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Hidrografia
Hidrografia
Hidrografia
1ª EDIÇÃO ATUALIZADA
2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
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Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
A água no planeta terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Os rios e as bacias hidrográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Sistemas lacustres e as águas subterrâneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Gestão dos recursos hídricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Geografia - Hidrografia
Apresentação
Bem-vindos à Disciplina Hidrografia!
A Hidrografia é um ramo da Geografia que se propõe estudar a distribuição das águas no
planeta Terra, abrangendo, portanto, rios, mares, oceanos, lagos, geleiras, água do subsolo e da
atmosfera.
Nesta disciplina vamos abordar conceitos relacionados ao bem mais precioso e importante
para a manutenção da vida no planeta Terra: a água. Entendemos que os conhecimentos aqui
compartilhados são de extrema importância para a sociedade atual, pois em todas as atividades
humanas, tais como abastecimento humano, dessedentação animal, indústria, irrigação, geração
de energia, transporte, recreação, entre outras, a água é um elemento essencial.
Nas últimas décadas, vêm ocorrendo diversas transformações no meio ambiente, que im-
põem à sociedade desafios até então desconhecidos. Os recursos naturais de uso comum se
apresentam com suas disponibilidades ameaçadas pela escassez ou pela deterioração da sua
qualidade. No que se refere à água, observa-se uma situação preocupante.
Para o acadêmico de Geografia, os conhecimentos fundamentais de Hidrografia apresenta-
dos nesta disciplina são muito importantes e relevantes para toda a sua formação. Por quê?
Hoje, os danos ambientais causados pelo aumento da população, associado ao modelo eco-
nômico vigente, implicam em escassez de recursos naturais e poluição ambiental. Em função dis-
so, há uma deterioração da qualidade da água, fazendo com que a discussão sobre sua preser-
vação esteja na ordem do dia. Por isso, consideramos importante que o licenciado em Geografia
esteja munido dos conhecimentos básicos que possam impulsionar atitudes positivas em rela-
ção ao cuidado com a água, pois, como sabemos, é um recurso de disponibilidade restrita.
Ao elaborar este material, buscamos incentivar você a desenvolver noções básicas sobre a
importância da água como elemento fundamental para a vida, entre elas a humana. A água tem
um papel singular, por exemplo, em Geomorfologia, pois desagrega, transporta e deposita as
partículas de materiais, alterando a paisagem, num sistema dinâmico.
Ao escrever, gostaríamos que você percebesse que em nossas ações cotidianas podemos
contribuir negativa ou positivamente para a melhoria da qualidade ambiental e, mais especifi-
camente, da água. Nesse contexto, desejamos que você encontre subsídios para uma reflexão
sobre a problemática da água e busque participar ativamente dos movimentos e discussões em
prol da manutenção da quantidade e qualidade da água.
A disciplina tem como objetivos:
Geral: analisar a distribuição e a disponibilidade dos recursos hídricos em várias regiões do
planeta Terra e refletir sobre a importância do seu uso racional, bem como dos instrumentos de
gestão. Específicos:
• Discutir a disponibilidade de água no planeta Terra, as principais propriedades da água e a
dinâmica do ciclo hidrológico;
• Enfatizar a importância da bacia hidrográfica como unidade fundamental de gestão dos re-
cursos hídricos, e os efeitos dos fatores que influenciam no funcionamento da bacia hidro-
gráfica;
• Apresentar conceitos relativos às águas superficiais e às águas subterrâneas;
• Apresentar a política nacional de recursos hídricos e discutir os principais instrumentos e
instâncias para o gerenciamento desses recursos;
• Abordar os principais impactos ambientais relacionados aos recursos hídricos na atualidade.
Em cada Unidade, inserimos alguns trechos da declaração universal dos direitos da água.
A declaração na íntegra pode ser consultada no site: http://www.ambientebrasil.com.br ou nos
sites de busca na web. Essa declaração deve ser lida e relida para que sempre nos lembremos so-
bre a responsabilidade individual quanto à água.
Essa disciplina compreende um total de 75 h/a. A ementa é a seguinte: Hidrografia: Ciência
e aplicação. A água no planeta Terra; o ciclo hidrológico; a bacia de drenagem; sistemas lacustres;
geomorfologia fluvial; águas subterrâneas; gestão dos recursos hídricos; o meio ambiente e os
recursos hídricos.
Para contemplar a ementa, optamos por distribuir o conteúdo em quatro unidades. Cada
unidade está dividida em tópicos ou subunidades. Na Unidade 1, intitulada “A água no planeta
Terra”, discutimos a hidrografia como ciência, a distribuição irregular e restrita da água no plane-
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UAB/Unimontes - 4º Período
“Enquanto meu pai, meu avô, meus primos olham aquela montanha e vêem o
humor da montanha e vêem se ela está triste, feliz ou ameaçadora, e fazem ce-
rimônia para a montanha, cantam para ela,
cantam para o rio (...), o cientista olha o rio e calcula quantos megawatts ele vai
produzir construindo uma hidrelétrica, uma barragem (...) Ali não tem música,
a montanha não tem humor, e o rio não tem nome. É tudo coisa.” AILTON KRE-
NAK
Bons estudos!
As autoras.
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Geografia - Hidrografia
UNIDADE 1
A água no planeta terra
1.1 Introdução
Os versos acima são um trecho do poema “O Caboclo d’Água”, de João Guimarães Rosa. Nes-
sas palavras, podemos refletir sobre as diferentes dimensões da água: é importante para a vida,
tem um significado espiritual, determinou o desenvolvimento de civilizações ao longo da histó-
ria. Enfim, a água é objeto de estudo das mais diversas áreas.
A Hidrografia, especificamente, interessa-se pela distribuição das águas na Terra, seja em
forma de rios, lagos, oceanos, mares ou águas subterrâneas.
Nesta Unidade, os objetivos são:
• Compreender que a água é um recurso de disponibilidade restrita no planeta Terra;
• Refletir sobre as múltiplas dimensões da água para o ser humano;
• Analisar as principais propriedades da água;
• Compreender a dinâmica do ciclo hidrológico;
• Entender as consequências das alterações do ciclo hidrológico na escala local e global.
Ao final da unidade, é importante ter uma visão geral sobre a dinâmica da água, suas carac-
terísticas, bem como sua disponibilidade no mundo e no Brasil. Sendo assim, esta Unidade está
dividida nos seguintes tópicos:
1.1 Introdução
1.2 Hidrografia: ciências e aplicações
1.3 A água e suas múltiplas dimensões
1.4 A água no planeta terra
1.5 As principais propriedades da água
1.6 O ciclo hidrológico
E lembre-se: “Pela sede, aprende-se a água”. (Emily Dickinson)
Bons Estudos!
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UAB/Unimontes - 4º Período
A Hidrografia, por sua vez, é a ciência que pesquisa e mapeia todas as águas do planeta
Terra. Pode ser entendida como uma ciência que trata da descrição e da medida de todas as
extensões de água na terra (oceanos, mares, rios, lagos, reservatórios etc.), sua ocorrência,
circulação e distribuição, suas propriedades (físicas e químicas) e seus efeitos sobre o meio am-
biente e a vida.
Nesse contexto, o estudo da hidrografia é fundamental para identificarmos os componentes
naturais e antropogênicos relacionados à água. Esse conhecimento é imprescindível para qual-
quer intervenção que vise à manutenção da qualidade ambiental.
BOX 1
As necessidades humanas de água
As necessidades humanas de água são complexas e representam em primeiro lugar
uma demanda fisiológica. Cerca de 60% a 70% do peso de um ser humano, em média,
é constituído por molécula de água. Uma pessoa com 100 kg tem, portanto, entre 60 e
70 kg de água em seu corpo, considerando-se 1 litro de água = 1kg de peso. Em níveis
bioquímico e celular, há necessidade de água para atuar como solvente e para o funcio-
namento do organismo. O consumo médio diário de uma pessoa com 90 kg é de cerca
de 3 litros, obtidos sob a forma de água, outras bebidas ou alimentação. Em uma pessoa
sadia, há um estado de equilíbrio entre a água ingerida sob diversas formas e a água eli-
minada sob a forma de urina (53%), evaporação da pele e pulmões (42%) e nas fezes (5%).
A água também é utilizada na preparação de alimentos e cozimento, no banho, toalete
e lavagem em geral, e muitos usos dependem da cultura, local, regional ou nacional. O
suprimento de água para as casas pode ser considerado uma “produção reprodutiva” por-
que permite a reprodução da espécie humana e, portanto, a sobrevivência da espécie. Em
muitos países, água também é utilizada em atividades religiosas, portanto, parte do volu-
me das águas de rios, lagos ou represas é utilizada em atividades sagradas que são produ-
to de culturas milenares; por exemplo, casamentos coletivos as margens do Rio Ganges
(FIG. 1), na Índia, podem agregar uma multidão composta de 1 milhão de pessoas.
Fonte: Adaptado a partir de TUNDISI, José Galizia. Água no Século XXI: entendendo a escassez. São Paulo: Rima, IIE,
2003, p. 4.
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Geografia - Hidrografia
Fonte: Adaptado de NOVION, Hubert de. Sarkarah na Terra das Pirâmides. IN: As grandes civilizações desaparecidas.
Portugal: Seleções do Reader´sDigest, 1981, página 22.
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UAB/Unimontes - 4º Período
A teoria mais aceita sobre a origem da Terra é aquela conhecida como Teoria do Big Bang,
segundo a qual a Terra seria uma bola incandescente proveniente da explosão de uma mas-
sa maior que, com o tempo, foi se resfriando lentamente. À medida que resfriava, alguns ga-
ses eram liberados de seu interior como amônia, hidrogênio, metano e, junto com eles, vapor
d’água. A água evaporada, quando encontrava as camadas mais frias da atmosfera, transfor-
mava-se em chuvas torrenciais. Num certo
momento, a água das chuvas passa a não re-
tornar mais à atmosfera em forma de vapor
Figura 3: Esquema dos ► e passa, agora, em estado líquido, a escorrer
grandes conjuntos pelas elevações, e a acumular-se nas depres-
do mundo natural sões da crosta terrestre. Essa água que se
e a interação entre
as diferentes esferas acumulou formaria os lagos, os rios, os mares
terrestres. e os oceanos e assim, possivelmente, formou-
Fonte: DREW, 1989, p. 27.. se a hidrosfera primitiva, de constituição dife-
rente da atual.
Apesar de ser abundante em água, o pla-
neta Terra é palco de conflitos por esse ele-
mento fundamental. A distribuição de água no
planeta é bastante irregular, como se observa
nos gráficos da Figura 4:
Distribuição da água no planeta Terra
a) Total de água na Terra b) Água doce
Apesar da abun-
dância de água no
Planeta Terra, a água
Figura 4: Distribuição ► acessível ao consumo
de água no planeta humano direto, confor-
Terra. me Waldman (2002, p.3),
Fonte: Adaptado a partir é uma fração mínima da
de TUNDISI, 2003, p. 7.
existente no mundo que
“[...] apresenta os pré-re-
quisitos limnológicos
considerados indissociá-
veis da potabilidade: a
água como um líquido puro, insípido, inodoro, incolor”. Como pode ser observado nos gráficos
A e B da Figura 4, 97,5% das águas do planeta constituem-se em águas dos mares, oceanos e la-
goas salgados, impróprias para consumo humano direto. Apenas 2,5% das águas correspondem
DICA
a águas doces e desta porcentagem 68,9% constituem-se em águas das calotas polares, geleiras
Vejamos o que as pre- e neves; 29,9% formam as águas do subsolo e 0,9% compõem as águas salobras dos pântanos
visões para o enfrenta- e congeladas no subsolo. Assim, percebemos que a água doce em estado livre na natureza é de
mento dos problemas:
Para tentar uma solução apenas 0, 0002% do volume total mundial.
para o problema de Outro fato que deve ser levado em consideração no que diz respeito à água é sua má distri-
desabastecimento de buição, pois poucos países encontra-se em situação privilegiada em relação a esse recurso, como
água, o Banco Mundial é o caso do Brasil, Rússia, Estados Unidos, Canadá, China, Índia, Indonésia, Colômbia, Peru, Repú-
estima a necessidade blica Democrática do Congo e Papua Nova Guiné, conforme se vê no mapa da Figura 5.
de investimentos entre
US$ 600 e 800 bilhões
nos próximos dez anos.
A ONU estima um custo
de US$ 50 por pessoa.
Figura 5: Distribuição ►
das disponibilidades
de água por país.
Fonte: REBOUÇAS, BRA-
GA, TUNDISI, 2002, p. 17.
14
Geografia - Hidrografia
Os demais países do mundo passam por sérios problemas de escassez quantitativa ou quali-
tativa das suas águas (WALDMAN, 2002). Podemos verificar que são poucos os países com dispo-
nibilidade hídrica muito alta, enquanto grande parte encontra-se situada em regiões onde ocor-
re baixa ou catastroficamente baixa a disponibilidade de água. A tabela a seguir mostra os onze
países mais pobres de água no mundo.
Tabela 1
Os onze países mais pobres de água no mundo
País Disponibilidade m3 /hab./ano
Kuwait Praticamente nula
Malta 40
Quatar 54
Faixa de Gaza 59
Bahamas 75
Arábia Saudita 105
Líbia 111
Bahrain 185
Jordânia 185
Singapura 211
União dos Emirados Árabes 279
Fonte: REBOUÇAS, BRAGA e TUNDISI, 2002, p. 19.
O Brasil possui uma das maiores reservas de água doce do planeta, encontrando-se numa si-
tuação privilegiada quanto a esse recurso. Apesar disso, essa água não se apresenta uniformemen-
te distribuída, pois 80% concentram-se na Amazônia, onde vivem apenas 5% da população brasi-
leira. O restante é dividido para os demais habitantes do território nacional (MAGALHÃES, 2009).
15
UAB/Unimontes - 4º Período
Figura 6: ►
Organograma da
árvore da qualidade
total da água
Fonte: REBOUÇAS, BRA-
GA e TUNDISI, 2002, p.25.
Figura 7: O ciclo da ►
água
Fonte: Disponível em
http://ga.water.usgs.gov/
edu/watercycleportu-
guesehi.html. Acesso em
14 out. 2014.
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Geografia - Hidrografia
acumula-se para formar nascentes, regatos e rios. O outro caminho ocorre quando “a capacidade
de absorção de água pela superfície é superada e o excesso de água inicia o escoamento superfi-
cial”(TEIXEIRA et al., 2000, p.116).
Inicia-se aí uma espécie de devolução da energia ao meio ambiente, que pode ser utilizada
para mover moinhos, turbinas, etc. ou causar desastres, através do transporte de grandes quanti-
dades de solo no processo de erosão (BRANCO, 1989). As plantas realizam também uma transfe-
rência de energia através da evapotranspiração. Todo esse ciclo pode ser visualizado na Figura 7.
Dessa forma, o ciclo hidrológico realiza o movimento da água através da hidrosfera, atmosfera e
litosfera e serve como um modelo de fluxo cíclico de matéria entre as diferentes partes da Terra.
Segundo Speidelet al., citado por Tundisi (2003, p. 5), os componentes do ciclo hidrológico
podem ser sintetizados nos seguintes processos:
• Precipitação: água adicionada à superfície da Terra a partir da atmosfera. Pode ser líquida
(chuva) ou sólida (neve ou gelo).
• Evaporação: processo de transformação da água líquida para a fase gasosa (vapor de água).
A maior parte da evaporação se dá a partir dos oceanos; nos lagos, rios e represas também
ocorre evaporação.
• Transpiração: processo de perda de vapor d’água pelas plantas, o qual entra na atmosfera.
• Infiltração: processo pelo qual á água é absorvida pelo solo.
• Percolação: processo pelo qual a água entra no solo e nas formações rochosas até o lençol
freático.
• Drenagem: movimento de deslocamento da água nas superfícies, durante a precipitação.
Sobre as consequências da alteração do ciclo hidrológico, leia o texto complementar 3.
BOX 3
Há um novo ciclo hidrológico em funcionamento na atmosfera
Sempre foi conhecido e ensinado que o ciclo hidrológico natural é formado pela evapo-
ração da água cujo vapor sobe na atmosfera, se transforma em nuvem e, posteriormente, esta
se converte em chuva cuja água na superfície terrestre volta a se evaporar e a gerar nuvens e
chuva novamente e assim por diante.
O respectivo balanço de massa (água) na superfície terrestre pode ser resumido pela se-
guinte equação matemática que traduz o ciclo hidrológico convencional:
Razão (variação) de acumulação de massa (na água, solo e vegetação) = razão de entrada
de massa nesse sistema (precipitação) – razão de massa que sai desse sistema (evaporação).
Assim, em lugares onde houve maior precipitação (chuva, neve, neblina) e menor eva-
poração durante certo período, aconteceu uma maior acumulação de água e estes lugares se
tornaram mais úmidos. Em lugares onde ocorreu maior evaporação do que precipitação acon-
teceu uma menor acumulação de água e os lugares se tornaram mais secos. Estas razões posi-
tivas ou negativas de acumulação de água em função da evaporação são determinadas pelas
condições dos parâmetros atmosféricos, conforme demonstrado em trabalhos científicos pu-
blicados internacionalmente por este autor.
A equação deste ciclo hidrológico convencional se completa fazendo-se o balanço de
massa em uma camada da atmosfera superior, que é o inverso do anterior, obviamente:
Razão de acumulação de massa (nuvens) = razão de massa que entra nesse sistema (eva-
poração) – razão de massa que sai desse sistema (precipitação).
Mas, há dados e medições de várias regiões do mundo de que as quantidades de nuvens
e chuva têm aumentado ao mesmo tempo em que a evaporação tem diminuído em diver-
sas partes do mundo, principalmente nos últimos 50 anos. Então uma pergunta surge: se não
houve reflorestamento substancial nesses lugares, como poderia menos água evaporada ge-
rar mais nuvens e mais chuva durante um longo tempo em diversos países do mundo? O co-
nhecimento de que em diversas partes do mundo neste mesmo período tem ocorrido uma
atividade industrial mais acentuada e com maiores emissões de gases (sobretudo liberadas
por mais e maiores termoelétricas) bem como outras informações apresentadas abaixo resol-
vem essa questão.
Assim, a solução para esta dúvida é dada através da explicação de que a evaporação não
tem sido a única fonte para a formação das nuvens e as principais causas são as seguintes: a)
as emissões de toneladas e toneladas de partículas sólidas a todo segundo em todo mundo in-
tensificam a formação de nuvens, porque elas são formadas através da agregação de gotas de
vapor d’água condensado em torno de microscópicas partículas de poeira; b) a atmosfera tem
aproximadamente uma quantidade constante de vapor d’água, mas as toneladas e toneladas
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UAB/Unimontes - 4º Período
Referências
BRANCO, S. M. Energia e Meio Ambiente. São Paulo: Moderna, 1989.
DREW, David. Processos interativos Homem – Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
MAGALHÃES, Sandra Célia Muniz. A Expansão Urbana de Montes Claros e suas Implicações na
Ocorrência de Doenças de Veiculação Hídrica. Dissertação (Mestrado). São Paulo: PUCSP, 2009.
NOVION, Hubert de. Sarkarah na Terra das Pirâmides. In: As grandes civilizações desapareci-
das. Portugal: Seleções do Reader’s Digest, 1981.
POPP, José Henrique. Geologia Geral. 5ªed. Rio de Janeiro: Ltc - Livros Técnicos e Científicos, Edi-
tora Sa, 1998.
REBOUÇAS, Aldo da C.; BRAGA, Benedito; TUNDISI, José Galizia. Águas doces no Brasil: capital
ecológico, uso e conservação. 3. ed. São Paulo: Escritura Editora, 2006.
TAHARA, Alexander Klein. SANTIAGO, Danilo Roberto Pereira. TAHARA, Ariany Klein. As ativi-
dades aquáticas associadas ao processo de bem estar e qualidade de vida. Revista Digital,
Buenos Aires, Ano 11, nº 103, dezembro de 2006. Disponível em www.efdportes.com/efd103/ati-
vidades-aquaticas.htm.Acesso em 27 dez. 2009.
TEIXEIRA, Wilson. TOLEDO, M. Cristina Motta. FAIRCHILD, Thomas Rich. TAIOLI, Fabio. Decifrando
a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000.
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Geografia - Hidrografia
TUCCI, C.E.M. Hidrologia: ciência e aplicação. 3 ed. Porto Alegre: Editora UFRGS/ABRH, 2002.
Tundisi, José Galizia. Água no Século XXI: entendendo a escassez. São Paulo: Rima, IIE, 2003.
WALDMAN, Maurício. Recursos hídricos e a rede urbana mundial: dimensões globais da escassez.
In: XIII Encontro Nacional de Geógrafos. João Pessoa - Paraíba, 2002.
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Geografia - Hidrografia
UNIDADE 2
Os rios e as bacias hidrográficas
2.1 Introdução
A água, elemento formador da bacia hidrográfica, não é somente importante como recurso
natural, mas também desempenha um papel essencial, por exemplo, na determinação da produ-
ção agropecuária.
Os rios são, em geral, as principais unidades morfológicas da bacia hidrográfica e interagem di-
retamente com a atmosfera e seu entorno, exibindo um constante intercâmbio de energia e matéria.
A bacia hidrográfica é uma unidade territorial composta por divisores de água, nascentes,
fundos de vale e é definida usualmente como a área na qual ocorre a captação de água (drena-
gem) para um rio principal e seus afluentes. A história do homem sempre esteve muito ligada às
bacias hidrográficas: a bacia do Rio Nilo foi o berço da civilização egípcia; os mesopotâmicos se
abrigaram no valo dos Rios Tigre e Eufrates; os hebreus, na bacia do Rio Jordão; os chineses se
desenvolveram nas margens dos rios Yang – Tse e Huang Ho.
Nesta unidade, discutimos conceitos básicos relacionados aos rios e às bacias hidrográficas,
tendo como referencial a importância dos rios como componente e modelador da paisagem.
Os objetivos desta unidade são:
• Conhecer os conceitos básicos da Geomorfologia Fluvial;
• Identificar as principais formas originadas da deposição dos rios;
• Diferenciar os termos rede de drenagem, bacia hidrográfica e microbacia;
• Enfatizar a importância da bacia hidrográfica como unidade fundamental de gestão dos re-
cursos hídricos.
Esta unidade está dividida nos seguintes tópicos:
2.1 Introdução
2.2 Geomorfologia fluvial
2.2.1 Os rios e o ciclo hidrológico
2.2.2 O fluxo dos rios
2.2.3 O trabalho dos rios
2.2.4 Principais formas originadas pela sedimentação dos rios
2.2.5 Tipos de leitos e canais fluviais
2.2.6 Terraços fluviais
2.3 Bacia de drenagem: repensando o conceito
2.3.1 Classificação das bacias quanto ao escoamento
2.3.2 Padrões de drenagem e hierarquia fluvial
2.3.3 Bacias hidrográficas do Brasil
2.3.4 Bacias hidrográficas de Minas Gerais
Invista tempo nos estudos e leituras e não se esqueça:
“Por vezes, sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no
mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” (Madre Teresa de Calcutá)
21
UAB/Unimontes - 4º Período
A Geomorfologia Fluvial interessa-se pelo estudo dos processos e formas relacionados com
o escoamento dos rios, segundo Christofoletti (1980). É também um dos setores mais dinâmicos
e complexos da geomorfologia, em função de suas particularidades.
Sendo assim, neste tópico abordamos conceitos relativos aos rios e seu papel como elemen-
to modelador da paisagem, pois os rios constituem os agentes mais importantes no transporte
dos materiais que se desagregaram de outras rochas ou do solo de áreas elevadas para as mais
baixas e dos continentes para o mar.
No senso comum, são muitos os sinônimos para rio. Alguns termos tentam fazer diferen-
ciação de tamanho, mas todos dizem respeito a um curso d’água: arroio, ribeira, ribeiro, riacho,
ribeirão, entre outros. Segundo Christofoletti (1980, p. 65), a “denominação rio aplica-se exclusi-
vamente a qualquer fluxo canalizado e, por vezes, é empregado para referir-se a canais destituí-
dos de água”.
O rio funciona como um canal de escoamento por onde flui carregado de sedimentos que
vão erodindo as margens e depositando material. O material transportado também chamado de
detrítico é constituído por sedimentos ou fragmentos desagregados de uma rocha, geralmente
susceptível ao transporte, indo constituir os depósitos sedimentares. Os sedimentos fluviais são
aqueles que após erodirem, atingem os cursos d’água.
Assim, os sedimentos são transportados pelos rios através de três maneiras diferentes: solu-
ção, suspensão e saltação. O transporte em solução envolve o transporte de íons carregados em
solução e o transporte de grãos livres, aqueles grãos que apresentam liberdade de movimento
GLOSSÁRIO em um fluido pouco viscoso. O transporte em suspensão é constituído por partículas mais finas,
mantidas distantes do leito do canal pelo movimento da água (turbulência) e somente se depo-
Rios efluentes: rios
sitam quando a velocidade do fluido diminui. O transporte por saltação depende muito da gravi-
de regiões úmidas que
recebem contribuição dade, que faz com que os sedimentos rolem, saltitem e sejam arrastados pelo fluxo. Por isso, esse
contínua de água do é o modo de transporte das partículas mais graduadas.
subsolo;
Rios influentes: secas
que perdem água para
o subsolo. 2.2.1 Os rios e o ciclo hidrológico
GLOSSÁRIO O escoamento fluvial faz parte do ciclo hidrológico. Os rios são alimentados pelas águas su-
Regime fluvial: Varia- perficiais e subterrâneas em proporções variáveis, que dependem do clima, do tipo de solo, da
ção no nível das águas rocha, da declividade, da cobertura vegetal e outros fatores.
do rio. Os rios se alimentam das águas das chuvas, o denominado escoamento pluvial, e das águas
Montante: Sentido de que infiltram no solo. Uma parte da água dos rios evapora. A outra parte compõe o canal do rio e
vale acima, de lado da é chamada de escoamento fluvial, que diz respeito “à quantidade de água total que alcança o ca-
nascente ou de onde
vêm as águas do rio. nal” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p.65). Esse volume de água do canal do rio pode variar no decorrer
Jusante: No sentido de do tempo em função da quantidade de chuva, das condições de infiltração, da drenagem subter-
rio ou talvegue abaixo rânea, entre outros fatores.
para onde correm as
águas.
2.2.2 O fluxo dos rios
Segundo Christofolet-
ti (1980), o fluxo da água
dos rios pode ser laminar
ou turbulento. É laminar
Figura 8: Fluxo ► quando a água escoa ao
turbulento do Rio longo de um canal reto,
Aiuruoca, Minas suave, a baixas velocida-
Gerais.
des. O fluxo é turbulento
Fonte: Disponível em
http://www.integrami- quando a velocidade da
nas.mg.gov.br/. Acesso água excede um determi-
em 14 jun. 2010. nado limite e é caracteri-
zado por movimentos caó-
ticos, heterogêneos com
muitas correntes secundá-
rias, como pode ser obser-
vado na Figura 8.
22
Geografia - Hidrografia
O fluxo turbulento pode ser classificado como corrente (típico dos cursos fluviais) ou turbu-
lento encachoeirado (como de cachoeiras e corredeiras). No fluxo turbulento, a intensidade da
erosão é maior, pois “a turbulência e a velocidade estão intimamente ligados com o trabalho que
o rio executa: erosão, transporte de deposição dos detritos” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 67).
O trabalho do rio envolve alguns processos, segundo Christofoletti (1980, p. 75), a saber:
• Transporte: sedimentos são transportados de diferentes maneiras: 1) solução: carga dissol-
vida nos cursos d’água; 2) suspensão: partículas de granulometria reduzida, como silte e ar-
gila; e 3) saltação: partículas de granulometria maior como areia e cascalho que deslizam ou
saltam ao longo do leito do rio.
• Erosão Fluvial: realizada por: 1) corrosão (processo químico que se realiza no contato en-
tre a água e as rochas); 2) corrasão (desgaste por atrito mecânico que pode se dar de duas
formas: pela abrasão, observa-se um suave polimento das rochas aflorantes no canal, pela
evorsão observa-se um tipo especial de corrasão originada pelo movimento turbilhonar so-
bre as rochas no fundo do leito do rio); 3) cavitação (quando a água em velocidade elevada
facilita a fragmentação das rochas).
• Deposição: ocorre quando há diminuição da capacidade fluvial. A deposição dá origem a
várias formas.
Ao longo do seu curso e dependendo da força da sua correnteza, o rio vai delineando na
paisagem algumas formas que são originadas do processo de sedimentação (Figura 9), tais como
planície de inundação, diques, cones de dejeção:
• Planície de inundação: são as várzeas, são formadas por materiais depositados no canal ou
fora dele. É a parte inundada pelas águas de transbordamento dos rios.
◄ Figura 9: Planície
Fluvial do Rio Ribeira
do Iguape
Fonte: SANTANA, 2008,
p 132.
23
UAB/Unimontes - 4º Período
• Diques Marginais: são saliências alongadas compostas por sedimentos, bordejando os ca-
nais fluviais.
• Cones de Dejeção: acúmulo de grande quantidade de detritos na base do canal de escoa-
mento.
• Deltas: quando um rio escoa para o mar ou para um lago, depositando uma carga detrítica
maior que a carreada pela erosão, ocorre a formação de deltas. Os deltas apresentam uma
enorme variedade em tamanho, forma, estrutura, composição e gênese, conforme a Figura 10.
• A Figura 11 mostra o delta do rio Nilo. O rio Nilo é o extenso e volumoso curso de água que
nasce em Uganda e cuja foz se localiza no Egito, onde seu delta se configura como umas
regiões do mundo com maior fertilidade do solo, constan-
temente irrigado devido às suas cheias periódicas.
• Bacias de inundação: são as partes mais baixas da
planície; atuam como área de decantação onde os sedi-
mentos mais finos se depositam.
24
Geografia - Hidrografia
Na Figura 14, aparecem vários tipos de terraços de acordo com a forma em que há o aban-
dono da planície de inundação inicial. Uma oscilação climática, que provoca diminuição no dé-
bito do rio, pode dar origem a uma nova planície de inundação. Uma nova fase erosiva sobre o
25
UAB/Unimontes - 4º Período
embasamento rochoso pode formar uma nova planície de inundação em nível mais baixo. O en-
talhamento pode ser resultado também de movimentos tectônicos, que resultam nos chamados
terraços encaixados. (CHRISTOFOLETTI, 1980).
26
Geografia - Hidrografia
DICA
◄ Figura 16: Limite da Consulte o Glossário
bacia hidrográfica Geológico no endereço
Fonte: VIEIRA, 2007, p. 17. http://www.ig.unb.br/
glossario/i ndex.html.
Na Figura 16, observamos os limites da bacia do rio principal, Jacaré, e os seus afluentes. A
área pontilhada é o limite da bacia; as linhas contínuas mostram a rede de drenagem. Concluí-
mos que bacia hidrográfica é diferente, sim, de rede de drenagem. A rede de drenagem (o mes-
mo que rede fluvial ou rede hidrográfica) é composta por todos os rios de uma bacia hidrográfi-
ca. É um dos principais mecanismos de saída da água.
É importante destacar a relação entre a bacia hidrográfica e as vertentes. A vertente
compreende o limite entre o divisor de águas e o talvegue. Christofoletti (1980, p.60) apon-
ta que “as vertentes constituem partes integrantes das bacias hidrográficas e não podem
ser descritas de modo integral sem que se façam considerações a propósito das relações
entre elas e a rede hidrográfica”. O autor acrescenta ainda que “é impossível considerar a
vertente e os rios como entidades separadas”. Na Figura 17, observamos um corte transver-
sal em uma bacia hidrográfica, em que se verifica a delimitação da bacia a partir dos diviso-
res de água (D.A.).
As bacias podem ser classificadas de acordo com o escoamento global, como se observa no
quadro 1.
27
UAB/Unimontes - 4º Período
QUADRO 1
Classificação das bacias de acordo com o escoamento Global
Tipos de drenagem Características Exemplos
Quando as drenagens são internas e O Negro, o Purus, o Paraná, o
Endorreicas
não possuem escoamento para o mar. Iguaçu, o Tietê
Quando o escoamento das águas se As bacias dos rios Amazonas,
Exorreicas faz de modo contínuo até o oceano. São Francisco, Tocantins e
Parnaíba.
Quando não há estruturação em
bacias hidrográficas, como em áreas
Arreicas desérticas, em que devido à baixís-
sima precipitação, os canais não se
estruturam em linhas.
Quando as bacias são subterrâneas,
como nas áreas cársticas. Os rios sur-
Criptorreicas Bacia do Rio Peruaçú.
gem em fontes ou integram-se a rios
subaéreos.
Fonte: Organizado a partir de CHRISTOFOLETTI, 1980.
Na Figura 18, observa-se um aspecto do rio Peruaçu, norte de Minas Gerais, que em muitos
trechos apresenta uma escoamento do tipo criptorreico, típico de regiões cársticas. Nas grutas,
os cursos d’água superficiais são capturados para sistemas integrados de condutos e passam a
atuar como drenos subterrâneos (Geoambiente online, 2006, p.25).
As bacias hidrográficas também se estruturam em diferentes formas. Essas formas são de-
nominadas padrões de drenagem, ou seja, “arranjamento espacial dos cursos fluviais” (CHRISTO-
FOLETTI, 1980, p.103). O padrão de drenagem pode ser influenciado pela natureza das camadas
rochosas, pela declividade e pela evolução geomorfológica da área. Christofoletti (1980) destaca
os tipos básicos de padrões de drenagem, como se vê no quadro 2:
28
Geografia - Hidrografia
QUADRO 2
Padrões de drenagem
Tipo de
Características Ilustração
drenagem
GLOSSÁRIO
Rios principais correndo paralelamente, e Centrífuga: Força que
Treliça afluentes em direção transversal. Há um atua radialmente a par-
controle de um sistema de falhas. tir do centro de rotação
determinado pela partí-
cula no sistema girante,
ou seja, para fora.
Centrípeta: É a força
É uma modificação do sistema de Treliça. resultante que puxa
Retangular Aspecto ortogonal devido a alterações retan- o corpo para o centro
gulares nas correntes fluviais. da trajetória em um
movimento curvilíneo
ou circular.
Quando os cursos escoam quase parale-
lamente uns aos outros. Está associado à pre-
Paralela
sença de vertentes com declividades acentu-
adas. Pode ser subparalelo ou colinear.
(ou da área drenada que lhe pertence) no conjunto total da bacia hidrográfica na qual se encon-
tra” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 106).
A hierarquia fluvial é um conceito de Horton, aprimorado por Strahler, através do qual a or-
denação dos cursos fluviais é definida através da lógica, em que
30
Geografia - Hidrografia
31
UAB/Unimontes - 4º Período
32
Geografia - Hidrografia
Minas Gerais abriga em seu território as nascentes de importantes rios e insere-se em im-
portantes bacias hidrográficas brasileiras. Dentre tantos rios de Minas Gerais, podemos destacar:
São Francisco, Paraná, Jequitinhonha e Doce.
ATIVIDADES
A Figura 22 mostra um mapa com as bacias hidrográficas de Minas Gerais. Quase metade da Leia o texto do Box 4 e
área do estado está inserida na região hidrográfica do Rio São Francisco, que tem em curso um realize com sua turma
projeto de transposição de suas águas (Texto complementar 4). Parte do território do estado está um júri simulado sobre
a Transposição do Rio
inserida na bacia do rio Paraná, da qual é obtida grande parte da energia elétrica no estado. O
São Francisco.
Rio Jequitinhonha é um importante rio que banha a região de mais baixos indicadores sociais do
estado, sendo parte integrante da riqueza cultural dessa região. O rio Doce, por sua vez, abrange
municípios do norte da Zona da Mata, leste da Região Metropolitana de Belo Horizonte e o Vale
do Rio Doce, em que se insere a Região Metropolitana do Vale do Aço.
BOX 4
Transposição do Rio São Francisco
O projeto de transposição do Rio São Francisco é um tema bastante polêmico, pois en-
globa a suposta tentativa de solucionar um problema que há muito afeta as populações do
semiárido brasileiro, a seca; e, ao mesmo tempo, trata-se de um projeto delicado do ponto de
vista ambiental, pois irá afetar um dos rios mais importantes do Brasil, tanto pela sua extensão
e importância na manutenção da biodiversidade, quanto pela sua utilização em transportes e
abastecimento.
O Rio São Francisco nasce na Serra da Canastra em Minas Gerais e, depois de passar por
cinco estados brasileiros e cerca de 2 mil km de extensão, deságua no Oceano Atlântico na
divisa entre Sergipe e Alagoas.
Considerado o “rio da unidade nacional”, o Velho Chico, como também é chamado, passa
por regiões de condições climáticas as mais diversas. Em Minas Gerais, que responde por ape-
nas 37% da sua área total, o São Francisco recebe praticamente todo o seu deflúvio (cerca de
75%) sendo que nas demais regiões por onde passa o clima é seco.
O projeto de transposição do São Francisco surgiu com o argumento de sanar essa de-
ficiência hídrica na região do Semiárido através da transferência de água do rio para abas-
tecimento de açudes e rios menores na região Nordeste, diminuindo a seca no período de
estiagem.
O projeto é antigo, foi concebido em 1985 pelo extinto DNOS – Departamento Nacional
de Obras e Saneamento –, sendo, em 1999, transferido para o Ministério da Integração Na-
cional e acompanhado por vários ministérios desde então, assim como pelo Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco.
33
UAB/Unimontes - 4º Período
Referências
BOTELHO, R. G. M.. SILVA, A S da. Bacia hidrográfica e Qualidade Ambiental. In: Vitte, A. C., Guer-
ra, A J. T. Reflexões sobre a Geografia Física no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
CUNHA, Sandra Baptista da. Bacias Hidrográficas. In: Cunha, S.B. Guerra, A J T. Geomorfologia
do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
GUERRA, Antonio José T.; CUNHA, Sandra B. da (organizadores). Geomorfologia: uma atualiza-
ção de bases e conceitos. 7ª Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Área territorial brasileira, 2009. Disponível em
http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/default_territ_area.shtm. Acesso em 20
out. 2014.
SANTANA, C. L. Geomorfologia da planície fluvial do Rio Ribeira de Iguape entre Sete Bar-
ras e Eldorado (SP): Subsídios ao planejamento físico-territorial de áreas inundáveis, 2008.297 f..
Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Uni-
versidade de São Paulo, São Paulo.
TUCCI, Carlos E.M. Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Editora da UFRGS/ABRH, 2004.
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Geografia - Hidrografia
35
Geografia - Hidrografia
UNIDADE 3
Sistemas lacustres e as águas
subterrâneas
3.1 Introdução
Como vimos na Unidade 2, os rios são corpos d’água essenciais a diversas atividades
humanas. Contudo, a água está disponível sob uma infinidade de formas, tais como lagos e
também em subsuperfície, as chamadas águas subterrâneas.
Os lagos são corpos d’água que não possuem conexão direta com o mar, geralmente suas
águas são estagnadas. Denomina-se água subterrânea aquela porção de água que nem sempre
vemos, mas que é o suporte para a água da qual dependemos. Tanto os lagos como as águas
subterrâneas têm grande importância ecológica, econômica e social, justificando o nosso empe-
nho no seu conhecimento e preservação.
Nesta Unidade, abordamos os principais conceitos relativos aos lagos e às águas subterrâ-
neas. Ela está dividida nos seguintes tópicos:
3.1 Introdução
3.2 Sistemas lacustres
3.2.1 Classificação dos sistemas lacustres
3.2.2 Sistemas lacustres no mundo
3.2.3 Sistemas lacustres no Brasil
3.3 Águas Subterrâneas
3.3.1 Conceituando águas subterrâneas
3.3.2 Origem das águas subterrâneas
3.3.3 Classificação dos aquíferos
3.3.4 Águas subterrâneas no mundo e no Brasil
3.3.5 Qualidade das águas subterrâneas
Os objetivos da Unidade são:
• definir e classificar os sistemas lacustres;
• conhecer os principais sistemas lacustres no mundo e no Brasil;
• definir águas subterrâneas;
• diferenciar e classificar os aquíferos; e
• refletir sobre a importância da manutenção da qualidade das águas subterrâneas.
Ao final da Unidade, esperamos que você tenha clareza dessas duas formas sobre as quais a
água se apresenta, sendo capaz de descrever suas características básicas.
Dedique-se ao seu curso e invista tempo nos estudos. Lembre-se das palavras de Wil-
liam Shakespeare: “As falhas dos homens eternizam-se no bronze. As suas virtudes, escreve-
mos na água”.
37
UAB/Unimontes - 4º Período
Os lagos são corpos d’água interiores que não possuem comunicação direta com o mar, e
suas águas têm em geral baixo teor de íons dissolvidos se comparadas às águas oceânicas. Os
lagos são fenômenos de curta durabilidade na escala geológica, surgindo e desaparecendo no
transcorrer do tempo (ESTEVES, 1988). Por isso, alguns autores consideram que o lago completa
seu ciclo de vida: nasce, cresce, envelhece e morre.
Duas características dos lagos os diferenciam dos rios: baixa taxa de renovação de 02 dissol-
vido na água e elevada estratificação da água em função da profundidade.
Os lagos têm importantes funções para a sociedade, como lazer, além de representar uma
fonte de água para consumo humano em suas diferentes atividades.
• Vulcanismo: qualquer cavidade vulcânica que não possua nenhuma drenagem natural;
no decorrer do tempo acumula água das precipitações atmosféricas e se transforma em um
lago. As formações são a partir de dois processos. (Figura 24)
38
Geografia - Hidrografia
• Dissolução de rochas: estes lagos se formam pela dissolução de rochas calcárias a partir da
ação da água (proveniente da chuva ou lençóis subterrâneos), criando depressões que após
o enchimento dão origem a lagos, que recebem o nome de dolinas (Figura 26).
• Atividade do vento: são lagos originados pela ação do vento (deslocamento de dunas de
areia) (FIG. 28). Geralmente, são lagos temporários que apresentam uma alta tendência a sa-
linização.
• Associados à linha costeira: os lagos costeiros ou lagunas são formadas por diferentes pro-
cessos geológicos que acontecem na região próxima ao litoral. Formam-se, principalmente,
por sedimentos transportados pelas correntes marinhas que no decorrer do tempo isolam a
enseada (Figura 29).
39
UAB/Unimontes - 4º Período
▲ ▲
Figura 28: Lagos de duna Figura 29: Lagos formados por isolamento de
Fonte: SPERLING, 1999. enseadas
Fonte: SPERLING, 1999.
Os lagos também podem ser classificados quanto ao grau de salinidade, podendo ser de
água doce, de água salobra, de água salgada. Como um exemplo de lago de água salgada, pode-
mos citar Salt Lake City, que fica na cidade de mesmo nome, no estado de Utah, Estados Unidos.
Quanto à drenagem, os lagos podem ser classificados como exorreicos ou endorreicos, se o
escoamento for para o mar ou para dentro do continente.
As águas continentais
possuem um volume to-
tal que representa 2,7% da
água do planeta. Boa parte
dessa água está disponível
sob a forma de lagos, que
Figura 30: Lago ►
se apresentam em grandes
Balkhash, visto do extensões caracterizando a
Espaço paisagem de diversos paí-
Fonte: Disponível ses, como mostramos na Ta-
em http://www. bela 2.
joaoleitao.com/via-
gens/2008/04/08/
maiores-lagos-do-mun- Na Figura 30, podemos
do-lagos-com- maior- observar o Lago Balkhash
-volume-de-agua-no-
-planeta//. Acesso em 13 visto do Espaço. Esse lago
out. 2014. cobre 16.996 Km², ocu-
pa uma depressão na Ásia
Central, na zona sul oriental
do Cazaquistão. Tem como
afluentes o rio Ili, Lepsa ou
Karatal. O lago está reduzin-
do por causa do uso exten-
sivo que consome a água
procedente de seus rios tri-
butários.
40
Geografia - Hidrografia
TABELA 2
Os maiores lagos de água doce da Terra
Profundidade
Lago (km2) Volume (km3) Continente
máxima (m)
Superior 82.680 11.600 406 América Norte
Vitoria 69.000 2.700 92 África
Huron 59.800 3.580 299 América Norte
Michigan 58.100 4.680 281 América Norte
Taganica 32.900 18.900 1.435 África
Baikal 31.500 23.000 1.741 Ásia
Nyasa 30.900 7.725 706 África
GreatBear 30.200 1.010 137 América Norte
GreatSlave 27.200 1.070 156 América Norte
Erie 25.700 545 64 América Norte
Winnipeg 24.600 127 19 América Norte
Ontário 19.000 1.710 236 América Norte
Ladoga 17.700 908 230 Europa
Chad 16.600 44,4 12 África
Maracaibo 13.300 - 35 América Sul
TonléSap 10.000 40 12 Ásia
Onega 9.630 295 127 Europa
Rudolf 8.660 - 73 África
Nicarágua 8.430 108 70 América Central
Titicaca 8.110 710 230 América Sul
Athabasca 7.900 110 60 América Norte
Reindeer 6.300 - - América Norte
TungTing 6.000 - 10 Ásia
Vanern 5.550 180 100 Europa
Zaisan 5.510 53 8,5 Ásia
Winnipegosis 5.470 16 12 América Norte
Figura 31: Lagoa
Albert 5.300 64 57 África
Rodrigo de Freitas no
Mweru 5.100 32 15 África Rio de Janeiro
Fonte: REBOUÇAS, BRAGA e TUNDISI, 2002. Fonte: Disponível em
http://www.rentana-
partmentinrio.com/
3.2.3 Sistemas lacustres no Brasil lagoa_rodrigo_de_frei-
tas_foto.jpg. Acesso em
13 out. 2014.
▼
Considerando a dimensão territorial do
Brasil e a sua riqueza hídrica, podemos consi-
derar que a existência de lagos é restrita. No
Brasil, a maioria dos ecossistemas lacustres tem
sua gênese associada à dinâmica de rios (ESTE-
VES, 1988). Desse modo, através de processos
de erosão e sedimentação, foram formados os
principais sistemas lacustres brasileiros. Os la-
gos existentes podem ser agrupados em três
categorias: costeiros, formados pelo fechamen-
to de uma restinga ou cordão arenoso (caso das
lagoas dos Patos, Mirim e Mangueira, no Rio
Grande do Sul; Araruama e Rodrigo de Freitas,
no Rio de Janeiro – Figura 31); fluviais ou de
transbordamento, originados pelo transborda-
mento de cursos fluviais (como o Manacapuru,
no Amazonas; Mandioré e Cáceres, em Mato
Grosso) e lagos mistos (Lagoa Feia, no Rio de Ja-
neiro e Manguaba em Alagoas).
41
UAB/Unimontes - 4º Período
TABELA 3
Alguns lagos brasileiros
Estado Lago Área em Km2
Rio Grande do Sul Patos 9850
Mirim 9850
Mangueira 815
Itapema 120
Rio de Janeiro Feia 328
Araruama 207
Saquarema 36
Camorim 11
Marapendi 03
Rodrigo de Freitas 03
Alagoas Manguaba 57
Mundaú 30
Jequiá 20
Poxim 10
Fonte: GUERRA, (1993).
Na Tabela 3, podemos visualizar alguns dados de lagos do Brasil, como Patos e Mirim no Rio
Grande do Sul, com 9.850 Km2; a famosa lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro, com 3 Km2;
a Manguaba e Mundaú em Alagoas, com 57 e 30 Km2, respectivamente.
BOX 5
Lagos do Rio Doce
No médio Rio Doce em uma área no planalto sudeste do Brasil, conhecida como as “ter-
ras baixas interplanálticas” do médio Rio Doce, encontram-se 150 lagos não conectados com
o Rio Doce, formando, portanto, um verdadeiro sistema lacustre natural. A vegetação original
das bacias hidrográficas era constituída por Mata Atlântica Tropical, presentemente substituí-
da por extensas plantações de Euealyptus sp. A origem deste sistema de acordo com Pflug
(1969), Meis & Moura (1984), Meis& Tundisi (1997), está relacionada com períodos de intensa
precipitação e seca os quais sucessivamente, modelaram a paisagem, produzindo barramen-
tos nos afluentes do Rio Doce, dando origem aos lagos do atual sistema. Fases de deposição e
de erosão de sedimentos formaram ao redor dos lagos colinas côncavas ou convexas as quais
são importantes quantitativamente para o transporte e deposição de sedimentos nos lagos.
Os lagos atualmente representam redes hidrográficas seccionadas. As dimensões variam
desde pequenos lagos com 1-2 km2 até lagos com 28km2 e profundidade de aproximada-
mente 30 metros.
Este sistema foi considerado por Meis & Tundisi (1997) como um paradigma para a com-
preensão de processos geomorfológicos que deram origem a lagos de diferentes profundidades,
morfometrias e dimensões. Estabilidade térmica, de 8 a 9 meses seguida de isotermia, no inverno
(2-3 meses) é devida ao aquecimento e resfriamento térmico, ao efeito das águas de precipitação
que produzem gradientes verticais acentuados de densidade e à ausência de ventos.
Ciclos diurnos de temperatura estudados por Barbosa (1981) mostram a importância
destes processos no controle químico e biológico nos lagos.
O sistema de lagos foi impactado pela remoção da Mata Atlântica Tropical e plantação
de Euealyptussp, pesca intensiva e introdução de espécies exóticas de peixes (CieMaoeeelaris-
tueunaré), remoção de áreas alagadas para uso intensivo em cultivo, construção de estradas e
uso de fertilizantes em plantações. (Tundisi et al., 1997).
Os lagos do rio Doce constituem um importante testemunho da interação Mata Atlântica
Tropical, sistemas aquáticos, e são relictos fundamentais que devem ser preservados. Estudos
intensivos nestes sistemas (Tundisi & Saijo, 1997) demonstram o potencial para a compreen-
são de processos de interações sistema terrestre/sistema lacustre e de mecanismos evoluti-
vos. Estudos recentes sobre palinologia. Dumont & Tundisi, (1997); Spadano, (1998) demons-
traram os efeitos de várias mudanças climáticas no funcionamento dos lagos.
42
Geografia - Hidrografia
Conforme você aprendeu, a água no planeta Terra desenvolve um ciclo denominado ciclo
hidrológico, no qual a água percorre diferentes caminhos. A água proveniente da chuva se infil-
tra nos espaços encontrados no solo e nas rochas até não encontrar mais espaços vazios, quando
começa a se movimentar horizontalmente em direção às áreas de baixa pressão. A água que não
se infiltra no solo escorre para os rios, riachos, ribeirões, mares, oceanos e lagos, podendo ainda
se acumular em forma de gelo.
A ciência que tem o objetivo de estudar as águas subterrâneas, seu movimento, ocorrência,
propriedades, interações com o meio físico e biológico, bem como os impactos das ações dos
seres humanos na qualidade e quantidade nessas águas (poluição, contaminação e superexplo-
tação) é a Hidrogeologia. (MMA, 2007).
Dessa forma, podemos concluir que a água subterrânea é a parcela do ciclo da água que
permanece no subsolo, fluindo de maneira bastante lenta, indo descarregar em corpos d’água
na superfície da terra, interceptadas por raízes de plantas ou extraídas em poços. É de fundamen-
tal importância para o fluxo dos rios, lagos, brejos e para manter a umidade do solo.
Conforme o
Instituto Geológico
Mineiro (2001), as
águas subterrâneas
são encontradas en- ◄ Figura 32: Os
tre os espaços vazios caminhos da água
existentes entre os subterrânea
grãos do solo, rochas Fonte: Instituto Geológi-
e fissuras (rachadu- co Mineiro, 2001.
ras, quebras, descon-
tinuidades e espaços
vazios). Na Figura 32,
podemos observar
todo o caminho per-
corrido pelas águas:
43
UAB/Unimontes - 4º Período
No limite entre as zonas saturadas e não saturada, ocorre o nível freático, que demarca o
contato entre estas, conhecido popularmente como lençol freático. A zona não saturada com-
preende a área onde a água e o ar preenche os espaços vazios entre os grânulos; a zona saturada
é onde a maioria dos espaços vazios é preenchida por água.
De acordo com Rebouças (2006, p. 118), “as águas subterrâneas representam a parcela da hi-
drosfera que ocorre na subsuperfície da terra”. Essas águas têm três origens principais: meteórica,
conata e juvenil.
Meteórica: são as mais importantes por constituírem cerca de 97% dos estoques de água
doce em estado líquido nos continentes e ilhas ( terras emersas). São constituídas pela infiltração
de águas de chuva, neve e neblinas. Essas águas podem ser utilizadas para abastecimento huma-
no, em indústrias e atividades agropecuárias.
Conatas: são águas que estão retidas nos sedimentos desde a formação dos depósitos, sendo,
portanto, chamadas também de águas de formação. Em função disso, possui altos teores salinos.
Origem juvenil: são águas geradas pelos processos magmáticos da Terra. Possui um volume
de água insignificante se comparadas ao volume de águas subterrâneas meteóricas.
b) Porosidade e Permeabilidade
Para a existência de água subterrânea, é necessário que ela atravesse e circule através das
formações geológicas que têm de ser porosas e permeáveis. Uma formação é porosa quando é
formada por grãos que contêm espaços vazios (poros) que podem ser ocupados por água. Ou-
tras formações existentes são as diáclases e fraturas, formadas por material rochoso (Figura 34).
Existem três tipos de aquíferos quanto à permeabilidade:
Aquífero poroso: onde a água circula através de poros do solo e grãos constituintes de ro-
chas sedimentares.
Aquífero cárstico: onde a água circula pelas aberturas ou cavidades causadas pela dissolu-
ção de rochas, principalmente nos calcários.
44
Geografia - Hidrografia
Aquífero fissural: no qual a água circula pelas fraturas, fendas e falhas nas rochas. Nível das
águas nos aquíferos e funções.
• Conforme o Instituto Geológico Mineiro (2001, p. 8), o nível da água nos aquíferos é variável
de acordo com:
• a precipitação ocorrida;
• a extração de água subterrânea;
• os efeitos de maré nos aquíferos costeiros;
• a variação súbita da pressão atmosférica, principalmente no inverno;
• as alterações do regime de escoamento de rios influentes (que recarregam os aquíferos);
• a evapotranspiração, entre outros.
De acordo com Rebouças (2006), os aquíferos podem exercer diferentes funções devido às
suas características e propriedades:
• Produção: Corresponde aos usos múltiplos das águas, ou seja, abastecimento humano, in-
dustrial, agrícola;
• Função Ambiental: Fornecimento de água de qualidade,avaliando os fatores que podem
impactar negativamente o solo/subsolo e as águas subterrâneas;
• Função Transporte: Transporte de água entre zonas de recarga artificial ou natural e áreas de
extração excessiva; DICAS
• Função Estratégica: Gerenciamento integrado das águas superficiais e subterrâneas de áreas Legenda do quadro ao
metropolitanas; lado:
Principais bacias
• Função Filtro: São atuantes como filtros naturais, minimizando os custos de tratamento para higrogeológicas
consumo; com aquíferos altamen-
• Função Energética: Fonte de energia elétrica ou termal; te produtivos
• Função Estocagem e Regularização: armazenamento de água em período de chuva e distri- Área com estrutura
buição em rios e lagos em épocas de estiagem. complexa incluin-
do alguns aquíferos
importantes
3.3.4 Águas Subterrâneas no Área com aquíferos
geralmente
mundo e no Brasil pobres, localmente
coberto por aquíferos
aluvionares
Gelo permanente
Nos últimos anos, as águas subterrâneas Lagos grandes
vêm ganhando importância para usos diver-
sos. Em muitas regiões do mundo, como é
o caso da Europa, Rússia, Norte da África e ◄ Figura 34: Os aquíferos
Oriente Médio, a maior parte da água potável e a permeabilidade
é de origem subterrânea. Na Figura 35, pode- Fonte: Instituto Geológi-
mos observar a distribuição dos recursos hídri- co Mineiro, 2001.
cos subterrâneos do planeta.
Tabela 4
Principais Aquíferos do Mundo
Volume
Área
estimado
Nome Países (milhões
(milhões
/km2)
/m3)
1 Sistema Aquífero do amazonas Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, 3,95 -
(Solimões, Iça, Alter do Chão) Peru, Venezuela
2 Núbia Líbia, Egito, Chad, Sudão 2 75
3 Norte do Sahara Algéria, Líbia e Tunísia 1,03 60
4 Sistema Aquífero Guarani Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai 1.2 37
5 Grande Bacia Artesiana Austrália 1,7 20
6 High Plain China 0,14 5
7 North China Plain China 0,14 5
8 Vecht Alemanha e Holanda 0,38
9 Kalahari/KarooBasin Namíbia, Botswana, África do Sul 0,144 -
10 Índia River Plain Índia e Paquistão 0,560
11 Leste Prússia Rússia, Polônia e Lituânia - -
12 Aquífero Rio Grande Estados Unidos e México 0,108 -
Fonte: UNESCO, 2006.
45
UAB/Unimontes - 4º Período
Na Figura 35, podemos verificar que é grande o potencial de águas subterrâneas no mun-
GLOSSÁRIO do; entretanto, o seu uso intenso, principalmente nas zonas áridas, tende a alterar o quadro de
abundância da atualidade. A Tabela 4 mostra os principais aquíferos no mundo, seus respectivos
Províncias: regiões países, área e volume.
onde os sistemas
aquíferos apresentam Podemos perceber que Colômbia, Equador, Venezuela, Bolívia, Peru, Austrália, Líbia, Algéria
condições semelhantes e Tunísia são países privilegiados em relação às águas subterrâneas.
de armazenamento, O Brasil possui grandes potenciais de águas subterrâneas, tanto na forma de umidade do
circulação e qualidade solo como água que flui no subsolo. De acordo com o Relatório do Plano Nacional de Recursos
de água. Hídricos (2006), há estimativas da existência de pelo menos 400 mil poços no Brasil. Conforme
Rebouças (2006, p. 141), “as reservas de água subterrânea móvel são estimadas em 112 mil Km³,
sendo que cerca de 5 mil m³/hab/ano poderiam ser extraídos de forma racional”.
Na Figura 36, podemos observar as províncias e subprovíncias hidrogeológicas brasileiras,
em que verificamos o grande potencial hídrico do Brasil, principalmente nas Províncias Amazo-
nas, Paraná e Escudo Oriental.
A água, tanto de poços como de fontes, vem sendo bastante utilizada para múltiplos usos,
como abastecimento humano, irrigação, indústria e lazer. Dos domicílios brasileiros, 15,6% utili-
zam exclusivamente a água subterrânea, que representa o principal manancial hídrico de algu-
mas áreas do Brasil, embora seja utilizada como complementar ao superficial em muitas regiões.
Apesar do grande potencial hídrico, temos crise de água. Como afirma Rebouças (2006), a
crise da água é uma crise como outra qualquer, como a da saúde, educação, habitação, entre ou-
tras. Como sabemos, esses problemas são em decorrência da falta de vontade política, que ao
longo da história favorece “o interesse de uns poucos”.
BOX 6
Aquífero Guarani
46
Geografia - Hidrografia
km3/ano. O tempo de renovação de suas águas é de 300 anos, contra 20 mil anos na Grande
Bacia Artesiana da Austrália, por exemplo. As águas são de excelente qualidade para consumo
doméstico, industrial e irrigação e, em função das temperaturas serem superiores a 30°C em
todo o domínio confirmado, vêm sendo muito utilizadas para desenvolvimento de balneários.
Sobre cerca de 70% da área de ocorrência, onde as cotas topográficas são inferiores aos 500
m, há possibilidade de os poços serem jorrantes. O extrativismo é dominante e o desperdício
é flagrante, exigindo medidas urgentes, nos planos nacional e internacional.
Há falta de estudos sistemáticos sobre a qualidade química e bacteriológica das águas sub-
terrâneas no Brasil. As informações são dispersas, se concentrando apenas próximo às capitais.
Avaliando as informações disponíveis, as águas subterrâneas no Brasil, de um modo geral,
são de boa qualidade, possuindo propriedades físico-químicas e bacteriológicas adequadas ao
uso humano e demais usos. No entanto, podem existir algumas restrições de uso por não se
adequar aos parâmetros de potabilidade, como elevada dureza, sólidos totais dissolvidos. Essas
restrições relacionam-se a águas de áreas específicas como regiões com ocorrência de rochas
calcárias (PLANO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS, 2006, p. 62).
Como a maioria dos recursos naturais, as águas subterrâneas também vêm sendo alteradas
pelas atividades antrópicas. Conforme o referido relatório, entre os principais problemas estão:
• a perfuração de poços desprovida de projetos construtivos e em desobediência às normas
técnicas;
• ocorrências localizadas de contaminação em razão da carência de sistemas de saneamento;
• excessivo bombeamento de poços na região costeira, que aumenta a intrusão da cunha
de água do mar, gerando problemas de salinização das águas;
• vazamentos de tanques de armazenamento de combustíveis;
• uso de insumos agrícolas, com grande potencial de contaminação difusa, entre outros pro-
blemas.
O grande potencial de água subterrânea brasileiro, no contexto da globalização, deveria ser
utilizado como estratégia de desenvolvimento, já que, como destaca Rebouças (2006, p. 141), “as
águas subterrâneas representam um insumo econômico mais importante do que o petróleo, na
medida em que a água é um recurso insubstituível”. A água deve ser mais bem estudada, como
também protegida através de Leis específicas, para que seja usada racionalmente evitando a sua
contaminação.
Referências
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GUERRA, Antônio Teixeira. Dicionário geológico-geomorfológico. 3. ed. Rio de. Janeiro: IBGE, 1993.
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Disponível em http://e-eo.ineti.pt/geociencias/edicoes_online/diversos/agua_subterranea/indi-
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UAB/Unimontes - 4º Período
______. GeoBrasil: recursos hídricos: componente da série de relatórios sobre o estado e pers-
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Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Brasília: MMA; ANA, 2007.
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Brasil: capital ecológico, uso e conservação. 2ªedição revisada e ampliada, São Paulo, 2002.
REBOUÇAS, Aldo da C. Água doce no mundo e no Brasil. In: REBOUÇAS, Aldo da C.; BRAGA, Be-
nedito; TUNDISI, José Galizia. Águas doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação. 3. ed.
São Paulo: Escritura Editora,2006.
ROCHA, Gerôncio Albuquerque. O Grande Manancial do Cone Sul. Estudos Avançados 11. USP,
1997.
RODRIGUES, C. ADAMI, Samuel. Técnicas Fundamentais para o estudo de Bacias Hidrográficas. In:
Luis Antônio Bittar Venturi. (Org.). Praticando geografia: técnicas de campo e laboratório. São
Paulo: Oficina de textos, 2005.
TUCCI, Carlos E.M. Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Editorada UFRGS/ABRH, 2004.
UNESCO. El água como fonte de conflictos: repaso de los conflictos em El mundo. In: Oficina
Regional de Ciência e Tecnologia da UNESCO, 2006.http://www.yearofplanetearth.org/ Água
subterrânea - reservatório para um planeta com sede?. Acesso em 14 fev. 2010.
http://www.joaoleitao.com/viagens/2008/04/08/maiores-lagos-do-mundolagos-com-maior-vo-
lume-de-agua-no-planeta/. Acesso em 14 fev. 2010.
48
Geografia - Hidrografia
UNIDADE 4
Gestão dos recursos hídricos
4.1 Introdução
Na Conferência de Mar Del Plata, realizada em 1977, o período de 1981 a 1990 foi declarado
como “A década Internacional do Abastecimento de Água e Saneamento”, época em que foram
estabelecidas metas pelos países membros da Organização das Nações Unidas – ONU de propor-
cionar, até 1990, “[...] abastecimento adequado de água segura e saneamento apropriado para
todos”, uma vez que “[...] todos os povos, quaisquer que sejam seu estágio de desenvolvimento e
suas condições sociais e econômicas, têm direito ao acesso à água potável em quantidade e qua-
lidade à altura de suas necessidades básicas” (HESPANHOL, 2006, p. 269).
Na atualidade, percebemos que os objetivos daquela proposta não foram efetivados, ainda
que leis e tratados tenham sido elaborados no sentido de buscar a Gestão dos Recursos Hídricos
de forma racional e equilibrada garantindo seus múltiplos usos.
Nesta unidade, vamos abordar os conceitos relativos à Gestão dos Recursos Hídricos e suas
implicações no meio ambiente.
Os objetivos dessa unidade são:
• Apresentar a política nacional de recursos hídricos;
• Discutir os principais instrumentos e instâncias para o gerenciamento desses recursos;
• Analisar os principais impactos ambientais relacionados aos recursos hídricos na atualidade.
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes tópicos.
4.1 Introdução
4.2 Conceitos de gestão de recursos hídricos
4.3 Princípios básicos da gestão de recursos hídricos
4.4 Usos da água
4.3.1 Usos múltiplos da água
4.4 Arcabouço legal e institucional na gestão de recursos hídricos
4.4.1 Lei 9.433/97
4.4.2 Instrumentos da política nacional de recursos hídricos
4.5 Classificação das águas quanto à destinação
4.6 O meio ambiente e os recursos hídricos
4.6.1 Poluição das águas
4.6.2 Tipos de poluição
4.6.3 Principais fontes de poluição na atualidade
4.6.4 A água e a saúde humana
Ao final da unidade, esperamos que você seja capaz de identificar os conceitos e princípios
básicos da Gestão de Recursos Hídricos bem como as consequências da poluição da água sobre
a saúde humana.
Não se esqueça: “Perto de muita água, tudo é feliz” (Guimarães Rosa). Estude
bastante. As Autoras.
49
UAB/Unimontes - 4º Período
50
Geografia - Hidrografia
IV- a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o u s o múltiplo das águas;
V- a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Re-
cursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI- a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Po-
der Público, dos usuários e das comunidades.
A gestão de recursos hídricos é composta de três subfunções:
A água era utilizada anteriormente para dessedentação, usos domésticos, criação de ani-
mais e usos agrícolas através da chuva, e muito pouco utilizada para irrigação. Com o desenvol-
vimento das técnicas, aumenta-se também a demanda por outros tipos de uso da água. Desde o
início do Século XX, com o advento da industrialização brasileira, tem início a tradição pelo uso
múltiplo dos Recursos Hídricos, momento em que a economia predominantemente agrícola pas-
sa para a economia industrial (CARRERA-FERNANDES E GARRIDO, 2002).
O uso múltiplo das águas tem a finalidade de evitar ou eliminar os conflitos pelo seu uso.
Dessa forma é reconhecido pela Política Nacional de Recursos Hídricos como um dos princípios
norteadores da Gestão de Recursos Hídricos. Entretanto, é necessário que as principais caracte-
rísticas de cada um dos usos dos Recursos Hídricos sejam conhecidas para estabelecimento das
prioridades e necessidades de cada usuário.
a. Abastecimento humano
Em situação de escassez, o abastecimento humano é um dos usos prioritários dos Recursos
Hídricos de acordo com a Política Nacional de Recursos Hídricos. A demanda de água para esse
uso vai depender de algumas características como a localidade que pode ser em cidades grandes,
médias ou pequenas e a população a ser abastecida. A população a ser abastecida depende de
peculiaridades inerentes a cada comunidade, podendo ser socioeconômica, naturais e tecnológi-
cos. Portanto a demanda vai depender de uma série de características, como o tamanho da popu-
lação, os seus hábitos, das atividades socioeconômicas, da infraestrutura existente para captação
da água, das condições naturais da localidade, grau de reutilização da água, entre outros.
b. Dessedentação animal
A dessedentação animal também faz parte do uso prioritário da água, conforme a Política
Nacional de Recursos Hídricos. A alta demanda para este uso é basicamente determinada pela
atividade pecuária.
c. Abastecimento industrial
São diversas as utilidades da água neste setor, sendo essencial nas atividades industriais.
Dos vários usos podemos citar: a limpeza, como matéria-prima, elemento para produção de va-
por, absorvente de calor, como veículo para o despejo de efluentes líquidos, entre outros.
51
UAB/Unimontes - 4º Período
d. Agricultura irrigada
A agricultura irrigada é o setor que de-
manda maior uso de água no mundo. A quan-
tidade demandada vai depender também de
diversas características como tipo de cultivo e
Figura 38: Distribuição ► período, sistema de irrigação e superfície a ser
do volume total irrigada. Na FIG. 38, vemos a distribuição da
captado por setor água captada por setor.
Fonte: ANEEL, SEIH, 2000. Como pode ser observado no Gráfico da
Figura 38, do total de água utilizada no mun-
do, cerca de 70% são para irrigação, 20% para
consumo industrial e 10% para consumo do-
méstico, podendo ser confirmada a grande
demanda de água para irrigação no mundo.
e. Geração de energia elétrica
A água é um elemento essencial para a
produção de energia hidráulica. Ainda que
esse uso seja considerado não consuntivo, Carrera, Fernandes e Garrido (2002) afirmam que o
aproveitamento hidrelétrico e a operação de plantas termelétricas podem afetar, de forma sig-
nificativa, o regime hídrico de uma bacia ou região hidrográfica. Devido ao grande potencial hí-
drico brasileiro, mais de 90% da geração de energia é de origem hidrelétrica o que dificulta a
Gestão dos Recursos Hídricos.
f. Pesca
A pesca é um dos usos não consuntivos da água e tem a vantagem de ser compatível com
outros usos, além de ser uma atividade importante para a economia, pois gera alimentos, empre-
go, renda e arrecadação de impostos.
g. Piscicultura e aquicultura
Fazem parte dos usos não consuntivos. Do ponto de vista econômico, a piscicultura e a
aquicultura são importantes atividades; entretanto, é fundamental que a água para o desenvolvi-
mento dessa atividade seja de boa qualidade para se obter uma produção adequada.
h. Navegação
A navegação é um importante sistema de circulação pela economia gerada, porém apesar
do grande potencial de navegabilidade dos rios brasileiros, esse meio de transporte é pouco uti-
lizado. A navegação é uma atividade de uso não consuntivo, porém o seu estudo é importante
no sentido de garantir condições de navegabilidade ao curso de água.
Existem ainda outras formas de uso da água como o lançamento, a diluição e o transporte
de efluentes, uso para esporte, lazer e turismo, além das demandas ecológicas. Todos esses usos
são importantes para o desenvolvimento econômico, como também para a melhoria das condi-
ções de vida das populações. Dessa forma, é necessário um gerenciamento apropriado das ba-
cias hidrográficas, no intuito de atender os usos múltiplos das águas, evitando, assim, os conflitos
entre os seus diversos usuários.
Na Figura 39, podemos observar a predominância do uso da água por setor de atividade,
por país.
52
Geografia - Hidrografia
Legenda:
Cor rosa choque: Uso Industrial dominante
Cor roxa: Uso industrial dominante com significativo uso doméstico
Cor rosa claro: Uso industrial e agrícola – igualmente dominantes
Cor azul petróleo: Uso doméstico dominante
Cor azul claro: Uso doméstico e agrícola dominantes
Cor pêssego: Uso agrícola altamente dominante com significativo uso industrial
Cor laranja: Uso agrícola dominante com significativo uso industrial
Cor verde claro: Uso agrícola dominante com significativo uso doméstico
Cor verde escuro: Uso agrícola dominante
Cor cinza: Dados não disponíveis
Podemos verificar que nos países em desenvolvimento há a predominância do uso agrícola,
enquanto na maioria dos países desenvolvidos sobressai-se o uso industrial.
No Brasil, desde os primórdios coloniais, a agricultura e a mineração apresentam-se como
atividades de grande potencial de desenvolvimento econômico. Nessa época, poucos conflitos
de água ocorriam e, quando ocorriam, se limitavam a questões de direitos de vizinhanças e de
empecilhos de navegação nos cursos d’água, que eram resolvidos pelas autoridades através dos
instrumentos vigentes na época.
Art. 109 - A ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as águas que não con-
some, com prejuízo de terceiros.
Art. 110 - Os trabalhos para salubridade das águas serão executados à custa
dos infratores, que, além de responsabilidade criminal, se houver, responderão
pelas perdas e danos que causarem e pelas multas que lhes forem impostas
nos regulamentos administrativos.
Apesar da grande importância do Código das Águas como marco jurídico na Gestão das
Águas, fica claro que muito da sua legislação deixou de ser cumprida, principalmente no que
diz respeito à conservação da qualidade da água. Contudo, mudanças bastante significativas
em relação à gestão das águas ocorreram em 1988, com a Constituição da República Federativa
Brasileira, consistindo em um grande progresso em relação aos dispositivos anteriores, uma vez
que atribui a Gestão das Águas aos domínios da União e dos Estados, forçando-os a incluir em
suas constituições disposições relativas à gestão das águas superficiais e subterrâneas. No en-
tender de Rebouças (2006, p.33), com a descentralização é facultado “aos estados legislar sobre
53
UAB/Unimontes - 4º Período
A seguir, são apontadas as principais atribuições das instituições governamentais que cons-
tituem o SINGREH, segundo o Ministério do Meio Ambiente:
• Conselhos - subsidiar a formulação da Política de Recursos Hídricos e dirimir conflitos
• MMA/SRHU - formular a Política Nacional de Recursos Hídricos e subsidiar a formulação do
Orçamento da União
• ANA - implementar o Sistema Nacional de Recursos Hídricos outorgar e fiscalizar o uso de
recursos hídricos de domínio da União
• Órgão Estadual - outorgar e fiscalizar o uso de recursos hídricos de domínio do Estado
• Comitê de Bacia - decidir sobre o Plano de Recursos Hídricos (quando, quanto e para quê
cobrar pelo uso de recursos hídricos)
• Agência de Água - escritório técnico do comitê de Bacia.
A Lei 9.433/97 estabeleceu novos princípios de organização para a Gestão compartilhada do
uso da água; porém, para o bom andamento da Política, é necessário o apoio de todas as insti-
tuições governamentais descritas acima, bem como de todos os usuários de água representados
através dos Comitês de Bacia Hidrográfica.
No capítulo IV, no seu artigo 5º, a Lei 9.433/97 apresenta como instrumentos da Política Na-
cional de Recursos Hídricos:
I. Os Planos de Recursos Hídricos;
54
Geografia - Hidrografia
C) Outorga
A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos é o instrumento que tem como objetivo
assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água superficiais e subterrâneas e o
efetivo exercício dos direitos de acesso à água. Toda outorga estará condicionada às prioridades
de uso estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos e deverá respeitar a classe em que o corpo
de água estiver enquadrado e a manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário;
deverá, também, preservar o uso múltiplo destes.
55
UAB/Unimontes - 4º Período
Tabela 5
Classes de Usos – (Resolução CONAMA Nº 20 18/06/1986)
Classe
Uso
Especial 1 2 3 4
Abastecimento doméstico x x(a) x(b) x(b)
Preservação do equilíbrio natural das comunida-
x
des aquáticas
Proteção das comunidades aquáticas x x
Recreação de contato primário x x
Irrigação x(c) x(d) x(e)
Criação de espécies natural e/ou intensiva (aqui-
x x
cultura) destinadas à alimentação humana
Dessedentação de animais x
Navegação x
Harmonia paisagística x
Usos menos exigentes x
Fonte: VON SPERLING (1995a)
Notas: (a) após tratamento simples; (b) após tratamento convencional; (c) hortaliças e frutas
rentes ao solo; (d) hortaliças e plantas frutíferas; (e) culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras.
Na Gestão de Recursos Hídricos, costuma-se levar em consideração primordialmente o as-
pecto quantitativo das águas, porém não deve ser dissociado o aspecto quantitativo do qualitati-
vo, já que as águas contaminadas não podem ser consideradas como parte das disponibilidades
para a maioria dos usos. (CARRERA-FERNANDES E GARIDO, 2002).
56
Geografia - Hidrografia
Nas últimas décadas, é perceptível uma maior preocupação acerca dos recursos naturais,
uma vez que estes se apresentam com suas disponibilidades ameaçadas pela escassez, ou pela
deterioração da sua qualidade.
A cultura do desperdício, que ao longo dos anos tem acompanhado a população mundial,
por entender que tais recursos eram infinitos, tem diminuído consideravelmente a quantidade
e a qualidade dos recursos de uso comum essenciais à vida humana. O relatório da Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92) aponta que é imprescin-
dível um melhor gerenciamento desses recursos para que atenda às necessidades do presente,
não comprometendo o uso das gerações futuras.
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida
como Eco 92, Rio 92, Cúpula ou Cimeira da terra, realizada em junho de 1992, com o intuito de
conciliar desenvolvimento socioeconômico com a conservação e proteção dos ecossistemas da
terra, foi um marco nas discussões acerca do meio ambiente. Nessa época, foram estabelecidas
as bases da Agenda 21; e termos como Desenvolvimento Sustentável, Efeito Estufa, Planejamen-
to Ambiental, Mobilização Social, Camada de Ozônio passaram a fazer parte do cotidiano das
pessoas, suscitando discussões e programas no intuito de recuperar os recursos naturais, espe-
cialmente os cursos d’água.
O advento da sociedade urbano-industrial, juntamente com o modelo econômico vigente,
favorece o surgimento de impactos ambientais (Leia o texto no Box 7) que agravam a situação de
degradação dos ecossistemas terrestres, pois trazem novas formas de uso da água e uso e ocu-
pação do solo, aumentando a demanda, os conflitos pelo uso e os choques de interesse pela sua
utilização. Nesse contexto, as transformações nas condições do estado dos recursos ambientais
(água, ar, solo e biodiversidade) têm afetado significativamente a saúde e a qualidade de vida
dos habitantes do planeta (MAGALHÃES, 2009).
BOX 7
Drenagem Urbana
O ciclo hidrológico sofre fortes alterações nas áreas urbanas devido, principalmente, à
alteração da superfície e à canalização do escoamento, aumento de poluição devido à con-
taminação do ar, das superfícies urbanas e do material sólido disposto pela população. Esse
processo apresenta grave impacto nos países em desenvolvimento, onde a urbanização e as
obras de drenagem são realizadas de forma totalmente insustentável, abandonada pelos paí-
ses desenvolvidos já há trinta anos.
Desenvolvimento urbano
O grande desenvolvimento urbano no Brasil ocorreu no final dos anos 1960 até o final
dos anos 1990, quando o país passou de 55 % de população urbana para 76 % (5). Esta con-
centração de população ocorreu principalmente em grandes metrópoles com aumento da
57
UAB/Unimontes - 4º Período
Conclusões
Os prejuízos devidos às inundações na drenagem urbana nas cidades brasileiras têm au-
mentado exponencialmente, reduzindo a qualidade de vida e o valor das propriedades. Este
processo é decorrência da urbanização e a consequente impermeabilização junto com a cana-
lização do escoamento pluvial. As obras e o controle público da drenagem têm sido realizados
por uma visão local e setorizada dos problemas, gerando mais impactos do que os pré-exis-
tentes e desperdiçando os parcos recursos existentes nas cidades. A defasagem técnica dos
profissionais e a falta de regulamentação da transferência de impactos dentro das cidades, o
58
Geografia - Hidrografia
imitado conhecimento dos decisores sobre o assunto são as principais causas dessas perdas. O
aspecto mais sério desse problema é que os órgãos financiadores continuam defasados tecni-
camente e não aceitam os investimentos sustentáveis, além de muitas escolas de engenharia
civil e sanitária ainda ensinarem soluções inadequadas, com graves prejuízos para a população.
Para mudar esse processo é necessária uma nova geração de engenheiros, arquitetos e
projetistas e a atualização da geração existente, para planejar o espaço de forma mais sus-
tentável. Além disso, a legislação de controle é essencial para que os empreendedores sejam
convencidos a adotar as medidas na fonte.
Fonte: TUCCI, Carlos E. M. Drenagem urbana. Cienc. Cult., São Paulo, v. 55, n. 4, Dec. 2003. Disponível em <http://
cienciaecultura.bvs.br/scielo.php>. Acesso em 22 jun.2010.
59
UAB/Unimontes - 4º Período
60
Geografia - Hidrografia
ciais para a proteção do meio ambiente, implicando a melhoria da saúde e mitigação da pobreza.
Consta, ainda, nessa área programática que a estimativa é de que “80 por cento de todas as mo-
léstias e mais de um terço dos óbitos dos países em desenvolvimento sejam causados pelo con-
sumo de água contaminada”. É destacado também que, “[...] em média, até um décimo do tempo
produtivo de cada pessoa se perde devido a doenças relacionadas com a água”. Além do uso da
água imprópria e do mau saneamento acarretarem altos custos à sociedade, ceifando, inclusive,
milhares de vidas, há vários outros entraves.
É visível a total ausência do Estado diante dessa situação, mostrada também em relatórios
desenvolvidos por várias organizações como Organização das Nações Unidas (ONU), Banco
Interamericano de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO), Organização Pan-Americana de Saúde, dentre outros. Esses
relatórios apresentam os dados da dimensão dos problemas que ocorrem no mundo devido à
falta do serviço de saneamento; ainda assim o “mundo” continua indiferente a essa problemática.
Com o objetivo de ratificar a abordagem feita, destacam-se na íntegra alguns dos custos
para o desenvolvimento humano, que constam no Relatório Mundial para o Desenvolvimento
(2006, p. 5-6):
Cerca de 1,8 milhões de mortes de crianças por ano causadas por diarreia
(4.900 mortes por dia), ou seja, uma população menor de cinco anos de dimen-
são equivalente à existente em Nova Iorque e Londres combinadas. Em con-
junto, a água e o mau saneamento constituem a segunda maior causa mundial
de morte infantil. As mortes por diarreia em 2004 foram seis vezes mais nume-
rosas do que a média anual de mortes em conflitos armados nos anos 90. A
perda de 443 milhões de dias escolares por ano devido a doenças relacionadas
com a água. Perto de metade do total de pessoas dos países em desenvolvi-
mento sofrem, em determinada altura, de um problema de saúde causado pela
falta de acesso à água e saneamento. Milhões de mulheres passam várias horas
por dia a recolher água. Ciclos de vida de desfavorecimento afetam milhões de
pessoas, com as doenças e as oportunidades de educação perdidas na infância
resultando em pobreza na vida adulta.
Referências
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Brasília: Câmara dos Deputados; Coordenação de Publicações, 1995.
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cos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso
XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de
1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Disponível em www.ana.gov.
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UAB/Unimontes - 4º Período
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TUCCI, Carlos E.M. Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Editora da UFRGS/ABRH, 2004.
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Geografia - Hidrografia
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www.ana.gov.br.
www.cprm.gov.br.
www.abas.org.br.
www.sg-guarani.org.
www.oas.org/dsd/isarm/ISARM_index.htm.
Reportagem intitulada Planeta Água: com duração de 4h30min, as imagens que chocam
mostram uma região conhecida como Ilha de Deus, em Recife. Alguns moradores não tem água
encanada, e os que têm recebem água que, às vezes, é misturada com esgoto.
Disponível em http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM659742-7823- PLANE-
TA+AGUA,00.html. Acesso em 22 jul. 2010.
Águas do ceará: Acesse o site www.youtube.com e na barra de busca escreva “águas do
Ceará. Com duração de 6h59min, o vídeo aborda as fontes de poluição da água e algumas práti-
cas de conservação, desenvolvidas em comunidades locais para preservar os rios.
Documentário “Uma verdade inconveniente”: Duração: 100min. Cineasta mostra os esfor-
ços de Al Gore a fim de alertar a população mundial em relação ao super-aquecimento global.
No site www.youtube.com.br, o documentário está dividido em partes.
63
Geografia - Hidrografia
Resumo
A Hidrologia é definida como a ciência que trata da água na Terra, sua ocorrência, circulação
e distribuição, suas propriedades físicas e químicas, e sua relação com o meio ambiente, incluin-
do sua relação com as formas vivas.
A Hidrografia, por sua vez, é a ciência que pesquisa e mapeia todas as águas do planeta Ter-
ra. Pode ser entendida como uma ciência que trata da descrição e da medida de todas as exten-
sões de água na terra (oceanos, mares, rios, lagos, reservatórios, etc.), sua ocorrência, circulação e
distribuição, suas propriedades (físicas e químicas) e seus efeitos sobre o meio ambiente e a vida.
A água é um elemento fundamental na diferenciação dos climas em todas as escalas, seja
ela no clima global, em climas regionais ou microclimas: é o fator água que determina o clima.
A água é também um agente geomorfológico, ou seja, atua no ambiente transformando a pai-
sagem através da desagregação e transporte de partículas, estando envolvida nos processos de
deslizamentos, avalanches e outros movimentos que ocorrem nas vertentes.
Apesar da abundância de água no Planeta Terra, a água acessível ao consumo humano direto é
uma fração mínima da existente no mundo que “[...] apresenta os pré-requisitos limnológicos conside-
rados indissociáveis da potabilidade: a água como um líquido puro, insípido, inodoro, incolor”.
Os componentes do ciclo hidrológico podem ser sintetizados nos seguintes processos: Pre-
cipitação; Evaporação; Transpiração; Infiltração; Percolação; Drenagem.
O fluxo dos rios pode ser laminar ou turbulento. É laminar quando a água escoa ao longo
de um canal reto, suave, a baixas velocidades. O fluxo é turbulento quando a velocidade da água
excede um determinado limite e é caracterizado por movimentos caóticos, heterogêneos com
muitas correntes secundárias O trabalho do rio envolve alguns processos, a saber: Transporte,
Erosão Fluvial e Deposição. As principais formas originadas pela sedimentação dos rios: planície
de inundação, diques, cones de dejeção.
Os leitos são os espaços que podem ser ocupados pelo escoamento das águas. Os terraços
fluviais representam antigas planícies de inundação que foram abandonadas. Na paisagem, eles
assumem uma feição de patamares aplainados.
Existem várias hipóteses propostas para explicar a formação dos terraços. Uma delas relacio-
na a existência dos terraços a uma tendência continua do entalhamento fluvial, ou seja, o rio vai
escavando em busca de um equilíbrio. Outra hipótese relaciona a existência do terraço ao equilí-
brio dinâmico dos cursos de água. Observe, na Figura 14, os tipos de terraços fluviais.
Em Geografia, a bacia de drenagem ou bacia hidrográfica é entendida como a “célula básica
de análise ambiental”. “A bacia hidrográfica é uma área de captação natural da água da precipita-
ção que faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, o seu exultório”. Essas dife-
rentes definições permitem perceber que, em muitos estudos, não existe uma definição precisa
de bacia hidrográfica.
As bacias podem ser classificadas de acordo com o escoamento global. Elas podem ser en-
dorreicas, exorreicas, arreicas, e criptorreicas.
As bacias hidrográficas também se estruturam em diferentes formas. Essas formas são de-
nominadas padrões de drenagem, ou seja, “arranjamento espacial dos cursos fluviais”. O padrão
de drenagem pode ser influenciado pela natureza das camadas rochosas, pela declividade e pela
evolução geomorfológica da área.
A hierarquia fluvial é um conceito de Horton aprimorado por Strahler através do qual se
dá a ordenação dos cursos. Dessa forma, os rios podem ser: Rio de 1a ordem: aquele que drena
diretamente a partir da nascente; Rio de 2a ordem: aquele que resulta da junção de dois rios
de 1a ordem; Rio de 3a ordem: aquele que resulta da junção de dois rios de 2a ordem e assim
sucessivamente.
O Brasil tem uma extensão de 8.514.876,599 Km2 (IBGE, 2009), sendo o 5° maior país em
extensão territorial. Possui uma das maiores bacias fluviais do mundo em extensão e volume de
água. Tanta riqueza de água deve-se à distribuição da pluviosidade no território brasileiro, em
que se registram em média valores superiores a 1500 mm anuais.
Os principais rios brasileiros procedem de três grandes centros dispersores: Planalto das
Guianas, Cordilheira dos Andes e Planalto Brasileiro. Os rios são utilizados para produzir energia,
abastecer de água a população e irrigar terras. Como a maioria dos rios é de planalto, o país de-
tém um dos maiores potenciais hidráulicos do mundo (CUNHA, 2001).
65
UAB/Unimontes - 4º Período
Minas Gerais abriga em seu território as nascentes de importantes rios e insere-se em im-
portantes bacias hidrográficas brasileiras. Dentre tantos rios de Minas Gerais, podemos destacar:
São Francisco, Paraná, Jequitinhonha e Doce.
Os lagos são corpos d’água interiores que não possuem comunicação direta com o mar, e
suas águas têm em geral baixo teor de íons dissolvidos se comparadas às águas oceânicas. São
fenômenos de curta durabilidade na escala geológica, surgindo e desaparecendo no transcor-
rer do tempo, por isso, alguns autores consideram que o lago completa seu ciclo de vida: nasce,
cresce, envelhece e morre.
Os lagos têm importantes funções para a sociedade, como o lazer, além de representar
uma fonte de água para consumo humano em suas diferentes atividades. Quanto à sua origem,
pode estar associada à ocorrência de fenômenos de natureza geológica, formando-se a partir de
processos endógenos (originários do interior da crosta terrestre) e exógenos (a partir de causas
exteriores à crosta). Os lagos também podem ser classificados quanto ao grau de salinidade, po-
dendo ser de água doce, de água salobra, de água salgada.
A água subterrânea é considerada a parcela de água que permanece no subsolo, fluindo de
maneira bastante lenta, indo descarregar em corpos d’água na superfície da terra, interceptadas
por raízes de plantas ou extraídas em poços. É de fundamental importância para o fluxo dos rios,
lagos, brejos e para manter a umidade do solo.
As águas subterrâneas são encontradas entre os espaços vazios existentes entre os grãos do
solo, rochas e fissuras (rachaduras, quebras, descontinuidades e espaços vazios).
O Brasil possui grandes potenciais de águas subterrâneas, tanto na forma de umidade do
solo como água que flui no subsolo. Avaliando as informações disponíveis, as águas subterrâneas
no Brasil, em geral, são de boa qualidade, possuindo propriedades físico-químicas e bacterioló-
gicas adequada ao uso humano e demais usos. No entanto, podem existir algumas restrições de
uso por não se adequar aos parâmetros de potabilidade, como elevada dureza, sólidos totais dis-
solvidos. Essas restrições relacionam-se a águas de áreas específicas como regiões com ocorrên-
cia de rochas calcárias.
É essencial que tenhamos ciência da importância da água para a continuidade da vida,
como também conheçamos os artifícios jurídicos para entender a trajetória do gerenciamento
dos recursos hídricos no Brasil e como essas políticas repercutem em escala local. Dessa forma,
apresentamos um breve resumo dessa unidade para melhor entendimento da temática.
A água é um bem essencial à vida e à sociedade; é limitada; face aos seus usos, é escassa na
natureza e, portanto, um bem econômico; e é um bem público. Por todos esses motivos, torna-se
imprescindível uma maior preocupação acerca da sua quantidade e qualidade, devendo o poder
público estruturar um sistema de gerenciamento. Esse sistema deve contemplar a proteção das
fontes naturais, a conservação quantitativa e qualitativa da água e o seu uso racional e justamen-
te distribuído, garantindo os seus múltiplos usos para a população.
Gestão de Recursos Hídricos é a maneira pela qual se almeja equacionar e resolver as ques-
tões de escassez relativa dos recursos hídricos, como também fazer o uso adequado, visando a
otimização dos recursos em benefício da sociedade.
Para que a gestão de recursos hídricos seja efetivada, é fundamental a motivação política,
que possibilitará planejar e controlar os recursos hídricos, fornecendo também os meios para a
implantação de obras e medidas necessárias ao bom andamento dos trabalhos planejados.
A água pode ser vista por diferentes prismas: químico, físico, biológico, teológico, da enge-
nharia, sob a ótica do direito e sob o ponto de vista econômico, dependendo da análise a ser
realizada.
Portanto, podemos concluir que cada indivíduo deve contribuir em suas ações cotidianas
para a preservação da quantidade e qualidade da água, pois implica diretamente no desen-
volvimento da sociedade bem como, num sentindo mais amplo, na manutenção da vida no
planeta Terra.
66
Geografia - Hidrografia
Referências
Básicas
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cos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso
XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março
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69
UAB/Unimontes - 4º Período
Suplementares
CETESB
http://www.sirgh.sp.gov.br/sigrh/basecon/lrh2000/indice_le.htm.
70
Geografia - Hidrografia
Atividades de
Aprendizagem - AA
1) Considere o texto a seguir e analise a charge.
A água constitui aproximadamente 75% dos corpos dos seres vivos. Sendo assim, é indispensável
à vida. A água é um excelente solvente, ajuda a dissolver os alimentos, capta substâncias que to-
mam parte nas reações químicas que ocorrem em nossos corpos, carrega as substâncias pelo seu
corpo e toma parte no controle da temperatura. (...) Fonte: http://educacao.uol.com.br/ciências.
Acesso em 2 set. 2009
Responda: Quais são as principais fontes de poluição da água?
◄ Figura 43:Charge
Fonte: Autoria Desco-
nhecida.
71
UAB/Unimontes - 4º Período
Figura 45: ►
Transposição do São
Francisco
Fonte: Disponível em
http://portalcomu-
nista.blogspot.com.
br/2009/11/transposicao-
-do-rio-sao-francisco.
html. Acesso em 13 out.
2014.
4) Observe a letra da canção, o fragmento de texto e o mapa a seguir, que tratam de assuntos
convergentes:
BOX 9
Sobradinho
O homem chega,
já desfaz a natureza tira gente põe represa, diz que tudo vai mudar. (...)
E, passo a passo,
vai seguindo a profecia do beato que dizia que o sertão ia alagar.
O sertão vai virar mar, dá no coração,
o medo que algum dia o mar também vire sertão.
Adeus Remanso, Casa Nova, Sento Sé,
Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir Debaixo d’água lá se vai a vida inteira, por cima da cachoeira o
Gaiola vai sumir.
Fonte: SÁ E GUARABYRA. Disco Pirão de peixe com pimenta. Som Livre, 1977 (adaptado)
não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado
palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últi-
mos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma crian-
ça, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.
72
Geografia - Hidrografia
Em relação à canção, à narração da obra literária de Euclides da Cunha, uma das mais importan-
tes obras literárias nacionais, e ao mapa retratam, é correto afirmar:
a) ( ) Érico Veríssimo lamenta em sua obra Olhai os lírios do campo o desaparecimento de Sete
Quedas na formação do lago de Itaipu para a construção da usina homônima lembrada na can-
ção.
b) ( ) O excerto refere-se à Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. A personagem e a usi-
na mencionadas na canção são, respectivamente, Antonio Conselheiro e Sobradinho, no rio São
Francisco.
c) ( ) O texto Deus e o Diabo na terra do sol de Gláuber Rocha e a canção fazem a exaltação a An-
tonio Conselheiro e mencionam a usina hidrelétrica de Tucuruí, que cobriu com uma barragem
esse cenário da história no Brasil central.
d) ( ) A personagem mencionada na canção é Antônio Conselheiro e a referência é à usina hi-
drelétrica de Sobradinho, construída sobre o palco de Canudos, cuja saga fora narrada por Eucli-
des da Cunha na obra citada.
e) ( ) A obra Os sertões, de Euclides da Cunha, narra a batalha de Canudos onde outrora fora o
palco daquilo que é hoje a usina hidrelétrica de Paulo Afonso, Bahia, contida na canção de Sá e
Guarabira.
5) Observe as figuras abaixo sobre os tipos de canais fluviais. Identifique e caracterize cada um
dos quatro tipos.
◄ Figura 47:
Tipos de canais
fluviais
Fonte: RICCO-
MINI, C. et. al.
“Rios e Processos
Aluviais” In:
TEIXEIRA, W. et.
al. Decifrando
a Terra. São
Paulo: Oficina
de Textos, 2000.
p. 197.
6) Analise a figura 16, da página 27, e a seguir e responda: o que é bacia hidrográfica?
73
UAB/Unimontes - 4º Período
V - ( ) As transformações nas condições do estado dos recursos ambientais (água, ar, solo e biodi-
versidade) têm afetado significativamente a saúde e a qualidade de vida dos habitantes do planeta.
Portanto, a assertiva CORRETA é:
a) ( ) F, F, F, V, F.
b) ( ) V, F, F, V, V.
c) ( ) V, V, F, V, F.
d) ( ) F, V, F, F, V.
8) Em geral, as águas subterrâneas no Brasil são de boa qualidade possuindo propriedades físi-
co-químicas e bacteriológicas adequadas ao uso humano e demais usos. De outro lado, existem
águas com qualidade inferior. Analise a figura abaixo e, atentando para os principais problemas
que atacam as águas subterrâneas, responda a assertiva CORRETA.
74