Você está na página 1de 17

13

A batalha da borracha na Segunda Guerra


Mundial: revisitando a literatura sobre a
atividade gomífera e seus extratores

Reginâmio Bonifácio de Lima


Universidade Federal do Acre - UFAC

'10.37885/220809870
RESUMO

Objetivo: Discorrer sobre as literaturas científicas que tratam sobre os diversos tipos de
migrações para a Amazônia a fim de perceber a dinâmica desencadeada na Amazônia e
os mecanismos de reação dos agentes sociais bem como as ações que se relacionam a
suas atuações. Métodos: A pesquisa se deu na perspectiva de conjunturas da história,
segundo Barros (2004), em que a construção dos fatos e acontecimentos envolvidos são
imutáveis, contudo, a interpretação que envolve esses processos específicos é naturalmente
influenciada pelo tempo no qual as testemunhas e os agentes envolvidos estão inseridos.
Resultados: As questões agrária e de campesinato no estado do Acre estão intimamente
relacionados ao histórico de luta pelo direito de permanecer nas terras ocupadas desde
a época da extração do látex no auge da produção extrativista dos seringais amazôni-
cos. Ao analisar os trabalhos escritos sobre a temática estudada, é perceptível um discurso
recorrente sobre as migrações forçadas para a Amazônia e as migrações incentivadas
pelo governo federal para a extração gomífera. Também nos deparamos com o dilema de
fazer uma exposição sistemática sobre a temática gomífera e os esforços militares desde
os primeiros encontros dos europeus com a borracha, passando pelos chamados primeiro
e segundo “ciclos da borracha”, até a política dos governos militares de “Integrar para não
Entregar” ou focar na formação de um exército para atuar na Amazônia e as políticas desen-
volvidas correlatas a este: optamos pela segunda linha de pesquisa fazendo citações curtas
referenciadas a respeito da primeira. Conclusão: Com a terra ganhando ares de mercado-
ria e a concessão de incentivos fiscais para os empresários investirem no Acre houve uma
mudança na estrutura fundiária acreana. Muitos dos homens e mulheres que atuaram para
o desenvolvimento da região foram esquecidos, marginalizados ou simplesmente deixados
de fora das políticas de fomento. A literatura escrita trata desses e de outros assuntos, mas
ainda é latente o silenciamento existente sobre a participação de minorias como mulheres,
indígenas, negros e caboclos.

Palavras-chave: Soldados da Borracha, Látex, Literatura Científica, Seringueiros, Silenciados.


INTRODUÇÃO

O Brasil tradicionalmente se manteve afastado dos grandes conflitos que eclodiram pelo
mundo ao longo do século XX. Foram poucas as participações brasileiras em ações de guerra
nesse século, sendo a participação mais proeminente ocorrida durante a Segunda Guerra
Mundial1. O Brasil participou em, ao menos, duas grandes forças no esforço de guerra: a
Força Expedicionária Brasileira2, com atuação no front europeu; e o Exército da Borracha3,
com atuação na extração do látex da borracha vegetal na região da Amazônia brasileira4.
Com a eclosão da guerra, o capitalismo monopolista internacional articulou na Amazônia
a formação de sua economia voltada para a produção da matéria-prima necessária para

1 OLIVEIRA, D. de; LOPES, F. L. B. (2012). Veteranos Brasileiros do Mediterrâneo: a Força Expedicionária Brasileira (1944-45) e o
Batalhão Suez (1956-1967). Revista Diálogos Mediterrânicos, (3), 55–76. https://doi.org/10.24858/54.
2 A Força Expedicionária Brasileira foi criada pelo Decreto-lei nº 6.018-A de 23 novembro de 1943. Em seu planejamento inicial ela de-
veria ser formada por três divisões de infantaria (DI), mas acabou sendo composta apenas pela 1ª. Divisão de Infantaria Expedicioná-
ria, composta por três Regimentos de Infantaria. Grande parte dos convocados para a FEB eram civis recém incorporados às fileiras
das Forças Armadas do Brasil. A eles foi ofertado soldo triplicado para fazerem parte dessa força expedicionária. Mesmo o vantajoso
soldo não foi atrativo suficiente para muitos soldados que não mediam esforços para serem afastados desse grupamento. Ao chegar
a Europa, a FEB atuou em operações de guerra como parte do V Exército dos Estados Unidos da América, lutando contra as tropas
do Eixo no norte da Itália durante os anos de 1944 e 1945. Ver: OLIVEIRA, D. de; LOPES, F. L. B. (2012). Veteranos Brasileiros
do Mediterrâneo: a Força Expedicionária Brasileira (1944-45) e o Batalhão Suez (1956-1967). Revista Diálogos Mediterrânicos, (3),
55–76. https://doi.org/10.24858/54. BRAYNER, F. L. A verdade sobre a FEB: memórias de um chefe de estado-maior na campanha
da Itália. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968. Pg. 88. CASTELO BRANCO, M. T. O Brasil na Segunda Guerra Mundial. Rio
de Janeiro, Bibliex, 1960. Pg. 335.
3 PEC Nº 556/2002 (Dá nova redação ao artigo 54 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, da Constituição Federal). De-
creto-Lei nº 4.451, de 09/06/42 (Autoriza a constituição do Banco de Crédito da Borracha, e dá outras providências). Decreto-Lei nº
5.185, de 12/01/42 (Modifica o decreto-lei n. 4451, de 09 de julho de 1942, que autoriza a constituição do Banco de Crédito da Bor-
racha, e dá outras providências). Decreto-Lei nº 5.044, de 04/1/42 (Cria a Superintendência de Abastecimento do Vale Amazônico
(S.A.V.A.), e dá outras providências). Decreto-Lei nº 5.813, de 14/09/43 (Aprova o acordo relativo ao recrutamento, encaminhamento
e colocação de trabalhadores para a Amazônia, e dá outras providências). Decreto-Lei nº 8.416, de 21/12/45 (Extingue a Comissão
Administrativa do Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia (C.A.E.T.A.) e a Superintendência de Abastecimento do Vale
Amazônico (S.A.V.A.) e dá outras providências). Decreto-Lei nº 5.225, de 01/02/43 (Dispõe sobre a situação militar dos trabalhado-
res nacionais encaminhados para a extração e exploração de borracha no vale amazônico, e dá outras providências). Indicação nº
82, de 22/05/46 (Sugere ao Poder Executivo que se faça retornar ao Ceará os soldados da borracha, decretando, destarte, a imigra-
ção dos cearenses). Requerimento nº 268, de 03/07/46 (Requer a nomeação de uma Comissão de Parlamentares, incumbida de
proceder à abertura de um inquérito para apurar a situação dos que tomaram parte no chamado exército da Borracha). Decreto-Lei
nº 9.882, de 16/09/46 (Autoriza a elaboração de um plano para a assistência aos trabalhadores da borracha). Projeto de Lei nº 509,
de 25/07/47 (Determina concessão de auxílio financeiro aos soldados da borracha incapacitados, e às famílias dos ausentes ou
falecidos em virtude da mobilização para o esforço de guerra na Amazônia, e outras providências). Lei nº 7.986, de 28/12/89 (Regu-
lamenta a concessão do benefício previsto no artigo 54 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e dá outras providências).
4 COSTA, Mariete Pinheiro da. O Exército da Borracha: Uma análise da participação dos Soldados da Borracha na Segunda Guerra
Mundial (1942 – 2003). (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências da Educação no Curso História, para
obtenção do título de História). Brasília.2003. LIMA, F. A. O. Soldados da borracha, das vivências do passado às lutas contempo-
râneas. 158f. 2013. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História – UFAM. Manaus: [s.n.], 2013.
MORAES, Ana Carolina Albuquerque de. Rumo à Amazônia, terra da fartura: Jean-Pierre Chabloz e os cartazes concebidos para o
Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia. 2012. 373 p. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Instituto
de Artes, Universidade Estadual de Campinas. MOREL, Edmar. Está morrendo o exército da borracha. Escravidão monstruosa e
um apelo ao Presidente da República. O drama dos cearenses que ficaram na Amazônia. Correio do Ceará, Fortaleza, ano [s.n.] nº
9.806, 9 julho, 1946. NEELEMAN, Gary; NEELEMAN, Rose. Soldados da borracha: o exército esquecido que salvou a II   Guerra
Mundial. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015. PASSOS, O. A batalha da borracha e o futuro da Amazônia. Rodovia, Rio de Janeiro, v.
7, n. 52, p. 10-22, 1944.

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
226
as forças aliadas, financiando o deslocamento do contingente humano migrante de várias
localidades, principalmente do nordeste brasileiro para dar sustentação à empresa gomífera.
Era de conhecimento de autoridades brasileiras e norte-americanas que o sistema de
produção de borracha na Amazônia no fim do século XIX, até meados do século XX havia
produzido a escravização de muitos seringueiros em localidades onde os seringalistas eram
menos escrupulosos.
Quando o Coronel Silvestre Coelho, novo interventor do Acre, se dirigia para o território
acreano, em 1942, declarou ao Jornal Folha do Norte, de Belém: o tempo do cativeiro nos
seringais não voltará mais5. Um contrato padrão de trabalho foi criado para vigorar nos se-
ringais. Nesse contrato foi estabelecido a relação de trabalho entre o produtor-seringalista e
o extrator-seringueiro, bem como um lucro mínimo de 60% da produção para o seringueiro.
A batalha travada para a aquisição de borracha teve consequências para o Vale
Amazônico. O governo tinha consciência que nos seringais os contratos não eram cumpridos
e pouco ou quase nada fez para mudar essa realidade. Os seringueiros buscaram formas
de lutar e resistir a essa condição de exploração a qual estavam sujeitos. Em meio a vários
silenciamentos e apagamentos, percebemos que muitas das vivências desses agentes so-
ciais e das políticas implementadas foram objeto de estudo e de análise da historiografia.
Apresentamos neste estudo alguns dos referenciais que consideramos de grande relevância
para uma melhor compreensão da temática ora em cerne.

MÉTODOS

A pesquisa se deu na perspectiva de conjunturas da história, segundo Barros


(2004). A dimensão de atuação se deu a partir da “história social”. A abordagem foi a da
“história regional” e o domínio escolhido foi o da “história dos marginais”. Adotamos uma me-
todologia do tipo qualitativa (MORAES, 1999), por meio de um abordagem teórico-aplicada,
aliando a investigação científica sobre os agentes sociais que tem suas vozes escritas e/ou
silenciadas. Para a realização da análise, com referência aos aspectos metodológicos, foi
utilizado o método dedutivo, na pesquisa tipificada como bibliográfica e documental.

5 O TEMPO do Cativeiro nos seringais não voltará mais. O Acre, 4 de outubro de 1942. p.5.

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
227
RESULTADOS

Dezenas de milhares de nordestinos foram recrutados às pressas para a extração do


látex6. No Brasil foi formado um Exército de seringueiros que tinham como missão extrair o
látex para enviar para o esforço de guerra junto às nações aliadas.
O Governo Federal usava de artifício para enganar os trabalhadores nordestinos, ao
afirmar que tanto o soldado das forças armadas, quanto os soldados da borracha estavam
em igualdade de condições. Neste contexto, vai surgir a figura do “Soldado da Borracha”,
através da propaganda do Estado Novo. Foi dito a esses migrantes que eles faziam parte
de um grande exército, que tinha um valor simbólico de militarização do trabalho, pois foram
trabalhando o psicológico desses trabalhadores no sentido de se sentirem responsáveis,
por uma eventual vitória dos aliados (SILVA, 2015, p. 114).
Esse exército da Borracha era formado de três contingentes: 1) de recrutados pela
SEMTA e CAETA, e outros órgãos oficiais, eram sertanejos nordestinos, em sua maioria
cearenses, que buscavam fugir da seca e melhorar de vida; 2) de cangaceiros presos nas
cadeias do Nordeste e detentos recrutados em Presídios do Rio Grande do Sul, do Rio de
Janeiro, de São Paulo, além de desempregados e aventureiros do Centro-Sul; 3) de serin-
gueiros e indígenas aculturados com a cultura cabocla que já viviam na Amazônia quando
eclodiu a guerra e foram arregimentados para o trabalho7 de extração de látex.

6 BUENO, M. A. Pimenta. A borracha: considerações. Rio de Janeiro, Typographia Imperial e Constitucional de Villeneuve, 1982.
GOMES, Anápio e outros. A batalha da borracha e a coordenação da mobilização econômica. Rio de Janeiro, Coordenação da
Mobilização Econômica de Guerra no Brasil. O que fez, v. V e VI, 1943. MARTINELLO, Pedro. A Batalha da Borracha na Segunda
Guerra Mundial. 2 ed. Rio Branco: Edufac, 2017. PAULA, José Antônio de. Notas sobre a economia da borracha no Brasil. Estu-
dos Econômicos, São Paulo, v. 12, nº 11, 1982. PINTO, Nelson Prado Alves. Política da borracha no Brasil. A falência da borracha
vegetal. São Paulo: HUCITEC/Conselho Regional de Economia, 1984. SANTOS, Roberto. História econômica da Amazônia. São
Paulo: T. A. Queiroz, 1980. TEIXEIRA, Carlos Corrêa. O aviamento e o barracão na sociedade do seringal (Estudo sobre a
produção extrativa da borracha na Amazônia). Dissertação de Mestrado. São Paulo, FFLCH/USP. 1980. WEINSTEIN, Bárbara. A
borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920). São Paulo: HUCITEC/EDUSP, 1993.
7 Em sua definição mais comum, trabalho é toda ação de transformação da matéria natural em cultura, ou seja, toda transformação
executada por ação humana. Mas o trabalho tem significados diferentes de acordo com a cultura que o vivencia e, em muitos casos,
o que é considerado trabalho em uma não é na outra. (...) A sociedade contemporânea entende o trabalho como uma categoria única,
um tipo unificado de conduta: é uma atividade regulamentada que visa a produzir valores úteis ao grupo. A sociedade de mercado, em
que todos os valores úteis são os criados para o mercado, unifica a percepção de todas as tarefas produtivas como trabalho. Todos
entendem suas atividades particulares nessa categoria geral. (...) Estudos sociológicos têm dado cada vez mais ênfase à chamada
jornada dupla de trabalho das mulheres nas grandes sociedades pós-industriais. Nela, a mulher, além de possuir um emprego fora de
casa, deve também arcar com as tarefas domésticas, o que não é considerado trabalho por sociedades como a brasileira. Podemos
ver o conceito de trabalho em nossa sociedade na definição do IBGE, para quem trabalho são todas as ocupações remuneradas em
dinheiro, mercadoria ou benefício, desenvolvidas na produção de bens e serviços, assim como qualquer ocupação remunerada no
serviço doméstico e qualquer ocupação não remunerada na produção de bens e serviços desenvolvidas em pelo menos uma hora
por semana. Ver: SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de conceitos históricos. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2017.

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
228
Figura 01. Grande Marcha para a coleta da borracha.

Fonte: Brasil para a Vitória. Grande Marcha para a Coleta da Borracha. Compilação a partir dos documentos da S.E.M.T.A8 disponíveis
no Museu de Arte da UFC.

O problema do transporte de produção e víveres foi tratado pelo remodelamento, in-


vestimento e potencialização da frota do Serviço de Navegação e Administração dos Portos
do Pará (SNAPP), que já atuava no ramo9. Também foi dada ênfase ao transporte aéreo,
que se demonstrou de grande utilidade, dadas as imensas distâncias da região amazônica.
Não é objeto deste trabalho analisar o viés econômico stricto da produção gomífera ou
as políticas implementadas desencadeantes dos chamados “ciclos da borracha”, tampouco
tipificar suas nuances. Antes, o foco se dará nos agentes sociais e nas ações relacionadas
a eles. Para tanto, nos ateremos a compreensão da dinâmica desencadeada na Amazônia e
dos mecanismos que a regeram para conhecimento dos pródomos fundamentais que levaram
os habitantes da Amazônia a passar de migrantes extratores a posseiros; de incentivados
pelo Estado a viver e produzir na Amazônia, a oprimidos e abandonados com a conivência
do Estado, que foram expropriados e expulsos como se fossem invasores de terras.
Vários trabalhos tem sido realizado sobre a Amazônia e o chamado “segundo ciclo da
borracha”. Alguns exóticos e estravagantes com sensacionalismo literário que dramatiza o

8 Ver: CHABLOZ, Jean- Pierre. Desenho e Colagem sobre cartão. 11,5 x 14 cm. Disponível em https://mauc.ufc.br/wp-content/uplo� -
ads/2018/07/semta.campanha.06.jpg. Grande Marcha para a Coleta da Borracha Usada. Foto Diários Associados, Fortaleza, julho
de 1943. Disponível em https://mauc.ufc.br/wp-content/uploads/2018/07/semta.campanha.01.jpg. Grande Marcha para a Coleta da
Borracha Usada. Foto Diários Associados, Fortaleza, julho de 1943. Disponível em https://mauc.ufc.br/wp-content/uploads/2018/07/
semta.campanha.02.jpg. Grande Marcha para a Coleta da Borracha Usada. Foto Diários Associados, Fortaleza, julho de 1943.
Disponível em https://mauc.ufc.br/wp-content/uploads/2018/07/semta.campanha.03.jpg.
9 REIS, Arthur C. F. O seringal e o seringueiro. Rio de Janeiro: Serviço de Informação Agrícola, 1953. p. 167.

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
229
quadro geopolítico e social da região, almejando descrever e dramatizar a gênese, revives-
cência expansão, período áureo e decadência do extrativismo (MARTINELLO, 2017). Quase
toda literatura sobre o século XX deixa uma lacuna entre os anos de 1920 e 1940 como se
houvesse uma estagnação econômica produzida pelo marasmo e pela necrose da produção
gomífera que refletisse e tivesse afetado as mentes das pessoas.

DISCUSSÃO

Atualmente existem centenas de trabalhos sobre a borracha na Amazônia tanto no


Brasil quanto no exterior. Em sua grande maioria esses trabalhos versam sobre: a) os
Acordos de Washington e outros relatórios constantes no Arquivo Histórico do Itamarati; b)
a legislação precípua que regeu e regulamentou a ação do Exército da Borracha; c) a visão
de outras nações, especialmente os Estados Unidos, sobre a batalha da borracha; d) bo-
letins e documentos oficiais do Governo quanto as ações desenvolvidas pelos e a partir do
SEMTA, CAETA e de outros organismos; e) livros, pesquisas, relatórios e outros documentos
publicados ou republicados sob a égide governamental; f) a Entrada e participação do Brasil
nos conflitos, bem como o Serviço de Guerra; g) a Força Expedicionária Brasileira; h) o
Exército da Borracha na Amazônia brasileira; i) a Segunda guerra e as ações do Governo de
incentivo à migração para o vale amazônico; j) as vivências sociais estabelecidas na região
amazônica; k) as ações de saúde durante o esforço de guerra; l) a participação das mulheres
como protagonistas na guerra; m) as vivências seringueiras laborais e trabalhistas; n) o perfil
econômico do esforço realizado para a produção do látex; o) uma comparação entre os pra-
cinhas da FEB e os soldados da borracha; e, p) o pós-guerra e o que restou na Amazônia.

a) os Acordos de Washington foram produzidos em 1942 dispunham de várias ações


conjuntas, entre elas o acordo sobre a borracha, em que o Brasil deveria fornecer
toda sua produção gomífera natural e manufaturada para os Estados Unidos10;

10 Relatório do Ministério das Relações Exteriores —1941-1942. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1944. Reconstituições das
relações diplomáticas entre Brasil e EUA. O Brasil e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1944. Conhe-
cido como Livro Verde, justifica a entrada do Brasil na Guerra. Acordo entre o Brasil e os EUA relativo ao pagamento do prêmio
sobre a borracha, complementar ao de 08 .02 .1944. Concluído no Rio de Janeiro por troca de notas datadas de 12.12.1944.
Ministério das Relações Exteriores. Col. Atos Internacionais, nº 212, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1946. Acordos relativos à
prorrogação, por um período adicional, de vários acordos existentes entre o Brasil e os EUA referentes à borracha e seus
produtos. Concluídos no Rio de Janeiro por troca de notas datadas de 27.06 a 14.08.1945. Ministério das Relações Exteriores. Co-
leção Atos Internacionais, nº 222. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1946. Acordo alterando a vigência dos acordos referentes
à borracha e seus produtos. Concluídos no Rio de Janeiro por troca de notas datadas de 03.10.1943; 22.12.1944; 27.06.1945 e
14.08.1945. Ministério das Relações Exteriores. Coleção Atos Internacionais, nº 226. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional 1945. Acor-
do para o aproveitamento dos estoques de borracha natural e borracha sintética, em consequência dos acordos anteriores.
Concluído no Rio de Janeiro por troca de notas datadas de 31.10.1945. Ministério das Relações Exteriores. Coleção Atos Internacio-
nais, nº 227. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1946. Acordo entre o Brasil e EUA relativo ao pagamento do prêmio sobre a
borracha (complementar ao de 08.02.1944). Ministério das Relações Exteriores. Coleção Atos Internacionais, nº 213. Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1945.

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
230
b) a legislação precípua que regeu e regulamentou a ação do Exército da Borracha
conforme aponta Martinello (2017) viabilizou o surgimento da indústria extrativista
da borracha que passava pela reativação de todo o aparelho produtivo com a rea-
bertura dos antigos seringais, viabilização de novas zonas de produção, transferên-
cia de mão-de-obra, renovação do obsoleto e desgastado sistema de transporte,
propiciação de condições sanitárias para a implementação das ações propostas,
montagem de um dispositivo organizacional, operacionalização logística, facilitação
de créditos, fomento da atividade gomífera e provisão de suprimentos necessários
para as zonas produtoras11;
c) a visão de outras nações, especialmente os Estados Unidos, sobre a batalha da
borracha. Os Estados Unidos tinham vários interesses envolvidos no esforço de
produção de borracha através de organismos na esfera das decisões como o Bo-
ard of Economic Warfare (BEW) e a Reconstruction Finance Corporation e, na es-
fera da execução, a Defense Supplies Corporation e a Rubber Reserve Company
que foi substituída em 1943 pela Rubber Development Corporation (RDC). Assim
sendo, por esses e outros interesses dos Estados Unidos, vários são os estudos e
análises feitos no exterior, principalmente em solo americano12;

11 PEC Nº 556/2002 (Dá nova redação ao artigo 54 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, da Constituição Federal). De-
creto-Lei nº 4.451, de 09/06/42 (Autoriza a constituição do Banco de Crédito da Borracha, e dá outras providências). Decreto-Lei nº
5.185, de 12/01/42 (Modifica o decreto-lei n. 4451, de 09 de julho de 1942, que autoriza a constituição do Banco de Crédito da Bor-
racha, e dá outras providências). Decreto-Lei nº 5.044, de 04/1/42 (Cria a Superintendência de Abastecimento do Vale Amazônico
(S.A.V.A.), e dá outras providências). Decreto-Lei nº 5.813, de 14/09/43 (Aprova o acordo relativo ao recrutamento, encaminhamento
e colocação de trabalhadores para a Amazônia, e dá outras providências). Decreto-Lei nº 8.416, de 21/12/45 (Extingue a Comissão
Administrativa do Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia (C.A.E.T.A.) e a Superintendência de Abastecimento do Vale
Amazônico (S.A.V.A.) e dá outras providências). Decreto-Lei nº 5.225, de 01/02/43 (Dispõe sobre a situação militar dos trabalhado-
res nacionais encaminhados para a extração e exploração de borracha no vale amazônico, e dá outras providências). Indicação nº
82, de 22/05/46 (Sugere ao Poder Executivo que se faça retornar ao Ceará os soldados da borracha, decretando, destarte, a imigra-
ção dos cearenses). Requerimento nº 268, de 03/07/46 (Requer a nomeação de uma Comissão de Parlamentares, incumbida de
proceder à abertura de um inquérito para apurar a situação dos que tomaram parte no chamado exército da Borracha). Decreto-Lei
nº 9.882, de 16/09/46 (Autoriza a elaboração de um plano para a assistência aos trabalhadores da borracha). Projeto de Lei nº 509,
de 25/07/47 (Determina concessão de auxílio financeiro aos soldados da borracha incapacitados, e às famílias dos ausentes ou
falecidos em virtude da mobilização para o esforço de guerra na Amazônia, e outras providências). Lei nº 7.986, de 28/12/89 (Regu-
lamenta a concessão do benefício previsto no artigo 54 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e dá outras providências).
12 ABREU, Marcelo de Paiva, The Brazilian Economy, 1930-1980. In: BETHELL, Leslie (org.). Cambridge History of Latin America.
Vol. 9, Brazil since 1930. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. p. 283-393. CONN, Stetson; FAIRCHILD, Byron. The Fra-
mewhork of Hemisphere Defense. Washington: Departamento f Army, 1960. DEAN, W. Brazil and the struggle for rubber: a study
in environmental history. Cambridge: Cambridge University Press, 1987. DEANE, M. P.. Tropical diseases in the Amazon region of
Brazil: and what is being done to control. Journal of American Med Women’s Association. 1947. 1947. 36: Pp 7-14. DULLES, Jonh
W. Foster. Vargas of Brazil: a political biography. Austin: University of Texas Press, 1967. GARFIELD, Seth. Tapping Masculinity:
Labor Recruitment the Brazilian Amazon during World War II. In: Hispanic American Historical Review. v. 86, n.2, p. 278-
308, May, 2006. GARFIELD, Seth. “Soldiers” and Citizen in the rainforest: Brazilian rubber tappers during World War II. In Somanlu:
Revista de Estudos Amazônicos. Ano 1, n.1. Manaus: EDUA, 2009. KNORR, K. E. World rubber and it’s regulation. Stanford,
Stanford University Press, 1944. MC CANN JR., F. D. The brazilian-american aliance, 1937-1945. New Jersey, Princeton University
Press, 1973. MC FADYEAN, A. The history of rubber regulation, 1934-1944. New York, W. W. Norton & Company, 1944. PANDO,
Óscar Paredes. Explotación del caucho-shiringa Brasil-Bolivia-Peru: economias, extrativo-mercantiles em el Alto Acre. Madre
de Dios. Cusco: JL Editores, 2013. Reconstruction Finance Co. (RG. 234); Rubber Development Co. Entry 271; General Country

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
231
d) em território brasileiro também há uma série de estudos sobre boletins e documen-
tos oficiais do governo quanto as ações desenvolvidas pela Comissão de Controle
dos Acordos de Washington (C.C.A.W.) e de outros organismos governamentais tais
como o Departamento Nacional de Imigração (DNI), o Serviço de Encaminhamento
de Trabalhadores Para a Amazônia (SEMTA) que foi substituído pela Comissão
Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores Para a Amazônia (CAETA),
a Superintendência do Abastecimento Para o Vale Amazônico (SAVA), o Serviço
Especial de Saúde Pública (SESP), o Serviço de Navegação e Administração dos
Portos do Pará (SNAPP) e o Banco de Crédito da Borracha (BANCREVEA)13;
e) também existem vários livros, pesquisas, relatórios e outros documentos publica-
dos ou republicados sob a égide governamental que, pelos assuntos destacados
aliados a farta distribuição a bibliotecas amazônicas, se tornaram obras de referên-
cia bastante conhecidas e citadas por pesquisadores e autores regionais14;
f) a Entrada e a participação do Brasil nos conflitos, bem como o Serviço de Guerra
também estão bem documentados em vários livros, dissertações e teses15;

File (Brazil); Report on the brazilian rubber program, part I; Jan, 1941 - Abril 1942. STANFORD UNIVERSITY (ed.). The world’s
rubber and it’s regulation. Stanford, Stanford University Press, 1945. STARR, Chester G. From Salerno to the Alps: a history of
the fifth army (1943-45). Washington, Infantry Journal Press. 1948. WILKINSON, Xênia. Tapping the Amazon Victory: Brazil’s
“Battle for Rubber” of World War II. Georgetown University, 2009. ZAID, Charles (org). Preliminary Inventory of the Records of
the Reconstruction Finance Corporation — 1932-1964. In: National Archives & Recorda Servíce. Washington. 1973. p. 2,098.
13 BRASIL. Lei nº 5.044, de 4 de dezembro de 1942a. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-
-lei-5044-4-dezembro-1942-415253-publicacaooriginal-1-pe.html >. Acesso em: 10 de fevereiro de 2021. BRASIL. Portaria nº 28 de
30 de novembro de 1942, do Coordenador da Mobilização Econômica, foi criado o Serviço de Mobilização de Trabalhadores para a
Amazônia (SEMTA). RELATÓRIO da Comissão Administrativa do Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia. Rio de
Janeiro: dezembro de 1945, p. 45. FALTAM AS OUTRAS REFERÊNCIAS. BRAGA, Sérgio Soares. Quem foi quem na Assembleia
Constituinte de 1946. Um perfil socioeconômico e regional da Constituinte de 1946. Câmara dos Deputados. Vol. I. Brasília.1998.
MORALES, Lúcia Arrais. Vai e vem, vira e volta. As rotas dos Soldados da Borracha. São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secretaria
da Cultura e Desporto do Estado do Ceará, 2002.
14 BANCO DA AMAZÓNIA S.A. Desenvolvimento da Amazônia. Belém: Universidade Federal do Pará, 1967. CORRÊA, L. M. A
Borracha da Amazônia e a Segunda Guerra Mundial. Manaus. Edições Governo do Estado, 1965. CORRÊA, Luiz de Miranda.
A Borracha da Amazônia e a II Guerra Mundial. Manaus: Ed. Governo do Estado, 1967. CORREA, Luiz de Miranda. A borracha
da Amazônia e a segunda guerra mundial. Manaus, Ed. do Governo do Estado do Amazonas, 1967. COSTA, João Craveiro. A
Conquista do Deserto Ocidental. 2 ed. Rio Branco (Acre): Fundação Cultural do Acre, 1998. COSTA, João Craveiro. A Conquista
do Deserto Ocidental. 2 ed. Rio Branco (Acre): Fundação Cultural do Acre, 1998. Diário da Assembléia. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 23 de agosto de 1946.FONSECA, Cássio. A economia da borracha: aspectos internacionais e defesa da produção bra-
sileira. Rio de Janeiro, Comissão Executiva da Defesa da Borracha, 1950. FONSECA, Cássio. A Economia da Borracha: aspectos
internacionais e defesa da produção. Biblioteca Documental da Borracha. Ministério da Indústria e Comércio: Manaus, 1970. GON-
SALVES, Adelaide; COSTA, Pedro Eymar Barbosa. (Org.) Mais Borracha para a vitória. Fortaleza: MAUC/NUDOC; Brasília: Ideal
Gráfica, 2008. MAIA, Álvaro. Na vanguarda da retaguarda: campanha da produção da borracha. Manaus: Serviço de Divulgação do
DEIP, 1943. MELLO, Alcino Teixeira de. Nordestinos na Amazônia. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Imigração e Colonização,
1956. REIS, Arthur Cézar Ferreira. O seringal e o seringueiro. Rio de Janeiro: Serviço de Informação Agrícola — documentário da
vida rural, nº 5, 1953. TOCANTINS, Leandro. Formação histórica do Acre. Brasília: Gráfica do Senado Federal, Coleção 500 Anos,
2001.
15 ALVES, Vágner Camilo. O Brasil e a Segunda Guerra Mundial. História de um envolvimento forçado. São Paulo. Editora PUC,
2002. ALVES, Vágner Camilo. O Brasil e a Segunda Guerra Mundial. História de um envolvimento forçado. São Paulo. Editora
PUC, 2002. BENTO, Cláudio Moreira. Participação das Forças Armadas do Brasil e da Marinha Mercante na 2ª Guerra Mundial.
Volta Redonda: Gazetilha, 1995. BONAVIDES, Anibal. A Exposição de Chabloz. O Povo, Ceará, 21 dez. 1943. CARVALHO, Leitão
de. A Serviço do Brasil na segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1952. CASTELLO BRANCO, Manuel

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
232
g) A Força Expedicionária Brasileira (FEB) é estudada principalmente pelos aspectos
de atuação em campo de batalha e na volta dos combatentes para casa16;
h) o Exército da Borracha na Amazônia brasileira, ao contrário da FEB não é estudado
por seus feitos gloriosos, pelo contrário, há nos escritos um ar de descontentamen-
to com o destino dos combatentes que participaram do esforço de guerra nas terras
amazônicas, mas não tiveram seu valor reconhecido pelas autoridades estabeleci-
das do Estado Brasileiro17;
i) a Segunda guerra e as ações do Governo de incentivo à migração para o vale ama-
zônico retratam a mobilização da mão-de-obra de nordestinos para a Amazônia, os
processos de panfletagem nas áreas pobres do Nordeste com promessas de uma vida
próspera, o incentivo ao recrutamento dos soldados da borracha, a transferência para
Amazônia, bem como a realidade encontrada pelos migrantes nas terras amazônicas18;

Thomaz. O Brasil na II Grande Guerra. Rio de Janeiro: BIBLIEx, 1960. CASTELO BRANCO, M. T. O Brasil na Segunda Guerra
Mundial. Rio de Janeiro, Bibliex, 1960. CORRÊA, Luiz de Miranda. A borracha da Amazônia e a II Guerra Mundial. Manaus: Edi-
ções Governo do Estado do Amazonas, 1967. FERRAZ, Francisco. Os brasileiros e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 2005. FERREIRA, J. A guerra da borracha. Porto Velho: Ministério Público, 1991. MCCANN Jr, Frank D. Aliança
Brasil Estados Unidos 1937/1945. Rio de Janeiro: BIBLIEx, 1995. MOURA, Gerson. Relações exteriores do Brasil: 1939-1951:
mudanças na natureza das relações Brasil-Estados Unidos durante e após a Segunda Guerra Mundial. Brasília: FUNAG, 2012. p. 51.
RIBEIRO, Paulo de Assis. A organização de um serviço de guerra. Revista do Serviço Público, Rio de Janeiro, ano VI, v. III, nº 3, p.
13-20, set. 1943. SEITENFUS, Ricardo. A Entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. SILVA,
Francisco Carlos Teixeira et all. O Brasil e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Ed. Multifoco, 2010. TEMPONE, Victor. O
Brasil Vai à Guerra: a inserção brasileira em um conflito global. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UERJ, Rio de Janeiro,
2007. Dissertação (Mestrado em História Política). p. 118-119.
16 AMARAL, Maria do Carmo. Museu do Expedicionário: um lugar de memórias. Universidade Federal do Paraná. Dissertação Mes-
trado em História, 2001. ANDRÉ, Antonio. O Brasil na II Guerra Mundial – Roteiro cronológico da FEB e as Comunicações da 1ª
DIE na Itália, 1944/45. Rio de Janeiro: CDRom do arquivo do autor, 2007. BRAYNER, F. L. A verdade sobre a FEB: memórias de
um chefe de estado-maior na campanha da Itália. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968. CAMBESES Jr., Manuel. A FAB na
Campanha da Itália. In: Revista do Exército Brasileiro. BIBLIEx/CEPHiMEx, 2015, p. 51/60. FERRAZ, F. C. & LOCASTRE, A. V. O
ceticismo da memória: considerações sobre narrativas de dois veteranos da Força Expedicionária Brasileira. In: Militares e Política.
n.º 2 (jan-jun. 2008), pp. 81-98. FERRAZ, F. C. A. Os veteranos da FEB e a sociedade brasileira. In: CASTRO, C.; IZECKSOHN, V.
& KRAAY, H. (orgs.) Nova história militar brasileira. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2004. Pp. 365-388. FERRAZ, Francisco César
Alves. As Guerras Mundiais e seus veteranos: uma abordagem comparativa. Rev. Bras. Hist. São Paulo, v. 28, n. 56, 2008. GIOR-
GIS, Luiz Ernani Caminha. O dia a dia da FEB na 2ª Guerra Mundial. Porto Alegre: Ed. Do autor, 2020. HENRIQUES, Elber de Mello.
A FEB doze anos depois. Rio de Janeiro: BIBLIEx, 1959. MASCARENHAS DE MORAIS, J. B. A FEB pelo seu comandante. São
Paulo, Progresso Editorial, 1947. NEVES, Luis Felipe da Silva. A Força Expedicionária Brasileira: uma perspectiva histórica. 234 p.
Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de História, UFRJ, 1992. OLIVEIRA, Dennison de. (Org.). A Força Expedicionária
Brasileira e a Segunda Guerra Mundial: estudos e pesquisas. 1ed.Rio de Janeiro - RJ: CEPHiMex, 2012. PINTO Jr. et MEDEIROS
Jr. A Conquista de Monte Castello e La Serra. Porto Alegre: Metropóles, 2003.
17 COSTA, Mariete Pinheiro da. O Exército da Borracha: Uma análise da participação dos Soldados da Borracha na Segunda Guerra
Mundial (1942 – 2003). (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências da Educação no Curso História, para
obtenção do título de História). Brasília.2003. LIMA, F. A. O. Soldados da borracha, das vivências do passado às lutas contempo-
râneas. 158f. 2013. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História – UFAM. Manaus: [s.n.], 2013.
MORAES, Ana Carolina Albuquerque de. Rumo à Amazônia, terra da fartura: Jean-Pierre Chabloz e os cartazes concebidos para o
Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia. 2012. 373 p. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Instituto
de Artes, Universidade Estadual de Campinas. MOREL, Edmar. Está morrendo o exército da borracha. Escravidão monstruosa e
um apelo ao Presidente da República. O drama dos cearenses que ficaram na Amazônia. Correio do Ceará, Fortaleza, ano [s.n.] nº
9.806, 9 julho, 1946. NEELEMAN, Gary; NEELEMAN, Rose. Soldados da borracha: o exército esquecido que salvou a II   Guerra
Mundial. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015. PASSOS, O. A batalha da borracha e o futuro da Amazônia. Rodovia, Rio de Janeiro, v.
7, n. 52, p. 10-22, 1944.
18 BARBOZA, Edson Holanda. Ida ao inferno Verde: Experiências da migração de trabalhadores do ceará para a Amazônia (1942/1945).

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
233
j) as vivências sociais estabelecidas na região amazônica dão conta do cotidiano19
dos seringueiros em meio a conflitos e luta pela sobrevivência no que foi pintado
como sendo o paraíso perdido e para muitos se tornou um inferno verde 20;
k) as ações de saúde durante o esforço de guerra também foram relatadas tanto do pon-
to de vista dos médicos do SEMTA quanto do cotidiano da saúde dos seringueiros 21;
l) a participação das mulheres como protagonistas na guerra também foi destacada.
Elas não foram apenas coadjuvantes no processo de extração do látex, antes, par-
ticiparam ativamente do esforço de guerra, tendo muitas delas sido aposentadas
como soldados da borracha22;

Dissertação do programa de pós graduação da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo. COSTA, Francisco Pereira. Para a
chuva não beber o leite. Soldados da borracha: imigração, trabalho e justiças na Amazônia, 1940-1945. São Paulo, 2014. Tese
(Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, 2014. GOIS, Sarah Campelo Cruz. As linhas tortas da
migração: estado e família nos deslocamentos para a Amazônia (1942-1944). 2013. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal
do Ceará, Centro de Humanidades. Fortaleza, 2013. GOIS, Sarah Campelo Cruz. Mulheres da Borracha: as bem traçadas linhas da
imigração. In: Anais do III Seminário Internacional História e Historiografia. 01-03 de outubro de 2012. Anais Eletrônicos... Fortaleza,
01 a 03 de outubro de 2012. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/43020/1/2012_eve_sccgois.pdf. Acesso em
01 jun. 2021. GUILLEN, Isabel Cristina. Errantes da selva: história da migração nordestina para a Amazônia. Tese de doutorado
em História. IFCH-UNICAMP, 1999. MELO, Mário Diogo. Do sertão cearense às barrancas do Acre. Rio de Janeiro, s/e, 1979.
MORALES, Lúcia Arraes. Vai e Vem, Vira e Volta: as rotas dos soldados da borracha. São Paulo: Annalumbre, Fortaleza: Secult,
2002. NASCIMENTO, Maria das Graças. O espaço Ribeirinho: migrações nordestinas para os seringais da Amazônia. Dissertação
de Mestrado, FFLCH-DG/USP, São Paulo, mimeo. 1996. SECRETO, M. V. Soldados da Borracha: trabalhadores entre o sertão e a
Amazônia no governo Vargas. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007. SILVA, Francisco Eleud Gomes da. Batalha da
Borracha: O contexto da migração cearense para a Amazônia no período de 1939 a 1970. 2015. Dissertação (Mestrado em Socie-
dade e Cultura na Amazônia). Universidade Federal do Amazonas, 2015.
19 É comum o cotidiano ser entendido como o dia a dia, como algo que envolve monotonia e repetição. Entretanto, cotidiano é mais do
que o dia a dia e, além disso, ele pode também ser o lugar da mudança. (...) Para Certeau, o cotidiano só pode ser pensado como
um lugar prenhe de interpretações, de desvios que transformam os sentidos reais em sentidos figurados. Dessa forma, as pessoas
comuns podem, no cotidiano, subverter a racionalidade do poder, agindo de forma sub-reptícia e engenhosa. Se, para muitos es-
tudiosos, o cotidiano é o lugar da opressão e do controle social, em que criaturas submissas se comportam uniformemente a partir
de imposições sociais, para Certeau, no entanto, os indivíduos encontram brechas no cotidiano para driblar a opressão com táticas
sutis e silenciosas. Para o autor, devemos ver não só opressão e disciplina por todo lado, mas também o cotidiano como o espaço
de surpresas interessantes, de resistências miúdas quase imperceptíveis, de antidisciplinas que são formas criativas de sobreviver
e de inteligências acionadas nas mais diversas situações. Já para Agnes Heller, a vida cotidiana está no centro do acontecer histó-
rico, e ela seria a própria substância da história. (...) Para esses estudiosos, aspectos cotidianos e não cotidianos se interpenetram
na realidade social. (...) Percebemos que ainda não existe um conceito definitivo de cotidiano, mas é possível realizarmos algumas
distinções entre o cotidiano e outras esferas da vida humana. Nele, práticas de trabalho, lazer, resistência, religiosidade, visões sobre
a vida e sobre a morte, modos de morar, falar – só para mencionar alguns dos seus múltiplos aspectos – compõem um quadro rico
em que a reflexão do professor/pesquisador pode ser ativada. Ver: SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de conceitos históricos. 3
ed. São Paulo: Contexto, 2017.
20 ARAGÓN, Luis Eduardo Aragón. A dimensão internacional da Amazônia: um aporte para sua interpretação. Revista NERA, Presi-
dente Prudente, ano 21, n. 42, pp. 14-33 Dossiê – 2018. BENCHIMOL, Samuel. Romanceiro da Batalha da Borracha. Manaus:
Imprensa Oficial, 1992. DEAN, Warren. A luta pela borracha no Brasil. São Paulo: Nobel, 1989. FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. No
tempo dos seringais: o cotidiano e a sociedade da borracha. São Paulo: Atual, 1997. FORLINE, Louis Carlos. O ladrão de Semen-
tes. In: Revista de História da Biblioteca Nacional, Ano 8, nº1, abril 2013, p. 70-74. GONDIM,Neide. A invenção da Amazônia.
São Paulo: Marco Zero, 1994. MEIRA, Sílvio de Bastos. A epopeia do Acre: batalha do ouro negro. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense-
-Universitária, 1977. MENDES, José Amando. A borracha no Brasil. São Paulo: Difusão do Livro, 1943. MENDES, José Amando. A
crise amazônica e a borracha. Belém: Tipographia do Instituto Lauro Sodré, 1958.
21 MIRANDA, Gabriela Alves. Doutores da Batalha da Borracha: os médicos do Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores
para a Amazônia (SEMTA) e o recrutamento de trabalhadores para os seringais em tempo de guerra (1942-1943). Rio de Janeiro:
[s.n.], 2013. NEGREIROS, Marcelus Antônio Motta Prado de. Trajetórias e memórias sobre a saúde dos soldados da borracha
em seringais no Acre. 2011. Tese (Doutorado em Saúde Pública). Escola de Saúde Pública da USP, 2011.
22 CRUZ, Tereza Almeida. Mulheres trabalhadoras rurais em movimento: uma história de resistência nos vales do Acre e Médio Purus/

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
234
m) ; as vivências seringueiras laborais e trabalhistas fazem menção aos processos de
constituição do trabalho e a prática laborativa no ambiente amazônico23;
n) o perfil econômico do esforço realizado para a produção do látex é estudado por
vários autores que tem como foco os processos produtivos, a atividade econômica
e as relações estabelecidas com o capital24;
o) uma comparação entre como foram recepcionados os pracinhas da FEB e os sol-
dados da borracha bem como os direitos a eles disponibilizados pelas leis, pelo par-
lamento e pelas duas constituições que sucederam os esforços de guerra Brasil25;
p) por fim, há uma série de trabalhos que analisam o pós-guerra e o que restou das
ações e dos interesses brasileiros na Amazônia, bem como que tratam dos solda-

1988-1998. Rio Branco: EDUFAC, 2010. FERREIRA, E. F. X. Mulheres militância e memória. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1996. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011. GUIMARÃES, Jaqueline de Oliveira;
ARAGÃO, Maria de Nazaré Arruda; MONCADA, Vanusa C. Carneiro. A mulher seringueira: casa, trabalho e política. 1994. Monogra-
fia (Graduação)–Universidade Federal do Acre, 1994. MONTYSUMA, Marcos. Gênero e meio ambiente: mulheres na construção da
floresta na Amazônia. In: PARENTE, Temis Gomes; MAGALHÃES, Hilda Gomes Dutra. Linguagens plurais: cultura e meio ambiente.
Bauru/SP: EDUSC, 2008. p. 155-173. SIMONIAN, Lígia. Mulheres seringueiras na Amazônia brasileira: uma vida de trabalho silen-
ciado. In: ÁLVARES, Maria Luzia Miranda; D’INCAO, Maria Ângela (Orgs.). A mulher existe?: uma contribuição ao estudo da mulher
e gênero na Amazônia. Belém: GEPEM, 1995. SIMONIAN, Lígia T. L. Mulheres da Amazônia Brasileira: entre o trabalho e a cultura.
Belém: UFPA/NAEA, 2001. p. 71-103. SOUZA, Carlos Alberto Alves de. Aquirianas: mulheres da floresta na história do Acre. Rio
Branco: Instituto Envira, 2010. WOLFF, Cristina Scheibe. Mulheres da Floresta, Uma História: Alto Juruá, Acre, 1890-1945. São
Paulo: Editora Hucitec, 1999.
23 CARVALHO, Leitão de. A serviço do Brasil na segunda guerra mundial. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1952. CAVALCAN-
TI, Francisco C. Silveira. O processo de ocupação recente das terras do Acre. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal
do Pará, 1983. DEAN, Warren. A Luta pela Borracha no Brasil. São Paulo: Nobel, 1989. FORTES, Alexandre. Os impactos da
Segunda Guerra Mundial e a regulação das relações de trabalho no Brasil. Nuevo Mundo Mundos Nuevos. 2014. Disponível
em http://journals.openedition.org/nuevomundo/66177. Acesso em 27 de março 2021. FORTES, Alexandre. Os impactos da Segun� -
da Guerra Mundial e a regulação das relações de trabalho no Brasil. In: Nuevo Mundo Mundos Nuevos [Online], Disponível em:
http://journals.openedition.org/nuevomundo/66177. Acesso em 05 de abril de 2021. GRANDIN, G. Forlândia: ascensão e queda da
cidade esquecida de Henry Ford na selva. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. LIMA, José F. Araújo. Amazônia — a terra e o homem. 4
ed., São Paulo/Brasília, Cia. Edit. Nacional/Instituto Nacional do Livro, 1975. LIMA, Reginâmio B.. Memórias de velhos. Goiânia:
Espaço Acadêmico, 2020. LUZ, Nicia Vilella. A Amazônia para os negros americanos. Rio de Janeiro, Saga, 1968. MAIA, Álvaro.
A borracha — problema da defesa nacional. Boletim da Associação Comercial do Amazonas, ano VII, nº 74, set. 1947. SECRETO,
María Verónica. Soldados da borracha: trabalhadores entre o Sertão e a Amazônia no governo Vargas. Coleção História do Povo
Brasileiro. São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.
24 BUENO, M. A. Pimenta. A borracha: considerações. Rio de Janeiro, Typographia Imperial e Constitucional de Villeneuve, 1982.
GOMES, Anápio e outros. A batalha da borracha e a coordenação da mobilização econômica. Rio de Janeiro, Coordenação da
Mobilização Econômica de Guerra no Brasil. O que fez, v. V e VI, 1943. MARTINELLO, Pedro. A Batalha da Borracha na Segunda
Guerra Mundial. 2 ed. Rio Branco: Edufac, 2017. PAULA, José Antônio de. Notas sobre a economia da borracha no Brasil. Estu-
dos Econômicos, São Paulo, v. 12, nº 11, 1982. PINTO, Nelson Prado Alves. Política da borracha no Brasil. A falência da borracha
vegetal. São Paulo: HUCITEC/Conselho Regional de Economia, 1984. SANTOS, Roberto. História econômica da Amazônia. São
Paulo: T. A. Queiroz, 1980. TEIXEIRA, Carlos Corrêa. O aviamento e o barracão na sociedade do seringal (Estudo sobre a
produção extrativa da borracha na Amazônia). Dissertação de Mestrado. São Paulo, FFLCH/USP. 1980. WEINSTEIN, Bárbara. A
borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920). São Paulo: HUCITEC/EDUSP, 1993.
25 Araujo, A.; NEVES, M. V. S.. Soldados da Borracha: os heróis esquecidos. Fortaleza: Escrituras Editora, 2015. BAARS, Renata.
Comparação entre os direitos dos soldados da borracha e dos ex-combatentes da 2ª Guerra Mundial. 2009. 10 p. Consultoria
Legislativa. Nota Técnica. Disponível em https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e-notas-tecnicas/estudos-por-as-
sunto/tema15/2009-10737.pdf. Acesso em 03 de abril de 2021. COSTA, Mariete Pinheiro. O Parlamento e o Soldado da Borracha
no Limiar da II Guerra Mundial. 2007. 90 p. Monografia (Especialização em Instituições e Processos Políticos do Legislativo) Centro
de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento, Câmara dos Deputados. FERRAZ, FG. C. A. A guerra que não acabou: a reintegra-
ção social dos veteranos da Força Expedicionária Brasileira (1945-2000). Londrina, Editora da UEL, 2012.

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
235
dos esquecidos pela pátria que precisaram sobreviver e travar uma nova luta pelo
direito de permanecer na terra em que haviam sido e de onde não foram retirados
para retornar a seus lugares de origem26.

Muitos foram os migrantes deslocados para a Amazônia para a coleta do látex no “es-
forço de guerra” brasileiro. Muitos dos documentos de arregimentação oficial e paralelo se
perderam, ficando poucos acessíveis para a consulta27. Assim sendo, não existe consenso
entre os autores quanto ao número de extratores que compunham esses dois contingentes
– o oficial e o deslocado pelos seringalistas. É díspar a leitura que se faz do quantitativo do
efetivo empregado. Pedro Martinello afirma que o efetivo deslocado para a Amazônia e Mato
Grosso, de 1941 a 1945, foi de 55.339 pessoas, dentre os quais 36.280 eram homens aptos
para o corte da seringa e 19.059 eram dependentes entre os quais se contavam as crianças,
mulheres e anciãos28. Benchimol ao estudar o mesmo período escreve que deram entrada
em Manaus 77.311 migrantes, entre 1941 e 1945, a quase totalidade encaminhados pelo
SEMTA e CAETA29. Em ambas as contagens estão excluídas as mulheres.
Durante o esforço de guerra, as mulheres não entraram na contagem oficial estabele-
cida pelo governo brasileiro ou pelos seringalistas – novamente foram “esquecidas”. Foram
contados apenas os homens “soldados da borracha”.
Dezenas de milhares de seringueiros foram levados à selva amazônica para o esforço
de guerra sem se dar conta de que muitos estavam sendo levados para o cativeiro – e o
governo sabia da existência dessa prática sem nada fazer para detê-la.
Vários soldados da Borracha refluíram para suas terras por meios próprios. Muitos fo-
ram vítimas de malária, avitaminose, anemia palúdica, polineurite, tuberculose, ergastenia,
úlceras, sífilis, reumatismos, hérnias e outras doenças. Outros tiveram a sorte de receberem

26 BECKER, Bertha K. As Amazônias. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2015. BENCHIMOL, S. A Amazônia: um pouco ante e além-
-depois. Manaus: Umberto Calderaro, 1977. CAVALCANTI, Francisco C. Silveira. O processo de ocupação recente das terras do
Acre. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Pará, 1983. (Mimeo.). FERREIRA FILHO, Cosme. Porque perdemos a ba-
talha da borracha. Manaus: Ed. do Governo do Estado do Amazonas, 1966. LIMA, Reginâmio B. Sobre Terras e Gentes: o terceiro
eixo ocupacional de Rio Branco. Goiânia: Espaço Acadêmico, 2020. LIMA, Reginâmio B.; BONIFÁCIO, Maria Iracilda G.C. (Orgs.).
Habitantes & Habitat. João Pessoa – PB: Ideia, 2007. MAIA, Álvaro. Defumadores e porongas. Manaus: Ed. do Governo do Estado
do. Amazonas, 1967. MOREL, Edmar. A Amazônia Saqueada. SP: Global, 1984. OLIVEIRA, Luiz Antônio Pinto de. O Sertanejo,
o Brabo e o Posseiro: a periferia de Rio Branco e os cem anos de andança da população acreana. Belo Horizonte: UFMG, 1982.
PAULA, Elder Andrade de. (Des)Envolvimento insustentável na Amazônia Ocidental: dos missionários do progresso aos merca-
dores da natureza. Rio Branco: Edufac, 2013. PAULA, Elder Andrade de. Seringueiros e sindicatos: um povo da floresta em busca
de liberdade. Rio de Janeiro: UFRRJ/CPDA, 1991. (Dissertação de Mestrado). POTIGUARA, José. Terra Caída. 3 ed. Rio Branco:
Fundação Cultural do Acre, 1998. SILVA, Miguel Cruz e. Guerra de conquista da Amazônia. Brasília (DF): Editora Asasul,1989
27 O Arquivo Nacional produziu um repertório temático de fontes sobre os soldados da borracha elencando as instituições nas quais
essas fontes se encontram disponíveis, bem como as notações físicas, lógicas, de conteúdo e os períodos observados. No ano de
2020 esse repertório foi publicado com acervos que remetem de 1901 a 1954 publicados na obra ARQUIVO NACIONAL (BRASIL).
Repertório Temático de Fontes: Soldados da Borracha - 2ª. ed. rev. - Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2020.
28 MARTINELLO, Pedro. A Batalha da Borracha na Segunda Guerra Mundial. 2 ed. Rio Branco: Edufac, 2017. p. 304. 
29 BENCHIMOL, S. A Amazônia: um pouco ante e além-depois. Manaus: Umberto Calderaro, 1977, p. 115.

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
236
ajuda governamental para o Nordeste, como em 1945 que 2.160 ex-soldados da borracha,
julgados inaptos para o serviço foram recambiados. Além dos motivos de doença anterior-
mente citados, vários ex-seringueiros sofriam de debilidade mental, cegueira, insuficiência
física por acidentes e outras causas, e, quase um terço dos ex-seringueiros, por, após vários
anos de trabalho, serem desajustados economicamente30.

CONCLUSÃO

Passadas oito décadas da eclosão da Segunda Guerra Mundial muito ainda há a ser
discutido e pesquisado. Quase sempre o foco de análise e questionamentos produzidos
nos estudos sobre esse período se debruçam sobre os conflitos nos campos de batalha
e as localidades fins onde os embates ocorreram. Neste trabalho intentamos demonstrar
alguns dos mais proeminentes trabalhos sobre a temática, além de categorizar algumas de
suas proposições mais relevantes para que o leitor comum possa ter acesso a uma base
de dados consubstanciada que evoque outras possibilidades referenciais e bibliográficas.
Quanto aos extratores e sua atuação na atividade gomífera ficam algumas consi-
derações não finalizantes. O fato de o Governo Federal não ter cumprido sua parte nos
contratos de trabalho, quando da arregimentação que previa indenização, não retirou dos
seringueiros o desejo de lutar por uma vida melhor31. Muitos dos seringueiros não tiveram
condições financeiras de retornar a seus locais de origem. Vários continuaram nos seringais
“para pagar suas dívidas”. Outros ficaram às margens dos rios sobrevivendo da coleta da
castanha, da pesca e da produção agrícola de subsistência. Outros se deslocarem para as
cidades onde perambulavam aceitando qualquer tipo de serviço que oferecesse o mínimo
de remuneração para sobrevivência32.
Outro ser invisível no esforço de guerra brasileiro foi a mulher. As esposas de serin-
gueiros e as mulheres extratoras de látex ficaram décadas esquecidas, apenas algumas

30 MELLO, Alcino Teixeira de. Nordestinos na Amazônia. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Imigração e Colonização, 1956. p. 103-
104.
31 BECKER, Bertha K. As Amazônias. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2015. BENCHIMOL, S. A Amazônia: um pouco ante e além-
-depois. Manaus: Umberto Calderaro, 1977. CAVALCANTI, Francisco C. Silveira. O processo de ocupação recente das terras do
Acre. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Pará, 1983. (Mimeo.). FERREIRA FILHO, Cosme. Porque perdemos a ba-
talha da borracha. Manaus: Ed. do Governo do Estado do Amazonas, 1966. LIMA, Reginâmio B. Sobre Terras e Gentes: o terceiro
eixo ocupacional de Rio Branco. Goiânia: Espaço Acadêmico, 2020. LIMA, Reginâmio B.; BONIFÁCIO, Maria Iracilda G.C. (Orgs.).
Habitantes & Habitat. João Pessoa – PB: Ideia, 2007. MAIA, Álvaro. Defumadores e porongas. Manaus: Ed. do Governo do Estado
do. Amazonas, 1967. MOREL, Edmar. A Amazônia Saqueada. SP: Global, 1984. OLIVEIRA, Luiz Antônio Pinto de. O Sertanejo,
o Brabo e o Posseiro: a periferia de Rio Branco e os cem anos de andança da população acreana. Belo Horizonte: UFMG, 1982.
PAULA, Elder Andrade de. (Des)Envolvimento insustentável na Amazônia Ocidental: dos missionários do progresso aos merca-
dores da natureza. Rio Branco: Edufac, 2013. PAULA, Elder Andrade de. Seringueiros e sindicatos: um povo da floresta em busca
de liberdade. Rio de Janeiro: UFRRJ/CPDA, 1991. (Dissertação de Mestrado). POTIGUARA, José. Terra Caída. 3 ed. Rio Branco:
Fundação Cultural do Acre, 1998. SILVA, Miguel Cruz e. Guerra de conquista da Amazônia. Brasília (DF): Editora Asasul,1989.
32 LIMA, Reginâmio B. Sobre Terras e Gentes: o terceiro eixo ocupacional de Rio Branco. Goiânia: Espaço Acadêmico, 2020.

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
237
poucas conseguiram o benefício da aposentadoria. E a historiografia quase nada diz sobre
elas ou sobre seu protagonismo: grande maioria dos trabalhos que encontramos as trata
como coadjuvantes ou, mesmo, como inexistentes no processo produtivo e de construção
do espaço sociabilizante na Amazônia.
Esses e outros migrantes que se fizeram agentes construtores do espaço geográfico e
produziram as modificações antrópicas que propiciaram a expansão da fronteira amazônica
são representados muitas vezes como figurativos na simbologia da ordem social, como um
não-sujeito, um não-ser, um não-agente, um não-representativo. A homogeneização em torno
de sua imagem quase sempre os figura como flagelados da seca, miseráveis, merecedores
de caridade, de favores e assistência, mas não de direitos. Subsumidos a outros processos
que lhe conferem sentido, esses soldados da borracha foram invisibilizados pela constitui-
ção de “tipo”, mas não de feições. Esses migrantes-seringueiros eram homens, mulheres,
altos, baixos, jovens, idosos, solteiros, casados, brancos, pardos, cafusos, mulatos, negros,
indígenas, subnutridos, com saldo no barracão, alguns não falavam português, outros não
sabiam escrever, havia quem cresce em Deus e quem acreditasse que ali era a morada do
Diabo. Alguns morreram no exercício da função, comidos por animais, de doenças, acidente
ou esgotamento. Outros voltaram para sua terra natal. Ainda outros, se tornaram andantes
em busca de melhores condições de vida.
Nem mesmo a historiografia brasileira dá o devido valor a esses soldados da borracha.
Nos livros didáticos quase sempre se vê várias páginas sobre os feitos da FEB na Segunda
Guerra e uma pequena nota de canto de página sobre os Seringueiros, mesmo que o contin-
gente empregado na Amazônia tenha sido mais que o dobro do disposto na Europa33. Há um
“silêncio ensurdecedor” por parte do Governo Federal em relação aos soldados da borracha
na Amazônia que, depois a Guerra, foram abandonados à própria sorte.

Agradecimentos

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).


Ao PPGH da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Ao CAp da Universidade Federal do Acre.

33 SECRETO, M. V. Soldados da Borracha: trabalhadores entre o sertão e a Amazônia no governo Vargas. São Paulo: Editora Fun-
dação Perseu Abramo, 2007. LIMA, F. A. O. Soldados da borracha, das vivências do passado às lutas contemporâneas. 158f.
2013. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História – UFAM. Manaus: [s.n.], 2013.

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
238
REFERÊNCIAS
1. ARQUIVO NACIONAL (BRASIL). Repertório Temático de Fontes: Soldados da Bor-
racha - 2ª. ed. rev. - Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2020.

2. BARROS, José D’Assunção. O Campo da História. Petrópolis: Vozes, 2004.

3. BECKER, Bertha K. As Amazônias. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2015.

4. BENCHIMOL, S. A Amazônia: um pouco ante e além-depois. Manaus: Umberto Cal-


deraro, 1977.

5. BUENO, M. A. Pimenta. A borracha: considerações. Rio de Janeiro, Typographia


Imperial e Constitucional de Villeneuve, 1982.

6. CAVALCANTI, Francisco C. Silveira. O processo de ocupação recente das terras


do Acre. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Pará, 1983. (Mimeo).

7. CHABLOZ, Jean-Pierre. In: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará. Dis-


ponível em https://mauc.ufc.br/pt/arquivo-chabloz/batalha-da-borracha/campanha/.
Acesso em 02 de abril de 2021.

8. COSTA, Mariete Pinheiro da. O Exército da Borracha: Uma análise da participação


dos Soldados da Borracha na Segunda Guerra Mundial (1942 – 2003). (Trabalho de
Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências da Educação no Curso
História, para obtenção do título de História). Brasília.2003.

9. FERREIRA FILHO, Cosme. Porque perdemos a batalha da borracha. Manaus: Ed.


do Governo do Estado do Amazonas, 1966.

10. GOMES, Anápio e outros. A batalha da borracha e a coordenação da mobilização


econômica. Rio de Janeiro, Coordenação da Mobilização Econômica de Guerra no
Brasil. O que fez, v. V e VI, 1943.

11. LIMA, F. A. O. Soldados da borracha, das vivências do passado às lutas contem-


porâneas. 158f. 2013. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Gra-
duação em História – UFAM. Manaus: [s.n.], 2013.

12. LIMA, F. A. O. Soldados da borracha, das vivências do passado às lutas contem-


porâneas. 158f. 2013. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Gra-
duação em História – UFAM. Manaus: [s.n.], 2013.

13. LIMA, Reginâmio B. Sobre Terras e Gentes: o terceiro eixo ocupacional de Rio Branco.
Goiânia: Espaço Acadêmico, 2020.

14. LIMA, Reginâmio B.. Memórias de velhos. Goiânia: Espaço Acadêmico, 2020.

15. LIMA, Reginâmio B.; BONIFÁCIO, Maria Iracilda G.C. (Orgs.). Habitantes & Habitat.
João Pessoa – PB: Ideia, 2007.

16. MAIA, Álvaro. Defumadores e porongas. Manaus: Ed. do Governo do Estado do.
Amazonas, 1967. MOREL, Edmar. A Amazônia Saqueada. SP: Global, 1984.

17. MARTINELLO, Pedro. A Batalha da Borracha na Segunda Guerra Mundial. 2 ed.


Rio Branco: Edufac, 2017. 

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
239
18. MELLO, Alcino Teixeira de. Nordestinos na Amazônia. Rio de Janeiro: Instituto Na-
cional de Imigração e Colonização, 1956.

19. MORAES, Ana Carolina Albuquerque de. Rumo à Amazônia, terra da fartura: Je-
an-Pierre Chabloz e os cartazes concebidos para o Serviço Especial de Mobilização
de Trabalhadores para a Amazônia. 2012. 373 p. Dissertação (Mestrado em Artes
Visuais) – Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas.

20. MORAES, R. Análise de conteúdo. Educação-PUCRS, Porto Alegre, ano XXII (37),
1999.

21. NEELEMAN, Gary; NEELEMAN, Rose. Soldados da borracha: o exército esquecido


que salvou a II Guerra Mundial. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015.

22. OLIVEIRA, Luiz Antônio Pinto de. O Sertanejo, o Brabo e o Posseiro: a periferia de
Rio Branco e os cem anos de andança da população acreana. Belo Horizonte: UFMG,
1982.

23. PAULA, Elder Andrade de. (Des)Envolvimento insustentável na Amazônia Ociden-


tal: dos missionários do progresso aos mercadores da natureza. Rio Branco: Edufac,
2013.

24. PAULA, Elder Andrade de. Seringueiros e sindicatos: um povo da floresta em busca
de liberdade. Rio de Janeiro: UFRRJ/CPDA, 1991. (Dissertação de Mestrado).

25. PAULA, José Antônio de. Notas sobre a economia da borracha no Brasil. Estudos
Econômicos, São Paulo, v. 12, nº 11, 1982.

26. PINTO, Nelson Prado Alves. Política da borracha no Brasil. A falência da borracha
vegetal. São Paulo: HUCITEC/Conselho Regional de Economia, 1984.

27. POTIGUARA, José. Terra Caída. 3 ed. Rio Branco: Fundação Cultural do Acre, 1998.

28. REIS, Arthur C. F. O seringal e o seringueiro. Rio de Janeiro: Serviço de Informação


Agrícola, 1953.

29. SANTOS, Roberto. História econômica da Amazônia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1980.

30. SECRETO, M. V. Soldados da Borracha: trabalhadores entre o sertão e a Amazônia


no governo Vargas. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.

31. SILVA, Francisco Eleud Gomes da. Batalha da Borracha: O contexto da migração
cearense para a Amazônia no período de 1939 a 1970. 2015. Dissertação (Mestrado
em Sociedade e Cultura na Amazônia) – Universidade Federal do Amazonas.

32. SILVA, Miguel Cruz e. Guerra de conquista da Amazônia. Brasília (DF): Editora
Asasul,1989.

33. TEIXEIRA, Carlos Corrêa. O aviamento e o barracão na sociedade do seringal


(Estudo sobre a produção extrativa da borracha na Amazônia). Dissertação de
Mestrado. São Paulo, FFLCH/USP. 1980.

34. WEINSTEIN, Bárbara. A borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920).


São Paulo: HUCITEC/EDUSP, 1993.

História, Literatura e Sociedade: políticas, reflexões e memórias em pesquisa - ISBN 978-65-5360-185-7 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
240

Você também pode gostar