Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
br
www.cliqueapostilas.com.br
www.cliqueapostilas.com.br
Linguística Aplicada
ao ensino de
espanhol para
Jovens e Adultos
1ª EDIÇÃO ATUALIZADA
2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
www.cliqueapostilas.com.br
Autoras
Bárbara Caroline de Oliveira
Professora de Língua Espanhola, Literatura Espanhola e Linguística Aplicada. Especialista
em Linguística Aplicada pelo Instituto Superior de Educação de Montes Claros.
E-mail: barbaracarolineoliveira@yahoo.com.br
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Língua estrangeira como construção de significados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Conceitos de aprendizagem e estratégias de ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
www.cliqueapostilas.com.br
www.cliqueapostilas.com.br
Apresentação
◄ Figura 1: Aprendizagem
de língua estrangeira.
Fonte: Disponível em
<http://www.educa.
madrid.org/web/ies.al-
pedrete.alpedrete/dptos/
lengua/ensenanz>. Acesso
em 10 jun. 2010.
Prezado(a) Acadêmico(a),
As professoras conteudistas, Érica Karine Ramos Queiroz e Bárbara Caroline de Oliveira,
apresentam-lhe a disciplina Linguística Aplicada ao Ensino de Espanhol para Jovens e Adultos.
Ao tecer uma discussão sobre a disciplina acima, temos como propósito despertar o inte-
resse para a especificidade que é ensinar língua estrangeira para jovens e adultos, questão que
ainda exige muita reflexão e pesquisa sobre métodos de ensino eficazes.
A seguir discutiremos questões relativas ao ensino de jovens e adultos como sujeitos de co-
nhecimento e aprendizagem, língua estrangeira como construção de significados e conceitos de
aprendizagem e estratégias de ensino, visando a explicitar problemas e possibilidades de ensino
da língua estrangeira.
A discussao feita nesta disciplina ancora-se, principalmente, nos seguintes autores: Olivei-
ra (1999), PCN´s, Suzuki (2009), etc. E nos documentos oficiais de parametrização do ensino de
Português nas escolas brasileiras: Parâmetros Curriculares Nacionais- PCN, Conteúdos básicos
Comuns de Língua Espanhola – CBC.
Nós, professoras conteudistas, temos como objetivos:
Geral:
Apresentar uma discussão sobre o ensino de Espanhol - língua estrangeira para Jovens e
Adultos.
Específicos:
• Apresentar o que é o ensino de língua na perspectiva da linguística aplicada;
• Apresentar um panorama sobre a educação de jovens e adultos no Brasil;
• Apresentar a proposta dos PCN’s para o ensino de Espanhol como língua estrangeira;
• Fazer uma abordagem sobre o ensino de língua a partir de gêneros discursivos.
Objetivos da Unidade II
• Discutir o ensino de Língua Espanhola no Brasil nos dias atuais;
• Apresentar a formação inicial e continuada do professor de língua estrangeira;
• Compreender a língua estrangeira como construção de conhecimentos na Educação de Jo-
vens e Adultos;
• Discutir o ensino de LE nos programa da EJA;
• Discutir os métodos de ensino e o conteúdo de língua estrangeira;
• Discutir a avaliação da aprendizagem E/LE na Educação de Jovens e Adultos;
• Apresentar alguns pressupostos para a produção e/ou seleção de materiais.
9
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
Ementa
De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso de Letras Português/Espanhol, será desen-
volvida a ementa: Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem; A Educação
de Jovens e Adultos no Brasil (EJA); Língua Estrangeira como construção de significados; Gêneros
discursivos e o ensino da linguagem; O ensino de língua estrangeira nos programas da EJA: mé-
todo de ensino; conteúdos comuns/ mínimos do Estado de MG e a escolha do material de traba-
lho; além da Formação inicial e continuada em LE.
Por fim, lembrem-se de que a realização das atividades avaliativas é obrigatória.
Aproveitem a oportunidade de construir conhecimento.
Bons estudos!
10
www.cliqueapostilas.com.br
Unidade 1
Jovens e adultos como
sujeitos de conhecimento e
aprendizagem
1.1 Introdução
Para tecer a discussão da Unidade I, ancoramo-nos, centralmente, nos textos de Oliveira
(1999), Suzuki (2009), PCN´s (2000), (2008), lei 5.692/71, cap IV, Marcuschi, 2005 (In: KARWOSKY,
2005), Marcuschi (2002), etc.
Na primeira unidade desta disciplina, temos como objetivos discutir algumas questões rela-
tivas ao ensino de língua na perspectiva da linguística aplicada, a partir de gêneros discursivos;
apresentar a proposta dos PCN´s para a educação de jovens e adultos no Brasil e, especificamen-
te, para o ensino de Espanhol como língua estrangeira.
Esta unidade é estruturada pelas seguintes subunidades:
• Linguística Aplicada;
• Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem;
• A Educação de Jovens e Adultos no Brasil (EJA) e os PCN´s;
• Gêneros discursivos e o ensino da linguagem.
GLOSSÁRIO
Processo Sociocog-
11
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
Para tecer as considerações desta subunidade sobre a educação de jovens e adultos no Bra-
sil, trazemos as contribuições teóricas de Oliveira (1999), PCN´s, Suzuki (2009). Porém, antes se faz
necessário situar o contexto da EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Qualquer posição teórica sobre o ensino voltado para o adulto é perpassada pelo perfil so-
cioeconômico e cultural do público da EJA. São alunos que vêm de camadas mais desfavorecidas
e, por isso, principalmente, voltam a estudar na idade adulta, período em que a escolarização
não tem uma importância fundamental, pois questões de sobrevivência tais como emprego, ali-
mentação, moradia, saúde são mais urgentes. Também, o cansaço do trabalho provoca desâni-
mo, menor capacidade de absorver o conhecimento construído em sala de aula e menos tempo
para estudar em casa. Dadas essas variáveis, o professor da EJA depara-se com realidades desfa-
voráveis para o desenvolvimento pleno, eficaz da sua prática pedagógica e, por isso, a questão
12
www.cliqueapostilas.com.br
da EJA torna-se de suma relevância para nós ou futuros docentes. Ainda, esse estudante adulto
já viveu experiências mais complexas, já produz reflexões sobre o mundo externo, sobre tudo
e todos que o cercam e esses são alguns motivos que fazem o ensino para adultos ser diferen-
ciado do ensino em turmas regulares. E essas particularidades interferem no contexto de ensino
-aprendizagem, pois o aluno adulto em séries “adequadas” para crianças e adolescentes (o ensi-
no fundamental e médio) já desenvolveu habilidades de reflexão (sobre si e sobre o processo de
aprendizagem) mais complexas do que essas crianças e adolescentes (OLIVEIRA, 1999).
Então, se o trabalho com alunos em situações e idades adequadas para cada série, já é desa-
fiador, o trabalho com a EJA é mais desafiador ainda, porque as práticas pedagógicas devem ser
relacionadas à realidade dos alunos e o processo de aprendizagem deve ser dinâmico, ativo, de
modo a manter o educando interessado, participativo e frequente. Ainda, as atividades devem
ser desenvolvidas, prioritariamente, em sala de aula, visto que esses sujeitos não têm muito tem-
po para se dedicar aos estudos fora do espaço escolar.
Outro fato relevante é que os alunos da EJA já se sentem excluídos do sistema de ensino, o
que provoca evasão escolar, daí uma necessidade maior ainda de dedicação e atenção por parte
do professor, que deve ser um incentivador, antes de tudo. É preciso fazer com que este aluno se
sinta parte importante do contexto escolar, da sociedade, de maneira a ter sua autoestima eleva-
da. Para tal, o educador, ao desenvolver os conteúdos do currículo escolar, deve levar em consi-
deração a experiência de vida e a bagagem cultural de cada aluno.
Observem que, para especificar mais algumas questões colocadas acima, trazemos a seguir
contribuições de Oliveira (1999). Esta autora inicia o texto especificando que a Educação para Jo-
vens e adultos não trata de uma divisão por faixa etária, pois o adulto nem é um universitário,
nem profissional em processo de qualificação, especialização, e sim faz parte de um grupo social
segregado por fatores sociais, culturais, etc. Melhor dizendo, o sujeito que busca a escolarização
na idade adulta é, às vezes, um migrante, proveniente da zona rural, de classe social desfavore-
cida, baixa escolaridade e passagem não sistemática pela escola, com experiência de trabalho
infantil, e busca a escolarização na idade adulta para se alfabetizar ou fazer o supletivo. Ou seja,
esse estudante busca aprender ler e escrever ou concluir o ensino fundamental e o médio.
Ainda, Oliveira (1999) afirma que, para refletir sobre a produção de conhecimentos de jovens
e adultos, necessitamos levar em consideração fatores que contribuem para a definição do lugar
social do sujeito em questão: a condição de “não crianças”, a condição de excluídos da escola.
Ao levar em consideração a condição de “não crianças”, encontramos uma limitação na área
da psicologia que (devido a fatores culturais) não desenvolveu teorias sobre o processo de de-
senvolvimento da aprendizagem do adulto e, sim, da criança e do adolescente.
Palácios apud Oliveira (1999), diz que é importante saber que o adulto ainda se encontra em
processo de desenvolvimento e os fatores culturais definem as características da vida adulta. Este
autor também ressalta que não é a idade cronológica que determina a competência cognitiva,
e, sim, o nível de saúde, o nível educativo e cultural, a experiência profissional e o tônus vital da
pessoa (motivação, bem-estar psicológico, autoestima, etc). Nessa perspectiva, mesmo não ten-
do uma psicologia voltada para discutir questões da idade adulta, há alguns fatores que diferen-
ciam o adulto da criança e do adolescente, são eles:
• O adulto já está envolvido em um mundo do trabalho, de relações interpessoais, subjetivas,
de modo diferente da criança;
• Possui conhecimentos e reflexões mais longas e complexas sobre o mundo externo do que
a criança. Logo, no processo de aprendizagem em sala de aula, o adulto possui habilidades
e dificuldades diferentes das encontradas em crianças e adolescentes no mesmo contexto.
E esta é a justificativa mais importante para a nossa reflexão sobre o processo de ensino
-aprendizagem do adulto pouco escolarizado que busca a EJA.
Oliveira (1999) afirma que é preciso tratar do problema da educação de jovens e adultos,
remetendo-o a uma questão de especificidade cultural. E o primeiro traço cultural desses jovens
e adultos é a sua condição de excluídos da escola regular. O tema exclusão escolar está muito
relacionado a aspectos sociais e pedagógicos ou psicopedagógicos, tais como: a relação da es-
cola com a sociedade, cidadania, direito à educação, trabalho infantil, fracasso escolar, evasão,
avaliação, formação docente, etc. Mas, aqui trataremos, especificamente, do fator exclusão, que
contribui para delinear o jovem e adulto como sujeito de aprendizagem. Nesse sentido, uma
questão relevante é que a escola deve se adequar para receber o jovem e adulto que não é o seu
público-alvo e, por isso, os currículos e métodos de ensino devem ser adequados à faixa etária
(adulto) dos sujeitos em processo de aprendizagem. Oliveira (1999, p. 62) ressalta que “a escola
funciona com base em regras específicas e com uma linguagem particular que deve ser conhe-
13
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
cida por aqueles que nela estão envolvidos”. E é por isso que a autora citada coloca a necessida-
de da preocupação com o funcionamento intelectual, com a capacidade para aprender, com os
modos de construção de conhecimento e com o fato de que os jovens e adultos estudantes, que
não pertencem às classes regulares de ensino, não pertencem às classes dominantes.
Dando continuidade à reflexão do parágrafo anterior, Oliveira informa que há três grandes
linhas de pensamento sobre as possíveis relações entre cultura e a produção de diferentes mo-
dos de funcionamento intelectual:
[...] aquela que afirma a existência da diferença entre membros de diferentes gru-
pos culturais, aquela que busca negar a importância da diferença, e uma terceira,
que recupera a ideia da diferença em outro plano (OLIVEIRA,1999, p. 62-63).
Na primeira abordagem, que postula os grupos humanos como diferentes entre si, afirma-
se que os jovens e adultos em situação de aprendizagem escolar regular têm peculiaridades em
seus modos de funcionamento intelectual, em geral, devido à ausência de escolaridade anterior
e a características particulares do modo de vida do seu grupo de origem. Assim, temos traços do
psiquismo correlacionados a fatores culturais determinantes.
Na segunda abordagem, busca-se negar a importância da diferença e, para tanto, os teóri-
cos investigam aquilo que é comum a todos os seres humanos. Logo, essa abordagem, de certo
modo, nega a relevância das diferenças para compreender o funcionamento psicológico.
Na terceira abordagem, a produção de diferentes modos de funcionamento intelectual é as-
sociada à teoria histórico-cultural. Os teóricos defensores dessa linha de pensamento entendem
que a produção do conhecimento se dá através da inserção do ser humano no mundo da cultu-
ra. Em outras palavras, Oliveira afirma que essa perspectiva de compreensão:
Figura 4: A
heterogeneidade
do sujeito da
aprendizagem.
Fonte: Disponí-
vel em <www.bbc.
co.uk/.../020508_desigual-
dade.shtml>. Acesso em
10 jun. 2010.
Embora a pertinência a determinado grupo cultural seja, sem dúvida, uma fonte
primordial para a formação do psiquismo e, portanto, para o desenvolvimento
14
de formas peculiares de construção de conhecimento e de aprendizagem, não
www.cliqueapostilas.com.br
◄ Figura 5: A
alfabetização de
adultos.
Fonte: Disponível em
<http://www.wscom.com.
br/noticia/educacao/PB
+E+DESTAQUE+EM+ALF
ABETIZACAO+DE+ADUL
TO-127747>. Acesso em 10
jun. 2010.
15
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
GLOSSÁRIO dagógicas e políticas para promover a educação. Nesse contexto, foram implantados os progra-
A UNESCO: (em inglês mas: (além de outros) Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização, de 1967-1985; fundação
United Nations Educa- Educar, de 1986-1990 e o Programa Brasil Alfabetizado, de 2003 até o momento atual.
tional, Scientific and Após a expulsão dos jesuítas no séc. XVIII, na década de 30 foi que um sistema público de
Cultural Organization): é educação elementar se consolidou no Brasil e, em 1934, a constituição estabeleceu a criação do
um organismo espe- Plano Nacional de Educação, que determinava como sendo dever do Estado a educação de adul-
cializado do sistema
das Nações Unidas. A tos. A partir de então, vários fatos contribuíram para a implantação sistemática de programas de
Organização das Nações educação para adultos, tais como: obras que discutem esta modalidade de ensino, seminários,
Unidas para a Educação, apoio da UNESCO, programas do governo, etc.
a Ciência e a Cultura Como ponto de partida, o Movimento Brasileiro de Alfabetização, Fundação Mobral, foi cria-
(UNESCO) fundou-se do no período da ditadura militar para responder às necessidades do Estado autoritário.
em 16 de novembro de
1945 com o objetivo de O Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização, criado em 1967 (funcionou a partir de
contribuir para a paz e 1969) contratou alfabetizadores sem muitas exigências (pessoas que, na maioria das vezes, não
segurança no mundo tinham nenhum grau de escolaridade). Vemos, aqui, uma despreocupação com a qualidade do
mediante a educação, ensino e com a formação do professor.
a ciência, a cultura e as Fato relevante foi a educação de jovens e adultos (EJA) amparada pela lei 5.692/71, cap IV,
comunicações.
publicada em 12-08-1971, que visava contribuir para a redução das desigualdades educacionais
por meio da participação de todos os cidadãos em políticas públicas que assegurem a ampliação
do acesso à educação, conforme vemos a seguir:
CAPÍTULO IV
Do Ensino Supletivo
Art. 24. O ensino supletivo terá por finalidade:
a. suprir a escolarização regular para os adolescentes e adultos que não a tenham seguido ou
concluído na idade própria;
b. proporcionar, mediante repetida volta à escola, estudos de aperfeiçoamento ou atualização
para os que tenham seguido o ensino regular no todo ou em parte.
Parágrafo único. O ensino supletivo abrangerá cursos e exames a serem organizados nos vá-
rios sistemas, de acordo com as normas baixadas pelos respectivos Conselhos de Educação.
Art. 25. O ensino supletivo abrangerá, conforme as necessidades a atender, desde a inicia-
ção no ensino de ler, escrever e contar e a formação profissional definida em lei específica, até o
estudo intensivo de disciplinas do ensino regular e a atualização de conhecimentos.
§ 1º Os cursos supletivos terão estrutura, duração e regime escolar que se ajustem às suas
finalidades próprias e ao tipo especial de aluno a que se destinam.
§ 2º Os cursos supletivos serão ministrados em classes ou mediante a utilização de rádios,
televisão, correspondência e outros meios de comunicação que permitam alcançar o maior nú-
mero de alunos.
Art. 26. Os exames supletivos compreenderão a parte do currículo resultante do núcleo co-
mum, fixado pelo Conselho Federal de Educação, habilitando ao prosseguimento de estudos em
caráter regular, e poderão, quando realizadas para o exclusivo efeito de habilitação profissional
de 2º grau, abranger somente o mínimo estabelecido pelo mesmo Conselho.
§ 1º Os exames a que se refere este artigo deverão realizar-se:
a) ao nível de conclusão do ensino de 1º grau, para os maiores de 18 anos;
b) ao nível de conclusão do ensino de 2º grau, para os maiores de 21anos.
§ 2º Os exames supletivos ficarão a cargo de estabelecimentos oficiais ou reconhecidos, in-
dicados nos vários sistemas, anualmente, pelos respectivos Conselhos de Educação.
§ 3º Os exames supletivos poderão ser unificados na jurisdição de todo um sistema de en-
sino, ou parte deste, de acordo com normas especiais baixadas pelo respectivo Conselho de
Educação.
Art. 27. Desenvolver-se-ão, ao nível de uma ou mais das quatro últimas séries do ensino
de 1º grau, cursos de aprendizagem, ministrados a alunos de 14 a 18 anos, em complementa-
ção da escolarização regular, e, nesse nível ou no de 2º grau, cursos intensivos de qualificação
profissional.
Parágrafo único. Os cursos de aprendizagem e os de qualificação darão direito a prosse-
guimento de estudos quando incluírem disciplinas, áreas de estudo e atividades que os tornem
equivalentes ao ensino regular, conforme estabeleçam as normas dos vários sistemas.
Art. 28. Os certificados de aprovação em exames supletivos e os relativos à conclusão de
cursos de aprendizagem e qualificação serão expedidos pelas instituições que os mantenham
(LEI 5.692/71).
16
www.cliqueapostilas.com.br
17
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
Figura 7: Quatro
eixos norteadores da
educação no Brasil, no
século XXI.
Fonte: Disponível em
<www.ensinofernan-
domota.com/v2/textos.
htm>. Acesso em 10 jun.
2010.
Sendo assim, vemos que o Ensino Médio atual propõe uma formação geral em oposição à
específica, à capacidade de pesquisar, selecionar e buscar informações, aprender, criar e formular
e não a mera memorização do conteúdo. Logo, a formação do aluno deve ter como foco a aqui-
sição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes
tecnologias relativas às áreas de atuação (PCN, 2000).
No que diz respeito à língua estrangeira, os PCN´s + informam que:
No que diz respeito ao ensino de língua estrangeira, os PCN´s informam que, no âmbito da
Lei de Diretrizes e bases (LDB), as Línguas Estrangeiras Modernas recuperam a importância que,
durante muito tempo, lhes foi negada. Ao serem integradas a uma grande área, assumem a con-
dição de ser parte integrante do conjunto de conhecimentos essenciais para que o estudante
possa aproximar-se das diferentes culturas e do mundo globalizado.
A seguir, traçaremos um rápido panorama da situação das Línguas Estrangeiras Modernas
no Ensino Médio, numa perspectiva sincrônica e diacrônica, a partir das informações dadas pe-
los PCN´s + (2008, p. 25-31). Aqui, encontramos informação de que as discussões sobre a impor-
tância de se compreender uma ou mais línguas estrangeiras vem de muitos séculos. Em alguns
momentos, privilegiou-se o estudo do latim e do grego e, em outros, valorizou-se o ensino de
18
www.cliqueapostilas.com.br
línguas modernas. Nesta perspectiva, os PCN´s+ afirmam que, no Brasil, embora a legislação da
primeira metade do século XX:
Já indicasse o caráter prático que deveria possuir o ensino das línguas estrangei-
ras vivas, nem sempre isso ocorreu. Fatores como o reduzido número de horas
reservado ao estudo das línguas estrangeiras e a carência de professores com
formação linguística e pedagógica, por exemplo, foram os responsáveis pela não
aplicação efetiva dos textos legais. Assim, em lugar de capacitar o aluno a falar,
ler e escrever em novo idioma, as aulas de Línguas Estrangeiras Modernas, nas
escolas de nível médio, acabaram por assumir uma feição monótona e repetitiva
que deixa de valorizar conteúdos relevantes à formação educacional dos estu-
dantes.
Evidentemente, não se chegou a essa situação por acaso. Além da carência de
docentes com formação adequada, e o fato de que, salvo exceções, a língua
estrangeira predomi- nante no currículo ser o inglês, reduziu muito o interesse
pela aprendizagem de outras línguas estrangeiras e a conseqüente formação de
professores de outros idiomas. Portanto, mesmo quando a escola manifestava o
desejo de incluir a oferta de outra língua estrangeira, esbarrava na grande difi-
culdade de não contar com profissionais qualificados. Agravando esse quadro,
o país vivenciou a escassez de materiais didáticos que, de fato, incentivassem o
ensino e a aprendizagem de Línguas Estrangeiras; quando os havia, o custo os
tornava inacessíveis a grande parte dos estudantes.
Assim, as Línguas Estrangeiras na escola regular passaram a pautar-se, quase
sempre, apenas no estudo de formas gramaticais, na memorização de regras e
na prioridade da língua escrita e, em geral, tudo isso de forma descontextualiza-
da e desvinculada da realidade (PCS's, 2000, p.25).
Então, ao serem inseridas numa grande área de conhecimento: linguagens, códigos e suas
tecnologias, as línguas estrangeiras modernas legitimam um lugar de importância, prestígio,
pois não são mais disciplinas isoladas no currículo, mas sim possibilidades de estabelecerem rela-
ções entre as diversas formas de expressão e de aquisição do conhecimento.
Outro fato relevante a ser mais explicado é que os objetivos práticos do ensino de línguas
estrangeiras, tais como: falar, ler, compreender e escrever, a que tanto a legislação quanto os es-
pecialistas se referem, não podem ser ignorados, mas também devem permitir que o aluno, além
de ler e compreender um novo idioma saiba como ter acesso a informações de diversos tipos. Ou
seja, o aprendizado de uma língua estrangeira deve proporcionar ao aluno a capacidade de se
comunicar de modo adequado em diferentes contextos da vida cotidiana. Sendo assim, apenas o
ensino metalinguístico e das regras gramaticais não supre as necessidades de comunicação e do
aprendizado de um novo idioma.
A partir do que se apresenta no parágrafo anterior, faz-se necessário assinalar que, na atual
realidade, a responsabilidade sobre o ensino de línguas estrangeiras é retirada do formador e
atribuída aos institutos especializados em ensino de línguas. Visto isso, os PCN´s+ (2000) colocam
a necessidade de restituir ao Ensino Médio o seu papel de formador e, para isso, diz ser necessá-
rio repensar a concepção de ensino de línguas estrangeiras. Ainda nesta perspectiva, vale dizer
que o Ensino Médio tem como uma de suas funções um compromisso com a educação voltada
para o trabalho e, por isso, o ensino de língua estrangeira deve atender às necessidades da co-
munidade, aos interesses locais e às necessidades do mercado de trabalho local. Sendo assim, é
a escola que deve se adequar à necessidade do aluno. Então, são as condições e as necessidades
que propiciam uma aprendizagem significativa “como podem ser a possibilidade de o aluno op-
tar pelo idioma que mais lhe interessar e o foco desses cursos centrar-se na comunicação em lu-
gar de centrar-se na gramática normativa” (PCN+, p. 28). Logo, a língua estrangeira torna-se algo
útil e significativo para o aluno, e não mais uma disciplina da grade curricular.
Por fim, depois de estabelecermos algumas discussões sobre o ensino da língua estrangeira,
retomaremos as competências e habilidades a serem desenvolvidas nas línguas estrangeiras mo-
dernas.
19
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
Figura 8: Competência
e habilidades nas
línguas estrangeiras
modernas
Fonte: Acervo pessoal
De acordo com os PCN´s, ao pensar-se numa aprendizagem que seja significativa, é neces-
sário conhecer os motivos que levam um estudante a se interessar pelo aprendizado de um novo
idioma. Logo, o que justifica esta aprendizagem são as competências comunicativas a serem de-
senvolvidas e não, unicamente, o aprendizado de habilidades linguísticas. Para alcançá-las, é pre-
ciso desenvolver as demais competências que a integram, tais como:
• Saber distinguir entre as variantes linguísticas;
• Escolher o registro adequado à situação na qual se processa a comunicação;
• Escolher o vocábulo que melhor reflita a ideia que pretenda comunicar;
• Compreender de que forma determinada expressão pode ser interpretada em razão de as-
pectos sociais e/ou culturais;
• Compreender em que medida os enunciados refletem a forma de ser, pensar, agir e sentir
de quem os produz;
• Utilizar os mecanismos de coerência e coesão na produção em Língua Estrangeira (oral e/ou
escrita). Todos os textos referentes à produção e à recepção em qualquer idioma regem-se
por princípios gerais de coerência e coesão e, por isso, somos capazes de entender e de ser
entendidos;
• Utilizar as estratégias verbais e não verbais para compensar falhas na comunicação (como
o fato de não ser capaz de recordar, momentaneamente, uma forma gramatical ou lexical),
para favorecer a efetiva comunicação e alcançar o efeito pretendido (falar mais lentamente,
ou enfatizando certas palavras, de maneira proposital, para obter determinados efeitos retó-
ricos, por exemplo). (PCN+, 2008, p. 28-29).
As competências acima não devem ser compreendidas como segmentos independentes. A
separação se deve apenas por uma necessidade didática, pois todos os componentes estão inte-
grados no ato comunicativo. Ainda, os PCN´s+ salientam que, além da competência gramatical,
o estudante precisa dominar a competência sociolinguística, discursiva e estratégica, de modo
que, além de construir frases corretas, precisa saber como essas frases são adequadas a um de-
terminado contexto.
Enfim, os PCN´s+ ressaltam a importância de promover o ensino de um idioma estrangeiro,
objetivando a comunicação real. Sendo assim, ficarão de lado os estereótipos e preconceitos re-
lacionados ao ensino- aprendizagem de língua estrangeira na rede pública.
Para encerrar a discussão desta subunidade, a seguir citamos os PCN´s (2008, p.96-97),
quando acrescentam às competências citadas acima, a necessidade de desenvolver as compe-
tências e habilidades que se seguem:
20
www.cliqueapostilas.com.br
2. Ler e interpretar
A competência primordial do ensino de línguas estrangeiras modernas no ensino médio
deve ser a da leitura e, por decorrência, a da interpretação. O substrato sobre o qual se apoia
a aquisição dessas competências constitui-se no domínio de técnicas de leitura – tais como
skimming, prediction, scanning, prediction – bem como na percepção e na identificação de
índices de interpretação textual (gráficos, tabelas, datas, números, itemização, títulos e subtí-
tulos, além de elementos de estilo e gênero).
Vemos acima que a ênfase no ensino de língua estrangeira é dada às habilidades linguísti-
cas, à comunicação em contexto de uso da língua e não às normas gramaticais.
21
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
Os estudos sobre gêneros são feitos desde a antiguidade, a princípio na retórica, depois na
semiótica literária e linguística. A questão do gênero é discutida na perspectiva da fala e da escri-
ta dentro de um continuum tipológico das práticas sociais. Então, a comunicação, a princípio, pa-
rece ser simples a qualquer ser humano, dada a habilidade que todos têm de usar a linguagem.
No entanto, durante o ato comunicativo, sem uma real consciência do que subjaz à competência
linguística, seria extremamente difícil se os indivíduos não dominassem os gêneros de discurso e
tivessem de criá-los no processo de fala. Logo, é preciso compreender que a língua se realiza por
meio de enunciados (orais ou escritos). Dadas as diferentes situações de uso, os enunciados são
organizados, agrupados em tipos/gêneros de forma a levar o sujeito de linguagem a usá-los de
acordo com as finalidades específicas do ato comunicativo. Sendo assim, apesar de o enunciado
variar em termos de extensão, conteúdo e estrutura, os enunciados conservam características co-
muns e, por isso, podem ser considerados tipos relativamente estáveis. Bakhtin (1997) chama de
gêneros de discurso esses tipos estáveis de enunciados (ANDRADE, s.d.).
O conceito de gênero discursivo foi desenvolvido por Bakhtin em “Gêneros do Discurso/
Speech Genres” e não deve ser confundido com estilo. Os gêneros são formações interativas mul-
timodalizadas e flexíveis de organização social e de produção de sentidos e não são estáticos e
GLOSSÁRIO nem puros. Visto isso, quando ensinamos língua a partir da compreensão dos gêneros discursi-
Formações interativas vos, ensinamos um modo de atuação sociodiscursiva numa cultura e não um simples modo de
multimodalizadas: são produção textual (MARCUSCHI, 2005, p. 19. In: KARWOSKY et al. (orgs.) 2005). Sendo assim,
atos comunicativos que
podem ser manifesta-
Os gêneros discursivos contribuem na ordenação e estabilização das atividades
dos através de diferen-
de comunicação do cotidiano, sendo fenômenos históricos e entidades socio-
tes tipos de linguagem:
discursivas, que se caracterizam como eventos textuais maleáveis e dinâmicos
verbal, não verbal, etc.
(MARCUSCHI, 2002, p. 19).
Os gêneros discursivos são aprendidos no curso de nossas vidas como participantes de de-
terminado grupo social. Ou seja, são padrões comuni-
Figura 10: A leitura cativos, socialmente realizados e podem ser definidos
a partir dos gêneros ainda como:
discursivos. 1. Realizações linguísticas concretas definidas por pro-
Fonte: Disponível em
<www.colegioopcaou-
priedades sociocomunicativas;
nidademaua.com.br/b/ 2. Constituem textos empiricamente realizados, cum-
colegio/>. Acesso em 10 prindo funções em situações comunicativas;
jun. 2010.
3. Sua nomeação abrange um conjunto aberto pratica-
mente ilimitado de designações concretas pelo canal,
estilo, conteúdo, composição e função;
4. Exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta co-
mercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva,
horóscopo, bula de remédio, cardápio, inquérito poli-
cial, bate- papo virtual, piada, edital de concurso, rese-
nha, receita culinária, lista de compras, outdoor, confe-
rência, etc.
22
www.cliqueapostilas.com.br
23
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
DICA Já o tipo textual pode ser caracterizado como espontâneo ou planejado, conforme os traços
A seguir seguem ende- “falado” e “escrito”. Vejamos que as diferenças entre tipos e gêneros textuais é tênue (ANDRADE,
reços de sites onde en- 2010).
contrarão textos sobre Em outras palavras entendemos por gênero discursivo (gênero textual), a partir das ideias
gênero discursivo que de Bakhtin (1992), toda produção de linguagem (enunciado) oral ou escrita. Sendo assim, cada
serviram de ancoragem gênero discursivo é identificado pelos locutores da situação de comunicação pelo objetivo co-
teórica para a escrita
desta subunidade: municativo, suas características linguístico-textuais relativamente estáveis, sua temática, seu esti-
<www.diaadiaeduca- lo, suas condições de produção e circulação. Maingueneau (2001) sugere um critério caracteriza-
cao.pr.gov.br/diaadia/ dor dos gêneros discursivos baseado nas atuações sociais como: literária, jornalística, publicitária,
diadia/.../File/.../art_neil- comercial, de divulgação científica. Em cada uma dessas áreas de atuações comunicativas são
ton.pdf> produzidos diversos tipos de gêneros discursivos orais e escritos. Nessa perspectiva, Marcuschi
<www2.dbd.
puc-rio.br/perga- (2005) diz que as posições defendidas por Bakhtin (1992) motivaram muitos autores a tratar a
mum/.../0510556_07_ língua em seus aspectos discursivos e enunciativos, e não em suas peculiaridades formais.Esta
cap_04.pdf> visão pressupõe a língua como atividade social, histórica e cognitiva.
<http://www.filologia. Portanto, os gêneros discursivos devem ser compreendidos na relação com as práticas so-
org.br/soletras/2/06. ciais, com os aspectos cognitivos, com os interesses, com as relações de poder, com as tecno-
htm>
<http://www.paratexto. logias, com as atividades discursivas e no interior da cultura. Visto isso, os gêneros são tipos re-
com.br/document. lativamente estáveis de enunciados marcados sócio-historicamente. Ou seja, a competência
php?id=883http://www. sociocomunicativa dos falantes/ouvintes leva os sujeitos comunicativos à observação do que é
oeducador.net/index. adequado ou inadequado em cada uma das práticas sociais. Também, Maingueneau (2001) ex-
php?option=com_con- plica que um gênero do discurso submete-se a certas condições de êxito, como: ter uma finalida-
tent&view=article&i-
d=142:conhecendo-ge- de; ter enunciadores em parceria; ter lugar e momento legítimos; e ter uma organização textual,
neros-discursivos&cati- às vezes mais rígida, e às vezes com características mais básicas, mas sempre dentro de uma or-
d=40:portugues> ganização.
Outra questão relevante, ao tratar dos gêneros, é que, segundo Bakhtin, quando um indi-
víduo fala/escreve ou ouve/lê um texto, ele ativa seu conhecimento prévio do paradigma dos
gêneros a que ele teve acesso. Logo, o gênero não é só uma forma estável ou homogênea de co-
municação. O gênero implica também uma dimensão intergenérica / heterogênea estabelecida
no espaço do texto, por exemplo: uma notícia (relativa estabilidade) x um texto literário (relativa
heterogeneidade). O docente deve estar atento a essa dupla face do gênero discursivo e deve
estudá-lo através dos pressupostos teóricos da linguística textual. Dessa forma, Bakhtin e Main-
gueneau afirmam que o professor poderá atuar com o conceito de gênero e com a classificação
de tipos textuais. (SILVA, 2004).
Enfim, o ensino, sob a perspectiva dos gêneros do discurso, busca desconstruir:
24
www.cliqueapostilas.com.br
Referências
ANDRADE, Mara Lucia Fabrício de. Gêneros e tipos: uma aproximação In: http://www.filologia.
org.br/soletras/2/06.htm. Acesso em fev. 2010.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1990.
BRASIL, MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais. Terceiro e quarto ciclos do ensino fun-
damental. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto- Secretaria de Educação Fundamental,
1998.
BREVES considerações sobre o gênero discursivo dentro da sala de aula. 2009. Disponível em
<http://www.artigonal.com/educacao-artigos/breves-consideracoes-sobre-o-genero-discursivo-
dentro-da-sala-de-aula-1536835.html>. Acesso em fev. 2010.
LOPES, Selva Paraguassu e SILVA, Luzia Sousa. EJA: uma educação possível o um era utopia. Dis-
ponível em <http://www.cereja.org.br/pdf/revista_v/Revista_SelvaPLopes.pdf>. Acesso em 26
jan. 2010.
25
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
MAINGUENEAU, Dominique. (1984). Gênese dos discursos. Trad. Sírio Possenti. Curitiba: Criar
Edições, 2005.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: o que são e como se escrevem. Recife: UFPE, 2000. mimeo.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: o que são e como se classificam? Recife: Universidade Fe-
deral de Pernambuco, 2002.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. 2005. In:
KARWOSKY et al. (orgs.). Gêneros Textuais: Reflexões e Ensino. Palmas e União da Vitória-PR:
Kaygangue, 2005.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. DIONISIO, Ângela P.;
MACHADO, Anna R.; BEZERRA, M.ª Auxiliadora (Org.s.). In: Gênerostextuais & ensino. 2. ed. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2003. p. 19-36
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividade de retextualização. 4. ed. São Paulo:
Cortez, 2003.
MEC. Secretaria de Educação Fundamental – Proposta curricular para educação de jovens e adul-
tos: 2° segmento do Ensino Fundamental: 5ª a 8ª série: introdução / Secretaria de Educação fun-
damental, 2002.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e Adultos como sujeitos de conhecimento aprendizagem.
Faculdade de Educação/USA. XXII Reunião Anual da ANPED, 1999.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas-SP: Mercado das Letras,
1996.
SILVA, Rozângela Souza Oliveira. Texto, gêneros do discurso e ensino. In: Genero Discursivo.
2004. Disponível em <http://www.paratexto.com.br/document.php?id=883>. Acesso em jan.
2010.
SUZUKI, Juliana Telles Faria. Tecnologias em educação: pedagogia/Juliana Telles Faria Suzuki,
Sandra Reis Rampazo. São Paulo. Pearson Education do Brasil, 2009.
26
www.cliqueapostilas.com.br
Unidade 2
Língua estrangeira como
construção de significados
2.1 Introdução
Na segunda unidade desta disciplina, discutiremos algumas questões sobre o ensino de Lín-
gua Espanhola no Brasil e sobre língua estrangeira como construção de significados. Esta unida-
de foi estruturada a partir das seguintes subunidades:
2.2 O Ensino de Língua Espanhola no Brasil nos dias atuais;
2.3 A formação inicial e continuada do professor de língua estrangeira;
2.4 A Língua Estrangeira como construção de conhecimentos na Educação de Jovens e
Adultos;
2.4.1 O ensino de LE (Língua Estrangeira) nos programas da EJA;
2.4.2 Métodos de ensino de língua estrangeira;
2.4.3 Método tradicional;
2.4.4 O conteúdo;
2.4.5 A avaliação da aprendizagem E/LE na Educação de Jovens e Adultos;
2.4.6 A produção e/ou seleção de materiais.
27
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
O autor afirma, ainda, que a proximidade linguística entre as línguas portuguesa e espanho-
la permite que haja uma afinidade maior por parte dos brasileiros com a cultura hispânica.
Atualmente, na educação brasileira, o ensino de língua estrangeira na educação de jovens
e adultos está fundamentado na legislação vigente, na Lei de Diretrizes e Bases LDB (1996), nos
Parâmetros Curriculares Nacionais de 5ª a 8ª (BRASIL, 1998), nos Parâmetros Curriculares Nacio-
nais de Ensino Médio (BRASIL, 1999), na Resolução de CNE/CEB nº. 1, de 5 de julho de 2000, que
estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, e ainda no
Parecer nº. 584/01 do Conselho Estadual de Educação, que deu origem à Resolução nº 444/2001,
a qual regulamenta, para o Sistema Estadual de Ensino de Minas Gerais, a Educação de Jovens e
Adultos.
Com a publicação da LDB, fica esclarecido que:
No que se refere ao currículo do ensino médio, a LDB esclarece que, além de incluir “uma
língua estrangeira moderna como disciplina obrigatória, uma segunda pode ser oferecida em ca-
ráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição” (art. 36, III).
A escolha da língua estrangeira oferecida pela escola, por sua vez, deve ser feita levando-se
em consideração as necessidades e interesses das comunidades locais, os fatores históricos e o
papel que a língua desempenha nas relações culturais entre países.
Sabemos que, até hoje, em sua grande maioria, as unidades de ensino optam pelo ensino
de língua inglesa, que em função do poder e influência norte-americana ocupa um lugar de des-
taque no cenário mundial. O espanhol, por sua vez, vem ganhando espaço, devido ao grande
contato sociocultural entre os brasileiros e hispano-americanos e também à presença e influên-
cia de empresas de origem espanhola no mercado nacional.
Diante de uma demanda crescente pelo idioma de Cervantes, em 05 de agosto de 2005,
foi sancionada a Lei 11.16, que tornou a oferta do ensino da língua espanhola obrigatória pela
escola e de matrícula facultativa para o aluno. Esse aspecto contribuiu significativamente para
o aumento de interessados em aprender o espanhol. Se antes as perspectivas de trabalho com
a língua eram escassas, o panorama transformava- se consideravelmente, favorecendo o cresci-
mento do número de instituições que atualmente oferecem o curso de Letras com a habilitação
em língua espanhola no Brasil.
Em contrapartida, observamos que, se por um lado aumenta a demanda, por outro uma
questão fundamental no processo de ensino/aprendizagem de línguas é a qualidade da forma-
ção do professor.
28
www.cliqueapostilas.com.br
Na área de Linguística Aplicada, estudiosos como Almeida Filho (1993, 1997, 2005), Vieira
-Abrahão (1996, 2004), investigam como a formação do professor de língua estrangeira se reflete
na atuação docente em sala de aula e como as concepções teóricas de ensino e aprendizagem,
as crenças, interferem em sua práxis, o inverso também é feito.
Almeida Filho (1997), ao discutir as tendências na formação de professores, esclarece que DICA
a formação docente acontece em três modalidades básicas de formação, a primeira refere-se à
Prof. José Carlos Paes de
formação básica inicial, que se dá ao término da graduação do curso de Letras, a segunda à for- Almeida Filho é autor
mação especializada, que equivale à pós-graduação lato-Sensu e/ou stricto sensu e, por último, à dos livros “Dimensões
formação continuada ou permanente em que o professor se engaja já no exercício da profissão. comunicativas no ensi-
Almeida Filho ainda esclarece que: no de línguas estran-
geiras” (Pontes Editores,
O fato de um professor receber a certificação de um curso de graduação signi- 1993), “Linguística Apli-
fica apenas que ele oficialmente está autorizado a atuar profissionalmente e é cada, Ensino de Línguas
neste momento que se inicia uma trajetória permanente de formação (ALMEIDA e Comunicação” (Pontes
FILHO, 1997, p. 30). Editores & Arte Língua,
2005). Seu mais recente
projeto de pesquisa é a
Nesse sentido, o grande desafio na preparação de professores é deixar bem claro que, ao “Análise e formação de
sair da universidade, o recém-formado não se formou completamente e talvez leve toda uma professores de língua(s)
vida para se formar, já que a formação é um processo complexo, contínuo, portanto sua atualiza- por abordagens e com-
ção é exigência constante da sua formação. petências” - UNB.
Observa-se, desse modo que, atualmente, temos um contexto no qual se espera que a for-
mação contínua e reflexiva de professores de língua estrangeira atue para que os profissionais
estejam preparados para o exercício de diversas habilidades e competências que o capacitem a
desenvolver uma prática pedagógica crítico-reflexiva. Scortegagna e Oliveira (2008) esclarecem
que refletir não é um processo rápido e nem uma aprendizagem mecânica. Por isso, o ato crítico
-reflexivo transforma o professor em um professor pesquisador sobre a prática como uma cons-
trução contínua, dado que a pesquisa é fundamental para seu desenvolvimento profissional.
Almeida Fillho (1997, p.31) corrobora essa afirmação e explica que “a formação continuada
ou permanente é aquela em que o profes-
sor se engaja já no exercício da profissão”. A ◄ Figura 12: Prof. José
compreensão que o professor possui sobre Carlos Paes de Almeida
o ensino deve ser pautada na reflexão siste- Filho
mática da ação docente, questionando e re- Fonte: Disponível em
<http://portaldoprofessor.
lendo os fundamentos teóricos. mec.gov.br/noticias.htm
Sendo assim, vemos que é função do l?idCategoria=8&idEdic
professor aprender a considerar a sala como ao=40>. Acesso em 10 jun.
2010.
objeto de estudo, visto que para ela conver-
gem vários aspectos que devem ser consi-
derados como, por exemplo, as diferenças
implícitas dos alunos, as crenças, os valores
e interesses da escola. Sabemos que a con-
cepção de ensino contemporânea ultrapassa
a ideia simplista de que ensinar é dar, passar
e transmitir conhecimento, “hoje, essa con-
cepção se expandiu em direção ao construir
experiências válidas, (re) afirmadoras de autoestima, envolventes e motivadoras para e com os
alunos no sentido de apoiar a aprendizagem” (ALMEIDA FILHO, 2005, p. 88).
Na EJA, o professor de língua espanhola deve ser capacitado e sensível para o trabalho com
jovens e adultos. Espera-se que ele saiba valorizar o saber cotidiano do aluno, que se envolva e re-
conheça, nessa modalidade de ensino, mais que uma oportunidade compensatória de uma popu-
lação que não teve acesso à educação na infância. Sobre isso a Resolução CNE/CEB 01/2000, que
estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação e Jovens e Adultos, diz que:
29
priados às situações específicas de aprendizagem (BRASIL, 2000, art. 17).
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
Figura 13:
Competências do Competência Implícita
Professor.
Fonte: Disponível em
<http://lampburning.files. Competência Teórica
word press.com/2009/05/
professor.jpg>. Acesso em
10 jun. 2010.
Competência Aplicada
Competência Linguística
Competência Aplicada
• Competência aplicada
Esta competência é marcada por atitudes próprias e pela capacidade de manifestar ações
GLOSSÁRIO inovadoras no ensino/aprendizagem de línguas. As competências teórica e aplicada são indisso-
Crenças: são ideias, ciáveis, visto que é por meio da relação entre as duas que o docente demonstra capacidade de
opiniões e pressupostos integrar teoria formal e teoria informal implícita na ação pedagógica.
que alunos e professo-
res têm a respeito dos
• Competência linguístico-comunicativa
processos de ensino/
aprendizagem de lín- A competência linguístico-comunicativa está relacionada à capacidade de interação social,
guas e que os mesmos envolvendo o conhecimento e funcionamento da língua-alvo. Aqui o professor procura atuar
formulam a partir de com situações de comunicação e, frequentemente, relaciona a competência linguístico-comuni-
suas próprias experiên- cativa ao fator fluência.
cias.
• Competência profissional
A competência profissional caracteriza-se pelo envolvimento do professor como profissio-
nal de língua, que busca examinar-se quanto ao nível de desenvolvimento de cada competência
num dado momento, que se envolve com movimentos e atividades de aperfeiçoamento intelec-
tual. Essa competência diz respeito ainda ao posicionamento engajado do professor que possui a
atitude e a capacidade de reconhecer seus deveres e importância social.
30
www.cliqueapostilas.com.br
Além disso, essa competência reflete a capacidade que o professor possui de operacionali-
zar as outras competências de maneira crítica, sistemática e continuada, o que mantém vivo seu
interesse em participar de associações de professores e de eventos que prezem a excelência pro-
fissional.
É nessa perspectiva que a formação contínua favorece a análise, desenvolvimento de estra-
tégias para superação de limitações da prática pedagógica e favorece, também, o processo de
ensino-aprendizagem de língua estrangeira. Cabe aos professores o compromisso de discutir
com os colegas as questões relevantes para o ensino-aprendizagem, trocar experiências e de-
fender posicionamentos. O professor, desse modo, poderá desenvolver um trabalho consciente,
refletindo de maneira crítica sobre suas escolhas metodológicas, planejando e executando suas
aulas e adequando a ação pedagógica às necessidades vigentes. Esta criticidade do professor em
sua atuação em sala de aula é imprescindível, visto que todas as teorias que servem de subsídio
no processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira são apresentadas de: Figura 14: Logotipo
da Associação de
Maneira organizada e sistemática, e, na prática, existem problemas diferentes Professores de
daqueles apresentados pelos livros, principalmente na EJA, programa em que Espanhol de Minas
ocorrem diferentes situações, as quais nenhum manual será capaz de responder Gerais
(SCORTEGAGNA E OLIVEIRA, 2008, p. 78-79). Fonte: Disponível em
<http://www.apemg.org>.
Acesso em 10 jun. 2010.
Compreendemos que conhecer e aprender uma língua estrangeira moderna junto com a
língua materna é um direito de todo cidadão, conforme expresso na Lei de Diretrizes e Bases
(1996). A língua estrangeira funciona como um instrumento de acesso a informações, à diversi-
dade cultural, além disso, é uma maneira de desenvolver e ampliar as possibilidades de conheci-
mento, como mencionado nos PCN’s de ensino médio:
Sendo assim, percebemos que, para tudo isso acontecer, é preciso que o professor pense no
processo de ensino-aprendizagem de E/LE através de estratégias inclusivas e dinâmicas, uma vez
que uma língua é um meio de expressão, por meio do qual o indivíduo participa de sua cultura,
suas tradições e seus conhecimentos.
No tocante à EJA, a língua espanhola aproxima-se de uma parcela da comunidade brasileira
com menos possibilidades de contato com LE.
31
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
A esse propósito, é interessante que o professor tenha uma perspectiva de ensino que rela-
cione o ensino de E/LE a contextos mais diversificados e amplos que prestigiem os conhecimen-
tos socioculturais e interesses específicos dessa parcela da população brasileira, muitas vezes,
considerada como de menor prestígio.
Um exemplo dessa intenção de contextualizar o ensino de E/LE é a coleção produzida pelo
Ministério da Educação, no ano de 2007, intitulada Cadernos da EJA. Nessa coleção, que possui
informações para o ensino de todas as disciplinas, pode ser observado o interesse em adequar
o ensino de E/LE às peculiaridades desta modalidade, a partir de atividades que estimulem a co-
municação e a interação no grupo, sempre partindo do tema “trabalho” e relacionando-o a em-
prego, diversidade cultural, segurança no trabalho, preservação do meio ambiente, juventude e
economia.
Essa perspectiva de ensino-aprendizagem adotada na coleção tem o objetivo de, a partir do
estudo da linguagem desenvolvida de forma contextualizada e autêntica, possibilitar ao aluno
perceber sua atuação no mundo através do discurso.
O aluno de E/LE na EJA deve ser capaz de compreender e expressar, oralmente e por escrito,
opiniões, valores, sentimentos e informações. Vivenciar uma experiência de comunicação refle-
tindo sobre a cultura, os costumes e possibilitando maior entendimento do seu próprio papel
como cidadão do país e do mundo em que vive.
Nessa perspectiva, a língua estrangeira desenvolve o interesse pela leitura e pela escrita,
à medida que são propostos textos compatíveis com os interesses e necessidades dos alunos
– artigos de jornais e revistas, textos educativos e científicos e, ainda, livros variados compõem
a base para uma percepção mais crítica da realidade, ao mesmo tempo que servem de insumo
para os alunos elaborarem novos textos.
Cabe ao professor, como motivador do processo de aprendizagem, levar em consideração
as especificidades, as expectativas, a vivência desses alunos e criar situações pedagógicas que sa-
tisfaçam às necessidades de aprendizagem de Jovens e Adultos, sem, no entanto, deixar de con-
siderar que o público da EJA é, por natureza, heterogêneo, e que podemos encontrar numa tur-
ma de jovens e adultos alunos com profissões, idades e dificuldades socioeducacionais distintas.
Desse modo, a aprendizagem deve representar para o aluno a possibilidade de usar a língua
para obter acesso ao conhecimento nas diversas áreas da ciência, nos meios de comunicação,
nas relações entre as pessoas de várias nacionalidades e no uso de tecnologias.
Uma questão que causa grande preocupação aos professores de língua estrangeira é defi-
nir qual o método de ensino é mais eficiente para ser usado em sala de aula. Essa preocupação
data do fim do século XVIII, quando a oportunidade de aprender língua estrangeira aumentou
consideravelmente por razões político-sociais, principalmente na Europa. Conforme o interesse
por aprender língua estrangeira aumentava, surgiam também, com base nas teorias linguísticas,
psicológicas e sociais, os métodos de ensino.
Cada método que surgia defendia corrigir os erros e lacunas deixadas pelos anteriores. Entre
os mais conhecidos, podem ser citados o Método Tradicional, Método Áudio-lingual, o Direto, o
Resposta Física Total, o Silencioso e o comunicativo, chamado por alguns de Abordagem Comu-
nicativa (Almeida Filho).
Conhecer as concepções que norteiam os métodos de ensino permite ao professor confron-
tar seus princípios, valores e aplicabilidade, bem como uma reflexão do seu trabalho em sala de
aula. Para Sanchéz (2001, p. 665), o método é um caminho sistemático e ordenado para se fazer
algo, como o conjunto de técnicas ou exercícios que define o caminho ou a maneira de atuar.
A seguir ,apresentamos alguns dos métodos de ensino usados no ensino de línguas discuti-
dos em Richards e Rodgers (1998) e Abadia (2000).
Neste método, desenvolvido no final do século XVIII, o ensino de língua estrangeira basea-
va-se no modelo de ensino do latim e do grego (línguas clássicas), ou seja, a língua estrangeira
é vista como um sistema de regras, normas que devem ser aprendidas por meio do ensino da
tradução e elaboração de listas de vocabulário. A figura do professor é de autoridade e modelo
para o aluno.
O aluno, por sua vez, posiciona-se de modo receptivo e imitador, devendo memorizar regras
gramaticais, vocabulário e realizar traduções. Os erros ocorridos durante o processo de ensino
-aprendizagem são corrigidos imediatamente pelo professor. O método tradicional foi criticado
pelo fato de a língua ser apresentada de maneira artificial e distante do seu uso cotidiano.
33
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
O método direto foi desenvolvido no fim do século XIX. O termo “direto” foi usado, pois o
aprendiz deveria associar os significados diretamente à língua estrangeira, visto que não é pos-
sível recorrer à tradução. Outra característica deste método é pretender uma aproximação co-
municativa e funcional da língua estrangeira, ou seja, situações comunicativas, como diálogos e
pequenos trechos de leitura, são usados para atividades orais e escritas. Os exercícios orais são
baseados em diálogos para treinar a pronúncia.
A gramática deve ser aprendida de forma indutiva, ou seja, através do uso continuado, to-
mando-se como base os exemplos dados pelo professor. A língua materna deve ser excluída da
sala de aula, dando lugar à língua-alvo (L-alvo). Sendo assim, o professor, apesar de interagir com
os alunos, aparece como o centro do processo de ensino-aprendizagem, pois representa o mo-
delo linguístico que o aluno deveria seguir. Os erros cometidos devem ser corrigidos na hora.
Para um bom resultado desse método é necessário que o professor tenha grande proficiência na
língua estrangeira.
O método segue o princípio de que aprender uma língua estrangeira ocorre da mesma ma-
neira que a aprendizagem da língua materna, ou seja, uma criança passa muito tempo receben-
do ordens e instruções, dessa forma interioriza o código linguístico e somente depois começa a
falar. O fato de passar muito tempo recebendo ordens e instruções é também a principal crítica a
este método (a princípio o indivíduo não falará, apenas, ouvirá e repetirá as ações realizadas pelo
professor).
O professor representa a figura principal na sala de aula, ele conduz o processo, dando co-
mandos, sempre usando o imperativo. Os alunos, por sua vez, não precisam responder oralmen-
te, apenas devem obedecer realizando a ação. Mais tarde o aluno usará os comandos quando
precisar.
34
www.cliqueapostilas.com.br
O método silencioso foi criado na década de 1970 e parte do pressuposto de que o aluno
possui uma capacidade inata para aprender e solucionar problemas da língua estrangeira. O
nome silencioso se refere a uma característica do professor que, neste método, não é mais a figura
central, sua função é observar. Além disso, os erros do aluno não são corrigidos imediatamente.
Sendo assim, o aluno é o responsável por sua aprendizagem, portanto, deve ser indepen-
dente e autônomo, pode comunicar-se mais com seus colegas na tentativa de esclarecer dúvidas
e dificuldades. Os significados devem ser construídos a partir de percepções, nunca de tradu-
ções. A língua materna é usada pelo professor para sanar dúvidas ao fim das atividades. Uma das
principais críticas a este método é que o aluno poderá despender muito tempo para solucionar
um problema, visto que deve fazer isso sem a ajuda do professor.
Quanto aos erros cometidos pelos alunos, são tidos como parte do processo, e o professor
não os corrige imediatamente, mas os anota e posteriormente esclarece as dificuldades. Outro
aspecto importante é que a língua materna não é abolida das aulas, o professor a utiliza sempre
que necessário para dar orientações ou explicar algo.
Este método, como todos os outros, foi alvo de críticas, uma delas diz respeito ao tratamen-
to dado ao erro. Alguns teóricos acreditam que, por ser tratado como parte necessária do proces-
so, pode encorajar o aluno a cometê-lo. Outra crítica relaciona-se ao fato de que, muitas vezes, a
competência comunicativa é privilegiada em detrimento da competência gramatical, nessa pers-
pectiva o aluno pode comunicar-se bem e não ter precisão formal.
Atualmente, “o método não é mais visto como um modelo pronto e definitivo” (Brasil, 1998,
P.76), assim o professor tem autonomia para refletir, questionar e adequá-lo às necessidades de
aprendizagem do aluno:
Para o professor de língua estrangeira, o método deve ser sempre um elemento facilitador
do processo de ensino-aprendizagem. Todos os métodos, cada um a seu tempo, contribuíram de
alguma maneira para o ensino de línguas. Conforme Baralo:
35
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
É preciso que, no trabalho em sala de aula, fiquemos atentos ao uso dos diversos métodos.
Todos podem ser usados, mas o mais importante é que eles sejam avaliados, criticados e, às ve-
zes, reformulados para atender às necessidades contextuais. Um método que deu certo em um
contexto pode não dar certo em outro.
2.4.4 O conteúdo
Nessa perspectiva, um dos principais passos para o trabalho com Jovens e Adultos é a valo-
rização do conhecimento prévio e o reconhecimento dos alunos como portadores de cultura e
saberes. São pessoas que estão voltando para a escola, muitas vezes em busca da educação que
o mercado exige. Toda a preparação das aulas deve ser pautada no que os alunos trazem como
conhecimento, o que querem aprender e suas necessidades. Ainda, conforme o Parecer nº 548
(op.citada):
A sistematização do ensino para jovens e adultos deve ter como finalidade facilitar suas re-
lações pessoais e sua integração profissional. O professor deve priorizar em língua estrangeira
o trabalho de seleção e organização de informações relevantes. Na contemporaneidade, vemos
uma grande massa de informações, por vezes contraditória, outras vezes pouco importante. É
necessário que o aluno aprenda a interpretá-las e avaliá-las criticamente.
Ao organizar os conteúdos de LE, o professor deve considerar que esses conteúdos funda-
mentam o desenvolvimento discursivo dos alunos e favorecem sua compreensão tanto da pró-
pria cultura quanto de culturas estrangeiras.
Além disso, os conteúdos proporcionam o desenvolvimento linguístico dos alunos e os aju-
dam a aperfeiçoar a leitura e a escrita, bem como a compreender as estruturas linguísticas e dis-
cursivas – inclusive da língua materna.
Os PCN’S do ensino fundamental sugerem que os conteúdos sejam selecionados obser-
vando-se o conhecimento de mundo, a organização textual e o conhecimento sistêmico (BRA-
SIL, 1998).
36
www.cliqueapostilas.com.br
A avaliação é uma das questões mais complexas e relevantes no processo educacional. Sa-
bemos que, em geral, a avaliação é usada como um instrumento quantitativo, com o qual o pro-
fessor julga, o aluno recebe a prova e o processo termina. Para os Parâmetros Curriculares Na-
cionais (Brasil, 1998, p.79), a função da avaliação “é alimentar, sustentar a ação pedagógica e não
apenas constatar certo nível do aluno”.
Para avaliar, é importante considerar os objetivos da aprendizagem, visto que são elemen-
tos norteadores da elaboração de provas e testes. A partir da determinação de seus objetivos, são
definidas as etapas necessárias para que esses sejam alcançados. Em contrapartida, é através dos
resultados da avaliação que o professor pode manter a integração das etapas planejadas para al-
cançar tais objetivos, ou alterá-las, caso esses não estejam sendo alcançados. Sobre isso, Luckesi
(2005, p. 85) afirma que a avaliação é um ato diagnóstico que serve de subsídio para uma tomada
de decisão, na perspectiva da construção da trajetória do desenvolvimento do educando.
Dessa maneira, podemos afirmar que a avaliação em língua estrangeira desempenha um
importante papel, no que diz respeito ao planejamento da aula, na sua realização, bem como na
verificação do desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
De acordo com os Parâmetros Curriculares (1998, p.79), as decisões a serem tomadas a res-
peito do conteúdo, métodos e objetivos, necessitam de informações que venham da avaliação,
37
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
que deve ser, portanto, contínua e sistemática, oferecendo uma interpretação qualitativa do
conhecimento construído; sendo assim, ela funciona como um parâmetro norteador das ações
do professor e não apenas como um instrumento para quantificar e classificar a aprendizagem
do aluno. Para Luckesi (2005, p.40), o ato de avaliar implica a disposição de se acolher o aluno
da maneira como ele é para, a partir daí, decidir como realizar uma intervenção adequada. Cabe
ao professor, então, considerar os aspectos de ordem afetiva que influenciam na aprendizagem
como “as características individuais dos alunos, tais como: a frustração da não comunicação, a
reação emocional que pode decorrer da percepção de traços da outra língua, a falta de senso de
orientação e o estilo de aprendizagem” (BRASIL, 1998, p.82).
A relação entre o conteúdo ministrado e o planejamento que foi elaborado em sala é ele-
mentar para definir os objetivos da avaliação. Desse modo, o professor deve ter cuidado quanto
à clareza nas instruções das questões e ficar atento à pertinência entre o que é cobrado e o que
foi ensinado em sala de aula. Sobre isso, os Parâmetros Curriculares (1998, p.82) afirmam que “é
importante que a avaliação tenha como foco o que é também enfatizado no ensino”. Por exem-
plo, se o objetivo é avaliar a leitura ou a compreensão auditiva, não se deve fazer que o aluno
escreva muito ou, ainda, se a diretriz do trabalho é o aspecto comunicativo da língua não se justi-
fica pedir que o aluno preencha lacunas com verbos.
Nesse processo, se os alunos não aprendem nas condições de oferta do ensino, é tarefa
do docente assegurar as estratégias de recuperação, para que os que possuem dificuldades de
aprendizagem superem seu menor rendimento.
Considerado um processo integrado e contínuo, é importante que o aluno tenha espaço
para refletir sobre si mesmo, ou seja, fazer sua autoavaliação.
A percepção crítica do aluno a respeito do processo de aprendizagem e da importância do
que aprendeu permite que ele perceba seu processo de construção de conhecimento e desen-
volva autonomia sobre o aprendizado. Permite também que o professor visualize como os alu-
nos avaliam a prática de sala de aula, além de garantir a interação entre os pares.
Para Masats (2001), é tarefa do docente: selecionar ou criar, junto com seus alunos, os mate-
riais que facilitarão o processo de ensino. Além disso, é importante que esses materiais levem em
consideração os interesses e necessidades desses alunos.
Saber os tipos dos materiais e que função estes cumprem em sala de aula contribui para a
ação docente, visto que pode favorecer a aprendizagem (aluno) e, consequentemente, auxiliar o
ensino (professor).
Para Vilaça (2009), os materiais são “qualquer coisa empregada por professores e alunos para
facilitar a aprendizagem”.
38
www.cliqueapostilas.com.br
Então, ao selecionar os materiais para o ensino de E/LE, devemos nos atentar para o objetivo Figura 20: Materiais
da aprendizagem. No dia a dia, contamos com vários tipos de materiais que auxiliam o proces- usados no ensino de
so ensino-aprendizagem de língua estrangeira, como dicionários, gramáticas, textos literários, Língua Espanhola.
vídeos, e outros. Devemos selecioná-los de acordo com o objetivo do ensino. Vejamos a seguir Fontes: Disponível em
Jornais Hispânicos <http://
alguns tipos de materiais que podem ser usados na aula de E/LE: www.prisa.com/en/sala-
-prensa/noticia/659/el-
-pais-reconfirms-its-lead-
• Documentos autênticos -among-spanish-press/>.
São textos, orais ou escritos, que não foram produzidos especificamente para a sala de aula <http://gcncomunica.wor-
dpress.com/2008/11/04/
e que sejam dirigidos a falantes nativos da língua para os quais foram criados. As principais van- comemore-o-aniversario-
tagens em usarmos este tipo de material são: a utilização da língua em situação de uso real, a -de-184- anos-de-franca/>.
Acesso em 10/06/2010.
abordagem dos elementos culturais e o acesso a uma grande variedade de gêneros, registros e Material para áudio
temas. O professor deve ter grande atenção na hora de selecioná-los, visto que devem se ajus- <http://www.quebarato.
com.br/conversao-de-
tar ao nível de compreensão que os alunos podem alcançar. Podemos citar como exemplos de -discos-de-vinil-lp-s-e-
documentos autênticos: folhetos informativos, receitas, mapas, postais, programas jornalísticos -fitas-k7-em-cd-em-gua-
rulhos3fa42b.html>.
(que podem ser gravados e usados em sala) e músicas. Livro de receitas <http://
www.noselepuedellamar-
cocina.com/tag/libros/>.
• Materiais de consulta e apoio Dicionário Señas <http://
Podemos utilizar esses materiais principalmente como suporte para realização de ativida- produto.mercadolivre.
com.br/MLB-139648837-
des de aprendizagem para obter uma informação ou esclarecer uma dúvida. Como exemplos de -dicionario-senas-editora-
materiais de consulta e apoio, podemos citar os dicionários bilíngue e monolíngue, gramáticas, -martins-fontes-_JM>.
Gramática de Espanhol
listas de verbos, manuais para o professor, enciclopédias, mapas, guias e páginas da web. <http://compare.buscape.
com.br/gramatica-de-
-espanhol-para-brasilei-
• Materiais didáticos ros-maria-esther-mila-
Conjunto formado por materiais comerciais ou elaborado pelo professor, como, por exem- ni-8502057898.html>.
CNN en español <http://
plo, livros didáticos, guias do professor, livros de atividades para o aluno e material audiovisual. edition.cnn.com/espa-
nol/>.
39
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
Referências
ABADÍA, Melero Pilar. Métodos y Enfoques en la Enseñanza: Aprendizaje del Español como
Lengua Extranjera. Madrid: Edelsa, 2000.
BARCELOS, Ana Maria Ferreira. Crenças sobre aprendizagem de línguas, Linguística Aplicada
e ensino de línguas. Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 7, n. 1, p. 123-156, jan./jul. 2004.
BARALO, Marta. La adquisición del español como lengua extranjera. Madrid: Arco Libros,
1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes para uma política nacional de educação de jovens e
adultos. Cadernos de Educação Básica. Brasília, 1994.
__________. Ministério da Educação. Lei nº. 11.161 de 5 de agosto de 2005. Dispõe sobre o en-
sino da língua espanhola. Brasília, 2005.
CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO. Resolução nº. 444/2001 que regulamenta, para o Siste-
ma Estadual de Ensino de Minas Gerais, a Educação de Jovens e Adultos. Presidente: Pe. Lázaro
de Assis Pinto. Belo Horizonte, 2001.
COSCARELLI, Carla Viana. Estratégias de Aprendizagem de Língua Estrangeira: uma breve in-
trodução. Educação e Tecnologia. Belo Horizonte: CEFET-MG, v. 4, n.4, p. 23-29, jan./jul., 1997.
CONSEJO DE EUROPA. Marco común europeo de referencia para las lenguas: aprendizaje, en
señanza, e valuación. <http://cvc.cervantes.es/obref/marco>. Madrid: Ministerio de Educación,
Cultura y Deporte, Instituto Cervantes, Anaya 2003
GOETTENAUER, Elzimar. Espanhol: língua de encontros. In: SEDYCIAS, J. (Org.) O ensino do espa-
nhol no Brasil: passado, presente, futuro. São Paulo: Parábola Editorial, 2005, cap. 5, p. 61-70.
40
www.cliqueapostilas.com.br
MASATS, Mª Dolores. Materiales para la enseñanza de lenguas extranjeras. In: NUSSABAUM, Luci
e BERNAUS, Mercè. Didáctica de las lenguas extranjeras en la Educación Secundaria Obliga-
toria. Madrid: Sintesis Editorial, 2001.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e Adultos como sujeitos de conhecimento aprendizagem.
Faculdade de Educação/USA. XXII Reunião Anual da ANPED, 1999.
SÁCHES PÉREZ, Aquilino Metodología: Conceptos y fundamentos. In: LOBATO, Jesús Sánchez
y GARGALLO, Isabel Santos. Vademécum para la formación de profesores: Enseñar español
como segunda lengua (L2)/ lengua extranjera (LE). Madrid: SGEL, 2004, p. 665-688.
SEDYCIAS, João. O ensino do espanhol no Brasil: presente, passado e futuro. São Paulo: Parábo-
la Editorial, 2005.
VIEIRA ABRAHÃO, Maria Helena e OLIVEIRA E PAIVA, Vera Lúcia Menezes. O Professor de Língua
Estrangeira em formação. In. ALMEIDA FILHO, José Carlos P. O Professor de Língua Estrangeira
em Formação. Campinas: Pontes Editores, 2005.
VILAÇA, Márcio Luiz Corrêa. O material didático no ensino de língua estrangeira: definições, mo-
dalidades e papéis. Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades, UNIGRANRIO. v. 3, n. 30,
p. 1-14, Jul/Set 2009.
41
www.cliqueapostilas.com.br
www.cliqueapostilas.com.br
Unidade 3
Conceitos de aprendizagem e
estratégias de ensino
3.1 Introdução
Nesta terceira unidade, esperamos que você possa compreender alguns aspectos que fazem
parte do processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira. Atentaremo-nos para as con-
cepções teóricas acerca da linguagem e da aprendizagem/aquisição de línguas.
É importante que você reflita como os elementos que norteiam este processo, aspectos rela-
tivos às diferenças individuais de aprendizagem, por exemplo, influenciam sua atividade docente.
A unidade está estruturada de acordo com as seguintes subunidades:
3.2 Concepções teóricas sobre o ensino-aprendizagem de língua estrangeira
3.2.1 O modelo monitor de Krashen;
3.2.2 A visão behaviorista;
3.2.3 Na visão cognitivista;
3.2.4 A visão sociointeracionista ou histórico-social;
3.3 Fatores individuais que influenciam a aprendizagem de Línguas;
3.3.1 Fatores biológicos ou psicológicos;
3.3.2 Fatores cognitivos;
3.3.3 Fatores afetivos.
Bernaus (2001) esclarece que o modelo monitor de Krashen concebe a aquisição como um
processo de evolução mental, pessoal e interior, no qual o aprendiz aprende automaticamente
ao ler ou escutar fragmentos da L-alvo. A língua produzida pelos alunos, escrita ou falada, é o re-
sultado da aprendizagem da língua-alvo.
43
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
Ao formular sua teoria de “aquisição de segunda língua”, Krashen postula cinco hipóteses: a
distinção entre aquisição e aprendizagem, a ordem natural, o input (insumo), o monitor e o filtro
afetivo.
44
www.cliqueapostilas.com.br
• O tempo de que necessita o aprendiz para selecionar e aplicar uma regra aprendida;
• A ênfase na correção da produção linguística ou o foco na forma;
• conhecimento das regras.
45
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
A concepção cognitivista destaca-se pela importância dada aos processos mentais na com-
preensão do comportamento. Assim, ela defende que a aprendizagem se dá por ensaios de ten-
tativas e erros e não por fatores ambientais.
Sob essa perspectiva, o aluno consegue elaborar hipóteses a respeito da língua estrangeira,
com referência às regras que possui de sua língua materna, ou seja, adquire e reorganiza suas
estruturas cognitivas. Por isso, frequentemente o aluno cria estratégias de transferência linguís-
tica para aprender uma língua estrangeira. Nesse momento, os aspectos peculiares da língua
elaborada pelo aluno e, geralmente entendidos como erros, passam a ser vistos como naturais
da língua em construção no processo de aprendizagem e sua interlíngua, uma língua em desen-
volvimento, gerada no contínuo entre língua materna e L-alvo, que resulta de suas tentativas de
aprendizagem.
Ao contrário do behaviorismo, em que o aluno é sujeito passivo, na visão cognitivista o indi-
víduo é ativo e construtivo, os erros que comete são considerados parte do processo de aprendi-
zagem e revelam as hipóteses que ele elabora em seu esforço cognitivo de aprender uma língua
estrangeira.
Uma das principais contribuições do cognitivismo foi dar relevância às potencialidades in-
dividuais de aprendizagem, considerando que cada pessoa aprende de uma maneira específica.
Para Vygsostky, principal representante dessa concepção teórica, a formação se dá numa re-
lação dialética entre o sujeito e a sociedade. Segundo o referido autor, o desenvolvimento intelec-
tual do indivíduo não pode ser independente do meio social do qual faz parte (Vygostsky, 1984).
Ele considera a natureza sociointeracional da aprendizagem, ao centrar a metodologia na
interação entre os participantes aluno/aluno, aluno/professor como forma de construção de co-
nhecimento. O aprendizado é mediado pelo professor e espera-se que exista cooperação entre
os envolvidos, que os indivíduos tenham compromisso e que saibam posicionar-se para ouvir e
expor suas ideias.
46
www.cliqueapostilas.com.br
No caso da EJA, esse fato torna-se bastante relevante, haja vista que os alunos, com frequên-
cia, estão inseridos no mercado de trabalho e participam de interações sociais mais definidas, o
GLOSSÁRIO
que gera maior necessidade de desenvolver meios adequados de agir no mundo pelo discurso.
Embora distintas, todas essas teorias contribuem para o estudo do ensino-aprendizagem de Interlíngua (IL): refere-
se ao sistema linguístico
uma língua estrangeira, visto que observam por diversas perspectivas a natureza da linguagem
transitório, diferente
humana. Ajudam, por exemplo, ao professor de E/LE a subsidiar sua maneira de ensiná-la. da língua materna e
da língua estrangei-
ra, produzido pelo
línguas
Como podemos perceber, o trabalho com jovens e adultos tem suas peculiaridades. Trata-se
de atender e ensinar língua estrangeira a uma parcela da comunidade escolar que está (re)come-
çando seus estudos.
A ausência da educação representa uma lacuna significativa para o indivíduo e, para garan-
tir que a aprendizagem seja efetiva, é necessário atentar-se com mais cautela para alguns aspec-
tos que determinam o sucesso da EJA.
Sabemos que, em geral, os métodos e programas de ensino foram pensados para atender às
singularidades de crianças e adolescentes e, por não atender às necessidades e disponibilidades
dos jovens e adultos, acabam por não garantir a permanência desses na escola, provocando, des-
se modo, a evasão e a repetência.
Esses aspectos nos fazem pensar que a complexidade do processo de aprendizagem exi-
ge considerar elementos de toda ordem (afetivos, cognitivos, sociais, culturais, e outros) para
ensinar língua estrangeira na EJA. Como apontado por Almeida Filho, a experiência educativa
de aprender outra língua é caracterizada por liames sociopolíticos e psico-culturais intrínsecos
(1993, p.27), não envolvendo apenas um exercício consciente de aprendizado de formas codifica-
das, mas também uma série de reações sociais e psicológicas (p. 32).
Pensar os sujeitos da EJA é trabalhar com e na diversidade. E esta se constitui nas diferenças
que distinguem os sujeitos uns dos outros. Considerando-se esses aspectos, discutiremos bre-
vemente alguns fatores individuais relevantes para entender o processo de aprendizagem sob a
perspectiva de Bernaus (2001).
Tais fatores são as diferenças que justificam o ritmo, os níveis e déficits de aprendizagem de
língua estrangeira de um indivíduo. Cada pessoa possui traços, esses explicam o conhecimento
adquirido pelo indivíduo ou preveem o conhecimento que está para adquirir. Esses fatores po-
dem ser biológicos ou psicológicos, cognitivos e afetivos.
Para o professor de línguas, entender a influência que exercem esses fatores no ensino de E/
LE serve para orientar sua prática docente, pois permite organizar a ação pedagógica conside-
rando, entre outras coisas, a individualidade do aluno.
47
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
3.3.1.1 Idade
Muitas vezes já ouvimos ou lemos que iniciar os estudos em língua estrangeira ainda na in-
fância favorece a aprendizagem, isso, no entanto, não indica necessariamente uma verdade. Há
que se tomar cuidado com a repetição do mesmo conteúdo ao longo dos anos, pois isso pode
causar a estagnação e desmotivação do aluno na aprendizagem da L-alvo. Como exemplo, verifi-
camos no Brasil a ocorrência dessa situação com o ensino-aprendizagem de língua inglesa.
Ainda no que diz respeito ao aprendizado de crianças e de adultos, Ortiz Alvarez e Bonfim
(2008) apresentam as seguintes diferenças:
48
www.cliqueapostilas.com.br
3.3.1.2 Personalidade
Outros aspectos que podem intervir na aprendizagem de língua estrangeira é a questão dos
traços da personalidade (a autoestima, a extroversão, a introversão e a ansiedade).
• A autoestima
A autoestima ou confiança se refere à “avaliação subjetiva que o indivíduo transmite aos ou-
tros por meio do seu comportamento ou através de mensagem verbal, pode variar,sendo negati-
va ou positiva, dependendo da situação” (Bernaus op. citada).
Como já dissemos, a EJA atende alunos com valores e interesses variados, além de expe-
riências distintas de aprendizagem. Essas experiências, muitas vezes, interferem na autoconfian-
ça do aluno. Um exemplo disso é que alguns alunos dessa modalidade, quando adolescentes,
chegam à escola para frequentar a EJA e, provavelmente, possuem uma relação conflituosa com
o ambiente escolar, pois se já passaram pela escola, guardam lembranças de um fracasso na
educação regular. Se adultos, às vezes chegam à escola, tímidos, inseguros e receosos com os
novos desafios.
O resgate da autoestima é importante para auxiliar o desenvolvimento da autonomia; a
autoconfiança reforça no aluno o reconhecimento de sua capacidade de aprendizagem, além
de estimular sua participação nas atividades. Não obstante, permite valorizar a educação como
meio de desenvolvimento pessoal e social.
• Ansiedade
De acordo com Bernaus (2001), “a ansiedade está associada à inquietude, dúvida e temor”.
No ensino de língua estrangeira, a ansiedade, se for exagerada, pode causar medo e insegurança,
em contrapartida, certo grau de ansiedade pode contribuir para a aprendizagem, à medida que
gera curiosidade no aluno.
• Extroversão e introversão
Compreende-se por introversão a carac-
◄ Figura 25: A introversão
terística de um indivíduo que absorve infor-
na EJA.
mações externas, mas não as repassa com faci-
Fonte: Disponível em
lidade. Enquanto um indivíduo extrovertido é <http://www.redegestao.
comunicativo, sociável e expressa com facilida- com.br/desafio21/gec77.
de suas impressões. html>. Acesso em 10 jun.
2010.
No que se refere ao estudo de línguas, pes-
quisas apontam algumas possibilidades sobre
os efeitos desses traços da personalidade. Su-
põe-se que os alunos extrovertidos consigam
melhores resultados em atividades orais, com-
parados a alunos introvertidos, por exemplo.
Por outro lado, os alunos introvertidos teriam mais êxito em atividades de leitura e escrita.
Em outros estudos, no entanto, a extroversão não foi determinante na realização das atividades.
Além disso, não é determinante relacionar a extroversão ou a introversão à competência linguís-
tica do aluno.
49
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
3.3.2.1 A inteligência
Goleman (1996) estuda como o controle das emoções contribui para o desenvolvimento da
inteligência. Para ele, a inteligência emocional pode ser observada a partir de cinco competên-
cias: conhecer as próprias emoções, capacidade de controlar as emoções, capacidade de auto-
motivar-se, reconhecer as emoções alheias e controlar as relações externas.
Essas teorias demonstram que a inteligência possui muitas características que podem rela-
cionar-se com a maneira de aprender cada aluno. Além disso, reconhecer a pluralidade das inte-
ligências é uma maneira de valorizar as aptidões de cada indivíduo e contribuir para melhorar as
relações na sala de aula.
50
www.cliqueapostilas.com.br
Considera-se a atitude linguística como uma alta habilidade natural que um indivíduo pos-
sui para aprender línguas. Essas habilidades podem ser inatas ou ser desenvolvidas por meio de
influências externas. Para o ensino de línguas, o fator mais importante é que algumas hipóteses
afirmam que a atitude sendo inata ou desenvolvida, o indivíduo que a possui na aprendizagem
de sua língua materna também a apresentará na aprendizagem de uma língua estrangeira.
Considerando, pois, estes elementos e a própria realidade dos alunos, o professor pode pro-
mover a motivação necessária à aprendizagem, despertando neles interesse e entusiasmo. Uma
característica da EJA é que o jovem e o adulto querem ver a aplicação imediata do que estão
aprendendo e, ao mesmo tempo, precisam ser estimulados para resgatarem sua autoestima. Es-
ses jovens e adultos são tão capazes como uma criança, exigindo somente mais técnica e meto-
dologia eficientes para esse tipo de modalidade de aprendizagem.
Nesse sentido, uma estratégia implica um plano de ação, pode ser definida como um con-
junto de operações e de recursos planejados pelo aprendiz para conseguir alguns objetivos, por
exemplo, ler em voz alta para melhorar a pronunciação, usar o dicionário e um livro para melho-
rar a compreensão ou a produção escrita.
De acordo com Orfoxd (1990), citada em Bernaus (2001), as estratégias podem ser de dois
tipos: diretas e indiretas e servem para orientar o desenvolvimento da comunicação; portanto,
devem incluir a interação entre os alunos e ainda desenvolver o sistema linguístico.
51
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
À medida que puderem perceber que são capazes de ampliar as fronteiras de seus conhe-
cimentos, os alunos se sentirão mais à vontade para tomar a iniciativa de buscar novos conheci-
mentos, tornando-se cada vez mais autônomos e conscientes de sua aprendizagem. Para Almei-
da Filho (2005), cabe ao professor:
Pensar no que fez (como ensina e como aprendem seus alunos) para fazer um juízo de
quem ele é como ensinante [...] o pensar do professor deve reconhecer que o ensino e a aprendi-
zagem de línguas têm uma natureza própria com estrutura e funcionamento em rede que preci-
sam ser reconhecidos para ajudar no processo de aperfeiçoamento refletido (2005, p. 72).
Se o ensino-aprendizagem de língua estrangeira está, pois, associado às diferenças indivi-
duais (ansiedade, atitude, motivação, idade, etc.), para motivá-los, o professor pode planejar com
atenção o conteúdo, bem como organizar com cuidado as atividades, com vistas a provocar a
curiosidade do aluno pelo conteúdo e pela tarefa, atentando-se sempre para a relevância e ex-
pectativas acerca da língua estrangeira que este aluno possui.
Referências
ALMEIDA FILHO, José Carlos P. Dimensões Comunicativas no Ensino de Línguas. Campinas:
Pontes Editores, 1993.
BARALO, Marta. La adquisición del español como lengua extranjera. Madrid: Arco Libros,
1999.
BERNAUS, Mercè. El profesor y el alumno como agentes del proceso de aprendizaje. In: NUSSA-
BAUM, Luci e BERNAUS, Mercè. Didáctica de las lenguas extranjeras en la Educación Secun-
daria Obligatoria. Madrid: Sintesis Editorial, 2001.
COUTINHO, Maria Tereza; MOREIRA, Mércia. Psicologia da Educação – um estudo dos processos
psicológicos de desenvolvimento e aprendizagem humanos, voltados para a educação: ênfase
na abordagem construtivista. Belo Horizonte: Lê, 1992.
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre RS: Artes médicas,
1995.
53
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
NUSSABAUM, Luci; BERNAUS, Mercè. Didáctica de las lenguas extranjeras en la Educación Se-
cundaria Obligatoria. Madrid: Sintesis Editorial, 2001.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e Adultos como sujeitos de conhecimento aprendizagem.
Faculdade de Educação/USA. XXII Reunião Anual da ANPED, 1999.
ORTIZ ALVAREZ, Maria Luisa; BONFIM, Elizabeth Rodrigues. A cultura de aprender LE (inglês) de
alunos adultos na faixa etária de 40 a 65 anos. In: SILVA, Kleber Aparecido da; ORTIZ ALVAREZ,
Maria Luisa (Org.). Perspectivas de investigação em Linguística Aplicada. Campinas: Pontes,
2008.
54
www.cliqueapostilas.com.br
Resumo
Na primeira unidade desta disciplina, tivemos como objetivos discutir algumas questões re-
lativas ao ensino de língua na perspectiva da Linguística Aplicada, a partir de gêneros discursi-
vos; apresentar a proposta dos PCN´s para a educação de jovens e adultos no Brasil e, especifica-
mente, para o ensino de Espanhol como língua estrangeira.
Ao discutir a ementa desta disciplina, definimos a Linguística Aplicada como uma ciência
com metodologia e conceitos próprios que estuda/reflete sobre o signo verbal da linguagem hu-
mana.
Para tecer as considerações sobre a subunidade 1.2, Jovens e adultos como sujeitos de co-
nhecimento e aprendizagem, é preciso saber que qualquer posição teórica sobre o ensino vol-
tado para o adulto é perpassada pelo perfil sócioeconômico e cultural do público da EJA. São
alunos que vêm de camadas menos favorecidas e, por isso, principalmente, voltam a estudar na
idade adulta, onde a escolarização não tem uma importância fundamental, pois questões de
sobrevivência, tais como emprego, alimentação, moradia, saúde são mais urgentes. Também, o
cansaço do trabalho provoca desânimo, menor capacidade de absorver o conhecimento cons-
truído em sala de aula e menos tempo para estudar em casa.
Enfim, o estudo desta unidade nos leva a perceber que a produção do conhecimento, o fun-
cionamento do psiquismo e a diferença do ensino para jovens e adultos em relação a outros gru-
pos culturais é tema complexo.
Na subunidade 1.3 A Educação de Jovens e Adultos no Brasil (EJA) e os PCN´s, tecemos um
panorama histórico da EJA no Brasil e apresentamos a proposta dos PCN´s para o ensino de Es-
panhol como língua estrangeira.
Conhecer o panorama histórico da EJA é relevante para nós, docentes, contextualizarmos
nossa prática educativa. Os PCN’s (2000), em sua bases legais, informam que as diretrizes gerais
e orientadoras da proposta curricular para o currículo do Ensino Médio devem comtemplar con-
teúdos e estratégias de ensino que capacitem o indivíduo para realizar atividades em três domí-
nios da ação humana: a vida em sociedade, a atividade produtiva e a experiência subjetiva.
Ainda, falamos da importância de algumas perspectivas de ensino da língua estrangeira e,
nesse sentido, aprendemos que conhecer as competências e habilidades a serem desenvolvidas
no ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras modernas é de suma relevância.
Na subunidade 1.4- Gêneros discursivos e o ensino da linguagem, tecemos algumas consi-
derações sobre o ensino de língua a partir de gêneros discursivos. Esta proposta de ensino de
língua (nomeada, por alguns, como gênero textual) também perpassa os PCN’s.
Ainda, para discutir sobre a proposta do ensino a partir dos gêneros textuais, na subunidade
1.4.1 Tipos de texto, falamos sobre os tipos de textos, narração, descrição e dissertação, que po-
dem ser definidos como constructos teóricos, definidos por propriedades linguísticas intrínsecas,
que constituem sequências linguísticas ou de enunciados, mas não são textos empíricos.
Na subunidade 1.4.2 Gêneros discursivos, vimos que estes são aprendidos no curso de nos-
sas vidas como participantes de determinado grupo social. Ou seja, são padrões comunicativos,
socialmente realizados, que podem ser definidos como realizações linguísticas concretas, defini-
das por propriedades sociocomunicativas; textos empiricamente realizados, cumprindo funções
em situações comunicativas e como conjunto aberto praticamente ilimitado de designações
concretas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função. Logo, conclui-se que gênero não é
sinônimo de tipo textual.
Por fim, o ensino, seja de língua estrangeira ou materna, é muito mais produtivo, real, se
construído a partir dos gêneros discursivos.
Na segunda unidade, vimos que o ensino de língua estrangeira na educação brasileira tem
demonstrado grande relevância, inclusive por força da legislação vigente. Ressaltamos a lei n°.
11.161/05, responsável pela implantação deste ensino na educação básica e apontamos, ainda,
como a LE contribui para a construção de conhecimentos na EJA, uma modalidade de ensino
com muitas especificidades que demandam do professor a consideração e conhecimento das
condições sócio- históricas de produção através das quais os alunos se constituíram para que o
ensino de E/LE tenha importância e atenda significativamente às suas necessidades. Vimos tam-
bém as fases da formação do professor de língua estrangeira e as competências necessárias para
que o profissional docente determine sua ação pedagógica na EJA.
55
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
Os métodos de ensino foram apresentados para elucidar os caminhos usados pelo profes-
sor para ensinar a língua estrangeira. Vimos que a seleção dos conteúdos de E/LE deve ser feita
com base nos conhecimentos implícitos, nas perspectivas e necessidades dos jovens e adultos,
devendo articular-se, portanto, com as experiências dos alunos. Outro aspecto tratado foi a pro-
dução e a seleção dos materiais que devem funcionar como facilitadores do processo de ensino,
favorecendo a aprendizagem do aluno e auxiliando a forma de ensino do professor.
Por fim, na segunda unidade, vimos a função da avaliação de E/LE na modalidade da EJA,
considerando-a como aspecto articulador e direcionador do processo de ensino-aprendizagem,
que não deve ser usado somente para quantificar e classificar a aprendizagem do aluno.
Na terceira unidade, foram explicadas as concepções teóricas que norteiam o ensino-apren-
dizagem de língua estrangeira e suas implicações para os contextos educacionais.
A teoria behaviorista sustenta a visão de que aprender uma língua estrangeira significa for-
mar hábitos e princípios linguísticos na língua-alvo, decorrentes de uma rotina que envolva estí-
mulo, resposta e reforço.
A teoria cognitivista, por sua vez, destaca-se pela importância dada aos processos mentais
na compreensão do comportamento. Sob esta perspectiva, o aluno consegue elaborar hipóteses
a respeito da língua estrangeira e, com base nas regras que possui de sua língua materna, adqui-
re e reorganiza suas estruturas cognitivas.
A teoria sociointeracional compreende que a formação se dá numa relação dialética entre o
sujeito e a sociedade, ou seja, o desenvolvimento intelectual do indivíduo não pode ser indepen-
dente do meio social do qual faz parte.
O modelo monitor de Krashen concebe a aquisição como um processo de evolução mental,
pessoal e interior, no qual o aprendiz aprende automaticamente ao ler ou escutar fragmentos
da L-alvo. A língua produzida pelos alunos, escrita ou falada, é o resultado da aprendizagem da
língua- alvo. Krashen apresenta cinco hipóteses que dizem respeito à aquisição de LE. São elas: a
distinção entre aquisição e aprendizagem de línguas, a hipótese da ordem natural, a hipótese do
modelo monitor, a hipótese do filtro afetivo e a hipótese do input (insumo).
Apontamos também, nesta unidade, os fatores individuais que influenciam a aprendizagem
de línguas e que justificam as diferenças no ritmo, níveis e déficits de aprendizagem de um indi-
víduo.
Vimos que os fatores individuais podem ser agrupados em três categorias: fatores biológi-
cos e psicológicos, fatores cognitivos e fatores afetivos.
Bons Estudos!
56
www.cliqueapostilas.com.br
Referências
Básicas
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e Adultos como sujeitos de conhecimento aprendizagem.
Faculdade de Educação/USA. XXII Reunião Anual da ANPED, 1999.
Complementares
ABADÍA, Melero Pilar. Métodos y Enfoques en la Enseñanza: Aprendizaje del Español como
Lengua Extranjera. Madrid: Edelsa, 2000.
ANDRADE, Mara Lucia Fabrício de. Gêneros e tipos: uma aproximação. Disponível em <http://
www.filologia.org.br/soletras/2/06.htm>. Acesso em fev. 2010.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1990.
________. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. A. Estética da Criação Verbal. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1997.
________. Os Gêneros do Discurso. In: BAKHTIN, M. A. Estética da Criação Verbal. São Paulo:
Martins Fontes, 2000. p. 279-326.
BARALO, Marta. La adquisición del español como lengua extranjera. Madrid: Arco Libros,
1999.
BARCELOS, Ana Maria Ferreira. Crenças sobre aprendizagem de línguas, Linguística Aplicada
e ensino de línguas. Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 7, n. 1, p. 123-156, jan./jul. 2004.
BERNAUS, Mercè. El profesor y el alumno como agentes del proceso de aprendizaje. In: NUSSA-
BAUM, Luci e BERNAUS, Mercè. Didáctica de las lenguas extranjeras en la Educación Secun-
daria Obligatoria. Madrid: Sintesis Editorial, 2001.
57
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes para uma política nacional de educação de jovens
e adultos. Cadernos de Educação Básica. Brasília, 1994.
________. Ministério da Educação. Lei nº. 11.161 de 5 de agosto de 2005. Dispõe sobre o ensino
da língua espanhola. Brasília, 2005.
CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO. Resolução nº. 444/2001 que regulamenta, para o Siste-
ma Estadual de Ensino de Minas Gerais, a Educação de Jovens e Adultos. Presidente: Pe. Lázaro
de Assis Pinto. Belo Horizonte, 2001.
CONSEJO DE EUROPA. Marco común europeo de referencia para las lenguas: aprendizaje,
enseñanza, evaluación. <http://cvc.cervantes.es/obref/marco>. Madrid: Ministerio de Educación,
Cultura y Deporte, Instituto Cervantes, Anaya 2003.
COSCARELLI, Carla Viana. Estratégias de Aprendizagem de Língua Estrangeira: uma breve in-
trodução. Educação e Tecnologia. Belo Horizonte: CEFET-MG, v. 4, n.4, p. 23-29, jan./jul., 1997.
COUTINHO, Maria Tereza; MOREIRA, Mércia. Psicologia da Educação – um estudo dos processos
psicológicos de desenvolvimento e aprendizagem humanos, voltados para a educação: ênfase
na abordagem construtivista. Belo Horizonte: Lê, 1992.
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre-RS: Artes médicas,
1995.
GOETTENAUER, Elzimar. Espanhol: língua de encontros. In: SEDYCIAS, J. (Org.) O ensino do espa-
nhol no Brasil: passado, presente, futuro. São Paulo: Parábola Editorial, 2005, cap. 5, p. 61-70.
58
www.cliqueapostilas.com.br
LOPES, Selva Paraguassu e SILVA, Luzia Sousa. EJA: uma educação possível ou mera utopia. Dis-
ponível em <http://www.cereja.org.br/pdf/revista_v/Revista_SelvaPLopes.pdf>. Acesso em 26
jan. 2010.
MAINGUENEAU, Dominique. (1984). Gênese dos discursos. Trad. Sírio Possenti. Curitiba, Criar
Edições, 2005.
MARCUSCHI, L.A. Gêneros textuais: o que são e como se classificam? Recife: Universidade Fede-
ral de Pernambuco, 2002.
__________. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. 2003. In: DIONÍSIO et al. (orgs.). Gê-
neros Textuais e Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.
__________ . Da fala para a escrita: atividade de retextualização. 4. ed. São Paulo: Cortez,
2003.
MASATS, Mª Dolores. Materiales para la enseñanza de lenguas extranjeras. In: NUSSABAUM, Luci
e BERNAUS, Mercè. Didáctica de las lenguas extranjeras en la Educación Secundaria Obliga-
toria. Madrid: Sintesis Editorial, 2001.
ORTIZ ALVAREZ, Maria Luisa; BONFIM, Elizabeth Rodrigues. A cultura de aprender LE (inglês) de
alunos adultos na faixa etária de 40 a 65 anos. In: SILVA, Kleber Aparecido da; ORTIZ ALVAREZ,
Maria Luisa (Org.). Perspectivas de investigação em Linguística Aplicada. Campinas: Pontes,
2008.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas-SP: Mercado das Letras,
1996.
SÁCHES PÉREZ, Aquilino Metodología: Conceptos y fundamentos. In: LOBATO, Jesús Sánchez
y GARGALLO, Isabel Santos. Vademécum para la formación de profesores: Enseñar español
como segunda lengua (L2)/ lengua extranjera (LE). Madrid: SGEL, 2004, p. 665-688.
SEDYCIAS, João. O ensino do espanhol no Brasil: presente, passado e futuro. São Paulo: Parábo-
la Editorial, 2005.
SILVA, Rozangela Souza Oliveira. Texto, gêneros do discurso e ensino. Genero Discursivo.
2004. Disponível em <http://www.paratexto.com.br/document.php?id=883>. Acesso em jan.
2010.
SUZUKI, Juliana Telles Faria. Tecnologias em educação: pedagogia/ Juliana Telles Faria Suzuki,
Sandra Reis Rampazo. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
VIEIRA ABRAHÃO, Maria Helena e OLIVEIRA E PAIVA, Vera Lúcia Menezes. O Professor de Língua
Estrangeira em formação. In: ALMEIDA FILHO, José Carlos P. O Professor de Língua Estrangeira
em Formação. Campinas: Pontes Editores, 2005.
59
www.cliqueapostilas.com.br
UAB/Unimontes - 4º Período
VILAÇA, Márcio Luiz Corrêa. O material didático no ensino de língua estrangeira: definições, mo-
dalidades e papéis. Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades, UNIGRANRIO, v.3, nº. 30,
p. 1-14, Jul/Set 2009.
Breves considerações sobre o gênero discursivo dentro da sala de aula. 2009. Disponível em
<http://www.artigonal.com/educacao-artigos/breves-consideracoes-sobre-o-genero-discursivo-
dentro-da-sala-de-aula-1536835.htm>. Acesso em fev. 2010.
Suplementares
MARCUSCHI, L.A. Gêneros textuais: o que são e como se escrevem. Recife: UFPE, 2000. mimeo.
Disponível em <http://www.artigonal.com/educacao-artigos/educacao-de-jovens-e-adultos-eja-
no-brasil-1046328.html>. Acesso em Jan. 2010.
60
www.cliqueapostilas.com.br
Atividades de
Aprendizagem- AA
1) Qual o sentido de se ensinar diferentes tipos textuais/gêneros discursivos?
2) Como o professor/aluno pode se mover frente a um objeto como o gênero, com as coerções
impostas pelo modelo e, ao mesmo tempo, com a variabilidade sócio-histórica e cultural que lhe
é inerente?
4) Explique qual a contribuição do trabalho de leitura e produção de textos, a partir da teoria dos
gêneros textuais.
5) A partir da discussão sobre a questão dos gêneros textuais, como a língua se realiza?
6) De acordo com Almeida Filho (1997, 2002 e 2005), as competências são responsáveis para que
o professor determine sua prática pedagógica no que se refere ao ensino de língua estrangeira.
Cite as cinco competências citadas por Almeida Filho para que o professor desenvolva sua ação
pedagógica.
10) Como deve ser escolhido o método de ensino para o ensino de língua estrangeira.
61
www.cliqueapostilas.com.br