também do Acre, deu seus primeiros passos na
defesa do meio ambiente sob a liderança do líder seringueiro.
O ICMBio integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) e a ele cabe executar as
ações do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, podendo propor, implantar, gerir, prote-
ger, fiscalizar e monitorar as Unidades de Conservação instituídas pela União. O legado de Chico
Mendes, porém, vai muito além. Tornou-se referência persistente, por vezes incômoda até, para
a consciência ambiental do país. E inspiração para a nem sempre vencedora luta pela preservação
dos ativos ambientais do Brasil.
Fontes: Chico Mendes, legado de coragem em defesa da floresta — Senado Notícias

REZENDE MACHADO, Tânia Mara. Migrantes sulistas. A caminhada e aprendizados na região acreana. Acre: Editora Edufac,
2016.

Cardoso de Oliveira, Roberto. Acre: Uma história em construção. Fundação de Desenvolvimento de Recursos Humanos, da
Cultura e do Desporto. Rio Branco, 1976.
A EVOLUÇÃO
POLÍTICA DO ACRE
2

A EVOLUÇÃO POLÍTICA DO ACRE


DE TERRITÓRIO A ESTADO
REVOLTAS SOCIAIS E SEUS IMPASSES
A evolução do Acre de território a Estado não se desfigura da História do Brasil no que tange
territórios conquistados em áreas limítrofes onde perduravam conflitos. O Brasil tem, em seu his-
tórico, muitas revoltas e guerras em busca de territórios. O Acre, por acentuar grande importância
durante a exploração do látex, até 1913, quando se iniciou da borracha nos mercados europeu e
norte-americano, foi atingido por uma onda de prosperidade na passagem do século. Em menos de
uma década, havia mais de 50.000 habitantes dentre migrantes e investidores. Mas esse período
áureo de exploração, acarretou diversas questões sociais que veremos a seguir.
Era imediata a questão da transformação do Acre como estado logo após a sua anexação, já
que cerca de um terço do PIB brasileiro, era oriundo do Acre. Entretanto, essa mudança de status
não ocorreu de forma instantânea.
As regiões fronteiriças com países estrangeiros, insuficientemente cultivadas e de população
inferior a um habitante por quilômetro quadrado, ou deshabitadas, constituirão Territórios,
cujos limites serão fixados na lei que os organizar. § 1. Os Territórios, logo que tiverem popula-
ção suficiente e meios de vida próprios bastantes, serão, por lei especial, erigidos em Estados
ou, mediante plebiscito, incorporados a Estados Limítrofes. § 2. A União dará aos Estados
que auferir em rendas líquidas dos Territórios deles desmembrados a compensação que a
lei fixar, sob a fôrma de encampação de dividas publicas, cujos juros correspondem ao valor
daquelas, ou de indenização equivalente á receita por aqueles ali arrecadada. “Art. 86. — Até
cem quilômetros para dentro da linha fronteiriça, nenhuma concessão de terra, ou exploração
industrial, comercial, agrícola, ou de comunicação, transporte, fontes de energias e usinas
será feita sem audiência do Conselho Superior de Defesa Nacional e do Conselho — 505 —
Supremo, assegurado o predomínio de capitais e trabalhadores nacionais. § 1. Nenhum a via
de comunicação, penetrante ou de orientação sensivelmente normal á fronteira, se abrirá
sem que fiquem asseguradas ligações interiores, necessárias á segurança das zonas por ela
servidas. § 2. Até cem quilômetros para dentro da linha fronteiriça, as autonomias estadual
e municipal sofrerão, além das restrições deste artigo, as que a lei considerar necessárias á
defesa nacional [...]
FERREIRA, Waldemar. A Organização Administrativa do território do Acre. 1936. Classificação (CDDir)

Graças às ações e reproduções jurídicas do Tratado de Petrópolis, o então presidente Rodri-


gues Alves, sancionou a lei que criava o Território do Acre (1904), dividindo o Território em três
departamentos:
ͫ Alto Acre;
ͫ Alto Purus;
ͫ Alto Juruá, desmembrado, em 1912, para formar o do Alto Tarauacá.
a evolução política do acre 3

REVOLTAS ORIUNDAS DAS DIVISÕES DO ACRE


REVOLTA DO CRUZEIRO DO SUL
Essa subdivisão causou intensas revoltas sociais por parte da população. A revolta de Cruzeiro
do Sul, em 1910, foi uma delas. Ela depôs o Prefeito Departamental do Alto Juruá e proclamou
criado o Estado do Acre (a chamada Revolta do Alto Juruá).
Como em todas as revoltas nativistas provinciais da história do Brasil, no Acre também houve
o sufocamento desses movimentos por parte do governo federativo que ainda atuava com “mãos
de ferro”.

REVOLTA NO PURUS
Em 1913, um movimento de revolta ocorreria no Purus, em Sena Madureira, por motivos
muito semelhantes ao do Alto Juruá. Em 1918, seria a vez da luta autonomista chegar ao vale
do Acre, em Rio Branco, que protestou intensamente contra a manutenção daquela situação de
subjugação ao governo federal. Porém ambas as revoltas foram igualmente sufocadas à força pelo
governo brasileiro.
No texto constitucional, de referência expressa ao Território do Acre, era dessa forma que se
caracterizava sua organização:
[...] art. 85 do anteprojeto de Constituição de Território em geral, sem especial referência ao
único de atual existência, o do Acre, cuja criação foi determinada por circunstancias ocasio-
nais, não previstas pelos constituintes de 91. Constituído de longa data e tendo já atingido a
certo grau de desenvolvimento, não se poderá ele confundir com os que venham a ser agora
criados, resultantes de “regiões fronteiriças com países estrangeiros, insuficientemente culti-
vados e de população inferior a um habitante por quilômetro quadrado, ou deshabitadas”. Já
lhe não seriam aplicáveis as normas que viessem a ser adotadas para esses futuros territórios
absolutamente inadaptaveis a uma região que de ha muito se encon tra administrativa e
judiciariamente organizadas. Impõe-se para o Acre u m regime apropriado ás suas presentes
condições, u m regime que, consultando o meio fisico e tendo em vista os imperativos geográ-
ficos, possa aproveitar a toda a região, hoje grandemente sacrificada pelo nefasto regime de
centralização administrativa. Deu-se a primitiva organização o presidente RODRIGUES ALVES,
conforme melhor aconselhavam as circunstancias do momento. Completou-a posteriormente
o presidente AFFONSO PENA, em moldes mais consentaneos com os bem compreendidos
interesses regionais.
Fonte: FERREIRA, Waldemar. A Organização Administrativa do território do Acre. 1936. Classificação (CDDir).

A partir do fracasso das revoltas, a luta pela autonomia não recorreu mais às armas. A reforma
política de 1920, que unificou as quatro prefeituras departamentais em um único governo terri-
torial, serviu para acalmar o vale do Acre, que foi beneficiado pela reforma, já que Rio Branco foi
escolhida como capital do território.
Com a queda do Ciclo da Borracha, em 1920, o movimento autonomista foi perdendo força,
ressurgindo apenas uma década mais tarde, quando a Revolução de 1930 alterou completamente
os rumos da república brasileira. Nesse momento, os acreanos acreditaram que poderiam, enfim,
conquistar a tão sonhada autonomia. Mas foi em vão.
4

Com a constituição de 1934, o Acre só obteve o direito de eleger dois deputados federais
para representá-lo na Câmara Federal, sem alterar o regime de indicação dos governadores do
território. Seguiu-se mais um longo período em que as discussões autonomistas não passavam de
conversas em intermináveis reuniões e de fundações de agremiações políticas e jornais que tinham
como bandeira maior o autonomismo. Multiplicaram-se os simulacros de partidos políticos: Legião
Autonomista, Partido Construtor, Partido Autonomista, Partido Republicano do Acre Federal, Comitê
Pró-autonomia etc. Da mesma forma, multiplicavam-se os títulos de jornais com apelo autonomista,
como por exemplo: O Estado, O Autonomista, O Estado do Acre etc.
Posto sob a administração de u m Governador, nomeado pelo Presidente da Republica e
demissivel ad nutum, com três substitutos eventuais também por ele nomeado e demissivel,
deu-se-lhe u m corpo administrativo mais amplo: u m secretario geral, de imediata confiança
do governador, por este nomeado; e u m chefe de policia, livremente nomeado e demitido pelo
presidente da Republica dentre bacharéis em direito com cinco anos, pelo menos, de tirocinio
na magistratura, na advogacia ou na administração publica, mas subordinado ao governador
de quem receberia instruções. Instituiu-se, pois, u m governo territorial, com melhor e mais
precisa distribuição de atribuições, ao mesmo tempo em que se dividiu o Território em cinco
municipios: Rio Branco, Xapury, Purús, Tarauacá e Juruá, com sedes, respetivamente, nas cida-
des de Rio Branco, Xapury, Sena Madureira, Seabra e Cruzeiro do Sul. Transformaram-se os três
Departamentos em cinco Municipios, permitindo-se a adjunção de distritos, ou a transformação
de u m só em Município, satisfeitas certas condições, como a área de vinte e cinco quilômetros
quadrados e o rendimento anual de mais de cincoenta contos de reis. Os municipios seriam
administrados por um Conselho Municipal, com funções legislativas, composto de sete Vogais
e presidido por um deles, tocando a função administrativa a um Intendente, como chefe do
Poder Executivo Municipal, nomeado e demitido ad nutum pelo Governador do Território. O
governo municipal, assim instituído, ficou expresso no diploma que se organizou, era autônomo,
dentro da es fera de suas atribuições e nenhuma autoridade estranha á hierarquia municipal
poderia intervir nas suas deliberações, exceto nos casos previstos.
Fonte: FERREIRA, Waldemar. A Organização Administrativa do território do Acre. 1936. Classificação (CDDir).

Apenas em meados da década de 1950, outros movimentos sociais voltaram a acontecer no


Acre quando o ex-governador José Guiomard dos Santos resolveu assumir essa bandeira e elabo-
rar um projeto de lei que transformava o Acre em Estado. As aspirações autonomistas não haviam
morrido. Esse projeto causou grande movimentação política em todo o Acre e chegou ao Congresso
Nacional em 1957, provocando uma intensa disputa política entre o PTB de Oscar Passos e o PSD de
Guiomard Santos, tendo o primeiro se posicionado contra a lei de transformação do Acre em Estado.
Depois de muitas disputas no Congresso Nacional, finalmente em 1962, durante a fase par-
lamentarista do governo João Goulart, foi assinada a Lei nº 4.070, de autoria do então deputado
Guiomard Santos. Por uma ironia política, o Presidente João Goulart era do PTB, o partido que,
a nível nacional, se colocava contra o tal projeto. Ainda assim, o projeto foi aprovado e passou a
vigorar a partir do dia 15 de junho de 1962.
Segue a lei abaixo:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º. O Território do Acre, com seus atuais limites é erigido em Estado do Acre.
a evolução política do acre 5

Art. 2º. A Justiça Eleitoral fixará, dentro de três meses, após a promulgação a presente lei,
a data das eleições de Governador e de deputados à Assembléia Legislativa, os quais serão
em número de quinze e terão, inicialmente, funções constituintes.
Art. 3º. A Assembléia Legislativa reunir-se-á dentro de dez dias da diplomação sob a direção
do Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, por convocação dêste, e elegerá a sua Mesa.
Parágrafo único. Se, dentro de quatro meses, após a instalação da Assembléia, não fôr
promulgada a Constituição Estadual, o Estado do Acre ficara submetido automaticamente
à do Estado do Amazonas, até que a reforme pelo processo nela determinado.
Art. 4º. A posse do primeiro Governador se fará, perante a Assembléia Legislativa, no dia
da promulgação da Constituição Estadual.
Parágrafo único. Até essa data, o Estado do Acre ficará sob a administração do Govêrno
Federal, através de um Governador provisório.
Art. 7º. As dotações consignadas no atual Orçamento Geral da União, para o Território do
Acre, serão transferidas à aplicação do Govêrno do Estado, mediante convênio.
Parágrafo único. No exercício financeiro subseqüente ao da promulgação da Constituição
Estadual, o Govêrno do Acre perceberá da União um auxilio correspondente ao valor global,
das verbas orçamentárias que hajam sido atribuídas ao Território, no exercício anterior.
Art. 8º. A União celebrará convênio com o Estado do Acre, a vigorar do exercício financeiro
seguinte, ao da promulgação da Constituição do Estado, para que:
§ 1.º - O pessoal dos serviços mantidos pela União e transferidos ao Estado na forma dêste
artigo continuará a ser remunerado pela União, inclusive o que passar à inatividade, mas
passarão a ser remunerados pelo novo Estado, que os proverá na forma da lei, os novos
servidores nomeados para cargos iniciais de carreira ou cargos isolados que se vagarem e
para cargos que vierem a ser criados, bem como os acréscimos de vencimentos, proventos
e vantagens estabelecidos pelo novo Estado.
Portal da Câmara dos Deputados (camara.leg.br)

O PTB, todavia, não foi de todo derrotado. Nas primeiras eleições livres e diretas realizadas na
história do Acre, o PTB foi o grande vencedor, fazendo o primeiro governador constitucional do Acre,
o Professor José Augusto de Araújo, além de todas as prefeituras municipais acreanas. Na década
de 1960 iniciou-se o segundo ciclo de esforços para acelerar o progresso da área amazônica, com a
criação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM,1966). Procurou-se melhor
entrosar os subsetores regionais dentro do próprio Estado, concorrendo para isso os ramais da Tran-
samazônica, que ligaram Rio Branco e Brasiléia, no alto curso do Acre, e Cruzeiro do Sul, às margens
do Juruá, cortando os vales do Purus e do Tarauacá. Incrementou-se a política de planejamento,
destinada a corrigir as distorções demográficas, econômicas e políticas da integração nacional.
O AUGE DO CICLO
DA BORRACHA
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O AUGE DO CICLO DA BORRACHA


A EXPLORAÇÃO DO LÁTEX
A “BELLE ÉPOQUE AMAZÔNICA”
A exploração do látex ou, como muitos conhecem, O ciclo da borracha, é referente ao período
da história brasileira em que a extração e comercialização de látex para produção da borracha foram
atividades fundamentais da economia.De fato, ocorreram na região central da floresta amazônica,
entre os anos de 1879 e 1912, primeiro ciclo da borracha, revigorando-se por pouco tempo entre
1942 e 1945, segundo ciclo da borracha.
Neste período, conhecido como “Belle Époque Amazônica” que vai de 1890 a 1920, cidades
como Manaus, Porto Velho e Belém, tornaram-se as capitais brasileiras mais desenvolvidas, com
eletricidade, sistema de água encanada e esgotos, museus e cinemas, construídos sob influência
europeia. Contudo, os dois períodos de “ciclos da borracha” acabaram de maneira repentina, o que
se agravou pela falta de políticas públicas para desenvolvimento da região.
A timidez com que se configurava a territorialização da Amazônia foi quebrada a partir da
descoberta do processo de vulcanização da borracha, mas, foi nos anos de 1877 a 1879, que
se vivenciou o primeiro movimento migratório para a Amazônia, motivado principalmente
pelas secas que assolavam o nordeste brasileiro.
A chegada dessa grande massa humana na região mudou sobremaneira a configuração
territorial da Amazônia. Nem mesmo as grandes dificuldades apresentadas pelo inóspito
território amazônico conseguiram limitar a crescente onda de territorialização dessa até
então tida como “mata virgem.
A estimativa era que, desde o início do ciclo da borracha até os anos sessenta, em torno de
500.000 nordestinos vieram tentar a vida nos seringais e, deste modo, “fazer a Amazônia”.
Assim, uma grande quantidade de seringais foram implantados, constituindo-se na maioria
das vezes à força e com extremos requintes de crueldades, onde, muitos foram os que per-
deram a vida enquanto outros tiveram que trabalhar num regime de pura escravidão. Nesse
contexto, este estudo tem por objetivo resgatar, sobretudo, como se configurava o modo
de vida nos seringais da Amazônia, bem como sua constituição. Para isso, este trabalho foi
estruturado com base em pesquisas bibliográficas e pesquisa de campo com aplicação de
entrevistas não-estruturadas.
Fonte: GALVÃO, Antônio Carlos. SILVA, Josué da Costa. SERINGUEIROS NA AMAZÔNIA. Mestrando em Geografia pela Fundação
Universidade Federal de Rondônia. Professor do Depto de Geografia e Coordenador do Programa de Pós-Graduação Mestrado
em Geografia UNIR.

E POR QUE A REFERÊNCIA AO NOME ‘BELLE ÉPOQUE’ AMAZÔNICA?


A intensa prosperidade econômica causada pela borracha e produtos vegetais extraídos da
floresta tropical na região norte do Brasil, desenvolveu economicamente, no setor de infraestrutura
e na cultura no Brasil, em um relativamente curto período tempo.
o auge do ciclo da borracha 3

As chamadas “drogas do sertão”, produtos encontrados na Amazônia que circulavam pelo


território colonial e para o exterior, eram antigos produtos comercializados pelos portugueses e
que ajudaram a exploração do interior do território brasileiro e das florestas tropicais.
Podemos dizer que o marco de ocupação na Amazônia iniciou-se no ano de 1616 com a
construção do Forte do Presépio, erguido para proteção contra os invasores ingleses, fran-
ceses e holandeses. A partir de então expedições portuguesas avançavam para o interior
da Amazônia. Um dos nomes mais conhecido é o do desbravador português Pedro Teixeira
- considerado por muitos como o “conquistador da Amazônia” símbolo da luta pela preser-
vação da soberania brasileira sobre a Amazônia - devido às expedições bem sucedidas ao
longo do território amazônico. Após suas viagens iniciam-se as buscas, no sertão amazônico,
por ouro e drogas do sertão (cacau, baunilha, canela e outras especiarias).”
Fonte: GALVÃO, Antônio Carlos. SILVA, Josué da Costa. SERINGUEIROS NA AMAZÔNIA. Mes-
trando em Geografia pela Fundação Universidade Federal de Rondônia. Professor do Depto
de Geografia e Coordenador do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Geografia UNIR.
A partir do século XIX, a busca por esses tipos de produtos propiciou uma migração intensa
da população nordestina para o Norte, que ao lado da escravidão indígena, que ainda existia, a
principal mão de obra para a extração dos produtos vegetais da floresta eram esses migrantes.
O contingente migratório foi tamanho que Samuel Benchimol (1999, p.137) relata que: “desde
o início do ciclo da borracha até 1960, aproximadamente 500.000 nordestinos vieram fazer
a Amazônia, representando assim o maior movimento humano das migrações internas da
história brasileira, superado somente pela migração pau-de-arara para São Paulo”
Fonte: BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: Formação Social e Cultural. Manaus, Valer, 1999.

O advento da Revolução Industrial se difundia na Europa, e a borracha, um produto altamente


procurado, tornou-se carro chefe de vendas para exportação no Brasil. Produção de pneus, borra-
chas de apagar, mangotes e diversos outros produtos da indústria civil e bélica, os países europeus
se tornam compradores da borracha brasileira, criando uma oportunidade de fartura para as elites
da região e de fora.
Em 1903, o governo brasileiro, em negociação com o governo boliviano, adquiriu oficialmente o
controle do Estado do Acre, mediante o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas, da entrega de
territórios do Mato Grosso e da construção de uma ferrovia para escoar os produtos da Amazônia.
Assim, as obras para construção da ferrovia tiveram início em 1907 e foram concluídas em 1912,
resolvendo o problema de navegação do rio Mamoré, com mais de vinte cachoeiras.
Entre 1879 e 1912, as capitais do Norte, principalmente Manaus, Porto Velho e Belém, capi-
tanearam uma guinada para se tornarem referências nacionais em termos de construção de esgo-
tos, transporte, eletricidades, atividades culturais como cinema e teatro, levando a construção de
teatros e casas de concerto monumentais, requintadas pela tradição europeia que a burguesia
urbana visava imitar. Por isso, esse período ficou conhecido como a “Belle Époque da Amazônia”,
pois fazia uma referência ao áureo período de prosperidade que a França passou antes da eclosão
da Primeira Guerra Mundial.
Rapidamente estrangeiros perceberam que o látex, a seringueira, era um atrativo altamente
lucrativo que poderia ser produzido em regiões do mundo com o clima parecido. O roubo de
sementes para s plantações no Pacífico e no Sudeste Europeu foram feitos por alguns estrangeiros.
As colônias francesas, inglesas e americanas no Sudeste asiático e nos arquipélagos da região, em
condições de produção mais barata, fizeram a borracha brasileira perder competitividade e destruiu
o ciclo de prosperidade acelerado da Amazônia. Durante a Primeira Guerra Mundial e depois, a
Belle Époque tropical morreu.
4

No percorrer da Segunda Guerra Mundial, quando o presidente Vargas articulava encaixar o


Brasil numa posição de importância no parâmetro internacional, uma retomada econômica das
capitais nortenhas, pois a exportação da borracha brasileira para a indústria bélica europeia teve
uma rápida animada Depois deste período entre 1942 e 1945, o ciclo da Borracha deixou de pros-
perar a nível tão alto.
Com a II Guerra Mundial e a invasão dos seringais do sudeste Asiático pelas nações inimigas,
levou os Governos dos Estados Unidos e do Brasil, na tentativa de manter o abastecimento
do consumo do produto no mercado americano, procurar viabilizar políticas de expansão
da borracha na Amazônia. Assim, por este e outros motivos surge, nos anos quarenta, um
novo movimento migratório, principalmente, de nordestino rumo à Amazônia.”
Fonte: GALVÃO, Antônio Carlos. SILVA, Josué da Costa. SERINGUEIROS NA AMAZÔNIA. Mestrando em Geografia pela Fundação
Universidade Federal de Rondônia. Professor do Depto de Geografia e Coordenador do Programa de Pós-Graduação Mestrado
em Geografia UNIR.

Desolados pelas constantes secas e conflitos no campo; estimulados por promessas de grandes
ganhos e; movidos pelo sonho de melhores condições de vida, milhares de migrantes nordestinos
despiram-se do que mais amavam e vislumbraram na Amazônia uma vida mais digna. O que se viu
foi um modelo de exploração desumana imposto aos seringueiros que, nos seringais submetiam-se,
além da opressão do sistema de barracão, às diversas doenças e animais existentes nesses centros
produtores de borracha, de modo que, não se pode negar que os seringueiros fazem parte das
grandes vítimas nesse sistema de exploração da borracha, onde, se estima que entre dezessete e
vinte mil, dos que se dispuseram à coleta do látex na Amazônia, não retornaram para os seus locais
de origem.
Fonte: GALVÃO, Antônio Carlos. SILVA, Josué da Costa. SERINGUEIROS NA AMAZÔNIA. Mestrando em Geografia pela Fundação
Universidade Federal de Rondônia. Professor do Depto de Geografia e Coordenador do Programa de Pós-Graduação Mestrado
em Geografia UNIR.

Fonte: BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: Formação Social e Cultural. Manaus, Valer, 1999.
HISTÓRIA E
HISTORIOGRAFIA DO
ACRE
2

HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DO ACRE


CONJUNTURA HISTÓRICA
A história do Acre está estreitamente ligada ao extrativismo da borracha.
Até meados do século XIX, a região era pouco conhecida e as populações indígenas viviam
num relativo isolamento do mundo ocidental. A situação se transformou radicalmente a partir da
década de 1870, quando milhares de seringueiros chegaram ao atual território do Acre para explorar
a borracha. A chegada dos seringueiros nordestinos. Para a história ocidental, o Acre nasceu com
os seringueiros e a epopeia da borracha. Foram eles que conquistaram o “deserto ocidental”. Junto
com o povo seringueiro, a história oficial também imortalizou dois heróis, figuras emblemáticas da
integração do Acre ao Brasil: Plácido de Castro, o líder da campanha militar contra os bolivianos,
e o Barão de Rio Branco, o chef da diplomacia brasileira responsável pela assinatura do Tratado
de Petrópolis assinado em 17 de novembro de 1903 que resolveu a disputa territorial com o país.
A história oficial do Acre é um discurso ufanista, contado do ponto de vista dos vencedores
e periodicamente atualizado e reajustado em função dos interesses políticos do momento. A nar-
rativa mítica da “invenção do Acre” é um relato hegemônico e sacralizado, o que não significa que
ele seja unívoco.
Pode estar, por exemplo, mais ou me nos aberto a interpretações, conciliar perspectivas ou
versões distintas, enfatizar um ou outro evento, mas relata sempre o ponto de vista dos vencedores.
Em (re)construção e (re)invenção permanente, essa história oficial se autocelebra periodicamente
por meios manifestações discursivas e simbólicas, cultua seus heróis, hinos, bandeiras, monumentos
etc. Nessa história, a “questão indígena” ocupa um lugar curioso e instigante. Embora mencionados
por alguns historiadores, os povos indígenas do Acre ocuparam um papel marginal no momento da
conquista desse território e desaparecem da história regional durante a maior parte do século XX
para reapareceram na década de 1970 e passarem a desempenhar um papel central no discurso
oficial dos últimos 15 anos.
Na historiografia acriana, a diversidade nativa se confunde, geralmente, com a natureza a ser
explorada e conquistada ou, na melhor das hipóteses, é apresentada como um estado primitivo de
humanidade. Antes da epopeia da borracha e da chegada dos seringueiros, a
região acriana é tida como não tendo história.
Fonte: Artigo ‘O amazonismo acriano e os povos indígenas. Revisitando a história do Acre.’ Vista do O AMAZONISMO
ACRIANO E OS POVOS INDÍGENAS: REVISITANDO A HISTÓRIA DO ACRE (ufpa.br)

HISTÓRIA DO ACRE
O processo de incorporação do Acre ao Brasil decorreu do desbravamento de populações
do Nordeste, que o povoaram e o fizeram produtivo, repetindo a proeza dos bandeirantes de São
Paulo, que partiram em expedições para o interior nos séculos XVI e XVII.
No caso do Acre, foram as secas nordestinas e o apelo econômico da borracha - produto
que no final do século XIX alcançava preços altos nos mercados internacionais - que motivaram a
movimentação de massas humanas oriundas do Nordeste, para aquela região amazônica. Datam
de 1877 os primeiros marcos de civilização efetiva ocorrida no Acre, com a chegada dos imigrantes
nordestinos que iniciaram a abertura de seringais. Até então, o Acre era habitado apenas por índios
não aculturados, uma vez que a expansão lusobrasileira ocorrida na Amazônia durante o período
colonial, não o havia alcançado.
hISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DO ACRE 3

A partir dessa época, no entanto, a região tornou-se ativa frente pioneira, que avançou pelas
três vias hidrográficas existentes: o rio Acre, o Alto-Purus e o Alto Juruá. O território
do Acre pertencia à Bolívia até o início do século XX, embora desde as primeiras décadas do século
XIX a maioria da sua população fosse formada por brasileiros que exploravam os seringais e não
obedeciam à autoridade boliviana, formando, na prática, um território independente e exigindo a
sua anexação ao Brasil.
Em 1899, na tentativa de assegurar o domínio da área, os bolivianos instituíram a cobrança de
impostos e fundaram a cidade de Puerto Alonso, hoje Porto Acre. Os brasileiros revoltaram-se com
tal providência, o que resultou na disseminação de vários conflitos, que somente terminaram com
a assinatura, em 17 de novembro de 1903, do Tratado de Petrópolis, pelo qual o Brasil adquiriu,
em parte por compra e em parte pela troca de pequenas áreas nos Estados do Amazonas e Mato
Grosso, o futuro território e depois Estado do Acre.
Problemas de fronteira também existiram com o Peru, que reivindicava a propriedade de todo
o Território do Acre e mais uma extensa área no Estado do Amazonas, tendo tentado estabelecer
delegações administrativas e militares na região do Alto-Juruá entre os anos de 1898 e 1902, e do
Alto-Purus entre 1900 e 1903. Os brasileiros, no entanto, com seus próprios recursos, forçaram os
peruanos a abandonar o Alto-Purus em setembro de 1903. Com base nos títulos brasileiros e nos
estudos das comissões mistas que pesquisaram as zonas do Alto-Purus e do Alto-Juruá, o Barão
do Rio Branco, Ministro das Relações Exteriores na época, propôs ao Governo do Peru o acerto de
limites firmado a 8 de setembro de 1909.
Com este ato completou-se a integração política do Acre à comunidade brasileira. A partir de
1920, a administração do Acre foi unificada e passou a ser exercida por um Governador, nomeado
pelo Presidente da República. Pela Constituição de 1934, o Território passou a ter direito a dois
representantes na Câmara dos Deputados. Em 1957, projeto apresentado pelo Deputado José
Guiomard dos Santos elevava o Território à categoria de Estado, o que resultou na Lei nº. 4.070,
de 15 de junho de 1962, sancionada pelo então Presidente da República, João Goulart. O primeiro
governador do Estado do Acre foi o Senhor José Augusto de Araújo, eleito em outubro de 1962,
com 7.184 votos.
Fonte: O Estado do Acre - O Estado do Acre (dominiopublico.gov.br)

OS MOVIMENTOS SOCIAIS INDÍEGENAS A PARTIR DO SÉCULO


XX
Os povos indígenas só apareceram como atores na história do Acre a partir de meados da
década de 1970 quando começaram, paulatinamente, a se organizar no campo interétnico para
defender seus direitos, principalmente territoriais. Essa afirmação política se deu em reação a uma
nova frente de colonização da região estimulada pelas políticas da ditadura militar para o desen-
volvimento da Amazônia.
Durante o século XX, os mitos do continuaram a orientar as políticas oficiais para a Amazônia
que recebeu uma atenção especial durante a ditadura (1964-1985). A exploração da Amazônia con-
tinuou ser vista como uma solução milagrosa para resolver os problemas econômicos e sociais do
país. A construção do “Brasil Grande” e o futuro próspero da nação passavam pelo desenvolvimento
dessa vasta região e sua integração definitiva à economia capitalista mundial.
Nesse contexto, a ideologia desenvolvimentista e integracionista das décadas de 1970 e
80, com suas imagens ambivalentes e contraditórias, reproduziram as mesmas estruturas
cognitivas que informaram o mito do amazonismo nos séculos anteriores.
4

No Acre, a nova fase de colonização se caracterizou pela economia agropecuária. Benefician-


do-se da crise da borracha e de estímulos do governo estadual, ela se intensificou na região a partir
da década de 1970.
Os “paulistas”, termo pelo qual os novos colonos originários do centro-sul e do sul do Brasil
e seus representantes passaram a ser chamados pelos acrianos, apresentavam-se como os novos
“civilizadores” do Acre, vindos para desenvolver e integrar a região ao resto do país, trazendo pro-
gresso e prosperidade para essas terras ainda consideradas “selvagens”. Para tanto, compraram os
seringais em falência, desmataram a floresta, criaram pastos e procuraram transformar seringueiros
e índios em peões.
As primeiras reivindicações indígenas no Acre surgiram em decorrência dos conflitos pela terra
que caracterizaram essa nova fase de colonização, mas a emergência e a consolidação do movimento
indígena acriano também devem ser situadas no contexto político mais amplo da afirmação étnico
política que caracterizou as Américas a partir da década de 1970.
Fonte: Artigo ‘O amazonismo acriano e os povos indígenas. Revisitando a história do Acre.’ Vista do O AMAZONISMO
ACRIANO E OS POVOS INDÍGENAS: REVISITANDO A HISTÓRIA DO ACRE (ufpa.br)
REALIDADE
ÉTNICA, SOCIAL E
GEOGRÁFICA DO
ACRE
2

REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL E GEOGRÁFICA DO ACRE


REALIDADE ÉTNICA
Os povos indígenas acrianos representam a biodiversidade e a riqueza da cultura amazônica.
Seus saberes transcendem as inovações tecnológicas e se perpetuam nos tempos atuais. O território
acriano é composto por 15 etnias e outras três não contactadas, os chamados “índios isolados”.
Ainda hoje, existe uma grande falta de informações contundentes acerca dos troncos étnicos
indígenas que remontam aos tempos exploratórios coloniais. Historiadores como Darcy Ribeiro e
Sérgio Buarque de Holanda, se destacam em meio às pesquisas. Esse abismo se resulta bastante
pela falta de fontes escritas e pelo processo de dizimação dessas culturas acabaram limitando as
possibilidades de estudo.
Em geral, o maior contato desenvolvido entre índios e europeus aconteceu nas faixas litorâneas
do nosso território, onde predominam os povos indígenas pertencentes ao grupo tupi-guarani.
Apesar das várias generalizações, relatos do século XVI esclarecem alguns hábitos desse povo.

POVOS ISOLADOS
Os isolados são povos que não mantêm contato direto ou regular com a sociedade envolvente.
Vivem em isolamento voluntário, de maneira exclusiva ou compartilhada, nas terras indígenas desti-
nadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Segundo dados atualizados da Funai e da Secretaria
Especial de Saúde Indígena (Sesai/MS), esses povos constituem uma população de pouco mais de
19,6 mil pessoas, representando 2,7% da população total do estado e 9,7% de sua população rural.
Esse contingente populacional não inclui os povos indígenas “isolados”, com população total,
estimada pela Funai, em cerca de 600 pessoas. Os indígenas que mantêm residência na capital ou
outras sedes municipais também não fazem parte do censo.

RECONHECIMENTO DAS TERRAS INDÍGENAS


São 34 terras indígenas reconhecidas pelo governo federal e distribuídas entre 11 dos 22
municípios acrianos, que correspondem a 14,8% do território. As unidades de conservação, de uso
direto e proteção integral, de jurisdição federal e estadual, e as terras indígenas constituem um
mosaico contínuo de 7,7 milhões de hectares, distribuído sobre 46% da superfície total do Acre.
Segundo o sertanista José Carlos Meirelles, o processo de demarcação das terras indígenas do
Acre foi o mais rápido na história do indigenismo. “Em 30 anos, mais de 80% das terras indígenas
estão demarcadas. Isso se deu, principalmente, pela luta e organização dos índios”, destacou.

REALIDADE SOCIAL E GEOGRÁFICA


O Acre vem experimentando mudanças significativas em sua economia, na infraestrutura de
suas cidades e, sobretudo, nos serviços de saúde, educação e segurança que oferece à população.
Frutos de um projeto político iniciado em 1999, os avanços alcançados pelo Estado nos últimos
anos estão expressos em números, como os que mostram o aumento da arrecadação própria (A
arrecadação do ICMS passou de R$ 76,2 milhões em 1999 para R$ 896,9 milhões em 2014), e o
aquecimento da economia local.
Mas podem ser sentidos, também, ao olhar as paisagens urbanas de cidades como Rio Branco,
Cruzeiro do Sul e Xapuri; ou, ainda, ao ouvirmos a fala mansa de quem sempre viveu na floresta e
hoje tem orgulho de poder manter-se nela com mais dignidade e qualidade de vida.
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL E GEOGRÁFICA DO ACRE 3

Até 1998, a população acriana sofria com a falta de serviços básicos, a estagnação da economia
e a ausência do Estado na valorização das riquezas naturais e culturais que, historicamente, fazem
deste pedaço da Amazônia um lugar especial para viver. De costas para a floresta, principal meio de
sobrevivência de populações tradicionais como índios, seringueiros e ribeirinhos, além de apresentar
uma receita própria inferior a 16,6%, a economia e o desenvolvimento do Estado desconsideravam
a rica biodiversidade que o Acre abriga, bem como a vocação natural de boa parte de seu povo.
O Acre está localizado na Região Norte, no extremo oeste do Brasil, sua capital é Rio Branco e
quem nasce no estado é chamado acriano. Sua área compreende 164.123,738 km² e ocupa, entre
os demais estados da federação, o 16º lugar em área territorial.
O estado faz fronteira com o estado do Amazonas ao norte e em seu extremo ocidental em
uma estreita faixa da fronteira, limita-se com Rondônia. Em sua porção noroeste, faz também
fronteiras internacionais com o Peru e a Bolívia. É no Acre que se encontra o ponto mais ocidental
do Brasil, a nascente do rio Moa.
Fontes: ACRE. Acre concentra vasta diversidade de povos indígenas. Disponível em: https://agencia.ac.gov.br/acre-concentra-
-vasta-diversidade-de-povos-indigenas/. Acesso em: 3 mar. 2022.

CARNEIRO, Eduardo de Araújo. A epopeia do Acre e a manipulação da história: no movimento autonomista & no governo da
frente popular. Rio Branco: EAC Editor, 2015, p. 124.
REALIDADE
CULTURAL, POLÍTICA
E ECONÔMICA DO
ACRE
2

REALIDADE CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA DO


ACRE
CULTURA
Os investimentos no conjunto arquitetônico da mais antiga rua de Rio Branco possibilitaram,
ainda, a transferência da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM) para um dos casarões da Eduardo
Assmar, em 2006. Hoje, a FEM, órgão do governo do Estado responsável pela gestão cultural, fun-
ciona no antigo prédio do Hotel Madrid. Seu interior é moderno e abriga um grande salão com
exposições permanentes de artistas locais.
Na parte externa, uma estátua do poeta Juvenal Antunes convida os transeuntes a senta-
rem-se à mesa, relembrando, às margens do Rio Acre, os tempos áureos da borracha e a boemia
dos antigos frequentadores do lugar. Para acompanhar a restauração e revitalização do conjunto
arquitetônico do 2º Distrito, foram feitas obras de urbanização na área que o cerca. O resultado
pode ser visto do outro lado da cidade – de onde se enxerga o calçadão pontilhado com bancos
e sombras de árvores nativas –, e experimentado nos fins de tarde quando dezenas de pessoas
ocupam o Calçadão da Gameleira para a prática de atividades físicas ao ar livre ou passeiam com
suas crianças, amigos e familiares.
Fonte: Caminhos do Acre acre.gov.br

AS FACHADAS DA PRINCESINHA DO ACRE


Conhecida como ‘Princesinha do Acre’, a cidade de Xapuri, a 174 km da capital, ganhou novos
ares com a restauração de 44 fachadas de seu centro comercial. As obras contemplaram edificações
da antiga Rua do Comércio, hoje 17 de Novembro.
As intervenções no conjunto respeitaram a arquitetura original dos prédios, que foram tom-
bados pelo governo do Acre como Patrimônio Histórico Cultural. Hoje, além de nova iluminação
e calçamento adequado, na frente de cada uma dessas construções, o visitante encontra uma
pequena placa de identificação. Além da restauração deste conjunto histórico, foram feitas obras
de revitalização no antigo porto da cidade. As obras incluíram a recuperação de calçadas e meio
fio, tornando ainda mais agradável a experiência de admirar as águas do rio que banha a cidade e
o ir e vir das pequenas embarcações que transportam famílias ribeirinhas da região.
Fonte: Caminhos do Acre acre.gov.br

AS CASAS DA RUA DO COMÉRCIO


Parte das fachadas restauradas na antiga Rua do Comércio, em Xapuri, é de casas comerciais
que, no auge da economia da borracha, vendiam suas mercadorias para os seringalistas e comercia-
lizavam o látex proveniente dos seringais da região. As maiores e mais tradicionais (como as casas
Zaire e Kalume), eram de propriedade de grandes comerciantes. Nelas se encontravam produtos
nacionais e importados, como tecidos finos, vinhos, presuntos e porcelanas.
Fonte: Fonte: Caminhos do Acre acre.gov.br
REALIDADE CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA DO ACRE 3

POLÍTICA E ECONOMIA ATUAL


O Acre foi o primeiro estado brasileiro a receber permissão do governo federal para a instalação
de indústrias em sua Zona de Processamento de Exportação (ZPE). A liberação, ocorrida em abril de
2012, por meio do Ato Declaratório de Alfandegamento, mostra que os esforços realizados neste
pedaço da Amazônia em direção a uma economia que alia a tradição de seu povo ao uso inteligente
dos recursos naturais do estado, a força produtiva, valeram a pena.
A ZPE do Acre ocupa uma área de 130 hectares no município de Senador Guiomard. Sua
moderna estrutura inclui um centro administrativo com 1,3 mil metros quadrados onde funcionarão,
além dos escritórios dos gestores estaduais e da Receita Federal, postos do Ministério da Agricul-
tura, Pecuária e Abastecimento, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e agências dos
Correios e da Caixa Econômica Federal. Dividida em nove setores industriais, ela tem capacidade
para receber cerca de 70 indústrias.
Mais de 30 empresas de cosméticos, polpa de fruta, colchões, montagem de bicicletas moto-
rizadas, água mineral, transformadores elétricos e produtos recicláveis apresentaram carta de
intenção para se instalar no local.
O volume de investimentos privados na ZPE do Acre gira em torno de R$ 87,6 milhões e a
previsão é de que 85 novos postos de trabalho sejam criados inicialmente no local. O Acre não
apenas estará gerando mais empregos como também terá fortalecido seu caminho rumo a uma
industrialização que respeita as maiores riquezas do estado, sua gente e herança.
Para garantir o crescimento econômico, houve investimentos em novos parques industriais e na
melhoria da infraestrutura dos já existentes em Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Atualmente o Estado
conta com 10 Parques Industriais em nove dos 22 municípios. O projeto de industrialização alcançou
todas as regionais: em 2014 foram concluídos parques nos municípios de Sena Madureira, Feijó,
Tarauacá, Cruzeiro do Sul, Epitaciolândia, Brasileia, Acrelândia e Xapuri, o que fez o Acre produzir
mais e melhor, gerando empregos, renda e mais qualidade de vida.
Em Cruzeiro do Sul, importante polo produtivo do estado, o Parque Industrial está totalmente
concluído. Os investimentos privados chegam a R$ 10,8 milhões e já foram autorizadas 25 conces-
sões a empresas que geram, aproximadamente, 250 empregos diretos. Em Xapuri, oito concessões
foram liberadas e o valor dos recursos privados investidos soma R$ 5 milhões. Na regional Tarauacá
- Envira, o município de Tarauacá, localizado a 400 km de Rio Branco, será contemplado com Parque
Industrial Florestal, com uma indústria de perfil de madeira, 12 galpões, administrado em regime
de gestão compatilhada. Outro exemplo de investimento, todavia para o setor de serviços, é o Polo
Logístico em Rio Branco. Os R$ 141 milhões de investimentos privados aplicados no local devem
gerar 1.219 postos de trabalho diretos e 4.200 de indiretos.
Fonte: Caminhos do Acre acre.gov.br

SETOR MADEIREIRO
O setor madeireiro do estado tem mostrado que é possível usar os recursos florestais com
inteligência e respeito à floresta. Em 2011, houve o primeiro encontro da história com movelarias
e marcenarias de todo estado. A partir das discussões e compromissos firmados, o Programa de
Apoio ao Setor Moveleiro/Marceneiro do Acre.
A iniciativa teve como primeiro resultado o licenciamento ambiental de mais de 90% das mar-
cenarias do estado. O segmento, hoje, cresce a passos largos graças a incentivos como a construção
de galpões dentro dos parques industriais e a garantia de compra de móveis e artefatos de madeira,
por meio de credenciamento, no âmbito das ações de compras governamentais.
4

Duas indústrias madeireiras localizadas nos municípos de Cruzeiro do Sul e Xapuri foram cons-
truídas, e uma terceira, em Tarauacá, está em fase de conclusão, com previsão de funcionamento
para 2016. Cada indústria tem capacidade de processar cerca de 100 mil metros cúbicos de madeira
ao ano e empregar cerca de 200 pessoas. Em Cruzeiro do Sul, 16 galpões já foram entregues, um
deles é comunitário.
Neste município, o programa de fortalecimento da economia florestal se concretiza com a
implantação do Polo Naval, indústria com base madeireira que beneficiará inicialmente 50 coo-
perados de Cruzeiro do Sul e Tarauacá. Às margens da BR-317, o Complexo Industrial Florestal de
Xapuri foi idealizado inicialmente para a fabricação de pisos de madeira: de 2009 a 2011, foram
produzidos ali 480 mil metros quadrados de piso de alta qualidade e 4,8 mil metros quadrados de
deck, ambos com selo verde.
Nos complexos industriais do Acre coexistem galpões coletivos e individuais. Mas o perfil admi-
nistrativo da maioria das indústrias que recebem incentivos do governo é de gestão compartilhada.
Nesse modelo, cooperativas, associações, iniciativa privada e Estado se unem para fortalecer a
economia de base florestal, agregando forças em conhecimento técnico e experiência de mercado
para gerar renda e trabalho de forma igualitária, com foco no baixo impacto ao meio ambiente e
no fortalecimento da economia florestal.
Fonte: Caminhos do Acre acre.gov.br

ECONOMIA FLORESTAL
Em todo o Acre, o fortalecimento da cadeia extrativista florestal inclui projetos que viabili-
zam a compra de máquinas e equipamentos atendendo, inicialmente, extrativistas e produtores
organizados em cooperativas das áreas de fruticultura e produção de grãos. Só em Tarauacá, este
número chega a 450 cooperados.
A atividade extrativista, herança que permanece viva em quem mora na floresta, é hoje uma
alternativa que garante melhores condições de vida a centenas de famílias em todo o Acre. Usinas
de beneficiamento de castanha na capital e nos municípios de Xapuri e Brasileia foram ampliadas
e modernizadas.
A reforma e a aquisição de novos equipamentos resultaram no aumento da capacidade produ-
tiva da fábrica, que passou para mais de 825 mil quilos ao ano. Em Rio Branco, uma nova indústria
de castanha promete ser a maior do país: fruto de um empreendimento público privado e com
capacidade para processar 200 toneladas do produto ao mês, a iniciativa será gerida pela Coope-
rativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre).
Fonte: Caminhos do Acre acre.gov.br

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