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SANTA MARIA-RS - ANO 2017 - Nº 15

AÇÃO DE CHOQUE
A FORJA DA TROPA BLINDADA DO BRASIL

BLINDADOS SOBRE LAGARTAS

ASPECTOS RELEVANTES PARA ADOÇÃO


DE UMA NOVA FAMÍLIA DE VEÍCULOS

CENTRO DE INSTRUÇÃO DE BLINDADOS


GENERAL WALTER PIRES
AÇÃO DE CHOQUE
A FORJA DA TROPA BLINDADA DO BRASIL

BLINDADOS SOBRE LAGARTAS

ASPECTOS RELEVANTES PARA ADOÇÃO


DE UMA NOVA FAMÍLIA DE VEÍCULOS

CENTRO DE INSTRUÇÃO DE BLINDADOS


GENERAL WALTER PIRES

SANTA MARIA-RS – ANO 2017 – Nº 15


ISSN 2316-2090

AÇÃO DE CHOQUE
A FORJA DA TROPA BLINDADA DO BRASIL

CONSELHO EDITORIAL Os conceitos emitidos nas


matérias assinaladas são de
COMANDANTE DO CI BLD exclusiva responsabilidade dos
Cel Ádamo Luiz Colombo da Silveira autores, não refletindo,
necessariamente, a opinião do
EDITORES CI_Bld. A revista não se
Maj Daniel Longhi Canéppele responsabiliza pelos dados cujas
Cap Fabiano Dall'Asta Rigo fontes estejam citadas. Salvo
expressa disposição contrária, é
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Cel Ádamo Luiz Colombo da Silveira parcial das matérias publicadas
desde que mencionados o autor e
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Cap Fabiano Dall'Asta Rigo com instituições nacionais e
estrangeiras. Os artigos originais
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SUMÁRIO
Editorial................................................................................................................... 5

Nova família de blindados sobre lagartas no Exército Brasileiro: uma


proposta.................................................................................................................... 6
Ten Cel Fernando Augusto Valentini da Silva
Prof. Dr. João Marcelo Dalla Costa

Nova família de blindados sobre lagartas: de tentativas nacionais reais a


uma preocupante dependência no setor de carros de combate........................... 15
Prof. Expedito Carlos Stephani Bastos

Uma análise sobre a adoção de viaturas blindadas de combate de fuzileiros


para o Exército Brasileiro...................................................................................... 39
Cel Flávio Moreira Mathias
Cap Alexandre Mendes Jonsson
Cap Gilson Juk Santos

Brasil – Fabricante de Viaturas Blindadas – Uma experiência.......................... 50


Prof. Odilon Lobo de Andrade Neto

O Futuro Carro de Combate do Brasil................................................................. 60


Maj Daniel Bernardi Annes
EDITORIAL
Caros leitores, entusiastas dos assuntos militares da Universidade
gigantes de aço, estudiosos dos Federal de Juiz de Fora.
assuntos de defesa e integrantes das Em se tratando de Viaturas
tropas blindadas e mecanizadas do Blindadas de Combate de Fuzileiros, o
Brasil, Boinas Pretas, de todos os Cel Flávio Moreira Mathias,
tempos, sejam bem-vindos à mais uma comandante de 13º Batalhão de
edição da Revista Ação de Choque. Infantaria Blindado, juntamente com os
Nesta décima quinta edição, o capitães Alexandre Mendes Jonsson e
Centro de Instrução de Blindados Gilson Juk Santos, do mesmo batalhão,
General Walter Pires sente-se honrado realizaram uma análise, enfatizando
em trazer à baila a discussão sobre um possíveis calibres do armamento
tema de fundamental importância para principal, tonelagem e outros aspectos
o futuro da tropa blindada brasileira: a relevantes, atinentes às capacidades
Nova Família de Blindados Sobre desejáveis desta viatura blindada.
Lagartas (NFBSL). Já, com relação à indústria
Nesta edição, o leitor desfrutará nacional, o Prof. Odilon Lobo de
de cinco artigos, escritos por civis e Andrade Neto, da empresa Columbus,
militares, que vivenciaram experiências e ex-integrante da Engesa S.A. abordou
profissionais diversas nos blindados, o portfólio de viaturas blindadas desta
abordando diversos assuntos e pontos empresa, com destaque para a
de vista sobre o tema. experiência do EE-T1 Osório na Arábia
Abrindo esta edição, o Ten Cel Saudita, enriquecida pela sua
Fernando Augusto Valentini da Silva, participação pessoal do autor nesta
da ECEME e o Prof Dr. João Marcelo jornada.
Dalla Costa, do Instituto Meira Matos Finalizando esta edição, o Maj
discorrem sobre uma proposta de Daniel Bernardi Annes, da 5ª Brigada
NFBSL, sugerindo três linhas de ação de Cavalaria Blindada, realizou
possíveis de serem adotadas. considerações sobre um futuro carro de
Em sequência, uma análise combate do Brasil, apresentando um
histórica das tentativas nacionais de ensaio sobre possíveis soluções para
desenvolver seus próprios blindados e a modernizar ou substituir o Leopard 1
relação de dependência estrangeira do A5 BR.
setor, escrito pelo Prof. Expedito Esperamos que todos tenham
Carlos Stephani Bastos, pesquisador de uma excelente leitura!

AÇO! BOINA PRETA! BRASIL!

ÁDAMO LUIZ COLOMBO DA SILVEIRA – Coronel


Comandante do Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires

AÇÃO DE CHOQUE 5
NOVA FAMÍLIA DE BLINDADOS SOBRE
LAGARTAS NO EXÉRCITO BRASILEIRO:
UMA PROPOSTA

Ten Cel Fernando Augusto Valentini da Silva


Prof. Dr. João Marcelo Dalla Costa
RESUMO of its family, as the engineer and
recovery vehicles. This armor family
O Exército Brasileiro realizou uma has brought great development in the
transformação em sua força blindada armor forces. However, it's
na década de 90, iniciando com a fundamental contemplate the end of the
aquisição de Viaturas Blindadas de live cycle of the current Leopard and
Combate Carros de Combate Leopard 1 think of future solutions. The actual
A1, M 60 A3 TTS e, posteriormente, já article try to debate the main questions
nos anos 2000, com o Leopard 1 referent to the adoption of a armor
A5BR. Junto com este último, tracked family to the Land Force.
chegaram algumas viaturas da sua Key-words: Brasilian Army, armor
família, como as de engenharia e tracked family.
socorro. Essa família de blindados
trouxe grande desenvolvimento nas
forças blindadas. Entretanto é
fundamental contemplar o final do INTRODUÇÃO
ciclo de vida dos atuais Leopard e
pensar soluções futuras. O presente
artigo busca debater as principais O Exército Brasileiro (EB)
questões atinentes à adoção de uma realizou uma transformação em sua
família de blindados sobre lagartas para
a Força Terrestre. força blindada a partir dos anos 1990.
Palavras-chave: Exército Brasileiro, Em 1996, iniciou a aquisição de
família de blindados sobre lagartas.
Viaturas Blindadas de Combate Carros
ABSTRACT de Combate (VBCCC) Leopard 1 A1
das Forças Armadas Belgas. O
The Brasilian Army has done a
transformation in its armor force in the aprendizado do uso da poderosa
decade of 90, starting with the
plataforma Leopard levou a posterior
purchasing of the Leopard 1 MBT, M
60 A3 TTS, and, them, in the years compra, no período de 2006 a 2013, de
2000, with the Leopard 1 A5BR. Close
considerável frota de viaturas blindadas
to this one, it has arrived some vehicles

6 AÇÃO DE CHOQUE
das Forças Armadas da Alemanha. A Wegmann GmbH&KG (KMW,
compra destas viaturas e o aprendizado fabricante da VBCCC) contemplava a
no seu uso e manutenção ao longo de prestação de serviços de assistência
mais de 20 anos consolidou a família técnica para a execução da manutenção
de blindados1 Leopard como espinha preventiva e corretiva assim como o
dorsal da tropa blindada sobre lagartas fornecimento de peças de reposição
do EB. necessários para sua execução. O
A criação do Centro de mencionado contrato foi finalizado em
Instrução de Blindados com a 2016 e um novo contrato de suporte
incorporação de simuladores fixos e logístico foi assinado com a KMW em
portáteis de alto nível e o 2017 com validade até 2027.
fortalecimento das Brigadas Blindadas A aquisição dos Leopard
– e consequentemente dos Regimentos fortaleceu sensivelmente a força
de Carros de Combate – foram blindada do Brasil e a experiência dos
consequências imediatas e visíveis últimos 20 anos utilizando a plataforma
derivadas do Projeto Leopard. Os erros Leopard permitiu ao EB aprimorar
cometidos na compra do Leopard 1 A1 processos burocráticos, aperfeiçoar a
com a falta do adequado suporte doutrina e aumentar a capacidade
logístico para fornecimento de peças de tecnológica e conhecimentos
reposição e apropriada assistência na relacionados à família de blindados
manutenção da viatura foram sanados Leopard. Entretanto é fundamental
com a assinatura de um contrato de contemplar o final do ciclo de vida dos
Suporte Logístico Integrado (SLI) sob atuais Leopard e pensar soluções
medida para os Leopard 1 A52. O futuras. O presente artigo busca debater
contrato de SLI assinado com a as principais questões atinentes à
empresa alemã Krauss-Maffei- adoção de uma nova família de
1 O conceito de família de blindados remete à blindados sobre lagartas para a Força
concepção de produção em série de dois ou
mais modelos com elevado grau de Terrestre.
similaridade e de intercambialidade entre peças
e componentes em geral. São exemplos de
famílias de blindados a família Leopard e a
família Stryker.
2 Contrato de n. 96/2011 - COLog/DMat.
AÇÃO DE CHOQUE 7
BREVE PANORAMA DA TROPA Centro de Instrução de Blindados (CI
BLINDADA SOBRE LAGARTAS Bld) e sua manutenção incluída nos
termos do SLI.
O Projeto Leopard Não obstante os óbices
enfrentados desde a chegada do
Dando continuidade à primeiro lote de VBCCC Leopard 1
modernização feita na década de 1990 A5BR até a atualidade, o Projeto
com a compra das VBCCC Leopard 1 Leopard foi implantado de maneira
A1 e M60 A3 TTS, o Projeto Leopard exitosa, consagrando a família Leopard
contemplou a aquisição de VBCCC nas Bda Bld brasileiras. A formação de
Leopard 1 A5BR3, Viaturas Blindada excelência de pessoal – tanto
Especial de Engenharia (VBE Eng), operadores quanto de manutenção – e
Viatura Blindada Especial Lança-Ponte os excelentes índices de
(VBE L Pnt), Viatura Blindada disponibilidade dos meios evidenciam
Especial Socorro (VBE Soc) e, em um o êxito do Projeto, que contribuiu para
segundo momento, Viaturas Blindadas elevar ainda mais o moral da tropa
de Combate Antiaérea (VBC Aae) blindada, perceptível pelo orgulho e
Gepard, assim como a contratação de motivação ostentados por esses
um SLI – que inclui fornecimento de militares.
componentes e serviços de manutenção
terceirizados – e o fornecimento de Frota de VBCCC dos Regimentos de
suprimentos, e pacotes de serviços Cavalaria Blindados
diversos, como instrução de pessoal e
entreposto de importação de peças4 . A A frota de VBCCC adquirida no
expressiva frota adquirida foi destinada Projeto Leopard foi destinada aos
às brigadas blindadas (Bda Bld), sendo Regimentos de Carros de Combate
a capacitação de operadores feita pelo (RCC) das Bda Bld, sendo distribuída
3 Nomenclatura conferida à padronização aos 16 esquadrões existentes, mais 4
feita nas VBCCC adquiridas pelo Brasil
(nota dos autores). carros para o CI Bld, perfazendo o total
4 Ver: Acordo de compra e venda n. de 220 carros. Dessa maneira, os
Q/T$§B/60062/6 B135/0001/2006 -
DLog/EB – Externo.
8 AÇÃO DE CHOQUE
Regimentos de Cavalaria Blindados confiabilidade, com a compreensível
(RCB) orgânicos das Brigadas de repercussão para a capacidade
Cavalaria Mecanizadas (Bda C Mec) – operativa de tais unidades, sem
então dotados com M 41 C – não foram mencionar a heterogeneidade da frota
contemplados com os novos carros. de carros do EB (Leopard 1 A5BR,
Inicialmente, foi decidido pelo Leopard 1 A1 e M 60) e seus
Estado-Maior do Exército (na 4ª inconvenientes para a logística, para a
Reunião Decisória das Viaturas formação de pessoal e mesmo para fim
Blindadas de Combate, de 19 de agosto de mobilização de reservistas.
de 2009) que a frota seria dividida
entre os RCC e os RCB, sendo que os Heterogeneidade/insuficiência de
M 60 A3 TTS que dotavam o 5º RCC Viaturas Blindadas Especiais (VBE)
foram destinados ao 20º RCB, com
sede em Campo Grande-MS, de Ainda que as VBE adquiridas no
maneira a manter os carros Leopard no Projeto Leopard tenham suprido parte
Comando Militar do Sul (CMS). No da carência da tropa blindada em
entanto, tal decisão foi revista e os viaturas especiais, faz-se necessário
RCB do CMS receberam os Leopard assinalar que tal carência ainda é crítica
1A 1 do 1º e 4º RCC, tendo sido para a Engenharia Blindada, posto que
mantida a transferência dos M 60 para cada Batalhão de Engenharia de
Campo Grande. Combate Blindado (BE Cmb Bld)
A carência de peças de recebeu apenas duas viaturas especiais
reposição – o Leopard 1 A1 foi uma de engenharia (VBE Eng e VBE L Pnt),
versão modernizada pela empresa belga quantia inferior à sua dotação
SABCA nos anos 1970 e o M 60 um doutrinária, destacando a elevada
carro cuja produção foi encerrada na dependência da tropa blindada de apoio
década de 1980 – e outros fatores de Engenharia para a função de
contribuíram para que a atual frota de combate Movimento e Manobra,
carro dos RCB tenha um baixo índice particularmente no que diz respeito ao
de disponibilidade e mesmo de movimento.

AÇÃO DE CHOQUE 9
Quanto às VBE Soc, a natureza seu meio mais nobre –
distribuição para os RCC, Batalhões dotados de VBCCC Leopard 1 A1 e M
Logísticos(4º e 5º B Log, orgânicos da 60.
6ª Bda Inf Bld e 5ª Bda C Bld
respectivamente) e CI Bld atenuou a POSSÍVEIS SOLUÇÕES
carência de meios das Bda Bld, porém
não modificou a situação atual das Bda Dentre as alternativas para
C Mec, onde as viaturas dessa natureza implantar a uma nova família de
disponíveis ainda são os antigos M blindados sobre lagartas, foram
578, fato que não apenas configura os destacadas algumas soluções possíveis,
mesmos inconvenientes logísticos e de esboçadas no quadro 01.
instrução com relação à
heterogeneidade da frota de viaturas UMA PROPOSTA
especiais dessa natureza, mas reduz a
capacidade dos B Log orgânicos de Das alternativas acima
Bda C Mec apoiar seus RCB – por destacadas, os autores propõem a

PROPOSTA/
VANTAGENS DESVANTAGENS
DESCRIÇÃO
- O fato de adquirir toda
uma família conferiria a - Se a opção for por uma família de blindados
Adquirir uma nova vantagem de poder ainda em produção, a frota a ser adquirida será
família de escolher as características significativamente cara e a entrega da frota será
blindados inteira - da frota a ser adquirida, mandatoriamente feita por lotes, posto que seria
Essa solução seria particularmente se fosse impossível fabricar a totalidade de unidades
a importação de negociada a fabricação de necessárias de uma só vez;
uma família de uma família, aos moldes - tratando-se da escolha de uma família já
blindados sobre da compra realizada pela usada, a compra ficaria condicionada à
lagarta já existente, Força Aérea Brasileira do disponibilidade de unidades (vide exemplo das
como a família caça Grippen; VBE) e à discricionariedade do vendedor, que
Leopard 2, ou a - a aquisição de tecnologia poderia se negar a vender a quantidade
negociação da poderia ser incluída na demandada, independente do preço acordado;
fabricação de uma negociação da compra; - se a escolha recair em família distinta da
família dentro dos - ao adquirir uma família Leopard, far-se-ia necessária a adaptação às
requisitos já em uso, é possível novas plataformas, processo custoso e
estabelecidos pelo aprender com a demorado envolvendo formação de pessoal,
EB. experiência do(s) aquisição de experiência e adaptação de
usuário(s) de tais infraestruturas e processos existentes.
blindados.

10 AÇÃO DE CHOQUE
PROPOSTA/
VANTAGENS DESVANTAGENS
DESCRIÇÃO
- Todo processo de
modernização é, em certa
medida, um processo
fabril, por isso essa
Modernização da
solução apresentaria a - essa solução não resolveria o problema da
frota existente.
grande vantagem de heterogeneidade da frota como um todo, i.e, a
Consistiria em
aquisição de expertise; tropa blindada brasileira permaneceria carente
submissão da frota
- teoricamente, seria uma de uma família de blindados sobre lagartas
existente a um
solução menos custosa do propriamente dita;
pacote de
que a aquisição de uma - qualquer pacote de modernização tem como
modernização, aos
frota nova, ou mesmo de restrição as características dos modelos
moldes dos
uma frota usada; existentes, que só permitem que a aplicação de
processos em curso
- não daria solução de modernizações até os limites físicos dos
com o M 113 e M
continuidade na formação modelos a serem atualizados.
109.
de recursos humanos,
mantendo-se o capital
intelectual já adquirido
com o Projeto Leopard.
- A solução nacional seria, ao menos em um
- A adoção dessa solução
Produção nacional primeiro momento, significativamente mais
fomentaria a aquisição
de uma família de custosa que suas concorrentes estrangeiras;
plena da expertise
blindados sobre - a sustentação da BID necessitaria da certeza
necessária à fabricação de
lagartas. de aquisição por parte do governo brasileiro;
modernas plataformas de
Desenvolvimento e - o desenvolvimento dos projetos e sistemas e a
combate terrestres;
produção nacionais preparação das unidades fabris para tal
- outra vantagem
de uma família, empreendimento demandaria considerável
inequívoca seria a
produzidos em quantia de tempo e recursos;
impulsão da BID nacional,
concurso entre EB, - de igual maneira, seria necessária a adaptação
indo ao encontro das
academia e Base às novas plataformas, processo custoso e
estratégias tratadas na
Industrial de demorado envolvendo formação de pessoal,
Estratégia Nacional de
Defesa (BID). aquisição de experiência e adaptação de
Defesa (END).
infraestruturas e processos existentes.
- Tal solução dependeria integralmente dos
termos em que os concedentes de licença
Produção nacional imporiam para a produção;
sob licença de uma - a produção sob licença não necessariamente
família de implicaria em transferência/aquisição de
- A fabricação sob licença
blindados sobre tecnologia, particularmente as tecnologias
pouparia os custos de
lagarta. Celebração sensíveis;
desenvolvimento e
de acordo com - ainda sob a tecnologia, a utilização da
experimentação dos
governo e expertise adquirida teria que ser condicionada à
diversos sistemas;
empresas não caracterização de pirataria ou espionagem
- essa solução poderia
estrangeiras para industrial, situação passível de sanções de
servir como um potente
fabricar sob licença diversa ordem e que, se configurada, seria
indutor para o
as viaturas e potencialmente danosa à imagem nacional no
desenvolvimento da BID.
componentes em cenário internacional;
território nacional, - embora seja uma solução teoricamente menos
valendo-se da BID. custosa, a fabricação sob licença implica em
pagamento de royalties aos concedentes da
licença.
Quadro 1: Possíveis soluções de implementação de uma nova família de blindados.
AÇÃO DE CHOQUE 11
adoção de uma solução híbrida das maior confiabilidade, uma atualização
soluções de “fabricação sob licença” e da frota de CC poderia ser feita por
“nacionalização”, sendo a plataforma meio de um pacote de atualização de
Leopard o padrão proposto da família a meia vida – mid life update (MLU) –
ser adotada (considerando-se a que ampliaria o tempo de vida útil da
quantidade de blindados da família já frota e já poderia ser uma oportunidade
em operação, a experiência e de projetar e nacionalizar alguns
capacitação de pessoal já adquiridos e a sistemas, como o substituto do EMES
confiabilidade do equipamento), nos 18 (sistema de controle de tiro do
termos descritos a seguir. Leopard 1 A5BR), podendo tal
substituto ser tanto uma cópia fabricada
Descrição sumária sob licença quanto um modelo
nacional. Mencione-se ainda que o
Adoção de uma solução que MLU poderia ser aplicado também aos
combinasse um pacote de atualização, Leopard 1 A1 remanescentes,
fabricação sob licença e nacionalização reduzindo ou suprimindo o problema
de outros itens, buscando-se o da heterogeneidade da frota de VBCCC
desenvolvimento de tecnologias dos RCB.
sensíveis (blindagem, sistema de Em razão da grande carência de
controle de tiro – SCT, comunicações, VBE na frota blindada brasileira,
sistema de gerenciamento do campo de propõe-se que mais VBE fossem
batalha – GCB), fabricando sob licença adquiridas por meio de fabricação sob
dos itens de tecnologia não negada licença, valendo-se da BID nacional,
(canhão; motor; transmissão; trens de com todas as vantagens já expostas
rolamento; sistema CANBUS, etc.) e sobre a fabricação sob licença e a
nacionalizando outros componentes. nacionalização da fabricação de partes
Considerando-se que, de toda a dos componentes.
frota em uso, os Leopard 1 A5BR Sobre as Vtr Bld M 113 BR e M
seriam os blindados com menor 109 A5, ponderando-se a extensão do
necessidade imediata de mudança e projeto de recuperação/modernização

12 AÇÃO DE CHOQUE
VANTAGENS DESVANTAGENS
- A opção proposta reúne as melhores vantagens da fabricação
- Dependência relativa de
sob licença e da nacionalização de componentes;
ingerências externas,
- solução do problema da heterogeneidade da frota de VBCCC;
nomeadamente a autorização
- possibilidade de utilização dos Leopard 1 A1 ainda disponíveis;
para a fabricação sob licença
- consolidação da família Leopard – ou de uma família similar
e a disponibilização para
derivada dessa – como a família de blindados sobre lagartas, com
comercialização de VBC Fuz
a vantagem de aproveitamento quase integral do capital
Marder;
intelectual e expertise na utilização das plataformas dessa família;
- custos elevados, ainda que
- possibilidade de utilização do sistema de armas desenvolvido ou
relativamente otimizados;
fabricado sob licença no projeto Guarani, especificamente nas
- considerável demanda de
Viaturas Blindadas de Reconhecimento (VBR) da Nova Família
tempo;
de Blindados Sobre Rodas (NFBSR), reduzindo as diferenças de
- necessidade de faseamento
formação de operadores nas tropas de Cavalaria Blindada e
do projeto, posto que não será
Mecanizada;
possível dotar todas as
- possibilidade de preparação para a plena nacionalização da
unidades em curto espaço de
produção de blindados sobre lagartas;
tempo.
- relativa otimização de custos.
Quadro 2: Vantagens e desvantagens da solução proposta.

dos M 113 BR e os recursos Vantagens e desvantagens


demandados na aquisição das
VBCOAP M 109 A5+, os autores As vantagens e descrições da
entendem que seria contraproducente, solução proposta se encontram
no atual momento de grande descritas no quadro 02.
austeridade orçamentária, realizar em
curto prazo a substituição de tais meios CONSIDERAÇÕES FINAIS
por plataformas da nova família.
Ainda, seria altamente desejável No presente artigo, os autores
que o Exército, os centros de pesquisa e expuseram uma proposta de adoção de
a iniciativa privada atuassem de uma família de blindados sobre lagartas
maneira coordenada na busca da derivada da já existente família
aquisição de autonomia nas tecnologias Leopard. A proposta baseia-se no
sensíveis previamente mencionadas, de objetivo final de desenvolvimento da
maneira que os MLU e demais capacidade de fabricação de blindados
atualizações fossem progressivamente sobre lagartas com tecnologia e meios
inseridas com tecnologia autóctone. nacionais por parte da BID.
Esse é um objetivo ambicioso,
custoso e demorado, cuja consecução e
AÇÃO DE CHOQUE 13
êxito se relacionam em grande medida seria concentrar e priorizar o
com as seguintes considerações: desenvolvimento e nacionalização das
- é recomendável que tais ações sejam chamadas tecnologias sensíveis (SCT,
estreitamente concertadas com o blindagem, GCB, comunicações etc);
Projeto Guarani, sendo tal coordenação - tal empreitada deveria
uma excelente oportunidade de mandatoriamente contar com os
obtenção de sinergia entre os dois esforços da iniciativa privada e da
projetos; academia, sendo inviável que sua
- dadas as cifras e dimensões realização seja feita exclusivamente
envolvidas, há que se traçar metas pelo EB; e
realistas e prioridades, o que - sugere-se ainda que seja aberto um
significaria que algumas unidades e até canal técnico oficial e permanente –
brigadas teriam que esperar mais que hoje o canal é ad hoc e esporádico –
outras (“pulverizar” a entrega de com uma equipe multidisciplinar
viaturas seria contraproducente para a composta por CI Bld, CAEx, CTEx e
consolidação da mudança); CA - Sul.
- é mister reiterar que o mais adequado

REFERÊNCIAS

BRASIL. Exército Brasileiro. Estado-Maior do Exército. 4ª Reunião Decisória


das Viaturas Blindadas de Combate, de 19 de agosto de 2009.

_____.Exército Brasileiro. Comando Logístico. Contrato no 96/2011.

_____._____. Departamento Logístico Q/T$§B/60062/6 B135/0001/2006 -


Dlog/EB - Externo.

14 AÇÃO DE CHOQUE
NOVA FAMÍLIA DE BLINDADOS SOBRE
LAGARTAS: DE TENTATIVAS
NACIONAIS REAIS A UMA
PREOCUPANTE DEPENDÊNCIA NO
SETOR DE CARROS DE COMBATE

Prof. Expedito Carlos Stephani Bastos


RESUMO ABSTRACT

Este artigo tem como objetivo mostrar This article aims to show a register of
um registro dos principais projetos the main projects related to armored
referentes aos veículos blindados sobre vehicles on tracks, paying special
lagartas, dando especial atenção aos attention to modernized Combat Cars,
Carros de Combate modernizados, developed and produced in the country,
desenvolvidos e produzidos no país, either in industrial scale or in the
seja em escala industrial ou chegando à manufacture of prototypes, in a period
fabricação de protótipos, num período of approximately between 1970 to
de aproximadamente duas décadas, 1990, when it was proved that it was
1970 a 1990, quando se provou que era possible to repower, modify, design and
possível repotenciar, modificar, projetar develop national armored vehicles with
e desenvolver blindados nacionais com all the difficulties initially faced by the
todas as dificuldades enfrentadas military organs and then by the national
inicialmente pelos órgãos militares e private industry that reached an
depois pela indústria privada nacional impressive, misunderstood and
que chegou a atingir um patamar abandoned level that in the following
impressionante, incompreendido e years, has made us mere users with a
abandonado, que nos anos posteriores, great dependence on the use of vehicles
nos transformou em meros usuários of this type that only tends to increase
com uma grande dependência no uso in the future.
de veículos deste tipo que só tende a Key-words: Armored on tracks;
aumentar no futuro. Combat Cars; Industrial Defense Base;
Palavras-chave: Blindados sobre National Armored Projects; Brazilian
lagartas; Carros de Combate; Base Army; Bernardini; Engesa.
Industrial de Defesa; Projetos
Nacionais de Blindados; Exército
Brasileiro; Bernardini; Engesa.

AÇÃO DE CHOQUE 15
INTRODUÇÃO nacional.
Aqui não se busca o
No momento em que se volta a saudosismo, o sonho e as frustrações,
debater o tema dentro do Exército mas sim tentar compreender a nossa
Brasileiro, buscando mais uma vez falta de visão estratégica e vontade
tentar projetar, desenvolver e produzir política, destacando que o progresso
veículos blindados sobre lagartas, ou tecnológico de uma nação é o que
simplesmente adquiri-los como determina, em grande parte, sua
compras de ocasião no exterior, capacidade econômica. Ambos
visando substituir os existentes num demonstram uma forte correlação com
prazo de 20 anos faz-se necessário a história, além de serem determinantes
lembrar, compreender e entender os para gerar os recursos que permitem
projetos que foram elaborados pela sustentar forças armadas competentes,
então Base Industrial de Defesa bem armadas e com a dimensão
Brasileira nos anos de 1980 do século necessária que garantam seus
passado, chegando muito próximo de interesses. É por essa razão que o poder
uma independência nesta área. de uma nação não pode só ser medido,
O país caminha neste momento ao longo da história, unicamente pelo
para o seu quarto ciclo, sonhando em se tamanho e competência de suas forças
tornar uma potência militar, muito armadas, mas sim pela capacidade de
embora ainda não se tenha definido se dispor também de uma base econômica
como um ator global ou regional. forte, com capacidade de produzir e de
Lembremos que o primeiro ciclo dominar setores industriais ou
ocorreu na década de 1930, o segundo comerciais necessários ao domínio e
na de 1960 e o terceiro nos anos 2000 e independência tecnológica de ponta,
continuamos a cometer os mesmos que muita das vezes não pode ser
erros, sem compreendermos o legado adquirida ou repassada em sua
deixado nas tentativas de se projetar, totalidade.
desenvolver e produzir veículos Em 1979, o então General de
blindados sobre lagartas de concepção Brigada Pedro Cordeiro de Mello,

16 AÇÃO DE CHOQUE
diretor do IPD (Instituto de Pesquisas manutenção dos cordões umbilicais à
matriz.
do Exército) proferiu uma palestra Essas empresas estrangeiras
sufocam o desenvolvimento da
muito interessante sobre a produção de tecnologia nacional, porque trazem o
“pacote” de projetos prontos, tirando a
blindados nos pais, e em seu tópico 5 – oportunidade de criação e invenção de
Produção de Blindados, e subtópico 5.1 componentes nacionais. Além disso, o
projeto nacional cria novos empregos
– As Empresas Envolvidas, ele pela total porcentagem de fabricação
no país, provocando maior
chamava a atenção para alguns desenvolvimento do nível cultural,
técnico e melhor padrão social de seu
problemas, que ainda enfrentamos: povo.
“(...) A duração do projeto de um Outrossim, só a produção total dos
veículo de combate até a aprovação do suprimentos e dos componentes dos
protótipo ou a conclusão de uma pré- carros de combate no país, permite a
série, constitui tempo suficiente para sua real independência e soberania,
desequilibrar uma empresa pelo vulto pela estruturação em termos reais de
do capital de desembolso. mobilização industrial.”
Dessa forma, pela experiência
observada no contínuo contato com o Sábias palavras que ainda não
problema durante 12 anos, propõe
algumas formas de apoio a essas se tornaram uma realidade completa no
organizações, a saber:
- Apoio à empresa nacional junto a país, dificultando em muito a
órgãos financiadores da pesquisa e
desenvolvimento, com a criação de manutenção de uma tão propalada Base
prioridade no BNDES e FINEP para
Industrial de Defesa.
financiamentos de projetos de Material
Bélico, desde que constem de Hoje sequer produzimos
programas do Estado-Maior do
Exército. munições para nossos carros de
- Prioridade de aquisição pela DMB
(Diretoria de Material Bélico) dos combate, muito embora a IMBEL
artigos provenientes de projetos
executados por programa do DEP esteja tentando viabilizar um lote piloto
(Departamento de Ensino e Pesquisa),
para quem sabe ter uma produção em
consequentemente de planejamento do
EME (Estado Maior do Exército). escala industrial no futuro.
- Proteção à empresa nacional
produtora de Material Bélico contra a Faz-se necessário analisar a
introdução de concorrentes
estrangeiros, que vem se implantar no grande interatividade entre as indústrias
Brasil como indústrias, mas na
realidade com propósitos só comerciais, nacionais e multinacionais e as Forças
com financiamentos, vantagens e apoio
Armadas que, na época, transformou o
de seus governos e anuência e apoio de
nossa estrutura. Esses projetos país num produtor de material de
estrangeiros envolvem normalmente a
introdução de conjuntos, motor e defesa para seu uso e para exportação,
transmissão importados que nunca
serão nacionalizados seja por serem de com erros e acertos, desenvolvendo
produção antieconômica, seja para

AÇÃO DE CHOQUE 17
tecnologias que, na maior parte das realidades, outras, que eram estatais,
vezes, não podiam ser compradas, pela foram privatizadas e, as maiores,
simples razão de que quem as detém privadas, simplesmente desapareceram.
não ensina a dominar seu ciclo de Poucas sobrevivem na atualidade,
produção, criando a terrível normalmente, apenas as de menor
dependência. porte.
Diversas etapas do ciclo de O histórico do desenvolvimento
projeto, desenvolvimento e produção tecnológico nacional poderia ter sido
foram exercitadas e entendidas. No muitíssimo mais bem aproveitado,
momento em que toda a cadeia de levando-se em conta que não perdemos
desenvolvimento e produção entrou em o principal de nossa capacitação: o
crise, os governantes não cuidaram de fator humano.
preservá-la. Isso inclui todo o Um fator que nos tem
conhecimento gerado por anos de impedido, além dos já mencionados, é
pesquisas e qualificação de pessoal a falta de manutenção de memória
que, da noite para o dia, se viu nacional agrupada em um único lugar,
desempregado, desamparado e lançado que seria a base prática para
à própria sorte. Nem o material foi agregarmos uma massa crítica que
mantido para uma retomada futura – a pudesse dela se beneficiar, gerando
maior parte virou papel velho – e o conhecimento juntos com os diversos
maquinário e protótipos foram órgãos militares, como IMBEL, IME,
sucateados e vendidos como ferro- CTEx, DCT, CI Bld, CAEx, e outros,
velho, sepultando um fator essencial que, em parceria com empresas
para o domínio da tecnologia na área privadas, pudessem dar continuidade
de defesa. aos projetos viáveis e à criação de
Alternativas tiveram que ser novos.
buscadas pelas empresas, para que suas Por exemplo, o Centro de
atividades não se encerrassem por Instrução de Blindados General Walter
completo. Algumas diversificaram suas Pires, em Santa Maria, RS, poderia ser
atividades, adaptando-se às novas elevado à categoria de ESCOLA DE

18 AÇÃO DE CHOQUE
BLINDADOS e nele ser agregado um impor nossas vontades e nos proteger,
MUSEU DE TECNOLOGIA mesmo que parcialmente, no futuro
MILITAR, onde reuniríamos todos os sombrio que se vislumbra nesse novo
projetos brasileiros dessa área, para que século.
servissem de base para dar Precisamos agregar, em uma
continuidade na parte doutrinária e mesma região, todos os órgãos ligados
tecnológica, evitando que vários a essa área, pois o passado nos mostra
protótipos ficassem perdidos em que o que deu certo aconteceu porque
diversas unidades, praticamente sem estavam próximos e juntos, pensavam,
função alguma, ao contrário, poderiam viviam e falavam tecnologia. Nosso
ser mais bem empregados se ajudassem erro foi afastarmos esses órgãos a partir
na formação de combatentes e de 1979, quando vários ficaram
engenheiros militares, podendo ser deslocados dos centros tecnológicos,
usados em termos comparativos com o outros foram extintos, mas, naquele
que possuímos na atualidade, visto ser momento, pensou-se em criar junto a
difícil adquirir alguns exemplares, no eles centros de excelências, o que na
exterior, de diversos modelos que nos prática, não aconteceu.
ajudassem a definir o que realmente Faltou visão estratégica e
precisamos e o que pode e deve ser vontade política, pois as alegações de
agregado à realidade vivida por nós. que “importar é mais barato” e que
Tudo o que se puder criar, “isso era coisa da ditadura”
produzir e desenvolver nessa área é de prevaleceram nos últimos anos e
vital importância para nossa somente agora estamos percebendo o
independência tecnológica em vários que realmente foi feito.
campos e constituirá uma base de
DESENVOLVIMENTO
dados e de conhecimentos
indispensáveis para que possamos
O Brasil construiu, a partir de
ocupar o nosso lugar em nível regional,
meados da década de 1960, uma
pois não basta só o poder político, se
pujante, estruturada e supostamente
não tivermos o poder militar para
duradoura indústria de material de

AÇÃO DE CHOQUE 19
defesa. Seus projetos traziam necessidades do Exército.
esperanças de que o país conseguiria se Esse grupo trabalhou junto por,
transformar em um destacado provedor aproximadamente, doze anos e foi
de materiais de emprego militar, responsável por projetos importantes
agregando tecnologia aos produtos que, concebidos no Parque Regional de
nacionais e trazendo divisas financeiras Motomecanização da 2ª Região Militar,
e conhecimentos estratégicos em São Paulo (PqRMM/2), chegaram
importantes para seu futuro como ao estágio de protótipos e foram
nação. repassados à indústria privada
Nossa indústria de defesa, após brasileira.
esse período de desenvolvimento Vale ressaltar que todos os
inicial, obteve tecnologias críticas projetos foram concebidos e
primordiais e um relativo sucesso construídos dentro do Exército, com
comercial, quando suas principais recursos gerados dentro do próprio
empresas do setor firmaram contratos PqRMM/2, o qual chegou, inclusive, a
de desenvolvimento, produção e importar canhões e torres para
exportação com diversos países latino- aprendizado e posterior
americanos, europeus, africanos e aprimoramento. Disso resultou o
asiáticos. desenvolvimento de uma família de
Posteriormente ao advento dos blindados sobre lagartas, denominadas
eventos ocorridos em 31 de março de X-1 (X-1 Pioneiro – 53 unidades
1964 e com a ideia de “Brasil Potência produzidas), versões Lança-Ponte
Militar”, no ano de 1967 foi criado um
grupo de trabalho composto por
engenheiros de automóveis, a maioria
oriunda da Escola de Engenharia do
Exército, atual Instituto Militar de
Engenharia – IME, que foram os Figura 1: Família X-1. Da esquerda para a
direita, protótipo do Carro de Combate X1A1
responsáveis por projetar blindados de Carcará; Carro Lançador de Foguetes XLF-40
concepção nacional para atender às e Carro Lança Ponte XLP-10 treinando para o
desfile de 7 de Setembro de 1976.
Fonte: Coleção Autor.
20 AÇÃO DE CHOQUE
(XLP-10 – 4 unidades construídas), 3A1 Stuart, como o foi nas versões
XLF-40 (um único protótipo), anteriores, mas que por razões
prevendo-se ainda versões Engenharia econômicas não foi levado adiante, mas
com lâmina do tipo “Buldozer”, muitos de seus conceitos foram
Destruidor de Minas, Carro Socorro empregados no X1-A2.
XCS, Defesa Antiaérea e Porta- Estes projetos visavam fazer
Morteiro (estes dois últimos frente a blindados franceses do tipo
ressurgiram na década de 1980 como AMX-13 que operavam em alguns
novos projetos do CTEx, IPD e países vizinhos.
Motopeças, sem a participação do Outro ponto que merece
PqRMM/2, chegando a fase de destaque foi o repotenciamento do M-
protótipos). A seguir desenvolveu-se o 41 Walker Bulldog de origem
X1-A1 (Carcará), versão alongada do americana que equipava os Regimentos
X1, que culminou com o X1-A2, de Carros de Combate do Exército,
produzido em série, num total de 24 desde 1960. Com a dificuldade de
unidades, uma produção pequena, mas importação de peças de reposição e
que gerou um importante aprendizado. principalmente a munição de 76 mm,
descontinuada nos Estados Unidos, este
foi sem dúvida o maior projeto de
modernização levado adiante por uma
empresa privada.
O repotenciamento do M-41
não foi o melhor e nem o pior de
Figura 2: Carro de Combate M-41B, à nossos projetos, mas foi um grande
esquerda e Carro de Combate X1-A2 com torre
nacional e canhão francês de 90 mm à direita, aprendizado e mostrou que era viável,
em 1978.
Fonte: Coleção Autor. trazendo muitos conhecimentos em
Interessante ainda destacar a áreas que sequer dominávamos e como
existência do carro de combate X-15 exemplo, cito os problemas em relação
(um único protótipo construído) que às barras de torção, que devido ao
não usaria componentes dos M-3 e M- aumento de sua traseira, estas não

AÇÃO DE CHOQUE 21
foram encontradas no mercado
internacional para aquisição, em razão
de seu diâmetro e dimensões, sendo
necessário que a Bernardini
desenvolvesse uma solução nacional
para a produção deste que foi o item
mais importante para aquele projeto, o
Figura 4: Versão final do que deveria ter sido
que foi conseguido e, se bem o M-41C modernizado pela Bernardini. Notar
as saias laterais e canhão francês Super 90
compreendido, poderia vir a ser capaz de disparar a munição cônica dummy 90
mm F4 que nunca foram aplicadas aos
utilizado em qualquer outro projeto de veículos de série, em outubro de 1985. Este
viatura blindada sobre lagartas no país. canhão foi usado num dos protótipos do MB-3
Tamoyo I.
Fonte: Arquivo Flávio Bernardini

Desta forma foi estabelecido


um marco importante para o
aprendizado geral tanto da Indústria
como do Exército, através de seus
órgãos de apoio a pesquisa. A escala de
produção permitiu que a indústria se

Figura 3: Linha de modernização do M-41 e adaptasse a um ritmo de trabalho


M-41A3 para a versão nacional M-41C na
semelhante a diversos países
Bernardini S/A Indústria e Comércio, em São
Paulo, SP. tradicionais, excetuando-se a então
Fonte: Coleção Autor
URSS e EUA, que tinham produções
Esta modernização não
de blindados sobre lagartas em escala
envolveu apenas os aspectos
muito maiores. Aproximadamente 350
automotivos, como a troca de motores
M-41 foram repotenciados pela
a gasolina por um diesel. Naquele
Bernardini, a qual criou um kit de
momento era fundamental que os
modernização que foi testado no
motores e o máximo de suprimentos
exterior nos anos de 1987 e 1988, em
necessários a estes blindados fossem
países como Dinamarca, Tailândia,
adquiridos no Brasil, dando preferência
Taiwan e Uruguai.
às indústrias brasileiras.

22 AÇÃO DE CHOQUE
Conheceu, em detalhes, lado a busca-se melhorar suas características.
lado, outras modernizações de Aqui no caso, o carro de combate M-
concorrentes, como Estados Unidos, 41, através da troca de conjuntos
Alemanha, Canadá e Israel e mostrou considerados desatualizados, mantém
que possuía capacidade para esta os itens ainda considerados
realização, num mercado extremamente satisfatórios ou de difícil substituição.
competitivo, o qual ficou incomodado. Desta forma consegue-se a
Pelo simples fato de ter modernização, com um custo muito
participado destas concorrências, aquém da aquisição de um novo
surgiram mais ideias e sugestões que substituto, além de contar com algumas
foram incorporadas a este projeto vantagens adicionais como o
nacional. Essas ideias geraram o que aproveitamento da cadeia de
chamamos de “Carro Padrão”, que foi a suprimento; menores demandas em
ultima versão dos M-41 modernizados treinamento de pessoal operacional;
no Brasil, com todos os seus erros e continuidade em processos de
acertos, possibilitando assim termos na manutenção e um grande aprendizado
prática a real dimensão para que, se bem compreendido e elaborado
empreendimentos desta natureza. Esse pode ser de grande importância para a
fato inédito no país ajudou ainda a interação entre Forças Armadas e
desenvolver novos projetos, alguns até empresas privadas ou públicas,
ambiciosos, mostrando que era possível trazendo um grande conhecimento
manutenir, repotencializar e criar novos tecnológico que pode muito bem ser
veículos blindados sobre lagartas, o que aproveitado para alçar voos maiores,
muito contribuiu para o chegando inclusive a desenvolver um
desenvolvimento da indústria projeto totalmente novo, mais moderno
brasileira, voltada para a área de e complexo.
defesa. Entretanto, mesmo com todas
Precisamos levar em conta que as adversidades conseguimos e
o repotenciamento possui como aprendemos na prática que projetos de
premissa principal a economia, pois repotenciamento, na maioria das vezes

AÇÃO DE CHOQUE 23
são mais desgastantes para a mantendo agregado todo o
Engenharia que projetos novos, seja conhecimento que foi necessário para
pelos limites de espaço, lay-out e desenvolver produtos numa área tão
resistência mecânicas que são inerentes vital para o país como a Defesa.
por estarmos trabalhando em algo já Nesta nova fase, o elo, entre o
produzido e dimensionado para aquela Exército e as empresas nacionais, veio
versão, seja por diversos problemas a através das ideias avançadas do então
serem solucionados. Na maioria dos diretor do Instituto de Pesquisas e
casos, praticamente foram totalmente Desenvolvimento do Exército (IPD),
refeitos, e até mesmo criadas novas General Argus Fagundes Ourique
soluções para atender os desafios que Moreira, Engenheiro Militar
iam surgindo. Eletrônico, formado pela primeira
Sem dúvida, isto foi conseguido turma do IME, no Rio de Janeiro, esse
com o repotenciamento do M-41 oriundo da fusão da Escola Técnica do
original americano, transformado em Exército e do Instituto Militar de
M-41C, brasileiro, com todos os seus Tecnologia, em 1959.
erros e acertos neste trabalho, muitas Muito antes da criação dos
vezes incompreendido e visto como um Requisitos Operacionais Básicos –
grande gerador de problemas, mas nos ROB e Requisitos Técnicos Básicos –
trouxe e nos deu uma grande dimensão RTB, os quais seriam posteriormente
do que era manutenir, criar e criados pelo CTEx e Estado Maior do
desenvolver um carro de combate. Exército, havia neste uma grande
Devido à todo este aprendizado, preocupação com os novos carros de
chegamos muito próximo dele, com combate TAM (Tanque Argentino
projetos distintos de empresas como a Mediano), que estavam sendo
Bernardini com seu Tamoyo III e a adquiridos pelo nosso vizinho do sul,
Engesa com seu EE-T1 Osório que, por da então República Federal da
muito pouco poderia nos ter dado uma Alemanha, os quais haviam sido
grande independência tecnológica e oferecidos ao Brasil, alguns anos antes,
grandes lucros em nossas exportações, mas não aceitos, e teriam, naquele país,

24 AÇÃO DE CHOQUE
uma produção local, armados com Bernardini os de lagartas e à Avibrás os
canhão de 105 mm, muito moderno, foguetes e seus respectivos lançadores,
para a época. cabendo ainda alguns modelos sobre
O melhor carro de combate do lagartas para transporte de pessoal e
Exército era o M-41 Walker-Bulldog, algumas variantes desse, à Motopeças,
com canhão de 76 mm, que se o que não seria cumprido por uma
encontrava em processo de delas.
modernização pela Bernardini S/A, de A partir de especificações
São Paulo e que seria convertido para técnicas, emitidas pelo Exército
90 mm. Brasileiro, foi mostrado o que se
Assim, surgiu a viabilidade de pretendia, no sentido de desenvolver
conceber um carro de combate nacional em conjunto com empresas privadas,
médio, que pudesse fazer frente a esta um Carro de Combate Médio para
“ameaça”, e que fosse adequado para o equipar as unidades blindadas
Exército, principalmente, em termos de brasileiras, de forma a depender o
custos, visto que o orçamento sempre mínimo possível do exterior.
foi minguado, sendo este um grande Partindo dessa premissa,
projeto do recém-criado Centro procurou-se então desenvolver um
Tecnológico do Exército – CTEx, em Carro de Combate com peso não
parceria com uma empresa privada, no superior a 30 toneladas, dimensões
caso a Bernardini S/A Industria e compatíveis com nossa realidade,
Comércio, em 1979, no projeto principalmente, em função da malha
denominado Tamoyo. ferroviária, e com índices de
Nessa época, havia sido nacionalização o mais elevado
estabelecido um “acordo de possível, cuja denominação inicial foi
cavalheiros”, entre os três fabricantes X-30 (X = protótipo, 30 = peso em
nacionais de material militar terrestre e toneladas).
o Exército, nada escrito, mas que ficou Na prática, identificou-se que o
assim combinado: à Engesa caberia a maior problema seria a fabricação das
produção de blindados sobre rodas, à caixas de transmissão destes carros,

AÇÃO DE CHOQUE 25
optando-se por escolher a CD-500 testes, um exemplar e prestou todo o
Allison para o seu X-30, apoio técnico para isso).
posteriormente denominado de Tamoyo Foi ainda selecionado um
I, a mesma do M-41, já conhecida. sistema de pontaria (giro da torre e
O Exército havia decidido pelo elevação do canhão) totalmente
uso de um canhão derivado do usado elétrico, e que foi especificado pela
no M-41, mas com tubo fabricado para Bernardini e construído pela Themag
uso com a munição de 90 mm da Engenharia e de professores da USP. A
família F-4 francesa. Foram suspensão contava com barras de
construídos vários protótipos e torção em aço 300M, fabricados na
avaliados com sucesso, inclusive Bernardini com aço brasileiro da
Retex, tanto que foram importados Eletrometal (fruto da necessidade
1.000 tiros de munição APDSFS da criada no projeto M-41C).
França, bem como dois freios de boca O contrato foi firmado entre o
do mencionado canhão F-4, o qual foi Exército e a Bernardini prevendo-se a
adaptado aos canos dos canhões dos compra de sete protótipos do Tamoyo I,
protótipos dos Tamoyo I, e, posteriormente reduzido a cinco, em
posteriormente, nacionalizado e função de orçamento, e destes três
também utilizado com êxito. foram construídos, um quarto ficou
O motor das versões I e II foi o parcialmente e o quinto nunca foi
DSI-14 Scania, fabricado em São completado. No total contando o
Bernardo do Campo. Motor diesel V8 Mock-up mais o Tamoyo II e III, temos
com Intercooler e cerca de 550 hp. Vale sete veículos.
salientar que a versão II foi O Tamoyo II foi um verdadeiro
desenvolvida por conta e risco da banco de provas que possibilitou a
Bernardini, utilizando uma caixa de Bernardini, novamente por conta e
transmissão hidromecânica GE HMTP- risco chegar a versão Tamoyo III, pois
3, que era uma evolução das utilizadas a empresa chegou à conclusão que as
na família IFV/ICV Bradley americana. especificações pedidas pelo Exército,
A General Electric cedeu, a título de para a versão I, estava aquém para

26 AÇÃO DE CHOQUE
atender ao mercado internacional, e Militar “E”, como se fosse um veículo
como forma de suprir estas deficiências estrangeiro que poderia ser avaliado
foram realizadas as seguintes como qualquer outro, pois alegavam
modificações, em sua concepção: 1 – que utilizava muitos componentes
Canhão de 105 mm L7 OTAN; 2 – importados, e os custos da avaliação
Torre estabilizada; 3 – Computador de deveriam ser arcados pelo fabricante,
tiro; 4 – Motor DDA 8V92TA com 750 selando o fim do projeto em 24 de
hp; 5 – Caixa de transmissão Allison julho de 1991.
CD 8506A ou GE HMTP-3; 6 – O projeto do Tamoyo estava
Blindagem composta e espaçada; 7 – integrado, diretamente, ao do
Munição compartimentada; 8 – Sistema repotenciamento do M-41 e ao
de proteção de explosão e incêndio desenvolvimento da Viatura Blindada
automático na torre. de Transporte de Pessoal – VBTP –
Charrua, visando a formação de uma
família de blindados, com um suporte
logístico integrado, tanto que havia
sido previsto, sobre o mesmo chassi,
um carro de combate Engenharia, com
lâmina do tipo “Buldozer”, um veículo
Figura 5: Tamoyo III, com canhão L7 A3 de
105 mm, com a torre redesenhada e construída lançador de ponte e um socorro, mas
em aço e material composto, na Festa da
Cavalaria, no Rio Grande do Sul, em 10 de que nunca foram desenvolvidos.
Maio de 1987.
Fonte: Arquivo Flávio Bernardini. Ficou também estabelecido que
Este projeto não era uma mera fosse feito um novo ROB (Requisitos
aventura, como muitos pensam ao falar Operacionais Básicos) para uma VBC
do projeto Tamoyo como sendo um M- (Viatura Blindada de Combate) CC
41 melhorado, ele era muito mais, (Carro de Combate), bem como seria
embora não fosse compreendido, acelerado o processo de levantamento e
poderia ter sido o Blindado Nacional recebimento do acervo do Exército
com sua versão III, classificando-o na Brasileiro, relativo a esse projeto, que
categoria de Material de Emprego se encontrava com a empresa

AÇÃO DE CHOQUE 27
Bernardini e informar a diversos órgãos era o caso da blindagem composta,
que os itens importados, espaçada na torre (face) e na frontal do
temporariamente sob responsabilidade chassi, além de uma proteção especial
da Bernardini S/A, não mais sob o motorista. Outra inovação foi ter
interessavam ao Exército Brasileiro, conseguido acoplar um canhão L7A3
tendo os mesmos sido devolvidos a de 105 mm (novidade para a época,
seus países de origem. bastando apenas olhar o número do
O desenvolvimento do Tamoyo canhão que é 001), de baixo recuo,
custou US$ 7,5 milhões, até seu num Carro de Combate de apenas 31
lançamento como protótipo, em 1984, toneladas. Esse canhão, fabricado pela
envolvendo 71 engenheiros. Parte do Royal Ordnance em Nothingham,
dinheiro veio do próprio Exército, para Inglaterra, atirava todas as munições
a chamada versão I, visto que o II era OTAN, inclusive flecha de tungstênio
apenas um banco de provas que junto ou urânio exaurido. Possuía tubo
com o III, consumiram mais US$ 4.39 autofretado similar ao usado no projeto
milhões, arcados em grande parte pelo do T-55, T-62 upgunning. O
fabricante. comprimento do recuo é de 450 mm e a
sua força de 28 toneladas, nos
munhões, permitindo um tiro altamente
preciso, estável e confortável, para um
veículo de seu peso.
Para fabricá-lo no país, seria
necessário desenvolver a autofretagem.
Figura 6: O Tamoyo III, como se encontrava Os demais equipamentos iniciais
em novembro de 2013, aguardando um
comprador, ao invés de ser preservado para estavam na Bernardini.
estudos futuros.
Fonte: Autor
A suspensão, com barras de

O curioso no Tamoyo III era torção de aço 300M (usado no M-1

que, em alguns itens, ele estava bem à Abrams), amortecedores hidráulicos e

frente do EE-T1 Osório, embora finais de curso hidrocinéticos (igual ao

fossem dois conceitos distintos, como Leopard II), motor diesel de 750 hp,

28 AÇÃO DE CHOQUE
podendo chegar a 900/1000 hp, com 35 de competir com que havia de mais
hp/ton. Possuía um sistema contra moderno no mundo, baseado na tríade
explosões no chassi e torre, com Poder de Fogo, Proteção e Mobilidade,
detectores óticos, além de um o grande desafio até mesmo para os
magazine na torre, em compartimento países mais desenvolvidos no mundo.
blindado à prova de explosões, bem Inicialmente pensou-se em
como grade traseira de desenho parcerias; os alemães nos ofereceram o
“Chevron”, com saída de gases do seu Marder (Thyssen-Henschel), com
escapamento misturando aos gases da canhão de 105 mm, com o nome de
combustão, para baixar a assinatura Leopard 3, que no vizinho país tornou-
térmica. se o TAM. Pensou-se também em fazê-
O conceito do Tamoyo III ainda lo com outra empresa alemã, a Porsche,
é moderno para os padrões atuais e seu mas não houve receptividade por parte
conceito e manutenção do protótipo do governo alemão e finalmente
permitiria uma retomada futura para o tentou-se uma parceria com a Armscor,
desenvolvimento de um Carro de para blindagem, que, em razão dos
Combate Nacional, servindo como problemas internos da África do Sul,
banco de estudos para as novas também não foi possível.
gerações de Engenheiros Militares que A solução encontrada foi
poderiam ver, na prática, a desenvolver um projeto próprio,
complexidade que é desenvolver um agregando-lhe o que de mais moderno
carro de combate, apto para nossa existia no mercado, optando-se por
realidade e necessidade. fazer dois modelos, um para uso
Outra empresa brasileira, a interno e outro para exportação,
Engenheiros Especializados S/A – nascendo dessa forma, a ideia de um
ENGESA optou por desenvolver outro Carro de Combate com canhão raiado
projeto para um Carro de Combate de 105mm (L7/M68) e outro de alma
Nacional, trilhando outro caminho com lisa, com um de 120mm (GIAT G1),
a premissa de construir um carro para exportação, cada um deles com
moderno, sofisticado e com capacidade seu grau de optrônicos e demais

AÇÃO DE CHOQUE 29
equipamentos, que recebeu a engenheiros dessa área, Gerald Cohron
designação de EE-T1, posteriormente e Alan Petit, e a partir desses estudos
agregando o nome Osório, em cogitou-se em desenvolver o que se
homenagem ao patrono da cavalaria chamou de blindagem bimetálica, cujo
brasileira. Já a versão da Arábia conceito previa grande dureza externa e
Saudita recebeu o nome de Al Fahd, grande maneabilidade interna,
nome de seu monarca. produzida na Usiminas e trabalhada
O início do projeto surgiu em pela Eletrometal.
1982, utilizando o então sofisticado No caso das torres,
programa dos grandes computadores encomendaram-se duas, nos
CAD/CAM, e iniciando-se em 1983 a respectivos modelos, para canhões de
construção em tamanho real de um 105 mm e 120 mm, intercambiáveis
mock-up e, a seguir, a construção do entre elas, à empresa inglesa Vickers
chassi pioneiro, que rodou pela Defence System, que as utilizou
primeira vez em setembro de 1984, também num modelo experimental
batizado com cachaça. denominado Mark 7, mas que não
A seguir, passou a ser foram produzidos em série.
submetido a severos testes, num campo Outros itens foram importados,
de provas da própria empresa, como a suspensão hidropneumática
recebendo a designação de P.0. Uma Dunlop, as lagartas Dhil, motor MWM,
torre e canhão falsos foram-lhe transmissão ZF, da Alemanha,
incorporados, para mostrar o mais real periscópios com visão noturna,
possível como seria sua configuração, telêmetro laser e computador de tiro
recebendo pintura camuflada e OLP da Bélgica, enfim, o que de mais
emblemas do Exército Brasileiro. moderno havia no mercado.
Como não dominávamos itens A primeira torre chegou ao
importantes, como blindagem e torre Brasil em maio de 1985 e foi
com seus optrônicos, em especial, imediatamente acoplada ao chassi do
optou-se no caso da blindagem por veículo, que recebeu a designação de
contratar serviços de dois renomados P.1. Após exaustivos testes, ele foi

30 AÇÃO DE CHOQUE
embarcado em um avião 747 Jumbo de se mantiveram, sendo um para o
carga e levado para a Arábia Saudita, Exército Brasileiro e outro para o
em julho do mesmo ano, para participar Exército Saudita, e os testes oficiais,
de uma avaliação para a escolha de feitos pelo Exército Brasileiro, com a
concorrentes para uma grande licitação, versão armada com canhão de 105 mm,
que previa a compra de tiveram início em 16/12/1986 e término
aproximadamente 800 carros de em 14/04/1987, geraram dois
combate, que poderia se desdobrar em relatórios, o RETEx (Relatório Técnico
outras vendas a diversos países da do Exército) e o RETOp (Relatório
região. Técnico Operacional), ambos emitidos
Os objetivos principais da pelo Exército Brasileiro e sendo muito
empresa Engesa eram mostrar que de favoráveis.
fato, existia um carro de combate
brasileiro e que havia capacidade de
aprimorá-lo para desempenho naquele
tipo de terreno, característico de
deserto.
O veículo impressionou as
autoridades sauditas que, além dele, Figura 7: Protótipo P-1 do EE-T1 Osório,
versão Exército Brasileiro, realizando testes de
escolheram mais três, para participarem homologação, realizado na Fazenda Ipanema
da concorrência que ocorreria em 1987, em Sorocaba, SP, no período de 16/12/1986 a
14/04/1087.
sendo eles o AMX-40 da França, o Fonte: Coleção Autor.

Challenger da Inglaterra e o M-1 A1 Esses testes compreenderam


Abrams dos Estados Unidos. percorrer 3.269km, sendo 750 deles no
Sem dúvida, foi uma grande Campo de Provas da Marambaia, em
vitória para o produto brasileiro, vindo terreno arenoso, no Rio de Janeiro, para
de um país sem tradição alguma nessa avaliarem a mobilidade do carro.
área e podendo competir com o que de Dispararam 50 tiros de 105 mm, nesse
melhor havia naquele momento. mesmo campo, para avaliação da torre
A partir daí, os dois protótipos e de seus equipamentos.

AÇÃO DE CHOQUE 31
O Carro de Combate EE-T1 SFIM, do atirador com visão diurna e
Osório surpreendeu os militares telêmetro laser, sendo que para o
brasileiros, gerando grande empolgação comandante o periscópio era
e esperança de ver as unidades panorâmico (360º) com os mesmo
blindadas equipadas com ele, no futuro. recursos do atirador. Já na parte de
Nesse período, foi construído o visão e tiro noturno, optou-se por um
P.2, que incorporava todos os itens para modelo PHILLIPS USFA, holandês,
exportação exigidos para a com infravermelho e monitores de
concorrência na Arábia Saudita, no ano televisão para o comandante e atirador.
de 1987, e Abu Dhabi, em 1988. Os controles de tiros eram da
MARCONI.
Sua sofisticação era tal que
usava uma “janela de coincidência”,
que analisava a posição do canhão e a
mira do atirador, permitindo que ele só
Figura 8: Protótipo P2 do EE-T1 Osório disparasse se durante as oscilações o
realizando testes na região de Sharourah, na
Arábia Saudita, em 1987, com canhão GIAT seu alinhamento fosse coincidente com
120 mm, onde participou de uma concorrência
ao lado dos carros de combate M-1 Abrams o dos periscópios, o que permitia
(USA), AMX-40 (França) e Challenger
(Inglês), surpreendendo.
grande acerto no primeiro tiro. Seu
Fonte: Coleção Autor chassi era monobloco soldado,
Na versão P2, estava previsto composto por chapas blindadas
um canhão de 120 mm Rheinmetall, monometálicas e bimetálicas
mas, devido às dificuldades impostas estruturais, com aplicação de
pelo governo alemão, optou-se pelo blindagem composta no arco frontal,
modelo francês, tendo sido descartado projetado com pequenos ângulos de
o modelo inglês, em razão de ser raiado incidência e baixa silhueta para
e sua força de recuo ser incompatível maximização da proteção balística.
com o Osório, que pesava 42 ton, Externamente, possuía saias
optando por um de alma lisa, que mais laterais em aço blindado, para proteção
se adaptava ao projeto. das lagartas e sistemas da suspensão. O
Os periscópios eram franceses
32 AÇÃO DE CHOQUE
monobloco foi dividido em A designação P.1 e P.2 foi dada
compartimentos para tripulação e apenas para diferenciar o Protótipo 1
power pack, separados através de uma com canhão de 105mm (versão
parede corta-fogo e estrutural, com Exército Brasileiro) e Protótipo 2, com
isolamento térmico/acústico. O canhão de 120mm (versão exportação,
compartimento do power pack possuía no caso Arábia Saudita), vale comentar
três tampas em aço blindado que o nome do carro sempre foi EE-T1
bimetálico, permitindo fácil acesso, Osório ou Al Fhad; muito embora tenha
com aplicação de grades balísticas em sido cogitado o nome EE-T2 para o P.2,
suas entradas e saídas. isso nunca foi formalmente
Sua suspensão era composta de oficializado, sendo, às vezes, usado na
seis unidades hidropneumáticas de cada empresa por parte do pessoal.
lado, dispostas externamente ao Em 2002, foi formalizado o
monobloco. O sistema de freio, leilão dos dois Osórios, que se
inovador, combina a atuação de um encontravam na massa falida da Engesa
retardador integrado à transmissão com desde 1993, avaliados pela incrível
o conjunto freio hidráulico principal e quantia de R$400.000,00,
de emergência, comandado (quatrocentos mil reais), e que tiveram
automaticamente por um micro um pretendente que pagaria pelos dois
processador eletrônico, que R$300.000,00 (trezentos mil reais); só
considerava a velocidade do veículo e a para se ter uma ideia, a Engesa gastou
desaceleração desejada, cinquenta milhões de dólares para
proporcionando uma frenagem desenvolver todo o projeto do Osório e
constante e eficaz. Possuía, ainda, um cada carro, após ficar pronto, seria
sistema de freio hidráulico de vendido na faixa de US$2,5 milhões.
emergência, independente do principal, Mas após uma mobilização feita
que opera sempre que este apresente através do portal defesa@net e que foi
algum tipo de pane, e um sistema de noticiada pelo jornal Folha de São
freio de estacionamento, de Paulo, as autoridades foram
acionamento manual. sensibilizadas e esse processo foi

AÇÃO DE CHOQUE 33
revertido, e no ano de 2003, os resolver problemas de gestão que
blindados “Osório” foram oficialmente continuam a ser nosso calcanhar de
entregues e entronizados no então 2º Aquiles.
Regimento de Carros de Combate de
Pirassununga, garantindo, dessa forma, CONCLUSÃO
sua preservação, não só para as
gerações futuras, que poderão ver esse A partir do momento em que a
tributo à capacidade tecnológica indústria de material de defesa no
brasileira, mas também como Brasil entrou em colapso, nos anos de
parâmetro para melhor compreensão e 1990, a produção de carros de combate
desenvolvimento futuro da arma não conseguiu ir adiante; suas
blindada no Brasil. Na atualidade o P1 empresas nem mais existem e sequer
encontra-se preservado no Museu nos preocupamos em preservar todo o
Conde Linhares no Rio de Janeiro e o conhecimento ali desenvolvido,
P2 no Centro de Instrução de Blindados voltando a importar não só Carros de
“General Walter Pires”, em Santa Combate de segunda mão dos Estados
Maria, RS. Unidos e Europa, que num primeiro
Um país que chegou a possuir momento nos trouxe uma nova
uma Base Industrial de Defesa, num realidade, seja no seu emprego, suporte
passado não muito distante, logístico, treinamento e motivação para
conseguindo desenvolver diversos a tropa blindada, a custos baixos para
modelos de veículos blindados, sobre compra e altíssimos para manutenção e
rodas, inclusive para exportação, e até que irão durar por mais dez a quinze
mesmo alguns sobre lagartas, incluindo anos e depois serão sucateados como
seriados e protótipos, deveria investir tem sido feito, sem nos deixar qualquer
mais em sua capacidade industrial e transferência de tecnologia.
num projeto de médio e longo prazo Ocorre que tudo isto tem um
para desenvolver um carro de combate tempo de vida útil e nem sempre os
nacional, com uma política realista de contratos nos são favoráveis, pois
Estado de longo prazo, e aprender a sempre partimos da premissa de

34 AÇÃO DE CHOQUE
optarmos pelo possível, face a produtos acabam absorvidos ou até
impossibilidade de executarmos o anulados pelo comprador, que os vê
desejável. como concorrentes. Isso é preocupante.
Hoje estamos mais uma vez Dominamos fragmentos de
debatendo sobre qual modelo de conhecimentos, que, na maioria das
família de blindados sobre lagartas vezes, não se encaixam no conjunto do
poderia vir a mobiliar nossas unidades, que está sendo desenvolvido. Em
sem ter aprendido com o nosso passado muitos casos, prestigiamos a indústria
recente, sem perceber que muitas das estrangeira em detrimento a nacional,
soluções lá se encontram, bastando adquirindo itens que poderiam muito
apenas sistematizá-las, compreendê-las bem ser desenvolvidos e fabricados,
e executá-las, aprendendo com todos os localmente, claro que com os
nossos erros e os poucos acertos investimentos e a garantia de compras
daquele período. mínimas, até porque os empresários
Tentamos criar conglomerados vivem de lucros, e não da crença de
de defesa que reúnem empresas sem ajudar a nação.
tradição nesse campo, embora Importamos equipamentos
excelentes em outros. Tais companhias usados ou novos, a baixo custo, tudo
acabam se associando a conglomerados como compras de ocasião, mas com
estrangeiros especializados na área, que extensos contratos de manutenção, que
querem vender seus produtos, e não não agregam transferência de
nos ensinar a fazê-los. O risco é tecnologia, um modismo na atualidade.
continuarmos cada vez mais na terrível Pelo contrário, nos tornam meros
dependência em que estamos nesta usuários destes produtos, até que, uma
área, tão vital para nosso futuro. Nada década depois, já obsoletos, eles sejam
contra parcerias, que são até bem descartados, pura e simplesmente.
vindas. Ocorre que empresas Compramos, em muitos casos, para
estrangeiras estão adquirindo pequenas atender ao momento, bastando ver o
empresas brasileiras de importância que foi feito nos grandes eventos
estratégica, mas seus projetos e recentes. Os prazos para as aquisições

AÇÃO DE CHOQUE 35
necessárias são curtos e impedem que a italianos e nos fartamos de
indústria nacional e os centros de equipamentos americanos, a partir de
pesquisas civis e militares deem as 1941, em plena Segunda Guerra
respostas de que tanto precisamos na Mundial. Mas chegamos perto de ter
área de defesa. uma independência importante, nas
Estamos nos transformando em décadas de 1980 e 1990, sem
meros usuários, como fazemos desde aprendermos muito, o que é frustrante.
1919, ao adquirirmos os nossos Tecnologia não se compra,
primeiros carros de combate da França desenvolve-se, ou você possui e
e incorporá-los, em 1921. Os domina ou se torna dependente.
consolidamos, em 1938, com os

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38 AÇÃO DE CHOQUE
UMA ANÁLISE SOBRE A ADOÇÃO DE
VIATURAS BLINDADAS DE COMBATE
DE FUZILEIROS PARA O EXÉRCITO
BRASILEIRO

Cel Flávio Moreira Mathias


Cap Alexandre Mendes Jonsson
Cap Gilson Juk Santos
RESUMO frota brasileira, o que geraria impactos
logísticos e doutrinários. Da análise
Este artigo tem por finalidade realizar realizada, a VBC Fuz poderia dispor de
uma análise sobre a adoção de Viaturas um canhão de 30 mm, uma
Blindadas de Combate de Fuzileiros metralhadora 7,62mm e, se possível,
(VBC Fuz) para o Exército Brasileiro um míssil anticarro. Ter um peso de
(EB). Face a evolução da arte da cerca de 25 ton e uma relação
guerra, o EB tem investido em peso/potência mínima de 20hp/ton. É
capacitação de pessoal e na aquisição importante manter a capacidade de
de novos materiais de emprego militar. transporte de nove homens,
Os blindados surgiram ao final da I possibilitando flexibilidade e poder de
Guerra Mundial e ainda permanecem combate tanto em terreno aberto,
como protagonista nos campos de quanto urbano.
batalha. A integração de fuzileiros e Palavras-chave: infantaria blindada;
carros de combate, na composição de Viatura Blindada de Combate de
Forças Tarefa, agrega flexibilidade e Fuzileiros; VBC Fuz; Exército
poder de fogo a essas tropas. A partir Brasileiro.
da década de 1960, entraram em cena
as VBC Fuz, em substituição às VBTP, ABSTRACT
agregando maior potência de fogo e
maior capacidade de combate This article aims to analyze the
embarcado. Essa tendência ganhou adoption of Infantry Fighting Vehicles
força nos anos 1990 por todo o mundo. (IFV) in Brazilian Army. Due the
Recentemente o Exército Brasileiro evolution of art of war, the Brazilian
modernizou sua frota de VBTP, Army has invested in training and
prolongando a vida útil dessas viaturas acquisition of new military materials.
por mais vinte anos. Entretanto, o Tanks were introduced on the
emprego de VBC Fuz já é uma battlefield at the end of World War I
realidade nos principais exércitos do and still remains as a protagonist on the
mundo, abrindo discussão sobre um modern warfare. The infantry and
possível necessidade de substituição da tanks integration in the composition of

AÇÃO DE CHOQUE 39
Task Forces, adds flexibility and tomado maior vulto principalmente no
fighting power to these troops.
âmbito das tropas blindadas, é sobre
Beginning in the 1960’s, the IFV were
introduced, replacing the APC´s, qual viatura deveria substituir a Viatura
adding more firepower and increasing
Blindada de Transporte de Pessoal
the combat capability. This trend
increased in the 1990’s all over the (VBTP) M-113.
world. Recently, the Brazilian Army
O campo de batalha
modernized its APC´S fleet, increasing
the life cycle for another twenty years. contemporâneo tem mostrado que os
However, the use of IFV`s is already a
blindados ainda serão, por um bom
reality in the main armies around the
world, opening a discussion about a tempo, protagonistas no combate
possibility to replace the Brazilian fleet
terrestre. Suas características de
in the next years, which would cause
logistical and doctrinal impacts. From mobilidade, poder de fogo, ação de
the analysis carried out, such vehicle
choque e proteção blindada são
would have a 30mm cannon, a 7.62mm
machine gun and, if possible, an extremamente úteis tanto em terrenos
antitank missile. A weight of around 25
abertos, quanto em localidades. No
tons and a minimum power/weight
ratio of 20hp/ton. It's essential to keep tocante à proteção blindada, esta pode
the carrying capacity of nine men,
ser considerada de particular
allowing good maneuverability and
combat power in field or urban importância numa época em que as
operations.
baixas não são admitidas facilmente e a
Key-words: armored infantry; Infantry
Fighting Vehicles; IFV; Brazilian Army sobrevivência do combatente assume
um papel proeminente na tomada da
decisão.
INTRODUÇÃO
Nesse contexto, o binômio
infantaria - carros de combate (CC),
O Exército Brasileiro tem
executado por intermédio da
acompanhado de perto a evolução da
constituição de Forças-Tarefa (FT),
arte da guerra, tal fato abrange a
continua a ser o elemento básico de
atualização da doutrina, a melhor
manobra das forças blindadas,
capacitação do homem e a busca por
conferindo a sinergia necessária para
equipamento de última geração. No
neutralizar um grande espectro de
tocante ao material, uma discussão que
ameaças existentes na linha de frente.
já ocorre há algum tempo, e tem

40 AÇÃO DE CHOQUE
Assim, a substituição dos M-113 tem desenvolvida a primeira VBTP,
sido assunto de interesse não somente chamada Mark IX. Esse veículo era,
dos infantes blindados, mas também de essencialmente, um tank, sem os
seus companheiros cavalarianos, que canhões, com portas nas laterais e mais
trabalham irmanados, em íntima longo, o que permitia transportar 30
cooperação dentro das FT, sabendo que homens. Porém, não chegou a ser
o êxito depende da eficiência de ambos empregado em combate.
os integrantes do referido binômio. Na II Guerra Mundial, a
concepção de emprego da infantaria
DESENVOLVIMENTO blindada foi consolidada e o tipo de
veículo padrão, em ambos os lados em
Origem de emprego das Viaturas conflito, foi o meia-lagarta (half track).
Blindadas de Combate de Fuzileiros Entretanto, os meia-lagarta
apresentavam algumas deficiências que
Os blindados foram precisavam ser corrigidas,
empregados pela primeira vez na particularmente as rodas na dianteira e
Batalha do Somme (1916). As a falta de blindagem na parte superior.
primeiras operações já evidenciaram Assim, surgiram alguns modelos de
que os tanks, quando penetravam nas VBTP, dentre os quais, o mais famoso
defesas inimigas isoladamente, ficavam foi o M-113 de origem americana. Esse
extremamente vulneráveis. Assim, o veículo, feito em duralumínio, possuía
primeiro emprego que se tem notícia de proteção contra projéteis de armas
uma tropa de infantaria embarcada em portáteis, uma metralhadora .50 como
blindados, ocorreu na Batalha de armamento principal, baixo peso (cerca
Amiens (1918), ainda na Grande de 10 ton), era anfíbia, requeria baixo
Guerra. Nessa ocasião, foram custo de manutenção e transportava um
embarcadas 36 duplas de fuzileiros em grupo de combate (GC) de 9 a 10
tanks Mark V. Essa iniciativa teve por homens.
finalidade amenizar a referida Ainda na década de 60, entrou
vulnerabilidade. Ainda em 1918, foi em serviço um outro tipo de veículo, a

AÇÃO DE CHOQUE 41
viatura blindada de combate de canhões como armamento principal, ao
fuzileiros (VBC Fuz). Os primeiros invés das metralhadoras.
foram: o Schützenpanzer alemão, que A partir do início da década de
transportava 5 fuzileiros, possuía um 1990, outros países passaram a
canhão 20mm e pesava 14,6 ton; e o substituir suas VBTP por VBC Fuz.
BMP-1 soviético, que transportava 8 Atualmente, as VBC Fuz mais
fuzileiros, tinha como armamentos conhecidas são: M2 Bradley (EUA),
principais um canhão 73mm e um Warrior (Reino Unido), AMX-10P
lançador de mísseis anticarro e pesava (França), Pizarro (Espanha), Marder e
cerca de 14 ton. A principal diferença Puma (Alemanha), BMP-3 (Rússia),
destes para as VBTP era a presença de Dardo (Itália), Namer (Israel) e CV 90
Efetivo Armto Pcp Armto Sec Peso da Vtr Relação
Nome País Ano
do GC (mm) (mm) (ton) (hp/ton)
Marder Alemanha 1971 7 20 7,62 37,4 21,1
AMX-10P França 1973 8 20 7,62 14 20
M2 Bradley EUA 1981 6-7 20 7,62 27,6 19,7
BMP-3 Rússia 1987 7 100 30 18,7 27
Warrior Reino Unido 1988 7 30 7,62 25,4 23,5
CV90 Suécia 1993 8 40 7,62 20-35 24,1
Dardo Itália 1998 6 25 7,62 23,4 24,5
Pizarro Espanha 2002 8 30 7,62 26,3 22,8
ZBD-08 China 2008 7 30 7,62 26 25,7
K-21 Coréia do Sul 2009 9 40 7,62 25,2 - 28,2 29,2
Kurganets-25 Rússia 2015 8 30 7,62 28 32
Puma Alemanha 2015 6 30 5,56 31,5 - 43 25,4
T15 Armata Rússia 2015 9 30 12,7 30 - 48 20,1
ACV-15 Turquia 1992 8 25 7,62 14 21,43
BIONIX Singapura 1997 7 25 7,62 25 20
BORAGH Irã 1997 8 30 - 13 25,4
BVP M-80 Iugoslávia 1982 7 20 7,62 13,85 22,6
Lazica Geórgia 2012 7 23 7,62 14 21,4
Tipe 89 Japão 1989 7 35 7,62 27 22,2
MLI-84M Romênia 1995 9 25 7,62 17 23,4
Ulan Áustria 2002 8 30 7,62 28 25,7
VCTP Argentina 1976 10 20 7,62 30,5 28
Quadro: Quadro comparativo dos principais VBC Fuz em uso no mundo.
Fonte: Autores.

42 AÇÃO DE CHOQUE
(Suécia). Na América do Sul são sistema de comunicações amplo e
utilizados o VCTP (Argentina), Marder flexível.
1A3 e AIFV (Chile). Dentro desse escopo, o Exército
Brasileiro ao optar pela substituição
Fatores relevantes para a escolha de das VBTP pelas VBC Fuz, terá que
uma VBC Fuz para o Exército considerar alguns fatores. Quais sejam:
Brasileiro o tipo de canhão a ser utilizado e qual o
calibre e alcance desejado; que
A Viatura Blindada de Combate metralhadora será adotada como
de Fuzileiros é um veículo blindado de armamento secundário; qual potência e
combate que possui a finalidade de autonomia do carro; e, qual a
transportar uma tropa de fuzileiros - capacidade de transporte de tropa (GC)
basicamente um GC - e prover apoio de que o veículo possuiria, além da
fogo direto. As VBC Fuz são análogas tripulação.
às Viaturas Blindadas de Transporte de Em relação à capacidade de
Pessoal (VBTP), entretanto, a principal transporte de tropa, estudos norte-
diferença é que estas possuem um americanos apresentam como adequado
armamento para sua autoproteção, a constituição do GC a nove homens,
enquanto aquelas têm capacidade de apresentando boa flexibilidade e poder
combater. Essa diferença confere às de fogo desembarcado ao pequeno
VBC Fuz uma maior capacidade escalão. Esse efetivo mantém a
ofensiva, infligindo, assim, maiores resiliência do grupo, ou seja,
baixas e danos ao inimigo. capacidade de continuar na ação,
Considerando-se essas mesmo sofrendo baixas em combate.
especificidades, algumas características Cabe ressaltar que a presença
dessas viaturas são desejáveis para que de um canhão com maior calibre
cumpram com sua finalidade, dentre as poderia indicar a redução do efetivo do
quais, podemos destacar: a mobilidade GC, podendo transformá-lo em uma
tática, potência do motor, poder de “esquadra de proteção” da viatura.
fogo, capacidade de transporte e Porém, esse raciocínio não seria lógico,

AÇÃO DE CHOQUE 43
pois estaríamos trocando homens por selecionou esse calibre para ser
um canhão maior. Ora, a presença da utilizado em algumas viaturas da
infantaria no binômio vai além da mera família Guarani.
proteção aproximada do CC ou mesmo Além disso, seria desejável
da VBC Fuz. A contribuição da tropa optar por uma metralhadora de 7,62
desembarcada para a sinergia do mm, como arma secundária, adotando
binômio infantaria - carros é possível assim o mesmo calibre da tropa. Esse
pela presença de uma massa de calibre de metralhadora já é utilizado
fuzileiros que a permite manobrar em pelo Leopard 1A5BR, utilizado pelos
terreno com obstáculos, campos de tiro Regimentos de Carros de Combate
mais reduzidos ou de visibilidade (RCC), reduzindo assim o impacto
temporariamente limitada para logístico na cadeia de suprimento,
neutralizar as armas anticarro (AC) e trazendo maior flexibilidade à FT.
outras ameaças aos carros. Ainda em relação ao armamento
No tocante ao armamento, secundário, a VBC Fuz poderia ser
observando-se os canhões utilizados dotada também de um armamento AC,
em VBC Fuz em outros exércitos, o similares ao SPIKE ou MILAN,
canhão de 30mm aparece como uma agregando assim poder de combate.
boa opção, por oferecer poder de fogo Outro aspecto importantíssimo
adequado sem comprometer a é o peso da viatura. Ele é consequência
mobilidade esperada desse tipo de da proteção blindada adotada. Pelo
viatura, obtendo-se alcance de até 3 quadro comparativo, nota-se que uma
(três) Km, dependendo do tipo de VBC Fuz pesa de 25 a 30 ton e que os
munição. Cabe ressaltar que uma torre modelos mais novos passam das 40
do tipo estabilizada oferece grandes ton. Essa tendência é fruto das armas
vantagens na eficácia e velocidade de AC e explosivos improvisados
tiro, sendo o seu custo o principal fator presentes nos conflitos de maior
restritivo. Ademais, o canhão 30 intensidade, que levam a uma
possibilitaria uma padronização com a blindagem próxima a dos CC. Contudo,
Infantaria Mecanizada, que já devem-se levar em conta as

44 AÇÃO DE CHOQUE
características das áreas operacionais comunicações, as tropas blindadas
do continente (AOC), como capacidade exigem um sistema amplo e flexível. A
de estradas e pontes, consistência do infantaria blindada se caracteriza por
solo e malha ferroviária limitada, aliada atuar, ora embarcada, ora
a condicionantes como orçamento de desembarcada, quando a missão assim
defesa, capacidade de apoio logístico e o exigir. Nesse contexto, é
mesmo disponibilidade de campos de imprescindível um sistema de
instrução adequados. Assim, considera- comunicações que possibilite
se que tais aspectos induzem a um peso estabelecer ligações com outros
que gire em torno de 25 ton. veículos, o contato interno da
Além disso, outra característica tripulação e a capacidade de se
é a relação peso/potência do motor, que comunicar com a tropa desembarcada.
deve oferecer à VBC Fuz a mobilidade Atualmente, o sistema de
desejada para o cumprimento das comunicações da VBTP M113BR não
missões no contexto da FT. cumpre bem o seu papel para da tropa
Atualmente, o Leopard 1 A5BR, desembarcada, comprometendo, assim,
utilizado nos RCC possui uma relação o comando e controle.
de 20 hp/ton (DEFESANET 2011). O Em relação ao Estado da Arte
motor Detroit Diesel utilizado nas da guerra, é conveniente que se leve em
VBTP M113BR possui 265 hp de conta um sistema de comando e
potência, proporcionando uma relação controle (C2) que proporcione o
de 24 hp/ton. Levando-se em conta o Gerenciamento do Campo de Batalha
peso de uma VBC Fuz, surge a (GBC), que integre as VBCCC e as
necessidade de um motor que, ao VBC Fuz, com sistemas antifratricídio,
menos, mantenha essa relação, caso expandindo, assim, o C2 da tropa
contrário, haveria dificuldade da VBC blindada. Ademais, é importante um
Fuz em acompanhar a VBCCC. Em sistema de navegação e identificação
todo caso, haverá um impacto alto no de alvos que utilize Luz Residual
aumento do consumo de combustível. Amplificada e Visão Termal, para obter
No tocante ao sistema de o máximo proveito do poder de fogo do

AÇÃO DE CHOQUE 45
veículo. comunicações, entretanto, o armamento
Outro fator a ser considerado é de dotação, a metralhadora .50,
quanto à produção dessa viatura, se permaneceu a mesma, não agregando
será nacional ou será importada. maior poder de combate à viatura.
Segundo a Estratégia Nacional de Nesse sentido, seria indicado
Defesa, BRASIL 2008, caso seja que se iniciassem estudos para uma
nacional, o projeto deve atender a inevitável substituição das 584 viaturas
índices de nacionalização das peças e da família M113 por uma nova VBC
características de uso dual, ou seja, que Fuz. Para isso é necessário definir
haja aplicabilidade para o uso civil e inicialmente qual seria a viatura e
militar. Esse aspecto é muito depois, como seria essa substituição.
importante, pois o índice de Tendo em vista que esse processo
disponibilidade das viaturas está demanda tempo e grandes
diretamente ligado ao nível de oferta de investimentos, seria o caso iniciar esse
peças no mercado civil, basta ver o processo anos antes que família M113,
exemplo dos blindados Urutu e em processo de modernização, termine
Cascavel. seu ciclo de vida, de maneira a obter
uma substituição gradual e planejada
Impactos logísticos e doutrinários até 2033.
para a substituição das VBTP por Deve ser considerado também o
VBC Fuz no âmbito do Exército impacto que esse tipo de substituição
Brasileiro traria à cadeia logística e à doutrina.
Neste caso, caberia ao Exército realizar
A atual modernização da um planejamento de substituição de
família M113 BR, realizada médio a longo prazo, até dar cabo de
efetivamente a partir de 2013, prevê substituir todas as VBTP das Brigadas
estender o ciclo de vida desses Blindadas e dos Regimentos de
blindados até 2033 (BRASIL 2013). O Cavalaria Blindadas (RCB) por VBC
projeto trouxe grandes transformações Fuz. Para isso, algumas perguntas
na motorização e no sistema de devem ser respondidas, tais como: A

46 AÇÃO DE CHOQUE
substituição será por subunidade, O plano de substituição das
unidade, grande unidade até que viaturas também influi no
estejam completas? A substituição será desenvolvimento da doutrina militar.
centralizada (Unidade por Unidade) ou No campo da Arte da Guerra, uma
pulverizada? substituição centralizada, permitiria
É importante definir esse plano iniciar o desenvolvimento da doutrina
de substituição, devido ao já de emprego das VBC Fuz na
mencionado impacto logístico que essa composição de FT Blindadas, conforme
mudança trará, como por exemplo, houvesse subunidades, unidades e
necessidade de formação de operadores brigadas mobiliadas em condições de
e elementos de manutenção, cadeia de realizar exercícios de adestramento
suprimento de peças, destino das VBTP militar, favorecendo o estudo do
substituídas, entre outros. emprego desse tipo de Material de
Além desse impacto na cadeia Emprego Militar (MEM).
logística, há o impacto na infraestrutura
logística. As oficinas, garagens e CONCLUSÃO
ferramental necessitarão de adequações
a um elevado custo. Apenas a título O emprego das Viaturas
comparativo, enquanto uma VBTP Blindadas de Combate de Infantaria já
M113BR pesa em torno de 11 ton, uma é uma realidade no cenário
VBC Fuz Puma pode pesar de 29 ton a internacional. As maiores potências
40 ton, dependendo do tipo de sua econômicas e militares, tais como
proteção blindada. Dessa forma, supõe- EUA, Rússia, Alemanha e Inglaterra,
se que uma substituição centralizada de entre outras, já adotam esse tipo de
veículos, Unidade por Unidade, traria veículo em suas Forças Armadas há
uma maior racionalidade no emprego décadas, aumentando assim o poder de
de recursos para adequação da cadeia combate de suas tropas blindadas, que
de suprimento e da infraestrutura ainda são importantes atores no
logística, distribuindo essas adequações combate moderno.
ao longo do processo de substituição. Face à posição que o Brasil

AÇÃO DE CHOQUE 47
ocupa no cenário internacional, de 6ª manobra e poder de combate tanto em
maior economia do mundo e suas terreno aberto, quanto urbano.
potencialidades naturais, é imperativo A decisão pela adoção das VBC
que mantenha suas Forças Armadas Fuz envolve um grande investimento,
treinadas e bem equipadas, obtendo um seja pelo custo dos veículos ou dos
fator de dissuasão a eventuais ameaças impactos na logística e infraestrutura
(BRASIL, 2017b). Nesse contexto, que o processo demanda. Ao Exército
manter uma tropa blindada moderna e Brasileiro caberá o desafio de adquirir
bem equipada agrega poder de combate ou desenvolver essa viatura, de acordo
ao Exército Brasileiro. com as necessidades e a realidade
Da análise realizada, podemos nacional.
inferir que a VBC Fuz que equiparia a A opção pela substituição da
Infantaria Blindada brasileira teria família M113 não é uma tarefa fácil.
como armamentos um canhão de São diversos os desafios que se
30mm, uma metralhadora 7,62mm e, se apresentam, desde o alto custo
possível, um míssil AC. Ela deveria ter financeiro, quanto à mudança na
um peso que não excedesse muito 25 doutrina. Entretanto, a adoção de uma
ton e um motor que mantivesse uma VBC Fuz para a Infantaria Blindada é
relação peso/potência mínima de um grande passo para a efetiva
20hp/ton. Por fim, ressalta-se a modernização da Força Terrestre
importância de se manter a capacidade brasileira.
de transporte de nove homens,
possibilitando boa capacidade de

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia


Nacional de Defesa. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
_ato2007-2010/2008/decreto/d6703.htm>. Acesso em: 27 ago. 2017.

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Informativo 65, 04 ed. 2013. Disponível em: <http://www.pqrmnt7.eb.mil.br/
images/Producao/dmat/Mai_13.PDF>. Acesso em: 27 ago. 2017.

48 AÇÃO DE CHOQUE
_____. Estado-Maior do Exército. O processo de transformação do Exército. 3.
ed. Disponível em: <http://www.eb.mil.br/c/document_library/get_file?
uuid=18d47a84-99ac-45d3-b7d5-f37c9b5e53dc&groupId=1094704 >. Acesso
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_____. _____. C 20-1: Glossário de Termos e Expressões para uso no Exército


3. ed. Brasília, DF, 2003.

_____. Ministério da Defesa. MD35-G-01. Glossário das Forças Armadas. 4.


ed. Brasília: ADL, 2007.

DEFESANET. As Características Técnicas do Leopard 1A5 BR. set 2011.


Disponível em: <http://www.defesanet.com.br/leo/noticia/2075/ACO---O-
Leopard-1A5BR----Caracteristicas-Tecnicas/>. Acesso em: 27 ago. 2017.

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http://www.military-today.com/apc/top_10_infantry_fighting_vehicles.htm>.
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http://www.military-today.com/apc/top_10_infantry_fighting_vehicles.htm>.
Acesso em: 27 ago. 2017.

AÇÃO DE CHOQUE 49
BRASIL – FABRICANTE DE VIATURAS
BLINDADAS – UMA EXPERIÊNCIA

Prof. Odilon Lobo de Andrade Neto

RESUMO the word. Unfortunately, the project did


not go ahead and today Osório is seen
O artigo visa apresentar a experiência as a possible solution that could have
do país na fabricação de blindados worked. It is hoped that the mistakes
sobre lagartas, em especial o carro de made at that time will not be repeated
combate Osório. Como protagonista da in the acquisition or development of the
experiência, destaca-se a empresa new armored family of tracked
Engesa, que empregou seu quadro de armored vehicles of the Brazilian
engenheiros e investiu na busca de um Army.
carro de combate que fosse o melhor Key-words: Tracked armor vehicle;
possível para o emprego pelo Exército main battle tank; Osório.
Brasileiro, bem como para exportação
para outros exércitos do mundo.
Infelizmente, o projeto não foi adiante
e hoje o Osório é visto como uma INTRODUÇÃO
possível solução que poderia ter dado
certo. Espera-se que os erros cometidos
naquela época não se repitam na O dia 12 de setembro de 2017,
aquisição ou desenvolvimento da nova marca os 30 anos em que a Viatura
família de blindados sobre lagartas do
Exército Brasileiro. Blindada Osório, Carro de Combate
Palavras-chave: Blindados sobre que surpreendeu ao mundo, terminava
lagartas; carro de combate; Osório.
sua avaliação técnica na Arábia
ABSTRACT Saudita.
Não é exagero afirmar que de
The article mains to present the
country's experience in the fato surpreendeu o mundo, pois
manufacture of the tracked armors
estamos falando de Carros de Combate,
vehicles, in particular the Osório main
battle tank. As the protagonist of the equipamentos bélicos cuja tecnologia e
experience, the Engesa company,
fabricação sempre foi dominada por
which employs its engineers and
invested in the search for a main battle grandes potencias como Estados
tank that is the best possible for
Unidos, Alemanha, Inglaterra, França e
employment by the Brasilian Army, as
well as for export to others armies of União Soviética (URSS), para nominar

50 AÇÃO DE CHOQUE
os maiores. A Engesa iniciou suas
Um Carro de Combate atividades no final dos anos 50 com
desenvolvido e produzido em um país objetivo de participar no
como o Brasil, no mínimo, era uma desenvolvimento da indústria do
curiosidade. petróleo recém-lançado no Brasil.
Para que possamos entender
melhor esta curta, mas significativa
passagem do Brasil no seleto grupo de
países que detêm capacidade de
desenvolver tecnologia empregada em
sofisticados projetos de Carros de Figura 2: EE9 – CASCAVEL – Viatura de
Reconhecimento.
Combate, é necessário relembrar a
O petróleo brasileiro nesta
historia da empresa brasileira Engesa
época estava “on shore”, o que exigia
que foi responsável, por assim dizer,
uma complicada logística na entrega de
desta façanha.
componentes nos locais de prospecção
e produção, principalmente nas épocas
UM BREVE HISTÓRICO DA
de chuva. Esta necessidade levou a
ENGESA
Engesa a desenvolver a chamada
“tração total” que era adaptar viaturas
Nosso objetivo em fazer este
civis com eixos dianteiros tracionados
resumido relato da empresa Engesa é
permitindo com isto mobilidade em
para que possamos relembrar a época
qualquer terreno.
em que se deram estas atividades.

Figura 3: EE11 – URUTU – Viatura


Figura 1: EE3 – JARARACA – Viatura Transporte de Tropa Anfíbio.
Blindada Leve 4x4.

AÇÃO DE CHOQUE 51
Esta solução aplicada em Tanque com canhão 105 mm –
viaturas civis chamou a atenção dos protótipo; EET4 – OGUM – Viatura
militares que procuravam soluções Blindada Leve Lagarta – protótipo; EE-
nacionais para emprego em viaturas T1 – OSÓRIO – Carro de Combate
militares. Iniciou-se aí uma parceria com canhão 105 – protótipo; EE-T1 –
Engesa – Exército Brasileiro que durou OSÓRIO - Carro de Combate com
até o encerramento das atividades da canhão 120 – protótipo.
empresa.

Figura 5: EET4 – OGUM – Viatura Blindada


Leve Lagarta.

Figura 4: EE18 - SUCURI – Viatura Caça Foram ainda produzidas e


Tanque com canhão 105 mm.
exportadas cerca de 5000 viaturas para
Entre os anos 60 ate 1993, ano
transporte de uso militar, com
em que foi decretada sua falência,
capacidades entre ½ t ate 5 t fora de
foram projetados, desenvolvidos e
estrada.
fabricados as seguintes viaturas
blindadas: EE3 – JARARACA –
Viatura Blindada Leve 4x4 – 150
unidades produzidas e exportada para 5
países; EE9 – CASCAVEL – Viatura de
Reconhecimento – 1800 unidades Figura 6: EE-T1 – OSÓRIO – Carro de
produzidas e exportada para 18 países; Combate com canhão 105.

EE11 – URUTU – Viatura Transporte A Engesa em seu apogeu (1985

de Tropa Anfíbio – 1200 unidades a 1989) tinha sete fábricas no Brasil,

produzidas e exportadas para 15 países; 11.000 funcionários, sendo 240 só em

EE18 - SUCURI – Viatura Caça pesquisa e desenvolvimento. Em 1983,

52 AÇÃO DE CHOQUE
começou a utilizar o sistema CAD- alinhamentos políticos entre as nações.
CAM para o desenvolvimento de seus O Brasil praticava uma neutralidade
projetos em computador. Proporcionou realista neste setor.
aos seus engenheiros e técnicos o Os principais Carros de
desafio de encontrar o limite do Combate desta época eram o M-1
conhecimento aplicado disponível, Abrahms produzido nos Estados
obrigando para que fosse possível Unidos, o Challenger produzido na
avançar, debruçar sobre a pesquisa. Inglaterra, o então chamado AMX-40,
Caso raro no Brasil. posteriormente Leclerc, produzido na
França, o Leopard II produzido na
Alemanha e o T-80 produzido na
URSS. Todos eles seguindo um rígido
alinhamento político no que diz
respeito a possíveis fornecimentos aos
diversos países.
Figura 7: EE-T1 – OSÓRIO - Carro de Já eram conhecidos alguns
Combate com canhão 120.
possíveis usuários para os Carros de
Combate. O Brasil já estava
CONDICIONANTES QUE
evidenciando a necessidade da
LEVARAM A ENGESA A DECIDIR
substituição dos 350 M-41. A Arábia
NO DESENVOLVIMENTO DE
Saudita anunciava a troca dos M-60
CARROS DE COMBATE SOBRE
americanos e AMX-30 franceses
LAGARTAS
(aproximadamente 800 unidades),
decisão que seria tomada após
Relembremos também, o
avaliação internacional.
cenário mundial no que se refere a
Abu Dhabi anunciava a
produção de Carros de Combate,
necessidade de 300 unidades. Ainda
focando o inicio da década de 80.
havia sinais de possíveis aquisições na
Tínhamos o Pacto de Varsóvia
Grécia, Turquia e Omã. É importante
estabelecido e atuante, o que
afirmar agora que praticamente todas
direcionava fortemente os

AÇÃO DE CHOQUE 53
estas previsões se confirmaram e Importante destacar que ambas as
muitas outras aconteceram viaturas teriam a mesma plataforma
posteriormente. automotiva.
Na tomada de decisão da Outra observação que
Engesa em iniciar desenvolvimento de precisamos evidenciar é que os projetos
Carros de Combate sobre lagartas, das viaturas existentes anteriormente
ainda foi considerada a possível mencionadas tiveram seu início na
rejeição dos fabricantes concorrentes, década de 70, onde se dava os
uma mudança no cenário mundial e primórdios da eletrônica automotiva
uma mudança no próprio Brasil. A embarcada. No projeto Osório, tivemos
decisão tomada foi entrar nesse a facilidade de utilizar a expansão da
desenvolvimento. eletroeletrônica na mecânica. Já era
Avaliando a complexidade possível utilizar giro e elevação
inerente ao desenvolvimento de projeto acionados eletronicamente sem
deste porte, os custos e o tempo qualquer temor de falhas.
envolvido, foi estabelecido uma diretriz
que consideramos da maior CARACTERÍSTICAS QUE
importância. Seriam desenvolvidas DIFERENCIAVAM O OSÓRIO DE
simultaneamente duas viaturas: SEUS CONCORRENTES
- uma viatura para o Exército
Brasileiro, equipada com canhão 105 Na plataforma automotiva, o
mm, equipamento ótico e de controle Osório já dispunha de motor e
de tiro semelhante as viaturas transmissão integrados eletronicamente .
existentes, usando com isto custos mais Seu sistema de freio, também
compatíveis com nossa realidade; controlado eletronicamente, permitia
- outra viatura destinada a exportação, desaceleração de 70 a 35 km/h através
incorporando o que houvesse de mais de regeneração hidráulica entrando o
moderno disponível para que se freio mecânico após atingir os 35 km/h.
obtivesse um desempenho superior em O carro tinha pivoteamento em
caso de competições no exterior. três estágios, sendo que o terceiro

54 AÇÃO DE CHOQUE
permitia giro de 360° em 6s com uma de tiro tinha uma câmara térmica
pressão sobre o solo de 0,85 kg/cm² e montada no teto da torre com giro de
suspensão hidropneumática com 360° independente. Este conjunto
excelente mobilidade. O conjunto permitia que o comandante da viatura
motor / transmissão em “power pack” procurasse um segundo alvo enquanto
permitia sua retirada em 11 min. o atirador efetuava o 1° disparo.
O sistema de armamento com A indexação do comandante
canhão de 120 mm e controle de tiro para o atirador era feita de forma
era o que diferenciava o Osório das automática. O tiro em movimento era
demais viaturas. O conjunto ótico tinha controlado pelo computador após 3s de
estabilização separada da massa do acompanhamento pelo atirador.
canhão o que proporcionava uma Com relação a proteção, a
precisão de 0,2 mils. Um computador blindagem era capaz de resistir a tiro de
de tiro controlava a posição do canhão munição APFSDS 105 mm. Entretanto,
e do sistema ótico, quando os dois com avanços na pesquisa a intenção era
entravam em uma janela de aumentar essa capacidade para resistir
coincidência o tiro era autorizado a munição 120 mm APFSDS. O carro
eletronicamente. ainda tinha detectores para iluminação
Esta solução permitia uma laser com acionamento automático de
probabilidade de acerto com a viatura fumígenos e sinal de rádio para
em movimento e alvo em movimento comandante e condutor.
superior a 85%. O sistema de controle

EVENTOS DATAS
Início do Projeto 1983
1ª Plataforma automotiva Setembro de 1984
Avaliação Arábia Saudita I Julho de 1985
Avaliação CAEx Brasil Janeiro de 1987
Avaliação Arábia Saudita II Julho de 1987
Avaliação Adu Dhabi Julho de 1988
Tabela: Datas impostantes no desenvolvimento do Osório.
Fonte: Autor.

AÇÃO DE CHOQUE 55
AVALIAÇÕES para aquele país. E em segundo lugar e
não menos importante mostrar ao
Avaliação Arábia Saudita I – 1985 mundo que já existia um Carro de
Combate brasileiro.
Toda experiência acumulada Nesta operação foi utilizado o
pelos técnicos da Engesa em avaliações Carro de Combate Osório com o
técnicas estava voltada a viaturas canhão 105 mm destinado ao Exército
blindadas sobre rodas Cascavel e Brasileiro. Os ingleses com seu Carro
Urutu. Era muito importante que fosse de Combate Challenger tiveram a
feita uma avaliação de engenharia da mesma ideia de conhecer o local da
própria empresa antes de expor a futura avaliação e foi compartilhado
viatura a possíveis clientes. com eles, os mesmos locais e datas
Mais uma vez foi tomada uma para evolução dos testes.
decisão acertada. Este teste inicial Nesta ocasião o Carro de
deveria ser feito na Arábia Saudita para Combate Challenger fundiu o motor.
primeiro conhecer os detalhes do local Segundo reportagens de revistas
onde seria efetuada a avaliação especializadas da época foram gastos o
definitiva entre os concorrentes a equivalente a U$ 90.000.000 para
fornecer o futuro Carro de Combate solucionar o problema apresentado. Na

Figura 8: Concorrentes alinhados para a prova final em Khamis Mushait no dia 12 de setembro
de 1987. Estão alinhados Osório, AMX-40 francês, Challenger inglês e M-1 A1 americano.

56 AÇÃO DE CHOQUE
Figura 9: Osório em prova de mobilidade em Sharourah Arábia Saudita. Foram selecionados
para aquisição pelo Exército Saudita 315 unidades do Carro de Combate M-1 A1 americano e
315 unidades do Osório brasileiro.

avaliação conjunta de 1987, o Carro de dezembro de 1986 a abril de 1987,


Combate Challenger fundiu o motor seguindo os Requisitos Técnicos e
novamente. Operacionais preconizados na época.
O aprendizado desta operação Foram rodados 3269 km, sendo 750 km
gerou o projeto do dispositivo no Campo de Provas da Marambaia e
eletrônico do controle de potência do realizados 50 tiros de 105 mm para
motor do Osório. Tal dispositivo avaliação da Torre. A viatura foi
controla as temperaturas de água do aprovada pelo Exército Brasileiro.
motor e óleo da transmissão
automática, que ao chegar a um Avaliação Arábia Saudita II – 1987
determinado nível, reduz
automaticamente a potência do motor, Esta avaliação foi estabelecida
provocando menor geração de calor pelo Exercito Saudita para escolher o
independente de qualquer atitude do futuro Carro de Combate que
condutor. substituiria as viaturas M-60 americano
e o AMX-30 francês.
Avaliação CAEx Brasil Participaram desta avaliação o
M-1 A1 Abrahms americano com duas
O Carro de Combate Osório viaturas, o Challenger inglês com duas
com o canhão 105 mm foi avaliado viaturas, AMX-40 (Leclerc) francês
pelo Exército Brasileiro no período de com duas viaturas e o Osório brasileiro

AÇÃO DE CHOQUE 57
com uma viatura. Esta avaliação Como resultado a ser ressaltado
aconteceu de 08 de julho a 12 de é que o Carro de Combate Osório foi o
setembro de 1987. único participante a acertar o tiro a
A cada participante foi distância de 4 km em alvo padrão
designado um grupo de avaliação com OTAN e na comparação final entre
um oficial superior, quatro capitães e todos os concorrentes, frente as
oito sargentos que conduziram, após autoridades convidadas de todo o
um mês de treinamento, todos os testes Golfo, o Osório acertou 8 tiros em 12
efetuados. possíveis, os americanos acertaram 5
Foram feitas avaliações em 12, os ingleses 1 em 12 e os
específicas para plataforma automotiva franceses nenhum tiro.
em Sharourah e Khamis Mushait para o
sistema de armas. Avalição Abu-Dhabi – 1988
Todos dados de desempenho
foram avaliados, ressaltando-se que Esta avaliação teve como
foram rodados 2350 km, sendo 200 km objetivo escolher o futuro Carro de
para treinamento, 400 km em asfalto e Combate para o Exército de Abu-
o restante nos variados tipos de deserto. Dhabi. Participaram desta avaliação o
As avaliações foram feitas em Carro de Combate Ariete italiano, o
conjunto, com exceção dos americanos. Challenger inglês, um chinês, o AMX-
O resultado dos franceses foi rodar 600 40 francês e o Osório brasileiro.
km e os ingleses fundiram um motor. Diferente da avaliação saudita,
Na avaliação do sistema de os testes foram feitos individualizados
armas foram utilizados 150 tiros de e em épocas diferentes. O Osório rodou
canhão 120 mm, sendo 20 tiros em 2000 km. Já para o teste da torre, foi
treinamento, 30 tiros em Sharourah considerado o resultado apresentado na
(alta temperatura), 88 tiros para Arábia Saudita. Em 1993, Abu Dhabi
avaliação de desempenho em Khamis assinou o contrato adquirindo 390
Mushait e 17 tiros na demonstração unidades do Carro de Combate Leclerc.
final de desempenho. Em março de 1990, a Engesa

58 AÇÃO DE CHOQUE
entrou em regime de concordata. Em mobilizou seu Exército e de mais 19
abril de 1990 o governo saudita assinou países com uma completa família de
o contrato de aquisição de 315 M-1 A1 blindados. Participar na defesa da
americano. Em junho de 1990, o Iraque soberania nacional de 19 países foi
invadiu o Kuwait e bloqueou as privilégio incomensurável e pouco
negociações com a Engesa e, em compreendido pelo país.
outubro de 1993, foi decretada a Objetivar ter uma nova família
falência da Engesa. de blindados é um dever e não um
desejo. Realizar uma nova família de
CONSIDERAÇÕES FINAIS blindados requer quesitos que temo não
estarmos mais preparados.
O Brasil, através da Engesa, já Brasil acima de tudo. Aço!

REFERÊNCIA

NETO, O. L. A. Diretor da empresa Columbus Internacional Ltd / Columbus


Comercial Importadora e Exportadora Ltda.

AÇÃO DE CHOQUE 59
O FUTURO CARRO DE COMBATE DO
BRASIL

Maj Daniel Bernardi Annes

RESUMO discard or replace it to a new tank at


the end of its useful life. The objective
A aquisição da nova família de of this article was to analyze the
blindados revitalizou a tropa blindada possible solutions. Suggests that the
brasileira, desencadeando uma acquisition of a tank in the international
significativa mudança cultural no trato market is presented as the most viable,
com os blindados. Contudo, o término realistic and efficient solution to the
da vida útil destes blindados está replacement of the Leopard 1A5 BR
previsto para 2027. Findo este prazo, fleet. It also suggests, at the same time,
há duas soluções possíveis: aplicar um to start the development of a national
kit de modernização e postergar seu tank.
descarte ou substituí-lo por um novo Key-words: Armour family; main
carro de combate ao término de sua battle tank; modernization;
vida útil. O presente ensaio teve por development.
objetivo analisar as possíveis soluções.
Sugere que a aquisição de um carro de
combate no mercado internacional se
apresenta como a solução mais viável, INTRODUÇÃO
realista e eficiente à substituição da
frota Leopard 1A5 BR. Sugere ainda,
paralelamente, iniciar o desenvolvimento No início do século XXI, em
de um carro de combate nacional. face da necessidade de adequação às
Palavras-chave: Família de blindados;
carro de combate; modernização; exigências do combate moderno, o
desenvolvimento. Governo Brasileiro empreendeu uma
nova estruturação de sua defesa. Uma
ABSTRACT
série de documentos foi normatizada,
The acquisition of the new armored
com reflexos para todo o setor,
family revitalized the Brazilian
armored troop, triggering a significant inclusive para as forças blindadas
cultural change in the job with the
(BRASIL, 2012 a, b, c).
tanks. However, the end of the service
life of these tanks is scheduled for Com fulcro a recuperar a
2027. After this deadline, there are two
capacidade operacional de sua tropa
possible solutions: apply a
modernization kit and postpone its blindada, o Exército Brasileiro levou a

60 AÇÃO DE CHOQUE
Figura 1: Leopard 1A 5 BR

cabo o Projeto Leopard, que reavaliada e o Exército decidirá por


contemplou, além da aquisição das realizar um mid-life update1 e postergar
viaturas, a aquisição de simuladores, seu descarte ou substituí-la por um
obras de infraestrutura nas Unidades, o novo carro de combate ao término de
suporte logístico integrado, a tradução sua vida útil, seja ele desenvolvido em
de manuais e a qualificação dos território nacional ou adquirido no
recursos humanos (RIBEIRO, 2012). mercado internacional (BRASIL,
O Projeto revitalizou a espinha 2016).
dorsal da cavalaria blindada brasileira e Nesse escopo, o presente ensaio
atingiu os objetivos a que se propôs, tem por objetivo analisar estas
pois desencadeou uma significativa possíveis soluções e apresentar
mudança cultural no trato com os algumas considerações sobre o assunto.
blindados. Entretanto, o Leopard 1A5
já atingiu metade de sua vida útil e, por APLICAR UM KIT DE
força de contrato, o suporte técnico e MODERNIZAÇÃO
logístico, bem como o fornecimento de
peças será descontinuado em setembro Apesar da versão A5 ser a mais
de 2027, de acordo com o contrato de moderna da família Leopard 1, fato é
suporte logístico assinado com a que nosso carro de combate foi
Empresa Krauss-Maffei-Wegmann
1 É uma modernização aplicada ao material
(BRASIL, 2017). no meio de sua vida útil com a finalidade
de ampliar suas capacidades, visando
Conforme a legislação vigente, reduzir o hiato tecnológico com as versões
nos próximos anos, a viatura será mais recentes e mantendo-o operativo por
mais tempo.
AÇÃO DE CHOQUE 61
concebido na década de 50, priorizando e menos eficiente em relação às
a mobilidade em relação à proteção blindagens compostas mais modernas.
blindada e ao poder de fogo. Esta Além disso, sua blindagem é cerca de
deficiência intencional em sua 10 vezes menos espessa que as
concepção fica agravada nos dias blindagens dos carros de combate mais
atuais, considerando-se as potentes novos e não possui nenhum sistema
armas anticarro e a preponderância de ativo de proteção (ANNES, 2012).
cenários urbanos e multidimensionais Quanto ao poder de fogo, o
(BRASIL, 2010 a). carro manteve o canhão L7A3 raiado,
Mesmo tendo sido modernizado de 105mm, da empresa britânica Royal
na década de 80, com a incorporação Ordnance, que proporciona um alcance
de blindagem adicional espaçada de bem reduzido em relação aos canhões
5mm, contra munição de carga oca, nas mais modernos (cerca de 1500m menos
laterais e na torre, com visão termal de que os canhões 120mm de 1ª geração e
primeira geração para o atirador e com cerca de 2500m menos que os canhões
o sistema de controle de tiro digital de última geração). O comandante do
EMES 18, nosso carro de combate carro utiliza ainda a ultrapassada luneta
ainda possui considerável defasagem TRP, que é manual, tanto no giro
tecnológica em relação aos carros de quanto no mecanismo para
última geração. Particularmente nos acoplamento ao canhão. Tais limitações
aspectos referentes à proteção e ao impedem sua utilização com o CC em
processo de engajamento (ANNES, movimento, sob pena de queimá-la e
2012). impõe ao comandante do carro
Quanto à proteção, o Leopard transferir objetivos manualmente. Esta
1A5 possui uma blindagem de Face luneta também não possui sistema de
Endurecida de 2ª geração2, mais pesada visão noturna, o que compromete ainda
2 Blindagem resultante da observação da mais a capacidade de busca, aquisição
dureza na resistência à penetração. Busca a
obtenção de um comportamento ótimo a e transferência de alvos (ANNES,
partir de um compromisso entre dureza e
tenacidade. É a união metalúrgica, via 2012).
laminação, de 2 chapas de aço com
características químicas diferentes, a resistente) e a interna macia (mais tenaz),
externa extremamente dura (mais graças ao diferente teor de carbono.
62 AÇÃO DE CHOQUE
A mobilidade, fruto de sua M41, que permaneceu quase meio
concepção, é o ponto forte do carro. século em serviço, sofrendo
Contudo, mudanças significativas em repotencializações insignificantes que
seus sistemas de proteção e blindagem não reduziram o hiato tecnológico em
ou em seus sistemas de armas e relação aos carros mais modernos e
controle de tiro acarretariam em pouco ou quase nada contribuíram para
aumento de peso, o que poderia vir a o aumento do poder de combate da
comprometer esta mobilidade. tropa blindada.
A aplicação de um kit de É conveniente ressaltar que
modernização robusto, que realmente nenhum kit de modernização é capaz
alterasse as características do Leopard de transformar o core do projeto que
1A5, acarretaria em custos elevados e deu origem ao carro, ou seja, o que foi
um tempo considerável para idealizado desde sua gênese,
planejamento, desenvolvimento e dificilmente será alterado. Em ambos
posterior implementação. Como nos os casos, independentemente de quais
restam menos de 10 anos até o término itens sejam modernizados, estes apenas
de seu ciclo de vida e pela quantidade mitigariam as vulnerabilidades do carro
de itens que carecem de face as atuais ameaças.
aprimoramento, acredito que esta não
seja uma solução viável. SUBSTITUIR POR OUTRO CARRO
A aplicação de um kit de
modernização superficial, seria A análise prospectiva de cenário
economicamente mais viável a curto realizada pelo Pentágono para o ano de
prazo, contudo, não alteraria as 2035 vislumbra um crescimento
características do carro, tampouco permanente da influência do Brasil nas
mitigaria suas vulnerabilidades face às relações internacionais (EUA, 2005). A
ameaças que atualmente se intensificação da projeção do Brasil no
descortinam. Além disso, correríamos o concerto das nações e sua maior
risco que cometer os mesmos inserção em processos decisórios
equívocos que foram cometidos com o internacionais tornam necessário

AÇÃO DE CHOQUE 63
estruturar a Defesa Nacional de modo O parque industrial brasileiro é
compatível com a estatura político- bastante diversificado e possui
estratégica do País. condições tecnológicas para levar a
Seguindo essa linha de cabo um projeto deste porte, desde que
raciocínio, substituir nossos Leopard haja vontade política. Isso pode ser
1A5 por um carro de combate principal confirmado ao verificarmos os projetos
moderno é algo extremamente válido. ousados na área de defesa que tiveram
Além do efeito dissuasório, tal sua gênese em território nacional como,
alternativa permite que o País venha por exemplo, o da aeronave KC 390
futuramente integrar missões (FURLAN, 2015) e o do blindado
internacionais em igualdade de sobre rodas Guarani. Até mesmo com
condições com países mais carros de combate já comprovamos tal
desenvolvidos bem como participar, capacidade, a partir do
com propriedade, dos diversos fóruns desenvolvimento do Osório e do
internacionais. Tamoyo III. (BERTAZZO, 2013).
A substituição por um carro
desenvolvido internamente, com alto
índice de nacionalização seria o ideal,
pois além de propiciar o
desenvolvimento da indústria nacional
de defesa, tal alternativa permite que o Figura 2: Carro de combate Osório, de
fabricação nacional.
carro seja concebido de forma a atender
Ainda com respeito à esta
as demandas contempladas nas nossas
alternativa, é conveniente ressaltar que
hipóteses de emprego. Fruto da
a empresa alemã Krauss-Maffei
experiência proporcionada pelo projeto
Wegmann, fabricante do Leopard, já
Leopard, há atualmente dados
possui uma base instalada no Brasil e já
disponíveis internamente bastante
declarou sua disposição em
precisos que nos permitiriam conceber
desenvolver um novo carro de combate
um carro adequado às nossas
no Brasil (BÖGE, 2015).
necessidades (BRASIL, 2010 b).
Entretanto, estudando o caso de

64 AÇÃO DE CHOQUE
países como Alemanha, Coreia do Sul, conceito da modularidade, podendo
Estados Unidos, França, Inglaterra, receber blindagens adicionais, reativas
Israel, Japão e Rússia, todos com ou não, sistemas de proteção ativos e
know-how de fabricação de carros de kits modulares para missões variadas
combate, a série histórica nos mostra como, por exemplo, operações em
que o projeto de um novo carro de áreas urbanizadas ou em áreas com
combate, desde sua concepção e condições climáticas extremas, dentre
estabelecimento dos requisitos outras (MBT BRAZIL, 2014). Desta
operacionais, passando pelo forma, acredito que no caso de uma
desenvolvimento e seus diversos testes futura aquisição, devemos buscar um
até sua entrada em operação, leva em carro que possua as características que
torno de dez anos (BLANC, 2015; atendam a estas tendências centrais.
MBT BRAZIL, 2014). Dessa forma, o Outra tendência de diversos
desenvolvimento de uma viatura com exércitos, particularmente os membros
tecnologia nacional não se apresenta da OTAN, é primar pela tecnologia em
como uma solução imediata viável para relação à quantidade. Mantém uma
este ciclo. tropa pequena (nível esquadrão ou
Caso a decisão seja por adquirir regimento) no estado da arte e o
um carro de combate no mercado restante das guarnições, dotadas de
internacional, voltamos ao estudo dos carros de combate mais modestos,
veículos desenvolvidos pelos países dentro das possibilidades econômicas
supra citados. Nestes estudos do país. Encaram essa estratégia como
verificamos que blindagem composta, uma forma de projetar poder, uma vez
armamento principal de 120mm e que nas missões externas,
optrônicos com elevada capacidade de prioritariamente, empregam suas tropas
busca, aquisição e transferência de no estado da arte (BRASIL, 2010 b).
alvos são algumas características Tal solução permite também que, em
comuns a tais carros de combate. seus respectivos centros de
Ademais, todos estes modelos treinamento, sejam desenvolvidos
foram concebidos observando o estudos a respeito do que há de mais

AÇÃO DE CHOQUE 65
moderno, estando, a qualquer tempo, todas estas vantagens em relação ao
em condições de operacionalizar nosso atual carro de combate, é da
instruções e treinamentos de tropas de mesma família de blindados, o
maiores efetivos. fabricante já possui base industrial no
País e ambos modelos guardam enorme
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES similaridade em seus sistemas de
controle de tiro. Este último aspecto
Precisamos ter o cuidado de não proporcionaria uma significativa
repetirmos os erros do passado, redução no tempo de adaptação das
mantendo um carro de combate em guarnições à nova viatura. Outro
serviço por vários anos mesmo com argumento que reforça esta sugestão é
altos índices de indisponibilidade. Isso, que o Exército já possui especialistas
além de ocasionar uma sensível perda nesta viatura. A criação de novos
de poder de combate, acaba por criar cursos, portanto, iria requerer menores
uma lacuna temporal na transmissão de esforços e custos.
conhecimentos e experiências no Acredito, ainda, que a solução
emprego de blindados. Ademais, gera ideal seja, em paralelo, iniciar o
uma grande desmotivação na tropa e desenvolvimento de um carro de
corrói a cultura do blindado. Face ao combate nacional. Mesmo que esta
exposto, considero que ainda que a solução não seja viável temporalmente
aplicação de um kit de modernização até o término da vida útil do Leopard
não seja a melhor solução, tal 1A5, ela não deve ser descartada para o
alternativa é melhor que nada. próximo ciclo. Caso esse
Acredito que a aquisição de um desenvolvimento não seja considerado,
carro de combate no mercado uma sugestão alternativa seria seguir o
internacional se apresenta como a modelo OTAN e adquirir uma
solução mais viável, realista e eficiente subunidade de viaturas da família
à substituição da frota Leopard 1A5 Leopard no estado da Arte (modelos
BR. Uma sugestão seria a VBC 2A6 ou 2A7), aumentando assim o
Leopard 2A4, pois além de possuir poder dissuasório e criando, desde já,

66 AÇÃO DE CHOQUE
uma massa crítica em condições de rapidamente expandir tal capacidade
operar tais meios e em condições de para as demais guarnições.

REFERÊNCIAS

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americano. Juiz de Fora: UFJF/Defesa, 2013.

BLANC, Cláudio. Guia Arsenal de Guerra: Tanques de Guerra. São Paulo: On


Line, 2015.

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apresentadas por dirigentes do polo industrial militar de Santa Maria ao Alto
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BRASIL. Diário Oficial da União. Termo de Contrato nº 024/2017-


COLOG/DMAT, 2017.

_____. Exército Brasileiro. Plano de Cursos e Estágios em Nações Amigas


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de Cavalaria Blindada, Iquique, 2010 ª

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_____. Ministério da Defesa. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília, 2012 a.

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_____. Portaria nº 001-Res, de 27 de fevereiro de 2012, do Comandante do


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Emprego Militar (EB10-IG-01.018), 1ª Edição, 2016.
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Operating Environment 2035. EUA, 2005.

FURLAN, Rodrigo. Dez Veículos Militares Projetados e Construídos no


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RIBEIRO, Marcelo Carvalho. Projetos Leopard e Guarani: Mudança Cultural


na Operação e Manutenção de Blindados. Porto Alegre: VI Encontro Nacional
da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, 2012.

68 AÇÃO DE CHOQUE
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AÇÃO DE CHOQUE 69
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