Você está na página 1de 3

Escola Secundária Vergílio Ferreira | Filosofia | 11ºano | turma 11ª

Argumento Ontológico
Será que Deus existe? Muita gente já se questionou tal coisa, e não é de agora. Durante
séculos e séculos, diversos filósofos procuraram a resposta para esta pergunta ainda atual. René
Descartes, que se interessou por procurar a solução desta questão, apresentou três argumentos
que visam defender a existência de Deus. Nesta tese irei apresentar e refletir sobre um deles, o
argumento ontológico.

Sempre que imaginava um ser sumamente perfeito, Descartes associava determinadas


propriedades positivas tais como a omnipotência, a omnisciência, a eternidade, a veracidade, a
infinidade e a existência. Para um ser poder ser considerado perfeito (Deus) é necessário que
exista, caso contrário faltar-lhe-ia uma propriedade associada à perfeição. Chegou à conclusão,
de forma à priori, de que um ser sumamente perfeito existe porque a existência é uma
propriedade da sua perfeição. Em suma, Deus tem de existir porque possui todas as perfeições e
a existência é uma perfeição.

Este argumento ontológico de Descartes pode ser organizado da seguinte forma:

1-Um ser sumamente perfeito tem todas as perfeições.

2-A existência é uma perfeição.

3-Logo, um ser sumamente perfeito existe.

A tese que vou apresentar vai contra este argumento pois, de uma forma geral, defendo
que a existência tem de ser confirmada de forma à posteriori e não à priori. Ou seja, a existência
de Deus não é um conhecimento inato que encontramos em nós, como foi formulado o
argumento ontológico, mas sim um conhecimento que obtemos através da nossa experiência
sensorial.

Para saber se algo existe eu tenho de ter uma experiência sensorial em relação a esse
algo. Um exemplo, eu apenas fiquei a saber que bicicletas elétricas existiam quando as vi. Não
foi um conhecimento que obtive através de emoções, sonhos, desejos, …, mas sim através da
minha visão, uma das experiências sensoriais. Um outro exemplo é que eu posso imaginar uma
casa perfeita, mas antes de a ver não posso saber se ela realmente existe, porque o facto de eu
conseguir imaginar algo com todas as perfeições não significa que tal coisa tenha
necessariamente de existir. Só posso saber se algo realmente existe concretamente através da
minha audição, visão, tato…

Posso me apoiar em Kant que se opõe ao argumento ontológico de Descartes atacando a


segunda premissa deste argumento (“A existência é uma perfeição”). De acordo com Kant a
existência não é uma propriedade, logo não é uma perfeição. Na realidade é necessário que

Trabalho realizado por:


Ana Patrícia Lamego, nº1
Escola Secundária Vergílio Ferreira | Filosofia | 11ºano | turma 11ª

Deus exista para podermos atribuir-lhe qualquer propriedade, tornando a existência uma
condição. Adaptando este argumento para a minha tese posso dizer que para Deus ser perfeito é
necessário termos provas concretas, com base na experiência sensorial, que este existe e só
então podemos admitir que é perfeito ou que possuí quaisquer propriedades. Como Kant afirma
que a existência é uma condição, também eu aplico este pensamento, completando-o: só depois
de termos uma experiência sensorial, que nos permite comprovar a existência de um ser
perfeito, é que podemos chegar à conclusão de que este possui todas as perfeições que
imaginávamos que possuía. Mas porquê a experiência sensorial? Para além dos exemplos
anteriormente dados por mim (das bicicletas elétricas e da casa perfeita), encontrei outro aspeto
no argumento ontológico que me fez refletir. Se Descartes tem a ideia de que Deus é superior a
nós então não pode apenas existir nas nossas mentes (mentes duvidosas de seres imperfeitos).
Logo, é necessário vermos, ouvirmos ou tocarmos Deus para saber se este existe. Por ser
superior a nós, não somos nós que podemos comprovar que este existe através da nossa ideia de
perfeição.

Tenho a consideração que a minha reflexão apresenta fragilidades. Primeiramente, o


cogito “penso logo existo” foi obtido de forma inteiramente racional e à priori, logo foi possível
chegar à conclusão, de forma à priori, que algo existe. Outra falha identificada na minha
reflexão é que o argumento da marca afirma que a ideia de perfeição não foi criada por nós, mas
sim colocada em nós pelo próprio Deus. Estes dois contra-argumentos permitem dar mais
credibilidade ao argumento ontológico. De qualquer das formas mantenho a minha opinião
firme em relação à necessidade da experiência sensorial para provar a existência de Deus, até
porque para encontrarmos a ideia de Deus dentro de nós é preciso a confirmação de argumentos
que originam dúvidas (como o próprio argumento da marca).

Concluindo, defendo que o argumento ontológico não prova a existência de Deus,


porque este argumento baseia-se no racionalismo e a existência de Deus têm de ser comprovada
através do empirismo. Sem experiência sensorial não existe Deus.

Trabalho realizado por:


Ana Patrícia Lamego, nº1
Escola Secundária Vergílio Ferreira | Filosofia | 11ºano | turma 11ª

Trabalho realizado por:


Ana Patrícia Lamego, nº1

Você também pode gostar