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Swami Abhayananda

DATTRATREYA:
A CANÇÃO DO AVADHUTA

Um Clássico Da Literatura Advaita

1ª Edição – 2015
Créditos
© 2015 – Fernando Sartori Virgulin.

“Copyright © 1992, 2000, 2007, 2009, 2012 by Swami Abhayananda (tradutor do original)”
Edição em português impressa e editada por Fernando Sartori Virgulin.
Todos os direitos reservados.

Original English language edition published by Swami Abhayananda, United States of America,
1992. Copyright © 2012 by Swami Abhayananda. Portuguese language reprint edition published
by Mr. Fernando Sartori Virgulin. All rights reserved.

Capa
Jônatas Rabello

Produção do eBook
YOYO ateliê gráfico | www.yoyoatelie.com.br

Contato
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Sumário

Introdução
A Canção do Avadhuta
Do autor
Da tradução em inglês
Da tradução em português
A Canção do Avadhuta
Capítulo I – Prathamodhyayah
Capítulo II – Dvitiyodhyayah
Capítulo III – Tritiyodhyayah
Capítulo IV – Chaturthodhyayah
Capítulo V – Panchamodhyayah
Capítulo VI – Sastodhyayah
Capítulo VII – Saptamo adhyayah
Sobre Swami Abhayananda
Glossário
Notas
INTRODUÇÃO
A Canção do Avadhuta

De todos os tratados místicos da literatura Indiana antiga, o Avadhuta


Gita, ou “Canção do Avadhuta,” é um dos mais eloquentes e envolventes. O seu
tema é o conhecimento uno obtido através da visão mística – o conhecimento
do Ser eterno. Este conhecimento não está limitado aos místicos de uma
tradição cultural específica, mas é universal entre todos aqueles que
alcançaram a visão mística. Homens e mulheres de todas as nações e todas as
confissões religiosas que experimentaram diretamente a Realidade eterna, e a
reconheceram como sua própria Identidade fundamental. Alguns dos melhores
representantes deste conhecimento universal são os rishis (sábios) dos
Upanishads e Shankaracharya da tradição Vedântica; al-Hallaj e Jalaluddin
Rumi da tradição sufi; Shakyamuni Buda e Ashvagosha da tradição budista; e
Mestre Eckhart e João da Cruz da tradição cristã. Todos expressaram o
conhecimento revelado da sua identidade com aquela Realidade eterna, e
declararam, de uma maneira ou de outra, o seu acordo às palavras da Santa
Cristã, Catarina de Gênova, “O meu Mim é Deus, nem reconheço eu qualquer
outro Mim exceto o Próprio meu Deus.”
A o longo da história, tem sido expresso por místicos de todas as
tradições culturais que a “visão de Deus” revela a unicidade fundamental do
homem com o Ser Absoluto, despertando-o para a sua Identidade real e
eterna. Antes dessa iluminação divina, dizem estes místicos, o homem sofre
sob a ilusão errônea de que ele é um ser limitado e finito, separado e distinto
de outros seres, e que possui sua própria identidade individual. O dissipar
dessa ilusão é chamado nas diferentes tradições místicas por diferentes nomes,
como “iluminação,” “união com Deus,” “libertação,” “salvação,” etc.; mas,
apesar das várias designações, é a mesma experiência – a mesma sabedoria
que é revelada a todos aqueles que adquiriram a visão mística.
Antes da revelação da nossa Identidade inquestionável, vivemos na
confiável certeza da nossa individualidade (ilusória), considerando o “ser”
como aquele caleidoscópio de impressões mentais passageiras que é
apresentado à nossa consciência consciente. Mas, dizem os místicos, este jogo
superficial de pensamentos, memórias, e impressões dos sentidos, justaposto à
tela da consciência, não é mais que uma miragem. É a tela, a própria Pura
Consciência, que é a nossa verdadeira identidade. É essa consciência
imutável, a testemunha eterna de todos os movimentos do pensamento e
fenômenos, que é o que nós somos realmente. É Aquilo que é o nosso
verdadeiro, nosso único, Ser.
A Canção do Avadhuta é um dos mais sublimes e intransigentes
depoimentos desta real compreensão mística já redigido. Certamente, é de
origem Indiana e está na tradição dos Upanishads, do Bhagavad Gita, dos
escritos de Shankaracharya, e de todos aqueles tratados espirituais da Índia
que podem ser classificados como “Vedanta Não-Dualista”; mas é um erro
considerá-la meramente como a expressão de uma certa escola filosófica ou fé
religiosa. A sua semelhança com todos esses tratados Não-Dualistas que a
precedem é devida não a um aprendizado de uma tradição, mas sim a uma
experiência direta comum. O autor do Avadhuta Gita f o i iluminado pela
mesma revelação direta que inspirou as Upanhshads, o Bhagavad Gita, e
outras tantas obras. Esta obra deve ser lida, portanto, não como a afirmação de
uma posição conceitual, nem como uma defesa do ponto de vista Vedântico,
mas como um compartilhar da revelação direta da verdade por um sábio
iluminado. O seu objetivo ao fazer isso não é convencer-nos, mas despertar-
nos para a verdade, e libertar-nos do erro.
O Avadhuta G i t a é um chamado para a sabedoria, o supremo
conhecimento da Verdade última. O Avadhuta não empunha nenhum
compromisso com a ilusão; ele não oferece nenhum apoio à separação; ele não
permite que qualquer espécie de dualidade se infiltre na nossa perceção da
realidade. Talvez o seu conhecimento seja, para o homem comum, demasiado
sublime, demasiado austero, demasiado simplista; mas ele é o conhecimento
da derradeira, incontestável Verdade da existência; e é esta mesma Verdade
que tem o poder de nos libertar.
DO AUTOR
O autor do Avadhuta Gita foi certamente um yogi Autorrealizado e um
mestre da poesia Sânscrita; além disso, sabemos muito pouco. A sua Canção
tem tido muitos precursores e muitas reafirmações ao longo dos séculos; no
entanto, das muitas proclamações do conhecimento do Ser, nenhuma é mais
eloquente e envolvente, nenhuma mais convincente e iluminadora, do que esta.
Independentemente de quem pudesse ter sido o autor da Canção do
Avadhuta, não há qualquer dúvida de que ele f o i um grande mestre,
estabelecido verdadeiramente na certeza da sua Identidade suprema. Não é
apenas a profundidade e autenticidade da sua visão, mas também a beleza
poética da sua Canção que a tornou fonte de alegria e inspiração aos seus
gratos leitores ao longo dos anos.
O autor do Avadhuta Gita não se refere a si mesmo pelo nome; mas, no
fim de cada capítulo, lê-se que foi escrito por Sri Dattatreya. É possível que
esta atribuição seja um acréscimo posterior, adicionado para imprimir mais
peso e credibilidade às declarações, e assegurar a sua publicação. O
legendário Dattatreya, da mitologia antiga, era tido como uma encarnação de
Vishnu, nascido do sábio, Atri e sua casta esposa Anasuya. Nada sabemos se tal
pessoa de fato existiu, e quais foram os elementos fatuais da sua vida. De
acordo com a lenda, ele recebeu o epiteto de “Avadhuta” quando renunciou ao
seu patrimônio real para se tornar um asceta errante, vivendo nu e livre, longe
das distrações dos homens mundanos.
A palavra Avadhuta tornou-se um termo genérico para todos os ascetas
sem-abrigo e yogis da Índia que vivem a vida em renúncia total,
despreocupados com o mundo e com as suas convenções “civilizadas”, a fim
de permanecer centrados e identificados com o Ser eterno.
A data efetiva da autoria do Avadhuta Gita é desconhecida, mas, a
julgar pela sua terminologia e estilo, parece ter sido escrito, não no milênio
anterior à Era Atual (como a lenda o descreve), mas algo por volta do século
IX ou X d.C. Isto, obviamente, não exclui a possibilidade de uma transmissão
oral anterior a essa época.
O seu tema é o mesmo dos Upanishads, do Bhagavad Gita e dos
escritos de todos os videntes iluminados: o Ser. Trata não da alma ou de Deus,
mas sim da Pura Consciência experiencial, na qual a relação sujeito/objeto não
existe mais. É uma canção da Realidade final, máxima e irredutível,
reconhecida como Eu.
Embora a sua perspectiva é não sectária e iconoclasta, o texto usa
frequentemente termos como “Shiva”, “Brahman”, e “Purusha” para representar
o Ser absoluto; mas usa esses termos apenas para demonstrar a sua
impropriedade. A sua intenção é desconstruit todo o sentido de dualidade
decorrente do conceito de um “Deus” separado do nosso próprio Eu – nosso
próprio Ser essencial. A sua perspectiva é idêntica, de fato, àquela do grande
Shankaracharya, que viveu por volta do mesmo período. Efetivamente, a
Canção do Avadhuta é praticamente idêntica a alguns dos escritos do ilustre
Acharya. Ambos cantaram a necessidade de reconhecer Brahman-Shiva-
Purusha como o Atman, ou Ser; ambos afirmaram que a realização espiritual
máxima era a identificação com o Absoluto, não reconhecendo outra deidade
que o eterno Eu. A devoção dualística pode de fato levar-nos ao conhecimento
do Ser, mas a partir daí, torna-se necessário abandonar todas as dualidades
ilusórias, e ficar estabelecido na Pura Consciência, aham brahmasmi (“Eu sou
Brahman”) ou shivoham (“Eu sou Shiva”).
Não há dúvida, poucos homens são capazes de alcançar tamanho auge
de sabedoria, e menos ainda são capazes de permanecer na atmosfera rarefeita
de tamanhas elevações de consciência. P o r essa razão, um guia como o
Avadhuta é indispensável e reconfortante para nós.
Ele leva-nos seguramente para cima, por cima do terreno acidentado do
pensamento, e dentro dos domínios recônditos da Pura Consciência
incondicionada. À medida que o seguimos em direção às alturas vertiginosas
do conhecimento unitivo, temos o privilégio de partilhar, em certa medida, o
seu estado enaltecido. Lendo apenas alguns versos da Canção do Avadhuta, a
mente é imediatamente elevada a um espaço de incomensurável paz e certeza.
Ma i s alguns versos e tornamo-nos imóveis, invencíveis, imperturbáveis,
fortalecidos mais uma vez no conhecimento lembrado do nosso próprio Ser
eterno, que, de alguma forma, tínhamos esquecido. Deste modo, simplesmente
ao ler as palavras deste guia supremo somos elevados à libertação e exultação
da sua Pura Consciência, e degustamos um pouco do doce néctar da nossa
própria plenitude intrínseca.
DA TRADUÇÃO EM INGLÊS
O autor do Avadhuta Gita expressou os seus pensamentos de forma
extremamente compacta, utilizando diversas métricas poéticas curtas e
concisas. O significado dos versos é assim tão condensado que ao leitor ou
tradutor é necessário, em muitas ocasiões, fornecer a substância do significado
à ossatura que é apresentada. Por esta razão, foram produzidas um número muito
variado de traduções interpretativas do mesmo texto Sânscrito. A tradução
desta obra, portanto, requer mais uma certa familiaridade com o modo de
expressão do Avadhuta e o seu estado de consciência, do que pura
competência linguística.
Nesta tradução, procurei aderir ao máximo ao significado literal do
texto; ao mesmo tempo, tomei certas liberdades a fim de expressar a intenção
integral das palavras do autor. Além disso, assumi o ônus de reter o máximo
possível a forma poética e rítmica do original. Esta tradução é, por isso,
igualmente compacta, requerendo a presença de esclarecimentos adicionais ao
texto, incluídos sob a forma de notas. Tive sempre em vista, ao mesmo tempo,
proporcionar uma versão legível em Inglês, evitando ao máximo dependência a
notações alheias.
Incluí o Sânscrito original, transliterado, como uma referência para os
estudantes casuais da terminologia Sânscrita. Mas mesmo aquele ssem
nenhuma familiaridade com o Sânscrito considerarão fascinante, eu creio, ler
em voz alta o Sânscrito transliterado, devido ao sofisticado ritmo poético e
sinfonia hipnótica dos seus sons. Mesmo sem conhecimento do seu significado,
podemos sentir da leitura destes versos Sânscritos o gênio poético quase
sobre-humano do seu autor, e o poderoso efeito sonoro na obra como um todo.
- Swami Abhayananda
DA TRADUÇÃO EM PORTUGUÊS

No presente trabalho tivemos como norte apresentar uma tradução fiel


e acessível do original em inglês (Song of the Avadhut), tendo como
paradigma o ponto de vista do leitor que nada conhece a respeito. Cada
palavra f o i cuidadosamente escolhida, e não raro dicionários foram
consultados mesmo para tradução de palavras e expressões já conhecidas.
O texto original não contém um glossário. Entretanto, atentando ao fato
de que muitos termos que já são conhecidos aos leitores de língua inglesa
interessados no assunto não o são ao público brasileiro, consideramos
oportuna sua inclusão, acrescentando a definição de termos que não tinham
sido explicatos. Tais definições foram elaboradas com base nos glossários
presentes em livros de Sri Ramana Maharshi e por meio de livre pesquisa dos
tradutores em fontes relacionadas.
Pela mesma razão, acrescentamos notas de rodapé para ilustrar certos
pontos, e expandir a explicação de algumas metáforas utilizadas no texto, e
não explicadas pelo tradutor da língua Inglesa. Como o original já possuía notas
do Swami Abhayananda, assinamos as nossas com “[Niraj]” ao final.
Devem ser ditas algumas palavras, ainda, sobre a tradução do termo
realize, que é uma tradução geralmente utilizada em inglês do termo sânscrito
sakshatkara, que denota o estado ou “fenômeno” no qual o yogi se torna
idênticoao Atman dentrodesi[1]. Astrêstraduçõespossíveis para esse termo
em português seriam: compreender/ conhecer/estar ciente do Ser / E u Real;
alcançar o Ser; realizar o Ser (no sentido básico de “tornar real”). Traduzir
como “alcançar o Ser” não é adequado tendo em vista que o Ser não é
alcançado, mas já está presente, e também não é algo exterior. O que nos resta,
portanto, são os outros dois termos e, como nenhum deles expressa
perfeitamente o significado original (já que o Ser não é nem compreendido
nem “tornado real” – é sempre real e sempre conhecido), optamos, ao longo da
tradução, por utilizar ambos, intercaladamente.
Qualquer imperfeição ou erro encontrado no presente texto deve ser
atribuído à tradução, e não ao tradutor do livro original, Swami Abhayananda.
Por fim, gostaria de agradecer sinceramente a: Swami Abhayananda,
por ter cedido os direitos autorais, e por ter confiado a tarefa da tradução; F.S,
que optou por manter-se anônimo, por ter sido o precursor desta; Ensho
(Ricardo Pereira), por sua contribuição na revisão final; e Sepide Tajima
(Pavani), por todo o apoio e assessoramento.
Que esta obra sirva como uma luz para orientar os buscadores da
Verdade.

Margarida Maria Antunes,


Niraj
O louco pensa: “Eu sou o corpo.”

O homem inteligente pensa: “Eu sou uma alma individual unida ao corpo.”

Mas o homem sábio, na grandeza de sua sabedoria e discriminação espiritual,


vê o Ser como única realidade, e pensa: “Eu sou Brahman.”

- Sri Shankaracharya
Vivekachudamani
A CANÇÃO DO AVADHUTA
Capítulo 1
PRATHAMODHYAYAH
1.

ishvaranugrahad-eva
pumsam advaita vasana
mahadbhaya paritranat
vipranam upajayate

Verdadeiramente, é pela graça de Deus


Que o conhecimento de Unidade surge dentro.
Então o homem é por fim libertado
Do medo profundo da vida e da morte.

2.

yenedam puritam sarvam


atmanaivatman atmani
nirakaram katham vande
hyabhinnam shivam avyayam

Tudo o que existe neste mundo das formas


Não é mais do que o Ser, e apenas o Ser.
Como, pois, deve o Infinito venerar Si mesmo?
Shiva é o Todo indiviso.
3.

panchabhutatmakam vishvam
marichi-jala sannibham
kasyapyaho namas-kuryam
aham eko niranjanah

Os cinco elementos sutis que se combinam para formar este mundo


São tão ilusórios como a água em uma miragem do deserto;
A quem, pois, devo curvar minha cabeça?
Eu mesmo sou o Imaculado!

4.

atmaiva kevalam sarvam


bhedabhedo na vidyate
asti nasti katham bruyam
vismayah pratibhati me

Verdadeiramente, todo este universo é apenas meu Ser;


Ele não é nem dividido nem indiviso.
Como eu posso mesmo afirmar que ele existe?
Só o posso ver com admiração e assombro!
5.

vedanta-sara-sarvasvam
jnanam vijnanam eva cha
aham atma nirakarah
sarvavyapi swabhavatah

O que, então, é o coração da verdade mais elevada?


O âmago do conhecimento, a sabedoria suprema?
É, “Eu sou o Ser, o sem forma;
Devido à minha natureza, eu tudo permeio.”

6.

yo vai sarvatmako devo


niskalo gaganopamah
swabhava-nirmalas shuddah
sa evaham na samshayah

Aquele Deus que brilha dentro de tudo,


Que é sem forma como o céu sem nuvens,
É o puro, imaculado, Ser de todos.
Sem qualquer dúvida, esse é quem eu sou.
7.

aham eva vyayonantah


shuddha-vijnana-vigrahah
sukham duhkham na janami
katham kasyapi vartate

Eu sou o infinito e o Imutável;


Eu sou pura Consciência, sem nenhuma forma.
Eu não sei como, ou a quem,
Alegria e tristeza aparecem neste mundo.

8.

na manasam karma shubhashubham me


na kayikam karma shubhashubham me
na vachikam karma shubhashubham me
jnanamritam shuddham atindriyoham

Eu não tenho karma mental, bom ou mau;


Eu não tenho karma físico, bom ou mau.
Eu não tenho karma verbal, bom ou mau.[2]
Eu estou além dos sentidos; Eu sou o puro néctar do conhecimento do Ser.
9.

mano vai gaganakaram


mano vai sarvato mukham
manatitam manah sarvam
na manah paramarthatah

A mente é sem forma como o céu,


No entanto ela veste um milhão de faces.
Aparece como imagens do passado, ou como formas mundanas;
Mas não é o Ser supremo.

10.

aham ekam idam sarvam


vyomatitam nirantaram
pashyami katham atmanam
pratyaksham va tirohitam

Sou Um, Sou isto tudo!


Porém sou indiferenciado, além de todas as formas.
Como, então, eu vejo o Ser?
Como tanto o Imanifesto e a manifestação.
11.

twam evam ekam hi katham na buddhyase


samam hi sarveshu vimrishtam avyayam
sadoditosi twam akhanditah prabho
diva cha naktam cho katham hi manyase

Você, também, é o Um! Por que você não compreende?


Você é o Ser inalterável, o mesmo dentro de todos.
Você é verdadeiramente ilimitado; a Luz que tudo permeia.
Para você, como pode haver qualquer distinção entre o dia e a noite?[3]

12.

atmanam satatam viddhi


sarvatraikam nirantaram
aham dhyata param dhyeyam
akhandam khandyate katham

Compreenda que o Ser é Existência constante,


O Um dentro de todos, sem qualquer divisão.
O “Eu” é tanto o sujeito como o objeto supremo da meditação;
Como pode ver dois n’Aquilo que é Um?
13.

na jato no murtosi twam


na te dehah kadachana
sarvam brahmeti vikhyatam
braviti bahudha shrutih

Nem nascimento nem morte lhe pertencem;


Você nunca foi um corpo.
É bem sabido que “Tudo é Brahman”;
As escrituras afirmaram isto de várias formas.

14.

sa bahyabhyantarosi twam
shivah sarvatra sarvada
itas tatah katham bhrantah
pradhavasi pishachavat

Você é Aquilo que está tanto dentro como fora;


Você é Shiva; você é tudo em toda a parte.
Por que, então, está tão iludido?
Por que corre como um fantasma assustado?
15.

samyogash cha viyogash cho


vartate na cha te na me
na twam naham jagan nedam
sarvam atmaiva kevalam

Não existe isso de união ou separação para mim


Nem para você.
Não existe eu, você, nem um mundo de multiplicidade;
Tudo é o Ser, e apenas o Ser.

16.

shabdadi panchakasyasya
naivasi twam na te punah
twam eva paramam tattvam
atah kim paritapyase

Você não pode ser ouvido, ou cheirado, ou saboreado;


Você não pode ser visto, ou sentido pelo tato.
Verdadeiramente, você é a Realidade última;
Por que, então, você é tão preocupado?
17.

janma murtyuh na te chittam


bandha mokshas shubhashubhau
katham rodishi re vatsa
nama rupam na te na me

Nem nascimento, nem morte, nem a mente ativa,


Nem escravidão, nem libertação – nada disso o afeta.
Por que então, meu caro, você sofre desta forma?
Você e eu não temos nome ou forma.

18.

aho chitta katham bhrantah


pradhavasi pishachavat
abhinnam pashya chatmanam
raga-tyagat sukhi bhava

Ó mente, por que és tão iludida?


Por que corres como um fantasma assustado?
Conscientize-se do Ser indivisível!
Livre-se do apego; seja livre e feliz!
19.

twam eva tattvam hi vikara-varjitam


niskampam ekam hi vimoksha-vigraham
na te cha rago hyatha va viragah
katham hi santapyasi kama-kamatah

Verdadeiramente, você é a Essência imutável de todas as coisas;


Você é a Unidade imóvel; a Liberdade sem limites.
Você não tem nem apego e nem aversão;
Por que, então, você se preocupa e sucumbe ao desejo?

20.

vadanti shrutayah sarvah


nirjunam shuddham avyayam
ashariram samam tattvam
tan mam viddhi na samshayah

Todas as escrituras declaram unanimemente


Que a Realidade pura, sem forma, indiferenciada
É a Essência de todas as formas.
Não há absolutamente qualquer dúvida sobre isto.
21.

sakaram anritam viddhi


nirakaram nirantarama
etat tatvopadeshena
na punar-bhava sambhavah

Todas as formas, compreenda, são apenas manifestações temporárias;


Apenas a Essência sem forma existe eternamente.
Uma vez que esta verdade é reconhecida,
O renascimento não é mais necessário.

22.

ekam eva samam tattvam


vadanti hi vipashchitah
raga-tyagat punah chittam
ekanekam na vidyate

A Realidade una é sempre a mesma;


Isso é o que dizem todos os sábios.
Quer você abrace os desejos ou renuncie-os,
A Consciência permanece inalterada.
23.

anatma-rupam cha katham samadhih


atma-swarupam cha katham samadhih
astiti nastiti katham samadhih
moksha-swarupam yadi sarvam ekam

Se você vê o mundo diferente do Ser, pode isso ser a experiência de Unidade?


Se você o vê como o Ser, pode isso ser a experiência de Unidade?
Se é visto tanto como o Ser como o não-Ser, pode isso ser a experiência de
Unidade?
O verdadeiro estado de liberdade é ver tudo como Um.

24.

vishuddhosi samam tattvam


videhas twam ajovyayah
janamiha najanamit
yatmanam manyase katham

Você é pura Realidade, sempre constante;


Você não tem corpo, nascimento, nem morte.
Como, então, pode dizer “Eu conheço o Ser”?
Ou como pode você dizer “Eu não conheço o Ser”?
25.

tattvamasyadi vakyena
swatma hi pratipaditah
neti neti shrutir bruyat
anritam pancha-bhautikam

A expressão, “Tu és Aquilo,”


Afirma a realidade do seu verdadeiro Ser.
A expressão, “não isto, não isto”
Nega a realidade dos cinco elementos compostos.[4]

26.

atmanyevatmana sarvam
twaya purnam nirantaram
dhyata dhyanam na te chittam
nirlajjah dhyayate katham

O Ser é a identidade de todos;


Você é tudo, o Todo indivisível.
O pensador e o pensamento nem sequer existem!
Ó mente, como podes continuar a pensar tão vergonhosamente!
27.

shivam na janami katham vadami


shivam na janami katham bhajami
aham shivash chet paramartha-tattvam
sama-swarupam gaganopamam cha

Eu não conheço Shiva; como posso falar d’Ele?


Eu não conheço Shiva, como posso venerá-Lo?
Eu mesmo sou Shiva, a Essência primordial de todos;
Minha natureza, como o céu, permanece sempre a mesma.

28.

aham tattvam samam tattvam


kalpana-hetu-varjitam
grahya-grahaka-hi-muktam
swasamvedham katham bhavet

Eu sou a Essência, a Essência que tudo permeia;


Eu não tenho forma própria.
Eu estou além da divisão entre sujeito e objeto;
Como eu poderia ser um objeto para mim mesmo?
29.

ananta-rupam na hi vastu kim chit


tattva-swarupam na hi vastu kim chit
atmaika-rupam paramartha-tattvam n
a himsako vapi chachapyahimsa

Não existe isso de forma infinita;


A Realidade infinita não tem forma própria.
O Ser uno, a Realidade suprema,
Não cria, nem sustenta, nem destrói nada.

30.

vishuddhosi samam tattvam


videham ajam avyayam
vibhramam katham atmarthe
vibhrantoham katham punah

Você é essa Essência pura e imutável;


Você não tem corpo, nem nascimento, e nem morte.
Para você, como poderia a chamada ilusão existir?
Como poderia a ilusão existir para o Ser?
31.

ghate bhinne ghatakashams


ulinam bheda-varjitam
shivena manasa shuddho
na bhedah pratibhati me

Quando uma jarra se parte, o espaço que estava dentro


Funde-se no espaço exterior.
Da mesma forma, minha mente fundiu-se em Deus;
Para mim, não surge qualquer dualidade.

32.

na ghato na ghatakasho
no jivo jiva-vigrahah
kevalam brahma samviddhi
vedya-vedaka-varjitam

Verdadeiramente, não há jarra, nem espaço dentro[5];


Não há corpo e nenhuma alma aprisionada.
Compreenda, por favor: tudo é Brahman.
Não há sujeito, objeto, nem partes separadas.
33.

sarvatra sarvada sarvam


atmanam satatam dhruvam
sarvam shunyam ashunyam cha
tan mam viddhi na samshayah

Em toda a parte, sempre, e em tudo,


Saiba disto: há apenas o Ser.
Tudo, tanto o Vazio como o mundo manifesto,
É apenas o meu Ser – disto eu estou certo.

34.

vedah na lokah na sura na yajnah


varnashramo naiva kulam na jatih
no dhuma-margo na cha dipti-margo
brahmaika-rupam paramartha-tattvam

Não há escrituras divinas, mundo, nenhuma prática religiosa obrigatória;


Não há deuses, classes ou raças de homens,
Não há estágios de vida[6], superior ou inferior;
Não existe nada senão o Brahman, a Realidade suprema.
35.

vyapya-vyapaka-nirmuktam
twam ekah saphalam yadi
pratyaksham chaparoksam cha
atmanam manyase katham

O sujeito e o objeto são inseparados e inseparáveis;


Aquele Um indiviso é você.
Quando isto é assim, quando o “outro” não existe,
Como poderia o Ser ser percebido objetivamente?

36.

advaitam kecid icchanti


dvaitam icchanti chapare
samam tattvam na vindanti
dvaitadvaita-vivarjitam

A não-dualidade é ensinada por alguns;


Outros ensinam a dualidade.
Eles não compreendem que a Realidade que tudo permeia
Está além da dualidade e da não-dualidade.
37.

shvetadi-varna-rahitam
shabdadi-guna-varjitam
kathayanti katham tattvam
manovacham agocharam

Não há cor nem som para a Realidade una;


Ela não tem nenhuma qualidade.
Como pode alguém sequer pensar ou falar d’Aquilo
Que está muito além da mente e do discurso?

38.

yadanritam idam sarvam


dehadi gaganopamam
tada hi brahma samvetti
na te dvaita-parampara

Quando você souber que todo este universo das formas


É tão vazio quanto o céu,
Então conhecerá Brahman;
A dualidade não mais existirá.
39.
parena sahajatmapi
hyabhinnah pratibhati me
vyomakaram tathaivaikam
dhyata dhyanam katham bhavet

Para alguns, o Ser surge como o outro;


Para mim, o Ser sou Eu.
Como o espaço indiviso, existe apenas Um.
Como, então, pode o sujeito e objeto da meditação ser dois[7]?

40.

yat karomi yad ashnami


yaj juhomi dadami yat etat
sarvam na me kim chit
vishuddhoham ajovyayah

Nada do que eu faça ou coma,


Ou dê ou tome,
Existe para mim;
Eu sou a própria Pureza, além do nascimento e da morte.
41.

sarvam jagad viddhi nirakirtidam


sarvam jagad viddhi vikara-hinam
sarvam jagad viddhi vishuddha-deham
sarvam jagad viddhi shivaikarupam

Saiba que o universo inteiro não tem qualquer forma.


Saiba que o universo inteiro é eternamente imutável.
Saiba que o universo inteiro é imaculado por seu conteúdo.
Saiba que o universo inteiro é da natureza de Deus.

42.

tattvam twam na hi sandhah


kim janamyathava punah
asamvedyam swasamvedyam
atmanam manyase katham

Você é a Realidade suprema; não tenha dúvida.


O Ser não é uma coisa conhecida pela mente;
O Ser é aquilo que conhece!
Como, então, você poderia pensar que conhece o Ser?
43.

maya maya katham tata


chaya chaya navidyate
tattvam ekam idam sarvam
vyomakaram niranjanam

Maya? Maya? Como pode ser?


Uma sombra? Uma sombra? Isso não existe.
A realidade é Uma; é tudo.
É onipresente – nada mais existe.[8]

44.

adi-madhyanta-muktoham
na boddhoham kadachana
swabhava-nirmalas shuddhah
iti me nischita matih

Eu não tenho começo, meio, ou fim;


Eu nunca fui, nem nunca serei, limitado.
Minha natureza é imaculada; eu sou a própria Pureza.
Disso eu tenho certeza.
45.

mahad-adi jagat sarvam


na kim chit pratibhati me
brahmaiva kevalam sarvam
katham varnashrama-sthitih

Para mim, nem as partículas elementares


Nem o universo inteiro existe;
Brahman por si só é tudo.
Onde, então, estão as castas ou as etapas da vida?

46.

janami sarvatha sarvam


eko tattva nirantaram
niralambam ashunyam cha
shunyam vyomadi-panchakam

Eu sempre reconheço tudo


Como a única Realidade indivisível.
Esse Um indiviso constitui o mundo,
O Vazio, todo o espaço, e os cinco elementos.
47.

na sando na puman na stri


na bodho naiva kalpana
sanando va niranandam
atmanam manyase katham

Não é nem neutro, nem masculino, nem feminino.


Não possui nem intelecto nem o poder do pensamento.
Como, então, pode você imaginar que o Ser
É feliz ou não feliz?

48.

sadanga yogan na tu naiva shuddham


mano-vinashan na tu naiva shuddham
gurupadeshan na tu naiva shuddham
swayam cha tattvam swayam eva buddham

A prática do yoga não o levará à pureza;


Silenciar a mente não o levará à pureza;
Os ensinamentos do Guru não o levarão à pureza;
Essa pureza é sua Essência. É sua própria Consciência!
49.

na hi panchatmako bhedo
videho vartate na hi
atmaiva kevalam sarvam
turiyam cha trayam katham

Nem o corpo físico, constituído pelos cinco elementos,


Nem o corpo sutil existe;
Tudo é o Ser apenas.
Como, então, poderia o quarto estado ou os outros três estados existirem?[9]

50.

na baddho naiva muktoham


na chaham brahmanah prithak
na karta na cha bhoktaham
vyapya-vyapaka-varjitah

Eu não sou preso, nem sou libertado;


Eu sou Brahman, e nada mais.
Eu não sou o agente, nem sou o desfrutador;[10]
Eu não permeio nada, nem sou permeado.
51.

yatha jalam jale nyastam


salilam bheda-varjitam
prakritim purusham tadvad
abhinnam pratibhati me

Se gelo e água são misturados,


Não há nenhuma diferença entre um e outra
É a mesma coisa com a matéria e o espírito;[11]
Isto é muito claro para mim.

52.

yadi nama na muktosi


na baddhosi kadachana
sakaram cha nirakaram
atmanam manyase katham

Se eu nunca estive preso,


Eu nunca poderei ser libertado.
Como pode você pensar que o Ser –
Com ou sem forma – poderia ser preso?
53.

janami te param rupam


pratyaksham gaganopamam
yatha param hi rupam yan
marichi-jala-sannibham

Eu conheço a natureza do Ser supremo único;


Como o espaço, estende-se por toda a parte.
E todas as formas que aparecem dentro d’Ele
São como a água (ilusória) em uma miragem do deserto.

54.

na guruh nopadeshas cha


na chopadhir na me kriya
videham gaganam viddhi
vishuddhoham swabhavatah

Eu não tenho nem Guru nem iniciação;


Eu não tenho disciplina, e nenhum dever a cumprir[12].
Compreenda que eu sou o céu sem forma;
Eu sou a Pureza auto-existente.
55.

vishuddhosya shariro si
na te chittam parat param
aham chatma param tattvam
iti vaktum na lajjase

Você é a Pureza una! Você não tem corpo.


Você não é a mente; você é a Realidade suprema.
“Eu sou o Ser, a Realidade suprema!”
Diga isso sem qualquer hesitação.

56.

katham rodishi re chitta


hyatmaivatmatmana bhava
piba vatsa kalatitam
advaitam paramamritam

Por que te lamentas, Ó mente? Por que choras?


Adota a atitude: “Eu sou o Ser!”
Ó querida, vai além dos muitos!
Bebe o néctar supremo da Unidade!
57.

naiva bodho na chobodho


na bodhabodha eva cha
yasyedrisah sada bodhah
sa bodho nanyatha bhavet

Você não possui inteligência, nem possui ignorância;


Nem possui uma mistura dessas duas.
Você é, você mesmo, Inteligência –
Uma inteligência que nunca cessa, que nunca se perde.

58.

jnanam na tarko na samadhi yogo


na desha-kalau na gurupadeshah
swabhava-samvittir aham cha tattvam
akasha-kalpam sahajam dhruvam cha

Eu não sou adquirido pelo conhecimento, pelo Samadhi[13], ou yoga,


Nem pela passagem do tempo, ou pelos ensinamentos do Guru;[14]
Eu sou a própria Consciência, a Realidade última.
Como o céu, embora eu mude, sou sempre o mesmo.
59.

na jatoham murto vapi


na me karma shubhashubham
vishuddham nirgunam brahma
bandho muktih katham mama

Eu não tenho nascimento, morte, e nem deveres;


Eu nunca fiz nada, bom ou mau.
Eu sou o puro Brahman, além de todas as qualidades;[15]
Como poderia a escravidão ou libertação existir para mim?

60.

yadi sarva-gato devah


sthirah purnah nirantarah
antaram hi na pashyami
sabahyantarah hi katham

Se Deus é onipresente,
Imutável, inteiro, sem partes separadas,
Então não há nenhuma divisão n’Ele.
Como, então, pode Ele ser visto como “dentro” ou “fora”?
61.

sphuratyeva jagat kirtsnam


akhandita-nirantaram
aho maya maha-moho
dvaitadvaita-vikalpana

O universo inteiro reluz como Um,


Sem qualquer divisão ou interrupção, ou partes separadas.
A ideia de “Maya” é, em si mesmo, a maior ilusão;
Dualidade e Não-dualidade são meros conceitos da mente.

62.

sakaram cha nirakaram


neti netiti sarvada
bhedabheda-vinirmukto
vartate kevalah shivah

O mundo da forma e o Vazio sem forma:


Nenhum deles existe independentemente.
No Um, não há nem separação nem união;
Verdadeiramente, não há nada – apenas Shiva.
63.

na te cha mata cha pita cha bandhuh


na te cha patni na sutas cha mitram
na pakshapato na vipakshapatah
katham hi santaptir iyam hi chitte

Você não tem mãe, pai, ou irmão;


Você não tem esposa, filho, ou amigo.
Você não tem apegos ou desapegos;
Como, então, você justifica esta ansiedade da mente?

64.

diva naktam na te chittam


udayastamayau na hi
videhasya shariratvam
kalpayanti katham budhah

Ó mente, não há nem o dia (da manifestação) nem a noite (da dissolução);
Minha Luz contínua não surge nem desaparece.
Como pode um homem sensato acreditar honestamente
Que a Existência sem forma é influenciada pelas formas?
65.

na vibhaktam vibhaktam cha


nahi duhkha-sukhadi cha
na hi sarvam asarvam cha
viddhi chatmanam avyayam

Não é indiviso, nem é dividido;


Não experimenta nem tristeza nem alegria.
Não é o universo, nem é não-universo;
Compreenda que o Ser é eternamente Um.

66.

naham karta na bhokta cha


na me karma puradhuna
na me deho videho va
nirmameti mameti kim

Eu não sou o agente, nem sou o desfrutador;


Eu não tenho karma, presente ou passado.[16]
Eu não tenho corpo, nem são estes corpos “meus”.
O que poderia ser “meu” ou “não-meu” para mim?
67.

na me ragadiko dosho
duhkham dehadikam na me
atmanam viddhi mam ekam
vishalam gaganopamam

Em mim, não há impureza como o apego;


Não há dor física para mim.
Compreenda que eu sou o Ser – sou Unidade.
Sou vasto como o espaço, como o céu acima.

68.

sakhe manah kim bahu jalpitena


sakhe manah sarvam idam vitarkyam
yat sara-bhutam kathitam maya te
twam eva tattvam gaganopamosi

Ó mente, minha amiga, de que serve falar tanto?


Ó mente, minha amiga, tudo isto ficou muito claro.
Eu revelei-te o que sei ser verdade;
Tu és a Realidade última, és ilimitada, como o espaço.
69.

yena kenapi bhavena


yatra kutra murta api
yoginah tatra liyante
ghatakasham ivambare

Não importa onde um yogi morra;


Não importa como ele morra.
Ele é assimilado no Absoluto,
Como o espaço dentro de uma jarra é assimilado (no espaço exterior quando o
jarro é destruído).

70.

tirthe chantyaja-hehe va
nashta-smurtir api tyajan
sama-kale tanum muktah
kaivalya-vyapako bhavet

Quer ele morra perto de um rio sagrado,


Ou em uma cabana exilada,
Quer esteja consciente ou inconsciente na sua morte,
Ele funde-se apenas na Liberdade, na Unidade.
71.

dharmartha-karma-mokshams cha
dvipadadi-characharam
manyante yoginah sarvam
marichi-jala-sannibham

Todas as obrigações, riqueza, prazeres, libertação –


Todas as pessoas e objetos no mundo também –
Tudo, aos olhos de um yogi,
É como a água (ilusória) em uma miragem do deserto.

72.

atitanagatam karma
vartamanam tathaiva cha
na karomi na bhunjami
iti me nishchala matih

Não há ação,
Presente, futura, ou passada,
Que tenha sido realizada ou desfrutada por mim.
Isto eu sei, sem qualquer dúvida.
73.

shunyagare samarasa-putah
tishthanekah sukham avadhutah
charati hi nagnah tyaktva garvam
vindati kevalam atmani sarvam

O Avadhuta vive sozinho, numa cabana vazia;


Com uma mente pura e equânime, ele está sempre contente.
Ele desloca-se, nu e livre,
Consciente de que tudo isto é apenas o Ser.

74.

tritaya turiyam nahi nahi yatra


vindati kevalam atmani tatra
dharmadharmo nahi nahi yatra
baddho muktah katham iha tatra

Onde nem terceiro estado (sono profundo) nem quarto estado (samadhi)
existem[17],
Onde tudo é experimentado apenas como o Ser,
Onde nem justiça nem injustiça existem,
Poderia ali haver escravidão ou libertação?
75.

vindati vindati nahi nahi yatra


chando-laksanam nahi nahi tatra
samarasa-magno bhavita-putah
pralapitam etat param avadhutah

Naquele estado onde não sabemos absolutamente nada,


Este conhecimento versejado nem sequer existe.
Assim, agora, enquanto estou no estado de samarasa[18]
Eu, o Avadhuta, falei da Verdade.

76.

sarva-shunyam ashunyam cha


satyasatyam na vidyate
ekatma swabhavah proktam
shastra-samvitti-purvakam

É irrelevante diferenciar entre o Vazio e o mundo da aparência;


É supérfluo falar do “Real” e do “irreal”;
Existe apenas um Ser, imutável.
Isto é o que todas as escrituras afirmam.
iti shri dattatreya virachitayam
avadhuta-gitayam atma-samvittiupadesho
nama prathamodhyayah

Nesta composição, por Shri Dattatreya


Chamada “A Canção do Avadhuta”, este é o Primeiro Capítulo,
Intitulado “O Ensinamento Sobre A Sabedoria do Ser”.
Capítulo 2
DVITIYODHYAYAH
1.

balasya va sishaya-bhoga-ratasya vapi


murkhasya sevaka-janasya griha-sthitasya
etad-guroh kim api naiva vichintaniyam
ratnam katham tyajati kopyashuchau pratistham

Você pode ser jovem, iletrado, e viciado em prazeres;


Você pode ser um servo ou um chefe de família; não faz diferença.
Por acaso uma joia necessita de um Guru para ser valiosa?
Ou é inútil só porque está coberta de lama?

2.

naivatra kavya-guna eva tu chintaniyo


grahyah param gunavata khalu sara eva
sindura chitra rahita bhuvi rupa-shunya
param na kim nayati naur iha gantu-kaman

Pode faltar-lhe instrução ou conhecimento linguístico;


Não lhe são exigidas qualidades como essas.
Mantenha-se firme à Verdade, e abandone todo o resto.
Mesmo um barco sem pintura o levará ao outro lado.
3.

prayatnena vina yena


nishchalena chalachalam
grastam swabhavatah shantam
chaitanyam gaganopamam

O Ser aparece tanto como


O mundo animado como ou inanimado;
No entanto Ele permanece sempre no Seu próprio estado pacífico.
É sempre Consciência pura, tão calma como o céu.

4.

ayatnac chalayed yas tu


ekam eva chacharam
sarvagam tat katham bhinnam
advaitam vartate mama

Embora aparecendo como o mundo animado e inanimado,


O Ser permanece eternamente Um.
Onde, então, está a divisão?
Não há nenhuma dualidade – isso é claro para mim.
5.

aham eva param yasmat


sarasarataram shivam
gamagama-vinirmuktam
nirvikalpam nirakulam

De fato, eu sou a Verdade mais elevada! Sou Shiva!


Eu contenho o mundo, tanto sutil como grosseiro.
Eu não venho, nem vou.
Eu não tenho nenhum movimento; eu não tenho forma.

6.

sarvavayava-nirmuktam
tathaham tridasharchitam
sampurnatvan na grinhami
vibhagam tridashadikam

Eu não sou afetado pelas minhas partes constitutivas;


Então, embora possam os deuses venerar-me,
Na minha completa totalidade,
Eu não reconheço tais diferenciações como deuses.
7.

parmadena na sandehah
kim karisyami vrittivan
utpadyante viliyante
budbudas cha yatha jale

Nem dúvida nem ignorância


Podem causar a menor ondulação em mim.
Deixe as alterações da mente continuarem a ocorrer;
São meras bolhas subindo à superfície de uma lagoa.

8.

mahadadini bhutani
samapyaivam sadaiva hi
murdudravyeshu tikshneshu
gudeshu katukeshu cha

Os elementos efêmeros que formam todas as coisas


Manifestam-se de muitas e variadas formas:
Algumas coisas parecem moles, outras duras;
Algumas coisas parecem doces, e outras amargas.
9.

katutvam chaiva shaityatvam


murddutvam cha yatha jale
prakritih purushah tadvat
abhinnam pratibhati me

As qualidades de clareza, frieza e suavidade


São apenas características da água.
Da mesma forma, matéria e espírito (prakriti e purusha)
São apenas características da Existência una.

10.

sarvakhya-rahitam yad yat


sukshmat sukshmataram param
manobuddhindriyatitam
akalankam jagatpatim

Além de todo o discurso, além de todos os nomes,


Além do mais sutil de todas as coisas sutis;
Além da mente, do intelecto, e dos cinco sentidos,
O Senhor imaculado do universo permanece sempre Um.
11.

idrisham sahajam yatra


aham tatra katham bhave
twam evahi katham tatra
katham tatra characharam

Se o Ser universal é conhecido,


Como posso “eu” continuar a ser?
Como pode “você”
Ou o mundo animado ou inanimado ainda ser?

12.

gaganopamam tu yat proktam


tad eva gaganopamam
chaitanyam dosha-hinam cha
sarvajnam purnam eva cha

Diz-se que o Ser é como o céu.


Com efeito, ele é como o céu;
É pura Consciência, sem nenhuma mácula.
É verdadeiramente o Todo abrangente.
13.

prithivyam charitam naiva


marutena cha vahitam
varina pihitam naiva
tejo-madhye vyavasthitam

Permanece inalterado,
Embora tome a forma da terra, ar, água e fogo.
Embora tome todas estas formas,
Permanece sempre o mesmo.

14.

akasham tena samvyaptam


na tad vyaptam cha kenachit
sa bahyabhyantaram tishthat
yavacchinnam nirantaram

Todo o espaço infinito é permeado pelo Ser,


Mas nada permeia o Ser.
Está simultaneamente dentro e fora;
Ele não pode ser limitado ou dividido em partes.
15.

suksmatvat tad adrishyatvat


nirgunatvach cha yogibhih
alambanadi yat proktam
kramad alambanam bhavet

É extremamente sutil e não pode ser visto;


É primordial a todas as qualidades, dizem os yogis.
É o estado que subjaz a
Todos os outros estados temporários da mente.

16.

satatabhyasa-yuktas tu
niralambo yada bhavet
tal-layat-liyate nantar
gunadosha-vivarjitah

Ao praticar incessantemente o yoga,


Sem apego a nada,
Paulatinamente o yogi é libertado
De todos os resultados das qualidades (gunas)
17.

visha-vishvasya raudrasya
moha-murcha-pradasya cha
ekam eva vinashaya
hyamogham sahajamritam

Contra o terrível veneno da luxúria mundana,


Que ilude a mente humana,
Existe apenas um antídoto:
A consciência nectarina do Ser imparcial.

18.

bhava-gamyam nirakaram
sakaram drishti-gocharam
bhavabhava-vinirmuktam
antaralam tad uchyate

As imagens sutis são vistas dentro,


E as formas variadas são vistas fora;
Mas o Experimentador independente de ambas
É conhecido por todos os videntes como o Ser interior.
19.

bahya-bhavam bhaved vishvam


antah prakritir uchyate
antaradantaram jneyam
narikela-phalambuvat

Experimentado no exterior, é o universo;


Experimentado no interior, é o poder da vida.
E dentro dessa vida interior
Reside o verdadeiro leite de coco.

20.

bhranti-jnanam sthitam bahyam


samyag jnanam cha madhyagam
madhyan madhyataram jneyam
narikela-phalambuvat

O conhecimento exterior é a casca do coco;


O conhecimento mais sutil é a substância interna.
E oculto dentro desse centro sutil
Está o leite de coco da Consciência – o Ser.
21.

paurnamasyam yatha chandra


eka evatinirmalah
tena tat-sadrisham pashyet
bheda-drishtih viparyayah

Numa noite de lua cheia, a lua é vista


Por olhos límpidos, como uma coisa só.
A Realidade devia ser vista também dessa forma;
Onde dois são vistos, a visão está comprometida.

22.

anenaiva prakarena
buddhi-bhedo na sarvagah
data cha dhiratam eti
giyate nama-kotibhih

Por que há um, e apenas um,


A mente que percebe dois é falsa.
Aquele que ensina isto é verdadeiramente grandioso;
Ele merece mil louvores.
23.

guru-prajna-prasadena
murkho va yadi panditah
yastu sambudhyate tattvam
virakto bhava-sagarat

Um Guru concede o dom da sabedoria


Tanto ao homem sensato como ao tolo;
Mas apenas atravessa este oceano (da vida)
Quem alcança a sabedoria da Verdade por si mesmo.

24.

ragadvesha-vinirmuktah
sarvabhuta-hite ratah
dridha-bodhas cha
dhiras cha sa gacchet paramam padam

Quem está livre do apego, livre do ódio,


Dedicado em assegurar o bem de todos,
Seguro no conhecimento e firme de mente –
Chegará por fim ao estado mais elevado.
25.

ghate bhinne ghatakasha


akashe liyate yatha
dehabhave tatha yogi
swarupe paramatmani

O espaço dentro de um jarro funde-se no espaço fora[19]


Quando o jarro é destruído;
O yogi, quando o corpo é destruído,
Funde-se na Consciência universal – seu verdadeiro Ser.

26.

ukteyam karma-yuktanam
matir yantepi sa gatih
na chokta yoga-yuktanam
matir yantepi sa gatih

O destino daqueles dedicados à ação


É o resultado do seu pensamento no final de suas vidas;
Mas o destino de um yogi estabelecido na Unidade
Não é determinado por seu pensamento final.
27.

ya gatih karma-yuktanam
sa cha vagindriyad vadet
yoginam ya gatih kvapi
hyakathya bhavatorjita

Podemos expressar oralmente


O destino daqueles devotados a ações;
Mas do destino daqueles estabelecidos no yoga
Não se pode falar; eles vão além do discurso.

28.

evam jnatva twamum margam


yoginam naiva kalpitam
vikalpa-marjanam tesham
swayam siddhih pravartate

Um yogi não tem caminho particular;


Ele simplesmente renuncia imaginar coisas.
Sua mente então cessa por conta própria,
E o estado perfeito simplesmente ocorre naturalmente.
29.

tirthe va antyaja gehe va


yatra kutra murtopi va
na yogi pashyate garbham
pare brahmani liyate

Onde quer que um yogi possa encontrar seu fim –


Quer junto a um rio sagrado ou em uma cabana exilada
Seus nascimentos estão terminados;
Ele funde-se no Brahman.

30.

sahajam ajam achintyam yas to pashyet swarupam


ghatati yadi yatheshtam libyate naiva dosaih
sakrid api tadabhavat karma kim chin na kuryat
tad api na cha vibaddah samyami va tapasvi

Aquele que realizou o Ser inato, não-nascido, incompreensível,


Nunca fica manchado enquanto aprecia o fruto de seus desejos.
Ele permanece sempre livre de mácula, livre de karma.
O asceta, concentrado no Ser, nunca está limitado.
31.

nirmayam nispratimam nirakritim


nirashrayam nirvapusham nirashisam
nirdvandva nirmoham alupta-shaktkam
tam isham atmanamupaiti shashvatam

Ele vai além da ilusão, além da comparação, além da forma,


Além de qualquer sustento, além do corpo e sua nutrição;
Além da dualidade, medo, desejo, e poderes,
É o Senhor, o Ser, o Eterno, que ele realiza.

32.

vedo na kiksha na cha mundana-kriya


gurur na shishyo na cha yatra sampadah
mudradikam chapi na yatri bhasate
tam isham atmanam upaiti shashvatam

Sua realização não são os Vedas, nem iniciação, nem uma cabeça raspada;
Não é um Guru, discípulos, ou tesouros abundantes,
Ou prática de posturas, ou o uso de cinzas;[20]
É o Senhor, o Ser, o Eterno, que ele realiza.
33.

na shambhavam shaktika-manavam na va
pindam cha rupam cho padadikam na va
arambha-nispatti ghatadikam cha no
tam isam atmanam upaiti shashvatam

Ele não visiona a forma do grande Shiva, ou Shakti, ou qualquer outro deus;
Ele não vê a kundalini, ou formas de luz, ou os pés de Deus;
Nem percebe sua própria alma, como um jarro com o seu conteúdo;
É o Senhor, o Ser, o Eterno, que ele realiza.

34.

yasya svarupat sacharacharam jagad


utpadyate tishthati liyatepi va
payo-vikarad iva phena-budbudas
tam isham atmanam upaiti shashvatam

Esta é a essência da qual nasce o universo animado e inanimado;


É como o oceano que faz surgir espuma na sua superfície.
É Aquilo pelo qual tudo é mantido e dissolvido;
É o Senhor, o Ser, o Eterno, que ele realiza.
35.

nasa-nirodho na cha drishtir asanam


bodhopyabodhopi na yatra bhasate
nadi-pracharopi na yatra kimchit
tam isham atmanam upaiti shashvatam

Sua realização não é controle da respiração, ou olhar fixamente, ou posturas


de yoga;
Não é aprender ou desaprender nada.
Sua realização não é a purificação dos nervos;
É o Senhor, o Ser, o Eterno, que ele realiza.

36.

nanatvam ekatvam ubhatvam anyata


anutva-dirghatva-mahatva-shunyata
manatva-meyatva-samatva-varjitam
tam isham atmanam upaiti shashvatam

Ele não alcança um “muitos” ou um “Um” que esteja separado de si mesmo;


Não é uma outra coisa, como um objeto com largura e comprimento.
Não pode ser provado objetivamente, ou comparado com alguma coisa;
É o Senhor, o Ser, o Eterno, que ele realiza.
37.

susamyami va yadi va na samyami


susangrahi va yadi va na sangrahi
niskarmako va sakarmakah
tam isham atmanam upaiti shashvatam

Ele pode ou não obter concentração;


Ele pode ou não obter liberdade dos sentidos;[21]
Ele pode ou não abandonar todas as ações;
É o Senhor, o Ser, o Eterno, que ele realiza.

38.

mano na buddhih na shariram indriyam


tanmatra-bhutani na bhuta-panchakam
ahamkritis chapi viyat-swarupakam
tam isham atmanam upaiti shashvatam

Além da mente, intelecto, corpo, e órgãos dos sentidos;


Além dos elementos sutis, e dos cinco elementos grosseiros[22];
Além do sentimento de ego, e mesmo o corpo etéreo;[23]
É o Senhor, o Ser, o Eterno, que ele realiza.
39.

vidhau nirodhe paramatmatam gate


na yoginas chetasi bhedavarjite
shaucham na vashaucham alingabhavana
sarvam vidheyam yadiva nishidhyate

Transcendendo todas as prescrições, ele permanece no Ser;


Sua mente torna-se livre do pensamento da dualidade,
Nem pureza, nem impureza, nem distinções sexuais,
Nem fortuna, nem infortúnio, tem algum significado para ele.

40.

mano vacho yatra nashaktam iritum


nunam katham tatra gurupadeshata
imam katham uktavato guroh tad
tad yuktasya tattvam hi samam pakashate

Se mente e discurso não podem revelar o Ser,


Como poderiam os ensinamentos do Guru revelar o Ser?
Como pode um Guru revelar com palavras
Aquela Essência da existência que brilha por si só?
shri dattatreya virachitayam avadhuta-gitayam
atma-samvittyupadesho nama dvitiyodhyayah

Nesta “Canção do Avadhuta”, escrita por Sri Dattatreya,


Nestes “Ensinamentos Sobre a Sabedoria do Ser”,

Este é o Segundo Capítulo.


Capítulo 3
TRITIYODHYAYAH
1.

guna-viguna-vighago vartate naiva kimchit


rati-virati-vihinam nirmalam nisprapancham
guna-viguna-vihinam vyapakam vishva-rupam
katham aham iha vande vyoma-rupam shivam vai

A distinção entre “com características” e “sem características” não existe


n’Ele;[24]
Está além do apego como do desapego;
Imaculado, Ele está além de todas as formas.
Está além das características e da ausência de características; embora sem
forma, Ele é a substância de todas as formas.
Então como posso eu venerar aquele Shiva, que existe em toda a parte, como o
espaço!

2.

shvetadi-varna-ratito niyatam shivas cha


karyam hi karanam idam hi param shivas cha
evam vikalparahitoham alam shivas cha
swatmanam atmani sumitra katham namami

Shiva não é branco nem amarelo; Ele não tem qualquer cor.
Esse Shiva supremo é simultaneamente a causa e o efeito.
Verdadeiramente, estou além do processo do pensamento; eu sou Shiva.
Diga-me, amigo, como posso eu prostrar o Ser ao Ser?
3.

nirmula-mula-rahito hi sadoditoham
nirdhuma-dhuma-rahito hi sadoditoham
nirdipa-dipa-rahito hi sadoditoham
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Não sou sem-começo nem com começo; eu sou um Sol que nunca se põe.
Não estou coberto nem descoberto; eu sou um Sol que nunca se põe.
Não sou iluminado nem não-iluminado; eu sou um Sol que nunca se põe.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte,
como o espaço.

4.

niskama-kamam iha nama katham vadami


nissanga-sangam iha name katham vadami
nissara-sara-rahitam cha katham vadami
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Sou sem desejos, no desejo; como poderei eu falar disso?


Sou sem apegos, no apego; como poderei eu falar disso?
Não tenho substância, e contudo tenho; o que poderei eu dizer disso?
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
5.

advaita-rupam akhilam katham vadami


dvaita-swarupam akhilam hi katham vadami
nityam twanityam akhilam hi katham vadami
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Sou indiviso, contudo sou cada forma separada; o que dizer disso?
Sou dividido, contudo estou em tudo; o que dizer disso?
Sou tanto eterno como efêmero; o que dizer disso?
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

6.

asthulam hi no nahi krisham na gatagatam hi


adyanta-madhya-rahitam na paraparam hi
satyam vadami khalu vai paramartha-tattvam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Não sou nem grosseiro nem sutil; eu nem venho nem vou.
Não tenho princípio, fim, ou meio; eu não sou grande nem pequeno.
Estou revelando todos os segredos da Realidade suprema:
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
7.

samviddhi sarva-karanani nabho-nibhani


samviddhi sarva-visayas cha nabho-nibhas cha
samviddhi chaikam amalam na hi bandha-muktam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Saiba que todos os órgãos dos sentidos são feitos de vacuidade;


Saiba que todos os objetos sensoriais são, também, vacuidade.
Saiba que sou o Imaculado; eu não sou nem limitado nem libertado.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

8.

durbodha bodha-gahano na bhavami tata


durlakshya lakshya-gahano na bhavami tata
asanna-rupa-gahano na bhavami tata
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Estou além do intelecto e inacessível ao intelecto; ele não pode alcançar-me.


Estou além da visão, e inacessível à visão; ela não pode alcançar-me.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
9.

nishkarma-karma-dahano jvalano bhavami


nirduhkha-duhkha-dahano jvalano bhavami
nirdeha-deha-dahano jvalano bhavami
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Não tenho karma; eu sou o fogo sacrificial no qual todo karma se consome.
Não tenho mágoa; eu sou o fogo sacrificial no qual toda mágoa se consome.
Não tenho desejo; eu sou o fogo sacrificial no qual todo desejo se consome.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

10.

nishpapa-papa-dahano hi hutashanoham
nirdharma-dharma-dahano hi hutashanoham
nirbandha-bandha-dahano hi hutashanoham
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Sem pecado, consumo todos os pecados; eu sou o fogo sacrificial.


Sem deveres, consumo todos os deveres; eu sou o fogo sacrificial.
Sem limites, consumo toda limitação; eu sou o fogo sacrificial.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
11.

nirbhava-bhavarahito na bhavami vatsa


niryoga-yoga-rahito na bhavami vatsa
nishchitta-chitta-rahito na bhavami vatsa
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Estou além da não-existência e além da existência; essas não me pertencem.


Estou além da união e separação; essas não me pertencem.
Estou além da inconsciência e da consciência; essas não me pertencem.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

12.

nirmoha-moha-padavita na me vikalpah
nishoka-shoka-padaviti na me vikalpah
nirlobha-lobha-padaviti na me vikalpah
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Não sou afetado por atração ou repulsão; eu nunca as imagino.


Não sou afetado por felicidade ou sofrimento; eu nunca as imagino.
Não sou afetado por paixão ou apatia; eu nunca as imagino.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
13.

samsara-santati-lata na cha me kadachit


samtosa-santati-sukhe na cha me kadachit
ajnana-bandhanam idam na cha me kadachit
jnanamritam samarasam gaganopamoham

A trepadeira da existência mundana jamais pode me afetar.


Contentamento e prazeres, por mais numerosos que sejam, jamais podem me
afetar.
A limitação da ignorância – este mundo de aparência – jamais pode me afetar.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

14.

samsara-santati-rajo na cha me vikarah


santapa-santati-tamo na cha me vikarah
satvam swadharma-janakam na cha me vikarah
jnanamritam samarasam gaganopamoham

O turbilhão mundano produzido pelo rajo-guna não tem qualquer efeito em


mim.
O sofrimento produzido pelo tamo-guna não tem qualquer efeito em mim.
O prazer da justiça produzido pelo sattva-guna[25] não tem qualquer efeito em
mim.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
15.

santapa-duhkha-janako na vidhi kadachit


santapa-yoga-janitam na manah kadachit
yasmad ahankritir iyam na cha me kadachit
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Nem problemas, nem tristezas nem prazeres têm qualquer efeito no meu
intelecto;
Nem podem os obstáculos do yoga ter qualquer efeito na minha mente.
O que quer que aconteça que estimule o ego não tem qualquer efeito sobre
mim.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

16.

nishkampa-kampa-nidhanam na vikalpa-kalpam
svapna-prabodha-nidhanam na hitahitam hi
nissara-sara-nidhanam na characharam hi
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Dei fim à hesitação e à resolução; eu nem sequer imagino o pensamento.


Dei fim ao sonho e ao despertar; eu nem durmo nem desperto.
Dei fim ao animado e ao inanimado; eu não sou móvel nem imóvel.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
17.

no vedya-vedakam idam na cha hetu-tarkyam


vachamagocharam idam na mano na buddhih
evam katham hi bhavatah kathayami tattvam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Eu não sou o conhecedor, nem algo a ser conhecido; nem sou a causa do
conhecimento.
Eu estou além do domínio da fala, da mente e do intelecto;
Como poderia a Realidade última ser descrita em palavras?
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

18.

nirbhinna-bhinna-rahitam paramartha-tattvam
antar bahir na hi katham paramartha-tattvam
prak sambhavam na cha ratam na hi vastu kimchit
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Estou além da divisão e da não-divisão; eu sou a Realidade absoluta.


Dentro? Fora? Como poderia eu estar? Eu sou a Realidade absoluta.
Nunca fui criado; eu não sou um objeto com substância.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
19.

ragadi-dosa-rahitam twaham eva tattvam


daivadi-dosa-rahitam twaham eva tattvam
samsara-shoka-rahitam twaham eva tattvam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Estou além dos sofrimentos do apego; eu sou a Realidade una.


Estou além dos sofrimentos do destino; eu sou a Realidade una.
Estou além dos sofrimentos da existência mundana; eu sou a Realidade una.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

20.

shana-trayam yadi cha neti katham turiyam


kala-trayam yadi cha neti katham disas cha
santam padam hi paramam paramartha-tattvam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Não sendo os primeiros três estados da mente, como eu poderia ser o quarto
(samadhi)?
Não sendo nenhum dos três tipos de tempo, como eu poderei ser o quarto?[26]
Sou a raíz da serenidade, a serenidade primordial; eu sou a Realidade
absoluta.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
21.

dirgho laghuh punar itiha na me vibhagah


vistara sankatam itiha na me vibhagah
konam hi vartulam itiha na me vibhagah
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Termos como “comprido” ou “curto” não se aplicam a mim.


Termos como “largo” ou “fino” não se aplicam a mim.
Descrições como “angular” ou “redondo” não se aplicam a mim.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

22.

mata pitadi tanayadi na me kadachit


jatam murtam na cha mano ne cha me kadachit
nirvyakulam sthiram idam paramartha-tattvam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Nenhuma mãe, pai, filha, ou filho jamais me pertenceram.


Nem nascimento, morte, ou a mente jamais me pertenceram.
Sou sempre inabalável, sempre constante; eu sou a Realidade absoluta.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
23.

shuddham vishuddham avicharam ananta-rupam


nirlepa-lepam avicharam ananta-rupam
nishkhanda-khandam avicharam ananta-rupam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Minha natureza é ilimitada, além das distinções de puro ou impuro.


Minha natureza é ilimitada, além das distinções de apegado ou desapegado.
Minha natureza é ilimitada, além das distinções de dividido ou indiviso.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

24.

brahmadayah sura-ganah katham atra santi


swargadayo vasatayah katham atra santi
yadyekarupam amalam paramartha-tattvam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Como poderia o deus, Brahma, e todos os seus assistentes viverem ali?


Como poderia a cidade do paraíso, com todo o seu povo, viver ali?
Minha única forma é imaculada; eu sou a Realidade absoluta.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
25.

nirneti neti vimalohi katham vadami


nisshesha shesha vimalohi katham vadami
nirlinga linga vimalohi katham vadami
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Como posso falar d’Aquele imaculado que é tanto “isto” como “não isto”?
Como posso falar d’Aquele imaculado que é o Suporte desamparado de
todos?
Como posso falar d’Aquele imaculado que não tem gênero mas tem gênero?
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

26.

nishkarma-karma paramam satatam karomi


nissanga-sanga-rahitam paramam vinodam
nirdeha-deha-rahitam satatam vinodam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Eu sou sempre o Supremo, quer esteja ativo ou inativo.


Eu sou a mais elevada felicidade, além do apego e do desapego.
Eu sou felicidade eterna, além da forma e da não-forma.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
27.

maya-prapancha-rachana na cha me vikarah


kautilya-dambha-rachana na cha me vikarah
satyanriteti-rachana na cha me vikarah
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Este sonho-Maya de mundo não tem efeito sobre mim.


Desonestidade e engano dos homens não têm efeito em mim.
Verdade ou falsidade do discurso dos homens não têm efeito em mim.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

28.

sandhadi-kala-rahitam na cha me viyogah


hyantah-prabodha-rahitam badhiro na mukah
evam vikalpa-rahitam na cha bhava-shuddham
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Estou além da diferenciação entre dia e noite; eu não posso ser dividido em
partes.
Nunca desperto dentro de mim mesmo; eu nunca estou não-desperto.
Nunca sou movido pelo pensamento; eu nunca tento ser puro.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
29.

nirnatha-natha-rahitam hi nirakulam vai


nischitta-chitta-vigatam hi nirakulam vai
samviddhi sarva-vigatam hi nirakulam vai
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Não sou nem “o Senhor”, nem sou “não o Senhor”; eu sou o Ser sem forma.
Estou além da presença ou ausência da mente; eu sou o Ser sem forma.
Saiba bem que sou livre de tudo; eu sou o Ser sem forma.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

30.

kantara-mandiram idam hi katham vadami


samsiddha-samshayam idam hi katham vadami
evam nirantara-samam hi nirakulam vai
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Sou uma casa que está vazia; que posso dizer disso?
Faço tudo, e contudo não faço nada; que posso dizer disso?
Estou sempre no estado inalterado; eu sou o Ser sem forma.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
31.

nirjiva-jiva-rahitam satatam vibhati


nirbija-bija-rahitam satatam vibhati
nirvana-bandha-rahitam satatam vibhati
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Estou além de ser uma alma ou não ser uma alma; eu existo eternamente.
Estou além de ser uma causa ou não ser uma causa[27]; eu existo eternamente.
Estou além do nirvana e da prisão; eu existo eternamente.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

32.

sambhuti-varjitam idam satatam vibhati


samsara-varjitam idam satatam vibhati
samhara-varjitam idam satatam vibhati
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Não sendo limitado por um início, eu existo? Resplandeço eternamente.


Não sendo limitado pela atuação contínua, eu existo? Resplandeço
eternamente.
Não sendo limitado pela destruição de tudo, eu existo? Resplandeço
eternamente.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
33.

ullekhamatram api te na cha nama-rupam


nirbhinna-bhinnam api te na hi vastu kimchit
nirlajja-manasa karosi katham visadam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Embora se possa falar de você, você não tem nem nome nem forma.
Quer você seja dividido ou indiviso, não há nada aqui além de você.
Ó mente, mente impudente, mente errante! Por que te desgastas tanto?
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

34.

kim nama rodishi sakhe na jara na murtyuh kim


nama rodishi sakhe na cha jnama-duhkham kim
nama rodishi sakhe na cha te vikarah
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Por que chora e se lamenta, meu amigo? Não há velhice ou morte para você.
Por que chora e se lamenta, meu amigo? Não há a dor do parto para você.
Por que chora e se lamenta, meu amigo? Você não pode sequer ser tocado.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
35.

kim nama rodishi sakhe na cha te swarupam


kim nama rodishi sakhe na cha te virupam
kim nama rodishi sakhe na cha te vayamsi
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Por que chora e se lamenta, meu amigo? Você não possui forma própria.
Por que chora e se lamenta, meu amigo? Você não pode ser deformado.
Por que chora e se lamenta, meu amigo? Você nunca envelhecerá.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

36.

kim nama rodishi sakhe na cha te vayamsi


kim nama rodishi sakhe na cha te manamsi
kim nama rodishi sakhe na taventriyani
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Por que chora e se lamenta, meu amigo? Você nunca pode perder sua
juventude.
Por que chora e se lamenta, meu amigo? Você nunca pode perder sua mente.
Por que chora e se lamenta, meu amigo? Você não tem órgãos dos sentidos.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
37.

kim nama rodishi sakhe na cha te sti kamah


kim nama rodishi sakhe na cha te pralobhah
kim nama rodishi sakhe na cha te vimohah
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Por que chora e se lamenta, meu amigo? Você não pode ser tocado pela
luxúria.
Por que chora e se lamenta, meu amigo? Você não pode ser tocado pela
ganância.
Por que chora e se lamenta, meu amigo? Você não pode ser tocado pelo
capricho.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

38.

aishvaryam icchasi katham na cha te dhanani


aishvaryam icchasi katham na cha te hi patni
aishvaryam icchasi katham na cha te mameti
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Como pode ansiar pela riqueza? Você não tem propriedade para sustentar.
Como pode ansiar pela riqueza? Você não tem esposa para alimentar.
Como pode ansiar pela riqueza? Nada pode lhe pertencer.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
39.

linga-prapancha-janusi na cha te na me cha


nirlajja-manasam idam cha vibhati bhinnam
nirbheda-bheda-rahitam na cha te na me cha
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Você e eu não estamos ligados a este mundo de formas efêmeras;


É apenas a mente vergonhosa que divide o Um em partes.
Divisão e não-divisão são o mesmo para você e para mim.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte,
como o espaço.

40.

novanumatram api te hi viraga-rupam


novanumatram api te hi saraga-rupam
novanumatram api te hi sakama-rupam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Sua natureza não contém nada de desapaixonamento


Sua natureza não contém nada de paixão.
Sua natureza não contém nada de desejo.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
41.

dhyata na te hi hridaye na cha te samadhih


dhyanam na te hi hridaye na bahih pradeshah
dhyayam na cheti hridaye na hi vastu-kalo
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Não há objeto de devoção no seu coração ou no estado de samadhi;


Não há objeto de devoção no seu coração ou no mundo objetivo.
Não há objeto de devoção no seu coração; eu estou além do lugar e do tempo.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.

42.

yat sarabhutam akhilam kathitam maya te na


twam na me na mahato na guruh na shishyah
swacchanda-rupa-sahajam paramartha-tattvam
jnanamritam samarasam gaganopamoham

Eu revelei-lhe tudo o que constitui o âmago da Verdade;


Não há você, eu, nem Ser superior, nem disciplina, e nenhum Guru.
A natureza da Realidade suprema é simples e auto-evidente.
Eu sou conhecimento nectarino, felicidade inalterável; estou em toda a parte
como o espaço.
43.

katham iha paramartham tattvam ananda-rupam


katham iha paramartham naivam ananda-rupam
katham iha paramartham jnana-vijnana-rupam
yadi param aham ekam vartate vyoma-rupam

Como poderia a Realidade suprema ser da natureza da felicidade?


Como poderia a Realidade suprema ser destituída de felicidade?
Como poderia a Realidade suprema possuir conhecimento ou ignorância?
Se o Eu Sou supremo é a Existência una, Ele está em toda parte, como o
espaço.

44.

dahana-pavana-hinam viddhi vijnanam ekam


avani-jala-vihinam viddhi vijnana-rupam
sama-gamana-vihinam viddhi vijnanam ekam
gaganam iva vishalam viddhi vijnanam ekam

Compreenda que não é nem fogo nem ar; realize o Um!


Compreenda que não é nem terra nem água; realize o Um!
Compreenda que nem vem nem vai; realize o Um!
Compreenda que é como espaço, penetra em toda a parte; realize o Um!
45.

na shunya-rupam na vishunya-rupam
na shuddha-rupam na vishuddha-rupam
rupam-virupam na bhavami kimchit
swarupa-rupam paramartha tattvam

Minha natureza não é nem vacuidade nem plenitude.


Minha natureza não é nem pura nem impura.
Eu não sou nem com forma e nem sem forma.
Eu sou a Realidade suprema; minha natureza é exclusivamente minha.

46.

muncha muncha hi samsaram


tyagam muncha hi sarvatha
tyagatyaga-visam shuddham
amritam sahajam dhruvam

Renuncie, renuncie ao mundo da aparência;


E depois renuncie à renúncia também.
Mas, quer você renuncie ou não renuncie,
Aprecie o néctar do seu estado natural.
iti shri dattatreya-virachitayam avadhuta-gitayam
atma-samvittyupadesha nama tritiyodhyayah

Nesta “Canção do Avadhuta”, composta por Sri Dattatreya,


Nestes Ensinamentos Sobre a Sabedoria do Ser,

Este é o Terceiro Capítulo.


Capítulo 4
CHATURTHODHYAYAH
1.

navahanam naiva visarjanam va


puspani patrani katham bhavanti
dhyanani mantrani katham bhavanti
samasamam chaiva shivarchanam cha

Onde está a necessidade de fazer sacrifícios ou prostrações?


Ou praticar culto com flores e folhas?
Por que praticar meditação e a repetição de mantras?
O adorador e Shiva são um e o mesmo.

2.

na kevalam bandha-vibandha-mukto
na kevalam shuddha-vishuddha-muktah
na kevalam yoga-viyoga-muktah
sa vai vimukto gaganopamoham

Não sou apenas livre da escravidão e libertação;


Não sou apenas livre da pureza ou impureza;
Não sou apenas livre da união e separação;
Eu sou a própria Liberdade; eu estou em toda a parte, como o espaço.
3.

sanjayate sarvam idam hi tathyam


sanjayate sarvam idam vitathyam
evam vikalpo mama naiva jatah
swarupa-nirvanam anamayoham

Alguns dizem, “O mundo fenomenal é real”;


Outros dizem, “O mundo é irreal.”
Argumentos como esses não têm nenhum sentido para mim.
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.

4.

na sanjanam chaiva niranjanam va


na chantaram vapi nirantaram va
antarvibhinnam na hi me vibhati
swarupa-nirvanam anamayoham

Eu não tenho defeitos, nem sou perfeito.


Eu não tenho começo, nem sou sem começo.
Eu não sou indiviso, nem sou dividido.
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.
5.

abodha-bodho mama naiva jato


bodha-swarupam mama naiva jatam
nirbodha-bodham cha katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Em mim, ignorância e conhecimento nunca surgem;


Eu nunca me permito experimentar esses estados.
Como, então, posso falar de não-conhecimento ou conhecimento?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.

6.

na dharma-yukto na cha papa-yukto


na bandha yukto na cha moksha-yuktah
yuktam tvayuktam na cha me vibhati
swarupa-nirvanam anamayoham

Eu não estou vinculado à retidão; eu não estou vinculado ao pecado.


Eu não estou vinculado à escravidão, nem à libertação;
Nenhum deles nunca me afeta.
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.
7.

paraparam va na cha me kadachit


madhyastha-bhavo hi na chari-mitram
hitahitam chapi katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

“Inferior” e “superior” não têm significado para mim.


Eu não tenho inimigos, nem tenho amigos;
Como, então, posso falar de “o bem” ou “o mal”?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.

8.

nopasako naivam upasyarupam


na chopadesho na cha me kriya cha
samvit-swarupam cha katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Eu não sou o adorador nem o objeto de adoração.


Eu não dou ensinamentos, nem executo qualquer ação.
Minha natureza é Consciência; como, então, poderia eu falar?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.
9.

no vyapakam vyapyam ihasti kimchit


no chalayam vapi niralayam va
ashunya-shunyam cha katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Não há nada que permeie, e nada que seja permeado;


Não há nem manifestação nem dissolução[28].
Como, então, eu poderia falar do “Vazio” ou de seu oposto?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.

10.

na grahako grahyakam eva kimchit


na karanam va mama naiva karyam
achintya-chintyam cha katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Verdadeiramente, eu não sou um observador nem um objeto de observação;


Não sou uma causa, nem sou um efeito.
Como, então, devo dizer que sou “o conhecedor” ou “o conhecido”?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.
11.

na bhedakam vapi na chaiva bhedyam


na vedakam mama naiva vedyam
gatagatam tata katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Não há sobreposição e nada sobreposto;


Eu não sou nem “o conhecedor” nem “o objeto de conhecimento.”
Como, então, eu poderia falar de criação ou dissolução?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.

12.

na chasti deho na cha me videho


buddhir mano me na hi chentriyani
rago viragas cha katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Eu não tenho corpo, nem sou sem corpos;


Eu não tenho nem intelecto, nem mente, nem sentidos.
Como, então, eu poderia falar de atração ou repulsão?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.
13.

ullekha-matram na hi bhinnam ucchaih


ullekha-matram na tirohitam vai
samasamam mitra katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Não se pode sequer falar de algo separado do Ser;


Não se pode falar do que não existe.
Como então, meu amigo, eu poderia falar de “similar” ou “diferente”?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.

14.

jitendriyoham tvajitendriyo va
na samyamo me niyamo na jatah
jayajayam mitra katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Eu nem sou livre dos sentidos nem limitado por eles;


Eu não sigo regras de “deve-se” ou “não se deve.”
Como então, meu amigo, eu poderia falar de “sucesso” ou de “fracasso”?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.
15.

amurta-murtih na cha me kadachit


adyanta-madhyam na cha me kadachit
balabalam mitra katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Eu nunca fui sem forma ou com forma;


Eu nunca tive um começo, meio, ou fim.
Como então, meu amigo, eu poderia falar de “juventude” ou de “velhice”?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.

16.

murtamurtam vapi vishavisham cha


sanjayate tata na me kadachit
ashuddha-shuddham cha katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Eu nunca experimentei morte ou imortalidade, nem mal nem bem;


Nenhum destes opostos existe em mim, meu filho.
Como, então, eu poderia falar de “impureza” ou “pureza”?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.
17.

swapnah-prabodho na cha yoga-mudra


naktam diva vapi na me kadachit
aturya-turyam cha katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Eu nunca experimento dormir, acordar, ou o Samadhi;


Para mim, não há nem noite nem dia.
Como, então, eu poderia falar dos quatro estados da mente?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.

18.

samviddhi mam sarva-visarva-muktam


maya-vimaya na cha me kadachit
sandhyadikam karma katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Saiba que eu não sou afetado pelo aparecimento ou desaparecimento do


mundo;
Para mim, não há nem maya nem sua ausência.
Como, então, eu poderia falar da realização de ações justas?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.
19.

samviddhi mam sarva-samdahi-yuktam


samviddhi mam lakshya-vilakshya muktam
yogam viyogam cha katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Saiba que, no samadhi, todas as coisas são Um;


Saiba também que eu não sou afetado pela realização ou não realização do
samadhi.
Como, então, eu posso falar de união ou separação?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.

20.

murkhopi naham na cha panditoham


maunam vimaunam na cha me kadachit
tarkam vitarkam cha katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Eu não sou ignorante, nem sou erudito;


Eu não mantenho silêncio, nem falo coisa alguma
Como, então, eu poderia falar de doutrinas verdadeiras ou falsas?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.
21.

pita cha mata cha kulam na jatih


janmadi murtyur na cha me kadachit
sneham vimoham cha katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Eu não tenho pai nem mãe; não tenho família ou casta;


Eu nunca experimentei nascimento e nunca experimentei morte.
Como, então, eu poderia falar de afeição ou apego?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.

22.

astam gato naiva sadoditoham


tejo-vitejo na cha me kadachit
sandhyadikam karma katham vadami
swarupa-nirvanam anamayoham

Minha consciência do Ser é constante; eu nunca a abandono;


Por isso nunca sou afetado pela escuridão ou luz.
Como, então, eu poderia falar das minhas preces matinais ou noturnas?
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.
23.

asamshayam viddhi nirakulam mam


asamshayam viddhi nirantaram mam
asamshayam viddhi niranjanam mam
swarupa-nirvanam anamayoham

Sabendo, sem qualquer dúvida, que sou ilimitado.


Sabendo, sem qualquer dúvida, que sou imutável.
Sabendo, sem qualquer dúvida, que nenhuma mancha pode me tocar.
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.

24.

dhyanani sarvani parityajanti


shubhashubham karma parityajanti
tyagamurtam tata pibanti dhirah
swarupa-nirvanam anamayoham

Aqueles que possuem vontade firme renunciam à meditação;


Renunciam a todas as suas boas ações assim como às más.
Bebem o néctar da renúncia até se saciarem.
Minha natureza é Liberdade; não há maya para mim.
25.

vindati vindati na hi na hi yatra


chando-lakshanam na hi na hi tatra
samarasa-magno bhavita-putah
pralapati tattvam param Avadhutaah

Naquele estado no qual não há nada para ser conhecido,


Este conhecimento versejado nem sequer existe.
Assim, agora, enquanto estou no estado de samarasa,
Eu, o Avadhuta, falei do supremo Absoluto.

iti shri dattatreya-virachitayam avadhuta-gitayam


swami-kartika-samvade swatma-samvittyupadeshe
swarupa-nirnaya nama chaturthodhyayah

Nesta “Canção do Avadhua”, composta por Sri Dattatreya,


Neste diálogo entre o Swami and Kartika, entitulado “Os Ensinamentos Sobre
a Sabedoria do Ser”,
Este é o Quarto Capítulo, chamado “A Declaração da Minha Natureza.”
Capítulo 5
PANCHAMODHYAYAH
1.

aum iti gaditam gagana-samam


tanna parapara-sara-vichara iti
avilasa-vilasa-nirakaranam
katham aksara-bindu-samuccharanam

AUM permeia tudo igualmente, como o espaço;[29]


Dentro d’Ele, não há nenhuma distinção tal como “alto” ou “baixo.”
O Imanifesto sem forma manifesta-se como forma;
De que outra forma poderia o Imperecível manifestar Sua Luz?

2.

iti tat twam asi-prabhriti-shrutibhih


pratipaditam atmani tattvam asi
twam upadhi-vivarjita-sarva-sammam
kim u rodishi manasi sarva-samam

“Tu és Aquilo” – proclamam as escrituras;


“Tu és Aquilo” – afirma nosso próprio Ser.
Você está além de toda diversidade, o mesmo Ser em todos.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
3.

atha urdhva-vivarjita-sarva-samam
bahirantara-varjita-sarva-samam
yadichaikavivarjita sarva-samam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Além de “alto” e “baixo,” eu sou o mesmo Ser em todos.


Além de “dentro” e “fora,” eu sou o mesmo Ser em todos.
Se existe apenas o Um, eu sou o mesmo Ser em todos;
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

4.

nahi kalpita-kalpa-vichara iti


nahi karana-karya-vichara iti
pada-sandhi-vivarjita sarva-samam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Não há distinção real entre o Imaginador e a imaginação;


Não há distinção real entre a Causa[30] e o seu efeito.
Um poema e suas palavras são um e o mesmo;
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
5.

nahi bodha-vibodha-samadhir iti


nahi desha-videsha-samadhir iti
nahi kala-vikala-samadhir iti
kim u rodishi manasi sarva-samam

Não há conhecimento nem ignorância na experiência da Unidade;


Não há perto nem longe na experiência da Unidade;
Não há tempo nem eternidade na experiência da Unidade;
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

6.

nahi kumbha-nabho nahi kumbha iti


na hi jiva-vapuh na hi jiva iti
na hi karana-karya-vibhaga iti
kim u rodishi manasi sarva-samam

Não há espaço no jarro, nem mesmo um jarro;


Não há o “recipiente da alma”[31], nem mesmo uma alma.
Não há separação entre Causa e efeito;
Por que o lamento, então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
7.

iha sarva-nirantara-moksha-padam
laghy-dirgha-vichara-vihina iti
na hi vartula-kona-vibhaga iti
kim u rodishi manasi sarva-samam

Aqui, no reino da Unidade, todos são eternamente livres;


“Pouco tempo” e “muito tempo” não significam nada aqui.
Aqui, nenhuma distinção como “gordo” ou “magro” existe;
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

8.

iha shunya-vishunya-vihina iti


iha shuddha-vishuddha vihina iti
iha sarva-visarva vihina iti
kim u rodishi manasi sarva-samam

Aqui não é Vacuidade nem plenitude;


Aqui não é pureza nem impureza.
Aqui não é o Todo nem a sua ausência;
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
9.

nahi bhinna-vibhinna vichara iti


bahir-antara-sandhi vichara iti
ari-mitra-vivarjita sarva-samam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Não há distinção como “dividido” ou “indivisível”;


Não há distinção como “dentro” ou “fora”;
Além da distinção de “inimigo” ou “amigo”, eu sou o mesmo Ser em todos.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

10.

na hi shishya-vishishya swarupa iti


na charachara-bheda vichara iti
iha sarva-nirantara moksha-padam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Não há discípulo nem não-discípulo na única Realidade;


Não há ninguém evoluindo, e ninguém não-evoluindo;
Aqui, no estado de Unidade, todos são eternamente livres.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
11.

nanu rupa-virupa vihina iti


nanu bhinna-vibhinna vihina iti
nanu sarga-visarga vihina iti
kim u rodishi manasi sarva-samam

O Ser está além da forma e do sem forma, não está?


Está além da divisão e da não-divisão, não está?
Está além da criação e da ausência da criação, não está?
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

12.

na gunaguna-pasa nibandha iti


murta-jivana-karma-karomi katham
iti shuddha-niranjana sarva samam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Nem os gunas nem coisa alguma pode me prender;


Como poderia eu estar limitado pelas ações nesta vida ou no após vida?
Eu sou o Ser puro, imaculado, o mesmo dentro de todos.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
13.

iha bhava-vibhava vihina iti


iha kama-vikama vihina iti
iha bodhatamam khalu moksha-samam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Aqui não é nem existência nem não-existência;


Aqui não é nem desejo nem desapego;
Aqui, a sabedoria que é aprendida é liberdade e igualdade.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

14.

iha tattva-virantara tattvam iti


na hi sandhi-visandhi vihina iti
yadi sarva-vivarjita sarva-samam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Aqui a Realidade não se divide em sub-realidades (tattvas[32]);


Aqui não é nem união nem separação.
Mesmo que tudo desapareça, eu sou o mesmo Ser em todos.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
15.

aniketa-kuti parivara-samam
iha sanga-visanga vihina-param
iha bodha-vibodha vihina-param
kim u rodishi manasi sarva-samam

Eu não sou uma embarcação, um templo, uma casa, ou uma coberta[33];


Aqui, sem associação ou dissociação, eu sou a suprema Realidade.
Aqui, sem conhecimento ou ignorância, eu sou a suprema Realidade;
Por que o lamento, então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

16.

avikara-vikaram asatyam iti


avilaksya-vilaksyam asatyam iti
yadi kevalam atmani satyam iti
kim u rodishi manasi sarva-samam

Imutável? Mutável? Nenhum é a verdade.


Sem propósito? Com propósito? Nenhum é a verdade.
Se apenas o Ser é percebido: isso é a verdade.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
17.

iha sarva tamam khalu jiva iti


iha sarva-nirantara-jiva iti
iha kevala-nishchala-jiva iti
kim u rodishi manasi sarva-samam

Aqui, todos são a mesma Alma consciente;


Aqui, todos são a Alma eterna.
Aqui, apenas a Alma indivisa existe;
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

18.

aviveka-vivekam abodha iti


avikalpa-vikalpam abodha iti
yadi chaikanirantara-bodha iti
kim u rodishi manasi sarva-samam

Indiscriminação? Discriminação? Isso é ignorância.


Insensatez? Prudência? Isso é ignorância.
Se apenas o eterno Um é visto: isso é sabedoria.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
19.

na hi moksha-padam nahi bandha-padam


na hi punya-padam nahi papa-padam
na hi purna-padam nahi rikta-padam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Não há estado de libertação nem estado de escravidão;


Não há estado de virtude nem estado de pecado.
Não há estado de perfeição nem estado de imperfeição;
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

20.

yadi varna-vivarna vihina samam


yadi karana-karya vihina samam
yadi bheda-vibheda vihina samam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Se eu sou sempre o mesmo, além da casta e sem casta;


Se eu sou sempre o mesmo, além da causa e efeito;
Se eu sou sempre o mesmo, além da divisão e não-divisão;
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
21.

iha sarva-nirantara sarva-chite


iha kevala-nishchala sarva-chite
dvipadadi vivarjita sarva-chite
kim u rodishi manasi sarva-samam

Aqui, tudo é eterno; tudo é Consciência.


Aqui, apenas o Imutável existe; tudo é Consciência.
Sem nenhuma exceção, tudo é Consciência.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

22.

yadi sarva nirantara sarva-gatam


yadi nirmala-nishchala sarva-gatam
dina-ratri vivarjita sarva-gatam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Se tudo é eterno, tudo é eu mesmo.


Se apenas o Imaculado, o Imutável, existe, tudo é eu mesmo.
Quer seja dia ou noite, tudo é eu mesmo.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
23.

na hi bandha-vibandha samagamanam
na hi yoga-viyoga samagamanam
na hi tarka-vitarka samagamanam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Eu não estou em escravidão nem em liberdade; sou sempre o mesmo.


Eu não sou unido nem separado; sou sempre o mesmo.
Eu não possuo conhecimento nem ignorância; sou sempre o mesmo.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

24.

iha kala-vikala nirakaranam


anu-matra krisanu-nirakaranam
na hi kevala-satya nirakaranam
kim u rodishi manasi sarva-samam

Aqui, tempo e intemporalidade deixam de existir.


Aqui, átomos e partículas deixam de existir.
Só a Realidade absoluta nunca deixa de existir.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
25.

iha deha-videha vihina iti


nanu swapna-susupti vihina-param
abhidhana vidhana vihina-param
kim u rodishi manasi sarva-samam

Aqui não há diferença entre estar em um corpo ou não[34];


Para o Supremo, os estados sutis e grosseiros são iguais.
O Supremo é o mesmo quer lhe seja dado um nome ou não.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

26.

gaganopama-shuddha vishala-samam
api sarva-vivarjita sarva-samam
gata-sara-visara vikara-samam
kim u rodishi manasi sarva-samam

A Pureza una, como o espaço, é a mesma em todos;


Transcendendo todas as formas, eu sou o mesmo Ser em todos.
Quer haja formas ou não, a Essência permanece a mesma;
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
27.

iha dharma-vidharma viraga taram


iha vastu-vivastu viraga taram
iha kama-vikama viraga taram
kim u rodishi manasi sarva-samam

Aqui, não sou atraído nem pela virtude nem pelo vício;
Aqui, não sou atraído nem pela forma nem pela não forma.
Aqui, não sou atraído nem pelo desapaixonamento nem pelo desejo.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

28.

sukha-duhkha vivarjita sarva-samam


iha shoka-vishoka vihina-param
guru-shishya vivarjita tattva-param
kim u rodishi manasi sarva-samam

Além do prazer e da dor, eu sou o mesmo Ser em todos; Aqui, nem tristeza
nem alegria existem.
Na Realidade suprema, não há nem Guru nem discípulo;
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
29.
na kilankura-sara-visara iti
na chalachala samya-visamyam iti
avichara-vichara vihinam iti
kim u rodishi manasi sarva-samam

O Ser não é substancial nem insubstancial;


Não é idêntico, nem diferente do mundo.
Está além da inquirição e da falta de inquirição[35];
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

30.

iha sara-samucchaya saram iti


kathitam nijabhava vibheda iti
visaye karanatvam asatyam iti
kim u rodishi manasi sarva-samam

Este [Ser] é a Essência subjacente de toda substância;


Então como pode você encontrar distinções na Existência única?
Não há objeto de percepção fora d’Ele próprio.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.
31.

bahudha shrutayah pravadanti yato


viyadadir idam murga-toya-samam
yadi chaikanirantara sarva-samam
kim u rodishi manasi sarva-samam

De muitas maneiras eloquentes as escrituras disseram:


“Este mundo observável é como uma miragem no deserto.”
Se há apenas o Um eterno, eu sou o mesmo Ser em todos.
Por que o lamento então, Ó mente? Eu sou o mesmo Ser em todos.

32.

vindati vindati na hi na hi yatra


chando-lakshanam na hi na hi tatra
samarasa-magno bhavita-putah
pralapati tattvam param avadhutah

Naquele estado onde não se sabe nada de nada,


Este conhecimento versejado nem sequer existe.
Então, agora, enquanto estou no estado de samarasa,
Eu, o Avadhuta, falei do Absoluto supremo.
iti shri dattatreya virachitayam avadhuta-gitayam
swami-kartika samvade atma-samvittiyupadeshe
sama-drishti-kathanam nama panchamodhyayah

Nesta “Canção do Avadhua”, composta por Dattatreya,


Neste discurso entre Swami e Kartika, intitulado “Ensinamentos Sobre a
Sabedoria do Ser”,
Este é o Quinto Capítulo, chamado “Revelações de Igualdade.”
Capítulo 6
SASTODHYAYAH
1.

bahudha shrutayah pravadanti vayam


viyadadir idam murga-toya samam
yadi chaika-nirantara-sarva-shivam
upameyam atho hyupama cha katham

De muitas formas eloquentes as escrituras disseram,


“Este mundo observável é como uma miragem do deserto.”
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, e com o quê, pode o Ser ser comparado?

2.

avibhakti-vibhakti vihina-param
nanu karya-vikarya vihina-param
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
yajanam cha katham tapanam cha katham

No Supremo não há divisão nem não-divisão;


No Supremo não há atividade nem inatividade.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Qual, então, é a necessidade de ascetismo e rituais?
3.

mana eva nirantara sarva-gatam


hyavishala-vishala vihina param
mana eva nirantara sarva-shivam
manasapi katham vachasa cha katham

A Mente una é infinita; permeia tudo.


No Supremo não há “fora” nem “dentro.”
A Mente una é, efetivamente, ilimitada; tudo é Shiva.
Como, então, poderia Shiva ser definido no pensamento ou na linguagem?

4.

dina-ratri vibheda nirakaranam


uditanuditasya nirakaranam
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
ravi-chandram asau jvalanash cha katham

Não há distinção entre dia e noite;


Não há distinção entre amanhecer e anoitecer.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Qual é a diferença se brilha o sol ou a lua?
5.

gata-kama-vikama vibheda iti


gata-cheshta-vicheshta vibheda iti
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
bahir-antara bhinna-matis cha katham

Está além da dualidade do desejo e desapego;


Está além da dualidade da ação e não-ação.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
O que, então, pode ser considerado “fora” ou “dentro”?

6.

yadi sara-visara vihina iti


yadi shunya-vishunya vihina iti
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
prathamam cha katham charamam cha katham

Se não é com substância nem sem substância,


Se não é um Vazio nem um não-Vazio,
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, poderia haver um começo ou um fim?
7.

yadi bheda-vibheda nirakaranam


yadi vedaka-vedya nirakaranam
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
tritayam cha katham turiyam cha katham

Se não há distinção entre divisão e não-divisão,


Se não há distinção entre conhecedor e o conhecido,
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
O que, então, é o terceiro estado mental, e o que é o quarto?[36]

8.

gaditaviditam na hi satyam iti


viditaviditam na hi satyam iti
yadi chaikanirantara sarva-shivam
vishayendriya buddhi manamsi katham

O que pode ser dito não é a Realidade;


A Realidade não é nem o que pode ser dito nem o que não pode ser dito.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, pode haver objetos, sentidos, o intelecto ou a mente?
9.

gaganam pavano nahi satyam iti


dharani-dahano na hi satyam iti
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
jaladash cha katham salilam cha katham

Nem espaço nem ar são a Realidade;


Nem terra nem fogo são a Realidade.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Qual, então, é a nuvem e qual é a chuva?[37]

10.

yadi kalpita-loka nirakaranam


yadi kalpita-deva nirakaranam
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
guna-dosha vichara matis cha katham

Se não há distinção entre uma imagem mental e o mundo,


Se não há distinção entre uma imagem mental e os deuses,
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, poderia haver distinção entre o Real e o irreal?
11.

maranamaranam hi nirakaranam
karanakaranam hi nirakaranam
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
gamanagamanam hi katham vadati

Não há distinção entre vivo e morto;


Não há distinção entre semelhante e diferente.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, se poderia falar de ir e vir?

12.

prakritih purusho na hi bheda iti


na hi karana-karya vibheda iti
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
purushapurusham cha katham vadati

Não há nenhuma diferença entre Prakriti e Purusha;[38]


Não há nenhuma diferença entre Causa e efeito.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, se poderia falar de Purusha (o Ser) ou não-Purusha?
13.

tritiyam na hi duhkha samagamanam


na gunad dvitiyasya samagamanam
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
sthaviras cha yuva cha shishus cha katham

Não há juventude – o “terceiro estado” da miséria;


Não há infância – o “segundo cordão de ligação”.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, pode haver velhice, infância ou juventude?

14.

nanu ashrama-varna vihina-param


nanu karana-kartir vihina-param
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
avinashta-vinashta matis cha katham

Não é verdade que não há estágios de vida ou castas[39]?


Não é verdade que não há causas ou efeitos?
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, se pode distinguir entre o perecível e o Imperecível?
15.

grasitagrasitam cha vitathyam iti


janitajanitam cha vitathyam iti yadi
chaika-nirantara sarva-shivam
avinashi vinashi katham hi bhavet

É inútil distinguir entre o perecível e o Imperecível;


É inútil distinguir entre o criado e o Incriado.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, pode haver um Imperecível e um perecível?

16.

purusha purushasya vinashtam iti


vanitavanitasya vinashtam iti
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
avinoda-vinoda matis cha katham

O “princípio masculino” (Purusha) e sua consorte não existem;


O “princípio feminino” (Prakriti) e seu consorte não existem.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, poderia existir tal relacionamento?
17.

yadi moha-visada vihina paro


yadi samsaya-soka vihina parah
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
aham eti mameti katham cha punah

Se nem desejo nem repulsão existem dentro do princípio feminino,


Se nem prazer nem dor existem dentro do princípio masculino,
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, surge este sentimento de “eu” e “meu”?

18.

nanu dharma-vidharma vinasha iti


nanu bandha-vibandha vinasha iti
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
iha duhkha-viduhkha matis cha katham

Nem justiça nem injustiça existem, correto?


Nem escravidão nem libertação existem, correto?
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, surge aqui o pensamento de tristeza ou felicidade?
19.

na hi yajnika-yajna vibhaga iti


na hutashana-vastu vibhaga iti
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
vada karma-phalani bhavanti katham

Não há distinção entre o Doador e a dádiva;


Não há distinção entre o Recebedor do sacrifício e o sacrifício.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, poderia haver recompensas pelos seus atos?

20.

nanu shoka-vishoka vimukta iti


nanu darpa-vidarpa vimukta iti
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
nanu raga-viraga matis cha katham

O Ser é livre de sofrimento e prazer, não é?


O Ser é livre de humildade e orgulho, não é?
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como, então, surge o pensamento de apego ou desapego?
21.

na hi moha-vimoha vikara iti


na hi lobha-vilobha vikara iti
yadi chaika-nirantara sarva-shivam
hyaviveka-viveka matis cha katham

No Ser nem ilusão nem não-ilusão surgem;


No Ser nem desejo nem desapego surgem.
Se há apenas o Um ilimitado, tudo é Shiva.
Como pode você pensar que existe isso de indiscriminação ou discriminação?

22.

twam aham na hi hanta kadachid api


kula-jati vicharam asatyam iti
aham eva shivah paramartha iti
abhivadanam atra karomi katham

Repare, jamais houve um você ou um eu;


Toda conversa sobre família ou casta é falsa.
Verdadeiramente, eu sou Shiva, o uno Ser supremo.
Como, então, devo venerar? A quem devo me curvar?
23.

guru-shishya vichara vishirna iti


upadesha vichara vishirna iti
aham eva shivah paramartha iti
abhivadanam atra karomi katham

A distinção entre Guru e discípulo revela-se ilusória;


O ensinamento do Guru revela-se também ilusório.
Verdadeiramente, eu sou Shiva, o uno Ser supremo.
Como, então, devo venerar? A quem devo me curvar?

24.

na hi kalpita deha vibhaga iti


na hi kalpita loka vibhaga iti
aham eva shivah paramartha iti
abhivadanam atra karomi katham

A divisão entre corpos é apenas imaginada;


A divisão entre lugares é apenas imaginada.
Verdadeiramente, eu sou Shiva, o único Ser supremo.
Como, então, devo venerar? A quem devo me curvar?
25.

sarajo virajo na kadachid api


nanu nirmala-nishchala shuddha iti
aham eva shivah paramartha iti
abhivadanam atra karomi katham

Nunca houve nenhum movimento ou repouso;


A Pureza una é imaculada e imóvel, não é?
Verdadeiramente, eu sou Shiva, o único Ser supremo.
Como, então, devo venerar? A quem devo me curvar?

26.

na hi deha-videha vikalpa iti


anritam cha ritam na hi satyam iti
aham eva shivah paramartha iti
abhivadanam atra karomi katham

Não há distinção entre “com corpo” e “sem corpo”[40];


“Más ações”, “boas ações” – também não existem.
Verdadeiramente, eu sou Shiva, o único Ser supremo.
Como, então, devo venerar? A quem devo me curvar?
27.

vindati vindati nahi nahi yatra


chando-lakshanam nahi nahi tatra
samarasa-magno bhavita-putah
pralapati tattvam param avadhutah

Naquele estado em que ninguém sabe nada em absoluto,


Este conhecimento versejado nem sequer existe.
Então, agora, enquanto eu estou no estado de samarasa,
Eu, o Avadhuta, falei do supremo Absoluto.

iti shri dattatreya virachitayam avadhuta-gitaya


swami-kartika samvade swatma-samvittyupadeshe
moksha-nirnavo nama sasto dhyayah

Nesta “Canção do Avadhua”, composta por Sri Dattatreya,


Neste diálogo entre Swami e Kartika, Chamado “Ensinamentos Sobre a
Sabedoria do Ser,
Este é o Sexto Capítulo, intitulado “A Averiguação da Libertação.”
Capítulo 7
SAPTAMO ADHYAYAH
1.

rathya-karpata virachita kanthah


punyapunya vivarjita panthah
shunyagare tishati nagno
shuddha niranjana samarasa magnah

Um farrapo remendado na beira da estrada serve como um xale


Para o Avadhuta, que não tem senso de orgulho ou vergonha.
Despido, senta-se numa cabana vazia,
Imerso na pura, imaculada felicidade do Ser.

2.

laksyalaksya vivarjita laksyo


yuktayukta vivarjita daksah
kevala tattva niranjana putah
vadavivadah katham avadhutah

Sua realização está além da realização ou não realização;


Seu estado está além da união ou separação;
Está estabelecido continuamente na única Realidade imaculada.
Como pode o Avadhuta falar ou não falar?
3.

asha-pasha vibandhana muktah


shauchachara vivarjita yuktah
evam sarva vivarjita shantah
tattvam shuddha niranjanavantah

Livre do cativeiro dos grilhões da esperança,


Livre do jugo da conduta aceitável,
Livre de tudo, ele alcançou, portanto, a paz.
Ele é o Um imaculado, o puro Absoluto.

4.

katham iha deha-videha vicharah


katham iha raga-viraga vicharah
nirmala nischala gaganakaram
swayam iha tattvam sahajakaram

Para ele, onde está a questão de ser encarnado ou desencarnado?


Onde está a questão de apego ou desapego?
Puro e indiviso como o céu infinito,
Ele é, Ele mesmo, a Realidade na sua forma natural.
5.

katham iha tattvam vindati yatra


rupam arupam katham iha tatra
gaganakarah paramo yatra
vishayikaranam katham iha tatra

Onde está o Ser, como pode haver qualquer conhecimento?[41]


Como pode haver formas ou ausência de formas?
Onde está o Supremo, infinito como o céu,
Como pode haver alguma diferenciação de objetos?

6.

gaganakara nirantara hamsah


tattva vishuddha niranjana hamsah
evam katham iha bhinna-vibhinnam
bandha-vibandha vikara vibhinnam

O Ser é indiferenciado, como o céu sem forma;


O Ser é a pura e imaculada Realidade.
Para Ele, como pode haver diferença ou não-diferença,
Escravidão ou libertação, divisão ou mudança?
7.

kevala tattva nirantara sarvam


yoga-viyogau katham iha garvam
evam parama nirantara sarvam
evam katham iha sara-visaram

Só existe uma Realidade: o Todo indiferenciado.


Como, então, poderia haver união, separação, ou orgulho de realização aqui?
Ele é o Supremo, o Todo indiferenciado;
Aqui, como poderia haver alguma substância ou não-substância?

8.

kevala tattva niranjana sarvam


gaganakara nirantara shuddham
evam katham iha sanga-visangam
satyam katham iha ranga-virangam

Existe apenas o imaculado, a Realidade abrangente;


É um Céu claro, puro, e contínuo.
Aqui, como poderia ocorrer associação ou dissociação?
Na Realidade una, como poderia haver algum relacionamento ou rompimento
de relacionamento?
9.

yoga-viyogai rahito yogi


bhoga-vibhogaih rahito bhogi
evam charita hi mandam mandam
manasa kalpita sahajanandam

Como um yogi, ele está além da união e separação;


Como um bhogi (apreciador), ele está além do prazer e não-prazer.
Desta maneira, ele vagueia calmamente, calmamente,
Enquanto na sua mente surge a felicidade natural do Ser.

10.

bodha-vibodhaih satatam yukto


dvaitadvaitaih katham iha muktah
sahajo virajah katham iha yogi
shuddha niranjana samarasa bhogi

Como pode alguém que está continuamente ligado pelo conhecimento e


ignorância
Tornar-se livre da dualidade e não-dualidade?
Como um yogi se torna natural e desapegado?
Conscientizando-se de que ele é a Pureza imaculada, o apreciador da bem-
aventurança inalterável.
11.

bhagnabhagna vivarjita bhagno


lagnalagna vivarjita lagnah
evam katham iha sara-visarah
samarasa tattvam gaganakarah

O Destruidor está além da destruição e da não-destruição;


O Sustentador está além da sustentação e da não-sustentação.[42]
Efetivamente, como poderia a substância ou a dissolução da substância existir
aqui?
A Realidade é imutável, como o céu sem forma.

12.

satatam sarva vivarjita yuktah


sarvam tattva vivarjita muktah
evam katham iha jivita maranam
dhyanadhyanaih katham iha karanam

Sendo sempre um com tudo, porém livre de tudo,


O liberto está além de toda a manifestação (tattvas).
Efetivamente, como poderia haver qualquer nascimento ou morte aqui?
Como se pode, aqui, meditar na forma ou no sem-forma?
13.

indrajalam idam sarvam


yatha maru-marichika
akhanditam anakara
vartate kevalah shivah

Tudo isto [este mundo] é evocado por magia;


É apenas a água da miragem do deserto.
Além de todas as diferenças, além de todas as formas,
Verdadeiramente, existe apenas Shiva.

14.

dharmadau moksha paryantam


nirahah sarvatha vayam
katham raga-viragaish cha
kalpayanti vipashchitah

Estamos completamente além de tudo[43] –


Desde o cumprimento das obrigações até a realização da libertação.
Como, então, poderiam aqueles que professam a sabedoria imaginar
Que possuímos apego ou desapego?
15.

vindati vindati na hi na hi yatra


chando-laksanam na hi na hi tatra
samarasa magno bhavita putah
pralapati tattvam param avadhutah

Naquele estado em que não se sabe nada em absoluto,


Este conhecimento versejado nem sequer existe.
Então, agora, enquanto eu estou no estado de samarasa,
Eu, o Avadhuta, falei do supremo Absoluto.

iti shri dattatreyavirachitayam avadhuta-gitayam


swami-kartika samvade swatma-samvittyupadeshe
saptamo adhyayah

Nesta “Canção do Avadhua”, composta por Sri Dattatreya,


Neste diálogo entre Swami e Kartika, Chamado Ensinamentos Sobre a
Sabedoria do Ser,

Este é o Sétimo Capítulo.


Sobre Swami Abhayananda
Tradutor da versão Sânscrita, Swami Abhayananda nasceu em Stan
Trout em Indianapolis, Indiana, em 14 de Agosto de 1938. Depois de concluir
o serviço militar na Marinha, estabeleceu-se no norte da Califórnia, onde
prosseguiu os seus estudos em filosofia e literatura. Em Junho de 1966 ele
tomou conhecimento da filosofia do misticismo, e experimentou um forte
desejo para realizar Deus. Abandonando todas as outras atividades, recolheu-
se a uma vida solitária em uma cabana isolada nas florestas da montanha perto
de Santa Cruz, Califórnia; e em Novembro do mesmo ano tornou-se iluminado
pela graça de Deus.
Passou mais quatro anos na sua cabana isolada, e subsequentemente
conheceu Swami Muktananda, que visitou Santa Cruz em 1970. Pouco tempo
depois, ele juntou-se a Muktananda na Índia, como seu discípulo; e, mais
tarde, viveu e trabalhou no ashram de Muktananda em Oakland, Califórnia. Foi
lá que traduziu, em 1977, A Canção do Avadhuta. Em Maio de 1978,
regressou à Índia e foi iniciado pelo seu mestre na antiga ordem dos monges
Saraswati, e foi-lhe dado o nome monástico de Swami Abhayananda, “a
bênção da audácia.”
Nos anos seguintes ele ensinou meditação em várias cidades, através
dos Estados Unidos, mas em 1981, pouco disposto a aceitar o que viu como
abuso de poder, Abhayananda abandonou a organização de Muktananda, e
partiu para o retiro mais uma vez, desta vez por sete anos, a norte de Nova
Iorque, onde escreveu vários outros livros. Atualmente, Swami Abhayananda
reside na área de Olympia no estado de Washington, onde continua a ensinar,
escrever e publicar as suas obras sobre o conhecimento do Ser.
Glossário
Avadhuta - Um místico ou santo iluminado, que “anda livremente sob a face
da terra”, além da consciência egóica e sem preocupação com etiquetas
sociais e padrões de conduta.

Bhogi - Uma pessoa que dedica seu tempo à busca de prazeres do corpo e
luxúria. A antítese de um yogi.

Brahma - O Deus criador da trindade hindu. Veja Shiva.

Brahman - O Absoluto impessoal do hinduísmo; o Ser Supremo. Não


confundir com Brahma, que é a primeira divindade da Trindade hindu, a quem
cabe a criação do mundo.

Corpo causal - Segundo a filosofia Hindu o termo “corpo” compreende cinco


revestimentos (kosas), que velam e limitam a “Realidade” ou o “Ser”. Fala-se
dos cinco revestimentos correspondendo a três corpos, que, conjuntamente,
recebem o nome de “corpo”. São eles:
(a) o corpo físico ou que corresponde ao revestimento annamayakosa,
o corpo grosseiro;
(b) o corpo sutil ou mental, composto pelos revestimentos
pranamayakosa (cuja função é manter a vida através da respiração e forças
vitais sutis), manomayakosa (composto de manas ou “mente”, responsável
pelas sensações e pensamentos), e vijnanamayakosa (o intelecto ou
consciência discriminativa); e
(c) o corpo causal, que corresponde ao revestimento anandamayakosa
(“corpo da ignorância” ou “corpo da beatitude” – veja glossário). Os três
corpos relacionam-se também aos três estados da mente: o corpo físico ao
estado de vigília; o corpo sutil ao estado de sonhos; e o corpo causal que se
relaciona ao estado de sono profundo (não sendo nada além de um estado de
ignorância ou inconsciência no qual o ego e a mente subsistem apenas de
forma latente).

Gunas - As três qualidades básicas de toda manifestação: rajas (atividade,


movimento), tamas (inércia), e sattva (equilíbrio, harmonia).

Guru - Literalmente, “aquele que remove a escuridão”; um mestre ou tutor


espiritual; o iluminado que funciona como Mestre.

Karma - Literalmente significa “ação”, mas é também frequentemente


utilizado com o significado de “consequências das ações” e “destino”. O
karma é um elemento comum em todas as religiões orientais. É uma teoria que
declara que cada indivíduo deve experimentar os frutos de suas ações
(karmas); boas ações trazem bons resultados e más ações trazem o sofrimento
como consequência. Ainda, o karma é dividido em três espécies: sanchita
karma (o depósito de todo karma passado); prarabdha karma (muitas vezes
traduzido como “destino”, é a parte do sanchita karma que será trabalhada na
presente vida), e agami karma (o novo karma acumulado na presente vida e
que dará frutos em vidas futuras).

Maya - Ilusão. Literalmente, “aquilo que não é”. No aspecto cosmológico, é o


poder ou aspecto criativo de Brahman, que faz manifestar todo universo. É o
que faz com que vejamos apenas a sobreposição (cobra-fenômenos) e não a
Realidade que é o substrado (corda-Consciência).

Nirvana - Estado de iluminação (“Jnana”), ou libertação (“moksha”, “mukti”),


além de todo o sofrimento e ilusão.

Prakriti - “Natureza”, ou “Matéria”, que possui as três gunas como


qualidades. Significa o universo manifesto, com forma, em oposição à
Purusha, que é o Espírito ou Ser.

Purusha - Sinônimo de Ser (atman), ou Consciência Transcendente.

Rajo-guna, rajas - “Atividade” ou “agitação”, uma das três qualidades


primárias (gunas); sua cor é o vermelho. Veja tamas, sattva, gunas.
Samadhi - Sri Ramana Maharshi utiliza esse termo para se referir ao estado de
experiência direta ou absorção no Eu Real. Normalmente, contudo, refere-se a
um estado ou transe de superconsciência, normalmente beatífico, no qual a
consciência humana é transcendida.

Samarasa - Literalmente, “mesmo saber”. É um estado periférico de


equilíbrio no qual o iluminado preserva a consciência do Ser, enquanto
mentalmente perceptivo do mundo como sua própria manifestação.

Sattva-guna, sattva - “Pureza, harmonia”, uma das três qualidades primárias


(gunas); sua cor é o branco.

Shakti - “Poder”. É a Energia, Atividade ou Força de algum Aspecto Divino.


Na mitologia hindu um Aspecto ou Princípio Divino é representado como um
Deus e sua Energia ou Atividade é representada como sua esposa. É a
“esposa” de Shiva.

Shiva - Terceira divindade da Trindade hindu, representa o princípio da


Destruição, Morte e Renovação. Os outros dois princípios são representados
por Brahma (o Criador) e Vishnu (o Mantenedor). Muitas vezes essa palavra é
utilizada como sinônimo de Eu Real, ou Absoluto (Brahman), principalmente
em regiões da Índia onde predomina o Shivaismo. Pronuncia-se “xiva”.

Tattvas - “Estado de isso”. Pode significar “Realidade” ou “categoria de


existência”. De acordo com a escola filosófica samkhya, fala-se da existência
de vinte e quatro ou trinta e seis tattvas, que são os elementos e princípios
formadores de todos os fenômenos na manifestação.

Tamo-guna, tamas - “Obscuridade, inércia”, uma das três qualidades


primárias (gunas); sua cor é o preto. Veja rajas, sattva, gunas.

Vedas - Quatro coleções de escrituras datando de 2.000 a 500 a.C., e que são
a fonte última de autoridade no Hinduísmo.

Yoga - Literalmente, “União”. Um dos seis sistemas ortodoxos da filosofia


hindu, que parte do ponto de vista da dualidade (dvaita) para chegar à união
com Brahman, o Absoluto. Muitas vezes é usado como sinônimo de Raja Yoga
ou Ashtanga Yoga, que é um sistema de Yoga que envolve regras de conduta,
prática de posturas físicas, exercícios respiratórios e meditação. Às vezes
utilizado como sinônimo de “caminho”.

Yogi - Praticante do yoga (raja yoga em especial). Às vezes também é usado


para significar aquele que alcançou sucesso no Yoga (alcançando a
Iluminação).
[1] FEUERSTEIN, Georg. Enciclopédia de Yoga da Pensamento. São Paulo:
Editora Pensamento, 2005. p 199. [Niraj]
[2] Como Brahman, o Ser, está eternamente além das atividades de Maya, não
se pode dizer que as ações ou os resultados das ações (karma) influenciam o
Ser.
[3] As palavras “dia” e “noite” são usadas aqui para transmitir múltiplos
significados: elas podem significar o dia da manifestação universal e a noite
da dissolução; ou simplesmente a alternância diária da luz do dia e escuridão.
O Avadhuta salienta que estas alternâncias não afetam o Brahman; o Ser é
sempre, um, sempre o mesmo, independentemente do aparecimento ou
desaparecimento do mundo.
[4] Nas Escrituras Vedânticas, a frase Tat tvam asi (“Tu és Aquilo”), refere-se
a Brahman, O Absoluto. Igualmente, o popular neti neti (“não isto, não isto”),
refere-se ao mundo da aparência (Maya), constituído, de acordo com a
cosmologia Vedântica, pelos cinco elementos básicos: fogo, água, terra, ar, e
éter.
[5] O autor, aqui, faz referência a uma metáfora muito utilizada nas escrituras
hindus: o jarro (corpo físico) e o espaço (Consciência). [Niraj]
[6] Referência, aqui, é ao sistema de quatro “estágios de vida” (ashramas) do
Hinduísmo. Os quatro estados são: Estudante (brahmacharya), pai de família
(grihastha), retirado (vanaprastha) e renunciante (sannyasa). [Niraj]
[7] A prática spiritual, prescrita em diversos Upanishads e outros textos da
não-dualidade, é de se “focar no Ser”. A pergunta retórica aqui é: como pode
você (sujeito da meditação) e o Ser (“objeto” da meditação) serem duas
coisas separadas? [Niraj]
[8] O autor nega a existência de qualquer realidade fundamental que não seja o
Absoluto, Brahman. Maya, enquanto parece existir, não existe. Não existe
segundo, nenhuma sombra acompanhante, contígua ao Brahman. É o próprio
Brahman que aparece como o mundo; e enquanto Maya é um termo usado para
significar a aparência do mundo, não lhe deve ser dado um estado
independente enquanto realidade, em acréscimo a Brahman.
[9]Os diversos estados de consciência, de acordo com a psicologia
tradicional Vedântica, ocorrem nos quatro corpos interligados: consciência
desperta no corpo físico, sonho no corpo sutil (astral), sono profundo no corpo
causal, e samadhi no corpo supra-causal. Uma vez que todos estes corpos são
produtos de Maya, que é apenas aparência, os quatro estados de consciência
são igualmente apenas ilusórios não possuindo nenhuma realidade eterna.
[10]É o corpo, a mente, e os sentidos que “agem” e que “desfrutam” dos
resultados das ações e experiências. Quando há identificação da Consciência
com o corpo-mente, há a ilusão de que nós somos o agente e o desfrutador.
[Niraj]
[11]Prakriti e Purusha são sinônimos de Maya e Brahman, ou Shakti e Shiva.
Prakriti, contudo, é a aparência manifestada de Purusha; eles são a mesma
coisa, como água e gelo. A matéria contudo é a aparência do Espírito; a
distinção entre eles é, em última análise, ilusória.
[12] Aqui, como em diversos outros versos, o Avadhuta rejeita conceitos
essências da espiritualidade – o Guru, a iniciação, a disciplina (sadhana) –
porquanto já os transcendeu. [Niraj]
[13] Veja o glossário para explicação do termo. [Niraj]
[14] Tudo isso – ensinamentos, yoga, Samadhi – é tido como sendo a causa da
Sabedoria, ou Conhecimento do Ser. Como o Ser é a única realidade, o
Avadhuta nega que o Ser seja “realizado” por qualquer um desses meios.
[Niraj]
[15] Maya, o mundo da aparência, de acordo com a tradição Vedântica
consiste de três formas da mesma energia, pela qual opera a manifestação de
todas as formas. Essas são os gunas (“qualidades” ou “filamentos”), que
compõem todo o tecido da natureza. Um é uma forma positiva, ou ativa, de
energia, chamado rajas; outro é uma forma negativa, ou inibidora, de energia,
chamado tamas; e o terceiro é uma forma neutra ou equilibrada, de energia,
chamado sattva. Estas são as três formas de energia de Maya. Entretanto,
Brahman – ou seja, o Ser –, é totalmente não afetado pela manifestação desses
gunas. É nirguna – além dos gunas.
[16] Veja Glossário para “karma” para mais detalhes. [Niraj]
[17] As escrituras Hindus falam de três estados de consciência: vigília, sonho,
e sono sem sonhos. O quarto estado (turiya) é tido por muitos como o “estado
de Realização”. O Avadhuta, aqui, está falando de algo ainda mais
transcendental – e mais essencial. [Niraj]
[18] “Naquele estado onde não sabemos absolutamente nada” refere-se àquela
consciência do Ser na qual cessou toda a atividade mental. Obviamente, o
autor não podia ter escrito esta canção naquele estado de consciência; mas
agora, como ele diz, ele está no estado de samarasa (literalmente, “mesmo
saber”), um estado periférico de equilíbrio no qual ele preserva a consciência
do Ser, enquanto mentalmente perceptivo do mundo como sua própria
manifestação. Foi durante esse estado que ele escreveu esta Canção.
[19] Veja nota de rodapé número 5.
[20] O Avadhuta, novamente, nega diversos símbolos da prática espiritual
comum. O “uso de cinzas” refere-se a uma prática comum entre ascetas
Shivaistas, na qual eles jogam cinzas no seu próprio corpo. [Niraj]
[21] Dois conceitos centrais na prática do Yoga: a necessidade de obter-se
concentração (meditação, absorção) e “libertação dos sentidos (pratyahara).
[Niraj]
[22] Terra, água, ar, fogo, e éter (akasha). [Niraj]
[23] O Avadhuta parece estar se referindo ao “corpo causal”, um dos três
corpos propostos pelos Upanishads, e o mais sutil. Veja entrada no glossário
para “corpo causal”. [Niraj]
[24] “Com características” (saguna) é a manifestação, o universo, maya.
“Sem características” (nirguna) é o Brahman não-manifesto, o absoluto.
[Niraj]
[25] Veja entradas do glossário para rajo-guna, tamo-guna e sattva-guna. O que
é implicado, aqui, é que o mundo em suas diversas características e
manifestações não afeta o Ser. [Niraj]
[26] “Os três tipos de tempo” refere-se ao passado, presente e futuro.
Brahman está totalmente além do espaço e do tempo, e não pode ser
considerado, portanto, como existindo em nenhum tipo de tempo.
[27] A referencia, aqui, é a uma discussão filosófica quanto à interpretação
dos Vedas a respeito da Criação. Alguns defendem que Brahman é a causa do
universo (dualistas); outros alegam que Brahman, sendo real, não pode ser
causa direta do universo irreal, e que Brahman permanece sempre como é, sem
qualquer alteração (não-dualistas). [Niraj]
[28] Os Vedas falam em “ciclos cósmicos” de criação e dissolução de
universos. O Avadhuta nega a existência dessas coisas no estado do Ser.
[Niraj]
[29] AUM é dito ser o som primordial (a Palavra, ou Logos), e é sinônimo de
Maya, o Poder criativo de Brahman da manifestação. AUM, como Maya, é
portanto essencialmente idêntico a Brahman, e não tem existência
independente de Brahman.
[30] A letra maiúscula, aqui, faz referência à Causa suprema (Brahman).
[Niraj]
[31] “Recipiente da alma” refere-se ao corpo, ou “jarro”. [Niraj]
[32] Veja glossário. [Niraj]
[33] Referência a várias metáforas sobre o corpo, mencionadas nas escrituras.
[Niraj]
[34] Os textos Hindus falam de “libertação no corpo” (jivanmukti) e
“libertação sem corpo” (videhamukti) – esta se dá quando o iluminado
desencarna. [Niraj]
[35] A inquirição é a principal forma de despertar espiritual ensinada pelos
textos Hindus da não-dualidade (Advaita). O Ser é o que é, independentemente
de haver inquirição ou não; esta serve apenas para liberar a mente
“individual”. [Niraj]
[36] Veja nota de rodapé número 17.
[37] A “nuvem” e a “chuva” são usadas aqui como metáforas para representar
a divisão artificial entre o Criador e o criado, entre Brahman e Maya, Shiva e
Shakti, o Eterno e sua aparência.
[38] Veja nota número 5.
[39] Veja nota número 6.
[40] Veja nota número 34.
[41] “Conhecimento” pressupõe a existência de um sujeito conhecedor e um
objeto conhecido. Como o Ser é um-sem-segundo, e não há separação, como
pode-se falar em conhecimento no estado de realização do Ser? [Niraj]
[42] Brahman, o Absoluto, é tradicionalmente representado como tendo três
características: O Criador (Brahma), o Sustentador (Vishnu), e o Destruidor
(Shiva). Isso refere-se ao aparecimento cíclico, sustentação da vida, e
desaparecimento do universo fenomenal. Mas, diz o Avadhuta, todas estas
abstrações são apenas Brahman; e como nada além do próprio Brahman
existe, nada é realmente criado, nada é destruído.
[43] O termo da tradução inglês (“oblivious”) pode ser traduzido como
“esquecer”. O Avadhuta “esquece” de tudo porque está além de tudo, no Ser e
enquanto Ser. [Niraj]

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