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César Henrique de Queiroz Porto

Simone Narciso Lessa

História
Contemporânea II

Montes Claros/MG - 2012


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Guilherme Victor Nippes Pereira
Autores
César Henrique de Queiroz Porto
César Henrique de Queiroz Porto
Graduado em História pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes.
Mestrado em História pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.
Doutorando em História pela USP.
Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Montes Claros –
UNIMONTES/MG.

Simone Narciso Lessa


Graduada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Mestrado
e Doutorado em História pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP.
Pós-Doutorado em Saneamento e Ambiente pela UNICAMP.
Professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Montes
Claros–UNIMONTES. Professora das pós-graduações Stricto Sensu em História–PPGH
e em Desenvolvimento Social–PPGDS na UNIMONTES e em Saneamento e Ambiente
na Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo-FEC da UNICAMP.
História - História Contemporânea II

Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

UNIDADE 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
A era da catástrofe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.2 Primeira Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

1.3 Revolução Russa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

1.4 Rumo ao abismo econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

1.5 Totalitarismo: uma face da modernidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

1.6 Segunda Guerra Mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

UNIDADE 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
O Mundo Bipolar e a Guerra Fria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

2.2 O mundo bipolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

2.3 Os Campos de Conflitos da Guerra Fria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

UNIDADE 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Da nova ordem mundial à era das incertezas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

3.2 A Globalização e a Nova Ordem mundial – Globalização e neoliberalismo . . . . . . . . 98

3.3 A nova organização territorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

3.4 Outras crises . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

Atividades de Aprendizagem (AA) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

7
História - História Contemporânea II

Apresentação
Olá, acadêmico!

O período sobre o qual falaremos, neste caderno, é um momento fundamental para a com-
preensão da história da sociedade do mundo ocidental. O “Breve” Século XX, que assinalou im-
portantes transformações na vida do povo, em todas as suas dimensões, assentou boa parte dos
valores que ainda balizam a contemporaneidade. O objetivo do texto é mostrar para você a di-
nâmica desse período, compreendendo as duas Guerras Mundiais e a Guerra Fria, que mudou as
instituições políticas e econômicas, estruturando as da forma como as conhecemos. Além disso,
ao longo desse recorte temporal, ocorrem revoluções que alteram os padrões morais, éticos, cul-
turais e sociais. O período pelo qual propomos nossa jornada compreende o século XX embora
os processos que culminaram nos grandes eventos econômicos, políticos e sociais tenham ante-
cedentes que são encontrados, ainda, em fins do século XIX.
Esta disciplina foi organizada em três unidades: a primeira trata do período que vai do início
da Primeira Guerra Mundial (1914) ao final da Segunda Guerra Mundial (1945), passando pela Re-
volução Russa, Crise de 1929 e Regimes Totalitários. Esse período é denominado, pelo historiador
Eric Hobsbawm, como a “Era da Catástrofe, denominação adotada aqui, na primeira parte deste
caderno. A segunda unidade compreende o tema Guerra Fria, destacando, também, os conflitos
chamados de “Guerras Quentes”, na Ásia e África, e o desmoronamento do socialismo na década
de 1980. A terceira e última parte, por fim, trata do mundo globalizado, que emerge com o fim
da Guerra Fria, e seus problemas atuais.
Essas unidades são subdivididas em subunidades para facilitar a leitura e a discussão, con-
forme você verá, em seguida. Você deverá ficar atento e não desprezar o desafio das questões
para discussão e reflexão. Elas são importantes e acompanham o texto. Outro aspecto importan-
te são as sugestões para transitar do ambiente de aprendizagem aos chats, fóruns e acesso às
bibliotecas virtuais na Web. As sugestões e dicas estão localizadas junto aos textos.

Então? Vamos lá? Espero que aprecie! Bons estudos!

Os autores.

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História - História Contemporânea II

UNIDADE 1
A era da catástrofe
César Henrique de Queiroz Porto

1.1 Introdução
Eric Hobsbawm, historiador inglês, analisa a história do século XX, em sua obra Era dos Extremos
(1995, p. 15), propondo uma estrutura que divide boa parte do período compreendido entre 1914 e
1991, em três partes: uma “Era da Catástrofe”, uma “Era de Ouro” e a última parte, que traz, novamente,
crises, incertezas e catástrofes (esta, principalmente, para algumas regiões do globo).


A “Era da Catástrofe” se inicia com o ad- do século XX. Esse foi, também, um momen- Figura 1: Imagens do
vento da Primeira Grande Guerra Mundial que, to marcado por ironias, como, por exemplo, século XX.
entre outras coisas, assinala o colapso da civi- a estranha aliança entre o comunismo e o ca- Fonte: Disponível em:
<http://diretodeplutao.
lização ocidental que emergiu no século XIX a pitalismo na guerra, possibilitando a derrota blogspot.com/2010/12/
partir do continente europeu e que, por isso, é do fascismo, o que, para Hobsbawm, consti- quinze-pessoas-imortais-
o marco inicial do chamado “Breve Século” – tuiu o ponto decisivo da história contemporâ- -do-seculo-xx.html>. Acesso
em 25 set. 2011.
como ele denomina o século XX. Esse período, nea (HOBSBAWM, 1995, p. 17). A tese central
que durou mais de trinta anos, é marcado por de Hobsbawm em A Era dos Extremos, para
uma série de calamidades que se abateram esse período, é que as duas primeiras guerras
sobre o mundo, destacando-se, dentre elas, equivalem-se a apenas um conflito, nascido de
a guerra generalizada e a crise econômica, uma conjuntura em que as nações não mais
cujos impactos configurariam todo o restante poderiam evitá-lo e mediado por interesses

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UAB/Unimontes - 8º Período

ilimitados. Ou seja, as duas mais avassalado- vras, de 1815 até a eclosão da Primeira Grande
ras guerras do século XX são compreendidas Guerra, nenhuma grande potência combateu
como uma “guerra de 31 anos”, em meio a outra, fora de sua região imediata (HOBSBA-
qual uma série de fatos históricos foi impres- WM, 1995, p. 31).
cindível para definir a sua memória. A partir de 1914, as guerras foram, inques-
Esta unidade contempla o período que vai tionavelmente, “guerras de massa”, envolven-
da Primeira Guerra Mundial (1914) até o final da do um grande nível de mobilização humana.
Segunda Grande Guerra, em 1945. Você vai per- Tais guerras fortaleceram a força de trabalho
ceber que, acima de tudo, trata-se de uma época e favoreceram a ascensão das mulheres ao tra-
de catástrofes, daí a periodização proposta por balho (HOBSBAWM, 1995, p. 51), pois exigiam
Hobsbawm se revelar uma referência interes- uma produção em massa de armamentos e
sante para esta parte do caderno, pois abarca a equipamentos. A guerra se torna um comple-
guerra como o traço fundamental deste século xo industrial que movimenta enormes quanti-
de grandes transformações. dades de recursos, tornando-se, muitas vezes,
O período pós 1914, Primeira Guerra Mun- uma atividade econômica lucrativa. Os gover-
dial, não apresentou continuidade com o an- nos passam a investir no planejamento eco-
terior, pois a época compreendida entre 1871- nômico, como forma de preparação das eco-
1914 é caracterizada pela ausência de grandes nomias para travar as guerras. Por outro lado,
conflitos internacionais (HOBSBAWM, 1995, p. o preço cobrado em vítimas era enorme. As
30). A maioria das guerras que envolveram as duas grandes guerras produziram o extermí-
grandes potências foi rápida e restrita a de- nio de milhões de pessoas, entre civis e com-
terminadas áreas localizadas. Em outras pala- batentes, inaugurando a era do massacre.

Figura 2: artilharia ►
belga contra forças
alemãs no início da
guerra.
Fonte: Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/
historia/primeira-grande-
-guerra-mundial/1914-
-agosto-comeca-guerra/
explosao-guerra-assas-
sinato-arquiduque-fran-
cisco-ferdinando.shtml>
acesso em 23 ago. 2011.

1.2 Primeira Guerra Mundial


Disputas e rivalidades entre as potências manha e Áustria-Hungria. Ao final da guerra,
imperialistas levaram à formação de sistemas tratados de paz, dentre eles o de Versalhes – o
de alianças militares, acarretando o quadro mais importante – reformularam as fronteiras
que gerou a Primeira Grande Guerra Mundial. políticas, mas deixaram uma trilha de ódio e
Os países da Entente, fortalecidos pela entra- ressentimentos que vão estar na origem dos
da dos Estados Unidos ao seu lado no confli- problemas que desembocarão na 2ª Guerra
to, derrotaram os “Impérios Centrais” da Ale- Mundial.

12
História - História Contemporânea II

1.2.1 Aspectos determinantes para a 1ª Guerra Mundial

A partir do final do século XIX, tem início petição” (HOBSBAWM, 2005, p. 427) desenfre-
uma corrida armamentista que se expande, ada que empurrou o mundo à Grande Guerra.
particularmente, nos anos anteriores à guerra. A conjuntura internacional se deteriorava,
Esse esforço de produção de material bélico progressivamente, escapando, cada vez mais, do
foi seguido pelo aumento dos gastos das na- controle dos governantes de uma Europa dividi-
ções europeias, o que, inevitavelmente, acarre- da em dois blocos, que, de início, eram destina-
tou o aumento de impostos. No entanto, como dos à manutenção de um frágil equilíbrio de paz.
Hobsbawm argumenta, a Primeira Grande O problema é que os dois sistemas de aliança se
Guerra não foi produto, pura e simplesmente, tornavam permanentes e divididos por disputas,
da corrida armamentista, apesar do acúmulo que se transformaram em confrontos sem ne-
de armamentos dos principais países da Euro- nhuma possibilidade de administração. A grande
pa. Foi, acima de tudo, a evolução da “situação questão é: por que as disputas evoluíram para
internacional que levou as nações a essa com- confrontos inadministráveis?

◄Figura 3: Mapa europeu


em 1914 e a divisão das
forças durante a guerra.
Fonte: Disponível em:
<http://www.culturabrasil.
pro.br/primeiraguerra-
mundial.htm> acesso em
23 ago. 2011.

França e Alemanha eram separadas pela ça, Inglaterra, Áustria) Estados Nacionais, à
questão da Alsácia-Lorena, decorrente da expansão imperialista, ao conflito e à guerra”
derrota da França para a Prússia – futura Ale- (HOBSBAWM, 2095, p. 437). Assim sendo, à me-
manha, em 1871, na Guerra Franco-Prussiana, dida que a Alemanha recém-unificada experi-
e palco de disputa das duas potências pela mentou um notável crescimento econômico,
grande quantidade de carvão mineral. Em tor- um crescente antagonismo anglo-germânico
no dessas duas potências foram construídas tomou forma, o que, inevitavelmente, empur-
as alianças. Os russos, que tinham interesse rou a Grã-Bretanha para o bloco Franco-Russo,
nos Bálcãs, foram forçados a se aproximar dos formando, então, a “Tríplice Entente”, em 1907.
franceses, principalmente porque a Áustria, a Para piorar o quadro dessa realidade, ain-
nação mais envolvida nos territórios balcâni- da em fins do século XIX, os alemães decidi-
cos – tendo conquistado a Bósnia-Herzegovi- ram construir uma grande esquadra de guer-
na, em 1878 – tinha assinado com o Império ra, reforçando suas pretensões a uma futura
Alemão e a Itália a “Tríplice Aliança”, em 1882. hegemonia imperial. Da perspectiva inglesa,
Por outro lado, como Hobsbawm cha- uma Alemanha que já era uma potência global
mou a atenção, “o desenvolvimento do capi- poderia ameaçar a tradicional hegemonia bri-
talismo empurrou o mundo inevitavelmente tânica nos mares. Não podemos nos esquecer
em direção a uma rivalidade entre os Novos disto: os ingleses, desde o século XVIII, haviam
(Itália, Alemanha, Américas) e os Velhos (Fran- consolidado a base de seu poderio na mari-

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UAB/Unimontes - 8º Período

Para saber mais nha, cuja armada era o principal instrumento dessa potência era, visivelmente, dependente
Em 1871, a França, ao do expansionismo inglês, sendo, diretamente, de seus territórios e possessões coloniais. Por-
tentar conter o expan- responsável pela formação do poderoso Impé- tanto, não é de se espantar que a Inglaterra
sionismo germânico, rio Britânico, que incluía vastos territórios em considerasse a Alemanha o mais provável epo-
é derrotada na guerra três continentes. Esse Império era vital para o têncial perigoso adversário.
Franco-Prussiana, abastecimento da Inglaterra, pois a economia
sendo obrigada a ceder
à Alemanha a região
da Alsácia-Lorena,
área rica em carvão e
minério de ferro. Desde
então, cresce, entre os
franceses, um movi-
mento revanchista para
recuperar o território
cedido e “se vingar” da
Alemanha.

Fonte: http://www.
professoronline.ac.mz/
historia/primeirag.htm
◄ Figura 4: Caricatura
francesa do Kaiser
Wilhelm II [em língua
portuguesa, Imperador
Guilherme II], da
Glossário Alemanha, tentando
Imperialismo: Forma comer o mundo.
política, ou prática Fonte: Disponível em:
exercida por um <http://novahistorianet.
Estado, que visa à blogspot.com/2009/01/
expansão, ou pela primeira-guerra-mun-
submissão econômi- dial-1914-1918.html>
acesso em 23 ago. 2011.
ca, política e cultural
de outros Estados ou
pelo domínio terri-
torial, estendendo
seus domínios e/ou
autoridade aos países
estrangeiros. (Para
saber mais sobre
imperialismo, veja:
HOBSBAW, Eric. A Era
dos Impérios: 1875 –
1914. São Paulo: Paz
e Terra, 2009).

Sendo assim, o sistema de blocos termi- Estado eslavo independente. O assassinato do


nou por levar as potências europeias a uma Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do
situação de maior inflexibilidade que, à medi- Império Austro-Húngaro, por um estudante
da que as crises internas desses países encon- sérvio nacionalista, em 28 de junho de 1914,
travam, na situação externa, uma “válvula de na cidade de Sarajevo, foi o estopim para o iní-
escape”, a perspectiva da guerra parecia cada cio do conflito. O imperador da Áustria-Hun-
vez mais próxima. Falando a respeito dessa gria, Francisco José, após três semanas, enviou
perigosa conjuntura representada pela fusão um ultimato à Sérvia, no qual deixava implícita
de crises internas e internacionais, Hobsbawm a acusação de envolvimento do governo sér-
explica que muitos países que enfrentavam vio no crime e enumerava uma série de exi-
problemas internos, praticamente insolúveis, gências, visando reforçar a soberania Aus-
sentiam-se tentados a apostar na solução pro- tro-Húngara nos Bálcãs. Apesar de o governo
piciada por um triunfo externo (HOBSBAWM, sérvio aceitar boa parte das exigências, Viena
2005, p. 444). declara guerra, no dia 28 de julho de 1914,
Particularmente explosiva era a situação causando um efeito dominó na Europa, pois o
da política balcânica, pois o Império Austro sistema de alianças mergulha os países euro-
-Húngaro temia a agitação dos eslavos do sul, peus na guerra.
tentados pelo exemplo da Sérvia, que era um

14
◄ Figura 5: Gravura
da representação
do assassinato do
Arquiduque Francisco
Ferdinando, utilizada
nos jornais.
Fonte: Disponível em:
<http://www.curso-obje-
tivo.br/vestibular/roteiro_
estudos/seculo_20.aspx >
acesso em 25 set. 2011.

1.2.2 O desenrolar da guerra Para saber mais


Em 1917, a Rússia se
Assim, o sistema de alianças arrasta os pa- te, o avanço germânico é detido perto de Paris. retirou da guerra, devi-
do ao conflito civil que
íses europeus para a Primeira Guerra Mundial, A partir daí, a frente ocidental se transforma em eclodiu em seu territó-
que envolveu todas as grandes potências mun- um impasse e a guerra de trincheiras se torna a rio - a Revolução Russa.
diais, chegando, inclusive, a abarcar tropas de ul- tônica desse front (HOBSBAWM, 1995, p. 33); por Em geral, os soldados
tramar. Esse conflito inaugurou, também, a “era outro lado, na frente oriental, a guerra de movi- beligerantes acredita-
do massacre”. O império alemão se viu envolvi- mento continuou até a derrota russa e saída des- vam que o conflito ge-
neralizado seria rápido,
do em uma guerra de duas frentes: no ociden- se país da guerra, em 1917. findando antes mesmo
do natal de 1914. O Bra-
sil participou, apenas
de forma indireta, nos
acontecimentos da Pri-
meira Guerra Mundial,
enviando remédios
e alimentos para os
combatentes.
historia/primeirag.htm

◄ Figura 6: Charge
representando o mapa
europeu em 1914.
Fonte: Disponível em:
<http://blog-giana.blogs-
pot.com/2010/04/charge-
-primeira-guerra-mundial.
html> acesso em 23 ago.
2011.

15
UAB/Unimontes - 8º Período

Para saber mais Ambos os lados tentaram vencer a guerra -se de recursos, praticamente, ilimitados em
Na Primeira Guerra pelo uso da tecnologia. Tanques, aeroplanos armas, matérias-primas e homens, garantiu
Mundial, novos arma- e dirigíveis, bem como a guerra química, fize- a vitória da Entente (HOBSBAWM, 1995, p. 36).
mentos, como a metra- ram a sua entrada no cenário bélico. Aparece, As potências centrais, além de derrotadas, so-
lhadora, o tanque e o também, a guerra submarina, recurso levado freram com a ameaça de revolução social por
submarino, surgiram, adiante pelos alemães e que vai forçar a entra- parte das massas.
e novas técnicas de
combate, como o uso da dos E. U. A. na guerra. Esse país, utilizando-
das trincheiras, foram
empregadas; cerca de
13 milhões de pessoas Figura 7: Tropas em movimento, na fase de
foram mortas e outras guerra de movimentação.
20 milhões foram feri- Fonte: Disponível em: <http://primeira-guer-
das. Ela foi anunciada ramundial.blogspot.com/2011/05/causas-da-
como a “Guerra para -primeira-guerra-mundial.html> acesso em: 23
terminar com as guer- ago. 2011.
ras”, entretanto, vinte e
um anos depois, surgia
a 2ª Guerra Mundial.

Fonte: Disponível em:


<http://primeira-guer-
ramundial.blogspot.
com/search?updated-
min=2011-01-
01T00%3A00%3A00-
08%3A00&updated-
max=2012-01-
01T00%3A00%3A00-
08%3A00&max-re-
sults=20> acesso em 23
ago. 2011.

A batalha de Verdun,
ocorrida entre 21
de Fevereiro a 18 de
Dezembro de 1916, em
Verdun, na França, foi
a mais longa batalha
da Primeira Guerra
Mundial e, também, a Esse conflito teve sérias implicações para que incorporou territórios da Hungria (Tran-
segunda mais sangren- o imaginário europeu, tendo, como resultado silvânia); e os novos Estados multinacionais da
ta, após a batalha do mais dramático, um grande número de mor- Iugoslávia e da Tchecoslováquia foram criados.
Somme, fazendo cerca
de 260 000 mortos tos, o que acarretou um trauma profundo na Os Estados Unidos se retiraram das nego-
entre os beligerantes mentalidade geral europeia. O Tratado de Ver- ciações de Versalhes, e as potências vitoriosas
(França e Alemanha). salhes, que se seguiu ao final da guerra, reor- isolaram a Rússia Bolchevique. Foi criada, ain-
denou o mapa europeu: uma paz punitiva foi da, uma Liga das Nações, com a finalidade de
Fote: Disponível em: imposta ao povo germânico, pois a Alemanha, tentar manter a paz mundial. Entretanto, esse
<http://primeira-guer-
ramundial.blogspot. tendo sido responsabilizada pela guerra, so- organismo nasceu esvaziado, pois não contava
com/search?updated- freu as maiores punições, sendo duramente com a participação dos Estados Unidos nem
min=2011-01- enfraquecida; a Áustria foi separada de seus da União Soviética e, muito menos, da derrota-
01T00%3A00%3A00- domínios imperiais e reduzida a um pequeno da Alemanha. Diante disso, a Liga das Nações
08%3A00&updated- Estado, sem saída para o mar; surge uma Hun- fracassará em seu intento de manutenção da
max=2012-01-
01T00%3A00%3A00- gria independente, porém, bastante limitada paz. Para Hobsbawm, “Qualquer chance que
08%3A00&max-re- em termos de extensão territorial, pois per- tivesse a paz, foi torpedeada pela recusa das
sults=20> acesso em 23 deu, praticamente, dois terços de seu território potências vitoriosas a reintegrar as vencidas”
ago. 2011. e de população; surgiu, também, a Romênia, (HOBSBAWM, 1995, p. 42).

16
História - História Contemporânea II

◄ Figura 8: Mapa da
Europa, após a Primeira
Guerra Mundial.
Fonte: Disponível em:
<http://www.culturabrasil.
pro.br/primeiraguerra-
mundial.htm> acesso em
23 ago. 2011.

BOX 1

A Vida nas Trincheiras

Antes que a Primeira Guerra Mundial acontecesse, as várias nações envolvidas nesse conflito
se preparavam com uma opulenta tecnologia militar. Assim, quando a “Grande Guerra” eclodiu,
em 1914, o tempo de movimentação das tropas durou muito pouco tempo. Estava claro que am-
bos os lados eram, belicamente, poderosos e que o menor avanço territorial só aconteceria ao
custo de milhares de vidas.
Dessa forma, os soldados de ambos os lados passaram a cavar trincheiras de onde tenta-
vam, ao mesmo tempo, se proteger e atacar. Geralmente, uma trincheira era aberta pela tropa e
contava com cerca de 2,30 metros de profundidade, por dois metros de largura. No ponto mais
alto, eram colocados sacos de areia e arames farpados que protegeriam os soldados das balas e
dos estilhaços das bombas. Além disso, um degrau interno chamado fire step permitia a observa-
ção dos inimigos.

◄ Figura 9: A vida nas


trincheiras mostra uma
das mais terríveis faces
da Primeira Guerra
Mundial.
Fonte: Disponível em:
<http://www.brasilescola.
com/historiag/a-vida-nas-
-trincheiras.htm> acesso
em 23 ago. 2011.

17
UAB/Unimontes - 8º Período

Para que as tropas inimigas não conseguissem conquistar uma trincheira em um único
ataque, os soldados tinham o cuidado de não construí-las em linha reta. Trincheiras auxiliares e
perpendiculares também eram construídas para que o tempo de reação a um ataque fosse am-
pliado. Apesar da proteção, uma bomba certeira ou uma rajada de tiros oportuna poderia deixar
vários soldados feridos. As mortes repentinas e os ataques inesperados eram constantes.
Além do poder das armas, a própria trincheira era outra inimiga para os soldados que se
amotinavam naquele espaço insalubre. Os mortos que se acumulavam nas trincheiras eram um
grande chamariz para os ratos que se alimentavam da carne pútrida dos corpos. Entre as doen-
Glossário ças, usualmente, contraídas nas trincheiras se destacavam a “febre de trincheira”, reconhecida por
Trincheira: Escavação fortes dores no corpo e febre alta, e o “pé de trincheira”, uma espécie de micose que poderia re-
feita no solo de forma sultar em gangrena e amputação.
irregular, no sentido Entre duas trincheiras inimigas ficava a chamada “terra de ninguém”, onde arame farpado e
longitudinal, que corpos em decomposição eram bastante recorrentes. A presença naquele território era bastante
permitia aos soldados
beligerantes a movi- arriscada e só acontecia pelo uso de frentes muito bem armadas. Geralmente, um soldado assu-
mentação da tropa e mia várias funções no campo de batalha, tendo suas forças utilizadas para o combate, a manu-
o tiro ao inimigo de tenção das tropas, o apoio reserva e nos terríveis dias que passavam na própria trincheira.
forma protegida. As Mais que uma simples estratégia militar, as trincheiras representavam intensamente os hor-
trincheiras possuíam rores vividos ao longo da Primeira Guerra Mundial. Submetidos a condições de vidas extremas,
várias curvas e níveis
para dificultar a con- milhares de soldados morreram em prol de um conflito em que a competição imperialista era
quista das mesmas sua razão maior. Pela primeira vez, a capacidade dos homens matarem atingiu patamares que
por tropas inimigas. abalavam aquela imagem de razão e prosperidade que justificava o capitalismo monopolista.

Fonte: SOUSA, Rainer. A vida nas trincheiras. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiag/a-vida-nas-trin-


cheiras.htm> acesso em 23 ago. 2011.

Dica
Conforme já apontamos, caro acadêmi- foi devolvida. A região da Renânia foi desmili-
Acesse a seção “Veja
na História”, na Veja co, a Alemanha foi punida pelos vencedores, tarizada. A marinha de guerra alemã foi afun-
On-line 1ª Guerra sendo responsabilizada pela guerra e arcando dada pelos próprios alemães, que preferiram
Mundial, disponível com pesadas indenizações. Entretanto, em sua se desfazer de sua armada a ter que entregá-la
em: <http://veja.abril. essência, o Tratado de Versalhes era composto aos vitoriosos. O exército alemão foi limitado
com.br/historia/pri-
por 14 pontos propostos pelo presidente esta- a uma força restrita de cem mil homens. Seu
meira-grande-guerra-
-mundial/1914-agosto- dunidense Wilson. Ele se baseava na ideia da império colonial, que se restringia a poucos
-comeca-guerra/ paz sem vencedores, logo se esse princípio ti- territórios, foi dividido entre a França e a Ingla-
indice.shtml> Fatos vesse sido respeitado, teria produzido um tra- terra. Portanto, como se pode ver, não é de se
de 1914; <http://veja. tado sem uma característica, intrinsecamente, estranhar que as sementes da futura Segunda
abril.com.br/historia/
punitiva. Isso foi inviabilizado pelos acordos Grande Guerra já tivessem sido plantadas, ain-
primeira-grande-
-guerra-mundial/1915- paralelos e pelas pressões francesas e inglesas, da sob os auspícios dos acordos de paz que fi-
-abril-batalha-galipoli/ que levaram os Estados Unidos a se retirarem nalizaram a Primeira.
indice.shtml> Fatos das negociações. Essas duas potências temiam Diante dessas punições e do quadro de
de 1915; <http://veja. uma Alemanha forte e estavam comprometi- crise econômico-social instalado no início da
abril.com.br/historia/
das com um ideal revanchista, que visava en- década de 1930, os setores dominantes e as
primeira-grande-
-guerra-mundial/1916- fraquecer os alemães. Esse tratado considerou classes médias da Alemanha vão se inclinar
-julho-batalha-somme/ a Alemanha culpada pela guerra e criou uma para o radicalismo da extrema direita, teme-
indice.shtml> Fatos série de determinações que visavam enfraque- rosos da ascensão de uma esquerda radical
de 1916; <http://veja. cer e desmilitarizar esse país. inspirada pela Revolução Socialista na Rússia.
abril.com.br/historia/
A nação germânica, além de perder ter- O resultado dessa opção vai ser a emergência
primeira-grande-guer-
ra-mundial/1917-abril- ritórios, cedeu parte do seu país para a explo- de um governo comprometido com o totalita-
-americanos-guerra/ ração francesa, como forma de compensação rismo e que, em última instância, mergulha o
indice.shtml> Fatos de pelo fato dos alemães terem usufruído as ri- mundo na barbárie da guerra total e no exter-
1917. quezas da Alsácia-Lorena, que, logicamente, mínio de milhões de pessoas.
Periódicos, assim como
documentos oficiais de
governos e exércitos,

1.3 Revolução Russa


podem ser utilizados
para obtermos infor-
mações específicas e
pontuais sobre deter-
minados eventos. No
entanto, não se pode A Revolução Russa impactou, profunda- Apesar de seu triunfo na Rússia, na prática, o
analisar a guerra toda, mente, a sociedade contemporânea. Sua sin- que foi implementado, em grande medida,
com apenas uma ou gularidade foi ter levado ao proletariado mun- afastou-se das ideias propostas por Karl Marx
outra reportagem. dial a crença de que podia conquistar o poder. no século XIX. Os Estados que defendiam o

18
História - História Contemporânea II

ideal socialista, na prática, devem ser lembra- moldes feudais. Nem mesmo uma burguesia
dos sob a denominação de “socialismo real”. industrial existia no país, para que se pudesse
Deve-se ter em mente que a Rússia de 1917 operar uma “revolução burguesa”, no sentido
não estava preparada para uma transformação de preparar o país para o advento do socia-
que possibilitasse o advento da sociedade so- lismo. Assim sendo, o que emergiu na Rússia
cialista. Não existia um proletariado forte, mas, pós 1917, foi um modelo de Estado que, apesar
principalmente, uma grande massa campone- da retórica socialista, configurou-se como um
sa, que ainda se encontrava muito ligada aos modelo de Estado doutrinário, militarizado e
princípios da servidão e a uma produção nos burocratizado.

1.3.1 O contexto russo antes de 1917

No começo do século XX, a Rússia se


apresentava como um país ainda marcado
por profundas contradições. Uma delas era
o contraste entre valores modernos e oci-
dentais convivendo lado a lado com uma
estrutura agrária oligárquica. A estrutura so-
cial russa era caracterizada pela hegemonia
de uma aristocracia detentora de terras, os
Boiardes, que exploravam a massa campo-
nesa. Apesar do fim da servidão, decretada,
em 1861, com os Estatutos da Emancipação,
os mujiques (antigos servos) continuavam
sobrevivendo em péssimas condições, pois
seus lotes camponeses, submetidos às al-
deias, não garantiam a melhoria de suas
condições. Esses camponeses eram, na prá-
◄ Figura 10: Charge
tica, verdadeiros “servos do Estado”, tendo russa representando
que pagar prestações de seus lotes ao Esta- a “limpeza” que
do por 43 anos, após o fim da servidão. Por a revolução
outro lado, o restante do campesinato, tam- implementava.
bém, não desfrutava de uma boa condição Fonte: Disponível em:
<http://historiacfb.blo-
de vida. Os mujiques e o restante do campe- gspot.com/2009/02/901-
sinato representavam, praticamente, 80% da -revolucao-russa.html>
população do país. acesso em: 23 ago. 2011.

1.3.1.1 Domingo Sangrento

BOX 2
No dia 9 de janeiro de 1905, o czar Nicolau 2º recebeu uma petição, em tom desesperado:
“Estamos em situação miserável, somos oprimidos, sobrecarregados com excesso de trabalho, in-
sultados, não nos reconhecem como seres humanos, somos tratados como escravos. Para nós,
chegou aquele momento terrível em que a morte é melhor do que a continuidade do sofrimento
insuportável”.
O país estava afundado numa enorme crise, as pessoas passavam fome, em todas as classes
da sociedade havia insatisfação. Os nobres não queriam aceitar a industrialização da Rússia, por
acreditar que isso os empobreceria. Os camponeses sentiam-se oprimidos e enganados: apesar
da abolição do regime feudal, em 1856, toda a terra continuava pertencendo, exclusivamente,
aos nobres. E não havia perspectiva de mudança.
De sua parte, os intelectuais exigiam uma participação na vida política. O czar Nicolau 2º,
absolutista, ainda podia administrar e agir no seu imenso reino como bem entendesse. Às véspe-
ras da primeira revolução russa, o soberano ainda não tomava conhecimento dos problemas dos
trabalhadores, da fome, da miséria e das arbitrariedades dos proprietários de fábricas.

19
UAB/Unimontes - 8º Período

Numa situação tão tensa, um fato insignificante transformou-se, de repente, numa catástro-
fe. Quatro operários da maior fábrica de São Petersburgo foram demitidos, narra Jutta Petersdorf,
historiadora do Instituto da Europa Oriental da Universidade Livre de Berlim. “Eles foram demiti-
dos porque exigiram a punição de um feitor que era injusto e tratava mal os operários.”

Início da revolta

Os quatro revoltosos estavam dispostos a lutar. O protesto foi apoiado pelos sindicatos fi-
éis ao regime, os chamados “sindicatos amarelos”, criados pelas autoridades estatais nas regiões
industriais russas, no início do século, para canalizar e controlar a crescente insatisfação popu-
lar. Tais associações sindicais eram dirigidas e administradas pela polícia local. O sindicato de São
Petersburgo, que contava 11 mil filiados em janeiro de 1905, tentou manter a paz social, procu-
rando fazer com que o diretor da fábrica anulasse a demissão dos quatro operários. Em vão. O
industrial permaneceu irredutível.

◄ Figura 11: As massas


foram de fundamental
importância para a
revolução. Sem elas,
a história talvez fosse
outra.
Fonte: Disponível em:
<http://historiarussa1.
blogspot.com/> acesso
em: 23 ago. 2011.

Em 2 de janeiro, foi realizada uma assembléia do sindicato. Discutiu-se, de maneira extre-


mamente emocional, o que se podia fazer em tal situação. E surgiu então a conclamação à greve.
Pouco a pouco, mas de maneira inexorável, a situação começava a fugir do controle das autorida-
des estatais. Outras fábricas de São Petersburgo aderiram à greve. Foi nesse clima de revolta que
se decidiu a realização da marcha de protesto, do dia 9 de janeiro, que dirigiria uma petição ao
czar, reivindicando uma melhoria das condições de vida dos trabalhadores.

Marcha de protesto

Figura 12: Manifestação ►


de rua, em 1905.
Fonte: Disponível em:
<http://imagenshistoricas.
blogspot.com/2010/02/
revolucao-russa.html>
acesso em: 23 ago. 2011.

20
História - História Contemporânea II

Na manhã gelada do domingo, 9 de janeiro, uma multidão de 100 mil pessoas dirigiu-se en-
tão para a residência do czar, o Palácio de Inverno de São Petersburgo. A residência estava pro-
tegida pelos militares, com o apoio da cavalaria dos cossacos. Mas a multidão era pacífica. Não
eram os aspectos revolucionários que predominavam na marcha, mas sim os ícones de santos da
Igreja Ortodoxa, os estandartes eclesiásticos, as ladainhas rezadas. Por onde passava o cortejo,
nas ruas de São Petersburgo, as pessoas faziam o sinal da cruz, e muitas se juntavam a ele.
Quando a multidão aproximou-se do palácio, ouviram-se os primeiros disparos. Sobre o
massacre que se seguiu, existem divergências de interpretação. Algumas fontes falam de um ato
espontâneo e inconsequente. Jutta Petersdorf e muitos outros historiadores acreditam, porém,
que o banho de sangue foi premeditado.
Duzentas pessoas foram assassinadas e cerca de 800 ficaram, gravemente, feridas. A san-
grenta repressão da marcha de protesto, diante do palácio do czar, em São Petersburgo, foi o
ponto de partida para as rebeliões que se seguiram. Poucos dias mais tarde, a população de Var-
sóvia – na época, administrada pela Rússia – saiu às ruas para protestar. Novamente, o regime
czarista mandou abrir fogo contra os manifestantes.

◄ Figura 13: Domingo


sangrento.
Fonte: Disponível em:
<http://imagenshistoricas.
blogspot.com/2010/02/
revolucao-russa.html>
acesso em: 23 ago. 2011.

Fim da primeira revolução russa

Mas o povo, insatisfeito, não podia mais ser contido. Os protestos eclodiram em toda a Rús-
sia. Em outubro do turbulento ano de 1905, após uma greve geral, o czar Nicolau 2º assinou um
decreto conhecido como Manifesto de Outubro. Ele abriu caminho para as primeiras eleições
parlamentares livres. Isso marcou, ao mesmo tempo, o fim da primeira revolução russa, que co-
meçara de maneira sangrenta em São Petersburgo.
Segundo Jutta Petersdorf, “por um lado, a classe política foi pacificada através da formação
de partidos e a possibilidade de concretizar eventualmente as suas esperanças através do tra-
balho parlamentar. De outro lado estava o movimento socialista, com a sua conclamação a uma
rebelião armada, a qual fracassou então estrondosamente”.

Nas cidades russas mais importantes, gica e Inglaterra. Apesar dessa modernização
uma burguesia incipiente se beneficiava da superficial, a burguesia, politicamente era
industrialização que vinha se desenvolvendo inexpressiva. Emergia, também, em meio a
sob o encorajamento dos últimos Romanov. esse cenário de industrialização, um operaria-
Esse processo de desenvolvimento industrial do explorado e que sofria uma forte repressão,
era baseado, também, em capitais estrangei- juntamente com uma fraca oposição liberal
ros, provenientes da França, Alemanha, Bél- dos grupos médios urbanos.

21
UAB/Unimontes - 8º Período

Figura 14: Nicolau II, o ►


último czar da Rússia.
Fonte: Disponível em:
<http://imagenshistoricas.
blogspot.com/2010/02/
revolucao-russa.html>
acesso em: 23 ago. 2011.

Politicamente falando, pode-se definir a greves, levantes e terminaram por forçar Nico-
Rússia como um modelo de despotismo, ligado lau II a prometer reformas liberalizantes. Uma
à dinastia Romanov, que governava o grande das consequências dessa onda de protestos,
país desde 1613. Alguns desses soberanos, como manifestações e revolta foi a formação de “so-
o Czar Pedro, o Grande (1682-1725), vinham ado- vietes”, conselhos de trabalhadores, em várias
tando reformas na administração, educação e no cidades russas, que canalizavam a participação
exército, com o intuito de promover a moderni- popular. Outra consequência relevante desses
zação da nação. Tais reformas eram imitações do acontecimentos foi a formação de um parlamen-
ocidente, mas a despeito do avanço nesses cam- to (Duma) que chegou a se reunir, em 1906, po-
pos, não conseguiram transformar a essência da rém, foi, posteriormente, dissolvido pelo czar.
sociedade russa, que permaneceu agrária, auto- A frustração em relação ao não cumpri-
ritária e bastante desigual. mento, por parte do governo, da maior parte
Nicolau II, que governou entre 1894-1917, das promessas de reforma, levou ao acirra-
portanto, foi o último dos czares. Ele conti- mento dos grupos oposicionistas, que compu-
nuou com essa tendência de governo autoritá- nham um variado quadro político-ideológico.
rio, mas de cunho modernizador. Seu governo Existiam os niilistas, partidários das ideias
foi marcado pela derrota na Guerra Russo-Ja- anarquistas, e os narodnikis, com um discurso
ponesa, conflito travado entre 1904 e 1905, em populista. Havia, também, dois grupos her-
torno da disputa da Coréia e da Manchúria. deiros da tradição social-democrata marxis-
Esse processo contribuiu para a crise políti- ta que, desde 1903, estavam divididos em uma
ca que desembocou no episódio conhecido facção menchevique (minoritária) que advogava
como o “Domingo Sangrento”, que apresenta- o amadurecimento da estrutura capitalista para,
mos no Box anterior. posteriormente, implantar o socialismo. Esses
Esse episódio foi caracterizado pela vio- mencheviques eram defensores de uma “Revolu-
lenta repressão governamental desfechada ção Burguesa” como o caminho para a transfor-
contra uma manifestação pacífica, na qual mação gradual da sociedade russa. Seus líderes
as pessoas procuravam reivindicar ao czar eram Plekhanov e Martov. A outra facção, bol-
melhorias de suas condições de vida. A san- chevique (majoritária), defendia a revolução para
grenta repressão matou centenas de pessoas a instalação de um governo socialista, sob a lide-
e desencadeou uma onda de revoltas, pro- rança do proletariado e com o apoio do campe-
testos e manifestações que resultaram em sinato. Seu principal líder era Lênin.

22
História - História Contemporânea II

1.3.2 A Revolução

Uma das consequências da Revolução vietes. Basicamente, o programa bolchevique


de 1905 foi a paralisia do regime czarista. O defendia o fim da propriedade privada e a so-
desmantelamento do czarismo, seguido do cialização dos meios de produção. Seus princi-
agravamento das condições populares, jun- pais líderes, tendo Lênin à frente, propunham
tamente com a participação russa na Primeira a retirada da Rússia da guerra. Nesse sentido,
Grande Guerra, levaram à Revolução de feve- podemos falar que os bolcheviques reconhe-
reiro de 1917. Emerge um governo provisório, ciam o que as massas queriam. Lênin, fazendo
sob a liderança de Alexander Kerensky, líder uma avaliação realista do momento, lançou
menchevique, que, entretanto, não se preocu- as chamadas “Teses de Abril”, sintetizando o
pa em resolver os problemas mais importan- programa bolchevique e tendo como base o
tes. A manutenção do país na guerra acentuou slogan “Paz, terra e pão”. Por outro lado, o go-
o desgaste do impotente governo provisório. verno provisório, revelando-se incapaz em re-
Cresce, cada vez mais, o sentimento antiguer- conhecer o que o povo queria, lançou um últi-
ra, nos meios populares, e os socialistas vão mo esforço militar, no sentido de vencer a luta
canalizar, a seu favor, tal sentimento. Nesse contra a Alemanha, que terminou em fracasso,
contexto, os sovietes emergem e vão preen- acelerando, assim, sua queda. Os bolcheviques
chendo, lentamente, a seu favor, o vácuo re- haviam avançado nas cidades e no exército, o
volucionário. Paralelamente, os bolcheviques que colabora para seu triunfo na Revolução de
vão ganhando ascendência e popularidade, Outubro de 1917.
conseguindo monopolizar o controle nos so-

◄ Figura 15: Lênin, em


discurso às massas.
Fonte: Disponível em:
<http://www.reidaverda-
de.com/revolucao-russa-
-resumo-1917-causas-
-fotos-conclusao.html>
acesso em: 23 ago. 2011.

Lênin apostava em uma revolução eu- civil que matou milhões de pessoas. De um
ropeia, como início de um movimento de su- lado, as tropas estrangeiras apoiavam o exér-
blevação do proletariado mundial (muitos bol- cito “branco”, formado por mencheviques e
cheviques acreditavam que a Rússia não estava czaristas. De outro, o exército “vermelho”, re-
preparada para uma revolução socialista), que presentante dos bolcheviques, formado por
se espalharia para várias partes do continente, soldados e camponeses.
atingindo a própria Rússia. Por isso, para ele, O conflito se estendeu até 1921, com a vi-
era necessário que os bolcheviques se aguen- tória do exército vermelho, que contou com o
tassem no poder. Tropas francesas, inglesas, importante apoio de oficiais patriotas russos
japonesas e norte-americanas desembarcaram que queriam preservar a unidade territorial
no país para tentar socorrer o governo derru- do país multinacional. Os bolcheviques aguen-
bado, mergulhando a Rússia em uma guerra taram a guerra civil, mas tiveram que tomar
23
UAB/Unimontes - 8º Período

Glossário medidas excepcionais que implicaram em agrícola, que geraram descontentamentos em


Czar: Imperador, uma política de “comunismo de guerra”. Tal meio à população rural. Ironicamente, o apoio
César, governante política foi caracterizada pela centralização da camponês foi um dos fatores responsáveis
máximo da Rússia, produção e pela eliminação da economia de pela vitória bolchevique. A proposta socialista
como um rei. mercado. Esse caráter centralizador fazia parte original preconizava que o campesinato russo
Duma: Parlamento da tradição do disciplinado partido comunista tomaria a terra, mas o que se verá depois é o
russo.
Sovietes: Conselhos russo. Particularmente causadores de proble- confisco de todas as terras pelo Estado.
operários, formados mas foram os confiscos forçados da produção
por operários e traba-
lhadores que discu- Figura 16: Lênin e seu alto comando desfilam pelas
tiam sobre medidas ruas de Moscou após a vitória da Revolução.
para a Revolução
Fonte: Disponível em: <http://www.reidaverdade.com/
Russa. revolucao-russa-resumo-1917-causas-fotos-conclusao.
POSDR: Partido Ope- html> acesso em: 23 ago. 2011.
rário Social-Demo-
crata Russo, partido
socialista russo.
Mencheviques: Divi-
são dos moderados
do POSDR.
Bolcheviques: Divi-
são dos radicais do
POSDR.
Guarda Vermelha:
Soldados de elite do
exército bolchevique,
organizado por Leon
Trotski, que derro-
tou os brancos, os
membros da entente
e seus aliados e,
depois, foi utilizado
para sufocar revoltas
e na Segunda Grande
Guerra.
NEP: Sigla de
Nova Política Econô-
mica, jeito que Lênin
arranjou para levar a
Rússia, novamente, à
rota do progresso. Apesar da vitória do exército vermelho, russa, bastante combalida pela destruição
URSS: Sigla de União a revolução mundial não ocorreu. Os russos provocada pela guerra civil. Até o ano de 1928,
das Repúblicas So- esperavam por uma revolução alemã que, época em que foi extinta, promoveu uma re-
cialistas Soviéticas, mesmo a despeito de uma insurreição co- cuperação parcial da economia soviética, rea-
governo criado por munista, fracassou. A Rússia soviética per- tivando setores fundamentais da indústria, da
Lênin, logo após a Re-
volução de Outubro, maneceu isolada por mais de duas décadas, agricultura e do comércio.
em 1917. o que não impediu o seu reconhecimento Em 1923, uma constituição instituiu a
Fonte: Disponível diplomático por diversos países capitalis- União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
em: <http://guiahist- tas no período. Os tratados do pós Primeira (URSS), promovendo a união das diferentes re-
militar.blogspot. Guerra, também, contribuíram para a ma- giões do antigo império russo, agora transfor-
com/2011/04/glos-
sario-da-revolucao- nutenção do isolamento do Estado bolche- madas em repúblicas socialistas.
-russa.html> acesso vique. No entanto, a Revolução de Outubro Após a morte de Lênin, em 1924, Josef
em: 24 ago. 2011. foi, universalmente, reconhecida como um Stálin assumiu o poder soviético. Com Stálin, a
acontecimento que abalou o globo e impac- perspectiva da revolução mundial perde for-
tou mundo a fora, inspirando movimentos ça. Ele pregava a consolidação do socialismo na
revolucionários e outras revoluções. Rússia, através da estruturação do Estado sovié-
Em 1921, Lênin instituiu a Nova Política tico. Hobsbawm afirma que, na URSS da era pôs
Econômica (NEP), que planejava a economia a Lênin, qualquer revolução só era tolerada se não
partir de uma combinação de princípios socia- conflitasse com os interesses do Estado bolchevi-
listas com elementos capitalistas. A produção que e, ao mesmo tempo, fosse posta sob contro-
e o abastecimento foram motivados pelo estí- le direto soviético (HOBSBAWM, 1995, p. 78). Na
mulo dado à pequena indústria, ao pequeno prática, isso significava que os interesses do mo-
comércio e, também, aos pequenos agricul- vimento comunista internacional nem sempre
tores. A NEP impediu o colapso da economia coincidiam com os interesses da URSS.

24
História - História Contemporânea II

◄ Figura 17: Stalin, o


“Homem de Ferro”
que se tornou o líder
soviético, após a morte
de Lênin.
Fonte: Disponível em:
<http://playthisthing.com/
stalins-story> acesso em:
24 ago. 2011.

Stálin abandonou a NEP, em 1928, implan- dos sovkhozes (fazendas estatais) e dos kolkho-
tando a socialização total da economia. O pla- zes (cooperativas).
nejamento foi instaurado a partir dos planos Os primeiros planos quinquenais geraram
quinquenais elaborados pela Gosplan, insti- uma rápida industrialização. Esse esforço foi
tuição encarregada da planificação econômi- obtido ao custo de grandes sacrifícios suporta-
ca. Os planos econômicos - ao desenvolveram dos pelo povo. A economia soviética era uma
a indústria pesada, os setores de transporte e economia de comando, dirigida. Isso implica-
energia, bem como a indústria bélica - asse- va em uma política de comando, altamente,
guraram a transformação da União Soviética burocratizada, que exigia um severo controle
em uma moderna nação industrializada. No centralizado. Na agricultura, a coletivização
entanto, caro acadêmico, essa modernização forçada produziu uma agricultura coletiva ine-
econômica foi obtida à custa da economia ficiente que espremeu o campesinato russo
camponesa. A coletivização forçada, angaria- nas unidades de produção. Como afirma Da-
da no meio rural, foi seguida pela implantação niel Aarão Reis Filho,

[...] nas unidades coletivas de produção, seria possível exercer o controle eco-
nômico e policial com mais precisão e eficiência, determinando o que e quanto
iriam produzir os camponeses e a proporção da produção que caberia ao Esta-
do. O agrupamento de milhões de camponeses em algumas dezenas de milha-
res de unidades de produção viabilizou a extração e a cobrança das entregas
obrigatórias, sempre ascendentes, mesmo que a produção estivesse estagnada
ou em declínio (2003, p. 90).

Os camponeses russos resistiam, de dente, em geral. Oposições internas existiam;


várias formas, à coletivização forçada, ma- a principal, entre Stalin e Trotsky (REIS FILHO,
tando os animais, sabotando a produção, es- 1997).
condendo os cereais e empregando outras Trotsky foi assassinado, a mando de Sta-
táticas. A produção não cresceu na proporção lin, em seu exílio, no México. Apesar das dis-
esperada, apesar das imposições. Milhares de putas, outros grupos se posicionaram, de for-
camponeses foram deportados para as regi- ma revolucionária, na Alemanha, entre 1918 e
ões inóspitas da Ásia Central e Norte, para tra- 1919, e na Hungria, em 1919. O México, tam-
balhos forçados, somando-se aos milhões de bém, estava convulsionado por lutas revolu-
prisioneiros políticos do regime. Stálin era um cionárias. Essas manifestações e o crescimen-
autocrata cruel, que governou manipulando to da URSS como potência levaram à crescente
o terror em grande escala. Entre 1934 e 1939, desconfiança, tanto dos países onde cresciam
cerca de milhões de pessoas – em sua maioria as direitas totalitárias, em particular a Itália e a
membros do partido – foram presos por moti- Alemanha, quanto dos defensores da demo-
vos políticos. Ele estava mais preocupado com cracia, como os ingleses e os norte-america-
as questões internas da URSS que com a ex- nos. A crise mundial, que tem início em 1929, iria
pansão do socialismo. Entretanto, as propos- se sobrepor a todas essas questões, num primei-
ta socialista ganha força na Europa e no Oci- ro momento, para, em seguida, acirrá-las.

25
UAB/Unimontes - 8º Período

1.4 Rumo ao abismo econômico


A década de 1930 conheceu os efeitos de com a adoção de políticas reformistas nos Es-
uma das maiores crises econômicas do capi- tados Capitalistas que levaram em considera-
talismo, a chamada crise de 1929, que contri- ção o planejamento econômico e a previdên-
buiu para a ascensão de regimes totalitários cia social: o Estado Previdenciário, conhecido
de extrema direita, como o Facismo, na Itália, em alguns países como Bem Estar Social. Ele
e o Nazismo, na Alemanha, e, consequente- emerge como alternativa para a crise e tem
mente, levou ao quadro que desencadeou a 2ª como bases tanto o planejamento estatal so-
Grande Guerra Mundial. Por outro lado, a crise, viético quanto as ideias antiliberais do econo-
também, levou à derrocada do Liberalismo e mista inglês John Maynard Keynes.
à emergência de um novo modelo de Estado,

Figura 18: Fila nos ►


Estados Unidos para
pegar comida, no
período de recessão.
Fonte: Disponível em:
<http://conhecimentoon.
blogspot.com/2011/04/pe-
riodo-entre-guerras.html>
acesso em 23 ago. 2011.

1.4.1 O contexto que levou à crise

Conforme vimos, após o final da Primeira homem, afirma que a crise de 29 é paradoxal,
Guerra, o número de Estados aumentou, com pois a pobreza se instaurou em meio à abun-
o surgimento da Romênia, Hungria, Tchecoslo- dância. Para esse autor, essa crise, ao contrário
váquia e Iugoslávia. Assim, era de se esperar um das crises econômicas anteriores, principal-
aumento do volume do comércio mundial, po- mente antes do capitalismo, caracterizou-se
rém, o que se viu foi, exatamente, o contrário, pela superprodução, não pela escassez de
pois, no período entre - guerras, a integração da alimentos e de outros artigos necessários.
economia mundial estacionou. Essa tendência Outra diferença apontada por Huberman é
foi observada, também, em relação aos países que a crise de 29 levou à queda dos preços, di-
que possuíam grande importância no comércio ferentemente das crises anteriores, marcadas
internacional – Hobsbawm nos fala que até o flu- pela elevação de preços (HUBERMAN, 1981).
xo de imigrantes diminuiu muito (HOBSBAWM, Para Hobsbawm, os Estados começaram
1995, p. 91). Por que essa tendência de estagna- a fazer restrições para protegerem as suas
ção do fluxo do comércio mundial? economias. Na Alemanha, a inflação reduziu
Leo Huberman, em seu texto o “Elo mais o poder de compra da moeda, acarretando a
fraco”, publicado no livro História da riqueza do liquidação das poupanças privadas e arruinan-
26
História - História Contemporânea II

do a classe média. Conforme já apontado, esse Não se pode esquecer que inexistiam
foi o quadro que permitiu a ascensão de Hitler políticas efetivas para os trabalhadores. O de-
ao poder no país, na década de 1930. O curto semprego impactou, seriamente, na esfera
período de boom, na Alemanha, durou apenas política. Pode-se falar que, em longo prazo, a
alguns anos (1924-1929). A fragilidade da recu- implicação mais profunda foi o fim do libera-
peração alemã residia em sua dependência de lismo político, na medida em que os governos
capitais externos. Quando a crise se instaurou foram obrigados a priorizar as questões sociais
nos Estados Unidos, levou a economia alemã sobre outras políticas. Um capitalismo refor-
junto com ela. Na Europa, o exemplo alemão, mado, baseado em uma legislação trabalhista
apesar de mais dramático, foi paradigmático que incluía um moderno sistema previdenciá-
do quadro geral no continente: A depressão se rio, foi um dos principais legados da crise de 29
espalhou e o desemprego atingiu toda a Eu- para a humanidade. O planejamento econômi-
ropa. Até nos países da periferia da economia co passou a ser levado em consideração pelos
global, a crise fez sentir seus reflexos. Estados governos, na maioria dos países capitalistas. Na
dependentes da exportação de produtos pri- agricultura, emerge uma política baseada em
mários registraram brusca queda na atividade subsídios para a proteção dos produtores.
econômica.

BOX 3

Alterações no Código Social e Moral

Passada a guerra, vive-se uma época de euforia. Surgem alterações no código social e mo-


ral, na moda, nas artes, nas ciências, nos costumes e tradições.  A rádio, a imprensa, a indústria
discográfica e o cinema contribuíram para o aparecimento de uma cultura de massas (acessível
à maioria da população). No período entre 1920-30, verificaram-se grandes transformações, nas
sociedades do mundo ocidental. Para essas transformações, contribuíram:
• as transformações econômicas decorrentes da 1ª Guerra Mundial;
• a crescente igualdade de direitos entre homens e mulheres;
• a democratização do ensino, com a frequência da escolaridade básica para um número cada
vez maior de pessoas;
• o crescimento do setor terciário, principalmente os serviços.
Como consequência desse conjunto de mudanças, as desigualdades sociais diminuíram,
contribuindo para o crescimento das classes médias. Estas eram constituídas pela média burgue-
sia (comerciantes e industriais) e por profissionais liberais (médicos, juristas, professores etc.).
As classes médias ganham cada vez mais um peso decisivo, no nível econômico, como tam-
bém nos aspectos sociais e culturais. Criaram um novo código social e moral, novos modelos,
novas modas e novos mitos, que marcaram o sec. XX.

◄ Figura 19: Mulheres


no início do século XX,
mudando de visual
e atitude frente ao
passado machista.
Fonte: Disponível em:
<http://magazinere-
trovintage.blogspot.
com/2011/05/mothers-
-day-video.html > acesso
em: 25 set. 2011.

27
UAB/Unimontes - 8º Período

Na década de 1920, período chamado por alguns como “Loucos Anos 20”, verificaram-se al-
terações nos comportamentos sociais e nos valores morais, sendo o vestuário, a moda e as for-
mas de lazer, os aspectos mais visíveis dessas alterações. A  moda  passou a ser, cada vez mais,
determinada por considerações de ordem prática, abandonando o aspecto formal e sóbrio ante-
rior. A par da moda, também os movimentos de luta das mulheres, pela igualdade de direitos em
relação aos homens, contribuíram para uma nova imagem da mulher na sociedade. A defesa da
igualdade e o desejo de afirmação das mulheres eram visíveis nas transformações da moda. As
roupas tornaram-se mais práticas, as saias subiram até ao joelho e os cabelos ficaram curtos. As
mulheres passaram a trabalhar fora de casa e a frequentar locais públicos.

1.4.2 A economia norte-americana no pós Primeira Guerra

A economia dos Estados Unidos regis- evolução técnica. Contudo, com a recuperação
trou um boom, na década de 1920, no período europeia no pós-guerra, o excedente agrícola
que antecedeu a crise de 1929. Nesse período, não encontrou mercado consumidor, mergu-
Para saber mais destaca-se uma verdadeira euforia econômica lhando o setor rural dos Estados Unidos na
Na década de 1920, o nos Estados Unidos. Com a Europa destruí- depressão. Pode-se falar que ocorreu uma sig-
povo mer, na euforia da da pela guerra, os EUA tornaram-se o centro nificativa retirada dos EUA da economia inter-
prosperidade aparen- econômico do mundo, passando a custear a nacional, no período pós Primeira Guerra. Esse
te, comprou ações de
diversas empresas.
reconstrução da Europa, exportando bens e país não atuou como um estabilizador global
Essas ações atingi- capitais para o velho continente. De fato, a (HOBSBAWM, 1995, p. 103). Esse quadro inter-
ram preços elevados, Primeira Guerra Mundial já tinha beneficia- no afetou, também, o setor industrial do país,
muito maiores do que do, enormemente, a economia norte-ameri- pois os produtores agrícolas, sem conseguir
o valor real do capital cana. Após o conflito, o país havia se tornado o vender seus excedentes, não podiam consu-
das empresas. Com a
falência de algumas
maior produtor industrial do mundo. Também mir os produtos industrializados. Diante disso,
indústrias, ocorreram era o maior credor e exportador do globo. Sua muitos industriais faliram, gerando a amplia-
tentativas desenfreadas importância, no volume do comércio mundial, ção do número de desempregados. Não se
de venda das ações – aumentava mais ainda, porque tinha se tornado pode esquecer que uma expressiva parcela da
muitos investidores se o segundo maior importador, comprando ma- população dos Estados Unidos, formada por
deram conta de que
tinham pagado valores
térias-primas de dezenas de países, entre eles o negros, brancos pobres, no sul, e imigrantes
muito mais altos pelos Brasil; era o maior comprador do café brasileiro. procedentes de várias partes do mundo, não
papéis. A tentativa dos Em função de seu enorme alcance no co- desfrutava do “Big Boom” – como era conheci-
acionistas para vender mércio internacional, quando a crise se instau- do o crescimento econômico norte-americano
suas ações levou a rou, além de se tornar a principal vítima da de- pós 1ª Guerra – portanto, não tinha condições
uma baixa no valor das
mesmas, culminando
pressão, foi o responsável por sua ampliação, de consumir a enorme demanda industrial.
com o Crack a Bolsa de pois era um dos principais compradores dos Na medida em que a crise se generaliza, espa-
Nova Iorque. O medo produtos primários de várias nações. A restri- lhando para outras partes do globo, a desor-
se instalou no universo ção de suas importações de produtos primá- ganização econômica e o desemprego se glo-
financeiro. Em pou- rios arruinou várias economias, na periferia do balizam. A confiança no futuro fica abalada e
co tempo, a falência
generalizada tomou
sistema capitalista. o pessimismo se instaura na mentalidade das
conta do setor bancá- A superprodução agrícola norte-america- pessoas sofrendo os efeitos da depressão eco-
rio norte-americano. na foi estimulada pela guerra na Europa e pela nômica.
Durante a década de
1920, sinais da crise já
apareciam em distintos
países. A quebra da
bolsa de valores de
Nova Iorque, no dia 24 ◄ Figura 20: Charge
de outubro de 1929, foi questionando a crise
o ápice. de 29: se sobravam
produtos, porque havia
fome e miséria?
Fonte: Disponível em:
<http://ahistoriaapar-
tirde1905.blogspot.
com/2010/04/periodo-
-entre-guerras-e-crise-
-de-1929.html> acesso em:
23 ago. 2011.

28
História - História Contemporânea II

1.4.3 Consequências e recuperação da crise

Eric Hobsbawm nos aponta cinco consequências da crise para a sociedade ocidental:
• fim do liberalismo econômico;
• fim do padrão ouro;
• ascensão de regimes de ultradireita;
• o modelo soviético ganha destaque;
• desemprego.
Com a eclosão da crise generalizada, a mocráticos em frear a crise possibilitava duas
intervenção do Estado na economia se fez ne- vias, a socialista (esquerda) ou a ultradireita, que
cessária, pois as tradicionais medidas ortodo- gerou regimes totalitários ou, no mínimo, dita-
xas se revelaram ineficazes. Somente após a toriais, os quais a burguesia via com melhores
tomada de medidas estatais, a crise se estag- olhos que a saída revolucionária socialista.
nou, e iniciou-se um processo de recuperação. A União Soviética ganhou destaque e for-
O padrão ouro, no qual o país deveria possuir, ça, uma vez que a crise pouco abalou o seu
em seus cofres, o valor em ouro da moeda crescimento econômico. Seu desenvolvimen-
circulante, e que era a forma de controle da to, em tempos de crise, espantou até os mais
economia no período, foi substituído por um desacreditados naquele sistema. Por último,
novo padrão, que não dependia do ouro nos o desemprego era, ao mesmo tempo, conse-
cofres do Estado. O medo de revoluções socia- quência e fator da crise. A crise levou ao de-
listas, em alguns países europeus, propiciou a semprego que a perpetuava, uma vez que a
ascensão dos regimes de ultradireita, como o economia não era aquecida, e o capital não
nazismo e o fascismo. A falha dos regimes de- circulava.

◄ Figura 21: Do
sonho ao pesadelo
estadunidense.
Desemprego, miséria e
fome assolam a nação
americana.
Fonte: Disponível em:
<http://melhorpesquisa.
blogspot.com/2011/05/
Em 1932, Franklin Roosevelt foi eleito presidente dos Estados Unidos da América e propôs o entre-guerras-era-dos-
-contrastes.html> acesso
“New Deal” (Novo Acordo) para superar a crise que assolava o país. Entre outros pontos, podemos em: 23 ago. 2011.
destacar como os principais:
• construção de grandes obras públicas;
• empréstimos a fazendeiros;
• controle de produção agrícola;
• controle de preços.

29
O plano do presidente norte-americano empregos à população, atuando como instru-
levou os EUA a superar a crise e a sair mais mento fundamental da recuperação. Estradas,
forte do que antes, ao mesmo tempo em que pontes, escolas, hospitais e diversos outros
proporcionou o desenvolvimento da infraes- edifícios públicos foram erguidos, e esses tra-
trutura nacional. Com a construção de grandes balhadores moveram a economia e frearam a
obras públicas, o governo proporcionou mais crise.

Figura 22: A construção ►


de enormes obras
públicas foi umas das
saídas encontradas pelo
governo estadunidense
para diminuir os efeitos
da crise.
Fonte: Disponível em:
<http://www.treehugger.
com/files/2009/02/stimu-
lus-for-design.php> acesso
em: 25 set. 2011.

Para o meio agrícola, empréstimos aos sidiava aqueles com dificuldades, ou surpre-
fazendeiros e controle da produção foram endidos por crises naturais, como furacões,
as medidas mais importantes tomadas para enchentes e secas.
a estabilização do setor e para contornar A última medida destacada é a de contro-
o problema relacionado à superprodução. le de preços para que a população pudesse ter
O governo pagava para os fazendeiros não acesso a mercadorias e para evitar uma crise
produzirem, ao mesmo tempo em que sub- por elevação de preços.

1.5 Totalitarismo: uma face da


modernidade
O colapso dos principais valores e insti- esteira do colapso das instituições democrá-
tuições da sociedade do capitalismo liberal foi tico-liberais na Europa Ocidental. Trata-se de
um dos aspectos mais importantes do período uma forma inédita, nunca antes vista, de um
entre - guerras. Neste tópico, analisaremos um sistema político. Por isso, qualquer análise da
dos aspectos mais brutais da modernidade, ou política no século XX, não pode se omitir em re-
seja, o fenômeno totalitário que emergiu na lação ao totalitarismo. Através do conhecimento
História - História Contemporânea II

das principais características da dinâmica do me- conhecimento de alguns aspectos de seu funcio-
canismo que levou à formação e à implantação namento, teremos condições de entender algu-
do fenômeno totalitário, bem como através do mas características da modernidade.

◄ Figura 23: Hitler em


visita ao Duce [Líder]
Benito Mussolini na
Itália.
Fonte: Disponível em:
<http://entreguerras-
cem03.hdfree.com.
br/o%20nazismo.html>
acesso em: 23 ago. 2011.

1.5.1 O surgimento dos regimes totalitários

O advento da modernidade está, direta- ríodo da construção das bases da modernida-


mente, relacionado ao triunfo das aspirações de. Por isso, a ideia de fundação que orienta a
liberais, tão bem difundidas pelo ideário ilumi- modernidade, politicamente falando, está vin-
nista dos fins do século XVIII e que serviu de culada ao estabelecimento da república.
bandeira para diversos movimentos revolucio- Na revolução, a perspectiva da liberdade
nários, inaugurados pela Revolução America- vem acoplada com formas políticas (repúbli-
na e pela explosão da Revolução Francesa, en- ca). Nesse momento, aparece o cidadão que,
tre 1789 – 1799. O século XIX foi marcado por através de sua atuação no espaço público
várias ondas revolucionárias, principalmente, plural, é lhe permitido certa liberdade de ex-
na Europa, destacando-se a “Primavera dos pressão. O surgimento da república expressa
Povos”, em 1848. Foi marcado, também, pelo a materialização de um esforço, publicamente,
avanço da industrialização, pelo progresso da articulável. Portanto, a revolução marca uma
técnica e pelo surgimento de uma série de nova etapa na humanidade, pois prefigura
ideologias, todas elas herdeiras do racionalis- o aparecimento da liberdade e o estabeleci-
mo iluminista, destacando-se, dentre outras, mento de um momento histórico novo, funda-
o Positivismo e o Marxismo. Então, temos nas dor, conforme destacou a pensadora Hannah
duas grandes revoluções, a Francesa de 1789 Arendt, em suas análises dos processos revolu-

31
e a Revolução Industrial (séc. XVIII e XIX), o pe- cionários do século XVIII. Para ela:
UAB/Unimontes - 8º Período

É crucial, portanto, para a compreensão das revoluções da Idade Moderna, que


a ideia de liberdade e a experiência de um novo começo sejam coincidentes.
E desde a noção corrente no mundo livre é de que é a liberdade, e não a justi-
ça, nem a grandeza, o critério mais alto para o julgamento das constituições de
corpos políticos, não é apenas o nosso entendimento de revolução, mas nossa
concepção de liberdade, nitidamente revolucionária em sua origem, que pode
medir até que ponto estamos preparados para aceitar ou rejeitar essa coinci-
dência (ARENDT, 1988, p. 23).

Quando falamos em modernidade, apenas uma pequena parcela do povo des-


podemos dizer que o fim do século passa- frutando de um padrão de vida considerado
do já incorpora alguns valores da mesma, decente (HOBSBAWM, 1995). Essas catástro-
como a universalidade e o individualismo, fes, de certa forma, estabeleceram uma rup-
por exemplo. Um exagerado otimismo toma tura, ou descontinuidade, em relação aos
conta de setores burgueses da população, valores instituídos pela sociedade burguesa
dos grandes países capitalistas. A crença liberal, dos fins do século XIX.
nos valores do progresso e da ciência traduz Com relação aos aspectos políticos, o
bem o imaginário burguês da Belle Époque. século XX presenciou um número infindável
As instituições da democracia liberal haviam de governos autoritários, tiranias, ditaduras
avançado, politicamente, no mundo euro- civis e militares e outros despotismos pelo
peu, pelo menos até a década de 1920. mundo afora. Presenciou, também, a conso-
O século XX conheceu mais catástrofes lidação da democracia liberal, em várias na-
do que qualquer outro período da história ções. Porém, uma categoria política inédita,
da humanidade. O homem presenciou uma própria da modernidade, foi responsável por
enorme quantidade de guerras, além de uma extensa lista de crimes jamais configu-
duas que, pelo seu alcance e envolvimento, rados até então na história da humanidade:
foram consideradas mundiais. Conflitos ci- o Totalitarismo. O fenômeno totalitário foi
vis ocorreram e continuam ocorrendo, nos materializado sob duas formas diferentes, o
quatro cantos do globo. Crises econômicas regime nazista na Alemanha, e o stalinista
desmantelaram e continuam a ameaçar as na União Soviética.
estruturas produtivas das nações. O mundo Não se pode comparar o totalitarismo
cindiu-se em duas partes, onde em uma me- com uma nova forma de autoritarismo ou
tade, boa parte da população vive mergu- tirania, embora possua elementos que se
lhada em completo estado de pobreza, com aproximam dessas formas de despotismos.

1.5.2 Características do Totalitarismo

A perspectiva totalitária persegue o ideal de uma sociedade uniforme, coesa, sem divisões,
ou seja, uma sociedade, inteiramente, homogênea. Segundo Ricardo Benzaquen de Araújo, o to-
talitarismo possui três grandes dimensões: uma dimensão democratizante, uma dimensão mobi-
lizadora e, ainda, uma dimensão homogeneizante (ARAUJO, 1988, pp.77-104). Assim sendo, sua
perspectiva de totalitarismo

[...] antes de mais nada, refere-se a uma ideologia que prega a construção de
uma ordem mais justa e fraterna através da eliminação de todas as diferenças
sociais, num processo que, para homogeneizar a sociedade, exige a participa-
ção de todos e que, por isso mesmo, desloca a soberania para o povo, e nunca
para o Estado (ARAÚJO, 1988, p. 97).

Na realidade, como percebeu Claude que se diz portador da vontade popular,


Lefort, a emergência do Totalitarismo acon- portanto, legítimo, mas que vai acabar, ar-
tece em um contexto de “mutação política”, bitrariamente, eliminando toda a oposição e
ou seja, mudança na esfera simbólica, onde se julgando acima de todas as leis positivas
o lugar do poder, antes vazio, agora se cor- (LEFORT, 1991, p.27).
porifica e se encarna através de um partido

32
História - História Contemporânea II

◄ Figura 24: Organização


e presença massiva
nas atividades do
governo são marcas do
Totalitarismo.
Fonte: Disponível em:
<http://fottus.com/pesso-
as/nazismo-100-imagens>
acesso em: 25 set. 2011.

Uma das representações mais evocadas no Totalitarismo é a representação do “Povo - Uno”,


em constante oposição à divisão da sociedade em classes antagônicas (LEFORT, 1983, p. 113-
114), por isso, a sociedade de massas, fruto da modernidade, traz em si alguns germes do Tota-
litarismo. O homem das massas é caracterizado pela sua atomização, pelo seu isolamento, pela
sua apatia. Em geral, as massas ficam apáticas, principalmente no tocante às questões políticas.
Ora, o Totalitarismo se apóia nas massas, assim, esse homem comum, oprimido pela sociedade
capitalista que o cerca, é o típico homem das massas da modernidade. E Eric Hobsbawm nos
lembra de como

O Fascismo rejubilava-se na mobilização das massas, e mantinha-a simbolica-


mente na forma de teatro público – os comícios de Nuremberg, as massas na
Piazza Venezia assistindo os gestos de Mussolini lá em cima na sacada – mes-
mo quando chegava ao poder; como também faziam os movimentos comunis-
tas (HOBSBAWM, 1998 p.121).

A respeito desse homem das massas sur- Gentile e Marinetti, e no período em que ele
gido no século XX, Hannah Arendt diz que “A era basicamente um “movimento”, isto é, antes
principal característica do homem das massas de 1922 (ARAÚJO, 1988, p. 94).
não é a brutalidade nem a rudeza, mas o seu Quando esses movimentos totalitários se
isolamento e a sua falta de relações sociais instalam, efetivamente, no poder, temos go-
normais” (ARENDT, 1989, p. 366). A autora mos- vernos totalitários ou regimes totalitários. Na
tra, ainda, como Stálin liquida com as classes sua versão de esquerda, temos o Stalinismo
na Rússia dos anos 30: Primeiro, as classes pro- Soviético. Na sua corrente de direita, temos o
prietárias, os Kulacs, depois, os operários e, logo Fascismo Alemão ou o Nacional-Socialismo,
em seguida, a burocracia. Por isso Stálin, efetiva- mais conhecido como Nazismo. Na sua luta
mente, vai conseguir produzir uma massa atomi- pelo domínio global, os Totalitarismos, quan-
zada e amorfa (ARENDT, pp. 370-371). do se instalam no poder, precisam e buscam,
Benzaquen de Araújo chama atenção incessantemente, moldar suas sociedades de
para o fato que, na Itália, quando o movimen- acordo com a conformidade, a homogeneida-
to fascista liderado por Mussolini alcança o de, eliminando, assim, tudo que possa repre-
poder e implanta a estrutura corporativista, o sentar o diferente para conseguir o ideal da
fascismo acaba por consagrar a diferença, em representação do “Povo - Uno”. Dessa manei-
vez de eliminá-la e que a dimensão totalitária ra, esses regimes recorrem, constantemente,
do fascismo italiano não deve ser procurada à fabricação de inimigos. Na Alemanha, esses
no regime chefiado por Mussolini, mas nas inimigos são julgados pelo critério da impure-
obras de alguns dos seus ideológicos, como za racial. Por isso, judeus principalmente, mas

33
UAB/Unimontes - 8º Período

também mestiços, estrangeiros, enfim não forma de autoritarismo. Contudo, nas tiranias,
-alemães/arianos, eram perseguidos. Na Rússia os aparelhos de polícia perseguem os suspei-
Bolchevista, os grandes expurgos de Stálin se tos, enquanto nos Totalitarismos, persegue-se
encarregavam de transformar e inventar su- o chamado “inimigo objetivo” (claro que, após
postos adversários e inimigos da nação. essas polícias terem eliminado os suspeitos de
Nos chamados Estados Totalitários, a fazer oposição ao regime), que pode ser qual-
polícia é condição indispensável para o fun- quer categoria da população que o governo
cionamento, para a dinâmica do movimento decide aprisionar ou liquidar (ARENDT, 1989,
totalitário em direção à conquista global, e os p.476). Hannah Arendt enfatiza a peculiaridade
aparelhos de polícia constituem poderosos e do Totalitarismo, ao chamar a atenção para a
eficientes tentáculos da organização totalitá- ideia do “oponente objetivo”, e quando afirma
ria. Nesse aspecto, pode-se afirmar que todo que o governo totalitário “não é um governo
regime autoritário dispõe de poderosas forças no sentido tradicional, mas um movimento,
policiais, usadas para perseguir e eliminar os cuja marcha constantemente esbarra contra
inimigos do regime. Portanto, sob esse pris- novos obstáculos que tem de ser eliminados”
ma, o Totalitarismo não passa de uma nova (ARENDT, 1989, p. 475).

Figura 25: Oficiais da ►


Schutzstaffel, ou SS, a
polícia nazista.
Fonte: Disponível em:
<http://nazismope-
losalemaes.blogspot.
com/2009/08/lista-de-pa-
tentes-da-ss-no-nazismo.
html> acesso em: 25 set.
2011.

Por isso, a necessidade constante de ini- do poder dos totalitarismos, na perfeita orga-
migos, a perseguição ao “inimigo objetivo”, nização e relação com que as partes consti-
que poder vir a ser qualquer indivíduo, inde- tuintes da sociedade se entrecruzam e se en-
pendentemente, do cargo que ocupe na bu- caixam.
rocracia do Estado ou Partido. Existe, portanto, O funcionamento da representação da
uma confusão entre a vida privada e a vida pú- estrutura totalitária que constitui o todo orga-
blica das pessoas, pois o Estado consegue in- nizado do sistema foi comparado por Claude
vadir o mundo privado. Já afirmamos que, no Lefort ao funcionamento de um mecanismo:
Totalitarismo, o Estado mobiliza o povo, inte- “direi que a imagem do corpo se combina
grando o indivíduo ao todo, por isso, o poder com a da máquina” (LEFORT, 1983, p.115). As-
não se põe de cima para baixo, mas está den- sim, nesse conjunto de imagens que procu-
tro da sociedade. Claude Lefort, em relação ao ram simbolizar a representação da sociedade
totalitarismo, afirma que o poder se destaca totalitária una, coesa, homogênea, cada ser,
do conjunto da sociedade dominando o todo, cada indivíduo corresponderia a uma peça
“mas se confunde com o Partido, se confun- fundamental de uma estrutura que, por sua
de com o povo, com o proletariado” (LEFORT, vez, estaria integrada em um todo maior, uma
1983, p. 114). Então, tem-se a verdadeira fonte verdadeira máquina composta pela somatória

34
História - História Contemporânea II

dos indivíduos, o Partido, mais as lideranças. poder, ou seja, a multiplicação de órgãos se-
No imaginário totalitário, a máquina, em perfei- ria útil para a transferência do poder (ARENDT,
to andamento/funcionamento, representaria a 1989, p. 451). Então, com a constante transfe-
ideia da sociedade harmoniosa, do “Povo - Uno”. rência do centro de liderança e poder, como
A respeito da organização da estrutura se fosse uma “correia de transmissão”, fica cla-
totalitária, Hannah Arendt, também, identifica ro que o desejo do líder, do chefe, do Führer,
essa mesma relação entre o poder e a orga- pode encarnar-se em qualquer parte da estru-
nização, afirmando que a existência de várias tura, a qualquer momento, sem que, necessa-
organizações, com suas respectivas lideranças, riamente, o líder esteja ligado a qualquer hie-
transferem, permanentemente, o centro do rarquia (ARENDT, 1989, pp. 454-455).

1.5.3 A propagação do Totalitarismo

Outro instrumento que se revela eficien- canismos de informação de massa estão, dire-
tíssimo para a organização dos movimentos tamente, relacionados à evolução nas técnicas
totalitários (e depois, para a organização dos propagandísticas. Então, a propaganda mo-
próprios regimes totalitários) é o uso, em larga derna pode fabricar ou manipular uma grande
escala, de modernas técnicas de propaganda. infinidade de informações, ou necessidades
Desde o começo do século XX, novos veículos para o consumo das massas, pois, com a am-
de comunicação surgiram, como por exemplo, pliação dos conhecimentos referentes à “psi-
o cinema e o rádio que se acrescentaram à im- cologia das massas”, ficou, comprovadamente,
prensa escrita jornalística, contribuindo, em mais fácil manipular e influenciar o imaginário
muito, para a criação e veiculação da chamada dessas massas, por meio de uma bem elabora-
“cultura de massa”, pois sabemos que os me- da publicidade.

◄ Figura 26: Imagem


do filme “O Grande
Ditador”, de Charles
Chaplin. Assim como
os regimes totalitários
utilizaram-se da arte
para propagar suas
ideias, a arte, também,
serviu como meio de
denúncia contra essa
forma de governo.
Fonte: Disponível em:
<http://www.planetaedu-
cacao.com.br/portal/arti-
go.asp?artigo=56> acesso
em: 25 set. 2011.

35
UAB/Unimontes - 8º Período

Sobre a importante relação entre governos totalitários e propaganda, o historiador Bronis-


law Baczko enfatiza que

[...] poderíamos definir os sistemas totalitários como sendo aquele onde o Es-
tado, graças ao monopólio dos meios de comunicação, exerce uma censura
rigorosa sobre o conjunto das informações e a conjuga com a contaminação
e manipulação das informações admitidas na circulação pela propaganda po-
lítica e ideológica onipresente. O objetivo visado seria o de garantir ao Estado
o controle total sobre as mentalidades e designadamente, sobre a imaginação
social. Por outras palavras, trata-se de bloquear eficazmente qualquer ativida-
de espontânea, não controlada, da imaginação social (BACZKO, 1985, p. 314).

Logo após a instalação no poder, os tra os judeus, acusados de “inimigo público


governos totalitários tratam de exercer to- número um” do povo alemão, enquanto enfa-
tal controle sobre os meios de comunicação tizava o discurso pseudocientífico da pretensa
para, posteriormente, através da fabricação da superioridade da raça ariana e seu “mais puro”
mentira na Política, procederem à organiza- representante, o povo alemão. Após a ascen-
ção, doutrinação e unificação do Pensamento. são de Hitler ao poder na Alemanha, especial-
Na União Soviética de Stálin, a propaganda mente alguns anos depois, em 1936, quando o
se encarregava, principalmente, de tornar vi- totalitarismo nazista definitivamente se conso-
sível, perceptível, grande parte das enormes lida, o Führer e os outros elementos da cúpula
perseguições que caracterizavam os grandes do governo intensificaram o discurso da “cons-
expurgos stalinistas. Os processos de Moscou piração da raça judaica”, enfatizando a necessi-
se constituíam em verdadeiras farsas, onde dade da destruição dos judeus. Norbert Elias,
a propaganda se encarregava de justificar a em seu estudo sobre o povo alemão, destaca,
matança dos chamados “inimigos do regime” em sua obra Os Alemães, a obsessão de Hitler e
(BACZKO, 1985, pp. 327-328). do Partido Nazista em desmantelar o “complô
No caso do Nacional-Socialismo de Hitler, judaico”, por meio da destruição dos judeus.
a propaganda se dirigia, principalmente, con- Segundo ele,

por fim a conspiração da raça judaica era, com frequência, o objetivo declara-
do de Hitler e do movimento nacional-socialista. Desde os primeiros dias do
movimento, tinha encontrado expressão popular em slogans tais como “Morra
Judeu!” (Judá Verrecke!), ou nos versos que prenunciavam a grande reviravolta:
“Quando o sangue judeu esguichar da faca” (Wenn das Jundenblut von messer
spritz) (ELIAS, 1971, p. 277).

Como vimos nos parágrafos anteriores, ra compõem a mola mestra do movimento


não resta nenhuma dúvida quanto à impor- nazista, com judeus, ciganos, homossexuais e
tância do papel da propaganda para a dou- outros, implacavelmente, perseguidos pelas
trinação das massas nos regimes totalitários, polícias secretas de Hitler (as AS/SS) e massa-
pois a ideologia, nos totalitarismos, junto com crados na experiência brutal dos campos de
o terror que dissemina, articula-se e se sobre- concentração.
põe, dando ao fenômeno totalitário seu prin- Os campos de concentração criados
cipal eixo de articulação, como expõe Hannah pelo Nazismo serviram de laboratório para
Arendt acerca da natureza do totalitarismo e o engendramento da terrível experiência do
da relação entre a ideologia e o terror na base “domínio total”, com o extermínio de milhões
da dinâmica do movimento (ARENDT, 1989, de pessoas através da utilização de métodos
pp. 516-517). racionalizados para a degradação máxima de
A ideologia totalitária elimina o bom sen- um ser humano, que acarretaram, antes da
so, sustentando sua argumentação na fabrica- morte física do indivíduo, a morte da persona-
ção do inimigo, da conspiração. O argumento lidade humana (ARENDT, 1989, pp. 488-489).
totalitário não passa de uma farsa, mentira, Nesse momento, no domínio total, o horror
ou, como no caso do Nazismo, de uma tese atinge o irreal. Agora temos a condição sine
pseudocientífica. Sendo assim, o totalitarismo, qua non da existência do Estado totalitário e
enquanto movimento, jamais poderia se esta- sua sede de movimento, ou seja, nesse tipo de
bilizar. Vimos, na União Soviética da Era Stálin, Estado, é o terror que surge como a finalidade,
os constantes expurgos, eliminações e trans- o objetivo perseguido. O terror é a essência do
ferências de população para outras áreas. Na movimento totalitário. É a realização da lei do
Alemanha de Hitler, a seleção racial e a guer- movimento (ARENDT, 1989, p.517).

36
História - História Contemporânea II

◄ Figura 27: Dormitório


em Campo de
Concentração.
Fonte: Disponível em:
<http://turma715sf.
blogspot.com/2009/11/
segunda-guerra-mundial-
-na-finlandia.html> acesso
em: 25 ago. 2011.

Já dissemos, no início desta subunidade, que o Totalitarismo atropela a legalidade positiva


dos homens e da sociedade. Contudo, os líderes totalitários se dizem legítimos, pois se arrogam
como infalíveis e os únicos capazes de executar uma lei que independe da vontade humana,
uma lei sobre-humana que, no caso do Stalinismo, era a lei da história e, no caso do Nazismo, a
lei da natureza (seleção racial). Dessa forma, recorrendo novamente à obra de Hannah Arendt,
entendemos como o terror e as ideologias totalitárias podem perverter o próprio conceito de
legalidade:

A legitimidade totalitária desafiando a legalidade e pretendendo estabelecer


diretamente o reino da justiça na terra, executa a lei da História ou da natureza
sem convertê-la em critérios de certo e errado que norteiam a conduta indivi-
dual (ARENDT, 1989, p. 514).

Não resta sombra de dúvida, quanto ao e o seu contrário, a democracia. Um destrói o


fato do Totalitarismo ser diferente em sua es- outro, mas a democracia, com suas ambigui-
sência de qualquer outra forma de fazer polí- dades, tem uma relação com a emergência do
tica que a humanidade conheceu. Nesses pou- totalitarismo, pois a partir da crise da demo-
cos parágrafos, procuramos traçar, em linhas cracia emerge a possibilidade do ressurgimen-
gerais, algumas peculiaridades desse fenôme- to do espectro do totalitarismo.
no próprio da modernidade. Por isso, qual- Para Araújo, a tradição democrática defi-
quer análise da política, nesse último século nida na modernidade contém uma dimensão
do milênio, não pode se omitir em relação ao totalitária. Essa dimensão confunde igualda-
Totalitarismo. E mais, conhecer aspectos da di- de com indiferenciação, com uniformização, e
nâmica do mecanismo que levou à formação reduz a liberdade a apenas uma de suas duas
e à implantação do Totalitarismo, bem como faces, a positiva (ARAÚJO, 1988, pp. 86-87). O
aspectos do seu funcionamento, é de vital im- mesmo autor enfatiza as consequências dessa
portância para entender a modernidade e até dimensão totalitária da tradição democrática,
para estabelecer relações entre o totalitarismo afirmando que

37
UAB/Unimontes - 8º Período

[...] repleta de boas intenções, obcecada em superar as desigualdades econô-


micas, a “questão social” agravada pelo capitalismo, esta perspectiva totalitária
acaba por desenvolver uma concepção peculiar de cidadania e de soberania
popular, que, para criar uma sociedade movida pela compaixão e pela frater-
nidade, não hesita em eliminar qualquer pluralismo ético, político ou social
(ARAÚJO, 1988, p. 87).

Dentro desse aspecto, que enfatiza a percepção de uma dimensão totalitária na democracia
moderna, precisamos recorrer novamente a Claude Lefort. Para ele, a democracia recobre a do-
minação e a espoliação de uma classe por outra, traduzindo certa uniformização da vida coletiva
(LEFORT, 1991, p.24). Na “invenção democrática”, o mesmo autor procura captar as relações entre
o totalitarismo e democracia:

O Estado totalitário só pode ser concebido em relação à democracia e sobre o


fundo das ambigüidades desta última. É a refutação dela ponto por ponto e,
no entanto, atualiza representações que ela contém virtualmente. Nele, a de-
mocracia encontra uma potência adversa, mas que ela carrega também dentro
de si mesma (LEFORT, 1983, p.33).

Nas páginas iniciais desta subunidade, se assenta em interesses e se alimenta disso.


recorremos a alguns conceitos da obra desse Esse quadro, se exasperado, pode conduzir a
filósofo para tratarmos alguns aspectos do to- sociedade ao limite da fratura (LEFORT, 1991,
talitarismo. Para ele, a “revolução democrática” pp. 118-121).
produziu um poder desincorporado, ou seja, Em suma, em um momento de “mutação
o poder não está ligado a um corpo, como na simbólica do poder”, é que emerge o totali-
época do Antigo Regime, onde a sociedade tarismo, como instrumento capaz de liquidar
se identificava e era representada pelo corpo essa ameaça, “que tende a soldar novamente
místico do rei (LEFORT, 1983, p. 117). Na demo- o poder e a sociedade, a apagar todos os sinais
cracia, o poder aparece como um espaço va- da divisão social (...)” (LEFORT, 1991, p. 120). A
zio, sem um corpo, onde o governante ocupa experiência totalitária refaz o corpo político, a
um lugar, temporariamente, e é impedido de partir de uma fonte democrática, a representa-
se apropriar desse poder. A questão central re- ção do ideal do “Povo - Uno”. Por isso mesmo é
side nesse ponto. Embora a soberania seja do que o espectro do Totalitarismo ronda as socie-
povo, isso não impede o conflito, pois não se dades modernas, e uma discussão em torno des-
consegue apagar a divisão social. Esse poder se fato, nunca deixará de ser bastante atual.

1.5.4 A prática totalitária

A crise econômica e social da década de Negras”, na chamada “Marcha sobre Roma”.


Glossário 1920 permitiu o surgimento do totalitarismo Sem disparar sequer um tiro, o Duce depôs o
Führer: que se mostrava uma boa saída frente ao so- primeiro ministro e foi convidado pelo rei Vitor
Em alemão quer dizer cialismo, tendo em vista o medo que os bur- Emanuel a organizar um novo ministério. A Itá-
“condutor”, “guia”, gueses e a classe média nutriam em relação a lia entra no período fascista.
“chefe” ou “líder”.
esse ideário de esquerda. A ultradireita, em- Em janeiro de 1925, Mussolini anunciou o
Duce: basada no militarismo, nacionalismo, uniparti- estabelecimento de um regime totalitário de
Deriva do latim dux, darismo, heroísmo, racismo, expansionismo e governo. Durante seus 21 anos de comando,
do verbo ducere, culto à liderança ditatorial, ascendeu, vindo a Mussolini resolveu inúmeros problemas da Itá-
guiar, comandar, e dominar boa parte da Europa Ocidental, como lia, entre eles, a crise entre o Estado italiano e
refere-se a quem
manda. Espanha, Portugal, Itália e Alemanha. o papado, a qual findou com o Tratado de La-
Em outubro de 1922, Benito Musso- trão, em 1929, criando o Estado independente
lini liderou um grupo, denominado “Camisas do Vaticano.

38
História - História Contemporânea II

◄ Figura 28: Ditador


italiano Benito
Mussolini.
Fonte: Disponível em:
<http://www.tech42.
com.br/tech42/index.
php/2009/11/20/anuncio-
-na-web-vendia-cerebro-
-e-sangue-de-mussolini>
acesso em: 25 ago. 2011.

Após assegurar o poder e cercar-se e na indústria, até a eclosão da crise de 1929.


das elites dominantes, o Duce buscou o desen- Para superar essa crise, o Duce investiu pesado
volvimento italiano. Com o uso da propagan- na produção de armamentos e nas conquistas
da de massa e a proibição de greves, o gover- territoriais, ressuscitando a ideia de restaurar o
no italiano conquistou avanços na agricultura império romano.

BOX 4

Alterações no Código Social e Moral

O totalitarismo se divide em uma vertente de direita e outra de esquerda. Os regimes totali-


tários de direita foram empregados pela Alemanha e Itália principalmente. Já o totalitarismo de
esquerda, teve como modelo concreto o estado soviético stalinista. Como características comuns
a todos os regimes totalitários, destacamos:
• Regime de partido único (um partido de massas);
• Centralização dos processos de tomada de decisão no núcleo dirigente do Partido;
• Burocratização do aparelho estatal;
• Intensa repressão a dissidentes políticos e ideológicos;
• Culto à personalidade do(s) líder(es) do Partido e do Estado;
• Patriotismo, ufanismo e chauvinismo exacerbados;
• Intensa presença de propaganda estatal e incentivo ao patriotismo, como forma de organi-
zação dos trabalhadores;
• Censura aos meios de comunicação e expressão;
• Paranóia social e patrulha ideológica;
• Militarização da sociedade e dos quadros do Partido;
• Expansionismo;
• Mobilização das massas pelas várias instituições que organizam a população de baixo para cima;
• Busca de um passado mítico;
• Fabricação do inimigo.
39
UAB/Unimontes - 8º Período

Já as características divergentes, pelos re- gimes de ultradireita, são:


• Forte apoio da burguesia industrial;
• Corporativismo nas relações de trabalho e tutela estatal sobre as organizações sindicais;
• Fundamentação ideológica em valores tradicionais (étnicos, culturais, religiosos), tendo no
racismo a sua marca mais importante;
• Forte apoio da religião;
• Capitalismo como base econômica.

E o regime totalitário de esquerda, da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, caracteri-


zou-se por:
• Abolição da propriedade privada;
• Coletivização obrigatória dos meios de produção agrícola e industrial;
• Supressão da religião da esfera política;
• Expurgos partidários como forma de criar o inimigo e mobilizar a sociedade;
• Socialismo como base econômica.

Na Alemanha, após o desastre da Primeira passasse para 250 marcos, em janeiro de 1923.
Guerra, o governo dos Kaisers foi substituído As esquerdas lutavam entre si, com disputas
pela República de Weimar (1918-1933), que já entre sociais-democratas e socialistas. Entre
nasceu marcada pela humilhação dos trata- 1918 e 1919, acontece o levante espartaquista,
dos de paz e pela crise econômica. A hiperin- conhecido como Revolução Alemã, liderado
flação chegou a atingir 32.400% ao mês, em por Rosa de Luxemburgo e Karl Liebknecht,
1923, o que fazia com que uma fatia de pão, que tentou levar a Alemanha à revolução, mas
por exemplo, que custava 63 marcos em 1918, é desbaratado, e seus lideres são assassinados.

Figura 29: Rosa ►


Luxemburgo.
Fonte: Disponível
em: <http://www.
marxismo.org.br/
index.php?pg=artigos_
detalhar&artigo=484>.
Acesso em: 15 de setem-
bro 2011.

40
◄ Figura 30: Movimento
Espartaquista, em
Berlim.
Fonte: Disponível em:
<http://www.claseshisto-
ria.com/movimientosso-
ciales/org-partidosobre-
ros-spd.htm>. Acesso em:
15 de setembro 2011.

Nesse clima de convulsão social, em dos na Alemanha, o partido comunista cres-


1919, em Munique, foi fundado o Partido Na- cia, e o temor das elites e classe média levou
cional Socialista dos Trabalhadores Alemães o partido nazista a ser visto como a salvação
(Partido Nazista). Com apelo aos sentimentos nacional. Em 1932, Hitler acabou sendo nome-
nacionalista e diante das dificuldades econô- ado chanceler pelo presidente Hindenburg e
micas, esse novo partido, rapidamente, cres- assumiu o comando do Estado Alemão. Com
ceu. Uma organização paramilitar era usada um golpe, no qual incendiou o prédio do par-
para intimidar os opositores. Essa organização lamento e jogou a culpa nos comunistas, Hitler
era a denominada “Seções de Assalto” (AS) ou instalou uma ditadura totalitária.
os “Camisas Pardas”. Para dar-lhe sustentação no poder, o
Em 1923, o partido fracassou ao tentar Führer criou outra organização além da SA, as
o Putsch de Munique, um golpe que proclamava SS – Sessões de Segurança, ou a polícia polí-
o fim da República de Weimar. Todos os dirigen- tica do partido, mais treinada e disciplinada e
tes do partido foram presos. Na prisão, Adolf Hi- fiel ao líder; bem como a Gestapo – polícia se-
tler escreveu o livro Mein Kampf, no qual expõe creta do Estado. Hitler eliminou todos os par-
sua doutrina e os fundamentos do nazismo: o tidos, sindicatos, direito de greve, jornais opo-
nacionalismo exacerbado, o anticomunismo, a sicionistas e depurou o próprio nazismo. Em
superioridade da raça ariana e a tese do espaço 21 de março de 1933, Hitler proclama a criação
vital constituem a base de sua narrativa. do Terceiro Reich e, com a morte do presidente
Com a quebra da bolsa de Nova Ior- Hindengurg, em agosto de 1934, adotou o tí-
que, em 1929, e seis milhões de desemprega- tulo de Führer.

◄ Figura 31: O Führer


alemão, Adolf Hitler.
Fonte: Disponível em:
<http://www.brasilescola.
com/historiag/hitler.htm>
acesso em: 23 ago. 2011.

41
UAB/Unimontes - 8º Período

Sob a liderança de Joseph Goebbels, hábil Além dessas características, acrescenta-


orador e agitador, os nazistas organizaram uma mos, também, que os fascismos são movimen-
elaborada propaganda a seu favor, ganhando o tos marcados por um forte sentimentalismo,
apoio de quase toda a nação aos grandiosos pla- pois, ao mobilizarem suas mitologias, de certa
nos do Führer. Com uma campanha racista, cria- forma, afastam-se de uma tradição impregna-
ram o “bode expiatório” e uniram a nação alemã da pelo racionalismo característico do período
aos nazistas, em torno da proposta de purifica- pós iluminista. O fascismo italiano, em sua ori-
ção racial, por meio do extermínio dos judeus, gem, era desprovido de racismo. Já o nazismo
na denominada “solução final”. Toda a socieda- alemão tem no racismo uma singularidade,
de alemã foi envolvida no programa nazista: de personificada no ideal de pureza e superiori-
crianças a adultos, através de escolas e outras dade da raça ariana. O regime nazista manipu-
instituições. Essa “nazificação” alemã comple- lou antigas tradições anti-semitas incrustradas
tou-se com o militarismo e a remilitarização, ao nas mentalidades europeias, que serviram de
reativar-se a indústria bélica para desenvolver base às perseguições que levaram ao extermí-
a economia. A militarização visava à expansão nio de judeus durante a Segunda Guerra.
proposta pela teoria do espaço vital, o que levou Retomamos a argumentação de Hobs-
ao início do conflito conhecido como a Segunda bawn, em sua análise que procura investigar
Guerra Mundial. as causas que levaram ao recuo da democra-
Falando a respeito do Fascismo na Eu- cia liberal no período entre as duas grandes
ropa, Hobsbawn afirma que sem o triunfo de guerras. Para esse historiador, essa foi uma
Hitler na Alemanha, essa ideologia não teria se época em que inexistiam as condições míni-
tornado um movimento geral. Para ele, foi Hi- mas para o funcionamento da democracia,
tler que tornou a ideia do fascismo como um na maior parte da Europa. Fundamental-
“movimento universal” (HOBSBAWN, 1995, p. mente, havia desaparecido, praticamente,
120). Esse autor aponta algumas características qualquer disposição de negociação de acor-
sobre esse fenômeno, tais como: dos consensuais diante do quadro de crise
• Nacionalismo, anticomunismo e antilibe- político-social. Em condições marcadas pelo
ralismo; agravamento da depressão, da ameaça da re-
• Superioridade do instinto e da vontade; volução social, da ascensão da extrema direita
• Mobilização das massas de baixo para e do conflito entre as nações, a democracia
cima; tornava-se muito mais um mecanismo forma-
• Ênfase em alguns valores tradicionais; lizador das divisões e tensões entre os grupos
• Reinvenção de um passado; do que um instrumento convincente e eficaz
• Combinação de valores tradicionais com de garantir o governo (HOBSBAWN, 1995, p.
técnicas de mobilização de massa. 139-143).

Figura 32: Hitler ►


proferindo discurso.
Fonte: Disponível em:
<http://batalhajornalistica.
blogspot.com/2010/11/
origem-do-parido-nazista-
-hitler-no.html> acesso
em: 23 ago. 2011.

42
História - História Contemporânea II

No próximo tópico, analisaremos a eclosão da Segunda Grande Guerra, a partir de uma Para saber mais
ideologia cujas ambições eram ilimitadas. A classificação do Sta-
linismo como regime
totalitário é tema de

1.6 Segunda Guerra Mundial


muita discussão entre
os historiadores. Alguns
conceituam Totalitaris-
mo como um regime
de extrema direita, e o
A Segunda Guerra Mundial pode ser defi- ças da reação, capitaneadas pela Alemanha de Stalinismo, enquanto
nida como uma guerra ideológica internacio- Hitler, aliada com a Itália de Mussolini e com o socialismo, um regime
nal. Hobsbawm afirma, inclusive, que a guerra Japão. Essa aliança de Estados totalitários mais de esquerda. Acredita-
mos, assim como Eric
contra a Alemanha era uma guerra contra um a potência asiática conservadora é chamada, Hobsbawm, em A Era
Estado determinado por sua ideologia (HOBS- tradicionalmente, de “Eixo”. Do outro lado, te- dos Extremos, que o
BAWM, 1995, p. 145). O pior disso tudo é que mos um grupo de Estados representativos das que determina o regi-
o nazismo não possuía objetivos limitados em forças do “progresso”, herdeiros do legado ilu- me totalitário não é sua
relação a sua política externa. Vimos que se minista e cujos governos se mantinham aferra- posição ideológica, mas
sim pontos específicos,
tratava de uma variante do totalitarismo volta- dos aos princípios democráticos. O inusitado como a existência de
da para o expansionismo à custa da Europa es- nessa aliança era a participação de um Estado partido único, burocra-
lava. Podemos definir a Segunda Guerra como totalitário de esquerda, a União Soviética, que tização, fabricação do
um embate ideológico que dividiu o mundo teve um papel decisivo na vitória dos aliados inimigo, busca de um
em dois campos opostos. De um lado, as for- contra as forças do Eixo. passado mítico e ou-
tros, como já apontado
acima.

1.6.1 A Guerra Civil Espanhola (1936-1939)

BOX 5
De certa forma, pode-se afirmar que a Guerra Civil Espanhola, travada entre 1936 e 1939, ante-
cipa a luta global que se seguirá. Antes da guerra, ao longo do início da década de 1930, a Espanha
atravessava um período de crise político-econômica, agravada pela agitação social. A esquerda espa-
nhola se agrupou em torno de uma Frente Popular. A vitória apertada da Frente nas cortes, não signi-
ficou um governo efetivo de esquerda. Diante disso, aumenta a insatisfação social no país. Grupos de
direita apóiam generais conservadores que conseguem, através de um golpe, o controle de algumas
cidades. Essas forças reacionárias evoluem para a formação de um conglomerado de direita, denomi-
nado de “Falange”. Os socialistas, anarquistas e comunistas articulam a resistência aos golpistas, em
nome da República. Os dois grupos buscam apoio internacional ao longo da luta. As potências do
Eixo, Itália e Alemanha, apóiam, maciçamente, os golpistas liderados pelo general Franco. Do lado da
Frente, os governos hesitam em apoiar. Os britânicos adotam uma política de não-intervenção. Ape-
nas a União Soviética presta importante apoio aos republicanos. Apesar disso, milhares de voluntários
de várias nações, inclusive do Brasil, atenderam ao chamado da República. Entretanto, a República
não possuía um comando militar unificado. Divergências entre os vários grupos que se engajaram na
luta contribuíram para a derrota republicana. A vitória do general Franco vai manter a Espanha isolada
do resto do mundo, por mais de trinta anos.

◄ Figura 33: Ao centro,


o ditador espanhol
Francisco Franco.
Fonte: Disponível em:
<http://www.wsws.org/
articles/2009/jan2009/
sple-j26.shtml> acesso em:
23 ago. 2011.

43
UAB/Unimontes - 8º Período

Para Hobsbawm, a Guerra Civil Espanhola antecipou e moldou as forças que iriam, poucos
anos depois da vitória de Franco, destruir o Fascismo. Essa mobilização antecipa a Segunda Gran-
de Guerra, no sentido de que foi uma frente de união contra as forças fascistas. E mais importan-
te ainda, essa frente, ao contrário da que lutou a favor da República na Espanha, triunfou!

Figura 34: Quadro ►


“Guernica”, do pintor
espanhol Pablo Picasso.
Fonte: Disponível em:
<http://www.brandon-
bird.com/guernica.html>
acesso em: 23 ago. 2011.

______________________________________________________________

1.6.2 A escalada para a guerra

A Alemanha, Itália e Japão se dizem ocidentais acreditavam que a Alemanha avan-


injustiçados pelo neocolonialismo e acusam çaria sobre a URSS). Em seguida, Hitler inva-
os Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética diu a Renânia, na fronteira com a França, que
de “dividirem” o mundo entre si. Assim, antes constituía a Linha Maginot (um conjunto de
de 1935, com um poderoso exército, o Japão fortificações construídas pelos franceses, em
se apossou de Taiwan (ilha de Formosa), Coréia sua fronteira com a Alemanha). Em 1938, des-
(ainda não dividida) e Manchúria (região ao respeitando as leis internacionais, a Alemanha
norte da China). anexa a Áustria, no episódio denominado Ans-
Em 1935, a Itália invade a Etiópia, fa- chluss (união, em alemão). Ainda sem encon-
zendo ressurgir o sonho do antigo Império Ro- trar oposição, o Führer reivindica os Sudetos,
mano. Descumprindo o Tratado de Versalhes, região da Tchecoslováquia habitada, majorita-
Hitler promove o rearmamento alemão, sem riamente, por germanos.
encontrar oposição (os dirigentes dos estados

Figura 35: Charge ►


mostrando a falta de
ação das potências
europeias diante das
ações de Hitler.
Fonte: Disponível
em: <http://liege-
-costa-3518.blogspot.
com/2007_11_01_archive.
html> acesso em: 25 set.
2011.

44
História - História Contemporânea II

Na conferência de Munique, Hitler con- alemãs. Conforme Hobsbawm, os dois paí- Para saber mais
quistou os Sudetos, em troca da promessa ses relutavam em ir à guerra, devido a triste Lebensraun: tese do
de paz, quebrada em março de 1939, com memória da primeira Grande Guerra (HOBS- espaço vital defendida
a invasão da Boêmia, na Tchecoslováquia. BAWM, 1995, p. 153). De fato, a grande quan- pelos alemães, na qual
Em abril do mesmo ano, Mussolini ordena tidade de mortos nas trincheiras da frente o Estado alemão tinha
a invasão e anexação da Albânia. Ingleses e ocidental trazia a incômoda lembrança de o direito de anexar
regiões habitadas por
franceses, frente ao expansionismo alemão, que uma guerra com os alemães significaria populações germânicas
adotaram uma política de apaziguamento. mais um massacre de uma geração inteira. ou que absorvessem
França e Inglaterra estavam, ainda, em uma Para esses países de tradição democrática, seu excedente produ-
posição bastante enfraquecida para pode- prevalecia a crença de que o eleitorado não tivo.
rem enfrentar, efetivamente, as pretensões toleraria um novo banho de sangue.

◄ Figura 36: Mapa político


europeu do entre -
guerras.
Fonte: Disponível em:
<http://auladehistoriacp.
blogspot.com/2009/05/eu-
ropa-entre-guerras.html>
acesso em: 23 ago. 2011.

Os alemães desejavam retomar a ci- fianças em relação à França e à Inglaterra. As


dade portuária de Dantizig e o Corredor Polo- rivalidades e desconfianças mútuas entre so-
nês, no entanto, atacar a Polônia era declarar viéticos, franceses e ingleses, contribuiu para
guerra à União Soviética. Stálin e Hitler já eram inviabilizar a formação de uma frente comum
inimigos ideológicos, pois o III Reich liderara contra Hitler que pudesse por um ponto final
o Pacto Anti-Komintern, de 1936. Surpreen- em suas ambições expansionistas.
dentemente, em agosto de 1939, Alemanha e Fortalecidos pela inércia das outras
URSS firmam, em Moscou, um pacto de não- potências europeias, os alemães se sentem
-agressão Germano-Soviético, por 10 anos e a confiantes e fortalecidos. Seu avanço sobre a
neutralidade da União Soviética, num possível Europa prossegue, até desencadear a chama-
conflito mundial, além de ceder à Alemanha o da crise polonesa. Em 1º de setembro de 1939,
direito de anexar Dantzig e permitir à URSS a a Alemanha invade a Polônia atacando Varsó-
anexação da Finlândia e parte da Polônia. Até via por terra e ar, na chamada Blitzkrieg. Fran-
então, os soviéticos vinham mantendo uma ceses e Ingleses declaram guerra aos alemães
posição neutra em relação ao movimento ex- em seguida, dando início à Segunda Guerra
pansionista germânico. Stálin nutria descon- Mundial.

1.6.3 O desenrolar do conflito

Ainda em 1939, a Alemanha invadiu a No- do derrotada e, ainda nesse ano, foi dividida
ruega e a Dinamarca. Em maio de 1940, ocu- em duas, uma sob ocupação alemã e outra de
pou os Países Baixos (Holanda) e penetrou na administração francesa pró-fascista, com capital
Bélgica para atacar a França que acabou sen- em Vichy, sob o comando do marechal Petain.

45
UAB/Unimontes - 8º Período

A Itália pretendia a hegemonia do mar do Marechal Erwin Rommel.


Mediterrâneo e, junto à Alemanha, almejava Para derrotar o Reino Unido, o Führer
conquistar o canal de Suez para ter acesso à determinou um violento ataque aéreo sobre
área petrolífera do Oriente Médio. Para a África Londres e outras cidades inglesas, pela Luf-
Setentrional, Hitler enviou a divisão de elite do twaffe (força aérea alemã), pois os alemães não
exército alemão (África Korps), sob o comando podiam desembarcar nas ilhas britânicas.

Figura 37: Centro ►


de Londres, após
bombardeios alemães.
Fonte: Disponível
em: <http://pics-
-searcher.appspot.
com/?page=segunda-
-guerra-mundial> acesso
em: 25 ago. 2011.

Em 1940, os gregos fazem os italianos re- mentos aos ingleses. No dia 7 de dezembro do
cuarem para a Albânia, e os alemães têm de in- mesmo ano, os japoneses atacaram a base na-
vadir a Iugoslávia para chegar à Grécia, enfren- val norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí.
tando forte resistência nesse front. O Japão ambicionava os mercados do Pacífico
Em 22 de junho de 1941, os alemães que- e queria destruir a hegemonia dos Estados
bram o pacto de não-agressão Germano-So- Unidos na região. No dia seguinte ao ataque,
viético, lançando uma forte ofensiva sobre os Estados Unidos declaram guerra aos japo-
Moscou, Leningrado (atual São Petesburgo) e neses, e Itália e Alemanha declaram guerra ao
Stalingrado. Leningrado resistiu a um cerco de tio Sam.
900 dias, onde morreram mais de um milhão O ataque japonês, seguido pela entrada
de pessoas. A batalha de Stalingrado (1942- norte-americana no conflito, dá ao mesmo
1943) foi um ponto decisivo na resistência dos um caráter mundial. Agora a guerra era global
aliados. Após quase um ano de conflito e mais e seu cenário se estendia até o Oceano Pacífi-
de 1,5 milhão de mortos, os soviéticos saíram co. Em uma época que o rádio era o principal
vitoriosos sobre os alemães e iniciaram seu meio de comunicação das massas, a Segun-
avanço sobre o Reich, marcando o início da da Guerra, praticamente, forneceu uma aula de
derrocada nazista. geografia para o mundo. Pelo menos três conti-
Em agosto de 1941, Churchill (Primeiro nentes, Ásia, África e Europa, estavam envolvi-
Ministro inglês) e Roosevelt (Presidente es- dos, com duas forças beligerantes: as forças do
tadunidense) assinam a Carta do Atlântico, o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e as forças aliadas
que permitiu o fornecimento maciço de arma- (EUA, França, Inglaterra e URSS, além da China).

1.6.4 O desfecho do conflito

A guerra, que havia começado com a in- exército ao norte da África, sob o comando
vasão da Polônia pela Alemanha, chegava do general Rommel, em 1941, mas o avanço
agora a três continentes. Os alemães não con- alemão naquela região foi detido pelo gene-
seguiram ocupar a Inglaterra. Hitler enviou um ral britânico Montgomery, na batalha de El-

46
História - História Contemporânea II

-Alamein, em outubro de 1942, e os ingleses, quando as tropas alemãs se aproximavam da


contando com o importante apoio dos norte- capital, Moscou, Hitler ordenou aos seus co-
-americanos, conseguiram derrotar a investida mandantes a mudança em direção ao sul do
germânica. Em maio de 1943, alemães e italia- país. O governo soviético já tinha conseguido
nos tinham sido, completamente, derrotados transferir boa parte de seu parque industrial
no norte da África. para a Sibéria e região limítrofe, o que permi-
O ataque japonês forçou a entrada dos tiu ao país o restabelecimento da produção
Estados Unidos no conflito, sustentados pelo de armamentos, revelando a competência do
seu enorme poderio industrial. A decisão de modelo stalinista no planejamento de guerra
Hitler de invadir a União Soviética e de decla- e na mobilização de recursos. Por outro lado,
rar guerra aos Estados Unidos vai definir os as tropas nazistas tinham enormes dificulda-
rumos da guerra. O ataque alemão ao gigante des para se abastecer, pois estavam distantes
russo trouxe aos nazistas problemas insuperá- de suas linhas de abastecimento. Faltava de
veis, na frente oriental. Hitler e sua ideologia tudo, desde combustível até alimentos. Para
pregavam a destruição do comunismo. Além piorar, na época de chuvas, as estradas fica-
disso, os alemães estavam interessados no tri- vam, praticamente, intransitáveis, dificultando
go e nas matérias-primas existentes no imenso o transporte de homens, armamentos e mer-
país – petróleo, por exemplo. Mas, a Alemanha cadorias. No inverno rigoroso da Rússia, mui-
não estava preparada para lidar com uma nova tos soldados morreram de frio ou de doenças,
guerra, em duas frentes. Os recursos humanos e pois não estavam preparados para enfrentar
materiais mobilizados na Segunda Guerra foram tal situação. Por volta de 1943, o avanço ale-
muito maiores do que na Primeira, e o governo mão já tinha sido contido e os russos iniciavam
alemão não conseguiu planejar sua economia, um fulminante contra-ataque, que não apenas
de forma suficiente, para fazer frente a esse es- resultaria na expulsão do inimigo de seu terri-
forço. A economia de guerra alemã foi menos tório, mas que terminaria com a tomada russa
sistemática e eficaz na mobilização de todos os de Berlim, em maio de 1945.
recursos para a guerra (HOBSBAWM, 1995, p. 53- Do lado dos aliados, o grande momento
54). Assim sendo, apesar do espetacular avanço de virada na guerra se deu em 1944, por oca-
inicial do exército alemão no território soviético, sião do desembarque aliado na Normandia,
Hitler não conseguiu manter a posição germâni- conhecido como o “dia D”. Ao final de alguns
ca por muito tempo. dias de desembarque, cerca de três milhões
A resistência russa se revelou formidá- de soldados iniciaram a luta pela libertação da
vel. Stálin conseguiu mobilizar recursos e sua França, derrotando a Alemanha e passando à
população. No momento mais dramático, ofensiva no solo alemão.

◄ Figura 38:
Desembarque na
Normandia.
Fonte: Disponível em:
<http://www.zun.com.
br/o-dia-d-resumo> acesso
em: 25 set. 2011.

47
UAB/Unimontes - 8º Período

Como já apontado no início desta unida- lação civil. A guerra aérea tem por finalidade
de, a guerra de massa exigia total mobiliza- não apenas a destruição material, mas é, tam-
ção de homens e recursos. Em fins de 1943, a bém, usada como meio de aterrorização de ci-
capacidade germânica de reposição de seu vis, matando e destruindo suas vidas (PORTO,
material de guerra estava, irremediavelmente, 2009, p. 193). A experiência da guerra para a
comprometida. Principalmente em função dos população civil fica cada vez mais insuportá-
bombardeios maciços, várias fábricas alemãs vel. No início da guerra, os alemães tentaram
de armamento foram destruídas. As forças usar esse expediente praticando bombardeios
aéreas anglo-americanas desfrutavam de con- na Inglaterra, atingindo, especialmente, a cida-
siderável superioridade aérea, e o historiador de de Londres. Contudo, após a entrada dos
Paul Kennedy afirma que a superioridade dos Estados Unidos na guerra, a vantagem passa
aliados, na produção de aviões, era inquestio- para os aliados. Então é a vez da Alemanha
nável. Em especial, os norte-americanos, que sentir o peso e a destruição acarretada pelos
estavam produzindo muitos tipos novos de bombardeios estratégicos dos Estados Unidos
armas, incluindo caças, bombardeiros pesados e da Inglaterra. Após o “dia D”, então, a derrota
DICA quadrimotores, porta-aviões e outros. É por era uma questão de pouco tempo.
Assista ao vídeo isso que “[...] apesar dos extraordinários esfor- Enquanto a Alemanha sofria pesa-
documentário “O ços dos alemães para conservar o domínio do dos bombardeios, nos países ocupados pelos
Caçador da Noite”, ar, suas cidades, fábricas e linhas ferroviárias nazistas, a resistência se ampliava ao inimigo.
produzido pelo Núcleo foram cada vez mais devastadas...” (KENNE- Os comunistas se transformaram nos mais sis-
de História e Cultura DY, 1980, p. 339). Portanto, na medida em que temáticos defensores de frentes e guerrilhas
Regional – NUHICRE, da
Universidade Estadual o poderio aéreo aliado aumentava, decrescia a antifascistas. Polônia, Thecoslováquia, Hungria
de Montes Claros – capacidade de reposição das perdas alemãs, em e Iugoslávia conhecem forças de resistência
UNIMONTES, no ano função dos devastadores bombardeios que des- capitaneadas pela esquerda comunista. Após
de 2008. Após, elabore truíam, gradativamente, as fábricas, pontes, es- a guerra, muitos desses movimentos resultaram
um pequeno texto, no tradas, enfim, a infra-estrutura geral do país. na formação de partidos que levaram à forma-
fórum de discussões,
versando sobre a visão A Segunda Guerra Mundial caracterizou o ção de governos comprometidos com reformas
da população alemã tipo clássico de “guerra total”, na qual a bruta- sociais e com o socialismo, bastante influencia-
sobre o conflito. lidade impõe uma experiência crucial à popu- dos pela incrível vitória da União Soviética.

Figura 39: O exército


da URSS invade e toma
Berlim. Na imagem,
soldado soviético
estende a bandeira
da URSS no centro
de Berlim, findando
a guerra contra a
Alemanha.
Fonte: Disponível
em: <http://pics-
-searcher.appspot.
com/?page=segunda-

48 -guerra-mundial> acesso
em: 25 ago. 2011.
História - História Contemporânea II

BOX 6

O Holocausto

“Holocausto” é uma palavra de origem grega que significa “sacrifício pelo fogo”. O significa-
do moderno do Holocausto é o da perseguição e extermínio sistemático, apoiado pelo governo
nazista, de cerca de seis milhões de judeus. Os nazistas, que chegaram ao poder na Alemanha
em janeiro de 1933, acreditavam que os alemães eram “racialmente superiores” e que os judeus
eram “inferiores”, sendo uma ameaça à auto-entitulada “comunidade racial alemã”.
Durante o Holocausto, as autoridades alemãs também destruíram grandes partes de outros
grupos considerados “racialmente inferiores”: os ciganos, os deficientes físicos e mentais, e esla-
vos (poloneses, russos e de outros países do leste europeu). Outros grupos eram perseguidos por
seu comportamento político, ideológico ou comportamental, tais como os comunistas, os socia-
listas, as Testemunhas de Jeová e os homossexuais.
Em 1933, a população judaica europeia era de mais de nove milhões de pessoas. A maioria
dos judeus europeus vivia em países que a Alemanha nazista ocuparia ou viria a influenciar du-
rante a Segunda Guerra Mundial. Em 1945, os alemães e seus colaboradores já haviam assassina-
do dois entre cada três judeus europeus, em uma operação por eles denominada “Solução Final”,
que era a política nazista para matar todos os judeus. Embora os judeus fossem as principais víti-
mas do racismo nazista, existiam também outras vítimas, incluindo duzentos mil ciganos, e pelo
menos 200.000 pessoas com deficiências físicas ou mentais, em sua maioria alemães, que viviam
em instituições próprias e foram assassinados no chamado Programa Eutanásia.
Conforme a tirania alemã se espalhava pela Europa, os nazistas e seus colaboradores perse-
guiram e mataram milhões de pessoas de outros povos. Entre dois a três milhões de soviéticos
prisioneiros de guerra foram assassinados, ou morreram de inanição, enfermidades, negligência,
ou maltratos. Os alemães queriam aniquilar a elite intelectual polonesa, judia e não judia, bem
como levar cidadãos poloneses e soviéticos para o trabalho forçado na Alemanha e na Polônia
ocupada, onde eles trabalhavam como escravos e muitas vezes morriam sob terríveis condições.
Desde o início do regime nazista, as autoridades alemãs perseguiram os homossexuais e outros
grupos que se comportavam diferentemente das normas sociais vigentes, mesmo que fossem
pacíficos. Os oficias da polícia alemã focalizaram seu trabalho de destruição contra oponentes
políticos do nazismo--comunistas, socialistas e sindicalistas—e também contra dissidentes reli-
giosos, tais como as Testemunhas de Jeová. Muitas dessas pessoas morreram como resultado de
encarceramento e maus tratos.

◄ Figura 40: Entrada


do Campo de
Concentração de
Auschwitz com os
dizeres sobre os
portões: “O trabalho
liberta”.
Fonte: Disponível
em: <http://www.
art.com/products/
p13036332-sa-i2275286/
ken-gillham-entrance-
-gate-with-lettering-ar-
beit-macht-frei-auschwitz-
-concentration-camp-
-poland.htm> acesso em:
25 ago. 2011.

49
UAB/Unimontes - 8º Período

No início do regime nazista, o governo centenas de milhares de pessoas de outras


Nacional-Socialista criou campos de concen- etnias. Entre 1941 e 1944, as autoridades na-
tração para deter seus oponentes políticos zistas alemãs deportaram milhões de judeus
e ideológicos. Nos anos que antecederam a da Alemanha, dos territórios ocupados e dos
Guerra, as SS e as autoridades policiais pren- países aliados ao Eixo para guetos e campos
deram um número grande de judeus, ciganos de extermínio, muitas vezes chamados de
e outras vítimas do seu ódio étnico e racial centros de extermínio, onde eram mortos
naqueles campos. Para concentrar, monitorar, nas instalações de gás criadas para cumprir
e facilitar a deportação futura da população esta finalidade.
judaica, os alemães e seus colaboradores cria- Nos meses que antecederam o final da
ram guetos, campos de transição e campos de Guerra, os guardas das SS transferiram os pri-
trabalho escravo para judeus. As autoridades sioneiros dos campos em trens, ou em mar-
alemãs também estabeleceram um grande chas forçadas conhecidas como “marchas da
número de campos que exploravam o traba- morte”, na tentativa de evitar que os aliados os
lho forçado de não-judeus, tanto no chamado libertassem. Conforme as forças aliadas atra-
Grande Reich Alemão quanto nos territórios vessavam a Europa, em uma série de ofensivas
ocupados pela Alemanha. contra a Alemanha, elas começaram a encon-
Após a invasão da União Soviética, em trar e a libertar prisioneiros dos campos de
junho de 1941, as Einsatzgruppen, unidades concentração e aqueles que estavam sendo
móveis de extermínio, e posteriormente os ba- levados de um campo para outro. Estas mar-
talhões policiais militarizados atravessaram as chas continuaram até o dia 7 de maio de 1945,
linhas fronteiriças alemãs para realizar opera- o dia em que as forças armadas da Alemanha
ções de assassinato em massa de judeus, ciga- se renderam incondicionalmente aos aliados.
nos, e autoridades governamentais do estado Para os aliados ocidentais, a Segunda Guerra
soviético e do Partido Comunista. As unida- Mundial terminou oficialmente na Europa no
des das SS e da polícia alemã, apoiadas pelas dia seguinte, em 8 de maio, o (V-E Day, o Dia
unidades da Wehrmacht-SS e das Waffen-SS, da Vitória), no entanto, as forças soviéticas
assassinaram mais de um milhão de homens, proclamaram seu “Dia da Vitória” como 9 de
mulheres e crianças judias, além de outras maio de 1945.

Figura 41: Vala com ►


corpos de judeus
mortos em Campos de
Concentração Nazistas
no Holocausto.
Fonte: Disponível em:
<http://thewarh.blogspot.
com/2009/05/segunda-
-guerra-mundial.html>
acesso em: 25 ago. 2011.

50
História - História Contemporânea II

Após o Holocausto, muitos sobreviven- Estados Unidos e para outras nações, tais
tes encontraram abrigo nos campos para como o Brasil. O último campo para deslo-
deslocados de guerra (DP) administrados cados de guerra foi fechado em 1957. Os cri-
pelos poderes aliados. Entre 1948 e 1951, mes cometidos durante o Holocausto devas-
cerca de 700.000 sobreviventes emigraram taram a maiorias das comunidades judaicas
da Europa para Israel. Muitos outros judeus da Europa, eliminando totalmente centenas
deslocados de guerra emigraram para os destas comunidades centenárias.

No Pacífico, entre maio e junho de 1942, os cas e culminaram com pesados bombardeios so-
norte-americanos passaram à ofensiva, após as bre o território japonês. A rendição japonesa foi
importantes vitórias obtidas sobre os japoneses obtida em 1945, depois da explosão de bombas
nas batalhas navais de Mar de Coral e Midway, atômicas lançadas pelos Estados Unidos, sobre
que foram seguidas por novas derrotas nipôni- as cidades de Hiroxima e Nagasaki.

◄ Figura 42:
Desembarque de tropas
no Pacífico.
Fonte: Disponível em:
<http://www.historianet.
com.br/conteudo/default.
aspx?codigo=303> acesso
em: 25 ago. 2011.

1.6.5 Consequências da Segunda Guerra Mundial.

As conferências de Teerã, Ialta e Potsdan, vantes da Segunda Grande Guerra foi o en-
decidiram os rumos do futuro. Os Estados fraquecimento do Velho Mundo. As antigas
derrotados foram totalmente ocupados pelos potências coloniais, França e Inglaterra, ape-
vencedores. O impacto humano da Segunda sar de vitoriosas na luta contra o Eixo, saíram
Guerra foi avassalador. O conflito foi muito profundamente enfraquecidas e incapazes de
mais brutal e devastador do que o anterior. manterem qualquer hegemonia. Inversamen-
Hobsbawm chega a falar em aumento da bru- te, ocorreu a ascensão dos Estados Unidos ao
talidade e da desumanização no mundo. A Se- posto de super-potência mundial, passando
gunda Grande Guerra produziu genocídios e esse país a desempenhar um papel deter-
um grande número de refugiados. minante nas relações internacionais do pós-
Por outro lado, enquanto a Primeira Gran- guerra. A hegemonia norte-americana só era
de Guerra não resolveu nada, a Segunda trou- contrabalançada pela União Soviética, a outra
xe modificações importantes (HOBSBAWM, superpotência egressa da Segunda Guerra.
1995, p. 59). Uma das implicações mais rele- Esses dois países vão protagonizar a chamada

51
UAB/Unimontes - 8º Período

“Guerra Fria”, ou seja, uma divisão do mundo ou, em alguns casos, através de sangrentas
em áreas de influência que vão gravitar em guerras, conseguem romper com as antigas
torno de ambos Estados, representantes do nações colonizadoras, apesar de, na maioria
capitalismo (Estados Unidos) e do socialismo dos casos, persistirem algum tipo de laço com
(União Soviética). a Europa.
Reflexo da decadência das potências eu- Outra consequência importante da Se-
ropeias que definirá um dos palcos da Guerra gunda Grande Guerra foi a criação da Orga-
Fria foi a emergência do movimento de des- nização das Nações Unidas, a ONU. Com sede
colonização Afro-asiática. Pouco a pouco, vão em Nova Iorque, a ONU foi criada com o obje-
surgindo, nos antigos territórios coloniais, uma tivo de tentar promover a segurança mundial
infinidade de Estados que, de forma pacífica e a cooperação entre as nações.

Referências
ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de. Totalitarismo e Revolução. O integralismo de Plínio Salgado.
Rio de Janeiro: Joge Zahar Editor, 1988.

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Cia das Letras, 1989.

BACZKO, Bronislaw. A Imaginação Social. Enciclopédia Einaudi. Anthropos-Homem. Lisboa:


Casa da Moeda, 1985.

ELIAS, Norbert. Os Alemães. A Luta pelo poder e a evolução do hábitus os séculos XIX e XX.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.

GERICKE, Gerda. Disponível em: <http://www.dw-world.de/dw/article/0,400455,00.html> acesso


em: 24 ago. 2011.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX – 1914-1991. São Paulo: Cia das Letras,
1995.

HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das grandes Potências. Rio de Janeiro: Campus, 1989.

LEFORT, Claude. A Invenção Democrática. São Paulo: Brasiliense, 1983.

LEFORT, Claude. Pensando o Político. Rio de Janeiro: Paz Eterna, 1991.

PORTO, César Henrique de Queiroz; DIAS, Igor Gustavo; ANTUNES, Júlio César Guedes. A Segun-
da Grande Guerra sob o olhar do Major Martin Drewes. In: OLIVEIRA, Marcos Fábio Martins de; et
al. Caminhos da História. v. 14. n. 2. Montes Claros: Editora Unimontes, 2009.

REIS FILHO, Daniel Aarão. As Revoluções Russas e o Socialismo Soviético. São Paulo: Editora
UNESP, 2003.

_________________ Uma Revolução Perdida. A História do socialismo soviético. São


Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1997.
SOUSA, Rainer. A vida nas trincheiras. Disponível em:

<http://www.brasilescola.com/historiag/a-vida-nas-trincheiras.htm> acesso em 23 ago. 2011.

52
História - História Contemporânea II

UNIDADE 2
O Mundo Bipolar e a Guerra Fria
Simone Narciso Lessa

2.1 Introdução
Você já deve ter ouvido o ditado que chamadas “guerras quentes”, Coréia, Vietnã
diz que sabemos como uma guerra começa, e Laos, assim como as revoluções chinesa e
mas, não sabemos como ela vai acabar. Esse cubana. Nesses conflitos, e outros que se ins-
é o caso das guerras no século XX. As guerras tauraram no final do século XX, como as guer-
contemporâneas transformaram o mundo e ras no Oriente Médio e África, veremos que a
tiveram uma ambrangência planetária, mun- oposição das duas potências está presente.
dial. Vamos tratar do período após a Segunda Interesses geopolíticos e econômicos se
Guerra Mundial. O mundo que saiu da Segun- misturam nesse contexto da segunda meta-
da Guerra Mundial era muito diferente daque- de do século XX, que atingiram, inclusive, a
le que começou o conflito. A crise dos anos América Latina, fazendo emergir ditaduras mi-
1920 e 1930, a ascensão do totalitarismo, o ho- litares, com o apoio dos EUA. Paralelamente, a
locausto e as bombas atômicas detonadas em crescente instabilidade leva a um conjunto de
Hiroxima e Nagasaki mudaram não somente a guerras no Oriente Médio, deflagradas pela
configuração geopolítica internacional, mas, descolonização e criação do Estado de Israel e
também, os valores e as relações econômicas, mantidas pelo expansionismo israelense, nas
políticas, sociais e culturais. quais o domínio territorial e dos recursos na-
A Europa, teatro da Primeira e Segunda turais, em particular a água e o petróleo, estão
Guerra Mundial, estava arrasada. Apesar da vi- no centro.
tória sobre o Eixo e do fim do totalitarismo, um O Capitalismo se reinventa, mesmo nas
novo esforço de guerra deveria empreender crises, sempre buscando incrementar epo-
sua reconstrução. A reconstrução da Europa têncializar a criação de mais-valia. A partir das
se constituiu num rico momento no qual des- crises do petróleo, na década de 1970, e da
de as técnicas urbanísticas até novos modelos crise econômica dos anos de 1980, o contexto
de gestão pública e econômica emergem do vai mudar. No lugar da mecânica, a eletrônica
processo, assim como novos comportamentos e a cibernética; no lugar da válvula, o chip. O
socioculturais, que trouxeram transformações habitat humano deixa de ser o campo e, pela
revolucionárias. primeira vez na história da humanidade, tere-
Duas potências vitoriosas vão, gradati- mos mais gente nas cidades. Um novo modelo
vamente, acirrar seu antagonismo: Os EUA de produção e consumo, o “Just in time,” virá
(Estados Unidos da América) e a URSS (União substituir ou incrementar o modelo do início
das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Ambas do século XX, a produção taylorista-fordista.
representarão modelos antagonizando o Ca- A questão ambiental, cada vez mais, atinge
pitalismo com o Socialismo. Dominaram o todas as áreas da vida: na produção, o fim do
mundo por décadas, mantendo um equilíbrio desperdício, do estoque, os 3 Rs – reciclar, re-
baseado na “dissuasão” (equilíbrio de forças), duzir, reaproveitar, novos comportamentos,
através da corrida armamentista e espacial e novos “desenhos produtivos”. A terra rural e
da ação de ambas em outros países, tanto de urbana deve produzir cada vez maior valor –
suas áreas de influência quanto em fronteiras mais-valia fundiária.
em disputas, acionadas pela descolonização e Mudanças profundas nos costumes se-
pelo avanço do socialismo. rão tão significativas quanto radicais. Grupos
O fim do imperialismo europeu, com que antes eram “invisíveis”, obliterados, vão,
o processo de descolonização, num primei- ao longo do século XX e, em particular, na sua
ro momento, parece um contexto à parte da segunda metade, assumir uma posição de
Guerra Fria, mas, rapidamente, novos alinha- protagonistas sociais e as questões de gênero
mentos, alianças se formarão dando lugar às (mulheres, homossexuais, transexuais, entre

53
UAB/Unimontes - 8º Período

outras manifestações de escolhas sexuais) onde o nacionalismo e a religião trarão para o


raça, religião, identidade e meio ambiente ga- campo de conflito não mais blocos e nações
nharam a cena política. antagônicas, mas, uma dimensão diferencia-
O fim do socialismo e da URSS deflagra da que rompe com o racionalismo moderno e
um intenso processo de mudança no mapa fortalece os “irracionalismos” da pós-moderni-
da Europa e nas correlações de forças inter- dade.
nacionais. A globalização e o neoliberalismo, Velhos fantasmas totalitários voltam à
pregando a homogeneização, a vitória do ca- Europa e ao ocidente, com as sucessivas crises
pitalismo e o Estado mínimo, parecem vir para econômicas ameaçando a estabilidade. Ve-
ficar. Demoraram um pouco para perceberem lhas potências declinam e novas emergem. Os
as fissuras nesse modelo, entretanto, suas cri- BRICs – Brasil, Rússia, Índia e China, os chama-
ses não tardaram. dos emergentes, apontam uma tendência de
Se antes o antagonismo bipolar determi- mudança da cena geopolítica no novo século;
nava as relações geopolíticas, agora a União ou seria milênio? Um novo mundo começa a
Europeia, blocos econômicos, grupos separa- tomar forma, depois do ano 2000. No mundo,
tistas - ETA e IRA, entre outros - e novos con- árabes, persas (iranianos) e palestinos ganham
flitos se põem em cena. Conflitos bélicos e a cena. Entretanto, a única certeza é a comple-
guerras civis, como os da Bósnia-Herzegovina, xidade desta época de incertezas.

2.2 O mundo bipolar


Para saber mais Após o fim da Segunda Guerra Mundial, meiro dos soviéticos, seguidos, logo depois,
as conferências de paz, na verdade, instaura- dos americanos, levou a uma divisão da cida-
O Saldo da Guerra
“Segundo levantamen- vam uma nova ordem internacional, na qual de. Posteriormente, esse processo de divisão
tos realizados, a Se- grandes transformações seriam deflagradas. foi, cada vez, mais institucionalizado e reco-
gunda Guerra Mundial A primeira alteração do mapa geopolítico foi nhecido como a base de um mundo bipolar.
deixou um saldo entre a divisão da Europa, em particular, da Alema- Este processo tem início nas conferências
40 e 60 milhões de
nha, entre socialistas soviéticos e capitalistas de Ialta e Potsdam, no final da Segunda Guer-
mortos, mais da meta-
de deles civis” (MORAES ianques (EUA). Os dois blocos, primeiro, cons- ra. Os líderes se reuniram, e, desses debates,
& FRANCO, 2009, p. 27). tituíram-se, de fato, no processo de derrocada todo um novo contexto mundial se delineou.
do nazismo e de avanço das tropas soviéticas Desde as relações geográficas às econômicas,
e dos americanos, ocupando, os primeiros, a vários cenários foram debatidos, num clima,
Europa Oriental, e os capitalistas, a Ocidental. ainda naquele momento, de aliança, entre os
A chegada a Berlim, capital da Alemanha, pri- ganhadores da guerra.

Figura 43: Yalta ►


- Churchill (Grã-
Bretanha), Roosevelt
(EUA) e Stalin (URSS).
Fonte: <http://www.
perekop.net/the-yalta-
-conference-of-1945/>.
Acesso em: 01 set. 2011.

54
◄ Figura 44: 1945, em
Potsdam, Truman
assume no lugar de
Roosevelt e Attlee
assume no lugar de
Churchill, mas, Stalin
permanece.
Fonte: <http://
postmodernpraetorians.
wordpress.com/category/
us-foreign-policy>. Acesso
em: 01 set. 2011.

Abaixo, algumas charges mostram o mo- to tratada como aliada na vitória. Na primeira Glossário
mento dos acordos do pós-Segunda Guerra, charge, a Inglaterra aparece de costas, os EUA
Muro de Berlim:
nos quais EUA, Inglaterra e URSS celebraram estão com os olhos tapados, e os soviéticos le- Foi construído no
a vitória e partilharam os louros. Nestas char- vando tudo. Na segunda, a luta do anti-fascis- processo de consoli-
ges, o lugar de coadjuvante da Grã-Bretanha mo traz um “cavalo de Tróia” com os soviéticos dação da República
ficou claro, assim como a displicência dos EUA dentro. Muitas outras charges fazem referência à Democrática Alemã
em relação aos que se tornariam, logo depois, situação dos acordos de final da guerra e à ame- (Alemanha Oriental),
durante a Guerra
seus grandes rivais, a URSS, naquele momen- aça soviética ignorada pelas outras potências. Fria. Ele cercava toda
Berlim Ocidental,
separando-a da Ale-
manha Oriental. Além
de dividir a cidade
de Berlim ao meio,
tornou-se o simbolo
da divisão do mundo
em dois blocos: um
socialista o outro ca-
pitalista. Construído
na madrugada de 13
de agosto de 1961,
dele faziam parte
Figura 45: O jogo da nova ordem internacional. Figura 46: O Cavalo de Tróia da aliança dos aliados. 66,5 km de gradea-
Fonte: <http://thepeoplescube.com/peoples-tools/red- Fonte: <http://thepeoplescube.com/peoples-tools/ mento metálico, 302
primer-for-children-and-diplomats-t2223.html>. Acesso red-primer-for-children-and-diplomats-t2223.html>. torres de observação,
em: 30 ago. 2011. Acesso em: 30 ago. 2011. 127 redes metálicas
eletrificadas com
Gradativamente, a divisão bipolar vai se ins- em uma parte oriental e central e outra ocidental, alarme e 255 pistas
taurando. Churchill, chanceler britânico, tentou de “Cortina de Ferro”. Entre 1945 e 1949, a rivalidade de corrida para fero-
alertar Roosevelt sobre o perigo soviético, sendo o dos dois blocos se acirrou. O epicentro dessa rivali- zes cães de guarda.
Fonte: <http://www.
primeiro a chamar a divisão imaginária da Europa, dade era o território da cidade de Berlim. historiadomundo.
com.br/idade-con-
temporanea/acons-
trucao-do-muro-de-
-berlim.htm>. Acesso
em: 01 set. 2011.

Figuras 47: A construção do Muro de Berlim. Figura 48: Uma vista do centro de Berlim: os
Fonte: <http://www.diariodocentrodomundo.com. Portões de Brandenburgo cercados pelo muro.
br/?tag=muro-de-berlim>. Acesso em: 02 set. 2011. Fonte: <http://noticias.terra.com.br/mundo/
noticias/0,,OI3919882-EI8142,00-Ha+anos+comecava+constr
ucao+do+Muro+de+Berlim.html>. Acesso em: 02 set. 2011.
55
UAB/Unimontes - 8º Período

A Guerra Fria, apesar de momentos de tensão entre as duas potências, como a própria
construção do muro, entre outros, não se degenerou num conflito armado direto entre as duas
potências. Uma forma de guerra de nervos, chamada “Guerra de Dissuasão”, ou como coloca Paul
Virílio & Lotringer (1984), uma “Guerra Pura”, baseada na corrida armamentista, na corrida espa-
cial e no apoio e/ou participação direta em guerras localizadas, como o Vietnã, foram as formas
assumidas pelo conflito.

A Segunda Guerra Mundial mal terminara quando a humanidade mergulhou


no que se pode encarar, razoavelmente, como a Terceira Guerra Mundial, em-
bora uma guerra muito peculiar. Pois como observou o grande filósofo Thomas
Hobbes, “a guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar: mas num pe-
ríodo de tempo em que a vontade de disputar pela batalha é suficientemente
conhecida” (HOBBES capítulo 13). A Guerra Fria entre os EUA e a URSS, que do-
minou o cenário internacional na segunda metade do Breve Século XX, foi sem
dúvida um desses períodos. Gerações inteiras se criaram à sombra de batalhas
nucleares globais que, acreditava-se firmemente, podiam estourar a qualquer
momento e devastar a humanidade.Na verdade, mesmo os que não acredita-
vam que qualquer um dos lados pretendiam atacar o outro, achavam dificil
não ser pessimistas, pois a Lei de Murphy é uma das mais poderosas genera-
lizações das questões humanas (“Se algo pode dar errado, mais cedo ou mais
tarde vai dar”). À medida que o tempo passava, mais e mais coisas podiam dar
errado, política e tecnologicamente, num confronto nuclear permanente ba-
seado na suposição de que só medo da “destruição mútua inevitável” (adequa-
damente expresso na sigla MAD, das iniciais da expressão em inglês – mutually
assured destruction) impediria um lado ou outro de dar sempre pronto sinal
para o planejado suicídio da civilização. Não aconteceu, mas cerca de quarenta
anos pareceu uma possibilidade diária (HOBSBAWM, 1995, p. 224).

A divisão do mundo em dois blocos se


fazia representar tanto geopolíticamente
quanto na criação de instâncias bélicas e de
negociação, como a OTAN - Organização do
Tratado do Atlântico Norte - e o Pacto de Var-
sóvia, organismos militares que serviam, cada
qual, ao seu bloco. Mesmo a ONU – Organiza-
ção das Nações Unidas - em particular, o seu
Conselho de Segurança, foi criada como es-
paço de distenção e negociação geopolítica e
diplomática. Ambas as potências e alguns de
seus aliados fazem parte do Conselho de Se-
gurança da ONU e têm poder de veto de qual- Figura 49: Charge representando os dois blocos:
quer decisão. O Conselho funciona com o sis- capitalistas X socialistas.
Fonte: <http://geoconceicao.blogspot.com/2010/04/guerra-
tema de unanimidade, ou seja, para que uma -fria-causas-e-consequencias.html>. Acesso em: 10 set. 2011.
decisão seja tomada, todos têm que aprovar.

2.3 Os Campos de Conflitos da


Guerra Fria
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, configuração das relações Internacionais pas-
novos campos de conflitos se formaram. O sou a ser chamada de Guerra Fria, uma guerra
mundo foi dividido em dois blocos: socialistas de dissuasão, marcada pelas corridas arma-
X capitalistas, liderados pelas duas potências mentista e espacial. A seguir, trataremos des-
mundiais que haviam saído como as principais ses conflitos e do contexto da Guerra Fria.
vencedoras da guerra: a URSS e os EUA. Essa

56
História - História Contemporânea II

2.3.1 Os Conflitos Militares

O contexto do pós-guerra levou a grandes transformações, como estamos lhe apresentan-


do. A Guerra Fria tinha muitos fronts, tanto os militares, nos quais países ou os organismos, como
a OTAN e o Pacto de Varsóvia atuavam, quanto os econômicos, com as criações do Fundo Mone-
tário Internacional – FMI e do Banco Mundial (ONU) – BID. Na charge e mapas a seguir, vemos os
campos de atuação da OTAN e do Pacto de Varsóvia, na Europa e no mundo.

◄ Figura 50: Charge sobre


a OTAN.
Fonte: <http://www.diplo-
massinha.com/2011/04/
otan-matando-rebeldes.
html>. Acesso em: 10 set.
2011.

Seguimos apresentando os mapas das áreas de atuação da OTAN e do Pacto de Varsóvia:

◄ Figura 51: Mapa da


OTAN.
Fonte: <http://ummun-
doglobal.blogspot.
com/2010/11/nato-ou-
-otan-organizacao-do-
-tratado-do.html>. Acesso
em: 10 set. 2011.

57
UAB/Unimontes - 8º Período

Figura 52: A geografia ▲


da Guerra Fria, em 1980. Primeiro vieram as medidas de força, Exemplos que podemos citar são os compu-
Fonte: <http://hist9al- como a divisão de Berlim, depois, em 1961, o tadores, as microondas (forno, celular) e os sa-
fandega.blogspot. muro, a criação da OTAN e do Pacto de Varsó- télites, que foram criados para fins militares e
com/2010_05_01_archive.
html>. Acesso em: 10 set.
via. Numa perspectiva interna das duas potên- hoje estão em nossas casas (TV, Celular, Inter-
2011. cias, a corrida armamentista (o crescimento do net), fazendo parte de nosso cotidiano.
arsenal nuclear das duas potências), e a con- Um cenário importante desse momen-
Para saber mais quista espacial (a conquista do espaço sideral, to, como campo de disputas militares efetivas
em particular da lua, e o desenvolvimento de entre as potências e afetando países e regiões
A OTAN (Organização
do Tratado do Atlântico satélites, uma das faces da corrida armamen- inteiras, foi o processo de descolonização da
Norte) ou NATO (North tista) passaram a ser a prioridade, nessa dis- Ásia e da África, pondo um fim à dominação
Atlantic Treaty Organiza- puta bipolar. Essas chamadas corridas, arma- de países europeus sobre esses continentes.
tion) é uma organização mentista e militar, acabaram por se tornarem, Alguns, desde o século XV, como o caso de
militar que se formou
na prática, laboratórios de novas tecnologias Portugal na África e dos ingleses na região de
no ano de 1949. Ela foi
constituída no contexto que, com o tempo, seriam usadas como pro- Macau na China, e a maioria desde o século
histórico da Guerra Fria, dutos do consumo cotidiano, no mundo todo. XIX e início do XX, com o neocolonialismo.
como forma de fazer
frente à organização
militar socialista Pacto
de Varsóvia, liderada
pela ex-União Soviética
e integrada por países
do Leste Europeu. A
OTAN existe e atua até
os dias de hoje, enquan-
to o Pacto de Varsóvia
deixou de existir na
década de 1990, com a
crise do socialismo no
Leste Europeu. Os países
membros da OTAN são:
Alemanha Bélgica, Cana-
dá, Dinamarca, Espanha,
Estados Unidos da
América, França, Grécia,
Países Baixos, Islândia,
Itália, Luxemburgo, No-
ruega, Portugal, Reino ◄ Figura 53: Divisão
Unido, Turquia, Hungria, neocolonial da África.
Polônia, República Tche- Fonte: <http://www.
ca, Bulgária, Estônia, Le- infoescola.com/historia/
tônia, Lituânia, Romênia, partilha-da-africa/>. Aces-
Eslováquia e Eslovênia. so em: 10 set. 2011.
Fonte: <http://www.sua-
pesquisa.com/o_que_e/
otan.htm>. Acesso 10 de
setembro de 2011.

58
História - História Contemporânea II

◄ Figura 54:
Neocolonialismo no
Oriente
Fonte: <http://conver-
secomagente.blogspot.
com/p/9-ano-turmas-901-
-e-902-historia.html>.
Acesso em: 11 set. 2011.

Quando analisamos aquele momento Além das disputas com as potências colo-
após a Segunda Guerra, com a Europa arra- niais, com o tempo, as guerras de descolonização,
sada, podemos inferir que o processo de des- como o caso da Coréia e Vietnã, acabaram por se
colonização da África e da Ásia foi uma de- tornarem palcos sangrentos da Guerra Fria. O caso
corrência do enfraquecimento das potências da guerra da Coréia é paradigmático, pois, começa
colonizadoras. Entretanto, a resistência come- com uma guerra de descolonização contra a Fran-
çou desde o início do século XX, na maior par- ça e, aos poucos, torna-se uma guerra civil do Nor-
te desses territórios ocupados. De acordo com te contra o Sul. Essa guerra foi o primeiro palco do
Moraes & Franco, “com o enfraquecimento confronto entre os socialistas, do norte, contra os
econômico e político das potências europeias capitalistas, do sul. Depois, o conflito se expandiu
no pós-guerra, seu poder sobre as colônias para outros países, Vietnã e Laos, e tornou-se um
também se tornou frágil. As rebeliões pela dos principais teatros de guerra entre as potências
independência multiplicaram-se” (2009, p. 33) do mundo bipolar.

2.3.1.1 A Guerra do Vietnã

Um dos principais legados da guerra da Coréia foi a do Vietnã. Os EUA viram, nessa vitória
socialista, uma derrota particular e exigiram a divisão do Vietnã, nos moldes coreanos, parte so-
cialista e parte capitalista.

Este conflito começou com a luta do povo vietnamita contra a presença colo-
nial francesa no país. A disputa foi comandada por Ho Chi Minh, líder do Par-
tido Comunista, e culminou, depois da longa luta armada, na expulsão das
tropas francesas em 1954. [...] Inconformados com a divisão, as forças da resis-
tência do sul organizaram uma Frente Nacional de Libertação (FNL), conhecida
também como vietcongue (MORAES & FRANCO, 2009, p. 49).

A guerra contra os EUA aconteceu en- nã do Norte empreenderam uma guerra con-
tre 1959 e 1975, com a derrota americana. Em vencional contra as tropas norte-americanas
1965, os EUA mandaram suas primeiras tropas e sul-vietnamitas, enquanto as milícias da FNL
para o Vietnã. As tropas do exército do Viet- lutaram uma guerra de guerrilha na região,

59
UAB/Unimontes - 8º Período

DICA usando o melhor conhecimento da selva e o da guerra fria, a guerra do Vietnã interferiu na
Veja o filme: elemento surpresa. Com a estratégia de guer- relação entre as gerações americanas, sendo
Parte superior rilha e apoio da China e URSS, os vietcongues um dos fatores que levaram a um conflito de
do formulário derrotaram os EUA, numa guerra sangrenta e gerações que atingiu todo o ocidente, com
____________________ desigual. Em 1973, os americanos admitiram o questionamento pelos jovens dos valores
a derrota e fizeram uma retirada dramática, das gerações anteriores, dentre eles o alista-
Parte inferior
do formulário deixando seus aliados vietnamitas para trás à mento obrigatório. Passeatas, desobediência
Corações e Mentes mercê do revanchismo vietcongue. Em 1975, o civil de jovens, que rasgavam seus cartões de
2010-05-22 Vietnã se unificou, novamente, sob a égide do convocação, corpos dos americanos mortos e
Francisco socialismo. imagens e relatos chocantes, atingiram de forma
Título original: Um fator que devemos considerar, nes- definitiva os EUA e o mundo. A TV, o cinema e,
(Hearts and Minds)
Lançamento: sa guerra, foi o crescente descrédito do povo mesmo o teatro, com a peça Hair, tiveram uma
1974 (EUA) americano em relação à mesma, fazendo com participação decisiva na formação da opinião
Direção: que o governo perdesse legitimidade para pública. A Guerra Fria tinha, enfim, seu derrama-
Peter Davis mantê-la. Além de um dos principais palcos mento de sangue estampado para todos verem.
Atores:
Georges Bidault, Clark
Clifford, George Coker,
Kay Dvorshock.
Duração:
112 min
Gênero: Documentário

◄ Figura 55: Passeata


contra a guerra do
Vietnã.
Fonte: <http://www.cine-
click.com.br/oscar2012/
fotos>. Acesso em: 11 set.
2011.

Sinopse
Uma investigação sobre
a Guerra do Vietnã,
através de imagens da
guerra e entrevistas
com ex-combatentes
americanos e sobre-
viventes vietnamitas,
analisando assuntos
como a duração do
conflito, o militarismo e
o racismo entranhado
na cultura dos Estados
Unidos.

Fonte: <http://www.
adorocinema.com/
filmes/coracoes-e-
-mentes>. Acesso em:
21 set. 2011.

Figura 56: Esta é provavelmente a


principal imagem produzida sobre
a guerra. Crianças apavoradas pelas
tropas americanas e a menina do
meio nua, queimada pelas bombas
Napal, atiradas pelos americanos.

60 Fonte: <http://www.grupoescolar.com/
pesquisa/a-guerra-do-vietna.html>.
Acesso em: 11 set. 2011.
◄ Figura 57: Jovem
soldado americano
ferido.
Fonte: <http://vitri-
nedaweb.blogspot.
com/2010/11/fotos-
-emblematicas-da-guerra-
-do-vietnam.html>. Acesso
em: 11 set. 2011.

O confronto saiu da selva vietnamita e Kennedy, de Martin Luter King, as invasões,


ganhou os campi das universidades e ruas do pela polícia, das universidades americanas, ati-
mundo todo. Movimentos pacifistas, feminis- rando contra os estudantes, entre outras reações
tas, Hippies, entre outros, espalham-se pelo dos “donos do poder”, procuravam barrar as mu-
mundo, a partir dos EUA. Os jovens protago- danças, sem sucesso. As mudanças vieram em
nizam a cena política com um novo modelo relação à cultura, com o crescimento da indústria
plural, entre revoluções socialistas e dos cos- cultural de massa, desde o cinema até o rock e as
tumes. Tudo mudou! Eclodem os movimentos histórias em quadrinhos. A sexualidade mudou,
por Direitos Civis. Entretanto o “establishment” o lugar da mulher mudou, e novas formas de se-
não aceitou, pacificamente, essas manifesta- xualidade saem das sombras (ou do armário). As
ções. Os assassinatos dos irmãos John e Ted plataformas políticas, também, mudaram.
61
UAB/Unimontes - 8º Período

▲ Figura 59: Martin Luter King na


manifestação pela paz, a Marcha de
Washington.
Fonte: <http://historiapensante.
blogspot.com/2011/06/personalidades-
-historicas-martin-luther.html>. Acesso
em: 12 set. 2011.
Figura 58: Manifestante ▲
negra sendo presa.
Fonte: <http://ima- As imagens acima mostram a força des-
gesvisions.blogspot. ses movimentos. Mesmo diante da despro-
com/2011_06_01_archive.
html>. Acesso em: 12 set. porção do poderio entre os protagonistas,
2011. os, supostamente, mais fracos cresceram em
número e em força e derrubaram fortalezas
nos fronts de batalha. Em Cuba e no Vietnã,
Figura 60: Broche ► as guerrilhas em ação derrubam o poderio
(boton) da Marcha de americano. As “muralhas da moral e dos bons
Washington. costumes” também, caem, com o feminismo
Fonte: <http://turning- e outros movimentos de ruptura de padrões
points11.wikispaces.com/
MarchonWash>. Acesso sociais. Esses movimentos da década de 1960
em: 12 set. 2011. trouxeram novas formas de ver o mundo e
novos comportamentos, dos quais tratare-
mos mais adiante.

2.3.1.2 A Revolução Chinesa

Como escreve Rogério Haesbaert (1994), a China atual somente pode ser entendida se bus-
carmos entender a complexidade histórica e geopolítica desse país. Escreve o autor:

A China é um verdadeiro universo dentro do planeta: país mais populoso, com


mais de um quinto da população do mundo, o terceiro em área (logo após a
Rússia e o Canadá) e uma das civilizações mais antigas de que se tem notícia.
Essa cultura milenar, em meio a uma massa de miseráveis, chegou a ser a pri-
meira “civilização” do mundo sob as dinastias Tang (618-907) e Ming (em espe-
cial no século XV). Após ser dilacerado pelo imperialismo ocidental, no sécu-
lo XIX, e de surpreender o mundo com as transformações lideradas por Mao
Tse-Tung (que fechou o país durante a “revolução cultural”, de 1966 a 69 o
país ostenta hoje uma abertura ao capitalismo com recordes de crescimento
e todas as contradições que esse “reencontro com o ocidente” implica (HAES-
BAERT, 1994, p. 8).
Glossário
Kuomintang: Para entendemos a China no século XX, mo chinês, que emergiu entre 1919 e 1950. O
Partido Naciona- trataremos aqui de seu contexto revolucioná- PCC – Partido Comunista Chinês - foi criado
lista Chinês, criado
em 1911, durante a rio, pois, quando falamos de revoluções, não no momento de expansão do socialismo, com
revolução Xinhai, que podemos nos ater a um momento específi- a criação de vários partidos no mundo todo,
derrotou e destituiu co, mas, em todo o processo revolucionário. na década de 1920, mais especificamente, em
a dinastia Quing ou O império chinês decadente não resistiu às 1921. Entre 1946 e 1949, ocorre a guerra civil,
Manchu, instaurando pressões imperialistas e foi se enfraquecendo, que opôs o Kuomintang ao Partido Comunista
a República da China.
Seu líder era o militar gradativamente, numa sequência de rebeliões Chinês, liderado por Mao Tsé-Tung.
e político Chiang Kai- que começaram por volta de 1911. Esse pro- Entre 1923 e 1927, houve uma aliança en-
-Shek. cesso ganhou força com o reforço do marxis- tre o PCC e o Kuomintang. Ainda em 1927, e,

62
História - História Contemporânea II

novamente, em 1937, entretanto, entraram Chinesa, capitalista, que conseguiu se manter


em confronto. O último conflito, entre 1946 e com o apoio do Tratado Sino-Soviético. En-
1949, terminou com a vitória dos comunistas. quanto isso, a China maoista forma sua própria
O Kuomintang, então, retira-se para a ilha de versão do socialismo, diferenciando-se dos so-
Taiwan (Formosa) e funda a República Popular viéticos. De acordo com Pierre Rousset,

Desde os anos 1930, a Ásia Oriental entrou em pé de igualdade na arena polí-


tica mundial: do lado do bloco imperialista, o Japão imperial afirmou suas am-
bições diante do ocidente; ao lado do bloco soviético, o PCC impôs sua inde-
pendência política diante de moscou. Desde 1945, a importância crucial dessa
região nunca se desmentiu (ROUSSET, in: LÖWY, 2009, p.336).

Nessa revolução, as imagens ganharam -Estado. Marcado, também, pelo culto à perso-
muita importância junto as massas chinesas. nalidade de Mao Tsé-Tung. Em várias inicitivas,
Vamos buscar nas imagens a força desse pro- o partido investiu em políticas intervencionis-
cesso chinês. Destacamos a presença das mu- tas de controle da população e promoção do
lheres, nas fileiras revolucionárias. Devemos crescimento econômico: a repressão do “Desa-
observar, também, que as forças maoistas têm brochar de Cem Flores” e o fracasso do “Salto
suas raízes no campo. O período maoista foi Adiante”, até os tormentos da Revolução Cul-
marcado pelo poder na mão de um Partido- tural, na década de 1970.

Figura 61: É marcante a►


presença de mulheres e
jovens, na propaganda
chinesa.
Fonte: <http://circul-
0vici0s0.blogspot.
com/2008/05/posters-da-
-revoluo-cultural-chinesa.
html>. Acesso em: 13 set.
2011

◄ Figura 62: Culto à


personalidade de Mao
Tsé-Tung.
Fonte: <http://circul-
0vici0s0.blogspot.
com/2008/05/posters-da-
-revoluo-cultural-chinesa.
html>. Acesso em: 13 set.
2011.

Figura 63: Culto ao Livro►


Vermelho, de Mao Tsé-
Tung.
Fonte: <http://www-
meditacaonapastelaria.
blogspot.com/2007/12/
modernizao-ou-revoluo-
-cultural-chinesa.html>.
Acesso em: 13 set. 2011.

63
UAB/Unimontes - 8º Período

Glossário Figura 64: Revolução ►


Cultural Chinesa.
O Desabrochar de Cem
Flores (1956-7): período Fonte: < http://veja.abril.
durante o qual o PCC com.br/260105/p_048.
incentivou a expressão html>. Acesso em: 13 set.
de varias escolas de 2011.
pensamento (inclusive
anticomunistas), supos-
tamente, para corrigir e
melhorar o sistema. Mao
Zedong [ou Mao Tsé-
-Tung] definiu o objetivo
do Desabrochar de Cem
Flores em 1956, a partir
do slogan: “Que flores de
todos os tipos desa- A Revolução Cultural marcou a derrocada EUA. Em troca dessa aproximação, a China foi
brochem, que diversas
escolas de pensamento do Maoismo. Na década de 1970, despontou admitida no Conselho de Segurança da ONU,
se enfrentem!” É possível um momento novo na política internacional em substituição a Taiwan. Em 1976, morre Mao
que o objetivo real do da China. Desde a morte de Stalin e a divulga- Tsé-Tung, que foi substituido por Deng Xia-
sistema, com a campanha
do Desabrochar de Cem ção de seus crimes por seu sucessor Kruschev, oping que, com mão de ferro, empreendeu a
Flores, fosse identificar Mao havia rompido com a URSS. Daí, na déca- abertura econômica da China para o ocidente,
elementos anti-revolu- da de 1960, começar a ocorrer uma aproxima- no final do século XX e início do XXI. A China é
cionários e expurgá-los
antes que pudessem ção com os EUA. Henry Kissinger, chanceler e hoje a principal potência do século XXI, e seu
prejudicar a construção mentor da política internacional americana em crescimento tem sido consistente num mundo
do comunismo. Mao teria vários governos desde então, fez uma viajem à onde as potências de século XX estão em forte
ficado, particularmen-
te, insatisfeito com os China, buscando estreitar suas relações com os crise econômica (EUA e UE-União Europeia).
intelectuais em relação
ao comunismo, fato que,
possivelmente, teria agra- 2.3.1.3 A Revolução Cubana e a Guerra Fria na Amérca Latina
vado sua desconfiança
em relação a esse grupo
e levado, em parte, ao Cuba é uma ilha no Mar das Antilhas a, Em 1952, Fulgencio Batista, no poder des-
movimento conhecido aproximadamente, 150 km dos EUA. Colônia de 1933, deu um golpe de estado e instaurou
como Revolução Cultural, espanhola até 1899, foi invadida e ocupada um regime ditatorial. Seu governo segregou
na década seguinte.
O Grande Salto Adiante pelos EUA que, apesar de sua independência a maior parte da população em benefício de
ou Grande Salto para em 1902, mantém uma base militar lá (Guan- poucos. A oposição era duramente reprimi-
Frente (1958-1960): tánamo), e os governantes locais, até 1959, da, dentre eles Fidel Castro, que foi exilado no
foi uma campanha lança-
da por Mao Tsé-Tung, que mantinham grande influência e presença ame- México até que, acompanhado de um grupo
pretendia tornar a China ricana na política e economia da ilha. Sua eco- de guerrilheiros, voltou à ilha e se instalou em
uma nação desenvolvida nomia era baseada no açucar, na mineração, Sierra Maestra, de onde deflagrou um proces-
e, socialmente, igualitá-
ria, em tempo recorde, no turismo e no jogo. A contravenção, jogo e so revolucionário. Esse processo foi marcado
acelerando a coletivi- prostituição, prosperava com a presença mar- pelo uso da guerrilha, que foi vitoriosa com a to-
zação do campo e a in- cante das máfias americanas. mada da capital, Havana, em janeiro de 1959.
dustrialização urbana. O
primeiro plano, inflexível,
fez aumentar a superfície
cultivada e o aumento
da produção agrícola no
país. Entre 1953 e 1958,
houve o primeiro plano
quinquenal chinês (re-
forma agrária, educação
obrigatória e formação de ◄ Figura 65: Os
cooperativas), em que foi revolucionários
formada a parceria com vitoriosos marcham
a URSS, governada por sobre Havana
Nikita Kruschev, a qual Fonte: <http://economia-
exportava tecnologia para socialistads.blogspot.
China. Porém, durante o com/2008/12/1959-2009-
período da Guerra Fria -revoluo-cubana-50-anos.
chamado de coexistência html>. Acesso em: 13 set.
pacífica, Nikita fez uma 2011.
visita ao Estados Unidos,
provocando um rompi-
mento de suas relações
com Mao Tsé-Tung. Esse
plano representou, para
a economia chinesa, o
afastamento definitivo do
modelo socialista sovié-
tico. Relações estas que
tem origem após a divul-
gação dos “Documentos
Secretos”, em que Nikita
denunciava as práticas
stalinistas.
História - História Contemporânea II

Assim como Mao tinha escrito suas ideias no “Livro Vermelho”, Fidel escreveu, no exílio, Glossário
seu livro “A História me Absolverá”, onde defende suas ideias, constituindo-se o principal opositor A Grande Revolução
ao governo de Batista. Fidel descreveu o ideal revolucionário, enfatizando a figura de um herói, o Cultural Proletária ou
revolucionário. Revolução Cultural
Chinesa:
foi uma profunda
Um homem que se conforma em obedecer às leis injustas, e permite que o campanha político-
país em que nasceu seja pisoteado pelos homens que o ofendem, não é um -ideológica levada a
homem honrado. [...] No mundo deve haver certa dose de decência como deve cabo a partir de 1966,
haver certa quantidade de luz. Quando há muitos homens desonestos, há sem- na República Popular
pre outros que são portadores da dignidade da maioria.São esses os que se da China, por Mao
rebelam com força terrível contra os que roubam a liberdade ao povo, que é Tsé-Tung. Seu obje-
o mesmo que roubar dos homens sua dignidade. Esses homens são intérpre- tivo era neutralizar a
tes de milhares de outros homens, de um povo inteiro, da dignidade humana crescente oposição
que lhe faziam alguns
(RUIZ, 2008, p. 91). setores menos radicais
do partido, em de-
Após a vitória, Fidel assumiu como pri- corrência do fracasso
do plano econômico
meiro ministro, prometendo eleições que não Grande Salto Adiante
aconteceram. Promoveu a reforma agrária, na- (1958-1960). Os alvos
cionalizou empresas estrangeiras e fuzilou os da Revolução eram
membros do partido
opositores. A tentativa de retomada, por parte mais alinhados com
dos EUA, com a frustrada invasão da Baia dos o Ocidente ou com a
Porcos por cubanos exilados treinados pela União Soviética, sobre-
tudo, intelectuais. Foi
CIA (EUA), em 1961, e a instalação de mísseis um moviento anti-inte-
soviéticos em Cuba coloca a ilha na linha de lectualista. Especialis-
frente da Guerra Fria. A adoção da vertente tas afirmam que esse
processo, apesar de
socialista em Cuba, praticamente nas costas ter sido encerrado por
americanas, levou, em 1962, ao rompimento Mao em 1969, durou,
com os EUA, ao embargo contra o país e à ex- de fato, até à morte
Figura 66: Fidel em Sierra Maestra. de Mao, em 1976, e
pulsão de Cuba da OEA. Fonte: <http://cenasecoisasdavida.blogspot. a subida ao poder de
com/2011/05/artigos-revolucao-cubana-uma-revolucao. Deng Xiaoping, então
html>. Acesso em: 13 set. 2011 Secretário-Geral do
Partido, o qual, gradu-
almente, deu início às
O fracasso da ação contra a expansão do socialismo teve em Cuba um de seus epsódios mudanças nos rumos
mais críticos. Foi o clímax da Guerra Fria. A instalação dos mísseis em Cuba teria levado o mundo políticos e econômicos
à beira da ruptura da dissuasão entre as duas potência nucleares. A retirada das armas pela URSS do país.
Fonte: <http://
fez o mundo respirar, novamente aliviado. Entretanto, a influência soviética sobre a ilha se forta- guinevereuniver-
leceu e perdurou até a queda da URSS. Essa relação com a URSS salvaguardava cuba do embargo sidade.blogspot.
ocidental. Seu final e a senilidade de Fidel Castro deflagrou um novo momento. com/2012/01/o-que-
-foi-revolta-das-cem-
-flores-como.html>.
Acesso em: 13 set.
2011.

OEA - Organização
dos Estados Ameri-
canos:
é uma organização
internacional, criada
em 1948, com sede em
Washington (Estados
Unidos), cujos mem-
bros são as 35 nações
independentes do
continente americano.

◄ Figura 67: Jornal


brasileiro “Estado de
São Paulo”, noticiando
a invasão da Baia dos
Porcos.
Fonte: <http://www.goo-
gle.com.br/imgres?q=inva
s%C3%A3o+da+baia+dos
+porcos&um=1&hl=pt-BR
&biw=1441&bih=688&tbm
=isch&tbnid=VOBBICP0B6
swnM:&imgrefurl>. Acesso
em: 13 set. 2011.
65
UAB/Unimontes - 8º Período

A tensão da Guerra Fria se alastra pela América Latina, principalmente após a Revolução
Cubana. O crescimento das esquerdas e a ameaça socialista fez com que os EUA resolvessem in-
tervir na América Latina, tanto com meios diplomáticos quanto com meios militares. As ideias
socialistas se manifestavam em vários países latinoamericanos, mas, de acordo com Emir Sader
(1985, p. 6) o único exemplo efetivo de revolução foi a cubana. Escreve o autor: “Após 1945, a for-
ma básica de luta revolucionária no terceiro mundo, ou seja, em qualquer parte do mundo, pare-
cia ser a guerra de guerrilha.” Para Florestam Fernandes (2007), a guerrilha foi fundamental para a
construção do socialismo em Cuba. Sader (1985) continua dizendo que:

A revolução cubana é um dos poucos exemplos neste continente que realmen-


te merece receber o nome de revolução, qualquer que seja o juizo que se faça
sobre o seu caráter. Ela não é apenas um produto histórico da mobilização po-
pular, mas é o desenvolvimento de um programa de transformações democrá-
ticas, nacionais e socialistas (SADER, 1985, p. 5 e 6).

O crescimento da esquerda na América Latina é proporcional ao da oposição reacionária. A


forma militar de expressão da Guerra Fria foi a adoção da teoria da Segurança Nacional, no lugar
da de Defesa Nacional, em todo o bloco ocidental. Enquanto a geopolítica baseada na Defesa
Nacional visava proteger as fronteiras dos países contra o inimigo externo (guerra tradicional),
a Segurança Nacional vigente na Guerra Fria, desde o macartismo nos EUA, visava proteger os
países ocidentais de seus inimigos internos: os comunistas. Tudo que tivesse uma alcunha socia-
lizante era visto com uma proposta ou atitude comunista.

Figura 68: Repressão na►


Argentina.
Fonte: <http://www.
aldeiagaulesa.net/2011/07/
catalogo-online-reune-fil-
mes-sobre.html>. Acesso
em: 13 set. 2011.

Foi com base nas premissas acima que golpes militares foram empreendidos em grande
parte da América Latina, com o suporte norte-americano. Os EUA deram suporte para a implan-
tação das ditaduras, em parceria com as elites locais, fortalecendo o tripé que sustentava o mo-
delo de industrialização (substituição de importações) com o investimento do capital internacio-
nal na região. O tripé que será sustentado é a aliança entre o capital nacional, o internacional e o
Estado.
Os golpes militares puseram fim às reformas sociais e à democratização da América Latina,
em particular no Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai e Argentina. Em alguns países, como no Brasil, os
governos militares duraram 30 anos, com tortura, censura e sérias limitações dos direitos civis. O
Brasil é o exemplo mais próximo desse processo para você entender. As crises da Guerra Fria es-
tavam no auge quando Jânio Quadros, presidente eleito com larga maioria, renunciou, alegando

66
História - História Contemporânea II

pressão de “forças ocultas”. João Goulart, o vice, estava em viagem à China comunista. Ambos se Glossário
mostravam favoráveis a Cuba e, após um processo conturbado para ter acesso ao cargo de pre- Macartismo:
sidente, João Goulart assumiu e propôs, juntamente com seu Ministro do Planejamento, Celso movimento político
Furtado, reformas de base, nas quais estava incluída a reforma agrária. reacionário, anti-
-comunista, liderado
pelo senador ameri-
cano Joseph MacCar-
thy, que criou uma
comissão parlamentar
que empreendeu uma
verdadeira persegui-
ção a possíveis comu-
nistas nos EUA, entre
os fins da década de
◄ Figura 69: Encontro de 40 e parte da década
Jânio e Che Guevara, de 50. Vários artistas,
revolucionário cubano. cientistas e sindicalis-
tas foram intimados e
Fonte: <http://sul21.com. persseguidos. Chales
br/jornal/2011/04/janio- Chaplim, que era
-quadros-carismatico-e- inglês e vivia nos EUA,
-contraditorio-abandona- foi o caso paradigmáti-
-o-poder/>. Acesso em: 18 co de perseguição. Ele
set. 2011. foi expulso dos EUA.

Para a elite e a classe média, entre outros setores conservadores nacionais ou internacio-
nais, o golpe (chamado pelos militares de revolução) era inevitável para que o comunismo não
tomasse o Brasil de assalto. O golpe acontece em 1964, e, em 1968, com o AI-5 (Ato Institucional
no. 5) são cassados os direitos civis, e a ditadura se instaura (censura, tortura, fim do Habeas
Corpus, plenos poderes aos setores repressivos policiais: polícia militar, civil, polícias da mari-
nha, do exécito e da aeronáutica).

◄ Figura 70: Imagens da


Ditadura Militar no
Brasil
Fonte: <http://futuro9.
blogspot.com/2010/05/
ditadura-militar-no-brasil-
-america.html>. Acesso
em: 13 set. 2011.

O processo de redemocratização coincide com o próprio desgaste da Guerra Fria e mudanças


nas correlações de forças internacionais que trataremos adiante. A crise do capitalismo e do socialis-
mo gerou grandes transformações na década de 1980. Problemas políticos e econômicos afetaram
as relações internacionais culminando no fim da Guerra Fria e da bipolaridade mundial. Entretanto,
antes de caminharmos na direção do fim, vamos ver o lado diplomático e econômico da Guerra Fria

67
para entendermos melhor a crise que se seguirá.
UAB/Unimontes - 8º Período

Quadro 1- Implantação das ditaduras na América Latina

Argentina – 1976-1983
Brasil - 1964-1985
Bolívia – 1971-1985
Chile – 1973-1989
Equador – 1972-1979
Guatemala – 1970-1985
Nicarágua - 1967 - 1989
Paraguai – 1954-1989
Peru – 1968-1980
Uruguai – 1973-1984
Fonte: LESSA, 2011

Você sabia que a década de 1980 marcou ação, e as dívidas externas passaram a ser co-
o fim desse período ditatorial na América La- bradas levando a região à hiper-inflação e à
tina? Esse processo coincide com o período recessão. Esse quadro foi alterado na década
de desgaste da Guerra Fria, em particular com de 1990, com a queda da URSS e a nova ordem
a crise econômica capitalista e o desgaste do social, com a globalização, o neoliberalismo e
bloco socialista. A crise econômica leva o Fun- a instauração de uma ordem democrática que
do Monetário Internacional – FMI a entrar em trataremos na próxima unidade.

2.3.2 O Oriente Médio – cenário geop olítico de um conflito que se


mantém atual

O Oriente Médio é uma região estratégi- A expansão da industrialização e do uso


ca por sua localização entre a Ásia, a África e a do petróleo, como, provavelmente, a mais im-
Europa, entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano portante matéria-prima da contemporaneida-
Índico. É o local do nascimento das grandes re- de, desencadeou a sua produção em massa na
ligiões monoteístas: o cristianismo, islamismo, região, a partir de 1945. A região com as maio-
judaísmo, além do zoroastrismo, matriz de to- res jazidas de petróleo conhecidas no mundo
das as religiões monoteístas atuais. É o berço ganhou crescente importância. Destacaram-
de grandes civilizações, na região chamada de -se: a Arábia Saudita, Irã, Kuwait, Iraque e Emi-
Crescente Fértil, que vai do Irã ao Egito. Com- rados Árabes Unidos, com grandes quantida-
porta uma população de cerca de 260 milhões des de reservas e produção de petróleo.
de habitantes, a maioria mulçumanos, além de, Vemos todo dia o Oriente Médio na TV.
aproximadamente, 12 milhões de cristãos, em São tantos conflitos que, como historiadores,
sua maioria coptas e moritas, e 6,5 milhões de ju- deveríamos nos perguntar como esse proces-
deus. Há milênios tem sido uma região estratégi- so se estrutura. Vamos tomar como marco a
ca, de disputas econômicas, políticas e culturais. Guerra Fria. Durante a Guerra Fria, o Oriente
Médio foi um teatro de luta ideológica entre
as duas superpotências, os Estados Unidos e a
União Soviética, que competiam por zonas de
influência e aliados regionais. Nesse quadro
da Guerra Fria, a região tem sido pontuada por
Figura 71: Crescente► conflitos e guerras, como a revolução Iraniana
Fértil dos aiatolás, a guerra Irã-Iraque, a guerra do
Fonte: <http://www. Golfo, guerra do Iraque, o conflito palestino/
infoescola.com/geografia/ árabe-israelense e do Afeganistão.
crescente-fertil/>. Acesso
em: 20 dez. 2011. Destacaremos aqui os conflitos que surgi-
ram com a Guerra Fria, mas que estão compro-
metendo a paz regional e mundial até hoje.
Devemos ressaltar que os conflitos do Oriente
Médio são, assim como alguns que se matém
na África, os principais remanescente da Guer-
68
História - História Contemporânea II

ra Fria nesta primeira década do século XXI. tão. Esses três conflitos geraram outros subse-
Dentre eles, vamos tratar de quatro blocos: quentes em sua quente e estratégica periferia,
a Palestina e o Estado de Israel; os persas e a com a participação dos egípicios, libios, sírios,
islamização da política; o Iraque e o Afeganis- jordanianos e libaneses.

◄ Figura 72: Mapa do


Norte da África e
Oriente Médio
Fonte: <http://www.
historiadomundo.com.
br/arabe/mapa-paises-
-influencia-arabe.htm>.
Acesso em: 26 set. 2011.

2.3.2.1 Árabes X Judeus: a questão palestina

Região marcada pela presença imperialista


europeia, a região da Palestina vinha recebendo
judeus desde o início do século XX. O crescimen-
to da discriminação na Europa no século XIX e a
própria concepção de país como lugar, território
de uma nação, emergente nesse período, levou
a um crescente interesse dos judeus de se esta-
belecerem na terra dos seus ancestrais.
Esse processo levou à criação do Movi-
mento Sionista, em 1892, por Nathan Birn-
baum, um escritor judeu vienense. Entretanto,
foi o jornalista e escritor austríaco Theodor
Herzl, autor do livro “Der Judenstaat” (O Es-
tado Judeu) que foi chamado o “Pai do Sio-
nismo”. O livro “O Estado Judeu”, de Theodor
◄ Figura 73: Theodor
Herzl, escrito em 1896, é uma combinação de Herzl, fundador do
um manifesto político e um tratado jurídico. Movimento Sionista.
De acordo com Lewis (1996, p. 307), o sionismo Fonte: Disponível em:
era um movimento baseado, em parte, nas tradi- <http://historiador-
ções religiosas judaicas, mas se fortaleceu como doimpossivel.blogspot.
com/2010/05/theodor-
movimento político que apresentava um viés -herzl-o-homem-que-
nacionalista entre os judeus. Se seguirmos este -fundou-o.html>. Acesso
raciocínio, o sionismo seria um dos últimos movi- em: 20 set. 2011.
mentos nacionalistas da Europa.

69
UAB/Unimontes - 8º Período

Resume os problemas da existência judaica na sociedade moderna e expõe a


estrutura das organizações necessárias para criar uma sociedade judaica em
uma nova terra. Herzl não somente descreve uma sociedade que seria um re-
fúgio para os judeus, mas também a planejava como modelo de justiça social,
baseada na literatura socialista utópica do século XIX. No livro encontramos
que foram três os seus principais argumentos: 1) sua teoria de anti-semitismo;
2) seu conceito do judaísmo como nação; 3) sua definição do sionismo como
movimento político. (Fonte: Disponível em: <http://www.betarbrasil.com/
sionismo/o-estado-judeu>. Acesso em: 01 out. 2011).

Entre os árabes, também dominados, an- se tornou possessão inglesa. A França recebeu
tes pelos turcos otomanos e, posteriormente, a Síria e o Líbano.
pela Inglaterra e França, crescia o nacionalis- Para ter o apoio dos judeus e árabes na
mo. Não demorou muito para que o sionis- Primeira Guerra Mundial, a Inglaterra elaborou
mo entrasse em confronto com o crescente a “Declaração Belfour”, negociada por Arthur
nacionalismo árabe. Apesar das esperanças James Balfour, prometendo aos dois povos res-
dos povos do Oriente Médio na independên- peitar suas reivindicações nacionalistas. Dava,
cia diante das perdas otomanas da Primeira principalmente, aos judeus, garantias da criação
Guerra Mundial, em 1920, dois anos depois de um estado para esta nação. Houve uma forte
de a Grã-Bretanha conquistar a Palestina dos oposição palestina, que se opusera ao plano de
otomanos, que a haviam ocupado desde 1517, criação de um estado judeu independente. Essa
a área foi alocada ao Reino Unido. A área que, resistência conduziu a revoltas em ambas as par-
presentemente, constitui a Jordânia, a área en- tes. De acordo com Moraes & Franco:
tre o Jordão e o mar Mediterrâneo e o Iraque

Em 1947, a Inglaterra, devastada com as perdas provocadas pela segunda guer-


ra mundial, anunciou que se retiraria da Palestina e entregaria às Nações Uni-
das o encargo de decidir sobre o futuro dos povos que viviam naquela região.
Em 29/11/1947, sem consultar a população árabe palestina, a ONU votou em
um plano de partilha da Palestina em um Estado judeu e outro árabe, com Je-
rusalém recebendo Status internacional (MORAES & FRANCO, 2009, p. 35).

A recém-criada Organização das Nações serto do Neguev. Em 30 de novembro de 1947,


Unidas - ONU recomendou a aplicação do a Alta Comissão Árabe rejeitou o plano, bus-
Plano de Partição da Palestina, aprovado pela cando exercer pressão para que fosse revista
Assembleia Geral das Nações Unidas, através a resolução e outra proposta fosse apresenta-
da Resolução 181, de 29 de novembro de 1947. da. Nessa altura, a Liga Árabe não considerava
Os judeus receberam 55% da área, sendo que, ainda uma intervenção armada na Palestina, à
desse percentual, 60% era constituída pelo de- qual se opunha a Alta Comissão Árabe.

Figura 74: Mapa da►


formação do Estado de
Israel.
Fonte: Disponível em:
<http://profjefersongeo.
blogspot.com/2006/01/
evoluo-das-fronteiras-de-
-israel.html>. Acesso em:
22 set. 2011.

70
História - História Contemporânea II

De acordo com Moraes e Franco (2009,


p.35), em 14/05/1948, diante do reconheci-
mento oficial do fim do mandado britânico
sobre a Palestina, David Ben-Gurion declarou
a Independência do Estado de Israel, com o
reconhecimento imediato da União Soviética
e dos Estados Unidos. Em 1948, foi fundado o
Estado de Israel, com o apoio da ONU e o re-
púdio do mundo árabe. Os Estados árabes vi-
zinhos, que contestam a criação de Israel, deci-
dem intervir. Imediatamente registraram-se os
primeiros confrontos com os árabes.
Entre 1948 e 1949, acontece a primeira
guerra entre israelenses e árabes. Os exércitos ◄ Figura 75: A Guerra dos
6 dias.
do Egito, Iraque, Líbano, Síria, Transjordânia e
Fonte: Disponível em:
palestinos remanescentes entram na Palestina, <http://www.areamilitar.
dando início à primeira de uma série de guer- net/HISTbcr.aspx?N=50>.
ras que iriam constituir o longo conflito árabe- Acesso em: 02 out. 2011.
-israelense. Constituindo-se como um Estado
militarista e investindo na expansão de seu arse-
nal bélico, assim como na transformação de cada
cidadão, homens e mulheres, em soldados, Israel
conseguiu se impor sobre os seus inimigos.
Os israelenses venceram a guerra de
1948-1949 e ampliaram o seu domínio por A guerra de 1967 é tipicamente constitu-
uma área de 20 mil km² (75% da superfície da ída pelas correlações de forças da Guerra Fria.
Palestina). O conflito provocou a fuga de 900 Entretanto, foi em seu contexto que novas for-
mil palestinos das áreas incorporadas por Israel, ças que passariam a atuar posteriormente se
que formaram um grande contingente popula- constituíram. Em especial, devemos destacar o
cional disperso pelos campos de refugiados do aparecimento da confederação de países ára-
Oriente Médio. Em 1966, os incidentes fronteiri- bes, Repúblicas Árabes Unidas (RAU) e, tam-
ços, cada vez mais frequentes, tornavam previsí- bém, do Al Fatah (grupo palestino). Conforme
vel um novo confronto no Oriente Médio. Moraes & Franco (2009),

No início dos anos 60, ocorreu a retomada das tensões no oriente médio. Em
1964, os lideres do Egito, Argélia e Tunísia patrocinaram o surgimento da OLP
[Organização Para a Libertação da Palestina] que passou a utilizar a Al Fatah or-
ganização político-militar como braço armado para fustigar os israelenses por
meio de ações terroristas.
No Egito, Abdel Nasser rearmava seu exército com material e assessoria soviéti-
ca. Ao mesmo tempo, formava com a Síria uma confederação, a República Ára-
be Unida (RAU). Enquanto isso, os EUA e seus aliados armavam Israel. Os fatores
conjunturais que conduziram ao conflito de 1967 foram os seguintes:
a. Pressionado por setores radicais do governo egípcio, Nasser solicitou a re-
tirada dos “capacetes azuis”, força de paz da ONU, instalados desde 1957
na fronteira israelense–egípcia;
b. O Banco Mundial e o FMI pressionaram o governo egípcio a submeter-se a
um programa de redução de gastos e privatização das indústrias.
A recusa de Nasser em dobrar-se a essas exigências levou ao bloqueio de em-
préstimos e financiamentos e isso comprometia o desenvolvimento egípcio;
diante desse quadro, Nasser resolveu decretar o fechamento do golfo de Áca-
ba à navegação israelense. Sem dúvida este último ato serviu como principal
pretexto para a guerra. E, assim, na manhã de 05/06/1967, Israel desfechou um
ataque aéreo fulminante que pegou de surpresa os árabes e o mundo todo
(MORAES & FRANCO, 2009, p. 36 e 37).

Os bombardeiros israelenses decolaram de nai. Em 6 de junho, conquistaram Gaza e, um dia


Tel Aviv em vôo rasante para não serem detecta- depois, chegavam ao Canal de Suez. Terminada
dos pelos radares árabes, penetrando no espaço essa guerra em três frentes, Israel controlava
aéreo egípcio e destruindo sua força aérea em uma área quatro vezes maior que o seu território
solo. Como escreve Moraes e Franco (2009, p. 37), original. O êxito israelense mostrou ao mundo e,
simultaneamente, a aviação israelense atacou os em particular aos árabes que, apesar de sua situ-
aeroportos da Síria e da Jordânia, e as forças blin- ação geográfica desfavorável, conseguiria se im-
dadas do General Moshe Dayan ocuparam a Fai-
xa de Gaza, territórios do norte do deserto do Si-
por como a principal potência militar do Oriente
Médio. 71
UAB/Unimontes - 8º Período

Figura 76: As►


tropas israelenses
invadem Jerusalém e
conquistam o muro das
lamentações.
Fonte: Disponível em:
<http://xande-xandinho.
blogspot.com/2010/07/
israel-e-estado-sempre-
-sera.html>. Acesso em: 02
out. 2011.

Guerra do Yom Kippur (1973)

Os conflitos continuam. O fracasso dos Estados Árabes na guerra de 1967 levou ao surgi-
mento de um movimento que leva o nacionalismo árabe a um novo patamar. A Organização de
Libertação da Palestina (OLP), concebida como vetor armado de libertação, nas décadas seguin-
tes, lançava ataques contra alvos israelenses, sendo o mais conhecido e polêmico desses ataques
o massacre de atletas israelitas nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972, em Munique, na Alema-
nha. Israel reagiu com a Operação Cólera de Deus, na qual os responsáveis pelo massacre de Mu-
nique foram encontrados e executados. Escreve Haroub, apud Collares,

As ideologias nacionalistas e marxistas que antes ganhavam fôlego na região,


começaram a retroceder em face da ascensão gradual dos movimentos e da
política islâmicos. Começando em meados de 1970, os islamitas palestinos
começaram a estabelecer sólidas bases de operações nas cidades palestinas
(2012, p. 28).

Em 1973, tropas egípcias e sírias efetuaram um ataque de surpresa contra Israel, querendo
dar o “troco”. Israel enfrentou, pela primeira vez, a possibilidade de uma derrota, mas, muito bem
armados e com o suporte dos EUA, os israelenses contiveram a ofensiva com um contra-ataque.
O contexto egípcio aponta mudanças do papel desse país na Guerra Fria. Escrevem Moraes &
Franco:

Em 1970, com a morte de Nasser e a subida do vice-presidente Anuar Sadat,


encerrou-se a política terceiromundista que, na prática, tinha sido desmoraliza-
da em 1967.
Em 1972, Sadat expulsou aproximadamente vinte mil “conselheiros militares”
soviéticos e substituiu por egípcios.
Nesse período, Israel ignorou completamente as resoluções da ONU que deter-
minavam a devolução de Gaza e do Sinai para o Egito; da Cisjordânia para a
Jordânia e das colinas de Golan para a Síria. Ao mesmo tempo, o governo de
Israel tratou de implementar uma política de colonização destes territórios por
meio de transferências de populações e implementação de unidades produti-
vas agrícolas. Essa atitude criou condições para uma nova guerra. Dessa manei-
ra, no dia 06/10/1973, feriado religioso judeu do Yom Kippur (Dia do Perdão),
irrompeu um novo conflito Árabe-Israelense (2009, p. 38).

Prosseguiu o avanço do exército egíp- no, mas logo Israel reagiu à altura. Apesar de
cio no Sinai, que apenas foi detido quando as um cessar-fogo conseguido em negociações na
tropas de Israel abriram uma brecha entre os ONU, Israel não respeitou o acordo e suas tropas
dois exércitos egípcios. Esse foi um enfrenta- cercaram o 3° Exército egípcio. Os israelenses só
mento que se deu principalmente entre Israel se detiveram quando a ONU enviou tropas de in-
e Egito, nas colinas de Golan e no deserto do tervenção para vigiar o cumprimento do acordo
Sinai. Os árabes começaram ganhando terre- de cessar-fogo. De acordo com Moraes & Franco:

72
História - História Contemporânea II

Uma aliança formada entre Egito e Síria atacou Israel de surpresa. A resposta
israelense foi devastadora. O massacre só não foi maior em razão da intervesão
das superpotências que exigiram a assinatura de um cessar-fogo.
Os árabes, derrotados militarmente, passaram a utilizar o petróleo como arma
nas relações internacionais. O preço do petróleo ultrapassou patamares estra-
tosféricos, atingindo a economia capitalista dependente desta matéia prima
como principal fonte de energia; como se não bastasse o aumento, foram es-
tabelecidas cotas de produção, que significaram uma diminuição da produção
(Moraes & Franco, 2009, p. 38).

▲ Figura 77: Geografia de


Yom Kippur.
Fonte: Disponível em: <http://
israelxxpalestina.blogspot.
com/2007/08/9-guerra-do-
-yom-kippur.html>. Acesso
em: 02 out. 2011.
▲ Figura 78: Golda Meir,
Nixon e Kissinger.
Fonte: Disponível em:
2.3.2.2 A frente econômica da guerra: a OPEP e o Petróleo <http://ncoal.com/
blog/?p=3109>. Acesso
em: 02 out. 2011.
O petróleo passou a ser usado como um tores, mas, dentro de um quadro inter-
refém político dentro de uma estratégia eco- nacional da Guerra Fria, visava também o
nômica dos países produtores que, até 1960, controle do mercado, estatização das em-
estavam a mercê das potências consumido- presas estrangeiras extratoras e refinado-
ras, em particular dos EUA. Estes países pro- ras e a autonomia na fixação dos preços,
dutores, Iraque, Irã, Kuwait e Arábia Saudita que, aliado ao controle da oferta regrada,
e Venezuela, fundaram em Bagdá a Organi- fez com que, entre 1972 e 1980, o preço do
zação dos Países Exportadores de Petróleo óleo chegasse a duplicar. Em 1973, dian-
(OPEP), que, desde 1965, tem sede em Viena. te da importância do petróleo como meio
Com o tempo, o número de países membros de pressão política, pela primeira vez foi
da OPEP foi crescendo, chegando aos 13 Es- anunciada a necessidade de buscar outras
tados que a constituem atualmente. O obje- matrizes energéticas que pudessem subs-
tivo da organização era, inicialmente, uma tituir o petróleo que “estava acabando”.
estabilização dos preços do petróleo. Surge, neste mesmo período, a questão
A criação da OPEP tinha como obje- ambiental, da qual trataremos mais adian-
tivo aumentar o lucro dos países produ- te. Escreve Hobsbawm:

O triumfo da OPEP em 1973 produziu, pela primeira vez, um corpo de estados


do terceiro mundo, a maioria atrasada por quaisquer critérios e até então po-
bre, que agora surgiam como Estados supermilionários em escala mundial, so-
bretudo quando consistiam em pequenos trechos de areia ou floresta esparça-
mente habitados, governados (em geral) por xeiques ou sultões (1995, p. 352).

73
UAB/Unimontes - 8º Período

Quadro 2 - As guerras árabe-israelenses

Data Fatos

Egito, Iraque, Líbano e Síria tentam impedir a fundação do Estado de Israel.


1948/1949
A Jordânia recebe a parte oriental da Palestina, o Egito passa a controlar a Faixa
Primeira guerra
de Gaza, Jerusalém fica dividida entre Israel e a Jordânia.

Durante a crise do Canal de Suez, tropas israelenses invadem o Egito, anteci-


1956
pando-se ao ataque já esperado dos árabes.
Campanha do Sinai
Israel devolve a Faixa de Gaza e a península do Sinai.

1967 Israel ataca o Egito e a Síria e destrói a força aérea egípcia.


Guerra dos Seis A Faixa de Gaza, as colinas do Golã, a Cisjordânia e a península do Sinai voltam
Dias ao controle de Israel, que ocupa a parte oriental de Jerusalém.

1973 O Egito e a Síria atacam Israel, que se defende com sucesso.


Guerra do Yom Em 1974, os Estados Unidos intermediaram um tratado de redução de tropas
Kippur no Sinai e nas colinas do Golã.

Fonte: Disponível em: <http://geografiaeconjuntura.sites.uol.com.br/orientemedio/oriente08.htm>. Acesso em: 20 set. 2011.

2.3.2.3 O Acordo de Camp David

Com a intermediação do presidente dos residência de verão de Jimmy Carter. Esses


Estados Unidos, Jimmy Carter, o dirigente acordos, que seriam um ato unilateral do pre-
egípcio Anuar Sadat e o primeiro-ministro is- sidente egípcio, provavelmente foram o moti-
raelense Menahem Begin assinaram, em 17 de vo de seu assassinato. O acordo pressupunha
setembro de 1978, dois tratados de distensão o reconhecimento do Estado de Israel o que
dos conflitos entre os dois países. A negocia- não tem sido tolerado pelos árabes em suas
ção e acordos foram feitos em Camp David, muitas facções.

Figura 79: Menahem►


Begin, Jimmy Carter e o
dirigente egípcio Anuar
Sadat.
Fonte: Disponível em:
<http://www.tabernaculo-
dasnacoes.com.br/portal/
index.php?option=com_
content&view=article&id=
729&Itemid=194>. Acesso
em: 21 set. 2011.

Camp David não conduziu à paz no Oriente Mé- do Sinai e os dois países reconheceram as fron-
dio, mas sim entre Israel e Egito, que assinaram teiras. Reconheceram, também, o estatuto da
o tratado de paz em março de 1979. O Estado faixa de Gaza e Cisjordânia.
judaico retirou, progressivamente, suas tropas

74
História - História Contemporânea II

2.3.3 Outros conflitos no Oriente Médio Para saber mais


Entre as décadas de
1960 e 1980, Arafat,
O campo de conflito, antes de dimi- Libertação da Palestina - OLP no país. As for- e a OLP, conduzindo
nuir, em função de acordos e negociações, ças da OLP foram empurrados para norte do o Movimento Nacio-
estendeu-se e se acirrou. Os conflitos passa- rio Litani, rio que deu nome a essa operação. nal Palestino – Fatah,
abraçou a luta armada
ram a se pautar na rivalidade de israel com A OLP e o Fatah eram formados pelo mesmo contra Israel. A OLP era
organizações anti-israelenses, como a OLP, grupo, ambos liderados por Yasser Arafat. a principal representan-
o Fatah e o Hamas, entre outros. A questão Em 1985, Arafat foi exilado na Tunísia, e Isra- te da causa no mundo.
do Líbano é constituida de sobreposições el se retirou do Líbano. Entretanto, o sul do Como representante,
dos embates árabe-israelenses. Em 1978, Is- Líbano e o norte de Israel são, até hoje, área foi chamado a negociar
a paz. Essas negocia-
rael invadiu o sul do Líbano com o objetivo de tensão, com escaramuças esporádicas ções foram uma faca de
de acabar com as bases da Organização de com Israel. Segundo Hroub: dois gumes. Os acordos
de Oslo (1993) e de
Dois anos antes da guerra de 1967, Yasser Araffat e outros ativistas palestinos Campi David (2000)
na Cisjordânia, Faixa de Gaza e países árabes vizinhos criaram o Fatah [Movi- não deram em nada e,
mento de Libertação Nacional da Palestina] que declarou representar uma afi- principalmente, não
liação não ideológica e possuir uma perspectiva secular (2008, p. 12). impediram a contínua
expansão dos assen-
Na mesma época, foi criada a OLP e, sobre ela, continua Hroub: tamentos israelenses
sobre os territórios
palestinos. A situação
O objetivo da OLP era “libertar a Palestina”, ou seja, [...] mas depois da guerra
social dos territórios
de 1967, o objetivo precisava ser reduzido. Em vez de libertar a Palestina (aca-
palestinos se agravou.
bar com Israel) , seu enfoque voltou-se para a libertação de apenas duas das
mais recentes perdas de território: a Cisjordânia e a Faixa de Gaza (2008, p. 13).

▲ Figura 80: Mapa com o Líbano.


Fonte: Disponível em: <http://antoniori-
beironoticias.blogspot.com/2011/06/o-
-proximo-palco-da-guerra-estadunidense.
html>. Acesso em: 29 set. 2011.

▲ Figura 81: Yasser Arafat,


líder palestino.
No entendimento de alguns analistas, Universidade Islâmica. De acordo com Collares Fonte: Disponível em:
como Collares e Said, por exemplo, os acordos (2012, p. 46) “em 1987, antes mesmo do Hamas <http://umas-verdades.
blogspot.com/2010/11/
acabaram por enfraquecer a OLP dentro da anunciar sua entrada na política e deixar cla- yasser-arafat.html>. Aces-
Palestina e possibilitaram o aparecimento da ra uma posição mais endurecida em relação à so em: 29 set. 2011.
Antifada e do Hamas. De acordo com Hroub ocupação israelense, aconteceu a primeira An-
(2008, pp. 38-39), “o Hamas foi criado [1987] tifada (revolta palestina usando pedras)”.
pela Irmandade Palestina visando responder A Antifada, a partir de 1987, surgiu como
a um número de fatores que pressionavam a outra estratégia na forma de levante palestino
organização, mas dividido em duas alas, o Ha- contra Israel, com a eclosão de ondas de vio-
mas assistencial e o Hamas da resistência, com lência nos territórios ocupados. Basicamente,
o braço armado denominado Ezzeedeen Al os palestinos passaram a atacar o exército is-
Qassam Brigades.” raelense, com pedras. Ao longo dos seis anos
O pensamento político palestino islâmico seguintes, muitas pessoas foram mortas, em
se originou em Gaza, no Centro Islâmico e na particular jovens. Escreve Collares:

75
UAB/Unimontes - 8º Período

O ritual de jogar pedras tem grande significado para os mulçumanos, na Caaba


[o centro da peregrinação de Meca], jogam-se pedras numa coluna que sim-
boliza satanás. Atiram-se pedras naquilo que é desprezível. Como resistência,
simboliza David enfrentando o grande Golias (2012, p. 46).

Figura 82: A Antifada.►


Fonte: Disponível em:
<http://www.islamlaws.
com/intifada-meaning-ri-
se-of-palestinion-against-
-israeli-forces>. Acesso em:
29 set. 2011.

Através da Antifada, a causa palestina conquistou a simpatia em todo o mundo. Escreve Gil-
les Kepel:

A Estratégia foi tão danosa para o Estado judeu, para sua imagem internacio-
nal e para sua identidade moral que seus dirigentes foram obrigados a encarar
a necessidade de um processo de reconhecimento da OLP. Este tomou forma
após a Guerra do Golfo de 1990-91, resultando na declaração de princípio de
setembro de 1993, assinado por Israel e pelos palestinos, que instalou na Faixa
de Gaza, em julho de 1994, a Autoridade Palestina autônoma liderada por Yas-
ser Arafat (2003, p. 232).

◄ Figura 83: O Lider do


Hamas e da Autoridade
Palestina, acordo do
Hamas com o Fatah:
Taher Al-Nono, porta-
voz do Hamas na Faixa
de Gaza e Mahmoud
Abbas, presidente da
Autoridade Nacional
Palestina do Fatah.
Fonte: Disponível em:
<http://www.esta-
dao.com.br/noticias/
internacional,uniao-euro-
peia-estuda-acordo-entre-
-hamas-e-fatah-,712020,0.
htm>. Acesso em: 30 set.
2011.

76
História - História Contemporânea II

As condições do povo palestino têm se deteriorado em todos os sentidos. A pobreza, a des- DICA
truição, a violência e o isolamento marcam a vida de gerações em Gaza, na Cisjordânia e nos as- <http://oglobo.
sentamentos ou campos de refugiados. A principal fonte de recursos é a ajuda internacional. Em globo.com/mundo/
2004, morre Yasser Arafat. A Autoridade Palestina passou ao eleito Mahmud Abbas. O desgaste mat/2011/04/27/
dos grupos laicos principalmente do Fatah é grande. A Autoridade Palestina é vista como mais grupos-palestinos-
alinhada com as forças ocidentais. -fatah-hamas-se-
-reconciliam-con-
Diante desse quadro, em 2006, o Hamas, partido político de bases islâmicas é eleito, democrati- cordam-em-formar-
camente, através de voto popular, e obtém a maioria das cadeiras no Parlamento Palestino. No final -governo-interino-ate-
de dezembro de 2008, o cessar-fogo entre o Hamas e Israel acabou, após foguetes serem disparados a -eleicoes-924330177.
partir da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas. Israel respondeu com uma série de intensos ataques asp#ixzz1alXk5hQ4>.
aéreos. Em 3 de Janeiro de 2009, tropas israelenses entraram em Gaza, marcando o início de uma Acesso: 30 de setembro
de 2011.
ofensiva terrestre. A guerra continua, com grande tensão entre as duas partes. Escreve Collares: © 1996 - 2011. Todos os
direitos reservados a In-
No imaginário das pessoas que vivem nos território ocupados da Palestima, de- foglobo Comunicação e
pois de longos acordos de paz que no fim nunca responderam aos anseios da Participações S.A.
população de uma maneira satisfatória, o Hamas com sua carga de trabalhos
sociais, de lutas das quais muitas de forma violenta, um símbolo da resistência
palestina parecia poder naquele momento dar a solução ao menos em parte
para aqueles que já não tinham muita esperança por mais de meio século. Nes-
sa medida, o Hamas soube ao que parece, usar o imaginário social em seu be-
nefício [...] (2012, p. 113).

2.3.3.1 O Irã e a revolução islâmica

Provavelmente, a força do Irã como inter locutor das grandes potências, e


mesmo seus antagonismos, vem do papel peculiar que o país tem tido na história, em função
de sua marcante autonomia política e por não ter sido colonizado pelos turcos e, posteriormen-
te, pelas potências europeias, como seus vizinhos. O Irã foi governado, desde o início do século
XX, pela dinastia Reza Pahlevi, que ascendeu ao trono num processo de modernização do aís. Na
década de 1970, o poder do Xá Reza Pahlevi, no poder desde 1941, era concentrado dentro de
seu círculo de amigos e aliados. As condições sociais da população eram de grande concentração
de renda. A oposição islâmica foi se fortalecendo e se concentrava na figura do aiatolá Ruhollah
Khomeini, clérigo xiita que vivia exilado em Paris e que pregava a necessidade de reformas so-
ciais e econômicas, assim como uma retomada de valores religiosos islâmicos.
De acordo com Meihy, o nacionalismo está presente na revolução islâmica do Irã. Escreve o
autor:

A proclamação da morte do nacionalismo no Oriente Médio após a falência


do projeto nacionalista pan-árabe do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser
não possui sustentação. A derrota de um discurso nacionalista específico não
deve ser visto como o fim do nacionalismo no Mundo Árabe ou em todo o Oriente
Médio. A sobrevivência da divisão identitária dos povos locais em Estados-nação
com fronteiras bem estabelecidas parece mostrar que o Oriente Médio sofreu, nas
décadas de 1970 e 1980, uma nova definição conceitual de “nação” que não mais
priorizava elementos de qualquer origem racial, mas recorria à fonte simbólica da
religião, passível de ser amalgamada ao discurso nacional (2007, p. 27).

◄ Figura 84: Revolução


Islâmica
Fonte: Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk/
portuguese/especial/115_
iran/page7.shtml>. Acesso
em: 09 out. 2011.

77
UAB/Unimontes - 8º Período

No final dos anos 70, uma série de protestos violentos contra o regime do Xá tomou as ruas do
Irã. Uma onda de greves gerais aumentou a instabilidade e abalou também a economia iraniana. Em
1978, os opositores esquerdistas, liberais e xiitas uniram-se para desencadear o processo revolucioná-
rio e depuseram o Xá, assumindo o controle do governo, enquanto Reza Pahlevi fugia do país. Em 1º
de abril de 1979, o Irã foi declarado, oficialmente, uma República Islâmica, cuja autoridade suprema
era o chefe e guia religioso, o aiatolá Khomeini.
Para Meihy, a Revolução Islâmica coincidiu com a decadência dos projetos nacionalistas e
pan-arabistas que predominaram no Oriente Médio dos anos 50 aos 70. A revolução permitiu ao
islamismo tornar-se uma força. Essa força política mudou a concepção do islã político, do Mar-
rocos à Malásia. Não concordamos com a tese do fim do nacionalismo entendemos que ele ga-
nhou uma outra forma islâmica com a politização do islamismo durante a revolução contra o Xá.

[...] um exame conclusivo da ação política islâmica no Irã entre 1978 e 1988. As
polêmicas que envolvem a história política iraniana nas últimas três décadas
impedem que qualquer leitura dessa sociedade seja definitiva. Quando o aia-
tolá Khomeini ascendeu ao poder, muitos acreditaram (inclusive o Xá deposto)
que a Revolução Islâmica não sobreviveria. Em seguida, no momento em que
uma série de ações militantes aumentou as hostilidades entre o Irã e os Esta-
dos Unidos logo no primeiro ano da República, a queda da nova ordem política
parecia certa, mas não aconteceu. Mesmo quando o Iraque declarou guerra à
nação vizinha e arrastou ambos os países a um conflito sangrento ao longo de
quase dez anos de combate, a destruição do legado de Khomeini também não
veio. A única conclusão possível à análise da política iraniana é que ao longo de
todo o século XX, a coesão política dessa nação dependeu da força social dos
religiosos do xiismo duodécimo. O conceito de nação parece manter-se como
elemento central dos debates
[...] O Irã desde 1979 não repudia a modernidade em reverência ao tradiciona-
lismo com o qual é representado. Os avanços tecnológicos de sua indústria bé-
lica, além de seu bem sucedido programa nuclear servia como objeto de aná-
lise do vínculo do Estado iraniano a um projeto modernizador que em alguns
pontos específicos recusa o único modelo considerado legítimo pelo Ocidente.
O projeto de construção de um Estado-nacional moderno no Irã após a Revo-
lução Islâmica se fundamentou, originalmente, como uma alternativa anterior
à bipolarização do contexto da Guerra Fria e, principalmente, ao poder hege-
mônico exercido pelos Estados Unidos da América no Mundo Islâmico, desde a
segunda metade do século XX (MEIHY, 2007, pp.176- 177).

2.3.3.2 Consequências da Revolução Islâmica

A Revolução Islâmica abriu uma nova era geopolítica no Oriente Médio.

Quadro 3 - Principais mudanças que a Revolução Islâmica de 1979 provocou:

NO IRÃ NO MUNDO

- O despertar dos muçulmanos em todo o mundo


- A derrubada de um sistema monárquico que
e o regresso à espiritualidade e ao pensamento
datava de 2500 anos;
islâmico;

- O estabelecimento de um governo islâmico - Despertar da religião no mundo e retorno da fé e


baseado no Alcorão, na shari’a e na Escola de da religião à vida dos muçulmanos;
Ahlul Bait (A. S.), que diz respeito aos familiares
do Profeta (S.A.A.S);

- Expulsão dos conselheiros norte-americanos; - Expansão do pensamento islâmico;

- A humilhação dos super-poderes, perante os olhos


- Aniquilação da Savak;
dos oprimidos;

- Encerramento da Embaixada de Israel e estabe- - Apresentação de um modelo de doutrina política


lecimento da Embaixada da Palestina; baseado na religião;

78
História - História Contemporânea II

- Adoção de uma nova bandeira com as ins- - Retorno dos indivíduos ao Islã, especialmente à
crições “Allah-o Akbar” (Deus é Grande) que é Escola de Ahlul Bait (A.S.), uma vez que o Íman Kho-
repetida 22 vezes, 11 vezes em cada faixa. O nú- meini era um religioso educado nela;
mero 22 foi escolhido uma vez que a Revolução
Islâmica de 1979 derrubou o regime do Shah no
dia 22 do 11º mês do calendário islâmico;

- Encerramento das bases militares dos EUA no - Desenvolvimento da ideia pela procura de inde-
Irã; pendência e liberdade em todo o mundo.

- Criação de milhares de fundações e centros


islâmicos culturais na cidade sagrada de Qom e
outras cidades;

- Movimento de alfabetização;

- Formação dos “Guardas da Revolução”, uma for-


ça paramilitar iraniana cuja estrutura é indepen-
dente das forças armadas regulares;

- Estabelecimento do movimento de construção,


formado por milhares de jovens revolucionários
e voluntários que construíram estradas, hospi-
tais, escolas, plantações, centros sanitários, ele-
tricidade, água, e gás aos pontos mais distantes
do país;

- Condução do povo, em todos os aspectos, à


auto-suficiência, inclusive à exportação – o Irã
alcançou a auto-suficiência na produção de trigo,
vindo a tornar-se exportador deste produto,
enquanto que durante a era do Shah o país era
um dos principais importadores.

Fonte: Disponível em: <http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/geral/revolucao_islamica>. Acesso em:


09 out. 2011.

2.3.3.3 Por que a guerra no Afeganistão?

◄ Figura 85: Mapa do


Oriente Médio, com o
Afeganistão.
Fonte: Disponível em:
<http://afeganistaomiche-
langelo.blogspot.com>.
Acesso em: 10 out. 2011.

79
UAB/Unimontes - 8º Período

BOX 7

A independência do Afeganistão

Após o fim da Terceira Guerra Anglo-Afegã, com a assinatura do Tratado de Rawalpindi, em


1919, o Afeganistão conquistou sua independência em relação ao Reino Unido, sob a liderança
de Ammanullah Khan, que governou o país no período compreendido entre 1919 e 1926. Khan
buscou modernizar o Afeganistão, através da implementação de medidas internas que procura-
vam romper com as tradições seculares (HISTORY OF NATIONS, 2004). Ao final de seu governo,
as forças de oposição estavam fortalecidas, e, durante um período de tempo, houve inúmeras
sucessões no poder até que, em 1929, Mohammed Nadir Khan se instalou como líder.
O governo de Nadir Khan foi marcado pela consolidação do poder e a regeneração do país,
através de medidas modernizadoras. Em 1933, no entanto, Nadir Khan foi assassinado, e quem
assumiu o poder foi seu filho, Mohammad Zahir Shah (HISTORY OF NATIONS, 2004). Durante seu
reinado, vários foram os líderes que assumiram o cargo de primeiro-ministro, sendo Mohammed
Daoud Khan um dos principais. Daoud Khan assumiu em 1953 e realizou uma política de aproxi-
mação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e de afastamento dos países da região, em
especial o Paquistão. Em 1963, ele foi convidado a se demitir devido à crise econômica ocasiona-
da pelas tensões com o Paquistão.
A partir de 1964, Zahir Shah passa a ter um papel mais ativo, promulgando uma constitui-
ção liberal e criando instituições democráticas. O rei intencionava experimentar um modelo de
democracia, o que, no entanto, não funcionou da maneira imaginada e acabou por fortalecer
os partidos opositores, sendo o principal deles o Partido Popular Democrático do Afeganistão
(PDPA). Em 1967, esse partido se dividiu em duas facções: os Khalq, liderados por Nur Moham-
mad Taraki; e os Parcham, liderados por Babrak Karmal (HISTORY OF NATIONS, 2004).
Em 1973, Daoud Khan, através de um golpe de estado sem violência, toma o poder, justifi-
cado pela corrupção e pelo adultério da família real vigente. Ele aboliu a monarquia e revogou a
constituição de 1964, além de se proclamar presidente e primeiro-ministro. Uma nova constitui-
ção foi elaborada em 1977, mas as novas disposições que ela previa não satisfizeram à população
(UNITED STATES LIBRARY OF CONGRESS, 2001).
Todas as insatisfações e a repressão do governo aos opositores fizeram com que integrantes
do PDPA iniciassem uma revolução, que teve seu ápice com um golpe militar sangrento realizado
pela ala Khalq, mais radical. Esse golpe, compreendido entre 22 de abril e 22 de maio de 1978,
ficou conhecido como Revolução de Saur e levou ao assassinato do presidente Daoud, derruban-
do a república e instaurando uma nova era (HISTORY OF NATIONS, 2004).
Imediatamente após a Revolução, o Afeganistão foi declarado país comunista pelo novo
presidente, Nur Mohammad Taraki, e teve seu nome alterado para República Democrática do
Afeganistão. O Partido Popular Democrático do Afeganistão (PDPA) iniciou uma série de medi-
das que desagradaram à população, estando entre as principais a substituição das leis religiosas
e tradicionais para outras de caráter comunista, como a reforma agrária, a introdução do voto
feminino e o fim dos casamentos forçados. O governo do PDPA passou por esse processo de mo-
dernização com grande apoio soviético, mas não teve boa aceitação pela população local, que
era de forte caráter islâmico. Os cidadãos islâmicos que se engajaram na luta contra as reformas
são conhecidos como Mujahideen, e se envolveram, pessoalmente, com a jihad, ou a Guerra San-
ta, contra forças não-muçulmanas que colocam os ideais da religião em perigo. Além da própria
população, os países vizinhos, com grande população islâmica, também condenaram as refor-
mas que estavam sendo conduzidas pelo novo governo.
A resposta governamental aos protestos populares foi dada através de tirania e forte repres-
são, que se intensificou com o passar dos meses. Os líderes do governo passaram a fazer uso da
força contra tais protestos, além de terem promovido o assassinato de milhares de opositores.
Os principais jornais do país noticiavam a situação crítica em que o povo afegão vivia, e a popu-
lação civil, revoltada, organizou revoltas armadas para combater o governo, que respondeu com
ataques a cidades e execução de rebeldes. A insurreição armada se espalhou pelo país, e logo to-
das as regiões estavam sob domínio dos Mujahideen, além de divisões do exército afegão terem
se juntado à insurreição oposicionista. A resistência afegã não arrefecia, e o Partido Democrático
Popular Afegão clamou, no início de 1979, por ajuda da União Soviética e seu Exército Vermelho
A possibilidade de pedir esse auxílio possui embasamento jurídico no Tratado de Amizade, Boa
80
História - História Contemporânea II

Vizinhança e Cooperação, assinado pelos dois países, em Moscou, no ano de 1978.


A ajuda soviética iniciou-se, de forma mais direta, no dia 27 de dezembro de 1979, quan-
do milhares de tropas da URSS invadiram o Afeganistão para auxiliar o frágil governo comunista.
Nos meses anteriores do mesmo ano, o pedido afegão foi ignorado, e o apoio era apenas dis-
cursivo. Com a invasão, a repressão sobre a população afegã tornou-se ainda mais agressiva e
a sociedade internacional imediatamente reagiu contra a ação. O Exército Vermelho procurou
apoiar o governo e manter seu status. Travou-se um longo conflito que envolvia o Afeganistão e
a União Soviética contra grupos populares, com notável destaque para os jihadistas do Mujahide-
en. A invasão soviética foi justificada pela incapacidade do governo de se manter intacto frente
aos ataques dos rebeldes. Da mesma forma, os EUA alegavam intervir para proteger a população
marginalizada pelo governo ditador.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas foi imediatamente convocado para solucionar
o problema. Todavia, a União Soviética, como membro permanente e com possibilidade de vetar
qualquer projeto de resolução, colocava-se contra todas as condenações e barrava a possibilida-
de de consenso. Segundo a determinação da resolução A/RES/5/377, —Uniting for Peace, uma
reunião extraordinária da Assembléia Geral da ONU deveria ser convocada em caráter emergen-
cial no caso de o Conselho não conseguir aprovar nenhuma resolução para uma situação que
ameace a paz internacional. A problemática vivida pelo Afeganistão e sua população civil se en-
caixaria nessa determinação. Assim, no dia 9 de janeiro, 13 dias após a invasão, o CSNU aprovou
uma resolução convocando a 6ª Sessão Emergencial Especial da Assembléia Geral das Nações
Unidas. A sessão teve início apenas dois dias depois e teve seu fim no dia 14 de janeiro.
Fonte: Disponível em: <http://www.ri.pucminas.br/minionu/include/ominionu/arquivo/doc_58.pdf>. Acesso em: 10
out. 2011 (p.7-10).

A invasão soviética do Afeganistão foi 1979. A retirada final começou em 15 de maio


um conflito armado de nove anos entre tro- de 1988 e foi concluída em 15 de fevereiro de
pas soviéticas, que apoiavam o governo mar- 1989. Devido ao alto custo e ao resultado ma-
xista do Afeganistão, e insurgentes mujahidin logrado para aquela superpotência da Guerra
afegãos, que procuravam derrubar o regime Fria, a intervenção soviética no Afeganistão
comunista no país. No contexto da Guerra Fria, costuma ser comparada ao que foi, para os
a União Soviética apoiou o governo, enquanto EUA, a Guerra do Vietnã. Alguns estudiosos
que os rebeldes receberam apoio dos Estados pensam que o custo econômico e militar da
Unidos, do Paquistão e de outros países muçul- guerra contribuiu consideravelmente para o
manos. O conflito coincidiu no tempo com a Re- colapso da União Soviética em 1991. Esse con-
volução Iraniana (1979) e a Guerra Irã-Iraque. flito da guerra civil afegã começou em 1978 e
As primeiras tropas soviéticas a entrar no perdura até hoje. Escreve Moraes & Franco:
Afeganistão chegaram em 25 de dezembro de

Na década de 1970, o Afeganistão passou por modificações políticas importantes:


• Queda da monarquia em 1973;
• Golpe militar, que levou os comunistas ao poder em 1978;
• Influência da revolução iraniana, que incitava os xiitas afegãos contra o poder recentemente
instalado.
Foi nesse clima que os soviéticos, no final de 1979, invadiram o Afeganistão sob
a alegação de que o governo afegão havia solicitado ajuda.
A reação do governo americano à ação dos soviéticos foi tímida; isso porque o
governo Carter estava no fim de sua gestão e sua imagem estava desgastada
com os problemas enfrentados com o governo iraniano. No entanto, em 1980,
com a vitória de Reagan para a presidência dos Estados Unidos, o cenário no
Afeganistão mudou, pois Reagan deu todo apoio à guerrilha, e os guerrilhei-
ros afegãos passaram a receber importante ajuda material americana, que lhes
chegava via Paquistão.
Em abril de 1988, em Genebra (Suiça), os Estados Unidos e a União Soviética,
Afeganistão e Paquistão assinaram um acordo que previa a lenta retirada das
tropas soviéticas do território afegão (2009, p. 46-47).

Depois do ataque da coligação liderada te do acordo de Bona, de dezembro de 2001,


pelos Estados Unidos que levou à derrota do os esforços internacionais para reconstruir o
Talibã, em novembro de 2001, e à formação Afeganistão foram o tema da Conferência de
da Autoridade Afegã Interina (AAI), resultan- Doadores de Tóquio para a Reconstrução do

81
DICA Afeganistão, em janeiro de 2002, onde foram O que está em jogo no contexto de con-
atribuídos 4,5 bilhões de dólares a um fundo flitos afegãos da segunda metade do século
Veja o livro (tem um
filme também) sobre o a ser administrado pelo Banco Mundial. As XX é a logística do ópio e do petróleo. Princi-
Afeganistão, O Caçador áreas prioritárias de reconstrução são: a cons- palmente, o desejo da URSS de construir um
de Pipas, de Kalehd trução de instalações de educação, saúde e gasoduto e um oleoduto que escoasse o pe-
Hosseini. RJ: Nova Fron- saneamento, o aumento das capacidades de tróleo do mar Cáspio. Esta, talvez, tenha sido
teira S. A., 2005. administração, o desenvolvimento de setores a última guerra da Guerra Fria. Os EUA equipa-
agrícolas e o de reconstrução das ligações ro- ram e treinaram os Talibãs contra a URSS. Aca-
doviárias, energéticas e de telecomunicações. baram por treinar grupos que se mostrariam
Dois terços da população vivem com menos hostis aos EUA no contexto que seguiu o fim
de dois dólares por dia. A taxa de mortalidade da Guerra Fria.
infantil é de 160.23 por 1000 nascimentos.

2.3.4 A África: inclusão e exclusão

A Conferência de Berlim entre 19 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885, e que


teve como objetivo organizar regras de ocupação da África pelas potências coloniais, resultou
numa divisão que não respeitou nem a história, nem as relações étnicas dos povos do continente.

Figura 86: Partilha da►


África.
Fonte: Disponível em:
<http://purl.pt/93/1/
iconografia/imagens/
je83v_18841213_384/
je83v_18841213_384.
html>. Acesso em: 11 out.
2011.

O trabalho de Döpcke (1999), que estuda as fronteiras políticas na África Negra, nas suas
dimensões históricas e atuais, discutiu e criticou as suposições estereotipadas no discurso popu-
lar e acadêmico sobre as fronteiras na África. Ele visava explicar porque elas exibiram, apesar de
todas as suas imperfeições e defeitos, tanta resistência a mudanças.

As fronteiras dos Estados africanos modernos são um polêmico objeto de es-


tudo. São apontadas, tanto no discurso acadêmico quanto na opinião pública,
como um dos principais culpados pela instabilidade política e pelos conflitos
no continente. A maneira arbitrária pela qual as fronteiras foram impostas às
sociedades africanas pelos colonizadores europeus, ignorando as realidades
étnicas, geográficas, ecológicas e políticas existentes, teria criado as raízes
de “one of Africa’s greatest problems that developed with the European con-
quest.” O dito famoso de Lord Curzon, de que “frontiers are indeed the razor’s
edge on which had suspended the modern issues of war and peace” parece ser
verdadeiro também para a África.
[...] Os atuais 54 Estados africanos estão divididos por 109 fronteiras interna-
cionais que medem no conjunto cerca de 50.000 milhas e, dentro desta pers-
História - História Contemporânea II

pectiva, a África é o continente mais dividido. As fronteiras modernas na África


são, em elevada proporção, consideradas “artificiais”. Somente 26% delas se-
guem linhas dadas pelo relevo natural (como montanhas, rios, linhas divisórias
de águas). Quase a metade das fronteiras corresponde a linhas astronômicas
e 30% a linhas matemáticas. As fronteiras também dividem o que antigamen-
te foi denominado áreas tribais e o que hoje aparece mais como “áreas cultu-
rais”. Ainda que tenhamos em mente a complexidade e a impossibilidade de se
atribuir limites exatos a fenômenos tão flexíveis e fluidos como culture area ou
denominação étnica, podemos afirmar que, na África contemporânea, muito
poucas fronteiras coincidem com as culture areas e que entre 131 e 187 destas
culture areas, respectivamente “áreas tribais”, estão divididas entre um ou mais
Estados (DÖPCKE, 1999, p. 1).

No século XIX, para resolver o impasse dos interesses imperialistas das potências europeias
na África, foi realizada a conferência de Berlim (1884-85), a princípio para equacionar a questão
da navegação nos rios Níger e Congo. O imperialismo passou a se pautar pelo conceito geopo-
lítico das zonas de influência. Após a guerra, com o esgotamento das potências e a difusão das
ideias democráticas, nasceu uma nova era para a África. De acordo com Moraes & Franco

Com o enfraquecimento econômico e político das potências europeias no


pós-guerra, seu poder sobre as colônias também se tornou frágil. As rebe-
liões pela independência multiplicaram-se por todo o continente africano e a
maioria das colônias atingiu a emancipação política nas décadas de 1950, 1960,
1970.
O processo de independência, longe de trazer paz à África, transformou-a em
um barril de pólvora.
Os novo países criados em espaços físicos decididos e delimitados segundo
critérios dos colonizadores, portanto, já nasciam desprovidos de identidade
nacional e étnica. Essa ausência de identidade nacional foi responsável pela
eclosão de inúmeros e sangrentos conflitos, em geral, envolvendo diferentes
grupos étnicos em disputa pelo poder no país.
Esse quadro de instabilidade agravou-se em razão da Guerra Fria, o que levou
os EUA e a União Soviética a interferirem no processo.
Cada país forneceu armas e dinheiro a seus aliados, o que acabou transfor-
mando o continente em um estranho e confuso campo de batalha.Em troca
do apoio que rescebiam, as partes em conflito deveriam, ao tomar o poder,
alinhar-se a uma das superpotências, da qual recebiam ajuda de toda ordem
(2009, p. 33).

◄ Figura 87: Mapa da


África colonial.
Fonte: Disponível em:
<http://clubehistoria6.
blogspot.com/2008/02/
as-colnias-europeias-
-em-frica-em-1914.html>.
Acesso em: 11 out. 2011.

83
UAB/Unimontes - 8º Período

Glossário A descolonização diferiu, naturalmente, flitos atuais são remanescentes dos anterios.
de país para país. Nos casos em que a potên- Entre os principais conflitos na África estão os
Kuomintang:
A definição para a cia colonial recrudecera suas políticas colo- que acontecem em Ruanda, Mali, Senegal, Bu-
expressão Guerra Fria nialistas, a resistência africana foi compelida rundi, Libéria, Congo e Somália (conflitos ét-
é de um conflito que a recorrer à guerra colonial a fim de mudar e nicos). Outros, por disputas territoriais, como
aconteceu apenas romper a situação vigente. Nesses casos, a Serra Leoa, Somália e Etiópia, e também por
no campo ideológi- transição fez-se a preço de sangue e, muitas questões religiosas, como o que acontece na
co, não ocorrendo
um embate militar vezes, uma desestruturação agravada pelas Argélia e no Sudão.
declarado e direto disputas da Guerra Fria. Grande parte dos con-
entre Estados Unidos
e URSS. Até mesmo
porque estes dois paí-
ses estavam armados 2.3.5 O fim da Guerra Fria e a nova Ordem mundial - diplomacia,
com centenas de
mísseis nucleares.
economia e cultura: a outra face da política internacional
Um conflito armado
direto significaria o
fim dos dois países Como tratamos anteriormente, a Guer- outros povos, cada um de um lado, nas dis-
e, provavelmente, da ra Fria tem início logo após a Segunda Guerra putas como da Coréia do Norte contra a do
vida no planeta Terra. Mundial, quando os Estados Unidos e a União Sul, Vietnã, Afeganistão e Irã contra o Iraque,
Porém, ambos aca- Soviética vão disputar a hegemonia política, como você já viu anteriormente. De acordo
baram alimentando econômica e militar no mundo. Na parte an- com Chomsky (1993, p. 90), as superpotências
conflitos em outros
países como, por terior, tratamos dos contextos de guerras e re- oprimiam seus próprios “aliados” quando es-
exemplo, na Coréia e voluções, em várias regiões do mundo, que se tes buscavam “um grau de independência no
no Vietnã. relacionaram com a Guerra Fria. O período pós- interior dos blocos – apelando à ameaça da
Na verdade, uma ex- -guerra apresenta transformações que, somadas superpotência inimiga, para mobilizar sua pró-
pressão explica muito a esses conflitos, gestarão no interior da Guerra pria população e a de seus aliados.”
bem esse período: a
existência da Paz Ar- Fria suas próprias contradições e que, no final da Essas disputas não ficaram somente no
mada ou Dissuasão. década de 1980, levarão ao seu fim. âmbito externo. Internamente, as duas potên-
As duas potências se Os fatores que levaram ao fim da Guerra cias investiram na chamada “Corrida Arma-
envolveram numa Fria e a instauração da chamada Nova Ordem mentista”, com grandes investimentos em de-
corrida armamentis- Mundial já começavam a surgir desde o início senvolvimento de armamentos cada vez mais
ta, espalhando exérci-
tos e armamentos em desse conflito bipolar. A União Soviética, que avançados, em particular, os nucleares, e leva-
seus territórios e nos nunca foi um Estado liberal, possuía um siste- ram suas disputas até o espaço sideral, com a
países aliados. En- ma socialista, baseado na economia planifica- chamada “Corrida Espacial”. No ano de 1957,
quanto houvesse um da e partido único (Partido Comunista). Já os um foguete soviético colocou o primeiro sa-
equilíbrio bélico entre Estados Unidos defendia a mundialização do télite em órbita, o Sputnik 1. Em 1958, foi lan-
as duas potências, a
paz estaria garantida, sistema capitalista, baseado na economia de çado, pela URSS, o Sputinik 2, com o primeiro
pois haveria o medo mercado, sistema baseado nos princípios de- ser vivo a ir para o espaço, a cachorrinha Laika
do ataque inimigo. mocráticos e propriedade privada. que morreu quando o satélite voltou à Terra.
Na segunda metade da década de 1940 Doze anos depois, em 1969, o mundo todo
Fonte: <http://www. até 1989, essas duas potências disputaram, pôde acompanhar, pela televisão, a chegada
suapesquisa.com/
guerrafria/>. Acesso palmo a palmo, as áreas de influência no do homem à lua, com a missão espacial norte-
em: 11 out. 2011. mundo. Para tanto, atuaram em conflitos de -americana.

Figura 88: A pegada do►


homem na lua.
Fonte: Disponível em:
<http://www.fotosei-
magens.etc.br/n/foto-
-imagem-espaco-pegada-
-na-lua/>. Acesso em: 12
out. 2011.

84
História - História Contemporânea II

As comunicações tiveram grande desen- centros de pesquisa militares e civis, como


volvimento durante a Guerra Fria. O Pentá- algumas das principais universidades ame-
gono financiou, durante a década de 1960, o ricanas. A rede de comunicações criada pela
desenvolvimento de um sistema de comuni- agência ARPA ficaria conhecida como Arpanet
cação entre os computadores, que envolveu (http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Fria_).

Para saber mais


A ideia da construção de uma rede de computadores que pudessem trocar informações surgiu no
“Advanced Research Projects Agency’’, ARPA, do Departamento de Defesa dos EUA, quando, em 1962, a
Agência contratou J.C.R. Licklider para liderar as suas novas iniciativas, através do “Information Processing
Techniques Office’’, IPTO, da Agência. Um dos sonhos de Licklider era uma rede de computadores que per-
mitisse o trabalho cooperativo em grupos, mesmo que fossem integrados por pessoas geograficamente
distantes, além de permitir o compartilhamento de recursos escassos, como, por exemplo, o supercom-
putador ILLIAC IV, em construção na Universidade de Illinois, com o patrocínio da própria ARPA. O projeto
foi amadurecendo e adquiriu dinamismo, quando a ARPA contratou Lawrence Roberts, do Lincoln Lab do
MIT, em 1967, para tornar a ideia uma realidade. Nesta mesma época, Licklider, tendo saído da ARPA em
1964, assumiu a direção do Projeto MAC no MIT.

Foi escolhido para a rede um modelo proposto por Paul Baran, em 1962, que lançou a ideia de comunica-
ção digital via comutação de pacotes numa série de estudos sigilosos feitos na RAND Corporation. Esses
estudos foram realizados em função de um contrato com a ARPA, cujo objetivo era a idealização de um
sistema de comunicações que não pudesse ser interrompido por avarias locais.

Nessa época, a Guerra Fria estava no seu auge, e a preocupação dos militares americanos era uma rede
de telecomunicações que não possuísse uma central e que não pudesse ser destruída por nenhum ata-
que localizado. Uma consequência importante dessa escolha e dos desenvolvimentos posteriores é que
a rede Internet herdou essa propriedade. Na verdade, qualquer defeito de equipamentos na rede não
apenas não interrompe o seu funcionamento como, adicionalmente, nem chega a interromper sequer
as comunicações entre processos em curso na hora da avaria, desde que permaneça em funcionamento
alguma conexão física entre os dois processos. Isso resulta na robustez extraordinária da rede Internet.

Para realizar o primeiro experimento com a rede, foram escolhidas quatro universidades que seriam
conectadas, em janeiro de 1970, na rede computacional ARPANET. Eram elas a Universidade da Califórnia,
em Los Angeles (centro do desenvolvimento do “software”), o Stanford Research Institute, a Universidade
da Califórnia, em Santa Bárbara, e a Universidade de Utah, todos beneficiários de contratos com a ARPA.

Além da comunidade acadêmica, a rede original atendia também à comunidade militar americana.

A rede se expandiu rapidamente, incluindo computadores de variadas plataformas de “hardware” e de


“software”, demonstrando que a comunicação e cooperação entre sistemas, até mesmo de concepções
muito diferentes, era perfeitamente factível. Havia 13 computadores na rede em janeiro de 1971, 23 em
abril de 1972 e 38 em janeiro de 1973. Foi organizada a primeira demonstração pública da rede em 1972,
por ocasião da “First International Conference of Computer Communications”, realizada no outono de 1972.

Nessa oportunidade, a rede já dava suporte a um amplo conjunto de serviços regulares, entre os quais
estavam incluídos o login remoto e o correio eletrônico, cujo volume de uso surpreendeu os próprios res-
ponsáveis pela rede. A rede estava se revelando, desde os seus primórdios, como um instrumento muito
efetivo de cooperação.

As ligações da ARPANET usavam linhas telefônicas, com a velocidade de 56 Kbps. Seus elementos ativos,
chamados de Interface Message Processors (IMP), eram constituídos de computadores comercialmente
disponíveis, cuidadosamente escolhidos para esta finalidade. Outro aspecto relevante é que a execução
do projeto foi confiada a empresas particulares, entre as quais deve ser mencionada a BBN (Bolt, Beranek,
and Newman Inc.), de Cambridge, Mass., que era a principal executora.

É curioso notar que as empresas de telecomunicações devotaram, por muito tempo, um amplo
pessimismo à técnica de comutação de pacotes, conforme relatado num artigo do principal realizador da
rede ARPANET, Lawrence G. Roberts. Faz pouco tempo apenas que esse pessimismo foi trocado por uma
participação ativa nas redes de computadores, mas, mesmo hoje, os serviços dessas empresas, do ponto
de vista das redes de computadores, deixam muito a desejar.

Somente com uma convenção realizada no ano de 1987, a rede seria liberada para uso comercial. A partir
de então, a Arpanet passou a se chamar Internet. Em 1990, o físico inglês Tim Berners-Lee criaria o HTML
(Linguagem de Marcação de Hipertexto). Na década de 1990, a Internet passaria por um processo de
expansão gigantesco, tornando-se um grande meio de comunicação da atualidade.

Fonte: Disponível em: <http://www.ime.usp.br/~is/abc/abc/node20.html>. Acesso em: 15 out. 2011.

85
Figura 89: Mapa da rede►
ARPANET.
Fonte: Disponível em:
<http://som.csudh.edu/fac/
lpress/history/arpamaps/>.
Acesso em: 15 out. 2011.

A Guerra Fria teve várias dimensões, ta e seus integrantes perseguiam, prendiam e


desde que começou na pós-Segunda Guerra até matavam todos aqueles que não seguiam
Mundial. Entre elas, a censura e a perseguição as regras do sistema. O princípio do direito
ideológica ganharam força planetária, come- de ir e vir foi o primeiro a ser tirado. O nome
çando pelo Macartismo, comandado pelo se- “Cortina de Ferro” não é de graça. Sair desses
nador republicano Joseph McCarthy, nos EUA. países, somente era permitido em ocasiões es-
Foi um momento no qual uma comissão do peciais e com total controle do Estado.
Congresso americano perseguiu muitas pes- Um recurso importante da Guerra Fria foi
soas nos EUA, entre elas artistas e cientistas, a consolidação de sistemas de investigação
sob a acusação de comunistas e colaboradores e espionagem, em ambos os lados. Enquan-
da URSS. Muitos tiveram que sair dos EUA, ou to a espionagem norte-americana cabia aos
mesmo foram presos. integrantes da CIA, os funcionários da KGB
Era, como já dissemos, a instauração da faziam os serviços secretos soviéticos. Den-
política de Segurança Nacional, que mais tar- tro dessas agências, vários programas foram
de será adotada no Brasil, na Ditadura Militar. desenvolvidos. Elas interferiram em todos os
DICA O inimigo deixou de ser externo para ser in- contextos internacionais da Guerra Fria, e mes-
Os melhores filmes terno (os comunistas). Essa ideologia também mo depois dela.
para vermos como chegava aos países aliados dos EUA, como As duas potências fizeram planos para
atuavam a CIA e a KGB, uma forma de identificar o socialismo como desenvolver, economicamente, os países
em cooperação com o inimigo do sistema. Usando o cinema, a te- membros. No final da década de 1940, os EUA
outras agências, como levisão, os jornais, as propagandas e, até mes- colocaram em prática o Plano Marshall, ofere-
a Scotland Yard inglesa,
são os de 007, feitos mo, as histórias em quadrinhos, divulgou uma cendo ajuda econômica, principalmente atra-
nas décadas de 1960 e campanha valorizando o “american way of vés de empréstimos, para reconstruir os países
1970. life” e ridicularizando, ou demonizando, o ini- capitalistas europeus afetados pela Segunda
migo “comunista”. Guerra Mundial. Já o COMECON foi criado pela
O princípio da intolerância política, cul- URSS, em 1949, com o objetivo de garantir au-
tural e religiosa foi estruturante, também, na xílio mútuo entre os países socialistas.
URSS. Lá não foi diferente; o Partido Comunis-

Figura 90: Charge sobre►


a corrida armamentista
da Guerra Fria.
Fonte: Disponível em:
<http://historiaporimagem.
blogspot.com/2011/08/
guerra-fria-em-charges.
html>. Acesso em: 15 out.
2011.

86
História - História Contemporânea II

Glossário
A primeira estratégia veio do secretário historia/a-guerra-fria.html).
ONU: A Organização
de Estado, George Marshall, que reforçou a Dois fatores de grande importância das Nações Unidas,
posição norte-americana ao lançar o Plano para as relações internacionais foram a cria- composta por 193
Marshall. Um programa de investimentos e ção da ONU e das chamadas instituições Estados-membros,
de recuperação econômica para os países de Breton Woods – FMI, o BIRD e o BID. Es- está dividida em
europeus em crise e que estivessem sob sua ses organismos nasceram multilaterais num instâncias administra-
tivas, principalmente:
influência após a guerra. Em contrapartida, mundo bilateral, ou seja, nos momentos a Assembleia Geral
a União Soviética criou o Kominform, orga- imediatamente anteriores à Guerra Fria, fo- (assembleia delibera-
nismo encarregado de conseguir a união ram criados esses organismos governamen- tiva principal); o Con-
dos principais Estados socialistas europeus tais, tendo como suporte as representações selho de Segurança
do bloco da “Cortina de Ferro”. Em 1949, a dos Estados Nacionais. Dentre outros orga- (para decidir determi-
nadas resoluções de
URSS criou o Comencon, buscando sua inte- nismos da ONU, com o processo de descolo- paz e segurança); o
gração econômico-financeira entre os países nização, foi criado um orgão de tutela para Conselho Econômico
socialistas (http://www.colegioweb.com.br/ ajudar os países recém emancipados. e Social (para auxiliar
na promoção da co-
operação econômica
e social internacional
A ONU – entre a paz e a guerra e desenvolvimento);
o Secretariado (para
fornecimento de
A Organização das Nações Unidas (ONU), ou simplesmente Nações Unidas (NU), fundada em estudos, informações
1945, após a Segunda Guerra Mundial, teve como princípio de criação, assim como a Liga das Na- e facilidades necessá-
ções anteriormente, as ideias de Kant sobre a manutenção da paz entre as nações, descritas em rias para a ONU); e o
Tribunal Internacional
seu livro “A Paz Perpétua” (1989). Kant escreveu que de Justiça (o órgão
judicial principal),
a razão [...] condena absolutamente a guerra como procedimento de direito e além de órgãos
torna, ao contrário, o estado de paz um dever imediato, que, porém, não pode complementares
ser instituído ou assegurado sem um contrato dos povos entre si [...] (1989, p. de todas as outras
40-41). agências do Sistema
das Nações Unidas,
A ideia de um organismo que congregasse as nações como um fórum de negociações sem, como a Organização
contudo, interferir em seus direitos soberanos é o princípio que norteia a ONU e seus organis- Mundial de Saúde
(OMS), o Programa
mos. É um fórum de negociações que não tem o poder de impedir a guerra, decisão soberana Alimentar Mundial
das nações, mas busca degradar os conflitos e amenizar seus efeitos. A ONU contém várias orga- (PAM) e o Fundo das
nizações subsidiárias para realizar suas missões. Nações Unidas para
a Infância (UNICEF).
Para mais informa-
ções, veja a página da
ONU.

Fonte: Disponível em:


<http://www.un.org/es/>.
Acesso em 20 de março
de 2012.

◄ Figura 91: ONU.


Fonte: Disponível em:
<http://onu2008.files.
wordpress.com/2008/04/
imagem13.png>. Acesso
em: 12 out. 2011.

87
UAB/Unimontes - 8º Período

Figura 92: Estrutura da►


ONU.
Fonte: Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/
texto/6538/a-onu-o-
-conselho-de-seguranca-
-e-o-brasil>. Acesso em: 12
out. 2011.

No contexto de criação da ONU como fó- da estavam vivendo, nos processos do pós-
rum político de negociação entre as nações, -guerra. Como dizíamos, investimento em
outros organismos também foram criados mudanças econômicas, que começaram com a
para promover mudanças que impedissem reconstrução dos países atingidos pela guerra,
a volta dos horrores da guerra, ainda muito sejam do bloco americano ou do seviético, ti-
vivos na memória dos que os viveram e ain- nham que ser mais profundos.

2.3.5.1 O Desenvolvimentismo e o capitalismo monopolista

A crise do capitalismo em 1930, ainda era época, ganha grande força como a meta e sus-
um fantasma, como coloca Keynes, e a amea- tentação das nações modernas. Uma das fren-
ça do bolchevismo era presente. Daí, entre es- tes de batalha, proposta já em seu discurso de
sas e outras razões, os economistas proporem posse em 1949, por Truman, era a luta contra o
uma nova organização da economia mundial. subdesenvolvimento.
O desenvolvimento, conceito legitimado nessa

No fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos eram uma máquina


produtiva formidável e incessante, sem precedentes na história. Estava, indis-
cutivelmente, no centro do mundo. Era seu senhor. Todas as instituições cria-
das naqueles anos reconheciam esse fato; a própria Carta das Nações Unidas
era uma cópia da Contituição norte-americana.
No entanto, os norte-americanos queriam algo mais. Precisavam deixar total-
mente clara a sua posição no mundo. E queriam consolidar sua hegemonia e
torná-la permanente. Para isso, formularam uma campanha política, em nível
global, que claramente levava a sua marca. Criaram até mesmo um emblema
apropriado para identificar a campanha. E, cuidadosamente, escolheram o
momento oportuno para lançar ambos: 20 de janeiro de 1949. Naquele mes-
mo dia, quando tomava posse o Presidente Truman, uma nova era se abria
para o mundo – a Era do Desenvolvimento. [...] Ao usar pela primeira vez, em
tal contexto, a palavra “subdesenvolvimento”, Truman deu um novo significado
ao desenvolvimenento e criou um símbolo, um eufemismo, que, desde então,
passou a ser usado para, discreta e inadvertidamente, referir-se à era da hege-
monia americana (ESTEVA, 2000, p. 59-60).

A um só tempo, dois campos foram ata- bém, foi atacado. Os dois processos são defla-
cados: dois bilhões de pessoas deixaram sua grados: os programas de “ajuda” aos aliados e
diversidade e foram homegeneizadas, sob a a descolonização. A nova lógica desencadeou
alcunha de subdesenvolvidas; além desse, o grandes transformações. Joseph Starobin
fenômeno do imperialismo (que ainda existia Maio, em seu texto clássico de crítica, chama-
em grande parte do mundo de então), tam- do “ A Doutrina de Truman”, de 1947, escreve:

88
História - História Contemporânea II

A Doutrina de Truman já está se revelando uma importante virada na política


americana, cuja característica mais vital é a de que todas as questões funda-
mentais de direção, nos negócios nacionais e internacionais, foram postas
diante de uma camada mais ampla do nosso povo, em termos mais claros e
mais ativos do que nunca.
A questão de “para onde vai a América” ou “para onde está sendo levada a
América” se apresenta com maior insistência. Os debates no Congresso e na
imprensa são apenas um pálido reflexo dos receios e das dúvidas, da necessi-
dade, sentida por todas as classes, de respostas a perguntas fundamentais (p.1).

Enquanto a Segunda Guerra Mundial ain- nacionais”, e do Fundo Monetário Internacio-


da se desenrolava, foi posta em prática a pri- nal (FMI); acabaram com o “Padrão Ouro” do
meira grande estratégia: as mudanças no sis- Ocidente e com o “Padrão Prata” do Oriente,
tema financeiro internacional. A realização da como referência de valor para as moedas, re-
conferência de Breton Woods, na qual foi cria- ferenciado somente o dólar ao “Padrão Ouro”
do o sistema de gerenciamento econômico e todas as outras moedas ao dólar. Esse sis-
internacional, estabeleceu, em julho de 1944, tema durou até a década de 1970, quando o
as regras para as relações comerciais e finan- presidente americano Nixon acabou, num ato
ceiras entre os países mais industrializados do unilateral, com o Padrão Ouro/Dólar definitiva-
mundo. O sistema econômico liberal interna- mente e a referência das moedas passou a ser
cional, falido em 1929, requeria mudanças de o Produto Interno Bruto (PIB) dos países. Essas
âmbito mundial. mudanças têm exercido grande influência até
O Estado passa a ser o protagonista das hoje na economia internacional.
alternativas ao liberalismo: emprego, previ- A adoção dos padrões monetários inter-
dência, estabilidade e crescimento passaram nacionais começou no final do século XIX com
a ser então assuntos importantes das políticas o Padrão Ouro (clássico), que vigorou de 1870
públicas. O contexto indicava que o Estado de- a 1914. Nesse período, a Inglaterra era a potên-
veria tomar para si a responsabilidade de ga- cia econômica hegemônica e as outras nações
rantir a seus cidadãos um certo grau de bem- alinhavam-se às suas diretrizes da política.
-estar econômico. O “Estado de Bem Estar” Com o fim da Segunda Guerra, a hegemonia
passou a ter como base o intervencionismo es- americana na conferência de Breton Woods,
tatal na economia, e a escola econômica Key- reflexo de sua posição no cenário internacio-
nesiana, crítica do liberalismo, defendia que o nal, levou à instauração do Padrão Ouro/Dó-
Estado era a única instância capaz de manter lar (1945-1971), de que já tratamos. A crise dos
níveis adequados de dinamismo econômico anos 1970, chamada Crise do Petróleo, ocasio-
para a garantia do “Pleno Emprego”. nada pela elevação do preço dessa commodi-
As principais medidas de Breton Woods tie pelos países produtores dominados pela
foram: a criação do Banco Internacional para a OPEP (lembra? Já falamos dela quando tratá-
Reconstrução e Desenvolvimento (Internatio- vamos das guerras no Oriente Médio), levou à
nal Bank for Reconstruction and Development, outra mudança no padrão monetário interna-
ou BIRD), mais tarde dividido entre o Banco cional. Foi uma mudança unilateral, feita pelos
Mundial e o “Banco para investimentos inter- EUA. Escreve Marinho:

Ao impor ao mundo o dólar como moeda internacional, os Estados Unidos


legitimaram sua soberania no campo monetário, soberania que implicou em
alto grau de liberdade na condução de sua política econômica, bem como
responsabilidade na condução das finanças mundiais. O dólar é então moeda
de circulação dentro dos Estados Unidos e moeda internacional, duplo papel
contraditório, contradição reconhecida como Dilema de Triffin, que consiste na
incompatibilidade do dólar (ou qualquer outra moeda) de exercer simultane-
amente a função de circulação e a função de ativo de reserva de valor inter-
nacional, essa última baseada no lastro ouro. Cumprir com a regra da conver-
sibilidade do ouro supunha que os Estados Unidos somente pudessem emitir
dólares na mesma proporção em que acumulassem reservas em seu balanço
de pagamento, requerendo que o país incorresse em constantes superávits na
balança de pagamento. Constantes superávits na balança de pagamentos sig-
nificariam entrada de dólares superior à saída, o que implicaria escassez de dó-
lares americanos no mercado internacional, não satisfazendo a demanda por
liquidez externa. Para que o dólar cumprisse sua função de circulação como
moeda internacional, os Estados Unidos passaram a incorrer em constantes de-
fícits em balança de pagamento, exportando capital para atender as necessida-
des da liquidez mundial. Primeiramente, via Plano Marshall e gastos militares;
num segundo momento, através da transnacionalização do capital produtivo
norte- americano (especialmente para a Europa). A crise do padrão dólar inicia-
-se nos anos 60 como resultado do próprio padrão adotado pelos americanos.

89
UAB/Unimontes - 8º Período

Ao alcançar maior autonomia econômico-financeira, os países europeus pas-


sam a contestar os desajustes internos da política econômica americana. O fi-
nanciamento da guerra do Vietnã cria uma situação de descontentamento com
a total hegemonia americana; a desconfiança no âmbito militar torna-se acirra-
da, especialmente pela França, que se opõe de forma incisiva à forte presença
militar dos americanos na Europa. Em termos monetários, ampliam-se a con-
testação e desconfiança do dólar como ativo de reserva de valor internacional,
levando algumas autoridades a preferir o ouro e não o dólar como reservas e
a criarem alternativas, como os Direitos Especiais de Saques (DES). Tal como o
acontecido com a libra na década de 20, o dólar agora sai dos Estados Unidos
em direção à Europa recuperada. Os Estados Unidos resistem, mas finalmente
decretam o fim do Padrão Ouro em 1971 (2011, p. 9).

O modelo capitalista que vai se espalhar pelo mundo no pós-guerra é urbano, industrial,
tailorista-fordista e transnacional. Ele é a base do que tem sido chamado de desenvolvimentis-
mo, padrão que se define por um estilo de vida com crescimento econômico e o crescimento
do consumo. Em poucas décadas de sua instauração, críticas de diferentes ordens começam a
ser feitas ao modelo desenvolvimentista. As críticas se davam tanto sobre o modelo capitalista
quanto sobre o socialista. Os custos do modelo bipolar, da corrida espacial e armamentista, assim
como o modelo perdulário da produção tailorista-fordista, baseado no alto consumo de insu-
mos (matérias-primas, energia, horas de trabalho, etc.) anunciavam a futura crise. De acordo com
Bresser Pereira:

Essa conclusão é de mais fácil compreensão se considerarmos que a regulação


financeira competente, somada ao compromisso com valores e direitos sociais
que emergiu após a depressão da década de 1930, tenha podido produzir os
trinta anos dourados do capitalismo, entre o final da década de 1940 e o come-
ço da de 1970. Nos anos de 1980, contudo, os mercados financeiros foram des-
regulados e, ao mesmo tempo, as teorias keynesianas foram esquecidas, o ide-
ário neoliberal tornou-se hegemônico e a economia neoclássica e a teoria da
escolha pública que justificavam a desregulação tornaram-se mainstream. Com
isso, a instabilidade financeira, que desde a suspensão da conversibilidade do
dólar americano em 1971 ameaçava o sistema financeiro internacional, foi per-
versamente restaurada. A desregulação e as tentativas de eliminar o Estado as-
sistencialista transformaram as últimas três décadas nos “trinta anos sombrios
do neoliberalismo” (2010, p. 2).

No período entre o fim da Segunda Grande Guerra e a década de 1970, o Ocidente assiste
uma prosperidade tão grande que será denominado de “os anos dourados”. Homens e mulheres
que nasceram antes da guerra e passaram por seus flagelos e privações sabiam que estavam vi-
vendo um período de prosperidade que não conheciam anteriormente. Este período teve seu
auge nos anos 1950. Essa prosperidade pertenceu ao centro do capitalismo. Um fenômeno im-
portante foi o crescimento de uma classe média consumidora, talvez possamos chamá-la de elite
dos trabalhadores, que com seus proventos dinamiza mercados internos importantes, em parti-
cular nos EUA. De acordo com Hobsbawm, apesar do destacado crescimento no centro do de-
senvolvimento, o mundo todo experimentou reflexos desse fenômeno mundial – a era da pros-
peridade. A produção mundial crescia em taxas inéditas tanto a produção de alimentos quanto
de manufaturados.

Figura 93: Transnacionais►


atuam em todo o
mundo.
Fonte: Disponível em:
<http://www.mundoedu-
cacao.com.br/geografia/
transnacionais.htm>. Aces-
so em: 10 nov. 2011.

90
História - História Contemporânea II

Num primeiro momento, gerou prospe- a informática e a rede de computadores que


ridade, descentralização da indústria, com as nasceu militar, com a Arpanet, na década de
transnacionais, levando a industrialização para 1970, e hoje está em todo lugar.
o terceiro mundo, como foi o caso da América A tecnologia gerou três fatores: trans-
Latina, inclusive do Brasil. Entretanto, escreve formou a vida cotidiana; houve uma grande
Hobsbawm (1995, p. 257), “mal se notava ainda expansão da área de pesquisa e desenvolvi-
um subproduto desta extraordinária explosão, mento. A tecnologia, cada vez mais complexa,
embora em retrospecto ele já parecesse amea- passara a ser de capital cada vez mais intensi-
çador: a poluição e a deterioração ecológica”. vo, com pouca exigência de mão-de-obra, ou,
Essa “Era de Ouro” acabou como as anteriores, até mesmo, sua substituição pela tecnologia.
em particular a de 1930, com um colapso finan- As consequências sociais dessa expansão tec-
ceiro de imóveis e bancos. A Crise do Petróleo, nológica e econômica também são sem prece-
do sistema financeiro lastreado no dólar, desen- dentes. “Havia uma substancial reestruturação
volvido em Breton Woods, e, por fim, o alarme e reforma do capitalismo e um avanço bastan-
sobre a crise ambiental, na década de 1970. te espetacular na globalização e internaciona-
Tanto a prosperidade quanto as mazelas, lização da economia” (HOBSBAWM, 1995, p.
os problemas, se observarmos a partir de nos- 264) Houve o surgimento de uma associação
sa vivência atual, veremos que, desde aquela do Estado com o capital privados, gerando
época, tinham a mesma origem, a extensão do empresas de economia mista, assim como o
que poderíamos chamar de “Revolução Tecno- marcado compromisso dos Estados com o
lógica”. A guerra, em particular a Guerra Fria, “Pleno Emprego”, leis trabalhistas, com a se-
a Corrida Armamentista e Espacial, com suas guridade social e a previdência. Outro fator de
demandas por alta tecnologia, geraram equi- expansão econômica e geração de mais-valia
pamentos que nasceram bélicos, mas foram, foi a multiplicação da capacidade produtiva e
gradativamente, incorporados na vida civil. uma divisão de trabalho internacional muito
Um exemplo que já demos anteriormente foi mais elaborada e sofisticada.

Box 8

Reestruturação do Capitalismo e a Internacionalização da


Economia

A reestruturação do capitalismo e o avanço na internacionalização da economia foram fun-


damentais. Não é tão seguro que a revoluções tecnológicas explique a Era de Ouro, embora fosse
expressiva. Como foi mostrado, muito da industrialização nessas décadas deveu-se à dissemina-
ção a novos países de processos baseados em velhas tecnologias: a industrialização de carvão,
ferro e aço do século XIX estendeu-se aos países socialistas agrários; as indústrias do petróleo
e motores de combustão interna, no século XX, chegaram aos países europeus. O impacto da
tecnologia gerada pela alta pesquisa na indústria civil provavelmente só se torna substancial nas
Décadas de Crise, depois de 1973, quando se deu a grande inovação na tecnologia da informa-
ção e na engenharia genética, além de vários outros saltos no desconhecido. As principais ino-
vações que começaram a transformar o mundo assim que a guerra acabou talvez tenham sido
as do setor químico e farmacêutico. Os efeitos culturais foram um pouco mais lentos, mas não
muito, pois a revolução sexual no Ocidente, nas décadas de 1960 e 1970, tornou-se possível em
função dos antibióticos – desconhecidos antes da Segunda Guerra Mundial – que pareceram eli-
minar os grandes riscos da promiscuidade, tornando as doenças venéreas facilmente curáveis, e
da pílula anticoncepcional, cuja disponibilidade se ampliou na década de 1960. Porém, o risco,
no campo sexual, retornou na década de 1980, com a AIDS (HOBSBAWM, 1995, p. 265).

O mundo de transformações e prospe- protecionismo das fronteiras e a xenofobia


ridade que vai até a década de 1970 entrou diante de intenso fluxo migratório. A trans-
em crise. Mesmo na Era de Ouro, alguns fa- nacionalização da economia expande o ca-
tores, que posteriormente se tornarão crí- pitalismo e, ao mesmo tempo, aumenta a
ticos, eram vistos como problemas. A liber- concentração de capital. A crescente dete-
dade de fluxos esbarrava em dois pontos: o rioração da liderança econômica americana

91
UAB/Unimontes - 8º Período

baseada no tailorismo-fordismo, na crescen-


te urbanização e consequente concentração
de população nas cidades, no consumo in-
tenso de recursos naturais e a crescente po-
luição, são aspectos de uma crise que toma
forma cultural, política e econômica.
Cultural, em função da mudança dos cos-
tumes, com o feminismo, a revolução sexual,
o ativismo jovem, novas formas de artes e ex-
pressão. Política, devido às críticas à política
tradicional, tanto da direita quanto da esquer-
da. Novos movimentos sociais, o feminismo, o
ambientalismo, a luta pelos direitos humanos,
entre outros, colocaram em questão os movi- Figura 94: A nova mulher e os eletrodomésticos.
mentos tradicionais baseados na luta de clas- Fonte: Disponível em: <http://www.google.com.br/im-
gres?q=a+hist%C3%B3ria+dos+eletrodomesticos&hl=p-
ses. Esses fatores estão diretamente ligados às t-BR&gbv=2&biw=1619&bih=773&tbm=isch&tbnid=Q_
transformações no mundo do trabalho. O fim dmK1j1wZu9sM:&imgrefurl>. Acesso em: 10 out. 2011.
do campesinato e, mesmo, a transformação no
âmbito do proletariado foram intensas, na se- Modelos de produção alternativos que
gunda metade do século XX. começaram a se formar após a Segunda
A urbanização da população e a nova rela- Guerra, como o toytismo japonês, passaram
ção cotidiana com a técnica intensificam a for- a se mostrar exitosos e competitivos nas dé-
mação de grandes contingentes populacionais, cadas de 1980 e 1990. As novas tecnologias,
através da educação formal, crescente no mun- muitas desenvolvidas para a guerra, entra-
do todo nesse período. O principal exemplo é ram no sistema de fábricas, gerando gran-
a expansão mundial do ensino superior, antes des transformações no padrão produtivo. A
elitizado, restringindo-se à Europa e com pou- eletrônica, a cibernética e a robótica, muito
cas unidades espalhadas pelo mundo. Como usadas pelos japoneses, alemães e escan-
escreve Hobsbawm (1995, p. 304), “as mudanças dinavos (regiões de onde vinham os novos
na produção [...] e a fronteira cada vez mais difu- modelos), mudaram o jeito de produzir e
sa entre o que era trabalho `braçal´ e `não braçal´ consumir, gerando mais-valia fora do cen-
borraram e dissolveram os contornos antes tro do poder da Guerra Fria, ainda em vigor.
claros do `proletariado´”. Para completar esse Na década de 1980, a crise eclode nos dois
quadro de mudanças, a entrada das mulheres, pólos do poder, no capitalista e no socialis-
principalmente as casadas, no mercado de tra- ta. Os governos de Ronald Reagan, Margaret
balho e na política contribuirá para aprofundar Thatcher e de Gorbachev tentam e não con-
as mudanças em todos os campos, seja no social, seguem debelá-la. Uma nova ordem interna-
cultural, político ou econômico. cional virá com ela.

2.3.6 A crise da sociedade mundial e o fim da Guerra Fria

De que a crise é estrutural no capitalismo, vários economistas de renome, como Keynes e


Shumpeter, já haviam nos avisado, mas que ela também assolaria o bloco socialista, somente pai-
rava uma desconfiança. As denuncias de Khrushchev expondo o terror do período stalinista na
URSS, as dispendiosas Corridas, Espacial e Armamentista, levaram à crise que se agravara em 19

Figura 95: Khrushchev e►


Fidel Castro.
Fonte: Disponível em:
<http://www.flogao.com.
br/soviet/68630280>. Aces-
so em: 15 out. 2011.

92
História - História Contemporânea II

O Socialismo Real passou a ser critica-


do, até mesmo pelos socialistas. Entretanto,
foram os efeitos cotidianos, principalmente
o desabastecimento no final da década de
1980, que deflagraram o seu colapso. A falta
de democracia, o atraso econômico e a crise ◄ Figura 96: Lech Wałęsa
nas repúblicas soviéticas acabaram por ace- e o Papa João Paulo II.
lerar a crise do “Socialismo Real”, no final da Fonte: Disponível em:
década de 1980. O processo começou na Po- <http://www.desconver-
sa.com.br/historia/tag/
lônia, a partir de dois fatores: o crescimento lech-walesa/>. Acesso em:
do sindicato Solidariedade, sob a liderança 21 nov. 2011.
de Lech Wałęsa, e a subida de um polonês
ao trono de São Pedro – o Papa João Paulo II.

Hobsbawm (1995), ao tratar da trajetória do mundo socialista sob a direção da URSS, mos-
tra-nos que, desde o início, logo após a revolução bolchevique, a unidade territorial do “Socia-
lismo Real”, o “Império Soviético”, foi uma meta importante. A unidade foi mantida, embora o Es-
tado estivesse atrasado e empobrecido. De acordo com o autor, esse território foi imensamente
ampliado após 1945 (p. 345).

Esse mundo socialista constituía um subuniverso separado e auto-suficiente.


Possuía relações escassas com o mundo capitalista. [...] baseavam-se num par-
tido único fortemente hierárquico e autoritário, que monopolizava o poder do
Estado. Sua economia era planejada (HOBSBAWM, 1995, p. 365).

A Guerra Friapotêncializou a separação, cente e corrupta que passou a dominar o sis-


segregação, entre os dois lados. Separação tema, em toda a área de influência soviética.
esta mantida pela “Cortina de Ferro” que iso- Finalmente, a baixa capacidade de inovação
lou os países. Quando a realidade do isola- comparada com a dinâmica do outro bloco. A
mento se tornou visível, a questão era como inovação gerada pelas corridas armamentista
transformar sua economia e sociedade e ven- e bélica não atingia a economia civil (HOBSBA-
cer o atraso. O planejamento e programas WM p. 375).
voltados para a transformação de países atra- O sistema econômico de planejamento
sados em avançados gerou um rápido cresci- central do tipo soviético, que num primeiro
mento, através de um processo que era prati- momento gerou desenvolvimento, foi, aos
camente uma economia de guerra. O principal poucos, minado pelo centralismo burocrático
modelo era a própria URSS. e pela corrupção (HOBSBAWM p. 389). A que-
A transformação da URSS numa grande da nas taxas de crescimento econômico era
economia industrial, em poucos anos, somen- evidente. Enquanto isso, as economias não
te foi possível com a manutenção do sistema socialistas desenvolvidas cresciam como nun-
de consumo da população baixo, ou seja, o ca. No entanto, o mundo cada vez mais globa-
mínimo social (HOBSBAWM p. 373). Com uma lizado foi rompendo, aos poucos, as barreiras
política agrícola pouco arrojada, a coletiviza- entre os dois blocos e, já na crise do petróleo,
ção foi desastrosa, em função de uma baixa em 1973, assim como nas outras das décadas
produtividade que gerou o fracasso da políti- de 1980 e 1990, é visível que seus efeitos vão
ca agrária soviética. Outro fator apontado por se fazendo sentir cada vez mais no bloco do
Hobsbawm (1995) foi a burocratização cres- “Socialismo Real”. Escreve Hobsbawm:

O problema do “socialismo realmente existente” na Europa era que, ao con-


trário da URSS do entre-guerras, praticamente fora da economia mundial,
agora o socialismo estava cada vez mais envolvido nela, e, portanto não
imune aos choques da década de 1970. É uma ironia da história o fato de
que as economias “socialistas reais” da Europa e da URSS, além de partes do
terceiro mundo, se tenham tornado as verdadeiras vítimas da crise pós-Era
de Ouro da economia capitalista global, enquanto “as economias de mer-
cado desenvolvidas”, embora abaladas, conseguiam atravessar os anos di-
fíceis sem grandes problemas, pelo menos até o início da década de 1990.
Até então algumas delas, na verdade, como a Alemanha e o Japão, mal ti-
nham tropeçado em sua marcha à frente. O “socialismo real”, porém, agora
enfrentava não apenas seus próprios problemas sistêmicos insolúveis, mas
também os de uma economia mundial mutante e problemática, na qual se
achava cada vez mais integrado (1995, p. 458).

93
UAB/Unimontes - 8º Período

DICA Com a morte de Brejnev, em 1982, ins- Foi nesse contexto que Gorbachev as-
taura-se um período sucessório, no qual hou- sumiu o poder. Ele propôs duas diretrizes de
Sobre os impactos, na
população, do fim da ve três governantes: Iúre Andropov, Kostantin mudança do sistema soviético: a Glasnost
Guerra Fria. Tcghernenko (ambos morreram durante o (transparência política e abertura cultural para
Título original: mandato) e, em 1985, assume Michail Gorba- o Ocidente) e a Perestróica (reconstrução eco-
Good Bye, Lênin! chev. Nos EUA, assume Reagan (1980-88), que nômica através da liberalização e eficiência de
Lançamento: proclamou seu antagonismo com a URSS. Esse gestão). O impacto dessas mudanças foi como
2003 (Alemanha)
Direção: antagonismo teve seu auge na proposta da o destampar de uma panela de alta pressão.
Wolfganger Becker chamada “Guerra nas Estrelas”, que propunha Foi avassalador, tanto para a URSS quanto
Atores: a construção de escudos contra mísseis sovié- para o mundo socialista e capitalista. Em 1989,
Katrin Sab, Chulpan ticos, com o uso de satélites. Era uma proposta acontecem eleições livres e criou-se o pluri-
Khamatova, Florian de alta tecnologia que agregava os recursos partidarismo. Mesmo essas medidas não conti-
Lukas, Alexander Beyer.
Duração: tecnológicos da indústria bélica e da aeroes- veram a crise e o desabastecimento.
118 min pacial. “A União Soviética, já com sérios pro- “Os ventos da Glasnost e da Perestróica
Gênero: blemas econômicos, não dispunha de recursos varreram o leste europeu, provocando pro-
Drama para acompanhar esta corrida” (MORAES & fundas mudanças” (MORAES & FRANCO, 2009,
FRANCO, 2009, p. 61). p. 65). Uma tendência social-democrata se
alastra, vencendo as eleições em vários paí-
ses, como a Polônia do Solidariedade, de 1990
a 1995, e Dubcek, que venceu, em 1989, para
presidente da Assembléia Nacional Tcheca. Em
1989, cai o Muro de Berlim, e as duas Alema-
nhas são reunificadas. Era o fim de um período
de embates políticos, ideológicos e militares.
O capitalismo vitorioso, aos poucos, iria sendo
implantado nos países socialistas.
A União Soviética estava com seus dias
contados. Temendo o quadro político que es-
Sinopse tava instalado na URSS, as repúblicas que a
Em 1989, pouco antes compunham começaram a exigir autonomia.
da queda do Muro de
Berlim, a Sra. Kerner Em 1991, quase todos os países que constitu-
(Katrin Sab) passa mal, íam a URSS já estavam independentes. Em 21
entra em coma e fica de dezembro de 1991, foi oficializado o fim
desacordada durante definitivo da URSS e a criação da Comunidade
os dias que marcaram dos Estados Independentes (CEI), organização
o triunfo do regime
capitalista. Quando ela supranacional formada por Rússia, Ucrânia,
desperta, em meados Bielo-Rússia, Cazaquistão e Uzbequistão.
de 1990, sua cidade, ▲
Berlim Oriental, está Figura 97:
sensivelmente modi- Gorbachev, na Como um gigantesco navio-tanque avariado aproximando-se dos recifes, uma
ficada. Seu filho Alexan- revista Time. União Soviética sem leme vagava assim para a destruição. As linhas segundo as
der (Daniel Brühl), te- Fonte: Disponível em: quais ele ia rachar-se já estavam traçadas: de um lado, o sistema de autonomia
mendo que a excitação <http://oficinade- de poder territorial em grande parte corporificado na estrutura federal do Esta-
causada pelas drásticas gerencia.blogspot. do, de outro os complexos econômicos autônomos. Como a teoria oficial sobre
mudanças possa lhe com/2009/03/11-de- a qual a URSS se erguera era de autonomia territorial para os grupos nacionais,
prejudicar a saúde, -marco-gorbachev-as- tanto para as quinze repúblicas da União quanto para as regiões e áreas autô-
decide esconder-lhe sume-o-poder-e.html>. nomas dentro de cada uma delas, a fratura nacionalista estavapotêncialmente
os acontecimentos. Acesso em: 5 out. 2011. embutida no sistema, embora, com exceção dos pequenos Estados bálticos, o
Enquanto a Sra. Kerner separatismo não fosse sequer pensado antes de 1988, quando se fundaram as
permanece acamada, primeiras “frentes” nacionalistas ou organizações de campanha em resposta à
Alex não tem muitos Glasnost (na Estônia, Letônia, Lituânia e Armênia). Contudo, nesta etapa, mes-
problemas, mas quan- mo nos Estados bálticos, elas eram dirigidas não tanto contra o centro quan-
do ela deseja assistir à to contra os partidos comunistas locais insuficientemente gorbachevistas, ou,
televisão, ele precisa como na Armênia contra o vizinho Azerbaijão (HOBSBAWM, 1995, p. 469).
contar com a ajuda de
um amigo, diretor de Com o fim da Guerra Fria e da bipolarida- mam que nunca na história um país teve tan-
vídeos. de do poder no mundo, os EUA, apoiados na to poder como os EUA, no final do século XX”
Fonte: Disponível em:
<http://www.adorocinema.
hegemonia econômica e militar, fortaleceram- (MORAES & FRANCO, 2009, p. 73). Surge então
com/filmes/adeus-lenin>. -se mundialmente como potência. Passaram, uma nova ordem multipolar. Suas marcas são
Acesso em: 16 out. 2011. assim, a exercer influência nos rumos dos con- a globalização e o neoliberalismo.
flitos em todo o mundo. “Muitos analistas afir-

94
História - História Contemporânea II

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95
UAB/Unimontes - 8º Período

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VIRILIO, Paul & LOTRINGER, Sylvere. Guerra Pura. A Militarização do Cotidiano. São Paulo: Brasi-
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96
História - História Contemporânea II

UNIDADE 3
Da nova ordem mundial à era das
incertezas
Simone Narciso Lessa

3.1 Introdução
Neste capítulo, trataremos do mundo após o fim da Guerra Fria, também conhecido como
Nova Ordem Mundial. O mundo, que emergiu da crise da década de 1980 que culminou na que-
da da URSS, festejou, nas palavras de Fukuyama (1989), o triunfo do capitalismo e, como coloca-
va o autor de “The End of History and the Last Man” (1989), o “Fim da História”.

O esforço principal de Fukuyama, que tem provocado grande repercussão,


foi o de tentar elaborar uma linha de abordagem da história, indo de Platão
a Nietzsche e passando por Kant e Hegel, a fim de revigorar a tese de que o
capitalismo e a democracia burguesa constituem o coroamento da história da
humanidade, ou seja, de que a humanidade teria atingido, no final do século
XX, o ponto culminante de sua evolução com o triunfo da democracia liberal
ocidental sobre todos os demais sistemas e ideologias concorrentes.
(GOMES, Disponível em: <http://www.culturabrasil.org/fukuyama.htm>. Aces-
so em: 10 out. 2011).

No início desse processo, o chamado bal. Países antes do “Terceiro Mundo” emer-
“Consenso de Washington”, que teve como giram como potências consolidadas, ou em
base o neoliberalismo, instaurou-se como mo- expansão, como nos casos da China, da Índia,
delo econômico e uma referência importante da Rússia e do Brasil. Os momentos que mar-
na expansão do capitalismo como economia- caram a ação do EUA na cena internacional,
-mundo ou sistema-mundo (ANDERSON, como o ataque em Nova Iorque, em 11 de se-
1998). Trataremos do processo de globaliza- tembro de 2001, a recusa em assinar o proto-
ção como um processo que é apontado como colo de Kyoto (de diminuição da emissão de
homogeneizante, mas, que numa contradição gases causadores do efeito estufa), as invasões
dialética, fortaleceu a luta pelo direito à dife- do Iraque e a crise econômica de 2008, estabe-
rença. Momento no qual se anunciava o fim leceram padrões de crises que atingem hoje o
do Estado Nacional, mas que, ao mesmo tem- mundo todo.
po, fez emergir múltiplas nacionalidades, as- A política toma conta das ruas e praças
sim como a divisão do mundo em blocos de do Ocidente ao Oriente Médio. No Oriente, os
países associados econômica e politicamente. movimentos nas praças derrubaram antigas
A informação e as redes tomaram dimensões ditaduras aliadas do Ocidente. A chamada “Pri-
cotidianas inéditas, sejam no âmbito do Esta- mavera Árabe” trouxe uma nova efervescência
do, das empresas ou em nossas vidas domésti- política à cena internacional. Uma forte crise
cas. As questões políticas escamotearam ques- econômica atinge, neste momento, a União
tões econômicas nas novas e velhas guerras Europeia, principalmente na chamada zona
no Oriente Médio, a questão Palestina, o pe- do EURO, e a crise americana está levando, até
tróleo e o terror. mesmo, à diminuição de seus contingentes e
Finalizando, trataremos da urbaniza- investimentos militares. Todo esse cenário co-
ção mundial, das crises do neoliberalismo, da loca o mundo num campo de incertezas im-
questão ambiental e do aquecimento glo- previsíveis.

97
UAB/Unimontes - 8º Período

Glossário
Consenso de Washington:
3.2 A Globalização e a Nova
Ordem mundial – Globalização e
conjunto de dez regras
básicas – formuladas, em
novembro de 1989, por
economistas de institui-
ções financeiras situadas
em Washington D.C., como
o FMI, o Banco Mundial
e o Departamento do Te-
souro dos Estados Unidos,
neoliberalismo
fundamentadas num texto
do economista John Willia-
mson, do International Os acontecimentos que marcaram o fim Esses pensadores do triunfo anunciavam uma
Institute for Economy. O da Guerra Fria desencadearam duas reações nova era capitalista, uma nova ordem mun-
FMI passou a recomendar
a implementação dessas de imediato, primeiramente, dos que ficaram dial, marcada pela globalização, pela volta do
medidas nos países emer- deserdados do socialismo. A pergunta era: se liberalismo e do Estado mínimo, pela degra-
gentes, durante a década
de 1990, como meios para o socialismo fracassou, qual é a possibilidade dação do poderio político, econômico e sim-
acelerar seu desenvol- de superação do capitalismo? A segunda foi bólico do Estado Nacional. Estruturas multila-
vimento econômico. De
início, essas ideias foram o triunfalismo capitalista. O socialismo havia terais e transnacionais dominariam o mundo,
aceitas e adotadas por fracassado, o que significaria, para os arautos num processo suportado pela alta tecnologia
dezenas de países sem
serem muito questionadas. da nova era, o triunfo da única via possível, a e a homogeneização do mercado e do consu-
Estabilizar, privatizar e libe- capitalista. Era o “fim da História”. De agora em mo, em todo o mundo, nos moldes ocidentais.
ralizar tornou-se o mantra
de uma geração de tecno- diante, o mundo seria capitalista para sempre. Nesse contexto, escreveu William Greider:
cratas que estavam tendo
sua primeira experiência A lógica do comércio e do capital superou a inércia da política e desencadeou
no mundo subdesenvolvi-
do e dos líderes políticos uma época de grandes transformações sociais. Fatos estabelecidos da vida ma-
por eles aconselhados. Foi terial estão sendo revistos tanto pelas nações ricas quanto pelas pobres. For-
muito criticado, principal- mas de compreender o fato social que se sedimentaram ao longo das duras
mente, após as crises de lutas políticas do século XX estão sendo postas em dúvida. Velhas verdades so-
países que seguiam suas
regras, tais como a dos “Ti- bre a ordenação das nações em rankings estão sendo revistas e um novo mapa
gres Asiáticos”, em 1997, do mundo está sendo gradualmente desenhado. Essas grandes mudanças vão
da Rússia, e da economia além dos negócios governamentais, meramente, e desestabilizam a ordem po-
Argentina - que recebiam lítica estabelecida nas sociedades primitivas quanto nas adiantadas. Tudo sur-
notas A+ do FMI pelo zelo
com que aplicavam suas ge como novo e estranho. Nada mais está seguro (GREIDER, 1997, p. 11).
sugestões - e de vários
outros desajustes econômi-
cos ocorridos pelo mundo. O anúncio, o debate e a proclamação de No final do século XX, assistimos trans-
O “Consenso” foi adaptado uma sociedade globalizada, com a integra- formações em todo o mundo. As regras do
e, desde 2004, revisto pelo
FMI, que abandonou o ção dos dois lados da “Cortina de Ferro” que comércio internacional passam a ser estabele-
dogmatismo inicial. caíra sob uma mesma condição capitalista, cidas por convenções da Organização Mundial
As dez regras básicas são: saíram dos debates acadêmicos e de especia- do Comércio (OMC), e este fórum ganha novo
• Disciplina fiscal listas para ganhar as manchetes dos veículos destaque nas relações internacionais. O que se
• Redução dos gastos
públicos de comunicação e as ruas. Um mundo só e dizia era que a guerra militar havia dado lugar
• Reforma tributária homogêneo parecia ser inevitável. O Estado à guerra comercial. Um bolha de prosperidade
• Juros de mercado
• Câmbio de mercado Nacional, que antes era o garantidor do “Pleno começa a se formar a partir dos Estados Uni-
• Abertura comercial Emprego”, do planejamento e do desenvol- dos. O novo campo de negócios da informáti-
• Investimento estrangeiro
direto, com eliminação vimento, passou a ser taxado de estorvo que ca e eletrônica se expandiu tão rapidamente,
de restrições deveria ser reduzido ao máximo. A sociedade que uma nova Bolsa de Valores foi criada em
• Privatização das estatais
• Desregulamentação civil e o setor privado deveriam assumir en- Nova Iorque, a Nasdaq, com outras Bolsas de
(afrouxamento das leis cargos que antes cabiam ao Estado, incluindo Valores sendo criadas em todas as chamadas
econômicas e trabalhis-
tas) a seguridade social e a previdência. O libera- cidades globais (grandes capitais do mundo),
• Direito à propriedade lismo, ou o neoliberalismo, como passou a ser inclusive no antigo bloco socialista. Moraes &
intelectual.
conhecido a partir do “Consenso de Washing- Franco definem a globalização como sendo:
Fontes: Disponível em: ton”, retorna.
<http://www.fau.usp.
br/cursos/graduacao/
arq_urbanismo/disciplinas/ Um processo de integração mundial que se intensificou nas últimas décadas. A
aup0270/4dossie/noguei- globalização baseia-se na liberalização econômica: os Estados abandonam gra-
ra94/nog94-cons-washn. dativamente as barreiras tarifárias que protegem sua produção de concorrên-
pdf>. Acesso em: 12 jan.
2012. cia estrangeira e se abrem ao fluxo internacional de bens, serviços e capitais. A
<http://www.cefetsp.br/ recente revolução nas tecnologias de informação contribuiu de forma decisiva
edu/eso/globalizacao/con- para essa abertura. Além de concorrer para uma crescente homogeneização
senso.html>. Acesso em: cultural, a evolução e popularização das tecnologias da informação (computa-
12 jan. 2012.
dor, telefone, televisor) são fundamentais para agilizar o comércio, o fluxo de
investimentos e a atuação das transnacionais por permitir uma integração sem
precedentes de pontos distantes do planeta (2009, p. 91).

98
História - História Contemporânea II

◄ Figura 98: O lema do


Fórum Social Mundial.
Fonte: Disponível em:
<http://www.ong-ngo.
org/-Forum-Social-
-Mundial-FSM-?lang=pt>.
Acesso em: 10 nov. 2011.

Os debates sobre os direitos humanos de institucionalização dos movimentos sociais


e as questões ambientais se ampliaram e ga- próprios do contexto neoliberal.
nharam vulto nas conferências da ONU e nos A década de 1990 foi a da consolidação
fóruns não governamentais, como no Fórum da posição da mulher e de maior avanço nos
Social Mundial em 2001. Ele foi realizado pe- debates e lutas desse campo político feminino
los movimentos sociais e ONGs como uma e de gênero. Outras lutas ganham espaço, am-
proposta alternativa às políticas neoliberais e pliando as discussões de raça, principalmen-
governamentais. Cresceram no mundo todo te após o ano 2000. As lutas pelo respeito às
as organizações das sociedades civis, que pas- diferenças e a busca de ganhos no campo do
saram a atuar nos mais diferentes setores (as direito, os nacionalismos e fundamentalismos,
ONGs). Esse crescimento, podemos atribuir ao que muitas vezes passaram a se confundir, es-
afastamento do Estado de certos campos, que garçaram o manto homogênio da globaliza-
passaram a ser vistos como mais apropriados à ção, que mais pareceria, de agora em diante,
atuação da sociedade civil ou “Terceiro Setor”, uma colcha de retalhos, um campo repleto de
como passou a ser chamada, num processo conflitos diferenciados.

A nova ordem internacional acabou com um cem número de conflitos direta-


mente ligados à ação das superpotências; mas fez surgir outros, na sua maioria
de origem étnica, religiosa e nacional, que durante a Guerra Fria foram manti-
dos em estado latente (MORAES & FRANCO, 2009, p. 93).

O apregoado enfraquecimento do Estado eram profundas no final da Guerra Fria e início


Nacional parecia evidente diante do cresci- da chamada Nova Ordem Mundial. A forma-
mento das empresas transnacionais e da for- ção de blocos ecomômicos estabeleceram um
mação de blocos supranacionais. As mudan- novo sentido de região. Destacaremos o caso
ças na conformação geopolítica do mundo da União Europeia.

3.3 A nova organização territorial


A globalização da economia mundial deflagrou o alastramento da formação de blocos
econômicos, criados com a finalidade de facilitar o comércio entre os países membros, que
adotaram redução ou isenção de impostos ou de tarifas alfandegárias e buscaram soluções em
comum para problemas comerciais.

As últimas décadas do século XX foram marcadas por uma nova reestruturação


das escalas espaciais no planeta, numa recomposição provocada pela rápida
evolução dos meios de transporte, de comunicação e de produção de bens e
serviços. A esse processo dá-se o nome, no presente artigo, de “deslizamento
de escala”. No patamar superior, criam-se ou fortalecem-se os blocos econômi-
cos, tomando o aspecto inicial de mercados comuns e rumando, posteriormen-
te, à organização em espaços política e economicamente unidos como é o caso
da Europa; o patamar inferior da escala caracteriza-se pelo reforço das unida-
des territoriais em nível regional (BENKO, 2001, p. 1).

99
UAB/Unimontes - 8º Período

Quadro 4 - Recomposição dos espaços e evoluções sócio-econômicas

Período Industrial (1850-1975) Período Informacional (1975 - séc. XXI)

Escala espacial dominante: Estado-Nação Escala espacial dominante: região e união econômica
· Estados: atores essenciais da economia · Atores econômicos: capitais, empresas multinacionais,
(dirigismo/centralização) · Unidades territoriais (regiões)
· Centro de decisão: nacional · Centro de decisão: supranacional e local
· Soberania nacional · Soberania dos cidadãos
· Barreiras alfandegárias · Abertura econômica (supressão de fronteiras/ interna-
· Economia centrada na produção e consumo cionalização da economia
nacionais · Economia baseada na informação e na comunicação /
· Iniciativas públicas maior importância da inovação
· Organização do território em âmbito nacio- · Constituição de redes (“sociedade em redes”)
nal e centralizado (“de cima”) (redistribuição) · Organização do território baseada na iniciativa local (
· Estados-Providência “de baixo”)
· Regulação social estável · Regulação social “flexível”
· Lógica econômica majoritariamente fordista · Lógica econômica principalmente pós-fordista
· Crescimento fortalecido · Nova articulação: global/local
· Evoluções lentas · Evoluções rápidas

Espaços de referência: Espaços de referência:


- Grã-Bretanha - Vale do Silicone (São Francisco) / Orange County (Los
- Estados Unidos Angeles) / Rota 128 (Boston)
- Alemanha - Terceira Itália / Lombardia
- Japão (a partir de 1950) - Hong Kong / Taiwan
- Ile-de-France / Toulouse / Grenoble
- Irlanda / Escócia
- Grandes Metrópoles (e “cidades globais”)
etc.

Fonte: BENKO (2001, p. 12).

Como podemos ver no quadro acima, a que as outras formas que lhe antecederam em
questão que se apresentava com grande im- suas formas de governo, desde o absolutista
portância era o destino do Estado Nacional até o socialista, passando pelo liberal. Mes-
diante da globalização e da emergência de mo com a permanência do Estado Nacional,
novos espaços de referências. Mesmo com a outras referências emergem como lugares de
emergência desses novos espaços, o que ve- significação para a contemporaneidade. As
mos é o chamado “deslizamento de escalas”. metrópoles, os lugares de coesão econômica e
O Estado Moderno-Contemporâneo, que não tecnológica, como o Vale do Silício, na Califór-
passou por grandes alterações em sua carac- nia, Los Angeles e Xangai, e novas referências
terização material formal, tem permanecido espaciais agregarão múltiplos elementos que
com os mesmos elementos – território, popu- os colocaram no vértice da conexão de múlti-
lação e poder político (soberania). Entretanto, plas redes e escalas diferentes.
tem variado bastante e bem mais rapidamente

Figura 99: Xangai►


a arquitetura pós-
moderna da cidade-
mundo.
Fonte: Disponível em:
<http://turismo.culturamix.
com/atracoes-turisticas/
shangai>. Acesso em: 21
jan. 2012.

100
História - História Contemporânea II

Outro fator, do qual trataremos adiante, zaram. Apotência norte-americana, que antes Glossário
foi que, diferentente do que se dizia na mídia tinha a União Soviética como inimiga, voltou-se O que são blocos
sobre a nova ordem mundial, os conflitos bé- para um inimigo mais difuso, mas que a possibi- econômicos?
licos não acabaram. Vários antigos conflitos litou manter, e até mesmo reforçar, sua política São associações de
permaneceram, e velhos fantasmas da Euro- de segurança nacional, cuja premissa, indo além países, em geral de
pa, como a guerra da Bósnia, levantaram-se. da ideia do inimigo comunista interno, parte do uma mesma região
geográfica, que
Os nacionalismos árabe, checheno, israelense, princípio de que qualquer um, em qualquer lu- estabelecem relações
palestino e das nações africanas sepotênciali- gar, poderia ser o inimigo – o terrorismo. comerciais privilegia-
das entre si e atuam
de forma conjunta no
mercado internacio-
3.3.1 Os Blocos Econômicos nal. Um dos aspectos
mais importantes na
formação dos blocos
O fim da Guerra Fria desfez os dois grandes blocos, e com eles o mundo bipolar, liderados econômicos é a redu-
por Estados Unidos e União Soviética. Esse processo levou à criação de novos blocos de países, ção ou a eliminação
num processo de multilateralização das relações internacionais. A emergência de relações multi- das alíquotas de im-
laterais levou a um novo processo de regionalização mundial. portação, com vistas
à criação de zonas
de livre comércio. Os
blocos aumentam a
interdependência das
economias dos países
Figura 100:
membros.
Mapa dos blocos
Atualmente, os
econômicos.
mais importantes
Fonte: Disponível são o NAFTA (North
em: <http://edson-
maiap.wordpress.
American Free Trade
com/>. Acesso em: Agreement), a União
10 nov. 2011. Europeia (U.E), o
Mercado Comum do
Sul (MERCOSUL), a
Cooperação Econô-
mica da Ásia e do
Pacífico (APEC) e, em
menor grau, o Pacto
Andino, a Comuni-
dade dos Estados
Independentes (CEI)
e a Comunidade da
Os blocos econômicos ganharam grande Euro. Entretanto, finda a primeira década, vi- África Meridional
importância no final do século XX e início do mos esse formato de coalizão em blocos “fa- Para o Desenvolvi-
XXI. Diante do fim da Guerra Fria e do multi- zendo água”, ou “indo por água a baixo”. A mento (ADC) (Bezerra
lateralismo, buscava-se uma nova ordem, um crise econômica, que começou em 2008 nos Júnior, 2001, p. 7).
novo arranjo na correlação de forças que fosse EUA (talvez até antes disso), atingiu o mun-
expresso por novas formas de territorialização. do, mas particulamente a zona do Euro e a
A crise atingia, naquele momento, os Estados União Europeia.
Nacionais, num processo galopante de trans- Finda a primeira década do século XXI,
nacionalização da economia. O reagrupamen- vemos se aprofundar um quadro de incerte-
to das forças em bolcos era atrativo. A União zas, marcado por várias crises de ordens dife-
Europeia –EU, que vinha num processo de for- rentes, mas que se interrelacionam. Relatare-
mação desde o fim da Segunda Guerra Mun- mos, a seguir, sobre a questão ambiental com
dial, levou a fundo a coalizão dos países, crian- mais destaque, num quadro mais amplo de
do organismos próprios e uma moeda única, o crise mundial: ambiental, econômica e social.

3.3.2 Quatro momentos de conflito que marcaram o final do século


XX e o início do XXI

Dividimos o período do final do século XX em quatro momentos marcantes - quatro di-


visores de águas, na política e na geopolítica internacional, da chamada Nova Ordem Mun-
dial, que são:

101
UAB/Unimontes - 8º Período

1º Momento: Guerra do Golfo

A Guerra do Golfo foi um conflito armado das forças coligadas, em 1991, foi um grande es-
que começou em agosto de 1990, após as tropas petáculo televisivo, transmitido ao vivo pela rede
iraquianas terem invadido o Kuwait. A invasão de TV americana CNN para todo o mundo.

▲ Figura 102: A guerra da CNN.


Fonte: Disponível em: <http://
portalmilitarepolicial.blogspot.
com/2011/08/1990-1991-
-guerra-do-golfo-iraque-fotos.
html>. Acesso em: 15 jan. 2012.

Figura 101: Guerra do▲


Golfo. BOX 9
Fonte: Disponível
em: <http://globpt.
com/2008/03/19/faz-
-hoje-5-anos-invasao-do-
Guerra do Golfo
-iraque>. Acesso em: 15 jan.
2012. 1990-91 - O presidente do Iraque, Sadam Hussein, ordenou a Invasão do Kuwait, em 2 de
agosto de 1990, deflagrando a Guerra do Golfo. Em 6 de agosto, a ONU impôs um boicote eco-
nômoco ao Iraque. No dia 28, Hussein proclamou a anexação do Kuwait como sua 19ª província,
aumentando a pressão norte-americana pela intervenção armada. Com o fracasso das tentativas
diplomáticas de solução, as forças coligadas de 28 países, liderados pelos EUA, deram início ao
bombardeio aéreo de Bagdá, em 16 de janeiro de 1991. O Iraque se rendeu em 27 de fevereiro.
O número estimado de mortos na guerra foi de 100 mil soldados e 7 mil civis iraquianos, 30 mil
kuwaitianos e 510 homens da coalizão (MORAES & FRANCO, 2009, p. 132).
A guerra dividiu o Iraque nas 3 (três) zonas do mapa abaixo. Sadam Husseim permaneceu
no poder. Hobsbawm tem uma teoria interessante, em seu livro A Era dos Extremos (1995, p. 445),
de que “após a guerra do golfo de 1991, Saddam Hussein manteve-se no Iraque contra grandes
insurreições no norte e sul de seu país e num Estado militarmente fraco, essencialmente porque
não perdeu Bagdá”.

Figura 103: Mapa do►


Iraque dividido com o
fim da guerra.
Fonte: Disponível em:
<http://www.google.com.
br/imgres?q=guerra+do+g
olfo&um=1&hl=ptBR&biw=
1619&bih=773&tbm=isch&
tbnid=eZj5uXnD7vUWFM:
&imgrefurl>. Acesso em 15

102
jan. 2012.
História - História Contemporânea II

2º Momento: A Bósnia-Herzegovina - a guerra no coração da Europa

A queda da “Cortina de Ferro” com o fim da Guerra Fria afetou, de formas diferentes, os paí-
ses da Europa Central. Nacionalismo e relações identitárias étnicas foram reavivadas, dando mar-
gem a um intenso rearranjo espacial nessa região. A Iugoslávia foi um dos países que começou
a se desintegrar e, nesse processo, principalmente a partir de 1991, com os movimentos de
independência da Croácia e da Eslovênia, conflitos étnicos foram se acirrando.

BOX 10

1992-95 - A Bósnia-Herzegovinia foi palco do mais violento conflito de desintegração da Para saber mais
Iugoslávia, a Guerra da Bósnia. Com o fim do comunismo e a morte de Tito, reacenderam-se as
diferenças étnicas, culturais e religiosas entre as seis repúblicas iugoslavas, impulsionando mo-
vimentos pela independência. Na Bósnia, a emancipação foi aprovada em plebiscito por croatas
(católicos) e bósnios (mulçumanos). Mas a recusa da minoria sérvia (cristã ortodoxa) em acatar a
decisão provocou a guerra, marcada pela disputa de territórios. Nas áreas ocupadas, os sérvios
promoveram a chamada limpeza étnica, expulsão e massacre dos grupos rivais, os mulçumano-
croatas. O conflito terminou em 1995, com o saldo de duzentos mil mortos. O Acordo de Dayton
dividiu o território bósnio em duas entidades semiautônomas: a Federação da Bósnia (mulçuma-
no-croata) e a República Sérvia (MORAES & FRANCO, 2009, p. 132).
▲ Figura 105: O
ex-presidente servo-
bósnio, Radovan
Karadzic.
Fonte: Disponível em:
<http://www.google.com.
br/imgres?q=guerra+da+
bosnia&um=1&hl=ptBR&
sa=N&biw=1619&bih=77
Figura 104: As Forças
3&tbm=isch&tbnid=LUb
de Paz da ONU, 8gpZQt4PxFM:&imgrefu
atuando na Bósnia. rl>. Acesso em 20 de março
Fonte: Disponível de 2012.
em::<http://www.goo-
gle.com.br/imgres?q=g O ex-presidente
uerra+da+bosnia&um servo-bósnio, Radovan
=1&hl=pt-BR&sa=N&bi Karadzic, um dos ho-
w=1619&bih=773&tbm mens mais procurados
=isch&tbnid=O9VH61A
CROFp3M:&imgrefurl>.
do mundo, foi preso
Acesso em 20 de março após 12 anos foragido.
de 2012. Conhecido como “o
Carniceiro de Sarajevo”,
Karadzic foi duplamen-
3º Momento: 11 de Setembro – Começou o século XXI te indiciado de genocí-
dio pelo Tribunal Penal
Internacional para a
Os atentados de 11 de setembro de 2001, foram uma série de ataques suicidas contra os Ex-Iugoslávia, pelo cer-
EUA, coordenados pelo grupo terrorista Al-Qaeda, surgido no contexto da guerra do Afeganistão co de Sarajevo durante
e comandado pelo saudita Osama Bin Laden. Na manhã daquele dia, 19 terroristas da Al-Qae- 43 meses, que deixou
cerca de 12 mil mortos,
da sequestraram quatro aviões comerciais, usando o equipamento civil como armas de guerra, e pelo massacre de oito
numa típica ação de guerrilha. mil muçulmanos, em
Os sequestradores, intencionalmente, bateram dois dos aviões contra as torres gêmeas do Srebrenica, em 1995, na
World Trade Center, em Nova Iorque, matando todos a bordo e muitos dos que trabalhavam nos maior atrocidade regis-
edifícios. Ambos os prédios desmoronaram em duas horas, destruindo construções vizinhas e trada na Europa, desde
a Segunda Guerra Mun-
causando outros danos. O terceiro avião de passageiros foi jogado contra o Pentágono, em Ar- dial. Ele foi acusado de
lington, Virgínia, nos arredores de Washington, D.C., e o quarto avião caiu em um campo próximo promover a limpeza
de Shanksville, na Pensilvânia. Não houve sobreviventes em qualquer um dos vôos. O total de étnica que, além do
mortos nos ataques foi de 2.996 pessoas, incluindo os 19 sequestradores. A esmagadora maioria massacre da população
das vítimas era civil, incluindo cidadãos de mais de 70 países. muçulmana masculi-
na, incluía o estupro
Após os ataques, começaram a se articular a chamada Doutrina Bush, com os Estados Uni- (com a finalidade de
dos aprovando o USA PATRIOT Act., uma legislação antiterrorismo que ampliou os poderes de humilhar e engravidar)
aplicação da lei. Os Estados Unidos responderam aos ataques com o lançamento da Guerra ao de mulheres e meninas
muçulmanas.

103
UAB/Unimontes - 8º Período

Terror: o país reforçou sua presença no Afeganistão para derrubar o Talibã, usando como justifi-
cativa a parceria destes com os terroristas da Al-Qaeda (ver: Guerra do Afeganistão). De acordo
com Moraes & Franco:

Logo após 11 de setembro, George W. Bush lançou as bases de sua guerra contra o ter-
ror e definiu o primeiro alvo: o regime fundamentalista islâmico dotalibã, no Afeganis-
tão.
[...] em 07 de outubro de 2001, os EUA e o Reino Unido bombardearam cidades do
Afeganistão.
[...] Os Estados Unidos só precisaram de duas semanas para massacrar a infraestrutu-
ra do regime, a ponto de o ministro do Exteriortalibã, Muá Wakil Ahmad Muttawakil,
apresentar, no Paquistão, uma proposta de trégua. A intervenção americana no Afe-
ganistão privou os terroristas de seu Quartel General e de seus campos de treina-
mento. Mas apenas dez, dos trinta principais chefes do terror foram mortos ou cap-
turados. [...]
O comando central, sob a liderança de Bin Laden, deu lugar a uma estrutura horizon-
tal, formada por células independentes, distribuidas em vários países, em particular
no Paquistão, no Irã e no Iêmen (2009, p. 148).

A segunda maior operação dos Estados Unidos na guerra global contra o terrorismo fora
dos Estados Unidos e a maior, diretamente, ligada ao terrorismo, a derrubada do governo Talibã
do Afeganistão por uma coalizão liderada pelos EUA deflagou a Guerra ao Terror, ou ao Eixo do
Mal como falava Bush. Os Estados Unidos não foi o único país a aumentar a sua prontidão militar,
sendo outros exemplos as Filipinas e a Indonésia, países que têm os seus próprios conflitos inter-
nos com o terrorismo islâmico.

BOX: 11

Os ataques terroristas que destruíram as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova
Iorque, e parte do edifício do Pentágono, em Washington, em 11 de setembro de 2001, pas-
saram a ser interpretados por muitos internacionalistas como um novo marco de referência
para a prática e o estudo das relações internacionais. Houve dois fatores novos nesse epi-
sódio: 1) Pela primeira vez na história, os Estados Unidos foram atacados em seu território
continental (recordemos que o ataque japonês a Pearl Harbor, nos anos de 1940, foi contra
uma base americana no Pacífico); 2) O ataque não foi feito por outro país, mas por uma orga-
nização terrorista, a Al Qaeda.
A reação dos Estados Unidos foi desproporcional: criou uma nova doutrina (Doutrina
Bush) e contaminou todo o planeta. Dela não surgiu um novo paradigma, mas se exarce-
bou o comportamento dos realistas políticos [escola com forte cunho militarista e voltada
para os resultados, que aborda as relações internacionais], apoiadores e executores de uma
política internacional capitaneada pelos Estados Unidos que levou o tema da segurança a
alturas estratosféricas, com a adoção do conceito de ataques preventivos (legítima defesa
preventiva) e de sicuritização das relações internacionais (o tema da segurança passou a de-
finir todas as políticas públicas dos Estados Unidos e dos organismos multilaterais, estes sob
a intensa pressão americana).
O Governo George W. Bush, finalizado em 2009, e o fracasso das políticas adotadas com
base em sua doutrina deixaram sequelas profundas nas relações internacionais. A própria
hegemonia dos Estados Unidos foi abalada pelo efeito devastador que a Doutrina Bush cau-
sou na democracia, nos direitos humanos e na economia, dentro e fora dos Estados Unidos.
A vitória do presidente democrata Barak Obama, em 2008, foi, em grande medida, uma res-
posta do povo americano a esses estragos provocados pela tenebrosa e truculenta Era Bush.
A questão de como lidar com uma realidade internacional, com elevados graus de frag-
mentação, com novos atores não estatais, desterritorializados, permanece um desafio para
todos os paradigmas [das Relações Internacionais] (RODRIGUES, 2009, p. 61-63).

4º Momento: a invasão do Iraque

Na Nova Ordem Mundial, os EUA colocaram seus interesses como mundiais. No contexto da
Doutrina Bush de luta contra o terror pós 11 de setembro, um antigo alvo entrou no mira dos
EUA, no Oriente Médio: o Iraque de Saddam Hussein. Alegando que o Iraque tinha armas de des-

104
História - História Contemporânea II

truição em massa, e numa posição irredutível mesmo diante do relatório da ONU que afirmava
não terem sido encontradas tais armas, Washington alertou: “A ONU deve agir, caso contrário os
EUA o farão”. (MORAES & FRANCO, 2009, p. 151) O Iraque já sofria embargo econômico que pena-
lizava toda a população e passava por instabilidades internas, mas era um governo laico e com
um presidente “eleito”. A ONU não autorizou o ataque. Muitos, e o próprio EUA, apontaram a de-
cisão como fraqueza da organização, entretanto, era a primeira vez que a ONU não corroborava
as decisões americanas.

▲Figura 106: A guerra foi transmitida


pela TV para o mundo todo.
Fonte: Disponível em: <http://www.goo-
gle.com.br/imgres?q=guerra+do+golfo
+II&um=1&hl=ptBR&biw=1619&bih=773
&tbm=isch&tbnid=YCg73Djsp2HFeM:&i
mgrefurl>. Acesso em: 22 dez. 2011.
▲ Figura 107: A guerra do
petróleo.
O ataque foi feito em 19 de março de 2003. Antes do discurso de anúncio do ataque, “aci- Fonte: Disponível em:
<http://grandefabrica.
dentalmente” um canal de TV mostrou Bush se maquiando e arrumando o cabelo para discursar. blogspot.com/2008/03/
Saddam jurou diante das câmaras que resistiria ao ataque. E o mundo viu o ataque plea TV. “E, guerra-do-golfo-ii.html>.
assim, como se fosse um jogo de videogame, era possível ver, ouvir e até mesmo sentir de nos- Acesso em: 12 nov. 2011.
sas casas, quando a chuva de mísseis caia sobrea a cidade de Bagdá, antecedida pelo som das
sirenes e da voz do reporter dizendo:”a guerra começou” (MORAES & FRANCO, 2009, p. 154). A
seguir, transcrevemos partes do pronunciamento de George Bush, logo após o ataque:

Meus caros cidadãos,


Neste momento, as Forças dos Estados Unidos e da coalizão estão iniciando os
primeiros estágios das operações para desarmar o Iraque, para libertar sua po-
pulação e defender o mundo de um grave perigo.
[...]
Neste conflito, a América enfrenta um inimigo que não dá importância a
convenções de guerra ou regras morais. Saddam Hussein colocou as tropas
iraquianas e equipamentos em áreas civis, tentando usar homens mulheres e
crianças inocentes como escudos para seu exército, uma atrocidade final con-
tra seu povo.
Quero que os americanos e o resto do mundo saibam que as forças de coalizão
vão realizar todos os esforços para evitar danos a civis inocentes.
[...]
Nós entramos no Iraque com respeito a seus cidadãos, por sua grande civiliza-
ção e pelas crenças religiosas praticadas pelo seu povo. Não temos ambições
em relação ao Iraque, exceto remover a ameaça e devolver o controle do país a
seus cidadãos.
[...]
Agora que o conflito começou, a única maneira de limitar sua duração é usar
a força de maneira decisiva. E eu garanto a vocês que essa não será uma cam-
panha de meias medidas. Não vamos aceitar qualquer desfecho que não seja a
vitória.
[...]
Deus abençoe nosso país e aqueles que o defendem (FOLHA DE SÃO PAULO,
20/03/2003 apud MORAES & FRANCO, 2009, pp. 154-155).

105
Figura 108: O verdadeiro►
terror – o sofrimento dos
inocentes.
Fonte: Disponível em:
<http://www.google.com.
br/imgres?q=guerra+do+g
olfo+II&um=1&hl=ptBR&bi
w=1619&bih=773&tbm=isc
h&tbnid=H0wbL77Ya13Q5
M:&imgrefurl>. Acesso em:
12 nov. 2011.

Para saber mais

As armas de destruição em massa não cano, principalmente diante da crise econômi-


foram encontradas. Saddam foi enforcado ca que batia em suas partas, aumentava. Em
diante das câmeras. A Europa que, a principio, 2008 os Republicanos perdem a presidência
apoiou a investida, ficou dividida diante das numa eleição histórica para os EUA e o mun-
Sobre a Invasão do notícias que chegavam do front. O “Eixo do do, pois colocou um negro no poder, com a
Iraque e a busca das
armas de destruição em
Mal” se expandia para outros países- Coréia do promessa de por fim nas investidas bélicas no
massa veja o filme: Norte, Síria e, em particular, para o Irã. A pres- Oriente Médio. Em 2012, as tropas americanas
Zona Verde são aumenta e a insatisfação do povo ameri- deixaram o Iraque.
Título original:
Green Zone
Dirigido por:
Paul Greengrass
Atores:
Matt Damon, Amy
3.4 Outras crises
Ryan e Greg Kinnear
Gênero: O final do século XX e início do XXI têm sido marcados por crises de várias modalidades. São
Drama
Nacionalidade: crises ambientais e sociais que têm mudado a correlação de forças internacionais e o campo da
EUA, Reino Unido cultura política nesse período. Passaremos a tratá-las a seguir.

Sinopse e detalhes:
Bagdá, 2003. Roy Miller
(Matt Damon) lidera 3.4.1 A crise ambiental
uma equipe, a serviço
da inteligência do
exército, em busca de Após a 2ª Guerra, as alterações nos mapas à conservação e controle de matérias-primas
armas de destruição geopolíticos e econômicos, o crescimento po- necessárias à expansão do capitalismo urbano
em massa no Iraque. pulacional e o êxodo da população rural para -industrial.
Depois de algumas as grandes cidades, mudaram, e continuam O avanço avassalador desse novo capita-
tentativas frustradas,
o militar se vê diante
mudando, paulatinamente, o espaço natural lismo, com a rápida urbanização e o aumento
de um cenário caótico do planeta. Os conceitos de desenvolvimento da pobreza, a volta das epidemias, a extinção
entre seus compa- e subdesenvolvimento, conceitos instaurados de espécies, e a esgotabilidade dos recursos
triotas, o que o deixa após o discurso de posse do Presidente Tru- naturais, levou, em 1972, à publicação de um
dividido entre aplacar man, em 1949, segundo Esteva (2000), marca- livro que causou muita polêmica e debate: Os
o anseio do governo
de encontrar algo que
ram um novo momento para o mundo. Esse Limites do Crescimento, resultado do trabalho
justificasse a invasão conceito de desenvolvimento passou a ser di- de investigação realizado por uma equipe do
ou descobrir a verdade fundido, então, como um modelo econômico Massachusetts Institut of Technology (MIT), co-
dos fatos. (RC) e social direcionado ao consumo, porém, ali- ordenada por Donella Meadows, a pedido do
Fonte: Disponível em: cerçado por uma economia de mercado e so- Clube de Roma, uma associação informal de
<http://www.adoro-
cinema.com/filmes/
ciedade especializada, instrumentalizada por empresários, estadistas e cientistas.
filme-129054/>. novos conhecimentos baseados na técnica. Basicamente, afirmou-se naquela altura
Acesso em: 27 de mar- Nesse modelo, o Estado passou a protagoni- que com o ritmo do crescimento da popula-
ço de 2012. zar a gestão dos recursos naturais com vistas ção, da utilização de recursos naturais, da po-

106
História - História Contemporânea II

luição, etc., que vinha acontecendo, ao longo Os “hippes”, na década de 60, implantam
do século XX e fins do séc. XXI, a humanidade as primeiras comunidades sustentáveis, eco-
corria sérios riscos de sobrevivência. Muito vilas, que até hoje são exemplos plenos de
se escreveu para desvalorizar os argumentos como aliar o desenvolvimento sustentável ao
apresentados, frequentemente deturpando- desenvolvimento humano integral, dentro dos
-os, mas, seu alerta e as condições de impac- novos paradigmas ecológicos e sociais.
to ambiental, cada vez mais visíveis, levaram a Em 1987, a Comissão Mundial Sobre Meio
ONU, em suas conferências e estudos, a propa- Ambiente de Desenvolvimento - CMMAD, pre-
gar a questão. sidida pela Primeira-Ministra da Noruega, Gro
Diante do alerta do clube de Roma, um Harlem Brundtland, adotou o conceito de De-
novo conceito de desenvolvimento começa a senvolvimento Sustentável, em seu relatório
ser elaborado: Desenvolvimento Sustentável. Our Common Future (Nosso futuro comum),
Segundo a Comissão Mundial sobre Meio Am- também conhecido como Relatório Brun-
biente e Desenvolvimento (CMMAD) da ONU, dtland.
o Desenvolvimento Sustentável é um conjunto O relatório apontava uma série de crises
de processos e atitudes que atende às necessi- no planeta, tanto energéticas quanto atmosfé-
dades presentes sem comprometer a possibili- ricas, além do problema da erosão, provocada
dade de que as gerações futuras satisfaçam as por várias atividades e pela erradicação de flo-
suas próprias necessidades (RODRIGUES, 2009, restas. Nesse relatório, é oficializado o termo
pp. 99-100). “desenvolvimento sustentável”, conceito que
Em 1962, foi realizada a primeira Confe- foi definido com base nas preocupações sobre
rência Mundial de Parques Nacionais, em Se- a degradação ambiental, a miséria da popula-
attle (EUA), com o objetivo de estabelecer os ção e a degradação dos recursos naturais, pró-
critérios de classificação de áreas protegidas, pria dos grandes conflitos que o estilo de vida
seguindo o sistema americano. A consolida- dos países mais desenvolvidos passou a proje-
ção desse sistema, internacionalizando-o, deu- tar para o resto do mundo. Esse estilo de vida,
-se na Conferência da ONU em Estocolmo, em o sistema, estaria no presente comprometen-
1972, quando foi criado o PNUMA (Programa do o futuro das novas gerações (MONTIBEL-
das Nações Unidas para o Meio Ambiente), LER, 2004, p. 50).
com a finalidade de gerenciamento das ativi- Dando continuidade aos debates suscita-
dades de proteção ambiental e apoio aos paí- dos pelo documento “Estratégia Mundial para
ses em desenvolvimento. a Conservação”, lançado em 1980, através da
Em 70, Maurice Strong e Ignacy Sachs ela- colaboração conjunta dos organismos interna-
boram o conceito de ecodesenvolvimento, cionais UNEP/PNUMA (United Nations Environ-
apresentado durante a Primeira Conferência das mental Program, IUCN/UICN-The World Con-
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desen- servation Union e WWF–World Wild Fund) foi
volvimento (Estocolmo, 1972), a qual deu origem elaborado o documento “Cuidando do Planeta
ao Programa das Nações Unidas para o Meio Terra - Uma estratégia para o Futuro da Vida”,
Ambiente - PNUMA. Escreve Sachs (1986, p. 14): em 1991, que valida os seguintes objetivos bá-
“trata-se de gerir a natureza de forma a assegu- sicos, com ações e estratégias contendo uma
rar aos homens de nossa geração e de gerações nova mensagem:
futuras a possibilidade de se desenvolver.”

Conservação não é o oposto do desenvolvimento. Conservação engloba tanto


a proteção quanto o uso racional dos recursos naturais, sendo fator fundamen-
tal para o sucesso dos povos na obtenção de uma vida digna e para a garantia
de bem-estar das gerações atual e futuras (UICN, PNUMA & WWF, 1991, p.V).

Conforme escreve Moraes & Franco a matriz energética. O conceito de Desen-


(2009), em 1992, foi realizada, no Rio de Janei- volvimento Sustentável foi definitivamente
ro, a Conferência da ONU para o Meio Ambien- incorporado como um princípio, durante a
te e o Desenvolvimento-UNCED, na qual se Conferência das Nações Unidas sobre Meio
reafirmou a chamada Agenda 21 de compro- Ambiente e Desenvolvimento, a Cúpula da
missos para o Desenvolvimento Sustentável Terra de 1992 - Eco-92, no Rio de Janeiro. O
no século 21, que deveria ter desdobramentos Desenvolvimento Sustentável busca o equi-
regionais e locais. A conferência “Rio 92” confir- líbrio entre proteção ambiental e desenvol-
mou o vínculo desenvolvimento e conservação vimento econômico e serviu como base para
dos sistemas de vida das pessoas e do planeta. a formulação da Agenda 21, com a qual mais
O sistema teria que se adaptar e rees- de 170 países se comprometeram, por oca-
truturar as formas de produzir e consumir sião da Conferência.

107
UAB/Unimontes - 8º Período

PROTOCOLO DE KYOTO

Em 1997, foi assinado o Protocolo de Kyoto, a Convenção sobre Mudança Climática, que
etipula um cronograma de redução de emissões de CO2 na atmosfera, até 2012, levando em
conta os diferentes graus de desenvolvimento dos países. Kyoto criou o mecanismo de desen-
volvimento limpo (MDL): mediante a emissão de bônus de carbono, papéis negociados em bol-
sas de valores, que permitem aos países desenvolvidos (suas empresas) comprarem créditos de
emissão de CO2 dos países menos poluentes (RODRIGUES, 2009, p. 102).

A Declaração Política de 2002, da Cúpula to populacional, igualdade de gêneros, saúde,


Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, conflito e violência aos direitos humanos.
realizada em Joanesburgo, afirma que o De- O PII (Projeto de Implementação Interna-
senvolvimento Sustentável é construído sobre cional) apresenta quatro elementos principais
“três pilares interdependentes e mutuamente do Desenvolvimento Sustentável — socieda-
sustentadores” — desenvolvimento econô- de, ambiente, economia e cultura. Como se
mico, desenvolvimento social e proteção am- não bastassem todos estes debates, e, prova-
biental. Esse paradigma reconhece a comple- velmente, por causa deles e do crescimento
xidade e o interrelacionamento de questões das pesquisas sobre o meio ambiente, surge o
críticas como pobreza, desperdício, degrada- problema do clima. Escreve Moraes & Franco
ção ambiental, decadência urbana, crescimen- (2009, pp. 215-216):

Mudanças climáticas (Histórico)

1827 – O cientista francês Jean-Baptiste Fourier estuda pela primeira vez o fe-
nômeno do efeito estufa.
1896 – O químico sueco Svante Arrehnius coloca a culpa pela produção de
dióxido de carbono CO2 na queima de combustíveis fósseis.
1958 – É detectado, pelo cientísta norte-americano Charles Keeling, o
aumento anual de CO2 na atmosfera.
Anos 70 – São identificados, por cientistas norte americanos e europeus, ou-
tros gases que causam o efeito estufa. São eles: clorofluorcaboneto, metano e
óxido nitroso.
1979 – O Relatório da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos atri-
bui o fenômeno às mudanças climáticas.
1988 – Criação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
1992 – Convenção da ONU sobre mudanças climáticas reivindica cortes volun-
tários das emissões de gases causadores de efeito estufa.
1997 – Países membros da convenção da ONU assinam o Protocolo de Kyoto.
2001 jan/mar – IPCC [ Painel Internacional da Mudança do Clima] publica três
relatórios, que declaram que a evidência do aquecimento global é indiscutível.
Mar – Estados Unidos Abandonam o Protocolo [Kyoto].
Nov – Os participantes do Protocolo concordam com as normas do tratado.
2002 – Estudos científicos aumentam a preocupação com o aumento do aque-
cimento global e seus efeitos irreversíveis para o clima.
2004 – A Rússia adere ao projeto.

A crise econômica de 2008

A crise econômica que abateu os Estados Unidos, no final de 2008, contaminou todo o
planeta e abalou a economia internacional. Comparada em magnitude à quebra da Bolsa
de Nova Iorque, de 1929, a crise coincidiu com o fim da presidência de George W. Bush e a
vitória de Barak Obanma, primeiro presidente negro da história americana.
[...]
Muitos afirmam que se trata de uma tragédia anunciada: excesso de liberdade com es-
cassez de controles financeiros gerou papéis podres negociados na bolsa e operações ir-
responsáveis de agentes privados com ausência dos governos... A resposta à crise reconfi-
gurou o mapa do poder econômico internacional (RODRIGUES, 2009, pp. 94-95).

Como podemos ver, passamos por gran- balham e estudam como iguais, em grande
des transformações em poucas décadas. Guer- parte do mundo, e as leis passaram a garantir,
ras frias e quentes assolam o mundo como além das igualdades, o direito à diferença. A
sempre. A tecnologia é uma presença cotidia- primeira década do século XXI terminou com
na na vida de todos. Homens e mulheres tra- promessas, tensão econômica e social.

108
História - História Contemporânea II

No Oriente Médio, um movimento, que participativa. A China, o Brasil, a Índia e a Rús-


começou nas ruas da Tunísia, varreu nações sia, de emergentes, hoje fazem a diferença no
árabes, derrubando ditadores, aliados do Oci- cenário econômico internacional, marcado por
dente, em busca da ampliação da democracia crises. É a Era das Incertezas.

Referências
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109
História - História Contemporânea II

Resumo
Unidade 1: a era da catástrofe

• A Primeira Guerra Mundial


• Aspectos determinantes para a 1ª Guerra Mundial: o desenrolar da guerra, a vida nas trin-
cheiras.
• Revolução Russa - o contexto russo antes de 1917 (o Domingo Sangrento, a Revolução).
• Rumo ao abismo econômico - o contexto que levou à Crise - a economia Norte-Americana
no Pós Primeira Guerra Consequências e recuperação da Crise.
• Totalitarismo: uma face da modernidade e o surgimento dos regimes totalitários.
• A Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
• Segunda Guerra Mundial: a escalada para a guerra; o desenrolar do conflito; o desfecho do
conflito - o Holocausto; consequências da Segunda Guerra Mundial.

UNIDADE 2: O mundo bipolar e a guerra fria

• Os Campos de conflitos da Guerra Fria


• Os conflitos militares: a Guerra do Vietnã, a Revolução Chinesa, a Revolução Cubana e a A
Guerra Fria na Amérca Latina.
• O Oriente Médio – cenário geopolítico de um conflito que se mantém atual: Árabes X Ju-
deus: a questão palestina.
• O Irã e a revolução islâmica.
• Por que a guerra no Afeganistão?
• A África: inclusão e exclusão.
• O fim da Guerra Fria e a Nova Ordem Mundial - diplomacia, economia e cultura: a outra face
da política internacional.
• A ONU - entre a paz e a guerra.
• O Desenvolvimentismo e o capitalismo monopolista.
• A crise da sociedade mundial e o fim da Guerra Fria.

UNIDADE 3: da nova ordem mundial à era das incertezas

• A Globalização e a Nova Ordem Mundial – Globalização e neoliberalismo;


• Nova organização territorial dos blocos econômicos;
• Quatro momentos de conflito que marcaram o final do século XX e início do XXI: 1º Momen-
to: Guerra do Golfo; 2º Momento: A Bósnia-Herzegovina - a guerra no coração da Europa; 3º
Momento: 11 de Setembro – Começou o século XXI; 4º Momento: a invasão do Iraque.
• Os Blocos Econômicos.
• Outras crises: Ambiental e o Protocolo de Kyoto, a crise econômica de 2008.

111
História - História Contemporânea II

Referências
Básicas

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Complementares

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Rio de Janeiro: Joge Zahar Editor, 1988.

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Cia das Letras, 1989.

BACZKO, Bronislaw. A Imaginação Social. Enciclopédia Einaudi. Anthropos-Homem. Lisboa:


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BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A Crise Financeira Global E Depois: Um Novo Capitalismo? Novos
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115
História - História Contemporânea II

Atividades de
Aprendizagem (AA)
1) É característica do Fascismo:
a) O sectarismo.
b) A democracia.
c) O multiculturalismo.
d) As vanguardas artísticas.

2) A Revolução Bolchevique marcou o fim:


a0 Da Primeira Guerra Mundial.
b) Do Czarismo.
c) Do marxismo.
d) Do Stalinismo.

3) O Nazismo marcou o conflito da Segunda Guerra Mundial. A intolerância era a sua marca.
Quais eram alguns desses grupos sociais contra os quais o Nazismo se voltou?
a) Judeus, homossexuais, ciganos e comunistas.
b) Judeus, plebeus, evangelistas.
c) Judeus, evangélicos e negros.
d) Judeus, feministas e bolivaristas.

4) São medidas adotadas com o tratado de Breton Woods, de julho de 1944, exceto:
a) Criação de blocos econômicos.
b) Criação do Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento.
c) Fim do padrão ouro.
d) Liberdade de comércio.

5) A charge a baixo ilustra:

◄ Figura 4: O jogo
da nova ordem
internacional.
Fonte: <http://the-
peoplescube.com/
peoples-tools/red-primer-
-for-children-and-diplo-
mats-t2223.html>. Acesso
em: 30 ago. 2011.

a) A Revolução Russa;
b) A Expansão global do Capitalismo.
c) A Guerra Fria.
d) O fim da Segunda Guerra Mundial.

6) Não é uma característica da chamada Nova Ordem Mundial:


a) Globalização.
b) Neoliberalismo.
c) Bipolaridade.
d) Multipolaridade.
117
UAB/Unimontes - 8º Período

7) Sobre o Oriente Médio, podemos afirmar, exceto:


a) Sua população predominante é a judia.
b) Maior região produtora e exportadora de petróleo que comanda a Organização dos Paí-
ses Exportadores de Petróleo – OPEP
c) Sua população predominante é a árabe.
d) Palco de diversos conflitos militares por território entre palestinos e judeus.

8) Não podemos dizer sobre a disputa entre árabes e judeus que:


a) Em 1948, foi fundado o Estado de Israel com o apoio da ONU e o repúdio do mundo ára-
be. Imediatamente registraram-se os primeiros confrontos com os árabes.
b) Em 1948, foi criado o Estado Palestino, conhecido como Faixa de Gaza.
c) Os Estados Unidos financiavam o Estado de Israel enquanto a URSS auxiliava os países
árabes.
d) A criação do Estado de Israel era umas das propostas do movimento Sionista, iniciado no
final do século XIX.

9) A Revolução Islâmica iraniana mudou a geopolítica, principalmente do Oriente Médio. Po-


demos apontar como mudanças decorrentes dessa Revolução, exceto:
a) O despertar dos muçulmanos em todo o mundo e o regresso à espiritualidade e ao pen-
samento islâmico.
b) Apresentação de um modelo de doutrina política baseado na religião.
c) Implantação de um sistema político socialista nos países muçulmanos.
d) A derrubada de um sistema monárquico que durava mais de 2000 anos no Irã.

10) Analisando a charge abaixo e o contexto internacional do início deste milênio, aponte a
sentença incorreta.

◄ Fonte: Disponível em:


<http://politicagindo.blo-
gspot.com/2011_09_01_
archive.html>. Acesso em:
02 de novembro de 2011.

a) Em 2011, através da internet, populações de países árabes organizaram manifestações


terroristas a governos autoritários e iniciaram diversas guerras civis reivindicando a implantação
da democracia em seus territórios.
b) Como resposta aos atentados, líderes mundiais declaram guerra ao terrorismo.
c) Os Estados Unidos iniciaram ações de guerra no Afeganistão com o intuito de combater a
rede terrorista ali instalada: Al Qaeda.
d) Com a morte de Osama Bin Laden, ao contrário do que se esperava, a cultura do medo
não findou. Pelo contrário, o medo de novas ações por vingança colocou diversos países em es-
tado de alerta.

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