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A Segunda
Guerra Mundial
1 O autor é coronel dentista da reserva da Aeronáutica, especialista em História Militar pela UNISUL e
mestre em Ciências Aeroespaciais pela UNIFA.
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1. Aspectos Gerais
A Segunda Guerra Mundial foi caracterizada pelos seguintes aspectos:
Estendeu-se por exatos seis anos. Começou oficialmente na
Europa com a invasão da Polônia, em 1ª de setembro de 1939.
Terminou na Ásia, com a rendição do Japão em 2 de setembro
de 1945.
Foi o maior conflito da história da humanidade, devido à sua
extensão, atores envolvidos e número de vítimas. Muito mais
devastadora e mortífera que a Primeira Guerra Mundial, teve
o saldo estimado em 60 milhões de mortos.
Mais abrangente que a Grande Guerra (1914-1918) envolveu
diretamente 55 atores (países) nos cinco continentes. Assim
como aquela, foi uma guerra global, mas com dois teatros de
operações de operações bastante distintos: Europa e Pacífico.
Na Europa, os Aliados combateram a Alemanha e a Itália, no
Pacífico a guerra deu-se contra o Japão.
Foi também uma guerra total, pois todos os beligerantes
empregaram todos os seus recursos bélicos, econômicos e
humanos para derrotar seus inimigos, sem limitações. Foram
mobilizados mais abrangente de de 100 milhões de militares
em todo o mundo. O resultado foi um grau de destruição sem
precedentes na história da humanidade.
Tratou-se de uma reedição do choque de grandes potências
agrupadas em 2 blocos antagônicos: EIXO versus ALIADOS.
Alguns historiadores defendem até que foi a continuação da
Grande Guerra, após uma trégua de 21 anos. Todavia, essa
teoria se baseia apenas na posição da Alemanha que pretendeu
uma revanche na Europa.
Matou muitos mais civis que combatentes. Marcada por crimes contra a
humanidade: bombardeios indiscriminados contra alvos civis e o genocídio de
grupos étnicos e nacionais. Nesse aspecto, evidenciou-se o Holocausto do povo
judeu, perpetrado sistematicamente pelo regime da Alemanha nazista. Todavia, o
Japão cometeu atrocidades em proporções talvez até maiores, especialmente contra
o povo chinês.
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2. Origens da Guerra
A Segunda Guerra Mundial decorreu de uma conjunção de fatores históricos, políticos e
econômicos, dentre os quais podemos identificar como mais relevantes:
1. A ascensão de regimes totalitários.
2. O expansionismo imperialista.
3. O nacionalismo militarista.
4. Fracasso da Liga das Nações.
5. O Tratado de Versalhes.
A conjuntura mundial das décadas de 1920 e 1930 favoreceu a ascensão de regimes
totalitários, especialmente na Alemanha, na Itália e no Japão. Aspirações expansionistas de
construção de grandes impérios, fermentadas pelo nacionalismo radical fez com que seus
líderes buscassem crescente aumento do poderio militar. Nasceu, assim, um clima de
tensões internacionais que favoreceu as ações belicistas.
A Liga das Nações fracassou por defeitos de origem. Não dispunha de um poder executivo
forte. Apesar do idealizador ter sido um presidente americano, os Estados Unidos não
ingressaram na organização porque o Congresso não ratificou o tratado de criação. O
governo de Moscou só foi admitido em 1934. Mesmo nos melhores tempos, o número de
membros não passou de 50. Incapaz de resolver os conflitos internacionais, a organização
acabou esvaziada por expulsão ou retirada voluntária de vários de seus membros.
Quanto às raízes históricas, essas
não eram longínquas, pois
situavam, em grande parte, no
final da Primeira Guerra
Mundial. O Tratado de
Versalhes, de 1919, que rematou
a derrota da Alemanha causou
profunda humilhação nacional.
As cláusulas punitivas foram
como sal nas feridas da nação.
A grande potência industrial vencida teve que entregar suas colônias ultramarinas, perdeu
15% de seu território para países vizinhos e suas forças armadas foram desmanteladas,
suprimidas a um exército de 100 mil homens. A Alemanha foi ainda condenada a pagar
pesadas reparações de guerra aos vencedores, o que causou sérios problemas econômicos.
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Em seu discurso, Adolf Hitler pregava o ódio aos judeus, a quem culpava por
todos os males da nação. Sua ideologia racista preconizava a superioridade da
raça ariana. O nazismo, apesar das muitas semelhanças, opunha-se
ferozmente ao comunismo a quem prometia aniquilar.
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Aos poucos, o líder nazista foi violando as diversas proibições do Tratado de Versalhes.
Testando a tolerância dos vencedores, Hitler impulsionou a indústria bélica e violou
acintosamente as cláusulas do Tratado ao reconstruir as Forças Armadas. Naquele
momento, britânicos e franceses pareciam admitir que as punições sobre o povo alemão
tinham sido severas demais. Afrontando os antigos inimigos da Alemanha, o governo
nazista começou a rearmar-se, concentrando recursos na produção e no desenvolvimento
de tanques, aviões e submarinos.
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Com a Áustria anexada, Hitler voltou-se para a Tchecoslováquia, declarando seu desejo de
incorporar a região dos Sudetos, onde vivia uma população de maioria germânica. Após
pressionar, sem sucesso, o governo tcheco, Hitler promoveu uma conferência internacional
em Munique, em setembro de 1938. Nessa conferência, com o aval da França e da Grã-
Bretanha, obteve permissão para anexar os territórios Sudetos. Curioso citar que o governo
de tcheco sequer foi convidado ou consultado. Por sua vez, franceses e britânicos obtiveram
de Hitler a promessa de que ele cessaria quaisquer reinvindicações territoriais.
O êxito do ditador alemão em extrair concessões dos Aliados o animou a seguir adiante.
Até então, suas reinvindicações se limitavam a restituição de territórios perdidos habitados
por germânicos. Entretanto, em março de 1939, esse limite foi cruzado quando Hitler
ordenou que seu exército invadisse o restante da Tchecoslováquia, que tinha maioria da
população eslava. Isso alertou os líderes aliados sobre as reais intenções expansionistas e
sobre o valor das promessas do líder nazista.
Mapa ilustrativo dos territórios reivindicados pela Alemanha. Notar que o território da Polônia (em amarelo)
recebeu acesso ao Mar Báltico mediante o corte do território alemão (em azul). Os alemães ressentiam-se dessa
afronta e diziam ter o direito de livre trânsito para a Prússia Oriental, que ficou separada do resto do país.
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Assinatura do Pacto Germano-Soviético, em Moscou em. em 23 de Agosto de 1939 pelos ministros dos Negócios
Estrangeiros Joachim von Ribbentrop , da Alemanha, e Viatcheslav Molotov, da União Soviética. Ao fundo, de
traje claro, destaca-se o ditador Joseph Stalin.
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O ditador italiano Benito Mussolini em discurso a uma multidão no centro da Itália, em 1934.
Apesar de todo seu apetite expansionista, a Itália, em 1939, não estava preparada para uma
guerra. Sua indústria era muito fraca em relação a das outras potências europeias. O país
havia dispendido muitos recursos no apoio a Franco na Espanha. As Forças Armadas
italianas operavam equipamentos ultrapassados, carecendo de moderna mecanização. O
regime fascista tinha sido hábil na propaganda de seu poder militar, mas isso não
correspondia à realidade.
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O Japão lutou na Primeira Guerra ao lado dos Aliados mas, assim como os
italianos, seus representantes acabaram menosprezados pelas potências
ocidentais em suas reinvindicações durante o Tratado de Versalhes.
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3. Guerra Relâmpago
Em 1939, o Exército alemão não era o maior nem o melhor equipado da Europa, mas
estava muito à frente de seus rivais no tocante à eficácia. A blitzkrieg (guerra relâmpago)
com suas táticas de velocidade, surpresa e impacto, significou um novo enfoque
doutrinário à guerra, e, quando empregada, revelou resultados espetaculares. A Polônia
foi conquista em 27 dias; a Dinamarca, em 24 horas; a Noruega, em 23 dias; a Holanda,
em 5; a Bélgica, em 18; e a França, em pouco mais de 6 semanas.
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À esquerda, unidades blindadas alemãs durante a invasão da Polônia, em setembro de 1939. À direita, aviões
bombardeiros Junkers Ju 87, conhecidos como Stukas, empregado na blitzkrieg para apoiar o avanço alemão, na
função de apoio aéreo aproximado e destruição da aviação polonesa ainda em solo.
Apesar de lutar bravamente, o Exército polonês não conseguia conter os invasores, pois
suas unidades haviam sido posicionadas de forma dispersa ao longo da fronteira, o que
permitiu às velozes tropas alemãs cercar com rapidez as defesas polonesas isoladas. A
cavalaria polonesa ainda usava cavalos e não teve a menor chance quando se deparou
com os numerosos tanques invasores. Os poloneses até que lançaram algumas
contraofensivas desesperadas, mas logo fracassaram. Carentes de equipamentos de
comunicação e de unidades mecanizadas, as lentas tropas polacas foram massacradas.
Após ultrapassar as defesas fronteiriças, as unidades Panzer avançaram sobre o coração
da Polônia, de modo que, em 7 de setembro, as tropas de vanguarda já se aproximaram
de Varsóvia. O que restou do grosso do Exército polonês lutou ferozmente para defender
sua capital na Batalha do Rio Bzura, a maior batalha da invasão da Polônia. Em poucos
dias, os alemães cercaram os poloneses e os eliminaram.
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À esquerda, mapa das anexações e invasões o III Reich até a invasão da Polônia em setembro de 1939. A direita, o
resultado da partilha do território polonês entre alemães e soviéticos. E assim, a Polônia deixou de existir de fato.
A invasão da Polônia marcou o início da a Segunda Guerra Mundial, mas isso não
significou que a Europa se incediou imediatamente em grandes combates. Estranhamente,
a guerra ingressou em uma fase que ficou conhecida como “Guerra de Mentira” ou
“Guerra Falsa” ou “Guerra de Brincadeira”. Apesar da França e do Reino Unido terem
declarado guerra à Alemanha, pelos 8 meses seguintes, não ocorreram grandes batalhas
entre esses beligerantes. Durante esse período, franceses e britânicos reuniam suas tropas
e recursos no front e se limitavam a esperar o inimigo atacar.
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Stalin esperava derrotar a Finlândia até ao final de 1939, mas o rigoroso inverno branco,
somado à feroz resistência finlandesa, frustrou suas estimativas, apesar da larga
superioridade militar em armas e tropas. Naquele momento, o Exército Vermelho
encontrava-se deficiente de comandantes tarimbados, devido aos expurgos políticos
promovidos por Stalin nos anos anteriores.
Ao mesmo tempo, os soldados recrutados para a campanha provinham de regiões
temperadas do Sul da Rússia e que não estavam adaptados para o combate na neve. Stalin
recusou recrutar os russos da região por julgar que não eram de confiança para lutar contra
os vizinhos finlandeses. A decisão mostrou-se desastroso em baixas para o Exército
Vermelho. O insucesso iniciou levou os soviéticos a partiram para o emprego de
bombardeios aéreos contra as posições defensivas e sobre as cidades finlandesas, mas
poucos resultados foram alcançados.
À esquerda, patrulha de esqui finlandesa, em posição de combate na neve. À direita, o soldado finlandês Simo Hayha,
conhecido como “Morte Branca”, que consagrou-se como o maior sniper da história da guerras ao abater 542
inimigos em apenas 100 dias de combate.
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Contrariando seus ministros, Haakon VII não admitiu entregar seu país e
ordenou que seu exército enfrentasse os invasores. Consumada a derrota, o
rei retirou-se com uma tropa para as montanhas e uniu-se à resistência.
O rei Haakon VII da Noruega acabou sendo resgatado pelos britânicos e levado para
Londres com sua família, onde estabeleceu um governo no exílio para apoiar a luta de
seu povo para combater a ocupação alemã. O resultado foi que os alemães tiveram que
comprometer muitas tropas na ocupação da Noruega pelo restante da guerra em razão das
persistentes ações de grupos da resistência norueguesa. Na resistência norueguesa
destacou-se o combatente Max Manus, que realizou espetaculares ações de sabotagem
contra instalações militares alemãs.
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Até então, a Alemanha havia enfrentado forças militares fracas ou com poucos recursos
mas, diferentemente dos países antes conquistados, a França era uma potência militar
formidável e ainda estava reforçada pelas Forças Expedicionárias Britânicas (BEF). Os
franceses mantinham um grandioso exército, praticamente equivalente aos alemães em
número de soldados, mas com muito mais peças de artilharia. Os blindados franceses,
além de melhores e mais avançados estavam em maior número que os alemães.
Char B1 Panzer IV
Há uma ideia bastante generalizada que indica que a Alemanha teve os melhores blindados durante toda a guerra,
mas isso está muito longe da realidade. Em 1940, a espinha dorsal das unidades blindadas alemãs ainda era
baseada nos pequenos e antiquados Panzer I e II. Poucos eram os Panzer III e Panzer IV disponíveis. Nenhum
deles superava o poderoso Char B1 dos franceses.
A única superioridade evidente em favor da Alemanha era no setor aéreo. A Luftwaffe
era considerada, de longe, a melhor força aérea do mundo. Seus pilotos tinham larga
experiência e gozavam de elevado moral e reputação. Os aviões alemães também eram
os mais modernos e eficientes da época. Quanto à Força Aérea francesa (Armée de l'Air)
era uma força decadente, contando com poucas e obsoletas aeronaves.
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Os Aliados estavam preparados e agiram rápido enviando suas forças para a Bélgica, para
conter o ataque alemão. Essas tropas, compostas pelo Exército francês e pela BEF,
representavam as melhores unidades de seus países, pois estavam destinadas a enfrentar
o que esperam ser o principal e mais reforçado setor do inimigo. Sem perceber que
estavam caindo em uma armadilha, eles continuaram penetrando ao norte da Bélgica,
acreditando que os alemães atacariam da mesma forma que na Primeira Guerra Mundial.
Ao saber que seus inimigos haviam mordido a isca, Hitler ficou exultante.
Enquanto isso, no sul da Bélgica, o Grupo A avançava velozmente sobre a floresta das
Ardenas, ocultando sob a copa das árvores milhares de carros de combate, grandes peças
de artilharia e tropas mecanizadas. O fluxo veículos e tropas alemãs foi tão intenso que
chegou a ocorrer um longo engarrafamento pelas tortuosas trilhas abertas na mata
fechada. Nesse momento, aviões de reconhecimento franceses detectaram a grande
movimentação de tropas alemãs seguindo em direção à floresta das Ardenas. Ao tomar
conhecimento do fato, o general Gamelin, comandante do Exército francês,
desconsiderou a informação, dizendo ser impossível transpor aquela floresta.
2Além ser uma construção bem fortificada e equipada com pesada artilharia, o Forte Eben-Emael era defendido por
1,2 mil soldados belgas que foram derrotados em apenas um dia de combate por de uma tropa paraquedista de
assalto alemã composta por apenas 85 homens.
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Unidades Panzer do Grupo A em deslocamento pela floresta das Ardenas, considerada intransponível por grande
tropas. Foi exatamente nesse ponto que se deu o golpe de força da Alemanha contra a França.
Quando os generais aliados perceberam que haviam sido enganados, já era tarde demais.
As forças franco-britânicas estavam encurraladas em Dunquerque, na Bélgica, prestes a
serem esmagadas pelos alemães. Em virtude do terreno nos arredores de Dunquerque não
ser propício para o uso de blindados, Hitler resolveu poupá-los para a continuidade da
campanha na França, incumbindo a Luftwaffe de Göring de impedir a evacuação
mediante um bombardeio aéreo inclemente.
Apressadamente, a Marinha Real Britânica desencadeou a Operação Dínamo, reunindo
todos os recursos marítimos disponíveis para resgatar os milhares de soldados ingleses e
franceses que se encontravam vulneráveis nas praias de Dunquerque. A Royal Air Force
(RAF) foi acionada se fez presente no espaço aéreo do Canal da Mancha para se opor à
ação da Luftwaffe.
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Hitler e o alto comando nazista visitam Paris ocupada em 23 de junho de 1940. Ao lado a população de Paris
chora ao saber da derrota e da capitulação de seu Paris diante dos alemães.
O general Charles Huntziger, representante do governo francês, assinou a rendição diante dos oficiais do Alto-
Comando alemão. O vagão foi cuidadosamente restaurado e enviado para o mesmo local de 1918.
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A longa batalha opôs a Kriegsmarine, com sua frota principalmente formada por
submersíveis, contra as marinhas de guerra e mercante dos Aliados (Grã-Bretanha,
Canadá e Estados Unidos). Aos alemães se juntaram os submarinos da Marinha Real
Italiana (Regia Marina). Ambas as frotas operavam de forma combinada no Atlântico.
Depois da queda da França, alemães e italianos estabeleceram suas bases na costa
atlântica francesa.
À esquerda, o U-boat Tipo VII, que foi o modelo de submarino mais amplamente usado da Segunda Guerra Mundial.
À direita, o almirante Karl Donitz, inspecionando tripulações que partiam para a guerra na base de submarinos
alemães sediada no litoral da França ocupada.
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Com base nele, os aviões e barcos passaram a localizar submarinos alemães na superfície
com relativa facilidade e afundá-los com cargas de profundidade. As perdas de U-Boats
alemães cresceram vertiginosamente, enquanto a taxa de torpedeamento de navios foi
drasticamente reduzida. O almirante Donitz procurou Hitler para transmitir-lhe as más
notícias: "Mein Führer, o fato é que agora os Aliados dispõem de um novo mecanismo
que lhes permite localizar nossos submarinos à tona d'água... Nossas perdas subiram
drasticamente. "
Os britânicos também conseguiram decifrar o código da máquina Enigma, empregado
pelos alemães nas comunicações navais, o que lhes proporcionou informações
antecipadas sobre as ações inimigas. Embora os submarinos alemães continuassem a ser
um perigo até o final da guerra, a partir de 1943, devido ao aprimoramento das medidas
antissubmarinas desenvolvidas pelos ingleses e norte-americanos, os efeitos de sua
atuação deixaram de ser relevantes. Quando a guerra terminou, dos 1.162 submarinos
construídos pelos alemães, 785 haviam sido destruídos.
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O contra-ataque britânico,
denominado Operação
Compasso, começou
empregando tropas coloniais
indianas, que arrasaram os
italianos em apenas 3 horas de
combate. O desfecho do golpe
em Sidi Barrani foi devastador
para as defesas italianas, que
desmoronaram com milhares de
baixas e rendições. Para cada
baixa britânica em combate, os
italianos perdiam 40 de seus
combatentes. O ano de 1940
Tropas italianas capturados pelos britânicos na Operação terminaria os italianos em fuga
Compasso. Muitos deles se entregavam simplesmente porque pelo Norte da África, sendo
estavam famintos e sem água, impossibilitados de continuar
recuando. perseguidos pelos britânicos.
Em 28 de outubro de 1940, seguindo o plano de expansão pelos Bálcãs de Mussolini,
divisões italianas penetraram na Grécia através da fronteira da Albânia. Nessa nova
invasão os italianos não tiveram melhor sorte frente aos determinados gregos que, embora
militarmente fracos, passaram a ser apoiados pelas forças britânicas, inclusive a RAF.
Novamente em situação de superioridade de efetivo, os italianos não lograram avançar
muito sobre o território grego e, em apenas três semanas de combates, estavam sendo
empurrados de volta para a Albânia. Em dezembro, os italianos só podiam recuar e já
haviam perdido 1/3 do território albanês diante da contraofensiva grega.
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Nos meses seguintes, ambos os lados reforçariam suas tropas no sentido de disputar
posições estratégicas no norte africano. Com fartos suprimentos enviados pelos Estado
Unidos por via aérea, que incluíam cerca de 1 mil aviões e 700 tanques, os britânicos
formaram o robusto 8º Exército britânico. Agora reforçados, os britânicos contra-
atacaram as forças do Eixo obtendo êxito, obrigando Rommel a ceder boa parte do terreno
que havia conquistado.
General Rommel em operações do Afrika Korps no deserto do Egito. A presença de tropas alemãs no Norte da África
se deu somente em razão da necessidade de socorrer o fracassado Exército italiano.
A setembro de 1940, o governo fascista da Romênia aliou-se ao Eixo. Com isso, Hitler
enviou para lá tropas alemãs a fim de garantir as preciosas reservas de petróleo e usar o
território do país como base de apoio para a futura invasão da União Soviética. Em abril
de 1941, um contratempo político fez Hitler ordenar a invasão da Iugoslávia, pois o
governo desse país foi contrário à presença de tropas alemãs em seu território para atacar
a Grécia. A partir da Iugoslávia ocupada, os alemães atacaram a Grécia, derrotando o
enfraquecido Exército grego.
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O codinome era uma homenagem a Frederico I, conhecido como “o Barbarossa” (barba ruiva), imperador do Sacro
Império Romano-Germânico na Idade Média. A escolha do personagem tinha um caráter simbólico. O imperador
germânico havia sido um dos líderes da Terceira Cruzada (1189-1192), conhecido por sua ambição como conquistador
e coragem no campo de batalha.
4 Como era também conhecido o Exército Soviético.
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Muitos generais alemães se mostraram contra essa divisão, defendendo o princípio de concentração de
forças em uma única frente para a conquista de Moscou, mas Hitler insistia nas três frentes por entrever
o aspecto simbólico de cada cidade alvo conquistada.
Sem dar a menor satisfação a seus líderes da Itália e do Japão, o ataque alemão à União
Soviética começou pouco antes do amanhecer de 22 de junho de 1941, quando as forças
alemãs romperam a fronteira soviética. Os invasores já reuniam cerca de 4 milhões de
soldados, 600 mil veículos de transporte motorizado, 800 mil cavalos, 3,5 mil tanques, 3
mil aviões e 8 mil peças de artilharia.
Por significar a maior e mais poderosa força militar alguma vez reunida, a
invasão alemã da Soviética, em junho de 1941, é considerada a maior
operação militar terrestre da história, o maior embate entre grandes exércitos.
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Ainda na madrugada do dia 22, Stalin foi informado sobre a invasão, mas, mesmo assim,
parecia não acreditar. Ficou atordoado e, assim, retardou a devidas ordens para que seu
exército reagisse. O progresso inicial das tropas alemãs foi avassalador. As colunas
panzer manobravam com rapidez e conseguiam fragmentar as defesas soviéticas sem
dificuldades. Quando surpreendidas, as tropas soviéticas reagiam de forma
descoordenada, quando não, em completo caos.
Tropas alemãs cruzando a fronteira soviética em 22 de julho de 1941. A Frente Oriental, que foi aberta pela
Operação Barbarossa, se tornaria o maior teatro de guerra da Segunda Guerra Mundial, com algumas das
maiores e mais brutais batalhas, terríveis perdas de vidas e condições miseráveis para russos e alemães.
As ordens emitidas por Moscou obedeciam complexa cadeia burocrática e política até
chegarem à linha de frente, o que comprometia a pronta resposta militar. A falta de
liderança e de bons oficiais também era outra grave deficiência dos soviéticos. Outra
deficiência do Exército Vermelho era escassez de equipamentos rádio de comunicação.
Os soldados russos até que lutavam e defendiam suas posições com bravura, mas a
eficiência das táticas alemãs se mostrava decisiva.
As defesas soviéticas facilmente eram envolvidas, o que provocava a morte e a rendição
de centenas de milhares de soldados. Após algum tempo, a velocidade da progressão das
unidades Panzer foi tamanha que a infantaria e a logística não conseguiam acompanhá-
las, exigindo a desaceleração da ofensiva. A ordem irritou os comandantes das divisões
blindadas, entre eles o general Heinz Guderian, porque isso daria ao inimigo mais tempo
para organizar suas defesas.
A Luftwaffe rapidamente obteve a supremacia aérea ao destruir grande parte da Força
Aérea soviética ainda no solo. O resultado foi avassalador: estima-se que cerca de 1.800
aeronaves inimigas foram destruídas no primeiro dia. Dias depois, o Alto-comando da
Luftwaffe já contabilizava destruição de mais de 4.000 aviões soviéticos, tudo isso diante
da perda de apenas 150 aparelhos alemães.
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Durante a campanha do Leste, Hitler pôs em prática sua política especial para lidar com
os povos eslavos, ignorando quaisquer leis de guerra ou condutas humanitárias no trato
da população civil. Os que sobreviviam eram feitos prisioneiros e seu destino poderia ser
a execução sumária ou o trabalho forçado até a morte por fome, frio ou doenças. Judeus,
ciganos e políticos comunistas eram sistematicamente executados em massa.
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Entretanto, pesadas chuvas de verão que provocaram vasyos lamaçais nas planícies da
Bielorrússia não tardaram a atrasar o avanço alemão, especialmente na Frente Central,.
Ainda em julho, as condições meteorológicas mudaram, dificultando as operações alemãs. As intensas chuvas
de verão, tornaram-se um tormento. As tropas blindadas e motorizadas não conseguiam se mover blindadas
em meio ao lamaçal, o que permitiu que às forças soviéticas recuassem e se reorganizassem.
Stalin aproveitou a oportunidade, saiu de sua reclusão e fez um pronunciamento à nação
conclamando o povo a lutar no que ele denominava de Grande Guerra Patriótica6.
Ordenou que todos os russos deveriam seguir a estratégia da “terra arrasada”7, retirando-
se para o leste e destruindo todos os recursos - animais e plantações – e ainda todas
instalações que pudessem ser utilizadas pelo inimigo. O Exército Vermelho se
encarregaria de destruir os depósitos, linhas ferroviárias, estradas, aeródromos e toda a
rede de infraestrutura no caminho dos invasores.
População russa resgatam pertences de seus lares em chamas, que teriam sido incendiados por ordem de
Stalin, como parte da estratégia de terra arrasada, em um subúrbio de Leningrado em 21 de outubro de 1941.
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O Panzer IV (esq) era, em junho de 1941, o maior e mais moderno tanque em operação no Exército Alemão.
O T-34 (dir) causou surpresa aos invasores, pois possuía uma combinação sem precedentes de poder de fogo,
mobilidade, proteção e robustez.
Esses novos tanques soviéticos eram, em todos os sentidos, superiores aos empregados
pelos alemães, inclusive aos Panzer IV, até então o maior e mais moderno carro alemão.
Contudo, a maioria dos blindados russos não possuía equipamentos de comunicação,
somente os dos comandantes das colunas. As unidades de tanques soviéticas ainda
utilizavam métodos arcaicos como bandeiras e sinais luminosos para transmitir ordens de
ataque e manobras.
Para piorar, as tripulações russas eram despreparadas, resultando em um baixo nível de
coordenação durante as batalhas, o que favorecia os alemães que tinham todos os seus
tanques com radiocomunicadores. Os oficiais alemães logo perceberam a falha e logo no
início das batalhas concentravam seus ataques sobre os carros dos comandantes
soviéticos. O resultado era que os demais terminavam como “baratas tontas” no campo
de batalha. E assim, os soviéticos perdiam todas os enfrentamentos entre tanques.
O poderio aéreo alemão permitiu que boa parcela dos temidos e novos
tanques T-34 e KV-1 que chegavam na linha de defesa fossem destruídos
pelos aviões da Luftwaffe antes que enfrentassem as unidades panzers.
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Para alento de Stálin, a Grã-Bretanha, que até então permanecia sozinha em guerra contra
a Alemanha, ofereceu seu apoio à União Soviética, propondo ajuda para enfrentar Hitler.8
Prontamente, Stalin aceitou a ajuda, propondo a Londres a assinatura de um tratado de
cooperação militar contra Hitler. Quando soube, Churchill disse, em tom irônico, que sua
palavra valia mais do que qualquer tratado formal, fazendo alusão ao inútil Pacto de Não-
Agressão de 1939. Quanto ao governo dos Estados Unidos, ainda neutro, mas atento aos
desdobramentos da guerra na Europa, informou que também se disporia a fornecer ajuda
militar a Moscou para combater a agressão alemã.
Durante o desenrolar da Operação Barbarossa, Hitler decidiu alterar os planos e transferiu tropas da Frente
Central para reforçar as Frentes Norte e Sul. Para ele, a conquista de Moscou poderia esperar.
8Inusitadamente, há cerca de 1 ano atrás, quando da vitória alemã sobre a França em, Stalin havia enviado uma
mensagem de congratulações a Hitler, então um aliado. Como se vê, o mundo deu muitas voltas na Segunda Guerra
Mundial.
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No dia 7 de agosto de 1941, reforçados com mais tanques enviados da Frente Central, os
exércitos da Frente Sul atingiram Kiev, iniciando uma longa e sangrenta batalha pela
tomada da capital ucraniana, que foi finalmente conquistada no dia 26 de setembro. A
Frente Norte atacou Leningrado em 8 setembro, mas encontrou a cidade muito bem
defendida, sendo estabelecida uma longa guerra de sítio9, no qual os alemães
bombardearam a cidade sem jamais conseguir conquistá-la.
O mês de outubro foi marcado pela rasputisa, fenômeno das intensas chuvas
de outono da Rússia que produzem intensos alagamentos e lamaçais.
Novamente as tropas alemãs se viram atoladas e retardaram seu avanço.
Depois das chuvas de outono, o inverno congelante russo chegou maneira abrupta. As
temperaturas começaram a despencar e pegaram os alemães despreparados. Até aquele
momento, somente a Frente Sul havia atingido seu objetivo. Na Frente Norte, Leningrado
permanecia sitiada e impondo tenaz resistência. A Frente Central se encontrava a 80 km
de Moscou. Em dezembro, parte de uma divisão de infantaria alemã avançou até 24 km
do centro da capital. Eles estavam tão perto que os oficiais alemães afirmaram que podiam
ver as torres do Kremlin. Todavia, haviam chegado tarde demais pois o frio intenso já
comprometia a capacidade ofensiva.
Com a chegada do inverno russo, o Exército Alemão ficou paralisado. Seus veículos e equipamentos não operavam
sob tão baixas temperaturas. Milhares de soldados alemães sucumbiram diante da fome e do frio intenso,
agravado pelo rompimento das longas linhas de suprimento na imensidão do território da Rússia.
9Sítio ou cerco é um método de estratégia militar onde unidades militares cercam uma fortificação, cidade ou área
onde o inimigo se abriga, com o intuito de não permitir sua evasão ou o recebimento de provisões. Geralmente, nesta
estratégia, é comum o uso de armas de assédio para a destruição de edificações. A técnica do cerco, tanto a de defesa
como a do ataque, chama-se poliorcética.
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História Militar Mundial
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História Militar Mundial
5. A Guerra no Pacífico
Enquanto os soviéticos começavam a deter os alemães na Europa Oriental, a atenção do
mundo voltou-se para a região do Pacífico pela entrada de novos atores beligerantes. Até
1941, a Segunda Guerra Sino-Japonesa, iniciada em 1937, parecia ser um conflito distante
e isolado, embora o expansionismo do Japão Imperial preocupasse as potências
ocidentais, especialmente os Estados Unidos.
Em 7 de dezembro tudo mudou, os japoneses atacaram a base naval norte-americana de
Pearl Harbor, no Havaí. No dia seguinte, o presidente Roosevelt, em memorável discurso
no Congresso americano, declarou guerra ao Japão. Quatro dias após Pearl Harbor, a
Alemanha e a Itália declararam guerra aos Estados Unidos, atraindo os americanos
também para a guerra europeia. A Segunda Guerra Mundial vê se abrir mais um Teatro
de Operações, o do Pacífico. Nele, os países Aliados travariam uma guerra total contra o
Japão.
Quando Hitler invadiu a França e a Holanda, as colônias asiáticas desses países ficaram
órfãs. Aproveitando a vulnerabilidade, em setembro de 1940, O Japão invadiu a Indochina
Francesa, com o “consentimento” do governo fantoche de Vichy. O Vietnã produziria o
arroz necessário para alimentar os soldados e marinheiros do Império do Sol Nascente,
mas a invasão também visava bloquear a entrada de armamentos, combustível e
equipamentos fornecidos pelos Estados Unidos para a China.10 Era o motivo que o
presidente Roosevelt precisava para impor ao Japão uma forte pressão econômica.
10O governo americano havia se comprometido a defender a China da agressão japonesa. Esse apoio se dava
mediante o fornecimento de armas e outros equipamentos americanos para que o governo chinês, chefiado Chiang
Kai-shek, exilado na cidade de Xunquim, no interior da China.
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História Militar Mundial
Mapa da Ásia-Pacífico em 1940. Os EUA possuíam diversas possessões e bases espalhadas pelo Pacífico,
representando uma séria ameaça à política expansionista do Japão. As reservas de petróleo da região estavam na
ilha de Bornéu, uma colônia da Holanda.
A última opção também significava se opor aos Estados Unidos, porque as reservas de
petróleo disponíveis na Ásia estavam em Bornéu, nas Índias Orientais Holandesas12, atual
Indonésia. No caminho para Bornéu estava o arquipélago das Filipinas, uma possessão
americana. A guarnição americana nas Filipinas tinha um poder militar considerável, com
cerca de 30 mil soldados, dois batalhões de tanques e 142 aviões.
Desde o aumento das tensões no Oriente, o governo americano procurou reforçar a
guarnição filipina, mostrando estar disposto a intervir para defender suas possessões, bem
como a de britânicos e holandeses. Em dezembro, a força combinada de defesa das
Filipinas, já somava dez divisões, e se encontrava sob o comando do general norte-
americano Douglas MacArthur.
11A medida foi um duro golpe, pois 80% do petróleo consumido pelo Japão provinha dos Estados Unidos, das reservas
do Texas.
12Com a invasão da Holanda pela Alemanha, em 1940, a administração das colônias ficou a cargo de um governo
holandês estabelecido no exílio, em Londres.
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História Militar Mundial
O plano de Tojo era desencadear uma rápida e ampla ofensiva pelo Pacífico, conquistando
colônias e bases militares dos países ocidentais. Isso incluía invadir Guam, Tailândia,
Filipinas, Ilhas Salomão, Bornéu, Cingapura, Malásia, Birmânia, Hong Kong e parte da
Nova Guiné. Tais conquistas, calculavam os estrategistas nipônicos, dariam
autossuficiência econômica ao Japão e formaria o desejado perímetro defensivo capaz de
resistir às contraofensivas dos norte-americanos.
A aventura expansionista de Tóquio dependia, em grande parte, da ação da Marinha
Imperial japonesa, na qual um dos mais destacados almirantes era justamente Yamamoto,
que era contra a guerra. Mas como um bom militar profissional, o comandante da
Esquadra Combinada acatou as ordens superiores e se dedicou à tarefa de como enfrentar
os Estados Unidos. O almirante sabia que não poderia atacar as possessões americanas
no Pacífico, sem antes neutralizar a frota da Marinha americana, sediada no Havaí.
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História Militar Mundial
A segunda onda a chegar, composta por 167 aviões, atacou depósitos de combustíveis e
pistas de pouso. Em menos de 2 horas, o fulminante ataque japonês destruiu 188 aviões
e avariou outros 159. As baixas humanas somaram 2.355 mortos e 1.143 feridos, em sua
grande maioria militares. A força naval, principal alvo do ataque, foi seriamente atingida
com 6 navios de guerra terminando afundados e outros 13 sendo seriamente danificados.
O USS Arizona era um dentre os 8 encouraçados ancorados em Pearl Harbor. Naquela manhã o navio foi
bombardeado seguidas vezes.
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História Militar Mundial
Apesar do aparente êxito, o ataque japonês a Pearl Harbor não foi totalmente
bem-sucedido, pois não atingiu os porta-aviões Enterprise, Lexington e
Saratoga, que, por acaso, encontravam-se, naquele dia, fora do porto,
realizando exercícios em alto mar.
Outra falha decisiva foi que os aviões japoneses não atingiram o principal depósito de
combustíveis da Marinha. Se esses depósitos tivessem sido atingidos, atrasaria ainda mais
as chances de uma reação rápida Marinha americana, que ficaria longo tempo sem um
meio para abastecer os navios futuramente deslocados da Frota do Atlântico. Outro local
que não estava na lista de alvos dos japoneses era o estaleiro de manutenção, que pôde
continuar a fazer reparos nas embarcações. Percebendo a falha, o almirante Yamamoto
tentou planejar um segundo ataque a Pearl Harbor, que acabou não sendo consumado.
No dia seguinte ao ataque, o presidente
Franklin D. Roosevelt proferiu o seu
famoso “Discurso da Infâmia” em uma
Sessão Conjunta do Congresso, na qual
pediu uma declaração formal de guerra ao
Império do Japão. O pedido foi aceito em
menos de uma hora. Seguindo os
americanos, nesse mesmo dia, o Reino
Unido também se pôs em guerra contra o
Japão. No dia 11 de dezembro, em apoio
aos japoneses, Alemanha e Itália
declararam guerra aos Estados Unidos.
No mesmo dia, o Congresso americano
respondeu, formalizando guerra à
Presidente Roosevelt em discurso no Congresso.
Alemanha e Itália
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História Militar Mundial
Mapa das ocupações do Japão em janeiro de 1942. A “blitzkrieg” japonesa atingiu aa Filipinas, a Malásia,
Birmânia, as Índias Orientais Holandesas, a Nova Guiné e as Ilhas Salomão.
O ataque japonês a Pearl Harbor foi uma estupenda vitória tática, mas um grande erro
estratégico. A reação dos Estados Unidos não foi como os japoneses calculavam. Longe
de ser abatido psicologicamente, o povo americano se uniu e reagiu com disposição para
a guerra. A mobilização foi rápida. O poder industrial converteu-se em favor da
construção de uma colossal máquina de guerra. As juntas de alistamento ficaram
abarrotadas de jovens voluntários. O sentimento patriótico de revidar os agressores
contagiou toda a sociedade americana.
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História Militar Mundial
13
Melanésia (palavra de origem grega que significa "ilhas dos negros") é uma região da Oceania, no extremo oeste
do Oceano Pacífico e a nordeste da Austrália, que inclui os territórios das ilhas Molucas, Nova Guiné, ilhas
Salomão, Vanuatu, Nova Caledónia e Fiji.
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História Militar Mundial
desembarque de tropas nas ilhas Salomão e na Nova Guiné. O principal objetivo seria
tomar a colônia britânica de Port Moresby, na Nova Guiné, de onde aviões aliados
decolavam para atacar as posições avançadas japonesas.
A localidade era ainda um ponto estratégico que se converteria em uma importante base
para lançar um futuro ataque à Austrália. A operação anfíbia deveria ser tranquila pois os
locais de desembarque eram fracamente defendidos. O único problema é que os
americanos já sabiam das intenções japonesas.
A tomada de Port Moresby significava que os japoneses teriam o controle do Pacífico Sul e ameaçariam a
Austrália.
O desembarque nas Ilhas Salomão ocorreu com tranquilidade em Tulagui. Em seguida, a
esquadra japonesa cruzou o Mar de Salomão em direção a Port Moresby. Quando penetrou
no Mar de Coral, na costa nordeste da Austrália, os japoneses detectaram a presença de uma
esquadra norte-americana. Esta era formada por 2 porta-aviões, 9 cruzadores, 13
destroieres, 2 petroleiros e 128 aviões. A esquadra japonesa era composta por 3 porta-
aviões, 9 cruzadores, 15 destroieres, 1 petroleiro, 15 navios cargueiros e 127 aviões.
A Marinha japonesa jamais havia confrontado uma força naval em mar aberto em
igualdade de poder. Era a oportunidade que o almirante Yamamoto desejava para liquidar
o que havia sobrado da Frota Americana do Pacífico, especialmente seus porta-aviões.
Deu-se então, nos dias 7 e 8 uma de maio uma surpreendente e inédita batalha naval com
ambas as esquadras tentando se esconder uma da outra e com os porta-aviões lançando
seguidas ondas de aviões para destruir os navios do inimigo.
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As esquadras americanas e japonesas sequer trocaram tiros entre si. Os aviões foram os principais vetores nos
combates do Mar de Coral, sendo responsáveis pela destruição dos navios de ambos os lados.
A Batalha do Mar de Coral marcou uma nova era na guerra naval, revelando
a superioridade dos meios aéreos sobre os meios flutuantes.
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14 Depois de transferir navios da Frota do Atlântico, nesse momento a Frota do Pacífico tinha três porta-aviões: USS
Enterprise, USS Hornet e o USS Yorktown. Os japoneses não contavam que o Yorktown pudesse ter sido reparado em
tempo dos danos sofridos no Mar de Coral. O USS Saratoga encontrava-se na Califórnia em reparos.
15 Não havia água potável em Midway e o abastecimento era feito por meio de uma usina de dessalinização.
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A destruição desses navios foi facilitada pelo farto material bélico disperso nos conveses
e porões, usados para armar os aviões. Nagumo não conseguia acreditar no via. Quando
os aviões japoneses que atacavam Midway retornaram, não tinham mais onde pousar pois
seus porta-aviões haviam sido atingidos ou afundados. Apesar do golpe decisivo, a
batalha prosseguiria com o contra-ataque dos japoneses.
O Hiryu, único porta-aviões intacto até então, rapidamente colocou no ar seus aviões para
contra-atacar a força tarefa norte-americana. A primeira vaga de bombardeiros japoneses
danificou seriamente o USS Yorktown com dois impactos diretos. Um segundo ataque fez
com que a belonave americana perdesse a velocidade, adernasse e afundasse.
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Inicialmente julgado como sendo um projeto inferior por seu design antiquado, O Zero
provou ser mais do que um excelente avião de combate, tornando-se o caça naval
dominante no Teatro de Operações do Pacífico. Tornou-se o principal caça da Marinha
Imperial Japonesa durante toda a guerra.
Ganhou reputação de invencível em
combate pois nenhum caça naval
americano, pelo menos o final do ano de
1943, podia se equipar ao Zero em
manobrabilidade, razão de subida, poder
de fogo e alcance.
Foi o avião usado tanto pelos grandes
ases Hiroyoshi Nishizawa o maior
caçador japonês de toda a guerra, quanto
por Saburo Sakai, o maior às japonês que
sobreviveu ao conflito.
Apesar de excelente, o Zero tinha um defeito fundamental para que pudesse ter a
leveza e o poder de manobra: era privado de blindagem na cabine do piloto e no tanque
de combustível. Isto o tornava extremamente frágil e vulnerável ao fogo inimigo. Era
difícil acertar um Zero nas mãos de um piloto hábil, mas bastavam poucos tiros certeiros
com munição incendiária para que o avião explodisse e se desintegrasse no ar.
Esta vulnerabilidade era típica desses vários modelos de aviões de combate japoneses,
já que a Marinha Imperial Japonesa preferia que um avião tivesse um bom desempenho
do que segurança, resultando assim na morte de muitos pilotos que, ao longo do conflito,
fizeram falta pela sua quantidade e experiência em momentos críticos para o Japão. O
Zero só pode ter um rival americano a altura no final de 1943, o Gruman F6F Hellcat
.
5.4 Guadalcanal
Se a Marinha Imperial tinha sido seriamente atingida em Midway, o mesmo não tinha
acontecido com o Exército Imperial Japonês, que continuava a ser uma força temida e
invicta, ocupando vários territórios e ilhas pelo Pacífico. Se a estratégia de ampliar o anel
defensivo no Pacífico não podia mais ser feita pelo mar, o Alto-Comando japonês definiu
que deveriam o fazê-lo por terra e pelo ar. Com a Marinha imperial desfalcada em porta-
aviões, restou uma alternativa estratégica: investir em bases aéreas.
Nesse sentido, durante o verão de 1942, os japoneses começaram a construir pistas de
pouso pelos territórios ocupados no Pacífico. Uma delas foi a ilha de Guadalcanal, um
ponto estratégico ao sul das Ilhas Salomão, um arquipélago na Melanésia. Em julho,
aviões de reconhecimento americanos detectaram que os japoneses iniciavam a
construção de um grande aeródromo na ilha, de onde poderiam lançar inclusive
bombardeiros de longo curso. Uma base aérea japonesa em Guadalcanal representava
uma séria ameaça aos comboios marítimos de suprimentos vindos do Estados Unidos com
destino à Austrália.
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Soldados americanos desembarcando nas parias de Guadalcanal. O principal objetivo da luta era uma pequena
pista de pouso que os japoneses estavam construindo no extremo oeste de da ilha.
No dia seguinte, os japoneses lançaram uma série de ataques suicidas contra as posições
defensivas americanas. Durante os meses que se seguiram, levas atrás de levas de
soldados japoneses destemidos foram enviados para a batalha. O controle da ilha foi
duramente disputado por um combate brutal entre japoneses e americanos. Guadalcanal
era coberto por inóspita de floresta equatorial, clima quente e chuvoso. As doenças
tropicais, principalmente a malária, atingiam combatentes de ambos os lados, que sainda
sofriam com a falta de suprimentos básicos, incluindo remédios e comida. Os japoneses
se ocultavam em buracos e esperavam para emboscar os fuzileiros americanos.
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História Militar Mundial
À esquerda, soldados japoneses na trilha para o combate em Guadalcanal. À direita, fuzileiros americanos
exploram casamata de tropas japonesas.
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6. A Ofensiva do Mediterrâneo
A presença de tropas alemãs no Norte da África, desde 1941, tinha sido motivada para
socorrer os italianos que tinham sofrido vergonhosa derrota frente aos britânicos no Egito
e na Líbia. Para apoiar seu aliado Mussolini, Hitler havia enviado um de seus melhores
generais, Erwin Rommel, que com seu Afrika Corps rapidamente reverteu a situação e
havia conquistado importantes vitórias, lavando a alma do Eixo.
Todavia, em pouco tempo, a região do Norte da África foi ganhando importância e se
tornou uma frente estratégica para ambos os lados. O controle do Mar Mediterrâneo
tornou-se vital para garantir as rotas dos suprimentos de guerra. A conquista da costa
norte-africana passaria a servir como ponto de apoio e trampolim para penetração dos
Aliados no Sul da Europa.
6.1 El Alamein
Desde o início de 1941, o Exército britânico e as forças do Eixo (alemães e italianos)
estavam lutando entre si no Norte da África em um verdadeiro impasse. Depois de
avanços e recuos de ambos os lados, não havia um vencedor claro. Isso deixou primeiro-
ministro Winston Churchill insatisfeito a ponto de substituir o general Claude Auchinleck
pelo general Bernard Montgomery no comando de 8º Exército, apesar de Auchinleck ter
contido o general Rommel na Primeira Batalha de El Alamein16, em julho de 1942. Na
passagem de comando, Churchill disse ao novo comandante do Exército britânico no
Egito: “eu quero apenas que destrua o Afrika Korps de Rommel”.
16
A Primeira Batalha de El Alamein, travada de 1 a 27 de julho de 1942, foi considerada um impasse de resultado,
mas, estrategicamente, impediu que o Afrika Korps continuasse seu avanço em direção a Alexandria e ao Cairo.
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Rommel pede a Hitler que proceda à retirada. O Führer recusa e lhe ordena que resista
“custe o que custar”. O marechal, confiando em seu prestígio, assume a responsabilidade
de desobedecer o ditador e emite a ordem de bater em retirada, com ou sem a permissão
de Hitler. As tropas do Eixo realizaram uma longa retirada para oeste, ao longo da costa
norte-africana, em direção à Tunísia, sendo perseguido por Montgomery.
O que se seguiu após El Alamein foi uma mais maiores retiradas da guerra, constituindo um notável
exemplo da disciplina dos homens do Afrika Korps. Rommel, quase sem combustível, vendo-se obrigado
a todo momento abandonar veículos e rebocar muitos deles, sendo incessantemente fustigado pelo ar.
A vitória aliada acabou com as ambições alemãs de se apoderar do Egito, então colônia
britânica, e de também assumir assim o controle do Canal de Suez e de uma série de poços
de petróleo do Oriente Médio. Depois de El Alamein, as tropas germânicas permaneceram
algum tempo na Tunísia, mas logo tiveram de se retirar de toda a costa norte da África.
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Mapa da situação da guerra no Norte da África em novembro de 1942. Americanos e britânicos fizeram
desembarques no litoral do Marrocos e da Argélia, abrindo uma nova frente para encurralar as tropas do
Eixo que se retiravam para a Tunísia.
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Mesmo assim, os combates prosseguiram por mais 2 dias, causando centenas de baixas
de ambos os lados, quando, por fim, os canhões silenciam. Os oficiais franceses que eram
leais a Vichy mudaram de ideia ou terminaram presos por golpes dentro de seu próprio
Exército. Por fim, com a situação controlada, o desembarque das tropas foi assegurado e
os comandantes franceses acabariam bandear para o lado dos Aliados. A população
francesa da Argélia e do Marrocos acabou recebendo os soldados americanos e britânicos
com festa, como seus libertadores. O Exército da França Livre é formado e se integra às
tropas anglo-americanas na continuação da luta contra o Eixo no Norte da África.
A Opo. Torch teve a participação de três notáveis generais americanos: George Patton, Omar Bradley e Dwight
Eisenhower. Na figura da direita, desembarque de tropas americanas nas praias de Argel.
Desconfiado da fidelidade do governo de Vichy e para assegurar o controle da costa
mediterrânea da França, Hitler determinou a ocupação da porção sul do país, então
chamada zona livre não ocupada. Os almirantes franceses da frota de Toulon, no Sul do
país, em protesto, decidiram pôr a pique seus próprios navios. Hitler ficou furioso com o
ato, mas lhe preocupou ainda mais a situação de um de seus generais preferidos: Rommel
agora estava em perigo na Tunísia, sendo perseguido por Montgomery pelo leste e
podendo ser atacado por Eisenhower que vinha do oeste.
Depois de desembarcar no Marrocos e na Argélia, o Exército Aliado anglo-americano,
acrescido das forças coloniais francesas, rumou no sentido oeste, em direção à Tunísia.
Imediatamente, para socorrer Rommel e assegurar a posição do Eixo no Norte da África,
o Exército alemão realizou uma grande operação para deslocar milhares tropas da Europa
por via aérea para a Tunísia. No fim de fevereiro de 1943, Rommel recebeu os reforços
enviados por Hitler a ponto de infligir uma derrota ao Exército dos Estados Unidos na
Batalha de Passo Kasserine, mas foi incapaz de explorar o sucesso por falta de
suprimentos. Estabelecendo uma linha defensiva a 160 km dentro da fronteira tunisiana
o Afrika Korps atacou a forças do 8º Exército de Montgomery que avançavam.
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Mapa da guerra na Tunísia, em maio de 1943. As tropas do Eixo estavam agora comprimidas entre o 8º Exército
Britânico de Montgomery e as recém-chegadas tropas anglo-americanas comandadas por Eisenhower.
Rommel voltou para a Alemanha para pedir a Hitler para abandonar aquela campanha,
argumentando que ela não poderia mais ser vencida. Mas Hitler negou o pedido. Enquanto
o 8º Exército Britânico de Montgomery avançava, vindo do Sul, o 1º Exército anglo-
americano, comandado por Eisenhower, chegava pelo Oeste, indicando um movimento
cercaria as tropas do Eixo. A 7 de maio de 1943, as forças americanas tomaram o
importante porto de Bizerta na Tunísia, enquanto os britânicos ocupavam a capital Túnis.
Em pouco tempo os Aliados fecharam as garras e as tropas do Afrika Korps se viram
encurraladas. Após 5 dias, cerca de 275 mil soldados alemães e italianos se renderam.
Para a Alemanha nazista foi outro desastre memorável. O general Rommel, para não ser
feito prisioneiro, foi resgatado dias antes por um avião especialmente enviado por Hitler
e levado de volta para a Alemanha
sob o pretexto de tratamento médico.
Em 15 de maio de 1943, o marechal
Harold Alexander, comandante-geral
das Forças Aliadas no Mediterrâneo,
transmitiu mensagem o primeiro-
ministro Churchill informando que
as resistências inimigas haviam sido
terminadas e que os Aliados tinham
o controle total do litoral norte-
A rendição da Tunísia em 1943 é considerada a maior rendição
das tropas do Eixo até então, superando inclusive Stalingrado. africano.
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História Militar Mundial
17 A Batalha de Stalingrado terminaria em fevereiro de 1943 com a vitória soviética, representando a grande derrota
da Alemanha e o ponto de virada na guerra na Europa.
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Esse primeiro encontro dos líderes aliados produziu ainda o que ficou conhecido como a
"Declaração de Casablanca", que estabeleceu a doutrina da rendição incondicional,
anunciando ao mundo que os Aliados lutariam até a derrota final e aniquilação das
Potências do Eixo e que não aceitariam nada além da “rendição incondicional”. Essa
doutrina havia sido uma proposta pelo presidente Roosevelt que explicou: “não queremos
atingir as pessoas comuns das nações do Eixo. Mas pretendemos impor punição e
vingança a seus líderes bárbaros e culpados. ”
No dia 10 de julho de 1943, teve início a invasão da Sicília pelos Aliados, codinome
Operação Husky, como primeiro passo para a invasão da Península Italiana. As tropas
anglo-americanas somavam cerca de 180 mil homens sob o comando do general Dwight
Eisenhower. A operação anfíbia contou com amplo apoio aéreo proporcionada por mais
4 mil aviões de diversos tipos. O Exército britânico e canadense, comandado pelo general
Montgomery, desembarcou ao sul de Siracusa, enfrentando pouca oposição das tropas
italianas. Os americanos, comandados pelo general Patton desembarcaram no Golfo de
Gela e encontraram maior resistência, mas ela foi rapidamente superada.
À esquerda, mapa dos locais de invasão das tropas americanas e britânicas na Sicília. À direita, soldados
britânicos desembarcando nas praias próximas a Siracusa.
A cidade de Siracusa caiu em 12 de julho, mas a marcha para Messina, no nordeste da
ilha, foi retardada por causa da ferrenha oposição das tropas alemãs. O avanço do Exército
americano de Patton foi prejudicado pelo terreno montanhoso, e ele preferiu fazer um
ataque de flanqueamento pela costa norte, tomando a cidade de Palermo, capital da
Sicília, em 22 de julho. Um mês depois, Patton chegou a Messina, mas as tropas alemãs
já tinham sido evacuadas pelo Estreito de Messina em direção à Península Italiana.
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História Militar Mundial
Com a queda do ditador fascista, um novo governo foi formado em Roma, chefiado pelo
marechal Pietro Badoglio, que iniciou conversações com os Aliados para propor um
armistício, manifestando que a Itália queria a paz e que deixaria o Eixo. Para Hitler, era
outro grande pesadelo, mas o líder alemão reagiu com surpreendente velocidade e desviou
um quinto de todo o Exército alemão para a Itália. O marechal Albert Kesselring, um
oficial aviador da Luftwaffe, assumiu o controle militar da ocupação e organizou linhas
defensivas na tentativa de barrar o avanço dos Aliados ao longo da península.
Enquanto isso, uma fração das tropas britânicas atravessou o Estreito de Messina e
invadiu a Calábria, quase não encontrando oposição. Em contraste, o assalto anfíbio em
Salerno, feito por uma força combinada de americanos, canadenses e britânicos encontrou
muito mais oposição. Os alemães conseguiram predizer os locais de desembarque e
preparam defesas consistentes, forçando os Aliados a lutarem desesperadamente para
estabelecer uma cabeça de praia. O plano aliado era encurralar os alemães entre os dois
pontos de desembarque, mas eles escaparam.
Apesar da patente superioridade militar dos Aliados, especialmente com o domínio dos
céus, as tropas alemãs defendiam ferozmente o território italiano. Mesmo assim, a cidade
portuária de Nápoles caiu em poder do Exército americano em 1 de outubro de 1943. Dias
depois, as estratégicas bases aéreas localizadas em Foggia foram tomadas pelo Exército
britânico. Esses eram dois principais objetivos dos Aliados na primeira fase da invasão
da península. Em especial, os aeródromos de Foggia colocariam os campos de petróleo
da Romênia18 ao alcance de voo dos bombardeiros aliados.
Mapa da progressão dos exércitos Aliados no Sul da Itália. Os americanos buscavam conquistar o porto de
Nápoles, enquanto os britânicos almejavam ocupar as pistas de pouso de Foggia para lançar seus aviões
bombardeiros.
18 Os campos da
Romênia eram as principais fontes de petróleo e derivados para a máquina de guerra alemã. Era uma
meta dos comandantes das forças aéreas aliadas conseguir prontamente uma base que propiciasse alcance aos aviões
bombardeiros para atingir esses campos e assim debilitar o suprimento das forças do inimigo.
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História Militar Mundial
O RESGATE DE MUSSOLINI
Era o começo da tarde de um domingo, 12 de setembro de 1943, Benito Mussolini jogava
paciência em um quarto do hotel Campo Imperatore, no Montes Apeninos, perto de
algumas estações de esqui muito procuradas pelos europeus. Mas Mussolini não estava ali
a passeio. Dois meses antes, o “Duce” havia sido deposto pelos próprios membros do
governo fascista e transformado em prisioneiro.
Às 14 horas, o jogo de cartas foi
interrompido quando 10 planadores
desceram perto do hotel. Sem disparar um
único tiro, 72 paraquedistas de um
comando de operações especiais da SS
dominaram sem dificuldade os 150
soldados italianos que guardavam o local.
O comandante da ação, o capitão
austríaco Otto Skorzeny, entrou no quarto
211 e avisou: “Duce, fui enviado pelo Führer
para resgatar o senhor”. Ao que Mussolini reagiu: “Eu sabia que meu amigo nunca me
abandonaria”. Mussolini foi embarcado em um pequeno avião e levado para Viena e de lá
para Munique, onde encontrou Hitler. Terminava assim, bem-sucedida, a Operação
EICHE-OAK de resgate de Mussolini.
Três dias depois, o líder fascista foi mandado
de volta para a Itália para assumir a chefia do
governo de um Estado-fantoche fascista, a
República Social Italiana, sediada na cidade
de Saló, na região da Lombardia. O Estado
de Mussolini controlou o Norte da Itália sob
ocupação alemã até o fim da guerra, quando
foi capturado e morto com sua mulher Clara
Petacci por guerrilheiros da resistência
antifascista em 27 de abril de 1945. Seus
corpos ficaram expostos à execração pública
durante vários dias, pendurados pelos pés, na
Piazza Loreto em Milão.
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História Militar Mundial
Enquanto isso, o Exército americano, comandado pelo general Mark Clark, tentava
contornar a Linha Gustav mediante desembarques na costa do Mar Tirreno. Em 22 de
janeiro de 1944, os norte-americanos fizeram um assalto anfíbio nos arredores de Anzio
com o objetivo de chegar a Roma. Entretanto, foram surpreendidos por unidades alemãs
que impuseram eficaz defesa que quase obrigou-lhes a voltar para o mar. Por fim,
desembarcaram, mas os americanos ficaram aprisionados pelo resto da primavera nas
praias sem conseguir progredir.
Monte Cassino
Mapa do impasse imposto pela Linha Gustav em 1944, que impedia os Aliados de avançarem em direção à
Roma. O desembarque em Anzio foi uma operação americana montada para contornar a defesa pelo mar.
Enquanto isso, no centro da Itália, a chave para romper a Linha Gustav estava em Monte
Cassino, uma montanha onde se situa uma abadia histórica fundada em 529. Os generais
aliados supunham ser um local estratégico para a defesa alemã. Com a vinda da
primavera, foram feitas várias tentativas para conquistar o local. Todos os ataques
falharam. Desesperados, os aliados usaram sua aviação e bombardearam o histórico
mosteiro no cume. Mas os alemães aguentaram por 4 duras batalhas. Por fim, após mais
de 4 meses de combates, quando o tempo melhorou as tropas aliadas tomaram Monte
Cassino após destruir o mosteiro e descobrir que os alemães já tinham abandonado o lugar
fazia tempo. Ao mesmo tempo, os americanos conseguiram romper o cerco de Anzio.
69
História Militar Mundial
Chegada das tropas Aliadas em Roma, que foi declarada cidade aberta pelo Exército alemão.
Prosseguindo em sua marcha as tropas aliadas atingiram a cidade de Florença na região
da Toscana, quando se depararam com as intransponíveis defesas da Linha Gótica a partir
de então. A volta do mau tempo do inverno fez o avanço rumo ao Norte fosse novamente
paralisado. Nesse momento, a Frente Italiana já era uma frente secundária para o comando
aliado, pois já havia ocorrido a abertura de uma nova frete na Europa, com o desembarque
de tropas aliadas na Normandia em 6 de junho de 1944, no Norte da França. A partir de
então, a Itália passou a ser uma frente secundária e todos os recursos militares foram
remanejados para a França.
A fase de combates para romper a Linha Gótica coincide com a participação das tropas brasileiras (FEB e o 1º
GAvCa) que são integradas às forças aliadas.
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História Militar Mundial
7. A Virada na Rússia
No final de 1941, a Operação Barbarossa havia terminado sem que os alemães tivessem
conquistado duas das três cidades alvo antes da chegada do inverno. Apenas Kiev, capital
da Ucrânia e alvo econômico, havia sida tomada. Leningrado permanecia de pé mesmo
fortemente sitiada. Em Moscou, o Exército alemão havia chegado bem próximo de
invadir a cidade, mas foi forçado a recuar por ter chegado tarde demais e subestimar o
inimigo. Após uma sequência de vitórias brilhantes, a máquina de guerra alemã
demonstrava-se falível. Havia ficado claro que a Rússia não iria cair tão fácil quanto a
França e a aventura militar no Leste havia se tornado o maior dos pesadelos para Hitler.
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Maykop
A ofensiva alemã sobre o Cáucaso visava basicamente garantir o acesso ao petróleo para alimentar a máquina
de guerra, sem o qual não poderiam continuar a guerra.
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Para que os defensores se mantivessem firmes contra a nova investida, Stalin abandonara
os ideais do comunismo internacionalista e apelava para os sentimentos de patriotismo e
amor à terra. Mas o povo da cidade de Stalingrado tinha muito mais do que patriotismo
para motivá-los a resistir. O povo russo já tinha conhecimento das violações e atrocidades
que os alemães cometiam quando invadiam um país, deixando um rastro de morte e
destruição. Então, ao novo patriotismo stalinista, os habitantes de Stalingrado
acrescentaram o ódio total aos alemães, e assim todos se motivaram para lutar.
O resultado foi uma ampla mobilização da população, incluindo velhos, mulheres e
crianças, alistados no trabalho de cavar trincheiras e fossos para deter ou ao menos
retardar a entrada dos tanques alemães. No caminho dos alemães, seguindo a estratégia
de “terra arrasada” todas as propriedades e recursos já haviam sido destruídos, para que
nada pudesse ser utilizado como suprimento ou abrigo pelo Exército Alemão. As
indústrias da cidade foram transferidas para regiões seguras, além dos Montes Urais.
19 A cidade até 1925 se chama Tsarítsin, sendo depois rebatizada em homenagem ao líder bolchevique que havia
combatido na cidade durante a Guerra Civil Russa (1917-1922). Em 1961, com o processo de desestalinização posto
em prática por Nikita Khruschov após a morte de Joseph Stalin, passou a se chamar Volgogrado.
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A população foi pega de surpresa ainda em atividades cotidianas. A ideia era desmoralizar
era desmoralizar os defensores e provocar pânico na população. A Força Aérea soviética,
mal equipada, pouco pode fazer para repelir a agressão. Em pouco tempo a cidade virou
uma pira funerária. De dia, colunas de fumaça e à noite as chamas de amplos incêndios
produziam clarões que perduraram por vários dias. Os bombardeiros alemães destruíram
tudo, deixando a cidade em ruínas e causando a morte de cerca de 40 mil russos.
A população sobrevivente ficou cercada
não teve como abandonar a cidade pois a
única fuga, cruzando o rio Volga, foi
bloqueada pelo próprio Exército
Vermelho com operações de transporte de
soldados e suprimentos para a defesa.
Stalin havia dito que ninguém podia
abandonar a cidade, reiterando suas
ordens de que Stalingrado deveria ser
defendida a qualquer preço. O rio Volga
seria a última posição defensável antes
O ataque aéreo a Stalingrado foi considerado o mais dos Montes Urais e a sobrevivência da
intenso de toda a guerra no Leste europeu. pátria estava em jogo.
O slogan patriótico era: “Não há terra além do Volga”. Se Stalingrado caísse, a União
Soviética estaria acabada e seu ditador certamente cairia em desgraça. Não havia outra
opção ao cidadão de Stalingrado além de ficar e lutar, inclusive para as mulheres. Os
alemães jamais imaginavam que iriam encontrar um inimigo disposto a mobilizar tantas
mulheres para a guerra, inclusive para o combate na linha de frente.
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A PARTICIPAÇÃO DA
MULHER SOVIÉTICA NA GUERRA
A Segunda Guerra Mundial atingiu de forma indiscriminada a população de vários
países, beligerantes ou não, e as mulheres foram diretamente afetadas. Cada país
escolhia, de acordo com a necessidade, uma forma mais adequada de mobilizar a mão
de obra feminina para o esforço da guerra. Em geral, as mulheres eram descolocadas
para trabalhar na indústria bélica, substituindo os homens como operárias. Outras eram
alistadas para atividades administrativas ou auxiliares, especialmente no serviço de
saúde, nas funções de enfermagem.
Entretanto, a União Soviética foi, de
longe, o país beligerante que mais
intensamente empregou a mulher no
conflito. Estima-se que mais de 800 mil
serviram nas Forças Armadas
soviéticas, sendo que mais de 300 mil
foram engajadas diretamente em
funções de combate nas linhas de
Mulheres recrutadas pelo Exército soviético frente.
Não se tratava de uma política de inclusão social ou de ideologia feminista, mas uma
condição de extrema necessidade para a sobrevivência da nação. Diante da falta de
homens, que morriam aos milhões, o recrutamento de mulheres era a única forma de
continuar lutando contra o invasor. Movidas pelo sentimento patriótico e de defesa da
terra, o voluntariado era a regra. A medida em que a invasão alemã avançava e os
soldados soviéticos iam morrendo, restava às mulheres ocupar os postos em que a
força física não era determinante, como na artilharia de campo, na artilharia antiaérea
e, inclusive, em funções especializadas, até então restritas aos homens, como, por
exemplo, atiradoras de elite (snipers).
Especialmente na função de snipers, as mulheres se
destacavam, pois, eram mais pacientes e resistentes à
imobilidade prolongada à espera da oportunidade de
atingirem seus alvos. O Exército soviético chegou mesmo
a criar escolas de snipers exclusivas para mulheres, atraindo
milhares de candidatas de diversas regiões do país. Durante
a guerra, jovens moças se sobressaíram nessa função,
dentre elas Roza Shanina, que morreu em combate aos 20
anos após alcançar a marca de 59 abates no campo de
batalha. Outro destaque foi Nina Lobkovskaya, lutou em
diversas frentes e somou 89 mortes no campo de
Sgt Roza Shanina batalha, atingindo o posto de tenente.
A sniper russa mais famosa foi Lyudmila Pavlichenko, que atingiu a marca de 300
abates. Ela tornou-se comandante de tropa e chegou ao posto de major.
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Soldados alemães (esq.) e soviéticos (dir.) combatendo na cidade de Stalingrado em ruínas, que oferecia as
condições perfeitas para os snipers que eram empregaram-no com maestria para debilitar o invasor.
O general Chiukov sabia que os alemães eram mestres na blitzkrieg e gostavam de lutar
à distância, empregando tanques, artilharia e aviação. Em Stalingrado, Chuikov buscou
negar essa vantagem, impondo uma desgastante luta de proximidade nas ruínas da cidade.
Ele reorganizou seu exército em pequenas unidades, as tropas de assalto. Sua tática, como
ele mesmo dizia, era “abrace o inimigo”, levando o combate até “uma granada de
distância”, impedindo que os alemães usassem a artilharia e a aviação, pois atingiriam
seus próprios soldados. Apesar da resistência feroz dos russos, os alemães, com alto custo
em vidas, conquistaram terreno e chegaram a ocupar 90% da cidade. No início de
novembro, hastearam a bandeira nazista na cidade, considerando que a batalha estava
praticamente ganha. Hitler chegou a ficar exultante com a proximidade da vitória
Contudo, os alemães não conseguiam controlar totalmente a cidade, pois alguns enclaves
continuavam em poder dos soviéticos, que lutavam ferozmente e recompletavam
periodicamente seus efetivos. E então, em meados de novembro de 1942, o ritmo da luta
foi reduzido com a chegada o inverno. O Exército alemão encontrava-se desgastado e
ficando sem provisões. A cadeia logística tinha se alongado demasiadamente, de modo
que os suprimentos já não atingiam as linhas de frente em Stalingrado. Eles não haviam
recebido uniformes adequados para suportar o rigoroso inverno russo com temperaturas
de até 30º graus negativos. Muitos recorriam a retirada das roupas dos russos mortos para
se manterem aquecidos.
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Esquema da Operação Urano, que cercou os alemães em Stalingrado e marcou a virada da guerra.
Quando se viu cercado, o general Paulus solicitou permissão superior para recuar e tentar
romper o cerco, mas foi desautorizado por Hitler que estava obcecado por conquistar
Stalingrado e não admitia uma retirada diante dos russos, os quais considerava um povo
inferior. Apesar de assessorado por seus oficiais a recuar, Paulus decidiu não desobedecer
ao Fuhrer. Ao final de novembro estava claro que, sem o apoio externo, o 6º Exército
estaria condenado em Stalingrado.
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Foi quando o marechal Hermann Göring, comandante da Luftwaffe, garantiu a Hitler que
poderia abastecer todo o 6º Exército pelo o ar, afastando o risco da uma derrota. Mais
uma vez, o líder nazista confiava na promessa de seu velho amigo Göring. Todavia,
novamente, a capacidade da Luftwaffe foi superestimada. Para abastecer uma tropa de
300 mil combatentes pelo ar, seriam necessárias cerca de 700 toneladas de suprimentos
diários, incluindo víveres, munições e outros itens. A Luftwaffe não possuía grandes
aviões de transporte, com todo o esforço recaindo sobre os trimotores Junkers Ju-52.
Aeronave Ju-52 da Luftwaffe desembarcando em Stalingrado para abastecer o 6º Exército. Quando a campanha
de ressuprimento aéreo começou, percebeu-se que a frota de aviões disponibilizados só poderia levar de 80
toneladas de carga por dia, insuficiente para suprir um exército de 300 mil homens.
A artilharia antiaérea soviética, posicionada nas rotas aéreas logrou abater centenas de
aviões, forçando a Luftwaffe que partir voos noturnos. A situação se agravou quando as
tropas soviéticas avançaram e tomaram os campos de pouso na região de Stalingrado,
impedindo pousos e decolagens. Desesperadamente, os suprimentos passaram a ser
lançados do ar por paraquedas, comprometendo a eficiência e reduzindo ainda mais
capacidade de carga.
Nesse momento chegava a
Stalingrado a nova Força Aérea
Soviética, totalmente reaparelhada
com centenas de aviões de combate.
O destaque era o moderno caça
Yakolev Yak-9 que usava ampla
variedade de armamentos para anti-
tanque, bombardeiro leve e escolta
de longo alcance. Em baixa altitude,
na qual operava predominantemente,
o Yak-9 era mais manobrável que
O Yak-9 foi o principal rival do consagrado Bf-109, sendo seu principal rival, o Messerschmitt
responsável pela conquista da superioridade aérea. Bf-109.
Os caças soviéticos começaram a atacar os cargueiros da Luftwaffe fazendo forte
oposição aos caças alemães. Em pouco tempo, a Força Aérea Soviética dominou os céus
da região impedindo qualquer possibilidade operação aérea por parte dos alemães. No
início de dezembro estava claro que a única esperança para o 6º Exército Alemão
sobreviver lutando dependia de uma campanha de resgate terrestre.
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De fato, a Batalha de Stalingrado foi a maior desastre militar sofrido pela Alemanha na
Segunda Guerra Mundial. Mas, no país, a derrota foi habilmente manipulada Joseph
Goebbels, ministro da Propaganda, que visava não abater o moral do povo. Foi divulgado
que 6º Exército havia lutado heroicamente até o último homem e sucumbira apenas por
falta de suprimentos. Foram ocultados os grandes erros estratégicos provocados pela
obsessão cega de Hitler em querer conquistar a cidade a qualquer custo e não permitir
qualquer recuo para salvar um exército sitiado.
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Mapa do saliente de Kursk. Hitler viu aí a oportunidade do Exército Alemão realizar um golpe decisivo sobre o
Exército Soviético e retomar a iniciativa da guerra no Leste.
No Alto-Comando militar alemão, a opinião dos generais era quase unanime se opondo
ao ataque ao saliente de Kursk. Muitos generais chegavam a confrontar o Führer, entre
eles os respeitados Erich Von Manstein e Heinz Guderian. Todos diziam que o ataque era
por demais ambicioso e que o Exército Alemão não estava preparado para lançar tal
ofensiva. Até o próprio ministro Albert Speer, amigo pessoal de Hitler, tentou convencê-
lo a desistir, mas o ditador se mostrou irredutível e ordenou o prosseguimento dos planos
de ataque.
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Foi no dia 12, em Prokhorova, que aconteceu o maior embate de tanques de toda a Batalha de Kursk. O resultado
do confronto pulverizou as chances de uma vitória nazista.
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No dia 13, convencido da derrota, Hitler convocou os seus generais e ordenou a retirada
pois desejava o remanejamento de divisões para fortalecer as posições na Itália, pois a
Sicília acabava de ser invadida pelos Aliados. O marechal Von Manstein tentou
convencê-lo de que não estava tudo perdido e que era preciso preparar as defesas, mas o
líder nazista se preocupava em defender Mussolini. Kursk custou a vida de 200 mil
soldados alemães, a perda de mais de 700 blindados e de 2 mil aeronaves e ainda
consolidou a derrota no Leste. As perdas de Kursk desfalcaram severamente o poder
ofensivo da Wehrmacht e exauriu por completo a reservas. Kursk significou o colapso da
máquina de guerra alemã e ela e nunca mais conseguiria recuperar-se a ponto de fazer
uma nova ofensiva. A retirada alemã iniciou-se em 22 de julho e demonstrou que Hitler
havia desistido da Rússia.
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E assim, o velho temor estratégico dos militares alemães havia se consumado: guerra em
duas frentes, ou mais. Enquanto quantidades maciças de tropas e armas desembarcavam
no Norte da França, e o Exército Vermelho progredia em direção a Berlim, frotas de
bombardeiros americanos e britânicos reduziam as cidades alemãs a escombros. Mas,
mesmo diante da derrota consumada, a Alemanha nazista resistiria, com seus militares
surpreendendo com golpes de astúcia e tenacidade, apesar das desastrosas interferências
de Hitler.
8.1 O “Dia D”
As campanhas aliadas no norte da África, em 1942, e na Itália, em 1943, retardaram a
invasão da França, mas representaram vitórias estratégicas importantes. Há muito Stalin
pedia a Churchill e a Roosevelt a abertura de mais uma frente na Europa Ocidental, pois
considerava a invasão da Itália insuficiente para a aliviar a tremenda pressão das forças
alemãs sobre a Rússia. Entretanto, os planejadores militares anglo-americanos eram
cautelosos, pois sabiam que para uma grande operação anfíbia ter sucesso, o balanço de
forças deveria favorecê-los em larga superioridade, e que um fracasso seria desastroso.
Enquanto os americanos e britânicos se punham a concentrar forças na Inglaterra, nos
anos de 1943 e 1944, Hitler se preocupava em construir defesas costeiras, a chamada
Muralha do Atlântico. Para tal designou o famoso marechal Irving Rommel para a
empreitada. Todos sabiam que a Alemanha não aguentaria lutar simultaneamente uma
guerra em duas frentes. A decisão de abrir uma frente pela Normandia foi decidida pelos
os Aliados no final de 1943. Apesar dos ressentimentos britânicos, o comando supremo
da Operação Overlord foi entregue a um americano, o general Dwight Eisenhower.
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deslocadas para a luta. Quando autorizou, já era tarde demais. Conforme previu Rommel,
os ataques aéreos dos Aliados castigaram as divisões alemãs que seguiam para a
Normandia, dando tempo para os aliados desembarcarem sua logística e avançar pelo
interior da França, apesar das condições do mar revolto que destruíram varios portos
artificiais Mulberry de concreto.
A resistência alemã, quando encontrada era sempre feroz e determinada, todavia, em 26
de junho, os norte-americanos capturaram o porto de Cherbourg, vital para o
desembarque de mais tropas e logística. Em 1º de julho, o Aliados já haviam alçancado
a paridade com as forças germânicas na zona de combate. O 1º Exército dos Estados
Unidos, comandado pelo general Omar Bradley conquistou a importante cidade de
Avranches em 31 de julho, graças a batalha diversionista de Caen que fez desviar o
grosso das forças alemãs para lá.
Finalmente, o progresso avassalador das unidades mecanizadas do general Patton,
obrigou os alemães a debandarem. Muitos, contudo, não escaparam a tempo;
encurralados por britânicos e americanos, 50 mil soldados alemães se renderam e foram
feitos prisioneiros.
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9. A Capitulação do Japão
Os russos tinham virado o jogo da guerra e agora tinham como objetivo reconquistar o l
Após a Batalha de Kursk, os soviéticos reiniciaram suas ofensivas, fazendo ceder
os flancos e o centro da linha alemã. Os alemães foram obrigados a recuar por centenas
de quilômetros, com perdas humanas e materiais insubstituíveis. Em seus avanços, os
soviéticos retomaram cidades importantes, como Kharkov, Smolensk e Kiev.
No norte da frente oriental, em janeiro de 1944, os soviéticos levantaram o cerco
alemão à Leningrado e começaram a esfacelar o flanco esquerdo germânico. Em setembro
de 1944, o Exército Vermelho apossou-se da Estônia e Letônia. Nesse mesmo mês, os
finlandeses, que apoiaram a invasão alemã à URSS, pressionados, renderam-se às tropas
soviéticas.
No sul da frente oriental, em maio de 1944, as tropas alemãs que se encontravam
na Crimeia retiraram-se para a Romênia. Logo depois, os soviéticos avançaram para a
Romênia e Hungria. Os governantes romenos e húngaros, sem condições de resistir ao
inimigo, solicitaram o armistício em setembro de 1944. Em consequência, os soviéticos
passaram a controlar os campos petrolíferos romenos, vitais para os alemães. Também
em setembro de 1944, a Bulgária mudou de lado, quando forças soviéticas cruzaram o
Danúbio. Na Iugoslávia, em outubro de 1944, guerrilheiros tomaram a capital Belgrado,
expulsando os alemães do país.
No centro da frente oriental, em julho de 1944, forças soviéticas destruíram as
forças alemãs que defendiam a Bielo-Rússia. Em 7 de agosto, os soviéticos penetraram
na Polônia, onde se detiveram a leste de Varsóvia (poucos dias antes, começara um
levante nessa cidade contra a ocupação alemã; os soviéticos, no entanto, não apoiaram os
poloneses, que foram derrotados, em outubro, pelos alemães).
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que permitiria aos aliados estabelecer rotas diretas para o interior da Alemanha. O ataque,
porém, fracassou e os aliados tiveram grandes perdas.
Hitler ainda dispunha de 65 divisões, mas poucas estavam devidamente
equipadas, e muitas eram compostas por militares fora da idade de servir (velhos ou
jovens demais para combater eficazmente). A derrota alemã parecia inevitável, mas o
líder alemão decidiu surpreender os aliados lançando uma última contraofensiva, que
seria executada nas Ardenas, tendo em vista dividir os aliados e conquistar Antuérpia, por
onde chegavam os suprimentos do inimigo.
Para esse ataque, Hitler reuniu 24 divisões (10 blindadas). A “Batalha do
Bolsão”, como foi chamado o ataque alemão, foi desencadeado em 16 de dezembro de
1944 contra o 5º Corpo de Exército Norte-Americano. Inicialmente os alemães obtiveram
sucesso, derrotando as forças norte-americanas que não esperavam uma contraofensiva
em pleno inverno, em uma região de matas cerradas. Após o ímpeto inicial, uma escassez
aguda de combustível prejudicou as ações das forças alemãs, que foram detidas e contra-
atacadas.
No Pacífico, incentivados pela vitória em Midway, os norte-americanos
iniciaram uma contraofensiva aos japoneses, conquistando, em novembro de 1942, a
importante base naval de Guadalcanal. Depois, forças dos Estados Unidos iniciaram
ataques contra os japoneses nas Ilhas Salomão e Nova Guiné, que se prolongaram até o
final da guerra.
Os ataques às Ilhas Salomão e a Nova Guiné, na verdade, eram diversionários,
pois o plano principal dos Estados Unidos previa como objetivos a destruição da Marinha
Japonesa e a abertura de uma rota que levasse os norte-americanos diretamente ao Japão
(seriam conquistados somente os territórios indispensáveis para tal propósito, as demais
áreas ocupadas pelos japoneses seriam isoladas). Para isso, os norte-americanos dividiram
suas forças em dois grandes Comandos de Área: o do Pacífico Central e o do Sudeste do
Pacífico, comandados, respectivamente, pelo almirante Chester William Nimitz e pelo
general Douglas MacArthur.
Seguindo o plano traçado, as forças do Comando do Pacífico Central
conquistaram, em novembro de 1943, Makin e Tarawa. Em resposta, a esquadra japonesa
avançou para enfrentar as forças de Nimitz e o embate deu-se em junho de 1944, em torno
das ilhas Marianas. Os japoneses sofreram mais uma grande derrota naval (perderam 3
navios aeródromos e 600 aviões), o que possibilitou aos norte-americanos capturar as
ilhas Marianas, de onde aeronaves poderiam bombardear diretamente o Japão. Em
setembro de 1944, as forças de Nimitz ocuparam Saipan, Guam, Yap e Palau.
Paralelamente, os contingentes do Comando do Sudeste do Pacífico também
obtiveram êxitos, entre os quais destaca-se a conquista das Filipinas, onde ocorreu a
Batalha Naval do Golfo de Leyte, entre 23 e 25 de outubro de 1944. Dela resultou
mais uma vitória dos norte-americanos e a destruição quase completa do poder de
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