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A Primeira
Guerra Mundial
Claudio Passos Calaza1
Objetivos de aprendizagem
Identificar os aspectos gerais, causas, consequências e
legado da Primeira Guerra Mundial.
Seções de estudo
1. Aspectos Gerais
2. O Caminho para a Guerra
3. A Evolução do Conflito
4. Armas e Tecnologias
5. Momentos Decisivos
6. Saldos e Consequências
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O autor é coronel dentista da reserva da Aeronáutica, especialista em História Militar pela
UNISUL e mestre em Ciências Aeroespaciais pela UNIFA.
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1. Aspectos Gerais
Antes de tudo, devemos saber que a Primeira Guerra Mundial foi caracterizada pelos
seguintes aspectos:
Denominada, na época, como Grande Guerra ou Guerra das
Guerras. Até hoje esses termos podem ser empregados para
designar o conflito de 1914 a 1918. Somente depois da
Segunda Guerra Mundial é que a Grande Guerra passou a ser
chamada de Primeira Guerra Mundial.
Foi o primeiro conflito bélico genuinamente global da
história da humanidade. Embora o palco fundamental fosse a
Europa, a guerra se alastrou pelos 5 continentes.
Incialmente contou com 6 países beligerantes, agrupados em
2 blocos antagônicos, mas a guerra acabou por envolver
diretamente 28 atores (países). O Brasil esteve entre esses,
sendo o único país da Ibero-América a participar do conflito.
Soldados franceses
Tratou-se de um choque entre grandes potências, países em
sua maioria industrializados, com grande poderio econômico
e militar.
Incorporou novos armamentos e avanços tecnológicos. Pela
primeira vez na história, uma guerra foi travada na terra, no
mar e no ar. Embora o avião ainda fosse um invento recente,
ele já havia sido testado em pequenos conflitos anteriores,
mas e a Grande Guerra fez ampliar suas capacidades.
A pouca mobilidade foi a marca desse conflito, caracterizado
pelo impasse das trincheiras, mas essa foi uma realidade
marcante da Frente Ocidental. A tática predominante se
baseava no bombardeio maciço pela artilharia, seguido do
avanço pelas ondas da infantaria. Foi o apogeu do poder de
fogo concentrado e acabou por revelar a supremacia da
Trincheira inglesa
defesa sobre a ofensiva.
Foi uma guerra total, a mais destrutiva e mortífera jamais vista. O saldo de mortos
chegou a 19 milhões. Destes, 9 milhões eram militares.
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71
55
1914 1920
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Pax Britannica, "paz
britânica" em latim, copiado
de Pax Romana, é a
expressão utilizada para
descrever o período de paz
sentido com o fim das
Guerras Napoleônicas, que
teve como consequência a
expansão do Império
Britânico.
3 4 A Pax Britannica declinou
com o fim da ordem
estabelecida pelo
Congresso de Viena, após a
Guerra da Crimeia, e a
consequente formação dos
novos Estados-nações da
Itália e da Alemanha, sendo
essa resultante da guerra
franco-prussiana.
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Guilherme I
.
O processo de unificação da Alemanha ocorreu sob o contexto da Guerra Franco-Prussiana. A Otto von Bismarck
formação do Império da Alemanha, ou II Reich, foi feita a partir da união de 4 reinos, 18 grão-
ducados e 3 cidades autônomas. Otto von Bismarck, chanceler da Prússia, foi o artífice da
unificação da Alemanha.
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guerra com um terceiro país, a não ser que a Alemanha atacasse a França, ou
a Rússia atacasse a Áustria. Em seguida, em 1889, Bismarck articulou uma
aliança defensiva com a Áustria, à qual a Itália aderiu em 1892. Formava-se,
assim, a Tríplice Aliança.
A adesão da Itália à aliança entre Alemanha e Áustria foi considerada bastante Alemanha
Áustria-Hungria
suspeita, isto porque os italianos possuíam antigas reivindicações territoriais Itália
com a Áustria. A Tríplice Aliança foi vista como uma forma de dissuadir a
Rússia de sua influência nos Bálcãs em favor dos povos eslavos, enquanto o
Império Otomano continuava a se enfraquecer na região.
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Boa parcela dos domínios coloniais na África e na Ásia estavam nas mãos de
britânicos e franceses, mas persistiam alguns poucos territórios em disputa. O
Sudoeste Africano, atual Namíbia, era pretendido por britânicos e alemães. A
França e o Reino Unido ainda discutiam a posse da ilha de Madagascar.
Partilha colonial da África
O controle da Pérsia (atual Irã), com seus ricos campos de petróleo, era entre franceses e alemães.
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Como resultado, ambas as nações se esforçavam para construir navios de guerra cada vez
mais poderosos. Com o lançamento do HMS Dreadnought em 1906, os britânicos
ampliaram sua vantagem sobre o rival alemão. A corrida armamentista entre a Grã-
Bretanha e a Alemanha, extrapolada ao resto da Europa, fez com que as demais potências
seguissem, dentro de suas possibilidades, políticas armamentistas que entreviam um
futuro conflito pan-europeu.
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Com todo esse clima de tensões e agressividade, uma possível guerra entre as grandes
potências poderia explodir a qualquer momento, e quanto mais tensão havia, mais as
nações se preocupavam com a produção de armas e com o fortalecimento de seus
exércitos e marinhas. Entre 1871 e 1914, quase todas as nações europeias adotaram o
serviço militar obrigatório.
A bomba rolou e não atingiu o carro do arquiduque, mas acabou por explodir próximo a
um dos carros da comitiva, ferindo alguns oficiais austríacos. “É assim que vocês recebem
seus convidados, com bombas! ”, vociferou Francisco Ferdinando ao se encontrar com a
principal autoridade local no prédio da prefeitura. O ilustre visitante não desconfiou que
o alvo era ele próprio.
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O PLANO
SCHLIEFFEN
Tratava-se de um plano
estratégico alemão
Por temer uma possível reação da Rússia, o imperador austríaco Francisco José concebido pelo marechal
(esq.), consultou o kaiser alemão Guilherme II (dir.), que afiançou a aventura bélica Alfred von Schlieffen,
contra a Sérvia. O aval foi orientado pela política do pan-germanismo. chefe do Estado-Maior
alemão, entre 1891 e
Cumprindo as ameaças, em 29 de julho, a Áustria atacou Sérvia. 1906. Pretendia-se com
A agressão foi feita por uma lancha canhoneira, que pelo rio ele resolver uma questão
crucial que preocupava os
Danúbio, bombardeou a capital Belgrado.
militares alemães, a
guerra em duas frentes,
No dia seguinte, em apoio à protegida Sérvia, a Rússia decretou a mobilização com a França no oeste e a
Rússia, no leste.
de seu exército para a fronteira com o Império Austro-Húngaro. Aquilo que
parecia ser apenas mais uma guerra na região começou a se ampliar. A A estratégia concebida por
Schlieffen priorizava
diplomacia parecia estar imóvel ou desinteressada em evitar ao conflito. Os atacar primeiro os
militares tomaram as rédeas da situação e agravaram ainda mais as tensões. franceses, para depois se
voltar contra os russos.
Os alemães, compromissados com o apoio aos austríacos, enviaram um Isto porque a França
ultimato aos russos, exigindo que suspendessem a mobilização. A Rússia nem possuía um exército mais
respondeu e, então, a Alemanha declarou guerra à Rússia. No dia 3 de agosto, ágil, moderno e mais
a França, aliada da Rússia, declarou guerra à Alemanha. próximo. Já a Rússia tinha
um exército de lenta
Para atacar a França, de acordo com o Plano Schlieffen, a Alemanha pediu mobilização e disperso em
permissão à Bélgica para cruzar o território com seu exército. O rei belga uma vasta e distante
fronteira.
Alberto I declarou neutralidade e negou. Então a Alemanha partiu para a
invasão. A Grã Bretanha, até então indecisa, em razão da agressão à neutra Na frente oeste, o
marechal, que antevia
Bélgica, entrou na guerra ao lado da França e da Rússia. uma corrida dos franceses
para retomar a Alsácia-
Lorena, preconizou atacar
a França em um
envolvimento pelo norte,
atravessando a Bélgica e
o Luxemburgo.
Assim, pensava ele que,
em apenas 6 semanas,
atingiria Paris. Com a
França derrotada, os
alemães cuidaria da
guerra no Leste.
O Plano Schlieffen foi concebido para que ocorresse uma rápida e decisiva a vitória sobre a
França. A partir de então, seriam liberadas tropas para a Frente Oriental contra a Rússia. 17
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Seleção de voluntários no
Exército britânico.
Mobilização de soldados alemães (esq.) e ingleses (dir.), que se mostram alegres por
irem à guerra, em agosto de 1914.
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George V
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. AS NOVAS
ALIANÇAS
DURANTE A
GRANDE GUERRA
Ao ser deflagrado o
conflito, as alianças
anteriores entre os países
europeus sofreram um
rearranjo, inclusive em
suas denominações.
POTÊNCIAS
CENTRAIS
Alemanha
Áustria-
Hungria
Império
Otomano
Ilustração da época que exprime a situação de indefinição da Itália perante os dois lados
da Grande Guerra. Bulgária
A entrada do Império Otomano ao lado da Alemanha e da Áustria-Hungria se
deu por diversas razões. Primeiramente, havia um histórico de boas relações
diplomáticas entre alemães e turcos. O kaiser e o sultão compartilhavam ALIADOS ou ENTENTE
projetos estratégicos comuns, como a Ferrovia Berlim-Bagdá. Os militares França
turcos faziam cursos e estágios regulares no Exército alemão. Ambos os
impérios tinham um inimigo em comum: a Rússia. Os turcos haviam sido Grã-
Bretanha
derrotados pelos russos em uma guerra nos Bálcãs, em 1878.
Rússia
Com seu império em decadência, os turcos vinham amargando há tempos o
encolhimento de seu império. Desde o século XIX, a França e a Grã-Bretanha, Sérvia
ao imporem o neocolonialismo, ameaçavam os domínios turcos no Oriente
Médio. Logo, entreviram que, naquele momento, seria estratégico ingressar Bélgica
na guerra ao lado da Alemanha, que era uma potência em ascensão na Europa.
Montenegro
A Alemanha, por sua vez, via a possibilidade de que o Império Otomano
pudesse retomar o Egito e controlar o Canal de Suez, o que traria grandes Japão
prejuízos aos inimigos franceses e britânicos. Os turcos controlavam ainda os
Itália
estreitos de Dardanelos e Bósforo. O fechamento dessas passagens marítimas
aprisionava grande parte da Marinha russa no Mar Negro, impedindo o acesso Portugal
ao Mediterrâneo.
Romênia
Os militares alemães ainda arquitetaram que a Turquia, um país
Estados
majoritariamente islâmico, pudesse promover uma jihad, contra Unidos
o imperialismo britânico na região.
Grécia
Brasil
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3. Frente Balcânica - Causa inicial da Grande Guerra, foi assinalada pela agressão
do Império Austro-Húngaro à Sérvia. Depois envolveu a Bulgária, a Romênia e a
Grécia. Também foi uma frente marcada pela mobilidade dos exércitos;
Húngaro a dividir muito mal suas forças entre as frentes Oriental e Balcânica.
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Os austro-húngaros priorizaram a luta no sul e descuidaram dos russos no norte.
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Assustado com o avanço rápido dos russos no leste, que ameaçavam a Prússia Oriental,
o kaiser Guilherme II deslocou para esse front tropas em apoio aos austro-húngaros. Era
tudo o que os alemães queriam evitar: uma guerra em duas frentes. Mas os competentes
generais germânicos Erich Ludendorff e Paul von Hindenburg, porém, planejaram conter
o rolo compressor russo. Na Batalha de Tannenberg, em 28 de agosto de 1914, os alemães,
mesmo em desvantagem numérica de 2 para 1, massacraram os invasores russos.
À esquerda, os russos surpreenderam os alemães no leste, enquanto, no mapa da direita, concentravam esforços
no oeste para invadir a Bélgica e, depois, a França.
Antes do ataque russo no leste, os alemães já haviam priorizado partir para o ataque
concentrado contra a França, atravessando pela Bélgica. A Frente Ocidental era
prioritária, conforme previa o Plano Schlieffen. Em 4 de agosto, o Exército Alemão
invadiu o Reino da Bélgica, cuja neutralidade foi desrespeitada. O pequeno Exército
Belga lutou bravamente, mas foi derrotado. A fortaleza belga de Liége foi destroçada
pelos superpesados canhões Krupp.
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Dada à surpresa do ataque russo no leste, o Plano Schlieffen acabou por ser
modificado pelo seu executor, o general Von Moltke, sobrinho do legendário
marechal Helmuth Karl von Moltke. O novo comandante manteve o plano
básico, mas reduziu a concentração de forças na coluna direita. Descolou
tropas para a coluna esquerda e ainda enviou contingentes para a Frente
Oriental, pois temia o progresso dos russos. O resultado foi o
enfraquecimento da ala direita. Tais decisões são até hoje discutidas, pois
teriam comprometido o sucesso do plano.
A invasão alemã sobre a Bélgica foi avassaladora e Bruxelas terminou
capturada no dia 20 de agosto de 1914. A recém-chegada Força
Expedicionária Britânica e as divisões francesas bem que tentaram deter o
avanço alemão pela fronteira franco-belga, mas não suportaram a pressão da Gen. Von Moltke, “o
moço”, Chefe do EM do
máquina de guerra germânica e tiveram de recuar em território francês. As Exército Alemão
colunas alemãs avançaram rapidamente França adentro. No fim de setembro,
a vanguarda das tropas alemãs estava a apenas 70 km de Paris.
A ameaça fez com que a sede do governo francês fosse recuada às pressas
para Bordeaux. Tudo fazia parecer que o Plano Schlieffen, apesar de suas
modificações, daria certo e que a vitória alemã seria rápida e decisiva.
Durante 2 dias foram mobilizados cerca de 3 mil carros de praça e, assim, Mal. Joseph Joffre,
comandante do Exército
foram enviados milhares soldados para a frente de batalha do Marne. O da França.
governo pagou integralmente, sem reclamar, o valor registrado por cada
taxímetro.
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Mapa da extensa linha de trincheiras que caracterizou a Frente Ocidental na Primeira Guerra
Mundial.
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Ocorriam quando um ou
ambos os lados
beligerantes estavam
relativamente distantes de
suas bases, ou quando
Uma trincheira típica tinha pouco mais de 2 m de profundidade e cerca de 1,80 m de largura. Na tinham suas tentativas de
frente e atrás, largas fileiras de sacos de areia, com quase 1 m de altura, aumentavam a proteção. ofensivas militares
Havia ainda um degrau de tiro, 0,5 m acima do chão. Ele era usado por sentinelas de vigia e na hora frustradas.
para atirar contra o inimigo.
O dia-a-dia nas trincheiras era horrível. Quando chovia, as valas inundavam. Mal
instalados, os soldados tinham de defender posições, comer e dormir por muitos dias com
uniformes encharcados. Havia lama por todos os lados, às vezes atingindo até o peito. No
inverno era difícil de se aquecer, e muitos morriam congelados. Obstruções e
desabamentos causados pelos bombardeios impediam a chegada de suprimentos, podendo
haver falta de comida e munição. As condições de higiene eram péssimas e, com isso, as
doenças se alastravam, incapacitando ou matando milhares de combatentes.
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Trincheira britânica na Primeira Guerra Mundial. Notar que ao mesmo tempo um soldado
estava pronto para o combate, alguns dormiam, enquanto corpos de companheiros
jaziam na vala.
A luta nas trincheiras era ao mesmo tempo tensa e entediante. Apesar
dos ataques repetidos, nenhum dos lados fazia conquistas significativas.
Os abrigos protegiam a tropa contra as metralhadoras, mas eram pouco Soldados franceses em posições
entrincheiradas.
eficazes contra as grandes explosões de bombas e morteiros. O assédio
da artilharia inimigo era um dos momentos de maior provação, quando
estava presente o medo de ser morto pela concussão da explosão ou
estraçalhado pela chuva de estilhaços de ferro fundido.
Os pesados bombardeios causavam grande destruição, mortes e feridos
na linha de frente. Grande parte dos listados entre os desaparecidos
estava entre os que morriam soterrados nos próprios abrigos. Após os
combates, mortos e feridos permaneciam no local até a noite, quando
as patrulhas de resgate podiam procurá-los com maior segurança. Para
muitos sobreviventes, era tarde demais.
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Desembarque das tropas aliadas em Gallipoli, em 25 de abril de 1915. Essa foi uma das Mapa do Estreito de
campanhas mais custosas e trágicas da guerra. Dardanellos.
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Além da Frente Ocidental, a Frente Alpina também foi marcada pelo impasse
das trincheiras durante 2 anos. Entretanto, nas demais frentes da Grande
Guerra, a mobilidade foi amplamente aproveitada.
A chegada das tropas alemãs, que vieram em socorro dos austríacos, alterou a balança de
poder em favor das Potências Centrais, que assumiram a ofensiva. Em 24 de outubro de
1917, austríacos e alemães, juntos, lançaram um ataque em Caporetto. Essa batalha
terminou em um desastre para o Exército Italiano. Mortes, rendições em massa e um recuo
de 110 km, que quase atingiu Veneza. O avanço austro-germânico só foi detido quando
reforços franceses e britânicos chegaram para acudir os italianos.
No Oriente Médio, os turcos buscaram travar uma luta com os
britânicos pelo controle das rotas marítimas que conduziam o
petróleo extraído do Golfo Pérsico através do Canal de Suez.
Ainda em 1914, soldados indianos do Exército Britânico haviam
tomado o porto de Basra (atual Iraque), vital para o controle dos
campos de petróleo. Outra força britânica partiu do deserto do
Sinai (Egito) para expulsar os turcos do Canal de Suez e controlar
a Palestina.
A ofensiva britânica na região dava poucos resultados, até que um
oficial britânico, o capitão T.E. Lawrence, foi enviado à Península
Arábica para reunir informações sobre os povos árabes que se
insurgiam contra o domínio otomano. Com inteligência cultural e
muita habilidade diplomática, o capitão se notabilizou como
“Lawrence da Arábia” ao conseguir unir as tribos árabes para uma Cap. Thomas Eduard
Lawrence.
bem-sucedida revolta contra os turcos.
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A Ofensiva do Somme foi concebida para ser uma manobra secundária, cujo
objetivo era aliviar o peso das forças alemãs sobre Verdun.
Com mais de 1 milhão de baixas, a Batalha do Somme foi uma das operações
militares mais violentas da história. Considerando os ganhos territoriais foi,
sem dúvidas, uma das mais inúteis. Nunca, na história das guerras, tantos
pereceram por tão pouco.
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4.2 Armamentos
Na indústria, as novas ligas metálicas e a mecânica pesada possibilitaram o aumento de
calibre na artilharia e o reforço na blindagem dos navios de guerra. A artilharia pesada,
até então restrita às fortalezas e às esquadras, ganhou ampla mobilidade, atingindo
rapidamente o front, montada em vagões ferroviários ou rebocada por tratores e carroças.
A artilharia havia vivenciado grande desenvolvimento e projeção
no final do século XIX. Grandes peças de artilharia pareciam ser
determinantes para os exércitos. O canhão mais emblemático na
Grande Guerra foi o poderoso Big Bertha, uma “afetuosa”
homenagem à jovem Bertha Krupp, filha do famoso fabricante de
canhões Krupp. A superpesada peça de artilharia lançava obuses
de 42 cm, capazes de romper quaisquer fortificações.
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A cavalaria do Exército Britânico ainda era armada com espadas, logo abolidas.
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O emprego das armas químicas objetivava não apenas produzir baixas, mas,
acima de tudo, provocar o terror e o pânico na tropa entrincheirada. Era uma
tática para dissolver as linhas de defesas, provocando debandada geral, o
que permitiria o avanço da tropa atacante.
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Inventado pelos britânicos, o Mark I foi o primeiro carro de combate. De todas as armas inventadas durante a
Grande Guerra, foi certamente a mais promissora.
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Em setembro de 1915, surgia o Mark I, que fez a sua estreia durante a Batalha do Somme.
O desempenho foi razoável. Muitos enguiçaram logo na partida e outros terminaram
atolados. Todavia, os alemães ficaram assombrados com o avanço daqueles monstros de
aço jamais vistos. Ao final da missão, dos 32 tanques empregados, apenas um deles
atingiu o objetivo e capturou uma aldeia. Mesmo assim, o alto comando britânico ficou
satisfeito e ordenou o aperfeiçoamento do carro e a construção de mais de mil unidades.
Embora o desfecho da
batalha tenha sido
inconclusivo, devido às
grandes perdas sofridas por
ambas as partes, do ponto
de vista estratégico a vitória
foi dos britânicos, que
continuaram mantendo sua
supremacia naval no Mar do
Norte e no resto do mundo.
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4.6 Guerra no Ar
Aviões já haviam sido empregados em guerras desde 1911. A primazia
do feito coube aos italianos, durante a Guerra da Tripolitânia, contra o
Império Otomano. Contudo, os generais da época, diante de tantas
novidades em armas disponíveis, ainda pouco acreditavam no avião. Os
dirigíveis lhes pareciam mais promissores. Quando estourou a Grande
Guerra, os dois lados logo lançaram mão da aviação, especialmente
para as missões de reconhecimento e observação.
Manfred von Richthofen foi o maior ás da aviação na Grande Guerra ao abater 80 aviões inimigos
durante a Primeira Guerra Mundial.
A partir desse episódio, ficou evidente que a Grã-Bretanha não era mais uma
ilha a ser garantida apenas por sua grandiosa Royal Navy, a mais poderosa
marinha do mundo.
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4.7 Uniformes
A revolução dos métodos no campo de batalha atingiu também as vestimentas
militares. Calça garance (vermelha), capote azul com as abas dobradas, boné
vermelho, faixas de lona envolvendo as pernas e uma mochila pesando 50 kg
era o uniforme padrão do Exército Francês. Assim, eles tornaram-se alvos
fáceis para os alemães nas primeiras batalhas. A França foi o último exército
europeu a abandonar os uniformes com cores berrantes como o vermelho.
5. Momentos Decisivos
Apesar dos muitos impasses na Frente Ocidental e dos erros
iniciais de coordenação entre as Potências Centrais, até 1917, a
Alemanha detinha certa posição de vantagem para sair vencedora.
Com grande capacidade industrial e um eficiente exército, os
alemães batiam os russos no leste. Todavia, a partir daquele ano,
acontecimentos mostraram-se decisivos para os rumos da guerra,
embora os seus efeitos não fossem plenamente sentidos até 1918.
Um fator fundamental para os rumos da guerra foi a eficácia do
bloqueio naval britânico, que começou a causar sério impacto na
O bloqueio naval britânico logrou asfixiar
economia de guerra da Alemanha. Em resposta, em fevereiro de a economia de guerra da Alemanha.
1917, os alemães regiram com a declaração de guerra submarina.
irrestrita, com o objetivo de forçar a Grã-Bretanha a sair da guerra. Os estrategistas
alemães estimaram que a guerra submarina afetaria o comércio e suprimentos dos aliados
da Entente, especialmente para os britânicos, mas isso acabou enfurecendo os Estados
Unidos e tragando-o para o conflito.
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A primeira medida do governo revolucionário no poder foi declarar sua disposição de sair
da guerra. Os alemães ficaram satisfeitos e, como ganhavam a guerra na Frente Oriental,
impuseram condições duríssimas. A Rússia deveria aceitar a independência dos países
bálticos (Lituânia, Estônia e Letônia), da Ucrânia e da Finlândia, e parte do Cáucaso iria
para os turcos. No total, os russos perderiam um terço de sua produção de petróleo e três
quartos de carvão.
Trótski, o chefe da delegação russas, fez
esforços para resistir. Em janeiro de
1918, a Rússia decretou sua saída
unilateral da guerra. Os alemães
aproveitaram a oportunidade e
retomaram o avanço militar sobre a
Ucrânia. Em março, os líderes
comunistas tiveram de assinar um
acordo, o Tratado de Brest-Litovsk, em
que aceitavam todas as exigências do
Alemanha. Oficiais alemães recebem delegação russa para as negociações
em Brest-Litovsk em março de 1918.
Territórios cedidos pela Rússia para a Alemanha, Império Austro-Húngaro e Império Otomano
pelo Tratado de Brest-Litovsk.
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Outro ato de provocação alemã contra os americanos foi o curioso caso do Telegrama
Zimmermann. Arthur Zimmermann era o ministro das Relações Exteriores da Alemanha
que planejou cooptar o México para se juntar à guerra ao lado dos alemães contra os
americanos. O objetivo estratégico era manter os Estados Unidos ocupados em uma frente
com seu vizinho no continente. O diplomata alemão enviou um telegrama secreto com
uma proposta ao governo mexicano.
De certo modo, os alemães tinham alguma razão, pois, apesar de sua grande
capacidade industrial e poder econômico, os Estados Unidos tinham um
exército pequeno e mal equipado para aquela guerra, comparado com as
potências europeias.
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A Ofensiva dos Cem Dias foi o período final da Primeira Guerra Mundial, em
que os Aliados lançaram uma série de investidas contra a Alemanha na
Frente Ocidental, de 8 de agosto de 1918 a 11 de novembro de 1918. A ação
forçou as tropas alemãs a recuarem para trás da Linha Hindenburg,
culminando no Armistício de Compiègne.
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LINHA
HINDENBURG
Foi um vasto sistema de
defesa, ao nordeste da
França, na Primeira Guerra
Mundial, construído pelos
alemães durante o inverno
de 1916 para 1917.
A linha estendia-se de Lens
a Verdun. As fortificações
incluíam bunkers de
A Batalha de Amiens, em agosto de 1918, marcou o início da ofensiva Aliada, resultando concreto e metralhadoras
na derrota da Alemanha e no fim da Primeira Guerra Mundial. fixas, pesadas malhas de
arame farpado, túneis para
Os tanques desempenharam um papel importante no sucesso inicial de tropas, profundas
Amiens. O Exército Alemão, com reservas esgotadas e os ânimos trincheiras, clareiras e
esmorecidos, retirou-se. A 15 de agosto, a Batalha de Amiens foi dada postos de comando.
por terminada e feito o balanço das baixas. Os alemães perderam 30 mil
homens e mais 50 mil feitos prisioneiros. Os Aliados tiveram 22 mil
baixas.
Ao rompimento da posição alemã, deveria ter se seguido o princípio do
aproveitamento do êxito, operação que os Aliados deixaram de executar
por falta de meios logísticos. Mesmo sem a explorar o êxito, a vitória
aliada em Amiens foi considerada devastadora para os alemães.
Ludendorff chamou o 8 de agosto de 1918 de “o dia mais negro do
Exército Alemão”. Por fim, arrematou o general: “A guerra deve
terminar”.
A chegada de mais tropas americanas complicou ainda mais as coisas para o general
Ludendorff. Daí por diante o Exército Alemão entrou em colapso. Em um só dia, perto
de Cambrai, foram feitos cerca de 33 mil prisioneiros alemães. Estava aberto o caminho
para a vitória dos Aliados da Entente sobre as Potências Centrais.
Entre os generais alemães, começavam os rumores de negociação de paz. O Alto
Comando alemão percebeu que a guerra estava perdida e tentou atingir um final
satisfatório. No dia seguinte ao término da Batalha de Amiens, Ludendorff disse: "Não
podemos mais vencer a guerra, mas também não devemos perder."
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Para obter o apoio dos árabes contra os turcos, os britânicos haviam feito
muitas promessas de apoio para a criação de uma grande nação árabe,
que restabeleceria os antigos domínios do califado islâmico do século
VIII. Mas, ao final da guerra, os britânicos traíram sua palavra ao dividir
partes do Império Otomano com os franceses.
Estado Judeu.
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.
ACORDO DE SYKES-PICOT
Por ter consagrado uma era, e consolidado o conceito de acertos coloniais ocultos, Sykes-Picot se tornou um marco em
um período em que potências externas impunham sua vontade, traçavam fronteiras e trocavam governos, em uma
estratégia de dividir e conquistar os povos "nativos" e em um xadrez complexo com os rivais coloniais.
A herança para o Oriente Médio atual é uma variedade de Estados cujos limites foram traçados com pouca atenção aos
aspectos étnicos, tribais, religiosas ou linguísticos. Formados quase sempre por um apanhado de minorias étnicas,
esses países sofrem uma tendência natural à desintegração, a menos que sejam unificados pela mão de ferro de um
líder ou por um governo central poderoso.
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da Entente.
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A lenda da
“Punhalada nas Costas”
Foi uma tese política facciosa da extrema-direita,
levantada no período Entre-Guerras na Alemanha, e que
se manteve até às vésperas da 2ª Guerra Mundial. A
lenda atribuía a derrota na 1ª Guerra ao fracasso do povo
em responder ao "chamado patriótico" e à sabotagem do
esforço de guerra feita pelos políticos, comunistas e
judeus, e não pela incapacidade do Exército de continuar
a guerra, isentando a culpa dos militares pela derrota.
Essa teoria conspiratória, de que houve uma traição arquitetada contra a pátria, tornou-se corriqueira, e a
população alemã passou a se ver como vítima. Da mesma forma, a popularidade da tese foi um testemunho
do sentimento do povo alemão derrotado e uma rejeição da sua responsabilidade pelo conflito. A aceitação
generalizada dessa teoria deslegitimou os governos da República de Weimar e desestabilizou o regime,
abrindo o caminho para ideologias extremistas.
Historicamente, a tese revelou-se importante para a ascensão de Adolf Hitler e para o crescimento do
Partido Nazista, já que muito de sua base política original era de veteranos da Grande Guerra. Muitos deles
cultivavam o discurso da “punhalada nas costas”, pois incluía o renascimento do espírito nacionalista e uma
rejeição da situação da Alemanha no pós-guerra.
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A euforia e a alegria tomou imediatamente conta das trincheiras e das ruas da Europa
e do mundo com a notícia do fim da Grande Guerra.
O novo governo alemão aceitava o programa de 14 pontos proposto pelo
presidente dos Estados Unidos. Tal programa previa a retirada de todos os
territórios ocupados, incluindo os territórios tomados da Rússia. Entretanto,
o fim da guerra seria para os alemães apenas o início de um longo sofrimento.
A Alemanha acabou mergulhando numa guerra civil após o armistício.
Comunistas persistiam em provocar uma revolução. Os sociais-democratas
controlaram o caos interno e fizeram prevalecer suas propostas de estabelecer
uma democracia no país. Contudo, maiores provações atingiriam o povo da
Alemanha com a assinatura do Tratado de Versalhes.
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História Militar Mundial
6. Saldos e Consequências
Nenhuma outra guerra mudou o mapa da Europa de forma tão drástica em tão
pouco tempo. Quatro impérios, muitos seculares, desapareceram após o fim
do conflito: o Alemão, o Austro-Húngaro, o Otomano e o Russo. Com eles, 4
dinastias, respectivamente caíram após a guerra: os Hohenzollern, os
Habsburgos, os Osman e os Romanov. Países como a Bélgica e a Sérvia O GE NOCÍ DI O
foram quase que completamente arrasados pelos anos de ocupação pelo ARM Ê NI O
inimigo, assim como o nordeste da França. Um dos episódios mais
Durante os 4 anos de guerra, foram mobilizados 75 milhões de combatentes. dramáticos e menos
Cerca de 10 milhões morreram, 7 milhões foram incapacitados de maneira conhecidos da Primeira
Guerra Mundial foi o
permanente e 20 milhões ficaram gravemente feridos. Morreram 9 milhões massacre de pelo menos
de civis durante a guerra. A Alemanha perdeu 15,1% de sua população 1,2 milhão de armênios,
masculina ativa, a Áustria-Hungria 17,1% e a França 10,5%. Nesses países, perpetrado pelo Exército
era raro encontrar uma família que não tivesse alguma vítima da guerra, fosse Otomano.
morto, amputado, gaseado ou ficado órfão. Os armênios eram um
povo cristão que vivia no
Os principais países beligerantes registram os seguintes saldos de mortos Cáucaso, entre as
entre seus combatentes: fronteiras dos Impérios
Russo e Otomano.
a. Rússia: ....................... 1,8 milhão;
b. Alemanha:..................... 1,7 milhão; No início da guerra, o czar
Nicolau II havia acenado
c. França2:......................... 1,4 milhão; com o apoio à causa da
d. Império Austro-Húngaro:. 1,2 milhão; autonomia dos armênios
e. Império Britânico3:.............. 900 mil; que viviam sob domínio
f. Itália: ................................450 mil; turco em troca do apoio às
forças da Rússia.
g. Império Otomano: ...............350 mil;
h. Sérvia: ...............................130 mil; Para se vingar de uma
possível infidelidade, o
i. Estados Unidos: ..................120 mil; governo turco, por
j. Bulgária: .............................90 mil; intermédio do ministro
k. Bélgica: ..............................70 mil; Enver Pashá, mandou
executar, escravizar e
l. Portugal: ...............................7 mil. deportar centenas de
O otimismo da Belle Époque foi destruído; e aqueles que lutaram na guerra milhares de armênios.
foram referidos como a "Geração Perdida". O trauma social causado por taxas Outros milhares morreram
sem precedentes de vítimas manifestou-se de maneiras diferentes, que foram ainda de fome e doenças
na marcha forçada até a
objeto de um debate histórico. Durante anos depois, as pessoas lamentavam Síria. Tudo para impedi-los
os mortos, os desaparecidos e os muitos deficientes físicos causados pelo ou puni-los por um
conflito. A guerra produziu uma legião de milhares de amputados e inválidos. eventual apoio aos russos.
Muitos soldados retornaram com traumas psicológicos graves, só hoje As vítimas do genocídio
armênio são até hoje
diagnosticados. O principal problema foi o Transtorno de Estresse Pós- negadas pelo governo da
Traumático (TEPT), que incluía flashbacks do combate, paranoia constante e Turquia e quase sempre
a incapacidade de conviver e interagir no ambiente familiar, no trabalho e na são omitidas pelas
sociedade. estatísticas de mortos da
guerra.
2
Inclui Senegal, Marrocos, Argélia e Tunísia.
3
Inclui Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Índia e África do Sul.
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decisões mundiais. Ele defende o direito de autodeterminação das nações na Em setembro de 1939, Adolf
definição das novas fronteiras. O líder americano visita as áreas atingidas pela Hitler desencadeou a
Segunda Guerra Mundial.
guerra no nordeste da França e comove-se com a destruição material e com o
A Liga das Nações, tendo
sofrimento humano. Alguma coisa precisava ser feita para que aquilo não se fracassado em manter a paz
repetisse em um novo mundo. no mundo, foi dissolvida.
Estava extinta por volta de
1942.
O presidente dos Estados Unidos e os líderes da França e Grã-
Bretanha decidem pela criação de um organismo internacional Porém, em 18 de abril de
1946, o organismo passou as
para evitar guerra futuras. Chamam-lhe Sociedade das Nações.
responsabilidades à recém-
criada Organização das
Nações Unidas, a ONU.
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Tratado de Versalhes.
Líderes das potências vencedoras na Conferência da Paz de Paris, em maio de 1919.
Da esquerda para a direita: David Lloyd George, do Reino Unidos; Vittorio Orlando, da
Itália; Georges Clemenceau, da França; e Woodrow Wilson, dos Estados Unidos.
A discussão prosseguiu, até que atingiu a questão financeira das dívidas acumuladas pela
guerra. Isso levou o presidente Wilson a rever seu idealismo. Os quatro líderes não
pretendiam, inicialmente, imputar a culpa pela guerra à Alemanha, mas quando
constataram o quanto a guerra tinha custado e o quanto ainda gastariam na reconstrução,
procuraram alguém para pagar a conta.
A França já devia bilhões para ingleses e americanos. Os ingleses, também
em dificuldades, não podiam perdoar a dívida francesa, bem como os
americanos não podiam. Wilson até queria tratar a Alemanha razoavelmente,
mas, na posição de presidente de principal credora da Entente, ele teve de
defender garantias mínimas para que os empréstimos fossem pagos. Ao final,
o líder americano tornou-se um adepto das cláusulas indenizatórias.
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Admitida a culpa, a Alemanha seria obrigada a pagar uma pesada reparação aos
vencedores, especialmente à França. A indenização foi calculada em 132 milhões de
marcos-ouro, ou 31,5 bilhões de dólares da época. Era tanto dinheiro que a Alemanha
continuaria a pagar até o ano de 1961, segundo os cálculos de amortizações feitos na
época.
Lloyd George,
primeiro-ministro do Reino
Unido. No final ele achou
Cartoon da época ironizava a cláusula de culpa da guerra imposta à Alemanha. que o tratado ficou pesado
demais.
O Tratado foi muito criticado na época. Até o premier Lloyd George
preocupou-se dizendo que, infelizmente, os Aliados tinham ido longe demais.
Um dos membros da delegação britânica, o renomado economista John
Maynard Keynes, foi abertamente crítico. Ele percebeu que, forçando a
Alemanha a pagar reparações, poderia arruinar toda a Europa política e
economicamente. Após o evento ele protestou:
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Isso dificultou a recuperação econômica do país e gerou a revolta dos operários alemães.
Altamente endividado com as nações vencedoras, o governo alemão apelou para a
emissão desenfreada de moeda para se financiar. A inflação disparou. Em outubro de
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1923, o aumento de preços chegou ao ápice, atingindo a taxa de 29,5 mil por cento ao
mês, ou 20,9% ao dia. A inflação fazia com que as mercadorias dobrassem de valor a
cada 3,7 dias. As donas de casa precisavam levar um carrinho de mão cheio de cédulas
para comprar alguns poucos quilos de batata.
A crise econômica de 1929 seria o golpe final sobre a recuperação
das economias da Alemanha e de outros países. Na Hungria, na
Iugoslávia ou na Romênia, a democracia imposta não trouxe a
prosperidade que se esperava depois do fim da guerra. Mesmo um
país vencedor como a Itália, reclamava do que considerava serem
pequenas compensações por seu esforço na Grande Guerra. Por toda
parte, surgiam movimentos políticos extremistas.
Adolf Hitler se refere ao Tratado de Paz de Paris de 1919 como o “Diktat von
Versailles”. Uma de suas propostas é rejeitar definitivamente o tratado que
tantas provações e humilhações trazia ao povo da Alemanha.
Ludendorff e Hitler em
1920.
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6.4 Em resumo
Podemos identificar as seguintes consequências do conflito:
19 milhões de mortes e 20 milhões de deficientes;
Alterações no mapa político da Europa e de suas colônias – foram traçadas novas
fronteiras, nem sempre respeitando o princípio de autodeterminação dos diversos
povos e suas culturas;
Derrubada de tradicionais monarquias autocráticas da Europa na Rússia,
Alemanha, Áustria-Hungria e Turquia;
O Império Austro-Húngaro é desmembrado e perde territórios para seus vizinhos
vencedores. A Hungria se separa da Áustria. Surgem novos países: Finlândia,
Letônia, Lituânia, Estônia, Polônia, Tchecoslováquia e Iugoslávia;
Inglaterra e França preservam seus domínios coloniais e ainda partilham as
colônias da Alemanha e os territórios do Império Otomano;
A França retomou a Alsácia-Lorena da Alemanha. Esta última ainda perdeu
territórios para a formação da Polônia e da Tchecoslováquia. Dinamarca e Bélgica
também conquistaram pequenas partes da Alemanha;
A Itália conquistou os desejados territórios de população de fala italiana do
desfeito Império Austro-Húngaro (Trieste e Trento). O Japão amealhou algumas
colônias alemãs na Ásia (na China e algumas ilhas no Pacífico). Todavia, Japão e
Itália saíram insatisfeitos por essa partilha imposta pelos principais vencedores;
A Europa perde sua posição de hegemonia mundial para os Estados Unidos, que
se projeta como nova potência econômica e militar;
A partir de Revolução Bolchevique, de novembro de 1917, na Rússia, foi
implantado o primeiro regime comunista. Algum tempo depois, a revolução se
expande pelos antigos domínios do império czarista e dá origem à União
Soviética;
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Dicas de estudo
BRENER, Jayme. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo Curitiba: Editora CRV.
2013.
GILBERT, Adrian. A enciclopédia das guerras: conflitos mundiais através dos tempos.
São Paulo: M. Books, 2005.
GILBERT, Martin. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Casa da Palavra, 2017.
HILLS, Ken. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Ática, 1992.
RODRIGUES, Luiz Cesar. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Atual, 1994.
SONDHAUS, Lawrence. A Primeira guerra mundial: história completa. São Paulo:
Editora Contexto, 2013.
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