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Análise sobre os Livros Sinóticos

Semelhanças e diferenças entre os Evangelhos Sinóticos

Os Evangelhos Sinóticos de Mateus, Marcos e Lucas, não menos que o de João,


não são meras compilações mecânicas das tradições conhecidas por seus autores,
mas sim uma mensagem, escrita à luz da sua singular compreensão de Jesus e das
situações das diferentes igrejas para as quais seus evangelhos foram originalmente
escritos. Dessa forma, ainda que compreendamos que o objetivo comum entre eles
era ensinar sobre o que Jesus disse e fez, não podemos perder de vista que cada
um deles apresentam a sua interpretação dos feitos e da pessoa de Jesus a partir
da tradição que receberam.

Entretanto, os Evangelhos Sinóticos são assim denominados devido a uma


grande quantidade de histórias em comum, na mesma sequência, e algumas vezes
utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras. Tais semelhanças se devem
à dependência comum dos Evangelhos em relação às tradições da igreja primitiva
sobre Jesus que foram mediadas por fontes intermediárias.

Além disso, de acordo com a maioria dos estudiosos do assunto, as


semelhanças entre os Evangelhos Sinóticos, tanto do ponto de vista teológico como
histórico, ocorrem também devido ao uso de materiais comuns. Em geral, estes
estudiosos concordam que os três evangelistas, uns mais do que outros, tiveram
acesso a uma fonte perdida que ficou conhecida como “a fonte Q”. No entanto, tais
semelhanças, entre os Evangelhos sinóticos não param por aí.

Existe uma estimativa aproximada que indica que o Evangelho de Marcos possui
cerca de 90% de seu material similar ao de Mateus e de Lucas. Cerca de 60% do
conteúdo do Evangelho de Mateus são encontrados nos outros Sinóticos, e, o de
Lucas possui aproximadamente 40% de conteúdo encontrado em Mateus e Marcos.

Tal estimativa indica que os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, possuem


apenas 10%, 40% e 60%, respectivamente, de conteúdo exclusivo que não aparece
nos outros Sinóticos. Para se ter uma ideia do que isso representa, o Evangelho de
Marcos possui no máximo 40 versículos que não são compartilhados pelos outros
Sinóticos.
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Entretanto, os Evangelhos Sinóticos não possuem apenas semelhanças, mas


também algumas diferenças que os distinguem uns dos outros. A narrativa sobre a
cura do paralítico em Cafarnaum é um bom exemplo para quem deseja fazer uma
análise comparativa das semelhanças entre as narrativas dos Evangelhos Sinóticos
(Mateus 9:1-8; Marcos 2:1-12; Lucas 5:17-26).

Destarte, cada evangelista também usou materiais que não foram usados pelos
outros, pois é notável que provavelmente nenhum deles necessariamente incluiu
todo o conteúdo da “fonte Q” em seu livro, ou, conforme concordam alguns dos
estudiosos que “Q” não teria sido uma fonte única, mas um conjunto de documentos,
o que explica o porquê, consequentemente, cada escritor incluiu materiais ou fatos
ou narrativas que o outro omitiu.

Assim sendo, não existem somente semelhanças entre os Evangelhos Sinóticos,


como também algumas diferenças pontuais. Portanto, assim como em muitos
momentos o conteúdo é praticamente o mesmo, em outros momentos não são. A
exemplos podemos citar:

 A ordem dos acontecimentos na tentação de Jesus difere entre Mateus e


Lucas.

 O registro do Sermão do Monte em Mateus é muito mais extenso que em


Lucas.

 Os textos que tratam da crucificação de Jesus possuem particularidades em


cada Evangelho.

 Quando comparado a Mateus e Lucas, Marcos possui uma quantidade bem


menor dos ensinos de Jesus.

Porque João não é considerado um Evangelho Sinótico

João não é considerado um Evangelho Sinótico, primeiro, porque o Evangelho


de João é ricamente doutrinário, se comparado aos três Sinóticos. Assim sendo,
alguns dos principais temas que o diferencia dos demais evangelhos são: a
divindade de Jesus como o Filho de Deus, a Expiação de Cristo, a vida eterna, o
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Espírito Santo, a necessidade de nascer de novo, a importância do amor ao próximo


e de acreditar no Salvador.

Além disso, o Evangelho de João não é contado entre os Sinóticos porque sua
narrativa é bem diferenciada em relação aos outros três Evangelhos. O que significa
que a maioria dos acontecimentos registrados em João não aparece em Mateus,
Marcos e Lucas. Havendo somente algumas poucas exceções como por exemplo
nos capítulos 3, 9,11 e 14.

Isso significa que João escreveu sobre a vida e ministério de Jesus sob outro
ponto de vista. Ele apresenta outros eventos inéditos não encontrados nos
Evangelhos Sinóticos. Além disso, é muito bem acatado e compreendido que o
Evangelho de João foi escrito muitos anos depois dos Evangelhos Sinóticos.
Contudo, a pesar dessa distância cronológica entre o Evangelho de João e os
Sinóticos, é notório e notável que nada do que é registrado em João contraria, em
qualquer aspecto, o que é registrado nos Evangelhos Sinóticos.

Portanto, dentre outros motivos, o Evangelho de João não é considerado como


um dos Sinóticos, porque enquanto que nestes, o tema central é O Reino de Deus,
que praticamente só aparece nos ensinamentos de Jesus em João 3:3, 5; 18:36, a
mensagem central de Jesus no evangelho de João é a sua ênfase no conceito de
vida eterna.

Entretanto, mesmo aparecendo poucas vezes nos Sinópticos, a vida eterna é


sempre uma bênção escatológica futura (Mc. 9:43, 45; Mt. 7:14; 25:46), ao passo
que em João a ênfase principal é sobre a vida eterna como uma bênção
concretizada no presente (Jo. 3:36 além de outras passagens)

No entanto, a leitura dos Evangelhos Sinóticos combinada à leitura do


Evangelho de João, fornece um panorama extraordinariamente riquíssimo acerca da
vida e ministério de Jesus, completando-se, por fim, nos pontos centrais da obra de
Cristo registrados nos quatro Evangelhos, especialmente sua morte e ressurreição.
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Referências

CONEGERO, Daniel. O Que São os Evangelhos Sinóticos? O Que é o


Problema Sinótico? Disponível em: <https://estiloadoracao.com/evangelhos-
sinoticos/>. Acesso em: 08 ago. 2022.

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. Trad. Degmar Ribas


Júnior. Ed. rev. São Paulo: Agnos, 2003.

MARSHALL, I. Howard. Teologia do Novo Testamento: Diversos testemunhos,


um só evangelho. Trad. Marisa K. A. de Siqueira Lopes, Sueli Silva Saraiva. São
Paulo: Vida Nova, 2007.

OS EVANGELHOS E A TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO. Estudos


Bíblicos e Comentários. Disponível em:
<https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2022/03/os-evangelhos-e-teologia-donovo
.html>. Acesso em: 09 ago. 2022.

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