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Introdução aos Evangelhos

INTRODUÇÃO:
Os cristãos consideram os quatro Evangelhos como o centro do Novo
Testamento. A palavra Evangelho vem do Grego que significa Boa Nova. Entre
os cristãos passou a significar a mensagem de Cristo, “aquilo que Jesus fez e
disse” (At 1, 1). A Igreja reconhece 4 narrações dos Evangelhos como
inspirados e canônicas: O Evangelho segundo São Mateus, Marcos, Lucas e
João.
OS QUATRO EVANGELISTAS:
Os quatros evangelistas são Mateus, Marcos, Lucas e João Marcos e
Lucas não fazem parte dos Doze Apóstolos. Conforme uma profecia de
Ezequiel e uma passagem em Apocalipse (Ez 1, 4-10, e Ap 4, 6-8). a tradição
cristã dos séculos II/IV representa os evangelistas por símbolos ou figuras de
animais, da seguinte maneira:
Mateus – representado pela figura de um homem, porque começou a
escrever seu Evangelho dando a genealogia de Jesus (dimensão da obra
prima de Deus; a imagem e semelhança de Deus);
Marcos – representado pela figura de um leão, porque começou a
narração de seu Evangelho no deserto, onde mora a fera (dimensão de força,
realeza, poder, autoridade);
Lucas – representado pelo Touro, porque começou a narração pelo
templo, onde eram imolados os bois (dimensão de oferta);
João – representado pela Águia, por causa do elevado estilo de seu
Evangelho, que fala da Divindade e do Mistério altíssimo do Filho de Deus.
A FORMAÇÃO (COMPOSIÇÃO) DOS EVANGELHOS:
Atualmente a teoria das fontes e uma teoria defendida pela maioria dos
exegetas, para explicar a formação dos Evangelhos sinóticos. Esta teoria
afirma o seguinte: Marcos é o mais antigo dos nosso Evangelhos, seguido por
Mateus e Lucas, independentemente um do outro, Acredita-se que existiu um
outro documento especial onde havia Palavras e discursos de Jesus. Esse
documento hipotético, que deve ter sido escrito em grego, é chamada “Q”, do
alemão Quelle (fonte), teria sido uma fonte usada para compor, juntamente
com o Evangelho de Marcos, os Evangelhos de Mateus e Lucas. Quanto ao
Engelho de São João foi escrito, em grego, por volta do ano 100.
O Evangelho foi anunciado oralmente e depois escrito. Há um intervalo
de 30 a 70 anos entre Jesus e o texto definitivo dos Evangelhos. Na verdade
Jesus pregou sem deixar nada por escrito, nem tampouco mandou os
apóstolos escreverem. A Igreja admite três etapas nesse período de tempo:
a. De Jesus aos Apóstolos – Jesus pregava a Boa Nova usando a
linguagem dos rabinos (Parábolas), Após a ressurreição, Cristo investiu os
apóstolos da missão de pregar o Evangelho por todo o mundo, o que se deu
após o dia de Pentecostes.
b. Dos Apóstolos às primeiras Comunidades cristãs – Jesus morreu e
ressuscitou não abandonou os seus discípulos. Enviou o Espírito Santo para
orientar os Apóstolos na fiel pregação do Evangelho. Ele mesmo disse “não
vos preocupeis com o que haveis de dizer…” A mensagem de Jesus foi levada
de Jerusalém para Samaria, Galiléia, Síria, Grécia, Roma … Até os confins da
terra. Depois da morte de Jesus e reunindo comunidades para viver um estilo
de vida de acordo com a Palavra e a ação de Jesus.
Essa pregação inicial era chamada de primeiro anúncio, ou Kerigma, era
uma pregação curta, que gerava frutos de conversão e a adesão a Jesus, cujo
tema central era a vitória de Jesus sobre o pecado e a morte obtida na cruz –
Páscoa -, a ressurreição etc…
Depois desse anúncio começava a catequese, isto é, de educação para
uma vida segundo a fé. É esta etapa de catequese nas comunidades iniciarem
as tradições orais e também os primeiros escritos que formaram mais tarde os
Evangelhos, pois a medida que iam pregando o Evangelho, os apóstolos
sentiram necessidade de escreverem o que pregavam para facilitar a
aprendizagem texto de parábolas, milagre, profecias, narrativas da paixão e
ressurreição, para poder transmitir as verdades da fé.
c. Das primeiras Comunidades cristãs aos Evangelhos – Assim os
evangelho são um espelho de catequese que era feita nas primeiras
comunidades cristãs. Essa pregação chamava-se dedachê, nela estava
incluído o conteúdo do querigma, passando porém, a uma formação cristã mais
profunda para aquelas comunidades. O Sermão da Montanha é um exemplo
clássico da didachê.
Das diversas compilações feitas nas Comunidades, quatro foram
reconhecidas pela Igreja como canônicas, isto é autêntica Palavra de Deus. Dai
surgiu os quatro Evangelhos segundo Mateus, Marco, Lucas e João. Os quatro
Evangelhos são semelhantes entre si porque tratam do mesmo Jesus.
Apresentam variações diferentes porque nasceram em comunidades
diferentes. Os Evangelhos aparecem entre 30 e 70 anos depois da morte de
Jesus. A intenção não era fazer uma biografia, uma história de Jesus. Queriam,
sim, converter, esclarecer e manter vivo nas comunidades o compromisso com
Jesus, recordando suas palavras, sua morte e ressurreição.
FIDELIDADE HISTÓRICA DOS EVANGELHOS
Mesmo se fora da Bíblia não tivéssemos testemunho algum sobre a vida
de Jesus não seria de modo algum para se estranhar, levando em conta que
para historiografia daquela época, a vida de Jesus não podia constituir um
acontecimento da importância decisiva. Porém tais testemunhos existem.
Flávio José (37-97dC) – nascido em Jerusalém, conheceu a primitiva
comunidade cristã de Jerusalém. Membro de uma família da nobreza
sacerdotal, interessou-se em observar, criticar e até escrever sobre esta nova
religião e sobre seu fundador Jesus Cristo. Plínio o Moço (62-114dC) –
governador da Província da Bitínia pediu instruções ao imperador Trajano
sobre o comportamento a adotar com relação aos cristãos.
1. A mensagem de Jesus Cristo se propagou como o acompanhamento
dos Apóstolos. – As comunidades surgiram sempre com a presença de um
apóstolo. Lembremo-nos, por exemplo, de que, “quando os apóstolos
souberam em Jerusalém que a Samaria tinha recebido a Palavra de Deus,
enviaram Pedro e João para lá (At 8, 14). “Pedro viajava por toda parte” na
terra de Israel, a fim de atender às necessidades dos cristãos (At 9, 32). São
Paulo mantinha intercâmbio com as comunidades da Ásia Menor, da Grécia e
de Roma, recebendo mensageiros e enviando cartas às mesmas. O mesmo se
diga dos outros apóstolos cujos escritos atestam o zelo pela conservação da
integra da doutrina. Veja também outros textos que mostram o contato
constante das novas comunidades com a Igreja-mãe de Jerusalém: At 11, 27-
29 – At 15,2 – At 18, 22; I Cor 16, 3; II Cor 8, 14.
2. Os apóstolos tinham consciência de lidar com uma tradição santa e
intocável. São Paulo dizia aos Coríntios: “ Eu vos transmiti aquilo aquilo que eu
mesmo recebi” ( I Cor 15,3; 11,23). O Evangelho pregado por São Paulo aos
gentios, foi reconhecido pelos grandes apóstolos de Jerusalém ( Gl 2,7-9) . Os
Tessalonicenses eram exortados a manter a tradição recebida e afastar-se de
quem não a seguisse (II Ts 2,15). Antes de morrer, São Paulo recomenda a
Timóteo que transmita o depósito santo a homens de confiança que sejam
capazes de o passar a outros( II Tm 2,2) . É dever dos ministros de Cristo que
sejam fiéis ( I Cor 4,1s; Its2,4).
3. Os apóstolos inspirados pelo Espírito Santo discerniram o que era
autêntico e o que era mito. E cuidaram para que tais mitos não se mesclassem
com a autêntica doutrina de Cristo. A Igreja recolheu os mitos, desvios e erros
doutrinários ocorridos na pregação da mensagem cristã e chamou de literatura
apócrifa. São Paulo tem consciência de que mitos não fazem parte da
mensagem Evangélica, e por isso, devem ser banidos da pregação (I Tim 1, 4;
4, 7; II Tm 4,4; Tt 1, 14 e também cf I Pd 1, 16).
Apócrifo – Os mitos erros e desvios ocorridos na pregação da
mensagem cristã dos primeiros foram recolhidos na chamada literatura
apócrifa, cujo estilo é evidentemente imaginoso e fictício. A Igreja teve a
assistência do Espírito Santo para discernir claramente o autêntico e não
autêntico.
Mito – Os mitos todos têm estilo vago, do ponto de vista da cronologia e
da topografia. Refere-se, geralmente como contexto um tempo fora do tempo.
Tem como heróis em geral os primeiros homens à volta com deuses ou seres
maus; não podem se referir a uma época histórica precisa; na maioria das
vezes e pessimista ou fatalista; não deixando ao homem o direito de exercer
sua liberdade e responsabilidade. Com os Evangelhos (e toda a Palavra de
Deus) dá-se o contrário: o local é exato – a Palestina -, a cronologia é exata e
comprovada pela história, como se pode verificar menções a César Augusto
(Lc 2, 1) Tibério César, Pôncio Pilatos (Lc 3, 1s).
COMO SURGIU O NOVO TESTAMENTO?
Entre a vida de Jesus e a composição dos escritos do Novo Testamento
não há um espaço vazio sem literatura. Entre o período de 30 a 50 dC. houve
uma grande tradição oral, e também a fixação de uma tradição escrita que
dava testemunho de Jesus crucificado e ressuscitado dentre os mortos. Ele
tinha contato com a fé, a difundia, vivia em meio às comunidades cristãs, não
era alguém isolado, que observava os fatos “de fora”, era alguém que guardava
em seu coração a viva tradição oral e que depois passou a registrar em
escritos inspirados. Assim, primeiro veio a tradição oral, que era viva e eficaz
no seio da Igreja nascente. A Igreja nasceu, os seus primeiros membros,
homens e mulheres “afortunados”, que geralmente conviveram diretamente
com Jesus, começaram a se mexer e foram surgindo as primeiras
comunidades e assim a mensagem foi se espalhando. Depois começa a surgir
a tradição escrita; os primeiros escritos, as primeiras cartas.
Muitos pensam que os 4 Evangelhos foram escritos por primeiro, já que
falam tão diretamente das ações de Jesus, mas não foi assim, o escrito mais
antigo do Novo Testamento é a I Carta de São Paulo à comunidade de
Tessalônica, na Grécia, no ano 51 dC, ou seja 18 anos depois da Páscoa do
Senhor. É só por volta de 64 dC que aparece o primeiro Evangelho, escrito por
Marcos.
O Novo Testamento foi escrito inteiramente em grego, na língua
“comum” da época. É importante notar que toda a riqueza do Novo Testamento
veio da Igreja. Primeiro surgiu a Igreja, primeiro veio a necessidade dos
cristãos estarem juntos, unidos, e dessa união, dessa fundação vieram os
escrito inspirados e canônicos.
O que significa a inspiração bíblica (livro inspirado) e revelação?
Distingue-se da inspiração no sentido usual da palavra, pois não é ditado
mecânico, nem comunicação de idéias que o homem ignorava. Inspiração
bíblica é a iluminação da mente de um escritor para que, sob a luz de Deus
possa escrever, com as noções religiosas e humanas que possui, um livro
portador de autêntica mensagem divina ou um livro que transmite fielmente o
pensamento de Deus revestido de linguagem humana.
A finalidade da inspiração bíblica é religiosa, e não da ordem das
ciências naturais. Toda a Bíblia é inspirada de ponta a ponta, em qualquer de
seus livros. Certas passagens bíblicas, além de inspiradas, são também
portadoras de revelação ou da comunicação de doutrinas que o autor sagrado
não conhecia através da sua cultura. Por exemplo: é uma revelação e não
inspiração a verdade de que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Nunca os
homens chegariam por si a conhecer tais verdades. Por isto o judaísmo e o
cristianismo são religiões reveladas. Atenção: Nem todas as páginas da Bíblia
são portadoras de revelação divina, mas todas as páginas são inspiradas.
O que é um escrito Canônico?
Cânon vem do grego Kanná, caniço. Significa catálogo, registro. Neste
sentido os cristãos passaram a falar do cânon bíblico ou da Bíblia = catálogo
dos livros bíblicos. A Igreja possuía, desde o primeiro dia de sua existência, um
cânon das Escrituras inspiradas: o Antigo Testamento. Porém a Igreja primitiva
tinha três autoridades: o Antigo Testamento, o Senhor e os apóstolos. contudo,
a autoridade maior e decisiva era Cristo, o Senhor. As palavras do Senhor e os
relatos dos seus feitos começaram a ser redigidos. Em sua obra missionária,
os apóstolos tiveram a necessidade de escrever a certas comunidades e estes
escritos, passado algum tempo, ganharam a mesma autoridade dos escritos do
Antigo Testamento. Os Evangelhos, embora não sejam os escritos mais
antigos do Novo Testamento, foram os primeiros a serem colocados em pé de
igualdade com o Antigo Testamento e reconhecidos como canônicos. Coube
sempre a Igreja a tarefa de reconhecer quais os livros inspirados, visto que os
escritos nasceram da Igreja e com a Igreja.

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