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Capitães da areia
Estilo entrevista(Helena)
CENA 2: O TAPICHE
(tocar CAPITÃES DE AREIA)
Narrador: Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as
crianças dormem. Parte dos Capitães da Areia dormia no velho
trapiche abandonado, em companhia dos ratos, sob a lua
amarela. Na frente, a vastidão da areia, uma brancura sem fim.
Cena 6
(Abre a cortina)
(Ester, Sem-Pernas, Maria José e Raul)
[Sem-Pernas vai até a porta da casa pede abrigo por ser órfão
e Ester comovida com a miséria do menino coloca-o para
dentro e lhe apresenta a Raul que promete o levar ao cinema ]
No dia seguinte...
Sem-Pernas: Ô de casa!
Ester: Que é, meu filho?
Sem-Pernas: Dona, eu sou um pobre órfão...
Ester: Pode dizer, meu filho - olhava os farrapos do Sem-
Pernas - Diga!
Sem-Pernas: Não tenho pai e faz poucos dias que minha mãe
morreu. Não tenho ninguém no mundo, faz dois dias que não
como e nem durmo direito.
Ester: De que morreu sua mãe?
Sem-Pernas: Deu febre forte nela, e bateu a caçoleta em cinco
dias. Me deixou só no mundo. A senhora não tá precisando de
um menino pra fazer compras, ajudar no dever de casa? Se
quisesse me metia com esses meninos ladrão, com o tal de
Capitães da Areia. Mas quero é trabalhar, tou com fome...
Ester: Entre meu filho. Deixe estar, que vou arranjar um
trabalho para você.
Ester põe a mão na cabeça de Sem-Pernas e diz para a criada:
Ester: Maria José, prepare o quarto para esse menino. Mostre
o banheiro a ele, de um roupão, e depois a comida.
Maria José: Antes de botar o almoço na mesa, Dona Ester?
Ester: Sim, faz dois dias que ele não come, pobrezinho...
Sem-Pernas seca o rosto, onde escorrem as lágrimas
fingidas.
Ester: Não chore - acaricia o rosto da criança - Meu filho.
Sem-Pernas: A senhora é tão boa, Deus lhe paga...
Ester: Como se chama?
Sem-Pernas: Augusto.
Ester: Meu filho também se chamava Augusto...morreu quando
tinha seu tamanho. Mas entre, vá se lavar pra comer.
(Sem-Pernas vai banhar. Dona Ester se senta e levanta
levando consigo um roupão de banho. Sem-pernas veste o
roupão. Raul chega... A empregada leva Sem-Pernas para o
quarto.)
Raul: Passe...
Ester: Sente meu filho, não tenha medo não...
Raul: Você não passará mais fome. Você gosta de cinema?
Sem-Pernas: Gosto, sim senhor.
Raul se despede. (Fecha a cortina)
Sem-Pernas chora.
Ester: Está chorando meu filho?
Sem-Pernas: Não senhora, não estou chorando não.
Ester: Não minta, meu filho... está lembrando da sua mãe?
Abraça Sem-Pernas.
Ester: Agora você tem outra mãezinha que lhe quer bem e fará
tudo para substituir a que você perdeu... não chore, sua
mãezinha fica triste.
Narrador: Sem-Pernas chorava muito, ao pensar que ia
abandonar e, mas que isso, a ia roubar.
Sem-Pernas: a senhora é muito boazinha... nunca vou
esquecer...
Sem-Pernas: Senhora, eu vou sair para andar um pouco pelas
ruas.
Ester: Tudo bem meu filho...
Narradora: Saiu e não voltou. Foi para o trapiche. Enquanto
dormia, Pedro-Bala foi com um grupo para a casa e roubaram
tudo.
(Fecha a cortina)
Cena 7
(Abre a cortina)
(Pedro Bala, Professor e Sem Pernas) [Após o assalto Pedro
Bala mostra os lucros obtidos e Professor mostra toda a
repercussão através do jornal, Sem-Pernas com tudo isso se
sente culpado, chora e se isola de todos]
Chegam ao trapiche...
(Com os objetos de valor da casa da ester)
Pedro-Bala: Amanhã Gonzales dá uma dinheirama por isso.
(Mostrando os objetos valiosos.
CENA 9
(Abre a cortina)
(Pedro Bala, Gonzalez)
(Gonzalez entregando dinheiro pelo assalto encomendado)
Cena 14:
(Todos Capitães entram em cena)
PB: Cadê você Ezequiel? Num é tu que é homenzão? Aparece
(Bando de Ezequiel joga uma pedra em alguém dos capitães)
Ezequiel: Trouxeram a putinha pra dividir com a gente foi?
PB: A única puta que eu conheci foi sua mãe
(LUTA DE CAPOEIRA, P.B Pega a navalha)
PB: Essa briga você já perdeu a muito tempo Ezequiel
(Com a navalha no pescoço de Ezequiel)
(SOM DE SIRENE)
Boa vida: OS ZOME
(Policiais chegam pela coxia, todos fogem correndo para
plateia)
(Dora cai e PB vai ajudar só que os dois são pegos)
Dora: BALA, me ajuda
PB: DORA (Se debate, mas não consegue se soltar)
(Abre as cortinas)
Boa-Vida: Bala Bala, sempre surpreendendo (Risos)
Bala balança a cabeça de modo a confirmar, porém sério.
Boa-Vida: Lê o jornal professor.
Professor: Extra, Extra... Pedro Bala foge da prisão!!! Depois
de vários dias de prisão, Pedro Bala, Líder dos Capitães da
Areia foge do reformatório com a ajuda de uma corda,
autoridades acreditam que outros capitães tenham o ajudado
na fuga, mas nada está comprovado ainda.
João Grande: Bala tá famosão!!! (Risos)
Professor: É, depois vão chamar ele pra encenar numa novela
ai da vida...
Boa- Vida: Isso é motivo de festa... Bora pro bar
(Fecha as cortinas)
Cena: Heloisa e companhia tocando música-composição
Cena 16:
Narrador: Não se passou muito tempo depois, e Pedro Bala
começou a sentir saudades de Dora, de seu aconchego e seu
carinho. Quando Dora soube que Bala tinha fugido do
Reformatório, ficou muito alegre, porém, Bala e seus
companheiros precisavam tirar Dora daquele lugar, então
combinaram que ela ficasse na enfermaria esperando a
chegada do resgate.
Freira: Não acredito que você viveu com aqueles bandidinhos,
mas agora você está segura.
Dora: Não fala assim deles- tom de voz brava e tosse- Você
não conhece eles.
Freira: Sei o suficiente pra saber que aqueles lá não prestam.
(Dora vira o rosto)
Alguém bate na porta
Professor: Licença…
(Entra os capitães e freira grita João grande segura ela)
João Grande: Cala boca
(Dora corre e abraça bala)
Dora: Sabia que você vinha me buscar
Pedro bala: Tu é minha noiva num ia te deixa.
Dora: Bala… to doente
Gato: Tem algum vindo
(Todos saem correndo)
Pedro Bala e seus amigos conseguem tirar Dora daquele lugar,
mas com ela explodindo em febre. Na chegada ao trapiche,
Don’Aninha, que era uma mãe de Santo amiga dos Capitães,
faz uma reza forte para curar Dora, enquanto isso, todos os
capitães se mostraram apreensivos com o futuro de Dora, já
que era “Mãe” de todos ali. Saindo Don’Aninha dali Querido de
Deus, vai à procura do Padre José Pedro, outro amigo dos
meninos, que presava pela felicidade deles.
(Padre olha Dora e nega com a cabeça.)
(Todos saem, e Pedro Bala e Dora ficam sozinhos.)
Ainda durante a noite, Bala acorda e coloca as mãos na testa
de Dora, e percebe que ela está fria, que está morta.
(Pedro Bala dá um grito!!!)
Narrador: O grito de desespero do Líder dos Capitães da Areia
podia ser ouvido em todo o trapiche. Todos entram e vê Dora
Morta, e se impressionam com a imagem. Logo o Professor vai
até o quarto de Bala e confirma, Dora está morta! Pedro ficou
arrasado, ele ficava pensando na estrela que Dora se tornava
assim quando morreu, ainda refletindo aquela situação.
ÚLTIMA CENA:
(Narrador aparece na frente do palco com o livro capitães de
areia nas mãos, se senta no banquinho na lateral)
Narrador:
-- Até logo, companheiros...
Companheiros... Palavra bonita, pensa Pedro Bala. Ninguém
dorme mais no trapiche nesta noite. Preparam as mais
diversas armas. Na madrugada que nasce, as estrelas
começam a desaparecer do céu. Mas Pedro Bala parece ver
numa estrela que corre a estrela de Dora que o alegra.
Companheira... Também ela tinha sido uma companheira boa.
A palavra brinca na sua boca, é a palavra mais bonita que ele
já viu.
Companheiros, chegou a hora...
A voz o chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu
coração. Ajudar a mudar o destino de todos os pobres. Uma
voz que atravessa a cidade, que parece vir dos atabaques que
ressoam nas macumbas da religião ilegal dos negros. Uma voz
que vem com o ruído dos bondes onde vão os condutores e
motorneiros grevistas. Uma voz que vem do cais, do peito dos
estivadores, de João de Adão, de seu pai morrendo num
comício, dos marinheiros dos navios, dos saveiristas e dos
canoeiros. Uma voz que vem do grupo que joga a luta da
capoeira, que vem dos golpes que o Querido-de-Deus aplica.
Uma voz que vem mesmo do padre José Pedro, padre pobre
de olhos espantados diante do destino terrível dos Capitães da
Areia. Uma voz que vem das filhas-desanto do candomblé de
Don'Aninha, na noite que a polícia levou Ogum. Voz que vem
do trapiche dos Capitães da Areia. Que vem do reformatório e
do orfanato. Que vem do ódio do Sem-Pernas se atirando do
elevador para não se entregar. Que vem no trem da Leste
Brasileira, através do sertão, do grupo de Lampião pedindo
justiça para o sertão. Que vem de Alberto, o estudante
pedindo escolas e liberdade para a cultura. Que vem dos
quadros de Professor, onde meninos esfarrapados lutam
naquela exposição da rua Chile. Que vem de Boa-Vida e dos
malandros da cidade, do bojo dos seus violões, dos sambas
tristes que eles cantam. Uma voz que vem de todos os pobres,
do peito de todos os pobres. Uma voz que diz uma palavra
bonita de solidariedade, de amizade: companheiros. Uma voz
que convida para a festa da luta. Que é como um samba
alegre de negro, como ressoar dos atabaques nas macumbas.
Voz que vem da lembrança de Dora, valente lutadora. Voz que
chama Pedro Bala. Como a voz de Deus chamava Pirulito, a
voz do ódio o Sem-Pernas, como a voz dos sertanejos
chamava Volta Seca para o grupo de Lampião. Voz poderosa
como nenhuma outra. Porque é uma voz que chama para lutar
por todos, pelo destino de todos, sem exceção. Voz poderosa
como nenhuma outra. Voz que atravessa a cidade e vem de
todos os lados. Voz que traz com ela uma festa, que faz o
inverno acabar lá fora e ser a primavera. A primavera da luta.
Voz que chama Pedro Bala, que o leva para a luta. Voz que
vem de todos os peitos esfomeados da cidade, de todos os
peitos explorados da cidade. Voz que traz o bem maior do
mundo, bem que é igual ao sol, mesmo maior que o sol: a
liberdade. A cidade no dia de primavera é
deslumbradoramente bela. Uma voz de mulher canta a canção
da Bahia. Canção da beleza da Bahia. Cidade negra e velha,
sinos de igreja, ruas calçadas de pedra. Canção da Bahia que
uma mulher canta. Dentro de Pedro Bala uma voz o chama:
voz que traz para a canção da Bahia, a canção da liberdade.
Voz poderosa que o chama. Voz de toda a cidade pobre da
Bahia, voz da liberdade. A revolução chama Pedro Bala.
FIM!