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A guerra pôs todos os Estados participantes, mesmo os que por fim colheram a
vitória, sob uma tensão sem precedentes.
Alistamento: Em cada um dos países, uma elevada proporção da população
masculina apta a empunhar armas foi recrutada, no meio da guerra, para o serviço
militar. (A Inglaterra, que tinha começado a guerra com voluntários, adotou o
alistamento obrigatório em 1916.)
A produção de armas/novas tecnologias e construção de hospitais: O
armamento tinha de ser produzido em massa para dar aos soldados ferramentas
com que lutar. O Estado passou a patrocinar pesquisas de novas tecnologias e o
desenvolvimento de tipos novos de armas. O número de hospitais, enfermarias
improvisadas e centros de recuperação teve de ser ampliado enormemente a fim
de atender ao grande número de feridos e mutilados que voltavam da frente de
batalha.
A propaganda e a censura: O governo tinha de orquestrar a opinião pública e
manter o moral elevado por meio da propaganda e da censura oficiais, controlando
a disseminação de informações e exercendo influência direta ou indireta sobre a
imprensa.
Economia passou a ser quase totalmente sob controle estatal com controle
dos gastos públicos.
Elevação dos tributos + altos gastos com armamento: As despesas militares
por si só atingiram patamares nunca vistos perto do fim da guerra: 59% do produto
interno bruto alemão, 54% do francês, 37% do britânico (ainda que economias
menos desenvolvidas, como as da Rússia, da Áustria-Hungria ou do Império
Otomano, precisassem se haver com menos). Impuseram-se aos cidadãos tributos
novos ou mais elevados.
Empréstimos internacionais: A maior parte do custeio da guerra veio de
empréstimos. Os Aliados levantaram dinheiro principalmente junto aos Estados
Unidos. No entanto, à medida que a guerra se desenrolava, tornou-se impossível
para a Alemanha captar empréstimos no exterior, e o esforço de guerra teve de ser
financiado, cada vez mais, pelo aumento da dívida interna.
Aumento da máquina pública: serviços públicos nacionais aumentam.
Em toda parte, o Estado tinha de garantir o apoio principalmente da classe operária
industrial (que agora incluía grande número de mulheres, empregadas na indústria
de armamentos), cuja militância crescia de acordo com o agravamento das
condições materiais.
Na Inglaterra, na França e — até perto do fim da guerra — na Alemanha, os
trabalhadores foram apaziguados com aumentos de salários (em relação a outros
setores da sociedade), promessas para o futuro e concessões para facilitar a
formação de sindicatos.
Número de greves muito grande, sobretudo na Inglaterra e na Rússia.
Os bodes expiatórios e a criação de um ódio comum: À medida que
aumentavam o sofrimento e as dificuldades causados pela guerra, aparentemente
intermináveis, intensificava-se também a busca de bodes expiatórios. A
propaganda governamental insuflava ódios correntes. O ressentimento popular
voltava-se contra capitalistas e financistas, mas não se tratava simplesmente do
óbvio ódio de classe a quem lucrava com a guerra. Com pouca dificuldade, podia
ser transformado em ódio étnico. Os judeus eram cada vez mais caricaturados
como exploradores das massas trabalhadoras e encarnação do capital financeiro.
Imagem do judeu: imagem multifacetada do judeu não poderia ser mais
caricatural: inimigo da cristandade, explorador capitalista, insubmisso ao serviço
militar, fomentador de intranquilidade interna, força impulsora do bolchevismo.
Obra Os protocolos dos sábios de Sião. (P. 63)
A tentativa de propor uma normalidade: Estados tentaram manter seu sistema
político funcionando como antes da guerra, ou da maneira mais próxima
possível.“Business as Usual” — negócios como de costume — foi a palavra de
ordem criada por Winston Churchill num discurso de novembro de 1914 para
sublinhar a necessidade de manter a vida normal, sem se deixar perturbar pelas
hostilidades no exterior, que supostamente seriam breves.
As questões internas da Inglaterra nunca culminaram em uma revolução,
uma vez que a perspectiva de vitória mantinha a moral: O moral britânico foi
mantido, em boa medida, pela confiança de que o país não seria invadido, pela
perspectiva de vitória e pelas relativamente poucas privações materiais.
Tanto na Inglaterra como na França, a esquerda socialista, de modo geral,
continuou a apoiar o esforço de guerra. Em nenhum dos dois países viu-se uma
séria ameaça à legitimidade do Estado. A situação poderia ter sido diferente
também neles se a derrota se anunciasse próxima e as baixas passassem a ser vistas
como inúteis
Revolução na Rússia: Na Rússia, a realidade estava no outro extremo desse
espectro. Só nela houve uma revolução durante a guerra. Só nela a revolução
representou uma transformação de alto a baixo nas relações socioeconômicas e
nas estruturas políticas. E só nela a classe dominante foi inteiramente destruída
Tentativa de revolução na Rússia tinha falhado em 1905. Por ora, o regime
evitara sua própria queda. No decurso dos anos seguintes, as comunicações
melhoraram, a economia cresceu (nos anos que antecederam a guerra, a uma taxa
mais elevada que a dos Estados Unidos), a industrialização fez progressos
consideráveis e as receitas públicas cresceram. No entanto, o grande problema
continuava a ser a natureza esclerosada da autocracia tsarista. É possível que, sem
a guerra, os russos pudessem ter adotado mudanças que transformassem seu
regime numa monarquia constitucional. Contudo, isso parece improvável, devido
à resistência obstinada da classe dominante a uma mudança sistêmica e à extensão
da hostilidade arraigada e organizada (apesar da repressão) do operariado e do
campesinato à autocracia. Era mais provável uma revolução num futuro
indeterminado. No fim de 1916, ela parecia iminente. – pág. 64.
Cenário da Revolução de 1917 na Rússia: Muita gente estava à beira da fome.
Tudo isso enquanto uma minoria privilegiada lucrava com a guerra — o que era
fonte de grande ressentimento. Em janeiro de 1917, em Petrogrado (antes São
Petersburgo) e em outras cidades, ocorreram greves e manifestações de protesto
nas quais a indignação causada pelo aumento do custo de vida se somava a
sentimentos de oposição à guerra e ao governo tsarista.
Os trabalhadores elegeram sua própria forma de governo representativo, o soviete
(conselho em russo). A ordem desintegrou-se rapidamente. Os soldados também
elegeram sovietes que os representassem, exigindo a deposição do tsar. Quando
oficiais e políticos de destaque concluíram que o monarca deveria deixar o poder,
Nicolau ii assentiu e, em 15 de março, abdicou. Ele e sua família foram fuzilados
pelos bolcheviques em julho de 1918, e seus restos mortais só foram identificados
oitenta anos depois, após a extinção da União Soviética.
1917: A guerra havia gerado as condições para que a fúria inflamada voltada
contra o tsar e o sistema de domínio que ele representava, tido como responsável
pela miséria do povo, transcendesse, temporariamente, a divisão de interesses
entre trabalhadores urbanos e camponeses.
Mesmo depois da deposição do tsar e da criação do governo provisório de
“democracia revolucionária”, em março de 1917, a situação continuou muito
instável. A fluidez da situação nos meses seguintes e o prosseguimento de uma
guerra irremediavelmente perdida criaram o clima para uma segunda revolução,
bem mais radical.
Divisão do Partido Bolchevique: não era um fim em si, mas apenas o prelúdio
da construção de uma sociedade inteiramente nova. O Partido Bolchevique
nascera como facção do Partido Operário Social-Democrata Russo, que, fundado
em 1899, mais tarde cindira-se em duas alas: uma maior, revolucionária
(bolchevique) e outra menor, reformista (menchevique).
Maior gol contra da história: Alemães levam lenin para Petrogrado para minar
a situação local. Em julho, em meio à repressão dos bolcheviques pelo governo,
Lênin teve de se refugiar na Finlândia (parte semiautônoma do Império russo
desde 1809 que, depois da deposição do tsar, passou a pressionar mais e mais pela
independência). Entretanto, com a queda do governo, ele voltou a Petrogrado para
liderar a segunda revolução. (p.66)
Pg 66