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A GRANDE

GUERRA
PÁTRIA SOVIÉTICA

Na madrugada do dia 22 de junho de


1941, a Alema nha nazista atacou de
surpresa a União das Repúblicas
Socialistas Sovié cas, sem declara-
ção prévia de guerra e apesar da
plena vigência do Tratado Germano-
Sovié co de Não-Agressão. Iniciava-
se a operação Barba Ruiva, que
nha como obje vo “esmagar a
Rússia sovié ca numa breve campa-
nha” (Dire va nº 21 de 18 de dezem-
bro de 1940).¹ O ataque se deu em
uma frente de 2.800 quilômetros de
extensão – do mar de Barents, no
norte, ao mar Negro, no sul.
RAUL CARRION - A LUTA VALE A PENA

A GRANDE GUERRA
PÁTRIA
Raul Carrion
O avanço rápido das forças alemãs
encontrou uma severa resistência de
guerrilha atrás de suas linhas de
frente. Aqui, quatro guerrilheiros
russos com baionetas e uma pequena
metralhadora são vistos em ação,
perto de uma pequena aldeia na
fronteira com a Polônia.

A ntes de seu ataque à URSS, a Alemanha acu-


mulou uma série de vitórias que evidencia-
ram a pouca disposição das democracias capita-
tinou 152 divisões – incluindo 19 de tanques e 14
motorizadas – totalizando 3,3 milhões de solda-
dos. A eles se somaram 1,2 milhões de homens da
listas em enfrentar o nazi-fascismo – considerado Força Aérea e 100 mil homens da Marinha de Guer-
um dique contra o comunismo – e a sua intenção ra, o que perfazia 77% dos efetivos do exército ale-
em empurrar Hitler contra a URSS. Assim, sem mão. Os países satélites aportaram 29 divisões e
disparar um único tiro, a Alemanha anexou a Áus- 16 brigadas, somando 900 mil soldados. Assim, os
tria e a Checoslováquia (1938); em quatro sema- efetivos da Alemanha e seus satélites para o ata-
nas, aniquilou a Polônia (1939); ocupou a Dina- que ascendiam a 5,5 milhões de homens. O arma-
marca e a Noruega, sem resistência (1940); derro- mento incluía 47.260 canhões e morteiros, 2.800
tou a Holanda, Bélgica e França, em 30 dias e ex- tanques e 4.950 aviões.
pulsou as tropas inglesas do continente, em Dun- Esse imenso exército – calejado em dois anos
kerque (1940); em questão de dias, dominou a Yu- de combates vitoriosos – tinha detrás de si a pode-
goslávia e a Grécia (1941). Por fim, obteve a adesão rosa economia de guerra da Alemanha e de toda a
aos seus planos guerreiros dos regimes fascistas Europa ocupada, com uma produção bélica mui-
da Itália, Romênia, Hungria, Bulgária e Finlândia. to superior à da URSS, e não precisava temer qual-
A decisão de atacar a URSS – tomada no 2º se- quer confronto militar sério a oeste, vista a total
mestre de 1940 – fez Hitler adiar as operações inatividade inglesa. Seu objetivo era aniquilar as
“Leão Marinho” (Inglaterra), “Félix” (Gibraltar) e principais forças armadas soviéticas e ocupar a
“Átila” (Sul da França), para concentrar todas as URSS europeia – de Arkhangel no norte, a Astra-
forças contra a URSS. Como disse o parlamentar kan no sul, antes do final do verão.
inglês Arthur Woodburn, “o grande poderio da
Guerra de Extermínio
Rússia (...) era um peso de chumbo nos pés de Hi-
Diferentemente da guerra no ocidente, a guer-
tler que o impedia de saltar contra nós”.
ra contra a URSS seria “uma guerra de extermí-
“A URSS de Joelhos em Duas a Três nio”, com o objetivo de eliminar a população esla-
Semanas!” va – considerada “infra-humana” – e liberar terras
Tendo por base seus êxitos militares fulmi- para colonos alemães. Em maio de 1941, foi apro-
nantes no ocidente capitalista, Hitler e seus gene- vada diretiva isentando oficiais e soldados ale-
rais prognosticaram uma rápida vitória contra a mães de quaisquer crimes em território soviético
URSS: “Não é um exagero afirmar que a campa- e determinando “matar a todos os guerrilheiros e
nha da Rússia será vencida em duas semanas” ² suspeitos de simpatizar com eles e fuzilar sem pro-
afirmou o Comandante em Chefe das Forças cesso a todos que opusessem a mínima resistência
Armadas da Alemanha Gal. Brauchitsch. “Três aos alemães.” ⁴ Foi decidido o fuzilamento imedi-
semanas após o início do nosso ataque, este cas- ato dos instrutores políticos e o extermínio dos
telo de cartas cairá” ³, prometeu seu Chefe do prisioneiros do Exército Vermelho.
Estado-Maior, Gal. Alfred Jodl. Deveriam ser expulsos dos lugares onde viviam
Para a Operação Barba Ruiva – maior operação 80 a 85% dos polacos, 65% dos ucranianos ociden-
militar da História – o Alto Comando alemão des- tais e 75% dos bielo-russos. Hitler Afirmou: “deve-

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mos exterminar a população; is-


so faz parte da nossa missão de
proteger a população alemã. Te-
mos que desenvolver a técnica de
aniquilamento da população (...)
Eu tenho direito a suprimir mi-
lhões de pessoas de raça inferior,
que se multiplicam como ver-
mes”.⁵ E o chefe do Estado Maior
das forças terrestres alemãs, Gal.
Halder anotou em seu diário, no
17º dia da invasão: “A decisão ina-
balável do Führer é arrasar Mos-
cou e Leningrado, para se livrar
totalmente da população dessas
cidades, pois, de outra forma, se-
remos obrigados a alimentá-la
durante o inverno.” ⁶
A Busca da Paz Com a Cinco civis soviéticos prestes a serem enforcados por
Inglaterra Antes do Ataque à URSS soldados alemães, perto da cidade de Velizh, na
região de Smolensk, em setembro de 1941.
Em 1940, quando invadiu a França, Hitler ha-
via ordenado aos exércitos alemães que se dirigi-
am a Dunkerque, com o objetivo de aniquilar as nada mais é do que um prelúdio a uma tentativa
tropas inglesas encurraladas, que se detivessem. de invasão das ilhas Britânicas.” ⁷
Com isso, os ingleses puderam escapar para a Meses depois, a URSS assinou um tratado de
Inglaterra, sem grandes perdas humanas. Ficou amizade e assistência mútua com a Inglaterra e
clara a intenção de Hitler de não fechar as portas firmou uma declaração conjunta americano-
para uma negociação com os ingleses. Desde en- soviética, afirmando que ambos os países esta-
tão, os alemães fizeram várias tratativas de paz vam de acordo quanto à necessidade de criar ime-
com a Inglaterra, com o objetivo de ter as mãos li- diatamente uma segunda frente na Europa, em
vres para atacar a URSS. Nisso, contavam com a 1942. O que não foi cumprido nem pela Inglater-
conivência do Grupo de Cliveden e outros setores ra, nem pelos EUA.
pró-nazistas da Inglaterra. Churchill não se opôs As verdadeiras intenções de ingleses e norte-
a essas tratativas, buscando encorajar o ataque na- americanos foram explicitadas pelo futuro Presi-
zista à URSS. dente dos EUA, Harry Truman, que, dois dias
Em 10 de maio de 1941, Rudolf Hess – braço di- após o ataque alemão à URSS, escreveu no New
reito de Hitler – saltou de pára-quedas na Escó- York Times: “Se virmos que a Alemanha está ven-
cia, para informar os ingleses do ataque à URSS e cendo, devemos ajudar a Rússia. Se a Rússia esti-
propor-lhes um acordo, pelo qual a Inglaterra ver vencendo, devemos ajudar a Alemanha e assim
teria carta branca em suas colônias, em troca da se exterminarão uma à outra, ao máximo.” ⁸
devolução das ex-colônias alemãs, do reconhe- Ao efeito surpresa e à enorme superioridade
cimento da hegemonia nazista na Europa conti- dos exércitos atacantes somou-se o fato do siste-
nental e do apoio inglês à invasão da URSS. Chur- ma de defesa da URSS ainda não ter sido concluí-
chill incentivou as expectativas de Hitler em re- do, a modernização de suas forças armadas ainda
lação a um acordo nesses termos, para induzi-lo estar em andamento e 75% dos oficiais do Exérci-
a atacar a URSS. to Vermelho estarem em seus postos há apenas
Sentindo-se seguro a oeste, Hitler atacou a um ano, devido aos expurgos de 1937 no exército.
URSS. Só então, Churchill divulgou que apoiaria a Como Stalin e a liderança soviética sabiam que
URSS contra Hitler e esclareceu os motivos: “Ele a Inglaterra buscava provocar a guerra entre a
[Hitler] quer destruir a potência russa porque es- URSS e a Alemanha, isso fez com que desconfias-
pera, se tiver êxito, poder trazer do Leste o grosso sem dos diversos alertas de ataque alemão pro-
de seus exércitos e de suas forças aéreas e precipi- porcionados pelos ingleses e por seus próprios in-
tá-los sobre nossa ilha. (...) Sua invasão da Rússia formantes. Mas, a URSS não havia deixado de pre-

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OS TRÊS VETORES PRINCIPAIS DO ATAQUE ALEMÃO


OFENSIVA NAZI
FINLÂNDIA
URSS PAÍSES INVADIDOS
NORUEGA
Leningrado PAÍSES ALIADOS
SUÉCIA MAR
BÁLTICO Tallin LIMITE DA OFENSIVA
Kalinin PAISES NEUTROS
Riga MOSCOU

lga
Smolensk Viazmi Tula

Vo
DINAMARCA
Minsk
Briansk Do Stalingrado
INGLATERRA m
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BERLIM Kharkov

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POLÔNIA Kiev

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ALEMANHA R C
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BÉLGICA PIO
TCHEC Rostov Grosny
O SLOVÁ
QUIA Mar
de Aroz
Montanhas do
FRANÇA AUSTRIA HUNGRIA Odessa
Cáucaso
SUIÇA ROMÊNIA
Sebastopol
MAR NEGRO
IUGUSLÁVIA
BULGÁRIA
ITÁLIA
TURQUIA
ALBÂNIA

GRÉCIA

O ataque nazista ocorreu parar-se para a inevitável guerra com a Alemanha. Além de
em três direções principais: o transferir, a partir de 1939, milhares de empresas para além
Grupo de Exércitos Norte – co- dos Urais, as despesas com a defesa nacional saltaram de
mandado pelo marechal de 5,4%, no 1º Plano qüinqüenal, para 12,6%, no 2º, e 26,4%, no
campo Von Leeb – avançou pa- 3º. E, em 1941, 43,4% do orçamento da URSS foram destina-
ra os Estados bálticos com o dos à defesa do país. De janeiro de 1939 a 22 de junho de
apoio dos exércitos finlande- 1941, o Exército Vermelho recebeu mais de 7.000 carros de
ses, com o objetivo de tomar combate, 30 mil canhões e 52 mil morteiros e 17.700 aviões.
Às vésperas da guerra, foi reforçado por 800 mil homens.
Leningrado e chegar ao mar
Apesar de todas as cautelas em relação a uma eventual
Branco. O Grupo de Exércitos
provocação inglesa, às 0h30min do dia 22 de junho, os co-
do Centro – comandado pelo
mandantes Timochenko e Jukov enviaram instruções às for-
marechal de campo Von Bock –
ças aéreas e terrestres, informando que:
pretendia ocupar o centro da
Rússia européia e tomar Mos- É possível que no decorrer dos dias 22 ou 23 de ju-
nho se verifique um ataque súbito dos alemães na
cou. Já o Grupo de Exércitos
frente das regiões de Leningrado, do Báltico, do
Sul – comandado pelo mare-
Ocidente, de Kiev e de Odessa. O ataque alemão
chal de campo Von Rundsted –
pode começar por ações de provocação. (...) As
com o apoio de romenos, hún-
nossas tropas têm obrigação de não se prestar a
garos e checos – deveria avan- qualquer provocação que possa suscitar compli-
çar na Ucrânia, tomar Kiev, a cações graves. Ao mesmo tempo, (...) devem estar
bacia siderúrgica e carbonífe- prontas a repelir eventuais ataques súbitos dos
ra do Baixo Dom, o ferro de Kri- alemães ou de seus aliados.⁹
voi-Rog, o aço, o manganês e As instruções determinavam, ainda, que na noite do dia
os ricos poços de petróleo do 21 as tropas ocupassem discretamente os locais fortificados
Cáucaso. Também devia to- das zonas de fronteira, dispersassem e camuflassem as aero-
mar a Criméia, para dominar o naves civis e militares, colocassem em alerta as unidades de
mar Negro. artilharia antiaérea e preparassem o blackout. Essas instru-
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ções, porém, chegaram tarde a muitas unidades


que não se prepararam em tempo para o ataque
que se seguiu. Outras receberam essas instruções
já sob o fogo inimigo.
Diferentemente do que alguns dizem Stalin
não sumiu nem caiu em prostração diante do ata-
que alemão. Ao contrário, colocou-se desde a ma-
drugada de 22 de junho à frente da resistência ao
invasor nazi-fascista. Às 5h45, encontrou-se com
Jukov, Timochenko, Mekhlis, Beria e Molotov pa-
ra saber da situação militar. Às 7h reuniu-se com
membros do Politburo – Molotov, Voroshilov, Ka-
ganovitch, Beria e Malenkov –, além de Dimitrov
e Manuilski, da IC. Georgi Dimitrov anotou em
seu diário: “O que surpreende é a calma, a deter- Defesa anti-aérea russa em Smolensk durante a
minação e a grande confiança em si mesmo de ofensiva alemã em direção a Moscou em 1941.
Stalin e de todos os outros.” ¹º
Analisando o fato de ter sido Molotov e não Sta- maioria das tropas escapasse. Os soviéticos esta-
lin quem falou ao povo soviético nesse dia, o His- beleceram uma nova linha defensiva ao longo do
toriador Pierre Vallaud – duro crítico da URSS e rio Dniepre, onde detiveram o avanço alemão até
de Stalin – diz: “não havia vácuo de poder, princi- fins de agosto, causando-lhes pesadas perdas.
palmente não de Stalin. E se este último não toma As fortes perdas dos exércitos alemães – 250
a palavra, é oficialmente por ordem de seu médico: mil homens só nos combates de Smolensk – e as
Stalin foi examinado na noite anterior, está com dificuldades para abastecê-los, devido aos cons-
febre e um abscesso na garganta. Ele não pode, de tantes ataques soviéticos pelos flancos e à ação
maneira alguma, pronunciar um discurso no rá- guerrilheira na retaguarda, impediram Hitler de
dio”.¹¹ Em 3 de julho, Stalin fará o seu primeiro dis- investir de imediato contra Moscou. Em 30 de ju-
curso ao povo soviético. lho, ele ordenou à Frente Central que passasse à
Iniciada a invasão, as tropas alemãs avança- defensiva e às frentes norte e sul que avançassem
ram rapidamente – principalmente suas unida- para tomar Leningrado e Kiev.
des blindadas – e abriram profundas brechas nas
Leningrado Resiste e é Sitiada
defesas soviéticas, tomando importantes nós de No norte, em três semanas de luta, os exércitos
comunicação, estabelecendo “cabeças de ponte” alemães, ocuparam a Lituânia, Letônia e Estônia e
em setores chaves e realizando o cerco de grandes Pskov, ao sul de Leningrado. No caminho, ficaram
agrupamentos de tropas soviéticas. Só na primei- bolsões de tropas soviéticas resistindo. Atacando
ra noite foram destruídas 1.489 aeronaves, das pelo sul – enquanto os finlandeses atacavam pelo
quais 1.100 no solo. Quase todo o sistema de comu- norte –, as tropas nazistas foram detidas no rio Lu-
nicações soviético foi destruído, dificultando a ga. Em meados de julho, um forte contra-ataque
condução coordenada da defesa. Em 25 de junho, soviético obrigou os alemães a recuarem 50 km e
as forças alemãs de vanguarda haviam avançado destruiu boa parte de suas forças blindadas. Em
230 quilômetros, em algumas áreas. agosto, outro forte contra-ataque soviético cau-
sou grandes perdas aos alemães. Com isso, o seu
O Avanço do Grupo de Exércitos do avanço foi retardado e Leningrado pode preparar-
Centro se para uma luta “casa a casa”, incorporando cen-
Na Frente Central, em apenas duas semanas, tenas de milhares de cidadãos à sua defesa. Foram
os alemães ocuparam a Polônia Oriental, toma- construídos quase 1.000 km de trincheiras, 650
ram Minsk (28.06) e boa parte da Bielo-Rússia, km de fossos antitanque e 5.000 casamatas.
Ucrânia e Moldávia. Grandes contingentes de tro- Na medida em que a resistência soviética na
pas soviéticas foram aniquilados nos bolsões de Frente Central passou a exigir uma parte dos blin-
Bialiystok e Minsk. Em 16 de julho, Smolensk foi dados da Frente Norte, houve um enfraqueci-
tomada e importantes forças soviéticas foram cer- mento das forças que atacavam Leningrado. De-
cadas. Em 23 de julho, um contra-ataque soviéti- pois de diversas tentativas de tomá-la, em 23 de
co rompeu o bolsão de Smolensk e permitiu que a setembro o General Halder reconheceu a impo-

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tência alemã: “Nossas forças


(...) sofreram pesadas perdas.
Essas forças são suficientes
para a defesa, mas não para aca-
bar com o inimigo. Entretanto,
não temos outras forças.” ¹²
Hitler é imperativo: “Decidi
apagar São Petersburgo da su-
perfície da terra. (...) O proble-
ma da vida da população e de
seu abastecimento não cabe a
nós e não deve ser resolvido por
nós. (...) Não temos que preser-
var nem mesmo a menor parte
da população dessa cidade gran-
de.” ¹³ Von Leeb comunica Hi-
tler, então, que diante da im-
possibilidade de tomar Lenin-
grado, passará a sitiá-la, com o
objetivo de exterminar seus três milhões de habi- Painel registra o panorama da batalha de
tantes pelos bombardeios e pela fome. Leningrado no Museu da Grande Guerra
Patriótica de Moscou.
A resistência heróica de Leningrado reteve um
grande número de divisões alemãs, indispensáve-
is para a tomada de Moscou. O cerco causou mais A “operação Tufão” e o seu Fracasso
de um milhão de mortos – 800 mil dos quais de fo- Diante de Moscou
me – e só foi rompido em 27 de janeiro de 1944, Em 2 de outubro de 1941, as tropas alemãs ini-
quase 900 dias depois, quando a ofensiva geral do ciaram a Operação Tufão – como o objetivo de des-
Exército Vermelho aniquilou as tropas alemãs truir até o início do inverno, o resto das tropas so-
que sitiavam Leningrado. viéticas, tomar Moscou e derrotar definitivamen-
te a URSS. As ordens de Hitler foram implacáveis:
O Avanço Alemão no Sul e a Tomada A cidade deve ser cercada de modo
de Kiev que nenhum soldado ou habitante
No sul, os exércitos alemães – com o apoio dos russo possa escapar, seja homem, mu-
romenos, húngaros e checos – avançaram em dire- lher ou criança. Sufocar pela força
ção a Kiev. Em 11 de julho, os alemães atacaram os qualquer tentativa de fuga. Adotar to-
arredores da capital ucraniana. Frente à ameaça das as medidas necessárias de modo
de cerco, uma parte do comando soviético pro- que Moscou e seu entorno, com auxí-
pôs, em 11 de setembro, um recuo geral e o aban- lio de poderosas estruturas, seja inun-
dono de Kiev; outra parte se opôs ao abandono de dada de água. Lá onde está Moscou
Kiev e convenceu Stalin a manter a resistência. Só atualmente, deve surgir um mar que
em 17 de setembro, quando a situação se tornou oculte do mundo ocidental para sem-
insustentável, essa decisão foi adotada, mas tarde pre a capital da nação russa. (...) Para
demais para evitar que, além da queda de Kiev, outras cidades (...), deverá vigorar a
centenas de milhares de soldados soviéticos fos- seguinte regra: devem ser reduzidas a
sem feitos prisioneiros. Com isso, foi aberto o ca- ruínas pelo fogo de artilharia e ata-
minho para os alemães ocuparem a Bacia do Don. ques aéreos antes da sua ocupação.¹⁴
Mais ao sul, os alemães avançaram na Criméia, Para isso, foram mobilizadas 75 divisões – qua-
chegando quase ao mar de Azov. Em agosto, os na- se dois milhões de homens, mais de 500 tanques e
zi-fascistas atacaram Odessa, que resistiu por 73 1.000 aeronaves. O avanço inicial foi rápido e no
dias, causando mais de 100 mil baixas aos exérci- dia 6 a cidade de Orel – 240 km adiante – foi con-
tos nazi-fascistas. Quando a resistência se tornou quistada. Em Viazma e Briansk, oito exércitos so-
impossível, foram evacuados por barco 80 mil sol- viéticos que defendiam Moscou foram cercados e
dados, 350 mil habitantes e 200 mil toneladas de sofreram grandes perdas. Ainda que parte deles
material.

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Mesmo com a tenaz resistência do


Exército Vermelho e da população,
Kiev acabou tomada e destruída
pelos nazistas. Foi um grande golpe
para a URSS e influenciou fortemente
no desenvolvimento da guerra. Além
das enormes perdas humanas, a
União Soviética perdeu a margem
esquerda da Ucrânia, abrindo
caminho para o Donbass e o Mar de
Azov e abrindo também o leste
ucraniaano para as tropas alemãs.

tenha escapado ao cerco, o caminho para Moscou Só em meados de outubro – após o aniquila-
estava aberto para os alemães. mento de centenas de milhares de soviéticos em
Nesses dias, o adido de imprensa da Chancela- Vyazma e Briansk –, os alemães conseguiram reto-
ria Alemã declarou aos correspondentes estran- mar o ataque a Moscou, mas enfrentaram uma re-
geiros em Berlim: “No plano militar, a Rússia pa- sistência titânica, que lhes causou enormes per-
rou de existir. Os ingleses só precisam enterrar se- das. Em Kalinin, Tula, Mojaisk e Kursk eles foram
us sonhos de uma guerra em duas frentes.” ¹⁵ detidos. Na retaguarda, unidades que haviam es-
Porém, a resistência obstinada dos soviéticos capado do cerco e as forças guerrilheiras, ataca-
cercados em Viazma e Briansk retardou irreme- vam dia e noite as tropas alemãs e os comboios de
diavelmente a investida contra Moscou. O clima carga, colapsando o seu abastecimento. Em fins
começou a mudar e caíram as primeiras chuvas e de outubro, os alemães passaram à defensiva e o
nevascas do outono russo. As estradas tornaram- general alemão Blumentritt constatou:
se intransitáveis e o abastecimento dos agressores
chegou ao seu ponto mais baixo. Os soviéticos ga- A moral dos oficiais e dos homens
nharam um tempo precioso para organizar a defe- começa a diminuir. A resistência ini-
sa de Moscou e trazer tropas frescas do Extremo miga se intensifica e os combates se
Oriente e da Ásia Central. tornam mais ferozes. Várias compa-
Diante do perigo, o governo soviético e as lega- nhias nossas são reduzidas a sessen-
ções estrangeiras foram transferidos para Kuiby- ta ou setenta homens. O inverno che-
shev – há 2,5 mil km de distância – e 500 fábricas gou e nós ainda não recebemos equi-
foram transportadas para o Volga e os Urais, mas pamentos quentes (...). Por detrás
Stalin e o Alto Comando permaneceram no Krem- das linhas, as florestas e os pântanos
lin. Foram construídos 8 mil km de trincheiras e se povoam com resistentes cuja ação
valas antitanque e Moscou preparou-se para uma é duramente sentida. A cada instante,
defesa “casa a casa”. nossas colunas de abastecimento são
atacadas.” ¹⁶
Em 7 de novembro – aniversário da Revolução
Socialista de 1917 – os soviéticos promoveram,
não obstante a guerra, o tradicional desfile da Pra-
ça Vermelha, demonstrando a sua capacidade de
resistência e a sua confiança na vitória contra as
hordas nazi-fascistas.

As defesas anti-aéreas do Exército


Vermelho foram fundamentais na
defesa da capital Moscou.

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O 1077º regimento russo era


formado inteiramente por
mulheres jovens. Ficou conhecido
por sua feroz interceptação da 16ª
Divisão Panzer alemã no ataque a
uma fábrica de tanques em
Stalingrado, em agosto de 1942.
Armadas com apenas trinta e sete
bombardeiros, as jovens do 1077
dispararam contra tanques
alemães e submetralhadoras por
dois dias antes de finalmente serem
dominadas pelo grande número de
alemães. O 1077º não existia mais,
mas não antes de destruir 83
tanques, 15 veículos de infantaria, lo sul. Segundo Júkov, em maio de 1942, os ale-
eliminando 3 batalhões de mães tinham na frente Oriental “um exército de
infantaria e abatendo 14 aeronaves. seis milhões de homens (...), 3.229 carros de com-
bate e armamentos de assalto, 57.000 canhões e
morteiros e 3.395 aviões de combate.” ¹⁹ O ataque
Em meados de novembro, os alemães concen- alemão começou em 7 de maio.
traram 51 divisões – 13 delas blindadas e 7 motori- Em uma semana toda a península foi conquis-
zadas - e retomaram a ofensiva, conseguindo che- tada, com exceção de Sebastopol, que resistiu até
gar a apenas 25 km de Moscou, mas as suas forças julho de 1942. Parte das tropas avançou para o Cáu-
estavam esgotadas. Em 3 de dezembro, Von Kluge caso, chegando a 60 km dos campos petrolíferos
afirmou: “as tropas se encontram em uma situa- de Grosny. Outra parte tomou Kharkov e Rostov e
ção extremamente difícil. (...) as perdas alemãs interrompeu o abastecimento de petróleo e cere-
em homens são simplesmente colossais.” E Gude- ais. A oeste de Stalingrado, todas as comunica-
rian lamentou: “O ataque a Moscou falhou (...) So- ções caíram em mãos alemãs. Ao inexistir uma 2ª
fremos uma séria derrota.” ¹⁷ frente na Europa – os alemães puderam concen-
Três dias depois, os soviéticos iniciaram uma traram 70% de suas tropas – 3 milhões de solda-
poderosa contra-ofensiva, romperam o cerco a dos –– contra a URSS, metade deles na frente sul.
Moscou e obrigaram os alemães a recuar de 150 a Em 17 de julho de 1942, Von Paulus lançou con-
350 km, retomando Rostov, Kalinin, Tula e Volo- tra Stalingrado o 6º exército de blindados – com
kolamsk. O general alemão Westphal desabafou: 250.000 homens, 1.200 aviões e 750 tanques. –, o
o “exército alemão, antes considerado invencível, 4º exército de blindados e alguns exércitos italia-
encontra-se à beira da destruição.” ¹⁸ nos e romenos. Em 8 de agosto, os agressores rom-
Enfurecido, Hitler destituiu o comandante ge- peram as linhas de defesa no Don. Em 14 de se-
ral do Exército, Von Brauchitsch, o comandante tembro chegaram aos subúrbios de Stalingrado.
dos exércitos do Centro, Von Bock, 3 dos 6 chefes A partir daí, a luta prosseguiu “casa a casa”. Os so-
de exército – Guderian, Hoepner e Strauss – e 4 viéticos – reduzidos a 40 mil combatentes, encur-
dos 22 comandantes. Além disso, teve de trazer tro- ralados em uma área de 25 km de extensão por 5
pas dos países ocupados na Europa, buscando re- km de profundidade – resistiram meses a fio, exau-
cuperar a capacidade de combate de suas tropas. rindo as tropas alemãs.
A Catástrofe Alemã em Stalingrado Em 19 de novembro – surpreendendo total-
Fracassadas suas ofensivas em Leningrado e mente os alemães – os soviéticos iniciaram uma
Moscou, Hitler decidiu atacar ao sul, rico em pe- contra-ofensivo ao norte e ao sul de Stalingrado,
tróleo, cereais e minérios, e ocupar a Criméia e o com 1 milhão de homens, 13 mil canhões, 894 tan-
Cáucaso. Em uma segunda fase, buscaria tomar ques e 1.150 aviões. O 3º Exército romeno foi des-
Stalingrado e o Volga, para daí atacar Moscou, pe- troçado e o 6ºe 4º exércitos nazistas cercados e di-

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RAUL CARRION - A LUTA VALE A PENA

A Batalha de Stalingrado foi disputada


literalmente "casa a casa". Durou de julho
de 1942 até fevereiro de 1943 e terminou com 2.400 carros de combate (70% do total existente na
a derrota alemã . No final , a cidade de frente oriental), 10.000 canhões e morteiros. Os
Stalingrado era estruturalmente soviéticos – prevenidos por seus serviços de infor-
comparável a Hiroshima ou Nagasaki, mações – concentraram 1,3 milhões de homens e
tamanha sua destruição. 3.500 carros de combate e canhões autopropulsa-
dos, 20 mil peças de artilharia e 2.900 aviões. O ata-
vididos em 2 bolsões. Os esforços alemães para que alemão teve início em 5 de julho de 1943, ob-
romper o cerco a partir do oeste fracassaram. Pre- tendo alguns êxitos iniciais. Em 12 de julho, uma
cariamente abastecidos pelo ar, pouco a pouco os poderosa contra-ofensiva soviética fez os alemães
alemães foram sendo dizimados e estrangulados. recuarem além de onde haviam partido, com enor-
Em 31 de janeiro de 1943, o marechal Von Paulus, mes perdas. Em 22 de julho, Hitler teve que orde-
24 generais, 2.500 oficiais e 91.000 soldados res- nar a suspensão do ataque. Em sua contra-
tantes renderam-se. Em 2 de fevereiro, capitula- ofensivo, o Exército Vermelho expandiu o bolsão
ram as últimas tropas alemães cercadas. As per- de Kursk ao norte e ao sul e libertou Orel, Bielgo-
das nazistas nas regiões do Don, Volga e Stalin- rod e Kharkov (23.08.43). As perdas alemãs na bata-
grado somaram 1,5 milhão de homens, 3.500 car- lha de Kursk foram de 500 mil homens, 1.500 car-
ros de combate e armas de assalto, 12 mil peças de ros combate, 3 mil canhões de 3.700 aeronaves.
artilharia, 3 mil aviões e outros equipamentos. Se- O Exército Vermelho iniciou, então, sua ofen-
gundo o general alemão Westphal “a derrota de siva geral, em uma frente de mais de 1.000 km. Fo-
Stalingrado horrorizou o povo alemão, bem como ram libertadas Briansk (17.09), Smolensk
o seu exército. Nunca antes, em toda história da (24.09), Kiev (06.11) e Gomel (27.11). Os alemães
Alemanha houve um caso tão terrível de mortan- foram empurrados 250 km para oeste e jogados ao
dade de força tão numerosa.” ²º outro lado do Rio Dnieper. Em retirada, os ale-
O esmagamento de alemães, romenos e italia- mães sofreram – entre julho a outubro de 1943 –
nos em Stalingrado marcou uma viragem na guer- 365 mil baixas e grandes perdas materiais. Recua-
ra. A partir daí, a Alemanha perdeu a iniciativa es- ram destruindo tudo o que encontraram no cami-
tratégica e logo teve de abandonar o Cáucaso, pa- nho e assassinando dezenas de milhares de ido-
ra evitar o cerco. O Exército Vermelho iniciou sos, mulheres e crianças.
uma ofensiva que em três semanas libertou Ros-
Expulsão dos Nazifascistas do Território
tov e avançou 260 km na frente do Don. Kharkov
também foi retomada, mas um contra-ataque ale- Soviético
mão a recuperou. Ao norte, houve o desbloqueio Mesmo ferida de morte, a Alemanha ainda con-
parcial de Leningrado. Na região central, foram tava na frente oriental com 5 milhões de homens,
recuperadas Rzhev, Viazma, Demiansk e Kursk. 5.400 carros de combate, 55 mil canhões e 3 mil
aviões, incluídas as tropas de seus aliados.
Fracasso do Ataque Alemão em Kursk e Mas nada conseguiu deter a ofensiva soviética.
a Contraofensiva Geral Soviética Ao norte, em janeiro de 1944, o Exército Vermelho
Para vingar-se da derrota em Stalingrado, os ale- rompeu o cerco de Leningrado, libertou Novgo-
mães prepararam um ataque ao saliente de Kursk, rod, a Estônia e parte da Letônia. Em junho, ata-
na frente Central, utilizando 900 mil homens, cou os finlandeses na Carélia, obrigando-os a assi-

288
RAUL CARRION - A LUTA VALE A PENA

A CONTRAOFENSIVA SOVIÉTICA
FINLÂNDIA
CONTRA-OFENSIVA
URSS TERRITÓRIO RETOMADO
NORUEGA PELOS SOVIÉTICOS
Leningrado PAÍSES LIBERTADOS
SUÉCIA MAR DO NAZISMO
BÁLTICO Tallin
Kalinin EXÉRCITO VERMELHO
Novgorod
Riga
MOSCOU

lga
Viazmi

Vo
DINAMARCA Smolensk Tula
Minsk Briansk
INGLATERRA Do Stalingrado
Gomel m
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HOLANDA Kursk MA
POLÔNIA Kiev R C
BÉLGICA
ALEMANHA Kharkov ÁS
TCH Rostov PIO
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VÁQ
UIA Grosny
Montanhas do Cáucaso
Odessa
FRANÇA SUIÇA AUSTRIA HUNGRIA
ROMÊNIA Sebastopol
MAR NEGRO
IUGUSLÁVIA
BULGÁRIA
ITÁLIA
TURQUIA
ALBÂNIA

GRÉCIA

narem o Armistício de Moscou (19.09). Em outu- Em Lublin, foi formado o Comitê Polaco de Liber-
bro, os alemães abandonaram o Ártico soviético e tação Nacional (CPLN) e constituídas as Forças
o nordeste da Noruega. Armadas Polonesas (FAP) – dirigidas pelo Parti-
No Sul, em fevereiro e março, os alemães foram do Operário Polaco – que em fins de 1944, já con-
jogados além do Dniester e expulsos da Ucrânia ori- tavam com 286 mil homens, jogando importante
ental e da Galitzia. Toda a península da Criméia – papel na vitória contra os nazistas. Em julho de
incluindo Odessa e Sebastopol – foi higienizada 1944, as tropas soviéticas cruzaram o Vístula e che-
de tropas nazistas. Em abril, foi libertada a Moldá- garam às portas de Varsóvia, após um avanço de
via e as tropas soviéticas entraram na Romênia on- 724 km. A extensão das linhas de suprimentos e a
de aniquilaram, nos arredores de Iasi e Kishiniov, perda de 30% de seus efetivos, além da crescente
25 divisões germano-romenas, avançando para o resistência alemã, obrigaram os soviéticos a uma
centro do país. Em 23 de agosto, um levante popu- parada. No decorrer dessa ofensiva, haviam sido
lar-militar – com forte participação do Partido Co- mortos 500 mil alemães e o general alemão But-
munista da Romênia – depôs o ditador Antonescu tlar afirmou que “a derrota do Grupo de Exércitos
e formou um novo governo, que propôs aos aliados 'Centro' pôs fim à resistência alemã no leste.” ²¹
um armistício e declarou guerra à Alemanha.
Na região central, o Exército Vermelho inici- O Levantede Varsóvia e o Tardio
ou, em junho, a Operação Bagration, que aniqui- Desembarque Aliado no Sul da França
lou o Grupo de Exércitos Centro – o mais podero- É nesse contexto que, em 1º de agosto de 1944,
so destacamento de tropas da Alemanha nazista, sem qualquer articulação com o Exército Verme-
com 1,2 milhões de soldados, 900 tanques, 10 mil lho, o General Komorowski – chefe da resistência
canhões e 1.400 aviões –, libertou a Bielorrússia, polaca pró-ocidental – iniciou um levante em Var-
parte da Lituânia e da Letônia, a Ucrânia ociden- sóvia, com o único objetivo de antecipar-se à che-
tal e grande parte da Polônia oriental, incluindo gada das tropas soviéticas, alijar o CPLN formado
Lublin, Helm, Brest-Litovsk e Lvov. em Lublin e instalar um poder anticomunista.

289
RAUL CARRION - A LUTA VALE A PENA

Apesar de estar com suas forças exauri-


das, o Exército Vermelho buscou ajudar
os insurretos retomando a ofensiva du-
rante agosto e a primeira metade de se-
tembro, sofrendo pesadas baixas. Foi feito
um ataque contra Praga, subúrbio de Var-
sóvia, e o 1º Exército Polaco cruzou o Vís-
tula, mas não conseguiu vencer a forte re-
sistência alemã. Aviões soviéticos realiza-
ram 2.243 incursões e lançaram para os su-
blevados 156 morteiros, 505 fuzis antitan-
que, 2.667 subfuzis e fuzis, 41.780 grana-
das, 3 milhões de cartuchos, 113 toneladas
de víveres e 500 kg de medicamentos.
Depois da Revolta de Varsóvia, 85% da cidade foi
Os alemães concentraram poderosas deliberadamente destruída pelas forças alemãs.
forças em Varsóvia e reprimiram cruelmente o le-
vante, matando 38 mil combatentes – entre eles agora os “aliados” atuavam com o claro objetivo de
tropas da FAP que estavam em Varsóvia – e mais impedir que a URSS vencesse a guerra sozinha. O
de 250 mil civis. Desmentindo aqueles que difun- número irrelevante de soldados que desembarcou
dem que o Exército Vermelho só não tomou Var- no sul da França – 150 mil homens – mostra o ridí-
sóvia naquele momento porque não quiz, o gene- culo das afirmações dos ideólogos do imperialis-
ral alemão Tippelskirch reconheceu que “a insur- mo (não podemos considerá-los “historiadores”)
reição estalou em 1º de março, quando a força do que afirmam que esse desembarque foi “o mo-
golpe russo já havia se esgotado.” Os soviéticos só mento da virada” da Segunda Guerra Mundial.
conseguirão tomar Varsóvia em janeiro de 1945 e
O Avanço em Direçao a Berlim e a
Lódz só foi libertada em fins de janeiro.
Diante da ofensiva avassaladora dos exércitos Capitulação Alemã
soviéticos na frente oriental, os EUA e a Grã- Em 5 de setembro de 1944, a União Soviética
Bretanha – após três anos de tergiversações – fi- declarou guerra à Bulgária, onde já atuava o Exér-
nalmente realizaram um tardio desembarque no cito Popular de Libertação, com quase 20 mil ho-
sul da França, em 6 de junho de 1944, abrindo a “2ª mens, sob a direção do Partido Operário Búlgaro.
frente”, prometida para 1942... Ficava claro que de- No dia 9, uma sublevação em Sofia derrubou o
pois de deixarem a URSS enfrentar sozinha, du- governo fascista e colocou no poder a “Frente Pa-
rante três anos, a máquina de guerra nazi-fascista, triótica”, que havia formado 670 comitês em todo
o país. Esse novo governo assinou
uma trégua com os aliados e declarou
guerra à Alemanha.
Em 28 de setembro de 1944, o 57º
Exército soviético entrou na Yugoslá-
via e – em conjunto com o Exército Po-
pular de Libertação da Yugoslávia,
que contava com 400 mil homens –
iniciou uma ofensiva contra Belgra-
do, que foi libertada em 20 de outu-
bro. Na Albânia, o Exército de Liber-
tação Nacional, dirigido pelo Partido
Comunista da Albânia, libertou Tira-
na em 17 de novembro.
Em janeiro de 1945, os soviéticos
iniciaram a ofensiva que expulsou os
alemães dos últimos territórios polo-
Exército Vermelho após a libertação de Pinsk, neses ocupados. Em 31 de janeiro, as
Bielorússia, 1944. tropas soviéticas conquistaram uma

290
RAUL CARRION - A LUTA VALE A PENA

cabeça de ponte no rio Oder, a 70 km de Ber-


lim. Em 13 de fevereiro de 1945, após duros
combates, os soviéticos tomaram Budapes-
te, na Hungria. Em fins de fevereiro, parte
do Exército Vermelho avançou para o Bálti-
co e varreu as tropas alemãs que ali ainda se
encontravam. Outra parte dirigiu-se para
Viena, libertando-a em 13 de abril.
Sentindo-se derrotados, os nazistas bus-
caram uma negociação de paz em separado
com os EUA e a Inglaterra. Enquanto dimi-
nuíam a resistência a oeste, a fortaleciam a
leste. Era evidente a intenção dos nazi-
fascistas de se renderem aos aliados ociden-
tais e não aos soviéticos. O Exército Vermelho em Berlim em 1945, tendo
Cientes disso, os soviéticos deram início à sua ao fundo o Portão de Brandemburgo.
ofensiva contra Berlim em 16 de abril. Oito dias de-
pois, a capital alemã estava cercada e Hitler suici- As armas ainda fumegavam nos campos de bata-
dou-se. O almirante Dönitz, ao assumir o gover- lha e os Estados Unidos e a Inglaterra já tramavam
no, afirmou: “minha tarefa primeira é salvar os – sem quaisquer escrúpulos – uma aliança com os
alemães da eliminação pelos bolcheviques (...) As nazi-fascistas, para a futura luta contra a URSS.
ações militares continuam apenas em prol deste URSS – Baluarte na Luta Contra o Nazi-
objetivo”. Propôs, então, a ingleses e norte-
Fascismo
americanos um entendimento, para lutarem jun-
A vitória da URSS sobre a Alemanha, ao custo
tos contra a URSS. Nessa ocasião, Churchill orien-
de 27 milhões de mortos e da devastação do país –
tou Montgomery a “reunir cuidadosamente as ar-
contra apenas 405 mil estadunidenses e 375 mil
mas e equipamentos militares alemães e armaze-
britânicos mortos em toda a guerra e em todas as
ná-los, de modo que possam ser facilmente redis-
frentes –, salvou a humanidade de um retrocesso
tribuído às unidades germânicas que deveriam coo-
histórico inimaginável. O que ganha ainda maior
perar conosco, caso o avanço soviético persista”.²²
importância se considerarmos que a Alemanha
Após 16 dias de combate, as tropas soviéticas estava a um passo de detonar a sua bomba atômi-
tomaram Berlim – defendida por um milhão de ca – cujos teste ocorriam no Estado da Turíngia – o
homens – e no dia 2 de maio a bandeira vermelha que lhe teria garantido a vitória na guerra e a con-
foi hasteada no Reichstag. Seis dias depois, os ale- seqüente escravização do conjunto da humanida-
mães firmaram em Berlim a capitulação incondi- de aos seus desígnios.
cional da Alemanha. Na frente Oriental, os alemães enfrentaram pe-
Na Checoslováquia – onde os alemães ainda la primeira vez uma verdadeira resistência. Com-
tinham de 50 divisões – eclodiu em Praga, no dia 5 batendo com uma tenacidade heróica, os soviéti-
de maio, uma insurreição popular. Em marcha ba- cos causaram enormes baixas aos nazi-fascistas.
tida, as tropas soviéticas avançaram para aniqui- Suas tropas não se rendiam mesmo em situação de
lar os exércitos alemães que se preparavam para extrema inferioridade. Como observou um oficial
afogá-la em sangue. Assim, Praga foi libertada no dos corpos blindados alemãs: “Onde o inimigo apa-
dia 9 de maio. rece, ele luta obstinada e corajosamente até a mor-
Menos de 20 dias após a capitulação alemã, Sta- te. Desertores e aqueles em busca de rendição não
lin – em reunião com Molotov, Voroshilov e Jukov foram relatados a partir de nenhuma posição”.²⁴
– constatou: “Enquanto nós desarmamos e envia- Assim, à medida que avançavam, obtendo vitó-
mos ao acampamento todos os soldados e oficiais rias táticas, os alemães iam exaurindo as suas for-
do exército alemão, os ingleses mantém as tropas ças. Em setembro de 1941, já haviam sofrido 535
alemãs em completa prontidão, estabelecendo mil baixas, perdido 70% de seus tanques e 40% de
com eles uma cooperação mútua. Até o momento, seus aviões. E em novembro de 1942, suas perdas
os comandos das tropas alemãs, liderados por se- haviam atingido mais de 2,5 milhões de mortos,
us ex-comandantes, têm total liberdade e, por de- feridos e desaparecidos. Sua “guerra relâmpago” –
terminação de Mongomery, reúnem e organizam vitoriosa em todo o ocidente capitalista – acabou
os armamentos e equipamentos de suas tropas.” ²³ derrotada em sua luta contra o socialismo.

291
RAUL CARRION - A LUTA VALE A PENA

Estandartes dos exércitos nazistas


derrotados sendo jogados ao pé do
Mausoléu de Lenin durante a
Parada do Dia da Vitória. Praça
Vermelha, 24 de junho de 1945.

Os atos de heroísmo coletivo em Brest- Funcionavam mais de 400 emissoras de rádio nas
Livotski, Smolensk, Minsk, Leningrado, Moscou, áreas de guerrilha e estas controlavam vastas re-
Odessa, Stalingrado, Sebastopol, e tantos outros giões nos territórios ocupados. Estima-se que
lugares, desmentiram aqueles que diziam que o existiam 220 mil guerrilheiros na Ucrânia, 370
poder soviético não tinha sustentação no povo e mil na Bielorrússia e 260 mil nos territórios ocu-
desmoronaria frente ao ataque nazista. Milhões pados da Rússia. As mulheres participavam ativa-
de soviéticos foram mortos ou aprisionados, de- mente e, em alguns destacamentos, eram de 10 a
fendendo sua Pátria, mas também o socialismo. 25% dos combatentes.
Os prisioneiros soviéticos eram mortos a tiros, pe- Apesar dos alemães terem ocupado vastos ter-
la fome ou pelo frio. Menos de 30% sobreviveram. ritórios – onde viviam 40% dos soviéticos, esta-
Nas áreas ocupadas, foram destruídas milhares vam 40% das ferrovias e dos rebanhos bovinos, 60
de cidades e aldeias e sua população exterminada dos suínos, 84% do açúcar, 38% dos cereais, 60%
ou enviada para o trabalho escravo na Alemanha. da produção de aço e alumínio, 63% do carvão e
Ao mesmo tempo em que aplicavam uma polí- 70% das fundições – a URSS não colapsou. Milha-
tica de terra arrasada, os soviéticos multiplicaram res de empresas – em especial as de grande porte e
as guerrilhas na retaguarda alemã, desorganizan- militares – foram evacuadas, entre junho e no-
do o seu abastecimento, destruindo as suas comu- vembro de 1941.
nicações, aniquilando pequenas unidades, impe- Mesmo com grande parte do seu território ocu-
dindo que os invasores explorassem os territórios pado e enormes perdas na fase inicial da luta, a
tomados. Os guerrilheiros imobilizaram meio mi- URSS logo passou a produzir mais armamentos
lhão de alemães na Bielorrússia e 460 mil na Ucrâ- que a Alemanha. Entre 1941 e 1945, a URSS fabri-
nia. Só em 1943, explodiram 11 mil trens, tiraram de cou 137.271 aeronaves, contra 99.339 da Alema-
circulação 6 mil locomotivas e 40 mil vagões, des- nha; 99.488 tanques, contra 53.800 da Alemanha;
truíram 900 pontes ferroviárias e 22 mil veículos. 514.700 peças de artilharia, contra 87.000 dos ale-
Para combater as guerrilhas, o exército nazista mães. Nenhum país capitalista seria capaz de tal
precisou empregar 25 divisões de seu exército de proeza!
operações, além de unidades de polícia SS e SD e O Poder Soviético mostrou-se capaz de mobili-
meio milhão de soldados de tropas auxiliares. zar milhões de homens e mulheres para enfrentar

292
RAUL CARRION - A LUTA VALE A PENA

ças materiais e morais que permiti-


ram reconstruir, em curto prazo, to-
dos os meios de subsistência do país e
criar condições para derrotar as for-
ças armadas imperialistas alemãs.²⁶
Sem dúvida, os povos de todo o mundo devem
à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas a
derrota do nazi-fascismo e a libertação da huma-
nidade da ditadura hitlerista!

NOTAS
¹ELLEINSTEIN, Jean. História da URSS -. Vol III
57.000 prisioneiros de guerra alemães marcham (1939-1946). Portugal: Publicações Europa-
em Moscou em 17 de julho de 1944 América, 1976, p. 47.
os nazi-fascistas. No início da invasão, o Exército ² VALLAUD, Pierre. O Cerco de Leningrado. São
Vermelho tinha 5,4 milhões de homens Em fins de Paulo: Editora Contexto, 2012, p. 88.
agosto – apesar de enormes perdas – já contava ³ Idem, p. 88.
com 6,9 milhões e, ao findar o ano, chegou a 8 mi- ⁴ MINASIAN, M. e outros. La Gran Guerra Pa-
lhões de combatente. Espantado, Goebels afir- tria de La Union Sovietica, 1941-1945. Moscou:
mou: “Parece um milagre. Das amplas estepes rus- Progreso, 1975, p. 27.
sas surgem continuamente novas massas de pes- ⁵ Idem, p. 27.
soas e técnicos – como se um grande mágico os es- ⁶ ELLEINSTEIN, Jean. Idem, p. 62.
culpisse da argila dos Urais bolcheviques – e equi-
⁷ VALLAUD, Pierre, Idem, p. 41.
pamentos em qualquer quantidade.” ²⁵ Esse “gran-
⁸ IEREMEEV, Leonid. A União Soviética da Se-
de mágico” era o sistema socialista soviético!
Nessa luta titânica, as mulheres tiveram um gunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Editora
papel decisivo, sustentando a maior parte da pro- REVAN, 1985, p. 28.
dução e lutando no front como atiradoras de elite, ⁹ ELLEINSTEIN, Jean. Idem, p. 49.
aviadoras, tanquistas, guerrilheiras, médicas e en- ¹º VALLAUD, Pierre, Idem, p. 36.
fermeiras. Os trabalhadores faziam jornadas de ¹¹ Idem, p. 36.
12 a 18 horas para produzir armas, munições, rou- ¹² Idem, p. 124.
pas e alimentos para a luta. ¹³ Idem, p.134.
Certamente, não foi o “General Inverno”, como ¹⁴ JUKOV, G. K. Memórias e Reflexões - Tomo 2.
argumentam alguns, que derrotou a máquina de
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2016, p.
guerra nazista. Foi a luta titânica do povo soviéti-
537-538.
co! Só um país socialista, com uma economia
avançada, tecnologia de ponta, grande coesão in- ¹⁵ GALLO, Max. 1941 - o mundo em chamas. Rio
terna e líderes prestigiados poderia vencer – e ven- de Janeiro: Objetiva, 2015, p. 189.
ceu – um inimigo tão poderoso e cruel. ¹⁶ Idem, pp. 199-200.
Como afirmou o Marechal Jukov em suas Me- ¹⁷ Idem, p. 213.
mórias: ¹⁸ Idem, p. 74.
Não foi a chuva nem a neve que barra- ¹⁹ Idem, p. 81.
ram as tropas nazistas nas proximi- ²º Idem, p. 167.
dades de Moscou. Mais de um milhão ²¹ Idem, p. 323.
do grupamento das seletas forças ale-
²² Idem, p.497.
mãs despedaçaram-se contra a férrea
resistência, coragem e heroísmo das ²³ Idem, p. 487.
tropas soviéticas, cuja espinha dorsal ²⁴ STAHEL, David. A Batalha por Moscou. São
era a sua população, a capital e a pá- Paulo: Amarilys, 2015, p. 53.
tria. (...) não teríamos capacidade pa- ²⁵ JUKOV, G. K. Memórias e Reflexões - Tomo 1.
ra derrotar o inimigo se não contásse- Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2015, p.
mos com os experientes e admiráveis: 387.
partido de Lenin, sistema socialista, ²⁶ JUKOV, G. K., Idem, Tomo 2, pp. 48; 542.
política de Estado e as poderosas for-

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