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Roteiro Peça:

Capitães da areia

CENA1 (CARTAS À REDAÇÃO)


(Não há cenário, apenas três cadeiras. Entra: Jornalista, Padre,
Soldado1 e o menino)

Estilo entrevista(Helena)

Jornalista: “As aventuras sinistras dos capitães da areia/ A


cidade infestada por crianças que vivem do furto/ Urge uma
providência do chefe do orfanato e da polícia.

Soldado1: “Providencias precisam ser tomadas para que isso


não se repita- Esses muleques precisam de um castigo"

Padre: Esse senhor diretor que vive bêbado e só quer saber


fazer o chicote descer na costa dos filhos dos pobres, deveria
tratar as crianças bem e não torná-las jovens revoltados com
castigos físicos. Tenho visto tudo isso.

Menino: Estive com um deles uma vez... Ele me disse que eu


era tolo e não sabia brincar. Eu disse que tinha muitos
brinquedos e uma bicicleta. Ele disse que tinha a rua e o cais.
Fui gostando dele, pareceu aqueles meninos de cinema, que
fogem de casa para viver aventuras.

CENA 2: O TAPICHE
(tocar CAPITÃES DE AREIA)
Narrador: Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as
crianças dormem. Parte dos Capitães da Areia dormia no velho
trapiche abandonado, em companhia dos ratos, sob a lua
amarela. Na frente, a vastidão da areia, uma brancura sem fim.

CENA 3- CAPOEIRA (MÚSICA PARANAUÊ.)


(Pedro Bala e Ezequiel)
Pedro Bala: ´´É O QUE DISGRAÇA?´´ Chegou a hora, seu
covarde. Vai aprender, nós não tenta matar os nosso.
Ezequiel: Pode vir Bala, tenho medo não. Vou lhe rasgar a
cara.
(Acontece toda a luta.)
(Boa vida e Professor entram para separar a briga)
Boa-Vida:Ê DISGRAÇA... QUE AGUNIA É ESSA AÍ!!
Professor: QUE ISSO AE MINHA GENTE!
Ezequiel: Dessa vez tu escapou viu bala, mais reze para que
não tenha outra.
Pedro Bala: Misera... tá achando que isso é bagunça fi de
quenga.

CENA 4: APRESENTAÇÃO DOS PERSONAGENS


(Entra Boa-vida com o jornal na mão ...)
Sem-Pernas: Passe pa cá o jornal Boa Vida! (Grita da coxia)
Boa-Vida: Vem pega teu aleijado!
(A cada descrição o personagem congela..)
Narrador: Boa-Vida era um menino novo, como os outros, pois
a idade deles não passava dos 18 anos, era sossegado e
tranquilo, só buscava o suficiente para se manter feliz, e nunca
fazia muito esforço.
Sem-Pernas: Pega é teu rabo, seu fi de quenga.
Narrador: Sem-Pernas era muito irado, com tudo e todos, e era
deficiente físico, pois tinha uma perna coxa. Ele se mostrava
bem diferente de seu amigo Boa-Vida, pois num passado não
muito distante, foi humilhado por policiais bêbados, que
deixaram o com marcas psicológicas desse episódio, e isso
gerou angústia e revolta em Sem-Pernas, que buscava briga
até com seus companheiros.
Gato: Ohhhh, dá pro professor logo, Bestão!
Narrador: Gato era o Rei das mulheres... Sempre bem
arrumado na medida do possível e com sua incrível habilidade
no baralho e também seus grandes furtos, que deixava a
maioria dos capitães de queixo caído. Ele busca o amor de
Dalva, uma prostituta de 35 anos,que em vezes o chamava de
“frangote”.
Sem-perna:La ele.
Professor: Boa-vida aprendeu a ler só pode, quer tanto ficar
com o jornal, deve ter aprendido com alguma baiana louca
dessa da vida.
Narrador: Professor era o menino mais inteligente do grupo,
sempre antenado com as notícias, sabia desenhar como
ninguém. Sabia muitas histórias, e dessa forma, buscava
entreter seus companheiros nas noites escuras e sombrias do
trapiche. Ele era também um grande conselheiro de Pedro
Bala, na maioria das vezes, passava ideias a ele, ideias que
eram decisivas na hora do furto.
Pedro-bala: Rumbora Boa-Vida, dá logo esse Jornal pro
professor, tu não derruba nem a mulata no arraial, imagina ler
esse papel.
Narrador: Pedro-Bala era o menino mais responsável do
grupo, tinha o cabelo Loiro, diferente de seus companheiros
do trapiche, também tinha uma cicatriz de Navalha no rosto,
que era fruto de uma briga com Raimundo, antigo Líder do
grupo. Tentava ser sempre o mais justo de todos, pois essa
era uma das características de um Líder.
Boa-Vida: Que isso Bala, não lembra daquele dia? Ahhh... To
virado na porra hoje, só vo devolver porque o bala pediu, e que
fique claro..
Todos: Bora Boa-vida, de logo esse jornal.
(Boa-Vida entrega o jornal para o professor...)
Professor: (Começa a ler o Jornal...). Um grupo de crianças
assalta a casa do Comendador José Ferreira. Logo depois de
cercarem a casa, entraram na residência e roubaram objetos
de valor, assustando sua mulher e também seu empregado
que era um Jardineiro, que se armou com uma foice, porém
sem sucesso algum, pois os meninos já tinham saído da casa.
Depois do roubo, o neto do Comendador disse que ficou
entusiasmado com a liberdades deles, disse que viviam
histórias parecidas com a dos filmes. Olha, tem outra matéria,
essa é de uma mulher, ela tá defendendo a gente, tá falando
do reformatório, dizendo que era para o Chefe de Polícia fazer
um visitinha lá, para saber o que realmente acontece naquele
lugar. (Risos)
Gato: Ó pá isso pivete, quebro aquilo tudo!
Professor: Acho que o povo do jornal tá querendo que a gente
vá pro reformatório.
Boa-Vida: Tem mulher lá.
Gato: Esse moleque só pensa em mulher.
Boa vida: E quem te perguntou alguma coisa? Vá pegar a
Dalva, tá te esperando pra você fazer um favor para ela (Risos)
(Gato e Boa-Vida se atracam...)

Pedro Bala: Ohhh, paro a graça, temos que armar logo um


outro roubo, e o suíte dessa vez tem que ser ligero.
Professor: Eu te ajudo Bala.
(Pedro Bala balança a cabeça de modo a confirmar.)
(Gato, Boa-Vida e Sem-Pernas saem de cena. Só fica
Professor e Pedro Bala na cena.)
Professor: Querido disse que tem um trabalho pra nós...
Pedro-Bala: Trabalho onde?
Professor: Não sei explicar direito, ele disse que é na casa de
um burguês aí..
Pedro-Bala: Porreta, chama o Gato e o João Grande também.
(Entra João Grande)
João Grande: Ê Bala, Gato e boa-vida tão se atacando ali
atrás;
Narrador: João Grande era um negro alto, gostava muito da
capoeira, era de enorme força física, porém pouco ágil nas
lutas que aconteciam no trapiche, ele ouvia e via também
coisas estranhas de vem em quando, e não era um dos mais
inteligentes do grupo, porém sua personalidade conquistava a
todos.
Professor: Ô grande, vai ter um robo e a gente quer ajuda sua.
João Grande: Pode contar comigo professor.
(Querido entra)
Querido: Bora bora bala… tá ficando tarde e González tá
esperando.
Narrador: Querido-de-Deus, mais conhecido como Querido,
era um capoeirista, era pescador também, adorava os
meninos, e em vezes lutava com Pedro e Gato, usando suas
habilidades na capoeira.
Pedro Bala: Já vou querido, dessa vez a gente rico.
(Saem rindo)
Narrador: Naquela noite Querido de Deus levou Pedro Bala
para conhecer o mandante do assalto o Senhor González

Cena 5: (Boa-Vida, Pedro Bala e Maria José) [Pedro Bala e


Boa-Vida vão caminhando pela rua até se depararem com uma
grande casa que pode render um bom assalto param na
fachada e começam a conversar com Maria José para melhor
observarem a casa e Bala aproveita para flertar com a
empregada]
(Abre a cortina)
Na rua, Pedro Bala e Boa-Vida conversam....
Boa-Vida: Pô pivete, fiquei sabendo que na casa de graça tem
umas coisas de ouro da ora, viu véi.
Pedro Bala: Então mais tarde nóis vai.
Boa-Vida: Fecho.
Boa-Vida: Me falaram que aí só mora dois velhos, hein?!
Pedro Bala: Massa né veí...
(Maria José, a empregada, sai para o jardim.)
(Observam a casa.)
Pedro Bala: Se o Professor visse isso ficava doidinho...nunca
vi tanto pegadio com livros e pintura.
Boa-Vida: Ele vai fazer uma pintura como eu, desse
tamanho...
(Boa-Vida mostra o tamanho com as mãos.)
(Pedro Bala assovia para a empregada.)
Boa-Vida: Ê pacote, hein Bala...
Pedro Bala: Fique na sua, boa-vida.
Maria José: O que vocês querem?
(Pedro Bala tira o boné.)
Pedro Bala: Podia dar uma caneca de água pra gente, por
favor? O sol tá de racha...
(Sorria limpando com o boné a testa.)
Boa-Vida coloca o pé em cima da grade do jardim.
Maria José: Tira a pata daí de cima! (Sorrir para Pedro Bala.)
Trago a água já.
(Maria José entra na casa e volta com dois copos de água.
Bebem a água.)
Pedro Bala: Muito obrigada- e baixinho- lindeza.
Maria José: Frangote atrevido! Vá se embora
Saíram.
Pedro Bala: Aquela tá no papo...
Boa-Vida: Também com essa cabeleira de mulher, toda cheia
de cachos...
(Bagunça cabelo de Pedro bala)
Pedro Bala riu.
Pedro Bala: Deixa de inveja, mulato pachola.
Boa-Vida desvia a conversa.
Boa-Vida: E o ouro?
Pedro Bala: É trabalho pro Sem-Pernas...amanhã ele dá um
jeito de embocar na casa e passar uns dias morando. Depois
que souber onde fica o troço a gente vem, uns cinco ou seis,
tira o ouro...
(Olharam novamente para a casa e Pedro Bala acena com a
mão para a empregada.)
Boa-Vida: Oh peste de sorte, nunca vi...
(Fecha a cortina)

Cena 6
(Abre a cortina)
(Ester, Sem-Pernas, Maria José e Raul)
[Sem-Pernas vai até a porta da casa pede abrigo por ser órfão
e Ester comovida com a miséria do menino coloca-o para
dentro e lhe apresenta a Raul que promete o levar ao cinema ]
No dia seguinte...
Sem-Pernas: Ô de casa!
Ester: Que é, meu filho?
Sem-Pernas: Dona, eu sou um pobre órfão...
Ester: Pode dizer, meu filho - olhava os farrapos do Sem-
Pernas - Diga!
Sem-Pernas: Não tenho pai e faz poucos dias que minha mãe
morreu. Não tenho ninguém no mundo, faz dois dias que não
como e nem durmo direito.
Ester: De que morreu sua mãe?
Sem-Pernas: Deu febre forte nela, e bateu a caçoleta em cinco
dias. Me deixou só no mundo. A senhora não tá precisando de
um menino pra fazer compras, ajudar no dever de casa? Se
quisesse me metia com esses meninos ladrão, com o tal de
Capitães da Areia. Mas quero é trabalhar, tou com fome...
Ester: Entre meu filho. Deixe estar, que vou arranjar um
trabalho para você.
Ester põe a mão na cabeça de Sem-Pernas e diz para a criada:
Ester: Maria José, prepare o quarto para esse menino. Mostre
o banheiro a ele, de um roupão, e depois a comida.
Maria José: Antes de botar o almoço na mesa, Dona Ester?
Ester: Sim, faz dois dias que ele não come, pobrezinho...
Sem-Pernas seca o rosto, onde escorrem as lágrimas
fingidas.
Ester: Não chore - acaricia o rosto da criança - Meu filho.
Sem-Pernas: A senhora é tão boa, Deus lhe paga...
Ester: Como se chama?
Sem-Pernas: Augusto.
Ester: Meu filho também se chamava Augusto...morreu quando
tinha seu tamanho. Mas entre, vá se lavar pra comer.
(Sem-Pernas vai banhar. Dona Ester se senta e levanta
levando consigo um roupão de banho. Sem-pernas veste o
roupão. Raul chega... A empregada leva Sem-Pernas para o
quarto.)
Raul: Passe...
Ester: Sente meu filho, não tenha medo não...
Raul: Você não passará mais fome. Você gosta de cinema?
Sem-Pernas: Gosto, sim senhor.
Raul se despede. (Fecha a cortina)
Sem-Pernas chora.
Ester: Está chorando meu filho?
Sem-Pernas: Não senhora, não estou chorando não.
Ester: Não minta, meu filho... está lembrando da sua mãe?
Abraça Sem-Pernas.
Ester: Agora você tem outra mãezinha que lhe quer bem e fará
tudo para substituir a que você perdeu... não chore, sua
mãezinha fica triste.
Narrador: Sem-Pernas chorava muito, ao pensar que ia
abandonar e, mas que isso, a ia roubar.
Sem-Pernas: a senhora é muito boazinha... nunca vou
esquecer...
Sem-Pernas: Senhora, eu vou sair para andar um pouco pelas
ruas.
Ester: Tudo bem meu filho...
Narradora: Saiu e não voltou. Foi para o trapiche. Enquanto
dormia, Pedro-Bala foi com um grupo para a casa e roubaram
tudo.
(Fecha a cortina)

Cena 7
(Abre a cortina)
(Pedro Bala, Professor e Sem Pernas) [Após o assalto Pedro
Bala mostra os lucros obtidos e Professor mostra toda a
repercussão através do jornal, Sem-Pernas com tudo isso se
sente culpado, chora e se isola de todos]
Chegam ao trapiche...
(Com os objetos de valor da casa da ester)
Pedro-Bala: Amanhã Gonzales dá uma dinheirama por isso.
(Mostrando os objetos valiosos.

Narrador: No dia seguinte…

(Professor entra com um jornal)


Professor: Sem-Pernas! Sem-Pernas! Isto aqui é com tú!
(Mostra a notícia a ele.)
Professor: Ainda não descobriram o furto....
(Sem-Pernas faz que sim com a cabeça.)
Pedro-Bala: Tua família tá te procurando, Sem-Pernas. Tua
mamãe tá te procurando pra dar de mamar a tú...
Sem-Pernas vai para cima de Pedro-Bala com um punhal, mas
os outros os separam. Pedro-Bala levanta as mãos em sinal de
rendição e sai. Sem-Pernas vai para seu canto com olhar de
ódio para todos.
Professor: Capazes de não descobrir nunca o roubo, Sem-
Pernas. Nunca vão saber de você...não se importe, não.
Sem-Pernas: Quando Doutor Raul chegar vão saber...
(Fecha a cortina).

CENA 9
(Abre a cortina)
(Pedro Bala, Gonzalez)
(Gonzalez entregando dinheiro pelo assalto encomendado)

Pedro Bala: Que isso? E o resto?


Gonzalez: Demorou muito, agora sua vez de esperar.. quando
eu passar a mercadoria tú recebe o troco
Pedro bala: Ta me tirando gonzalez? Combinado era receber
tudo agora, nos já entregou tudo
Gonzalez: Procura semana que vem que nos acerta tudo
direitinho... Na confiança
(Fecha cortina)
Narrador: E assim viviam os capitães sempre acreditando na
ilusão de ficarem ricos, mas nunca conseguindo alcançar esse
sonho.

Cena 10: (Dalva)


Gato ( Gato entra, e se encosta na parede)
Dalva entra em cena
Dalva: psiu!! Frangote
Gato: Eu?
Dalva: É tú. Tu pode me fazer um favor?
Gato: fale!
Dalva: leve esse recado, pra Vadinho
(Sai Dalva)
(Entra Vadinho)
Gato entrega o recado
Vadinho: Que qui tu que moleque?
Gato: Vim entregar recado de Dalva
Vadinho: Aquela muer vem se rastejando pra mim, acha
mesmo que eu volto pra ela. Mande ela nunca mais me
procurar.
(Gato pega o dinheiro e sai correndo e Vadinho vai atrás)
Vadinho: Passe pra cá esse dinheiro seu moleque.
(Enquanto eles saem,entra Dalva)
Dalva: E aí, frangote. Que qui Vadinho falo!?
Gato: Falo, que não volta pra você, nem tão cedo.
(Dalva começa a chorar)
Dalva: Esse dinheiro era para minha mãe adoentada lá em
Cachoeira.
(Gato entrega o dinheiro)
Dalva: Até que serve para alguma coisa frangote.
(Começam a se agarrar, mas a cortina fecha)

Cena 11: (Aparição de Dora)


Narrador: Algum tempo depois, Professor e João Grande se
encontravam na cidade jogando gude, em um dia ensolarado,
como outro qualquer. De repente, se deparam com um
menino, chamado Zé Fuinha
(Zé Fuinha entra em cena...)
Logo depois chega uma menina, que aparentava ter 14 anos,
chamada Dora, quando vê Zé Fuinha, que era seu irmão, se
sente aliviada, pois pensou que seu irmão tinha sido
sequestrado.
(Dora entra na cena.)
Dora: Eu não te disse para ficar me esperando...
Professor: Calma, ele só veio olhar.
Dora: Toma, come esse pão que eu trouxe.
João Grande: Ê menina, como ceis veio para aqui?
Dora: Nossa mãe morreu de bexiga, tô procurando um
trabalho pra mim e comida pro Zé Fuinha.
Narrador: Professor e João Grande acabam se comovendo
com a história de Dora, e resolvem propor algo a eles...
Professor: Querem passar essa noite com a gente?
Dora: Não não, vamos dormir na rua mesmo...
João Grande: Essas ruas são muito desertas a noite, e alguém
pode fazer maldade com vocês, prefere ficar inteira ou morta?
(Dora olha para Zé fuinha e respira fundo)
Dora: Tudo bem, vamos!
(Professor, João Grande, Dora e Zé Fuinha saem de cena...)
(Os outros Capitães entram)
(Voltam pra cena com umas trouxas de roupa, Os capitães se
juntam em volta e começam a discutir)
Narrador: Ao chegar no trapiche, Dora causa uma grande
confusão, pelo fato de ser mulher, pois os meninos que ali
viviam nunca tiveram a presença de uma menina no trapiche, e
com isso ficaram um pouco “entusiasmados” com sua
chegada. Boa vida ficou até demais, foi para cima dela e tudo,
mas Professor e João Grande não deixavam, antes protegiam
ela, não permitindo capitão algum encostar nela, Professor
tomou até uma paulada de Boa vida, mas nada de grave.
Depois de alguns minutos, Pedro Bala acaba chegando e
acalmando a situação, Professor conta a história de Dora e Zé
Fuinha para Bala, ele resolve deixar eles dormirem no trapiche,
mas só essa noite, pois a presença dela causava alvoroço
entre os meninos.
(Professor, Pedro Bala e João Grande continuam em cena)
Professor: Que que foi Bala?
Pedro Bala: Essa garota ai Professor, vai deixar esses
moleques doidos!
Professor: Calma Bala, ele só precisa de um lugar pra morar,
ela e o irmão dela, essa garota não tem ninguém...
João Grande: Verdade Bala.
Pedro Bala: Não quero saber, ela vai embora amanhã, o
moleque pode até ficar, ela não!
Narrador: Depois de um tempo, os Capitães da Areia
começaram a criar um afeto por Dora, pelo fato de ela ser uma
pessoa carinhosa e afetuosa com todos, muitos a chamaram
de mãe, inclusive Gato, que mesmo se deitando com Dalva,
sua amante, ainda era um menino que precisava de carinho e
aconchego de uma mãe, e não apenas o corpo de uma
prostituta.
Cena 12:(Professor, Sem pernas, Dora e ...)
(Professor e João grande roubam um homem na praça e
fingem esbarar na Dora e sem perna para escaparem)
Homem: Infelizes...
(Empuram Sem perna para ele cair no chão)
Sem perna: DISGRAÇA
Homem: Roubaram meu relógio
(Dora ajuda SP)
SP: Ajuda aqui
Homem: Escoria bexiguenta, essas pragas não respeitam mais
nem os inválidos, eles roubaram alguma coisa de vocês?
SP: Não não, roubaram não
(Homem sai de cena praguejando, Professor e João grande
entram)
Dora: Você pedindo ajuda foi muito engraçado
(Risos)
SP: Não precisava daquela força toda não, quase que me
avoava no meio da rua
João Grande: Calma sem pernas. é que nós veio no embalo se
viu né Dora
Dora: Nem vi quando você passou o relógio para o sem pernas
(Sem pernas pega o relógio e balança)
SP: Quase que o relógio cai e quebra que nem eu
Professor: Que nada sem perna tu que é meio bambo e cai
fácil
(Saem rindo SP, Dora e João Grande)

(Pedro Bala sai pela coxia para frente do palco...)


Professor: Eae Bala, acho que os garotos tão gostando da
Dora, eles tão dizendo que ela é a mãe do grupo (Risos)
Pedro Bala: To sabendo, ela até se vestiu de menino pra se
misturar (Risos), lembra?
Professor: Lembro... aquela garota é porreta, mãe e
aventureira (Risos)
Pedro Bala: Sim Sim... se ela traz coisa boa, é melhor ela ficar.
(Professoar coloca a mão no ombro do Pedro Bala, e os dois
saem de cena.)

Cena 13: (Briga com ezequiel)


Narrador: Pedro Bala adorava andar pelas ruas da cidade,
assim como Boa-Vida. Um dia passeando pelas vielas da
localidade, se deparou com o grupo de Ezequiel. Ezequiel era
um garoto que foi expulso do grupo a algum tempo, devido a
furtos dentro do trapiche, excluído do grupo pelo próprio
Pedro. Pedro Bala estava com o pensamento em Dora na hora
do encontro, isso mostrava que um sentimento surgia dentro
de seu coração, mesmo sendo apenas uma criança. Isso fez
com que ele se irasse quando Ezequiel disse que existia uma
“vadia” no meu deles, Pedro até tentou bater em Ezequiel
depois dessa ofensa, mas sem sucesso, o grupo de seu velho
colega o imobilizou e Bala tomou um sopapo na cara, que
deixou uma marca no seu rosto. Depois daquele episódio,
Pedro Bala jurou vingança, pois foi atacado por um grupo de
moleques e sem nenhum tipo de defesa. Depois daquela cena,
Bala voltou ao trapiche, com uma marca horrível na cara.
(Sem-Pernas, Pedro Bala, Boa-Vida e Professor entram na
cena...)
Sem-Pernas: Que isso Bala, se machucou assim aonde?
Pedro Bala: Foi o grupo do Ezequiel, me pegou na covardia.
Professor: Esse Ezequiel, sempre comprando briga!
Boa-Vida: Nós tem que pega aquele filhote de xibum!
Pedro Bala: Isso aí Boa-Vida, vamo virar o cão pra cima de
Ezequiel. Chama os líderes todos Professor, temos que pega
um vacilão hoje!
(Sem perna sai de cena)
Professor: Pode deixar Bala!
(Entrar Dora)
D: Sem perna me falou que vocês vão atrás de Ezequiel,
quando que a gente vai lá?
PB: Tô querendo sai assim que o sol cair
Dora: Vou usar a navalha que João grande me deu
Professor e PB: Como é a história?
Professor: Enlouqueceu foi Dora?
Dora: Endoidei não só sei que vou com vocês
(Professor sai negando com a cabeça, Dora e bala se encaram
e dão as mãos)
Dora: Pedro tu que se meu noivo?
Bala: Eu sô o que tu quiser

Cena 14:
(Todos Capitães entram em cena)
PB: Cadê você Ezequiel? Num é tu que é homenzão? Aparece
(Bando de Ezequiel joga uma pedra em alguém dos capitães)
Ezequiel: Trouxeram a putinha pra dividir com a gente foi?
PB: A única puta que eu conheci foi sua mãe
(LUTA DE CAPOEIRA, P.B Pega a navalha)
PB: Essa briga você já perdeu a muito tempo Ezequiel
(Com a navalha no pescoço de Ezequiel)
(SOM DE SIRENE)
Boa vida: OS ZOME
(Policiais chegam pela coxia, todos fogem correndo para
plateia)
(Dora cai e PB vai ajudar só que os dois são pegos)
Dora: BALA, me ajuda
PB: DORA (Se debate, mas não consegue se soltar)

Cena 15: (Fuga da prisão)


Narrador: Bala acaba sendo preso e Dora encaminhada para
um orfanato. Dora sofreu bastante no orfanato, sendo
castigada e obrigada a fazer jejum, contudo, não chegava
perto do que Bala passava, ele não recebia uma alimentação
decente, era colocado dentro de uma cela pequena, na qual
não se podia se levantar nem se mexer normalmente, e ratos o
cercavam. Realmente Bala foi tratado como bicho. Entretanto,
os companheiros de Bala não podiam ficar parados ali
esperando, tinham que fazer alguma coisa, e rápido. Quando
Sem-Pernas descobre que Bala tinha saído da prisão para
trabalhar no canavial, ele deixa um rolo de corda no meio das
moitas de cana, que mais tarde é levado para o quarto de
Bala, facilitando assim sua fuga dali. Com tanta rapidez, que
até as roupas ficaram para trás.
(Jornaleiro passa entrega jornal para plateia e para o professor)

(Abre as cortinas)
Boa-Vida: Bala Bala, sempre surpreendendo (Risos)
Bala balança a cabeça de modo a confirmar, porém sério.
Boa-Vida: Lê o jornal professor.
Professor: Extra, Extra... Pedro Bala foge da prisão!!! Depois
de vários dias de prisão, Pedro Bala, Líder dos Capitães da
Areia foge do reformatório com a ajuda de uma corda,
autoridades acreditam que outros capitães tenham o ajudado
na fuga, mas nada está comprovado ainda.
João Grande: Bala tá famosão!!! (Risos)
Professor: É, depois vão chamar ele pra encenar numa novela
ai da vida...
Boa- Vida: Isso é motivo de festa... Bora pro bar
(Fecha as cortinas)
Cena: Heloisa e companhia tocando música-composição
Cena 16:
Narrador: Não se passou muito tempo depois, e Pedro Bala
começou a sentir saudades de Dora, de seu aconchego e seu
carinho. Quando Dora soube que Bala tinha fugido do
Reformatório, ficou muito alegre, porém, Bala e seus
companheiros precisavam tirar Dora daquele lugar, então
combinaram que ela ficasse na enfermaria esperando a
chegada do resgate.
Freira: Não acredito que você viveu com aqueles bandidinhos,
mas agora você está segura.
Dora: Não fala assim deles- tom de voz brava e tosse- Você
não conhece eles.
Freira: Sei o suficiente pra saber que aqueles lá não prestam.
(Dora vira o rosto)
Alguém bate na porta
Professor: Licença…
(Entra os capitães e freira grita João grande segura ela)
João Grande: Cala boca
(Dora corre e abraça bala)
Dora: Sabia que você vinha me buscar
Pedro bala: Tu é minha noiva num ia te deixa.
Dora: Bala… to doente
Gato: Tem algum vindo
(Todos saem correndo)
Pedro Bala e seus amigos conseguem tirar Dora daquele lugar,
mas com ela explodindo em febre. Na chegada ao trapiche,
Don’Aninha, que era uma mãe de Santo amiga dos Capitães,
faz uma reza forte para curar Dora, enquanto isso, todos os
capitães se mostraram apreensivos com o futuro de Dora, já
que era “Mãe” de todos ali. Saindo Don’Aninha dali Querido de
Deus, vai à procura do Padre José Pedro, outro amigo dos
meninos, que presava pela felicidade deles.
(Padre olha Dora e nega com a cabeça.)
(Todos saem, e Pedro Bala e Dora ficam sozinhos.)
Ainda durante a noite, Bala acorda e coloca as mãos na testa
de Dora, e percebe que ela está fria, que está morta.
(Pedro Bala dá um grito!!!)
Narrador: O grito de desespero do Líder dos Capitães da Areia
podia ser ouvido em todo o trapiche. Todos entram e vê Dora
Morta, e se impressionam com a imagem. Logo o Professor vai
até o quarto de Bala e confirma, Dora está morta! Pedro ficou
arrasado, ele ficava pensando na estrela que Dora se tornava
assim quando morreu, ainda refletindo aquela situação.

ÚLTIMA CENA:
(Narrador aparece na frente do palco com o livro capitães de
areia nas mãos, se senta no banquinho na lateral)
Narrador:
-- Até logo, companheiros...
Companheiros... Palavra bonita, pensa Pedro Bala. Ninguém
dorme mais no trapiche nesta noite. Preparam as mais
diversas armas. Na madrugada que nasce, as estrelas
começam a desaparecer do céu. Mas Pedro Bala parece ver
numa estrela que corre a estrela de Dora que o alegra.
Companheira... Também ela tinha sido uma companheira boa.
A palavra brinca na sua boca, é a palavra mais bonita que ele
já viu.
Companheiros, chegou a hora...
A voz o chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu
coração. Ajudar a mudar o destino de todos os pobres. Uma
voz que atravessa a cidade, que parece vir dos atabaques que
ressoam nas macumbas da religião ilegal dos negros. Uma voz
que vem com o ruído dos bondes onde vão os condutores e
motorneiros grevistas. Uma voz que vem do cais, do peito dos
estivadores, de João de Adão, de seu pai morrendo num
comício, dos marinheiros dos navios, dos saveiristas e dos
canoeiros. Uma voz que vem do grupo que joga a luta da
capoeira, que vem dos golpes que o Querido-de-Deus aplica.
Uma voz que vem mesmo do padre José Pedro, padre pobre
de olhos espantados diante do destino terrível dos Capitães da
Areia. Uma voz que vem das filhas-desanto do candomblé de
Don'Aninha, na noite que a polícia levou Ogum. Voz que vem
do trapiche dos Capitães da Areia. Que vem do reformatório e
do orfanato. Que vem do ódio do Sem-Pernas se atirando do
elevador para não se entregar. Que vem no trem da Leste
Brasileira, através do sertão, do grupo de Lampião pedindo
justiça para o sertão. Que vem de Alberto, o estudante
pedindo escolas e liberdade para a cultura. Que vem dos
quadros de Professor, onde meninos esfarrapados lutam
naquela exposição da rua Chile. Que vem de Boa-Vida e dos
malandros da cidade, do bojo dos seus violões, dos sambas
tristes que eles cantam. Uma voz que vem de todos os pobres,
do peito de todos os pobres. Uma voz que diz uma palavra
bonita de solidariedade, de amizade: companheiros. Uma voz
que convida para a festa da luta. Que é como um samba
alegre de negro, como ressoar dos atabaques nas macumbas.
Voz que vem da lembrança de Dora, valente lutadora. Voz que
chama Pedro Bala. Como a voz de Deus chamava Pirulito, a
voz do ódio o Sem-Pernas, como a voz dos sertanejos
chamava Volta Seca para o grupo de Lampião. Voz poderosa
como nenhuma outra. Porque é uma voz que chama para lutar
por todos, pelo destino de todos, sem exceção. Voz poderosa
como nenhuma outra. Voz que atravessa a cidade e vem de
todos os lados. Voz que traz com ela uma festa, que faz o
inverno acabar lá fora e ser a primavera. A primavera da luta.
Voz que chama Pedro Bala, que o leva para a luta. Voz que
vem de todos os peitos esfomeados da cidade, de todos os
peitos explorados da cidade. Voz que traz o bem maior do
mundo, bem que é igual ao sol, mesmo maior que o sol: a
liberdade. A cidade no dia de primavera é
deslumbradoramente bela. Uma voz de mulher canta a canção
da Bahia. Canção da beleza da Bahia. Cidade negra e velha,
sinos de igreja, ruas calçadas de pedra. Canção da Bahia que
uma mulher canta. Dentro de Pedro Bala uma voz o chama:
voz que traz para a canção da Bahia, a canção da liberdade.
Voz poderosa que o chama. Voz de toda a cidade pobre da
Bahia, voz da liberdade. A revolução chama Pedro Bala.

FIM!

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