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STANF
UNIVERSITY LIBRARIES .
Memorável Viagem Marí
IX
Joan Nieuhof
LIVRARIA MARTINS
RUA 15 DE NOVEMBRO, 185
SÃO PAULO
Desta edição foram tirados 165 exem
plares de luxo, numerados de 1 a 165.
JOHAN NlEUHOPS
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Al hctgeen op dezelve is voorgcvallen.
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NEERLANTS BRASIL,
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VoordtWcdtiwcvan J*coi v«a M I u k 1 , op d« KcUcn guebt. létL
A obra de Nieuhof é, incontestàvelmente, uma das Jontes
mais importantes que existe para o estudo do Brasil Holandês.
De fato, o autor da "Memorável Viagem Marítima e Ter
restre ao Brasil" viveu no Nordeste de 16k0 a 1649 e teve,
portanto, tempo suficiente para estudar o país, aprender o
português e anotar com cuidado todos os acontecimentos ocor
ridos nesse importante período de nossa história.
Barlaeus foi o cronista dos feitos nassovianos e Nieuhof o
historiador de tudo quanto aconteceu posteriormente a Nassau.
A publicação recente, em português, da obra de Barlaeus,
pelo Ministério da Educação, pôs ao alcance de todos uma obra
tão rara quanto importante. Acha-se no prelo, graças aos es
forços de Afonso de E. Taunay, a obra de Piso e Marcgrave.
Não sabemos de ninguém que se abalançasse a publicar o ter
ceiro clássico holandês sobre o Brasil. Daí a nossa iniciativa
de incluí-lo na Biblioteca Histórica Brasileira. Para essa
árdua tarefa escolhemos os srs. Moacir N. Vasconcelos, a quem
coube fazer uma excelente tradução baseada na edição inglesa,
e o historiador José Honório Rodrigues, a quem coube cotejar
a tradução com o original holandês, anotar a obra toda, nos
seus menores detalhes, redigir a introdução, a magistral nota
bibliográfica e a bibliografia do autor. Êsse árduo trabalho
José Honório Rodrigues desempenhou com a maestria que se
esperava de quem tão bem conhece tudo quanto se relaciona com
os holandeses no Brasil. A-fim-de ilustrar esta edição inte
gral e crítica da obra de Nieuhof, resolvemos publicar, além
de todas as gravuras do original, mais algumas, insertas em
raríssimos folhetos contemporâneos, e um mapa colorido, d«
Mateus Seutter, cujo efeito não é de se desprezar numa coleção
de livros cujo cunho artístico o editor tem sempre procurado
manter.
R. B. de M.
Introdução
Joan Nieuhof nasceu em Ulsen, no condado de Benthem, na Vest-
fália. Entrou mais tarde para o serviço da Companhia das índias Oci
dentais que o empregou como agente comercial (1). Veio para o Brasil
em 1640 e aqui permaneceu nove anos. Em setembro de 1649, chegava à
Holanda ; logo partia para Zwell, onde nascera seu pai, Joan Nieuhof, e dai
para Benthem, sua terra natal. Quatro anos depois passava para o
serviço da Companhia das índias Orientais, embarcando para Amsterdã;
e em 23 de agosto, de Texel seguia para a Batávia, onde chegou a 29
de abril de 1653. A Batávia era o centro do grande empório holandês
no Oriente e aí já havia chegado ordem para que se organizasse uma
outra embaixada à China, com o fim de estabelecer relações comer
ciais (2) ; Nieuhof seguiu na embaixada como agente comercial.
No dia 4 de julho de 1655, partia, visitando Cantão (4 de abril),
Nanquim (4 de maio) e Pequim (16 de julho) ; volta depois a Nanquim,
Cantão (28 de fevereiro de 1657) e em maio chega à Batávia, onde fêz
uma exposição das negociações ao conselho holandês das índias (3).
Os dicionários biográficos e as enciclopédias costumam contar com
detalhes essas negociações com os imperadores chineses. Pouco nos
interessam, principalmente porque de tudo isso Nieuhof deixou uma
ampla exposição na primeira Viagem à China. Convidado a partir para
a Holanda, a-fim-de expor os maus resultados da expedição, êle aí
chegou em julho de 1658. Depois de três meses de permanência e de ter
entreeue os originais da Viagem à China a seu irmão, foi novamente con
vidado para uma segunda viagem às índias Orientais (4) e em 18 de
julho de 1659 chegava à Batávia. Em 1664 é chamado a Malabar, a-fim-
-de negociar tratados comerciais, e James Hustart, governador em Ceilão e
Malabar, concede-lhe credenciais para negociar diretamente acordos co
merciais. Nieuhof era, nessa época, um dos principais agentes da Com-
* * *
(6) Voyages and Traveis, ed. Osborne, Lintot, 6 vols., 1746, pp. 207 e 219.
(6) Voyages and Traveis to East Indies, p. 303 da ed. holand., p. 302 da. ed.
inglêsa.
(7) Dissemos depois de 1672, porque na Viagem às índias Orientais, não se
especifica a data.
(8) Cf. Viagem às índias Orientais; ed. de Churchill, Osborne, Lintot, 1746.
Terceira Viagem às índias Orientais.
— XI —
* * *
(9) Cf. Zee en Lant-Reize door de verscheide Gewesten van Oost-Indien, ed.
de Aznsterdã, 1682, p. 40 (conversa em português com um chinês), p. 123 (conversa
em português com o rei do Cochim; p. 127 (conversa em português com o príncipe
de Malabar).
(10) G. Barlaeus. Nederlandsch Braziliê onder het bewind van Johan Maurits
Grave van Nassau, etc. S. P. L'Honoré Naber, 1925 (explicações e aditamentos).
(11) Rev. do Inst. Arq. e Geog. Pernambucano, 1908, vol. 13, pp. 655-657-
(12) Nederlandsch Braziliê, 1923, M. Nijhoff, Gravenhage.
— XII —
* * •
* • *
• * *
(16) Zee en Lant Reize door verscheide, etc.. Seria interessante a colheita,
por um estudioso desses assuntos, dos nomes portugueses nas obras de Nieuhof.
(17) A expansão da língua portuguesa no Oriente nos séculos XVI, XVII,
XVIII. Portucalense Editora, Lda. Barcelos, 1936. p. 67 e segts.
É, aliás, comum para os holandeses que falam português a formação
de verbos holandeses, com a palavra portuguesa acrescida de eren.
Êsse fato é comum, também, nas zonas brasileiras de colonização
alemã (18).
É certo que aquelas palavras portuguesas não se incorporaram à lín
gua holandesa, mas não deixa de ser curiosa a sua abundância na obra
de Nieuhof, o que vem confirmar que êle possuía conhecimentos, por me
nores que fossem, do nosso idioma.
David Lopez faz, também, referência (19) à palavra bastant ou bes-
tant, que é o português bastante, e que se parece muito com o holandês
bestam! e seus significados, bestaan, bestendig, de tal modo que, às vê-
zes, é difícil afirmar-se se se trata do têrmo holandês ou do português.
O autor crê que a palavra é portuguesa sempre que se escreve com a.
Registra David Lopez a palavra usada por Nieuhof na Viagem ao Brasil.
Em holandês existe, também, a palavra basta, interjeição, significando
bastante.
Quanto à expansão da língua, Accarias de Serionne, depois de histo
riar o crescimento e progresso do comércio holandês no Oriente cita
vários tratados concluídos entre os holandeses e os povos do Malabar,
Cochim, Molucas e declara: '"On tratoit d'ordinaire en langue portugaise
avec ces peuples, leur longue fréquentation avec les portugaises la leur
rendu familière" (20).
* * *
(18) Sõbre a língua falada pelos alemães no sul, veja-se o notável trabalho
de Emílio Willems, Assimilação e populações marginais no Brasil. Brasiliana,
1940. n. 186, pp. 187-207.
(19) Ob. cit, pp. 73, 74.
(20) La Richesse de la Hollande, Londres, MDCLXXVIII, p. 52; mais tarde,
1780, traduzido para o holandês, Hollands Rijkdom, por E. Luzak, com adições e
correcôes.
(21) Ensaio crítico-h isto rico sôbre o café e investigação etimológica do nome;
Boletim do Museu Nacional, vol. III, n. IV, Dezembro, Rio, 1927, pp. 13-116.
(22) Subsídios para a história do Café no Brasil Colonial. Ed. do Departa
mento Nacional do Café, 1935, Rio, p. 115.
— XVI — I
♦ * *
(23) Êste trabalho foi novamente publicado em 1918, tomo 84, 1920, Inst.
Hist. Geogr. Brasileiro, pp. 337-82.
(24) Cf. Anais da Bib. Nac. do Rio-deJaneiro, 1935, vol. LVII — 1939 — " Re
lação do Dr. Antônio da Silva e Sousa sôbre a Rebelião de Pernambuco."
doa mais importantes para o esclarecimento minucioso da rebelião. Exis
te, a respeito, um catálogo organizado pela Biblioteca Nacional, em 1938,
relativo ao ano de 1929, vol. LI, pp. 48-72. São por demais conhecidos e,
por isso, não precisamos ressaltar-lhes o valor, o "Machadão do Brasil"
e a "Bolsa do Brasil", folhetos traduzidos, respectivamente, por Souto
Maior o primeiro, e por José Higino e Geraldo Pauwels o segundo.
Outros documentos, alguns ainda não publicados, existentes no Arqui
vo Geral de Haia, esclarecem os últimos anos da estada holandesa no
Brasil. Assim os documentos de Isaac Zweers, sôbre a rendição da for
taleza e Cabo de Santo Agostinho ; a biografia de Witte Corneliszon With
esclarece os anos de 1648 a 1649 e o diário de H. Haecxs, editado por N.
Naber (25), os anos de 1645 a 1654.
Souto Maior foi quem primeiro divulgou a obra de Nieuhof. Nos
"Fastos Pernambucanos" são inúmeros os trechos traduzidos de Nieuhof
e na Revista da Academia Cearense, 1907, traduziu o trecho referente
ao Ceará da Viagem ao Brasil; além disso, naquela obra, pp. 181-187,
traduziu um trecho inédito do relatório de Haecxs.
Joan Nieuhof é historiador inteligente, exato e sincero. O fato
de ter sido testemunha dos acontecimentos e o de conhecer a língua dos
habitantes da terra dominada tornam-no um autor dos mais verídicos
e mais necessários para a reconstituição histórica do Brasil nordestino
seiscentista entre os anos de 1644-1649.
A edição inglêsa de 1703 não é, infelizmente, uma tradução fiel.
Por isso, vimo-nos obrigados a comparar a tradução, feita pelo Sr. Moacir
N. Vasconcelos, da edição inglêsa, com o texto original holandês. O con
fronto mostrou- nos até que ponto a edição inglêsa falseou o original.
Assim, por exemplo, pode- se estabelecer como princípio geral o de que
as datas estão quase sempre erradas na tradução inglêsa. Nieuhof não
usou os nomes comuns designativos dos meses e sim nomes usados so
mente na Holanda. Acontece, porém, que nas folhas iniciais da edição
holandesa encontra-se um poema dedicado aos meses na Batávia, por
onde facilmente se verifica o significado dos ditos nomes.
Coube-nos, dêste modo, rever e corrigir a tradução brasileira, acres
centando trechos omitidos, emendando, especialmente, datas e nomes e
pequenos outros senões e, em conclusão, traduzir a parte final da edi
ção holandesa, onde o tradutor inglês suprimiu 25 colunas. Alguns tre
chos e essa parte final foram, assim, traduzidos diretamente do original.
(26) Naber S. P., l'Honoré. "Het Dagboek van Hendrik Haecxs, Lid van den
Hoogen Raad van Braziliê (1645-1654) ". Bijdragen en Mededeelingen van het His-
torisch Genootschap, Utrecht, XLVI, 1925, pp. 126-311.
9
— XVIII —
Cêrca de dezenove anos são passados desde que meu irmão, Joan
Nieuhof, ao partir para sua segunda viagem às índias, presenteou-me
com uma descrição da China e alguns desenhos por êle feitos durante o
tempo em que foi embaixador naquele Império, trabalhos êsses, que, mais
tarde publicados, foram traduzidos em seis línguas diferentes.
Já, então, tinha êle estado em diversos pontos do Brasil, ilha de S.
Tomé, e, subsequentemente, até 1671, teve ainda oportunidade de viajar
através de grande parte da Ásia. Voltando à Holanda, trouxe consigo
todos os papéis, apontamentos e desenhos coligidos em suas viagens, os
quais, conquanto apreciados por muitos curiosos, êle, por motivos que
preferiu calar, jamais os considerou dignos de publicação.
Todavia, depois de sua morte, achando eu que tão útil documentação
não deveria ser relegada ao esquecimento, decidi divulgá-la em benefício
do público.
Sabendo-se que os fatos por êle referidos, sôbre a revolta dos portu
gueses no Brasil, foram literalmente trasladados de apontamentos feitos
durante os nove anos que lá esteve — sob os governos dos senhores Hen-
drik Hamel, Pieter Bas e Adriaen Bullestrate, — bem como de cartas
autênticas, a exatidão do seu relato paira acima de qualquer dúvida que
sobre êle se pretendesse lançar.
As vastas regiões por onde jornadeou meu irmão no decurso de sua
vida — tais como o Brasil, S. Tomé, parte da Pérsia, Malabar, Camerum,
Madura, Coromandel, Amboina, Ceilão, Málaca, Sumatra, Java, Taio-
wan e parte da China, além de muitas ilhas — não conseguiram incutir-
-Ihe o vêzo, tão comum entre viajantes, de fantasiar fábulas ao invés de
historiar fatos. Em todas as suas narrativas, manteve-se sempre reli
giosamente fiel à verdade nua, sem rebuços.
As notícias de sua última viagem à Ilha de Madagascar, onde se per
deu, tirei-as, em parte, de sua correspondência, e, em parte, do diário do
Capitão Reinier Klaesz que de lá trouxe consigo.
— XX —
Hendrik Nieuhop
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE DE
JOAN NIEUHOF U> AO BRASIL
(1) Há várias grafias para o nome Joan Nieuhof. Uns escrevem Johan
Nieuhof, outros Johan Nieuhoff e outros, ainda Johann Neuhof. Nós preferimos
a grafia que mais frequentemente encontramos na edição original holandesa. Real
mente, tanto no poema aos 12 meses do ano, assinado por Nieuhof, como na falsa
folha de rosto da Viagem ao Brasil, na folha de rosto da Viagem às índias Orien
tais, no privilégio concedido por Johan de Wit, na introdução assinada por seu irmão
Hendrik Nieuhof, está grafado Joan Nieuhof. Apenas na fôlha de rosto da Viagem
ao Brasil se escreve Johan Nieuhof.
Não fica, porém, tão somente nisso a variação gráfica do nome do autor da
Viagem ao Brasil. Assim, Theodor Kadletz (XLV, nota, p- XXIII), em livro sôbre
"As antigas obras de fortificação de Pernambuco", no capítulo sôbre o modo de
escrever alguns nomes pessoais, escreve: "Neuhof. O conhecido autor sob o nome de
Johan Nieuhof, da Gedenkwaerdige Brasilianse Zee en Lant Reize", não é natural da
Holanda e sim de Ulsen, em Benthem, no Hanovre. Temos, portanto, para nós, como
original a forma alemã do nome e colocámo-la antes da holandesa. O fato de que
o seu livro traga essa última forma pouco significa, pois foi publicado, pela primeira
vez, depois de sua morte por seu irmão em Amsterdã".
Não aceitamos a argumentação de Kadletz por várias razões. Em primeiro
lagar, não é novidade, para os leitores de Nieuhof, o que nos diz o citado autor
sôbre a nacionalidade dêste, pois na Introdução feita pelo seu irmão isso já cons
tava. E à p. 228 da edição holandesa Nieuhof escreveu que depois de chegar à
Holanda partiu para a sua pátria. Em segundo lugar, não é exato que Benthem
pertencesse ao Hanovre, pois na época constituía um condado livre e_ independente.
Nieuhof escreveu em holandês, trabalhou para a Holanda, cuja importância era das
maiores no século XVII. Portanto, nada justifica que se escolhesse, duzentos e cin-
coenta e nove anos depois, uma grafia que seu próprio irmão não adotou ao publicar
aens trabalhos.
2 JOAN NIEUIOF
No dia 6, como rumássemos com vento fresco para sussudoeste, avis Avistam -se
támos dois barcos que navegavam a todo pano em direção a nós, os quais dois navios
imaginámos serem de piratas turcos, suposição que mais tarde se veri turcos.
ficou exata. Dispusemo-nos, portanto, a nos defender até o extremo.
Deram-se ordens para que se varresse o tombadilho de tudo quanto nêle
havia, armando-se os marinheiros com mosquetes, chuços, lanças e outros
petrechos semelhantes. Logo que todos se puseram a postos, hasteámos
a bandeira de guerra e, ao som dos clarins que soavam a combate, espe
rámos que o inimigo se aproximasse. Estando, então, muito mal o ca
pitão do navio, devido a ferimentos anteriormente recebidos e que por
essa época se agravavam, e, não podendo o comissário François Zweers Prepara
permanecer no tombadilho em razão de sua avançada idade, tive eu que tivos para o
assumir o comando da nau, animando os homens a lutar bravamente por combate.
nossas vidas e liberdade e ordenando-lhes a não abrir fogo de forma algu
ma antes que o inimigo estivesse bem dentro do alcance de nossas armas,
pois era maior em número que nós.
Por volta do meio-dia avistámos os turcos que se dirigiam a nós ar
vorando bandeiras côr de laranja que logo substituíram pelas de guerra.
0 navio maior salvou-nos com dois tiros de peça de seu castelo de proa,
os quais não nos causaram grande dano, mas, ao vigésimo segundo dis
paro, quase despedaçou o nosso mastro principal.Nesse momento, como Combate
já nos aproximássemos de outro navio, abrimos um nutrido fogo, que os com dois
turcos se apressaram em retribuir. Pude, então, observar que o navio corsários
maior havia recebido um tiro em cheio, à meia-nau, que o obrigara a se turcos.
manter à distância, a-fim-de poder reparar as avarias. Isso me deu certa
folga, que aproveitei para levantar o ânimo da tripulação não só verbal
mente mas, tambem, com boa dose de vinho a que os marujos mistura
vam pólvora. Fiz o mesmo para os estimular.
Nesse momento o inimigo voltou à carga alvejando-nos com tal fúria,
com canhões e arcabuzes, que arrancaram o teto de nossa cabine grande,
danificando, ainda, a cordoalha. Troquei, então, minha cimitarra por
um mosquete que passei a descarregar continuamente sôbre o inimigo.
Semanas depois, ainda sofria eu com um ferimento que me causou, naquela
refrega, o mosquete de um companheiro. A arma lhe fora arrancada
das mãos por uma bala de canhão e viera bater violentamente contra
mim, atirando-me sem sentidos ao tombadilho. Momentos depois con
segui, entretanto, tornar ao meu posto. Percebi, então, que o capitão da
maior das naus turcas, de turbante à cabeça se achava à popa do seu
barco instigando a maruja. Prontamente ordenei, aos que estavam ao
meu lado, que o visassem com suas armas de curto alcance, o que imagino
tenha sido feito com sucesso, pois, logo a seguir, já o não vi mais. Ape-
-sar-disso cresceu de ambos os lados o calor da peleja, e, ao prolongado
4 JOANNIEUHOF
Cerca do meio-dia éramos colhidos por outra tempestade que, por precau
ção, nos fêz reduzir o pano das grandes velas. Contudo, o tempo logo
serenou.
Esse trecho do mar é denominado pelos holandeses Mar Kroos (4) e
pelos portugueses Mar dei Aragaço (ou Largaço, ou ainda, Sargaço)
porque nessas paragens, de 18 a 30 graus, ou como outros pretendem, de
20 a 22 e a 23 graus, de latitude norte, se encontram sargaços em grande
quantidade, arrastados pelas correntes marinhas. Suas folhas são de um
verde pálido, como o dos papagaios, pequenas, finas e recurvas nas pon
tas. Contêm elas grãos da mesma côr, quase do tamanho de uma pi
menta, mas, inteiramente ocos, sem nenhuma semente no interior e
sem gosto algum. Chegam por vêzes a aglomerar-se em massa tão com
pacta que pode deter um navio em plena marcha. Todavia, tivemos a
sorte de passar por elas sem muita dificuldade. Estávamos, então, a
400 milhas da costa da África, onde não se encontram ilhas nem ancora
douros. Pode-se temperar essa alga com sal e pimenta para ser ser
vida como alcaparras ; passa, ainda, por ser bom remédio contra cálculos.
Geralmente encontram-se sargaços sem raízes, tendo apenas alguns bro
tos finos, os quais, ao que se supõe, se vão agarrar aos bancos de areia.
Outros opinam que são êles transportados das ilhas para o largo pelas
correntes oceânicas.
No dia 18 morreu um membro da tripulação cujo corpo foi lançado
ao mar no dia seguinte. Foi-me, então, dado observar — o que aliás já
havia ouvido dizer — que os cadáveres flutuam, no mar, com a cabeça vol
tada para o Oriente.
No dia 22 fomos colhidos por nova tempestade, — a que chamam
Travado, — acompanhada de relâmpagos e trovões pavorosos e que sur
preende os navios tão bruscamente que mal lhes dá tempo para reduzir Travado
as velas, chegando, o fenômeno, a se repetir três vêzes em uma hora. por que?
Ali apanhamos grande quantidade de peixe, dentre os quais Boni
tos (5) de dois pés (6) de comprimento, Koreten e uma grande
!ampréia que nos deu que fazer para trazer a bordo. Desta só aprovei Pesca
abundante.
támos os miolos, — que passam por ser excelente remédio contra pedras
na bexiga, — desprezando a carne, de sabor oleoso.
(4) A palavra Kroos significa lentilha d'água, .sargaço, erva do mar. Está
entre lg e 30 graus ao norte da linha equinocial.
(5) Bonitos: Curvata Pinima Brasiliensibus Lusitanis Bointo (sic) LXX, 150
e LXXXVI, 338).
(6) Na ed. inglêsa está: "dez pés de comprimento" (p. 3. 2.a col.) ; cf. ed.
holandesa, (p. 5, 1.» col., 3.° §).
i
6 JOAN NIETJHOF
-
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 7
(12) Na ed. inglêsa está junho (p. 4, 2.a col., 4.° §); cf. ed. holandesa, (p. 7,
2.» col. 2." §).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 9
DESCRIÇÃO DO BRASIL
(17) Êsses nomes geográficos estão, com raras exceções, corretos. Antes de
tudo, convém frisar que Nieuhof escreve, sempre, com K em vez de C. Há apenas
pequenos enganos, conforme veremos. Em primeiro lugar, Nova-Inglaterra não é
Virgínia, pois a primeira ficava bem mais ao norte e, entre elas, existia Nova-Ams-
terdã e Nova-Suécia, que não sabemos por que não figuram entre os Estados citados.
Laet não se refere a Estotilândia, Quivira, Bakalaos e Amian (Cf. L). Mas no
Mapa de Ortelius (Cf. LXV), encontra-se a Estotilândia ao norte, no Atlântico, perto
do Labrador, embora já se encontre uma península e cabo dêsse nome. Quevira de
mora no Pacífico, perto do antigo e atual cabo Mendoncinho. Amian está mais ao
norte. Quevira nada tem a ver com Nova-Álbion (Cf. L e LXV), pois essa demo
rava um pouco abaixo do Cabo Mendoncinho (Cf. Mapa Americae sive Indiae Occiden-
talis, Tabula Generalis in L). Colini é Colima, em Janssonius (Cf. XLIII) e com
Zacatula constituíam províncias de Mechoacan (Cf. XLVIII). Janssonius escreve
Cuaxacau, em vez de Guaxaca (Cf. XLIII).
(18) Na edição inglêsa está escrito: (P. 5, 2.a col. 1.° §) "ite whole circuit
being of about four thousand Italian or one thovaand german miles"; cf. edição ho
landesa (p. 8, 2.a col. 4.° §).
(19) Pária fica na Venezuela (Cf- L, p. 388). Cumana, província da antiga
Nova-Andaluzia (L, p. 614) ; Província Chica, perto da atual província de Tucuman.
na Argentina (L, p. 463, 469) e Caribana deve ser a atual Caraibas; Popaian, atual
Colômbia (Cf. mapa Americae sive Indiae Occidentalis Tabula Generalis in L).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 11
(20) MarcgTave escreveu: "Haee regio primo à Lusitanis appellata fuit Santa
fraz, quod nomem postea mutarunt in Terra do Brasil,..." (Cf. LXX, liv. 8, cap.
I.P- 260).
(21) O tradutor inglês escreveu: "may be fixed under the second degree and
« kalf of nothern latitude near the river Para..." (p. 5, 2.a col. últ. §); cf. edição
holandesa (p. 9, 1.° col., 1." §).
(22) Cf. Marcgrave (LXX, liv. 8, cap. I, p. 260).
(23) Essa divisão do Brasil, Nieuhof tirou-a de Marcgrave, pois os nomes es
pinhos que ai encontramos, como Nhoe-Combe e Pacata se encontram, também, na
Historia Natu ralis Brasiliae. Assim, escreve Marcgrave (Cf. LXX, p. 261) : "Di-
■■•■1 Brasília, intra hos limites, in certas Praefecturas (capitanias appellant vulgo
LktxldrÁ) & quidem vulgo in quatuordecim. Quarum prima versus Boream est Para,
dehine ordine Maranhaon, Ciara, Potiyi vel Rio Grande, Paraíba, Ita-
12 JOANNIEUHOF
i
Enquanto parte do Brasil esteve sob o nosso domínio, conviria me
lhor dividí-lo em Brasil Holandês e Brasil Português. Cada uma dessas
capitanias é banhada por alguns rios caudalosos, além de outros de me
nor importância. Vários dêles apresentam correnteza muito rápida na
estação chuvosa e, com suas águas, inundam as regiões ribeirinhas.
O Rio São O Rio São Francisco, o mais extenso e o de maior volume daquelas
Francisco. regiões, constitue a linha divisória entre as capitanias de Pernambuco e
Baía-de-Todos-os-Santos. É tão largo em alguns pontos que uma peça
de seis libras com dificuldade o atravessaria. Há lugares em que sua
profundidade atinge 8, 12 e por vêzes 15 varas. A-pesar-disso não é
navegável para navios de carga, em vista de estar sempre atulhado de
areia o seu estuário.
Acredita-se que tenha origem em um certo lago, o qual, grandemen
te aumentado pelos riachos que descem das montanhas do Peru, e, es
pecialmente pelo Rio da Prata e pelo Rio Maranhão, procura expandir-
-se para o mar. Alguns companheiros nossos subiram-no numa chalu
pa cêrca de 40 léguas, achando-o sempre bastante largo e profundo. A
darmos crédito aos portugueses, existem, a 50 milhas do mar, certas ca
taratas intransponíveis a que chamam cachoeiras. Para além delas o
rio vai para o norte, até que chega à sua nascente no lago, onde há
ilhas amenas habitadas pelos bárbaros que também povoam suas margens.
Encontram-se boas jazidas de ouro em pó nesse lago, que não são, porém,
da melhor qualidade, supondo-se formadas pelos inúmeros riachos que
lavam as rochas auríferas do Perú e que ali desaguam. Há, também,
excelente salitre na região.
maraea, Pernambuco, Quirimure vel Bahia de Todos los Santos, cujus metropolis S.
Salvador, Nkoecombe vel os Ilheos; Pacata, vel Porto Seguro; Espiritu Santo; Nhe-
teroya, vel Rio de Jeneiro, quem Ganabara vulgo vocant Brasilienses ; & S. Vicente".
Quirimure, de que fala Nieuhof, foi, também, por outros cronistas, referida. Assim,
Soares (Cf. LXXXVI, p. 223) se refere a Caramurê e Varnhagen, em nota à p. 483,
acha que o nome deve estar certo, porquanto os jesuítas o repetem, escrevendo-o Qui-
grigmuré. Acha que se trata do mesmo local a que se referiu Thevet (f. 129), com
o nome de Pomte de Crouestimourou. Não andaria, porém, já neste nome a idéia
da residência de Caramuru? pergunta o Visconde de Pôrto-Seguro. Teodoro Sam
paio (Cf. LXXXI, p. 148) afirma que Quimimuras significa gente silenciosa; e es
clarece que é o nome de uma tribu que habitou primitivamente o Recôncavo da Baía-
-de-Todos-os-Santos. Ayres de Cazal (XXVI, p. 100) escreve: "Aos antigos Qui-
nimuras, primeiros povoadores memoráveis do contorno da enseada de Todos os San
tos, sucederam os Tapuias, pouco depois expulsos pelos Tupinás, vindos do Sertão,
para onde se retiraram os segundos, que jamais cessaram de inquietar os seus ven
cedores". Mais explícito e preciso já havia sido Cardim (Cf. XIX, p. 179), que diz:
"Outros que chamão Quirigmã, estes, forão senhores das terras da Bahia e por isxo
se cKama a Bahia Quigrigmurê". Batista Caetano, em nota à p. 234, do trabalho
do mesmo cronista, sugere a hipótese acêrca da etimologia do nome.
Restam, ainda, Pacata e Nhoe-Combe. A primeira, segundo Saint-Adolphe (Cf.
LXXIX, p. 187), refere-se a um rio de Pôrto-Seguro.
No Vocabulário da Língua Brasílica publicado por Plínio Ayrosa, (n. 261) S.
Paulo, 1938, regista-se para a Capitania de Ilhéus o nome indígena "Nhuecébê".
-
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 13
(24) A tradução inglêsa não é bem fiel; pois enquanto no original holandês
«tá escrito: "De Kompagnie bezat ook de Kapitanie van Maranhaon: maer die irierdt
ia jaers zestien hondert vier en veertigh, om zekere redenen, verlaten" (p. 10, 2.a
*ol. 2.° §) ; o tradutor inglês escreveu: "the Captainship of Maranhaon was 1644,
h epecial command of the Company, left by the Dutch..." (p. 6, 2.a col. 2." §).
Ora, por várias razões perdido não é o mesmo que abandonado por ordem especial da
Companhia. Veja as razões da perda mais adiante, nota 172.
(25) Sôbre o domínio holandês no Maranhão, consulte-se João Francisco Lis
boa. (Obras, LIII Lisboa, 1901), p. 318. Foi conquistado em 25 de Novembro de 1641.
0 domínio durou 27 meses, dezessete dos quais se haviam passado em guerra inces
sante. Deixaram o Maranhão a 28 de fevereiro de 1644 e, possivelmente, porque lhes
falecia de Pernambuco todo o socorro.
3
14 JOAN NIEUHOF
(26) Sôbre rios, geografia em geral, localizações de engenhos, nomes, etc., etc.,
devem-se consultar os mapas relativos à ocupação holandesa do Brasil, feitos por
Vingbooms, no vol. II e os relativos à exploração do Brasil pela Companhia das índias
Ocidentais no vol. IV (Cf. XCVII). São, ao todo, 12 mapas.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 15
(27) A edição inglêsa se refere a 35 casas (p. 7, l.a col., últ- §), enquanto que
na edição holandesa consta: 35 ou 36 casas (p. 11, 2.a col., 5.° §).
(28) Foi, realmente, Cristóvão de Barros que iniciou a conquista e colonização
désse Estado. Era governador interino da Baía, em 1590, e tivera ordem de El-Rei
Filipe II "a requerimentos dos povos d'entre rio Real e Itapieurú, que vivião inquie-
tadoi pelos indígenas deste paiz, e piratas franceses, que frequentavão a costa em
haca do páu brasil." (Cf. XXVI, 2.° tomo, p. 124).
(29) O Barão do Rio-Branco anexou, no exemplar de F. A. Varnhagen "His
tória das lutas com os holandeses no Brasil" (1871), que lhe pertencera, uma exten
sa biografia de Bagnoli, com documentos que mandara copiar ou copiara na Itália.
Por aí se vê que Bagnoli é uma pequena aldeia nos arredores de Nápoles, sôbre a
praia do mesmo nome. Aí nasceu o Conde de Bagnoli, cujo nome constitue puro dialeto
napolitano. Também escreveu sôbre Bagnoli o sr. Francisco Fettinati, que lhe de
dicou 156 pp. (Cf. LXVII, pp. 161-227).
16 JOAN NIEUHOF
(30) A grafia de Nieuhof é muito flutuante e não parece ser a certa. Nieuhof
escreveu tanto Schop como Schoppe. A grafia correta é Schkoppe, dada por Netscher
(Cf. LXIII, p. 182), segundo a assinatura do coronel e encontrada em um documento
oficial do Arquivo Real; seu título de nobreza era Senhor de Krebsbergen, Grana
Cotzen.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 17
A CAPITANIA DE PERNAMBUCO
(31) Nieuhof escreve (p. 13, l.a col. últ. §) : van Inferno en bokko, dat eigen-
tlijk helle — mont /ezeit is; "isto é, Inferno e bokko que propriamente é conside
rado uma embocadura do inferno". Batista Caetano (Cf. III, p. 205), escreve: "Afi
nal Paranambuka será rebentação do rio grande, designando-se pelo nome rio grande
paranã o semi-mar formado pelos rios Capibaribe e Bybyrybe". Segundo Teodoro
Sampaio (Cf. LXXXI, p. 146), a etimologia é "Ant. Paranambuca corr. paranã —
buc oii paranã — puca, o mar quebra ou o mar arrebenta, isto é, quebra mar em
alusão ao Recife". Alfredo de Carvalho (Cf. XXVI, p. 63) adota a etimologia de
Teodoro Sampaio. Sôbre o nome de Pernambuco, nos velhos mapas, consulte-se o
estudo de Orville Derby (Cf. XXVIII).
18 JOAN NIETJHOF
(32) Nieuhof escreveu (p- 13, 2.a col., 10." §): "Castelo Povoaçano". Barlaeus
(VII, p. 42) refere-se a êsse forte Povoação e na edição holandesa (VIII, p. 46)
está escrito Povoação. O Sr. Cláudio Brandão assim traduziu, seguindo a lição de
Naber. (Cf. VIII, p. 50). Sôbre o forte de Pôrto-Calvo, cf. XV, p. 180, Cf. nota 13.
(33 e 34) Nieuhof escreveu Gongohubi (p. 14, l.a col-, 3.° §), como, antes, fizera
Barlaeus. O Sr. Cláudio Brandão anotou, muito bem, que a fonte parece ser Marc-
grave (LXX, p. 261 e VII, p. 253 e nota 321). Escreveu o Prof. Cláudio Brandão
Gungouí. Segundo J. van Walbeek e H. Moucheron, o Mondai despeja suas águas,
na Alagoa do Norte, pelo lado ocidental (Cf. XCV, p. 53).
Compare-se esta nota com a de número 38, onde mais uma vez se mostra como
Marcgrave foi, sempre, a fonte segura dos autores coevos ou posteriores.
(35) O tradutor inglês escreveu: "each near half a league in lenght" (p-. 8,
2.» col.), enquanto o original holandês diz: "ieder van een halve uure lang" (p. 14,
l.a col., 4." §). Trata-se, pois, de meia hora e não de meia légua,
(36) O tradutor inglês omitiu batatas e mandioca. Compare-se a p. 8, 2.a col.
últ. § da ed. inglêsa com a p. 14, l.a col., 8.° § do original holandês. A tâmara e a
cevada não eram nativas no Brasil. Possivelmente o autor se refere no primeiro
caso a certas variedades de côcos, e no segundo ao milho americano.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 19
(37) Êste trecho sobre os Palmares é copiado de Marcgrave. (Cf. LXX, Livro
VIII, Cap. I, p. 261). Comparar com Nieuhof, ed. holandesa, p. 214, 2.° col., os 6 pri
meiros §§).
(38) Nieuhof (p. 14, 2.a col., 1.° §), como mostramos acima, copiou de Marc
grave. O tradutor inglês, ao invés de 5.000 negros, escreveu 8.000 negros, (p. 8,
2.a col., 2.°§).
(39) O tradutor inglês escreveu (p. 9, 2.a col. 1.° §) : "rocka which in some
Vlaces is 20, and in others 30 Pacea brood" ; cf. ed. holandesa (p. 16, l.a col.,
1L 7, 8 e 9).
20 JOAN NIEUHOF
(40) Na edição inglêsa está escrito: 20 a 30 passos de largura (p. 9, l.a col.,
1." §). Cf. edição holandesa (p. 16, 1.» col., 4.° §).
(41) Sôbre a etimologia dessa palavra, Antenor Nascentes (LX, 679) escreve:
"do árabe rasif, calçada, de origem aramaica e assíria". Dozy (XXXI, 198) explica
que foi no sentido de calçada que a palavra passou para o espanhol; porém, cita um
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 21
(43) A trad. inglêsa omitiu certos detalhes, como, por exemplo, a referência
às 8 peças de metal (Comparar: ed. holandesa, p. 17, l.a col., 8." § e ed. inglêsa p. 11,
1.» col. 5.° §).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 23
(44) O engenheiro que construiu a ponte que ligava o Recife a Maurícia foi
um judeu que vivia no Brasil anteriormente a 1628. Chamava-se Baltasar da Fon
seca e, com seu filho e seu neto, confessou judaísmo, quando os holandeses se esta
beleceram no Brasil (Cf. XI, 135). Barlaeus afirma que o Conselho empreitou a
construção da ponte por 240.000 florins (Cf. VII, 156). Calado fala em 90.000
cruzados pelo custo da metade da obra. Essa parte tinha sido feita de pedras de
cantaria (Cf. XVII, 151). Calado escreve que as pessoas brancas pagavam uma
placa, os negros duas, os cavaleiros quatro, e os carros dois reales (id., id.).
(45) O tradutor inglês escreveu 13 ou 14 pés; (cf. p. 11, 2.a col. 2.° § da ed. in
glesa ep. 18, l.a col., 2.o § da ed. holandesa).
(46) Segundo Teodoro Sampaio (LXXXI, 119), Capibaribe vem de caapinar
— y — pe, que se alterou em capibar — y — be, rio das capivaras.
24 JOAN NIEUHOF
(47) O tradutor inglês omitiu as "3 e 4 milhas". Comparar a p. 18, 2.a col.,
6." § do original holandês, com a p. 12, l.a col-, 4.° § da ed. inglêsa.
(48) O tradutor inglês escreevu: 6 a 7 léguas (p. 12, l.a col., 5.° §) ; cf. ed.
holandesa (p. 19, l.a col., l.° §).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 25
A CIDADE DE OLINDA
(49) Nieuhof escreveu o mesmo que Barlaeus sôbre o convento dos jesuítas.
(Cf. VII, 40).
(50) Encontravam-se no Brasil holandês monges franciscanos, carmelitas e
beneditinos- Os primeiros eram mais numerosos, e os últimos os mais ricos (Cf.
XLVI, 197). Realmente, os franciscanos eram os mais numerosos, pois possuíam
5 conventos, a saber: 1) Frederica, 2) Iguarassú, 3) Olinda, 4) Ipojuca, 5) Seri-
nhaém. Todos os conventos eram belos edifícios. Possuíam, ainda, um pequeno con
vento no Capibaribe, acima do Massurepe. Viviam de esmolas, pois não possuíam
terras, nem rendas.
Os carmelitas possuíam 2 conventos: um na Paraíba, sem grande importância,
e outro em Olinda. Tinham como patrimônio algumas casas por êles construídas e
alugadas ou construídas por outros, obrigando-se os possuidores a pagarem foros.
Os beneditinos possuíam dois conventos; um na Paraíba, belo e pequeno, e outro
em Olinda, belíssimo. Possuíam um canavial, no engenho das Barreiras, na Paraí
ba. Em Pernambuco, esta ordem possuía um bom engenho, denominado Massurepe,
com extensas terras. (Cf. XV, 161).
(51) Êsse sargento foi subornado por Hoogstraeten e o reduto é a guarita de
João Albuquerque, a uma légua do Recife. (Cf. XVII, p. 246). Moreau relata-nos
que por 1 . 000 libras e o cargo de mestre o Sargento entregou o forte com 14 soldados
que o guarneciam (LIX, p. 86). Vide nota 293.
(52) As explorações holandesas foram várias. Tôdas resultaram infrutíferas.
Sôbre a história dessas explorações, consulte-se Alfredo de Carvalho (XXI). Con
forme asseverou Pandiá Calógeras: "as explorações modernas nada confirmam dessas
jazidas de metal branco". (XVIII, 2.° vol. p. 448).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 27
(54) Êsse trecho referente às cobras é totalmente inspirado em Piso, pois até
a enumeração é a mesma (Cf. V, 40-70). Piso, naturalmente, observa-as de um pon
to de vista médico, especificando os antídotos. O livro III "De Venenis Eorumque
Antidotis" foi que serviu de fonte a Nieuhof. Marcgrave descreve mais minucio
samente as serpentes que lhe fora dado conhecer. A sua lista não é, porém, tão
longa quanto a de Piso, embora as descrições e desenhos, que faz, demonstrem o me
lhor conhecimento de ofiologia.
As diferenças da grafia de Piso e Marcgrave com a de Nieuhof são mínimas.
Procuramos, sempre, anotar as de Piso e Marcgrave, pois são, inquestionavelmente,
mais autorizadas. (Veja-se p. 22-24 de Nieuhof e compare-se com Marcgrave (LXX,
pp. 239-241) e Piso (LXX, 40-44).
(55) Marcgrave (LXX, 239) escreve: "Boi-guacú Brasilianis, cobra de veado
Lusitanis". Piso (LXXI, 41) escreve: "Boiguacu, sive liboya, cobre de veado, Lu
sitanis"; Soares (LXXXVI, 304); Barlaeus (VII, 382), Cardim (XIX, 40) escreve:
"Esta cobra que por cá ha, e algumas que se acham de 20 pés de comprido; são
galantes, mas mais o são em engulir hum veado inteiro". Rodolfo Garcia (XIX, 101)
anota que ela pertence à família dos Boídeos (constrictor constrictor, L). Batista
Caetano (III, 250) explica: "traga cobras, donde o nome mboiçuai, o que traga
muitas cobras, nome dado a uma espécie de gibóia que devora as outras: mboiguaçu,
outro nome dado à gibóia". Artur Neiva (LXII, 334) dedica ao nome gibóia grande
número de páginas, estudando-o demoradamente.
(56) Piso (LXX, 42) descreve-a. Marcgrave não a menciona- Teodoro Sam
paio (LXXXI, p. III) fala de araboya, a cobra do ar, a serpente que salta pelos
ares. Gabriel Soares (LXXXVI, 306) escreve sôbre a araboya, cobra que se cria nos
rios e lagos. Waegler fala de Araramboya (Cf. XCIV, 45).
(57) Nieuhof escreveu Bioby (p. 22, 1.a col.) e depois Boiobi (p. 24, 1.a col.).
Barlaeus (VII, 138); Margrave (LXX, 239) descreve-a como de grande bôca, língua
preta e venenosa. Piso (LXX, 34) escreveu: "Boiobi, Brasiliani, cobra verde Lusi-
tanis". O Sr. Cláudio Brandão equivocou-se ao escrever que é a mesma caninana
de Cardim e caninam de Gabriel Soares. Várias razões demonstram claramente o
êrro em que laborou. Em primeiro lugar, Nieuhof, baseado em Piso, distingue bem
a Boiobi da Caninana, pois essa está descrita por ambos em outras passagens de seus
trabalhos (Cf. nota 84) ; em segundo lugar, Piso ao descrever a Boiobi diz (LXX,
43): "Boiobi Brasiliensibus, Lusitanis cobre verde..."; enquanto que para Caninana
diz (LXX, 43): "Caninana serpens, ventre est flavo, dorso autem viridi...". Ora,
uma é a cobra verde, enquanto que a outra tem o ventre amarelo e o dorso é que é
verde. Acresce que, se houvesse lido Soares (LXXXVI, 310) com atenção, teria ve
rificado que êste cronista descreve a Caninana como "cobras meãs na grandura, com
a pele preta nas costas e amarela na barriga" e logo a seguir regista a "Boibu que
quer dizer cobra verde, que não são grandes. No próprio Nieuhof as duas va
riedades são bem diferentes. Finalmente, segundo Batista Caetano (III, 262), mbóy-
obí significa "cobra azul ou verde ou mboihobi que é cobra azul ou verde, que por ser
mui ligeira podia ser mboí aíbi. . . " Compare-se com as notas 63 e 81.
(58) Barlaeus (VII, 138); Piso (LXX, 41) escreve: Boicininga, à qual os
espanhóis chamam Cascavel ou Tangedor; Marcgrave (LXX, 240) assim a descreve:
"Boicininga & Boicinininga & Boitininga atque etiam Boiquira Brasiliensibus: Ayug,
Tapuyis: Lusitanis cascavela, Belgis Kaetel slange". Soares (LXXXVI, 308);
Laet (L, 488) regista: Boycininga. Varnhagen, em nota de número 186, p. 476
(LXXXVl) escreve que "Boicininga caiu em desuso, só ficando o de cascavel." Car
dim (XIX, 42). Para Batista Caetano (III, 250), a palavra é formada de mboí-chini
= mboitini, isto é, boi tinini em tupi, onomatopaico, para significar cobra tintinante;
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 29
também aguai, cobra de guizo ou cascavel (III, 25). Segundo Teodoro Sam
paio (LXXXI, 116), a palavra é composta de mboy — cyninga — cobra ressonante.
(59) Piso (LXX, 42) menciona "Boitiapô Brasiliensibus ; Lusitanis, cobre de
cipo." e Marcgrave (LXX, 241) escreve: "Boitiapo Brasiliensibus ; Lusitanis cobra
de cipo." Segundo Waegler e Spix, Natriz Bicarinata (XCIV, 24).
(60) Piso não descreve essa cobra e tão somente a menciona na lista em que
enumera as várias espécies. (Cf. LXX, 40). Laet (L, 488). Cardim (XIX, 41)
escreve: "cobra que tem espinhos pelas costas, he muito grande e grossa, os espi
nhos são muito peçonhentos e todos se guardão muito delias". Rodolfo Garcia de
clara achar difícil interpretar êsse nome.
(61) Nieuhof escreveu Bapeba. Piso (LXX, 40) só a menciona na lista em
que enumera as variedades de serpentes, escrevendo Boipeba. Soares (CXXXVI,
443) escreve Boipeba. Batista Caetano (III, 250) dá a seguinte etimologia: "mboi
péb, cobra chata muito venenosa, assemelha-se a uma correia no chão".
(62) Nieuhof grafou curucucu. Laet (L, 488) do mesmo modo; Piso (LXX,
42) idem; Marcgrave (LXX, 241) idem; Soares (LXXXVI, 310), Surucucu; Cardim
(XIX, 42), Surucucu, escrevendo: "esta cobra he espantosa e medonha". Anotan-
do-a, Rodolfo Garcia (VIII, 103) diz pertencer ela à família Lachesis mutus, L. e
não ter explicação aceitável o nome indígena.
(63) Marcgrave não a menciona. Laet regista-a à p. 488 (L). Piso enume
ra- a e depois estuda-a (LXX, 43). Em Cardim, Caninana (XIX, 40). Em Soares
(LXXXVI, 310), Caninam; Rodolfo Garcia considera difícil interpretar o nome in
dígena. Compare-se com as notas 57 e 81.
(64) Nieuhof escreveu Curukacutinga. Piso (LXX, 40) escreve Curucacutin-
ga, enumerando-a na lista geral.
(65) Nieuhof escreveu (p. 22, l.a col.) Guinipaiiaguara. Piso (LXX, 40) Guin-
paiiaguara. Cardim (XIX, 40) registou-a escrevendo guigraupiajoara. Rodolfo
Garcia (XIX, 102) explica o nome, dizendo: "papa-ovo ou papa-pinto, da família
dos Colubrídeos (Herpeto dryas carinatus, L.) Em Soares, Urapiagarás (LXXXVI,
311).
(66) Nieuhof escreveu Ibyara (p- 22, l.a col.). Piso (LXX, 42) Ibiiaia cobra
vega (sic) ou cobra de duas cabeças. Marcgrave (LXX, 239) escreve: Ibyara Bra-
eiliensibus, Boaty, Tapuijis, Cega Lusitania, nostratibus Blind Schleiche. Tanto Piso
quanto Marcgrave preocupam-se em afirmar que é falso dizer que a cobra tem duas
cabeças. Batista Caetano (III, 250) explica dêste modo a etimologia: "mboy —
Hcig — cobra curta ou cortada, que dizem ter duas cabeças".
(67) Nieuhof escreveu Jakapekoaja (p. 22, l.a col.). Piso (LXX, 40) cita-a
na lista em que enumera as variedades de cobras, escrevendo Iacapecoaja.
(68) Cardim (XIX, 43) escreve Igbigboboca. Rodolfo Garcia (XIX, 103)
escreve: Ibiboboca ou cobra coral ãa família dos colubrídeos (Elaps marcgravi,
Wied). Ibi-bobog espécie de cobra, isto é, mboi-ibypebabac, cobra enroscada no chão
ou cobra coral". Piso (LXX,42), "Ibiboboca ou cobra de corais". Marcgrave (LXX,
240) . "Ibiboboca ou cobra de coral". Elaps Venustissinus segundo Waegler e Spix
(XCIV, 6).
(69) Piso (LXX, 42) descreve-a; Laet (L, 488) menciona Jararaca e Jara
racuçu, registando, ainda, jaracoaytipinga e jaracopeba; Soares (LXXXVI, 307) es
creve gereracas; Cardim (XIX, 42) jararacas e Rodolfo Garcia (XIX, 102) anota:
"da família dos Viperídeos (Lachesis lanceolatus, Lacep.). Para Batista Caetano
(III, 573), pode derivar o nome de yarará = yararág, que envenena a quem agarra.
Segundo o mesmo autor (id., 263), davam os índios o nome de mboy — apiti (cobra
que fere com o rabo) à jararaca.
(70) Piso (LXX, 40); Cardim (XIX, 88) escreve: "as suas pinturas tomarão
os gentios deste Brasil pintarem-se" ; Gabriel Soares não a menciona. Rodolfo Gar-
4
30 JOAN NIEUHOF
cia (XIX, 125) supõe que se trata da "amoré pinima, que Marcgrave representa".
Não nos parece exata a hipótese, porque Piso e também Nieuhof enumeraram ambas,
distinguindo-as. Marcgrave (LXX, 242).
(71) Piso (LXX, 40) cita-a na mencionada lista a que tanto nos temos re
ferido.
(72) Nieuhof (p. 22, 1.a col.) e Piso (LXX, 40) escrevem Tareiboya; Soares,
taraiboia (LXXXVI, 307); Varnhagen anota (LXXXVI, 473) que Abbeville cha-
mou-a Tarehuboy e Baena (Corografia do Pará, p. 114) Tarahiraboia.
(73) Nieuhof (p. 22, l.a col.) escreveu Kakaboya e Piso (LXX, 42) cacaboya.
(74) Vide nota 70.
(75) Compara-se com a nota 58. As descrições especiais de cada cobra são
literalmente copiadas de Piso (LXX, 41-44). Daqui em diante o texto é pràtica-
mente igual ao de Piso. Uma ou outra vez confrontaremos os respectivos textos,
para melhor esclarecimento. O leitor curioso, porém, poderá êle próprio fazer qual
quer comparação desde que sempre indicamos as passagens copiadas.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 31
(76) A fonte de Nieuhof continua sendo Piso. Compare-se êsse trecho com o
que escreveu Piso (LXX, 41) no capítulo: "Qui agit De Venenis eorumque Antidotus.
. . . contra hujtis aut qualiscumque serpentis morsus restat, est ipsius nocentis
eaput, ..."
(77) Nieuhof escreveu Tiproka (p. 23, l.a col. 1-* §). Piso escreve Tipiocae,
que adotamos. (LXX, 41).
(78) A edição inglêsa omitiu êste trecho referente à parte ferida a que se admi
nistra Jacape (comp. p. 23, l.a col., 3.° § da ed. holandesa, com a p. 15, l-° col. da
ed. inglêsa). O curioso é que Nieuhof copiara Piso. Assim, compare-se êsse tre
cho com o seguinte de Piso (LXX, 41) : "Ad remedia extrahentia, mdnus dilatantia,
learificationes, cneurbitulas, & si pars laesa intercipi possit, ad vincula festinandum,
xdque junco lacape, cui remedio maxime fidunt Brasiliani" . . .
32 JOAN NIEUHOF
(79) Mais uma prova evidente do plágio de Nieuhof. Tendo Piso escrito, à
p. 40 (LXX), Manima e Vona, e à p. 2 Mavina e Vocia, Nieuhof, seguindo-o, escre
veu à p. 22, l.a col. Manima e Vona, e à p. 23, 2.a col., Mavina e Vocia.
(80) O tradutor inglês escreveu três quartos de jarda (p. 16, 1 col., últ. §).
Cf. ed. hol. p. 24, 1.» col., 4 §.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 33
SENEMBí OU LEGUAN
34 JOANNIETJHOF
(85) Nieuhof escreveu (p. 25, l.a col., 7.° §) Bibora. Aliás, é essa a grafia
de Piso (LXX, 43).
(86) Piso registou-a (LXX, 44) e Marcgrave escreveu (LXX, 253) Ambua
Braêilienaibua, centopeia Lusitanis. Soares (LXXXVI, p. 315) escreveu Imbuá e
Piso (LXX, p. 44) escreve Ambua.
(87) Iaaciaiira escreveu Marcgrave (LXX, 25), declarando que assim chamavam
os brasileiros ao animal denominado, pelos lusitanos, de escorpião.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 35
(88) Marcçrave escreve (LXX, 253) : Formicae hic sunt, ut à Lusitanis Rey
do Brasil appellatur. Piso (LXXI, 9) escreve que elas "exerciam perpétua tirania".
(89) Marcgrave (LXX, 252) escreveu: Formica itidem magna hic reperitur,
muscac majori aequalis, cujus corpus pene semidigitum longum atque tripartitum.
36 JOAN NIEUHOF
(93) Laet (L, 487) escreve Hay, declarando que Thevet grafara Haú ou
Hautchi. Marcgrave (LXX, 221-222) escreve: At tive lguavut — Ai Bratilienti-
ku, Lutitanis Priguiza, Nottratibus Luyaert, id ett lgnavut . . . ; vocem raritnime
tàit Um, fere ut felis junior. Marcgrave mencionou, também, o nome que lhe dera
Thevet, de Hay e o de Unáu; Soares (LXXXVI, 301); Cardim (XIX, 39). Frei
Vicente do Salvador (LXXVIII, 43). Rodolfo Garcia (XXXVIII, 83). Segundo
Rodolfo Garcia, são ao todo 4 espécies, enquanto que Cláudio Brandão (Vil, 381,
liota 153) afirma que são somente duas. Batista Caetano (III, 27) encrcvcu: Ai,
interj. de dôr, ai! onomatopaico de grito, nome do bicho preguiça (Bradíppua) <i <l<t-
pois dêste dado ao munjolo de socar milho. Xieuhof escreveu Luyaert (p- 27, 1,'
eoL). Hoje, escreve-se Luiaard.
I
38 JOANNIEUHOF
(96) Marcgrave (LXX, 231) escreve: Tatu & Tatu-Peba Brasiliensibus, Arma-
dillo Hispanis, Encuberto Lusitanis: Belgae nostri voeant een SchUd-Vercken, Laet
(L, 485) ; Piso (LXXI, 100) menciona, também, Tatupeba, Tatu eté, Tatu apára.
Barlaeus (VII, 138) ; Frei Vicente do Salvador (LXXVIII, 41) ; Gandavo (XXXVI,
103); Abbeville (XXXVIII, 78) regista Tatou e Tatou Ouãssou; Gabriel Soares de
Souza (LXXXVI, 295); Cardim (XIX, 35). Batista Caetano (III, 490) explica-
-nos que significa casca densa; entre os citados por Piso — Tatupeba e Tatu apára
— o mesmo autor esclarece: peò é chato e apára arqueado (êsse é o tatú-bola em
português).
(97) Marcgrave (LXX, 213) continua sendo a fonte de Nieuhof. Escreve o
citado autor Andiriaca. Batista Caetano (III, 34) regista andirá, morcego, escre
vendo que se encontra, também, andira por atuá, que significa topete, cabelo em
monte, tcpetudo (idem, 53).
(98) Esta descrição constitue mais um plágio de Nieuhof. (cf. com Marc
grave, (LXX, p. 218). Piso (LXXI, p. 82). Batista Caetano (III, p. 204) regista
ipegatiapua, pato de crista ou pato de cousa sôbre a cabeça erguida.
40 JOAN NIEUHOF
(99) Nieuhof, traduzindo Marcgrave, escrevera: ala een gans van acht of
negen maenten (p. 29, 2.a col., 2." §); o tradutor inglês escreveu (p. 20, 1» col.,
2.° §): of one of our geese of about nine months old.
(100) Mais uma vez Nieuhof traduziu para o holandês o texto latino de Marc
grave (Cf. LXX, p. 217): — Barlaeus (VII, p. 139). Cardim, (XIX, p. p. 48)
escreve Tucána. Soares (LXXXVI, p. 264). Abbeville (XXXVIII, p. 81) men
ciona o Toucan. Segundo Rodolfo Garcia (XXXVIII, p. 81), Thevet foi o primeiro
a descrever a ave e a dar-lhe o nome indígena. Para Batista Caetano (III, p. 541)
tucanâ vem de ti — cang — bico ósseo, língua óssea ou ainda túb — cáb — quebra
ovos. Nieuhof escreve Toukan (p. 30, l.a col.). Para Teodoro Sampaio (LXXXI,
p. 154) é a seguinte a etimologia do nome: tu — quã, bico que sobrepuja, exagerado.
(101) Nieuhof (p. 30, l.a col., 5.° §) escreveu Kokoi. Marcgrave (LXX, 209
foi ainda desta vez furtado. O engano gráfico de Nieuhof vem disso, porque Marc
grave escreveu cocoi. Piso (LXXI, 89). Conforme anota Rodolfo Garcia (XXXIX,
43-44) çoeoi — nome especifico atribuído à ave pelos naturalistas antigos, é o equi
valente de socó, apenas diferençado pela grafia latina daqueles escritores, à qual
era estranho o ç. Baseado em Batista Caetano (III, 95), Rodolfo Garcia dá a se
guinte etimologia: ço = ir + co = batendo. É da família Ardeidae.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 41
(102) O tradutor inglês escreveu: The head and Neck (which is two foot long...
(p. 21, l.a col. l." §); cf. ed. holandesa (p. 30, 2.a col., 4.° §). Logo a seguir, o
tradutor inglês escreveu: The body is two foot and a half in lenght; and the Tail...
four fingers (id., id., id.) ; cf. ed. holandesa (id., id., id.).
(103) Nieuhof escreveu (p. 30, 2.a col.): De vogel, by d'onzen Schuurvogel
genoemt, wordt Jabiru Guaku en Nhandu Apra by de Brasiliaensche volken, en by
de Tupinambaa Petiguaras genoemt, o que significa: "o pássaro chamado pelos nos
sos de schuurvogel, é chamado pelo povo brasileiro pelos nomes de jabiru guaku e
Nhandu Apra e, pelos Tupinambás, Petiguaras". Na edição inglêsa (p. 21, 1."
col.. 2.° §) encontra-se omitido Nhandu Apra e pelos Tupinambas, Petiguaras. Como
se vê, Nieuhof equivocou-se, pois só por engano é que poderia escrever que os Tu
pinambás denominavam o Jaburu com o nome de tribu. Ainda mais se considerarmos
que o texto de Marcgrave, inteiramente copiado por Nieuhof, está estropiado. O texto
He Marcgrave é o seguinte (LXX, p. 200-201) : Iabiru guacu Petiguaribus, Nhandu
apoa Tupinambis: Belgis Scurvogel, Rostrum habet magnum, septem & Semi»
dígitos longum, in extremitate teres & inferius incurvatum; caret lingua & rostrum
inferius canum est. In summitate capitis mitram osseam coloris albi & cinerei mixti
gerit. Oculi nigri & pone eos aurium foramina ampla- Collum decem dígitos longum,
cujus medietas, uti & caput, plumis, et cute squamosa cinerea est tecta, cujus squamae
albicant. Corpore aequat Ciconiam; caudam habet brevem & nigram, cum qua alae
desinunt. . . Alae albae, remiges illarum pennae nigrae, rubini colore transplendente
tn nigro. . . Como se vê, Nieuhof mudou completamente o texto latino, pois Marcgrave
escreveu: jabiru guaçu é o nome dado pelos Petiguaras e Nhandu apoá pelos Tupi
nambás". Piso, na edição de 1658 (LXXI, 8), escreveu: quae brasiliensibus quibusdam
iabicu guaçu, alliis mediteraneis Nhandu apoá; nostris scur vogel dieta". Em
Soares, (LXXXVI, 269) está Jaború. Rodolfo Garcia (XXXIX, 29) escreve: Con
vém notar que houve troca, na Historia Naturalis Brasiliae, entre as figuras do
jabiru e do Tuyuyú, o que induziu em erro a Lineu, cujas descrições específicas se
baseiam naquela obra. Etimologia: de y, demonstrativo (~ o que, aquêle que), +
abirú = farto, repleto, inchado, o que está farto ou repleto — alusão ao grande
42 JOAN NIEUHOF
papo da ave. Batista Caetano (III, 564) escreve: yabirú ou yaburu,s., nome de
cegonhas; a repleta, a infatuada, a inchada; abirú (III, 17), farto, cheio, repleto;
dão-lhe, também, o nome de ayayá, pode ser que seja ayapirú, o papo inchado
(id., 54) ayayá, o que tem papo, papudo; nome dado a uma cegonha e, talvez, a
outras aves. Teodoro Sampaio (LXXXI, 134) escreveu: jaburú corr- de ya-abirú,
a que é repleta, ou inchada, alusão ao grande papo da ave; dêsse nome, isto é, a
papuda, alt. : jabiru.
(104) Nieuhof escreveu (p. 31, l.a col.) jamdi. O tradutor inglês escreveu
bamodi (p. 21, 2.a col., 1.° §). lambi regista Piso (LXX, p. 10).
(105) Em Gandavo (XXXVI, 111), Macucocaguás. Soares (LXXXVI, 261)
escreve Macucagoá; Abbeville (XXXVIII, 45) escreve como Soares. Staden (LXXXIX,
162) Mackukawa; o que não está de acordo com o que afirmou Varnhagen (LXXXVI,
469), em nota n. 153 da obra de Soares, dizendo ter Staden grafado Mackukauca;
Léry (LII, 135), Mocacouá; Marcgrave escreve (LXX, 213) "Macucagua dos Brasi
leiros, espécie de galinha silvestre". Segundo Rodolfo Garcia (XXXVIII, 45), Ma
cucagua ou Macagua vem de má por ybá, fruto, e cugigitar por curinhár que traga,
tragador, comedor. Batista Caetano (II, 213) escreve Macagua, Macaua e acauã,
falcão ou mboi-acá-hár, aquêle que briga com cobras.
Em Gandavo (XXXVI, 11) ; Soares (LXXXVI, 262). Segundo Rodolfo Garcia,
(XXXIX, 31), jacú é composto de y demonstrativo = que, aquêle que, a = fruto +
cu = comer; o que come grãos. Léry (LII, 135), jacú; Abbeville (XXXVIII, 37),
iacou; Nieuhof (p. 31, l.a col.), escreveu jaku. Batista Caetano (III, 565) escreveu
yacu, o que traga ou engole frutos.
Nieuhof escreveu Arakua (p. 31, l.a col.). Em Abbeville (XXXVIII, 20),
Aracouan. Marcgrave não o menciona. Piso (LXX, 10) regista-o entre o Macuca
gua e o jacú. Aliás, todo êsse trecho, desde o iambi até a jaçana guaçú, é tirado
de Piso. Segundo Rodolfo Garcia (XXXVIII) é preferível a seguinte etimologia:
ará — alteração de guirá, pássaro e aquã = ligeiro, rápido.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 43
(106) Soares (LXXXVI, 262). Varnhagen (LXXXVI, nota 153, pp. 470-71)
diz que mutum é exatamente o crax rubrirostris de Spix (Av. II, Tab. 67, Cf. XCIV).
Abbeville escreve Moyton (XXXVIII, 52). Rodolfo Garcia anota: nome genérico
dos eracidas. De mytun por pytum e pytuna, noite, escuro, negro por extensão;
originalmente, qualificativo, dizendo pássaro negro ou escuro. — Para alguns é onoma-
topaico. Laet escreve Mutu ou Mouton (L, 491). Cardim escreve Mutú (XIX, 49).
Nieuhof copiou êste trecho de Piso (cf. LXX, p. 10); em Marcgrave (LXX, p. 194),
Mitu ou Mutu; em Léry (LII, p. 135), Muton-
(107) Nieuhof escreveu guavilon (p. 31, 1.° §), seguindo, aliás, conforme disse
mos na nota anterior, Piso (LXX, 10), que escreve guavilaon. Marcgrave (LXX,
211) escreveu: Caracara Brasiliensibus, Gaviaon Lusitanis.
(108) Teguata e Inage escreveu Nieuhof. Êste trecho foi copiado de Piso (cf.
LXX, p. 10), que registou Teguato e Inage.
(109) Nieuhof (p. 31, l.a col.) escreve Jakana-miri e Jakana-guaku. Em Piso,
iacana miri & iacana guacu (LXX, 10). Em Marcgrave, (LXX, p. 190): Iacana dos
brasileiros''. Em Batista Caetano (III, 566) se lê: "yaçana, nome genérico das
aves Parras, galinha d'água"; Teodoro Sampaio (LXXXI, 134) escreve jaçana, o
que grita forte, o que tem grito intenso (parra jaçana). Rodolfo Garcia (XXXIX,
32) explica dêste modo a etimologia: y, demonstrativo = o que, aquêle que: eça =
ólho + ena = alerta; o que está de olho alerta. Batista Caetano (XLVI, 312)
regista, também, nahanâ = yaçanâ, s., nome da ave Parra jaçana (n — eçá — enâ,
o que está de olho alerta ou erguido".
(110) Nieuhof (p. 31, l.a col.) escreve perkietjes e papegayen. Marcgrave
(LXX, 206) dá 7 espécies de papagaios.
éá JOAN NIEUHOF
te-se aquí, seu sapo imundo." Êsse papagaio foi depois oferecido à
rainha da Suécia.
Além dêsses, há um certp passarinho que, conquanto não exceda o
tamanho de uma falange, faz grande ruído, sendo fácil apanhá-lo, até
com as mãos, enquanto adeja de flor em flor, à cata de alimento. De
qualquer lado que se mire esta avezinha minúscula, suas penas revelam
côres novas, variegadas. Por isso as brasileiras atam-nas com fios de
ouro à orelhas, à guisa de brincos. No Brasil os pássaros jàmais sofrem
falta de alimento, pois encontram-no sempre, em abundância, entre as
flores e os frutos ; lá, as árvores não perdem as folhas durante o inverno.
peixeiL Os rios e lagos brasileiros, bem como o mar junto à costa, são
riquíssimos em tôdas as variedades de peixes e estes entram tão larga
mente no regime alimentar do povo, que nem mesmo os doentes atacados
de febre os dispensam. As lagoas do litoral, que por vêzes secam com
pletamente, produzem grande quantidade de lagostas, tartarugas, cama
rões, caranguejos, ostras e várias outras espécies alimentícias. No
Brasil, nota-se grande fartura de peixe, tanto do mar como de água doce,
especialmente na estação chuvosa, quando a enorme descarga das cor
rentes fluviais atrai para os rios os peixes marítimos, os quais, retidos
pela abundância de algas no leito dos caudais, não mais voltam para
o mar.
Dentre os peixes de água doce, os mais conhecidos são o Duja, a
Prajuba e o Acará-pacú (111), assemelhando-se êste último à maior
das percas europeias.
Proliferam ainda, no Brasil, várias espécies de insetos, alguns dos
quais atingem quatro dedos de comprimento e uma polegada de espes
sura. Também lá se conhece o bicho da sêda ao qual os naturais dão
o nome de isocucú. À sêda, pròpriamente dita, chamam isocure-
nimbo (112). Há ainda que mencionar as numerosas espécies de piri
lampos, que também se encontram nas índias Orientais e dos quais nos
ocuparemos mais adiante. Citaremos, ainda, as moscas, os besouros
e finalmente as vespas e abelhas, algumas das quais produzem mel,
outras não.
Aranhas. Entre as numerosas variedades de aranhas lá existentes, uma delas
se destaca pelo seu tamanho prodigioso e é frequentemente encontrada
(113) Nieuhof escreveu Nhanduguaka (p. 32, l.a col.). Em Marcgrave (LXX,
248) está: Nhamdu sive variae Araneorum species. Batista Caetano explica (XLVI,
570) : yandú, s., aranha, s. avestruz. Convém não confundir com a Ema, chamada
por Cardim (XIX, 50) Nhandugoaçú e que Rodolfo Garcia (id., 106) anota como
Ema, citando o registo de Marcgrave. Realmente, Marcgrave escreveu (LXX, 190)
Xhandu guaçú Brasiliensibus, Etna Lusitanis, diferenciou a Ema da Aranha, escre
vendo para a primeira Nhandu e para a segunda Nhamdu. Trata-se de equívoco,
pois nada autoriza essa diferença de m e n, visto Batista Caetano registar yandú
tanto como aranha quanto como avestruz. O sufixo guaçú significa, como se sabe,
grande; logo, avestruz ou aranha grande. A razão da confusão não podemos explicar.
Além disso, Batista Caetano regista, também, nandui ou yanduí, s., aranha pequena,
aranha que faz teias nas casas (III, 570).
(114) Nieuhof escreveu Kabito. Será a vespa vermelha, significação de cabTtâ,
registada por Batista Caetano (III, 64) ou a branca, cabati (III, 64)?
(115) Na edição inglêsa está escrito: fevereiro e junho (p. 23, l.a col., l." §);
cf. ed. holandesa (p. 33, 1.» col., 3." §).
(116) No original encontra-se escrito: Men vind in Pemambuko en door
gantsch Brasil... (p. 33, l.a col., 5.° §), enquanto que o tradutor inglês escreveu:
Tkere are also abundance of ravenous wild Beast in Brasil. . . (p. 23, l.a col., 3." §).
46 J O A N NIEUHOF
(117) Nieuhof (p. 33, 2.a col., 6." §) escreveu Kapiverres. Gandavo (XXXVIr
p. 102); em Soares (LXXXVI, 293), capibaras; em Cardim (XIX, 90), capijuaras;
em Frei Vicente Salvador (LXXVIII, p. 40) capyguaras; em Abbeville (XXXVIII,
26), capyyuare; Marcgrave (LXX, 20) escreve Capy-bara e Piso (LXXI, 16; XX,
p. 10) Capiverres. Rodolfo Garcia (XXXVIII, 26) escreve que o nome é formado de
capyi — capim, erva, e guára — particípio do verbo ú comer: o que come capim, o
herbívoro.
(118) Gandavo (XXXVI, 103). Em Cardim (XIX, 32) Tapyretê- Em Soares
(LXXXVI, 285), Tapiruçu. Em Abbeville, Tapyyre-été (XXXVIII, 76). Laet (Lr
484), Tapirete. Léry (LII, 124), Tapirussú. Nieuhof escreveu Taperete ou Antes
(p. 33, 2.a col.). Em Marcgrave (LXX, 229) Tapiierete dos brasileiros e Anta dos
lusitanos. Segundo Rodolfo Garcia (XXXVIII, 97), o nome tupi é susceptível de
várias explicações, mas nenhuma satisfatória.
(119) Nieuhof escreveu Pakas e Kotias (p. 33, 2.a col.). Laet (L, 484) ; Soares
(LXXXVI, 296, 297). Marcgrave (LXX, 224), Paca e Aguti ou Acuti. Cardim
(XIX, 33), Acuti. Gandavo (XXXVI, p. 103). Em Abbeville, XXXVIII, 62) Pac.
Segundo Rodolfo Garcia, (XIX, 98) foi Thevet quem primeiro descreveu êsse animal
que chamou Agoutin. Batista Caetano (III, 22) explica que talvez a palavra venha de
a de gente e cúr-tí, modo de comer ou tragar, com as patas dianteiras. A etimologia
de Pac, segundo Rodolfo Garcia (XXXVII, 62), é pag, acordar, despertar: a esperta,
a vivida-
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 47
(120) Em Piso (LXX, 10), Vnuana & Teju — lagartos. Segundo Batista Cae
tano (III, 515), Teyú ou teíu ou teiyú, lagarto; literalmente, significa comida da
gentalha, da tropa. Em outro cronista, como Abbeville (XXXVIII, 79), Teiou ouas-
*>u. Soares (LXXXVI, 312) tijuaçu, significando lagarto grande. ÍJnuana deve
ser Iguanas (Conf. nota 53 dêste livro e p. 476, nota de Varnhagen n. 188, (LXXXVI).
(121) Nieuhof copiou êste trecho de Piso (cf. LXX, p. 11), que registou: "Sin
dia, Gueba & Noja".
(122) Nieuhof escreveu (p. 34, l.a col., 6.° e 7.° §§) Kurima Parati e Kara-
pantangele. Laet (L, 508) registou Kurema Parati. Em Piso (LXX, 11), Curima
parati (Herders Belgis); e " Carapantagele é similar a perca". Em Marcgrave
(LXX, 181) verifica-se que Piso equivocou-se, pois se trata de duas variedades; assim,
Marcgrave escreve: "Curema dos brasileiros, espécie de tainha, maior e mais corpu
lenta' ; enquanto a Parati é a tainha dos lusitanos; e Harder dos belgas, tendo um
pé de comprimento e a figura do corpo como a da Curema. Em Abbeville XXXVIII,
32) Coureman Ouãssou e Paraty (id. 64). Rodolfo Garcia (XXXVIII, 32) anota
que Curema é um dos nomes da tainha, no que se equivocou, visto a distinção feita
por Marcgrave.
48 JOAN NIEUHOF
(123) Nieuhof escreveu Krokodillen e Jakare (p. 35, l.a col.). Em Laet (L,
512). Soares (LXXXVI, 311). Cardim, (XIX, 89). Em Abbeville (XXXVIII, 86),
yacaré. Marcgrave escreveu (LXX, 242) jacare Brasiliensibus Cayman Aethiopibus
in Congo; Croeodilus Latinis. Segundo Teodoro Sampaio (LXXXI, 134), a palavra
vem de y — echá — caré, o que olha torto, ou de banda; ou ya-caré, o que é encur
vado ou sinuoso.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 49
los africanos, mas não são tão grandes, pois raramente excedem a cinco
pés de comprimento. Costumam pôr 20 a 30 ovos maiores que os de
ganso, os quais, da mesma forma que a carne, são consumidos por
brasileiros, portugueses e holandeses.
Nos mares próximos ao litoral brasileiro, encontram-se às vêzes
grandes lampreias. Antes da construção da ponte que liga Recife à
Cidade Maurícia, uma delas, de tamanho considerável, instalou-se mes
mo na rota dos botes e, tudo quanto caísse n'água era imediatamente
atacado por ela: homens, cães, que às vêzes acompanham os barcos a
nado, etc.. Um dia, porém, aconteceu que a maré baixou de repente
e a deixou com a maior parte do corpo à tona. Foi então capturada
e trazida para a terra, mas não sem alguma dificuldade.
O território de Pernambuco produz grande variedade de frutas.
0 mesmo se dá também com outros pontos do país, dos quais mais
adiante nos ocuparemos.
Ao norte da Capitania de Pernambuco, e divisando com ela, esten-
de-se a de Itamaracá, cujo nome provém de uma ilha, que constitue a Capitania
porção mais importante de seu território, conquanto a Capitania tenha de
35 milhas de litoral. Essa ilha fica duas milhas acima de Pau-Ama- Itamarae'
relo, (124) e, separada do continente pelo rio do mesmo nome, tem
sua extremidade meridional a 7o e 58' de latitude sul. Na direção norte-
-sul, mede cêrca de duas milhas de comprimento e o seu perímetro
é de aproximadamente sete milhas. À jurisdição desta ilha também
pertenciam Goiana, Capibaribe, Terucupa e Abiaí (125), localidades
situadas no continente. Antigamente era escassa a população da ilha e
poucas as suas construções, pôsto que lhe fosse ameno o clima e fértil
o solo, pois aí se encontravam côcos, pau-brasil, algodão, cana de açúcar,
melões, etc. além de lenha em abundância e água fresca com que abas
tecer o Recife. Há, também, na ilha, madeiras para construções e para
a indústria náutica. Entretanto, em certa época, foi ela grandemente
infestada por animais selvagens que depredaram os canaviais. Foi então
que Pieter Bas, diretor da Capitania de Itamaracá, consultou o Conde
Maurício e o Grande Conselho, em 1647, sôbre se seria melhor empreitar
a destruição dêsses animais daninhos ou dar-lhes caça a-fim-de servir de
alimento às guarnições. O Conselho, entretanto, rejeitou ambas as alter
nativas e limitou-se a aconselhar o povo a que não sacrificasse inutil
mente os animais, abatendo apenas os que invadissem as plantações, pois
era do interesse da Companhia preservá-los para uma eventual neces-
1645, descobriu sob o citado rochedo uma fonte de água pura, que mais
tarde veio a ser de valor inestimável para a guarnição, visto não poder ser
interceptada pelo inimigo.
Um pouco mais acima do rio Itamaracá, acha-se a ilha de Magiope,
onde há grande abundância de mandioca. Esta ilha — que dispõe de
um pequeno pôrto em cada extremidade, um ao norte outro ao sul, sendo
que êste último é o melhor — pode ser facilmente contornada em bote.
Junto ao ancoradouro setentrional há um banco de areia que apenas
deixa um canal navegável com 10 ou 12 pés de água. O único pôrto
utilizável da região é, portanto, à entrada meridional do rio que faz de
Itamaracá uma ilha, onde podem ingressar navios calando até 14 ou 15
pés, conquanto o ancoradouro não seja lá muito bom. A extremidade
em que o rio volta a se reunir ao mar foi, pelos batavos, denominada
Entrada Norte, e, pelos portugueses, Catuama.
Entre Pau-Amarelo e o rio Itamaracá, desemboca um curso nave
gável, denominado Marasarinha, e, meia milha antes da foz do segundo,
Os rios
outro, de menor importância, nêle lança suas águas: o Iguarassú. Daí Marasari
para o norte encontram-se vários rios navegáveis por balsas e que são nha e Igua
utilizados pelos engenhos de açúcar da região. rassú.
Cerca de meia milha acima da Entrada Norte de Itamaracá sobressai
um promontório denominado pelos portugueses Ponta de Pedras e rodea
do de recifes, entre os quais só é possível a navegação em barcas e Ponta de
iates. Ainda a uma milha ao norte dêsse ponto e três a noroeste de Pedras.
itamaracá, encontra-se o riozinho chamado Goiana a 7o e 46', que desem
boca na baía, em dois braços. Em sua foz vê-se um rochedo enorme
sobre o qual pousam numerosíssimas gaivotas. Enorme recife protege-
-Ihe a entrada, mas a grande quantidade de bancos de areia torna peri
gosíssima a passagem por ali.
Para além do rio Goiana, a mais ou menos três milhas e meia de dis
tância, há um grande rio chamado Auiaí (126), cuja foz é de tal forma Rio Auiaí.
obstruída por bancos de areia que apenas permite a passagem de embarca
ções pequenas. Recebe êsse rio vários afluentes, no interior. À margem
de um dêles assenta-se a aldeia de Maurício, na de outro, a de Auiaí.
O Pôrto Francisco está situado numa enseada de três grandes milhas Pôrto
de comprimento ao norte do rio Auiaí. Cinco milhas a noroeste do mesmo Francisco.
rio encontra-se o Gramame, não navegável, além de vários outros riachos.
(126) O tradutor inglês escreveu duas léguas e meia (p. 26, l.a col., 3 o §). —
Nieuhof escreveu Auyay (p. 37, 2.a col., 8.° §). Terá relação com o Ay, primitivo
nome da foz do rio Iguarassú? (Cf. Alfredo de Carvalho, XXV, 12-13).
52 JOAN NIEUHOF
(127) O tradutor inglês escreveu (p. 26, l.a col., 5.° §) : about a league and a
half to the north west..., quando, no original, está escrito (p. 37, 2.a col., últ. §) :
Ander halve mijle Noorde ten Ooeste.
(128) Nieuhof escreveu (p. 38, l.a col., 8-° §) : Tapasima. Deve ser Itapissuma.
(Cf. Alfredo de Carvalho, XXV, 45). Varnhagen, (LXXII, 68).
(129) Nieuhof escreveu Kamboa (p. 38, l.a col., 8 o §). No mapa de Ving-
booms (Cf. XCVII), está escrito Cambôa. No mapa de Barlaeus (VIII, entre as
pp. 24-25) consta Cambôa.
(130) No mapa de Vingbooms (XCVII, vol. II, mapa 47), consta uma ilha entre
a costa e Itamaracá, que o autor denomina Macatchtra. O mapa de Vingbooms de-
nomina-se Brazil during the Dutch occupation second the Manuscript Atlas of
Johannes Vingbooms, 1665.
(131) Nieuhof escreveu Tapowa (p. 38, 1.» col., 9 o §).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 53
(132) Nieuhof (p. 38, 2.a col., 7.° §) escreveu: o Coronel Martim Leitão. Tra-
ta-se de um equivoco. Martim Leitão era ouvidor-geral de Pernambuco, cargo para
o qual fòra nomeado em 9 de setembro de 1583. Em 14 de fevereiro de 1585, partia
com reforços a-fim-de assegurar a conquista da Paraiba, de onde haviam sido ex
pulsos os franceses por Diogo Flores, espanhol, e que nessa época se achava assolada
pelos Índios petiguaras. Ao assumir a direção da tropa, Martim Leitão foi denomi
nado General. Frei Vicente do Salvador assim relata (LXXVIII, 288) : "com todo
êste exército, que foi a mais formosa cousa que nunca Pernambuco viu nem sei se
verá, foi o General Martim Leitão (que assim lhe chamamos nesta jornada), dormir
no campo de Igaraçú . . . ". Em 6 de abril de 1585, volta a Olinda. Á luta pela posse
definitiva' da Paraíba continuava. Foi organizada a expedição e escolhido o capitão
Simão Falcão para dirigi-la. Tendo êste adoecido, escolhe-se João Tavares, escrivão
da Câmara e Juiz de Órfãos, o qual, partindo a 2 de agosto, chegou a 3; e a 5 de
agosto de 1585, depois de firmada a paz com Piragibe, fundou a povoação de Nossa-
.Senhora-das-Neves. — A cidade chamara-se Filipéia, nome que lhe dera Frutuoso
Barbosa. Varnhagen atribue essa idéia de Frutuoso Barbosa ao fato de Diogo Flores
ter chamado de S. Filipe, dia de sua partida da Paraiba, a 1.° de maio de 1584, ao
forte que fizera construir, depois da expulsão dos franceses em 1584, e não 1585,
como escreve Nieuhof. A João Tavares ficou entregue a capitania. Só em agosto
de 88 entregou João Tavares a capitania a Frutuoso Barbosa. (Cf. LXXVIII, 287,
288, 299, 301, 303 e LXXII, tomo I, 490-1, 492, 493 e nota 27 de Capistrano) . Sôbre
Diogo Flores, nota III de Capistrano (id., id., p. 500).
(133) O tradutor inglês cometeu êrro de data. Assim, Nieuhof (p. 39, l.a col.,
1." |) escrevera que em novembro de 1634 fora conquistada a Capitania, enquanto
na tradução está escrito (p. 26, 2.a col., últ. §) : after they had in November 1633. . .
54 JOAN NIETJHOF
Terra-Vermelha (134), por ser dessa côr o solo da região. Há, aí, um
ancoradouro excelente com cinco ou seis braças de profundidade e tôda
essa zona é dotada de ótimos mananciais, motivo pelo qual os navios
holandeses que deixam o Recife, rumo à Metrópole, costumam aí fazer
escala para se abastecerem de água fresca.
Meia milha mais ao norte, a 6o 34', acha-se o rio Mamanguape (135) Rio
Mamangaa-
que ali desemboca no oceano. Êste curso é muito mais largo em suas
pe.
cabeceiras que na foz; suas margens apresentam espêssa vegetação de
sarças, arbustos e mangueiras. Pouco antes da foz há um recife e, na
própria desembocadura, dois perigosos bancos de areia. Tem êle três
braças de água, na maré baixa.
Cerca de duas pequenas milhas ao norte do rio Mamanguape há
uma baía que os portugueses chamam Baía da Traição e onde, a uma
milha de distância da praia, se tem 11 a 12 braças de água. Cinco
milhas para o norte dessa baía encontra-se o rio Barra Konguon ou
Ronayo, que apenas dá calado para pequenos veleiros. Perto de meia
milha (136) dêsse ponto, há uma grande baía de cêrca de duas milhas
de extensão, chamada Pernambuco, e cinco milhas além, ao norte, o rio
Jan de Sta ou Estau (137).
Os índios da Paraíba habitam cêrca de sete aldeamentos, o maior
dos quais se chama Pindaúna (138), que, em 1634, contava perto de
1.500 habitantes. Os outros poderiam ter, quando muito, 300 almas,
Nenhum dêsses aldeamentos contava mais que cinco ou seis construções
muito compridas, com uma infinidade de portas, de tamanho diminuto.
A produção desta Capitania consiste em: açúcar, pau-brasil, tabaco,
peles, algodão, etc.. A cana de açúcar desenvolve-se aí admiràvelmente,
(134) Tanto Nieuhof (p. 39, 2.a col.) como Herckmans (Cf. XLI, 261) falam de
Terra-Vermelha na Paraíba (Roolant, Roodelant). Trata-se, segundo a descrição
de Herckmans, de uma terra alta, formando como que um monte que se interrompe
do lado do mar, pelo que os nossos navegantes chamam-na de Terra Vermelha e os
Portugueses de os Barreiros de Miriri, porque ali desemboca o rio Mirirí; Em Bar-
laeus (VIII, mapa da Paraíba entre pp. 32-33).
(135) Nieuhof escreve (p. 40, 1.a col., 1." §) : "Mongoape ou Mongoanwapy".
Trata-se do Mamanguape. Aliás, já Herckmans escrevia, também, Mongougoappi ou
Mamanguape. (Cf. XLI, 261).
(136) O tradutor inglês escreveu légua e meia (p. 27, 2.a col., 3.° §). Cf. ed.
hol., p. 40, 1° col., 6.° §.
(137) No mapa 50 de Wieder (XCVII, 2." vol.) existem, realmente, uma Barra
e um rio de nome Jan de Staa; ficam acima da Ponta e Barra de Pernambuco, na
Paraíba.
(138) Herckmans (Cf. XLI, 258-9) se refere às duas aldeias existentes —
Findaúna e Joacaca — no distrito de Gramame. "Pindaúna era o nome do potiguar
que construiu as primeiras casas, onde está agora a aldeia do mesmo nome". Em
língua brasílica significa anzol preto (id., 259). Teodoro Sampaio (LXXXI, 34)
considera bem traduzido por Herckmans o nome indígena. Em Barlaeus, edição de
Naber, (VIII) entre as pp. 24 e 25.
56 J O A N NIEUHOF
nagem à sua irmã. O forte Santo Antônio foi, em sua maior parte,
arrasado, restando apenas um baluarte para defesa da ponta norte do rio.
Decidiu-se também que o forte Restinga fosse cercado por novas pali
çadas e que o convento da Paraíba fôsse fortificado com uma muralha
e outras obras externas. Ficou encarregado do governo da Capitania,
bem como do comando da praça, Elias Herckmans (146).
Potifff on ^ Capitania de Potigí, Potingí ou Poteingí, também conhecida pelos
pelos portugueses pela designação de Rio-Grande devido ao rio dêsse
nome que a banha, era conhecida, entre os holandeses, por Brasil Norte,
em contraposição às capitanias do Sul. Potigí limita-se, ao sul, com a
Paraíba e, ao norte, com a Capitania de Ceará, pôsto que os geógrafos lusos
estendam seus limites até a ilha de Maranhão.
Os franceses, que se mantiveram na posse dessa Capitania até 1597,
foram daí expulsos pelo comandante espanhol Feliciano Coelho de Car-
«
a
o
M
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 09
(147) Não é exato o que escreveu Nieuhof, pois os franceses não estavam de
posse do Rio-Grande-do-Norte. Em 1597 é que 13 navios franceses atacaram a
Paraíba e logo em seguida o Rio-Grande-do-Norte (LXXII, tomo II, p. 50-51).
Feliciano Coelho de Carvalho, que Nieuhof chamou de general espanhol e escreveu
Feliciano Creça de Karvalasho (p. 41, 2.a col.), era capitão-mòr da Paraíba e auxiliou
Manuel de Mascarenhas, capitão-mòr de Pernambuco, a expulsar os franceses do
Rio-Grande-do-Norte. Em abril de 1598 é que Feliciano Coelho de Carvalho pôde,
efetíramente, auxiliar com gente da Paraíba a expulsão dos franceses. Sôbre a
colonização do Rio-Grande-do-Norte, vide "A colonização do Rio Grande do Norte até
a ocupação holandesa", pelo Dr. A. Tavares de Lira, pp. 1-40, Rev. do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, 1914.
(148) Em Vingbooms se escreve Mopabu (XCVII, vol. II, mapa 45),
Gonhoa e Goayra. Verdonck escreve (XCIII, 225): "Cunhaú. Três milhas acima
de Camaratuba, existe um engenho chamado Cunhaú, o qual faz, anualmente, de
6.000 a 7.000 arrobas de açúcar. Ali moram de 60 a 70 homens, com suas famílias";
e logo adiante: (id. p. 226). "Nesta jurisdição do Rio-Grande pode haver, ao todo,
5 ou 6 aldeias de brasilienses, que juntos devem contar 750 a 800 frexeiros, e a prin
cipal destas aldeias é chamada Moppobú e está situada a 7 milhas ao Sul do Rio
Grande e a 4 ou 5 para o interior". No Breve discurso sôbre as quatro capitanias
conquistadas, escreve que ela está dividida em 4 freguesias, a saber: a de Cunhaú,
a de Guajana (Goiana) a de Potingy e... (branco). Souto Maior escreveu
(LXXXVIII, 415 e 416 e 424) : Mipibú, Monpibú, Monpebú. Em Baro, Monpabú
(IX, 201).
(149) Nieuhof escreveu Goraires (p. 42, 1.» col., 1 §). Cf. XXVI, p. 190, 2 vol.
(150) Na edição inglêsa está escrito 50 graus e 42 minutos (p. 29, l-a col.,
*,* §); cf. ed. holandesa (p. 42, l.a col., 7." §).
151) Forte Keulen. Vários tradutores, como os Srs. José Higino e Cláu
dio Brandão, têm grafado Ceulen. Não aceitamos essa grafia, porquanto
60 JOAN NIEUHOF
6
62 JOAN NIETJHOF
separa o rio Ceará. Não é grande seu território, pois abrange apenas
de 10 a 12 milhas.
O rio Ceará. O rio Ceará, que nasce no âmago do continente, desemboca a sete
milhas e meia ao norte da baía de Mucuripe, a 3o e 40' de latitude sul.
De acordo com o relato dos que os viram diversas vezes, os brasilei
ros ou moradores dessa Capitania têm estatura avantajada, traços feios,
cabelos longos e tez escura, exceto entre os olhos e a bôca. Costumam
furar as orelhas que lhes pendem até os ombros; também furam os lá
bios e alguns o nariz e introduzem pedras nesses orifícios, como enfeite.
Alimentam-se de farinha, aves silvestres, peixes e frutas. Bebem, ha
bitualmente, água, mas também fabricam um certo licor, de farinha, e,
ultimamente, começaram a se habituar com a aguardente de cana que,
entretanto, não se lhes permite levar para suas aldeias, a-fim-de não abu
sarem das bebidas alcoólicas. A região produz cana de açúcar, cristal,
algodão, pérolas, sal e vários outros gêneros. Em suas praias também
se encontra âmbar cinzento.
Em 1630, o interior da região era governado por um rei nativo co
nhecido por Algodão, sujeito, até certo ponto, aos portugueses, que lhe
construíram um forte no rio Ceará e dominaram toda a zona litorânea
adjacente. Entretanto, lusos e selvícolas viveram sempre em contínua
discórdia até 1638, época em que o forte e tôda a região foram conquis
tados pelos holandeses da maneira que passamos a relatar.
Os nativos dessa zona solicitaram ao Conde Maurício e ao Conselho
O Ceará
conquistado que tomassem o forte português lá existente a-fim-de libertá-los da
pelos opressão em que viviam. Para tanto ofereciam sua aliança, dando, como
holandeses. penhor de fidelidade, dois jovens de suas melhores famílias. Os batavos
decidiram-se a realizar a expedição. Confiou-se a Joris Garstman o co
mando das tropas destacadas para a operação. Êsse homem era de in
discutível valor militar; entretanto a emprêsa, como mais tarde se veri
ficou, não oferecia grande dificuldade, à vista da cooperação dos nativo»
que, além de nutrirem ódio de morte aos portugueses, estavam bem infor
mados sôbre a força da guarnição e conheciam perfeitamente as condi
ções locais. Garstman abasteceu-se de navios, homens, munições e tudo
o mais necessário para a campanha e rumou para o rio Ceará. Lá che
gando, desembarcou suas forças, e, recebendo o rei Algodão que se apro
ximara com bandeiras brancas, em sinal de paz, incorporou à tropa os 200
nativos que acompanhavam êste último. A força, assim constituída,
marchou diretamente contra o forte que foi capturado após valorosa resis
tência dos portugueses, alguns dos quais perderam a vida. Grande parte
da guarnição, na qual se encontravam militares de valor, caíu prisionei
ra dos holandeses. Foram capturados, também, três canhões e boa quan
tidade de munição. Depois disso, construíram os nossos um pequeno for
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 63
(157) O tradutor inglês escreveu: "cêrca de 30 léguas", (cf. p. 44, 2.a col.,
1.* § da edição holandesa e p. 30, 2.a col., 2.° § da tradução inglêsa).
(158) O tradutor inglês escreveu 1641 (cf. p. 44, 2.a col., 1° § da ed. holan
desa e p. 30, 2.acol., 3." § da trad. inglêsa).
(159) A bibliografia sôbre estes índios é curiosa, embora pouco extensa. Pedro
Potí foi à Holanda em 1625, na esquadra de Hendrikson e lá ficou até 1630. Voltou
em 1631, provàvelmente com Lonck; em 1645, foi eleito regedor dos índios da Pa
64 J O A N NIEUHOF
(162) Olivier van Noord foi o primeiro navegador holandês que fêz a volta
ao mundo. Nasceu em Utrecht. Partiu de Roterdã em 13 de setembro de 1591.
Tentou apoderar-se do Rio, mas não conseguindo o seu intento, continuou viagem pelo
estreito de Magalhães, costeou o Pacífico, seguiu para as Filipinas, as Molucas, vol
tando pelo Cabo da Boa Esperança, e chegou a Roterdã a 26 de agosto de 1601. A
relação foi publicada em holandês sob o título: Beschrijving van de Schipvaerd by
H ollanders Ghedaen onder Olivier van Noord, door de straet van Magallanes eredtej
voorts de gantsche Kloot des aertbodems om. (Amst., 1646). Com 25 estampas. Essa
viagem foi publicada, depois, na coleção de viagens holandesas " Nederlandsche
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 67
Raizen", 2 tomos, MDCCLXXXIV, sob o título: Togt rondom den Aardkloot, door
Olivier van Noord, Geduurende Welken zy verscheiden woeate en oubewoonde eilanden
ountdekken, en, naa eene afweezigheid van drie jaaren, den 26 Augusti 1601, te
Rotterdam weder behouden aanlanden. Te Amsterdam, by Petrus Conradi, Te Har-
lingen. By V. van der Plaats; ocupando da p. 147 à 253. A mesma viagem foi
editada, também, em francês: Description du penible Voyage fait autour de Vuni-
vers ou globe terrestre, par Sr. Olivier Du Nort, d'Utrecht, general de quatre na-
vires... Amsterdam, chez la Veuve de Cornille Nicolas, 1610, 22 pp. e uma fôlha
não numerada.
Spilbergen empreendeu a primeira viagem em 1601, 1602, 1603 e 1604; o relato
da expedição foi publicado em holandês, editado na citada coleção " Nederlandsche
Raizen", tomo III, MDCCLXXXIV, pp. 150-224, sob o título: Eeerste Togt van Joris
Spilbergen, na de Oostindién, in de Jaaren 1601, 1603 en 160U, pp. 150-224.
Mais tarde realizou Spilbergen outra viagem com Jacob le Maire e W. Shouten,
entre os anos de 1614 a 1618; foi também publicada em holandês sob o título: Oost
ende West-Indisehe Spiegel der 2 leste navigatien, ghedaen. . . 161U-18, daer in ver-
ioont wort, in wat gestalt Joris van Spilbergen door de Magallanes de werelt rondom
geseylt heeft.... Met de Australische navigatien, van Jacob Le Maire. Leyden, N.
van Geelkercken, 1619. Foi traduzida para o latim: Speculum Orientalis Occiden-
talisque Indiae navigationum; quarum una Georgij à Spilbergen classis cum potes-
tate praefecti, altera Jacobi Le Maire auspiciis imperioque directa, annis 161U-18;
Lugduni Batavorum, N. à Geelkercken, 1619. Em 1621, foi traduzida para o fran
cês: Miroir Oost en West Indicai, auquel sont descriptes les deux demieres navi-
gations, faictes 161U-18... p. J. Spilbergen. Amst. J. Jansz, 1621. Foi, ainda, pu
blicada na "Nederlandsche Raizen", tomo 8.°, MDCCLXXXV, p. 1-51. O estreito
descoberto entre a Terra do Fogo e uma ilha foi chamado Estreito Le Maire.
Jacques L'Heremite ou Jakob Heremijt foi outro célebre viajante holandês.
Começou como companheiro de viagem de Steven van der Hagen, na segunda expe
dição por êste realizada às índias Orientais em 1603 (LVI, Tomo IV, p. 163, 164,
165) e mais tarde em 1623-1624 empreendeu outra viagem ao redor do mundo. Na
coleção "Nederlandsche Raizen", tomo 8.°, MDCCLXXXV, p. 235-176, encontra-se a
Togt rondom den Aardkloot, door Jakob Heremiet, Gedaan in de jaare 1623 tot
1626, pp. 135-176.
Sôbre essas viagens em geral, a melhor autoridade é P. A. Tiele. Para os dois
melhores trabalhos dêste autor, vide: XC, XCI.
(163) Brouwer publicou: Journael eende historis verheal van de reyce ge-
daen by Oosten de Straet Le Maire, naer de custen van Chili onder het beleyt van
den heer Generael Hendrick Brouwer in de jare 16U8 voor gevallen etc..Amst., Broer
Jansz, 1646, 4.".
Essa obra foi reimpressa em várias coleções, como as de Hulsius, Churchill,
1746, a "Nederlandsche Raizen", etc.. Tiele (XCI, 226-8) trata dessas várias
reimpressões. A obra de Brouwer foi traduzida para o alemão em 1649 (LVII, 50).
A edição de Osborne e Lintot (consulte-se a bibliografia de Nieuhof, onde essa co
leção é indicada) publica, no 1.° vol., a Viagem de Brouwer e a relação de Elias
Herckmans. Thevenot, no II tomo, dá, também, uma tradução dessa viagem.
Sôbre sua expedição existe um folheto (n. 185 de Asher), que noticia a expe
dição do General aos Mares do Sul. Intitula-se: Tydingh uyt Brasil aende Heeren
Bewinthebberen van de West-Indische Compagnie, van wegen den tocht by den Ge
nerael Brouwer nae de Zuyd-Zee gedaen... Amst, by François Lieshout. 1644. A
excelente edição de Barlaeus de 1923 publica dois mapas dos mais importantes para
o estudo das expedições de H. Brouwer. São os seguintes: 1.°) uma reprodução
68 JOAN NIEUHOF
do mapa em mss., representando o mar que rodeia a Ilha dos Estados, navegado pela
primeira vez por Brouwer, em 1643; êsse mapa encontra-se depositado no Arquivo
Geral do Reino, em Haia, e nunca fora reproduzido; 2.°) uma reprodução do ter
reno de operações de Brouwer no Chile, conforme um mapa em mss. por E. Herck-
mans. O original encontra-se na mesma coleção que o anterior (Cf. VIII, p. 5 dos
Aditamentos e Explicações de S. P. L'Honoré Naber).
A expedição de Hendrick Brouwer, antigo governador das índias Orientais, que
trouxera da Holanda a incumbência de conquistar o Chile, partiu do Recife a 15 de
janeiro de 1643, levando a bordo Elias Herckmans, a quem seria entregue o governo
da nova conquista. Hendrick Brouwer faleceu quando, depois de fracassado na
marcha por terra, prosseguia, por mar, a conquista da costa. (Cf. Alfredo de
Carvalho, XX, artigo Um poeta aventureiro, Elias Herckmans, p. 97-108, especial-l
mente, p. 104-5).
Sôbre a biografia de H. Brouwer, v. Moniteur des Indes, 3 p. 294.
(164) Sôbre moléstias, febres, etc., no Brasil Neerlandês, cf- Piso, (LXX,
15-38, cap. I, do livro II).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 69
(165) Na edição holandesa está escrito (p. 46, 2.a col., 1 §): Want de Stroo-
men gaen daer langs de kusten, van Lente tot Zomermaent, geheel Noortwaerts.
Dan kan men de kust van Brasil, van't Noorde na't Zuide, niet bezeilen. Maer
zoo ira de maenden van Lente-maent tot aen Ooghstmaent voorby zijn, dan is de
Noorderstroom van Zomer-tot Ooghstmaent heel gedaen. Daerna gaet de stroom,
met den eersten of aenvang van Herstmaent tot den laesten van Slachtmaent even
zoo snel na de Zuid; dies men dan daer even zoo quaet van't Zuide na't Noorde, ais
van het Noorde na't Zuide kan komen. De unnden voegen zich altijt na den stroom,
en waeien, op oVaenkomste van Maert, Zuid-zuid-oost en Zuid-oost. En gelijk de
stroomen van Zomer-tot Herfstmaent (sic), zoo vertrehken de unnden dan na het
Ooste, en waein tot in Herfstmaent (sic) Oost-znid-oost- Te weten, twee winden,
de Zuid-ooste en Noord-ooste windt, heerschen by beurte langs deze gantsche kust,
en maken en stellen het onderscheit in de regei van de schipvaert. Enquanto que
na edição inglêsa o tradutor escreveu (p. 32, 1.a col. l." §): For it is observable,
that on the coast of Brasil, the stream runs from February till past July, eonstantly
Nortkerly, during which time there is no passing from the North to the South;
but after those Months are past the stream turns, and from the beginning of Sep-
tember to the latter end of November, runs as violently to the South as it did to
the North before,and consequently there is no sailling from the North to the South,
no more than before from the South to the North. The Winds here turn with the
Stream; and at the beginning of March blow South, South-East, and South-East.
And like the Stream changes its Current till September, so the Winds continue in
the East, and blow till that time out of the East South-East. Fo% there are but
two Winds that reign along this Coast, viz. the South-East and North-East Winds;
aecordmg to which Ships must regulate their Course here.
Como se pode verificar, o tradutor inglês, além de não ser fiel, traduziu erra
damente os respectivos meses em holandês.
Onde escrevemos junho grifado estava, no original holandês, agosto, por evi
dente equívoco, parece-nos de Nieuhof; de vez que logo a seguir êle diz que nos
meses de junho até agosto finda a corrente; logo, a corrente nordeste só acompanha
a costa de março a junho, exclusive. Escrevendo junho torna-se compreensível a
variação das correntes.
(166) Na edição inglêsa não se faz referência às duas horas de distancie.
(Cf. edição holandesa, p. 46, 2.a col., últ. § e ed. inglêsa, p. 32, l.a col., 2.° §).
70 JOAN N I E U H O F
derica esteve sob a jurisdição holandesa, mas, depois da revolta dos lusos,
o lugar foi abandonado pelo povo e Henrikus Harmannius passou a ser
o único ministro da região. No Recife, na Cidade Maurícia e nos fortes
circunvizinhos, abrangendo quatrocentos protestantes holandeses, fran
ceses e inglêses, havia três ministros que prègavam em língua holandesa:
Nikolaus Vogelius, Petrus Ongena e Petrus Gribius. Além dêstes havia
outro, de nome Joducus Astetten que fora outrora ministro no Cabo San
to Agostinho e que então servia tanto a bordo de nossa frota como nas
expedições terrestres. Após a partida de Joachim Soler, ficou a igreja
francesa sem ministro e, assim, seus fiéis tinham que se contentar com a
leitura de trechos bíblicos e orações, aos domingos, pela manhã. O mi
nistro inglês era o sr. Samuel Batchelaer que, em 1646, também re
gressava à Inglaterra. Todavia, por essa época já o Brasil Holandês
dispunha de sete ministros nossos compatriotas (167).
O nosso culto religioso, tanto no que respeita à doutrina como à prá
tica, era estritamente regulado pelas prescrições do Sínodo Nacional de
Dordrecht, dispensando-se especial atenção à instrução das crianças, às
(168) Nieuhof escreveu Eiruka e Piso Eiruba. Êsse trecho referente às abe
lhas é literalmente copiado de Piso (LXX, 55-6). Nieuhof escreveu Amanakay-Miri,
Amanakay-veu, Aibu, Mumbuka, Pixuna, Urutuetra, Tubuna, Tuiuba, Eiruku, Eixu,
Kubiara e Kurupireira (p. 47, 2.a col. 7.° §). E' preciso indicar que a numeração
da obra está com grandes falhas, pois após o número 47 vem o número 40 e daí
segue até 50. A p. 47, que citamos, é a primeira que traz êsse número).
Em Soares (LXXXVI, 279) heru. Segundo Batista Caetano (III, 115) eichú é
formado de ei + hub = busca mel, ou pai do mel, abelha mestra, uma espécie de abelha
negra. Segundo ainda 'o mesmo autor, eir, substantivo, significa abelha e dêle pro
vém numerosos compostos, com os quais se designam várias abelhas e diversas qua
lidades de mel. Segundo Teodoro Sampaio (XXV, 124), exú é corr. de eichú ou
eira-chú, abelha negra, que faz um ninho rugoso, áspero ; assim como eira é a abelha, a
mãe do mel. Para Batista Caetano, Tubuna (III, 540). Tubuna é uma espécie de abelha
negra, de tub- abelha mestra e ú- pretas. R. von Ihering regista enchú ou inchú;
a pronúncia caipira ichú e também Mombuca. (Dicionário dos Animais do Brasil,
S. Paulo, 1940, pp. 318 e 520).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 73
O mesmo trecho, que foi tão mal traduzido para o inglês, encontra-se em Piso
(LXX, 56) e dêle se depreende tratar-se de gonorréia e não de emissão de semen-
Quanto à Tanchagem, já Soares (LXXXVI, 185) a havia descrito. Trata-se
de planta medicinal da família das Plantagináceas. Vide nota 411.
(172) A 25 de dezembro de 1641 assomava à barra a esquadra do Almirante
Jol, composta de 18 navios, com 2.000 homens. A 31 de dezembro retirava-se a mes
ma, deixando um governador com 500 homens e 4 navios. Um ano após a con
quista, começaram as guerrilhas, contra os dominadores. A 28 de fevereiro de 1644,
embarcaram os holandeses. O auxílio que os do Grão-Pará prestaram aos restaura
dores do Maranhão foi diminuto. A primeira ajuda foi pràticamente nula, pois an
tes de chegarem ao Maranhão os holandeses receberam socorro de Pernambuco.
João Velho do Vale e Pedro Maciel, pouco depois, desertaram para o Pará,
com o pouco auxílio que haviam trazido. Mais tarde é que chegou o capitão An
tônio de Deus, vindo do Pará, com algumas arrobas de pólvora, murrão e bala em
proporção. (LIII, pp. 308-319). Comparar com a nota 24.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 75
r
76 JOANNIEUHOF
trícios. Com isso sofreu o comércio rude golpe, pois tôda gente re
ceava aventurar-se em negócios nos quais podiam perder todos seus ha
veres numa só noite, e até, possivelmente, pelas mãos de um único homem.
As rendas da Companhia caíram pesadamente e suas despesas subiram,
forçada que foi a manter de vinte a trinta soldados na defesa de cada
plantação ou engenho de importância. Isso também a impedia de organi
zar uma tropa regular com que enfrentar o inimigo. Tal era a situação
do Brasil Holandês no fim do ano de 1640.
A 22 de dezembro do mesmo ano, Adriaen van Bullestrate chegava ao
Recife, procedente de Middelburgh, na qualidade de Alto Comissário, de
modo que, completo o Grande Conselho, julgou-se de bom alvitre apelar
para a esquadra a-fim-de pôr termo àquelas dificuldades. À vista dessa
NaTios ho
resolução enviámos à Baía todos os nossos navios para que o inimigo se landeses en
certificasse de que estávamos em condições iguais às dêle, com isso vi viados à
sando facilitar as negociações que então se processavam, para a cessação Baia.
das queimadas, de ambos os lados. O Conselho dos XIX transmitira
ordens expressas para que alguns de nossos navios fizessem um cruzeiro
ao largo do Rio-de-Janeiro, de onde as naves espanholas costumavam
partir de regresso à Espanha, durante os meses de abril e maio (175).
Por êsse motivo, vários dos nossos maiores navios foram escalados para
a missão de procurar interceptar a frota, estacionando os demais nas
proximidades da Baía.
Enquanto os nossos emissários parlamentavam com o Vice-Rei sôbre
a cessação dos incêndios e pilhagens, certo português de nome Paulo da
Cunha cometeu atrocidades incríveis, assassinando, saqueando e incen
diando plantações, o que fêz com que o Conde Maurício dirigisse a se
guinte carta ao Vice-Rei.
(175) O tradutor inglês escreveu: maio ou junho (p. 35, l.a col., 2.° §). Cf.
«i hol., p. 43, 1.» col., 2.° §).
7
78 JOAN NIETJHOF
(176) O tradutor inglês escreveu fevereiro, (cf. p. 43, 2.a col., 2.° § da ed.
holandesa e p. 36, 2.a col., 1.° §, da edição inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 79
(177) O tradutor inglês escreveu: **no princípio de 1643" (cf. p. 44, 2.a
eol., 4.» § da ed. holandesa e p. 36, 1.» col., 2."§ da trad. inglêsa).
(178) O tradutor inglês escreveu 1641 (cf. p. 44, 2.a col., 7." § da ed. holan
desa e p. 36, 1.a col., últ. § da trad. inglêsa).
80 JOAN NIEUHOP
(179) O tradutor inglês escreveu: "300 peças de oitavo" (cf- p. 45, l.a col.,
8.° § da ed. holandesa e p. 36, 2.a col. 1.° § da trad. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 81
A prova irrefutável de que tais acordos foram, por todos que tinham
algum conhecimento de negócios, considerados de grande interêsse para
a Companhia, temo-la no fato de vários comerciantes terem celebrado
arranjos semelhantes com seus devedores. Para que o assunto fique per
feitamente esclarecido, damos abaixo cópia de um dêsses documentos,
onde claramente se evidencia a circunspeção com que agia o Conselho nos
casos em que estavam em jôgo os interêsses da Companhia, dos senhores
de engenho e de seus devedores.
(181) O tradutor inglês escreveu junho (cf. p. 48, l.a col., 4." § da ed.
holandesa e p. 38, 1.* col., 1.° § da trad. inglêsa).
(182) Nieuhof, pela primeira vez, emprega a palavra December (p. 48, l.a
col. últ. §). Daqui em diante, embora vigorando a denominação particular holan
desa, aparecerá de vez em quando a denominação de origem latina.
84 JOAN NIEUHOF
CÓPIA DE UM ACORDO
(183) A edição inglêsa consigna, aqui, três erros: em primeiro lugar, omite
a parcela referente a Abraham Aboab, de 900 florins; em segundo lugar, há êrro
na parcela de Daniel Cardoso, que é de 210 florins e não de 910 florins, como
escreveu o tradutor inglês; em terceiro lugar, há êrro na soma total, pois o tradutor
inglês escreveu (p. 38, 2.a col., 2.° §): the whole amounting to U0.526 gilders; en
quanto que na edição holandesa está (p. 49, l.a col., 12." §): monterende f zamen
een en veertighd duizent vijf hondert zes en twintigh gulden. Portanto: quarenta
e um mil e quinhentos e vinte e seis (41.526) e não quarenta mil e quinhentos e vinte
e seis (40.526).
Grande número dêsses devedores tinha nomes que podem ser de judeus. Assim,
por exemplo, Benjamin de Pina foi um dos autores dos Escamoth, isto é do
conjunto de preceitos para regularizar a vida da comunidade, espécie de consoli
dação de leis recompiladas e escolhidas entre as que havia na comunidade (LVIII,
53). Sôbre os contratos e as dívidas, é útil a leitura de "A Bolsa do Brasil" e
do "Machadão do Brasil". O primeiro foi traduzido por José Higino e publicado
pela Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, 1883, e mais
tarde no Tomo XXXVII, 1933, da Revista da Sociedade de Geografia do Rio-de-
-Janeiro, dessa vez traduzido pelo Padre Geraldo Pauwels. O segundo foi traduzido
por Souto Maior e publicado na Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico
Pernambucano, 1908, n. 71. A "Bolsa do Brasil" relata a situação financeira do
Brasil, em 1647, e traz cópia de vários contratos feitos pela Companhia com várias
pessoas. E', portanto, complemento indispensável ao estudo das condições finan
ceiras dessa época. Basta dizer que Nieuhof cita os credores de Manuel Fer
nandes Gomes, mas pouco trata de Jorge Homem Pinto, cuja dívida montava a
937.997 florins e 13 stuivers, sendo 700.000 à Companhia das índias Ocidentais.
Era a obrigação mais importante da época, pois êsse era o segundo contrato, já
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 85
/ — Que o débito total deverá ser liquidado dentro dos três próxi
mos anos, o primeiro pagamento devendo ser efetuado em janeiro de
1645. Se acontecer que a quota paga em um ano seja menor que a
de outro, todo o saldo deverá ser liquidado no último ano.
II — Que não se farão descontos nos livros da Companhia, senão
após o pagamento da quota devida para cada período ou época respectiva.
III — Que nem os credores dos que aderiram às cláusulas dêste
acordo, nem os devedores da Companhia serão exonerados de seus débi
tos nos livros desta última, antes, em caso de falta ou atraso do \pagamen-
to, nos respectivos vencimentos, de parte ou de toda a importância devi
da, ficarão eles obrigados e responsáveis, cada um por seu respectivo dé
bito, a menos que dêem outras garantias à Companhia. Os credores que
não tiverem débitos nos livros da Companhia terão liberdade de trans
ferir outros débitos ou de receber sua quota dentro do prazo de dois
anos, seja por meio de verbas ou em escravos, mas nunca em mercado
rias importadas ou em açúcar exportável, desde, entretanto, que as cláu
sulas dêste acordo sejam respeitadas; ou então essas somas ser-lhes-ão
mediatamente levadas a crédito, caso em que lhes serão abonados juros
à razão de 18 por cento, continuando, porém, eles, responsáveis pela exe
cução do contrato.
IV — Os que aderiram às cláusulas dêste acordo, serão obrigados a
empenhar sua pessoa e seus bens pela fiel execução do mesmo, e, princi
palmente, a fornecer um inventário de seus haveres pessoais, confirmado
sob juramento, apresentando, ademais, fiadores aceitos pela Companhia,
com renúncia expressa dos beneficium ordinis, divisionis & executionis,
assim como, a responder pelos pagamentos respectivos, nos devidos ven
cimentos, bem como pela soma global (184).
A ruti Todos os outros contratos foram lavrados pela minuta acima, soman
im Mr
do o total de seus valores 2 . 125 . 807 florins, importância essa devida pelos
cmtratwk lavradores aos senhores de engenho, e, por estes, à Companhia.
A principal, senão a única razão pela qual se fizeram tais acordos
(como, aliás, já ficou dito acima) residia nas exigências e nos vexames
que aos senhores de engenho impunham seus credores, pois, a menos que
os primeiros se sujeitassem a pagar juros à razão de 2 Va e 3 por cento
(190) ao mês, estes procediam à apreensão de seus negros, vazilhames de
cobre e outros utensílios dos engenhos. Assim, ante a contingência de pa
garem quantias exorbitantes e a alternativa de se arruinarem completa
mente, os senhores de engenho passaram a defender suas propriedades
pela força. A situação, portanto, se encaminhava francamente para uma
insurreição geral, que só se conseguiu evitar com a instituição dêsses
contratos. Consequentemente, os senhores de engenho, livres da opressão
(189) Por meio dêsse contrato, procurava a Companhia das índias Ociden
tais realizar o que, juridicamente, se chama compensação, isto é, desde que um
credor venha a dever ao seu devedor uma quantia semelhante à que êste lhe devia,
a obrigação do devedor é extinta em concorrente quantia. (Cf. Correia Teles, Di
gesto Português, ou Tratado dos Direitos e Obrigações, etc. Pernambuco, Tipogra
fia de Santos & Companhia, 1841, p. 134, n. 1164).
No caso de que Manuel Fernandes da Cruz faltasse ao pagamento, os devedores
ficariam obrigados a pagar não só a quantia parcelada, como o total, isto é,
renunciariam ao benefício da divisão. Embora a declaração das parcelas os deso
brigasse do pagamento in solidum, na verdade não estavam desobrigados, desde que
haviam renunciado expressamente ao benefício da divisão. (Cf. Coelho da Rocha,
Instituições de Direito Civil Português, Tomo II, 1852, p. 689).
Por êsse contrato, a Companhia ficava habilitada a prosseguir em suas ações
contra Manuel Fernandes da Cruz e seus fiadores e cedia aos diferentes dezesseis
credores de Manuel Fernandes da Cruz — devedores da Companhia das fndias Oci
dentais — a ação de cobrar daquele o que lhes era devido. Tratava-se, assim, de
uma sub-rogação convencional, chamada cedência ou cessão, a qual se verifica
quando o credor originário transmite o seu direito, crédito ou ação a outro, sem
acordo do devedor. (Cf. Coelho da Rocha, id., I tomo, p. 105). Êsse benefício é,
ainda hoje, consagrado no Código Civil Brasileiro, art. 986. (Vide II, nota 2, p. 856).
(190) O tradutor inglês escreveu: "2 ou 3 por cento" (cf. p. 51, l.a col., 3." §
da ed. holandesa e p. 40, 2.a col. 1.° § da trad. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 89
(191) Na edição inglêsa está 1647 (cf. p. 51, 2* col., 3.° § da ed. holandesa
« p. 40, 2.a col., 1." § da trad. inglêsa).
(192) O tradutor inglês omitiu: "sob pena de nulidade", (cf. p. 52, 1.* col,
§ da ed. holandesa e p. 41, l.a col. da trad. inglêsa).
90 JOAN NIETJHOF
(193) O tradutor inglês escreveu junho (cf. p. 55, l.a col., 1.° § da ed. ho
landesa e p. 42, col. 1." § da trad. inglêsa).
92 JOAN NIETJHOF
segundo a qual ura tal Arent Jansz Van Norden, que durante cerca de
quatorze meses servira, no Brasil, na qualidade de cadete, lhes havia
declarado em Amsterdã que estivera empregado em um engenho per
tencente a João Fernandes Vieira, onde, após haver trabalhado dois
meses, fora convidado por Francisco Berenguer, lavrador, para acom
panhar seu filho Antônio de Andrade Berenguer à Holanda e de lá a
Portugal, a-fim-de servir-lhe de intérprete. Ante as promessas que lhe
foram feitas, Van Norden aceitara o convite e partira com Antônio
de Andrade a bordo do navio de Liefde para a Zelândia e, a seguir, de
Vlissingen no navio S. Hubes para Lisboa (194). Dizia a carta que,
depois de uma convivência de três semanas, Antônio de Andrade Beren
Cartas pro guer revelara a Van Norden ser portador de uma carta assinada por
cedentes do João Fernandes Vieira, Francisco Berenguer, Bernardino Carvalho, João
estrangeiro Bezerra e Luiz Braz Bezerra, pela qual informavam ao Rei de Portugal
fazem au
estarem bem abastecidos de homens, dinheiro e armamento para a
mentar as
suspeitas. restauração do domínio português no Brasil. Acrescentava o Conselho
na citada missiva que o Rei de Portugal dera patente de capitão ao dito
Berenguer por êsse pequeno serviço, e, por isso, recomendava ao Grande
Conselho e ao Conde Maurício que mantivessem êsses indivíduos sob
vigilância, tendo em vista a aversão que os portugueses nutriam contra
os holandeses.
Na reunião do Grande Conselho do Brasil, realizada a 16 de março
(195) de 1643, declarou o Conde Maurício ter sido informado de que
portugueses de destaque planejavam surpreender as nossas guarnições
do interior — Muribeca, Santo-Antônio e outros lugares, como o Ma
ranhão — passando-a a fio de espada, plano êsse que deveria ser pôsto
em execução em um dia santo, quando costumava reunir grande massa
popular. Residiam na Várzea os que tinham maior responsabilidade
nessa conspiração e se propunha atacar de surprêsa também o Recife,
— o que sem dúvida lograriam fazer. De resto, as outras guarnições
do interior seriam facilmente subjugadas, e, assim, sem tropa e sem
comércio, estaria a Companhia impossibilitada de se manter no Brasil
por mais tempo.
Tratou-se, então, de decidir se seria melhor deter imediatamente os
As delibera
ções toma cabeças da rebelião ou protelar essa medida para ocasião mais oportuna,
das. a-fim-de que as prisões não alarmassem o povo. Optou-se pela última
(194) O tradutor inglês omitiu o nome do navio S. Hubes (cf. p- 65, 1.* col.,
1." § da ed. holandesa e p. 42, 1.» col., 2.° § da trad. inglêsa).
(195) O tradutor inglês escreveu fevereiro (cf. p. 56, l.a col., últ. § da ed.
holandesa e p. 42, 1.» col., 1.° § da trad. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 93
alternativa, mesmo por não haver ainda provas seguras sôbre as inten
ções dos indiciados, cujos movimentos, entretanto, passaram a ser aten
tamente observados pelo serviço secreto do Conde Maurício, com tempo
de se tomarem as devidas precauções. Julgou-se, contudo, aconselhável
recolher para o Recife as guarnições do interior e fortificar-se a praça
com novas paliçadas, bem como repararem-se os velhos bastiões de
madeira. Determinou-se, também, que ficasse um navio de prontidão,
do lado do mar, e diversas chalupas fizessem o patrulhamento do rio,
a-fim-de defenderem as ruas do Recife com sua artilharia. Recebe-
ram-se, ainda, várias cartas de particulares, algumas anônimas, diri
gidas ao Conde Maurício e ao Grande Conselho, denunciando os trai
çoeiros projetos dos portugueses. Dentre outras, destacava-se uma
remetida ao Conde Maurício por um senhor de nome Van Els e datada
de Serinhaém, 25 de março de 1643 (196), dizendo estar seguramente
informado de que certo mulato pertencente à Companhia de Agostinho
Cardoso, interrogado por pessoas daquela freguesia sôbre os motivos
de sua presença naquela cidade, dissera ter ido entregar cartas a pessoas
residentes nas proximidades do Recife e acrescentara que dentro em
pouco veriam êles como a cidade seria tomada sem efusão de sangue,
quer holandês, quer português.
Em dezembro de 1643, Don Michiel de Crasto, Don Bastiaen Man- Embaixado
duba de Sonho e Don Antonio Ferdinandes, embaixadores do Conde res do Con
de Sonho, na Angola, chegavam ao Recife a bordo do navio Het Wapen van de de Sonho
recebidos
Dardrecht. Cada um dêles dispunha de apenas um criado, mas trouxeram
em
de presente ao Conde Maurício vários negros com colares de ouro, além audiência.
de grande número de escravos destinados à Companhia.
Recebidos em audiência a 21 de janeiro pelo Conde Maurício (197)
e pelo Grande Conselho, pediram, em nome de seu chefe, que se não
mandassem auxílios ao Rei do Congo de quem receavam um ataque para
breve, não obstante se acharem ambos em guerra contra os portugueses.
0 Conselho respondeu-lhes que escreveria ao diretor da Companhia na
quele país, sr. Nieulant, pedindo que usasse de sua autoridade e mediação,
no sentido de preservar as boas relações e remover qualquer motivo de
discórdia entre o Rei do Congo e seu suserano, pois que ambos eram
confederados dos Estados Gerais. O Conde de Sonho dirigiu, ainda,
uma carta ao Conde Maurício, pedindo licença para comprar uma cadeira,
uma capa, algumas insígnias de guerra, bandeiras e diversas peças de
vestuário.
(196) O tradutor inglês escreveu: "20 de março" (cf. p. 56, 1a col., 1." §
da ed. holandesa e p. 42, 2.a col., últ. § da trad. inglêsa).
(197) O tradutor inglês omitiu a data (cf. p. 56, l.a col., 2.° § da ed.
holandesa e p. 43, 1.a col., 2.° § da trad. inglêsa).
s
94 JOAN NIETJHOF
AO REI
Uma longa capa de veludo negro, com galões de prata;
Um manto debruado com rendas de ouro e prata;
Um paletó de veludo e
Um chapéu de castor com fita prateada.
AO CONDE
Uma cadeira de braços, forrada com veludo vermelho e guarnecida com
franjas douradas;
Uma longa capa de veludo com galões de ouro e prata;
Um manto de rendas de ouro e prata;
Um chapéu de veludo e
Um chapéu de castor com fita de ouro e prata. (198)
(200) O texto desde "Diante do portão" até ... "e Adriaen Bullestrate"
foi traduzido diretamente do holandês, por estar omitido na edição inglêsa. (Cf.
p. 57, 1." col. 3.°, 4.° e 5." da edição holandesa com a p. 43, 2.a col., 2.° § da
edição inglêsa).
(201) Vide anexo n. 1. Ai damos a música e letra da canção popular Wilhel-
mus van Nassau. Foi composta e escrita por Philippe de Marnix, Senhor de Sain-
te-Aldegonde, que nasceu em Bruxelas, em 1538, e faleceu em 1598. Refugiou-se
na Alemanha, quando os protestantes foram perseguidos nos Países-Baixos. Em
1592, voltou novamente para seu país e pelos escritos, por meio da palavra e da
espada, colaborou com o Príncipe de Orange. Era insinuante orador. Escreveu
Tableau des differends de la religion, 1598, considerado, por Bayle, notável, pela
mescla de erudição e lógica. (XXVII, pp. 6 e 7).
(202) O tradutor inglês escreveu 1 de julho de 1642. (Cf. p. 43, 2.a col., 3.° §
da ed. inglêsa e p. 57, 2.a col., 2° § da ed. hol.).
96 JOAN NIEUHOF
CARTA DO GOVERNADOR
Com respeito aos seis pontos das instruções secretas que levaram,
foi o seguinte o relatório apresentado ao Grande Conselho pelos enviados
holandeses :
(204) O tradutor inglês escreveu: "entre 3.000 e 4.000 homens". (Cf. p. 61,
l.a col., 2.° § da ed. holandesa e p. 46, 2.a col., 2." § da trad. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 101
mente o açúcar que, consequentemente, não poderia ser vendido pelo preço
mantido pelos holandeses. Seriam, provavelmente, consideráveis os pre
juizos que o comércio teria que sofrer, tanto em matéria de juros como
no que respeita aos prazos de entrega, à vista da necessidade de se reu
nirem em combóios os navios, quando anteriormente tinham liberdade
de regressar à Metrópole quando lhes aprouvesse.
III — Observaram mais que, a-pesar-de os baianos estarem aguar
dando a chegada daqueles navios, então em viagem inaugural, algumas
naus portuguesas procedentes tanto da costa lusa como das ilhas, lá
aportaram antes das demais.
(207) Sôbre relações entre o Brasil português e Buenos-Aires, cf. Los por.
tugueses en Buenos Ayres, siglo XVII, R. de Lafuente Machain. De La Real Aca-
««mio de la Historia. (Madrid, El ano MCMXXXI, Libraria Cervantes).
,
(208) Nieuhof escreveu (p. 66, 2.a col., 1.° §) : die den vijf en twintighsten
passa to vertroeken zijn. . .
(209) Na tradução inglêsa (p. 49, 2 a col., 2." §) foi omitido o mês de abril.
(Compare-se com a p. 66, 2.a col., 2.° § da edição holandesa).
(210) O tradutor inglês (p. 50, 1.» col., 1.° §) escreveu 10 léguas, quando
»e trata de 12 léguas (ed. holandesa: p. 67, 1.» col., 1." §). Cf. nota 42.
108 .T O A N NIEUHOF
por dois portugueses chegados do Rio São Francisco pelo navio de Jan
Hoen e que desembarcaram junto à Candelária. Inquirido, porém, rigo
rosamente, o capitão do navio, por ordem do Conselho, declarou o mesmo
que a 8 daquele mês, ao deixar o Rio São Francisco, não havia notícia
da anunciada marcha de Camarão.
A 30 de maio de 1645, certo judeu de nome Abraham Mercado (211)
entregava ao Conselho uma carta anônima, sob o pseudônimo de Plus
Ultra. Traduzida do português, na mesma noite, apurou-se, de seu con
teúdo, que três desconhecidos informavam o Conselho que numerosas tro
pas se deslocavam do Rio-Real para a Paraíba com o propósito de ali
se reunir a um grupo de descontentes e atacar de surprêsa os fortes ho
landeses. Aconselhavam ainda os desconhecidos que se efetuasse a
prisão de João Fernandes Vieira, o Chefe da Revolta.
A carta é a seguinte:
Vs. Excias. quem são estes três fiéis vassalos. Se comparecêssemos pes
soalmente diante de Vs. Excias., nada mais poderíamos declarar além do
que já ficou acima dito. Devem Vs. Excias. tomar, sem demora, provi
dências enérgicas contra a tentativa dos rebeldes, sabendo-se que espe
ram pôr em execução os seus planos nas próximas festas. Estamos pas
sando a Vs. Excias. estas informações imediatamente após terem chegado
ao nosso conhecimento. Aconselhamos também a prisão de Francisco
Berenguer, sogro de Vieira, e de Antônio Cavalcanti, e, em resumo, de
todos os principais cabeças de Várzea e de outros lugares.
Assinado
A Verdade
Plus Ultra
Certo corretor chamado Koin, que havia proposto tal acordo em nome
de Vieira, fora incumbido de desempenhar a missão de trazê-lo à capital,
o que certamente conseguiria com facilidade e sem despertar suspeitas.
Entretanto, os feriados de Pentecostes atrasaram por algum tempo essas
providências. Com a mesma diligência empregou o Conselho todos os
meios possíveis para deter outras pessoas da Várzea suspeitas de partici
pação nos planos rebeldes, recorrendo a pretextos vários, pois que, à
força, dificilmente seriam êles apanhados, não só por não pernoitarem
em suas residências ou nos engenhos, como porque durante o dia esta
vam constantemente prevenidos.
A 31 de maio o Vice-Almirante Lichthart e o Tenente Hendrik Haus
propuseram-se entregar João Fernandes Vieira ao Conselho. Esperavam
conseguir agarrá-lo convidando-o para uma pescaria no lago Luiz Braz
Bezerra.
A 9 de junho (212) o Grande Conselho- recebeu aviso, por carta que Ma"> infor
me endereçou o Sr. Koin, Governador do Rio São Francisco, datada de 1.° 0168 ^br» 8
do mesmo mês, de que Camarão havia atravessado aquêle rio à frente ,nsnrreiÇa0.
de uma pequena força. Por êsse motivo o informante pedia auxílio de
homens e munições.
A informação foi confirmada por carta de 27 junho, acrescentan
do, Koin, que até então o inimigo não tinha ainda aparecido ao alcance
do forte.
Tendo, ainda, o Conselho recebido repetidas comunicações de que na
Mata de S. Lourenço e em outros lugares distantes estava-se congregando
considerável força militar procedente da Baía, composta de negros e mu
latos, vários destacamentos foram para lá despachados sob o comando
de pessoas familiarizadas com a região. Entretanto, as notícias enviadas
pelos chefes dêsses expedicionários foram unânimes em afirmar que não
(212) O tradutor inglês escreveu 3 de julho (p. 52, l.a col., 1.° §). Comparar
com a edição holandesa (p. 69, 2.a col., 4.° §).
112 JOAN NIEUHOF
(213) A tradução inglêsa não é fiel (p. 52, 2.a col., 1." §), razão porque o
trecho "Na noite seguinte..." até "... e se retiravam" foi traduzido diretamente
do holandês. Cf. p. 70, 1.» col. 2.° § da edição holandesa.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 113
(214) Nieuhof escreveu (p. 71, l a col., 1.° §) : Pater Lourenço cTAlkunha. Pa-
rece-nos tratar-se de Lourenço de Albuquerque. (Cf. Varnhagen, (LXXIII, p. 269).
Nieuhof escreve logo depois (p. 74, l.a col., 2.° §) Akunha.
114 JO AN NIEUHOF
teve ordem para a êles se reunir, com a maior brevidade possível, levan
do, sob seu comando, 300 nativos.
No mesmo dia depois de examinadas as fortificações de Maurí
cia (215), baixaram-se ordens no sentido de repará-las. Tendo corrido
notícias de que João Fernandes Vieira fora visto em seu engenho naquela
mesma noite, o Conselho tentou prendê-lo, por todos os meios ao seu al
cance, sem entretanto o conseguir. Por outro lado ficou perfeitamente
evidenciado, (pelo depoimento de um de seus empregados do Engenho
São João, feito perante o escrivão Indijk, no Recife, a 21 de janeiro de
1647, que desde seis meses antes de rebentar essa insurreição, João Fer
nandes Vieira nenhuma noite dormira em sua casa e que, quando aconte
cia de lá estar durante o dia, permanecia a maior parte do tempo num
torreão, de onde podia descortinar uma grande região nas redondezas.
Se tinha necessidade de descer, punha alguém de atalaia com ordem de
avisá-lo imediatamente da aproximação de duas ou mais pessoas. Se
avistassem um holandês, Vieira se retirava imediatamente para as matas
vizinhas. Tinha também colocado vários negros a certa distância da
casa, incumbidos de avisá-lo da aproximação de qualquer pessoa desco
nhecida.
A 13 do mesmo mês Sebastião Carvalho e Antônio de Bulhões foram
feitos prisioneiros e levados para o Recife. Os outros que se presumiam
culpados, conseguiram escapar. Tendo sido inquirido naquela mesma
noite pelo Assessor, Sr. Walbeek, a respeito da conspiração, Sebastião
Carvalho fêz o seguinte depoimento (216) :
SUA CONFISSÃO
Que era ele um dos três que ainda poucos dias antes denunciara ao
Conselho, por carta, a Conspiração que se processava em Várzea, da qual
o cabeça era João Fernandes Vieira, que, tanto quanto os seus cúmplices
portugueses, confiava nos auxílios prometidos pela Baía, com cuja de
núncia tinha pensado poder abortá-la. Que todo o plano da conspiração
lhe tinha sido revelado por meio de um documento pelo qual parecia pre-
tender-se formar uma espécie de associação, — o qual lhe fora entregue
por um empregado do dito Vieira juntamente com uma carta em que lhe
pedia que o subscrevesse. Que apenas duas pessoas, João Fernandes
(217) O tradutor inglês cometeu grave êrro, ao escrever 1600 soldados, quando
Nieuhof escrevera 1500 florins. (Comparar p. 74, 1.» col. 2.° § da ed. holandesa,
com a p. 54, 2.a col. 1." § da ed. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 117
(218) Nieuhof escreveu Rondelas (p. 74, l.a col., 3." §) e a seguir Rodelas
(p. 75, L» col.). Pela carta régia de 14 de maio de 1633, Camarão foi feito capi-
tão-mor, não só dos Petiguaras, de cuja nação era principal, mas de todos os Índios
do Brasil (Cf. LXXII, tomo II, p. 309 e nota 91 de Varnhagen e Rodolfo Garcia).
Os índios Rodelas eram os do Rio São Francisco (LXXII, tomo III, p. 22, p. 279).
Segundo Rafael de Jesus (XLIV, p. 477), o maioral dos tapuias do Rio São Fran
cisco chamava-se Rodela.
(219) Nieuhof escreveu Tapekura (p. 74, l.a col., 3.° §) e Tapikura (p. 75, 1.a
coL). Em Vingbooms, Tapicura (XCVII, 2.° vol., mapa 48, ref. a Pernambuco). Em
Calado, Tapucura (XVII, p. 199). Em Barlaeus, Tapecurú (VIII, mapa entre as
pp. 24-25). Em Varnhagen (LXXII, vol. III, p. 16 e LXXIII, p. 272), Tapacurá.
Em Ayres de Cazal (XX, 148), Tapacorá.
(220) Nieuhof escreveu Sengada (p. 74, l.a col., últ. § e p. 125, 2.a col.). Pare-
ce-nos que se trata do Rio das Jangadas. No Breve Discurso (XV, p. 141) se diz:
"Rio das Jangadas a 2 e meia léguas do Recife". Em Vingbooms (XCVII, 2.° vol.,
mapa 48). Em Barlaeus, (VII, p. 127) o rio Jangada é considerado como um dos
rios mais importantes de Pernambuco. Ayres de Cazal (XXVI, p. 149) menciona
apenas a Barra das Jangadas, que fica 2 léguas ao norte do Cabo de Santo Agosti
nho e onde desemboca o Rio Jaboatão. Verdonck fala, também, do rio Jangada,
junto a N. S. da Candelária, umas 3 milhas ao norte do Cabo (XCIII, p. 219).
118 JOAN NIEUHOF
* * *
(225) O tradutor inglês escreveu (p. 56, 2.a col., 4.° §) : 19 de junho. Vide p.
76, 2.a col. 6.° § da ed. holandesa.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 121
(226) Tabatinga Amador d'Arrauio (p. 77, l.a col., 1." §). Trata-se de um
engano de Nieuhof, pois Amador de Araújo era capitão-mor e Tabatinga um riacho
afluente do Ipojuca, ou o engenho em Ipojuca que, em 1637, foi comprado por Ama
dor de Araújo, por 40.000 florins, vencendo a última prestação a 11 de janeiro de
1639. O mesmo engenho pertencera a Cosme Dias da Fonseca e fora confiscado
pelo govêrno holandês. (Cf. Relação dos Engenhos confiscados e que foram vendi
dos em 1637, in Rev. do Inst. Geog. e Arqueol. Pernambucano, p. 197, 1887-90, vol.
6). Amador de Araújo era, também, proprietário, em Ipojuca, do engenho Santa
Luzia, igualmente confiscado pelo govêrno holandês e mais tarde adquirido por êle.
(XV, p. 146). Rio-Branco (LXXV, p. 366) afirma que o capitão Jacob Flemming
não estava em Ipojuca quando se verificou o primeiro encontro de armas. Rodolfo
Garcia (LXXII, p. 14, nota 19) aceitou a correção de Rio-Branco a Varnhagen.
Nieuhof, porém, confirma êste último. Em Barlaeus (VIII, mapa de Pernambuco,
Pars Borealis, entre pp. 24-25), Tabatinga (em Ipojuca).
(227) O tradutor inglês escreveu (p. 57, l.a col., 2." §), 20 de junho; compa-
re-se com a p. 71, l.a col., 2.° § da ed. holandesa-
(228) Vide nota 129. Nieuhof ora escreve Joan ora John Blaer (Cf. ed. hol.
P. 77: 2." §).
122 JOAN NIEUHOF
(230) Varnhagem escreve Fernão do Valle (LXXII, p. 12, 3.° tomo e nota 15 de
Rodolfo Garcia). Era proprietário do engenho São Bartolomeu, situado na freguesia
de Muribeca (Breve Discurso, XV, p. 149). Foi representante de Muribeca na
Asstmbléia Geral reunida em Maurícia a 27 de agosto de 1640. Aí se escreve Fernão
do Valle. (Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., tomo V, 1886, Atas da Assembléia
Geral. p. 174).
(231) O tradutor inglês escreveu p. 58, 1.a col.) 10 dias. Vide a ed. holandesa
(p. 78, 2.a col., 2.° §).
124 JOAN NIETJHOF
tre o Recife e as guarnições do Sul. Foi tão bem sucedida essa expedição
que os rebeldes foram batidos e o Tenente-Coronel Haus passou a domi
nar tanto a cidade como o Convento, de onde soltou 40 prisioneiros que
lá estavam sob ferros e forçou os rebeldes a evacuarem tôdas as passa
gens das circunvizinhanças. Entretanto, informado da aproximação de
Camarão com sua força, pediu ao Conselho que lhe enviasse novos refor
ços, mas, estando já bastante reduzidas as guarnições do Recife, não seria
possível àquele atender o pedido do Coronel antes que chegassem recursos
Jejum. da Metrópole.
A 21 de junho o Grande Conselho resolveu ordenar um jejum geral,
no Brasil holandês, a ser observado no próximo dia 28, a-fim-de render
graças ao Altíssimo pela grande mercê manifestada em diversas ocasiões,
especialmente por ter descoberto em tempo as manobras traiçoeiras do
inimigo que o pretendeu surpreender justamente quando menos esparava.
portugueses8 ^ rebelião tinha sido planejada pelos portugueses da seguinte forma:
rebelados tencionavam êles, durante os feriados de Pentecostes, celebrar com rui
dosos festejos e cavalhadas e realizar diversos casamentos marcados para
essa ocasião, para os quais pretendiam convidar as figuras de maior des
taque do Brasil holandês, entre civis e militares, as quais, depois de toca
das pelo vinho, seriam assassinadas como nas Noites Sicilianas ou no fa
moso Casamento Parisiense (232). Decapitados os chefes do Brasil ho
landês, os demais constituiriam prêsas fáceis, quando atacados em diver
sos pontos simultaneamente. Não tendo, porém, conseguido realizar seu
plano sanguinário naquele dia, transferiram-no para o de São João Ba
tista como sendo o mais propício, pois, nessa ocasião, os navios deviam es
tar fora do pôrto do Recife. Os portugueses sabiam que, não tendo rece
bido novos fornecimentos da Holanda, desde há muito tempo, principal
mente de pólvora, eram escassas as nossas reservas. Portanto, se se apos-
10
126 JOAN NIETJHOF
(233) Nieuhof escreveu Supapema (p. 80, 2. col., últ. §). Em Vingbooms,
Supupema (XCVII, mapa 48, 2.° v.). Supupema escreve-se na "Continuação' da
relação dos engenhos vendidos em 1637", declarando-se que fica em São Bento, que
seu proprietário é Jacob de Siqueira (sic) e pertenceu a Alveiro (sic) Barbalho, sen
do o prêço 24.000 florins, vencendo a última prestação a 1.° de janeiro de 1640.
Jacob Desatne, Jacob Vermeulen, Mattheus van den Broeck e 12 soldados, en
viados para Sonto-Antônio, foram presos por Fernandes Vieira e escoltados por sol
dados da Baía. Jacob Dessine permaneceu em Santo-Antônio e enviou uma carta
a Bullestrate, na qual acusava K. van der Ley e Hek de terem conhecimento da
revolta. Bullestrate, que era compadre de van der Ley, mostrou-lhe a carta e
êste, por sua vez, mostrou-a ao Capitão português Pedro Marinho Falcão, que o
prendera. (Cf. Mattheus van den Broeck- XVI, pp. 14 e 22).
(234) Trata-se do Capitão Antônio Gomes Taborda. (LXXII, 3." tomo, p. 7-19).
I
(235) Nieuhof escreveu Digos Lopes Leyte (p. 81, l.a col., últ. §). Diogo
Leite foi um dos que assinaram a Carta dos Aflitos Moradores de Pernam
buco (Cf. Rev. Inst. Arqueol e Geog. Pern., n. 34, 1887, vol. 6, p. 120-22).
128 JOAN NIEUHOF
(236) João Lourenço Francês (A Bôlsa do Brasil, n. 47) "deve tanto a par
ticulares, como a Companhia, 84.509 florins. O contratador tem bastante recur
sos, seus fiadores são três, sendo um advogado que não possue nada e os outros
dois pobretões. Deu 13.000 florins ao Sr. Kodde e 3.000 a outros."
(237) O engenho de Gonçalo Novo de Lira era o Araripe de Cima, situado no
distrito de Iguarassú. (Cf. Breve Discurso, XVI, p. 152).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 129
(238) Francko Godinho escreve Nieuhof (p. 82, 2.a col., 4.° §). A 25 de
junho é que foi aprisionado Francisco Godinho, lavrador de Amador de Araújo.
"Como êsse individuo mandasse levantar uma forca em Ipojuca, para aquêles que
se não quisessem revoltar, o senhor Tenente-Coronel (Haus) o mandou pendurar
na sua própria máquina". (XVI, p. 4). Calado (XVII, p. 189, l.a col.) refere-se
ao fato, dizendo que H. Haus estava com seus soldados em Ipojuca, onde ma
taram a Francisco Godinho e ao Ermitão de Santa Luísa pela culpa de haver
tangido o sino à missa, achacando-lhe que dava rebate à nossa gente. Moreau
(LIX, 65) relata a chegada de Haus a Tabatinga e a atitude assumida por Go
dinho, que procurava impedir que êle avançasse, dizendo-lhe que os portugueses
eram em maior número; retirou-se, então, para Ipojuca, levando consigo Godinho.
Quando o viram aproximar-se, rebateram o sino, que era o sinal de chamada às
armas; Godinho (Godigno em Moreau) foi, então, estrangulado.
(239) O tradutor escreveu (p. 61, l.a col., 2.° §) 500 pessoas. Comparar com
a ed. hoiandesa, p. 83, 1.a col., 2.° §.
130 JOAN NIETJHOF
(240) O tradutor inglês (p. 61, 2.a col., 3-° §) omitiu a data e a referência
aos 100 brasileiros comandados por Pedro Potí. Vide p. 82, 2.a col. últ. § da ed.
holandesa.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 131
(241) Mongioppe escreve Nieuhof (p. 84, 2.a col., 1.° §) e Magioppe à p. 37,
132 J O A X KIEUHOF
(242) O tradutor ingJes (p. 62, 2.a col.), além de omitir a data, resumiu o
trecho; o mesmo foi retificado, segundo o texto holandês (p. 86, l.a col., 1.° §).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL J33 '
* * *
Vossa Excelência sabe com que rigor tem sido observada pelos ha
bitantes do Brasil holandês, em tôdas as suas minúcias, a trégua cele
brada entre Sua Majestade, o Rei de Portugal, e os poderosos Estados
Gerais das Províncias Unidas, mesmo segundo a opinião de baianos e ci
dadãos de outras procedências, que ultimamente têm passado pelas nossas
capitanias. Por outro lado jamais recebemos a menor reclamação nem
de S. Majestade o Rei de Portugal, nem de Vossa Excelência, e, portanto,
isso nos leva a crer que Vossa Excelência jamais consentiria em que sii-
ditos seus praticassem qualquer ato contrário a essa trégua. Entretanto,
alguns de nossos súditos portugueses, pondo de parte sua lealdade para
com êste Estado, tomaram armas e voltaram-se contra o poder consti
tuido, logo que Camarão e Henrique Dias, à frente de alguns brasileiros,
negros e uns tantos portugueses, entraram em nosso território, em fla
grante desrespeito às leis internacionais, sem permissão e nem sequer o
mais leve estímulo de nossa parte, e, reúnindo-se aos rebeldes, abriram,
hostilidades contra os nossos súditos, não como soldados, mas como la-
(243) Esta carta foi publicada na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Perri., 1887,
n. 34, vol. 6, p. 109-111. Não se encontra nessa cópia da citada revista o nome de
Hendrik de Moucheron.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 137
drões e assaltantes. Não podemos, porém, nos persuadir de que tais for
ças tivessem assim agido por ordem ou com o consentimento de Sua Ma
jestade, o Rei de Portugal, nem de Vossa Excelência, contra os seus con
federados.
Com a graça de Deus não nos faltam recursos para reconduzir à
razão os nossos súditos revoltados, nem para desbaratar as tropas estran
geiras. Todavia, para mostrar a todo o mundo como estamos prontos a
cumprir as reiteradas ordens de nossos superiores no sentido de manter
inalterada a trégua firmada entre eles e Sua Majestade, bem como para
evitar más interpretações nas cortes estrangeiras, com relação ao caso
e dar a Sua Majestade, p Rei de Portugal, e a Vossa Excelência oportu
nidade de convencer o mundo de que não haveis consentido nem instigado
esta conspiração, nós, em nome dos Poderosos Estados Gerais, de Sua
Alteza o Príncipe de Orange e dos Governadores da Companhia das ín
dias Ocidentais, enviámos os Srs. Balthazar Van der Voorde, Conselheiro
da Corte de Justiça, e Diederik Van Hoogstraeten, Comandante em Chefe
do Cabo Santo Agostinho, como deputados nossos junto a Vossa Excelên
cia, com plenos poderes para expor a Vossa Excelência estes pontos e pe
dir que determine imediatamente o regresso, dentro de determinado espa
ço de tempo, de Camarão, Henrique Dias e outros chefes, por meio de pro
clamação ou qualquer outro que Vossa Excelência julgue mais seguro ou
expedito, punindo-os de conformidade com as suas culpas. Caso se recu
sarem atender às ordens de V. Excelência, sejam eles declarados inimigos
de Sua Majestade, pois sem isso não podemos imaginar como seja possí
vel dar as devidas satisfações aos Estados Gerais, ao Príncipe de Orange
e à Companhia das índias Ocidentais. É o que esperamos obter de Vossa
Excelência.
Subscritos,
De vossa Excelência,
Amigos bem intencionados.
Hendrik Hamel,
A. Van Bullestrate,
P. J. Bas,
J. Van Walbeek e
Hendrik de Moucheron.
Do Recife, 7 de julho de 1645. (244)
(244) No texto holandês (p. 90, 1.» col.) está 1640, mas na errata o ano está
corrigido para 1645 (p. 240).
138 JOAN NIEIJHOF
(245) Esta carta foi publicada na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Fern., 1887,
n.° 34, p. 111-116.
II
142 JOAN NIEUHOF
(247) A edição inglêsa (p. 68, l.a col., 1." §, linha 49) consigna dois soldados;
o texto holandês (p. 94, 1.» col. linha 38) confere com a cópia publicada na Rev. ao
Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887-1890, 6.° vol., n." 34, p. 113.
144 JOAN NIEUHOF
(248) No texto holandês (p. 95, 1.* col., l.° §) está escrito: vau vier duiseni
Tapuyas, isto é, 4.000 Tapuias. Na cópia publicada na Rev. do Inst. Arqueol. e
Geog. Pern., 1887-1890, n.° 34, vol. 6, p. 115, está escrito 40 tapuias. Só a consult°
ao original é que poderia certificar-nos da cifra exata, o que, infelizmente, não po
demos fazer.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 145
tomar cuidado com a sua pessoa, pôr u salvo a si, sua senhora, filhos e
bens. Mas se quiser prestar um serviço ao Rei, meu Senhor, e ao Gover
nador, será largamente recompensado e não lhe faltarão nem dinheiro,
nem terras, nem engenhos. Terá um hábito de Cristo e dar-se-lhe-ão duas
ou três comendas. Por isso, nada lhe faltará, mas terá tudo quanto de
sejar (250).
Um tanto embaraçado com essa conversa Hoogstraeten disse-lhe que
estava disposto a prestar qualquer serviço ao seu alcance, tanto ao Rei
como ao Governador. Entretanto, não podia imaginar que espécie de in
cumbência lhe seria dada. Ao que Souza respondeu : Estou certo de que
o sr. poderá prestar muito bons serviços ao Rei. Então, retrucou Hoo
gstraeten, diga-me de que maneira. — Pois não, respondeu Souza, o sr.
é o governador do Cabo Santo Agostinho, pois não? Sim, confirmou
Hoogstraeten. Então, continuou Souza, o que se quer do sr. é que nos
entregue o dito forte com todas as suas obras, a-fim-de que possamos de
sembarcar nossos homens pelas vizinhanças. Se o sr. prometer fazê-lo,
terá larga recompensa e será feito Comandante de nossas tropas da mi
lícia. A isso respondeu o Sr. Hoogstraeten: transações dessa natureza
são incompatíveis com o meu juramento e a minha dignidade. Interrom
pida a conversa pela entrada de outra pessoa na galeria, João de Souza e
Paulo da Cunha seguiram por outro caminho. O Sr. Hoogstraeten di-
rigiu-se então ao sr. Springapple com um ar aborrecido : O que imaginam
esses cães? Acaso têm-me eles por traidor? Ia prosseguir quando
Cunha e Souza, voltando à galeria levaram-no para um lado e assegura-
ram-lhe de que ele poderia estar certo de que todas as promessas seriam
cumpridas e que, se quisesse dinheiro, tê-lo-ia imediatamente. Quanto
ao resto, conduzí-lo-iam só, ao Governador, afim-de ouvir de sua própria
boca a confirmação de quanto lhes haviam dito. O Sr. Hoogstraeten res
pondeu: O que o sr. deseja não está em minhas forças prometer; jamais
agiria dessa forma, mesmo porque tenho promessas de ser promovido a
sargento-mor logo após o meu regresso, e, então, naturalmente ser-me-á
dado outro lugar. Durante essa conversa, entrou na galeria o Sr. Baltha-
zar Van der Voorde em companhia do Sr. André Vidal que o havia entre
tido enquanto os outros falavam com o capitão. Aproveitando-se da opor
tunidade o Sr. Van der Voorde, já que caminhavam lado a lado, murmurou
(250) Na edição inglêsa foram suprimidas certas passagens dêsse trecho. Por
essa razão, traduzimo-lo diretamente do holandês. Vide p. 96, l.a col. 4.° § da ed.
holandesa e p. 69, 2.a col. da inglêsa. Cf. com a tradução do Frei Zacarias van der
Hoeven, p. 207, vol. 146, Tomo 92 (1922), 1926, da Rev. do Inst. Hist. Geog. Brás.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 147
(251) Nieuhof escreveu: wel duitsche verstond (p. 97, l-a col., 1.° §). O tra
dutor inglês escreveu: "compreendia bem holandês", (p. 70, l.a col.): the last of
whieh understood Dutch. O Revmo. Frei Zacarias van der Hoeven (Rev. Inst. Geog.
Bras., 1922, vol. 146, p. 20) traduziu: "entendia bem o alemão". Hoje Duitsche, em
holandês, significa alemão, mas já significouo antigo holandês e o flamengo. Na
letra do Wilhelmus van Nassau, que vem em anexo, encontra-se: WUhelmus van
Nassau we Benick van Dnytschen Bloet. . . Cf. anexo I.
(252) Nieuhof escreveu (p. 97, l.a col.. 3." §): Zy zullen een gladde ael by de
siaert hebben. O Revmo. Frei Zacarias van der Hoeven (ob. cit., p. 208) traduziu:
'Terão prêsa pelo rabo uma enguia lúbrica"- O tradutor inglês verteu livremente:
"They have catch'd a Mackrel, for I intend to Act the Hviaocrite to the Life", (p. 70,
1» col. l." §). Evidentemente, a tradução foi bastante livre.
148 JOAN NIEUHOF
(253) O tradutor inglês não foi fiel, ao escrever (p. 70, 2.a col., 1° §) : Salva
dor de Sá e Benevides, who were expected with four Galleons from Rio de Janeiro,
beaides some other ships; and that 2500 Men were designed for this Expedition,
besides those already in Arma in Pernambuko, who were to be sent from Bahia,
and to be landed on the Cape of St. Austin. Comparar com o texto português e o
holandês (p. 97, 2.a col. 1.° §).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 149
Os holande no Rio-Grande. Para êsse fim o chefe indígena já havia reunido grande
ses discu força próximo a Cunhaú, principalmente depois que os portugueses co
tem sobre o meteram tôda sorte de barbaridades contra os holandeses e convocaram
aproveita
mento dos os selvagens denominados Rodelas, da Baía. Entretanto, levando em
tapuias. consideração as devastações que forçosamente acarretaria a marcha de
um povo bárbaro, através do país, julgaram de bom alvitre nada decidir
sôbre êsse ponto, até que se comunicassem com o Tenente-Coronel Haus,
a quem despacharam imediatamente uma carta sôbre o assunto.
A 7 de julho o Tenente-Coronel avisou o Conselho de que pretendia
deixar Muribeca com suas forças, naquele mesmo dia, e, depois de se jun
tar ao Capitão Johan Blaer, atacar o inimigo em São Lourenço. Entre
tanto, por outra carta datada de 16, de autoria do Capitão Blaer, o Con
selho soube que os rebeldes continuavam muito fortes em São Lourenço e
esperavam reforços da Mata, onde haviam obrigado o povo a tomar armas
ao lado dêles. O Capitão pedia reforço de cincoenta homens para desa
lojá-los de lá. O Conselho resolveu, então, despachar correios tanto a
Haus e Blaer como a Haus, ordenando-lhes que reunissem as suas tropas e ata
Blaer têm cassem os rebeldes próximo de São Lourenço, pois do sucesso dessa ope
ordem de se
ração dependia, em grande parte, a conservação do Brasil holandês.
reunirem.
No dia 7 do mesmo mês, o Conselho recebeu carta do Tenente Flem-
ming, datada de Ipojuca, na qual comunicava ter recebido informações
no sentido de que Camarão estava marchando contra êle e que duas com
panhias já haviam atingido o Engenho Pindoba (256). Teve então or
dem para, caso achasse serem suficientes as provisões de que dispunha
laeus, edição latina, 1647, Iandovius, Iandovio (p. 257) ; edição alemã, 1659, Johann
de Wy (p. 693) ; edição holandesa (VIII, p. 240 e 332 respectivamente Joan de Wy
e Jan de Wy; edição brasileira, Janduí ou João Wy (?). (VII, p. 260-261);
Marcgrave (LXX, p. 269), Iandui; Moreau (LIX, 138, 139, 156) Jean Dary; Baro
(IX, 244, 246 e outras pp.) Iandhuy e não como afirmou Rodolfo Garcia (XLI, nota
89, p. 309, vol. II), Jean Dory. Wãtjen escreveu sempre Jandubi (em várias págs.).
Alfredo de Carvalho regista alguma das grafias, sem citar as fontes (XX, p. 659,
nota 3).
Trata-se de nome tupi de chefe tapuia das tribus Parairiús ou Ostchucaianas.
Pertencia ao denominado grupo Cariri. Aliás, quase todos os objetos dos Tapuias
eram designados com o nome da língua geral (XXXIV, p. 42). Significa, segundo
alguns escritores, ema pequena. Aliás, Batista Caetano (III, p. 570) regista no
Guarani yandú = nandú, s. aranha; s. avestruz; yandi = nandu, s. aranha pequena,
aranha que faz teias nas casas. Essa tribu dirigida por Janduí usava, realmente,
peles de ema como ornamento.
(256) Pindora escreveu Nieuhof (p. 99, l.a col., 3.» §). O engenho Pindoba
estava situado na freguesia de Ipojuca, e pertencia a Cosme Dias, que se exilou:
confiscado pela administração holandesa, o engenho Pindoba foi vendido a Mateus
da Costa. Era movido por meio de bois. (XV, p. 146). Em Vingbooms, encontra-se
o rio e o engenho de Pindoba (XCVII, vol. II, mapa 45). Em Barlaeus, (VIII, mapa
de Pernambuco, entre as pp. 24-25), Pindoba. Em Van den Broeck, Pindova (XVI,
p. 6). Segundo Mário Melo, Pindoba, afluente do Ipojuca (LVII, p. 56).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 151
(257) Nieuhof escreveu Ajama e Jegoaribi (p. 99, l.a col., últ. §). Em Ving-
booms (XCVII, vol. II, mapa 47, Itamaracá), são registados o rio Angama e os
engenhos Aujama e Aujama de Baixo, e o rio e engenho Jeguaribi. Alfredo de
Carvalho regista Jaguaribe, como corr. de yaguár — y — pe, no rio da onça (p. 49>.
E' um braço do rio Maria Farinha, na ilha de Itamaracá. No Breve Discurso (XV,
p. 141), segue-se um légua ao norte do Tapado, o Rio Doce. Duas léguas ao norte
deste rio, o rio Ajama e uma légua adiante o Iguarassú.
152 JOAN NIEUHOF
cultivasse as boas relações com os Tapuias, tendo, para tanto, enviado pre
sentes a Janduí, chefe dos selvagens. O Conselho aprovou igual
mente o ato do Hoek desarmando os portugueses. Na mesma data o Pa
dre Manuel, Luiz Braz, Manuel Fernandes de Sá, Gaspar de Mendonça
Furtado e Jerônimo de Rocha, todos portugueses e habitantes do Brasil
Holandês, deram entrada a uma petição em que, alegando haver termi
nado o prazo de seis dias estipulados na última Proclamação para que as
mulheres e filhos dos portugueses revoltados deixassem o país, solicita
vam ao Conselho lhes fosse permitido ficar em suas casas pelo menos
até que melhorassem um pouco os caminhos, tornados intransitáveis pelo
transbordamento dos rios. Todavia, considerando que os rebeldes por
tugueses forçaram o povo, por meio de ameaças e de outras maneiras vio
lentas, a tomar armas contra o Govêrno, a petição foi indeferida.
PROCLAMAÇÃO
r
156 JOAN NIEUHOF
(260) O tradutor inglês não foi fiel ao texto holandês, pois omitiu que o Sr. Johan
Hek houvesse enviado Ley. Confronte-se a p. 103, 1.» col., 3.° § da ed. holandesa, com a
p. 74, 2.° col., 2." § da ed. inglêsa.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 157
12
158 JOAN NIEUHOF
víncia de Pernambuco, 1844-48, vol. III, p. 80; e também por José de Vasconcelos, em
"Datas célebres e fatos notáveis da Historia do Brasil", Recife, 1869.
Quem dirigiu a matança foi Jacob Rabbi (vide nota 259).
O texto inglês suprimiu a data do massacre, dando somente a data do recebimento
da carta (cf. p. 104, 1.» col., 3.° § da ed. holandesa, com a p. 75, l.» col., 4.° § da ed.
inglêsa).
(262) Baltasar Gonsalves Moreno era proprietário do engenho Nossa Senhora
da Apresentação, que era movido a água (XV, p. 148). Em Castrioto Lusitano
(XLIV, p. 290) se diz que demorava a légua e meia do Monte das Tabocas. (Cf. p.
165 dêste livro e p. 16, III de Varnhagen).
(263) O Barão de Rio-Branco (LXXV, p. 430), criticando ter sido Varnhagen
infiel na transcrição de um texto de Moreau, decisivo para a reconstituição do local
da luta, que se iniciou a 31 de julho e findou com a vitória dos brasileiros a 3 de
agosto de 1645, incorreu, por sua vez, em lapso idêntico, pois a sua citação de Nieuhof
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 159
A primeiro de julho, Gonçalo Cabral de Caldas, que, instigado por Dois portu
João Fernandes Vieira, havia assumido a chefia dos rebeldes de Goiana, gueses con
foi condenado à morte pelo tribunal de Justiça. Idêntico destino aguar denados à
morte.
dava Tomaz Pais, morador de Tijipió, que tinha tentado congregar tro
pas para João Fernandes Vieira (264). No mesmo dia o Grande Con-
na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., n.° 34, 1887, p. 82-84, se encontram as mes
mas informações, o que faz supor que Nieuhof haja escrito baseado nesta carta, que
foi apreendida pelo Almirante Lichthart, quando derrotou J. Serrão de Paiva. Na
mesma revista (p. 74-98), encontram-se, também, tôdas as outras cartas apreendidas.
A carta a que acima nos referimos diz : ... tratará de dar desembarque à gente, com
aviso aos pilotos mais práticos, para maior segurança em Una, Lagamar ou Taman-
daré, que fica 3 léguas ao sul da ilha de S. Aleixo. Não vindo a tomar os referidos
portos, tomará o de Fernambuis (?) ou o lagamar de Maracaípe, que demora ...
(em branco) léguas ao norte da dita ilha de S. Aleixo; e se, tendo feito toda a neces
sária diligência, não puder tomar nenhum dos mencionados portos, buscará o das
Galinhas, procurando em todo o caso desembarcar a gente entre Barra Grande e o
porto das Galinhas, com a recomendação de que mui atentamente vigiará que os navios
não sejam desviados dessas paragens por correntes e ventos, e acontecendo que à
tarde ou à noite cheguem diante da Barra Grande lançarão âncoras, para trazerem
a terra sempre bem reconhecida.
No "Breve Discurso sôbre as quatro capitanias conquistadas" (XV, 140-1), men-
cionam-se, também, o pôrto de Barra Grande, Lagamar e Maracaípe.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 161
riam nos atacar sem sua aprovação? Também, sempre foi nossa opinião
— à vista da atual situação de incerteza, reinante em Portugal e da alian
ça existente entre o Rei e os Estados da Holanda, contra a Espanha —
que, antes de se convencer da possibilidade de conquistar todo o Brasil
Holandês, o Rei jamais consentiria em que os atos dos capitães rebeldes
e os socorros a estes prestados tivessem o seu beneplácito ostensivo; e isso
a-fim-de evitar que a quebra da confiança e todo o seu cortejo de conse
quências desastrosas desabasse, um dia, sobre sua cabeça. Desde então
as nossas cogitações se vêm realizando diàriamente, pois, pela resposta
dada à nossa carta e que anexamos à presente, o Governador da Baia,
Antônio Teles da Silva, nega ter tido conhecimento e muito menos coni
vência na conspiração; lança tóda a responsabilidade dos acontecimentos
sobre os cabeças, que recusaram acatar suas ordens, e dispõe-se a enviar
emissários para tentar o apaziguamento dos ânimos revoltados. Pro-
pôe-se, ainda, o Governador a subjugá-los pela força, obrigando-os a de
por as armas, caso se recusem a obedecê-lo. Entretanto, o relatório ela
borado e assinado pelos srs. Van der Voorde e Hoogstraeten, permite-
-nos fazer idéia de quão pouco se harmonizam os protestos formulados
pelo Governador, no sentido de pôr têrmo à rebelião, com as suas verda
deiras intenções. Nesse documento encontram-se as seguintes palavras
textuais de Antônio Teles da Silva: que "os índios e negros foram dis
persados por ordem expressa de Sua Majestade, o Rei de Portugal". Os
inclusos extratos das várias cartas remetidas da Baía e apreendidas aos
respectivos correios, pelas nossas forças, em Sergipe, demonstram clara
mente que diversos baianos, entre os quais se conta o próprio bispo, já,
em maio último, tinham conhecimento das intenções de João Vieira e
seus apaniguados. Adicionem-se a isto as declarações feitas e assinadas
pelo Capitão Diederik Hoogstraeten, com respeito às propostas a ele fei
tas em particular, quando lá esteve a serviço da Companhia, na qualidade
de um de nossos deputados, declarações essas que desmentem categori
camente a resposta que nos dirigiu o Governador e se terão desvendados
os seus secretos intentos. Portanto, tomando como advertência os fatos
expostos — pois, enquanto os rebeldes recebem suprimentos constantes
da Baía, de nossa parte só nos é lícito esperar um progressivo enfraque
cimento — achámos conveniente determinar que o Sr. Balthazar Van
der Voorde, Conselheiro de nosso Tribunal de Justiça, aí fosse a-fim-de
relatar pessoalmente a Vs. Excias. membros do Conselho dos XIX, de
maneira mais ampla do que o poderíamos fazer por escrito, a deplorável
situação em que nos achamos. Estamos certos de que Vs. Excias. se
decidirão a nos enviar urgentes socorros a-fim-de nos habilitar a restabe
162 JOAN NIEUHOF
(265) O tradutor inglês escreveu fins de julho, (p. 77, l-a col., 3.° §) ; vide
p. 107, 1.° col., últ. § da ed. holandesa.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 163
Santo Aleixo. Se, porém, nem mesmo êsses portos conseguisse alcançar, a
esquadra portuguesa deveria apoderar-se do Pôrto-das-Galinhas e desem
barcar seus homens entre aquêle pôrto e Barra Grande. Depois de dei
xar em terra as tropas com víveres e munições, o Almirante deveria
então conduzir sua esquadra para a Baía de Pernambuco a-fim-de en
tregar pessoalmente a carta do Governador aos Senhores do Grande
Conselho.
Os portu
Partiu, pois, a esquadra portuguesa da Baía, pelos fins de julho ou gueses zar
princípios de agosto e, alguns dias depois, chegou à Baía de Tamandaré pam da
entre os rios Una e Formoso, cêrca de quatro ou cinco milhas além de Baía.
Santo Aleixo e Serinhaém. Tão logo lançaram âncora, a 28 de julho, o
Coronel Martim Soares Moreno e André Vidal de Negreiros desembar
caram 1 800 ou 2 000 soldados de infantaria entre os quais se achavam
muitos oficiais reformados. A força trazia grande quantidade de ar
mas, munições e tudo o mais que era necessário.
A 1.° de agosto, pela tarde, três navios e cinco outras embarcações
pequenas foram avistadas do Recife, velejando para o Norte, motivo pelo
qual o Grande Conselho deu ordem imediata aos seus dois navios, o
Zoetelandia e o Zeelandia, para seguí-los a todo pano, observar qual o ru
mo que tomavam e evitar que desembarcassem tropas. Mais ou menos
pela mesma ocasião, chegou um navio-correio despachado por Lichthart,
trazendo cartas, nas quais o Almirante comunicava ao Conselho ter vis O desem
to os referidos navios e acreditar estarem os mesmos incumbidos de de barque de
sembarcar tropas ao sul do Cabo de Santo Agostinho, motivo pelo qual pe tropas.
dia que lhe fossem despachadas mais algumas unidades e lhe dessem
ordem de retirar da guarnição de Santo Agostinho os homens de que
tivesse necessidade a-fim-de atacar o inimigo. As localidades do Norte
foram imediatamente avisadas para se porem de sobreaviso contra qual
quer surpresa.
Entretanto, no dia seguinte, tendo perdido de vista os navios por Rebate falso
tugueses, vários comandantes de pequenas embarcações que se tinham no Recife.
aproximado da frota, no alto mar, informaram tratar-se de grandes na
vios mercantes que, impelidos por forte vento Norte, haviam se aproxi
mado de terra, mas que levavam a direção de Portugal.
Logo que o Almirante Paiva zarpou da Baía de Tamandaré, topou A frota
com a armada, sob o comando do Almirante Salvador Correia de Sá portuguesa
e Benevides, que havia partido recentemente do Rio-de-Janeiro, regres parte para
Pernambuco.
sando com ela para o dito pôrto. No dia de São Lourenço, reunidas as
frotas, partiram para a Baía de Pernambuco.
164 JOAN NIEUHOF
(266) O tradutor omitiu 27 (Cf. p. 77, 2.a col., últ. § da trad. inglêsa, com a
p. 108, l.a col., 1° § da ed. holandesa).
(267) Passo era um armazém ou trapiche de recolher géneros, muito comum
na época colonial. Sôbre sua significação e os vários Passos existentes, vide "0
Passo do Fidalgo", pelo Dr. F. A. Pereira da Costa, in Rev- do Inst. Arqueei, e Geog.
Pern., vol. 10, 1902-1903, n.° 56, p. 53-74 e 171-173 e LXXVII, nota n.° 11, p. 372, Cf.
Diálogos das Grandezas do Brasil, introd. de Capistrano de Abreu e notas de Rodolfo
Garcia. Publicação da Academia Brasileira de Letras, 1930, Rio, Of. Indústrias
Gráficas, nota 14, p. 168.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 165
(268) O tradutor inglês escreveu 14 de agôsto. Vide p. 78, 2.a col., 2.° § da
ed. inglêsa e p. 108, 2.» col., 7.° § da edição holandesa.
(269) Esta carta se encontra na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887.
voL 6, n.° 34, p. 130-131.
166 J O A N N I E U H O P
De Vs. Excias.
Fiel Servidor,
a) Antônio Teles da Silva
Baía, 21 de julho de 1645.
Fiel Servidor,
a) Antônio Teles da Silva
Baía, 22 de julho de 1645.
(270) Esta carta se encontra na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887,
vol. 6, nota 34, p. 131-132. Em Nieuhof, a carta está datada de 22 de junho de 1651
(p. 109, 2.° col.), enquanto que na citada cópia da Rev. está 21 de julho de 1646.
Quanto ao ano, trata-se, evidentemente, de êrro de impressão.
(271) Esta carta encontra-se na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887,
n. 35, vol. 6, p. 37-38.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 167
Fiel Servidor,
a) Antônio Teles da Silva
Baía, 25 de julho de 1645.
Pela manhã de 14, pudemos ver que tôda a esquadra se havia feito A armada
ao mar, sendo que boa parte já estava fora do alcance visual. Ora, sa- portuguesa
bendo-se que os dois barcos que transportavam os nossos e os dois depu deixa o
porto.
tados portugueses dificilmente conseguiriam alcançar os navios da es
quadra e que os nossos deputados, ao voltar, deveriam informar o nosso
Almirante, a bordo de sua nau capitânea, se o almirante português havia
consentido em mandar o Sr. Jerônimo Serrão de Paiva ao Recife, a-fim-de
expor as suas instruções ao Grande Conselho (o que tinha agora motivos
de sobra para crer que não faria), êste despachou ordens imediatas ao
Almirante Lichthart para dar todo pano aos navios sob seu comando, no
encalço dos portugueses, não só para observar os seus movimentos como
também para tentar aproximar-se, com o navio capitânea, do barco em
que viajava o dito Jerônimo Serrão e pedir-lhe que voltasse ao Recife
a-fim-de tratar pessoalmente com o Conselho a respeito das instruções
que trazia. Entretanto, depois de madura deliberação, e considerando o
modo de agir dos portugueses como mero pretêxto, o Conselho expediu
ordens ao Almirante Lichthart, para deter todos os navios portugueses
que conseguisse alcançar, tratando-os, de futuro, como a inimigos.
A 28 de agosto, o Conselho foi avisado por carta, que do Forte de Carta do
Santa Margarida, no Rio-Grande, lhe enviou o Governador Linge, em Rio-Grande
data de 24 (273), que 12 navios inimigos, depois de desembarcar forças ao Conselho.
próximo a Tamandaré, entraram na baía de Traição e que, de acordo
com as declarações de certos prisioneiros portugueses, de bordo da frota
lusa, pretendiam êles desembarcar também aí algumas forças, contanto
que pudessem se reunir aos rebeldes da Mata ; se estes, porém, não vies
sem ao seu encontro, ditas forças voltariam para a Baía. O Sr. Linge
teve, então, ordens de trazer tôda a tropa que conseguisse reunir, quer
fôsse constituída por soldados, tapuias ou brasileiros, a-fim-de evitar o de
sembarque dos lusos e sua junção com os rebeldes, naquela Capitania.
O outro ponto também debatido foi sobre a conveniência de enviar
uma flotilha sob o comando do Almirante Lichthart, em perseguição da
esquadra portuguesa, para atacá-la. Depois de várias considerações, con-
cordou-se em esperar até que todos os nossos navios estivessem aptos para
a emprêsa, suprindo-se com operários do Recife a falta de marujos, de
maneira a tornarmo-nos tão fortes quão possível, no mar.
Nesse ínterim, o Almirante Lichthart fêz-se ao largo, a 1.° de setem
bro, com quatro navios, um iate e uma fragata (274). O Almirante
(273) O tradutor inglês escreveu: em data de 20, ao invés de 24- Cf. p. 113,
2.» col. § da ed. holandesa e p. 81, 2.» col. 2." § da tradução inglêsa.
(274) O tradutor inglês omitiu uma fragata. Cf. p. 114, l.a col., 1.° § da ed.
holandesa e p. 81, 2.» col. últ. § da ed. inglêsa
172 JOAN NIEUHOF
(275) O Forte dos Cinco Bastiões é o de Frederico Henrique. Cf. Breve Dis
curso, (XV, p. 182).
(276) Segundo Moreau, (LIX, p. 82) as perdas portuguesas foram de 600 a
700 homens. Calado (XVII, p. 234), consigna a perda de 100 pessoas somente e
procura justificá-la dizendo que os holandeses não mataram a todos, senão que
deitando-se a nado, sem saberem nadar, se afogaram. Segundo o Breve Discurso
sôbre a Rebeldia (XXIX, p. 136-7), os holandeses tiveram 3 mortos e 2 feridos. O
que é importante, como resultado da luta é que, a bordo dos navios, acharam os
holandeses correspondência do Governador Geral para D. João IV e epistolas do Rei
ao seu representante na Baía, das quais claramente se inferiu que um e outro não
só tinham perfeito conhecimento do plano da insurreição pernambucana, como, até,
desde o início, haviam nela influído. (XCVI, p. 240).
13
174 JOAN NIEUHOF
9 de setembro de 1645.
Fiel servidor de Vs. Excias.,
a) CORNELISZ LlCHTHART
Sendo voz corrente aqui no Recife que Vs. Ss. dizem, aí, que o Al
mirante holandês Jan Cornelisz Lichthart, antes da última batalha, fran
queou a barra hasteando bandeira branca e, surpreendendo os nossos,
matou muitos dêles a frio, julguei ser meu dever informá-los como as
cousas realmente se passaram. De fato, dois dias antes da refrega, apa
receram à entrada da barra um iate e uma barca, com bandeira branca,
contra os quais um de nossos navios menores fêz três disparos de peça.
Quando, porém, o Almirante ingressou na baía, levava hasteadas, tanto a
bandeira holandesa como a vermelha. Nem é verdade o que se diz sobre
o massacre de portugueses, a frio. Nem um único homem foi abatido a
bordo de meu navio a não ser durante a luta. Cinco ou seis dêles, que
se haviam escondido no tombadilho inferior, foram aprisionados e um
soldado gravemente ferido foi recomendado para ser tratado com todo o
cuidado possível. Também não se deu uma cutilada sequer depois da
capitulação do navio e todos foram tratados de acordo com sua hierarquia
e com as circunstâncias do momento. A razão pela qual tão poucos foram
então indultos, é que quase todos se lançaram ao mar, em primeiro lugar
os marinheiros e depois os soldados. Mesmo de espada em punho não
consegui evitar que escolhessem entre morrer afogados e enfrentar o pe
rigo a bordo. Duas ou três pessoas de destaque, vendo-me mal ferido,
deram-me clemência, sem me conhecer e sem que eu lha pedisse. Aí está
a prova convincente de que não recusariam clemência a todos quantos
a pedissem. Sinto-me obrigado a dizer que não tenho palavras com que
traduzir minha gratidão para com a humanidade e generosidade do Al
mirante. Além disso, é fora de dúvida que fomos nós quem primeiro
atirámos contra eles, tanto de bordo de nossos navios, como de nossas
baterias instaladas na costa. Dou-lhes, acima, um relato preciso de toda
176 JOAN NIEUHOF
a refrega, da qual fui testemunha visual, e, por isso, não tenho dúvida
de que Vs. Ss. me darão todo crédito.
Deus proteja Vs. Ss. por muitos anos
Recife, 18 de setembro de 16U5.
a) Jerônimo Serrão de Paiva
Fomos informados por sua carta, de que V. S., ao invés de ser tratado
como merecia, recebeu os mesmos maus tratos que o restante de nossos
concidadãos. Embora considerando que o seu caso é diferente dos de
mais, V. S. deveria ser tratado de outra forma, de vez que para cá veio
sem a menor intenção de mover guerra contra eles (ponto sobre o qual
eles deveriam ter refletido), mas, apenas, comboiando alguns navios que
se dirigiam para a Metrópole, desembarcou nossas forças nesta Capita
nia, a pedido nosso. À vista dos maus tratos e violência que os nossos
súditos têm recebido das mãos dêles, não podemos prometer-lhes melhor
tratamento. Tomamos tão circunstanciadas notas de todos os assassínios
cometidos a frio, que temos certeza de poder justificar a nossa causa e a
nós mesmos, tanto perante os Estados Gerais Holandeses, como perante
os nossos demais aliados. De fato, recolhemos diversos de nossos cama
radas portugueses com projetís e pedras atados às pernas e ao pescoço; al
guns tiveram a boa sorte de serem salvos, quando procuravam alcançar a
praia a nado, muitos outros, porém, pereceram queimados, no bojo dos
navios. É fora de dúvida que a intenção dêsses cavalheiros fazendo um
tão generalizado massacre entre cristãos é a de nos roubar tôda e qual
quer esperança de podermos jàmais voltar aos nossos lares. De tudo
isso, porém, terão um dia que prestar contas rigorosas, não só ao Altíssi
mo, como também a quem deles exigir satisfação. A nosso ver, porém,
jàmais poderão eles justificar suas crueldades, nem os males que fizeram
ao nosso povo, quer perante Deus, quer perante o Rei, nosso Senhor. Es-
(277) O tradutor inglês escreveu 20 de setembro. Cf. p. 117, 1.a col., 3." § da
ed. holandesa e p. 84, 1.» col. 2.° § da trad. inglêsa.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 177
Ao que nos parece, Vs. Excias. não estão ao par das intenções com
que viemos, motivo pelo qual não nos surpreende encontrá-los em atitu
de defensiva. O Grande Conselho do Brasil Holandês enviou uma em
baixada ao nosso Governador Geral de Terra e Mar, Antônio Teles da
Silva, pedindo que S. Excia. fizesse uso de sua autoridade e força no
sentido de abafar a insurreição nesta Capitania. Tendo sido imediata
mente atendido esse pedido, a-fim-de auxiliar o Conselho e libertar os
portugueses das violências cometidas contras suas famílias e proprieda
des, tivemos instruções de desembarcar as nossas forças junto ao Enge
nho Rio Formoso. Isso feito, e prontos como estamos para marchar em
direção ao interior do país, achamos conveniente pô-lo ao par das nos
sas intenções, o que, provavelmente, já chegou ao seu conhecimento, pois
que já foram publicadas em diversos lugares, através de nossas proclama
ções das quais anexamos uma pedindo-lhe que mande afixá-la à porta da
Igreja de Serinhaém. Desejamos, portanto, que V. S. deponha as armas
e deixe de lado qualquer suspeita, certos de que, de sua parte, teremos
recepção favorável, pois, da nossa, tudo faremos a-fim-de restabelecer a
tranquilidade entre os portugueses revoltados, por todos os meios suasó
rios de que pudermos lançar mão. Asseguramos-lhe, entretanto, que, se
V. S. se recusar a vir ao encontro de nossos desejos, causará não pequeno
desprazer ao Grande Conselho do Brasil Holandês.
Deus proteja V. S.
Do Engenho de Formosa, 4 de agosto de 1645.
(279) O tradutor inglês escreveu 30 brasileiros (Cf. p. 121, l.a col., da ed. ho
landesa e p. 87, l.a col. da trad. inglêsa). Segundo Varnhagen, (XLI, p. 27), eram
62 os holandeses que se renderam e 49 os índios que foram enforcados. Mattheus van
den Broeck (XVI, p. 10) fala em 39 indígenas, e afirma que de acordo com o depol-
182 JOAN NIEUHOF
que pudessem permanecer nos seus engenhos e nos seus bens (282).
A-pesar-do seu gesto, foi obrigado a responder a conselho de guerra. O
oficial que conduziu a guarnição ao Recife entregou ao Conselho, no
mesmo dia, uma carta de Martim Soares Moreno e André Vidal de Ne
greiros, datada de 8 de agosto, dizendo que tinham vindo para o Brasil
Holandês, por ordem expressa do Governador da Baía, e exprobando as
violências que diziam ter sido cometidas pelos holandeses contra os por
tugueses. Essa carta capeava outra do Governador, datada de 30 de
julho, contendo uma proclamação a ser publicada na Capitania de Per
nambuco, em que se intimavam todos os habitantes a comparecerem pe
rante êles, dentro do prazo de oito dias, a-fim-de receber instruções para
o restabelecimento da tranquilidade entre o povo. Era o seguinte o teor
da carta de Martim Soares Moreno e André Vidal de Negreiros (283) :
(282) O trecho dessa tradução, que começa "Roelant de Carpentier. . . " até "...
nos seus bens" está omitido na tradução inglêsa (Cf. p. 121, 2.» col. últ. § e p. 122,
L» col. 1.° § da ed. holandesa e p. 87, 1.» col. da ed. inglêsa).
Conforme se lê no Discurso sobre a Rebeldia, (XXIX, p. 176) :
Roeland Carpentier, possuidor do engenho de Rio Formoso, fez acordo com os
portugueses e ficou no mesmo engenho sob a salvaguarda deles; mas os portugue-
ses, querendo fazerem-se senhores de um tão bom esbulho, acusaram-no (Deus sabe
com que pretexto) de traição e sem forma de justiça o degolaram.
(283) A cópia do original português encontra-se publicada na Rev. do Inst
Arqueol. e Geog. Pern.^ 1887, n. 35, vol. 6, p. 38-41. Como afirmou Varnhagen
(LXXIII, p. 290), a grande correspondência trocada entre o inimigo e André Vidal
de Negreiros demonstra que os holandeses compreenderam que êle era o verdadeiro
diretor da guerra.
184 JOAN NIEUHOF
nos, em nome de Deus e Dom João IV, que Deus o guarde, bem como em
nome dos Estados Gerais cujo poderio queira Deus aumentar, que nada
mais desejamos que a continuação da paz firmada, desejo êsse que sem
pre norteará todas as nossas ações. Trouxemos conosco uma cópia au
têntica do tratado de paz, para servir de justificativa perante todos os
príncipes da Europa. Para conhecimento de Vs. Excias., anexamos cópia
da Proclamação que publicámos quando desembarcámos nesta Capitania.
Deus guarde Vs. Excias.,
Serinhaém, 8 de agosto de 1645.
PROCLAMAÇÃO
(286) Foi Belchior Álvares quem emprestou a Maurício de Nassau o boi que
serviu para as festas da inauguração da primeira ponte no Recife. Um dos diver
timentos foi o do boi voador. Calado (XVII, 131). Em Barlaeus, (VIII, mapa
de Pernambuco, entre as p. 16-17), regista-se um curral de Belchior Álvares e (no
mapa de Cirii, entre as p. 8-9) mais dois currais. Em Vingbooms (XCVII, mapa 86),
na fronteira de Pernambuco com Sergipe, à margem do Rio São Francisco, regis
ta-se a propriedade de Belchior Álvares. Segundo o Relatório sôbre Alagoas: "Bel
chior Álvares disputou com Gonsalves da Rocha as terras ao sul do rio São Mi
guel, nas Alagoas, e a questão compôs-se do seguinte modo: Belchior possuiria uma
légua em quadro, sendo a primeira barra para cima e Gonsalves Rocha quatro léguas
ao longo do rio até a igreja de São Miguel". (XCV, p. 161).
(287) Nieuhof escreve Algodais (p. 126, l.a col.). Algodais, como regista o
Breve Discurso (XXXII, p- 147), estava situado na freguesia do Cabo de Santo
Agostinho (Barlaeus, VIII, mapa de Pernambuco, entre as p. 24-25), e pertencia
a Miguel Pais. Tendo sido confiscado, mas não vendido, porque nêle permanecera o
exército por ocasião do cerco do Cabo, sofreu grandes estragos (XV, p. 147).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 189
14
r
190 JOAN NIETJHOF
dição (XVI, p. 12), foi quem melhor relatou a conferência havida entre os vários
oficiais sôbre dever-se ou não entregar o forte. Dentre estes, três não aceitaram
a capitulação: Isaac Zweers, Johannes Brookhuizen e Abraham van Milligen, sen
do que Klaes Klaesz aceitou a rendição e mais tarde fugiu com 63 soldados.
O Diário ou Breve Discurso (XXIX, p. 134), depois de reconhecer a im
portância do Pontal, pois se os portugueses houverem o Pontal, terão um pôrtà
livre, e poderão carregar comodamente de açúcar os seus navios, declara que a
11 de setembro recebeu-se a notícia de que a 6 do mesmo mês, Hoogstraeten en
tregara o forte.
Moreau (LIX, p. 82) calcula em 1800 libras e mais o cargo de coronel para
Hoogstraeten e 30 libras para os 650 soldados do forte; Handelmann (XL, p. 235)
calcula em 9.000 cruzados para os quais Vieira contribuiu com 7.000. Segundo
Rafael de Jesus (XLIV, p. 349), eram 275 os rendidos; Varnhagen (LXXII, p.
31, vol. 3.°) diz que a entrega do forte ocorreu a 3 de setembro e conta que
foi imposta aos moradores a soma de 4.000 cruzados, à qual se juntou outra igual
mandada da Baía pelo governador geral. Calado (XVII, p. 240 e 251) confirma
o que escreveu Varnhagen, dizendo que João Fernandes Vieira impôs uma finta
para a sustentação da guerra, contribuindo cada um com determinada quantia;
declara que eram 275 soldados, aos quais se deu quatro mil réis por primeira
paga. Os nove mil cruzados estabelecidos no acordo com o fito de pagar os sol
dos devidos aos soldados pela Companhia não parece que tenham sido recebidos
por estes e sim por Hoogstraeten. Permitiu-se, também, que os que quisessem
tomar armas a favor dos restauradores assentassem praça.
Rio-Branco calcula (LXXV, p. 242) em 275 oficiais, declarando certamente
que recebera Hoogstraeten o título de mestre de campo e não de Coronel, como
escreveram Nieuhof e Moreau, pois o cargo de Coronel só foi criado pela re
forma de 15 de novembro de 1707, quando desapareceram os lugares de mestre
de campo e sargento-maior.
Nieuhof equivocou-se outra vez ao falar em Regimento Holandês, pois se trata
de um têrço de estrangeiros, não só de holandeses, cuja chefia foi dada ao mes
tre de campo Hoogstraeten.
(289) A cópia do original português encontra-se na Rev. do Inst. Arqueol. e
Geog. Pern., 1887, n. 35, p. 45-47.
O tradutor inglês escreveu (cf. p. 90, 2.» col. da ed. ing. e p. 126, 2.» col. da
ed. holandesa) "por carta datada de 26 de agosto de 1645", onde estava "13 do
corrente mês"; ainda assim continua errado, pois conferindo-se com o referido
original, acima citado, verifica-se que a data é "3 do corrente mês" (setembro,
pois a carta está datada de 6 de setembro).
Nieuhof escreveu Damiano de Lankois (p. 127, l-a col., 5." §) ; na referida
cópia da Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., está conforme esta tradução.
Sôbre o nome Capivara tudo faz crer tratar-se de índio (cf. Varnhagen, LXXII,
p. 33, tomo III).
Sôbre os 4.000 ducados levantados por João Fernandes Vieira, cf. nota 288.
O tradutor não foi fiel ao escrever o navio Bispo (cf. p. 127, l.R col., 7." §.
da ed. holandesa e p. 91, 1.» col. 4.° § da ed. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 191
nheiro que V. Excia. nos enviou, e o vinho, com que fui particularmente
presenteado, serviu para celebrar a nossa alegria, em companhia dos
amigos.
Fizemos um excelente negócio, pois, além da importância da posição,
conseguimos para nós os melhores soldados do inimigo. O exemplo ser
virá também para indicar aos demais qual o caminho a seguir. João
Fernandes Vieira conseguiu, no sábado, levantar a soma de U-000 duca
dos para nosso uso, não, porém, sem o emprego da força. Êsse dinheiro
veio, entretanto, em muito boa ocasião, pois tendo efetuado a transação,
temos que melhorar a fortificação da praça, cujo porto não è inferior
ao do Recife. Não me alongarei, porém, em pormenores enfadonhos
sóbre êsse ponto.
Logo depois da capitulação do forte, surgiu uma embarcação envia
da do Recife em seu auxílio. Contra ela despachamos o Capitão Bar
reiros numa embarcação bem armada, com 35 homens, boa provisão de
pólvora e de balas. Êsse expediente nos foi bastante útil.
Tomo a liberdade de sugerir a V. Excia., que, caso despache um
mensageiro com esta notícia a Sua Majestade, talvez a missão possa ser
confiada ao Capitão Damiano de Lançóis, pois é provável que, além de
um bom presente, o Rei o recompense com algum cargo honorifico.
Recebi notícias, ontem à noite, de que a frota comandada por Jerô
nimo de Paiva tinha franqueado a Baía de Tamandaré. Receio seja ela
atacada pelos navios para isso despachados do Recife, pois diversas vezes
pedimos-lhe que entrasse em nosso porto.
Capivara partiu de lá para a Baía, por terra; talvez tivesse infor
mado Jerônimo de Paiva de que já somos senhores do Pontal. Se ele
achar conveniente trazer sua esquadra para cá, estará seguro; caso
contrário fica à sua vontade. Corre por aqui que o navio do Bispo está
perdido. Talvez tenha sido destacado para escoltar Salvador Correia
durante parte do percurso.
Não posso deixar de frisar a V. Excia. o quanto ficámos a dever
ao Major Diederik Hoogstraeten e aos demais oficiais do forte. Ao
primeiro prometemos uma comenda de oficial da ordem de Cristo. Peço
portanto a V. Excia que, em nome de Sua Majestade, cumpra, o mais
logo possível, a promessa que lhe fiz, pois se trata de pessoa que está
pronta a nos prestar qualquer outro serviço de que tenhamos neces
sidade. Por enquanto, fizemos-lhe alguns presentes de menor impor
tância, dos quais, a seguir, informaremos. O capitão de Cavalaria Ras
par van der Ley também tem para nós grande merecimento, da mesma
forma que todos os outros casados com portuguesas. Ao que corre por
192 JOAN NIEUHOF
Senhor.
Estamos agora de posse do porto de Nazaré, e, como diz o ditado,
sem lançar uma só âncora, motivo pelo qual vimos convidá-lo a trazer
para cá sua frota. Aqui poderá V. S. querenar seus navios e abaste
cê-los de provisões frescas, homens, munições e tudo mais que neces
sitarem até quando, por consenso mútuo, combinarmos o que mais deve
remos fazer, no serviço de Deus e de Sua Majestade. Até agora, o
(290) O tradutor inglês escreveu 23 de agosto (cf. p. 128, l.a col., l.° § d»
ed. holandesa, e p. 91, 2.° col., 2.° § da tradução inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 193
(291) O tradutor inglês escreveu Pontal (Cabo) (cf. p- 128, 2.a col. da
ed. holandesa e p. 92, 1.° col. da ed. inglêsa). A cópia do original português en-
eontra-se na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887, n. 34, p. 80-81. Ai
está, também, Forte Nazaré.
Na mesma revista existe, também, cópia de uma carta escrita de Pontal, da
tada de 6 de setembro de 1645 e assinada por Martim Soares Moreno e André
Vidal de Negreiros; o conteúdo da carta anterior dada por Nieuhof está muito
truncado (cf. p. 81-82, da citada Revista).
Jí
194 JOAN NIETJHOF
em tempos como estes. Fizemos uma cópia fiel desta carta em nosso
diário, para que mais tarde nos sirva de documento.
Deus guarde V. S.
Pontal do Santíssimo Sacramento, 6 de Setembro de 1645.
Martim Soares Moreno e
André Vidal de Negreiros.
Espero que esta o encontre com saúde como o deseja êste seu fiel
amigo. Acho-me em situação regular em Pontal de Nazaré que, depois
de um cerco de 20 dias, capitulou com relativa facilidade, porquanto
os que o comandavam eram casados com mulheres portuguesas e tinham
propriedades nas circunvizinhanças. O Capitão da praça foi o primeiro
a opinar pela capitulação. Conseguiram obter as condições que pre
tendiam, além de uma gratificação de Jt.000 ducados. Encontrámos no
forte 300 dos melhores soldados holandeses e doze canhões de bronze
— dos quais quatro de quatrocentas e vinte libras — e provisões por
três meses, de maneira que, se não tivéssemos feito acordo, a empresa
ter-nos-ia custado grande número de homens. Entretanto, capturámos
a praça com a perda de um único homem, morto por um tiro acidental
de canhão. Apreendemos, também, uma embarcação que estava atirando
de Pontal antes da capitulação, na qual se achavam várias centenas de
homens que se dirigiam para o Recife. O comandante da embarcação
bem como outro senhor de Servnhaém (ambos magistrados nas suas
respectivas localidades) entregámo-los aos moradores do lugar que logo
os mataram, a despeito de ser um deles casado com mulher portuguesa,
pois, havendo eles dito que ainda tinham esperanças de lavar as mãos
em sangue português, as mulheres se exasperaram a tal ponto que eles
foram logo executados. Quase todos os prisioneiros estão detidos em
Santo-Antônio, para de lá serem remetidos para a Baía. Entretanto,
muitos dentre eles estão trabalhando para nós. Calculamos que o
5 de setembro de 1645.
Gaspar da Costa Abreu
(293) Sôbre êsse reduto, cf. Calado, (XVII) p. 246, l.a col. e 2.B col., 1.° §.
Nessa luta, João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros foram acom
panhados por Diederik Hoogstraeten e sua companhia de estrangeiros- Estava êsse
reduto localizado junto à vila de Olinda, a um tiro de mosquete, no meio de
uma restinga de areia, que divide a costa do mar das águas do Rio Beberibe, no
caminho por onde se serve a gente que vai da vila para o Recife. Está a uma
légua do Recife e se chama Forte de Santa Cruz; chamava-se, em outro tempo,
a guarita de João de Albuquerque.
Foi Diederik Hoogstraeten quem se dirigiu ao Sargento que se rendeu com 60
soldados. Cf., também, Rafael de Jesús (XLIV, p. 345) e nota n. 51.
(294) O tradutor inglês escreveu 13 de agosto (cf. p. 93, l.a col., 2.° § da
ed. inglêsa e p. 129, 2.° col. últ. § da ed. holandesa).
196 JOAN NIEUHOF
(297) O tradutor inglês escreveu somente 60 (cf. p. 96, 2.a col., 2.° § da
ed. inglêsa e p. 135, l.» col. 2.° § da ed. holandesa).
(298) O tradutor inglês não foi fiel, pois omitiu "Frísia Ocidental, como
homenagem à sua combatividade e honra". Cf. p. 135, 1.° col., 6.° § da ed. ho
landesa e p. 96, 2.° col., 4.° § da ed. inglesa).
Sôbre as atribulações por que passou Isaac Zweers, vide XVI, p. 26-29. Foi
libertado a 31 de dezembro de 1645. Isaac Zweers deixou escritos documentos
importantes para o esclarecimento dos últimos anos de revolta, muito especial
mente a rendição da fortaleza do Cabo de Santo Agostinho. (Cf. VIII, p. 2 dos
Aditamentos de S. P. L'Honoré Naber).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 203
(299) Êsse trecho: "Decorridos alguns dias..." até "...na primeira noite
escura.", foi traduzido do holandês. (Cf. p. 136, 1.» col. da ed. holandesa e p. 97,
l.a col. da ed. inglêsa).
(300) Em Vingbooms (XCVII, vol. II, mapa 47, referente a Itamaracá), en-
contra-se Tripicho; no mesmo autor (col. II, mapa 48, referente a Pernambuco),
encontra-se o engenho Tripicho, à margem do rio Salgado. Os engenhos Algodais
Velho e Algodais Novo, acima e abaixo, respectivamente, no citado mapa de Ving
booms, referente a Pernambuco, demoravam entre o rio Salgado e o Jangada.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 205
(301) O tradutor inglês omitiu a data 4 de agosto (cf. p. 136, 2.a col., 4.° §
da ed. holandesa e p. 98, 1.° col., 1.° g da ed. inglêsa).
(302) O pequeno trecho referente ao Auditor foi omitido pelo tradutor in
glês. (Cf. p. 137, 1.° col., l.° § da ed. holandesa e p. 98, 1.° col., 2.c § da ed.
inglêsa).
15 I
206 JOAN NIEUHOF
(303) Nieuhof (p. 137, 1.a col., 3." §) escreveu Tapuao. Deve tratar-se de
Itapuã, como grafamos no texto.
(304) O tradutor inglês escreveu 18 de janeiro (cf. p. 137, l.a col., últ. §
da ed. holandesa e p. 98, 2.a col., 1.° § da ed. inglêsa).
(305) O tradutor inglês escreveu 1.° de fevereiro (cf. p. 137, l.a col. últ. §
da ed. holandesa e p. 98, 2-a col., 1.° § da ed. inglêsa). O Diário de Mattheus van
den Broeck (XLI, p. 26) dá o dia 20 de fevereiro como o da prisão.
(306) Nieuhof (p. 137, 2a col., 1." §) escreveu, textualmente: "Em forca
los caehiores treidores"; deu, também, tradução holandesa livre dessas palavras, a
qual foi utilizada pelo tradutor inglês (p. 98, 2.a col., 2.° §).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 207
(307) O tradutor inglês escreveu 7 de maio (cf. p. 138, l.a col., 7.° § da
ed. holandesa e p. 99, 1.» col., 3." § da ed. inglesa).
208 JOAN NIEUHOF
(310) O tradutor inglês escreveu 21 de maio (cf. p. 319, 2.a col., 1.° § da
ed. holandesa e p. 100, l.* col., 2.° § da ed. inglêsa).
210 JOAN NIEUHOT
A RÉPLICA DO CONSELHO
pois soube que sua esposa estava sendo maltratada pelos lusos em Seri-
nhaém. Foram os rebeldes que iniciaram a série de roubos e assaltos
desde então cometidos também pelos nossos soldados, e que, entretanto,
não pode sofrer comparação com os embustes, fraudes e roubos cometidos
pelos rebeldes contra os credores de suas dívidas e mercadorias; a-pe-
sar-de tudo, dando garantias e outras providências, fizemos tudo quanto
estava ao nosso alcance para evitar essas violências.
O recente assassínio de moradores de Salinas foi cometido a 17, —
sem nosso conhecimento, e com grande consternação de nossa parte, —
pelos brasileiros fugitivos que, enfurecidos com o massacre de seus ir
mãos, homens, mulheres e crianças em Serinhaém, sem distinção de sexo
ou idade, aproveitaram-se da ocasião para se vingarem. Poderá, tam
bém, V. S. fàcilmente imaginar que os boletins distribuidos por Antônio
Cavalcanti em Iguarassú bastante contribuiram para êsse estado de
cousas.
Com respeito às balas que V. S. diz terem sido utilizadas no último
encontro, nós temos mais razões de queixa que V. S., pois recomendamos
continuamente que não se deixem de observar as leis da guerra em casos
semelhantes.
Reconhecemos o cavalheirismo demonstrado pelos seus homens, pou
pando e acolhendo os nossos soldados e estamos prontos a retribuí-lo em
idênticas circunstâncias, pedindo-lhes desde já que nos comuniquem sua
resolução sobre êste ponto, pelo mesmo tambor.
Sendo evidente, pelo que se alegou, que os passados desmandos de
vem ser imputados aos rebeldes — entre os quais tentámos, por todos os
meios, restabelecer a paz e a tranç/iiilidade — tendo eles persistido em
seus subversivos propósitos, merecem eles, das mãos de V. S., antes o
justo castigo que a menor indulgência. Por êsse motivo, protestando pe
rante Deus e todo o mundo contra o procedimento de Sua Excelência o
Sr. Antônio Teles da Silva e contra o que quer que tenha sido praticado
por V. S. contrariamente ao tratado celebrado entre Sua Majestade de
Portugal e os Estados Gerais das Províncias Unidas, não duvidando que,
ao receber a presente, V. S. retirará as suas forças para a Baía e porá
termo às violações do referido tratado.
Nessa mesma noite, ante o aviso de que tropas inimigas haviam Preparati
avançado até Olinda, expediram-se ordens a todos os fortes adjacentes no vos para en
sentido de prepararem uma vigorosa defesa, bem como de se erigirem frentar o
duas baterias por de-trás da senzala, de onde poderiam dominar as ave inimigo
que marcha
nidas que, ao longo do rio, correm em direção ao Recife. Numerosos contra o
voluntários recentemente chegados do interior foram agrupados em Recife.
uma companhia sob o comando do Secretário Hamel, no pôsto de Capitão,
e Jerônimo Heiman, como tenente. Dispuseram-se guardas avançadas,
sendo uma entre o forte Bruin e o forte Triangular e a outra entre êste e
a fazenda do Conde Maurício. A ponte Boa Vista foi parcialmente de
molida a-fim-de dificultar a passagem do inimigo, e, considerando-se a
importância do forte Triangular, foi sua guarnição aumentada com um
contingente de 26 homens tirados a várias companhias. Tomaram-se Na Cidade
idênticas precauções com relação à segurança da Cidade Maurícia, da Maurícia e
Ilha de Antônio Vaz, do Forte Ernesto, do Forte Quinquangular e de em outros
todos os demais. fortes.
(312) Êste pequeno trecho foi traduzido diretamente do holandês (cf. p. 143,
2* col., 8." § da ed. holandesa e p. 103, 1.» col., 2.° § da ed. inglêsa).
216 JOAN NIEUHOF
as cornas dêsse forte, seu comandante deu ordem para que os soldados,
os brasileiros e 100 negros as nivelassem. Mandou-se derrubar, pelos bra
sileiros que ali trabalhavam, o mato existente entre o forte e os Afogados,
e resolveu-se que se concentrassem as fortificações da Cidade Maurícia
num âmbito menor e se reparassem os muros em torno do Recife. Assim
foi que o Conselho, com seu infatigável cuidado, conseguiu pôr as forti
ficações do Recife e suas adjacências em tão boas condições de defesa, que
o inimigo, conquanto muito forte, não ousou tentar, então, qualquer ação.
O Sr. Dortmont tinha transportado para itamaracá cerca de 1400 pessoas,
das quais 700 mulheres e crianças, e, por isso, precisava de abastecimen
to de víveres. De resto, dispôs tudo muito bem na Ilha.
Cartas ao Por sua carta datada de Paraíba, 22, o Sr. Linge comunicou ao Con
Conselho selho que, depois da notícia que lhe fora transmitida da derrota do Co
vindas de ronel Haus, julgara conveniente remover a guarnição e o povo de Fre
Paraíba. derica para os fortes. Informava, ainda, o Sr. Linge, que os portugueses
continuavam calmos e que tôda sua força consistia em 400 soldados, 100
civís e 50 brasileiros, entre os quais havia bom número de doentes e fe
ridos. Dizia mais, que os tapuias haviam assassinado 12 ou 14 campo
neses. Não havia muito tempo que o Major Hoogstraeten, Ley e Hek
informaram o Conselho terem incendiado tôdas as casas, principalmente
o armazém e a igreja, fora do forte, para facilitar sua defesa e que o
inimigo se havia instalado no morro do Cabo e na Ilha que lhe ficava ao
sul.
A 25, após nova revista às fortificações da Cidade Maurícia, orde-
nou-se o seu imediato aperfeiçoamento.
No mesmo dia o Conselho recebeu cartas do Sr. Linge, datadas da
Paraíba, a 18 e 19 de agosto, via Itamaracá, dizendo que Willem Ba-
rentsz lhe havia comunicado que êle e Roelof Baro tinham, pronta para
nosso serviço, uma tropa de tapuias, e que tudo estava em calma nas vizi
nhanças. Que, entretanto, êsses tapuias se haviam apoderado de todo
o gado pertencente a Pieter Farcharson, fato êsse que provocara não pe
quena escassez de carne fresca nas redondezas.
O Conselho achou indispensável voltar suas vistas para a situação
Consulta
sôbre a re dos fortes do Rio São Francisco e Sergipe-d'El-Rei, os quais se achavam
moção de apenas escassamente guarnecidos e tinham interrompidas as comunica
diversas ções, tanto entre êles mesmos, como com o Recife, e, portanto, em grave
guarnições perigo de se perderem; concluíu por isso o Conselho que, depois da der
para o Re
cife. rota do Coronel Haus, forçoso era tentar a salvação dessas guarnições,
e, consequentemente, de todo o Brasil Holandês, removendo-as para o
Recife.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 217
2." §; p. 145, 2.» col. últ. §; p. 146, 1.» col. 2.° §; p. 146, 2.» col. 3.° §; e p. 148,
2.» col. l.<> §).
(315) O tradutor inglês escreveu meia légua, quando se trata de meia hora.
(cf. p. 146, 1.» col. 2." § da ed. holandesa e p. 104, 2.» col. 4.° § da ed. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO RRASIL 219
(316) O tradutor escreveu 5 companhias (cf. p. 147, l.a col., 2.° § da ed.
holandesa e p. 105, 2.a col. 2.° § da ed. inglêsa).
(317) Sôbre as atividades de Fernão Rodrigues de Bulhões, convém ler «£
declarações por êle feitas e que se encontram na Rev. do Inst. Arq- e Geog.
Pern., 1888, n. 35, p. 50-51. Essa cópia é traduzida do holandês. Nieuhof escre
veu Ferdinando Rodrigues de Bulhans ou Bailloux. (cf. p. 147, 2.» col. 3.° §).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 221
16
222 JOAN NIEUHOF
(318) Na tradução inglêsa existe um êrro de imprensa, pois está escrito 1685
(cf. p. 107, 1.° col. 1° §).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 223
PUBLICAÇÃO DE ANISTIA
(321) Nieuhof escreveu dois dias depois, isto é, 23 (p. 151, l.a col., últ §).
enquanto o tradutor inglês corrigiu, escrevendo três dias apôs. (p. 108, L» col-
3.° §).
MEMORÁVEL VIAGEM MAEÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 225
(326) O tradutor inglês escreveu 12 de novembro (cf. p- 109, 2.a col., 2.° § da
ed. inglêsa e p. 153, 2.a col. últ. § da ed. holandesa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 229
(327) O tradutor inglês escreveu 100 homens (cf. p. 110, l a col., 1.°' § da
ed. inglesa e p. 154, 2.» col., 1.° § da ed. holandesa).
(328) Nieuhof escreveu (p. 154, 2.a col., 3.° §) Coronel e Major. E' um
equivoco, pois tais postos não existiam no século XVII e sim os de Mestre de
Campo e Sargento-Mor (ver nota p. 290). Antônio Dias Cardoso era militar
de primeira linha do exército, com praça de soldado em 1624 (cf. Biografia da
A. J. Melo, Tomo I, p. 109). Foi para a Baía e lá voltou em 1645, com 45 sol
dados e logo foi nomeado sargento-mor de tôda a gente do bando da liberdade
(Calado, XVII, p. 188). Como escreveu Varnhagen (LXXIII, p. 260), Antônio
Dias Cardoso deve ser considerado como o verdadeiro orientador militar da cam
panha, até a chegada de André Vidal de Negreiros e, mais tarde, de Francisco
Barreto de Meneses.
230 JOAN NIEUHOF
bro (331) com o assentimento de Vidal e João Vieira, que Klaesz fosse
preparar uma cilada contra forças nossas, em Salinas, com uma força
de 60 holandeses, composta de elementos tirados das quatro companhias
de holandeses a serviço dos portugueses. Como reforço, destacaram mais
quatro Companhias da reserva. Tendo-lhe sido confiado o comando su
premo dessas forças, Klaesz aproximou-se o mais que pode do forte
Bruin, com seus soldados holandeses. Ao raiar da aurora aproveitou a
oportunidade para atravessar o rio passando com seus homens (todos
desejosos de o seguir) para o nosso lado, no dito forte. O Conselho resol
veu então confirmar Klaes Klaesz no comando de sua companhia, que
se dispôs a entrar para o nosso serviço. Entretanto, logo que o inimigo
percebeu que fora traído, desarmou todos os holandeses, a pretêxto de
enviá-los para a Baía, e passou-os todos a fio de espada, em caminho,
juntamente com suas mulheres e filhos.
A 2 de novembro, o Conselho recebeu aviso do Sr. Linge, datado de
1.° do mesmo mês (332), na Paraíba, no sentido de que André Vidal
tinha entrado naquela Capitania com 200 homens e que Camarão tinha
escrito a Pedro Potí insistindo para que desertasse do nosso serviço, com
seus brasileiros; recebera, também, porém, formal recusa. O Conselho
enviou-lhe, como recompensa de sua fidelidade, duas peças de fino linho.
Quando os portugueses começaram a se armar contra o Govêrno, procura
ram induzir, por meio de cartas repletas de promessas, os regedores ou co
mandantes dos brasileros a se reunirem a êles. Estes, porém, não
acederam, ao contrário, enviaram ao Conselho, sem abrí-las, as cartas en
viadas por Camarão e outros chefes revolucionários, a-fim-de evitar que
sobre êles pairasse a suspeita de manter correspondência com o inimigo.
Pedro Potí era parente próximo de Camarão. Desde então os referidos
chefes brasileiros se portaram tão corretamente e de tal forma atacaram
os portugueses, onde quer que os encontrassem, matando-os e pilhando-os,
que jamais tivemos ocasião de duvidar de suas sinceridades e intenções. . Os holande
O mesmo Sr. Linge informou a 4 de novembro que o inimigo nada ses batem
tentara até então. A 14 do mesmo mês, informou que 300 dos nossos, os portu
auxiliados por alguns brasileiros da Paraíba, se tinham empenhado em gueses.
luta com 800 inimigos, rechaçando-os depois de feroz embate, no qual
os portugueses perderam bom número de homens. Estimulados por essa
vitória os brasileiros percorreram tôda a planície, e, encontrando um
grupo de portugueses que festejavam a noite de São Martinho, no En-
(331) O tradutor inglês omitiu a data. (cf. p. 155, 2.a col., 2.° § da ed.
holandesa e p. 110, 2.a col., 3." § da ed. inglêsa).
(332) O tradutor inglês omitiu "de 1.° do mesmo mês" (cf. p. 155, 2.a col.,
nlt § da ed. holandesa e p. 111, 1> col., l.° § da trad. inglêsa).
232 JOAN NIEUHOF
tais forças tinham mais utilidade na campanha. Para tanto, foram apro Organização
veitadas as Companhias do Coronel Garstman, Capitão Juriaen Rembar- de 4 compa
nhias de fu
gar, do Capitão Niklaes Niklaez e do Capitão Snijder, de preferência a
zileiros.
qualquer outra.
Ainda no mês de dezembro caiu prisioneiro dos brasileiros na Ilha de
Itamaracá um português de nome Gaspar Gonsalves que fora enviado
especialmente para persuadi-los de que os holandeses pretendiam entre
gá-los aos portugueses, mediante certa soma em dinheiro, e depois se re
tirarem com seus efetivos para a Holanda. Essa informação produziu
não pequena comoção entre os brasileiros, que começaram a dar crédito
ao informante. E, tendo Gaspar Gonsalves espalhado o boato um pouco
antes da chegada de Kaspar Honighuizen (que a 28 de agosto fora no
meado comandante em chefe dos brasileiros em Itamaracá em substitui
ção a Johan Listry, aprisionado pelo inimigo) não sabia êste como dissi
par êsse receio, pois que Jacob Rabbi, segundo carta de 11 de dezembro,
estava se preparando para fazer uma incursão de 80 milhas à procura
dos tapuias, a-fim-de solicitar-lhes auxílio. Entendeu-se finalmente com
Oype, genro do rei Janduí, que lhe prometeu, caso os de Ceará nos
enviassem suas tropas, tentar mobilizar o maior número possível de seus
vassalos; o rei Janduí escusou-se, porém, alegando que muitos de seus
combatentes haviam morrido de moléstia, no Sertão.
Na noite anterior a 27 de dezembro, o inimigo, servindo-se de uma
jangada, colocara duas bonecas com fogos de artifício, a bordo do navio
Zwaen. Logo, porém, que começaram a queimar, foram descobertas e
apagado o fogo sem causar dano algum à embarcação. O fato serviu,
entretanto, para que daí por diante se mantivesse uma vigilância cons
tante. Os portu
A 30 de dezembro, duas idênticas bonecas, encontradas em um pe gueses ten
queno bote junto ao Forte Bruin foram encaminhadas ao Conselho. Essa tam incen
diar os na
jangada, que sem dúvida fora para lá conduzida com o fim especial de vios holan
atar as bonecas aos navios, avistada pelas sentinelas, foi pelos seus deses.
ocupantes abandonada juntamente com as bonecas.
Em sua carta datada do Forte Margarida, na Paraíba a 30 de dezem
bro, e recebida a 31 (334), o Sr. De Linge dizia que certo negro deser
tado do inimigo em Santo-André declarara que os portugueses tinham
construído duas grandes barcas com capacidade para 300 homens cada
uma para com elas atacar o entrincheiramento de Pedro Potí, coman
dante dos brasileiros; que Camarão tinha se demorado cerca de três se
manas na Paraíba; que a tropa inimiga consistia em cêrca de 15 ou 16
companhias, mas que havia muitos doentes por falta de recursos e que
tôdas as forças adversárias do Rio-Grande se haviam retirado.
A missão A 6 de janeiro de 1646, Pieter Bas, um dos membros do Grande
de Pieter Conselho, por ordem dêste, zarpou com duas caravelas — o Lichthart e o
Bas.
Recife — e uma barca denominada Blauwe Boer com destino às Capi
tanias de Paraíba e Rio-Grande. Levava instruções para consultar o
Sr. Linge, Comandante em Chefe da Paraíba e demais oficiais, sôbre a
maneira de pôr em boas condições de defesa os entrinchei ramentos e ou
tras obras dos brasileiros. Daí deveria ir para o Rio-Grande, onde faria
uma relação das propriedades de portugueses, as quais, por estarem
seus donos ligados aos rebeldes, deveriam reverter à Companhia. Cum-
pria-lhe também tentar recambiar para a Companhia as mercadorias que
pelo mesmo motivo se achassem escondidas ou sonegadas. Levava, ainda,
instruções no sentido de tomar tôdas as providências que julgasse con
veniente aos nossos interêsses, mas principalmente pela segurança da
Capitania. Assim, fora igualmente incumbido de exortar os habitantes
Informes a se consagrarem com firmeza ao cumprimento de seus deveres, sem des
sôbre as cuidar do cultivo da terra e da criação de gado.
intenções Pieter Duinkerken regressou à Paraíba a 12 de janeiro, depois de
do inimigo.
fazer um cruzeiro ao largo do Recife, no navio Hamel, trazendo uma car
ta do Sr. Linge, datada do Forte de Santa Margarida, a 11 de janeiro.
O Sr. Linge havia encaminhado ao Conselho o Sr. Pieter Steenhuizen,
que fugira ao inimigo quando êste iniciara a matança dos holandeses a
seu serviço. Êsse tal Steenhuizen trouxera notícias de que Camarão se
guira da Paraíba para o Rio-Grande, à frente de 500 soldados escolhidos,
para ocupar o interior da Capitania e assim impedir que as nossas guar
nições de lá recebessem gado e farinha. Informou também que o inimi
go já sofria escassez de carne, azeite, vinho, e outros gêneros mas, por
outro lado, o povo alardeava que, por falta de provisões, logo teríamos
que entregar os nossos fortes aos portugueses. Confirmada a informa
ção pelo Sr. Linge, em sua carta de 10 de janeiro, convocou-se um con
Conferên selho, a reúnir-se a 13 de janeiro, ao qual deveriam comparecer os Srs.
cia sobre Hendrik Hamel e Bullestrate, membros do Grande Conselho, o assessor
o caso. Walbeek, o Tenente-Coronel Garstman, os srs. Raets Vald, de Wit, Alrich
Volbergen e Lems, a-fim-de deliberar sôbre a situação. Considerou-se,
então, que, se o inimigo dominasse o interior e nos privasse do forneci
mento de gado e farinha do Rio-Grande, justamente numa ocasião em
que Itamaracá e Paraíba também estavam bloqueadas, ser-nos-ia quase
impossível manter a posse do Brasil Holandês, enquanto não chegassem da
Metrópole os socorros esperados. Discutiu-se, nessa reunião, se seria mais
fácil manter esta Capitania por meio de uma poderosa digressão ou se,
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 235
tade, o Sr. Bas não pôde desembarcar suas forças em Cunhaú a-fim-de
reuni-las às do Capitão Reinbergh. Só conseguiu efetuar o desembarque
nos dias 14 e 15 do mesmo mês, junto a Pirangí. Nesse ínterim, Ca
marão logrou romper através da Mata, e, surpreendendo várias pessoas
nas fazendas, massacrou-as, sem distinção de idade nem de sexo. Colo-
cou-se, depois, com suas forças compostas de 400 brancos, outros tantos
brasileiros e 80 tapuias sob o comando de Antônio Jácomo Bezerra, na
propriedade de Henrik van Hamme, situada em Monpebú com o propó
sito de interceptar nossos abastecimentos de gado e farinha. As forças
batavas, compostas de cêrca de 1000 soldados, brasileiros e tapuias, mar
charam para o sítio de João Lostão Navarro, a-fim-de atacar o inimigo e
forçá-lo a abandonar a Capitania do Rio-Grande. Além dessa tropa,
Jacob Rabbi e os filhos do rei Janduí com 60 tapuias passaram, a 19
daquele mês, pelo forte Keulen, sendo diariamente seguidos por outros que
vieram em nosso auxílio. O Sr. Bas solicitou o fornecimento de víveres,
de que estavam grandemente necessitados, pois havia cêrca de 1500 bra
sileiros, entre velhos, mulheres e crianças, alojados no Castelo. Pediu
também algum dinheiro, munições, linho e sedas com que presentear os
brasileiros e tapuias. Tudo isso lhe mandou o Conselho e mais algu
mas peças de fazenda vermelha.
Tomando em linha de conta êsse aviso, e sendo de recear que o ini
migo, não resistindo ao assalto no Rio-Grande, se retirasse para a Paraí
ba, ponderou-se, a 29 de janeiro, se seria aconselhável perseguí-lo, até a
Paraíba, caso êle para lá se dirigisse voluntàriamente ou impelido pelas
nossas tropas, tentando a seguir, desalojá-lo também daquela Capitania.
Entretanto, considerando que, dada a fraqueza de nossas guarnições, não
poderíamos mandar mais reforços do Recife, de Itamaracá ou da Paraí
ba, sem que as nossas tropas nesses lugares corressem grave risco; que,
ao contrário, ao inimigo não faltavam meios de reforçar as suas fileiras
com elementos das adjacências ; e mais, que esperávamos a qualquer mo
mento a chegada de socorros da Holanda, resolveu-se não arriscar, numa
emprêsa dessa ordem, todo o Brasil Holandês.
Expediram-se, por isso, instruções ao Sr. Bas e aos demais coman
dantes de nossas tropas, no sentido de agirem com todo o cuidado possí
vel, contentando-se com a recuperação da Capitania do Rio-Grande e não
perseguindo o inimigo até a Paraíba.
A 30 de abril (337), por ordem especial do Conselho, foi o Coronel
Garstman, pela segunda vez, enviado com alguma tropa para a Capitania
(337) O tradutor inglês escreveu 30 de março (cf. p. 160, 2.a col., 2." § da ed.
holandesa e p. 114, 1.° col., 2.° § da ed. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 237
17
r
238 JOAN NIETJHOP
(339) O tradutor inglês escreveu 27 de fevereiro (cf. p. 162, l.a col., 3.° § da
ed. holandesa e p. 115, 1.» col. 1." § da ed. inglêsa).
r
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 239
Sr. Pieter Bas, composta de 500 homens, poderia ser esperado no Reci
fe a qualquer momento. Informava ainda o Sr. Linge que não havia
avistado o inimigo ultimamente, mas, ciente de que em um vale, próximo
à Aldeia ou à vila de Miageriba, se achava acampada numerosa tropa,
para lá enviara 120 soldados e 100 brasileiros a-fim-de atacá-la e trazer
alguns prisioneiros. Com efeito, a 4 de março, chegava Bas ao Recife
com sua tropa, composta de 500 homens, procedente do Rio-Grande, e,
no dia seguinte, deu contas ao Conselho de sua expedição.
Na noite de 9 de março, três corpos inimigos surgiram junto ao Diversas
forte Príncipe Guilherme e dispararam diversas salvas de armas peque- escaram»-
nas. Entretanto, ante a pronta resposta de nossa artilharia, retiraram-se ças-
imediatamente. No mesmo dia despachou-se um destacamento de 50
homens sob o comando do Tenente Mos a-fim-de colher informações.
Tendo, porém, encontrado duas companhias inimigas, feriu-se vigoroso
embate após o qual as nossas forças se retiraram, para o forte Waerden-
burgh, sem grandes perdas, e o inimigo foi forçado a fugir ante as nos
sas descargas de artilharia. Por carta de 8 de março, datada do forte
Santa Margarida, na Paraíba, o Sr. Linge transmitiu ao Conselho a má
notícia de que, no Rio-Grande, o inimigo havia, por meio de uma retirada
simulada, atraído o Tenente Jan de Wale, com 48 soldados, a uma em
boscada, onde se perderam 30 homens, conquanto, pelo que informaram al
guns desertores que tomaram parte no encontro, também o inimigo ti
vesse sofrido pesadas baixas. Nesse combate estiveram presentes Cama
rão, André Vidal e outros oficiais portugueses. Mais ou menos na mesma
ocasião, 15 brasileiros surpreenderam cinco homens, seis mulheres e oito
crianças num entrincheiramento denominado Papecú e situado sete ho
ras (340) acima de Iguarassú.
Entrementes, os tapuias, que costumam descer das montanhas às cen
tenas, mais ou menos pelos meados do verão, atacaram a Capitania do
Rio-Grande, e, depois de se apoderarem de todos os animais que pude
ram encontrar, voltaram para suas tabas. O regresso dos índios foi
ótimo para nós, pois, sem nossas guarnições, não nos seria possível sub
sistir lá. Escasseando dia a dia as provisões do Recife, o Conselho de
cidiu a 6 de março mandar para Itamaracá os brasileiros engajados no
Rio-Grande, juntamente com uma companhia de fuzileiros, a-fim-de
transportar as reservas dos nossos armazéns e conseguir um pouco de
mandioca na ilha. Apresentaram-se então ao Conselho, os Majores Ba-
yert e Pistor para dizer que tendo tido conhecimento de que o povo co
meçava a murmurar contra o fato de se acharem êles em casa, a pretêxto
uma barrica com aveia, uma pipa de vinho, um barril com óleo e outra
com ervilhas sêcas, além de boa quantidade de munições. Dortmont
teve, também, ordem de remeter os brasileiros de volta ao Rio-Grande
para defender a Capitania e saber se o inimigo tinha para lá se dirigido, Boa remes
a-fim-de que se pudessem sustar os seus passos. sa de man
Enquanto isso o Almirante Lichthart (de conformidade com sua dioca trazi
da para
carta de 21 de março, para o Conselho) embarcara alguns soldados e Itamaracá.
brasileiros em Itamaracá, e, dirigindo-se à desembocadura setentrional
do rio, subiu-o até a ilha do Itapessoca (341), de onde conseguiu trazer
grande quantidade de mandioca para consumo dos brasileiros, em Itama
racá, e para abastecer os armazéns da ilha. Navios
A 30 de março, foi resolvido, com a aprovação do Almirante Lich despachados
thart, despachar os seguintes navios em cruzeiro ao largo da Baía: o em cruzeiro.
Vlissingen, o Ter Veer e os iates Hazewint, Heemstee, Spreeuw e Bui-
lestrate. A 6 de abril despacharam-se, em idêntica missão, ao largo de
Santo Agostinho as caravelas Hamel e Lichthart seguidas dos navios Zoe-
telandia e Vlucht que zarparam a 10 de abril.
A 31 de março, o Conselho recebeu cartas do Rio-Grande, datadas de
25 de março, informando que Paulo da Cunha e Camarão entraram em
Cunhaú com 800 homens, entre os quais havia 300 mosqueteiros, a-fim-de Notícias
levar para Paraíba todo o gado do lugar. do Coronel
Entretanto, de acordo com as cartas dirigidas ao Conselho pelo Co Garstman.
ronel Garstman, datadas de 4 de abril, o inimigo já havia abandonado o
Rio-Grande, sem nada fazer contra as nossas forças que consistiam em
30 ou 40 soldados e 200 ou 300 brasileiros (342) acampados junto à casa
de João Lostão; levou, porém, algum gado.
Mais ou menos pela mesma ocasião, o Conselho recebeu comunica
ção do Sr. Linge de que o inimigo tinha dado vários alarmes falsos junto
ao forte, sem, entretanto, tentar ação alguma. De fato, em junho, não Jacob Rabbi
mais apareceu pelas adjacências. traiçoeira
À meia-noite de 5 de abril de 1646, Jacob Rabbi foi traiçoeiramente mente
assassinado com dois tiros, perto de Potengí, a cêrca de três horas (343) morto.
(341) Nieuhof escreveu Tapesoque. Vingbooms (XCVII, vol. II, mapa refe-
xente a Itamaracá).
(342) O tradutor inglês escreveu 400 soldados e 300 brasileiros (cf. p. 164,
2° col. 2.° § da ed. holandesa e p. 116, 2.° col. 3." § da ed. inglêsa).
(343) O tradutor inglês escreveu 3 léguas ao invés de 3 horas. (cf. p. 164,
2.» col., 4." § da ed. holandesa e p. 116, 2.a col., 5." § da trad. inglêsa). A data,
secundo Alfredo de Carvalho, é 4 de abril. For evidente equivoco, no trabalho de
Alfredo de Carvalho está escrito 1647, tanto na edição da Rev. do Inst Arqu. e Geog.
Pern., 1912, vol. XIV, p. 657-667, (Um intérprete dos tapuias), como na edição
póstuma dirigida pelo Dr. Eduardo Tavares, sob o título "Aventuras e Aventureiros
no Brasil", Pongetti, 1930, coleção de vários trabalhos de Alfredo de Carvalho, entre
242 JOAN NIEUHOF
os quais "Um intérprete dos tapuias". Existe, também, uma separata, Recife, 1912,
17 pp-, 4.°. Na ed. de Aventuras e Aventureiros juntou-se o inquérito mandado
realizar pelo Supremo Conselho sôbre o assassinato de Jacob Rabbi (p. 177-204),
traduzido, também, por Alfredo de Carvalho, onde a data dos vários depoimentos é
1646. Moreau (LIX, p. 129-133) relata o caso e os protestos dos tapuias, mas não
precisa o dia. O Jornal de Arnhem (XXIX, p. 186, 187, 193) refere-se à chegada
de Garstman a Maurícia, aos protestos dos tapuias e a movimentos de soldados, com
o fito de libertar ou enforcar Garstman.
(345) O texto desde "Por causa disso..." até "... os >eus feitos" foi tradu
zido diretamente do holandês. Além de omissões, contém erros como o de escrever
24 de março ao invés de 24 de abril. (cf. p. 164, 2.a col. e 165, 1.» col. da ed. holan
desa e p. 116, 2.a col. da ed. inglêsa).
(346) O tradutor inglês escreveu 40 homens (cf- p. 165, 2.a col., 2." § da ed.
holandesa e p. 117, 1.» col., 3.° § da trad. inglêsa).
244 JOAN NIEUHOF
(351) O tradutor foi infiel neste trecho, (cf. p. 166, 2.a col., 2.° § da ed.
holandesa e p. 118, l.» col. l.° § da trad. inglêsa).
(352) O tradutor inglês omitiu o número de brasileiros amotinados. (Cf. p.
166, 2.° col. 2.° § da ed. holandesa e p. 118, 1.° col. 2.° § da trad. inglêsa).
(353) O tradutor inglês omitiu a data. (cf. p. 166, 2.a col. últ. Ç da ed. hol.
e d. 118, 1.° col. 2.° § da trad. inglêsa).
246 JOAN NIEUHOF
(354) O tradutor inglês omitiu a data. (cf. p. 167, 2.a col-, 3." § da ed. hol.
e p. 118, 2.» col. 3." § da trad. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 247
(357) O tradutor inglês escreveu 500 mulheres e crianças (cf. p. 169, L8 co!.
§ da ed. holandesa e p. 119, 2.° col. 2." § da ed. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 249
■
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 251
Assim foi que, para mais de 1200 brasileiros, em sua maioria mulhe
res e crianças, cujos maridos e pais foram mortos em defesa da nossa
causa, embarcaram a bordo do navio Omlandia e de alguns iates, com a
ração de uma libra de bacalhau salgado, por pessoa, sem pão, durante a
viagem, de Itamaracá ao Rio-Grande. Quando lá chegaram tal era o
abatimento em que se achavam, que mais pareciam cadáveres que viven
tes. Atiravam-se avidamente a tudo quando encontravam na ânsia de
satisfazer seus estômagos famintos, e, dentro de pouco tempo, tinham
consumido tôda a farinha lá existente.
Em cartas de 2 e 5 (358) de junho, comunicou o Sr. Linge aò Con
selho que por essa época não se via o inimigo na Paraíba, mas, que dez
tapuias, vassalos do rei Janduí, chegados ao Rio-Grande, mostravam-se
muito aborrecidos com o assassinato de Jacob Rabbi, pelo que se decidiu
reconquistar as boas graças daquele rei para com nossa causa, presentean-
do-o com o seguinte:
18
254 JOAN NIETJHOF
Chegada da Holanda, podia-se ler no semblante de todos nós o intenso júbilo que
de socorros. êsse socorro representava, chegando justamente no momento em que nos
achávamos na mais penosa situação. Ninguém mais se podia firmar
sôbre as pernas, tal a fraqueza a que nos reduzira a falta de alimentação;
mesmo assim, porém, todos se arrastavam até o cais onde, de longe, se
podia perceber que o povo chorava de alegria. Êsses dois navios, deno
minados Valk e Elizabeth foram fretados pela Câmara de Amsterdã e
haviam zarpado de Texel a 26 de abril. Trouxeram-nos a boa notícia de
que o restante do combóio chegaria a qualquer momento. O Capitão do
Elizabeth contou-me que, certo dia, percebendo vento à feição, disse à sua
tripulação : "tenho certeza de que estão sofrendo penúria no Recife. Deus
nos dê vento e tempo favoráveis, para que possamos socorrê-los a tempo".
Felizmente foi isso que se deu. Os capitães de ambos os navios receberam
medalhas de ouro com a seguinte inscrição : O Falcão e o Elizabeth salva
ram o Recife (361).
A 23 de junho, o Sr. Pieter Bas, membro do Conselho, foi enviado
O Sr. Bas
enviado a para Itamaracá a-fim-de auxiliar a defesa do forte. Por carta de 28 do
Itamaracá. mesmo mês, mandou dizer que o inimigo continuava em sua posição no
morro e que tinha despachado alguns espiões à cata de informação. A
7 de julho o Sr. Pieter Bas regressou ao Recife com as companhias
comandadas pelo Capitão Blauwenhaen e Koenraet Heit, deixando duas
companhias, a do Capitão Reinier Sikkema e Capitão Dignus Bysterman,
Os portu na guarnição. Dois dias antes os portugueses, depois de destruírem o for
gueses te do morro, deixaram a ilha levando consigo tôda a artilharia, inclusive
deixam
duas peças de bronze. Pois, quando viram que recebemos reforços da Ho
Itamaracá.
landa, em diversos navios, não acharam prudente continuar na ilha até que
cortássemos a retirada com nossa esquadra. Sabiam, também, os lusos
que, sem capturar o forte de Orange, não podiam esperar conservar a pos
se de Itamaracá, pois a entrada meridional era dominada por aquêle forte,
e a passagem Norte pela nossa frota.
A 29 de junho, o Conselho recebeu informação do nosso quartel-
-general instalado na casa de João Lostão, no Rio-Grande, dizendo que
lá haviam chegado dois filhos de Janduí, com 23 tapuias, enviados
pelo pai, a-fim-de nos assegurar de suas boas intenções e auxílio; que,
entretanto, se recusavam vi» até o forte Keulen, antes de falar com
Roelof Baro, que para isso fora enviado. Mais ou menos por essa época,
diversos comerciantes despacharam embarcações, mas, como isso não se
conseguia senão com grandes despesas e como havia poucos navios por
tugueses no mar, a emprêsa não produziu resultados, e, por isso, pouco
durou.
Mais ou menos por essa ocasião, deu-se comigo estranho acidente:
havendo os navios da Companhia apreendido uma barcaça carregada de
vinho, os marinheiros se embriagaram a tal ponto que, ao procederem ao
descarregamento, no Recife, mal podendo fazer o seu trabalho, deixaram
cair um barril de vinho, do que resultou a morte de um homem, ficando
vários outros feridos. Dirigí-me ao local, a-fim-de restabelecer a ordem
e impedir que bebessem durante o trabalho e para prevenir outras des
graças. Logo que entrei no navio, notei que todos os galões de prata do
meu casaco negrejaram e pouco depois fiquei inteiramente cego, para
minha grande aflição. Depois de alguns dias, a cegueira foi pouco a
pouco desaparecendo e recuperei a vista. Atribuo o fato à forte exalação
do vinho, que tinha estado fechado por muito tempo (362).
Por essa ocasião surgiu uma divergência entre oficiais do Exército
e da Milícia Municipal com relação ao comando supremo da Guarda do
Recife, que os da Milícia reclamavam para si a sua instituição.
Voltemos, porém, aos nossos demorados socorros.
As repetidas cartas dirigidas pelo Conselho do Brasil Holandês aos Uma esqua
Estados Gerais e aos diretores da Companhia, relatando a posição melin dra armada
drosa em que nos achávamos, causaram tal impressão nos círculos ofi para socor
ciais da Metrópole que aconselharam os diretores da Companhia a enviar rer o
Brasil.
um reforço de 5000 ou 6000 homens além de boa armada. Para tanto
os Estados Gerais forneceram 25 companhias de tropas regulares e deram
licença à Companhia para engajar outras tantas, perfazendo um total
de 4.000 soldados, sem contar os marinheiros e voluntários.
Essa frota, composta de numerosos e ótimos navios, estava pronta
para zarpar, em novembro de 1645, mas, devido a uma violenta tem
pestade de neve, ficou detida no pôrto de Vlissingen até fevereiro de
1646. Comandava-a o Sr. Bankert, Almirante da Zelândia, e os cinco
senhores adiante mencionados que também seguiam com a armada, pois
que foram nomeados diretores do Grande Conselho do Brasil Holandês,
em substituição aos que estavam em exercício. Eram êles o Sr. Walter
Schonenburgh, Presidente, Michil Van Goch, Pensionário de Vlissin
gen, Simon van Beaumont, Advogado Fiscal da cidade de Dordrecht,
(362) Êste trecho, desde "Mais ou menos por essa ocasião..." até "... por
muito tempo", foi traduzido diretamente do holandês, (cf. p. 176, 2.° col. 3.° § da
ed. holandesa e p. 124, 1.° col. últ. § da trad. inglêsa).
258 JOAN NIEUHOF
(365) O tradutor inglês escreveu 30 de julho (cf. p. 178, 2.a col., 4.° § da ed.
holandesa e p. 125, col. 3.° § da trad. inglêsa).
(366) Nieuhof escreveu Pojukus (p. 179, l.a col., l.° §). Trata-se de grafia
estropiada, pois o nome certo é Paiacús, do grupo Cariri. Os Paiacús dominavam
desde a ribeira do Jaguaribe até a fronteira do Rio-Grande-do-Norte, com a Pa
raíba, a serra Cirité. Revoltaram-se mais tarde várias vezes e no século XVIll
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 261
Pem., 1887, vol. 6, p. 196-197) consta, também, várias vêzes o nome de Duarte da
Silveira como comprador. Assim é que comprou a Antônio Je Sá, em 17 de junho
de 1637, por 10.000 florins, o engenho Velho de Beberibe, mais tarde denominado
Eenkalchoven. (cf. também Pereira da Costa, O passo do Fidalgo, Rev. Inst. Arq.
Geog. Pern., 1902, n. 56, vol. X, p. 61). A 17 de junho, o engenho chamado Bom
Jesus ou do Tripicho, pertencente a D.» Isabel de Moura, foi por êle comprado por
60.000 florins e, finalmente, a 23 de junho, o engenho Novo, pertencente a Pais Bar
reto, por 42.000 florins.
Duarte Saraiva foi também um dos que assinaram o pedido para que Nassau
permanecesse no Brasil, no qual pedido se oferecia a Nassau o estipêndio de 7.000
florins anuais, (cf. Bloom, XI, p. 138).
Gaspar Franco da Costa foi um dos judeus que compraram carga de dois navios
espanhóis apreendidos pelos holandeses. Gaspar Franco da Costa comprou 338:2
florins, (cf. Bloom, XI, p. 134).
(368) Tudo leva a crer que seja exata a afirmativa de que João Fernandes
Vieira deixou-se levar muito mais pelas dívidas que lhe pareciam insolváveis do quo
pelo programa de idéias de liberdade divina. Depois da descoberta dos papéis iné
ditos relativos a fraudes e má fé de João Fernandes Vieira, feita por Alberto La
mego, ficou comprovado o interêsse econômico como causa principal de ter Vieira
264 JOAN NIETJHOF
Schkoppe, toda a sua força não ultrapassava 600 homens e que os socorros
por ele trazidos não vão além de 1200 homens, dos quais a maior parte
é constituida por adolescentes e os demais estão doentes ou já mortos.
Como vê V. S., estou bem informado de sua força, pois já abatemos ou
aprisionamos 2,600 de seus melhores soldados e 500 brasileiros, além
dos feridos que foram transportados para o Recife quando as nossas
tropas não dispunham de outras armas que chuços e cacetes. Êsses
feitos constituem verdadeiros prodígios do céu, pois se conseguimos fazer
tudo isso sem pólvora nem balas, o que se não poderá esperar de nossas
forças, agora que estão revigoradas por tropas de primeira e bem muni
ciadas ?
Dou-lhe a minha palavra em como tudo quanto disse não é senão
a pura verdade. E, não fora o respeito devido aos Coronéis vindos da
Baía e à Sua Majestade de Portugal, por esta época eu já estaria
senhor do Recife e de alguns dos fortes, ou pelo menos teria feito muito
maiores estragos. Entretanto, se as cousas não terminarem bem, estou
resolvido a agir como um desesperado e a não deixar nenhum engenho,
gado ou negro no país. Porei tudo em ruinas antes de ser de novo obri
gado a render obediência aos batavos.
Servindo a presente de aviso, espero que V. S. e os demais comercian
tes não se demorem em fazer conosco um acordo capaz de preservar seus
haveres. Devo lembrar-lhes que muitos engenhos estão atualmente em
tal estado, que não poderão ser utilizados pelos próximos 10 anos. A
Várzea não está em melhores condições que Paraíba e Goiana e o gado
(sem o que os engenhos não podem subsistir) destruido por quase toda
parte.
Supomos que o Coronel Sigemundt pretende manter o domínio dos
campos, como na última guerra. Desta vez, porém, verá que se enganou
redondamente, pois o povo não estará a seu lado, e, se eu souber de um
que lhe seja simpático, fá-lo-ei enforcar imediatamente. Os holandeses
alegam que nós somos vassalos das Companhias. Mas, quando foi uma
nação conquistada, tratada como fomos, pior que vis escravos? E disso
V. S. sabe tão bem quanto nós. Portanto, tendo sido forçados a romper as
correntes que nos prendiam, não lhes devemos mais obediência. Se não
tivéssemos agora esperanças, de há muito teríamos pedido auxílio ao
Rei da Espanha ou da França, e, se êsses falhassem, teríamos recorrido
aos turcos ou aos mouros. Peço-lhe que não atire fora esta carta porque
a experiência o convencerá da verdade que ela encerra, bem como de
que manteremos aqui os mesmos métodos empregados em outras para
gens. Não desejaria, portanto, que V. S. desse crédito a não ser àqueles
266 JOAN NIETJHOF
que vêm, em pessoa, dêsses lugares. Nada mais lhes disse que a pura
verdade e V. S. o constatará no seguinte: no prosseguimento desta guer
ra, espero que V. S. pondere de que lado está o seu interesse, no que
estou pronto a auxiliá-lo, pois, conquanto os seus governantes não diri
jam a mim sua correspondência, sou eu quem tem o comando supremo
da campanha; estão sob minhas ordens os Coronéis que vieram da Baía
e cuja autoridade não ultrapassa as tropas que com eles vieram.
Arraial do Bom Jesús, 11 de setembro de 1646.
0 Coronel ordenou-me que fornecesse novas roupas aos que tudo per
deram, fazendo o desconto relativo em seus soldos. Respondí-lhe, po
rém, que sendo apenas um cumpridor de ordens, não poderia fazer tal
19
I
270 JOAN NIEUtíOF
ga de cerca de 100 cabeças, a qual foi atacada pelo nossos e fugiu. Mas
perto dêsse lugar, o inimigo tinha um acampamento com algumas cen
tenas de homens, que atacaram os nossos e fizeram com que recuassem,
deixando para trás cêrca de 150 homens, cinco capitães, três tenentes e
alguns outros oficiais, dos quais morreu um capitão. Os capitães prisio
neiros eram Samuel Lambert, La Montagne, Gerrit Schut, Kiliaen Sni-
jder, Daniel Koin; o tenente Joost Koyman, Antony Baliart, Jeronimus
Hellemans, com um porta-bandeira.
A 8 de janeiro o Sr. Van Goch, em nome do novo Conselho, comuni-
cou-se com os membros do antigo, no sentido de que, tendo ficado resolvi
da a remessa de numerosa força a Paraíba, em importante missão, o
novo Conselho desejava ser informado sôbre a atual situação daquela ca
pitania, bem como se as cidades de Paraíba e Santo-André poderiam ser
defendidas por pequena guarnição. Os membros do antigo Conselho res
Consultas
ponderam que a Cidade Frederica não dispunha de água potável, sendo
sôbre a
esta transportada de meio quarto de hora de distância. Nessas condi situação
ções, o seu suprimento poderia ser facilmente obstado pelo inimigo. O da Paraíba.
mesmo poderia acontecer com a passagem que conduzia à margem do rio.
Além disso não havia fortificações na cidade ; as que existiam pertenciam
ao mosteiro e não eram de grande monta; também a igreja de Duarte
Gomes havia sido fortificada pelo inimigo, durante a guerra. Quanto a
Santo-André, essa localidade nada mais era que um engenho de açúcar
situado na barranca do rio a quatro horas de viagem da cidade de
Paraíba. Disseram ainda que as comunicações entre essa localidade e o
forte Santa Margarida poderiam ser facilmente interceptadas pelo ini
migo, pois a distância entre a fortaleza e a cidade era de quase 4 horas
(373). Contudo a posição poderia ser socorrida sem dificuldade pelo rio.
O Sr. Van Goch prometeu apresentar um relatório ao Conselho.
A 12 de janeiro, o Conselho recebeu informação de que o inimigo
tinha invadido a Paraíba com poderosa força e tendo avançado até pró
ximo ao engenho de Santo-André, surpreendeu à noite cêrca de 50 holan
deses e brasileiros, entre os quais mulheres e crianças. Em sua fúria,
os soldados haviam aberto a barriga das mulheres.
No dia seguinte o inimigo fêz novamente distribuir panfletos dizen
do, em resumo, que, desde que o povo do Recife não mais tinha esperança
de reforços, o melhor seria chegar a um acordo, pois os portugueses
estavam dispostos a tudo tentar antes de abandonar seu objetivo. Se
porém o acordo não fosse possível, êles destruiriam todo o país antes
(373) O tradutor inglês escreveu 4 léguas (cf. p. 189, l.a col., 4." § da ed.
holandesa e p. 131, 2.» col. penúltima linha da trad. inglêsa).
276 JOAN NIEUHOF
(374) O tradutor inglês omitiu a data 24 de dezembro (cf. p. 190, 2.a col., 2.°
§ da ed. holandesa e p. 132, 2.° col. 3.° § da trad. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 277
(376) O tradutor inglês escreveu Frederick William (p. 133, 2.a col., 2.° §) ;
não existiu forte algum com êste nome, pois havia o forte Frederick Hendrik ou
Quinquangular ou o Forte Prins Willem (Principe Guilherme). O autor escreveu
Vijfhoek, isto é, Quinquangular (p. 192, l.a col.).
280 JOAN NIEUHOF
calcula em 7.400 soldados, 1.400 negros, 700 gastadores, ao todo, com escravos, etc.,
12 a 13.000 homens e os nossos em 2.500. Fernandes Pinheiro (LXVIII, p. 317)
calcula em 4.500 soldados e 150 tapuias da parte holandesa.
Variam, também, os cômputos dos feridos e mortos; mas o certo é, sem dúvida,
o dado por Varnhagen (LXXII, p. 62), isto é, 515 mortos e 523 feridos, sendo 74
oficiais fora de combate. Rodolfo Garcia confirmou a relação dada por Varnhagen,
ao transcrever o ofício do Supremo Conselho no Recife aos Estados Gerais, datado
de 22 de abril de 1648; êsse documento encontra-se entre os Documentos Holandeses
coligidos por Caetano da Silva na Holanda; encontram-se aí especificados os nomes
dos oficiais mortos e os soldados pertencentes às respectivas companhias (LXXII,
p. 75-79, nota VII de Rodolfo Garcia). O Barão do Rio-Branco aceita o mesmo
relato. Wãtjen e Netscher (XCVI e LXIII, pp. 264 e 158 respectivamente) cal
culam em 470 mortos e 523 feridos. Handelmann (XL, p. 247-248) avalia em 400
mortos e 500 feridos; finalmente, o sempre inexato e hiperbólico Rafael de Jesus
(XLIV, p. 594) em 1.200 mortos, entre os quais 180 oficiais. Entre os brasileiros,
84 mortos e 400 feridos (Barão do Rio-Branco, LXXV, p. 291). Rodolfo Garcia
(LXXII, p. 79, nota VII) baseou-se no relato oficial de Francisco Barreto (Rev. do
Inst. Hist. e Geog. Bras., 56, parte 1, 71/75). J. F. Pinheiro (LXVIII, p. 321).
Handelmann exagerou as nossas perdas, calculando-as em 500 brasileiros entre fe
ridos e mortos (XL, p. 248).
Quanto à segunda batalha de Guararapes, que Nieuhof datou de 16 de abril,
laborando em êrro, verifica-se que o tradutor inglês piorou o êrro, marcando-lhe a
data de 16 de maio (cf. p. 193, 2.» col. 4.° § da ed. holandesa e p. 134, 2.» col. 23.»
linha da trad. inglêsa). Sôbre essa segunda luta, variam também os cálculos sôbre
os efetivos e os mortos, parecendo-nos, porém, que os melhores foram os feitos por
Varnhagen e Rodolfo Garcia. Segundo o Barão do Rio-Branco (LXXV, p. 146, 147),
as nossas fôrças compunham-se de 2.750 homens e as dos holandeses de 4.200 ou,
segundo os escritores portugueses, 6.000. Rafael de Jesus (XLIV, p. 618) calcula
em 5.000 homens; as perdas foram em número de 1.800, contando com índios, preto3,
marinheiros e feridos; e os brasileiros 60 mortos e 250 feridos. Essas cifras de
mortos e feridos estão exageradas, pois, segundo Varnhagen (LXXII, p. 94), os
holandeses perderam 1.045 homens e os nossos 45 mortos e duzentos feridos. Ro
dolfo Garcia, nota II a p. 128-39) mostrou que as perdas holandesas montaram a
1.044 e as nossas êle as calculou no mesmo número que Varnhagen. Segundo do
cumento Lyate vande hoge ende lage Officieren mitsgaders de gemeene soldaten
deweleke in Batalie teghens de Portugiesen aenden Bergh van den Guararapes (3
mijl van't Recif) doot zijn gebleven op den 19 Februarius 16U9 (isto é Relação dos
Oficiais, sub-oficiais e soldados rasos que caíram mortos a 19 de fevereiro de 1649,
na batalha contra os portugueses no monte dos Guararapes (3 milhas do Recife),
existente na Bib. Nacional, Miscelânea, IV, 428, n. 139 do Catálogo da Exposição
Nassoviana, 1929, vol. LI, 1938, o número das perdas holandesas foi de 1.043. Do
lado holandês, deve-se, portanto, comparar esta lista (Anexo II) pela primeira
vez publicada, com a que se encontrava nos Documentos Holandeses, vol. 4, fls.
198-201, publicada por Rodolfo Garcia LXXII (note II a p. 128-139). Do lado
brasileiro, a Relación de la Victoria que los portugueses de Pernambuco Alcançaron
de los de la Compania dei Brasil en los Garerapes a 19 de Febrero de 16U9, Tra-
dueida dei Aleman, publicada en Viena de Áustria, Ano 16U9 (B. Nacional, IV-211,2,19
(3), 10 pp., publicada na Rev. do Inst Hist., Geog. Bras., vol. 22, p. 331-337; e noa
Anais da Bib. Nacional, vol. 20, p. 153-157.
282 JOAN NIEUHOF
(378) Nieuhof não foi absolutamente original neste trecho referente à Man
dioca. Em alguns trechos se baseia em Marcgrave ou em Piso, e, em outros, copia
literalmente o que escreveram os mesmos. Os capítulos plagiados são: De Piso:
Capítulo II do livro IV — De Mandioca (p. 52-55) ; de Marcgrave: o capítulo IV do
livro II (p. 65-68). Indicaremos nos respectivos lugares os trechos plagiados. Não
sabemos o motivo que terá levado Wátjen (XCVI, p. 445) a afirmar que a melhor
descrição da Mandioca foi a feita por Nieuhof. O curioso é que êle não desconhecia
o trabalho de Piso e não ignorava a descrição de Barlaeus. Pondo de lado o traba
lho de Barlaeus, que se utilizou de material acumulado por outros, é de se admirar
tal afirmação, pois melhor do que a descrição de Piso, só a de Marcgrave. E isso admi
tindo ainda a originalidade de Nieuhof, que, como sabemos, é inexistente. Cabe,
ainda, acrescentar que a tradução alemã feita por Wãtjen da descrição da Mandioca
de Nieuhof, além de resumida, contém lapsos (cf. p. 283-284 da ed. alemã Das hollan-
dische Kolonialreich in Brasilien. Haia e Gotha, 1921, ou p. 445-446 da trad.
Brasileira, XCVI). Em Piso (LXX, 52), Maniiba & Mandioca: em Marcgrave
(LXX, 65), Mandijba & Maniiba, Mandioca; (Vide sôbre os nomes diferentes Hoene,
CHI, p. 205). Em Soares, Mandioca (LXXXVI, p. 186-188); em Gandavo (XXXVI,
p. 43 e 95); Cardim (XIX, p. 60). Em Abbeville (XXXVIII, p. 46), Manioch; era
Léry (LII, p. 112), Maniot; segundo Batista Caetano não é fácil explicar a etimolo
gia desta dicção, que se acha modificada em outras línguas; não resta dúvida que
vem do abafieenga; os vocabulários não a registam (III, p. 216, 127). Mandiiba
segundo o mesmo autor (XLVI, p. 216) é nome da árvore da mandioca; regista
também (III, p. 217) manib — como árvore de mandioca.
Maniçoba em Piso (LXXI, p. 116). Segundo Batista Caetano (III, p. 216),
mandiiçob ou maniçob = folha de mandioca.
(379) Em Marcgrave (LXX, p. 66) qui Brasiliensibus voeatur Co, Lusitani»
Roza. Cô, segundo o Dicionário Português-Brasiliano (XXX, p. 223), significa roça,
quinta, sítio.
Em Marcgrave (LXX, p. 66), Terra elaborata efformatur in montículos, Lusitani
vocant Monte de terra cavada, Brasilienses Cujo.
y
284 JOAN NIEUHOF
ferro repleta de furos com bordos cortantes, qual ralo para noz-moscada.
0 movimento contínuo da roda rala a mandioca em pequenas partículas
que vão caindo em uma gamela. Essa roda é chamada, pelos brasileiros,
Ibecém Babaca, e, pelos portugueses, Roda de Farinha (381). O reci
piente é denominado Meekaba, pelos brasileiros, e, pelos portugueses,
Cocho de ralar mandioca (382). Todavia, as pessoas mais pobres têm de
se arranjar com um ralo manual a que chamam Tapiti (383). A raiz,
depois de ralada, vai para um saco tecido de fibras vegetais, medindo
cêrca de quatro polegadas de largura a que os portugueses chamam Es-
premedouro de Mandioca (384). Depois de cheio o saco, é o mesmo colo-
lado em uma prensa onde a mandioca já ralada perde todo o sumo (dota
do de propriedades tóxicas), chamado Manipuera ou Manipueira pelos
brasileiros e água de mandioca (385) pelos portugueses. A próxima fase
do processo consiste em fazer a massa passar por uma peneira a que os
brasileiros dão o nome de Urupema (386). Daí a farinha vai para um
recipiente de cobre, ou forno, que é levado ao fogo. A farinha é então
constantemente revolvida com uma pá ou espátula de madeira, até secar
perfeitamente. A êsse algidar os brasileiros chamam Vimovipada, e à
espátula denominam Vipucuitaba. Antes de bem sêca, os brasileiros cha
mam a farinha Vitinga e os portugueses Farinha Ralada. Quando, porém,
já está completamente sêca e pronta para ser guardada, os brasileiros
(391) Êste trecho foi, talvez, copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67). Piso
(LXX, p. 54).
(392) Êste trecho é, também, copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que
regista: Tapurú.
(393) Êste trecho é, talvez, copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que
regista: Mandiopuba & Maniopuba. Piso (LXXI, p. 116) registou Puba; e (LXX,
p. 54), Mandiopiba.
(394) Êste trecho é, talvez, copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que
regista: "Mandiopuba; Caarimâ e Caarimâciu ". Piso (LXX, p. 54).
(395) Êste trecho referente ao Mingau é copiado de Marcgrave (cf. LXX, p.
67), que regista: "Quiya e Minguipitinga". Em Piso (LXX, p. 54), Mingau-pe-
tinga; Piso (LXXI, p. 116) regista a flôr Nhambi.
(396) Marcgrave (LXX, p. 67) não a menciona; Piso (LXX, p. 54) regista
Tipioca.
(397) Êste trecho foi copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que regista:
farinha de Caarima e Mingaupomonga.
288 JOAN NIEUHOF
(398) Êste trecho foi, também, copiado de Marcgrave (f. LXX, p. 67), que
regista: Mandiopuba; Vipuba & Viabiruru; Farinha fresca & Farinha d agua-
Em Piso (LXX, p. 54), Vipeba.
(399) Êste trecho foi copiado de Marcgrave (cf- LXX, p. 67), que regista:
Viapuâ, Miapeteca e Viatâ.
(400) Êste trecho foi copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67) ; Tinâ & Mi-
xacuruba.
(401) Êste trecho foi copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que regista:
Tipirati ; Miapeatâ.
(402) Êste trecho foi copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que regista:
Aipimacaxera ; Cavimacaxera ; Caon Caraxu.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 289
(403) Êste trecho foi copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67) que regista:
Aipimacaxera.
(404) O tradutor inglês não foi fiel (Cf. p. 202, 2.a col. da ed. holandesa e
p. 138, l.* col. da trad. inglêsa).
(405) Trata-se da Vitinga, pois Marcgrave (LXX, p. 68) ao escrever sôbre
o uso da mandioca na Medicina afirma que a Vitinga sara as úlceras.
(406) Compare-se com o cap. VII, p. 68, de Marcgrave (LXX), onde êle dá
os diferentes nomes da planta em diversos países (Yuca, Cazave, Quauhcamotli) e
afirma que a planta é originária do Continente Americano. A mandioca é nativa
no Continente Americano e tem o seu centro no Brasil meridional e central. Cf-
Hoehne, p. 30, XLII.
290 JOAN NIEUHOF
(407) O tradutor inglês escreveu três ou quatro florins por bushels; omitiu as
mil covas de mandioca e, mais adiante, escreveu dois shillings por três buaheU. (Cf.
p. 138, l.a col., l.° § da ed. inglêsa e p. 201, l.a col., 3.° e 4.° §§ da edição holan
desa). — Schelling: antiga moeda de prata, no valor de seis stuivers. O stuiver
vale 0,05 florins.
(408) Em Marcgrave (LXX, p. 73, cap. XII) Caaeo dos Brasileiros; Herba
viva do vulgo; Em Gandavo (XXXVI, p. 100-101). Em Cardim (XIX, p. 69).
(409) Nieuhof escreveu Kalabassen (p. 201, 2.a col., 1.° §).
(410) Em Marcgrave (LXX, 125) lamacurú (árvore de tamanho médio) e
(LXX, 126) Imacuru, árvore de grande tamanho, chamada pelos brasileiros Co*oi"
e pelos Lusitanos Cardon. Marcgrave (id., 23) regista também a planta.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 291
Brasileiros. Em Batista Caetano (III, p. 549) : Ubá em vez de uíb — á, s., cana;
e p. 553 — uíb — á, mais próprio uibae, s.. espécie de cana; uíbâ = uimâ — cana.
Em Marcgrave (LXX, p. 83) Guirapeacojâ dos Brasileiros e Páo de galinha dos
Lusitanos; Piso (LXX, 50) Guirapeacoca dos Brasileiros e vulgarmente Páo de
galinha.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL. 295
uvas maduras durante o ano todo terá apenas que podar a vinha em
épocas diversas, conseguindo assim uvas excelentes e vinho tão doce
como o de Malvasia. Infelizmente, porém, as formigas atacam furiosa
mente as vinhas, sugando todo o néctar e deixando ao viticultor apenas
a casca. Diversas espécies de árvores frutíferas foram transplantadas
da Holanda para o Brasil, onde se desenvolvem perfeitamente e produ
zem frutos excelentes.
As águas paradas são, no Brasil, em sua maioria, cobertas de ervas
e arbustos, de maneira que mais dão a impressão de terra que de água
e alimentam tanto a fauna terrestre como a aquática. À entrada dos
rios (onde se encontra prodigiosa quantidade de ostras e caranguejos)
o terreno é de tal forma coberto por certa espécie de árvore chamada
pelos brasileiros Guaparaba, ou Mangue (419), que barram a passagem
ao viajante. Em resumo, todo o território brasileiro é rico em árvores,
arbustos e madeiras úteis, dificilmente encontrando-se um pedaço de chão,
seja nos vales, seja nas serras, que não produza algo de útil e em tal
abundância, que os portugueses, ao chegar, tiveram de abrir caminho
através do arvoredo, vencendo dificuldades tremendas e enfrentando des
pesas enormes.
As montanhas produzem, também, grande quantidade de certa ma
deira que exala aroma muito agradável e é usada em tinturaria; trata-
-se do pau-brasil usualmente exportado para a Europa.
t
O tronco dessa árvore é nodoso e dotado de agradável aroma, atin
gindo às vêzes a grossura de três toesas; suas folhas são verde-escuro e
levemente espinhosas nos bordos, desenvolvendo-se sôbre pedúnculos cur
tos. A casca, que tem a espessura de duas ou três polegadas, é geral
mente retirada do tronco antes de ser êste pôsto à venda. Essa árvore
brota de suas próprias raízes e não produz nem flores nem frutos. A re
gião onde prolifera está geralmente de 10 a 12 milhas do litoral. Aí é
abatida, despida de sua casca e transportada em carrêta para a costa
de onde é exportada, principalmente para uso dos tintureiros. Dada a
sua excelência os nativos chamam-na Ibirapitanga (420). Quando os
(425) Marcgrave (LXX, 95) registou êsse fato, ao escrever que a árvore
começa a florescer no fim do mês de agosto, atingindo o máximo em setembro.
Chove muito nos meses de agosto e setembro, quando caem as flores, e os frutos co
meçam a nascer em novembro e dezembro, atingindo em dezembro e janeiro o má
ximo de frutos maduros. Depois começam as chuvas e o aspecto das árvores i
triste. Marcgrave regista também o fato de os brasileiros contarem os anos pelas
castanhas de cajú. Piso registou, também, o mesmo fato (LXX, 58) ; e Morisot
(LIX, nota 9) cita a tábua astronômica de Marcgrave (LXX, 265-267), onde êle
afirma que em 1640, 41 e 42 a máxima de chuva foi atingida nos meses de feve
reiro, março, abril, maio, junho, julho e agosto.
(426) Em Marcgrave (LXX, 133), Pindoba; em Piso (LXX, 61, 62). Pindova
Em Piso (LXX, 62), Caranaibam & Anachecariri dos Bárbaros e Tamar dos Lu
sitanos. Em Marcgrave (LXX, 130), Caranaiba e Ananachicariri dos Brasileiros.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 301
(427) Compare-se com o seguinte trecho de Piso (LXX, 62): Post floseulot
ittos provemunt fructus, figura & magnitudine olivae, primum viridea, amari, non
edules; mox maturi nigreseentes evadunt dulces mense Februario, & licet nostra-
tibus nullius usus, gentilibus tamen tam crudi quam praeparati in deliciis habiti,
Tirade nuncupantur. Tarde crescit haee Arbor.
302 JOAN NIETJHOF
um caroço resistente, ovalado, que não difere muito do côco, tem idêntica
espessura, mas não tem poros, e cuja polpa é tão clara como a da noz e
igualmente branca, mas não tão doce como a do côco. Êsse fruto é usado
tanto pelos naturais como pelos estrangeiros e dá durante o ano todo.
Os brasileiros chamam-no Inajámirim, isto é, coquinho. A polpa desta
castanha fornece também um óleo branco, refrigerante que tem a mesma
aplicação que o nosso óleo de rosas, e, enquanto fresco, pode ser utiliza
do para saladas, mas, depois de velho, só serve para iluminação. A
casca dá um óleo de natureza idêntica, mas não tão refrigerante. Do
tôpo da árvore corre uma resina fina e aromática, que pode ser usada
como goma-arábica. Daí tiram também uma espécie de medula que tem
o paladar da nossa noz, e usada com pão e sal constitue poderoso ali
Coqueiros. mento.
Há, também, no Brasil coqueiros a que os naturais chamam Inajá-
guacuiba; à fruta chamam Inajáguaçu (428). São, porém, muito dife
rentes da Pindoba que acabamos de descrever. Seu tronco raramente é
reto; apresenta-se em geral tortuoso e às vêzes de 7 a 14 pés de es
pessura e 50 de altura. Não têm galhos; apenas no tôpo há cêrca de
15 ou 20 folhas, cada uma com 15 pés de comprimento. Existe também
grande quantidade de tamareiras, tanto machos como fêmeas.
A prodigiosa quantidade de formigas que infesta o Brasil constitue
séria ameaça para tôda a espécie de produtos do solo. Dá-se combate
a êsse inseto pela água e pelo fogo. Observa-se também que alguns ani
mais e frutos na Europa considerados venenosos, são comestíveis no Bra
sil. Por outro lado, alguns dos animais e frutos que são venenosos no
Brasil, na Europa não o são. Há, por exemplo, certas variedades de
rãs e peixes tidas como extremamente venenosas; enquanto que algumas
qualidades de formigas, cobras, vermes e ratos silvestres são consumi
das pelos naturais sem nenhum inconveniente.
Alimentação
dos brasi- O alimento mais comum entre os brasileiros é a farinha de man
sileiros. dioca a que chamam Vi (429) e da qual já nos ocupámos largamente.
Além disso alimentam-se de diversos animais e aves selvagens, carangue
jos, frutas e ervas. A carne, quer seja cozida ou assada, consomem-na
quase crua. Cozinham em panelas de barro, por êles mesmo fabricadas,
(428) Em Piso (LXX, 63), o fruto da Pindova é a Inaia miri, que são cocos
pequenos; Inajaguacuiba as árvores (coqueiro) e Inajaguacu (ao fruto); em
Marcgrave (LXX, 138), Inaia Guneuiba (árvores) e Inajaguacu, (o fruto); e
acrescenta que no Congo chamam-na de Ejaquiambutu e aos frutos Quiti inça
quis.mbtu; os lusitanos chamam-no de coquiero (sic). Marcgrave não regista
Inaia-miri; Soares (LXXXVI, 221) Anajámirim.
(429) Marcgrave (LXX, 273) escreveu: Universale Brasiliensium alimentiim
est Vi, Lusitanis Farinha de Mandioca dieta.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 303
(433) EmMarcgrave (LXX, 84); Piso (LXX, 51) diz em que consiste e à
p. 12 refere-se sôbre o uso entre os africanos e a mistura com fôlhas de cajú.
(434) Em Marcgrave (LXX, 137), Pacoeira dos Lusitanos; não é natural do
Brasil; no Congo chamam-na Quibuaaquitiba e ao fruto Quitiba; Pacobete dos Bra
sileiros e Paeoba dos Lusitanos. Em Cardim (XIX, 63), Facoba. Em Léry
(LII, 159), Pacoére e Pacó. Em Soares (LXXXVI, 207), Pacobeiras e Pacobas.
Segundo Plínio Ayrosa (LII, p. 159, nota 388), opá + oba = tudo fôlha.
Ananás. Em Piso (LXX, 87), Ananás, ou Nana. Em Cardim (XIX, 62),
Nana; em Soares (LXXXVI, 225), Ananaz. Segundo Rodolfo Garcia (XIX, 113),
na — nã, cheira cheira.
Em Marcgrave (LXX, 121), Mangabiba ou Mangaiba, fruto Mangaba. Em Pu»
(LXX, 76), Mangaiba. Soares (LXXXVI, 210). Cardim (XIX, 51). Segundo
Teodoro Sampaio (LXXXI, 138), manguaba, cousa de comer.
Em Piso (LXX, 67) Ianipaba. Em Marcgrave (LXX, 92), Ianipaba dos Bra
sileiros e Ienipapo dos Lusitanos. Em Cardim (XIX, 58), Genipapo. Soares
(LXXXVI, 214). Frei Vicente do Salvador (LXXVIII, 32), janipapos. Segundo
Batista Caetano yandípáb, s, genipapo (III, p. 569).
Sôbre Caraguatá, cf. nota 423. Sôbre Cauim vide Hoehne XLII, p. 145 e Lérj
LII, p. 118 e p. 105 nota 187 de Plínio Ayrosa.
r
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 305
(435) Pety = petim, tabaco (III, p. 372). Cf. Plínio Ayrosa (LII, p. 163,
nota 400).
(436) Urucuri é nome dado a palmeiras (III, p. 569) e Iba, árvore (III, p. 184).
306 JOAN NIEUHOF
NO LITORAL BRASILEIRO
(440) O tradutor inglês não foi fiel (cf. p. 215, 2.° col. da ed. hol. e p. 148,
2.» col. da trad. inglesa).
Sôbre os excessos judaicos no comércio, cf. Wâtjen (XCVI, 365-376), especial
mente p. 371, onde se documentam os. absurdos das especulações dos mercadores
judaicos. Vide também o capítulo "A queda do domínio holandês", in Civilização
Holandesa no Brasil (LXXVII, 274, 307) e, finalmente, Bloom (XI, especialmente
pp. 128-144).
DANSA DE NEGROS
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 309
com incrível firmeza. Ainda no meu tempo, uma negra deu à luz uma
criança cuja pele e cabelos não eram negros, mas vermelhos. Vi, também,
um garoto, filho de pais negros, que tinha pele branca, cabelos e sobran
celhas claros, mas, encaracolados, e nariz chato como o dos pretos. Tive
ocasião de ver negros velhos com longas barbas brancas e cabelos grisa
lhos, apresentando aspecto nobre.
Indígenas. Os nativos do Brasil agrupam-se em diversas nações, que se distin
guem pelos seus nomes próprios iTubinambás, Tobajaras, Petiguarás e
Tapuias e Tapuyers ou Tapoeyers (441). As três primeiras nações usam
a mesma língua que difere apenas nos dialetos. Todavia, a última se subdi
vide em diversas tribus que se distanciam tanto nos costumes quanto na
língua. Os brasileiros que viviam entre nós e os portugueses, eram de es
tatura mediana, fortes, bem conformados e espadaúdos. Tinham olhos ne
gros, bôca rasgada, cabelos pretos, encaracolados e nariz chato. Êsse acha
tamento não lhes é natural, mas, considerando-o traço de beleza, os pais
praticam-no nas criancinhas, quando ainda muito tenras. Os selvagens
pintam o corpo e o rosto de diversas côres, e, em geral, são imberbes, con
quanto alguns tenham barba preta. As mulheres têm igualmente estatu
ra mediana, membros bem torneados e não são feias. Também elas pos
suem cabelos pretos e não nascem escuras ; o sol é que lhes dá, aos poucos,
uma côr amarelo-bronzeada. Os aborígenes chegam logo à maturidade
e atingem a idades avançadas, em perfeita saúde. Também raramente
ficam grisalhos. Vêem-se, igualmente, europeus aí residentes atingi
rem a 100 e 120 anos. Atribue-se êsse fato à temperatura, à água, ao
clima que, de fato, é tão bom, a ponto de espanhóis, que não passavam bem
na Espanha ou nas índias Orientais, virem para o Brasil a-fim-de des
frutar o ar excelente e a água magnífica. É verdade que a maior parte
das crianças filhas de estrangeiros sofrem de moléstias prolongadas, a tal
ponto que, dificilmente, uma em três consegue sobreviver. Isso, porém,
não se atribue ao clima e sim à má alimentação. Poucos são os aleijados,
entre os aborígenes; são desempenados e ágeis, o que é realmente de
admirar, porque não costumam enfaixar as criancinhas — a não ser os
pèzinhos — por considerar pouco saudável.
Antes de os holandeses se firmarem no Brasil os portugueses haviam
escravizado os indígenas, pensando ser essa a melhor maneira de os ex
terminar, e, de fato, conseguiram realizar o seu intento com tal eficência
(441) Compare-se com Marcgrave (LXX, 268), donde Nieuhof tirou essa
classificação. Tabbajarás em Ayres do Cazal (XXVI, 198). Em Cardim, (XIX,
171) Potyguaras e Pitiguaras. Afora os cronistas portugueses, do lado holandês
o trabalho de Marcgrave é o mais importante. (V, cap. IV, De Incolis Brasiliae, p-
268-279, afora o texto de Rabbi e Herckmans).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 311
(442) O tradutor inglês escreveu 100 anos (cf. p. 217, l.a col. da ed. hol.
e p. 148, 1.» col. da trad. inglêsa).
(443) O tradutor inglês omitiu êste trecho (cf. p. 217, 2.» col., 3.° § da
ed. holandesa e p. 148, 1.» col. da trad. inglêsa).
(444) Em Marcgrave (LXX, 278) está escrito Guau, Urucapi, Curupirara.
Guaibipaie, Gnaibiguaibiabucu. Também neste trecho Nieuhof plagiou Marcgrave.
312 JOAN NIEUHOF
(ao qual chamam Patigua), leva outro à cabeça, com todos seus uten
sílios domésticos, ou então uma cesta enorme com farinha. Carrega, ain
da, várias outras vazilhas menores, pendentes de ambos os lados, nas
quais leva água para beber. A criança é transportada num pedaço de
algodão atado em tôrno do busto e pendente do ombro direito. O bebé
fica ali acomodado, com as perninhas abertas, uma esticada diante do
ventre materno e a outra sôbre o quadril. Como se tudo isso ainda não
bastasse, a índia leva um papagaio ou macaco empoleirado na mão e
puxa um cachorro atado a um cordel. Assim parte a família das selvas
para suas viagens, sem mais provisões que pequena reserva de farinha.
Os campos fornecem-lhe alimento; as fontes e os rios dão-lhe de beber.
Tambem o vegetal denominado Caraguatá, lhes alivia a sêde, pois con
serva sempre um pouco de água pluvial no recesso de suas folhas: ver
dadeiro refrigério para os viajantes que, em regiões estéreis, são às
vêzes forçados a percorrer 10 ou 12 milhas ou mais sem encontrar qualquer
espécie de água. À noite os aborígenes penduram suas rêdes em árvores
ou estacas, acendem fogo para preparar a comida e abrigam-se da chuva
com folhas de palmeiras. Quando estão em casa, o marido geralmente
sai pela manhã munido de arco e flecha para a caça, ou então vai pescar,
no mar ou no rio, enquanto a mulher se ocupa das plantações. Algumas
delas seguem seus maridos a-fim-de apanhar as presas. Dão caça aos
animais selvagens de diversas maneiras. Matam alguns a flechadas, apa
nham outros em covas feitas a propósito e disfarçadas com ramos e fo
lhas de árvore, dentro das quais colocam alguma carniça para atrair o
animal que pretendem apanhar. A essa armadilha chamam Petaku. Cotís-
troem também mundéus de madeira e empregam diversos métodos para
agarrar animais selvagens, a cada um dos quais dão nome diferente. Para
caçar pássaros, usam três qualidades de arapucas a que dão o nome de
Jukana. A primeira delas — a Jukanabiprara — segura as aves pelos
pés; a segunda prende-as pelo pescoço e é conhecida por Jukanajuprara;
e, finalmente, a terceira apanha-os pelo corpo e tem o nome de Jukanajn-
teraba. Matam os peixes com flechas ou pescam-nos com ganchos, usando
para isca vermes que chamam Kanduguaku, minhocas, caraguejos ou
peixinhos. Preparam o pesqueiro pondo na água folhas de Japikaj, Tim-
potiana, Tinguy ou Tinguirri. Outras vêzes empregam uma fruta cha
mada Kururuape, ou a raiz denominada Magui, ou ainda a casca da ár
vore Anda, a-fim-de obrigar o peixe a nadar pela tona, como morto; apa-
nham-no, então, com uma espécie de peneira denominada Vrupema, feita
de taquara ou caniços e, neste caso, chamam-na Vruguiboandipia. No
mar, pescam com anzóis de ferro e usam carne para isca. Afoitam-se
bastante no oceano, servindo-se apenas de três toras de madeira, atadas,
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 313
22
318 JOAN NIEUHOF
continuaram a atirar seus dardos contra a fera, até que, quando esta
já se esvaía em sangue, um dos bugres saltou-lhe sôbre o dorso e, to-
mando-a pelos chifres, atirou-a por terra. Ajudado por seu companhei
ro, matou o animal. A seguir prepararam a carne, assando-a enterrada,
segundo o costume selvagem, e com ela banquetearam-se em companhia
dos demais tapuias presentes.
Os tapuias de ambos os sexos, desde o chefe até o mais simples dos
selvagens, andam inteiramente nus. Os homens apenas escondem as par
tes íntimas, em uma espécie de saquinho ou cesto feito de casca de árvo
re, atando-o com um amarrilho. Quando precisam, retiram êsse estôjo, e,
nisso, mostram mais recato que alguns europeus. Hábito idêntico têm
os demais brasileiros que habitam o interior. As mulheres escondem
suas partes íntimas com um punhado de ervas ou com um ramo de ár
vore atado a um cordel que passam sôbre os quadrís. De idêntica ma
neira procuram velar as nádegas, mas fazem-no tão descuidadamente
que, tanto na frente como atrás, parte do que pretendem esconder con
tinua exposto. Os homens usam, ainda, uma espécie de coíja feita de
penas de Guara ou Kaninde, da qual pendem sôbre as costas penas da
cauda da Arara ou Kamud; alguns atam na mão um fio de algodão, no
qual amarram penas vermelhas ou azues; a êsse ornato chamam Akan-
buaçada. Os aborígenes têm também mantos tecidos com fio de algodão,
coroo rêde. Em cada furo enfiam uma pena vermelha de Guara, acom
panhada de penas pretas, verdes e amarelas de Aakukaru, Kazinde e
Arara, arrumando-as de maneira semelhante às escamas de peixe. Den
tro dessa capa existe uma espécie de boné que cobre a cabeça, deixando
que o manto caia sôbre os ombros e o corpo, de forma a cobrí-lo até mais
ou menos o meio. Assim é que êsse abrigo pode ser usado tanto para
ornamentar como para agasalhar, pois a chuva não o atravessa. Tal
capa é conhecida na língua dos selvagens pelo nome de Guara Abuku.
Os aborígenes colam, ainda, com mel silvestre sôbre a testa, a crista de
certas aves, e a êsse ornato dão o nome de Aguaria.
Se a um índio morre o pai ou a mãe, arranca êle todo o cabelo da
cabeça. No lóbulo das orelhas os aborígenes costumam fazer furos tão
grandes que nêles se pode introduzir um dedo. Em tais orifícios usam
atravessar um osso de certa espécie de macaco a que denominam Nam-
bipaya ou um pedaço de madeira coberto de algodão. No lábio superior
os homens fazem furos onde engastam pedaços de cristal, esmeraldas ou
jaspe do tamanho de uma avelã. A essa pedra chamam Metara, mas, se
for verde ou azul, seu nome é Metarobi; em geral preferem pedras verdes.
Os selvagens fazem também perfurações no rosto, de ambos os lados da
bôca; aí os casados usam um pedaço de madeira do tamanho e da gros
320 JOAN NIETJHOF
sura de haste de uma pena de ganso. Às vêzes usam nesse orifício uma
pedra chamada Tembekoareta. Nos furos que praticam nas narinas,
os selvagens usam também pedaços de madeira semelhantes aos que cha
mam Apiyati. Pintam todo o corpo com certo suco castanho extraído
do Genipapo; tal hábito estende-se às mulheres e crianças. Além disso,
colocam em diversas partes do corpo, com mel silvestre ou resina, penas
de várias côres que, a grande distância, lhes dão a aparência de aves.
Essa maneira de ornamentar chama-se, entre êles, Akamongui. Assim é
que adornam os braços com pulseiras de penas vermelhas e amarelas, dan
do a isso o nome de Aguamiranga. Às vêzes entremeiam corais com as
penas, e o ornato passa a chamar-se Arakoaya. Os selvagens fabricam
também braceletes com as sementes de um fruto denominado Aguay
os quais usam nas pernas para fazer barulho quando dansam. As san
dálias que adotam são feitas da casca de Kuragua e têm o nome de
Miapakaba. Algumas nações de tapuias não usam arco e flecha; limi-
tam-se a atirar seus dardos à mão; os Carirís, porém, trazem arcos. Os
tacapes são feitos de madeira muito dura e largos numa das extremida
des, onde também fincam agudos dentes e ossos ponteagudos. Enrolam
no cabo um cordel ou outra cousa qualquer e atam, na extremidade, um
punhado de penas da cauda da Arara; no meio, colocam mais uma or
dem de penas. A essa arma dão o nome de Atirabebe e Jatirabebe. As
trombetas, a que chamam Kanguenka, são feitas de ossos humanos ; toda
via, as chamadas Nhumbugaku, de tamanho muito maior, são de chifre.
Existe ainda outra modalidade de corneta feita de taquara e chamada
Meumbrapara. Os tapuias não são tão bons guerreiros quanto os de
mais brasileiros, pois quando a luta é dura êles fogem com incrível rapi
dez. Não semeiam nem plantam qualquer outra cousa que não a man
dioca, e sua alimentação usual é constituída de frutos, raízes, ervas,
animais selvagens e, às vêzes, mel silvestre, que colhem do ôco das árvores.
Dentre tôdas as outras raízes os nativos apreciam de maneira particular
uma variedade de mandioca nativa que atinge o porte de uma árvore
pequena. Seus galhos e folhas lembram os da mandioca comum, mas
nem de longe se lhe assemelha em qualidade. A essa variedade os bra
sileiros do interior chamam Cuguaçuremia e os do litoral Cuaçumandiiba.
Os aborígenes também comem carne humana. Se acontece de uma
mulher abortar, êles imediatamente devoram o feto, alegando que não
podem dar melhor túmulo à criança, que as entranhas de onde veio. Os
tapuias levam vida nômade como a dos árabes, conquanto permaneçam
sempre mais ou menos numa certa área dentro de cujos limites vão
mudando de morada, conforme as diferentes estações do ano. Vivem
de preferência no mato, alimentando-se de caça, em cuja atividade êles
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 321
(451) O tradutor inglês escreveu "28 léguas" (cf. p. 154, 2." col. da ed-
inglêsa e p. 226, 2.° col. da ed. holandesa).
(452) O tradutor inglês escreveu "60 léguas" (cf. p. 226, 2.° col. da ed.
holandesa e p. 154, 2.° col. da trad. inglêsa).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 323
(453) Cf. nota 1. O trecho desde: "Assim, depois de uma viagem..." até
o fim foi traduzido diretamente do holandês, pois o tradutor inglês omitiu 12 pp. e
meia, ou sejam 25 colunas da ed. holandesa, resumindo-as em 2 colunas e um
têrço de coluna, ou sejam 1 p. e 1/3. (Cf. p. 228 a 240 da ed. holandesa e p.
155-156 da trad. inglêsa).
324 JOAN NIEUHOF
vam disso os Altos Comissários, que agiam, então, em todos os casos, como
governantes cuidadosos e diligentes.
Além disso, a sala de conselho dos Altos Comissários estava sempre
aberta para êles, sem qualquer impedimento, atendendo os Altos Comis
sários as informações que traziam e aos projetos que faziam.
Ademais, para dizer a verdade, os Altos Comissários não eram tão
amigos dos portugueses, a ponto de não querer ver a revolta, de vez que,
neste caso, estes últimos não teriam planejado começar a execução de
seus desígnios e de sua revolta matando os Altos Comissários, agindo
como se fossem seus amigos, conforme mais tarde se soube.
Os portugueses ligavam, também, grande importância à morte dos
Altos Comissários e convidavam todos abertamente a fazê-lo, prometendo
uma recompensa de 6.000 florins àquele que tivesse coragem de iniciar,
executar e levar a têrmo êsse empreendimento.
De Vries e seus companheiros acusavam, igualmente, os Altos Co
missários, dizendo que êles não tinham intenção de punir devidamente
os culpados. Assim é que teriam restituído a liberdade a um certo João
Carneiro de Morais e a Francisco Dias Delgado, os quais, conforme se
dizia, sabiam da traição e logo que chegaram junto aos seus foram no
meados cabeças e chefes dos rebeldes. E que mesmo depois disso lhes
teriam sido vendidos escravos a prazo.
Isso, porém, parece ser contraditório. Pois se se tinha a intenção
de não punir convenientemente os culpados, não se teriam prendido e
detido os mesmos a-fim-de tornar a soltá-los depois, mas dever-se-ia tê-
-los deixado passar despercebidos. É certo que várias pessoas suspeitas, em
número de mais de trinta, foram detidas por ordem dos Altos Comissá
rios, sem que se possa provar que qualquer uma delas tivesse sido liber
tada sem estar inocente. Ao contrário, vários detidos, de diferentes lu
gares, considerados culpados no julgamento do Conselho da Justiça, fo
ram punidos com a morte de várias maneiras, cada um conforme mere
cia, segundo se vê pelos julgamentos enviados ao Conselho dos XIX,
pelo Advogado Fiscal.
Verdade é que João Carneiro de Morais e Francisco Dias Delgado
foram libertados depois de se ter verificado, num rigoroso inquérito,
que não eram culpados de traição ; mas, depois de libertados e de haverem
chegado junto aos seus, não foram nomeados, imediatamente, chefes e
cabeças dos rebeldes. E isso era tanto mais improvável, quanto os
mesmos eram considerados cristãos-novos, isto é, judeus, os quais, entre
os portugueses, não eram tolerados publicamente e muito menos mere
ciam confiança para ocupar algum cargo.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 329
Aliás, eram êles dos homens mais abastados que viviam em fazendas
desta região, e, das investigações procedidas, nada ficou apurado con
tra êles.
Naquela época, a revolta não atingira, ainda, várias regiões, como
o Rio-Grande, Paraíba, Goiana e outros lugares, cujos habitantes tinham
renovado, a 17 de julho de 1645, o juramento de fidelidade. Paulus de
Linge, da Fortaleza Frederica, situada na Paraíba, nos informara dêsse
juramento e de que, aí, tudo estava em paz e sossêgo, embora fosse difí
cil conservar a ordem entre os brasileiros das Aldeias, a-fim-de evitar que
os mesmos pilhassem os residentes portugueses. Informava, mais, que
para evitar essas pilhagens fizera tudo quanto lhe fora possível.
Diante disso, havia, então, esperanças fundadas de que, brevemen
te, se restabelecesse a ordem ou, pelo menos, de que o conflito se não
alastrasse.
A Companhia estava, então, em dificuldades, devido ao excesso de
escravos, e recebera ordem expressa do Conselho dos XIX de vendê-los
em três prestações, já que não se podia esperar vendê-los à vista, pois,
devido ao grande número de escravos, o seu prêço caíra de 100 oitavos
a 25 ou 26 oitavos.
Por conseguinte, não se podia imaginar o motivo pelo qual João
Carneiro de Morais e Francisco Dias Delgado haviam ido se reunir aos
rebeldes, de vez que eram ambos idosos, tinham sempre se mantido em
paz, haviam sido acusados falsamente por pessoas que, como outras,
não mereciam, então, mais confiança, e que costumavam vir comprar ne
gros. Neste momento, a Companhia precisava vender escravos, pois
não podia mantê-los sem grandes prejuízos, conforme ficou provado mais
tarde. Os negros não vendidos eram levados para as Ilhas Caraíbas,
livrando-se dêles, assim, a Companhia.
Reinavam grande preocupação e descontentamento entre a popula
ção e a burguesia do Recife, e os que acusavam os Altos Comissários
alimentavam êsses sentimentos com considerações sôbre a ruína e a de
cadência do Brasil Holandês.
Pode-se crer que alguns elementos da população se preocupassem
com os rumores que então corriam, vendo que seria difícil abafá-los.
Isso se evidenciou no dia 13 de outubro de 1645, quando alguns
comissionados escabinos e outros da milícia da burguesia, bem como al
guns dos principais burgueses, propuseram aos Altos Comissários, para
maior tranquilidade e contentamento dos burgueses, que alguns dos mais
importantes membros tanto do Colégio dos escabinos como da burguesia
fossem adidos ao Conselho dos Altos Comissários durante a crise, com
330 JOAN NIEUHOF
luta contra os inimigos indígenas e que Jorge de Albuquerque partiu para o Reino
numa quarta-feira 16 de maio do ano de 1S63.
De qualquer modo, em 1568, já estava pacificada a capitania de Duarte Coelho
Pereira (cf. Frei Vicente do Salvador, LXXVIII, pp. 108-110, e pp. 184-186; Ga
briel Soares, LXXXVI, p. 34-36; Ayres de Cazal, XXVI, vol. II, p. 137-138).
(455) A suspensão das lutas no Maranhão verificou-se em 27 de novem
bro de 1614. Foi assinada por Ravardière, comandante dos franceses e por Je
rônimo de Albuquerque, comandante da expedição brasileira, que foi à reconquista
dessa ilha (cf. Barão do Rio-Branco, LXXV, 640 e 430; e João Francisco Lisboa,
XLIII, p. 302, 303, 306). A suspensão de armas vigoraria até fins de dezembro de
1615. A 31 de julho de 1615 foi assinado um acordo pelo qual Ravardière se
comprometia a evacuar a ilha dentro de 5 meses, e, como penhor do tratado, en
tregava o Forte de Taparí.
(456) Olinda foi conquistada a 16 de fevereiro de 1630. Nieuhof logo a
seguir insiste em escrever 1629 (cf. VI e LXXV, p. 132).
(457) Parece tratar-se de pena. Realmente, o ato de desorelhar era um
antigo suplicio que consistia em tirar ou tronchar as orelhas a um condenado. Os
bons dicionaristas, como Bluteau, Domingos Vieira e Moraes, registam desorelhar
e desorelhamento. Na Espanha, "El fuero real" aplicava essa pena ao autor de
roubo de casa ou de igreja. No antigo direito português, essa pena parece ter exis
tido. Afirma Pereira de Sousa, um dos maiores criminalistas e processualistas criminais
do século XVIII, que o cortamento das orelhas era muito usado nas leis dos anti
gos, principalmente contra os roubadores do Templo, e cita os Ordenações livro 6,
tít. LX, § 11 (LXVI, p. inum., vide Cortamento). Ora, o citado parágrafo
336 JOAN NIEUHOF
diz: Que qualquer pessoa que for tomada cortando ou desatando bôlsa ou metendo
a mão em alguma algibeira, ora nelas se ache dinheiro, ora não, se for peão, seja
açoitado, e sendo em igreja, será mais degradado 2 anos para as galés. A pena do
do crime de roubo era, portanto, o açoite e, com a agravante de se verificar na
igreja, a de galés.
A pena de desorelhamento não consta explicitamente das Ordenações Filipinas.
Ela é cominada pelas Leis Extravagantes da época de D. Manuel. Chamavam-se extra
vagantes as leis não ordenadas.
Nas "Leis Extravagantes colligidas e Relatadas pelo Licenciado Duarte Nunez
do Liam per mandado do muito alto & muito poderoso Rei Dom Sebastião nosso
Senhor" (Com Privilegio Real. Em Lisboa per Antonio Goncalvez. Anno de
MDLXIX), à p. 120, Tit. II — Dos furtos & roubos, Lei I — Dos que eortão bolsas,
lê-se: "Determinou el Rei Dom Manuel em relação a 22 de Fevereiro de H99 que
qualquer pessoa, que fosse tomada cortando ou desatando bolsa, hora na bolsa it
achasse dinheiro, hora não, se fosse pião, fosse açoutado & desorelhado". (Foi. 115
do livro primeiro). Na Lei III do mesmo título, cominava-se a pena de desorelhamen
to aos escravos, nos seguintes termos: "Lei III. Dos que furtão vuas em Lisboa ou
riba Tejo, ou na corte. Ordenou o dito Senhor, q qualqr pessoa, q fosse tomada n»
termo da cidade de Lisboa, ou da banda dalê, ou riba Tejo, ou em qualqr lugar oná»
a corte stiuesse, cõ vuas furtadas, assi de dia, como de noite, se fosse pião, fosse
açoutado publicamente: & se fosse escrauo, ale da pena dos açoutes, fosse desore
lhado. . . . Per hu aluara de 8. de julio de 1521" (foi. 12 do liv. 3).
Pero Borges, em carta a D. João III, datada do primeiro ano de govêrno de
Tomé de Souza, de 7 de fevereiro de 1550, queixa-se de que "nom ay homens pers
serem juizes ordinarios nem vereadores e nestes hofficios metião degradados por
culpas de muita infamia e DESORELHADOS e ffazião outras cousas muito fura
de vosso serviço e rezão" (Cf. Pôrto-Seguro, LXXII, 1.° tomo, p. 233, nota X de
Rodolfo Garcia).
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 337
em poucos anos, tão fortes, que não temiam nem o perigo interior nem
o exterior.
*
Os nossos, pelo contrário, depois da ocupação do Brasil, não somen
te não imitaram qualquer dessas quatro nações, povoando completamente
as novas terras conquistadas, a-fim-de assegurar, de uma vez por tôdas,
seu domínio sôbre elas, como, o que é pior, nos longos anos em que as
dominaram nem sequer conseguiram que os dois principais portos de
todo o Brasil Neerlandês, Recife e Paraíba, pudessem ser protegidos por
gente livre, além do exército. Da mesma forma, não conseguiram que,
em tão vasta região, se estabelecessem duas colônias particulares com
capacidade, embora as mesmas fossem necessárias e embora se tratasse
de manter subjugadas estas terras conquistadas, com castelos e guar
nições.
As causas que motivaram o retardamento e detiveram o povoamento
do Brasil por holandeses livres já se disse que foram as seguintes:
Primeiro: consentiu-se, por meio de um pacto, que depois da nossa Porque o
conquista do Brasil a maior parte dos portugueses continuassem na posse Brasil
não foi
dos seus engenhos de açúcar, com os mesmos direitos de que gozavam
povoado
antes, sendo os mesmos de tal ordem que, sem seu consentimento e licen pelos
ça, ninguém podia atravessar os limites de suas terras e muito menos aí nossos.
construir casas ou estabelecer fazendas para pastos de animais ou para
plantações.
Ora, acontecendo que a maior parte dos lugares favoráveis ao po
voamento, tais como Serinhaém, Ipojuca, Santo-Antônio e outros lugares,
se encontravam situados dentro de um engenho de açúcar de algum portu
guês, os nossos eram obrigados a comprar dêles, em primeiro lugar, êste
direito ou de conseguí-lo de outra maneira, ao que os portugueses, muitas
vêzes, se mostravam pouco dispostos, por inveja do nosso povo, procuran
do antes favorecer aos seus do que aos nossos.
Segundo: Os engenhos de açúcar e fazendas confiscados foram
vendidos sem distinção, tanto á portugueses, como a holandeses, de mo
do que os holandeses tiveram menos ocasiões de estabelecer engenhos e
fazendas.
Terceiro: Os engenhos e as fazendas foram vendidos aos holande
ses por um prêço tão alto, que ficaram arruinados todos aquêles que os
compraram. Razão por que, mais tarde, nenhum dos que tinham meios
quis comprar engenhos, partidos ou fazendas.
Quarto: Os bens móveis, tanto alimentos como produtos manufa-
turados e materiais de construção, pertencentes aos engenhos, especial-
338 JOAN NIEUHOF
til terra nova na Mata, sendo deshabitadas, estavam abertas para êles,
embora a maior parte delas não servisse para engenhos de açúcar, por
estar fora de mão. Em lugar, porém, de favorecer a colonização por
meio de benefícios especiais e de privilégios, deixando-os, por algum tem
po, sem a obrigação de pagar impostos ou outras taxas, o Estado, levado
pelos lucros, não só vendeu por preços muito elevados os engenhos con
fiscados aos portugueses, logo depois de apoderar-se do Brasil, como ain
da, em lugar de deixar as colônias, por algum tempo, livres de taxas,
impôs tais foros e outras obrigações a todos os bens importados e expor
tados, que as pessoas livres, com o seu trabalho no interior, não
podiam subsistir. Daí resultou que poucas pessoas partiram para o in
terior, a-fim-de se dedicarem à agricultura. Quase todos ficaram retidos
no Recife, onde se podia ganhar muito dinheiro: primeiro, porque era a
capital do Brasil Neerlandês, onde havia grande movimento, e segundo
porque, ganhando os feitores, a princípio, grandes fretes de ida, seus pa
trões empregavam, muitas vêzes, o dinheiro que daí provinha, na cons
trução de casas, por causa dos grandes aluguéis. Foi essa a razão por
que, procurando cada um completar a sua casa, para receber aluguel, tor-
nou-se difícil conseguirem-se pedreiros e carpinteiros. Porém, pouco
tempo depois, os patrões, não se contentando com as remunerações dos
fretes de volta, deixaram de mandar as cargas. E uma vez que, feito
o armistício com Portugal, não mais chegavam prêsas, os soldados e ma
rinheiros deixaram de gastar os seus recursos nas estalagens, porque
seus ordenados mal chegavam para seu sustento. Em consequência, o
comércio diminuía dia após dia. De modo que, em lugar de haver o au
mento de pessoas livres, estas voltavam para a pátria, diante do levante
e da revolta, porque não possuíam meios de subsistência. O que, final
mente, deveria ter péssimas consequências para êste Estado, conforme
teve realmente.
Assim como êste Estado não atendeu, convenientemente, à questão
das colônias (como se vê claramente pelo que ficou dito acima), para
segurança do Brasil Neerlandês, assim também parece não ter zelado e
vigiado suficientemente a-fim-de mantê-lo por meio de fortalezas e guar
nições.
No comêço do ano de 1641, o Conde Maurício confiava em que, para
ocupação das fortalezas e lugares do Brasil, não incluindo o Maranhão,
segundo uma lista em que vêm expressas as guarnições de todos os lu
gares, para manter subjugados os portugueses, seriam necessários 7.076
soldados. Com êste número de soldados, porém, ainda ficavam desguar
necidos totalmente todos os engenhos de açúcar, as vilas e passos. Pelo
que ficava aberto aos residentes mal intencionados o caminho para, sob
340 • JOAN NIEUHOF
As estampas que ornamentam esta obra são ou reproduções das que se encon
travam na edição holandesa ou reproduções de estampas de outros trabalhos-
As primeiras foram gravadas segundo as que se encontram no livro de Marc
grave (LXX, p. 25). Segundo Ehrenreich, serviram de originais para as gravuras
representando Tupis e Tapuias às pp. 218 e 253 (é de notar-se que na edição
holandesa de 1682 não existe a p. 253; trata-se da estampa entre as pp. 244-225)
as xilografias de Marcgrave, adulteradas e modificadas.
Ehrenreich afirma que as estampas que se encontram em Marcgrave são cópias
toscas dos originais de Zacharias Wagner ou de Albert Eckhout, executadas sôbre
madeira, por um gravador pouco familiarizado com o seu oficio. Realmente, quem
fizer uma comparação entre as gravuras das pp. 270 e 280 de Marcgrave e as das
pp. 218 e 224 de Nieuhof, verificará a semelhança existente entre as mesmas. As
estampas que se encontram em Nieuhof foram gravadas a água-forte.
A solução do problema da autoria dos desenhos que serviram de originais às
xilografias que ornamentam a obra de Marcgrave resolveria, portanto, o da autoria
das estampas que se encontram em Nieuhof.
Zacharias Wagner, um dos autores a quem se atribuem os desenhos originais
que teriam sido copiados e gravados, chegou a Delft em 1641 e seus desenhos foram
feitos antes de 1641. (XXXIV, p. 23). Albert Eckhout, outro dos seis pintores
que trabalharam para Mauricio de Nassau, desenhou entre os anos de 1641 e 1643.
No primeiro momento parece, pois, que a Zacharias Wagner se deve atribuir a
autoria dos desenhos que, adulterados, serviram de modêlo para as gravuras de
Nieuhof. Acontece, porém, que o próprio Ehrenreich, reconhecendo a dificuldade
de tal problema, escreve: Não devemos coligir como certo que os desenhos de Wa
gner foram os primeiros e unicamente copiados do natural, não passando os quadros
de Eckhout de meras reproduções em escala maior. Mais provável será derivarem
uns e outros de esboços originais, que porventura se encontravam entre as pinturas
brindadas pelo príncipe. (XXXIV, p. 23).
Não se sentiu Ehrenreich, portanto, com elementos suficientes para resolver a
questão.
Thomas Thomsen, num estudo recente — Albert Eckhout ein niederlandischer
maler und sein gônner Moritz der Brasilianer, ein Kulturbil aus 17 jahrhundert,
Copenhagen, Ejnar Minksgaard, s/d. —, encarando o problema, afirma que os tipos
de nativos brasileiros de Eckhout foram reproduzidos em aquarelas por Zacharias
Wagner; considera Thomsen, portanto, que Wagner teiia plagiado Eckhout. Ba-
seia-se, para tirar essa conclusão, no estudo das evidências internas e da técnica
de pintura, mostrando que os outros desenhos de Wagner, que não os representando
nativos, copiados de Eckhout, são mais toscos e não apresentam a mesma habili
dade que a demonstrada nestes.
348 J O A N NIEUHOF
De leste reyse van den Heer van Dort, met het ver-overen vande Baeye de todos
los Santos, tsamen ghestelt door N. G. Ghedruckt in't Jaer onses Heeren Anno 162U.
By Ian Comin. Registrado no Catálogo Nassoviano, in Anais da Biblioteca Na
cional do Rio-de-Janeiro, vol. LI, 1929, Rio-de-Janeiro, 1938, p. 20, n. 29 e catalo
gado na Bib. Nac. na Miscelânea 1-37 n. Res. 1-5.
2) A estampa com os títulos: "Marin D'01inda de Pernambuco" e "T* Recif
de Pernambvco", foi gravada a água-forte por anônimo, s/d. Encontra-se regis
tada no Catálogo da Exposição de História Nacional sob o número 16.871, vol. II,
1881, onde se afirma que a mesma é reprodução de estampa inserida em: "Johannes
De Laet — História ou Anais dos feitos da Companhia Privilegiada das índias
Ocidentais, desde o seu comêço até ao fim do ano de 1636, por Johannes de Laet,
Diretor da mesma Companhia. Traduzido do holandês pelo Bacharel José Higino
Duarte Pereira. Pernambuco, Tipografia do Jornal do Recife... 1874".
3) São tiradas da "Galerie Agreable du Monde" de Pieter van der Aa, Leyde,
tomo 65 (relativo à América), as seguintes estampas:
4) A estampa com o título: JOAN MAURITS, Prins van Nassouw, etc. foi
gravada a buril por Christian Hagens, da escola holandesa, Amsterdã, séc. XVII.
Está registada sob o n. 228 no Cat. de Salvador de Mendonça e sob o n. 753 em
F. Muller.
5) A estampa representando Nieuhof em busto foi gravada por anônimo,
s/d.. Encontra-se registada no Cat. da Exp. de Hist. Nac., sob o n. 17.775, onde
se declara que a cópia existente na Biblioteca é reprodução da existente na obra
enumerada sob o n. 1 da nossa Bibliografia de Nieuhof.
6) A estampa com o título: "Panorama de Serinhaém" é tirada do 14.° e
último tomo do livro registado sob o n. LXI da nossa Bibliografia das Notas. Esta
estampa encontra-se entre as pp. 96-97 do citado livro e, segundo Tiele, (XCI, p.
212) ela foi gravada por D. de Jong.
24
I
Bibliografia das Notas
I — Abreu, JoAo Capistbano de — Capítulos de Historia Colonial
(1500-1800). Rio. Briguiet, 1934.
II — Almeida, Cândido Mendes de — Codigo Philippino ou Ordenações e
Leis do Reino de Portugal. Rio-de-Janeiro, 14.a ed., 1870.
III — Almeida Nogueira, Batista Caetano — Vocabulario das palavras
guaranis usadas pelo traductor da "Conquista Espiritual" do Padre A.
Ruiz de Montoya. Rio, Tipografia Nacional, 1880.
IV — Almeida Nogueira, Batista Caetano — Pernambuco. Qual a sua
verdadeira ortographia e a sua etymologia correspondente. In Rev.
do Inst. Arq. e Geog. Pern-, n. 54, ano XXXVIII, vol. 9, p. 201-205, 1901.
V — Azevedo, JoAo Lucio de — Historia dos Christãos Novos Portuguezes.
Lisboa, Liv. Clássica Editora, 1922.
VI — Baers, Padre João — Olinda Conquistada. Narrativa do..., capel-
lão do Cel. Theodoro de Waerdenburch. Traduzida do hollandez
por Alfredo de Carvalho. Recife, Laemmert, 1898.
VII — Barlaeus, Gaspar — História dos feitos recentemente praticados
durante oito anos no Brasil e noutras partes sob o governo do ilus
tríssimo João Maurício Conde de Nanou etc., etc- Tradução e
Anotações de Cláudio Brandão. Rio-de-Janeiro, Serviço Gráfico do
Ministério da Educação, MCMXL.
VIII — Barlaeus, Gaspar — Nederlandsch Brazilie onder het bewind van
Johan Maurits Grave van Nassau, 1637-16UU. Tradução e Anotações
de S. P. L'Honoré Naber. 's Gravenhage, Martinus Nijhoff.
MCMXXV.
IX — Baro, Roulox — Relation du Voyage de Rotãox Baro, Interprete et
Ambassadeur Ordinaire de la Compagnie des Indes d'Occident, de la
part des Illustrissimes Seigneurs des Provinces Unies au pays des
Tapuyes dans la terre ferme du Brasil. Commencé le troisiesme
Avril 1647, & finy le quatorsiesme Iuillet de la mesme année.
Tratuict d'hollandoi en François par Pierre Moreau de Paray en
Charolois. Paris, Chez Augustin Courbé. M.DC.LI. Avec Privilege
du Roy.
X — Bethencourt, Cardozo de — Notes on Spanish and Portuguese Jews
in the United States, Guiana, and the Dutch and British West lndies
during the Seventeenth and Eighteenth Centuríes, in Publications of
American Jewish Historical Society, n. 29, 1925.
XI — Bloom, Herbert I. — The Economic Activities of the Jews of Ams-
terdam in the Seventeenth and Eighteenth Centuries. Williamsport,
Penna., The Bayard Press, 1937.
XII — Blomm, Herbert I. — A Study of Brazilian Jewish History (1623-
1654) based chiefly upon the finding of the late Samuel Oppenhevm
354 JOAN NIEUHOF
J
Crítica Bibliográfica
Joan Nieuhof empreendeu quatro viagens que podem, cronologicamente, ser
assim divididas: 1) Viagem ao Brasil, realizada em 1640—49 e cuja relação só
foi publicada em 1682; 2) Viagem à China, que começou em 1655 e foi até 1657,
pouco depois da sua chegada à Batavia (1654), onde fora para realizar a primeira
Viagem às índias Orientais. O Governador da Batávia, capital dos domínios
holandeses, Maetzuiker, recebera ordens para organizar uma Embaixada à China,
feita com o propósito de pleitear a liberdade de comércio e Nieuhof nela seguiu
como agente; a relação dessa viagem foi publicada em holandês e em francês, em
1665. 3) Viagem às índias Orientais, efetuada em 1659, quando chegou, pela se
gunda vez, à Batávia, de lá voltando em 1670. As observações da primeira via
gem (1654) e dessa segunda à Batávia foram recolhidas na obra publicada em
1682, em holandês, juntamente com a Viagem ao Brasil. 4) Viagem às índias
Orientais da África, no ano 1671, cuja relação é curta e imperfeita, publicada,
também, em 1682, juntamente com a Viagem ao Brasil e às índias Orientais,
segundo os diários trazidos e entregues pelo capitão Eeinier Klaesz a seu irmão
Hendrik Nieuhof.
Embora seja a Viagem à China a terceira empreendida por Nieuhof, foi a
primeira a ser publicada, e isso porque ao voltar, em 1658, a Amsterdã, da sua
primeira viagem às índias Orientais, entregou os originais de seu trabalho sôbre a
China a seu irmão, enquanto que os originais da Viagem ao Brasil e às índias
Orientais só mais tarde, em 1670, quando de volta da segunda Viagem às índias
Orientais (terceira, cronologicamente) é que ,foram entregues, como veremos
adiante.
Como a Viagem às índias Orientais foram publicadas juntamente com a
Viagem ao Brasil, o nosso comentário sôbre aquela viagem seguirá o da Viagem
ao Brasil, vindo só depois a Viagem à China.
A Viagem às índias Orientais da África, embora constitua um trabalho à
parte, foi publicada, sem destaque algum, junto com a Viagem às índias Orientais
e contém, tão somente, dados sôbre o desaparecimento de Nieuhof.
(1) Noord en Oost Tartarje ofte Bondigh ontwerp van eenige dier landen en volken. Zo ala
"xinnaels bckent sijn gewwecai etc, Amsterdam, 1692. (Tartária do Norte e do Oeste ou relatório
extenso de alguns países ou povos tal como eram, então, conhecidos.
364 JOAN NIEUHOF
hof, que editou a obra depois da morte de seu irmão. O privilégio concedido a
Jacob van Meurs é de 1671. Conforme afirma Tiele (2), parece que a obra
esteve muito tempo em preparo. Segundo se verifica na própria viagem de Nieu-
hof às índais Orientais, êle passou muito tempo com os manuscritos e desenhos
e sòmente por ocasião de sua volta à Holanda, em 1670, é que apresentou os
originais ao Conde Mauricio de Nassau e a Guilherme Piso, em uma reunião
em casa deste último; aí, então, é que resolveu publicar a Viagem ao Brasil. Além
disso, deve-se acrescentar outra causa da demora na publicação da obra, qual seja
a declarada por seu irmão Hendrik na introdução da edição holandesa: "Apre-
senta-se, finalmente, depois de longa demora essa última obra de meu irmão, pois
para completá-la foi necessário muito tempo, particularmente devido à grande
quantidade de projetos e desenhos que deviam ser artisticamente gravados". A
obra foi oferecida a N. Witsen, não só porque êle era o prefeito de Amsterdã, como
porque, sendo escritor e cartógrafo de nomeada, poderia apreciar o valor do tra
balho; e Hendrik Nieuhof afirma que o prefeito leu e deu parecer favorável à
obra, o que iria tornar maior o entusiasmo pela sua publicação e termina afirman
do: "Com o que V. S. se dignou favorecer o escritor e colaborador dessa obra
que é, para as almas bem formadas, imortal".
Vemos, assim, que embora fosse a Viagem ao Brasil realizada em 164049 e
que Nieuhof tivesse passado alguns anos de repouso na Holanda, onde facilmente
poderia escrever o trabalho, o fato é que sòmente depois de sua volta da segunda
viagem às índias Orientais, isto é, em 1670, é que foi a obra concluída, pois a
referência que fizemos acima é bem clara. Nieuhof declara (3) "que estando em
Amsterdã, nesse ínterim chegou o Conde Maurício de Nassau, em seu navio,, para
ir até a Zelândia e depois a Cléves. Tendo sabido de minha chegada, mandou-me
chamar e tive com êle uma longa conferência acerca do Estado do Brasil e das
índias Orientais e mostrei-lhe tudo quanto tinha projetado em escrito e desenho.
Além disso era seu desejo que eu, no dia seguinte, fosse jantar em casa do Sr.
Dr. Guilherme Piso, pois que várias pessoas de destaque (governadores) como
também altas personagens que estavam em sua companhia igualmente haviam
sido convidadas. Depois do banquete, quando o Conde se dispunha a partir,
despedí-me dêle". Por aí se vê que Maurício de Nassau, antes da publicação
da obra de Nieuhof, reviu-a e com o autor a discutiu, ouvindo-se, também, a opi
nião de Piso. Essa informação vem trazer um elemento ,novo ao juízo de valor
da obra de Nieuhof. Por ela vemos que submeteu os originais à apreciação de
Maurício de Nassau e de seu mais íntimo colaborador, o médico G. Piso, nm
dos autores da Historia Naturalis Brasiliae. Sem dúvida, não se trata de uma
relação como a que existiu entre Barlaeus e João Maurício. Esta já foi minucio
samente estudada na Holanda e certamente estava à altura da obra que preten
dia expor ao público a administração nassoviana e perpetuar o nome do príncipe
americano. Mas a existência de uma colaboração, por menor e mais rápida que
fôsse, entre Nieuhof e Nassau, ao que nos consta, não foi até hoje indicada. É
claro que foi mínima a intromissão de Nassau na obra de Nieuhof, mas êle não
deixou de discutir e criticar os originais da obra brasílica de Nieuhof.
(2) Nederlandsche Bibliographie over Land en volkerkunde, Amsterdam, Mttller, 1884, pp. 178-180.
(8) Zee en Jant Beize door verscheidene geweesten van Oost-Indien (Viagem às índias Orienta»),
p. 303, 1682, Amsterdam; na edição inglesa de Churchill (Osborne e Lintot), p. 302, o trecho eiti
resumido.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 365
• » »
(4) Churchill, Awnscham, livreiro, que com seu irmão John abriu uma casa editora de renome
na época. A publicação mais importante foi a Collection of Voyages and Traveis, etc-, 1703, 4
vols. foi.. Em 1732, foram editados os 4 primeiros vols., somente reimpressas as folhas de rosto
com mais 2 volumes. 8.* ed., 6 vols., 1744-46 ; e outra de Th. Osborne, 1752 : A Collection from the
Library of the Earl of Oxford; L. Th. Osborne, 1745-47, 2 vols., foi. e John Harris, 1744-48, 2
vols., foi., estão eomumente ligadas a Churchill porque os impressores publicaram-na por ordem da
Churchill. V. Dict. of Nat. Biography, The Oxford University Press, London, p. 807-8. Vol. IV.
(5) John Ogilby, escritor polígrafo, nasceu perto de Edimburgo, em Nov. de 1800. Teve no
meada em sua época, traduzindo autores gregos e publicando versos, até que começou a se dedicar à
geografia e à historia, alcançando o titulo de cosmógrafo e impressor do rei. Morreu em 4 de de
zembro de 1676. Traduziu Nieuhof (Viagem à China, 1665), 1) Atlas Chinensls, compilação da J.
Nieuhof, Dapper e Montanus ; 2) Atlas Japanensis, compilação de Montanus, 1670 ; 8) Africa 1870,
trad. de Dapper e observações originais; 4) América, 1671, trad. de Montanus; 6) Ásia, 1678, sendo
a segunda parte a Embaixada à China de Nieuhof.
25
366 J O A N NIEUHOF
(6) Nederlandsche Bibliographie, pp. 178-180. O n. 2.S26 de que fala Tiele ê "Descrição de
diferentes fortalezas das índias Orientais, particularmente de Goloonda e Pegu, Rotterdam, in-4.e, 1677."
(7) Zee en lant reyse door verschcidene gewesten van Oost-Indien, etc, p. 23, e Mr. J. Nteubofs
Hemarkable Voyages and traveis to the East Indies, p. 149-50, ed. de J. Osborne e H. Lintot, 1746.
(8) Vide M. Nijhoff, Catalogus over Japan, 1876, p. 120, in Tiele, Nederlandsche Bibliographie
over land en volkerkunde.
(0) J. Baptiste Carpentier. Historiógrafo c genealogista. Nasceu em Abscon, perto de DoHai
e morreu em Leide, em 1670. Padre agustiniano, abandonou o hábito e caaou-se.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 367
Thevenot são mais claras do que as de Carpentier. A Biblioteca Nacional não possue
o original holandês, mas tão somente as edições francesas de Carpentier e de The
venot. Carnus, que publicou o melhor trabalho crítico sôbre a coleção Thevenot,
afirma que a edição de Nieuhof nesta coleção é a melhor (10). O abade Prévost
(11), tradutor da Histoire Générale des Voyages (21 vols.), faz uma longa intro
dução onde se encontram notas críticas sôbre as diferentes edições de Nieuhof.
Considera, também, a de Thevenot como a mais exata, afirmando que em tôdas as
outras têm sido inseridas descrições que não são de Nieuhof. Critica acerbamente a
edição de Carpentier, com exceção das estampas. Quanto ao diário do caminho a
Pequim, Thevenot afirma, igualmente, ter traduzido de um manuscrito de Nieuhof,
tirando certas estampas que lhe pareceram suspeitas. Não é simplesmente um diá
rio do caminho, mas a descrição dos lugares pelos quais passou. Existe ainda hoje
um diário manuscrito dessa viagem de Nieuhof (12). (13) Em 1666, publicou-se
a primeira edição alemã; a segunda foi publicada em 1669 e a terceira em 1675;
tôdas em Amsterdã, por J. van Meurs. Em 1670, foi feita a segunda edição holan
desa e em 1682 foi novamente publicada a obra na edição de Le Carpentier, em Ams
terdã, por Jacob van Meurs. Em 1668, foi a obra traduzida para o latim por
Georgius Hornius, escritor e professor, polemista que discutira com Laet, Grotius
e Wagner a origem dos índios americanos (14). No prefácio da edição latina se
declara que Jacob Gollius pedira a G. Hornius que traduzisse a obra, o que êste fiz.
considerando não só a autoridade do mestre como a utilidade e raridade da ma
téria (15).
Em 1693, Waesberg publicava, em Amsterdã, a terceira edição holandesa. Aa
edições inglêsas são várias. Em primeiro lugar, há a tradução inglêsa feita por
John Ogilby em 1669, outra em 1673. Tôdas as edições posteriores são reedições da
tradução de J. Ogilby. Assim, Astley, em 1746, afirmando, porém, na introdução,
ter feito uso da segunda edição de 1673. Essa edição é excelente, pois possue ano
tações e comparações com a edição de Ogilby. Ternaux-Compans fala, também,
numa edição de 1670; essa edição, talvez, seja a de 1669, "Ásia" de Ogilby, que
junto à embaixada de Dapper traz a de J. Nieuhof. Depois da edição de Astley,
saiu ao do Abade Prévost, 1748, excelente edição em que se faz uso, também, da edi
ção de 1673, afirmando Prévost: "Na edição inglêsa Ogilby seguiu o título da edição
(10) Camus, A. G., Memoire «ar la oollection des Granas et Petits Voyages «t sur la roUeetioo
de voyages de Helefaiseder Thevenot. Paria, 1802, pp. 315-16.
(11) Prévost, A., Histoire Génerale des voyages, tomo V, p. 231, ed. in-4.\ tomo XVIII. p.
147, ed. in-12.
(12) Vide Catalogas over Japan, 1876, p. 120, de M. Nijhoff.
(13) Na Biblioteca Nacional existe a edição de Thevenot em 4 vols., 1696, in-4.» (V-16, 6, 6-8) :
em 2 vols., 1686, Paris (V-99, 2, 16-15) ; e em 3 vok., 1689, in-12. Paris (IV-249, 1, 21-23).
(14) G. Hornius. Êsse assunto empolgou os homens da época. G. Hornius escreveu De originibus
Americanis, 1652, Hagae commitis, (1669, Hemipoli) e Wagner, De Originibus Americanus Disser-
tatio, Lipsiae. 1669.
(16) Jacob Gollius era professor da Universidade de Leide; o mesmo a quem foram entregues,
por Laet, os originais de Harcgrave. Não pôde Gollius publicá-los porque se encontravam em código.
A edição latina representa uma homenagem à memória de Gollius, que acabava de falecer e que
fôra o grande incentivador da tradução para a língua universal, da obra de 'Joanne Nieuhovio, ba
tavo experimentadissimo".
368 JOAN NIEUHOF
de Carpentier e não da edição holandesa, embora seja incerto o original de que usou,
■e o holandês ou o francês; como, porém, não se encontra na edição inglêsa uma
porção de superficialidades que abundam na edição francesa, pode-se presumir que
Ogilby seguiu a cópia holandesa; suas estampas, que são as mesmas da tradução
francesa, estão longe de serem tão bem gravadas"; a explicação dos assuntos é feita
em língua inglêsa e holandesa. Essa coleção é excelente; deve-se consultar na Bi
blioteca Nacional o exemplar impresso por Pierre Hondt (FV-337, 6-14), em Ams-
terdã, e não o de Firmin Didot, de Paris, porque êsse se encontra em lastimável
estado. Em 1768, saiu essa mesma coleção de Prévost traduzida para o espanhol
por Don Miguel Terracina, onde se publicou também a Viagem à China; tudo igual
à edição de Prévost; até mesmo na introdução nada de novo se acentuou.
Em 1786 (Vol. XI), saía um resumo no Nederlandsche Reizen; em 1811, na
coleção Pinkerton, a viagem completa, e, finalmente, em 1816, La Harpe, num
Abregé de 1'Histoire Générale des Voyages, resumia a Viagem à China.
Afora essas edições que comentamos e de que damos, a seguir, a descrição exata,
vamos acrescentar edições indicadas por Petrus van der Aa e por Ternaux-Compans.
Essas edições não as pudemos consultar.
Petrus van der Aa distingue (16) duas impressões da Viagem ao Brasil pela
espécie de papel (groote papier — grani papier — e klein papier) e menciona uma
descrição de Malabar e Coromandel, Amsterdã, 1672, da Ásia, Amsterdã, 1672, Japão,
1669 (?) e da China, por Nieuhof e Dapper, Amsterdã, 1670 e 1693; índias Orien
tais e Ocidentais, Amsterdã, 1682, do Arquipélago, Amsterdã, 1688 e a edição fran
cesa da Viagem à China, 1666, Leide. A viagem a Malabar e Coromandel faz parte
da Viagem às índias Orientais. Quanto à Viagem à Ásia deve haver engano, pois a
Viagem à Ásia de Dapper foi publicada em 1673, em inglês, junto com a Viagem à China
de Nieuhof. Quanto à Viagem ao Japão, que faz parte da Viagem às índias Orien
tais, a referência à edição separada consiste, talvez, num engano, devido à Viagem
ao Japão (17) de Montanus, que foi publicada em 1669. A Viagem ao Arquipélago
é uma parte da própria Viagem às índias Orientais. Essas edições indicadas por
Petrus van der Aa nunca as vimos anunciadas nos catálogos holandeses, donde achar
mos que se trata de um engano do bibliógrafo, uma vez que algumas das viagens que
êle cita se encontram na Viagem às índias Orientais. Assim também as edições indi
cadas por Ternaux-Compans. Nunca as vimos anunciadas nos catálogos, nem as
bibliografias modernas e especializadas, como a de Tiele, que é a fonte mais segura e
mais exata, embora nem sempre completa, dêsses assuntos. Ternaux-Compans, entre
outras edições, de que já falamos, indica-nos, ainda: 1) Edição da Viagem à China,
1664, Haia; 2) Edição holandesa da Viagem à China, 1666, Amsterdã; 3) edição alemã
de 1668 da Viagem à China, Amsterdã; 4) edição francesa da Viagem à China,
1682. Nenhuma dessas informações vimos confirmadas pelos bibliógrafos modernos.
Cabe-nos, ainda, falar de edições de viagens de Nieuhof que tenham sido im
pressas juntamente com viagens de outros autores.
Em 1670, em Amsterdã, por J. van Meurs, foi editada a Gedenkwaerdige Bedrgf
der Nederlandsche Oost-Indisehe Maetsehappije op de Kuste en in het Keizerryk
van Taising of Sina...; A tradução inglêsa "Atlas Chinensis" dessa obra de Dap-
per foi publicada em 1673, juntamente com a Viagem à China de Nieuhof. Essa
obra de Dapper traz, no entanto, o nome de Montanus, enquanto que a Viagem à
América, de Montanus, na tradução alemã, tem o nome de Dapper. Tiele explica
que Ogilby, tradutor de tôdas essas obras, recebeu, provàvelmente, do mesmo editor
o texto e as gravuras desta obra, antes que fosse impresso o título e, por isso, julgou
que Montanus fosse o autor (18). E' por essa razão que o "Atlas Chinensis" consta
de duas partes. Meusel, na Bibliotheca Histórica, enganou-se ao afirmar que a co-
leção de Thevenot conteria uma tradução dessa obra; porque nela se encontra, como
já vimos, apenas a Embaixada à China de Nieuhof.
Na obra de Montanus "Oud en Nieuw Oost-Indien Amsterdam, Sander Wijbrants
Z. Jr., 1680, in-12.° (XIX) 529 e 33 fls., que é uma reedição das Maravilhas do
Oriente ou Descrição dos feitos guerreiros das índias Orientais (De Wonderen van
't' Oosten ofte de Besehrijving en Oorlogs — daden van oud en Nieuwe Oost-Indien
vervolgt tot op dese tijt, van de Sond-vloed. . ., Amsterdam, Jansz, 1651, in-lS.°) ;
o último capítulo é a descrição da viagem à China de 1655-57 de Nieuhof.
Ainda a tradução inglesa da Viagem à Ásia de Dapper, publicada em 1673, em
Londres, com o título Asta, contém, além de uma descrição da Pérsia, Grão-Mogol
e outras partes da índia, a viagem à China, de Nieuhof, em tradução, como sempre,
de John Ogilby.
(18) Tiele, Nederlandsche Bibliographie over land en volkerkunde. Muller, Amsterdam, 1884,
pp. 71-74.
O melhor trabalho nobre a autoria do "Nieuwe en Onbekende Weereld" é o publicado por Alfredo
de Carvalho — "Dapper versus Montanus" in Rev. do Inst. Arq. e Geogr. Pera., n. 77. p. 340.
J
Bibliografia de Nieuhof
1
■
*
1 — 1665- Het Gezantschap der Neerlandtsche Oost — Indische Compagnie
aan den grooten Tartarischen Cham, den tegenwoord. Keiser van China... Sedert
den J. 1657 . . . Beneffens steden, dorpen, regeering, wetenschappen, Lantwerken,
zeden enz.. Amsterdam, Jacob van Meurs... 1665, in-fol. (XII), 208, 258 e 9 fls.
(Papel especial — groot papier). [Embaixada da Companhia das índias Orientais
ao Grão-Khan da Tartária, o atual Imperador da China . . . desde o ano de 1655 até
1657, como também uma detalhada descrição das cidades chinesas de suas vilas,
governo, ciências, manufaturas, costumes, etc.].
A folha de rosto é gravada. Beschrijving van't Gesantschap etc. Depois do
título, retrato do autor e as armas de Speigel e Witsen, em páginas diferentes; em
seguida, a rota da viagem. 35 gravuras fora e muitas no texto, todas em cobre.
Em vários exemplares não se encontra a gravura que, conforme a indicação dos en
cadernadores, deve estar junto à pagina 193, (Paolinxi). Privilégio de 19-4-1664.
Parece que alguns exemplares trazem o ano na folha de rosto. Dessa viagem de
Joan Nieuhof ainda existe um diário manuscrito, com desenhos originais, pelos quais
se verifica que o texto foi aumentado de muito nesta edição e que as gravuras não
foram fielmente copiadas. (Vide Catalogus over Japan, Martinus Nijhoff, 1876,
p. 120). A Biblioteca Nacional não possue nenhum exemplar dessa edição holan
desa.
2 — 1665. L'Ambassade / De la / Compagnie Orientale / Des / Provinces
Unies / vers / L'Empereur / De la / Chine, / ou / Grand Cam / De / Tar-
tarie, / Faite Par les / Srs. Píerre de Goyer, & Jacob de Keyser, / Illustrée d'une
exacte Description des Villes, Bourgs, Villages, / Ports de Mers, & autres Lieux
plus considerables de la Chine: / Enrichie d'un grand nombre de Tailles douces.
/ Le Tout Recueilli Par le / Mr. Jean Nieuhoff, / M™. d' Hotel de 1'Ambassadei,
à present Gouverneur en Coylan: / Mis en François, / Orné, & assorti de mille
belles» Particularitez tant Morales que Politiques, par / Jean le Carpentier, Histo-
riographe. / Première Partie / A Leyde. / Pour Jacob de Meurs, Marchand Ld-
braire / & Graveur de la ville d'Amsterdam, 1665.
Dedicatória a Colbert por J. Meurs (4 pp. ins.) + 4 pp. ins.
Pref. + 3 pp. ins. de ind. + 1 p. Prev. + 1 cart. geog. + 290 pp. ns + 32 pp.
ins. + lf 1. contendo:
"Description / Generale / de / L'Empire / de la / Chine. / Ou il est traité /
succinctement / Du Gouvernement, de la Religion, des Moeurs, des Scien / -ces,
& Arts des Chinois; comme aussi des Animaux, des Poissons, des Arbres & Plantes
qui ornent / leurs Campagnes & leurs Rivieres: y joint un court Recit des der-
nières Guerres qu'ils ont eu contre les Tartares. / Seconde Partie. / 134 pp. + 1
fl. in. com o índice das ilust. A Bib. Nac. possue dois exemplares, catalogados
com as seguintes indicações: V-256,6,13 e V-52,8,2. 22,5 x 35 cms.
374 JOAN NIEUHOF
vigation from its Original to this Time. / Illustrated with near three Hundred
Maps and Cuts, curiously / Engraved on Copper. / The Third Edition. / Vol. I /
London: / Printed by Assignment from Mssrs. Churchill, / For Henry Lintot;
and John Osborn, at the Golden-Ball in Pater Noster Row. / MDCCXLIV (1746).
1 concessão do rei William; 1 ret. de conf. — Pref. dos editores. Resumo dos
livros da coleção. 8 pp. ins. — XXIX pp. ins. (catai, e caráter dos livros de viagens;
latim, francês, etc.) — 4 pp. ins. (lista das est. em cobre) — IX (An Introductory
Discourse) — lxxii) — 668 pp. Indicação da Bib. Nac.: IV-331,7,2. Ret de Nieu-
hof — f. r. de Travels, etc. — 1 f. r. da coleção. 2 vols. (M.DCC.XLIV) 1) Voyages
and Travels to Brasil, p. 1-137- 2) Voyage to the EasUndies, p. 138-301. 3)
The Third Sea and Land Voyage of John Nieuhoff. Aboard the Arrow to the
isles of Majotte, upon the Africain coast of Moçambique. / Extracted from his
own journals, and brought over and delivered by Captain Reiner Klaeson to his
Brother Henry Nieuhof. p. 303-305. Exemplar da B. Nac.: IV-331,7,1,6.
16 — 1746. A / New General Collection of / Voyages and Travels, / Con
sisting / of the most Esteemed Relations, which have been / hitherto published in
any Language: / Comprehending everything remarkable in its kind, in Europe,
Asia, Africa, and America, / With respect to the / General Empires, Kingdoms,
and Provinces; their situation, Extent, Bounds and division, Climate, Soil and
Produce; their Lakes, Rivers, Montains, Cities, principal Towns, Harbours, Buil
ding, &c, and the gradual Alteration that from Time to Time have happened in
each: / Also the / Manners and Customs / of the / Several Inhabitants; their
Religion and Government, Arts and Sciences, / Trade and Manufactures: / So as
to form / A Complete System of Modern Geography and / History, exhibiting the
Present State of all Nations; / illustrated not only with / Charts of the Several
Divisions of the Ocean, and Maps of each Country, entirely new / Composed, as
well as new Engraved by the best Hands, from the latest Surveys, Discoveries,
and Astrono / mical Observations: But likewise with variety of Plans, and Pros
pects of Coasts, Harbours, and Cities; besides Cuts representing Antiquities,
Animals, Vegetables, the Persons and Habits of the People, and / other Curiosities;
Selected from the most Authentic Travellers, Foreign as well as English. / Publi
shed by his Magesty's Authority. / Vol. Ill / London, Printed for Thomas Astley,
in Pater Noster Row. M.DCCXLVI (1746). p. 399-431. Liv. I, T. III. Ind. da
Bib. Nac.: V-392,5,3.
17 — 1748. Histoire / Générale / Des Voyages, / ou Nouvelle Collection / De
Toutes les Relations de Voyages / Par Mer et Par Terre. / Qui ont été publiées
jusqu'à present dans les differentes Langues / de toutes les Nations connues: /
Contenant / ce qu'il y a de plus remarquable, de plus utile, à et de Mieux Averé
dans les Pays ou les Voyageurs / ont penetré, / Touchant leur situation, leur eten-
due, / leurs limites, leurs divisions, leur climat, leur terroir, leurs Productions, /
leurs lacs, leurs Rivieres, leurs Montagnes, leurs Mines, leurs Cites & leurs princi
pals villes, leurs Ports, leurs Rades, leurs Edifices, etc. Avec les Moeurs et les
Usages des Habitans. / Leur religion, leurs governement, leurs Arts et leurs scien
ces, / leur Commerce et leurs Manufactures; / Pour Former un Systême complet
d'Histoire et de Geographie Moderne, / qui representera 1'état actuei de toutes les
Nations: / enrichi / De cartes geographiques / Nouvellement composées sur les
Observations les plus autentiques, / De Plans et de Perspectives; de Figures d'Ani
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 379
les voyageur» ont pénétré; les moeurs des habitants, la religion, les / usages, arts
et sciences, commerce et manufactures. / Par J. F. Laharpe. Tome Sixième. /
A Paris. Chez Ledoux et Tenré, Libraires, Rue Pierre-Sarrazin, n. 8 / 1816. Cap.
II. Viagens, Negociações e Empresas dos holandeses na China. Resumo de Nieuhof.
pp.296-333. 12,5 x 19,9. Ind. da B.N.: X-380, 4,6.
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26
J
Anexos
ANEXO I
(Vide nota 201)
Wilhelmus
MARN1X VAN ST. ALDEQONOE
Bretã
Jau a ji j j .n jji
Duyt- acben bloet, Den Va-der-lant ghe
Godt, mijo Heer I Op. U ao vul ick
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prin-ce van O ran-jen Ben iok vrij on- ver-
tok doeb TTOom maoht blijven U die - naer tal - ler
Brteder
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pan-jen Heb iok ai . tijt ghe - —• eert
drij-ven, Die mij mija beit door .
r
anexo n
(vide nota 877)
LYSTE
Vande hoge etide lage Offieieren I mitsgaders de gemeene Soldaten deweleke t» Ba-
talie teghen* de Portugiesen aen den Bergh van de Guararapes (3 mijl van't Reeif)
doot tijn gebleven op den 19 Februarius. 16U9.
In alies 151 Officieren, ende 892 Soldaten. De gequetste rijn vele. De Por-
tugiesen hebben desen aenval ende gevechtnyt een Embuscade gedaen.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 389
TRADUÇÃO DO TÍTULO:
TRADUÇÃO DO TEXTO:
Do Regimento do Senhor Coronel Branck; os postos militares são os seguintes:
Coronel, Tenente-Coronel, Major, Capitão, Tenente, Porta-Bandeira. (Vandrigh),
Sargento (Sergianten) , Intendente (Quartier Meetter), Soldados Rasos (Gemeene
Soldaten).
A tradução do texto que vai de : "De ghevangene zijn 95 ... " até "... aen vai
ende gevechtuyt een Embuscade gedaen." é a seguinte:
"Os prisioneiros são 95, entre os quais o Tenente Carpentier, o Tenente Cor
nelis van Anckeren, e o Capitão Hunninga van Groeningen, que se bateram cora
josamente".
Falta a Lista dos Artilheiros que morreram, entre os quais figuram essas no
táveis pessoas ou oficiais: o Vice-Almirante Matthijs Gillissz, o Capitão Toelast, o
Capitão Cornelis Kalback, o Comandante de Artilharia Koeckman.
Ao todo, 151 Oficiais e 892 Soldados. Os feridos são muitos. Os Portugue
ses terminaram êsse ataque e luta com uma Emboscada.
ÍNDICE
Introdução VII
Advertência ao Leitor XIX
As estampas de Nieuhof 346
Bibliografia das Notas 361
Critica Bibliográfica 861
Bibliografia de Nieuhof 870
Anexos 383
índice 391
*
op. 2 I
iRIES ' STANFORD UNIVERSITY LIBRARIES ■ STANFORD UNIVERSIT
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