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©Pedro de Almeida Cunha


Todos os direitos reservados

ALDEIAS DE VIDA
Identidade, Espiritualidade e Formação

6ª. EDIÇÃO
REVISADA E AMPLIADA

TEXTO
PARA A FORMAÇÃO COTIDIANA

Espiritualidade da Partilha
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

CUNHA, Pedro de Almeida, 03-11-2019


Aldeias de Vida: Identidade, Espiritualidade e Formação.
6.ed. rev. e ampl.
Lorena, SP: Edição do Autor, 2019
11-06851
ISBN 978-85-911993-1-0 CDD-267

1. Aldeias de Vida 2.História 3. Espiritualidade 4.Formação. Título.

ESSE MATERIAL É PARTE DO LIVRO


“Aldeias de Vida: Identidade, Espiritualidade e Formação”
PARA USO EXCLUSIVO
DOS MEMBROS DA FORMAÇÃO COTIDIANA
DAS ALDEIAS DE VIDA

DIVULGAÇÃO RESTRITA

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Nossa
Espiritualidade

01 – A PARTILHA

Atualizada e Revisada
Janeiro de 2019

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01 . P A R T I L H A

A base da metodologia das Aldeias de Vida é a Partilha. Em


cada Aldeia nos enriquecemos, nos emocionamos, nos
comprometemos e nos enchemos de Esperança e Amor com a
partilha de vida de cada um.
Num primeiro momento, a partilha se encaminha na direção
daquilo que somos, sentimos e pensamos, e só depois é que
passamos a também partilhar o que temos, as coisas. Normalmente
este segundo momento só ocorre quando convivemos muito tempo
juntos em um mesmo grupo.
Para quem deseja partilhar de verdade, é preciso antes de
mais nada fazer a experiência do despojamento e do esvaziamento.
Para aquele que vai fazer a partilha, é preciso
DESPOJAMENTO, ou seja, deixar que aquilo que for ser partilhado
seja um despojar-se de si mesmo, seja uma entrega de si para o
outro.
Para aquele que vai receber a partilha, é preciso
ESVAZIAMENTO de si para poder acolher a partilha do outro do
jeito que ela é, sem esse esvaziamento de si, corremos o risco de
acolhermos a partilha do outro cheios de nós mesmos e por isso
misturarmos o tesouro do outro com nossos julgamentos e
preconceitos.
Partilhar é dar um presente ao outro, um presente precioso
e tanto mais precioso será quanto mais íntimo for aquilo que
partilho. Quando eu escuto alguém partilhar, eu escuto em plena
profundidade, pois afinal é algo precioso que sai de alguém para
chegar até mim; por isso, receber este presente comporta saber
guardá-lo num lugar especial dentro de mim, comporta receber sem
jamais julgar aquele que me entregou tal presente, comporta não
jogá-lo fora ou na frente de qualquer um; comporta sentir-me
honrado em ter recebido tamanho tesouro.

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Mas como partilhar, se não tenho coragem?

Existem coisas difíceis de partilharmos, existem riscos,


existem hesitações, dúvidas… é preciso ousar existir, acreditar que
vamos dar um presente precioso e mesmo que o outro não o saiba
receber ou não respeite, ou não valorize como você esperaria o
presente que você retirou do tesouro de sua vida, mesmo assim
Ouse partilhar porque para você isto pode ser muito mais
importante do que simplesmente ficar calado.

Não diga, “sou muito pobre!”


Partilhe o que você é.
Não diga,” sou muito ignorante!”
Partilhe o que você vive.
Não diga,” já estou velho!”
Partilhe a sua experiência.
PARTILHE! OUSE EXISTIR!!!
Você viverá e fará outros viverem.

Se, no entanto, seu silêncio falar mais forte que sua voz,
aprenda igualmente a partilhar o seu silêncio; o silêncio quando é
vivo é também um precioso e inestimável tesouro.

O Modo mais prático de se partilhar

Quando você for partilhar, se ponha na partilha, não fora


dela; portanto fale na primeira pessoa: EU; não fique no impessoal:
nós, a gente… Dizer EU, ajudará você a assumir melhor aquilo que
partilha.
Não seja prolixo, atenha-se ao essencial para que o outro
possa receber com toda clareza aquilo que você quer oferecer, se
você entrar em devaneios pode ser que até você se perca. Seja

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verdadeiro, se você tem algo que não pode partilhar ainda, não
partilhe, mas quando partilhar, seja totalmente sincero, assim o
outro não receberá um presente falsificado. Não caia na armadilha
de querer criar uma imagem falsa de você mesmo. Não fique se
perguntando: o que será que os outros vão achar?… Seja quem você
é e pronto.

O que não é Partilha?


Não é partilha, eu me sentir na obrigação de falar ou de
fazer algum gesto concreto para com o outro.
Nada do que é forçado em mim, chegará ao outro como
partilha; ao contrário, sairá de mim como obrigação e chegará ao
outro como algo frio e sem vida, por isso, não é partilha.
Não é partilha, eu analisar a partilha do outro. Aquilo que o
outro partilha é o sagrado dele, eu não tenho o direito de interferir
para modificar, cabe-me acolher o outro como ele é, sem
julgamentos ou preconceitos; posteriormente, se eu for uma pessoa
íntima e tiver condições de ajudar o outro, devo procurá-lo
pessoalmente para oferecer-lhe a minha ajuda, também através do
diálogo e da Partilha.
Meus possíveis questionamentos à partilha do outro devem
ser sempre na direção de ajudá-lo a me explicitar melhor o que ele
está me partilhando.
Também não é partilha, quando eu faço ou falo algo
esperando um retorno qualquer, no sentido da valorização de
minha pessoa.
A partilha é sempre gratuita, nada espera em troca, não
busca aplausos, nem sucesso, é apenas o tesouro do meu momento
presente que ofereço ao outro, nada mais; não espero que o outro
me aplauda, não espero que o outro me reprove. Isto não significa
ser indiferente àquilo que o outro me diz quando estou partilhando.

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Também não é partilha, quando tenho segundas intenções
ao partilhar, quando querendo conseguir algo do outro, utilizo-me
da partilha para poder fazê-lo acreditar em mim ou perceber a
minha intenção secreta. A partilha é sempre aberta e verdadeira, e
nada do que for velado em mim, pode ser considerado tesouro livre
e liberado do meu coração para o coração do outro. Posso não ter
condições de partilhar tudo naquele momento, mas, é importante
que o que partilho seja a verdade, a minha realidade.
Não é partilha, quando eu percebo que o outro não tem
condições de me ouvir ou acolher o meu gesto e mesmo assim, eu
insisto em lhe falar ou fazer-lhe alguma coisa. A partilha sempre
respeita o outro, nunca o atropela; saber partilhar é saber esperar o
momento certo para me dar ao outro, caso contrário, sempre corro
o risco de jogar fora o tesouro do meu coração por não ter tido a
sabedoria de aguardar o momento em que o outro poderia recebê-
lo. Por isso, isto também não é partilha.

O que Partilhar?
Concretamente, nós podemos partilhar tudo, mas podemos
dividir o objetivo de nossas partilhas em dois tipos: PARTILHAR O
QUE SOMOS E PARTILHAR O QUE TEMOS.
Quando partilhamos o que somos, partilhamos nossas
IDÉIAS, nossos SENTIMENTOS, nossos GESTOS, e quando
partilhamos o que temos, partilhamos nossas COISAS, nossos
pertences…
Vivemos em um mundo impregnado pelo egoísmo e por
carências das mais variadas espécies, é preciso descobrir a
necessidade de partilharmos as pessoas, os outros, sabermos que
não somos donos de ninguém, pois toda pessoa deve ser livre e o
único modo de experimentarmos esta forma de partilha é vivendo a
partilha a partir do Amor.

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O Amor nos deixa livres para permitirmos que o outro
cresça e caminhe com suas próprias pernas rumo ao seu caminho
de Amadurecimento. Se não houver Amor, quando chegar a hora de
partilhar o outro, vamos querer aprisionar, ficar com o outro para
nós o máximo que pudermos. Esta não é a mentalidade do Amor.
Por isso, vivamos o máximo que pudermos a Realidade do Amor
para que jamais deixemos de partilhar verdadeiramente.

Sempre partilhamos tudo?

Não, tudo depende de COM QUEM VOU PARTILHAR. Com


alguns, sinto que posso partilhar “X”, com outros, sinto que posso
partilhar “Y”, e ainda com “Z”, quem sabe eu possa partilhar tudo,
mas não é obrigado termos que partilhar tudo com todos, nem
sempre isto é possível, pois afinal, sempre contamos com os nossos
limites e com os limites do outro.
O que é certo, é que uma profunda partilha só acontecerá se
eu confiar plenamente na pessoa com quem vou partilhar.
Deste modo, com o passar do tempo vamos descobrindo que
existem realidades em nós que só podemos partilhar com um
AMIGO, um grande Amigo. Por isso, convém ao longo de nossa vida
insistir na construção de Amizades Verdadeiras. Amigos de verdade
são raros; ao longo de nossa vida só conseguimos um ou dois no
máximo... enquanto que bons colegas podemos ter inúmeros; mas,
quem encontrar um amigo de verdade terá encontrado um valioso
tesouro, que deverá cultivar para que não morra nunca, pois entre
duas pessoas verdadeiramente amigas, a Partilha não encontra
fronteiras. A Partilha encontrará fronteira entre cônjuges, pais,
filhos, irmãos… jamais entre verdadeiros amigos. Por isso, se um dia
quisermos viver a plena partilha, cultivemos desde já uma
verdadeira Amizade, inclusive com cônjuges, pais, irmãos...

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No entanto, é sempre indispensável lembrarmos que, no
além dos amigos, precisamos nos exercitar para partilhar, OUSAR
EXISTIR, para que não nos acomodemos em nossos próprios
limites, e lembrar que de uma verdadeira partilha poderá brotar
uma grande amizade.
Em nossas Aldeias específicas, fazemos uma experiência
extraordinária da partilha, tudo o que se vive durante a aldeia nos
convida à partilha, mas em nossa Aldeia cotidiana e no período de
formação para lideranças e formação permanente, precisamos nos
exercitar todos os dias e a toda hora para não perdermos a chance
de OUSAR EXISTIR em nossos sentimentos, em nossas ideias, em
nossos gestos, enfim, na partilha do que somos e temos.

Os inimigos da Partilha
* O medo de abrir-se;
* O medo de não ser entendido;
* O julgamento daquilo que o outro partilhou;
* Expor o tesouro do outro para terceiros;
* Fazer brincadeiras ou piadas com o tesouro que o outro partilhou;
* Comentar indevidamente sobre a partilha do outro;
* Não acolher o outro enquanto ele partilha;
* Parar nas aparências e não escutar o coração do outro;
* Usar daquilo que o outro partilhou
em proveito próprio ou com segundas intenções;
* Mentir enquanto partilha;
* Usar uma máscara para partilhar para responder às expectativas
de grupos ou das circunstâncias.
* Falar dos outros na partilha, ao invés de falar de si mesmo;
* Falta de humildade para partilhar fracassos e dificuldades;
* Superficialidade naquilo que se partilha;
* Tumulto interior, não permitindo deixar o coração aquietar-se
para partilhar com serenidade.

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Desabafo ou Partilha?

É importante diferenciarmos um DESABAFO de uma


PARTILHA.
A Partilha, como vimos, é um tesouro para guardarmos.
O Desabafo é a verbalização de um sofrimento
desproporcionado do momento, que está me afogando e me
impedindo de perceber a minha própria vida de maneira mais
ajustada e realista.
Ouvindo o desabafo, preciso estar consciente de que algo
muito mais profundo foi tocado no coração da pessoa que está
desabafando comigo; preciso saber que após este primeiro
momento de desabafo, esta pessoa poderá ser ajudada a procurar o
que de tão dolorido foi tocado nela.
Por isso, é tão importante saber escolher a pessoa com
quem se vai desabafar, caso contrário, a pessoa que ouve poderá
desestruturar-se, e ao invés de ajudar, poderá até complicar mais a
quem desabafou. Quando você precisar desabafar, procure uma
pessoa suficientemente sólida para que possa lhe escutar, sem
amplificar ou minimizar o que você está dizendo; alguém que com
serenidade possa lhe acolher sem reter para si aquilo que ouviu.

Quem ouvir um desabafo, não guarde para si, entregue-o


nas mãos de Deus para que Ele liberte a pessoa que está
desabafando.
Um lembrete importante; quando for desabafar, diga
sempre à pessoa que vai lhe ouvir: isto é um desabafo, não é uma
partilha, por isso, apenas ouça-me e nada mais; não é para lhe ferir,
nem para lhe machucar, é apenas para que saia de dentro de mim e
que pela sua escuta fraterna, você me ajude a criar espaço dentro de
mim para ter condições de buscar mais profundamente o que me
atingiu.

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Atividade

RELEIO todo este texto sobre a partilha com caneta na mão:

* Sublinho o que eu reconheço no texto que vivo plenamente.


1 - Anoto aqui o que eu ainda não consigo viver e que preciso me
esforçar para melhorar.

2 – Respondo logo abaixo: o que posso fazer, concretamente, para


viver a partilha de maneira correta, construtiva, para mim e para os
outros?

* Se você desejar e se achar que isso lhe fará crescer,


partilhe suas respostas com alguém de sua confiança.

UM INSTANTE DE PARTILHA COM DEUS.

“Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum”


( At. 2,44 )
Senhor,
ajuda-nos a entender na profundidade do nosso coração, o que
é partilhar com os nossos irmãos a realidade de quem somos
por dentro; o que é partilhar aquilo que sentimos de positivo
ou negativo em nós e auxilia-nos com a tua graça para que
possamos, como os primeiros cristãos, colocar tudo em comum
através da partilha. Amém.

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RESUMO:
A nossa base, é a Partilha
daquilo que somos, sentimos,
pensamos, vivemos e temos.
Partilha é DESPOJAMENTO,
ESVAZIAMENTO de si, para
acolher sem julgamento e
preconceito.
Partilhar é dar um presente ao
outro.
Existem coisas difíceis de
partilharmos, existem riscos,
hesitações, dúvidas, é preciso
ousar existir.
Nada do que é forçado é
partilha.
O que o outro partilha, é
sagrado para mim.
Não é partilha, quando espero
retorno. A partilha é sempre
gratuita, nada espera em troca,
não busca aplausos, nem
sucesso.
Não é partilha, minhas segundas
intenções.
A partilha é sempre aberta e
verdadeira. Quando partilhamos
o que somos partilhamos nossos
sentimentos, nossas ideias,
nossa fé, nosso jeito de ser no mundo. Quando partilhamos o que temos,
partilhamos nossas coisas, nossos pertences, nossos dons, talentos, nossos
conhecimentos. Precisamos ultrapassar o medo de partilhar, o medo de
não ser entendido.
Não podemos julgar o que o outro partilhou, nem expor ou comentar,
muito menos fazer brincadeiras ou piadas com o tesouro do outro. Nossa
partilha não pode ser uma mentira, não podemos usar uma máscara para
partilhar. A Partilha não é desabafo, é um tesouro que entregamos ao
outro, não um vômito que jogamos sobre o outro.
Com a partilha dividimos nossos jugos e carregamos os jugos dos outros.
Com a partilha, devemos viver o Evangelho que nos afirma: "Entre eles não
haviam necessitados"
A Espiritualidade é para ser vivida em nosso cotidiano, em ações
concretas.

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