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Vivenciando o Gita: Nilaya 2022

Capítulo 3: Ação – Karma Yoga: O yoga da Ação


1-2 Arjuna disse: “Ó Krishna, se você considera entendimento ser maior que ação, porque
você me encoraja a realizar esse ato terrível? Keshava, você desnorteia minha mente com
seu discurso aparentemente enrolado. Me diga por qual eu vou alcançar o bem maior. Página | 1

3.1 Desde que você ensina que o caminho da sabedoria é melhor que o caminho da ação,
Krishna, porque você me encoraja a prosseguir com este terrível ato (de guerra)?

3.2 Estou confuso porque isso me parece uma contradição. Por favor, explique o caminho
correto para eu atingir a plenitude.

3-5 O Abençoado disse: Ó Aquele sem faltas, há muito tempo atrás eu proclamei um
caminho duplo neste mundo: o caminho do conhecimento sagrado (jnana yoga) para as
pessoas de discernimento contemplativo, e o caminho da ação (karma yoga) para pessoas
com ações disciplinadas. Ninguém jamais alcança um estado de libertação da ação por
simplesmente se abster de agir, nem se alcança a completude somente pela renúncia.
Ninguém existe, nem por um momento, sem nenhuma atividade. Todos são forçados a se
envolver na ação, por mais relutante que seja, devido às forças (gunas) da natureza
(prakriti).

3.3 O Abençoado Krishna disse: “Arjuna, no começo Eu dei ao mundo um caminho com duas
alternativas: o caminho do discernimento, da sabedoria (Jnana Yoga) e o caminha da ação
inegoísta (Karma Yoga).

3.4 O fato de você parar de trabalhar não irá fazer de você um parasita. Tampouco você irá
atingir a perfeição simplesmente pelo fato de ter renunciado às suas ações.

3.5 Ninguém é livre das ações, nem mesmo por um momento, porque todos somos movidos
a fazer coisas pelas próprias qualidades da natureza.

6-9 A pessoa que se abstem de agir enquanto continua a manter os objetos dos sentidos na
mente é iludida e conhecida como hipócrita. Arjuna, aquele que controla os sentidos com a
mente e se envolve em ação disciplinada (karma yoga) sem ansiedade pelos resultados, se
sobressai.
Faça as ações necessárias, pois ação é melhor do que inação. Até mesmo a manutenção do
corpo não pode ser alcançada sem ação. O mundo é escravizado pela ação egoísta.
Portanto, filho de Kunti, assuma ações sagradas altruístas, livres de todos os apegos.

3.6 Qualquer um que se senta imóvel para meditar mas continua preso aos objetos dos
sentidos é um iludido, um hipócrita.

हरे कृ ष्ण
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3.7 Para atingir a sublimação, controle mentalmente os sentidos e renuncie a todos os


apegos. Envolva-se em trabalhos de Karma Yoga, de serviço desinteressado.

3.8 Cumpra com suas obrigações, tal ação é melhor que não fazer nada. Se você tenta
renuciar a todas as suas ações, será impossível manter seu corpo.
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3.9 Quando as ações são realizadas apenas para satisfazer os interesses pessoais, o mundo
torna-se um cativeiro. Portanto, Arjuna, procure realizar cada ação em benefício do
próximo, completamente livre dos apegos pessoais.

10-12 No início, Prajapati, o Senhor das Criaturas, criou a todas com sacrifício (yajna) e
disse: Que por yajna você se multiplique e que yajna seja a fonte de sua abundância. Que
por yajna você nutra os devas e que os devas o nutram. Ao nutrir um ao outro, você
alcançara o bem supremo. Nutrido por yajna, os devas te abençoarão com todas as alegrias
que preza. Aquele que aproveita o que os devas dão mas não dá na da em troca é realmente
um ladrão.

3.10 Depois de criar a humanidade junto com o yajnam (sacrifício), o Criador disse: “Através
do sacrifício, você crescerá intimamente e vai conseguir tudo o que quiser”.

3.11 Quando ajuda as pessoas, você agrada aos deuses (devas) e eles o recompensarão. Ao
aprender a amar-nos uns aos outros, colhemos as mais altas recompensas espirituais.

3.12 Acariciado pelo seu espírito de sacrifício, os deuses retornarão seus atos benevolentes
e lhe proporcionarão tudo aquilo que precisar para sobreviver. Mas lembre-se sempre:
quem quer que receba presentes dos deuses sem oferecer nada de volta é um ladrão. E isso
também será cobrado mais tarde. As leis cósmicas são iniveitáveis.

13-15 Os bons que são nutridos pelos resultados dos yajnas são liberados de todas as
transgressões, mas os perversos que preparam alimento somente para si mesmos comem
suas próprias impurezas. Seres nascem da comida, comida da chuva, chuva do yajna e yagna
da ação. Ação se origina de Brahman e Brahman do Imperecível. Portanto, o Brahman que
tudo permeia é estabelecido através do yajna.

3.13 As pessoas virtuosas que se alimentam somente após o yajna, ou oferenda, serão
liberadas dos pecados do passado. Mas aqueles que preparam o alimento, apenas pensando
neles mesmos, estão gerando mais karma negativo.

3.14 Todos os seres precisam de alimento para sobreviver. A chuva ajuda na produção do
alimento. A chuva é o resultado de uma entrega desinteressada (Yajna). E aquela entrega é
resultado das ações (karma).

3.15 Saiba que a ação, vem da inteligência criativa (Brahma) que é o Imperecível, O eterno.
O todo impregnado Brahma assim é para sempre centrado no Self sacrifício.

हरे कृ ष्ण
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16-18 Ó Arjuna, aquele que não segue a ordem cósmica colocada em movimento na terra
vive maliciosamente e em vão, indulgindo em prazeres sensoriais. Porém para aquele cujo
deleite é no Ser, cuja satisfação é no Ser, e que está contente apenas com o Ser, para este
não há nada a ser feito. Tal pessoa não tem nada a ganhar, nem por ação nem por inação, e
não precisa de nenhuma criatura para nenhum propósito.
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3.16 Qualquer um aqui na Terra, Arjuna, que não estiver em harmonia com o círculo
giratório (oferenda – ação – Deus – oferenda) e que escolhe dedicar sua vida apenas aos
prazeres dos sentidos terá vivido em vão.

3.17 Todo aquele que tiver se conscientizado do Self (Atman) e nele estiver centrado,
certamente estará desapegado das obrigações mundanas.

3.18 Nada mais precisará fazer para conseguir alguma coisa (ação), nada perderá não
fazendo nada (inação) e não dependerá de ninguém pra nada.

19-20 Trate do trabalho que precisa ser feito, sem apegos. Ao realizar as ações sem apego, a
pessoa atinge o supremo. Janaka e os outros atingiram a perfeição através do trabalho. E
além disso, você deve agira apenas para a manutenção do mundo.

3.19 Por isso, faça o que precisar neste mundo, sem se apegar nem criar vínculos. Também
sem visar colher os benefícios só para você mesmo. Essa é a maneira de experienciar o
estágio mais elevado do Ser.

3.20 O Rei Janaka e muitos outros alcançaram a perfeição através do Karma Yoga, ou
caminho da ação inegoísta. Para que possa orientar outros, você também deveria seguir o
mesmo caminho.

21-24 O que quer que uma pessoa superior faça, os outros fazem; as pessoas seguem o
padrão criado. Arjuna, não há nada que eu precise fazer nos três mundos, não há nada que
eu não tenha ou queira ter, mas mesmo assim estou engajado na ação. De fato se eu não
estivesse incansavelmente engajado na ação, seres humanos em todos os lugares seguiriam
meu exemplo. Se eu não estivesse incessantemente engajado no trabalho, todos estes
mundos desmoronariam e pereceriam, e eu me tornaria a causa da confusão e destruição
destas criaturas.

3.21 Qualquer coisa que uma pessoa elevada faça é seguida por outros que irão formar seus
padrões baseados no exemplo dela.

3.22 Arjuna, não há nada nos três mundos (plano terreno, astral e celestial) que eu tenha
que fazer, nem nada para eu alcançar que já não tenha alcançado. Mesmo assim, eu
continuo fazendo coisas.

3.23 Se eu parar de trabalhar continuamente, Arjuna, todos seguirão meu exemplo.

हरे कृ ष्ण
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3.24 Se eu parar de agir, os mundos perecerão, todas as espécies ficariam confusas e seria a
destruição de tudo.

25-26 Ó Bharata, o ignorante age com identificação; o sábio deve agir pelo bem estar do
mundo, mas sem identificação. Eles não devem perturbar as mentes dos ignorantes que são
apegados à ação, mas enquanto engajados em ações disciplinadas, os sábios devem Página | 4
encoraja-los a aproveitar todas as ações.

3.25 O não iluminado realiza coisas criando vínculos e buscando colher os frutos para si
próprio. Uma pessoa iluminada faz as coisas com o mesmo zelo, Arjuna, mas sem vínculos, e
assim, guia os outros no caminho da ação inegoísta.

3.26 Uma pessoa sábia não perturbará a mente de outra sem sabedoria e que ainda esteja
ligada aos frutos de suas ações. A sábia age com perfeição continuamente e, assim fazendo,
influenciará os outros com suas ações.

27-29 Enquanto todas as ações estão sendo feitas pelos gunas, aquele que é desorientado
pelo egoísmo pensa “eu sou o agente”. Mas aqueles que conhecem o verdadeiro princípio
do papel dos gunas e das ações, se dão conta que os gunas agem sobre outros gunas e não
sçai apreisionados neles pelo apego. Aqueles que são confusos pelos gunas são apegados às
ações dos gunas. Aqueles que sabem não devem perturbar a mente daqueles que são
ignorantes.

3.27 As qualidades da natureza sattva, raja, tamas (equilíbrio, inércia, movimento)


controlam todo o universo. Entretanto, uma mente obscurecida pelo ego poderá pensar que
aquele controle lhe pertence.

3.28 Arjuna, uma pessoa precisa entender muito bem o relacionamento entre as qualidades
da natureza (gunas) e a ação (karma). Quem conhece isso sabe que a natureza, dos sentidos,
simplesmente age de acordo com a natureza, como os objetos dos sentidos. Essa pessoa
não se identifica com ninguém e desta forma não fica emaranhado a nada.

3.29 Aqueles que ainda estão iludidos pelas qualidades da natureza ficam presos às funções
dela. Os que atingiram tal compreensão não devem interferir com a mente daqueles que
ainda não chegaram ao mesmo conhecimento.

30 Oferecendo todas as suas ações a mim, consciente de seu Ser mais profundo, sem
expectativa, sem auto ocupação, esforce-se sem agitação.

3.30 Dedique suas ações a Mim. Assim sua mente vai descansar no Self, livre da febre do
desejo e do egoísmo, e você pode enfrentar a batalha.

हरे कृ ष्ण
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31-32 Aqueles que praticam com constância esse meu ensinamento, com confiança e sem
procurar falhas são liberados da escravidão da ação. Mas aqueles que desdenham a ele e
não o praticam são confusos em todo seu conhecimento. Saiba que estes estarão perdidos e
descuidados.

3.31 Quem quer que viva esses ensinamentos com fé e sem reclamações, transcenderá o Página | 5
Karma.

3.32 Aqueles que não vivem nesses ensinamentos, entretanto, mas ao invés disso observam
para criticá-los, confundem tudo. Não tem discriminação (viveka) e estão arruinados.

33-34 Todos os seres, incluindo os sábios, seguem a sua própria natureza. O que a repressão
vai alcançar? Apego (raga) e aversão (dvesha) pelos objetos dos sentidos existem em todas
as experiências sensoriais. Estes são dois grandes obstáculos; uma pessoa não deve ser
controlada por eles.

3.33 Mesmo uma pessoa sábia segue sua própria natureza, como todos os outros seres.
Para que forçar a natureza e agir diferente dos demais?

3.34 É natural para os sentidos sentirem atração ou repulsa pelos vários objetos dos
sentidos. Mas nem por um momento seja dominado por eles ou, certamente, irá
transformá-los em seus inimigos.

35 É melhor seguir seu próprio svadharma (responsabilidade essencial) imperfeitamente, do


que o de outro mesmo que bem feito. É melhor a morte enquanto faz o próprio dharma,
pois a tentativa de fazer o de outro é arriscado.

3.35 É melhor atender seu próprio dharma (chamado) ainda que imperfeitamente, do que o
de outra pessoa, perfeitamente. Melhor ainda é morrer no próprio dharma no que no de
alguém, pois isso poderia trazer grande temor.

36 Arjuna perguntou: “O que é, Krishna, que impele uma pessoa a fazer o que é errado,
contra sua vontade, como se fosse forçado por alguma força?”

3.36 Então Arjuna perguntou a Sri Krishna: “Que força é esta que nos arrasta para o pecado,
mesmo contra nossa vontade, como se fosse alguma compulsão?”

37-38 O Abençoado disse, é o desejo (kama), é a raiva (krodha), os produtos do guna rajas.
Saiba que estes são os vorazes e extremamente perniciosos inimigos. Assim como o fogo é
coberto pela fumaça, o espelho pela poeira, e o embrião pela placenta, o entendimento é
encoberto pela paixão.

3.37 O Abençoado senhor disse: “Saiba que inimigo aqui na Terra é o desejo e a raiva, que
emergem da consumidora guna rajásica (inquieta qualidade da natureza)”.

हरे कृ ष्ण
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39-41 Ó Arjuna, o conhecimento até do sábio é obscurecido por este inimigo eterno, o
desejo, que é um fogo insaciável. Os sentidos, a mente (manas) e o intelecto (buddhi) são
considerados sua morada; ao encobrir o conhecimento neles, ele confunde a pessoa.
Portanto, primeiramente contendo os sentidos, Arjuna, mate este demônio maligno, o
destruidor do conhecimento e do discernimento.
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3.38-39 Como o fogo coberto pela fumaça, como o espelho coberto pela poeira, como o
feto completamente envolvido pela placenta – assim é a sabedoria do ser humano, coberta
pelo fogo insaciável do desejo, o inimigo constante do sábio.

3.40 Os sentidos, mente e intelecto são a cadeia do desejo. É esse desejo que encobre a
sabedoria e engana as pessoas.

3.41 Por isso, Arjuna, primeiro controle seu desejo – o destruidor pecaminoso da sabedoria
e autorrealização.

42-43 Os sentidos são fortes, dizem; mas manas está acima dos sentidos e buddhi está
acima de manas, e acima de buddhi está “Aquele que está incarnado”. Portanto, ao
conhecer aquele que está acima de buddhi, sustentando o ser pelo Ser, destrua o inimigo,
aquele que tem forma de desejo e que é difícil de dominar.

3.42 Os sentidos são mais fortes que o corpo. A mente é mais forte que os sentidos. O
intelecto discriminativo (buddhi) é mais forte que a mente; e o Atman está acima do
intelecto.

3.43 Agora que você sabe que o Atman está além até mesmo do intelecto discriminativo
(buddhi), você pode controlar o Self inferior com Atman (Self superior) e, apesar de ser
difícil, destruir completamente seu inimigo mortal, o desejo.

हरे कृ ष्ण

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