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Introdução
Os editores.
• Evangelho Segundo São Mateus •
É muito provável que Mateus não seja o mais antigo dos quatro evangelhos;
atribui-se em geral essa distinção a Marcos. Mas há alguns motivos
significativos para ele vir em primeiro lugar no cânone do Novo Testamento.
Como biografia de Jesus, Mateus apresenta temas cristãos diferentes, tais
como: uma forte ênfase em Jesus como o Messias, seu nascimento da Virgem
Maria, batismo, orador dos assuntos sagrados, os ritos da Última Ceia, o
papel principal para o apóstolo Pedro, e a promessa de contínua presença de
Jesus. Além disso, o primeiro Evangelho contém elementos judaicos, como a
estrutura poética, os argumentos de escribas, uma ênfase na lei, observância
e religiosidade, o emprego de números simbólicos, as citações das escrituras
para indicar o cumprimento de profecias e a genealogia que dá início ao
texto.
Como os outros três evangelhos, Mateus foi escrito em grego, a língua do
comércio e da cultura no Império Romano. E composto evidentemente nos
anos 80 do primeiro século da era cristã, talvez por um membro judeu da
Igreja cristã em Antioquia, na Síria. O autor anônimo parece conhecer bem a
destruição do templo em 70 d.C. e descreve os fariseus, grupo bastante ativo
naquela época, como os principais adversários de Jesus. No segundo século,
deu-se o nome de Mateus, discípulo de Jesus, ao primeiro Evangelho, a fim
de emprestar-lhe autoridade – embora não haja provas de que ele foi o autor
de sua composição.
O Evangelho é cuidadosamente ordenado em torno de cinco discursos
considerados principais de Jesus que pontuam a narrativa biográfica: o
Sermão da Montanha (capítulos 5-7), instruções para os discípulos
missionários (capítulo 18) e a parte que fala sobre as coisas últimas
(capítulos 24-25). Todos levam ao poderoso relato da crucificação e
ressurreição de Jesus.
Então foi levado Jesus pelo espírito ao deserto, para ser tentado
pelo diabo. MT 4:1
Todo aquele pois que ouve estas minhas palavras, e as observa, será
comparado ao homem sábio, que edificou a sua casa sobre rocha. MT
7:24
Vede que eu vos mando como ovelhas no meio de lobos. Sede logo
prudentes como as serpentes, e simples como as pombas. MT 10:16
E lhe falou muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis aí que saiu o
que semeia. MT 13:3
E
m meio a tantas controvérsias, Mateus descreve o terceiro discurso de Jesu
o ensinamento através das parábolas. A história do semeador que lança
sementes com a mão (Mt 13:3-9, 18-23) reflete como a mensagem do
reino dos céus era transmitida e chegava às pessoas. O destino da semente (ou
mensagem) revela a condição da terra (ou coração) na qual ela cai. Alguns
solos são áridos e improdutivos; outros, frutíferos a princípio, mas, por várias
razões, acabavam secando antes da colheita; e outros ainda têm boa terra e
rendiam muitos frutos.
Para vários ouvintes, estas parábolas continuavam sendo apenas histórias
interessantes. Mas, para aqueles que captam seu sentido mais profundo, elas
serviriam como uma poderosa revelação do reino dos céus. Os que
compreendem a mensagem do reino, explica Jesus, encontram uma coisa tão
valiosa (“tesouro escondido no campo”, ou “boas pérolas” Mt 13:44, 45) que
venderiam tudo o que têm pelo prazer que sentiriam ao encontrá-lo, e
venderiam qualquer propriedade para ganhar seu lugar no reino. Daí em
diante, o reino dos céus é o centro de sua própria existência.
Mas entre vós todo o que quiser ser o maior, esse seja o que vos
sirva (...) Assim como o Filho do homem não veio para ser servido,
mas para servir, e para dar sua vida em redenção por muitos. MT
20:26, 28
E tanto as gentes que iam adiante, como as que iam atrás, gritavam,
dizendo: Hosana ao filho de Davi! Bendito o que vem em nome do
Senhor! Hosana nas maiores alturas! MT 21:9
Visão do Conjunto
M arcos descreve como era confuso estar perto de Jesus naqueles dias.
As notícias deste ousado mestre, que desafiava as autoridades
tradicionais, fazia curas e dava esperanças a todas as espécies de gente,
atraíam multidões de lugares distantes do sul, leste e norte. Quando pessoas
possuídas por demônios clamaram que ele era filho de Deus, a especulação
tomou vulto. Os judeus jamais pensaram em Deus tendo um filho, a não ser
o rei, que, na Antiguidade, era descrito em termos metafóricos como filho
de Deus. Poderia a palavra dos espíritos imundos conter alguma verdade?
Para escapar às hordas e especulações ensandecidas, Jesus subiu
sozinho a uma colina e depois chamou para junto de si 12 dos mais íntimos
e leais seguidores a fim de nomeá-los apóstolos (que vem da palavra grega
“enviar a serviço”). Eles deveriam permanecer então com Jesus, mas depois
foram enviados como seus emissários. Ao contrário das multidões que
chegavam por curiosidade ou em busca de milagres, ou das autoridades que
observavam Jesus apenas para condená-lo, esses iriam ser os que chegavam
para ver com clareza quem era realmente Jesus. Marcos mostra, contudo,
que os 12 se achavam apenas no início do que seria uma árdua luta.
A oposição a Jesus intensificou-se. Sua postura destemida contra as
autoridades religiosas convencionais convence até a sua família de que “ele
está furioso” (Mc 3:21). Os escribas de Jerusalém eram ainda mais severos,
dizendo que ele é um agente de Belzebu ou Satanás. Esta acusação, diz
Jesus, era o oposto da verdade. Ele estava empenhado em uma luta em que
seus aliados eram definidos não por laços de família nem pela autoridade
tradicional, mas pelo compromisso de fazer a vontade de Deus.
U ma das formas de Jesus lidar com as diversas atitudes para consigo sua
mensagem era narrar histórias breves, as parábolas. A parábola
envolve um certo elemento de comparação ou paralelo entre um sentido
superficial e outro mais profundo. O sentido superficial é logo entendido,
mas a compreensão do mais profundo pelo ouvinte depende de ele ter, como
diz Jesus, “ouvidos de ouvir” (Mc 4:9). Jesus conta a parábola do semeador
a semear em quatro tipos de solo, para destacar as várias reações às suas
mensagens. Algumas pessoas são como solo em um caminho duro, onde as
aves comem as sementes. Algumas são como o solo rochoso: reagem
positivamente à mensagem, mas não conseguem enfrentar as dificuldades
que ela acarreta. Algumas são como solo cheio de espinhos: seu amor por
dinheiro e outros desejos sufocam a mensagem. Mas algumas são como
solo fértil, e a mensagem produz uma colheita prodigiosa. Muitos, ele diz,
embora ouçam, “não entendem”, mas, quando alguém aceita a mensagem, a
compreensão multiplica-se, “porque ao que já tem, dar-se-lhe-á” (Mc 4:12,
25).
Jesus ajudava seus discípulos a verem nas parábolas “o segredo do reino
de Deus”, embora manifestasse surpresa com a dificuldade que tinham para
entendê-lo. Por meio de suas parábolas, ele exibia total confiança em que,
apesar da oposição à sua missão, o reino de Deus prosperaria. Era como a
semente que brotava da terra nutridora e produzia uma colheita completa.
Como um pequeno grão de mostarda que produzia um arbusto enorme.
J esus retornou ao território judeu e encontrou duas situações onde ele era
necessário: uma questão de vida e morte, e um tipo de contaminação
ritual (que é como uma morte religiosa perpétua). Em Marcos, há a
narrativa das circunstâncias com muito mais detalhes que em Mateus e
Lucas.
Jairo, um líder da sinagoga, implorou a Jesus que fosse com ele e
curasse a filha à beira da morte. Jesus logo seguiu Jairo, acompanhado por
uma multidão de gente, mas foi interrompido em sua missão urgente por
uma mulher na multidão que lhe tocou a túnica. A mulher sofria de uma
hemorragia constante que, segundo a lei religiosa, a tornava ritualmente
contaminada e a excluía de todos os ritos de devoção. Deus trabalhou
através de Jesus e, quando ela o toca, fica imediatamente curada. Ele sente
o que aconteceu e insiste em identificar a mulher, elogiando então sua fé,
que vencera seu medo e fizera-a agir.
Mas o atraso parece trágico quando mensageiros anunciam que a filha
de Jairo havia morrido. Contudo, mesmo o poder da morte não arrefece
Jesus. Para os outros, a morte é o fim da esperança, mas para ele não é mais
que um sono do qual ele pode acordar a menina com uma palavra.
J esus sabia que seus discípulos precisavam ser submetidos a uma grande
transformação em termos de pensamento, e começa a concentrar todos os
seus esforços em ensiná-los pessoalmente. A transformação tinha de surgir
da compreensão que teriam do sofrimento dele. E assim, pela segunda vez,
Jesus deu-lhes uma mostra de sua futura traição, morte e ressurreição. Mas
unir em seus corações o conceito de Messias com traição, sofrimento e
morte exigia-lhes repensar tudo que achavam que sabiam sobre como Deus
salvaria seu povo: “Mas eles não entendiam o discurso: e tinham medo de
lho perguntar” (Mc 9:31).
O que eles entendiam era a glória do Messias, e discutiam entre si qual
deles teria as maiores posições no reino vindouro. Mais uma vez, Jesus
tentou mudar-lhes a maneira de pensar. Tomou nos braços um menino para
mostrar que a grandeza não poderia ser encontrada no poder e na posição.
Quando se acolhe uma criança desamparada, serve-se a Jesus e a Deus, que
o enviou.
Jesus insistia em que não pensassem em si como um círculo fechado
que fazia milagres em seu nome: “Porque quem não é contra nós é por nós.”
Na verdade, eles precisavam ter muito cuidado para não corromper a fé
cada vez mais frágil de “um destes pequenos que creem em mim” (Mc 9:39,
41). Do mesmo modo, em termos mais fortes possíveis, Jesus adverte-os a
cortar qualquer motivo em si mesmos que bloqueasse ou destruísse sua fé
em Deus e impedisse-os de entrar em seu reino.
Não temais: porque eis aqui vos venho anunciar um grande gozo,
que o será para todo o povo! E é que hoje vos nasceu na cidade de
Davi o Salvador, que é o Cristo Senhor. LC 2:10-11
Ide referir a João o que tendes ouvido, e visto: Que os cegos veem,
os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os
mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Evangelho: e que é
bem-aventurado todo aquele que se não escandalizar a meu
respeito. LC 7:22-23
M mestre da lei pergunta o que deveria fazer para herdar a vida eterna.
Jesus devolve-lhe a pergunta e concorda com um erudito quando ele
cita os grandes mandamentos: amar a Deus e ao próximo como a si mesmo.
“Faze isso, e viverás” (Lc 10:28). Quando o advogado indaga sobre a
definição de “próximo”, Jesus responde-lhe com a parábola do Bom
Samaritano a fim de mostrar que não poderia haver limites à
responsabilidade com um próximo. Após um sacerdote e um levita
ignorarem a agonia de um homem roubado e deixado à morte na beira da
estrada, um samaritano que ali passava, ao vê-lo, se enche de compaixão e
trata o ferido.
Mais uma vez, veio à tona a questão do que seria fundamental para a
vida – mas de forma diferente – quando Jesus visitou suas amigas Maria e
Marta. Maria passava seu tempo aprendendo os ensinamentos de Jesus,
enquanto Marta estava às voltas com as responsabilidades de servir o
convidado. Jesus exortou Marta a concentrar-se, como Maria, em seu
ensinamento sobre o que era realmente necessário na vida.
Em outra ocasião, os discípulos de Jesus pedem-lhe que os ensinem a
orar, e ele dá-lhes a breve e bem concentrada oração, conhecida através dos
séculos como “Oração do Senhor” ou “Pai Nosso”. Também os ensinava a
ser persistentes na oração e confiar em Deus, pois “o vosso Pai celestial dará
espírito bom aos que lho pedirem!” (Lc 11:13).
Os adversários de Jesus começaram a atribuir seu poder a forças
demoníacas. Jesus ridicularizava esta inversão da realidade que faria Satanás
ficar também “dividido contra si mesmo”. Mas como era pelo poder de Deus
que ele expulsava demônios, disse Jesus, “é certo que chegou a vós o reino
de Deus”. Bem-aventurados sejam, acrescenta, “aqueles que ouvem a
palavra de Deus, e a guardam” (Lc 11:18, 20, 28).
Vigiai pois, orando em todo o tempo, a fim de que vos façais dignos
de evitar todos estes males, que têm de suceder, e de vos
apresentardes com confiança diante do Filho do Homem. LC 21:36
L ucas indica em seu texto que, após a prisão, Jesus foi levado à casa do
sumo pontífice. Cheio de temor, Pedro entrou no pátio para aquecer-se
junto a uma fogueira. Três pessoas interpelaram-no sobre o acontecido, e
três vezes ele negou conhecer Jesus. Então “voltando-se o Senhor pôs olhos
em Pedro” (Lc 22:61). E, lembrando-se das palavras que Jesus lhe dissera,
chorou amargamente.
Ao amanhecer, Jesus foi julgado e condenado pelos anciãos do povo, os
principais sacerdotes e os escribas, pelas supostas afirmações de que ele
seria o Messias e o Filho de Deus. Em rápida sequência, eles levam Jesus a
Pilatos, o governador romano, para que se fizessem as acusações: recusa-se
a pagar os tributos e proclama-se a si mesmo como Cristo Rei. Pilatos
reconhece que as acusações eram forjadas, mas como Herodes Antipas
estava em Jerusalém para as festividades da Páscoa, e o território de
Herodes englobava a Galileia, ao saber que Jesus era galileu ele o envia a
Herodes para ser interrogado. Herodes alegra-se com a oportunidade de
interrogar um famoso profeta, de quem muito ouvira falar, e talvez de até
ver um de seus milagres. Mas, quando Jesus responde-lhe com um silêncio
de pedra, Herodes manda-o de volta ao governador romano. Naquele dia,
acrescenta Lucas, “ficaram amigos Herodes e Pilatos, porque estavam antes
inimigos um do outro” (Lc 23:12).
Embora considerasse Jesus inocente de qualquer crime, Pilatos deturpa o
processo e, consequentemente, o julgamento, condenando-o à crucificação,
ao ser pressionado por uma multidão que clama por sua morte. Ao ser
crucificado, Jesus reconhece o fato maior da salvação que Pilatos, os
sacerdotes e as multidões não conseguiam ver: “Pai, perdoa-lhes, porque não
sabem o que fazem” (Lc 23:34). Lucas diz que Jesus estava tomado por um
sentimento de paz durante todas as terríveis horas da crucificação. Quando
um dos criminosos crucificados com ele pede-lhe misericórdia, Jesus
responde: “Em verdade te digo: que hoje serás comigo no paraíso.” Mesmo
em suas últimas palavras, Jesus fala como o salmista: “Pai, nas tuas mãos
encomendo o meu espírito” (Lc 23:43, 46; Sl 31:5).
Porque assim amou Deus ao mundo, que lhe deu seu Filho unigênito:
para que todo o que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna. JO
3:16
Mas o que beber da água que eu lhe hei de dar, nunca jamais terá
sede. JO 4:13
Q uando Jesus deixa Jerusalém e volta para a Galileia mais uma vez, logo
se vê em um lugar muito pouco auspicioso, conversando com uma
interlocutora humilde; o poço de uma aldeia, no campo montanhoso da
Samaria, falando com uma mulher do povo. Segundo o costume judaico,
rabinos não deviam conversar em público com mulheres, porque as pessoas
podiam começar a maldizer. Os judeus também evitavam a Samaria por causa
de uma rivalidade muito antiga entre os dois povos. Eles consideravam os
samaritanos um povo mestiço – israelitas que se casaram com estrangeiros
depois da anexação do norte do reino judaico pelo Império Assírio, em cerca
de 722 a.C. A rixa aprofundou-se quando os samaritanos construíram seu
próprio templo em cerca de 400 a.C., e mais uma vez quando os judeus o
destruíram cerca de trezentos anos depois.
Jesus e seus discípulos chegaram à aldeia samaritana de Sicar por volta do
meio-dia. Fatigado, Jesus sentou-se à borda do poço enquanto os discípulos
saíram para comprar comida. Enquanto Jesus estava ali descansando, uma
mulher chega com um balde para retirar água e ele pede que ela lhe desse de
beber. A mulher fica surpresa com o fato de um judeu pedir-lhe alguma coisa
e diz-lhe isso. Jesus responde: “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o
que te diz: Dá-me de beber: tu certamente lhe pediras, e ele te daria a ti da
água viva” (Jo 4:10). Além disso, acrescentou Jesus, essa água especial sacia a
sede para sempre – uma perspectiva sedutora para alguém que mora na árida
Samaria.
A mulher interpreta de forma errada as palavras de Jesus, pois entende as
suas palavras em termos literais, como fizera antes Nicodemos. “Água viva” é
uma expressão comum para água fresca corrente, que flui de uma fonte ou rio.
A mulher pede a Jesus um pouco dessa água mágica, “para eu não ter mais
sede, nem vir aqui tirá-la” (Jo 4:15).
Jesus usa sua visão milagrosa e a história pessoal da mulher para ajudá-la
a compreender que ele não se referia à água física. Ele descrevia a si mesmo
como a fonte de água espiritual. De maneira semelhante à usada por Jeremias
ao descrever Deus: “o Senhor, que é a fonte das águas vivas” (Jer 17:13).
Jesus começou a descrever a vida daquela mulher para ela mesma: ela havia
se casado cinco vezes e estava vivendo com um homem que não era seu
marido. Diante destas palavras, a mulher vai correndo à cidade e traz muita
gente para conhecer Jesus. Em consequência, muitos samaritanos na cidade se
convencem de que ele é “verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4:42).
Acolhido ao voltar para a Galileia, Jesus realiza seu segundo milagre: a
cura do filho de um funcionário gentio.
J esus volta a Jerusalém para participar de uma das festas judaicas. Ali, vê
um homem enfermo há 38 anos, deitado em um tapete junto a uma piscina
famosa por seus cinco pórticos – galerias com colunas em que se apoiavam
telhados. Arqueólogos descobriram as ruínas de uma dessas piscinas na
entrada de um pátio onde antes se erguia o templo.
O enfermo estava deitado com outros inválidos. Havia uma lenda que
dizia que de vez em quando um anjo toca a água e cria uma ondulação; a
primeira pessoa que estivesse na piscina após este acontecimento seria curada.
Em um milagre narrado apenas em João, Jesus cura o enfermo e diz-lhe que
pegue a cama e ande. Quando os líderes judeus tomam conhecimento do
ocorrido, não manifestam alegria alguma pela cura desse homem. Ao
contrário, condenam o milagre como uma violação do sábado, o dia de
descanso judaico, pois o Antigo Testamento ensina que os judeus não devem
trabalhar no sábado. Os fariseus, estritos cumpridores da lei, seguem uma
longa lista de proibições de sábado. Também a cura nesse dia – exceto em
casos de vida ou morte – é uma das atividades condenadas.
Ao enfrentar essa acusação, Jesus oferece uma resposta breve, mas
surpreendente: Se Deus, seu Pai, trabalhava no sábado, ele também iria fazê-
lo. Os judeus, em contrapartida, retaliam e tramam matá-lo “porque não
somente quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu Pai,
fazendo-se igual a Deus” (Jo 5:18).
Jesus disse para Filipe: Com que compraremos nós o pão, de que
estes necessitam para comer? JO 6:5
O que de vós outros está sem pecado, seja o primeiro que a apedreje.
JO 8:7
A mais dramático dos sete “prodígios”, ou milagres, que João usa para
provar a divindade de Jesus.
Depois que Lázaro adoeceu e começou a agonizar em Betânia, suas irmãs,
Maria e Marta, mandam avisar o amigo Jesus. Esperavam que ele viesse
imediatamente para curar o irmão. Porém Jesus deixa-se ficar mais dois dias
onde estava. “Esta enfermidade...”, ele explica aos discípulos, destina-se “... a
dar glória a Deus, para o Filho de Deus ser glorificado por ela” (Jo 11:4).
Quando Jesus chega, soube que Lázaro morrera havia quatro dias. Muitos
judeus da época acreditavam que a alma da pessoa demorava-se junto ao
corpo por três dias para o caso de o corpo ser ressuscitado. No quarto dia, toda
a esperança de reunir alma e corpo se dissipava.
Família e amigos de Lázaro encontravam-se na casa de Maria e Marta em
uma aldeia nos arredores de Jerusalém. Ao vê-los chorando, desconsolados,
Jesus também cai em prantos. Depois, vai com os enlutados até a sepultura.
Para assombro do grupo, ele ordena que abram o sepulcro. Marta protesta
no mesmo instante, argumentando que o corpo em decomposição ia cheirar
mal. Ao que Jesus responde, com brandura: “Não te disse eu, que se tu creres
verás a glória de Deus?” É então retirada a pedra que cobria a sepultura, e ele
clama em alta voz: “Lázaro, sai para fora!” (Jo 11:40, 43). Diante do choque
horrorizado dos enlutados, Lázaro sai, envolto em ataduras da cabeça aos pés.
Para muitas pessoas, este milagre prova que Jesus tinha poder sobre a vida
e a morte, e que ele era ao mesmo tempo o Messias e o Filho de Deus. Mas
vários líderes judeus continuam descrentes. Pior, viam Jesus como uma
ameaça extrema e imediata à segurança nacional judaica. Temiam que a nação
se congregasse em volta dele como o Messias e que depois desencadeasse
uma revolução pela independência, a qual Roma inevitavelmente esmagaria.
“Se o deixamos assim livre, crerão todos nele: e virão os romanos e tirar-nos-
ão o nosso lugar e a nossa gente” (Jo 11:48).
Por mais espantoso que pudesse parecer, a solução que apresentavam era
matar Jesus e o homem que ele ressuscitou dos mortos. João não conta o que
aconteceu com Lázaro, mas escreve sobre alguns dos mais reveladores
momentos de Jesus na Terra.
E depois que eu for, e vos aparelhar o lugar: virei outra vez, e tomar-
vos-ei para mim mesmo, para que onde eu estou estejais vós também.
JO 14:3
J esus acabava de dar aos discípulos uma notícia dilacerante: ele iria morrer.
Durante os últimos e vários anos, esses homens dedicaram sua vida ao
Mestre. A perspectiva de sua morte iminente deixou-os arrasados.
“Não se turbe o vosso coração”, tranquiliza-os Jesus. “Credes em Deus,
crede também em mim.” Então explica que precisava retornar à casa de seu
Pai para preparar-lhes um lugar. Depois, disse que voltaria e os levaria
consigo para que “vós sabeis para onde eu vou, e sabeis o caminho” (Jo 14:1,
4), ele acrescentou. Tomé logo contestou, dizendo que não sabia para onde
Jesus iria, nem como chegar lá.
“Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por
mim” (Jo 14:6). Graças a ensinamentos como este, os cristãos da primeira
geração descreviam-se como seguidores de O Caminho. Para eles, Jesus era o
único caminho para a vida eterna.
Não fica claro o que Jesus quis dizer quando explicou que viria outra vez.
Estudiosos especulam que ele talvez se referisse às suas aparições pós-
ressurreição, ou à descida do Espírito Santo sobre os apóstolos no Pentecostes,
ou à sua presença mística nos rituais da Igreja, ou ainda uma aparição logo
após a morte, quando escoltaria os fiéis para sua recompensa eterna. Contudo,
muitos estudiosos acham que Jesus se referia a um retorno mais literal
conhecido como Segundo Advento – após o qual levaria todos os fiéis para o
céu.
Até este retorno, promete Jesus aos discípulos, ele iria responder
pessoalmente a qualquer pedido que avançasse a obra por ele iniciada – o
sentido provável de: “E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, eu vo-lo
farei” (Jo 14:13). Além disso, acrescenta Jesus, o Pai mandará o Espírito
Santo para lembrá-los do que ele lhes ensinou, e ensinar-lhes mais.
Pai, é chegada a hora, glorifica a teu Filho, para que teu Filho te
glorifique a ti. JO 17:1
m sua mais longa oração que é relatada – presente apenas no Evangelho de
E João –, Jesus faz várias súplicas a Deus Pai. Roga por si mesmo, pelos
apóstolos e pela Igreja, aqueles que depois hão de crer nele por meio dos
apóstolos.
Ele ergue os olhos ao céu e reconhece que se aproxima a hora de sua
crucificação. Por isso, as palavras que agora profere representam seus desejos
mais profundos. Ao dizer que já concluiu a obra que Deus lhe encarregou que
fizesse, Jesus roga ao pai que o glorificasse nele e que lhe fosse restituída a
glória ao lado dele, que ele teve “antes que houvesse mundo” (Jo 17:5). Pediu
também ao Pai que este regozijo lhe fosse restituído de uma maneira que
revelasse nele a glória eterna do próprio Senhor e mostrasse que Jesus Cristo
fora enviado por ele para glorificá-lo na Terra.
Em nome dos apóstolos, que Jesus também envia ao mundo, como o Pai o
enviara, ele roga a Deus: “Santifica-os na verdade. A tua palavra é a verdade”
(Jo 17:17). “Santificar” quer dizer consagrar ou reservar a Deus. Jesus pede
que os discípulos permaneçam santificados em Deus e na verdade sobre a
salvação, em vez de voltarem a fazer parte das pessoas mundanas que
rejeitaram tanto o Senhor quanto aquele que fora enviado por Ele.
Jesus também pede por todos que irão crer nele pelo testemunho dos
apóstolos. Sua oração que irá se tornar a característica da disseminação da
Igreja “para que eles sejam um, como também nós somos um” (Jo 17:22). É
uma súplica pela unidade. Jesus quer que seus seguidores vivam em harmonia
uns com os outros. Quer vê-los unidos pelo mesmo tipo de amor que une o Pai
e o Filho, “para que o mundo conheça que tu me enviaste e que tu os amaste,
como amaste também a mim” (Jo 17:23).
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil a
partir de 2009.
Revisão:
Camila Dias
Imagens: Thinkstock
e-ISBN: 978-85-7645-541-7