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Lettres à l'Alchimiste
Meditação, A Arte de Conhecer a Si Mesmo

Quando começamos no esoterismo, uma das principais práticas


exigidas e possivelmente a mais importante é a arte da meditação.
Mas, afinal, o que é meditar? Muitos acreditam que a meditação é
ficar parado em uma estranha posição, outros acreditam que meditar
é refletir, pensar em algo. Então, por que seria uma prática tão
necessária? Já que a maioria de nós para para pensar em algo com
certa frequência?

Há muito tempo, quando o homem se preocupava com si mesmo e seu


papel perante a criação, ou seja, conhecer-se a si mesmo era a
questão fundamental de todo verdadeiro pensador e filósofo de uma
civilização. Eram Sábios, e todo rei ou imperador valorizava sua
presença e seus conhecimentos. Porém, hoje vivemos a chamada era
do “Ter” em contraposição à chamada era do “Ser”. O foco que era o
homem em sua relação ao universo, a melhor forma de se relacionar e
realizar seu papel diante da criação, passou a ser o foco na
necessidade de mostrar a todos o quão grande somos. Os bens que
possuímos reafirmam essa “grandeza”, não se importando com a
moral, a conduta, e as demais pessoas, quem dirá então a relação
com o universo? Conhecer a si mesmo é a última coisa em questão em
nossa atual sociedade, ocorrendo raramente na vida de uma pessoa
satisfeita com seu emprego, cargos, títulos, religiões e conhecimentos
decorados e sem profundidade. Muito claramente notamos ao
conhecermos uma pessoa

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In Hoc Signo Vinces
e ela inclui títulos, cargos antes de seus nomes, ou quando a pessoa
afirma, eu sou tal ou qual coisa. Os Sábios de todos os tempos nos
dizem, tu não és teu emprego, teu cargo, teu nome ou sobrenome, tu
estás além de todos os conceitos mundanos. Acontece que Atmã,
nosso ser, nossa essência, quem realmente somos estando preso na
densidade da matéria é incapaz de sozinho distinguir entre as
realidades do mundo exterior e do interior.

Mas, enfim, o que é meditar? Meditar é se concentrar em um ponto, e


corresponde no Hatha Yoga ao estado de Dhyana. O problema parece
simples, já que confundimos concentrar e meditar com o estado de
reflexão, ou pensar acerca de um problema, mas a verdadeira
meditação vai além disso, e refere-se à abstração de si mesmo para se
identificar diretamente com o objeto meditado. Tomemos um exemplo:
colocamos uma vela à nossa frente e nos esforçamos a somente
olhá-la e excluirmos qualquer pensamento estranho que venha a nos
perturbar. A princípio nos parecerá um exercício fácil, mas ao
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executá-lo, percebemos que não
conseguimos manter o foco na chama da
vela muito mais do que por alguns
segundos, e comumente quando nos
lembramos do que estávamos fazendo, já
nem sabemos como chegamos ao
pensamento que temos em mente, e onde
nossa mente se escapou do objeto de
concentração. Concentrar é reunir em
centro, e percebemos que esta capacidade
é como um músculo que não exercitamos,
ou seja, é flácida, fraca, sem força. E da
mesma forma que um músculo deve ser
exercitado e treinado, ela também deve ser exercitada. Além do
pensamento que nos distrai, nossa capacidade de permanecermos
imóveis também é muito débil, e muitos de nós não conseguem
permanecer mais que cinco minutos imóveis. Manter a respiração em
um ritmo agradável é para muitos uma tarefa árdua. Notando esses
desafios da matéria que nós, a essência, habitamos, os orientais
desenvolveram métodos mais eficazes que nós ocidentais. E por este
motivo, é comum que seja ensinado nas escolas esotéricas sérias, os
passos da meditação do Hatha-Yoga, que nos disciplina.

❖ O Corpo Físico com os Asanas, ou Posturas;


❖ Corpo Astral ou das Emoções através do Pratyahara,
Pranayamas e Mantras;
❖ Corpo Mental através da concentração, chamada Dharana e
Dhyana;

O resultado final desse processo é o êxtase, conhecido como Samadhi.


No estado de Dhyana, se o meditador consegue se abstrair de si
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mesmo e se conectar ao objeto de meditação, em Samadhi, a essência
é libertada do dualismo, alcançando uma compreensão absoluta do
objeto meditado. Esse estado é indescritível, um ponto de não retorno
na jornada espiritual, onde a realidade última é experimentada.

Segundo o lendário Rishi Yajnavalkya, as práticas meditativas têm o


poder de purificar:

❖ “Através de Pranayama as impurezas do corpo são


eliminadas;”
❖ “Através de Dharana, as impurezas da mente;”
❖ “Através de Pratyahara, as impurezas do apego;”
❖ “Samadhi elimina tudo o que esconde o senhorio da alma;”

As diferentes escolas de meditação podem variar em suas abordagens,


com algumas enfatizando oito ou apenas três passos, às vezes
incorporando o Pratyahara dentro do Dhyana. Essa flexibilidade
reflete a compreensão de que o caminho espiritual pode ser adaptado
às necessidades e capacidades individuais.

Asana ou postura

Diz-se que qualquer postura é um Asana, mas em geral são as


posturas indicadas nos Livros de Yoga ou inspiradas em alguma
divindade, já que elas buscam que o iniciado extraia poder físico dessa
postura. Então Asana é às vezes colocado (assim como os demais
passos da Meditação) como resultado e não a prática em si. Por
exemplo, quando o estudante consegue ficar o tempo que quiser na
postura escolhida, isso seria Asana, e é a ciência que os Faquires
dominam, podendo passar horas, dias, semanas e até mesmo meses na
mesma postura. Para Asana qualquer postura que lhe permita meditar
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serve, mesmo que sentado em uma confortável poltrona, desde que não
ouse se mover por uma quantidade de tempo determinado. Mas seria
interessante que se mantivesse na clássica postura de Lótus,
Semi-lótus ou pernas cruzadas, pois facilita muitas práticas
posteriores. Há um erro comum nos ensinamentos que alguns pseudo
gurus dizem que Asana é relaxamento, ela é tudo menos isso, a não ser
ao ponto que há certo domínio da prática, e conseguimos esquecer os
sentidos, as dores, e etc... Segundo Therion, Asana é ficar em uma
postura de semi-rigidez como tigre prestes a pular em sua presa.
Patanjali, uma das maiores autoridades da Yoga nos diz em seu verso
46, “Firme e confortável é a postura [Asana].”

Alguns exemplos de Asana

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Pratyahara

Em Pratyahara, é exercitado o recolhimento para dentro de si.


Alguns a definem como um exercício de observação da mente com a
finalidade de acalmá-la. A primeira vista pode parecer um exercício
simples, mas ao realizá-lo descobrimos que é quase impossível observar
os pensamentos e sensações dos cinco sentidos, e até mesmo as
emoções, sem sermos arrastados por ondas de tumulto. O Pratyahara
é um duro exercício e deve ser executado, assim como os demais
passos, no Asana escolhido pelo estudante. Quando se aprende a
observar um pensamento sem se identificar, Pratyahara é alcançado.
Patanjali define: "Na ausência de contato com seus objetos, os
sentidos buscam a natureza de citta (consciência, concentração do
meditador), o que é pratyahara [recolhimento]." "Daí se obtém a
completa subjugação dos sentidos."

Dhyána

Como alguns autores fazem, trataremos Dharana como um passo de


Dhyana. Se já conseguimos através de Pratyahara controlar a
mente, Dhyana será um passo simples. Já estaremos aptos a nos
concentrar em um determinado objeto. A maioria dos autores e
escolas aconselham a se concentrar inicialmente em um objeto
externo por um período que varia, de semanas a meses, começando
com cinco minutos e se estendendo conforme o estudante avança.
Após esse período, o estudante deverá se concentrar em um ponto
dentro de si ou manter a mente concentrada no objeto exterior,
porém agora com os olhos fechados. Conseguindo isso, entramos num
fluxo contínuo de pensamentos sobre o objeto sem distrações mentais.
Patanjali diz: "Dharana é manter a mente concentrada em algum

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objeto particular. Uma corrente contínua de recepção daquele objeto é
Dhyana."

Samadhi

Na antiguidade, os iniciados chamavam de Gnose o conhecimento


adquirido pelo êxtase, um conhecimento além dos cinco sentidos. Para
entender Samadhi é necessário experimentá-lo, pois não podemos
conhecer um país apenas pela sua descrição ou um livro pela sua capa.
Sivananda descreve: "Samadhi ilumina a alma e revela o Ser, ao
perfurar o véu de ignorância." Em Samadhi, percebe-se como a
própria medida do objeto, esvaziando-se de sua própria forma.

Conclusão A meditação não é apenas uma forma terapêutica ou de


relaxamento. É algo muito mais profundo, necessário para quem busca
o verdadeiro caminho mágico. A verdadeira fonte de sabedoria e
magia está dentro de nós. O Bhagavad Gita e Vivekananda ressaltam
a importância da meditação para alcançar a paz, a felicidade e a
liberdade interior, demonstrando que a meditação é o poder de
resistir a tudo, libertando-nos das amarras dos sentidos e das
distrações da natureza.

O pensar em objetos dos sentidos fará com que você se apegue a eles.
Fique apegado e tornar-se-á viciado. Impeça os seus vícios e ficará
colérico. Fique irado e sua mente tornar-se-á confusa. Conturbe sua
mente e esquecerá a lição da experiência. Esqueça a experiência e
perderá o discernimento. Perca o discernimento e perderá o único
objetivo da vida. A mente descontrolada não percebe que o Atmã está
presente. Como pode ela meditar? Sem a meditação, onde estará a
paz? Sem paz, onde estará a felicidade?

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In Hoc Signo Vinces
(Bhagavad Gita. 11.62.63.65)

Meditação é o poder que nos torna capazes


de resistir a tudo. A Natureza pode nos
dizer: "Olhe, que coisa maravilhosa!" E eu
não olho. Então, ela diz: "Que belo aroma!
Sinta-o!" Eu digo ao meu nariz: "Não o
cheire" e o nariz me obedece. "Olhos, não
vejam!". A Natureza faz uma coisa terrível
- mata um de meus filhos e diz: "Agora,
patife, sente-se e chore! Caia no buraco!
Afunde!" Eu respondo: "Não farei isso." Eu
me ergo. Devo libertar-me. Experimente
fazer isso algumas vezes. Na meditação,
por um momento, você pode modificar seu modo de ser. Agora, se você
tem aquele poder dentro de si mesmo, não seria isto o céu, a
liberdade? Este é o poder da meditação.

— Vivekananda, A Meditação e Seus Métodos

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