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GUERRA
PÁTRIA SOVIÉTICA
A GRANDE GUERRA
PÁTRIA
Raul Carrion
O avanço rápido das forças alemãs
encontrou uma severa resistência de
guerrilha atrás de suas linhas de
frente. Aqui, quatro guerrilheiros
russos com baionetas e uma pequena
metralhadora são vistos em ação,
perto de uma pequena aldeia na
fronteira com a Polônia.
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O ataque nazista ocorreu parar-se para a inevitável guerra com a Alemanha. Além de
em três direções principais: o transferir, a partir de 1939, milhares de empresas para além
Grupo de Exércitos Norte – co- dos Urais, as despesas com a defesa nacional saltaram de
mandado pelo marechal de 5,4%, no 1º Plano qüinqüenal, para 12,6%, no 2º, e 26,4%, no
campo Von Leeb – avançou pa- 3º. E, em 1941, 43,4% do orçamento da URSS foram destina-
ra os Estados bálticos com o dos à defesa do país. De janeiro de 1939 a 22 de junho de
apoio dos exércitos finlande- 1941, o Exército Vermelho recebeu mais de 7.000 carros de
ses, com o objetivo de tomar combate, 30 mil canhões e 52 mil morteiros e 17.700 aviões.
Às vésperas da guerra, foi reforçado por 800 mil homens.
Leningrado e chegar ao mar
Apesar de todas as cautelas em relação a uma eventual
Branco. O Grupo de Exércitos
provocação inglesa, às 0h30min do dia 22 de junho, os co-
do Centro – comandado pelo
mandantes Timochenko e Jukov enviaram instruções às for-
marechal de campo Von Bock –
ças aéreas e terrestres, informando que:
pretendia ocupar o centro da
Rússia européia e tomar Mos- É possível que no decorrer dos dias 22 ou 23 de ju-
nho se verifique um ataque súbito dos alemães na
cou. Já o Grupo de Exércitos
frente das regiões de Leningrado, do Báltico, do
Sul – comandado pelo mare-
Ocidente, de Kiev e de Odessa. O ataque alemão
chal de campo Von Rundsted –
pode começar por ações de provocação. (...) As
com o apoio de romenos, hún-
nossas tropas têm obrigação de não se prestar a
garos e checos – deveria avan- qualquer provocação que possa suscitar compli-
çar na Ucrânia, tomar Kiev, a cações graves. Ao mesmo tempo, (...) devem estar
bacia siderúrgica e carbonífe- prontas a repelir eventuais ataques súbitos dos
ra do Baixo Dom, o ferro de Kri- alemães ou de seus aliados.⁹
voi-Rog, o aço, o manganês e As instruções determinavam, ainda, que na noite do dia
os ricos poços de petróleo do 21 as tropas ocupassem discretamente os locais fortificados
Cáucaso. Também devia to- das zonas de fronteira, dispersassem e camuflassem as aero-
mar a Criméia, para dominar o naves civis e militares, colocassem em alerta as unidades de
mar Negro. artilharia antiaérea e preparassem o blackout. Essas instru-
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tenha escapado ao cerco, o caminho para Moscou Só em meados de outubro – após o aniquila-
estava aberto para os alemães. mento de centenas de milhares de soviéticos em
Nesses dias, o adido de imprensa da Chancela- Vyazma e Briansk –, os alemães conseguiram reto-
ria Alemã declarou aos correspondentes estran- mar o ataque a Moscou, mas enfrentaram uma re-
geiros em Berlim: “No plano militar, a Rússia pa- sistência titânica, que lhes causou enormes per-
rou de existir. Os ingleses só precisam enterrar se- das. Em Kalinin, Tula, Mojaisk e Kursk eles foram
us sonhos de uma guerra em duas frentes.” ¹⁵ detidos. Na retaguarda, unidades que haviam es-
Porém, a resistência obstinada dos soviéticos capado do cerco e as forças guerrilheiras, ataca-
cercados em Viazma e Briansk retardou irreme- vam dia e noite as tropas alemãs e os comboios de
diavelmente a investida contra Moscou. O clima carga, colapsando o seu abastecimento. Em fins
começou a mudar e caíram as primeiras chuvas e de outubro, os alemães passaram à defensiva e o
nevascas do outono russo. As estradas tornaram- general alemão Blumentritt constatou:
se intransitáveis e o abastecimento dos agressores
chegou ao seu ponto mais baixo. Os soviéticos ga- A moral dos oficiais e dos homens
nharam um tempo precioso para organizar a defe- começa a diminuir. A resistência ini-
sa de Moscou e trazer tropas frescas do Extremo miga se intensifica e os combates se
Oriente e da Ásia Central. tornam mais ferozes. Várias compa-
Diante do perigo, o governo soviético e as lega- nhias nossas são reduzidas a sessen-
ções estrangeiras foram transferidos para Kuiby- ta ou setenta homens. O inverno che-
shev – há 2,5 mil km de distância – e 500 fábricas gou e nós ainda não recebemos equi-
foram transportadas para o Volga e os Urais, mas pamentos quentes (...). Por detrás
Stalin e o Alto Comando permaneceram no Krem- das linhas, as florestas e os pântanos
lin. Foram construídos 8 mil km de trincheiras e se povoam com resistentes cuja ação
valas antitanque e Moscou preparou-se para uma é duramente sentida. A cada instante,
defesa “casa a casa”. nossas colunas de abastecimento são
atacadas.” ¹⁶
Em 7 de novembro – aniversário da Revolução
Socialista de 1917 – os soviéticos promoveram,
não obstante a guerra, o tradicional desfile da Pra-
ça Vermelha, demonstrando a sua capacidade de
resistência e a sua confiança na vitória contra as
hordas nazi-fascistas.
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A CONTRAOFENSIVA SOVIÉTICA
FINLÂNDIA
CONTRA-OFENSIVA
URSS TERRITÓRIO RETOMADO
NORUEGA PELOS SOVIÉTICOS
Leningrado PAÍSES LIBERTADOS
SUÉCIA MAR DO NAZISMO
BÁLTICO Tallin
Kalinin EXÉRCITO VERMELHO
Novgorod
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narem o Armistício de Moscou (19.09). Em outu- Em Lublin, foi formado o Comitê Polaco de Liber-
bro, os alemães abandonaram o Ártico soviético e tação Nacional (CPLN) e constituídas as Forças
o nordeste da Noruega. Armadas Polonesas (FAP) – dirigidas pelo Parti-
No Sul, em fevereiro e março, os alemães foram do Operário Polaco – que em fins de 1944, já con-
jogados além do Dniester e expulsos da Ucrânia ori- tavam com 286 mil homens, jogando importante
ental e da Galitzia. Toda a península da Criméia – papel na vitória contra os nazistas. Em julho de
incluindo Odessa e Sebastopol – foi higienizada 1944, as tropas soviéticas cruzaram o Vístula e che-
de tropas nazistas. Em abril, foi libertada a Moldá- garam às portas de Varsóvia, após um avanço de
via e as tropas soviéticas entraram na Romênia on- 724 km. A extensão das linhas de suprimentos e a
de aniquilaram, nos arredores de Iasi e Kishiniov, perda de 30% de seus efetivos, além da crescente
25 divisões germano-romenas, avançando para o resistência alemã, obrigaram os soviéticos a uma
centro do país. Em 23 de agosto, um levante popu- parada. No decorrer dessa ofensiva, haviam sido
lar-militar – com forte participação do Partido Co- mortos 500 mil alemães e o general alemão But-
munista da Romênia – depôs o ditador Antonescu tlar afirmou que “a derrota do Grupo de Exércitos
e formou um novo governo, que propôs aos aliados 'Centro' pôs fim à resistência alemã no leste.” ²¹
um armistício e declarou guerra à Alemanha.
Na região central, o Exército Vermelho inici- O Levantede Varsóvia e o Tardio
ou, em junho, a Operação Bagration, que aniqui- Desembarque Aliado no Sul da França
lou o Grupo de Exércitos Centro – o mais podero- É nesse contexto que, em 1º de agosto de 1944,
so destacamento de tropas da Alemanha nazista, sem qualquer articulação com o Exército Verme-
com 1,2 milhões de soldados, 900 tanques, 10 mil lho, o General Komorowski – chefe da resistência
canhões e 1.400 aviões –, libertou a Bielorrússia, polaca pró-ocidental – iniciou um levante em Var-
parte da Lituânia e da Letônia, a Ucrânia ociden- sóvia, com o único objetivo de antecipar-se à che-
tal e grande parte da Polônia oriental, incluindo gada das tropas soviéticas, alijar o CPLN formado
Lublin, Helm, Brest-Litovsk e Lvov. em Lublin e instalar um poder anticomunista.
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Os atos de heroísmo coletivo em Brest- Funcionavam mais de 400 emissoras de rádio nas
Livotski, Smolensk, Minsk, Leningrado, Moscou, áreas de guerrilha e estas controlavam vastas re-
Odessa, Stalingrado, Sebastopol, e tantos outros giões nos territórios ocupados. Estima-se que
lugares, desmentiram aqueles que diziam que o existiam 220 mil guerrilheiros na Ucrânia, 370
poder soviético não tinha sustentação no povo e mil na Bielorrússia e 260 mil nos territórios ocu-
desmoronaria frente ao ataque nazista. Milhões pados da Rússia. As mulheres participavam ativa-
de soviéticos foram mortos ou aprisionados, de- mente e, em alguns destacamentos, eram de 10 a
fendendo sua Pátria, mas também o socialismo. 25% dos combatentes.
Os prisioneiros soviéticos eram mortos a tiros, pe- Apesar dos alemães terem ocupado vastos ter-
la fome ou pelo frio. Menos de 30% sobreviveram. ritórios – onde viviam 40% dos soviéticos, esta-
Nas áreas ocupadas, foram destruídas milhares vam 40% das ferrovias e dos rebanhos bovinos, 60
de cidades e aldeias e sua população exterminada dos suínos, 84% do açúcar, 38% dos cereais, 60%
ou enviada para o trabalho escravo na Alemanha. da produção de aço e alumínio, 63% do carvão e
Ao mesmo tempo em que aplicavam uma polí- 70% das fundições – a URSS não colapsou. Milha-
tica de terra arrasada, os soviéticos multiplicaram res de empresas – em especial as de grande porte e
as guerrilhas na retaguarda alemã, desorganizan- militares – foram evacuadas, entre junho e no-
do o seu abastecimento, destruindo as suas comu- vembro de 1941.
nicações, aniquilando pequenas unidades, impe- Mesmo com grande parte do seu território ocu-
dindo que os invasores explorassem os territórios pado e enormes perdas na fase inicial da luta, a
tomados. Os guerrilheiros imobilizaram meio mi- URSS logo passou a produzir mais armamentos
lhão de alemães na Bielorrússia e 460 mil na Ucrâ- que a Alemanha. Entre 1941 e 1945, a URSS fabri-
nia. Só em 1943, explodiram 11 mil trens, tiraram de cou 137.271 aeronaves, contra 99.339 da Alema-
circulação 6 mil locomotivas e 40 mil vagões, des- nha; 99.488 tanques, contra 53.800 da Alemanha;
truíram 900 pontes ferroviárias e 22 mil veículos. 514.700 peças de artilharia, contra 87.000 dos ale-
Para combater as guerrilhas, o exército nazista mães. Nenhum país capitalista seria capaz de tal
precisou empregar 25 divisões de seu exército de proeza!
operações, além de unidades de polícia SS e SD e O Poder Soviético mostrou-se capaz de mobili-
meio milhão de soldados de tropas auxiliares. zar milhões de homens e mulheres para enfrentar
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NOTAS
¹ELLEINSTEIN, Jean. História da URSS -. Vol III
57.000 prisioneiros de guerra alemães marcham (1939-1946). Portugal: Publicações Europa-
em Moscou em 17 de julho de 1944 América, 1976, p. 47.
os nazi-fascistas. No início da invasão, o Exército ² VALLAUD, Pierre. O Cerco de Leningrado. São
Vermelho tinha 5,4 milhões de homens Em fins de Paulo: Editora Contexto, 2012, p. 88.
agosto – apesar de enormes perdas – já contava ³ Idem, p. 88.
com 6,9 milhões e, ao findar o ano, chegou a 8 mi- ⁴ MINASIAN, M. e outros. La Gran Guerra Pa-
lhões de combatente. Espantado, Goebels afir- tria de La Union Sovietica, 1941-1945. Moscou:
mou: “Parece um milagre. Das amplas estepes rus- Progreso, 1975, p. 27.
sas surgem continuamente novas massas de pes- ⁵ Idem, p. 27.
soas e técnicos – como se um grande mágico os es- ⁶ ELLEINSTEIN, Jean. Idem, p. 62.
culpisse da argila dos Urais bolcheviques – e equi-
⁷ VALLAUD, Pierre, Idem, p. 41.
pamentos em qualquer quantidade.” ²⁵ Esse “gran-
⁸ IEREMEEV, Leonid. A União Soviética da Se-
de mágico” era o sistema socialista soviético!
Nessa luta titânica, as mulheres tiveram um gunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Editora
papel decisivo, sustentando a maior parte da pro- REVAN, 1985, p. 28.
dução e lutando no front como atiradoras de elite, ⁹ ELLEINSTEIN, Jean. Idem, p. 49.
aviadoras, tanquistas, guerrilheiras, médicas e en- ¹º VALLAUD, Pierre, Idem, p. 36.
fermeiras. Os trabalhadores faziam jornadas de ¹¹ Idem, p. 36.
12 a 18 horas para produzir armas, munições, rou- ¹² Idem, p. 124.
pas e alimentos para a luta. ¹³ Idem, p.134.
Certamente, não foi o “General Inverno”, como ¹⁴ JUKOV, G. K. Memórias e Reflexões - Tomo 2.
argumentam alguns, que derrotou a máquina de
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2016, p.
guerra nazista. Foi a luta titânica do povo soviéti-
537-538.
co! Só um país socialista, com uma economia
avançada, tecnologia de ponta, grande coesão in- ¹⁵ GALLO, Max. 1941 - o mundo em chamas. Rio
terna e líderes prestigiados poderia vencer – e ven- de Janeiro: Objetiva, 2015, p. 189.
ceu – um inimigo tão poderoso e cruel. ¹⁶ Idem, pp. 199-200.
Como afirmou o Marechal Jukov em suas Me- ¹⁷ Idem, p. 213.
mórias: ¹⁸ Idem, p. 74.
Não foi a chuva nem a neve que barra- ¹⁹ Idem, p. 81.
ram as tropas nazistas nas proximi- ²º Idem, p. 167.
dades de Moscou. Mais de um milhão ²¹ Idem, p. 323.
do grupamento das seletas forças ale-
²² Idem, p.497.
mãs despedaçaram-se contra a férrea
resistência, coragem e heroísmo das ²³ Idem, p. 487.
tropas soviéticas, cuja espinha dorsal ²⁴ STAHEL, David. A Batalha por Moscou. São
era a sua população, a capital e a pá- Paulo: Amarilys, 2015, p. 53.
tria. (...) não teríamos capacidade pa- ²⁵ JUKOV, G. K. Memórias e Reflexões - Tomo 1.
ra derrotar o inimigo se não contásse- Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2015, p.
mos com os experientes e admiráveis: 387.
partido de Lenin, sistema socialista, ²⁶ JUKOV, G. K., Idem, Tomo 2, pp. 48; 542.
política de Estado e as poderosas for-
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