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O conteúdo dos Evangelhos Sinóticos

Como foi dito, os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas fornecem uma narrativa
que têm muito em comum. Mateus e Lucas iniciam seus registros apresentando a
genealogia de Jesus e a narrativa de seu nascimento.

Depois, os três Evangelhos Sinóticos falam sobre o ministério de João Batista. Eles
apresentam o profeta como sendo aquele de quem as Escrituras falam, e que seria
o responsável por preparar o caminho do Messias.
Os Evangelhos Sinóticos também relatam o batismo e a tentação de Jesus no
deserto. Tudo isso ocorreu antes do início de seu ministério público, e faz parte da
primeira seção desses livros. Em seguida, ao registrar o ministério do Senhor Jesus,
os Evangelhos Sinóticos se concentram principalmente nos eventos ocorridos na
Galileia. Eles registram os ensinos de nosso Senhor e os milagres realizados por Ele.
Os Evangelhos Sinóticos também mostram o Mestre sempre acompanhado de seus
discípulos percorrendo vários lugares. Muitas das vezes Ele estava cercado por
multidões que ouviam seus discursos, e de opositores que procuravam calá-lo.
Esses opositores são apresentados nas figuras dos religiosos da época,
especialmente os escribas e fariseus. Muitos de seus discursos se deram por meio
de parábolas. Saiba por que Jesus falava por parábolas.
O clímax de toda narrativa também é apresentado de forma muito semelhante nos
Evangelhos Sinóticos. Os três primeiros Evangelhos retratam a viagem de Jesus a
Jerusalém. Eles descrevem os eventos que marcaram a semana da paixão, e dão
destaque ao sermão profético de Jesus sobre o fim dos tempos e a instituição da
Ceia.

As semelhanças dos Evangelhos Sinóticos


Uma estimativa aproximada indica que Marcos possui cerca de 90% de seu material
similar a Mateus e Lucas. Quase 60% do conteúdo de Mateus são encontrados nos
outros Sinóticos. Por último, Lucas possui aproximadamente 40% de conteúdo em
comum com Mateus e Marcos.

Essa estimativa indica que os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, possuem


apenas 10%, 40% e 60%, respectivamente, de conteúdo exclusivo que não aparece
em outros Sinóticos. Para se ter uma ideia do que isso representa, o Evangelho de
Marcos possui no máximo 40 versículos que não são compartilhados pelos outros
Sinóticos.

A narrativa sobre a cura do paralítico em Cafarnaum é um bom exemplo para quem


tem interesse em comparar as semelhanças entre as narrativas dos Evangelhos
Sinóticos (Mateus 9:1-8; Marcos 2:1-12; Lucas 5:17-26).

Mas não existem apenas semelhanças entre os Evangelhos Sinóticos, há também


diferenças pontuais. É verdade que em muitas ocasiões o conteúdo é praticamente
o mesmo, mas em outras ocasiões não. Por exemplo:

 A ordem dos acontecimentos na tentação de Jesus difere entre Mateus e


Lucas.
 O registro do Sermão do Monte em Mateus é muito mais extenso que
em Lucas.
 Os textos que tratam da crucificação de Jesus possuem particularidades
em cada Evangelho.
 Quando comparado a Mateus e Lucas, Marcos possui uma quantidade
bem menor dos ensinos de Jesus.

Por que João não é considerado um


Evangelho Sinótico?
O Evangelho de João não é contato entre os Sinóticos porque sua narrativa é bem
diferente quando comparada aos outros três Evangelhos. Isso significa que a
maioria dos acontecimentos registrados em João não aparece em Mateus, Marcos
e Lucas. Há apenas algumas poucas exceções (ex.: João 3; 9; 11; 14).

Isso significa que João escreveu sobre a vida e ministério de Jesus sob outro anglo.
Ele trouxe eventos inéditos não registrados nos Evangelhos Sinóticos. Além disso, é
amplamente aceito que o Evangelho de João foi escrito muitos anos depois dos
Evangelhos Sinóticos. Mas é importante saber que nada do que é registrado em
João contradiz, em um só ponto se quer, o que é registrado nos Evangelhos
Sinóticos.
Assim, a leitura dos Evangelhos Sinóticos combinada à leitura do Evangelho de
João, fornece um panorama riquíssimo acerca da vida e ministério de Jesus.
Também é importante saber que os pontos centrais da obra de Cristo são
registrados nos quatro Evangelhos, especialmente sua morte e ressurreição.

O problema Sinótico
Como vimos, uma comparação detalhada entre os Evangelhos Sinóticos não
revelará apenas semelhanças, mas também algumas diferenças. A discussão sobre
as semelhanças e as diferenças, fez com que surgisse o problema dos Sinóticos. Do
ponto de vista literário, esse problema levanta as seguintes questões:

 Qual é a origem dos Evangelhos Sinóticos?


 Eles surgiram independentemente uns dos outros ou será que seus
autores fizeram uso dos textos uns dos outros?
 Caso isso tenha ocorrido, até que ponto eles usaram o material uns dos
outros como fonte?
 Além disso, será que os autores utilizaram outros materiais?

Não é nada fácil responder tais questionamentos. Se for admitido que os autores
dos Evangelhos Sinóticos usaram as obras uns dos outros, isso explica boa parte
das semelhanças entre eles. Mas por outro lado, essa condição torna as diferenças
entre eles intrigantes. Assim, o problema Sinótico se concentra ainda mais
especialmente na seguinte pergunta: Como explicar as semelhanças e as diferenças
entre esses três Evangelhos?

Essa pergunta fica ainda mais complicada quando entendemos que os relatos
acerca do ministério de Jesus constituem simplesmente uma seleção. Nosso Senhor
desempenhou um ministério público de aproximadamente três anos. Isso significa
que a quantidade de acontecimentos foi enorme. Sobre isso, em João 21:25 lemos
que faltariam livros para registrar todos os atos de Jesus.

As possíveis soluções para o problema


Sinótico
Normalmente os estudiosos respondem ao problema dos Sinóticos dizendo que
Marcos foi o primeiro Evangelho a ser escrito. Depois, os autores de Mateus e Lucas
usaram Marcos como base de seu esboço geral.
Mas também é verdade que Mateus e Lucas possuem textos importantes que não
aparecem em Marcos. Então os estudiosos sugerem que esses dois autores se
valeram de uma segunda fonte. Essa segunda fonte é desconhecida, e pode ter
sido tanto um documento escrito quanto um testemunho oral. Os estudiosos
geralmente se referem à essa fonte como “Q”, primeira letra da palavra
alemã quelle, “fonte”. Essa possibilidade é chamada de “teoria das duas fontes”, ou
“hipótese de dois documentos”.
Mas a teoria das duas fontes também não é capaz de explicar todos os
questionamentos relacionados à origem dos Evangelhos Sinóticos. Por isso alguns
estudiosos argumentam que Mateus foi o primeiro Evangelho a ser escrito. Outros,
por sua vez, sugerem que Lucas foi o primeiro dos Sinóticos. Há ainda aqueles que
minimizam essa discussão. Eles apontam para uma possível tradição oral muito
sólida que antecedeu o surgimento dos Evangelhos Sinóticos.

Seja como for, obviamente Mateus e Lucas tiveram acesso a informações que são
pertinentes apenas aos seus respectivos Evangelhos. Apesar das dificuldades, a
maioria dos estudiosos adota a teoria das duas fontes como a melhor solução para
o problema Sinótico.

Além disso, as especulações sobre a origem e composição dos Evangelhos


Sinóticos possuem um limite. Elas não podem questionar a influencia e a inspiração
do Espírito Santo na composição dos Sinóticos. Foi Ele quem inspirou,
supervisionou e controlou todo esse processo de origem e composição. A
autoridade dos Evangelhos Sinóticos não repousa sobre a capacidade dos
estudiosos em explicar sua origem e desenvolvimento, mas na inspiração divina.

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