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COMO ESTRUTURAR SUA SESSÃO DE MEDITAÇÃO

por Khamtrul Rinpoche III

Antes de iniciar a sessão e em todos os momentos, como método para que sua mente
siga o Dharma e garanta as condições para despertar a diligência para a prática,
reflita sobre pontos como os seguintes: a dificuldade de obter as oportunidades
proporcionadas por uma existência humana, a impermanência e a certeza da morte,
a falta de conhecimento sobre quando morrerá e a utilidade do Dharma sagrado após
a morte, pois, diferentemente dos meros objetivos momentâneos desta vida, ele será
extremamente importante para todas as suas vidas.

Quanto à parte principal da sessão, realize as preliminares extraordinárias. Em


termos de refúgio e bodhichitta, ofereça prostrações. Limpe os obscurecimentos do
seu corpo, fala e mente [através da prática de Vajrasatva]. Acumule as coleções [de
mérito e sabedoria] oferecendo mandala. Através da guru yoga, suplique ao seu guru
e receba sua bênção. Execute todas essas etapas da prática com a maior precisão
possível.

Então, externamente, observe os pontos-chave da postura física, os sete pontos de


Vairochana. Interiormente, observe os pontos-chave da fala mantendo-se em silêncio.
Secretamente, observe os pontos-chave da mente. Se a sua mente, a base, estiver
distraída e esquecida, isso fará com que você vagueie no samsara. Se você se
purificar, reconhecer sua face original e permanecer em seu estado natural, então
você despertará para o estado búdico. A raiz de todo o samsara e nirvana é a sua
mente. Essa mente nunca te abandona. Em todas as suas vidas passadas e futuras,
aquilo que forma o carma positivo ou negativo, e experimenta toda a felicidade ou
tristeza resultante disso, é também a sua própria mente. Confirme que a raiz do
samsara e do nirvana é precisamente a sua própria mente, a base e a criadora de
tudo. Sendo sua própria mente a raiz do samsara e do nirvana, segue-se que é
realmente muito importante domá-la. Esteja convencida e confie que a raiz de todos
os caminhos, o coração de todas as meditações, o ponto crucial de todos os caminhos
do Dharma, a própria raiz de tudo, é precisamente esse saber plenamente atento,
nutrido por você mesma que sustenta sua mente presente e não iludida.

No estado de atenção plena sem distração, pode haver quietude ou movimento do


pensamento, dependendo se a mente permanece imóvel ou divaga. Em ambos os
casos, tendo esta confiança e convicção, não faça alterações; preserve o fluxo natural
de não esquecer a condição de permanecer, seguir ou o que quer que a mente faça ou
pense. A quietude e o movimento do pensamento são como a água e suas ondas; não se
pode dizer que embora a água seja boa as suas ondas sejam más ou que sejam
diferentes umas das outras. As ondas surgem da própria água e também desaparecem
na água. Da mesma forma, a natureza da sua mente é tal que a quietude é a sua
essência e os inúmeros movimentos do pensamento são o seu brilho natural. A
quietude “boa” não vem de outro lugar, nem o movimento de pensamento “ruim”
surge de nenhum outro lugar. A mente da quietude e a mente do movimento não
existem separadamente. Não importa quão diversos sejam os pensamentos, todos eles
surgem do brilho natural da natureza básica da mente. Como as ondas que se
dissolvem na água, os pensamentos desaparecem por si próprios na natureza da
mente; eles não existem separados dela. Esperando que haja quietude, você a
persegue; pensando que se não houvesse pensamentos, você tenta impedi-los. Não se
entregue a tais correções, perseguindo algo e impedindo outra coisa. Quando estiver
imóvel, observe que existe quietude e não esqueça sua condição [essencial]. Além
disso, ao ter todos os tipos de pensamentos – um pensamento, dois pensamentos, um
pensamento bom, um pensamento ruim – reconheça a condição [essencial] desse
movimento e sustente-a sem esquecê-la. Quando você esquecer e se distrair, restaure
sua determinação e mantenha sua continuidade. Se você se tornar consciente de um
objeto externo, como uma forma vista pelos olhos, permaneça nessa percepção sem
distração. Quando os ouvidos ouvirem um som, mantenha a atenção plena nessa
percepção auditiva. De maneira semelhante, sejam formas, sons, cheiros, sabores ou
texturas, em cada caso descanse nela sem esquecer. Se surgirem pensamentos de bom
ou mau, de gostar ou não de gostar delas, não caia nessa ilusão, mas observe o que
quer que ocorra com atenção plena e sem distrações.
Assim, através do equilíbrio meditativo, mantendo unidirecionalmente os
pontos-chave do corpo, da fala e da mente, permaneça sem distrações. Depois, ao final
da sessão, dedique o mérito. Em particular, quando você não está descansando
equilibradamente em meditação formal, enquanto se move, senta, come, bebe,
trabalha, no lazer, ocupado, deitado, em pé, conversando, recitando preces, e assim
por diante, em todas as suas atividades diárias sempre proceda como segue. Primeiro,
apreensiva de que sua mente possa estar distraída, seja cuidadosa e zelosa e, por meio
do conhecimento consciente e do não esquecimento, estabeleça a base. Segundo,
quando você esquecer, reaviva sua atenção plena por meio da determinação.
Finalmente, mesmo que você esqueça, continue a partir daí e restaure a atenção
plena repetidas vezes. Nunca separe a prática do saber plenamente atento e
cuidadoso [nas atividades comuns] da parte principal da meditação [formal]. Capture
esse ponto de não separação tanto quanto você puder. Se você sempre nutrir a
atenção plena e o cuidado, eles melhorarão constantemente. Sem se tornar vítima do
carma negativo da preguiça, indolência, distração ou lassidão, você deve ampliar a
presença da essência do equilíbrio meditativo, a conquista final de suas vidas,
esforçando-se continuamente para ser tão diligente quanto possível.

* * *

Trecho extraído do livro “The Royal Seal of Mahamudra, Volume 1”

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