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̀
- 64.
Orientadores
Ficha catalográfica
II
Sumário
Sumário
III
Sumário
IV
Sumário
V
Sumário
VI
Sumário
Índice de figuras
VII
Sumário
VIII
Sumário
Índice de gráficos
IX
Sumário
Índice de tabelas
X
Agradecimentos
Agradecimentos.
O autor dessas linhas não gosta de escrever agradecimentos. Isso não por que
não sejam devidos, mas por serem sempre injustos: é impossível em uma obra de grande
extensão fazer justiça, reconhecendo o trabalho de todos que apoiaram sua execução.
Neste caso, a situação é ainda mais complicada, considerando que a tese foi o resultado
de uma pesquisa iniciada há mais de trinta anos. Várias pessoas ajudaram nas institui-
ções de pesquisa como no Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional e Arquivo do Exérci-
to, um número difícil até de quantificar e impossível de nomear isoladamente.
Para manter uma tradição, no entanto, resolvi mesmo assim fazer uma declara-
ção de dívida a várias pessoas. Começo por minha família, especialmente meu pai, Jair
Homero, professor de história que apreciava assuntos ligados à história militar, mas não
o militarismo e que sempre incentivou a leitura, uma ferramenta indispensável para os
profissionais de nossa área. Foi seguindo o exemplo desse interesse que comecei a ler
cada vez mais sobre o tema e o que me levou a ter meu primeiro emprego, ainda antes
de entrar na universidade. Nesse, trabalhei com a pesquisa histórica sobre uniformes
militares da América do Sul para uma companhia irlandesa que fabricava soldadinhos
de chumbo, mostrando o caminho dos estudos de história material.
Na lista de dívidas, que estou tratando de forma abreviada, devo deixar meu tri-
buto de gratidão aos colegas do Museu Histórico Nacional, especialmente aos da Reser-
va Técnica. Entre todos eles, seleciono o nome de Juarez Guerra, com quem conversei
muito sobre o trabalho de catalogação de armas. Ele ajudou na redação desse texto, pro-
curando, encontrando e dando acesso às peças que precisava para ilustrar alguns pontos
da tese, algumas delas que me lembrava apenas vagamente de existir entre as dezenas
de milhares de objetos da variadíssima e estranha coleção do Museu.
XI
Agradecimentos
Também prestaram uma valiosa ajuda dando acesso às suas armas históricas os
colecionadores Sebastião Oliveira e Carlos Almeida Costa. Ambos possuem excelentes
coleções, com peças que não estão disponíveis em museus oficiais. Sebastião Oliveira,
além da troca de ideias sobre o tema, prestou o imenso favor de desmontar algumas de
suas armas, para poderem ser examinadas para a redação desta tese, algo que só poderia
ser feito em um museu público com imensa dificuldade, nem que seja pelo fato dos mu-
seus, normalmente, não terem as ferramentas adequadas para fazer essa desmontagem.
Voltando ao Museu Histórico, lá trabalhei com o amigo José Neves, também in-
teressado em história militar e com quem mantenho até hoje conversas sobre um tema
que é pouco conhecido e desenvolvido no Brasil. José Neves até auxiliou diretamente
nessa tese, como pode ser visto na fotografia da “Saracura” do mestre Valentim, uma
escultura de bronze que se encontra no Museu da Cidade do Rio de Janeiro e que ele
encontrou e deu acesso durante sua passagem por aquela instituição, há mais de vinte
anos atrás.
Aos colegas do IPHAN agradeço a compreensão por terem convivido com uma
pessoa que trabalha, por opção, com um assunto estranho e por terem aceitado a incor-
poração de algumas ideias na mecânica de trabalho da instituição. Infelizmente não pos-
so estender esse agradecimento a todos os chefes: alguns apoiaram a pesquisa direta-
mente, outros só merecem um “agradecimento” às avessas, por trem abandonado o setor
onde trabalhava – às vezes por anos. Isso deu tempo para a execução das pesquisas.
Nesse número de maus funcionários, não incluo Monica Costa, a quem agradeço por
rapidamente liberar a licença para completar esse trabalho. Isso depois do pedido ter
ficado parado mais de um ano e meio na mesa do chefe anterior, sem resposta, positiva
ou negativa. Coisas do serviço público.
Para encerrar esses agradecimentos, deixo registrada minha dívida com Carlos
Eugênio, por discutir por horas e horas esse assunto tão árido, dando sugestões que en-
riqueceram o trabalho. Também noto minha gratidão para com Flávio Gomes, colega
desde os bancos da graduação, que acolheu a proposta de orientar essa tese tão fora da
XII
Agradecimentos
Há problemas no texto, tudo por minha culpa. Não foram causados por falta de
apoio dos amigos, para quem termino escrevendo: obrigado!
XIII
Resumo
Resumo
Este trabalho faz um levantamento dos modelos explicativos clássicos – isto é, aqueles
que procuraram elucidar de forma geral a história nacional através de sua formação
econômica até a segunda metade do século XIX. A partir desse levantamento, aponta-
mos que ponto normalmente ignorado, mas que não é irrelevante, o papel das forças
armadas como criadores de uma demanda de fornecimento de produtos manufaturados,
levando ao surgimento de vários estabelecimentos especializados no atendimento das
necessidades das forças armadas. Vamos então tratar como algumas dessas instalações
se organizavam até o século XIX, numa situação que pode ser chamada de pré-indústria,
ou seja, quando não havia ainda ocorrido a transição para a fábrica moderna. Mesmo
assim, essas manufaturas militares estiveram à frente do processo de mudança da situa-
ção de manufatura para instalações fabris, com maior ou menor sucesso, na França, In-
glaterra e Estados Unidos. No caso do Brasil, entre essas manufaturas militares, desde o
século XVII, se encontravam vários estabelecimentos, os mais relevantes sendo os
trens, organizações destinadas ao fabrico e armazenamento de equipamentos bélicos, o
maior e mais relevante de todos sendo o do Rio de Janeiro, que se tornaria no Arsenal
de Guerra do Rio de Janeiro. A partir desses elementos podemos traçar uma comparação
entre uma situação pouco estudada, a das manufaturas militares – com base no Arsenal
do Rio –, com a apresentada nos modelos explicativos tradicionais da historiografia
brasileira, centrados em aspectos de econômicos da dependência de uma economia agrá-
ria, baseada em uma mão de obra pouco qualificada, a escrava. A proposta governamen-
tal no Brasil da primeira metade do século XIX, entre outros aspectos, era usar essas
manufaturas para criar uma base de industrialização para o País, seguindo um processo
que foi adotado nos Estados Unidos no mesmo período, mas com resultados muito dife-
rentes para o Brasil.
XIV
Abstract
Abstract
The present thesis makes a study of the classical explicating models of Brazilian history
– that is, those that envision elucidating the national history in general, through the eco-
nomic structures of the country up to the second half of the 19th Century. From this
study, we make a note about a question that usually is ignored, but should not be con-
sidered irrelevant, the role of the armed forces as originators of demands for the provi-
sion of manufactured goods. Those demands resulted in the creation of various manu-
facturing plants specialized in the supply of the needs of the armed forces. From those
starting points we will study how some of those installations organised themselves up to
the 19th century, in a situation that can be called pre-industrial, a moment when the tran-
sition from manufacture to modern industry had not occurred yet. Even so, those army
suppliers were in the forefront of the process of changing the production organization,
from one based in artisanal manufactures to the modern factory. This process had vary-
ing degrees of success in France, United Kingdom and the United States of America. In
the case of Brazil, among the military manufactures there were many army plants, the
most important being the trens, organizations created to make and store military equip-
ment, the biggest of all being the Trem of Rio de Janeiro, that would became the Arse-
nal de Guerra do Rio de Janeiro [Rio de Janeiro Army Arsenal]. From these elements,
we can trace a comparison between a understudied situation, the one of the military
manufactories – concentrating in the Rio de Janeiro Arsenal –, with the one presented
by the traditional explicating models created by the Brazilian historiography, centred in
aspects of economic history of an dependent agrarian economy, based on the use of an
unqualified workforce – the slave labour. The government proposal in the first half of
the 19th century, among other aspects, was to use those military manufactories to create
an industrialization base in the country, following a process that was adopted in the
United States of America in the same period, but with much different results.
XV
Introdução
Sumário
1. Introdução
1.1. Proposta
1.2. Quadro teórico
1.3. Metodologia
1.4. Plano da obra
1.5. Passos tomados
1
Introdução
1. Introdução
Depois de um curto período sem uso militar maior, o grande conjunto de edifí-
cios – que no início do século XX ocupava toda a ponta do Calabouço e boa parte do
bairro da Misericórdia – foi aproveitado em 1922 para ser parte das festividades da Ex-
posição Internacional do Centenário da Independência e parte dessa adaptação incluía a
criação de um Museu Histórico. Este seria o primeiro a ter um caráter genérico no cam-
po com uma abrangência nacional: antes da sua criação já havia alguns museus históri-
cos, como o do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, particular, ou os museus do
Exército e da Marinha, mas esses últimos eram monográficos, ligados às duas forças
armadas. O Museu Paulista se aproximava muito da proposta do MHN, mas era uma
instituição estadual.
O Museu Histórico, que ao ser criado era muito pequeno, abrangendo apenas
duas salas do antigo complexo do Arsenal, teve em suas origens algumas condicionan-
1
Esse entendimento foi consagrado em 1998, quando o Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) tombou o prédio e acervo do Museu Histórico Nacional, o
prédio sendo considerado como parte da coleção museológica. Ver: BRASIL – Instituto do Patrimô-
nio Histórico e Artístico Nacional. Processo de tombamento 1.392-T-97, Prédios do Museu Histórico
Nacional e Coleções que ali se abrigam, com exclusão da Coleção Bibliográfica. Arquivo Noronha
Santos, IPHAN. (mimeo.)
2
No final do trabalho incluímos um glossário com os termos e conceitos usados na presente tese, estes
estando marcados em itálico no texto.
3
Entende-se manufatura, no sentido estrito, como um local concentrado onde produtos são fabricados a
mão, isto é, sem o uso de máquinas. Difere da oficina por os meios de produção não pertencerem aos
trabalhadores. MARX, Karl. Capital. London, Encyclopaedia Britannica, c. 1952. Edição completa e
comentada p. 164.
2
Introdução
tes que hoje seriam consideradas como exóticas: a formação do acervo por parte de seu
primeiro diretor, Gustavo Dodt Barroso, foi direcionada por suas ideias e pelo poder que
lhe foi concedido pelo presidente Epitácio Pessoa.4
A proposta de criação não foi adiante naquele momento, tendo sido reiterada em
outros textos do mesmo autor, reproduzidos no livro Ideias e Palavras,7 de 1917, pois
Barroso tinha um forte interesse no campo da história militar. Fora o defensor de que o
1º Regimento de Cavalaria passasse a usar um uniforme histórico baseado na Imperial
Guarda de Honra e passasse a ser chamado de Imperial Guarda de Honra,8 o que acon-
teceu justo em 1922, ano das comemorações do centenário da Independência. Naquele
ano ele também lançou, junto com Washt Rodrigues, o livro Uniformes do Exército
Brasileiro,9 obra que ainda hoje é referência sobre o assunto, apesar do mérito disso
recair mais sobre o trabalho de pesquisa e de ilustração de Rodrigues.
Mais tarde, Barroso se tornou um autor prolifico de livros – escreveu 128 deles,
muitos dos quais voltados para a crônica de assuntos bélicos. Não eram obras de história
propriamente dita, misturavam fantasia com fatos, sem citar referências, mas no contex-
4
Ver: BRASIL – Decreto nº 15.596, de 2 de agosto de 1922. Cria o Museu Histórico Nacional e aprova
o seu regulamento. Ver especialmente o artigo 83, que autoriza o recolhimento de acervos de outras
instituições federais.
5
ABREU, Regina. A fabricação do imortal: memória, história e estratégias de consagração no Brasil.
Rio de Janeiro: Lapa: Rocco, 1996. pp. 107 e segs.
6
DUMANS, Adolpho. A ideia de Criação do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpi-
ca, 1947. p. 98.
7
BARROSO, Gustavo. Ideias e Palavras. Rio de Janeiro, Leite Ribeiro e Maurilio, 1917.
8
Id. pp. 27 e segs. Este é um caso explícito de construção de uma memória, já que a Imperial Guarda de
Honra nunca foi uma tropa do exército, pertencendo à casa Imperial, até sua extinção em 1831, na
Regência. Além disso, o uniforme histórico da unidade é de 1825, não tendo relação direta com a In-
dependência. Finalmente, a unidade nunca foi de dragões, infantaria montada, sendo de cavalaria pe-
sada – a única do tipo a existir no Brasil.
9
BARROSO, Gustavo Dodt & RODRIGUES, Washt. Uniformes do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1922.
3
Introdução
to da época tinham forte apelo popular por sua temática extremamente ufanista e nacio-
nalista. Nesse sentido, não podemos deixar de mencionar que Gustavo Barroso foi um
dos ideólogos do integralismo e chefe da milícia do partido, além de ser o maior autor
do antissemitismo brasileiro. Foi o tradutor da edição brasileira do folheto “Os protoco-
los dos sábios do Sião”, 10 um falso plano judeu para domínio do mundo, forjado no iní-
cio do século XIX na Rússia – isso além de escrever outras obras nessa linha. Apesar
disso, e de suas ligações com os políticos da “República Velha”, ele teve uma imensa
resiliência política, conseguindo sobreviver na direção do Museu mesmo em face de
fortes mudanças do poder, como a Revolução de 1930, a Intentona Integralista de 1938
e a redemocratização de 1945, perdendo seu cargo por apenas curtos períodos e efeti-
vamente permanecendo na direção da Instituição até sua morte, em 1957.
10
OS PROTOCOLOS dos Sábios do Sião. São Paulo: Agencia Minerva. 1936.
11
O museu foi recriado quarenta anos depois, com um grande número de peças devolvidas pelo MHN.
4
Introdução
abrangência temporal e de qualidade. Esse material não é o mais o centro das exposi-
ções há décadas e as coleções como um todo hoje são muito variadas, incluindo desde
objetos de uso cotidiano, como eletrodomésticos, até ícones tradicionais da museologia
clássica, ligados aos “próceres nacionais” e aos grandes eventos. Dessa forma, o acervo
formado anteriormente à década de 1960, não poderia – nem deveria – ser descartado e
ignorado e o autor desse texto foi designado para estudar e catalogar a coleção de arma-
ria, que hoje se encontra quase toda em Reserva técnica, isto é armazenada, mas que
precisava ser processada para usos eventuais tendo em vista. Isso se fazia mais necessá-
rio quando vemos que Gustavo Barroso tinha formado o acervo visando uma determi-
nada posição historiográfica, como colocamos acima, em ocasiões falseando a interpre-
tação sobre as peças museológicas. Um exemplo disso são as peças das Guerras Holan-
desas usadas por Barroso em suas exposições. Estas incluíam algumas que ele sabia que
não eram do período, mas que foram “reclassificadas” como sendo pertinentes ao as-
sunto, para enriquecer as exposições do tema, caro à historiografia militar nacional.12
Isso já era percebido na época da fundação do Museu, como vemos na crítica de Calix-
to, na imagem abaixo (Figura 1). Para o museu, era preciso revisar a catalogação do
acervo.
12
Para uma discussão disso, ver o trabalho do autor da presente tese: Armas que documentam as Guerras
Holandesas: revisitando um texto dos Anais e uma coleção do Museu Histórico Nacional. Anais do
Museu Histórico Nacional n° 32, 2000.
5
Introdução
Outro aspecto que nos levou a conceber o tema da presente tese é o conjunto ar-
quitetônico do Museu – como dissemos, ele foi o antigo Arsenal de Guerra do Rio de
Janeiro, depois “da Corte”. Os edifícios que existem hoje, com 19.000 metros quadra-
dos, apesar de ocuparem uma imensa área (Figura 2), são apenas uma parcela reduzida
daqueles que compunham o conjunto original (ver Figura 42), já que muitos dos seus
prédios foram demolidos nas obras de preparação da Exposição Comemorativa do Cen-
tenário da Independência, para criar espaços abertos para ela.
13
No Museu há um canhão de alma oblonga, para disparar duas balas ao mesmo tempo, de invenção de
um operário do Arsenal, José Francisco Barriga, em 1856. CASTRO, Adler Homero Fonseca de &
ANDRADA, Ruth Beatriz S. Caldeira de. O pátio Epitácio Pessoa: seu histórico e acervo. Rio de
Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1993 (mimeo). Peça nº 015884 (ver Figura 14).
6
Introdução
14
Esta tese foi inicialmente desenvolvida por POMER, León. A Guerra do Paraguai: a grande tragédia
rio-platense. São Paulo: Global, 1981 (primeira edição em espanhol de 1965). O livro mais difundi-
do no Brasil a defender esse ponto de vista é: CHIAVENATTO, Júlio José. Genocídio americano: a
Guerra do Paraguai. São Paulo: Brasiliense, 1987. A primeira edição da obra é de 1979 – houve, pe-
lo menos, 32 edições.
7
Introdução
Desta forma, a presença militar era certamente era uma questão presente e im-
portante no Brasil até a segunda metade do século XIX. Esta questão se torna mais visí-
vel quando se percebe que a percentagem de participação militar na população acima
citada desconsidera as crianças (abaixo de 14 anos), idosos (homens com mais de 50
anos), todas as pessoas de sexo feminino e os escravos. Levando essas parcelas em con-
ta, temos uma cifra em que um em cada quatro ou cinco adultos livres do sexo masculi-
no estava ligado à atividade militar. Pessoal que tinha que ser suprido de alimentação,
uniformes, armas e munições, mesmo que isso fosse feito de forma precária, pois de
outra maneira não teriam efetividade alguma como força militar – e a própria história
nacional, com seus vários conflitos, prova que o exército funcionava bem o suficiente
para garantir a existência do País.
Notamos que o papel dos militares com a sociedade é um ponto central de al-
guns estudos sobre a história recente do Brasil, em termos de intervencionismo dos mi-
litares, 18 mas esses se preocupam com a questão política, uma visão tradicional da histó-
ria. A “nova história militar”19 tem uma aproximação mais ampla, em se tratando do
efeito dos militares na sociedade como um todo e vice-versa. Consideramos essa apro-
15
Frisamos que aqui estamos falando em termos de acumulação do capital, algo que é restrito à iniciativa
privada.
16
NOGUEIRA, Shirley. Razões para Desertar: a institucionalização do Exército no Grão-Pará no últi-
mo quartel dos setecentos. Belém: UFPA, 2000. (Dissertação de mestrado). p. 59. Dados de uma sé-
rie de 1784-1794.
17
MAPA da força militar das províncias, incluindo-se o Rio de Janeiro. Sl [182_]. Supostamente 1825.
Mss. BN. II-30,28,001.
18
Há uma grande bibliografia sobre o tema, que foge ao nosso trabalho. Apesar de ser uma obra antiga,
pode-se consultar o levantamento crítico feito Edmundo de Campos: CAMPOS, Edmundo de. A Ins-
tituição Militar no Brasil. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais-BIB.
Rio de Janeiro, n. 19, 1.º semestre de 1985. pp. 5 e segs.
19
A nova história militar propõe-se a trabalhar com outros aspectos do envolvimento dos militares com a
sociedade que não o estudo das ações de combate. O termo se tornou popular por meio de dois li-
vros: BARATA, Manuel Temudo & TEIXEIRA, Nuno Severiano. Nova história militar de Portu-
gal. Lisboa: Círculo de Leitores, 2004 (5 vols.) e, do mesmo ano, a obra: CASTRO, Celso; IZECK-
SOHN, Vitor; KRAAY, Hendrik. Nova história militar brasileira. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2004. Não simpatizamos com o uso do termo, pois o mesmo teria sua definição baseada em um outro
conceito, qual seja, uma oposição a uma “velha história militar”, não tendo, portanto, significado por
si. Preferimos a prática inglesa, que chama o mesmo conceito de história social da guerra. A expres-
são, contudo, já se popularizou no uso da historiografia brasileira.
8
Introdução
ximação importante, pois é evidente que não se pode pensar o papel das forças armadas
como uma questão específica ou limitada aos períodos de conflito armado ou apenas ao
campo político. Tropas, equipamentos, fortificações e belonaves tinham que existir e ser
mantidas mesmo quando não havia uma guerra em andamento e isso envolvia um imen-
so aparato fiscal e logístico que não podia ser criado a partir do nada quando era neces-
sário. Há mesmo todo um campo de pesquisa, o ligado à teoria da “Revolução Militar”,
que aponta que a necessidade dos monarcas de obterem o monopólio da violência legí-
tima e a criação de exércitos permanentes e sua infraestrutura teria sido o elemento fun-
damental na formação dos estados nacionais.20
A ideia da Revolução Militar não se resume a isso, mas cabe apontar que antes
do período moderno (1452-1789) havia uma situação de extrema precariedade, na qual
os grandes proprietários de terras – e não os governos centrais – eram responsáveis por
todos os aspectos de sustento das forças envolvidas em uma campanha. A partir de en-
tão houve um processo de crescente envolvimento dos governos na montagem de es-
quemas em que a administração central assumia essas responsabilidades, inicialmente
com o fornecimento das munições, depois das armas, que passaram a ser padronizadas,
assim como o equipamento e a alimentação. Isso até chegar ao ponto do uso de fardas,
roupas uniformizadas, fornecidas pelo governo.
20
Para a questão do monopólio da violência, ver: WEBER, Max. Ensaios de Sociologia Rio de Janeiro:
Ed. Guanabara, 1982. p. 301 e segs. Sobre a revolução militar: ROBERTS, Michael. The Military
Revolution, 1560-1660. Belfast: Queen’s University, 1956.
9
Introdução
armadas produzissem equipamentos idênticos. Tal proposta era complicada por causa
dos problemas que isso implicava: não havia sequer unidades de medidas padronizadas
– o sistema métrico data da Revolução Francesa, antes disso cada país, às vezes cada
região de um mesmo país, usavam suas próprias medidas, incompatíveis com as dos
outros. Outra solução, que teve muita importância, foi a de concentrar a produção de
artigos militares em instalações manufatureiras governamentais, os Arsenais, que passa-
ram a adquirir grande importância em todos os países.
Há alguns trabalhos que tratam da história corporativa das instituições fabris mi-
litares, entre elas a Fábrica de Ferro de Ipanema (SP), administrada pelo Exército, sendo
um dos assuntos mais pesquisados, 21 mas a complexa rede das organizações de produ-
ção de artigos militares não é muito conhecida. Além das conhecidas Fábrica de Ferro e
Fábrica de Pólvora do Rio de Janeiro (inicialmente no Jardim Botânico, na Corte, de-
pois no município de Magé), tinha havido um estabelecimento de fabricação de Pólvora
em Salvador, no século XVIII 22 (ver Figura 3), sendo uma instituição que, ate onde sa-
bemos, não é citada em nenhum trabalho que trata da história da economia colonial, um
ponto importante, quando lembramos que a pólvora era um dos itens usados no escam-
bo de escravos na África.
21
Podemos citar as obras de FELICÍSSIMO Jr. J. História da Siderurgia de São Paulo, seus persona-
gens, seus feitos. São Paulo: ABM, 1969. E SANTOS, Nilton Pereira dos. A Fábrica de Ferro de
Ipanema: economia e política nas últimas décadas do Segundo Reinado (1860-1889). Dissertação de
Mestrado. Universidade de São Paulo, 2009.
22
PLANTA, Perfil, fachada e a metade do telhado da casa, em que se fabricou a pólvora na Cidade da
Bahia. 1751. Mss. Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Lisboa. Cópia disponível no Arquivo do
IPHAN.
10
Introdução
de Arsenal de Marinha em 1714 – era uma das duas instalações do gênero em todo o
Império Português, o outro arsenal naval sendo o de Lisboa. 23
23
SELVAGEM, Carlos. Portugal Militar: compêndio de história militar e naval de Portugal, desde as
origens do estado Portucalense até o fim da Dinastia de Bragança. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa
da Moeda, 1991. p. 467. Deve-se dizer que havia outras instalações que construíam navios no Impé-
rio Português, como em Goa ou em outras capitanias do Brasil, mas essas não tinham o status de Ar-
senal.
24
Há um trabalho que trata tangencialmente do Arsenal de Guerra do Pará, sob o ponto de vista dos Afri-
canos livres: BEZERRA NETO, José Maia. O africano indesejado. Combate ao tráfico, segurança
pública e reforma civilizadora (Grão-Pará, 1850-1860). Afro-Ásia, nº 44, 2011.
25
Deve-se dizer que o Arsenal de Pernambuco é um dos com mais trabalhos acadêmicos, podendo-se
citar a dissertação de mestrado: CATARINO, Acácio José Lopes. Da oficina ao Arsenal: Estado e
redefinições urbanas no limiar da descolonização. Recife: UFPE, 1993. De forma mais resumida,
também há: VIEIRA, Hugo Coelho. Aprendizes castigados: a infância sem destino nos labirintos do
arsenal de guerra - 1827-1835. https://goo.gl/LwvuJa (acesso em outubro de 2015).
26
Há um trabalho interessante sobre os aprendizes menores do Arsenal de Mato Grosso: CRUDO, Matil-
de Araki. Infância, trabalho e educação : os aprendizes do Arsenal de Guerra de Mato Grosso
(Cuiabá, 1842-1899). Campinas: Unicamp, 2005. (tese de doutorado).
27
REPÚBLICA Rio Grandense – Regulamento para a administração geral do Comissariado de víveres e
transportes do exército republicano Rio-Grandense. Título II. Anais do Arquivo Histórico do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre, 1980. vol.V. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1981. 5. Cole-
ção Alfredo Varela. Correspondência ativa. p. 69 e segs.
28
PLANTA, Profil (1751), op. cit.
11
Introdução
As obras de maior fôlego tratando das manufaturas do governo que existem fo-
ram escritas há muito tempo, seguindo padrões que hoje não se adequam à norma aca-
dêmica. É o caso da obra de Juvenal Greenhalgh, 31 um oficial que tratou do Arsenal de
Marinha do Rio de Janeiro, escrevendo mais uma crônica do que um trabalho de caráter
histórico e mesmo assim, com falhas e lapsos de informação. Outra obra sobre arsenais
é a de Pimentel Winz, a História da Casa do Trem, 32 que trabalha com a descrição dos
fatos em torno do conjunto arquitetônico do Museu Histórico Nacional e suas proximi-
dades, usando uma grande quantidade de fontes – o livro tem 677 páginas, justamente
por causa da reprodução integral de dezenas de documentos.
Nenhum dos dois livros acima procura fazer uma interpretação da história das
instalações inseridas em um contexto maior, tanto em termos de história regional ou
nacional. Também não fazem uma crítica sobre os conceitos universalmente aceitos pela
29
Os laboratórios Pirotécnicos do Castelo e do Campinho (originalmente, a Oficina de Foguetes), assim
como a Fábrica de Armas da Conceição foram subordinados ao Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro.
Para um estudo da Oficina de Foguetes, há nosso trabalho: Os primórdios da Indústria aeroespacial
no Brasil – o foguete de Halle do Museu Histórico Nacional. Anais do Museu Histórico Nacional
n° 34, 2002.
30
Alice Canabrava cita os decretos de 13 de maio de 1810, 12 de novembro de 1811 e a carta régia de 24-
1-1812, que tratam da Fábrica de Canos de Espingarda, CANABRAVA, A. P. Manufaturas e indús-
tria no período de D. João VI no Brasil. IN: PILLA, Luiz (org.). Uma experiência de intercâmbio
cultural. Porto Alegre: Universidade do Rio Grande do Sul, 1963. p. 166. Enquanto Saint-Hilaire tra-
tou brevemente da Fábrica de Armas de São Paulo. SAINT-HILAIRE, Augusto de. Viagem à Pro-
víncia de São Paulo e resumo das viagens ao Brasil., Província Cisplatina e missões do Paraguai.
São Paulo: Livraria Martins, 1972. p. 163. Mas os dados sobre essas instituições são sumaríssimos.
Ver também: CANABRAVA, op. cit.
31
GREENHALGH, Juvenal. O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro na História: 1763-1822. Rio de
Janeiro: Editora a Noite, 1951. Fazemos a ressalva que só depois de concluída nossa pesquisa toma-
mos conhecimento da obra: MALVASIO, Ney Paes Loureiro. Distantes estaleiros: arsenais de ma-
rinha e a reforma naval pombalina. São Paulo: Paco editorial, 2012.
32
WINZ, Pimentel. História da casa do Trem. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1962.
12
Introdução
1.1 Proposta
Conforme escrito acima, ainda não foi feito um estudo aprofundado sobre as ins-
talações fabris/manufatureiras do governo, pelo menos no que tange ao século XIX.
Entretanto, o número delas era muito grande – no levantamento que fizemos, apenas
tratando das instalações diretamente administradas pelas forças armadas, essas excedem
o número de vinte, algumas de porte muito grande. Esse número não inclui as empresas
civis relacionadas diretamente ao suprimento da atividade militar, mas que não eram
administradas pelas forças armadas, como as Fábricas de Armas das províncias e até
instalações que seriam consideradas inteiramente privadas, mas que se atrelavam a um
projeto de incentivo industrial do governo. Um exemplo dessas seriam as manufaturas
de algodão, as quais receberiam incentivos na forma de compras obrigatórias de tecidos
para as tropas.33
Outro problema desta temática, além de sua complexidade, é sua extensão cro-
nológica: o papel do governo na manufatura de artigos militares se iniciou, até onde
podemos constatar, com a fundição de canhões de Olinda, que funcionou naquela cidade
nas primeiras décadas do século XVII. 34 Apesar daquela instalação não ter sido bem
33
PORTUGAL – Alvará de 28 de abril de 1809. Isenta de direitos as matérias primas do uso das fabri-
cas e concede outros favores aos fabricantes e da navegação Nacional. Inciso III: “Todos os farda-
mentos das minhas Tropas serão comprados ás fabricas nacionais do Reino, e ás que se houverem de
estabelecer no Brasil”.
34
MORENO, Diogo de Campos [suposto autor]. Livro que dá razão ao Estado do Brasil. Rio de Janeiro,
Instituto Nacional do Livro, 1969. Edição fac-similar de manuscrito de 1612, sem numeração de pá-
ginas.
13
Introdução
sucedida, não houve uma solução de continuidade na atividade como um todo: há men-
ções à existência de Casas do Trem ao longo dos séculos XVII e XVIII, bem como a
outras instalações, como a já citada Fábrica de Pólvora de Salvador. O marquês de
Pombal implantou no Brasil uma rede de trens, com instalações no Rio de Janeiro, Ba-
hia, Pernambuco e Pará. Dessas bases, o esforço fabril das forças armadas continuou a
ser importante até a década de 1970.
Desta forma, tornava-se óbvio que um estudo que procurasse abarcar em pro-
fundidade toda a complexidade da história das manufaturas e fábricas do exército estaria
fadado ao fracasso, devido à complexidade e extensão do tema. Era necessário estabele-
cer recortes temporais e espaciais que permitissem uma análise de fenômenos nacionais
a partir de estudos mais objetivos, refletidos em um tema mais limitado, o Arsenal de
Guerra.
35
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Relatório da Diretoria do laboratório Pirotécnico do
Campinho relativo ao ano de 1872. Augusto Fausto de Souza, Capitão Diretor Interino. Rio de Ja-
neiro, 13 de fevereiro de 1873. Mss. ANRJ, GIFI OI 5B 267.
14
Introdução
cumentação sobre o Arsenal de Guerra, mesmo com todas as suas falhas, parecia-nos
que a escolha dessa instalação específica parecia ser óbvia, constituindo-se assim um
primeiro recorte dentro do conjunto de manufaturas militares.
Sendo assim, e considerando que o fundo documental mais rico que encontra-
mos é o da série Arsenal de Guerra do Arquivo Nacional (IG7) e que este fundo concen-
tra-se no período posterior à chegada da família Real e, mais especificamente, após a
criação da Junta da Fazenda dos Arsenais, Fábricas e Fundição, pelo alvará de 1º de
março de 1811, nossa opção foi escolher o ano de 1808 como o momento inicial de nos-
sa pesquisa no que tange especificamente ao Arsenal. Isso permite trabalhar com uma
situação onde o País ainda se encontrava no período colonial tanto em termos formais
como políticos.
O recorte final seria um problema mais complexo, pois há uma série de fatos
marcantes que aconteceram do Brasil que poderiam ser usados como marcos delimita-
36
SILVA, Crispim Teixeira, Sargento Mor Intendente. Relação das Obras, Munições e mais Petrechos
que se tem feito no Trem de S. Majestade Fidelíssima do Rio de Janeiro, no tempo Governo do Il.mo e
Ex.mo Sr. Marquês do Lavradio Vice Rei e Capitam General de Mar e Terra do Estado do Brasil,
continuado de 31 de outubro de 1769, até 31 de Agosto de 1776. Mss. Coleção Particular.
15
Introdução
Os motivos para a escolha de um período tão amplo são diversos, mas um dos
principais é o relativo à base documental. Trabalhar com um período mais curto impli-
caria em fazer um estudo não tão completo quanto o consideraríamos desejável, já que a
própria complexidade administrativa do Arsenal de Guerra aumentou ao longo dos
anos, com uma crescente produção de documentos que esclarecem a forma de funcio-
namento do sistema. Na verdade, ao longo da redação desta tese vimo-nos forçados a
tratar de assuntos vários de períodos anteriores ao recorte acima, para poder contextua-
lizar o tema, especialmente quando falamos nos termos de nossas comparações.
O ano de 1864 parece ser uma escolha necessária. Por um lado, a produção de
material bélico cresceu de forma exponencial a partir daquele ano, de forma que seria
complicado trabalhar com o que aconteceu durante o conflito (1865-1870) – este pode-
ria ser, por si, o objeto de uma dissertação de mestrado ou mesmo um trabalho de dou-
torado, pela complexidade dos acontecimentos e seus efeitos na sociedade brasileira.
O ano de 1864 trás também outros acontecimentos relevantes, como o fim defi-
nitivo do uso de escravos no estabelecimento fabril, se adiantando em alguns anos no
que ocorreu no resto da sociedade brasileira e mesmo com relação ao caso de outras
manufaturas do governo, como a Fábrica de Pólvora, que continuou a usar cativos na
sua força de trabalho por mais alguns anos. 37
37
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação nominal dos escravos e escravas da nação sujeitos ao Arsenal
de guerra da Corte. Arsenal de Guerra da Corte, escritório da 1a Seção. Major Joaquim Jerônimo
Barrão, 1º ajudante. Rio de Janeiro, 23 de julho de 1865. Mss. ANRJ. IG7 27.
16
Introdução
Consideramos de vital importância para o trabalho uma análise dos modelos ex-
plicativos da economia brasileira na historiografia, com relação a uma manufatura no
período cronológico relacionado. Como foi dito, esse é um momento que é visto como
um “hiato”, entre um suposto término do artesanato colonial, em 1808 e um surgimento
de uma indústria brasileiro, a partir da tarifa Alves Branco (1844), sem ter havido mu-
danças sérias em termos de economia com relação à prática colonial, apesar de todos os
problemas que essa premissa traz. Consideramos que entender os modelos clássicos
tendo em vista nosso objeto de pesquisa torna-se um dos objetivos a serem alcançados,
tendo em vista as incongruências que se observam mesmo em uma análise sumária do
tema.
38
Este termo é usado por: PRADO Júnior, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense,
1977. p. 257.
39
LISBOA, José da Silva. Observações sobre a franqueza da indústria, e estabelecimento de fábricas no
Brasil. Brasília: Senado Federal, 1999.
17
Introdução
A questão teórica tinha, portanto, mais valor do que os trabalhos empíricos indu-
tivos, que partiam do levantamento dos dados para montar uma visão mais compreensi-
40
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação econômica e social escravista no sudeste : um estu-
do das atividades manufatureiras na região fluminense, 1840-1880. Niterói: UFF, 1980. (Disserta-
ção de mestrado).
41
id. p. 2.
42
id. pp. 2-3.
18
Introdução
A nosso ver, a questão teórica adquire outro ponto de vista – a questão do de-
senvolvimento ou aplicação de uma teoria específica nunca foi primordial nas pesquisas
desenvolvidas. O problema que se colocava inicialmente e que nos levou aos estudos
foi, como colocado anteriormente, uma exigência do trabalho no Museu Histórico Naci-
onal, que demandava uma pesquisa empírica. Esta era voltada para a busca de respostas
a perguntas práticas e de uso imediato, sobre a história institucional do Museu, de seu
prédio e da formação de uma coleção específica, a das armas.
Considerando o que foi colocado acima, o método comparativo nos parecia ser o
mais adequado para realizar um trabalho que processasse de forma sistemática o materi-
al que já tinha sido recolhido, bem como o que seria obtido nas pesquisas específicas do
doutorado. A razão dessa escolha pode ser dita que foi oriunda de uma perspectiva tra-
dicional na abordagem da história econômica, que sempre se valeu de estudos compara-
tivos para a montagem de seus modelos teóricos, desde pelo menos o trabalho de Adam
Smith, A riqueza das nações, de 1776, onde ele procurava explicar uma dada conjuntura
em face da situação de outros países. É claro que esses estudos não são propriamente de
história comparada, tal como a entendemos hoje, mas podem ser considerados como
precursores do método.44
43
OLIVEIRA, Geraldo de Beauclair Mendes de. A pré-indústria fluminense: 1808/1860. São Paulo:
1987. (Tese de doutorado). pp. 6 e segs.
44
Deve-se dizer que os estudos de história econômica que faziam comparações baseavam-se, muitas
vezes, em um preconceito explícito, criando uma “escala evolutiva”, de economias menos complexas
Continua –––––––
19
Introdução
Não cremos que caiba aqui uma discussão maior sobre a evolução da historio-
grafia que trabalha usando uma forma ou outra de comparação econômica.45 Contudo é
necessário apontar que na histórica econômica brasileira a comparação foi um elemento
de grande relevância, a partir de uma pergunta simples: por que o Brasil e os Estados
Unidos, partindo de bases semelhantes – ou até melhores para o país sul-americano,
como coloca Roberto Simonsen 46 – não desenvolveu uma sociedade industrializada no
século XIX?47 Ou seja, partiu-se de um problema acadêmico específico, sincrônico –
isto é, uma situação ocorrendo em dois países em um mesmo período histórico –, para
se tentar obter uma explicação para a situação contemporânea do Brasil na época em
que os livros foram escritos, meados do século XX, quando o País estava efetivamente
se industrializando depois de um período de atraso.
Outras pesquisas não adotaram esta opção metodológica, sendo baseados em li-
nhas sociológicas, buscando uma lei geral, um “sentido da colonização”,48 sem se fun-
damentarem, contudo, em uma pesquisa empírica profunda. Tal tipo de trabalho, abran-
gendo todo o território brasileiro em trezentos anos de história, seria extremamente difí-
cil de realizar, se levarmos em consideração o volume de informações que seria neces-
Continuação–––––––––––
para as mais avançadas, em um caminho unidirecional de desenvolvimento para um sistema visto
como o ideal, fosse este último um modelo utópico ou a própria sociedade ocidental contemporânea,
visão que era – ainda é – comum na historiografia ocidental.
45
Para uma discussão da história do método comparativo na história econômica, ver: BARROS, José
d’Assunção. História Comparada. Petrópolis: Vozes, 2014. pp. 8 e segs. e MAIER, Charles S. La
historia comparada. Studia Historica Contemporanea. Vol. X-XI (1992-93). pp. 11-32
46
SIMONSEN, Roberto C. Evolução industrial do Brasil e outros estudos. São Paulo: Companhia Edito-
ra Nacional, 1973. pp. 6 e segs.
47
Para outros autores que colocam essa pergunta, ver: LIMA, Heitor Ferreira. História político-
econômica e industrial do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973. pp. 271-272. e,
mais conhecido, FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora
Nacional: Publifolha, 2000. p. 106.
48
PRADO Júnior, op. cit. Para o autor, o primeiro a desenvolver o tema, haveria uma síntese do caráter
geral da economia brasileira, que seria a exploração de recursos naturais em proveito do comércio
europeu. p. 102.
20
Introdução
Sendo assim, queremos deixar claro alguns dos sentidos seguidos em nossa pes-
quisa. Sem nos propormos a fazer um trabalho de histórica econômica, usando a termi-
nologia e metodologia específica da área, estudamos uma unidade manufatureira inseri-
da em um contexto em que, pelos modelos teóricos, ela não deveria existir.
Essa proposta resultou de uma pesquisa tradicional, buscando levantar nos fun-
dos documentais existentes as informações sobre a organização militar do Arsenal de
Guerra, através de suas especificidades, a partir de uma perspectiva de história instituci-
onal.50 Tratamos de sua organização, funcionamento, quadro funcional e, mais impor-
tante, a demanda que levou à sua existência e o resultado de seus trabalhos: os produtos
militares como uma parte dos mecanismos que o Governo tinha para assegurar sua exis-
tência. Também consideramos relevante à questão do quadro de operários, pois o Arse-
nal não era apenas uma manufatura, mas também era uma instalação inserida em um
universo onde a escravidão era dominante, a instituição tendo, portanto, que se adequar
à situação reinante, apesar desta estar em alteração, isso sendo bem evidente no caso do
Arsenal.
49
Há várias obras nesse tema. Uma recente é: CALDEIRA, Jorge. História do Brasil com Empreendedo-
res. São Paulo: Mameluco, 2009.
50
No sentido de campo que trabalha com “a análise histórica das instituições que integram a organização
administrativa do estado”. PORRAS, Juan Daniel Flórez. Guía Metodológica para las investigacio-
nes de história institucionales : modelo de orientación general. Bogotá: Alcadía Mayor de Bogotá,
2005. p. 35.
21
Introdução
da metodologia da história comparada, nosso objetivo era observar até que ponto a ins-
talação manufatureira do Arsenal se encaixa no modelo tradicional da economia escra-
vista no Brasil.
Nesse ponto, deve-se dizer que a historiografia dá uma grande relevância aos es-
critos e ações do Visconde de Cairu,51 um ardente defensor do liberalismo econômico,
que seria o representante intelectual de uma elite que teria retardado a industrialização
do País,52 este sendo um modelo que deve ser discutido, pois, apesar da influência do
visconde na política, o que ele defendia não se encaixa, pelo menos em parte, em uma
realidade observável nas ações do ministério da guerra, tal como já colocamos anteri-
ormente.
Sendo assim, fizemos, em parte, fazer uma comparação sobre uma realidade
palpável e os modelos teóricos tradicionais, discutidos no primeiro capítulo, para verifi-
car a validade do mesmo, ressalvando que o objetivo do trabalho não é elaborar a ques-
tão de forma de uma nova teoria ou modelo explicativo, mas sim centrar-se em eventos
concretos. Ou seja, a questão teórica, ao contrário do comentado por Soares mais acima,
não é um objetivo em si, apenas uma ferramenta analítica.
Mais tarde, no século XIX, o caso dos Estados Unidos, baseado em técnicas in-
troduzidas pelos franceses no século anterior, adquire maior importância, pois lá o papel
51
LISBOA, op. cit.
52
Entre outros, ver: ANDRADE, Rômulo Garcia de. Burocracia e economia na primeira metade do sécu-
lo XIX (a Junta de Comércio e as atividades artesanais e manufatureiras na cidade do Rio de Janei-
ro: 1808-50). Niterói: UFF, 1980. (Dissertação de mestrado). pp. 58-60.
53
PORTUGAL. Alvará de 28 de abril de 1809, op. cit.
22
Introdução
das forças armadas no desenvolvimento de novas técnicas fabris é marcante, pela neces-
sidade de se equipar forças de centenas de milhares de homens. Mesmo considerando
sua proximidade cronológica, o modelo fabril norte-americano não foi adotado pelo
Exército Brasileiro, tendo havido um conflito básico de entendimento de como estas
manufaturas deveriam funcionar.
54
OLIVEIRA, op. cit. pp. 6 e segs.
55
Trata-se de “uma sucessão de trabalhos que dependem um dos outros, até ao acabamento do produto
fabricado e à operação mercantil”, mas sem estarem reunidos em um local específico. OLIVEIRA,
op. cit. pp. 9-10. apud BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, economia e capitalismo. t.2 (os
jogos das trocas). Lisboa, cosmos, 1985. p. 281. No caso, a repartição de costuras do Arsenal de
Guerra funcionaria nesse esquema.
23
Introdução
conectadas passo a passo, como o fio metálico na manufatura de agulhas, que passa
através das mãos de 72 trabalhadores”.56
Este último ponto é importante para nosso objeto de estudo, pois o Arsenal de
Guerra da Corte (AGC) tem uma situação anômala, se encarado em diversas dessas de-
finições, tendo características mistas, com aspectos de diferentes tipos de manufatura e
até de fábrica.
1.3 Metodologia
Em termos de história comparada, onde o método é relevante para se definir os
caminhos a serem seguidos em uma pesquisa, a questão que se coloca é a respeito de
quais seriam os parâmetros de comparação a serem seguidos. Esses já foram delineados
acima e seriam, inicialmente, como se deu, de forma geral, o incentivo governamental
ao desenvolvimento manufatureiro. Isso quando se observa especialmente o campo lo-
56
MARX, op. cit. p. 168.
57
id. p. 170.
58
Ver SOARES (1980), op. cit. pp. 100-111 para uma ampla discussão das definições de Marx sobre
manufaturas e fábricas.
24
Introdução
59
Para a França, ver ALDER, Ken. Engineering the revolution: arms & enlightenment in France, 1763-
1815. Chicago: University of Chicago, 1992.
60
Podemos citar textos que trabalham com essa questão os de CREVELD, Martin van. Technology and
War: from 2.000 b.C. to the Present. London: Brassey`s, 1991 ou MCNEILL, William H. The Pur-
suit of Power: Technology, Armed Force, and Society since a.D. 1000. Chicago: University of Chi-
cago, 1984.
25
Introdução
bilizaram por cada vez mais fábricas e arsenais de produção, que serviram como incen-
tivo ao surgimento de indústrias civis que pudessem fornecer os artigos necessários às
forças armadas.
Do ponto de vista dos modelos explicativos, a análise será bem menos comple-
xa, feita a partir da bibliografia já produzida sobre a história econômica do País, pois a
ideia é fazer a comparação com modelos, construções teóricas nacionais, isso não impli-
cando na produção de pesquisas empíricas sobre os fatos relativos aos temas desenvol-
vidos pelos diversos autores.
Do ponto de vista dos modelos explicativos, a análise será bem menos comple-
xa, feita a partir da bibliografia já produzida sobre a história econômica do País, pois a
ideia é fazer a comparação com modelos, construções teóricas nacionais, isso não impli-
cando na produção de pesquisas empíricas sobre os fatos relativos aos temas desenvol-
vidos pelos diversos autores.
Para os leitores que não estão acostumados com a metodologia da história com-
parada, cremos ser relevante apontar que a proposta metodológica desse ramo da histó-
ria não implica, necessariamente, na análise de dois ou mais aspectos que tenham seme-
lhança entre si, que tenham proximidade geográfica ou mesmo que sejam contemporâ-
neos. Assim, segundo José Assunção de Barros ao tratar do primeiro autor a sistemati-
zar a moderna história comparada, “o intuito de [Marc] Bloch era também o de liberar o
historiador das fronteiras artificiais que até então vinham sendo delimitadas pelas clau-
61
BLOCH, Marc. História e Historiadores: textos reunidos por Étienne Bloch. Lisboa: Editorial Teore-
ma, 1998. p. 121.
26
Introdução
27
Introdução
os processos adotados nos dois países. Entretanto, desistimos desse caminho por causa
do reduzido número de peças francesas existentes em coleções de museus brasileiros66 –
apenas dois canhões, um deles do período mais recente,67 bem como algumas armas
portáteis, menos de dez peças – inviabilizando a criação de séries de objetos e, com isso,
essa linha de pesquisa. Mesmo assim, pretendemos usar alguns objetos para ilustrar cer-
tos aspectos específicos da pesquisa.
Também usaremos uma grande quantidade de ilustrações – isso não por ser ne-
cessário em termos da proposta de pesquisa escrita, mas por causa da formação do au-
tor: fomos influenciados pela experiência de trabalho em um museu e no IPHAN, ór-
gãos onde o uso de imagens é fundamental em qualquer trabalho escrito, por serem ins-
tituições que trabalham com a cultura material. Desta forma, o procedimento de usar
figuras para ilustrar e documentar alguns pontos tornou-se uma segunda natureza para o
autor, que é difícil de ser ignorada.
Deve ficar claro que não pretendemos inovar com a metodologia de pesquisa a
ser adotada. A existência de fontes arquivistas e bibliográficas em quantidade permitiu
dispensar o uso de recursos especiais, como a análise de objetos da cultura material. O
trabalho de pesquisa propriamente dito, se resumiu nas tradicionais etapas de levanta-
mento e correlação de dados, visando a montagem de um arcabouço de fatos que nos
possibilitou a análise do assunto dentro do quadro teórico escolhido, para verificar a
validade das hipóteses, objetivos e conceitos apresentados, seguindo a formação e expe-
riência profissional deste autor.
66
Obviamente, há muitos desses objetos preservados em museus Europeus. De fato, há mais armas brasi-
leiras preservadas em museus Belgas do que existentes aqui (ver: GAIER, Claude. Prestige de
l’armuriere portugaise. La part de Liège. Liège, Musee D’Armes de Liège, 1991), mas não havia
previsão de fazer um trabalho de levantamento de campo no exterior, de forma que tivemos que nos
contentar com os acervos disponíveis no Rio de Janeiro, muito limitados.
67
Peças 015888 e 006920, o primeiro fundido em Rocheford, em 1793 e o segundo um canhão em data
não especificada, no reinado de Luís XIV. Cf. id.
28
Introdução
fundamental e deve ser vista como expandida, levando em conta não apenas as publica-
ções correntes, mas também as que fundamentaram as teorias sobre a formação econô-
mica do Brasil. Isso por ser parte da própria proposta da tese, a discussão dos modelos
teóricos sobre a questão econômica e como o nosso objeto de estudo se enquadra – ou
deixa de se enquadrar – nos citados modelos teóricos.
Para se entender o problema que se levanta com o estudo que está sendo feito,
foi feito um capítulo que trata dos motivadores de toda a questão do envolvimento dos
militares com um aspecto que pareceria ser estranho à sua cultura, o da fabricação de
produtos. Para isso é importante entender as demandas que a sociedade do mundo mo-
derno e contemporâneo criaram para a formação de grandes exércitos, que têm que ser
providos de equipamentos. Estes, por sua vez, são, de forma geral, inúteis para uma
sociedade em paz – um canhão não serve para nada a não ser para destruir, mas o faz de
forma muito ineficiente, se for analisado simplesmente como uma ferramenta de demo-
lição. No entanto, esses equipamentos são indispensáveis para a própria existência e
consolidação dos Estados modernos, criando uma lógica própria. Esta é aceita como se
fosse “natural” por todos, até hoje, mas que tem suas origens em necessidades específi-
cas, como é o caso do uso de uniformes – nada obriga que um exército os use e, na ver-
dade, o próprio termo “uniforme” é pouco apropriado para o período em estudo, já que
as roupas usadas pelos militares nada tinham de uniformes, variando para cada batalhão.
No entanto, as fardas são elementos fundamentais à própria cultura militar. Dessa for-
ma, abordar as condicionantes da produção de artigos voltados para esse “mercado con-
sumidor” específico é de fundamental importância para se entender uma das razões que
levaram a implantação de uma estrutura fabril nos países que estamos estudando.
O corpo do texto, que servirá de ponto base para o estudo, será a forma como os
governos organizaram a produção industrial voltada para o atendimento do consumo de
suas tropas, dando ênfase a organização do trabalho; a introdução de técnicas de produ-
ção de equipamentos com peças intercambiáveis e a mecanização da produção. Em se-
guida será feito uma análise da estrutura geral criada no Brasil para resolver o problema
do abastecimento militar, com suas unidades específicas, desde a Fábrica de Pólvora até
os Laboratórios Pirotécnicos.
29
Introdução
caso do Brasil, incluindo o uso de escravos, alguns altamente especializados –, sua es-
trutura de funcionamento, instalações, máquinas, ferramentas e processos produtivos.
Não se pode dizer que todas as fontes possíveis tenham sido consultadas, já que
a organização da documentação é precária, havendo material disperso em muitos outros
fundos e arquivos. Na verdade, alguns fundos de documentos, dependem até de uma
consulta direta, simplesmente para se saber qual é a sua temática geral, pois as indica-
ções arquivistas sobre eles sequer dão noção sobre qual instituição ou período tratam,
tornando qualquer pesquisa maior excessivamente exaustiva e improdutiva. Não esta-
mos falando do conteúdo específico dos documentos, mas sim do assunto geral dos ma-
ços, que apesar de terem a indicação de que eram relativos ao Arsenal de Guerra, podi-
am conter textos sem nenhuma relação com a instituição. Este seria o caso de papeis
gerados pelo ministério da Marinha ou da Justiça que, por um motivo ou outro, foram
incorporados ao acervo do Arsenal de Guerra e, depois, enviados para o Arquivo Naci-
onal.
68
O fundo “Arsenais de Guerra” do Arquivo Nacional (ANRJ) contém 516 maços de documentos.
30
Introdução
31
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Sumário
32
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Finalmente, um problema que afeta a questão dos modelos é que eles, com ape-
nas pequenas exceções, não trabalham com nosso objeto de trabalho explícito, as manu-
faturas do governo, representadas no caso específico pelo Arsenal de Guerra do Rio de
1
Para alguns breves comentários sobre essa bibliografia revisionista ver: TENA-JUNGUITO, Antonio &
ABSELL, Christopher David. Brazilian export growth and divergence in the tropics during the nine-
teenth century. IN: Working Papers in Economic History. WP15-03, May 2015.
https://goo.gl/7sp2SK (acesso em março de 2016).
33
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Janeiro. Isso por que as teorias clássicas econômicas desconsideram, em larga parte, o
papel do governo na economia, classificando seus gastos como “inúteis” ou “estéreis”.
Por exemplo, Adam Smith, no livro “A riqueza das Nações”, escreveu:
Esse pensamento é reproduzido por Marx, apesar dele não tratar especificamente
do caso das manufaturas do governo. Para ele, o objeto da acumulação do capital é a
colocação das mercadorias em circulação, “elas tem que ser vendidas, seu valor trans-
formado em dinheiro, este dinheiro novamente convertido em capital e assim uma e
outra vez”.4 Ou seja, a produção de bens e serviços que não sejam voltados para a circu-
lação geral resultaria na esterilização do capital, se aplicando o mesmo colocado por
Adam Smith com relação aos gastos públicos ou do setor de serviços – eram gastos pior
do que inúteis, pois prejudicavam a economia. No caso, vale a pena repetir, que a ques-
tão importante para Marx era a acumulação de capital, visando a sua reprodução, algo
que o governo não faria.
No entanto, ambas as visões, se faziam certo sentido nos séculos XVIII e XIX,
são complicadas hoje, pois ignoram boa parte das economias nacionais, o setor de servi-
2
SMITH, Adam. An Inquiry into the nature and causes of the wealth of Nations. London: Encyclopaedia
Britannica, c. 1952. p. 143.
3
id. p. 143.
4
MARX, Karl. Capital. London: Encyclopaedia Britannica, c. 1952. p. 279.
34
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
ços.5 No caso das manufaturas do governo, podemos apontar que estas tinham outros
efeitos, além de sua relevância econômica direta, como será tratado nas páginas seguin-
tes. Podemos adiantar que havia seu papel indutor em outros setores da economia, atra-
vés da compra de insumos e produtos acabados já que as forças armadas constituíam um
importante “mercado consumidor” de produtos manufaturados.
Com essas ressalvas em mente, iniciamos trabalhando com um aspecto que con-
sideramos importante para se entender a singularidade do Arsenal, que seria a forma
como a história econômica vê a questão do surgimento de manufaturas no Brasil, a par-
tir dos modelos idealizados criados para fazer essa questão.
Daí se entende perfeitamente uma pergunta que se colocou de forma bem clara
no início do século XX: porque éramos – e ainda somos – um país subdesenvolvido, ao
contrário do que acontece com as potências europeias ou os Estados Unidos, mesmo
5
HAKSEVER, Cengiz & RENDER, Barry. The Important Role Services Play in an Economy. July 25,
2013. http://www.ftpress.com/articles/article.aspx?p=2095734&seqNum=3 (acesso em março de
2016).
6
Não se referindo especificamente à história, mas sim a filosofia e a sociologia, a própria presidente do
Brasil fez uma colocação sobre o excesso de disciplinas no ensino médio. Bom dia Brasil entrevista
Dilma Roussef. 22 de setembro de 2014. https://goo.gl/wZdbnO (acesso em fevereiro de 2016). Tal
visão é compartilhada por outras pessoas, que não questionam, contudo, a necessidade da existência
das disciplinas exatas.
7
Marco Túlio Cícero, filósofo, orador, político e advogado. CICERO, Marco Túlio. De Oratore. Cambri-
ge: Harvad University Press, 1967. p. 233.
35
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
considerando que as condições iniciais do Brasil e dos EUA, no século XVIII, eram
semelhantes, ou até melhores para o Brasil, pois este último tinha um território maior e
exportações mais relevantes no período, por causa da exploração do ouro?8
Na construção dos modelos podemos dizer que há uma divisão cronológica usual
divide a historiografia nacional em três períodos: um anterior a 1838, o segundo inici-
ando naquele ano, com a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)
e o terceiro a partir de 1931, quando alguns trabalhos hoje fundamentais foram escri-
tos.10 De fato, antes do século XIX, autores como Rocha Pita11 e Southey12, apesar de
terem sua utilidade, podem ser classificados não como historiadores, mas sim como
cronistas, relatando apenas os fatos, sem um embasamento ou mesmo uma abordagem
científica, em termos teóricos. Também não havia critérios que sustentassem suas pro-
postas de manejo das fontes, de forma que é muito difícil uma crítica ao trabalho de
pesquisa feito por esses autores. Mais importante, contudo, é que esses livros se dedica-
vam, quase que exclusivamente, aos campos político-militar e diplomático, ignorando
muitos outros aspectos, mesmo aqueles que mais tarde seriam considerados como liga-
dos a uma “história oficial”, como os econômicos.
8
Essa pergunta aparece tanto na obra de SIMONSEN, Roberto C. Evolução industrial do Brasil e outros
estudos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973. p. 6, quanto na de FURTADO, Celso. For-
mação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional : Publifolha, 2000. p. 106. As
notas sobre a existência de melhores condições no Brasil com relação aos Estados Unidos no século
XVIII estão no livro de Simonsen.
9
Usamos o conceito de modelo explicativo tal como apresentado na obra: FONTES, Virgínia. História e
Modelos. In: CARDOSO, Ciro Flamarion Santana & VAINFAS, Ronaldo. Domínios da Historia:
Ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. pp. 355 e segs.
10
IGLÉSIAS, Francisco. Os historiadores do Brasil, capitulo de historiografia brasileira. Rio de Janeiro,
Nova Fronteira; Belo Horizonte, MG: UFMG, IPEA, 2000.
11
PITA, Sebastião da Rocha. História da América portuguesa. Belo Horizonte, Itatiaia; São Paulo,
EDUSP, 1976.
12
SOUTHEY, Robert. História do Brasil. Belo Horizonte, Itatiaia : São Paulo, EDUSP, 1981.
36
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Uma segunda fase teria sido iniciada com a fundação do IHGB: anteriormente
tinham existido as academias dos “Esquecidos”, de 1724 e dos “Renascidos”, esta de
1759, ambas de curta duração – cerca de um ano. Estas tinham entre suas propostas es-
crever histórias do País, como seus membros efetivamente fizeram: Sebastião da Rocha
Pita, com sua História da América Portuguesa, de 1730 e Frei Gaspar da Madre de
Deus, com as Memórias para a História da Capitania de São Paulo (1797) ou José de
Miralles, com a História Militar do Brasil (1762).13 Dessa forma, o IHGB não foi a
primeira iniciativa sistemática de estudo de história do Brasil, mas foi a instituição que
apresentou resultados mais concretos, existindo até os dias de hoje, tendo se replicado
em cópias estaduais e órgãos especializados, como o Instituto de Geografia e História
Militar do Brasil (IGHMB), de forma que ele certamente marcou uma época.
A ênfase nessa visão de história era, como dissemos, na coleta e organização dos
fatos, de forma que foi feito um esforço para esse trabalho, através da Revista do Institu-
to Histórico e Geográfico Brasileiro. Esta ainda é uma importante fonte de informações
sobre o passado brasileiro, justamente por esse trabalho de sistematização de documen-
tos e livros raros. Essa ideia de que o Instituto não se restringiria apenas à coleta e re-
produção de textos é muito aceita pelos que comentam a historiografia do período, se
enfatizando que os trabalhos da época teriam uma visão acrítica, o que consideramos
uma injustiça ou, no mínimo, um anacronismo. Por exemplo, já no início da história da
13
RODRIGUES, José Honório. História da História do Brasil: 1ª parte historiografia colonial. São Pau-
lo: Companhia Editora Nacional, 1979. p. 144.
14
No original “story”, uma palavra que normalmente é traduzida como história, apesar do termo estória,
estar se tornando comum em Português, para designar um texto de ficção, em oposição ao estudo do
passado. Para evitar confusão, usamos o termo “conto”, que nos parece adequado.
15
FUSTEL DE COULANGES, citado em: REWALD, John. The History of Impressionism. IN:
O’BRIAN, John (ed.). Clement Greenberg: The collected essays and criticism. Volume 2: Arrogant
Purpose, 1945-1949. Chicago: University of Chicago, 1987. p. 235. (todas as traduções no texto são
nossas, a não ser que especificado em contrário).
37
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
instituição foi feito um concurso para uma monografia sobre como se deveria escrever a
história do país, propondo, de forma implícita, que o historiador tivesse uma postura
crítica, reflexiva.16
É certo que esses autores do IHGB não tinham uma proposta que consideraría-
mos “moderna” ou “atual”, que criticasse a situação. Por outro lado, podemos dizer que
tinham posições políticas, expressas em seus trabalhos: Martius defendia o unitarismo
sob o Império e Varnhagen, em seus trabalhos, era conservador, favorável aos grupos
dominantes e a Portugal.17 Rio Branco,18 por sua vez, tinha uma forte visão militarista
da sociedade, tendo em vista a importância desse tema para as questões de relações in-
ternacionais naquele momento e podem-se citar muitos outros autores com propostas
embutidas na redação de seus trabalhos.
Uma última ressalva que é feita aos historiadores do período do IHGB é que al-
guns deles não fizeram trabalhos de síntese geral,19 uma crítica que vemos como parti-
cularmente estranha, considerando que poucos autores – até os dias de hoje – se pro-
põem a fazer tal tipo de trabalho e não parece ser coerente apontar uma falha em um
texto que não tinha o objetivo de atender a esse ponto. No entanto, a objeção faz sentido
quando analisamos o período subsequente na historiografia nacional – aquele definido
por Iglésias como sendo o momento da “contribuição da universidade”,20 que foi mar-
cado, justamente, por grandes trabalhos de síntese, que procuravam estabelecer modelos
explicativos, buscando entender o País de então como resultando de determinantes ori-
undos de seu passado colonial.
16
Comentários em IGLÉSIAS, op. cit. p. 67.
17
Id. p. 70 e 83.
18
RIO BRANCO, Barão de. Efemérides Brasileiras. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1946.
19
Por exemplo, Iglésias crítica Capistrano de Abreu por Isso. IGLÉSIAS, op. cit. p. 123.
20
id. p. 181.
38
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
tação à situação política vigente, vista como inadequada para o Brasil de então. Isso em
um contexto da crise mundial causada pelo crack da bolsa de 1929 e da transição pela
qual o País passava, indo de uma sociedade agrária para uma mais urbanizada, na qual o
processo de industrialização era visto como vital (ver gráfico 1).
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
21
BRASIL – IBGE. Malhas territoriais, municípios. https://goo.gl/ixVST9 (acesso em julho de 2017).
22
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo : colônia. São Paulo: Brasiliense, 2000.
p. 1.
39
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
ceira.23 O primeiro a ser escrito com uma proposta de trabalhar a economia de forma
geral foi o de Vitor Viana, de 1922,24 elaborado no contexto das comemorações do cen-
tenário da Independência do Brasil. Entretanto, apesar de seu título, História da forma-
ção econômica do Brasil, realmente não se pode considerar como tendo atingido seu
objetivo – cremos que o impacto dessa obra na historiografia foi nulo, pois não passava
de uma coletânea de dados esparsos.25 O livro não tem uma clara ideia unificadora, a
não ser a de uma forte defesa dos princípios do liberalismo econômico. De forma geral,
contudo, deixa evidente que sua ideia era a de um país com uma economia dependente e
complementar a da Europa.26
No ano seguinte (1923), foi publicada a obra de Lemos de Brito, Pontos de par-
tida para a história econômica do Brasil,27que se liga mais a tradição documentarista da
história, do tipo estabelecido pelos historiadores ligados ao IHGB. É uma obra que, ape-
sar de seu título genérico, é dedicada ao período Colonial, sendo bem embasada em uma
pesquisa documental – em fontes secundárias, é verdade. Mesmo assim, foi o pioneiro
ao notar a existência de manufaturas militares no Brasil colonial, como a fundição de
Olinda e, principalmente, a questão da construção naval, apontada por ele como “a ver-
dadeira indústria fabril da colônia”. 28 Não é uma obra, contudo, que apresente uma sín-
tese analítica, uma conclusão ou mesmo uma proposta de explicação do porque a eco-
nomia nacional tinha evoluído como acontecera.
23
CALÓGERAS, João Pandiá. A Política Monetária do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1960.
24
VIANA, Victor. História da formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1922.
25
id. p. 75.
26
id. Ver, por exemplo, a página 14 do livro.
27
BRITO, Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1980.
28
id. p. 252.
29
SIMONSEN, Robert C. História econômica do Brasil (1500/1820). São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1977.
40
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
30
Coletânea publicada pós mortem.
31
FUNDAÇÃO Getúlio Vargas. Dicionário histórico-biográfico brasileiro – Dhbb. Verbete Roberto
Cocharane Simonsen. https://goo.gl/vdWjgS. (acesso em fevereiro de 2016).
32
AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. Lisboa: Livraria Clássica
Editora, 1978.
33
SIMONSEN (1977), op. cit. p. 293.
41
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
propriedade Maria Yedda Linhares e Francisco Carlos Teixeira, 34 era uma proposta que
se adequava bem à visão conservadora da política do momento, pois pelos ciclos, o que
mudava era apenas a conjuntura – técnicas e/ou produto –, “permanecendo o essencial,
a inserção no mercado mundial”. 35
34
LINHARES, Maria Yedda & Francisco Carlos Teixeira da Silva. História da Agricultura Brasileira :
combates e controvérsias. São Paulo: Brasiliense, 1981.
35
Id. p. 19.
36
SIMONSEN (1977), op. cit. p. 436.
37
SIMONSEN (1973), op. cit. pp. 8-9.
42
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
terno, conforme apontado por Maria Yedda e Francisco Carlos Teixeira. 38 Maria Yedda
também faz outras críticas aos conceitos embutidos nos ciclos, como o fato da proposta
só ter “favorecido uma visão compartimentada e estanque da história, como numa pro-
jeção de diapositivos: sai o pau-brasil, entra o açúcar e assim por diante”.39 Considera-
mos essa a principal e mais válida observação que é feita à teoria de Simonsen, pois a
tendência seria aceitar que houve de fato um processo de substituição de um produto por
outro, o item substituído “desaparecendo” da agenda econômica nacional, o que é um
absurdo.
38
LINHARES, op. cit. p. 11.
39
id. p. 11.
40
SINGER, Paul. O Brasil no Contexto do Capitalismo Internacional : 1889-1930. IN: FAUSTO, Boris
(dir.). História Geral da Civilização Brasileira. Tomo. III. O Brasil Republicano. Volume 1. Estrutu-
ra de poder e economia (1889-1930). São Paulo DIFEL, 1985. p. 355.
43
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
4000000
3500000
3000000
2500000
2000000
1500000
1000000
500000
0
Anos
Açúcar Ouro
41
SIMONSEN (1977), op. cit. p. 383.
42
id. p. 253.
43
SINGER, op. cit. p. 355.
44
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
mo por aqueles que apoiam a teoria dos ciclos, pois existiria um momento em que a
economia não teria um “motor”, devendo ter caído em profunda depressão, o que não
ocorreu, pelo menos em termos facilmente observáveis. Deve-se dizer que os livros que
tratam da questão de modelos econômicos no Brasil, praticamente sem exceção, têm
dificuldade de trabalhar com esse período, pois ele não se encaixa facilmente nas noções
preconcebidas sobre o funcionamento da economia.
100%
80%
Percentuais
60%
40%
20%
0%
1821-30 1831-40 1841-50 1851-60 1861-60
café Açúcar Algodão Outros
Aqui vale fazer um interlúdio para falar da tarifa, já que essa é central em várias
obras que tratam da economia no Império. Esse imposto foi criada pelo decreto de 12 de
agosto de 1844, assinado pelo ministro da fazenda Manoel Alves Branco, o texto legal
estabelecendo alíquotas que iam de 60% até 2% para a importação de produtos.46 Houve
vários motivos para a implantação da tarifa, um deles, apontado no próprio relatório do
Ministro da Fazenda, seria uma retaliação contra uma medida Inglesa que aumentava o
taxação sobre o açúcar brasileiro. 47 Assim, os artigos 20 e 21 do decreto de criação da
44
id. p. 355.
45
SIMONSEN (1973), op. cit. p. 14.
46
BRASIL – Decreto nº 376, de 12 de Agosto de 1844. Manda executar o Regulamento e Tarifa para as
Alfandegas do Império.
47
BRASIL – Ministério da Fazenda. Proposta e Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa
na 1ª Sessão da 6ª Legislatura, pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda, Ma-
noel Alves Branco. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1845. p. 33. Eram cobrados 63 shillings e
5% do valor açúcar brasileiro, 34 shillings e 5% do açúcar asiático e apenas 24 shillings do produto
vindo das colônias inglesas.
45
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
tarifa explicitam que ela era uma reparação com relação aos países que “cobrarem sobre
quaisquer gêneros importados (...) maiores direitos de consumo”. 48
48
BRASIL – Decreto nº 376, op. cit.
49
Para um breve relato sobre intenção de guerra criada pela intervenção inglesa em Roraima, ver: CA-
LÓGERAS, Pandiá. A política exterior do Império. vol. III. Da Regência à queda de Rosas. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1933. pp. 311-312.
50
IGLÉSIAS, op. cit. p. 42.
51
id. p. 34.
52
id. p. 34.
53
id. p. 37.
46
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Balança orçamentária
80
Bilhões
60
40
20
0
1823
1825
1827
1829
1831
1833
1835
1837
1839
1841
1843
1845
1847
1849
1851
1853
1855
1857
1859
1861
1863
-20
-40
-60
-80
-100
Gráfico 4 – Saldos e déficits do orçamento do Império.54
O gráfico mostra, em bilhões de libras esterlinas (valores atualizados), a longa série negativa de valores
da despesa orçamentária, quando comparada com as receitas governamentais, a situação sendo bem grave
pouco antes da implantação da tarifa Alves Branco. O problema só passaria a ser menos crítico bem mais
para o final do século XIX.
A tarifa e seus efeitos são controversos. Para alguns, ela não poderia ser conside-
rada como protecionista, “porque não havia indústria a defender”,55 mas, independente
de uma relação causal, o fato é que por essa época surgiram as primeiras manufaturas
civis de grande porte – as do governo, como os arsenais, já existiam há décadas. Desta
forma, sua importância como elemento relacionado com o processo de aceleração indus-
trial não pode ser descartada, sendo ela um elemento recorrente nos modelos explicati-
vos que tratam da industrialização brasileira, como dissemos acima, apesar de seus efei-
tos serem considerados como transitórios.
54
Dados extraídos de: CARREIRA, Liberato de Castro. História Financeira e Orçamentária do Império
do Brasil. Brasília: Senado, 1980. pp. 127 e segs. Os valores foram atualizados usando as cotações
médias da libra esterlina em cada ano, com a correção monetária sendo feita com os dados obtidos
em: https://goo.gl/rtcTbc. (acesso em dezembro de 2015). O parâmetro de conversão foi o do “valor
real” da moeda britânica, a menor de todas as atualizações monetárias disponíveis.
55
Comentário de Ferreira Lima, que rebate essa visão, apontando a importância da tarifa para o surgimen-
to de manufaturas. LIMA, Heitor Ferreira. História político-econômica e industrial do Brasil. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973. p. 263.
56
BAER, Werner. A industrialização e o desenvolvimento econômico do Brasil. Rio de Janeiro: FGV,
1977. pp. 4 e segs.
47
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Apesar da resistência da ideia dos ciclos, esse modelo explicativo foi questiona-
do, com sucesso, por Caio Prado Jr., em sua obra publicada em 1945. Não que ele negue
a sucessão de produtos primários na economia do Brasil, ele a reconhece explicitamen-
te,57 mas o autor aponta que não é a simples alternância desses que poderia explicar a
economia nacional.
Em suas obras, Caio Prado faz algumas observações de extrema relevância para
o entendimento do assunto da história econômica, a começar por sua contestação da
teoria dos ciclos. Apontava que havia problemas estruturais que perpassavam toda a
história do País e que, portanto, as conjunturas momentâneas, relativas a um determina-
do tipo de produto (açúcar, ouro ou café) não seriam fundamentais para a explicação do
Brasil. Esse último ponto é importante, pois para o autor havia a necessidade de se
compreender a estrutura e historicidade da sociedade, o seu “sentido”, algo que, em suas
palavras “se percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto dos fatos e
acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tempo”.61 Continua-
57
PRADO JÚNIOR, op. cit. p. 20.
58
id. & PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo : Brasiliense, 1977.
59
FUNDAÇÃO Getúlio Vargas, op. cit. Verbete Caio Prado Júnior. https://goo.gl/5xxBsU. (acesso em
fevereiro de 2016).
60
LEÃO, Igor Zanoni Constant Carneiro & SILVA, Newton Gracia da. A relação entre Caio Prado e
Celso Furtado. Economia & Tecnologia. Ano 07, vol. 27, out. /dez. de 2011. p. 100.
61
PRADO JÚNIOR (2000), op. cit. p. 7.
48
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
va, apresentando a necessidade que havia de se estudar uma nação não em seus fatos
isolados, mas sua estrutura e organicidade – Caio Prado colocaria que a colonização “é
apenas parte de um todo, incompleto sem a visão deste todo”.62
62
id. p. 9.
63
id. pp. 16-17.
64
id. p. 369.
49
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
cais, sem ter uma produção local de produtos manufaturados. Conforme o autor escre-
veu:
65
PRADO JÚNIOR (2000), op. cit. p. 20.
66
id. p. 290.
67
PRADO JÚNIOR (2007), op. cit. pp. 102-103.
50
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Após o término formal do período colonial, ou seja, 1808, Caio Prado aponta
que não houve nenhuma mudança brusca. Em primeiro lugar, havia a questão estrutural,
que não teria se alterado, pois a situação era dificultada pela ausência de uma postura
protecionista. A tarifa de 15% implantada junto com a abertura dos portos em 1808, não
permitia uma efetiva competição local com os produtos europeus,68 de forma que as
iniciativas de industrialização intentadas na 1ª metade do século XIX fracassaram. O
fim do protecionismo causado pelo exclusivo colonial causaria, segundo o autor, a ruína
do artesanato local, a ponto de haver uma interrupção no desenvolvimento econômico
do País, como ele coloca:
68
id. p. 134.
69
id. p. 257. Os grifos são nossos.
70
Para uma longa e bem fundamentada discussão sobre os problemas da tese de Caio Prado, ver CAL-
DEIRA, Jorge. História do Brasil com Empreendedores. São Paulo: Mameluco, 2009.
51
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Receita do Império
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
71
Dados extraídos de: CARREIRA, op. cit. pp. 127 e segs. A atualização monetária foi feita com base e m
no “preço real” da moeda britânica, atualizado a partir do sítio: Measuring Worth.
https://goo.gl/rtcTbc. (acesso em dezembro de 2015). Observe-se que o aumento da receita no final
da década de 1820 pode ser atribuído a uma taxa de câmbio mais favorável naquele momento, con-
forme pode ser visto no Gráfico 7, abaixo).
52
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Não nos alongaremos em sua trajetória profissional posterior, pois apesar de ser
muito longa, prolífica e extremamente importante em termos sociais e políticos, 73 não
nos parece ser relevante ao presente trabalho. Basta dizer que, segundo Francisco Iglé-
sias, a obra de Celso Furtado, a Formação Econômica do Brasil, é o “livro mais ecoante
dos últimos tempos no campo das ciências sociais e da historiografia”, Iglesias continu-
ando, dizendo que é “um livro seminal a bibliografia nativa: quanto se produz em ciên-
cia social o leva em conta”.74
72
FUNDAÇÃO Getúlio Vargas, op. cit. Verbete Celso Furtado. https://goo.gl/lPoBEJ. (acesso em feve-
reiro de 2016).
73
id.
74
IGLÉSIAS, op. cit. p. 226.
53
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Decorrente do modelo de Celso Furtado havia o fato de que não haveria necessi-
dade de um mercado consumidor interno na colônia, isso por dois motivos: primordial-
mente, a dinâmica da economia, sendo dependente da venda de produtos para a Europa,
não criaria esse mercado. Os engenhos e fazendas, geradores de renda seriam adminis-
trados por um grupo muito reduzido de pessoas, cujas necessidades podiam ser supridas
localmente, por uma produção de autoabastecimento ou por pequenas importações, en-
quanto a força de trabalho era escrava, ou seja, excluída do circuito de consumo.
Segundo ele, não havia sequer uma classe de grandes comerciantes locais, pois
essa atividade seria dominada por interesses da metrópole. 76 Portanto, fica implícito que
não havia outros grupos economicamente relevantes na colônia, só senhores e escravos.
A inexistência de pessoas que pudessem se conformar como um mercado consumidor é
de fundamental importância na explicação de Furtado, pois o autor, como resposta à
pergunta de que “porque o Brasil não se industrializou como os norte-americanos?”
responderia que os domínios portugueses na América do Sul foram criados como uma
colônia de exploração. Ai o objetivo, o sentido da colonização seria o da produção agrí-
cola para exportação, enquanto os Estados Unidos teriam sido estabelecidos como uma
“colônia de povoamento”, para o estabelecimento de excedentes populacionais ingle-
75
FURTADO (2000), op. cit. p. 100.
76
id. p. 100.
54
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Aqui devemos fazer uma observação: em vários momentos de sua obra Celso
Furtado, tal como Caio Prado, faz suposições e extrapolações, como quando diz que a
renda no Brasil deve (sic) ter diminuído com a queda dos preços do açúcar e a redução
da produção do ouro em Minas Gerais. 78 Não aponta, contudo, dados empíricos que
sustentem essas conjecturas, algumas contestadas em pesquisas posteriores de outros
autores. Tal é o caso da dinâmica econômica de Minas Gerais, que, segundo essas pes-
quisas posteriores, não sofreu uma retração e depressão com o fim da mineração como
seria de se esperar de seu modelo e como Furtado aponta que teria acontecido em sua
obra. A explicação para a manutenção de atividades econômicas relevantes na região
sendo que lá havia um mercado consumidor, a economia local tendo se realinhado para
superar os problemas da decadência da produção do ouro.79
Outro fator que também pode ser questionado é a relevância – ou mesmo a hipó-
tese – dos Estados Unidos terem sido criados como uma colônia de povoamento. Isso
independentemente da própria validade do próprio conceito de “colônia de povoamento
versus colônia de exploração”. A simples ocupação do espaço físico não era o pensa-
mento inglês que levou à colonização do território e essa classificação, de “povoamen-
to”, certamente não se aplica à região sulina dos EUA. Mais importante, a população
das treze colônias não era significativamente diferente da do Brasil no momento de suas
independências – era de cerca de dois milhões e meio em 1775 nos EUA e de dois mi-
lhões no Brasil de 1800. 80 A rápida diferenciação na quantidade de moradores das duas
áreas podendo ser facilmente explicável pela imensa imigração feita para os Estados
Unidos após a independência de lá: havia lá seis milhões de habitantes em 1800 e 24
milhões em 1850. 81 Um crescimento que o Brasil não acompanhou, mas essa diferença
77
id. p. 106.
78
id. p. 102.
79
Ver, por exemplo, LIBBY, Douglas Cole. Transformação e trabalho em uma economia escravista:
Minas no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1988.
80
Não incluindo 800.000 índios não assimilados que existiriam em 1819. Com esses, a população brasi-
leira perto da Independência ultrapassaria a norte americana na mesma época. Contudo, não se pode
considerar os nativos como parte do mercado consumidor. Os dados sobre os indígenas foram retira-
dos de: MARCÍLIO, Maria Luiza. Crescimento Histórico da População Brasileira até 1872.
https://goo.gl/7zTD4f. (acesso em março de 2016).
81
MCEVEDY, Colin & JONES, Richard. Atlas of world population history. Harmondsworth: Penguin,
1978. pp. 286 e 306. É bem verdade que a população de escravos no Brasil, de 30% em 1819, era
Continua –––––––
55
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
não pode ser atribuída ao fato de um país ser colônia de exploração ou de povoamento,
já que o período colonial tinha se encerrado nos dois casos.
Esses pontos polêmicos, tendo em vista a falta de estudos empíricos por parte de
Celso Furtado geraram, inclusive, severas críticas, como a de Maurício Coutinho:
Das Minas, Furtado conhecia muito pouco; e menos ainda do que su-
cedeu à região mineira no século XIX. Suas conclusões, desse modo,
estão pouco referidas ao quadro histórico real. Pode-se dizer que se
sustentam, em grau bem maior do que no restante do livro, em racio-
nalizações construídas com base em um modelo geral de história eco-
nômica brasileira.82
Retornando à análise da obra de Celso Furtado, como apontamos, para ele havia
uma situação de total dependência, que resultaria em um modelo de economia interna
com as seguintes características:
4. O restante da economia colonial podia ser desconsiderado, pois não haveria um mer-
cado que absorvesse excedentes: era uma economia de subsistência, que não tinha
valor econômico 83;
5. Decorre daí que não havia monetização na economia interna, pois não havia também
um comércio interno significativo, nem o pagamento de salários, toda a renda se
concentrando na mão dos proprietários. Os senhores de escravos, por sua vez, rein-
Continuação–––––––––––
consideravelmente maior do que nos EUA pouco depois da Independência de lá – os cativos eram
apenas 18% da população norte-americana em 1790.
82
COUTINHO, Maurício C. Economia de Minas e economia da mineração em Celso Furtado. Nova Eco-
nomia. Belo Horizonte 18 (3), set./dez.de 2008. p. 362.
83
FURTADO, op. cit. p. 126.
56
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Tal situação de decadência, segundo o autor teria continuado até a “fase” seguin-
te, a da produção do café, que teria começado na década de 1830 e que só resultaria em
mudanças estruturais mais tarde. Furtado se referia a um período de três quartos de sé-
culo (1775 a 1850), o qual, por seu modelo, seria um de estagnação e retração econômi-
ca. Segundo suas colocações, o Brasil era um país dependente do mercado externo e não
havia, até o café, um produto de exportação que desse embasamento ao “sentido” da
84
COUTINHO, op. cit. pp. 363-364.
85
FURTADO (2000), op. cit. p. 97.
57
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Para Furtado, a retração econômica dos primeiros anos do Império seria a expli-
cação para a longa série de revoluções da Regência, bem como para o sentimento de
revolta que a população sentia com relação aos portugueses. Estes eram vistos como
responsáveis pela inflação e pela contração dos rendimentos, a renda sendo menor do
que no final do período colonial. 87 A retração econômica também seria uma das expli-
cações da não industrialização nacional, pois, como já colocado, não haveria um merca-
do interno para os produtos.
Esse atraso tem sua causa não no ritmo de desenvolvimento dos últi-
mos cem anos [1850-1950], o qual parece ter sido razoavelmente in-
tenso, mas no retrocesso ocorrido nos três quartos de século anteriores
[1775-1850]. Não conseguindo o Brasil integrar-se nas correntes em
expansão do comércio mundial durante essa etapa de rápida transfor-
mação das estruturas econômicas dos países mais avançados, criaram-
se profundas dissimilitudes entre seu sistema econômico e os daqueles
países.89
Uma argumentação lógica, que se encaixava na situação observável, pelo menos
aparentemente. No entanto, tem alguns problemas, os quais seriam, para o autor da pre-
sente tese, o “súbito” surgimento de um mercado interno a partir da década de 1850.
Este teria permitido as mudanças econômicas do período posterior, apesar da situação
estrutural, tal como definida por Furtado, de uma economia dependente, não ter se alte-
rado de forma fundamental. A base ainda era o latifúndio agroexportador, só havia mu-
dado o produto de exportação, do açúcar para o café. A introdução do trabalho assalari-
ado com o fim do tráfico negreiro poderia ser uma resposta para essa questão, mas não
se pode afirmar que seus efeitos tenham sido imediatos e instantâneos, como pareceria
ser o caso se colocarmos o momento de inflexão justamente no ano de 1850, quando
cessou o tráfico.
86
id. p. 112.
87
id. p. 103 e p. 113.
88
id. p. 111.
89
id. pp. 153-154.
58
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
90
Gráfico adaptado de The Kondratieff Theory. https://goo.gl/gMlGDK (acesso em março de 2016).
91
FRAGOSO, João Luís R. Homens de Grossa Ventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do
Rio de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1992. p. 18.
92
FRAGOSO, João & FLORENTINO, Manolo. O arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade
agracia e elite mercantil em uma economia colonial tardia. Rio de Janeiro, c. 1790-c.1840. São
Paulo: Civilização Brasileira, 2001. p. 96.
59
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
cipalmente, não podia ser vista apenas como um apenso dependente do mercado inter-
nacional.
93
NOVAIS, Fernando. Portugal e o Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). São Paulo:
Hucitec, 1986. Observamos que Novais, ao contrário do que Iglésias coloca, foi o primeiro represen-
tante de uma instituição acadêmica no período da “contribuição da Universidade”. Simonsen, que era
professor universitário, era primordialmente um empresário, Furtado, após se formar, tornou-se um
pesquisador no serviço público.
94
id. p. 109.
95
id. p. 274.
96
id. p. 295.
60
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
pelos modelos que previam a total dependência econômica, não só do Brasil, mas tam-
bém a de Portugal.
4 – o modo de produção escravista colonial teria problemas pela uma tendência geral de
estagnação técnica, com um crescimento da atividade produtiva sendo efetuada de
forma quantitativa e extensiva, de baixa produtividade;
61
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Em 1978 Jacob Gorender deu continuidade a essas ideias. 98 Tal como Caio Pra-
do Júnior, Gorender tinha uma ligação com o Partido Comunista, apresentando uma
visão de que a escravidão colonial do Brasil teria suas leis próprias, podendo ser classi-
ficada dentro de um modo de produção específico e totalmente novo, o já citado escra-
vista-colonial. Neste ficaria clara a natureza capitalista do escravismo que havia no
Brasil, ao contrário do que ocorria no mundo antigo, onde haveria o escravismo patriar-
cal.99 Essa visão é importante, pois ele, tal como Ciro Flamarion, criticava a postura de
que o sistema colonial só existia para transferir o excedente da colônia para a metrópole,
como desenvolvido pelos autores anteriormente mencionados. Por outro lado, Gorender
reforça a visão tradicional apresentada pelos autores das décadas anteriores, de que o
escravismo colonial não gerou um mercado interno e que a economia colonial, basica-
mente, acompanhava a situação conjuntural dos mercados dos países desenvolvidos, a
situação na colônia sendo incapaz de gerar, por si mesma, uma dinâmica própria.
O que consideramos importante nesse modelo é que ele não estaria restrito ao
período colonial. Tal como Caio Prado e Celso Furtado, e se encaixando na visão mar-
xista, o modelo considera que a questão fundamental da economia brasileira é estrutural
– Ciro Flamarion deixaria isso claro ao tratar do modo de produção escravista colonial,
dizendo que
98
GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. São Paulo: Ática, 1988.
99
id. p. 42.
100
CARDOSO, Ciro F. S. Sobre los modos de producción colônias de América. apud FRAGOSO, João
Luís. Homens de grossa ventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro –
1790-1830. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990. 81.
62
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Como nos trabalhos anteriores, era claro a visão de que a economia colonial,
apesar de poder ter uma dinâmica própria, não era uma que permitisse a geração de ma-
nufaturas locais, novamente por não haver um mercado consumidor.
101
GORENDER, op. cit. pp. 481-484.
102
id. p 482.
103
Uma discussão disso pode ser vista em FRAGOSO, op. cit. pp. 74 e segs.
63
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Daí se entende que para Lapa não se possa explicar o comércio colonial em um
esquema meramente bipolar, como colocariam Novais, Ciro Cardoso 105 e Gorender,106
mas multipolar, no qual se deve levar em conta as transações entre:
1 – Metrópoles-Metrópoles;
2 – Metrópoles-Colônias;
104
LAPA, José Roberto do Amaral. O Antigo Sistema Colonial. São Paulo: Brasiliense, 1982.
p. 42.
105
Lapa cita: CARDOSO, Ciro Flamarion Santana. As concepções acerca do ‘Sistema Econômico Mun-
dial’ e do ‘Antigo Sistema Colonial’. IN: LAPA, José Roberto do Amaral (org.). Modos de produção
e realidade brasileira. Petrópolis: vozes, 1980.
106
GORENDER op. cit. 1980.
64
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
65
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
No seu modelo para o Brasil, Simonsen argumenta que as condições aqui não
eram tão favoráveis. A economia da colônia se baseava na exportação de produtos agrí-
colas tropicas e, se havia ferro e carvão, houve uma falha do governo em desenvolver
uma indústria siderúrgica. Isto por causa dos custos de transporte dos itens e devido a
não haver um mercado consumidor, uma observação que vai aparecer de forma recor-
rendo nos escritos de outros autores.
Para o autor, tal como descrito em sua História Econômica, a política de não
protecionismo e a falta de capitais seriam fatores predominantes até a instalação da tari-
fa Alves Branco, a qual, junto com o surgimento do café como produto de exportação,
teria permitido um primeiro movimento em direção à industrialização.111
Caio Prado Júnior aponta que no Brasil Colônia havia pequenas manufaturas:
olarias, caieiras (preparo de cal), cerâmicas, curtumes, cordoarias, têxteis e até de ferro,
algumas “relativamente grandes”,112 pois, de forma contraditória com o que escrevia,
para ele haveria um mercado local igualmente grande, em termos relativos. Contudo,
estas manufaturas teriam sido extintas pelo alvará de D. Maria, de 1785, que proibiu a
fabricação de têxteis mais elaborados. 113 Como Simonsen, o autor aponta que uma baixa
tarifa de importação de 15% (após 1808), impediria o surgimento de uma produção lo-
cal, bem como os problemas geográficos, de deficiência de fontes de energia (carvão) e
dificuldades de acesso ao minério de ferro.
Entretanto, dentro da proposta do autor, ele não considerava esses fatores con-
junturais, de tarifas e condições geográficas, como decisivos. Como já descrito, para ele
a questão era estrutural, de que a economia local era uma de agricultura de exportação,
fator que só começaria a ser corrigido a partir de 1880 – ou seja, no período de nosso
110
SIMONSEN (1973), op. cit. p. 7.
111
SIMONSEN (1977), op. cit. p. 436.
112
PRADO JÚNIOR (1977), op. cit. p. 107.
113
id. p. 107. Mais adiante no livro, ele aponta que as indústrias têxteis e de metais teriam conseguido se
estabelecer no período colonial, apesar da oposição portuguesa (p. 136).
66
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Celso Furtado não altera em muito o quadro acima descrito para a industrializa-
ção, apesar de dar mais detalhes sobre os problemas da industrialização. Por exemplo,
no capítulo que compara o Brasil com os Estados Unidos, tece interessantes considera-
ções sobre o período logo após a abertura dos portos até a assinatura do Tratado de Tra-
tado de Amizade, Navegação, e Comércio, de 1827. Esse manteve as taxas de importa-
ção vantajosas para a Inglaterra: naquela época havia um forte déficit do governo impe-
rial, por causa das guerras de Independência (1822-1826) e Cisplatina (1825-1828), e
isso levou a uma desvalorização da moeda (o câmbio realmente caiu pela metade entre
1823 e 1831).114 Uma consequência relevante apontada por Celso Furtado é que essa
desvalorização da moeda teria sido uma “medida protecionista” equivalente à criação de
uma taxa de importação de 50%, o que o levaria a questionar a afirmação sobre a não
existência de uma política protecionista teria sido a motivadora da não industrialização,
feita por Simonsen e outros.
114
CARREIRA, op. cit. vol. II p. 742.
115
Alexander Hamilton nasceu nas Antilhas Britânicas em 1755. Mudando para o que é hoje os Estados
Unidos, tomou parte das operações militares da Guerra de Independência norte-americana, sendo se-
cretário do general do General Washington, comandante em chefe norte-americano. Depois da Inde-
pendência, foi membro do congresso, tendo sido um dos assinantes da constituição. Foi o primeiro
secretário do tesouro (ministro da fazenda) dos Estados Unidos, na presidência de Washington e,
nesta função, publicou em 1791 um artigo sobre as manufaturas, propondo sua defesa por meio de
pagamento de bônus e tarifas protetivas contra importações, em linhas Colbertistas. No governo, su-
as posições políticas eram conservadoras e centralizadoras, defendendo um forte governo central.
Alexander Hamilton morreu em um duelo travado com Aaron Burr, em 1804. ENCYCLOPAEDIA
Britannica. London: Encyclopeaedia Britannica, 1952. Verbete Alexander Hamilton, pp. 121-125.
116
LISBOA, José da Silva [Visconde de Cairu]. Observações sobre a franqueza da indústria, e estabele-
cimento de fábricas no Brasil. Brasília: Senado Federal, 1999.
67
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
12
10
8
6
4
2
0
Gráfico 7 – Taxa de câmbio médio (mil réis por libra esterlina), 1808-1865.117
Em vermelho, a linha de tendência do crescimento em longo prazo do câmbio. A abrupta queda do valor
do mil réis no período da guerra da Cisplatina (1825-1828 - seta) poderia ter atuado como uma barreira às
importações, mas não teve esse efeito. De qualquer forma, o câmbio, de forma geral, se estabilizou a
partir da maioridade do Imperador Pedro II, deixando de ser um fator contrário ao aumento de importa-
ções e inviabilizando a hipótese de Celso Furtado de que a taxa de câmbio atuava como política protecio-
nista.
Outro aspecto que Furtado aponta como tendo impedido a industrialização nesse
momento foi a falta de mercados: as tentativas de criação de siderurgia feitas por D.
João VI teriam falhado por não haver quem consumisse esses produtos. Segundo ele
uma proposta de industrialização tendo que começar por um mercado já existente, ci-
tando a situação dos têxteis grosseiros, para escravos.118 Fica explícito em seu livro a
visão de que a população local era insignificante para poder se considerada como con-
sumidora devido ao domínio do trabalho escravo na economia, o que impediria o sur-
gimento de uma economia de mercado interno.119 Isso foi um fator central na sua análi-
se, podendo ser usado como explicação por que o primeiro surto industrial do Brasil só
teria ocorrido no século XX, quando, após a abolição, já havia um mercado consumidor
suficiente para absorver a produção de manufaturados local.
Nícia Vilela da Luz, que tem alguns trabalhos especializados no estudo da indus-
trialização na primeira metade do século XIX120 e que trabalha mais de forma factual do
que em termos de modelos idealizados, aponta que houve um esforço de implantação de
manufaturas executado no período da primeira metade do século XIX, este esforço sen-
117
MOURA FILHO, Heitor Pinto de. Câmbio de longo prazo do mil-réis: uma abordagem empírica refe-
rente às taxas contra a libra esterlina e o dólar (1795-1913). Cadernos de História, PUC Minas Ge-
rais, v. 11, n. 15 (2010). pp. 23 e segs.
118
FURTADO, op. cit. p. 111.
119
id. p. 156.
120
LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do Brasil. São Paulo: Difusão Europeia do Livro,
1961. LUZ, Nícia Vilela. A política de D. João VI e a primeira tentativa de industrialização no Bra-
sil. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, USP, n 5, 1968 e LUZ, Nícia Vilela. O industrialis-
mo e o desenvolvimento econômico do Brasil: 1808-1920. Revista de História, USP, nº 56, 4º Tri-
mestre de 1963. p. 7.
68
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
121
LUZ, (1961). op. cit. p. 29.
122
Não conseguimos localizar sequer um exemplar dela nas bibliotecas universitárias do Rio de Janeiro,
apesar dela ter sido usada como obra básica de ensino nas universidades. Cf. SANTOS, Alessandra
Soares. Francisco Iglésias e as interpretações do Brasil: notas sobre um discurso historiográfico.
ANPUH – XXV Simpósio nacional de história – Fortaleza, 2009, Anais. https://goo.gl/2476Vv.
(acesso em fevereiro de 2016).
123
IGLÉSIAS, Francisco. A industrialização Brasileira. São Paulo : Brasiliense, 1986.
124
IGLÉSIAS, op. cit. p. 12.
69
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
esforço manufatureiro. Ainda segundo ele, a falta de protecionismo em 1808 teria signi-
ficado o fracasso da tentativa da implantação de manufaturas por D. João VI, enquanto
o impulso dado com a tarifa Alves Branco teria sido meramente conjuntural, esta tendo
sido introduzida por causa de necessidades fiscais e não por uma proposta de incentivo a
manufaturas.
Ferreira Lima coloca que essas manufaturas coloniais teriam “um papel nada in-
significante, se levarmos em conta a época e o conjunto das suas realizações.”128 O au-
tor então passa a descrever as razões por que não houve um processo de surgimento de
manufaturas no final do século XVIII, repetindo o que já tinha sido colocado anterior-
mente, ou seja, a existência de leis restritivas; impostos sobre a produção (tecidos); a
existência de um mercado limitado, de três milhões de habitantes, com metade deles
escravos e trezentos mil índios; a autossuficiência das fazendas e engenhos; uma popu-
lação proletária que não consumia; limitações do progresso técnico; dispersão do agro-
negócio; deficiências dos meios de transporte e a escassez de capitais.129
125
LIMA, op. cit. Na introdução, o autor aponta que o livro estava pronto, basicamente, em 1961.
126
Oliveira Viana, que foi uma das fontes inspiradoras de Caio Prado Júnior, já apontava que o engenho
era uma “cultura industrial”, que “exige grandes cabedais”. VIANA, Oliveira. Evolução do povo
brasileiro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938. p. 73. No entanto, essa passagem, ao con-
trário de outras, não foi usada por Caio Prado.
127
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1982. p. 81 e segs.
128
id. p. 120. Geraldo Beauclair faz também um levantamento das manufaturas existentes na Colônia:
OLIVEIRA, Geraldo Beauclair Mendes de. A construção inacabada: a economia brasileira, 1822-
1860. Rio de Janeiro: Vício de Leitura, 2001.
129
LIMA, op. cit. pp. 121-125.
70
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
De um ponto de vista central para nós, devemos dizer que todos os autores con-
cordam com uma periodização que mostra uma continuidade entre a colônia e a primei-
ra metade do século XIX. Mesmo aqueles que apontam que houve um esforço de im-
plantação de manufaturas no País entre 1808 e 1850 notam que esses fracassaram, de
forma que o estudo da situação do período colonial é relevante para se entender a situa-
ção na primeira metade do Império. Autores como Manolo e Fragoso chegam até a
afirmar que esse período seria uma continuação da situação anterior, um “colonial tar-
dio”, posterior a 1822, 131 apesar de todos os problemas conceituais que isso trás, por
causa da evidente mudança estrutural que foi o fim do Antigo Sistema Colonial e a In-
dependência.
130
id. pp. 272-273.
131
FRAGOSO, João & FLORENTINO, Manolo, op. cit. pp. 83 e 84. Tal assunto seria retomado e m
FRAGOSO, João & FLORENTINO, Manolo. Notas sobre o colonial tardio. Locus, vol. 6, 2000.
71
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
força de trabalho existente no País era escrava. Segundo eles, o país ser uma colônia de
exploração, voltada para a exportação de produtos agrícolas primários.
A visão acima relatada certamente se encaixa nos modelos tradicionais, mas es-
barra em alguns problemas que não foram considerados, especificamente o simplismo
de sua premissa básica. Esta seria a de que o país seria dividido apenas entre senhores e
escravos – conforme colocou Caio Prado Júnior, o setor inorgânico, ou seja, o não en-
volvido diretamente com a agroexportação, seria composto por uma “nebulosa social
incoerente e desconexa”,132 sendo desconsiderada.
Outra hipótese sobre a massa da população seria a que esse grosso da população
formava uma “ralé”, sem destino, como colocou uma autora:
132
PRADO JÚNIOR, op. cit. p. 355.
133
FRANCO, Maria Sylvia Carvalho. Homens Livres na ordem escravocrata. São Paulo: IEB, 1969. p.
12. Apud MELLO, João Manuel Cardoso. O capitalismo tardio : contribuição à revisão crítica da
formação e do desenvolvimento da economia brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 77.
72
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
que estamos falando de um número de pessoas que é numericamente, superior aos traba-
lhadores cativos, como se pode ver na tabela abaixo.
134
MARCÍLIO, op. cit.
135
Por exemplo, em 1787 um momento mais próximo do auge da atividade da mineração, a população
escrava do Mato Grosso correspondia a apenas 48,6% do total. SERRA, Ricardo Franco de Almeida.
Plano de Guerra e defesa da capitania do Mato Grosso enviado ao governador Caetano Pinto da
Miranda Monte Negro. Coimbra, 31 de janeiro de 1800. Mss BN. I-29,6,48.
136
CALDEIRA, op. cit. p. 15.
73
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
Outro tipo de manufatura importante, citada por Ferreira Lima e muitos outros,
era a de construção naval – esta já foi objeto de alguns estudos, mas que carecem de
maior profundidade, pois não basta saber que se produziam navios no Brasil. Isso mes-
mo que considerarmos que o processo se iniciou mesmo antes da implantação das pri-
meiras vilas no Brasil, pois se construiu um bergantim em São Vicente, em 1527.137
Também não se leva em conta que a atividade teria uma constante e grande importância
ao longo de toda a Colônia e Império, inclusive com construção de embarcações de
grande porte, como naus de guerra e navios de longo curso, para o comércio de escra-
vos. É famoso o caso do galeão Padre Eterno, tratado na obra de Boxer. Esta observa
que, pela documentação da época, não faltavam carpinteiros e construtores navais no
Brasil e o trabalho desses resultou na construção “de um dos maiores navios construídos
no século XVII”. 138 Esta embarcação, lançada em 1659 foi incorporada à memória da
cidade, pois o local de sua construção ainda é conhecido como “ponta do Galeão”.
A questão relevante, que parece escapar aos que estudam do impacto da constru-
ção naval, é que para lançar um navio ao mar é necessária uma imensa série de insumos,
que demandam trabalhadores especializados para supri-los: cordoeiros, tanoeiros (para
os vasos usados a bordo), veleiros (e os tecelões que fabricavam as lonas), polieiros e
madeireiros (para o abate das árvores usadas na construção). Tudo isso afora os artesãos
que trabalhavam diretamente nas ribeiras, os estaleiros, como carpinteiros, ferreiros,
fundidores (para peças de bronze, tais como cavilhas e roldanas), calafates, torneiros e
feitores. Mesmo que se considere que parte desses trabalhadores era escrava, os mestres
destes seriam assalariados e constituíram um relevante “classe média” na colônia.
O parágrafo acima nos leva a um aspecto que gostaríamos de frisar e que será
abordado nos capítulos seguintes: a questão do papel indutor das manufaturas do gover-
no, inclusive os arsenais do exército, que não é abordado nos estudos de história eco-
nômica do Brasil Colonial. A própria existência desses é ignorada, assim como o papel
das forças armadas como um tipo de mercado consumidor.
137
SANTOS, Francisco Martins dos. História de Santos: 1532-1936. Vol. I. São Paulo: Revista dos Tri-
bunais, 1937. p. 27.
138
BOXER, C.R. Salvador de Sá and the Struggle for Brazil and Angola: 1602-1686. London: Athlone
Press, 1952. p. 310.
74
Capítulo 2 – Modelos explicativos da economia brasileira
139
FONTES, op. cit. p. 356.
75
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Sumário
76
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Antes de iniciarmos a trabalhar com a questão das forças armadas como uma
forma de mercado, ou seja, a dinâmica de suprimentos militares, é necessário definir
uma questão básica: o que é guerra ou, mais importante, o que é a história social da
guerra, o que no Brasil recentemente se convencionou chamar de “nova história mili-
tar”.
1
Militar prussiano (1780-1831), chegou ao posto de general de divisão e sua esposa publicou postuma-
mente seu opus magnus, o livro “da Guerra”, que é considerado o trabalho mais influente na filosofia
da guerra, tendo sido traduzido em todas as principais línguas do mundo. BASSFORD, Christopher.
Carl von Clausewitz. https://goo.gl/v8h54h (acesso em novembro de 2015).
2
CLAUSEWITZ, Carl Von. On War. Harmondsworth: Penguin Books, 1984. p. 101.
3
id. p. 119.
77
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Do nosso ponto de vista, o importante é que esse tipo de estudo aborda, também,
todo o sistema de apoio, formal e conceitual, criado para o funcionamento das forças
armadas, incluindo todos os aspectos materiais, como os objetos, bem como os imateri-
ais, as pessoas e a criação de um suporte mental para sustentar moralmente os exércitos.
Esse esquema de apoio tem profundas implicações sociais, cujo conhecimento ajudaria
a entender a sociedade de cada região e tempo: um desses sistemas de apoio, talvez o
mais importante, é o referente à logística, a parte da organização governamental que
trata do sustento das forças militares através do fornecimento de meios e serviços. 7
4
HOBBES, Thomas. Leviathan. Chicago: University of Chicago, 1952. p. 85. (grifos nossos).
5
VEGETIUS, Públius Flavius. Vegetius: epitome of military Science. Liverpool: Liverpool University,
1993. p. 63.
6
CASTRO, Celso, et alii. Da história militar à nova história militar. IN: CASTRO, Celso; IZECKSOHN,
Vitor; KRAAY, Hendrik. Nova história militar brasileira. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. p 12
7
BIBLIEX - BIBLIOTECA DO EXÉRCITO. Dicionário militar brasileiro. Rio de Janeiro: Bibliex,
2005. p. 548.
78
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
muitas vezes é ignorada até pelos profissionais do ramo, os próprios militares8: sem os
meios de subsistência adequados não existe um exército. Os soldados são seres huma-
nos, têm que se alimentar e receber alojamento como qualquer outra pessoa para pode-
rem sobreviver, sendo que eles sofrem de uma necessidade específica, que não afeta à
sociedade civil como um todo: têm que ser armados, municiados e receberem fardamen-
to.
8
Martin van Creveld, autor de dezessete livros sobre história militar, na sua obra Supplying War (abaste-
cendo a guerra), aponta que a falha em tratar aspectos logísticos é comum tanto aos historiadores ci-
vis quanto aos militares. Contudo, ele observa que os exércitos ao longo da história não podem se
mover independente de sua cadeia de suprimentos. CREVELD, Martin van. Supplying war:
logísticas from Wallenstein to Patton. New York: Cambridge University Press, 1990. p. 2.
9
BRASIL – Lei de 24 de setembro de 1828. Regula o fornecimento das rações de etapa do Exercito. A
lei previa que a carne fresca e o arroz podiam ser substituídos por meia libra de carne seca e 1/160 de
alqueire de feijão. Essa tabela de etapas permaneceu em curso até a década de 1880.
10
A transformação de unidades arcaicas de volume em peso depende da densidade do produto que, por
sua vez, é condicionada por uma série de fatores, como o tipo de farinha, granulação, humidade etc.
De forma muito geral trabalhamos com a densidade da farinha de mandioca como sendo de 800
gramas por litro e o alqueire como tendo 36,37 litros.
79
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
para alimentação, isso sem contar com dois litros de água, que normalmente podia ser
obtida na natureza. Tais números, que podem parecer pequenos, crescem de forma as-
sustadora quando pensamos que a alimentação não era fornecida para um homem, mas
sim para pelo menos um batalhão, a unidade militar formalmente devendo ter 800 sol-
dados (na prática, o normal era a metade disso). Desta forma, os valores a serem forne-
cidos passam então a serem bem mais críticos. Para um exército então, como o que ope-
rava contra os Farrapos, em 1845, com 9.254 homens, 11 isso implicava em um consumo
de diário de vinte toneladas, só de comida para os soldados. Essa questão, que é descon-
siderada por muitos, aparece aqui para mostrar as necessidades logísticas de uma força
militar, que podem escapar da visão de um leitor desavisado. Torna-se mais relevante
em nosso caso quando vemos que havia sistemas centralizados de abastecimento de
alimentos, que passavam pela burocracia do Arsenal de Guerra.
Tais fatores, como dissemos, são muitas vezes ignorados por amadores até por
profissionais. A tendência normal é achar que o poderio de um exército é medida pelo
número de “baionetas”, soldados armados, que se pode colocar em um campo de bata-
lha. Entretanto, isso é um erro, já que uma força que não tenha um mínimo de meios
para se alimentar desaparece rapidamente. O caso mais visível dessa situação é o das
tropas cercadas onde, apesar do chavão das ordens de “resistir até o último homem”,
isso raramente acontece. O problema não é a falta de coragem das pessoas e seus líde-
res, mas sua incapacidade de continuarem a combater sem combustível (lenha), comida
e, muito secundariamente, munições. Essas últimas se esgotam de forma muito mais
lenta do que os outros itens,12 apesar disso acontecer, como foi o caso da rendição do
Forte de Coimbra em 1864, no Mato Grosso do Sul, que teve que ser abandonado quan-
do as munições disponíveis acabaram. Isso por uma falha do sistema de suprimento do
exército imperial – especificamente o Arsenal de Guerra local –, que não enviou cartu-
chos do tipo adequado para o forte.13
11
BRASIL – Exército em Operações na Província de São Pedro. Mapa da Força do exército, quartel ge-
neral em Porto Alegre, 11 de março de 1846. IN: Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.
v. 7. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1983. Coleção de Alfredo Varela. Correspondência
ativa. pp. 52-53. O mapa não inclui a força da Guarda Nacional destacada, possivelmente um núme-
ro semelhante aos soldados de linha citados.
12
CREVELD, op. cit. p. 35.
13
FRAGOSO, Augusto Tasso. História da Guerra entre a tríplice aliança e o Paraguai. I volume. Rio de
Janeiro: Imprensa do Estado Maior do Exército, 1934. p. 229.
80
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
3.2 Logística
Apesar de o termo logística ter sido incorporado na linguagem diária das pesso-
as, por causa de seu uso na área de administração, onde tem o significado dos processos
usados para o eficiente e efetivo transporte e armazenamento de mercadorias,14 a pala-
vra tem uma origem muito mais antiga e abrangente, sendo formalmente definido da
seguinte maneira pelo Exército Brasileiro:
14
COUNCIL of Supply Chain Management Professionals. Glossary of terms. https://goo.gl/xHihpo
(acesso em novembro de 2015).
15
BIBLIEX, op cit. p. 548
16
Pode parecer estranho, mas os Arsenais eram responsáveis pelo fornecimento de material de saúde e,
até, religioso, como as alfaias usadas em capelas e para missas campais. Há muitos documentos so-
bre isso, como o: BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro ao diretor do Arsenal, José de
Vitória Soares de Andréa, mandando fornecer alfaias à colônia de Santa Thereza. Rio de Janeiro, 11
de Novembro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 356.
81
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
recente, a maior parte dos autores concordando que vem do francês loger, alojar. No
entanto, outra origem da palavra, mais aproximada com o sentido moderno seria o ter-
mo grego logistike, significando cálculo, palavra usada pelos exércitos bizantinos no
século X para designar um oficial encarregado dos problemas administrativos das forças
armadas. Eram, portanto, atividades que sempre foram necessárias para garantir a pró-
pria guerra. 17
Hoje em dia, tal atividade cresceu a tal ponto que houve uma inversão da aparen-
te lógica da formação das forças militares: há mais pessoal empregado em atividades
administrativas e de apoio do que em combate. Na prosaica frase usada pelo exército
americano, a relação tooth to tail ratio (T³R), ou “relação dente para rabo”, referente ao
número de tropas empregadas em funções de combate em relação aos de apoio, a situa-
ção hoje é tal que há um homem na linha de combate (o dente) sendo servido por nove
na retaguarda, o “rabo” logístico, na pitoresca gíria do exército norte-americano.
19
17
11
7,5 7,2
17
BREEMEN, Henk van den (ed.). Breaktrough: from innovation to impact. Lunteren: The Owls Foun-
dation, 2014. p. 21.
18
MCGRATH, John J. The other end of the spear: the tooth-to-tail ratio (T3R) in modern military opera-
tions. Fort Leavenworth: Combat Studies Institute Press, 2007. p. 105.
82
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
unidades de combate, mas sim a dar apoio para que estas sim possam exercer a força
contra um oponente.
19
LANGINS, Janis. Conserving the Enlightenment: French Military Engineering from Vauban to the
Revolution. Cambridge: MIT Press, 2004. p. 125
20
CREVELD, op. cit. p. 11.
83
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
21
OFÍCIO de D. Diogo de Souza ao Conde de Linhares, Porto Alegre, 16 de dezembro de 1811. Revista
do Arquivo Público do Rio Grande do Sul. Setembro de 1923, nº 11. Porto Alegre: Escola de Enge-
nharia de Porto Alegre, s.d. p. 17.
22
CHILDS, John, Armies and warfare in Europe: 1648-1789. New York: Holmes and Meier, 1982. p.
154.
84
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
23
CREVELD, op. cit. p. 17.
24
MACCASKILL, Douglas C. Logistics in the Age of Marlborough. Strategy & Tactics Magazine, nr.
78. Jul-Aug. 1978. p. 36.
85
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Étienne e de Charleville 25, foram criados por ele. Produziram 600.000 fuzis na última
década do século XVII e este modelo, pelo qual o governo se responsabilizava pelo for-
necimento de equipamentos uniformes para suas tropas, foi copiado pelos outros países,
apesar do processo desse procedimento ter sido lento.26 Na própria França o sistema de
fábricas governamental conviveu com os fornecedores privados, mas a simples ideia de
que a administração pública devia assumir essa função foi uma revolução na forma de
se pensar a guerra na Idade Moderna.
De qualquer forma, a medida mais básica e talvez de maior importância foi defi-
nir as necessidades das forças, tal como foi dito: isso teve uma influência marcante, até
os dias de hoje. Por exemplo, até aquele momento não se forneciam uniformes para as
tropas, essas indo para campanha com suas próprias roupas, o que resultava que, ao lon-
go de alguns meses, os homens estavam descalços e maltrapilhos. Le Tellier introduziu
um sistema de fornecimento de roupas, em prazos definidos, sem descontos no paga-
mento dos soldados. Isso abriu o caminho para o uso de uniformes, que se generalizaria
ao correr do século XVII, se tornando universal nas forças armadas do ocidente no sécu-
lo seguinte. Ou seja, o estado passava a assumir a responsabilidade por equipar suas
forças, mesmo em tempo de paz, um passo importantíssimo em termos de montagem de
um aparato logístico tal como entendemos hoje em dia.
O que é evidente nessas breves linhas é que houve todo um processo de transi-
ção, de um sistema logístico praticamente inexistente, para um cada vez mais complexo,
a ponto de que hoje em dia, como colocamos anteriormente, haja mais pessoas empre-
gadas em atividades de apoio do que propriamente combatendo. Esse foi um processo
mais ou menos universal, afetando mesmo economias atrasadas, já que a importação de
alguns produtos era inviável, como era o caso de uniformes. Uma das soluções foi, co-
mo no caso da França, a implantação de arsenais, para o fornecimento de peças de repo-
sição, armamento, equipamento e, principalmente uniformes e isso teve uma grande
influência na formação dos estados nacionais, como veremos a seguir. No entanto, vale
um aparte para apontar que, mesmo numa colônia como o Brasil, a ocupação das diver-
sas regiões foi acompanhada pela implantação de depósitos de artigos bélicos, trens e,
25
Criados respectivamente, em 1665 e 1675. MORTAL, Patrick. Les armuriers de l’État: du Grand Siè-
cle a la globalisation, 1665-1989. Villeneuve d’Ascq: Presses Universitaires du Septentrion, 2007.
p. 38.
26
LYNN, John A. Giant of the Grande Siècle: the French army, 1610-1715. Cambridge: Cambridge
University Press, 2006. p. 181.
86
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
mais tarde, os Arsenais, o principal deles sendo o do Rio de Janeiro, como será tratado
mais além.
27
ROBERTS, Michael. The Military Revolution, 1560-1660. Belfast: Queen’s University, 1956. O Texto
foi revisado e reeditado em ROBERTS, Michael (ed.) Essays in Swedish History. London:
Weidnfeld & Nicolson, 1967. A obra foi novamente reeditada em 1995, como parte da coletânea
preparada por Clifford J. Rogers: The Military Revolution Debate : Readings on the Military Trans-
formation of Early Modern Europe. Oxford: Westview Press, 1995. pp. 13-35.
28
Podemos citar, entre muitas outras obras, as de PARKER, Geoffrey. The military revolution, 1550-
1660 - a myth? Journal of Modern History, 48, June, 1976. e The Military Revolution : Military in-
novation and the Rise of the West, 1500-1800. Cambridge: Cambridge University Press, 1988, bem
como a de BLACK, Jeremy. A military revolution : military change and European society - 1550-
1800. London: Macmillan, 1991. e DUFFY, Michael (ed.): The military revolution and the State :
1500-1800. Exeter: Exeter University Press, 1986. Em português, o livro que mais trabalha com o
conceito é o de KENNEDY, Paul. Ascenção e queda das grandes potências: transformação econô-
mica e conflito militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro: Campus, 1989.
87
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
O exército não deveria mais ser uma massa bruta, no estilo suíço, nem
uma coleção de indivíduos belicosos, no estilo feudal; era para ser um
organismo articulado do qual cada parte respondia aos impulsos de
cima. A demanda por unanimidade e precisão de movimento levou na-
turalmente a inovação da marcha em cadência.30
Para tudo isso funcionar, era necessário que os soldados fossem treinados em
complexas manobras de grupo, aplicando sua força de forma combinada, como se fos-
sem peças de uma máquina. Como consequência, não era mais viável, como antigamen-
te, montar-se um exército a partir do nada, para apenas uma campanha, dispensando-o
em seguida: sem a mobilização permanente não seria possível manter o nível de conhe-
cimento das tropas de uma estação de campanha para a seguinte. Aqui cremos ser inte-
ressante notar que Nassau ordenou a preparação do primeiro manual de treinamento de
soldados, o Kriegskunst zu Fuss (ver Figura 5), que foi copiado por diversos países: só
na Inglaterra foram feitas três versões dele. O livro, feito objetivando atender um exérci-
29
ZUÑIGA, Melchor de Alcazar. Arte de esquadronar, y exercicios de la infanteria por el Maestro del
Campo D. Melchor de Alcazar y Zuñiga, Marqués del Valle de la Paloma. Madrid: Juan Garcia
Infanzon, 1703. p. 14.
30
ROBERTS, op. cit. p. 198.
88
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
31
GHEYN, Jacob de. The Renaissance drill book. London: Greenhill books, 2003. p. 33.
89
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
32
WEBER, Max. Ensaios de Sociologia Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1982. p. 301 e segs. Ver tam-
bém: FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes,
1989. p. 257 e segs.
33
BLACK, op. cit. p. 6.
90
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
çaram a haver ações operações militares que se desdobravam em escala global. A gran-
de potência do período, a Espanha, era o império onde “o sol nunca se punha”, tendo
colônias espalhadas das Américas ao Oceano Pacífico, incluindo, depois de 1580, as
possessões portuguesas na África, Ásia e América. Com a contestação das Províncias
Unidas dos Países Baixos34 ao domínio espanhol, a luta se expandiria para envolver
todos os continentes habitados, transformando o conflito, quando se generalizou na
Guerra dos Trinta Anos, no que alguns autores chamam da “Primeira Guerra Mundi-
al”.35
É importante apontar que esse crescimento das forças armadas ampliou em mui-
to o impacto da guerra e o da preparação para o conflito nas sociedades. Estamos falan-
do de dezenas de milhares de homens “improdutivos”, já que os soldados, em tese, estão
alijados do circuito econômico, pois em uma visão estritamente clássica de economia,
eles não produzem nada, como tratamos anteriormente. Além disso, seu potencial como
consumidores individuais é reduzido, eles sobrevivendo em um nível básico, de subsis-
tência, com fornecimento de necessidades mínimas pelo estado, apesar deles serem as-
salariados. Ver as forças armadas por esse aspecto improdutivo, contudo, é uma visão
simplista e que consideramos equivocada.
34
Na terminologia brasileira usa-se a palavra Holanda, para designar os Países Baixos (Nederland). Con-
sideramos o uso do nome como complexo, especialmente tendo em vista que a Holanda é apenas
uma das sete províncias que originalmente compunham a confederação. Na verdade, um dos nomes
do país, em holandês, é Republiek der Zeven Verenigde Nederlanden, a República das Sete
Províncias dos Países Baixos.
35
Durante a Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648), de independência dos Países Baixos, estes iriam ata-
car as colônias luso-espanholas na América, como na invasão de Pernambuco, em 1630; na África,
com a conquista de Angola, em 1641 e, principalmente, na Ásia. Nesta última região, o conflito pra-
ticamente eliminou o império lusitano que existia ali. ISRAEL, Jonathan I. The Dutch Republic and
the Spanish world, 1606-1661. Oxford, Oxford University Press, 1986. pp. 117, 197, 271 e segs.
91
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Isso sem falar no uso das tropas na expansão da base econômica dos países, co-
mo foi o caso das forças do Rio de Janeiro que participaram na Reconquista de Angola,
em 1648,36 uma das principais fontes de escravos do Brasil. Os cativos eram um “insu-
mo” indispensável para a economia agroexportadora, que fora tornado inacessível aos
luso-brasileiros pela ação militar da Companhia das Índias Ocidentais holandesa e que
foi recuperado por outra ação bélica. Além dessas questões, os militares consumiam
uma boa parte das mercadorias produzidas pela sociedade, gerando a movimentação de
recursos avultados, o que ativava o comércio.
36
BOXER, Charles. Salvador de Sá and the Struggle for Brazil and Angola: 1602-1686. London: Atho-
lone press, 1952. p. 257 e segs.
37
ROBERTS, op. cit. p. 218. (A tradução desse texto – e de todos os outros, a não ser que especificado
em contrário, é nossa).
92
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
ser de 220 metros,38 de forma que os pontos de flanqueamento podiam ficar mais distan-
tes (ver Figura 6). Na verdade, ficar mais longe uns dos outros era uma necessidade, por
causa da maior espessura das muralhas, às vezes de até 50 metros.
O traçado italiano era composto de uma estrutura específica, o baluarte (ver Fi-
gura 6), uma construção quadrangular, que se projetava entre dois lanços de muralha e a
partir da qual os canhões podiam flanquear os muros adjacentes.
38
O alcance com pontaria das armas de fogo era bem menor, mas essa distância, conhecida como “um
tiro de mosquete”, era a que disparos feitos em conjunto teriam efeito. Canhões tinham um alcance
muito maior, seu maior efeito sendo até a distância de quatrocentos metros. PIMENTEL, Luís Ser-
rão. Método lusitânico de Desenhar as Fortificações das Praças Regulares, & Irregulares, Fortes de
Campanha, e outras obras pertencentes a arquitetura militar. Lisboa: Antônio Craesbeeck, 1680. p.
21 e HUGHES, B. P. La puissance de Feu: L’efficacité des armes sur le champ de bataille de 1630 à
1850. Lausanne: Edita-Vilo, 1976. p. 32.
39
HALE, J. R. The Early development of the Bastion : an Italian Chronology, c. 1450-c.1534. IN: HALE,
J. R. Renaissance War Studies. London: Hambledon, 1983. p. 37
40
VIOLLET-LE-DUC, E. E. Military Architecture. London: Greenwich Books, 1990. pp. 238 e segs.
93
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Este desenho de fortes teve um imenso efeito, se espalhando de forma muito rá-
pida por toda a Europa e por suas colônias – Francisco de Holanda, que fora enviado
pelo rei de Portugal à península italiana para observar os desenvolvimentos técnicos e
artísticos da região, construiu já em 1541 uma muralha fortificada usando o traçado ita-
liano na cidade de Mazagão, no Marrocos, ocupada pelos Portugueses. Como colocou
um autor:
41
DUFFY, Christopher. Siege Warfare : the fortress in the early modern world 1494-1660. London:
Routledge & Keegan Paul, 1979. p. 41.
42
Para um estudo de um caso específico dos gastos em fortificações, o de Siena, na Itália, ver PEPPER,
Simon & ADAMS, Nicholas. Firearms & Fortification : Military Architecture and Siege Warfare in
Sixteenth-Century Siena. Chicago: University of Chicago Press, 1986. A cidade-estado, incapaz de
arcar com os gastos da construção de novas fortificações para suas dependências, não teve condições
de mobilizar um exército capaz de resistir às tropas do Sacro Império, sendo ocupada.
43
GUILMARTIN Jr., John F. Os canhões do Santíssimo Sacramento. IN: Navigator, Rio de Janeiro, n°
17, 1981.
94
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
120
100
80
Navios
60
40
20
44
Na marinha Brasileira, chamavam-se esses navios em reserva de “desarmados”, isto é, não estavam em
situação de combater, apesar de poderem manter seus canhões e terem tripulações reduzidas. Em
1829, depois da paz com a Argentina, havia 29 navios desarmados, inclusive o maior da frota, a nau
Pedro I, de 74 canhões. No mesmo ano, apenas dezesseis navios estavam em serviço ativo. BRASIL
– Ministério da Fazenda. Documentos com que instruiu o seu relatório à Assembleia Geral Legisla-
tiva do Império do Brasil o Ministro Secretario de Estado dos Negócios da Fazenda, e Presidente do
Tesouro Nacional, Miguel Calmon Du Pin e Almeida, na sessão de 1829. Rio de Janeiro: Tip. Impe-
rial e Nacional, 1829, p. 320.
45
O ACHAMENTO do Atlântico Sul: relação anônima dos capitães-mores e Barcos do Reino se tem ido
vindo a Índia (1497-1696). IN: Anais da Biblioteca Nacional. Vol. 112. Rio de Janeiro: 1994. pp. 9-
34.
95
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Esse processo foi um que se deu no mundo todo: as nações que não importaram
e assimilaram os valores militares europeus – e com isso sua estrutura de arrecadação
de impostos e de governo – ficaram sujeitas a serem elas mesmas conquistadas e trans-
formadas em colônias. Como disse Geoffrey Parker:
46
id. p. 154.
96
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
oficialidade daquele país era, basicamente, de extração nobre, um grande número deles
desertou da França quando a Revolução eclodiu e o exército ficou sem suas lideranças.
Dessa forma, o combate contra exércitos profissionais, altamente treinados como eram
os das outras monarquias europeias, se dava em situação de desvantagem para as forças
revolucionárias. Uma das formas encontradas para resolver esse problema foi a mobili-
zação popular, que para funcionar dependia basicamente de um sentido de patriotismo
para que o soldado continuasse a operar – nos exércitos tradicionais, rígidos, isso era
impossível, pois as tropas desertariam. 47
800.000
600.000
400.000
200.000
47
Vale a pena repetir a famosa frase de Frederico, o Grande: “a maior parte dos soldados precisa do olhar
de seus oficiais e o medo das punições, para induzi-los a cumprir seu dever”. LEE, Wayne E. War-
fare and Culture in World History. In: LYNN II, John A. The battle culture of Forbearance, 1660-
1789. New York: New York University, 2011. p. 97.
48
Dados obtidos em BLACK, op. cit. p. 6 e LYNN, John. The pattern of army growth, 1445-1945. In:
LYNN. John. Tools of war: instruments, ideas, and institutions of warfare, 1445-1871. Chicago:
University of Illinois, 1990. pp. 3 e segs.
97
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
ram adotadas. Mais importante, contudo, foram os passos tomados por cada país para
lidar com as necessidades militares, que não foram idênticos e não tiveram o mesmo
sucesso.
Por exemplo, a Inglaterra conseguiu sua expansão colonial não através do au-
mento da forças de terra – essas eram numericamente reduzidas até o século XX. 49 O
caminho seguido pelos britânicos foi o crescimento naval, eles se tornando a principal
força marítima mundial a partir da segunda metade do século XVII. Os meios usados
para se alcançar essa supremacia em termos militares-navais são vários, o estabeleci-
mento de uma burocracia para regular as atividades militares, como os Board of Ord-
nance (Departamento de Material Bélico) e o Navy Board (Departamento da Marinha)
sendo fundamentais. Estes eram encarregados do fornecimento de armas, com seus pró-
prios laboratórios pirotécnicos, fundições de canhões e fábricas de pólvora (Board of
Ordnance), enquanto o Navy Board mantinha vários arsenais reais, tendo sido respon-
sável, inclusive, pela criação do que é considerada como a primeira fábrica usando os
princípios de produção em massa, a fábrica de moitões de Portsmouth, que abordamos
no quinto capítulo. 50 E o papel indutor da marinha inglesa na formação de manufaturas
também foi muito grande. Como colocou Hobsbawn:
49
Isso não quer dizer que o recrutamento para as forças armadas fosse menos severo lá. Em 1801 o par-
lamento autorizou o recrutamento de 350.000 homens para o exército, marinha e para o Ordnance
Department. Em 1811, foram autorizados 514.000 homens, um imenso esforço. DEANE, Phyllis.
War and industrialisation. WINTER, J. M. (ed.) War and economic development: Essays in memory
of David Joslin. Cambridge: Cambridge University, 1975. p. 97.
50
COOPER, Carolyn C. The Portsmouth System of Manufacture. Technology and Culture. vol. 25, nr. 2
(Apr., 1984). The Johns Hopkins University Press. pp. 182 e segs.
98
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
51
HOBSBAWM, E. J. Industry and Empire : From 1750 to the Present Day. Harmondsworth: Penguin,
1985. p. 50.
52
Essa era a tripulação “em tempo de guerra”, de uma nau de 74 canhões do Brasil, a Imperador do Bra-
sil, que longe estava de ser a maior do período. Cf. MAPA de navios desarmados. Rio de Janeiro, 26
de abril de 1832, João Taylor, Chefe de Divisão. Quartel General da Marinha. IN: BRASIL – Minis-
tério da Marinha. Relatório do Ministro da Marinha do ano de 1831 apresentado à Assembleia geral
em 7 de maio de 1832. S.n.t.
53
Ver o discurso do Secretário da Marinha dos Estados Unidos, John H. Dalton, feito em Pittsburgh, 19
de setembro de 1997. DALTON, John H. Remarks as delivered by The Honorable John H. Dalton
Secretary of the Navy Biennial Convention of the Maritime Trades Department Pittsburgh, Pennsyl-
vania. 19 September 1997. https://goo.gl/VnkTEf (acesso em novembro de 2015).
54
Na época, o consumo de água doce, no mar, era complicado, pois não havia tratamento d’água eficaz e
a durabilidade da água em barris era pequena, o que não ocorria com o álcool. Dai a elevada quanti-
dade de bebidas que normalmente eram carregadas a bordo, apesar do número citado certamente ser
excessivo para um cruzeiro de seis meses: 3,5 litros, por dia, por homem.
55
KENNEDY, op. cit. p. 103.
99
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
construíam navios de maior porte para o governo, mas estavam disponíveis para dar
suporte logístico a eles e a marinha mercante era uma fonte – não inesgotável, é verdade
– de pessoal treinado.56
Talvez mais importante, foi a manutenção de um sistema fiscal que não era par-
ticularmente moderno, mas era considerado confiável, de forma que a Grã-Bretanha
conseguia financiar suas atividades governamentais em condições vantajosas. Por
exemplo, o Banco de Londres, que se tornaria um paradigma de instituição financeira,
foi fundado em 1694, facilitando a obtenção de empréstimos por parte do governo. Des-
sa solidez financeira surgiu a possibilidade de se fazerem mais gastos em tempo de
guerra: por exemplo, no período de 1600 a 1604, durante a guerra contra a Espanha, os
gastos militares corresponderam a 70,7% do orçamento inglês uma percentagem seme-
lhante aos gastos que foram feitas na Guerra da Grande Aliança (1688-1697), de 72,8%,
apesar dos valores envolvidos terem crescido nada menos do que 23 vezes (ver Tabela
3).57 Um sistema financeiro saudável permitia um nível de participação militar bem
além do que o tamanho dos exércitos de terra poderia indicar – um diferencial nas cam-
panhas militares inglesas foram os subsídios oferecidos pela coroa britânica aos seus
aliados, como as 670.000 libras esterlinas fornecidas à Frederico da Prússia pela con-
venção anglo-britânica de 1758.58
56
O termo presiganga, que no Brasil significava um navio prisão, surgiu, segundo a maior parte das fon-
tes, da expressão inglesa press gang, um grupo de recrutamento forçado para as forças armadas, uma
prática que deixou suas marcas mesmo no Brasil. Para uma discussão sobre a Presiganga, ver: SOA-
RES, Carlos Eugênio Líbano. A capoeira escrava no Rio de Janeiro: 1808-1850. Campinas: Univer-
sidade Estadual de Campinas, 1998. Tese de Doutorado.
57
WHEELER, Ames Scot. The Making of a World Power: war and the military revolution in seventy
century England. London: Sutton, 1999. p. d209.
58
SCHWEIZER, Karl W. England Prussia and the Seven Years War : Studies in allied policies and di-
plomacy. Lewiston: Edwin Mellen, 1989. p. 61.
100
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
A França, que, como dissemos, tinha o maior exército na Europa, teve seu ativo
papel militar nos séculos XVII e XVIII possibilitado também por uma administração
eficiente dos recursos locais, fundamentada no grande aparato burocrático voltado para
a questão da manutenção das operações bélicas. Um desses aspectos foi a construção de
um cinturão de fortificações para a defesa das fronteiras francesas pelo marechal Vau-
ban, que edificou ou modernizou mais de 300 fortificações. Essas obras defensivas,
imensamente caras – Neuf-Brisach, a mais marcante de todas, custou, até 1705,
2.916.565 libras tornesas, em uma época em que o salário mensal de um trabalhador era
em média de 19 libras tornesas por mês. Isso, junto com a manutenção de imensos exér-
citos, implicava na necessidade de um aparato fiscal eficiente, que conseguiu fazer com
que a França sobrevivesse com constantes e imensos déficits durante todo o período
moderno, com só duas bancarrotas – apesar da de 1788 certamente ter sido de funda-
mental importância no fim do regime, como observou um autor:
59
KENNEDY, op. cit. p. 87.
60
Utilizando programas de atualização monetária, este valor corresponde a oitocentos milhões de dólares
de hoje. Correção feita com base no “valor de trabalho” da moeda britânica, atualizado a partir do sí-
tio: Measuring Worth. https://goo.gl/rtcTbc. (acesso em agosto de 2017).
101
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
A influência técnica dos autores franceses era facilitada pelo fato de que seu idi-
oma era uma espécie de língua franca à época, sendo falada nos centros das monarquias
europeias do período: por exemplo, os sete volumes sobre teoria militar do italiano
Conde de Algarotti foram publicados em Berlim, em 1772, só que em francês.63 Até no
distante Brasil, quando era necessária a comunicação entre pessoas que não dominavam
o português, se usava a língua francesa: foi o caso dos oficiais mercenários enviados
para o Brasil em meados do século XVIII. Italianos, alemães e até um sueco, como o
general Funck, se comunicavam em francês, às vezes claudicante, como informava o
próprio Rei D. José ao conde da Cunha, em 1767 sobre Funck: “parecerá a V. Ex. (...)
um homem inepto, pela grande dificuldade que tem para se explicar em qualquer língua
que não seja a de Suécia, sua pátria”.64 Mas toda a documentação produzida por eles,
pelo menos no início, era em francês.
61
LYNN, op. cit. p. 9.
62
DUFFY, Christopher. The Military Experience in the Age of Reason. London: Routledge & Kegan
Paul, 1987. p. 18
63
AGAROTTI, Conde. Ouvres du Comte Agarotti. Berlim: G. J. Decker, 1772. 6 vols.
64
CARTA régia de 20 de junho de 1767 para o conde da Cunha. In: WINZ, Pimentel. História da Casa
do Trem. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1962. p. 524.
102
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
plomacia europeia e os efeitos do país na cultura militar não diminuíram com a Revolu-
ção Francesa, apesar dos valores da Revolução serem repulsivos às lideranças militares
do período, ligadas às nobrezas e casas reinantes nacionais.
65
Um caso muito citado é o da batalha naval conhecida como o Glorioso Primeiro de Junho, de 1794, a
frota francesa foi comandada pelo contra-almirante Louis Thomas Villaret de Joyeuse, que era ape-
nas um tenente até 1792, quando fez o “juramente cívico” à República. GARDINER, Robert. War-
ships of the Napoleonic Era: Design, Development and Deployment. Barnsley: Seaford, 2011. p.
112.
66
O serviço militar vitalício foi introduzido por Pedro o Grande em 1699. MOON, David. The Russian
peasantry: 1600-1930, the World the Peasants Made. London: Routledge and Keegan Paul, 1999. p.
83.
67
PORTUGAL – Regência. Decreto de 13 de maio de 1808. Sobre recrutamento para os regimentos do
Brasil.
103
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
afetando todos os homens – na verdade, a ideia era incluir toda a população em um en-
saio de guerra total. O radical decreto que instituiu a medida, chamada de levée en mas-
se (conscrição em massa), deixava isso muito claro, ao especificar que:
68
FRANÇA – Decrét qui determine le mode de réquisition des citoyens français contre les ennemis de la
France. 24 de Agosto de 1793. Artigo 1º. IN: DUVERGIER, J. B. Lois, Décrets, Ordonnances, Ré-
glements, Avis du Conseil-D’État. Tome Sixiéme. Paris: A. Guyot, 1834. p. 107.
104
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Não cabe aqui discutir as campanhas de Napoleão e depois dele, basta dizer que
o exército francês surgiu, na primeira metade do século XIX, como o paradigma em
assuntos militares, que quase todos os países tentavam copiar, com maior ou menor su-
cesso. O mesmo acontecia com relação à marinha inglesa, a ponto de mesmo as tradi-
ções de um e outro serem copiadas, como o uso de uniformes de zuavos, inicialmente
uma tropa de argelinos a serviço da França, mas que tiveram unidades usando os trajes
típicos em vários países, como os Estados Unidos ou o Brasil. Em termos navais, quase
todas as marinhas do mundo (não a francesa, é claro) usam nas insígnias de seus oficiais
uma volta, lembrando o laço que o almirante Nelson usava para amarrar a manga de seu
uniforme, depois de perder o braço em combate.
69
CHEMINADE, Jacques. A citizen of all places, and a contemporary of all times. Executive Intelligence
Review. Volume 26, Number 2, January 8, 1999. p. 74
105
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Mesmo assim, a influência francesa continuou no país até a 2ª Guerra Mundial, pois o
Brasil contratou uma missão militar naquele país, em 1919. Mas a adoção dos princípios
usados pelo exército europeu, tanto em termos logísticos como táticos ou de organiza-
ção nunca foi completa ou mesmo muita extensa, devido aos problemas da realidade
nacional.
70
George Orwell, em nossa opinião, resumiu bem a filosofia atrás da adoção do passo de Ganso: “uma
parada militar é realmente um tipo de dança ritual, algo como o balé, expressando certa filosofia de
vida. O passo de ganso, por exemplo, é uma das visões mais horríveis no mundo, muito mais aterro-
rizante que um bombardeio de mergulho. É simplesmente uma afirmação aberta de força; contida
nele, bem consciente e intencionalmente, está a visão de uma bota espatifando um rosto. Sua feiura
é parte de sua essência, pois o que ele diz é ‘sim, sou feio, e você não se atreve a rir de mim’, como
um valentão que faz caretas para sua vítima”. ORWELL, George. England your England.
https://goo.gl/DgcZTI (acesso em dezembro de 2016).
106
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
estava longe de ser hegemônica. Os países da África, Ásia e Américas podiam atender
suas necessidades sem terem que recorrer em massa à importação de produtos europeus
– mesmo porque isso seria tecnicamente inviável, dada a tecnologia de transportes da
época. A situação se reverte com a segunda Revolução Industrial, de meados do século
XIX, mas esta mudança não foi um instrumento indispensável na conquista do mundo,
que já tinha se delineado cem anos antes.
71
KENNEDY, op. cit. p. 148.
72
Id. p. 148.
107
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Não que a questão técnica fosse inteiramente irrelevante, o efeito indutivo das
guerras para o desenvolvimento técnico e científico do mundo ocidental também já foi
trabalhado em livros74 e o abordaremos no capítulo 5 deste trabalho. Menos trabalhado
foi o papel do surgimento e consolidação das forças armadas nas economias nacionais,
apesar desses efeitos serem conhecidos de longa data. O rei Frederico, o Grande, da
Prússia, em uma das suas cartas com o filósofo d’Alembert, escreveu:
73
Este ponto pode parecer polêmico, mas como descrito mais acima, a partir do século XVII, com a Re-
volução Militar, nenhum grande senhor teve condições de desafiar de forma bem sucedida o poder
dos monarcas. Isso, contudo, não implicou em uma mudança conceitual na proposta de que só o go-
verno pode exercer de forma legítima a violência.
74
Entre outros, ver MUNFORD, Lewis. Technics and civilization. New York, Harcourt, Brase and Co.,
1934. p. 81 e segs.
75
CARTA de Frederico da Prússia a d'Alembert, Berlim, 18 outubro 1770. IN: FREDERICO, Rei da
Prússia. Œuvres de Frédéric le Grand. Berlin: Imprimiere Royale: 1854. vol. 24. p. 506
108
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Deve-se dizer que as tropas podiam ser usadas para se abastecerem em tempos
de paz, como na própria Prússia, onde os soldados eram dispensados por parte de tempo
para trabalhar nas terras de seus senhores feudais. Algo semelhante acontecia na França,
onde os homens tinham autorização para exercer seus ofícios quando não estavam de
serviço – o que acontecia durante dez meses por ano, neste período eles não sendo pa-
gos pelo governo, tendo que sobreviver por seus próprios meios. 78 Mesmo no Brasil –
raras situações, é verdade –, os soldados tinham permissão para trabalhar na agricultura,
como aconteceu com o regimento enviado de Portugal para Macapá, em 1754. Mas este
era um caso de uma proposta mista, de colonização e defesa, não a situação normal das
tropas do Brasil.
No final, os soldados de toros os países tinham que ser abastecidas pelo governo
quando estavam nos quartéis, às vezes em situações que só podem ser vistas como de
tensão para os recursos locais: durante as guerras holandesas, o Padre Vieira calculava,
de forma subestimada, a população de Salvador em 3.500 pessoas, enquanto a guarnição
da cidade era de 2.500 soldados79 – praticamente um homem no serviço militar para
76
Para uma discussão do tema, ver: GOLDSTEIN, Joshua S. War and Economic History. IN: Mokyr, Joel
(ed.). The Oxford Encyclopedia of economic history. Oxford: Oxford University, 2003. Vol. 5. pp.
215-218
77
CHILDS, op. cit. p. 147.
78
Id. p. 58.
79
VIEIRA, Antônio. Discurso do Padre Antônio Vieira em que persuade a entrega de Pernambuco aos
Holandeses. s.d. [1648]. IN: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo LVI, parte
I. Rio de Janeiro: Companhia Tipográfica do Brasil, 1893. p. 42.
109
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
cada morador da cidade, certamente um grande estímulo para a economia local. O efeito
positivo era contrabalançado pelos impostos necessários para manter a tropa, que, de um
ponto de vista moderno, de “estado mínimo”, seriam considerados como “gastos esté-
reis”, mas não há dúvida que eram necessários – o documento de Vieira foi escrito em
1648, pouco tempo depois da Companhia das Índias Ocidentais ter mantido o Recônca-
vo baiano sob cerco, com uma frota estabelecida na ilha de Itaparica por vários meses.
Por sua vez, o abastecimento das forças foi se tornando cada vez mais complica-
do, à medida que as necessidades das forças foram aumentando. Não bastava mais sim-
plesmente alimentar os soldados: como já foi dito, era necessário fornecer uma série de
outros elementos, como armas, uniformes e equipamentos, de forma que os governos
começaram, crescentemente, a criar sua própria estrutura manufatureira, gerando em-
pregos nas cidades.
A articulação desse processo com nossa proposta de trabalho pode não parecer
evidente, mas quando falamos de uma estrutura burocrática necessária para a formação
de grandes exércitos e marinhas, não estamos tratando apenas de salários. A questão do
pagamento direto às tropas, por incrível que pareça, não é um fator decisivo no funcio-
namento das tropas não mercenárias. No entanto, a arrecadação de recursos é de funda-
mental importância para sustentar as forças em campanha e para prepara-las para as
operações, com a compra de uniformes, equipamentos e armas, o que, no caso do Brasil,
era feito pelo Arsenal de Guerra. Além disso, era necessário um aparato governamental
para distribuir esses recursos para as tropas, tudo demandando pessoal e impostos.
110
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
80
Apesar dos efeitos de longo prazo do tratado de comércio, ele era apenas uma parte dos textos assina-
dos. Com três artigos, é muito mais sucinto que os dois tratados militares assinados então, que lidam
com as operações bélicas na Espanha e das vantagens prometidas para Portugal por sua participação
no conflito, inclusive a garantia de posse da Colônia de Sacramento. BATISTA, Felipe de Alvaren-
ga. Os tratados de Methuen de 1703: guerra, portos, panos e vinhos. Dissertação de mestrado. Rio
de Janeiro: UFRJ, Instituto de Economia, 2014 (mimeo). pp. 114 e segs.
111
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
lusitanas eram consideráveis (ver Gráfico 11), quando vemos as dimensões e população
do país. Mas não se pode dizer que era uma força eficiente ou mesmo atualizada.
70000
60000
50000
40000
30000
20000
10000
Essa autonomia tinha grandes implicações militares, que afetaram toda a história
do Brasil colonial e, mais além, continuariam a ter efeitos por quase toda a primeira
81
MARQUES, Fernando Pereira. Exército e sociedade em Portugal: no declínio do Antigo Regime e
advento do Liberalismo. Lisboa: A regra do Jogo, 1981. p. 306.
82
Tal intenção é observável nos Regimentos dos Governadores Gerais, como o de Tomé de Souza. RE-
GIMENTO DE TOMÉ DE SOUZA, op. cit.
83
BRASIL- Governo geral. Auto que mandou fazer o Sr. governador e capitão geral deste estado do Bra-
sil dom Luís de Souza sobre o forte novo que sua majestade ordena se faça, para fortificação do por-
to desta capitania. IN: LIVRO PRIMEIRO do Governo do Brasil, 1607-1633. Rio de Janeiro: Minis-
tério das Relações Exteriores, 1958. p. 255.
112
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
metade do século XIX. Ao contrário do que coloca a historiografia militar, não havia
um “exército brasileiro”. Os livros de história escritos pelas forças armadas colocam as
origens da força no “compromisso de honra”, assinado por moradores de Pernambuco,
em 1645, se comemorando o dia 19 de abril de 1648, quando foi travada a batalha de
Guararapes, como o “dia do Exército brasileiro”, mas isso é uma construção que não
tem relação com a realidade. Sequer havia um “Exército português no Brasil”: cada re-
gião84 respondia, sozinha, por sua defesa, não havendo um esforço coordenado em caso
de necessidade. Sintomático disso são os bandeirantes paulistas, que quando atuavam
como parte de um programa militar governamental fora de sua região de origem, como
nas guerras contra Palmares ou contra os indígenas no Açu, faziam isso visando o lucro
pessoal e não como tropas do rei. Daí se explica a relutância deles em participar nas
guerras holandesas, onde não havia lucros a serem obtidos, os paulistas preferindo sa-
quear as reduções hispânicas que, no período da União das Coroas Ibéricas, eram parte
da mesma monarquia.
As consequências desse sistema foram que, como dissemos, não havia um exér-
cito unificado na colônia e, portanto, era muito difícil implantar uma grande infraestru-
84
No século XVII se consolidou um sistema em que havia capitanias principais e subordinadas, em ter-
mos militares: Maranhão e Pará, com o Piauí; Pernambuco, controlando toda a costa do Nordeste, do
Ceará até a área que viria a ser a província de Alagoas; a Bahia sendo responsável pela defesa de
Sergipe e Espírito Santo, enquanto o Rio de Janeiro se encarregava dos assuntos militares da costa
Sul. PORTUGAL – Decreto de 3 de setembro de 1810. Torna o Espírito Santo independente da Ba-
hia em termos militares. Estas capitanias centrais foram os locais onde mais tarde se estabeleceram
arsenais.
113
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
tura logística no Brasil. Apesar da presença militar ser muito significativa, era fragmen-
tada, como se no Brasil houvesse vários pequenos exércitos e não um maior. Dessa
forma, não havia um grande arsenal, estaleiro ou fábrica de armas, somente algumas
experiências locais, de menor impacto. São os casos da fábrica de pólvora na Bahia no
século XVIII 85 e de uma fundição de artilharia em Pernambuco no século anterior, sen-
do que há muito poucas informações sobre estas, de forma que não se sabe com certeza
se sequer chegaram a funcionar regularmente.86 Isso se entende quando percebemos que
não havia demanda suficiente em cada capitania para justificar investimentos na área
manufatureira militar, ainda mais considerando que a metrópole podia suprir diretamen-
te as necessidades locais.
Com a União das Coroas Ibéricas (1580-1640), o risco de uma investida estran-
geira cresceu de forma, literalmente, assustadora para os moradores. Portugal passou a
ter os mesmo inimigos da Espanha – as Províncias Unidas, Inglaterra e França –, e com
isso aumentou o risco da colônia ser investida por corsários desses países, potências
85
PLANTA, Profil, fachada e a metade do telhado da casa, em que se fabricou a pólvora na Cidade da
Bahia. 1751. Mss. AHU, Lisboa. Cópia disponível no Arquivo do IPHAN.
86
Sobre a fundição de Pernambuco há alguns documentos de época, como: MORENO, op. cit. Um artigo
do Diário do Rio de Janeiro, de 1862, menciona dois canhões fundidos em 1630 na Bahia, mas não
encontramos outros dados sobre isso. Cf. A exposição Nacional. Diário do Rio de Janeiro, 16 de
março de 1862. p. 1.
87
JOHNSON, Charles. A general history of the robberies & murders of the most notorious pirates. Lon-
don: Conway, 2009. p. 171.
114
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
navais. Isso ocorreria em diversos casos, como nas expedições lideradas por Robert
Withrington e Christopher Lister, que em 1587 ficaram um mês e meio pilhando o re-
côncavo da Bahia de todos os Santos. Quatro anos depois, Thomas Cavendish atacou
Santos, em 1595 Lancaster saqueou Recife durante um mês e Oliver Van Noort fez uma
tentativa contra o Rio de Janeiro em 1599. 88 No início do século XVII haveria outra
intervenção francesa, desta vez no Maranhão, a França Equinocial.
Uma ameaça ainda mais séria ocorreu por essa época, as guerras holandesas, que
marcaram profundamente todo o século XVII. Nesse momento, o tamanho, intensidade
e frequência dos ataques, cresceu – os neerlandeses fundaram seus primeiros fortes no
Brasil, no Amazonas, em 1599 e de 1630 a 1654 eles dominariam boa parte do Nordeste
Brasileiro. A expulsão dos invasores do Recife naquele último ano não terminaria o
conflito, o que só ocorreria com a assinatura de um tratado de paz, nove anos depois. A
Guerra da Restauração contra a Espanha só acabaria em 1668, mas não houve pausa nos
embates que ocorriam no território brasileiro: já tinha começado a campanha que levaria
à destruição de Palmares (1667-1695), seguida da Guerra do Açu (1687-1720), contra
os indígenas no Nordeste do País – isso sem falar na construção da Colônia de Sacra-
mento (1680) e o imediato contra-ataque espanhol que se seguiu.
Em termos de uma ameaça europeia, mesmo sem Portugal ter participado ofici-
almente das hostilidades, houve a Guerra da Grande Aliança (1688 a 1697), com ações
militares no norte, como a destruição, pelos franceses, dos fortes de Cumaú e Parú no
Amapá e Pará, criando uma sensação de risco no resto do Brasil. O mesmo ocorreu na
guerra da Sucessão Polonesa (1733-1738), quando a França ocupou Fernando de Noro-
nha e os espanhóis colocaram a Colônia de Sacramento sob cerco.
88
BERGER, Paulo et alii. Incursões de corsários e piratas à costa do Brasil – 1500-1622. IN: História
Naval Brasileira. Vol. I, Tomo II. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha,
1975. 486 e segs.
115
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
de,89 ainda que isso isso representasse mais impostos para a cidade. Essa sensação de
medo e de a defesa das comunidades ser necessária gerou o grande número de fortes
construídos no Brasil.
Podemos continuar com essa lista de ameaças por todo o século XVIII, como a
Guerra dos Sete Anos (1756-1763), com a tomada da Colônia de Sacramento e a do Rio
Grande do Sul; a contra os espanhóis no Sul (1763-1777), nunca declarada, mas repleta
de ações militares; finalmente as da Revolução Francesa e Napoleônicas (1794-1815),
com alguns corsários atuando o Brasil. 90
Mesmo quando não havia uma fonte de tensão aberta, questões diplomáticas fa-
ziam com que a coroa – e a população – estivesse sempre em atenção contra uma possí-
vel invasão de outra potência, como quando o marquês de Pombal alertou o vice-rei
conde da Cunha “no caso de fazerem os ingleses uma expedição contra o Rio de Janei-
ro”,91 temeroso que os britânicos tentassem se apoderar do ouro das Minas Gerais, ape-
sar da longa tradição de aliança entre os britânicos e Portugal.
89
ROCHA PITA, Sebastião da. História da América Portuguesa. Belo Horizonte: Itatiaia, 1976, p. 200.
90
Um caso de corsários atuando nas costas do Brasil, na Bahia, pode ser visto em: FIEL relação do que
obrou a nação francesa nesta freguesia de Santa Cruz, desde o dia 8 até o dia 12 do mês de agosto
deste ano, e do valor e grandeza com que aqueles poucos moradores lhe impediram o paço. S. l.
(1796). Mss. BN, I – 4,2,38 e PORTUGAL – Rei. Provisão Régia dirigida ao Governador e Capitão
Geral da Bahia, determinando sejam premiados os oficiais da relação inclusa, que se distinguiram
na luta contra os franceses que atacaram a Coroa Vermelha nesta Capitania e castigados os que
não quiseram lutar. Lisboa, 25 de setembro de 1798. Mss. BN, II – 33,29,3.
91
PORTUGAL – Carta régia de 20 de junho de 1767 para o conde da Cunha. In: WINZ, Pimentel. Histó-
ria da Casa do Trem. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1962. p. 523.
116
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Tudo isso sem tratar das ocasiões em que se cogitou entrar em guerra com a In-
glaterra em 1844 (Questão do Pirara), 1850 (Tráfico de Escravos) e 1863 (Questão
Christie), eventos em que o Império chegou a se preparar seriamente para um conflito
com a grande potência do período, mesmo que com poucas chances de vencer. Como
escreveu o ministro da guerra em 1844, ao falar contra a incorporação pelos britânicos
da região do Pirara, em Roraima: “antes ser vencido do que atentar contra a honra e a
dignidade nacionais”, 95 uma opção belicista, mesmo que no final o território tenha sido
cedido.
92
DONATO, Hernani. Dicionário das Batalhas Brasileiras. São Paulo: IBRASA, 1987.
93
BRASIL – Ministério da Guerra. Nota da quantidade e qualidade de armamento, equipamento, pólvora
e outros objetos cuja compra ou ajuste se encarrega de fazer na Europa o Major de Engenheiros
Francisco Primo de Sousa Aguiar. Jerônimo Francisco Coelho, ministro da guerra. Rio de Janeiro,
12 de agosto de 1857. Mss. ANRJ. IG7 376. Este valor pode ser atualizado monetariamente para a
quantia de cem milhões de dólares de hoje.
94
CASTRO, Adler Homero Fonseca de. La “cuasi guerra” de 1857-1858: Movilización brasileña para
atacar Paraguay en las negociaciones de navegación fluvial. In: CASAL, Juan Manuel. Paraguay:
investigaciones de historia social social y política (II). Estudios en homenaje a Jerry W. Cooney. IV
Jornadas Internacionales de Historia del Paraguay en la Universidad de Montevideo. Asunción:
Tiempo de Historia/Universidad de Montevideo, 2016. pp. 107 e segs.
95
CALÓGERAS, Pandiá. A política exterior do Império. Vol. III. Da Regência à queda de Rosas. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1933, p. 312.
117
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Cabe também notar que parece ser evidente que concentrar o estudo do papel das
forças armadas apenas nos momentos em que houve combates é arriscado, pois isso não
se encontra apoiado numa realidade concreta da situação vivenciada no Brasil. Mesmo
que as ameaças não afetassem todo o país, é importante levar em conta que as pessoas,
na época, muitas vezes não tinham ciência de que um problema militar era regional e
não “nacional” – a inteligência militar não era tão boa assim, como ainda não é, diga-se
de passagem. Em 1777, quando os espanhóis atacaram Santa Catarina, os moradores do
Brasil e a administração colonial não sabiam que a expedição era destinada para lá, ou
para Salvador, Rio de Janeiro ou Recife. Avisos foram emitidos para todos os governa-
dores de capitanias se prepararem para um ataque. Nada menos do que dezesseis fortifi-
cações temporárias sendo erguidas em Salvador, para lidar com a eventualidade de um
ataque espanhol naquele ano.96
96
CASTRO (2013), vol. 2, pp. 59 e segs.
118
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
ou mesmo uma invasão, o que justifica o altíssimo nível de participação militar na soci-
edade.
A força podia até fazer intervenções no estrangeiro: quando das ameaças de in-
vasão ao Paraguai em 1855 e 1857, a Guarda Nacional do Rio Grande do Sul e do Mato
Grosso foi mobilizada – 5.192 deles no Rio Grande do Sul, 98 sendo que para isso fosse
possível foi necessário que o governo baixasse um decreto, de questionável legalidade,
autorizando o emprego dos guardas no Exterior. Finalmente, na Guerra do Paraguai,
muitos batalhões de Voluntários da Pátria foram formados com base em unidades da
Guarda e a quase totalidade da cavalaria do exército em operações era de regimentos de
Cavalaria da Guarda do Rio Grande do Sul. Nas vésperas da Guerra do Paraguai, o rela-
tório do Ministério da Justiça aponta a existência de 107.116 Guardas,99 (ver Gráfico
97
Cf. LIMA, Henrique de Campos Ferreira. O exército Português. Porto: Livraria Lello, 1928.
98
RIO GRANDE DO SUL – Governo da Província. Informe do presidente da província de S. Pedro do
Rio Grande do Sul, Angelo Moniz da Silva Ferraz, apresentado à Assembléia legislativa provincial
na 1ª Sessão da 8ª Legislatura. Porto Alegre: Tipografia do Correio do Sul, 1858. p. 67.
99
FORÇA da Guarda Nacional, conforme os mapas que tem recebido essa secção. João Pedro de Almei-
da Franco. BRASIL – Ministério da Justiça. Relatório do ministério da justiça apresentado à assem-
bleia geral legislativa na terceira sessão da décima segunda legislatura pelo respectivo ministro e
Continua –––––––
119
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
13) apesar de esse número ser, ao mesmo tempo, parcial e pouco confiável, já que seria
praticamente impossível mobilizar toda essa força.
60000
50000
40000
30000
20000
10000
0
AL AM MT ES PB SC Corte CE PA RN SE PI PA SP RJ MG RS BA PE
Províncias
120
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
estivessem “destacados”, seu equipamento e armamento eram para ser fornecido pelo
governo, como no caso das milícias. A administração central sendo, em última instân-
cia, a responsável pelo abastecimento dessa força, um encargo para o sistema logístico
militar.102
Essa ação mais direta não se efetivou, por uma série de fatores, inclusive a resis-
tência local, pois as câmaras, como dissemos, financiavam com os impostos recolhidos
localmente as questões de defesa, não querendo perder o controle que isso permitia.
Nunca foi criado um “cofre centralizado”, que recolhesse os impostos das diversas capi-
tanias, redistribuindo o dinheiro para as regiões mais necessitadas. Os donatários das
capitanias que tiveram sucesso, especialmente a de Pernambuco, também sempre foram
muito ciosos de suas prerrogativas, restringindo as possibilidades do governo central.
Quando da criação do Governo Geral, em 1548, os colonos e o donatário de Pernambu-
102
Os armamentos da Guarda Nacional deveriam ser fornecidos pelo Ministério da Justiça. Na prática as
armas era repassadas pelo arsenal de Guerra ao Ministério da Justiça, que as entregava às unidades
da Guarda. Um desses casos pode ver no preparo de unidades Catarinenses durante a Revolução Far-
roupilha, o ministro da Guerra mandando fornecer, por conta do Ministério da Justiça, instrumentos
para oito batalhões de infantaria e dois corpos de cavalaria, bem como outros itens. BRASIL – Arse-
nal de Guerra. Aviso do Ministro, José Clemente Pereira, ao Diretor do Arsenal de Guerra, José dos
Santos Oliveira sobre o fornecimento de equipamentos e armas. Rio de Janeiro, 13 de junho de
1841. Mss. Arquivo Nacional. IG7 327.
103
Isto pode ser visto numa das histórias oficiais do Exército: BRASIL – Estado-Maior do Exército. His-
tória do Exército Brasileiro: perfil militar de um povo. Rio de Janeiro: IBGE, 1972. 3 vols. e O
EXÉRCITO na história do Brasil. Rio de Janeiro, BIBLIEX: Salvador, Odebrecht, 1998. 4 vols.
104
Ver: REGO MONTEIRO, Jônatas do. O Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Militar, 1939.
105
CARNEIRO, Edson. A Cidade do Salvador. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1954. pp. 128-143.
121
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
co conseguiram até que o Rei proibisse a ida do governador geral para a capitania.106
Finalmente, a própria proposta militar para o Brasil, que enfatizava a ação local, não
amparava esforços centralizadores.
Gastei o tempo que me restava para fazer uma visita aos fortes e forta-
lezas nesta cidade e na baía, mas seu número é excessivo, quase como
que cada governador teve vontades diferentes das de Seus Antecesso-
res, deixando pela metade os trabalhos que cada um começou, para
106
GOUVÊA, Maria de Fátima Silva. Governo Geral. IN: VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do
Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000. p. 265.
107
CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Muralhas de pedra, canhões de bronze, homens de ferro: forti-
ficações do Brasil, 1503-2006. vols 1 a 3. Rio de Janeiro: FUNCEB, 2013. pp. 25 e segs.
122
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
123
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Outra questão que deve se levar em conta nessas estatísticas é que, na população
em geral, a proporção de soldados estava longe de representar a massa dos habitantes,
mesmo entre os homens: em um levantamento feito em Mato Grosso no final do século
XVIII aponta que em uma população de 24.000 pessoas, apenas 2.748 estavam em con-
dições de servir nas tropas – homens adultos livres, com mais de 14 e menos de 50 anos.
Ou seja, apenas 11,5% dos moradores da capitania.114 Neste sentido, aqueles que eram
efetivamente recrutados representavam uma parcela realmente significativa da força de
trabalho livre.
112
Um detalhe técnico que deve ser observado ao usar o termo “Regimento” no Brasil: ao contrário de
Portugal, onde os regimentos deveriam, teoricamente, ter dois batalhões, na América essas unidades
não eram divididas, tendo, portanto, metade do efetivo regulamentar das tropas europeias, pelo me-
nos até 1762, quando o Conde de Lippe transforma os Regimentos portugueses em unidades com
efetivo de batalhão. Isso, contudo, não implica que os regimentos do Brasil fossem necessariamente
menores do que os da metrópole, devido aos imensos desfalques das forças em Portugal. Cf. FER-
NANDO, Dores Costa. Guerra no tempo de Lippe e de Pombal. In: BARATA, op. cit. vol. 2. p. 341.
113
Os dados disponíveis sobre a população escrava, estimativas, variam de 33% da população no final do
século XVIII e 30% em 1650. LAGO, Luiz Aranha Corrêa do. Da escravidão ao trabalho livre:
Brasil, 1550 -1900. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 33.
114
SERRA, Ricardo Franco de Almeida. Plano de Guerra e defesa da capitania do Mato Grosso enviado
ao governador Caetano Pinto da Miranda Monte Negro. Coimbra, 31 de janeiro de 1800. Mss. BN.
I-29,6,48.
115
CHILDS, op. cit. p. 43.
124
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Dessa forma, cremos ser evidente que as forças mobilizadas no Brasil colonial
eram consideráveis e elas tinham que ser alimentadas, vestidas e alojadas com recursos
levantados localmente, já que não vinham recursos financeiros de Portugal.
116
DUFFY(1987), op. cit. p. 17.
117
FERNANDO, op. cit. p. 334.
118
id. p. 341. Apud SCHAUMBURG-LIPPE, conde de. Cartas ao marquês de Pombal. Boletim do Arqui-
vo Histórico Militar, nº 4, 1933. p. 244-245.
125
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
dos melhores do mundo então, para isso sendo adotados os primeiros regulamentos do
exército, escritos pelo conde de Lippe.119
A tentativa de aperfeiçoar e unificar a situação militar deu certo por algum tem-
po, havendo no Rio Grande do Sul e Colônia do Sacramento, pela primeira vez, uma
real colaboração entre as forças da metrópole e diversas capitanias – Pernambuco, Rio
119
SCHAUMBURG LIPPE. Regulamento para o Exercício, e Disciplina, dos regimentos de Infantaria
dos Exércitos de Sua Majestade Fidelíssima – feito por ordem do mesmo Senhor por Sua Alteza o
Conde Reinante de Schaumburg Lippe, Marechal General. Lisboa: Secretaria de Estado, 1763. Ha-
via ainda outros três regulamentos escritos pelo conde.
120
PORTUGAL – Carta Régia de 20 de junho de 1767, op. cit. p. 525.
121
Devemos observar que a interpretação que o Arsenal foi criado 1764 é comum em obras secundárias,
mas todos os documentos do século XVIII chamam as instalações do Exército no Brasil Colônia de
“Trem”, ou “Arsenal do Trem” até 1811, quando de fato foi criado o Arsenal. PORTUGAL – Alvará
de 1º de março de 1811. Cria a Real Junta de Fazenda dos Arsenais, Fábricas, e Fundição da Capi-
tania do Rio de Janeiro e uma Contadoria dos mesmos Arsenais.
126
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e até uma companhia de arti-
lharia de Lagos (Portugal). No entanto, deve-se observar que o exemplo da Colônia de
Sacramento, que levou a essa ação no Sul do Brasil, é uma exceção, que se aproxima
em certos termos ao que ocorrera na Ásia Portuguesa duzentos anos antes, em um perí-
odo que o governo central português fazia investimentos diretos de defesa lá. Era uma
povoação que existia em função do comércio de contrabando, de uma mercadoria de
alto valor, a prata do Peru, sendo implantada em um terreno hostil e sem possibilidades
de se expandir, por causa do bloqueio espanhol. Ai, o esquema tradicional do Brasil,
dos colonos serem encarregados da defesa, era inviável, necessitando da intervenção
direta do governo.
Houve uma mudança de situação com a vinda da família real para o Rio de Ja-
neiro em 1808, em parte porque era necessário recriar a estrutura logística que tinha
existido na Europa, mas que não era mais acessível por causa da invasão francesa. Por
outro lado, foi necessário implantar uma administração efetivamente centralizada, que
aumentasse a eficiência do dispositivo militar na colônia. É nesse período em que Por-
tugal assume efetivamente, pela primeira vez, parte das responsabilidades militares no
Brasil, com o envio de uma Divisão de Voluntários para lutar no Uruguai, uma prática
tão estranha – e cara – que gerou descontentamento em Portugal,122 podendo ser consi-
derada como uma das causas da Revolução Liberal do Porto, de 1820.
122
MARQUES, Fernando Pereira. Exército e sociedade em Portugal: no declínio do Antigo Regime e
advento do Liberalismo. Lisboa: Regra do Jogo, 1981. p. 164.
127
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Além disso, foi criada – praticamente do nada, já que o País só tivera uma frota
baseada aqui depois da vinda da família Real – uma marinha de guerra, que logo se tor-
nou muito poderosa, tendo inclusive naus de 74 canhões. Uma força que no auge da
Guerra da Cisplatina, em 1828, teria 76 navios e 8.414 marinheiros, 125 necessitando de
imensos gastos não só para alimentar e fardar esse pessoal, mas também para comprar
canhões e navios. Da mesma forma, foram feitos programas de fortificação na costa, os
maiores da história do Brasil – só em Pernambuco foram erguidos 26 fortes inteiramen-
te novos, sem contar os que foram reparados nesse período.126
123
Escritos em Portugal contra o Brasil. Correio Braziliense, XXVIII, 732. Apud RODRIGUES, José
Honório. Independência: Revolução e Contra-Revolução: as forças Armadas. Rio de Janeiro: Fran-
cisco Alves, 1975. vol. III, p.51
124
BRASIL – Província da Bahia. Relatório dos trabalhos do Conselho Interino de governo da Província
da Bahia, em prol da regência e império de Sua Majestade Imperial O senhor D. Pedro I e da Inde-
pendência política do Brasil. Bahia: Tipografia Nacional, 1823. p. 10.
125
BRASIL – Câmara dos deputados. Diário da Câmara dos deputados à Assembleia Geral Legislativa
do Império do Brasil. Seção de 3 de julho de 1828. Rio de Janeiro: Imprensa Imperial e Nacional,
1828. p. 4.
126
Dados levantados em CASTRO, op. cit. Vol. 3.
127
MAPA da força militar das províncias, incluindo-se o Rio de Janeiro. S.l. [182_]. Supostamente 1825.
Mss BN, II-30,28,001.
128
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Figura 7) – e isso numa época que a população do país era quarenta vezes menor do que
na atualidade. Era um índice de participação militar de um homem para cada 34 habi-
tantes, sem incluir as Ordenanças, que por essa época já não eram mais um elemento de
defesa eficaz, apesar de ainda existirem e serem mobilizadas para treinamento. Sempre
se deve relembrar que os índices de participação militar devem ser vistos dentro do con-
texto da época, ou seja, excluindo menores de 18 anos e maiores de 50, mas também as
mulheres e, especialmente os escravos. Para efeito de comparação o Brasil hoje tem
forças armadas de 314.000 homens, com mais 404.000 policiais militares. São 718.000
pessoas dedicadas diretamente a atividade militar – 0,35% da população, ou um em ca-
da 284 habitantes do país.
Tropas de terra
15000
10000
5000 Linha
Milícias
0
GO
PI
RN
SE
SP
ES
AL
SC
MT
PB
CE
MA
MG
RS
PA
BA
PE
PC
RJ
128
id.
129
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
gastos militares, que tinham chegado a níveis insustentáveis com a Guerra da Cisplati-
na. Contudo, e mais importante, a Regência procurou implantar um novo modelo de
organização militar, diminuindo a importância do Exército – visto como um instrumen-
to centralizador e um fator de desestabilização – favorecendo uma nova milícia, a Guar-
da Nacional.
129
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da guerra Manoel, da Fonseca Lima e Silva, ao
diretor do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, José de Vasconcelos Meneses de Drummond sobre
uso do quartel do esquadrão de cavalaria para acomodar os Oficiais Soldados Voluntários da Pá-
tria. Rio de Janeiro, 5 de dezembro de 1831. Mss. ANRJ. IG7 44.
130
MONTEIRO, Jonathas da Costa do Rego. Relação dos fortes Existentes no Brasil em 1829 com indi-
cação de seu armamento. Revista Militar Brasileira, jul-set 1927. p. 218 e segs.
131
PONDÉ, Francisco de Paula e Azevedo. Organização e Administração do Ministério da Guerra no
Império. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1986. p. 250
130
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
132
BRASIL – Ministério do Império. Aviso de Estevão Ribeiro Resende, ministro do Império a João
Gomes da Silveira Mendonça ministro da guerra, a quota dos escravos no serviço das Fortificações
do Barro Vermelho. Rio de Janeiro, 15 de maio de 1824. Mss. ANRJ, GIFI OI 5B 243.
131
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
132
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
70000
60000
50000
40000
30000
20000
10000
133
A fonte básica dos dados do gráfico é: Leis de fixação das forças de terra do Império do Brasil, 1831-
1840. SCHULZ, John. O exército na política: origens da intervenção militar: 1850-1894. São Paulo:
EDUSP, 1994. p. 204.
133
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Desta forma, é evidente que o nível de participação militar na sociedade era im-
portante na primeira metade do século XIX, pois o exército cumpria um papel social
que ia muito além de suas funções estritamente militares, servindo de polícia, fiscais nas
estradas, correios e outros serviços públicos, para os quais não havia funcionários do
governo imperial, além dos soldados dispersos pelas províncias. Isso exigia que uma
boa parcela dos recursos financeiros e administrativos fosse dedicada às forças armadas
(ver Gráfico 16), o que não era incomum no mundo – em 1838, o orçamento do governo
paraguaio dedicado a questões de defesa era de nada menos do que 94,5% do total de
gastos governamentais. 134 Ou seja, praticamente tudo o que o governo de lá arrecadava
era voltado para a questão militar. No Brasil isso não era muito diferente.
134
WHITE, Richard Alan. Paraguay’s autonomous revolution: 1810-1840. Albuquerque: University of
New Mexico Press, 1978. p. 208.
134
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Mesmo os praças (sargentos, cabos e soldados) que, de fato, eram oriundos dos
estratos mais baixos da sociedade, eram assalariados e não escravos. É verdade que seus
vencimentos eram reduzidos e que ficarem crescentemente defasados, pois só houve
poucos reajustes durante todo o período estudado. Além disso, a alimentação (etapa)
dos homens era descontada de seu soldo, de forma que restava muito pouco para eles
gastarem com si, mas mesmo assim não estavam excluídos do mercado.
135
Dados extraídos de: CARREIRA, Liberato de Castro. História Financeira e Orçamentária do Império
do Brasil. Brasília: Senado, 1980. p. 127 e segs.
135
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
136
Dados extraídos de: CARREIRA, op. cit. Correção feita com base no “valor de trabalho” da moeda
britânica, atualizado a partir do sítio: Measuring Worth. https://goo.gl/rtcTbc. (acesso em dezembro
de 2015). Observamos que o índice de preço real é o menor dos disponíveis para cálculo de inflação
da libra, não sendo, necessariamente, o mais correto. Em outros casos, preferimos usar o índice do
“custo econômico. Para efeitos de impacto econômico, contudo, os dados são suficientes para mos-
trar o crescimento dos orçamentos.
137
JESUS, Raphael de. História da Guerra entre o Brasil e a Holanda. Paris: J.P. Aillaud, 1844. p. 359.
136
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
138
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição dos negócios da guerra apresentado à as-
sembleia geral legislativa pelo respectivo ministro e secretário de estado Manoel Felizardo de Sou-
za e Melo. Rio de Janeiro: Laemmert, 1853. p. 14.
137
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
139
Cálculo baseado em um jornal, pagamento diário, de 600 réis para um servente. BRASIL – Arsenal de
Guerra. Ofício do diretor do Arsenal José Maria da Silva Bittencourt ao Ministro da Guerra, Mano-
el Felizardo de Souza e Mello, sobre vencimentos de soldados inválidos. Rio de Janeiro, 3 de outu-
bro de 1850. Mss. ANRJ. IG7 11. A listagem de equipamento de um soldado, com seus valores, po-
de ser vista no BRASIL – Decreto nº 547 de 8 de Janeiro de 1848. Aprova a Tabela dos preços de
diversos artigos de armamento, equipamento, arreios, fardamentos e mais objetos para o Exercito e
Fortalezas.
140
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da guerra apresentado à as-
sembleia geral legislativa na 1ª sessão da 6ª legislatura, pelo ministro e secretário de estado dos ne-
gócios da guerra Jerônimo Francisco Coelho. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1845. p. 29.
141
BARROSO, Gustavo Dodt & RODRIGUES, Washt. Uniformes do Exército Brasileiro. Rio de Janei-
ro: Imprensa Nacional, 1922. p. 45.
142
O autor da imagem cometeu um erro, pois em 1850 não havia tropas de granadeiros em serviço, o
equipamento mostrado é de um soldado de fuzileiros.
138
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
Esses custos não podiam ser encarados como gastos momentâneos: alguns dos
itens fornecidos aos soldados eram de longa duração, como as armas, que deveriam ofi-
cialmente resistir dez anos, mas que na prática poderiam ter um tempo de vida útil mui-
to menor, de acordo com as circunstâncias:143 o serviço em campanha representava um
atrito muito grande de todos os itens que eram fornecidos às tropas. Outras peças, con-
tudo, tinham que ser substituídas à medida que inevitavelmente se desgastavam – e isso
ocorria rapidamente e de forma constante, na paz e na guerra: sapatos tinham que ser
trocados a cada seis meses, se não antes, e o ministro da guerra, de forma muito realista,
escrevia o seguinte:
143
Somente em 1851, com um efetivo nominal de 16.000 homens, o exército comprou 11.640 espingar-
das, bem mais do que seria necessário se as armas durassem 12 anos. Relatório da comissão de exa-
me do Arsenal de Guerra. In: BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório de 1853, op. cit. p. XXI.
144
Id. p. 29.
145
Usamos como base de cálculo um canhão de 9 libras, como os que eram usados na Fortaleza de Ville-
gaignon para saldar os navios de guerra estrangeiros. CASTRO (2009), op. cit. p. 297.
146
SILVA, Crispim Teixeira, Sargento Mor Intendente. Relação das Obras, Munições e mais Petrechos
que se tem feito no Trem de S. Majestade Fidelíssima do Rio de Janeiro, no tempo Governo do Il.mo e
Ex.mo Sr. Marquês do Lavradio Vice Rei e Capitam General de Mar e Terra do Estado do Brasil,
continuado de 31 de outubro de 1769, até 31 de Agosto de 1776. Mss. Coleção particular.
139
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
guai. 147 Mas, e o suprimento quando não havia um conflito? Como colocamos, os exér-
citos não deixam de existir quando não há operações militares ocorrendo, mas a questão
do suporte para essas tropas não é tratada na historiografia tradicional, militar ou civil,
como se as maciças forças militares existentes no País pudessem ser ignoradas e se sus-
tentassem no ar, sem apoio. Não se sabe sequer o número e efetivos das unidades milita-
res existentes no País no período colonial e nos primeiros anos do Império – dados so-
bre a estrutura de suprimentos para sustenta-las, então, são ainda mais ignorados e difí-
ceis de obter em bibliografia publicada. Consideramos isso curioso e, talvez, um erro
dos pesquisadores, já que há uma vasta documentação histórica sobre o assunto. Boa
parte da documentação produzida pela administração militar, tanto na Colônia, quanto
no Império, diz respeito à questão do funcionamento das forças armadas, sua adminis-
tração, fardamento, alimentação e alojamento.
Portugal tinha uma situação oposta: sem ser uma potência, a monarquia lusitana
dependia do não emprego da força militar para sua sobrevivência, pois a Espanha tinha
condições de derrotá-la, se não houvesse uma coligação que pudesse proteger o país.
Dessa forma, se entende a situação de recorrente despreparo das forças portuguesas, que
não eram vistas como sendo uma ocupação de prestígio: viajantes alemães no final do
século XVIII apontavam que mesmo as reformas do Conde de Lippe não tinham tido
um efeito duradouro no País, notando, certamente de forma exagerada, que:
147
Podemos citar as obras: BOITEUX, Nylson Reis. Aspectos Logísticos da Guerra do Paraguai. Campo
Grane: Life Editora, 2015. FIGUEIRA, Divalte Garcia. Soldados e negociantes na Guerra do Para-
guai. São Paulo: Humanitas-FFLCH/USP, 2001.
148
CHILDS, op. cit. p. 84.
140
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
mizado, com seu gorjal sobre seu queixo, deixar seu posto na guarda e
dirigir-se para seu segundo mestre, de forma a colocar suas meias, en-
tregar-lhe sua touca de dormir, ou pentear sua peruca.149
Uma das consequências desse despreparo e falta de confiança nas forças arma-
das era a confiança que era colocada nas fortificações, com a construção de grandes
praças de guerra, cidades com grandes circuitos murados, como Almeida, Elvas ou Se-
tubal. Como se escrevia na época em um memorial, perfeitamente aplicável à Portugal,
que seria “um estado medíocre”:
Um pequeno estado, que tem uma, ou duas boas, praças de guerra po-
de-se defender e manter-se algum tempo, até que algum de seus vizi-
nhos, que vê com zelos crescer o poder de um, e outro, junte as tropas
para o socorrer.
Os estados medíocres, que tem um corpo de tropa, e boas praças, po-
dem se defender por elas mesmas: Mas o corpo de tropa sem praça, é
forçado a desamparar tudo a um Exército superior: e as praças sem
tropas são obrigadas a se render, quando os víveres começam a faltar
[...].
Deve-se defender, como os estados medíocres, aqueles, em que as
províncias são separadas umas das outras.150
Inerente desse desprestígio e despreparo era uma ausência de uma cultura de
pensamento militar, havendo poucos livros publicados sobre assuntos militares em Por-
tugal, e esses com edições reduzidas. Manuais militares eram raros, os regulamentos do
Conde de Lippe – sintomaticamente escritos por um estrangeiro – continuaram a ter
validade até as guerras Napoleônicas, quando foram substituídos, em parte, pelos regu-
lamentos do marechal Beresford,151 ele também um estrangeiro.
No Brasil, que herdou muita coisa de Portugal, a situação era em parte diferente.
Aqui, o oficialato nas forças militares era visto com mais prestígio, sendo um dos cami-
nhos para o enobrecimento das pessoas. Por outro lado, era uma colônia, com limitações
muito severas – por exemplo, até 1808 não havia tipografias no País, de forma que não
seriam de se esperar publicações militares, apesar de oficiais do Brasil terem publicado
149
DUFFY (1986), op. cit. p. 298. Apud WARNERY, Charles E. Des Herrn Generalmajor von Warnery
saemtliche Schriften. Hanover: Helwing, 1786. vol. IV, p. 298.
150
MEMORIAL DA GUERRA apud MOURA, José de Almeida e. Movimentos da cavalaria com adição
para Dragões e infantaria e Obra utilíssima para todo o Militar oferecida ao Sereníssimo senhor In-
fante D. Antônio por... Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo, Sargento mor de cavalaria Drago-
ens de Beja etc. Lisboa: Oficina da Música e da Sagrada Religião de Malta, 1741. p. 355-356.
151
BERESFORD, William Carr. Instruções para o exercício dos regimentos de infantaria por ordem do
ilustríssimo e excelentíssimo senhor (...), marechal e comandante em chefe dos exércitos. Bahia:
Manoel António da Silva Serva, 1817.
141
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
alguma coisa em Portugal, o exemplo mais notável sendo o brigadeiro Alpoim. 152 Mes-
mo depois, não foi parte da cultura do nosso exército a realização de pesquisas acadê-
micas ou empíricas ou mesmo a publicação de textos sobre assuntos militares.153
Também era difícil o desenvolvimento de uma teoria formal sobre a guerra, pois
a aplicação de doutrinas dependia da autorização de Portugal, onde tais assuntos não
eram vistos como atenção. Algumas formas específicas de organização militar foram
desenvolvidas no Brasil, como o uso de infantaria ligeira, mas isso por necessidades
locais, sem repercussão na metrópole. Mais importante, a estrutura militar implantada
desde o início da colonização, assim como as dimensões do País, dificultava em muito a
realização de grandes projetos militares, como a formação de um exército centralizado
ou mesmo a construção de sistemas defensivos eficazes.
152
ALPOIM, José Fernandes Pinto. Exame de artilheiros. Rio de Janeiro: Xerox do Brasil, 1987. Fac-
símile da edição de: Lisboa: José Antônio Plates, 1744.
153
O primeiro texto legal falando da adoção de manuais no Exército brasileiro data de apenas de 1850.
Dois dos três manuais citados eram portugueses, um deles datando de 1816(!). BRASIL - Decreto
nº 705, de 5 de Outubro de 1850. Determina quais as Instruções por que se devem regular as mano-
bras e exercícios das diferentes armas do Exército.
154
Na Idade Média as cidades podiam se expandir além das muralhas, bastando para isso que as casas
fossem construídas além do alcance eficaz dos arcos e flechas, apenas trinta metros, de forma que is-
so aconteceu em várias ocasiões. Na Idade Moderna o problema era bem mais complexo, pois a zona
que deveria ser mantida livre de construções em torno de uma fortificação correspondia à distância
do alcance de um canhão, no mínimo oitocentos metros, inviabilizando a expansão urbana extramu-
ros. A legislação portuguesa, por exemplo, controlava a construção de edificações numa distância de
seiscentas braças (1.320 metros) das muralhas. Curiosamente, essa é uma lei que ainda é corrente no
Brasil, tendo sido revalidada por um decreto-lei de 1941. BRASIL – Decreto-lei 3.4.37 de 17 de ju-
lho de 1941. Dispõe sobre o aforamento de terrenos e a construção de edifícios em torno das fortifi-
cações. Artigo 2º e incisos.
142
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
recursos locais, que dava autonomia às câmaras municipais, que arrecadavam os impos-
tos que pagavam sua própria defesa, sem uma intermediação do governo central. Por
sua vez, as dezenas de fortificações, apesar de não serem eficientes, cumpriam um im-
portante papel social, provendo postos de comando para moradores. Estes empregos
eram, muitas vezes, meramente honoríficos, mas tinham um papel social importante,
pois davam acesso ao mundo da elite política da sua cidade.155
Não podemos deixar de frisar a importância desse último ponto: apesar do Brasil
ser uma colônia e o serviço militar ser tratado com certo desprezo na metrópole, o ofici-
alato no Brasil, era visto como uma forma de enobrecimento, o que alcançava maior
importância considerando que não havia uma nobreza de sangue nativa. Aqui havia até
tabelas do governo, fazendo a comparação de honras que deveriam ser dadas aos mem-
bros das forças armadas e os titulares da nobreza – por exemplo, um capitão do exército
ou capitão-tenente da armada teriam as honras de um cavaleiro fidalgo e um brigadeiro,
as de um barão.156 Isso resultava em um maior prestígio para o serviço militar – de ofi-
ciais, é claro –, do que ocorria em Portugal, onde a fidalguia era mais comum.
Por sua vez os governos das capitanias e, mais ainda, o do Império, não hesita-
vam em se valer das forças armadas como ferramentas diplomáticas. Um exemplo disso
sendo o caso do emprego de fortificações para se garantir a posse do território. A Colô-
nia de Sacramento é o caso mais evidente dessa política, do uso de uma instalação mili-
tar feita com a intenção de fomentar o comércio de contrabando e garantir a posse de
um território que dificilmente poderia ser considerado como português.
155
FRAGOSO, João & FLORENTINO, Manolo. O arcaísmo como projeto: mercado atlântico, socieda-
de agraria e elite mercantil em uma economia colonial tardia. Rio de Janeiro, c. 1790-c.1840. São
Paulo: Civilização Brasileira, 2001. p. 69.
156
MATOS, Raimundo José da Cunha. Repertório da legislação militar atualmente em vigor no exército
e armada do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Seignot-Plancher, 1837.vol. II, 1837. p. 285.
143
Capítulo 3 - As forças armadas como consumidora de mercadorias.
termos do acordo de navegação que lhes fora imposto, sendo necessária a mobilização
de uma grande força de terra e naval para invadir o Paraguai, caso esses não aceitassem
as imposições do governo brasileiro. 157
157
CASTRO (2016), op. cit.
144
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
Sumário
145
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
1
OLIVEIRA, Geraldo de Beauclair Mendes de. A pré-indústria fluminense: 1808/1860. Tese de Douto-
rado. São Paulo: USP, 1987. (mimeo).p. 9.
2
BRAUDEL, Fernand. Civilización material, economía y capitalismo: siglos XV-XVIII. Madrid: Alianza
Editorial, 1979. Vol. 2. p. 252.
3
MAURO, Fréderic (org.). La préindustrialisation du Brésil. Essais sur une économie en transition:
1830/50 – 1930/50. Paris: Centre National de la Recherche Scientifique, 1984.
4
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação econômica e social escravista no sudeste : um estu-
do das atividades manufatureiras na região fluminense, 1840-1880. Dissertação de mestrado. Nite-
rói: UFF, 1980. (mimeo).
5
OLIVEIRA, op. cit.
6
BRAUDEL, op. cit. p. 258.
146
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
vivemos. Temos assim dois universos, pelo menos, dois tipos de vida
alheios um ao outro e cujas massas, no entanto, se explicam mutua-
mente.7
Estamos, portanto, falando de uma situação de transição – o usual nas economias
agrícolas era que o trabalho com o plantio atraísse os trabalhadores, mesmo os do arte-
sanato, em uma situação sazonal. Como nos exércitos da época, o período de colheita
também implicava na captação dos trabalhadores para os empreendimentos agrícolas,
enquanto nos momentos de pausa no campo, essa mão de obra tendia a se dedicar a ou-
tras atividades, inclusive às das oficinas artesanais.8 Entretanto, a pré-indústria é dife-
rente desse modelo simplesmente agrícola, pois, apesar das atividades primárias ainda
serem dominantes, já há uma maior representatividade do artesanato, que é exercido de
forma permanente, mobilizando trabalhadores de forma constante. Isto em instalações
de maior porte do que a simples oficina que empregava basicamente um trabalhador
especializado, o mestre, como era o caso anterior.
7
BRAUDEL, Fernand. A dinâmica do Capitalismo. Lisboa: Editorial Teorema, 1986. p. 13.
8
OLIVEIRA, op. cit. p. 6.
9
BRAUDEL, op. cit. p. 263.
10
OLIVEIRA, op. cit. p. 6.
147
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
tema doméstico (putting out),11 no qual os artesãos continuavam a possuir suas ferra-
mentas, mas recebiam a matéria prima de um capitalista, trabalhando em suas casas e
devolvendo o produto acabado. Funcionava, basicamente como uma oficina artesanal
doméstica tradicional, a não ser pela propriedade da matéria prima e o fato de serem
empregados por um capitalista, que gerencia as atividades. Este último tipo de organiza-
ção é marcante, pois, apesar de muito primitivo em termos de organização, define um
momento decisivo na origem das empresas, por depender de um empreendedor, um ca-
pitalista, para gerenciar a produção.
Uma discussão gerando uma definição mais restritiva do que seria pré-indústria
surgiu na década de 1960. Esta trabalhava com o conceito semelhante, mas não idêntico,
o da protoindustrialização. Esta seria uma fase intermediária, antes do surgimento da
industrialização, com cinco características básicas: não era um processo nacional ou
internacional, mas sim regional; os empreendimentos não podiam ser classificadas co-
mo as antigas oficinas artesanais, pois as empresas passavam a produzir para um merca-
do local ou regional, vendendo seus produtos para fora de suas regiões de origem; era
uma atividade principalmente de áreas rurais, surgindo de uma relação simbiótica com o
comércio agrícola. Finalmente, “era ‘dinâmica: era definida como um crescimento ao
longo do tempo do emprego industrial de trabalhadores rurais”.12 Douglas Libby, ao
trabalhar com as pequenas manufaturas têxteis e de metais em Minas Gerais, se utilizou
deste conceito, para tratar das manufaturas que surgiram no ambiente rural de Minas
Gerais do Século XIX, as têxteis e de metalurgia. 13 Em outro texto, ele faz uma distin-
ção importante, em termos de identificação do que seria a protoindústria: para Libby “a
protoindustrialização pode ser definida como a produção em grande escala de bens in-
dustriais destinados a mercados distantes, baseada em mão de obra barata e campone-
sa”.14
Geraldo Beauclair de Oliveira, faz uma distinção que nos parece muito útil na
questão que estamos trabalhando, definindo a pré-industria como um conceito diferente
11
O sistema de putting out tem uma grande relevância para o Arsenal de Guerra, pois era a forma como
funcionava a “Repartição de Costuras” da Instituição, conforme trataremos em outro capítulo.
12
OGILVIE, Sheilagh. Proto-industrialization. https://goo.gl/V4OQSW (acesso em outubro de 2016). p.
3.
13
LIBBY, Douglas Cole. Transformação e trabalho em uma economia escravista: Minas no século XIX.
São Paulo: Brasiliense, 1988.
14
LIBBY, Douglas Cole. Protoindustralização em uma sociedade escravista: o caso de Minas Gerais. IN:
SZMRECSÁNY, Tamás & LAPA, José do Amaral (org). História econômica da Independência e do
Império. São Paulo: Hucitec, 2002. p. 238
148
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
15
OLIVEIRA, op. cit. p. 6.
16
MARX, Karl. Capital. London: Encyclopaedia Britannica, c. 1952. p. 164.
17
id. p. 164.
18
SMITH, Adam. An Inquiry into the nature and causes of the wealth of Nations. London: Encyclopaedia
Britannica, c. 1952. p. 9. Adam Smith copiou esse exemplo da enciclopédia de Diderot e
Continua –––––––
149
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
Esta é uma característica que voltaremos a tratar quando tratarmos do Arsenal de Guerra
da Corte.
Continuação–––––––––––
D’Alembert, que por sua vez citava um estudo de Perronet, de 1762. ALDER, Ken. Engineering the
revolution: arms & enlightenment in France, 1763-1815. Chicago: University of Chicago, 1992. p.
135
19
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na sociedade escravista: o surto manufatureiro no Rio de Janeiro
e nas suas circunvizinhanças (1840-1870). IN: MAURO, op. cit. p. 13 e segs.
20
BRAUDEL (1979), op. cit. p. 263.
150
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
21
KEMP, Tom. A Revolução industrial na Europa do Século XIX. Lisboa: Edições 70, 1985. p. 23.
22
BRASIL – Alvará de 28 de abril de 1809. Isenta de direitos as matérias primas do uso das fabricas e
concede outros favores aos fabricantes e da navegação Nacional.
23
Cálculo de inflação feito usando o índice de “custo econômico”, de acordo com o sítio Measuring
Worth. https://goo.gl/rtcTbc (acesso em outubro de 2016).
151
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
cujos resultados seriam aplicados nas empresas. Finalmente, foi estabelecida uma regra
para “privilégios industriais”, semelhante ao atual sistema de patentes, onde se dava
proteção, por até vários anos, às “descobertas” tecnológicas implantadas no País, mes-
mo que essas já fossem conhecidas na Europa.
insisto pois como pedi o ano passado em seu favor por um privilégio
de isenção de todo o serviço da Guarda Nacional, pois que a decadên-
cia deste Estabelecimento provem em parte de serem os aprendizes
alistados para a dita Guarda 25
Se o serviço militar dos artesãos era uma dificuldade para uma instalação gover-
namental – e justamente uma voltada para o apoio direto ao serviço militar – podemos
ter certeza que o recrutamento era mais grave para as organizações privadas.
24
BRASIL – Alvará de 28 de abril de 1809, op. cit.
25
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Marechal João Carlos Pardal, diretor do Arsenal de Guer-
ra, ao Ministro da Guerra. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1848. Mss. ANRJ. IG7 10.
26
BRASIL – Alvará de 28 de abril de 1809, op. cit.
152
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
Nessa linha, em 1813, em São Paulo, foi estabelecida uma tecelagem de algo-
dão, privada, mas que se beneficiou da proteção estabelecida pelo alvará de 28 de abril
de 1809, ficando subordinada à supervisão da Real Junta de Comércio.27
Eram ações de apoio direto e indireto, mas o texto do Alvará não continha medi-
das mais eficazes, ou seja, algo que implantasse um protecionismo fiscal – e mesmo as
previsões do alvará não foram efetivadas, em grande parte.
Outra medida tomada nesse momento inicial, logo após a chegada da família
Real, foi a ação direta do governo no estabelecimento de manufaturas próprias, como a
Fábrica de Pólvora da Lagoa, no Rio de Janeiro (ver Figura 9), a de Ferro de Ipanema
(SP), as Fábricas de Tecidos da Lagoa e do Catumbi, também no Rio de Janeiro.
153
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
29
OLIVEIRA, Geraldo Beclauir Mendes de. A construção inacabada: a economia brasileira, 1822-1860.
Rio de Janeiro: Vício de Leitura, 2001. p. 91.
30
PORTUGAL – Decreto de 31 de outubro de 1811. Comete á Real Junta do Comércio do Estado do
Brasil a inspeção do Colégio das fabricas.
31
Arquivo Nacional. Junta de Comércio. Consulta da Real Junta sobre o estabelecimento do Colégio das
fábricas. Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1812. apud OLIVEIRA (2001), op. cit. pp. 91-92.
32
id. pp. 91-92.
33
A estereotomia é o estudo das formas das pedras, tendo em vista suas possibilidades de corte e entalhe.
Tal profissão pode ser associada à escultura, no preparo de peças para estátuas. No entanto, cremos
que os profissionais da Missão Artística estivessem ligados a outro entendimento da profissão, o li-
Continua –––––––
154
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
Para a atividade de ensino, o governo instalou por decreto a Escola Real de Ci-
ências, Artes e Ofícios, que tinha um objetivo de formação de “artistas”, não como pen-
saríamos hoje, de belas artes, mas em um dos sentidos usado na época, de sinônimo de
artífice.36 No texto legal se previa também um subsídio para artesões que viessem para o
Brasil, para promover e difundir a instrução indispensável “não só aos empregos públi-
cos da administração do Estado, mas também ao progresso da agricultura, mineralogia,
indústria e comércio”.37 Vale frisar que o texto deixava claro que isso se aplicava aos
“ofícios mecânicos, cuja pratica, perfeição e utilidade depende dos conhecimentos teóri-
cos” das “ciências naturais, físicas e exatas”,38 ou seja, era uma proposta voltada para a
manufatura. Essa medida, contudo, não teve sequência, já em 1820 a escola passava a se
chamar Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, com um
currículo pouco ligado aos ofícios, esses desaparecendo totalmente das atividades da
Academia com a reforma da instituição, em 1831.39
Continuação–––––––––––
gado a construção civil, o tema sendo ensinado nas escolas de arquitetura no século XIX, sendo ne-
cessário o conhecimento de desenho de perspectiva isonométrica.
34
CARDOSO, Rafael. A Academia Imperial de Belas Artes e o Ensino Técnico. 19&20, Rio de Janeiro,
v. III, n. 1, jan. 2008. Disponível em: https://goo.gl/hiZ76T. (acesso em agosto de 2016).
35
ALMANAK do Rio de Janeiro para o ano de 1827. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1827. p. 214.
36
SILVA, Antônio. Dicionário da língua portuguesa - recompilado dos vocabulários impressos ate ago-
ra, e nesta segunda edição novamente emendado e muito acrescentado. Lisboa: Tipografia Lacerdi-
na, 1813. Verbete artista. p. 201.
37
REINO UNIDO – Decreto de 12 de agosto de 1816. Concede pensões a diversos artistas que vieram
estabelecer-se no país.
38
Id.
39
Para uma discussão interessante sobre o tema, ver: CARDOSO, op. cit.
40
PORTUGAL – Lei de 4 de dezembro de 1810. Cria uma Academia Real Militar na Corte e Cidade do
Rio o de Janeiro.
155
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
res”.41 O ensino dos futuros oficiais durava sete anos, dos quais apenas os três últimos
tinham cadeiras voltadas para assuntos militares, apesar de nesses anos continuarem a se
ensinar matérias ligadas às ciências.
Deve-se fazer a ressalva que essas políticas de fomento técnico não tiveram uma
continuidade nem foram uma unanimidade entre as próprias lideranças políticas do País.
Estas eram ligadas à agricultura de exportação, fator já notado por Celso Furtado42 e
elas não teriam interesse particular na questão da montagem de manufaturas locais, pois
isso não atenderia seus interesses específicos.
41
id.
42
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional: Publifo-
lha, 2000. p. 106.
43
José Maria da Silva Lisboa, visconde de Cairu (1756-1835), era baiano, formado em direito canônico e
filosofia em Coimbra. Teve vários cargos no serviço público, inclusive o de professor de economia
política. Escreveu vários livros, inclusive o Princípios da economia política, defendendo o liberalis-
mo. Era conservador, defensor da monarquia e foi deputado e senador do Império. BRASIL – Ar-
quivo Nacional. Mapa memória da administração pública brasileira. Verbete José Maria da Silva
Lisboa, visconde de Cairu. https://goo.gl/dFlca1 (acesso em outubro de 2016).
44
LISBOA, José da Silva. Observações sobre a franqueza da indústria, e estabelecimento de fábricas no
Brasil. Brasília: Senado Federal, 1999. p. 35.
45
Id. p. 35.
156
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
Privilégios de invenção
42%
16%
10%
32%
46
Id. p. 97.
47
ANDRADE, Rômulo Garcia de. Burocracia e economia na primeira metade do século XIX (a Junta de
Comércio e as atividades artesanais e manufatureiras na cidade do Rio de Janeiro: 1808-50). Dis-
sertação de Mestrado. Niterói: UFF, 1980 (mimeo). p. 62.
48
Id. p. 24.
49
id. pp. 26 e 33 e segs.
157
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
Eram apenas oito empresas “de base” – e isso com certa latitude –, as outras tra-
tando de bens de consumo, os mais importantes sendo o setor de sabão e velas, com 15
empresas e 438 funcionários (19,5% do total) e de chapéus, com 18 estabelecimentos e
50
id. pp. 153-154.
51
O Almanaque Laemmert de 1856, lista uma imensa quantidade de empresas na cidade do Rio de Janei-
ro, mas não é possível ter uma noção de suas dimensões ou sequer se eram simplesmente lojas de re-
talho, oficinais individuais ou algo maior. ALMANAK administrativo mercantil e industrial e provín-
cia do Rio de Janeiro para o ano de 1856. Rio de Janeiro: Laemmert, 1856. pp. 597 e segs.
158
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
52
BRAUDEL (1979), op. cit. p. 280. Braudel, na verdade, é mais contundente, considerando como em-
presas de tamanho reduzido algumas com mais empregados, como as fábricas de sabão de Marselha,
que tinham pouco mais de 26 empregados por unidade, em média.
53
Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, edições de 29 de abril de 1849, 10 de outubro de 1850 e 17
de junho de 1852.
54
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso da 3ª Diretoria, 3ª Seção, do Ministério da Guerra ao diretor
do Arsenal de Guerra informando sobre contrato com Manoel Augusto dos Santos para fabricação
de bonés a 600 réis. Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 360.
159
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
55
Inclui os estabelecimentos de Francisco Miers, com 145 trabalhadores e o de Caetano da Rocha Paco-
va, com 73
56
SOARES, op. cit. pp. 20-23
57
id. pp. 18-19.
58
MELLO, João Manuel Cardoso. O capitalismo tardio : contribuição à revisão crítica da formação e do
desenvolvimento da economia brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 33.
59
LIMA, Carlos A. M. Artífices do Rio de Janeiro (1790-1808). Rio de Janeiro: Apicuri, 2008. p. 203.
160
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
60
MELLO, op. cit. p. 75.
61
EWBANK, Thomas. Life in Brazil; or a journal of a visit to the land of the cocoa and the palm. New
York: Harper & Brothers, 1856. p. 370.
62
SPIX, Johann Baptist von & MARTIUS Carl Friedrich Phillip von. Travels in Brazil in the years 1817-
1820. Vol. 1. London: Longman, 1824. p. 168.
161
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
63
DEBRET, Jean Baptiste. Voyage pittoresque et historique au Brésil. Tome II. Paris: Firmin Didot
Frers, 1835. p. 92.
64
id. p. 93.
162
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
65
BRASIL – Ministério da Fazenda. Proposta e Relatório do Ministério da Fazenda apresentados à
Assembleia Geral Legislativa na primeira sessão da décima legislatura. Rio de Janeiro: Tipografia
Nacional, 1857. Tabela 68.
163
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
mos ser interessante apontar, para futura referência quando tratarmos da repartição de
costuras do Arsenal de Guerra.
No caso da Santo Aleixo, cremos ser interessante fazer um aparte para notar a
proposta de criar uma integração vertical, não se preocupando só com o produto final, o
tecido, mas também com o principal insumo usado, o fio. Essa medida deve ter sido o
resultado de um problema específico do Brasil e que afetaria o Arsenal de Guerra em
todas as suas atividades, especialmente as de maior demanda, à produção de uniformes:
a falta de matéria prima produzida localmente, como trataremos no momento oportuno.
66
id. tabelas 68 e 69. Os dados dessas tabelas, contudo, devem ser vistos com certa cautela, pois há em-
presas que aparecem nas duas, com dados numéricos diferentes entre elas. Fizemos uma opção pelos
maiores valores de trabalhadores encontrados.
67
GESTAS, Aymar Marie Jacques. Conde de. A memória sobre o estado atual da indústria na cidade do
Rio de Janeiro e lugares circunvizinhos. O auxiliador da indústria Nacional. Rio de Janeiro, socie-
dade auxiliadora da indústria nacional, Rio de Janeiro, nº 3, 1837. p. 82.
164
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
De qualquer forma, na manufatura todos os equipamentos eram movidos por uma roda
d’agua, esta muito grande, de 9 metros de diâmetro, com a potência de 60 cavalos, mai-
or do que a maior parte das máquinas a vapor usadas em indústrias ou navios do perío-
do.68
Dados concretos sobre maquinas a vapor são mais escassos, mas existem: em
1820 já funcionava uma serraria a vapor no Rio, mas não encontramos dados sobre
ela.69 Mais tarde, a manufatura de chapéus de José Carvalho de Pinto e a de sabão e
velas de José Maria de Sá, ambas já existentes na década de 1840, tinham máquinas a
vapor.70
68
RIO DE JANEIRO – Governo Provincial. Relatório do Presidente de Província do Rio de Janeiro o
senador Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho na abertura da 1ª sessão da 7ª legislatura da As-
sembleia Provincial, no dia 1º de abril de 1848. Rio de Janeiro: Diário de N. L. Vianna, 1848. p. 45.
69
MATOS, Raimundo José da Cunha. Memória estatística, econômica e administrativa sobre o arsenal
do exército, fábricas e fundições da cidade do Rio de Janeiro. Vila Nova de Famalicão: s.ed. 1939.
p. 14.
70
ANDRADE, op. cit. pp. 132 e 134.
71
OLIVEIRA (2001), op. cit. p. 88.
72
O relatório do ministro da marinha de 1858 informa que o navio tinha 2800 toneladas, o que certamente
está errado. O Tamandatahy tinha 35 tripulantes, um canhão de 6 libras e 16 cavalos de motor. Cus-
tou 20 contos de réis (cerca de 21 milhões de reais de hoje) e calava 1,22 m a ré e 1,04 m avante.
BRASIL – Ministério da Marinha. Relatório apresentado a assembleia geral legislativa na Segunda
Sessão da Décima Legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da marinha, José
Antônio Saraiva. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1858. p. 6. A atualização monetária foi feita
usando o índice do custo econômico. Cf. Measuring Worth: op. cit. (acesso em outubro de 2016).
73
BRASIL – Ministério da Marinha (1858), op. cit. p. 6.
165
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
74
INSTITUTO artístico de Fleuiss irmãos & Linde. Recordações da Exposição nacional de 1861. Rio de
Janeiro: Laemmert, 1862. Sem numeração de páginas.
166
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
75
Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 16 de março de 1864.
167
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
preparo do produto completo. Além disso, é visível o uso de um trabalhador, que supo-
mos que fosse um escravo, por ser negro, estar descalço e sem camisa. Este desenvolve
uma atividade não especializada, a de foguista, alimentado de carvão a caldeira. No cen-
tro, encostado a uma coluna, uma pessoa que cremos ser um feitor, por estar usando
uma casaca e chapéu, enquanto os trabalhadores (são ilustrados quinze deles) estão em
mangas de camisa ou sem camisa, mas não são ilustrados como negros. Finalmente, na
esquerda aparecem algumas pessoas usando casacas e cartolas, que talvez sejam fregue-
ses ou pessoal da administração da companhia. Um microcosmo de uma manufatura
“moderna”, com técnicas mais atualizadas do que o Arsenal de Guerra tinha no período,
conforme discutiremos em outro capítulo.
Essa questão não era um problema teórico, a experiência prévia com situações
semelhantes era marcante e recente: na Guerra da Cisplatina, as Províncias Unidas do
Rio da Prata, apesar de estarem muito inferiorizadas em termos navais, mantiveram uma
grande campanha de corso e mais de trezentos navios de comércio brasileiros foram
apresados pelos argentinos e uruguaios. 76 Entre 1844 e 1850, a ação antiescravidão in-
glesa capturou dezenas de navios negreiros, vários deles em águas nacionais, às vezes
sob o fogo de canhões de fortes, incapazes de impedir a ação britânica.77 Entre 1838 e
1845 uma esquadra francesa tinha mantido Buenos Aires sob bloqueio, o que se repetiu
entre 1845 e 1850, agora com uma força naval anglo-francesa. Foram ações observadas
de perto pelo Brasil, por causa de seus interesses no Uruguai. A solução para evitar os
76
RODRIGUEZ, Horacio & ARGUINDEGUY, Pablo E. El Corso Rioplantense. Buenos Aires: Instituto
Browniano, 1996. Anexo II.
77
MACKENZIE-GRIEVE, Averil. The Last of the Brazilian Slavers, 1851. In: Mariner’s Mirror, 31,
1945, p. 4.
168
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
piores problemas de um eventual bloqueio seria prover o país de uma infraestrutura mí-
nima de produção, em caso de necessidade.
78
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da guerra apresentado à As-
sembleia Geral Legislativa em 14 de maio de 1845 pelo respectivo ministro e secretário de estado
Jerônimo Francisco Coelho. Rio de Janeiro: Tipografia de Barros, 1845. p. 8.
79
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado a Assembleia Geral Legislativa na quarta
Sessão da nona legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da guerra, Marquês de
Caxias. Rio de Janeiro: Tipografia de Laemmert, 1856. p. 32.
80
BRASIL – Decreto nº 491, de 28 de Setembro de 1847 – Autoriza ao Governo a emprestar a Joaquim
Diogo Hartley a quantia de cem contos de réis para auxiliar a sua fabrica de tecidos de algodão,
debaixo de certas condições.
169
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
daraí (RJ), não se firmou e viria a falir muito pouco tempo depois – em 1855 o governo
já buscava meios de ressarcir os valores do contrato de empréstimo. 81
Aqui vale ressaltar que uma das razões apontadas para a falência do estabeleci-
mento de Hartley na historiografia mais moderna foi a competição com a produção es-
trangeira e a falta de mercados para seus produtos.82 Entretanto, no caso cremos ser im-
portante notar que essa falta de mercados deve ser relativizada. Já em 1849 encontramos
documentação do ministro da guerra, perguntando se os produtos da manufatura podiam
ser utilizados na fabricação de fardamentos.83 Isto seguiria os termos do alvará de 28 de
abril de 1809, que poderia já estar “esquecido”, mas não foi o caso. A decisão dos arte-
sãos do Arsenal de Guerra foi favorável ao uso dos tecidos e a partir daí foi dada uma
ordem do Ministro, determinando que só fossem importados tecidos da Europa se as
manufaturas nacionais não os pudessem fornecer.84 A medida, mesmo na época, era
vista como protecionista, um autor escrevendo:
Sabem todos que por diversas vezes se tem tentado nesta Corte, e em
várias Províncias a criação de semelhantes Fábricas, e que não só os
grandes embaraços que a natureza da empresa opõe, como os opostos
pelos importadores de algodão manufaturado, fizeram perecer essas
empresas muito breve, arrastando o aniquilamento daqueles que ai
empregaram seus cabedais.
Ao estabelecimento do Sr. Hartley não caberá melhor sorte, se o go-
verno Imperial o não proteger. Embora o estabelecimento esteja sofri-
velmente montado, embora o empresário não se poupe à sacrifícios
para vencer todas as dificuldades; o que pode tudo isto se os importa-
dores de algodão empreenderem destruí-lo? Só uma proteção obstina-
da do governo o pode fortificar. E o Ex. Sr. Manoel Felizardo [Minis-
tro da Guerra] tanto compreendeu esta necessidade, que põe em ação
todos os recursos para animar a dita fábrica dando grande extração aos
seus produtos.
Para o obter S. Ex. ordenou que no Hospital Militar, Arsenal de Guer-
ra e corpos desta Guarnição, sempre que fosse possível se empregasse
o algodão da Fábrica Brasileira; e se são exatas as notícias que temos,
S. Ex. tem em vista dar maior latitude à sua ordem.85
81
Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 23 de agosto de 1855.
82
LAHMEYER LOBO, Eulália Maria. História do Rio de Janeiro (do capital comercial ao capital indus-
trial e financeiro). Rio de Janeiro, IBMEC, 1978. p. 117.
83
BRASIL – Ministério da Guerra. Expediente de 24 de novembro de 1849. Diário do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 1849.
84
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro Manoel Felizardo de Sousa e Melo ao diretor do
Arsenal de Guerra da Corte, José Maria da Silva Bitancourt. 14 de maio de 1850. Mss. ANRJ. IG7
404.
85
PROTEÇÃO à indústria manufatureira. O Liberal, Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 1850.
170
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
O Ministro da Guerra chegou até a autorizar que treze dos menores que faziam
aprendizado no Arsenal de Guerra fossem entregues a Hartley, para receberem ensino
sobre o ofício e para servirem de apoio à iniciativa. 86
Em nossa opinião, mais interessante do que poderia parecer apenas boas inten-
ções, há registros de diversas compras efetivas de tecidos na manufatura Pedro de Al-
cântara, publicados no Diário do Rio de Janeiro: em 26 de fevereiro de 1850 foi pago a
Hartley o valor de 765$750 referente a algodão vendido ao Arsenal, 87 quantia que foi
seguida por outras: em 2 de maio, 1:004$350 rs; 1:294$4000 rs em 13 de maio e assim
por diante. Além disso, o tecido da Fábrica foi usado em outros Arsenais, havendo men-
ções do envio, pelo Arsenal de Guerra da Corte, de 444 varas (488 metros) para o Ma-
ranhão e 8.140 varas (8.954 metros) de algodão para o Arsenal de Pernambuco, esta
última remessa no valor de 2:035$000 rs.
“O Fabricante que até o presente não tinha dado o menor sinal de ar-
rependimento hoje parece esmorecido, apontando entre outras causas,
o alto preço do algodão, o empate do que existe fabricado, que sendo a
princípio mui procurado, não acha hoje compradores, o que lhe é tal-
vez devido à baixa do preço do algodão estrangeiro, e finalmente a es-
cassez do auxílio solicitado, pois tendo pedido 250.000$ não passou a
86
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Diretor do Arsenal de Guerra, Jeronimo Francisco Coelho, ao
Ministro da Guerra, Pedro d’Alcantara Bellegarde sobre o retorno de treze menores ao Arsenal.
Rio de Janeiro, 23 de outubro de 1854. Mss. ANRJ. IG7 14.
87
BRASIL – Ministério da Guerra. Expediente de 19 de fevereiro de 1850. Diário do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 26 de fevereiro de 1850.
88
A cotação padrão da vara (unidade de medida equivalente a 1,1 metros) de algodão da fábrica de Har-
tley era de 250 réis, de forma que os valores acima correspondem a 110.000 metros de tecido. Diário
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1850.
171
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
89
BRASIL – Ministério do Império. Relatório da Repartição dos negócios do Império apresentado à
Assembleia Geral Legislativa na primeira sessão da oitava legislatura pelo respectivo ministro e se-
cretário de estado, Visconde de Monte Alegre. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1850. p. 33. O
grifo é nosso.
90
BRASIL – Comissão de Melhoramentos do Material do Exército. Parecer sobre a compra da Máquina
da Fábrica de Panos de Algodão de Hartley. Rio de Janeiro, 28 de junho de 1852. Mss. ANRJ. IG7
13.
91
BRASIL – DECRETO nº 547 de 8 de Janeiro de 1848. Aprova a Tabela dos preços de diversos artigos
de armamento, equipamento, arreios, fardamentos e mais objetos para o Exercito e Fortalezas.
92
BRASIL – Ministério da Guerra. Expedientes. Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, edições de 10
de fevereiro, 14 de agosto e 16 de setembro de 1856.
172
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
De qualquer forma, em 1850 foi concedido um privilégio por dez anos para João
Marcos Vieira de Sousa Pereira, o proprietário da Imperial manufatura de calçado cari-
oclave à prova d'agua.95 Este tipo de calçado, carioclave, ou coiroclave, na França, era
considerado apropriado aos militares e era usado desde 1816 – nele, a sola não era presa
ao resto do calçado por fios encerados, como era comum então, mas sim por cravos,
fixados no interior do sapato por peças metálicas. Os cravos faziam que a sola se gastas-
se no mesmo ritmo do tacão (salto) e o sapato durasse mais, 96 de forma que os exércitos
inglês e alemão usaram uma bota que seguia os mesmos princípios até pelo menos a
Segunda Guerra, pois era apropriada para o uso em campanhas.
93
DECLARAÇÕES. Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 9 de fevereiro de 1844.
94
ALMANAK, op. cit. p. 628 e pp. 674 e segs.
95
BRASIL – Decreto nº 677, de 6 de Julho de 1850. Concede a João Marcos Vieira de Sousa Pereira
privilegio exclusivo por dez anos para estabelecer nesta Corte uma manufatura de calçado cario-
clave com o titulo de – Imperial Manufatura de calçado carioclave á prova d'agua.
96
LA CHAUSSURE corioclave. https://goo.gl/JupoHn. (Acesso em julho de 2016).
97
RIO DE JANEIRO – Governo Provincial. Expediente de 8 de outubro de 1850. Diário do Rio de Janei-
ro, Rio de Janeiro, 2 de novembro de 1850.
98
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro Manoel Felizardo de Sousa e Melo ao diretor do
Arsenal, José Maria da Silva Bitancourt, encaminhando o contrato estabelecido com a Imperial
Manufatura. Rio de Janeiro, 5 de junho de 1851. Mss. ANRJ. IG7 404.
173
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
para a venda de quatro mil pares por mês, em 1852 – curiosamente, estes custando 100
réis a mais do que da manufatura nacional.99 Ainda assim, a Imperial Manufatura tam-
bém procurou obter um contrato com a Marinha. Apesar do contrato com o Exército, só
encontramos na documentação do Arsenal uma referência ao recebimento de sapatos da
Imperial manufatura – apenas seiscentos pares, em abril de 1853, o fabricante se des-
culpando pela demora na entrega, usando como justificativa a falta de mão de obra em
Petrópolis. 100
99
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício da diretoria do Arsenal, Marechal de Exército José Maria da
Silva Betencourt, ao Ministro da Guerra sobre a compra de sapatos a José Maria Palhares. Rio de
Janeiro, 9 de julho de 1851. Mss. ANRJ. IG7 13
100
CARTA de João Marcos Vieira de Souza Pereira ao oficial maior da Secretaria de Estado dos Negó-
cios da Guerra, Libanio Augusto da Cunha Mattos. Petrópolis, 29 de abril de 1852. Mss. ANRJ. IG7
13.
101
BRASIL – Comissão de Melhoramentos do Material do Exército. Parecer sobre os sapatos Coirocla-
ve. Rio de Janeiro, 28 de junho de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
102
Existe uma grande quantidade de obras tratando dos empreendimentos de Mauá, especialmente a Pon-
ta da Areia, a começar pela própria defesa do Barão: SOUZA, Irineu Evangelista de. Exposição do
Visconde de Mauá aos credores de Mauá & C. e ao público. Rio de Janeiro: J. Villeneuve, 1878.
Além dessa, podemos citar BESOUCHET, Lídia. Mauá e seu tempo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1978; CALDEIRA, Jorge. Mauá Empresário do Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. A
obra que mais utilizamos no presente trabalho foi a: MOMESSO, Beatriz Piva. Indústria e trabalho
no século XIX: o estabelecimento de Fundição de Máquinas de Ponta d’Areia. Dissertação de mes-
trado. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2007. (mimeo).
174
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
ção com o mesmo nome, estabelecida pelo inglês Carlos [Charles] Colmann, em mea-
dos de 1844. O barão de Mauá, em sua Exposição, onde apresentava suas explicações
para o insucesso de suas empresas, chamava a empresa que fora comprada de uma mi-
niatura, do que seria o futuro estabelecimento. Mas a empresa de Colmann não era uma
manufatura pequena – em 1845 ela lançou ao mar uma barca a vapor, a Fluminense,
para a Sociedade Macaé-Campista, segundo a empresa, a maior embarcação feita no
Brasil até então,103 o estaleiro também sendo capaz de fundir ferro, uma tecnologia
complicada para o período. Ou seja, já havia uma importante base a partir da qual Mauá
poderia expandir seu empreendimento.
De qualquer forma, dois anos depois de Colmann estabelecer sua empresa, Mauá
comprou a fundição pois, segundo ele, “o Brasil precisava de alguma indústria dessas
que podem medrar sem grandes auxílios”. 104 No entanto, o próprio autor se contradiz ao
tratar dos “auxílios”, colocando a necessidade que havia de apoio governamental para o
empreendimento:
103
Diário do Rio de Janeiro, 3 de junho de 1845.
104
SOUZA, op. cit. p. 8. Grifos do autor.
105
id. p. 13. Grifos do autor.
175
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
Quadro de trabalhadores
800
700
600
500
400 441 505
300 343
281
265 273
200
122
100 148 181 162
85 130 101
73
0
Escravos Livres
106
MOMESSO, op. cit. p. 55.
107
id. pp. 124 e 125.
108
id. p. 123.
176
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
Um último ponto a comentar sobre a divisão dos operários da Ponta da Areia era
a escala das oficinas: em 1851 eram dez: de fundição de ferro, de bronze, mecânica,
ferraria, caldeireiro de ferro, serralheiros, construção naval, modeladores, aparelho e
109
Não conseguimos descobrir qual seria essa especialidade. Pelo número de empregados, cremos que
seria algo como o carpinteiro de machado nos arsenais do exército e de marinha.
110
MOMESSO, op. cit. p. 124.
111
id. pp. 124 e 125.
177
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
velame e de galvanoplastia,112 esta última uma novidade técnica na época. Quatro anos
depois, havia seis delas funcionando, as de maquinistas, malhadores, 113 caldeireiros,
carpinteiros, modeladores, e calafates. As duas últimas eram muito especializadas e de
emprego restrito, com um pequeno quadro técnico, por outro lado, as quatro outras ti-
nham, respectivamente, 70, 85, 67 e 117 trabalhadores,114 mais um mestre em cada ofi-
cina, uma média de 84 operários, o que mostra a grande escala da empresa, já que cada
oficina, isoladamente, era maior do que a maior parte dos empreendimentos do Rio,
como visto antes (ver Tabela 7, acima).
A empresa também tinha uma alta capacidade técnica, em 1848 podendo fundir
peças de artilharia até de calibre 36 libras – um objeto pesando perto de 3,5 toneladas.
Isso nos dá um indicativo da capacidade da sua fundição, já que uma boca de fogo tem
que ser feita de uma vez só, de forma que os fornos tinham que ser capazes de derreter
essa quantidade de ferro, pelo menos. A empresa também podia fabricar motores a va-
por pesando até 500 arrobas (7.300 kg) e, naquele ano, se estava construindo um “savei-
ro de ferro”, com lotação de 6.000 arrobas, 88 toneladas (Figura 13). 115 Ao longo da
história da instituição, ela fabricaria 72 navios completos, alguns de grande porte, inclu-
sive o segundo vapor com casco de ferro construído no País, o Corumbá, lançado ao
mar em 1860.
112
RIO DE JANEIRO – Governo Provincial. Relatório apresentado ao Exmo. vice-presidente da província
do Rio de Janeiro, o comendador João Pereira Darrique Faro, pelo presidente, o conselheiro Luiz
Pedreira do Couto Ferraz, por ocasião de passar-lhe a administração da mesma província no dia 5
de maio de 1851. Rio de Janeiro: Diário do Rio de Janeiro, 1851. p. 28.
113
A categoria malhador, na Ponta da Areia tem um sentido diferente do que era usual no Arsenal de
Guerra. Na empresa de Niterói, o termo aparentemente é usado como sinônimo de oficina de ferrei-
ros, seu mestre sendo um inglês, tendo também 84 operários qualificados. No Arsenal de Guerra, o
malhador era um servente, trabalhador braçal dos ofícios de ferro, apesar de as vezes ser contato en-
tre o corpo de artesãos.
114
MOMESSO, op. cit. p. 125.
115
RIO DE JANERIO, Relatório (1848), op. cit. p. 45.
178
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
116
BERTICHEM, Pieter Gotfried. Fábrica Ponta de Areia. BARÃO de Mauá, o empreendedor.
https://goo.gl/PZw7Yk (acesso em outubro de 2016).
117
Segundo BOITEAUX, seriam: Iguassu, Recife, Dom Pedro II, Paraense, Dom Pedro, Apa, Paraná,
Jaguarão e Corumbá, BOITEAUX, Lucas Alexandre. Das nossas naus de ontem aos submarinos de
hoje. Subsídios para a história marítima do Brasil. Diversos volumes. Rio de Janeiro, desde 1956.
118
Esse valor, pago em 1851, corresponde a aproximadamente a 540 milhões de reais de hoje. Cálculo de
inflação feito usando o índice de “custo econômico”, de acordo com o sítio Measuring Worth.
https://goo.gl/rtcTbc (acesso em outubro de 2016).
119
MOMESSO, op. cit. p. 77.
179
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
O exército também fez algumas compras na fundição: em 1851 tinha sido adota-
do um novo tipo de peça de artilharia, o canhão-obus João Paulo,121 e as peças necessá-
rias foram encomendadas na Ponta da Areia, cada uma custando 1:600$000 (peças de
24 libras) e 1:400$000 réis (peças de 12 libras, as mais comuns). 122 Só que eram muito
poucas armas – se destinavam a equipar a única unidade de artilharia de campanha do
Exército, que necessitava de apenas 24 peças. Uma bateria, seis canhões, também foi
fabricada, para ser presenteada ao governo do Paraguai em 1851 e outra foi enviada
para Mato Grosso em 1857, na crise com o Paraguai daquele ano.
O Arsenal fez outras encomendas junto a Mauá, como peças para foguetes de
Halle, máquinas para suas oficinas, como quatro prensas para fabricação de cartuchos,
instaladas no Laboratório Pirotécnico do Campinho e muita munição123 – desde a déca-
da de 1830 não encontramos menções ao fornecimento de projéteis pela fábrica de Ferro
120
BOITEAUX, op. cit. Vol. XXIV. Rio de Janeiro, 1971. p. 76.
121
A história desse tipo de canhão é desconhecida no País, apesar de ser o primeiro armamento desenhado
e fabricado inteiramente no Brasil. Pela documentação dispersa do Arsenal de Guerra, disponível no
Arquivo Nacional (série IG7 ) sabe-se que foi o material padrão da Artilharia de Campanha brasilei-
ra entre 1852 e 1861, ano em que começaram a ser substituídas por peças francesas, La Hitte. Algu-
mas ainda fizeram a campanha do Paraguai, sendo recolhidas aos depósitos apenas em 1868.
122
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro Manoel Felizardo de Sousa e Melo ao diretor do
Arsenal, José Maria da Silva Bitancourt, sobre diversas compras na Ponta da Areia. Rio de Janeiro,
17 de abril de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
123
Entre muitas encomendas de munição, podemos citar: BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Mi-
nistro da Guerra Manoel F. de Sousa e Mello ao Diretor do Arsenal de Guerra, Alexandre Manoel
Albino de Carvalho, autorizando a mandar fundir no Estabelecimento da Ponta d’Areia vinte mil
balas de ferro para pirâmides de calibre 30 e de 24. Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1859. Mss.
ANRJ. IG7 406.
180
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
de Ipanema, que deveria fornecer este insumo para o exército – e outros equipamentos,
inclusive armas: 2.000 lanças para cavalaria, em 1860 (ver Figura 14). 124
124
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro, Rego Barros, ao diretor do Arsenal de Guerra,
Coronel Alexandre Manoel Albino de Carvalho, sobre diversas encomendas feitas na Fundição da
Ponta da Areia. Rio de Janeiro, 19 de junho de 1860. Mss. ANRJ. IG7 368.
125
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro da Guerra, Marques de Caxias, ao Diretor do
Arsenal de Guerra da Corte, autorizando a fundição de José Francisco Barriga. Rio de Janeiro, 26
de fevereiro de 1856. Mss. ANRJ. IG7 522.
126
HOGG, Ian V. A History of artillery. London, Hamlyn, 1974. p. 11
127
MUSEU Histórico Nacional, peça número de inventário SIGA 15.884. Para efeito de comparação co m
um canhão fundido no Arsenal de Guerra, ver a peça nº SIGA 15.883, fabricada em 1867. Deve-se
dizer que em 1856 o Arsenal de Guerra ainda era incapaz de fabricar canhões.
181
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
uma medida que afetou até os estabelecimentos do governo, pois até então era possível
que um importador que vendesse para o Arsenal de Guerra conseguisse “isenção de
direitos”, o que ficou expressamente proibido pelo decreto, implicando em um aumento
dos preços do material adquirido pelas forças armadas.128
O golpe mais importante nas manufaturas privadas como um todo foi a tarifa
Silva Ferraz (decreto nº 2.684, de 3 de fevereiro de 1860), que diminuiu as taxas de im-
portação de diversos produtos acabados. Além disso, houve uma mudança na política do
governo, que deixou de dar o apoio a manufaturas locais que era visível na documenta-
ção anterior. Mauá reclamou disso, ao falar dos investimentos feitos em suas oficinas:
De qualquer maneira a Tarifa Silva Ferraz, bem como medidas liberando a na-
vegação de cabotagem a navios estrangeiros (lei 177, de 9 de setembro de 1863), certa-
mente representaram sérios problemas para as manufaturas nacionais – era mais fácil
contratar um navio estrangeiro do que mandar fazer um em um estaleiro local, como o
de Mauá ou Miers & Maylor. Como colocou Ferreira Lima, a nova postura representada
pela lei de 1860 “prejudicou enormemente a Ponta da Areia, levando-a a uma decadên-
128
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra, Marechal João Carlos Pardal,
ao Ministro da Guerra, Manoel Felizardo de Souza, sobre a compra de quatro mil capotes salvos
dos direitos da alfândega. Rio de Janeiro, 20 de março de 1848. Mss. ANRJ. IG7 10.
129
SOUZA, op. cit. p. 10. Grifo do autor.
130
BRASIL – Ministério da Guerra. Portaria do Marques de Caxias, ministro da guerra ao diretor do
Arsenal. Autorizando mandar fundir na fábrica da ponta da areia as balas para as peças raiadas.
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1861. Mss. ANRJ. IG7 526.
131
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da Guerra, Polidoro da Fonseca Quintanilha
Jordão, ao coronel diretor do Arsenal de Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea, remetendo
bocas de fogo inutilizadas para o Arsenal de Marinha para fundição de trinta e seis canhões de ca-
libre quatro do sistema La Hitte. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 515.
182
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
cia que lhe foi fatal”,132 a Fundição fechando em 1868, o encerramento de suas ativida-
des podendo ser considerado como representativo do fim do primeiro surto manufaturei-
ro civil do País.
Sendo assim, a fundição de Mauá – que foi o que consideramos ter se aproximou
mais do conceito de indústria piloto de Braudel, no Brasil, não conseguiu se firmar –
apesar dela ter apoiado a ação de outras empresas, fornecendo materiais. Não conseguiu
vencer a “rigidez e inércias” nas economias pré-industriais, como colocava Braudel.
4.7 Siderúrgicas
Fazemos essa entrada por causa da Fábrica de Ferro de São João de Ipanema,
pois esta foi parte da estrutura manufatureira do Ministério da Guerra, que vai ser abor-
dada no capitulo 6.
Sempre houve uma pequena produção de ferro no País no período colonial, arte-
sanal, usando forjas catalãs, o metal sendo usado, inclusive, na produção artesanal de
armas.133 O barão Eschwege, autor do Pluto Brasiliensis, escreveu:
Como colocado por Eschwege, a quantidade total de metal feito nessas forjas
não era muito grande: a proposta de criação da fábrica de ferro de Araçoiaba, em 1682
em São Paulo, previa a operação de cinco forjas, com a capacidade de produção de tre-
132
LIMA, Heitor Ferreira. História político-econômica e industrial do Brasil. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1973. p. 264.
133
CALDEIRA, Jorge. História do Brasil com Empreendedores. São Paulo: Mameluco, 2009. p. 137.
134
ESCHWEGE, W. L. von. Pluto Brasiliensis. Vol. II. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. p.
341.
135
id. pp. 341-342.
183
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
zentos quilos de ferro por dia no total e 72 toneladas por ano.136 A quantidade pode pa-
recer expressiva, mas deve-se ter em mente que havia muitas perdas, pois o material
tinha que ser processado para a obtenção de metais da qualidade e quantidade necessária
para os serviços de uma indústria.
O consumo, por sua vez, era elevado: o único documento que encontramos sobre
pedidos de ferro para o Arsenal é de 1798, quando se pedia a importação de cerca de 76
toneladas de ferro em barra para as suas oficinas, tonelagem que se fosse realmente ad-
quirida equivaleria a 34,5% de todas as importações de ferro que efetivamente passaram
pela Alfândega do Rio de Janeiro naquele ano.137
Assim, a quantidade de forjas que existia no País – por comuns que fossem – só
tinha uma capacidade muito limitada, mesmo para atender ao próprio consumo local das
fazendas, sendo incapaz de fornecer material para as necessidades de oficinas, ainda que
136
TAUNAY, Affonso de E. História geral das bandeiras paulistas. Tomo X. São Paulo: Imprensa Ofi-
cial do Estado, 1949. p. 218.
137
Sobre requisição de ferro ver SANTOS, Manoel Francisco dos. Relação do que se precisa para forne-
cimento do real trem do Rio de Janeiro (...). Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 1798. Mss. Biblioteca
Nacional, I-31,21,40 Para ver as importações de ferro que passaram pela alfândega consultar AR-
RUDA, José Jobson de. O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo, Ática, 1980. p. 562.
138
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício Nº. 34, do diretor do Arsenal de Guerra, Antônio João Rangel de
Vasconcelos ao Ministro da Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro, 30 de abril
de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
139
id.
140
ESCHWEGE, op. cit. p. 440.
184
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
141
CARTA de Luiz Diogo Lobo da Silva, governador da Capitania de Minas Gerais a Luís António de
Sousa Botelho Mourão, governador da Capitania de São Paulo, Vila Rica, 21 de setembro de 1766.
DOCUMENTOS interessantes. Vol. XIV. São Paulo: Industrial de São Paulo, 1895. p. 182.
142
id. p. 182.
143
LIBBY, Douglas Cole. Transformação e trabalho em uma economia escravista: Minas no século XIX.
São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 136.
144
id. p. 138.
145
ESCHWEGE, op. cit. p. 442.
185
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
fundições, mas a produção certamente ainda era reduzida: o autor encontrou dados par-
ciais, que mostram que trabalhavam nessas instalações 242 escravos e 72 jornaleiros,
sendo que 55 escravos estavam concentrados em uma instalação, a Patriótica.146 No
caso, a média de trabalhadores era oito cativos e dois livres por unidade, obviamente
sendo pequenas oficinas artesanais, o que, com umas poucas exceções, parece caracteri-
zar a situação da produção metalúrgica de Minas Gerais na primeira metade do século
XIX. Estas empresas sobreviveram e até se desenvolveram por causa do isolamento
geográfico, como apontado em um relatório do ministério da Guerra:
146
LIBBY, op. cit. p. 164.
147
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório do ministério da Guerra apresentado à Assembleia Geral
Legislativa na terceira sessão da décima legislatura pelo ministro Manoel Felizardo de Souza e
Mello. Rio de Janeiro: Laemmert, 1859. p. 15.
186
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
obra escrava, assumia um aspecto mais arcaico. Como Braudel coloca, era uma instala-
ção em que convivia a rigidez, inércias de uma sociedade pré-industrial, com os “mo-
vimentos limitados e minoritários, mas vivos e poderosos, de um crescimento moder-
no”.148
148
BRAUDEL (1979), op. cit. p. 258.
149
id. p. 6.
150
BRASIL – Exército em Operações. Relação dos objetos precisos ao Exército na Província de São
Pedro do Rio Grande do Sul, Antônio Elizário de Miranda e Brito. Quartel General em Porto Alegre,
18 de dezembro de 1838. Mss. ANRJ. IG7 323.
187
Capítulo 4 - Pré-indústria e o primeiro surto manufatureiro no Brasil
pra de seis mil capotes em janeiro daquele ano.151 Todos os que se apresentaram para a
venda foram importadores, pois não havia nenhuma empresa no Rio que pudesse fazer o
fornecimento com peças fabricadas localmente, apesar do valor ser bem elevado. Pela
menor proposta, de 6$800 réis por capote, “livre de direitos”, isso é, sem pagar os im-
postos de importação, se atingia um total, nada desprezível, de 40:800$000 réis. No
entanto, o produto importado era bem mais barato do que o feito por alfaiates privados
no Brasil (14$000 réis por unidade) ou mesmo no Arsenal de Guerra (10$730 réis por
peça).
O importante é que simplesmente não havia uma empresa nacional que pudesse
atender com produtos locais as necessidades do exército naquela situação e mesmo o
Arsenal teria imensa dificuldade em fazer o fornecimento, tanto é que se preferiu a im-
portação. Nessas circunstâncias, fica evidente que a implantação de uma manufatura
nacional seria muito difícil, ainda mais considerando a competição com os preços pagos
em Londres, muito inferiores aos locais. 152
151
Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 21 de janeiro de 1851.
152
O Brasil e o Sr. Ministro da Guerra. O LIBERAL: periódico político e literário. Rio de Janeiro, 5 de
março de 1851.
153
BRAUDEL (1979), op. cit. p. 263.
188
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Sumário
191
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Para se aproveitar do maior poder de fogo que os navios europeus permitiam, era
necessário equipar os galeões com o maior número de canhões possível, e Portugal es-
teve adiantado nas técnicas de produção de bocas de fogo de bronze no século XVI e na
primeira metade do XVII, 3 chegando a montar fundições de Canhões na Ásia4 e até no
1
ALDER, Ken. Engineering the Revolution: Arms & Enlightenment in France, 1763-1815. Chicago: The
University of Chicago, 2007. p. 173.
2
Para uma discussão sobre a Revolução Militar na Ásia Portuguesa, ver: CASTRO, Adler Homero Fon-
seca de. Guerra e sociedade no Brasil Colonial: a influência da guerra na organização social 1500-
1665. Niterói: Dissertação de mestrado, UFF, 1995. (mimeo).
3
Para uma discussão disso ver: GUILMARTIN, John Francis. Gunpowder & Galleys: Changing Tech-
nology & Mediterranean warfare at sea in the 16th century. London: Conway, 2003. pp. 272 e segs.
4
Viterbo menciona a existência da fundição no Estado da Índia como já existindo há algum tempo em
1589. VITERBO, Sousa. Fundidores de artilharia. Lisboa: tipografia universal, 1901. p. 35.
192
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Brasil, 5 apesar de não se conhecerem maiores dados sobre essa última instalação – há,
contudo, vários exemplares de canhões feitos na Ásia Portuguesa, inclusive em museus
britânicos, como o fort Nelson, onde está um grande canhão de 48 libras, feito por Pedro
Dias Bocarro em 1640, na cidade de Chaul.6 Da mesma forma, há em museus várias
peças feitas na fundição de Lisboa no século XVII, sendo visível a grande qualidade
técnica deles, como no caso das recuperadas no naufrágio do galeão Santíssimo Sacra-
mento, que afundou em 1668.7
5
MORENO, Diogo de Campos [suposto autor]. Livro que dá razão ao Estado do Brasil. Rio de Janeiro,
Instituto Nacional do Livro, 1969. Edição fac-similar de manuscrito de 1612, sem numeração de pá-
ginas.
6
ROTH, Rudi. Portuguese bronze Leão, drawing nº 365. Journal of the Ordnance Society, volume 7,
1995. Capa.
7
Sobre o tema, ver: GUILMARTIN, John Francis. Os canhões do Santíssimo Sacramento. Navigator, Rio
de Janeiro, Serviço de Documentação Geral da Marinha, n. 17, dez. 1981.
8
O Museu Histórico Nacional, por exemplo, tem três peças de 1714, fundidas por Giacomo Rocca, arte-
são de Gênova. Peças do Sistema Informatizado de Gerenciamento de Acervos – SIGA 015890,
015893 e 015900.
9
MONGE, Gaspard. Description de l'art de fabriquer des canons : faite en exécution de l'arrêté du Co-
mité de salut public, du 18 pluviôse de l'an II de la République française, une et indivisible. Paris:
Comité de Salut Public, [1792]. p. 42
10
CARUANA, Adrian B. The identification of British Muzzle Loading Artillery : Part 2, the piece. The
Canadian Journal of Arms Collecting. vol. 22, n° 1 (Feb. 1984). pp. 15 e 16.
193
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
do peso não era tão crítica. Como esses usos eram os que necessitavam do maior núme-
ro de bocas de fogo, a produção de peças de ferro era maior.
11
Refutando essa afirmação, que aparece em alguns autores, o autor do livro “A espingarda perfeita”, do
início do século XVIII, escreveu que “o nosso [ferro] tem excelentes provas na fundição de artilha-
ria”. FIOSCONI, Antônio & GUSERIO, Jordam. Espingarda Perfeyta. Lisboa: Antônio Pedrozo
Galram, 1718. p. 26.
12
CIPOLLA, Carlo M. Guns Sails and Empires: Technological innovation and the early phases of Euro-
pean Expansion, 1400-1700. Manhattan, Sunflower University Press, 1988. p. 56
13
BRASIL – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Inventário Nacional de Artilharia.
Pará e Amapá. Belém: IPHAN, 2000. (mimeo).
14
BRASIL – Museu Histórico Nacional. Inventário Geral. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional,
1990. (mimeo). Dossiê da peça SIGA 015897.
15
Chegou a haver duas obras tratando especificamente da fabricação de armas em Portugal: STOOTER,
João. Spingardeiro com conta, pezo, & medida. Anvers: Henrio & Cornelio Verdussen, 1719. Tam-
bém havia o já citado Espingarda Perfeyta.
194
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
16
No sentido de que determinados avanços técnicos, introduzidos visando aperfeiçoar o funcionamento
de uma arma, mas que não eram essenciais, às vezes não eram introduzidos nas armas militares. Um
exemplo disso é o rolamento colocado nas molas da bateria (ver Figura 28). Esses rolamentos eram
usadas em algumas armas militares, resultando em um funcionamento mais suave. Entretanto, o
normal era ser omitido, por não ser indispensável, pois era dispendioso. REID, Stuart. The Flintlock
Musket: Brown Bess and Charleville 1715-1865. New York: Osprey, 2106. p. 11.
17
OBRIGAÇÃO e contrato de Antônio Cacella, morador de Alcobaça, mestre das oficinas das armas de
S. Maj. que há nesta vila. Lisboa, Alcobaça, 19 de dezembro de 1644. In: VITERBO, Sousa, A ar-
maria em Portugal. Lisboa: Tipografia da Academia, 1908. p. 49-51.
18
Aqui deve-se fazer uma ressalva: o leitor deve ter cautela ao ler a palavra “oficial” no presente texto.
Esta pode se referir a um militar detentor de patente ou a um artesão de nível intermediário, a etimo-
logia de ambos os termos sendo a mesma, a de uma pessoa que exerce um ofício.
19
ALDER, op. cit. p. 268.
195
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
20
PORTELA, Miguel Ângelo. A superintendência dos tenentes de Artilharia Francisco Dufour e Pedro
Dufour nas reais ferrarias na foz de Alge e Machuca. Atas do XXI Colóquio de História Militar. Co-
missão Portuguesa de História Militar, Lisboa, 2012. pp. 505-520.
21
PINTO, Renato Fernando Marques. As indústrias militares e as armas de fogo portáteis no exército
português. Revista Militar, Lisboa, n.º 2495, dezembro de 2009. https://goo.gl/rjKvd9 (acesso em
outubro de 2016).
22
REGISTRO da avaliação das armas e munições. Salvador, 12 de setembro de 1722. DOCUMENTOS
HISTÓRICOS. Livro 1º de Regimentos. 1684-1725. Registro de provisões da casa da moeda da Ba-
hia. 1775. Vol. LXXX. Biblioteca Nacional. s.n.t. p. 311.
23
RODRIGUES, Manoel A. Ribeiro. 300 anos de uniformes militares do exército de Portugal: 1660-
1960. Lisboa: Madeira & Madeira, 1998. p. 38.
24
INGLATERRA – War Office. CARTA sobre o envio de armas a Portugal. Nottingham ao Duque de
Marlborough, de 13 de março de 1703. National Archives, Public Record Office, Londres. Mss WO
55-343 fl. 206.
196
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
anos, de 1808 a 1814, Portugal recebeu nada menos do que 160.000 espingardas, 2.300
carabinas raiadas, 3.000 clavinas, 7.000 pistolas e 15.000 sabres da Inglaterra25 – uma
parte dos quais acabaria no Exército no Brasil.
25
PINTO, op. cit.
26
MINAS GERAIS – Governo. Ofício do Governador de Minas, Luís Diogo Lobo da Silva para o Secre-
tário de Estado da Marinha e Domínios Ultramarino, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, so-
bre a necessidade das Tropas Auxiliares e Milícias serem equipadas com armamento do mesmo pa-
drão e igual calibre, assim como haver uma uniformização dos fardamentos. Vila Rica, 24 de agosto
de 1766. Mss. Arquivo Ultramarino. AHU_CU_017, Cx. 28, D. 28.
197
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
1810, 51.000 pares dois anos depois, 15.100 no ano seguinte), camisas (49.000 em
1813), cantis (36.000 em 1812), cartucheiras (3.000 em 1810) e até uniformes comple-
tos (30.000 em 1810).27
Mesmo no Brasil, os dados sobre o passado colonial são esparsos, mas indicam
grandes dificuldades, apesar de haver uma estrutura de produção local já no período
Colonial. Por exemplo, há menção à fabricação de cartucheiras de couro na Bahia em
172228 e em 1775, quando foi necessário enviar tropas para o Rio Grande do Sul se fez
um esforço especial para a produção de sapatos, o governador de São Paulo enviando
ordens para fazer algumas centenas de pares de calçado, empregando para isso todos os
sapateiros de Santos, além dos que estavam sendo contratados na capital.29
27
COELHO, Sérgio Veludo. Os Arsenais Reais de Lisboa e do porto: 1800-1814. Porto: Fronteira do
Caos, 2013. pp. 140 e segs. Deve-se lembrar que a ocupação francesa de Portugal foi muito curta,
por causa da revolta na Espanha. A partir de 1809 já havia um grande exército português operando
com os ingleses.
28
REGISTRO da avaliação, op. cit. p. 311.
29
SÃO PAULO – Governo. Carta do Governador, Martim Lopes Lobo de Saldanha, para o comandante
de Santos, Fernando Leite Guimarães. São Paulo, 23 de outubro de 1775. DOCUMENTOS Interes-
santes, vol. LXXIV. São Paulo, s.ed. 1954. p. 246.
30
Como a proposta da tese era tratar do estudo comparativo com a França, foram coletadas diversas obras
sobre o tema, começando com a Encyclopédie de Diderot e D’Alembert (DIDEROT, M. &
D’ALEMBERT, M. Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers. Pa-
ris: Briasson, 1751. Vol. 1. Verbete Arquebusier, p. 704) e outras que serão citadas no texto.
31
YOUNG, H.A. The East India Company’s Arsenals & Manufactories. Uckfield: The Naval & Military
Press, s.d. Facsimile de um livro publicado em 1937. Este livro é interessante, pois tem um pequeno
capítulo, de oito páginas, sobre a fabricação de correame e arreios.
32
GAMEL, Iosif. Description of the Tula Weapon Factory: in regard to historical and technical aspects.
Washington: Smithsonian Institution, 1988. Esta é uma tradução de um trabalho publicado em 1828.
198
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
O estudo comparativo, contudo, não fica inviabilizado. Há três assuntos que são
tratados na literatura produzida no exterior e que têm relação com a organização do Ar-
senal de Guerra da Corte: a feitura de uniformes, a de canhões e a de armas portáteis,
que serão abordados nas páginas seguintes, para que possamos apreender as condicio-
nantes que afetavam o funcionamento das manufaturas militares, para se estabelecer um
padrão de análise do Arsenal de Guerra da Corte, que será trabalhado nos capítulos sub-
sequentes.
5.1 Uniformes
A uniformidade dos Armamentos, fardamentos, equipamentos, utensí-
lios e sistema de serviço das Tropas, é muito conveniente, tanto á dis-
ciplina do Exercito, como á economia da Fazenda Nacional, e dos
próprios militares. Eles devem ser cômodos, elegantes, e pouco dis-
pendiosos. Em não havendo uniformidade, introduz-se o arbítrio, o
serviço padece, e a Fazenda Nacional fica exposta a desembolsos des-
necessários.34
33
Podemos citar: SMITH, Merritt Roe. Harpers Ferry Armory and the New Technology : the challenge of
change. Ithaca: Cornell University, 1977, THOMAS, Dean S. Confederate Arsenals, Laboratories
and Ordnance Depots. Gettysburg: Thomas Publications, 2014, 3 vols., e FARLEY, James J. Mak-
ing arms in the Machine Age: Philadelphia’s Frankford Arsenal, 1816-1870. University Park:
Pennsylvania State University, 1994.
34
MATOS, Raimundo José da Cunha. Repertório da legislação militar atualmente em vigor no exército e
armada do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Tipografia Imparcial de F. P. Brito, 1842. Vol. III. pp.
245-246.
199
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
De início o problema dos uniformes, apesar de hoje em dia ser considerado co-
mo algo de fundamental importância para os exércitos, pois são artigos que lhes dão sua
identidade, nem sempre foi vista como algo relevante. Nesse sentido, deve-se apontar
que a roupa usada pelos soldados tem duas espécies de função – a primeira, e que hoje
seria considerada como mais importante – é a utilitária, voltada para a proteção do ho-
mem dos efeitos negativos do clima. O outro papel da roupa militar é o diacrítico, o “de
sinalizar distinções internas e externas”35 na vestimenta, ou seja, desta servir como sím-
bolo de status, de identificação e pertencimento a um determinado grupo.
Menos danosa era a chuva, algo que não teve uma solução no período em estu-
do, além do uso de chapéus, por causa da dificuldade de manufatura de tecidos imper-
meáveis. Outro obstáculo que as roupas, supostamente, teriam que superar era a do calor
excessivo. Mas isso, por incrível que pareça ao nosso modo de ver, não era uma preocu-
pação dos militares até o século XX, as fardas simplesmente não eram pensadas nesse
aspecto. A única concessão ao conforto, em termos de proteção contra o sol sendo, no-
vamente, o uso de um chapéu. Mas mesmo este era mais usado por ser uma imposição
cultural da época, onde as pessoas normalmente os vestiam.
Aqui se deve notar que a moda tinha uma influência muito grande no traje dos
militares – até o século XVIII, as roupas usadas por eles tinham um desenho que se
35
ALMEIDA, Adilson José de. Uniformes da Guarda Nacional (1831-1852): a indumentária na organiza-
ção e funcionamento de uma associação armada. Anais do Museu Paulista: história e cultura mate-
rial. Vol. 8/9, 2000-2001. São Paulo: USP, 2003. p. 109.
200
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
aproximava muito à dos civis. Um obstáculo causado por isso era com relação ao teci-
do: na Europa, de onde vinham os padrões de luxo no vestir, o tecido preferido era a lã,
adequado à situação climática de lá. A outra opção disponível era o linho, mas este não
era usado em uniformes, por causa de seu custo. Não se usavam roupas de algodão, pelo
menos de forma generalizada, até a segunda metade do século XIX.
A lã, muito quente, junto com a questão da moda, fazia com o soldado recebesse
uma farda inadequada para um clima tropical ou equatorial. Para isso, basta ver que,
tanto no Nordeste Brasileiro quanto no Saara francês a composição do uniforme usado
até a Primeira Guerra era basicamente a mesma: uma sobrecasaca de lã, forrada, sobre
um colete (mas este deixou de ser usado no século XIX). Debaixo disso tudo, uma ca-
misa, com uma gravata de couro rígido, que impedia o soldado de abaixar a cabeça.
Complementavam os uniformes, calças e calçado, mas não roupa de baixo – as primei-
ras menções que encontramos ao fornecimento de meias e ceroulas são de apenas de
1866 e estas para prisioneiros de guerra paraguaios. 36 Obviamente, uma roupa extrema-
mente incômoda e pouca prática (Figura 16).
O uso de algodão nos uniformes só foi adotado muito tarde – no Brasil, as pri-
meiras menções que encontramos à distribuição de peças para “uniformes de verão”,
calças feitas de brim, são apenas de 1837.37 Só que depois dessa data, e até a década de
1930, se manteve o uniforme de lã para uso no “inverno”, mesmo onde esta estação não
era fria, como na Amazônia. Como um ponto anedótico, o uniforme histórico da Aca-
demia Militar de Agulhas Negras, que reproduz a farda usada no Brasil em 1852, era
confeccionado em lã até a década de 1980, quando foi substituído por uma mescla de
tecido sintético – isso por causa de problemas com cadetes, que desmaiavam em forma-
turas, por causa do calor da farda de lã.
36
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício da 1ª Seção da Diretoria Central, mandando fornecer peças de
fardamento aos prisioneiros de guerra Paraguaios a serviço da Escola Militar. Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 8 de outubro de 1867. Mss. ANRJ. IG7 370.
37
BRASIL – Arsenal de Guerra. Declarações. Anúncio para costuras de uniformes. Diário do Rio de
Janeiro, 26 de setembro de 1837.
201
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
38
O médico Sueco Gustave Beyer, ao visitar São Paulo em 1813 mencionava o elevado custo das roupas,
importadas, “apesar do país produzir lã e algodão em abundância.” BEYER, G. Ligeiras notas de vi-
agem do Rio de Janeiro à capitania de São Paulo em 1813. Revista do instituto histórico e geográfico
de São Paulo. Volume 12. São Paulo: Diário Oficial, 1907. p. 299. No entanto, não encontramos ne-
nhuma referência à compra de lã brasileira pelo Arsenal de Guerra.
39
COELHO, op. cit. p. 51. Já havia, contudo, tecelagens em Covilhã em datas anteriores. Um livro de
1737 recomendava que fossem usadas lãs dessa região para fardas as tropas. RODRIGUES, op. cit.
p. 36.
202
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
culo XVIII as roupas dos militares não eram, basicamente, diferentes das usadas pelos
civis. Até aquele momento não era uma prática dos governos fornecerem roupas – de
qualquer tipo – a seus soldados. Quando era necessário reconhecer as tropas de um lado
de outro, se usavam recursos: por exemplo, nas Guerras Holandesas, no Brasil, um Re-
gimento da Companhia das Índias Ocidentais holandesa foi subornado para desertar
para o lado Português, mas os soldados desejaram voltar para o lado da Companhia.
Como escreveu frei Manuel Calado: “e dali por diante deram todos em trazer uns pape-
linhos brancos nas tranças dos chapéus, para divisa de serem conhecidos, e nos encon-
tros que tivéssemos com os do Arrecife lhes não atirassem”, 40 ou seja, a solução era usar
um sinal privado para que os soldados fossem reconhecidos. Roche, um pesquisador
sobre a história do vestuário, cita outros recursos usados para isso, como o uso de faixas
largas, de cores distintas, amarradas na cintura, chapéus de formas diferentes e vários
sinais distintivos no chapéu ou na sobrecasaca.41
40
CALADO, Manuel. O Valeroso Lucideno. Belo Horizonte : Itatiaia ; São Paulo : EDUSP, 1987. p. 118.
41
ROCHE, Daniel. La culture des apparences: une histoire du vêtement (XVII e-XVIIIe siècle). Paris:
Fayard, 1989. p. 213.
42
ROCHE, op. cit. p. 213. Para o mesmo costume em Portugal, ver: CUNHA MATOS, op. cit. p. 246.
43
MATOS, op. cit. p. 246.
203
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
que tem lugar na constituição do absolutismo”. 44 Uma proposta vital para entender a
dinâmica dos exércitos, onde, a questão da aparência e do conforto dos soldados se su-
bordinava à ideia de criação de um sentimento de uniformidade e de ações na tropa.
Entretanto, longe de ser um sistema regular, o fornecimento de um fardamento realmen-
te padronizado por parte do governo demoraria muito tempo para se consolidar.
Mesmo uma possível “economia de escala” não se aplicava bem à questão – co-
mo colocado acima, era o costume que cada regimento de um exército tivesse seu pró-
prio “uniforme”, ainda que este seguisse padrão geral para cada país, como o vermelho
inglês ou o branco dos franceses. Os coronéis comandantes definiam como seriam os
forros das casacas, bem como alguns detalhes, como o padrão de cores dos canhões
(punhos), a colocação e desenho dos botões ou mesmo o corte da farda – como colocado
por Cunha Matos mais acima, um dos costumes era que os comandantes dos regimentos
dessem ao uniforme dos soldados de sua tropa as cores de suas casas nobres. A implica-
ção disso era que um exército “nacional” tinha tantos tipos de uniformes quantas fossem
suas unidades componentes – e esses trajes variavam com a mudança dos comandos dos
regimentos. Não havia um modelo geral que fosse seguido por toda a tropa e que pudes-
se ser facilmente copiado em uma manufatura centralizada (ver Figura 17).
44
ROCHE, op. cit. p. 213.
45
Estampas de uniformes militares do terceiro quartel do século XVIII, Mss. Arquivo Histórico do Museu
Histórico Nacional.
204
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
46
RODRIGUES, op. cit. p. 36. TELLES DA SILVA, Tomás. Discursos sobre a disciplina militar, e
ciência de um soldado, dedicados aos soldados novos. Lisboa: Joseph Antônio da Silva, 1737. pp.
35-40.
47
SPENCER-SMITH, Jenny. Portraits for a King: the British Military Paintings of A. F. Jubois Drahone
(1791-1831). London: National Army Museum, 1990. p. 12.
48
BIBLIEX - BIBLIOTECA DO EXÉRCITO. Dicionário militar brasileiro. Rio de Janeiro: Bibliex,
2005. p. 800.
205
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
com peles de urso, como são feitas, ainda hoje, as usadas pelos granadeiros ingleses da
guarda da rainha.
Outro motivo era “fabril”: não havia como aperfeiçoar muito a produção de rou-
pas nesse período. Mesmo onde era possível aplicar os princípios de divisão de trabalho
havia problemas, como no caso da manufatura de Marc Isambar Brunel em Battershea.
Lá ele introduziu máquinas para o corte do couro e uma para rebitar os sapatos, como
no tipo Carioclave (ver página 172). Mais importante, introduziu uma estrita divisão de
trabalho, suas operações empregando 25 operários, cada um executando apenas uma
tarefa.49
206
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
rísticas antiquadas no período que estamos trabalhando, não havendo soluções para oti-
mizar a questão.
207
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Também se deve dizer que a feitura de uma boca de fogo exigia uma elevada ca-
pacidade técnica. O material preferido para peças de campanha, o bronze, era muito
caro, como já mencionamos. Mas era usado em quantidades prodigiosas: uma peça de 6
libras pesava perto de 250 kg e uma bateria de artilharia teria seis delas, ou seja, era
preciso uma tonelada e meia de bronze para as armas – e um canhão de 6 libras é uma
peça de pequeno porte, por qualquer padrão de medida possível. Como a arma tinha que
ser fundida de uma vez, era necessário um grande forno, capaz de derreter as quantida-
des de metal necessárias. Isso sem falar nos conhecimentos empíricos, como o ponto de
fusão de metais e as proporções dos elementos componentes da liga (cobre, estanho e
outros produtos que o fundidor julgasse necessários). A complexidade da manufatura do
produto gerava um grande interesse, não só por parte dos especialistas em assuntos mili-
tares, mas também por outros, já que as técnicas usadas na feitura dos canhões tinha
relação com a usada na fundição de sinos e estátuas.
Por sua vez, apesar do poder e simbolismo das bocas de fogo, deve-se dizer que,
apesar de algumas tentativas falhadas, o Arsenal de Guerra da Corte não produziu ca-
nhões em nosso recorte de estudos, que se encerra em 1864. Essa atividade só se tor-
nando importante na Guerra do Paraguai. No entanto, estudar os métodos de se fazer
canhões é importante em termos de comparação de como funcionava uma manufatura
militar e serve também para se entender uma questão que consideramos de fundamental
importância. Esta foi o papel dos engenheiros militares franceses na formação das bases
de uma racionalidade, valorizando o ensino técnico naquele país, algo vital para a com-
preensão dos métodos manufatureiros do final do século XVIII e primeira metade do
seguinte.
52
Uma discussão do papel dos troféus pode ser visto em: CASTRO, Adler Homero Fonseca de. O poder
político vem do cano de uma arma. In: MONTENEGRO, Aline (org.) 90 anos do Museu Histórico
Nacional em debate. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2014. pp. 111-123.
208
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
cleo de madeira, o mandril, sob o qual se enrolavam cordas e argila, em cima dessas, era
feita a deposição de cera, com exatamente o formato do objeto final. A camada de cera
era então recoberta com argila, que então era aquecida. O calor fazia derreter a cera – o
processo chama-se, justamente, de cera perdida – e criava um espaço vazio no interior
do molde, na forma exata da peça a ser fundida. A alma era definida por meio de uma
peça cilíndrica de argila, também chamada de mandril, que era centrado no interior do
molde (ver Figura 19).
Feito o molde, este era colocado em posição vertical, abaixo do forno e o metal
fundido derramado em seu interior (ver Figura 19 e Figura 21). Depois de um longo
período de resfriamento, o molde era quebrado – não podia ser reaproveitado frisamos –
retirando-se a arma. O mandril era removido, deixando o espaço da alma no interior,
que tinha que ser fresado, para eliminar imperfeições, e o exterior finalizado a cinzel,
em um serviço semelhante ao de um escultor, devido à riqueza de detalhes e de decora-
ções, algo inerente ao gosto barroco.53
Como se pode ver, a produção desse tipo de arma em bronze era muito cara (ver
sequência de imagens a seguir), de forma que muitos países implantaram fundições go-
vernamentais para sua produção, como foi o caso da França, em Douai, Estrasburgo,
Lyon, para o Exército e Ruelle, da Marinha; Inglaterra, em Woolwich; a Espanha em
Sevilha e Barcelona, enquanto Portugal tinha a sua em Lisboa.
e
Figura 18 – Preparo para a fundição de canhões. 54
À esquerda: forno de reverbero para fundição de canhões, mostrando a complexidade da estrutura. À
direita, dando as formas externas básicas ao canhão, usando um escantilhão – no caso, uma tábua recorta-
da com o perfil da boca de fogo. Esse passo era fundamental para se padronizar a produção das armas,
ainda que esta fosse totalmente feita de forma artesanal.
Por sua vez, os canhões de ferro fundido, apesar de serem produzidos de forma
virtualmente idêntica, eram muito mais baratos, como já apontamos acima. Isso apesar
53
Em português, há uma boa descrição do processo de fabricação de canhões em: GUILMARTIN, op. cit.
54
Todas as imagens sobre fundição de canhões foram retiradas da enciclopédia de Diderot e D’Alembert.
DIDEROT, M. & D’ALEMBERT, M. op. cit. vol. 5. Planches.
209
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
de exigirem uma infraestrutura maior para serem feitos: o ferro só se funde a 1540
graus, enquanto o bronze derrete a temperaturas de cerca de 1.000 graus. A diferença é
grande – é comum usar um forno de reverbero para fundir canhões de bronze, mas os de
ferro normalmente exigem um alto forno, uma estrutura bem mais complexa e que de-
mandava máquinas hidráulicas, para insuflar o ar necessário ao aumento da temperatura.
Curiosamente, isso poderia levar a crer que o governo teria mais condições de operar
uma fundição de ferro, no entanto, as maiores existentes, na Inglaterra e Suécia, eram
privadas, enquanto as francesas e espanholas eram governamentais.
210
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
regular, para que os artilheiros soubessem o que esperar das armas que usavam e os en-
genheiros pudessem aplicar seus conhecimentos na construção de fortificações e assim
por diante.
55
Pintura de Johann Ernst Heinsius (1740-1812). DE BEER, Carel. The art of gunfounding: the casting of
bronze cannon in the late 18th century. Rotherfield: Jean Boudriot, 1991. p. 27.
211
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
O sistema de Vallière foi, de certa forma, uma revolução: antes disso apenas a
Inglaterra tinha padronizado a produção de suas bocas de fogo, com o sistema Arms-
trong, de 1727. Entretanto, mesmo que todas as peças fossem feitas com base em um
desenho padrão, o sistema inglês tinha uma imensa variedade de armas: havia, por
exemplo, pelo menos cinco comprimentos de canhão para cada calibre. Uma peça de 9
libras de ferro podia ter seis, sete, sete e meio, oito e meio e nove pés de comprimento
(de 1,82 a 2,74 metros),56 pesando de 1270 a 1570 kg. Essa variedade complicava o
trabalho dos artilheiros, que tinham que lidar com armas de desempenho e comporta-
mento bem diferente durante o disparo. Mais importante, era um problema grave para os
arsenais, pois a palamenta e, principalmente, os reparos têm que ser feitos com suas
dimensões variando de acordo com o comprimento e peso da arma.57 Vallière, no entan-
to, decidiu fazer canhões de apenas um comprimento para cada calibre, simplificando a
produção de acessórios.
56
CARUANA, op. cit.
57
RIO GRANDE DO SUL - Presidência. Ofício do presidente de província, Francisco José de Souza
Soares de Andrea, ao Ministro da Guerra, Manoel Felizardo de Sousa e Melo, enviando as dimen-
sões das peças de 12 libras existentes em Porto Alegre, para manufatura de Reparos. Palácio do
Governo em Porto Alegre, 19 de novembro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 336. Apesar das 36 peças se-
rem, majoritariamente, inglesas, foi necessário enviar uma relação detalhada de quatorze tamanhos
diferentes de armas, todos do mesmo calibre para que o Arsenal de Guerra da Corte fizesse novos
reparos para elas.
212
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
58
MACLENNAN, Ken. Liechtenstein and Gribeauval: ‘Artillery Revolution’ in Political and Cultural
Context. War In History. 2003, número 10. p. 255.
59
CHARTRAND, René. Napoleon's Guns 1792–1815 (1): Field Artillery. Elms Way: Osprey, 2003. p. 6.
213
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
O importante, contudo, é que a artilharia tinha o controle total sobre o que era
feito nos arsenais de construção, o que não era normal em outros tipos de manufaturas
francesas que supriam as forças armadas. Também se deve dizer que essas instituições
foram importantes na formação dos oficiais, pois os estudantes de engenharia militar
eram obrigados a os visitar, visando aprender
60
LANDMAN, Isaac. The founding of bronze guns, 1793. In: DE BEER, op. cit. p. 199.
61
ALDER, op. cit. p. 157.
214
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
62
ORDONNANCE du Roi concernant le Corps Royal de l’Artillerie, 3 de outubro de 1774. p. 112, Mss
Service Historique de l’Armée de Terre. Apud ALDER, op. cit. p. 74.
63
id. p. 74.
215
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
França. O general era um membro da artilharia, um serviço que na França era conhecido
como a Arme Savant, a arma intelectual ou, como era conhecida no Brasil, uma das
“armas científicas”. 64 Isso se devia ao fato da operação dos canhões e os trabalhos de
engenharia, que era subordinada à artilharia, exigir uma formação técnica, acadêmica, o
que não acontecia com os oficiais da infantaria e cavalaria, chamadas no Brasil de “ar-
mas combatentes”. Curiosamente, essa divisão entre armas “científicas” e “combaten-
tes”, fazia com que, na maior parte dos países – inclusive na França –, a artilharia fosse
um pouco menosprezada no serviço militar, justamente por ser considerada como uma
arma acadêmica, a nobreza dando preferência para o serviço nas “armas combatentes”.
Só que, na França, os artilheiros e engenheiros conseguiram superar esse problema,
usando justamente seu conhecimento científico.
64
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra, relativo ao ano de 1869. Dr. Francisco
Carlos da Luz, diretor interino. Arsenal de Guerra, 18 de abril de 1870. Mss. ANRJ. IG7 24.
65
LANGINS, Janis. Conserving the Enlightenment: French Military Engineering from Vauban to the
Revolution. Cambridge: Massachusetts Institute of Technology, 2003. p. 191 e segs.
66
Gaspard Monge, (1746-1818). Matemático, inventor da geometria descritiva. Foi professor de física em
Lyons quando tinha 16 anos, e de matemática na Academia Militar de Mézières em 1768, quando ti-
nha 22. Três anos depois, foi nomeado professor de matemática na Academia. Em 1780 passou a le-
cionar também hidráulica no Liceu de Paris e se tornou membro da Academia. Escreveu vários tex-
tos sobre matemática. Tornou-se ministro da Marinha em 1792-1793. Apoiou o esforço de produção
de artigos bélicos, seguindo o pedido do Comitê de Salvação Nacional, publicando a Description de
l'art de fabriquer des canons (op. cit.). Foi fundador da Escola Normal e da Escola Politécnica. Re-
cebeu, sob Napoleão, o título de Conde de Péluse. ENCYCLOPAEDIA Britannica. London: En-
cyclopaedia Britannica, 1952. Vol. 15, Verbete Monge, Gaspard. p. 705.
67
Claude Antonie Prieur-Duvernois, também conhecido como Prieur de la Côte d’Or. Membro da As-
sembleia e da Convenção na Revolução Francesa, se tornou membro do Comité de Salvação Pública
em 1793, trabalhando com Carnot no suprimento dos exércitos. Foi um dos fundadores da Escola
Politécnica e do Instituto da França, que agrupa as cinco grandes academias francesas. Trabalhou na
adoção do sistema métrico e na criação do Bureau des Longitudes, responsável pelo estabelecimento
Continua –––––––
216
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Deve-se frisar que tudo isso se inseria numa forma de pensar iluminista, que valorizava
o pensamento racional como a principal fonte da autoridade e legitimidade 68 – pode-se
dizer que as ações dos oficiais da artilharia francesa marcariam a supremacia da corren-
te filosófica dentro das forças armadas francesas, em um processo que teria grande in-
fluência na manufatura de armas naquele país.
217
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Revolução, entre os quais se incluíam nomes como Carnot,71 Prieur e Monge.72 A ques-
tão que consideramos ser relevante é que os oficiais militares, responsáveis pela produ-
ção de artigos bélicos ou fiscalização das manufaturas, tiveram um importante papel na
adoção de técnicas experimentais visando aperfeiçoar o funcionamento da arma. A fa-
mosa locomotiva a vapor de Cugnot, de 1769,73 foi resultado de experimentos feitos no
Arsenal de Paris,74 visando facilitar a condução de artilharia – Cugnot era capitão da
arma.
A questão das raízes da indústria moderna pode ser ainda vistas nos esforços dos
artilheiros franceses para o controle da produção de armas portáteis.
71
Lazare Carnot (1753-1823), era capitão de engenharia quando da Revolução Francesa, a quem se jun-
tou. Foi eleito deputado por Pais-de-Calais na Assembleia de 1791, sendo um dos deputados que vo-
tou a pena de morte para Luís XVI. Nomeado delegado dos Exércitos no Comité de Salvação Públi-
ca em 1793, participou de várias campanhas militares, obtendo importantes vitórias. Conseguiu so-
breviver à revolução do Thermidor, continuando a ser um membro do Diretório, o órgão executivo
da Revolução. Exilado por um curto tempo em 1797, retornou ao governo, sendo brevemente minis-
tro da Guerra, em 1800. Continuou a agir na administração militar sob Napoleão, sendo exilado em
1815, por ser um regicida. Foi o autor de um importante livro sobre fortificações em 1810. Por seu
papel nas ações logísticas ele recebeu o cognome de o “Organizador da vitória”. ENCYCLOPAE-
DIA Britannica, op. cit. Vol. 4, Verbete Carnot, Lazare Nicolas Marguerite. p. 939.
72
Não era oficial de artilharia, mas estava ligado à arma, por ser professor da Escola de Mézières. Ver
nota 66, acima.
73
DERRY e WILLIANS, op. cit. vol. I. p. 563. A carroço a vapor foi o primeiro veículo automotor da
história. A ideia que embasou o projeto sendo a obtenção de veículos para tracionar peças de artilha-
ria.
74
No século XVIII, o Arsenal de Paris não tinha mais funções fabris, servindo como residência a vários
nobres. Os prédios, contudo, ficava ao lado da Bastilha, uma casa de armas. CHEVREL, Claudine.
La Bibliothèque de L'Arsenal. https://goo.gl/zAc6EC (acesso em outubro de 2016).
75
WOODBURY, Robert S. The Legend of Eli Whitney and interchangeable parts. Technology and Cul-
ture. Vol. 1 Nr. 3, Summer 1960. p. 247.
218
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Por outro lado, a força hidráulica tinha alguns problemas. Eram necessários
grandes investimentos iniciais para a aquisição das máquinas, dos terrenos apropriados
e a construção dos prédios especiais. Também era preciso haver uma fonte de água com
76
MORTAL, Patrick. Les armuriers de l’État: du Grand Siècle a la globalisation, 1665-1989. Villeneuve
d’Ascq: Presses Universitaires du Septentrion, 2007. p. 31. Para efeito de comparação, a oficina do
Arsenal de Guerra da Corte ilustrada na Figura 50 (página 398), tem 450 metros quadrados.
219
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Perdemos um pouco de tempo falando das máquinas hidráulicas, pois esta era
uma questão de fundamental importância. Até a adoção generalizada dos motores a va-
por, a instalação de manufaturas que pudessem se valer das possibilidades da mecaniza-
ção dependia do terreno, como foi o caso tanto da Fábrica de Pólvora da Lagoa como a
da Estrela. Por sua vez, o Arsenal de Lisboa, localizado no centro da cidade, estava li-
mitado em suas possibilidades de uso de máquinas pesadas – o máximo que se conse-
guia lá foi a montagem de aparelhos movidos por animais, havendo uma abegoaria,78
um estábulo para abrigar os animais necessários ao funcionamento das máquinas de lá.
77
SMITHURST, Peter G. Gunmaking by machinery: birth of the consumer society. Lecture at the Impe-
rial War Museum, 20th June, 2011. https://goo.gl/LKS8H2 (acesso em outubro de 2016).
78
COELHO, op. cit. p. 233.
79
id. p. 63.
80
id. p. 245. Há sinais que essa prática continuou no Brasil, apesar de não ter sido comum: em 1827 o
Arsenal de Guerra publicou um anúncio para contratação “todos os cegos, e mutilados livres, que
Continua –––––––
220
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Continuação–––––––––––
possam ser empregados nos trabalhos de rodas e foles” Diário do Rio de Janeiro, nº 10. Rio de Ja-
neiro, 11 de agosto de 1827. p. 1.
81
ALDER, op. cit. p. 267.
82
Desenho baseado em: DAUMAS, Maurice. L’Archéologie industrielle em France. Paris: Éditions Rob-
ert Laffont, 1980. p. 94.
83
WOODBURY, op. cit. p. 247. Esse número refere-se ao Arsenal norte-americano de Springfield, em
1799, uma manufatura mais moderna que as oficinas tradicionais. p. 245.
221
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
e regiões da atual Alemanha, a feitura de uma arma era dividida em uma série de pro-
cessos separados, a cargo de diferentes artesãos.
84
FIOSCONI & GUSERIO, op. cit. entre as páginas 4 e 5.
85
ALDER, op. cit. p. 176.
222
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
cutando uma atividade repetitiva, com as ferramentas necessárias para a tarefa sobre a
qual tinham responsabilidade, aumentando em muito o volume produção. Só que, ao
contrário de um processo que consideraríamos “natural”, essa divisão de trabalho não
implicava em uma manufatura concentrada. Cada mestre tinha sua própria oficina
(Figura 25), trabalhando na produção de um componente específico, que depois era en-
viado para um atelier central, onde o produto final era montado por outro operário espe-
cializado, o ajustador.
Na prática a feitura de uma arma era dividida em uma série de processos mais
simples, mas ainda assim necessitando um elevado grau de especialização por parte dos
mestres. Em termos gerais, podemos trabalhar a fabricação da arma de fogo como com-
posta de três atividades principais: a feitura do cano, a do fecho e a ajustagem final,
sendo que alguns autores apontam a manufatura do cano como um processo que envol-
via a elite dos trabalhadores. Em Saint-Étienne, na França, na produção de cada cano
trabalhavam treze armeiros diferentes, em vários momentos do acabamento da peça.86
86
id.
87
FIOSCONI & GUSERIO, op. cit. pp 26 a 32.
223
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Menos sensível a problemas, mas um elemento bem mais difícil de ser feito, era
o mecanismo de disparo, o fecho. Enquanto um cano podia ser forjado e acabado em
menos de quatro horas de trabalho total, esse tipo de peça levava, na melhor das hipóte-
ses, 14 horas.90 No caso, a divisão de trabalho não é tão visível, apesar de existir em
alguns casos. O problema é que o mecanismo de disparo é complexo, com uma série de
peças interagindo mecanicamente, devendo estas ser ajustadas com precisão: o cão, com
a pedra de sílex, tinha que atingir o fuzil em um ângulo bem preciso, de forma a forçar a
88
DIDEROT & D’ALEMBERT, op. cit. Fabrique des Armes.
89
ALDER, op. cit. p. 174.
90
DIDEROT, M. & D’ALEMBERT, M. op. cit. vol. 5. Planches.
224
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
A produção desse mecanismo não era uma atividade que pudesse ser deixada a
cargo de um aprendiz ou mesmo a de um trabalhador pouco habilitado – quando na
França Revolucionária foram montados emergencialmente diversos arsenais, usando
artesãos com diferentes ofícios para fazer os fechos, uma das oficinas, a do bairro Qua-
tre-Vingt, em Paris, subordinada ao Arsenal criado na cidade, tinha 83 operários fazen-
do essas peças. Em uma década, a semana de dez dias adotada durante a Revolução
Francesa, dezesseis desses trabalhadores fizeram três fechos completos cada, 28 deles
completaram dois e dezenove conseguiram acabar um. Os outros vinte artesãos não ti-
nham completado um mecanismo sequer em dez dias e a produtividade máxima por
artesão era de apenas três fechos por “década”. Um mestre das manufaturas tradicionais
conseguia terminar cinco desses mecanismos por década.91
91
id. p. 268.
225
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
92
Usando os termos constantes do manual do exército: PEIXOTO, Luiz Ribeiro dos Guimaraens. Ensaio
da nomenclatura das pecas de que se compõem as armas em uso na infantaria e cavalaria do Exér-
cito brasileiro. Rio de Janeiro: Litografia do Arquivo Militar, 1855. pp. 4 a 6.
93
Curiosamente, o “Ensaio da nomenclatura” não dá o nome dessa peça, nem o da contra-chapa, que
retiramos da documentação do Arsenal. Cf. id.
94
Hoje em dia gatilho é outra peça do mecanismo, que na época se chamava de “desarmador”.
95
PEIXOTO, op. cit. p. 5. (Os números em vermelho foram colocados por nós).
96
DIDEROT, M. & D’ALEMBERT, M. op. cit. vol. 5. Planches.
97
ALDER, op. cit. p. 197.
226
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
227
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Outra das consequências dessa forma de manufatura descentralizada era que se-
ria difícil para um exército se equipar de forma rápida ou regular, negociando com de-
zenas ou mesmo centenas de armeiros individuais – novamente em Saint-Étienne, po-
demos dizer que havia de cem a duzentos mestres fazendo armas em oficinas próprias, a
maior parte deles produzindo menos de dez espingardas por ano.102 Isso ainda mais le-
vando em conta que as forças armadas tinham que competir com o mercado civil, que
em situações normais correspondia de 160% a 240% da produção de armas militares,
uma boa quantidade dessas sendo de armas baratas, mais fáceis de fazer, destinadas ao
tráfico de escravos.103
102
id. p. 175.
103
id. p. 176. Os dados se referem às manufaturas de Saint-Étienne, na França, mas a mesma situação se
repetia em Birmingham (Inglaterra) e em Liège, Bélgica.
104
REID, op. cit. p. 12.
228
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
dução de fechos e canos, que seriam enviados para a Torre, para serem acabados. A
manufatura de Lewisham, que começou a funcionar em 1807, usava rodas d’água e,
depois, um motor a vapor para mover diversas máquinas e tinha o objetivo de fabricar
50.000 canos por ano. Em 1810 empregavam 156 homens, entre os quais três feitores e
inspetores; 82 limadores de fecho; quatro limadores de canos; quatro fresadores de ca-
nos, sete desbastadores de canos e dez forjadores de canos. Estes conseguiram atingir
uma produção bem razoável, de 33.121 canos e 23.697 fechos em 1811 – se tomarmos
este último número como índice da quantidade de armas fabricadas, isso implicaria em
151 espingardas feitas por cada trabalhador por ano – um número bem razoável, muito à
media por trabalhadores das manufaturas do período. Mesmo assim, foram tomadas
medidas para aumentar a produção, como tornos de canos, máquinas de estampagem de
cães, a precisão sendo aferida por conjuntos de aparelhos de medição e gabaritos padro-
nizados. Curiosamente, Blackmore, um autor que estudou o assunto, aponta que o gar-
galo na produção era a fabricação de um dos elementos menos técnicos da arma, a coro-
nha, ainda feita inteiramente de forma manual, com um trabalhador especializando en-
carregado de todo o trabalho de talha para abrir os espaços para o cano e fecho, assim
como dar a forma final ao objeto. 105
O fim das guerras Napoleônicas impediu um avanço maior das técnicas de ma-
nufatura de armas na Inglaterra, apesar de uma nova manufatura governamental ter sido
instalada em Enfield em 1816. Na prática, o exército voltou a usar o sistema de compras
em armeiros privados de Birmingham. 106 A situação na Inglaterra começou a mudar em
1854. Naquele ano o país estava envolvido na Guerra da Criméia (1853-1856) e o sis-
tema de fornecimento de armas por empreendedores não estava atendendo às necessida-
des do exército. Para tentar resolver o problema, o governo criou comitê para estudar a
questão da fabricação de armas, com ênfase no estudo da possibilidade do uso dos mé-
todos dos arsenais americanos de produção de armas. O comitê executou uma série de
entrevistas com armeiros e engenheiros de renome, muitas das questões girando em
torno da viabilidade do funcionamento do sistema – havia várias autoridades que não
acreditavam ser possível fabricar armas usando primordialmente máquinas, mas a deci-
são foi pela importação de todo um conjunto de máquinas ferramentas norte-americanas
105
BLACKMORE, Howard L. Military gun manufacture in London and the adoption of interchangeabil-
ity. Arms Collecting, vol. 29, nº 4. pp. 115-117
106
id. pp. 117.
229
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
para fazer armas segundo o sistema dos arsenais dos Estados Unidos, que, como trata-
remos mais abaixo, foi revolucionário. 107
Por sua vez, a França tentou resolver o problema, como já dito anteriormente,
montando “manufaturas reais” de armas: Saint-Étienne em 1665; Charleville, dez anos
depois; Maubeuge em 1701; Klingenthal – especializada na feitura de armas brancas –
em 1730; e Tulle, que fabricava armas para a Marinha e as colônias a partir de 1690. No
entanto, não se deve pensar em uma organização moderna para essas manufaturas, espe-
cialmente a de Saint-Étienne, uma cidade que já existia como centro produtor de arma-
mentos há séculos.
107
HOUNSHELL, David A. From the American System to Mass Production: 1800-1932. Baltimore: John
Hopkins, 1984. p. 61.
108
FRANÇA – Rei. Lettres patentes du Roi qui accordent au sieur Gau le privilège pendant 30 années,
pour l'entreprise de la manufacture d’armes blanches d’Alsace. Versailles, 20 de abril de 1765. Pa-
ris: Imprimiere Royale, 1765.
109
FRANÇA – Conselho de Estado. Arrêt du conseil d'état rendu en faveur de la manufacture royale
d'armes de Charleville. 15 de dezembro de 1767. Paris: Imprimiere Royale, 1767. O documento cita
os senhores Baudard de Vaudesir e Cotheret, “proprietários da Manufatura Real de Armas de Char-
leville”. O mesmo com relação à manufatura de Tulle, que foi transformada em Manufatura Real em
1777, sendo propriedade do Senhor Fenis de Saint Victour. FRANÇA – Rei. Lettres patentes du Roi
pour l'érection de la manufacture d'armes à feu établie dans la ville de Tulle en manufacture royale
pour le servise de la Marine. Paris, 27 de dezembro de 1777. Paris: Prault, s.d.
230
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
110
COTTY, H. Supplément au Dicitionnarie de l’Artillerie. Paris: Librairie Militaire d’Anselin, 1832.
Verbete entrepeneurs des manufactures royales d’armas portatives. p. 188.
111
ARGENSON, Antoine-René de Voyer. Etat des fusils de soldats que les entrepreneurs de la manufac-
ture d'armes de St. Étienne sont chargés de faire fabriquer en l’anne present 1755 en consequence
des marchés qui leur ont passé le 20 decembre dernier. Mss. Biblioteque Nationale de France.
112
ALDER, op. cit. p. 324.
113
VIRET, Jéréme-Luther. L'industrie des armes portatives à Saint-Étienne,1777-1810. L'inévitable
mécanisation? Revue d’histoire moderne et contemporaine, 1/2007 (no 54-1), p. 191.
231
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
O que era semelhante nos arsenais administrados por empreendedores era o sis-
tema de supervisão: em todos os casos, como já dissemos antes, a aquisição das armas
era feita pela Artilharia. Esta, apesar de não gerenciar diretamente a feitura das armas,
tinha o poder de fiscalização sobre os resultados finais, com um inspetor trabalhando
em cada Arsenal, este oficial sendo selecionado entre aqueles que demostrassem maior
aptidão técnica.114 O inspetor era apoiado por três controladores civis, que faziam a pro-
va dos canos, dos fechos e da arma montada.
Pelo sistema de peças intercambiáveis, cada elemento de uma arma deveria ser
feito de acordo com padrões rígidos de tolerância, de forma que todas as peças, do me-
nor parafuso até o cano, pudessem se encaixar em qualquer outra arma, sem ser necessá-
114
id. p. 74.
115
id. p. 128.
232
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
rio um ajuste prévio. Isso tinha evidentes vantagens em termos de peças de reposição. O
famoso químico francês Réaumur,116 que defendia a adoção de chapas de fecho feitas de
ferro fundido, descreveu bem as vantagens do sistema:
Uma espingarda com um cano quebrado se torna inútil por que seu fe-
cho, ou peças do fecho, não podem ser adaptados à outra espingarda;
contudo, desde que todas as peças sejam do mesmo calibre [dimen-
sões], as de umas podem trocadas por aquelas de outras. Umas poucas
peças quebradas não mais tornarão todas as outras inúteis. O que resta
de uma espingarda muita estraçalhada servirá para reparar outra.117
Outro ponto positivo do sistema seria que, se uma parte do conjunto se danifi-
casse, como uma mola (um defeito comum), esta poderia ser substituída por outra por
um artesão, mesmo que este estivesse fora se sua oficina, como os armeiros dos regi-
mentos,118 ele não precisando de instalações fixas ou mesmo de ferramentas mais espe-
cíficas.
Por outro lado, a ideia de peças intercambiáveis tinha suas desvantagens. A prin-
cipal era ser muito mais caro, se feito usando as técnicas tradicionais. Um exemplo dis-
so é o caso percussor da proposta. Guillaume Deschamps tinha feito seiscentos fechos
por esse sistema em 1727, os testando perante o Rei. Mas a sua produção, ainda feita à
mão, exigia um controle de qualidade muito rígido para que as peças pudessem ser re-
almente trocadas entre um mecanismo e outro, de forma que os fechos custavam sete
vezes mais do que os normais. Isso tornava sua adoção inviável naquele momento, a
manufatura de Deschamps cessando suas atividades em 1735.119
Na verdade, nas condições da época, com a produção sendo dividida entre vários
artesãos e oficinas, a produção com tais padrões rígidos de controle de qualidade era
impossível. A proposta francesa, de montagem de Arsenais centralizados, apesar de ter
sido implantada de forma incompleta, teria sido mais adequada em termos de criação de
116
René Antoine Ferchault de Réamur (1683-1757). Cientista francês, em 1710 foi encarregado de fazer
uma descrição oficial das artes e manufaturas úteis da França. Foi o autor da escala de Réaumur. Foi
autor de diversos livros, inclusive alguns da Enciclopédia de Diderot. ENCYCLOPAEDIA Britan-
nica, op. cit. Vol. 19. p. 9B. Verbete René Antoine Ferchault de Réaumur.
117
RÉAMUR, René Antoine Ferchault de. L’art de convertir le fer forgé en acier et l'art d’adoucir le fer
fondu. Paris: Michel Brunet, 1722. p. 559.
118
Era do regulamento dos exércitos português e francês que cada regimento de infantaria tivesse um
espingardeiro e um coronheiro. Para Portugal, ver: RANGEL, José Correa. Defesa da Ilha de Santa
Catarina e do Rio Grande de São Pedro dividida em duas partes: a primeira contém as fortificações
e uniformes da tropa da ilha de Santa Catarina: a segunda o que pertence ao Rio Grande. 1786. In:
TONERA, Roberto & OLIVEIRA, Mário Mendonça. As defesas da ilha de Santa Catarina e do Rio
Grande de São Pedro em 1786 de José Correia Rangel. Florianópolis: UFSC, 2015. p. 91 e segs.
119
PEAUCELLE, Jean-Louis. Du concept d’interchangeabilité à sa réalisation: le fusil des XVIIIe et XIXe
siècles. Gérer et Comprendre. Les Annales des Mines. N° 80 – Juin, 2005. pp. 58-59.
233
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
um sistema de peças intercambiáveis, por causa das vantagens da concentração dos tra-
balhadores. Nesse sentido, se entende o papel da artilharia em apoiar Honoré Blanc na
tentativa de criação de um sistema de fabricação mais racional para as armas.
Blanc, nascido em 1736, era um mestre armeiro em Avignon, depois sendo no-
meado como um dos controladores no Arsenal de Charleville. Tal função implicava no
trabalho de testes das armas enviadas pelos artesãos ou pelo próprio arsenal, para serem
examinadas, tendo em vista verificar se elas atendiam aos requisitos mínimos de funci-
onamento e segurança. Em 1763, quando os engenheiros de Gribeauval adotaram um
novo fuzil, Blanc foi nomeado como um dos controladores de Saint-Étienne, um em-
prego lucrativo, pois os contratadores e armeiros pagavam pelos testes que ele era res-
ponsável. Nessa função o armeiro atraiu a atenção do próprio general, pois um projeto
seu foi escolhido para ser o novo fuzil padrão francês, em 1777, já que o modelo anteri-
or tinha sido criticado pelas tropas, por ser muito pesado.
De qualquer forma, a reputação de Blanc junto a Gribeauval fez com que ele
fosse nomeado como controlador geral dos três arsenais do Exército (Saint-Étienne,
Maubeuge e Charleville) em 1778, recebendo a missão de equipar essas manufaturas
com as “ferramentas e instrumentos necessários para assegurar uniformidade, acelerar o
trabalho e economizar no preço”,120 da produção. Um passo necessário, já que a adoção
de procedimentos de controle mais rígidos na feitura das armas tinha resultado em um
grande aumento no preço das mesmas: as espingardas armas do modelo de 1777 custa-
vam 40% a mais do que as de 1763 e o dobro das do modelo de 1754. A economia se
tornava uma questão premente nas circunstâncias da paz de 1783, após o fim da Guerra
de Independência dos Estados Unidos (1776-1783), que tinha sido apoiada pela França:
120
ALDER, op. cit. p. 224.
234
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Para atingir essa meta, Blanc montou em 1785 uma oficina visando desenvolver
as técnicas de manufatura necessárias: algumas das peças seriam estampadas, um pro-
cesso pelo qual uma peça é completada por pressão, como na cunhagem de moedas.
Além disso, ele desenhou e desenvolveu máquinas de fresagem para dar forma precisa
aos objetos, introduzindo também gabaritos para limagem, que guiariam a ação do arte-
são no processo de acabamento. Finalmente, Blanc pesquisou e introduziu técnicas vi-
sando manter as dimensões do aço depois do mesmo ser temperado – processo que alte-
ra as dimensões dos objetos –, de forma que as continuassem a ser intercambiáveis,
mesmo após todo o processo de manufatura estar concluído.
Mais importante, o armeiro tomou o cuidado de criar uma série de gabaritos para
a medição das peças sendo feitas. Isso já era uma prática das oficinas de armas e fundi-
ções de canhões, com o uso do escantilhão (ver Figura 26), que nada mais é que um
gabarito. Mas o uso deste, bem como de escalas, esquadros e outros aparelhos de medi-
ção, era reduzido a alguma peças críticas: no livro a Espingarda Perfeita, onde são cita-
dos diversos escantilhões, compassos e esquadros – o autor chega a dedicar uma das
ilustrações de seu livro a um escantilhão e a ferramenta aparece também em outras ilus-
trações (ver Figura 26). 122 Contudo estes aparelhos de medição apenas são citados pelo
autor no contexto da feitura dos canos e são visivelmente bem elementares. Blanc au-
mentou em muito o número de gabaritos, introduzindo também o conceito de tolerância,
a variação nas dimensões máxima e mínima de um objeto que ainda permitiam que o
121
id. p. 224.
122
FIOSCONI & GUSERIO, op. cit. p. 11 e segs. O escantilhão é mostrado entre as páginas 81 e 82.
235
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
mesmo pudesse ser aproveitado no fecho. Para manter essas tolerâncias constantes ao
longo do tempo, ele construiu um conjunto de padrões e gabaritos mestres de metal que
serviriam como referência na reprodução de outros instrumentos de aferição.
Blanc, contudo, não conseguiu alcançar um dos objetivos propostos, que seria
eliminar a ajustagem final na montagem do produto acabado – ainda era necessário que
um artesão fizesse o acabamento do objeto durante a montagem. Quando o procedimen-
to de fabricação foi aperfeiçoado, os fechos ainda demoravam mais a ser feitos do que
pelos métodos tradicionais: 30% a mais do que um feito em Saint-Étienne e o dobro do
tempo de um dos arsenais centralizados. Também eram mais caros, apesar de se notar
236
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Por sua vez, o armeiro atingiu um dos objetivos caros aos oficiais de artilharia:
os fechos produzidos por ele eram completamente intercambiáveis, isso sendo demons-
trando em diversas ocasiões. Em 1785 foi feita uma experiência quando havia duzentos
fechos prontos. Na frente de uma comissão de generais, incluindo o próprio Gribeauval,
se desmontaram 25 fechos de armas do Regimento do Rei e as peças foram misturadas,
os mecanismos sendo remontados com peças escolhidas ao acaso, sem dificuldade.124
Uma das razões do insucesso parcial do projeto deve-se ao fato que os trabalhos
de Blanc eram mais de natureza experimental do que industrial. Ele era bem subsidiado:
recebera autorização para usar o castelo de Vincennes para instalar sua oficina e era
financiado pelo governo com uma quantia elevada, correspondente a 15% de todos os
gastos com a aquisição de armas portáteis entre 1785 e 1790. Só que estes valores eram
para despesas com o desenvolvimento de técnicas e não para fabricação em grande es-
cala – até 1791 ele só tinha produzido mil fechos. 125
123
ALDER, op. cit. pp. 245-246.
124
id. p. 224.
125
PEAUCELLE, op. cit. p. 64
237
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Autun e Versailles, todos em 1793. 126 Também são citados os de Nantes e Thiers.127
Mais tarde acrescidos por ainda outros, como o de Vincennes (1796), Mutzig (1803) e os
feitos em cidades conquistadas em Liège (Bélgica), Turim (Itália) e Culembourg (Países
Baixos) – realmente um grande número de manufaturas. A maior de todas essas manu-
faturas improvisadas foi a de Paris, que chegou a ter cinco mil artesãos trabalhando nela,
em trinta estabelecimentos dispersos por toda a cidade.128
Blanc tinha conseguido manter sua oficina mesmo nessa conjuntura emergenci-
al: em 1790 ele tinha apresentado à Assembleia Nacional francesa uma proposta para a
montagem de uma manufatura de armas,129 agora incorporada ao Atelier de Perfection-
ment, (Oficina de Aperfeiçoamento), uma instituição criada pela Revolução Francesa,
com o objetivo de pesquisar técnicas para produção de armas com peças intercambiá-
veis, diminuindo seu custo. Era, portanto, como a oficina de Blanc em Vincennes, mas
funcionando em princípios mais científicos, sob a direção de Alexandre-Theophile
Vandermonde, um cientista, membro da academia – fora responsável pela montagem da
coleção de máquinas da instituição – e que tinha apoiado a Revolução desde o início.130
O estabelecimento começou a aumentar a produção, usando operários do Arsenal de
Paris – chegou a empregar 95 armeiros, bem como máquinas requisitadas: foi aqui que
se usou a prensa da Casa da Moeda de Rouen, anteriormente mencionada. Contudo, o
término da crise na fabricação de armas e a vitória dos exércitos revolucionários em
1794 levaram ao fechamento da manufatura de Paris e a transformação do Atelier de
Perfectionment em uma repartição voltada para a fabricação de máquinas ferramentas e
de padrões de pesos e medidas para o sistema métrico. Depois o Atelier foi reunido ao
Conservatoire National des Arts et Metiers (Conservatório Nacional das Artes e Ofí-
cios), uma espécie de instituição mista, de ensino e museu, voltada ao desenvolvimento
técnico e científico – mas isso não é do nosso interesse específico, a não ser no sentido
126
TABLE GÉNÉRALE par ordre alphabétique de matèries des lois, sénatus-consultes, décrets, arrêtés,
avis du conseil d’État, etc. Publiés dans le bulletin des lois et collections officielles. Tome 1er. Paris:
Rondonneau et Decle, 1816. p. 193. A manufatura de Versalhes foi instalada em uma das alas do pa-
lácio real. Curiosamente, apesar da maior parte dos arsenais de emergência ter sido fechadas depois
do fim da crise de 1794, a Manufatura Nacional de Versalhes continuou funcionando até 1818, fa-
zendo armas de luxo para serem presenteadas pelo governo. TAYLOR, Dean G. Nicolas-Noel Bou-
tet and the manufacture of arms at Versailles. Arms Collecting, vol. 20 nº. 4. pp. 107 e segs.
127
ROUSSEAU, op. cit. p. 724.
128
ALDER, op. cit. p. 257.
129
BLANC, Honoré. Mémoire important sur la fabrication des armes de guerre : à l'Assemblée natio-
nale. Paris: L. M. Cellot, 1790
130
GILLSPIE, Charles Coulston. Science and Polity in France: the Revolutionary and Napoleonic Years.
Princeton: Princeton University, 2004. pp. 388 e 426.
238
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
que foi uma instituição que manteve os ideias de racionalização dos ofícios, através do
ensino técnico, tal como era a mentalidade dos oficiais de artilharia no período de Gri-
beauval.131
Blanc continuaria com seus esforços de produção de fechos, montando uma ma-
nufatura, em Roanne – depois do fim do Diretório, as Manufaturas de Armas voltaram a
ser entregues a administração de empreendedores particulares. Neste caso, o armeiro já
começou a trabalhar em nível “industrial”, produzindo 1.500 fechos em 1795, usando
técnicas aperfeiçoadas, como uma melhor divisão do trabalho entre os artesãos, assim
como adotando mais máquinas, dedicadas a tarefas específicas, não precisando ser ajus-
tadas quando era necessário mudar o tipo de peça a ser feita. Usando essas técnicas,
Blanc conseguiu entregar quatro mil de fechos, dois anos depois prometendo completar
de 25.000 a 30.000 por ano, mais do que Saint-Étienne produzia antes das guerras da
Revolução.132 No entanto, Blanc faleceu em 1801, sem cumprir esse objetivo. A manu-
fatura foi comprada por outro empreendedor, que assumiu o compromisso de ir além do
que Blanc tinha feito, prometendo entregar 12.000 espingardas totalmente intercambiá-
veis por ano. Só que isso nunca foi feito – até o encerramento das atividades em Roan-
ne, em 1807, tinham sido entregues 12.000 fechos e 2.000 espingardas.
131
Id. p. 426.
132
ALDER, op. cit. p. 321.
239
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
133
BRUN, Jean Francois. La Mécanisation de l’Armurerie Militaire (1855-1869). Acta Universitatis
Danubius. No. 1/2010. p. 110. Na prática, a produção mecanizada na França só foi adotada em
1866, com a introdução do fuzil Chassepot.
134
COOPER, Carolyn C. The Portsmouth System of Manufacture. Technology and Culture. Vol. 25 Nr.
2, April 1984. p. 186.
240
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
135
id. p. 193.
241
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
ser útil para os E.U.A., fui até o artesão e ele me mostrou as peças pa-
ra 50 fechos desmontados. Eu próprio montei vários, pegando peças
ao acaso, à medida que as pegava, e elas se encaixavam na mais per-
feita forma. As vantagens isso, quando armas precisam de consertos,
são evidentes. Ele consegue isso por ferramentas de sua própria in-
venção, que ao mesmo tempo resumem o trabalho, de forma que ele
pensa que será capaz de acabar uma espingarda por duas libras [ester-
linas] a menos do que o preço usual. Mas ainda serão precisos dois ou
três anos antes que ele seja capaz de acabar quantidade maior delas.
Eu o menciono agora, pois isso pode ter influência no plano para
equipar nossos armazéns com esta arma.136
Como escrito acima, Jefferson demonstrou um grande interesse pelo estudo das
peças intercambiáveis com armas: ele ainda escreveria três outras cartas sobre o tema,
uma para o governador do estado da Virgínia (24 de janeiro de 1786) e duas para o ge-
neral Henry Knox, o secretário (ministro) da guerra dos EUA, em 12 de setembro de
1789 e 24 de novembro 1790. Com a carta de 1789 ele enviou sete fechos completos
(seis do modelo de espingarda de oficial e um para a de soldados) feitos por Blanc, bem
como as ferramentas necessárias para a montagem dos mesmos. Nela, reiterou as vanta-
gens do sistema de peças intercambiáveis para os consertos na arma e sugeriu que Blanc
poderia ser contratado para trabalhar em uma manufatura norte-americana.137 Na última
carta, de 1790,138 ele remeteu uma cópia da memória apresentada por Blanc à Assem-
bleia Nacional sobre sua proposta de fabricação de armas (ver nota 129, acima).
Dessa forma, parece que os Estados Unidos estavam informados sobre os desen-
volvimentos no campo da manufatura de armas. Só que o passo seguinte na conforma-
ção da moderna produção fabril surgiu justamente lá e os americanos colocam em dúvi-
da o papel de seus predecessores na introdução da fabricação de armas na América do
Norte – eles preferem assumir todo o crédito pela introdução das novas técnicas. O que
é certo é que no país já havia a fabricação de armamentos, mas em pequena escala, por
armeiros privados, mas esta não era um ramo importante entre as manufaturas existentes
nos Estados Unidos. Por parte do governo, as primeiras ações foram modestas: um mo-
mento inicial na montagem de arsenais federais no país começou com a Guerra de Inde-
136
CARTA de Thomas Jefferson embaixador dos Estados Unidos na França, a John Jay, secretário de
relações exteriores, Paris, 30 de agosto de 1785. National Archives: Founders on line.
https://goo.gl/61lrzA (acesso em outubro de 2016).
137
CARTA de Thomas Jefferson embaixador dos Estados Unidos na França, a Henry Knox, secretário da
guerra, Paris, 12 de setembro de 1789. National Archives: Founders on line. https://goo.gl/lTuheF
(acesso em outubro de 2016).
138
CARTA de Thomas Jefferson embaixador dos Estados Unidos na França, a Henry Knox, secretário da
guerra, Paris, 24 de novembro de 1789. National Archives: Founders on line. https://goo.gl/48mizh
(acesso em outubro de 2016).
242
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
No final do século XVIII, os EUA julgaram necessário reformar seu sistema mi-
litar – inicialmente em bases bem diferentes dos de outros países, é verdade, já que a
ênfase, por muitos anos, continuaria na ideia da defesa por parte de milícias. Assim, em
1792 foi aprovada uma lei para “estabelecer uma milícia uniforme pelos Estados Uni-
dos”,141 e dois anos depois, foi aprovada outra norma legal, determinando o estabeleci-
mento de Arsenais, com um superintendente e um mestre armeiro, bem assim como
operários, desde que esses não excedessem cem, em todos os arsenais.142 Apesar da
proposta ser modesta, dois Arsenais foram estabelecidos, os de Springfield, Massachu-
setts e o de Harpers Ferry, Pensilvânia e as primeiras armas começaram a ser fabricadas
já em 1795.
139
Ver o caso do Arsenal de Frankford: FARLEY, op. cit.
140
Por exemplo: SCHEEL, Heinrich Otto. De Scheel´s treatise on artillery. Blomefield : Museum Resto-
ration Service, 1984.
141
PALMER, Dave R. 1794: America, its Army, and the Birth of the Nation. Novato: Presidio Press,
1994. p. 217.
142
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA – An act to provide for the erecting and repairing of arsenals
and magazines and for other purposes. 2 de dezembro de 1793.
143
WOODBURY, op. cit. p. 242.
243
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
armas por ano por homem, um claro indicativo que os métodos de produção usados ini-
cialmente lá eram primitivos. 144
De fato, quando o Congresso dos EUA resolveu se preparar contra uma possível
guerra contra a França, em 1798, por causa da ação de corsários na costa americana, foi
autorizada a assinatura de contratos com companhias privadas para o fornecimento de
armas. Uma dessas empresas foi a de Eli Whitney, um dos heróis do imaginário norte-
americano, por suas atividades pela industrialização do País, sendo considerado por
alguns como o responsável pela “gênese do poder industrial dos Estados Unidos”.145
Whitney tinha tido um papel importante no desenvolvimento de uma máquina para des-
caroçar algodão, vital para a agricultura do sul dos EUA, mas não obtivera lucros com
ela, por causa da lei de patentes de lá. Acossado por dívidas, o inventor se propôs a for-
necer dez mil espingardas para o exército americano, conseguindo um contrato diferente
dos outros fornecedores, com condições vantajosas, podendo receber adiantamentos
antes da entrega das armas, algo que lhe seria vital para sobreviver ao assédio de seus
credores.146
144
Certamente o número de armas por homem/ano dever ter sido maior, já que o Arsenal tinha outras
funções, como a fabricação de reparos, mas ainda assim, o número seria pequeno, bastando compa-
rar com as 150 armas feitas por ano na fábrica inglesa de Levisham, em 1811 (ver página 39).
145
MIRSKY, Jeannette. The world of Eli Whitney. New York: Macmillan, 1952. p. IX. A bibliografia
sobre o inventor é vasta, indo de artigos técnicos até livros de divulgação.
146
WOODBURY, op. cit. p. 238.
244
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Apesar da fama e do mito sobre o inventor, é fato que ele levou dez anos e meio
para completar seu contrato e nunca alcançou uma arma com peças intercambiáveis, que
seria um dos seus objetivos: em uma demonstração do princípio, feita em 1801, com a
presença do então presidente eleito, Thomas Jefferson, ele conseguiu colocar dez fechos
em uma mesma espingarda,150 mas isso não implica que a ajustagem mais fina, das pe-
ças do fecho, tivesse sido alcançada. Woodbury, que tem um excelente artigo desmitifi-
cando a figura de Whitney, afirma que, de fato, os fechos feitos pelo inventor não ti-
nham peças intercambiáveis, um dos elementos fundamentais para isso, o uso de gabari-
tos, não estando presente em seus processos.151
De qualquer forma, a documentação deixa claro que Whitney montou uma fábri-
ca – e usamos o termo no seu sentido estrito – centralizada, com divisão de trabalho e
máquinas ferramentas movidas a água. 152 Mais importante, ele produziu as armas com
essas técnicas, obtendo lucro, um passo importante na evolução dos processos fabris.
Sua influência foi ainda maior no meio militar, pois a ideia de armas intercambiáveis
147
MIRSKY, op. cit. p. 196.
148
WOODBURY, op. cit. 242.
149
id. p. 244.
150
SMITHURST, op. cit. p. 7.
151
WOODBURY, op. cit. p. 247 e 249.
152
Id. p. 249.
245
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
É verdade que a regularidade das armas feitas inicialmente para o exército norte-
americano não era das melhores, parecendo até ser pior do que em outros países. Em
1834 o mestre armeiro do Arsenal de Frankford, que atuava como uma casa do trem,
recebendo armas de fabricantes privados e de arsenais do governo para distribuição a
unidades, inspecionou uma série de 145 caixas de armas. Estas já tinham sido aceitas
para serviço e tinham sido feitas, supostamente, de acordo com os modelos aprovados.
No entanto, o armeiro encontrou canos variando de 96,5 cm até 114 cm, sendo que o
modelo oficial deveria ter 107 cm. Mais relevante, em termos de uso das armas, era que
o calibre variava até meio milímetro, o que poderia impedir o uso da espingarda com a
munição regular, se o calibre estivesse abaixo do padrão.153
153
FARLEY, op. cit. p. 19
154
RODENBOUGH, Theo. F. & HASKIN, William L. The Army of the United States: Historical Sketch-
es of Staff and Line with Portraits of Generals-in-Chief. New York: Maynard, Merrill, 1896. p. 126.
155
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA – Department of defense. Selected manpower statistics: fiscal
year 1997. Washington: Washington headquarter services, s.d. [1997]. pp. 46 e 55.
156
HOUNSHELL, op. cit. p. 28.
246
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Apesar da falha inicial, o contrato de North é um sinal evidente que havia um in-
teresse governamental na feitura de armas usando os princípios industriais: por exem-
plo, North visitou o Arsenal de Springfield, com o objetivo expresso fazer que “seu pla-
no de trabalho uniforme” fosse adotado na instalação.158 Essa proposta de aperfeiçoar as
instalações do governo se confirma na forma como a arma de John Hall foi introduzida
no exército americano. Este inventor, em 1811, tinha conseguiu a patente para a fabrica-
ção de um fuzil de pederneira, com mecanismo de carregamento de retrocarga.159 Neste
caso, a necessidade de vedação da culatra, para que gases não escapassem durante o
disparo era um imperativo e isso poderia ser obtido de forma mais fácil com o uso de
técnicas fabris de precisão, tais como as usadas na feitura de peças intercambiáveis –
uma coisa era decorrente da outra. As armas de Hall eram mais caras que o usual, mes-
mo assim ele foi contratado pelo governo federal para trabalhar no Arsenal de Harpers
Ferry, recebendo um salário e um royalty de um dólar por cada fuzil feito, tendo sido
encomendados mil deles, entregues em 1824. 160
157
id. p. 29.
158
SMITH. Merritt Roe John H. Hall, Simeon North, and the Milling Machine: The Nature of Innovation
among Antebellum Arms Makers. Technology and Culture. Vol. 14, No. 4, Oct., 1973. p. 578.
159
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA– Patent Office. John H. Hall, of Portland, Maine, and William
Thornton, of Washington, D.O. Improvement in fire-arms. Specification forming part of Letters Pa-
tent dated May 21, 1811.
160
PEAUCELLE, op. cit. p. 65.
247
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
conclusão do comité sendo muito elogiosa para a arma e processos adotados na sua ma-
nufatura.161
No entanto, deve-se frisar que os gastos investigados não podem ser associados
apenas à arma, se devendo mais aos custos de desenvolvimento e, principalmente, aqui-
sição de capital: Em 1819 foi introduzido o torno copiador de Blanchard para fazer co-
ronhas – baseado nas máquinas da fábrica de moitões de Portsmouth (ver Figura 29).162
No ano seguinte foi adquirida uma nova fresa para preparo das peças e em 1829 uma
máquina para produzir canos por laminação, substituindo o martinete movido à força
hidráulica, que já tinha sido uma inovação dos arsenais americanos.163 Hall também
desenhou maquinário para estampar peças por gravidade, o seu maior invento sendo,
contudo, novos tipos de fresa, capazes de funcionar sem supervisão de trabalhadores
especializados: nas palavras do Comitê Carrington:
161
SMITH (1973), op. cit. p. 584.
162
HOUNSHELL, op. cit. p. 35
163
KENNEDY, R.N., Jr. Notes on the model 1816 U.S. Flintlock musket. Bulletin of the American Socie-
ty of arms collectors, Nr 31, Spring, 1975. p. 41.
164
SMITH (1973), op. cit. p. 582. apud CARRINGTON Committee Report, January, 6, 1827. Grifo de
Smith.
248
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
165
Fotografado pelo autor da presente tese na exposição permanente do Museu Nacional de História
Americana, Smithsonian. 2001.
166
HOUNSHELL, op. cit. p. 3.
249
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
pelo Arsenal de Springfield. Um passo notável, considerando que se queria fazer armas,
basicamente idênticas, em duas fábricas separadas, para dois clientes distintos. No en-
tanto, o exame das peças existentes em museus, prova que esse objetivo foi atingido, o
que prova que o uso de complexos sistemas de gabaritos tinha sido desenvolvido com
sucesso, permitindo a cópia de todas as peças da arma.167
167
GORDON, Robert B. Simeon North, John Hall and Mechanized Manufacturing. Technology and Cul-
ture. Vol. 30. Nr. 1, Jan. 1989. p. 183.
168
Fotografado pelo autor da presente tese na exposição permanente do Museu Nacional de História
Americana, Smithsonian. 2001.
169
HOUNSHELL, op. cit. p. 41.
250
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
modelo 1841 – estavam dentro das tolerâncias aceitáveis, usando essas ferramentas.170
Vale uma comparação deste conjunto de gabaritos com o simples escantilhão usado
pelos armeiros portugueses (ver Figura 26).
170
LUBAR, Steven. Engines of change: an exhibition on the American Industrial Revolution at eh Na-
tional Museum of American History, Smithsonian Institution. Washington: National Museum of
American History, 1986. p. 59.
171
SMITH (1973), op. cit. p. 584.
172
KENNEDY, op. cit. p. 42.
251
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
173
HARPER'S WEEKLY Sept. 21, 1861. p. 605.
174
id. p. 607.
175
id. p. 607.
252
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Máquinas de costura
45000
40000
35000
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
176
HOUNSHELL, op. cit. p. 69 e 182.
177
id. p. 89.
178
id. pp. 70, 80 e 92.
253
Capitulo 5 - A pré-indústria e a produção de artigos militares
Uma nota que deve ser frisada é que na introdução dos métodos de produção
modernos as forças armadas tiveram um papel fundamental. Os engenheiros militares de
Gribeauval, os oficiais de marinha de Portsmouth e os engenheiros militares do Depar-
tamento de Material Bélico nos Estados Unidos foram elementos que defenderam e in-
centivaram a modernização. Em todos esses casos, os militares aceitaram fazer grandes
investimentos em tempo e dinheiro, em empreendimentos experimentais arriscados,
visando à obtenção de resultados ideais e não necessariamente os mais econômicos. Isso
apesar da resistência que havia, não só por parte de políticos e intelectuais, que viam os
desembolsos militares como “estéreis”, assim como os dos empreendedores privados e
trabalhadores, que viam a mudança como uma ameaça a seu modo de vida.180
179
HOUNSHELL, op. cit. p. 331.
180
Ver, por exemplo, ALDER, op. cit. p. 270, sobre a resistência dos trabalhadores em trabalhar por em-
preitada, ao invés de por jornal, como queriam os engenheiros militares.
254
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Sumário
255
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
1
RELAÇÃO que mostra os fardamentos que se têm remetido dos Armazéns Reais desta provedoria para
a Capitania de São Paulo, e dos que tem recebido nestes mesmos Armazéns, vindos do Arsenal Real
dos Exércitos para a mesma Capitania. O desembargador procurador da Fazenda Real, Francisco Jo-
sé Brandão. Rio de Janeiro, 8 de agosto de 1776. DOCUMENTOS Interessantes. Vol. XVII. São
Paulo: Paulista, 1895. p. 136.
2
PORTUGAL – Rei. Provisão Régia ordenando ao Governador da capitania do Rio de Janeiro que pagas-
se os soldos atrasados e fardasse os soldados da Praça de Santos. Lisboa, 22 de fevereiro de 1716. p.
188. DOCUMENTOS Interessantes, vol. XLIX. São Paulo: Irmãos Ferraz, 1926. A provisão infor-
mava que em fevereiro do ano anterior, os soldos estavam atrasados quatro meses e os uniformes
quatro anos.
256
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Por sua vez, nem tudo dependia de Portugal, havia uma estrutura local de produ-
ção e esta não pode ser desprezada, como colocada nos capítulos anteriores. Um dos
elementos centrais na estratégia portuguesa eram os estaleiros governamentais.
Esse tipo de atividade não ficou restrito à capital. “Ribeiras”, estaleiros gover-
namentais, de maior ou menos porte, foram instalados em praticamente todas as capita-
nias costeiras e até em áreas sem acesso direto ao mar, como Mato Grosso, onde o go-
verno mantinha uma pequena flotilha de canoas artilhadas. No Rio de Janeiro, em 1734
já havia um “engenho”, uma máquina para querenar, para poder limpar o fundo de na-
vios7 e o esquema de pequenas carreiras regionais se expandiu a partir do governo do
marquês de Pombal (1756-1777), quando foram criados vários arsenais ou transforma-
das as antigas ribeiras. Foram elevados à situação de Arsenal de Marinha as instalações
3
REGISTRO de uma representação que fez o Corpo de Dragões ao Governador Diogo Osório Cardoso.
Porto do Rio Grande de São Pedro, 11 de janeiro de 1742. Anais do Arquivo Histórico do Rio Gran-
de do Sul. Vol. I. Porto Alegre, 1977. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1977. p. 152.
4
REQUERIMENTO dos almoxarifes dos armazéns de artilharia, pólvora e Ribeira das Naus, ao rei [D.
Filipe III], sobre um compromisso que tomaram com o galeão Santa Ana, o qual vindo de torna via-
gem no ano de 1624, se perdeu na ilha de São Jorge. [ant. 1626, Maio, 27]. Mss. Arquivo Ultramari-
no. AHU_CU_005-02, Cx. 4, D. 429. Gastão Penalva informa que a Ribeira foi criada no governo de
D. Francisco de Souza (1591-1602). PENALVA, Gastão. Homens e coisas da velha armada: a idade
de ouro da construção naval. ILUSTRAÇÃO brasileira. Ano V, nº 44, abril de 1944. s.n.p. De fato,
em 1609 se pediu um orçamento para a construção de uma nau de 400 toneladas na Bahia. LAPA,
José Roberto do Amaral. A Bahia e a carreira da Índia. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1968. p. 53.
5
REGIMENTO DE TOMÉ DE SOUZA, 17 de dezembro de 1548. Apud TAPAJÓS, Vicente. História
Administrativa do Brasil. vol. II. Rio de Janeiro: D.A.S.P. - Serviço de Documentação, 1966. p. 103.
6
SELVAGEM, Carlos. Portugal Militar: compêndio de história militar e naval de Portugal, desde as
origens do estado Portucalense até o fim da Dinastia de Bragança. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa
da Moeda, 1991. p. 467.
7
GREENHALGH, Juvenal. O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro na História: 1763-1822. Rio de
Janeiro: Editora a Noite, 1951. p. 26.
257
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
da Pará (1761, existia desde 1729), Rio de Janeiro (1763) e Maranhão (já existia em
1733), que receberam instruções de construir navios de grande porte: no Rio, foi lança-
da a quilha da nau D. Sebastião, de 64 canhões e o do Pará construiu a Nau Belém, de
74 peças. 8
A expansão do sistema de construção naval não parou com essas instalações re-
lativamente grandes. Em Porto Alegre havia uma instalação que fez o Brigue Bellona
em 1771, em plena guerra com os espanhóis, que dominavam a margem sul do canal de
acesso à lagoa dos Patos, em tese impedindo o reabastecimento das forças militares no
Rio Grande do Sul. Pernambuco teve um Arsenal construído em 1798. Já no século
XIX, em Santa Catarina, que não chegou a ter oficialmente um Arsenal, apenas uma
intendência, foram feitas barcas canhoneiras em 1820. No mesmo ano foi criada uma
instalação de maior porte em Alagoas, onde foram lançadas as corvetas Maceió e São
Cristóvão. No Império, foi montada um Trem Naval em Mato Grosso, onde foram feitas
barcas canhoneiras (1825), o mesmo sendo feito em São Paulo.9 Durante a ocupação do
Uruguai como Província Cisplatina (1816-1828), o antigo Apostadero Naval dos espa-
nhóis em de Montevidéu teve um status de Arsenal de Marinha.
Tais Arsenais tinham dimensões variáveis. O do Pará, por exemplo, que não era
o maior de todos, em 1770 tinha 207 operários, mais 71 serventes e marinheiros,10 e até
1800 foram lançadas nele: uma nau de 74 canhões, cinco fragatas de 44 canhões, quatro
charruas, quatro brigues e doze chalupas artilhadas. O governador do Pará informando
que estavam
8
id. p. 27.
9
PENALVA, op. cit. n.p.
10
LOPES, Thoribio. Arsenal de Marinha do Pará: Sua origem e sua história. Belém, s.ed 1945. pp. 81-
82.
11
id. p. 89.
258
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
12
BRASIL – Decreto de 27 de março de 1832. Extingue as Intendências da Marinha do Pará, Maranhão,
Pernambuco, e Santos, e providencia a respeito do fornecimento dos navios da Armada e dos traba-
lhos do Arsenal de Marinha do Pará.
259
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
carpintaria,13 instalações bem simples, capazes apenas de fazer reparos menos comple-
xos, ainda que houvesse uma carreira no Arsenal.
Arsenal Nº de Navios
Belém 21
Rio de Janeiro 19
Bahia 16
Recife 11
Vários 8
Soma 75
Tabela 9 – Navios produzidos nos estaleiros do País.15
Na linha “vários” estão incluídos os navios feitos em Santos, Maceió e Desterro (Florianópolis). Só estão
listados navios oceânicos, a não ser no caso de Recife, onde aparecem três dragas de grande porte – as
únicas construídas pela Marinha no Brasil Império.
O número de navios feitos em Belém até 1864 é notável, sendo que o último de-
les feito dentro do nosso recorte, o D. Pedro, de 1863, já era a vapor,16 mostrando que
houve uma tentativa e modernizar a instalação, algo que também aconteceu em Salva-
dor, onde foi batida a quilha do vapor Moema, em janeiro de 1865.
13
GREENHALGH, op. cit. p. 52.
14
BRASIL – Ministério da Marinha. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na segunda
sessão da décima terceira legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da marinha,
Afonso Celso de Assis Figueiredo. Rio de Janeiro: Diário do Rio de Janeiro, 1868. Anexo VIII.
15
id. Anexo VIII.
16
id. Anexo VIII.
17
id. anexo VIII.
260
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
No caso das marinhas, apesar do elemento humano ainda ser vital, esse só podia
ser aplicado através das embarcações e seus armamentos. Dessa forma, manter os navi-
os atualizados era uma necessidade, não só em termos de seus desenhos básicos, mas
também em detalhes de seu funcionamento. Um exemplo disso pode ser visto no caso
dos suprimentos: uma das principais oficinas dos antigos Arsenais de Marinha era a de
tanoaria, para fabricação de toneis, necessários não só para o transporte de líquidos, mas
também de alguns sólidos. Para aperfeiçoar esse detalhe, em 1832 o Arsenal de Marinha
do Rio de Janeiro (AMRJ) passou a fabricar tanques de ferro para o fornecimento das
embarcações, o que demandava uma oficina de serralheira bem equipada e exigiria uma
de galvanização, para dar maior durabilidade aos tanques. Nesse mesmo ano, se tentou
instalar duas máquinas a vapor, uma para serrar e outra para encurvar madeiras e foram
instalados teares para produção de velas.19
18
No Brasil, durante a Guerra de Independência, se forneceram chuços para armar as ordenanças. Nos
Estados Unidos, na Guerra Civil (1860-1865), o uso de piques chegou a ser aprovado pelo coman-
dante confederado do Exército do Norte da Virgínia, General Lee, apesar das armas não terem sido
distribuídas. Para o caso do Brasil, ver: BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício de Manoel da Costa
Pinto ao Ministro da Guerra, conde da Lage, sobre pedido feito pela Marinha. Rio de Janeiro, 13 de
janeiro de 1822. Mss. Arquivo Nacional. IG7 3. Quanto ao fornecimento de piques para as tropas
confederadas, ver: GWYNNE, S. C. Rebel Yell: The Violence, Passion, and Redemption of Stone-
wall Jackson. New York, Scribner, 2014. p. 196.
19
BRASIL – Ministério da Marinha. Relatório do ano de 1832. s.n.t. [1833]. p. 5
261
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
ano o número de operários do AMRJ era 567, divididos em doze especialidades. 20 Para
efeito de comparação, o Exército, no pique do corte de gastos com a força de terra, em
1836, com um quadro de efetivos autorizado de 6.320 soldados, o Arsenal de Guerra da
Corte tinha apenas 231 operários, divididos em quatorze especialidades. 21
Cremos ser importante notar que os pagamentos de alguns desses operários mais
especializados era realmente elevado, pelo menos em comparação com os soldos das
forças armadas: em 1845, o jornal (diária) de cinco dos aprendizes da oficina de máqui-
nas era de 2.000 réis. Com base em um mês de trabalho de 26 dias isso implicava em
vencimentos mensais de 52.000 réis – nesse período, o soldo de um capitão, um oficial
de grau intermediário, era de 50.000 réis, menos do que ganhava um aprendiz, um traba-
lhador que sequer tinha sua formação completa. Os artesãos mais bem pagos das ofici-
nas de fundição de ferro e de máquinas recebiam 4.000 réis por dia, ou 106.000 réis
mensais, mais do que um tenente-coronel, enquanto os mestres, com 5.000 réis, 22 rece-
20
TELLES, Pedro Carlos da Silva. História da engenharia no Brasil (século XVI a XIX). Vol. I. Rio de
Janeiro: Clavero, 1994. p. 294.
21
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal das oficinas do Arsenal de Guerra da
Corte e dos objetos que se devem presentemente nelas fabricar. Rio de Janeiro, 24 de novembro de
1836. Mss. ANRJ. IG7 19.
22
BRASIL – Ministério da Marinha. Relatório da Repartição dos Negócios da Marinha apresentado à
Assembleia Geral Legislativa na 2ª sessão da 6ª legislatura pelo respectivo ministro e secretário de
estado Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti d’Albuquerque. Rio de Janeiro: Laem-
Continua –––––––
262
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
biam um valor mensal acima do soldo de um brigadeiro, um oficial general.23 Algo no-
tável, considerando como o trabalho manual era visto na sociedade da época, uma refle-
xão do mercado de trabalho para essas especialidades, que certamente tinham muito
pouco trabalhadores no Brasil – o Relatório do Ministro da Marinha especifica que es-
ses operários de máquinas eram belgas, contratados na Europa para a oficina.24 Por sua
vez, o trabalho na cordoaria, uma atividade não muito especializada e que tinha um
mercado de trabalho local, não era um bem pago, o mestre recebia apenas 1.800 réis
(46.800 réis) e o mancebo com menor pagamento tinha uma diária de 480 réis, apenas
um pouco acima do que ganhava um sargento do exército.
Continuação–––––––––––
mert, 1845. Nº 2. Quadro das oficinas e diversos serviços do Arsenal da Marinha da Corte, seu
pessoal, vencimentos individuais em dia util, e férias vencidas no mês de fevereiro de 1845.
23
SCHULZ, John. O exército na política: origens da intervenção militar: 1850-1894. São Paulo:
EDUSP, 1994. p. 211.
24
BRASIL – Ministério da Marinha. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na terceira
sessão da oitava legislatura pelo ministro e secretário de estado, Manoel Vieira Costa. Rio de Janei-
ro: Tipografia Nacional, 1851. p. 14.
25
PLANTA do Arsenal de Marinha, Henry Law. Mss. Biblioteca Nacional.
263
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
dos,26 escravos da nação, africanos livres e escravos de aluguel relacionados como tra-
balhando na instituição, a categoria de sentenciados não tendo correspondência no Ar-
senal de Guerra da Corte. A Marinha tinha até o direito de apenar, requisitar a força um
quarto da força de artesãos livres das oficinas particulares para trabalhar no Arsenal, um
direito legal que consta em repertórios de legislação militar, 27 mas isso não era uma
prática normal.
26
SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A capoeira escrava no Rio de Janeiro: 1808-1850. Tese de Douto-
rado. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1998. (mimeo). pp. 81.
27
MATOS, Raimundo José da Cunha. Repertório da legislação militar atualmente em vigor no exército e
armada do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Seignot-Plancher, 1837. Vol. I. p. 21.
28
BRASIL – Ministério da Marinha. Relatório de 1845, op. cit. Quadro nº 6.
29
id. mapa 2. Observamos que algumas das somas da tabela original não estão corretas.
264
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
A capacidade técnica das oficinas da Marinha pode ser demonstrada no fato das
máquinas do vapor Recife, construído no estaleiro da Ponta da Areia em 1849, terem
sido feitas no Arsenal. 33 Além disso, em 1850 se iniciou a fundição de canhões de bron-
ze,34 sendo que a instituição forneceria ao exército os primeiros canhões raiados fabri-
30
BRASIL – Decreto nº 54, de 26 de Outubro de 1840. Determinando que as duas Companhias, que
restam para o completo do Corpo de Imperiais Marinheiros, sejam compostas de Operários das
Oficinas do Arsenal da Marinha, e consideradas nele destacadas.
31
GREENHALGH, Juvenal. O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro na História: 1822-1899. Rio de
Janeiro: Editora a Noite, 1965. p. 124.
32
TELLES, op. cit. p. 296.
33
BRASIL – Ministério da Marinha. Relatório de 1851, op. cit. p. 14.
34
O Museu Histórico Nacional tem preservado quatro canhões fundidos pela Marinha na década de 1850,
peças Siga 016170, 015892, 016171 e 004420.
265
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
cados no Brasil, 35 além de peças e munições de ferro fundido. Nas décadas de 1850 e
1860 – e, podemos supor, antes –, quando o Arsenal do Exército precisava de uma as-
sessoria técnica sobre um assunto mais complexo, os engenheiros e mestres da Marinha
eram consultados. 36 Por sua vez, devemos dizer que Rouhette patenteou uma máquina
de descaroçar algodão e em 1846 o ministro da Marinha solicitou que essa máquina
fosse feita no Arsenal de Guerra, 37 o que dá a entender que as oficinas do Exército eram
mais flexíveis do que as da Marinha, podendo atender com mais facilidade pedidos ex-
traordinários. Isso, por si, não é um fator positivo, pois indica uma organização mais
artesanal do trabalho.
35
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da Guerra, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jor-
dão ao coronel diretor do Arsenal de Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea, mandando forne-
cer bronze de canhões velhos para a fundição de 36 canhões no Arsenal da Marinha. Rio de Janei-
ro, 28 de fevereiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 515
36
Em 1862, se solicitou aos 1os tenentes engenheiros da Marinha, Braconnot e Antônio Gomes de Matos,
para darem um parecer sobre a máquina de raiar canhões que tinha sido feita no BRASIL – Ministé-
rio da Guerra. Ofício de Vicente Pereira da Costa Piragibe, da 1ª Diretoria Geral, 1ª Seção, ao Di-
retor do Arsenal de Guerra da Corte, Coronel Alexandre Albino Manoel de Carvalho, sobre maqui-
nistas da marinha. 20 de setembro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 498.
37
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da Guerra, Antônio Francisco de Paula e Hollanda
Cavalcanti d’Albuquerque, ao diretor do Arsenal de Guerra, mandando dar a Carlos Rouhette os
meios de fazer a máquina de descaroçar algodão. Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1846. Mss.
ANRJ. IG7 404.
38
Para uma discussão sobre os galés empregados no dique, ver: SOARES, op. cit.
39
TELLES, op. cit. p. 294.
266
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Em parte, o maior status dado a este funcionário era devido à necessidade técni-
ca do desenho de produtos complexos, como um navio, mesmo que isso tenha sido tra-
dicionalmente feito por artesãos, como dito. Em nossa opinião, mais importante era uma
mudança de concepção, que encarava a construção naval como uma atividade intelectu-
al e não manual, que necessitava de um projeto e coordenação de várias diferentes espe-
40
BRASIL – Junta de Fazenda dos Arsenais do Exército. Ofício do Inspetor, José Francisco da Silva ao
ministro da Guerra, Joaquim de Oliveira Alves, 28 de abril de 1829. Mss. ANRJ. IG7 18.
41
BRASIL – Ministro da Guerra. Aviso do Ministro, José Clemente Ferreira, para o diretor do Arsenal,
José dos Santos e Oliveira. Rio de Janeiro, 7 de junho de 1842. Mss. ANRJ, IG7 503. O aviso era
para o diretor emitir “ordem para que nunca falte trabalho aos referidos presos”, oficiais de correeiro
e alfaiates da fortaleza de Santa Cruz e Aljube.
42
O construtor das quatro fragatas de Belém no período colonial era Valentim José, “mestre da Ribeira”,
um artesão, que chegou a fazer um requerimento de uma devassa contra seu superior, o superinten-
dente do Arsenal, algo impensável dentro da hierarquia militar normal. REQUERIMENTO do mes-
tre da Ribeira, Valentim José para o rei, solicitando a realização de uma devassa contra o intendente
da Marinha do Pará, João António a favor da Fazenda Nacional. s.d. [1821] Mss. Arquivo Ultrama-
rino. AHU_CU_013, Cx. 151, D. 11654.
267
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Dessa forma, o operário Napoleão João Batista Level, filho de Jean Baptiste Le-
vel, mestre serralheiro e construtor naval que tinha vindo para o Brasil com a Missão
Artística Francesa, começou seu aprendizado – na forma tradicional, aos quatorze anos,
estudando de forma prática – no Arsenal de Marinha da Bahia. Só que, ao contrário dos
outros construtores e trabalhadores da instituição, a Marinha fez um investimento na sua
formação acadêmica: Level foi enviado para a França, para fazer o curso de engenharia
naval, retornando em 1852, com a patente honorária de 1º tenente – devendo-se frisar
que ele não fez o curso da Escola Naval, de formação de oficiais de Marinha.43 No
mesmo ano de seu retorno, projetou a corveta Imperial Marinheiro, desenhando mais
oito navios no Arsenal do Rio de Janeiro e três no da Bahia até 1865.
43
TELLES, op. cit. p. 296.
44
Navegação de Cabotagem. Revista Marítima Brasileira, Ano V, Vol. IX. Rio de Janeiro: Lombaerts,
1883. p. 60.
268
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Mauá como engenheiro, até se associar com Miers para criar a Miers & Maylor, 45 o
segundo maior estaleiro/fundição/fábrica de máquinas do Rio de Janeiro na década de
1850.
Retornando ao nosso assunto, outro nome técnico que trabalhou no Arsenal era o
Henrique Antônio Batista, assim como Braconnot um oficial de carreira, que no Arsenal
era responsável pela diretoria de Artilharia e que foi enviado para a Europa em 1862,
para estudar o tema, sendo responsável pela criação do Laboratório Pirotécnico da Ma-
rinha.46 No caso, apontamos que eram quatro oficiais com formação superior, além dos
engenheiros civis que trabalhavam nas oficinas do Arsenal de Marinha – não como ad-
ministradores, mas como técnicos, um aspecto único em todas as manufaturas do go-
verno da época.
45
A EXPOSIÇÃO Nacional - XX. Diário do Rio de Janeiro. Ano XLII, nº 70. Rio de Janeiro, 12 de março
de 1862.
46
MOITREL, Mônica Hartz Oliveira. A logística naval na Marinha Imperial durante a guerra da Trípli-
ce Aliança contra o governo do Paraguai. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010. p.
105. No entanto, deve-se dizer que já havia uma oficina que atuava como laboratório antes, Gree-
nhalgh informando que muitas vezes esta era dirigida por um oficial do Exército. GREENHALGH
(1965), op. cit. p. 56.
269
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
com nove operários e um aluno externo matriculado. 47 Essa escola certamente era de
ensino avançado, já que ainda havia outra funcionando na instituição, uma “Escola de
Desenho”, com oito aprendizes inscritos, de onze a quatorze anos. Cremos ser notável a
presença dessas duas classes, tendo em vista a importância do desenho técnico na for-
mação do pensamento técnico do mundo moderno, como tratado no capítulo anterior.
Como uma última atividade em termos de formação de pessoal, existia uma “Es-
cola de Primeiras Letras”, com cadeiras de leitura, caligrafia e aritmética prática, basi-
camente destinada a crianças que trabalhavam na instituição, com 121 alunos. A relação
de alunos dessa Escola é curiosa, pois foi a única fonte que encontramos com a idade
dos trabalhadores das empresas do governo. Não podemos deixar de notar que essa es-
cola obviamente se dedicava ao pessoal mais jovem e menos qualificado, mas para uma
forma moderna de ver, é notável a presença de crianças de sete e oito anos trabalhando
como artesões, mesmo em funções de certo risco e que exigiam força física, como os
carpinteiros de machado.48 Tal prática, aparentemente, não era adotada no Arsenal de
Guerra, como vemos no caso dos aprendizes da oficina de fundição, mencionados antes,
onde se fez questão de enviar para a Marinha estudantes que já tivessem certo desenvol-
vimento físico.
Deve-se frisar que a existência do Arsenal de Marinha, apesar de não ser o obje-
to de nosso estudo, é importante para entender o funcionamento da manufatura do Exér-
47
BRASIL – Ministério da Marinha. Relatório de 1845, op. cit. Mapa nº 3.
48
BRASIL – Ministério da Marinha. Relatório de 1845, op. cit. Mapa nº 5.
49
BRASIL – Ministério da Marinha. Relatório de 1851, op. cit. p. 14.
270
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
cito. Por exemplo, um dos problemas sempre apontado como uma dificuldade para a
existência de manufaturas no País foi a falta de mão de obra especializada,50 tal como
será tratado em outro capítulo e como as relações de pessoal da Fundição da Ponta da
Areia poderiam dar a entender (ver Tabela 8), no entanto, os arsenais de marinha eram
grandes empregadores de pessoal – tudo indica que seriam os maiores do país, havendo
constantes trocas de pessoal, serviços e materiais entre essas instalações,51 como já tra-
tamos brevemente.
6.1.2 Os Trens
Desde o início da colonização a coroa instalou vários armazéns reais, que guar-
davam as armas e munições que seriam necessários para as tropas – já são citados no
início da colonização, como em 1552, quando o Governo Geral forneceu armas e muni-
ções para a capitania de São Vicente.52 No entanto, como colocado antes, um sistema de
simples armazéns não era suficiente, a existência de manufaturas para as forças armadas
se justifica quando vemos que não era viável economicamente ou administrativamente a
produção de bens de natureza única ou de necessidade imediata somente na Europa,
aguardando-se então seu envio pra o Brasil.
Dessa forma, são conhecidas algumas instalações para a feitura e/ou reparo de
artigos militares existentes, desde o século XVII, como os Trens – mesmo os armazéns
reais podiam, às vezes, executar essas funções, como pode ser visto no caso da nomea-
ção de um armeiro para os de Salvador, em 1655.53 No entanto, não foi feito um estudo
sobre esses trens e as informações disponíveis são extremamente vagas. Consultando os
catálogos do Arquivo Ultramarino, antes do período Pombalino, encontramos algumas
referências passageiras aos do Pará e Bahia, já no século XVII, além de Pernambuco e
Rio de Janeiro no século seguinte. Parece ser evidente que, pelo menos, as grandes capi-
tanias, que tinham outras subordinadas a elas, tinham essas organizações. Isso sem falar
de capitanias subordinadas que as vezes também as tinham: Santos (SP) tinha uma des-
50
Entre outros, ver: FERREIRA, Armando Amorim. A indústria Naval Militar no Brasil através do Tem-
po. Revista Marítima Brasileira. 4º Trimestre, 1980. Rio de Janeiro: SDGM, 1980. p. 22.
51
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra, Major José de Vasconcellos
Menezes Albuquerque, ao Ministro da Guerra, Conde de Lages, sobre contratação de pessoal do
Arsenal de Guerra pelo de Marinha. Rio de Janeiro, 5 de novembro de 1839. Mss. ANRJ.
52
CERTIDÃO que passou o provedor mor ao provedor Antônio Cubas provedor da fazenda de Sua Alte-
za nas capitanias de São Vicente e Santo Amaro, Salvador, 13 de fevereiro de 1552. DOCUMEN-
TOS históricos. Vol. XIV. Rio de Janeiro: Monroe, 1929. p. 399.
53
REGISTRO de uma patente do Conde de Atouguia em que nomeia Antônio Parente por armeiro de Sua
Majestade. D. Jerônimo de Ataíde. Salvador, 16 de novembro de 1655. DOCUMENTOS Históricos.
Vol. XIX. Rio de Janeiro: Monroe, 1930. p. 436.
271
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
sas instalações desde pelo menos 1743, que é a data de construção do prédio ainda hoje
existente, tombado pelo IPHAN.
54
REINO UNIDO – Real Junta de Fazenda dos Arsenais do Exército, Fábricas e Fundições. Ofício da
Real junta ao Rei encaminhando lista de gêneros que se acham prontos para a capitania das Alago-
as. Rio de Janeiro, 10 de outubro de 1818. Mss. ANRJ, IG7 1.
272
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
entre elas, apesar do Arsenal do Rio às vezes fornecer materiais para outras instituições
do tipo. Um desses casos foi o já citado de Alagoas, outro quando foi preparado o mate-
rial para um pequeno parque de campanha, incluindo objetos para um laboratório e fer-
ramentas de ferreiros, serralheiros, funileiros, tanoeiros, carpinteiros de machado e de
obra branca, tudo seguindo com os reforços para o exército que foi combater no Rio
Grande do Sul em 1776, 55 ano da fundação do Trem de Porto Alegre. Mas essa situação
era atípica e devia-se ao fato do Rio de Janeiro ser responsável pelo fornecimento de
Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Esse sistema de armazéns do Exército era complementado por uma rede de de-
pósitos de pólvora, todas as províncias tendo pelo menos um deles – no Rio de Janeiro
havia, funcionando ao mesmo tempo, vários deles (Boqueirão, Santa Bárbara, Fortaleza
de Santa Cruz e Andaraí).
55
SILVA, Crispim Teixeira, Sargento Mor Intendente. Relação das Obras, Munições e mais Petrechos
que se tem feito no Trem de S. Majestade Fidelíssima do Rio de Janeiro, no tempo Governo do Il.mo e
Ex.mo Sr. Marquês do Lavradio Vice Rei e Capitam General de Mar e Terra do Estado do Brasil,
continuado de 31 de outubro de 1769, até 31 de Agosto de 1776. Mss. Coleção Particular.
56
BRASIL – Decreto de 21 de fevereiro de 1832. Dá Regulamentos para o Arsenal de Guerra da Corte,
Fábrica da Pólvora da Estrela, Arsenais de Guerra e Armazéns de depósitos de artigos bélicos.
57
O depósito de Pelotas aparece apenas em um documento que localizamos, com a informação que lá se
faziam lanças, o que não deveria ser o caso de um depósito de artigos bélicos. BRASIL – Arsenal de
Guerra de Porto Alegre. Ofício do diretor do Arsenal ao Comandante das Armas. Porto Alegre, 12
de julho de 1853. Mss. ANRJ. IG7 460.
273
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Outra tentativa foi feita no mesmo ano em Minas Gerais, sobre a qual temos
mais informações: em novembro uma espingarda feita na capitania foi enviada para ser
examinada pelo general Napion, 59 o inspetor geral da artilharia, e no mês seguinte um
“aviso régio determinava ao Governador da Capitania informar se em cada semestre
poderiam ser aprontados mil fechos de espingarda”.60
58
GAZETA do Rio de Janeiro, nº 39, 15 de maio de 1811. p. 3.
59
Carlo Gerolamo Antonio Maria Galleani Napione di Coconato, filho caçula do conde de Coconato.
Com treze anos assentou praça como cadete de artilharia em 1770, frequentando a Escola Real Teó-
rica e Prática de Artilharia, onde foi discípulo de Alessandro Vittorio Papacino D’Antoni. Se formou
com especialização em mineração, química e metalurgia. Mais tarde foi instrutor da escola de arti-
lharia e catedrático de química, tendo participado de comissões científicas e publicado trabalhos na
área de mineralogia. Em 1790, já promovido a capitão, foi indicado para trabalhar no Arsenal do Pi-
emonte, onde aperfeiçoou os processos metalúrgicos e de fabricação de Pólvora. Cinco anos depois,
foi promovido a major e nomeado Inspetor do Conselho das Minas. Com a conquista do Piomonte
pelos franceses em 1798, ele passou ao serviço de Portugal em 1800, recebendo a patente de tenente-
coronel no ano seguinte. Foi nomeado Inspetor (diretor) do Arsenal de Lisboa em 1801, com a fun-
ção de modernizar os processos manufatureiros lá. Em 1807 foi promovido a brigadeiro, vindo para
o Brasil com a família real no ano seguinte. No País, foi Inspetor-Geral da Real Junta Fazenda dos
Arsenais, Fábricas e Fundições; Inspetor-Geral de Artilharia; membro do Conselho Supremo Militar;
Inspetor e Fiscal da Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema; e Presidente da Junta Militar da
Academia Real Militar. Faleceu como tenente-general (general de divisão) em 1814. NAPIONE,
Carlo Antonio. Dizionario Biografico degli Italiani - Volume 77 (2012). https://goo.gl/bVv9Yk
(acesso em abril de 2017).
60
DORNAS Filho, João. O ouro das Gerais e a civilização da capitania. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1957. p. 159.
274
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
atualmente fabricar espingardas novas; creio, porém, que será muito útil aproveitar o
grande número de canos, baionetas, varetas e ferragens que existe nos arsenais em bom
estado”.61 No mesmo ano, havia 17.335 espingardas em depósito na Conceição, das
quais apenas 1.772 (10%) prontas para uso. Havia também 5.365 canos em depósito,
mas apenas 853 fechos, todos precisando de conserto.62
Desta forma, se solicitou que a empresa de Minas Gerais, situada em Vila Rica,
se concentrasse na fabricação dos mecanismos de disparo, a manufatura devendo ficar
sob a administração do barão de Eschwege, o diretor da Fábrica de Ferro Patriótica,
como tratamos no capítulo 5. Em 21 de janeiro de 1812 foi emitida uma carta régia diri-
gida ao Conde da Palma, capitão general de Minas Gerais, para criar uma escola de ser-
ralheiros e espingardeiros para preparar os fechos, aproveitando
Em abril, o capitão general informou que tinham ido para a corte os dois mestres
espingardeiros da capitania, quatro oficiais de serralheiro e quatro ferreiros, para se
apresentarem na Fortaleza da Conceição, afim de “aprenderem e se aperfeiçoarem na
arte de fabricar espingardas”.65
61
ANAIS do Senado, tomo I. Brasília: Secretaria de Anais, 1978. Sessão de 3 de abril de 1843. p. 66.
62
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da Guerra apresentado à As-
sembleia Geral Legislativa na 3ª sessão da 5ª legislatura pelo Respectivo ministro e secretário de
estado dos negócios, Jerônimo Francisco Coelho. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1844. Mapa
5.
63
PORTUGAL – Carta Régia de 21 de janeiro de 1812. Manda formar na Capitania de Minas Gerais
uma escola de serralheiros, oficiais de lima e espingardeiros para se ocuparem de preparar fechos
de armas.
64
id.
65
FONSECA, Celso Suckow. História do ensino industrial no Brasil. Vol. I. Rio de Janeiro: Rio de Ja-
neiro: s.ed., 1961. p. 97.
275
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Não sabemos bem por que, em agosto de 1812 se mandou suspender a instalação
da fábrica de fechos. Mesmo assim, o conde de Palma tinha ordenado que um mestre
local fabricasse espingardas completas, que custariam 8.000 réis cada, feitas com o ferro
obtido nas forjas locais. Com a entrega dessas armas, acabou a iniciativa de fabricação
de armas em Minas Gerais. 66 Outra tentativa seria feita em São Paulo.
Pelo contrato, os armeiros deveriam seguir para São Paulo, levando as máquinas
que tinham trazido da Europa e que estavam sem uso na Fortaleza da Conceição.70 Na
capitania, montariam uma fábrica de armas – parece que a intenção era que esta fosse
instalada junto da Fábrica de Ferro de Ipanema, onde haveria matéria prima e força mo-
triz, mas não temos como ter certeza disso. O fato é que os armeiros foram para a capi-
tania em 1818, se estabelecendo na capital, no Trem de São Paulo, que tinha sido criado
em 1798, junto com um laboratório de fogos artificiais e que funcionava junto do quar-
tel da cidade. O local, novamente, não tinha acesso a um rio que pudesse mover as má-
66
FONSECA, op. cit. p. 99.
67
REINO UNIDO – Ministério da Guerra. Aviso do ministro dos negócios de estrangeiros e a Guerra.
Aviso do marquês do Aguiar à Junta de Arsenais, mandando remeter para a capitania de Minas Ge-
rais uma broca de cano de espingarda e um artífice alemão que trabalha na Real Casa das Armas
da Fortaleza da Conceição. Rio de Janeiro, 17 de abril de 1816. Mss. ANRJ. IG7 33.
68
SAINT-HILAIRE, Augusto de. Viagem à Província de São Paulo e resumo das viagens ao Brasil,
Província Cisplatina e missões do Paraguai. São Paulo: Livraria Martins, 1972. p. 163.
69
BOLETIM do arquivo histórico militar, 16º volume. Vila Nova do Famalicão: Minerva, 1946. p.13
70
REINO UNIDO – Ministério da Guerra. Aviso do ministro dos negócios estrangeiros e da guerra para
a Real Junta do Arsenal do Exército, Fábricas e Fundições, sobre novo contrato dos armeiros prus-
sianos e envio de máquina de brocar cano para São Paulo. Conde da Barca. Rio de Janeiro, 17 de
abril de 1817. Mss. ANRJ. IG7 34.
276
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
quinas, o problema básico dos motores continuando. A solução foi remeter a broca hi-
dráulica que deveria fazer os canos para Ipanema,71 enquanto os armeiros das outras
especialidades ficavam na capital – no mínimo, isso indica uma divisão de trabalho nes-
sa manufatura.
71
ATA da 43ª sessão do governo provisório de São Paulo, São Paulo, 6 de outubro de 1821. DOCU-
MENTOS interessantes, vol. 11. São Paulo: Cândido Filho, 1913. p. 68.
72
SAINT-HILAIRE, op. cit. p. 163.
73
SPIX, J. B. von & MARTIUS, C. F. P. von. Viagem pelo Brasil: 1187-1820. Vol. I. São Paulo: Melho-
ramentos, 1976. p. 125.
74
AZEVEDO, Aroldo. A cidade de São Paulo: aspectos de geografia urbana. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1958. p. 27.
75
SAINT-HILAIRE, op. cit. p. 163.
76
BOLETIM, op. cit. pp. 14-15.
277
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
mas de ajuste à sua situação, Saint-Hilaire escrevendo que a embriaguez era comum
entre eles.77
A fábrica de São Paulo, quando foi visitada por Saint-Hilaire em 1820, dois anos
depois de sua fundação, tinha produzido apenas seiscentas armas, feitas pelo padrão
prussiano, um número muito reduzido para os esforços feitos, o que resultava em um
custo muito elevado por cada espingarda, levando em conta as imensas vantagens dadas
aos armeiros europeus. A eficiência, contudo, aumentou, aparentemente depois da de-
missão dos estrangeiros: em um relatório escrito muitos anos depois da fábrica ter fe-
chado, se informa que a produção do estabelecimento foi suficiente para armar três bata-
lhões e um esquadrão de cavalaria em 1822-24,78 o que pode ser avaliado entre 1.300 e
2.600 armas. Consideramos que isso ainda era pouco para pelo menos dois anos de tra-
balho – as armas feitas foram tão poucas que não se conhecem exemplares delas em
coleções públicas ou particulares hoje em dia.
77
id. p. 163.
78
Relatório sobre a Fábrica de ferro de Ipanema. Guilherme Schüch de Capanema. 31 de março de 1864.
In: BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na se-
gunda sessão da décima-segunda legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da
Guerra, José Marianno de Matos. Rio de Janeiro: Laemmert, 1864. p. 30.
79
MATOS, Raimundo José da Cunha. Memória estatística, econômica e administrativa sobre o arsenal
do exército, fábricas e fundições da cidade do Rio de Janeiro. Vila Nova de Famalicão: s.ed. 1939.
p. 32.
278
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Outra razão que fazia com que houvesse vários laboratórios espalhados pelo País
era sua grande simplicidade: a feitura de munições de armas portáteis nessa época im-
plicava em três atividades principais. A primeira era, literalmente, a de embrulhar em
papel a pólvora e a bala para fazer o cartucho. Em segundo lugar, os laboratórios enchi-
am com pólvora alguns tipos de projéteis específicos e de uso muito ocasional, como as
bombas e granadas. Finalmente, se faziam algumas munições e artefatos de uso especi-
80
O autor refere-se à armas de baixa qualidade, produzidas na Europa para o comércio de escravos. As
vezes, comerciantes pediam armas inutilizadas da Conceição para esse mesmo fim. Ver: PETIÇÃO
de Manoel Rodrigues Teixeira para comprar cem Espingardas Inúteis das que se acham no Depósito
da Fortaleza da Conceição cujas espingardas pretende o suplicante transportar para a Costa da África
para o seu produto vir em marfim ou cera. Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1835. Mss. ANRJ. IG7
320.
81
id. p. 30.
82
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório do ano de 1830. s.n.t. p. 10.
83
Entre outros, ver: BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro da Guerra Manoel da Fonseca
Lima e Silva ao Sr. José de Vasconcelos Meneses de Drummond [diretor do Arsenal de Guerra], au-
torizando a venda de 1100 cartuchos desembalados de adarme 12 para a Procissão do Santíssimo
Sacramento. Rio de Janeiro, 4 de junho de 1836. Mss. ANRJ, IG7 321.
279
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Este tipo de unidade de produção começou a ser substituído com a evolução das
técnicas: a partir de 1851 o exército adotou de forma limitada armas de fulminante, que
disparavam usando uma cápsula de cobre com uma pequena quantidade de fulminato de
mercúrio (Hg(CNO)2), uma substância altamente explosiva e que, mais importante, ne-
cessitava de um laboratório químico para ser preparada. As próprias cápsulas onde o
84
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal, Marechal de Exército José Maria da Silva
Bittencourt ao ministro da Guerra. Rio de Janeiro, 26 de agosto de 1852. Mss. ANRJ, IG7 13.
85
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra, 30 de janeiro de 1860. Mss. ANRJ,
IG7 17.
86
BRASIL – Tesouraria da Fazenda do Exército no Pará. Relatório da inspeção a que, por ordem do
Governo Imperial, se procedeu no Arsenal de Guerra da Província do Pará. Coronel Francisco Er-
nestino Ferreira de Araújo, Francisco Pedro Gurjão, chefe de seção da Tesouraria da Fazenda. Be-
lém, 5 de dezembro de 1862. Mss. ANRJ, coleção Polidoro, maço 10.
280
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
produto era colocado eram feitas em máquinas que cortavam e dobravam o cobre na
forma necessária. Isso fez com que a produção de munições começasse a se concentrar
em instalações com caráter mais fabril, a primeira delas sendo o Laboratório Pirotécnico
do Campinho, RJ, criado em 1851 e que será tratado quando falarmos das repartições do
Arsenal de Guerra. Os laboratórios pirotécnicos comuns, das províncias, continuaram a
existir até a década de 1870, quando a produção de munição passou a se concentrar em
três unidades, maiores, as do Campinho, Cuiabá e Menino de Deus (RS), já totalmente
mecanizadas.
A companhia começou a produzir ferro em 1813, mas não usando os altos fornos
projetados por Varnhagen (ver Figura 34), que poderiam resultar na fundição integral do
metal e sim um sistema mais primitivo, de forjas catalãs. Eschwege e o Senador Ver-
gueiro acusaram o administrador inicialmente encarregado do empreendimento, o sueco
87
O pai do historiador, Visconde de Porto Seguro, que nasceu em Ipanema.
88
PORTUGAL – Carta Régia de 4 de dezembro de 1810. Manda fundar um estabelecimento montanhis-
tico em Sorocaba para extração do ferro das minas que existem na Capitania de S. Paulo.
281
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Hedberg, de malversação de recursos,89 os trabalhos sob sua direção não tendo tido bons
resultados. Os problemas foram tais que o general Napion, inspetor geral da Artilharia,
foi para Ipanema em 1812, tentar os resolver, sem conseguir. Varnhagen finalmente
assumiu a administração geral dos trabalhos três anos depois e implementou seu projeto,
com a construção de dois altos fornos, capazes de uma produção mais elevada.
Ferro em
Ano Soma ton. % modelado Empreiteiros
Barra ton. Modelado ton.
1823 46 99 145 68% 190
1824 32 122 154 79% 320
1825 36 101 137 74% 350
1826 47 45 92 49% 427
1827 44 86 130 66% 500
93
Tabela 11 – Produção de ferro da Fábrica de Ipanema – 1823-1827.
A menção a objetos modelados é interessante, pois mostra que a maior parte da produção era de produtos
acabados, como munições, feitos pela modelagem em caixa de areia. Para isso, a fábrica tinha entre seus
operários um mestre modelador, o alemão Estevan Schmit, que foi contratado com a condição de fazer
seu ofício e “prestar-se à organização de fundições tanto para munição e artilharia, como para outros
fabricados ordinários e usuais”.94
89
ESCHWEGE, W. L. von. Pluto Brasiliensis. Vol. II. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944.
pp. 368 e 369 e VERGUEIRO, Nicolau Pereira de Campos. História da Fábrica de Ipanema e defe-
sa perante o Senado. Brasília: Senado Federal, 1979. pp. 21-22
90
O documento é exótico, pois trata de uma reclamação feita pelos oficiais de milícias quanto ao excessi-
vo número de empreiteiros contratados pela fábrica, pois esses, com base na legislação de incentivo
às manufaturas, estavam isentos do recrutamento, atrapalhando o serviço militar na região. BRASIL
– Junta da Fábrica de São João de Ipanema. Atas do Conselho da Presidência da Província de São
Paulo. 85ª Sessão. 18 de outubro de 1828. DOCUMENTOS interessantes. Vol. 86. São Paulo: s.ed.,
1961. p. 162.
91
ESCHWEGE, op. cit. p. 427.
92
Em 1821, o diretor do Arsenal de Guerra do Rio apontava um erro na feitura de “avultadíssimo número
de projéteis fundidos na fábrica de Sorocaba”, o autor especificando que isso não fora falta de Var-
nhagen, mas um erro oriundo de não haver uma “ordenança” (regulamento) com as dimensões da ar-
tilharia em uso no País. MATOS, 1939, op. cit. p. 36.
93
BRASIL – Junta da Fábrica de São João de Ipanema. 18 de outubro de 1828, op. cit. Uma relação da
produção da manufatura, de 1828, informa que tinham sido fundidas 152 toneladas de ferro naquele
último ano. CONTA dos produtos fundidos na próxima passada campanha de forno alto desde 5 de
outubro de 1827 até 18 de maio de 1828. Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, 17 de setembro
de 1828. O FAROL Paulistano, nº 155, São Paulo 11 de outubro de 1828. p. 648.
94
BRASIL – Legação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve em Berlim. Contrato com o mestre
moldador Estevan Schmid. VERGUEIRO, op. cit. p. 43.
282
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Apesar dessa tabela, se considera que depois da volta de Varnhagen para a Eu-
ropa, em 1821, a fábrica entrou em decadência, por problemas em erro no projeto do
açude que forneceria água para as máquinas; pelo esgotamento das florestas que forne-
ciam carvão e, principalmente, “pela incompetência dos administradores”.95 A direção
do estabelecimento realmente apresentou problemas: havia a proposta de fabricar peças
de espingardas em Ipanema e foram enviadas máquinas para isso, mas elas nunca che-
garam a ser instaladas. Também houve o problema da transferência da Fábrica de Ar-
mas de São Paulo, já citado. O torno de brocar canhões que estava no Arsenal de Guer-
ra da Corte e que foi enviado para Ipanema, igualmente não foi montado.96
95
ESCHWEGE, op. cit. p. 415.
96
A EXPOSIÇÃO Nacional - XXI. Diário do Rio de Janeiro. Ano XLII, nº 71. Rio de Janeiro, 13 de mar-
ço de 1862.
97
FÁBRICA de ferro de Ipanema, projeto do capitão Frederico L. G. Varnhagen em 1810. Cópia de João
Sá Filho. Rio de Janeiro, 1916. Mss. Arquivo Histórico do Exército.
98
BRASIL – Fábrica de Ferro de S. João de Ipanema. Relação e importância dos objetos ora remetidos
deste Armazém, por ordem superior ao Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro. Francisco Cândido
Sagaterra, Almoxarife. Ipanema, 23 de agosto de 1838. Mss. ANRJ. IG7 323. Essa remessa, uma de
várias do mesmo ano, trata de munição, com o peso de 3.500 kg.
99
BRASIL – Fábrica de Ferro de S. João de Ipanema. Ofício de João Bloem, major diretor da Fábrica de
Ipanema ao Ministro da Guerra, Conde de Lages, pedindo conhecimento de material enviado ao Ar-
senal de Guerra da Corte. Ipanema, 7 de setembro de 1839. Mss. ANRJ. IG7 325.
283
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
100
Peça número RG 3739.
101
Peça número RG 3741.
102
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal, José de Vasconcelos Menezes de Drum-
mond ao Ministro da Guerra. Rio de Janeiro, 6 de março de 1837. Mss. ANRJ, IG7 20.
284
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Sorocaba para a Corte, que para munição era de 320 réis por arroba, ou seja, 10 réis por
libra, valor que tornaria o produto menos competitivo com o importado, a não ser que
fosse implantada uma taxa de importação.103 De qualquer forma, os custos de produção
de Ipanema não eram absurdamente elevados, sendo até competitivos com os importa-
dos, em certas circunstâncias.
Tudo indica que na administração de Bloem teria havido uma recuperação na si-
tuação de Ipanema – chegou-se até a se ordenar um ensaio de fabricação de fechos de
clavinas e pistolas em 1841, produtos altamente técnicos.104 Contudo, o major Bloem
apoiou a Revolução Liberal de 1842 e foi demitido com a derrota dos revolucionários.
Depois disso a Fábrica não teve o mesmo desenvolvimento, não sendo dirigida por pes-
soal administrativo habilitado. Isso é um problema recorrente nas forças armadas até
hoje, onde é comum a troca regular de diretores de organizações militares. Nem sempre
uma pessoa com os conhecimentos adequados assumia a responsabilidade por um servi-
ço e, mais importante, isso criava dificuldades em muito a manutenção de uma política
regular e constante para uma instalação. Esse fator era ainda mais complicado com a
questão política, pois os ministros da Guerra se alternavam com uma rapidez muito
grande, sendo que drásticas alterações na política das forças armadas eram usuais, mui-
tas vezes se abandonando grandes investimentos feitos, por não se enquadrarem na vi-
são de um administrador que substituía outro. Isso já era reconhecido no século XIX,
como foi colocado em uma sessão do Senado, em 1843:
103
O preço do frete consta de BRASIL – Fábrica de Ferro de S. João de Ipanema. Ofício de João Bloem,
7 de setembro de 1839, op. cit. Este, contudo, refere-se ao transporte de munição, objetos bem me-
nos complicados de transportar que canos.
104
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro, José Clemente Pereira, ao Diretor do Arsenal de
Guerra, José dos Santos Oliveira, mandando entregar ao Sr. Major João Bloem modelos das clavi-
nas e pistolas. 16 de setembro de 1841. Mss. ANRJ, IG7 328.
105
Discurso de Holanda Cavalcanti. ANAIS do Senado, op. cit. sessão de 3 de abril, p. 48.
285
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
dos nas fundições do Arsenal de Marinha para lá,106 a lei de orçamento de 1850107 auto-
rizou que o governo arrendasse a Fábrica de Ipanema para particulares. Não se conse-
guiu fazer essa privatização, mas deve-se dizer que isso não implicava na descrença do
governo na proposta de haver a autossuficiência na produção de ferro, tanto é que a fá-
brica não foi desativada totalmente. Em 1859 o ministro da guerra, depois de mencionar
que a dificuldade dos transportes servia de proteção às forjas em Minas Gerais, escrevia:
106
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal, José Maria da Silva Bittencourt ao Minis-
tro da Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello, sobre menores instruídos no Arsenal de Mari-
nha. Rio de Janeiro, 30 de setembro de 1850. Mss. ANRJ. IG7 11.
107
BRASIL – Lei nº 555 de 15 de Junho de 1850. Fixa a despesa e orça a receita para o exercício de
1850 a 1851.
108
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório do ministério da Guerra apresentado à Assembleia Geral
Legislativa na terceira sessão da décima legislatura pelo ministro Manoel Felizardo de Souza e
Mello. Rio de Janeiro: Laemmert, 1859. p. 15.
286
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
109
Documento sem assinatura e data [c. 1861]. Mss. ANRJ, coleção Polidoro, maço 11.
110
Uma tentativa, fracassada, já tinha sido feita em 1819, com a criação de uma companhia de mineração
na Província. BRASIL – Reino Unido. Carta Régia de 29 de Março de 1819. Concede à companhia
de mineração do Cuiabá, na Província de Mato Grosso privilegio exclusivo para extrair e fazer fun-
dir ferro.
111
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra, Alexandre Manoel Albino de
Carvalho, ao ministro da Guerra, Sebastião do Rego Barros, sobre o material para o Laboratório
das Fábricas de ferro, e pólvora, que o Engenheiro Rodolpho Wachneldt vai estabelecer na Provín-
cia de Mato Grosso. Rio de Janeiro, 8 de junho de 1860. Mss. ANRJ. IG7 17.
287
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
112
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na sessão
ordinária de 1839 pelo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra. Rio de Janeiro: Ti-
pografia Nacional, 1839. Mapa nº 5.
113
O FAROL Paulistano, nº 56, São Paulo, 20 de outubro de 1827. p. 224.
114
Ver a Tabela 11 e a nota 93, acima.
288
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
gados dos fornos altos, quatro moldadores, dois ferreiros, um pedreiro, sete carpinteiros,
três mestres carvoeiros, oito oficiais carvoeiros, três carroceiros, três tropeiros, um sapa-
teiro, 24 tiradores de carvão e 18 lavradores.115 Isso implica em 88 escravos com profis-
sões especificadas, dos quais 46 (52%) deles eram técnicas e sete (8%) de direção de
trabalhos.
[...] No tocante aos mestres e operários livres não passam de sete, de-
vo mencionar que muitos dos escravos e africanos vão se aperfeiçoan-
do nos ofícios de moldador, ferreiro, carpinteiro e que alguns outros
têm adquirido bastante prática do serviço dos fornos altos.116
Esses cativos tinham funções de mestres, contramestres, encarregados e até ma-
quinistas em uma situação única entre todas as manufaturas do Exército na primeira
metade do século. Ou seja, se não havia a transmissão de conhecimento para aprendizes
livres, os escravos e africanos livres tinham suprido essa falta, pelo menos parcialmente.
Talvez tenha sido esse o motivo por que as oficinas de espingardeiros e coronheiros, 117
que são listadas como existindo em 1835, não apareçam mais na relação acima: não
teria havido um aprendizado efetivo que transmitisse os conhecimentos desses ofícios
para operários, livres ou escravos.
Ainda que tenhamos em mente essas considerações sobre uma possível dificul-
dade de formação de aprendizes livres, em 1821 o Senador Vergueiro defendia o uso do
estabelecimento como instituição de ensino e difusão técnica, propondo que:
115
MÜLLER, Daniel Pedro. Ensaio de um quadro estatístico da província de São Paulo: ordenando
pelas leis municipais de 11 de abril de 1836 e 10 de março de 1837. São Paulo: Governo do Estado,
1978. p. 240.
116
BRASIL – Fábrica de Ferro de Ipanema. Ofício do diretor ao presidente da província de São Paulo.
Fábrica de Ferro Ipanema, 15 de novembro de 1848. Apud SCHATZER, Mariana Alice Pereira.
Africanos livres na Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema: Funções, Origens Étnicas e Rotina
de Trabalho (1840-1850). Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africa-
na. Ano VI, nº XII, dezembro de 2013. p. 26.
117
BRASIL – Ministério da Guerra. Proposta e relatório da repartição dos negócios da Guerra apresen-
tados à Assembleia Geral Legislativa na sessão ordinária de 1836 pelo ministro e secretário de es-
tado dos negócios da Guerra, Manoel da Fonseca Lima e Silva. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional,
1836. Mapa B.
289
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
118
VERGUEIRO, op. cit. p. 49.
119
DANIELI NETO, Mário. Escravidão e Indústria: um estudo sobre a Fábrica de Ferro São João de
Ipanema – Sorocaba (SP) – 1765-1895. Tese de Doutorado. Campinas: Universidade Estadual de
Campinas, 2006. (mimeo). p. 102.
120
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na segunda
sessão da oitava legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, Manoel
Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1850. p. 7.
290
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
outras manufaturas. Isso pode ser ilustrado na proposta de montagem da fábrica de ferro
em Mato Grosso, que só prejudicou Ipanema, não resultando em nada benéfico para as
forças armadas ou para o País.
Dessa forma, três meses depois da chegada da família real portuguesa ao Rio de
Janeiro o príncipe regente baixou o decreto de 13 de junho de 1808, incorporando as
terras do Engenho da Lagoa ao patrimônio da coroa, com o argumento da “grave e ur-
gente necessidade que há de erigir sem perda de tempo uma fabrica de pólvora, onde se
manufature este tão necessário gênero para a defesa dos meus Estados”.123 O local, onde
hoje estão instalados o Jardim Botânico e Horto Florestal, era apropriado para isso, por
estar afastado da cidade e não gerar risco em caso de acidentes, e por ter fontes de água
corrente que poderiam mover máquinas motrizes (ver Figura 9). A questão das máqui-
121
AUTO de testemunho do Cel. José Mariano de Matos sobre a petição de Domingos José de Almeida.
Joaquim Pereira Borba, escrivão. Caçapava, 14 de março de 1842. In: Anais do Arquivo Histórico do
Rio Grande do Sul. Vol. III. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1979. Coleção de Alfredo Va-
rela. Correspondência ativa. p. 79. Neste documento se especifica que, além das oficinas do Trem,
“havia também em separado uma ferraria com algumas forjas, sendo uma destinada à fundição de
balas de artilharia, uma alfaiataria, casa de fabrico de pólvora, casa de refinar o salitre (...) etc” o
grifo é nosso.
122
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório de 1844, op. cit. p. 22.
123
PORTUGAL – Decreto de 13 de junho de 1808. Manda incorporar aos próprios da coroa e engenho e
terras da lagoa de Rodrigo de Freitas.
291
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
nas justifica a previsão contida no decreto de criação da Fábrica de Pólvora, que o local
também seria usado para:
Ao contrário das outras iniciativas do governo, foi feita uma tentativa de se criar
um protecionismo para essa manufatura, não através de uma tarifa, mas sim de uma
medida mais antiquada, um monopólio estatal. Pelo edital de 16 de agosto de 1813, foi
comunicado que “ficou inteiramente proibido o poder-se fabricar pólvora em casas par-
ticulares”,126 usando como base legal um alvará de 1754. Esse monopólio foi ampliado
depois para incluir a proibição de importação do produto, mesmo que a medida não te-
nha se aplicado a todo o Brasil: em 1816 foi baixada uma Carta Régia dando o monopó-
lio de venda de pólvora em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso para uma empresa pri-
vada de Vila Rica.127 Dois anos depois, a Carta Régia de 15 de maio mandou estabele-
cer uma pequena fábrica de pólvora em Mato Grosso 128 e em 1829 havia uma fábrica de
pólvora privada na cidade de São Paulo.129
124
id.
125
MASCARENHAS, José Manuel. Portuguese Overseas Gunpowder factories, in particular those o f
Goa (India) and Rio de Janeiro (Brazil). IN: BUCAHANA, Brenda J. (ed). Gunpowder, Explosives
and the State: a technological history. Aldershot: Ashgate, 2006. p. 196.
126
GAZETA do Rio de Janeiro, nº 68, 25 de agosto de 1813. p. 3.
127
BRASIL – Reino Unido. Carta Régia de 19 de fevereiro de 1819. Aprova e confirma o Estabelecimen-
to, e Fábrica de Pólvora, ereta em Vila Rica, capitania de Minas Gerais, de que são Proprietários
os Sargento-Mor José Bento Soares, Francisco de Paulo Dias Bicalho e outros interessados.
128
MATOS, 1837, op. cit. p. 243.
129
Atas das reuniões da Câmara municipal, 19 de agosto de 1829. O FAROL Paulistano, nº 244, São
Paulo, 5 de setembro de 1829.
292
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Entre 1815 e 1824 a fábrica foi desligada da Junta de Arsenais, mas continuou a
precisar do apoio desta: em 1822 seu diretor pediu para a junta, especificamente para o
Arsenal, que fossem construídas mais duas galgas para fabricação de pólvora militar,
tendo em vista que a capacidade da fábrica era inferior à demanda.131 O problema de
capacidade que se agravou dois anos depois, quando a instalação passou a fazer tal pól-
vora de caça, mais fina. Dessa forma, o governo decidiu transferir a manufatura para o
município de Magé, na região de Estrela, onde podia ser facilmente ampliada. A cons-
trução das novas instalações foram iniciadas em 1826 e ficando pronta seis anos depois,
quando a Fábrica da Lagoa foi desativada.
130
PORTUGAL - Carta Régia de 22 de Julho de 1811. Declara as Capitanias do Brasil para consumo da
pólvora das Reais Fábricas do Rio de Janeiro e da de Lisboa.
131
CHAVES, Carlos Dittz & CARVALHO, Marcelo Pereira. Casa dos Pilões: Uma oficina da fábrica da
Pólvora da Lagoa de Rodrigo de Freitas. Agosto de 1992. (mimeo) Arquivo da Superintendência
Regional do IPHAN no Rio de Janeiro. Sem numeração de páginas.
132
Experiências sistemáticas com pólvora começaram a ser feitas a partir de 1849, os resultados variando
muito, em 1858, por exemplo, a pólvora comprada pelo Arsenal variou de força de 59 e 1/3 a 120 em
um aparelho de teste, sendo que os valores mínimos aceitáveis ficavam entre 60 (pólvora de exercí-
cio) e 100 (pólvora de guerra). Nos testes feitos, a pólvora nacional, na média e em valores absolu-
tos, foi superior à importada, a vantagem da força da pólvora nacional chegando a ser 11% sobre a
importada. BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra da Corte. Manoel Albino
de Carvalho, o diretor, ao Conselheiro José Maria da Silva Paranhos, ministro da Guerra. Rio de
Janeiro, 31 de janeiro de 1859. Mss. ANRJ. IG7 16. Ofícios tratando desses testes são muito comuns
na documentação da época.
293
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Por sua vez, o corpo funcional guardava algumas características arcaicas, com
uma quantidade elevadíssima de escravos: em 1838, eram 255 empregados na Fábrica
da Estrela, 62 livres, 160 escravos da nação (27 mulheres) e 33 africanos livres (17 mu-
lheres) – 63% da força de trabalho era cativa. Entre esses, 30 trabalhavam nas oficinas
(32%) do total, mostrando, mais uma vez, o emprego de cativos em atividades técnicas,
apesar da tabela não especificar as funções que eles exerciam.134 O mapa de 1839 ainda
especificava que havia 21 empregados livres na “fazenda” e seis no laboratório pirotéc-
nico. Este último devia ser o do Castelo, oficialmente subordinado à fábrica de pólvora
pelo regulamento de 1832, mas que na prática era semi-independente e pouco depois
passou a ser uma das repartições do Arsenal de Guerra da Corte.
133
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da Guerra apresentado à As-
sembleia Geral Legislativa na terceira sessão da nona legislatura pelo respectivo ministro e secre-
tário de Estado dos Negócios da Guerra, Pedro de Alcântara Bellegarde. Rio de Janeiro: Laemmert,
1855. p. 14.
134
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na sessão
ordinária de 1838 pelo respectivo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, Sebastião
do Rego Barros. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1838. Mapa nº 5.
135
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da Guerra apresentado à As-
sembleia Geral Legislativa na 3ª sessão da 6ª legislatura pelo respectivo Ministro e Secretário de
estado dos negócios da Guerra João Paulo dos Santos Barreto. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional,
1846. Mapa 18.
294
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
verno, que era o uso de mulheres em atividades técnicas: havia dezessete delas nas ofi-
cinas de pólvora e seis na de pedreiros. 136
295
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
139
id.
140
BRASIL – Decreto nº 293, de 8 de Maio de 1843. Aprova o Regulamento sobre as atribuições dos
Comandantes das Armas.
141
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório do ano de 1830. op. cit. p. 10.
296
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
com essas instituições, 142 uma situação que continuou ou até se intensificou por todo o
período analisado: em 1850, o Arsenal da Corte tinha um orçamento correspondente a
65% de todos os gastos com Arsenais.
PA
MT
4%
RS 4%
8%
BA
8%
PE
11% Corte
65%
142
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da administração do ministério da Guerra apresentado na
augusta Câmara dos Senhores deputados na sessão de 1833. Rio de Janeiro: Gueffier & Cia, 1833.
Mapa 11.
143
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da Guerra apresentado à As-
sembleia Geral Legislativa na 3ª sessão da 8ª legislatura pelo respectivo ministro e secretário de es-
tado dos negócios da Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro: Americana de I.P.
Costa, 1851. Tabela.
144
Um caso disso é o fornecimento de quinze reparos de artilharia para a fortaleza de Cabedelo (PB), em
1850, um produto basicamente de madeira, com pouca complexidade. BRASIL – Ministério da
Guerra. Aviso do ministro, Manoel Felizardo de Souza e Mello, ao Diretor do Arsenal, José Maria
da Silva Bitancourt mandando transportar quinze reparos, que se acham prontos nesse Arsenal para
a Fortaleza do Cabedelo. 28 de maio de 1850. Mss. ANRJ. IG7 343.
145
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício do secretário geral ao presidente do Conselho Administrativo,
enviando o quadro geral dos Corpos do Exército para quem o Arsenal de Guerra da Corte tem de
fornecer artigos bélicos, na forma a tabela de 2 de janeiro de 1848. Rio de Janeiro, 12 de maio de
1848. Mss. ANRJ. IG7 345.
297
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
cimento de uniformes para essas províncias (ver Figura 36), o que antes era feito local-
mente.
No ano do relatório disponível, 1845, o Pará tinha cinco oficinas e “um pequeno
e acanhado quarto que serve de laboratório (...)”.148 O relatório apontava um sério pro-
blema de pessoal, o ministro dizendo que “há nele muita falta de operários e sente-se
especialmente a de serventes”.149 Este último dado parecendo ser estranho, pois por essa
época essa função era normalmente exercida por escravos da nação, africanos livres ou
mesmo de aluguel e, portanto, não sabemos por que a falta desse pessoal seria um pro-
blema. De qualquer forma, só se registravam dez operários na instituição, várias oficinas
estando desativadas e não havia Companhia de Artífices Militares, ou de Aprendizes
Menores (ver capitulo 10), apesar de a instituição receber até vinte educandos aprendi-
146
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório do ministro, op. cit. 1846. p. 4.
147
CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Muralhas de pedra, canhões de bronze, homens de ferro: forti-
ficações do Brasil, 1503-2006. Rio de Janeiro: FUNCEB, 2013. Vol. 2. p. 61.
148
BRASIL – Arsenal de Guerra do Pará. Relatório do Arsenal de Guerra da Província do Pará. Ansel-
mo Joaquim da Silva, tenente coronel diretor. Belém, 30 de junho de 1845. Mss. ANRJ. IG7 32.
149
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório de 1845, op. cit. p. 19.
298
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
zes, pagos pelo governo provincial. 150 Os serviços necessários para o fornecimento da
tropa que não podiam ser supridos pelo Arsenal eram contratados com artesãos priva-
dos.151
A passagem acima, sobre a questão dos consertos é interessante, pois parece que
essa era a função principal dos arsenais provinciais. De fato, uma tabela contida no tex-
to, referente aos gastos feitos com material pela instituição, aponta que no exercício de
1861-62, o Arsenal de Belém movimentou 241.752.200 réis, dos quais 53% referentes a
materiais comprados pelo Conselho Administrativo provincial no mercado civil, 39%
correspondiam a artigos remetidos pelo Arsenal de Guerra da Corte e apenas 8% eram
150
Alunos dos Estabelecimento dos Educandos ou Aprendizes Artistas. De 109 alunos em 1842, 22 traba-
lhavam no Arsenal de Marinha e 20 no de Guerra. PARÁ – Governo Provincial. Discurso recitado
pelo Ex.mo Sr. Dr. Bernardo de Sousa Franco, vice-presidente da provínvia do Pará na abertura da
assembleia geral legislativa provincial no dia 14 de abril de 1842. Belém: Santos & Menor, 1842.
Mapa, sem numeração.
151
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório de 1845, op. cit. p. 19.
152
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro, Jeronimo Francisco Coelho ao Diretor do Arse-
nal de Guerra, Barão de Itapecuru-Mirim, Rio de Janeiro, 17 de maio de 1845. Mss. ANRJ. IG7
436.
153
BRASIL – Arsenal de Guerra do Pará. Ofício do Diretor do Arsenal de Guerra do Pará, tenente-
coronel José Joaquim Romão de Almeida, sobre madeiras de coronhas no Pará. Belém, 23 de feve-
reiro de 1852. IG7 516
154
O nome parece estranho, mas refere-se à ordem de Nossa Senhora das Mercês, o termo sendo comum
na documentação colonial. Ver, entre outros: CARTA do comendador [da Ordem de Nossa Senhora
das Mercês], fr. Basílio Soares, para o rei [D. João V], sobre o pedido que lhe foi feito pelos morado-
res da vila da Vigia de Nazaré para que os religiosos mercenários fundassem um hospital naquela lo-
calidade. Belém, 8 de outubro de 1729. Mss. Arquivo Ultramarino.
155
BRASIL – Tesouraria da Fazenda do Exército no Pará. Relatório da inspeção, op. cit.
299
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Pelo relatório geral dos arsenais de 1845, a manufatura tinha quinze funcionários
administrativos ou de apoio, o excedente de seis com relação ao regulamento de 1832
sendo empregado na Companhia de Aprendizes Menores. Em termos de artesãos, no
Arsenal trabalhavam cem operários, que tinham as seguintes especialidades: construção
e reparos; obra branca; tanoeiros; coronheiros; ferreiros; serralheiros; espingardeiros;
latoeiros fundidores; instrumentos bélicos; funileiros; correeiros e seleiros; pintores e
taqueiros,158 empregados em cinco oficinas. No entanto, todas tinham pequenos quadros
funcionais, a maior sendo a de correios e seleiros, com dezenove trabalhadores.
156
id.
157
CATARINO, Acácio José Lopes. Da oficina ao Arsenal: Estado e redefinições urbanas no limiar da
descolonização. Dissertação de Mestrado. Recife: UFPE, 1993. (mimeo) pp. 113-114.
158
Não conseguimos saber qual seria essa profissão. Na época havia um elemento da munição de artilha-
ria que era o “taco”, mas não era algo complicado de fazer, que exigisse um artesão especializado e
um dos documentos que citam esta oficina informa que os tacos eram feitos na oficina de Constru-
ção. Só o Arsenal de Pernambuco tinha essa oficina listada, que aparece novamente em 1849. BRA-
SIL – Arsenal de Guerra de Pernambuco. Relação das obras manufaturadas nas diversas oficinas do
arsenal de guerra desta província [Pernambuco] durante o mês de janeiro próximo passado com
declaração de seus valores. João Francisco do Rego Barreto, cap. Ajudante. Recife, 28 de fevereiro
de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
300
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
cifica o número de crianças, como também não menciona escravos da nação ou africa-
nos livres159 da instituição.
A produção dessas oficinas era não era muito grande: em janeiro de 1849, ti-
nham sido feitas dez coronhas e consertadas oitenta na de coronheiros e consertadas 441
armas na de espingardeiros, por exemplo, se movimentando no total três contos de réis
de valor dos serviços. 160 Isso parece estranho, quando consideramos que esse arsenal era
responsável pelo fornecimento de quatro outras províncias: Alagoas; Paraíba; Rio
Grande do Norte e Ceará (ver Figura 36).
159
BRASIL – Arsenal de Guerra de Pernambuco. Relatório sobre o Arsenal de Guerra da Província de
Pernambuco. José Maria H. Jacome da Veiga Pessoa, Ten.-cel. diretor. Recife, 26 de agosto de
1844. Mss. ANRJ. IG7 32.
160
BRASIL – Arsenal de Guerra de Pernambuco. Relação das obras manufaturadas nas diversas oficinas
do arsenal de guerra desta província durante o mês de janeiro próximo passado com declaração de
seus valores. João Francisco do Rego Barreto, capitão ajudante. Recife, 28 de fevereiro de 1849.
Mss. ANRJ. IG7 10.
161
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório de 1845, op. cit. p. 18.
162
BRASIL – Ministério da Guerra. Avaliação dos relatórios dos arsenais provinciais dirigida ao minis-
tro da Guerra, Antônio Francisco de Paulo e Holanda Cavalcante de Albuquerque. Rio de Janeiro,
16 de abril de 1846. Mss. ANRJ. IG7 32.
301
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
163
BRASIL – Reino Unido. Carta Régia de 18 de abril de 1818. Manda criar na capitania de Mato Gros-
so um trem onde se fabrique e concerte o armamento e mais objetos de uso do Exército.
164
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Guerra, 1845, op. cit. p. 18.
165
BRASIL – decreto nº 301, de 27 de maio de 1843. Aprova o novo plano da organização dos Corpos
do Exercito do Império do Brasil.
166
CRUDO, Matilde Araki. Infância, trabalho e educação : os aprendizes do Arsenal de Guerra de Mato
Grosso (Cuiabá, 1842-1899). Tese de doutorado Campinas: Unicamp, 2005. (mimeo). p. 78.
302
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
praças das Companhias de Artífices com os ofícios indicados”.167 O pessoal que acabou
indo sendo contratado entre os próprios operários do Arsenal do Rio.
A questão dos trabalhadores para o Mato Grosso era complexa, devido à falta de
pessoal civil qualificado na Província e sua distância dos grandes centros. Em 1849 foi
feito um contrato para o envio de sete oficiais do Rio para Cuiabá, devendo-se notar que
todos queriam ser chamados de “mestres”, ainda que o diretor do Arsenal do Rio não
concordasse com isso, a transferência sendo visto como uma forma de aumento de sta-
tus. Mesmo considerando a baixa opinião do diretor sobre a capacidade técnica desse
pessoal, os jornais acordados eram extremamente elevados, variando de 5.000 rs por dia,
para um ferreiro forjador a 3.200 para um construtor, mais do que recebiam os mestres
que já trabalhavam na Província.170 O valor de 5.000 rs diários era o mesmo que alguns
poucos anos depois se pagaria a um engenheiro que assumiu a mais importante oficina
do Arsenal do Rio, a de máquinas. Entretanto, esses valores são compreensíveis, pois
sem um grande incentivo pecuniário seria difícil conseguir pessoal que aceitasse a mu-
dança para a distante província.
167
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da Guerra Jerônimo Francisco Coelho ao diretor
do Arsenal de Guerra da Corte, Brigadeiro João Eduardo Pereira Colaço Amado, mandando reme-
ter armas e contratar artistas para Mato Grosso. Rio de Janeiro, 13 de novembro de 1844. Mss.
ANRJ. IG7 339.
168
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Guerra, 1845, op. cit. p. 18.
169
BRASIL – Arsenal de Guerra de Cuiabá. Relatório do Diretor ao presidente e comandante de armas
da província, Ricardo José Gomes Jardim. Cuiabá, 2 de maio de 1845. Mss. ANRJ. IG7 32.
170
BRASIL – Arsenal de Guerra. Contrato de 4 de maio de 1849 para operários irem trabalhar nas ofi-
cinas do Arsenal de Guerra do Mato Grosso, Baixo Paraguai. Mss. ANRJ. IG7 10.
303
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
171
BRASIL – Ministério da Guerra. Decreto nº 1.090, de 14 de Dezembro de 1852. Aprova o Regulamen-
to para execução do § 3.º do Art. 10 da Lei N.º 648 de 18 de Agosto de 1852.
172
BRASIL – Repartição do Quartel Mestre General. Conselhos administrativos para fornecimento dos
Arsenais de Guerra. Rio de Janeiro, 11 de julho de 1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
173
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra da Corte. Manoel Albino de Carvalho,
o diretor, ao Conselheiro José Maria da Silva Paranhos, ministro da Guerra. Rio de Janeiro, 31 de
janeiro de 1859. Mss. ANRJ. IG7 16.
304
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
de ferramentas para diferentes ofícios. 174 Também foram transferidos dezessete africa-
nos livres da Casa de Correção, estes com ofícios de pedreiros, carpinteiros e ferrei-
ros.175 Finalmente, o ministro da Guerra informava que igualmente tinham seguido para
a província 48 operários contratados por dois ou quatro anos.176
Mais importante do nosso ponto de vista, foram também enviados uma máquina
de brocar e um molde de canos,177 um indicativo que o governo pretendia instalar uma
fábrica de armas na Província, junto com uma fábrica de pólvora e outra de ferro (ver
página 287), como parte de um programa de autossuficiência no fornecimento de artigos
para as forças armadas.
O arsenal de Mato Grosso foi extinto em 1899, mas seus prédios ainda existem,
sendo ocupados pelo SESC.
174
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos objetos mandados fornecer à província de Mato Grosso,
com declaração dos que estão prontos. Elias Afonso Lima, secretário. Rio de Janeiro, 15 de feverei-
ro de 1858. Mss. ANRJ, IG7 15.
175
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos africanos livres recebidos da casa de correção com desti-
no para Mato Grosso. Estevão José de Fleury, Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1858. Mss. ANRJ.
IG7 15.
176
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia geral legislativa na segunda
sessão da décima legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, Jerônimo
Francisco Coelho. Rio de Janeiro: Laemmert, 1858. p. 17.
177
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos objetos, op. cit.
178
CASTRO, Adler Homero Fonseca de. La “cuasi guerra” de 1857-1858: Movilización brasileña para
atacar Paraguay en las negociaciones de navegación fluvial. In: CASAL, Juan Manuel. Paraguay:
investigaciones de historia social social y política (II). Estudios en homenaje a Jerry W. Cooney. IV
Jornadas Internacionales de Historia del Paraguay en la Universidad de Montevideo. Asunción:
Tiempo de Historia/Universidad de Montevideo, 2016. p. 48.
305
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
179
id. pp. 48 e segs.
180
PONDÉ, Francisco de Paula e Azevedo. Organização e Administração do Ministério da Guerra no
Império. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1986. p. 71.
181
RIO GRANDE DO SUL – Capitania. Ofício de D. Diogo de Souza, governador do Rio Grande a José
Maria Xavier de Brito, inspetor do Trem. Quartel General no Acampamento de Bagé, 12 de julho de
Continua –––––––
306
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
também uma fundição de ferro, processos que o Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro
não conseguiu instalar até bem mais tarde no século.
Mesmo com os problemas de pessoal, o Rio Grande, contudo, nunca teve uma
companhia de artífices, o que consideramos estranho, tendo em vista que o diretor da
instalação, ainda em 1845, “tem requisitado e requisita que sejam para ali enviados da
Corte [artesãos], tais são coronheiros, ferreiros, serralheiros, espingardeiros, latoeiros e
funileiros”. 183 No ano anterior o diretor pedira ao Ministro o envio de vinte artesãos
dessas especialidades, especificando que às vezes era necessário recorrer ao chefe de
polícia, quando tinha obras urgentes a fazer, indicando o uso de presos da correção ou o
uso de trabalho forçado.184 Há outros documentos mencionando a contratação de pesso-
al do Arsenal do Rio de Janeiro para envio ao Rio Grande, também ganhando salários
elevados, apesar de não tanto quanto os que eram pagos aos contratados para o Mato
Grosso. 185 A falta de pessoal talvez justifique o fato de que, a partir de 1853, os unifor-
mes das unidades do Rio Grande do Sul passaram a ser fornecidos pelo Arsenal do Rio
de Janeiro (ver Figura 36).
Continuação–––––––––––
1811. Revista do Arquivo Público do Rio Grande do Sul. Setembro de 1923, nº 11. Porto Alegre: Es-
cola de Engenharia de Porto Alegre, s.d. p. 132.
182
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório de 1845, op. cit. p. 19.
183
BRASIL – Ministério da Guerra. Avaliação dos relatórios, op. cit.
184
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da Guerra, Jerônimo Francisco Coelho ao diretor
do Arsenal de Guerra da Corte, Brigadeiro João Eduardo Pereira Colaço Amado, encaminhando
pedido de artesãos para o Rio Grande. Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1844. Mss. ANRJ. IG7
440.
185
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal, José Maria da Silva Bittencourt ao Minis-
tro da Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello. 25 de junho de 1850. Mss. ANRJ. IG7 11.
307
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Ainda que seja um pouco fora do recorte de nosso estudo, devemos notar que a
instalação não tinha só problemas: em outubro de 1865, já durante a Guerra do Para-
guai, o diretor do Arsenal escreveu ao presidente da província, solicitando que “não
sejam mais remetidas [do Arsenal de Guerra da Corte] ferragens para lanças, pois que
nesta Província fabricam-se muito mais baratas e há abundância delas neste Arsenal
hoje”.186
O Arsenal de Porto Alegre continuou a existir até 1934, seus prédios hoje abri-
gando o Museu do Comando Militar do Sul.
186
BRASIL – Arsenal de Guerra do Rio Grande. Ofício do Major diretor José Joaquim da Lima e Silva
ao presidente de província do Rio Grande do Sul, Visconde de Boa Vista. 19 de outubro de 1865.
Mss. ANRJ. IG7 501.
187
BRASIL – Ministério da Guerra. Avaliação dos relatórios, op. cit.
308
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Ainda sobre a tabela acima, devemos notar que a Fábrica de Armas da Concei-
ção, apesar do seu nome, nessa época não era uma manufatura independente, sendo uma
repartição do Arsenal de Guerra, como trataremos no capítulo 9. Dai que não apareçam
funcionários administrativos ou Aprendizes Menores lá, pois estes estão listados entre
os do Arsenal.
188
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da guerra, Manoel Felizardo de Souza e Melo, ao
diretor do Arsenal de Guerra, Marechal José Maria da Silva Bitancourt, mandando serrar coronhas
de açouta-cavalos não só para as oficinas da Fortaleza da Conceição e do referido Arsenal, mas
também para remeterem-se duzentos cortes para a Província de Pernambuco e outros tantos para a
da Bahia. Rio de Janeiro, 14 de abril de 1852. Mss. ANRJ. IG7 516.
309
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Mais importante era a troca de pessoal que ocorria entre as instituições, isso sen-
do bem visível na documentação sobre o Rio de Janeiro, mas podemos imaginar que o
mesmo ocorresse nas províncias: os Arsenais, sendo os maiores contratadores de pesso-
al nessas cidades, permitiam que operários e até mestres de uma das instituições passas-
sem de uma para outra, os vencimentos pagos por elas sendo mais ou menos idênticos,
para evitar que uma atraísse e retivesse o pessoal de outra, apesar de existirem diferen-
ças. Chegou a ser uma estratégia dos trabalhadores passar de uma instituição para outra
em busca de vantagens, o diretor do Arsenal de Guerra tendo que pedir que isso fosse
proibido, o que nunca se conseguiu. 192
Não podemos deixar de notar que o Arsenal de Guerra recorria à instituição na-
val para a formação de pessoal mais técnico: em 1849 o ministro da Guerra ordenou o
envio de menores aprendizes para serem colocados como estudantes na fundição da
189
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício vice do diretor interino, ten.-cel. José Manoel da Silva, ao Mi-
nistro da Guerra, Marquês de Caxias informando sobre as 4.000 bombas de 80 para Óbidos man-
dadas fundir no Arsenal de Marinha. Rio de Janeiro, 9 de julho de 1856. Mss. ANRJ. IG7 21.
190
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro Pedro de S. Bellegarde ao diretor do Arsenal,
Jerônimo Francisco Coelho, sobre remessa do Laboratório do Campinho para o Arsenal de Guerra
200 foguetes à Congreve para serem entregues à Repartição de Marinha. Rio de Janeiro, 4 de de-
zembro de 1854. IG7 335.
191
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, Jeronimo
Francisco Coelho, ao Ministro da Guerra, Pedro d’Alcantara Bellegarde, sobre fornecimentos ao
Chefe de Esquadra Pedro Ferreira de Oliveira, 22 de dezembro de 1854. Mss. ANRJ. IG7 14.
192
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de 5 de novembro de 1839, op. cit.
310
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
Marinha, a condição sendo que estes alunos deveriam ser escolhidos entre os que não
tivessem família. Isso apresentava problemas, pois os únicos menores que estavam nes-
sa situação eram aqueles que tinham vindo como expostos da Santa Casa, mas estes não
tinham idade suficiente para trabalharem nas oficinas, tendo apenas oito anos. 193 As
condições de trabalho dos menores que foram remetidos não devem ter sido das melho-
res, pois cinco dos oito aprendizes que foram efetivamente empregados na fundição da
Marinha desertaram passados poucos meses. 194
A questão dos aprendizes nos leva a um ponto importante no conjunto das manu-
faturas do governo: todas elas, mas principalmente as do Exército, tinham como parte
de suas funções a formação de pessoal técnico, isso às vezes implicando em números
elevados de estudantes. Como pode ser visto na Tabela 13, em Pernambuco os aprendi-
zes eram 44% dos trabalhadores do Arsenal de lá, enquanto no Mato Grosso chegavam
a superar em número os operários regulares do Arsenal. Isso era claramente uma parte
de uma política do ministério da Guerra.
Por sua vez, também é claro na análise das manufaturas militares que todas elas
se encontravam no nível da pré-indústria, em geral com várias oficinas descentralizadas
e com muito pouca colaboração entre si, fazendo um uso muito limitado de máquinas –
na imensa maioria dos casos não se percebe sequer uma divisão do trabalho. Uma parte
importante da composição da mão de obra era escrava, o que também apresentava limi-
tações, mesmo considerando que estes podiam chegar ao topo da carreira dos operários
de uma instituição, como ocorreu na Fábrica de Ferro de Ipanema.
Podemos concluir essa parte com o que escreveu o ministro da guerra, o Mar-
quês de Caxias, em 1856:
193
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal Antônio João Rangel de Vasconcelos ao
Ministro da Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro, 7 de julho de 1849. Mss.
ANRJ. IG7 10.
194
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício Nº. 34, do diretor do Arsenal de Guerra, Antônio João Rangel de
Vasconcelos ao Ministro da Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro, 30 de abril
de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
195
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na quarta
sessão da nona legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da guerra, marquês de
Caxias. Rio de Janeiro: Laemmert, 1856. p. 13.
311
Capitulo 6 - A estrutura de produção de artigos para os militares no Brasil
312
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Sumário
313
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
7.1 História
Como já apontamos anteriormente, não há uma publicação que trace a história
do Trem do Rio de Janeiro antes de 1763, quando foi construída uma nova instalação, a
construção desse prédio sendo usada como marca de criação da instituição.1 Isso certa-
mente é incorreto, havendo uma menção à um trem desde os primeiros anos do século
XVIII. Mais relevante, em termos do nosso trabalho, é a existência dos Armazéns Reais.
Normalmente esses são associados à outras atividades, como a estocagem de madeiras
para exportação e de produtos civis usados pela administração colonial. Só que eles não
estavam restritos a essas atividades.
1
WINZ, Pimentel. História da casa do Trem. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1962. p. 101.
Essa posição é repetida em obra mais recentes, como NAZARETH, Otávio & TOSTES, Vera Lúcia.
Bottrel. Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro: Olhares, 2013.
2
SALGADO, Graça. Fiscais e meirinhos: a administração no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 1985. O cargo de “almoxarife da pólvora” é citado em: PORTUGAL – Regimento das coi-
sas comuns e gerais aos oficiais dos armazéns. 17 de Março de 1674.
3
DESPACHO do provedor-mor da Fazenda Real da Bahia, Luís Lopes Pegado Serpe a ordenar que o
Almoxarife das Munições dê cumprimento a Portaria em que pede se fora entregue balas de artilha-
ria, pólvora, murrão e barris. Salvador, 20 de maio de 1737. Mss. Arquivo Ultramarino.
AHU_ACL_CU_005, Cx. 59, D. 5028. E CARTA de vossa majestade ao provedor-mor da fazenda
do Estado do Brasil, Francisco Lamberto sobre o refino de pólvora. Lisboa, 16 de outubro de 1685.
DOCUMENTOS históricos, volume LXXXIX. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1950. p. 47.
4
PORTARIA para o provedor mor para que ordene ao Almoxarife das munições que faça setenta fardas.
Salvador, 9 de julho de 1734. DOCUMENTOS históricos, volume LXXV. Rio de Janeiro: Baptista
de Souza, 1947. p. 331.
5
Há um documento da Bahia, de 1722 que menciona a fabricação de cartucheiras e os ofícios de Armei-
ro, alfaiate, correeiro e latoeiro. REGISTRO da avaliação das armas e munições. Salvador, 12 de se-
tembro de 1722. DOCUMENTOS HISTÓRICOS. Livro 1º de Regimentos. 1684-1725. Registro de
provisões da casa da moeda da Bahia. 1775. Vol. LXXX. Biblioteca Nacional. s.n.t. p. 311.
314
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Para fazer a manutenção desse armamento era necessário, no mínimo, uma pe-
quena estrutura de oficinas, que comporiam o Trem e o do Rio é mencionado desde
1703, em um texto que nos dá a impressão que a instalação já era antiga. Naquele ano, o
governador reclamava dos problemas de lentidão dos trabalhos no “trem da artilharia”,
por causa dos artesãos que abandonavam seus postos para ir para as recém-descobertas
lavras de ouro em Minas Gerais. Entre esses se contava até o “mestre das carretas [que]
fugiu”.7
As indicações são que esse primeiro Trem do Rio era uma organização mista,
atendendo às necessidades das forças de terra e navais: uma petição do mestre das carre-
tas do Trem, de 1719, menciona que o operário tinha participado nos trabalhos de cons-
trução de carretas de artilharia para as fortalezas da cidade e da Colônia de Sacramento,
bem como no lançamento de dois lanchões e dois saveiros “assistindo a todas as obras
assim de mar como de terra”.8 Deve-se fazer uma nota que o próprio pedido feito pelo
mestre, de uma patente de tenente general de artilharia, é um indicativo da importância
da instalação. De qualquer forma, em 1742 há um documento mencionando Vicente de
Araújo Silva, que tinha o “ofício de mestre das Naus e Trem da cidade do Rio de Janei-
ro”,9 mostrando ainda uma organização mista.
Não sabemos como era esse primeiro Trem, nem onde ficava, mas se seguisse a
prática do final do século XVIII – e a lógica –, deveria estar próximo dos armazéns on-
de ficavam as armas. Apoiando essa conclusão existe a planta do Rio de Janeiro, do
6
CONTA sobre a fortificação e artilharia e mais fortalezas da praça e armazéns do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro, 2 de março de 1718. Antônio Brito de Menezes. REVISTA do Instituto Histórico e Geográ-
fico Brasileiro. Tomo LV, parte I. Rio de Janeiro: Companhia Tipográfica do Brasil, 1892. pp. 226-
227.
7
CARTA de d. Álvaro da Silveira de Albuquerque, governador do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas
Gerais ao rei, dando-lhe conta do mau estado da defesa militar do Rio de Janeiro por influência das
Minas. Rio de Janeiro, 22 de março de 1703. DOCUMENTOS interessantes. Vol. LI. São Paulo: Ir-
mãos Ferraz, 1930. p. 161.
8
PARECER do Conselho Ultramarino sobre o requerimento do mestre do trem e carretas do Rio de Ja-
neiro, João Batista, solicitando a patente no posto de tenente-general de artilharia. Lisboa, 7 de maio
de 1725. Mss. Arquivo Ultramarino. AHU_CU_017, Cx. 15, D. 1644.
9
ESCRITO do secretário da Junta dos Três Estados, João dos Santos Leite Bressane, ao conselheiro do
Conselho Ultramarino, Manoel Caetano Lopes de Lavre, solicitando a cobrança de uma fiança no
valor do rendimento do ofício de mestre da Ribeira das Naus e Trem da cidade do Rio de Janeiro, no
qual serve Vicente de Araújo Silva. Lisboa, 30 de abril 1742. AHU_CU_017, Cx. 34, D. 3598.
315
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
brigadeiro Massé, 10 de 1714, que informa que os armazéns ficavam onde hoje é o Paço
Imperial, junto da Casa da Moeda – uma situação que faz sentido, já que a Casa da Mo-
eda tinha oficinas que poderiam apoiar na manutenção das armas, como forjas, vestígios
das quais foram encontrados nas pesquisas arqueológicas do Paço Imperial, em 1986.
10
PLANTA da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro com suas fortificações. [1714]. Mss. Arquivo
Ultramarino. AHU_CARTm_017,D.1064.
11
CARTA do provedor da Fazenda Real do Rio de Janeiro, Francisco Cordovil de Sequeira e Melo, ao rei
D. João V, informando que se transferiram a Casa do Despacho e Armazéns e a Casa de Armas para
o palácio antigo. Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1744. Mss. Arquivo Ultramarino.
AHU_CU_017, Cx. 37, D. 3873. O palácio ficava onde hoje está o Centro Cultural Banco do Brasil.
12
CARTA Topográfica da Cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, tirada, e executada pelo Capitão
André Vaz Figueira, Acadêmico da Aula Militar. Ano de 1750. Mss. Biblioteca Nacional.
13
[PLANTA da Cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro]. S.d. [1758-1760]. Mss. Biblioteca Nacional.
316
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Um das dificuldades mais sérias causadas pela topografia era uma total ausência
de água corrente ou mesmo fontes de água potável: toda a que era usada na manufatura
no início de sua história vinha de pipas e essas tinha que ser trazidas de longe – o chafa-
riz do Moura, fora das instalações do Trem foi inaugurado apenas em 1794. Em 1840 o
Arsenal comprou da Santa Casa, o prédio ao lado da manufatura, um “anel de água”, o
que hoje se chamaria de pena d’água, um cano com um fluxo constante, mas limitado,
de água. Essa pena era insuficiente e em 1848 o diretor da instituição informou que era
necessário comprar quatro ou cinco pipas d’água por dia.14 Só no ano seguinte foi cons-
truído um cano para abastecer um chafariz em um pátio interno das instalações e, em
1852, quando o Arsenal instalou uma máquina a vapor foi necessário cavar um poço
para abastecer as caldeiras.15
A solução para a falta de água potável não resolveu a questão básica da institui-
ção, de não haver água corrente – um rio – que pudesse servir de força motriz. Tudo
tinha que ser movido a braço humano até a introdução dos motores a vapor. Isso sem
falar no uso de água em uma série de outras atividades manufatureiras. Como apontado
pelo diretor do Arsenal, Cunha Matos: “ali não há espaço para se assentarem grandes
máquinas, e todas as que se estabelecerem para trabalhar com forças vivas, ou por águas
do mar, hão de ser muito dispendiosas”. 16
14
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Marechal João Carlos Pardal, ao ministro Antônio
Manoel de Melo, sobre falta d’água no Arsenal. Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1848. Mss.
ANRJ. IG7 10.
15
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra, Marechal de campo José Maria da
Silva Bitancourt, Rio de Janeiro, 1 de março de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13
16
MATOS, Raimundo José da Cunha. Memória estatística, econômica e administrativa sobre o arsenal
do exército, fábricas e fundições da cidade do Rio de Janeiro. Vila Nova de Famalicão: s.ed. 1939.
p. 15.
17
Isso aparece em praticamente todos os relatórios do Arsenal, como: BRASIL – Arsenal de Guerra.
Relatório do Arsenal de Guerra, 1852, op. cit.
317
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
certo volume e peso. As ruas em torno da instalação eram estreitas e tortuosas, dificul-
tando o transporte de itens mais pesados por terra (ver Figura 41).
18
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício da 2ª Seção do Arsenal comunicando que o aprendiz-alfaiate
Napoleão Prestino foi ferido por bala de fuzil na mão direita estando a trabalhar na sua oficina. Rio
de Janeiro, 30 de dezembro de 1893. Mss. ANRJ. IG7 306.
19
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da Guerra apresentado a As-
sembleia geral legislativa na sessão ordinária de 1840 pelo respectivo ministro e secretário de Es-
tado, Conde da Lage. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1840.
20
BRASIL – Arsenal de Guerra. [Área do Arsenal de Guerra da Corte]. Escritório das oficinas, 10 de
dezembro de 1868. Mss. ANRJ. IG7 28.
318
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
da crise causada pela Questão Christie, quando o Arsenal chegou a ter 1.500 operários
trabalhando ao mesmo tempo, escrevia:
De qualquer forma, o Trem era considerado uma função importante, tanto é que
em 1753, seu mestre, o mesmo Vicente de Araújo e Silva já mencionado onze anos an-
tes, recebeu como recompensa por seus serviços uma sesmaria com uma légua em Ma-
caé – o que faz presumir que ele teria os recursos econômicos para explorar a doação,
nos termos da legislação da época. Além disso, a doação o colocaria em uma situação
próxima da elite da colônia, a dos senhores de terras – algo notável para um artesão.22
Pouco depois, há um documento, de 1759, que permite ver que Trem continuava sendo
uma organização mista, atendendo às necessidades dos navios da armada portuguesa e
dos fortes da cidade.23
21
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado á assembleia geral legislativa na segunda
sessão da décima segunda legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da guerra,
José Marianno de Mattos. Rio de Janeiro: Laemmert, 1864. p. 8.
22
CARTA DE SESMARIA passada pelo alcaide-mor da cidade do Rio de Janeiro e donatário da capita-
nia de Paraíba do Sul, visconde de Asseca, Martim Correia de Sá e Benevides Velasco, ao adminis-
trador do Trem Real, Vicente de Araújo e Silva, concedendo-lhe uma légua de terras devolutas e ma-
tos nas cercanias do rio Macaé, fronteiras com as terras dos falecidos João Madureira Machado, do
alcaide-mor Caetano de Barcelos e dos Padres da Companhia de Jesus, no Rio de Janeiro. Lisboa, 4
de maio de 1753. Mss. Arquivo Ultramarino. AHU_CU_017, Cx. 46, D. 4673.
23
OFÍCIO do governador interino do Rio de Janeiro e Minas Gerais, José Antônio Gomes Freire de An-
drade, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Tomé Joaquim da Costa Corte Real, sobre o
requerimento do mestre do Trem do Rio de Janeiro, Vicente de Araújo Silva, solicitando pagamento
pelos serviços prestados naquela cidade. Rio de Janeiro, 20 de janeiro de 1759. Mss. Arquivo Ultra-
marino. AHU_CU_017, Cx. 55, D. 5401.
319
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
alas de três andares, tornando-o um dos prédios mais imponentes da zona costeira da
cidade. Tendo 16 por 36 metros, era também maior do que as Casas do Trem de outras
capitanias sobre as quais temos informações (ver Figura 32).
24
O paiol de Santa Bárbara ficava na ilha do mesmo nome – já existia em 1768 e funcionou desde mea-
dos do século XVIII até o final do XIX.
25
FUNCK, Jacques. Relation Generale de toutes les pieces d'artillerie de l'ammunition que se trouvent
actuallement dans le trem et sur toutes les forteresses autout le port de Rio de Janeiro. Rio de Janei-
ro, 6 de março de 1768. Biblioteca Nacional, Microfilme Ms 453(1).
320
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
26
PROJETO para acrescentar ao Arsenal do Trem da Cidade do Rio de Janeiro. Jacques Funck, 28 de
fevereiro de 1770. Mss. Biblioteca Nacional. Mss 49,1,27 n1-8.
27
FUNCK, 1768, op. cit.
28
id.
321
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Em 1776, o major intendente do Trem, Crispim Teixeira Silva, elaborou uma re-
lação de 99 páginas com tudo o que tinha sido feito na instalação, para o fornecimento
do Exército, desde 1768 – nesse período, devemos lembrar, a Colônia estava em Guerra
com os espanhóis no Sul. Por essa época, a manufatura continuava a atender as necessi-
dades da marinha: são listados suprimentos enviados para 23 navios. O documento tam-
bém informando que havia trabalhando na manufatura artesãos de ferreiros; serralhei-
ros; carpinteiros de machado; carpinteiros de obra branca; torneiros; tanoeiros; funilei-
ros; e cordeeiros, esta última uma profissão mais ligada à atividade naval. Finalmente,
havia um Laboratório Pirotécnico, o do Castelo, criado por essa época, mas este não
parece ser parte da estrutura administrativa do Trem do Rio.
29
Normalmente, na documentação do Arsenal, se faz uma separação entre “carpinteiros de machado” e
“carpinteiros de obra branca”, os primeiros sendo falquejadores, ou seja, trabalhavam a madeira de
forma grosseira, usando machado, enquanto os de obra branca fariam objetos necessitando de maior
habilidade. Certamente, “carpinteiros de carros” se enquadram na segunda categoria, contudo.
30
SILVA, Crispim Teixeira, Sargento Mor Intendente. Relação das Obras, Munições e mais Petrechos
que se tem feito no Trem de S. Majestade Fidelíssima do Rio de Janeiro, no tempo Governo do Il.mo e
Ex.mo Sr Marquês do Lavradio Vice Rei e Capitam General de Mar e Terra do Estado do Brasil,
continuado de 31 de outubro de 1769, até 31 de Agosto de 1776. Mss. Coleção Particular. O “enge-
nho de broquear artilharia” tinha uma “calhe de madeira com seu baileo [plataforma] para andar a
Peça”, o que só seria necessário em um torno horizontal.
31
WINZ, op. cit. pp. 177 e segs.
322
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Mesmo com a paz no sul e com a diminuição do apoio que o Marquês de Pom-
bal dava à instalação de manufaturas militares no Brasil, o Trem não perdeu importância
no período e manteve uma capacidade técnica razoável para o Período. Em 1792 seu
intendente ainda era Crispim Teixeira Silva, só que com a patente de tenente coronel,
um oficial superior, tendo três funcionários civis no “Trem”: um escrivão; um ajudante
comercial e almoxarife; e um fiel. Infelizmente, o almanaque do Rio não mencionando
os nomes dos mestres das oficinas daquele período, de forma que não sabemos quais
32
A escultura de bronze é do acervo do Museu da Cidade, fotografada em 1991 e o carro é do documento:
RELAÇÃO dos magníficos carros que se fizeram de arquitetura e fogos, os quais se executaram por
ordem de Il mo. e Exmo. Senhor Luiz de Vasconcelos e Sousa, Capitão General de Mar e Terra & Vice
Rei dos Estados do Brasil nas Festividades dos desposórios dos Sereníssimos Srs. Infantes de Portu-
gal Nesta Cidade do Rio de Janeiro. [Antônio Francisco Soares], 1786. Mss. IHGB, Lata 51 -
Doc. 20.
33
SILVA, op. cit.
34
REVISTA Geral de Artilharia e Munições que se acham ao todo no Rio de Janeiro. Ano de 1779. Jac-
ques Funck. Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 1780. Mss. Biblioteca Nacional. MS-453 (11).
323
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Uma planta (Figura 46) sem data, mas que podemos atribuir a poucos anos de-
pois da vinda da família real portuguesa, mostra ainda uma instalação muito modesta,
com dez oficinas, ocupando o Arsenal de 1764 e um anexo feito em data não definida –
a antiga Casa do Trem, nessa época, era usada como cavalariça real. Na planta três pon-
tos outros merecem destaque: primeiro, as pequenas dimensões de algumas oficinas: as
de Abridores, Lavrantes, Funileiros e Fundidores ocupam uma área total de 66 m², divi-
das em seis pequenos cubículos, certamente reproduzindo a estrutura de uma “tenda”, a
oficina artesanal privada da época, onde trabalhavam o mestre e um ou dois oficiais. Em
segundo lugar, aparece uma “estrebaria”, algo que não é mais mencionado em docu-
mentos posteriores – só não sabemos se os animais se destinavam a tração de carroças
ou para mover alguma máquina, apesar de duvidarmos dessa última hipótese, por causa
das oficinas discriminadas, que não demandavam esse tipo de força motriz.
35
ALMANAQUES da cidade do Rio de Janeiro para os anos de 1792 e 1794. Anais da Biblioteca Nacio-
nal, vol. 59, 1937. Rio de Janeiro: Ministério da Educação, 1940. p. 256.
36
RELAÇÃO do que se precisa para o fornecimento do Real Trem do Rio de Janeiro, do qual se fornece
todo o continente do Rio Grande de São Pedro, Ilha de Santa Catarina, mais praças pertencentes à
mesma capitania. Manoel Francisco dos Santos, Sargento-mor intendente. Rio de Janeiro, 26 de fe-
vereiro de 1798. Mss. Biblioteca Nacional. I-31,21,40. A soma da quantidade de aço pedido não ba-
te, por causa da conversão do sistema de medida português arcaico para o métrico.
37
Na documentação encontramos vários ofícios tratando do gradual despejo de moradores de prédios que
seriam ocupados por atividades do AGC. Em 1838 se enviou uma ordem para remoção de moradores
do quartel do Moura, que passaria a ser usado pela Companhia de Artífices. Em 1857 se proibiu a re-
sidência de vária famílias no interior da Fortaleza da Conceição. Mesmo assim, várias pessoas ti-
nham autorização para morar no interior do Arsenal. BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do mi-
nistro, Jerônimo Francisco Coelho, ao diretor do Arsenal de Guerra, coronel do Estado-Maior de 1ª
Continua –––––––
324
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
se uma intensiva ocupação do espaço. Isso também é visível pelas fortificações erguidas
no final do século XVIII, as baterias do Trem e do Cafofo, que ainda estavam operacio-
nais no início do século XIX – posteriormente só a do Cafofo, a menor, ficou parcial-
mente ativa, para ser usada em treinamentos, o terrapleno onde eram colocados os ca-
nhões da Bateria do Trem tendo sido aproveitado para a edificação de anexos da manu-
fatura. O uso dos prédios públicos por particulares continuou por todo o período que
estamos estudando e até além – no Beco da Batalha, havia um conjunto de casas co-
muns, pertencentes ao Arsenal, mas usados por trabalhadores e funcionários do Arsenal,
que viviam, lado a lado dos africanos livres (ver Figura 41 e Figura 42). 38
Continuação–––––––––––
Classe Alexandre Manoel Albino de Carvalho, proibindo a residência de famílias na Fábrica de ar-
mas da Conceição. Rio de Janeiro, 28 de outubro de 1857. Mss. ANRJ. IG7 396.
38
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor interino, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, ao
ministro da Guerra, Conde de Lages, sobre despejo de pessoas do quartel do Moura, para ser ocu-
pado pela Companhia de Artífices. Rio de Janeiro 5 de janeiro de 1838. Mss. ANRJ. IG7 20.
39
Foto de Augusto Malta, s.d., cópia existente no Museu Histórico Nacional.
40
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor interino, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão ao
ministro da Guerra, Rio de Janeiro, sobre moradores de casas no Arsenal. Rio de Janeiro, 11 de ja-
neiro de 1838. Mss. ANRJ. IG7 20.
325
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Sabemos que no ano da vinda do Príncipe Regente, tanto o Trem, como a Casa
de Armas da Conceição e a Fábrica de Pólvora, criadas naquele ano, passaram a ficar
sujeitos à fiscalização do Inspetor Geral da Artilharia da Corte e Capitania do Rio de
Janeiro, o general Napion, que também teria a responsabilidade de fazer o mesmo com
o Regimento de Artilharia e as Fortificações da cidade.41 As manufaturas, contudo, con-
tinuaram a ser dirigidas por administradores locais, no caso da Conceição, o Governa-
dor42 e o intendente, no Arsenal.
Desse período, sabe-se que em 1808 foi instalada uma oficina de cordoaria do
Arsenal, com a função de fabricação de lonas de algodão 43 – algo ainda mais relaciona-
do com a Marinha do que com o Exército. Dois anos depois foi levantada a companhia
de Artífices, 44 que será abordada em outro capítulo, mas sobre a qual podemos adiantar
que tinha a função de fornecer pessoal para as oficinas.
41
PORTUGAL – Decreto de 24 de junho de 1808. Dá instruções para o Inspetor Geral da Artilharia da
Corte e Capitania do Rio de Janeiro.
42
Até 1830, governador era o título dado ao comandante de um forte. MATOS, Raimundo José da Cunha.
Repertório da legislação militar atualmente em vigor no exército e armada do Império do Brasil.
Rio de Janeiro: Seignot-Plancher, 1837. Vol. 1. p. 94.
43
id. p. 172.
44
PORTUGAL – Decreto de 3 de setembro de 1810. Manda organizar uma Companhia de Artífices do
Arsenal Real do Exercito.
45
PORTUGAL – Alvará de 1º de março de 1811. Cria a Real Junta de Fazenda dos Arsenais, Fábricas,
e Fundição da Capitania do Rio de Janeiro e uma Contadoria dos mesmos Arsenais.
326
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
tivas tratadas – apesar dessas serem importantes – mas pelo fator conceitual contido no
documento.
46
Pelo menos de forma “oficial”, pois o decreto que criou a companhia de artífices já chama o Trem de
“Arsenal Real do Exército”. PORTUGAL – Decreto de 3 de setembro de 1810, op. cit.
47
id.
48
COELHO, Sérgio Veludo. Os Arsenais Reais de Lisboa e do porto: 1800-1814. Porto: Fronteira do
Caos, 2013. p. 397.
327
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Ferro de Sorocaba, que eram controladas pelos capitães generais, os governadores lo-
cais.
328
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Por sua vez, a Junta tinha algumas funções exóticas, sem qualquer ligação com
as manufaturas militares ou mesmo outras oficinas privadas em geral. Por exemplo, o
inciso 22 do alvará de criação da organização determinava que o Inspetor Geral deveria
também fiscalizar todos os estabelecimentos que deveriam ser feitos na Lagoa Rodrigo
de Freitas, como “olarias, caieiras, cortes de madeiras e sua extração (...)”.57 O oficial
também tinha a obrigação de criar o “jardim botânico da cultura em grande [escala] de
plantas exóticas que mando se haja de formar na dita fazenda da Lagoa”, devendo pro-
mover “a cultura das moscadeiras, alcanforeiras, cravos da Índia, canela, pimenta, e os
cactos com a cochonilha”. O texto finalizava que deveria se investigar os meios de aper-
feiçoar a criação de bosques artificiais de madeiras de lei e cuidar da boa agricultura da
fazenda. Medidas economicamente benéficas, mas que de forma alguma teriam utilida-
de imediata para as forças armadas.
53
ALMANAQUE do Rio de Janeiro para o ano de 1824. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, s.d., p. 205.
E SILVA, César Agenor Fernandes da. Ciência, técnica e periodismo no Rio de Janeiro (1808-
1852). (Tese de doutorado). Franca: UNESP, 2010. p. 76.
54
PORTUGAL – Alvará de 1º de março de 1811, op. cit.
55
id. inciso XIII.
56
GAZETA do Rio de Janeiro, nº 68, 25 de agosto de 1813. p. 3.
57
PORTUGAL – Alvará de 1º de março de 1811, op. cit. inciso XXXII.
329
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
58
id. inciso XLIII.
59
MATOS, 1939, op. cit. p. 19.
330
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
correspondido aos propósitos de sua criação e que tinha absorvido gastos de vulto, “sem
produzir resultados proporcionados aos sacrifícios”, a Junta dos Arsenais sendo conde-
nada por morosa e “desleixada na fiscalização”.60 Havia problemas no funcionamento
do órgão, como o brigadeiro Cunha Matos já tinha apontado e que também se refletiam
em outros autores. Carl Seidler, um viajante suíço, foi muito crítico a instituição, depois
de elogiar o Arsenal de Marinha, escrevendo que:
60
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da administração do ministério da Guerra apresentado à
augusta Câmara dos senhores deputados na sessão de 1832. Rio de Janeiro: D’Astrea, 1832. p. 10.
61
SEIDLER, Carl. Dez anos no Brasil. São Paulo: Livraria Martins, s.d. p. 50.
62
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório do ano de 1830 apresentado à Assembleia Geral Legislati-
va no ano de 1830 na sessão de 1831. Ministro José Manoel de Moraes. s.n.t. p. 10
63
id. p. 10.
64
id. p. 10.
331
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
dores pouco zelosos pelo adiantamento do serviço”,65 uma falha básica da instituição,
não sanada ao longo de todo nosso recorte de estudo, pois não havia uma supervisão
técnica das oficinas por parte da administração militar. Tudo isso contribuía para que
houvesse uma “enorme diferença entre os valores dos artigos prontificados nas Fábricas
Nacionais [as manufaturas do governo] e aqueles que são construídos em oficinas parti-
culares”, o ministro continuando, afirmando que a respeito disso “No Arsenal do Rio de
Janeiro reinou a esse respeito a mais escandalosa relaxação e desordem”.66
Afora a criação dos arsenais provinciais, o decreto tinha uma série de outras de-
terminações, como rebatizar o do Rio de Janeiro como Arsenal de Guerra da Corte
(AGC) e criar o cargo de diretor, com as funções que tinha o presidente da Junta, pelo
menos no que tange à manufatura. O antigo vice-inspetor passou a se chamar de vice-
diretor, sendo o cargo reservado a um militar, que passou a exercer um grande numero
de atividades, colocando uma grande carga de responsabilidade sobre ele. Deveria fisca-
lizar as oficinas, faria o registro dos artigos comprados e daqueles produzidos, rubrican-
do as guias de material e as folhas de salário; finalmente, deveria assistir à entrada e
saída de material nos armazéns do almoxarifado, se assegurando da sua autenticidade,
bem como que não tinha havido desvios de material. Eram funções que claramente seri-
am impossíveis de serem cumpridas por apenas um homem e que não lhe deixariam
tempo para executar outras tarefas de caráter não burocrático. O regulamento previa
65
id. p. 11.
66
id. p. 11.
332
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Esse regulamento ficou válido até 1872, quando foi substituído por outro mais
completo. Mas não era um texto que na época fosse considerado como bom, isso a pon-
to de já em 1835 ter se estudado uma reforma no texto legal68 e da questão ter sido leva-
da ao parlamento, que autorizou a mudança do regulamento nas leis de fixação de força
do exército em 1841, 1856 e, de novo, em 1860, todas não executadas neste aspecto.
Entretanto, no período que estamos estudando houve algumas modificações na adminis-
tração da manufatura69 e, principalmente, como ela se relacionava com as forças arma-
das, especificamente, a forma como eram organizadas as Companhias de Aprendizes
Menores e a de Artífices, tal como será tratado em outro lugar dessa tese. Outras altera-
ções aconteceram de forma periférica, como em órgãos externos relacionados proxima-
mente com a instituição.
67
BRASIL – Decreto de 21 de fevereiro de 1832. Dá Regulamentos para o Arsenal de Guerra da Corte,
Fábrica da Pólvora da Estrela, Arsenais de Guerra e Armazéns de depósitos de artigos bélicos.
68
BRASIL – Ministério da Guerra. Proposta e relatório da repartição dos negócios da Guerra apresen-
tados à Assembleia Geral Legislativa na sessão ordinária de 1836 pelo respectivo ministro e secre-
tário de estado dos negócios da Guerra, Manoel da Fonseca Lima e Silva. Rio de Janeiro: Tipogra-
fia Nacional, 1836. p. 11.
69
Os decretos Decreto nº 210, de 3 de Agosto de 1842 e nº 778 de 15 de abril de 1851, trataram da Con-
tadoria Geral da Guerra, que cuidaria da administração financeira do Exército. Ambos os textos deta-
lhavam a escrituração das contas do Arsenal, mas não alteravam basicamente a organização da insti-
tuição.
333
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
70
Detalhe da PLANTA do Arsenal de Guerra da capital do Império do Brasil e seus arredores. Rio de
Janeiro, 20 de março de 1869. Mss. Arquivo Histórico do Exército.
71
BRASIL – Ministério da Guerra. BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do ministro da Guerra.
1864. op. cit. Relação demonstrativa dos próprios nacionais.
72
BRASIL – Arsenal de Guerra. Despacho do ministro exarado no ofício do diretor José Victória Soares
de Andrea ao ministro da Guerra, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão. Rio de Janeiro, 11 de
janeiro de 1863. Mss. ANRJ, coleção Polidoro, Maço 11.
334
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
sentou um projeto de lei de organização do Arsenal, pelo qual haveria um oficial diretor
das oficinas, que deveria ter “conhecimentos mui largos dos trabalhos das máquinas de
Guerra”,73 Cunha Matos lembrando que a Junta de Arsenais de Lisboa tinha três ofici-
ais, um de artilharia, outro de infantaria e o terceiro de cavalaria, para assessorar a dire-
ção em assuntos técnicos de suas armas.
Por sua vez, a posição governamental sobre a formação dos quadros dirigentes
das manufaturas do governo em geral mudaria um pouco com o tempo: em 1860 foi
feito um novo regulamento para a Fábrica de Pólvora, em substituição ao decreto de
73
BRASIL – Câmara dos deputados. Diário da câmara dos deputados à Assembleia Geral Legislativa do
Império do Brasil. sessão de 24 de julho de 1828. s.n.t. p. 2.
74
MATOS, 1837, op. cit. vol. 2 p. 165.
75
BRASIL – Decreto de 4 de dezembro de 1822. Determina que as promoções do Exército, até Coronel
inclusive, sejam gerais em cada Província e Arma.
76
BRASIL - Decreto nº 782, de 19 de abril de 1851. Aprova o Plano da organização do Exercito em
circunstâncias ordinárias.
77
Brigadeiro Antero José Ferreira de Brito, oriundo da artilharia, uma das armas “científicas”.
78
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da Guerra apresentado ao à
Assembleia Geral Legislativa na sessão ordinária de 1834 pelo respectivo ministro e secretário de
estado, Antero José Ferreira de Brito. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1834. p. 9.
335
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
1832. O novo texto já especificando que o ajudante do diretor de lá deveria ser um ofi-
cial “com pelo menos o curso de artilharia”. 79 O regulamento também previa uma medi-
da simples, mas eficaz, considerando que não havia ensino técnico no País: a de que o
dirigente deveria visitar “todas as vezes que puder, o recinto das novas oficinas, para
adquirir o maior conhecimento prático dos trabalhos de fabrico e do laboratório quími-
co”.80
Apesar da alteração dos regulamentos que foi feita naquele ano na Fábrica de
Pólvora e no Laboratório do Campinho, onde também havia a previsão de uma direção
mais técnica, tal não foi feito Arsenal de Guerra, apesar de o legislativo ter aprovado os
trabalhos para alteração do regulamento. Três anos depois, o ministro da Guerra, Poli-
doro da Fonseca Quintanilha Jordão, ele mesmo um oficial oriundo da arma de artilha-
ria, propôs a criação de um estado maior para a arma, a ser formado por oficiais com os
“conhecimentos teóricos e práticos que lhe são relativos, e com os das ciências acessó-
rias indispensáveis as suas diversas aplicações e trabalhos técnicos.” 81 O pessoal desse
estado maior deveria ser empregado em atividades de supervisão bem como na “direção
das fábricas de pólvora, das fundições, laboratórios pirotécnicos, arsenais, e em geral
em numerosas comissões que só podem ser bem desempenhadas por quem, aos conhe-
cimentos teóricos, reúna a necessária prática”.82
Por volta de 1845, foi apresentada uma proposta de reforma do Arsenal, pela
qual a maior parte dos cargos administrativos do Arsenal passariam a ser exercidos por
oficiais do Exército, indo desde um general ou oficial superior na direção até dois alfe-
res como praticantes da contadoria – se previam 36 oficiais na nova organização admi-
nistrativa, além de treze civis em cargos menores, como os de contínuos, guardas e por-
79
Em boa parte da história do Império, o Curso da Academia Militar era cumulativo, os oficiais de infan-
taria tendo que estudar menos, seguidos pelos de cavalaria, artilharia, engenharia e estado maior,
com uma crescente carga de estudos. A infantaria e cavalaria eram chamadas de “armas combaten-
tes” e as outras de “armas científicas”. Dessa forma, o regulamento da fábrica de pólvora previa que
somente um oficial de arma científica poderia ser o ajudante do diretor, este supostamente tendo uma
formação técnica. SIQUEIRA, Rogério Monteiro de & MORMÊLLO, Ben Hur. A gênese ilustrada
da Academia Real Militar e suas onze reformas curriculares (1810-1874). História da Ciência e En-
sino: construindo interfaces. PUC-SP, Volume 3, (20 de julho de 2011). p. 21.
80
BRASIL – Decreto nº 2.555, de 17 de Março de 1860. Aprova o Regulamento para a administração
geral da fabrica de pólvora da Estrela.
81
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na terceira
sessão da décima primeira legislatura pelo ministro e secretário de Estado dos Negócios da Guerra,
Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão. Rio de Janeiro: Laemmert, 1863. p. 7.
82
id.
336
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
teiros.83 Deve-se dizer que seria uma organização semelhante à prática atual, onde quase
todos os cargos de chefia de uma organização militar são preenchidos por militares.
Contudo, a ideia não alterava a estrutura básica do Arsenal, pois todos os oficiais traba-
lhariam em funções burocráticas, na direção – para a qual se sugeriam três ajudantes,
como seria de fato implantado mais tarde –, contadoria e pagadoria. Nas oficinas, se
previam apenas dois oficiais, um capitão e um tenente, mas não em funções técnicas,
pois deviam atuar como escrivão e apontador, cargos burocráticos.
A engenharia era um corpo de grande importância, pois não havia uma faculdade
de formação de engenheiros civis – todos os profissionais com formação técnica nessa
área no País ou eram estrangeiros ou tinham que, necessariamente, passar pela Escola
Militar. Só que este era um curso voltado para as necessidades militares. Em 1811 havia
cadeiras de matemática, astronomia (esta importante para cartografia), geometria descri-
tiva, física, geografia e desenho, além de cadeiras militares propriamente ditas, cursadas
pelos alunos de todas as armas. Frisamos que desenho, no currículo de 1811, era uma
83
PROJETO de um regulamento para o Arsenal de Guerra da Corte, s.d. [1845]. Quadro do Pessoal da
administração do Arsenal de Guerra da Corte, nas graduações, vencimentos, e empregos, o qual vai
anexo ao projeto do Regulamento para o mesmo Arsenal. Mss. ANRJ, coleção Polidoro, maço 7.
84
Havia também o “estado maior de primeira classe”, composto pelos oficiais que concluíam o curso
completo da Academia Militar.
337
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
cadeira que se repetia nos quatro primeiros e no sexto ano do curso de sete anos, mos-
trando a importância do desenho para a formação de uma mentalidade técnica.
O curso da Escola Militar para engenheiros tinha outras matérias, como química;
mineralogia; história natural e certa concentração no que chamaríamos de “engenharia
civil”, com princípios de arquitetura civil; traço e construções das estradas; terminando
com pontes, canais e portos.85 Era uma formação muito acadêmica e com pouca ênase
na prática, a ponto de ser constantemente criticada na época. Em 1861 o presidente da
Comissão de Melhoramentos do Material do Exército escreveu: “Os nossos oficiais de
engenheiros e de Estado-maior, geralmente falando, pouca ou nenhuma prática tem do
serviço de artilharia, infantaria e cavalaria. São quase todos doutores ou bacharéis, raro
é quem é soldado ou que deseja sê-lo.”86
Do nosso ponto de vista, deve-se dizer que a Academia Militar realmente não
preparava para a administração de uma manufatura: nela não se abordava assuntos vol-
85
SIQUEIRA & Mormêllo, op. cit.. p. 22.
86
BRASIL – Comissão de Melhoramentos do Material do Exército. Relatório da comissão para o ano de
1860. José Mariano de Matos. Presidente interino Rio de Janeiro, 1 de janeiro de 1861. Mss. Ar-
quivo Nacional. GIFI12.1 5B 246.
87
LUZ, Carlos da. Discurso proferido da sessão de 24 de agosto de 1861. O Argos da província de Santa
Catarina. Ano V, nº 800. Desterro, 4 de outubro de 1861. p. 3.
88
LUZ, op. cit. O Argos da província de Santa Catarina. Ano V, nº 801. Desterro, 5 de outubro de 1861.
p. 3.
338
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
89
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na sessão
ordinária de 1838 pelo respectivo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, Sebastião
do Rego Barros. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1838. p. 5.
90
GALVÃO, Dr. Manoel da Cunha. Aumento do Quadro de Engenheiros. Rio de Janeiro, 25 de agosto de
1854. Diário do Rio de Janeiro, ano XXXIII, nº 248. Rio de Janeiro, 11 de setembro de 1854. p. 2.
91
id.
339
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
nheiros tinham que cumprir. Do nosso ponto de vista, criava uma dificuldade insuperá-
vel para a criação de um corpo técnico qualificado nas manufaturas do governo, pois
simplesmente não havia pessoal para designar aos Arsenais. Assim, como a lista de
Galvão mostra, havia apenas um engenheiro no Arsenal, um na Fábrica de Armas e ou-
tro no Laboratório do Campinho. Podemos adiantar que todos exerciam basicamente
funções administrativas, pois não teriam tempo para mais do que isso.
Sem um esforço especial para designar oficiais com habilitação para essas ativi-
dades, as instituições teriam que seguir sem uma direção técnica. A solução proposta
por Polidoro da Fonseca e depois por Carlos da Luz, de criação de um quadro específico
para a administração das fábricas, seria uma alternativa viável – tal tinha sido feito nos
Estados Unidos, mas não foi este o caminho seguido no Brasil, o quadro de Material
Bélico só foi criado aqui em 1959.
92
EWBANK, Luís Henrique d’Oliveira. A arma de artilharia no Brasil. Indicador Militar: Gazeta Quin-
zenal. Ano 1, nº 9. Rio de Janeiro, 1º de maio de 1862. p. 140.
340
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
93
BRASIL – Decreto nº 663, de 24 de Dezembro de 1849. Cria uma Comissão de Melhoramentos do
Material do Exercito.
94
EXPOSIÇÃO Nacional, XXI. Diário do Rio de Janeiro, ano LVII, nº 71, Rio de Janeiro, 12 de março
de 1862.
95
id.
96
Arquivo Nacional, Fundo Comissão de Melhoramentos, GIFI 12.1 5B.
341
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
ções, do diretor das duas entidades, além da própria patente do presidente da Comissão
de Melhoramentos, de oficial general, que carregava por si uma grande autoridade.
Deve-se dizer que as Comissões sofriam de um mesmo problema básico, que era
a falta de um regimento com atribuições claras e, da forma como foram organizadas,
suas funções não eram executivas, mas consultivas – o Arsenal usou várias vezes da
Comissão de Melhoramentos para resolver dúvidas técnicas. Só que essa estrutura não
lhe dava condições de cumprir regularmente sua função, de fomentar o avanço técnico
das manufaturas do governo, pelo menos no período que estudamos – faltava-lhe auto-
ridade para implantar suas decisões e recomendações.
Houve acalorados debates no Parlamento sobre o tema e foi criada uma comis-
são de inquérito, que produziu um relatório de 232 páginas defendendo o governo e a
administração do Arsenal, publicado junto com o relatório do ministro de 1853. O dire-
tor, marechal Bitancourt também publicou uma defesa de sua administração, com 277
páginas. 98 Só que, mesmo com os esforços do governo para abafar o escândalo, foram
achadas irregularidades suficientes para, em outubro, se demitir o diretor, marechal de
campo José M. da Silva Bitancourt e o vice-diretor, major Vicente Marques Lisboa,
bem como dez empregados civis, além do mestre e contramestre de correeiros e o con-
tramestre de alfaiates.99
97
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da Guerra apresentado à As-
sembleia Geral Legislativa na primeira sessão da nona legislatura pelo respectivo ministro e secre-
tário de estado Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro: Laemmert, 1853. p. 10.
98
MARINHO, Joaquim Saldanha. Defesa do Marechal de campo José Maria da Silva Bitancourt feita
perante o conselho de guerra por ele requerido para justificar sua conduta como diretor do Arsenal
de Guerra. Rio de Janeiro: A. L. Navarro, 1853.
99
Diário do Rio de Janeiro, ano XXXI, nº 9142. Rio de Janeiro, 30 de outubro de 1852. p. 1.
342
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
tos, mandando fazer localmente os uniformes. Para substituí-los, foram criados Conse-
lhos centralizados nos arsenais, que deveriam se responsabilizar pelo fornecimento de
matérias primas para as manufaturas do governo, apesar de não serem ligados direta-
mente a elas, deve-se frisar. Isso regularizou a questão de suprimento militar – a Figura
36 do capítulo 6, mostra o aumento da influência da manufatura do Rio de Janeiro por
causa desta medida.
7.2.7 Os ajudantes
Um dos problemas da administração do Arsenal, como colocado acima, era a
falta de profissionais com formação científica, por só haver dois oficiais do exército na
direção da instituição, o diretor e seu vice. Só que esse problema não se restringia aos
aspectos técnicos: o regulamento de 1832 e os que o emendaram tratavam, basicamente,
da questão financeira, de compras e pagamentos. Não havia pessoal que cuidasse da
administração do dia a dia da instituição, a não ser a mestrança, mas esta era composta
por operários com níveis muito diferentes de instrução. Além disso, eles lidavam apenas
com suas próprias oficinas, a exceção sendo o construtor, que abordaremos em outra
parte dessa tese.
343
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
venda para o Exército. Como colocava um artigo de jornal, “À vista desta magnífica
tradição o lugar de diretor tem apenas o inconveniente de ser impossível!!”, comple-
mentando que “Basta só a papelada para anula-lo.”100
100
A EXPOSIÇÃO Nacional. Diário do Rio de Janeiro, nº 71, 1862. op. cit. p. 1.
101
O Arsenal de Guerra tinha uma sessão de combate a incêndios desde o século XVIII. Em 1836, o mi-
nistro da Guerra autorizou que as bombas d’água do Arsenal fossem imediatamente usadas em com-
bates a incêndios, sem precisar de autorização prévia, e em 1848 foi criada uma sessão de bombei-
ros, usando soldados das companhias de artífices do Arsenal. CASTRO, Adler Homero Fonseca de.
Os Artífices do Fogo. Da Cultura, Rio de Janeiro, ano VI, nº 11, 2006. pp. 32 e segs.
102
BRASIL – Decreto nº 1.913, de 28 de março de 1857. Extingue o lugar de Vice-Diretor do Arsenal de
Guerra da Corte e cria em substituição o de Ajudante do Diretor.
344
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
103
id.
104
BRASIL – Decreto nº 1.913, 1857, op. cit. Esta sala de modelos seria o núcleo do museu do Arsenal,
iniciado em 1857, onde foram “depositadas algumas peças de fardamento, de equipamento, arma-
mento, correame, ambulâncias, e outros artigos vindos ultimamente da Europa, e que devem servir
de amostras e modelos, formando assim um Museu Militar”. Este museu, contudo, não sobreviveu às
diversas mudanças administrativas no Arsenal. BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal
de Guerra, João José da Costa Pimentel, Brigadeiro Diretor. Rio de Janeiro, 5 de março de 1857.
Mss. ANRJ. IG7 22.
345
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Arsenal até 1863, bem como os da outra instalação externa, o Laboratório do Castelo.
Ambas, o Castelo e a Conceição eram próximos ao Arsenal, implicando em menos de
meia hora de caminhada para chegar nelas. Só que considerando que era impossível a
uma pessoa estar em três lugares ao mesmo tempo, era inviável ao 3º Ajudante manter
uma fiscalização constante sobre as atividades nos três locais. Na prática, pela docu-
mentação, ele se concentrava muito na Fábrica de Armas, que tinha uma dimensão de
vulto, com mais de cem trabalhadores.
Os três ajudantes deveriam ser militares, mas, conforme se pode ver por suas
atribuições, eles teriam poucas oportunidades de participar do funcionamento técnico do
arsenal, apesar do 3º ajudante ser encarregado do melhoramento do material do exército.
A sobrecarga de serviço burocrático certamente diminuiu com relação às responsabili-
dades do antigo vice-diretor, mas cada um deles continuou a ter excessivas responsabi-
lidades.
Deve-se dizer que o diretor e os ajudantes teriam pessoal de apoio, mas neste ca-
so, novamente, se vê certo descaso da administração do ministério da Guerra com o
funcionamento da sua principal manufatura. Em 1853, o diretor do Arsenal tinha requi-
sitado especificamente um oficial de artilharia para auxiliar nos serviços, ao que o mi-
nistro da Guerra informou que “que oficiais de artilharia lhe faziam falta para os corpos
[unidades]”.105 Por coincidência, estava de licença no Rio o capitão de artilharia João
Carlos de Villagran Cabrita, que tinha o curso de engenharia e era bacharel em Matemá-
ticas e ciências físicas. Aproveitando-se disso, o diretor requisitou-o para trabalhar no
Arsenal, o ministro concordando: Villagran Cabrita era um oficial técnico respeitado,
que foi membro da Comissão de Melhoramentos do Material do Exército e foi enviado
como instrutor para o exército paraguaio, tendo depois se tornado o patrono da Arma de
Engenharia. Contudo, foi uma solução extemporânea, que não reflete uma mudança de
política em relação ao pessoal técnico: o capitão ficou menos de um ano no Arsenal.
A situação normal era outra: em 1863 foi feita uma avaliação dos oito oficiais
que apoiavam a ação dos ajudantes, o resultado sendo muito negativo. Antes de qual-
quer coisa, cinco deles eram oficiais reformados e como na época não havia aposentado-
ria, isso significava que eram pessoas que tinham sido julgadas totalmente incapazes do
serviço militar normal. Além disso, as notações feitas pelo diretor sobre os oficiais são
105
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Pedro d’Alcântara Bellegarde, diretor, ao ministro da Guer-
ra, Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro, 3 de maio de 1853. Mss. ANRJ. IG7 14.
346
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
do tipo: “é velho, sem grandes recursos intelectuais e mole para o serviço”, ao se falar
do tenente-coronel reformado Francisco Antônio Tourinho ou: é “velho, cansado e sem
recursos alguns intelectuais; inútil no serviço do Arsenal”, quando se referia ao major
reformado Antônio Corrêa Viana. Os dois oficiais da ativa não eram tratados de forma
melhor: o major do estado maior de 2ª classe Diogo Garcez Palha, que acabaria sendo
dispensado do serviço do Arsenal, recebeu a seguinte anotação: “é moço, forte, porém
muito vadio” e o tenente, também do estado maior de 2ª classe, Jacinto Cândido Viana,
“tem inteligência, é ativo, porém adoece a minudo de erisipelas”. 106 Neste caso, deve-se
lembrar que os oficiais do estado maior de 2ª classe eram aqueles que já tinham sido
julgados incapazes de serviço mais ativo.
7.2.8 Almoxarifado
Não podemos deixar de dedicar umas poucas linhas à essa parte do Arsenal, nem
que fosse por seus aspectos, que podem ser considerados como exóticos nos dias de
hoje. Não era uma “oficina”, não produzia nada, mas era um elemento importante da
administração do AGC.
106
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício confidencial do diretor, José Victória Soares de Andrea ao mi-
nistro da Guerra, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão. Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 1863.
Mss. ANRJ, coleção Polidoro, maço 11.
107
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Marques de Caxias, ministro, ao diretor do Arsenal de
Guerra, Albino de Carvalho, sobre pedido de demissão do diretor. Rio de Janeiro, 10 de maio de
1862. Mss. ANRJ. IG7 534.
108
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na quarta
sessão da nona legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, Marques de
Caxias. Rio de Janeiro: Laemmert, 1856. p. 13.
347
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
O almoxarifado de certo ponto de vista, não era diferente das organizações se-
melhantes que existem até hoje em uma fábrica ou empresa de grande porte, sendo um
depósito de matérias primas que seriam usadas nas oficinas ou dos produtos acabados,
que deveriam ser despachados para as unidades. A diferença era que o pessoal dessa
sessão do Arsenal – civil, frise-se – tinha que lidar com produtos muito especializados,
o que às vezes criava confusões, isso por que os pedidos eram genéricos, como um dos
que foi feito para combater a Revolução Pernambucana de 1817, quando se mandou
aprontar um parque de doze canhões e obuses, “com toda a Palamenta e munições cor-
respondentes a estas bocas de fogo, calculando-se a cem tiros por cada uma (...)”.109
Nada mais estava especificado, mas tal parque representava dezenas de peças diferentes,
necessárias para as armas operarem: soquetes, lanadas, velas de composição, agulhas,
espeques e muitos outros objetos com nomes estranhos. Isso exigia certos conhecimen-
tos para o atendimento do pedido, algo nem sempre disponível para aos funcionários
civis. Um exemplo disso pode ser visto em 1861, quando o ministro da Guerra, o mar-
quês de Caxias, foi assistir uma experiência com novos canhões raiados, o ministro no-
tando problemas no material preparado para testes, como a falta de dedeiras, necessárias
para o exercício.
No caso das dedeiras, a documentação procura tirar o ônus das ações da admi-
nistração do Arsenal, colocando a culpa pela falta em um erro do almoxarife que prepa-
rou o material. Caxias, contudo, mandou prender os oficiais responsáveis pelos testes
por três dias e os dispensar de suas funções, 110 pois, no final das contas, os responsáveis
pelo andamento dos serviços eram os oficiais e não os civis que os executavam.
348
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Também era um cargo que não dependia apenas da competência: o titular tinha
que apresentar um fiador, que assumiria a responsabilidade pelos valores dados a cargo
de seu afiançado – uma medida que não era apenas teórica, pois no Arsenal de Guerra
do Pará, depois da demissão do almoxarife, foram sequestrados os bens de seu fiador.113
A consequência disso é que não era qualquer pessoa que tinha condições de exercer a
função, a qual não era particularmente bem remunerada – fica a dúvida, então, por que
alguém se apresentaria como candidato a ela.
Nesse sentido, podemos dizer que a procura pelo cargo faz sentido quando ve-
mos que o funcionário tinha a seu cargo imensos valores e tinha possibilidades de obter
vantagens, algumas pequenas, como o fato de poderem ficar com materiais excedentes
do Arsenal, tais como caixões e capas de produtos, uma prática que só se encerrou em
1841.114 Outras vantagens, maiores, eram inerentes à função, como favores na distribui-
111
BRASIL – Decreto de 21 de fevereiro de 1832, op. cit. artigo 23.
112
BRASIL – Arsenal de Guerra. Representação do diretor, Miguel de Frias e Vasconcellos, ao ministro
da Guerra, Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque. Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1841.
Diário do Rio de Janeiro, ano XX, nº 30. Rio de Janeiro, 9 de fevereiro de 1841. p. 4.
113
Diário do Rio de Janeiro, ano XXX, nº 8734. Rio de Janeiro, 5 de julho de 1851. p. 1.
114
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, José Clemente Pereira, ao diretor do Arsenal de
Guerra, ordenando que cesse a prática de entregar ao almoxarife as caixas e capas de gêneros que
entram no Arsenal. Rio de Janeiro, 30 de agosto de 1841. Mss. ANRJ. IG7 328.
349
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
350
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
120
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra, relativo ao ano de 1869, Dr. Francis-
co Carlos da Luz, diretor interino, Rio de Janeiro, 18 de abril de 1870. Mss. ANRJ. IG7 24. (grifo
no original).
121
BRASIL – Exército em campanha no Rio Grande do Sul. Relação dos objetos precisos. Quartel Gene-
ral em Porto Alegre, Antônio Elizário de Miranda e Brito. 18 de dezembro de 1838. Mss. ANRJ.
IG7 323. Uma loja no Rio de Janeiro chegava a usar o fato de ser a única fornecedora do Arsenal de
Guerra entre suas qualidades. Anúncio da Fábrica Imperial de instrumentos cirúrgicos e de dentista.
Diário do Rio de Janeiro. Ano XLIV, nº 221. Rio de Janeiro, 11 de agosto de 1864.
122
BRASIL – Reino Unido. Aviso do Paço para a Real Junta do Arsenal do Exército, Fábricas e Fundi-
ções, Marques de Aguiar, mandando remeter quinhentas espingardas para a Capitania de Moçam-
bique. Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1816. Mss. ANRJ. IG7 33.
351
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
número podendo chegar a 19% em períodos de crise, como na preparação para uma
possível guerra com o Paraguai, em 1857-1858, que não chegou a acontecer.123
A dificuldade maior com essa prática era que o sistema de aquisição do ministé-
rio da Guerra era extremamente primitivo. Por um lado, por boa parte da história do
Exército no século XIX, havia a falta de regularidade em seus fornecimentos, às vezes
por causa de equívocos da própria oficialidade. O relatório do ministro da Guerra de
1830 apontava que
123
BRASIL - Lei nº 939, de 26 de setembro de 1857. Fixando a Despesa e orçando a Receita para o
exercício de 1858 - 1859.
124
BRASIL – Legação em Londres. Ofício do Ministro da Legação Imperial em Londres, Manoel Rodri-
gues Garneiro Pessoa, a João Vieira de Carvalho, Ministro dos Negócios do Império. Londres, 18
de julho de 1825. Mss. ANRJ. IG7 558.
125
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório de 1831, op. cit.
126
id. p. 11.
352
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
127
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório, 1864, op. cit. p. 7.
128
BRASIL – decreto nº 1.127 de 26 de fevereiro de 1853. Cria a Repartição de Quartel-Mestre General,
e regula as suas funções.
129
Em 1854, havia seis engenheiros trabalhando na Repartição do Quartel-mestre general. Diário do Rio
de Janeiro, ano XXXIII, nº 248. Rio de Janeiro, 11 de setembro de 1854. p. 2.
353
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
forma prática, o processo de compra era bem parecido com o que continuaria a ser usa-
do por muitos anos: alguns produtos eram sujeitos à licitação, sendo feitos anúncios nos
jornais para sua aquisição, os comerciantes apresentando cartas lacradas e amostras dos
produtos.
O Arsenal de Guerra não tem uma regra para dirigir-se em suas cons-
truções, todos os objetos que faz são a capricho daqueles a quem tem
de ser fornecidos, uma ordenança é indispensável para que possa ha-
ver as precisas reservas. Nossa Artilharia, nosso armamento geralmen-
te falando é todo desigual, quantos inconvenientes isso trás? As peças
de uma Espingarda inutilizada, que a serem iguais poderiam servir ao
concerto de outras são desprezadas; quanto perde pois a nação por fal-
ta de uma ordenança? Conheço que de momento não será possível
substituir quanto tempos por aquilo que devemos ter, reclamo porém o
princípio desse trabalho, comece-se pelos uniformes do Exército, e o
tempo, e a perseverança sempre necessárias as grandes obras o conse-
guirão. 131
A crítica era ainda mais contundente quando vemos que em um projeto apresen-
tado pelo deputado Cunha Matos em 1828, já se previa que nas compras acima de dez
contos de réis no exterior se deveria enviar para o país de venda um “hábil oficial de
artilharia que fique responsável pela solidez e boa construção dos gêneros encomenda-
dos”,132 o projeto continuando todos os produtos comprados deveriam ser:
130
Diário do Rio de Janeiro, ano XXXIV, nº 60. Rio de Janeiro, 1 de março de 1855. p. 2.
131
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Estado do Arsenal de Guerra da Corte. José Maria da
Silva Bittencourt, Marechal de Exército. Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1851. Mss. ANRJ. IG7
12
132
BRASIL – Câmara dos deputados. Diário da câmara dos deputados à Assembleia Geral Legislativa
do Império do Brasil. sessão de 1º de julho de 1828. s.n.t. p. 6
354
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
A prática era a compra de produtos, mesmo os mais complicados, ser feita contra
a apresentação de amostras: o vendedor entregava uma peça, supostamente idêntica
àquelas que estavam sendo oferecidas, e esta seria visualmente examinada para ver se
era aceitável, essa análise sendo feita por um dos mestres dos arsenais. Era um costume
sujeito a imensos abusos, desvios e até “cenas desagradáveis e grosseiras”, 134 quando os
vendedores discordavam das avaliações feitas pelos peritos do Arsenal: não havendo
uma especificação clara do produto sendo comprado, tudo dependia da análise, total-
mente subjetiva, do mestre da oficina que tratava do tipo de material sendo oferecido.
Isso era uma garantia da não padronização dos equipamentos, o que já era um problema
percebido na época, como colocado em uma matéria de jornal atacando a administração
do Exército:
133
id. p. 6.
134
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro, Felizardo, ao Vice-Diretor do Arsenal de Guerra
sobre processo de licitação. Rio de Janeiro, 12 de março de 1849. Mss. ANRJ. IG7 336.
135
A EXPOSIÇÃO Nacional, XXI. Diário do Rio de Janeiro, ano XLII, nº 12. Rio de Janeiro 13 de mar-
ço de 1862.
355
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Uma das razões dessa dificuldade era que alguns produtos simplesmente não
existiam no mercado do Rio de Janeiro nas quantidades necessárias pelo exército. O
caso mais evidente sendo o das armas, as quais o Arsenal raramente comprava menos de
cem de mesmo tipo, o normal sendo adquirir algumas centenas, muito mais do que o
mercado civil podia consumir. O processo, neste caso, era um comerciante trazer espe-
culativamente equipamentos bélicos para venda, o que resultava na oferta de uma imen-
sa quantidade de itens diferentes, alguns até usados ou com defeitos. O problema é que,
em ocasiões de emergência, estes equipamentos tinham que ser adquiridos, por falta de
opções. Em janeiro de 1851, por exemplo, o mestre de espingardeiros avaliou uma par-
tida de armas chegadas da Inglaterra, informando que elas tinham “fechos mostram ser
usados e uns mais bem concertados que outros”, alguns tendo “cães, cabeças e parafu-
136
VASCONCELLOS, João Rangel de. Apologia do coronel Antônio João Rangel de Vasconcellos, dire-
tor do Arsenal de Guerra. Rio de Janeiro, tipografia do Diário, 1840. pp. 23 e segs.
137
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do coronel Diretor, José Victoria de Soares de Andrea Andrea,
ao ministro da Guerra, José Mariano de Mattos Sobre a denúncia do dia 18 de janeiro quanto a es-
colha de fazendas pelo Arsenal. 1 de fevereiro de 1864. Mss. ANRJ. IG7 26.
138
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na terceira
sessão da décima legislatura pelo respectivo ministro e secretário de estado dos negócios da Guer-
ra, Manoel Felizardo de Souza e Melo. Rio de Janeiro: Laemmert, 1859. p. 18.
139
SENADO, sessão de 28 de agosto de 1858. Diário do Rio de Janeiro, ano XXXVIII, nº 234. Rio de
Janeiro, 30 de agosto de 1858. p. 1.
356
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
sos, que não seguram bem a pedra, havendo algumas molas fracas e parafusos remoí-
dos”.140 Como as armas foram avaliadas entre 8.000 e 9.500 réis, valores que não cons-
tam da Tabela 14 abaixo, parece que essa compra não foi aceita. Contudo, ainda em
1851, no contexto da Guerra contra Oribe e Rosas, o ministro autorizou a compra “dada
à urgência, de 500 terçados, que segundo a avaliação do mestre de espingardeiros são
usados e em mau estado, tendo bainhas de couro e guarnições novas”.141
357
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
Na tabela é igualmente notável que a compra de armas pelo governo, sem inter-
mediários, não tenha sido feita com menores preços que as dos comerciantes, já que o
custo médio das armas vendidas por particulares foi de 11.800 rs, o mesmo valor médio
das compradas pelo Exército. Além disso, aquisições diretas não implicavam em maior
qualidade: em uma compra anterior, feita pelo governo na Europa, foram examinadas
104 armas, se encontrando apenas 39 com o calibre de acordo com a encomenda (adar-
me 17). A armas eram diferentes entre si, como na forma do fuzil (peça do mecanismo),
no acabamento das molas, os “guarda-matos são mais franzinos, e não combinam com o
padrão”, os fechos de duas espingardas “eram velhos, conquanto estejam reparados”.
Mais grave, as baionetas eram de ferro, não podendo receber têmpera “e por isso ver-
gam para qualquer lado, além de que todas, são mal formadas e acabadas”.144 Isso tudo
apesar do Arsenal ter enviado uma espingarda para ser copiada. Tudo isso sendo um
indicativo dos problemas da politica de compras do Arsenal.
Uma solução simples para muitos dos problemas de compras seria a adoção de
um sistema de padronização de armamentos e equipamentos, a “ordenança”, que é cita-
da nos documentos – algo que tinha sido feito na Europa no início do século XVIII,
repetimos. Só que o único esforço que foi feito nesse sentido foi a adoção de um plano
nacional de uniformes, em 1854, como também já citamos. Mas mesmo este era pro-
blemático, pois ainda matinha peças que tinham que ser feitas artesanalmente para cada
143
BRASIL – Arsenal de Guerra. Contrato com Hobkirk e Westman, Rio de Janeiro, 30 de setembro de
1850. Mss. ANRJ. IG7 391.
144
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Francisco Soares da Silva, mestre armeiro, ao Vice-Diretor
do Arsenal, sobre exame nas armas recebidas. Rio de Janeiro, 24 de julho de 1850. Mss. ANRJ. IG7
11.
358
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
unidade – esse plano, publicado em 1858, é composto por sete volumes, com dois uni-
formes diferentes para cada organização militar existente então.145 Isso além da roupa
em si ser muito caro: somente com a guerra do Paraguai se padronizou uma farda para o
exército, escolhendo-se modelos mais baratos para uniformizar – literal e figurativa-
mente – a tropa.
Nesse sentido, deve-se dizer que o processo de compras no exterior era mais
comum com armas, o que era feito, ocasionalmente, desde o 1º Reinado. Entretanto,
novamente se esbarrava na ausência de uma ordenança para os equipamentos: os pedi-
dos eram extremamente vagos, como no caso da compra de oito mil armas de fogo, duas
mil espadas, 1.500 terçados e doze canhões em 1837, em que a única anotação que
consta no pedido é que “todo o armamento deve ser do padrão, e igual ao que atualmen-
145
LECOR, Luiz Pedro. Coleção de desenhos das figuras e detalhes que designam os diferentes unifor-
mes para todos os corpos do Exército. Rio de Janeiro: Eduardo Rensburg, 1858. 8 vols.
146
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra, 1 de março de 1852. op. cit.
147
id.
148
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na quarta
sessão da décima legislatura pelo respectivo ministro pelo ministro e secretário de estado dos negó-
cios da Guerra, Sebastião do Rego Barros. Rio de Janeiro: Laemmert, 1860. p. 7.
359
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
te usa o exército inglês”.149 Mais tarde, como no já citado contrato com Hobkirk, o nível
de detalhes no pedido aumentou um pouco, mas não a ponto de se tornar útil para defi-
nir-se como era a arma a ser adotada.
149
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos objetos que se julgam precisos para o Arsenal de Guerra
da Corte, e que convém sejam encomendados fora do Império. Rio de Janeiro, 15 de dezembro de
1837. Mss. ANRJ. IG7 20.
150
J. LEMILLE. Facture par duplicata accompagnant la marchandire fourni au Gouvernment Imperial
du Bresil par J. Lemille à Liège. Liège, 29 de juillet de 1856. Mss. ANRJ. IG7 363.
151
BRASIL – Ministério da Guerra. Nota da quantidade e qualidade de armamento, equipamento, pólvo-
ra e outros objetos cuja compra ou ajuste se encarrega de fazer na Europa o Major de Engenheiros
Francisco Primo de Sousa Aguiar. Jerônimo Francisco Coelho. Rio de Janeiro, 12 de agosto de
1857. Mss. ANRJ. IG7 366.
152
BRASIL – Comissão de Melhoramentos. Cópia de ofício do Presidente, José Mariano de Mattos, ao
ministro da Guerra, marquês de Caxias. 19 de março de 1862. Mss. ANRJ. IG7 387. A diferença se
refere a dois tipos de fecho onde a mola real ficava adiante do cão e uma terceira, a do tipo “moder-
no”, que ficava atrás do cão.
153
BRASIL – Comissão de Melhoramentos. Ofício de José Mariano de Matos, presidente, ao diretor
geral da 1ª Diretoria Geral da Secretaria da Guerra, tenente coronel Vicente Ferreira da Costa Pi-
ragibe sobre problemas de explosões de cápsulas de fulminante. Rio de Janeiro, 14 de novembro de
1861. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 267.
360
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
154
GAYER, Claude. Prestige de l’armuriere portugaise. La parte de Liége. Liège: Musse d’armes de
Liège, 1991. p. 158.
155
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Marquês de Caxias, ao diretor do Arsenal, reme-
tendo ao diretor do Arsenal de Guerra da Corte uma espingarda com baioneta e uma clavina com
sabre, ambos da fábrica Lemille, com selo. Rio de Janeiro, 16 de maio de 1856. Mss. ANRJ. IG7
521.
156
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão ao co-
ronel diretor do Arsenal de Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea ordenando que, sob a dire-
ção do presidente da Comissão de Melhoramentos do Material do Exército, escolha armas para ser-
virem de amostra. Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 515.
157
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão ao co-
ronel diretor do Arsenal de Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea, autorizando a construção
de uma barraca portátil de madeira francesa, para modelo. Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de1863.
Mss. ANRJ. IG7 515.
361
Capítulo 7 – O arsenal de Guerra do Rio de Janeiro como unidade administrativa
158
BRASIL – Comissão de Melhoramentos. Cópia de ofício do Presidente, 19 de março de 1862. op. cit.
362
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Sumário
363
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
A segunda “classe”, só era composta por uma oficina, a de coronheiros, que ti-
nha sido transferida da extinta fábrica de Armas da Conceição, devendo ela ter um mes-
tre e um contramestre. Consideramos essa organização curiosa, tendo em vista a relativa
pouca importância dessa atividade, como trataremos depois, e a classificação se torna
ainda mais curiosa quando vemos que duas das oficinas mais importantes da manufatu-
ra, a de obras brancas e de construção de reparos, compartilhavam uma classe, com
apenas um mestre. Na verdade, em 1836, o único mestre que é relacionado nas listas de
1
BRASIL – Decreto de 21 de fevereiro de 1832. Dá Regulamentos para o Arsenal de Guerra da Corte,
Fábrica da Pólvora da Estrela, Arsenais de Guerra e Armazéns de depósitos de artigos bélicos.
364
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
operários do Arsenal está na oficina de coronheiros. 2 Outro ponto que não parece lógico
é que essa especialidade é um “ofício de madeira”, como as da classe anterior, comparti-
lhando, até certo ponto, ferramentas, matérias primas e pessoal não especializados, os
“serradores”, um tipo de servente associado às oficinas de construção e de obra branca
(ver Figura 44).
2
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal das oficinas do Arsenal de Guerra da
Corte e dos objetos que se devem presentemente nelas fabricar. Rio de Janeiro, 24 de novembro de
1836. Mss. ANRJ. IG7 19.
3
DEBRET, Jean Baptiste. Voyage pittoresque et historique au Brésil. Tome II. Paris: Firmin Didot Fre-
res, 1835. p. 65.
4
MATOS, Raimundo José da Cunha. Memória estatística, econômica e administrativa sobre o arsenal
do exército, fábricas e fundições da cidade do Rio de Janeiro. Vila Nova de Famalicão: s.ed. 1939.
p. 14.
365
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
das atividades em que ela foi usada era a movimentação de um ventilador para manter
em brasa o carvão das forjas.5 Essas oficinas compartilhavam também de um tipo espe-
cífico de servente, o malhador que, como o nome indica, trabalhava na bigorna, marte-
lando o ferro que estava sendo forjado, um serviço de força bruta. Finalmente, na Euro-
pa serralheiros tradicionalmente faziam fechos de armas e os ferreiros forjavam canos,
de forma que era compatível agrupar a profissão com os espingardeiros. Mesmo assim,
não parece razoável que estas oficinas, que tinham um papel importante, só tivessem um
mestre, especialmente considerando o caso dos coronheiros, tratado acima.
A quinta classe era composta por correeiros, seleiros e sapateiros, também agru-
pados por tipo de matéria prima trabalhada, o couro. Entretanto, se os ofícios guarda-
vam certa semelhança entre si, tinham aspectos que os diferenciavam: por exemplo, na
feitura de correias era necessário usar uma grande quantidade de peças de latão, as five-
las, o que não ocorria com os sapatos, enquanto as selas precisavam de uma estrutura de
madeira para serem feitas. Pela documentação é evidente que a principal oficina era a de
correeiros, enquanto sapateiros e seleiros eram muito secundárias, tanto é que o regula-
mento só previa um mestre para essas oficinas, além de um contramestre em correeiros
e um aparelhador em cada uma delas.
5
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Estado do Arsenal de Guerra da Corte. José Maria da Silva
Bittencourt, Marechal de Campo e diretor. Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1851. Mss. ANRJ. IG7
12.
366
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Essa organização das oficinas era diferente das anteriores a 1832 e se alteraria ao
longo dos anos, com a extinção e criação de algumas oficinas, como as de maquinistas e
de instrumentos matemáticos. Além disso, outras mudanças foram feitas, às vezes in-
formalmente. Por exemplo, não encontramos nenhum documento falando nisso, mas as
relações de pessoal do Arsenal demonstram que em algum momento em 1847 foram
nomeados mestres e contramestres para praticamente todas as oficinas,6 contrariando o
disposto no decreto de 21 de fevereiro de 1832, que só previa seis mestres para todas as
21 oficinas.
Como foi dito antes, foram baixados uma série de normas que mudaram o pre-
visto no regulamento, principalmente relativas à questão da administração financeira,
como os regulamentos da Contadoria Geral da Guerra, de 1842 e 1851. Só que o núcleo
básico do texto de 1832 permaneceu válido, apesar de ter sofrido uma série de modifi-
cações. Algumas foram muito importantes, especificamente a transferência do Labora-
tório do Castelo para a responsabilidade do Arsenal; a recriação da Fábrica de Armas da
Conceição e a criação do Laboratório do Campinho, que serão abordados em outro capí-
6
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa nº 9. Número de operários das diferentes oficinas deste Arsenal
existentes em 1º de Janeiro. Joaquim José Cabral. Tenente ajudante do Sr. Vice-diretor, Rio de Ja-
neiro, 31 de janeiro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
7
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da guerra apresentado à Assem-
bleia Geral Legislativa a 14 de maio de 1845 pelo respectivo ministro e secretário de estado dos ne-
gócios da Guerra. Rio de Janeiro: Barros & Cia., 1845. p. 3.
8
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na quarta ses-
são da nona legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, Marques de
Caxias. Rio de Janeiro: Laemmert, 1856. p. 13.
367
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
tulo. Em termos práticos, contudo, a história do funcionamento do AGC pode ser vista
nas próprias oficinas, como trataremos a seguir.
8.1.1 Abridores
Esta oficina é citada por Cunha Matos em 1820, não havendo muitas outras in-
formações sobre ela, mas é evidente que se refere à atividade de “abridores de cunho”,
pessoal que fazia gravações para a produção de cunhos, pois sua produção, em 1823, era
desses cunhos e de sinetes.9 Se infere do texto de Cunha Matos que era uma atividade
mais artística do que artesanal, pois o brigadeiro, que era vice-inspetor do Arsenal, re-
comendava que ela deveria ficar “o mais próximo, que for possível à Aula de Desenho,
com que tem muitas relações”.10 Não era, portanto, uma atividade ligada diretamente às
necessidades militares, se superpunha ao mesmo tipo de serviço que era feito na Casa da
Moeda. Além disso, a única outra informação que temos é que era uma oficina pequena,
que funcionava junto com a de lavrantes.
8.1.2 Lavrantes
Outra das oficinas que é citada no trabalho de Cunha Matos, mas não aparece no
Almanaque de 1829,12 não havendo outras informações sobre ela, a não ser que funcio-
9
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação das obras, 1823, op. cit. Entre outros, o MHN possui um sinete
feito para o 1º Regimento de Cavalaria Ligeira, peça SIGA 112704.
10
MATOS, 1939, op. cit. p. 18.
11
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Brigadeiro diretor interino, João José da Costa Pimentel,
28 de fevereiro de 1856. Mss. ANRJ. IG7 21.
12
ALMANAK Imperial, op. cit. p. 86
368
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
nava junto à de abridores. Pelo sentido geral de seu nome, devia ser uma especialidade
relativa à gravação, o ato de “lavrar” metais, no sentido artístico: Cunha Matos reco-
mendava que a instalação, que funcionava junto com a de Abridores, ficasse próximo a
Aula de Desenho, “com que tem muitas relações”.13 Com o regulamento de 1832, ela
passou a ser chamada de “Gravadores”.
13
MATOS, 1939, op. cit. p. 18.
14
REINO UNIDO – Arsenal de Guerra. Ofício da Intendência do Arsenal, Thomaz Antônio de Villanova
Portugal, examinando armas e munições. Rio de Janeiro, 13 de julho de 1819. Mss. ANRJ. IG7 1.
15
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Marechal João Carlos Pardal, ao ministro da Guerra,
João Paulo dos Santos Barreto sobre brocar peças fundidas no Arsenal. Rio de Janeiro, 5 de agosto
de 1848. Mss. ANRJ. IG7 10.
16
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício de José dos Santos Oliveira, Sargento Mor Inspetor do Arsenal
de Guerra ao ministro da Guerra, João Vieira de Carvalho. Rio de Janeiro, 20 de novembro de
1822. Mss. ANRJ. IG7 2.
17
ANAIS do Parlamento Brasileiro. Câmara dos Srs. Deputados, quarto ano da 1ª legislatura, sessão de
1829. Rio de Janeiro: H.J. Pinto, 1877. p. 63.
18
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório do ano de 1830 apresentado à Assembleia Geral Legislati-
va na sessão de 1831. s.n.t. p. 9.
369
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
19
INSTITUTO artístico de Fleuiss irmãos & Linde. Recordações da Exposição nacional de 1861. Rio de
Janeiro: Laemmert, 1862. Sem numeração de páginas.
20
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra da Corte. Manoel Albino de Carvalho,
o diretor, ao Conselheiro José Maria da Silva Paranhos, ministro da Guerra. Rio de Janeiro, 31 de
janeiro de 1859. Mss. ANRJ. IG7 16.
21
A Exposição Nacional, XXI. Diário do Rio de Janeiro, ano XLII, nº 71. Rio de Janeiro, 13 de março de
1861. p.1
370
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
8.2.1.1 Construção
Todos os antigos trens das capitanias no período colonial surgiram em torno des-
sa especialidade, apesar de no período colonial e até o regulamento de 1832 ela às vezes
ser chamada “de carpinteiros de machado”,22 indicativo de que seus produtos eram
grosseiros, acabados a machado e enxó. De fato, a principal função da oficina era de
construção de reparos de canhões, objetos grandes e pesados, mas de pouca complexi-
dade. Secundariamente, fazia artigos assemelhados, como as viaturas usadas na época,
tal como os armões (ver Figura 45). Nesse sentido, encontramos alguns anúncios para a
contratação de segeiros para as oficinas em jornais do Rio 23 e em 1865 foi baixada uma
ordem para que se empregassem os Menores em cinco especialidades, entre as quais as
de segeiros. 24 Isso apesar de não haver uma oficina com essa especialidade: tudo indica
que eram empregados na fabricação de carros na de construção.
22
MATOS, 1939, op. cit. p. 16. Ver também a Figura 46.
23
Diário do Rio de Janeiro, nº 21. Rio de Janeiro, 26 de setembro de 1826.
24
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Ângelo Moniz da Costa Ferraz, ao diretor do Ar-
senal, Antônio Pinto de Figueiredo Mendes Antas, sobre emprego dos menores. Rio de Janeiro, 28
de junho de 1865. Mss. ANRJ. IG7 456.
25
Para ver essa variedade, basta consultar a coleção de artilharia do Museu Histórico Nacional. CAS-
TRO, Adler Homero Fonseca de & ANDRADA, Ruth Beatriz S. Caldeira de. O pátio Epitácio Pes-
soa: seu histórico e acervo. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1993 (mimeo).
26
As armas tinham um calibre nominal, o peso do projétil em unidades de peso nacionais que dispara-
vam, e um calibre real, correspondendo ao diâmetro da boca, medido em uma unidade padronizada,
Continua –––––––
371
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Assim, nas primeiras menções aos Trens que encontramos, como no caso do
mestre do Rio que desertou seu posto em 1703, a construção é a especialidade dos arte-
sãos citados. Apesar de não estar evidente na documentação, parece que as outras ofici-
nas iniciais dos Trens também eram relacionadas com a atividade de produção de repa-
ros, como a de ferreiros, que deveriam fazer as ferragens: cavilhas; aros de rodas e ou-
tros detalhes das carretas, armões e carroças.
372
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
outro capítulo.29 Em 1829, essa oficina, além do mestre, tinha dois contramestres e dois
aparelhadores, um número elevado para a mestrança, talvez para poder gerenciar os
muitos serviços. 30 Dessa maneira, se entende perfeitamente que no regulamento de 1832
essa oficina tenha ficado no grupo das “de 1ª classe”, com um mestre próprio, que era o
construtor do AGC.
Ainda sobre o construtor, sua oficina, pelo regulamento de 1832, era chamada de
“construção de reparos e máquinas,” o AGC tendo certa capacidade de fazer mecanis-
mos complexos. Em 1808, a Mesa de Inspeção do Rio de Janeiro tratou da situação dos
artesãos portugueses que tinham vindo com a família real, mas que se encontravam sem
emprego na cidade, o documento sendo crítico quando à sua capacidade, dizendo que
eram “homens práticos e sem capacidade até para desenhar as máquinas de que necessi-
tavam”. O local que se recomendava para a efetiva feitura desses artefatos sendo o
Trem, “onde havia oficiais aptos para o fabrico”.31 Em 1844 o maquinista francês Au-
guste Merlet inventou um aparelho de descaroçar algodão que foi comprada pelo gover-
no.32 Para difundir seu uso no País, o ministro do Império solicitou ao da Guerra que
seis deles fossem construídas no Arsenal, como o local mais apropriado para a manufa-
tura dos mecanismos. 33
29
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Inspetor da Junta de Fazenda dos Arsenais do Exército, Fá-
bricas e Fundições, José Francisco da Silva ao ministro da Guerra, sobre a situação de Sebastião
José Lopes, mestre de construção do antigo Trem de Montevidéu. Rio de Janeiro, 27 de março de
1829. Mss. ANRJ. IG7 18.
30
ALMANAK Imperial do comércio e das corporações civis e militares do Império do Brasil, publicado
por Pedro Plancher-Seignot para 1829. Rio de Janeiro: Plancher-Seignot, 1829. p. 86.
31
ANDRADE, Rômulo Garcia de. Burocracia e economia na primeira metade do século XIX (a Junta de
Comércio e as atividades artesanais e manufatureiras na cidade do Rio de Janeiro: 1808-50). Dis-
sertação de Mestrado. Niterói: UFF, 1980 (mimeo). p. 83.
32
BRASIL – Ministério do Império. Relatório da repartição dos Negócios do Império apresentado à
assembleia geral legislativa na 1ª sessão da 6ª legislatura pelo ministro e secretário de estado dos
negócios do Império, José Carlo de Almeida Torres. Rio de Janeiro: tipografia nacional, 1845. p. 18.
33
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da Guerra Antônio Francisco de Paula e Holanda
Cavalcanti d’Albuquerque ao diretor do Arsenal de Guerra remetendo aviso do ministro dos negó-
cios do Império pedindo que com brevidade se concluam as seis máquinas de descaroçar algodão
que se mandaram construir nesse Arsenal de Guerra, pelo modelo comprado a Augusto Merlete. Rio
de Janeiro, 1 de janeiro de 1846. Mss. ANRJ. IG7 404.
373
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
34
PLANO do Arsenal Real do Exército, Coronel de artilharia, Carlos José do Reis e Gama, vice-inspetor
do Arsenal. s.d. Mss. Arquivo Histórico do Exército. 04.01.576.
35
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da Guerra Jerônimo Francisco Coelho ao diretor
do Arsenal de Guerra da Corte, Brigadeiro João Eduardo Pereira Colaço Amado sobre a contrata-
ção de Augusto Merlet. Rio de Janeiro, 23 de setembro de 1844. Mss. ANRJ. IG7 405.
36
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório da Repartição dos Negócios da Guerra apresentado à Assem-
bleia Geral Legislativa na 3ª sessão da 6ª legislatura pelo respectivo ministro e secretário de estado
João Paulo dos Santos Barreto. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1846. Mapa 13.
374
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Uma das razões das grandes dimensões dessa especialidade no Arsenal é o fato
dela não ter um similar na indústria civil que pudesse atender às necessidades militares:
como colocamos acima, um fabricante de carruagens, o segeiro, poderia fazer um repa-
ro, pois os elementos componentes deles eram os mesmos. Contudo, um reparo exigia
peças de dimensões bem mais robustas que as necessárias para carruagem ou carroça,
além do que, as pequenas oficinas existentes no país dificilmente teriam condições de
atender ao volume das demandas do exército.
37
Diário do Rio de Janeiro, nº 25, ano XLIII. Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 1863. p. 3.
38
COMISSÃO de inquérito nomeada por aviso de 25 de fevereiro de 1863 para examinar o Arsenal de
Guerra da Corte. p. 48. In: BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia
Geral Legislativa na Segunda Sessão da décima segunda legislatura pelo ministro e secretário de
estado dos negócios da Guerra, José Mariano de Mattos. Rio de Janeiro: Laemmert, 1864.
39
Id. p. 22.
375
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
40
THOMAS, Dean. S. Cannons: an introduction to Civil War Artillery. Gettysburg: Thomas Publica-
tions, 1985. p.14.
41
REINO UNIDO – Arsenal de Guerra. Ofício do Intendente Thomaz Antônio de Villanova Portugal,
examinando armas. Rio de Janeiro, 13 de julho de 1819. Mss. ANRJ. IG7 1.
42
Publicadas nos relatórios do ministro da Guerra e constantes de vários manuscritos com relatórios dos
diretores do Arsenal.
376
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Janeiro e do País, ainda que isso representasse apenas 10% da média do pessoal da ma-
nufatura que encontramos naquelas relações. Contudo, nem sempre era a maior oficina
do Arsenal. Nessas tabelas, os construtores chegaram a representar 19,2% do pessoal do
AGC, em 1836,43 mas em algumas ocasiões outras oficinas chegavam a ter mais impor-
tância numérica, como as de correeiros e alfaiates, em vários anos.
A atividade era considerada como vital para as forças armadas, essa especialida-
de ficando entre as cinco oficinas “de 1ª Classe”, de acordo com o regulamento de 1832.
Assim, era uma das principais divisões da manufatura, empregando uma quantidade
elevada de trabalhadores – nas dezenove listas que encontramos, eram em média 59,
com um mínimo de quinze em 1837 e o máximo de 103 operários, na crise de 1863.
De fato, o número de artesãos chegou a ser tão elevado que em 1820, antes da
43
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836. op. cit.
44
Peças SIGA 016174 e 004414.
45
Peça SIGA 17442. O eixo do reparo é de ferro, como os recomendados por Gribeauval, mas que apa-
rentemente não era comum no Brasil, tal como no caso da peça SIGA 004414.
46
PORTUGAL – Alvará de 15 de julho de 1763. Plano que sua majestade manda seguir e observar na
formatura e serviços dos regimentos da artilharia destes reinos.
377
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
construção dos anexos do Arsenal (ver Figura 46), essa oficina era considerada, “suma-
mente acanhada, e por isso quando há trabalhos volumosos, ou em maior número, é
necessário fraciona-la colocando os Artífices em lugares fora do alcance das vistas do
mestre”.47 Uma situação de falta de espaço que se repetiu em 1863, na questão Christie,
quando foi necessário espalhar os operários pelo Arsenal, para que trabalhassem sob
telheiros construídos especialmente para eles.
Por sua vez, a importância dada a esta especialidade tem um aspecto que nos pa-
rece estranha: os produtos desses artesãos não eram nada demais em termos de trabalho
de um carpinteiro. Incluíam móveis, peças de palamenta, tambores, guaritas, cunhetes e,
em 1849, prosaicas latrinas.50 Tudo isso poderia ser adquirido no mercado civil, a única
explicação que encontramos para a existência dessa oficina sendo uma tentativa do
Exército de controlar o máximo o possível da produção para suas necessidades.51
8.2.1.3 Torneiros
A oficina dos operadores de tornos mecânicos e de madeira é interessante por ser
uma das que não tinha a função de produzir um item específico para as forças armadas,
47
MATOS, 1939, op. cit. p. 17.
48
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do vice-diretor, Vicente Marques Lisboa, ao Diretor Antônio
João S. Rangel de Vasconcelos, sobre demissão de operários. Rio de Janeiro, 17 de setembro de
1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
49
Diário do Rio de Janeiro, nº 25, 1863. op. cit. p. 3.
50
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa nº 10 Relação das obras manufaturadas nas diferentes oficinas
deste arsenal desde 1o de janeiro até o último do mês de dezembro de 1848. Joaquim José Cabral,
Ajudante do Sr. Vice-Diretor. Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
51
O Museu Histórico Nacional possuiu duas escrivaninhas de campanha, uma do General Osório (SIGA
006111) e outra do Barão de Paquequer (SIGA 006268). Mas são objetos mais trabalhados do que as
escrivaninhas de campanha que eram feitas pelo AGC.
378
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Os torneiros eram uma das especialidades mais antigas do Trem: este ofício já
era citado como componente da Companhia de Artífices, criada em 1763, 54 mas era uma
oficina extremamente pequena: na planta do Arsenal de cerca de 1815 ela sequer é men-
cionada (ver Figura 46), indicativo que esses trabalhadores provavelmente ficavam adi-
dos à de construção. Já existia como uma organização separada em 1820, pois é citada
pelo então coronel Cunha Matos, em seu estudo sobre o Arsenal, daquele ano, o coronel
prevendo que deveria ser ampliada. 55 Só que em 1825 se pediu o AGRJ enviasse um
torneiro para Pernambuco, o inspetor interino o Arsenal informando que não podia fazer
isso, por que a “oficina de Torneiros deste Arsenal compõe-se unicamente de alguns
aprendizes e de um mestre”.56 De fato, o número de operários empregados nessa divisão
da manufatura nunca foi muito grande, o maior número que encontramos sendo de 29
deles, durante a crise de 1863, a média de trabalhadores ao longo dos anos sendo de 15
homens. Algo que também é de se esperar, pois o número de operários trabalhando nes-
se ofício dependia basicamente, das máquinas: não adiantava haver muitos deles, se o
número de tornos disponível fosse reduzido, como sempre foi – em 1842 havia somente
um torno para ferro, por exemplo. Depois, com a criação da oficina de máquinas, os
tornos para trabalhos em metal passaram para aquela repartição.
52
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836. op. cit.
53
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Oto Mehring, mestre espingardeiro, para o Major de enge-
nheiros Juvêncio Manoel Cabral de Meneses, 3º Ajudante. Rio de Janeiro, 3 de novembro de 1859.
Mss. ANRJ. IG7 455.
54
PORTUGAL – Alvará de 15 de julho de 1763. op. cit.
55
MATOS, 1939, op. cit. p. 18.
56
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Inspetor Interino do Arsenal de Guerra, Francisco de Paula e
Vasconcellos, ao Ministro da Guerra, João Vieira de Carvalho, sobre a impossibilidade de envio de
um torneiro para o trem de Pernambuco. Rio de Janeiro, 3 de agosto de 1825. Mss. ANRJ. IG7 2.
379
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
8.2.1.4 Tanoeiros
Pouco se pode falar desse ramo de atividades, formado por artesãos que faziam
vasilhames: baldes de madeira e barris, inclusive alguns pequenos, usados como cantis
pelos soldados. 60 Uma função que tinha certa importância, tanto é que era prevista na
organização das companhias de artífices de 1763, com dois tanoeiros, mas não era uma
atividade altamente especializada e o mercado civil dispunha de artesãos que podiam
fornecer esse tipo de material, pois havia uma grande demanda no mercado por esse tipo
de artigo, já que os barris eram os únicos vasilhames disponíveis para transporte de lí-
quidos, sendo usados também para alguns sólidos.
A demanda civil implicava que, apesar de haver oficinas de tanoeiros nos Arse-
nais provinciais, no de Marinha e na Fábrica de Pólvora, este era um produto que pode-
ria ser suprido pelo mercado civil, tanto é que há anúncios do Arsenal para a compra de
cantis na iniciativa privada.61 Cogitamos que a única razão para que esta especialidade
estivesse presente no Arsenal era que a demanda do Exército, às vezes, era emergencial
e implicava na feitura de um grande numero de peças: em 1842 o ministro ordenou o
envio de peças para equipar quatro mil soldados do exército em operações no Rio Gran-
57
Diário do Rio de Janeiro, nº 5. Rio de Janeiro, 5 de agosto de 1836. p. 2.
58
Por exemplo, peça SIGA 016191.
59
BRASIL – Arsenal de Guerra. Tabela dos preços de mão-de-obra dos objetos feitos por empreitada na
oficina de torneiros do Arsenal de Guerra da Corte, conforme aviso desta data, João Antônio de Ca-
lazans Rodrigues. Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 505.
60
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Salvador José Maciel, ao diretor, João Eduardo
Pereira Colaço, mandando fornecer cantis de madeira e não de folha. Rio de Janeiro, 29 de julho de
1843. Mss. ANRJ. IG7 340.
61
Diário do Rio de Janeiro, ano XX, nº 229. Rio de Janeiro, 12 de outubro de 1841. p. 2.
380
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
de do Sul, inclusive cantis, um número que seria difícil atender por uma oficina artesa-
nal civil. 62 Isso, e uma tentativa de se tentar controlar a produção de todos os tipos de
materiais para o Exército, talvez expliquem a permanência dessa oficina. Mas nunca
teve uma quantidade elevada de trabalhadores – o maior número que encontramos foi
em 1863, quando eram 35, mas a média anual era bem menor, de apenas dez trabalhado-
res.
8.2.2.1 Coronheiros
Esta oficina não é citada na documentação do AGC até 1832, o que se entende
perfeitamente, já que estava sediada na Fábrica de Armas da Conceição até a sua extin-
ção no início da Regência. A transferência da Fábrica de Armas para o Arsenal não im-
plicou no surgimento de uma oficina importante, apesar dos coronheiros, por si, compo-
rem a “2ª Classe” das oficinas do AGC: entre 1836 e 1844 – ano em que a Fábrica da
Conceição foi recriada – encontramos seis relações de pessoal, o número inicial de tra-
balhadores dela sendo de apenas cinco, dos quais quatro eram da “mestrança”: o mestre,
contramestre e dois aparelhadores. O trabalhador restante era um mero aprendiz, uma
situação claramente de excesso de chefes.
De fato, não era uma profissão tão necessária na iniciativa privada, já que um
carpinteiro ou, mais facilmente, um marceneiro, podia fazer ou reparar uma coronha.
Isso talvez explique a dificuldade que o Arsenal tinha de contratar operários dessa espe-
cialidade, havendo anúncios de jornal que ofereciam trabalho, enfatizando as vantagens
do emprego, como “salários vantajosos”, horas de trabalho reduzidas e isenção do servi-
62
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos artigos bélicos, fardamentos, e equipamento que devem ser
remetidos para a Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro, 2 de novembro de
1842. Mss. ANRJ. IG7 333.
63
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Antônio Rangel de Vasconcelos, ao Ministro da Guer-
ra, Sebastião do Rego Barros. Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1837. Mss. ANRJ. IG7 20.
381
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Uma solução para o problema da falta de pessoal seria a formação local dessa
especialidade através do aprendizado: por exemplo, em 1849 se determinou que se pa-
gasse uma diária para todos os aprendizes das oficinas de espingardeiros, coronheiros,
serralheiros e ferreiros, assim que se engajassem, mesmo que não tivessem condição de
fazer algum trabalho.66 Isso em oposição à norma usual, que era que os aprendizes só
recebessem depois de três meses de trabalho ou quando fossem julgados aptos a faze-
rem algum trabalho útil. Nesse sentido, em 1845, quando foi recriada a Fábrica de Ar-
mas, se determinou que um oficial, promovido a contramestre, ficasse no Arsenal, para
ensinar aos Aprendizes Menores o ofício e repararem as armas dos corpos de guarni-
ção.67 O resultado foi que, durante alguns anos, manteve-se uma segunda oficina de
coronheiros, que teve um certo desenvolvimento, apesar de criar uma duplicação de
esforços que é difícil de entender e que se tornaria grave: em 1851 e 1852 havia, respec-
tivamente, 41 e 53 coronheiros no Arsenal – números superiores aos que trabalhavam
na Conceição nesses anos.
Não sabemos por que essa decisão de manter duas instalações com funções se-
melhantes, mas o número de coronheiros do Arsenal variou muito: em 1856 e 57 eram
poucos (cinco e oito, respectivamente), mas em 1862 eram 22. No ano seguinte não
havia mais operários listados. Consideramos essas variações um indicativo da falta de
política clara para esse ramo das atividades da manufatura, até bem tarde não se dava a
prioridade para a Fábrica de Armas, que seria o local adequado para concentrar o pesso-
al. Isso é marcante, considerando que a Fábrica deveria ser indispensável para o Exérci-
to, por causa do imenso consumo de armas importadas, algo que poderia ser sanado, em
parte, com o conserto da grande quantidade de armas que precisavam de reparos relati-
vamente simples.
64
Diário do Rio de Janeiro, nº 18. Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1837. p. 1.
65
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos operários que vieram engajados da Europa para serem
adidos no Arsenal, Francisco José Carvalho, Vice-diretor. Rio de Janeiro, 29 de julho de 1839. Mss.
ANRJ.
66
Diário do Rio de Janeiro. Ano XXVIII, n. 8252. Rio de Janeiro, 14 de novembro de 1849. p. 3.
67
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Jerônimo Francisco Coelho ao diretor do Arsenal
de Guerra da Corte, Brigadeiro João Eduardo Pereira Colaço Amado, aprovando proposta do vice-
diretor do Arsenal, Galdino Justiniano da Silva Pimentel, sobre a permanência no Arsenal de dois
dos oficiais mais hábeis, para ensinar os aprendizes artífices. Rio de Janeiro, 29 de julho de 1844.
Mss. ANRJ, IG7405.
382
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
8.2.3.1 Ferreiros
Os Ferreiros compunham uma unidade semelhante aos torneiros no Arsenal: sua
função era apoiar as outras oficinas, produzindo artigos de ferro que comporiam outros
objetos, como no caso de um reparo de artilharia, que tinha elementos metálicos: cavi-
lhas; chapas para as conteiras e para os munhões; aros de rodas e assim por diante (ver
Figura 47). Também faziam serviços gerais, como ferragens para portões; utensílios de
cozinha; peças de carros; grades e outras assemelhadas.68 Por sua vez, as necessidades
de peças de ferro genéricas eram bem maiores do que as torneadas, de forma que essa
oficina era antiga, equipamento para ela já é mencionado no início da história da manu-
fatura. Também era bem numerosa, contando com um mínimo de 11 operários em 1836
(5% do quadro de pessoal do AGC), até o impressionante número de 184 operários du-
rante o ano da Questão Christie (11,6% do pessoal).
Vale dizer que no caso de 1863, não sabemos como a manufatura conseguiu
acomodar tantos trabalhadores, já que eles dependiam de instalações fixas, as forjas. Por
exemplo, Cunha Matos, escrevendo em 1820, informava que a oficina, naquele ano, era
pequena e tinha “um tão diminuto número de forjas, que em ocasiões de trabalhos vio-
lentos (sic), torna-se indispensável mandar forjar obras à fabrica da Conceição, e ainda
mesmo a casa de ferreiros particulares”.69 Tal problema aparentemente não foi resolvido
totalmente – a única informação que temos sobre o número de forjas é uma planta pos-
terior ao recorte, de 1879, que mostra apenas dez delas, apesar delas serem de grande
porte.70
Não parece que antes o Arsenal tivesse mais do que essas dez forjas. Por sua
vez, elas eram compartilhadas por mais de um trabalhador (ver Figura 47), o oficial
executando o trabalho e os malhadores. Também, em caso de emergências no Arsenal,
seria possível usar forjas de campanha para executar alguns serviços menores. Ainda
assim, não deixa de ser curioso como se encontrou espaço para acomodar 184 trabalha-
dores, mesmo que esses se revezassem em turnos, algo que era difícil, já que no Arsenal
só havia iluminação natural, dificultando o trabalho noturno (ver Figura 50).
68
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836. op. cit.
69
MATOS, 1939, op. cit. p. 17.
70
PLANTA da oficina de ferreiros e da casa do primeiro ajudante. Ten.-cel. José Simeão de Oliveira e
major Antônio de Sena Madureira. Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1879. Mss. Arquivo Histórico
do Exército. 04.01.569.
383
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Apesar da necessidade dos trabalhos dessa oficina para o Arsenal, ela ainda era
completamente artesanal – não há menções a martinetes ou rebolos mecânicos em uso,
pelo menos até o início de 1862, 72 ano em que um martinete comprado para a Fábrica de
Armas da Conceição foi instalado no Arsenal. A única modernização técnica nos traba-
lhos foi que os foles movidos a braço, necessários para o funcionamento das forjas fo-
ram sido substituídos por ventiladores mecânicos, movidos a vapor, em 1852.
71
id.
72
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, ao
Sr. chefe da 1a Seção da 1a Diretoria Geral da Secretaria de Estado, Mariano Carlos de Sousa Cor-
rea, envia o Relatório do movimento administrativo de 1861. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de
1862. Mss. ANRJ. IG7 24.
384
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
8.2.3.2 Serralheiros
A serralheria formava outra das especialidades antigas no Arsenal – a Compa-
nhia de Artífices, pelo regulamento de 1763, deveria ter quatro artesãos dessa atividade,
com a previsão de “que sejam ao mesmo tempo espingardeiros”. 73 Isso por que, como
dissemos, um serralheiro podia fabricar um fecho de espingarda, 74 podendo facilmente
reparar um deles. De fato, é possível que esses profissionais estivessem trabalhando na
fábrica de armas, isso sendo hipótese para explicar por que no início do século XIX não
havia uma oficina de serralheiros no Arsenal (ver Figura 46). De qualquer forma, em
1820 já estava estabelecida a oficina, apesar de ser pequena.75 Usualmente a atividade
não era das que exigiam mas pessoal no AGC, apesar de trabalharem nela dois contra-
mestres em 182976 – um indicativo de que era necessário supervisionar o trabalho de
muitas pessoas. Em uma situação que consideramos atípica, chegou a ter 109 artesãos
em 1852, ainda que nesse número estejam incluídos 66 aprendizes (61% da força de
trabalho), um número excepcionalmente alto. Na crise de 1863, eram 217 serralheiros
trabalhando no Arsenal, o que, novamente, parece meio estranho considerando a falta de
meios de trabalho – eles compartilhavam da necessidade de forjas, tais como os ferrei-
ros, e essas instalações eram reduzidas no AGC.
Deve-se frisar que a oficina sempre teve um número razoável ou alto de aprendi-
zes, talvez por essa profissão ser considerada como uma das “privativas do Arsenal”.77
Uma afirmação que parece estranha, já que a serralheira não era, de forma alguma, uma
atividade que pudesse ser associada apenas, ou primordialmente, às necessidades milita-
res, ao contrário de espingardeiros e coronheiros. De qualquer forma, não era uma com
grande mercado de trabalho civil, como apontado pelo ministro da guerra que, ao dis-
cursar no senado em 1843, informou que incentivara o aprendizado no AGC, encontra-
do dificuldades, pois “todos fugiam de ser serralheiros e espingardeiros; queriam só
aplicar-se ao ofício de carpinteiro, alfaiate etc.”,78 profissões com maior mercado de
trabalho civil. Isso explica por que em 1849 a oficina foi uma das que recebeu autoriza-
73
PORTUGAL – Alvará de 15 de julho de 1763. op. cit.
74
Em 1841 o Arsenal forneceu à fábrica de Ferro de Ipanema peças de fechos fabricados na oficina de
Serralheiros, para poder servir de modelo para a feitura de outros lá. BRASIL – Ministério da Guer-
ra. Aviso do Ministro, José Clemente Pereira, ao Diretor do Arsenal de Guerra, mandando entregar
armas e peças. Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1841. Mss. ANRJ. IG7 328.
75
MATOS, 1939, op. cit. p. 17.
76
ALMANAK Imperial, op. cit. p. 86.
77
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, 24 de outubro de 1837. op. cit.
78
ANAIS do Senado. Tomo I. Brasília: Secretaria de Anais, 1978. Sessão de 3 de abril de 1843. p. 60.
385
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
ção para contratar aprendizes com vencimento, mesmo que eles não tivessem nenhuma
experiência, “como ofícios de maior utilidade e mais próprios deste estabelecimento”.79
8.2.3.3 Espingardeiros
A oficina de espingardeiros não existia no Arsenal até 1832, a razão sendo cla-
ramente por causa da Fábrica de Armas na Conceição, onde eles estavam estabelecidos.
Com a extinção da unidade, na Regência, a oficina foi transferida para o Arsenal, sendo
agrupada com as de ferreiros e serralheiros, ofícios que podiam ser relacionados com a
produção de peças para armas e que compartilhavam as mesmas necessidades logísticas,
como o uso de forjas; bigornas etc.
Esta profissão sempre foi uma problemática para o Exército como um todo – era
uma função vital para a força, já que o reparo de armas era uma necessidade permanen-
te, mesmo em tempo de paz, tanto é que em 1808 foi baixado um decreto determinando
que todos os regimentos deveriam ter uma oficina de espingardeiros, com um desses
profissionais, 83 a medida especificando que os canos e coronhas84 das armas seriam for-
necidas pela Fábrica de Armas da Conceição. No entanto, eles não eram profissionais
que podiam ser facilmente contratados na iniciativa privada, pois a fabricação de armas
79
Diário do Rio de Janeiro, 14 de novembro de 1849, op. cit.
80
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa nº 10, Relação das obras, 1848, op. cit.
81
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836. op. cit.
82
VASCONCELLOS, Antônio João Rangel de. Carta, 21 de setembro de 1851. Diário do Rio de Janeiro,
ano XXX, nº 8803. Rio de Janeiro, 27 de setembro de 1851. p. 2.
83
PORTUGAL – Decreto de 12 de novembro de 1811. Manda estabelecer em cada um dos regimentos
de infantaria e artilharia uma oficina de espingardeiros.
84
O Decreto nº 30, de 22 de Fevereiro de 1839, que dava nova organização ao Exercito do Brasil, recriou
o cargo de coronheiros nos batalhões e regimentos do exército.
386
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
não era uma grande indústria no País, de forma que, na prática, os reparos mais comple-
xos de armas teriam que ser feitos nos Trens, Arsenais e na Fábrica de Armas, onde
havia pessoal para executar tais serviços. Como dizia um ministro da guerra, essa era
uma especialidade “privativa do arsenal”.85
Quando a oficina foi recriada no Arsenal em 1832 ela teve problemas. Um deles
foi que o governo tinha demitido uma grande quantidade de operários do Arsenal e da
Fábrica de Armas com a instalação da Regência, tendo que publicar anúncios na im-
prensa para recontratar quase que de imediato esse pessoal, pois a demanda de trabalha-
dores não diminuiu no mesmo ritmo da redução das forças armadas – as revoltas da
Regência criaram a necessidade de suprimentos de armas para o Exército, forças provi-
sórias e para a Guarda Nacional. Assim, em junho de 1831 o Arsenal fez publicar um
anúncio, convocando todos os operários licenciados do Arsenal e da Fábrica de Armas
da Conceição, “para serem outra vez empregados nas respectivas oficinas”. 86
85
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, 24 de outubro de 1837. op. cit.
86
Diário do Rio de Janeiro, nº 3, Rio de Janeiro, 4 de junho de 1831. p. 2.
87
Diário do Rio de Janeiro, nº 17, Rio de Janeiro, 25 de junho de 1832. p. 1.
88
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Brigadeiro Antero José Ferreira de Brito, ao dire-
tor do Arsenal de Guerra, Vasconcelos de Menezes de Drummond, sobre pedido ao ministro da jus-
tiça do envio ao Arsenal do Espingardeiro Sabino Correia do Amor Divino para ser ali conservado
em prisão, e empregado na oficina respectiva. Rio de Janeiro, 2 de julho de 1833. Mss. ANRJ. IG7
317.
387
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
que quisessem trabalhar no AGC, inclusive com vencimentos maiores que os da inciati-
va privada.89
Aparentemente a oferta de melhores salários de 1836 não deu certo. Três meses
depois de sua publicação, o diretor do Arsenal novamente encaminhou um ofício ao
ministro da Guerra solicitando a contratação de espingardeiros – dezesseis deles. Esse
documento é muito importante para entendermos as diferenças do Arsenal com relação
a manufaturas militares de outros países, pois no ofício o diretor escrevia que a única
opção seria o engajamento de operários estrangeiros.90 Deve-se frisar que, na época,
essa seria uma medida extrema, quando ocorriam as revoltas do “mata marinheiro”,
contra a presença de portugueses no País, como as que ocorreram em Santa Catarina,
Mato Grosso e, depois, em Pernambuco. O próprio exército tinha demitido quase todos
os estrangeiros no serviço militar em 1830. 91
A presença de estrangeiros não era bem vista por todos no Exército: mais tarde,
em 1844, um ministro reclamava da “multidão de artistas estrangeiros, com os quais o
Nacional perde a esperança de concorrer vantajosamente”,92 a solução, segundo o mi-
nistro, seria a formação de aprendizes brasileiros. Só que isso também foi tentado, sem
muito sucesso, como colocado acima, quando falamos sobre os serralheiros: os aprendi-
zes fugiam de ser espingardeiros, procurando profissões com um maior mercado de tra-
balho.
Mesmo com seus problemas, o recurso aos profissionais vindos do exterior foi
uma maneira de resolver a questão de falta de pessoal que já fora tentada antes, tanto na
Conceição como, depois, na Fábrica de Armas de São Paulo, com os armeiros prussia-
nos (ver página 276). Não se pode dizer que a experiência tinha sido bem sucedida e
com os novos pedidos de contratação se tentou resolver um dos problemas que se per-
cebia na época, o fato dos estrangeiros não seguirem o costume de trabalho adotado no
País. O diretor do Arsenal informando que:
89
Diário do Rio de Janeiro, 5 de agosto de 1836, op. cit. p. 2.
90
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal ao Ministro da Guerra, informando que o
Arsenal necessita de dezesseis espingardeiros. Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1836. Mss.
ANRJ. IG7 19.
91
BRASIL – Lei de 24 de novembro de 1830. Fixa as forças de terra para o ano financeiro de 1831-
1832. O decreto excetuava apenas os que tinham lutado nas guerras da Independência e os soldados
que quisessem, voluntariamente, cumprir o termo de seus alistamentos.
92
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório, 1ª sessão da 6ª legislatura, 1845. op. cit. p. 18.
388
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
93
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal, 12 de novembro de 1836. op. cit.
94
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, 12 de novembro de 1836, op. cit.
95
Diário do Rio de Janeiro, ano XVIII, nº 275, Rio de Janeiro, 5 de dezembro de 1839.
96
BRASIL – Ministério da Guerra. Relação dos colonos artífices que vem a bordo do Navio – Monte
Deserto. Rio de Janeiro 18 de junho de 1838. Mss. ANRJ. IG7 323. O documento trás a nota: “al-
guns destes, ainda que alistados por serralheiros e carpinteiros são espingardeiros”.
389
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
novas”.97 Outro dos portugueses, Joaquim da Silva, era “por hábito tão vagaroso em
trabalhar” que cada arma reparada custava mais de três vezes mais do que as feitas por
outros armeiros. 98
Não se pode dizer que solução tenha dado muito certo. No Senado, o ministro da
Guerra, depois de informar que se trabalhava nas oficinas de serralheiros e espingardei-
ros “com uma perfeição superior a toda expectação”,100 disse que as armas feitas no
Arsenal saiam de 16 a 20.000 réis, “preço que sem dúvida é muito caro”,101 o que é evi-
dente, considerando que na mesma época um importador inglês se propunha a entregar
espingardas de fulminante, mais modernas e com acessórios, a 14.000 réis cada.102 Ten-
do em vista esse preço elevado, o ministro concluiria que “não convém por isso atual-
mente fabricar espingardas novas”.103 Na verdade, chegaria a uma conclusão oposta à
proposta feita em 1838: deveriam ser importados três mil fechos prontos da Europa,104
se implantando assim certa divisão de trabalho, só que com material estrangeiro. Se
usariam as peças existentes nos depósitos ou feitas localmente, os canos; guarnições e
coronhas, sendo colocados os fechos novos nelas. Só que isso não era uma opção que
permitisse o País a se livrar da dependência do estrangeiro.
97
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Francisco Soares de Lisboa ao diretor, José Maria da Silva
Bitancourt, sobre espingardeiro Silvestre Luís. Rio de Janeiro, 7 de julho de 1850. Mss. ANRJ. IG7
343.
98
BRASIL – Arsenal de Guerra de Porto Alegre. Ofício nº 249, do diretor ao Tenente-General Francisco
José de Soares d’Andréa, presidente e comandante do Exército, pedindo autorização para demitir o
espingardeiro Joaquim da Silva. Porto Alegre, 31 de outubro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
99
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da Guerra. Jerônimo Francisco Coelho, informan-
do que tinha se autorizado o engajamento na Europa de dezesseis armeiros. Rio de Janeiro, 20 de
setembro de 1845. Mss. ANRJ. IG7 405.
100
ANAIS do Senado, Sessão de 3 de abril de 1843, op. cit. p. 66.
101
id.
102
OFERTA de espingardas, de Henrique Greenwood. Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 1842. Mss.
ANRJ. IG7 390.
103
ANAIS do Senado, Sessão de 3 de abril de 1843, op. cit. p. 66.
104
Id. p. 66.
390
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Em 1857 a oficina foi extinta, ou pelo menos perdeu seu mestre, passando a ser
adida à de Serralheiros105 e a produção dela passou a ser realmente muito pequena. Em
1863 não é mais listada como tendo pessoal, o que é um indicativo que finalmente aca-
bara a divisão de esforços, se concentrando todo o pessoal na Conceição, algo que faz
sentido no processo de reformulação daquela manufatura, que vamos tratar mais adiante
no texto.
8.2.4.1 Latoeiros
Os latoeiros eram outra das oficinas complementares no Arsenal: provavelmente
já existiam no início do século XIX, sendo chamados de “fundidores” (ver Figura 46), e
já apareciam claramente na relação do brigadeiro cunha Matos, de 1820,106 sendo cha-
mados de “latoeiros fundidores”, mas não produziam nada de uso específico para as
forças armadas, fazendo mais trabalhos para complementar o de outras especialidades,
como obra branca; correeiros – as correias dos uniformes usavam uma grande quantida-
de de peças de latão –; ferraria e instrumentos bélicos. Quando a Fábrica de Armas da
Conceição foi recriada, foi estabelecida lá outra oficina de latoeiros, certamente para
fazer as guarnições das armas.
Por outro lado, como eles tinham uma fundição e eram os responsáveis pela fei-
tura de balas de chumbo – em 1849 eles fizeram 69.000 delas, vinte toneladas de projé-
105
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa demonstrativo do armamento que se prontificou de janeiro a
dezembro de 1857 na oficina de espingardeiros adida a de serralheiros. Jacinto Antônio de Andra-
de, Mestre. Rio de Janeiro, 4 de janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 4.
106
MATOS, 1939, op. cit. p. 17.
391
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
teis.107 Às vezes era necessário até se mobilizarem os Aprendizes menores para corta-
rem as rebarbas das balas, a ponto de prejudicar sua formação.108 Mais tarde essa ativi-
dade de preparo de projéteis passou a ser feita nos Laboratórios Pirotécnicos.
107
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa nº 10 Relação das obras, 1848, op. cit.
108
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Antônio José de Freitas [Mestre de Espingardeiros] ao dire-
tor, Antônio João Rangel de Vasconcellos sobre merecimento de Aprendizes. Rio de Janeiro, 6 de
julho de 1838. Mss. ANRJ. IG7 323.
109
Museu Histórico Nacional, peça SIGA 20.333.
110
Por exemplo, peça SIGA 019864.
111
Um exemplo é uma chapa de barretina do 16º de caçadores, peça SIGA 013220.
392
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
cinas, de forma que mesmo o trabalho dessas complicadas chapas era feito totalmente a
mão, pelo processo de repuxado, martelando-se a chapa metálica contra um molde (ver
Figura 49).
Com isso em mente, se entende que essa oficina, já existente em 1820,115 nunca
tenha sido grande, ou que se tenha usado seus trabalhadores para apoiar os latoeiros. 116
Na maior parte dos anos a oficina era apenas composta pelo contramestre e um ou dois
operários: o maior número de artesãos qualificados que encontramos nela foi de cinco,
em 1844. Também não era uma profissão que atraísse aprendizes – em 1856 eram treze,
112
ALMANAK do Rio de Janeiro para o ano de 1827. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1827. p. 214.
113
Em 1836 eles também faziam escrivaninhas de latão, usadas por oficiais em campanha. BRASIL –
Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836. op. cit.
114
Diário do Rio de Janeiro, ano XXI, nº 49. Rio de Janeiro, 3 de março de 1842. P. 2
115
MATOS, 1939, op. cit. p. 17.
116
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836. op. cit.
393
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
mas doze deles eram Aprendizes Menores, da companhia que existia no Arsenal,117 o
que não serviria como um indicador da procura civil pela profissão.
Sobre seus produtos, podemos fazer uma nota: o MHN possuiu o instrumental de
uma banda desse período, inclusive uma árvore de campainha, que mostra a colabora-
ção de vários ofícios na sua execução: marceneiros, latoeiros, torneiros, pintores e ins-
trumentalistas, algo que era mais a exceção do que a regra no AGC.119 De qualquer
forma, a pequena dimensão da oficina fez com que a mesma fosse incorporada à de la-
toeiros em 1858, perdendo seu mestre.
8.2.4.3 Funileiros
Esta é a última oficina da “4ª Classe” do AGC, sendo uma das mais antigas na
instituição: um dos conjuntos de ferramentas encaminhado pelo Trem do Rio para o de
Porto Alegre, em 1776, era para o ofício de funileiros, 120 o que, como já foi dito, impli-
ca que havia artesãos dessa especialidade, tanto no Rio, quanto no Rio Grande. Uma
oficina deles já existia no início do século XIX (ver Figura 46), apesar de ser bem pe-
quena. Em 1820, um documento a chama de “funileiros de folha branca”,121 certamente
por trabalharem, a frio, com folha de flandres, de cor prateada, e para os distinguirem
dos latoeiros, que trabalhavam com materiais cuprosos (ou “metal amarelo”).
117
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa Geral da Companhia de Aprendizes Menores do Arsenal de
Guerra da Corte. O pedagogo Capitão João Rodrigues Seival. Rio de Janeiro, S.d. [janeiro de
1856]. Mss. ANRJ. IG7 21.
118
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação das obras que fizeram as diferentes oficinas do Arsenal do
Exercito no mês de Agosto do presente ano de 1823. Cel. Salvador José Maciel, inspetor. Rio de Ja-
neiro, 10 de setembro de 1823. Mss. ANRJ. IG7 2.
119
Peça SIGA 016286.
120
SILVA, Crispim Teixeira, Sargento Mor Intendente. Relação das Obras, Munições e mais Petrechos
que se tem feito no Trem de S. Majestade Fidelíssima do Rio de Janeiro, no tempo Governo do Il.mo e
Ex.mo Sr Marquês do Lavradio Vice Rei e Capitam General de Mar e Terra do Estado do Brasil,
continuado de 31 de outubro de 1769, até 31 de Agosto de 1776. Mss. Coleção Particular.
121
REINO UNIDO – Arsenal Real do Exército. Relação das oficinas que se acham estabelecidas no
Arsenal Real do Exército. José da Cunha Matos, Cel. Vice-Inspetor. Rio de Janeiro, 20 de agosto de
1820. Mss. ANRJ. IG7 1.
394
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
A funilaria era uma profissão com muita demanda na sociedade civil, por causa
da fabricação de vasilhames de folha de flandres, de forma que havia uma grande com-
petição por empregos, tal como demonstrado por vários anúncios de jornal. O exército
também tinha uma grande necessidade de produtos de folha, resistentes a corrosão:
marmitas; panelas; cartucheiras e alguns tipos de munição, como lanternetas e cintas
para fixar granadas a tacos.122 Entretanto, essa oficina não teve um grande desenvolvi-
mento, o maior número de artesãos trabalhando nela sendo de 38, em 1844, a média de
trabalhadores em dezenove listas de pessoal sendo de apenas quatorze operários.
Não encontramos menções a máquinas nessas oficinas, a não ser uma menção
dúbia ao envio de “uma máquina completa de funileiro” para Mato Grosso, em 1857.123
Entretanto, cremos que isso se referia a um conjunto completo de ferramentas e não
uma máquina propriamente dita: não há nos documentos dados sobre prensas; calan-
dras; viradeiras de chapas ou outros equipamentos pesados que pudessem auxiliar na
preparação dos objetos, que eram basicamente feitos à mão, um a um. Nesse sentido, o
MHN possui um porta documento feito de folha de flandres, com areeiro e tinteiro in-
corporado, uma peça de uso de secretários de unidades militares em campanha, de certa
complexidade e que não estava disponível no mercado civil, tendo que ser feita especi-
almente para o Exército, no AGC. 124 Nesta peça e em outras semelhantes125 é observá-
vel que foram feitas de forma inteiramente artesanal.
8.2.5.1 Correeiros
Como o nome diz, essa especialidade era composta pelos artesãos que faziam
correias de couro, algo indispensável na época, não só para sustentar os equipamentos
dos soldados no corpo, mas para barretinas (ver Figura 49); arreios; bainhas de armas;
caixas de equipamento e assim por diante. Por exemplo, o Trem da Bahia fazia patronas
de couro da Rússia, já em 1722.126 Por sua vez, não era uma profissão específica das
122
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa nº 10 Relação das obras, 1848, op. cit.
123
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos objetos que falta fornecer à Província de Mato Grosso em
virtude das ordens seguintes. O escrivão Ignácio Viegas Rangel. Rio de Janeiro, 22 de maio de
1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
124
Peça SIGA 014009.
125
O autor deste texto tem outro porta documento, mais simples do que o do MHN, mas igualmente feito
para o Exército no século XIX.
126
REGISTRO da avaliação das armas e munições. Salvador, 12 de setembro de 1722. DOCUMENTOS
HISTÓRICOS. Livro 1º de Regimentos. 1684-1725. Registro de provisões da casa da moeda da Ba-
Continua –––––––
395
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
necessidades militares, na época quase tudo tinha que ser feito de materiais naturais,
madeira e couro, de forma que o correeiro era uma profissão comum na sociedade. Isso
é uma das razões por que havia uma competição para a obtenção de mão de obra para o
AGC, anúncios para a contratação de correeiros sendo comuns, inclusive um dos que
ofereciam maiores salários do que os pagos pelo mercado para os que se engajassem no
Arsenal. 127 Outra vantagem que se oferecia era que quando houve uma mudança na le-
gislação e os operários voltaram a ser recrutados para o serviço da Guarda Nacional,
esta foi uma das oficinas, junto com espingardeiros e coronheiros, para as quais se soli-
citou ao ministro da Justiça a isenção do serviço ativo. 128
8.2.5.2 Seleiros
Há pouco a dizer sobre essa especialidade, que era muito aproximada da de cor-
reeiros, já que trabalhava o couro para produzir selas; selins e cangalhas. Na verdade, o
vice-inspetor do Arsenal, Cunha Matos escreveu que eles faziam o mesmo serviço, as
duas oficinas tendo sido separadas em 1820, o que ele considerava como prejudicial. 130
Isso talvez isso explique por que a oficina não era mencionada entre as existentes em
Continuação–––––––––––
hia. 1775. Vol. LXXX. Biblioteca Nacional. s.n.t. p. 311. Couro da Rússia: couro fino, flexível, de
grande impermeabilidade à água, com odor característico de alcatrão de bétula.
127
Diário do Rio de Janeiro, 5 de agosto de 1836, op. cit. p. 2.
128
BRASIL – Corte. Ofício de sua majestade ao ministro da justiça isentando os operários de espingar-
deiros, coronheiros e correeiros do serviço na Guarda Nacional nos dias de trabalho, excetuando-se
os dias em que a Guarda Nacional tiver que reunir-se em parada geral. Rio de Janeiro, 7 de julho
de 1841. Mss. ANRJ. IG7 6.
129
Há vários anúncios de jornal sobre a distribuição de peças de costura de correias para serem feitas fora
do Arsenal. Ver: Diário do Rio de Janeiro, ano XXXVIII, nº 206, Rio de Janeiro, 1 de agosto de
1858. p. 3.
130
MATOS, 1939, op. cit. p. 18.
396
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
1829,131 fato que torna estranho que ela tenha sido uma das mencionadas no regulamen-
to de 1832.
Certamente não era uma atividade exclusiva aos militares, era comum no merca-
do civil. De fato, o consumo de selas devia ser muito maior entre os civis do que a de-
manda do Exército na Corte, pois um selim tinha uma duração de oito anos e só havia
um regimento de cavalaria no Rio de Janeiro. Dessa forma, seria possível equipar os
soldados com objetos adquiridos no mercado civil, a única dificuldade sendo algumas
cangalhas de uso especial, como as usadas para transportar peças de artilharia de Dorso,
que não eram um tipo de artigo de consumo civil. Tanto isso era possível que o almana-
que dos comerciantes de 1832 informa que o Arsenal já não mais importava selins,
comprando-as em uma fábrica de selins ingleses existente em Minas Gerais. 132
131
ALMANAK Imperial, op. cit. p. 88.
132
ALMANAK Nacional do comércio do Império do Brasil para 1832. Rio de Janeiro: Seignot-Plancher,
1832. p. 51
133
MALTA, Augusto, maio de 1921. Antigo Arsenal de Guerra. Acervo do Museu da Imagem e do Som,
negativo 6997.
134
Em 1857, o Arsenal tinha 146 bicos de gás, nenhum deles em oficinas. BRASIL – Arsenal de Guerra.
Relação do número de bicos de gás existentes nas diversas repartições deste Arsenal, com declara-
Continua –––––––
397
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
8.2.5.3 Sapateiros
Essa oficina sempre foi insignificante no Arsenal – não é relacionada nas listas
de antes de 1832 e na primeira menção que encontramos a ela, de 1836, só havia um
operário da especialidade, que trabalhava como correeiro, “por que tem sido até agora
desnecessário o trabalho de sapateiros”.135 É evidente que essa não era uma atividade
realmente necessária ao Arsenal, pois sapatos podiam ser adquiridos na iniciativa priva-
da e o exército procurava incentivar as empresas nacionais, como já tratamos no capítu-
lo 4. O ministro do Exército chegaria até a escrever que tinha determinado ao coman-
dante de armas da Corte que mandasse todos os recrutas que soubessem um ofício arte-
sanal para as Companhias de Artífices do Arsenal, com a ressalva: “não sendo alfaiates
ou sapateiros”,136 ou seja, era uma profissão considerada como desnecessária aos servi-
ços da manufatura militar. De fato, sempre foi uma atividade reduzida, com, no máxi-
mo, cinco operários, em 1844. Ela deixa de ser mencionada como uma oficina a partir
de 1847, passando a ser anexa à de correeiros.
8.2.6.1 Alfaiates
A fabricação de uniformes era uma das maiores necessidades do Exército, o mo-
vimento financeiro da oficina de alfaiates chegava a ser o maior do Arsenal,137 ela exis-
tindo desde pelo menos 1820, apesar de não ser listada entre aquelas que funcionavam
no início do século (ver Figura 46).
No entanto, a organização dessa oficina era diferente das outras: não havendo
máquinas de costura, tudo tinha que ser cosido manualmente, o que demandava uma
grande quantidade de mão de obra para realizar um serviço relativamente simples, o do
cozimento. A solução encontrada sendo a terceirização do serviço pela Repartição de
Costuras, que trataremos abaixo. Dessa forma, os alfaiates faziam alguns objetos mais
Continuação–––––––––––
ção dos que se acendem, e duração das luzes. Arsenal de Guerra da Corte José Manoel da Silva, 1º
Ajudante. s.d. [1857]. Mss. ANRJ. IG7 22.
135
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836. op. cit.
136
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro, Manoel da Fonseca Lima e Silva ao Sr. José de
Vasconcelos Meneses de Drummond, comunicando que já passou aviso ao Comandante das armas
interino da Corte, a fim de mandar para a Companhia de Artífices desse Arsenal os recrutas que ti-
verem ofícios. Rio de Janeiro, 11 de maio de 1836. Mss. ANRJ. IG7 321.
137
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na quarta
sessão da décima legislatura pelo respectivo ministro pelo ministro e secretário de estado dos negó-
cios da Guerra, Sebastião do Rego Barros. Rio de Janeiro: Laemmert, 1860. MAPA demonstrativo
das férias das diversas oficinas do Arsenal de Guerra da Corte de janeiro a dezembro do ano próximo
passado Janeiro de 1860.
398
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
complexos como sobrecasacas e bonés,138 mas a sua função básica era apenas cortar o
tecido nas formas padronizadas, estas sendo eram acabadas fora da manufatura. Levan-
do em conta essa metodologia de trabalho, a oficina sofreu uma transformação que não
ocorreu nas outras: a partir de 1849 há instruções para não se contratarem mais mance-
bos e aprendizes de alfaiates, assim como determinando que os empregados da oficina
não deveriam exceder a 50,139 por medida de economia, sendo que estes passariam a
receber por “empreitada”, por peça feita, e não mais salários diários. 140
138
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Coronel Alexandre Manoel Albino de Carvalho ao
Ministro, tenente-general Marquês de Caxias, solicitando a contratação de 30 alfaiates para a feitu-
ra de peças que não se dão por arrematação. Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1862. Mss. ANRJ.
IG7 24
139
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Manuel Felizardo de Souza e Mello, ao Diretor
do Arsenal, José Maria da Silva Bitancourt, ao diretor do Arsenal, coronel Antônio João Rangel de
Vasconcelos, determinando que não se conserve escravo algum nas oficinas do Arsenal. Rio de Ja-
neiro, 19 de novembro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 336.
140
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Manuel Felizardo de Souza e Mello, ao Diretor
do Arsenal, José Maria da Silva Bitancourt, informando os operários das oficinas de Alfaiates e Sa-
pateiros do Arsenal de Guerra não deverão perceber jornais. Rio de Janeiro, 16 de setembro de
1850. Mss. ANRJ. IG7 343.
141
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa demonstrativo do número de operários de diferentes oficinas
deste Arsenal existentes em o 1o de janeiro de 1856. Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 1857. Mss.
ANRJ. IG7 22.
142
CORREIO Mercantil, ano XIV, nº 14. Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 1857. p. 3.
399
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
seus próprios uniformes, mas há algumas peças destinadas ao uso de praças. Neste caso,
vale notar que, apesar das várias reclamações quanto à baixa qualidade dos uniformes
das praças, não observamos uma diferença marcante com relação àquelas feitas por ofi-
cinas privadas. 143
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
8.2.6.2 Bandeireiros
Os bandeireiros são uma profissão específica das forças armadas e uma que pa-
rece não ser tido muito especializada, pois costuravam bandeiras, galhardetes, bandeiro-
143
Ver, entre outras, a peça SIGA 018898.
144
Este gráfico foi feito com base em diversas relações de pessoal encontradas nos relatórios dos diretores
do Arsenal, contidos na documentação do Arquivo Nacional, bem como outros publicados nos rela-
tórios do Ministério da Guerra, até 1864. Para 1827, usamos: ALMANAK dos Negociantes, 1827. op.
cit. p. XII.
145
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro Manuel Felizardo de Souza e Mello ao diretor do
Arsenal. determinado a redução no número de seus operários e demissão dos escravos. Rio de Ja-
neiro, 12 de setembro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 336.
146
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ordem do dia nº 78, sobre demissão de trabalhadores. Diretoria do
Arsenal de Guerra da Corte, Rio de Janeiro, 10 de outubro de 1861. Mss. ANRJ. IG7 23.
400
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
las e pendões, algo que um alfaiate podia fazer. Não era profissão antiga, não aparece na
documentação do Arsenal antes do regulamento de 1832, as bandeiras antes sendo feitas
pelos alfaiates147 e, mesmo depois, as insígnias mais complexas tinham que ser acaba-
das pelos pintores. 148 Essa oficina nunca teve muito pessoal – só encontramos três rela-
ções que os mencionam, em 1836, 1838 e 1839, com três, cinco e três artesãos respecti-
vamente, sendo que a partir desse último ano a oficina passou a ser adida à de Alfaiates,
assim como a de barraqueiros. Apesar disso, alguns relatórios da direção do Arsenal
ainda a mencionam como existente, apesar de não ter pessoal dedicado exclusivamente
à atividade.
8.2.6.3 Barraqueiros
Essa é outra oficina que parece não ter muita razão de ser, apesar de seu produto
– barracas – ser de muito uso no exército. Barracas são objetos simples e, como dizia
Cunha Matos em 1820, “estes dois ofícios [alfaiates e barraqueiros] são exercitados
pelos mesmos operários”.149 A oficina já existia na época de Cunha Matos mas não é
mencionada em 1829.150
147
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação das obras, 1823, op. cit.
148
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836, op. cit.
149
MATOS, op. cit. 1939, p. 18
150
ALMANAK Imperial, op. cit. p. 86.
151
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836, op. cit.
152
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da Guerra apresentado a As-
sembleia Geral Legislativa na 1ª sessão da 5ª Legislatura, pelo respectivo ministro e secretário
d'Estado José Clemente Pereira. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1843. Mapa da força das
companhias de artífices do Arsenal de Guerra do Corte 7 de janeiro de 1842. João Eduardo Pereira
Collaço Amado, coronel Diretor.
401
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
8.2.7.1 Pintores
O oficina de pintores já existia em 1820, mas era muito criticada pelo vice-
intendente de então, Cunha Matos, ele dizendo que era muito pequena e que seu mestre,
“vence um jornal enorme, e raras vezes trabalha”.154 O vice-intendente deixando claro
que o trabalho que era executado ali era artístico, não visando à produção de volume
pois, segundo ele, bastaria para o Arsenal um ou dois “borradores”, pintores comuns, “e
quando muito um indiferente oficial que saiba pintar e dourar obras ordinárias” e que
“quando haja precisão de algum trabalho mais delicado deve encomendar-se a artista
fora do Arsenal”.155 Nesse sentido, vale a pena dizer que em 1841 ainda foi publicado
um anúncio para a contratação de um “hábil oficial de pintor para pintar bandeiras”,156
uma atividade de caráter mais artístico.
Mesmo assim, a relação de serviços feitos pela oficina em agosto de 1823 in-
forma que nela se havia pintado balas e mochilas, 157 trabalhos práticos, e em 1836 eles
faziam pintura para conservação de objetos, além de bandeiras.158 Ou seja, até certo
ponto podia ser vista como uma oficina de apoio às outras. Entretanto, o serviço dela era
muito reduzido: até 1840 a média de empregados nesses trabalhos era de apenas três
pessoas.
153
MARTINS, Mônica de Souza N. Entre a cruz e o capital: as corporações de ofícios no Rio de Janeiro
após a chegada da Família Real, 1808-1824. Rio de Janeiro: Garamond, 2012. p. 33.
154
MATOS, 1939, op. cit. p. 18. É possível que o mestre, Fabiano Xavier Muzzi, fosse o filho do pintor
artístico colonial João Francisco Muzzi. O pintor ainda aparece como mestre da oficina até 1846.
ALMANAQUE Laemmert. Rio de Janeiro: Laemmert, 1847. p. 160
155
MATOS, 1939, op. cit. p. 18.
156
Diário do Rio de Janeiro, ano XX, nº 239. Rio de Janeiro, 23 de outubro de 1841. p. 3.
157
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação das obras, 1823, op. cit.
158
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836, op. cit.
402
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
8.2.7.2 Escultores
Essa oficina só é mencionada na documentação do Arsenal a partir do regula-
mento de 1832 e certamente era voltada para as artes e não para uma produção manufa-
tureira, ao contrário dos modeladores de uma fundição, como os da Fábrica de Ferro de
Ipanema. Na relação das atividades das oficinas de 1836, a única em que encontramos
essa especialidade mencionada, diz que nela havia apenas o contramestre e dois apren-
dizes e que naquele ano “o estudo que atualmente se faz nesta oficina, é sobre uma está-
tua de sua majestade o Imperador”,160 o pessoal só tendo expediente da parte da manhã.
8.2.7.3 Desenhadores
Em 1820, reproduzindo uma prática que já havia no Trem de Pernambuco, foi
criada uma aula de desenho no Arsenal, lecionada pelo alferes Manuel Antônio da Silva
Brandão, o ensino sendo facultado não somente aos aprendizes da instituição, mas a
todos os que quisessem comparecer.162
Consideramos importante fazer uma nota sobre a aula, tendo em vista a impor-
tância do desenho para o desenvolvimento de atividades manufatureiro-técnicas: ao con-
159
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa nº 10 Relação das obras, 1848, op. cit.
160
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836, op. cit.
161
Diário do Rio de Janeiro, ano XVIII, nº 14. Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 1839. p. 3.
162
REINO UNIDO – Decisão nº 54, Guerra, 11 de setembro de 1820. Manda admitir na aula de desenho
do Arsenal de Guerra as pessoas que de seu estudo se quiserem se aproveitar.
403
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
A presença de um mestre indica que havia uma oficina com essas especialidades,
mas na documentação ela só aparece depois do regulamento de 1832, havendo muito
poucas informações sobre ela. Em 1836, se informava que ela só funcionava pela parte
da manhã e que, além dos seus alunos regulares, permitia-se que os aprendizes de outras
oficinas comparecessem a organização.165 O documento, contudo, não discrimina os
produtos feitos pelos desenhadores, ao contrário do que acontecia com todas as outras
do AGC. Naquele ano, havia apenas um contramestre empregado na oficina, que ensi-
nava a onze aprendizes. Para nós, isso indica que ela era mais um curso de formação de
desenhistas do que uma oficina propriamente dita. Como uma nota, observamos que,
como profissão, a profissão de desenhador é citada nos relatórios do ministério da Guer-
ra como estando ligada ao Arquivo Militar, mas estes profissionais do Arquivo eram
oficiais de engenharia, com formação superior, e não artesãos.
163
MATOS, 1939, op. cit. p. 27.
164
ALMANAK do Rio de Janeiro para o ano de 1827, op. cit. p. 214.
165
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836, op. cit.
404
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
No AGC, a especialidade ainda aparecia como uma das oferecidas para o ensino
a aprendizes em anúncios em junho de 1840, 166 mas depois disso, na relação de pessoal
de 1844, ela aparece como parte de uma oficina maior, de “desenhadores e gravadores”.
Depois de 1857 ela deixa de ser citada na documentação do AGC.
8.2.7.4 Gravadores
Esta é a última das oficinas do regulamento de 1832, já existindo antes, dividida
em duas: as de lavrantes e abridores (ver acima). A função da oficina de gravadores era,
basicamente, fazer gravações em peças, podendo ser artísticas (ver Figura 51), como as
das oficinas de abridores e lavrantes, ou utilitárias, como as que eram usadas para iden-
tificar um fecho de arma regulamentar, esta sendo uma das atividades regulares desses
trabalhadores.167 Dessa forma, ao contrário dos lavrantes e abridores, os gravadores em
tese não podiam ser considerados como meramente artistas, tendo uma função real na
instituição, de forma que essa oficina continuou a existir durante todo o período por nós
analisado.
Ainda assim, parece que no início da história desta oficina ela tinha um aspecto
mais artístico: o mapa de pessoal das oficinas de 1836 informa que havia apenas três
trabalhadores na oficina, um contramestre, um aparelhador e um aprendiz e os serviços
listados como sendo feitos ali eram de “chapas de impressão e selos de armas”,168 ou
seja, basicamente o que faziam os abridores, continuando a não ter uma função técnica.
Isso talvez explique por que as oficinas de desenhadores e escultores tenham sido incor-
poradas aos gravadores a partir de 1844, a oficina combinada nunca tendo um número
expressivo de artesãos, o máximo sendo de quinze operários em 1861.
166
Diário do Rio de Janeiro, ano XIX, nº 134, Rio de Janeiro, 16 de junho de 1840. p. 2.
167
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação das obras mais triviais que se gravam na oficina de gravado-
res, e que se podem dar preço da mão-de-obra e matéria prima. Manoel Alves Guerobino da Silva
Penna, mestre da oficina de gravadores no Arsenal de Guerra da Corte. Rio de Janeiro, 10 de mar-
ço de 1852. Mss. ANRJ. IG7 12.
168
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836, op. cit.
169
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício do diretor, ten. cel. em comissão, Francisco Antônio Raposo
ao ministro da Guerra. José Marianno de Matos, informando sobre a remessa de armas e de máqui-
nas para a Conceição. Rio de Janeiro, 20 de abril de 1864. Mss. ANRJ. IG7 346.
405
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Uma medida relativamente simples, mas que demorou muito a ser tomada, já que essas
as gravações nas armas eram simples e padronizadas, no entanto o método artesanal
continuando a ser usado até então.
170
A peça, sem número de tombo, foi examinada no Museu de Armas Históricas Ferreira da Cunha, onde
não tinha número de registro, antes da mesma ser doada ao Museu Imperial.
171
Diário do Rio de Janeiro, ano XVII, n. 102, Rio de Janeiro, 7 de maio de 1838. p. 2.
406
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
gaste, de forma que sua reposição não era uma necessidade constante. Por outro lado,
deve-se dizer que casas civis especializadas no ramo eram raras.
Talvez por isso em 1844 o ministro da Guerra determinou que fosse criada uma
oficina de instrumentos matemáticos no AGC, 172 ordenando a aquisição de ferramentas
e maquinismos para a equipar, bem como uma coleção de instrumentos para servirem de
modelo. Igualmente, no final daquele ano um oficial foi enviado para a Europa para
contratar dois artesãos e comprar uma máquina de cortar dentes de engrenagens, a justi-
ficativa do ministro sendo que “Não havendo nesta Corte, artistas hábeis, não já para
construir, mas para concertar convenientemente os instrumentos mais usados nas opera-
ções topográficas e geodésicas” 173 para o fornecimento do exército.
172
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da Guerra, Jerônimo Francisco Coelho ao diretor
do Arsenal de Guerra da Corte, Brigadeiro João Eduardo Pereira Colaço Amado pedindo uma re-
lação de artigos para uma oficina de instrumentos matemáticos. Rio de Janeiro, 5 de julho de 1844.
Mss. ANRJ. IG7 405.
173
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório, 1ª sessão da 6ª legislatura, 1845. op. cit. p. 13.
174
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa nº 10 Relação das obras, 1848, op. cit.
175
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro, Conde de Caxias, ao Diretor do Arsenal de Guer-
ra, Brigadeiro João José da Costa Pimentel, nomeando Antônio Corrêa de Mello e Oliveira como
Construtor. Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1855. Mss. ANRJ. IG7 351.
407
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
8.2.8.2 Maquinistas
A última das oficinas do Arsenal surge igualmente em 1844, também com um
aspecto técnico, mas agora voltada diretamente para a produção manufatureira: foi a de
máquinas. Ela está intimamente associada com a questão de mecanização do Arsenal,
que será abordada em outro ponto deste capítulo, de forma que só trataremos do básico
aqui. A ideia atrás de sua criação era modernizar a produção da manufatura, adotando-
se máquinas para facilitar certos trabalhos e provendo pessoal para operá-las – aqui se
deve apontar que o termo maquinista tem o mesmo sentido que engineer (engenheiro)
em inglês, o de operador de engenhos, ou máquinas, pois na Inglaterra esse era um ca-
minho para a formação técnico profissional superior. Na época, a distinção entre o en-
genheiro operador de máquinas e o engenheiro, profissional de nível superior, era bem
menor que hoje.
Dessa forma, os trabalhos iniciais dessa oficina foram o de prover o próprio Ar-
senal de máquinas, resolvendo inclusive o problema com algumas que já existiam há
anos sem aproveitamento, em alguns casos tendo se danificado por incúria, com perda
de peças, como o próprio motor a vapor original da manufatura.177 Assim, em 1850 se
fez uma segunda caldeira para o motor do AGC, que resultou em uma peça de 1,67 m
de diâmetro, três metros de comprimento, 6 mm de espessura, pesando 1.100 kg.178 Ou-
tra responsabilidade dos operários da oficina era a operação das próprias máquinas.
176
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório, 1ª sessão da 6ª legislatura, 1845. pp. 15-16.
177
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da Guerra apresentado à as-
sembleia geral Legislativa na 4ª sessão da 6ª legislatura pelo respectivo ministro e secretário de Es-
tado, João Paulo dos Santos Barreto. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1847. p. 17.
178
BRASIL – Arsenal de Guerra. Informação de Carlos Rouhette, engenheiro, ao vice-diretor do Arse-
nal, Major de engenheiros Vicente Marques Lisboa, sobre preços de uma segunda caldeira para a
máquina a vapor que se constrói no Arsenal. Rio de Janeiro, 26 de setembro de 1850. Mss. ANRJ.
IG7 11.
408
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
gou a ter ferreiros e os tornos para trabalho com ferro foram transferidos para ela, apesar
destes serem pouco numerosos – em 1863 eram apenas dois, um número que foi sufici-
ente para as necessidades da manufatura, até que a crise daquele último ano fez com que
se pedisse emprestado mais um torno à Marinha. 179
Com essas funções ela chegou a ter um grande número de trabalhadores: eram
87 no ano da Questão Christie, 1863 e eles exerciam as funções técnicas do Arsenal: o
mestre da oficina às vezes aparece na documentação como engenheiro, em 1858 rece-
bendo um vencimento muito alto, superior ao de um general do exército.180 Além disso,
recebia tarefas técnicas: quando se precisou fundir canhões convencionais em 1857, se
determinou que o Construtor – no documento chamado de “maquinista” – fizesse os
desenhos das peças, inglesas e portuguesas, para serem feitos na Ponta da Areia.181
Consideramos essa medida de nota por dois aspectos, o primeiro para demonstrar que os
operários é que exerciam a função técnica no Arsenal. A ordem demonstra que essa
tarefa, a de padronizar o projeto do armamento, que tinha sido um dos passos vitais na
França do século XVIII para a implantação de um sistema manufatureiro militar, não
era feita por um oficial técnico, de artilharia ou engenharia. Em segundo lugar – e talvez
mais importante –, mostra que não havia sequer o conceito de padronização, o ministro
da guerra ordenando que fossem preparados desenhos de dois conjuntos diferentes de
bocas de fogo, de origens e dimensões diferentes.
179
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Antônio Correa de Mello e Oliveira, construtor a Joaquim da
Silva Maia, capitão, 2o Ajudante, solicitando o empréstimo de um torno. 27 de janeiro de 1863. Mss.
ANRJ. IG7 25.
180
O vencimento dos mestres de maquinistas e de instrumentos matemáticos (o construtor), pela tabela de
1858, era de 6.000 réis diários, o que equivaleria a 156.000 réis por mês. O soldo de um brigadeiro
era de 144.000 réis mensais. BRASIL – Ministério da Guerra. Tabela de jornais dos mestres, ofici-
ais, mancebos e Aprendizes do Arsenal de Guerra da Corte. Bernardo Joaquim de Matos, Oficial
Maior da Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra. Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 1858. Mss.
ANRJ. IG7 518.
181
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro da Guerra, Conde de Caxias, ao Diretor do Arse-
nal de Guerra, João José da Costa Pimentel para emitir ordem ao maquinista A. Correa de Melo
para que, com toda a urgência, apronte os riscos, desenhos e perfis de bocas de fogo de campanha.
Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1857. Mss. ANRJ. IG7 396.
409
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
8.2.8.3 Troço
Confessamos nossa ignorância sobre essa oficina, que só aparece em muito pou-
cos documentos que pesquisamos. Em 1854, na relação de jornais pagos aos operários
do AGC, são mencionados os “serventes da casa do troço”.184 Em 1861 eram seis operá-
rios, cinco civis e um Aprendiz Menor trabalhando nessa oficina, que funcionava junto
da de construção. Contudo, todos foram demitidos no corte de pessoal daquele ano,
182
BRASIL – Ministério do Império. Relatório de 1845. op. cit. Mapa do pessoal do arsenal de guerra da
Corte.
183
Isso não inclui as oficinas do Laboratório do Castelo e da Fábrica de Armas da Conceição.
184
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Diretor, Jeronimo Francisco Coelho, ao Ministro da Guerra,
Pedro d’Alcântara Bellegarde, com proposta de tabela, regulando a tarifa dos jornais dos operários
deste arsenal. Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1854. Mss. ANRJ. IG7 14.
410
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
quando foram desligados mais de cem trabalhadores do Arsenal. 185 No ano seguinte
aparecem em dois mapas de pessoal, de janeiro e março, que listam, respectivamente
cinco e dez operários civis trabalhando nela, sem pessoal da mestrança, enquanto em
agosto são mencionados dois africanos livres “na oficina do troço (arsenal)”.186 O único
ofício que encontramos associados a eles era que em 1863 dois operários do troço esta-
vam ensinando os praças do 1º Batalhão de Artilharia a fazer tacos,187 dando a entender
que era uma atividade ligada à produção de munição.
8.2.8.4 Pedreiros
A oficina de pedreiros existiu na década de 1820,188 mas não foi uma das con-
templadas pelo regulamento de 1832 – e não deveria sê-lo, pois eles não produziam
nada para o exército, eram trabalhadores usados nas obras do exército no Rio de Janeiro,
tendo um mestre de obras e alguns artesãos entre seu pessoal. 189 Apesar disso, era uma
atividade importante para a instituição, pois o AGC executava obras em outras instala-
ções militares190 e o próprio Arsenal estava em permanente expansão, com a construção
de sucessivos anexos, tanto é que em 1850, quando se deu a ordem para demitir os es-
cravos de aluguel no AGC, uma das exceções aprovadas foi a manutenção dos cativos
serventes de pedreiro.191
Curiosamente, a oficina nunca foi criada oficialmente, apesar de ela às vezes ser
mencionada entre as do AGC (ver Tabela 15) e de sempre ter tido um contingente razo-
ável de pessoal – chegaram a ser 67 trabalhadores em 1852. Também de forma exótica,
pois não existia como tal, a oficina de pedreiros foi extinta por um aviso do ministro em
185
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ordem do dia 83. Quadro demonstrativo do pessoal dos operários
militares das diferentes oficinas que ficam nos respectivos serviços e dos que são eliminados. Rio de
Janeiro, 24 de outubro de 1861. Mss. ANRJ. IG7 23.
186
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa demonstrativo do pessoal existente atualmente em cada uma das
oficinas do Arsenal de Guerra da Corte, organizado na conformidade da ordem do S. Ex.a o Minis-
tro da Guerra expressa no ofício da 1a Diretoria Geral da Guerra de 28 do corrente. Secretaria do
Arsenal de Guerra da Corte, 31 de março de 1862. O secretário José Antônio Frederico da Silva.
Mss. ANRJ. IG7 24.
187
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso da 1ª Diretoria Geral, 1ª Seção, Antônio Manoel de Mello, ao
Diretor do Arsenal, José de Vitória Soares de’Andréa, mandando recolher ao Arsenal de Guerra da
Corte os dois operários da oficina do troço. Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1863. Mss. ANRJ.
IG7 356.
188
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa demonstrativo da despesa feita na Inspeção do Arsenal do Exér-
cito e do valor das obras executadas nas diferentes oficinas no mês de agosto de 1823, Salvador Jo-
sé Maciel. s.d. Mss. ANRJ. IG7 2.
189
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836, op. cit.
190
Em 1844, o Arsenal publicou anúncios contratando serventes para obras no Quartel do Campo. Diário
do Rio de Janeiro, ano XXIII, nº 6521, Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 1844. p. 2.
191
BRASIL – Arsenal de Guerra. Aviso o ministro da Guerra, 19 de novembro de 1849. op. cit.
411
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
1861,192 as relações de pessoal deste ano até 1864 não mais mencionando trabalhadores
dessa categoria. Apesar de estar fora do nosso recorte, devemos dizer que essa oficina
volta a aparecer como tal em 1865,193 ainda sem ter sido criada oficialmente.
8.3 Remadores
A marinhagem do Arsenal de Guerra não compunha uma oficina ou mesmo uma
repartição. Não tinha um mestre, apenas um patrão, o indivíduo que controla uma em-
barcação de pequeno porte. No entanto, quase sempre aparece nas listagens de oficinas
(ver Tabela 15), com um número razoável de trabalhadores – eram 35 em 1856, sendo
responsáveis por tripular a pequena flotilha do AGC: ainda em 1856, eram uma lancha,
três escaleres, dois botes, uma canoa e mais uma pequena galeota, o diretor informando
que “nem o material, nem o pessoal são suficientes para o serviço, sendo necessário
constantemente despender-se grandes quantias com o aluguel de faluas”. 194
Essas embarcações eram usadas para fazer transportes na baía, entre os diferen-
tes fortes e os depósitos de pólvora, bem como fazer o transbordo para os navios da ma-
rinha e mercantes: as unidades do exército que embarcavam para fora do Rio de Janeiro
o faziam normalmente do Arsenal, que tinha uma ponte de embarque, provida de um
guindaste e, depois de 1856,195 uma pequena ferrovia interna, com pouco mais de qui-
nhentos metros de extensão, para fazer a movimentação de peças de maior porte, facili-
tando o transbordo de mercadorias e pessoal para os navios oceânicos.
192
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da Guerra, Conde de Caxias, ordenando a extin-
ção da oficina de Pedreiros. Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1861. Mss. ANRJ. IG7 492.
193
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa demonstrativo do número de Empregados, Serventes e mais ope-
rários deste Arsenal sob a fiscalização do 2o Ajudante. Rio de Janeiro, 27 de setembro de 1865.
Mss. ANRJ. IG7 27.
194
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório, 28 de fevereiro de 1856, op. cit.
195
id.
412
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
ou esforço físico, apesar de poder ser muito exigente para os trabalhadores: Mary Ka-
rasch menciona que o trabalho de costuras feito por escravos era tão intenso que chega-
va a deformar seus dedos.196 Também era laboriosa em termos de gasto de tempo: eram
horas para fazer uma peça, mesmo simples. Dessa forma, a produção em massa de far-
das podia ser feita mais facilmente usando a divisão de trabalho, com alguns artesãos
cortando o tecido de acordo com as dimensões aceitas – o exército preparava uniformes
de apenas três tamanhos –, o serviço de cozimento sendo feito por operários ganhando
menos. Assim, em 1845 havia no Arsenal do Rio Grande do Sul seis oficiais “de corte e
costura” e 55 “oficiais de costura”, estes últimos recebendo menos do que os primei-
ros.197
196
KARASCH, Mary. Slave Life in Rio de Janeiro. Princeton: Princeton University, 1987. p. 201.
197
BRASIL – Arsenal de Porto Alegre. Relatório, Francisco Felipe de Macedo e Vasconcelos, Ten.-cel.
Diretor. Porto Alegre, 19 de fevereiro de 1845. Mss. ANRJ. IG7 32.
198
RELATÓRIO da comissão de Exame do Arsenal de Guerra da Corte. p. XX. In: BRASIL – Ministério
da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da Guerra apresentado à Assembleia Geral Legis-
lativa na primeira sessão da nona legislatura pelo respectivo ministro e secretário de estado Manoel
Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro: Laemmert, 1853.
199
BRASIL – Decreto nº 778, de 15 de abril de 1851. Cria na Corte uma Repartição com o título de
Contadoria Geral da Guerra. artigos 58 a 63.
413
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Esses atrasos tornam-se curiosos, quando vemos que a Repartição também tinha
uma natureza social, de ajuda a pessoas necessitadas, “famílias e pessoas pobres”, 201 a
documentação oficial até usando palavras sentimentalistas para designar as pessoas que
recebiam o trabalho:
200
Diário do Rio de Janeiro, ano XXXIII, nº 6560, Rio de Janeiro, 29 de fevereiro de 1844. p. 3.
201
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra, Rio de Janeiro 30 de janeiro de 1861.
Mss. ANRJ, IG7 23.
202
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Diretor interino do Arsenal, Manoel Ignácio Brício ao Minis-
tro da Guerra, Pedro d’Alcântara Bellegarde. Rio de Janeiro, 13 de maio de 1854. Mss. ANRJ, IG7
14.
203
BRASIL – Arsenal de Guerra. Tabela Preços dos feitios de costuras Arsenal de Guerra, Rio de Janei-
ro, 13 de maio 1854. Mss. ANRJ, IG7 14.
414
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
pregados nesse ofício eram mulheres – uma das únicas oportunidades que tinham, den-
tro de um restrito mercado de trabalho aberto a elas no período. Por sua vez, o emprego
de mulheres era visto como negativo, um diretor da manufatura escrevendo que o pes-
soal do Arsenal tinha que lidar “com pessoas que, pelo seu sexo, não deviam ser tão
repetidas vezes admitidas num estabelecimento militar, em que deve reinar uma rigoro-
sa polícia”.204
Mesmo assim, a procura por esses serviços era muito grande, isso a ponto de em
pelo menos três ocasiões ter ocorrido reduções nos valores pagos aos trabalhadores ex-
ternos, por causa da grande procura de pessoas para fazerem essas costuras: em 1840,
houve uma redução de cerca de 30% preços estabelecidos.205 Em 1852 um empreende-
dor procurou o ministério da Guerra, oferendo um rebate (desconto) de 40 réis por peça
cosida.206 Finalmente, quando foi adotado o sistema de contratos de maiores vultos, o
desconto que se exigia era de 30 a 40%, a procura pelo trabalho ainda sendo alta – como
colocou o diretor do Arsenal: “Não obstante isto [os descontos,] os pretendentes às cos-
turas que se dão para fora do Arsenal são em tamanha quantidade que ameaçam fazer
quase uma revolução por não haver com que possa satisfaze-los”. 207
204
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Pedro d’Alcântara Bellegarde, ao ministro da Guer-
ra, Manuel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro, 3 de maio de 1853. Mss. ANRJ. IG7 14.
205
PREÇOS de costuras mandadas manufaturar fora deste arsenal tanto os da tabela antiga como os da
moderna. Rio de Janeiro, 7 de julho de 1840, Thomaz José de Aguillar Saúde Nabo. 7 de julho de
1840. In: VASCONCELLOS, João Rangel de. Apologia do coronel Antônio João Rangel de Vas-
concellos, diretor do Arsenal de Guerra. Rio de Janeiro, tipografia do Diário, 1840. p. 23.
206
Diário do Rio de Janeiro, ano XXXI, nº 9030. Rio de Janeiro, 9 de julho de 1852.
207
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Coronel Antônio Francisco Raposo, ao o ministro da
Guerra, José Antônio Saraiva, sobre alistamento de alfaiates. 20 de agosto de 1865. Mss. ANRJ.
IG7 27.
208
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal, 31 de janeiro de 1859. op. cit.
209
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra, Rio de Janeiro 30 de janeiro de 1860.
Mss. ANRJ, IG7 17. Deve-se apontar que o Arsenal de Marinha também tinha sua repartição de cos-
turas.
415
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
das peças a eles confiadas, e a reparação das faltas e prejuízos que tais costureiros cau-
savam”.210 Em 1858 havia um atraso na entrega de nada menos do que 14.438 peças.211
Por sua vez, com tantas pessoas trabalhando sem acompanhamento, haveria difi-
culdades com a qualidade dos produtos era natural. Muitos dos objetos entregues eram
rejeitados, com prejuízo para o governo e para as trabalhadoras: um artigo de jornal,
provavelmente exagerando muito, menciona uma taxa de rejeição de 25% das peças
apresentadas.212 Para o Arsenal seria possível reaproveitar essas peças, desfazendo as
costuras e entregando as peças para outras costureiras – talvez por isso houvesse a práti-
ca das trabalhadoras terem que usar suas próprias linhas nos trabalhos. Contudo, mesmo
assim, isso representava custos em termos de tempo e mão de obra do governo.
Tentou-se disciplinar a ação dos trabalhadores externos com uma série de medi-
das paliativas, como a reiterada exigência da entrega de feitios atrasados, publicados em
vários jornais e exames mais rigorosos sobre a qualidade dos produtos acabados. Con-
tudo, as ações sempre esbarrariam no pouco controle que a Repartição de Costuras po-
210
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório de 1861. op. cit.
211
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa resumo das costuras que se acham fora do Arsenal para se ma-
nufaturar desde 1845 até o fim de agosto do corrente ano. Hermenegildo Machado do Nascimento.
Major graduado encarregado da distribuição. Rio de Janeiro, 23 de junho de 1858. Mss. ANRJ. IG7
15.
212
Diário do Rio de Janeiro, ano LVII, nº 239, op. cit.
213
Diário do Rio de Janeiro, ano XXII, nº 135, Rio de Janeiro, 19 de junho de 1843.
214
Diário do Rio de Janeiro, ano XXXI, nº 8913, Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 1852.
215
BRASIL – Arsenal de Guerra. Parecer de Joaquim Francisco Viana [senador], sobre costuras do
Arsenal. 14 de fevereiro de 1860. Mss. ANRJ. IG7 17.
216
Diário do Rio de Janeiro, ano LVII, nº 239, Rio de Janeiro, 31 de agosto de 1862.
416
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
deria exercer sobre o serviço externo. Como uma solução, em 1853 se sugeriu a adoção
de contratos de grande porte, mas isso só viria a ser adotado sete anos depois, o Arsenal
passando a anunciar na imprensa a contratação dos serviços de costuras em grande
quantidade, que seriam assumidos por empreiteiros.
A medida de distribuir as costuras por contrato foi adotada em 1860, com gran-
des resistências – um dos argumentos levantados na imprensa é que isso prejudicaria as
pessoas desvalidas e não resultaria em economias para o governo.217 Isso parece ser
verdade, pelo menos no que tange à ação social, pois junto com anúncios para a licita-
ção de grandes quantidades de peças, como para 5.458 camisas, 2.953 fardetas de brim e
2.160 pares de polainas,218 se encontram anúncios de empresas privadas contratando
pessoas especificamente para fazer costuras para o Arsenal, estes empregados obvia-
mente recebendo com descontos sobre o valor pago pelo governo. 219 Assim, um artigo
colocava que:
217
BREVES considerações sobre a desmoralização da época, ass. o Inválido, 27 de abril de 1860. Diário
do Rio de Janeiro, ano XL, nº 37, Rio de Janeiro, 1 de maio de 1860. p. 2.
218
Diário do Rio de Janeiro, ano XL, nº 150. Rio de Janeiro, 23 de agosto de 1860. Deve-se dizer que o
Arsenal não conseguiu licitar esse contrato de imediato.
219
Diário do Rio de Janeiro, ano XL, nº 46. Rio de Janeiro, 10 de maio de 1860. p. 3.
220
Diário do Rio de Janeiro, ano LVII, nº 239, op. cit.
221
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso urgente, do gabinete do ministro Ângelo Moniz da Costa Fer-
raz ao Coronel Dr. Francisco Antônio Raposo, diretor interino do Arsenal de Guerra. Rio de Janei-
ro, 25 de setembro de 1865. Mss. ANRJ. IG7 497.
222
Diário do Rio de Janeiro, ano XLII, nº 234. Rio de Janeiro, 28 de agosto de 1862. p. l.
417
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
223
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão ao dire-
tor do Arsenal, autorizando a mandar fazer no estabelecimento da casa de correção da Corte as
costuras pertencentes a esse arsenal. Rio de Janeiro, 5 de setembro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 498.
224
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro João Lustosa da Cunha Paranaguá ao Diretor do
Arsenal de Guerra da Corte, Dr. Francisco Antônio Raposo, Rio de Janeiro, 18 de dezembro de
1866. Mss. ANRJ. IG7 350.
418
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
mentação do Arsenal é apenas em 1884 e, mesmo assim, ela pertencia a um artesão em-
preiteiro e não ao governo.225
419
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
Assim, era lógico a instalação de força motriz no Arsenal, o primeiro motor sen-
do usado para as “rodas da oficina de torneiros, até hoje movidas a braços”,231 as má-
quinas de aplainar; as de cunhar e os ventiladores da ferraria. Não era um motor muito
potente, tinha apenas 6 H.P., a ponto do diretor do Arsenal ter escrito que, como essas
oficinas exigiam maior força, talvez fosse necessário alternar o uso das máquinas.232
Este foi um problema que provou não ser grave, pois já em 1852 seriam acionadas tam-
bém os tornos existentes, duas serras e estavam em construção uma máquina de cortar e
punçar metais; um grande torno; seis de polir e amolar; uma de aplainar madeira e outra
de furar cartucheiras. Havia também em projeto a construção de uma máquina de aplai-
nar ferro (uma fresa), uma de atarraxar e outra de brocar.233
229
A EXPOSIÇÃO Nacional. Diário do Rio de Janeiro, nº 63, Rio de Janeiro, 4 de março de 1862.
230
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório, 1852, op. cit. p. 6.
231
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Estado do Arsenal, 1851, op. cit.
232
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do estado do pessoal, 1836, op. cit.
233
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra, Marechal de Exército José Maria da
Silva Bentancourt, Rio de Janeiro, 1 de março de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
234
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra Marechal José Maria da Silva
Bittencourt, para o ministro da Guerra, Manuel Felizardo de Souza e Mello, sobre a necessidade de
comprar uma nova máquina a vapor. Rio de Janeiro, 11 de junho de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
420
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
bem como outras máquinas foram incorporadas ao AGC e, junto com elas, uma terceira
máquina a vapor foi instalada na Fábrica de Armas da Conceição.235
235
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor Alexandre Manoel Albino de Carvalho ao Ministro da
Guerra, Conselheiro Sebastião do Rego Barros sobre condução de uma máquina a Vapor para a
fortaleza da Conceição. Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1859. Mss. ANRJ. IG7 16.
236
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal José Maria da Silva Bittencourt, Marechal
de Exército, ao Ministro da Guerra, Conselheiro Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janei-
ro 13 de janeiro de 1851. Mss. ANRJ. IG7 12.
237
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Maquinista Carlos Rouhette sobre a substituição dos tornos
de madeira por outros de ferro. Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 1851. Mss. ANRJ. IG7 12.
238
Para uma noção do tamanho desse torno, uma peça de 24 libras de bronze pesava 2.690 kg e tinha três
metros de comprimento. CARUANA, Adrian B. The identification of British Muzzle Loading Artil-
lery : Part 2, the piece. The Canadian Journal of Arms Collecting. vol. 22, n° 1 (feb. 1984). p. 17.
421
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
239
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Construtor do Arsenal, Antônio Correia de Melo e Oliveira
ao diretor. Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 15.
240
BRASIL – Ministério da Guerra. Carta do Ministro da Guerra, Jerônimo Francisco Coelho ao minis-
tro do Brasil em Londres, Francisco Ignácio de Carvalho Moreira sobre compra de máquinas para
o Arsenal. Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 15.
241
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Alexandre Manoel Albino de Carvalho ao ministro
da Guerra, Conde de Caxias, pedindo exoneração. Rio de Janeiro, 8 de maio de 1862. Mss. ANRJ.
IG7 534.
242
Peça SIGA 015882. O canhão, que tem 2,74 m, também teve seu bocal reforçado, sendo torneado e m
um dos tornos do Arsenal.
243
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício do ministro, Antônio Manoel de Mello ao diretor do Arsenal,
José de Vitória Soares de Andréa. Rio de Janeiro, 19 de maio de 1863. Mss. ANRJ. IG7 392.
422
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
muito tempo e é serviço que só pode ser feito por oficiais de 1a classe
os quais vencem maior jornal. 244
Ou seja, a manufatura de artigos de precisão ainda tinha ser feita artesanalmente
o que, como já colocamos no capítulo 5, implicava em lentidão na produção, imprecisão
nos resultados, menor qualidade dos produtos e custos mais elevados dos mesmos.
244
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Coronel José Victoria de Soares de Andrea, ao mi-
nistro da Guerra, José Mariano de Mattos, sobre artigo publicado no Jornal do Comércio. Rio de
Janeiro, 10 de março de 1864. Mss. ANRJ. IG7 26.
245
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos escravos que existiam nas oficinas e que foram despedidos
hoje, Manoel José da Silva, apontador. Rio de Janeiro, 21 de novembro de 1849. Mss. ANRJ.
IG710.
423
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
francesas produziam apenas uns poucos tipos de bens (espingardas, carabinas, mosque-
tões, clavinas, pistolas e, em instalações especializadas, armas brancas e reparos de arti-
lharia – ver Figura 23), todos os produtos com características básicas idênticas.
Ao contrário disso, o AGC, tinha que fornecer tudo para o exército, inclusive
bens que ele próprio não tinha condições de fazer, tendo que comprar no mercado civil
– só que o Exército procurava evitar isso. Dai a permanência de oficinas arcaicas e que
certamente poderiam ser vistas como inúteis, tais como as de instrumentos bélicos ou a
de abridores. Cremos que também é claro que não havia uma proposta de mecanização
das oficinas, com todas as possibilidades que isso criaria. O processo de aquisição e
instalação de máquinas foi tardio, não sistemático e incompleto, sem haver um objetivo
claro em vista, tudo isso indicando que a organização permaneceu como uma pré-
indústria, apesar de ter tido condições de avançar para um estágio mais avançado, o de
fábrica.
Finalmente, devemos dizer que não há uma justifica para a resistência em adotar
um sistema de divisão de trabalho, com as oficinas colaborando entre si de forma mais
sistemática. Isso já era feito no País (ver Figura 12) e poderia ter sido implantado sem
problemas no AGC. Contudo, pelo contrário, se observa até a duplicação de esforços,
como a existências de oficinas de espingardeiros, coronheiros, latoeiros e abridores tan-
to da Fortaleza da Conceição quanto no Arsenal propriamente dito. Algo que, em parte,
explica o imenso quadro de artesãos empregado na instituição (ver Gráfico 22). Além
disso, era um corpo de trabalhadores que apresentava seus problemas, também mal re-
solvidos, como trataremos no último capítulo de nosso trabalho.
Para encerrarmos o presente capítulo apontamos que a história das oficinas indi-
ca uma série de problemas, alguns que escapavam ao controle da administração do pró-
prio exército. Com uma situação política muito acidentada, seria difícil manter uma evo-
lução constante na instituição, o caso mais grave sendo a Regência, que significou uma
solução de continuidade no avanço técnico da instituição, que regrediu a padrões bem
mais primitivos do que tinha pouco antes. O exemplo mais evidente disso sendo o do
fechamento da Fábrica de Armas e a transferência de suas atividades para o Arsenal. A
instalação isolada tinha uma imensa possibilidade de criar uma verdadeira indústria me-
canizada no País, como trataremos no capítulo seguinte, mas foi simplesmente extinta,
por causa de uma visão imediatista, de economia de recursos, como parte de um proces-
so de desmonte do próprio exército.
424
Capítulo 8 – Uma manufatura, muitas oficinas.
425
Capítulo 9 – Repartições externas
Sumário
9 Repartições Externas
9.1 O laboratório do Castelo
9.2 A Casa de Armas da Conceição
9.2.1 Os armeiros alemães
9.2.2 A Fábrica de Armas da Conceição
9.2.3 A Nova Fábrica da Conceição
9.3 A Oficina de foguetes/Laboratório Pirotécnico do Campinho
9.4 Um projeto de fábricas
427
Capítulo 9 – Repartições Externas
9 Repartições Externas
Além das oficinas localizadas na instalação central do Arsenal, ele, como já foi
comentado, teve três outras “repartições”, que não funcionavam na ponta do Calabouço.
A mais importante em termos de força de trabalho, a Fábrica de Armas da Conceição,
surgiu como uma entidade independente, com sua própria organização administrativa.
Outra, o Laboratório Pirotécnico do Castelo, foi criado de forma “semi-independente”,
sendo depois incorporada ao AGC. Finalmente, a Oficina de Foguetes/Laboratório Piro-
técnico do Campinho existiu por muitos anos em uma espécie de “limbo” administrati-
vo, sem ter sido oficializada, mas, como as outras, dependendo, em maior ou menor
grau, para seu funcionamento do Arsenal. Como dito, todas elas não funcionam como
parte do conjunto de prédios do Arsenal, estando afastados dele – o do Campinho fican-
do bem distante, cerca de vinte quilômetros da Ponta do Calabouço.
1
PORTUGAL – Desembargo do Paço. Parecer do Desembargador dos Feitos da Coroa, Joaquim de
Amorim e Castro, sobre a propriedade do forte de São Januário. Rio de Janeiro, 23 de janeiro de
1812. Mss. ANRJ. Coleção Polidoro, maço 12.
2
PORTUGAL – Decreto de 24 de janeiro de 1810. Cria o lugar de diretor do Laboratório de Fogos
Artificiais.
428
Capítulo 9 – Repartições externas
A instalação nunca foi muito grande: ainda em 1837 tinha como corpo funcional
apenas um tenente encarregado, quatro artífices de fogo, operários militares especializa-
dos na fabricação de artefatos pirotécnicos e, ocasionalmente, de dez a vinte aprendizes
enviados do Arsenal, quando havia a necessidade de aumentar a produção.5 Em 1851,
em plena crise causada pela Guerra contra Oribe e Rosas (1851-1852), o Laboratório do
Castelo tinha apenas um fiel, dois operários paisanos e quatro artífices do fogo. Naquele
ano, quando a produção necessitou aumentar, os trabalhadores regulares foram auxilia-
dos por um destacamento de doze soldados do 1º Batalhão de Infantaria e vinte aprendi-
zes do Arsenal. 6 Mesmo com esse efetivo reduzido e as instalações sendo apenas “três
pequenas casas baixas e mal construídas” 7, preparou-se em alguns meses cerca de um
milhão e oitocentos mil cartuchos e cinquenta mil outros artefatos pirotécnicos.
3
BRASIL – Decreto de 21 de fevereiro de 1832. Dá Regulamentos para o Arsenal de Guerra da Corte,
Fábrica da Pólvora da Estrela, Arsenais de Guerra e Armazéns de depósitos de artigos bélicos.
4
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Antônio João Rangel de Vasconcellos ao ministro da
Guerra, sobre a construção de prédios internos no Laboratório do Castelo. Rio de Janeiro, 14 de fe-
vereiro de 1836. Mss. ANRJ. IG7 20.
5
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício de Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão [vice-diretor do
Arsenal] à Eusébio de Queirós Coutinho Matoso da Câmara, juiz de direito chefe de polícia, pedin-
do entrega de barris de água. Rio de Janeiro, 14 de junho de 1837. Mss. Arquivo Nacional, IG720.
6
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa dos artífices que trabalham nos diferentes artifícios de guerra no
laboratório. Relatório do Arsenal de Guerra. José Maria da Silva Bittencourt, 1 de março de 1852.
Mss. ANRJ. IG7 13.
7
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Estado do Arsenal de Guerra da Corte. José Maria da Silva
Bittencourt, Marechal de Campo e diretor. Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1851. Mss. ANRJ. IG7
12.
429
Capítulo 9 – Repartições Externas
gardas Dreyse. 8 Esta arma, ao contrário das antigas, dependia de uma munição feita de
papel de formato e composição especiais, que só podia ser preparada à máquina. Para
isso foram adquiridas duas delas para enrolar e outra para comprimir papel, obviamente
movidas à mão, já que o laboratório não dispunha de motores.9 Esse cartucho também
necessitava de uma pequena quantidade de fulminato de mercúrio, que era fornecido
pela Oficina de Foguetes do Campinho, que tinha um laboratório químico capaz de pro-
duzir esse produto. De fato, a fabricação dessa munição seria, mais tarde, concentrada
no Laboratório do Campinho, melhor equipado para isso.
8
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia geral legislativa na quarta sessão
da oitava legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, Manoel Felizardo
de Souza e Mello. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1852. p. 8.
9
BRASIL – Arsenal de Guerra. Conta do maquinista Carlos Rouhette ao diretor, Vicente Marques Lis-
boa do recebimento de máquinas. 11 de dezembro de 1851. Mss. ANRJ. IG7 12.
10
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal, Cel. Jeronimo Francisco Coelho ao minis-
tro da Guerra, Pedro d’Alcântara Bellegarde, Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1855. Mss. ANRJ.
IG7 14.
11
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra da Corte. Manoel Albino de Carvalho,
o diretor, ao Conselheiro José Maria da Silva Paranhos, ministro da Guerra. Rio de Janeiro, 31 de
janeiro de 1859. Mss. ANRJ. IG7 16.
12
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, ao
Sr. chefe da 1a Seção da 1a Diretoria Geral da Secretaria de Estado, Mariano Carlos de Sousa Cor-
rea, envia o Relatório do movimento administrativo de 1861. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de
1862. Mss. ANRJ. IG7 24.
430
Capítulo 9 – Repartições externas
A Casa de Armas é um caso específico de Trem (ver capítulo 6), pois original-
mente se destinava a armazenar apenas armamento portátil, algo que normalmente era
feito nos Trens, que mantinham depósitos de outros artigos, tal como artilharia, farda-
mentos e assim por diante.
Em termos históricos, o termo “casa de armas” era um usado do século XVII até
o XIX para indicar o depósito de material bélico de uma unidade militar, como nas for-
talezas. Entretanto, a Casa de Armas da Conceição parece ter sido um caso atípico, tal-
vez por suas dimensões, grandes para a época: o edifício onde eram acomodados os
armamentos ainda existe e é um prédio de 12 metros de frente por 30 de fundo, sendo
um pouco maior que a Casa do Trem de Santos, para efeitos de comparação.
13
RELAÇÃO do sítio, op. cit. s.n.p.
14
SAINT-RÉMY, Pierre Surirey de. Mémoires d'artillerie. Paris: Rigaud, 1707. Prancha 108.
431
Capítulo 9 – Repartições Externas
mento (Figura 52) podia acomodar 3.000 espingardas e clavinas, 15 mas a Casa da Con-
ceição podia receber 10.000 espingardas, 5.000 clavinas e 7.000 espadas.16 Isso apesar
desse número, posteriormente, ter sido considerado como insuficiente, o Arsenal cons-
truindo sua própria Casa de Armas, com capacidade para mais 18.000 armas. 17
15
RELAÇÃO do sítio, que o governador de Buenos Aires D. Miguel de Salcedo pôs no ano de 1735 à
praça da Nova Colônia do Sacramento, sendo governador da mesma praça Antônio Pedro de Vas-
concelos. Lisboa: Francisco Luiz Ameno, 1748. s.n.p.
16
BRASIL –Arsenal de Guerra. Relatório do Estado do Arsenal, 1851, op. cit. Com o aproveitamento de
outros prédios em 1845 chegaram a ficar guardadas 21.000 armas na fortaleza. BRASIL – Ministério
da Guerra. Relatório da Repartição dos Negócios da Guerra apresentado à Assembleia Geral Legis-
lativa na 1ª Sessão da 6ª Legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra,
Jerônimo Francisco Coelho. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1845. p. 14.
17
id. p. 15.
18
CRUZ, J. de Souza. Acontecimentos da Fortaleza da Conceição do Rio de Janeiro, 1844. Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo XXV, 1862. Nendeln: Kraus-Thompson, 1973. p.
454.
19
ALMANAQUES da cidade do Rio de Janeiro para os anos de 1792 e 1794. Anais da Biblioteca Nacio-
nal, vol. 59, 1937. Rio de Janeiro: Ministério da Educação, 1940. p. 303.
432
Capítulo 9 – Repartições externas
20
RELATION et plan des ouvrages reparés et additionaux a la forteresse de Conceição fait par ordres de
son Ex.ce le Marquis vice Roi. Jacques Funck, Rio de Janeiro, 26 de abril e 1771. Mss. Cópia foto-
gráfica da Biblioteca da Marinha.
433
Capítulo 9 – Repartições Externas
Pessoal Qtd
Diretor 1
Fabricantes de canos 3
Desbastador de canos 1
Coronheiros 2
Fabricantes de fechos 2
Ferreiros para baionetas e varetas 2
Desbastadores de baionetas e varetas 2
Latoeiros para as guarnições 2
Torneiros 2
Ajustador 1
Total 18
Tabela 16 – Profissionais necessários para uma fábrica de armas. 21
De acordo com recomendação feita por Heinrich Anschutz em 1802, empresário da Turíngia, fornecedor
do Exército português.
Na elaboração do pedido de pessoal a ser admitido, surgiu uma dúvida interes-
sante: em Suhl a feitura das peças era realizada por artesãos descentralizados, especiali-
zados na manufatura de peças específicas, com alta divisão do trabalho. As armas de-
pois sendo montadas em um estabelecimento central, tal como em Saint-Étienne, tratada
anteriormente (ver página 219). No entanto, em Portugal, haveria uma fábrica central,
de forma que se enviou para o empresário responsável pela contratação duas hipóteses:
em uma seriam trazidos artesãos com todos os ofícios necessários para o preparo de
uma arma e outra só com alguns especialistas, as peças complementares, como as guar-
nições, devendo ser feita por portugueses.22
A dúvida sobre o engajamento ainda tinha outros aspectos além da questão das
especialidades, um dos maiores sendo o pagamento: foi oferecido aos alemães um salá-
rio anual extremamente alto, de 220.000 réis, que seria acrescido pelos gastos com mo-
21
COELHO, Sérgio Veludo. Os Arsenais Reais de Lisboa e do porto: 1800-1814. Porto: Fronteira do
Caos, 2013. p. 190.
22
id. p. 191.
434
Capítulo 9 – Repartições externas
As instruções dadas para a criação da fábrica eram bem lógicas e julgamos que
vale a pena reproduzi-las, para comparar com o que de fato foi implantado nas tentati-
vas feitas no Brasil e para perceber as intenções dos funcionários do governo português
que planejaram a fábrica:
O sítio, que se deve escolher, deverá ser saudável, e que tenha água
bastante, para fazer mover em todas as estações do ano as Máquinas
de brocar e as de forjar as lâminas para os canos de espingarda; reu-
nindo também as condições de ser junto de algum porto, ou rio nave-
gável, para se diminuir a despesa dos transportes; e, além disso, deve-
rá preferir-se aquele onde o carvão de madeira for mais barato, e em
que não puder com facilidade extinguir a madeira de que ele deve ser
feito, para o que deverão tomar medidas a respeito dos cortes. Da
combinação de todas estas circunstâncias com as de ter carvão de pe-
dra, e ferro por meio de transporte de água resultará a boa escolha da
fábrica.
Os fabricantes deverão estar reunidos em uma povoação junto das
máquinas de furar os canos, e forjar as lâminas, e para cada um deles
se deve construir uma casa, em que trabalhem e vivam: esta casa de-
verá ser térrea, na primeira de fora se fará uma forja, e em duas de
dentro terão a sua família com uma pequena água furtada em que
durmam. Para o estabelecimento das máquinas de furar os canos, e pa-
ra as de forjar as lâminas se estabelecerão barracões.24
Ou seja, o projeto previa os elementos básicos de uma fábrica – e usamos o ter-
mo no seu sentido estrito – mecanizada, a ser movida por força hidráulica, em um local
com reservas de madeira para carvão, havendo a previsão para utilização de carvão de
pedra. Determinava-se que o local tivesse disponibilidade de transporte fluvial, para
23
id. p. 192.
24
APONTAMENTOS para o estabelecimento da Fábrica de Espingardas, Pedro Inácio Álvares Ribeiro
Diretor da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do alto Douro, s.d. [1807]. CARDOSO Jú-
nior, Bernardo Gabriel. O Trem do Ouro. O tripeiro: do porto pelo porto. Nº 1 maio de 1958, V sé-
rie, ano XIV, s.n.t. pp. 20-21.
435
Capítulo 9 – Repartições Externas
diminuir o custo do despacho dos produtos e matérias primas. Por sua vez, ainda havia
presente a questão que os artesãos trabalhariam em oficinas em suas casas, repetindo a
situação das oficinas artesanais arcaicas, o projeto mantendo suas características pré-
industriais.
25
id. p. 21.
26
id. p. 21.
436
Capítulo 9 – Repartições externas
nham uma cláusula específica nesse sentido, como no feito com Koenig, Mendel e
Winkler:
Segundo Viterbo,28 teriam vindo para o Rio de Janeiro pelo menos dezesseis ar-
meiros:
27
CONTRATO entre J. Koenig, J. F. Mendel e J. J. Winkler, armeiros de Spandau e Silvestre Pinheiro
Ribeiro, representante da corte portuguesa na Prússia. Charllotenburg, 1º de setembro de 1806. In:
VITERBO, Sousa. A armaria em Portugal. Lisboa: Academia Real das Ciências, 1908. p. 113.
28
id.
437
Capítulo 9 – Repartições Externas
Armeiros Especialidades
Johann Koenig 29
Mestre fabricante de canos
Johann Gottfried Rottenberger Mestre fabricante de baionetas e varetas
Johann George Bauer Mestre ferreiro
Johann Friedrich Graeff Mestre fabricantes de fechos
João Ernesto Martinho Riga Mestre forjador de canos
José Mathias Dumoulin Mestre forjador de canos
Eustachius Ludwig Lebeck Mestre forjador e polidor de canos
Johann Julius Lebeck Mestre forjador, brocador e polidor de canos
Emmanuel Kraatz Mestre coronheiro
Johann Friedrich Beth Oficial de baionetas
Benjamim Baer Mestre em forjar baionetas
Friedrich Wilhe m Meyer Oficial serralheiro
João Daniel Voigt 30
Oficial espingardeiro
Frederico Beth Oficial espingardeiro
Anastacius Ludwig ?
Jorge Henrique Christiano Aurin ?
João Jorge Baner ?
Tabela 17 – Operários alemães enviados para o Brasil em 1810.31
Deve-se observar que praticamente todos os ofícios necessários para a fabrica-
ção de uma arma estão representados nesta lista. Não aparecem, contudo, três profis-
sões: de fundidores de latão, necessários para as guarnições de uma arma 32; torneiros,
para os parafusos e outras peças; e, finalmente e mais importante, um ajustador, que
montasse o produto final. Talvez isso indique uma mudança com relação à proposta de
Anschulz, de montagem de uma manufatura completa, com todos os ofícios necessários
para a manufatura de uma arma estando representados. Também é possível que essas
profissões fossem as de Ludwig, Aurin e Baner, artesãos sobre os quais não encontra-
mos informações precisas. Entretanto, mesmo que esse fosse não fosse o caso e os três
armeiros não tivessem as profissões ausentes, não cremos que a falta desses técnicos
poderia ser uma dificuldade, pois seria fácil que esses ofícios que não constam da lista
fossem supridos por empregados luso-brasileiros, já que não são altamente especializa-
dos, com exceção do ajustador, como colocado anteriormente.
29
Baer é listado como forjador de baionetas e ferramentas e Voigt como mestre serralheiro no contrato de
1817. BOLETIM do arquivo histórico militar, 16º volume. Vila Nova do Famalicão: Minerva, 1946.
p. 14.
30
Este assinou o contrato de 19 de abril de 1817, sendo listado neste como mestre. id. p. 14.
31
id. p. 181. Os últimos cinco nomes foram coletados em COELHO, op. cit. pp. 197 e 449, onde não
consta a especialidade de alguns dos armeiros.
32
Isso, talvez, por que as armas do padrão montadas na fábrica usassem guarnições de ferro, não temos
como saber.
438
Capítulo 9 – Repartições externas
Assim, os mestres Lebeck são listados como “polidores de canos”, o que indica
que estavam acostumados a trabalhar com rebolos e não com limas. As pedras dos rebo-
los podiam ser giradas manualmente, mas não tão rápido; com a mesma força ou a regu-
laridade que uma roda hidráulica permitiria. Mais grave era o caso de martinetes, que
simplesmente não eram possíveis de serem empregados manualmente. Ou seja, havia
um retrocesso entre o projeto que deveria ser implantado na Europa com relação ao que
era possível fazer no Rio de Janeiro, pelo menos se fosse mantida a escolha da localiza-
ção, na antiga Casa de Armas.
Nesse sentido, deve-se dizer que em 1810 foi autorizado um empréstimo para es-
tabelecer uma fundição de artilharia e fábrica de canos de espingarda, junto da fábrica
de Pólvora da Lagoa,33 tal com tinha se projetado desde dois anos antes. No ano seguin-
te, o decreto de 18 de julho determinava separar terrenos na Fábrica de Pólvora da La-
goa para estabelecer a “fábrica de canos de espingardas e para os brocar e amolar, que
também será necessário fazer perto do lugar onde há águas suficientes para mover en-
genhos d’águas”.34
Desta forma, a nova instituição continuava sofrendo com a situação da sua insta-
lação, inadequada ao método de trabalho dos alemães, que exigia a divisão do trabalho e
o uso de máquinas. No entanto, ela já funcionava bem o suficiente para que o Príncipe
Regente baixasse um decreto determinando que cada regimento de infantaria e artilharia
tivesse uma oficina de espingardeiros, que faria os consertos básicos das armas, o texto
33
PORTUGAL – Decreto de 13 de maio de 1810. Manda contrair um empréstimo para estabelecimento
de uma fabrica de fundição de peças de artilharia.
34
PORTUGAL – Decreto de 18 de julho de 1811. Manda desapropriar as benfeitorias da lagoa de Ro-
drigo de Freitas, necessárias a Fabrica de Pólvora.
439
Capítulo 9 – Repartições Externas
do decreto especificando que a medida foi tomada para que na “Real Casa das Armas se
não interrompa com os ditos concertos a fabricação de espingardas novas que tão neces-
sárias são para o serviço do meu Real Exercito”.35 Na criação da Junta de Fazenda dos
Arsenais, a Fábrica, então ainda Fábrica de Canos da Conceição foi incluída entre as
instituições administradas por ela. 36
Mais sério, em 1817 a fábrica sofreu a perda dos armeiros alemães: seu contrato
de trabalho original expirou naquele ano e alguns deles assinaram um novo, para irem
trabalhar na Fábrica de Armas de São Paulo, também já abordada anteriormente. Inde-
pendente dos efeitos disso, sobre os quais não temos informações, o fim do contrato dos
alemães de fato se torna um problema em termos de história: a partir daquele ano as
informações sobre a Fábrica da Conceição passam a ser ainda mais escassas que já
eram.
O que podemos dizer é que o Almanaque para o Rio de Janeiro39 de 1827 infor-
ma que havia na Conceição um inspetor, com a patente de brigadeiro; mais dois oficiais
do exército, um deles de cavalaria, ou seja, sem formação na área técnica, e cinco funci-
onários administrativos. No topo do quadro técnico, estavam o mestre de espingardei-
ros, “que também rege a oficina de latoeiros e ferreiros”, 40 e os mestres de coronheiros e
abridores. A instituição tinha nada menos do que 129 aprendizes, deixando clara a pro-
35
PORTUGAL – Decreto de 12 de novembro de 1811. Manda estabelecer em cada um dos regimentos
de infantaria e artilharia uma oficina de espingardeiros.
36
PORTUGAL – Alvará de 1º de março de 1811.Cria a Real Junta de Fazenda dos Arsenais, Fabricas, e
Fundição da Capitania do Rio de Janeiro e uma Contadoria dos mesmos Arsenais.
37
CRUZ, op. cit. p. 436.
38
REINO UNIDO – Ministério dos Negócios do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Aviso do
Marquês de Aguiar para a Real Junta do Arsenal do Exército, Fábricas e Fundições. Rio de Janei-
ro, 17 de abril de 1816. Mss. Arquivo Nacional, IG7 33.
39
ALMANAK do Rio de Janeiro para o ano de 1827. Rio de Janeiro: imprensa Nacional, 1827. p. 215.
40
PONDÉ, Francisco de Paula e Azevedo. Organização e administração do Ministério da Guerra no
Império. Rio de Janeiro: Bibliex, 1986. p. 65.
440
Capítulo 9 – Repartições externas
posta de formação de pessoal numa área que era considerada como crítica para o gover-
no.
441
Capítulo 9 – Repartições Externas
O almanaque conclui sua entrada para o ano de 1827, informando que havia na
fortaleza um “moço”, “que rege vários aprendizes pobres, que são domiciliados da dita
fortaleza”.42 Deve-se considerar que esse internato profissional não devia ser parte dos
“Aprendizes Menores”, que trataremos com maior profundidade no capítulo 10, já que a
Conceição, naquele momento, era uma instituição separada do AGRJ.
41
ALMANAK, op. cit. p. 215.
42
id. p. 218.
442
Capítulo 9 – Repartições externas
Parece que depois da saída dos armeiros alemães a fabrica dedicou-se, em parte,
à feitura de armas de luxo, usadas por D. João para presentear dignitários, 46 reproduzin-
do o que tinha ocorrido com a Manufacture d’Armes de Versailles entre 1802 e 1818
(ver nota 126, no capítulo 5). Nesse sentido, deve-se dizer que o Museu Brennand, de
Pernambuco, tem duas espingardas de luxo, de 1814, curiosamente com a indicação que
foram feitas no Arsenal, pelo armeiro João Batista, implicando que não são da Concei-
ção. A coleção do Imperador Pedro I tinha uma espingarda de luxo do mesmo armeiro e
ano, também com a indicação que era do Arsenal, mas que se sabe que não é uma das
duas acima.47
Um texto diz que depois da Independência, o Imperador, “fez com que tivesse
novos, e maiores impulsos a dita fábrica com as repetidas visitas animadoras”, 48 conti-
43
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório do ano de 1830. s.n.t. p. 10.
44
id. p. 10.
45
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da repartição dos negócios da Guerra apresentado à As-
sembleia Geral Legislativa na 3ª sessão da 5ª legislatura pelo respectivo ministro e secretário de Es-
tado, Jerônimo Francisco Coelho. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1844. Nº 5 Mapa do arma-
mento e mais objetos existentes nos armazéns de 1ª classe do almoxarifado do Arsenal de Guerra ora
nesta fortaleza. Fortaleza da Conceição, 1 de abril de 1844.
46
CRUZ, op. cit. p. 436.
47
A coleção de armas de luxo do Imperador ficou guardada na Fortaleza da Conceição depois de sua ida
para a Europa. Entre as 63 armas de fogo listadas, todas de luxo, seis – bem como uma espada – fo-
ram feitas na Conceição; três no Arsenal de Guerra; uma em São Paulo e outra em Goiás. BRASIL –
Fábrica de Armas. Relação do Armamento que se acha no Depósito da Fábrica de Nossa Senhora
da Conceição pertencente à Casa Imperial. Joaquim Caetano da Silva, Brigadeiro, Comandante e
inspetor. Rio de Janeiro, 11 de abril de 1831. IG7320. Entre as armas do imperador havia duas com
a assinatura de João Batista, mas uma tinha o cano de outro armeiro e a assinatura da segunda ficava
na caçoleta, o que não é o caso das peças em Pernambuco.
48
CRUZ, op. cit. p. 456.
443
Capítulo 9 – Repartições Externas
Em 1831, houve uma nova ordem para reduzir as despesas totais para 600.000
réis, incluindo toda a despesa administrativa. Finalmente, houve um novo corte para
500.000 réis, tudo ordenado pela Junta de Fazenda das Fábricas e Arsenais, “em conse-
quência da escassez da consignação decretada pelo corpo legislativo para as despesas do
arsenal do exército. Desses cortes proveio a diminuição dos operários e a destruição da
fábrica”.51
Assim, em 1831, a decisão foi desativar a Conceição. Segundo uma fonte, por
um motivo fútil: o comandante da fortaleza era um general reformado, “que se incomo-
dava com a fumaça das forjas e o barulho dos malhos”, 52 de forma que ele conseguiu
que as oficinas fossem fechadas em outubro de 1831, sendo transferidas para o Arsenal
de Guerra. Isso pode ser um motivo apenas folclórico, apesar de não impossível, 53 só
que as reduções de custos com a Regência e as mudanças do ministério foram uma cau-
sa mais provável para o encerramento das atividades da Fábrica.
49
id. p. 456.
50
ALMANAK Imperial do comércio e das corporações civis e militares do Império do Brasil (...) para
1829. Rio de Janeiro: Plancher-Seignot, 1829. p. 88.
51
id. p. 456.
52
A EXPOSIÇÃO Nacional - XXIV. Diário do Rio de Janeiro. Ano XLII, nº 75. Rio de Janeiro, 17 de
março de 1862.
53
O comando (governo) do forte era um cargo que não tinha relação com o Arsenal. Mais tarde, outro
conflito ocorreu com o mesmo oficial que tinha criado dificuldades em 1831, o Marechal Francisco
Carlos de Morais. Em 1860 o comando do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro era exercido pelo
diretor da Fábrica da Conceição e Morais, “octogenário e doente” mantendo as chaves do portão do
forte, controlava o acesso noturno ao estabelecimento, com prejuízos ao serviço dos bombeiros.
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra, Alexandre Manoel Albino de
Carvalho ao Ministro da Guerra, Sebastião do Rego Barros, Rio de Janeiro, 9 de janeiro de 1860.
Mss. ANRJ. IG7 17.
444
Capítulo 9 – Repartições externas
Nesse momento é importante notar que a documentação deixa claro que a priori-
dade do Exército tinha mudado: não mais havia a intenção de criar uma Fábrica capaz
de fazer armas a partir do zero, a ideia agora era apenas aproveitar os milhares de armas
defeituosas existentes. Assim, o relatório do ministro da Guerra de 1832 escrevia que
tinham se contratado “serventes entendidos no trabalho de limpar armas”, mas mesmo
essa contratação era apenas uma medida temporária, eles devendo “ser despedidos logo
que não haja deles necessidade”.54 Isso demonstra uma incompreensão básica da situa-
ção do País na época e nos anos que se seguiriam: não seria possível demitir artesãos
diminuindo ainda mais o pessoal, pois a demanda por armas para as forças armadas só
veio a aumentar.
54
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da administração do Ministério da Guerra apresentado na
Augusta Câmara dos senhores deputados na sessão de 1832. Rio de Janeiro: Patriótica d’Astrea,
1832. p. 12.
55
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório, 1ª sessão da 6ª legislatura, 1845. op. cit. p. 14.
56
Podemos citar o caso, entre outros: BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de João José da Costa Pimen-
tel, Brigadeiro, diretor interino, ao ministro da Guerra, Marques de Caxias sobre avaliação de 500
pares de pistolas oferecidas por Henrique Nathan. Rio de Janeiro, 15 de março de 1836. Mss.
ANRJ. IG7 21. As pistolas não eram do modelo em uso no exército e “compõem-se de peças usadas”.
445
Capítulo 9 – Repartições Externas
se despender anualmente perto de cem contos de reis com a compra de mau armamen-
to.”57
57
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório, 1ª sessão da 6ª legislatura, 1845. op. cit. p. 15.
58
Diário do Rio de Janeiro, nº 3, Rio de Janeiro, 4 de junho de 1831. p. 2.
59
BRASIL – Arsenal de Guerra. RELATÓRIO do estado do pessoal das oficinas do Arsenal de Guerra
da Corte e dos objetos que se devem presentemente nelas fabricar. Rio de Janeiro, 24 de novembro
de 1836. Mss. ANRJ. IG7 19.
60
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição dos Negócios da Guerra apresentado a As-
sembleia Geral Legislativa na 1ª sessão da 5ª Legislatura, pelo respectivo ministro e secretário
d'Estado José Clemente Pereira. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1843. Relação de artigos béli-
cos manufaturados para o fornecimento do exército do Exército no Arsenal de Guerra da Corte de 1º
de abril até 31 de dezembro de 1842.
61
BRASIL – Ministério da Guerra, Relatório, 1844, op. cit. Mapa 7, mapa do pessoal do Arsenal de
Guerra da Corte.
62
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório, 1ª sessão da 6ª legislatura, 1845. op. cit. p. 14.
446
Capítulo 9 – Repartições externas
63
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição dos Negócios da Guerra apresentado à as-
sembleia geral Legislativa na 4ª sessão da 6ª legislatura pelo respectivo ministro e secretário de Es-
tado, João Paulo dos Santos Barreto. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1847. p. 18.
64
id. p. 18. João Paulo dos Santos Barreto era oficial de artilharia, tendo feito estudos práticos de enge-
nharia e hidráulica na França. Foi fundador da Comissão Prática de Artilharia e da Comissão de Me-
lhoramentos do Material do Exército, sendo o projetista do Canhão-obus João Paulo, adotado pelo
exército em 1851. SISSON, S. A. (ed.). Galeria dos brasileiros ilustres. Brasília: Senado Federal,
1999. Vol. II. pp. 195 e segs.
65
Manuel Felizardo de Sousa e Melo era formado em matemática, foi professor da Escola Militar, tendo a
graduação de capitão do corpo de engenheiros, acabando sua carreira como brigadeiro graduado. A
maior parte de sua vida pública foi como político, tendo sido ministro da Guerra em três ocasiões.
Ocupou o cargo de setembro de 1848 a setembro de 1853, a mais longa gestão ministerial no 2º Rei-
nado. SISSON, op. cit. Vol. I. pp. 421 e segs.
66
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição dos Negócios da Guerra apresentado a As-
sembleia geral legislativa na 1ª sessão da 7ª legislatura pelo respectivo ministro e secretário de Es-
tado Interino Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro: Laemmert, 1848. p. 16.
67
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de José Manoel Justino da Cunha, major encarregado da Con-
ceição, ao diretor do Arsenal, sobre coronheiros cearenses. 24 de março de 1851. Mss. ANRJ. IG7
12.
447
Capítulo 9 – Repartições Externas
68
BRASIL – Legação em Lisboa. Resposta da Legação Brasileira em Lisboa, Antônio de Menezes Vas-
concelos de Drummond, sobre pedido de contratação de armeiros. Lisboa, 11 de janeiro de 1853.
Mss. ANRJ. IG7 12.
69
BRASIL – Arsenal de Guerra. Minuta de contrato que faz o Marechal de Campo, Diretor do Arsenal
de Guerra da Corte, José Maria da Silva Bitencourt com os Operários Alemães chegados de Ham-
burgo. s.d. [setembro de 1851]. Mss. ANRJ. IG7 12.
70
Dados retirados do Relatório do Ministério da guerra de 1848 (op. cit. p. 15); BRASIL – Arsenal de
Guerra. Nº 11 Mapa do número de operários que trabalharam nas oficinas da Casa de Armas da
fortaleza da Conceição em dezembro de 1850, José Hipólito de Araújo, secretário. Rio de Janeiro,
15 de fevereiro de 1851. Mss. ANRJ. IG7 12. BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório da Fábrica de
armas, Paulo José Pereira, encarregado da Fábrica, Rio de Janeiro, 18 de novembro de 1853. Mss.
ANRJ. IG7 25.
71
BRASIL – Arsenal de Guerra. Nº 12 Mapa do número de operários que trabalharam nas oficinas da
Casa de Armas da fortaleza da Conceição em dezembro de 1850. [Rio de Janeiro, s.d.]. Mss. ANRJ.
IG7
448
Capítulo 9 – Repartições externas
Aqui fazemos um aparte: pela documentação, parece que Wackneldt era um en-
genheiro, com formação em mecânica; metalurgia e pirotecnia. Isso levaria a supor que
seria uma adição interessante em termos técnicos para as manufaturas militares. Só que
em todos os locais em que Wackneldt se envolveu, criou problemas. No início, o encar-
regado da Fábrica de Foguetes teve que escrever ao ministro pedindo a remoção do es-
trangeiro. Assumindo a conversão das armas na Conceição, Wackneldt quis manter uma
série de privilégios, como o de fazer ele mesmo o pagamento aos armeiros alemães, o
72
Peça SIGA 004198.
73
Não sabemos por que, mas o gravador que fez o cunho da gravação cometeu um erro: todas as armas
desse período feitas na Conceição que foram examinadas têm a mesma coroa e a inscrição “P11”
(Pedro Onze), ao invés de “PII”.
74
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro Manoel Felizardo de Souza e Melo ao diretor do
Arsenal de Guerra, Marechal José Maria da Silva Bitancourt, sobre transformação de armas. Rio
de Janeiro, 3 de novembro de 1852. Mss. ANRJ. IG7 451.
449
Capítulo 9 – Repartições Externas
ministro da Guerra tendo que ordenar que se seguissem as normas, do pagador do Arse-
nal entregar os vencimentos aos trabalhadores. 75 Mais tarde, ele se envolveu numa com-
pra irregular, sem licitação, de limas, no valor de mais de três contos de réis, o que era
ilegal. O diretor do Arsenal desculparia o erro por causa da barreira da língua – mas isso
não foi algo que impedisse o prussiano de fazer a imensa compra em primeiro lugar. 76
75
BRASIL – Ministério da Guerra. Bilhete do ministro, Manoel Felizardo de Souza e Mello, 31 de janei-
ro de 1851. Mss. ANRJ. IG7 476.
76
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Brigadeiro Feliciano Antônio Falcão ao ministro da
guerra Felizardo. Rio de Janeiro. 7 de fevereiro de 1853. Mss. ANRJ. IG7 14.
77
Coleção de Sebastião Oliveira, que gentilmente desmontou o fecho para fazer essa foto, algo que não
seria possível com uma peça de museu.
78
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício do diretor, Brigadeiro Feliciano Antônio Falcão ao ministro
M. F. de Sousa e Mello, sobre os trabalhos feitos nas oficinas da Conceição para a conversão das
armas de pederneira. Rio de Janeiro, 25 de abril de 1853. Mss. ANRJ. IG7 460.
450
Capítulo 9 – Repartições externas
que “tão exagerado preço não pode provir senão da má direção da respectiva oficina, e
da nenhuma fiscalização que sobre ela exerce o Major José Manoel Justino da Cunha”,
este sendo o terceiro ajudante do Arsenal, encarregado da Fábrica de Armas. 80 De fato,
em 1862, dez anos depois de o alemão ter começado a trabalhar e mesmo com a infla-
ção do período, a Conceição, já sob nova direção, fazia as conversões a 4.120 réis.81
Finalmente, o processo de transformação que foi adotado por Wackneldt era diferente
do usado antes ou do que era feito na Europa: ele brocava novamente os canos, aumen-
tando o calibre dos mesmos e deixando suas paredes mais finas, a ponto dessas ficarem
perigosas, “ficando as armas transformadas impróprias para o serviço de guerra”.82
O resultado das ações do engenheiro foi ele ser dispensado do serviço de modifi-
cação das armas e a oficina de transformação foi extinta em 1855.83 Wackneldt fora
contratado por um longo período de tempo, seu contrato não tendo previsão de demis-
são. Desta forma que ele continuaria a serviço do Exército, vindo ainda a causar prejuí-
zos à força, como no caso já relatado da Fábrica de Ferro de Mato Grosso. Da experiên-
cia com o engenheiro prussiano no Arsenal, a única coisa boa que ficou foi a presença
do mestre de espingardeiros Otto Mehring, um artesão competente que fora contratado
com os outros alemães em 1851.
451
Capítulo 9 – Repartições Externas
sabia que essa era uma solução paliativa, considerando que novas armas, com maior
precisão, estavam começando a ser empregadas no mundo e no Brasil. A França, por
exemplo, tinha adotado seu último modelo de Pederneira em 1822 (modelo 1822), elas
começando a ser convertidas para usarem um fecho de fulminante a partir de 1840 (mo-
delo 1840T, de transformée). Seis anos depois, uma nova conversão foi iniciada, desta
vez transformando as espingardas de fulminante em armas raiadas (modelo 1840TBis).
O Brasil também começou a armar suas tropas com armas de fulminante na dé-
cada de 1840, um processo que foi feito de forma muito lenta e cheio de percalços, co-
mo relatado nos parágrafos anteriores. Só que, no contexto da Guerra Contra Oribe e
Rosas (1851-1852), começaram a se fornecer algumas armas raiadas importadas para
unidades escolhidas, 86 esses equipamentos sendo muito superiores aos antigos, permi-
tindo o disparo com precisão a distâncias até quatro vezes superiores às antigas. As van-
tagens evidentes fizeram com que o processo de troca acelerasse com o tempo, a ponto
de em 1857, como colocado acima, se ter vedado o envio de armas de pederneira para as
unidades.
As novas armas raiadas, contudo, não diferiam muito em termos mecânicos das
antigas, de fulminante, as diferenças básicas sendo a abertura de sulcos helicoidais no
interior do cano e a soldagem de uma alça de mira graduada no exterior da peça, algo
que poderia ser feito sem muita dificuldade, como os franceses fizeram com a arma do
modelo 1840 TBis. O mesmo com as armas que foram adotadas na Europa depois das
armas transformadas, as do sistema Minié – essas também não tinham uma diferença
maior em termos de sua mecânica, apesar delas terem que ser feitas a partir do zero,
pois seu calibre era reduzido em relação às armas usadas anteriormente: neste caso não
se podia reaproveitar os canos.87
86
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Manoel Felizardo de Souza e Melo ao diretor do
Arsenal de Guerra, José Maria da Silva Bitancourt, mandando fazer cartuchos e fornecer espingar-
das a Tige. Rio de Janeiro, 16 de abril de 1852. Mss. ANRJ. IG7 516.
87
Para uma discussão sobre o processo de adoção de armas no Brasil em meados do século XIX, ver:
CASTRO, Adler Homero Fonseca de. O armamento do Exército Brasileiro à época de Sampaio. Re-
vista do Exército Brasileiro, vol. 147, edição especial, 2010. pp. 22-33.
88
Ilustrada na Figura 31, no canto inferior extremo direito.
452
Capítulo 9 – Repartições externas
tando máquinas para facilitar o processo. Para isso, em 1859 foi comprado um motor a
vapor para movê-las e, no mesmo ano, o armeiro Otto Mehring apresentou um projeto
para a criação de uma verdadeira fábrica de armas.
453
Capítulo 9 – Repartições Externas
Outro problema da encomenda de 1862 foi que deixaram de ser compradas al-
gumas máquinas vitais para um fábrica de armas moderna, como um torno copiador de
coronhas.94 Consideramos notável a falta de aparelhos para laminar canos e gabaritos,
apesar de ser imaginável que esses últimos pudessem ser feitos na própria Conceição.
Também só foi encomendada uma fresa – se a “máquina de desbastar peças de fechos”
fosse esse tipo de aparelho, como parece ser o caso. Isso era negativo, pois para a pro-
dução em série era necessária uma fresa para cada peça, de outra forma seria necessário
ajustar a máquina para cada etapa da manufatura dos componentes do fecho em fabrica-
ção, o que reduziria em muito a eficiência de seu uso. No final, a máquina de aplainar
metais e o martinete foram montados no Arsenal, inviabilizando seu uso na fabricação
de armas.
Cabe aqui apontar que o pessoal do Arsenal devia saber da existência de fresas:
Eli Whitney, o filho do armeiro mencionado no capítulo 5 como estando ligado ao pro-
cesso de industrialização da produção de armamento, em 1850 ofereceu espingardas
para o Exército brasileiro, sua oferta sendo acompanhada de outra, de venda de “uma
máquina de fazer armas de seu pai”,95 o americano sendo conhecido como um dos in-
ventores de uma fresa para uso na fabricação de armas. Isso torna estranha a omissão de
um maior desse importante tipo de aparelho na encomenda de armas da Fábrica de Ar-
mas.
Em 3 janeiro 1862, pouco depois das máquinas chegaram, o imperador fez uma
das suas muitas visitas à Conceição, deixando consignado em seu diário:
93
A EXPOSIÇÃO Nacional. Diário do Rio de Janeiro, ano LXXII, nº 73, Rio de Janeiro, 17 de março de
1862. p. 1. De fato, a máquina de aplainar e o martinete foram remetidos para o Arsenal, pois suas
proporções não eram adequadas à Fábrica de Armas ver: BRASIL – Arsenal de Guerra. Envia o re-
latório do movimento administrativo de 1861. op. cit.
94
Cremos que a máquina de serra coronhas mencionada na lista de Mehring fosse uma serra de fita, para
dar a forma grosseira ao objeto e não um torno copiador (ver Figura 29), máquina muito mais com-
plexa.
95
BRASIL – Legação em Londres. Despacho reservado da Legação do Império do Brasil na Grã Breta-
nha, Ministro Joaquim Thomaz de Andrade ao Ministro da Guerra Manoel Felizardo de Souza e
Mello, Comunicando o recebimento de despacho de 7 de setembro de 1850 mandando ter toda a vi-
gilância possível na execução da ordem de 3.000 espingardas, recentemente confiada a esta lega-
ção. Londres, 4 de novembro de 1850. Mss. ANRJ. IG1 558.
454
Capítulo 9 – Repartições externas
Fui hoje ao Arsenal de Guerra. A casa de armas ainda não tem livro de
entrada e saída como oficina do Arsenal de Guerra. Há diversas má-
quinas trabalhando; mas as principais ainda não estão montadas apesar
de chegadas há muitos meses e outras ainda se não lhes aplicou o mo-
tor que é uma máquina de vapor de força de 6 cavalos. Uma espingar-
da de espoleta faz-se em 3 dias e por 30$000; uma pistola por 12$500.
Transforma-se uma espingarda de pederneira em fulminante por
4$140, termo médio; mas se há acabamento como dizem, isto é, con-
serto, sobe a 6$000.96
A informação contida no diário do Imperador é interessante, pois mostra que,
mesmo com a mecanização incompleta e sem o uso do motor a vapor, a fábrica já tinha
condições de produzir uma arma completa em três dias, o que só seria possível com
uma divisão de trabalho bem avançada. Como vimos no capítulo 5, na França, apenas a
feitura de um fecho pelo método artesanal levava mais do que esses três dias. Além dis-
so, o valor da arma feita no Arsenal era compatível com o de uma importada, que podia
custar de 26:000 a 30:000 réis, dependendo do câmbio. 97 A capacidade da instalação era
tal, que um artigo de jornal menciona que o mestre da oficina, o alemão Otto Mehring,
chegou a se oferecer para fabricar por empreitada as armas raiadas, vendendo-as a
27.000 réis ao governo, desde que pudesse usar as máquinas da Conceição.98
96
Diário do Imperador, op. cit.
97
A EXPOSIÇÃO Nacional. Diário do Rio de Janeiro, ano LXXII, nº 71, Rio de Janeiro, 15 de março de
1862. p. 1.
98
id.
99
BRASIL – Arsenal de Guerra. Nota da quantidade e qualidade de armamento, equipamento, pólvora e
outros objetos cuja compra ou ajuste se encarrega de fazer na Europa o Major de Engenheiros
Francisco Primo de Sousa Aguiar. s.d. [1857]. Mss. ANRJ. IG7 396.
100
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, ao
coronel diretor do Arsenal de Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea, mandando raiar na ofi-
cina de espingardeiros da fábrica de armas da Conceição três mil e vinte e quatro pistolas de canos
lisos de adarmes 14,8 mm. Rio de Janeiro, 11 de fevereiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 515.
455
Capítulo 9 – Repartições Externas
ta, que fazia duas operações para o preparo da chapa do fecho,101 complementando o
maquinário comprado, mas muito tarde para se ter um efeito prático, apesar de armas
terem sido feitas na fábrica (ver Figura 57).
Em 1864 tinha sido extinta a oficina de latoeiros, pois com a adoção de métodos
modernos de fabricação seria possível racionalizar a produção, fazendo apenas uns pou-
cos componentes padronizados, dispensando profissionais com maior habilitação. O
pessoal das oficinas remanescentes era:
456
Capítulo 9 – Repartições externas
quiridas 149.000 armas de fogo raiadas até o início de 1866, 103 número que correspon-
deria à quase cinquenta anos de produção da fábrica prevista. Considerando essas ne-
cessidades surgidas em momentos de crise, a Fábrica de Armas não chegou a se estrutu-
rar.
103
BRASIL – Arsenal de Guerra. Nota do armamento, equipamento, fardamento, munições e outros
artigos encomendados na Europa em diferentes datas. João Rodrigues dos Santos Mello, Almoxari-
fe. Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 1866. Mss. ANRJ. IG7 495.
104
Da coleção de Carlos Almeida Costa.
105
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício da 3ª Diretoria, 3ª Seção, do ministério da Guerra, visconde
de Camamu, remetendo cópia de carta de John Barnett de 6 de janeiro de 1866, relativa à visita que
esse fez à fábrica de armas da fortaleza da Conceição. Rio de Janeiro, 9 de janeiro de 1866. Mss.
ANRJ. IG7 350. (A tradução e o grifo são do original).
457
Capítulo 9 – Repartições Externas
Não posso dizer muito em favor dos esforços feitos para o fabrico de
novas armas no arsenal Imperial. Para o fabrico de canos dispendiosas
máquinas de rolar e brocar (expensive Rolling mills & Boring machi-
nes) são necessárias e seria difícil em Inglaterra achar trabalhadores
que pudessem completar um cano sem estas máquinas. Em Inglaterra
cada ramo é mui subdividido.
Estas mesmas observações podem ser aplicadas ao fabrico de Fechos,
Baionetas et etc.106
Ou seja, mesmo com a aquisição de máquinas e o início da subdivisão do traba-
lho, o que o fabricante inglês observou na Conceição foi ainda uma situação que a ca-
racterizava como oficina pré-industrial e não como uma verdadeira fábrica.
458
Capítulo 9 – Repartições externas
Outra arma que foi adotada no mesmo ano, a Dreyse, também usava um cartu-
cho de papel, mas este tinha que ser enrolado mecanicamente junto com o projétil e a
espoleta de fulminante. Esse cartucho, para poder entrar na arma, tinha que ter dimen-
sões regulares e constantes. Isso implicava no uso de processos mecânicos, que não
eram usados nos laboratórios pirotécnicos existentes, onde tudo era feito manualmente.
Outra necessidade que também surgiu naquele ano foi oriunda da opção pela
adoção de foguetes de guerra. Esses eram tubos de ferro com uma granada na ponta,
cheios de uma mistura de pólvora fortemente comprimida e que queimava lentamente,
impulsionando o artefato. A manufatura desse tipo de objeto podia ser feita de forma
inteiramente manual, mas o uso de certas máquinas, especialmente prensas, melhoraria
a qualidade do artefato, além de acelerar a produção.108
A solução para esses problemas foi instalar, em 1851, uma nova manufatura para
fazer essas munições, com as máquinas necessárias para fabricar o fulminato e as cápsu-
las, aproveitando os prédios também para a fabricação dos foguetes – inicialmente a
instalação era chamada de “Oficina de Foguetes”, sendo no ano seguinte elevada, extra-
oficialmente, à situação de laboratório pirotécnico.109 Para abrigar a organização se usou
o forte do Campinho, situado no afastado bairro do Irajá, onde uma explosão acidental
não afetaria muito os moradores, pouco numerosos à sua volta,. 110
108
Para uma discussão sobre os processos de fabricação de foguetes na época, ver: CASTRO, Adler Ho-
mero Fonseca de. Os primórdios da indústria aeroespacial: o Foguete de Halle do Museu Histórico
Nacional. Anais do Museu Histórico Nacional. vol. 34. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional,
2002. pp. 297-318.
109
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Relatório da Diretoria do laboratório Pirotécnico
do Campinho relativo ao ano de 1872. Augusto Fausto de Souza, Capitão Diretor Interino. Rio de
Janeiro, 13 de fevereiro de 1873. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 267.
110
De fato, ocorreu um acidente desses em 14 de outubro de 1857, com a morte de quatro operários.
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Ofício do capitão diretor, Francisco Carlos da
Luz ao ministro da Guerra, Jerônimo Francisco Coelho, Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1857.
Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
459
Capítulo 9 – Repartições Externas
Fazemos um aparte para dizer que a contratação do prussiano foi uma medida
que geraria problemas na Oficina de Foguetes por causa da sua ação ao longo dos anos,
muito voltada para seus próprios interesses, contestando a autoridade dos militares. Em
1852, o Wackneldt escreveu ao ministro solicitando o controle técnico das oficinas do
Campinho, que lhe caberiam exclusivamente. No caso, o ministro concordou, infor-
mando ao diretor do Arsenal que sua autoridade era restrita ao comando do Forte do
Campinho, 114 onde se situava a Oficina de Foguetes. Não podemos deixar de considerar
essa uma solução, no mínimo, tão exótica quanto foi temporária – de fato, o relatório do
Ministro da Guerra publicado em 1853 colocava o Campinho como uma dependência
111
Capanema era um engenheiro civil, que estudou no Instituto Politécnico de Viena e na Bergakademie,
de Freiberg, na Saxônia. Voltando ao Brasil, se tornou professor da Escola Militar em 1848, rece-
bendo a patente de capitão honorário. FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. Ciência e tecno-
logia no Brasil Imperial Guilherme Schüch, Barão de Capanema (1824-1908). Varia história, vol.21
nº 34 Belo Horizonte, Julho de 2005.
112
BRASIL – Comissão de Melhoramentos do Material do Exército. Ofício do Presidente, João Paulo
dos Santos Barreto, Marechal de Campo, aprovando os cartuchos de espingarda de agulha na com-
posição do Doutor Guilherme Schüch de Capanema, em 14 de dezembro de 1850. Mss. ANRJ.
GIF12.1 5B 246.
113
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Cel. Jerônimo Francisco Coelho ao ministro da
Guerra, Pedro d’Alcântara Bellegarde, Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1855. Mss. ANRJ. IG7 14.
114
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Rodolpho Wackneldt ao ministro da Guerra, sobre a direção
técnica da Oficina de Foguetes, Rio de Janeiro, 16 de maio de 1852. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
460
Capítulo 9 – Repartições externas
O dito Engenheiro nem ao menos tem dado provas de sua aptidão pro-
fissional, pois nos dois encargos que recebeu do Governo, o 1o no La-
boratório do Campinho para fabricação de foguetes a Congreve, o 2o
na Fábrica de armas da Conceição para transformação de espingardas
de pederneira para de percussão, somente apresentou resultados esté-
reis, inúteis, dispendiosos, e prejudiciais. Depois destas duas provas,
que tantos contos custaram à Nação, que confiança pode ele merecer
para se lhe incumbir novos encargos?116
Mesmo com essas considerações, o alemão ainda receberia o encargo de montar
uma fábrica de pólvora e outra de ferro em Mato Grosso, novamente falhando em cum-
prir essas missões.
Mesmo com esses percalços, as medidas tomadas pelo ministro em relação à di-
reção da nova instalação marcam uma mudança, pelo menos parcial, da visão predomi-
nante sobre o funcionamento das manufaturas do Exército: na Oficina de Foguetes havia
115
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição dos Negócios da Guerra apresentado à
Assembleia Geral Legislativa na quarta sessão da oitava legislatura pelo respectivo ministro e se-
cretário de Estado, Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro: Laemmert, 1853. p. 14.
116
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, 22 de janeiro de 1855, op. cit.
117
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Quartel general da Corte, Antônio José de Brito. Ao diretor
do Laboratório do Campinho, passando o termo de juramento de Aires Antônio de Moraes Âncora.
Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1853. Mss. Arquivo Nacional, GIFI OI 5B 260.
118
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do 1º tenente, Francisco Carlos da Luz ao Ministro da Guerra,
Manoel Felizardo de Souza e Mello, sobre a direção da oficina de foguetes. Rio de Janeiro, 8 de de-
zembro de 1852. Mss. Arquivo Nacional, GIFI OI 5B 260.
461
Capítulo 9 – Repartições Externas
Deve-se notar também que os oficiais indicados, além de terem formação técni-
ca, das “armas científicas”, eram capazes: os tenentes Carlos da Luz e Morais Âncora
chegaram, mais tarde, ao generalato, ambos tendo tido importantes comissões técnicas
no Exército – Luz era professor da Escola Militar. Ambos, mais tarde, também chega-
ram a ser diretores do Arsenal de Guerra,120 Luz com a patente de capitão, o oficial de
menor posto a ocupar tão relevante cargo na história da instituição.121 Eles, mesmo com
a obstrução feita por Wackneldt, conseguiram superar os problemas no desenvolvimen-
to da manufatura, ao contrário do que aconteceria mais tarde, na Fábrica de Armas da
Conceição.
Nesse sentido, de formação técnica, deve-se dizer que, ao contrário do que ocor-
ria no Arsenal, a intermediação das atividades manufatureiras com as autoridades e em-
119
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Relação nominal dos empregados do Laboratório
Pirotécnico do Campinho. José Raimundo de Miranda Machado, escriturário. Rio de Janeiro, 22 de
julho de 1857. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
120
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos Inspetores de Artilharia, Arsenais, Fábricas e Fundições e
Diretores que tem tido o Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro de 1811 a 1911. s.d. [1925]. Mss.
ANRJ. IG7 96.
121
Deve-se frisar que Luz assumiu a direção interina do Arsenal de Guerra em abril de 1868, no contexto
da Guerra do Paraguai, ficando no cargo até o final do conflito, em 1870. Ele terminaria sua carreira
na República com o posto de general de divisão, em 1897 sendo presidente da Comissão Técnica
Militar Consultiva, novo nome da Comissão de Melhoramentos do Material do Exército. BRASIL –
Comissão Técnica Militar Consultiva. Ofício do presidente, General de Divisão Francisco Carlos da
Luz ao Diretor do Arsenal de Guerra, Cel. Neiva, sobre proposta de nova lança, modificando a
aprovada no parecer nº 92, de 23 de junho de 1892. Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1897. Mss.
Arquivo Nacional. IG7 146.
462
Capítulo 9 – Repartições externas
presas civis não era feita por um operário, mesmo que fosse o mestre de uma oficina: no
Campinho, ficava efetivamente ao cargo do diretor, um engenheiro. Dessa forma, quan-
do o ministro da Guerra determinou ao diretor do Arsenal fabricar no Estaleiro Mauá
peças para um novo tipo de foguete, se ordenou que se ouvisse a opinião técnica do te-
nente Carlos da Luz, encarregado do Laboratório,122 uma prática que não era seguida no
AGC em todo o período por nós estudado, onde a parte técnica ficava a cargo do cons-
trutor ou dos mestres das oficinas, com todos os problemas que isso podia causar.
122
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício do Cel. Francisco de Souza, ao Brigadeiro José Manoel Car-
los de Gusmão sobre encomenda de peças na Ponta da Areia. Rio de Janeiro, 9 de junho de 1853.
Mss. Arquivo Nacional, IG7345.
123
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Ofício de Francisco Carlos da Luz o ministro da
Guerra, Jerônimo Francisco Coelho sobre serviços de africanos livres no laboratório. Rio de Janei-
ro, 1 de dezembro de 1857. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
124
BRASIL – Laboratório Pirotécnico. Parecer do diretor do Campinho, Capitão Francisco Carlos da
Luz, sobre a compra de um laminador. Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1861. Mss. ANRJ. IG7
510.
463
Capítulo 9 – Repartições Externas
ra.125 As máquinas de enrolar e comprimir papel, também manuais, tinham sido inicial-
mente instaladas no Laboratório do Castelo antes de serem transferidas para o Campi-
nho e a de fazer balas de chumbo por compressão originalmente tinha ido para a Con-
ceição, só seguindo para o Campinho mais tarde.
Contudo, a ideia central é que a manufatura das munições já deveria ser feita, se
não totalmente, pelo menos em grande parte, por máquinas, ainda que inicialmente es-
sas fossem movidas a força humana – as oficinas só seriam motorizadas em 1867, no
contexto da Guerra do Paraguai. Mesmo assim, a produção era elevada: as máquinas de
fazer espoletas tinham a capacidade de fazer trinta mil cápsulas por dia,126 sendo que tal
produção diária foi atingida na Guerra do Paraguai – era um número suficiente para
abastecer o Exército, mesmo em caso de uma guerra curta.
Como dissemos antes, o Laboratório ficou por muitos anos em um limbo admi-
nistrativo. Passou a existir oficialmente apenas em fevereiro de 1861, sendo baixado um
regulamento para ele. Por esse, a instalação ficou independente do Arsenal e deveria
assumir a fabricação da munição do Exército, menos a mais simples, como a de armas
lisas, que poderia continuar a ser feita nos laboratórios provinciais, como o do Castelo –
este só seria extinto seis meses depois.
O regulamento de 1861 previa que Campinho seria uma “escola prática de piro-
tecnia militar, na qual deverão habilitar-se os artífices de fogo que trabalharem nas pro-
125
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, José Maria da Silva Bittencourt, ao ministro a Guer-
ra, Manoel Felizardo de Souza e Mello sobre o transporte de uma prensa hidráulica, que do porto
da Estrela foi para o Campinho. Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1851. Mss. ANRJ. IG7 12.
126
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Francisco Carlos da Luz o ministro da Guerra, Manoel Feli-
zardo de Souza e Mello, sobre capacidade de fabricação de cápsulas. Rio de Janeiro, 26 de abril de
1859. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
127
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Mapa demonstrativo do estado em que se acha a
confecção do cartuchame embalado para Infantaria no Laboratório pirotécnico do Campinho, a
partir do dia 1° de Agosto do corrente ano em diante. José Raimundo de Miranda Machado, escritu-
rário. Rio de Janeiro, 22 de outubro de 1857. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
128
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Relatório do ano de 1859. Rio de Janeiro, 31 de
janeiro de 1860. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
464
Capítulo 9 – Repartições externas
víncias em que houver laboratórios”. 129 Por essa época, se determinava que dois oficiais
trabalhassem na instalação, o diretor e seu ajudante, mas havia um cargo técnico civil, o
“preparador”, que seria o encarregado da operação do laboratório químico, que era uma
das oficinas do Campinho – em 1856, este técnico era o farmacêutico Jeremias Luiz de
Mello, formado pela faculdade do Rio de Janeiro, 130 e dois anos depois, para substituí-lo
se exigiu a apresentação por parte dos candidatos do diploma de farmacêutico.131 Tam-
bém havia a previsão de um maquinista, normalmente um cargo igualmente técnico –
em 1861, este era o alemão André Koelbl, que tinha o título de “Mestre geral de fogos e
maquinista”.132 No caso, contudo, deve-se frisar que Koelbl era classificado entre os
operários, como era a situação dos mestres do Arsenal. Não era um dos cargos da dire-
ção, como era o preparador.
129
BRASIL – Ministério da Guerra. Regulamento do Laboratório do Campinho, p. 2. In: Relatório apre-
sentado à Assembleia Geral Legislativa na primeira sessão da décima legislatura pelo ministro e
secretário de Estado, Marquês de Caxias. Rio de Janeiro: Laemmert, 1861.
130
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Ofício do Capitão diretor, Francisco Carlos da Luz,
ao Ministro da Guerra, marquês Caxias, sobre o preparador do laboratório pirotécnico. 4 de junho
de 1856. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
131
Diário do Rio de Janeiro, ano XXXVIII, nº 7, Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1858.
132
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Relação nominal dos operários das oficinas piro-
técnicas deste estabelecimento, com declaração de seus vencimentos, admissão, e tempo de serviço
de cada tem. Escriturário Seara, Rio de Janeiro, 20 de setembro de 1861. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B
260.
133
Id. p. 10.
134
Id. p. 10.
465
Capítulo 9 – Repartições Externas
do quando consideramos que esta era uma atividade perigosa e que não tinha possibili-
dades de emprego na iniciativa privada de então.
Deve-se deixar claro que o Laboratório tinha uma função clara e única, que seria
o preparo de munições. Ao contrário do Arsenal, onde existiam uma multiplicidade de
atividades independentes e desconexas, as oficinas auxiliares do Campinho eram exa-
tamente isso, organizações complementares para se alcançar esse objetivo principal,
trabalhando apenas em “cofres de munição, cunhetes, caudas para foguetes (...) bem
assim, na execução de todo e qualquer trabalho sobre metal que requerer a prontificação
dos tubos de ferro para os [foguetes] congreves e o fabrico de outros artigos bélicos”. 135
As oficinas não eram grandes, mesmo porque o regulamento previa que não
mais de quarenta soldados Artífices trabalhariam nas da Primeira Sessão. Reunindo du-
as tabelas de pessoa, uma de 1861 e outra de 1862, o pessoal empregado era o seguinte:
135
BRASIL – Ministério da Guerra. Regulamento do Laboratório do Campinho, op. cit. p. 11.
466
Capítulo 9 – Repartições externas
136
Os dados referentes às oficinas de carpinteiros e serralheiros foram obtidos em: BRASIL – Laboratório
Pirotécnico do Campinho. Relação nominal dos operários paisanos e militares pertencentes às ofi-
cinas deste laboratório, com declaração de seus vencimentos, data de admissão, e tempo de serviço
que cada um tem. Escriturário Seara, Rio de Janeiro 20 de setembro de 1861. Mss. ANRJ. GIFI OI
5B 221. Os das outras oficinas consta de: BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Mapa
demonstrativo das munições e artifícios de guerra elaborados nas oficinas do mesmo durante o tri-
mestre de janeiro a março de 1862. Escrivão das oficinas, Júlio César Leal. Rio de Janeiro, 8 de
abril de 1862. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 261.
137
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Ofício do capitão diretor, Francisco Carlos da Luz
ao ministro da Guerra, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão sobre pedidos feitos ao Laborató-
rio. Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1863. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 261. A especificação que o
trabalho noturno foi feito até as 20:00 apenas nas oficinas não pirotécnicas deve-se ao risco de ex-
plosão se fossem usadas lanternas nessas.
467
Capítulo 9 – Repartições Externas
Figura 58 – Material necessário para fazer um cartucho de arma Minié, 1860. 138
O papel, mostrado à esquerda, era enrolado em torno de um mandril, ilustrado na parte de cima, à direita.
Depois disso era colocado o projétil e a pólvora, o produto final sendo fechado com nós de barbante em
cada extremidade. No caso da divisão de trabalho no Laboratório do Campinho, se terceirizou o processo
de enrolar o papel em torno do mandril. A colocação do projétil e da pólvora, bem como o fechamento do
cartucho, fases mais delicadas e perigosas, eram feitas por artífices do fogo, no Laboratório. As únicas
ferramentas usadas no processo de produção desses cartuchos eram os mandris e simples ferramentas para
cortar o papel e o barbante.
Também se deve dizer que, apesar do número muito reduzido de trabalhadores
(ver Tabela 20), o Laboratório conseguiu atender às necessidades da crise de 1863. Não
foram suficientes para a Guerra do Paraguai, contudo, obrigando a mudanças na organi-
zação. Em 1865, o Laboratório do Campinho passou a ser oficialmente uma dependên-
cia do Arsenal. 139
138
SMALL arms ammunition for rifle muskets. 1860, Edward Mounier Boxer. http://i.imgur.com/A9Upi-
pd.jpg. (acesso em abril de 2017).
139
BRASIL – Decreto nº 3.470, de 22 de Maio de 1865. Dá nova organização á Comissão de melhora-
mentos do material do Exercito.
468
Capítulo 9 – Repartições externas
O mesmo pode ser dito com o Laboratório Pirotécnico do Campinho, que já sur-
giu com a ideia de uma produção mecanizada. Apesar de não termos encontrado deta-
lhes sobre os métodos adotados na instalação, a própria natureza dos produtos, do méto-
do de trabalho e a escala da produção já pressupõem a existência de divisão de trabalho.
Sobre as máquinas, apesar dessas terem sido implantadas originalmente como equipa-
mentos movidos a mão, a natureza da produção dependia, na sua quase totalidade, da
presença de equipamentos que regulassem a feitura de produtos de qualidade uniforme.
No Campinho, máquinas, ao contrário do que ocorria no Arsenal de Guerra propriamen-
te dito, já eram centrais ao funcionamento da instalação, estas não sendo equipamentos
destinados simplesmente a facilitar certas etapas da produção. A Fábrica de Armas, no
final do nosso recorte de estudo, também começou a implantar uma produção mecani-
zada, mas a mesma não foi feita na mesma escala – ou com a mesma eficiência – que
tinha sido empregada no Laboratório Pirotécnico.
O Campinho também pode ser visto como um marco importante para se mostrar
um desenvolvimento possível das manufaturas do governo: a questão técnica. Lá se
decidiu, desde o início, no uso um profissional civil (o farmacêutico) e oficiais ou for-
mados e preparados para exercer funções não apenas burocráticas, mas também técni-
cas. Nesse sentido, a solução das dificuldades experimentadas com o trabalho de estran-
geiros sem interesse pelo o Brasil é um bom exemplo do que poderia ser feito em uma
instalação do governo.
469
Capítulo 9 – Repartições Externas
Também consideramos de nota o fato de ter sido a falta de pessoal técnico que
levou ao fracasso da proposta de instalar uma fábrica moderna na Conceição, pois o
responsável por ela, o armeiro Otto Mehring, aparentemente não tinha conhecimento
suficiente para fazer um projeto completo para a aquisição das máquinas que permitisse
a montagem de uma fábrica moderna, o processo de mecanização sendo feita de forma
incompleta, ainda dependendo de mão de obra especializada para uma série de etapas e
sem poder ter uma produção em larga escala, pelas faltas que Barnett apontou na época
470
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Sumário
471
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
De início frisamos um ponto importante para nossa tese, que é o relativo à visão
padrão que é difundida na historiografia sobre a questão da mão de obra: o Brasil era
uma sociedade escravista e, ao contrário do que acontecia nos Estados Unidos, escravos
eram usados em manufaturas militares.1 Mais importante, pode-se dizer que é um con-
senso que a escravidão teve um importante e negativo efeito na formação da força de
trabalho e, com isso, na formação das manufaturas do País, como abordado no capítu-
lo 2.
Tal visão não é recente, já aparece de forma recorrente em cronistas, que são
muito citados para descrever a realidade do país. Luccock, escrevendo em 1808, esti-
mava em apenas 1.250 o número de artesãos existentes no Rio de Janeiro, descrevendo-
os de forma muito negativa, que julgamos valer repetir em sua íntegra:
1
O Arsenal de Springfield ficava em Massachusetts, um estado não escravista. O de Harper’s Ferry fica-
va na Virgínia, escravista, mas não empregava cativos em sua força de trabalho. O que mais se apro-
xima da situação brasileira é o caso da fundição privada de Tredegar, que produziu canhões para o
exército confederado durante a Guerra da Secessão (1861-1865). Este estabelecimento usava escra-
vos como parte de sua força de trabalho, seu emprego até crescendo durante a Guerra. SQYRES,
Ted. T. The Tredegar Logistical Support in the American Civil War. Maxwell: Air War College,
1989. pp. 8 e segs.
472
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Essa visão negativa dos trabalhadores no Brasil aparece também em Debret (ver
Figura 44) ou em Saint-Hilaire, que escreveu: “a primeira coisa que seduz um operário
em Tejuco [Diamantina], quando ele consegue economizar algum dinheiro, é arranjar
um escravo”.5 A conclusão a ser tirada dessa situação era como colocava Ewbank:
2
LUCCOCK, John. Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil. Belo Horizonte: Itati-
aia; São Paulo. Edusp, 1975. p. 8.
3
id. p. 9.
4
id. p. 9.
5
SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem ao Distrito Diamantino. Apud ARAÚJO, Emanuel. O teatro dos
Vícios : Transgressão e transigência na sociedade urbana colonial. Rio de Janeiro, José Olympio,
1993. p. 85.
6
EWBANK, Thomas. Life in Brazil: or a journal of a visit to the land of cocoa and the palm. New York:
Harper & Brother, 1856. p. 184.
473
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
senhores e escravos, o que deveria ser um absurdo autoevidente, mas mesmo assim foi
incorporado ao modo de se ver o Brasil.
7
MARTINS, Mônica de Souza N. Entre a Cruz e o capital: as corporações de ofícios no Rio de Janeiro
após a chegada da família real (1808-1824). Rio de Janeiro: Garamond, 2008. p. 20.
8
id. p. 86.
474
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
10.1.1 O Construtor
Como tratado no capítulo 8, tradicionalmente o mestre da oficina de construção
era chamado de “construtor”, sendo considerado como o principal artesão do Arsenal de
Guerra, tal como era no de Marinha. No entanto, havia uma grande diferença entre as
duas instalações: no Exército, o mestre construtor, em princípio, era apenas responsável
pela feitura dos reparos de artilharia, algo que demandava pouca inovação e conheci-
mento técnico. Na Marinha este cargo correspondia ao de engenheiro naval, sendo o
encarregado do projeto de embarcações, a atividade fim da instituição e que exigia um
grau de conhecimento técnico bem superior, mesmo que esse tivesse sido adquirido na
prática.
Mais tarde, Onofre seria agraciado com a patente de tenente honorário de artilha-
ria, como recompensa por seus serviços10 – uma honraria importante, não em termos de
salários, pois não era acompanhada de soldo e o mestre ganhava bem mais do que um
tenente, mas sim quando levamos em conta que a patente de oficial equivalia a receber
os foros de fidalgo. Onofre ainda seria promovido ao posto de capitão, também sem
soldo, alguns anos depois. Finalmente, ele seria agraciado com uma comenda de cava-
leiro da ordem de cristo. 11
Não foram recompensas por motivo fútil, pois a inovação foi importante para o
Exército: o “reparo a Onofre” continuaria a ser usado até o início do século XX como o
principal tipo de carreta de artilharia de fortificações (ver Figura 59). O artesão era tão
9
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso reservado do ministro da guerra, Luiz Pereira da Nóbrega de
Souza Coutinho, ordenando que a Junta de Fazenda dos Arsenais do Exército, Fábricas e Fundições
gratifique com duzentos mil réis o Construtor Manoel José Onofre. Rio de Janeiro, 18 de outubro de
1822. Mss. ANRJ. IG7 39.
10
BRASIL – Ministério da Guerra. Proposta e relatório da Repartição dos Negócios da Guerra apresen-
tados à Assembleia Geral Legislativa na sessão ordinária de 1836 pelo respectivo ministro e secre-
tário de estado Manoel da Fonseca Lima e Silva. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1836. apud
Anexo A. Modificações julgadas necessárias ao regulamento de 21 de fevereiro de 1832. (Arsenal de
Guerra). Artigo 37º.
11
ALMANAK Laemmert para o ano de 1850. Rio de Janeiro: Laemmert, 1850. p. 154.
475
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
considerado que em 1827 foi uma das pessoas nomeadas para compor a direção da So-
ciedade Auxiliadora da Indústria Nacional. 12
Onofre, na primeira metade do século XIX é o que mais se parece com um en-
genheiro mecânico no Arsenal, agindo como supervisor de outros trabalhos. Em 1829
chegou-se a argumentar que ele não era efetivamente o mestre da oficina, sendo sim
“tão somente construtor, o que abrange em geral as outras oficinas, principalmente a de
obra branca”.13 De fato, a partir dessa data, ele passa a ser intitulado de “construtor”, a
oficina de construção passando a ser gerida pelo antigo mestre da oficina de construção
do Trem de Montevidéu, Sebastião José Lopes. 14
12
Diário Fluminense, vol. 10, nº 75. Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1827. p. 2.
13
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Inspetor da Junta de Fazenda dos Arsenais do Exército, Fá-
bricas e Fundições, José Francisco da Silva ao ministro da Guerra, sobre a situação de Sebastião
José Lopes, mestre de construção do antigo Trem de Montevidéu. Rio de Janeiro, 27 de março de
1829. Mss. ANRJ. IG7 18.
14
Id.
15
Cópia de estampa do Manual do Aprendiz Artilheiro (1870), detalhe. IN: OLIVÉRIO, Ten. O exame
Prático. Vol. II. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1895. Estampa C.
476
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
rios maiores que isso. 16 Por sua vez, nos documentos mais usuais ele aparece entre o
corpo de artesãos, com todas as implicações que isso tinha em termos de status: deve-
mos lembrar o preconceito que havia com relação ao trabalho manual.
Nesse sentido, cremos que o brigadeiro Cunha Matos fez o que consideramos
uma avaliação que reflete o modo de ver da hierarquia militar com relação aos trabalha-
dores do Arsenal, mesmo os mais qualificados. O brigadeiro, ao defender na câmara de
deputados um projeto prevendo a presença de oficiais técnicos no AGC, escreveu contra
a admissão de trabalhadores civis na direção, tratando de Onofre, sem citar seu nome:
477
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
raio, quando abre os olhos dos cubos, ou os furos das cavilhas; quando
ajunta, ou assenta uma peça de ferro em qualquer parte de um reparo,
ele sabe fazer maquinalmente este serviço melhor do que eu; porém as
leis da tática, e mecânica, com que as obras devem ser feitas, eu as sei
muito melhor do que ele; e nisto há grande diferença.
(...)
Eu conheço tudo aquilo, que é necessário para a boa construção de
uma máquina de guerra; o Carpinteiro não sabe senão pôr uma peça
junta á outra, meter-lhe uma cavilha etc., isto sabe ele melhor do que
eu, porém as leis daquele trabalho são por ele desconhecidas. Isto que
acontece com os Carpinteiros, acontece com os Ferreiros; e por con-
seguinte só os oficiais Militares muito instruídos na teoria, e pratica
das máquinas de guerra, são próprios para Diretores dos Arsenais.19
Independente dessa avaliação, Onofre continuou a exercer as funções de inter-
mediário técnico entre a direção e as oficinas até sua morte, em 1853. 20 Isso mesmo que
por algum tempo, tenha havido um engenheiro trabalhando no Arsenal, inicialmente,
em 1844, com Augusto Merlet. Este último foi contratado para “todo o serviço, (...) re-
lativamente ao risco e fabrico de máquinas para uso das oficinas, e nestas terá aquela
inspeção ou ingerência, que lhe for permitida pelo diretor”,21 mas a documentação é
omissa sobre seus serviços no Arsenal e ele ficou empregado no AGC por apenas dois
anos.
Depois foi contratado Carlos Rouhette, que tinha vindo do Arsenal de Marinha.22
Este, contudo, também ficou pouco tempo no AGC, pouco depois passando a Fábrica de
Pólvora. No mesmo período foi empregado o alemão Wackneldt para trabalhar no La-
boratório do Campinho e na Fábrica de Armas da Conceição, mas este também ficou
pouco tempo no Arsenal.
19
Diário da Câmara dos Deputados à Assembleia Geral Legislativa do Império do Brasil. sessão de 24
de julho de 1828. s.n.t. p. 2.
20
Entre outros documentos tratando de assuntos técnicos podemos citar um parecer de Onofre sobre bo-
cas de fogo, algo fora da sua especialidade, de carpinteiro. BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do
vice-diretor, Vicente Marques Lisboa ao diretor, Antônio Manoel de Melo, sobre peças de bronze
inutilizadas. Rio de Janeiro, 18 de setembro de 1846. Mss. ANRJ. IG7 334.
21
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Jerônimo Francisco Coelho, ao diretor do Arsenal
autorizando o contrato de Augusto Merlet. Rio de Janeiro, 23 de setembro de 1844. Mss. ANRJ. IG7
405.
22
Diário do Rio de Janeiro, ano XXVIII, nº 8250. Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1850. p. 1.
478
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Essa situação de falta de contato entre os operários e a direção não foi a mesma
com o novo construtor: em 1855 foi nomeado Antônio Corrêa de Melo e Oliveira, serra-
lheiro e mestre da oficina de instrumentos matemáticos, como construtor do Arsenal.
Neste caso, o ato de sua nomeação especifica suas funções: ele deveria assumir a “ins-
peção geral de todas as oficinas que trabalham em metal”,24 mantendo suas obrigações
como mestre de instrumentos matemáticos. Ele recebeu essa função por ser bem consi-
derado por alguns diretores do AGC: em 1856, o brigadeiro João José da Costa Pimen-
tel ao falar sobre as oficinas, informava que “entre os operários que nelas trabalham há
alguns bons Mestres e oficiais, e sobressai a todos o distinto Mestre da Oficina de Ins-
trumentos Matemáticos e Serralheria, Antônio Correia de Melo”.25
23
COMISSÃO de inquérito nomeada por aviso de 25 de fevereiro de 1863 para examinar o Arsenal de
Guerra da Corte. p. 24. In: BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia
Geral Legislativa na Segunda Sessão da décima segunda legislatura pelo ministro e secretário de
estado dos negócios da Guerra, José Mariano de Mattos. Rio de Janeiro: Laemmert, 1864.
24
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, conde de Caxias, ao diretor do Arsenal de Guerra,
brigadeiro João José da Costa Pimentel, nomeando Antônio Corrêa de Melo e Oliveira construtor
do Arsenal. Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1855. Mss. ANRJ. IG7 351
25
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Brigadeiro, Diretor interino, João José da Costa Pimentel,
Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1856. Mss. ANRJ. IG7 21.
26
A EXPOSIÇÃO Nacional - XXIV. Diário do Rio de Janeiro. Ano XLII, nº 75. Rio de Janeiro, 17 de
março de 1862. p. 1. O grifo é nosso.
27
JORNAL do Commercio. Ano XX, nº 47. Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 1845. p. 1.
479
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
tamente Correia e Melo era um autodidata e um bem capaz: já no ano que foi nomeado
como construtor, preparou uma máquina para raiar peças de artilharia, fazendo, a pedido
da Comissão de Melhoramentos do Material do Exército, um canhão raiado de pequeno
calibre.28
28
AMARAL, Antônio José do. O canhão La Hitte. O Indicador Militar, nº 3. Rio de Janeiro, s.d. 1862. p.
47.
29
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Antônio Corrêa de Melo e Oliveira, construtor, ao vice-
diretor, José Manoel da Silva, com exame de armas oferecidas por Hogg Adam. Rio de Janeiro 9 de
janeiro de 1856. Mss. ANRJ. IG7 351.
30
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ordem do dia n. 10, do diretor Alexandre Manoel Albino de Carvalho
ao ministro Coelho, Rio de Janeiro, 12 de abril de 1858. Mss. ANRJ. IG7 15.
31
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Construtor do Arsenal, Antônio Correia de Melo e Oliveira ao
diretor. Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 15.
32
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro da Guerra, Conde de Caxias, ao Diretor do Arse-
nal de Guerra, João José da Costa Pimentel para emitir ordem ao maquinista A. Correa de Melo
para que, com toda a urgência, apronte os riscos, desenhos e perfis de bocas de fogo de campanha.
Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1857. Mss. ANRJ. IG7 396.
33
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra da Corte em 31 de janeiro de 1859.
Mss. ANRJ. IG716.
480
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
lharia, que seria usada no Arsenal na Guerra do Paraguai, pela qual ele pediu uma re-
compensa ao ministério da Guerra.34
Talvez por suas realizações e talvez por seu papel na sociedade,35 ele recebeu as
comendas da ordem da Rosa e de Cristo, ambas em grau de cavaleiro. No caso, aponta-
mos que o mestre de obra branca também foi agraciado com as Ordens da Rosa e de
Cristo, igualmente em grau de cavaleiro.36 Nesse sentido, deve-se frisar que essas co-
mendas davam o status de fidalgo ao seu agraciado – isso não era tão importante no
Brasil Império quanto na Colônia, mas ainda representava alguns privilégios, como o de
seus filhos poderem ser admitidos como primeiros cadetes no Exército, representando
uma situação longe do estereótipo do desprezo pelo trabalho manual.
Por sua vez, nem todos viam a ação técnica do construtor como sendo algo posi-
tivo: a oficina de instrumentos matemáticos foi um dos objetos do inquérito feito em
1863, quando se constataram uma série de problemas no Arsenal depois da emergência
da Questão Christie. No caso da oficina foi apresentada a acusação de que seria muito
dispendiosa – o que parece ser verdade.
Outra crítica, contudo, é de maior interesse ao nosso trabalho, pois Melo e Oli-
veira, como dissemos, recebera a autoridade de supervisionar o trabalho das oficinas,
atuando como uma instância técnica. A comissão de inquérito considerava que isso era
“uma censura prévia à execução das deliberações do diretor, cuja autoridade é ataca-
da”,37 mostrando uma incompreensão das necessidades de uma manufatura, tendo em
vista a impossibilidade do diretor, ainda que auxiliado pelos ajudantes, se dedicar aos
aspectos técnicos da instalação. A própria defesa do diretor do Arsenal deixa isso muito
claro, explicando que o motivo da autoridade dada ao Construtor era acelerar os traba-
34
BRASIL – Ministério da Guerra. Bilhete ao Sr. tenente coronel Antônio Pinto de Figueiredo Mendes
Antas, pedindo para enviar cópia de informação sobre requerimento do Construtor do Arsenal de
Guerra da Corte, Antônio Correa de Melo e Oliveira, pedindo um prêmio pela invenção de uma
máquina de raiar artilharia. Rio de Janeiro, 13 de maio de 1864. Mss. ANRJ. IG7 496.
35
Oliveira e Melo também teria a patente de capitão, mas essa aparentemente era da Guarda Nacional.
ALMANAK Laemmert, 1864. Rio de Janeiro: Laemmert, 1864. p. 264. O almanaque de 1871 já o lis-
ta como major.
36
ALMANAK Laemmert, 1865. Rio de Janeiro: Laemmert, 1865. p. 261. O mestre de obra branca, Antô-
nio José Ferreira, em 1868 era listado como major, depois como tenente-coronel, ele pertencendo à
Guarda Nacional, suas comendas devendo estar relacionadas com essa atividade, o que talvez tam-
bém fosse o caso de Melo e Oliveira.
37
COMISSÃO de inquérito nomeada por aviso de 25 de fevereiro de 1863 para examinar o Arsenal de
Guerra da Corte. p. 5 In: BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Ge-
ral Legislativa na Segunda Sessão da décima segunda legislatura pelo ministro e secretário de esta-
do dos negócios da Guerra, José Mariano de Mattos. Rio de Janeiro: Laemmert, 1864.
481
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
lhos, pois os mestres das oficinas não precisavam recorrer ao diretor para sanar dúvi-
das.38 Era uma argumentação extremamente válida e, em nossa opinião, óbvia. No en-
tanto, a própria necessidade de que fosse feita mostra um atraso na forma de pensar de
muitos oficiais da época, inclusive os da comissão de inquérito, que não viam a necessi-
dade de uma instância técnica.
O ponto importante, contudo, era que o construtor do Arsenal, apesar dos dois
que exerceram o cargo serem evidentemente capazes e inteligentes, durante o período
em que trabalhavam, eram apenas uma pessoa. Serviam para diminuir o grave problema
que o AGC tinha na área de pessoal técnico, mas não teriam condições de, por eles, re-
solver a questão de quem proveria o pessoal para aperfeiçoar as estruturas de funciona-
mento do Arsenal. Isso era ainda mais complicado pelo fato de trabalharem em uma
instalação militar, baseada em rígidas regras de hierarquia. Nesse sentido, deve-se dizer
que os dois construtores tinham patentes de oficial, entretanto, essas eram honorárias, de
postos intermediários, de capitão, e no caso de Melo e Oliveira, da Guarda Nacional.
Dessa forma eles teriam chances reduzidas para influenciar os tomadores de decisão o
Exército como um todo, especialmente em assuntos de política e de organização da ma-
nufatura. Ainda menos influência teriam os outros mestres do Arsenal, como trataremos
a seguir.
10.1.2 Mestrança
Como temos frisado e repetido ao longo do presente trabalho, não havia um
quadro técnico no Arsenal de Guerra, todos os assuntos que dependiam de conhecimen-
tos específicos sobre o assunto manufatureiro sendo tratado por operários, inclusive a
administração das próprias oficinas do AGC. Entretanto, os trabalhadores que exerciam
essas funções mais complexas não eram artesãos comuns, compunham um segmento
específico do corpo de trabalhadores do Arsenal, a mestrança.
38
id. p. 33.
39
PORTUGAL – Alvará de 11 de março de 1811. Cria a Real Junta de Fazenda dos Arsenais, Fabricas,
e Fundição da Capitania do Rio de Janeiro e uma Contadoria dos mesmos Arsenais. inciso XIII.
482
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
senais. Como foi dito, cabia a eles a administração de cada oficina, escriturando o que
acontecia e dirigindo os trabalhos que eram feitos. Além disso, tinham uma imensa res-
ponsabilidade: avaliavam a proficiência técnica dos operários e definiam seus venci-
mentos, sendo responsáveis também pelo desenvolvimento dos trabalhos nas oficinas.
Finalmente, eram os responsáveis teóricos pela formação técnica dos aprendizes, tal
como acontecia nas corporações de ofício.
Por sua vez, o exercício dessas responsabilidades técnicas não quer dizer que os
membros da mestrança não eram operários no sentido explícito do termo: como dito, os
mestres tinham que supervisionar os trabalhos de artesãos, e para isso era preciso que
tivessem o conhecimento prático de seus ofícios. Dessa forma, realizavam trabalhos
manuais, apesar das evidências apontarem que isso era feito apenas na execução de pe-
ças mais complicadas ou excepcionais (ver Figura 51).
40
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro da Guerra Manuel Felizardo de Sousa e Melo ao
Diretor do Arsenal de Guerra, Coronel Vicente Marques Lisboa sobre processo de compras pelo
Arsenal, Rio de Janeiro, 12 de março de 1849. Mss. ANRJ. IG7 336.
41
Pelo Regulamento do Arsenal de Guerra de 1832, diversas oficinas eram dirigidas por contramestres ou
aparelhadores. Cf. BRASIL - Decreto de 21 de fevereiro de 1832. Dá regulamentos para o Arsenal
de Guerra da Corte, fábrica da Pólvora da Estrela, Arsenais de Guerra e Armazéns de Depósito de
artigos bélicos. Artigos 39 a 45.
483
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Desta forma, um membro da mestrança teria feito uma longa carreira – às vezes
de décadas – no corpo de artesãos antes de chegar ao seu cargo, devendo saber ler; es-
crever; fazer cálculos e, pelo menos, interpretar desenhos técnicos, quando não fosse
necessário saber ele mesmo desenhar. Isso apesar de ser evidente que as habilitações
“acadêmicas” nem sempre eram consideradas como de vital importância: em 1838 há
um pequeno documento escrito pelo mestre da oficina de coronheiros, José Antônio de
Souza, em que se vê que a caligrafia do mesmo era de uma pessoa que tinha dificuldade
de escrever, além de conter grave erro de português, ele escrevendo “çer” ao invés de
“ser”.46
42
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório da Fábrica de Armas, Paulo José Pereira, encarregado. Rio
de Janeiro, 18 de novembro de 1853. Mss. ANRJ. IG7 25.
43
Diário do Rio de Janeiro, ano XXXI, nº 9014. Rio de Janeiro, 17 de junho de 1852. p. 3.
44
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do vice-diretor, Vicente Marques Lisboa ao diretor, Marechal de
Exército José Maria da Silva Bentancourt, sobre contratação de mestre e aparelhador para oficinas
de Alfaiates. Rio de Janeiro 27 de maio de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
45
Diário de Rio de Janiero, ano XXXI, nº 9142, 30 de outubro de 1852. p. 1.
46
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de José Antônio de Souza [mestre de coronheiros] para o vice-
diretor sobre premiação de aprendizes. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1838. Mss. ANRJ. IG7 323.
484
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
O importante era que o mestre tivesse a capacidade de exercer seu ofício artesa-
nal: em 1834 um operário do Arsenal, Francisco Soares da Silva, fez uma espingardinha
de mola para disparar rolhas, para o príncipe D. Pedro, que então teria nove anos de
idade (ver Figura 51). Tal brinquedo, em forma de uma arma funcional do período, é
ricamente decorado com gravações e incrustações a ouro, podendo ser até uma “obra
prima”, o trabalho que era feito por um artesão nas antigas corporações de ofício para
comprovar sua capacidade como mestre na arte. Sabe-se que Soares da Silva era con-
tramestre da oficina de espingardeiros do Arsenal em 1844, sendo considerado como
um de seus artesãos mais hábeis naquele ano47 e que ele ainda trabalharia na instituição
dez anos depois, já com a função de mestre, ou seja, teve uma longa carreira dentro da
instituição, subindo na escala de graduações do corpo de operários.
A promoção nos cargos era um processo lento, pois não havia aposentadoria por
idade ou tempo de serviço, de forma que ocupar um cargo por décadas era comum: o
citado mestre de coronheiros José Antônio de Souza em 1848 exercia o cargo há 43
anos e o mestre de espingardeiros tinha essa função desde 1816, 32 anos, 48 mas esses
números não levam em conta o período que tinham como artesãos e contramestres, an-
tes de assumirem suas oficinas: em 1865 há uma informação sobre a mestrança da ofici-
na de construção, onde consta que o mestre, Antônio Januário Gonçalves, tinha sido
admitido como oficial – ou seja, já depois de ter completado seu aprendizado – em
1817. O contramestre tinha sido admitido como oficial em 1814 e o aparelhador apenas
em 1834, tendo “apenas” trinta e um anos de serviço no Arsenal. 49 O mestre Januário
Gonçalves, que tinha assumido o cargo de contramestre em 1849, depois de 32 anos de
serviço, e o de mestre sete anos depois, ainda estava na folha de pagamento do Arsenal
47
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Jerônimo Francisco Coelho ao diretor do Arsenal
de Guerra da Corte, Brigadeiro João Eduardo Pereira Colaço Amado, aprovando proposta do vice-
diretor do Arsenal, Galdino Justiniano da Silva Pimentel, sobre a permanência no Arsenal de dois
dos oficiais mais hábeis, para ensinar os aprendizes artífices. Rio de Janeiro, 29 de julho de 1844.
Mss. ANRJ, IG7405.
48
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do marechal João Carlos Pardal, diretor, ao Ministro da
Guerra. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1848. Mss. ANRJ. IG7 10.
49
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação nominal da mestrança da oficina de construção do Arsenal de
Guerra da Corte com declaração do tempo de serviço que tem. O secretário, José Antônio Frederi-
co. Rio de Janeiro, 27 de novembro de 1865. Mss. ANRJ. IG7 502.
485
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
em 1871, quanto tinha 77 anos de idade,50 o caso dele não podendo ser considerado co-
mo atípico.
Um fator que justifica as longas carreiras no Arsenal era, além da necessária es-
tabilidade dos cargos, o fato que a mestrança recebia por jornal, o dia trabalhado – era
um assalariado – isso mesmo quando foi implantado o sistema de pagamento por em-
preitada. Deve-se dizer que os vencimentos da mestrança eram elevados para o período:
em 1844 recebiam diariamente de 5.000 (o mestre da oficina de máquinas) até 2.400
réis (o aparelhador de pedreiros), 51 o que podia corresponder a um salário mensal de
130.000 a 62.400 réis, se fossem trabalhados todos os seis dias de cada semana. Para
efeitos de comparação, o soldo de um capitão do Exército – que certamente seria classi-
ficado como pertencente à classe média –, era de 50.000 réis e o de um coronel era de
100.000 réis, pela tabela de 1841.52 O mestre de máquinas, o engenheiro Merlet, chegou
a receber pouco mais do que um brigadeiro, um oficial general, cujo soldo entre 1841 e
1852 era de dez mil réis a menos do que o do operário.
50
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Domingos Jaguaribe, ao diretor do Arsenal de
Guerra, Aires Antônio de Morais Âncora sobre mestres dispensados do ponto. Rio de Janeiro, 22 de
maio de 1871. Mss. ANRJ. IG7 375
51
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro P.de S. Bellegarde ao diretor do Arsenal Jerônimo
Francisco Coelho, aprovando a tabela regulando o jornal e vencimentos dos operários e serventes
do Arsenal de Guerra da Corte. Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 1854. Mss. ANRJ, IG7 341.
52
SCHULZ, John. O exército na Política: origens da intervenção militar: origens da intervenção militar
– 1850-1894. São Paulo: EDUSP, 1994. p. 211.
53
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa extraído do ponto dos operários que trabalharam nas oficinas do
Arsenal de guerra nesta fortaleza, José Manoel Justino da Cunha, major encarregado. Rio de Janei-
ro, 30 de dezembro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10. Naquele ano, a oficina de coronheiros tinha um dos
seus d\ois mestres em licença por problemas de saúde há três anos.
54
CORREIO Mercantil, nº 179. Rio de Janeiro, 30 de junho de 1863. p. 2.
486
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
55
RELAÇÃO dos operários do Arsenal Real do Exército que passam a servir no Rio de Janeiro, aos quais
são devidos os salários abaixo declarados. Lisboa, Contadoria dos Arsenais Reais do Exército 20 de
dezembro de 1809. In: VITERBO, Sousa. A armaria em Portugal. Lisboa: Academia Real das Ciên-
cias, 1908. p. 89.
56
PORTUGAL – Portaria de 28 de setembro de 1813. Determina normas de isenção de recrutamento.
487
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
desta corte na ocasião em que se tratava o recrutamento vinha pedir se admitisse no Ar-
senal na classe de aprendizes com as únicas vistas de obter suas ressalvas e com elas
ficar isentos de terem praças na tropa de linha e miliciana”.57
A isenção de serviço militar era uma grande vantagem para os trabalhadores, da-
do os labores do serviço militar, mesmo que este fosse na milícia, só que esse privilégio
acabou com a criação a Guarda Nacional: a lei de criação da força continha previsões
explícitas que os “empregados nos arsenais e oficinas nacionais”58 poderiam ser recru-
tados para ela. Nesse ponto vale observar que a questão do serviço de operários na
Guarda Nacional já é por si um indicativo de status dos trabalhadores, pois a Guarda foi
criada como uma força proprietária, para excluir os elementos mais baixos da socieda-
de.59 Seus soldados deveriam ter uma renda anual suficiente para lhes permitir votar, de
100.000 (eleitores de paróquia) ou 200.000 réis para poderem ser eleitores de província,
uma renda que já na década de 1830 era alcançada por praticamente todos os trabalha-
dores do Arsenal, menos os serventes e aprendizes.
57
MATOS, Raimundo José da Cunha. Memória estatística, econômica e administrativa sobre o arsenal
do exército, fábricas e fundições da cidade do Rio de Janeiro. Vila Nova de Famalicão: s.ed. 1939.
p. 21.
58
BRASIL – Lei de 18 de Agosto de 1831. Cria as Guardas Nacionais e extingue os corpos de milícias,
guardas municipais e ordenanças. Artigo 18, § 4º.
59
CASTRO, Jeanne Berrance. A milícia cidadã: A Guarda Nacional de 1831 a 1850. São Paulo: Compa-
nhia Editora Nacional, 1979. p. 21.
60
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório de 1848, op. cit.
61
BRASIL – Trono. Ofício de sua majestade ao ministro da justiça isentando os operários de espingar-
deiros, coronheiros e correeiros do serviço na Guarda Nacional nos dias de trabalho, excetuando-se
os dias em que a Guarda Nacional tiver que reunir-se em parada geral. Rio de Janeiro, 7 de julho
de 1841. Mss. ANRJ. IG7 6.
62
Diário do Rio de Janeiro, nº 23, Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1837. p. 1.
488
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
porárias, tendo que ser constantemente reiteradas, de forma que o serviço na Guarda
continuou a ser um problema para o funcionamento do AGC em todo o período de nos-
so estudo, o que não ocorreu com a escravidão, como veremos mais abaixo.
63
MATOS, Raimundo José da Cunha. Repertório da legislação militar atualmente em vigor no exército e
armada do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Seignot-Plancher, 1837. Vol. 2. p. 320.
64
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício do diretor interino, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão
ao ministro da Guerra, enviando lista de operários a serem recrutados. Rio de Janeiro, 18 de junho
de 1838. Mss. ANRJ. IG7 20.
65
Diário do Rio de Janeiro, ano XXVIII, nº 8020. Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1849. pp. 2 e 3.
66
BRASIL – Decreto nº 600, de 25 de Março de 1849. Aprova o Regulamento para a organização do
Corpo de Operários artistas do Arsenal de Guerra da Corte.
489
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
67
id. artigo 10.
68
CORREIO Mercantil, ano VIII, nº 309. Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1851. p. 3.
69
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição dos negócios da Guerra apresentado à As-
sembleia Geral Legislativa na 1ª Sessão da 6ª Legislatura pelo ministro e secretário de estado dos
negócios da Guerra, Jerônimo Francisco Coelho. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1845, mapa
nº 7 & BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa nº 7. Número de operários das diferentes oficinas deste
Arsenal existentes em 1o de Janeiro de 1847 e das alterações ocorridas daquela data até o último de
dezembro do mesmo ano. s.d. Mss. ANRJ. IG7 10.
490
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
os operários mediante um contrato de longo prazo. 70 Só que isso não foi seguido, o sis-
tema de diaristas continuando, apesar de o Exército usar contratos de trabalho de dois a
seis anos com os operários estrangeiros e com os que eram enviados para trabalhar nas
províncias.
70
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Antônio João Rangel de Vasconcelos, ao ministro da
Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello, sobre a necessidade de contratar trabalhadores. Rio de
Janeiro, 24 de maio de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
71
Não deixa de ser curioso que a etimologia do termo venha do latim mancipium, “ação de adquirir ou
tomar na mão”, por extensão sendo uma palavra que designava escravo, ou servo, o que pode ser vis-
to como um indicativo da forma pejorativa de como era visto o trabalho na sociedade brasileira.
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p. 493.
72
BRASIL – Ministério da Guerra. Tabela demonstrativa dos jornais que devem vencer os mestres, con-
tramestres e mais operários das quatro oficinas abaixo mencionadas, aprovada por aviso desta da-
ta. No impedimento do oficial maior, Bernardo Joaquim de Matos. Rio de Janeiro, 20 de maio de
1857. Mss. ANRJ. IG7 367.
491
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
vembro passado até hoje, tem apenas composto 36 armas”,73 um número ridiculamente
baixo, se recomendando sua demissão.
Uma solução para esse problema seria o pagamento por empreitada, a feitura de
uma peça. Como colocou Hobsbawn:
73
BRASIL – Arsenal de Guerra de Porto Alegre. Ofício nº 249, do diretor ao Tenente-General Francisco
José de Soares d’Andréa, presidente e comandante do Exército. Porto Alegre, 31 de outubro de
1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
74
HOBSBAWN, Eric. A era do Capital: 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p. 231.
75
MATOS, 1939, op. cit. p. 22. De fato, o artigo 43 do Alvará de 1º de março de 1811 especificava que
os vice-inspetores das manufaturas do governo: “Não consentirão que Mestre algum tome empreita-
da, nem que os oficiais se empreguem em trabalhos que não pertençam ao meu serviço,” a leitura
feita na época foi que essa determinação de impedir a empreitada se aplicava à todos os trabalhado-
res e não apenas aos mestres. PORTUGAL – Alvará de 1º de março de 1811. Cria a Real Junta de
Fazenda dos Arsenais, Fabricas, e Fundição da Capitania do Rio de Janeiro e uma Contadoria dos
mesmos Arsenais.
76
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa, na 4ª sessão
da 8ª legislatura, pelo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, Manoel Felizardo de
Souza e Melo. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1852. p. 9.
492
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Outro problema mais específico era a própria complexidade do sistema: para ele
funcionar era necessário preparar tabelas especificando todos os trabalhos que poderiam
ser feitos e por quanto seriam remunerados. Em uma manufatura com poucos produtos e
com processos bem controlados de produção isso seria possível, mas tal não era o caso
do Arsenal: na manufatura se fazia uma imensidade de itens diferentes, se usando múl-
tiplos processos de trabalho, o que gerava confusões.
Outra dificuldade surgia com relação à avaliação dos serviços executados, que
era feita pelos mestres. Estes recebiam o produto acabado por um dos artesãos e verifi-
cavam se o mesmo atendia aos padrões de qualidade aceitáveis. Isso podia reduzir o
valor a ser pago ao trabalhador, caso fosse julgado que o produto feito era inferior e,
novamente, esse era um procedimento que gerava reclamações, inclusive na imprensa.
Um artigo do Diário do Rio de Janeiro atacou o sistema de empreitada, defendendo a
posição dos alfaiates, que tinham perdido seu pagamento por jornal – e a segurança de
77
BRASIL – Arsenal de Guerra. Requerimento de José Lúcio de Araújo. Rio de Janeiro, [sem dia], julho
de 1854. Mss. ANRJ. IG7 335.
78
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Jerônimo Francisco Coelho, ao diretor do Arsenal
de Guerra, Coronel do Estado-Maior de 1a Classe Alexandre Manoel Albino de Carvalho, sobre re-
presentação feita pelos operários empreiteiros da Conceição sobre seus vencimentos. Rio de Janei-
ro, 16 de setembro de 1857. Mss. ANRJ. IG7 396.
493
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
trabalho que isso implicava –, não tinham mais horas extras e tinham que se sujeitar às
avaliações dos mestres. Uma última reclamação era no tocante a imposição de um horá-
rio de trabalho aos empreiteiros, começando às 05:15 h, apesar deles não serem assala-
riados e não terem, em tese, horários a cumprir.79
A forma de produção por empreitada nunca foi total no Arsenal: como já trata-
mos no capítulo anterior, empreiteiros e jornaleiros conviviam na organização (ver Ta-
bela 19), talvez por causa dos múltiplos problemas dessa forma de organização do traba-
lho. A empreitada não era uma forma propícia a criar uma força de trabalho dedicada –
por exemplo, houve uma grande redução no quadro de operários em 1860. Naquele ano,
passada a crise da possibilidade de guerra com o Paraguai, de 1857-58, o ministro Caxi-
as determinou cortar a força de trabalho para apenas 400 operários, especialmente nas
oficinas que trabalhassem com produtos que tivessem similar no mercado civil. A redu-
ção foi tão grande que o ministro tomou uma decisão incomum, a de ordenar que não se
pagassem mais aos aprendizes, a não ser os da Fábrica de Armas da Conceição. 81 A
79
O Arsenal de Guerra da Corte. O Proletário. Diário do Rio de Janeiro, ano XLII, nº 29. Rio de Janeiro,
20 de janeiro de 1862. p. 2.
80
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa 2º Ajudante – preço das diferentes peças duma espingarda a
Minié de 14,8 mm, Antônio Correia de Melo Oliveira, construtor. Rio de Janeiro, 4 de janeiro de
1864. Mss. ANRJ. IG7 500.
81
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Marques de Caxias para o diretor do Arsenal,
Alexandre Manoel Albino de Carvalho sobre demissão de operários. Rio de Janeiro, 1 de outubro de
1860. Mss. ANRJ. IG7 372.
494
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
medida gerou protestos, como o caso do maquinista Luís Virgílio França, que “ao reti-
rar-se praticou atos de desatino, insubordinação e insultos em prejuízo do maquinismo
da oficina e contra a autoridade do mestre”.82
Por sua vez, a direção do AGC ocasionalmente tomava algumas medidas para
manter o corpo funcional. Considerando a inflação da época, muitas vezes o pagamento
ficava abaixo dos valores de mercado, exigindo o uso de recursos, o famoso “jeitinho”.
Um desses era o trabalho fora do Arsenal – como dizia o diretor, em resposta a um pe-
dido de informações do ministro da Guerra, Caxias, em 1856:
82
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Alexandre Manuel Albino de Carvalho, ao ministro da
Guerra, Marques de Caxias. Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1861. Mss. ANRJ. IG7 23.
83
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício reservado de João José da Costa Pimentel, Brigadeiro, diretor
interino do Arsenal, ao ministro da Guerra, Marques de Caxias. Rio de Janeiro, 22 de dezembro de
1856. Mss. ANRJ. IG721.
84
DORES, Camilo Maria das. Petição de aumento de vencimentos. Rio de Janeiro, s.d. Mss. ANRJ. IG7
330. A petição foi atendida pelo ministro da Guerra em 19 de fevereiro de 1842.
495
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
de vencimentos, com a proibição das sestas para aqueles que ainda recebiam por jor-
nal.85
85
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Alexandre Manoel Albino de Carvalho, diretor, ao ministro da
Guerra, Marquês de Caxias. Rio de Janeiro, 28 de abril de 1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
86
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal Antônio João Rangel de Vasconcelos ao
Ministro da Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello sobre horário de trabalho no Arsenal. Rio
de Janeiro. 28 de maio de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10. O documento propunha uma redução na carga
horária, para 8 e ½ horas diárias, retirando, contudo, as pausas para refeições.
87
BRASIL – Arsenal de Guerra. Tabela Marcando as horas de trabalho e vencimentos de jornais dos
operários deste Arsenal, nas sestas, serões e domingos ou dias santificados. Apontador Eduardo Jo-
sé Maria, s.d. Em anexo a ofício do 2o Ajudante ao Diretor do Arsenal, Tenente-Coronel Antônio
Pinto de Figueiredo Mendes Antas, sobre pagamento de sestas. Rio de Janeiro, 30 de janeiro de
1862. Mss. ANRJ. IG7498.
88
Diário do Rio de Janeiro. Ano XXXVII, nº 335. Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 1857. A reclama-
ção feita era que os operários eram admitidos às 04h45min, aguardando quinze minutos pela chama-
da do ponto.
89
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Tabela de distribuição do tempo de trabalho para os
operários desse Estabelecimento, em vista do Artigo 58 do regulamento de 28 de fevereiro pp. com-
binado com o artigo 57 do mesmo, o escriturário Carlos Frederico Olaria. Rio de Janeiro, 10 de
abril de 1861. Mss. ANRJ, GIFI OI 5B 267.
496
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
saúde e moral dos aprendizes”, de 1802, previa que menores de idade só podiam traba-
lhar doze horas por dia, excluindo-se o horário das refeições.90
90
RAITHBY, John. The Statues of the United Kingdom of Great Britain and Ireland. London: George
Eyre and Andrew Strahan, 1822. p. 386.
91
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, P. de S. Bellegarde, ao diretor do Arsenal, Manoel
Ignácio Brício, aprova a tarifa (sic) regulando o jornal e vencimentos dos operários e serventes do
Arsenal de Guerra da Corte. Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 1854. Mss. ANRJ. IG7 335. A mes-
trança era composta de mestres, contramestres e aparelhadores, nomes abreviados por falta de espa-
ço.
497
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Oficiais/Praças Soldo
Coronel 120.000
Tenente coronel 96.000
Major 84.000
Capitão 60.000
1º tenente 42.000
2º tenente 36.000
Sargento ajudante 10.200
1º sargento 8.400
2º sargento 7.200
3º sargento 6.600
Cabo 5.700
Anspeçada 4.500
Soldado 4.200
Tabela 22 – Tabela de vencimentos militares, 1852.92
Incluirmos essa tabela para efeito de comparação com os jornais dos operários do AGC. Os soldos dos
praças está de acordo com a tabela de 1825, já que não houve reajustes para eles em 1841 e 1852, os
valores mostrados sendo os mais elevados de cada graduação, convertidos para um mês de trinta dias,
pois os praças também recebiam por dia trabalhado. Os vencimentos dos oficiais do Exército mostram o
“soldo base”, seu salário mensal, sem incluir as usuais gratificações por exercício de função e as vanta-
gens do posto, como a alimentação (etapa). Deve-se lembrar que todas as praças também recebiam a
etapa e uniforme. O posto de 2º tenente de infantaria ou cavalaria era equivalente ao de alferes de enge-
nharia ou artilharia.
A comparação das duas tabelas de vencimento mostra que todos os artesãos qua-
lificados do AGC recebiam mais que as praças do Exército. Somente as categorias mais
baixas de operários – as 5ª e 6ª classes de oficiais, os mancebos, serventes e os aprendi-
zes recebiam menos que o degrau inicial da carreira dos oficiais do Exército. Mesmo os
que ainda estavam no estágio do aprendizado podiam receber tanto quanto um 2º sar-
gento, basicamente um graduado com bastante tempo de serviço.
Fazemos a ressalva que talvez os salários dos operários não fossem tão altos as-
sim, mas que os vencimentos dos oficiais eram, estes sim, reduzidos – o que não seria
um exagero, pois os pagamentos dos militares eram realmente baixos na época. Tam-
bém sofriam do problema de só serem corrigidos esporadicamente: durante todo o im-
pério só houve quatro reajustes nos soldos: em 1825, 1841, 1852 e 1873, 93 enquanto os
pagamentos dos operários, dependentes de um mercado de trabalho, eram aumentados
com uma frequência muito maior: a tabela de 1854, ela mesmo já um aumento de ven-
cimentos, foi parcialmente corrigida três anos depois, com um aumento de até 10% para
os trabalhadores de algumas oficinas. 94
92
SCHULZ, op. cit. p. 211.
93
SCHULZ, op. cit. p. 211.
94
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, ao ministro da
Guerra, marquês de Caxias, propondo aumento de vencimentos aos operários. Rio de Janeiro, 28 de
abril de 1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
498
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
95
HADDOCK LOBO, Roberto Jorge. Recenseamento do Rio de Janeiro de 1849. https://goo.gl/uqz9xp
(acesso em abril de 2017).
499
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
lização, sabe-se que eram numerosos: em 1845 eram 178 deles, 27% da força de traba-
lho do AGC naquele ano. 96
Considerando que seu serviço, de forma geral, era apenas braçal, sem especiali-
dade, na primeira metade do século XIX o usual era que os serventes fossem escravos:
em 1820, Cunha Matos escrevia que de todos os serventes do Arsenal, apenas dois não
eram cativos97 e são comuns anúncios para contratação de serventes escravos: encon-
tramos até publicações em jornais pedindo aos senhores para mandar seus escravos para
o Arsenal, onde encontrariam trabalho, sendo “pretos reforçados”.98
Como dissemos acima, ainda que os escravos fossem comuns nos trabalhos bra-
çais, nem todos os serventes eram cativos e mesmo assim o número desses foi dimi-
nuindo ao longo dos anos. Supomos que isso represente uma mudança na própria estru-
tura de composição da força de trabalho na cidade e nas preferências do próprio Exérci-
to, considerando que havia uma legislação prevendo que não podiam ser admitidos es-
cravos como operários ou serventes nos serviços públicos, se houvesse livres ou libertos
96
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição, 1845, mapa nº 7, op. cit..
97
MATOS, 1939, op. cit. p. 21.
98
Diário do Rio de Janeiro, nº 8. Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 1836. p. 2.
99
Diário do Rio de Janeiro, nº 11. Rio de Janeiro, 12 de maio de 1827. p. 1.
100
COELHO, Sérgio Veludo. Os Arsenais Reais de Lisboa e do porto: 1800-1814. Porto: Fronteira do
Caos, 2013. p. 214.
101
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, José Maria da Silva Bittencourt, ao Ministro da
Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello, sobre a inconveniência de manter os oito soldados in-
válidos na Conceição. Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 1850. Mss. ANRJ. IG7 11.
102
Diário do Rio de Janeiro, ano XVIII, nº 3. Rio de Janeiro, 4 de janeiro de 1830. p. 2.
500
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
que desejassem esses empregos. 103 Nesse sentido, observamos que é com os serventes
que observamos um caso específico de diferença de tratamento de empregados: em
1838 havendo dois anúncios de contratação de “marinheiros” (remadores), com a espe
cificação de que seria pago 500 réis a eles, se fossem livres, e apenas 400, se fossem
escravos, “preferindo-se os primeiros”. 104 Abordaremos a questão dos trabalhadores
cativos, inclusive os escravos da nação e os africanos livres mais adiante neste texto.
No entanto, as listas de 1836, 1838 e 1859, relacionam o número deles por ofici-
na. Por esses documentos, sabemos que nem todas as oficinas os empregavam: em 1836
e 1838 aparecem apenas nas de Construção; Coronheiros; Ferreiros e Correeiros. Na
relação de 1859, são citados também nas de Maquinistas; Pedreiros e Espingardeiros do
Arsenal. 105 Na Fábrica de Armas da Conceição igualmente havia serventes, subordina-
dos a Espingardeiros, usados para limpeza de armas; para acionar os foles e servir de
malhadores. Finalmente, havia os “marinheiros”, os remadores das embarcações do es-
caler. Estes normalmente não são listados como serventes, mas compartilhavam com
eles uma série de características, a principal sendo os baixos vencimentos e o emprego
de escravos, ainda que para o exercício dessa função fosse necessário algum treinamen-
to.
103
BRASIL – Decreto de 25 de junho de 1831. Proíbe a admissão de escravos como trabalhadores, ou
como oficiais das artes necessárias, nas estações públicas da Província da Bahia. O decreto é espe-
cífico sobre a Bahia, mas Cunha Matos, em seu Repertório da Legislação Militar, informa que isso
era uma norma geral, tanto para a Marinha quanto para o Exército. MATOS, 1837, op. cit. pp. 229-
230.
104
Diário do Rio de Janeiro, ano XVII, nº 232. Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1838. p. 2.
105
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório apresentada à Assembleia Geral Legislativa na quinta
sessão da décima legislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, Sebastião
do Rego Barros. Rio de Janeiro: Laemmert, 1860. Mapa demonstrativo do número de operários das
diferentes oficinas do Arsenal de Guerra da Corte em 1º de Janeiro e 1859, e das alterações ocorridas
daquela data até o ultimo de dezembro do mesmo ano.
501
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
nos dias úteis.”106 Isso não abrangeria “os empregados na limpeza do armamento, toca-
dores de foles, e rodas do torno, que somente vencerão 600rs”. Finalmente, havia um
grupo de maiores vencimentos, os “serventes do almoxarifado, e os empregados no ser-
viço de escrituração terão 1.000” diários.107
A passagem acima mostra que nem todos esses operários eram simples trabalha-
dores braçais, alguns parecem ter tido certa especialidade, pois os documentos do AGC
mencionam, como parte do corpo de serventes surradores, que preparavam os couros
para uso nas oficinas de correeiros, malhadores, que manejavam os malhos para forja na
oficina de ferreiros, os serradores, das oficinas de construção e de obra branca e os ma-
rinheiros. Um ponto os unificava: o pagamento de todos eles era bem reduzido, o que
dificultava a contratação de homens livres para a execução desses trabalhos. Isso se tor-
nou grave a partir de 1849, quando o Ministro da Guerra ordenou que os todos os escra-
vos de aluguel a serviço do Arsenal fossem demitidos. 108 Mesmo assim, deve-se dizer
que perto 60% dos serventes do AGC naquele ano já eram livres. 109
Uma última categoria de serventes, essa sim bem especializada, era a dos “ser-
ventes de escrita”, uma profissão que depois seria chamada de escriturários, pessoal que
fazia o lançamento dos registros nos diversos livros administrativos da instituição. Este
era claramente um trabalho mais intelectual: em 1860, um deles chegou a assumir, inte-
rinamente, a regência do curso de primeiras letras dos aprendizes na Fábrica de Armas,
com 32 alunos110 e no ano seguinte foi aplicado um exame escrito a eles, dos quais três
não o prestaram, “dois por terem títulos de aprovações da Escola Militar, um por ter
diploma do governo, que também o isenta”.111
106
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Diretor, Jeronimo Francisco Coelho, ao Ministro da Guerra,
Pedro d’Alcântara Bellegarde, com proposta de tabela, regulando a tarifa dos jornais dos operários
deste arsenal. Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1854. Mss. ANRJ. IG7 14.
107
id.
108
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do vice-diretor, Vicente Marques Lisboa, ao Diretor Antônio
João S. Rangel de Vasconcelos, sobre redução do corpo de artesãos. Rio de Janeiro, 17 de setembro
de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
109
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos escravos que existiam nas oficinas e que foram despedidos
hoje, Manoel José da Silva, apontador. Rio de Janeiro, 21 de novembro de 1849. Mss. ANRJ.
IG710.
110
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal de Guerra, 30 de janeiro de 1860. Mss. ANRJ,
IG7 17.
111
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Diretor do Arsenal de Guerra da Corte Alexandre Manuel
Albino de Carvalho ao Ministro, Marques de Caxias. Rio de Janeiro, 7 de outubro de 1861. Mss.
ANRJ. IG7 23.
502
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
% de Serventes
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
10.1.5 Aprendizes
A mais baixa classificação dos trabalhadores do Arsenal eram os aprendizes, de-
vendo-se fazer uma observação: essa é uma categoria em que supostamente não se acei-
tavam escravos – o aprendizado nos Arsenais, tanto do Exército, quando o de Marinha,
112
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso da 4a Diretoria Geral, Antônio Manoel de Mello a Andrea ao
diretor do Arsenal, José de Vitória Soares d‘Andréa. Rio de Janeiro, 10 de agosto de 1863. Mss.
ANRJ. IG7 357.
113
Dados obtidos em diversas relações de pessoal encontradas nos relatórios dos diretores do Arsenal,
contidos na documentação do Arquivo Nacional, bem como outros publicados nos relatórios do Mi-
nistério da Guerra.
503
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
era uma atividade supostamente dirigida exclusivamente aos livres e libertos. Dito isso,
como já foi colocado, o AGC não se insere em um contexto em que havia corporações
de ofício, mas mantinha muitas de suas tradições, uma das quais era o trabalho de pes-
soas que estavam aprendendo um ofício – na verdade, a formação de mão de obra era
considerada como uma das principais funções da instalação e se chegava a publicar
anúncios na imprensa, informando que o Arsenal recebia todas as crianças livres que
quisessem aprender ofícios. 114 A atividade de adestramento também era uma das obri-
gações dos mestres, isso constando até em contratos de operários que eram enviados
para arsenais das províncias. 115
114
Ver, por exemplo, Anúncio publicado no Diário do Rio de Janeiro, nº 24. Rio de Janeiro, 28 de outu-
bro de 1838. p. 2.
115
BRASIL – Arsenal de Guerra. Contrato com o operário Antônio Soares Proença. Rio de Janeiro, 25
de Junho de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13. A 5ª cláusula do contrato especificada que “O referido Mes-
tre obriga-se a dar ao fim do prazo porque se contrata oficial apto dentre os Aprendizes, para substi-
tuí-lo”.
116
MARTINS, op. cit. p. 68.
117
id. p. 86.
118
MATOS, 1939, op. cit. p. 22.
504
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
119
Diário do Rio de Janeiro, ano XXXVII, nº 51. Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 1857. p. 1. Os grifos
são nossos.
120
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da guerra, brigadeiro Antero José Ferreira de
Brito ao diretor do Arsenal de Guerra, Vasconcelos de Menezes de Drummond, determinando que a
diária dos aprendizes seja elevada de 160 para 200 réis. Rio de Janeiro, 23 de maio de 1833. Mss.
ANRJ. IG7 316.
121
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do Diretor, Jeronimo Francisco Coelho, ao Ministro da Guerra,
Pedro d’Alcântara Bellegarde, com proposta de tabela, regulando a tarifa dos jornais dos operários
deste arsenal. Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1854. Mss. ANRJ. IG7 14.
122
MATOS, 1939, op. cit. p. 21.
505
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
as crianças são recolhidas para trabalhar nas oficinas do arsenal e a isso se dá o nome de
ensino de ofício, uma iniciativa filantrópica e humanitária”.123
A crítica sobre o trabalho infantil não deixa de ter certa validade, pelo menos no
modo de ver dos dias de hoje – mas aplicar esse julgamento ao AGC ou mesmo às cor-
porações de ofício da época, implica em um julgamento anacrônico, usando valores de
hoje para uma questão que, no século XIX, era vista de forma diferente.124 Também se
deve dizer que em nenhum momento da documentação aparece a noção que a institui-
ção foi criada com objetivos de obter trabalho barato, para corrigir menores marginais
ou como uma forma de controle social, ao contrário do que acontecia com os menores
da Casa de Correção (ver Figura 61). Na verdade, Aprendizes Menores do Arsenal jul-
gados como problemáticos eram enviados para as companhias de Aprendizes Marinhei-
ros, essas sim criadas com certo aspecto de controle social.125
123
CRUDO, Matilde Araki. Ensino de ofícios: práticas e representações dos militares na província de
Mato Grosso, na Segunda Metade do Século XIX. In: Anais dos Congressos Brasileiros de História
da Educação. 2000. https://goo.gl/l2u4sF (acesso em abril de 2017). O grifo é do original.
124
Lembramos que o aprendizado infantil, de crianças de 14 anos, só foi regulamentado pela Consolida-
ção das leis do trabalho de 1943 e que a primeira norma legal proibindo o trabalho de menores de
dez anos é o decreto 2.141 do governo de São Paulo, de 1911. FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e
conflito social: 1890-1920l. São Paulo: DIFEL, 1976. p. 224.
125
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, cel. Jerônimo Francisco Coelho ao ministro P.de S.
Bellegarde sobre o envio do menor Abrahão Pedro de Alcântara que feriu com uma pequena faca o
soldado da companhia de Artífices Manoel Antônio da Silva para a companhia de aprendizes mari-
nheiros. Rio de Janeiro, 2 de janeiro de 1855. Mss. ANRJ. IG7 14.
126
ALDER, Ken. Engineering the Revolution: Arms & Enlightenment in France, 1763-1815. Chicago:
The University of Chicago, 2007. p. 245.
127
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal, coronel José de Vitória Soares d’Andrea,
ao ministro da Guerra, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, Rio de Janeiro, 12 de julho de
1862. Mss. ANRJ. IG7 24.
506
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
rizando a contratação de serventes para liberar os menores para realizar seu aprendiza-
do, apesar do corte de despesas vigente então.
Essa questão do trabalho também leva a uma das diferenças existentes entre as
corporações de ofício e o AGC: nas primeiras, o ensino era para ser feito pelos mestres,
que supervisionavam diretamente as atividades de seus pupilos. Os mestres nas corpo-
rações tinham imensos poderes sobre os aprendizes, podendo até usar castigos físicos
contra eles: em 1857 foi publicada uma matéria no Diário do Rio de Janeiro, sobre um
“sapateiro morador na rua do Cano n. 191 costuma ter em casa alguns aprendizes rapa-
zes e mulheres a quem espanca barbaramente a ponto de incomodar a vizinhança com
os gritos dos padecentes”.128
Isso, de forma alguma era a norma do Arsenal. Não encontramos registro de cas-
tigos aplicados a civis, a não ser dois curiosos casos de pais que colocaram seus filhos
para trabalhar no AGC como medida disciplinar.129 Entretanto, os alunos das companhi-
as de Aprendizes Menores e soldados das Companhias de Artífices podiam ser punidos:
em 1846, um soldado adido aos Artífices, com apenas quinze anos, recebeu a maior
pena de açoite do duro regulamento militar, cinquenta pranchadas, “por praticar em um
moleque do vice-diretor uma ação imoral.”130 Para os Aprendizes Menores, para quem
havia previsão legal de punições corporais “os castigos moderados, com que é licito aos
pais corrigir as faltas de seus filhos, e aos mestres as de seus discípulos”, 131 a partir de
certo momento estes dependiam de autorização do diretor, o que diminuía a arbitrarie-
dade dos mestres nesse tema.132 Em caso de abusos, os menores também podiam recor-
rer à instâncias superiores, como no caso de um que procurou diretamente o ministro
sobre a aplicação de pancadas com uma tira de sola à dois colegas seus em 1862, um
128
Diário do Rio de Janeiro, ano XVIII, nº 14. Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 1839. p. 2
129
Diário do Rio de Janeiro, ano XXVIII, nº 8138. Rio de Janeiro, 9 de junho de 1849. p. 2.
130
Diário do Rio de Janeiro, ano XXV, nº 7343. Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1846. p. 2. Observamos
que o código penal especificava a pena de “açoites”, mas o castigo era feito dando-se golpes com a
prancha (a lateral) de uma espada especial (“de prancha”), sem corte ou ponta.
131
BRASIL – Decreto nº 113, de 03 de janeiro de 1842. Dando nova organização às Companhias de
Aprendizes Menores dos Arsenais de Guerra.
132
Diário do Rio de Janeiro, ano XXXVII, nº 187. Rio de Janeiro, 11 de julho de 1857. p. 1 e BRASIL –
Arsenal de Guerra. Ofício do diretor e Alexandre Manoel Albino de Carvalho, ao ministro, Jerônimo
Francisco Coelho, sobre castigos corporais aplicados aos menores, Rio de Janeiro, 11 de julho de
1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
507
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
dos professores dos menores sendo formalmente repreendido por os aplicar e ameaçado
de demissão caso repetisse o ato.133
É verdade que a questão dos castigos aplicados podia ser excessiva, até pela vi-
são da época: em duas ocasiões o assunto chegou até a imprensa: em 1857 o jornal Diá-
rio do Rio de Janeiro publicou uma matéria sobre abusos na aplicação de castigos físi-
cos aos menores, o que gerou questionamentos por parte do ministro da Guerra, a dire-
ção do Arsenal negando os abusos.134 Em 1863, no Laboratório Pirotécnico do Campi-
nho, o diretor mandou punir um soldado de Artífices menor de idade com a aplicação de
golpes de palmatória, a imprensa novamente reclamando. O fato foi julgado sério o su-
ficiente para gerar um conselho de Guerra, uma corte marcial, que resultou na demissão
do diretor e na prisão do comandante do destacamento do Campinho,135 mostrando que
castigos abusivos não eram a norma – ou pelo menos não deveriam ser.
O ensino que se dava pelas normas das corporações também era bem diferente
do praticado no Arsenal: a norma tradicional era, como já dissemos, que o mestre fizes-
se a instrução dos seus pupilos, um processo lento e de interação pessoal. Assim é que
na França, 48 fabricantes de fechos no final do século XVIII, tinham treinado apenas
127 aprendizes em trinta anos, menos de um a cada dez anos por mestre, 136 indicando
um ensino feito com acompanhamento aproximado por parte dos mestres, o longo tem-
po despendido na formação dos novos artesãos não constituindo um problema para os
artesãos qualificados.
O caso do Arsenal era diferente, pois o número de aprendizes nas oficinas era
elevado demais para a aplicação de métodos tradicionais de aprendizado. Em 1852 ha-
via 215 aprendizes em um do corpo funcional de exatamente 1.000 operários137 e, em
termos percentuais, o número deles empregados variava de 6 a 22% da força de trabalho
ao longo dos anos, a média ficando mais próxima desse último número. Esses altos nú-
meros mostrando que a formação de pessoal era uma prioridade clara do Exército, isso
133
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ordem do dia n.º 5, de 13 de janeiro de 1862, Coronel Alexandre Ma-
noel Albino de Carvalho. Sobre ordem de repreender severamente Francisco Guedes de Araújo
Guimarães substituto do Professor de 1as letras. Rio de Janeiro, Mss. ANRJ. IG7 24.
134
Diário do Rio de Janeiro, ano XXXVII nº 157. Rio de Janeiro, 10 de junho de 1857 e BRASIL – Ar-
senal de Guerra. Ofício do diretor, 11 de julho de 1857, op. cit.
135
Diário do Rio de Janeiro, ano XLIV, Nº 345. Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 1864.
136
ALDER, op. cit. p. 177.
137
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa nº 9. Número de operários das diferentes oficinas deste Arsenal
existentes em 1o de Janeiro de 1851, e das alterações ocorridas daquela data até o 1o de Janeiro de
1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
508
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
aparecendo em vários documentos, como quando Cunha Matos escreveu, em 1820: “Os
arsenais militares devem ser considerados como grande escola de artes e ofícios, escolas
públicas em que o cidadão pobre é habilitado para ser útil a sua pátria”.138 Opinião reite-
rada anos mais tarde, em 1849, por um vice-diretor da instituição: “os Arsenais são ver-
dadeiros viveiros de artistas; seu interesse é o interesse da nação, isto é a formação de
artistas, que vão depois ser outros tantos mestres das artes e ofícios, que aprende-
ram”.139
Dessa forma, se entende o esforço que foi feito, não só no AGC, mas em outras
manufaturas do governo, para treinar pessoal. No entanto, isso implicava que a forma
tradicional de ensino, dos mestres passando tarefas para os aprendizes e acompanhando
o trabalho desses, não era viável: era comum haver várias crianças fazendo o aprendiza-
do em cada oficina, às vezes dezenas. Em 1844, havia nada menos do que 45 deles na
oficina de correeiros, o que, por si, impediria o ensino por parte do mestre, sem falar nas
outras obrigações que ele deveriam desempenhar.140 A solução encontrada era que ou-
tros artesãos se encarregassem do ensino prático, estes sendo chamados de “oficiais
mentores”, mas a qualidade do ensino desses variava, a ponto do diretor apontar a ne-
cessidade de se estabelecer “medidas enérgicas que obriguem os mestres e oficiais men-
tores das oficinas a tomarem o devido interesse pelos mesmos aprendizes”.141
138
MATOS, 1939, op. cit. p. 23.
139
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do vice-diretor, 17 de setembro de 1849. op. cit.
140
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório da Repartição dos negócios da Guerra apresentado à Assem-
bleia Geral Legislativa na 3ª sessão da 6ª legislatura pelo respectivo ministro e secretário de estado
João Paulo dos Santos Barreto. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1846. Mapa 13.
141
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal, Alexandre Manoel Albino de Carvalho,
ao Sr. chefe da 1a Seção da 1a Diretoria Geral da Secretaria de Estado, Mariano Carlos de Sousa
Correa, envia o Relatório do movimento administrativo de 1861. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de
1862. Mss. ANRJ. IG7 24.
509
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
o fato de que uma parte tão conspícua da mão de obra pudesse, pela
primeira vez na história, ser constituída de meninos e rapazes, prova
que sua instrução e a sua educação não importavam mais nada. As
operações tinham sido simplificadas ao ponto em que qualquer um
podia desenvolvê-las, contando que não fosse deficiente. Depois, com
o advento da indústria a vapor aumentando a incidência do fator má-
quina, este processo se torna ainda mais exasperado. O artesão e o ar-
tesanato, no século XIX, sobreviverão somente nos espaços e nos ni-
chos deixados intactos, ou pouco atingidos pela produção e pela co-
mercialização da grande indústria. A atitude pedagógica do artesão,
em consequência, será ulteriormente enfraquecida, de modo que a cul-
tura artesanal será cada vez mais desvalorizada.143
A situação do AGC foi essa, de arcaísmo. A instituição não foi afetada pelas
técnicas das modernas manufaturas e fábricas, tornando-se o abrigo de métodos que, em
meados do século XIX, já estavam decididamente ultrapassados.
10.2 Os cativos
Toda a questão da mão de obra acima relatada aborda apenas de forma passagei-
ra um elemento fundamental da sociedade da primeira metade do século XIX: os escra-
vos, que tinham o seu nicho na instituição. Como era praxe no Exército, as unidades
militares do AGC, os Artífices e os Aprendizes, não aceitavam cativos em suas fileiras.
Na mestrança do Arsenal, ao contrário do que ocorria na Fábrica de Ferro de Ipanema,
também não havia escravos. Entretanto, seria impossível pensar em uma instalação do
porte do AGC, inserida em uma sociedade escravista, que não utilizasse cativos em
grandes números – e isso era fato: em 1849 havia 221 escravos de aluguel, 66 africanos
142
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição, 1845, op. cit. pp. 16-17.
143
RUGIU, Antônio Santoni. Nostalgia do mestre Artesão. Campinas: Editores Associados, 1998. pp.
128-129.
510
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Colocamos os números referentes a 1849, pois essa data é relevante, por dois
motivos: no ano seguinte seria efetivada a proibição de entrada de escravos africanos no
Brasil. Mais importante, 1849 marcou o ano que o Arsenal começou realmente a dimi-
nuir o número de cativos trabalhando na instituição, como trataremos mais a seguir.
144
Fazemos uma ressalva que a categoria “Africano Livre” se aplica aos negros trazidos no tráfico de
escravos após 1815, quando apreendidos pelas autoridades. Não eram formalmente considerados
como escravos – daí seu nome de “livre” e tinham alguns privilégios com relação aos escravos da
nação. Entretanto, compartilhavam com os escravos da nação uma série de características, a princi-
pal a sua categoria de cativo, de uma pessoa sem liberdade para dispor de si como quisesse.
145
Deve-se dizer que o número de Africanos Livres que efetivamente estavam no Arsenal era bem menor,
já que muitos dos que estavam listados como trabalhando ali na verdade tinham outras funções.
Apenas 33 deles efetivamente estavam nas oficinas. BRASIL – Arsenal de Guerra. BRASIL – Arse-
nal de Guerra. Mapa nº 9. Número de operários das diferentes oficinas deste Arsenal existentes em
1º de Janeiro. Joaquim José Cabral. Tenente ajudante do Sr. Vice-diretor. Rio de Janeiro, 31 de ja-
neiro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
146
MATOS, 1939, op. cit. p. 21.
147
id. p. 21.
148
Diário do Rio de Janeiro, nº 15. Rio de Janeiro, 21 de janeiro de 1824. p. 59.
149
Diário do Rio de Janeiro, nº 6. Rio de Janeiro, 8 de novembro de 1825. p. 1.
511
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
O importante é que o uso de trabalhadores escravos nunca foi visto como algo
positivo ou desejável, pelo menos pela administração do ministério da Guerra, apesar
dos diretores do Arsenal terem uma visão mais pragmática. Assim, em teoria só se acei-
tavam aprendizes livres, apesar disso, como muita coisa no AGC, nem sempre ser uma
decisão definitiva: em 1833 há um anúncio de fuga do africano João Feliciano, de nação
quilimane, “oficial de carpinteiro, e entende também de tanoeiro, cujo ofício aprendeu
no Arsenal de Guerra”,150 mostrando que a norma não era aplicada a risca, isso nem que
fosse o fato dos filhos dos escravos da nação que estavam no AGC serem empregados
como aprendizes nas oficinas.
Outra restrição que havia era nos vencimentos: considerando que eram os mes-
tres que avaliavam o serviço dos escravos, é de se esperar que houvesse reduções aos
valores pagos, havendo pelo menos um caso que essas limitações ficam explícitas na
documentação: na contratação de remeiros em 1836, o Arsenal publicou anúncios onde
se informava que se pagaria 20% a mais aos trabalhadores livres do que aos cativos. 151
Como dissemos, podemos supor que esse preconceito também afetava as outras catego-
rias de trabalhadores, apesar de não encontrarmos isso explícito na documentação, a não
ser um anúncio publicado em 1849, que informava que os operários do Arsenal teriam o
direito de serem reavaliados semestralmente para efeitos de aumento de salário, algo
que o anúncio informava que se aplicava apenas aos artesãos livres. 152
150
Diário do Rio de Janeiro, nº 15. Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 1833. p. 4.
151
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Manoel da Fonseca Lima e Silva ao Sr. José de
Vasconcelos Meneses de Drummond, diretor do Arsenal sobre proposta de aumento de jornais para
o Patrão e remeiros do Arsenal, Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1836. Mss. ANRJ. IG7 321
152
Diário do Rio de Janeiro, ano XXVIII, nº 8244. Rio de Janeiro, 5 de novembro de 1849. p. 2
153
BRASIL – Lei de 27 de Outubro de 1831. Autoriza credito para as despesas com o concerto das mu-
ralhas e outras obras do Arsenal do Exercito. Artigo 4º.
512
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
seu trabalho sendo pago ao proprietário ou ao próprio escravo, para que esse entregasse
a seu dono, de quinze em quinze dias. 154
O uso de cativos foi muito comum, como vimos acima, só que, curiosamente,
aparecem pouco na documentação, por refletirem apenas uma situação de rotina, os da-
dos começando a ter uma maior recorrência nas décadas de 1840 e 1850, quando o uso
de trabalhadores cativos começa a sofrer problemas na repartição. De qualquer forma, a
questão do trabalho cativo era uma preocupação indireta para as direções do Arsenal,
devido às dificuldades que supostamente causava na formação de um corpo de operá-
rios, o problema já sendo colocado em 1837:
154
BRASIL – Arsenal de Guerra. Instruções sobre o modo de efetuar-se o pagamento das férias dos
Operários do Arsenal de Guerra da Corte. Rio de Janeiro, 11 de novembro de 1848. Mss. ANRJ.
IG7 337.
155
Diário do Rio de Janeiro, nº 18. Rio de Janeiro, 22 de março de 1836. p. 2. No Orion foram apreendi-
dos 250 jovens africanos, dos quais quarenta foram para o Arsenal.
156
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação nominal dos Africanos que têm estado neste Arsenal com de-
claração de seus destinos, extraída dos respectivos livros de matrículas. Encarregado da 1a Seção
do Arsenal de Guerra da Corte, M. Roiz Guimarães. Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 1865. Mss.
ANRJ. IG7 27.
157
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Antônio Rangel de Vasconcelos, diretor do Arsenal de Guer-
ra ao Ministro da Guerra, Sebastião do Rego Barros. Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1837. Mss.
ANRJ. IG7 20.
513
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
ronheiros, tal como aparece em vários locais na documentação, mostrando a real preo-
cupação da direção: o problema não era geral, de falta de pessoal habilitado causado
pela escravidão, era a dificuldade de encontrar pessoas interessadas em desenvolver
certas profissões. Uma situação criada em parte pelo próprio AGC, que não conseguia
atrair e manter aprendizes para as profissões críticas para o Exército. Dados os procedi-
mentos da época, era uma situação inevitável e com que a direção do Arsenal tinha que
conviver.
Os africanos livres, durante certo tempo, moraram em uma casa fora das instala-
ções, no Beco da Batalha, vizinha a residência do mestre de obra branca, sendo que o
“Tenente Virgílio Fogaça da Silva, também empregado no Arsenal”, residia em um
“canto da mesma casa”,160 (ver Figura 41 e Figura 42), ou seja, os alojamentos com cer-
teza eram acanhados e limitados, mas não eram em um prédio de qualidade inferior.
Mais importante, não eram dentro da instalação militar, que tinha vigilância permanen-
te.
A alimentação dos cativos também não podia ser chamada de ruim: pela docu-
mentação, os escravos da nação recebiam a mesma comida que os soldados da Compa-
nhia de Artífices, enquanto os africanos livres que, como dissemos, era uma categoria
158
SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A capoeira escrava no Rio de Janeiro: 1808-1850. Tese de Douto-
rado. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1998. (mimeo). p. 342.
159
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Jerônimo Francisco Coelho, ao brigadeiro diretor
do Arsenal de Guerra, João Eduardo Pereira Colaço Amado, mandando abonar 20 réis diários aos
Africanos e escravos da nação, como era feito anteriormente. Rio de Janeiro, 12 de março de 1844.
Mss. ANRJ. IG7 403
160
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, vice-diretor, ao
Ministro da guerra, sobre despejo de pessoas do quartel do Moura, para ser ocupado pela compa-
nhia de operários. Rio de Janeiro, 5 de janeiro de 1838. Mss. ANRJ. IG7 20. Depois de removidos
os africanos e escravos foram alojados em alojamentos construídos dentro do estabelecimento.
514
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
com mais privilégios que os escravos da nação, eram alimentados com os mesmos gêne-
ros que os Aprendizes Menores. Isso significa que os alimentos dados aos africanos não
eram muito variados: constavam somente de carne seca, açúcar mascavo, toucinho, ba-
calhau, café, carne fresca, farinha, arroz, canjica, azeite doce e pão.161 Só que a dieta dos
soldados era menos variada, não incluindo açúcar, bacalhau, café, canjica, azeite ou pão.
Uma alimentação muito monótona, mas pode-se dizer que, pelo menos, era de uma qua-
lidade aceitável, considerando que os alimentos dados aos cativos eram os mesmos dis-
tribuídos aos soldados e menores.
161
PROPOSTA de Castro e Correa para o fornecimento de alimentos aos menores, e Africanos Livres,
existentes no Arsenal de Guerra. Rio de Janeiro, s.d. [julho de 1843], Mss. ANRJ. IG7 340.
162
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa demonstrativo do vestuário dos africanos libertos, escravos e
escravos da nação tanto antes da tabela como depois. O tenente Encarregado Manoel José da Silva.
Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 1848. Mss. ANRJ. IG7 10.
163
Ver, por exemplo. BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministério da guerra, João Paulo dos
Santos Barreto, ao diretor do Arsenal de Guerra, Antônio Manoel de Melo, com ordem de envio da
escrava da nação, Domingas, da Fábrica de Pólvora que tem de casar com José Raimundo, do Ar-
senal. Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1844. Mss. ANRJ. IG7 334.
164
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de João José da Costa Pimentel, Brigadeiro, diretor interino, ao
ministro marquês de Caxias sobre o casamento do africano livre Tertuliano que se achava ao servi-
ço da Fortaleza da Laje. Rio de Janeiro, 4 de junho de 1856. Mss. ANRJ. IG7 21.
515
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
de Querobina, africana livre emancipada – ou seja, já não era mais cativa do governo.
Esta se casou com o africano Quitério, do Arsenal em 1863, o ministério da guerra auto-
rizando a contratação dela como lavadeira da Companhia de Menores, o único emprego
disponível para mulheres no AGC, para não inviabilizar o casamento. Nesse emprego,
Querobina receberia a minúscula quantia de 160 réis diários, uma ração de alimentação
diária 165 e, presumimos, a roupa dada às outras africanas.
Mesmo em caso de doenças, os cativos não eram enviados para a Santa Casa,
que era o estabelecimento hospitalar de caridade da cidade, vizinho do Arsenal. Iam
para o Hospital Militar, apesar de serem mantidos segregados lá. O caso mais exótico de
privilégios dado – ou presumido – aos escravos que encontramos foi o requerimento do
escravo da nação Thimóteo, que pediu seis meses de licença, com vencimentos, para ir
ao Piauí buscar sua filha. Infelizmente, não conseguimos encontrar o despacho final do
ministro sobre esse pedido, mas ele não foi negado de imediato, tendo resultado em uma
troca de correspondência com o ministério da Guerra,166 de forma que podemos afirmar
que o pedido não foi visto como absurdo na forma de ver da época.
165
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso da 1a Diretoria Geral 1a Seção, Antônio Manoel de Mello, ao
diretor do Arsenal, José de Vitória Soares de’Andréa, autorizando o africano livre a serviço do Ar-
senal de Guerra, Quitério, a casar-se com a africana livre emancipada Querobina. Rio de Janeiro,
29 de setembro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 453.
166
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício do ajudante geral da 2a Diretoria Geral da Secretaria de
Estado dos Negócios da Guerra, José Maria da Silva Betancourt, ao Diretor do Arsenal, Cel. José
de Vitória de Soares Andrea sobre a pretensão do Escravo da Nação Thimoteo, ao serviço desse Ar-
senal. Rio de Janeiro, 11 de fevereiro de 1864. Mss IG7 500.
167
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação nominal dos Africanos livres e escravos da nação ao serviço
deste Arsenal, com declaração dos serviços que prestam, seus ofícios, e bem assim quais os casados
e com quantos filhos. Rio de Janeiro, s. dia, Julho 1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
168
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro, Sebastião do Rego Barros, ao diretor do Arsenal
de Guerra, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, sobre o requerimento do escravo da Nação ao
serviço deste Arsenal, Thimóteo, que pede a liberdade de sua filha menor de nome Alexandrina, Rio
de Janeiro, 27 de setembro de 1859. Mss. ANRJ. IG7 388.
516
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
169
Longuinho era relacionado em 1846 como um dos escravos que tinha vindo das fazendas nacionais do
Piauí, sendo provavelmente um dos trinta encaminhados para o Rio de Janeiro dois anos antes, dos
quais dez foram destacados para servir como serventes no Arsenal. Sua esposa, também das fazendas
do Piauí, trabalhava então na Fábrica de Pólvora, sendo transferida para o Arsenal quando do casa-
mento. BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministério da guerra, João Paulo dos Santos Bar-
reto, ao diretor do Arsenal de Guerra, Antônio Manoel de Mello, respondendo favoravelmente aos
requerimentos de Luís Rufo, Praxedes José, Ângelo, e Longuinhos, escravos das fazendas Nacionais
do Piauí ao serviço desse Arsenal, que podem unir-se em matrimônio. Rio de Janeiro, 13 de agosto
de 1846. Mss. ANRJ. IG7 334.
170
BRASIL – Ministro da Guerra. Aviso do ministro da Guerra, José A. Saraiva, ao diretor do Arsenal,
Coronel Antônio Francisco Raposo, comunicando o deferimento do requerimento do escravo da na-
ção Longuinho, em que solicita liberdade, desde que pagasse sua avaliação. Rio de Janeiro, 4 de
Agosto de 1865. Mss. ANRJ. IG7 497.
171
BRASIL – Arsenal de Guerra. Comissão de avaliação. Joaquim de Lima e Silva major, 1º Ajudante.
Rio de Janeiro, 18 de maio de 1863. Mss. ANRJ. IG7 392.
172
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministério, 13 de agosto de 1846. op. cit.
173
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, ao
coronel diretor do Arsenal de Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea mandando passar título
Continua –––––––
517
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Como curiosidade, apontamos a possibilidade legal que havia, dos africanos re-
tornarem para a África, caso conseguissem pagar suas passagens. Isso aconteceu com o
africano livre Romão, que teve condições de voltar para a África em 1853.176 Quatro
anos depois, o ministro autorizou que onze africanos livres de nação Mina fossem
emancipados e “reexportados” para a costa da África, às suas custas.177
Também não podemos deixar de mencionar outro caso que consideramos exóti-
co, o do escravo da nação Domingos, que requereu ao ministro da Guerra, Caxias, que
seu sobrinho, escravo menor de idade, trabalhando no Jardim Botânico, fosse removido
para o Arsenal, para aprender o ofício de alfaiate. O requerimento foi atendido, tanto
pelo ministro da Guerra como pelo da Agricultura, o menor recebendo ordens de se
apresentar no Arsenal em 1861,178 onde teria maiores possibilidades de obter melhor
vencimentos e, com isso, sua liberdade. O próprio Domingos conseguiu comprar sua
liberdade em 1864. 179
Continuação–––––––––––
de liberdade ao recém-nascido filho dos escravos da Nação Cyriaco Pereira e Joanna 2a, ao serviço
do Arsenal de Guerra. Rio de Janeiro, 13 de janeiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 515.
174
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, João Paulo dos Santos Barreto, ao diretor do
Arsenal, Antônio Manoel de Mello manda dar liberdade, sob pagamento a filha dos escravos da Na-
ção, Cyriaco e Joana. Rio de Janeiro, 5 de setembro de 1846. Mss. ANRJ. IG7 334.
175
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício do chefe da 1a Seção da Diretoria Geral, Mariano Carlos de
Souza Correia ao diretor do Arsenal pedindo para informar sobre o requerimento do Escravo da
Nação Cyriaco que alegando servir desde 1842. Rio de Janeiro, 23 de novembro de 1864. Mss.
ANRJ. IG7 346
176
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro, M. F. de Sousa e Mello, ao diretor do Arsenal,
Brigadeiro Feliciano Antônio Falcão, mandando eliminar do serviço do Arsenal de Guerra o Afri-
cano Livre do nome Romão, uma vez que se retire para seu país. Rio de Janeiro, 12 de janeiro de
1853. Mss. ANRJ. IG7 460
177
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício de Bernardo Joaquim de Matos, ao diretor do Arsenal de
Guerra, coronel do estado-maior de 1ª classe, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, enviando a
Relação dos Africanos livres em serviço no Arsenal de Guerra da Corte e nas Fortalezas de Santa
Cruz, Villegagnon, e Ilha das Cobras a quem, por Aviso do Ministério da Justiça de 13 do corrente,
se manda passar Cartas de Emancipação para serem reexportadas à Costa da África. Rio de Janei-
ro, 20 de julho de 1857. Mss. ANRJ. IG7 366.
178
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro da Guerra, marquês de Caxias para o diretor do
Arsenal, Major Antônio Pinto Figueiredo Mendes Antas, mandando receber o sobrinho do escravo
Domingos no Arsenal. Rio de Janeiro, 12 de junho de 1861. Mss. ANRJ. IG7 394.
179
Diário do Rio de Janeiro, ano XLIV, nº 30, 30 de janeiro de 1864. p. 2.
518
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Em oposição a esse quadro que falsamente pode parecer róseo, devemos frisar
que a situação dos cativos do governo estava longe de ser boa: eram trabalhadores for-
çados antes de tudo e eram tratados como tal: estavam sujeitos a castigos físicos, a chi-
bata ou a palmatória. Não temos dados sobre a aplicação dos castigos, mas não deveri-
am ser algo insignificante, pois a legislação militar já era violenta para com os soldados,
livres, prevendo a aplicação de até cinquenta golpes com a espada de prancha por faltas
consideradas “leves”.180 Em 1863, o diretor do Laboratório Pirotécnico do Campinho
foi acusado de aplicar castigos corporais pesados – o africano Benedito afirmando que
tinha recebido cinquenta dúzias de palmatoadas (golpes da palmatória, nas mãos). O
diretor, Francisco Carlos da Luz, escrevendo que mandara castiga-lo, com “apenas” três
dúzias de golpes de palmatória e que “Findo o castigo, mandei apresentá-lo [Benedito]
na botica, como sempre pratico em casos tais”, dando a entender que era uma prática
comum. 181
Além disso, os cativos tinham um feitor que morava no Arsenal, que podia co-
meter abusos. Em 1856, “o escravo da nação José Joaquim, espancou barbaramente, no
Largo do Moura, o Feitor dos Africanos e Escravos da Nação, deste Arsenal”,182 o que
só podemos supor fosse devido a mal tratos aplicados pelo feitor. Por outro lado, mes-
mo considerando que eram perto de cem escravos da nação e africanos livres no Arse-
nal, só havia um feitor na manufatura, enquanto no de Marinha eram três – é há docu-
mentos citando que os administradores de lá pediam o dobro –,183 mostrando que a situ-
ação na manufatura do Exército não demandava uma disciplina tão severa quanto na
instalação naval.
Talvez essa suposta disciplina mais relaxada não fosse o caso no Laboratório do
Campinho, em cuja correspondência com o ministro se encontram vários casos de fuga
de africanos livres – não sabemos por que, mas esse tipo de incidente era muito menor
180
SCHAUMBURG-LIPPE. Regulamento para o Exercício, e Disciplina, dos regimentos de cavalaria
dos exércitos de Sua Majestade Fidelíssima – feito por ordem do mesmo Senhor por Sua Alteza o
Conde Reinante de Schaumburg Lippe, Marechal General. Lisboa : Régia Oficina Tipográfica,
1798. pp. 166 e segs. O regulamento do Conde de Lippe, de 1763, ficaria valendo no Exército até
1898.
181
CÓPIA. N. 26 (reservado) Escritório das Oficinas pirotécnicas do Laboratório do Campinho, 15 de
julho de 1863. Antônio Valeriano da Silva Fialho, tenente ajudante. In: VIANNA, Antônio Ferreira.
Defesa do Dr. Francisco Carlos da Luz diretor do Estabelecimento Pirotechnico do Campinho pe-
rante o conselho de guerra e supremo conselho militar. Rio de Janeiro: Tipografia de Pinheiro &
Comp. 1865. p. 12. O grifo é do original.
182
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de João José da Costa Pimentel, Brigadeiro, diretor interino, ao
ministro da Guerra, marques de Caxias. Rio de Janeiro, 16 de abril de 1856. Mss. ANRJ. IG7 21.
183
SOARES, op. cit. p. 207.
519
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
com escravos da nação. Algumas das fugas eram repetidas e feitas em pouco espaço de
tempo. Assim, o africano Scipião, de nação Benguela (oriundo da atual Angola) fugiu
em fevereiro de 1852, julho de 1853, novembro de 1854, novembro de 1855, fevereiro
de 1858, fevereiro de 1859 e janeiro de 1861, a ponto do diretor solicitar sua transferên-
cia, “por ser de maus costumes, e viver quase sempre ébrio, anda constantemente fugi-
do, e, por conseguinte seu trabalho neste Estabelecimento é nenhum, trazendo com isto
mau exemplo aos demais.” 184
Os cativos que fugiam certamente eram castigados, mas mesmo assim, alguns
retornavam por vontade própria ao Campinho, como o próprio Scipião, que se apresen-
tou em dezembro de 1858, depois de ficar fugido por dez meses. 185 Na verdade, um do-
cumento sobre sua fuga, de novembro de 1854, dá entender que a prática era não comu-
nicar as ausências por alguns dias, na esperança que os cativos voltassem186 – nesse
sentido, a documentação sobre o Arsenal propriamente dito não menciona “fugas”, ape-
nas ausências, dando novamente a entender que a ausência dos cativos era visto como
algo temporário.
184
BRASIL – Laboratório do Campinho. Ofício do capitão diretor, Francisco Carlos da Luz, ao ministro
da Guerra, marquês de Caxias informando que Scipião fugiu do laboratório. Rio de Janeiro, 8 de
dezembro de 1861. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 267.
185
BRASIL – Laboratório do Campinho. Ofício do capitão diretor, Francisco Carlos da Luz, ao ministro
da Guerra, José Maria da Silva Paranhos, comunicando que o Africano livre de nome Scipião, fugi-
do em 18 de fevereiro aqui se apresentou ontem e acha-se outra vez no serviço deste estabelecimen-
to. Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 1858. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260
186
BRASIL – Laboratório do Campinho. Ofício do capitão diretor, Francisco Carlos da Luz, ao ministro
da Guerra, P.de S. Bellegarde sobre a fuga do africano livre Scipião. Rio de Janeiro, 11 de novem-
bro de 1854. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
187
BRASIL – Laboratório do Campinho. Ofício do Capitão diretor, Francisco Carlos da Luz ao ministro
da Guerra, Antônio Moraes de Melo participando que fora aqui entregue o Africano livre Scipião.
Rio de Janeiro, 10 de março de 1863. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 261.
188
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação nominal dos Africanos, 26 de dezembro de 1865. op. cit.
520
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
189
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, ao ministro
da Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Melo. Rio de Janeiro, 31 de maio de 1859. Mss. ANRJ.
IG7 16.
190
KARASCH, Mary. Slave Life in Rio de Janeiro. Princeton: Princeton University, 1987. p. 197.
191
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação nominal, 26 de dezembro de 1865. op. cit.
192
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, João Paulo dos Santos Barreto ao diretor do
Arsenal de Guerra, João Carlos Pardal mandando vacinar todos os Aprendizes Menores do Arsenal
de Guerra que ainda não tinham sido vacinados. Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1846. Mss.
ANRJ. IG7 399.
521
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
canos”.193 Isso sendo feito apesar do acordo de paz com os farroupilhas explicitamente
dizer que os libertos por eles não seriam reescravizados.
522
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Sobre este pessoal só me ocorre fazer uma observação e vem a ser que
ele vai diminuindo sensivelmente: e não havendo donde obter gente
das mesmas condições dentro em pouco tempo há de ser indispensável
substituí-lo por serventes livres, engajados e aquartelados, afim de
ocorrer devidamente aos diversos e necessários serviços em que é aqui
empregado.199
O motivo dessa situação foi, como dissemos acima, que em 1849 uma boa per-
centagem dos escravos de aluguel foi despedida do Arsenal – como tratado, os escravos
privados eram em número elevado na instituição – 215, ou seja, 25% da força de traba-
lho, daquele ano. Entretanto, 123 deles foram demitidos. Isso não por um sentimento
abolicionista, mas por medida de economia, ordenada pelo ministro da Guerra – foi da
lista de demitidos daquele ano em que conseguimos obter a maior parte das informações
sobre a composição do quadro de escravos do Arsenal. A isso se somava a liberdade
gradual dos africanos livres: como dito, eles, em teoria, teriam que servir no máximo
quatorze anos, de forma que com o fim das capturas de navios negreiros no início da
década de 1850, os africanos teriam que ser livres em meados da década seguinte.
Apesar dos cativos sempre terem sido apenas uma parcela do corpo de funcioná-
rios, do ponto de vista de uma história da escravidão, onde muito se discutiu a capaci-
dade do cativo em exercer ofícios complexos, podemos dizer que o Arsenal, tal como a
Fábrica de Ferro de Ipanema, é uma comprovação de que podiam ter habilitação técni-
ca: havia pelo menos um cativo na elite dos artesãos – um ferreiro com vencimento de
1.800 réis, equivalente a um oficial de 1º classe, aqueles que recebiam maiores salários.
Para efeito de comparação, esse valor equivale a um salário mensal de 46.800 réis, mais
197
BRASIL – Fábrica de Ferro de Ipanema. Ofício reservado do major diretor, João Pedro de Lima Gu-
tierrez ao ministro da Guerra, Sebastião do Rego Barros. Fábrica de Ferro de Ipanema, 16 de agosto
de 1860. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B-253.
198
BRASIL – Fábrica de Ferro de Ipanema. Ofício do major diretor, João Pedro de Lima Gutierrez ao
Presidente de São Paulo, Ipanema, 7 de dezembro de 1859. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B-253.
199
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal ao ministro da Guerra, Rego Barros. Alexandre
Manuel Albino de Carvalho. Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 1861. Mss. ANRJ. IG7 23.
523
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
do que recebia um 1º tenente do Exército (ver Tabela 22). 200 Quatro outros escravos
artesãos recebiam jornais maiores que 1.400 réis por dia, equivalente a 36.400 réis, mais
do que recebia um 2º tenente do Exército.
Além desses casos isolados, deve-se dizer que um número razoável deles tinha
bons vencimentos – pelo menos 78 deles (63% dos cativos demitidos) recebiam um
pagamento equivalente ao de um operário livre, o restante sendo trabalhadores menos
qualificados, serventes ou aprendizes.201 Deve-se dizer que a média de vencimentos
diários dos demitidos era de 814 réis (21.164 réis por mês), o que equivale ao pagamen-
to de um operário, não de um aprendiz, sendo ligeiramente superior ao que era pago aos
serventes não qualificados. Essa quantia correspondia a dois terços do soldo (sem grati-
ficações) de um 2º tenente202 e o dobro do que era pago a um sargento (ver Tabela 22),
o que certamente não pode ser considerado como desprezível. Por fim, como dissemos
acima, havia na lista de demitidos pelo menos doze aprendizes, ou seja, o arsenal estava
aberto ao ensino de escravos, o que em tese, não seria possível.
Sobre a propriedade dos cativos, apontamos que da lista de 123 cativos, a maio-
ria dos donos era de pessoas com apenas um escravo, havendo 17 proprietários com
mais de um, os escravos destes somando 43, o que tinha mais era o padre José Gomes,
com cinco deles. 66 pertenciam a mulheres e, pelo menos oito (é difícil precisar esse
número, pois se baseia no conhecimento do autor dessas linhas dos nomes dos proprie-
tários) eram de propriedade de militares, inclusive um que pertencia ao Conde de Caxi-
as.203 Nada excepcional, se conformando com a situação da escravidão urbana do perío-
do.
Deve-se dizer que mesmo depois de 1849 os diretores do Arsenal foram muito
resistentes em aceitar que a escravidão estava fadada a acabar, procurando soluções para
a falta de serventes cativos. Não se conseguiu isso, chegando-se a usar escravos de ga-
nho nos serviços braçais, o que era considerado como uma despesa muito avultada, pois
200
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos escravos, 21 de novembro de 1849, op. cit.
201
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos escravos, 21 de novembro de 1849, op. cit. e BRASIL –
Arsenal de Guerra. Relação dos operários cativos que em virtude do aviso de 19 do corrente foram
despedidos dos trabalhos destas oficinas, João José da Silva, Oficinas do Arsenal de Guerra na
Conceição. Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1849. Mss. ANRJ. IG710.
202
SCHULZ, op. cit. p. 211.
203
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos escravos, 21 de novembro de 1849, op. cit.
524
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
as diárias desses eram superiores aos contratos de trabalho de maior duração.204 No en-
tanto, a determinação do ministério foi pela dispensa dos escravos, só se poupando,
temporariamente, os serventes (94 deles), as ordens não livrando da demissão mesmo
aqueles que a direção do Arsenal considerava como indispensáveis, os serventes de fer-
reiros e serralheiros; os malhadores de espingardeiros; os surradores de correeiros; os
serradores de construção e obra branca; os da fundição de latoeiros e os de pedreiros.
Desta lista de trabalhadores “indispensáveis”, foram mantidos apenas os pedreiros, car-
pinteiros e serventes que estavam trabalhando nas obras de prédios do Exército no Rio
de Janeiro.
204
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do 1o Ajudante do Arsenal, José Joaquim de Lima e Silva, ao
diretor, Coronel José de Vitória Soares d’Andrea, sobre a insuficiência do número de africanos no
Arsenal. Rio de Janeiro, 11 de agosto de 1862. Mss. ANRJ. IG7 24.
205
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor do Arsenal, Alexandre Manoel Albino de Carvalho ao
ministro da Guerra, José Antônio Saraiva, sobre o engajamento de colonos para o serviço deste Ar-
senal. Rio de Janeiro, 26 de novembro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 15.
206
BRASIL – Ministério da Guerra. Despacho do ministro Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão no
ofício do coronel diretor do Arsenal, José de Vitória de Soares d’Andrea ao Ministro, sobre admis-
são de escravos. Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 25.
207
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação nominal, 26 de dezembro de 1865, op. cit.
208
BRASIL – Ministério da Guerra. Parecer da 1a seção, 1a diretoria geral, Carlos Antônio Pereira de
Barros, 1o oficial, no impedimento do chefe de seção sobre a inutilidade de requisitarem-se africa-
nos livres para as repartições do ministério. Rio de Janeiro, 15 de julho de 1864. Mss. ANRJ. IG7
26.
525
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Um pedido que sequer foi despachado para a Casa de Correção, pois o ministro
da Guerra o considerou inútil, devido à falta geral que havia de africanos livres para
serem empregados em obras públicas.
Dois anos depois, o diretor do Arsenal escrevia que “não existe escravo algum
neste Arsenal desde 28 de março do corrente ano, data em que seguiram os últimos para
a Fábrica de Pólvora da Estrela”,209 encerrando o uso de escravos no Arsenal poucos
anos antes do fim da prática nas instituições do governo, em 1871.
209
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Coronel Antônio Francisco Raposo, sobre a existên-
cia de escravos de 18 a 40 anos no Arsenal. Rio de Janeiro 8 de novembro de 1866. Mss. ANRJ. IG7
28.
526
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
10.3.1 Os Artífices
Os soldados Artífices têm sua origem no período colonial: dentro das reformas
do Conde Lippe, pelo alvará de 15 de julho de 1763, foi estabelecida uma nova organi-
zação para a artilharia e esta nova formação seguiu uma prática francesa do século ante-
rior, a da existência de compaignes d’ouvriers – em 1671 a França tinha criado o Régi-
ment des Fusiliers du Roi211 para fazer a guarda da artilharia, com quatro companhias,
duas das quais de ouvriers (trabalhadores ou artífices). Esses soldados, em tempos de
paz, eram empregados em trabalhos nos Arsenais, especialmente nos de construção de
reparos de canhões,212 sendo uma organização militar que consolidou-se na França, com
algumas modificações na sua estrutura funcional ao longo dos anos.
210
BERTICHEN, P. Entrada do Arsenal de Guerra, s.d. Acervo do Arquivo histórico do Museu Histórico
Nacional.
211
A tropa recebeu este nome por ter sido armada com fuzis, armas de pederneira, mais adiantadas do que
as de mecha até então usadas. Foi a primeira tropa do exército francês a usar baioneta de alvado. Cf.
ÉTAT Militaire du corpos de l’Artillerie de France. Paris: Levrault, 1837. p. VIII.
212
ALDER, op. cit. p. 157.
527
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Outra companhia especial era a de mineiros e sapadores, ou seja, o que hoje se-
ria chamado de engenheiros de combate, pessoal encarregado de fazer trabalhos de en-
genharia de ataque, como abertura de trincheiras e outras obras de assédio contra fortifi-
cações. Mais importante, a 12ª companhia do regimento era composta por artífices e
pontoneiros, homens que serviam para acompanhar as tropas em campanha, provendo
as necessidades básicas de realização de obras, como a construção de pontes e consertos
de equipamento, como se fossem membros de uma unidade de manutenção de retaguar-
da dos dias de hoje. Para manutenção menos elaborada, no nível da unidade, os regula-
mentos do conde de Lippe previam que cada regimento de infantaria ou cavalaria tives-
sem seus próprios espingardeiros e coronheiros214.
213
Curiosamente, os franceses tinham separado as companhias de Mineiros (engenheiros) e de Artífices
dos regimentos de artilharia em 1729, ou seja, a organização do Conde de Lippe não era mais tão
atual, considerando que os franceses estavam à frente do desenvolvimento da doutrina de artilharia
no período. ÉTAT Militaire, op. cit. p. X.
214
Por exemplo, ver: SCHAUMBOURG-LIPPE, op. cit.
215
As “armas científicas”, a engenharia e a artilharia não portavam estandartes, logo não tinham alferes, o
oficial de posto equivalente nas unidades de infantaria e cavalaria.
528
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
(6.000 réis por mês), mais do que qualquer outra praça do regimento e bem próximo do
soldo dos segundos-tenentes, (7.200 réis por mês).216 A hipótese que levantamos é de
que esses vencimentos elevados tenham sido necessários para atrair operários especiali-
zados, que poderiam encontrar outros empregos na vida privada.
Comparando com a estrutura das oficinas do Arsenal de Guerra (ver capítulo 8),
vê-se que esta organização era bem completa, podendo oferecer apoio em quase todos
os aspectos de operações de campanha, mesmo considerando o número reduzido de
artífices e que esse pessoal não poderia dispor de uma infraestrutura em termos de má-
quinas e ferramentas mais complexas, já que deveriam ser uma tropa móvel.
216
Esse pagamento referia-se à Europa, não sendo, necessariamente, os mesmos valores praticados no
Brasil.
217
Não conseguimos identificar essa profissão, era a que recebia o menor vencimento dos artífices (120
réis), igual à de um sargento artilheiro. Pela modificação de 1766 na composição da companhia,
cremos que o costeiro deve ser um cordeeiro, artesão que trabalhava com cordas.
218
PORTUGAL – Alvará de 15 de julho de 1763. Plano que sua majestade manda seguir e observar na
formatura e serviços dos regimentos da artilharia destes reinos. Essa organização foi alterada quatro
anos depois, acrescentando à companhia dois furriéis, uma graduação entre o cabo de esquadra e o
sargento, e dois tambores, dando uma formação mais aproximada a de uma tropa de combate do pe-
ríodo.
219
PORTUGAL – Alvará de 4 de junho de 1766, por qual sua Majestade há por bem declarar e ampliar
o outro alvará de 15 de julho de 1763, que estabelece a formatura dos regimentos de artilharia do
seu exército; ordenando que o plano que com ele baixo se observe inviolavelmente em tudo o que
neste se não acha alterado.
529
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
De qualquer forma, a documentação disponível aponta que esta tropa foi implan-
tada no Brasil, – pelo menos no Regimento de Artilharia do Rio de Janeiro isso ocorreu
em 1765, ano seguinte à construção do Arsenal da cidade. Sabe-se que a unidade tinha,
inclusive, um pequeno número de equipamentos móveis para operários atuarem em
campanha. Como já tratamos antes, o marechal Funck, em 1768, solicitou várias caixas
de ferramentas para ferreiros, carpinteiros de roda e carpinteiros de obra branca, ferra-
mentas cujo número era insuficiente na cidade. Também se pediram ferramentas para
torneiros, que não estavam disponíveis nos armazéns na época220. Estas últimas são cu-
riosas, já que implicam na existência de um torno, uma máquina que seria de uso com-
plexo em campanha.
220
FUNCK, Jacques. Artilharia e munições que se requer da Europa para completar o que presentemen-
te é necessário à praça do Rio de Janeiro em 17 do mês de março do ano de 1768. Mss Biblioteca
Nacional, Ms 453(1).
221
SILVA, Crispim Teixeira, Sargento Mor Intendente. Relação das Obras, Munições e mais Petrechos
que se tem feito no Trem de S. Majestade Fidelíssima do Rio de Janeiro, no tempo Governo do Il.mo e
Ex.mo Sr Marquês do Lavradio Vice Rei e Capitam General de Mar e Terra do Estado do Brasil,
continuado de 31 de outubro de 1769, até 31 de Agosto de 1776. Mss. Coleção Particular. Um do-
cumento de 1780 menciona que havia quatro coronheiros e dezoito espingardeiros trabalhando no
forte da cidade do Rio Grande, que aparentemente servia de trem. RELAÇÃO do que se deve aos
apontadores e artífices que trabalharam no forte da vila de S. Pedro do Rio grande do primeiro de se-
tembro de 1777 até 15 de abril de 1778 e da alteração que tem havido até 22 de junho de 1780. Mss
Biblioteca Nacional. I-28,25,32.
530
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
O texto do decreto de 1810 especificava uma nova formação para a unidade, que
passaria a ser composta por 60 soldados, dos quais “uma terça parte será de ferreiros e
serralheiros” 223. O problema do elevado soldo dos Artífices foi solucionado: com o no-
vo regulamento, o pagamento dos soldados-artífices deveria ser de apenas um tostão (80
réis) por dia, o valor recebido por um soldado comum após os descontos de fardas e
etapa. Esta quantia deveria então ser complementada pelos jornais recebidos nas ofici-
nas de acordo com o trabalho executado nelas e suas habilidades. O texto do decreto
ainda dá detalhes de uniformes, que seriam os mesmos do Regimento de Artilharia, com
duas fitas amarelas no braço esquerdo. Finalmente informava que seu armamento seria
um chilfarote e os soldados usariam machados, como os porta-machados da infantaria.
222
PORTUGAL – Decreto de 3 de setembro de 1810. Manda organizar uma Companhia de Artífices do
Arsenal Real do Exercito.
223
PORTUGAL - Plano da organização da Companhia de Artífices do Arsenal Real do Exército, estabe-
lecida por decreto da data de hoje. In: PORTUGAL – Decreto de 3 de setembro de 1810, op. cit.
531
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
ram a ser 140 homens. 224 Em 1831 já formavam duas companhias, com o efetivo de
duzentos homens, porém não concentrados no Arsenal: a segunda companhia foi criada
para o Arsenal de Pernambuco e a do Rio fornecia destacamentos para outras instala-
ções do Exército na cidade. Em 1857, quando já havia duas companhias no Rio, de 168
soldados, dos quais 44 serviam na Fábrica de Pólvora e 39 no laboratório do Campinho,
deixando apenas 91 para trabalhar regularmente nas oficinas. 225
224
REINO UNIDO – Arsenal de Guerra. Ofício de Raimundo José da Cunha Matos, coronel Vice Inspe-
tor, ao ministro da Guerra, Thomaz Antônio de Villa Nova Portugal, Comunicando a recepção do
aviso de 2 do corrente sobre a autorização de recrutamento para aumentar a cia de artífices para
140 praças. Rio de Janeiro, 11 de agosto de 1820. Mss. ANRJ. IG7 1.
225
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Arsenal para o ano de 1857. Diretoria do Arsenal de
Guerra, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 1858. Mss.
ANRJ. IG7 4. Havia ainda 31 Artífices empregados na Sessão de Bombeiros. Estes eram isentos do
serviço de guardas, mas continuariam a trabalhar nas oficinas.
226
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro, Sebastião do Rego Barros, ao Diretor do Arsenal
de Guerra, Antônio João Rangel de Vasconcellos, informando do desligamento da Companhia de
Artífices do 1º Corpo de Artilharia de Posição e da criação de uma segunda companhia. Rio de Ja-
neiro, 5 de dezembro de 1838. Mss Arquivo Nacional.
227
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição dos negócios da Guerra apresentado à
Assembleia geral legislativa na sessão ordinária de 1839 pelo respectivo ministro e secretário de
Estado. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1839. p. 6.
228
BRASIL - Decreto nº 30, de 22 de fevereiro de 1839. Dando nova organização ao Exercito do Brasil.
229
BRASIL - Decreto nº 301, de 27 de maio de 1843. Aprova o novo plano da organização dos Corpos
do Exercito do Império do Brasil.
532
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
A força de Artífices não era vista como uma força de combate, havendo até certa
prevenção contra elas; no Decreto 782 de 1851, como já dito, se especificava que “nas
Companhias de Artífices não serão empregados os oficiais moços, ou com estudos
completos; exceto se por suas circunstâncias forem incapazes de serviço ativo”. 231 Ou
seja, as companhias, que eram parte da arma de artilharia, seriam um destino para ofici-
ais mais idosos, sem serem formados pela Escola Militar, isto é, “sem terem os estudos
completos” como consta o texto do decreto. Consideramos essa medida de grande – e
negativo – efeito na ideia da tropa e no funcionamento do AGC: certamente, oficiais de
maior idade dificultariam o emprego da Companhia em campanha.
O uso das Companhias de Artífices como força de apoio em campanha foi su-
plementado em 1855 com a criação do Batalhão de Engenheiros. Este apresentava uma
formação semelhante a que o Conde de Lippe havia dado, noventa anos antes, aos regi-
mentos de artilharia: havia soldados com os ofícios de espingardeiro; coronheiro; selei-
ro; ferrador e artífice de fogo, todos ligados ao comando do Batalhão. Cada uma das
quatro companhias teria uma força de 24 soldados Artífices e 48 trabalhadores, além de
quatro “2º Sargentos mandadores”, que seriam mestres de obra, dois deles sendo traba-
lhadores de madeira, um de ferro e um mestre pedreiro. Os soldados-trabalhadores das
230
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro, Antônio Francisco de Paula e Holanda Cavalcan-
ti de Albuquerque, ao diretor do Arsenal de Guerra, barão de Itapecuru Mirim, sobre o envio de ar-
tesãos para o Mato Grosso. Rio de Janeiro, 9 de julho de 1845. Mss. ANRJ. IG7 463.
231
BRASIL - Decreto nº 782, de 19 de abril de 1851. Aprova o Plano da organização do Exercito em
circunstâncias ordinárias.
533
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
232
BRASIL – Decreto nº 1.535 de 23 de janeiro de 1855. Cria um Batalhão de Engenheiros.
233
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório de 1848, op. cit.
234
CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Artífices do fogo. Da Cultura, ano VI, nº 11, p. 32 e segs.
235
Por exemplo, em 1858, quando se montou um corpo de exército para atacar o Paraguai, entre as tropas
enviadas do Rio de Janeiro havia um contingente de 40 artilheiros. Acompanhavam estes quatro artí-
fices: correeiro, ferreiro, carpinteiro e serralheiro. BRASIL – Ministério da Guerra. Relação a que se
refere o aviso desta data, dos artigos de guerra para as bocas de fogo ao mando do Capitão José
Thomas de Almeida Pereira Valente, que segue em comissão para Montevidéu. Rio de Janeiro, 16
de janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 518.
236
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de 28 de fevereiro de 1862, op. cit..
534
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Urge, senhores, que se realize esta antiga, porém boa ideia, e igual-
mente que se dê maior desenvolvimento às companhias de trabalhado-
res militares, ou de soldados artífices, das quais não se pode prescin-
dir, sobretudo em um país novo, onde nem sempre a indústria privada
está habilitada a fornecer artistas hábeis ao Estado.238
O problema é que, para a ideia funcionar era necessário vencer a grande dificul-
dade dos Artífices, que sempre foi a de conseguir soldados com habilitação profissional:
os operários qualificados podiam obter empregos melhor remunerados na inciativa pri-
vada,239 onde também não estariam sujeitos à rígida disciplina na tropa, que incluía cas-
tigos corporais. Nesse sentido, vale repetir que, na época, o serviço militar era univer-
salmente visto como uma forma de punição: em 1838, o diretor do Arsenal mandou
recrutar 55 operários civis, como medida disciplinar contra eles, tal como já dito aci-
ma.240
Assim, apesar de haver registros de pessoas que se apresentavam para servir vo-
luntariamente na Companhia e de haver reiteradas ordens ao Comando das Armas para
enviar ao Arsenal todos os recrutas com conhecimento de ofícios,241 completar os efeti-
vos não era simples, a ponto de serem recrutados para as companhias pessoal não ade-
quado. Pela listagem mostrada abaixo (ver Tabela 23), vários dos Artífices são de pro-
fissões não previstas nos regulamentos e que teriam pouca ou nenhuma utilidade para
237
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Relatório, do diretor, Francisco Carlos da Luz para
Mariano Carlos de Souza Correa, chefe de seção da 1a diretoria da Secretaria da Guerra, servindo
de Diretor Geral. Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1863. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 261.
238
Câmara dos Deputados. Discurso proferido pelo deputado Carlos da Luz da sessão de 24 de agosto de
1861. O Argos da província de Santa Catarina. Ano V, Desterro, 5 de outubro de 1861, n. 801. p. 1.
239
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, Domingos de Souza Coelho Caldas, ao ministro da
Guerra, João Vieira de Carvalho, sobre falta de pessoal na companhia de artífices, 10 de maio de
1836. Mss. ANRJ. IG7 19.
240
BRASIL – Ministério da Guerra. Ofício de 18 de junho de 1838, op. cit.
241
Ver, entre outros: BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro da Guerra Manoel da Fonseca
Lima e Silva ao Sr. José de Vasconcelos Meneses de Drummond, diretor do Arsenal, comunicando
ter passado aviso ao Comandante das armas interino da Corte, a fim de mandar para a Companhia
de Artífices desse Arsenal os recrutas que tiverem ofícios (não sendo alfaiates ou sapateiros). Rio de
Janeiro, 11 de maio de 1836, Mss IG7 321.
535
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
242
Os dicionários da época mencionam a atividade de empalhar “forrar com capa de palha ou vimes teci-
dos algum vaso de vidro para não quebrar facilmente”. MORAIS SILVA, António de. Dicionário da
língua portuguesa. Lisboa: Lacerdina, 1789. vol. 1. p. 665. É possível que fosse um empalhador que
trabalhasse com móveis de palhinha ou mesmo um empalhador de animais. Nenhum das funções de
utilidade no Arsenal.
243
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição dos negócios da Guerra apresentado a
Assembleia Geral Legislativa na 1ª sessão da 5ª Legislatura, pelo respectivo ministro e secretário
d'Estado José‚ Clemente Pereira. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1843. João Eduardo Pereira
Collaço Amado. Coronel Diretor. Nº 8 Mapa da força das companhias de artífices do Arsenal de
Guerra do Corte 7 de janeiro de 1842.
536
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
A extinção não era uma solução inevitável nem necessária ou apropriada. Duran-
te a guerra, no Paraguai, Argentina e Uruguai, foram criadas oficinas para produção de
munição, reparo de armamento e fabricação de equipamentos na linha de frente, como
Continuação–––––––––––
244
REFERENTE ao pessoal para defesa das Fortalezas e fortificações de Santa Cruz, São João, Laje, Pico
e Praia de Fora, Praia Vermelha, Caraguatá. s.l.n.d. [1863]. Mss Arquivo Nacional. Coleção Polido-
ro, Maço 10.
245
BRASIL – Arsenal de Guerra da Corte. Relação nominal das praças do corpo de Artífices da corte
com declaração dos ofícios de cada uma e dos destinos em que se acham. Major Antônio de Castro
Viana, Quartel do Arsenal de Guerra, 29 de janeiro de 1865. Mss Arquivo Nacional. Coleção Poli-
doro, Maço 7.
246
BORGES FORTES, Heitor. Velhos Regimentos: Ensaio sobre a evolução da artilharia de campanha
brasileira de 1831 a 1959. Rio de Janeiro, BIBLIEX, 1964. p. 33.
537
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
247
CARVALHO, José Carlos de. Noções de artilharia para instrução dos oficiais inferiores da arma no
exército em operações fora do Império pelo Dr. José Carlos de Carvalho, chefe da comissão de en-
genheiros do 1o Corpo do mesmo Exército. Montevidéu: Tipografia del Pueblo, 1866. p. 59.
248
Um estudo sobre um soldado da companhia de Artífices, inclusive na Campanha do Paraguai, pode ser
visto no artigo: CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Aos esquecidos, uma reparação. Estudo sobre
um operário do Arsenal de Guerra na Guerra do Paraguai. Anais do Museu Histórico Nacional, vol.
42, 2010. pp. 47-72.
249
BRASIL – Decreto de 5 de janeiro de 1818. Manda incorporar aos próprios da Coroa o Seminário de
S. Joaquim e destina-o para aquartelamento das tropas.
538
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Todas as soluções encontradas para cuidar das crianças quando atingiam a idade
de sair da Santa Casa eram problemáticas devido à falta de recursos financeiros gover-
namentais para sustentar os órfãos. Isso representava uma situação grave, considerando
que o número de crianças abandonadas era muito grande, mesmo com a elevada morta-
lidade existente na Casa dos Expostos. Há na documentação do Arsenal menções à me-
250
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição dos negócios da Guerra apresentado à
Assembleia geral legislativa na sessão ordinária de 1840 pelo respectivo ministro e secretário de
Estado, Conde da Lage. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1840. p. 8.
251
REINO UNIDO – Arsenal de Guerra. Prospecto para organização de uma companhia de artífices
para o Arsenal Real do Exército sendo composta de 140 praças, Raimundo José da Cunha Matos,
Rio de Janeiro, 11 de agosto de 1820. Mss. ANRJ. IG7 1.
252
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação dos expostos que por ordem de sua Majestade Imperial assen-
taram praça de adidos na Companhia de Artífices. Coronel Francisco de Paula e Vasconcellos. Rio
de Janeiro, 22 de julho de 1825. Mss. ANRJ. IG7 2.
253
Cabe lembrar que a Santa Casa do Rio de Janeiro era um prédio vizinho ao Arsenal, ficando do outro
lado do Largo da Misericórdia.
539
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
nores com número de matrícula da Santa Casa na ordem de quinze mil, 254 indicativo que
a instituição de caridade recebia uma média de pelo menos 150 crianças por ano, desde
sua criação no século XVIII. Colocar alguns dos meninos nos Arsenais, a fim de apren-
der um ofício, atendia à postura de caridade da instituição e daria às crianças a expecta-
tiva de terem um futuro onde teriam condições de se sustentar e de se encaixar como
cidadãos úteis à sociedade.
A previsão inicial era que seriam instruídos cem menores, a idade de admissão
dos alunos sendo de 8 a 12 anos, mas a escola de primeiras letras era aberta a todas as
pessoas que desejavam colocar seus filhos para estudar como externos. Nela eram mi-
nistradas aulas para “meninos nacionais e estrangeiros”,257 com as disciplinas de “pri-
meiras letras” (ler, escrever e contar), desenho e escultura, estas sendo aplicadas pela
254
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro Jerônimo Francisco Coelho ao brigadeiro diretor
do Arsenal de Guerra, Salvador José Maciel mandando admitir nas Companhias de Aprendizes seis
expostos. Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1844. Mss. ANRJ. IG7 403.
255
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro da Guerra, Manoel da Fonseca Lima e Silva de-
terminando a suspenção dos vencimentos dos Artífices Menores e os desliguem da Companhia de
Artífices. Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1831. Mss. ANRJ. IG7 44.
256
BRASIL - Decreto de 21 de fevereiro de 1832, op. cit.
257
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da administração do ministério da Guerra apresentado na
Augusta Câmara dos senhores deputados na Sessão de 1832. Rio de Janeiro: Tipografia Patriótica
D'Astrea, 1832. p. 11.
540
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
manhã, enquanto as atividades nas oficinas eram à tarde. Mais tarde, os menores foram
divididos em classes, com três turnos, certamente para diminuir o tamanho das tur-
mas. 258 Fazemos a ressalva repetindo que o desenho ensinado aos menores era o artísti-
co e não o técnico.
É evidente que a instituição tinha um custo elevado para o governo, pois era ne-
cessário providenciar alojamento – em 1833 foi iniciada a construção de um prédio só
para eles, acima citado, e havia outras despesas, ainda que inicialmente houvesse a pre-
visão de descontar as refeições e roupas de seu soldo e jornais por dia trabalhado por
eles como empregados nas oficinas, como era costume na época nas forças armadas.
Porém, o pagamento desses jornais não era comum a todos e, mesmo para os que traba-
lhavam, os valores que podiam ser descontados eram reduzidos, pois a capacidade pro-
dutiva das crianças, tanto em termos de habilidade técnica como de força física era mui-
to reduzida, de forma que a proposta do Arsenal, assistencialista, era realmente excepci-
onal.
Com as condições vantajosas para a época, havia uma procura de pessoas para
colocar seus dependentes nos Aprendizes Menores,261 entretanto, para o Arsenal, as
258
BRASIL – Arsenal de Guerra. Representação do Professor Substituto, Sr. Francisco Guedes de Araú-
jo Guimarães, ao 1o Ajudante, Lima e Silva, sobre ordem que recebeu de assumir as classes do pro-
fessor. Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 24.
259
id.
260
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição dos negócios da Guerra apresentado à
Assembleia geral legislativa na sessão ordinária de 1835 pelo respectivo ministro e secretário de
Estado, Barão do Itapicuru-Mirim. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1835. p. 9.
261
Ver, entre outros, BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro da Guerra, Sebastião do Rego
Barros, ao Diretor do Arsenal de Guerra, Antônio João Rangel de Vasconcellos sobre Requerimento
do Padre Manoel Gomes Santo, mandando examinar os quatro órfãos, filhos do Tenente de Artilha-
Continua –––––––
541
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
vantagens eram mais teóricas: se estava formando mão de obra para o trabalho em ofi-
cinas, só que não necessariamente nas manufaturas do governo ou para o serviço mili-
tar. Os alunos, ao atingirem a idade militar, poderiam ser recrutados, mas não havia uma
obrigatoriedade para isso: o regulamento dos menores, de 1837, apenas previa que, ao
atingirem 21 anos, o menor “poderá ser contratado como operário efetivo do Arsenal de
Guerra”.262 Além disso, as crianças que tivessem pais, parentes ou tutores podiam ser
removidas do Arsenal a qualquer momento, fazendo com que os dispêndios com sua
educação fossem perdidos para o governo.
De qualquer forma, a instituição dos menores depois de seu momento inicial te-
ve uma notável e rápida expansão: além dos duzentos no Rio de Janeiro, havia ainda
cinquenta Aprendizes no Rio Grande do Sul, em parte pagos pelo governo provincial;
cem na Bahia; cem em Pernambuco, outros cinquenta no Pará, também parcialmente
pagos pelo governo provincial; e mais cinquenta no Mato Grosso, totalizando 550
Aprendizes em 1840. 263
A importância que era dada aos menores também é visível em um caso específi-
co que ocorreu no Arsenal: o segundo alojamento feito para os menores não era adequa-
do em termos de condições de saúde, de forma que em 1843 eles foram transferidos
para uma área no anexo atrás da Casa do Trem, no atual Pátio dos Canhões, que na épo-
ca passou a ser conhecido como Pátio dos Menores. Essa medida foi tomada, mesmo
isso implicando que “o Arsenal ficasse privado de uma das suas melhores oficinas cons-
truída de novo [recentemente]”, como colocou o ministro em 1842. 264 Ou seja, se colo-
cou a saúde das crianças acima das necessidades da manufatura.
Apesar das grandes despesas e da procura das pessoas para colocar seus filhos
nos Aprendizes Menores, tendo em vista as oportunidades de emprego abertas aos for-
mados, podemos afirmar que poucos decidiriam seguir a árdua carreira militar. Isso ob-
viamente não era bom para o Exército, ainda mais considerando as grandes despesas da
instituição em um momento de corte de despesas. Na proposta de orçamento do Império
Continuação–––––––––––
ria Antônio Pereira Lopes quanto a sua capacidade física para os admitir entre os Aprendizes Me-
nores. Rio de Janeiro, 28 de julho de 1837. Mss. ANRJ. IG7323.
262
BRASIL – Decreto de 29 de dezembro de 1837. Regulando o modo da admissão dos aprendizes me-
nores nas oficinas do Arsenal de Guerra, e outras disposições a respeito.
263
Diário do Rio de Janeiro, ano XIX, nº 176, Rio de Janeiro, 10 de agosto de 1840. p. 1.
264
BRASIL – Ministério da Guerra. Proposta da Repartição dos Negócios da Guerra apresentada à
Assembleia Geral Legislativa na 1ª sessão da 5ª legislatura pelo respectivo ministro e secretário de
estado José Clemente Pereira. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1843. p. 11.
542
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
de 1839, de um total de cinco mil contos de réis previstos para o exército, se previa um
gasto de 332 contos com os Arsenais (6,6% do total) e 115 contos com os Artífices e
Aprendizes (2,3% dos gastos), enquanto a Escola Militar, o curso de formação de ofici-
ais do Exército, receberia apenas cinquenta contos (1% do orçamento). Os Artífices e
Aprendizes correspondiam ao terceiro maior gasto do orçamento do Exército, só per-
dendo para os gastos com pessoal e o dos próprios arsenais. 265
Uma solução para o governo seria obrigar os responsáveis pelos menores a pagar
pelos custos da educação e isso foi uma ideia adotada em 1842: o regulamento daquele
ano266 determinava que fossem contabilizados todos os gastos feitos com a educação
dos menores, os responsáveis por eles, fossem parentes ou o juiz de órfãos, tendo que
assinar um compromisso de que cumpririam o regulamento, que previa o reembolso das
despesas com a educação dos meninos. Caso essas despesas não fossem pagas, o menor
teria que servir nas Companhias de Artífices.
265
Diário do Rio de Janeiro, ano XVIII, nº 193, Rio de Janeiro, 30 de agosto de 1839. p. 1.
266
BRASIL – Decreto nº 113, de 03 de janeiro de 1842, op. cit. Artigo 4º.
267
BRASIL – Arsenal de Guerra. Designação das aulas e oficinas frequentadas pelos menores. Rio de
Janeiro, 31 de dezembro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
268
BRASIL – Ministério da Guerra. Regulamento nº 113 de 3 de janeiro de 1842, dando nova organiza-
ção às Companhias de Aprendizes Menores dos Arsenais de Guerra. Mss. ANRJ. IG7 330.
543
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
ainda era procurada por pais para colocar seus filhos, como consta de um relatório do
Arsenal, que dizia que a utilidade da companhia é “confirmada pelo concurso de preten-
dentes a admissão de seus filhos, e pupilos, que por falta de meios de educação se torna-
riam entes pesadas a sociedade”.269
269
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relatório do Estado do Arsenal de Guerra da Corte. José Maria da
Silva Bittencourt, Marechal de Campo e diretor. Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1851. Mss.
ANRJ. IG7 12.
270
Semana Ilustrada. Recorte, s.d.
271
Instituto de Menores Artesãos da Casa de Correção da Corte. https://goo.gl/ZNMeZ3 (acesso em abril
de 2017).
272
BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação das praças que pertenceram ao extinto Corpo de Artífices,
Virgílio Fogaça da Silva, Major comandante Geral das Companhias, Rio de Janeiro, 4 de dezembro
de 1866. Mss. ANRJ. IG7 350.
544
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
trabalho valores superiores à sua dívida, passando a ser credor do governo, apesar de só
termos encontrado dado sobre isso depois de nosso recorte.273
Dentro das oficinas, a formação técnica dos Aprendizes Menores não era muito
diferente da dos aprendizes externos, recebendo a instrução por parte dos mestres ou dos
273
Há uma relação de 1880, na qual cerca de 9% dos menores apresentavam pecúlios maiores do que suas
dívidas, em um caso, novecentos mil réis a mais, o equivalente a dez meses de soldo de um tenente
naquele ano. BRASIL – Arsenal de Guerra. Relação nominal dos operários militares. Lino José dos
Santos de Macedo Figueiredo, 1o Oficial. Rio de Janeiro, 11 de março de 1881. Mss. ANRJ. IG7
234.
274
BRASIL – Decreto nº 113, de 3 de janeiro de 1842. op. cit.
275
BRASIL – Arsenal de Guerra. Estatutos para o estabelecimento dos aprendizes menores do Arsenal
de Guerra na conformidade do artigo 6º do decreto de 29 de dezembro de 1837. Mss. ANRJ, Cole-
ção Polidoro, maço 7.
276
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do ministro, Manoel Francisco de Souza e Mello ao Diretor do
Arsenal de Guerra, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, autorizando mandar arranjar até cin-
quenta espingardinhas e o competente correame apropriados para Aprendizes Menores de 12 anos
de idade. Rio de Janeiro, 23 de julho de 1859. Mss. ANRJ, IG7 388.
545
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
oficiais mentores, operários que acompanhavam sua instrução, com todos os problemas
que isso gerava.
Esse currículo não era considerado adequado por todos. Em 1844, o ministro da
Guerra fez uma proposta de transformar o curso dos menores em um regular, com a
duração de sete anos, com aulas de leitura, escrita, numeração, tabuada e desenho no
primeiro ano; aritmética e desenho no segundo ano; geometria no terceiro; mecânica
industrial no quarto; dinâmica (física) aplicada no quinto; desenho de maquinas no sex-
to e construção de modelos no último ano. 280 Era um projeto que, se fosse implantado,
permitiria a formação de quadros técnicos muito melhor capacitados que quaisquer ou-
tros existentes no período. Só que a proposta não foi aplicada. Apenas muito mais tarde,
em 1863, houve outra ampliação no currículo acadêmico, com a nomeação de outro
professor. Este foi encarregado de lecionar “geometria, mecânica, desenho linear e de-
senho de máquinas”, 281 um passo que poderia ser de fundamental importância para for-
277
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício de 28 de fevereiro de 1862, op. cit.
278
BRASIL – Arsenal de Guerra. Designação das aulas op. cit.
279
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro da Guerra, Manoel Felizardo de Sousa e Melo, ao
Vice-Diretor do Arsenal de Guerra, abonar ao mestre de correeiros 30.000 réis visto ocupar-se
também no adestramento dos Artífices que trabalham nas máquinas de apagar incêndios. Rio de Ja-
neiro, 20 de abril de 1849. Mss. ANRJ. IG7 336.
280
BRASIL – Ministério da Guerra. Relatório da Repartição, 1845, op. cit. p. 17.
281
BRASIL – Ministério da Guerra. Aviso do Ministro da Guerra, Antônio Manoel de Melo, ao diretor
do Arsenal, José de Vitória Soares de Andréa, Manda admitir Joaquim José de Carvalho Siqueira
Varejão para lecionar geometria, mecânica, desenho linear e desenho de máquinas aos menores, fi-
cando o outro professor encarregado do desenho de arquitetura e ornados. Rio de Janeiro 25 de ju-
lho de 1863. Mss. ANRJ. IG7 357.
546
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
mação de uma mentalidade técnica no Arsenal, mas que veio muito tarde para ter efeitos
em nosso recorte.
Oficinas Aprendizes
Obra branca 16
Construção 15
Serralheiros 14
Ferreiros 12
Maquinistas 11
Coronheiros 10
Latoeiros 10
Funileiros 7
Correeiros 6
Tanoeiros 6
Pintores 5
Torneiros 5
Alfaiates 4
Matemáticos 4
Espingardeiros 3
Instrumentalistas 2
Gravadores 1
Total 131
Tabela 24 – Aprendizes menores empregados em oficinas em 1862. 282
Observamos que os Aprendizes estavam divididos de forma mais ou menos uniforme pelas oficinas, não
estando concentrados nas atividades críticas para o Exército, as de espingardeiros, coronheiros e, para o
Arsenal, maquinistas. De fato, o número de espingardeiros parece ser particularmente reduzido, conside-
rando que havia uma aula de primeiras letras na Fábrica de Armas da Conceição. Com relação ao pessoal,
em 1861 existiam 138 menores na Companhia e durante todo o ano entraram 48 crianças, tendo onze
tinham passado para a Companhia de Artífices. Das crianças, 160 estudavam as primeiras letras, 42 dese-
nho, 32 música e 86 faziam a aula de ginástica. O corpo docente dos Aprendizes era composto do Peda-
gogo e seu ajudante e dos professores de primeiras letras; substituto de primeiras letras; professor de
desenho; de ginástica e o de música. Havia ainda quatro guardas, um servente encarregado da cozinha,
um servente servindo de 1º enfermeiro, uma encarregada da lavagem de roupa, um Artífice servindo de 2º
enfermeiro e dois coadjuvantes de guarda. Eram dezessete empregados no total, ao custo anual de
11.863.400 réis.
Dar treinamento militar às crianças pobres se encaixava bem na política do
Exército, de procura de autossuficiência na fabricação de produtos para suas tropas, no
caso, através de formação de mão de obra. Entretanto, não se pode dizer que a institui-
ção alcançou plenamente seu objetivo, já que muitos dos menores não tinham vocação
para o trabalho em oficinas e não seguiam a carreira artesanal. Mesmo assim, as autori-
dades a consideravam válida: em nosso período de estudo, o número de menores inter-
nados foi aumentado de cem para duzentos e, mais tarde, chegariam a 300. Além disso,
282
BRASIL – Arsenal de Guerra. Mapa demonstrativo da companhia de Aprendizes menores do Arsenal
de Guerra da Corte, com as alterações ocorridas do 1o de Janeiro a 31 de dezembro de 1861. Peda-
gogo Felisberto Silveira Borges. Rio de Janeiro, 2 de janeiro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 21.
547
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
foram criadas Companhias de Aprendizes Menores nos arsenais das províncias, a insti-
tuição só sendo extinta em 1899.
283
BRASIL – Arsenal de Guerra. Ofício do diretor, 26 de novembro de 1858, op. cit.
548
Capítulo 10 – Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
civis não era vista como aceitável, como os Laboratórios Pirotécnicos. No entanto, pela
leitura dos regulamentos e documentos, é evidente que a principal função dos Aprendi-
zes Menores era assistencialista e não uma meramente de exploração de mão de obra de
menores de idade.
284
GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. São Paulo: Ática, 1988. p. 482.
549
Capítulo 10 - Mão-de-obra em uma manufatura inserida numa sociedade escravista
Napoleão Level (ver capítulo 6), para estudar na Europa, tomou um passo conceitual-
mente muito importante para a formação do quadro técnico de seu principal manufatura
– algo que não aconteceu no Exército, que ficou preso a práticas mais arcaicas do seu
quadro de artesãos.
550
Capítulo 11 – Conclusão – uma tentativa malograda de incentivo manufatureiro
Sumário
551
Capítulo 11 - Conclusão – uma tentativa falhada de incentivo manufatureiro
Esse papel, apesar de não ser um assunto muito estudado em nossa historiogra-
fia, parecia ser de indubitável importância, tendo em vista a crescente importância das
forças armadas nas sociedades ocidentais e considerando o imenso crescimento das
mesmas no período moderno, no processo conhecido como Revolução Militar. Essa é
uma questão relevante para nós, pois Portugal não seguiu o mesmo processo de outras
potências europeias, o que afetou a história do Brasil na primeira metade do século
XIX: a formação de um exército verdadeiramente nacional no País foi um processo len-
to, iniciado relativamente tarde e que sofreu vários percalços, com efeitos marcantes
sobre como seriam organizadas as forças armadas.
552
Capítulo 11 – Conclusão – uma tentativa malograda de incentivo manufatureiro
Por motivos táticos e ideológicos diversos, esses equipamentos idealmente seriam pa-
dronizados, tal como simbolizado pelas fardas militares que, de forma significativa, são
chamadas de uniformes, um termo que pode significar tanto um traje semelhante quanto
uma coisa que tem um padrão igual.
553
Capítulo 11 - Conclusão – uma tentativa falhada de incentivo manufatureiro
Tais inciativas, contudo, praticamente acabaram com a Regência, o caso mais visível
sendo o fim do monopólio de fabricação de pólvora.
Aqui vale a pena apontar outro ponto central para a presente tese: a visão sobre a
questão econômica do País na primeira metade do século XIX, que nos leva diretamente
ao ponto inicial de nossa proposta de estudo. Esta seria uma comparação direta entre os
modelos explicativos da economia nacional na primeira metade do século XIX, de como
a historiografia tradicional construía uma visão teórica do passado. Isso visando expli-
car como a sociedade contemporânea – especialmente a de meados do século XX – fun-
cionava.
É verdade que os modelos são construções teóricas, nunca são idênticos à reali-
dade observável, mas deveriam servir para, em linhas gerais, dar a entender como fun-
cionava aquilo que representam. Entretanto, praticamente todos os modelos – e certa-
mente os mais antigos e já consolidados como clássicos – partiam de uma série de pon-
tos que não são apoiados pela análise da situação das forças armadas no Brasil.
O ponto mais importante, para nós, em todos os modelos, é que não se construiu
uma visão empírica de como seria a economia do País na primeira metade do século
XIX. Os historiadores da economia, ainda muito influenciados por uma visão voltada
para conjunturas econômicas, basicamente não tratam do período, este sendo considera-
do como uma continuação da economia colonial. Isso, em suas colocações, por a in-
fluência do período do ouro ter se encerrado, mas ainda não tinha se consolidado a do
café. Nesse sentido, a visão de Caio Prado Júnior, que a situação desse período seria um
“hiato” na evolução histórica é, para todos os efeitos, unânime. Só que a pesquisa das
manufaturas ligadas às forças armadas – direta ou indiretamente – aponta que havia um
processo de mudança, ou pelo menos um forte interesse nesse campo, já perceptível na
década de 1840.
554
Capítulo 11 – Conclusão – uma tentativa malograda de incentivo manufatureiro
do ou considerado como irrelevante, apesar destas mudanças não poderem ser associa-
das apenas às causadas pela economia cafeeira, por mais importante que essa pudesse
ser. Nesse sentido, a comparação entre o funcionamento do Arsenal e das manufaturas
militares com os modelos tradicionais, especialmente os escritos em meados do século
XX, permite ampliar uma reflexão sobre a adequação desses para explicar a situação do
Brasil na primeira metade do século XIX.
Ainda sobre o tema dos modelos, consideramos necessário apontar a questão das
elites governantes, que majoritariamente são vistas como ligados aos interesses da agri-
cultura de exportação, sem preocupações com o desenvolvimento industrial do País.
Isso pode ser verdadeiro em termos gerais, mas certamente não se aplica quando vemos
o esforço em criar uma infraestrutura de apoio ao funcionamento das forças armadas,
como pode ser visto ao longo de todo o texto desta tese: o governo fez um grande esfor-
ço para criar ou apoiar indústrias de abastecimento, sendo importante notar que se o
objetivo dos ministérios da Guerra e da Marinha era apoiar o esforço militar, algumas
dessas empresas, como a Fábrica de Pólvora e especialmente a de Ferro, serviriam tam-
bém para atender necessidades do mercado civil. O mesmo pode ser dito com relação a
um apoio indireto a indústrias, como o feito à Fundição da Ponta de Areia e as fábricas
de tecido e de sapatos, algo que não se enquadra na visão tradicional, de um governo
voltado inteiramente para os interesses da elite agrária.
Outro ponto de comparação que não pode ser esquecido com relação aos mode-
los é associado à existência de um mercado consumidor interno, algo negado nos estu-
dos padrão. Nestes, a sociedade seria dividida em dois campos: senhores, que viveriam
basicamente de produtos importados e de bens produzidos na economia de subsistência,
enquanto o resto da sociedade seria composta de escravos, estes “incapazes” e “iner-
mes” ou por “agregados”, que não consumiriam nada, a não ser um mínimo para sua
subsistência. As manufaturas do governo conseguem demonstrar, além da existência de
um mercado de fornecimento de produtos manufaturados, que havia no país um grupo
numeroso de trabalhadores manuais, estes com rendimentos suficientemente altos para
poder se enquadrar como uma forma de classe média.
555
Capítulo 11 - Conclusão – uma tentativa falhada de incentivo manufatureiro
em atingir uma elevada proficiência técnica, isso mesmo considerando as grandes bar-
reiras que tinham que superar para isso.
A questão da proficiência técnica dos escravos pode ser estendida para negar ou-
tro ponto corrente da historiografia tradicional, a qual seria que o progresso técnico esta-
ria excluído das sociedades escravistas. Apesar de serem empreendimentos pré-
industriais, é visível a existência de um elevado grau de avanço técnico em várias manu-
faturas do País, como as fundições de Miers & Maylor; a da Ponta da Areia; o Arsenal
de Marinha; o Laboratório Pirotécnico do Campinho e a Fábrica de Armas da Concei-
ção, essas duas últimas ligadas em maior ou menor grau ao Arsenal de Guerra. Todas,
se não eram propriamente fábricas, no sentido moderno, encontravam-se muito próximo
disso, no limiar da transformação para um sistema de produção mais moderno.
Com esses pontos cremos que fica claro que um dos nossos objetivos, que seria
discutir a adequação dos modelos econômicos tradicionais à situação das manufaturas
do governo fica atendido. Para nós, independente do resultado final, ter sido o que foi
descrito nos modelos, ou seja, o fato do Brasil não ter se industrializado, a explicação
disso não pode ser encontrada em uma relação causal simples, de uma economia depen-
dente, baseada no trabalho escravo, que cerceava o desenvolvimento técnico. Havia
fatores que permitiriam superar esses pontos, no entanto não foram suficientes para cau-
sar uma mudança real. Não se pode colocar a explicação desse impedimento simples-
mente na existência de uma sociedade agrária escravista, pois esta organização social e
econômica não teria se alterado de forma estrutural até a abolição, como bem lembrado
por Ciro Flamarion, na sua obra: “as concepções acerca do ‘Sistema Econômico Mundi-
al’ e do ‘Antigo Sistema Colonial’”. Isso apesar da mudança na situação econômica já
ter começado na década de 1870, antes daquele evento.
556
Capítulo 11 – Conclusão – uma tentativa malograda de incentivo manufatureiro
dade, ligam e relacionam a situação do Brasil com a da França. Isso a começar por todo
o processo de formação dos estados nacionais, tal como visto pelo víeis da procura da
obtenção do monopólio da violência. Do nosso ponto de vista, contudo, alguns pontos
são mais relevantes, a começar pela questão da cultura da guerra: a França, por ser a
maior potência militar do século XVIII, se tornou um modelo a ser adotado por outros
países. A emulação de práticas francesas ia desde pontos centrais, como a tática, o ensi-
no militar, usos e costumes, chegando até pontos muito secundários, como uniformes.
No caso de Portugal e do Brasil isso fica evidente, entre outros pontos, pela proposta de
organização da Fábrica de Armas do Porto e pela adoção – parcial – de conceitos e pro-
cedimentos, como os dos Ouvriers, copiados nos Artífices militares dos arsenais e ma-
nufaturas do Brasil até 1865. No entanto, a emulação de práticas francesas não foi se-
guida até um extremo que poderia realmente influenciar o desenvolvimento industrial
no Brasil.
De início, podemos dizer que, tanto na França como no Brasil, havia uma inten-
ção das lideranças das forças armadas em criar métodos industriais, visando a facilitar a
produção de artigos bélicos. Para isso, na França, um grupo de oficiais, representando a
arma de Artilharia, sob a direção de Gribeauval, fez um intensivo processo de desenvol-
vimento dos procedimentos técnicos visando racionalizar a produção de bens militares,
como o desenho técnico, geometria descritiva e geometria analítica. Mais importante foi
a concepção que os armamentos – canhões e carretas de artilharia – deveriam ser padro-
nizados, por causa das vantagens que isso traria para as operações militares. Um concei-
to que não era revolucionário para a época, mas que, até aquele momento, não tinha sido
tentado em nenhum outro país do mundo. Nesse sentido, se entende perfeitamente os
subsídios dados aos esforços do francês Honoré Blanc para criar métodos de produção
de peças intercambiáveis, a extensão lógica do processo de padronização de equipamen-
tos.
A questão, contudo, não pode ser vista tanto pelas ações específicas, como as
com relação a Blanc, mas sim pela mentalidade, de qual era o papel da corporação, a
Artilharia, de incentivar o desenvolvimento técnico do sistema de suprimento do Exér-
cito, algo que foi de extrema importância, mas não foi continuado após a Revolução
Francesa, por causa de questões conjunturais.
No entanto, a forma de ver, de que o governo, ou pelo menos um setor dele, de-
veria arcar com custos de “pesquisa e desenvolvimento” marcou uma ruptura na forma
557
Capítulo 11 - Conclusão – uma tentativa falhada de incentivo manufatureiro
de agir dos exércitos até então, que viam a questão tecnológica como uma a ser relegada
a setores “inferiores”, os trabalhadores ou mesmo, dentro do exército, as “armas intelec-
tuais”, as que não tinham o mesmo status das “armas combatentes”. Assim, o fato do
próprio inspetor da artilharia, Gribeauval, ter demonstrado interesse no desenvolvimen-
to técnico e de ter conseguido o apoio governamental para a aplicação de suas políticas
foi uma mudança sobre toda uma forma de se ver o mundo.
558
Capítulo 11 – Conclusão – uma tentativa malograda de incentivo manufatureiro
Outro elemento que se opõe ao que aconteceu na França foi que não havia uma
preocupação com a formação técnica do pessoal não militar. Praticamente tudo ficava a
cargo dos mestres das oficinas e esses eram artesãos, com problemas básicos de uma
formação totalmente voltada para aspectos práticos, sem um conhecimento teórico mai-
or, que permitisse se vencer uma inércia contrária ao desenvolvimento técnico. Esse é
um aspecto importante, pois se observa em praticamente todas as manufaturas do go-
verno um grande interesse na formação de pessoal, só que isso foi feito através de mé-
todos tradicionais. O aprendizado, sem um ensino teórico de aspectos científicos, como
o desenho técnico, não era o meio mais propício para se superar os problemas de inércia
e resistência no campo técnico. Um claro exemplo disso sendo a experiência iniciada
por Otto Mehring na mecanização da Fábrica de Armas da Conceição, feita de forma
incompleta, já que o artesão, apesar de ser capaz, não teve condições de superar suas
falhas de conhecimento profissional.
559
Capítulo 11 - Conclusão – uma tentativa falhada de incentivo manufatureiro
560
Capítulo 11 – Conclusão – uma tentativa malograda de incentivo manufatureiro
plexas. Dessa forma, essa seria uma solução que, mesmo que atingisse seu objetivo,
levaria à manutenção das estruturas existentes e não a uma evolução das mesmas em
direção à fábrica moderna.
Esperamos que tenha ficado claro que o resultado – ou a falta dele – com relação
a políticas de desenvolvimento econômico baseadas na ação do Exército tenha sido ori-
ginário de opções políticas conscientes das lideranças militares. Estas escolheram, ainda
que inconscientemente, seguir um caminho privilegiando estruturas manufatureiras tra-
561
Capítulo 11 - Conclusão – uma tentativa falhada de incentivo manufatureiro
dicionais, sem possibilidades de bons resultados, ao contrário do que tinham feito outros
países, especialmente os Estados Unidos.
562
Glossário
12 Glossário:
12.1 A-E
12.2 F-J
12.3 K-P
12.4 R-Z
563
Glossário
12 Glossário:
12.1 Nota sobre as fontes
Este glossário foi baseado em uma série de fontes, como as elaboradas pelo pró-
prio autor para a elaboração do livro Thesaurus de acervos museológicos,1 ou para o
sítio da internet ArmasBrasil.2 As outras fontes mais importantes usadas foram o Dicio-
nário técnico militar de terra,3 um dos únicos dicionários especializados em assuntos
militares publicado em português, importante por sua proximidade cronológica com os
assuntos abordados nessa tese, o Dicionário militar brasileiro,4 elaborado por uma co-
missão do Exército, mas que não chegou a ser difundido. Para elaboração de conceitos
militares que eram oriundos da França, usamos o Dictionnaire militaire, 5 de 1898.
Como estamos tratando de uma manufatura, foi necessária a consulta a obras que
trabalhem com esse ramo, especialmente com termos que não são mais correntes. Para
isso nos valemos de dicionários antigos, como os de Bluteau,6 Morais Silva 7 e Pinto.8
Observamos que os verbetes não são citações diretas das fontes – foram adapta-
dos pelo autor para se adequar aos conceitos que foram trabalhados ao longo do texto.
Isso foi particularmente necessário nos dicionários mais modernos, como o da BIBLI-
EX, pois alguns dos termos usados no século XIX tem um significado bem diferente do
corrente.
1
FERREZ, Helena Dodd e BIANCHINI, Maria Helena S. Thesaurus para acervos museológicos. Rio de
Janeiro: Fundação Nacional Pró-Memória. Coordenadoria de Acervos Museológicos, 1987. 2v. (Sé-
rie técnica).
2
CASTRO, Adler Homero Fonseca de. ArmasBrasil. Rio de Janeiro, 2003. http://www.armasbrasil.com/
(acesso em dezembro de 2015).
3
ALBUQUERQUE, Caetano M. de F. e. Dicionário Técnico militar de terra. Lisboa: Anuário Commer-
cial, 1905.
4
BIBLIEX – BIBLIOTECA DO EXÉRCITO. Dicionário militar brasileiro. Rio de Janeiro: Bibliex,
2005.
5
DICTIONNAIRE militaire; Encyclopédie des sciences militaires. Paris: Librarie Militarie Berger-
Levraut, 1898.
6
BLUTEAU, Rafael. Vocabulário português e latino, áulico, anatômico, arquitetônico, bélico, botânico,
brasílico, cômico, critico, químico, dogmático, dialético, dendrológico, eclesiástico, etimológico,
econômico, florífero, forense, frutífero... autorizado com exemplos dos melhores escritores portu-
gueses, e latinos. Coimbra: Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1728. - 10 vol.
7
MORAIS SILVA, António de. Dicionário da língua portuguesa. Lisboa: Lacerdina, 1789.
8
PINTO, Luiz Maria da Silva. Dicionário da Língua Brasileira. Rio de Janeiro: Tipografia de Silva,
1832.
564
Glossário
12.2 A-E
Abegoaria: em estabelecimento agrícola, lugar onde se guarda o gado e onde se guardam e fabricam ins-
trumentos agrícolas.
Aboletar: Alojar ou aquartelar tropa em casa de particulares por requisição (boleto) da autoridade.
Abridor: operário que abre cunhos e faz gravações em metais.
Aço de mola: aço com grande resistência, alto limite de elasticidade e resistência a fadiga de metais.
Açucena: receptáculo ou soquete que recebe o penacho a ser colocado na barretina ou outro tipo de cha-
péu de uso militar.
Adarme: unidade de peso arcaica, equivalente a 1,8 gramas. Em armamento antigo, o calibre da arma
medido pelo peso em adarmes do projétil esférico de chumbo disparado.
Adarmeira: ferramenta usada para medir o diâmetro de um cano de arma ou de um projétil de arma portá-
til.
Africano livre: pessoa apreendida em navio executando o tráfico de escravos após a proibição do mesmo,
em 1831. O tema foi regulado por lei de 19 de novembro de 1835, devendo os africanos serem dis-
tribuídos para particulares ou instituições públicas, trabalhando forçosamente por quatorze anos, de-
vendo serem libertos depois disso.
Agulha: vários tipos de estilete usados em bocas de fogo, para romper o cartucho, permitindo o disparo e
para limpar o ouvido da boca de fogo.
Ajustador: operário especializado que ajusta peças, adaptando-as para a montagem de um conjunto maior.
Alabarda: combinação entre machado e a lança, consistindo de uma haste longa, terminada em ponta,
tendo esta uma lâmina e gancho perpendiculares.
Alfageme: fabricante, polidor ou vendedor de armas brancas. O mesmo que espadeiro.
Alfaiate: o que corta e costura vestidos de homem e mulher.
Alma oblonga: tipo de arma em que a alma era mais larga do que alta,
Alma: vazio interior, cilíndrico, liso ou raiado das armas de fogo, destinado a receber a carga, resistir aos
gases produzidos pela combustão da pólvora e dirigir o projétil.
Alqueire: unidades de área e de volume portuguesas, arcaicas, cujo valor variava de região para região. O
alqueire de volume correspondia a 36,37 litros no sistema métrico e era usado para a medição de
alimentos secos, como grãos.
Alto forno: estrutura em forma de chaminé que permite a redução do minério de ferro em ferro metálico e
sua fusão.
Anadel: comandante (capitão) de besteiros. O anadel mor era o comandante geral da força.
Antecarga: arma carregada pela boca.
Aparelhador: no Arsenal de Guerra, membro da mestrança que orienta os trabalhos dos artesãos, sob a
direção do mestre e do contramestre.
Aparelho de navio: conjunto de cabos, roldanas e velas de um navio.
Aprendiz menor: no Arsenal de Guerra, membro de uma das Companhias de Aprendizes Menores, orga-
nização militarizada, formada por menores de idade de 12 a 18 anos, que aprendiam um ofício na
instituição, recebendo também treinamento militar.
Aprendiz: o que aprende. Operário principiante, aprendendo seu ofício, normalmente menor de idade. Nas
corporações de ofício, era um trabalhador não remunerado.
Arcabuz: arma de fogo, espécie de espingarda, o equivalente do fuzil moderno.
Arcabuzeiro: soldado de infantaria armado com arcabuz.
Areeiro: pequeno recipiente com furos, usado para colocar areia sobre um documento, de forma a secar a
tinta com que se está escrevendo.
Armão: carro dianteiro (avantrém) ao qual é engatado o reparo da peça de campanha. O mesmo que viatu-
ra-munição ou qualquer viatura do parque de artilharia hipomóvel.
Arranchado: regime administrativo em que o militar é alimentado por conta do Estado, quando aquartela-
do ou em campanha.
Artífice do fogo: praça especializado na manufatura de artefatos pirotécnicos. Originalmente teria a gra-
duação de 2º sargento, mas isso deixou de ser a prática no Império.
565
Glossário
Artífice: homem ou mulher que sabe e professa alguma arte mecânica. Soldado das Companhias de Artí-
fices, tropa do exército formada por soldados com habilitação para exercer ofícios mecânicos.
Artífice de fogo: soldado especializado na fabricação de artefatos pirotécnicos.
Árvore de campainha: mistura de estandarte e instrumento musical, composto por uma haste com um
toldo circular, tendo vários guizos presos a ela.
Assentar Praça: fazer o registro (assento) como praça. O mesmo que ingressar em uma das forças arma-
das.
Atarracador: o que atarraca [apertar muito com corda ou cunha]. Atarracar a ferradura: aparelha-la, fa-
zendo-lhe as bordas, bicos, e o que é necessário para se aplicar ao pé do animal.
Atiradores: “em atiradores” - formação tática onde os soldados se postavam dispersos adiante das linhas
de batalha, para inquietar com seus fogos as formações inimigas.
Auxiliares: tipo de tropa miliciana, criada em Portugal em 1640 e que no Brasil se generalizou em 1766.
Também era conhecida como 2ª Linha. Ao contrário das ordenanças, o fornecimento de armamento
para esses homens, bem como o treinamento das tropas devia ser feito pelo governo central.
Avante: parte dianteira de uma embarcação.
Aviamento: material complementar à ação de costura de roupas, como linhas e botões.
Baioneta de alvado: arma branca com uma presilha em forma de tubo, o alvado, que se encaixava sobre o
cano da arma de fogo, permitindo o disparo, carregamento e o uso da mesma em combate de choque.
Bala rasa: projétil de ferro sólido, esférico, disparado de canhões lisos. Durante algum tempo também se
conheceram alguns projéteis sólidos de artilharia raiada como balas rasas.
Baluarte: obra defensiva, elemento de um forte. Tinha a forma quadrada, sendo composta de faces com
canhões atirando contra a campanha e flancos, defendendo o fosso e a cortina da posição. A abertura
interna entre dois flancos chama-se gola.
Banco de prova: instituição em que se testavam canos de armas para verificar se atendiam aos requisitos
mínimos de segurança, as peças aprovadas recebendo uma marca específica de acordo com a cidade
e país.
Bandeireiro: alfaiate especializado na feitura de bandeiras, pendões, pavilhões e assemelhados.
Banqueiro: também soto-mestre, era o ajudante do mestre de açúcar na produção de açúcar em um enge-
nho.
Barbeiro: homem que faz as barbas e as rapa, corta ou apara. Na colônia, exerciam algumas funções de
médico, executando alguns procedimentos cirúrgicos – estes eram chamados de “barbeiros de lance-
ta” ou sangradores.
Barraqueiro: alfaiate especializado na manufatura de barracas.
Barretina: cobertura de cabeça de grande altura, com pala e penacho, feita de couro ou pele, usada por
militares.
Barrote: viga de madeira onde são pregadas as tábuas dos assoalhos ou dos tetos
Batalhão: No Exército brasileiro, unidade básica das Armas e Serviços, exceto da Cavalaria e Artilharia,
de organização pré-estabelecida, cujo efetivo varia, conforme a sua natureza operacional, de 400 a
900 homens, divididos em Companhias.
Bateria: conjunto de bocas de fogo em posição para o tiro ou instaladas em uma posição fortificada. Su-
bunidade de artilharia, orgânica do batalhão ou grupo, unidade de tiro da artilharia de campanha.
Lugar ou linha onde estão em posição as bocas-de-fogo para o tiro.
Bergantim: navio veleiro de pequeno porte e dois mastros, para navegação de cabotagem, podendo ser
movido a remos na ausência de ventos.
Besta: arma de arremesso, composta de um arco preso transversalmente a uma coronha e que disparava
pelouros (balins) ou virotes (setas).
Besteiro do conto: soldado armado de besta que cada cidade, vila ou lugar devia ter, para compor o exér-
cito real de Portugal.
Bigota: peça de madeira circular, com um cavado no entorno e com três furos a atravessando, usada para
retesar cabos em um navio.
Bomba: no século XIX, artefato explosivo esférico, com argolas para facilitar o carregamento e explodin-
do com uma espoleta de tempo.
Boné: cobertura de cabeça de baixa altura, com ou sem pala; o mesmo que quepe.
566
Glossário
567
Glossário
Cavalaria pesada: tropa montada com organização e armamento pesados, inclusive armadura e o cavalo,
que atuava na batalha principalmente pela ação de choque.
Cavaleiro fidalgo: pessoa que foi agraciada com um título de cavaleiro pelo rei, por serviços prestados à
monarquia ou ao país. Era uma honra dada aos capitães do exército e 1º tenentes da Armada.
Cavouqueiro: trabalhador não especializado, que faz escavações.
Chalupa: pequeno barco a vela para navegação de cabotagem, com apenas um mastro.
Chapa da barretina: peça metálica, de latão, ouro ou prata, com desenhos ou números, que era colocada na
frente da barretina.
Charrua: navio de transporte com três mastros.
Chilfarote: o mesmo que terçado.
Chuço: arma de haste aguçada, com menos de três metros, usada como lança, dardo ou pique para o ho-
mem a pé.
Cidadela: fortaleza que domina uma cidade. Por extensão, centro de resistência, ponto forte.
Clavina: arma de fogo longa, com comprimento próximo ou inferior a um metro, normalmente tendo com
um gancho ou argola no lado esquerdo, para prendê-la na bandoleira do cavaleiro. Usada por homens
a cavalo, normalmente não tem baioneta. O termo clavina, no século XX, foi substituído por mos-
quetão ou carabina.
Coluna: conjunto de forças sob um comando, atuando independente em uma direção tática; divisão de
uma força maior. Força com grande autonomia operacional e logística, de organização variável,
constituída para cumprir determinada missão. Dispositivo de força em que seus elementos se escalo-
nam em profundidade, em sucessão. Nas formaturas de tropa, cada uma das filas de homens coloca-
dos uns atrás dos outros, a distâncias regulares, normalmente de um braço estendido na horizontal.
Companhia: hoje em dia fração de orgânica de batalhão; genericamente, subunidade (incorporada ou
independente). Até o século XVIII, era a unidade padrão das forças militares, sob o comando de um
capitão, seu efetivo variando, de acordo com a época e circunstâncias, de 20 a 250 homens.
Construção: no Arsenal de Guerra, oficina especializada na construção de reparos (carretas) de artilharia.
Construtor: no Arsenal de Guerra, artesão responsável que faz reparos (carretas) de artilharia. No Arsenal
de Marinha, era o encarregado da construção dos navios.
Conteira: parte posterior do reparo de bocas de fogo que se apoia no chão.
Conteirar: mover a conteira lateralmente, dando pontaria à boca de fogo.
Contra banqueiro: ajudante do banqueiro nas suas atividades no engenho.
Contramestre: operário qualificado, subordinado diretamente ao mestre. No Arsenal de Guerra, o encarre-
gado dos trabalhos em uma oficina, na ausência ou falta de um mestre.
Cordoaria: oficina de fabricação de cordas.
Cordoeiro: trabalhador que faz cordas.
Coronheiro: o que faz coronhas de espingarda ou quem as conserta.
Correame: peças de couro do equipamento do soldado, como talabartes e cintos.
Correeiro: artífice que faz obras de couro, correias, loros etc.
Corsário: navio de propriedade privada que recebe autorização, a carta de corso, de uma potência para
atacar navios mercantes de uma potência hostil, em tempo de guerra. Por extensão, tripulante de tais
embarcações.
Cortina: trecho de muralha de fortificação entre dois baluartes ou duas torres.
Corveta: navio a vela de três mastros, com um convés de canhões aberto.
Costureiro: artífice que sabe coser roupa branca ou vive de a fazer em almofada. Ao contrário dos alfaia-
tes, não corta os tecidos. Nos dicionários de época, usualmente aparece apenas costureira.
Couro da Rússia: couro fino, flexível, de grande impermeabilidade à água, com odor característico de
alcatrão de bétula.
Culatra: A parte de trás do cano de qualquer arma de fogo, a parte traseira de um canhão. Em um arma de
fogo portátil, uma peça que era colocado no final do cano, fechando-o.
Cunhete: Embalagem de madeira que acondiciona munições ou explosivos.
Cuteleiro: artífice que faz facas e tesouras.
568
Glossário
Dedeira: pequena luva de couro usada apenas no polegar para tapar o ouvido de uma boca de fogo en-
quanto esta era carregada, para impedir o disparo acidental da carga.
Desarranchado: situação do militar não arranchado, ou seja, que não vive no quartel, podendo, eventual-
mente, receber em dinheiro o valor da alimentação (etapa).
Desdobrar: cortar um tronco de árvore em pranchas e tábuas.
Desenhador: o mesmo que desenhista.
Desobriga quadragesimal: preceito religioso em que os fiéis católicos fazem jejum durante quarenta dias
antes da Semana Santa.
Dispositivo: arranjo e disposição relativa dos elementos de uma força militar no terreno dando-lhes uma
configuração operativa de forma a permitir a execução de uma ação ou operação. Desdobramento;
desenvolvimento. Disposição e colocação dos homens numa formação de combate ou formatura mi-
litar.
Divisão: unidade que enquadra batalhões, regimentos ou brigadas. No Exército Brasileiro, é chamada de
“divisão-de-exército”. Originalmente era a menor força capaz de travar uma batalha com todos os
meios, dispondo de forças de infantaria, cavalaria e artilharia.
Dourador: artífice que assenta ouro por ornato em madeiras, pedras, metais, lenços, sedas etc.
Dragões: incialmente, infantaria que usava cavalos de menor qualidade, para se deslocar mais rapidamen-
te, combatendo a pé. Com o tempo, passou a ser um tipo de cavalaria, equipado também com armas
de fogo, além de suas espadas.
Empreitada: tarefa ou trabalho contratado, com pagamento combinado antecipadamente e só efetuado ao
final. No Arsenal de Guerra da Corte referia-se ao pagamento dos trabalhadores, quando era feito por
peça e não por salário fixo.
Engra: ângulo, quina.
Entalhe: obra de escultura em madeira. Corte feito em uma peça de madeira para servir de encaixa para
outra.
Entalhador: artífice de obra de talha, que representa em madeira laçarias, flores, folhagens, brutescos etc.
de meio de relevo.
Enxó: ferramenta de carpintaria para desbastar madeira, tendo a lâmina colocada com o cume colocado de
forma transversal ao eixo do cabo da peça.
Escantilhão: instrumento com medidas usadas em diversos tipos de trabalhos.
Escopeta: arma de fogo curta, o mesmo que carabina.
Escorva: porção de pólvora ou polvorim que se colocava na caçoleta da arma de pederneira para comuni-
car o fogo à carga de projeção no interior da câmara. Artefato (cartucho fino) que se introduzia no
ouvido da boca de fogo para comunicar a chama à carga de projeção. Quantidade de pólvora ou de
outro explosivo que se usa para transmitir a detonação à carga explosiva principal. Mistura de mate-
riais muito sensíveis ao impacto ou percussão que, iniciada, sofre rápida combustão, transmitindo a
detonação à carga principal.
Escravo da nação: escravo que pertencia ao governo.
Esmeril: material abrasivo ferruginoso e duro usado para desbaste de metais.
Esmerilhar: polir ou desbastar metais usando uma pedra de esmeril ou rebolo.
Espadeiro: o que faz espadas.
Espeque: espécie de alavanca usada para mover a boca de fogo ou alavancar o tubo, permitindo a sua
pontaria, tanto em elevação como em conteira.
Espingardeiro: o que faz espingardas ou quem as conserta.
Espírito de corpo: consciência do valor coletivo que se manifesta entre os integrantes de um determinado
agrupamento militar, como orgulho de pertencer à unidade e que os liga à própria organização, com-
pelindo-os à união, solidariedade e ação coletiva.
Espoleta de tempo: até a primeira metade do século XIX, tubo de madeira cheio de composição incendiá-
ria (misto) de queima lenta e regular que era usada em bombas e granadas. O tempo de queima podia
ser encurtado reduzindo-se o comprimento do misto.
Espoleta: artifício pirotécnico por meio do qual se opera a explosão da carga dos canhões e projéteis ocos.
Em armas portáteis, pequena cápsula, de cobre ou vidro que detona a carga.
Espontão: lança curta (com menos de 2,5 metros), com cruzeta, reminiscente do pique. Era usado pelos
sargentos e oficiais como insígnia de posto e arma de defesa até meados do século XIX.
569
Glossário
Esquadra: frações de tropa que compõe uma companhia, sob o comando de um cabo.
Estativa: aparelho usado como suporte para uma arma. Normalmente o termo é associado ao suporte de
apoio e orientação no lançamento de foguetes de guerra ou de comunicação.
Estereotomia: estudo das formas das pedras, visando verificar as possibilidades de corte e entalhe pela
geometria da peça.
Estufa: casa, câmara, ou armário serrado com fogareiro dentro, para lhe comunicar calor ou a roda dela.
Etapa: ração diária de alimentação a que faz jus o militar arranchado. Valor da ração diária (pecuniário).
Valor pago à praça desarranchada para indenização da sua alimentação.
Exposto: o mesmo que exposto da Santa Casa ou da Misericórdia. Criança entregue de forma anônima, à
Santa Casa de Misericórdia para ser criada até os oito anos.
12.3 F-J.
Falca: cada uma das duas peças do reparo onde se encaixam os munhões de uma boca de fogo.
Falquejar: dar forma a uma peça de madeira usando uma enxó ou machado.
Fardeta: uniforme de serviço interno do soldado, composta de uma jaqueta e calça.
Fecho: mecanismo de disparo das antigas armas de fogo de antecarga que, acionado pelo gatilho, dava
fogo à escorva, que por sua vez o comunica à carga de projeção, fazendo o disparo; fecharia.
Feitor: funcionário que dirige e acompanha o serviço dos escravos em uma plantação ou manufatura. No
Arsenal, também chamado de “olheiro”.
Ferrador: artesão que tem por ofício colocar ferraduras em animais de cavalgadura ou tração
Ferreiro de forja: ferreiro que trabalha com o ferro a quente, usando o conjunto de instrumentos formado
basicamente pela forja, fole e bigorna.
Ferreiro de lima: ferreiro de acabamento de metais ferrosos a frio, usando a lima.
Ferreiro: mecânico que faz obras de ferro.
Fiel: escriturário que controlava a movimentação do material nos armazéns, subordinado ao almoxarife.
Fila: formação em que os homens ou cavaleiros estão colocados uns atrás dos outros; coluna por um.
Fileira: linha de soldados dispostos lado a lado a espaços regulares. Nas formaturas de tropa, cada uma
das linhas de homens colocados ombro-a-ombro a intervalos regulares, normalmente de um braço
estendido lateralmente. Âmbito do serviço de tropa (p.e. estar na fileira). Genericamente, o Exército
como coletividade profissional e organização militar; a Força. O âmago da Força. Genericamente a
formação da tropa em confronto com o inimigo.
Flanco: lado ou extremidade lateral de um dispositivo, posição ou força. No caso de uma fortificação, é
um trecho da muralha que permite disparar ao longo da cortina, ou seja, a parte mais longa dos mu-
ros.
Flanqueamento: ato ou efeito de flanquear o dispositivo de uma força, contornando-lhe o flanco; desbor-
damento.
Fogo artificial: artefato pirotécnico que produz efeitos de luz, cor e/ou fumaça, usado para sinalização.
Foguete a Congreve: tipo de foguete de guerra desenvolvido por Willian Congreve a partir de 1804, o
artefato sendo estabilizado por uma haste presa lateralmente ao motor. Foi usado no Brasil até Guer-
ra do Paraguai.
Foguete de Halle: foguete de guerra estabilizado pelo movimento giratório, causado por orifícios (even-
tos), colocados em ângulo na base, por onde os gases saíam. Também conhecido como foguete tan-
gencial. Fabricado no Brasil de 1852 até a Guerra do Paraguai.
Foguete: artefato pirotécnico propelido pela reação de gases em combustão que fazem parte do projétil.
Pode ser usado para sinalização ou para atividades bélicas, com uma granada presa na sua extremi-
dade.
Fole: mecanismo que permite direcionar, comprimir e mover o ar com uma velocidade maior que a natu-
ral.
Folha de flandres: folha de ferro que é mergulhada em estanho fundido, aumentando sua resistência à
corrosão.
Forja catalã: forno onde se coloca minério de ferro e carvão, o material sendo aquecido e aerado por meio
de foles até que o monóxido de carbono reduz o mineral ao estado metálico, sem o fundir, formando
a lupa. As impurezas do metal são removidas a golpes de malho.
570
Glossário
Forja: estrutura de alvenaria usada para esquentar metais, especialmente o ferro. Por extensão, oficina
onde existe uma forja.
Forja de campanha: equipamento para fazer pequenos trabalhos em ferro, composto de uma forja, foles,
bigornas e outras ferramentas que podem ser facilmente transportados.
Forjar: trabalhar o metal, especialmente, o ferro, a quente, usando uma forja, bigorna e malhos.
Forno de revérbero: forno onde o calor, gerado em uma câmara de combustão separada, é refletido pelo
teto da estrutura sobre o material sendo trabalhado.
Forquilha: suporte usado para apoiar o mosquete durante o disparo.
Fragata: navio de três mastros e um convés artilhado, tendo coberta, onde ficam as peças de artilharia.
Fresar: Desbastar metais com fresa, uma ferramenta de corte rotativa.
Fulminante: em armaria, tipo de fecho em que a detonação da escorva é feita por uma pequena quantidade
de fulminato de mercúrio, colocado em uma cápsula, pelota ou fita. Atualmente, se usa o termo “de
percussão” para indicar essa arma.
Fundidor: artífice que trabalha em fundição.
Funileiro: fabricante de funis e de outros utensílios confeccionados com folha de flandres.
Fuzil: peça de aço dos fechos de certas armas de fogo contra a qual percutia a pederneira presa e levada
pelo cão, produzindo a faísca que dava fogo à escorva. Arma portátil de guerra, longa e raiada, de
repetição ou automática de tiro intermitente que pode ser dotada de baioneta.
Fuzileiro: soldado de infantaria equipado com fuzil. O mesmo que infante.
Galga: mó de eixo horizontal.
Galvanização: processo de proteção de metais usando galvanoplastia.
Galvanoplastia: técnica de revestimento de objetos metálicos usando deposição de metais por eletrólise.
Geometria analítica: estudo da geometria usando um sistema de coordenadas e métodos e símbolos algé-
bricos para resolver problemas matemáticos.
Geometria descritiva: estudo das relações espaciais de pontos, linhas, planos e outras superfícies, permi-
tindo a reprodução de objetos tridimensionais em desenhos de duas dimensões, usando projeções or-
tográficas.
Geometria diferencial: estudo da geometria usando o cálculo diferencial e integral.
Goiva: ferramenta de corte de semelhante à um formão, com a lâmina de corte em forma de “U” ou “V”,
usado para gravação ou entalhe.
Gorjal: parte da armadura que protege o pescoço. Posteriormente este nome foi dado a uma peça de ar-
madura simbólica, em forma de meia-lua, usada como insígnia de oficiais.
Governo: neste trabalho usou-se o conceito de governo como a atividade ou processo de governar, i.e., o
controle sobre os outros. 9 Não se refere à uma administração específica.
Graduado: praça com graduação de sargento e cabo.
Granada de mão: granada de pequenas dimensões que podia ser lançada manualmente.
Granada: até o século XIX, tipo de munição com carga explosiva e espoleta de tempo, disparada de obu-
seiros.
Granadeiro: soldado de infantaria, originalmente armado com granadas de mão além do fuzil, sendo em-
pregado preferencialmente em combate de choque.
Granização: ato de reduzir a pólvora a grãos de tamanho uniforme.
Grosa: uma dúzia de dúzias, 144 objetos.
Guarnição: No sentido usual, pessoal que ocupa e opera uma fortificação, embarcação, aeronave, arma
coletiva, equipamento operativo, viatura de combate ou instalação. Em armas, tudo o que serva para
complementar uma arma, como os copos da espada, braçadeiras de arma de fogo etc.
Henriques: designação que se dava aos corpos e aos combatentes negros sob o comando de Henriques
Dias durante as Guerras Holandesas. O rei, depois disso, autorizou a formação de tropas de Orde-
nanças e Auxiliares de negros livres. Essas unidades foram extintas em 1831.
9
SILVA, Benedito (coord.) Dicionário de ciências de sociais. Rio de Janeiro: FGV, 1987. p. 22. Verbete
governo.
571
Glossário
Hussardo: soldado de cavalaria ligeira originário da Hungria. Tipo de cavalaria ligeira com os homens
armados de sabre, carabina e de um par de pistolas, usando um uniforme típico copiado dos húnga-
ros, especialmente a pelisse, um casaco com gola e punhos de pele e bordados no peito, normalmente
vestido apenas no braço esquerdo.
Instrumentalista: artesão especializado na manufatura de instrumentos de música no Arsenal, normalmen-
te de sopro (metais).
Instrumentos bélicos: instrumentos de música de bandas militares.
Intendência: formação da força terrestre cujos componentes proporcionam determinado apoio logístico às
forças em campanha (serviços técnicos e certos suprimentos).
Intendente: nome dado ao oficial encarregado da administração dos Arsenais de Marinha. O cargo tam-
bém foi usado pelos diretores dos Trens e Arsenais do Exército até 1832, esse cargo sendo substituí-
do pelo de diretor. Hoje em dia, intendente é o militar do serviço de intendência.
Inválido: soldado de uma das companhias de Inválidos ou, antes de 1843, de uma Companhia de Vetera-
nos, praça julgado incapaz para o serviço militar ativo, sendo colocado em uma unidade específica,
onde poderia prestar serviços leves. A partir de 1843 foi criado um asilo para os abrigar.
Jornal: pagamento por um dia de trabalho; diária, féria.
Jornaleiro: no Arsenal de Guerra da Corte era o artesão que recebia por dia trabalhado.
Jugular: tira de couro, tecido ou metal, que passa sobre o queixo do soldado para prender um boné, capa-
cete ou barretina na cabeça.
La Hitte: sistema de raiamento de artilharia oriundo da França, onde o movimento giratório da granada
era dado por travadores de metal macio encaixados no projétil, que entravam em raias largas na pe-
ça. Foi regulamentar no Brasil de 1862 até 1922, tendo composto o maior número de canhões usados
na Guerra do Paraguai. Começou a ser substituído em uso no exército a partir de 1872.
Laboratório Pirotécnico: termo usado pelo exército no século XIX para designar uma unidade manufatu-
reira que produz munições: cartuchos completos, granadas carregadas, artefatos explosivos e de sina-
lização.
Lanada: haste longa tendo na exterminada uma peça de pele de carneiro, usada para abafar os fogos dei-
xados no interior de uma boca de fogo depois do disparo.
Lança: arma de haste ou arremesso composta de uma haste de madeira ou metal, terminada em ponta
perfurante de madeira, osso, pedra ou metal. No sentido do exército século XIX, arma de haste de
uso da cavalaria.
Lanterneta: projétil cilíndrico de artilharia, de folha de flandres, cheio de balins de chumbo, que se espa-
lham ao sair da boca da peça.
Laranja: intermediário em operações financeiras ou de compra e venda fraudulentas, fazendo a transação
de forma a ocultar a identidade da pessoa que realmente está fazendo a transação.
Latoeiro: o que faz obras de latão.
Libra: unidade arcaica de peso portuguesa, onde se usava também o termo arrátel. Pesava 459 gramas. O
sistema de calibres de artilharia usado no Império era baseado no peso do projétil esférico sólido de
ferro fundido disparado, medido em libras. Observe-se que também se usava a libra inglesa para a
medição de calibres esta unidade sendo ligeiramente diferente, pesando 459 gramas, os calibres por-
tugueses eram diferentes dos ingleses. No presente trabalho, a libra como unidade monetária é usada
seguida de um sufixa especificando sua origem: libra esterlina, libra tornesa e assim em diante.
Libré: roupas uniformizadas usadas pelos empregados das casas nobres.
Ligeiro: pode se aplicar a vários sentidos. O mais usual é o de cavalaria ou infantaria com organização e
equipamento mais leve do que as tropas normais, podendo se deslocar e operar de forma mais ágil.
Tropas ligeiras são aquelas que se empregam fora de linha para o fim de reconhecer ou perseguir o
inimigo.
Limador: operário especializado em trabalhos com a lima, desbastando metais.
Linha: no sentido militar, o mesmo que fileira. Frente das tropas em um combate. Cada um dos escalões
das forças terrestres coloniais e do Império do Brasil. [Primeira linha – tropas regulares e permanen-
tes; segunda linha – corpos de milícia e, mais tarde, a Guarda Nacional; terceira linha – Terços de
ordenanças (tropas locais).] No Império, denominação com que se identificava as unidades regulares
e permanentes do Exército (1ª linha).
572
Glossário
Logística: parte da arte da guerra que trata do planejamento e execução das atividades de sustentação das
forças em campanha, pela obtenção e provisão de meios de toda sorte e pela obtenção e prestação de
serviços de natureza administrativa e técnica.
12.4 K-P.
Malhador: o mesmo que ferreiro. No Arsenal de Guerra, era um operário não qualificado, que trabalha
nos ofícios de ferreiro e serralheiro, martelando o ferro que está sendo forjado pelos ferreiros ou ser-
ralheiros, normalmente sendo considerado como uma das categorias de servente. Às vezes, contudo,
aparece como a classe mais baixa de pessoal das oficinas.
Malho: grande martelo usado nos trabalhos de ferreiro.
Mancebo: artesão que terminou o aprendizado, sendo julgado como capaz de exercer seu ofício. Nos
Arsenais do Brasil, era um artesão com uma classificação abaixo do oficial.
Mandador: o que manda. No Arsenal de Guerra, operário de maior habilitação, que exerce funções de
controle dos trabalhos em uma das oficinas que não tinham mestres ou contra-mestres.
Mandril: cilindro de aço temperado, utilizado na fixação de peças que apresentem um furo central, para
que possam ser trabalhadas na forja ou em outras máquinas.
Manga: peça da túnica ou da camisa que veste o braço. Grupo de homens, a pé ou a cavalo, geralmente
tropa irregular ou auxiliar empregada na descoberta (reconhecimento), emboscada ou fustigamento
do inimigo. Grupo de arcabuzeiros que se punha em cada ala da formação de piqueiros e besteiros.
Manufatura: local onde produtos são fabricados a mão. Difere da oficina por os meios de produção não
pertencerem aos trabalhadores.
Máquina-ferramenta: máquina que trabalha a madeira ou o metal, movimentando uma série de ferramen-
tas, potencializando a força humana e automatizando certos passos da produção.
Marceneiro: artífice que lavra móveis e outros objetos mais complexos do que os feitos pelo carpinteiro.
Martinete: martelo de grandes proporções e peso, usado para forjar metais por força mecânica.
Mecha: pavio ou cordel inflamável, de queima lenta, usado para transmitir a chama a uma carga explosi-
va, granada ou com que se dava fogo às antigas peças e armas portáteis (arcabuz, mosquete); o mes-
mo que morrão. Em carpintaria, uma cavilha usada para unir duas peças de madeira.
Mestrança: originalmente, os mestres de carpinteiros e calafates no Arsenal de Marinha. Depois passou a
designar o quadro permanente de artesãos dos arsenais, os mestres, contramestres e mandadores, que
exerciam funções de direção nas oficinas.
Mestre de açúcar: profissional responsável pelo plantio da cana e feitio do açúcar em um engenho.
Mestre: o homem que ensina alguma ciência ou arte. Na escala de ofícios, aquele que detinha todos os
conhecimentos necessários para o exercício de seu ofício, tendo passado por exame de qualificação,
que o autorizava a abrir uma loja ou oficina. No Arsenal de Guerra, os operários mais qualificados,
que gerenciavam as oficinas e executavam trabalhos mais complexo. Era responsável pelo ensino
dos aprendizes.
Metralha: conjunto de pequenas balas (balins), pedaços de metal etc. com que se carregam projéteis de
artilharia.
Milícia: corporação organizada em moldes militares, com base na hierarquia e na disciplina, com destina-
ção principalmente de defesa local ou territorial e, eventualmente, policial. Denominação dos corpos
e regimentos regionais e locais de 2ª linha. [A partir de 1796, o termo milícia passou a designar tro-
pa de 2ª linha até então denominada Terços e Regimentos Auxiliares.].
Misto: em pirotecnia - propelente ou explosivo constituído da mistura de outros detonantes ou de diversas
substâncias.
Modelador: operário cuja função é preparar moldes para fundição.
Moitão: roldana ou polia, termo usado em navios para uma peça circular, que transmite a força por meio
de uma corda.
Mola real: aquela do mecanismo de disparo de armas de fogo, que dá a força necessária para mover o cão,
produzindo o disparo da arma.
Moral: estado psicológico individual ou coletivo que se manifesta pela vontade de realizar e pela resistên-
cia à adversidade. Moral Militar: Disposição individual e coletiva para a luta, fortaleza de vontade e
constância física, intelectual e psicológica que mobiliza a resistência às forças imobilizadoras e de-
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Glossário
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Glossário
Pedreiro: artífice que trabalha em obra de pedra e cal, em obras de alvenaria ou cantaria.
Peleteiro: artesão que trabalha com peles com pelo.
Penacho: peça feita de penas, plumas, peles ou pelos de animais ou uma peça de lã, que se usava no alto
ou lateral de um chapéu de uso militar.
Pintor: operário que faz ou trabalha com pinturas e tintas.
Pique seco: piqueiro que não usa armadura.
Pique: arma de ponta do soldado de infantaria composta de uma longa haste de madeira, com mais de três
metros, guarnecida de um ferro chato e pontiagudo na extremidade.
Piqueiro: soldado armado com pique, normalmente usando uma armadura curta. Se não usasse uma pro-
teção, era conhecido como pique seco.
Pistão: peça em arma de fogo de fulminante, ligada ao ouvido e onde se coloca a cápsula de fulminante.
Polés: roldana, moitão.
Polieiro: operário que faz polés, roldanas ou moitões.
Porta documento: tubo usado para transportar documentos. Hoje em dia é usado basicamente para proje-
tos arquitetônicos.
Porta-machado: soldado dos corpos de infantaria com funções de sapador, usando um machado e avental,
para executar trabalhos de demolição de obras defensivas inimigas. Normalmente eram recrutados
entre os mais robustos dos batalhões, sendo usados como guarda à bandeira.
Praça: cidade murada ou defendida. O mesmo que praça de guerra ou praça forte. Também tem o sentido
do militar que não tem patente de oficial (soldados, cabos, sargentos e suboficiais), praça de pré.
Prensa de estampagem: máquina que serve para dar forma a um objeto por meio de pressão.
Prensa de rolo: máquina que aplica pressão por meio de dois rolos cilíndricos, entre os quais passa o obje-
to sendo trabalhado.
Prensa hidráulica: prensa na qual a força aplicada aos objetos provêm da pressão hidráulica.
Prensa martelete: máquina que estampa ou forja uma pesa metálica por meio de golpes de um martelete.
Prensa por gravidade: tipo de prensa martelete, na qual a massa que faz pressão sobre o objeto a ser traba-
lhado é içada e deixada cair por meio da força da gravidade.
Prensa: aparelho composto de uma parte fixa e outra móvel, esta última servindo para aplicar pressão
sobre um objeto colocado entre as duas.
Primeira linha: no período colonial e no Império, denominação que se dava ao conjunto da força terrestre
que era constituído das unidades regulares e permanentes do Exército.
Purgador: profissional que tratava da purificação do açúcar nos engenhos.
Putting out: sistema de manufatura no qual os trabalhadores ficavam descentralizados, em suas casas,
fazendo os serviços com suas ferramentas, mas recebendo a matéria prima de um capitalista, que ge-
renciava a produção. O mesmo que sistema doméstico.
Quadrante: Aparelho que serve para dar ao tubo do canhão ou do morteiro o ângulo de projeção para
realizar o tiro contra alvos a diferentes distâncias.
Querenar: colocar um navio em terra, com sua quilha exposta, para limpá-lo ou concertar.
12.5 R-Z.
Raiada: arma que tem raias ou estrias no cano; oposto de liso.
Raias: são caneluras ou estrias abertas na alma dos canhões e armas de fogo, tendo por fim guiar o projétil
ao mesmo tempo em que lhes imprime movimento de rotação em torno de seu eixo, dando-lhe esta-
bilidade e maior alcance.
Rebitar: martelar e achatar a extremidade de um rebite, de um pino ou de um prego do lado oposto do
objeto que atravessa. Também chamado de cravar.
Rebite: haste metálica constituída por uma parte cilíndrica, terminada a uma extremidade por uma cabeça
e utilizada para ligar de modo definitivo peças depois que a outra extremidade for achatada.
Rebolo: pedra cilíndrica de material abrasivo que gira em um eixo horizontal, sendo usada para desbaste
de material metálico, como no afiamento de lâminas.
Regimento: norma ou regulamentação interna de uma organização. Unidade básica comandada por um
coronel, composta por várias companhias. No Exército Brasileiro atual, unidade básica de cavalaria
575
Glossário
cujo efetivo, conforme sua natureza operacional, varia de 400 a 600 homens, divididos em esqua-
drões.
Religioso: referente a serviço religioso, ou serviço de assistência religiosa. Conjunto dos sacerdotes (ca-
pelães) militares que executa atividades ligadas ao culto de uma religião no campo militar.
Reparo: suporte de uma arma de fogo, normalmente com dispositivos que permitem dar-lhe os movimen-
tos necessários à execução da pontaria e, em certos casos, limitar-lhes o recuo e facilitar-lhes o
transporte. Qualquer obra de defesa onde se assenta a artilharia. Aterro levantado em torno da praça,
revestido de muro de pedra e cal; trincheira ou parapeito de terra levantada.
Repuxado: técnica utilizada para criar volumes, relevos e texturas numa chapa metal formando desenhos,
usando cinzéis e moldes.
Revista de mostra: Exame programado do material distribuído aos homens para verificar sua existência e
estado.
Ribeira: terras próximas à um rio ou mar. Em Lisboa, terreno onde eram feitas as embarcações. Por ex-
tensão, o mesmo que estaleiro.
Sacalador: limpador de espadas.
Sanitário: o que se refere ou é próprio à saúde. O Serviço Sanitário corresponde ao serviço médico do
Exército.
Sapateiro: o que fabrica sapatos ou calçados.
Sege: carruagem de passeio pequena de um só assento, com cortina por diante ou vidraça. Caleça.
Segeiro: o que faz seges. No arsenal, operário que trabalha na fabricação de carros.
Segunda linha: No período colonial e no Império do Brasil, denominação que se dava ao escalão da força
terrestre constituído pelos corpos Auxiliares de Milícias e, depois da Regência, pela Guarda Nacio-
nal.
Seleiro: o que faz selas.
Selim: sela para montaria, pequena e sem arção.
Serrador: artífice que serra madeiras. No Arsenal de Guerra era uma das categorias de serventes, operá-
rios não qualificados.
Serralheiro: ferreiro que faz chaves, fechaduras, mecanismos de disparo (fechos) de armas e outros traba-
lhos metálicos de precisão.
Servente: o que serve. Trabalhador de pouca qualificação que executa serviços não especializados, espe-
cialmente manuais.
Sílex: espécie de quartzo ou de várias pedras cuja base é a sílica, que permite ser trabalhado por percus-
são, o mesmo que pederneira. Usado na fabricação de utensílios cortantes na pré-história e, em ar-
mas, para a obtenção de uma pedra que era usado em armas de pederneira, para incendiar a escorva.
Sirgueiro: o que faz obra de fios, cordões de seda ou de lã.
Sistema americano: conjunto de técnicas de fabricação desenvolvido no século XIX, envolvendo o maci-
ço uso de peças intercambiáveis e mecanização da produção, desenvolvido nos arsenais dos Estados
Unidos.
Sistema doméstico: sistema de manufatura no qual os artesãos trabalhavam em suas casas, com suas fer-
ramentas, recebendo a matéria prima de um capitalista, que gerenciava a produção. O mesmo que
putting out.
Sobrecasaca: casaco masculino abotoado até a cintura e com abas que envolvem o corpo até os joelhos
Soquete: haste usada para empurrar a munição para o interior da boca de fogo.
Subunidade: genericamente, fração de unidade de tropa que depende administrativamente de outra maior.
Surrador: operário que tira o pelo e limpa as carnes de um couro. No Arsenal de Guerra, uma das catego-
rias de serventes, operários não qualificados.
Taco: peça de corda ou madeira que se colocava em uma boca de fogo entre o projétil e a carga de pólvo-
ra e depois do projétil para vedar a peça.
Talim: cinto de couro ou tecido, usado por cima da casaca, de onde se suspendem a baioneta, espada e
outros equipamentos.
Tanoaria: oficina que fabrica vasos de madeira como barris.
Tanoeiro: o que faz cantis, baldes, tinas, pipas, barris e tonéis.
Tarimba: estrado de madeira onde dormem os soldados nos quartéis e corpos de guarda.
576
Glossário
Têmpera: processo de tratamento de metais, especialmente os ferrosos, a calor, para lhes dar maior dureza
ou, menos usualmente, ductilidade.
Tenência: a repartição do tenente general de artilharia, local em Portugal onde se fabricavam peças de
artilharia, órgão com funções de arsenal de guerra.
Terçado: arma branca, de um ou dois gumes e de lâmina curta e larga, usado pela infantaria. Vulgarmen-
te, facão-de-mato; machete.
Terceira linha: no período colonial e Império, denominação do escalão da força terrestre constituída de
Terços de Ordenanças (tropas locais).
Terço: unidade militar ibérica, reunindo várias companhias de infantaria. O termo foi substituído no exér-
cito de 1ª Linha pela palavra Regimento no início do século XVIII, permanecendo em uso, contudo,
nas Ordenanças.
Terrapleno: terreno plano. Área de uma fortificação em que os defensores podem caminhar sem estarem
sujeitos aos fogos do inimigo.
Tige: em francês, agulha. Nome dado no Brasil ao sistema de armas inventado pelo tenente-coronel fran-
cês Louis-Étienne Thouvenin em 1840. Era composto por um cano raiado, de carregamento pela bo-
ca, tendo uma haste no fundo da alma (a tige), sobre a qual era calcado o projétil, fazendo com que
ele se encaixasse nas raias.
Tinteiro: recipiente para tintas de escrita.
Tintureiro: o que tinge panos, sedas, chapéus etc.
Tope: botão metálico ou laço de fita, usualmente com as cores nacionais, usado no alto de um chapéu
militar.
Torneiro: artesão especializado em fazer peças em um torno.
Torno à chariot: torno com carrinho de espera, para suportar a ferramenta de corte ao longo da peça sendo
trabalhada.
Torno: máquina comum eixo giratório onde é presa uma peça, de madeira ou ferro, que será trabalhada.
Torre: quando isolada, era uma fortificação alta e de dimensões menores. Em castelos, era o elemento de
flanqueamento das muralhas.
Traçado italiano: desenho de fortificações com muralhas espessas e baluartes, capazes de receber artilha-
ria.
Trochado: trabalho de metal onde a peça sendo forjada é feita enrolando-se uma tira e metal em torno de
outra, produzindo uma peça em que são visíveis padrões ondulados na superfície.
Trado: verruma ou broca manual, de grande porte, usado por carpinteiros para fazer furos.
Trama: em tecelagem, os fios colocados no sentido da largura do tecido.
Trem: gente e bagagem que acompanha alguém. O aparelho de artilharia, ou seja, os equipamentos de
um exército.
Tropa paga: unidade composta de soldados que recebem paga (soldo), o mesmo que tropa do governo, em
oposição à milícias.
Tropa: conjunto de soldados; grupo militar. O conjunto das praças de uma unidade. Genericamente, o
conjunto dos militares das unidades, de uma força ou do Exército como um todo.
Unidade: genericamente, organização militar básica do Exército que tenha existência independente de
outra maior, como um batalhão, regimento, companhia isolada ou semelhante. Qualquer organização
de tropa; corpo.
Urdidura: em tecelagem, os fios colocados no sentido longitudinal da peça sendo tecida, entre os quais
passam os fios da trama.
Varadouro: lugar seco onde se fazem encalhar os navios para poderem ser limpos ou consertados ou para
estarem ali recolhidos durante o inverno; caminho por onde podem ser conduzidas pequenas embar-
cações entre dois pontos navegáveis.
Vareta: haste de ferro usada na limpeza do cano ou no carregamento de uma arma de fogo de carregar
pela boca.
Vela de composição: pavio de queima lenta formado pela combinação de materiais inflamáveis, usada
para detonar a escorva de bocas de fogo.
Velame: velame, conjunto de todas as velas de um navio.
Verruma: ferramenta de com o corpo helicoidal e uma ponta de corte, usada para perfurar madeira.
577
Glossário
Veterano: soldado ou tropa composta por soldados e oficiais inválidos ou julgados incapazes de serviço
laborioso, podendo, contudo, fazer algumas atividades menos laboriosas.
Viradeira de chapa: máquina de dobrar chapas metálicas.
578
Bibliografia
Sumário
13 Bibliografia
13.1 Livros
13.2 Fontes Impressas
13.3 Manuscritos
13.4 Legislação.
13.5 Obras não impressas.
579
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Manoel da Fonseca Lima e Silva. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1836.
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ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, Sebastião do Rego Barros. Rio de Janeiro:
Laemmert, 1860.
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pelo ministro e secretário de Estado, Marquês de Caxias. Rio de Janeiro: Laemmert, 1861.
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ministro e secretário de estado dos negócios da guerra, Marquês de Caxias. Rio de Janeiro: Laem-
mert, 1856.
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Barros. Rio de Janeiro: Laemmert, 1860.
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gislatura pelo ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, José Marianno de Matos. Rio
de Janeiro: Laemmert, 1864.
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ministro e secretário de estado dos negócios da Guerra, Jerônimo Francisco Coelho. Rio de Janei-
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Francisco Coelho. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1844.
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Guerra, Pedro de Alcântara Bellegarde. Rio de Janeiro: Laemmert, 1855.
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primeira sessão da 9ª legislatura pelo respectivo ministro e secretário de estado dos negócios da
guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro: Laemmert, 1853.
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BRASIL – Arsenal de Guerra de Pernambuco. Relação das obras manufaturadas nas diversas oficinas do
arsenal de guerra desta província [Pernambuco] durante o mês de janeiro próximo passado com
declaração de seus valores. João Francisco do Rego Barreto, cap. Ajudante. Recife, 28 de fevereiro
de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Relatório sobre o Arsenal de Guerra da Província de Pernambuco. José Maria H. Jacome da Vei-
ga Pessoa, Ten.-cel. diretor. Recife, 26 de agosto de 1844. Mss. ANRJ. IG7 32.
BRASIL – Arsenal de Guerra de Porto Alegre. Ofício do diretor do Arsenal ao Comandante das Armas.
Porto Alegre, 12 de julho de 1853. Mss. ANRJ. IG7 460.
____. Ofício nº 249, do diretor ao Tenente-General Francisco José de Soares d’Andréa, presidente e
comandante do Exército, pedindo autorização para demitir o espingardeiro Joaquim da Silva. Porto
Alegre, 31 de outubro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Relatório, Francisco Felipe de Macedo e Vasconcelos, Ten.-cel. Diretor. Porto Alegre, 19 de feve-
reiro de 1845. Mss. ANRJ. IG7 32.
____. Ofício do Major diretor José Joaquim da Lima e Silva ao presidente de província do Rio Grande
do Sul, Visconde de Boa Vista. 19 de outubro de 1865. Mss. ANRJ. IG7 501.
BRASIL – Arsenal de Guerra do Pará. Ofício do Diretor do Arsenal de Guerra do Pará, tenente-coronel
José Joaquim Romão de Almeida, sobre madeiras de coronhas no Pará. Belém, 23 de fevereiro de
1852. IG7 516
____. Relatório do Arsenal de Guerra da Província do Pará. Anselmo Joaquim da Silva, tenente coronel
diretor. Belém, 30 de junho de 1845. Mss. ANRJ. IG7 32.
BRASIL – Arsenal de Guerra. [Área do Arsenal de Guerra da Corte]. Escritório das oficinas, 10 de
dezembro de 1868. Mss. ANRJ. IG7 28.
____. Comissão de avaliação. Joaquim de Lima e Silva major, 1º Ajudante. Rio de Janeiro, 18 de maio
de 1863. Mss. ANRJ. IG7 392.
BRASIL – Arsenal de Guerra. Conta do maquinista Carlos Rouhette ao diretor, Vicente Marques Lisboa
do recebimento de máquinas. 11 de dezembro de 1851. Mss. ANRJ. IG7 12.
595
Bibliografia
____. Ofício de Manoel da Costa Pinto ao Ministro da Guerra, conde da Lage, sobre pedido feito pela
Marinha. Rio de Janeiro, 13 de janeiro de 1822. Mss. ANRJ IG7 3.
____. Contrato com o operário Antônio Soares Proença. Rio de Janeiro, 25 de Junho de 1852. Mss.
ANRJ. IG7 13.
____. Contrato de 4 de maio de 1849 para operários irem trabalhar nas oficinas do Arsenal de Guerra
do Mato Grosso, Baixo Paraguai. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Designação das aulas e oficinas frequentadas pelos menores. Rio de Janeiro, 31 de dezembro de
1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Despacho do ministro exarado no ofício do diretor José Victória Soares de Andrea ao ministro da
Guerra, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão. Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1863. Mss.
ANRJ, coleção Polidoro, Maço 11.
____. Féria dos operários e mais empregados do Arsenal de Guerra na 1ª quinzena de 1858. O encarre-
gado, Estevão José de Bury. Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 538.
____. Informação de Carlos Rouhette, engenheiro, ao vice-diretor do Arsenal, Major de engenheiros
Vicente Marques Lisboa, sobre preços de uma segunda caldeira para a máquina a vapor que se
constrói no Arsenal. Rio de Janeiro, 26 de setembro de 1850. Mss. ANRJ. IG7 11.
____. Instruções sobre o modo de efetuar-se o pagamento das férias dos Operários do Arsenal de Guerra
da Corte. Rio de Janeiro, 11 de novembro de 1848. Mss. ANRJ. IG7 337.
____. Mapa 2º Ajudante – preço das diferentes peças duma espingarda a Minié de 14,8 mm, Antônio
Correia de Melo Oliveira, construtor. Rio de Janeiro, 4 de janeiro de 1864. Mss. ANRJ. IG7 500.
____. Mapa das bocas de fogo existentes no Arsenal de Guerra da Corte. Francisco Manolo de Morais,
servindo de escrivão. Rio de Janeiro, 16 de agosto de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Mapa das espingardas compradas desde abril de 1850 até dezembro de 1851. s.d. Mss. ANRJ. IG7
460.
____. Mapa demonstrativo da companhia de Aprendizes menores do Arsenal de Guerra da Corte, com as
alterações ocorridas do 1o de Janeiro a 31 de dezembro de 1861. Pedagogo Felisberto Silveira Bor-
ges. Rio de Janeiro, 2 de janeiro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 21.
____. Mapa demonstrativo da despesa feita na Inspeção do Arsenal do Exército e do valor das obras
executadas nas diferentes oficinas no mês de agosto de 1823, Salvador José Maciel. s.d. Mss. ANRJ.
IG7 2.
____. Mapa demonstrativo do armamento que se prontificou de janeiro a dezembro de 1857 na oficina de
espingardeiros adida a de serralheiros. Jacinto Antônio de Andrade, Mestre. Rio de Janeiro, 4 de
janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 4.
____. Mapa demonstrativo do número de Empregados, Serventes e mais operários deste Arsenal sob a
fiscalização do 2o Ajudante. Rio de Janeiro, 27 de setembro de 1865. Mss. ANRJ. IG7 27.
____. Mapa demonstrativo do número de operários de diferentes oficinas deste Arsenal existentes em o
1o de janeiro de 1856. Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
____. Mapa demonstrativo do pessoal existente atualmente em cada uma das oficinas do Arsenal de
Guerra da Corte, organizado na conformidade da ordem do S. Ex.a o Ministro da Guerra expressa
no ofício da 1a Diretoria Geral da Guerra de 28 do corrente. Secretaria do Arsenal de Guerra da
Corte, 31 de março de 1862. O secretário José Antônio Frederico da Silva. Mss. ANRJ. IG7 24.
____. Mapa demonstrativo do vestuário dos africanos libertos, escravos e escravos da nação tanto antes
da tabela como depois. O tenente Encarregado Manoel José da Silva. Rio de Janeiro, 16 de feverei-
ro de 1848. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Mapa dos artífices que trabalham nos diferentes artifícios de guerra no laboratório. Relatório do
Arsenal de Guerra. José Maria da Silva Bittencourt, 1 de março de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
____. Mapa extraído do ponto dos operários que trabalharam nas oficinas do Arsenal de guerra nesta
fortaleza, José Manoel Justino da Cunha, major encarregado. Rio de Janeiro, 30 de dezembro de
1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Mapa Geral da Companhia de Aprendizes Menores do Arsenal de Guerra da Corte. O pedagogo
Capitão João Rodrigues Seival. Rio de Janeiro, S.d. [janeiro de 1856]. Mss. ANRJ. IG7 21.
596
Bibliografia
____. Mapa nº 10 Relação das obras manufaturadas nas diferentes oficinas deste arsenal desde 1o de
janeiro até o último do mês de dezembro de 1848. Joaquim José Cabral, Ajudante do Sr. Vice-
Diretor. Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Mapa nº 7. Número de operários das diferentes oficinas deste Arsenal existentes em 1o de Janeiro
de 1847 e das alterações ocorridas daquela data até o último de dezembro do mesmo ano. s.d. Mss.
ANRJ. IG7 10.
____. Mapa nº 9. Número de operários das diferentes oficinas deste Arsenal existentes em 1º de Janeiro.
Joaquim José Cabral. Tenente ajudante do Sr. Vice-diretor, Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1849.
Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Mapa nº 9. Número de operários das diferentes oficinas deste Arsenal existentes em 1o de Janeiro
de 1851, e das alterações ocorridas daquela data até o 1o de Janeiro de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
____. Mapa resumo das costuras que se acham fora do Arsenal para se manufaturar desde 1845 até o
fim de agosto do corrente ano. Hermenegildo Machado do Nascimento. Major graduado encarrega-
do da distribuição. Rio de Janeiro, 23 de junho de 1858. Mss. ANRJ. IG7 15.
____. Minuta de contrato que faz o Marechal de Campo, Diretor do Arsenal de Guerra da Corte, José
Maria da Silva Bitencourt com os Operários Alemães chegados de Hamburgo. s.d. [setembro de
1851]. Mss. ANRJ. IG7 12.
____. Nº 11 Mapa do número de operários que trabalharam nas oficinas da Casa de Armas da fortaleza
da Conceição em dezembro de 1850, José Hipólito de Araújo, secretário. Rio de Janeiro, 15 de feve-
reiro de 1851. Mss. ANRJ. IG7 12.
____. Nº 12 Mapa do número de operários que trabalharam nas oficinas da Casa de Armas da fortaleza
da Conceição em dezembro de 1850. [Rio de Janeiro, s.d.]. Mss. ANRJ.
____. Nota do armamento, equipamento, fardamento, munições e outros artigos encomendados na Euro-
pa em diferentes datas. João Rodrigues dos Santos Mello, Almoxarife. Rio de Janeiro, 24 de feverei-
ro de 1866. Mss. ANRJ. IG7 495.
____. Ofício confidencial do diretor, José Victória Soares de Andrea ao ministro da Guerra, Polidoro da
Fonseca Quintanilha Jordão. Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 1863. Mss. ANRJ, coleção Polidoro,
maço 11.
____. Ofício da 2ª Seção do Arsenal comunicando que o aprendiz-alfaiate Napoleão Prestino foi ferido
por bala de fuzil na mão direita estando a trabalhar na sua oficina. Rio de Janeiro, 30 de dezembro
de 1893. Mss. ANRJ. IG7 306.
____. Ofício da diretoria do Arsenal, Marechal de Exército José Maria da Silva Betencourt, ao Ministro
da Guerra sobre a compra de sapatos a José Maria Palhares. Rio de Janeiro, 9 de julho de 1851.
Mss. ANRJ. IG7 13
____. Ofício de Alexandre Manoel Albino de Carvalho, diretor, ao ministro da Guerra, Marquês de Ca-
xias. Rio de Janeiro, 28 de abril de 1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
____. Ofício de Antônio Correa de Mello e Oliveira, construtor a Joaquim da Silva Maia, capitão, 2o
Ajudante, solicitando o empréstimo de um torno. 27 de janeiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 25.
____. Ofício de Antônio Corrêa de Melo e Oliveira, construtor, ao vice-diretor, José Manoel da Silva,
com exame de armas oferecidas por Hogg Adam. Rio de Janeiro 9 de janeiro de 1856. Mss. ANRJ.
IG7 351.
____. Ofício de Antônio José de Freitas [Mestre de Espingardeiros] ao diretor, Antônio João Rangel de
Vasconcellos sobre merecimento de Aprendizes. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1838. Mss. ANRJ. IG7
323.
____. Ofício de Antônio Rangel de Vasconcelos, diretor do Arsenal de Guerra ao Ministro da Guerra,
Sebastião do Rego Barros. Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1837. Mss. ANRJ. IG7 20.
____. Ofício de Francisco Carlos da Luz o ministro da Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello,
sobre capacidade de fabricação de cápsulas. Rio de Janeiro, 26 de abril de 1859. Mss. ANRJ. GIFI
OI 5B 260.
____. Ofício de Francisco Soares da Silva, mestre armeiro, ao Vice-Diretor do Arsenal, sobre exame nas
armas recebidas. Rio de Janeiro, 24 de julho de 1850. Mss. ANRJ. IG7 11.
597
Bibliografia
____. Ofício de Francisco Soares de Lisboa ao diretor, José Maria da Silva Bitancourt, sobre espingar-
deiro Silvestre Luís. Rio de Janeiro, 7 de julho de 1850. Mss. ANRJ. IG7 343.
____. Ofício de João José da Costa Pimentel, Brigadeiro, diretor interino, ao ministro da Guerra, Mar-
ques de Caxias sobre avaliação de 500 pares de pistolas oferecidas por Henrique Nathan. Rio de
Janeiro, 15 de março de 1836. Mss. ANRJ. IG7 21.
____. Ofício de João José da Costa Pimentel, Brigadeiro, diretor interino, ao ministro marquês de Caxi-
as sobre o casamento do africano livre Tertuliano que se achava ao serviço da Fortaleza da Laje.
Rio de Janeiro, 4 de junho de 1856. Mss. ANRJ. IG7 21.
____. Ofício de João José da Costa Pimentel, Brigadeiro, diretor interino, ao ministro da Guerra, mar-
ques de Caxias. Rio de Janeiro, 16 de abril de 1856. Mss. ANRJ. IG7 21.
____. Ofício de José Antônio de Souza [mestre de coronheiros] para o vice-diretor sobre premiação de
aprendizes. Rio de Janeiro, 6 de julho de 1838. Mss. ANRJ. IG7 323.
____. Ofício de José Manoel Justino da Cunha, major encarregado da Conceição, ao diretor do Arsenal,
sobre coronheiros cearenses. 24 de março de 1851. Mss. ANRJ. IG7 12.
____. Ofício de Oto Mehring, mestre espingardeiro, para o Major de engenheiros Juvêncio Manoel Ca-
bral de Meneses, 3º Ajudante. Rio de Janeiro, 3 de novembro de 1859. Mss. ANRJ. IG7 455.
____. Ofício de Otto Mehring, mestre espingardeiro, para o Major de engenheiros Juvêncio Manoel
Cabral de Meneses, 3o Ajudante. Fábrica de armas na Fortaleza da Conceição, Rio de Janeiro, 3 de
novembro de 1859. Mss. ANRJ. IG7 362.
____. Ofício de Pedro d’Alcântara Bellegarde, diretor, ao ministro da Guerra, Manoel Felizardo de
Souza e Mello. Rio de Janeiro, 3 de maio de 1853. Mss. ANRJ. IG7 14.
____. Ofício de Rodolpho Wackneldt ao ministro da Guerra, sobre a direção técnica da Oficina de Fo-
guetes, Rio de Janeiro, 16 de maio de 1852. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
____. Ofício de Vicente Marques Lisboa, Vice-diretor ao diretor, José Maria da Silva Bittencourt, Mare-
chal de Exército, sobre armas chegadas da Inglaterra. Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1851. Mss.
ANRJ. IG7 12
____. Ofício do 1o Ajudante do Arsenal, José Joaquim de Lima e Silva, ao diretor, Coronel José de Vitó-
ria Soares d’Andrea, sobre a insuficiência do número de africanos no Arsenal. Rio de Janeiro, 11 de
agosto de 1862. Mss. ANRJ. IG7 24.
____. Ofício do 1º tenente, Francisco Carlos da Luz ao Ministro da Guerra, Manoel Felizardo de Souza
e Mello, sobre a direção da oficina de foguetes. Rio de Janeiro, 8 de dezembro de 1852. Mss. ANRJ,
GIFI OI 5B 260.
____. Ofício do Construtor do Arsenal, Antônio Correia de Melo e Oliveira ao diretor. Rio de Janeiro,
18 de janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 15.
____. Ofício do coronel Diretor, José Victoria de Soares de Andrea Andrea, ao ministro da Guerra, José
Mariano de Mattos Sobre a denúncia do dia 18 de janeiro quanto a escolha de fazendas pelo Arse-
nal. 1 de fevereiro de 1864. Mss. ANRJ. IG7 26.
____. Ofício do diretor Alexandre Manoel Albino de Carvalho ao Ministro da Guerra, Conselheiro Se-
bastião do Rego Barros sobre condução de uma máquina a Vapor para a fortaleza da Conceição.
Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1859. Mss. ANRJ. IG7 16.
____. Ofício do diretor do Arsenal Antônio João Rangel de Vasconcelos ao Ministro da Guerra, Manoel
Felizardo de Souza e Mello sobre horário de trabalho no Arsenal. Rio de Janeiro. 28 de maio de
1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Ofício do diretor do Arsenal Antônio João Rangel de Vasconcelos ao Ministro da Guerra, Manoel
Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro, 7 de julho de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Ofício do diretor do Arsenal ao Ministro da Guerra, informando que o Arsenal necessita de dezes-
seis espingardeiros. Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1836. Mss. ANRJ. IG7 19.
____. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra, Major José de Vasconcellos Menezes Albuquerque, ao
Ministro da Guerra, Conde de Lages, sobre contratação de pessoal do Arsenal de Guerra pelo de
Marinha. Rio de Janeiro, 5 de novembro de 1839. Mss. ANRJ.
____. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, ao ministro da
Guerra, Sebastião do Rego Barros, sobre o material para o Laboratório das Fábricas de ferro, e
598
Bibliografia
pólvora, que o Engenheiro Rodolpho Wachneldt vai estabelecer na Província de Mato Grosso. Rio
de Janeiro, 8 de junho de 1860. Mss. ANRJ. IG7 17.
____. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra, Alexandre Manoel Albino de Carvalho ao Ministro da
Guerra, Sebastião do Rego Barros, Rio de Janeiro, 9 de janeiro de 1860. Mss. ANRJ. IG7 17.
____. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, Jeronimo Francisco Coelho, ao Minis-
tro da Guerra, Pedro d’Alcantara Bellegarde, sobre fornecimentos ao Chefe de Esquadra Pedro
Ferreira de Oliveira, 22 de dezembro de 1854. Mss. ANRJ. IG7 14.
____. Ofício do Diretor do Arsenal de Guerra, Jeronimo Francisco Coelho, ao Ministro da Guerra, Pe-
dro d’Alcantara Bellegarde sobre o retorno de treze menores ao Arsenal. Rio de Janeiro, 23 de ou-
tubro de 1854. Mss. ANRJ IG7 14.
____. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra, Marechal João Carlos Pardal, ao Ministro da Guerra,
Manoel Felizardo de Souza, sobre a compra de quatro mil capotes salvos dos direitos da alfândega.
Rio de Janeiro, 20 de março de 1848. Mss. ANRJ, IG7 10.
____. Ofício do diretor do Arsenal de Guerra Marechal José Maria da Silva Bittencourt, para o ministro
da Guerra, Manuel Felizardo de Souza e Mello, sobre a necessidade de comprar uma nova máquina
a vapor. Rio de Janeiro, 11 de junho de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
____. Ofício do Diretor do Arsenal de Guerra da Corte Alexandre Manuel Albino de Carvalho ao Minis-
tro, Marques de Caxias. Rio de Janeiro, 7 de outubro de 1861. Mss. ANRJ. IG7 23.
____. Ofício do diretor do Arsenal José Maria da Silva Bittencourt ao Ministro da Guerra, Manoel Feli-
zardo de Souza e Mello, sobre vencimentos de soldados inválidos. 3 de outubro de 1850. Mss ANRJ,
IG7 11.
____. Ofício do diretor do Arsenal José Maria da Silva Bittencourt, Marechal de Exército, ao Ministro
da Guerra, Conselheiro Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1851.
Mss. ANRJ. IG7 12.
____. Ofício do diretor do Arsenal, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, ao Sr. chefe da 1a Seção da 1a
Diretoria Geral da Secretaria de Estado, Mariano Carlos de Sousa Correa, envia o Relatório do
movimento administrativo de 1861. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 24.
____. Ofício do diretor do Arsenal, Alexandre Manoel Albino de Carvalho ao ministro da Guerra, José
Antônio Saraiva, sobre o engajamento de colonos para o serviço deste Arsenal. Rio de Janeiro, 26
de novembro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 15.
____. Ofício do diretor do Arsenal, Cel. Jeronimo Francisco Coelho ao ministro da Guerra, Pedro
d’Alcântara Bellegarde, Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1855. Mss. ANRJ. IG7 14.
____. Ofício do diretor do Arsenal, coronel José de Vitória Soares d’Andrea, ao ministro da Guerra,
Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, Rio de Janeiro, 12 de julho de 1862. Mss. ANRJ. IG7 24.
____. Ofício do diretor do Arsenal, José de Vasconcelos Menezes de Drummond ao Ministro da Guerra.
Rio de Janeiro, 6 de março de 1837. Mss. ANRJ, IG7 20.
____. Ofício do diretor do Arsenal, José Maria da Silva Bittencourt ao Ministro da Guerra, Manoel Feli-
zardo de Souza e Mello, sobre menores instruídos no Arsenal de Marinha. Rio de Janeiro, 30 de se-
tembro de 1850. Mss. ANRJ. IG7 11.
____. Ofício do diretor do Arsenal, José Maria da Silva Bittencourt ao Ministro da Guerra, Manoel Feli-
zardo de Souza e Mello. 25 de junho de 1850. Mss. ANRJ. IG7 11.
____. Ofício do diretor do Arsenal, Marechal de Exército José Maria da Silva Bittencourt ao ministro da
Guerra. Rio de Janeiro, 26 de agosto de 1852. Mss. ANRJ, IG7 13.
____. Ofício do diretor e Alexandre Manoel Albino de Carvalho, ao ministro, Jerônimo Francisco Coe-
lho, sobre castigos corporais aplicados aos menores, Rio de Janeiro, 11 de julho de 1857. Mss.
ANRJ. IG7 22.
____. Ofício do Diretor interino do Arsenal, Manoel Ignácio Brício ao Ministro da Guerra, Pedro
d’Alcântara Bellegarde. Rio de Janeiro, 13 de maio de 1854. Mss. ANRJ, IG7 14.
____. Ofício do diretor interino, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, ao ministro da Guerra, Conde
de Lages, sobre despejo de pessoas do quartel do Moura, para ser ocupado pela Companhia de Ar-
tífices. Rio de Janeiro 5 de janeiro de 1838. Mss. ANRJ. IG7 20.
599
Bibliografia
____. Ofício do diretor interino, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão ao ministro da Guerra, Rio de
Janeiro, sobre moradores de casas no Arsenal. Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1838. Mss. ANRJ.
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____. Ofício do diretor, Alexandre Manoel Albino de Carvalho ao ministro da Guerra, Conde de Caxias,
pedindo exoneração. Rio de Janeiro, 8 de maio de 1862. Mss. ANRJ. IG7 534.
____. Ofício do diretor, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, ao ministro da Guerra, marquês de Ca-
xias, propondo aumento de vencimentos aos operários. Rio de Janeiro, 28 de abril de 1857. Mss.
ANRJ. IG7 22.
____. Ofício do diretor, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, ao ministro da Guerra, Manoel Felizar-
do de Souza e Melo. Rio de Janeiro, 31 de maio de 1859. Mss. ANRJ. IG7 16.
____. Ofício do diretor, Alexandre Manuel Albino de Carvalho, ao ministro da Guerra, Marquês de Ca-
xias, sobre punição dos responsáveis pela falha do exercício na escola de tiro de Campo Grande.
Rio de Janeiro, 5 de outubro de 1861. Mss. ANRJ. IG7 23.
____. Ofício do diretor, Alexandre Manuel Albino de Carvalho, ao ministro da Guerra, Marques de Ca-
xias. Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1861. Mss. ANRJ. IG7 23.
____. Ofício do diretor, Antônio João Rangel de Vasconcelos, ao ministro da Guerra, Manoel Felizardo
de Souza e Mello, sobre a necessidade de contratar trabalhadores. Rio de Janeiro, 24 de maio de
1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Ofício do diretor, Antônio João Rangel de Vasconcellos ao ministro da Guerra, sobre a construção
de prédios internos no Laboratório do Castelo. Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 1836. Mss. ANRJ.
IG7 20.
____. Ofício do diretor, Antônio Rangel de Vasconcelos, ao Ministro da Guerra, Sebastião do Rego Bar-
ros. Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1837. Mss. ANRJ. IG7 20.
____. Ofício do diretor, Brigadeiro Feliciano Antônio Falcão ao ministro da guerra Felizardo. Rio de
Janeiro. 7 de fevereiro de 1853. Mss. ANRJ. IG7 14.
____. Ofício do diretor, Cel. Jerônimo Francisco Coelho ao ministro da Guerra, Pedro d’Alcântara
Bellegarde, Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 1855. Mss. ANRJ. IG7 14.
____. Ofício do diretor, Cel. Jerônimo Francisco Coelho, ao primeiro ajudante, sobre a conversão de
armas. Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1857. Mss. ANRJ. IG7 366.
____. Ofício do diretor, Cel. Jerônimo Francisco Coelho ao ministro da Guerra, Pedro d’Alcântara
Bellegarde, Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1855. Mss. ANRJ. IG7 14.
____. Ofício do diretor, cel. Jerônimo Francisco Coelho ao ministro P.de S. Bellegarde sobre o envio do
menor Abrahão Pedro de Alcântara que feriu com uma pequena faca o soldado da companhia de
Artífices Manoel Antônio da Silva para a companhia de aprendizes marinheiros. Rio de Janeiro, 2
de janeiro de 1855. Mss. ANRJ. IG7 14.
____. Ofício do diretor, Coronel Alexandre Manoel Albino de Carvalho ao Ministro, tenente-general
Marquês de Caxias, solicitando a contratação de 30 alfaiates para a feitura de peças que não se dão
por arrematação. Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 24.
____. Ofício do diretor, Coronel Antônio Francisco Raposo, sobre a existência de escravos de 18 a 40
anos no Arsenal. Rio de Janeiro 8 de novembro de 1866. Mss. ANRJ. IG7 28.
____. Ofício do diretor, Coronel Antônio Francisco Raposo, ao o ministro da Guerra, José Antônio Sa-
raiva, sobre alistamento de alfaiates. 20 de agosto de 1865. Mss. ANRJ. IG7 27.
____. Ofício do diretor, Coronel José Victoria de Soares de Andrea, ao ministro da Guerra, José Maria-
no de Mattos, sobre artigo publicado no Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de março de 1864.
Mss. ANRJ. IG7 26.
____. Ofício do diretor, Domingos de Souza Coelho Caldas, ao ministro da Guerra, João Vieira de Car-
valho, sobre falta de pessoal na companhia de artífices, 10 de maio de 1836. Mss. ANRJ. IG7 19.
____. Ofício do Diretor, Jeronimo Francisco Coelho, ao Ministro da Guerra, Pedro d’Alcântara Belle-
garde, com proposta de tabela, regulando a tarifa dos jornais dos operários deste arsenal. Rio de
Janeiro, 9 de novembro de 1854. Mss. ANRJ. IG7 14.
600
Bibliografia
____. Ofício do diretor, José Maria da Silva Bittencourt, ao Ministro da Guerra, Manoel Felizardo de
Souza e Mello, sobre a inconveniência de manter os oito soldados inválidos na Conceição. Rio de
Janeiro, 10 de dezembro de 1850. Mss. ANRJ. IG7 11.
____. Ofício do diretor, José Maria da Silva Bittencourt, ao ministro a Guerra, Manoel Felizardo de
Souza e Mello sobre o transporte de uma prensa hidráulica, que do porto da Estrela foi para o
Campinho. Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1851. Mss. ANRJ. IG7 12.
____. Ofício do diretor, Marechal João Carlos Pardal, ao ministro Antônio Manoel de Melo, sobre falta
d’água no Arsenal. Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1848. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Ofício do diretor, Marechal João Carlos Pardal, ao ministro da Guerra, João Paulo dos Santos
Barreto sobre brocar peças fundidas no Arsenal. Rio de Janeiro, 5 de agosto de 1848. Mss. ANRJ.
IG7 10.
____. Ofício do Inspetor da Junta de Fazenda dos Arsenais do Exército, Fábricas e Fundições, José
Francisco da Silva ao ministro da Guerra, sobre a situação de Sebastião José Lopes, mestre de
construção do antigo Trem de Montevidéu. Rio de Janeiro, 27 de março de 1829. Mss. ANRJ. IG7
18.
____. Ofício do Inspetor Interino do Arsenal de Guerra, Francisco de Paula e Vasconcellos, ao Ministro
da Guerra, João Vieira de Carvalho, sobre a impossibilidade de envio de um torneiro para o trem
de Pernambuco. Rio de Janeiro, 3 de agosto de 1825. Mss. ANRJ. IG7 2.
____. Ofício do Maquinista Carlos Rouhette sobre a substituição dos tornos de madeira por outros de
ferro. Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 1851. Mss. ANRJ. IG7 12.
____. Ofício do Quartel general da Corte, Antônio José de Brito. Ao diretor do Laboratório do Campi-
nho, passando o termo de juramento de Aires Antônio de Moraes Âncora. Rio de Janeiro, 22 de ja-
neiro de 1853. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
____. Ofício do vice-diretor, Vicente Marques Lisboa ao diretor, Antônio Manoel de Melo, sobre peças
de bronze inutilizadas. Rio de Janeiro, 18 de setembro de 1846. Mss. ANRJ. IG7 334.
____. Ofício do vice-diretor, Vicente Marques Lisboa, ao Diretor Antônio João S. Rangel de Vasconce-
los, sobre demissão de operários. Rio de Janeiro, 17 de setembro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Ofício do vice-diretor, Vicente Marques Lisboa ao diretor, Marechal de Exército José Maria da
Silva Bentancourt, sobre contratação de mestre e aparelhador para oficinas de Alfaiates. Rio de Ja-
neiro 27 de maio de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
____. Ofício Nº. 34, do diretor do Arsenal de Guerra, Antônio João Rangel de Vasconcelos ao Ministro
da Guerra, Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro, 30 de abril de 1849. Mss. ANRJ.
IG7 10.
____. Ofício reservado de João José da Costa Pimentel, Brigadeiro, diretor interino do Arsenal, ao mi-
nistro da Guerra, Marques de Caxias. Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 1856. Mss. ANRJ. IG7 21.
____. Ofício vice do diretor interino, ten-cel. José Manoel da Silva, ao Ministro da Guerra, Marquês de
Caxias informando sobre as 4.000 bombas de 80 para Óbidos mandadas fundir no Arsenal de Mari-
nha. Rio de Janeiro, 9 de julho de 1856. Mss. ANRJ. IG7 21.
____. Ordem do dia 83. Quadro demonstrativo do pessoal dos operários militares das diferentes oficinas
que ficam nos respectivos serviços e dos que são eliminados. Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1861.
Mss. ANRJ. IG7 23.
____. Ordem do dia n. 10, do diretor Alexandre Manoel Albino de Carvalho ao ministro Coelho, Rio de
Janeiro, 12 de abril de 1858. Mss. ANRJ. IG7 15.
____. Ordem do dia n.º 5, de 13 de janeiro de 1862, Coronel Alexandre Manoel Albino de Carvalho.
Sobre ordem de repreender severamente Francisco Guedes de Araújo Guimarães substituto do Pro-
fessor de 1as letras. Rio de Janeiro, Mss. ANRJ. IG7 24.
____. Ordem do dia nº 78, sobre demissão de trabalhadores. Diretoria do Arsenal de Guerra da Corte,
Rio de Janeiro, 10 de outubro de 1861. Mss. ANRJ. IG7 23.
____. Parecer de Joaquim Francisco Viana [senador], sobre costuras do Arsenal. 14 de fevereiro de
1860. Mss. ANRJ. IG7 17.
____. Portaria nº. 48 do diretor do Arsenal, Cel. Jerônimo Francisco Coelho. Rio de Janeiro, 17 de ja-
neiro de 1855. Mss. ANRJ. IG7 14.
601
Bibliografia
____. Relação das obras mais triviais que se gravam na oficina de gravadores, e que se podem dar preço
da mão de obra e matéria prima. Manoel Alves Guerobino da Silva Penna, mestre da oficina de
gravadores no Arsenal de Guerra da Corte. Rio de Janeiro, 10 de março de 1852. Mss. ANRJ. IG7
12.
____. Relação das obras que fizeram as diferentes oficinas do Arsenal do Exercito no mês de Agosto do
presente ano de 1823. Cel. Salvador José Maciel, inspetor. Rio de Janeiro, 10 de setembro de 1823.
Mss. ANRJ. IG7 2.
____. Relação das praças que pertenceram ao extinto Corpo de Artífices, Virgílio Fogaça da Silva, Ma-
jor comandante Geral das Companhias, Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 1866. Mss. ANRJ. IG7
350.
____. Relação do número de bicos de gás existentes nas diversas repartições deste Arsenal, com declara-
ção dos que se acendem, e duração das luzes. Arsenal de Guerra da Corte José Manoel da Silva, 1º
Ajudante. s.d. [1857]. Mss. ANRJ. IG7 22.
____. Contrato com Hobkirk e Westman, Rio de Janeiro, 30 de setembro de 1850. Mss. ANRJ. IG7 391.
____. Relação dos africanos livres recebidos da casa de correção com destino para Mato Grosso. Este-
vão José de Fleury, Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 15.
____. Relação dos artigos bélicos, fardamentos, e equipamento que devem ser remetidos para a Provín-
cia de S. Pedro do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro, 2 de novembro de 1842. Mss. ANRJ. IG7 333.
____. Relação dos escravos que existiam nas oficinas e que foram despedidos hoje, Manoel José da Sil-
va, apontador. Rio de Janeiro, 21 de novembro de 1849. Mss. ANRJ. IG710.
____. Relação dos escravos que existiam nas oficinas e que foram despedidos hoje, Manoel José da Sil-
va, apontador. Rio de Janeiro, 21 de novembro de 1849. Mss. ANRJ. IG710.
____. Relação dos escravos que existiam nas oficinas e que foram despedidos hoje, Manoel José da Sil-
va, apontador. Rio de Janeiro, 21 de novembro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Relação dos expostos que por ordem de sua Majestade Imperial assentaram praça de adidos na
Companhia de Artífices. Coronel Francisco de Paula e Vasconcellos. Rio de Janeiro, 22 de julho de
1825. Mss. ANRJ. IG7 2.
____. Relação dos Inspetores de Artilharia, Arsenais, Fábricas e Fundições e Diretores que tem tido o
Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro de 1811 a 1911. s.d. [1925]. Mss. ANRJ. IG7 96.
____. Relação dos objetos mandados fornecer à província de Mato Grosso, com declaração dos que
estão prontos. Elias Afonso Lima, secretário. Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1858. Mss. ANRJ,
IG7 15.
____. Relação dos objetos que falta fornecer à Província de Mato Grosso em virtude das ordens seguin-
tes. O escrivão Ignácio Viegas Rangel. Rio de Janeiro, 22 de maio de 1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
____. Relação dos objetos que se julgam precisos para o Arsenal de Guerra da Corte, e que convém
sejam encomendados fora do Império. Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1837. Mss. ANRJ. IG7 20.
____. Relação dos operários cativos que em virtude do aviso de 19 do corrente foram despedidos dos
trabalhos destas oficinas, João José da Silva, Oficinas do Arsenal de Guerra na Conceição. Rio de
Janeiro, 22 de novembro de 1849. Mss. ANRJ. IG7 10.
____. Relação dos operários que vieram engajados da Europa para serem adidos no Arsenal, Francisco
José Carvalho, Vice-diretor. Rio de Janeiro, 29 de julho de 1839. Mss. ANRJ.
____. Relação n.º 1 do pessoal existente nesta oficina. Oficina de espingardeiros da Fábrica de armas na
fortaleza da Conceição, Joaquim Miguel Pinto Real. Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1863. Mss.
ANRJ. IG7 26.
____. Relação nominal da mestrança da oficina de construção do Arsenal de Guerra da Corte com de-
claração do tempo de serviço que tem. O secretário, José Antônio Frederico. Rio de Janeiro, 27 de
novembro de 1865. Mss. ANRJ. IG7 502.
____. Relação nominal das praças do corpo de Artífices da corte com declaração dos ofícios de cada
uma e dos destinos em que se acham. Major Antônio de Castro Viana, Quartel do Arsenal de Guer-
ra, 29 de janeiro de 1865. Mss ANRJ. Coleção Polidoro, Maço 7.
602
Bibliografia
____. Relação nominal dos Africanos livres e escravos da nação ao serviço deste Arsenal, com declara-
ção dos serviços que prestam, seus ofícios, e bem assim quais os casados e com quantos filhos. Rio
de Janeiro, s. dia, Julho 1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
____. Relação nominal dos Africanos que têm estado neste Arsenal com declaração de seus destinos,
extraída dos respectivos livros de matrículas. Encarregado da 1a Seção do Arsenal de Guerra da
Corte, M. Roiz Guimarães. Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 1865. Mss. ANRJ. IG7 27.
____. Relação nominal dos escravos e escravas da nação sujeitos ao Arsenal de guerra da Corte. Arse-
nal de Guerra da Corte, escritório da 1ª Seção. Major Joaquim Jerônimo Barrão, 1º ajudante. Rio de
Janeiro, 23 de julho de 1865. Mss. ANRJ IG7 27.
____. Relação nominal dos operários militares. Lino José dos Santos de Macedo Figueiredo, 1o Oficial.
Rio de Janeiro, 11 de março de 1881. Mss. ANRJ. IG7 234.
____. Relatório da Fábrica de armas, Paulo José Pereira, encarregado da Fábrica, Rio de Janeiro, 18
de novembro de 1853. Mss. ANRJ. IG7 25.
____. Relatório do Arsenal de Guerra da Corte. Manoel Albino de Carvalho, o diretor, ao Conselheiro
José Maria da Silva Paranhos, ministro da Guerra. Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1859. Mss.
ANRJ. IG7 16.
____. Relatório do Arsenal de Guerra, 30 de janeiro de 1860. Mss. ANRJ, IG7 17.
____. Relatório do Arsenal de Guerra, João José da Costa Pimentel, Brigadeiro Diretor. Rio de Janeiro,
5 de março de 1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
____. Relatório do Arsenal de Guerra, Marechal de campo José Maria da Silva Bitancourt, Rio de Janei-
ro, 1 de março de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
____. Relatório do Arsenal de Guerra, relativo ao ano de 1869, Dr. Francisco Carlos da Luz, diretor
interino, Rio de Janeiro, 18 de abril de 1870. Mss. ANRJ. IG7 24.
____. Relatório do Arsenal de Guerra, Rio de Janeiro 30 de janeiro de 1861. Mss. ANRJ, IG7 23.
____. Relatório do Arsenal para o ano de 1857. Diretoria do Arsenal de Guerra, Alexandre Manoel
Albino de Carvalho, Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 4.
____. Relatório do Brigadeiro, Diretor interino, João José da Costa Pimentel, Rio de Janeiro, 28 de
fevereiro de 1856. Mss. ANRJ. IG7 21.
____. Relatório do Estado do Arsenal de Guerra da Corte. José Maria da Silva Bittencourt, Marechal de
Exército. Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1851. Mss. ANRJ. IG7 12.
____. Relatório do estado do pessoal das oficinas do Arsenal de Guerra da Corte e dos objetos que se
devem presentemente nelas fabricar. Rio de Janeiro, 24 de novembro de 1836. Mss. ANRJ. IG7 19.
____. Relatório do Marechal João Carlos Pardal, diretor do Arsenal de Guerra, ao Ministro da Guerra.
Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1848. Mss. ANRJ, IG7 10.
____. Representação do Professor Substituto, Sr. Francisco Guedes de Araújo Guimarães, ao 1o Ajudan-
te, Lima e Silva, sobre ordem que recebeu de assumir as classes do professor. Rio de Janeiro, 14 de
janeiro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 24.
____. Requerimento de José Lúcio de Araújo. Rio de Janeiro, [sem dia], julho de 1854. Mss. ANRJ. IG7
335.
____. Tabela dos preços de mão de obra dos objetos feitos por empreitada na oficina de torneiros do
Arsenal de Guerra da Corte, conforme aviso desta data, João Antônio de Calazans Rodrigues. Rio
de Janeiro, 31 de janeiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 505.
____. Tabela Marcando as horas de trabalho e vencimentos de jornais dos operários deste Arsenal, nas
sestas, serões e domingos ou dias santificados. Apontador Eduardo José Maria, s.d. Em anexo a
ofício do 2o Ajudante ao Diretor do Arsenal, Tenente-Coronel Antônio Pinto de Figueiredo Mendes
Antas, sobre pagamento de sestas. Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 1862. Mss. ANRJ. IG7498.
____. Tabela Preços dos feitios de costuras Arsenal de Guerra, Rio de Janeiro, 13 de maio 1854. Mss.
ANRJ, IG7 14.
BRASIL – Comissão de Melhoramentos do Material do Exército. Ofício do Presidente, João Paulo dos
Santos Barreto, Marechal de Campo, aprovando os cartuchos de espingarda de agulha na composi-
603
Bibliografia
ção do Doutor Guilherme Schüch de Capanema, em 14 de dezembro de 1850. Mss. ANRJ. GIF12.1
5B 246.
____. Parecer sobre a compra da Máquina da Fábrica de Panos de Algodão de Hartley. Rio de Janeiro,
28 de junho de 1852. Mss. ANRJ IG7 13.
____. Relatório da comissão para o ano de 1860. José Mariano de Matos. Presidente interino Rio de
Janeiro, 1 de janeiro de 1861. Mss. ANRJ. GIFI12.1 5B 246.
____. Cópia de ofício do Presidente, José Mariano de Mattos, ao ministro da Guerra, marquês de Caxi-
as. 19 de março de 1862. Mss. ANRJ. IG7 387.
____. Ofício de José Mariano de Matos, presidente, ao diretor geral da 1ª Diretoria Geral da Secretaria
da Guerra, tenente coronel Vicente Ferreira da Costa Piragibe sobre problemas de explosões de
cápsulas de fulminante. Rio de Janeiro, 14 de novembro de 1861. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 267.
____. Parecer sobre os sapatos Coiroclave. Rio de Janeiro, 28 de junho de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
BRASIL – Comissão Técnica Militar Consultiva. Ofício do presidente, General de Divisão Francisco
Carlos da Luz ao Diretor do Arsenal de Guerra, Cel. Neiva, sobre proposta de nova lança, modifi-
cando a aprovada no parecer nº 92, de 23 de junho de 1892. Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1897.
Mss. Arquivo Nacional. IG7 146.
BRASIL – Corte. Ofício de sua majestade ao ministro da justiça isentando os operários de espingardei-
ros, coronheiros e correeiros do serviço na Guarda Nacional nos dias de trabalho, excetuando-se os
dias em que a Guarda Nacional tiver que reunir-se em parada geral. Rio de Janeiro, 7 de julho de
1841. Mss. ANRJ. IG7 6.
BRASIL – Exército em Operações. Relação dos objetos precisos ao Exército na Província de São Pedro
do Rio Grande do Sul, Antônio Elizário de Miranda e Brito. Quartel General em Porto Alegre, 18 de
dezembro de 1838. Mss. ANRJ. IG7 323.
BRASIL – Fábrica de Armas. Relação do Armamento que se acha no Depósito da Fábrica de Nossa
Senhora da Conceição pertencente à Casa Imperial. Joaquim Caetano da Silva, Brigadeiro, Co-
mandante e inspetor. Rio de Janeiro, 11 de abril de 1831. IG7320.
BRASIL – Fábrica de Ferro de Ipanema. Ofício do major diretor, João Pedro de Lima Gutierrez ao Pre-
sidente de São Paulo, Ipanema, 7 de dezembro de 1859. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B-253.
____. Ofício reservado do major diretor, João Pedro de Lima Gutierrez ao ministro da Guerra, Sebasti-
ão do Rego Barros. Fábrica de Ferro de Ipanema, 16 de agosto de 1860. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B-
253.
____. Ofício de João Bloem, major diretor da Fábrica de Ipanema ao Ministro da Guerra, Conde de
Lages, pedindo conhecimento de material enviado ao Arsenal de Guerra da Corte. Ipanema, 7 de se-
tembro de 1839. Mss. ANRJ. IG7 325.
____. Relação e importância dos objetos ora remetidos deste Armazém, por ordem superior ao Arsenal
de Guerra do Rio de Janeiro. Francisco Cândido Sagaterra, Almoxarife. Ipanema, 23 de agosto de
1838. Mss. ANRJ. IG7 323.
BRASIL – Junta de Fazenda dos Arsenais do Exército. Ofício do Inspetor, José Francisco da Silva ao
ministro da Guerra, Joaquim de Oliveira Alves, 28 de abril de 1829. Mss. ANRJ. IG7 18.
BRASIL – Laboratório Pirotécnico do Campinho. Mapa demonstrativo do estado em que se acha a con-
fecção do cartuchame embalado para Infantaria no Laboratório pirotécnico do Campinho, a partir
do dia 1° de Agosto do corrente ano em diante. José Raimundo de Miranda Machado, escriturário.
Rio de Janeiro, 22 de outubro de 1857. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
____. Mapa demonstrativo das munições e artifícios de guerra elaborados nas oficinas do mesmo duran-
te o trimestre de janeiro a março de 1862. Escrivão das oficinas, Júlio César Leal. Rio de Janeiro, 8
de abril de 1862. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 261.
____. Ofício de Francisco Carlos da Luz o ministro da Guerra, Jerônimo Francisco Coelho sobre servi-
ços de africanos livres no laboratório. Rio de Janeiro, 1 de dezembro de 1857. Mss. ANRJ. GIFI OI
5B 260.
____. Ofício do Capitão diretor, Francisco Carlos da Luz, ao Ministro da Guerra, marquês Caxias, so-
bre o preparador do laboratório pirotécnico. 4 de junho de 1856. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
604
Bibliografia
____. Ofício do capitão diretor, Francisco Carlos da Luz ao ministro da Guerra, Polidoro da Fonseca
Quintanilha Jordão sobre pedidos feitos ao Laboratório. Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1863.
Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 261..
____. Ofício do capitão diretor, Francisco Carlos da Luz ao ministro da Guerra, Jerônimo Francisco
Coelho, Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1857. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
____. Ofício do capitão diretor, Francisco Carlos da Luz, ao ministro da Guerra, marquês de Caxias
informando que Scipião fugiu do laboratório. Rio de Janeiro, 8 de dezembro de 1861. Mss. ANRJ.
GIFI OI 5B 267.
____. Ofício do capitão diretor, Francisco Carlos da Luz, ao ministro da Guerra, José Maria da Silva
Paranhos, comunicando que o Africano livre de nome Scipião, fugido em 18 de fevereiro aqui se
apresentou ontem e acha-se outra vez no serviço deste estabelecimento. Rio de Janeiro, 7 de dezem-
bro de 1858. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260
____. Ofício do capitão diretor, Francisco Carlos da Luz, ao ministro da Guerra, P.de S. Bellegarde
sobre a fuga do africano livre Scipião. Rio de Janeiro, 11 de novembro de 1854. Mss. ANRJ. GIFI
OI 5B 260.
____. Ofício do Capitão diretor, Francisco Carlos da Luz ao ministro da Guerra, Antônio Moraes de
Melo participando que fora aqui entregue o Africano livre Scipião. Rio de Janeiro, 10 de março de
1863. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 261.
____. Parecer do diretor do Campinho, Capitão Francisco Carlos da Luz, sobre a compra de um lami-
nador. Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1861. Mss. ANRJ. IG7 510.
____. Relação nominal dos empregados do Laboratório Pirotécnico do Campinho. José Raimundo de
Miranda Machado, escriturário. Rio de Janeiro, 22 de julho de 1857. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
____. Relação nominal dos operários das oficinas pirotécnicas deste estabelecimento, com declaração de
seus vencimentos, admissão, e tempo de serviço de cada tem. Escriturário Seara, Rio de Janeiro, 20
de setembro de 1861. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
____. Relação nominal dos operários paisanos e militares pertencentes às oficinas deste laboratório,
com declaração de seus vencimentos, data de admissão, e tempo de serviço que cada um tem. Escri-
turário Seara, Rio de Janeiro 20 de setembro de 1861. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 221.
____. Relatório da Diretoria do laboratório Pirotécnico do Campinho relativo ao ano de 1872. Augusto
Fausto de Souza, Capitão Diretor Interino. Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 1873. Mss. ANRJ.
GIFI OI 5B 267.
____. Relatório do ano de 1859. Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1860. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 260.
____. Relatório, do diretor, Francisco Carlos da Luz para Mariano Carlos de Souza Correa, chefe de
seção da 1a diretoria da Secretaria da Guerra, servindo de Diretor Geral. Rio de Janeiro, 26 de ou-
tubro de 1863. Mss. ANRJ. GIFI OI 5B 261.
____. Tabela de distribuição do tempo de trabalho para os operários desse Estabelecimento, em vista do
Artigo 58 do regulamento de 28 de fevereiro pp. combinado com o artigo 57 do mesmo, o escriturá-
rio Carlos Frederico Olaria. Rio de Janeiro, 10 de abril de 1861. Mss. ANRJ, GIFI OI 5B 267.
BRASIL – Legação em Lisboa. Resposta da Legação Brasileira em Lisboa, Antônio de Menezes Vascon-
celos de Drummond, sobre pedido de contratação de armeiros. Lisboa, 11 de janeiro de 1853. Mss.
ANRJ. IG7 12.
BRASIL – Legação em Londres. Despacho reservado da Legação do Império do Brasil na Grã Breta-
nha, Ministro Joaquim Thomaz de Andrade ao Ministro da Guerra Manoel Felizardo de Souza e
Mello, Comunicando o recebimento de despacho de 7 de setembro de 1850 mandando ter toda a vi-
gilância possível na execução da ordem de 3.000 espingardas, recentemente confiada a esta lega-
ção. Londres, 4 de novembro de 1850. Mss. ANRJ. IG1 558.
____. Ofício do Ministro da Legação Imperial em Londres, Manoel Rodrigues Garneiro Pessoa, a João
Vieira de Carvalho, Ministro dos Negócios do Império. Londres, 18 de julho de 1825. Mss. ANRJ.
IG7 558.
BRASIL – Ministério da Guerra. Avaliação dos relatórios dos arsenais provinciais dirigida ao ministro
da Guerra, Antônio Francisco de Paulo e Holanda Cavalcante de Albuquerque. Rio de Janeiro, 16
de abril de 1846. Mss. ANRJ. IG7 32.
605
Bibliografia
____. Aviso da 1a Diretoria Geral 1a Seção, Antônio Manoel de Mello, ao diretor do Arsenal, José de
Vitória Soares de’Andréa, autorizando o africano livre a serviço do Arsenal de Guerra, Quitério, a
casar-se com a africana livre emancipada Querobina. Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1863. Mss.
ANRJ. IG7 453.
____. Aviso da 1ª Diretoria Geral, 1ª Seção, Antônio Manoel de Mello, ao Diretor do Arsenal, José de
Vitória Soares de’Andréa, mandando recolher ao Arsenal de Guerra da Corte os dois operários da
oficina do troço. Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 356.
____. Aviso da 3ª Diretoria, 3ª Seção, do Ministério da Guerra ao diretor do Arsenal de Guerra infor-
mando sobre contrato com Manoel Augusto dos Santos para fabricação de bonés a 600 réis. Rio de
Janeiro, 10 de dezembro de 1862. Mss. ANRJ IG7 360.
____. Aviso da 4a Diretoria Geral, Antônio Manoel de Mello a Andrea ao diretor do Arsenal, José de
Vitória Soares d‘Andréa. Rio de Janeiro, 10 de agosto de 1863. Mss. ANRJ. IG7 357.
____. Aviso de Estevão Ribeiro Resende, ministro do Império a João Gomes da Silveira Mendonça minis-
tro da guerra, a quota dos escravos no serviço das Fortificações do Barro Vermelho. Rio de Janeiro,
15 de maio de 1824. Mss ANRJ, GIFI OI 5B 243.
____. Aviso do Marques de Caxias, ministro, ao diretor do Arsenal de Guerra, Albino de Carvalho, sobre
pedido de demissão do diretor. Rio de Janeiro, 10 de maio de 1862. Mss. ANRJ. IG7 534.
____. Aviso do ministério da guerra, João Paulo dos Santos Barreto, ao diretor do Arsenal de Guerra,
Antônio Manoel de Mello, respondendo favoravelmente aos requerimentos de Luís Rufo, Praxedes
José, Ângelo, e Longuinhos, escravos das fazendas Nacionais do Piauí ao serviço desse Arsenal, que
podem unir-se em matrimônio. Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1846. Mss. ANRJ. IG7 334.
____. Aviso do ministério da guerra, João Paulo dos Santos Barreto, ao diretor do Arsenal de Guerra,
Antônio Manoel de Melo, com ordem de envio da escrava da nação, Domingas, da Fábrica de Pól-
vora que tem de casar com José Raimundo, do Arsenal. Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1844. Mss.
ANRJ. IG7 334.
____. Aviso do ministro ao diretor do Arsenal de Guerra, mandando entregar ao cônsul a máquina de
costura do finado empreiteiro italiano Luís Pisano, da Oficina de alfaiates. Rio de Janeiro, 27 de
dezembro de 1884. Mss. ANRJ. IG7 65.
____. Aviso do ministro da Guerra Antônio Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti d’Albuquerque ao
diretor do Arsenal de Guerra remetendo aviso do ministro dos negócios do Império pedindo que
com brevidade se concluam as seis máquinas de descaroçar algodão que se mandaram construir
nesse Arsenal de Guerra, pelo modelo comprado a Augusto Merlete. Rio de Janeiro, 1 de janeiro de
1846. Mss. ANRJ. IG7 404.
____. Aviso do ministro da Guerra Jerônimo Francisco Coelho ao diretor do Arsenal de Guerra da Cor-
te, Brigadeiro João Eduardo Pereira Colaço Amado sobre a contratação de Augusto Merlet. Rio de
Janeiro, 23 de setembro de 1844. Mss. ANRJ. IG7 405.
____. Aviso do ministro da Guerra Jerônimo Francisco Coelho ao diretor do Arsenal de Guerra da Cor-
te, Brigadeiro João Eduardo Pereira Colaço Amado, mandando remeter armas e contratar artistas
para Mato Grosso. Rio de Janeiro, 13 de novembro de 1844. Mss. ANRJ. IG7 339.
____. Aviso do Ministro da Guerra Manoel da Fonseca Lima e Silva ao Sr. José de Vasconcelos Meneses
de Drummond [diretor do Arsenal de Guerra], autorizando a venda de 1100 cartuchos desembala-
dos de adarme 12 para a Procissão do Santíssimo Sacramento. Rio de Janeiro, 4 de junho de 1836.
Mss. ANRJ, IG7 321.
____. Aviso do Ministro da Guerra Manoel F. de Sousa e Mello ao Diretor do Arsenal de Guerra, Ale-
xandre Manoel Albino de Carvalho, autorizando a mandar fundir no Estabelecimento da Ponta
d’Areia vinte mil balas de ferro para pirâmides de calibre 30 e de 24. Rio de Janeiro, 27 de agosto
de 1859. Mss. ANRJ. IG7 406.
____. Aviso do ministro da Guerra Manoel Felizardo de Sousa Mello ao diretor do Arsenal de guerra,
autorizando a compra de terçados. Rio de Janeiro, 6 de agosto de 1851. Mss. ANRJ. IG7 404.
____. Aviso do ministro da guerra Manoel, da Fonseca Lima e Silva, ao diretor do Arsenal de Guerra do
Rio de Janeiro, José de Vasconcelos Meneses de Drummond sobre uso do quartel do esquadrão de
cavalaria para acomodar os Oficiais Soldados Voluntários da Pátria. Rio de Janeiro, 5 de dezembro
de 1831. Mss. ANRJ IG7 44.
606
Bibliografia
____. Aviso do ministro da Guerra, Antônio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti d’Albuquerque,
ao diretor do Arsenal de Guerra, mandando dar a Carlos Rouhette os meios de fazer a máquina de
descaroçar algodão. Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1846. Mss. ANRJ. IG7 404.
____. Aviso do Ministro da Guerra, Antônio Manoel de Melo, ao diretor do Arsenal, José de Vitória
Soares de Andréa, Manda admitir Joaquim José de Carvalho Siqueira Varejão para lecionar geo-
metria, mecânica, desenho linear e desenho de máquinas aos menores, ficando o outro professor en-
carregado do desenho de arquitetura e ornados. Rio de Janeiro 25 de julho de 1863. Mss. ANRJ.
IG7 357.
____. Aviso do ministro da guerra, brigadeiro Antero José Ferreira de Brito ao diretor do Arsenal de
Guerra, Vasconcelos de Menezes de Drummond, determinando que a diária dos aprendizes seja ele-
vada de 160 para 200 réis. Rio de Janeiro, 23 de maio de 1833. Mss. ANRJ. IG7 316.
____. Aviso do Ministro da Guerra, Conde de Caxias, ao Diretor do Arsenal de Guerra, João José da
Costa Pimentel para emitir ordem ao maquinista A. Correa de Melo para que, com toda a urgência,
apronte os riscos, desenhos e perfis de bocas de fogo de campanha. Rio de Janeiro, 22 de setembro
de 1857. Mss. ANRJ. IG7 396.
____. Aviso do ministro da Guerra, Conde de Caxias, ordenando a extinção da oficina de Pedreiros. Rio
de Janeiro, 13 de agosto de 1861. Mss. ANRJ. IG7 492.
____. Aviso do ministro da Guerra, conde de Lages, ao diretor do Arsenal pedindo informações sobre as
peças que faltavam na máquina a vapor. Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1839. Mss. ANRJ. IG7 325.
____. Aviso do ministro da Guerra, Jerônimo Francisco Coelho ao diretor do Arsenal de Guerra da
Corte, Brigadeiro João Eduardo Pereira Colaço Amado, encaminhando pedido de artesãos para o
Rio Grande. Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1844. Mss. ANRJ. IG7 440.
____. Aviso do ministro da Guerra, Jerônimo Francisco Coelho ao diretor do Arsenal de Guerra da
Corte, Brigadeiro João Eduardo Pereira Colaço Amado pedindo uma relação de artigos para uma
oficina de instrumentos matemáticos. Rio de Janeiro, 5 de julho de 1844. Mss. ANRJ. IG7 405.
____. Aviso do ministro da Guerra, José A. Saraiva, ao diretor do Arsenal, Coronel Antônio Francisco
Raposo, comunicando o deferimento do requerimento do escravo da nação Longuinho, em que soli-
cita liberdade, desde que pagasse sua avaliação. Rio de Janeiro, 4 de Agosto de 1865. Mss. ANRJ.
IG7 497.
____. Aviso do Ministro da Guerra, Manoel da Fonseca Lima e Silva determinando a suspenção dos
vencimentos dos Artífices Menores e os desliguem da Companhia de Artífices. Rio de Janeiro, 18 de
outubro de 1831. Mss. ANRJ. IG7 44.
____. Aviso do Ministro da Guerra, Manoel Felizardo de Sousa e Melo, ao Vice-Diretor do Arsenal de
Guerra, abonar ao mestre de correeiros 30.000 réis visto ocupar-se também no adestramento dos
Artífices que trabalham nas máquinas de apagar incêndios. Rio de Janeiro, 20 de abril de 1849.
Mss. ANRJ. IG7 336.
____. Aviso do ministro da guerra, Manoel Felizardo de Souza e Melo, ao diretor do Arsenal de Guerra,
Marechal José Maria da Silva Bitancourt, mandando serrar coronhas de açouta-cavalos não só pa-
ra as oficinas da Fortaleza da Conceição e do referido Arsenal, mas também para remeterem-se du-
zentos cortes para a Província de Pernambuco e outros tantos para a da Bahia. Rio de Janeiro, 14
de abril de 1852. Mss. ANRJ. IG7 516.
____. Aviso do ministro da Guerra, marquês de Caxias para o diretor do Arsenal, Major Antônio Pinto
Figueiredo Mendes Antas, mandando receber o sobrinho do escravo Domingos no Arsenal. Rio de
Janeiro, 12 de junho de 1861. Mss. ANRJ. IG7 394.
____. Aviso do Ministro da Guerra, Marques de Caxias, ao Diretor do Arsenal de Guerra da Corte,
autorizando a fundição de José Francisco Barriga. Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 1856. Mss.
ANRJ, IG7 522.
____. Aviso do ministro da Guerra, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, ao coronel diretor do
Arsenal de Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea, remetendo bocas de fogo inutilizadas para
o Arsenal de Marinha para fundição de trinta e seis canhões de calibre quatro do sistema La Hitte.
Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 515.
____. Aviso do ministro da Guerra, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão ao coronel diretor do Ar-
senal de Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea, mandando fornecer bronze de canhões velhos
607
Bibliografia
608
Bibliografia
____. Aviso do Ministro, Jeronimo Francisco Coelho ao Diretor do Arsenal de Guerra, Barão de Itape-
curu-Mirim, Rio de Janeiro, 17 de maio de 1845. Mss. ANRJ. IG7 436.
____. Aviso do ministro, Jerônimo Francisco Coelho ao diretor do Arsenal de Guerra da Corte, Briga-
deiro João Eduardo Pereira Colaço Amado, aprovando proposta do vice-diretor do Arsenal, Galdi-
no Justiniano da Silva Pimentel, sobre a permanência no Arsenal de dois dos oficiais mais hábeis,
para ensinar os aprendizes artífices. Rio de Janeiro, 29 de julho de 1844. Mss. ANRJ, IG7405.
____. Aviso do ministro, Jerônimo Francisco Coelho, ao brigadeiro diretor do Arsenal de Guerra, João
Eduardo Pereira Colaço Amado, mandando abonar 20 réis diários aos Africanos e escravos da na-
ção, como era feito anteriormente. Rio de Janeiro, 12 de março de 1844. Mss. ANRJ. IG7 403
____. Aviso do ministro, Jerônimo Francisco Coelho, ao diretor do Arsenal de Guerra, Coronel do Esta-
do-Maior de 1a Classe Alexandre Manoel Albino de Carvalho, sobre representação feita pelos ope-
rários empreiteiros da Conceição sobre seus vencimentos. Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1857.
Mss. ANRJ. IG7 396.
____. Aviso do ministro, Jerônimo Francisco Coelho, ao Diretor do Arsenal de Guerra, Coronel do Es-
tado-Maior de 1a Classe Alexandre Manoel Albino de Carvalho, mandando transformar todas as
pistolas e clavinas de adarme 12 em fulminante, assim como substituir os canos das armas trans-
formadas anteriormente por outros novos. Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1857. Mss. ANRJ. IG7
366.
____. Aviso do ministro, Jerônimo Francisco Coelho, ao diretor do Arsenal de Guerra, coronel do Esta-
do-Maior de 1ª Classe Alexandre Manoel Albino de Carvalho, proibindo a residência de famílias na
Fábrica de armas da Conceição. Rio de Janeiro, 28 de outubro de 1857. Mss. ANRJ. IG7 396.
____. Aviso do ministro, João Paulo dos Santos Barreto ao diretor do Arsenal de Guerra, João Carlos
Pardal mandando vacinar todos os Aprendizes Menores do Arsenal de Guerra que ainda não ti-
nham sido vacinados. Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1846. Mss. ANRJ. IG7 399.
____. Aviso do ministro, João Paulo dos Santos Barreto, ao diretor do Arsenal, Antônio Manoel de Mello
manda dar liberdade, sob pagamento a filha dos escravos da Nação, Cyriaco e Joana. Rio de Janei-
ro, 5 de setembro de 1846. Mss. ANRJ. IG7 334.
____. Aviso do Ministro, José Clemente Ferreira, para o diretor do Arsenal, José dos Santos e Oliveira.
Rio de Janeiro, 7 de junho de 1842. Mss. ANRJ, IG7 503.
____. Aviso do Ministro, José Clemente Pereira, ao Diretor do Arsenal de Guerra, José dos Santos Oli-
veira, mandando entregar ao Sr. Major João Bloem modelos das clavinas e pistolas. 16 de setembro
de 1841. Mss. ANRJ, IG7 328.
____. Aviso do ministro, José Clemente Pereira, ao diretor do Arsenal de Guerra, ordenando que cesse a
prática de entregar ao almoxarife as caixas e capas de gêneros que entram no Arsenal. Rio de Ja-
neiro, 30 de agosto de 1841. Mss. ANRJ. IG7 328.
____. Aviso do Ministro, M. F. de Sousa e Mello, ao diretor do Arsenal, Brigadeiro Feliciano Antônio
Falcão, mandando eliminar do serviço do Arsenal de Guerra o Africano Livre do nome Romão, uma
vez que se retire para seu país. Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 1853. Mss. ANRJ. IG7 460
____. Aviso do ministro, Manoel da Fonseca Lima e Silva ao Sr. José de Vasconcelos Meneses de
Drummond, diretor do Arsenal sobre proposta de aumento de jornais para o Patrão e remeiros do
Arsenal, Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1836. Mss. ANRJ. IG7 321
____. Aviso do Ministro, Manoel da Fonseca Lima e Silva ao Sr. José de Vasconcelos Meneses de
Drummond, comunicando que já passou aviso ao Comandante das armas interino da Corte, a fim de
mandar para a Companhia de Artífices desse Arsenal os recrutas que tiverem ofícios. Rio de Janei-
ro, 11 de maio de 1836. Mss. ANRJ. IG7 321.
____. Aviso do ministro, Manoel Felizardo de Souza e Mello, ao Diretor do Arsenal, José Maria da Silva
Bitancourt mandando transportar quinze reparos, que se acham prontos nesse Arsenal para a For-
taleza do Cabedelo. 28 de maio de 1850. Mss. ANRJ. IG7 343.
____. Aviso do ministro, Manoel Felizardo de Souza e Melo ao diretor do Arsenal de Guerra, José Maria
da Silva Bitancourt, mandando fazer cartuchos e fornecer espingardas a Tige. Rio de Janeiro, 16 de
abril de 1852. Mss. ANRJ. IG7 516.
____. Aviso do ministro, Manoel Francisco de Souza e Mello ao Diretor do Arsenal de Guerra, Alexan-
dre Manoel Albino de Carvalho, autorizando mandar arranjar até cinquenta espingardinhas e o
609
Bibliografia
competente correame apropriados para Aprendizes Menores de 12 anos de idade. Rio de Janeiro,
23 de julho de 1859. Mss. ANRJ, IG7 388.
____. Aviso do ministro, Manuel Felizardo de Souza e Mello, ao Diretor do Arsenal, José Maria da Silva
Bitancourt, informando os operários das oficinas de Alfaiates e Sapateiros do Arsenal de Guerra
não deverão perceber jornais. Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1850. Mss. ANRJ. IG7 343.
____. Aviso do ministro, Manuel Felizardo de Souza e Mello, ao Diretor do Arsenal, José Maria da Silva
Bitancourt, ao diretor do Arsenal, coronel Antônio João Rangel de Vasconcelos, determinando que
não se conserve escravo algum nas oficinas do Arsenal. Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1849.
Mss. ANRJ. IG7 336.
____. Aviso do ministro, Marques de Caxias para o diretor do Arsenal, Alexandre Manoel Albino de
Carvalho sobre demissão de operários. Rio de Janeiro, 1 de outubro de 1860. Mss. ANRJ. IG7 372.
____. Aviso do ministro, Marquês de Caxias, ao diretor do Arsenal, remetendo ao diretor do Arsenal de
Guerra da Corte uma espingarda com baioneta e uma clavina com sabre, ambos da fábrica Lemille,
com selo. Rio de Janeiro, 16 de maio de 1856. Mss. ANRJ. IG7 521.
____. Aviso do ministro, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão ao coronel diretor do Arsenal de
Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea ordenando que, sob a direção do presidente da Comis-
são de Melhoramentos do Material do Exército, escolha armas para servirem de amostra. Rio de
Janeiro, 28 de janeiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 515.
____. Aviso do ministro, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão ao coronel diretor do Arsenal de
Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea, autorizando a construção de uma barraca portátil de
madeira francesa, para modelo. Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de1863. Mss. ANRJ. IG7 515.
____. Aviso do ministro, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão ao diretor do Arsenal, autorizando a
mandar fazer no estabelecimento da casa de correção da Corte as costuras pertencentes a esse ar-
senal. Rio de Janeiro, 5 de setembro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 498.
____. Aviso do ministro, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, ao coronel diretor do Arsenal de
Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea mandando passar título de liberdade ao recém-nascido
filho dos escravos da Nação Cyriaco Pereira e Joanna 2a, ao serviço do Arsenal de Guerra. Rio de
Janeiro, 13 de janeiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 515.
____. Aviso do ministro, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, ao coronel diretor do Arsenal de
Guerra, José de Vitória de Soares d’Andrea, mandando raiar na oficina de espingardeiros da fábri-
ca de armas da Conceição três mil e vinte e quatro pistolas de canos lisos de adarmes 14,8 mm. Rio
de Janeiro, 11 de fevereiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 515.
____. Aviso do Ministro, Rego Barros, ao diretor do Arsenal de Guerra, Coronel Alexandre Manoel
Albino de Carvalho, sobre diversas encomendas feitas na Fundição da Ponta da Areia. Rio de Janei-
ro, 19 de junho de 1860. Mss. ANRJ. IG7 368.
____. Aviso do ministro, Salvador José Maciel, ao diretor, João Eduardo Pereira Colaço, mandando
fornecer cantis de madeira e não de folha. Rio de Janeiro, 29 de julho de 1843. Mss. ANRJ. IG7
340.
____. Aviso do Ministro, Sebastião do Rego Barros, ao diretor do Arsenal de Guerra, Alexandre Manoel
Albino de Carvalho, sobre o requerimento do escravo da Nação ao serviço deste Arsenal, Thimóteo,
que pede a liberdade de sua filha menor de nome Alexandrina, Rio de Janeiro, 27 de setembro de
1859. Mss. ANRJ. IG7 388.
____. Aviso do Ministro, Sebastião do Rego Barros, ao Diretor do Arsenal de Guerra, Antônio João
Rangel de Vasconcellos, informando do desligamento da Companhia de Artífices do 1º Corpo de Ar-
tilharia de Posição e da criação de uma segunda companhia. Rio de Janeiro, 5 de dezembro de
1838. Mss ANRJ.
____. Aviso do ministro, Sebastião do Rego Barros, ao diretor do Arsenal de Guerra, Antônio João Ran-
gel de Vasconcellos mandando aumentar a gratificação de Manoel José Onofre, Tenente Graduado
e Construtor do Arsenal. Rio de Janeiro, 29 de maro de 1838. Mss. ANRJ. IG7 323.
____.Aviso do Ministro, José Clemente Pereira, ao Diretor do Arsenal de Guerra, José dos Santos Oli-
veira sobre o fornecimento de equipamentos e armas. Rio de Janeiro, 13 de junho de 1841. Mss. Ar-
quivo Nacional. IG7 327.
610
Bibliografia
____. Aviso reservado do ministro da guerra, Luiz Pereira da Nóbrega de Souza Coutinho, ordenando
que a Junta de Fazenda dos Arsenais do Exército, Fábricas e Fundições gratifique com duzentos mil
réis o Construtor Manoel José Onofre. Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1822. Mss. ANRJ. IG7 39.
____. Aviso urgente, do gabinete do ministro Ângelo Moniz da Costa Ferraz ao Coronel Dr. Francisco
Antônio Raposo, diretor interino do Arsenal de Guerra. Rio de Janeiro, 25 de setembro de 1865.
Mss. ANRJ. IG7 497.
____. Bilhete ao Sr. tenente coronel Antônio Pinto de Figueiredo Mendes Antas, pedindo para enviar
cópia de informação sobre requerimento do Construtor do Arsenal de Guerra da Corte, Antônio
Correa de Melo e Oliveira, pedindo um prêmio pela invenção de uma máquina de raiar artilharia.
Rio de Janeiro, 13 de maio de 1864. Mss. ANRJ. IG7 496.
____. Bilhete do ministro, Manoel Felizardo de Souza e Mello, 31 de janeiro de 1851. Mss. ANRJ. IG7
476.
____. Carta do Ministro da Guerra, Jerônimo Francisco Coelho ao ministro do Brasil em Londres,
Francisco Ignácio de Carvalho Moreira sobre compra de máquinas para o Arsenal. Rio de Janeiro,
30 de janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 15.
____. Despacho do ministro Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão no ofício do coronel diretor do
Arsenal, José de Vitória de Soares d’Andrea ao Ministro, sobre admissão de escravos. Rio de Janei-
ro, 16 de janeiro de 1863. Mss. ANRJ. IG7 25.
____. Nota da quantidade e qualidade de armamento, equipamento, pólvora e outros objetos cuja com-
pra ou ajuste se encarrega de fazer na Europa o Major de Engenheiros Francisco Primo de Sousa
Aguiar. Jerônimo Francisco Coelho, ministro da guerra. Rio de Janeiro, 12 de agosto de 1857.
ANRJ, IG7 376.
____. Nota da quantidade e qualidade de armamento, equipamento, pólvora e outros objetos cuja com-
pra ou ajuste se encarrega de fazer na Europa o Major de Engenheiros Francisco Primo de Sousa
Aguiar. Jerônimo Francisco Coelho. Rio de Janeiro, 12 de agosto de 1857. Mss. ANRJ. IG7 366.
____. Ofício da 1ª Seção da Diretoria Central, mandando fornecer peças de fardamento aos prisioneiros
de guerra Paraguaios a serviço da Escola Militar. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 8 de outubro de
1867. Mss. ANRJ, IG7 370.
____. Ofício da 3ª Diretoria, 3ª Seção, do ministério da Guerra, visconde de Camamu, remetendo cópia
de carta de John Barnett de 6 de janeiro de 1866, relativa à visita que esse fez à fábrica de armas da
fortaleza da Conceição. Rio de Janeiro, 9 de janeiro de 1866. Mss. ANRJ. IG7 350.
____. Ofício de Bernardo Joaquim de Matos, ao diretor do Arsenal de Guerra, coronel do estado-maior
de 1ª classe, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, enviando a Relação dos Africanos livres em
serviço no Arsenal de Guerra da Corte e nas Fortalezas de Santa Cruz, Villegagnon, e Ilha das Co-
bras a quem, por Aviso do Ministério da Justiça de 13 do corrente, se manda passar Cartas de
Emancipação para serem reexportadas à Costa da África. Rio de Janeiro, 20 de julho de 1857. Mss.
ANRJ. IG7 366.
____. Ofício de José dos Santos Oliveira, Sargento Mor Inspetor do Arsenal de Guerra ao ministro da
Guerra, João Vieira de Carvalho. Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1822. Mss. ANRJ. IG7 2.
____. Ofício de Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão [vice-diretor do Arsenal] à Eusébio de Queirós
Coutinho Matoso da Câmara, juiz de direito chefe de polícia, pedindo entrega de barris de água.
Rio de Janeiro, 14 de junho de 1837. Mss. ANRJ, IG720.
____. Ofício de Vicente Pereira da Costa Piragibe, da 1ª Diretoria Geral, 1ª Seção, ao Diretor do Arse-
nal de Guerra da Corte, Coronel Alexandre Albino Manoel de Carvalho, sobre maquinistas da ma-
rinha. 20 de setembro de 1862. Mss. ANRJ. IG7 498.
____. Ofício do ajudante geral da 2a Diretoria Geral da Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra,
José Maria da Silva Betancourt, ao Diretor do Arsenal, Cel. José de Vitória de Soares Andrea sobre
a pretensão do Escravo da Nação Thimoteo, ao serviço desse Arsenal. Rio de Janeiro, 11 de feverei-
ro de 1864. Mss IG7 500.
____. Ofício do Cel. Francisco de Souza, ao Brigadeiro José Manoel Carlos de Gusmão sobre encomen-
da de peças na Ponta da Areia. Rio de Janeiro, 9 de junho de 1853. Mss. ANRJ, IG7345.
611
Bibliografia
____. Ofício do chefe da 1a Seção da Diretoria Geral, Mariano Carlos de Souza Correia ao diretor do
Arsenal pedindo para informar sobre o requerimento do Escravo da Nação Cyriaco que alegando
servir desde 1842. Rio de Janeiro, 23 de novembro de 1864. Mss. ANRJ. IG7 346
____. Ofício do diretor interino, Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão ao ministro da Guerra, envi-
ando lista de operários a serem recrutados. Rio de Janeiro, 18 de junho de 1838. Mss. ANRJ. IG7
20.
____. Ofício do diretor, Brigadeiro Feliciano Antônio Falcão ao ministro M. F. de Sousa e Mello, sobre
os trabalhos feitos nas oficinas da Conceição para a conversão das armas de pederneira. Rio de Ja-
neiro, 25 de abril de 1853. Mss. ANRJ. IG7 460.
____. Ofício do diretor, ten. cel. em comissão, Francisco Antônio Raposo ao ministro da Guerra. José
Marianno de Matos, informando sobre a remessa de armas e de máquinas para a Conceição. Rio de
Janeiro, 20 de abril de 1864. Mss. ANRJ. IG7 346.
____. Ofício do mestre da oficina de espingardeiros, Francisco Soares da Silva ao diretor do Arsenal,
sobre as armas da proposta de Nathan Irmãos. s.d. [abril de 1852]. Mss. ANRJ. IG7 393.
____. Ofício do ministro, Antônio Manoel de Mello ao diretor do Arsenal, José de Vitória Soares de
Andréa. Rio de Janeiro, 19 de maio de 1863. Mss. ANRJ. IG7 392.
____. Ofício do secretário geral ao presidente do Conselho Administrativo, enviando o quadro geral dos
Corpos do Exército para quem o Arsenal de Guerra da Corte tem de fornecer artigos bélicos, na
forma a tabela de 2 de janeiro de 1848. Rio de Janeiro, 12 de maio de 1848. Mss. ANRJ. IG7 345.
____. Parecer da 1a seção, 1a diretoria geral, Carlos Antônio Pereira de Barros, 1o oficial, no impedi-
mento do chefe de seção sobre a inutilidade de requisitarem-se africanos livres para as repartições
do ministério. Rio de Janeiro, 15 de julho de 1864. Mss. ANRJ. IG7 26.
____. Portaria do Marques de Caxias, ministro da guerra ao diretor do Arsenal. Autorizando mandar
fundir na fábrica da ponta da areia as balas para as peças raiadas. Rio de Janeiro, 15 de novembro
de 1861. Mss. ANRJ, IG7 526.
____. Relação a que se refere o aviso desta data, dos artigos de guerra para as bocas de fogo ao mando
do Capitão José Thomas de Almeida Pereira Valente, que segue em comissão para Montevidéu. Rio
de Janeiro, 16 de janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 518.
____. Relação dos colonos artífices que vem a bordo do Navio – Monte Deserto. Rio de Janeiro 18 de
junho de 1838. Mss. ANRJ. IG7 323.
____. Tabela de jornais dos mestres, oficiais, mancebos e Aprendizes do Arsenal de Guerra da Corte.
Bernardo Joaquim de Matos, Oficial Maior da Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra. Rio de
Janeiro, 14 de janeiro de 1858. Mss. ANRJ. IG7 518.
____. Tabela demonstrativa dos jornais que devem vencer os mestres, contramestres e mais operários
das quatro oficinas abaixo mencionadas, aprovada por aviso desta data. No impedimento do oficial
maior, Bernardo Joaquim de Matos. Rio de Janeiro, 20 de maio de 1857. Mss. ANRJ. IG7 367.
BRASIL – Repartição do Quartel Mestre General. Conselhos administrativos para fornecimento dos
Arsenais de Guerra. Rio de Janeiro, 11 de julho de 1857. Mss. ANRJ. IG7 22.
BRASIL – Tesouraria da Fazenda do Exército no Pará. Relatório da inspeção a que, por ordem do Go-
verno Imperial, se procedeu no Arsenal de Guerra da Província do Pará. Coronel Francisco Ernes-
tino Ferreira de Araújo, Francisco Pedro Gurjão, chefe de seção da Tesouraria da Fazenda. Belém,
5 de dezembro de 1862. Mss. ANRJ, coleção Polidoro, maço 10.
BRASIL – Trono. Ofício de sua majestade ao ministro da justiça isentando os operários de espingardei-
ros, coronheiros e correeiros do serviço na Guarda Nacional nos dias de trabalho, excetuando-se os
dias em que a Guarda Nacional tiver que reunir-se em parada geral. Rio de Janeiro, 7 de julho de
1841. Mss. ANRJ. IG7 6.
CARTA de João Marcos Vieira de Souza Pereira ao oficial maior da Secretaria de Estado dos Negócios
da Guerra, Libanio Augusto da Cunha Mattos. Petrópolis, 29 de abril de 1852. Mss. ANRJ. IG7 13.
CARTA DE SESMARIA passada pelo alcaide-mor da cidade do Rio de Janeiro e donatário da capitania
de Paraíba do Sul, visconde de Asseca, Martim Correia de Sá e Benevides Velasco, ao administrador
do Trem Real, Vicente de Araújo e Silva, concedendo-lhe uma légua de terras devolutas e matos nas
cercanias do rio Macaé, fronteiras com as terras dos falecidos João Madureira Machado, do alcaide-
612
Bibliografia
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quivo Ultramarino.
CARTA do provedor da Fazenda Real do Rio de Janeiro, Francisco Cordovil de Sequeira e Melo, ao rei
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moxarife das Munições dê cumprimento a Portaria em que pede se fora entregue balas de artilharia,
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paço. S. l. (1796). Mss. Biblioteca Nacional, I – 4,2,38.
FUNCK, Jacques. Artilharia e munições que se requer da Europa para completar o que presentemente é
necessário à praça do Rio de Janeiro em 17 do mês de março do ano de 1768. Mss Biblioteca Naci-
onal, Ms 453(1).
____. Relation Generale de toutes les pieces d'artillerie de l'ammunition que se trouvent actuallement
dans le trem et sur toutes les forteresses autout le port de Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 6 de março
de 1768. Biblioteca Nacional, Microfilme Ms 453(1).
J. LEMILLE. Facture par duplicata accompagnant la marchandire fourni au Gouvernment Imperial du
Bresil par J. Lemille à Liège. Liège, 29 de juillet de 1856. Mss. ANRJ. IG7 363.
MAPA da força militar das províncias, incluindo-se o Rio de Janeiro. Sl [182_]. Supostamente 1825. Mss
BNRJ, II-30,28,001.
MINAS GERAIS – Governo. Ofício do Governador de Minas, Luís Diogo Lobo da Silva para o Secretá-
rio de Estado da Marinha e Domínios Ultramarino, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, sobre
a necessidade das Tropas Auxiliares e Milícias serem equipadas com armamento do mesmo padrão
e igual calibre, assim como haver uma uniformização dos fardamentos. Vila Rica, 24 de agosto de
1766. Mss. Arquivo Ultramarino. AHU_CU_017, Cx. 28, D. 28.
OFERTA de espingardas, de Henrique Greenwood. Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 1842. Mss. ANRJ.
IG7 390.
OFÍCIO do governador interino do Rio de Janeiro e Minas Gerais, José Antônio Gomes Freire de Andra-
de, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Tomé Joaquim da Costa Corte Real, sobre o re-
querimento do mestre do Trem do Rio de Janeiro, Vicente de Araújo Silva, solicitando pagamento
pelos serviços prestados naquela cidade. Rio de Janeiro, 20 de janeiro de 1759. Mss. Arquivo Ultra-
marino. AHU_CU_017, Cx. 55, D. 5401.
PARECER do Conselho Ultramarino sobre o requerimento do mestre do trem e carretas do Rio de Janei-
ro, João Batista, solicitando a patente no posto de tenente-general de artilharia. Lisboa, 7 de maio de
1725. Mss. Arquivo Ultramarino. AHU_CU_017, Cx. 15, D. 1644.
613
Bibliografia
PETIÇÃO de Manoel Rodrigues Teixeira para comprar cem Espingardas Inúteis das que se acham no
Depósito da Fortaleza da Conceição cujas espingardas pretende o suplicante transportar para a Costa
da África para o seu produto vir em marfim ou cera. Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1835. Mss.
ANRJ. IG7 320.
PLANO do Arsenal Real do Exército, Coronel de artilharia, Carlos José do Reis e Gama, vice-inspetor do
Arsenal. s.d. Mss. Arquivo Histórico do Exército. 04.01.576.
PLANTA da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro com suas fortificações. [1714]. Mss. Arquivo
Ultramarino. AHU_CARTm_017,D.1064.
PLANTA da oficina de ferreiros e da casa do primeiro ajudante. Ten.-cel. José Simeão de Oliveira e ma-
jor Antônio de Sena Madureira. Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1879. Mss. Arquivo Histórico do
Exército. 04.01.569.
PLANTA do Arsenal de Guerra da capital do Império do Brasil e seus arredores. Rio de Janeiro, 20 de
março de 1869. Mss. Arquivo Histórico do Exército.
PLANTA do Arsenal de Marinha, Henry Law. Mss. Biblioteca Nacional.
PORTUGAL – Desembargo do Paço. Parecer do Desembargador dos Feitos da Coroa, Joaquim de
Amorim e Castro, sobre a propriedade do forte de São Januário. Rio de Janeiro, 23 de janeiro de
1812. Mss. ANRJ. Coleção Polidoro, maço 12.
PORTUGAL – Governo Geral. PLANTA, Profil, fachada e a metade do telhado da casa, em que se fabri-
cou a pólvora na Cidade da Bahia. 1751. Mss. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. Cópia dispo-
nível no Arquivo do IPHAN.
PORTUGAL – Paço do Rio de Janeiro. Aviso do Paço para a Real Junta do Arsenal do Exército, Fábri-
cas e Fundições, Conde da Barca, mandando aprontar um parque. Rio de Janeiro, 28 de março de
1817. Mss. ANRJ. IG7 34
PORTUGAL – Rei. Provisão Régia dirigida ao Governador e Capitão Geral da Bahia, determinando
sejam premiados os oficiais da relação inclusa, que se distinguiram na luta contra os franceses que
atacaram a Coroa Vermelha nesta Capitania e castigados os que não quiseram lutar. Lisboa, 25 de
setembro de 1798. Mss. Biblioteca Nacional, II – 33,29,3.
PROJETO de um regulamento para o Arsenal de Guerra da Corte, s.d. [1845]. Quadro do Pessoal da
administração do Arsenal de Guerra da Corte, nas graduações, vencimentos, e empregos, o qual vai
anexo ao projeto do Regulamento para o mesmo Arsenal. Mss. ANRJ, coleção Polidoro, maço 7.
PROJETO para acrescentar ao Arsenal do Trem da Cidade do Rio de Janeiro. Jacques Funck, 28 de feve-
reiro de 1770. Mss. Biblioteca Nacional. Mss 49,1,27 n1-8.
PROPOSTA de Castro e Correa para o fornecimento de alimentos aos menores, e Africanos Livres, exis-
tentes no Arsenal de Guerra. Rio de Janeiro, s.d. [julho de 1843], Mss. ANRJ. IG7 340.
REFERENTE ao pessoal para defesa das Fortalezas e fortificações de Santa Cruz, São João, Laje, Pico e
Praia de Fora, Praia Vermelha, Caraguatá. s.l.n.d. [1863]. Mss ANRJ. Coleção Polidoro, Maço 10.
REINO UNIDO – Arsenal de Guerra. Ofício da Intendência do Arsenal, Thomaz Antônio de Villanova
Portugal, examinando armas e munições. Rio de Janeiro, 13 de julho de 1819. Mss. ANRJ. IG7 1.
____. Ofício de Raimundo José da Cunha Matos, coronel Vice Inspetor, ao ministro da Guerra, Thomaz
Antônio de Villa Nova Portugal, Comunicando a recepção do aviso de 2 do corrente sobre a autori-
zação de recrutamento para aumentar a cia de artífices para 140 praças. Rio de Janeiro, 11 de
agosto de 1820. Mss. ANRJ. IG7 1.
____. Prospecto para organização de uma companhia de artífices para o Arsenal Real do Exército sendo
composta de 140 praças, Raimundo José da Cunha Matos, Rio de Janeiro, 11 de agosto de 1820.
Mss. ANRJ. IG7 1.
____. Relação das oficinas que se acham estabelecidas no Arsenal Real do Exército. José da Cunha
Matos, Cel. Vice-Inspetor. Rio de Janeiro, 20 de agosto de 1820. Mss. ANRJ. IG7 1.
REINO UNIDO – Ministério da Guerra. Aviso do ministro dos negócios de estrangeiros e a Guerra.
Aviso do marquês do Aguiar à Junta de Arsenais, mandando remeter para a capitania de Minas Ge-
rais uma broca de cano de espingarda e um artífice alemão que trabalha na Real Casa das Armas
da Fortaleza da Conceição. Rio de Janeiro, 17 de abril de 1816. Mss. ANRJ. IG7 33.
614
Bibliografia
____. Aviso do ministro dos negócios estrangeiros e da guerra para a Real Junta do Arsenal do Exército,
Fábricas e Fundições, sobre novo contrato dos armeiros prussianos e envio de máquina de brocar
cano para São Paulo. Conde da Barca. Rio de Janeiro, 17 de abril de 1817. Mss. ANRJ. IG7 34.
REINO UNIDO – Ministério dos Negócios do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Aviso do
Marquês de Aguiar para a Real Junta do Arsenal do Exército, Fábricas e Fundições. Rio de Ja-
neiro, 17 de abril de 1816. Mss. ANRJ, IG7 33.
REINO UNIDO – Paço. Aviso do Paço para a Real Junta do Arsenal do Exército, Fábricas e Fundições,
Marques de Aguiar, mandando remeter quinhentas espingardas para a Capitania de Moçambique.
Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1816. Mss. ANRJ. IG7 33.
REINO UNIDO – Real Junta de Fazenda dos Arsenais do Exército, Fábricas e Fundições. Ofício da Real
junta ao Rei encaminhando lista de gêneros que se acham prontos para a capitania das Alagoas.
Rio de Janeiro, 10 de outubro de 1818. Mss. ANRJ, IG7 1.
RELAÇÃO do que se deve aos apontadores e artífices que trabalharam no forte da vila de S. Pedro do
Rio grande do primeiro de setembro de 1777 até 15 de abril de 1778 e da alteração que tem havido
até 22 de junho de 1780. Mss Biblioteca Nacional. I-28,25,32.
RELAÇÃO do que se precisa para o fornecimento do Real Trem do Rio de Janeiro, do qual se fornece
todo o continente do Rio Grande de São Pedro, Ilha de Santa Catarina, mais praças pertencentes à
mesma capitania. Manoel Francisco dos Santos, Sargento-mor intendente. Rio de Janeiro, 26 de fe-
vereiro de 1798. Mss. Biblioteca Nacional. I-31,21,40.
RELAÇÃO dos magníficos carros que se fizeram de arquitetura e fogos, os quais se executaram por or-
dem de Ilmo. e Exmo. Senhor Luiz de Vasconcelos e Sousa, Capitão General de Mar e Terra & Vice
Rei dos Estados do Brasil nas Festividades dos desposórios dos Sereníssimos Srs. Infantes de Portu-
gal Nesta Cidade do Rio de Janeiro. [Antônio Francisco Soares], 1786. Mss. IHGB, Lata 51 - Doc.
20.
RELATION et plan des ouvrages reparés et additionaux a la forteresse de Conceição fait par ordres de
son Ex.ce le Marquis vice Roi. Jacques Funck, Rio de Janeiro, 26 de abril e 1771. Mss. Cópia foto-
gráfica da Biblioteca da Marinha.
REQUERIMENTO do mestre da Ribeira, Valentim José para o rei, solicitando a realização de uma de-
vassa contra o intendente da Marinha do Pará, João António a favor da Fazenda Nacional. s.d.
[1821] Mss. Arquivo Ultramarino. AHU_CU_013, Cx. 151, D. 11654.
REQUERIMENTO dos almoxarifes dos armazéns de artilharia, pólvora e Ribeira das Naus, ao rei [D.
Filipe III], sobre um compromisso que tomaram com o galeão Santa Ana, o qual vindo de torna via-
gem no ano de 1624, se perdeu na ilha de São Jorge. [ant. 1626, Maio, 27]. Mss. Arquivo Ultramari-
no. AHU_CU_005-02, Cx. 4, D. 429.
REVISTA Geral de Artilharia e Munições que se acham ao todo no Rio de Janeiro. Ano de 1779. Jacques
Funck. Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 1780. Mss. Biblioteca Nacional. MS-453 (11).
RIO GRANDE DO SUL – Presidência da Província. Ofício do presidente de província, Francisco José
de Souza Soares de Andrea, ao Ministro da Guerra, Manoel Felizardo de Sousa e Melo, enviando as
dimensões das peças de 12 libras existentes em Porto Alegre, para manufatura de Reparos. Palácio
do Governo em Porto Alegre, 19 de novembro de 1849. Mss. ANRJ IG7 336.
SANTOS, Manoel Francisco dos. Relação do que se precisa para fornecimento do real trem do Rio de
Janeiro (...). Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 1798. Mss. Biblioteca Nacional, I-31,21,40
SERRA, Ricardo Franco de Almeida. Plano de Guerra e defesa da capitania do Mato Grosso enviado ao
governador Caetano Pinto da Miranda Monte Negro. Coimbra, 31 de janeiro de 1800. Mss. Biblio-
teca Nacionalm II-29,6,48.
SILVA, Crispim Teixeira, Sargento Mor Intendente. Relação das Obras, Munições e mais Petrechos que
se tem feito no Trem de S. Majestade Fidelíssima do Rio de Janeiro, no tempo Governo do Il.mo e
Ex.mo Sr. Marquês do Lavradio Vice Rei e Capitam General de Mar e Terra do Estado do Brasil,
continuado de 31 de outubro de 1769, até 31 de Agosto de 1776. Mss. Coleção Particular.
13.4 Legislação
BRASIL – Decreto de 21 de fevereiro de 1832. Dá Regulamentos para o Arsenal de Guerra da Corte,
Fábrica da Pólvora da Estrela, Arsenais de Guerra e Armazéns de depósitos de artigos bélicos.
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Bibliografia
BRASIL – Decreto de 25 de junho de 1831. Proíbe a admissão de escravos como trabalhadores, ou co-
mo oficiais das artes necessárias, nas estações públicas da Província da Bahia
BRASIL – Decreto de 27 de março de 1832. Extingue as Intendências da Marinha do Pará, Maranhão,
Pernambuco, e Santos, e providencia a respeito do fornecimento dos navios da Armada e dos traba-
lhos do Arsenal de Marinha do Pará.
BRASIL – Decreto de 29 de dezembro de 1837. Regulando o modo da admissão dos aprendizes menores
nas oficinas do Arsenal de Guerra, e outras disposições a respeito.
BRASIL – Decreto de 4 de dezembro de 1822. Determina que as promoções do Exército, até Coronel
inclusive, sejam gerais em cada Província e Arma.
BRASIL – Decreto nº 1.090, de 14 de Dezembro de 1852. Aprova o Regulamento para execução do § 3.º
do Art. 10 da Lei N.º 648 de 18 de Agosto de 1852.
BRASIL – decreto nº 1.127 de 26 de fevereiro de 1853. Cria a Repartição de Quartel-Mestre General, e
regula as suas funções.
BRASIL – Decreto nº 1.303, de 28 de Dezembro de 1853. Declara que os Africanos livres, cujos serviços
foram arrematados por particulares, ficam emancipados depois de quatorze anos, quando o requei-
ram, e providencia sobre o destino dos mesmos Africanos.
BRASIL – Decreto nº 1.535 de 23 de janeiro de 1855. Cria um Batalhão de Engenheiros.
BRASIL – Decreto nº 1.913, de 28 de março de 1857. Extingue o lugar de Vice-Diretor do Arsenal de
Guerra da Corte e cria em substituição o de Ajudante do Diretor.
BRASIL – Decreto nº 113, de 03 de janeiro de 1842. Dando nova organização às Companhias de Apren-
dizes Menores dos Arsenais de Guerra.
BRASIL – Decreto nº 2.555, de 17 de Março de 1860. Aprova o Regulamento para a administração geral
da fabrica de pólvora da Estrela.
BRASIL – Decreto nº 293, de 8 de Maio de 1843. Aprova o Regulamento sobre as atribuições dos Co-
mandantes das Armas.
BRASIL – Decreto nº 3.470, de 22 de Maio de 1865. Dá nova organização á Comissão de melhoramen-
tos do material do Exercito.
BRASIL - Decreto nº 30, de 22 de fevereiro de 1839. Dando nova organização ao Exercito do Brasil.
BRASIL – decreto nº 301, de 27 de maio de 1843. Aprova o novo plano da organização dos Corpos do
Exercito do Império do Brasil.
BRASIL – Decreto nº 376, de 12 de Agosto de 1844. Manda executar o Regulamento e Tarifa para as
Alfandegas do Império.
BRASIL – Decreto nº 491, de 28 de Setembro de 1847 – Autoriza ao Governo a emprestar a Joaquim
Diogo Hartley a quantia de cem contos de réis para auxiliar a sua fabrica de tecidos de algodão,
debaixo de certas condições.
BRASIL – Decreto nº 54, de 26 de Outubro de 1840. Determinando que as duas Companhias, que restam
para o completo do Corpo de Imperiais Marinheiros, sejam compostas de Operários das Oficinas do
Arsenal da Marinha, e consideradas nele destacadas.
BRASIL – Decreto nº 547 de 8 de Janeiro de 1848. Aprova a Tabela dos preços de diversos artigos de
armamento, equipamento, arreios, fardamentos e mais objetos para o Exercito e Fortalezas.
BRASIL – Decreto nº 600, de 25 de Março de 1849. Aprova o Regulamento para a organização do Cor-
po de Operários artistas do Arsenal de Guerra da Corte.
BRASIL – Decreto nº 663, de 24 de Dezembro de 1849. Cria uma Comissão de Melhoramentos do Mate-
rial do Exercito.
BRASIL – Decreto nº 677, de 6 de Julho de 1850. Concede a João Marcos Vieira de Sousa Pereira privi-
legio exclusivo por dez anos para estabelecer nesta Corte uma manufatura de calçado carioclave
com o titulo de – Imperial Manufatura de calçado carioclave á prova d'agua.
BRASIL – Decreto nº 73.605, de 8 de Fevereiro de 1974. Dispõe sobre a criação do Ministério do Exér-
cito, de Órgão Autônomos e dá outras providências.
BRASIL – Decreto nº 772 de 31 de Março de 1851. Aprova o regulamento para execução da lei de pro-
moções.
BRASIL – Decreto nº 778 de 15 de abril de 1851. Cria na Corte uma Repartição com o título de Conta-
doria Geral da Guerra.
616
Bibliografia
BRASIL - Decreto nº 782, de 19 de abril de 1851. Aprova o Plano da organização do Exercito em cir-
cunstâncias ordinárias.
BRASIL – Decreto-lei nº 3.437 de 17 de julho de 1941. Dispõe sobre o aforamento de terrenos e a cons-
trução de edifícios em torno das fortificações.
BRASIL – Lei de 18 de Agosto de 1831. Cria as Guardas Nacionais e extingue os corpos de milícias,
guardas municipais e ordenanças.
BRASIL – Lei de 24 de novembro de 1830. Fixa as forças de terra para o ano financeiro de 1831-1832.
BRASIL – Lei de 24 de setembro de 1828. Regula o fornecimento das rações de etapa do Exercito.
BRASIL – Lei de 27 de Outubro de 1831. Autoriza credito para as despesas com o concerto das mura-
lhas e outras obras do Arsenal do Exercito.
BRASIL – Lei nº 555 de 15 de Junho de 1850. Fixa a despesa e orça a receita para o exercício de 1850 a
1851.
BRASIL - Lei nº 556, de 25 de junho de 1850. Código Comercial.
BRASIL - Lei nº 939, de 26 de setembro de 1857. Fixando a Despesa e orçando a Receita para o exercí-
cio de 1858 - 1859.
ESTADOS UNIDOS – Patent Office. John H. Hall, of Portland, Maine, and William Thornton, of Wash-
ington, D.O. Improvement in fire-arms. Specification forming part of Letters Patent dated May 21,
1811.
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA – An act to provide for the erecting and repairing of arsenals and
magazines and for other purposes. 2 de dezembro de 1793.
FRANÇA – Conselho de Estado. Arrêt du conseil d'état rendu en faveur de la manufacture royale
d'armes de Charleville. 15 de dezembro de 1767. Paris: Imprimiere Royale, 1767.
FRANÇA – Rei. Lettres patentes du Roi pour l'érection de la manufacture d'armes à feu établie dans la
ville de Tulle en manufacture royale pour le servise de la Marine. Paris, 27 de dezembro de 1777.
Paris: Prault, s.d.
FRANÇA – Rei. Lettres patentes du Roi qui accordent au sieur Gau le privilège pendant 30 années, pour
l'entreprise de la manufacture d’armes blanches d’Alsace. Versailles, 20 de abril de 1765. Paris: Im-
primiere Royale, 1765.
PORTUGAL – Alvará de 15 de julho de 1763. Plano que sua majestade manda seguir e observar na
formatura e serviços dos regimentos da artilharia destes reinos.
PORTUGAL – Alvará de 1º de março de 1811. Cria a Real Junta de Fazenda dos Arsenais, Fábricas, e
Fundição da Capitania do Rio de Janeiro e uma Contadoria dos mesmos Arsenais.
PORTUGAL – Alvará de 28 de Abril de 1809. Isenta de direitos as matérias primas do uso das fabricas
e concede outros favores aos fabricantes e da navegação Nacional.
PORTUGAL – Alvará de 4 de junho de 1766, por qual sua Majestade há por bem declarar e ampliar o
outro alvará de 15 de julho de 1763, que estabelece a formatura dos regimentos de artilharia do seu
exército; ordenando que o plano que com ele baixo se observe inviolavelmente em tudo o que neste
se não acha alterado.
PORTUGAL – Carta Régia de 21 de janeiro de 1812. Manda formar na Capitania de Minas Gerais uma
escola de serralheiros, oficiais de lima e espingardeiros para se ocuparem de preparar fechos de
armas.
PORTUGAL - Carta Régia de 22 de Julho de 1811. Declara as Capitanias do Brasil para consumo da
pólvora das Reais Fábricas do Rio de Janeiro e da de Lisboa.
PORTUGAL – Carta Régia de 4 de dezembro de 1810. Manda fundar um estabelecimento montanhistico
em Sorocaba para extração do ferro das minas que existem na Capitania de S. Paulo.
PORTUGAL – Decreto de 12 de novembro de 1811. Manda estabelecer em cada um dos regimentos de
infantaria e artilharia uma oficina de espingardeiros.
PORTUGAL – Decreto de 13 de junho de 1808. Manda incorporar aos próprios da coroa e engenho e
terras da lagoa de Rodrigo de Freitas.
PORTUGAL – Decreto de 13 de maio de 1808. Sobre recrutamento para os regimentos do Brasil.
PORTUGAL – Decreto de 18 de julho de 1811. Manda desapropriar as benfeitorias da lagoa de Rodrigo
de Freitas, necessárias a Fabrica de Pólvora.
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Bibliografia
PORTUGAL – Decreto de 22 de julho de 1811. Marca o número e vencimentos dos empregados das
diferentes repartições da Real Junta de Fazenda dos Arsenais do Exército, Fábricas e Fundições.
PORTUGAL – Decreto de 24 de janeiro de 1810. Cria o lugar de diretor do Laboratório de Fogos Artifi-
ciais.
PORTUGAL – Decreto de 24 de junho de 1808. Dá instruções para o Inspetor Geral da Artilharia da
Corte e Capitania do Rio de Janeiro.
PORTUGAL – Decreto de 3 de setembro de 1810. Manda organizar uma Companhia de Artífices do
Arsenal Real do Exercito.
PORTUGAL – Decreto de 3 de setembro de 1810. Torna o Espírito Santo independente da Bahia em
termos militares.
PORTUGAL – Decreto de 31 de outubro de 1811. Comete á Real Junta do Comércio do Estado do Brasil
a inspeção do Colégio das fabricas.
PORTUGAL – Lei de 4 de dezembro de 1810. Cria uma Academia Real Militar na Corte e Cidade do
Rio o de Janeiro.
PORTUGAL – Portaria de 28 de setembro de 1813. Determina normas de isenção de recrutamento.
PORTUGAL – Regência. Alvará de 17 de dezembro de 1802. Regulamenta o provimento de postos de
oficiais superiores nas milícias.
PORTUGAL – Regimento das coisas comuns e gerais aos oficiais dos armazéns. 17 de Março de 1674.
REINO UNIDO – Carta Régia de 29 de Março de 1819. Concede á companhia de mineração do Cuiabá,
na Província de Mato Grosso privilegio exclusivo para extrair e fazer fundir ferro.
REINO UNIDO – Decisão nº 54, Guerra, 11 de setembro de 1820. Manda admitir na aula de desenho do
Arsenal de Guerra as pessoas que de seu estudo se quiserem se aproveitar.
REINO UNIDO – Decreto de 12 de agosto de 1816. Concede pensões a diversos artistas que vieram
estabelecer-se no país.
REINO UNIDO – Decreto de 13 de maio de 1810. Manda contrair um empréstimo para estabelecimento
de uma fabrica de fundição de peças de artilharia.
REINO UNIDO – Decreto de 5 de janeiro de 1818. Manda incorporar aos próprios da Coroa o Seminá-
rio de S. Joaquim e destina-o para aquartelamento das tropas.
REINO UNIDO. Carta Régia de 18 de abril de 1818. Manda criar na capitania de Mato Grosso um trem
onde se fabrique e concerte o armamento e mais objetos de uso do Exército.
REINO UNIDO. Carta Régia de 19 de fevereiro de 1819. Aprova e confirma o Estabelecimento, e Fábri-
ca de Pólvora, ereta em Vila Rica, capitania de Minas Gerais, de que são Proprietários os Sargen-
to-Mor José Bento Soares, Francisco de Paulo Dias Bicalho e outros interessados.
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