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Lettres à l'Alchimiste
O Viajante

Há muito tempo atrás, em um antigo reino, um velho homem acabara


de chegar numa pobre cidade trazendo certo alvoroço, pois contava
histórias maravilhosas sobre outros países muito exóticos que visitara
em sua longa jornada. Entre o admirado público, um homem pensava,
intrigado com o sotaque do narrador de cabelos de prata que com
muita inteligência contava de seres jamais vistos, homens alados,
leões que ensinavam o magistério. Ele mesmo trouxe com ele uma rara
e estranha serpente verde que em tom baixo e misterioso, dizia que –
A noite, quando ele se retirava aos seus sonhos ela sussurrava coisas
secretas em seu ouvido.
Então o homem assustado se lembrou de onde conhecia tal ancião, e
esperou um momento oportuno para falar com ele a sós. Esperando
esse momento, acabou por dormir e ao abrir os olhos se surpreendeu
com o estranho eremita e sua serpente que o acordam gentilmente. E
reparou que apesar de sua avançada idade era possuidor de um sorriso
jovial. O velho lhe diz: — Você me reconheceu? O homem por sua vez,
admirado responde que sim. E continua — Tu és o jovem sonhador que
ao ver uma apresentação de teatro de um povo estrangeiro, desejou
ser ator e em busca de seu sonho amarrou uma pequena trouxa numa
vara e partiu, mesmo que os outros todos gritassem que era um tolo,
um louco.
O velho sorridente lhe diz — me admiro que mesmo com pouca idade na
época consiga ainda se lembrar de tal fato. O Homem continua —
Puxa, seu sonho se tornou o meu, desejei muito por muito tempo
empreender tal aventura como você, mas me faltou ousadia, e como
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todos diziam que você era um tolo e que provavelmente já havia
sucumbido ao terrível deserto que circunda todo o nosso reino, foram
me desanimando até desistir.

A luz da lua emanava um de seus raios que parecia descer diretamente


no ancião como uma espécie de aura aumentando sua grandeza e
respirando um ar quase divino. No certo o homem ainda não
conseguia distinguir se era um sonho, ou ainda estava embriagado de
sono. Então o eremita disse: — Tu como eu foste um tolo ao dizer aos
outros que planejava realizar tal viagem, porém, é compreensível que
por sua idade não tenha conseguido empreende-la. Mas, fique feliz! Já
sabíamos de sua intenção e vim a este reino para ti, para te dizer que
precisam de um novo ator, e se ainda estiver disposto poderá se
encontrar com os demais na terra de Yesod... onde a lua nunca se
esconde.

—Mas, você irá comigo? Perguntou o homem.


—Não, não posso, preciso ficar na minha terra natal.
—E como posso atravessar esse deserto que cerca nosso reino?
—Ah, para isso terá que seguir a estrela da manhã, ela te indicará a
rota certa e não se perderá no caminho. E mesmo assim haverá de
passar por provações antes que atinja seu objetivo, mas é preciso que
tenha um bom fundamento para que consiga entender o
funcionamento de todo o Universo.

Tais foram as palavras do velho para aquele que aspirava viajar pelos
diversos mundos da natureza. Essa pequena alegoria que nos convida
a iniciar uma viagem para um mundo muito mais vivo e interessante
que o mundo comum, para conhecer um mundo ignorado pelas massas,
mas apreciado por todos os antigos sábios, que com suas luzes
deixaram pistas para que pudéssemos encontrá-los. Mas por que
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seguir este caminho que muitos disseram ser árduo e cheio de
dificuldades? Quem seria o louco de trilhá-lo indo contra todos os
convencionalismos? Ou até mesmo o que é esse caminho e aonde ele
leva? Ninguém sai em uma viagem que não sabe o destino.

Ninguém deseja ficar como um navio à deriva no imenso oceano. Mas,


quem realmente está perdido no oceano? Tentando se adaptar ao que
os outros ditam, sendo manipulados e com medo de fazer o que quer,
com medo do castigo de um ser vingativo que só nos vê para apontar
nossos pecados e defeitos, obrigando-nos a entrar e se encaixar num
padrão como no Mito de Procusto, que matava a todos que não eram
do tamanho exato de sua cama, ou seja, todo aquele que não
encaixava em seu padrão de medida, em seus conceitos, dogmas e
fanatismos, criados por uma mente doente. O caminho é difícil e
árduo já que temos que abandonar nossos falsos conceitos e
conhecimentos que temos enraizados em nosso coração, ou seja,
fazer com que Teseu elimine o Procusto que existe em nós.

Nos antigos ensinamentos alquímicos existe uma palavra composta de


sete letras e que consiste uma das chaves desta grande ciência
esquecida pela massa, VITRIOL, ou o vidro líquido, que conforme
Paracelso, existem em dois tipos, “Ora, no caso da Alquimia material,
admite-se que, suprimindo esta fleuma e esta terra morta, tem-se
então o vitríolo puro; do contrário, ter-se-á um vitríolo impuro, e a
Obra será tanto mais difícil e longa quanto mais impuro seja o
vitríolo, ou que o Elemento predestinado esteja em pequena
quantidade.” E continua, “Ora, o vitríolo puro é a base da Obra
hermética, é a matéria prima da Arte, é o sal que, por uma série de
operações, tomará a forma do Mercúrio ou Fogo Secreto, e por uma
íntima união do Volátil com o Fixo, nos dará o Enxofre, o Amante
Filosófico, atraindo o Espírito Universal.”
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Esse obscuro elemento dos antigos alquimistas, nada tem a ver com o
vitríolo usado na química, e sobre este elemento alquímico, poderíamos
apenas inicialmente, ter em mente que este significado não esgota seu
mais profundo significado alquímico que é dado somente aquele que
muito trabalhou em sua obra, aquele que a princípio já iniciou sua
escalada a sagrada Montanha Abiegnus.

O termo é um acróstico para VISITA INTERIORA TERRAE


RECTIFICANDO INVENIES OCCULTUM LAPIDEM, que podemos
traduzir como “Visite o Interior da Terra e pela Retificação
Encontrará a Pedra Oculta”, essa referência à busca interior em sua
própria terra filosofal, é tema das escolas conhecedoras do autêntico
conhecimento de todos os tempos. Buscar dentro de si as respostas é
o caminho que nenhum mestre pode ensinar, como dito em um
famoso filme, “posso lhe dar a chave, mas a porta será você que
deverá abrir.”
Por mais que aquele que deseja empreender esse caminho muito estude,
decore enciclopédias, livros etc... Que além de desnecessário pode ser
danoso, já que torna o buscador crente que conhece todos os
mistérios, e na verdade, se tornou apenas um repetidor de termos e
frases, como uma pessoa que estuda muito sobre um país, sua cultura,
sua geografia, seus hábitos, mas nunca viajou para este país. Ou seja,
não tem um conhecimento real e verdadeiro, e com toda certeza se
surpreenderá ao visitar tal lugar tão sonhado. Pense por um momento
o quanto fizemos isso. O quanto julgamos conhecer sem nunca ter
realmente ido de encontro a este verdadeiramente, quando julgamos
alguém, uma cultura, um livro sem conhecer realmente? Vivenciar é
muito diferente de conhecer intelectualmente. Apenas conhecer
intelectualmente não nos torna sábios.

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A pedra filosofal tem diversos nomes e formas, muitas vezes era
chamada de “Pedra dos Sábios”, possivelmente se referindo à
passagem do grande iniciador, “O verdadeiro Sábio edifica sua casa
sobre a pedra. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os
ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus
alicerces na pedra.” O Sábio constrói em si seu conhecimento
baseado em seu autoconhecimento, em sua viagem para dentro de si,
de sua terra filosofal, aquele que ignora isso, sempre será equiparado
ao insensato que realiza sua construção sem alicerces na pedra, na
pedra de ângulo dos antigos construtores do templo do sábio e justo
Salomão.
Por este motivo é importante que observemos como pensamos, se são
pensamentos impostos ou pensamentos reais que desenvolvemos por
nós mesmos, como nossa mente reage ao se deparar com algo que
temos aversão? Como manipulam nossos sentimentos, como se
processam sentimentos de alegria ou raiva. Observar como agimos,
gesticulamos e nos comportamos quando estamos num determinado
ambiente. Essa busca é necessária para nos conhecermos e
excluirmos o falso e o duvidoso de dentro de nós mesmos. Esse é o
princípio elementar desse caminho.

Um antigo sábio chamado Monoimus que viveu entre 150 a 200 d.C.
afirmou: "Abandone a busca de Deus, a criação e outras questões
similares. Busque-o tomando a si mesmo como o ponto de partida.
Aprenda quem dentro de você assume tudo para si e diga: ‘Meus Deus,
minha mente, meu pensamento, minha alma, meu corpo’. Descubra as
origens da tristeza, da alegria, do amor, do ódio… Se investigar
cuidadosamente essas questões, você o encontrará em si mesmo”.

Já entendemos que é o caminho, essa rota, que dá sentido à vida. Mas


mesmo o conhecimento desse caminho precisa ter uma base sólida,
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uma rota já traçada, um indicativo que nos aponta o destino. O
conhecimento é necessário para aquele que quer ir além, para ter a
chave que abre a porta que nos leva a outro nível de conhecimento
mais profundo e mais vasto, mesmo sabendo que isso depende de um
trabalho individual, não se pode jamais esquecer o que é chamado de
“O Equilíbrio Mágico” onde deve se equilibrar o que se conhece com o
que se exercita e com que se vive.

Poderíamos dizer que no sentido hermético é necessário viver o mito,


dar vida aos símbolos que em verdade contém o segredo de certas
energias que atuam em nosso interior e consequentemente no exterior
por trás de um véu invisível. Ou seja, nesse exigente caminho é
necessário aprendermos como podemos triunfar.

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