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Lettres à l'Alchimiste
A Natureza Humana

Quando os antigos sábios iniciaram


suas formulações acerca do homem,
observando o ambiente que lhes
rodeava, perceberam como eram
distintos dos demais seres da criação.
Como aquele que viaja numa exaustiva
viagem, acorda de um sono muito
profundo em um estranho lugar e se
pergunta: Onde estou? Como vim parar
aqui? Até que pouco a pouco vai se
recobrando de sua viagem. Mas o
Sábio despertou em sua alma
perguntas mais profundas, e sua alma
lhe questiona:

— De onde venho? Para onde vou? Qual é o motivo da existência?

E em relação ao todo questiona:

— Quem sou? Como um ator que procura entender seu papel neste
grande palco da existência. Essas perguntas levantadas motivaram
tantos filósofos e pensadores a encontrar a resposta definitiva e ideal
que solucionasse este velho problema da humanidade, e este velho
sorriu sinistramente das inocentes crianças que pensam tê-lo vencido.

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In Hoc Signo Vinces
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Os filósofos da antiguidade compreenderam que havia uma parte no


homem que não era compreendida pelos demais seres, ou pelo menos
não eram desenvolvidas como o era nos homens (quando citado
homem, entenda raça humana, homens e mulheres). Nessa época, a
arte, a filosofia, a ciência, e a religião eram uma só coisa, então não
haviam disputas para quem estava mais ou menos certo. Perceberam
que há muita similaridade física e fisiológica que é compartilhada com
as bestas, seus instintos como de sobrevivência, reprodução, proteção
à prole, autopreservação, autodefesa, ou seja, impulsos ou atos que
não são regulados por uma razão, mas sim por uma necessidade.

Sendo o homem o único portador da razão com a qual ele pode refrear
seus instintos, algo que é impossível para as bestas. Isso não quer
dizer que todo homem tenha total domínio dessa faculdade, muito pelo
contrário, segundo a filosofia o normal é que o instinto governe o
homem e se utilize da razão para justificar seus atos impensados
baseados nos sentidos.

A razão, ou o uso dela no simbolismo esotérico, é representado como


uma espada que nas lendas está encerrada ou presa na dura rocha. É
importante aqui pontuar que a razão, segundo Platão, não é
meramente o conhecimento intelectual ou cultural (epistêmico), mas
essa faculdade que possuímos de discernir o certo do errado,
capacidade de estar além dos cinco sentidos para experimentar a
verdade.

Ser guiado pelos cinco sentidos é próprio das bestas. As bestas podem
ser domadas, como vemos nos circos, ou até mesmo domesticadas e
adestradas, mas elas jamais podem obter uso da razão, da
inteligência. Mesmo um homem que não possui domínio nem exercita
sua razão pode, como um animal domesticado, ser adestrado para
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viver em sociedade e respeitar, por condicionamentos e por medo, às


leis sociais. Aquele que os
filósofos herméticos
chamam de “O Verdadeiro
Homem” ou o
“Microcosmo” possui total
poder sobre essa
faculdade da Razão, e
como Sócrates, a utiliza
para desarmar os
Sofistas, lhes mostrando
a falta de profundidade
de seus argumentos.

Ele é diferente dos demais de sua espécie, mesmo possuindo um físico


semelhante. Seu poder consiste em uma vontade inflexível e certa de
atingir seu objetivo. Sua consciência é plena, e não está dispersa no
todo, mas é concentrada em viver o momento, não se deixando, como o
homem sensorial, ser escravo dos cinco sentidos e ser arrastado pelos
eventos externos, já que seu real interesse não está mais na
necessidade e desejo de ser aceito ou reconhecido. Suas ações são
imprevisíveis, pois não possuem condicionamentos ou adestramentos
sociais. Sua própria razão que lhe guia e não o medo ou os instintos.

O microprosopo citado pelos cabalistas é o criador do mundo pequeno,


e ele se tornou o microcosmo, assim é onipotente dentro de sua esfera.
Ele ligou sua razão à razão suprema, o princípio imutável e por isso se
tornou imortal.

Acontece que a Natureza trabalhou até certo ponto e o homem


ordinário possui suas faculdades obscurecidas pelas forças instintivas
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da natureza e este não percebe sua natureza espiritual, e mesmo


aquele que se dedica a uma vida religiosa, dificilmente percebe que está
preso na matéria, nos cinco sentidos, e só lhes importam conquistas
físicas. Ou o homem vence essa força contundente da natureza,
simbolizada pelos animais, ou ele se torna seu escravo, escravo de suas
paixões.

Quando começamos a despertar, paramos por algum tempo em uma


atividade qualquer e muitas vezes nos perguntamos: Quem sou? Onde
estou? O que estou fazendo? É como se tudo ao redor com toda sua
distração não fizesse mais o mínimo sentido, e é comum sentir uma
estranha necessidade que se assemelha a colocar a cabeça para fora
da água e respirar, ou algo similar, assim percebe e experimenta como
é viver o momento, viver o aqui e o agora, ou como dizem os sábios
Tibetanos, estar na presença.

E se vamos a fundo nesse sentido percebemos como somos arrastados


pelos eventos e agimos de forma mecânica e condicionada, baseada em
nossos instintos, e que somos meramente adestrados exatamente
como um animal.

Há uma tensão espiritual lhe impulsionando para cima, mas os


instintos lhe impulsionam para baixo, e através da alma percebemos
essa batalha, essa tensão entre nossas naturezas físicas e
espirituais, humanas e animais, razão e instinto, necessidade e
liberdade, regulados por esta que os antigos chamaram de Alma, e sua
função é transmitir ao espírito as experiências físicas, e ao físico as
experiências espirituais, por isso se diz que alguns já possuem a mais
desenvolvida que outros, e alguns podem ser chamados até de
desalmados já que em nada percebem as aspirações espirituais.

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A nenhum outro ser, somente ao homem, é dada a tarefa que é


comumente chamada de “A Grande Obra”, ou seja, tornar-se o que os
hebreus chamaram de “O Microprosopo”, o criador do mundo pequeno,
“O Mago” aquele que construiu a si mesmo, Senhor e rei soberano da
natureza tanto interior quanto exterior. Mas a nós é necessário dar
o primeiro passo que é conhecer a si mesmo, pois enquanto continuar
crendo que é um Homem completo, nada poderá ser feito, nada poderá
ser realizado.

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In Hoc Signo Vinces

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