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FICHAMENTO: KERSHAW, Ian. De volta do inferno: Europa, 1914-1949.

LOCAL: Editora Companhia das Letras, ANO.

CAPÍTULO 2: O GRANDE DESASTRE.


 Depois de 1914, nada voltaria a ser como antes. O que veio depois de agosto de
1914 foi uma nova era, muito mais terrível.

Uma tragédia se desvela.


 Das Menschenschlachthaus (O matadouro humano) e Tempestades de aço: Os
dois livros, o primeiro deles anterior e o segundo posterior ao conflito catastrófico,
captam aspectos do caráter essencial da guerra. Mais do que qualquer guerra até
então, aquele foi um conflito marcado pela mortandade em massa e
industrializada. Carne humana contraposta a máquinas de matar. Os soldados se
confrontavam com artilharia pesada, metralhadoras, fuzis de disparo rápido,
morteiros de trincheira, explosivos poderosos, granadas, lança-chamas e gases
venenosos
 As perdas colossais de vidas humanas eram aceitas já no planejamento de grandes
ofensivas. Granadas de artilharia e estilhaços eram os mais frequentes agentes de
morte no campo de batalha, mas milhares e milhares de soldados morriam de
ferimentos e doenças decorrentes das atrozes condições nas frentes de combate.
 Mudanças tecnológicas introduziram novass armas e métodos de matança
em massa que desenharam o rosto do futuro!!
 Uso de gases venenosos, tanques e submarinos tornaram-se armas importantes
contra os aliados.
 Além disso, o rápido desenvolvimento da tecnologia aeronáutica expôs os civis
nas cidades, bem como as forças combatentes nas frentes de batalha, à terrível
ameaça de bombardeios aéreos
 A propaganda: A propaganda de guerra usou os meios de comunicação de massa
para instilar ódio a povos inteiros. Os Estados envolvidos no conflito mobilizaram
sua população de maneiras antes desconhecidas. A imprensa francesa criou em
1917 a expressão “la guerre totale” para expressar o fato de que a frente de batalha
e a pátria estavam unidas no esforço de guerra.
 Mobilização de outros territórios: Além disso, ainda que a Europa fosse seu
epicentro, a guerra se tornou, pela primeira vez, um conflito verdadeiramente
global, que afetava todos os continentes. Em parte, isso foi um reflexo dos
impérios globais da Inglaterra e, principalmente, da França. Os dois países
mobilizaram seus territórios para a guerra.
 Como ocorre na maioria dos casos, foi mais fácil começar a guerra do que encerrá-
la. Muitas baixas logo no início da guerra! (p.46)
 Envolvimento da população civil no morticínio.
 As trincheiras: Tropas dos dois lados começaram a cavar trincheiras — no
começo, primitivas, mais tarde bem mais elaboradas. Não tardou para que essas
trincheiras formassem uma linha quase ininterrupta da costa do Canal da Mancha
às fronteiras da Suíça. Grandes quantidades de soldados tiveram de se ajustar a
uma existência indescritível nas trincheiras — atoleiros de lama infestados de
vermes, construídos em zigue-zague, protegidos por rolos enormes de arame
farpado, com trincheiras adjuntas que levavam a depósitos de suprimentos e
hospitais de campanha.
 As imensas perdas iniciais não persuadiram nenhuma das potências a tentar pôr
fim à guerra. Todas tinham enormes reservas de homens às quais recorrer.
 O colossal derramamento de sangue estava destinado a prosseguir
indefinidamente.
 Ataque aos judeus pelos russos. (p.44)
 Os austríacos tiveram de suportar outra derrota embaraçosa nas primeiras semanas
da guerra, e dessa vez não pelas mãos de outra “grande potência”, mas infligida
pelo país que esteve no âmago da crise que se transformou na guerra europeia —
a Sérvia. Foram derrotados na sua campanha para “punir” a Sérvia pelo
assassinato do arquiduque Francisco Fernando.
 Turcos x russos no mar negro. – Russos declaram guerra à Turquia (p.45)
 Turcos obtiveram um triunfo importante em 1915, ao desbaratar uma mal
planejada e inabilmente executada tentativa dos Aliados, instigada por Winston
Churchill, como Primeiro Lorde do Almirantado (na prática, ministro da Marinha
britânica): invadir a Turquia mediante o desembarque de uma grande força em
Galípoli, em Dardanelos, em abril daquele ano. – Defesa do próprio território.
 Turcos x Armênios + russos. – (p.45)
 Apesar da crescente superioridade numérica dos Aliados sobre o Exército alemão
na frente ocidental, não se via um fim para o impasse. Por isso, o chefe do Estado-
Maior alemão, Erich von Falkenhayn, que substituíra Moltke em setembro de
1914, depositou suas esperanças no leste. Segundo ele, obrigar os russos a chegar
a um entendimento era a chave para vencer a guerra na frente ocidental.
 No leste, porém, a Alemanha tinha de se confrontar com a fraqueza militar, cada
vez mais evidente, de seu principal aliado, a Áustria-Hungria.
 Para a Áustria, a situação piorou ainda mais quando, em 23 de maio de 1915, a
Itália entrou na guerra ao lado da Entente britânica, francesa e russa, abrindo uma
frente sul. Foi notável que, debilitados como estavam, os austro-húngaros
resistissem bem aos italianos.
 Enquanto isso, em fevereiro, os alemães infligiam sérias derrotas aos russos na
região dos lagos Masurianos, província da Prússia Oriental (com perdas russas de
92 mil homens) e, nos meses seguintes, na Polônia.
 Bulgária entra ao lado dos Aliados: No outono, as Potências Centrais também Comentado [BPC1]: Impérios Centrais ou Potências
fortaleceram sua posição nos Bálcãs. A Sérvia, a fonte inicial do conflito, foi Centrais é uma designação atribuída à coligação
formada entre a Alemanha e a Áustria-Hungria durante
finalmente invadida por divisões alemãs e austro-húngaras no começo de outubro. a Primeira Guerra Mundial, à qual se juntariam
A Bulgária, que havia entrado na guerra ao lado das Potências Centrais, um mês o Império Otomano e a Bulgária.
antes, também enviou forças para participar dessa campanha.
 Fortalecimento do lado alemão: No começo de novembro, a Sérvia estava sob
o controle das Potências Centrais, e com isso se obtivera uma rota terrestre para o
fornecimento de armas ao Império Otomano. Com a Rússia seriamente
enfraquecida, os Bálcãs sob controle e até os debilitados austríacos mantendo os
italianos imobilizados no sul, a Alemanha estava agora numa posição
substancialmente melhor do que um ano antes para tentar forçar uma vitória na
frente ocidental. Ainda assim, o tempo não trabalhava a seu favor. Uma ofensiva
para obter a vitória ali não podia demorar muito
 O plano de Falkenhayn consistia em dominar os franceses com um ataque de
grandes proporções em Verdun, centro de uma grande rede de fortificações à
margem do rio Mosa, mais ou menos duzentos quilômetros a leste de Paris. Uma
vitória devastadora sobre os franceses em Verdun, ele pensava, seria um passo
crucial para o triunfo definitivo no Oeste.
 Invasão de Verdun: Para os franceses, a defesa de Verdun tornou-se o símbolo
da luta pela própria França. As perdas foram colossais: mais de 700 mil homens
— 377 mil franceses (162 mil mortos) e 337 mil alemães (143 mil mortos). Mas
não houve uma penetração alemã. Para os franceses, o país havia sido salvo. Para
os alemães, as enormes perdas não tinham levado a nada. Em meados de julho, o
palco da maior carnificina já se transferira para o Somme.
 Se mais tarde Verdun veio a simbolizar o horror da guerra para os franceses, o
Somme adquiriu um significado igualmente simbólico na memória britânica.
 Para os britânicos, o Somme veio a simbolizar o despropósito daquele imenso
desperdício de vidas humanas.
 Na escala hedionda de suas perdas, e em troca de tão pouco, a batalha do Somme
foi a mais terrível da frente ocidental na Primeira Guerra Mundial.
 Outro embate importante (na parte oriental): Ofensiva Brusilov (p.48).
 Hindenburg e Ludendorff na Alemanha (p.48)
 A partir de 1 o de fevereiro de 1917, a Alemanha deu início a uma guerra
submarina irrestrita. Navios dos países Aliados ou neutros podiam agora ser
atacados em águas britânicas sem aviso prévio. Foi um erro catastrófico. Até
aquele momento, o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, que
buscava meios de consolidar a liderança americana no mundo do pósguerra,
desejara “paz sem vitória” e evitara empenhar o apoio de seu país a qualquer um
dos lados no destrutivo conflito europeu.
 A decisão alemã de desencadear a guerra submarina pôs um fim abrupto a essa
estratégia. Em dois dias, Wilson rompeu relações diplomáticas com a Alemanha.
O inevitável afundamento de navios americanos por submersíveis alemães
contribuiu para induzir os Estados Unidos a declararem guerra à Alemanha em 6
de abril de 1917
 Guerra submarina da Alemanha foi um fracasso. E, pior ainda, a Alemanha tinha
agora um novo e perigoso inimigo, os Estados Unidos.
 O impasse na frente ocidental prosseguiu durante 1917. Com seus recursos
humanos e materiais gravemente abalados, os alemães tomaram a decisão de
defender temporariamente o que controlavam. Na primavera, recuaram para uma
nova posição, mais facilmente defensável, que chamaram de Siegfried-Stellung;
para os Aliados, era a Linha Hindenburg. A linha, encurtada, tinha a vantagem
adicional de liberar cerca de vinte divisões alemãs. Com isso, os alemães estavam
em melhor posição para repelir as novas ofensivas Aliadas que sabiam que
estavam por vir.
 Ofensiva em Arras em 9 de abril – pág. 49.
 Várias ofensivas dos aliados contra os alemães nesse período.
 Tropas de todos os lados começavam a ficar frustadas, índices de deserção
aumentavam.
 Buscou-se uma solução em vão, uma paz mediante concessões estava fora de
cogitação. A vitória a qualquer custo ainda era o objetivo.
 O Exército alemão continuava disposto a lutar, e a reorganização da produção de
armamentos, que levou a um enorme aumento no suprimento de munição,
permitiu essa postura. E, justamente quando surgiam profundas fissuras políticas
na Alemanha, exausta com a guerra, e as manifestações pela paz se tornavam mais
veementes, surgiu uma nova esperança — não na frente ocidental, mas no leste.
 Revolução Russa de 1917: uma nova esperança — não na frente ocidental, mas
no leste. Na Rússia, a insatisfação que vinha crescendo havia meses na esteira das
enormes baixas na frente de batalha e das graves privações, cada vez piores, no
país, explodiu numa revolução em março (fevereiro, segundo o calendário juliano,
ainda utilizado no império) de 1917. O tsar foi deposto. O novo governo
provisório que assumiu o poder nessas condições de crise considerou que
precisava dar prosseguimento à luta, apesar do evidente desgaste das tropas, para
garantir uma “paz sem derrota”
 Em novembro (outubro no calendário juliano), caiu também o governo provisório,
numa segunda revolução que levou os bolcheviques ao poder. Em breve esse fato
alteraria radicalmente a constelação política da Europa. De imediato, prometia
mudar o futuro da guerra, pois em 20 de dezembro de 1917, cinco dias depois de
celebrar um armistício com os alemães, o novo governo bolchevique começou o
doloroso processo de negociar um tratado de paz.
 Esse foi o pano de fundo da declaração de 8 de janeiro de 1918 do presidente
Woodrow Wilson, em que expôs seus Catorze Pontos — um plano idealista que
julgava capaz de pôr fim à guerra e servir de base à paz duradoura na Europa.
Com o iminente fim do envolvimento russo na guerra, Wilson viu a oportunidade
de pressionar no sentido de um fim geral das hostilidades e de propor as bases de
uma negociação dos termos da paz.
 Propostas dos Estados Unidos – p.51.
 Apesar de sua aparente clareza, grande parte da declaração de Wilson era, como
não podia deixar de ser, indefinida, imprecisa e sujeita a interpretações díspares e
a polêmicas. Os termos “autodeterminação” e “democracia” não figuravam nos
Catorze Pontos, mas ambos passaram a ser vistos como a pedra angular da visão
liberal que ele estava propondo e como um estímulo para as aspirações
nacionalistas na Europa.
 Concluídas essas negociações, em 3 de março de 1918, em Brest-Litovski (na
atual Belarus), cidade onde ficara o quartel-general do Exército alemão no leste,
alguns dos termos impostos ao impotente governo soviético estavam entre os mais
punitivos e humilhantes da história moderna. Todavia, foram também os mais
efêmeros, pois o Tratado de Brest-Litovski foi anulado em novembro no
Armistício que pôs fim à Grande Guerra.
 Até então, a superioridade numérica de homens e armamentos na frente ocidental
sempre favorecera os Aliados, e as perdas alemãs tinham sido bem maiores na
frente ocidental que na oriental. Entretanto, a retirada da Rússia da guerra liberou
nada menos que 44 divisões alemãs, a serem transferidas para o oeste. Ludendorff,
que na prática governava a Alemanha, viu a oportunidade de uma vitória
conclusiva na frente ocidental com uma poderosa ofensiva na primavera de 1918.
A Operação Michael, centrada mais ou menos na linha do Somme, começou em
21 de março, antes que os americanos pudessem entrar na guerra, com a maior
barragem de artilharia do conflito, feita com 6600 canhões. Surpreendidas e
inferiorizadas numericamente, as tropas Aliadas foram obrigadas a recuar cerca
de 65 quilômetros, quase até Amiens. Entretanto, não houve colapso. O avanço
da infantaria alemã foi pequeno, em especial na parte norte da frente. As perdas
humanas foram altíssimas.
 Foi o começo do fim para a Alemanha. Em abril, uma ofensiva complementar em
Flandres, visando a capturar os portos belgas, também perdeu força depois de
êxitos iniciais. Apesar das perdas (outros 150 mil homens), os Aliados ainda
dispunham de reservas. Os alemães, porém, estavam recorrendo às suas últimas
filas, reunidas para ataques finais em antigas áreas de luta
 Em junho de 1918, as tropas americanas haviam se somado aos Aliados e estavam
chegando a um ritmo de 200 mil homens por mês.
 A essa altura, do ponto de vista militar, a Alemanha estava quase liquidada, mas
sua população não fazia ideia de que a derrota era iminente, pois o pior era
ocultado pela propaganda, que continuava a pregar uma paz que viria somente
depois da vitória.
 Hindenburg e Ludendorff se deram conta do que estava por acontecer e se
convenceram de que a paz deveria ser negociada antes que as tropas alemãs se
desintegrassem e a derrota militar se tornasse óbvia.
 A posição do Exército (e a deles próprios) no Estado se achava em risco.
Começaram a manobrar para escapar da culpa pela derrota iminente e passar a
responsabilidade pelas negociações para as forças políticas — sobretudo a
esquerda socialista
 O Exército alemão não fora derrotado no campo de batalha — as forças
socialistas, que fomentavam a intranquilidade no país, tinham “apunhalado pelas
costas” o esforço de guerra
 Nesse ínterim, os aliados da Alemanha entregavam os pontos, acuados por
deserções em massa, por sentimentos revolucionários em alta e pela derrota
militar, a que se somava a perspectiva de paz, cada vez mais tangível. Às portas
de uma derrota desmoralizante, já que as tropas da Entente avançavam
implacavelmente do sudoeste, prejudicadas pelas deserções generalizadas de seus
combatentes e em meio a exigências de conselhos de soldados e trabalhadores
criados em várias cidades e vilas provincianas, a Bulgária assinou um armistício
em 30 de setembro.
 Negociação da paz, Alemanha se rendendo: Nos primeiros dias de novembro,
com os exércitos das Potências Centrais em total desorganização e seus governos
em polvorosa, era evidente que o fim da grande conflagração se aproximava
rapidamente. Quando o regime do cáiser caiu, em 9 de novembro, e o novo
governo alemão deu mostras de sua disposição de aceitar os Catorze Pontos do
presidente Wilson como base para as negociações de paz, a guerra pôde enfim
terminar.
 Fim da Guerra: No dia 11, no quartel-general do marechal Foch, o supremo
comandante dos exércitos Aliados, na floresta de Compiègne, o político Matthias
Erzberger, do Partido do Centro Alemão (o católico Deutsche Zentrumspartei),
que encabeçava uma delegação alemã, firmou o Armistício que finalmente pôs
fim à luta. As armas silenciaram na última hora do último dia do último mês.
A vida durante a Guerra.
 É impossível fazer generalizações sobre as experiências dos milhões de soldados
que tiveram de suportar alguns ou todos aqueles quatro anos de inferno, mas cartas
trocadas entre os militares e seus parentes e amigos nos dão alguma ideia.
 Contudo, elas foram muito mais abundantes na frente ocidental que na oriental. E
com frequência ocultavam ou diluíam os sentimentos e as atitudes, uma vez que
tinham de passar por censores e muitas vezes procuravam não alarmar ou
preocupar os parentes que as leriam.
 Em grande medida, moldaram as posturas em relação à guerra, mas eram
influenciadas por índole, educação, patente, classe social, circunstâncias
materiais, tratamento pelos superiores, posições políticas, formação ideológica e
mil outros fatores.
 É difícil definir como foi passar pela guerra com exatidão.
 Indiferença com a morte? É difícil, por exemplo, saber com certeza como os
soldados eram afetados psicologicamente, na época ou depois, por conviver com
a presença constante e nauseante da morte. São inúmeros os indícios de que os
sentimentos rapidamente se embotavam.
 Havia, entretanto, sentimentos mais humanos. Estimulado pelo desejo de vitória
e consciente de que aquilo que via diante de si era sua “amarga e difícil tarefa”
 Sobre a morte do inimigo: Pouca piedade se sentia, naturalmente, pelos mortos
do inimigo. “O inimigo não passa de um obstáculo que tem de ser destruído”, foi
uma das muitas declarações coletadas pelo Instituto de Psicologia Aplicada em
Berlim.
 A batalha: Nem todos os soldados se sentiam brutalizados pela experiência de
guerra. Mas muitos, sim. Era uma mortandade brutal, mas despida de sentimentos.
A maior parte era causada por artilharia, metralhadoras, granadas ou outras armas
letais disparadas a certa distância, contra inimigos sem rosto.
 Pq entrar na guerra? / Proposito da guerra: Alguns, embora decerto uma
minoria, viam a guerra como um processo de limpeza para destruir o que julgavam
estar podre em sua própria sociedade. Um soldado alemão, que se rejubilara com
a declaração de guerra, escreveu a um conhecido, no começo de 1915, que os
sacrifícios na frente de batalha valeriam a pena se levassem a um país “mais puro
e expurgado de estrangeirismos [Fremdländerei]”. O mundo em breve ouviria
falar bastante dele. Seu nome era Adolf Hitler.
 A propaganda teve um papel primordial no processo de criação do ódio ao
inimigo.
 A estereotipagem nacional do inimigo contribuiu bastante para o processo de
criação de ódio. Em grande parte, esse trabalho já estava feito antes mesmo que a
guerra começasse. Quando teve início a luta, a propaganda reforçou em muito os
estereótipos, no país e na frente de batalha. De um lado e de outro, a propaganda
oficial procurava demonizar o inimigo e instilar o ódio, tanto nas tropas de
combate como na população nacional.
 A transmissão, pelo rádio, de acusações de atrocidades (reais ou imaginárias) era
um dos meios para isso. Os estereótipos muitas vezes funcionavam.
 Algumas tréguas: Houve períodos breves e não oficiais de trégua tácita, com
base em entendimentos mútuos informais e não anunciados, e casos de soldados
que, em patrulha, atiravam para errar o alvo de propósito. E houve indícios de
respeito mútuo entre soldados rasos pelas qualidades de combate de seus inimigos,
além de um senso de humanidade comum demonstrado num morticínio que
desafiava qualquer compreensão.
 Mesmo assim, seria conveniente não exagerar quanto a isso. Às vezes a
encaravam simplesmente como “matar ou ser morto”. De modo geral, aceitavam
o que tinham de fazer, não viam alternativa e pensavam, principalmente, em
superar aquilo e sobreviver.
 O medo, como a morte, era um companheiro constante na frente de batalha, por
mais que os soldados tentassem escondê-lo. O fatalismo que naturalmente o
acompanhava era também onipresente.
 O medo da mutilação: Muitos relatos mostram soldados com menos medo da
morte que de uma mutilação grave. De acordo com um estudo alemão, “Psicologia
do medo em tempo de guerra”, publicado em 1920, “imaginar ficar aleijado é
suficiente […] para tornar a morte desejável”.
 As condições dos exércitos: É claro que também no Exército britânico não
faltaram queixas e protestos contra as condições lamentáveis, a má alimentação,
as rações escassas, o treinamento pesado, a exaustão física e a arrogância dos
oficiais. A exigência de disciplina era alta em todas as forças de combate, e brutal
em algumas (sobretudo nas russas e italianas). A coerção se intensificou em todos
os exércitos na segunda metade da guerra, visando a neutralizar a queda no moral
das tropas.
 Exército alemão extremamente insatisfeito, sobretudo em 1918, mas já a
partir de 1916. (p.57)
 Moral estava ainda mais abalado em outros exércitos que lutavam na frente
oriental. Desde o começo do conflito, era frequente que tropas russas, austro-
húngaras e italianas acreditassem pouco na “causa” pela qual se dizia que estavam
lutando.
 Escassez de alimentos e outros recursos abalava a moral dos exércitos.
 Derrotismo e espionagem: O derrotismo — e a busca de bodes expiatórios e
traidores — ganhou ímpeto em 1916, com efeitos danosos sobre a frente de
batalha.
 O início da Revolução Russa: O chefe da comissão de censura militar em
Petrogrado observou, em novembro de 1916, que os boatos que chegavam às
tropas por meio das cartas de parentes “causam queda no moral dos soldados e
muita preocupação com a situação da família no país”. Já em 1916 se ouviam
exigências de paz, mesmo que incondicional. Quando da revolução de fevereiro
de 1917, a onda já se transformara em tsunami.
 No exército italiano as deserções aumentaram em grande escala.
 Questão étnica dentro do exército austro-húngaro: A falta de coesão nacional
foi um fator importante na dificuldade para manter o moral no Exército austro-
húngaro. Muitas vezes, os oficiais austríacos, germanófonos, tratavam com
desprezo os soldados de outras origens étnicas — croatas, romenos, servo-
bósnios, tchecos, italianos e outros.
 Na frente oriental, muito mais do que na ocidental (salvo na fase inicial do
conflito), os civis se viram envolvidos diretamente nos combates.
 Devastação de vilarejos na Polonia por exércitos russos, por exemplo.
 Tudo tinha começado num clima de otimismo em Dzików. Ordenada a
mobilização, em 1 o de agosto de 1914, os jovens correram para se alistar. A
população civil acolheu as tropas com entusiasmo quando desfilaram, cantando,
a caminho da frente de batalha, com o moral nas alturas. Havia a convicção geral
de que as Potências Centrais seriam vitoriosas, a guerra seria decidida em
território russo e seu resultado haveria de ser um novo Estado polonês.
 A questão dos judeus na Polônia (p.59) – animosidade contra os judeus: trabalhos
sob coerção.
 Sensação de que a Alemanha eu Áustria tinham traído a Polônia (1918).
 A guerra que havia começado com expectativas tão elevadas terminou nessa parte
da Polônia com intensas inimizades, conflito de classes, maior hostilidade contra
os judeus, quebra de autoridade, violência e desordens generalizadas. O incipiente
Estado da Polônia era tudo menos uma nação unida. Ao ser firmado o Armistício,
o país não tinha governo. Em 16 de novembro de 1918, quando se anunciou a
existência de um Estado polonês independente, seus esforços para definir suas
fronteiras e construir uma infraestrutura unificada estavam apenas começando.
 Mulheres na Guerra: Em toda parte, tanto na Europa Ocidental quanto na
Oriental, e malgrado as características diferentes da guerra nas duas frentes, a
população de cada país teve de suportar novas agruras, materiais e psicológicas,
durante o conflito. Couberam às mulheres os maiores esforços. Muitas tiveram de
se responsabilizar pelos trabalhos nas lavouras, ao mesmo tempo que cuidavam
de crianças e se preocupavam com o marido que lutava longe.
 Nas regiões industriais, foram obrigadas a realizar o serviço que antes era feito
por homens nas fábricas de armamentos ou a manter em funcionamento as redes
de transporte. Enfrentando a escassez de alimentos que só piorava e a disparada
dos preços, o medo constante delas era a batida na porta com a notícia de um ente
querido morto em ação,
 Conforme as tropas iam percebendo que a guerra estava sendo perdida, do
lado alemão, começavam a questionar as enormes perdas e sacrifícios: Por
outro lado, nos países em que a certeza da derrota crescia, a esperança minguava
e as baixas imensas (e cada vez maiores) passavam a ser vistas como inúteis, a
legitimidade do sistema político tido como responsável pela calamidade foi sendo
solapada até chegar a ponto de desmoronar. A expressão mais clara disso foi a
quantidade de deserções nos exércitos das Potências Centrais perto do fim da
guerra. Nos países em que a legitimidade era mais fraca, a guerra impôs um ônus
de tal monta a seus cidadãos que os regimes que a promoviam se viram cada vez
mais ameaçados pela insatisfação tanto da população civil como das tropas nos
campos de batalha.

O Estado sob Presso.

 A guerra pôs todos os Estados participantes, mesmo os que por fim colheram a
vitória, sob uma tensão sem precedentes.
 Alistamento: Em cada um dos países, uma elevada proporção da população
masculina apta a empunhar armas foi recrutada, no meio da guerra, para o serviço
militar. (A Inglaterra, que tinha começado a guerra com voluntários, adotou o
alistamento obrigatório em 1916.)
 A produção de armas/novas tecnologias e construção de hospitais: O
armamento tinha de ser produzido em massa para dar aos soldados ferramentas
com que lutar. O Estado passou a patrocinar pesquisas de novas tecnologias e o
desenvolvimento de tipos novos de armas. O número de hospitais, enfermarias
improvisadas e centros de recuperação teve de ser ampliado enormemente a fim
de atender ao grande número de feridos e mutilados que voltavam da frente de
batalha.
 A propaganda e a censura: O governo tinha de orquestrar a opinião pública e
manter o moral elevado por meio da propaganda e da censura oficiais, controlando
a disseminação de informações e exercendo influência direta ou indireta sobre a
imprensa.
 Economia passou a ser quase totalmente sob controle estatal com controle
dos gastos públicos.
 Elevação dos tributos + altos gastos com armamento: As despesas militares
por si só atingiram patamares nunca vistos perto do fim da guerra: 59% do produto
interno bruto alemão, 54% do francês, 37% do britânico (ainda que economias
menos desenvolvidas, como as da Rússia, da Áustria-Hungria ou do Império
Otomano, precisassem se haver com menos). Impuseram-se aos cidadãos tributos
novos ou mais elevados.
 Empréstimos internacionais: A maior parte do custeio da guerra veio de
empréstimos. Os Aliados levantaram dinheiro principalmente junto aos Estados
Unidos. No entanto, à medida que a guerra se desenrolava, tornou-se impossível
para a Alemanha captar empréstimos no exterior, e o esforço de guerra teve de ser
financiado, cada vez mais, pelo aumento da dívida interna.
 Aumento da máquina pública: serviços públicos nacionais aumentam.
 Em toda parte, o Estado tinha de garantir o apoio principalmente da classe operária
industrial (que agora incluía grande número de mulheres, empregadas na indústria
de armamentos), cuja militância crescia de acordo com o agravamento das
condições materiais.
 Na Inglaterra, na França e — até perto do fim da guerra — na Alemanha, os
trabalhadores foram apaziguados com aumentos de salários (em relação a outros
setores da sociedade), promessas para o futuro e concessões para facilitar a
formação de sindicatos.
 Número de greves muito grande, sobretudo na Inglaterra e na Rússia.
 Os bodes expiatórios e a criação de um ódio comum: À medida que
aumentavam o sofrimento e as dificuldades causados pela guerra, aparentemente
intermináveis, intensificava-se também a busca de bodes expiatórios. A
propaganda governamental insuflava ódios correntes. O ressentimento popular
voltava-se contra capitalistas e financistas, mas não se tratava simplesmente do
óbvio ódio de classe a quem lucrava com a guerra. Com pouca dificuldade, podia
ser transformado em ódio étnico. Os judeus eram cada vez mais caricaturados
como exploradores das massas trabalhadoras e encarnação do capital financeiro.
 Imagem do judeu: imagem multifacetada do judeu não poderia ser mais
caricatural: inimigo da cristandade, explorador capitalista, insubmisso ao serviço
militar, fomentador de intranquilidade interna, força impulsora do bolchevismo.
Obra Os protocolos dos sábios de Sião. (P. 63)
 A tentativa de propor uma normalidade: Estados tentaram manter seu sistema
político funcionando como antes da guerra, ou da maneira mais próxima
possível.“Business as Usual” — negócios como de costume — foi a palavra de
ordem criada por Winston Churchill num discurso de novembro de 1914 para
sublinhar a necessidade de manter a vida normal, sem se deixar perturbar pelas
hostilidades no exterior, que supostamente seriam breves.
 As questões internas da Inglaterra nunca culminaram em uma revolução,
uma vez que a perspectiva de vitória mantinha a moral: O moral britânico foi
mantido, em boa medida, pela confiança de que o país não seria invadido, pela
perspectiva de vitória e pelas relativamente poucas privações materiais.
 Tanto na Inglaterra como na França, a esquerda socialista, de modo geral,
continuou a apoiar o esforço de guerra. Em nenhum dos dois países viu-se uma
séria ameaça à legitimidade do Estado. A situação poderia ter sido diferente
também neles se a derrota se anunciasse próxima e as baixas passassem a ser vistas
como inúteis
 Revolução na Rússia: Na Rússia, a realidade estava no outro extremo desse
espectro. Só nela houve uma revolução durante a guerra. Só nela a revolução
representou uma transformação de alto a baixo nas relações socioeconômicas e
nas estruturas políticas. E só nela a classe dominante foi inteiramente destruída
 Tentativa de revolução na Rússia tinha falhado em 1905. Por ora, o regime
evitara sua própria queda. No decurso dos anos seguintes, as comunicações
melhoraram, a economia cresceu (nos anos que antecederam a guerra, a uma taxa
mais elevada que a dos Estados Unidos), a industrialização fez progressos
consideráveis e as receitas públicas cresceram. No entanto, o grande problema
continuava a ser a natureza esclerosada da autocracia tsarista. É possível que, sem
a guerra, os russos pudessem ter adotado mudanças que transformassem seu
regime numa monarquia constitucional. Contudo, isso parece improvável, devido
à resistência obstinada da classe dominante a uma mudança sistêmica e à extensão
da hostilidade arraigada e organizada (apesar da repressão) do operariado e do
campesinato à autocracia. Era mais provável uma revolução num futuro
indeterminado. No fim de 1916, ela parecia iminente. – pág. 64.
 Cenário da Revolução de 1917 na Rússia: Muita gente estava à beira da fome.
Tudo isso enquanto uma minoria privilegiada lucrava com a guerra — o que era
fonte de grande ressentimento. Em janeiro de 1917, em Petrogrado (antes São
Petersburgo) e em outras cidades, ocorreram greves e manifestações de protesto
nas quais a indignação causada pelo aumento do custo de vida se somava a
sentimentos de oposição à guerra e ao governo tsarista.
 Os trabalhadores elegeram sua própria forma de governo representativo, o soviete
(conselho em russo). A ordem desintegrou-se rapidamente. Os soldados também
elegeram sovietes que os representassem, exigindo a deposição do tsar. Quando
oficiais e políticos de destaque concluíram que o monarca deveria deixar o poder,
Nicolau ii assentiu e, em 15 de março, abdicou. Ele e sua família foram fuzilados
pelos bolcheviques em julho de 1918, e seus restos mortais só foram identificados
oitenta anos depois, após a extinção da União Soviética.
 1917: A guerra havia gerado as condições para que a fúria inflamada voltada
contra o tsar e o sistema de domínio que ele representava, tido como responsável
pela miséria do povo, transcendesse, temporariamente, a divisão de interesses
entre trabalhadores urbanos e camponeses.
 Mesmo depois da deposição do tsar e da criação do governo provisório de
“democracia revolucionária”, em março de 1917, a situação continuou muito
instável. A fluidez da situação nos meses seguintes e o prosseguimento de uma
guerra irremediavelmente perdida criaram o clima para uma segunda revolução,
bem mais radical.
 Divisão do Partido Bolchevique: não era um fim em si, mas apenas o prelúdio
da construção de uma sociedade inteiramente nova. O Partido Bolchevique
nascera como facção do Partido Operário Social-Democrata Russo, que, fundado
em 1899, mais tarde cindira-se em duas alas: uma maior, revolucionária
(bolchevique) e outra menor, reformista (menchevique).
 Maior gol contra da história: Alemães levam lenin para Petrogrado para minar
a situação local. Em julho, em meio à repressão dos bolcheviques pelo governo,
Lênin teve de se refugiar na Finlândia (parte semiautônoma do Império russo
desde 1809 que, depois da deposição do tsar, passou a pressionar mais e mais pela
independência). Entretanto, com a queda do governo, ele voltou a Petrogrado para
liderar a segunda revolução. (p.66)
 Pg 66

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