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Como ajudar os seres na hora da morte

Pergunta feita ao Lama Padma Samten durante a palestra “Meditação e energia no cotidiano
dos ciclos da vida”, oferecida em 20 de setembro de 2023 em Recife.
Transcrição e edição: Joana Braga.

Pergunta: O que fazer quando alguém próximo a uma pessoa da sanga falece? Numa
situação em que se tem um grupo de prática, mas alguns têm iniciação de powa e outros não,
o que vale mais: cada um sair e fazer uma prática diferente ou, com a energia do grupo, fazer
uma prática juntos em movimento pela pessoa falecida e pelo companheiro de sanga que
está em sofrimento com a perda de um ente querido? O que o senhor nos orienta?

Lama Samten: Vou citar o Livro Tibetano dos Mortos, os ensinamentos de Guru Rinpoche.
A forma de produzir benefício está ligada à condição da nossa própria mente. Por exemplo,
se fazemos a prática de powa, vamos trazer benefícios na medida da realização da própria
prática. Guru Rinpoche dá muitas diferentes formas de ajudar os seres de acordo com as
circunstâncias do próprio ser. Isso é o Livro Tibetano dos Mortos, uma variedade de
possibilidades de trazer benefícios. Todas elas convergem para o próprio estado mental que
a pessoa tiver. Por exemplo, quando estamos assustados com a morte dos seres, essa não
é a melhor forma de produzir benefícios. A melhor forma de produzir benefícios é o
reconhecimento da natureza luminosa, vazia e da energia que independe das circunstâncias.
A nossa clareza com relação à condição primordial é o ponto essencial. Então quando
fazemos a própria prática de powa nós vamos focar a consciência, que está aberta, na terra
pura de Amitaba. Nós vamos fazer essa prática. Tudo que fizermos, como as próprias preces,
a sílaba PHAT e a visualização, são veículos dessa experiência, que é a experiência liberta
que pode surgir. Então a experiência mesma é vista pelos outros seres.

Os seres que morrem vêem o aspecto sutil da nossa mente. A posição da nossa mente é a
nossa forma de ajudar. Há um variado conjunto de possibilidades. Por exemplo, se temos
uma conexão com a prática de Tara, pode ser a prática de Tara. Pode ser a dedicação aos
mortos como está descrita na prática de Tara. Nós podemos ler, entender e recitar aquilo.
Recitar três vezes e nos manter recitando o mantra de Tara longamente. Pelo tempo que
sentirmos que é útil. Quando isso é feito em grupo, tem muito mais energia. Como Chagdud
Rinpoche dizia, se tem dez pessoas o efeito é dez vezes maior. A nossa prática produz um
efeito muito maior. Mas depende da nossa capacidade de reconhecer a realidade daquelas
palavras e manter a clareza daquele significado enquanto estamos fazendo a recitação do
mantra. O mantra é a compreensão correspondente. Utilizamos o mantra para a estabilização
do estado mental correspondente que vai produzir ajuda àqueles seres.

Se tivermos uma mente causal, isso não vai funcionar muito bem. A nossa mente deveria ser
justamente a mente que não flutua, que não é construída. O reconhecimento desse aspecto
primordial. Se estamos trabalhando nessa dimensão, estamos produzindo um benefício
maior. O melhor benefício vem desse modo. Se tivermos uma mente causal, é aquela que
podemos - então nós damos um benefício causal, que é um benefício menor. O benefício
causal é assim: dizemos "meu filho, estude. Aprenda tal coisa." Aí ele aprende ou não
aprende, ele segue ou não segue. Mas, como Tokuda dizia, os jovens copiam as costas dos
pais. Eles copiam os pais, mas não copiam o que os pais dizem. Eles copiam o jeito como os
pais fazem. Aqui é a mesma coisa. Quando olhamos a morte, os seres que queremos
beneficiar copiam o jeito com o qual olhamos a morte. Por isso que é delicado, depende da
nossa realização. Vamos olhar a morte do jeito que conseguimos olhar a morte. Se tivemos
essa experiência de estudar os ensinamentos sobre vacuidade, luminosidade, etc, como o
Lama Alan Wallace tem essa generosidade de trazer para nós com os ensinamentos de
Düdjom Lingpa, eles clarificam tudo. Eles nos colocam no lugar onde nós, silenciosamente,
já estamos repercutindo e trazendo benefícios aos seres.

Se uma pessoa morrer de forma muito dramática e a gente quiser trazer um benefício especial
realmente, nós podemos também examinar, passear por dentro da experiência do outro.
Vamos supor que a pessoa morreu de uma forma que agonizou, passou muito mal, então a
gente pode se visualizar passando por isso com lucidez. Como se aquilo fosse uma
experiência de raios, luzes e som. Como se fosse o tsog das aparências. Vemos se temos
essa capacidade. Se conseguirmos fazer isso, estamos imediatamente irradiando benefício,
instantaneamente por todos os seres. Porque há uma não dualidade, uma não separatividade
entre os seres. Nós também podemos deixar essa sugestão: vocês podem fazer a prática de
Tara na parte referente aos mortos e fazer uma acumulação longa do mantra correspondente.
Acho que é bom ler um certo número de vezes aquela prece, pelo menos umas sete vezes,
com calma e vendo efetivamente isso acontecendo: os seres se transformando em brilhantes
esferas de luz, indissociáveis, que se dissolvem no coração de Tara. E o que isso significa. É
super importante entender o aspecto luminoso e vazio da própria experiência de morte.

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