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Dzogchen no Cotidiano

Bom Dia!
Hoje vamos falar sobre como praticar Dzogchen em nossas
vidas diárias.
Em primeiro lugar, Ioga de Guru é de suma importância
quando praticamos a meditação Dzogchen. Ontem, KT explicou
como fazer isso, então hoje, vai começar falando sobre semtsol,
procurando a mente.

Procurando a mente
Os filósofos tibetanos categorizam muitas 'mentes' ou
consciências. Eles falam sobre oito maiores e cinquenta e uma
menores. No entanto, estes dizem respeito à função da mente.
Aqui, estamos falando sobre a mente real de cada indivíduo. Uma
pessoa tem uma mente. Se você tentar encontrar essa natureza
Dzogchen de fora, nunca a encontrará; você deve encontrá-la
olhando para trás em direção à sua própria mente.
Então, antes de tudo, precisamos procurar a mente.
Precisamos verificar minuciosamente para descobrir onde está a
mente. Isto é muito importante. Quando falamos em procurar a
mente, precisamos pensar de onde vem, qual é a fonte, que forma
tem, que cor tem e assim por diante. Precisamos olhar de onde a
mente surge, e também para onde desaparece. Precisamos nos
perguntar onde a mente permanece antes de desaparecer. Alguns
pensam que reside no cérebro, outros — especialmente tibetanos
— pensam que reside no coração. É importante entender onde
nossa mente permanece.
Também é importante pensar sobre nossas emoções. Muitas
pessoas pensam que as emoções guiam a mente.
Devemos realmente tentar entender onde a mente está. Está
no coração? No cérebro? Ou em algum outro órgão do nosso
corpo? Os seres humanos são feitos de muitas partes, e é
importante entender onde está a mente e se ela reside em
qualquer um desses órgãos ou partes.
Geralmente, temos tantos pensamentos enquanto estamos
pensando — novos, velhos, muitos pensamentos. Isso é o que
chamamos de 'a mente'. Você está sempre pensando. Pensando
sobre passado ou sobre o futuro. Agora mesmo, você está
pensando.
Sempre pensando. Esta é a sua mente. Há muitos, muitos
pensamentos e emoções diferentes. Então você tem que verificar
de novo e de novo — onde está esse pensamento, essa mente? Que
cor tem? Que forma tem? Onde aparece a partir de que? Para onde
ela desaparece?
Se você verificar desta forma, então, finalmente, você não irá
ser capaz de encontrar qualquer coisa que seja a mente. A mente é
insubstancial, imaterial. No entanto, ainda estamos sempre
pensando. Se você olha para este pensamento ou mente, então
finalmente é vazio.
Você não pode encontrar nenhuma cor, nenhuma forma, nenhuma
entidade, nada substancial, quaisquer características. Mas você
precisa verificar isso de novo e de novo. Isto é muito importante. A
maioria das pessoas não entendem como olhar para sua mente. É
muito importante continuar verificando isso, e perguntar-nos onde
a mente está, que forma, cor etc ela tem. Quanto mais olharmos,
mais e mais realizaremos que não há nada para encontrar. Qual é o
benefício de procurar continuamente a mente? Porque no fim,
finalmente saberemos por nós próprios como procurá-la e como é.
Por exemplo, quando temos muitos pensamentos, emoções
negativas podem surgir. Para algumas pessoas, a raiva pode surgir,
ou ciúme. Mas uma vez que sabemos como procurar nossa própria
mente, uma vez que entendemos a Natureza de nossa própria
mente, então não importa mais se pensamentos ou emoções como
esses surgem.

Natureza da mente
Às vezes ficamos com muita raiva. Uma raiva muito grande pode
surgir. Às vezes, nem sempre. Bem, espero que nem sempre! Então
quando surge a raiva, se você olhar, você não consegue ver nada.
Se olhar para a mente, não há nada. Nós a chamamos de vazio,
mas isso significa que não há nada. Nada existe. Não há nada
substancial, nada concreto, nenhuma característica. Isto parece
muito, muito vazio. Apenas vazio. Então você olha para a sua
mente, você não vê nada, mas naquele momento, você está
presente. Há uma presença muito, muito clara. Você não está
caindo em inconsciência. Você não está caindo em sono profundo.
Esta presença é muito, muito clara. Você não vê nada, ainda é
muito clara. Essa condição é chamada de Natureza da Mente.
Sempre que surge uma emoção negativa, é importante entender
que a mente é vazia.
Em primeiro lugar, é claro, quando começamos a praticar
Dzogchen, é muito importante entender a Natureza da Mente,
como procurá-la e como reconhecê-la. Às vezes pode ser difícil
para nós fazer isso, mas é muito importante manter nossa fé no
Estado Natural da Mente e não desanimar.

No Zhang Zhung Nyengyu diz:


“De repente um pensamento aparece. Se você olhar,
desaparece. O pensamento, quem está observando,
observador e observado, todos liberam por si próprios em
sua natureza. Naquele momento, a consciência Dzogchen
aparece para você” — salewa significa que é muito,
muito clara para você – “Isso é sabedoria direta”.

Esta consciência Dzogchen ou Natureza Dzogchen às vezes é


chamada de Estado Natural, a Natureza da Mente, a natureza dos
fenômenos, thigle nyagchig, essência única — há muitos, muitos
nomes diferentes, mas apenas um significado, a essência única.
Quando você olha para a mente, os pensamentos liberam por
si próprios. Eles não são liberados por qualquer outra coisa ou em
qualquer outro lugar. Eles são liberados em sua própria natureza.
Dizemos 'namtog', que significa conceitos, pensamentos
conceituais. As pessoas costumam dizer que pensamentos ou
pensamentos conceituais são ruins, mas se você usá-los da maneira
certa, eles podem trazer a consciência Dzogchen para você.
Assim, quando procuramos a mente adequadamente, obtemos
uma compreensão de seu vazio, da verdadeira Natureza da Mente,
e uma vez que tenhamos essa compreensão e experiência, apenas
deixamos a mente como é; nós deixamos tudo como é.
Quando compreendemos a Natureza da Mente, é importante
manter uma consciência estável disso. É claro, às vezes não
podemos permanecer estáveis. Mas mesmo que não possamos
manter esta consciência estável por muito tempo, não devemos nos
preocupar sobre isso. Não devemos desanimar. Ainda devemos
tentar praticar todos os dias. É bom tentar fazer esta prática por
alguns minutos todos os dias. Não precisamos nos preocupar, nem
precisamos de algum tempo especial para esta prática. Mesmo se
tiver um emprego, ainda tem algum tempo livre. Por exemplo, se
você pega o trem ou ônibus para o trabalho, é possível meditar
sobre a natureza de sua mente enquanto está viajando.
Você precisa se lembrar onde quer que esteja — no trabalho,
enquanto está andando, comendo, dormindo, indo, vindo etc. O
tempo todo, precisa se lembrar. De novo e de novo. Se faz isso, se
olha para este estado, então permanecerá naturalmente nele, por
um tempo. Por um minuto, dois minutos. Desse jeito. No banheiro.
No banho. Na sua casa. De manhã, durante o dia, à noite, a
qualquer hora. Mesmo meia-noite. Se você acordar, deve se
lembrar disso. Se você praticar desta forma, então
espontaneamente se torna mais e mais familiarizado com este
estado. Se você tem tempo extra ou não, não importa; se você
sempre se lembrar disso, então automaticamente você se
familiarizará com ele. Isto é seu melhor amigo. É muito importante
sempre lembrar nós próprios desta forma. E se pudermos
permanecer neste estado continuamente por 20 ou 30 minutos,
gradualmente torna-se um hábito. Uma vez que se torna um
hábito, então seremos estáveis.
Então, vimos a importância de pesquisar à mente. Aqui, há
apenas quatro frases, mas são muito, muito importantes:

“De repente um pensamento aparece. Se você olhar,


desaparece. O pensamento, quem está observando,
observador e observado, todos liberam por si próprios em
sua natureza. Naquela momento, a consciência Dzogchen
aparece para você, e isso é sabedoria direta.”

Neste caso, thögal yeshe significa sabedoria direta. Esta


citação é apenas quatro frases, mas são muito, muito importantes.
Acreditamos que essas palavras apareceram pela primeira vez de
Kuntu Zangpo. Também Shardza Rinpoche — você sabe Shardza
Rinpoche — disse que isso é yerig, sabedoria primordial. Existem
muitas palavras e termos diferentes nos ensinamentos Dzogchen,
mas Shardza Rinpoche disse que se você perceber esta sabedoria
primordial através destas quatro frases, são o melhor presente de
Drenpa Namkha. Este é o sangue de mãe e irmã dakinis, este é o
caminho secreto dos rigdzins, os detentores de consciência, ou às
vezes dizemos pawo e khandros. Pawo e rigdzin significam a
mesma coisa; eles são praticantes que perceberam a Natureza
Dzogchen e são chamados de detentores de consciência. Então, é o
sangue da mãe dakinis, o sangue da irmã dakinis e o sangue dos
irmãos, os rigdzins. OK?"

União de vaziez e clareza


Quanto ao Estado Natural, dizemos que é tongnyi, ou shunyata.
Tongnyi é apenas uma palavra, e o significado geral é 'vazio’, mas
na verdade existem muitas qualidades diferentes de vazio. No
Theravada é dito que todos os fenômenos são desprovidos de si,
que são sem-si, e dizem que esta é a melhor visão. Chittamatra
também fala sobre vazio. Chittamatra e Dzogchen têm muitos
termos em comum e assim podem soar muito semelhantes. Termos
como kunzhi, rangrig, tongnyi e assim por diante. As palavras são
as mesmas, mas o significado é completamente diferente. De
acordo com Chittamatra, rangrig significa autoconsciência, e para
os seguidores de Chittamatra, existem muitas categorias da mente,
ou consciência. Por exemplo, 'consciência do olho' ou o sentido da
visão. De acordo com a visão de Chittamatra, cada uma dessas
consciências é clara para si própria. A consciência do olho é clara
para si própria, consciência da mente é clara para si própria, e é
por isso que usam o termo 'autoconsciência' ou rangrig. Eles falam
sobre consciência alaya, consciência emocional — mencionam
muitas consciências diferentes, e todas estão cientes delas
próprias. E chamam esse aspecto de autoconsciência.
Mas no ensinamento do Dzogchen e do Tantra Bönpo, o
significado é diferente. O nome é o mesmo; nós também falamos
sobre rangrig, em tibetano falado, e isso significa autoconsciência.
De acordo com o ensinamento Dzogchen, o vazio é em si claro;
Dzogchen não fala sobre a consciência da mente esclarecedora ou
sendo clara para si própria. Então, isto é completamente diferente.
Algumas pessoas pensam que o Dzogchen e Chittamatra são muito,
muito semelhantes, e os estudiosos tibetanos muitas vezes também
dizem isso. Mas YR diz que são completamente diferentes.
Segundo o Dzogchen, embora todas as escolas dão explicações
sobre o vazio, apresentam qualidades de vazio muito diferentes. De
acordo com Dzogchen, você olha para a mente, e este Estado
Natural, a natureza de sua mente, aparece para você. Usamos duas
palavras para falar desse estado: vazio e clareza. Mas que é o vazio
e qual é a claridade? Na verdade, esse estado está além de todos
os pensamentos. Quaisquer pensamentos que você tenha —
pensamentos bons, pensamentos ruins — não importa. Nenhuns
pensamentos podem compreender esta Natureza; entende a si
própria. É muito clara para si própria. Isto está muito claro para
você também. Se você olhar para sua mente, este estado aparece
para você. Se está pensando alguma coisa, desaparece. Então isto
é muito claro para você.

Apresentação direta
A natureza é assim. Bem desse jeito. Existem outras
apresentações. Por exemplo, marthri, apresentação direta. Isso é o
que isso significa. Sem pensar em nada em particular, primeiro
você precisa entender como olhar para a mente. Uma vez que você
entende como olhar para a mente, é isso que você faz — você olha
para a mente, e depois disso, não pensa em nada. Apenas
mantenha naturalmente. Continue assim, naturalmente. Não pense
nada especial, não pense com qualquer intenção, apenas tente
manter este estado natural de sua mente. Então, se você
permanecer nesta Natureza cada vez mais, por períodos cada vez
mais longos de tempo, então você naturalmente se familiariza com
ela.
Essa é a apresentação direta.
Vaziez e clareza — essas são palavras diferentes mas têm o
mesmo significado. É importante entender isso, outras escolas
diferentes, diferentes estudiosos e diferentes lamas podem dizer
algo bastante diferente. Madhyamaka ou Chittamatra podem usar
as mesmas palavras, mas o significado é diferente; a qualidade de
seu vazio é completamente diferente. Não cometa um equívoco
sobre isso.

Vaziez e clareza no Sutra, Tantra e Dzogchen


Dizemos saltong. Isso é muito importante. Sal significa
clareza. Tong significa vazio e zungjug significa sua unificação. A
unificação de vaziez e clareza. O aspecto de clareza é muito, muito
importante. Se você perdê-lo, e apenas o vazio permanece, como
na visão Madhyamaka, então é apenas shunyata, sem clareza. Se
não houver clareza neste vazio, então isso não está de acordo com
a visão Dzogchen, ou a visão tântrica.
Então permaneça assim, mantenha isso em sua vida. Todo dia.
A qualquer momento. Você deve se lembrar dessa unificação de
vazio e clareza.
Assim, a vaziez e a clareza passam a significar o mesmo,
significado uno, thigle nyagchig. Thigle nyagchig significa essência
única, significado único. Por exemplo, 'fogo' e 'quente' são palavras
diferentes, mas têm um significado comum. Ou às vezes dizemos
'molhado', às vezes dizemos 'água', mas compartilham um
significado comum. É o mesmo com vaziez e clareza; os dois são
inseparáveis. Isto é um ponto muito, muito importante.
Vaziez, clareza e unificação são qualidades do Estado Natural.
'Estado Natural' significa sua própria natureza. Buda absoluto,
Buda primordial. Se permanece na Natureza, você está no paraíso!
No nirvana! Você está aqui em Katmandu, mas se permanecer no
Estado Natural, então Katmandu aparece como o paraíso, para
você. Só para você! Não para o público em geral. Você gosta
daquilo? Se você procura nirvana ou paraíso em outro lugar, você
nunca o encontrará.
Apenas permaneça na Natureza sem pensamentos.
Às vezes, os pensamentos podem aparecer enquanto você está
permanecendo no Estado Natural. Se rejeitá-los, isso é errado.
Essa é a maneira errada. Deixe os pensamentos aparecerem.
Aparecem naturalmente, mas é mais importante não os seguir, não
interferir. Apenas não se importe. Deixe qualquer pensamento que
aparece exatamente como é. Esta é a melhor maneira. Se você
fizer algo com o pensamento, mais e mais pensamentos e conceitos
aparecem. Se você tem mais pensamentos conceituais, então eles
se tornam uma bola de neve, sempre mais e mais. Você tem mais
conceitos, eles te incomodam mais, então você tem mais
obstáculos, mais demônios, mais deuses, mais devas!
Permanecer na Natureza assim não é específico para
Dzogchen apenas. É a base do Tantra e do Dzogchen.
Mas não do Sutra. Eu lhe disse, a visão do Sutra é diferente: de
acordo com essa visão, há apenas vazio sem clareza. Esse é o
ensinamento do Sutra; não explica sobre clareza. Para eles, a
clareza é apenas a mente, não vai além da mente. Mas nos
ensinamentos do Dzogchen e do Tantra, no entanto, explica-se que
a clareza não é nossa mente, é uma qualidade do Estado Natural —
salwa. Nós o chamamos de salwa. Podemos dizer que o Estado
Natural não 'escurece', entende? É luminoso, autoclaro. E esse
aspecto é chamado de clareza. Essa clareza, vaziez e unificação
são comuns a ambos Tantra e Dzogchen.

No Tantra, praticam três contemplações. Seguem os


pensamentos. Existem vários tipos de pensamentos —
pensamentos bons, pensamentos ruins. Este ensinamento tântrico
concentra-se em pensamentos bons, enquanto os pensamentos
ruins são emoções negativas — raiva, desejo, ciúme, orgulho,
ignorância e assim por diante. Esses são pensamentos ruins. Então
existem pensamentos bons e ruins. Seu Ioga de Guru é um
pensamento bom. Mas ainda é um pensamento, no entanto. Sua
bodhichitta é um pensamento.
Normalmente falamos de dois tipos de bodhichitta: bodhichitta
absoluta e bodhichitta relativa. Dizemos que permanecer na
Natureza é bodhichitta absoluta. A bodhichitta relativa é o que
você pratica nas práticas preliminares, você sabe. Você está
pensando no bem-estar dos seres sencientes ou algo assim. Estes
são pensamentos. Pensamentos bons, pensamentos muito bons.
Mas ainda estão incluídos em conceitos, pensamentos conceituais.
Quanto ao objetivo final, para Sutra, Tantra e Dzogchen o
objetivo final são os Três Kayas; precisamos alcançar os Três
Kayas. De acordo com Dzogchen, os Três Kayas existem
espontaneamente em sua Natureza, desde o tempo sem princípio,
infinitamente. Do sem princípio ao sem fim. Usamos o exemplo de
uma semente de gergelim ou leite. Se você quiser comer manteiga,
ela existe espontaneamente no leite. Se você bater o leite, a
manteiga aparece. Se você não bater o leite, a manteiga ainda
existe lá espontaneamente, mas você não pode vê-la. É o mesmo
com uma semente de gergelim. A semente contém óleo, e se você
pressioná-la, o óleo aparece. Mas se você não pressioná-la, você
não vê nada. Do mesmo jeito. Existem Três Kayas em nossa
Natureza: Dharmakaya, Sambhogakaya, Nirmanakaya. Todos os
três kayas existem lá. Mas se você não praticar o Estado Natural,
não podem aparecer. Se, por outro lado, você praticar com a
Natureza cada vez mais e finalmente tornar-se absolutamente,
finalmente familiarizado com ela, então esses Três Kayas aparecem
espontaneamente de sua Natureza. Tudo o que você precisa pode
aparecer. Não há outra causa. Isto é muito, muito importante.
Os ensinamentos do Sutra dizem que você precisa praticar os
Dez Paramitas, os Cinco Caminhos, os Dez Bhumis etc. Esses
praticantes praticam muitas coisas diferentes, mas, na verdade,
tudo existe espontaneamente em sua Natureza. Então, por
exemplo, se você pratica o Estado Natural muito bem, então o
paramita da generosidade já existe aí. A Disciplina Moral existe aí.
Os ensinamentos do Tantra falam de samaya, os ensinamentos do
Sutra falam de disciplina moral, mas esta qualidade já existe em
seu Estado Natural. A qualidade de generosidade, de sabedoria, de
compaixão — todos existem espontaneamente em sua Natureza.
Isso unicamente de acordo com a maneira Dzogchen. Apenas
Dzogchen entende essas coisas. É por isso que diz que você pratica
o Estado Natural apenas. Às vezes você precisa recitar mantras ou
visualizar yidams, deidades. Às vezes você tem dor de cabeça ou
uma dor de estômago, e nessa hora, você precisa de pílula, algum
medicamento. De maneira semelhante, às vezes você precisa
recitar mantras e assim por diante. Mas remédio não é seu
alimento, você sabe! Remédio é remédio, não comida! Então é
assim. Isto é como remédio, mas não é o seu alimento. Para os
seguidores dos ensinamentos Sutra, os Dez Paramitas, Cinco
Caminhos e Dez Bhumis são como seu alimento; eles precisam
deles todos os dias, o tempo todo. Não como a medicina. Os
seguidores do Tantra também praticam muitas coisas.
Mencionamos as três contemplações, então é o que chamamos de
chyerim e dzogrim. Chyerim significa que você visualiza os yidams.
Dzogrim significa que você visualiza os canais, ventos, thigles,
bhindus, sílabas. Eles precisam detong yeshe, também, a sabedoria
de vazio e gozo. Há muitas coisas. Tudo isso é criado por seus
pensamentos. Pensamentos bons são OK, mas é mais importante
permanecer na Natureza sem quaisquer pensamentos. Sem
quaisquer pensamentos. Às vezes, isso é chamado de mitogpa,
estado-sem-pensamento.

Exemplo, significado e sinal


Agora vou tentar explicar sobre pedontag sum, exemplo,
significado e sinal. Isso é muito, muito importante para o sistema
Dzogchen. Já descrevemos brevemente como praticar com a
Natureza, e também as qualidades do Estado Natural: clareza,
vaziez e unificação. Então agora vou falar sobre pedontag sum:

Pe, exemplo, é namkha. Namkha significa espaço.


Don, significado, é bönnyi — fenômenos da natureza, natureza
da realidade.
Tag, sinal, é semnyi — a Natureza da Mente. Ou geralmente
dizemos o Estado Natural, mas na verdade 'pertence' à
mente; é a natureza da nossa mente.

Exemplo
Então aqui, o exemplo é o espaço. Por que usamos esse exemplo?
Porque podemos ver o espaço diretamente, com nossos olhos. Lá
fora tem um grande espaço, dentro tem um pequeno espaço —
depende da sua casa e assim por diante. Parece como se existissem
muitos espaços diferentes, dependendo da forma da sala e assim
por diante, mas na verdade, a qualidade do espaço é o mesmo.
Espaço é espaço. De acordo com Dzöphug, Abhidharma, o universo
é chamado de recipiente, e todos os seres sencientes, tudo e todos
estão contidos dentro do universo, em primeiro lugar apareceram
do espaço. Agora tudo permanece no espaço, e, de acordo com
Abhidharma, enfim, tudo será queimado pelos sete fogos — medün
– que são nove vezes mais quentes que o nosso fogo normal. E lá
não é só um, são sete! Há um vento forte, também, que não é como
o nosso vento. Pode ser nove vezes mais forte. Naquele momento,
tudo é desfeito — o universo e todos os seres sencientes dentro
dele. Nada resta. Há também água; uma enorme inundação
aparece e lava o universo. Então, em primeiro lugar, tudo
apareceu do espaço, agora tudo permanece no espaço e,
finalmente, tudo desaparecerá no espaço. Não é possível ir além do
espaço. O espaço abrange tudo, todos, em todos os lugares. Então
este é o exemplo. Durante o dia, a noite, podemos olhar para o
espaço e ver muitas estrelas diferentes e planetas no céu — o sol, a
lua, nuvens, trovões, relâmpagos. Podemos ver muitas coisas, mas
tudo o que vimos inicialmente apareceu do espaço. Agora isso
permanece no espaço e, finalmente, desaparecerá no espaço. Por
exemplo, está nublado agora, mas em uma hora ou mais todas as
nuvens vão desaparecer. Essas nuvens desaparecerão no espaço.
Não é possível que desapareçam em algum lugar além espaço.
Tudo está dentro do espaço. Este é o exemplo.

Significado
Don — o significado: a Natureza dos fenômenos. Nós dizemos que
quaisquer fenômenos que surjam — os fenômenos do nirvana ou
fenômenos samsáricos – existem esses dois, mas o que quer que
surge antes de tudo aparece da Natureza, da Natureza da
realidade, bönyi. É muito importante entender isso. Há dois
aspectos, duas frases: a Natureza dos fenômenos e a Natureza da
Mente, mas é importante entender que são da mesma qualidade.
Dizemos rangjung yeshe, consciência auto-originada. É a base de
todos os fenômenos — tanto do samsara quanto do nirvana. É por
isso que aqui nós falamos sobre a Natureza dos fenômenos, porque
na verdade todos os fenômenos compartilham a mesma qualidade:
todos se originam da consciência auto-originada. A sabedoria auto-
originada que é a base de todos os fenômenos é a mesma. Já te
disse, tem três qualidades: vaziez, clareza e unificação.
Existem muitos universos, muitos seres sencientes, muitas
coisas diferentes, tantos fenômenos. Alguns estão ligados ao
samsara, alguns estão ligados ao nirvana. Mas tudo aparece
primeiro da Natureza. Agora, tudo permanece na Natureza. As
coisas não permanecem para sempre, às vezes desaparecem, então
finalmente tudo desaparece na Natureza. Não é possível
desaparecer além da Natureza. Isto é o significado. Tudo o que
vemos — esta mesa, casa, todos os tipos de coisas diferentes, o
gravador aqui, os iPhones e assim por diante — todas essas coisas
diferentes são chamadas de fenômenos. Primeiro, todos aparecem
da Natureza. Agora permanecem na Natureza, e finalmente
desaparecerão na Natureza. Tudo é englobado ou influenciado pelo
Estado Natural. Não há fora ou dentro, isso não importa. Tudo é
englobado pelo Estado Natural. Isso é um ponto muito, muito
importante. O Estado Natural é vazio, apenas vazio, mas tem
grande nyupa — energia, potencial. Muito grande. Por quê? Porque
em primeiro lugar tudo surgiu a partir dele, você sabe.
Vou te dizer como. Desde o início — nós usamos a palavra
‘começo’, mas na verdade não tem começo — cinco cores, cinco
luzes aparecem. Branca, vermelha, azul, amarela e verde.
Aparecem espontaneamente. Ninguém as criou. Não são
influenciadas por nada. Sem causa, sem condição, aparecem da
Natureza. No mesmo momento que as luzes aparecem, a mente
aparece espontaneamente também da Natureza. Não há causa ou
condição diferente — apenas a Natureza. Então, lentamente,
lentamente, essas diferentes luzes e raios se transformam nos
cinco elementos. A luz vermelha torna-se fogo; a luz verde torna-se
vento; a luz azul torna-se água; a luz branca torna-se espaço e a luz
amarela torna-se terra. Portanto, os cinco elementos já existem aí.
Nós também temos esses cinco elementos dentro do nosso corpo,
os cinco elementos internos: carne, sangue, calor, respiração e
mente. Cada um destes permanecem em um dos cinco órgãos: a
carne permanece principalmente no baço; o sangue permanece
principalmente nos rins; calor permanece principalmente no
fígado; respiração permanece principalmente nos pulmões; mente
(ou consciência) permanece principalmente no coração. Mas o que
quer que esteja aí, aparece a partir dos cinco elementos. Os cinco
elementos aparecem das cinco luzes, e as cinco luzes aparecem da
Natureza. Espontaneamente. Este aspecto é chamado Natureza
dos fenômenos. Tudo o que existe aparece da Natureza.
É o mesmo agora. Podemos ver muitas coisas diferentes, e
parece que foram criadas por pessoas, você sabe. Mas a fonte
muito inicial é o Estado Natural. Então, depois disso, as cinco
luzes. Este é um ponto-chave muito essencial que você deve
entender corretamente. No Dzogchen, se você está familiarizado
com o Estado Natural, tudo o que você tem aparece a partir do
Estado Natural. Se coisas samsáricas ou nirvânicas aparecem
depende do seu entendimento. Se não entende esta Natureza,
então as coisas samsáricas aparecem a partir dela. Se você
entende o Estado Natural — corretamente, não apenas as
palavras! — então de sua Natureza, coisas nirvânicas aparecem.
Depende do seu entendimento.
OK, é assim. Esse é o significado, a Natureza de fenômenos.

Durante a prática, você simplesmente permanece na


Natureza. Não analise, não verifique o que é o vazio, o que é a
claridade, qual é a Natureza da Mente, qual é a natureza dos
fenômenos, qual é o exemplo. Não há necessidade de verificar. Se
você verifica, então isso significa que você já está seguindo os
pensamentos. Já está caindo da Natureza, da sua consciência. Sua
consciência desapareceu e este é apenas Samsara. As coisas
samsáricas aparecem. Se, porém, você simplesmente permanece
na Natureza, não há necessidade de verificar nada. Mas você
precisa entender essas coisas. Você precisa entender que tudo é
englobado pela Natureza.
Eu lhe darei outro exemplo. Se você olhar para a água de um
oceano ou de um lago, você pode ver muitas coisas brilhando lá —
reflexos de estrelas, reflexos da lua, reflexos do sol, das árvores,
nuvens, arco-íris e assim por diante. Há também um reflexo do seu
rosto lá. Alguns reflexos parecem bonitos, alguns parecem feios.
Mas se você tocá-los com o dedo, são todos apenas água. Não há
mais nada. Algumas coisas parecem bonitas, mas se você estender
a mão e tocá-las, não, não há nada. Algumas coisas parecem feias,
mas da mesma maneira, se tocá-las, há apenas água. Não há nada
lá. É assim, você vê. Durante o dia, durante à noite você pode ver
algumas coisas que parecem bonitas, algumas coisas que parecem
feias, ou algumas coisas que você quer desfrutar, ou algo parece
nojento, algo não é bom, ou vê outra coisa e acha que não é ruim,
ou mais ou menos. Existem muitas coisas diferentes. Mas, na
verdade, o que quer que esteja lá é apenas como um reflexo na
água. Aqui usamos água como exemplo ou metáfora para o Estado
Natural enquanto os reflexos são um exemplo para os fenômenos.
É assim.

Sinal
Aqui, o sinal é a Natureza da Mente, ou semnyi. Semnyi significa 'a
própria mente', ou a 'Natureza da Mente'. Você deve entender que
usamos a palavra 'mente' de duas maneiras. Uma é apenas explicar
sobre a mente, mas em outros momentos, nós estamos nos
referindo à Natureza da Mente. Quando falamos sobre nossa
mente, estamos falando sobre pensar algo, então isso é o mesmo
que pensamentos. Mas agora estamos falando sobre a Natureza da
Mente, sobre como a mente permanece. Isso é a Natureza da
mente. É chamado de sinal. O que queremos dizer com isso?
Podemos ter muitos pensamentos, muitos pensamentos diferentes.
Desde os ensinamentos desta manhã, até agora, você teve muitos
pensamentos, eu também tive muitos pensamentos. Não só eu, não
só você, todo mundo tem pensamentos, diferentes pensamentos,
mas todos têm sabedoria auto-originada como a base. Todos esses
pensamentos — seus pensamentos, meus pensamentos,
pensamentos de outra pessoa. Então a Natureza é a base de todas
mentes. Por isso é chamada de Natureza da Mente.

Forma vazia
Em primeiro lugar, tudo, tudo lá fora — a mesa, pilares, casa,
pessoas, animais, vacas, coelhos, gatos — há muitos seres
diferentes, muitas coisas diferentes, mas são todos formas vazias.
O que significa 'forma vazia'? Eu já dei um exemplo: na água, pode
haver muitos reflexos diferentes, mas se você tocá-los, oh, eles são
todos água! Não há diferença entre todas as formas. Isso é assim.
As coisas parecem diferentes, mas são todas formas vazias. Se
você olhar para esta mesa agora, por exemplo, você não pode
compreender a Natureza. Se você verificar como esta mesa existe,
usando sua mente e razão, finalmente perceberá que é vazia. Sim,
esta é uma mesa, mas o que a torna uma mesa? Qual pedaço? Isso
tem partes diferentes — deste lado, daquele lado, de cima, de
baixo, pernas. Debaixo da mesa, acima da mesa, onde está a mesa?
Se você verifica desta forma, finalmente perceberá que tudo isso é
apenas partes da mesa, não a mesa em si, então finalmente você
não consegue encontrar nenhuma mesa. Isso é como shunyata, que
é explicado pelos ensinamentos do Sutra. Se você verificar dessa
maneira, esse é o resultado a que vai chegar. Você nunca vai
chegar à Natureza Dzogchen. Então é por isso que primeiro tem
que olhar para a mente, na mente.
Os ensinamentos do Sutra também dizem muitas coisas sobre
a mente, mas se procurar a essência das coisas de acordo com os
ensinamentos do Sutra como acabamos de descrever, então você
nunca encontrará o Estado Natural da Natureza Dzogchen. No
Dzogchen, você só precisa olhar para a mente. Então como lhe
disse anteriormente, naquele momento o observador e o que está
sendo observado são liberados por si próprios em sua Natureza.
Nesse momento, sua presença aparece. Consciência aparece. Este
é o sinal. Se você quiser obter a Natureza Dzogchen, deve ir por
este caminho. Se for por outro caminho, nunca vai conseguir.
Nunca. Se você quer se tornar mais e mais familiarizado com esta
Natureza, deve praticar; não é o suficiente apenas entendê-la
intelectualmente, com sua mente. Você precisa praticar. A prática é
muito importante. A medida que pratica, você se torna cada vez
mais familiarizado com essa Natureza, e então lentamente,
lentamente, todos os fenômenos aparecerão para você como forma
vazia. Mas no começo é muito difícil de entender este 'vazio' de
pronto. 'Vazio' significa não sólido. Sem substância. Como um arco-
íris no espaço — você pode ver, mas não pode tocar. Isso é o que
significa 'forma vazia'.
Se estiver em um retiro escuro, muitas formas vazias
diferentes aparecem para você; não são influenciadas por seus
pensamentos. Não são criadas por seus pensamentos. Elas apenas
aparecem para você de sua Natureza. Não de fora. No retiro
escuro, não há cores ou formas ou coisas diferentes, então tudo o
que vê são apenas formas vazias que aparecem para você. Este é o
sinal, tag. Se você fizer isso cada vez mais, então, mais e mais
coisas, mais visões aparecem. Você deve entender isso. É muito
importante permanecer na Natureza. Se permanecer na Natureza
corretamente, dizemos que isso se chama tregchö. Então, na
Natureza, você pode treinar com forma vazia com visões thögal.
Formas vazias são a visão thögal. Se praticar tanto tregchö quanto
thögal e se familiarizar com ambos, então o objetivo final é que seu
corpo desapareça em luz. Sua mente desaparece na Natureza.
Finalmente, não tem nada! [Risos.] Você gosta disso? [Risos.]

Mais sobre Semnyi


Temos muitos pensamentos, você e eu. Todo mundo tem muitos
pensamentos. Então, em primeiro lugar, todos os pensamentos que
você tem — pensamentos bons, pensamentos ruins, pensamentos
neutros. 'Pensamentos bons' significa pensamentos ligados a
virtudes. 'Pensamentos ruins' significa pensamentos ligados a
negatividades. 'Pensamentos neutros' significa a maioria dos
pensamentos, os pensamentos em geral. Eles não estão conectados
com virtudes nem não-virtudes. Quaisquer pensamentos que você
tenha, cada pensamento, seja bom ou ruim, aparece primeiro de
sua Natureza. Os pensamentos vêm, estão se movendo, vindo
continuamente, e permanecem em sua Natureza. Finalmente, o
pensamento não fica para sempre; às vezes aparece um
pensamento, às vezes desaparece. Ele desaparece em sua
Natureza. Não muito longe. Desse jeito. Tudo aparece da
Natureza. Agora estamos concentrando em pensamentos, em sem,
ou mente, consciência. Todas as consciências surgem da Natureza.
Este aspecto é chamado semnyi, a Natureza da Mente.
Por exemplo, agora talvez você esteja gentil, sem qualquer
emoção em particular, sem pensar em nada particular, está apenas
calmo, sentado suavemente, então de repente — talvez haja
alguma razão, talvez não haja razão — você está ficando com raiva.
A raiva surge. Verifique esta raiva. De onde aparece? Para onde
desaparece? Se verificar isso, você descobrirá que não há outra
causa, apenas aparece de sua Natureza. E, finalmente, desaparece
em sua Natureza. Apareceu da sua Natureza, desapareceu em sua
Natureza. Durante esse tempo quando a raiva se move e vem, não
permanece em nenhum lugar, exceto em sua própria Natureza.
Portanto, este aspecto é chamado de Natureza da Mente, semnyi.
Você precisa praticar isso. Olhe para sua mente. Você não vê nada.
Sua presença é como a luz do sol no espaço; quando você olha
nele, é muito vazio. O espaço é vazio, não há nada lá. Não se
concentre em nada. Não olhe para a parede ou para alguém.
Apenas olhe para o espaço vazio. É muito, muito vazio. No entanto,
não está escurecendo. É vazio, mas muito, muito claro. Desse jeito.
Se você olhar para sua mente, o vazio e a clareza aparecem junto a
você, como o espaço com sol. Se tem uma experiência como esta,
isto é a Natureza. Sua Natureza. Buda Primordial. Talvez
ocasionalmente você se torne Buda!
Você precisa estar familiarizado com isso. Esta é a principal
essência. Afora essa consciência, tudo é como maya. Você sabe o
que é maya? Ilusão. Tudo é deludido, uma delusão. Não confiável.
Se você se familiarizar com isso, então tudo o que quer aparece de
sua Natureza. Mas não dólares! Nem prata! Se algo como ouro
aparece de sua Natureza, é apenas vazio! Você não pode guardar
ou gastá-lo! É apenas uma forma vazia!
Todo mundo precisa de felicidade. Ninguém precisa de
sofrimentos. À medida que você se familiariza cada vez mais com
esta Natureza, ela lhe trará cada vez mais felicidade. Suas
emoções negativas, suas emoções muito fortes, suas preocupações,
sofrimentos e misérias, quaisquer que sejam os problemas que
você tenha lentamente, lentamente desaparecem. Mesmo que
alguma emoção muito forte apareça para você, se está
familiarizado com a Natureza, desaparece facilmente. Se não está
familiarizado com a Natureza, se não a conhece direito, é difícil.
Por isso a partir de agora em diante, até que esteja familiarizado
com a Natureza, você deve praticar. Você deve praticar. É por isso
que dizemos que isso é uma joia que realiza os desejos, yizhin
norbu.
Tenho explicado sobre o exemplo, o significado e o sinal. Se
você entender isso corretamente, então o ponto chave é que não há
necessidade de praticar com pensamentos diferentes. Apenas
mantenha-se continuamente na Natureza se você pode. Tudo está
aí nesta Natureza. O objetivo final já está aí. Já te disse. O corpo
desaparece em luz e a mente, a mente conceitual, desaparece na
Natureza. Então dizemos que você obteve o Corpo de Arco-íris. Às
vezes chamamos isso de obter os Três Kayas. Isto é melhor.

Bardo
Se você não pode fazer desta maneira, então finalmente vamos
todos... todos têm um visto para o bardo! Você tem um passaporte
universal lá! Você tem um visto! Automaticamente! Não há
necessidade de preencher uma inscrição. OK. Então, se você se
tornar cada vez mais familiar com esta Natureza, então finalmente,
se você puder permanecer nesta Natureza quando morrer, mesmo
que não tome um Corpo de Arco-íris, você terá um bom auxiliar no
bardo, um auxiliar muito bom. Se não está familiarizado com esta
Natureza, então no bardo, mesmo tendo um visto, você não tem
dinheiro!
[Risos.] Você não tem dinheiro... mas a passagem de avião é grátis.
Você pode entrar no bardo, mas não tem dinheiro. Então você é um
sem-teto, é como um mendigo. Mas talvez ninguém te dê nada.
Então essa prática nos ajuda muitíssimo no momento do bardo.

Qualidades da Natureza
Então, tenho explicado o sinal e o significado, e agora quero falar
um pouco sobre as qualidades desta Natureza. Tais são muito
importantes. Em tibetano dizemos kadag e lhundrub. Talvez não
tenhamos muito tempo, então vou explicar brevemente.

Kadag
Kadag significa pureza. Esta Natureza é muito pura desde o
começo sem começo, primordialmente pura. Darei a você alguns
exemplos. Dizemos que é como água pura ou cristal puro. A
própria água é sempre limpa, mas se for misturada com alguma
coisa, algum lodo ou algo assim, pode parecer muito suja. Mas se
você deixá-la por um tempo sem movê-la, lentamente, lentamente
se torna pura. Não importa se você tem água mineral ou água
comum; a natureza da água é ser sempre limpa. Mas se houver
alguma sujeira dentro da água, parece impura, embora a própria
água seja sempre pura. É desse jeito. Em sua mente, há muitos
obscurecimentos. Obscurecimentos emocionais, obscurecimentos
intelectuais, muitos pensamentos diferentes, os cinco venenos
mentais — muitas coisas podem aparecer, mas não podem
influenciar sua Natureza. Todos estes estados mentais
aparentemente negativos aparecem da Natureza, você sabe, mas a
natureza é como a água — pode parecer suja, mas na verdade é
sempre pura. Essa pureza não é criada por nada; isso é natural.
Temos muitos pensamentos diferentes — pensamentos bons,
pensamentos ruins, pensamentos quaisquer — mas nenhum
pensamento pode influenciar esta Natureza. É sempre muito pura.
Também damos o exemplo de um cristal. Se você tem um cristal
puro e você o coloca em algo sujo ou em alguma lama, será sempre
claro. Se você colocá-lo em um pouco de lama, pode parecer sujo,
mas por dentro está sempre limpo. O Estado Natural, sua
autoconsciência, é assim. Então é por isso que é chamado de
Kadag. Puro. Primordialmente puro. É muito limpo.
Outro exemplo é o de uma flor. Uma flor aparece de algo sujo,
solo, e ainda assim parece muito bonita. Nós sempre usamos para
descrever algo muito bonito. Por exemplo, podemos dizer: 'Oh, ela
é muito bonita, como uma flor.' Esta é uma metáfora muito comum
para a beleza. E da mesma forma, como lhe disse, seus
pensamentos aparecem desta Natureza. Eu lhe disse: olhe para sua
mente, e ela aparece. Eu disse que não importa se os pensamentos
são bons ou ruins, ou mesmo se você estiver com muita raiva; essa
raiva é sua mente, tipo. Se você olhar por esse ângulo, a
autoconsciência aparece diretamente. Então é sempre pura. Do
sem começo para infinito. Ninguém pode fazer nada para misturá-
la com nada sujo. Isso é kadag, pureza.

Lhundrub
Lhundrub significa energia. Grande energia. Esta Natureza tem
grande energia, potencial. Tudo existe espontaneamente na
natureza. Pensamentos bons, pensamentos ruins, todos os
fenômenos, fenômenos internos, fenômenos externos, qualquer que
seja — tudo pode aparecer desta Natureza, e é por isso que a
chamamos de lhundrub. Lhundrub significa que algo surge da
Natureza sem esforço, sem criação. Isso apenas aparece
naturalmente. Isso é lhundrub.

Então, para resumir, esta manhã te ensinei a olhar para a


mente, então passei pelas qualidades do Estado Natural, como
permanecer no Estado Natural, e então, claro, na segunda parte
expliquei sobre o exemplo, sinal e o significado. E finalmente,
expliquei as duas qualidades de kadag e lhundrub.
Obrigado.

Perguntas e Respostas

P: Como você liga lhundrub e carma?


R: A relação entre lhundrub e carma. Se você entende esta
Natureza corretamente e esteja familiarizado com ela, então carma
bom, carma ruim, carma neutro — nós o chamamos le em tibetano
— nada disso é salvo em sua consciência alaya vijnana. Mas se não
entende essa Natureza ou se você não estiver familiarizado com
ela e apenas continuar seguindo os pensamentos, então há
pensamentos bons, pensamentos ruins e pensamentos neutros, e
isso determina que tipo de carma é salvo na consciência alaya
vijnana: carma bom, carma ruim e carma neutro. Neutro é neutro.
Quanto a carma bom, leva você para os reinos mais elevados no
futuro. Agora, estamos todos em um reino superior, o reino
humano. Acreditamos que o reino humano surge do carma bom. Os
reinos inferiores — por exemplo, vemos animais a cada dia, vacas,
por exemplo. Nós as usamos de muitas maneiras, fazemos muitas
coisas de vacas! Ou de ovelhas ou cabras. O reino animal é um dos
reinos inferiores, e todos eles aparecem do carma ruim. Não
apenas o carma desta vida, mas de vidas anteriores, também. Se
você salvar carma bom ou ruim nesta vida, o resultado aparecerá
nas próximas vidas. Mas qualquer que seja o carma, antes de tudo
é tudo lhundrub; aparece espontaneamente. É muito, muito
importante entender isso. Algumas pessoas dizem, 'oh esta mesa
não é lhundrub, não aparece espontaneamente. Um carpinteiro
teve que fazê-la. Esta parece uma boa pergunta, um bom
argumento, mas na verdade é sem sentido. Por exemplo, há muitas
nuvens no espaço, e a chuva cai de lá. Ou a neve cai. Mas a fonte
disso, a fonte inicial, não é uma nuvem; ela aparece do oceano em
primeiro lugar! Alguma umidade aparece do oceano. Se aparecer
sobre a terra, nós dizemos que é neblina, nebulosa. E então isso se
torna nuvem. Das nuvens, chuva e neve caem. Muitos rios descem
das montanhas cobertas de neve, e a fonte, a fonte inicial, não é a
montanha nevada; vem do oceano. Da mesma forma, a mesa não
parece ser lhundrub, não parece ter aparecido espontaneamente
da Natureza, mas se considerar um pouco, você deve entender a
fonte da mesa. A mesa apareceu pela primeira vez a partir dos
cinco elementos, e os cinco elementos apareceram primeiro das
cinco luzes. As cinco luzes apareceram na Natureza. Então a fonte
inicial é a Natureza. Isso é o que significa lhundrub.
E carma é do mesmo jeito. Você tem todos os tipos de carma,
e tudo isso aparece em sua mente, você sabe. Sua mente. Não há
outro caminho. Você é o criador. Sua mente é a criadora do seu
carma. O carma bom é criado por sua mente boa, pensamentos
bons. O carma ruim é criado por seus pensamentos ruins. Sua
mente aparece da Natureza. Então a fonte inicial é sempre a
Natureza. Isso é chamado de lhundrub. Então qualquer carma que
exista, é lhundrub. Entende? Aha, é desse jeito.

P: Se pudermos permanecer no Estado Natural, naquele momento


não estamos criando carma, certo?
R: Sim, se você entender a Natureza corretamente e estiver
familiarizado com ela, e permanecer nela, nesse momento, se fizer
algo com sua mente, corpo ou fala, como trabalhar ou algo assim,
então não é possível que nenhum carma seja salvo em sua mente.
Por exemplo, Drenpa Namkha disse: 'Se você escrever no espaço
com um lápis vermelho, não haverá uma linha vermelha. Se você
escrever no espaço com um lápis preto, não haverá uma linha
preta.' É desse jeito. Então, se você entende a Natureza e está
familiarizado com ela, então o que quer que faça com seu corpo,
mente ou fala, não importa o que você faça, não é possível que
nenhum carma apareça em sua mente, nem bons, nem ruins, nem
neutros.
De vidas sem começo até agora, não podíamos entender esta
Natureza, então nesta consciência alaya — temos oito
consciências, mas esta alaya vijnana é especial, nós a chamamos
de consciência da base. É a base dos traços cármicos. Também
dizemos que é a base da Natureza. É a base de todos os
fenômenos, não apenas do carma. Agora a consciência alaya
vijnana é a base de seu carma bom, ruim e neutro. Se você entende
a natureza corretamente — não é suficiente apenas entender as
palavras ou o significado geral. Se você seguir as palavras, e
pensar: isso é clareza, isso é vaziez, isso é unificação, isso é kadag
e isso é lhundrub e apenas entender o significado geral, isso não é
suficiente. Você também deve praticar a Natureza. Você também
precisa estar familiarizado com esta Natureza. Então, lentamente,
lentamente, o carma de suas vidas anteriores — traços de carma
bom, traços de carma ruim, neutros e assim por diante, qualquer
que seja — tudo desaparece lentamente, e um novo carma não
pode vir até você.
Isso é como o exemplo dado por Drenpa Namkha.
Se não houver mais perguntas, permaneceremos na Natureza
um pouco, então recitamos a dedicatória.

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