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História Militar Mundial

ACADEMIA DA FORÇA AÉREA


DISCIPLINA DE HISTÓRIA MILITAR MUNDIAL

A Segunda
Guerra Mundial

Claudio Passos Calaza1

Soldados da infantaria do Exército da Alemanha durante a invasão da União Soviética, em 1941.

1 O autor é coronel dentista da reserva da Aeronáutica, especialista em História Militar pela UNISUL e
mestre em Ciências Aeroespaciais pela UNIFA.

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Para início de conversa


A Segunda Guerra Mundial permance o mais violento e devastador conflito na história
da humanidade. O que começou como uma disputa essencialmente regional, em 1939,
converteu-se em uma guerra global que culminou com o emprego de armas nucleares
sobre o Japão, em 1945. Estima-se que mais de 60 milhões de pessoas foram
mortas na guerra, dois terços delas eram civis. Além disso, o conflito
ideológico entre o Eixo e os Aliados ajudou a dar ao conflito seu caráter
particularmente violento.
A dimensão das baixas refletiu não somente a extensão e a natureza da
guerra, mas também as armas utilizadas. A luta terrestre envolveu poucas
armas que já não tinham sido usadas na Primeira Guerra Mundial, mas elas
se tornaram muito mais efetivas e mortais na guerra subsequente. O poder e
a confiabilidade do motor de combustão interna aumentaram muito,
possibilitando o surgimento de carros de combate velozes, bem armados e
blindados.
A artilharia, conforme a guerra progrediu, também se tornou muito mais móvel e
efetiva. No final da guerra, a infantaria tinha seus próprios veículos mecânicos para o
traslado de tropas, o que lhe proporcionava uma certa proteção e aumentava a
mobilidade. Em agudo contraste com as frentes estagnadas pelas trincheiras da guerra
de 1914-1918, a Segunda Guerra Mundial testemunhou um renascimento do
movimento no campo de batalha. E esse movimento, combinado com o poder de fogo,
tornou-se a pedra angular para o sucesso militar.
Nos mares, o encouraçado, embora ainda importante, cedeu lugar a duas embarcações
cujo campo de ação ficava acima e abaixo da superfície: o porta-aviões e o submarino.
A era dos navios de guerra que se arrastavam e trocavam tiros à vista uns dos outros
chegava ao fim. As batalhas navais passaram a ser travadas sem que as armadas rivais
se encontrassem frente a frente, já que aviões podiam atacar alvos na superfície
marítima a quilômetros de distância de suas bases. Submarinos foram usados por
ambos os lados, mas a Alemanha alcançou grande efeito ao destruir milhares de navios
mercantes que supriam os Aliados europeus.
A maior mudança na condução da guerra ocorreu no ar. O acelerado avanço tecnológico
foi crucial para o desenvolvimento de aviões altamente eficazes para caça, bombardeio
e transporte. Como consequência, cidades inteiras foram arruinadas por poderosas
frotas aéreas. Pela primeira vez, tropas terrestres podiam precipitar-se do ar sobre o
campo de batalha, usando planadores ou paraquedas. Em 1944, o avião a jato estreou
na guerra aérea, sendo empregado pela Alemanha nos momentos finais do conflito,
quando sua derrota já era iminente. O helicóptero, que havia completado seu
desenvolvimento recentemente, foi empregado pelos americanos de forma inédita em
uma missão de resgate de tripulantes ocorrida na Birmânia naquele mesmo ano.
Por fim, a Segunda Guerra Mundial transformou o mundo, assinalando o declínio da
Europa e a emergência dos Estados Unidos e da União Soviética como superpotências,
que passaram a dominar o cenário mundial. As disputas estratégicas resultaram no
período denominado de Guerra Fria, que estabeleceu uma nova ordem geopolítica
global bipolar.

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1. Aspectos Gerais
A Segunda Guerra Mundial foi caracterizada pelos seguintes aspectos:
 Estendeu-se por exatos seis anos. Começou oficialmente na
Europa com a invasão da Polônia, em 1ª de setembro de 1939.
Terminou na Ásia, com a rendição do Japão em 2 de setembro
de 1945.
 Foi o maior conflito da história da humanidade, devido à sua
extensão, atores envolvidos e número de vítimas. Muito mais
devastadora e mortífera que a Primeira Guerra Mundial, teve
o saldo estimado em 60 milhões de mortos.
 Mais abrangente que a Grande Guerra (1914-1918) envolveu
diretamente 55 atores (países) nos cinco continentes. Assim
como aquela, foi uma guerra global, mas com dois teatros de
operações de operações bastante distintos: Europa e Pacífico.
Na Europa, os Aliados combateram a Alemanha e a Itália, no
Pacífico a guerra deu-se contra o Japão.
 Foi também uma guerra total, pois todos os beligerantes
empregaram todos os seus recursos bélicos, econômicos e
humanos para derrotar seus inimigos, sem limitações. Foram
mobilizados mais abrangente de de 100 milhões de militares
em todo o mundo. O resultado foi um grau de destruição sem
precedentes na história da humanidade.
 Tratou-se de uma reedição do choque de grandes potências
agrupadas em 2 blocos antagônicos: EIXO versus ALIADOS.
Alguns historiadores defendem até que foi a continuação da
Grande Guerra, após uma trégua de 21 anos. Todavia, essa
teoria se baseia apenas na posição da Alemanha que pretendeu
uma revanche na Europa.
 Matou muitos mais civis que combatentes. Marcada por crimes contra a
humanidade: bombardeios indiscriminados contra alvos civis e o genocídio de
grupos étnicos e nacionais. Nesse aspecto, evidenciou-se o Holocausto do povo
judeu, perpetrado sistematicamente pelo regime da Alemanha nazista. Todavia, o
Japão cometeu atrocidades em proporções talvez até maiores, especialmente contra
o povo chinês.

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 Os países do Eixo assumiram a posição de nações agressoras,


mediante seus projetos expansionistas de pretensões
ilimitadas e submissão absoluta de seus adversários. A
Alemanha almejava se vingar da derrota na Grande Guerra e
conquistar o Lebensraum, conceito geopolítico de espaço vital
para sua grande nação germânica. O Império do Japão lançou-
se ao expansionismo no Oceano Pacífico, invadindo diversos
países e colônias. Apesar de poucos reconhecerem, a Itália
fascista também tinha seu projeto expansionista na região do
Mar Mediterrâneo, buscando a reeditar a glória do Império
Romano.
 Por sua vez, os Aliados, adotaram uma posição intransigente
de não negociar com os países do Eixo. Essa postura foi
formalmente definida a partir da Conferência de Casablanca
(Jan 43), quando os líderes aliados acordaram a decisão
política uníssona de promover a guerra até derrota final das
potências do Eixo com imposição da rendição incondicional.
 Diferente da Primeira Guerra, foi um conflito de amplos e
rápidos movimentos ofensivos, estabelecendo o apogeu da
doutrina militar ofensiva. Esse aspecto foi evidente pelo
surgimento da blitzkrieg, empregada com sucesso pela
Alemanha nos momentos iniciais da guerra.
 O poder aéreo tornou-se decisivo e o avião foi considerado um
vetor imprescindível para o sucesso militar. A blitzkrieg
empreendida pelos alemães se valia do componente aéreo. Pela
primeira vez na história, os rumos de um grande conflito foram
decididos pelo poder aéreo. A Batalha da Grã-Bretanha, um
grande confronto entre duas forças aéreas, representou o
primeiro revés da, até então imbatível, Alemanha. O domínio
do ar passou a ser fundamental por si só, bem como no suporte
para as operações terrestres e navais. A maior de todas a guerras
terminou com duas bombas atômicas, lançadas por aviões B-29
sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.

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2. Origens da Guerra
A Segunda Guerra Mundial decorreu de uma conjunção de fatores históricos, políticos e
econômicos, dentre os quais podemos identificar como mais relevantes:
1. A ascensão de regimes totalitários.
2. O expansionismo imperialista.
3. O nacionalismo militarista.
4. Fracasso da Liga das Nações.
5. O Tratado de Versalhes.
A conjuntura mundial das décadas de 1920 e 1930 favoreceu a ascensão de regimes
totalitários, especialmente na Alemanha, na Itália e no Japão. Aspirações expansionistas de
construção de grandes impérios, fermentadas pelo nacionalismo radical fez com que seus
líderes buscassem crescente aumento do poderio militar. Nasceu, assim, um clima de
tensões internacionais que favoreceu as ações belicistas.

Outro fator importante a considerar foi o fracasso da Liga das Nações, um


organismo internacional criado ao final da Primeira Guerra Mundial para
assegurar a paz mundial.

A Liga das Nações fracassou por defeitos de origem. Não dispunha de um poder executivo
forte. Apesar do idealizador ter sido um presidente americano, os Estados Unidos não
ingressaram na organização porque o Congresso não ratificou o tratado de criação. O
governo de Moscou só foi admitido em 1934. Mesmo nos melhores tempos, o número de
membros não passou de 50. Incapaz de resolver os conflitos internacionais, a organização
acabou esvaziada por expulsão ou retirada voluntária de vários de seus membros.
Quanto às raízes históricas, essas
não eram longínquas, pois
situavam, em grande parte, no
final da Primeira Guerra
Mundial. O Tratado de
Versalhes, de 1919, que rematou
a derrota da Alemanha causou
profunda humilhação nacional.
As cláusulas punitivas foram
como sal nas feridas da nação.
A grande potência industrial vencida teve que entregar suas colônias ultramarinas, perdeu
15% de seu território para países vizinhos e suas forças armadas foram desmanteladas,
suprimidas a um exército de 100 mil homens. A Alemanha foi ainda condenada a pagar
pesadas reparações de guerra aos vencedores, o que causou sérios problemas econômicos.

O Tratado de Versalhes julgou a Alemanha integralmente culpada pela Grande


Guerra de 1914 a 1918. O povo alemão se sentia ultrajado.

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2.1 Ascenção do Nazismo na Alemanha


Esse espírito de inconformismo nacional foi habilmente explorado pelo extremista Adolf
Hitler, líder do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, conhecido como
Partido Nazista. No fervente ambiente político-econômico da Alemanha do pós-guerra,
Hitler emergiu como um orador de notável poder de persuasão, que atraia a admiração dos
amargurados veteranos e operários descontentes com a situação do país. Depois da
hiperinflação de 1923, os efeitos da Crise de 1929 atingiram em cheio a Alemanha,
agravando ainda mais a situação econômica. Os nazistas defendiam a intervenção do Estado
em todas os setores para gerar empregos e impulsionar a economia. O novo líder conquistou
rapidamente uma multidão de seguidores, sendo visto como um “salvador da pátria”, pois
prometia resgatar a grandiosidade do império e o orgulho do povo germânico.

Em seu discurso, Adolf Hitler pregava o ódio aos judeus, a quem culpava por
todos os males da nação. Sua ideologia racista preconizava a superioridade da
raça ariana. O nazismo, apesar das muitas semelhanças, opunha-se
ferozmente ao comunismo a quem prometia aniquilar.

Conforme exposto em sua obra Mein Kampf, o


líder nazista defendia o conceito geopolítico de
Lebensraum (em alemão: Espaço Vital). Pregava
que a grandiosa nação alemã precisava expandir-se
para as terras do Leste, a fim de ampliar seus
recursos econômicos e garantir maior espaço para
sua população. Isso significava que Alemanha
deveria conquistar territórios dos países da Europa
oriental, especialmente a Rússia, subjugando os
povos eslavos que lá viviam, os quais considerava
inferiores. Assim, o líder nazista também prometia
extirpar do mundo a praga do regime comunista
soviético.
Em 1933, o Partido Nazista chegou ao poder
mediante eleições democráticas. Hitler foi
nomeado chanceler, assumindo a chefia do Adolf Hitler em discurso, no ano de 1930.
governo. Os primeiros anos de governo nazista foi considerado um sucesso pelo povo
alemão. Hitler suspendeu imediatamente o pagamento das indenizações de guerra, com isso
obteve recursos de sobra para fazer investimentos em obras de infraestrutura, aquecendo
rapidamente a economia. Ao mesmo tempo, os nazistas aproveitaram a popularidade para
solapar as instituições democráticas alemãs e a consolidar seu próprio poder de forma
totalitária.
O prédio do Reichstag (Parlamento alemão) foi incendiado e os comunistas foram
apontados como culpados. O episódio serviu para que Hitler conquistasse poderes para
governar por decreto e suspender as liberdades civis. Os partidos de oposição foram
suprimidos e a perseguição aos judeus foi oficializada. Em outubro, a Alemanha retirou-se
Liga das Nações. Em 1934, com a morte do presidente, o velho marechal Paul von
Hindenburg, Hitler assumiu também a chefia de Estado se declarando o “Füher” (em
alemão: o líder). A ditadura do Partido Nazista estava totalmente estabelecida.

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Aos poucos, o líder nazista foi violando as diversas proibições do Tratado de Versalhes.
Testando a tolerância dos vencedores, Hitler impulsionou a indústria bélica e violou
acintosamente as cláusulas do Tratado ao reconstruir as Forças Armadas. Naquele
momento, britânicos e franceses pareciam admitir que as punições sobre o povo alemão
tinham sido severas demais. Afrontando os antigos inimigos da Alemanha, o governo
nazista começou a rearmar-se, concentrando recursos na produção e no desenvolvimento
de tanques, aviões e submarinos.

Em 1935, Hitler anunciou ao mundo a criação da Luftwaffe, a Força Aérea


alemã, e que esta já possuía maior poder do que a RAF. De fato, os primeiros
passos para a criação da Luftwaffe haviam sido dados poucos meses após
Adolf Hitler chegar ao poder em 1933.

2.2 Reivindicações Territoriais Alemãs


O poderio crescente das Forças Armadas alemãs fez com que Hitler partisse para uma
política externa agressiva e beligerante para recuperar territórios perdidos do extinto
Império Alemão. Ele tirou proveito da abstenção ou incapacidade das outras potências em
se opor às suas ambições territoriais. A União Soviética e os Estados Unidos não eram
membros da Liga das Nações e por isso adotaram uma política não intervencionista em
questões mundiais. Os aliados Grã-Bretanha e França eram as maiores potências da Liga
mas, enfraquecidas pela Grande Guerra e pela Crise de 1929, evitavam a qualquer custo
favorecer novos conflitos. Por isso, assumiram a posição de tolerância às exigências alemãs.
Em 1936, a Alemanha deslocou tropas para ocupar a Renânia. Esta região fronteiriça com
a França pertencia à Alemanha, mas por imposição do Tratado de Versalhes, era
considerada uma zona desmilitarizada. Paris e Londres sequer protestaram. Ato contínuo,
Hitler seguiu Mussolini e enviou apoio militar ao general Franco na Guerra Civil
Espanhola. A Legião Condor, a força expedicionária da Luftwaffe, promoveu intensa
campanha de bombardeios aéreos sobre as cidades espanholas, destacando-se o bombardeio
da cidade basca de Guernica, que restou arrasada. Esse foi considerado um ensaio para o
poder aéreo alemão.
O passo seguinte de Hitler foi
anexar a Áustria, sua terra natal.
Em março de 1938, tropas alemãs
marcharam para a fronteira sem
disparar um tiro e foram recebidas
de braços abertos pelos austríacos.
A Áustria foi formalmente
incorporada ao Reich alemão em
um processo denominado de
Anschluss (em alemão: ligação),
pois a ideia de união dos povos
germânicos remontava ao século Os austríacos saudaram a entrada das tropas alemãs em Viena.
XIX. Contudo, tal união havia sido terminantemente proibida pelos tratados do pós-guerra,
inclusive o de Versalhes. Mais uma vez, os líderes de Paris e Londres nada fizeram, pois
optaram por evitar conflitos.

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Com a Áustria anexada, Hitler voltou-se para a Tchecoslováquia, declarando seu desejo de
incorporar a região dos Sudetos, onde vivia uma população de maioria germânica. Após
pressionar, sem sucesso, o governo tcheco, Hitler promoveu uma conferência internacional
em Munique, em setembro de 1938. Nessa conferência, com o aval da França e da Grã-
Bretanha, obteve permissão para anexar os territórios Sudetos. Curioso citar que o governo
de tcheco sequer foi convidado ou consultado. Por sua vez, franceses e britânicos obtiveram
de Hitler a promessa de que ele cessaria quaisquer reinvindicações territoriais.
O êxito do ditador alemão em extrair concessões dos Aliados o animou a seguir adiante.
Até então, suas reinvindicações se limitavam a restituição de territórios perdidos habitados
por germânicos. Entretanto, em março de 1939, esse limite foi cruzado quando Hitler
ordenou que seu exército invadisse o restante da Tchecoslováquia, que tinha maioria da
população eslava. Isso alertou os líderes aliados sobre as reais intenções expansionistas e
sobre o valor das promessas do líder nazista.

Entretanto, dentre todas as reinvindicações territoriais da Alemanha, a mais


significativa era eliminação do Corredor Polonês, considerada uma perda
ultrajante, pois havia dividido o território alemão em duas partes.

Mapa ilustrativo dos territórios reivindicados pela Alemanha. Notar que o território da Polônia (em amarelo)
recebeu acesso ao Mar Báltico mediante o corte do território alemão (em azul). Os alemães ressentiam-se dessa
afronta e diziam ter o direito de livre trânsito para a Prússia Oriental, que ficou separada do resto do país.

O Corredor Polonês, ou Corredor Dantzig, era uma faixa de território retirado da


Alemanha por imposição do Tratado de Versalhes, para que a recém-criada Polônia
tivesse acesso ao mar. O resultado foi que o território alemão foi dividido em duas partes.
A recuperação do território era uma das importantes metas do Partido Nazista e tinha
grande aprovação popular. Quando Hitler começou a pressionar a Polônia para que
restituísse o Corredor Polonês, os governos da França e da Grã-Bretanha comprometeram-
se a defender a Polônia no caso de uma invasão.

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Para espanto de todo o mundo, em 23 de agosto de 1939, a Alemanha e a União Soviética,


com regimes que eram inimigos ideológicos declarados, firmaram um pacto de não
agressão – O Pacto Molotov-Ribbentrop ou Pacto Germano-Soviético. O acordo não
passava de uma artimanha estratégica de Hitler para invadir parte da Polônia com o aval
dos soviéticos. O Pacto previa em suas entrelinhas que os dois países poderiam agir, sem
interferência mútua, para restaurar suas fronteiras anteriores à Grande Guerra. Quanto à
Polônia, já haviam acertado que seria partilhada. Como veremos, inusitadamente, a
Segunda Guerra Mundial será deflagrada por um estranho acordo entre nazistas e
comunistas, e não entre regimes fascistas. O Pacto do Eixo só viria em 1940.

Assinatura do Pacto Germano-Soviético, em Moscou em. em 23 de Agosto de 1939 pelos ministros dos Negócios
Estrangeiros Joachim von Ribbentrop , da Alemanha, e Viatcheslav Molotov, da União Soviética. Ao fundo, de
traje claro, destaca-se o ditador Joseph Stalin.

2.3 O Fascismo na Itália


A chegada dos nazistas ao poder na Alemanha foi precedida pelos fascistas na Itália. Desde
1922, após a “Marcha sobre Roma” o líder fascista Benito Mussolini ocupava o cargo de
primeiro-ministro. A partir de 1925, Mussolini emergiu como ditador ao dissolver as
instituições democráticas italianas, afirmando-se o ditador, sendo chamado de Il Duce (“O
Líder” em italiano). Seu regime lograra êxitos notáveis na condução da economia,
realizando obras de infraestrutura e na reforma agrária. Leis trabalhistas foram
estabelecidas, colocando sindicatos e empresários sob a tutela do Estado. Ao mesmo tempo,
os fascistas reforçaram os recursos do Exército, da Marinha e da Força Aérea.

Os italianos, apesar de terem participado da Grande Guerra ao lado dos


vencedores Aliados, sentiram-se prejudicados em suas aspirações territoriais
no Tratado de Versalhes. Esperavam serem recompensados com colônias na
África, mas foram ignorados por franceses e britânicos.

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Mussolini glorificava o poder militar e em seus discursos revelava aspirações


expansionistas para a Itália ao longo de todo o eixo do Mar Mediterrâneo, o qual
denominava de Mare Nostrum (“Nosso Mar” em latim). Mussolini imaginava um grande
império italiano, a semelhança do antigo Império Romano, estendendo-se do Estreito de
Gibraltar ao Estreito de Ormuz, desafiando a hegemonia francesa e britânica no
Mediterrâneo. O sucesso do regime de Mussolini chegou a se tornar motivo de inspiração
para Adolf Hitler, antes deste chegar ao poder na Alemanha.

O ditador italiano Benito Mussolini em discurso a uma multidão no centro da Itália, em 1934.

As aventuras expansionistas da Itália fascista começaram em 1935, na África, com a


invasão da Abissínia (atual Etiópia). O Exército Italiano massacrou dezenas de milhares de
civis ao fazer uso de armas químicas em aldeias e cidades. Em 1936, a Itália anexou a
Abissínia com o Duce proclamando o renascimento do Império. Na Guerra Civil
Espanhola, Mussolini viu nova oportunidade para demonstrar a força de seu país perante
ao mundo, enviando tropas italianas em apoio aos nacionalistas do general Franco. Com
isso, Mussolini colocou a Espanha na esfera de influência política da Itália fascista.
Durante a Conferência de Munique, em 1938, que definiu a questão dos Sudetos alemães
da Tchecoslováquia, Mussolini aproveitou para reivindicar diversos territórios à França.
Tais demandas foram prontamente rejeitas pelos franceses, o que irritou o líder italiano. Em
abril de 1939, a Itália partiu para a Albânia em uma campanha militar relâmpago que durou
apenas 4 dias. Mussolini via a importância estratégica desse pequeno país como ponto
partida para sua expansão territorial em direção às Balcãs.

Em maio de 1939, a Itália e a Alemanha assinaram o Pacto de Aço, uma aliança


militar contra a França e o Reino Unido. Esse acordo definia que os italianos
cuidariam das operações no Mediterrâneo e no Norte da África, enquanto os
alemães ficariam com as ações na Europa continental. O Pacto de Aço foi o
embrião do que seria conhecido como Eixo, mediante a adesão do Japão.

Apesar de todo seu apetite expansionista, a Itália, em 1939, não estava preparada para uma
guerra. Sua indústria era muito fraca em relação a das outras potências europeias. O país
havia dispendido muitos recursos no apoio a Franco na Espanha. As Forças Armadas
italianas operavam equipamentos ultrapassados, carecendo de moderna mecanização. O
regime fascista tinha sido hábil na propaganda de seu poder militar, mas isso não
correspondia à realidade.

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2.4 O Japão Imperialista


No Extremo Oriente, um Japão ultranacionalista e militarista despontava desde o início do
século XX com aspirações expansionistas. O país possuía uma grande população que
habiatava um pequeno território carente de recursos econômicos. A virada do século havia
vivenciado um rápido surto de industrialização e modernização, aumentando a demanda
por matérias primas. As surpreendentes vitórias na Guerra Sino-Japonesa (1894 -1895) e
na Guerra Russo- Japonesa (1904-1905) fez emergir uma classe militar prestigiada e
orgulhosa. Muitos de seus oficiais eram descendentes dos antigos samurais. Essas guerras
fizeram com os japoneses anexassem, em 1910, a Coreia ao seu império.

O Japão lutou na Primeira Guerra ao lado dos Aliados mas, assim como os
italianos, seus representantes acabaram menosprezados pelas potências
ocidentais em suas reinvindicações durante o Tratado de Versalhes.

O episódio gerou um profundo ressentimento antiocidental no país, especialmente contrário


ao colonialismo britânico e francês na Ásia. Em 1929, a economia do Japão foi fortemente
atingida pela Grande Depressão em razão do retraimento do mercado mundial. O
desemprego aumentou e a população empobreceu. Isolado e em crise, o país procurou uma
solução interna para seus problemas, dando força a uma corrente política ultranacionalista
que surgira no seio da classe militar. Com os políticos civis envolvidos em escândalos de
corrupção, os prestigiados militares foram ocupando o poder. Em pouco tempo, a jovem
democracia parlamentar japonesa deixou de funcionar e
terminou golpeada.
A classe militar no poder fez emergir Hideki Tojo, um militar
ultranacionalista de perfil autoritário descendente de
samurais. Sua liderança prometia transformar o enfraquecido
Japão em uma nação rica e poderosa. Tojo era inteligente,
honesto e bom administrador, mas tinha uma visão
essencialmente militarizada dos assuntos de governo. Ele se
opunha à presença de potências ocidentais com domínios
coloniais na Ásia. Dizia que o Japão tinha como missão de
expulsar britânicos, franceses e holandeses do Pacífico, e
inclusive os americanos, pois estes ocupavam as Filipinas. General Hideki Tojo.

A ambição do general Tojo com as possessões ocidentais na Ásia provinha de


seus valiosos recursos naturais. Recursos que o Japão precisava para
prosperar como uma grande potência.

Em 1931, Japão invadiu a província chinesa da Manchúria, rica em carvão e minério de


ferro. Lá estabeleceu um Estado fantoche que foi chamado de Manchukuo. Para governá-
lo com total submissão, colocaram no poder Pu Yi, o último imperador da China, uma
marionete. A conquista japonesa alertou as potências coloniais europeias que se sentiram
ameaçadas em seus domínios. Uma conferência internacional foi especialmente convocada
pela Liga das Nações. Os países membros condenaram formalmente a invasão da
Manchúria e advertiram severamente o Japão, que terminou retirando-se da Liga em atitude
de protesto.

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Os japoneses consideraram a condenação da Liga das Nações inaceitável,


uma hipocrisia ocidental. Argumentaram que, historicamente, várias potências
europeias haviam invadido, ocupado e explorado diversos territórios na Ásia,
portanto, como podiam negar o mesmo direito ao Japão.

Ignorando as advertências internacionais, em 1937 o Japão avançou ainda mais seus


domínios sobre a China, mediante mais uma campanha militar brutal e sangrenta. Em
questão de semanas, milhares de civis chineses foram mortos pelo Exército Imperial
japonês. Quando relatos de execuções em massa de civis chineses na cidade de Nanquim
vieram à tona, o mundo ficou horrorizado. Os Estados Unidos somaram-se aos demais
países e condenaram o Japão e se dispuseram em defender a China.
Buscando dissuadir os japoneses, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt
ordenou a transferência da frota naval do Pacífico, então sediada na Califórnia, para o
Havaí. Muitos almirantes americanos eram contra essa mudança de sede, pois
argumentavam que a esquadra ficaria desprotegida em um local muito distante do
continente, numa uma ilha com pouca infraestrutura. O fato é que esse deslocamento da
força naval americana soou como uma ameaça às intenções expansionistas do Japão no
Pacífico.
Em meados de 1940, a Europa estava em
plena guerra, com a Alemanha de Hitler
tendo invadido com sucesso vários países:
Polônia, Dinamarca, Noruega, Holanda,
Bélgica e França. Tais feitos militares
impressionaram os japoneses, que queriam
seguir seu exemplo.
O governo militar de Tóquio viu a
oportunidade de tirar proveito da situação
juntando-se à Alemanha e à Itália, pois
estavam alinhados ideologicamente e
combatiam as mesmas potências europeias.
Hitler viu a aliança com os japoneses como
uma forma de intimidar os Estados Unidos a
fim de mantê-los fora da guerra. Benito Mussolini, Adolf Hitler e Hodeki Tojo.

Em 27 de setembro 1940, já tendo iniciada a Segunda Guerra Mundial, a


Alemanha, a Itália e o Japão assinaram, em Berlim, o Pacto Tripartite, ou Pacto
do Eixo, formalizando a aliança militar para se opor aos Aliados.

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3. Guerra Relâmpago
Em 1939, o Exército alemão não era o maior nem o melhor equipado da Europa, mas
estava muito à frente de seus rivais no tocante à eficácia. A blitzkrieg (guerra relâmpago)
com suas táticas de velocidade, surpresa e impacto, significou um novo enfoque
doutrinário à guerra, e, quando empregada, revelou resultados espetaculares. A Polônia
foi conquista em 27 dias; a Dinamarca, em 24 horas; a Noruega, em 23 dias; a Holanda,
em 5; a Bélgica, em 18; e a França, em pouco mais de 6 semanas.

A chave para o sucesso da Wehrmacht (Forças Armadas da Alemanha)


estava na eficiente combinação entre carros de combate, aviação e infantaria
blindada; todas muito bem coordenadas pela comunicação por rádio. A
blitzkrieg foi posta em prática na invasão da Polônia.

3.1 A Invasão da Polônia


A Segunda Guerra Mundial tem como marco inicial a invasão da Polônia pela Alemanha.
Mas, por que Hitler invadiu a Polônia?
 Primeiramente para eliminar o Corredor Polonês, uma importante promessa de
Hitler, restaurando as antigas fronteiras do Império Alemão.
 Em segundo lugar, porque Hitler precisava estabelecer estrategicamente uma
fronteira comum com a URSS, pois planejava uma futura guerra de expansão às
custas do território soviético, que ao mesmo tempo eliminaria o regime comunista
lá vigente.
Com o Pacto de Não-Agressão assinado com Stalin, o líder nazista sentiu-se confiante
para lançar uma campanha militar contra a Polônia. Em um ataque surpresa, em 1° de
setembro de 1939 o Exército alemão rompeu a fronteira polonesa em diversos setores.
No embate entre as forças, os alemães eram superiores aos poloneses em todos aspectos.
Os alemães mobilizaram 1,5 milhão de soldados, enquanto os poloneses, às pressas,
conseguiram mobilizar 950 mil homens. O Exército alemão contava com 51 divisões,
sendo 10 panzers (carros de combate blindados) e 4 de infantaria motorizada. O Exército
polonês tinha apenas 39 divisões, das quais nenhuma era blindada. A Luftwaffe contava
com modernos caças e bombardeiros, enquanto a Força Aérea polaca possuía antiquados
aviões de asa alta cantilever de fabricação nacional.

Entretanto, o principal diferencial entre as forças militares em confronto


estava nos métodos de combate. Os alemães empregavam com maestria a
blitzkrieg, enquanto os poloneses adotavam métodos defensivos
ultrapassados, típicos da Primeira Guerra Mundial.

Na fase inicial da ofensiva, a Luftwaffe se encarregou de atacar as bases aéreas polonesas.


Teve tal êxito que, em 2 dias a aviação polonesa deixou de existir. Com a supremacia
aérea assegurada, os aviões alemães se viram livres para apoiar as operações terrestres e
bombardear as cidades. A Marinha alemã, por sua vez, controlou o litoral polonês e
bombardeou as defesas costeiras.

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História Militar Mundial

No início da Segunda Guerra Mundial, os alemães conseguiram rápidas e expressivas vitórias


graças a um sistema de combate inovador que priorizava a ofensiva e que ficou conhecida
por Blitzkrieg, (do alemão = guerra relâmpago). A nova doutrina de emprego, que surgiu no
período de entreguerras, buscava romper com as doutrinas defensivas que predominaram
durante a Primeira Guerra Mundial. Embora os primeiros a proporem desse método
operacional tenham sido o inglês Lidell Hardt e o francês Charles De Gaulle, foi na Alemanha
que ela foi aperfeiçoada e operacionalizada, por intermédio dos generais Heinz Guderian e
Erich von Manstein.

A blitzkrieg consistia em utilizar forças móveis em ataques


rápidos mediante surpresa com o intuito de evitar que as
forças inimigas tivessem tempo de organizar a
defesa. Baseava-se no emprego tático combinado de carros
de combate, aviação e infantaria motorizada, todas essas
atuando de forma coordenada por sistemas de comunicação
rádio. A principal força de ataque era representada pelas
unidades Panzers (carros de combates), enquanto a aviação
e a infantaria atuavam dando suporte ao avanço dos
blindados. Assim, os elementos essenciais para o sucesso da
blitzkrieg eram: efeito surpresa, rapidez de manobra e
brutalidade de ataque. Com isso, conseguia-se desmoralizar
o inimigo e desorganizar suas forças defensivas. Gen. Heinz Guderian
O principal vetor aéreo da blitzkrieg era o bombardeio de mergulho Junkers Ju 87, mais
conhecido como Stuka. Este avião era muito eficiente no ataque a posições inimigas no solo
e alvos táticos, no qual semeava o pânico e a destruição ao mesmo tempo em que abria o
caminho para o avanço das unidades blindadas. Contudo, em voo, era uma aeronave lenta e
extremamente vulnerável aos caças inimigos, exigindo por isso a conquista de superioridade
aérea prévia ou a escolta do Messerschmitt Me-109

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História Militar Mundial

À esquerda, unidades blindadas alemãs durante a invasão da Polônia, em setembro de 1939. À direita, aviões
bombardeiros Junkers Ju 87, conhecidos como Stukas, empregado na blitzkrieg para apoiar o avanço alemão, na
função de apoio aéreo aproximado e destruição da aviação polonesa ainda em solo.

Quando souberam da invasão, França e Grã-Bretanha enviaram um ultimato


à Alemanha exigindo o imediato fim das agressões. Hitler nem se deu ao
trabalho de responder. Diante disso, em 3 de setembro, os governos de Paris
e de Londres declararam guerra à Alemanha.

Apesar de lutar bravamente, o Exército polonês não conseguia conter os invasores, pois
suas unidades haviam sido posicionadas de forma dispersa ao longo da fronteira, o que
permitiu às velozes tropas alemãs cercar com rapidez as defesas polonesas isoladas. A
cavalaria polonesa ainda usava cavalos e não teve a menor chance quando se deparou
com os numerosos tanques invasores. Os poloneses até que lançaram algumas
contraofensivas desesperadas, mas logo fracassaram. Carentes de equipamentos de
comunicação e de unidades mecanizadas, as lentas tropas polacas foram massacradas.
Após ultrapassar as defesas fronteiriças, as unidades Panzer avançaram sobre o coração
da Polônia, de modo que, em 7 de setembro, as tropas de vanguarda já se aproximaram
de Varsóvia. O que restou do grosso do Exército polonês lutou ferozmente para defender
sua capital na Batalha do Rio Bzura, a maior batalha da invasão da Polônia. Em poucos
dias, os alemães cercaram os poloneses e os eliminaram.

Para agravar a dramática situação da Polônia, no dia 17 de setembro, tropas


soviéticas invadiram o país pelo Leste, conforme havia sido acordado no
pacto com os alemães.

Em 18 de setembro de 1939, o governo polonês, sem esperança de reverter a situação, já


que franceses e ingleses não esboçaram nenhuma reação militar, refugiou-se na Romênia,
depois partiu para a França e, por fim na Grã-Bretanha, onde estabeleceu um governo no
exílio reconhecido pelos Aliados. No dia 27 de setembro de 1939, Varsóvia caiu sob o
poder dos alemães. Encerrava-se, dessa forma, a primeira campanha da guerra. A Polônia
deixou de existir e foi dividida entre alemães e soviéticos. Todavia, muitos poloneses se
reagrupariam e prosseguiriam a luta contra os alemães, integrando-se às unidades das
Forças Armadas aliadas.

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História Militar Mundial

À esquerda, mapa das anexações e invasões o III Reich até a invasão da Polônia em setembro de 1939. A direita, o
resultado da partilha do território polonês entre alemães e soviéticos. E assim, a Polônia deixou de existir de fato.

A invasão da Polônia marcou o início da a Segunda Guerra Mundial, mas isso não
significou que a Europa se incediou imediatamente em grandes combates. Estranhamente,
a guerra ingressou em uma fase que ficou conhecida como “Guerra de Mentira” ou
“Guerra Falsa” ou “Guerra de Brincadeira”. Apesar da França e do Reino Unido terem
declarado guerra à Alemanha, pelos 8 meses seguintes, não ocorreram grandes batalhas
entre esses beligerantes. Durante esse período, franceses e britânicos reuniam suas tropas
e recursos no front e se limitavam a esperar o inimigo atacar.

Denominou-se “Guerra de Mentira” ou “Guerra Falsa” a fase inicial da


Segunda Guerra Mundial na Europa, compreendida entre 3 de setembro de
1939 e 10 de maio de 1940, na qual, apesar das declarações formais de
guerra, praticamente não ocorreram grandes combates entre as potências
beligerantes.

Durante a “Guerra de Mentira”, os franceses mobilizaram-se para a guerra concentrando


tropas na região da fronteira e evacuando a população civil. Eles reforçaram a Linha
Maginot, um monumental complexo de fortificações construído ao longo de toda a
fronteira com a Alemanha. Do outro lado, os alemães sequer queriam atacar. Mesmo
assim, ocorreram alguns poucos enfrentamentos entre guarnições fronteiriças.
Enquanto isso, os britânicos agiram sobretudo
no mar, formando um bloqueio naval contra a
Marinha alemã (Kriegsmarine) e instituindo um
sistema de proteção contra os submarinos
alemães. O governo da Grã-Bretanha, em apoio
ao seu aliado, deslocou uma tropa inicial de 150
mil homens, toneladas de armas e
equipamentos para o nordeste da França,
denominada BEF (sigla da Força
Expedicionária Britânica em inglês). Apesar da
Guerra de Mentira, outras frentes isoladas Sodados ingleses da BEF esperam pacientemente
seriam abertas na Europa. a guerra que parecia não chegar.

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História Militar Mundial

3.2 Guerra de Inverno


Em novembro de 1939, uma nova arena de guerra se abriu sem o envolvimento dos
alemães. A União Soviética invadiu a fraca Finlândia, dando início à Guerra de Inverno
ou Guerra Russo-Finlandesa. O ditador soviético, havia requisitado uma faixa do
território finlandês, mas o governo de Helsinky não aceitou a proposta de mudança na
fronteira. Em verdade, Stalin pretendia, em seguida, anexar a Finlândia à União Soviética,
pois o país nórdico havia pertencido ao Império Russo antes da Primeira Guerra Mundial.
Com 100 divisões, 3.200 carros de combate e 2.500 aviões, os soviéticos esperavam bater
facilmente as Forças Armadas finlandesas, compostas por apenas 3 divisões e alguns
poucos aviões obsoletos. Em 30 de novembro de 1939, pouco antes da chegada do
inverno, os soviéticos iniciaram a ofensiva. Os finlandeses resolveram resistir ao ataque
liderados pelo marechal Carl Mannerheim que montou uma linha defensiva situada entre
o lago Ladoga e o golfo da Finlândia, denominada Linha Mannerheim, O avanço soviético
foi retardado pelo terreno acidentado, coberto por florestas e densas camadas de neve, e
especialmente pela ação de furtivas patrulhas finlandesas, que emboscavam as tropas
invasoras.

O Exército finlandês conseguiu impor o combate de guerrilha na neve, o que


surpreendeu e desgastou as despreparadas tropas soviéticas.

Stalin esperava derrotar a Finlândia até ao final de 1939, mas o rigoroso inverno branco,
somado à feroz resistência finlandesa, frustrou suas estimativas, apesar da larga
superioridade militar em armas e tropas. Naquele momento, o Exército Vermelho
encontrava-se deficiente de comandantes tarimbados, devido aos expurgos políticos
promovidos por Stalin nos anos anteriores.
Ao mesmo tempo, os soldados recrutados para a campanha provinham de regiões
temperadas do Sul da Rússia e que não estavam adaptados para o combate na neve. Stalin
recusou recrutar os russos da região por julgar que não eram de confiança para lutar contra
os vizinhos finlandeses. A decisão mostrou-se desastroso em baixas para o Exército
Vermelho. O insucesso iniciou levou os soviéticos a partiram para o emprego de
bombardeios aéreos contra as posições defensivas e sobre as cidades finlandesas, mas
poucos resultados foram alcançados.

À esquerda, patrulha de esqui finlandesa, em posição de combate na neve. À direita, o soldado finlandês Simo Hayha,
conhecido como “Morte Branca”, que consagrou-se como o maior sniper da história da guerras ao abater 542
inimigos em apenas 100 dias de combate.

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História Militar Mundial

Em fevereiro de 1940, os comunistas partiram para o emprego de divisões blindadas em


massa contra a Linha Mannerheim, conseguindo transpô-la com alto custo. Mesmo assim,
não foram muito longe e o conflito arrastou-se até 12 de março, quando um tratado de
paz foi assinado, forçando os finlandeses a ceder o istmo da Carélia e a cidade de Viipuri
para a União Soviética. Em contrapartida, Moscou cessaria as agressões militares.
Por fim, o resultado da Guerra de Inverno mostrou-se inconclusivo, pois embora as forças
soviéticas tivessem conseguido atravessar a linha de defesa finlandesa, nenhum dos lados,
emergiu efetivamente vitorioso do conflito. A União Soviética saiu do conflito com
enormes perdas, não conquistando a faixa da fronteira pretendida, nem ao menos
conseguindo anexar toda a Finlândia, apesar ganharem uma pequena faixa do território
da. Os finlandeses, por sua vez, tiveram de fazer concessões aos russos, mas sua
resistência assegurou a soberania de sua nação.

O fraco desempenho demonstrado pelo Exército Vermelho na Finlândia foi


visto com satisfação pelos alemães. A partir da Guerra de Inverno, a
capacidade militar soviética seria questionada, influenciando Hitler na
decisão de invadir o país em junho de 1941.

O fraco desempenho do Exército Vermelho incomodou bastante Stalin, que nomeou o


marechal Semyon Timoshenko para reestruturá-lo, tirando lições dos fracassos. A Guerra
de Inverno levou a Liga das Nações a expulsar a União Soviética da organização por ter
agredido a Finlândia. Livre de amarras da Liga e resguardado pelo pacto com Hitler, o
ditador comunista não se deteve e invadiu os países bálticos: Estônia, Letônia, e Lituânia,
anexando-os à União Soviética. Em seguida ocupou a Bessarábia, que pertencia a
Romênia.

3.3 Invasão da Dinamarca e da Noruega


Após conquistar metade da Polônia e
estabilizar a guerra no Leste, Hitler havia
fixado como próximo objetivo o ataque à
França. Entretando, voltou-se para a
Escandinávia, pois era necessário assegurar o
fluxo de minério de ferro, fornecido pela
Suécia, vital para suprir a indústria de guerra
alemã. No inverno, o suprimento era
prejudicado pelo congelamento dos portos
suecos do mar Báltico, quando, então, o
minério era desviado para ser embarcado pelo
porto norueguês de Narvik, no Oceano
Atlântico que não congelava.
Diante do risco da Noruega alinhar-se aos Mapa do fluxo do fornecimento do minério de ferro da
Aliados, que tinham intenções de bloquear Suécia para a Alemanha.
seu vital suprimento de ferro, o líder alemão resolveu invadir a Noruega. No caminho
desse objetivo militar encontrava-se ainda a Dinamarca, que também deveria ser ocupada.
A tomada dos dois países escandinavos, denominada Operação Weserübung, exigiria

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História Militar Mundial

complexas operações de blitzkrieg envolvendo em grande parte a Marinha alemã, que


operaria, pela primeira vez, em estreita coordenação com o Exército e a Luftwaffe.
Em 9 de abril de 1940, tendo o apoio do partido fascista local, a invasão alemã à Noruega
foi desencadeada. Unidades alemãs terrestres, aéreas e navais, atuando de forma
coordenada, conquistaram simultaneamente diversos objetivos estratégicos. Oslo, a
capital norueguesa, foi atacada por tropas de assalto paraquedistas, um emprego até então
inédito em uma guerra. Outros importantes centros de mobilização logo caíram diante do
poderio e da velocidade da Wehrmacht, o que impediu uma reação militar consistente.
Simultaneamente, ocorreu a invasão da Dinamarca, que foi a primeira a cair. Diante da
superioridade bélica alemã, o rei dinamarquês Cristiano X ordenou que seu exército,
composto por aproximadamente 15 mil homens, não oferecesse qualquer oposição. De
fato, a Dinamarca tornou-se a invasão mais rápida e menos custosa para os alemães em
toda a guerra. Já na Noruega, a situação diferente nas mãos do rei Haakon VII, que
curiosamente era irmão de Cristiano X da Dinamarca.

Contrariando seus ministros, Haakon VII não admitiu entregar seu país e
ordenou que seu exército enfrentasse os invasores. Consumada a derrota, o
rei retirou-se com uma tropa para as montanhas e uniu-se à resistência.

Surpreendidos pela rapidez da campanha alemã, a britânicos e


franceses enviaram apressadamente algumas brigadas para a
Noruega, mas chegaram tarde demais para evitar o colapso das
Forças Armadas norueguesas. As tropas britânicas chegaram a
obter sua primeira vitória na guerra ao conquistar o porto de
Narvik, mas, em seguida, tiveram de ser evacuadas, devido à
ampla superioridade do inimigo.
Com a retirada das tropas aliadas, os alemães concluíram a
ocupação da Noruega, que passou a ser governada por um
nazista norueguês, um fantoche nas mãos de Hitler. A
campanha da Noruega foi considerada um triunfo de
planejamento militar e execução decisiva, em acentuado Rei Haakon VII, da Noruega.
contraste com as hesitantes medidas adotadas pelos Aliados.

Os alemães asseguraram o suprimento de ferro, mas a vitória não foi


absoluta. A Marinha alemã sofreu pesadas perdas em combates com a
Marinha britânica.

O rei Haakon VII da Noruega acabou sendo resgatado pelos britânicos e levado para
Londres com sua família, onde estabeleceu um governo no exílio para apoiar a luta de
seu povo para combater a ocupação alemã. O resultado foi que os alemães tiveram que
comprometer muitas tropas na ocupação da Noruega pelo restante da guerra em razão das
persistentes ações de grupos da resistência norueguesa. Na resistência norueguesa
destacou-se o combatente Max Manus, que realizou espetaculares ações de sabotagem
contra instalações militares alemãs.

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História Militar Mundial

3.4 A Queda da França


Após a campanha da Escandinávia e com Polônia estabilizada, Hitler concentrou-se no
planejamento da guerra contra a França. Este país não era, de fato, um objetivo
estratégico, afinal tal interesse estava no Leste europeu, onde seria estabelecido o
Lebensraum. Porém, Paris e Londres haviam declarado guerra à Alemanha, e assim
representavam sérias ameaças aos interesses expansionistas do III Reich no continente.

Ao mesmo tempo, atacar a França significava um ato de vingança para Hitler,


afinal esse país tinha sido o principal responsável pelas humilhações
impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes.

Até então, a Alemanha havia enfrentado forças militares fracas ou com poucos recursos
mas, diferentemente dos países antes conquistados, a França era uma potência militar
formidável e ainda estava reforçada pelas Forças Expedicionárias Britânicas (BEF). Os
franceses mantinham um grandioso exército, praticamente equivalente aos alemães em
número de soldados, mas com muito mais peças de artilharia. Os blindados franceses,
além de melhores e mais avançados estavam em maior número que os alemães.

No início da Segunda Guerra, a França possuía os melhores e mais


avançados carros de combate. Nenhum Panzer alemão estava à altura dos
modelos empregados pelo Exército francês.

Char B1 Panzer IV

Há uma ideia bastante generalizada que indica que a Alemanha teve os melhores blindados durante toda a guerra,
mas isso está muito longe da realidade. Em 1940, a espinha dorsal das unidades blindadas alemãs ainda era
baseada nos pequenos e antiquados Panzer I e II. Poucos eram os Panzer III e Panzer IV disponíveis. Nenhum
deles superava o poderoso Char B1 dos franceses.
A única superioridade evidente em favor da Alemanha era no setor aéreo. A Luftwaffe
era considerada, de longe, a melhor força aérea do mundo. Seus pilotos tinham larga
experiência e gozavam de elevado moral e reputação. Os aviões alemães também eram
os mais modernos e eficientes da época. Quanto à Força Aérea francesa (Armée de l'Air)
era uma força decadente, contando com poucas e obsoletas aeronaves.

Quando Hitler pediu ao Alto-comando da Wehmacht que elaborasse um plano


de guerra contra a França, a maioria dos generais contraindicou prontamente
a aventura militar. Afirmaram que, naquele momento, a Alemanha não estava
preparada para enfrentar a França.

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História Militar Mundial

Diante da insistência, os generais do Alto-comando apresentaram um plano convencional


e bastante comedido ao Füher, que era quase uma repetição do Plano Schlieffen de 1914.
De fato, ainda tentavam convencê-lo a desistir de abrir uma nova frente no Oeste. Hitler
irritou-se, dizendo que o plano apresentado carecia de ousadia e criatividade, sendo,
portanto, fadado ao fracasso.

Por fim, o general Erich von Manstein, um ambicioso aristocrata prussiano,


ultrapassou seus colegas mais antigos e apresentou diretamente a Hitler seu
novo plano de sua autoria, feito em parceria com o general Heinz Guderian.

Sendo um dos expoentes do pensamento da


blitzkrieg, Manstein expôs a Hitler um plano
engenhoso que explorava a ousadia, o engodo e a
velocidade, para compensar a inferioridade militar
alemã. Previa enganar os Aliados atraindo-os para
o combate no Norte da Bélgica, como em 1914. Ao
mesmo tempo, no Sul, manteriam pressão na
fronteira sobre a Linha Maginot. Com os franceses
ocupados nas duas frentes, o grosso das tropas
alemãs penetraria de surpresa pela floresta das
Ardenas e faria uma manobra em foice, Hitler ficou maravilhado com a astúcia
encurralando os inimigos. O líder nazista ficou do general Manstein.
satisfeito e exultante, e imediatamente ordenou que o plano fosse colocado em prática.
Naquele momento, apesar de bem armados, os generais franceses optavam por aguardar
um ataque alemão, pois mantinham-se apegados às doutrinas defensivas que
predominaram na Primeira Guerra Mundial. Tal mentalidade tinha como maior expressão
a Linha Maginot, um monumental complexo defensivo construído ao longo da fronteira
com a Alemanha que havia consumido enormes recursos públicos na década de 1930.
Durante o período de entre guerras, o Exército francês, comandado por velhos generais,
veteranos da última Grande Guerra, resistia em acompanhar a evolução doutrinária dos
novos métodos de combate.

Focado em impedir outra invasão alemã em seu território, os militares


franceses privilegiavam estratégias defensivas. O objetivo era repelir o
ataque e, uma vez que o inimigo estivesse suficientemente enfraquecido,
fazer a transição para a ofensiva.

Apesar de contarem com excelentes tanques, inclusive em maior quantidade que os


alemães, os generais franceses os viam como meros veículos de apoio ao avanço da
infantaria, enquanto para os alemães eles significavam a peça central no campo de
batalha, atuando como ponta de lança no avanço sobre o inimigo, cabendo à aviação e à
infantaria papéis importantes, mas de atores coadjuvantes.
No dia 10 de maio de 1940, as forças da Alemanha nazista deflagraram a grande ofensiva
no Oeste, denominada Operação Fall Gelb (do alemão: folha amarela ou folha seca).
Atacaram inicialmente a Holanda e a Bélgica. Terminava, naquele momento, a conhecida
fase de “Guerra de Mentira” e começava a Batalha da França, significando o primeiro
grande choque potencias militares desde o fim da Grande Guerra.

21
História Militar Mundial

Conforme o planejamento de Manstein, as forças alemãs foram divididas em três grandes


grupos de exércitos, que tinham as seguintes formações, comandantes e objetivos:
Grupo A - Formado por 45 divisões, sendo 7 blindadas,
comandadas pelo marechal Gerd von Rundstedt. Tinha como
objetivo atacar de surpresa a França pelo sul da Bélgica,
atravessando a densa floresta na Ardenas, até então
considerada intransponível por tropas blindadas e mecanizadas.
O Grupo A tinha como missão cercar pela retaguarda o Exército
franco-britânico em um movimento de foice, encurralando-o
contra o Canal da Mancha.
Grupo B - Formado por 29 divisões, sendo 3 blindadas,
comandadas pelo marechal Fedor von Bock. Tinha como
objetivo invadir através da Holanda e da Bélgica, apenas
servindo de isca para atrair as tropas aliadas para o combate ao
norte e no interior do território belga. Estariam simulando repetir
a mesma estratégia de 1914.
Grupo C – Formado por 18 divisões, comandadas pelo
marechal Wilhelm von Leeb. Sua missão era posicionar-se ao
longo da fronteira franco-germânica, diante da intransponível
Linha Maginot, ameaçando rompê-la. Este era apenas mais um
engodo para manter as tropas francesas ocupadas para que não
ameaçassem os exércitos alemães das outras frentes.

O Grupo B, fazendo amplo emprego de bombardeios aéreos e tropas paraquedistas,


avançou sobre a Holanda e a Bélgica. As cidades portuárias holandesas foram castigadas
pelos aviões alemães. Os belgas, depois de terem perdido sua principal posição defensiva,
o Forte Eben-Emael, então considerado inexpugnável2, recuaram para posições
defensivas, para, em seguida, buscarem o apoio da forças aliadas franco-britânicas.

As invasões da Holanda, da Bélgica e do Luxemburgo pelo Grupo B não


passava de um engodo, planejado para atrair os Aliados para o Norte.

Os Aliados estavam preparados e agiram rápido enviando suas forças para a Bélgica, para
conter o ataque alemão. Essas tropas, compostas pelo Exército francês e pela BEF,
representavam as melhores unidades de seus países, pois estavam destinadas a enfrentar
o que esperam ser o principal e mais reforçado setor do inimigo. Sem perceber que
estavam caindo em uma armadilha, eles continuaram penetrando ao norte da Bélgica,
acreditando que os alemães atacariam da mesma forma que na Primeira Guerra Mundial.
Ao saber que seus inimigos haviam mordido a isca, Hitler ficou exultante.
Enquanto isso, no sul da Bélgica, o Grupo A avançava velozmente sobre a floresta das
Ardenas, ocultando sob a copa das árvores milhares de carros de combate, grandes peças
de artilharia e tropas mecanizadas. O fluxo veículos e tropas alemãs foi tão intenso que
chegou a ocorrer um longo engarrafamento pelas tortuosas trilhas abertas na mata
fechada. Nesse momento, aviões de reconhecimento franceses detectaram a grande
movimentação de tropas alemãs seguindo em direção à floresta das Ardenas. Ao tomar
conhecimento do fato, o general Gamelin, comandante do Exército francês,
desconsiderou a informação, dizendo ser impossível transpor aquela floresta.

2Além ser uma construção bem fortificada e equipada com pesada artilharia, o Forte Eben-Emael era defendido por
1,2 mil soldados belgas que foram derrotados em apenas um dia de combate por de uma tropa paraquedista de
assalto alemã composta por apenas 85 homens.

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História Militar Mundial

Unidades Panzer do Grupo A em deslocamento pela floresta das Ardenas, considerada intransponível por grande
tropas. Foi exatamente nesse ponto que se deu o golpe de força da Alemanha contra a França.

Transpondo a floresta das Ardenas, o Grupo A penetrou furtivamente em território francês


e conseguiu abrir uma brecha entre as posições inimigas, isolando as tropas aliadas que
estavam no interior da Bélgica das tropas estacionadas na França. Os alemães
progrediram rapidamente pelo interior da França, encontrando resistência na cidade de
Sedan, onde esmagaram as tropas franceses ali posicionadas.
As divisões alemães contavam com dois competentes generais em seu comando: Heinz
Guderian e Erwin Rommel. A coluna alemã prosseguiu em direção ao Canal da Mancha,
estabelecendo um grande cinturão em forma de foice que cercou a retaguarda franco-
britânica que se encontrava na Bélgica. Enquanto isso, a Luftwaffe conquistava a
superioridade aérea em toda a região, garantindo a segurança e o sucesso ofensivo das
forças terrestres.

Castigados pelos bombardeios aéreos e em completa inferioridade de tropas,


os holandeses capitularam em 14 de maio. Os belgas aguentaram um pouco
mais e renderam-se no dia 28 daquele mesmo mês.

Quando os generais aliados perceberam que haviam sido enganados, já era tarde demais.
As forças franco-britânicas estavam encurraladas em Dunquerque, na Bélgica, prestes a
serem esmagadas pelos alemães. Em virtude do terreno nos arredores de Dunquerque não
ser propício para o uso de blindados, Hitler resolveu poupá-los para a continuidade da
campanha na França, incumbindo a Luftwaffe de Göring de impedir a evacuação
mediante um bombardeio aéreo inclemente.
Apressadamente, a Marinha Real Britânica desencadeou a Operação Dínamo, reunindo
todos os recursos marítimos disponíveis para resgatar os milhares de soldados ingleses e
franceses que se encontravam vulneráveis nas praias de Dunquerque. A Royal Air Force
(RAF) foi acionada se fez presente no espaço aéreo do Canal da Mancha para se opor à
ação da Luftwaffe.

Foi quando, pela primeira vez, os pilotos alemães


se depararam com um avião à altura para dar-lhes
combate. Era o moderno e ágil caça britânico
Supermarine Spitfire.

23
História Militar Mundial

Na Operação Dínamo, a Marinha


britânica obteve o apoio inestimável
de centenas de navios mercantes e
pequenos barcos civis voluntários
para resgatar os soldados encurralados
em Dunquerque.
O plano de Göring de usar a aviação
para impedir a retirada do Aliados não
deu certo como ele esperava. O mal
tempo, com muita nebulosidade,
prejudicou a visibilidade da operação
aérea. Para piorar o bombardeio de Para Dunquerque, Churchill enviou 222 navios da Marinha
uma refinaria pelos alemães produziu britânica que contou com o apoio voluntário de cerca de 800
barcos civis.
uma densa cortina de fumaça negra
que dificultou ainda mais a visibilidade sobre as praias de Dunquerque. Os bombardeiros
alemães encontraram dificuldade em acertar tantos alvos móveis e pequenos sobre o mar.
Por fim, a presença dos caças da RAF impediu a ação dos bombardeiros da Luftwffe.
Ao final do dia 4 de junho de 1940, foram evacuados para a Inglaterra cerca de 338 mil
combatentes (218 mil britânicos e 120 mil franceses). A retirada foi um sucesso e toda a
nação britânica festejou o que chamaram de “Milagre de Dunquerque”. O assunto
permanece até hoje como um tema controvertido para os historiadores, gerando perguntas
do porquê Hitler não ordenou um ataque para massacrar as indefesas tropas anglo-
francesas nas praias.
 Muitos defendem que o ditador alemão teria permitido a retirada como gesto de
misericórdia, visando viabilizar futuras negociações de paz com a Grã-Bretanha.
 Outros afirmam que Hermann Göring, comandante da Luftwaffe, teria prometido
a Hitler que seus aviões poderiam impedir sozinhos a evacuação, mas falhou em
razão da pontual presença dos caças da RAF.
 As melhores hipóteses defendem que as linhas do Grupo A do Exército alemão
estavam muito abertas e seus generais temiam avançar e serem surpreendidos por
um contra-ataque dos Aliados.

Mesmo tendo salvado seu exército, o primeiro-ministro britânico Winston


Churchill, com lucidez, declarou: “guerras não são ganhas com retiradas”.

Com as forças anglo-francesas evacuadas em Dunquerque, as divisões alemãs


voltaram-se para tomar Paris. O Exército da França, com reservas escassas e abalado
pelos reveses iniciais, perdeu seu moral e diluiu-se diante do avanço inimigo. A Linha
Maginot, atacada frontalmente e pela retaguarda, também sucumbiu. A capital francesa
caiu em poder dos alemães em 14 de junho de 1940.
O governo francês, transferido para a cidade de Bordeaux, solicitou a ajuda do apoio aéreo
britânico, o que foi negado por Winston Churchill. Paul Reynaud, primeiro-ministro
francês, se negou a assinar a rendição e renunciou do cargo, que foi assumido pelo
marechal Philippe Pétain, que anunciou ao povo francês, via rádio, a intenção do governo
em se render diante da situação militar insustentável.

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História Militar Mundial

Hitler e o alto comando nazista visitam Paris ocupada em 23 de junho de 1940. Ao lado a população de Paris
chora ao saber da derrota e da capitulação de seu Paris diante dos alemães.

A rendição francesa aconteceu em 22 de junho de 1940, em Compiègne, no


mesmo vagão de trem em que a Alemanha, em 1918, havia assinado o
armistício. Hitler pretendia, desta forma, humilhar os franceses e vingar a
derrota alemã na Grande Guerra. https://www.youtube.com/watch?v=ADUcjRc5p3k

O general Charles Huntziger, representante do governo francês, assinou a rendição diante dos oficiais do Alto-
Comando alemão. O vagão foi cuidadosamente restaurado e enviado para o mesmo local de 1918.

A capitulação da França foi especialmente um espetáculo de vingança arquitetado por


Adolf Hitler. Suas imagens foram divulgadas em todo o mundo. De acordo com os termos
da rendição, os alemães passaram a ocupar o norte e o oeste da França, enquanto o
marechal Pétain chefiaria um governo fantoche, sediado na cidade de Vichy, no sul da
França, que deveria se sujeitar ao governo nazista, A intenção dos alemães com isso era
poupar tropas de ocupação em território francês, pois Hitler entrevia precisar de mais
tropas com a abertura de futuras frentes de guerra.

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História Militar Mundial

Em Londres, o general francês Charles de


Gaulle, que se encontrava refugiado após ter
seu regimento derrotado, não reconheceu o
governo de Vichy. Por meio de transmissões
da rádio BBC, o general conclamou os
franceses a continuar a luta contra os alemães,
instaurando um governo de resistência no
exílio, o qual denominou de “França Livre”,
sendo reconhecido pelo governo britânico.
Pouco antes da queda de Paris, de forma
bastante oportunista, o ditador italiano Benito
Mussolini, havia declarado guerra à França e
à Grã-Bretanha, tornando-se, assim, um aliado
mais efetivo dos alemães. Com essa atitude, o
líder fascista esperava receber apoio de Hitler
para suas futuras aventuras expansionistas.
Assim, em 10 de junho, 32 divisões italianas
Mapa da divisão da França de acordo com o
armistício de 22 de junho de 1940. atacaram a França ao sul dos Alpes, com o
propósito de anexar áreas fronteiriças.
Todavia, apesar da superioridade numérica das tropas, o ataque do Exército italiano foi
um fiasco militar, sendo contido por apenas 6 divisões francesas nos Alpes. A ação serviu
como presságio das futuras derrotas acachapantes dos italianos.

3.5 A Batalha da Grã-Bretanha


A derrota da França tinha sido tão rápida e tão surpreendente que Hitler não havia pensado
em como iria continuar a guerra. Por não nutrir um ódio tão profundo aos britânicos, ele
jamais pretendera fazer uma guerra para esmagá-los, assim como desejara com a França.
Para ele, a queda da Grã-Bretanha serviria apenas para entregar o espólio de seu vasto
império colonial de bandeja para os Estados Unidos e para o Japão.

Adolf Hitler acreditava que, depois da derrota da França, os britânicos


estariam abatidos e isolados, não desejando continuar em guerra contra a
Alemanha. Por isso, aguardava, em pouco tempo, por um acordo de paz com
o governo de Londres.

Impaciente, o ditador alemão esperava o momento em que governo britânico se mostraria


disposto à negociação, mas tal compromisso nunca veio devido à intransigência do
primeiro-ministro Winston Churchill. Em 4 de junho, quando ainda transcorria a Batalha
da França, Churchill havia feito um emblemático pronunciamento na rádio BBC:
“Lutaremos nas praias, nos campos de pouso, nos campos e nas colinas. Nunca nos
renderemos”. Pelo que já havia visto desde a Conferência de Munique, Churchill
declarara que jamais negociaria com Adolf Hitler, porque não confiava em sua palavra.
Diante da recusa do líder britânico em negociar, Hitler decidiu usar a dissuasão militar
como pressão, ordenando ao Alto-comando alemão que preparassem um plano de
invasão da Grã-Bretanha. O plano foi denominado Operação Leão Marinho e previu
ampla concentração de meios militares para a travessia do Canal da Mancha e para o
26
História Militar Mundial

desembarque anfíbio no litoral inglês. Todavia, os generais alertaram para a necessidade


de que a Luftwaffe obtivesse a superioridade aérea em toda a região, sem a qual a Marinha
alemã não teria condições de realizar a grande operação anfíbia. O sucesso da Operação
Leão Marinho, dependia, portanto, da destruição da RAF.
Enquanto a Marinha britânica dominava os mares, a Luftwaffe controlava os céus. Em
termos de poder aéreo, os alemães eram muito superiores aos britânicos, fosse no
quantitativo de aviões, efetivos ou na experiência de seus pilotos. Os alemães ainda
contavam com a vantagem de terem conquistado todos os aeródromos do norte da França
e ainda os da Noruega, podendo lançar ataques aéreos contra diversos pontos da costa sul
e leste da ilha.
O marechal Hermann Göring assegurou a Hitler que poderia destruir toda a aviação
britânica em apenas um mês, abrindo o caminho para a pretendida invasão. Göring estava
tão confiante que encarava suas ordens de aniquilar a RAF como mais uma oportunidade
de provar o grande valor do poder aéreo alemão. Para ele, a Luftwaffe lutaria sua guerra
sozinha, prevendo que a ofensiva de bombardeios aéreos, por si só, levaria o governo
britânico a pedir a paz, tornando desnecessária colocar em pratica a Operação Leão
Marinho.

A feroz luta pela superioridade aérea entre a RAF e a Luftwaffe, denominada


Batalha da Grã-Bretanha, teve início no dia 10 de julho de 1940. Ela se tornou
a maior batalha aérea da história das guerras, sendo essencialmente travada
entre duas forças aéreas.

A Luftwaffe tomou a iniciativa atacando inicialmente o transporte marítimo no Canal da


Mancha. Em seguida partiu para o bombardeio das bases aéreas, centros industriais e
outros alvos da infraestrutura militar britânica. No entanto, no transcorrer do confronto,
a aviação de caça da RAF mostrou-se muito eficiente e passou a levar vantagem sobre os
atacantes. Nos combates aéreos, os alemães perdiam muito mais aviões, especialmente
seus bombardeiros. Os caças Hurricane e Spitfire surgiam inesperadamente e
interceptavam pontualmente as formações de aviões alemães onde quer que elas
surgissem.

A vantagem britânica era seu eficiente sistema radar, concebido e


desenvolvido pelo marechal Hugh Dowding, comandante da aviação de caça.

Em 19 de julho, Hitler, em pronunciamento oficial, alertou os britânicos para negociarem


ou enfrentariam as consequências. Em menos de uma hora depois, o governo de Londres
se manifestou rejeitando qualquer oferta de paz. Ficou claro para o ditador alemão que
Churchill precisaria entender o quanto a ameaça do poder militar era real. Pouco depois
emitiu uma nova diretriz para que a Luftwaffe intensificasse os ataques aéreos sobre a
ilha para a conquista a superioridade aérea, objetivando mostrar aos britânicos que a
Operação Leão Marinho seria desencadeada. Hitler ordenou a Hermann Göring que
iniciasse uma grande operação aérea para destruir a RAF. O ataque foi denominado “Dia
da Águia”.

27
História Militar Mundial

No “ Dia da Águia”, em 13 de agosto, a Luftwaffe concentrou bombardeios


nas principais bases aéreas no sudeste da Inglaterra, a fim de atingir em cheio
o poder concentrado do comando de caças da RAF.

Contudo, o mal tempo prejudicou as operações


alemãs e, no fim do dia, o ataque foi abortado.
No dia seguinte, os aviões alemães retomaram
os ataques, mas a reação dos caças britânicos
foi rápida e feroz, transformando-se em um
grande choque para a Luftwaffe, que perdeu 47
aviões e mais de 86 tripulantes e pilotos. Os
alemães desprezavam e sequer tinham noção
sobre a eficiência do Sistema Dowding de
defesa aérea. Ao longo daqueles mês, os
combates se intensificaram, mas os alemães
perdiam cada vez mais aviões e pilotos, graças
a precisão das detecções do sistema radar e
pontual presença dos caças da RAF.
No final de agosto, após intensos combates
aéreos, a Luftwaffe havia perdido
aproximadamente 600 aviões, enquanto a RAF
menos de 300. Apesar da vantagem RAF na
guerra aérea, suas perdas atingiram um nível
crítico no início de setembro. Faltavam pilotos,
aviões e boa parte de suas bases haviam sido Duelo aéreo entre o Messerschmitt Bf-109 e o
Supermarine Spitfire.
atingidas. Foi quando a Luftwaffe mudou,
repentinamente, sua estratégia de alvos militares e passou a bombardear as cidades
inglesas, buscando atingir a população civil e abalar o moral da nação.
Enquanto os principais centros urbanos eram atacados, deu-se a oportunidade para a RAF
se refazer de suas perdas. A virada na guerra aérea aconteceria no dia 15 de setembro,
quando uma numerosa frota de bombardeiros alemães invadiu os céus de Londres e foi
surpreendida por uma grande formação de caças da RAF que a arrasou. No dia 17 de
outubro de 1940, diante das enormes perdas em tripulantes e aeronaves, e ainda
percebendo que a Luftwaffe não seria capaz de vencer a RAF e forçar os britânicos à
rendição, Adolf Hitler decidiu suspender a Operação Leão Marinho por tempo
indeterminado. Tratou-se de uma desistência velada de seu objetivo.

A Batalha da Grã-Bretanha marcou a primeira derrota da Alemanha na


guerra, mas tal fato não foi assimilado dessa forma pelo líder nazista, apenas
seria um revés irritante.

28
História Militar Mundial

A vitória da RAF garantiu a sobrevivência do país.


Todavia, Mas o Grã-Bretanha continuaria em
guerra contra a Alemanha, permanecendo como
único inimigo na Europa a não ser invadido. Ao
final, em pronunciamento à rádio BBC, Churchill
proclamou: “Nunca, no campo dos conflitos
humanos, tantos deveram tanto a tão poucos”. A
grande batalha aérea cessou em outubro, mas os
alemães continuaram enviando bombardeiros
noturnos às cidades inglesas até maio de 1941, as Após a batalha, o primeiro-ministro
chamadas blitz, que provocaram milhares de Winston Churchill acena para o povo com
mortes e grande destruição. Mesmo assim, o moral o seu habitual “V” da vitória.
do povo britânico não foi abalado, o governo de Churchill saiu fortalecido e a rendição
jamais foi cogitada.

3.6 A Guerra no Atlântico


Grande parte da capacidade de resistência dos britânicos se deveu ao apoio dos Estados
Unidos, que apesar de neutros, procuraram suprir as necessidades de guerra de seu antigo
aliado. Mas nem tudo que os americanos e os canadenses enviavam chegava aos portos
ingleses. Apesar de possuírem uma prestigiosa força naval, a Royal Navy, que lhes
assegurava superioridade nos mares, os navios mercantes britânicos passaram a conviver
com a constante ameaça dos submarinos alemães, os temidos U-boats, que infestaram as
águas do Oceano Atlântico durante toda a guerra.
Por ser uma nação insular, a Grã-Bretanha era altamente dependente de importações por
via marítima. Pretendendo sufocar a economia de guerra britânica, Hitler incumbiu a
Marinha de Guerra alemã, a Kriegsmarine, que bloqueasse o tráfego marítimo para a ilha.
Como a esquadra de superfície alemã era muito mais fraca do que a britânica, caberia aos
U-boats fazerem o serviço, afundado quaisquer navios cargueiros destinado aos portos
britânicos.

Não podendo ter uma esquadra à altura da Marinha britânica, os alemães


buscaram alcançar o controle dos mares por meio de uma grande frota de
submarinos.

Desde a Primeira Guerra Mundial, a indústria naval alemã havia se destacado na


tecnologia da construção de submarinos. Quando os nazistas assumiram o poder, os
investimentos no setor foram acelerados. O comando da esquadra de submersíveis da
Kriegsmarine foi entregue ao contra-almirante Karl Donitz, um grande estrategista e
defensor do potencial do submarino como arma de guerra. Ele compreendera astutamente
os danos que o vetor naval poderia causar na economia de guerra dos Aliados, bem como
a dificuldade em enfrentá-los. Nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, não havia
tecnologias disponíveis para detecção e combate à ameaça dos submersíveis.

A Batalha do Atlântico, confronto marítimo iniciado em 1939, foi a mais


duradoura campanha militar contínua na Segunda Guerra Mundial,
perdurando até a derrota da Alemanha nazista em 1945.

29
História Militar Mundial

A longa batalha opôs a Kriegsmarine, com sua frota principalmente formada por
submersíveis, contra as marinhas de guerra e mercante dos Aliados (Grã-Bretanha,
Canadá e Estados Unidos). Aos alemães se juntaram os submarinos da Marinha Real
Italiana (Regia Marina). Ambas as frotas operavam de forma combinada no Atlântico.
Depois da queda da França, alemães e italianos estabeleceram suas bases na costa
atlântica francesa.

As principais armas usadas pelos submarinos eram os torpedos.


Um torpedo é um projétil explosivo autopropulsionado que opera debaixo de
da linha d’água e é projetado para detonar ao entrar em contato ou ao
aproximar-se de um determinado alvo.

À esquerda, o U-boat Tipo VII, que foi o modelo de submarino mais amplamente usado da Segunda Guerra Mundial.
À direita, o almirante Karl Donitz, inspecionando tripulações que partiam para a guerra na base de submarinos
alemães sediada no litoral da França ocupada.

Entre 1939 e início de 1942, os submarinos do Eixo reinaram absolutos no Atlântico


Norte, semeando o caos e o terror na navegação mercante. Nesse período, foram
torpedeados e afundados milhares de navios, comprometendo seriamente o esforço de
guerra britânico. O próprio Winston Churchill, em seu livro “História da Segunda Guerra
Mundial”, afirmou que a Batalha do Atlântico foi o momento em que mais temeu pela
sorte do Império Britânico e nada o assustou mais do que o denominado “perigo dos
submarinos”.

Um U-Boat possuía enormes motores a Diesel, que precisavam de ar da


superfície para recarregar as baterias que alimentavam os motores elétricos
que moviam o U-Boat quando submerso.

No início da guerra, os submarinos atacavam seus alvos isoladamente. Seus torpedos


eram pouco assertivos e o tempo de submersão era limitado a poucas horas. Com a
introdução da formação de comboios mercantes protegidos pela escolta de navios de
guerra, essas missões se tornaram bastante arriscadas. Para dificultar as defesas dos
comboios aliados, os submarinos germânicos introduziram a tática da “alcateia” ou
“matilha”, ou seja, um deles, ao localizar um alvo importante, comunicava tal fato
imediatamente a outros submarinos que estavam nas proximidades, possibilitando, desse
modo, um ataque conjunto, com maiores probabilidades de êxito.

30
História Militar Mundial

A partir do segundo semestre de


1942, entretanto, os Aliados
passaram a obter importantes
sucessos na luta contra os
submarinos, graças ao
desenvolvimento de novas
tecnologias para localizá-los e
destruí-los. Esses meios foram,
principalmente, sonares mais
eficientes, com os quais era
possível determinar a posição dos
transmissores de ondas curtas das
embarcações inimigas, aviões de
patrulha com maior autonomia e
O avião de patrulha antissubmarino PBY-5ª Catalina por ser lento
e com grande autonomia, tornou-se o maior caçador de cargas de profundidade mais
submarinos durante a Segunda Guerra Mundial. destrutivas.
Foi quando os U-boats deixaram de ser caçadores dos mares e viraram presas fáceis. A
taxa de mortalidade das tripulações atingiu 70%. Além disso, os britânicos, juntamente
com os norte-americanos, que entraram na guerra no final de 1941, melhoraram o sistema
de escoltas a seus comboios, inibindo a ação dos submarinos.

A agonia aliada terminou em maio de 1943, quando John Randall, cientista


britânico, inventou um novo sistema de radar de ondas curtas e tamanho
compacto o suficiente para ser instalado em aviões – o radar centimétrico.

Com base nele, os aviões e barcos passaram a localizar submarinos alemães na superfície
com relativa facilidade e afundá-los com cargas de profundidade. As perdas de U-Boats
alemães cresceram vertiginosamente, enquanto a taxa de torpedeamento de navios foi
drasticamente reduzida. O almirante Donitz procurou Hitler para transmitir-lhe as más
notícias: "Mein Führer, o fato é que agora os Aliados dispõem de um novo mecanismo
que lhes permite localizar nossos submarinos à tona d'água... Nossas perdas subiram
drasticamente. "
Os britânicos também conseguiram decifrar o código da máquina Enigma, empregado
pelos alemães nas comunicações navais, o que lhes proporcionou informações
antecipadas sobre as ações inimigas. Embora os submarinos alemães continuassem a ser
um perigo até o final da guerra, a partir de 1943, devido ao aprimoramento das medidas
antissubmarinas desenvolvidas pelos ingleses e norte-americanos, os efeitos de sua
atuação deixaram de ser relevantes. Quando a guerra terminou, dos 1.162 submarinos
construídos pelos alemães, 785 haviam sido destruídos.

31
História Militar Mundial

4. A Guerra se Expande para o Leste


Após a derrota da França, a eficácia do poder militar germânico era algo que transparecia
como incontestável. Em menos de um ano de guerra, Hitler havia restaurado as antigas
fronteiras de seu país e vingado a derrota de 1918. Para completar seus grandes objetivos
estratégicos, faltava-lhe apenas o prometido lebesraum e, ao mesmo tempo, eliminar o
regime comunista, com o qual havia assinado um Pacto de Não-Agressão.
A Operação Barbarossa, o ataque alemão contra a União Soviética, em julho de 1941, foi
a maior e mais vasto confronto entre forças terrestres da história. Seu sucesso inicial foi
colossal, com o grande Exército soviético sendo cercado e destruído em amplas batalhas.
Mas, no final daquele ano, com a chegada do inverno, o Exército alemão não conseguiria
tomar Moscou nem destruir o inimigo.

4.1 O Fracasso Militar Italiano


Como vimos, Mussolini também nutria apetites imperialistas, almejando reviver para a
Itália a glória e o poder dos tempos da Roma Antiga. E assim, os italianos também se
lançaram à guerra de conquista daquilo que o regime fascista entendia como o “espaço
vital” italiano, a região do mar Mediterrâneo e norte da África. Contudo, no caminho
dessas ambições italianas estavam os Aliados, especialmente, os ingleses.
Em agosto de 1940, o Duce ordenou que suas tropas posicionadas na atual Etiópia,
ocupassem a Somália Britânica. Tal operação foi bem-sucedida, encorajando o líder
fascista a desencadear duas novas invasões:
 ao Egito, visando a posse do canal de Suez, controlado pelos britânicos;

 sobre a Grécia, objetivando ocupar posições estratégicas nos Bálcãs.


Motivado pelo sucesso da Alemanha, Mussolini estava confiante de que seu exército
obteria sucesso em ambas as frentes, apesar de ter sido alertado pelos seus generais que
não era prudente a audaciosa campanha militar.
Em 13 de setembro de 1940, uma tropa formada por 236 mil italianos partiu da Líbia,
possessão italiana no norte da África, em direção ao Egito, defendido por
aproximadamente 36 mil soldados britânicos. Diante da esmagadora superioridade do
invasor, as tropas coloniais britânicas recuaram, estabelecendo uma linha defensiva em
Sidi Barrani, no deserto egípcio. O Exército italiano, comandado pelo general Rodolfo
Graziani, tinha larga superioridade numérica de tropas, mas sofria graves carências de
suprimentos devido à falta de veículos de transporte. A tropa italiana viu-se desabastecida
na linha de frente. Faltavam insumos básicos como água, comida, combustíveis e
munições.
Após três meses de campanha, os milhares de combatentes italianos permaneciam
estacionados em Sidi Barrani completamente esgotados pela caótica logística. Apesar da
desvantagem, os britânicos lutavam em seu próprio espaço colonial e se encontravam
muito próximos de suas linhas de suprimentos. Bem informado acerca da precária
situação do inimigo, o comandante inglês, general Archibald Wavell elaborou um plano
ofensivo.

32
História Militar Mundial

O contra-ataque britânico,
denominado Operação
Compasso, começou
empregando tropas coloniais
indianas, que arrasaram os
italianos em apenas 3 horas de
combate. O desfecho do golpe
em Sidi Barrani foi devastador
para as defesas italianas, que
desmoronaram com milhares de
baixas e rendições. Para cada
baixa britânica em combate, os
italianos perdiam 40 de seus
combatentes. O ano de 1940
Tropas italianas capturados pelos britânicos na Operação terminaria os italianos em fuga
Compasso. Muitos deles se entregavam simplesmente porque pelo Norte da África, sendo
estavam famintos e sem água, impossibilitados de continuar
recuando. perseguidos pelos britânicos.
Em 28 de outubro de 1940, seguindo o plano de expansão pelos Bálcãs de Mussolini,
divisões italianas penetraram na Grécia através da fronteira da Albânia. Nessa nova
invasão os italianos não tiveram melhor sorte frente aos determinados gregos que, embora
militarmente fracos, passaram a ser apoiados pelas forças britânicas, inclusive a RAF.
Novamente em situação de superioridade de efetivo, os italianos não lograram avançar
muito sobre o território grego e, em apenas três semanas de combates, estavam sendo
empurrados de volta para a Albânia. Em dezembro, os italianos só podiam recuar e já
haviam perdido 1/3 do território albanês diante da contraofensiva grega.

4.2 O Inoportuno Socorro à Itália


Diante dos fracassos militares de seu aliado e amigo, Hitler prontamente interveio
enviando tropas da Wehrmacht para ajudar o Exército italiano. Além das boas relações
com Mussolini, preocupava-lhe a possibilidade de os britânicos instalarem-se na Grécia,
de onde poderiam ameaçar os campos de petróleo da Romênia, vitais para a sobrevivência
máquina de guerra da Alemanha. Assim sendo, o alto-comando alemão foi forçado a
deflagrar duas operações:

 Operação Sonnenblume (Girassol), enviando tropas para o norte da África


para socorrer o Exército italiano que havia sido derrotado pelos britânicos;

 Operação Alpenveilchen (Violeta Alpina), que visava apoiar os italianos


igualmente vencidos na Grécia.
Para o norte da África, os alemães enviaram uma divisão blindada leve (núcleo básico do
Corpo Africano – Afrika Korps), comandada pelo famoso general Erwin Rommel. Em
março de 1941, Rommel lançou suas tropas, acrescidas por divisões italianas, em uma
ofensiva contra os britânicos, que dispunham, naquele momento, de somente uma força
de ocupação na Líbia. As forças do Eixo rapidamente venceram e tomaram diversas bases
britânicas.

33
História Militar Mundial

Foi no comando do Afrika Korps que o Rommel granjeou a alcunha de


"Raposa do Deserto", devido à sua audácia e astúcia nas táticas de
mobilidade com a tropas blindadas, chegando a ser respeitado até mesmo
entre seus adversários britânicos.

Nos meses seguintes, ambos os lados reforçariam suas tropas no sentido de disputar
posições estratégicas no norte africano. Com fartos suprimentos enviados pelos Estado
Unidos por via aérea, que incluíam cerca de 1 mil aviões e 700 tanques, os britânicos
formaram o robusto 8º Exército britânico. Agora reforçados, os britânicos contra-
atacaram as forças do Eixo obtendo êxito, obrigando Rommel a ceder boa parte do terreno
que havia conquistado.

General Rommel em operações do Afrika Korps no deserto do Egito. A presença de tropas alemãs no Norte da África
se deu somente em razão da necessidade de socorrer o fracassado Exército italiano.

A setembro de 1940, o governo fascista da Romênia aliou-se ao Eixo. Com isso, Hitler
enviou para lá tropas alemãs a fim de garantir as preciosas reservas de petróleo e usar o
território do país como base de apoio para a futura invasão da União Soviética. Em abril
de 1941, um contratempo político fez Hitler ordenar a invasão da Iugoslávia, pois o
governo desse país foi contrário à presença de tropas alemãs em seu território para atacar
a Grécia. A partir da Iugoslávia ocupada, os alemães atacaram a Grécia, derrotando o
enfraquecido Exército grego.

E, assim, a Grécia e a Iugoslávia tornaram-se mais dois países conquistados


pela Alemanha, desviando e comprometendo ainda mais tropas nessas
ocupações.

Em seguida, os alemães desencadearam uma grande campanha aerotransportada para


conquistar a ilha de Creta, onde os britânicos haviam instalado bases aéreas. A estratégica
ilha era defendida por soldados britânicos e gregos, que estavam mal equipados e com
pouca munição. Para conquistá-la, em 20 de maio de 1941, os alemães lançaram um
audacioso ataque mediante o lançamento de milhares de paraquedistas. Apesar de um
enorme número de baixas, os alemães conquistaram a ilha. As derrotadas tropas britânicas
e gregas foram evacuadas pela Marinha Britânica.

As imprevistas campanhas no norte da África, na Grécia e na Iugoslávia


acabaram por prejudicar os planos de Hitler de invasão da União Soviética.
Além do desvio do desvio de forças, a Operação Barbarossa, foi deflagrada
com o atraso de 5 semanas, resultando em uma janela de tempo menor para
as operações antes da chegada do inverno russo.

34
História Militar Mundial

4.3 A Operação Barbarossa


Enquanto concluía a derrota dos franceses, Adolf Hitler já tinha sua atenção voltada para
o Leste. Desde julho de 1940, o Alto-Comando alemão já estava envolvido com os planos
de invasão da União Soviética, ainda sob o codinome de Operação Otto. A vitória sobre
a France e fraco desempenho do Exército soviético na guerra contra a Finlândia fez os
alemães ficarem ainda mais confiantes de que teriam sucesso militar no Leste. Em
dezembro daquele ano, o Füher recebeu os planos militares finais para a invasão. Mesmo
assim ele fez alterações pessoais e denominou Operação Barbarossa3.

A data inicial da invasão foi programada para 15 de maio de 1941. Os


inesperados envolvimentos em campanhas no norte da África e nos Bálcãs
provocaram sucessivos adiamentos.

Desde cedo, havia evidências claras de


que Hitler estava se preparando para a
guerra no Leste. Em preparação para o
ataque, os generais alemães começaram
a reunir tropas junto da fronteira
soviética a partir do final de fevereiro
de 1941. O contingente chegava a mais
de 3 milhões de homens, incluído
soldados de alguns países aliados do
Eixo e dos países ocupados.
Apesar dos muitos informes do serviço
de inteligência soviético sobre a
movimentação militar, Stalin parecia Hitler com seus generais debruçados sobre os planos de
não acreditar. Ele confiava na vigência invasão da União Soviética.
do Pacto Molotov-Ribbentrop, de agosto de 1939, garantindo-lhe que uma agressão
germânica era algo improvável.
O ditador comunista também temia se indispor com o ditador vizinho que possuía a
melhor máquina de guerra do mundo, contra o qual sabia não ter ainda condições de
enfrentar. Por tudo isso, Stalin negligenciou medidas defensivas, sequer contra as
constantes violações do espaço aéreo soviético cometidas por aviões da Luftwaffe em
missões de reconhecimento ao longo da fronteira.
Para a campanha, o Exército alemão contava com 145 divisões, contingente que
acreditavam ser suficiente para sobrepujar o gigantesco Exército Vermelho4, composto
por cerca de 190 divisões. Apesar da inferioridade numérica, os generais alemães
calculavam que a campanha terminaria em 4 meses, antes do início do inverno. E isto era
um imperativo para o sucesso, pois todos sabiam que as operações não deveriam adentrar
durante o rigoroso inverno russo.

3
O codinome era uma homenagem a Frederico I, conhecido como “o Barbarossa” (barba ruiva), imperador do Sacro
Império Romano-Germânico na Idade Média. A escolha do personagem tinha um caráter simbólico. O imperador
germânico havia sido um dos líderes da Terceira Cruzada (1189-1192), conhecido por sua ambição como conquistador
e coragem no campo de batalha.
4 Como era também conhecido o Exército Soviético.

35
História Militar Mundial

A Operação Barbarossa foi concebida pelo Alto-comando da Wehrmacht como uma


ampla e monumental ofensiva de 3.200 quilômetros de extensão, dividida em três frentes
de grupos de exércitos, que tinham como objetivos as seguintes cidades soviéticas:
 Frente Norte – conquista de Leningrado (hoje São Petersburgo), alvo industrial
e ideológico por ter sido e berço da revolução comunista.
 Frente Central – conquista de Moscou, objetivo político por ser a capital
soviética e importante entroncamento ferroviário.
 Frente Sul – conquista de Kiev, cidade ucraniana considerada um importante
objetivo econômico pela produção agrícola e de matérias primas. Em seguida
rumariam para a região petrolífera do Cáucaso.

Muitos generais alemães se mostraram contra essa divisão, defendendo o princípio de concentração de
forças em uma única frente para a conquista de Moscou, mas Hitler insistia nas três frentes por entrever
o aspecto simbólico de cada cidade alvo conquistada.
Sem dar a menor satisfação a seus líderes da Itália e do Japão, o ataque alemão à União
Soviética começou pouco antes do amanhecer de 22 de junho de 1941, quando as forças
alemãs romperam a fronteira soviética. Os invasores já reuniam cerca de 4 milhões de
soldados, 600 mil veículos de transporte motorizado, 800 mil cavalos, 3,5 mil tanques, 3
mil aviões e 8 mil peças de artilharia.

Por significar a maior e mais poderosa força militar alguma vez reunida, a
invasão alemã da Soviética, em junho de 1941, é considerada a maior
operação militar terrestre da história, o maior embate entre grandes exércitos.

36
História Militar Mundial

Ainda na madrugada do dia 22, Stalin foi informado sobre a invasão, mas, mesmo assim,
parecia não acreditar. Ficou atordoado e, assim, retardou a devidas ordens para que seu
exército reagisse. O progresso inicial das tropas alemãs foi avassalador. As colunas
panzer manobravam com rapidez e conseguiam fragmentar as defesas soviéticas sem
dificuldades. Quando surpreendidas, as tropas soviéticas reagiam de forma
descoordenada, quando não, em completo caos.

Tropas alemãs cruzando a fronteira soviética em 22 de julho de 1941. A Frente Oriental, que foi aberta pela
Operação Barbarossa, se tornaria o maior teatro de guerra da Segunda Guerra Mundial, com algumas das
maiores e mais brutais batalhas, terríveis perdas de vidas e condições miseráveis para russos e alemães.

As ordens emitidas por Moscou obedeciam complexa cadeia burocrática e política até
chegarem à linha de frente, o que comprometia a pronta resposta militar. A falta de
liderança e de bons oficiais também era outra grave deficiência dos soviéticos. Outra
deficiência do Exército Vermelho era escassez de equipamentos rádio de comunicação.
Os soldados russos até que lutavam e defendiam suas posições com bravura, mas a
eficiência das táticas alemãs se mostrava decisiva.
As defesas soviéticas facilmente eram envolvidas, o que provocava a morte e a rendição
de centenas de milhares de soldados. Após algum tempo, a velocidade da progressão das
unidades Panzer foi tamanha que a infantaria e a logística não conseguiam acompanhá-
las, exigindo a desaceleração da ofensiva. A ordem irritou os comandantes das divisões
blindadas, entre eles o general Heinz Guderian, porque isso daria ao inimigo mais tempo
para organizar suas defesas.
A Luftwaffe rapidamente obteve a supremacia aérea ao destruir grande parte da Força
Aérea soviética ainda no solo. O resultado foi avassalador: estima-se que cerca de 1.800
aeronaves inimigas foram destruídas no primeiro dia. Dias depois, o Alto-comando da
Luftwaffe já contabilizava destruição de mais de 4.000 aviões soviéticos, tudo isso diante
da perda de apenas 150 aparelhos alemães.

37
História Militar Mundial

Os Junkers Ju-87 Stuka voavam


livremente sobre as linhas de defesa
soviéticas promovendo um
implacável bombardeio aéreo, que
abria o caminho para as unidades
terrestres prosseguissem a blitzkrieg.
Os caças alemães Messerschmitt Bf
109 reinavam absolutos nos céus,
abatendo quaisquer aviões soviéticos
que conseguissem decolar. Era
comum que pilotos de caça alemães
retornassem das missões tendo Aviões Polikarpov I-16 destruídos no solo por ação da
Luftwaffe. Os pilotos soviéticos sequer tiveram condições
abatido mais seis aviões inimigos em de decolar para engajar o combate.
apenas uma surtida.

A Campanha na União Soviética fez com que centenas de pilotos de caça


alemães pudessem alcançar o título de “as” da aviação.

Durante a campanha do Leste, Hitler pôs em prática sua política especial para lidar com
os povos eslavos, ignorando quaisquer leis de guerra ou condutas humanitárias no trato
da população civil. Os que sobreviviam eram feitos prisioneiros e seu destino poderia ser
a execução sumária ou o trabalho forçado até a morte por fome, frio ou doenças. Judeus,
ciganos e políticos comunistas eram sistematicamente executados em massa.

O conceituado general Heinz Guderian, se opunha a Hitler na prática da


política genocida. Ele defendia que a prática sistemática da crueldade era um
absurdo e estava atrapalhando a condução para os objetivos militares.

Quando as trágicas notícias da situação na linha de


frente chegaram a Moscou, Joseph Stalin entrou em
crise nervosa, chamando todos os seus generais de
covardes e incompetentes. Ao final de uma tensa
reunião com a cúpula de regime comunista
pronunciou abatido: “Lenin fundou o nosso país e
nós destruímos isso tudo”. Depois, retirou-se para
sua datcha5, onde permaneceria isolado por 3 dias em
completa depressão.
Enquanto isso, o Exército Vermelho sofria baixas
assombrosas, cerca de 3 milhões de soldados
morriam em combate ou eram friamente executados.
O implacável sucesso fez o general Franz Halder,
chefe do Estado-Maior alemão, estimar que o todo o
Exército Vermelho seria esmagado nas próximas
duas semanas. Com as divisões avançando cerca de
Ao ignorar informes do seu serviço 100 km por dia e vencendo todas as batalhas, Hitler
de inteligência, Stalin amargou a
surpresa da invasão alemã. chegou a dizer que a nova fronteira da Alemanha a
leste seria estabelecida nos Montes Urais.

5 Residência ou casa de campo em russo.

38
História Militar Mundial

Entretanto, pesadas chuvas de verão que provocaram vasyos lamaçais nas planícies da
Bielorrússia não tardaram a atrasar o avanço alemão, especialmente na Frente Central,.

Ainda em julho, as condições meteorológicas mudaram, dificultando as operações alemãs. As intensas chuvas
de verão, tornaram-se um tormento. As tropas blindadas e motorizadas não conseguiam se mover blindadas
em meio ao lamaçal, o que permitiu que às forças soviéticas recuassem e se reorganizassem.
Stalin aproveitou a oportunidade, saiu de sua reclusão e fez um pronunciamento à nação
conclamando o povo a lutar no que ele denominava de Grande Guerra Patriótica6.
Ordenou que todos os russos deveriam seguir a estratégia da “terra arrasada”7, retirando-
se para o leste e destruindo todos os recursos - animais e plantações – e ainda todas
instalações que pudessem ser utilizadas pelo inimigo. O Exército Vermelho se
encarregaria de destruir os depósitos, linhas ferroviárias, estradas, aeródromos e toda a
rede de infraestrutura no caminho dos invasores.

População russa resgatam pertences de seus lares em chamas, que teriam sido incendiados por ordem de
Stalin, como parte da estratégia de terra arrasada, em um subúrbio de Leningrado em 21 de outubro de 1941.

6 O termo é utilizado oficialmente na Rússia para se referir à Segunda Guerra Mundial.


7Terra arrasada ou terra queimada foi a estratégia que havia sido exitosa em 1812 ao deter a invasão de Napoleão
na Rússia.

39
História Militar Mundial

O ditador soviético ordenou ainda um amplo programa de remanejamento dos centros


industriais para regiões longínquas do Leste, longe do alcance dos invasores. Muitas das
fábricas, especialmente as fábricas de material militar, deveriam ser urgentemente
removidas para os Montes Urais ou para a Sibéria, longe do alcance dos invasores. Stalin
disse ainda que a população das terras invadidas deveria se lançar à guerra de insurgência
contra o invasor, pois o Exército Vermelho garantiria o suprimento de armas e munições.

Grande parte do sucesso da resistência soviética à invasão alemã se deu por


conta da aplicação da estratégia de terra arrasada. Tal estratégia já fora
aplicada com sucesso em 1812, durante a invasão de Napoleão à Rússia.

No decorrer da invasão, os soldados alemães relatavam surpresos terem encontrado


alguns blindados soviéticos nunca antes vistos. Eram pesados, muito bem blindados e
com canhões poderosos e destrutivos. Outros, de tamanho mediando, eram muito ágeis,
possuíam blindagem acentuadamente inclinada e suas lagartas eram incrivelmente largas.
Tratavam-se dos novos tanques KV1, KV2 e T 34, respectivamente, que ofereciam forte
oposição aos invasores. Os militares alemães não esperavam encontrar tanques soviéticos
tão avançados e modernos, pois haviam sido ensinados que o Exército Soviético era
grandioso, mas muito atrasado tecnologicamente.

O Panzer IV (esq) era, em junho de 1941, o maior e mais moderno tanque em operação no Exército Alemão.
O T-34 (dir) causou surpresa aos invasores, pois possuía uma combinação sem precedentes de poder de fogo,
mobilidade, proteção e robustez.

Esses novos tanques soviéticos eram, em todos os sentidos, superiores aos empregados
pelos alemães, inclusive aos Panzer IV, até então o maior e mais moderno carro alemão.
Contudo, a maioria dos blindados russos não possuía equipamentos de comunicação,
somente os dos comandantes das colunas. As unidades de tanques soviéticas ainda
utilizavam métodos arcaicos como bandeiras e sinais luminosos para transmitir ordens de
ataque e manobras.
Para piorar, as tripulações russas eram despreparadas, resultando em um baixo nível de
coordenação durante as batalhas, o que favorecia os alemães que tinham todos os seus
tanques com radiocomunicadores. Os oficiais alemães logo perceberam a falha e logo no
início das batalhas concentravam seus ataques sobre os carros dos comandantes
soviéticos. O resultado era que os demais terminavam como “baratas tontas” no campo
de batalha. E assim, os soviéticos perdiam todas os enfrentamentos entre tanques.

O poderio aéreo alemão permitiu que boa parcela dos temidos e novos
tanques T-34 e KV-1 que chegavam na linha de defesa fossem destruídos
pelos aviões da Luftwaffe antes que enfrentassem as unidades panzers.

40
História Militar Mundial

Para alento de Stálin, a Grã-Bretanha, que até então permanecia sozinha em guerra contra
a Alemanha, ofereceu seu apoio à União Soviética, propondo ajuda para enfrentar Hitler.8
Prontamente, Stalin aceitou a ajuda, propondo a Londres a assinatura de um tratado de
cooperação militar contra Hitler. Quando soube, Churchill disse, em tom irônico, que sua
palavra valia mais do que qualquer tratado formal, fazendo alusão ao inútil Pacto de Não-
Agressão de 1939. Quanto ao governo dos Estados Unidos, ainda neutro, mas atento aos
desdobramentos da guerra na Europa, informou que também se disporia a fornecer ajuda
militar a Moscou para combater a agressão alemã.

No dia 12 de julho de 1941, foi assinado um tratado de aliança militar entre o


Londres e Moscou. O documento tornou oficialmente a União Soviética um
país membro dos Aliados.

Em apenas quatro semanas de invasão, os alemães já haviam avançado mil quilômetros


dentro do território soviético, com as três frentes de exércitos em posição de muita
proximidade das cidades de Moscou, Leningrado e Kiev. Foi quando Adolf Hitler, muito
satisfeito e confiante, resolveu intervir diretamente nos planos militares ordenando que
os exércitos da Frente Central, cujo alvo era Moscou, cedessem unidades panzers para o
fortalecimento das Frentes Sul e Norte, que ele considerava, agora, mais prioritárias.

Durante o desenrolar da Operação Barbarossa, Hitler decidiu alterar os planos e transferiu tropas da Frente
Central para reforçar as Frentes Norte e Sul. Para ele, a conquista de Moscou poderia esperar.

Como era de se esperar, os comandantes da Frente Central protestaram, em especial o


general Heinz Guderian, que dizia, desde o início da campanha, que o principal objetivo
estratégico deveria ser a capital Moscou. Mas, Hitler não deu ouvidos aos seus generais
e impôs sua vontade, ordenando o remanejamento interno de tropas internas, o que levou
ao enfraquecimento da Frente Central, retardando o avanço sobre Moscou.

8Inusitadamente, há cerca de 1 ano atrás, quando da vitória alemã sobre a França em, Stalin havia enviado uma
mensagem de congratulações a Hitler, então um aliado. Como se vê, o mundo deu muitas voltas na Segunda Guerra
Mundial.

41
História Militar Mundial

Segundos os historiadores militares, essa decisão pessoal de Hitler se


mostraria desastrosa, vindo a efetivamente comprometer todo o sucesso da
Operação Barbarossa.

No dia 7 de agosto de 1941, reforçados com mais tanques enviados da Frente Central, os
exércitos da Frente Sul atingiram Kiev, iniciando uma longa e sangrenta batalha pela
tomada da capital ucraniana, que foi finalmente conquistada no dia 26 de setembro. A
Frente Norte atacou Leningrado em 8 setembro, mas encontrou a cidade muito bem
defendida, sendo estabelecida uma longa guerra de sítio9, no qual os alemães
bombardearam a cidade sem jamais conseguir conquistá-la.

O mês de outubro foi marcado pela rasputisa, fenômeno das intensas chuvas
de outono da Rússia que produzem intensos alagamentos e lamaçais.
Novamente as tropas alemãs se viram atoladas e retardaram seu avanço.

Depois das chuvas de outono, o inverno congelante russo chegou maneira abrupta. As
temperaturas começaram a despencar e pegaram os alemães despreparados. Até aquele
momento, somente a Frente Sul havia atingido seu objetivo. Na Frente Norte, Leningrado
permanecia sitiada e impondo tenaz resistência. A Frente Central se encontrava a 80 km
de Moscou. Em dezembro, parte de uma divisão de infantaria alemã avançou até 24 km
do centro da capital. Eles estavam tão perto que os oficiais alemães afirmaram que podiam
ver as torres do Kremlin. Todavia, haviam chegado tarde demais pois o frio intenso já
comprometia a capacidade ofensiva.

Com a chegada do inverno russo, o Exército Alemão ficou paralisado. Seus veículos e equipamentos não operavam
sob tão baixas temperaturas. Milhares de soldados alemães sucumbiram diante da fome e do frio intenso,
agravado pelo rompimento das longas linhas de suprimento na imensidão do território da Rússia.

9Sítio ou cerco é um método de estratégia militar onde unidades militares cercam uma fortificação, cidade ou área
onde o inimigo se abriga, com o intuito de não permitir sua evasão ou o recebimento de provisões. Geralmente, nesta
estratégia, é comum o uso de armas de assédio para a destruição de edificações. A técnica do cerco, tanto a de defesa
como a do ataque, chama-se poliorcética.

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História Militar Mundial

No decorrer do inverno, a invasão da Rússia se tornou um pesadelo para os alemães.


Hitler foi obrigado a aceitar, com relutância, a paralização da ofensiva em 8 de dezembro.
As linhas de suprimento, que já estavam muito alongadas, foram interrompidas pela neve
ou pelo ataque de grupos insurgentes. A fome e o frio intenso começaram a causar severas
baixas nas tropas germânicas.

A Wehrmacht não estava preparada para combater no inverno russo. Os


uniformes dos soldados alemães não eram adequados às baixas
temperaturas. Os veículos, aviões e tanques ficaram paralisados, atolados na
neve ou com os motores congelados.

Logo em seguida, reorganizado e estando melhor adaptado às condições de combate no


inverno, o Exército Vermelho desferiu um maciço contra-ataque contra as linhas alemãs.
Muitas das novas tropas russas haviam sido trazidas da Sibéria. Ao contrário dos Panzers,
os tanques T-34 operavam com desenvoltura na neve. A ofensiva parou em 7 de janeiro
de 1942, depois de ter empurrado os exércitos alemães de volta a 100-250 km de Moscou.
O mito da invencibilidade do Exército alemão quebrou-se na Batalha de Moscou,
encerrada em janeiro de 1942 com a decisiva vitória do Exército Vermelho.

A Operação Barbarossa terminou sem que as cidades de Moscou e


Leningrado fossem conquistadas. Apenas a Frente Sul foi bem-sucedida ao
ocupar Kiev.

Após o fim do inverno e recebendo reforços, em maio de 1942 a Wehrmacht retomou à


ofensiva na Rússia. A prioridade foi dada a Frente Sul que, depois de Kiev, deveria
conquistar a região do Cáucaso, rica em
reservas petrolíferas, essenciais para a
economia de guerra da Alemanha.
Os exércitos da Frente Norte
mantiveram, sem sucesso, a pressão
sobre o cerco a Leningrado, enquanto o
os exércitos da Frente Central deveriam
apenas manter posição sobre Moscou. Na
primavera de 1942, a Frente Sul
prosseguiu com sucesso em direção ao
Cáucaso, porém, no final de junho,
desviariam a campanha para conquistar
da cidade de Stalingrado, situada às Dezembro de 1941. Tropas soviéticas em equipamento de
margens do rio Volga. inverno, apoiadas em tanques, contra-atacam as forças
alemãs.

43
História Militar Mundial

5. A Guerra no Pacífico
Enquanto os soviéticos começavam a deter os alemães na Europa Oriental, a atenção do
mundo voltou-se para a região do Pacífico pela entrada de novos atores beligerantes. Até
1941, a Segunda Guerra Sino-Japonesa, iniciada em 1937, parecia ser um conflito distante
e isolado, embora o expansionismo do Japão Imperial preocupasse as potências
ocidentais, especialmente os Estados Unidos.
Em 7 de dezembro tudo mudou, os japoneses atacaram a base naval norte-americana de
Pearl Harbor, no Havaí. No dia seguinte, o presidente Roosevelt, em memorável discurso
no Congresso americano, declarou guerra ao Japão. Quatro dias após Pearl Harbor, a
Alemanha e a Itália declararam guerra aos Estados Unidos, atraindo os americanos
também para a guerra europeia. A Segunda Guerra Mundial vê se abrir mais um Teatro
de Operações, o do Pacífico. Nele, os países Aliados travariam uma guerra total contra o
Japão.

A ataque japonês a Pearl Harbor fez com que os Estados Unidos


abandonassem sua política isolacionista. O episódio especialmente significou
a expansão de um conflito até então centralizado na Europa e que passou a
assumir um caráter efetivamente global.

5.1 O Japão Imperialista em Xeque


Depois de anexar a Coréia e invadir partes da China, o Império do Japão pretendia
expandir seus domínios por todo o Sudeste Asiático, apoderando-se das colônias
europeias para extração de recursos econômicos considerados estratégicos. Para cumprir
tais metas, era necessário estabelecer um perímetro defensivo no Oceano Pacífico,
mediante a imposição do Poder Naval japonês. A presença da esquadra americana do
Pacífico, sediada no Havaí, nada fez para conter o ímpeto expansionista nipônico. Muito
pelo contrário, foi vista como uma grande ameaça.

Em 1941, a Marinha Imperial do Japão era a terceira maior força naval do


mundo, com 10 porta-aviões. Sua frota de destroieres era enorme e os
maiores e mais poderosos encouraçados jamais construídos eram o Yamato
e o Musashi.

Quando Hitler invadiu a França e a Holanda, as colônias asiáticas desses países ficaram
órfãs. Aproveitando a vulnerabilidade, em setembro de 1940, O Japão invadiu a Indochina
Francesa, com o “consentimento” do governo fantoche de Vichy. O Vietnã produziria o
arroz necessário para alimentar os soldados e marinheiros do Império do Sol Nascente,
mas a invasão também visava bloquear a entrada de armamentos, combustível e
equipamentos fornecidos pelos Estados Unidos para a China.10 Era o motivo que o
presidente Roosevelt precisava para impor ao Japão uma forte pressão econômica.

10O governo americano havia se comprometido a defender a China da agressão japonesa. Esse apoio se dava
mediante o fornecimento de armas e outros equipamentos americanos para que o governo chinês, chefiado Chiang
Kai-shek, exilado na cidade de Xunquim, no interior da China.

44
História Militar Mundial

Em represália à invasão da Indochina, o governo de Washington bloqueou


todos bens e negócios japoneses nos Estados Unidos. e suspendeu todas as
exportações americanas para o país, inclusive de petróleo.11

A Grã-Bretanha seguiu os americanos e embargou o fornecimento de petróleo do Golfo


Pérsico, a borracha da Malásia, além de outras matérias-primas. As sanções pretendiam
forçar o Japão a recuar em sua política expansionista na Ásia. Os líderes japoneses viram-
se acuados e diante de um dilema: ceder às exigências americanas e retroceder ou buscar
novas fontes de petróleo mais próximas, o que significava novas invasões.

Mapa da Ásia-Pacífico em 1940. Os EUA possuíam diversas possessões e bases espalhadas pelo Pacífico,
representando uma séria ameaça à política expansionista do Japão. As reservas de petróleo da região estavam na
ilha de Bornéu, uma colônia da Holanda.

A última opção também significava se opor aos Estados Unidos, porque as reservas de
petróleo disponíveis na Ásia estavam em Bornéu, nas Índias Orientais Holandesas12, atual
Indonésia. No caminho para Bornéu estava o arquipélago das Filipinas, uma possessão
americana. A guarnição americana nas Filipinas tinha um poder militar considerável, com
cerca de 30 mil soldados, dois batalhões de tanques e 142 aviões.
Desde o aumento das tensões no Oriente, o governo americano procurou reforçar a
guarnição filipina, mostrando estar disposto a intervir para defender suas possessões, bem
como a de britânicos e holandeses. Em dezembro, a força combinada de defesa das
Filipinas, já somava dez divisões, e se encontrava sob o comando do general norte-
americano Douglas MacArthur.

11A medida foi um duro golpe, pois 80% do petróleo consumido pelo Japão provinha dos Estados Unidos, das reservas
do Texas.
12Com a invasão da Holanda pela Alemanha, em 1940, a administração das colônias ficou a cargo de um governo
holandês estabelecido no exílio, em Londres.

45
História Militar Mundial

O risco de invadir Bornéu para garantir acesso ao petróleo, colocava os


japoneses perigosamente próximos ou mesmo no caminho das Filipinas,
ocupadas pelos Estados Unidos desde 1898.

Sem suprimento de petróleo e considerando ainda que o governo americano apoiava a


China, o primeiro-ministro Tojo decidiu que só poderia resolver essas questões mediante
o uso da força contra os Estados Unidos. Naquela época, os japoneses desenvolviam um
certo desprezo pelos valores ocidentais da sociedade americana. Diziam que os
americanos viviam em uma cultura decadente, voltada aos prazeres e ao consumismo
desenfreado e que jamais teriam o espírito de luta do povo japonês.
Apesar de todo o ímpeto, os estrategistas japoneses
sabiam que não poderiam vencer os Estados Unidos em
uma guerra prolongada, pois tratava-se de uma grande
potência econômica e industrial. Alguns chefes
militares, em especial o respeitado almirante Isoroku
Yamamoto, se opunha a uma guerra contra os
americanos.
Yamamoto conhecia bem os Estados Unidos, pois havia
estudado na Universidade de Harvard e servido como
adido naval em Washington. Todavia, sua voz não era
maioria no Alto-Comando militar japonês e o general
Tojo, determinado a ir à guerra, estava no comando do
governo. Almirante Isoroku Yamamoto

O plano de Tojo era desencadear uma rápida e ampla ofensiva pelo Pacífico, conquistando
colônias e bases militares dos países ocidentais. Isso incluía invadir Guam, Tailândia,
Filipinas, Ilhas Salomão, Bornéu, Cingapura, Malásia, Birmânia, Hong Kong e parte da
Nova Guiné. Tais conquistas, calculavam os estrategistas nipônicos, dariam
autossuficiência econômica ao Japão e formaria o desejado perímetro defensivo capaz de
resistir às contraofensivas dos norte-americanos.
A aventura expansionista de Tóquio dependia, em grande parte, da ação da Marinha
Imperial japonesa, na qual um dos mais destacados almirantes era justamente Yamamoto,
que era contra a guerra. Mas como um bom militar profissional, o comandante da
Esquadra Combinada acatou as ordens superiores e se dedicou à tarefa de como enfrentar
os Estados Unidos. O almirante sabia que não poderia atacar as possessões americanas
no Pacífico, sem antes neutralizar a frota da Marinha americana, sediada no Havaí.

O almirante Yamamoto planejou que a única chance de vitória do Japão seria


desferir um golpe decisivo sobre a base naval americana de Pearl Harbor,
destruindo toda a esquadra lá ancorada.

Com a esquadra americana nocauteada no Havaí, a Marinha Imperial japonesa estaria


livre para operar nas pretendidas ações navais do Sul. Com supremacia naval assegurada
no Pacífico, os americanos certamente seriam obrigados a negociar, assim pensava o
comandante da Esquadra japonesa. Com carta branca de Tojo e de todo o Alto-Comando
militar, o almirante Yamamoto dedicou-se ao planejamento minucioso do ataque. O
maior risco seria perder o fator surpresa.

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História Militar Mundial

5.2 Pearl Harbor


O ataque aéreo contra a base naval americana em Pearl Harbor, no Havaí, teve início em
uma manhã de domingo, em 7 de dezembro de 1941, quando os japoneses esperavam
encontrar toda a Frota Americana do Pacífico atracada. A primeira onda de ataques, de
183 aeronaves, era composta por torpedeiros Nakajima B5N Kate e bombardeiros de
mergulho Aichi D3A Val escoltados por caças Mitsubishi A6M Zero. Os aviões partiram
de 6 porta-aviões que haviam se aproximado 350 km da costa do arquipélago.
Embora fossem detectados por uma estação radar, os aviões japoneses foram confundidos
com um esquadrão de Boeing B-17 que presumidamente chegariam nas ilhas vindos da
Califórnia. A surpresa do ataque japonês foi total. Enquanto parte dos caças e
bombardeiros de mergulho atacavam os aviões americanos estacionados na base aérea,
os aviões torpedeiros foram em direção ao porto para atacar os encouraçados lá atracados.
Em pouco tempo, 6 encouraçados estavam em chamas e seriamente atingidos.

O primeiro enxame de aviões priorizou o ataque ao aeródromo, pois


pretendiam impedir que o caças americanos decolassem para fazer o
combate. Os pilotos japoneses encontraram quase todos os aviões
estacionados no pátio, que foram alvos fáceis.

A segunda onda a chegar, composta por 167 aviões, atacou depósitos de combustíveis e
pistas de pouso. Em menos de 2 horas, o fulminante ataque japonês destruiu 188 aviões
e avariou outros 159. As baixas humanas somaram 2.355 mortos e 1.143 feridos, em sua
grande maioria militares. A força naval, principal alvo do ataque, foi seriamente atingida
com 6 navios de guerra terminando afundados e outros 13 sendo seriamente danificados.

O USS Arizona era um dentre os 8 encouraçados ancorados em Pearl Harbor. Naquela manhã o navio foi
bombardeado seguidas vezes.

Os americanos se achavam protegidos pela pouca profundidade das águas de Pearl


Harbor, mas os japoneses, surpreendentemente, haviam desenvolvido um tipo de torpedo
que podia ser lançado em águas rasas. O golpe mais devastador se deu com o encouraçado
USS Arizona, que teve seu paiol atingido por um desses torpedos lançados por um avião
Nakajima B5N Kate. A grande explosão resultante, seguido do rápido afundamento,
matou 1.177 marinheiros, representando cerca de 50% do total das mortes. Para os
japoneses, foi um feito militar perfeito.

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História Militar Mundial

Apesar do aparente êxito, o ataque japonês a Pearl Harbor não foi totalmente
bem-sucedido, pois não atingiu os porta-aviões Enterprise, Lexington e
Saratoga, que, por acaso, encontravam-se, naquele dia, fora do porto,
realizando exercícios em alto mar.

Outra falha decisiva foi que os aviões japoneses não atingiram o principal depósito de
combustíveis da Marinha. Se esses depósitos tivessem sido atingidos, atrasaria ainda mais
as chances de uma reação rápida Marinha americana, que ficaria longo tempo sem um
meio para abastecer os navios futuramente deslocados da Frota do Atlântico. Outro local
que não estava na lista de alvos dos japoneses era o estaleiro de manutenção, que pôde
continuar a fazer reparos nas embarcações. Percebendo a falha, o almirante Yamamoto
tentou planejar um segundo ataque a Pearl Harbor, que acabou não sendo consumado.
No dia seguinte ao ataque, o presidente
Franklin D. Roosevelt proferiu o seu
famoso “Discurso da Infâmia” em uma
Sessão Conjunta do Congresso, na qual
pediu uma declaração formal de guerra ao
Império do Japão. O pedido foi aceito em
menos de uma hora. Seguindo os
americanos, nesse mesmo dia, o Reino
Unido também se pôs em guerra contra o
Japão. No dia 11 de dezembro, em apoio
aos japoneses, Alemanha e Itália
declararam guerra aos Estados Unidos.
No mesmo dia, o Congresso americano
respondeu, formalizando guerra à
Presidente Roosevelt em discurso no Congresso.
Alemanha e Itália

A Segunda Guerra Mundial delineava, assim, seus principais protagonistas:


de um lado os países do Eixo – Alemanha, Itália e Japão – e do outro os
Aliados – Grã-Bretanha, União Soviética e Estados Unidos.

Com a esquadra americana nocauteada, imediatamente os japoneses deram início à


planejada expansão em direção ao Pacífico Sul. No dia seguinte as Filipinas, possessão
dos Estados Unidos, foram invadidas pelo Exército japonês. Em poucos dias, os japoneses
já haviam dominavam a principal ilha do arquipélago a guarnição local não pode conter
os invasores. Com a situação se deteriorando o presidente Roosevelt ordenou general
Douglas MacArthur, que se fosse para Austrália para não ser feito prisioneiro dos
japoneses. Foi durante essa retirada, ao embarcar nas lanchas de resgate, que o general
MacArthur pronunciaria sua histórica frase: “Eu voltarei”.
Após longas e duras batalhas, a guarnição filipino-americana não resistiu e as ilhas caíram
em poder dos japoneses. Os soldados americanos e filipinos sobreviventes foram feitos
prisioneiros e tratados sob condições desumanas em campos de concentração. Milhares
não suportaram e acabaram morrendo pela fome, trabalhos forçados ou simplesmente
foram sumariamente executados pelos soldados japoneses.

48
História Militar Mundial

Simultaneamente, os japoneses investiram contra as colônias britânicas de Hong Kong,


Cingapura e Malásia e Birmânia. As guarnições coloniais se entregaram diante da
superioridade militar dos invasores. No mar, aviões da Marinha japonesa afundaram dois
poderosos navios de guerra britânicos. As ilhas de Guam e Wake, outras possessões
americanas, também acabaram ocupadas.
A Tailândia, um reino independente, caiu em poder das tropas nipônicas e serviu de
trampolim para a invasão da Birmânia, que era colônia britânica. Em poucas semanas de
seguidas conquistas, as forças nipônicas atingiram a meta principal, a preciosa ilha de
Bornéu, com suas ricas reservas de petróleo. Em março de 1942, os japoneses haviam
alcançado seus objetivos estratégicos iniciais, estabelecendo o almejado perímetro de
defesa.

As rápidas e sucessivas vitórias do Japão eram comparáveis às que a


Alemanha tinha feito na Europa. Nada detinha a blitzkrieg japonesa no
Pacífico.

Mapa das ocupações do Japão em janeiro de 1942. A “blitzkrieg” japonesa atingiu aa Filipinas, a Malásia,
Birmânia, as Índias Orientais Holandesas, a Nova Guiné e as Ilhas Salomão.

O ataque japonês a Pearl Harbor foi uma estupenda vitória tática, mas um grande erro
estratégico. A reação dos Estados Unidos não foi como os japoneses calculavam. Longe
de ser abatido psicologicamente, o povo americano se uniu e reagiu com disposição para
a guerra. A mobilização foi rápida. O poder industrial converteu-se em favor da
construção de uma colossal máquina de guerra. As juntas de alistamento ficaram
abarrotadas de jovens voluntários. O sentimento patriótico de revidar os agressores
contagiou toda a sociedade americana.

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História Militar Mundial

O ATAQUE DOOLITTLE – 30 SEG SOBRE TÓQUIO


Declarada a guerra, o presidente Roosevelt viu a necessidade de dar uma
pronta resposta aos japoneses. Ele queria uma demonstração de força, uma
retaliação, que causasse impacto positivo no moral do povo americano e
grande repercussão pública. Reunido com seu Estado-Maior, Roosevelt
pediu que fosse planejado, com urgência, um ataque ao Japão. Ficou
acertado um bombardeio aéreo sobre Tóquio. Contudo, o problema era como
realizar tal proeza, pois o alvo ficava fora do alcance de qualquer base
americana no Pacífico.
A ousada missão foi entregue ao ten-cel av.James Doolitle, que treinou tripulantes e adaptou aviões
B-25 Mitchell para que pudessem operar em porta-aviões. Entretanto, o B-25 decolavam, mas não
conseguiam pousar. A esquadra se aproximaria a 650 km da costa japonesa e depois de lançar os
aviões, teria que voltar imediatamente, para evitar ser detectada e atacada pela Marinha japonesa.
Com autonomia limitada, seria uma viagem sem volta para todos os B-25. O pouso deveria ocorrer
em campos no litoral da China, a 1.100 km de distância depois do alvo.
Em 18 de abril de 1942, o USS Hornet partiu com dezesseis B-25 no convés, mas foi detectado por
um barco de patrulha japonês a 1.200 km da costa. Para não perder o fator surpresa, os aviões
partiram imediatamente. O B-25 do ten-cel Doolittle foi o primeiro a decolar. Com o alcance ainda
mais reduzido, sobrevoaram furtivamente Tóquio e despejaram suas bombas sobre diversos alvos.
Foram atingidas algumas fábricas, depósitos de combustíveis e inclusive os jardins Palácio Imperial.
Os japoneses não tinham radar nem defesas antiaéreas preparadas. A surpresa foi total. As bombas
causaram danos pouco significativos, mas o impacto sobre a população de Tóquio foi enorme. Os
generais e almirantes japoneses ficaram indignados.
Com pouco combustível, alguns aviões chegaram quase em
pane seca em campos da China. Dois aviões não conseguiram
atingir o litoral chinês e caíram no mar. Os tripulantes saltaram
de antes paraquedas, dois morreram na queda e oito foram
capturados pela Marinha japonesa e feitos prisioneiros. No
final da guerra apenas cinco deles sobreviveram e seriam
libertados. Apesar de tudo, quando as notícias do Ataque
Doolittle foram publicadas na imprensa, em 1942, o povo
americano vibrou.

5.3 Batalha do Mar de Coral


O Ataque Doolittle fez os japoneses perceberem que eram vulneráveis à ação dos porta-
aviões americanos. O episódio fortaleceu o pensamento do almirante Yamamoto junto ao
Alto-Comando de era uma prioridade eliminar o que restara da Frota Americana do
Pacífico, agora comandada pelo almirante Chester Nimitz. Só assim o Japão estaria
seguro para prosseguir em sua expansão, dizia ele. Yamamoto começou a conceber a
oportunidade para realizar uma batalha decisiva contra a Marinha dos Estados Unidos.
Para assegurar suas conquistas, os japoneses resolveram ampliar o perímetro defensivo
no Oceano Pacífico mediante a ocupação de novas posições na Melanésia13. No dia 4 de
maio de 1942, uma poderosa Força Tarefa avançou rumo ao Sul para cobrir o

13
Melanésia (palavra de origem grega que significa "ilhas dos negros") é uma região da Oceania, no extremo oeste
do Oceano Pacífico e a nordeste da Austrália, que inclui os territórios das ilhas Molucas, Nova Guiné, ilhas
Salomão, Vanuatu, Nova Caledónia e Fiji.

50
História Militar Mundial

desembarque de tropas nas ilhas Salomão e na Nova Guiné. O principal objetivo seria
tomar a colônia britânica de Port Moresby, na Nova Guiné, de onde aviões aliados
decolavam para atacar as posições avançadas japonesas.
A localidade era ainda um ponto estratégico que se converteria em uma importante base
para lançar um futuro ataque à Austrália. A operação anfíbia deveria ser tranquila pois os
locais de desembarque eram fracamente defendidos. O único problema é que os
americanos já sabiam das intenções japonesas.

Os criptógrafos da Marinha americana haviam decifrado os códigos secretos


japoneses e quando Tóquio mandou o sinal do codinome "Plano MO" para os
comandantes navais, o Serviço de Informações da Marinha norte-americana
estava na escuta.

A tomada de Port Moresby significava que os japoneses teriam o controle do Pacífico Sul e ameaçariam a
Austrália.
O desembarque nas Ilhas Salomão ocorreu com tranquilidade em Tulagui. Em seguida, a
esquadra japonesa cruzou o Mar de Salomão em direção a Port Moresby. Quando penetrou
no Mar de Coral, na costa nordeste da Austrália, os japoneses detectaram a presença de uma
esquadra norte-americana. Esta era formada por 2 porta-aviões, 9 cruzadores, 13
destroieres, 2 petroleiros e 128 aviões. A esquadra japonesa era composta por 3 porta-
aviões, 9 cruzadores, 15 destroieres, 1 petroleiro, 15 navios cargueiros e 127 aviões.
A Marinha japonesa jamais havia confrontado uma força naval em mar aberto em
igualdade de poder. Era a oportunidade que o almirante Yamamoto desejava para liquidar
o que havia sobrado da Frota Americana do Pacífico, especialmente seus porta-aviões.
Deu-se então, nos dias 7 e 8 uma de maio uma surpreendente e inédita batalha naval com
ambas as esquadras tentando se esconder uma da outra e com os porta-aviões lançando
seguidas ondas de aviões para destruir os navios do inimigo.

51
História Militar Mundial

A Batalha do Mar de Coral foi a primeira grande batalha no mar


exclusivamente travada por aviões baseados em porta-aviões. Foi também a
primeira batalha naval da história em duas esquadras se enfrentaram
sem o contato visual uma da outra.

Os norte-americanos, ainda inexperientes no combate aeronaval, amargaram a perda do


porta-aviões USS Lexington, enquanto o outro, o USS Yorktown, terminaria o combate
com sérios danos. Perderam ainda 1 destroier, 1 petroleiro, 69 aviões e o saldo de 656
marinheiros mortos. Do outro lado, os grandes porta-aviões Shokaku e Zuikaku sofreram
danos graves, mas o pequeno Shoho terminou afundado. Os japoneses perderam ainda 1
destroier, 3 navios menores e tiveram 92 aviões abatidos. Morreram 966 marinheiros
japoneses em combate.

As esquadras americanas e japonesas sequer trocaram tiros entre si. Os aviões foram os principais vetores nos
combates do Mar de Coral, sendo responsáveis pela destruição dos navios de ambos os lados.

Segundo os historiadores, a Batalha do Mar de Coral acabou teoricamente em empate,


pois ambos os lados tiveram severas perdas. Cada lado perdeu um porta-aviões e teve
outros seriamente danificados. Em termos táticos, o Japão saiu vitorioso pois conseguiu
destruir um precioso porta-aviões inimigo, o USS Lexington, debilitando seriamente o
poder naval americano no Pacífico. Entretanto, em termos estratégicos, foi uma
importante vitória dos Estados Unidos, pois os japoneses foram barrados em seu avanço
expansionista em direção ao Pacífico Sul, o que certamente ameaçaria a Austrália.

A Batalha do Mar de Coral marcou uma nova era na guerra naval, revelando
a superioridade dos meios aéreos sobre os meios flutuantes.

A Segunda Guerra Mundial testemunhou o fim dos combates diretos entre as


artilharias das embarcações. Os encouraçados perderam importância e
deram lugar aos porta-aviões como principais navios de guerra.

52
História Militar Mundial

5.4 Batalha de Midway


No final da primavera de 1942, o Japão estava em um impasse diante dos Estados Unidos.
Depois do sucesso parcial no Mar de Coral, o almirante Yamamoto buscava atrair o
restante da frota americana para uma nova batalha, para obter uma vitória rápida e
conclusiva. Ele temia que a guerra se prolongasse, pois, sabia da imensa capacidade
industrial e de recursos dos americanos. Seu plano era atrair os porta-aviões americanos14
para fora da base de Pearl Harbor para fazer um confronto decisivo que destruiria
totalmente a Frota do Pacífico do almirante Nimitz.
O local escolhido foi um atol de posse dos Estados Unidos bem no meio Pacífico:
Midway, distante 2.110 km do Havaí. A ilha era estratégica e servia como importante
aeródromo e base de reabastecimento. Yamamoto idealizou uma emboscada
cuidadosamente planejada para bombardear e invadir a ilha. Os japoneses tomariam a
pista de pouso local e, assim, teriam assegurado o controle do espaço aéreo operando seus
aviões a partir do aeródromo. Quando a esquadra americana chegasse, cerca de 2 a 4 dias
depois, seria surpreendida por uma robusta esquadra japonesa formada por 4 porta-aviões,
248 aviões e outros 17 navios de guerra.

O comandante japonês para o ataque a Midway era o vice-almirante Chuichi


Nagumo, que não se relacionava bem com Yamamoto, seu superior. De estilo
conservador, Nagumo não era um adepto das novas táticas de emprego do
poder aéreo naval.

Do outro lado, o almirante Nimitz, comandante da Frota do


Pacífico procurava reverter a maré da guerra buscando saber qual
seria o próximo passo dos japoneses. Para isso, a Marinha
americana priorizou o Serviço de Inteligência. Conhecendo os
códigos secretos usados pelos japoneses, eles detectaram, em 20
de maio de 1942, mensagens sobre planos para um ataque ao “alvo
AF”, em algum lugar do Pacífico. O problema era que os oficiais
da Inteligência naval não conseguiam identificar onde seria o
“alvo AF”. Seria uma referência à ilha de Midway, ou às ilhas
Aleutas, ou significaria um novo ataque a Pearl Harbor? Alte. Chester Nimitz
discurso no
Foi um oficial da equipe de Inteligência do Havaí, sugeriu uma artimanha para
desvendar a questão. A estação rádio de Midway foi instruída a enviar uma
falsa mensagem descodificada relatando problemas no sistema de
abastecimento de água.15

Quase que imediatamente, os decodificadores da Marinha americana interceptaram uma


mensagem dos japoneses com os seguintes dizeres: “O alvo AF está com problemas de
água”. Com a certeza de que próximo o alvo era Midway, o almirante Nimitz, preparou-
se para a batalha, dizendo que Yamamoto não faria em Midway um novo Pearl Harbor.

14 Depois de transferir navios da Frota do Atlântico, nesse momento a Frota do Pacífico tinha três porta-aviões: USS
Enterprise, USS Hornet e o USS Yorktown. Os japoneses não contavam que o Yorktown pudesse ter sido reparado em
tempo dos danos sofridos no Mar de Coral. O USS Saratoga encontrava-se na Califórnia em reparos.
15 Não havia água potável em Midway e o abastecimento era feito por meio de uma usina de dessalinização.

53
História Militar Mundial

No dia 3 de junho de 1942, os japoneses lançaram um ataque diversionista sobre a ilhas


Aleutas, ao norte, próximo ao Alaska. Não passava de um engodo para desviar a atenção
da frota naval americana. Mas o almirante Nimitz, sabedor dos planos do inimigo, não
mordeu a isca, e não deslocou nenhuma embarcação para o local.
A batalha teve início na manhã de 4 de junho
de 1942, quando a esquadra de Nagumo
aproximou-se de Midway e lançou seus
aviões para bombardear o atol. Chegando lá,
os pilotos japoneses lançaram suas bombas,
mas se surpreenderam por não encontrar os
aviões americanos estacionados na pista.
Enquanto isso, a esquadra americana,
comandada pelo almirante Frank Fletcher,
zarpava de Pearl Harbor em direção a
Midway com 3 porta-aviões, 233 aviões
embarcados e outros 16 navios de guerra.
Posicionaram-se em um local onde pudessem
Mapa da Batalha de Midway.
surpreender os japoneses.

Enquanto o grosso dos aviões japoneses atacavam Midway, um esquadrão


de aviões americanos achou a frota japonesa na imensidão do mar. Foi um
alvo fácil, pois, naquele momento estavam sem a proteção dos caças.

O almirante Nagumo ficou atônito ao ser informado por um de seus aviões de


reconhecimento que uma esquadra americana estava nas imediações. As informações
eram pouco precisas sobre como era formada a esquadra inimiga. Inflexível e inexperiente
no emprego aéreo, Nagumo se viu diante de tomada de decisões cruciais que envolviam
ordenar fazer a defesa de seus navios esquadra com os caças que dispunha ou preparar os
aviões com torpedos para contra-atacar a frota americana. A demorada troca dos diversos
armamentos aéreos – ataque ao solo, alvos aéreos e alvos navais – complicou ainda mais
a resposta japonesa.

Em apenas 5 minutos os aviões americanos mergulharam sobre a frota


japonesa e atingiram certeiramente os porta-aviões Kaga, Soryu e Akagi.

A destruição desses navios foi facilitada pelo farto material bélico disperso nos conveses
e porões, usados para armar os aviões. Nagumo não conseguia acreditar no via. Quando
os aviões japoneses que atacavam Midway retornaram, não tinham mais onde pousar pois
seus porta-aviões haviam sido atingidos ou afundados. Apesar do golpe decisivo, a
batalha prosseguiria com o contra-ataque dos japoneses.
O Hiryu, único porta-aviões intacto até então, rapidamente colocou no ar seus aviões para
contra-atacar a força tarefa norte-americana. A primeira vaga de bombardeiros japoneses
danificou seriamente o USS Yorktown com dois impactos diretos. Um segundo ataque fez
com que a belonave americana perdesse a velocidade, adernasse e afundasse.

54
História Militar Mundial

No último round confronto, o Hiryu,


até então único porta-aviões
sobrevivente da frota japonesa, com o
convés abarrotado de aeronaves, pois
tivera de acolher aquelas que não
conseguiram pousar dos outros porta-
aviões afundados, foi encontrado
surpreendentemente atacado pelos
bombardeiros de mergulho
americanos. Logo o navio se
transformou em uma pira ardente e
afundou com seu comandante e Ataque de aviões americanos ao porta-aviões Hiryu
parte da tripulação.
O Japão termina a batalha com o saldo de todos os seus 4
porta-aviões enviados a Midway afundados e 1 cruzador
afundado e outro seriamente avariado. Foram perdidas 248
aeronaves embarcadas. Os marinheiros japoneses mortos
somaram mais de 3 mil, dentre eles estavam um grande
número de seus mais bem treinados pilotos navais,
significando uma dura e insubstituível perda de preciosos
recursos humanos no poder aeronaval do Japão. Apenas dois
grandes porta-aviões restavam à Marinha Imperial do Japão
para ações ofensivas, o Zuikaku e o Shokaku, além de outros
três porta-aviões compactos, de pouco poder ofensivo e que
transportavam apenas pequenos aviões e em pouca
Vice-Alte Chiuchi Nagumo
quantidade.
Os Estados Unidos se retiraram da batalha com a grave do porta-aviões USS Yorktown, e
de mais 1 contratorpedeiro afundado. Foram abatidas 150 aeronaves, mas as perdas
humanas foram bem inferiores, totalizando apenas 307 mortes. A maior perda de vidas
também recaiu sobre os aviadores, especialmente dos aviões torpedeiros que se
mostraram alvos fáceis dos implacáveis Zero.
Contudo, ao final do dia 7 de junho de 1942, os chefes navais americanos sabiam que
haviam conseguido uma grande vitória. A vitória em Midway deu aos norte-americanos
a iniciativa estratégica na guerra, infligindo danos irrecuperáveis à Marinha Imperial do
Japão, o que acabaria por e encurtar o tempo da guerra no Pacífico.

Antes de tudo, a surpreendente vitória da Marinha dos Estados Unidos em


Midway se deveu, em larga medida, ao trabalho de competente Serviço de
Inteligência que possibilitou conhecer os planos do inimigo.

A Batalha de Midway foi o ponto de virada da Guerra do Pacífico. A perda


dos 4 porta-aviões foi um pesado golpe na superioridade naval japonesa e
comprometeu sua capacidade expansionista.

55
História Militar Mundial

MITSUBISHI A6m ZERO


O melhor caça naval da Segunda Guerra Mundial

Inicialmente julgado como sendo um projeto inferior por seu design antiquado, O Zero
provou ser mais do que um excelente avião de combate, tornando-se o caça naval
dominante no Teatro de Operações do Pacífico. Tornou-se o principal caça da Marinha
Imperial Japonesa durante toda a guerra.
Ganhou reputação de invencível em
combate pois nenhum caça naval
americano, pelo menos o final do ano de
1943, podia se equipar ao Zero em
manobrabilidade, razão de subida, poder
de fogo e alcance.
Foi o avião usado tanto pelos grandes
ases Hiroyoshi Nishizawa o maior
caçador japonês de toda a guerra, quanto
por Saburo Sakai, o maior às japonês que
sobreviveu ao conflito.
Apesar de excelente, o Zero tinha um defeito fundamental para que pudesse ter a
leveza e o poder de manobra: era privado de blindagem na cabine do piloto e no tanque
de combustível. Isto o tornava extremamente frágil e vulnerável ao fogo inimigo. Era
difícil acertar um Zero nas mãos de um piloto hábil, mas bastavam poucos tiros certeiros
com munição incendiária para que o avião explodisse e se desintegrasse no ar.
Esta vulnerabilidade era típica desses vários modelos de aviões de combate japoneses,
já que a Marinha Imperial Japonesa preferia que um avião tivesse um bom desempenho
do que segurança, resultando assim na morte de muitos pilotos que, ao longo do conflito,
fizeram falta pela sua quantidade e experiência em momentos críticos para o Japão. O
Zero só pode ter um rival americano a altura no final de 1943, o Gruman F6F Hellcat
.

5.4 Guadalcanal
Se a Marinha Imperial tinha sido seriamente atingida em Midway, o mesmo não tinha
acontecido com o Exército Imperial Japonês, que continuava a ser uma força temida e
invicta, ocupando vários territórios e ilhas pelo Pacífico. Se a estratégia de ampliar o anel
defensivo no Pacífico não podia mais ser feita pelo mar, o Alto-Comando japonês definiu
que deveriam o fazê-lo por terra e pelo ar. Com a Marinha imperial desfalcada em porta-
aviões, restou uma alternativa estratégica: investir em bases aéreas.
Nesse sentido, durante o verão de 1942, os japoneses começaram a construir pistas de
pouso pelos territórios ocupados no Pacífico. Uma delas foi a ilha de Guadalcanal, um
ponto estratégico ao sul das Ilhas Salomão, um arquipélago na Melanésia. Em julho,
aviões de reconhecimento americanos detectaram que os japoneses iniciavam a
construção de um grande aeródromo na ilha, de onde poderiam lançar inclusive
bombardeiros de longo curso. Uma base aérea japonesa em Guadalcanal representava
uma séria ameaça aos comboios marítimos de suprimentos vindos do Estados Unidos com
destino à Austrália.

56
História Militar Mundial

Na Ilha de Guadalcanal ocorreu, entre 7 de agosto de 1942 e 9 de fevereiro


de 1943, uma épica batalha entre travada entre americanos e japoneses. O
confronto transcorreu no mar, em terra e no ar.

Estimulados pela vitória em Midway, o general Douglas MacArthur e o almirante Chester


Nimitz começaram a planejar a primeira ofensiva das forças americanas no Pacífico. O
objetivo seria negar ao inimigo o uso dessas das ilhas, especialmente Guadalcanal, como
bases militares. Pretendiam também usá-las para lançar futuras campanhas no sul do
Pacífico e conquistar, ou neutralizar, a principal base japonesa em Rabaul, na Nova
Bretanha.

Soldados americanos desembarcando nas parias de Guadalcanal. O principal objetivo da luta era uma pequena
pista de pouso que os japoneses estavam construindo no extremo oeste de da ilha.

Em 7 de agosto de 1942, uma divisão de fuzileiros navais americanos desembarcou em


Guadalcanal sem enfrentar oposição e capturou o aeródromo em construção na tarde
seguinte. Porém, os japoneses não estavam dispostos a entregar sua posição e
prontamente desembarcaram tropas a cerca de 30 km do local. À noite, navios da Marinha
japonesa atacaram a esquadra americana que apoiava os desembarques anfíbios,e
conseguindo afundar 4 embarcações. Os fuzileiros navais, deixados com poucos
suprimentos, se entrincheiraram ao redor da pista de pouso em obras.

Sob pesado bombardeio, os fuzileiros americanos completaram a


pavimentação da pista usando o material e o equipamentos deixado pelos
japoneses. Em 2 semanas começaram a operá-la, recebendo os primeiros
aviões Grumman F-4F Wildcat.

No dia seguinte, os japoneses lançaram uma série de ataques suicidas contra as posições
defensivas americanas. Durante os meses que se seguiram, levas atrás de levas de
soldados japoneses destemidos foram enviados para a batalha. O controle da ilha foi
duramente disputado por um combate brutal entre japoneses e americanos. Guadalcanal
era coberto por inóspita de floresta equatorial, clima quente e chuvoso. As doenças
tropicais, principalmente a malária, atingiam combatentes de ambos os lados, que sainda
sofriam com a falta de suprimentos básicos, incluindo remédios e comida. Os japoneses
se ocultavam em buracos e esperavam para emboscar os fuzileiros americanos.

Em combate, o soldado japonês assumia, via de regra, uma postura heroica,


porém suicida. Diante da derrota consumada, muitos preferiam morrer
lutando a se render. Seguiam o código Bushido e morriam pelo Imperador.

57
História Militar Mundial

Destemido e suicida: esse seria o padrão de conduta do soldado nipônico no campo de


batalha. Nesse contexto, os Aliados levaram mais meses para subjugar os japoneses
produzindo um banho de sangue. O Lança-chamas eram usado para atacar posições e
casamatas japonesas. Aos poucos, os combates evoluíram para uma guerra de posições.

À esquerda, soldados japoneses na trilha para o combate em Guadalcanal. À direita, fuzileiros americanos
exploram casamata de tropas japonesas.

Em dezembro de 1942, os exaustos fuzileiros americanos receberam mais reforços e


iniciaram novas investidas contra os bolsões de resistência inimiga. Em fevereiro de 1943,
os americanos finalmente assumiram o controle total da ilha de Guadalcanal,
transformando a pista em importante base para as operações que expulsariam as tropas
japonesas das diversas posições e ilhas ocupadas na Melanésia.

Após a Batalha de Guadalcanal, o Japão passa adotar claramente uma


postura defensiva na guerra. Os Estados Unidos passam a tomar a iniciativa
estratégica que eles nunca viriam a perder.

A campanha de Guadalcanal encerrou as tentativas do Japão se expandir para o sul do


Oceano Pacífico e colocou os americanos em posição de superioridade total em termos
de recursos e pessoal. A blitzkrieg oriental fracassava e o Império do Japão se via a
enfrentar um inimigo bastante determinado, com um poder militar crescente e impossível
de se acompanhar.

58
História Militar Mundial

6. A Ofensiva do Mediterrâneo
A presença de tropas alemãs no Norte da África, desde 1941, tinha sido motivada para
socorrer os italianos que tinham sofrido vergonhosa derrota frente aos britânicos no Egito
e na Líbia. Para apoiar seu aliado Mussolini, Hitler havia enviado um de seus melhores
generais, Erwin Rommel, que com seu Afrika Corps rapidamente reverteu a situação e
havia conquistado importantes vitórias, lavando a alma do Eixo.
Todavia, em pouco tempo, a região do Norte da África foi ganhando importância e se
tornou uma frente estratégica para ambos os lados. O controle do Mar Mediterrâneo
tornou-se vital para garantir as rotas dos suprimentos de guerra. A conquista da costa
norte-africana passaria a servir como ponto de apoio e trampolim para penetração dos
Aliados no Sul da Europa.

Em novembro de 1942, os Estados Unidos e o Reino Unido iniciaram a


Operação Torch, desembarcando milhares tropas na Argélia e no Marrocos,
o que significou a abertura da primeira frente dos Aliados ocidentais contra o
Eixo.

A iniciativa militar no noroeste africano tornou-se o primeiro envolvimento de forças


terrestres norte-americanas contra Hitler. A Argélia e o Marrocos eram colônias francesas
submetidas ao governo fantoche de Vichy, portanto indiretamente controladas pela
Alemanha. Os Aliados foram poupados de tomar medidas drásticas graças à rendição das
tropas franceses, que ofereceram senão pouco resistência e acabaram por passarem para
o lado dos Aliados, formando as Forças da França Livre.
Com a vitória dos Aliados no Norte África, que rapidamente atingiram a Tunísia, ocorreu
a invasão da Sicília. A penetração pela Itália fazia parte da grande estratégia formulada
por Winston Churchill para, conforme ele mesmo dizia, “atingir o ventre mole do Eixo”.
Todavia, os alemães reagiram rapidamente e, mais uma vez, socorrem Mussolini,
deslocando tropas para ocupar seu país, o que transformou a Península Italiana em uma
importante frente da guerra.

6.1 El Alamein
Desde o início de 1941, o Exército britânico e as forças do Eixo (alemães e italianos)
estavam lutando entre si no Norte da África em um verdadeiro impasse. Depois de
avanços e recuos de ambos os lados, não havia um vencedor claro. Isso deixou primeiro-
ministro Winston Churchill insatisfeito a ponto de substituir o general Claude Auchinleck
pelo general Bernard Montgomery no comando de 8º Exército, apesar de Auchinleck ter
contido o general Rommel na Primeira Batalha de El Alamein16, em julho de 1942. Na
passagem de comando, Churchill disse ao novo comandante do Exército britânico no
Egito: “eu quero apenas que destrua o Afrika Korps de Rommel”.

16
A Primeira Batalha de El Alamein, travada de 1 a 27 de julho de 1942, foi considerada um impasse de resultado,
mas, estrategicamente, impediu que o Afrika Korps continuasse seu avanço em direção a Alexandria e ao Cairo.

59
História Militar Mundial

Quase que imediatamente, Montgomery recebeu a informação da equipe de


Inteligência que desvendara os códigos da máquina Enigma que o Rommel
estava preparando um novo ataque em El Alamein.

O general britânico, conhecedor dos planos do


inimigo, preparou suas defesas precisamente
onde ele atacaria, a sudeste de El Alamein, na
cordilheira de Alam Halfa. Os alemães
atacaram em 30 de agosto no local previsto,
dando início a uma batalha que durou apenas 3
dias.
Dessa vez, as forças terrestres em combate
contaram com o apoio de suas forças aéreas.
A RAF, mais preparada, conseguiu causar o
General Bernard Montgomery. caos nos tanques alemães que avançavam.
Rommel ficou surpreso e, com uma reserva
de combustível para um só dia, é forçado a retornar ao ponto de partida. Alam Halfa foi
apenas um prelúdio da batalha que estava por vir.

Os alemães passavam por graves problemas de abastecimento, enquanto os


ingleses estavam recebendo suprimentos com fartura. A guerra no deserto é
descrita como sendo um sonho para a tática e o pesadelo da logística.

Em geral, apenas um terço das necessidades de suprimentos dos


exércitos do Eixo em era atendida. A grande maioria terminava
no fundo do Mar Mediterrâneo antes de chegar ao porto ou era
destruída pela aviação inglesa na longa estrada costeira que ia
de Trípoli, na Líbia, até o Egito. Para os britânicos, a situação
logística era bastante favorável. Sua marinha controlava os
mares e os portos no Mediterrâneo. Pouco tempo antes, o 8º
Exército Britânico havia sido inundado de equipamentos e
armas enviados pelos Estados Unidos, incluindo os tanques
Sherman e Lee com canhões de 75 mm. Agora tinham
armamentos que rivalizavam com a dos alemães, em
quantidade e em qualidade.
Gen. Erwin Rommel
O general Rommel, com problemas de suprimento, resolveu se
entrincheirar diante de El Alamein. Implantou grandes faixas de campos minados
protegidos por artilharia e unidades panzer na retaguarda. Montgomery percebeu que era
impossível flanquear e que sua única opção era abrir uma brecha no meio das defesas do
Eixo. No final da tarde de 23 de outubro, os britânicos iniciaram pesados bombardeios de
artilharia contra as posições do Eixo. A Segunda Batalha de El Alamein tinha começado.

Entre 23 de outubro e 4 de novembro de 1942, ocorre em El Alamein, vilarejo


a cerca de 80 km a oeste de Alexandria, Egito, a mais importante e decisiva
batalha no deserto norte-africano.

60
História Militar Mundial

No início da batalha, a desproporção de forças é incontestável: os ingleses dispõem de


1.450 tanques contra os 540 do Eixo, poucos dos quais são munidos de um armamento
comparável ao dos ingleses. Sob a intensa barragem de artilharia, tropas de engenharia
abriram caminhos entre os campos minados pelos alemães. A infantaria, formada por
soldados britânicos, australianos, neozelandeses e sul-africanos lutaram para abrir uma
brecha nas defesas ítalo-germânicas que tiveram sua artilharia destruída.
No ar, a superioridade aérea inglesa era ainda maior: 530 aviões da RAF esquadrilhas
contra 350 do Eixo. A RAF dominou os céus estabelecendo superioridade e castigo as
defesas de Rommel. Baixas se acumulavam de ambos os lados. Após 10 dias de intensos
combates, os britânicos conseguiram romper e avançaram com seus tanques Sherman e
Lee. No dia 4 de novembro, a torrente britânica irrompeu de vez. O Afrika Korps estava
reduzido a uma força de combate com poucos blindados e quase sem supriemntos. Não
havia nada mais que as despedaçadas forças do Eixo pudessem fazer.

A Segunda Batalha de El Alamein foi a primeira derrota terrestre do Eixo


frente aos Aliados ocidentais.

Rommel pede a Hitler que proceda à retirada. O Führer recusa e lhe ordena que resista
“custe o que custar”. O marechal, confiando em seu prestígio, assume a responsabilidade
de desobedecer o ditador e emite a ordem de bater em retirada, com ou sem a permissão
de Hitler. As tropas do Eixo realizaram uma longa retirada para oeste, ao longo da costa
norte-africana, em direção à Tunísia, sendo perseguido por Montgomery.

O que se seguiu após El Alamein foi uma mais maiores retiradas da guerra, constituindo um notável
exemplo da disciplina dos homens do Afrika Korps. Rommel, quase sem combustível, vendo-se obrigado
a todo momento abandonar veículos e rebocar muitos deles, sendo incessantemente fustigado pelo ar.

A vitória aliada acabou com as ambições alemãs de se apoderar do Egito, então colônia
britânica, e de também assumir assim o controle do Canal de Suez e de uma série de poços
de petróleo do Oriente Médio. Depois de El Alamein, as tropas germânicas permaneceram
algum tempo na Tunísia, mas logo tiveram de se retirar de toda a costa norte da África.

61
História Militar Mundial

6.2 Operação Torch


Enquanto terminava El Alamein, uma força anglo-americana de 107 mil homens,
comandada pelo general Dwight Eisenhoer desembarcou a 1.600 km a oeste, na costa da
África Francesa, hoje Marrocos e Argélia. Tratava-se de uma nova frente para encurralar
as tropas do Afrika Korps que fugiam para a Tunísia. A intenção era acelerar a derrota
alemã no continente e, ao mesmo tempo, aliviar a pressão que os soviéticos estavam
sofrendo no Leste da Europa, dissipando as forças alemãs. Stalin havia implorado que
seus aliados abrissem logo uma segunda frente na Europa, mas Franklin Roosevelt e
Winston Churchill preferiram começar pelo norte da África.

A Operação Torch foi uma frente anglo-americana, aberta em 8 de novembro


de 1942, que tinha por objetivo de expulsar as tropas do Eixo do Norte da
África africano, intensificar o controle do Mar Mediterrâneo e preparar o
terreno para uma invasão pelo sul da Europa em 1943.

Mapa da situação da guerra no Norte da África em novembro de 1942. Americanos e britânicos fizeram
desembarques no litoral do Marrocos e da Argélia, abrindo uma nova frente para encurralar as tropas do
Eixo que se retiravam para a Tunísia.

Os exércitos Aliados desembarcaram no Marrocos e na Argélia, territórios ocupados por


robustas tropas coloniais francesas que somavam cerca de 60 mil soldados. Estavam bem
armadas e eram fiéis ao governo de Vichy, serviçal da Alemanha de Hitler. Confiando
em suas ações diplomáticas e do Serviço de Inteligência, ingleses e americanos
acreditavam que as forças francesas não iriam oferecer resistência à invasão, mas não foi
o que aconteceu. Ao se aproximarem da costa, os Aliados foram recebidos à bala pela
artilharia costeira francesa.

O líder da França Livre, general de Charles De Gaulle, exilado em Londres,


fez um pronunciamento pela rádio BBC, conclamando as tropas coloniais
francesas a se juntarem aos Aliados.

62
História Militar Mundial

Mesmo assim, os combates prosseguiram por mais 2 dias, causando centenas de baixas
de ambos os lados, quando, por fim, os canhões silenciam. Os oficiais franceses que eram
leais a Vichy mudaram de ideia ou terminaram presos por golpes dentro de seu próprio
Exército. Por fim, com a situação controlada, o desembarque das tropas foi assegurado e
os comandantes franceses acabariam bandear para o lado dos Aliados. A população
francesa da Argélia e do Marrocos acabou recebendo os soldados americanos e britânicos
com festa, como seus libertadores. O Exército da França Livre é formado e se integra às
tropas anglo-americanas na continuação da luta contra o Eixo no Norte da África.

A Opo. Torch teve a participação de três notáveis generais americanos: George Patton, Omar Bradley e Dwight
Eisenhower. Na figura da direita, desembarque de tropas americanas nas praias de Argel.
Desconfiado da fidelidade do governo de Vichy e para assegurar o controle da costa
mediterrânea da França, Hitler determinou a ocupação da porção sul do país, então
chamada zona livre não ocupada. Os almirantes franceses da frota de Toulon, no Sul do
país, em protesto, decidiram pôr a pique seus próprios navios. Hitler ficou furioso com o
ato, mas lhe preocupou ainda mais a situação de um de seus generais preferidos: Rommel
agora estava em perigo na Tunísia, sendo perseguido por Montgomery pelo leste e
podendo ser atacado por Eisenhower que vinha do oeste.
Depois de desembarcar no Marrocos e na Argélia, o Exército Aliado anglo-americano,
acrescido das forças coloniais francesas, rumou no sentido oeste, em direção à Tunísia.
Imediatamente, para socorrer Rommel e assegurar a posição do Eixo no Norte da África,
o Exército alemão realizou uma grande operação para deslocar milhares tropas da Europa
por via aérea para a Tunísia. No fim de fevereiro de 1943, Rommel recebeu os reforços
enviados por Hitler a ponto de infligir uma derrota ao Exército dos Estados Unidos na
Batalha de Passo Kasserine, mas foi incapaz de explorar o sucesso por falta de
suprimentos. Estabelecendo uma linha defensiva a 160 km dentro da fronteira tunisiana
o Afrika Korps atacou a forças do 8º Exército de Montgomery que avançavam.

Mas, Montgomery, conhecendo as mensagens codificadas dos alemães,


preparou suas defesas para receber o ataque dos tanques de Rommel. A
artilharia britânica fez pesada barragem de fogo e os panzers tiveram que
recuar imediatamente. Essa foi a última batalha do general Erwin Rommel no
Norte da África.

63
História Militar Mundial

Mapa da guerra na Tunísia, em maio de 1943. As tropas do Eixo estavam agora comprimidas entre o 8º Exército
Britânico de Montgomery e as recém-chegadas tropas anglo-americanas comandadas por Eisenhower.

Rommel voltou para a Alemanha para pedir a Hitler para abandonar aquela campanha,
argumentando que ela não poderia mais ser vencida. Mas Hitler negou o pedido. Enquanto
o 8º Exército Britânico de Montgomery avançava, vindo do Sul, o 1º Exército anglo-
americano, comandado por Eisenhower, chegava pelo Oeste, indicando um movimento
cercaria as tropas do Eixo. A 7 de maio de 1943, as forças americanas tomaram o
importante porto de Bizerta na Tunísia, enquanto os britânicos ocupavam a capital Túnis.
Em pouco tempo os Aliados fecharam as garras e as tropas do Afrika Korps se viram
encurraladas. Após 5 dias, cerca de 275 mil soldados alemães e italianos se renderam.
Para a Alemanha nazista foi outro desastre memorável. O general Rommel, para não ser
feito prisioneiro, foi resgatado dias antes por um avião especialmente enviado por Hitler
e levado de volta para a Alemanha
sob o pretexto de tratamento médico.
Em 15 de maio de 1943, o marechal
Harold Alexander, comandante-geral
das Forças Aliadas no Mediterrâneo,
transmitiu mensagem o primeiro-
ministro Churchill informando que
as resistências inimigas haviam sido
terminadas e que os Aliados tinham
o controle total do litoral norte-
A rendição da Tunísia em 1943 é considerada a maior rendição
das tropas do Eixo até então, superando inclusive Stalingrado. africano.

A aventura de Mussolini no Norte da África trouxe graves prejuízos para os


recursos militares de seus aliados alemães. E estava prestes a ter
consequências ainda mais graves para ele.

64
História Militar Mundial

6.3 Itália: o Ventre Mole do Eixo


Vitoriosos no Norte da África, os Aliados realizaram uma conferência em Casablanca, no
Marrocos, em janeiro de 1943, para definir a estratégia para a próxima fase da guerra.
Estavam presentes o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt e o primeiro-
ministro britânico Winston Churchill. O ditador Josef Stalin não participou, citando que
a batalha em curso em Stalingrado exigia a sua presença na União Soviética.17 Como
representantes da França Livre compareceram os generais Charles de Gaulle e Henri
Giraud, que, por sinal, eram desafetos figadais.
Como principais interlocutores, Churchill e Roosevelt decidiram abrir uma nova frente
na Europa. Stalin há muito pedia aos seus aliados ocidentais que abrissem logo uma
segunda frente em algum ponto da Europa Ocidental, para que Hitler fosse obrigado a
tirar todo o peso de sua máquina de guerra do Leste europeu. Os americanos desejavam
a imediata invasão da França pelo Canal da Mancha, enquanto os britânicos defendiam
que a invasão da Europa deveria começar pela Itália, através da Sicília, aproveitando os
grandes recursos militares já concentrados na Tunísia.

Conferência de Casablanca, realizada de 14 a 24 janeiro de 1943. Nessa reunião, Roosevelt e Churchill,


sentados, definiram os próximos passos da guerra contra o Eixo. De pé, os principais chefes militares Aliados.
O líder britânico argumentava que a queda de Roma significaria não apenas uma vitória
militar contra o Eixo, mas, sobretudo, uma grande vitória política, pois Mussolini era o
grande aliado e amigo de Hitler. Churchill alegava ainda que as tropas italianas já tinham
demonstrado baixa combatividade, bem como desorganizada logística. Invadir a Itália,
dizia ele, certamente forçaria os alemães a deslocar contingentes da Frente Oriental para
proteger o aliado no Sul. Isso representaria um alívio para a União Soviética, que sofria
toda a pressão com os alemães em seu território.

17 A Batalha de Stalingrado terminaria em fevereiro de 1943 com a vitória soviética, representando a grande derrota
da Alemanha e o ponto de virada na guerra na Europa.

65
História Militar Mundial

Em Casablanca, prevaleceu a proposta de Winston Churchill que previa


começar a invasão da Europa pela Itália. Segundo ele, a Itália era “o ventre
mole do Eixo”.

Esse primeiro encontro dos líderes aliados produziu ainda o que ficou conhecido como a
"Declaração de Casablanca", que estabeleceu a doutrina da rendição incondicional,
anunciando ao mundo que os Aliados lutariam até a derrota final e aniquilação das
Potências do Eixo e que não aceitariam nada além da “rendição incondicional”. Essa
doutrina havia sido uma proposta pelo presidente Roosevelt que explicou: “não queremos
atingir as pessoas comuns das nações do Eixo. Mas pretendemos impor punição e
vingança a seus líderes bárbaros e culpados. ”
No dia 10 de julho de 1943, teve início a invasão da Sicília pelos Aliados, codinome
Operação Husky, como primeiro passo para a invasão da Península Italiana. As tropas
anglo-americanas somavam cerca de 180 mil homens sob o comando do general Dwight
Eisenhower. A operação anfíbia contou com amplo apoio aéreo proporcionada por mais
4 mil aviões de diversos tipos. O Exército britânico e canadense, comandado pelo general
Montgomery, desembarcou ao sul de Siracusa, enfrentando pouca oposição das tropas
italianas. Os americanos, comandados pelo general Patton desembarcaram no Golfo de
Gela e encontraram maior resistência, mas ela foi rapidamente superada.

À esquerda, mapa dos locais de invasão das tropas americanas e britânicas na Sicília. À direita, soldados
britânicos desembarcando nas praias próximas a Siracusa.
A cidade de Siracusa caiu em 12 de julho, mas a marcha para Messina, no nordeste da
ilha, foi retardada por causa da ferrenha oposição das tropas alemãs. O avanço do Exército
americano de Patton foi prejudicado pelo terreno montanhoso, e ele preferiu fazer um
ataque de flanqueamento pela costa norte, tomando a cidade de Palermo, capital da
Sicília, em 22 de julho. Um mês depois, Patton chegou a Messina, mas as tropas alemãs
já tinham sido evacuadas pelo Estreito de Messina em direção à Península Italiana.

Para os italianos, a invasão da Sicília foi a humilhação final, fazendo eclodir


uma revolta popular por todo o país. Em 23 de julho de 1943, o ditador Benito
Mussolini é deposto e preso pelos membros de seu próprio governo. A
deposição foi resultado direto da invasão aliada da Itália.

66
História Militar Mundial

Com a queda do ditador fascista, um novo governo foi formado em Roma, chefiado pelo
marechal Pietro Badoglio, que iniciou conversações com os Aliados para propor um
armistício, manifestando que a Itália queria a paz e que deixaria o Eixo. Para Hitler, era
outro grande pesadelo, mas o líder alemão reagiu com surpreendente velocidade e desviou
um quinto de todo o Exército alemão para a Itália. O marechal Albert Kesselring, um
oficial aviador da Luftwaffe, assumiu o controle militar da ocupação e organizou linhas
defensivas na tentativa de barrar o avanço dos Aliados ao longo da península.
Enquanto isso, uma fração das tropas britânicas atravessou o Estreito de Messina e
invadiu a Calábria, quase não encontrando oposição. Em contraste, o assalto anfíbio em
Salerno, feito por uma força combinada de americanos, canadenses e britânicos encontrou
muito mais oposição. Os alemães conseguiram predizer os locais de desembarque e
preparam defesas consistentes, forçando os Aliados a lutarem desesperadamente para
estabelecer uma cabeça de praia. O plano aliado era encurralar os alemães entre os dois
pontos de desembarque, mas eles escaparam.

Após os desembarques, as forças aliadas foram divididas em duas colunas


rumo ao Norte. Os americanos progrediam pelo Oeste, enquanto os
britânicos seguiam pelo Leste.

Apesar da patente superioridade militar dos Aliados, especialmente com o domínio dos
céus, as tropas alemãs defendiam ferozmente o território italiano. Mesmo assim, a cidade
portuária de Nápoles caiu em poder do Exército americano em 1 de outubro de 1943. Dias
depois, as estratégicas bases aéreas localizadas em Foggia foram tomadas pelo Exército
britânico. Esses eram dois principais objetivos dos Aliados na primeira fase da invasão
da península. Em especial, os aeródromos de Foggia colocariam os campos de petróleo
da Romênia18 ao alcance de voo dos bombardeiros aliados.

Mapa da progressão dos exércitos Aliados no Sul da Itália. Os americanos buscavam conquistar o porto de
Nápoles, enquanto os britânicos almejavam ocupar as pistas de pouso de Foggia para lançar seus aviões
bombardeiros.

18 Os campos da
Romênia eram as principais fontes de petróleo e derivados para a máquina de guerra alemã. Era uma
meta dos comandantes das forças aéreas aliadas conseguir prontamente uma base que propiciasse alcance aos aviões
bombardeiros para atingir esses campos e assim debilitar o suprimento das forças do inimigo.

67
História Militar Mundial

O RESGATE DE MUSSOLINI
Era o começo da tarde de um domingo, 12 de setembro de 1943, Benito Mussolini jogava
paciência em um quarto do hotel Campo Imperatore, no Montes Apeninos, perto de
algumas estações de esqui muito procuradas pelos europeus. Mas Mussolini não estava ali
a passeio. Dois meses antes, o “Duce” havia sido deposto pelos próprios membros do
governo fascista e transformado em prisioneiro.
Às 14 horas, o jogo de cartas foi
interrompido quando 10 planadores
desceram perto do hotel. Sem disparar um
único tiro, 72 paraquedistas de um
comando de operações especiais da SS
dominaram sem dificuldade os 150
soldados italianos que guardavam o local.
O comandante da ação, o capitão
austríaco Otto Skorzeny, entrou no quarto
211 e avisou: “Duce, fui enviado pelo Führer
para resgatar o senhor”. Ao que Mussolini reagiu: “Eu sabia que meu amigo nunca me
abandonaria”. Mussolini foi embarcado em um pequeno avião e levado para Viena e de lá
para Munique, onde encontrou Hitler. Terminava assim, bem-sucedida, a Operação
EICHE-OAK de resgate de Mussolini.
Três dias depois, o líder fascista foi mandado
de volta para a Itália para assumir a chefia do
governo de um Estado-fantoche fascista, a
República Social Italiana, sediada na cidade
de Saló, na região da Lombardia. O Estado
de Mussolini controlou o Norte da Itália sob
ocupação alemã até o fim da guerra, quando
foi capturado e morto com sua mulher Clara
Petacci por guerrilheiros da resistência
antifascista em 27 de abril de 1945. Seus
corpos ficaram expostos à execração pública
durante vários dias, pendurados pelos pés, na
Piazza Loreto em Milão.

No Sul da Itália, as forças anglo-americanas conquistaram a supremacia aérea na Itália.


A Regia Aeronáutica Italiana entrou em colapso e a Luftwaffe retirou todos os seus meios
aéreos da península, recuando-os para a defesa aérea de outros pontos vitais no coração
da Alemanha ou desviando seus aviões para as cruciais batalhas que se desenrolavam no
Leste europeu.
Depois da conquista de Nápoles e Foggia, o próximo objetivo dos Aliados era chegar
rapidamente até Roma, mas a chegada das chuvas do outono, o avanço dos Aliados ficou
mais lento no Sul da Itália. Enquanto isso, os alemães realizavam com maestria ágeis
ataques na retaguarda aliada. Foi somente no final de novembro que os exércitos aliados
atingiram a Linha Gustav, a primeira de uma séria de posições defensivas alemãs. O
Exército britânico conseguiu avançar até o extremo leste da linha, mas o inverno logo
chegou e mau-tempo forçou-os a parar.

O marechal Albert Kesselring, comandante das forças do Eixo na Itália,


estabeleceu uma série de linhas defensivas alemãs ao longo da Península
Itálica com o objetivo de retardar o avanço aliado.

68
História Militar Mundial

Enquanto isso, o Exército americano, comandado pelo general Mark Clark, tentava
contornar a Linha Gustav mediante desembarques na costa do Mar Tirreno. Em 22 de
janeiro de 1944, os norte-americanos fizeram um assalto anfíbio nos arredores de Anzio
com o objetivo de chegar a Roma. Entretanto, foram surpreendidos por unidades alemãs
que impuseram eficaz defesa que quase obrigou-lhes a voltar para o mar. Por fim,
desembarcaram, mas os americanos ficaram aprisionados pelo resto da primavera nas
praias sem conseguir progredir.

Monte Cassino

Mapa do impasse imposto pela Linha Gustav em 1944, que impedia os Aliados de avançarem em direção à
Roma. O desembarque em Anzio foi uma operação americana montada para contornar a defesa pelo mar.

Enquanto isso, no centro da Itália, a chave para romper a Linha Gustav estava em Monte
Cassino, uma montanha onde se situa uma abadia histórica fundada em 529. Os generais
aliados supunham ser um local estratégico para a defesa alemã. Com a vinda da
primavera, foram feitas várias tentativas para conquistar o local. Todos os ataques
falharam. Desesperados, os aliados usaram sua aviação e bombardearam o histórico
mosteiro no cume. Mas os alemães aguentaram por 4 duras batalhas. Por fim, após mais
de 4 meses de combates, quando o tempo melhorou as tropas aliadas tomaram Monte
Cassino após destruir o mosteiro e descobrir que os alemães já tinham abandonado o lugar
fazia tempo. Ao mesmo tempo, os americanos conseguiram romper o cerco de Anzio.

A Linha Gustav paralisou o avanço dos Aliados por 5 meses, de dezembro


de 1943 a maio de 1944.

Rompida a Linha Gustav, as forças aliadas se moveram rapidamente para o norte, em


direção a Roma. A capital italiana foi ocupada sem combates no dia 4 de junho de 1944,
pois os alemães haviam evacuado suas tropas da cidade antes disso. Com isso, a Cidade
Eterna foi poupada da destruição e sua população recebeu os soldados aliados com festa.
Para Hitler, foi outro golpe e agora ele mantinha o controle apenas do Norte da Itália.
Realizando um novo recuo calculado e estratégico, os alemães impuseram uma nova
barreira de defesa, a Linha Gótica, utilizando a seu favor a geografia da cadeia de
montanhas do Apeninos.

69
História Militar Mundial

Chegada das tropas Aliadas em Roma, que foi declarada cidade aberta pelo Exército alemão.
Prosseguindo em sua marcha as tropas aliadas atingiram a cidade de Florença na região
da Toscana, quando se depararam com as intransponíveis defesas da Linha Gótica a partir
de então. A volta do mau tempo do inverno fez o avanço rumo ao Norte fosse novamente
paralisado. Nesse momento, a Frente Italiana já era uma frente secundária para o comando
aliado, pois já havia ocorrido a abertura de uma nova frete na Europa, com o desembarque
de tropas aliadas na Normandia em 6 de junho de 1944, no Norte da França. A partir de
então, a Itália passou a ser uma frente secundária e todos os recursos militares foram
remanejados para a França.

A Linha Gótica, utilizando os Montes Apeninos, paralisou o avanço dos


Aliados na Itália por 8 meses, de agosto de 1944 a abril de 1945. Isso
manteve o Norte da Itália em poder das tropas do Eixo até o final da guerra
na Europa.

A fase de combates para romper a Linha Gótica coincide com a participação das tropas brasileiras (FEB e o 1º
GAvCa) que são integradas às forças aliadas.

70
História Militar Mundial

7. A Virada na Rússia
No final de 1941, a Operação Barbarossa havia terminado sem que os alemães tivessem
conquistado duas das três cidades alvo antes da chegada do inverno. Apenas Kiev, capital
da Ucrânia e alvo econômico, havia sida tomada. Leningrado permanecia de pé mesmo
fortemente sitiada. Em Moscou, o Exército alemão havia chegado bem próximo de
invadir a cidade, mas foi forçado a recuar por ter chegado tarde demais e subestimar o
inimigo. Após uma sequência de vitórias brilhantes, a máquina de guerra alemã
demonstrava-se falível. Havia ficado claro que a Rússia não iria cair tão fácil quanto a
França e a aventura militar no Leste havia se tornado o maior dos pesadelos para Hitler.

Apesar dos fracassos na conquista de Moscou e Leningrado antes da


chegada do inverno, os alemães permaneciam confiantes em seu poder
militar concentrado no Leste Europeu.

Após a derrota em Moscou Hitler assumiu pessoalmente o comando geral do Exército. O


que significou que todas as grandes decisões deveriam passar pela sua aprovação pessoal.
Com o fim do inverno, no início do ano de 1942, Hitler esperava romper a imobilidade e
prosseguir a ofensiva, todavia, o maior dos desastres estava por acontecer por força de
seus caprichos ao desejar conquistar a cidade de Stalingrado.
Os alemães subestimaram a capacidade do Exército soviético, que se reorganizava
recebendo imensos recursos em tropas e equipamentos. A derrota alemã na Batalha de
Stalingrado marca o ponto de virada da guerra no Leste. Depois dela, o Exército
Vermelho tornou-se forte e partiu para a ofensiva contra o invasor. Os generais alemães
até que mantiveram o fôlego de suas forças militares, mas, em seguida, tiveram de
renunciar a quaisquer chances de uma vitória na Rússia após a Batalha de Kursk.

A grau de interferência pessoal de Hitler nos planos e decisões dos generais


da Wehrmacht era enorme, acabando por se tornar a causa de muitos erros
e fracassos militares.

7.1 A Batalha de Stalingrado


Terminado o inverno, em março de 1942, Adolf Hitler continuava decidido a prosseguir
a ofensiva na Rússia. Mas, ele precisava de uma nova estratégia, pois o plano original da
Operação Barbarossa de avanço em três frentes já não se sustentava mais. Além disso,
seus conselheiros econômicos o tinham alertado sobre os baixos estoques de
combustíveis. Então, ele decidiu suspender os ataques nas frentes Central e Norte, e partir
em direção à conquista dos estratégicos campos petrolíferos no Sul da Rússia,
deflagrando, assim, a Operação Caso Azul.

A Operação Caso Azul foi a continuação da Operação Barbarossa no ano de


1942 e tinha como principal objetivo conquistar os poços de petróleo na
região do Cáucaso, indispensáveis aos suprimentos de guerra da Alemanha.

71
História Militar Mundial

O plano inicial da campanha dividiu os exércitos alemães da Frente Sul da Operação


Barbarossa em dois: o Grupo de Exércitos A e o Grupo de Exércitos B. O Grupo A ficou
incumbido do ataque à região do Cáucaso para capturar os campos de petróleo, enquanto
o Grupo B, mais reforçado, daria cobertura aos flancos do Leste, ao longo dos rios Don
e Volga. Para o Grupo B juntaram-se tropas italianas, húngaras e romenas, que embora
não tivessem um bom conceito de combate nem estivessem bem armadas, eram
integrantes do Eixo e serviam como um reforço numérico ao Exército Alemão.

Maykop

A ofensiva alemã sobre o Cáucaso visava basicamente garantir o acesso ao petróleo para alimentar a máquina
de guerra, sem o qual não poderiam continuar a guerra.

Como parte da operação, os alemães previamente cercaram e bombardearam o porto


Sebastopol, na Criméia. Nesse ataque foi empregado pela primeira vez um gigantesco
canhão ferroviário, o Schwerer Gustav de 800 mm. Com Sebastopol conquistada, os
grupos de exércitos alemães seguiram com segurança em direção aos seus objetivos. A
nova ofensiva, iniciada em 28 de junho de 1942, desencadeou um grande confronto com
as tropas soviéticas que defendiam o sul do país. A superioridade militar alemã continuou
prevalecendo e mais de 70 mil soldados soviéticos foram mortos e cerca de 200 mil
terminaram capturados.
O Grupo de Exércitos B forçou caminho pelo rio Don, avançando ao longo da margem
oeste. O Grupo A enfrentou maior resistência, mas logo chegou a cidade de Rostov. Foi
quando Hitler começou a fazer o que revelaria ser uma série de erros estratégicos graves.
Enquanto o Grupo B seguia pela margem do rio Don, o Fuhrer atentou-se para o nome de
uma cidade denominada Stalingrado. Essa era uma cidade industrial nova e moderna,
aclamada como uma das conquistas do comunismo soviético. Prontamente ele ordenou
sua captura, apesar de isso não ter qualquer importância estratégica imediata na conquista
dos campos de petróleo do Cáucaso. De repente o Grupo B havia recebido uma missão
colossal que estava fora dos planos originais de seus generais.

72
História Militar Mundial

Apesar de ser uma cidade industrial importante, Stalingrado era um objetivo


militar secundário frente aos campos de petróleo do Cáucaso. O motivo
principal para Hitler querer conquistar Stalingrado19 era justamente o nome
da cidade, pois a conquista significaria um duro golpe pessoal em Stalin.

Duas semanas depois, Hitler agravou seu erro.


Descontente com o lento progresso da campanha
no Cáucaso, ele mandou desviar a maior parte dos
panzers do Grupo B para reforçar o Grupo A,
desacelerando e enfraquecendo a marcha para
Stalingrado. O reforçado Grupo A acelerou rumo
ao Cáucaso, mas o Exército Vermelho ganhou
mais tempo para a defesa da cidade.
Em 9 de agosto de 1942, o Grupo A tomou o
primeiro campo de petróleo de Maykop. Todavia,
as instalações estavam totalmente destruídas pela
prática “terra arrasada”. Mas aí, Hitler mudou de
ideia de novo. Inconformado com a lentidão do
A conquista de Stalingrado foi um desvio do movimento do Grupo B em direção a Stalingrado,
objetivo militar imposto por Adolf Hitler ele mandou que os panzers voltassem para o norte.
Sem reforços e sem suprimentos, o Grupo Exércitos A não pode ir além de Maykop, e os
outros campos petrolíferos no Cáucaso Central e no Mar Cáspio ficaram fora do alcance.
Mas, àquela altura da campanha, a atenção de Hitler estava totalmente focada no ataque
a Stalingrado a ponto de mudar quartel-general para a Ucrânia, a fim de acompanhar mais
de perto o desenrolar da batalha. No final do mês de agosto, o Grupo B cruzou o rio Don
e se aproximou da cidade. Estava para se iniciar a batalha mais crucial e sangrenta da
Europa em toda a Segunda Guerra Mundial.

Diante da ameaça, Stalin emitiu ao Exército Vermelho a Ordem 227, que


dizia: “Nenhum passo atrás.” Isso significava que todo soldado teria de lutar
para não mais ceder nem mais um metro do solo da pátria ao invasor.

Para que os defensores se mantivessem firmes contra a nova investida, Stalin abandonara
os ideais do comunismo internacionalista e apelava para os sentimentos de patriotismo e
amor à terra. Mas o povo da cidade de Stalingrado tinha muito mais do que patriotismo
para motivá-los a resistir. O povo russo já tinha conhecimento das violações e atrocidades
que os alemães cometiam quando invadiam um país, deixando um rastro de morte e
destruição. Então, ao novo patriotismo stalinista, os habitantes de Stalingrado
acrescentaram o ódio total aos alemães, e assim todos se motivaram para lutar.
O resultado foi uma ampla mobilização da população, incluindo velhos, mulheres e
crianças, alistados no trabalho de cavar trincheiras e fossos para deter ou ao menos
retardar a entrada dos tanques alemães. No caminho dos alemães, seguindo a estratégia
de “terra arrasada” todas as propriedades e recursos já haviam sido destruídos, para que
nada pudesse ser utilizado como suprimento ou abrigo pelo Exército Alemão. As
indústrias da cidade foram transferidas para regiões seguras, além dos Montes Urais.

19 A cidade até 1925 se chama Tsarítsin, sendo depois rebatizada em homenagem ao líder bolchevique que havia
combatido na cidade durante a Guerra Civil Russa (1917-1922). Em 1961, com o processo de desestalinização posto
em prática por Nikita Khruschov após a morte de Joseph Stalin, passou a se chamar Volgogrado.

73
História Militar Mundial

O ataque à cidade de Stalingrado estava a


cargo do 6º Exército, que era considerado
o melhor e mais bem equipado dos
exércitos alemães, comandado pelo
general Friedrich Paulus. Este era um
típico oficial germânico, adepto do
emprego preliminar da artilharia pesada
de longo alcance para desgastar o inimigo
e facilitar a vitória.
Do outro lado, no comando do Exército
Vermelho em Stalingrado estava o jovem
Vassili Chuikov, um general russo da Gen Friederich Paulus Gen Vassili Chuikov
nova geração, especialmente escolhido por
Stalin para a grande missão. Chuikov era ao mesmo tempo durão e acessível aos seus
subordinados, um chefe militar com capacidade de elevar o moral da tropa, além de
conhecer as táticas de seu inimigo.

Todavia, quando o ataque alemão começou, o bombardeio não veio da


artilharia, mas sim dos céus, que ficaram negros com enxames de aviões da
Luftwaffe. Cerca de 600 aeronaves atacaram e despejaram mil toneladas de
bombas no coração da cidade que ainda mantinha sua vida normal.

A população foi pega de surpresa ainda em atividades cotidianas. A ideia era desmoralizar
era desmoralizar os defensores e provocar pânico na população. A Força Aérea soviética,
mal equipada, pouco pode fazer para repelir a agressão. Em pouco tempo a cidade virou
uma pira funerária. De dia, colunas de fumaça e à noite as chamas de amplos incêndios
produziam clarões que perduraram por vários dias. Os bombardeiros alemães destruíram
tudo, deixando a cidade em ruínas e causando a morte de cerca de 40 mil russos.
A população sobrevivente ficou cercada
não teve como abandonar a cidade pois a
única fuga, cruzando o rio Volga, foi
bloqueada pelo próprio Exército
Vermelho com operações de transporte de
soldados e suprimentos para a defesa.
Stalin havia dito que ninguém podia
abandonar a cidade, reiterando suas
ordens de que Stalingrado deveria ser
defendida a qualquer preço. O rio Volga
seria a última posição defensável antes
O ataque aéreo a Stalingrado foi considerado o mais dos Montes Urais e a sobrevivência da
intenso de toda a guerra no Leste europeu. pátria estava em jogo.
O slogan patriótico era: “Não há terra além do Volga”. Se Stalingrado caísse, a União
Soviética estaria acabada e seu ditador certamente cairia em desgraça. Não havia outra
opção ao cidadão de Stalingrado além de ficar e lutar, inclusive para as mulheres. Os
alemães jamais imaginavam que iriam encontrar um inimigo disposto a mobilizar tantas
mulheres para a guerra, inclusive para o combate na linha de frente.

74
História Militar Mundial

A PARTICIPAÇÃO DA
MULHER SOVIÉTICA NA GUERRA
A Segunda Guerra Mundial atingiu de forma indiscriminada a população de vários
países, beligerantes ou não, e as mulheres foram diretamente afetadas. Cada país
escolhia, de acordo com a necessidade, uma forma mais adequada de mobilizar a mão
de obra feminina para o esforço da guerra. Em geral, as mulheres eram descolocadas
para trabalhar na indústria bélica, substituindo os homens como operárias. Outras eram
alistadas para atividades administrativas ou auxiliares, especialmente no serviço de
saúde, nas funções de enfermagem.
Entretanto, a União Soviética foi, de
longe, o país beligerante que mais
intensamente empregou a mulher no
conflito. Estima-se que mais de 800 mil
serviram nas Forças Armadas
soviéticas, sendo que mais de 300 mil
foram engajadas diretamente em
funções de combate nas linhas de
Mulheres recrutadas pelo Exército soviético frente.
Não se tratava de uma política de inclusão social ou de ideologia feminista, mas uma
condição de extrema necessidade para a sobrevivência da nação. Diante da falta de
homens, que morriam aos milhões, o recrutamento de mulheres era a única forma de
continuar lutando contra o invasor. Movidas pelo sentimento patriótico e de defesa da
terra, o voluntariado era a regra. A medida em que a invasão alemã avançava e os
soldados soviéticos iam morrendo, restava às mulheres ocupar os postos em que a
força física não era determinante, como na artilharia de campo, na artilharia antiaérea
e, inclusive, em funções especializadas, até então restritas aos homens, como, por
exemplo, atiradoras de elite (snipers).
Especialmente na função de snipers, as mulheres se
destacavam, pois, eram mais pacientes e resistentes à
imobilidade prolongada à espera da oportunidade de
atingirem seus alvos. O Exército soviético chegou mesmo
a criar escolas de snipers exclusivas para mulheres, atraindo
milhares de candidatas de diversas regiões do país. Durante
a guerra, jovens moças se sobressaíram nessa função,
dentre elas Roza Shanina, que morreu em combate aos 20
anos após alcançar a marca de 59 abates no campo de
batalha. Outro destaque foi Nina Lobkovskaya, lutou em
diversas frentes e somou 89 mortes no campo de
Sgt Roza Shanina batalha, atingindo o posto de tenente.
A sniper russa mais famosa foi Lyudmila Pavlichenko, que atingiu a marca de 300
abates. Ela tornou-se comandante de tropa e chegou ao posto de major.

75
História Militar Mundial

As mulheres também foram empregadas na Força Aérea, onde se destacou a


aviadora Lydia Litvyak, a primeira mulher na história a abater um avião inimigo em
combate e a primeira a conquistar o título de às da aviação. Lydia ficou conhecida
como a “Rosa Branca de Stalingrado”, apelido que
recebeu por suas ações durante a Batalha de
Stalingrado.
Voando em um Lavochkin La-5, em 13 de setembro de
1942, Lydia abateu seu primeiro avião, um Junkers Ju
88, e um caça Me-109. Nos meses que sucederam,
abateu vários aviões alemães de diferentes modelos.
Aos 21 anos de idade, a aviadora russa já contava com
12 vitórias, sendo a recordista de abates entre pilotos
do sexo feminino. Lydia morreu em ação durante a
Batalha de Kursk, quando seu avião foi abatido, mas
seu corpo jamais foi encontrado. Ten Lydia Litvyak

Na aviação, outra participação bastante importante foram as “Bruxas da Noite”,


pertencentes a um regimento feminino de bombardeio noturno. Essa era uma
unidade aérea integralmente formada por mulheres, que voavam pequenos e
obsoletos biplanos à noite e lançavam bombas sobre as linhas alemãs. O objetivo
dos bombardeios aéreos não era produzir grandes danos ou destruição, mas sim
tensão psicológica nas tropas germânicas. das aviadoras do 588º Regimento de
Bombardeio Aéreo Noturno Soviético, que, ao todo, realizaram mais de 23 mil vôos
noturnos em 1100 noites de intensos ataques.
O apelido “Bruxas da Noite” foi dado
pelos próprios militares alemães, pois
durante os ataques elas desligavam os
motores ao se aproximarem dos alvos
para lançarem suas bombas. O som
sibilante do voo planado dos aviões na
escuridão, seguido das explosões,
provocavam grande terror.
Aviadoras do Esqdr. “Bruxas da Noite”.

Depois do intenso bombardeio aéreo, o 6º Exército Alemão atingiu a periferia de


Stalingrado, mas, de repente, o avanço teve de ser interrompido, não pelos fossos ou
defesas preparadas pelos soviéticos, mas pela ação da própria Luftwaffe. A cidade estava
tão destruída que se tornou quase impossível invadi-la com tanques e veículos
motorizados devido aos escombros. Aquela não era uma batalha em campo aberto como
os alemães estavam acostumados a combater. O general Paulus teve de mudar de tática,
utilizando a artilharia leve, mais manobrável, para reduzir a resistência soviética, antes de
lançar sua infantaria.

76
História Militar Mundial

Quando a artilharia terminou o serviço, os soldados alemães entraram na cidade em


ruínas, mas o progresso teve de ser lento e cuidadoso, feito quadra a quadra, devido à
presença dos intrépidos defensores russos que se valiam do cenário dos escombros para
realizar emboscadas. O combate urbano mostrou-se brutal para os atacantes, que
avançavam em combates arriscados casa a casa, cômodo por cômodo. Os soldados
soviéticos usavam as redes de esgotos para abrigo e movimentações. Os pontos elevados
dos edifícios em ruínas eram posições privilegiadas para a ação de franco-atiradores.

O combate de proximidade em meio aos túneis e ruas cobertas por


escombros era a tática soviética para impedir o avanço inimigo, produzindo
muitas baixas. Essa luta urbana sangrenta era desfavorável aos alemães,
que a chamavam de “rattenkrieg”, ou guerra dos ratos.

Soldados alemães (esq.) e soviéticos (dir.) combatendo na cidade de Stalingrado em ruínas, que oferecia as
condições perfeitas para os snipers que eram empregaram-no com maestria para debilitar o invasor.

O general Chiukov sabia que os alemães eram mestres na blitzkrieg e gostavam de lutar
à distância, empregando tanques, artilharia e aviação. Em Stalingrado, Chuikov buscou
negar essa vantagem, impondo uma desgastante luta de proximidade nas ruínas da cidade.
Ele reorganizou seu exército em pequenas unidades, as tropas de assalto. Sua tática, como
ele mesmo dizia, era “abrace o inimigo”, levando o combate até “uma granada de
distância”, impedindo que os alemães usassem a artilharia e a aviação, pois atingiriam
seus próprios soldados. Apesar da resistência feroz dos russos, os alemães, com alto custo
em vidas, conquistaram terreno e chegaram a ocupar 90% da cidade. No início de
novembro, hastearam a bandeira nazista na cidade, considerando que a batalha estava
praticamente ganha. Hitler chegou a ficar exultante com a proximidade da vitória
Contudo, os alemães não conseguiam controlar totalmente a cidade, pois alguns enclaves
continuavam em poder dos soviéticos, que lutavam ferozmente e recompletavam
periodicamente seus efetivos. E então, em meados de novembro de 1942, o ritmo da luta
foi reduzido com a chegada o inverno. O Exército alemão encontrava-se desgastado e
ficando sem provisões. A cadeia logística tinha se alongado demasiadamente, de modo
que os suprimentos já não atingiam as linhas de frente em Stalingrado. Eles não haviam
recebido uniformes adequados para suportar o rigoroso inverno russo com temperaturas
de até 30º graus negativos. Muitos recorriam a retirada das roupas dos russos mortos para
se manterem aquecidos.

77
História Militar Mundial

Enquanto isso, sem que os alemães suspeitassem, na outra margem do Rio


Volga os soviéticos organizavam uma grande operação recebendo o reforço
de 1 milhão de soldados, milhares de aviões, tanques e peças de artilharia.

O marechal Georgy Zhucov, número 2 na cadeia de comando do Exército Vermelho,


havia sido enviado por Stalin para apoiar o general Chuicov e, ao mesmo tempo, planejar
uma grande ofensiva para expulsar os alemães de Stalingrado, a Operação Urano.
Naquele momento, todos os recursos militares da União Soviética estavam sendo
concentrados a leste do Rio Volga. O país comunista estava se beneficiando de uma ampla
ajuda econômica e militar dada pelos seus aliados britânicos e norte-americanos para
enfrentar os invasores. Em novembro, havia um outro Exército Vermelho, melhor
organizado e que havia recebido novas e modernas armas na linha de frente.
Em 19 de novembro, sem que os alemães percebessem, o Zhucov lançou a Operação
Urano, mobilizando duas colunas do Exército Vermelho que transpuseram o Rio Volga
ao norte e ao sul de Stalingrado. Tratava-se de uma clássica manobra de pinça, para
envolver o 6º Exército Alemão pelos flancos, deixando-o sitiado em Stalingrado. Os
flancos eram defendidos por tropas coligadas do Eixo, formadas por húngaros, romenos
e italianos. Mal armadas e treinadas foram facilmente derrotadas ou rendidas diante da
superioridade dos soviéticos. Em apenas 4 dias, as colunas fecharam a pinça na altura de
Kalach e envolveram o exército do general Paulus, que ficou preso em Stalingrado.

Esquema da Operação Urano, que cercou os alemães em Stalingrado e marcou a virada da guerra.

Quando se viu cercado, o general Paulus solicitou permissão superior para recuar e tentar
romper o cerco, mas foi desautorizado por Hitler que estava obcecado por conquistar
Stalingrado e não admitia uma retirada diante dos russos, os quais considerava um povo
inferior. Apesar de assessorado por seus oficiais a recuar, Paulus decidiu não desobedecer
ao Fuhrer. Ao final de novembro estava claro que, sem o apoio externo, o 6º Exército
estaria condenado em Stalingrado.

78
História Militar Mundial

Foi quando o marechal Hermann Göring, comandante da Luftwaffe, garantiu a Hitler que
poderia abastecer todo o 6º Exército pelo o ar, afastando o risco da uma derrota. Mais
uma vez, o líder nazista confiava na promessa de seu velho amigo Göring. Todavia,
novamente, a capacidade da Luftwaffe foi superestimada. Para abastecer uma tropa de
300 mil combatentes pelo ar, seriam necessárias cerca de 700 toneladas de suprimentos
diários, incluindo víveres, munições e outros itens. A Luftwaffe não possuía grandes
aviões de transporte, com todo o esforço recaindo sobre os trimotores Junkers Ju-52.

Aeronave Ju-52 da Luftwaffe desembarcando em Stalingrado para abastecer o 6º Exército. Quando a campanha
de ressuprimento aéreo começou, percebeu-se que a frota de aviões disponibilizados só poderia levar de 80
toneladas de carga por dia, insuficiente para suprir um exército de 300 mil homens.

A artilharia antiaérea soviética, posicionada nas rotas aéreas logrou abater centenas de
aviões, forçando a Luftwaffe que partir voos noturnos. A situação se agravou quando as
tropas soviéticas avançaram e tomaram os campos de pouso na região de Stalingrado,
impedindo pousos e decolagens. Desesperadamente, os suprimentos passaram a ser
lançados do ar por paraquedas, comprometendo a eficiência e reduzindo ainda mais
capacidade de carga.
Nesse momento chegava a
Stalingrado a nova Força Aérea
Soviética, totalmente reaparelhada
com centenas de aviões de combate.
O destaque era o moderno caça
Yakolev Yak-9 que usava ampla
variedade de armamentos para anti-
tanque, bombardeiro leve e escolta
de longo alcance. Em baixa altitude,
na qual operava predominantemente,
o Yak-9 era mais manobrável que
O Yak-9 foi o principal rival do consagrado Bf-109, sendo seu principal rival, o Messerschmitt
responsável pela conquista da superioridade aérea. Bf-109.
Os caças soviéticos começaram a atacar os cargueiros da Luftwaffe fazendo forte
oposição aos caças alemães. Em pouco tempo, a Força Aérea Soviética dominou os céus
da região impedindo qualquer possibilidade operação aérea por parte dos alemães. No
início de dezembro estava claro que a única esperança para o 6º Exército Alemão
sobreviver lutando dependia de uma campanha de resgate terrestre.

79
História Militar Mundial

O marechal Von Manstein reuniu todas tropas disponíveis na região e deflagrou a a


Operação Tempestade de Inverno com o objetivo de furar o bloqueio e salvar os 200 mil
homens do 6º Exército que se encontrava cercado. A coluna de blindados de Manstein
chegou a distância de 32 km de Stalingrado, mas teve de retornar porque em seu caminho
encontrou a artilharia do Exército Vermelho muito mais forte, que o forçou a recuar.
Mesmo assim, de nada adiantaria abrir um corredor de fuga porque o general Paulus
recusava-se a sair de cidade para não desobedecer às ordens de Hitler.
No dia 8 de janeiro de 1943, os generais soviéticos ofereceram a oportunidade de rendição
em condições aceitáveis. Haveria alimentos para os prisioneiros, cuidados médicos para
os doentes, repatriação garantida ao final da guerra, e os oficiais teriam tratamento
diferenciado e poderiam portar suas pistolas. O general Paulus solicitou a Hitler
permissão para se render, mas a autorização lhe foi negada, ordenando-lhe para resistisse
e lutasse até ultimas forças.
Sem suprimentos, a situação do 6º Exército Alemão ficou desesperadora. Além da falta
de munição para combater, do frio de 20º negativos, a fome e as consequentes doenças
atingiam toda a tropa. Todos os cavalos foram abatidos. Em seguida, cachorros, gatos,
ratos, corvos, tudo que se encontrava vivo entre as ruínas da cidade era consumido. A
única água potável vinha da neve derretida. Quando os militares soviéticos apertaram o
cerco, forçando os alemães a recuar cada vez mais, descobriram que seus inimigos
estavam exauridos e não tinham condições de se defenderem. Aqueles que não morreram
pelas bombas ou balas já tinham perdido a determinação.

Para evitar a rendição, em 30 de janeiro, Hitler o promoveu Paulus ao posto


de marechal. Em toda a história da Prússia e da Alemanha nunca um
marechal-de-campo tinha se rendido ou sido capturado em batalha.

A promoção não passava de uma cartada


sinistra do líder nazista para Paulus se
suicidasse antes da capitulação final.
Naquele mesmo dia, horas após receber o
telegrama de Berlim informando sua
promoção, o marechal recém-promovido foi
surpreendido pela invasão de tropas
soviéticas em seu posto de comando,
localizado em um porão em ruínas. Paulus
estava abatido e muito debilitado por uma
longa disenteria.
A rendição foi assinada em 31 de janeiro
mas, apesar disso, os combates persistiram
por mais 2 dias até que alguns redutos
alemães isolados recebessem a notícia ou
acabasse a munição. Terminava a maior e
mais decisiva batalha da toda a Segunda
Guerra Mundial. O Exército Alemão havia
sofrido sua maior derrota e perdido seus
Rendição do Marechal Paulus ao Exército Soviético melhores combatentes.
em 31 de janeiro de 1943.

80
História Militar Mundial

Ao todo, 91 mil homens congelados, doentes e famintos, incluindo 24 generais do Eixo


foram feitos prisioneiros do Exército Vermelho. Conforme eles marchavam, um coronel
russo apontou para Stalingrado em ruínas e gritou, com raiva, para um grupo de alemães:
“É assim que Berlim vai ficar”. Em duas semanas, metade dos prisioneiros já tinha
morrido de fome ou frio. O restante não sobreviveria às condições das longas marchas
para campos de trabalhos forçados na Sibéria. Apenas 5 mil voltariam vivos para a
Alemanha no final da guerra.

Muitos historiadores consideram Stalingrado como a maior e mais sangrenta


batalha da história da humanidade. Estima-se que morreram cerca de 841 mil
alemães e seus aliados, e mais de 1,13 milhão de soviéticos.

De fato, a Batalha de Stalingrado foi a maior desastre militar sofrido pela Alemanha na
Segunda Guerra Mundial. Mas, no país, a derrota foi habilmente manipulada Joseph
Goebbels, ministro da Propaganda, que visava não abater o moral do povo. Foi divulgado
que 6º Exército havia lutado heroicamente até o último homem e sucumbira apenas por
falta de suprimentos. Foram ocultados os grandes erros estratégicos provocados pela
obsessão cega de Hitler em querer conquistar a cidade a qualquer custo e não permitir
qualquer recuo para salvar um exército sitiado.

7.2 A Batalha de Kursk


A partir de janeiro de 1943, o Exército Soviético emergiu como uma grande força militar,
capaz de enfrentar os alemães por toda a Frente Oriental. Confiante, o marechal Zhucov
partiu imediatamente para libertar o Cáucaso em poder dos alemães do Grupo de
Exércitos A. Havia a possibilidade de que ficassem isolados, como acontecera em
Stalingrado. Sem opção, Hitler concedeu, relutantemente, autorização para a retirada. Nos
meses seguintes, os comandantes germânicos travaram uma habilidosa e rápida operação
de retirada, especialmente liderada pelo marechal Von Manstein, enquanto os soviéticos
iniciavam uma ampla ofensiva.
No final de fevereiro, O Exército Soviético tinha recapturado as cidades de Kharkov e
Kursk, infringindo golpes debilitantes ao poderio alemão que amargava a perda de cerca
de 1 milhão de soldados em poucos meses, além da grande quantidade de tanques e armas.
Depois da retirada do Cáucaso, os alemães lutaram bravamente e recapturaram Kharkov,
mas logo tiveram que ceder a cidade, pois encontravam-se em inferioridade de tropas na
relação de 7 para 1. Von Manstein idealizara um plano de defesa móvel, permitindo ao
inimigo avançar até ultrapassar as suas linhas de abastecimento, para logo depois
enfrenta-lo em posições defensivas bem preparadas, todavia Hitler detestava quais planos
defensivos e ou retiradas contra os soviéticos.

Em 1943, a Alemanha não detinha mais a vantagem tecnológica. O tanque


T-34 estava melhor equipado e era muito superior ao Panzer IV. A artilharia
soviética contava com os lançadores de foguetes Katyusha, apelidado de
“Orgãos de Stalin”, capazes de dilacerar as defesas alemãs. Os aviões
construídos pelos eram mais modernos e poderosos.

81
História Militar Mundial

Para reverter a momentânea desvantagem tecnológica ele nomeou o arquiteto Albert


Speer como ministro do Armamento, que priorizou investimentos científicos para o
desenvolvimento de novas armas. Speer era um administrador competente e mobilizou
recursos de toda ordem prometendo a Hitler que a Wehrmacht ressurgiria combatendo
com carros blindados e aviões de uma nova geração. Estavam sendo desenvolvidos os
novos tanques Tiger, Panther e Ferdinand, bem como as novas blindagens para os antigos
Panzers III e IV. Novos aviões entrariam em operação como o Henschel Hs 129, dotado
de um canhão de 30 mm desenvolvido destruir atacar formações de carros de combate.

Embora contra a vontade e as ordens do Fuhrer, a realidade no início de 1943


era que o Exército Alemão se encontrava em ampla retirada na Frente
Oriental, sendo empurrado pela máquina de guerra do Exército Soviético.

Em março de 1943, as linhas de frente estavam redefinidas e o avanço soviético tinha


produzido um nítido saliente entre as linhas alemãs, que parecia taticamente vulnerável.
Obcecado em retomar a ofensiva, Hitler decidiu que a cidade de Kursk era o lugar mais
óbvio para recomeça-la. O bolsão em torno da cidade deveria ser atacado em um clássico
movimento em pinça, pelo norte e pelo sul, cercando e aniquilando a grande concentração
de forças do Exército Vermelho ali estacionado. Assim sendo, o líder nazista ordenou aos
seus generais que fizessem um plano de ataque para o ataque em Kursk.

Mapa do saliente de Kursk. Hitler viu aí a oportunidade do Exército Alemão realizar um golpe decisivo sobre o
Exército Soviético e retomar a iniciativa da guerra no Leste.

No Alto-Comando militar alemão, a opinião dos generais era quase unanime se opondo
ao ataque ao saliente de Kursk. Muitos generais chegavam a confrontar o Führer, entre
eles os respeitados Erich Von Manstein e Heinz Guderian. Todos diziam que o ataque era
por demais ambicioso e que o Exército Alemão não estava preparado para lançar tal
ofensiva. Até o próprio ministro Albert Speer, amigo pessoal de Hitler, tentou convencê-
lo a desistir, mas o ditador se mostrou irredutível e ordenou o prosseguimento dos planos
de ataque.

82
História Militar Mundial

Mesmo sendo contra, o leal e disciplinado marechal Von Manstein assumiu o


planejamento geral do ataque a Kursk. O plano inicial, denominado Operação Cidadela,
previa o início do ataque para 3 de maio de 1943, mas Hitler passou a exigir planos cada
vez mais detalhados e fazia questão que a batalha fosse o palco para a estreia dos novos
tanques Panther, Tiger e Ferdinand, sendo uma oportunidade para confrontarem o rival
soviético T-34. Enquanto isso, o Serviço de Inteligência Britânico, interceptava as
mensagens codificadas dos alemães e repassava aos soviéticos as preciosas informações
de que os alemães pretendiam atacar em Kursk.

Os constantes atrasos na entrega dos novos blindados para a linha de frente,


provocou sucessivos adiamentos no início da Operação Cidadela. Isso se
mostrou crucial, pois deu tempo aos soviéticos para reforçar as defesas.

O marechal Zhucov, conhecendo os planos do inimigo, mobilizou para o bolsão de Kursk


cerca de 2 milhões de soldados, 7 mil carros blindados e o impressionante número de 25
mil peças de artilharia. Foram cavados imensos fossos contra os tanques, campos minados
e linhas sucessivas defensivas. Já os alemães, mesmo após os sucessivos atrasos não
conseguiram concentrar mais de 800 mil homens, pouco mais de 3 mil blindados e 10 mil
canhões. Zhucov planejou atrair os alemães mais uma vez para o combate a curta distância
e fazer uma guerra de atrito, enquanto Von Manstein preparava-se para um combate em
campo aberto nos clássicos moldes da blitzkrieg.
Em 5 de julho de 1943, quando as tropas alemãs se preparavam para o assalto, foram
surpreendidas pela artilharia soviética. O Serviço de Inteligência soviético sabia,
precisamente onde e quando atacariam. Apesar de tudo, na manhã seguinte, os panzers
avançaram em direção a Kursk com maciço apoio aéreo da Luftwaffe, mas encontraram
um Exército Soviético entrincheirado a sua espera. Não havia espaço nem oportunidade
para fazer a blitzkrieg. Os blindados alemães tinham sido atraídos para um matadouro
bem preparado de armas anti-tanques. Os resultados foram desastrosos.

Foi no dia 12, em Prokhorova, que aconteceu o maior embate de tanques de toda a Batalha de Kursk. O resultado
do confronto pulverizou as chances de uma vitória nazista.

83
História Militar Mundial

Ao norte, a coluna do Exército Alemão conseguiu avançar apenas 10 km, perdendo 25


mil homens e mais de 200 tanques. No flanco sul, os alemães tiveram mais sorte, abrindo
um corte de 40 km nas defesas soviéticas. Todavia, o sucesso inicial teve alto preço com
a destruição de 350 tanques e a morte de 10 mil soldados. Por um breve momento a
penetração alemã parecia possível, até que Zhucov lançou todas as suas reservas. Em 12
de julho, 900 tanques soviéticos atacaram o flanco alemão. Os T-34 russos avançaram
sobre as linhas alemãs e abriram fogo em proximidade. A Força Aérea Soviética, com
mais aviões nos céus, sobrepujou a Luftwaffe e conquistou superioridade aérea. Foi um
combate brutal de monstros de aço e, em apenas um dia, os alemães perdiam 350 tanques
e começavam a recuar

Por ter envolvido o emprego de cerca de 10 mil carros de combate de ambos


os lados, Kursk tornou-se a maior batalha de tanques da História.
Demonstrou ainda que o Exército Vermelho poderia derrotar os alemães na
guerra mecanizada.

No dia 13, convencido da derrota, Hitler convocou os seus generais e ordenou a retirada
pois desejava o remanejamento de divisões para fortalecer as posições na Itália, pois a
Sicília acabava de ser invadida pelos Aliados. O marechal Von Manstein tentou
convencê-lo de que não estava tudo perdido e que era preciso preparar as defesas, mas o
líder nazista se preocupava em defender Mussolini. Kursk custou a vida de 200 mil
soldados alemães, a perda de mais de 700 blindados e de 2 mil aeronaves e ainda
consolidou a derrota no Leste. As perdas de Kursk desfalcaram severamente o poder
ofensivo da Wehrmacht e exauriu por completo a reservas. Kursk significou o colapso da
máquina de guerra alemã e ela e nunca mais conseguiria recuperar-se a ponto de fazer
uma nova ofensiva. A retirada alemã iniciou-se em 22 de julho e demonstrou que Hitler
havia desistido da Rússia.

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História Militar Mundial

8. O Fim da Guerra na Europa


Ao final do verão de 1943, a situação da guerra na Europa aponta claramente para a
derrota da Alemanha. A máquina de guerra soviética parecia imparável, enquanto os
Aliados anglo-americanos avançavam pela Itália. A Wehrmacht estava desgastada e não
era capaz de defender tantas frentes, resultando na rápida perda de espaço. Em meados
de outubro, estavam sendo repelidos em um amplo front 710 km por toda a Rússia,
perdendo Kiev, capital da Ucrânia. Na Criméia, parte do Exército Alemão evacuou pelo
mar sem autorização de Hitler, os que restaram foram massacrados pelos soviéticos.
Em janeiro de 1944, caía o cerco de Leningrado, que havia durado cerca de 900 dias. A
iniciativa estratégica no Leste Europeu estava totalmente nas mãos do Exército Vermelho.
Com a invasão da Itália e da queda da Roma, Hitler teve de transferir cada vez mais
contingentes da Rússia para defender o reduto de Mussolini. A situação se agravaria ainda
mais em junho de 1944, com a invasão da Normandia, a maior operação de invasão
anfíbia da história das guerras.

O Exército Vermelho avançava pelo Leste, enquanto americanos e britânicos


subiam pela Península Italiana. Mas a armadilha só se fechou sobre Hitler
quando ocorreu o desembarque na Normandia.

E assim, o velho temor estratégico dos militares alemães havia se consumado: guerra em
duas frentes, ou mais. Enquanto quantidades maciças de tropas e armas desembarcavam
no Norte da França, e o Exército Vermelho progredia em direção a Berlim, frotas de
bombardeiros americanos e britânicos reduziam as cidades alemãs a escombros. Mas,
mesmo diante da derrota consumada, a Alemanha nazista resistiria, com seus militares
surpreendendo com golpes de astúcia e tenacidade, apesar das desastrosas interferências
de Hitler.

8.1 O “Dia D”
As campanhas aliadas no norte da África, em 1942, e na Itália, em 1943, retardaram a
invasão da França, mas representaram vitórias estratégicas importantes. Há muito Stalin
pedia a Churchill e a Roosevelt a abertura de mais uma frente na Europa Ocidental, pois
considerava a invasão da Itália insuficiente para a aliviar a tremenda pressão das forças
alemãs sobre a Rússia. Entretanto, os planejadores militares anglo-americanos eram
cautelosos, pois sabiam que para uma grande operação anfíbia ter sucesso, o balanço de
forças deveria favorecê-los em larga superioridade, e que um fracasso seria desastroso.
Enquanto os americanos e britânicos se punham a concentrar forças na Inglaterra, nos
anos de 1943 e 1944, Hitler se preocupava em construir defesas costeiras, a chamada
Muralha do Atlântico. Para tal designou o famoso marechal Irving Rommel para a
empreitada. Todos sabiam que a Alemanha não aguentaria lutar simultaneamente uma
guerra em duas frentes. A decisão de abrir uma frente pela Normandia foi decidida pelos
os Aliados no final de 1943. Apesar dos ressentimentos britânicos, o comando supremo
da Operação Overlord foi entregue a um americano, o general Dwight Eisenhower.

85
História Militar Mundial

A preparação envolveu elaborados planos de engodo para iludir os alemães com


mensagens falsas e a ação de agentes duplos. Falsas transmissões de rádio eram emitidas
para sugerir que o 1º Grupo do Exército dos Estados Unidos – uma unidade fictícia –
supostamente comandada pelo general Patton, realizaria a invasão pela parte mais
estreita do Canal da Mancha, entre Dover e Calais. Até tanques, veículos militares e
canhões infláveis foram reunidos no local para que fossem avistados pelos aviões de
reconhecimento alemães que sobrevoavam o local.
Na realidade, a verdadeira força invasora se reunia ao sul da Inglaterra, para um ataque
às praias da Normandia, um local bem distante das principais defesas alemãs. A
grandiosa força anfíbia, de cerca de 3 milhões de homens, desembarcaria com largo
suporte naval e aéreo. A conquista da superioridade aérea era uma condição essencial
para a operação ter sucesso, e incluía ataques preliminares contra as bases da Luftwaffe
na região. Planejou-se ainda uma campanha de bombardeios aéreos de interdição por
todo o norte da França, com o objetivo de romper as comunicações e os acessos aos
locais de desembarque, bloqueando a chegada de reforços alemães.
A estratégia de enganar o inimigo mostrou-se muito eficaz, pois a maioria dos
comandantes alemães acreditavam que o ataque realmente ocorreria em Calais. Os
generais germânicos, contudo, divergiam sobre as táticas para repelir a força aliada
invasora. O marechal Von Rundstedt, acreditava ser inútil conter os Aliados nas praias
no momento do desembarque, investindo em uma poderosa retaguarda de reserva para
desferir um contra-ataque decisivo em campo aberto.
O marechal Rommel, planejador da Muralha do Atlântico, era da opinião de que o poder
aéreo aliado iria facilmente destruir ou neutralizar as unidades da retaguarda antes que
elas pudessem chegar nas linhas de frente. defendia um plano de combate imediato ao
nas praias, quando os invasores estariam mais vulneráveis. Rommel era o único alto-
chefe militar alemão que conhecia bem e já havia enfrentado os anglo-americanos, e seus
temores, em grande parte se justificavam. Diante das divergências entre seus generais,
Hitler adotou um plano conciliatório que acabou por não satisfazer nenhum deles.

Na madrugada de 6 de junho de 1944, o Dia D, mesmo com tempo pouco


favorável, uma grandiosa força de mais de 6 mil navios, 10 mil aviões e 36
divisões de infantaria, sem contar os paraquedistas, iniciou o desembarque
em 5 praias da Normandia com os seguintes codinomes: Utah, Omaha, Gold,
Juno e Sword.

Em Gold, Juno e Sword, os soldados britânicos e canadenses encontraram fraca oposição


e depois de superar as defesas alemãs já avançaram França adentro. No setor oeste, na
praia de Utah, os americanos também encontraram pouco resistência e rapidamente
progrediram. Contudo em Omaha a situação foi bastante diversa. Além da topografia e
do mar estarem desfavoráveis, as tropas americanas encontraram uma poderosa e feroz
resistência por parte dos alemães bem posicionados. Diz-se que em Omaha “aconteceu
o inferno na terra”. Os soldados americanos ficaram encurralados na praia que se tornou
um campo de morte. Após duros combates e pesadas, Omaha foi conquistada.
Ao anoitecer de 6 de junho, todas as praias tinham sido ocupadas com sucesso. Em
Berlim, Adolf Hitler tardou a reagir às notícias da invasão, pois acreditava que o ataque
na Normandia era apenas um engodo diversionista, Ele protelou a transferência de tropas
de Calais para a linha de frente e negou que as reservas panzers fossem imediatamente

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História Militar Mundial

deslocadas para a luta. Quando autorizou, já era tarde demais. Conforme previu Rommel,
os ataques aéreos dos Aliados castigaram as divisões alemãs que seguiam para a
Normandia, dando tempo para os aliados desembarcarem sua logística e avançar pelo
interior da França, apesar das condições do mar revolto que destruíram varios portos
artificiais Mulberry de concreto.
A resistência alemã, quando encontrada era sempre feroz e determinada, todavia, em 26
de junho, os norte-americanos capturaram o porto de Cherbourg, vital para o
desembarque de mais tropas e logística. Em 1º de julho, o Aliados já haviam alçancado
a paridade com as forças germânicas na zona de combate. O 1º Exército dos Estados
Unidos, comandado pelo general Omar Bradley conquistou a importante cidade de
Avranches em 31 de julho, graças a batalha diversionista de Caen que fez desviar o
grosso das forças alemãs para lá.
Finalmente, o progresso avassalador das unidades mecanizadas do general Patton,
obrigou os alemães a debandarem. Muitos, contudo, não escaparam a tempo;
encurralados por britânicos e americanos, 50 mil soldados alemães se renderam e foram
feitos prisioneiros.

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90
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9. A Capitulação do Japão

Os russos tinham virado o jogo da guerra e agora tinham como objetivo reconquistar o l
Após a Batalha de Kursk, os soviéticos reiniciaram suas ofensivas, fazendo ceder
os flancos e o centro da linha alemã. Os alemães foram obrigados a recuar por centenas
de quilômetros, com perdas humanas e materiais insubstituíveis. Em seus avanços, os
soviéticos retomaram cidades importantes, como Kharkov, Smolensk e Kiev.
No norte da frente oriental, em janeiro de 1944, os soviéticos levantaram o cerco
alemão à Leningrado e começaram a esfacelar o flanco esquerdo germânico. Em setembro
de 1944, o Exército Vermelho apossou-se da Estônia e Letônia. Nesse mesmo mês, os
finlandeses, que apoiaram a invasão alemã à URSS, pressionados, renderam-se às tropas
soviéticas.
No sul da frente oriental, em maio de 1944, as tropas alemãs que se encontravam
na Crimeia retiraram-se para a Romênia. Logo depois, os soviéticos avançaram para a
Romênia e Hungria. Os governantes romenos e húngaros, sem condições de resistir ao
inimigo, solicitaram o armistício em setembro de 1944. Em consequência, os soviéticos
passaram a controlar os campos petrolíferos romenos, vitais para os alemães. Também
em setembro de 1944, a Bulgária mudou de lado, quando forças soviéticas cruzaram o
Danúbio. Na Iugoslávia, em outubro de 1944, guerrilheiros tomaram a capital Belgrado,
expulsando os alemães do país.
No centro da frente oriental, em julho de 1944, forças soviéticas destruíram as
forças alemãs que defendiam a Bielo-Rússia. Em 7 de agosto, os soviéticos penetraram
na Polônia, onde se detiveram a leste de Varsóvia (poucos dias antes, começara um
levante nessa cidade contra a ocupação alemã; os soviéticos, no entanto, não apoiaram os
poloneses, que foram derrotados, em outubro, pelos alemães).

91
História Militar Mundial

Em dezembro de 1944, os soviéticos adentraram na Alemanha (Prússia


Oriental), agravando ainda mais a situação dos alemães, que, desde junho de 1944,
lutavam para deter os Aliados ocidentais, que haviam se engajado na libertação da França.
Nos anos de 1943 e 1944, Stalin, diversas vezes, solicitou aos aliados a abertura
de uma nova frente de combate na Europa Ocidental, para aliviar a pressão que o grosso
das tropas alemãs exercia sobre o Exército Soviético. Os aliados preparavam se nesse
sentido, planejando detalhadamente uma operação anfíbia denominada Overlord, que, da
Inglaterra, seria lançada para libertar a França, através de um desembarque na Normandia.
Para tal tarefa, os Aliados dispunham de 37 divisões bem equipadas e adestradas.
Para manter a França, os alemães contavam com 60 divisões, muitas delas com
reduzido poder de combate. Além disso, esperavam valer-se de um sistema de defe- sas
conhecido como “Muralha do Atlântico”, construído no litoral norte da Europa.
Preliminarmente ao ataque principal, os aliados lançaram diversas operações.
Entre essas, ações diversionárias foram realizadas para dar a entender aos alemães que a
invasão seria realizada pela parte mais estreita do Canal da Mancha (Estreito de Calais),
e a aviação aliada bombardeou o norte da França, com o intuito de romper as
comunicações por vias férreas e rodoviárias, de modo a evitar que reforços alemães
alcançassem o litoral francês.
A ofensiva na Normandia, propriamente dita, iniciou-se em 6 de junho de 1944
(Dia “D”), com um intenso bombardeio aéreo e naval às posições costeiras alemãs.
Paraquedistas aliados foram lançados à retaguarda das defesas inimigas para
desestabilizá- las. A Força Aérea Aliada obteve ampla supremacia, fator vital para o
sucesso da opera- ção. Em seguida, tropas do XXI Grupo de Exércitos Aliado (1º Exército
Norte-Americano e 2º Exército Britânico) desembarcaram nas praias da Normandia, que
receberam os codinomes Gold, Juno, Sword, Omaha e Utah. Embora a resistência alemã
fosse tenaz, os aliados conseguiram consolidar posições no litoral. Ataques aéreos aliados
impediram que reforços alemães substanciais apoiassem os defensores, o que permitiu,
nas semanas seguintes, aos Aliados avançar para o interior do continente.
A resistência alemã continuou determinada no interior da França, mas não
resistiu aos aliados, que passaram a contar com o apoio do 7º Exército Norte-Americano
desembarcado no sul da França em 15 de agosto, na Operação Dragão (“Operation
Dragoon”). O avanço aliado prosseguiu em direção a Paris, que foi libertada em 25 de
agosto de 1944. Os alemães só conseguiram reagrupar-se eficazmente na linha defensiva
Siegfried, na fronteira da Alemanha com a França, onde passaram a ser pressionados por
três Grupos de Exércitos Aliados: o XXI (agora formado pelo 1º Exército Canadense e 2º
Exército Britânico), o XII (1º, 3º e 9º Exércitos Norte-Americanos), e VI (1º Exército
Francês e 7º Norte-Americano).
Tendo em vista abreviar o desfecho da guerra, os aliados, após penetrarem na
Bélgica, lançaram um assalto aeroterrestre com 3 divisões de paraquedistas na Holanda
(“Operation Market Garden”). O Objetivo era capturar as principais pontes do Reno, o

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que permitiria aos aliados estabelecer rotas diretas para o interior da Alemanha. O ataque,
porém, fracassou e os aliados tiveram grandes perdas.
Hitler ainda dispunha de 65 divisões, mas poucas estavam devidamente
equipadas, e muitas eram compostas por militares fora da idade de servir (velhos ou
jovens demais para combater eficazmente). A derrota alemã parecia inevitável, mas o
líder alemão decidiu surpreender os aliados lançando uma última contraofensiva, que
seria executada nas Ardenas, tendo em vista dividir os aliados e conquistar Antuérpia, por
onde chegavam os suprimentos do inimigo.
Para esse ataque, Hitler reuniu 24 divisões (10 blindadas). A “Batalha do
Bolsão”, como foi chamado o ataque alemão, foi desencadeado em 16 de dezembro de
1944 contra o 5º Corpo de Exército Norte-Americano. Inicialmente os alemães obtiveram
sucesso, derrotando as forças norte-americanas que não esperavam uma contraofensiva
em pleno inverno, em uma região de matas cerradas. Após o ímpeto inicial, uma escassez
aguda de combustível prejudicou as ações das forças alemãs, que foram detidas e contra-
atacadas.
No Pacífico, incentivados pela vitória em Midway, os norte-americanos
iniciaram uma contraofensiva aos japoneses, conquistando, em novembro de 1942, a
importante base naval de Guadalcanal. Depois, forças dos Estados Unidos iniciaram
ataques contra os japoneses nas Ilhas Salomão e Nova Guiné, que se prolongaram até o
final da guerra.
Os ataques às Ilhas Salomão e a Nova Guiné, na verdade, eram diversionários,
pois o plano principal dos Estados Unidos previa como objetivos a destruição da Marinha
Japonesa e a abertura de uma rota que levasse os norte-americanos diretamente ao Japão
(seriam conquistados somente os territórios indispensáveis para tal propósito, as demais
áreas ocupadas pelos japoneses seriam isoladas). Para isso, os norte-americanos dividiram
suas forças em dois grandes Comandos de Área: o do Pacífico Central e o do Sudeste do
Pacífico, comandados, respectivamente, pelo almirante Chester William Nimitz e pelo
general Douglas MacArthur.
Seguindo o plano traçado, as forças do Comando do Pacífico Central
conquistaram, em novembro de 1943, Makin e Tarawa. Em resposta, a esquadra japonesa
avançou para enfrentar as forças de Nimitz e o embate deu-se em junho de 1944, em torno
das ilhas Marianas. Os japoneses sofreram mais uma grande derrota naval (perderam 3
navios aeródromos e 600 aviões), o que possibilitou aos norte-americanos capturar as
ilhas Marianas, de onde aeronaves poderiam bombardear diretamente o Japão. Em
setembro de 1944, as forças de Nimitz ocuparam Saipan, Guam, Yap e Palau.
Paralelamente, os contingentes do Comando do Sudeste do Pacífico também
obtiveram êxitos, entre os quais destaca-se a conquista das Filipinas, onde ocorreu a
Batalha Naval do Golfo de Leyte, entre 23 e 25 de outubro de 1944. Dela resultou
mais uma vitória dos norte-americanos e a destruição quase completa do poder de

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combate da Marinha Japonesa. No confronto, os japoneses perderam 4 navios


aeródromos, 3 couraçados, 22 outros navios, cerca de 500 aviões e 10.500 marinheiros e
aeronautas; os norte-americanos, 3 pequenos navios-aeródromos, 3 destroieres, 200
aviões e 3.800 marinheiros e aeronautas.
Enquanto ocorria a ofensiva norte-americana no Pacífico, os japoneses que
ocupavam a Birmânia, em março de 1944, resolveram invadir a Índia. Atacaram as
cidades de Kohima e Imphal, mas foram rechaçados. Em novembro de 1944, os britânicos
contra-atacaram, avançando em direção a Yangon (capital da Birmânia).
Quando o ano de 1945 teve início, a Alemanha e o Japão estavam em situação
desesperadora. Na Itália, os Aliados lançaram a Ofensiva da Primavera, graças à qual
romperam a Linha Gótica e adentraram no Vale do Pó, em perseguição às forças alemãs,
que se renderam em 2 de maio de 1945. Mussolini, capturado por guerrilheiros italianos,
foi executado.
No oeste europeu, após derrotar os alemães na Batalha do Bolsão, os alia- dos
cruzaram o rio Reno e ocuparam a região do Ruhr (principal centro industrial da
Alemanha).

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No leste europeu, os soviéticos, com imensa superioridade de meios, fizeram


ruir as posições defensivas inimigas. Cruzaram o rio Oder, em 31 de janeiro, e a fronteira
austríaca, em 15 de abril de 1945. Berlim foi cercada pelo Exército Soviético em 25 de
abril. Nessa mesma data, norte-americanos e soviéticos encontraram-se em Torgau, no
Rio Elba.
A batalha por Berlim foi sangrenta, mas, pouco a pouco, o Exército Soviético
foi conquistando a capital alemã. Adolf Hitler cometeu suicídio em 30 de abril, quando
tropas soviéticas aproximavam-se da Chancelaria Alemã, onde ele se encontrava. Em 8
de maio de 1945, as forças alemãs que ainda lutavam aceitaram os termos da rendição
incondicional imposta pelos Aliados. Com a rendição alemã, a guerra acabava na Europa,
mas ainda prosseguia no Sudeste Asiático e no Pacífico.
Na Birmânia, os britânicos conquistaram Yangon em maio de 1945, obrigando
os japoneses a render-se. No Pacífico, os norte-americanos conquistaram, por meio de
dois grandes ataques anfíbios, em março de 1945, as ilhas de Iwo Jima, e, em agosto,
Okinawa. Iwo Jima e Okinawa, próximas ao Japão, serviram como importantes bases para
os bombardeiros norte-americanos.
Para finalizar a guerra, no entanto, os americanos teriam de forçar a rendição dos
japoneses. A expectativa de baixas norte-americanas em uma invasão ao Japão eram
grandes, pois os combates em Iwo Jima e Okinawa, devido à feroz resistência inimiga,
foram muito custosos em termos de soldados mortos (aproximadamente 7 mil homens em
Iwo Jima e 16 mil em Okinawa). Em virtude disso, o presidente norte-americano, Harry
S. Truman, que substituíra Roosevelt, falecido em 12 de abril de 1945, decidiu
empregar a recém-desenvolvida bomba atômica, para abreviar o conflito.
Em 6 de agosto de 1945, uma bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima,
matando, na hora, cerca de 80 mil pessoas. Outra foi lançada em Nagasáki, em 9 de agosto
de 1945, ceifando 40 mil vidas. Paralelamente, a URSS declarou guerra ao Japão e
invadiu a Manchúria. Diante dos ataques devastadores e da declaração de guerra
soviética, o Imperador Japonês anunciou a rendição de seu país, o que aconteceu em 2 de
setembro de 1945, pondo fim à Segunda Guerra Mundial.
O segundo conflito mundial caracterizou-se por ter um caráter total, ou seja, os
principais países envolvidos empregaram todos os meios a seu alcance para derrotar os
oponentes (o emprego das bombas atômicas exemplifica o grau de violência a que chegou
a guerra). Combates sangrentos aconteceram no mar, no ar e em terra; em desertos, selvas,
planícies, montanhas, cidades e ilhas; em temperaturas por vezes escaldantes ou
enregelantes. Operações combinadas, aeroterrestres e anfíbias foram largamente em-
pregadas. Cerca de sessenta milhões de pessoas morreram em consequência dos com-
bates ou devido a perseguições, trabalho escravo, execuções, fome e doenças.

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Os países derrotados perderam territórios e dois deles, a Alemanha e o Japão,


passaram a ser governados pelos Aliados. A Europa, enfraquecida pela guerra, deixou de
ser o centro das decisões, substituída pelos Estados Unidos e pela URSS.

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